Ano X - No. 116 - Agosto De 1969

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Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta

necessidade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé '

hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se

encarrega do respectivo site. Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo. A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

/ MdñáÁ I ANO

116

AGOSTO

196

ÍNDICE

I. 1) „... em

CIENCIA E RELIGIAO

"Ültimamente a mseminac&o artificial tem progredido:

Cambridge já se conseguiu a fecundagáo humana em proveta.

A imprensa (muncia -novas e maravilhosas experiencias.

Qtto pensar a respcito, á luz da filosofía e da sá consciénaa?"

n. 2)

317

VIDA MODERNA E RELIGIAO

"Pódese explicar por que é táo forte o surto de superse correntes de ocultismo nestes dios, em que há tanto ra

cionalismo e ateísmo ?

Que significado pode ter ésse pulular de 'sobrenatural' ?" ..

UI.

32!)

DOUTRINA

S) "Como se pode entender o cancelamento das ¡estas de Santos que estavam no calendario da Igreja ? Os Santos foram cassados ou confinados ?"

TV.

/,)

Sil

EDUCAQAO

"Que dizer, do ponto de vista criatño, sobre a intrtiducño

da educacao sexual ñas escolas ? Nao será tima exigencia de nossa época ?"

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

354

PERGUNTE

E Ano X — N« 116 — Agosto de 1969

I.

CIENCIA

E

RELIGIÁO

1) «íntimamente a inseminagátf artificial tem progredido: cm Cambridge já se conscguiu a fecundacáo humana em pr«-

veta. A imprensa anuncia novas e maravilíiosas experiencias.

Que pensar a respeito, a luz da. filosofía e da sá consciéncia?» Resumo da resposta:

Em fevereiro de 1969, a imprensa divulgou

a realizacáo de novas experiencias relativas á fecund?.cáo artificial.

Deve-se xeconhecer que tais experiencias eram movidas por fina-

lidadc muito louvável ou por intencóes terapéuticas. Todavía nao deixam de ser urna modalidade de inseminacáo artificial. Ora esta é moralmcnlc rcprovável. Com efeito, o processo de fecundacüo artificial

reduz a funcjio generativa do ser humano a um processo meramente

fisico-quimico, equivalente ao que se realiza nos animáis irracionais. Na verdade, a funcüo biológica do homem tem características próprias: participa da espiritualidade do homem, supondo doac&o cons ciente e amorosa de duas personalidades entre si, de modo a formar um lar estável.

A doutrina ácima é corroborada pela verificacáo das graves con-

seqüéncias que da fecundacáo artificial decorrem para a sociedade: desordens moráis, fraudes, filhos destituidos da devida educacáo...

Resposta: As experiencias de fecundacáo artificial foram iniciadas em 1780 pelo Professor da Universidade de Pavia P. Spallanzani, que retirou de um cao algo dos respectivos espermatozoides e os injetou na vagina de urna cadela; esta, sessenta e dois dias mais tarde, deu á luz tres cáezinhos de todo normáis.

As experiencias continuaram a ser efetuadas entre ani máis. Assim tem-se produzido a fecundacáo no útero de urna vaca de boa raca, fazendo-se pouco depois o transplante do embriáo para o útero de urna vaca menos qualificada; destarte o animal de boa raga se torna livre para poder sem

demora ser de novo fecundado em semelhantes condigóes. Por tal via consegue-se aumentar extraordinariamente o número de cabegas de gado seleto.

— 317 —

2

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969. qu. 1

A inseminagáo artificial passou a ser praticada tarnbém entre seres humanos, provocando certa perplexidade: as mulheres tém sido fecundadas com sementes de doadores anóni mos? Em 1941, os médicos americanos Kerner e Seymour, pioneiros da inseminagáo artificial, comunicaran! ao mundo os resultados das experiencias que haviam feito em 9.580 casos humanos; tinham obtido 9.489 partos felizes!

Ültimamente, em fevereiro de 1969, obteve-se mesmo a fecundacáo fora do seio materno, isto é, em tubo de ensaio. Tres dentistas británicos — os módicos Dombert Edward, Barry Bunister e Patrick Steptoe — extraíram cinqüenta e seis óvulos de doadoras voluntarias e os colocaram em am biente fisiológico adequado; trinta e quatro déles conseguiram chegar 'as condigóes de maturaeáo necessárias para ser submetidos a inseminacáo artificial em proveta. Feita a experi encia, verificaram em exame de microscopio que sete óvulos haviam sido realmente fecundados. Outros onze, embora pene trados por um espermatozoide, nao aceitaram a fecundagáo. Dos sete óvulos fecundados, cinco imediatamente apreseritaram anomalías. Finalmente todos os embrióes obtidos foram des

truidos depois de um dia de vida.

Os jomáis, ao darem a noticia, anunciaran! que os den tistas de Cambridge continuariam suas experiéndas, implan tando óvulos de mulheres cm úteros de cocinas. As prospecti vas que assim se abriam, foram altamente divulgadas por re vistas ilustradas, as vézes em estilo um tanto fantasista. Assim tem-se dito: — a mulheres que nao possam procriar por ter suas trompas fechadas, se poderáo retirar os óvulos do ovario; estes seráo fecun dados com espermatozoides (do marido, se quiserem, ou de outrem) e implantados dlretamente no útero;

— as mulheres que nao tém útero, poderáo transplmntnr scus óvu los, depois de fecundados artificialmente, para os úteros de outras mulheres, que atuaráo como máes de criacáo; —■ mulheres que nao tenham ovario, poderáo comprar ou obter por doacáo óvulos, que seráo fecundados artificialmente e implantados em seu próprio útero. Com isso daráo á luz.

Fala-se conseqüentemente de «bebés de retorta», «bancos de óvu los», «máes de aluguel»... Cf. «Mánchete» 22/3/1969, págs. 131-135.

Todo ésse noticiario suscita, como se compreende, nume rosas questóes, das quais algumas se referem á consciéncia crista. Abaixo procuraremos propor a posigáo do cristáo diante de tais experiencias e prognósticos, analisando: 1) a fecun-

— 318 —

HOMEM EM TUBO DE ENSAIO?

dagáo humana em geral, do ponto de vista antropológico; 2) a fecundagáo artificial, do poní» de vista dos genitores; 3) a fecundagáo artificial, do ponto de vista da prole; 4) a voz da Igreja; 5) as conseqüéncias da inseminacáo artificial.

1.

Fecunda;ao humana e antropología

As experiencias de Cambridge, que tentaram a fecundar.fio «in vitro», sao algo de muito recente na historia da medicina e da humanidade. Todavía, ainda que nao se conhegam bem os particulares e os métodos de tais operagóes, é

certo que elas se enquadram dentro do conjunto de opera góes que se chama «fecundagáo artificial». Por conseguinte, o juízo que a consciéncia profere sobre a fecundagáo artificial, estende-se naturalmente as experiencias de fecundagáo em tubo de ensaio.

Ora a propósito note-se o seguinte:

Nao se pode equiparar a fungáo. generativa do homem

á do animal, irracional. Éste, animado como é por principio vital material, nao transcende a materia nem as leis fisico-

-químicas e biológicas que a regem. Por conseguinte, no to cante a mulliplicacño da especie, pode ser tratado exclusiva mente á luz dos criterios de selecáo ou aperfeigoamento das ragas, rendimento económico, corregáo da esterilidade, etc. — Diverso, porém, é o caso do ser humano: a fecundagáo, no

homem, é fungáo nao apenas da materia, mas de um mundo interior, psíquico, espiritual; ela assume urna característica

típicamente humana. Com efeito, a natureza fez que no ser humano a fusáo do esperma e do óvulo seja normalmente a expressáo derradeira da fusáo de duas personalidades que comegam a se unir no plano psíquico e que sao movidas por

conhecimento e amor. Em outros termos: a fecundagáo é a consumagáo normal do amor consciente e recíproco de dois

seres humanos que se consociam para se tornar primeiramente esposo e esposa e, conseqüentemente, pai e máe. A fecunda gáo biológica ou a paternidade e a maternidade jamáis podem ser separadas do amor consciente e estável que as deve ante ceder; os filhos nao sao apenas produtos de leis biológicas

ou mecánicas, más constituem o fruto e a expressáo do amor

dos genitores entre si. Ao invés, no animal irracional, a fe

cundagáo, nao supondo amor nem entrega de personalidade, pode ser tratada artificialmente como mero processo físico-químico.

— 319 —

4

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 1

Embora o matrimonio seja por si ordenado 'á procriagáo, os cónjuges nao podem esquecer que a procriagáo é regida por leis naturais, ... leis naturais que nao é lícito ao homem burlar nem mesmo em vista de urna finaüdade boa, como seria a obtengáo de prole por parte de um casal estéril.

Na verdade, os filhos desempenham papel importante na consolidacáo do matrimonio e no aperfeigoamento da personalidade dos cónjuges; um casal infecundo vem a ser, por vézes, um casal infeliz ou desalentado; o amor dos cónjuges que deseja prolongar-se e ultrapassar-se nos filhos, carece entáo de filhos e, por isto, recai sobre si mesmo; o egocen trismo pode assim tomar o lugar do espirito de doacáo gene rosa entre os esposos. O desejo insatisfeito da paternidade ou da maternidade é experimentado como sacrificio penoso para os cónjuges animados de sentimentos nobres. Mais: a esterilidade involuntaria de um casal -pode tornar-se serio perigo para a própria estabilidade da familia. — Todavia é muito importante notar-se que o fim nao, justifica os meios, de sorte que fica sendo reprovável a obtenqáo da prole por processos que reduzam o ser humano a mero conjunto de elementos

materiais; a fecundagáo humana nao pode ser equiparada a

um processo de laboratorio, pois ela é, por sua natureza mesma, dependente do conhecimento e do amor mutuos dos genitores.

Em outros termos, pode-se dizer: verdade é que a prole

constitui urna das finalidades do matrimonio...

Todavia o

contrato matrimonial nao dá direito ao «filho» ou á prole como tal, mas, sim, aos atos naturais capazes de induzir a geragáo de urna nova vida e a tanto destinados. Por isto a

fecundagáo artificial transcende os limites dos direitos que os esposos adquirem um sobre o outro mediante o contrato ma trimonial. Por conseguinte, ela viola nao sómente a lei natu ral, mas também o direito conjugal.

Urna vez propostas estas consideracóes gerais, passemos

a suas aplicagóes concretas.

2.

Fecundacao artificial e genitores

Váo compendiados em tres pontos os ensinamentos da sá moral a propósito: 1) A inseminagáo artificial fora do matrimonio é evi dentemente tida como imoral. Com efeito, segundo a lei natu-

— 320 —

HOMEM EM TUBO DE ENSAIO?

ral e a lei de Deus positiva, a procriagáo de nova vida nao pode ser fruto senáo do matrimonio. Com efeito, a tarefa de procriar está inseparávelmente associada á de educar; ora, para que haja educagáo, é preciso que haja lar e estável colaboragáo dos genitores — o que nao se obtém sem casa mento.

Ademáis a figura da máe solteira é algo que, em vez de honrar a sociedade, depóe freqüentemente contra ela. A dignidade humana é assim vilipendiada. 2) Dentro do matrimonio, pode-se conceber que a fecundagáo artificial seja obtida mediante o elemento ativo de um terceiro' ou de um «doador» (geralmente anónimo e desconhecido). Ainda que tal processo se realize com o consentimento do legítimo esposo, o tratamento assim concebido me rece reprovagáo por dois motivos:

— sómente os esposos possuem direito recíproco sobre os corpos em vista da procriaeáo de nova vida, direito exclusivo e inalienável, de sorte que a intervencáo (embora discreta) de

terceiro viola os direitos do casal e é jurídicamente considerada como adulterio; — ademáis volta á consideragáo o principio segundo o qual quem gera tem a obrigacáo de conservar e educar a prole. É a própria natureza quem instituí tal ordem. Ora um mero e longinquo doador de sementé torna-se incapaz de satisfazer a tal dever. A prole concebida por intervengáo de um terceiro é prole sem pai, sem o seu primeiro e mais qualificado edu cador. O esposo legitimo poderá interessar-se pela crianca con

cebida em tais condigóes; fará entáo as vézes de educador, nunca, porém, as de auténtico genitor (que está sempre vin culado a prole por um laco natural de origem). A natureza será conseqüentemente violada. Eis sabias palavras de E. Tesson no artigo «Maternité

artificielle» de «Études», margo 1961, pág. 41:

«A familia é necessária ao novo ser chamado á existencia. Ele

tem necessidade vital nao sómente de protecao, mas, ainda mais, de

amor. As pesquisas da psicología contemporánea inculcam esta verdade. As leis da moral nao sao senáo as exigencias do desabrochar hierarquizado do ser humano.

A familia só pode ser constituida pelo homem e pela mulher que denam origem á crianca. Sem dúvida, o pai e a máe transmitem urna vida que os ultrapassa. Mas, já que sao constituidos pelos mesmos elementos que se encontram na prole, há entre éles e esta um paren tesco biológico, que é a base do parentesco psicológico e moral que se deve criar e desenvolver no decorrer dos anos. Há ai urna alianca

— 321 —

6

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 1

misteriosa entre os elementos biológicos e as zonas mais da pessoa, alianca que quase nao foi estudada até agora.

'

elevadas

£ verdade que há meios de suprir a paternidade e a maternidade — meios possíveis e, ás vézes, necessários —, mas pode-se julgar que devem ser multiplicados tais casos?»

3) Talvez pareca mais justificável a fecundacáo artificial dentro do próprio matrimonio, quando, por exemplo, se retira o elemento ativo do marido para injetá-lo artificialmente na vagina da esposa. Todavía também esta hipótese tem sido rejeitada pelos moralistas cristáos. O argumento clássicamente aduzido para recusá-la é o seguinte: O meio pelo qual se obteria o esperma masculino para fecundar a mulher, seria ou a masturbacáo voluntariamente provocada

ou a prática do onanismo (derramamento da sementé íora do órgáo feminino durante a cópula) ou a cópula com recurso a instrumentos artificiáis

ponja...)

(pessário, es

ou a puneáo do organismo masculino...

