Revista Pergunte E Responderemos No. 007 - Novembro De 1957

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  • Pages: 42
Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESEfsTTAQÁO

DA EDKJÁO ON-LINE Diz Sao

Pedro que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar este trabal no assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo. A

d.

Esteváo

Bettencourt

agradecemos

a

confiaga

depositada em nosso trabal no, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

7

ERGUNTE Cl <-*'':

Responderentp^ v»

1 TS X> X CÍE I.

FILOSOFÍA E RELIGIAO Páginas

1)

2)

"Deus para mim é a naiureza. Ndo vejo como nao ser

panteísia"

"Quisera saber como se explica científicamente a origcm das ragas humanas" II.

3) 4)

5) 6) 7)

8)

9)

12)

13)

15)

16)

10 13

tureza"

16

rás nao obedecerá a esta ordem, além de atrofiarem a na-

"Se era necessário que Cristo fósse traído para se cumprirem as Escrituras, como se explica que Judas tenha sido condenado, pois Jesús disse: "Melhor Ihe fóra que nao houvesse nascido" (Mí. 26,24) ?" "Se Deus vé todas as coisas, vé que vou fazer o mal. Deixame, entretanto, a liberdade. Nao consente no mal?"

leio que os carnívoros já eram carnívoros no Édem. Já se matavam por lá? A paz na natureza perfeita nao reinava entdo?"

19 19 20

25 25

26

MORAL

"Poderia dar explicacóes sobre o uso da bomba atómica? É um mal? Um bem?"

"Nao compreendo que a Igreja apreve a pena de morte se só Deus tem o direito de tirar a vida"

"Será permitido a um católico pertencer ao Rotary Club?"

27 30

32

HISTORIA DO CRISTIANISMO

"Quisera saber quem sao os Batistas? Seráo discípulos de

Sao Jodo Batista?"

JkEVE ADVERTENCIA AO LEITOR

'TERGUNTE

E

35

37

RESPONDEREMOS"

TEDACAO

ADMINISTRADO

xa Postal 2666 <íe

14

SAGRADA ESCRITURA

"Existem testemunhos ndo-cristáos da existencia de Jesús?" "Qual a interpretagáo da frase: "Fazei-vos amigos com o dinheiro desonesto, a fim de que, quando desfalecerdes, vos recebam nos mansóes eternas" (Le. 16,9) ? Todas as riquezas sño injustas ou entáo as riquezas injustas sao licitas?" "Que é espirito de pobreza? Como pode um rico ter espirito de pobreza continuando rico?" "No fascículo 3, pág. 14, de "Pergunte e Responderemos",

V.

17)

8

divorcista e católico" "Há casos em que a Igreja permite o divorcio?" "Porque a Igreja Católica proibe o divorcio? O próprio Jesús o permitiu em caso de adulterio (c/. Mt. 5,32; 19,9) " "Se Deus disse: "Crescei e multiplicai-vos", os padres e frei

IV.

14)

6

DOGMÁTICA

"Como entender a geragáo do Filho enquanto Deus? As pessoas da Santíssima Trindade nao sao incriadas?" "Sou a favor do divorcio e quería saber se é possível ser

III.

10) 11)

3

R.

Janeiro

Real

Grandeza,

108 — Botafogo

Tel. 26-1822 — Rio de Janeiro

COM

APROVACAO

ECLESIÁSTICA

RESPONDEREMOS

II

N.° 7 — Novembro Je 19S7

JECY (Rio de Janeiro):

I.

1)

FILOSOFÍA E RELIGIAO

"Deus para mim é a natureza. ^NSo vejo como nao ser

panteísta".

Urna reflexao serena sobre o panteísmo permitirá formu lar juízo seguro sobre esta ideología. 1. "Panteísmo (nome forjado pelo filósofo inglés J. Toland em 1705) é a doutrina que ensina ser Deus o Hénkal Pan dos gregos, o "Um e Tudo", a única substancia existente, a qual, por via de emanacáo, se manifesta nos diversos entes visíveis. Deus, pois, vem a ser o substrato neutro, impessoal, pressuposto por cada fenómeno da natureza. Acha-se em continua evolucáo; em cada individuo humano que se aperfcicoa, é a Divindade que vai tomando consciéncia de si. Os filósofos, no decorrer dos séculos, tém apresentado a ideología panteista sob diversas modalidades: cnquanto alguns cnsinam simplcsmente que "tudo é Deus e Deus é tudo", outros prsferem afirmar que Deus é a alma do mundo ou o principio ("espiritual", como dizem) imánente que dá subsistencia ao mun do. Todavía qualquer destas fórmulas implica que Deus se identi fique, total ou parcialmente, com a Natureza posta em evolucao.

2. Ora é esta identificac.áo que nos interessa submeter ao exáme da razao. Tres sao as observacóes que ela sugere: , • a)

Deus nao se pode (nem parcialmente) identificar com

o mundo, pois, por definicáo, c o Absoluto, Necessário, Ilimitado (o que o panteísmo reconhece perfeitamente), ao passo que o mundo c relativo, contingente e limitado em suas perfeicóes (coisa que a experiencia ensina sobsjamente). Ora o mesmo

sujeito jamáis será simultáneamente, e sob o mesmo ponto de vista, Absoluto e relativo, pois estes predicados se excluem mu tuamente.

b)

Nao pode haver evolucáo ou progresso em Deus, pois-

toda evolucáo diz ou aquisicáo ou perda de perfeic.áo; em qual

quer caso, implica impcrfeic.ao, o que é absurdo em Deus. A hipó¿ -- 3 -—

tese de urtl Deus OU de ulna Subsistencia divina* eiil cvolucáo teniit

explicar o mundo nao por um Ser absoluto, mas por um "Tornar se" absoluto; ora o "tornar-se" absoluto é contraditório em si, pois "tornar-se" significa lacuna cm demanda de plenitude, ao passo que o Absoluto diz perfeicáo plena.

c) Ademáis, poe-se a questáo: a substancia única do uni verso que evolui para sua maior perfeicáo, como se eleva ela ácima de si mesma? Se é a única realidade, onde encontra o apoio necessário para subir?... Onde encontra a fonte das perfeicóes que ela por definicáo nao possui? O "mais" saíria do "menos"? A lógica ensina o contrario... Diga-se, pois, que a evolucáo do imperfeito para o perfeito supoc na base de tudo

urna realidade de perfeicáo infinita; é a atividade déste Ente pri mordial que produz novos seres, os quais sao necessáriamente menos perfeitos e, por conseguinte, finitos, pois nao pode ha ver dois infinitos ou dois absolutos sob o mesmo ponto de vista.

O Ente primordial nada ganha quando produz os seus efeitos, pois ao Infinito nada se pode acrescentar; ele é, portanto,

essencialmente distinto dos seus efeitos e do mundo. E' o Deus transcendente que nao toma consciéncia de si, mas desde todo <» sempre é Personalidade plenamente consciente. 8. Mas será que nao se pode salvar o panteísmo mediante a fórmula: Deus está presente, imánente a todas as coisas como

a alma se acha no corpo? O enunciado é ambiguo. Se significa que Deus é imánente a tudo como elemento integrante (e tal é o sentido que Ihe dá o filósofo panteista), a fórmula nao se exime ás dificuldades ante riormente propostas: Deus nao pode ser constitutivo de seres cm evolucáo.

A mesma fórmula, porém, pode significar que Deus está presente a tudo, simplesmente como o agente está presente a qualquer dos objetos de sua acáo. Tal é a concepeáo da sá ra-

zao, reafirmada pelo Cristianismo: Deus é o Criador que do nada

tirou todos os seres e os conserva na existencia; por conseguinte, onde quer que naja urna parcela de ser, Ele ai está presente — presente, porém, porque age, conservando, nao porque se iden tifique com a substancia do ser contingente. A Filosofía crista, conseqüentemente, ensina que Deus é, ao mesmo tempo, transa

tendente, porquanto ultrapasSa infinitamente os demais seres em perfeicáo, e imánente, porquanto a sua a?áo criadora e con servadora atinge o intimo de tudo que existe. Se o panteísmo objeta que nada pode existir fora de Deus, a sá Filosofía responde que nada pode existir fora ou independentemente da acáo cau sal de Deus, mas que todos os seres limitados sáp substancia» distintas da substancia de Deus. —. 4

—-

Em última análise, verifica-sc que o panteísmo só se pode sustentar caso quem o professe, incoercntemente atribua á Subs tancia única traeos de uin Deus pessoal, distinto do mundo. 4. Pcrgunta-se, porém: se táo pouco lógico é o panteísmo, porque possui hoje tantos adeptos? Dois parecem ser os principáis motivos da sua voga:

a)

identificar Deus com a Natureza parece engrandecé-Lo,

ao passo que atribuir-Lhe personalidade seria diminui-Lo. Todo homem tem consciéncia de quanto é limitada a sua personalidade, e grandiosa a Natureza com seus profundos misterios... Em conseqüéncia, preferem alguns dizer que nao é personalidade, mas

"super-personalidade". Isto, porém, equivale a colocar o Altissimo abaixo do homem; é mística ilusoria. Justamente a mais. elevada perfeicáo do ente consiste em ser dotado de conhecimento intelectivo e de livre vontade (atributos que constituem a per sonalidade). Esta perfeicáo nao incluí em scu conceito alguma imperfeicao (como, por exemplo, o arrependimento envolve a nocáo de falta previa); por isto nao há razáo para a denegar a Deus. O Altíssimo só nao é personalidade a maneira exigua do homem.

b)

Ainda unía razáo de ordem psicológica se impóe á nossa

consideracáo: o panteísmo ou monismo fazendo coincidir Deus

com a Natureza, emancipa o homem, possibilitando-lhe conceber a sua religiáo segundo o scu bom senso subjetivo ou... os seus caprichos. Em última análise, o Deus do panteísmo vem a ser mera fórmula a recobrir auto-afirmacáo e soberba do homem. Nao será exagero dizer que o panteísmo práticamente equivale ao ateísmo.

E' o que, do seu modo, dava a entender urna das

grandes mentoras da Sociedade Teosofista, Annie Besant, a qual verificava o seguintc:

"A primeira coisa que afirma'm os teosofislas é que toda • idéia de sobrenatural deve ser rejeitada... A segunda... ¡é a negacáo de um Deus pessoal; dai decorre que os agnósticos e os .

ateus assimilem mais fácilmente os ensinamentos da Teosofía do que os fiéis dos credos ortodoxos" (Whv I became :i theosophist 17).

A Sra. Besant assim averiguava a afinidade prática do pan teísmo com o ateísmo. Alias, os historiadores observain que, entre as correntes do pensamento moderno, nao sao muitos os sisr. temas filosóficos ateus; o ateísmo costuma ser prático, incons-cíente, nao baseado em principios doutrinários; a Filosofía nao-v crista tende, antes, ao panteísmo c ao monismo.

O motivo déste'

fenómeno percebe-se seni grande dificuldade: o a leísmo parece violentar demais a razáo, que espontáneamente é levada a reco-

nhecer a existencia de urna Causa Primeira; o panteísmo entáo vem a ser a fórmula que torna o choque menos veemente e, nao

obstante, permite ao individuo fazer-se autónomo; bájala o orgulho sem o desmascarar e sem fazer perdsr ao soberbo a aparéncia de homem religioso. E' o "Manual Informativo do Membro da Sociedade Teosofista no Brasil" que ensina ser o homem "o seu próprio legislador absoluto, o ssu próprio pensador de gloria e obscuridade, o que por si mesmo decreta a sua vida, recompensa ou castigo" (ed. Sao Paulo 1951, 22) (!). Em conclusáo, parece que quem tem consciéncia do que sig nifica o panteísmo, nao pode deixar de rejeitar esta ideología em nome da própria inteligencia humana.

Veja-se ainda a resposta á pergunta n.° 3 déste fascículo. AQUAVIVA (Rio de Janeiro)

2)

"Quisera saber como se explica científicamente a ori-

gem das ragas humanas". Há quem julgue nao poder explicar as nicas humanas sena"

adinitindo varios troncos que lhes tenham dado origcm (hipótese chamada "polifiletismo"). Será que tal posicáo rondiz realmente com os resultados d« ciencia moderna?

