Ano Xxxviii - No. 426 - Novembro De 1997

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  • Pages: 54
P rojeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (7n memoriam)

APRESENTAQAO

DA EDIQÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

•".

Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanca e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos

bombardeados

por

numerosas

correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores:

aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site. Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual

conteúdo da revista teológico filosófica "Pergunte Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

e

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

ANOXXXVm NOVEMBRO 1997 41 "Ó Morte, onde está a tua Vitoria?" (1Cor 15,55) A Biblia escondida debaixo da Biblia Liberada a Esterilizado

"Em Nome da Ciencia, parem..."

O Caso de D. Lefébvre atualmente Os Estigmas: Que sao? Por que sao?

Transe e Éxtase: Que sao? "Ouco Vozes do Além que me atormentam..." "Chamada da Meia-noite" Livros em Estante

NOVEMBRO 1997

PERGUNTE E RESPONDEREMOS

N°426

Publica9áo Mensa!

Diretor

SUMARIO

Responsável

Estéváo Bettencourt OSB Autor e Redator de toda a materia publicada

neste

periódico

481

Misterio Cabalísticos:

D. Hildebrando P. Martins OSB e

(1Cor 15.55)

A Biblia escondida debaixo da Biblia .... 482

Diretor-Administrador:

Administracáo

"Ó Morte, onde está a tua Vitoria?

Distribuicáo:

No Brasil de nossos dias: Liberada a Esterílizacáo

486

Edicóes "Lumen Christi"

Voz corajosa:

Rúa Dom Gerardo. 40 - 5° andar -sala 501

"Em Nome da Ciencia, parem..."

491

Excomunháo? O Caso de D. Lefébvre atualmente

495

Tel.: Fax

(021) (021)

Enderece-

291-7122 263-5679

para

Correspondencia:

Ed. "Lumen Christi" Caixa Postal 2666 CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Visite O MOSTEIRO DE SAO BENTO

e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" na INTERNET: http://www.osb.org.br e-mail: LUMEN.CHRISTI @ PEMAIL.NET Impress3oe Encadernacío

No Setor do Extraordinario: Os Estigmas: Que sao? Por que sao?. 499 Ainda no Plano do Extraordinario:

Transe e Éxtase: Que sao?

508

Que será?

"Ouco Vozes do Além que me atormentam..."

514

Colecáo Fundamentalista: "Chamada da Meia-noite"

519

Livros em Estante

527

•marquessarama" COMAPROVACÁO ECLESIÁSTICA GRÁFICOS E EDITORES Ltda. Tels.: (021) 273-9498 / 273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO:

A Historicidade dos Evangelhos (José Miguel García). - "A Historia Perdida e Recupera

da de Jesús de Nazaré" (Juan Luís Segundo). - A Exploracáo Sexual das Criarlas. O Trabalho Infantil. - "Há outro Cristo?"(J.T.C.)

(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA:

RS 25,00).

(NÚMERO AVULSO

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RJ

"Ó MORTE, ONDE ESTÁ A TUA VITORIA?" {1 Cor 15,55)

O mes de novembro sugere o binomio "Morte-Vida" ou "Vida-Morte". Quem percorre os escritos do Novo Testamento, verifica que, assim como a palavra-chave dos Evangelhos Sinóticos (Mt, Me, Le) é "Reino dos Céus", a palavra-chave no quarto Evangelho é VIDA: sim, Jesús é a VIDA (Jo 14,6) e veio para que "os homens tenham a vida, e a tenham em abundancia" {Jo 10,10).

Para se etender o alcance destas afirmacoes, é oportuno reconstruir o paño de fundo respectivo. O homem grego pré-cristáo tinha como grande anseio a

athanasía ou a imortalidade. Esta era tida como privilegio dos deuses, que faziam tudo o que os homens fazem (guerras, orgias, bacanais...), mas nao morriam, ao passo que o homem sabia estar condenado á morte; daí a inveja dos homens em relacáo aos deuses. A conviecáo de que a morte é inevitável imprimía urna nota de tristeza á literatura helénica. Com efeito; o oráculo de Delphos incutia: "Conhecete a ti mesmo". Esse conhecer-se implicava tomar conhecimento de que o homem é mortal; é mortal, e nao deus; somente os deuses sao ¡moríais. Um abismo separava dos deuses os homens; eles nao sao da mesma estirpe. Escrevia Píndaro (t438a.C):

"Nos outros, moríais, só desejamos, da parte dos deuses, bens que nos sejam proporcionados. Conhegamos bem a nossa estrada, a porcáo que nos foi assinalada. Nao queiras, ó minha alma, desejar urna vida sem fim" (Pitesinas 3,59).