Ora qualquer déstes expedientes constitui intervencáo ilí cita do homem no setor da natureza. A prole é naturalmente .o fruto do amor ativo e fecundo dos genitores, e nao o resul

tado de processo em que marido e mulher se comportam mais passivamente do que ativamente, processo sujeito por vézes á ihtervencáo de um médico.

Eis o que tém dito os moralistas cristáos a respeito da inseminacáo artificial homologa ou dentro do próprio casal. Nao é impossível, porém, que se reconsidere tal sentenga, visto que a inseminacáo artificial em tais casos nao consiste senáo

em auxiliar a natureza na consecugáo de urna finalidade legi

tima dentro de um quadro de vida legítimo (casal devidamente constituido).

É certo, porém, que a Moral crista nao rejeita o emprego

de meios artificiáis que se destinem únicamente a facilitar o ato natural de cópula ou a levar ao fim devido a cópula efe-

- tuada segundo as leis da natureza. Em particular, a Moral nao recusa o seguinte tratamento: dado que a vagina feminina

seja demasiado estreita, é licito ao marido ou ao médico pro curar dilatar artificialmente tal órgáo (mediante algum anel ou outro instrumento), a fim de que possa receber a sementé masculina. Tal operagáo deve anteceder a cópula, de tal modo — 322 —

HOMEM EM TUBO DE ENSAIO?

que esta se faga posteriormente sem qualquer intervengáo ar tificial.

3.

Fecundajao artificial e prole

A fecundagáo artificial é repelida nao sómente em nome da dignidade dos genitores, mas também em nome da própria prole. Em verdade, esta tem direito a devida educagáo, minis trada por pai e máe num matrimonio estável; ... tem direito a' urna filiagáo legítima, que a incorpore de maneira clara e definida a urna familia e a sociedade.

Mais ainda: no caso das experiencias praticadas na Ingla terra (em 1969), deve-se dizer que a extingáo do feto posto em desenvolvimento orgánico é equivalente a um infanticidio. Todo embriáo normalmente concebido tem direito á vida desde o primeiro instante de sua existencia. Em outros termos: a nova vida, cuja origem artificial os dentistas vém procurando obter, possui valor transcendente; nao é mero produto de

corpos químicos a reagir entre si. Ao contrario, em todo em briáo real há urna alma espiritual, há um ser humano em principio, que já goza dos direitos da pessoa, dos quais o pri

meiro é o direito á vida. Por isto, a consciéncia nao pode aceitar que se extinga um feto, porque ésse feto nao interessa mais ao cientista ou porque toma características defectuosas;

nao é a regularidade ou a deformidade do organismo que jus

tifica a conservagáo ou a extingáo de um embriáo humano.

Ainda que defeituoso, éste é portador de urna alma colocada

por Deus em tal corpo a fim de que por ele volte ao seu Criador. O ser humano nao pode ser assemelhado a urna cobaia. Verdade é que os médicos e moralistas nao podem dizer qual o momento preciso em que a alma humana entra no respectivo em briáo. A teoría mais antiga admite um intervalo de quarenta ou oitenta días entre a fecundacáo e a iníusao da alma. Ao contrario, os autores modernos, com mais razáo, admitem seja a alma criada e iníundida no momento da fecundacáo. Como quer que seja, a Moral crista rejeita qualquer tipo de destruicao de um feto humano, pois vem a ser atentado contra a vida humana iniciada, e, conseqüentemente, um homicidio.

Por isto as experiencias de inseminagáo artificial, como tém sido praticadas até agora, «in vitro» ou fora do seio ma terno, sao reprováveis a duplo titulo: intervém indevidamente no processo da natureza e desrespeitam o direito a vida, nao levando em conta o fato de que o ser humano (tanto o dos — 323 —

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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 1

genitores como o da prole) nao é mero agregado de materia biológica.

4.

Voz da Igreja

A Igreja tem-se pronunciado repetidamente contra a inseminagáo artificial.

Assim o Santo Oficio, em 24/111/1897, foi interrogado nos seguintes termos: «Será licito recorrer á fecundagáo artificial

da mulher?» Ao que respondeu: «Após exame e consideragáo muito diligente de todos os aspectos do tema, e depois de ouvidos os consultores, a resposta é negativa».

A masturbagáo voluntaria, mesmo por motivos medicináis, foi rejeitada também pelo Santo Oficio aos 2/VTII/1929. Cf. «P.R.» 110/1969, pág. 75 (31). O Santo Padre Pió XII corroborou as declaragóes do Santo Oficio em discursos proferidos respectivamente em 29/IX/1949, ao IV Oongresso Internacional dos Médicos Católicos (discurso transcrito em grande parte em «P.R.» 4/1957, pág. 7-9), em 19/V/1956, ao II Congresso Mundial da Fertilidade e da Esterilidade (discurso do qual as principáis proposigóes foram incorporadas a éste artigo). Em conseqüéncia de tais pronunciamentos, assim como em vista das consideragóes anteriores, poderia alguém julgar que o cristáo, por imposigáo de suas convicgóes religiosas, tem

de ser um individuo retrógrado em relagáo em ciencia, se nao mesmo um adversario desta. Haverá também quem pergunte: que tém que ver a Religiáo e a Moral com os empreendimentos da ciencia? Esta parece pertencer a um setor autónomo. Em resposta, deve-se afirmar que o cristáo de modo nenhum é infenso ao desenvolvimento da ciencia. Contudo ele

sabe claramente que a ciencia por si só nao o sacia; nao sa tisfaz plenamente á sede que o homem tem de verdade e de

felicidade. Em outros termos: a ciencia torna o homem um bom médico, um bom engenheiro, um bom matemático; ela nao o torna, porém, um bom homem; dá-lhe determinadas

perfeicóes, nao, porém, a perfeic&o toda de que é capaz. Em

conseqüéncia, o saber humano terá sempre que ser subordi

nado a um ideal ulterior: a posse do Bem Infinito, ou seja, de Deus e da vida eterna. Isto quer dizer que, por cima dos

interésses da ciencia, fica ainda a Lei de Deus, Lei que é — 324 —

HOMEM EM TUBO DE ENSAIO?

expressa no íntimo de cada individuo pela coíisciéncia moral. Qualquer atividade ou pesquisa, portante, há de ser subordi nada aos ditames da moralidade; a ciencia que pretende ser

independente, deforma o homem, pois desenvolve apenas um aspecto de sua personalidade. Diz o Papa Pió XII:

«A moral natural e crista conserva em toda parte os seus direitos imprescritiveis; déstes, e nao de consideraeoes de sensibilidade, filan

tropía materialista e naturalista, se derivam os principios cssenciais da deontologia médica: dignidade do corpo humano preeminencia da alma sobre o corpo, íraternidade de todos os homens, dominio sobe

rano de Deus sobre a vida e sobre o destino» (discurso de 29/IX/1949).

Subordinando a ciencia á moralidade, o homem nao deve recear detrimento para a cultura. Ao contrario, a historia comprova que esta sempre foi incentivada pela consciencia religiosa da humanidade; cf. «P.R.» 19/1959, págs. 267-277.

5.

Csnseqüéncias sociais da inseminacao artificial

1. O estudioso Jacques Lubin escreyeu na revista «Constellation» (maio de 1959) um artigo intitulado «Les 150.000 enfants de i'insémination artificielle» (os 150.000 fi-

lhos da inseminagáo artificial). Abaixo váo resumidos os interessantes tópicos désse escrito.

Em 1959 já havia nos E.U.A.

150.000 «bebés-proveta»

(tal era a designagáo usual). Em Nova Iorque nasciam anual mente 2.000 criangas nessas condigóes. Na Europa, registravam-se 15.000 casos de nascimentos artificiáis por ano: 10.000

na Inglaterra, alguns milhares na Franga, cérea de mil na

Aiemanha e na Italia. Certos ginecologistas apregoavam que

as autoridades públicas se encarregassem das despesas exigi das por tais procedimentos médicos: além da taxa devida ao médico, fóssem dados na Franga 20.000 francos ao «doador», tambem chamado «pai biológico»!

Eis algumas das dolorosas conseqüéncias que na vida concreta decorrem de tal comportamento: a) Geralmente a máe que, com ou sem o consentimento do marido, quis ter um filho por fecundagáo artificial, mostra-

-se ansiosa por saber quem é o «pai biológico» da crianga, ao passo que o médico recusa dizer-lho. Em principio de 1959,

os jornais norte-americanos anunciaram com letras aparatosas:

«O roubo mais sensacional do século!» Tratava-se de um furto — 325 —

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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 1

cometido no laboratorio de um grande especialista de inseminagáo, o Dr. E. Georgett, de Los Angeles, a quem hayiam sido roubados os respectivos arquivos. As fichas désse médico

traziam os nomes de mais de 500 atrizes ou vedetes de ci nema. Em breve, tornou-se público que a instigadora do furto

fóra urna das próprias clientes do médico, Mrs. Jeanne Eagle, impelida a tanto pela curiosidade de saber o nome do «doador» de quem ela concebera um filho! b) Urna das grandes angustias causadas pela artificial resulta do fato de que o doador fica no Nem ele pode saber a quem se destina o material a mulher destinatária e seu marido tém o direito nome do doador.

fecundacáo -anonimato. doado nem de saber o

Para defender-se da curiosidade dos interessados, os mé dicos norte-americanos em 1959 exigiam que o casal desejoso

de fecundacáo artificial assinasse a declaragáo seguinte:

«Comprometemo-nos, & risca de nossa honra, a nunca pergirntar

ao médico o nome do doador e a nao lhe pedir qualquer informagáo sobre a raca, a Jiacionalidade, os sinais particulares, o temperamento do mesmo. Consentimos em que, após a inseminacáo, se destruam todas as informacóes e todos os documentos relativos & sua origem. O doador deve permanecer ignorado para sempre».

c) Na verdade, verificava-se em 1959 que varios mari dos, após ter dado o seu consentimento la fecundagáo artificial, lamentavam o gesto e, em 50 % dos casos, suplicavam ao médico interrompesse a gravidez táo custosamente obtida! Assim o aborto ou o desejo de abortar sobrevinha ao procedimento anterior. Cita-se mesmo o caso de um esposo que

clamava ao ginecologista: «Deverias ser enforeado, tu, o doa dor e todos aqueles da vossa especie!»

Narram-se também alguns episodios desconcertantes dos quais merece especial atengáo o seguinte: Um marido que nao pudera dar fílhos á sua esposa, con-

sentiu, a rogos déla, em que se fizesse a inseminagáo artifi cial. Nasceu assim urna crianga que o esposo adotou, dando-

-lhe o nome de Gerard. Tempos mais tarde, porém, marido e

mulher tiveram um filhp legítimo, que chamaram John. Entáo

o genitor desinteressou-se pelo filho mais velho, que nao era

déle e que só viera ao mundo porque a mulher alegava que ele nao podia ter filho. Sendo tal pai um rico industrial de petróleo no Texas, resolveu deserdar Gerard, a fim de guardar todos os seus haveres para John. — Pergunta-se entáo: qual

HOMEM EM TUBO DE ENSAIO?

11

a sorte que caberia a Gerard, o qual nao tinha culpa de haver nascido em tais circunstancias? 2. A «Enciclopedia Bloch», em seu número de setembro 1968, publica o artigo «Inseminacáo artificial: pecado ou solugáo?», que, embora seja de divulgagáo para o grande público, dá a ver, ao menos, como é delicado e complexo o assunto. A titulo de ilustracáo, extraímos désse escrito os seguintes tópicos: «A inseminacáo artificial é praticada também no Brasil, apesar da enorme controversia que desperta. Pouquissimos médicos admitem

comentar públicamente o assunto, nao só devido á repercussáo nega tiva do processo entre as classes, mas também pela inexistencia de legislagáo sobre a materia, o que da á prática da inseminacáo arti ficial um caráter de semiclandestinidade. Além disso, o Código de Ética, de 1965, proibe a inseminacáo com semen de doador, emboba

autorize a realizada com esperma do marido. No Rio, contam-se nos dedos os médicos que fazem a inseminacáo artificial com semen de doador. Um déles, famoso ginecologista. professor de urna das Facultades de Medicina da cidade, afirma já haver realizado em seu consultorio, na Zona Sul, mais de 180 fecundacSes com doador.

... Para isso, segué as recomendacSes do Dr. Edmond J. Farris,

do Instituto de Anatomía e Biología de Filadélfia, em seu estudo 'Fertilidade Humana': jamáis agir de motu proprio; aconselhar o casal a conformar-se com a situacáo em que se encontram; sugerir a marido e mulher a adocáo de urna criamca; marcar novas consultas, com sucessivos adiamentos, para apurar até que ponto o casal esta certo do que pretende.

Se. cumpridas essas etapas, o casal insiste ainda em que a mulher se submeta á inseminacáo com doador, o Dr. A.L.M. marca o dia da fecumdacáo artificial. Antes, porém, exige que o marido, com a confirmacáo de sua esposa, assine urna declaracáo que, embora sem efeito legal, tira parte de sua responsabilidade e, em última análise, serve

como prova de que um e outro queriam mesmo a inseminacáo. Ésse documento, cm geral, segué o seguinte modelo:

'Eu, N.N., profissao, residencia, estado civil, de minha livre e espontánea vontade venho pedir ao Dr. N. para proceder á vnsemimacáo artificial em minha mulher com semen de um doador selectonado pelo próprio Dr. N. Éste pedido foi feito com pleno consentimento déla, cuja autorizacáo val também anexa. Declaro que recorrí a éste extremo parque estou incapacitado para a procriagao e porque tanto eu como minha mulher temos imenso desejo de ter um filho e está dependendo disso nossa feli-

cidade'.

A grande maioria dos médicos é contra a inseminacáo artificial

por entender que jamáis se poderá estar absolutamente certo de que

o casal foi sincero em suas declaracdes. É difícil acreditar que, nas-

cida a crianca, nao haverá problemas de ordem emocional entre marido e mulher. Segundo ésses médicos, há necessidade de apurar-se, com a máxima exatidao, se a mulher só aceita ter um filho se puder gerá-lo.

— 327 —

12

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 1

Ao contrario dos adeptos da fecundacao com doador, o ginecologista Jean-Claude Nahoum, especialista em reproducáo humana, acha que, se um dos cónjuges está incapacitado de procriar. melhor será

que o casal adote urna crianca, ao invés de criar um meio-filho.