Esta, entre outras coisas, nos diz que toda especie vegetal

ou animal costuma ter seu berco próprio na face da térra, isto é, determinado lugar de origem (e nao muitos); é a partir de uní só tronco ou urna só populacáo que cada especie se espalha pelo globo, assumindo aqui e ali, segundo as exigencias da novos cli mas e géneros de vida, modalidades varias. Bascados em tais observa^óes, os zoólogos, por exemplo, afirmam que o cao, o lobo

e a raposa, embora nao se possam cruzar entre si, procedem de um único tipo animal nao diversificado, o qual tinha potencialmente em si as modalidades do cao, do lobo e da raposa hodiernos. Se assim é, torna-se lógico admitir que as racas humanas provenham todas de um só tronco e um só bsrc.o ("monofiletismo", e nao "polifiletismo"). Esta conclusáo se recomsndci ainda pelo fato de que os individuos humanos de racas diferen tes constituem um só "syngámeon", isto é, sao fecundos ¡.ntre si

como seres da mesma especie; existem populares inteiras devi das á cópula de individuos pertencentes a rachas muito remotas urna da outra; tais sao os lioers, homens vigorosos que provcni _,

g

da uniáo de holandeses coni hotentotes; os habitantes da Griqualándia (África do Sul), que descendein de europeus e bosquiinás. Além do mais, obsérva-se que as diferenc.as raciais sao pro

fusamente matizadas; há múltiplos tipos humanos que fazeni transido entre urna rac.a e outra; tenha-se cm vista, por exemplo, a tez da pele: na raga branca, encontra-se larga escala de matizes, desde o branco róseo dos noruegueses até o moreno escuro dos abissinios; os chineses do norte sao de tez amarela quasc

branca, ao passo que os do sul sao de uní amarelo quase 'choco late"; existem faces ou cránios negroides, mongoloides entre os

europens e >ice-versa. Apoiada nestas observa^óss, "a grande" maioria dos autores recentes professa teorías monofHéticas", observam Bergounioux e Glory, que, sem visar enumeracáo com

pleta, nomeiam quatorze antropólogos monofiletistas modernos (Les premiers homiiies. París 1952, 89). — De passagem, note-se aínda que os estudiosos contemporáneos sao muito inclinados a localizar o berc.o do género humano na África, e nao na Asia (o texto bíblico, de resto, nao nos indica a situac.üo geográfica do paraiso terrestre).

Quais seriam, entao, os fatores que ncarretaram as diversi dades raciais? 1) Em primeiro lugar^ enumera-se a influencia do ambien te: clima, género de alimentac.áo, de trabalho, de vida. Estes elementos marcam o tipo do hornero, e déle exigein adaptado somática. E' de notar, porém, que esta nao se faz meramente ao acaso; ao contrario, parece guiada por tendencia intrínseca, que sabe adaptar-se sem perder de vista determinado tipo a atingir. 2) Levem-se em conta também as "mutac.5es". Estas sao variantes introduzidas no vívente em virtude de niodificacáo imprevisível do genotipo; em outros termos: sao mudancas re pentinas do número e da posicáo dos corpúsculos (genes e cro mosomas) que no embriáo correspondem ;i certos caracteres do futuro corpo do vívente: colorac.áo da pele ou do pelo, for

mato e cor dos olhos, tamanho do nariz, estatura, fecundidade, ele. Esssa mudancas

a)

produzem-se de modo brusco, de unía..gerac.áo para ou

tra;

b) dáo-se em uní ou poucos individuos postos em meio a milharcs de irináos ñas mesinas condÍQÓes de vida; por isto nao podein ser atribuidos exclusivamente a influencia do ambiente, sobre o genotipo; c)

sao hereditarias e duradouras

portante).

(observáoslo muito im-'«-

As causas que acarretam mutacóes nao fora ni até hoje plena mente elucidadas. Famosas se tornaram as experiencias de Morgan, Muller e Timofeeff-Ressowsky, que, aplicando raios X á mos ca do vinagre, a Drosophila melanogaster, obtiveram cerca de 400 racas déste inseto, diferenciadas imprevislvehnente pela for ma das asas, a cor do corpo, o Upo do pelo, etc. {Drosophila virilis, D. simulans, D. obscura. ..). Já que se conhecem numerosas mutacóes entre os mamífe ros, os cientistas atribuem importancia crescente a éste fator na formacáo das ra?as humanas.

3) Mcrccem atencáo também os fenómenos de degeneres cencia; a evolucáo de determinado tipo nao se processa indefi

nidamente, mas apenas dentro dos limites de certo cabedal; esgotado éste, o tipo vai definhando, e tende a se extinguir. Ora sabe-se que viveram outrora racas humanas hoje extintas (haja vista o honiem de Neanderthal). Ao monofiletismo se objeta que foram encontrados fósseis periodo geológico (portanto,

humanos pertencentes ao mesmo

geológicamente contemporáneos entre si), postos, porém, em di verso grau de evolucáo.

Nao seria isto indicio de que provém de

troncos diversos?

Em

resposta, observa-se que a

contemporaneidade désses

fósseis é muito relativa: cada uní dos periodos geológicos em que se situam, compreende dezenas de milhares de anos; ora bastam

apenas alguns milenios para que urna especie se propague pelo globo, sofrendo conseqüenteniente fenómenos de adaptacáo, mulacionismo e degenerescencia. Éste prazo, porém, de alguns mi lenios escapa á verifica?áo experimental dos geólogos, que, por conseguinte, dáo por estratigráficamente contemporános fósseis que, em cronología rigorosa, nao o sao.

A estas considerares da ciencia faz eco a doutrina da fe crista, que ensina estrito monofiletismo, até mesmo monogenismo, ou seja, origem do género humano a partir de uní só casal. II.

DOGMÁTICA

MARÍA CLAUDIA (Rio (le Janeiro):

3)

"Como entender a geracao do Filho enquanto Deus?

As Pessoas da Santíssima Trindade nao sao incriadas?" A Sagrada Escritura, ao falar de Deus, aplica-Lhe os conceitos de paternidade, filiacáo, gerac.áo. Estas noejóes, porém, nao convém ao Altissiino do mesmo modo que a nos, homens. .-

8 —

Ein Deus todos os atributos se acham na escala do infinito (o que quer dizer própriamente: ácima de qualquer escala), ao passo que ein nos tudo é finito. Eni termos técnicos: há analogia, e nao univocidade, entre Deus e nos. Feita esta observacáo, dir-se-á: 1)

Ein Deus há geracáo, isto é, comunicado da natureza

divina (como entre os homens, por geracao, há comunicacáo da natureza humana), e comunicacáo tal que déla resulta urna Pessoa em tudo igual á Pessoa que comunica. Note-sc que geracáo nao é o mesnio que criacao; essa significa origem a partir do nada, por conseguintc, diversidade de natureza entre o Criador e a criatura. O pai, porém, nao tira do nada, mas produz da sua natureza.

Logo depois de afirmar isto, é-nos necessário negar em Deus algumas notas que caracterizam o processo generativo entre os homens. 2)A comunicacáo da natureza em Deus nao implica temporalidade, coméco, progresso, finí; é ato único, sempre presente e perfeito, ato inseparável do ser ou da vida de Deus; desde que

Deus c Deus, ou seja, sem coméco e sem finí, o Pai gera o Filho, ou a esséncia divina se comunica do Pai ao Filho. 3) Tal comunicacáo nao acarrela imperfeicáo na pessoa gerada nein subordinacáo peranle o Pai (era com referencia á sua ssma. humanidade que Jesús dizia em Jo 14,28: "O Pai é maior do que cu").

4) Também nao significa divisáo da substancia divina. Esta é espiritual; por isto nao tem partes, é indivisível. Pela geracáo a mesma natureza divina, com sua infinita perfeicáo, subsisteno Filho como ela subsiste infinita no Pai. Entre Pai e Filho há a distincáo proveniente apenas do que se chama "oposicáo rela

tiva": o Pai é a natureza divina enquanto gera, o Filho é a na tureza divina enquanto gerada. A geracáo do Filho é tño alheta ao plano da corporeidade que se pode comparar ao nosso ato de conceber urna idéia ou unía palavra mental. Com efeito, o Filho na Sagrada Escritura tam bém é chamado Logos (em grego, Palavra menta] ou vocal» nao própriamente Verbo) e Imagem (expressáo) do. Pai (cf. Jo 1,1-3; Col 1,15). Entende-se bem a sinonimia: no plano do espirito, a funcáo de conceber unía idéia corresponde á de conceber e gerar um filho no plano da corporeidade; tanto o filho como" a idéia sao manifestacóes, imagens, da natureza de quein concebe. Nao

é em váo que repetindo o mesnio vocábulo, falamos de "conceber" urna idéia" e "conceber um filho"; estas funcóes, que em nos sao distintas por constarmos de espirito e materia, em Deus, Puro

— 9 —

Espirito, constiluem urna só, ;i saber: o ato eni que a priinetrii Pessoa divina conhece total e perfeitanientc a sua infinita perfeigao c profere éste scu conhecimento nuuia Palavra ou Iinagem que subsiste como Pessoa igual á Pessoa que proferiu, ou como uin Filho perante seu Pai. A titulo de complemento, diremos que o ato de contemplar o Filho nao pode deixar de suscitar no Pai o Deleite, o Amor, Amor que é reciproco do Filho ao Pai. Éste Amor constituí outra manifestacáo perfeita da vida de Deus; nao é senáo a naturezn divina inesma que se afirma como Amor subsistente, pessoal. A terceira Pessoa a Sagrada Escritura dá o noins de "Es pirito Santo", que c o ósculo sagrado a unir o Pai e o Filho numa felicidade sem principio e sem finí. Jamáis se poderia conceber a vida divina sem estas duas afirmacóes características do ser espiritual: a do conhecimento, donde procede a Palavra mental ou o Filho do Pai Eterno, e a do Amor, donde procede o Espirito Santo, a Complacencia, o Deleite, do Pai no Filho e do Filho no Pai. EVA

4)

(Rio de Janeiro):

"Sou a favor do divorcio e quería saber se é possível

ser divorcista e católica". Em absoluto nao é possível ser algucm católico e divorcista. Nao se creia que esta afirniacáo seja ditada por mancira de pen sar antiquada, estando, portanto, sujeita a reforma. Nao; o di vorcio contradiz diretamente ao conceito de matrimonio que tanto a sá razáo como a fé crista inculem. Consideremos isto sucintamente. O casamento é funcáo, da natureza destinada á conservado

e propagacáo da especie, funcáo paralela á de alimentar-se, que visa a conservacáo do individuo. Disto se segué que as leis do matrimonio nao sao ditadas apenas pelo bem-estar pessoal dos cónjuges, mas pelas exigencias do bem coiuuin (como a fun$áo de comer nao é simplesmcnte regida pelo deleite que o honieni ex perimenta ao exercé-la). Consoante éste modo de ver, indicam-se clássicamenle tres finalidades ou tres bens que dáo estrutura característica ao ma trimonio: 1) o hoinem pode ser considerado ein seu aspecto ínfimo, enquanto é simplesmente um vívente, como os irracionais e as

plantas sao viventes; neste caso, o matrimonio é orientado á prole ou á geracáo e educacáo de filhos. E' éste o bem funda mental,

finí

primario de qualquer

— 10 —

casamento;

2) o homeni pode ser visto nao apenas como vívente, mas qual vívente racional, típicamente humano. Neste caso, o ma

trimonio se destina a proporcionar auxilio mutuo, corporal e

espiritual, aos cónjuges;

8) crístgo.

,

o homeni ainda pode ser considerado como filho de Dcns, Neste caso, o matrimonio visa o bem do "sacramento";

o que qucr dizer: torna-se misterio pequeño dentro de uní Miste

rio Grande, que Ihe comunica nova dignidade (cf. Ef 5,31s). Ora os dois bens visados pelo matrimonio no plano natural

e o terceiro, característico do casamento cristño, exigem, com

rigor ascendente, indissolubilidade do vínculo. preende de ligeira reflexáo:

1)

E' o que se de-

nao basta que os genitores gercm a prole para que

preencham suas respectivas funeñes; toca-lhes outrossim o dever de educar. Sem este complemento (que só os país podem exercer adequadamente), a funcao biológica de gerar poderia tornar-sc nociva. — Eis, porém, que o cumprimento de tal missáo pede a estabilidade da familia, a colaboracáo da autoriade e da energía paternas com a delicadeza e a dedicacáo maternas. 2) A felicidade dos cónjuges, por paradoxal que isto parecí», exige igualmente a indissolubilidade.

