Umuarama, domingo, 5 de abril de 2009
15
CRÔNICA
Kurt Cobain: 15 anos depois O garotinho que saia pelas ruas do bairro batucando seu tambor e cantarolando Beatles cresceu, comprou uma guitarra, formou uma banda, revolucionou o Rock mundial, suicidou-se a exatos 15 anos atrás e se tornou um dos maiores mitos da música mundial. Foi em 05 de Abril de 1994 que Kurt Donald Cobain, o mitológico guitarrista e vocalista da banda norte-americana Nirvana, colocou fim à sua breve e intensa vida, de apenas 27 anos, com um tiro de espingarda na cabeça, na garagem de sua casa em Seatle, nos norte dos Estados Unidos. Durante os anos que se seguiram muito se especulou sobre sua morte. Suicídio ou Homicídio? Seria sua esposa a vilã ou a amiga? São coisas que certamente permanecerão sem resposta, mas o que quer que tenha acontecido não muda o fato de que Cobain entrou para o seleto grupo de artistas precoces e revolucionários da história da humanidade. Ele e o Nirvana foram um incêndio avassalador e rápido que mudou para sempre a geografia do Rock mundial. Não há muito mais o que se falar sobre Cobain e a banda. São dezenas de livros, documentários e filmes que, durante esses anos todos, tentam trazer a tona o impossível: uma luz sobre o espírito perturbado e hermético de Kurt. Genial, imprevisível, explosivo, criativo e carismático, não tinha como o Nirvana dar errado com um frontman desses, sem tirar os méritos dos outros dois integrantes da banda: o baixista Krist Novoselic (atualmente no Flippers) e o baterista Dave Grohl (fundador do Foo Fighters). Com a química da banda perfeitamente equalizada, o Nirvana cumpriu o seu papel na história da música em seus 7 anos de existência, chamando atenção da grande mídia para o Grunge e a cena musical de Seatle, que revelaria bandas incríveis como Alice in Chains e Pearl Jam. Coincidência macabra: o vocalista do Alice in Chains, Layne Staley, também morreu num 05 de Abril. Foi em 2002, por overdose de heroína e cocaína. E foi durante minhas andanças que encontrei um tesourinho na internet, uma dramatização do que teria sido o último dia de vida de Kurt Cobain. Infelizmente não consegui apurar a autoria do texto. Esse é apenas um pedaço, mas para quem quiser a íntegra, com os dias anteriores e posteriores à morte de Cobain é só visitar: www.lobservando.blogspot.com
Terça-feira, 05 de Abril de 1994. Algumas horas antes da alvorada de terça-feira, 5 de Abril de 1994, Kurt Cobain havia despertado em sua cama. Os travesseiros ainda tinham o cheiro do perfume de Courtney, sua esposa. No quarto, o aroma misturou-se com o cheiro ligeiramente picante da heroína cozida - este também era um cheiro que o despertava. Kurt havia dormido com suas roupas do corpo. Vestia sua camiseta da banda Half Japanese e suas calças Levi’s favoritas. Vestiu e amarrou os cadarços do par de tênis Converse que possuía, caminhou até o aparelho de som e colocou para tocar um disco do R.E.M., “Automatic for the People”. Acendeu um Camel Light e caiu de costas na cama com um bloco tamanho ofício apoiado em seu peito e uma caneta “KURT E SUA FILHA FRANCES” vermelha de ponta fina. Ele já havia escrito uma longa carta pessoal à sua esposa e filha, rapidamente rabiscada, enquanto estava no Exodus. Ele havia trazido o papel até Seattle e havia enfiado sob um dos travesseiros impregnados de perfume. “Você sabe, eu amo você. Eu amo Frances. Eu sinto muitíssimo. Por favor, não venha atrás de mim. Eu sinto muito, muito, muito.”, eram algumas das palavras que Kurt havia escrito, enchendo uma página inteira com esse pedido de perdão. “Eu estarei lá”, continuou ele. “Eu protegerei você. Não sei para onde estou indo. Simplesmente não posso ficar mais aqui.” Tinha sido muito difícil escrever aquele bilhete, mas ele sabia que esta segunda carta seria igualmente importante e ele precisaria ter cuidado com as palavras. Ele endereçava “Para Boddah”, o nome de seu amigo de infância imaginário. Quando soltou a caneta, havia enchido a página inteira, exceto por cinco centímetros. Ele fumara três cigarros redigindo o bilhete. As palavras não tinham saído com facilidade e havia erros de grafia e sentenças pela metade. Ele assinou dizendo “paz, amor e empatia. Kurt