Observa o Dr. Jean-Claude Nahoum que sao diversos os proble mas possiveis de surgir após o nascimento da crianca. Eles váo da perda da confianza na mulher <'Se ola aceitou ser fecundada por outro homem, quem me garante que um dia noa acabará me traindo?') ao ciúme da mulhcr I'Será que ela está pensando no pai do filho que teve?'), do filho ('Eu nao pude lhe dar um filho') e até ao odio entre o casal, ainda com o marido a julgar: 'Isso foi traieao e csse filho nao é meu'. Ao mesmo tempo, o marido poderá interpretar a presenca do filho de sua mulher como urna prova de sua limitacáo, impossível de ser esquecida, pois a todo instante terá diante de si a crianca que nao pode criar. A partir dai, o marido será tentado a descobrir quem é o pai do íilho de sua mulher e isso o levará a desconfiar dos vizinhosdos amigos, até mesmo de um desconhecido na rúa. O desenvolvimento do trauma, imprevisível e difícilmente controlável, segundo o Dr. JeanClaude Nahoum, poderá levar o casal á separacáo. Por tudo isso. defende a adocao como solueüo para a infertilidade do marido» ipgs. 21.23.26).

Tais conseqüéncias sociais da inseminagáo artificial manifestam eloqüentemente que tal praxe deveria ser profligada da sociedade humana c reservada apenas aos animáis irracionais, entre os quais nao há amor consciente nem responsabilidade conjugal. Os números, a propósito, sao surpreendentes; um médico americano que se prestou aos servicos de «doador», tornou-se genitor de 75 filhos! Os especialistas chegaram a afirmar que um homem medio pode assim tornar-se pai de

20.000 filhos!

No plano jurídico, pergunta-se: Qual é o pai, segundo a

lei, de urna crianca gerada por inseminaeño artificial? Com que direito se pode considerar o pai aparento como verdadeiro

genitor, já que nao o é nem adotou legal mente a crianca que nao nasceu déle? — Qual o responsável pelas taras heredita

rias que possam aparecer na crianca? — Por fim, qual a situacáo da «crianqa-proveta» do ponto do vista da heranga legal? Em suma, as conseqüéncias desastrosas e os problemas deixados abertos pela fecundagáo artificial bradam suficiente mente claro contra tal praxe. Bibliografía:

Pió XII, Discurso de 29/IX/1949. XXXXI (1949) p. 559s.

em

«Acta

Apostolicae

Sedis»

SUPERSTICOES E OCULTISMO HOJE

13

Pió XII, Discurso de 19/W1956, em lera» 16 (1956i), pp. 741-746.

«Revista Eclesiástica Brasi

E. Tesson, pp. 416-418.

em

«Maternité

artificielle»,

«Études»,

mars

1961,

«Les méfaits de l'insémination artiíicielle», em «L'Ami du clergé» 69 (1959), p. 354s. A. Amanicu, «.L'insémination artiíicielle», cm

57 (1947), pp. 813ss e 58 (1948), pp. 97-109.

«L'Ami du Clergé»

Cahiers Laennec II, 1946: «L'insémination artificielle».

Blot, «Offensives contre la personne». Ed. Spes. Caries, «La fécondation». Presses Universitaires de Franco. «Heresias do jiosso tempo», por um grupo de filósofos e cientistas italianos. Porto 1965, pp. 229-232. «Pergunte e Responderemos» 4/1957, pp. 610; 40/1961, pp. 135-140.

II.

VIDA MODERNA E RELIGIÁO

2) «Pode-se explicar por que é táo foTte o surto, de supersticóes e correntes de ocultismo nestes días, em que há tanto racionalismo o ateísmo?

Que significaido pode ter ésse pulular de 'sobrenatural'?» Resumo da resposta: O artigo apresenta urna serie de fatos mo dernos que mostram a extraordinaria voga da superstigáo e do ocul tismo em nossos dias: artistas de cinema e teatro, campeoes do esportepolíticos, intelectuais... fácilmente aderem a crengas supersticiosas, atributado efeitos maravilhosos a causas que absolutamente nao sao capazes de os produzir.

Tal fenómeno é explicado par quatro principáis causas: 1) A ignorancia o. em especial, a ignorancia religiosa. No homem é indelével a estrutura religiosa ou a sede do transcendental. Quando essa sede nao é saciada em fontes auténticas, ela procura apaziguar-.se no culto de falsos «deuses», ... falsos deuses devidamente envernizados em nossos dias.

Muito significativa é a etimología das palavras «desejo», «desas tre» e «considenacüo».

2) A supersticao também nasce do médo. Donde se vé a Impor tancia de se combaterem temares desarrazoados e injustificados, que acometem muitas pessoas.

3)

Outro fator de superstigáo é a miseria. O homem miserável

procura um pouco de consoló na promessas e mensagens dices.

das cren-

4) Ainda se pode assinalar, neste catálogo, o charlatanismo ou o interésse comercial de pessoas pouco escrupulosas.

— 329 —

14

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 2

O panorama assim propasto há de ser um estimulo para que os cristáos mais e mais se interessem por atender ás aspiragdes religiosas do homem moderno.

Resposta: «Superstigáo» vem do vocábulo latino «superstitio», que significa «o excesso» ou «o que resta e sobre vive de épocas passadas». Na linguagem religiosa dos romanos pagaos, designava as observancias de culto arcaicas populares nao mais condizentes com as normas da religiáo oficial do Imperio. Na linguagem moderna, «superstigáo» ver a ser «desvio ou deterioragáo no sentimento religioso»; consiste geralmente em atribuir a certos objetos (bentinhos, amuletos, talismás...)

ou atos (ritos) efeitos extraordinarios (beneficios ou malefi cios). A superstigáo nao prova suas afirmagóes, mas supóe, por parte dos adeptos, piedosa credulidade. A superstigáo apresenta varias facetas: magia, adivinhagáo, astrologia, necromancia, quiromancia, cartomancia, crendices da vida co tidiana. .. «Ocultismo» é um conjunto de doutrinas reservadas a pou-

cos iniciados. Essas doutrinas revelam a existencia de fórgas

ocultas no mundo, e dáo a conhecer os meios aptos para que

os homens captem o favor das fórgas boas e evitem os male

ficios dos maus poderes. O ocultismo, portante, procura ex

plicar

aos que o merecem, as

proposigóes

ensinadas

pela

superstigáo.

Em

«P.R.»

27/1960,

págs.

91-99,

já se

encontra um

artigo sobre superstigáo. Evitando repetir, ñas páginas que

se seguem, apuntaremos alguns dos tópicos mais salientes das superstigóes contemporáneas; a seguir, tentaremos entender o fenómeno e seu significado.

1.

Aspectos da supersticao contemporánea

Em pleno século de luzes, nos ambientes mesmos em que

a cultura é mais evoluida e os homens mais parecem dis-

pensar-se (ou poder dispensar-se) de Deus, observam-se curio sas manifestacóes de supersticáo. Sejam aqui enumeradas algumas das mais significativas. — 330 —

SUPERSTIC6ES E OCULTISMO HOJE

1)

15

As estrélas («stars»)

O artista ou a artista de teatro ou cinema que se distinga, recebe fácilmente o apelativo de «estréla». Tais pessoas, a quem a sorte mais parece favorecer aqui na térra, sao por vézes estranhamente dadas a crendices e superstigóes. a) Assim, por ocasiáo do Terceiro Grande Premio da Cadeia Européia «Eurovisáo», a imprensa divulgou largamente os gestos e feitos de uma cantora que se apresentava em Gannes (Franca), trazendo sobre o ombro um papagaio, cuja

finalidade confessada era «conjurar o azar ou a sorte infeliz». b)

Há anos, dois atores americanos nao cristáos casaram-

-se e ornamentaran! o seu quarto nupcial com bela imagem de Sao Cristóváo. A esposa (cujo anterior marido perecerá havia poucos meses num desastre de aviáo) convertera-se ao judaismo justamente para se casar com seu novo esposo, que era israelita. Que sentido podia ter Sao Cristóváo para ésse casal? — A quanto parece, o de uma especie de talismá, e nao o de um servo de Deus a quem se pede interceda pelos

homens na térra. c)

Certo público estima as «reliquias» das estrélas.

Aos autógrafos dos grandes artistas os fas atribuem (consciente ou inconscientemente) valor quase mágico: ésses autógrafos sao assemelhados a pedacos da própria personalidade dos artistas, pedacos que comunicam algo da felicidad© em que estáo imersas as estrélas. As fotografías sao também muito apreciadas, assim como os botóes das vestes e outros objetos surpreendentes: Edgar Morin apresenta uma lista de «recordares» solicitadas a duas artistas de Hollywood: papel para limpar os labios pintados de «batom», uma fólha da relva da casa da «estréla», «um pedaco de chewing-gum que tenhas mastigado».. . Cf. Edgar Morin, «Les Stars». Éditions du Seuil. Paris 1957, pág. 91. d)

Entre outros,

é particularmente famoso

o

caso

de

James Deán. Éste ator americano morreu aos 30 de setembro de 1955, vitima de desastre automobilístico (guiava a 140 km/h). Tinha entáo vinte e quatro anos de idade. As circunstancias dessa morte trágica muito aumentaram o pres tigio de que já gozava o ator. Criou-se um quase culto a James Deán, acompanhado de catecismo próprio, do qual váo aqui extraídas algumas perguntas:

«A morte de Jimmy é um íim ou um coméco?»

— 331 —

16

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 2 «O destino de Jimmy íoi fatal?» «Encontrou Jimmy na morte urna resposta secreta?...»

Na maioria das cidades americanas constituiram-se clubes Jimmy

Deán. Um ano após a sua morte, todos os días cinqüenta dos fas do artista aínda iam levar flores ao túmulo do falecido, trazendo ao pescoco ou na lapela urna medalha comemorativa de Jimmy; aos

domingos, tal homenagem era prestada por duzentas pessoas. Ñas escolas secundarias, erguiam-se pequeños altares com velas acesas á memoria do artista.

Enquanto o carro de Jimmy permaneceu no local do desastre, os curiosos puderam inspeccioná-lo pagando US $ 0,25 (para sentar-se ao volante, ,requeriam-se outros US S 0,25). Ésse carro foi, depois, levado como troféu a diversas cidades dos E.U.A., e, finalmente, vendido em pedacos, dos quais

cada um custava ao menos US $ 25,00. Nao é

difícil compreender que posteriormente se tenham descoberto nume

rosas falsas «reliquias» désse veiculo.

O culto de James Deán assumiu ainda outras formas. Propagou-se o rumor de que o artista voltava ou do além enviava sinais e mensagens.

Houve mesmo quem afirmasse que Deán nao morrera: escapara, sim, milagrosamente ao perigo de morte; quem morrera, era um jovem que viajava com Deán em carona. Os fas acreditaran!, pois, que James se enoontrava, desfigurado e irreconhecível, em um abrigo de loucos ou num hospital. A propósito apareceram dois artigos de Raymond, de Becker, com o titulo «James Deán ou l'aliénation signifiante», na revista «La Tour Saint-Jacques» ais. 9 e 10 de 1957.

Alias, sempre se notou entre os homens a tendencia a recusar a morte dos que se destacaram extraordinariamente por sua fama, sua gloria, seu poder político ou sua riqueza:

tal foi o caso de Frederico Barbarroxa, Carlos o Temerario, D. Sebastiáo de Portugal, Napoleáo, Adolf Hitler...

e)

Também se deve registrar a figura de Mike Hawthorn,

inglés, campeáo mundial de corridas automobilísticas, o quál pereceu em desastre aos 22 de Janeiro de 1959, perto de

Guildford, com 29 anos de idade.

Hawthorn faleceu no dia em que devia assinar um con trato que lhe atribuía as fungóes de diretor técnico da «York Noble Cars», com o rendimento anual de dez milhóes de libras. A gloria maravilhosa conquistada pelo jovem e táo imprevistamente desfeita deu ensejo a que se instaurasse um culto a Hawthorn: desde o dia 23 de Janeiro, os peregrinos afluiram a estrada de Guildford; todavía os ingleses nao se deixaram empolgar pelo «herói» ñas proporgóes em que os americanos se entusiasmaran! por Jimmy.

SUPERSTICOES E OCULTISMO HOJE

2)

17

Os sonhos

A crenga em sonhos proféticos é táo antiga quanto a literatura primitiva. Artemidoro de Éfeso (séc. II d.C.) publicou a obra «Onirocríticon» (chave para interpretar sonhos), que recentemente fbi traduzida para línguas modernas e re editada.

Em nossos tempos multiplicam-se as «Chaves de sonhos». Ainda em 1961 as edigóes Garnier, de París, publicaram a obra «O Grande Intérprete de Sonhos. Guia infalível para explicar sonhos e visóes, com a indicacáo dos números de lotería para

cada sonho». O autor se dissimulou sob a rubrica «O Último Descendente de Cagliostro». Eis algumas das explicagóes fornecidas: 41

Ajudante (visto em sonho)

Aborrecimento próximo

Adulterio

Alegria e satisfacáo

«Se tu o cometes»

Beneficio cesrto

«Se tua esposa o comete»

Grande beneficio para vos

10,36 45,54 63,78,91 29

Alemanha, visitá-la

Boa informacáo

Ver um alemáo comer repolho

Viagem agradável

32,51

Dois alemñes que se abracam

DedicacSo a toda prova

29.31

Asno

Ciencia e coragem

32.61

Arcebispo

Perigo noturno

63,83 6,40

Chocolate

Casal feliz

Incesto

Progresso das artes

1,14,41

Insultar um juiz

Afabilidade, aumento de bens

Judeu

O sonhador se enriquecerá

1.22. 1,29

Médico

Marte

12,13

Salsicha

Desonra

22 81

Uísquc

Desagrado

Zinco

Inquietacáo seguida de paz

27. 8

Por mais irrisorias que paregam tais interpretagóes, elas foram realmente dadas ao público em obra que pretende ser seria. Pergunta-se: que podem ter de atraente e sensato tais explicagóes? Por que suscitam tanto interésse por parte dos leitores?... Por provirem de ambiente europeu, onde a cul tura geral é mais sólida e elevada do que no Terceiro Mundo,

as chaves de sonhos sao mais surpreendentes e também mais significativas

da

estranha

situagáo em

que

se

encontra

a

experimental);

devem-se

a

humanidade contemporánea. Note-se que essas chaves nada tém que ver com os principios da psicanálise (que até certo ponto goza de base mera superstigáo.

científica e

— 333 —

18

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 2

Verdade é que a Biblia refere sonhos auténticamente ins

pirados por Deus (cf. «P.R.» 19/1959, págs. 294-299). O fato, porém, de que o Senhor algumas vézes se tenha servido de sonhos e visóes noturnas para se comunicar ao homem, está longe de significar que todo sonho tenha sua mensagem divina. Esta tem de ser comprovada caso por caso, e nao pode ser suposta de maneira geral. 3)

Ocultismo na Rússia Soviética

Como se sabe, a alma russa é profundamente mística. Nem sempre foi preservada de ilusóes neste setor; a corte dos czares foi freqüentada por magos e taumaturgos, entre os quais sobressai Rasputine (cf. «P.R.» 53/1962, pág. 163-170, onde a figura déste místico é apresentada). O regime comunista implantado na Rússia é visceralmente

oposto á crenga no espirito, no misterio religioso e, conseqüentemente, no ocultismo. Seria, pois, para crer que, após mais de cinqüenta anos de marxismo, estivesse extinta toda e qualquer forma de ocultismo em territorio soviético. Os fatos, porém, revelam o contrario. A «Revue Spirite» (1967, transmite a seguinte noticia:

n" 3,

pág.