O homeni por sua própria natureza é impelido a amar e a doar-sc totalmente ao objeto amado. Ora, após o Criador, Alfa

e Omega de todas as criaturas, qual o objeto ao qual mais se deva dedicar a criatura humana do que a sua consorte, lugartenente de Deus, com a qual o individuo se completa física e

psíquicamente numa intimidade só ultrapassada pela intimidade

com o Senhor? Isto nao quer dizer que o homem, amando, deva necessáriamente encontrar deleite natural; geralmente o amor nobre conhece as suas horas de sacrificio; as vézes tem de verificar que ele dá mais do que recebe. Em qualquer caso, porém, sabe que "há mais felicidade em dar do que em receber"

(At 20,35); só o sacrificio dilata o ánimo, arrancando-o ao egoís-.

mo.

;

Ora a possibilidade de divorcio legal equivale a uin golpe desferido sobre a heroicidade dos cónjuges: ein primeiro lugar, fa vorece a leviandade na escolha do consorte; a seguir, no.decorrer da vida conjugal, faz que qualquer dissabpr possa assumir proporcóes desarrazoadas, pois se entrevé a perspectiva de largar

a luta. O estado de ánimos, talvez inconscientemente debilitados, que o divorcio assini produz, cortamente nao contribuí- para di minuir as infelicidades conjugáis. Mas dir-se-á: embora se reconhecam os males fomentadoV pelo divorcio, concedamo-lo em casos raros, excepcionalmente dolorosos. — 11 —

Replica-se: a concessáo ein tais casos ainda acarreta maior mal do que bem. — Quem saberia trac.ar a linha de demarcarlo entre os casos "excepcionalmente dolorosos" c os "nao excepcio-

nalinenle dolorosos"?

Desde que o divorcio seja de algum modo

legalizado, exerce a sua influencia destruidora: "A idéia do divor cio cria a materia divorciável... No seio dos lares introduz nao sei que de precario, provisorio e hipotético, que impede a familia de realizar suas finalidades fisiológicas, psíquicas e moráis" (L. Franca, O divorcio, Rio de Janeiro 1952, 62). E' pois, eni nome do bem comum que se denega o divorcio mesmo aos casos excepcionais (casos que se multiplicariam de tal modo que deixariam de ser excec,áo). Toda lei, visando proteger os inlerésses da coletividade, impóe necessáriamente privac.5es particulares.

3) As razóes anli-divorcistas ácima sao corroboradas pelas exigencias do matrimonio "sacramento cristáo". O matrimonio modelo, para o cristáo, é a uniáo de Cristo coin Igreja, uniáo que visa gerar filhos de Deus adotivos. Pois bem; o esposo cristáo participa do papel e da dignidade de Cristo; a. esposa crista toma parte na nobreza c ñas funcóes da Igreja; assim entre éles se realiza como que u'a miniatura do Grande Misterio ou do Sacramento primordial (cf. Ef 5,31s). Isto faz que o matrimonio cristáo aprésente as propriedades da uniáo dé Cristo com a Igreja; entre estas, aponta-se a totalidade irrevogá-

vel da doacáo: Cristo se deu até a mortc á sua Igreja e jamáis a abandonará; por sua vez, a Igreja será sempre a guarda inviolável da doutrina e da vida do Senhor a ser transmitida aos homens. Por conseguinte, o matrimonio sacramental será também indissolúvel. E' esta, á luz da fé, a mais intransigente das ra zóes anti-divorcistas. O discípulo de Cristo, mais do que qualqucr outro homem, sabe que casar-se está longe de ser concessáo feita á natureza

em vista de gozo; é, ao contrario, missáo, a qual, aléin de ale grías, implica sacrificio, exercicio de urna í'un^áo sacerdotal;

os esposos cristáos tém consciéncia de que foram chamados a se santificar um ao outro, e ambos á prole e á sociedade. Por isto também nao os surpreende nem atemoriza a perspectiva da indissolubilidadc do matrimonio; sabem que possuem a graca de estado, auxilio especial do Senhor para cumprir a sua tarefa.

Quanto á fórmula que visa conceder o divorcio aos cónjuges nao-católicos, vedando-o aos católicos, a Igreja nao a pode acei tar, pois o divorcio contradiz ás exigencias da natureza humana como tal; e o Cristianismo é guarda das leis naturais, pois tam bém exprimem o plano sabio do Criador. Ademáis percebe-se _ 12 —

a que graves abusos daría lugar tal concessáo; equivalerin n unía armadilha continuamente preparada para a consciéncin de crisíáos e nao-cristáos, estimulando a ¡imbifíuidade e a hipocrisia na sociedade. .1/. (I, {¡Un de Janeiro):

5)

"Há casos em que a Igreja permite o divorcio?"

Após o c|iic ácima foi dito, compreende-se que nao os naja em

absoluto.

Nao está em

poder da

Igreja

anular unt casa

mento válidamente contraído e devidamente consumado pelo consorcio marital. Em casos dolorosos, a Moral crista reconhece apenas o desquite, o qual nao da direito a novas nupcias.

Acontece, porém, que um matrimonio cristño válidamente contraído jamáis tenha sido consumado no lar pela uniáo con jugal (admita-se, por exemplo, que o esposo tenha tido que par tir para a guerra pouco depois de se casar). Em tais casos, se os esposos desejam separar-se e contrair novas nupcias, isto lhes pode ser facultado pela autoridade da Igreja; c preciso, porém, que apresentem á Santa Sé, por mcio do bispo diocesano, as res pectivas provas de náo-consumacao do matrimonio e se submelam ao julgamento do Santo Padre. Pode acontecer também que o matrimonio nao tenha sido válidamente contraído, seja porque nao se ohservaram as-exigen cias do Ritual (presenca de testemunhas, de sacerdote devida;mente habilitado, quando possivel...), seja porque um impedi mento dirimente ou um defeito essencial no consentimento tornou nulo o contrato matrimonial, embora a todos parecesse vá lido. Entre os impedimentos dirimentes citam-se, por exemplo, o médo ou a violencia sob os quais um dos nubentes dé consen-;

timento ao matrimonio, a «finidade em terceiro grau colaterql,;. a profissáo religiosa solene; defeitos essenciais no conseritimento seriam a ex el u sao da indissolubilidade matrimonial ou cltr prole. Em casos semclhantes, os cónjuges nao cstao, na rcali-

dade, casados.

Podem entáo declarar á autoridade eclesiástica

qual o impedimento ou o defeito que julgueni haja tornado nulo o contrato; o tribunal eclesiástico competente (que 6 o da diocesc em que foi realizado o matrimonio ou, caso esteja muílo-'nfastado,. o da diocesc em que reside o tnarido) julgará as provas apresenIndas e terminará sen exame minucioso com a simples son tenca: "Consta" ou "Nao consta da nulidade (Jo casamento". O juix

eclesiástico, porlanto, de modo ncnhmn anula um matrimonio

válido, mas apenas verifica e declara a existencia ou a náoexisténcia de matrimonio, habilitando, em caso de nulidade, as partes interessadas a contrair nupcias válidas. ALOiSIO MOURÁ (Sao Joño del Rei):

6) "Porque a Igreja Católica proibe o divorcio? O próprio Jesús o permitiu em caso de adulterio (cf. Mt. 5,32; 19,9)". . As razóes pelas quais a Igreja proibe o divorcio, já anterior mente expostas, nao sao de modo nenhum desvirtuadas pelas palavras de Jesús ácima referidas. Para maior clareza de exposicáo, eis os textos mencionados, na traducáo mais corrente que se lhes dá: Mt 5,32: "Todo aquéle que repudia sua esposa, fora do caso de adulterio (parektos lógou pornéins), expóe-na a adulterio; e todo aquéle que esposa u'a mulher repudiada, comete adulterio"; Mt 19,9: "Todo aquéle que repudia sua esposa, a nao ser em caso de adulterio (me npi pornéiai), e se casa com outra. co

mete adulterio.

^

Estas duas passagens sao interpretadas pelos cristáos cis máticos do Oriente e pelos protestantes como se autorizassem o divorcio em caso de adulterio. Verifica-se, porém, que tal interpretacáo nao condiz com os textos paralelos de Me 10,1 ls e Le 16,18, em que Jesús ensina irrestritamente a indissolubilidade do matrimonio (omitida a cláusula- de adulterio); supóe, aléni disto, haja Sao Paulo ordenado em'nnme do Ssrihor ó contrario do que o Senhor mesmo preceituou: ' "Aos cónjuges ordeno, nao eu, mas o Senhor: a esposa nao se separe do marido e, se porventura se separar, nao se case de novo" (1 Cor 7,10s). ' ' Ja estas consideracoes tornam a interpretacáo divorcista dos textos de Mt assaz suspeita, se nao impossivel; o Evangelho teni

que ser explicado primariamente pelo Evangelho e pela Escri tura Sagrada em geral. Ora, no tocante aos textos de Mt 5 e 19, nao resta dúvida de que S. Marcos, S. Lucas e S. Paulo nos transmiteni a genuina mente do Senhor.

A vista disto, os exegetas conhecem duas principáis explicácóes das referidas palavras do Mestre: i) a sentenca clássica desde os tempos de Sao Jerónimo (*42(1), traduzindo a palavra grega pornéin por "adulterio", en sina qué Jesús realmente admifiu o repudio da esposa em caso

de adulterio, ou seja, a separacáo do casal, o desquite, inas coni

is'to nao autorizou novas nupcias, pois Ele ecrescenta que todo váráo qué se case com unía mulher repudiada ou desquitada co-

mete pecado (Mt 5,32), assini como peca todo honiem desquitado

que se case de novo antes da niorte de sua esposa (Mt 19,9Ju

Podcr-se-ia perguntar porque Jesús fez mencáo especial, do

caso de adulterio, ao formular as normas ácima.

■ -

:

Os motivos se dcpreendem sem grande • dificuldade: em

Mt 5,32, se Jesús nao tivesse feito a excecáo, haveria dito que.o marido que repudia a esposa adúltera, a expóe a adulterio — nfirmacáo muito estranha! Além disto, a propositó tanto, de Mt 5 como de Mt 19, note-se que o adulterio era objeto desar ticular atencáo na Lei inosaica; o marido que surpreendesse a., mulhcr em adulterio, tinha o direito, se nao o dever, de a denun ciar e de provocar o castigo da mesma, que era habituahñente a pena de niorte (cf. Lev 18,20;20,10; Dt 22,20); ora, urna vez morta a esposa adúltera, está claro que o marido, casando-se de novo,

nao cometería

adulterio.

Dado, porém,

que a

esposa

adúltera nao fósse apcdrejada ou nao morre logo, ficaria claro,

conforme Jesús, que novas nupcias nao seriatn permitidas a nenhum dos cónjuges desquitados.

'

2) Urna interpretacáo mais recente tem merecido a aprovagáo de abalizados exegetas. O Pe. J. Bonsirven, especialista

sm estudos rabinicos, analisou os textos de Mt á luz da termino-

logia dos judeus contemporáneos de Cristo. Concluíu, baseado sobre erudito aparato de filología bíblica e extra-bíblica assim como de jurisprudencia rabinica, que o termo grego pornéia cor responde ao hebraico zenut; ora éste designava nao o adulterio (como supóe a interpretacáo clássica), mas o concubinato, ou

seja, a uniáo ilícita, o matrimonio falso ou nulo (cf. Lev 18,7-18; Jo 4,17s; 1 Cor 5,1). Suposto isto, Jesús haveria condenado o divorcio em casos de matrimonio válido; té-lo-ia, porém, permi tido (se se pode assim dizer) desde que S2 trate de casamento nulo ou de uniáo incestuosa (nao há dúvida, esta também pode ser saneada pela legalizacáo do matrimonio ou pela celebrado le gitima do contrato nupcial).