A certeza da morte podia suscitar desánimo e prostragáo: vale a pena viver alimentando ideáis e esperanca, para acabar no nada? Pois bem. Foi sobre este paño de fundo que ressoou a mensagem crista. Esta apregoa que o próprio Deus se fez homem, assumiu a dor e a morte dos homens, para vencé-las ressuscitando. Ele convida os discípulos a segui-Lo, pois

"quem morre com Cristo, com Ele vivera" (2Tm 2,11). É esta urna das grandes notas da Boa-Nova: o Senhor trocou o sinal negativo da morte por um sinal positivo, a tal ponto que Sao Paulo podia dizer: "Para mim, viver é Cristo, e morrer é lucro... O meu desejo é partir e estar com Cristo, poís isto me é muito melhor" (Fl 1,21 -23). Ou ainda: "Estamos cheios de confianga, e preferimos deixar a mansao deste corpo, para ir morar junto do Senhor" (2Cor 5,8).

A certeza de que a morte nao é um fim, mas sim urna passagem, e passagem para a plenitude da Vida, suscitou de muitos Santos e justos palavras surpre-

endentes. Seja citada Santa Teresa de Lisieux, que, no fim da sua vida terrestre, declarava:

"Sinto que vou entramo repouso... mas sinto principalmente que minha missao vaicomegar, minha missáo de fazeramaroBom Deus como O amo" (Verba). Possa a mesma fé vibrar no coracáo de todo cristáo, levando-o a antecipar já na Térra o feliz encontró com o Senhor, que estará consumado na eternidade, da qual a Dama Morte é o limiar! E.B. 481

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XXXVIII - N° 426 - Novembro de 1997 Misterios cabalísticos:

A BÍBLIA ESCONDIDA DEBAIXO DA BIBLIA

Em síntese: A opiniáo pública foi sacudida pelas proposigóes do Prof. Michael Drosnin, que disse ter descoberto na Escritura profecías surpreendentes relativas aos tempos modernos, bastando para isto ler

ñas entre-linhas e contar letras, palavras... Na verdade, tal conclusáo é destituida de fundamento, pois Deus nao fala por palavras cruzadas, mas tem urna mensagem dirigida a todos os homens, tendo em vista a salvagáo eterna e nao o curso da historia universal em si mesma. *

*

*

Foi publicado, há meses, o Nvro do Prof. Michael Drosnin, que em traducáo francesa tem o título "La Bible: Le Code Secret" (A Biblia: o Código Secreto). O autor julga que as Escrituras indicam, de maneira velada, acontecimentos de épocas futuras, inclusive do século XX: somando letras e versículos, multiplicando, dividindo..., deslocando ou re tocando certos vocábulos, ter-se-iam profecías surpreendentes!

O livro foi noticia de televisáo muito comentada pelo público, cau sando grande perplexidade. Na verdade, trata-se de manipulacáo do tex

to sagrado, que absolutamente nao foi redigido para predizer a historia dos séculos do Cristianismo em sua face política e estratégica. Pode haver coincidencias, habéis jogos de palavras, concepcóes predefinidas

na base das conclusóes de Michael Drosnin.

Entre as varias réplicas a tal obra, destaca-se um artigo muito sim ples, mas denso, do Pe. Olivierde la Brosse O.P., porta-voz da Conferen

cia dos Bispos da Franca, publicado no boletim SNOP, órgáo oficial da mesma Conferencia, edicao de 28/6/1997, p. 1 - Eis o teor de tal artigo:

1. O PROFETA NAO É UM FUTURÓLOGO "Um livro cabalístico, traduzido do norte-americano, nos informa, nos últimos dias, que a Biblia traz um código secreto, que prediz o futuro 482

A BÍBLIA ESCONDIDA DEBAIXO DA BÍBLIA e principalmente as desgragas que este acarretará nos próximos anos.

Todo um sistema de acrósticos,1 palavras cruzadas, leituras ascenden tes e descendentes, binarias ou diagonais dos caracteres hebraicos re vela ao perito de informática acontecimentos outrora ocultos, hoje des vendados e geralmente catastróficos: assassínios, quedas de Governo, holocaustos atómicos e outras guerras mundiais. Até há pouco sabía mos que a Biblia ensina como ir para o céu; agora ela nos diz quando e

como o céu nos vai cair sobre a cabega... Nostradamus e suas profecías sao relegados para o armazém dos acessórios... Viva a informática! Existe urna Biblia debaixo da Biblia.