116),

de

Franca,

Alex Votogov apresentou ao público no hebdomadario moscovita «Nedelya» urna comunicagáo que tinha foros de ciencia ou, melhor, de ciencia de ficgáo: Vologov concebera, sim, um aparelho chamado «arqueovideofone», semelhante a urna estaca© de radio; tal aparelho, afirmava o inventor, per mitiría «conversar oom um antepassado da geragáo presente». Tratava-se de urna máquina eletrónica, em cuja «memoria» o operador colocaría os seus tragos físicos, as notas de seu caráter ou temperamento, e os seus dotes de inteligencia; além

do que, colocaría a historia de sua familia, cartas e fotogra fías dos respectivos parentes, e outras informagóes.. . Assim

preparado, ésse aparelho eletrónico reconstituiría urna imagem dos ancestrais do operador, com os quais seria possível con versar. Dilatando o seu olhar, Alex Vologov terminava o

artigo exprimindo a esperanga de que «urna programagáo adequada poderia colocar até mesmo Aristóteles no apaj'elho eletrónico». 4 Em seu número 5 do mesmo ano de 1967, a «Revue Spirite» voltou a falar de Vologov; éste estudioso anunciara ter concebido urna máquina de cálculo que possibilitaria conhecer a opiniáo de Beethoven sobre a música contemporánea! 334

SUPERSTICOES E OCULTISMO HOJE

L. Fourcade, o articulista espirita da «Revue Spirite» assim comenta a noticia: «Vologov nao fala de espíritos nem de médiuns; indica o calculador eletrónico como fator principal do maravilhoso fe nómeno. Todavia essa omissáo (da referencia a espirito) é compreensível na Rússia soviética». Em conclusáo, o escritor L. Fourcade se

regozijava por

verificar que na Rússia reaparecía a crenca na sobrevivencia da alma, ainda que dissimuladamente sob o anuncio de «expe riencias científicas». Os aparelhos eletrónicos de Vologov justificavam o otimismo dos ocultistas franceses! Na verdade, Vologov, sob a aparéncia de proclamar descobertas científicas (aparéncia necessária na Rússia), nao fazia senáo dar expansáo ao misticismo eslavo; o ocultismo nao podia, em país comunista, renascer sob a forma de espl ritualismo puro; era-lhe necessário o revestimento pseudo-científico ácima descrito. 4)

Astrológica e horóscopo

A astrologia ó a arte de predizer o futuro de alguém a

partir da posicáo ocupada pelos astros por ocasiáo do nascimento dessa pessoa. Já praticada por caldeus e outros povos pré-cristáos, a astrologia foi constantemente cultivada no decorrer dos sáculos. Embora muito combatida, até nossos dias a astrologia está em voga, logrando extraordinario su-

cesso nao sómente entre os simples, mas também entre pessoas intelectuais e cultas.

Durante a segunda guerra mundial (1939-1945), a baroneza Irene von Weldegg fez sucesso e escola na Alemanha

(desde 1933 anunciava urna era de hegemonía alema grasas ao genio do «Führer» Hitler); os astrólogos se multiplicaran! entáo no «Reich», favorecidos pelo terceiro homem do regime nacional-socialista: Rudof Hess. Quando éste fugiu para a In glaterra, o furor de Hitler desencadeou-se contra os astrólo gos, que encheram os campos de concentracáo (o famoso astrólogo Karl Ernst Krafft morreu em Buchenwald); alias,

os déspotas orientáis outrora, quando decepcionados por astró

logos, vingavam-se de modo semelhante, infligindo duros su

plicios a ésses seus servidores. Em 1939, as livrarias da Franca tinham suas vitrinas cheias de livros de autores (cuja recordagáo se esvaeceu rápidamente) que anunciavam a vitória francesa para breve. Nos Estados Unidos da América, os horóscopos prediziam a morte do «Führer» todos os dias; do

20 ' ^«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 2 lado alemáo, porém, Goebbels zombeteava através do radio, dando a entender que também os nazistas tinham usado o horóscopo como meio de propaganda e sugestionamento em

seu favor!

Na Franga, tém sido defendidas teses de doutorado em

medicina que se inspiram da astrologia. Assim em 1964 Claude Michelot confeccionen a obra «L'Étude du theme de naissance dans la psychoso périodique», tese aceita pela Faculdade de Medicina de Lyon.

Inegávelmente,

a

(note-se que nenhum exclusivamente sobre cientistas reconhecem, e dos planetas sobre a micos, a zona de Van

astrologia carece

de

bases científicas

astrónomo é astrólogo); ela se apoia crendices e postulados gratuitos. Os sim, as influencias reais do sol, da lúa térra; estudam os mares, os raios cós Alien e a magnetosfera que envolvem

a térra, as emissóes rádio-elétricas enviadas á térra pelo sol,

por Júpiter, pela Vía Láctea, os raios gama e x provenientes

de certas estrélas, etc. Todavía um homcm de ciencia nao pode aceitar que essas influencias gerais dos astros sejam causas do temperamento, dos tragos físicos ou moráis ou dos acontecimentos da vida de Pedro, Paulo, Josefina, Antonia...; as causas seriam demasiado vagas para tao precisos efeitos.

É sómente na base de imaginagáo e de coincidencias gratuitas que se pode cultivar a astrologia. Nao obstante — seja licito repetir , ela goza de elevado prestigio ainda neste sáculo de luzes.

5)

Talismñs

Eis um dos casos niais frisantes que no setor de talismás se registraram recentemente:

Urna revista de astrologia «Ici Paris» publicou recentemente o anuncio de urna estatueta hindú que representava a

deusa Lakshmi, esposa de Vichnu. O titulo da comunicagáo

era o seguinte: «Ésse talismá nao ó como os outros. É um

ídolo». Os interessados poderiam receber documentagáo sobre a estatueta mediante o envió de tres selos á redagáo da re

vista. Tal documentacáo enviada aos correspondentes, entre outras coisas, exibia a profissáo de fé em Lakshmi, redigida por tres campeóes ciclistas da Franga altamente conhecidos. Eis o teor dessas confissóes de fé:

a)

Na revista «Ici Paris» de 1" de agosto de 1967,

escreve Roger Pingeon, vencedor do «Tour de France»:

!

SUPERSTICOES E OCULTISMO HOJE

21

«Há cérea de dois meses encontrava-me em casa de um amigo, quando, entrando em seu escritorio, lancei o olhar para encantadora estatueta. Movido por fórea invencível, tomei ésse objeto ñas maos e perguntei ao amigo o que representava.

Foi com entusiasmo que ele me contou a historia dessa estatueta, assim como a feliz transformacao de vida que ele atribuí sem hesitacáo á presenca, sob o seu teto, da deusa Lakshmi.

Nao sou fetichista...; todavía as palavras persuasivas de meu amigo decidiram-me a procurar ter para mim urna das efigies da sua deusa. Na verdade. quantos atletas, apesar de suas possibilidades, suas qualidados, sua coragem, viram sua Vitoria comprometida pelo infortunio, a fatalidade. um acídente estúpido mecánico ou pessoal? Devo dizer com toda a franqueza que, no que me concerne, desde que tive Lakshmi em meu poder, experimentei a certeza de que ganharia o Giro de Franga. Durante o esfórco, senti-me sustentado e protegido contra todos os perigos. Minha confianca na deusa foi largamente recompensada. HOJE O FATO ESTA CONSUMADO. GANHEI O GIRO! MINHA VITORIA É TAMBÉM UMA VITORIA DA DEUSA LAKSHMI!

Minha derrota no Campeonato Mundial só contribuiu para refor jar minha confianza no poder extraordinario de Lakshmi. Na febre

da partida, esqueci o medalhSo (de Lakshmi), o que me fez compre-

ender que, de entáo por diante, eu nao me deveria mais separar déle desde que eu quisesse preservarme de todas as desgraoas e ter sorte favorável».

b) A mesma revista «Ici Paris» publicou a 12/IX/67 o testemunho de Eddy Merckx, campeáo mundial de ciclismo, testemunho amplamente divulgado: «A continua boa sorte que acompanhou Pingeon ao longo do Giro de Franca, e o comportamento déste amigo em cada etapa constituiam para todos um misterio. Foi

Pingeon

mosmo

quem,

com

franqueza,

me

revelou o

seu

segr&do. Por minha vez, resolví adquirir urna das efigies da miste riosa deusa.

Confesso que, logo que entrei na posse de Lakshmi, tive urna impressáo muito nitida de seguranza, bem-estar e extraordinaria despreocupagáo.

Desde entüo obtive a certeza acontecer no futuro.

de

que

nada

de mau

me

poderia

Naquele momento também compreendi que eu seria o ditoso ven cedor do Campeonato do mundo. Como Pingean, proclamo a Vitoria da deusa Lakshmi ! ! ! »

minha

vitória

e,

igualmente,

urna

c) Ainda o periódico «Ici Paris», aos 10/X/67, publicou o terceiro testemunho, da pena de Jacques Anquetil, teste munho depois propagado sob a seguinte forma: — 337 —

22


«Os maiores campeóes do mundo sao todos unánimes em atribuir sua Vitoria á deusa Lakshmi. Anquetil Lakshmi! ! !

revela !

Minha Vitoria ! ! !

Mais

um

milagre

da

deusa

Todos estáo estupefatos com as últimas e extraordinarias perfor mances de Anquetil !

Os

homens

se

admiram.

por

vczes

criticam,

reícrcm

historias

imaginarias!

É Anquetil mesmo quem vos revela aqui o quo vos ignoráis. Deixai-o íalar:

Em torno de mim. muito se discutía a respeito de

um talisma

que. a quanto parece, nao era como os outros.

Fiquei sabendo que Pingeon e Merckx lhe atribuiam, em grande parte, as suas brilhantes Vitorias. Essas revelagñes me perturbaram profundamente. Resolví, também eu, tomar conhecimento mais exato désse famoso talismá e de seu poder, que me diziam ser extraordinario. O que íiquei sabendo, moveu-me a procurar obter quanto antes urna efigie da deusa; e confesso que, desde que entrei em posse da

mesma, urna fórca desconhecida se apoderou de mim.

Desde aquéle momento, persuadi-me de que nem pessoa nem ooisa alguma poderia agir contra mim. e de que Lakshmi, por sua preseaica e seu podor, me levaría cm toda e qualquer hipótesi; á Vitoria final, que eu desejava mais do que nunca e com todas as minhas fórcas. Essa Vitoria, eu a obtive, e devoa. em grande parte, á deusa Lakshmi. Durante a corrida, e apesar de todos os ataques dirigidos

e sustentados contra mim, bastava-me, para me restaurar na confianza

e crer na minha Vitoria, pensar em Lakshmi, que eu trazia eomigo. Obrigado, Lakshmi ! Jacques Anquetil»

Poder-se-iam multiplicar os oxcmplos da grande voga do que gozam talismás e outros objetos de superstigáo. Os dados,

muito recentes, mencionados ñas páginas anteriores sao sufi cientes para suscitar a pergunta:

2.

Que significado tem -a supersticao moderna ?

O fenómeno paradoxal das numerosas superstigócs moder

nas leva o estudioso a procurar saber o sentido que possa ter. Eis o que a propósito se pode dizer:

As

superstigóes

modernas

sao,

em

última

análise,

um

«Ersatz» ou substitutivo da verdadeira fé e da genuina ati— 338 —

SUPERSTICOES E OCULTISMO HOJE

23

tude religiosa. O homem contemporáneo pode pretender que

nao precisa mais de Deus; pode julgar que dispensa o Senhor para ser feliz e honesto. Nao obstante, tais afirmagóes nao conseguem destruir a estrutura essencialmente religiosa do ser humano: nao crendo no verdadeiro Deus e nao O cultuando, o homem é levado a cultuar, sob variadíssimas formas (adap tadas ao temperamento de cada uní), ídolos e crendices.

Em outros termos: a consciéncia do misterio e a sede do sobrenatural se manifestam descontroladamente ñas superstigóes, como também se manifestavam nos mitos dos antigos povos; cf. «P.R.» 112/1969, págs. 141-147. Em particular, no tocante á astrologia, a pertinacia com que muitos e muitos homens lhe aderem (apesar das conquis

tas da astronáutica), explica-se de maneira muito interessante,

mediante observares filológicas. Estas mostram que interro gar os astros e as misteriosas configuragóes das estrélas pro porciona ao homem, de certo modo, o apaziguamento de urna

angustia. Com efeito, o Dr. B.-J. Logre no seu tratado «Psy-

chiatrie clinique» (pág. 139) propóe as seguintes considerac,6es de etimología: A palavra «dese.jo*

(muito comum no vocabulario dos adivinhos

c da humanidadc cni gei-alt vom do latim «dcsideriuin». Ora «desiderium» se compoe priva;áo. e sidus,

do preíixo latino de*, que significa afastamento, sideris, palavra que em latim designa «astro».