:

Veja-s.e J. Bonsirven, Le divorce dnns le Nouveau Testament. Tournai 1949; Revista Eclesiástica Brasilcira 12 (1952) 609s; Revista de Cultura Bíblica 1 (1956) 1-16. Além

dcsias duas sentencas, urna

,.

terceira

goza de certa

voga (cf. a nota explicativa a Mi 19,9 na "Biblia de Jerusalém"): A lei de Moisés (DI 24,1) concedía ao marido repudiar, a ¡es posa, caso nela notasse "algo de torpe" 'erwat dabar. Esta expressáo, vaga como é, recebia duas interpretares por parte das - escolas rabinicas contemporáneas a Cristo: a d.s Hillcl alargava ao máximo o sentido das palavras, compreendendo sob elas até. '»•■ tim¡i f¡ilt¡» de respeilo ou levo ofensa; :i de Shnmnuti, íio contrario

entendía o 'ertvat dabar no estrito sentido ds adulterio. Pois bem; perante as duas sentcncas discutidas, Jesús se teria re cusado a tomar posicffo; haveria dito, por conseguinte, cin MI 10.":

'Todo aqucle que repudia, sita esposa nao falo do 'crwat dabar, das possibilidades dé repudio admitidas pelos casuístns judens — e se casa com outra, comete adulterio". Deixnndo, porérn, de tomar partido entre Hillel e Shiiinmni, Icsus nao entendía permitir o divorcio (separacao com novas uupcias), como se depreende das suas próprias palavras, assim

como de todo o contexto do Evangelho e do Novo Testamento.

Parece merecer preferencia a primeira ou a segunda inter-

pretacáo ácima proposta.

LEA'! (ttin de. Janeiro):

7)

"Se Deus disse: "Crescei e multiplicai-vos, os padres e

freirás nao obedecem a esta ordem, além de atrofiaron a natureza".

A ordem "Crescei c multiplicai-vos" foi dada no inicio da historia sagrada (cf. Gen 1,28), como norma sujeita a ser com pletada por ulteriores disposicóes.divinas.

Nao ha dúvida, o preceito óbriga o género humano como tal; toca ix eoletividade o dever de se propagar através dos séculos; foi para facilitar o cumprimento desta tarefa que o Cria dor a quis tornar deleitosa a nntureza.

No decorrer dos secutas, porém, o mesmo Senhor Dcus fez saber aos homens que nem todo individuo está obrigado a se casar e gerar filhos.

Com efeito, quando na plenitude dos tempos

Cristo veio ao mundo para consumar a Revelacáo do Antigo Tes tamento, disse:

"Há eunucos (homens que nao geram) que nasceram tais

desde o seio de suxi máe, há eunucos que foram feitos tais pelos homens, e há eunucos que. se tornaram tais por causa do Reino dos oéns. Quem pode compreender, compreenda!" (Mt 10,12). Com estas palavras, o Divino Mestre dava e entender que o amor ao Reino de Deus e á vida sobrenatural pode, provocar nos fiéis a virgindade espontánea, virgindade que o Senhor louvn discretamente, exortando os seus ouvintes a procurar comprcender-lhe o alcance ("quem pode entender, entenda"). Como exemplos dessa virgindade voluntaria, Jesús podia apontar o seu próprio caso, o de Joño Batista, o de Joao Evangelista; por isto, usava Ele da forma presente: "há eunucos". O vocábuio eti-

nuco indica, sein diivida,,um estado que nao pode ser mudado, ou soja, uní propositVdc continencia absoluta e perpetua. Fazendo eco a éste cnsinamento do Mestre, Sao Garfio, ein

1 Cor 7, compara entre si matrimonio e virgindads, coneluindo tjue snnlo e salutar é o eslaclo conjugal, mas ainda inais nobre ¿

o estado virginal:

"Quisera que todos fóssom como cu (celibatário); cada um, poiém^ recebe de Detis o seu dom próprio. . . Contado digo aos

que nao estño casados c ¡ios viúvos: é botn que permanecí! m como en. Se, porém, nao se pudcrein conter, casem-se; é nielhor casar-se do que arder (em concupiscencia)" (1 Cor 7,7-9).

"O pai que casa a sua filha, procede bem; aquéle, poréni,

que nao a casa, ainda procede nielhor" (7,:i8).

Estas idéias erani de todo novas ein 57 da nossa era, quando Sao Paulo as proferia no mundo greco-romano. O pagao, por sua formacáo cultural, nao estava habilitado a compreendé-las, pois julgava que todo cidadáo devia colaborar |)ara o bem da cidade ou do Imperio, conslituindo familia; quein nao o fizsssc, era tido como covarde. O judeu, por sua vez, aspirara a ser pai ou máe de familia a finí de entrar na linhagcni do Messias promelido; permanecer sem prole Ihc parecía ser maldigo divina. Ora Sño Paulo, logo no Iimiar da era crista, ousava proclamar a pagaos e judeus qu2 a pouco estimada virgindade se tornara o mais digno dos estados. Isto só se explica pelo fato de ser a vir gindade fruto auténtico e essencial da concepeáo crista da vida. Sim; o eristño sabe que a Redencáo já veio ao mundo por Cristo e que, por conssguinte, nao há mais nenhuina instituicáo salvirica, nenhum meio de santificado novo, a aguardar, no decorrer dos séculos; os bens messianicos já foram dados ao género

humano. Pelo balismo, o individuo se torna filho de Deus, recebendo a graca santificante, que é a seminte da gloria eterna. Quem, sob a acáo do Espirito Santo, compreende isto, é lógica

mente impelido a procurar vi ver o mais intensamente possivel a sua vida interior, que é a vida eterna conreada no tempo; em; vista disto, o Espirito de Deus Ihe pode inspirar abrace o género

de vida indivisa ou una, que é a vida virginal. A vida conjugal, embora santificada por um sacramento, exige que ainda se preo

cupa muito coin interésses transitorios; a vida virginal delxa-o, ¡io contrario, como que isento dessas solicitudes c mais livre para

se dedicar a uniáo com Deus e á santificacáo do inundo, como

explica o Apostólo:

"Eu vos digo, irmáos: o tempo se fez breve. Resta, portanto, que aqueles que tém esposa, vivam como se nao a tivessem.. .aqueles que usam déste mundo, vivam como se nao usassem; coto efeitos, passa a figura déste mundo. — 17

Quisera ver-vos. i sen tos de solicilude. O hoinent que iJa"o está casado, se preocupa coni as coisas do Senhor, coiu Os ineios

de agradar ao Senhor..-. Aquéle que está casado , se preocupa-, coin as coisas do mundo, coni os meios de agradar á esposa, e está dividido. Da mesilla forma,.a niulher nao casada e a virgem se preocupam coni as coisas do Senhor, a finí de ser santas de corpo

e espirito; aquela, porém, que tein marido, se preocupa coin as coisas, (b mundo, coni os ineios de agradar ao esposo. Digo isto, atendendo aos vossos interésses.. ., tendo ein vista o que é digno

e vos leve a aderir indivisamente ao Senhor (1 Cor 7,29-35).

Eis os motivos que inspiraranra virgindade na Igreja desde

ns teinpos de Sao Paulo. Compreende-se entáo que os sacerdoles e as Religiosas, ein priineiro lugar, a abracsm, já que éles se propóem viver mais plenamente para Deus e o Reino de Deus.

Um sacerdote casado menos fácilmente se dedicaría ao servico das almas; e como sustentada a sua familia ein paróquia pobre, como sao muitas das que hoje em dia exislem no orbe, principal

mente ein nosso Brasil?

De resto, a virgindade consagrada a Deus é, das caracterís ticas da vida religiosa e sacerdotal, a única que certos círculos

(mesmo católicos), imbuidos de mentalídade exageradamente utilitarista, aínda reconhecem sein conleslacáo. Eis alguns testemunhos proferidos por ocasiao de um inquérito realizado recentemente na Franca sob a rubrica "Vers quel type de saintetc allons-nous?":

"Qual o meu ideal de sanlidade?

E' o de eclibatária que,

consagrando sua vida e seu amor ao Cristo, permanece no mun do e do mundo, cheia de amor a Deus ao próximo, capaz de se consagrar a urna obra de caridade e de ser, ao mesmo tcnipo,

pioneira da cultura e do movimento social contemporáneo" (Pa-

lavras de urna Assistente social).

"Dos tres votos do estado religioso, somenle o de castidade

guarda o seu prestigio, principalmente porque torna o homein disponivel para o servico do próximo" (Verifica^áo feita por um

sacerdote).

Vcja-se a revista "La Vie Spirituelle" .'J04 (lev. lí>4(>) 23í»s.

Deve-se, porém .observar, á guisa de conclusáo, que a vir gindade nao pode ser imposta a nenhum cristáo, como também o matrimonio nao o é indistintamente obrigatório para todos. Nao é o individuo quem arroga a si a dignidade do estado virginal ou do estado conjugal; mas um e nutro dcstes dois géneros de vida sao dons de Deus, condicionados a gratuito chamado di vino.

— 18 —

NENA

8)

(Recife):



"Se era necessário que Cristo fósse traído para se

cumprirem as Escrituras, como se explica que Judas tenha sido condenado, pois Jesús disse: "Melhor lhe fóra que nao houvesse nascido" (Mt. 26,24)?" .1/. 6*. (Rio de Janeiro):

9) "Se Deus vé todas as coisas, vé que vou fazer o mal. Déixa-me, entretanto, a liberdade. Nao consente no mal?" .

É' preciso observar, eni primeiro lugar,' que as profecías

nao tirum a liberdade de arbitrio do homem; nao se pode, por

conseguinte, dizer que Judas agiu de tal modo porque de tal Modo

Cora profetizado o seu procedimento; mas, ao contrario, afirmarsc-á que tal era a profecía porque tal havia de ser a conduta de' Judas. Dcus tudo sabe de antemao; mas a preciénciá divina de modo nenhum extingue a liberdade do homem; sabia, póis, desde toda a eternidade que Judas havia de atraicoar livrementé o Divino Mestrc. Aprofundcinos ainda a explicacáo: o Pai Eterno decretQÜ t|ue seu Filho padecesse como Redentor do inundo, na carne hü-; diana. Pan» obter éste efeito, nao foi necessário que a Onipoténcia Divina endurecesse o coracáo de Judas ou decretasse positiva

mente o pecado do traidor. Lembremo-nos de que a Santa Igrejá condenou como herética a doutrina de Godescalco (t868), o qual afirmava haver urna predestinacáo direta e positiva para p nial (tese repetida por Calvino no século

16).

Nao; o mal nunca

acontece porque Deus o queira em si; o Criador apenas permite ^ que o homem, por sua livre vontade, torne lacunosos ou care-

centes os dons positivos e bons que ele recebe de Deus (sabe--

mos que o mal nao é urna entidade positiva, mas mera carénela;"\

cf. "Pergunte e Responderemos" 5 pág. 3).

!

*'"'■

Porlanto, o pecado de Judas, que nao foi positivamente de-' crctado pelo Senhor Deus, se deVe á habitual desordém da con

cupiscencia ou, mais remotamente, á falibilidade do livré arbitrio

da criatura; foram a avareza (cf. Jo 12,4-fi; 13,29) e o odio que levaram Judas a atraicoar o Salvador. Aconteceu, porém, algo de estupendo: o Todo-Poderoso fez que a obra má de Judas ainda. servisse a um plano bom, k Redencáo do género humano! —E' neste sentido apenas que se diz que o pecado de Judas estavá englobado no plano do Criador expresso pelas Escrituras.

Mas Deus nao podia ter impedido a queda de Judas, fazentlo que a Paixáo de Jesús decorresse sem a traicao?

— 19 —

"

Sem dúvida, podía Deus ier evitado que Judas pécasse; inns, para isto, deveria ter retocado ou mutilado o livre arbitrio do homeni. Tal retoque, o Senhor nao o quiz fazer, pois Ele costunia respeitar os seus dons, nao derrogando ao que deu. Dcixou. porlanto, que os acontecimentos da Paixáo se dcscnrolassein segundo

o curso que lhcs podiam dar ns escrituras livres postas em jógo (Judas contribuiu principalmente com a sua avareza; os Fariseus, com a sua soberba e bípocrisia; o povo judaico, com j» 'sua obteícacáo; Pilatos, com a sua fraqueza de caraler). A Provi dencia Divina apenas quis assegurar a Vitoria final ao Bem, encaminhando surpreendentementc ate os erros e desmandos dos diversos atores para a salvacáo do género humano.

