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Umuarama, domingo, 14 de setembro de 2008
Charge
Ouçam, são as crianças da noite Por Tiago Knoll Inforzato Contato:
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CRÔNICA RUÍDOS SURDOS EM PARIS O toc-toc surdo de sua bengala ecoava pelas vielas, ainda úmidas de chuva, da Ile Saint-Louis, onde morava em Paris. Caminhava lentamente aquela noite, seus sapatos em couro p r e t o ajudavam no soar rítmico dos passos. Vestia paletó e c o l e t e escuros, camisa clara, sem gravata e por cima um grande sobretudo negro. Era inverno. O cachecol grafite, com detalhes em cinza, preto e vermelho escuro lhe aquecia o pescoço e o ajudava a manter uma postura ereta, desafiando o vento frio daquela noite. O Fedora cinzaescuro protegia sua cabeça da leve, mas vigorosa garoa que caia e respingava em seus óculos retangulares de aro fino. Seus olhos eram duas esferas mortas. Toc-toc, toc-toc. Lentamente aquela figura elegante e soturna, com sua barba farta e grisalha caminhava para casa. Havia um ar sóbrio em seu rosto, uma tristeza antiga, quase hostil, mas o andar e a postura eram altivos. Chegara em casa. Quai d’Orleans esquina com a Rue Boutarel, defronte ao Rio Sena. Tirou a chave do bolso, abriu a porta de vidro e madeira, entrou no prédio e continuou sua caminhada pelo hall de entrada, iluminado por abajures à meia luz. Toc-toc-toc. Entrou no elevador, manteve a feição grave mas desfez-se da postura elegante. Curvou-se. Fixou os olhos nos detalhes do piso. Seu apartamento era no terceiro andar. De sua janela podia ver os fundos da Catedral de Notre-
Dame, que fica do outro lado do Sena, na Ile De La Cité, atravessando a ponte Saint-Louis, também visível de sua janela. Havia alguns anos que morava por lá e sempre pensava sobre o tanto de barbaridades que aconteceram naqueles lindos jardins em nome de religiões e algumas crenças bastante estúpidas. Aquela beleza toda só podia ser proposital, era pra esconder, ajudar a esquecer todas aquelas atrocidades de outrora. Pena que não podia fazer isso em sua memória ou coração. Já eram duas da manhã e parecia que eram quatro. Estava esgotado. O melhor que poderia fazer era tomar um banho quente. Após o banho vestiu seu pijama mais confortável e sentou em sua escrivaninha. Armou-se de caneta, papel e pôs-se a escrever uma carta. Foram várias páginas. Deu uma volta pelo apartamento e certificou-se de que tudo estava no devido lugar, não suportava bagunça. Acendeu um Cohiba e bebericou uma taça de vinho. Então foi até o guarda-roupas e pegou seu revólver.
*********** Errata: Na crônica da semana passada eu usei a expressão “Independência da República” o que é um grande erro, mas passou batido pela auto-revisão. O que existe são dois fatos distintos que são: a Independência do Brasil, em 07 de setembro de 1822, que tornou o Brasil livre de Portugal e a Proclamação da República em 15 de Novembro de 1889, que substituiu o regime monárquico do Império pelo regime Republicano, vigente até hoje. Pronto, com a mancada corrigida, podem dormir tranqüilos os meus professores de história.
O corretor de imóveis Jonathan Harker não sabia onde estava se metendo quando aceitou ir para a Romênia, no lugar de um colega de trabalho, levar ao Conde Vlad Drácula os contratos de compra e venda de algumas propriedades que o nobre havia adquirido em Londres. O Conde, ao ver a foto da noiva do corretor, enxerga nela a reencarnação de um grande amor seu e apaixonado pela moça, corre até a capital inglesa para reencontrá-la. Quando Harker percebe a enrascada já era tarde, ele estava preso no castelo do vampiro, onde coisas assombrosas acontecem. E isso é só o início do mito do morto-vivo movido por amor que tem aspectos muito mais profundos do que cabem nesta resenha. Sabe-se que desde a mais remota antiguidade, ao redor do mundo inteiro, existem lendas sobre seres amaldiçoados que vagam pela noite e se alimentam de fluidos humanos (energia ou sangue), dos Japoneses aos Astecas. Essas criaturas têm diversos nomes e origens, mas graças ao romance Drácula do escritor inglês Bram Stoker, prevaleceram para nós as lendas dos Vampyr do Leste Europeu. O desenrolar da história do Sr. Harker e a luta pela manutenção do seu amor e de sua amada é cercada pela mitologia vampiresca, muito bem explicada a nós pelo professor Van Helsing, que definitivamente não é o Wolverine do sobrenatural, mas sim um velho professor de medicina, muito bem informado sobre problemas circulatórios e bruxaria. Praticamente todos os elementos do terror contemporâneo vieram desta história: Lobisomens, névoas traiçoeiras, lua cheia, poderes sobrenaturais e toda a aura galanteadora e irresistível do Conde Vlad, nasceram desta história que podemos conhecer através do livro ou da sua adaptação para o cinema. O livro, publicado em 1897, tem uma narrativa um tanto lenta, em forma