É esta a ocasiáo de nos recordarmos de que um Profeta, no Livro

Sagrado, nao é tanto um vidente, um adivinho ou um futurólogo quanto um homem que fala de Deus para o seu tempo, e que fala em nome de Deus, para todos os tempos. Nao é o futuro que ele desvenda, mas é o presente. Ele é o mensageiro da eterna presenga de Deus a todos os dias deste mundo que passa. Ele liberta o homem, pela esperanca, dos medos que Ihe inspira o misterio do pon/ir.

Isaías lembra as exigencias da justiga. Oséias, as dificuldades e as grandezas do amor. Ezequiel, a necessidade da conversáo dos coracóes (Ez 36,25-27). O Profeta bíblico nao precisa dos olhos do vidente; ape nas se Ihe pede que tenha labios puros para anunciar a Paiavra de Deus

(Is 6,6s). O Cristo mesmo, modelo dos Profetas, nao predisse muita coisa, mas sim a renegagáo de Pedro (Mt 26,34) e o seu próprio retorno no fim dos tempos (Mt 24,30). Em compensagáo, Ele nao se cansou de es clarecer o sentido da vida humana pela luz da esperanga. No livro da Paiavra, os vocábulos que contam, sao os de urna Verdade que nao se oculta nem se torna cifrada, mas, ao contrario, nunca deixa de se exprimir com clareza. Deus nao brinca de palavras cruza das".

2. REFLETINDO... Em suma, o autor quer dizer que 1) a finalidade da Biblia nao é revelar a historia universal nem os acontecimentos fináis da historia. Ela foi inspirada para dizer aos homens como podem e devem ir para o céu ou como háo de viver para

gozar da plenitude da vida na patria eterna. Por conseguinte, o objetivo da Biblia é estritamente religioso, e nao profano; 1 Acróstico é urna composicáo poética na qual o conjunto das letras iniciáis (e, as vezes, as mediáis e fináis) dos versos compóe verticalmente urna paiavra ou frase. (Aurelio) 483

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

2) a Biblia nao é um Hvro de futurologia. Ela é profética no sentido etimológico da palavra. Prophétes, em grego, é aquele que fala pro, isto é, em lugar de Deus ou também... antes de... ou antecipadamente. Com outras palavras: os autores sagrados falaram em nome de Deus, analisando os acontecimentos contemporáneos, exortando, louvando ou censurando e também... falaram predizendo o futuro, ou seja, a vinda do Messias e seu Reino, sem descer a pormenores da historia dita "profana". Há relativamente poucas predicóes na Biblia e muito maior número de narracoes do passado e exortacóes referen tes ao presente;

3) "Deus nao fala por palavras cruzadas"; nao fala apenas para "iniciados" espertos, adivinhos geniais, decodificadores,... mas a Pala vra de Deus interpela todos os homens, de modo que ela pode e deve ser acessível a qualquer leitor que se Ihe queira aplicar, usando os re cursos convencionais do estudo, sem recorrer a regras do "preciosismo" ou do malabarismo cabalístico;

4) a Cabala é urna modalidade de interpretacáo da Biblia relativa mente tardía. Com efeito; Cabala (do hebraico qaballah = tradicáo ou transmissáo) designa a doutrina esotérica dos judeus, que se foi forman

do aos poucos desde o inicio da era crista e no sáculo XII d. C. atingiu a sua configuracáo mais elaborada. Resulta da fusáo de genuínos elemen tos bíblicos (o texto sagrado é básico ñas especulares cabalísticas) com o neoplatonismo panteísta e outros elementos "místicos" da antiguidade e da Idade Media.

Os cabalistas assim explicam a origem da Cabala:

Henoque (cf. Gn 5,21-24) ensinou ao Patriarca Abraáo (séc. XIX a. C.) urna doutrina oculta, que Abraáo transmitiu oralmente a seus filhos e netos. No século XIII a. C. Moisés redigiu por escrito esses ensinamentos no livro da Lei ou no Pentateuco.