'Algo de semelhante se dá em todo pecado.

O Senhor de-

seja a salvacáo de lodos os homens (cf. 1 Titn 2,4) e concede a todos sem excecáo a graca suficiente para praticarcm o bem; a morte do Redentor na cruz visava, sim, o genero humano inteiro. O próprio Judas foi intimado por Jesús a tomar conscicncia da hediondez da traicáo, quando o Mestre iriterpelou na última ceta (cf. Mt 26,25). Contudo Dcus permite que o homem

exerija a sua liberdade, resistindo á graca; caso escolha o Bem,

pfoduz ato mais nobre do que se fóra foreado; dado, porém, que opte pelo mal, a culpa há de Ihe ser atribuida exclusivamente, pois da parte de Deus nada terá faltado para que praticasse o bem.

Vé-se, pois, que o misterio da iniqüidade depende, em i'ií-

Liina análisc, da liberdac de arbitrio do homem, arma guiñas que o Criador outorgou a criatura para que esta ácima de uní autómato, mas que o homcm, apesar de solicitaeñes da graca, nao raro utiliza para sua ruina

de dots se eleve todas as (veja-se

"Pergunte e Responderemos" 5 pág. 5-9).

Quanto á sorte eterna de Judas, a tradic.f»o exegéliea costuma interpretar as palavras de Jesús em Mt 26,24 como anuncio de sua condena.cao definitiva. Contudo tal sentcnca nao é unánime nem obrigaforia. III. CELIA

10)

SAGRADA ESCRITURA

(Rio
"Existem testemunhos náo-cristáos da existencia de

Jesús?"

Sim; há ñus literaturas judaica e romana certas alusóes á vida de Jesús. Nao sao táo numerosas quanto nos hoje, conhecendo a importancia do Cristianismo, poderiamos esperar; os ho-

— 20 —

inens nao-cristáos das geracóes contemporáneas e imédiatalnente

subseqüenlcs a Cristo nslo percebiam todo o alcanes da personalidade c da obra de Jesús, humilde filho de carpinteiro, nascido nuni recanlo de insignificante provincia romana, pertencente ao, desprezado povo judeu. Contudo os testemunhos nao-cristáos, por tnuito sobrios que sejam, obrigam a reconhecer a existencia histórica de uin personagem chamado Jesús ou Cristo, crucificado na Palestina sob o govérno de Tiberio (14-37). Examincino-Ios, pois, sumariamente:

1.

Testemunhos judaicos

A literatura religiosa dos judeus posteriores a Cristo é repre sentada principalmente pelo Talmud, que vem a ser uina colecáo de Icis e comentarios hostoric»-.jurídicos devidos aos rabinos e aos

fariseus, Transmitidos oralmente desde o inicio da era crista, esses cnsinamentos foram finalmente codificados nos séc. 5.° e 6.° d. C. na Palestina e na Babilonia. Apresentam alguinas passagens referentes a Jesús. O valor de tais testemunhos esta

cm que, embora se oponhain á tradicAo crista, nao negam a exis tencia de Cristo, mas prncuram interpretá-la de maneira a ridicularizar os fundamentos da fé crista (quem se daría ao trabalho de, desfigurar urna figura lendária?). Eis um ou outro dos espécimes mais significativos dessa tradicao: 1)

o tratado Sanhedrim 43.a do Talmud da Babilonia re

fere :

"Na véspera de Páscoa, suspenderam a urna haste Jesús de Nazaré. Durante quarenta dias um arauto, á frente déle, clamava: 'Merece ser lapidado porque exerceu a magia .seduziu Israel e o levou á rebeliüo. Quem tiver algo a dizer para o justificar, venha proferi-lo!' Nada, porém, se encontrou que o justificasse; enlao suspenderam-no á baste na véspera de Páscoa."

, •

Éste texto parece envolver contradicho: Jesús fóra conde nado á lapidacáo, mas a pena aplicada foi a de pender do lenhó.

Talvez s-2 possa explicar a incoeréncia pelo fato de que a lapiiacáo era o castigo judaico infligido aos magos, sedutores do povo e idólatras; dizendo-sc, pois, que Jesús fóra condenado ao npedrejamento, procurava-se justificar a sua condenacáo; contudo a crucificacAo de Jesús era fato demasiado arraigado na tradicao para que sl> pudesse dizer que morreru lapidado. — Note-se outrossim a acusacáo de magia feita a Jesús: supóe ~ que o Senhor haja realizado inilagres (os mi [agres de que fala o S. Evangelho); interpreta-os, porém, em sentido pejorativo* . — 21 —

como obras diabólicas; chaina u nossa alencao a semclhancn entre esta interpretacáo e a que os fariseus proferirán!, impu

tando a Jesús colaboracáo com Beelzebul, o principe dos demo nios (cf. Me 3,22). — Outro pormenor interessante: as narrati vas evangélicas dao a entender que o processo de Jesús vé realizoü ás pressas, já estando sua condenacao preconcebida. Ora 6 Talmud admite o supreendente e'inverossímil intervalo de quarenta dias entré a condenacao e a execucáo, intervalo oférecido

ás testemunhas para se manifestaran; o que venia ser um'a ten tativa de reabilitar os juízes de Jesús. 2) ein Aboda Zara 40d Jesús c dito Ben-Pandara ou UenPnnthera, filho de Pantera. Esta expressao arninaica nao parece ser senño a transposicáo do grego huios tes parthénou, filho da virgem, título com que os cristáos designavam Jesús; segundo a intencáo polémica dos talmudistas, o substantivo comum parIhénos foi transformado em norae próprio e passou a designar o

pai ilegítimo que os rabinos atribuiam a Jesús (Marín estava oficialmente casada com um varáo cujo nome no Talmud é Pappos ou Stada); teríamos nesta passagem rabinica urna confirmaeño da antiguidade da fé no nascimento virginal do Senhor; 3)

Jesús, na mcsina col ceño, é geralmente chamado "um

tal" ou "BalaS'"(antigo mago de Núm 22-24), "louco", "bastar do" ou ainda por outro titulo muís injurioso, o que de certo modo evidencia a atitude geral dos talmudistas em rclacáo a Cristo. Em suma, ao considerar os dados da tradic.5o rabinica concernentes a Jesús (os quais ainda forain ampliados no livrinho

Totedoth Jeshua, dos séc. 8.°/$.°), os críticos modernos tém-nos conio argumentos indiscutiveis da existencia de Cristo; ésses escritos supóem, c em certo sentido confir.mum, o que dizcm os Evangelhos; as interpretacoes, porém, que sugerem, apresentamse demasiado tendenciosas para gozar de autoridade. Sendo assim, os críticos judeus mesmo nao utilizan) o Talmud para escrever a vida de Jesús; baja'vista, por exemplo, a obra The Jewish Encyclopedia, de autores israelitas, (12 volumes, Nova Iorque, a partir de 1904): o seu artigo Jesús of Nazareth (vol. 7, col. 100178) se divide em tres partes: "Jesús na historia" e "Jesús na teología", estudos baseados sobre documentos cristáos, c- "Jesús na Icnda judaica", apresentacáo dos dados talmúdicos (!) Fora da tradicáo rahínica, existe o importante historiador judeu Flávio José, do séc. 1.° d. C. Menciona duas figuras da historia do Novo Testamento: Joáo Batista, sua pregacáo e sua

morte (Antiguidades judaicas XVIII 116-119) e Tiago, "irmáo de Jesús, chamado o Cristo" (Ant. XX 200). Alcm disto, encontra se em Antiguidades XVIII 63-64, o seguinte trecho: — 22 —

. "Por cssa ¿poca • aparoceu Jesús, hoinein sabio,- se é que há lugar para o chaniarmos homem. Porque ele realizou coisas maravilhosas, foi o mestre daqueles :que receb.em com júbilo a ., verdade, e.arrastou muitos judeus, e igualmente, ímiitos gregos.' Ésse era o. Cristo. Por denuncia dos principes da nossa nacáa; PMatos condenou-oao suplicio da cruz; mas os scus fiéis nSo;rec nunciaram ap seu amor por ele, porque ao terceiro dia éle::lhet| apareceu ressuscitado, como o anunciarain os divinos profetas

juntamente com mil outros prodigios a seu respeito. .Ainda hrfje subsiste o grupo que por sua causa recebeu o nome de cristpos". liste testemunho, 15o explícito e forte, está sujeito a dúvi-t das dos críticos. Autores católicos como o Pe. Lagrange, Mons. Batiffol, tem-no como interpolado por niños cristas na obra de Flávio José; ao contrario, críticos protestantes ou liberáis, como Harnack e Burkitt, defendem sua autenticidade. Muito provável é a sen tenca de Reuss, Renán, Reinach e outros, que •afirmam tratar-se de urna passagem retocada, ou seja, originaria mente escrita por Flávio José, mas no séc. 2.° explicitada e me* 1 horada no sentido cristáo por mti copista entusiasta.

A razáo por que Flávio José, geralmente rico em noticias, se mostra táo sobrio ñas suas referencias a Jesús é, como se julga, o fato de que, por ssus escritos, quería bajular os romanos tí conciliar-se as suas boas gragas; por isto lera omitido os teirías que poderiam melindrar os senhores do Imperio, temas entre os1

quais estava o messianismo judaico (a esperanca niessiánica'de Israel implicava a ruina dos imperios terrestres, que deveriani ser substituidos pelo Reino do Messias). ■ •

2.

Testemunhos romanos

No segundo decenio do séc. 2.° tres escritores romanos dei- ' xaram-nos o seu depoimento sobre Cristo c os cristáo.

. t

No ano de 112, Plinio o Jovein, governador da Bitínia (Asia

Menor), enviava urna carta ao Imperador Trajano, na qual pedia instrucóes sobre o modo como proceder em rclíicáo aos cristáos: estes, que se iam difundindo cada vez inais, "estavain'acostuma

llos a se reunir em dia determinado, antes do nascer do sol, c

cantar uní cántico a Cristo, que cíes tinhatn como Üeus (guod cssent soliti staío die ante lucem convenire carmenque ChristoJ

(¡uasi Deo dicere)" (epístolas, livi-o X 96).

'5

O mais importante é o testemunho de Tácito, que, ¿scre;- ^ vendo os seus Anais por volta de llfi, noticiava, a propósito do -

incendio de Roma ocorrido em 64:

— 23 —

• . ; •'

"Un» boato acabrunharior atribuía a Ñero a ofdem Ue pó/r

fogo a eidade. EntSo, para cortar o mal pela raíz, Ñero imáginou culpados e entregou as torturas mais horriveis ésses homens dctcftados pelas suas ("acanitas, que o povo apelidava cristáo. ftstc

nome vem-lhes de Cristo, que, sob o reinado de Tiberio, f¿i con

denado ao suplicio pelo Procurador Póncio Pilatos. Esta seita perniciosa, reprimida a principio, cxpandiu-se de novo, nao sóinente na Judéia, onde tinha tido a suu origem, mas na própria cidadc de Roma..." (Anais XV 44).

Estas linhas atcstam com clareza a existencia e o quadro

histórico da obra de Jesús: executado na Judéia, sob Tiberio (14-37) por ordem de Póncio Pilatos (26-36; cf. Le 3,1), foi cha mado Cristo ou Messias pelos seus discípulos, que alé o inicio do séc. 2.° persistiam fervorosos. Julgain os críticos que Tácito coIheu as noticias ácima nao em fonte crista (dado o tom hostil da narrativa) ncm em fonte judaica( os judeus, entre outras coi sas, nunca teriam designado o chefe da seita como Cristb, vocá-

bulo grego equivalente ao hebraico Messias), mas em fonte paga (o que é particularmente importante).