O «desiderium», portanto, é a decepcáo ou a angustia que alguém

experimenta por «nao ver um astro», astro que o interessado esperava

ansiosamente avistar. Donde se pode dizer que o desejo primordial, no homem, é o desejo dos valores misteriosos transcendentais. Quem nSo sabe satisfazer auténticamente a tal desejo do «misterio», procura urna pseudo-resposta na contemplaeáo dos astros.

Mais aínda: a palavra «desastre» (des-astre), em seu sentido primilivo, designava a triste situacao em que alguóm se achava julgando que Jora abandonado pela influencia benéfica dos astros.

O verbo «considerar» provém igualmente de «sidus. sjderis»; sig nifica originariamente «observar os astros», tomando depois o sentido de «examinar atentamente qualquer ooisa». A palavra «sideracáo» significava um brusco golpe infligido a determinada pessoa por maligna influencia dos astros; principalmente o sol era temido, de modo que «insolacáo» designava qualquer mal grave.

Note-se também que a palavra «contemplar» vem de «templum» (templo, em latim). «Templum» indicava um espaco limitado e livre no céu, espaco que os adivinhos circunscreviam e subdividiam, tracando sinais no ar com urna vara, para ai observar o vóo dos pássaros.

O sentido primitivo de tais palavras fornece valiosa explicacáo para a tenacidade da astrologia: dá a ver que urna — 339 —

24

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 2

das aspirares mais fundamentáis do homem está associada á idéia de observar o céu e os astros, pois estes parecem ser símbolos qualificados do transcendental e infinito, ao qual

todo ser humano espontáneamente aspira. Impóe-se agora urna reflexáo final.

3.

Causas da superstigáo e antídotos

Como se compreende, o fenómeno «superstigáo» é favo recido por fatores varios, dos quais quatro parecem ser os

principáis:

1)

A superstigáo, como foi dito, c o substitutivo da ver-

dadeira fé. Isto significa que ela decorre da ignorancia, e da

ignorancia religoisa Verdade é que muitas das pessoas que cedem á superstigáo, possuem instrugáo e cultura; a sua cul tura, porém, é nao raro incompleta, meramente técnica, nao equilibrada por claras nogóes de filosofía e religiáo. Falta-lhes urna auténtica cultura gcral.

Vé-se, pois, que importante remedio para deter a onda

das .superstigóes consisto orn promover a cultura Reral, e, de

modo especial, a boa formagüo religiosa dos jovens e adultos de hoje. De todas as formas de ignorancia, a mais prejudicial é, sem dúvida, a ignorancia religiosa. Na verdade, o senso religioso é inato e incoercível no ser humano; caso nao seja devidamente orientado para o vordadeiro Deus, dirige-se na tural e inevitávelmente para falsos deuses ou Ídolos camuflados sob os títulos mais envernizados e ilusorios que possam ocorrer na vida moderna.

2) A superstigáo provem também do médo. Ela é apresentada com acertó pelo Dicionário «Larousse du XX« siecle»

nos segtrintes termos:

«Supersticáo: desvio do sentimento religioso fundado sobre o médo ou a ignorancia, de modo a se atribuir caráter sagrado a crencas vas...»

A superstigáo é, sim, «Filha do Médo».

Será oportuno, pois, que os cristáos esclarecidos lutem contra todos os temores excessivos, injustificados e desarrazoa-

dos, que muitas vézes afligem os homens em fases depressivas da vida. Quando alguém sofre alguma calamidade. é propenso

a crer que a salvagáo ou o alivio Ihe viráo de qualquer fonte

SANTOS «CASSADOS» E «CONFINADOS»?

25

que lhe seja hábilmente apresentada. Tenham-se em vista cer tas pessoas doentes e sua inclinagáo para crendices.

3) A superstigáo origina-se outrossim da miseria. Esta tende a privar o homem de seu bom senso, «bestializando-o» em certo grau. O homem miserável fácilmente tende a pro

curar suas consolac,óes e seus momentos de felicidade aderindo ao «maravilhoso» que as práticas e teorías supersticiosas lhe proporcionam.

4)

O charlatanismo é outro fator que alimenta a supers-

tigáo entre os homens. Comerciantes interessados em ganhar dinheiro nao hesitam em propagar as mais falsas idéias entre os seus concidadáos, suscitando a compra e a propaganda de objetos «pseudo-religiosos».

Em conclusa©: deve-se dizer que, enquanto houver homens sobre a térra, existirá a procura do sobrenatural. Ora a au

téntica resposta a tal procura só se encontra na Palavra de

Deus transmitida pela revelacáo judeo-cristá. Quem ignora essa auténtica resposta ou a ela se subtrai, arrisca-se a sofrer tremendas decepgóes na vida. Por conseguinte, o surto

de superstigóes contemporáneas vem a ser um veemente apelo dirigido aos gemimos arautos do Evangelho, a finí de que váo ao encontró dos honions que procuram a Deus sein saber onde

O encontrar! Na coníeccáo déste artigo, valemo-nos do copioso material forne-

cido pelos livros seguintes:

Alee Mellor, París 1968.

-Catholiques

d'aujourd'hui

et

sciences

oceultes».

«La Supcrstition, ersatz de la fob, eolecüo «Je sais-Je crois». n' 147.

III.

DOUTRINA

3) «Gomo se pode entender !o cancelamento das festas de Santos que estavam no calendario da Igreja?

Os Santos foram eassados ou confinados?» Resumo

da

resposta:

A

Igreja

reformou

recentemente

o

seu

calendario litúrgico diminuindo o número de festas de Santos, a fim de permitir ao povo cristáo celebrar mais atenta e profundamente

as diversas fases da obra redentora de Cristo, desde o Advento até Pentecostés. Tal reforma foi preconizada pelo Concilio do Vaticano II e só pode ser tida como benéfica para a piedade.

26

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969. qu. 3

Retirando (ou tornando facultativas) certas festas, a Igreja nao

cassou Santo algum. A santidade nao é título que a Igreja atribua

e retire a seu bel-prazer, mas é urna realidade que caracteriza o seu sujeito indepejidentemente do conceito dos homens. Todo santo que esteja na gloria de Dcus, mas tenha sido retirado do calendario pode continuar a sor invocado pelos fiéis; Deus nao priva o seu povo dos seus intercessores celestes.

Verdade é que na revisño do calendario eclesiástico os estudiosos

verificaran! que varias historias transmitidas a respeito de Santos eram espurias. A Igreja o declaren lcalmonte, sem se i-ontradizer, pois o magisterio da Igreja nunca definiu a veracidade de alguma historia concernente a Santos. Acontecía apenas que o povo de Deus, com seus bispos, dava crédito a documentos espurios forjados em épocas remotas, segundo o gósto dos antigos; ... davam crédito, porque, dada a falta de senso critico dos historiadores de outrora, «nao viam motivo para duvidar da autenticidade de tais documentos. Nisto

nao

houve fraude nem engaño formalmente

ditos,

mas

apenas expressáo da limitacao humana, da qual Deus so isenta a sua

Igreja quando se trata dos artigos do Credo e dos principios da Moral crista.

Resposta: Causou perplexidade nos círculos católicos e nao católicos a recente reforma do calendario litúrgico, em conseqüéncia da qual varios sanios deixaram de ter seu dia de festa oficial.

Houve quem falasse de «cassacáo de santos» ou atribuisse á Igreja atitudes incoerentes. Na verdade, o gesto da Santa Sé se explica muito fácilmente. Por conseguinte, para dissipar as dúvidas, seguir-se-á abaixo uma síntese do documento (Motu proprio «Mysterii paschalis») em que o Santo Padre Paulo VI, aos 14/IT'1969, apresentou a reforma do calendario litúrgico.

1.

Os porqués e o teor da reforma

A piedade crista tem por objeto principal o «misterio pascal», ou seja, o misterio da Paixáo, da Morte e da Ressurreicáo do Senhor. Com efeito, o Cristianismo trouxe ao mundo a Boa-Nova de que o Filho de Deus tomou a miseria e a

morte do homem, a fim de lhes dar sentido novo: fez délas

a passagem para a ressurreicáo e a vida eterna. Esta Boa-Nova

nao é apenas mensagem para a inteligencia de quem a ouve, mas^ torna-se fermento regenerador, germen de eternidade

gloriosa, mediante a S. Eucaristía. Na verdade, a Eucaristía

perpetua sobre os altares a Paixáo, a Morte e a Ressurreicáo

de Cristo, ou seja, o misterio de Páscoa, para que os fiéis

SANTOS «CASSADOS» E «CONFINADOS»?

27

participem désse misterio e recebam na S. Comunháo o penhor da Vitoria sobre o sofrimento e a morte.

A Liturgia, celebrando a S. Eucaristía, apresenta através

dos sucessivos domingos do ano as diversas facetas da RedenOáo obtida por Cristo: nascimento, vida oculta, vida pública, paixáo, morte, ressurreigáo, ascensáo de Jesús e Pentecostés.

No decorrer de cada ano litúrgico, os fiéis tém assim a ocasiáo de contemplar as diversas fases da obra redentora, glori ficando o Salvador e pedindo-lhe as gracas deoorrentes de sua vitória. Acontece, porém, que através dos tempos Deus suscitou cristáos de santidade notável em meio ao seu povo. Após a morte, ésses justos foram considerados amigos do Senhor e irmáos dos fiéis peregrinos na térra; conseqüentemente foram

tidos como intercessores junto a Deus na gloria celeste. Tal

modo de ver explica que o povo cristáo, desde remota época, se tenha habituado a celebrar anualmente o aniversario da

morte dos grandes santos que tém marcado a historia do Cris tianismo. A conseqüéncia desta praxe é que o calendario litúr

gico foi assinalando para cada dia urna ou mais festas de sanios, das quais algumas cram precedidas de vigilia e seguidas

de oitava. A devo?áo dos fiéis era assim mais e mais atraída para os santos, enquanto as celebragóes da obra redentora de Cristo ficavam na penumbra.

Observa o Santo Padre Paulo VI: «No decorrer dos séculos, a multiplicado das festas, das vigilias e das oitavas. como também a complicac.áo progressiva das diversas partes do ano litúrgico, muitas vézes levaram os fiéis a devocoes par ticulares, afastando os um pouco dos misterios fundamentáis da nossa Rctlcncfio» (Motu proprio «Mysterii paschalis»).

Em vista disto, esbocou-se nos tempos recentes urna ten dencia reformadora. Já o Papa S. Pío X (1903-1914) empreendeu certa simplificacáo do calendario litúrgico. Pió XII e Joáo XXIII continuaram a reestruturacáo da Liturgia. Final mente o Concilio do Vaticano II, em sua Constituicáo sobre a S. Liturgia, decretou: «Para que

as

festas

dos santos

nao

prevalegam

sobre

as- que

comemoram os misterios da salvagáo, muitas dessas festas serño deixadas á celebracáo de provincias eclesiásticas, nag5es ou famil.as religiosas em particular. Ao contrario, seráo celebradas na Igreja inteira apenas as festas de Santos que tenham importancia universal» (n' 111).

— 343 —

28

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 3

Ora, foi para executar tal decreto do Concilio do Vati cano II que a S. Congregacáo dos Ritos, com a aprovagáo do Papa Paulo VI, publicou recentemente o novo calendario cristáo. Éste suprime algumas festas de Santos antigos, torna

facultativas outras festas antigás

(outrora obrigatórias)

e

introduz algumas festas de Santos recentes. Estas celebragóes novas se referem a Santos de continentes evangelizados tardía mente, como a África, a América, a Oceania, e certas regióes da Asia (Japáo). Destarte o calendario cristáo, em sua simplicidade nova, tornou-se mais eloqüente: lembra aos fiéis de hoje que a santidade nao é o privilegio dos primeiros séculos

ou de regióes européias, mas é um dom que o Espirito Santo concede aos cristáos de todos os tempos e de todas as nagóes.

Nestes termos, o novo calendario pode ser calorosa ligáo para o povo cristáo e viva exortagáo á procura da santidade nos dias que correm; os modelos de santidade estáo muito perto de nos!

2.

Os criterios da reforma do calendario

Pergunta-se: quais os grandes principios que nortearam a renovagáo do ciclo santoral da Igreja? — Sao cinco:

1)

Revisño meticulosa dos documentos hagiográficos

A Santa Sé procedeu a urna análise crítica dos documentos históricos que constituem a base de cada festa de Santo. Éste é um dos pontos que mais se prestaram a mal-enten didos. Eis conu* se devem entender os fatos:

Até o século XII nao se realizavam processos de canonizagáo na Igreja. O povo cristáo, consciente das virtudes déste ou daquele justo, passava a venerá-lo como santo após a morte.

Os bispos zelavam para que sámente auténticos mártires ou

confessores da fé fóssem venerados pelo povo de Deus; cris

táos idóneos eram encarregados pelos bispos de consignar por escrito o que se dizia a respeito das virtudes de tal justo e dos milagres obtidos por sua intercessáo. Diversos concilios da antiguidade e do inicio da Idade Media tiveram que proibir o culto público tributado a servos de Deus antes que a autoridade eclesiástica se tivesse oficialmente pronunciado a seu respeito; também promulgaram cánones que mandavam can celar das listas dos Santos nomes ai prematuramente inseridos pelo fervor popular. Os nomes de Santos venerados em deter— 344 —

SANTOS «CASSADOS» E «CONFINADOS» ?

29

minada diocese eram comunicados a outras dioceses, de sorte que havia Santos unánimemente cultuados em toda a Igreja, enquanto outros gozavam apenas de culto local. Deve-se, porém, registrar que até o fim da Idade Media a imaginacáo popular se deleitava em narrativas maravilhosas (julgava-se que todo Santo devia ser taumaturgo), de modo

que naqueles séculos recuados foram escritas «Atas de marti rio» e biografías de Santos que exageravam o prodigioso. Note-se também que naquelas épocas distantes os homens nao possuiam o senso da crítica historiográfica nem tinham meios de controlar a autenticidade de documentos pretensamente históricos, de sorte que se propalavam sem dificuldade tais

«Vidas de Santos»; tanto os bispos como os fiéis as acatavam de boa fé e com edificagáo espiritual, a menos que houvesse evidente indicio de náo-historicidade dessas biografías porten

tosas.