Cobain”. Escreveu ainda mais uma linha - “Frances e Courtney, eu estarei em seu altar” - e enfiou o papel e a caneta no bolso esquerdo do casaco. Ele se levantou da cama e entrou no closet, onde retirou uma tábua da parede. Neste cubículo secreto havia uma arma dentro de uma capa de náilon bege, uma caixa de cartuchos de espingarda e uma caixa de charutos Tom Moore. Ele repôs a tábua, enfiou os cartuchos no bolso, agarrou a caixa de charutos e aninhou a pesada espingarda sobre seu antebraço esquerdo. Em um closet do corredor, ele apanhou duas toalhas “KRIST, KURT E DAVE. NIRVANA” ele não precisava delas, mas sabia que alguém precisaria. Desceu silenciosamente os dezenove degraus da larga escadaria. Estava a cerca de um metro do quarto de Cali e não queria que ninguém o visse. Ele havia refletido sobre tudo isso, traçado um mapa com a mesma premeditação que dedicava às capas de seus discos e a seus vídeos. Haveria sangue, muito sangue, e uma bagunça que ele não queria em casa. Principalmente, ele não queria assombrar aquele lar, deixar sua filha com o tipo de pesadelos com que ele havia sofrido. Quando se dirigia para a cozinha, passou pela soleira da porta onde ele e Courtney haviam começado a acompanhar o quanto Frances havia crescido. Apenas uma linha estava ali agora, uma pequena marca de lápis com o nome dela a cerca de 79 centímetros acima do chão. Kurt nunca mais veria outra marcas mais altas naquela parede, mas estava convencido de que a vida de sua filha seria melhor sem ele. Na cozinha, ele abriu a porta de sua geladeira Traulson de aço inox de 10 mil dólares e apanhou uma lata de cerveja de raízes da Barq, tomando cuidado para não soltar a espingarda. Levando essa carga macabra - cerveja de raízes, toalhas, uma caixa de heroína e uma espingarda, tudo o que mais tarde seria encontrando num arranjo de plantas bizarro -, ele abriu a porta para o quintal e atravessou o pequeno pátio. A aurora estava rompendo e a neblina
pairava próximo do chão. A maioria das manhãs em Aberdeen, sua cidade natal, eram exatamente assim: nevoentas, orvalhadas, úmidas. Ele jamais veria Aberdeen novamente; jamais escalaria efetivamente até o topo da caixa d’água no “Morro do Think of Me”; jamais compraria a fazenda que sonhava em Grays Harbor; jamais acordaria novamente numa sala de espera de hospital tendo fingido ser um visitante para só encontrar um lugar quente para dormir; jamais veria novamente sua mãe, irmã, pai, mulher ou filha. Ele trilhou os cerca de vinte passos até a estufa, galgou os degraus de madeira e abriu o conjunto de portas francesas dos fundos. O piso era de linóleo: seria fácil de limpar. Ele sentou-se no chão da estrutura de cômodo único, olhando para as portas da frente. Ninguém conseguiria vê-lo ali, a menos que estivesse trepado nas árvores atrás de sua propriedade, e isto não era provável. Não queria mais ver o interior de um hospital novamente, não queria um médico de jaleco branco apalpando-o, não queria ter um endoscópio em seu estômago dolorido. Ele estava acabado para aquilo tudo, acabado para o seu estômago, ele não poderia estar mais acabado. Como um grande diretor de filmes, ele havia planejado este momento até os mínimos detalhes, ensaiando esta cena ao mesmo tempo como diretor e como ator. No curso dos anos, tinha havido muitos ensaios finais, passagens de raspão que quase seguiam este caminho, fosse por acidente ou, às vezes, por querer, como em Roma. Talvez fora sempre isto que ele guardava vagamente em sua cabeça, como um ungüento precioso, como a única cura para uma dor que jamais passaria. Ele não se importava com a liberação do desejo, ele desejava a libertação da dor. Ficou sentado pensando coisas que só ele sabia por vários minutos. Fumou cinco Camel Light e sorveu vários goles de sua cerveja. Tirou o bilhete do bolso, estendeu-o no chão do linóleo e tinha de escrever em letras maiores, que não saíram tão perfeitas, por causa da superfície que ele estava: “Por favor, vá em frente, Courtney, por Frances, pela vida dela que será muito mais feliz sem mim. Eu te amo. Eu te amo”. Essas últimas palavras haviam completado a folha. Depositou o bilhete no alto de um monte de terra para vasos e fincou a caneta no meio, para