O tereciro depoimento, datado de cerca de 120, ó o Suetónio, o qual confirma que sob Ñero foram "sujeitos a suplicio os cris-

táos, estirpe de homens de urna supersticáo nova e maléfica" (Ñero 16). Referindo-sc ao reinado de Claudio (41-54), diz ouIrossim que este "expulsou de Roma os judeus, os quais, sob o impulso de Crcsto, se haviam tornado causa freqüenle de tumul tos (ludacos impulsare Chreslo assiduc tumultuantes expulit)" (Claudio 25). A expulsáo é confirmada pelos Atos dos Apostó los 18,2, devendo-se ter dado por volta de 49/50. Nao resta díivida de que Chrestós é forma equivalente a Christós (e e i se permutavam fácilmente na linguagem grega vulgar), de mais a inais qué os cristáos aínda no séc. 3.° eram chamados chrestianoi (cf. Ter tuliano, Apol. 3; Ad Nationcs 13; Latáncio, Div. Inst. 4,7). Sue

tónio, escrevendo setenta anos após os acontecimentos, estava in

suficientemente informado; julgava que Cristo se «chava pre sente em Roma, instigando as desordens.

Descendo pela historia da literatura paga, o estudioso encontra outros testemunhos a respeito de Cristo e dos cristáos; sendo mais tardíos, interessam-nos menos. Em conclusáo, verifica-sc nao serení inuitas as noticias que a literatura romana fornece a propósito de Jesús. A sobriedade

compreende-se, dado que o Cristianismo, aos olhos dos pagaos, nao era mais do que desprezivel supersticáo oriental; só mcrecia atcncáo na medida em que se torntiva ocasiáo de pertúrbameles políticas ou sociais. 24

//. T. R.

(Rio Pardo):

11) "Qual a interpretacáo da frase: 'Fazei-vos amigos com o dinheiro dcsonesto, a fim de que, quando desfalecerdes,-vos recebam ñas mansóes eternas' (Le. 16.9)? Todas as riquezas sSb injustas ou entSo as riquezas injustas sao lícitas?" PKDRO ROSA (Cachnmby): 12)

"Que é espirito de pobreza? Como pode um rico ter

espirito de pobreza continuando rico?" Antes do mais, unía advertencia sobre a forma do texto: ern vez de "quando desfalecerdes", leia-se "quando desfalecer", isto é,

"([liando o dinheiro vier a faltar", variante sustentada pelofc mcIhores códices.

As palavras ácima sao proferidas por Nosso Senhor logo npós a parábola do administrador iniquo (Le 16,1-8). Já'esta parábola no seu v. 8 costuma suscitar urna dificuldade, pois ai se lé: "O mestre louvou o administrador desonesto, porque proce derá de mancira prudente". Quer isto dizer que Jesús tenha elogiado a deslealdade? Nao. O Mestre, no caso, nao c Cristo, mas o patráo tesado da parábola. Embora seriamente danificado, éste nao pode deixar de reconhecer que o administrador fraudulento fóra devoras industrioso; a servido de urna causa má ou do furto colocara grande perspicacia e fino senso prático. listes dotes, o patráo sincero os encomiou, sem, com isto, entender legitimar a fraude que o administrador cometerá.

Depois de narrar o procedimento sagaz do homem injusto, Jesús acrescenta que nao é caso isolado na historia dos homens: a industria e o afinco sao muito mais freqüentes entre os maus ou entre os que propugnam interésses meramente temporais (fiIhos déste século) do que entre os bons ífilhos da luz), que visam fins superiores.

Feita esta verificacáo, estavam os ánimos preparados para solenc licáo. Tal estado de coisas nao deveria ser tolerado pelos cristaos, advertiu Jesús. Dcspertcm-se as consciéncias: enquanlo

ao homem é dado usar dos bens déste mundo, procure coni éles

praticar zelosamente a virtude, a fim de que, quando as posse.slhe

vierem a faltar (na hora da morte), tenha amigos que lhe mere», cam admissáo na mansáo eterna ou na gloria celeste.

Os ami

gos de que Jesús fala, amigos que se podem grangear com o di-" nheirn, certainente nao sao os homens com quem alguém entracm negociata ilicita (fistos nada poderáo, perante a Justica Di-' — 25 —

vina, merecer era favor do seu cúmplice); trata-se, antes, dos in

digentes a quem fazemos a caridade; conforme Mt 25,34-40, 6 Je

sús, em'tiltima análise, quém está presente na pessoa désses sofredores; por conseguinfé, será Ele o grande Amigo (=os amigos) que nos receberá no reino do Pai, em troca do sabio uso que tivermos feito dos bens temporais. Por "amigos" podem-se também entender (o que dá no mesmo) as boas obras que alguém pratique enquanto goza de saúde e dos dias desta vida; estas obras certamente nos valeráo um día o acesso á visáo do Pai Ce leste.

Quanto á intrigante expressáo "riquezas desonestas" ou "da ¡niqüidade", nao significa que havemos de negociar com dinheiro mal adquirido; lambcm nao quer dizer que o dinheiro seja em si

mau; Jesús a emprega únicamente porque a riqueza é com freqüéncia (mas contingentemente) utilizada para a iniqüidade (tal foi o caso do ecónomo infiel); sao os seus proprietários que nao

raro lhe imprimem o caráter de instrumento do mal (cf. Mt 6,24; 13,22). Para evitar isto, o cristáo, seja pobre, scja rico de béns materiais, há de nutrir sempre em si o espirito de pobreza, que nada tem que ver com ignorancia, exiguidade intelectual, nem com amencia, mas c o desapego interior.

As posses temporais legítimamente adquiridas dcvem ser consideradas como dom de Deus, outorgando nao para que o homem se dé por saciado nesta vida (tal foi a atitude do ricaco imprevidente, em Le 12,16-21), mas para que mais ainda se ex cite no amor de Deus d do próximo, crescendo destartc na uniáo com o Supremo Amigo; a natureza humana constitui-se de tal modo que lhe é normal elevar-se no amor dos hens invisiveis mediante os visíveis.

Contudo, a finí de que o homem nao frustre

os designios do Criador, é-lhe absolutamente necessário manter continuo controle sobre si mesmo para que o dinheiro a ele sirva e a Deus, e nao ele sirva ao dinheiro. rístico do espirito de pobreza. H. T. R.

Tal controlo é caracte

(Rio Pardo):

13) "No versículo 3, pág. 14, de "Pergunte e Responde remos", leio que os carnívoros já eram carnívoros no Éden. Já se matava por lá? A paz na natureza perfeita nao reinava entáo?" E' S. Tomaz, Suma Teológica I 96, 1 ad 2, que ensina que o pecado nao alterou a fisiología ou a natureza dos animáis. Por consegüintc, os que hoje sao carnívoros já eram tais no paraíso; dónde se segué que matar para satisfazer as exigencias de regime carnívoro ditado pela natureza nao podia ser desordem nem

mesmo no estado paradisiaco; nao era ruptura da hierarquia de valores sabiamente instaurada pelo Criador.

Contudo o S. Doutor admite que o homem (nao, porém, os animáis irracionais) se abstinha de carne antes do pecado, visto' que a frugalidade mais condiz com o dominio sobre as paíxóes que Adao exercia em grau perfeito. Nao há razao para rejeitar a sentenca de S. Tomaz, embora nlguns Padres c escritores cristáos antigos tenham ensinado que, até o diluvio, nem os homens ncm os irracionais comiatn carne (cf. Gen l,2í)s e fl;3); nao se

poderia dizer, em nome da fó crista, que o leáo tenha sido alguma

voz erbivoro!

Veja-se a propósito E. ttetteneoiut. "Ciencia o Fé na historia

dos primordios", c. II j; 2 íi'im).

IV.

MORAL

MARÍA C. (Rio de Janeiro);

14)

"Poderia dar explicares sobre o uso da bomba ató

mica? E' um mal? Um bem?"

As pesquisas nucleares com as conclusóes a que tém chegado, constituem em si um bem inegável. O homem é essencialmente dotado de inteligencia, de tal sorte que o uso desta d;ve natural mente concorrer para que viva cada vez mais como homem, exercendo o primado que o Criador Ihe confiou ein retacan ás criatu ras materiais: "Enchei a torra, o subinetei-a; dominai. .." (Gen 1,28).

Acontece, porém, que o uso das descobertas da ciencia, em vez de concorrer para o engrandecimento do homem, pode con tribuir para o aviltar. E' o que se teme com referencia á bomba atómica (A) c suas congéneres, a de hidrogénio (H) e a de cobalto (C, bomba de hidrogénio com cobertura altamente radioativá de cobalto), todas fabricadas em vista de operacóes bélicas. O Santo Padre Pió XII e os teólogos católicos tém considerado ó caso com atencáo crescenle.

Ei.s brevemente o que hoje em dia

fazem observar sobre o assunto: 1) Em guerra é lícito reivindicar justos direitos ou reprimir injusta agressáo.

2)

.:

12' preciso, porém, que se observe rigorosa proporcao enr

tre a agressáo (direta ou indireta) a reprimir e os meios utiliza

dos para a repressao. A consciéncia crista, se de um lado permi te a violencia adequada e necessária a cada caso, de otttro lado"-condena formalmente qualquer abuso de fóresi.

- • 27 -

¡J) N'áo se pode dizer que a guerra, como tem sido praticada cm nossos lempos, seja o que se chaina "guerra total", islo é, conflito que envolve populacócs inteiras, de modo que qualquer cidadáo de um povo beligerante deva ser considerado coinbatenle. Ainda é perfeilamente justificada a distincao entre combatentes e nao-eombatentes de unía nacáo ein guerra, embora quase lodos os individuos, de modo próximo ou remoto, sejaiu utiliza

dos pelos estrategistas modernos segundo as suas possibilidades (a u'a menina de dez anos poderá talvez tocar a tarefa de recolher pedamos de metal usado para a fabricacáo de municoes); o falo de participar no esfórco bélico comum ainda nao torna tal pessoa combalente. — O Santo Padre ainda recen temen te, respondendo a interrogacao que lhe fóra feita, declarou nao ser lícito proceder

hoje etn día como se as guerras fóssem sempre guerras totais (cf. o trecho da alocu^áo proferida aos membros da Associacao Médica Mundial aos .10 de sotemhro de 1954, na revista A Qrdem

55 [19561 13s).

4) Se, pois, bá ohrigacáo bem fundada de distinguir entro combatentes e náo-combatentes duma nacáo ein guerra, a consciéncia crista nao pode deixar de opor serias restriñes ao cinprégo de armas, como as bombas A, H, C, cujo potencial destruidor ó incontrolável, capaz de atingir inocentes, destruindo sem justifi cativa alguma centenas ou mil bares de vidas humanas e arra

sando objetivos nao-militares. Haja vista o setor de Nova Iorque "Newark", urna das regióos do globo mais ricas de industrias, na qual a estrategia militar encontra objetivos de elevado interésse: se, dentre os dez milhoes de habitantes da regiáo, se contain os que de algum modo concorrem para a vida industrial e pública (ñas fábricas, nos transportes, ñas reparticóes governamentais), chega-sc a um total de dois milhóes c meio (25% da populacho); tres quartas partes dos moradores sao seres humanos militarmen

te inocentes!

Ainda que em caso de guerra se aumentasse o nú

mero de moradores militarizados no territorio, juiga-se que as proporcóes de combatentes e náo-combatentcs ainda nao justifica rían! o 1 anca mentó de urna bomba atómica sobre Ncw-ark, pois tal arma inevitávelmente causaría elevado e injustificado núme ro de vitimas inocentes. Há quem pense, entre os católicos, que, se fósse absolutamen te necessário o uso de armas nucleares para o éxito de urna campanha bélica conscienciosa, a Moral nao se Ihes oporia; essa nccessidade, porém. é muito hipotética, parecendo mesmo mera mente teórica, conforme ensinam os técnicos. Ademáis a nacao que recorresse a armas nucleares provoca ría igual recurso por parte do inimigo (supóe-se que as grandes

— 2fi —■

potencias do mundo atual cstcjam de posse dos scgredos atómi cos), o que, segundo pensam bons autores, poderia acarretar o suicidio ou quase-suicidio do género humano como tal (sabe-sc que as emissoes rádio-ativas da bomba de cobalto, empregada dentro de certa escala, poderiam dentro de poucos anos impreg nar toda a atmosfera, tornando iinpossivel a vida humana sobre a térra). Ora tal efeito a título nenhuin se poderia justificar aos olhos da consciéncia crista.

