Cultura E Arte 2009 - Mai-24

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Umuarama, domingo, 24 de maio de 2009

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CRÔNICA Sobre a Arquitetura de Templos.

Alegria! Alegria! Wilson Simonal O final do ano passado foi um período de avaliação da minha vida. Decisões afetivas e profissionais na balança e nada parecia fazer muito sentido, além de ser diariamente questionado e colocado em dúvida por vários sujeitos da vida. E foi num bate papo, antes de uma palestra, que o palestrante me disse o seguinte: “Sabe Tiago, isso já aconteceu comigo também. Esse negócio de tomar decisões é um evento diário e não é fácil não. Não tem como prever o que virá. Mas à partir do dia que eu comecei a escolher pela minha felicidade, e não pela dos outros, eu parei de me arrepender das minhas escolhas. Eu parei de errar nas escolhas.” O palestrante em questão era o Zé Rodrix, compositor, músico multiinstrumentista, cantor, publicitário e escritor brasileiro. Ele foi um dos criadores do estilo de música que ficou conhecido como Rock Rural, junto com dois parceiros e grandes músicos: Sá e Guarabyra. Juntos eles formavamo o trio Sá, Rodrix e Guarabyra. Após sair do trio, Zé Rodrix também tocou com a banda Joelho de Porco, precursora do Punk Rock nacional e teve sua carreira solo cheia de grandes canções, o que inclui Casa no Campo (na parceria com Tavito), que ficou muito famosa ao ser cantada por Elis Regina. Enfim, Rodrix era um artista completo e usou muito dos seus dons no ramo da publicidade durante os anos 1980 e 1990, criando jingles como o da Pepsi Cola (“só tem amor quem tem amor pra dar”), o da Chevrolett e diversos outros. Além de músico ele também era escritor e estava aqui em Umuarama pra fazer uma palestra sobre uma trilogia de livros de ficção maçônica que havia escrito. A obra se chama A Trilogia do Templo e é composta dos seguintes volumes: O Diário de um Construtor do Templo; Zorobabel – Reconstruindo o Templo e Esquin de Floyrac – O Fim do Templo. Os dois primeiros livros contam a história da construção e reconstrução do Templo de Salomão, conhecido objeto de estudos da maçonaria e o terceiro fala sobre a Ordem dos Templários. Tudo com uma riqueza de pesquisas lingüísticas e simbólicas tão grande que Rodrix demorou 10 anos para escrever tal obra. Construir-se, reconstruir-se sempre que preciso e proteger-se, como se nós fossemos (e quem disse que não somos?) um templo; ter a disciplina diária para executar bons trabalhos independente do tamanho. Um efêmero jingle publicitário ou uma trilogia de livros que duram pra sempre. Eu, como músico, fui inegavelmente influenciado pelo Rock Rural do Sá, Rodrix e Guarabyra e, naquele dia, estava sendo influenciado como escritor e como pessoa. É isso e muito mais que se pode encontrar na obra e na vida desse grande artista, o qual tive o prazer de conversar e que, num dos dias finais de 2008, me mostrou algumas verdades que eu já estava deixando de ver. Infelizmente, nesta sexta-feira, dia 22 de maio de 2009, Zé Rodrix morreu, aos 61 anos de idade, de um mal súbito, mas cercado de sua família, em São Paulo. Disse sua esposa que ele se foi feliz como sempre viveu. Não tenho dúvidas disso. Portanto esse texto não é só uma resenha ou biografia, é uma homenagem, um obrigado além do que eu disse ao me despedir dele naquele dia. É uma chance de, quem sabe, tocar alguém que esteja precisando ouvir estas palavras, assim como eu precisei. É uma chance de despertar sorrisos como ele sempre fez. Até um dia, vá em paz e muitíssimo obrigado, Z.

A música brasileira dos anos 60 e 70 foi muito rica e diversos grandes astros surgiram nessa fértil época da arte nacional. Alguns brilham até hoje, outros caíram no esquecimento por motivos naturais e outros foram riscados do mapa por interesses escusos. Nesse último grupo está Wilson Simonal, artista de talento inquestionável que, com uma afinadíssima e inconfundível voz e canções cheias de swing, galgou degrau por degrau de uma carreira de sucesso jamais vista no Brasil daquela época, ainda mais por ser um negro. Só o Pelé tinha conseguido o mesmo. Durante o final dos anos 60 ele já tinha o seu programa de TV, que se chamava TV Show em Si ...monal. Se revelou um showman de primeira categoria e com seu carisma irresistível, fez grande sucesso com as músicas País Tropical (Jorge Ben); Mamãe Passou Açúcar em Mim; Meu Limão, Meu Limoeiro e Sá Marina. O céu já não era mais limite para Simonal, ele estava além, sua popularidade só era superada (por poucos pontos) por Roberto Carlos, chegou a dividir o palco com a diva do jazz Sarah Vaughan. Porém, ele não previa um duro golpe do qual jamais se recuperaria. Ao suspeitar que estava sendo roubado por seu contador, pediu para que lhe dessem uma surra. A história poderia ter parado por aí, mas acontece que a surra foi dada por dois agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), serviço público cuja especialidade era torturar adversários da