Acontece, porém, que Moisés fora iniciado nos misterios do Egito. Por isto escreveu em estilo simbólico servindo-se da língua egipcia, língua que havia chegado ao mais alto grau de perfeicáo. Moisés previa que a sua mensagem, pura como era, nao se conservaría ñas máos do seu povo, que peregrinava pelo deserto. Por isto, tencionando evitar fal sas interpretares, confiou as chaves do entendimento de seus escritos a homens seguros, de fidelidade comprovada; entregou-lhes de viva voz os esclarecimentos necessários para urna auténtica compreensáo da

Tora (Lei). Os discípulos de Moisés confiaram esses ensinamentos secretos a

outros homens, que os passaram adiante. Assim, de geracáo em gera484

A BÍBLIA ESCONDIDA DEBAIXO DA BÍBLIA gao, chegou até nos essa doutrina esotérica ou oculta que os rabinos chamam Cabala.

Moisés tinha acesso ao templo egipcio de Tebas, que continha os arquivos sacerdotais da extinta raga vermelha ou atlántida e os da seita

de Ram, que tinha sede na india. Moisés, portanto, foi iniciado em todos

esses conhecimentos, como também nos misterios da raga negra, guar dados no templo de Jetro, seu sogro, que foi o último sobrevivente dos sacerdotes dessa raga (cf. Ex 3,1). Assim a tradigáo oral que Moisés deixou aos seus discípulos, continha o essencial de todos os ensinamentos ocultos que existiam na face da térra.

Dizem também os cabalistas que Moisés escreveu em caracteres Vattam; todavía no século VI a. C. o sacerdote Esdras os substituiu pelos caracteres hebraicos atualmente utilizados. Isto deve ter criado distancia entre o texto primitivo e o texto atual do Pentateuco. A genuína interpretagáo deste foi entregue por Moisés nao á tribo sacerdotal (levítica), mas a comunidades leigas de profetas e videntes, das quais a principal foi a dos essénios.

Para se conservar inalterado o texto sagrado, os profetas davam normas aos leitores e copistas, normas que se derivavam do esoterismo de Israel e que hoje se chamam a Massorah. Esta, juntamente com outras tradicóes secretas (Michná, Gemará, Targum), constituí a Cabala judaica. Em suma, vé-se que a Cabala é um tecido de proposigoes imaginosas, destituidas de fundamento histórico, literario ou científico. Abrange a numerologia, a astrologia, a magia, a comunicagáo com os espíritos do além, o curandeirismo... Há quem tencione, na Cabala, diagnosticar doengas, detectar a personalidade de alguém, predizer o futuro, orientar o comportamento dos clientes, etc.

Comparando entre si os autores cabalistas, verificamos que nem sempre concordam entre si ao indicar o significado dos números e das

letras do alfabeto. A interpretagáo destes sinais é altamente subjetiva e pessoal, pois ao mesmo sinal se podem atribuir mensagens diferentes ou mesmo contraditórias. Embora táo frágilmente construida, a Cabala atrai muita gente, porque parece oferecer solugoes prontas e eficientes por vias sobre-humanas a pessoas que estáo cansadas ou céticas em relagáo á ciencia e pericia dos homens, ou também a pessoas que póem a razáo de lado para atender á fantasía desenfreada.

É para desejar que todo homem, ao receber urna mensagem "mara-

vilhosa", exerga urna crítica sadia e pergunte quais as credenciais de tal mensagem ou em que fundamentos lógicos e objetivos ela se apoia... E verá que muita fantasía se dissipará. 485

No Brasil de nossos días:

LIBERADA A ESTERILIZAQÁO

Em síntese: A legislagáo brasileira permite a esterilizagáo de homens e muiheres a partir dos últimos meses. Este novo dispositivo fere a natureza e suas leis (que sao as leis de Deus), pois propicia a mutilagáo do organismo humano; todo ataque á natureza está sujeito a réplicas da mesma. Além disto, a nova leí favorece o recurso aos anticoncepcionais (que fazem mal á saúde), pois os profissionais tém de explicar aos interessados o funcionamento dos recursos artificiáis de contengáo da nata-

lidade antes de aceitar o pedido de esterilizagáo. Mais aínda: a esteriliza gáo condena o Brasil a progressivo envelhecimento,... envelhecimento que se vem notando nos últimos anos; com efeito, o número de jovens tem decrescido, ao passo que o de anciáos aumenta em nosso país - o que provoca desequilibrios varios nos planos económico, social, educa cional, hospitalar... *

*

*

A legislagáo brasileira já faculta a esterilizagáo de homens e muihe res, desde que se cumpram algumas exigencias previas estabelecidas pelo Governo. A medida governamental assim concebida sugere ponde-

racóes de ordem ética e social. É o que será proposto ñas páginas subse-

qüentes, depois de se apresentarem os traeos gerais da nova legislacáo. 1.0 Problema