Ora em nossos dias, com o despertar dos conhecimentos históricos, a Santa Sé verificou que nao poucos documentos concernentes aos Santos antigos nao sao rigorosamente fide dignos. Compreende-se entáo que as autoridades da Igreja tenham lealmente comunicado aos fiéis os resultados das pes quisas historiográficas, pois a piedade nao se deve nutrir em fontes espurias. Neste gesto da Santa Sé nada há de reprovável ou vergonhoso; com efeito, a Igreja nunca definiu a

historicidade das «Vidas de Santos» nem impós aos fiéis a

crenca nos portentos atribuidos aos taumaturgos populares nem sequer obrigou os cristáos a ter devocáo a tal ou tal Santo.

Verdade é que as autoridades eclesiásticas aceitaram como auténticos certos documentos que eram espurios, baseando-

-se niles para confeccionar o calendario litúrgico. Note-se, porém: ... aceitaram-nos de boa fé, ou seja, porque nao havia

motivos para nao os aceitar ou para duvidar de sua genuinidade. Nisto — é certo — se manifestam as contingencias e limitac5es humanas das quais Deus nao quer preservar a sua Igreja, desde que nao estejam em perigo os artigos da fé e os principios da Moral crista (as noticias, verdadeiras ou falsas, concernentes aos Santos nunca foram objeto de dogma católico).

Em outros termos: a veneracáo aos Santos como tal pertence indiscutlvelmente ao patrimonio da fé católica. Todavia o modo como se há de realizar o culto dos Santos está associado ao modo humano de conhecer a historia e a hagiografía; por isto é passlvel de re forma sempre que as pesquisas dos historiadores a recomendem ou exijam.

— 345 —

30

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qü. 3

Os resultados das pesquisas historiográficas revelaram o seguinte:

1) Há Santos cuja biografía é espuria ou incerta, mas cuja existencia real nao se pode por em dúvida. — A Igreja ou retirou do calendario ésses Santos (assim S. Catarina de Alexandria, S. Plácido e seus companheiros, S. Prisca, Santo Aleixo...) ou permitiu seja sua respectiva festa celebrada facultativamente (S. Jorge, S. Pancrácio, S. Brás...). 2) Há Santos que realmente nunca existiram. Tais sao, por exemplo, os casos de S. Pudemciana (outrora, a 19 de maio). O adjetivo «pudenciana»

era atribuido á casa do Senador romano Pudendo; foi, porém, poste riormente entendido como nome próprio de urna: virgem e mártir antiga.

S. Sabina (outrora, a 29 de agosto). Sabina deve ter sido urna dama de Roma que transformou sua casa, no Aventino, em igreja nos sáculos ni ou IV. Tal igreja era, como se dizia. no sáculo V «o

titulo (a igreja) de Sabina». Ño sáculo VI, porém, os documentos

já falam do «titulo de Santa Sabina», pois que tdda igreja costuma ter um Santo ou urna Santa como titular. As atas do martirio atri buido a S. Sabina referem-se a urna outra Sabina, que, na verdade, padeceu a 50 km de Roma, na úmbria; houve confusáo entre dama Sabina do Aventino e Santa Sabina mártir da úmbria! S. CristóvSo (outrora, a 25 de julho), a respeito do qual existem duas biografías: Urna, de origem grega, assevera que ésse santo era um bárbaro antropófago, da tribo dos cinecéfalos (homens de cabeca de cao). . Converteu-se, e entrou no exército do Imperador. Certa vez, recusou-se a abjurar a fé crista, sofrendo em conseqüéncia suplicios inimagináveis.

No Ocidente, a narrativa é diferente. Cristóváo terá sido um gigante que tinha a manía de servir grandes personagens. Servia a um írei, que ele julgava ser o maior rei do mundo. Disseram-lhe,

porém, que Satanás era. multo mais poderoso; por consegulnte, passou para o servico de Satanás. Foi, todavía, informado de que Cristo ainda era" mais poderoso; um eremita comunicou-lhe também que Cristo

apr'eclava os homens de acordó com a caridade com que tratavam o

próximo. Etntáo Cristóváo féz-se portador de pessoas que queriam atrayessar um rio; tal foi a sua nova proíissao. Certa noite. um menino Ihe pediu que o transportasse. O gigante tomou-o sobre os

ombros, e entrou nagua. Notou, porém, que a travessia se tornara

penoslsslma, n&o por causa da corxente ou da escuridáo. mas por causa do mentnlnho, que pesava tanto quanto o mundo. Nao obstante, o gigante, apoiando-se sobre o seu cajado, avancava, embora receasse ealr. 'Chegou ao outro lado do rio, depositou o menino por térra e Ihe disse que era tSo pesado quanto o mundo. Respondeu-lhe entao

a crianca: «Tiveste contigo mais do que o mundo inteiro; canregaste o Criador do mundo. Sou o Cristo, a quem tu serves!» — O Senhor pagou-lhe tal servigo, concedendo-lhe posteriormente a coroa do mar

tirio!

— 346 —

SANTOS «CASSADOS» E «CONFINADOS»?

31

Visto que sao estes os únicos dados biográficos que se tém a respeito de S. Cristóváo, pode-se admitir que a sua existencia seja problemática.

S. Félix de Valols (outrora, a 20 de novembro), tido como compa-

nheiro de S. Joáo da Matha na íundacáo da Ordem dos Trinitarios

no século XIL — Acontece que até o século XV ésse Santo jamáis foi mencionado; as primeiras noticias que déle se tém. identificam-no

com Hugo de Valois, neto do rei Henrique I da Franca; ter-se-á dissi

mulado sob o nome de Félix — o que nao quadra absolutamente com dados seguros da historia eclesiástica e profana. S. Praxedes (outrora, a 21 de julho), que terá sido irma de Santa

Pudenciana e filha de Pudendo. Possivelmente foi urna dama de Roma que também transformou sua casa em igreja: ... igreja «do titulo de Praxedes», que depois se tornou «do titulo de Santa Prá

xedes».

As onze mil virgens companheiras de S. Úrsula (21 de outubro

outrora) devem sua origem provávelmente ao seguinte: em Colonia (Alemanha) celebravam-se no século IV algumas virgens que haviam

padecido conjuntamente o martirio. No século X, porém, oomecaram os cronistas a falar de 11.000 virgens mártires de Colonia. Por que? — Possivelmente, porque certas inscricSes arqueológicas mencionavam XI virgens mártires. Ora, os romanos e medievais costumavam colo car um traco horizontal ácima de suas letras ou para indicar que se tratava de números ou para transformar unidades em milhares; por conseguinte, XI podia significar 11 ou 11.000. Pois bem; um cristSo devoto terá .lido 11.000 em lugar de 11, com toda a boa fé, e haverá propalado esta interpretagáo. A noticia de que 11.000 virgens haveriam sido martirizadas em Colonia estava longe de despertar criticas ou dúvidas na mentalidade de um cristáo medieval? ao contrario éste estava pronto a se regozijar pela coragem heroica de tantas virgens!

2)

Calendario que exprima a universalidade da santidade no

tempo e no espajo

O calendario antigo compunha-se principalmente de San

tos dos primeiros séculos e das regióes européias. Ora tais

amigos de Deus sao pouco conhecidos e significativos para o cristáo contemporáneo. Oompreende-se entáo que a Santa Sé tenha intencionado confeccionar um calendario que mostré melhor que a santidade é um dom de Deus concedido a todos os homens. Por isto é que foram retirados do calendario litúr

gico Santos antigos, para serem ai inseridos outros mais pró

ximos de nos. Em suma, o novo calendario aprésenla 64 Santos dos dez pri meiros séculos, e 79 dos dez últimos. Os séculos mais representados sao o 4* (com 25 Santos), o 12* (com 12 Santos), o 16» (com 17 San tos), o 18» (com 17 Santos).

— 347 —

32

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 3

Do ponto de vista geográfico, 126 testas se referem a Santos da Europa; S a Santos da África; 14 a Santos da Asia; 4 a Santos da América; 1 a um Santo da Oceania. Foram assim introduzidos no calendario: os mártires de Nagasaki (Extremo Oriente), aos 6 de

fevereiro; ós mártires de Uganda (África), aos 3 de junho; os már

tires canadenses S. Isaque Jogues e seus companheiros (América do Norte), aos 19 de outubro; S. Turlbio de Mongrovejo e S. Martinho de Lima (América do Sul), aos 23 de marco e 3 de novembro respecti vamente; S. Pedro Chanel (Oceania), aos 28 de abril.

3)

Santos de significado relevante para a Igreja inteira

Havia no calendario Santos celebrados no mundo inteiro, mas pouco conhecidos fora da regiáo onde haviam nascido ou trabalhado. Ora o novo calendario procura evitar a mengáo de Santos que nao tenham alcance realmente «universal. É, porém, permitido que tais Santos sejam festejados nos países, ñas regióes ou ñas dioceses onde sejam conhecidos e tradlcio-

nalmente venerados. É o que se dará com S. Januário em Ñapóles e S. Nioolau em Bari (Italia). 4)

Caráter facultativo de certas festas de Santos

Mesmo os Santos mencionados pelo novo calendario nao

devem ser todos obrigatóriamente festejados pela Igreja in teira. Há, sim, alguns cuja data festiva se impóe já por si

mesma á veneragáo dos fiéis de todas as partes do mundo; tais sao a Virgem SS., os Apostólos, S. Joáo Batista, S. Fran cisco, S. Domingos, S. Bento, S. Inácio de Loiola, S. Tomás de Aquino... Outros, porém, poderáo ou nao ser celebrados, de acordó com os costumes e a orientacáo da piedade de cada país ou cada diocese: tais sao, por exemplo, S. Henrique, Im perador da Alemanha (973-1024), aos 13 de julho; S. Estéváo; rei da Hungría (975-1038), aos 16 de agosto; S. Elisabete, rainha de Portugal (1271-1376), aos 4 de julho; S. Luís, rei de Franca (1226-1270), aos 25 de agosto; S. Jorge (23 de abril), S. Cosme e S. Damiáo (26 de setembro), S. Sebastiáo (20 de Janeiro).

Em suma, há um total de 58 festas obrigatórias e 92 facultativas.

5)

Cetebrac.áo das festas dos Santos no aniversario da res pectiva marte

O día da morte de um Santo é classicamente considerado

o seu natalicio («dies natalis») para a eternidade. Nao há,

SANTOS «CASSADOS» E «CONFINADOS»?

33

pois, data mais adequada para festejar um justo do que o aniversario do seu falecimento. Por conseguinte, o novo calen dario deslocou a festa de alguns Santos que, por um motivo acidental, vinham sendo celebradas fora do seu dia próprio. Tais sao os casos de S. Joáo

dezembro;

da

Cruz, que

passou

de

24 de novembro para

14

de

S. Romualdo, que de 7 de fevereiro passou para 19 de junho;

S. Vicente de Paulo, que de 19 de julho passou para 27 de setembro;

S. Leáo Magno

transferido de 11 de abril para 10 de novembro;

S. Catarina de Sena, deslocada de 30 para 29 de abril. Todavía nao íoi sempre possível seguir o criterio do «dia. nata licio», visto que dois ou mais Santos, seriam, por vézes. obligatoria mente celebrados no mesmo dia. Em conseqüéncia,

S. Tomás de Aquino (t 1274) passou para o dia 28 de Janeiro (dia da trasladacáo de suas reliquias para Tolosa). defecando o dia 7 de margo para as santas Perpetua e Felicidade (t 203), que sao ante riores na historia da Igreja; S. Teresa de Llsieux (t 1897) passou para o dia I9 de outubro, já que o día de sua morte, 30 de setembro, já assinala a festa de S. Jerónimo (t 420).

S. Domingos de Gusmáo (t 1221). falecido aos 6 de agosto^ passou para o dia 7 seguinte, pois a data de 6/VTII está solenemente consa grada pela Transfiguracáo do Senhor.

Eis os cinco principios que nortearam a revisáo do calen dario da Igreja.

Quanto as festas do Senhor, ficaram as que sao tradicionais, exceto as. do SS. Nome de Jesús (1« de Janeiro) e do Preciosíssimo Sangue (1* de julho). A festa de Cristo Rei é transferida do último domingo de outubro para o último do mingo do ano litúrgico.

As festas da Virgem SS. ficam sendo

— para a Igreja universal: Assungáo, Imaculada Conceicáo (dia santo de guarda), Natividade, Anunciagáo, Maternidade Divina (1* de Janeiro), Purifícagáo, Apresentagáo, Visltagáo, María Raínha (22 de agosto), Sete Dores (15 de se tembro), Sto. Rosario (7 de outubro);

— facultativas: Nossa Senbora de Lourdes (11 de fevereiro), N. S* do Carmo (16 de julho), N. S» das Neves (5 de agosto), Cora-jáo Imaculado de María (sábado após a festa do Sagrado Coracáo de Jesús).

— 349 —

34

«rPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 3

3.

Ulteriores oonsrderasóes

A reforma do calendario cristáo deu lugar a que se falasse públicamente de «cassagáo» e «confinagáo» de santos. Tais expressóes, infelizes como sao, necessitam de esclarecimento. 1)

«Cassacóo de santos»

Cassacáo é a punigáo que consiste na quebra ou no cancelamento de títulos e direitos de algum cidadáo. Ora a recente reforma do calendario nao retirou a algum

justo falécido o título de «santo». Note-se, alias, que a santi-

dade nao é mero título, mas urna realidade interior, que sub siste no seu sujeito independentemente do reconhecimento que os homens lhe tributem; os Santos continuam a ser santos depois, como antes, da reforma do calendario. Nem a Igreja cancelou aos Santos o direito de ser invocados como intercessores; de resto, é Deus, e nao a Igreja, quem possibilita e estabelece o intercambio entre os membros da Igreja celeste e os da Igreja terrestre, peregrina (cf. Constituicáo «Lumen Gentium» c. 7). Qualquer Santo real, por conseguinte, pode ser invocado como advogado de seus irmáos na térra. Em sua reforma, a Igreja apenas houve por bem retirar do calendario (ou ao menos tornar facultativa) a festa de determinados Santos. A razáo disto nao foi o menosprézo ou a aversáo em relacáo a tais amigos de Deus, mas foi simplesmente o desejo de concentrar mais a atengáo dos fiéis sobre a obra redentora de Cristo e sobre os Santos que, para um

homem do sáculo XX, mais eloqüentemente exprimam a vitória do Redentor sobre o pecado. É, portante, erróneo falar de «santos que deixaram de ser santos»; na verdade, nerihum Santo real ou histórico dei-

xou de ser tal. Nao era para desejar, porém, que a piedade do povo de Deus se dirigisse a pseudo-Santos, ou seja, a pre sumidos Santos, que outrora eram, de boa fé (por falta de esclarecimento dos historiadores), tidos como reais, mas que hoje sao comprovados como inexistentes. 2)

«Sanios confinados»

O fato de que o culto de certos Santos se tenha tornado facultativo para certas regióes ou dioceses sugeriu a maliciosa expressáo ácima.