ditadura militar —e falsos adversários t a m b é m . Simonal, na ingenuidade, confirmou que tinha esses contatos no Dops e deu a arma mortal na mão de seus inimigos. O contador, junto com amigos influentes, espalhou que ele era um dedoduro e que estava delatando os artistas para o governo militar. E esse foi o golpe de misericórdia na carreira de Simonal. Mesmo sem prova alguma desse contato com os órgãos de repressão, ele foi relegado ao ostracismo e marginalidade, perdeu fama, status e dinheiro. Já não conseguia fazer shows nem vender discos. E foi assim até o fim de sua vida, no ano de 2000. Infelizmente o reconhecimento oficial de sua inocência veio tarde, quando seu nome foi reabilitado publicamente pela Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em 2003, após grande esforço da família. A boa notícia para os fãs é que depois de muitos “”não quero me meter nisso”, “para que mexer nessa história?”, Cláudio Manoel (Casseta & Planeta), Micael Langer e Calvito Leal conseguiram terminar o documentário Wilson Simonal : Ninguém Sabe o Duro Que Dei, que estreou nos cinemas brasileiros neste mês de Maio. Com imagens de arquivo, entrevistas com artistas do nível de Chico Anysio, Nelson Mota, Ziraldo; de amigos e familiares, como seus filhos Max de Castro e Simoninha, a vida e a carreira do verdadeiro Rei do Swing, um dos fundadores e difusor da Pilantragem (o Samba-Jovem), é trazida à tona e colocada de novo no panteão dos grandes nomes da música nacional. A inegável importância da arte de Wilson Simonal na história da música nacional pode ser sentida na pele e nos timpanos neste documentário. Também poderemos esperar uma caixa comemorativa, com vários cd’s do artista a ser lançada em breve. É uma chance sem igual de revelar e entregar os aplausos guardados por tantas gerações a esse grande artista. Inclusive aguardo ansioso a exibição desse documentário aqui em Umuarama. Para ver o trailler do documentário é só acessar: http:// www.simonal.com/

Um tesouro a ser descoberto

N

uma dessas salas de espera de Umuarama, me deparei com uma espécie de um livrinho. Ele se chamava Umuarama – Guia Histórico Cultural. Escrito em sua maior parte pelo grande amigo e jornalista Ítalo Caciola, diagramado e impresso por uma gráfica da cidade, o conteúdo do tal livreto trouxe aos meus olhos admirados uma quantidade incrível de informação histórica da nossa querida cidade. Umuarama já teve uma faculdade de história, e me espanta não ter registro de algum trabalho como este, envolvendo o pessoal da faculdade. Se houve ficou restrito ao meio acadêmico e esse tipo de coisa, que não reverbera na comunidade, também não se considera. A edição do Guia Histórico Cultural de Umuarama teve com uma diagramação um pouco falha, pecando em deixar as fotos pequenas (afinal ver as fotos de antigamente com mais detalhes seria uma grande experiência), também houve uma ausência de informações geográficas que ajudariam a reconhecer onde exatamente são, hoje em dia, os lugares citados nas histórias. Mas mesmo assim, a iniciativa da compilação das histórias de nossa cidade numa narrativa envolvente e bem escrita, com os nomes dos pioneiros, os fatos e lugares marcantes, em sua maioria já esquecidos ou até mesmo completamente desconhecidos, merece grandes aplausos. Procure o seu exemplar pelas salas de espera e balcões de atendimento da cidade, é um trabalho realmente interessante.

QUEM LÊ ESCREVE Sabe de alguma história, lenda, acontecimento curioso com personagens reais ou fictícios de Umuarama ou qualquer outra cidade da região? Envie sua história pelo e-mail do Cultura & Arte ([email protected]) ou pelo correio, para o endereço da redação do Umuarama Ilustrado. As histórias serão todas lidas e, se aprovadas, publicadas nesta página com a autorização do remetente. Não existe prazo final para o envio. Ajude a preservar nossa memória!

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