5) Contudo, ñas restricóes fcitas as armas atómicas, é pre ciso se leve em conta aínda o seguinte: pelo fato de estarem as principáis nacocs do globo habilitadas para a guerra atómica, qualquer das grandes potencias que se quisesse despojar de suas armas nucleares, correría o risco de ser agredida sem se poder defender, o que acarretaria graves danos para a respectiva po

pulacho ou seria um suicidio coletivo (a fim de se avaliar o progresso das pesquisas atómicas e a necessidade de o acompanhar, observe-se que, para atingir os municipios da Franca quase to dos, seriam necessárias 6000 bombas atómicas como as de Hiro shima e Nagasaki, mas bastariam quinze das bombas de hidro-

%énio mais recentemente descobertas).

Por isto, os autores cató

licos, ao mesmo tempo que rejeitam em tese o uso de armas nu cleares, milito desejam que o desarmamento se fa$a segundo um

acordó internacional a fim de que nao haja surpresas nem detri

mento para as populacóes civis. Deve-se ponderar que ,na falta de entendimento pacifico, o simultáneo armamento de todas as nacóes ainda pode ser um freio á paixáo de desencadear a guerra.

Merece especial atenc.áo a última declaracáo pontificia sobre o assunto. Aos 14 de abril de 1957, o Santo Padre recebeu em au-^ diéncia o Professor Masatoki Matsushida, da Universidade de Tokio, que voltava da Inglaterra, onds fóra pedir a suspensáo

das experiencias nucleares; Pió XII entregou-lhe entáo urna nota, de que constava a seguinte passagem:

"O poder destruidor das armas nucleares tornou-se ilimi-'

tado, nao sendo mais frciado nem mesmo pela crítica das multi-

dóes, que opunha um limite natural á pujanca já terrivel das primeiras armas atómicas. Ora ésse poder ilimitado é utilizado como aineaca que. . . se torna cada vez mais catastrófica. . .

. . .Caso urna catástrofe se produza pela vontade perversa de dominar.. ., como poderia tal ato nao ser reprovado e condenado por toda alma reta? Por conseguinte, em vez do inútil dispendio de labor cien

tífico, de fadiga e de meios materiais que implica a preparado de tal catástrofe, catástrofe de que ninguém saberia dizer com seguranza quais seriam, além dos seus intensos estragos imedia— 29 —

tos, os últimos efeitos biológicos — principalmente os efeilos he reditarios — sobre as especies viventes; em vez dessa cxaustiva

e dispendiosa corrida para a inortc, os sabios de todas as nac.oes devein ter consciéncia da sua grave obrigagáo moral de tentar dominar essas energías para colocá-las a servido do hoinein.

As

organizacóes científicas, económicas, industriáis e mesmo políti cas deveriam sustentar com todos os seus recursos os esforcos que tendem a utilizar essas energías mima escala de grandeza adaptável ás indigencias humanas" (Osservaiorc Romano, 25 de abril de 1957).

Junto com a mencionada nota, se encontrava o elenco das succssivas deelara?óes do Sto. Padre, de semelhante teor. Sao

datadas de 30-XI-1941; 21-11-1943; 8-IM948; 12-IX-1948; 24-XII-1951; 10-IV-1955; 24-XII-1955; 1-IV-195G. Documentado encontrada 'cm Discnrsi e Radiomcssagi di Sua Snntitá Pió XII, vol. III 276; IV 388-390; IX 439-442; X 208; XIII 396-399; XVII 35s. 55-57; 445-447.

EDYR (Rio de Janeiro):

15) "Nao compreendo que a Igreja aprove a pena de morte, se só Deus tem o direito de tirar a vida". E* verdade que só o Criador possui dominio absoluto sobre ¡i vida e a morte. ftsse dominio, porém, fcle o pode exercer ou dirctamsnte ou por agentes criados. No que diz respcito á condenagáo á morte, eni particular, o Criador quis confiar direitos á autoridade civil legítimamente constituida. E' o que se depreende das seguintes considerares: 1) A autoridade legítima é lugar-tsnente de Deus, como cnsina Sao Paulo em Rom 13,ls: "Nao há autoridade que nao venha de Deus, e as que existem sao constituidas por Deus, de tal modo que queni resiste á autoridade se rebela contra a ordem estabelecida por Deus".

2)

Á autoridade civil o Criador atribuiu a larefa e os pode

res de promover o bem coiiuim. Ora éste é as vézes d¿ tal modo ameacado por individuos turbulentos que a existencia dos mesmos se torna inconciliável com a ordem pública. 3) Em tais casos, dado que nao haja esperanza de éxito por outra vía, a autoridade civil deve possuir o direito (e eventualmente a obrigacao) de eliminar os maus elementos; entre o bem comum e o bem particular nao há que hesitar, desde que se torn:m incompatíveis entre si. O agressor injusto, ameacando a ordem pública, pela sua atitudc mesma perde o direito de exis— 30 —

lir, torna-se naturalniente réu de niorle.

Ademáis pode aconte

cer que, em povos de mentalidade rude, o recurso á pena máxima

ein certos casos seja o único eficaz para reprimir o criine e im pedir o surto de novos delinqüentes.

Por isto o próprio Deus, já na legislacáo do Antigo Testa

mento, reconhecia a pena de morte que os israelitas praticavam, continuando as tradicóes dos povos ancestrais. Por conseguinte, ein nome do Senhor, Moisés estipulou casos cm que se devia infli

gir a sentenca capital a um réu: idolatría (Lev 20,2-5); maldicáo proferida contra pai ou máe (Lev 20,9); adulterio (Lsv 20,10);

outros delitos incestuosos (Lev 20,11-16), etc. (note-se que os

réus de morte, num povo primitivo nao háo de ser os uiesmos que

num povo de elevada cultura).

Entre os cristáos, sempre se julgou, na base dos motivos ácima expostos, que á autoridade civil toca o direito de impor a

pena de morte. Do séc. 1,3 até o séc. 18 aproximadamente, em algumas nacóes condenavam-se á morte nao sómente os que se opunham ao bsm temporal da sociedade, mas também os que contradiziam aos seus interésses religiosos, corrompendo a verdadeira fé pela heresia; tinha-se consciéncia de que a vida sobrena tural, baseada sobre a sa doutrina, aínda vale mais do que a vida natural, que os tribunais antigos costumavam defender infligindo

a morte aos assassinos.

Em tese, pois, nao resta dúvida de que será lícito ainda hoje a aplicado crileriosa da pena capital. E' preciso, porém, consi derar que, na prática, a oportunidade s eficacia desta sancáo de pende da mentalidade do povo em que ela vigora.

Pode muito

bem dar-se que determinada populac.no já se nao deixe impres-

sionar pela condenacao á inorte; os "aventureiros" seriam tais que pouco se importariam

(ao contrario, muito apreciariam o

sensacionalismo) de correr o risco de morte por causa de seus de litos. Nessas circunstancias, a pena capital já nao preenche o seu papel tutelar do bem comum; torna-ss castigo de taliao, me-, ramente vingativo, nao medicinal, e ein si odioso ("dente por \

dente, ólho por ólho, vida por vida").

j

Pois bem; é isto que se alega em nao poucas nacóes moder

nas, onde a pena de inorte estéve em vigor ate nossos días. Em conseqüéncia, a Inglaterra em 1956 aboliu a sentenca capital (na-

quéle pais se ponderou também o perigo de proferir .injustas condenacóes á morte); urna cstatfstica inglesa deu a saber que, dentro 250 réus executados, 170 haviam previamente-desistido a-

urna ou mais execucóes capitais, sem ter colhido algum fruto •

para o seu próprio procedimento. Na Europa ocidental sómente a Franca e a Espanha conservam a pena de morte, enquanto obras científicas, romances e filmes cinematográficos dssenvolvem ín— 31 —

tensa canipanha contra ela. As autoridades dos países que a aboliram, afirmam que neni por isto se aumentou em suas térras a porcentagem dos morticinios delituosos.

Todavía, contra a onda abolicionista, alguns autores obser van! que no mundo moderno os homens ainda cometem oficial mente, sob a tutela mesma da lei, inuitos atos de selvageria e bar barie, de tal sortc que urna judiciosa aplicacáo de morte (desti nada a ser defesa do bem coinum) nao se poderia tachar de ana crónica ou retrógrada. Em última análise, a questáo de sab^r se lioje em dia é opor tuna ou nao a pena capital nao depende da cstipulacáo de prin

cipios teóricos (estes sao suficientemente claros). Depende de um fator contingente, a saber: da metalidade das geracóes moder nas, que talvez se tenham tornado indiferentes á ameaca ca pital! A MICO

16) Chibe?"

iQiintá, S. /■».):

"Será permitido a um católico pertencer ao Rotary

O Rotary Club atrai a muitos homens de ideal pelos pontos cupitais do seu programa: "Camaradagem sincera, filantropía seria e paz mundial". Tres pontos aos quais uní quarto foi recenteniente acrescentado, dada a poderosa ameaca do comunismo contemporáneo: "Defesa da cultura e da democracia", ou seja, "liberdade do individuo, do pensamento, da palavra o das associacóes; liberdade de culto". Na vida prática, o Rotary exerce a filantropía, dispensando protecáo principalmente aos socios necessitados, garanÜndo-lhes a carreira ou o exercício da profissSo ñas circunstancias dificeis da luta cotidiana; também muito tem auxiliado aos homens de negocios e industria que so Ihe filiam. A Sociedade lem-se difundido cada vez msiis, inormente en tre as élites, que se reunem cm banquetes de grande estilo. Os

scus dirigentes fazem severa selecto entre os candidatos a finí

de manter o seu cara te r de élite. Contudo ns autoridades da Igreja repetidamente tcm mani festado reservas frente ao Rotary. A última e mais importante

deelaracito emnnou diretaments da Suprema Congregacao do San to Oficio aos 11 de Janeiro de 1951 nos termos seguintes: "Esta Suprema e Sagrada congregacáo foi interpelada sobre

a

questáo: será licito que católicos se filiem á Associacáo que se chama Rotary Club?

Os Eminentíssimos e Reverendísimos Senhores Car-

deais encarregados da protecáo da fé e da moral, após ter ouvido — 32 —

os pareceres dos Reverendísimos Senhores Consultores, decretaram na sessáo plenária de quarta-feira 20 de Abril de 1950 o segulnte:

Aos clérigos nao é permitido associar-se ao Rotary Club nem assistir as reunlóes.

Os leigos sejam advertidos de que devem observar as prescrlcóes do canon 684 do Código de Direito Canónico. B no dia 26 de Dezembro, Sua Santidade Nosso Senhor Pío XII, pela Providencia Divina Papa, em audiencia concedida ao Bxmo. Sr. Assessor do Santo Oficio, aprovou e mandou publicar a resohicáo dos Eminentísimos Padres.

Dado em Roma, na sede do Santo Oficio, aos 11 de Janeiro de 1951. — (Ass) Maxinus Marani, Notario da Suprema e Sagrada Congregacáo do Santo Oficio."

Eis o citado canon 684, que o decreto corrobora: "Os fiéis sao dignos de louvores quando se agregam a associacóes fundadas ou, pelo menos, recomendadas pela Igreja. Evitem, porém, associacóes secretas, condenadas, sediciosas, suspeitas ou que tentam subtrair-se a legitima vigilancia da Igreja."

Lembrando aos fiéis éste canon 684, o Santo Oficio nao entende classificar o Rotary entre as sociedades secretas nem entre as condenadas, mas, sim, entre "as suspeitas e as que tentam subtrarir-se á legitima vigilancia da Igreja". E em que se baseiam tais admoestacóas? O Rotary Club se prnpñe exerccr a filantropía; nao faz, po rém, mencáo de Deus, professando neutralidadc íque nao é hostilidade) diante das diversas confissócs religiosas e do ateísmo.Ora é éste agnosticismo que fere a consciéncia católica. Com efeito, nao se pode querer promover o bem da humanidade sem

que, explícitamente e desde o inicio do empreendimento, se leve em conta a Deus; quando se trata de definir o homeni e scu

bem-estar, Deus nao é entidade adventicia e dispensávcl; o Altissimo é seniprc o Primeiro Valor, que na realidade está inti mamente presente á sociedade e aos individuos, e déstes pede o devido

reconhecimento.