A lei permite a esterilizagáo de homens e muiheres com idade supe rior a 25 anos ou, pelo menos, com dois filhos vivos. As pessoas com deficiencia mental só podem ser sujeitas á esterilizagáo após autorizagao judicial. Os hospitais públicos tém de se aparelhar para o processo

cirúrgico e oferecer os servigos respectivos; o Servigo Unificado de Saú

de (SUS) fica obrigado a ressarcir as instituigóes convencionadas pelas cirurgias realizadas.

Antes da intervengáo cirúrgica, os interessados tém de se cadastrar nos programas de planejamento familiar de seus municipios. Durante sessenta dias, recebem instrugóes sobre os métodos contraceptivos pre vistos pelo Ministerio da Saúde, como preservativo, dispositivo intra uterino (DIU), diafragma e pílula anticoncepcional. Também sao alertados sobre os riscos de irreversibilidade da esterilizagáo e sobre os altos cus486

LIBERADA A ESTERILIZADO

tos desse tipo de cirurgia. Os hospitais devem desencorajar a esterilizacao precoce. O paciente há de exprimir por escrito sua vontade de ser esterilizado e os médicos tém o dever de comunicar ao Ministerio da Saúde todas as cirurgias de esterilizacao que tenham efetuado. A lei exige autorizacáo judicial em casos de ligadura de trompas e vasectomia em menores de idade. Quem induz alguém a praticar a esterilizacáo, pode ser condenado a prisao de um a dois anos. 2. Que pensar?

A nova lei é condenada por razóes de ordem ética e ordem social.

2.1. A Ordem Ética a) A mutilacáo do organismo humano é algo que fere a natureza e suas Ieis incutidas pelo Criador. Ora toda intervencáo que contraria a natureza, está sujeita a réplicas da própria natureza. É o que se dá com os métodos artificiáis de contencáo da natalidade. É o que se dá também com certas pessoas que, tendo sofrido a esterilizacao, se juigam menos homens ou menos mulheres.

b) É de notar ainda que, em muitos casos, a esterilizagáo nao será

produzida por motivo de doenca do homem ou da mulher, mas por razoes de ordem hedonística: o(a) interessado(a) quer ter relacoes sexuais e o prazer que proporcionam, sem correr o risco de prole. Ora tal inter vencáo já nao é da aleada do médico, que jura cuidar da saúde e defen der a vida; mutilar por motivos hedonísticos foge á órbita de trabalho do médico; significa inverter ou perverter o papel da medicina. c) A título de protelar ou evitar a esterilizacáo, a lei preconiza que se instruam jovens e adultos a respeito dos meios artificiáis de contencáo da natalidade. Isto vai, de um lado, prejudicar a saúde da populacáo, pois crescerá o número de usuarios de tais recursos .(que fazem mal ao orga nismo); de outro lado, vai incentivar, sob o falso pretexto de "sexo segu ro", a prática livre do sexo, á qual estáo associadas a AIDS e as molesti as sexualmente transmissíveis.

Eis algumas conseqüéncias daninhas da execucáo da lei pró-esterilizacáo; concebida para o pretenso bem do povo brasileiro, parece desti nada a Ihe causar maiores danos.

A medicina conhece meios naturais de contencáo da natalidade, que sao plenamente éticos, entre os quais o método de Billings e o da temperatura. Além de nao fazerem mal á saúde, apresentam a vantagem de promover a uniáo e a solidariedade de marido e mulher, pois um tem de ajudar o outro a cumprir o propósito firmado em comum pelo casal. Ao 487

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

contrario, os meios artificiáis e a esterilizacáo geralmente pesam sobre um dos dois cónjuges apenas, ficando o outro isento de qualquer daño o que muitas vezes redunda em machismo.

2.2. A Ordem Social: Envelhecimento da Populacáo Precisamente na semana em que o Congresso Nacional aprovou a

nova lei, a revista VEJA publicou notável artigo intitulado "Desafios de um país de cábelos brancos" (edicáo de 13/08/1997, pp. 34-36). Alias, nao foi essa a primeira vez que a imprensa alertou para o envelhecimen to da populacáo no Brasil; pode-se dizer que repetidamente o clamor tem sido lancado.