— 350 —

SANTOS «CASSADOS» E «CONFINADOS» ?

35

Pergunta-se: com que razáo? — Confinamento significa «limitacáo da liberdade de agáo e locomogáo». Ora nao foi isto em absoluto que a Igreja efetuou em relagáo a determi nados Santos.. Qualquer Santo pode ser invocado por quem quer que seja, em qualquer parte do mundo; Deus permitirá que o orante na térra seja assim beneficiado. Apenas a Igreja julga que deve diminuir o número de festas de Santos. Daí tornar-se facultativa a solene celebracáo de algumas festas. Nao há quem nao veja que tal atitude nao tem sombra de semelhanca com comportamentos políticos. 3)

«Quando a Igreja errou: outrora eu agora ?

Afírma-se que a Igreja, no tocante aos Santos, cometeu grave erro:

— ou outrora, favorecendo o culto de certos Santos, — ou atualmente, cancelando a festa de tais Santos.

Em nossa resposta, notemos de inicio que o magisterio oficial e infalivel da Igreja nao se empenhou na determinagao do calendario litúrgico; éste nao constituí objeto de fé, mas de disciplina; nem a Igreja proferiu jamáis alguma definicáo «ex cathedra» a respeito das narrativas hoje depreendidas como nao auténticas.

Deve-se, porém, reconhecer que o povo cristao com seus bispos (inclusive o Papa) deu crédito a «estórias» concern-ín-

tes aos Santos, por nao terem documentos que fizessem suspeitar da índole espuria de tais narrativas. O erro cometido foi inculpado, erro devido a relativo atraso da historiografía durante numerosos séculos. Hoje em dia a Igreja faz questáo de corrigir ésse erro incorrido em boa fé — o que só pode redundar em abono da veracidade da S. Igreja. Ninguém ignora que Deus permite que seus fiéis caminh'em a passos humanos em tudo que nao diz respeito estritamente á fé e á moraHdade crista.

No quadro segirinte, vé-se a configuracáo do novo calen dario da Igreja. — Note-se, porém, que éste aínda nao vigo rará no ano de 1970, pois que, para que possa ser devidamente, aplicado, áe aguarda a edicáo dos novos livros litúrgicos (Missal e Breviario) que estáo sendo preparados pela Santa Sé.

A celebragáo dos Santos cutos nomes se acham em negrito,

será facultativa.'

— 351 —

36 .

.

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 3 JANEIRO

1 2 6

7 13 17

20

21 22 24

25 26) 27 28 31

Santa María, Máe de Deus S. Basilio e S. Gregorio

. de Nazianzo Epiíania do Senhor

S. Raimundo de Penaforte S. Hilario S. Antáo do Egito S. Fabiano

3 12

S. Vicente S. Francisco de Sales

Conversáo de S. Paulo S. Timoteo e S. Tito S. Angela Merici S. Tomás de Aquino

14 18

20 25

S. Joao Bosco

5 6

Apresentacáo do Senhor S. Brás S. Ansg&rio S. Águeda S. Paulo Miki e os mártires

japoneses

8 10 11

S. JerOnimo Emiliano S. Escolástica N. S« de Lourdes

21 22

S. Pedro Damiao Cátedra de S. Pedro

14 17

23

S. Cirüo e S. Metódio Os sete Fundadores dos Servitas

S. Bolicarpo

MARCO 4 S. Casimiro • 7 • S. Perpetua e S. Felicidade 8 S. Joao de Deus

9 17

S. Francisca Romana S. Patricio

-

18 19 23 25

S. Cirilo de Jerusalém S. José S. Turibto de Mongrovejo Anunciacao do Senhor

I 2

S. Francisco de Paula

ABRIL

4

5

7

II 13

S. Isidoro

S. Vicente Ferrer

S. Joáo Batista de la Salle

S. Estanislau

S. Martmho I

S. S. S. S. S. S. S.

Anselmo Jorge Fidelis de Sigmaringen Marcos Pedro Chanel Catarina de Sena Pió V MAJO

1 2

S. Sebastiáo S. Inés

FEVEREIRO

2 3

21 23 24 25 28 29 30

26 27 31

S. José Operario S. Atanásio

S. Filipe e S. Tiago S. Nereu e S. Aquilcs

S. Pancrácio S. Matías S. Joáo I

S. Bernardino de Sena S. Beda S. Gregorio VII

S. Alaria Madatena de Pazzi

S. Filipe Neri S. Agostinho de Cantuárta Visitacao da Virgem SS. JXJNHO

1 2 3

5 6 9 11 13 19 21 22

24

S. Justino S. Marcelino e S. Pedro S. Carlos Lwanga c os Mártires de Uganda S. Bonifacio S. Norberto S. Efrém S. Barnabé S. Antonio de Pádua S. Romualdo S. Luís de Gonzaga S. Paulino de Ñola S. Joilo Flsher e S. Tomás Moro

Natividade de S. Joao Batista

27

S. Cirilo de Alexandria

29

S. Pedro e S. Paulo

28

30

S. Ireneu

Os santos prlmelros mártires de Roma

JULHO 3 4 5

6 11

13 14 15

16 21

S. Tomé S. Ellsabete de Portugal S. Antonio Maria Zacarías S. Maria Goretti S. Bento

S. Henrique S. Camilo de Lellis S. Boaventura

N. S' do Carmo S. Lourenco de Brindis!

SANTOS «CASSADOS» E «CONFINADOS»? 22 23 25 26 29 30 31

S. María Madalena S. Brígida

S. S. S. S. S.

6 7 9

Tiago Joaquim e S. Ana Marta Pedro CrisolDgo Inicio de Loiola

14 15

16

17

AGOSTO 1 2 4 5

6 7

8 10 11

13 15 16 19 20 21 22 23 24 25

27 28 29

S. S. S. N. s.

lo

Afonso de Ligório Eusébio de Verccil Joáo Maria Vianney S' das Neves xisto n

19

23

Transfiguragáo do Senhor S. Domingos S. Caetano de Tiene S. Lourengo S. Clara S. Ponciano e S. Hipólito Assuncáo de N. S* S. Estévao da Hungría S. Joao Elides S. Bernardo S. Pió X

14

15 16

17 19 21

26 27 28 29

30

3 4 9

10 11 12 15 16

S. Maria Raínha S. Rosa de Lima S. Bartolomeu ■

S. Luis da Franca S. José Galanznns

17 18

S. Mónica S. Agostinho

Martirio de S. Joáo Batista

2 4

21 22 23

30

S. Gregorio Magno Natividade de N. S' S. Joño Crisóstomo

S. Paulo da Cruz

Canadenses

S. Joáo Oapistrano S. Antonio Maria Claret

S. Simáo e S. Judas

Todos os Santos

Finados S. Martinho de Lima S. Carlos Borromeu Dedicada da basílica do Latráo S. Leao Magno S. Martinho de Tours S. Josafá S. Alberto Magno

S. Margarida da Escocia

S. Gertrudes S. Ellsabete da Hungría

,

Dedicac&o das basílicas de

S. Pedro e S. Paulo Apresentacao de N. S*

S. CecUia

S. Clemente S. Columbano S. Amdré DEZEMBRO

Exaltacáo da S. Cruz N. S' das Dores S. Cornélio e S. Cipriano S. Roberto BeJarmino S. Januarlo S. Mateus S. Cosme e S. Damlao S. Vicente de Paulo S. Venceslau S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael S. Jerónimo

OUTUBRO 1

S. Bruno N. S* do Rosario S. Dionisio e seus companhelros S. Joáo Leonardi S. Caliste S. Teresa de Avila S. Hedviges S. Margarida. Maria Alaooque S. Inácio de Antioquia S. Lucas S. Isaque Jogues e os Mártires

NOVEMBRO 1 2

SETEMBRO 3 8 13

24 28

37

S. Teresa do Menino Jesús SS. Alijos da Guarda S. Francisco de Assis

3

4 6 7 8 11 12 13 14 21 23 25

26 27

28 29 31

— 353

S. Francisco Xavier S. Joao Damasceno S. Nlcolau S. Ambrosio

Imaculada Conceicáo de N. S* S. Dámaso S. Joana Francisca de Chantal S. Lucia S. Joáo da Cruz S. Pedro Ganisio S. Joao Canelo Natal

S. EstévSo

S. Joáo Ev. SS. Inocentes S. Tomas Becket S. Silvestre

38

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 4

IV.

EDUCACÁO

4) «Que dizer, do ponto de vista crista», sobre a introducaoi da educacáo sexual ñas escolas? Nao será urna exigencia de nossa época?» Resumo da resposta: Educacáo sexual compreende necessariamente, além de instrucSes de anatomía e biología, a comunicacáo de principios étioas que regem o uso do sexo e incutem disciplina ao adolescente; em caso contrario, já nao é educacáo. Tal educa^áo há de ser ministrada, normalmente, pelos genitores,

a quem de resto compete primeiramente a tarefa de educar; sámente

em casos de impossibilidade, os pais confiaráo tal encargo a um amigo ou educador. Visto que muitos e muitos casáis hoje em día no Brasil se sentem intimidados ou inabilitados para exercer tal mister, é preciso que se multipliquen! os cursos de preparacáo para o casamento nos quais se forneca a orientacáo de que necessitam os pais para desempenhar sua tarefa de educacáo sexual.

Esta deve ser ministrada gradativamente, de acordó com a evolucao do adolescente, evitando-se despertar problemas aínda nao exis tentes. Por isto nao se deve fornecer educacáo sexual coletivamente ou em turmas, onde há diversos níveis de desenvolvimento íisico e psíquico; a educacáo sexual em grupo pode ser nociva a muitos dos alunos, despertando-lhes a curiosidade e incitándoos a experiencias intempestivas. Destas premissas se segué que nao convém introduzir a educacáo sexual ñas aulas escolares. A escola poderá, porém, atender ao desen volvimento sexual e as questoes dos alunos mediante o seu Departa mento de Orientacáo Educacional, onde professdres idóneos atendem a cada aluno em particular. — Nao se deveria omitir ñas escolas a apresentacáo de normas éticas, que preparem os alunos a desempe nhar idóneamente seu respectivo mister na sociedade. X

Resposta: Torna-se cada vez mais insistente em certos setores a tese segundo a qual se deve ministrar educacáo

sexual de maneira oficial e coletiva ñas escolas. Todavía, já

que o assunto tem suscitado dúvidas e debates, as páginas se-

guintes o abordaráo, considerando sucessivamente: 1) Que é própriamente educacáo sexual 2) Por quem e como há de ser ministrada? 3) Convém introduzi-la na escola?

1.

Que é educagáo sexual ?

A educacáo sexual própriamente tarefas:

— 354 —

dita compreende

duas

EDUCACAO SEXUAL ÑAS ESCOLAS?

39

1) iniciagáo biológica ou instrugáo científica referente á anatomía e a fisiología do sexo. Tal instrucáo pertence ao estudo das ciencias naturais;

2) desenvolvimento de hábitos moráis que fomentem o dominio e a disciplina que todo ser humano deve exercer sobre si mesmo (nao há personalidade sem morigeracáo ou disciplina de costumes). «Educar» é justamente eduzir da potencialidade da enanca e do jovem as boas qualidades latentes em sua

natureza. Educar é, de certo modo, plasmar, modelar segundo um belo exemplar; o educador é semelhante a um artista que procura fazer que a massa por ele trabalhada se torne harmoniosa segundo todas as suas virtualidades.

Vé-se, pois, que sem a tarefa n« 2) nao há própriamente educacáo sexual. O educador nao cumpre a sua missáo enquanto nao comunica principios de comportamento sadio.

Note-se a diferenga existente entre a iniciagáo sexual e a instrugáo relativa a outras fungóes do organismo (como respiragáo, digestáo, metabolismo, etc.). O conhecimento déstes

outros temas de fisiologia fica sendo sempre meramente inte lectual; os alunos geralmente os estudam de maneira fría e

desinteressada. Ao contrario, as nogóes concernentes ao sexo e as suas funcóes suscitam ou alimentam naturalmente nos jovens urna curiosidade mais ou menos intensa, acompanhada do desejo de experimentar pratícamente aquilo que aprendem.

Precisamente a idade do estudante ginasial e colegial é aquela em que se dá a transformagáo física chamada «puberdade»; o adolescente experimenta entáo anseios a prazeres que ele

apenas entrevé; sente-se inquieto e atormentado por curiosi dade, a qual nao é senáo urna forma do instinto sexual que se desperta

(as vézes, com grande veeméncia).

Em outros

termos: no tocante ao sexo, os conhecímentos adquiridos pelos

jovens nao permanecem simplesmente no plano intelectual, mas sugerem a prática (ainda que o professor nada recomendé), pois de certo modo agugam instintos cegos da natureza. Ora a prática sexual, nos anos de adolescencia e puberdade, nao é recomendável sob aspecto algum: tanto a sá consciéncia moral quanto a medicina e o bem comum da sociedade a desaconseIham sem hesitagáo.