de diários, mas nada que comprometa o suspense e a qualidade da obra. Interessante notar que são as mulheres que comandam a história, já que tudo acontece por causa e ao redor de uma delas: Nina, a noiva de Jonathan Harker. Esta história foi adaptada milhares de vezes para o cinema, mas em 1992, Francis Ford Coppola, conseguiu fazer a melhor de todas as adaptações. No elenco estão pessoas do quilate de An-
tony Hopkins, Keanu Reeves, Winona Ryder e Gary Oldman. Inclusive, a atuação de Oldman que interpreta o Conde Drácula, aliada à maquiagem extremamente caprichada, é espetacularmente sombria e poderosa, merecedora de destaque. Como o filme foi inteiramente gravado em estúdios fechados e cenários, Coppola aproveitou o total controle da iluminação para abusar dos efeitos visuais sem utilizar recursos digitais. Isso tudo fez com que a atmosfera sombria e sobrenatural do vampiro ficasse mais densa e a magia do cinema mais evidente. É claro que a versão do cinema sofreu alguma modificação para caber na linguagem das telas, mas nada do que a afaste da obra original, como outros tantos filmes de vampiro. Mas o importante é que tanto no livro de Bram Stoker quanto na película de Coppola, existe uma qualidade que não se pode se deixar de lado. Aos apreciadores de um bom romance ou do sobrenatural, Drácula, de Bram Stoker é visita obrigatória.
Gary Oldman em dois momentos do filme, acompanhado por Wionona Ryder
“Posso estar só, mas sou de todo mundo.” Na sexta feira, dia 05 de Setembro, Marcelo Camelo lançou seu disco solo, o “sou”. O disco traz 14 canções repletas de boa inspiração, arranjos tranqüilos, muita percussão, assobios, barulhos de mar e aquela paz que cultiva em suas músicas desde o Los Hermanos. Abrem o disco as harmonias tortas e arranjos suaves de “Téo e a Gaivota”, “Tudo Passa” vem com ginga, do tipo marchinha de Carnaval contemporâneo e o refrão em vários “Camelos” sopram esperança entre percussões várias, “Passeando” é uma peça para violão ou piano (faixa 3 e 14), a versão de
violão traz um vocal que introduz o tema da próxima música, “Doce Solidão”. Esta traz a mistura do sentir-se só com o sentir-se bem, e seus assobios, arranjo e melodia arrastados fazem o ouvinte arrepiar. As outras nove canções que seguem, trazem mais arranjos bonitos, melodias sussurradas, participações especiais de Mallu Magalhães e Dominguinhos, e muito boas letras. Você pode ouvir, baixar e ver as letras em http://callback.terra.com.br/marcelocamelo/site/ index.html . Vale a pena a visita!
Meus Favoritos: CULTURANJA: www.culturanja.blogspot.com Site criado por escritores Umuaramenses, contém dicas, resenhas e opiniões dos colaboradores sobre os mais diversos assuntos. DE TREVO À TREVO: http://miotti.wordpress.com/ O jovem Caio Miotti espanta pela criatividade com a qual nos conta o que era pra ser apenas cotidiano, mas graças a ele, ainda bem, não é. JORNALISMO BOÇAL: http://waltercarrilho.blogspot.com Sempre ácido, o humor de Walter Carrilho (que é um pseudônimo) se manifesta sobre todos os assuntos. Sem papas na língua (ou nos dedos) Walter faz um Blog imperdível. INSTANTE POSTERIOR: http://colunas.g1.com.br/instanteposterior
Neste espaço, Bruno Medina, tecladista da banda Los Hermanos, filosofa sobre o seu cotidiano de Hermano. CHÁ-TICE: http://blogs.rpc.com.br/chatice Letícia Junqueira já foi Umuaramense, hoje é jornalista em Curitiba. Em seu Blog, ela nos brinda com sua visão única das coisas do mundo real (ou não). LER DEVIA SER PROIBIDO: http://www.lerdeviaserproibido.com.br/ Site criado para incentivar a leitura e a busca pela arte. Possui resenhas de livros e filmes, curiosidades e ótimas crônicas. BLOG DO TAS: http://marcelotas.blog.uol.com.br Se você acompanha o programa CQC, na Band, você conhece Marcelo Tas, o careca mais sabido do Brasil. Tas possui um dos Blogs mais visitados e famosos da Blogosfera, vale a visita!