que, como uma estaca, segurasse o papel no alto, sobre a terra. Tirou a espingarda da capa de náilon macia. D o b r o u cuidadosamente a capa, como um garotinho separando suas melhores roupas de “A CASA DE COBAIN EM SEATLE” domingo depois da missa. Tirou a jaqueta, estendeu-a sobre a capa e colocou as duas toalhas no alto desse monte. Ele foi até a pia e apanhou uma pequena quantidade de água para o seu fogareiro de droga e sentou-se novamente. Abriu a caixa com 25 cartuchos de espingarda e tirou três, enfiando-os na câmara da arma. Moveu o mecanismo da Remington para que um único cartucho estivesse na câmara. Retirou a trava de segurança da arma. Fumou seu último Camel Light. Tomou mais um gole da Barq. Lá fora, estava começando um dia nublado - era um dia como aquele em que ele chegara a este mundo, 27 anos, um mês e dezesseis dias antes. Ele agarrou a caixa de charutos e tirou um pequeno saco plástico que continha cem dólares de heroína preta mexicana - era um bocado de heroína. Ele pegou cerca de metade, um chumaço do tamanho de uma borracha de lápis e o colocou na colher. Sistemática e habilmente, preparou a heroína e a seringa, injetandoa logo acima do cotovelo, não muito longe de seu “K” tatuado. Devolveu os instrumentos para a caixa e se sentiu uma nuvem, rapidamente flutuando para longe deste lugar. O Jainismo pregava que havia trinta céus e sete infernos, todos dispostos em camadas ao longo de nossas vidas; se ele tivesse sorte, este seria seu sétimo e último inferno. Afastou a caixa, flutuando cada vez mais rápido, sentindo sua respiração se reduzir. Ele tinha de se apressar agora: tudo estava se tornando nebuloso e um matiz verde-água enquadrava cada objeto. Agarrou a pesada espingarda, encostou o cano contra o céu de sua boca. Faria barulho; ele tinha certeza disso. Disparou.
Domingo de Ramos
Quarta-feira agora estava no agradabilíssimo Bosque do Papa, em Curitiba, nossa querida capital do estado do Paraná, quando me deparei com o vigia do lugar andando no meio das árvores. Ele me vê e pergunta: - Você entende de plantas? - Ih... não entendo. – respondi. - É que minha esposa pediu pra e levar uma folha de palma pra casa. - Ah! deve ser por causa do Domingo de Ramos, pra ela levar a folha na igreja pra benzer e tudo mais, né? - Isso mesmo. - Olha, pelo que me recordo deve ser algo parecido com aquela planta ali. – e apontei uma pequena palmeira. - É, parece mesmo. Se não achar nada maior levo essa mesmo. Obrigado. - Não tem de quê! E assim, espantado com a minha memória, mas ainda não acreditando nela, resolvi confirmar se esse domingo era mesmo o “de Ramos” e o que exatamente acontecia com essas folhas de palma. Busquei no grande oráculo da internet e confirmei a história. Hoje é o famoso Domingo de Ramos, data do calendário cristão que celebra a entrada triunfal de Jesus na cidade de Jerusalém, montado no lombo de um jumento enquanto as pessoas o aclamavam Messias, Rei de Israel e cobriam o seu caminho com ramos árvore, ato que dá nome à data. O Domingo de Ramos é o dia que inaugura a Semana Santa, que se encerará no Domingo de Páscoa, o dia da ressurreição do Nazareno após ter morrido crucificado. A liturgia do Domingo de Ramos é simples e, como tudo no mundo moderno, pode ter variações: A celebração começa em uma igreja ou capela afastada, onde os ramos de oliveira ou palmeira, levados pelos fieis, são abençoados pelo sacerdote que proclama o evangelho da entrada de Cristo em Jerusalém. Inicia-se então uma procissão com orações rumo à Igreja Matriz onde será realizada a missa solene relembrando os fatos daqueles dias. Além de relembrar a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém, esse rito serve para lembrar que a mesma multidão que o aclamou Rei no domingo, o crucificou na Sextafeira seguinte. Pois é, nunca foi seguro confiar nas grandes massas populares. Extrapolando os limites do Cristianismo e seus dogmas, a vida de Jesus sempre pode nos ensinar muitas coisas boas a serem aplicadas na nossa vida. Quem nunca foi crucificado pela mesma força que o colocou no topo? Aproveitemos o dia de hoje para refletir. E a tempo: Palma é o nome da folha da Palmeira.
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