Em conseqüéncia, verifica-se que a educagáo sexual deve, de um lado, atender á necessidade de saber científico que o jovem traz em si; mas, de outro lado, deve, com nao menos

preméncia, dissuadir o adolescente de se entregar a experien cias sexuais — dissuasáo esta que só será possível se o edu cador souber excitar em seu discípulo a disciplina de costumes — 355 —

40

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 4

e o respeito pelos valores moráis. Assim torna-se claro também que a educagáo sexual nao há de ser ministrada por qualquer pessoa dotada de conhecimentos biológicos; ela supóe sempre um mestre que estime profundamente a disciplina moral e viva pessoalmente segundo urna reta consciéncia. O conceito de educagáo sexual assim proposto talvez nao seja aceito pela maioria dos que hoje em dia a propugnam. Verifica-se mesmo urna certa onda de menosprézo das normas éticas, como se estas fóssem a expressáo de mentalidade ultrapassada. A satisfacáo dos instintos é mais e mais excitada por diversóes (cinema, teatro, televisáo...) e imprensa (revistas, literatura popular...), que tendem a apresentar como normal e legal a vida sexual anterior ao matrimonio. Ora a redugáo da educagáo sexual as condigóes de mera instrucáo científica é, em grande parte, responsável por numerosos desatinos mo ráis de nossa juventude, por unióes matrimoniáis infelizes (porque os respectivos conjuges nunca aprenderam a discliplina sexual), assim como por doencas venéreas, que afligem parte nao exigua da sociedade. Pergunta-se agora:

2.

Por quem e como. . . ?

Entendida no sentido ampio ácima exposto, a educagáo se xual é nao sómente aceitável, mas até mesmo necessária; ela deve ser situada no quadro geral da educacáo. O problema sexual é incutido aos pequeños desde o uso da razáo pelos mais diversos meios; requer-se, pois, que pessoas idóneas acom-

panhem com zélo a evolugáo das criangas e as váo formando para que aprendam reta e sadiamente o que devem aprender. 1)

Quem deve ministrar a educa(ao sexual ?

Já que educar é fungáo, antes do mais, dos genitores, ministrar a educagáo sexual (que nao é senáo um aspecto da educagáo geral) compete aos pais em primeiro lugar. Obser vando diariamente os seus filhos, os genitores sao as pessoas mais habilitadas a perceber ou entrever os problemas dos. jovens; em virtude da familiaridade carinhosa e sem igual que deve reinar entre pais e filhos, os pais estáa em oondigóes oportunas de esclarecer os filhos a respeito das questóes e dúvidas concernentes ao sexo que lhes váo aflorando á mente.

EDUCACÁO SEXUAL ÑAS ESCOLAS?

41

É preciso que os genitores assim procedam; nao preten-

dam ignorar os problemas dos filhos, tentando sufocá-los pelo silencio ou diferindo indefinidamente a sua abordagem. Nao digam os pais aos filhos que nao pensem ñas dúvidas que os próprios filhos já conceberam; nao lhes sugiram que tais dú

vidas versam sobre assuntos indignos e desonestos. Mas, antes,

com espirito tranquilo e firme tratem de elucidar as questóes formuladas, direta ou indiretamente, pelos jovens. Se nao o

fizerem dessa forma, inspirados sempre por amor ao bem da prole, arriscar-se-áo a decepgóes e dissabores, pois os jovens

procuraráo esclárecer-se (ou seráo esclarecidos sem solicitacáo previa) em ambientes de colegas ou quisa pessoas pervertidas; em tais círculos ensinam-se muitas vézes, de maneira pro miscua, o certo e o errado, sem respeito á personalidade do jovem, mas, antes, de maneira cínica e brutal; falsas nogóes e maus hábitos sao assim fácilmente comunicados. O desejo da volúpia passa a reger o jovem, ao passo que a vontade se desvirtúa e o caráter se amolece. Os mesmos efeitos nocivos

ocorrem quando meninos e meninas, carecentes da sólida orientagáo que os genitores lhes deverñ dar, recorrem a livros, opúsculos e revistas ilustradas que tratam de sexo.

Numa palavra: a omissáo dos pais, no caso, implica intrusáo por parto de companheiros e colegas, com efeitos talvez fatais para o jovem.

Há casos, porém,

(e talvez nao poucos, no Brasil)

em

que os genitores nao se sentem á altura de dar educacáo sexual a seus filhos: sentem-se tímidos e inibidos, ou nao foram pre

parados para isso, ou nao tém os conhecimentos de psicología necessários para discernir a evolugáo e os problemas das criangas, ou nao dispóem de tempo e de convivencia com os fílhos para poder orientá-los no setor sexual. Em tais circunstancias, compreende-se que os genitores deleguem essas suas atribui-

góes a pessoa idónea e reta: um educador, um médico ou um amigo leal e competente. Tal pessoa se encarregará de cum-

prir a missáo própria dos pais no caso, sem detrimento para os jovens. — Todavía é para desejar que se ministrem nos

cursos de preparacáo ao casamento as instrupóes necessárias para que os esposos se tomem também os ministros da edu-

cagáo sexual dos filhos. É nesse terreno da preparagáo ao Imatrimónio que se há de procurar a solugáo do problema «quem deve dar educagáo sexual?» Hoje em dia percebe-se cada vez mais que o casamento requer formagáo previa por parte dos cónjuges; é necessário, portante, que essa formagáo inclua no seu programa os dados necessários para que os — 357 —

42

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 4

genitores 'ridades e a missáo genitores, fielmente

ministrem a educagáo sexual a seus filhos. As autoos homens públicos, em vez de pensar em transferir dos pais para a escola, cuidem de proporcionar aos mediante cursos e bibliografía, os meios de cumprir as suas funcóes educacionais; é nisto que consiste a

solucáo do problema táo debatido em nossos dias.

Observa muito a propósito o Dr. Marcondes Calazans: «Uma dificuldade que pode sobrevir a respeito da educacáo sexual dos jovens e que é mecessário vencer, é a falsa nocjio de que se deve evitar falar déstes assuntos, movidos por um falso pudor e puritanismo... A estes lembramos a afirmacáo de Clemente de Alexandria, dos primeiros séculos do Cristianismo, de que 'nao devemos ter vergonha de chamar pelo seu nome aquilo que Deus nao se envergonhou de

criar1. 'A natureza deve ser motivo nao de vergonha, mas de respeito', diz Tertuliano» («Anais do 1» Congresso Brasileíro de Médicos Cató licos». Sao Paulo 1947, pág. 271).

2)

E como procederé* os educadores ?

A educagáo sexual, para ser eficaz, há de ser gradativa. Ela nao deve antecipar os problemas que costumam surgir

na mente dos jovens, mas levar em conta a evolucáo física e psíquica do adolescente, com as suas características pessoais (grau de inteligencia, vivacidade, afetividade, curiosidade...) e acompanhar essa evolugáo com as respostas ou explicagóes que paulatinamente se váo tornando necessárias. Tenha-se em consideragáo também o ambiente em que vive a crianga, am biente ora mais, ora menos excitante.

Por isto nao se pode de antemáo assinalar rigorosamente

a idade em que há de comegar a educagáo sexual, nem o ritmo (acelerado ou nao) que ela deve observar. Enquanto algumas criancas despertam precocemente, outras se mostram tranqui las ou mais ou menos indiferentes ao sexo por mais tempo. Consciente disto, o educador tomará cuidado para nao excitar problemas prematuros, pois com isto só perturbaría ou prejudicaria o discípulo. O educador também deve estar atento ao comportamento dos jovens: ... as suas reagóes, irritabilidade, suscetibilidade, timidez, introversáo, de modo a poder discernir os problemas dos adolescentes. Ouvi-los-á com benevolencia. As vézes mesmo, estimulará as perguntas e os pronunciamentos dos discípulos, desde que suspeite estarem inibidos. Evite transmitir meros preceitos e proibigóes; procure, antes, justificar as normas de

disciplina e higiene que ele inculcar, a fim de qué o adoles— 358 —

EDUCAQAO SEXUAL ÑAS ESCOLAS?

43

cente as abrace consciente e voluntariamente. Em suma, ao falar da vida sexual, procurem os genitores ou seus lugar-tenentes ser breves, simples, claros; nao entrem em porme nores inúteis ou perturbadores; saibam aproveitar as ocasióes que se lhes oferecem para dar suas explicacóes, usando sempre de bom senso e sabia medida.

De quanto foi dito até aquí, segue-se que a educagáo se xual ha de ser ministrada individualmente a cada adolescente,

pois cada qual tem sua estrutura física e psíquica própria, suas fases calmas e suas crises. O que se diz para atender e be neficiar a um, pode ser intempestivo ou prejudicial para outro. Pondere-se também que a evolucáo e os interésses sao diferentes

no rapaz e na moga. Compreende-se assim que os assuntos sexuais nao devem ser explanados promiscuamente diante de urna coletividade; a nao observancia desta conclusáo poderá redundar em males psíquicos e físicos para nao poucos ouvintes. Adolescentes despertados prematuramente para certos problemas sexuais podem conceber o desejo de fazer suas ex

periencias, das" quais fácilmente resultam perda de brío, conta-

minacáo patológica e doencas venéreas...

3.

Educaccío sexual na escola?

As ponderacóes anteriores sugerem resposta negativa á questáo ácima.

Em urna turma de adolescentes há, sem dúvida, diversos

graus de despertar sexual, diversos estados de ánimo, devidos ao ambiente da familia e á educacáo recebida (ou nao. recebida) antes do acesso a escola. O educador sexual que njáo

leve em conta tais circunstancias, condena-se a causar mais mal do que bem.

Pode-se, porém, admitir que, numa escola, o Servigo de

Orientacáo Educacional se encarregue de prolongar ou mesmo

suprir a orientacáo sexual que os alunos devem normalmente receber de seus genitores. Nao será necessário frisar que, mesmo na Orientacáo Educacional da escola, o atendimiento há de ser pessoal ou dirigido a cada aluno em particular, por parte de um professor ou urna professóra de consciéncia reta e respeitosa; em caso contrario, o trabalho pode tornar-se negativo.

O que a escola, em suas aulas, pode ministrar coletivamente a seus alunos e alunas, é um código ético, que abran— 359 —

M

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 116/1969, qu. 4

gerá naturalmente normas relativas á disciplina sexual. A es cola há de excitar em seus discípulos o brío, a honra, o he roísmo, a fortaleza de ánimo, qualidades indispensáveis a urna vida conjugal feliz. — Neste contexto, parece oportuno frisar com muita énfase o seguinte: é muito para desejar que ñas escolas católicas os professóres nao se abstenham de falar também da vida una ou celibatária consagrada a um grande ideal: ... máxime a Deus ou também ... ao próximo por amor a Deus. O ser humano se realiza, sem dúvida, mediante o amor; quem nao ama, se depaupera. É preciso, porém, que os mestres lembrem a seus discípulos que o amor nao se exerce

apenas entre criaturas ou entre esposo e esposa; o amor de

um coragáo humano pode ser total e diretamente dirigido ao primeiro dos bens, que é Deus; tal amor entáo, longe de se

desvirtuar, torna-se assim mais integral e genuino, pois mais fácilmente se liberta da volta sobre si mesmo ou do egoísmo. O amor indivisamente consagrado a Deus aplica-se ao pró ximo através de Deus com eficacia e generosidade que a his toria pode atestar através dos sáculos. É claro que a vida una ou virginal a ninguém pode ser imposta, pois supóe especial dom de Deus. Todavía ao edu cador convém chamar a atengáo do discípulo para ésse nobre ideal, cuja grandeza nada perdeu até nossos días, mas con serva todo o seu valor.

4.

ConclusSo

As idéias sobre educacáo sexual propostas neste artigo

talvez pouco ou nada signifiquem para muitos dos leitores modernos. A imprensa escrita, falada e televisionada habituou o público a considerar o sexo como um imperativo inelutável, a cujas solicitacóes é preciso ceder para nao sofrer duras con»

seqüéncias. Generaliza-se a nocáo de que o homem é joguéte

de instintos eróticos, de sorte que todas as expressóes da pessoa humana estáo direta ou indiretamente relacionadas com o sexo. Nao pode, portante, haver felicidade sem uso da sexualidade.

Ora deve-se dizer que tais afirmagóes, em grande parte,

dependem de sugestáo e preconceitos. O sexo pode tornar-se

imperioso ou obsessivo, como também pode desempenhar um papel subordinado na vida do individuo, de acordó com a filo sofía desse individuo. A atengáo crescente que se dá ao sexo, em nossos tempos, só tem contribuido para escravizar mais — 360 —

e mais o homem, acarretando, para solteiros e casados, males psíquicos, desgrasas moráis e molestias físicas. A vida talvez fósse mais fácil e feliz, tanto para os indi viduos como para a sociedade, se os homens, em :vez de se julgar necessáriamente sujeitos ao sexo, procurassem decidi damente tornar o sexo sujeito ao homem. Entáo, empalidecido o aspecto erótico do ser humano, outras dimensóes da personalidade seriam realcadas, dimensóes muito mais nobres e características da dignidade humana. Há, sem dúvida, mais

felicidade na disciplina e no dominio sobre os instintos do que na aquiescencia a todos os apetites da carne.

Seria para desejar que os educadores na hora presente

incutissem tais verdades a seus discípulos e cuidassem de que nao se proporcionen! aos jovens ocasióes de ouvir, em ambiente promiscuo e fora da devida oportunidade, explicagóes que servem mais para excitar e desequilibrar do que para construir urna personalidade sólida e harmoniosa.

Por falta de espaco, temos de omitir, neste número, correspondencia miúda e Resenha de Livros. Estéváo Bettencourt O.S.B.

«Scnhor meu Deus, única esperanga minha, ouve-me, para que, fatigado, nao desista de Te procurar, mas procure sem-

pre ardentemente a tua face. Dá-me torgas para Te buscar, Tu que a teu encontró me levaste e me deste ainda a espe ranca de sempre mais Té encontrar». (S. Agostinho)

NO

PRÓXIMO

NÚMERO:

As provas da existencia de Deus em nossos días Oracáo é luta ? Adíanta rezar ?

Que sao as comunidades de base ?

Castidade

pré-nupcial : possível ? recomendável ?

«Urnas e outras» de Chico Buarque de Holanda

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

porte comum

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Número avulso de qualquer mes e ano

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Volumesencadernados: 1957 a.1963 (preco unitario) ..

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Volume encadernado de 1968

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Índice Geral de 1957 a 1964

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índice de 1967

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Avisamos aos nossos leitores que se encontra á disposisáo o índice de «P.R.» 1968. Prego: NCr$ 1,00. EDITORA BETTENCOURT LTDA. REDAgAO

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