Entre a profissáo explicita de Deus e a negac.5o de Deus nao há meio termo: "Quem nao é por Mim, c contra Mim, se quem nao congrega coinigo, dispersa", disse Jesús (Mt 12,30).-

33 - •

Se o Rotary procurasse apenas aperfeicoar o honieni ein de terminado setor de suas atividades — na ciencia, ñas artes, na técnica — ninguém exigiría que professasse explícitamente o nome de Deus, pois ciencias e artes dizem respeito a uní aspecto apenas do homeni (há, de fato, institutos técnicos que preechem a sua finalidade sem colocar no seu programa alguma profissáo religiosa). Desde, porém, que se queira apreender o honiem to do, o honiem como hoinem, e promover seus interésses capitais (éticos), nao pode deixar de entrar em jógo a questáo do Finí último a que se destina a humanidade. Ora o Finí último é um só, é o Deus da Revelacáo crista; quem nao se encaminha ex plícitamente para Ele, mantendo no fAro público unía indife-

renca consciente e voluntaria (note-se bem: nao se trata da indiferenca do ignorante), nao pode deixar de dar passos errados.

E' por isto que a Igreja julga ter o dever e vigiar sAbre a conduta de seus filhos frente ao Rotary Club.

O fato de que éste deixe toda a liberdade de culto aos seus membros, permite haja agremiacóes de rotarianos em que os ca tólicos predominan! e, por conseguinte, unía auténtica filantro

pía é praticada (aínda assim nao é de desejar que os católicos, ao exercerem o amor ao próximo, entrem em moldes de nsutralidadc religiosa oficial; tal atitude tende a embotar a cons-

ciéncia crista; é articial para o auténtico católico).

Dado, po

rém, que prepondere no núcleo rotariano o grupo náo-católico ou aleu, a filantropía há de pedir, cedo ou (arde, orientacáo ao erro religioso ou ao ateísmo; pois vira á baila entre os socios a

questáo da finalidade suprema a que se destina o género hu mano.

O indiferentismo religioso professado pelo Rotary se expli ca, em última análise, pela origem macemica desta entidade. Ainda hoje em inuitos clubes do Rotary predomino a influencia dos

macons, que, após ohservacáo atenta, convidan» setis companheiros mais ativos a entrar no Grande Oriente.

Por fim, diga-se que nao c necessário filiar-se ao Rotary para propugnar os ideáis que éste apregoa: o católico encontra no gremio da Igreja sociedades análogas

(tenha-se em vista a

mais semelhante ao Rotary, que é a dos "Cavaleiros de Colombo"), onde pode praticar o ideal da filantropía, sem abstrair do Deus Vivo, do Primeiro de todos os valores! „. 34

-

V.

HISTORIA DO CRISTIANISMO

SILVIO (Rio de Janeiro):

17) "Quisera saber quem sao os Batistas? Seráo discípu los de Sao Joáo Batista?" Os Batistas constitueni unía das seitas protestantes hoje ein dia mais ativas (haja vista a diferenca entra ¡grejci e Seita in

dicada em "Pergunte e Responderemos" 6 pág. 25). Os Batistas em geral nao tém idéias inuito claras sobre as origsns do seu credo religioso. O fato, porém, é que nao se prendem nem a Sao Joáó Batista nein a discípulos do Precursor; nao há em absoluto documentos nem indicios de continuidade. Ao contrario, claros testemunhos da historia apontam os ini

cios do moviniento batista no scc. 16 d. C. Conteporáneamente a Lutero, um grupo de cristáos, chefiado por Tilomas Münzer, Balthasar Hübmaier, George Blaurock,

Ludwig Hoetzer, julgava que o "Reformador" nao ia suficiente mente longe nos seus propósitos.

Na Alemanha e na Suíca co-

mecarani entáo a preconizar unía Igreja, eni grau máximo, espi

ritual, destituida de hierarquiti visivel e constituida exclusiva

mente pela adesáo consciente dos homens á Palavra de Deus.

O sinal característico dessa nova Igreja seria o batismo a ser

administrado aos adultos, nao as criancas, de sorte que os menibros do grupo batizavam de novo os fiéis que lhes aderiani (donde o nome de Anrtbaiistas, Rebatizadores, que lhes foi dado). O moviniento anabatista sofreu forte represalia por parte de Lutero, Zwingli e dos príncipes alemáes. Desencadeou revoltas fanáticas, das quais a mais famosa é a dos camponeses, cujo chefe, Thomas Münzer, foi decapitado em 1525. Nao poucos anabatistas, fugindo á perseguicáo, comecaram a propagar suas idéias na Italia, na Boémia, na Morávia, na Alsácia, nos PaísesBaixos, na Escandinávia, na Inglaterra, subsistindo até hoje em

pequeños grupos.

'



Mais importantes sao as rnmificacoes que proc:deram do tronco anabatista. Eis, alias, urna das características pu quaseleis do movimento protestante: Lutero se ¡Uribuiu o direito de derrogar á tradicáo, para fazer prevalecer suas intuicoes religiosas individuáis; cm conscqüéncia, c limitado periódicamente por homens que se julgam iluminados á semelhanca de Lutero, e entáo se separam do bloco luterano ou da seita protestante a que pertencem para dar origem a novo, tipo de Cristianismo baseado no senso subjetivo do fundador.

Conhecem-se hoje, como derivacóes do grupo anaba tista, as seitas dos Menonitas (de Meno Siinons, t]55<)) .dos //•-.

■— 35 -

máos Hntterinnos (de Tiago Hulter), a Igreja dos Irmáos nos Estados Unidos da América do Norte, a ¡orejo dos Irmáos Evan gélicos Unidos e a Igreja Batista, de todas a mais numerosa. Os Batistas tém por fundador o inglés (John Smyth (tl617). Foi primeiramente pastor anglicano. Movido por espirito reacionário, que agitava nao poucos cristáos de sua patria, quería urna reforma aínda mais radical que a anglicana; em particular, nao se conforniava com a organizacáo hierárquica (episcopal)

e a liturgia da Igreja Anglicana, que ele julgava supérfluas.

Por isto forinou em Gainsborough urna pequeña comunidade dissidente do Anglicanismo, no ano 1604; foi, porém, obrigado a se exilar com seus companheiros, indo ter a Amsterdam (Holanda), onde o calvinismo predominara. No degredo vivsu em casa

de uní padeiro menonita, que o persuadiu de que era inválido o batismo conferido ás criancas (tese anabista!), Smyth en-

tao administrou a si mesmo um segundo batismo, de cujo valor, porém, comecou em breve a duvidar. Em conseqüéncia, seus companheiros por ele convencidos da tese anabatista, o expulsaram da comunidade; Smyth nao conseguiu ser admitido ncm

mesmo entre os menonitas, aos quais pedirá acolhimenlo.

Em

1612, um grupo de seus discípulos voltou a Inglaterra, e la fundou a primeira Igreja dita Batista (nao mais Anabatista), tam-

bém chamada "dos Batistas gerais", porque,, contrariamente á doutrina calvinista, ensinava que Cristo pela cruz salvou todos

os fiéis. Outro grupo se formou, pouco depois, dito "dos Ba tistas regulares ou particulares"; com efeito, cm 1641, outra pe

queña comunidade de dissidenles do Anglicanismo em Londres se convenceu da tese anabatista; mandou enlao um de seus mem-

bros, Ricardo Blount, a Rijnsburg, na Holanda, a finí de pedir o batismo de adulto á seita de Dompelaers (cisüo menonita) e levar á Inglaterra o "verdadsiro batismo"; Ulounl desincumbiuse da sua missao; voltando em 1641, rebalizou por imersáo (única forma de batismo reconhecida pela scita) 55 meinbros da co

munidade de Londres; aceitou do calvinismo holandés a doutrina

de que Cristo salva sómente os predestinados; donde o nomo de "Batistas particulares" que lhes coube.

Hoje em dia contam-se cérea de vinte seitas balistas, que em 1905 se uniram de maneira um tanto vaga na "Liga Mundial Batista"; sao, entre outros, os batistas calvinistas, os b. congregacionalistas, os b. primitivos, os b. do livre pensamento, os b. dos seis principios (porque aceitam como único fundamento da

fé e da vida crista os seis pontos mencionados em Hebr fi.ls:

arrependimento, fé, batismo, imposicáo das mSos, ressurreicao dos mortos, juizo eterno), os b. tunkers, os b. cainpbellitas, os -

3fi

baü2antes a si mesmos, os b. nbertos, os b. fechados, os b. do

sétimo dia, etc.

Cada comunidadc batista é independente de qualquer autoridade visivel, seja eclesiástica, scja civil; rege-se diretamcnte por Jesús Cristo e pelo Espirito Santo, que age na assembléia; nao ha, pois hierarquia nem jurisdicao eclesiástica. Todo o po der de govérno reside na assembléia dos fiéis, que elege os que

por cía respondem (pastores e diáconos). Em sua doutrina, os batistas segucm teses calvinistas: Deus predestina diretamente nao só para a gloria, mas também para a condenacáo eterna; a justificacao ou a graca é obtida mediante

a fé; nao apaga, mas apenas recobre o pecado; os sacramentos

(Batismo e Ceia) nao sao meios comunicadores da graca, servein

apenas para a corroborar era quein os recebe com fé. Como em gcral no Protestantismo, a Biblia é tida como única fonte de doutrina.

Entre os meinbros das comunidades batistas, nota-se fervor,

infelizmente, porém, demais apoiado no subjetivismo, que orien

ta a rcligiosidade protestante e leva, consciente ou inconscien

temente, os seus adeptos a rejeitar o propio Cristo em nnrac

do Cristo!

BREVE ADVERTENCIA AO LEITOR Aos nossos estimados correspondentes comunicamos que nao Joi vossivel, neste fasciculo de "?. e R.", responder a todas as questóes propostas (estas tém-se avolumado). Procuramos dar certo desenvolvimento as respostas a Jim de que possam interessar o maior nú

mero possivel de pessoas; em vista disto, foram adiadas para o futuro

respostas que neste fascículo só poderiam caber em termos assaz redu- • sidos e pouco satisfatóriós.

Gratos, porém, ficariames se os consulentes nos enviassem o seu znderéco, a fim de que, sem demora, se Ihes possa mandar por carta, urna sintese do esclaredmento desejado. JERÓNIMO J. S. e JOSÉ P. C. (Rio de Janeiro): "Pergunte e Res ponderemos" está para Ihes enviar de presente, um livro que trata dos temas abordados por suas questóes. Para onde deve ser feita a remessa?

ROSA (D. Federal): No caso, existe o dever grave e impreterivel de chamar a atencáo da pessoa que está pecando, mostrando-lhe a hediondez do procedimento. Nao há obrigacáo, porém, de Ihe impar sangáo nem de Ihe negar o objeto com que pecará. LILA {Rio de Janeiro): Permitimos citar-lhe o livro "Para en tender o Antigo Testamento" de D. Estéváo Bettencourt (Editora AGIR), livro no qual encontrará resposta ás dificuldades que-ora cencebe. Temos um exemplar á sua disposlcáo; para onde deveria ser enviado?

D. ESTEVAO BETTENCOURT O- S. B.

— 3? —

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"INSTITUTO PIÓ X DO RIO DE JANEIRO" sob o titulo

COLEQÁO

PIÓ X

I — Missa IX, explicacóes técnicas — por Ir. M. Rose Porto, o. p. — 12 págs. 10,00 II — Principios rítmicos da Escola de Solesmes-— por Dom Mocquercau, m.b. — (trad. de Ir. M. Rose, o. p.) — 25 págs. 15,00 III — Aulas de Música gregoriana — por A. Le Guennant, Diretor do Instituto Gregoriano de París (trad. e adaptacáo por Ir. M. Rose, o. p.) — 58

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"Cantarei com o espirito, cantarei também

com a inteligencia." (1 Cor 14,15)

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