O texto de VEJA fala de rápido envelhecimento da populacáo. E apresenta dados estatísticos significativos, como sao os seguintes: Em 1940, a populacáo do Brasil era de 41 milhóes; a maioria dos cidadáos era jovem; os idosos, com mais de 65 anos, eram apenas 2%.

Em 1996, o total de habitantes do país era de 157 milhóes; caía a natalidade e aumentava a expectativa de vida. Os jovens na base da pirámide populacional diminuiram numéricamente. Em 2020, prevé-se que haverá 207 milhóes de brasileiros, sempre

mais idosos do que jovens, a ponto que aqueles constituiráo 9% da populacao.

A populacáo do Brasil tem crescido menos. Assim, por exemplo, Na década de 1940, crescia de 2,39%. Na década de 1950, crescia de 2,99%. Na década de 1960, crescia de 2,89%. Na década de 1970, crescia de 2,48%. Na década de 1980, crescia de 1,93%.

Na década de 1990, crescia, e cresce, de 1,38% (quase 1,0%). «O Brasil de jovens precisa de escolas e de bons professores - o de velhos necessita de mais hospitais, mais médicos, mais aposentadorías. A dificuldade é que, num país de cábelos brancos, há menos bragos para pagar contribuigóes que alimentam a Previdencia e impostos que pagam remedios nos hospitais. Quando o desemprego cresce e o

trabalho informal ganha corpo, como acontece hoje, a dificuldade só pode agravarse. Quando, ao lado disso, nada se faz para melhorar a Previdencia nem o sistema de saúde, a situagáo é preocupante. 488

LIBERADA A ESTERILIZAgÁO

Os números do IBGE sobre o novo perfil demográfico do país sao enfáticos. Em 1980, quando se formava urna rodinha com 100 brasileiros, o grupo dejovens e criangas era presenga dominante - 38 tinham de 14 anos para baixo. Em 1996, essa participagáo caiu para 32%. Em

compensagáo, o número de velhos nao para de aumentar, engordando numa velocidade tres vezes mais rápida do que o conjunto da populagáo. Os brasileiros com mais de 65 anos eram apenas 2,7% da populagáo em

1960. Tornaram-se 3,1% em 1970. Sao 5,4% hoje em día. Os técnicos do Instituto calculam que em 2020 a participagáo dos idosos na popula gáo será 60% maior do que hoje e a dosjovens, 30% menor. Outro fator é o aumento da expectativa de vida ao nascer, que também nao para de crescer - ganha-se um ano a mais a cada sete anos.

O envelhecimento da populagáo é um problema serio em qualquer lugar do mundo - e aínda mais no Brasil, com o mecanismo deficiente que alimenta o caixa do seu sistema previdenciário. O regime que sus tenta o pgamento daspensóes e aposentadorias só fica empé enquanto

houverpessoas trabalhando e contribuindo com a Previdencia em núme ro suficiente para cobrir os gastos do governo com o pessoal de pijama. Essa relagáo está cada vez mais estreita no Brasil. No inicio da década de 80, havia 2,8 trabalhadores no batente para cada aposentado na folha da Previdencia. Na semana passada, com a divulgagáo dos resultados do censo, descobriu-se que a coisa piorou: havia em 1996 apenas 1,9 contribuinte para cada ¡nativo. 'Do jeito que estamos indo, e levando em conta as projegdes mais otimistas para o mercado de trabalho, em 2030 teremos 1,5 contribuinte por aposentado', calcula o pesquisador Francis co Oliveira, do Instituto de Pesquisa Económica Aplicada, o Ipea» (VEJA 13/08/97, p. 34).

Como se compreende, a solucao da problemática da fome nao está em esterilizar homens e mulheres no Brasil; esta medida acaba voltando-se contra a vida e promovendo a cultura da morte, nociva para o país. - Numa reflexáo serena, verifica-se que o Brasil é um país jovem, nao

plenamente povoado e dotado de grandes riquezas naturais nao explo radas. Ele precisa nao de esterilizacáo, mas de juventude,... e juventude preparada para assumir o futuro da nacáo e acabar de a construir, explo rando o seu grande potencial. Em conseqüéncia, o problema número 1 do Brasil nao é o crescimento demográfico (que se tornou um título vazio ou um tabú, como demonstram as estatísticas), mas é a educacáo. Fazse necessário dar formacáo humana, ética (e por que nao o dizer?... religiosa) á juventude que deve surgir nos horizontes da patria, para que ela, consciente de suas responsabilidades, possa trabalhar honestamente em favor de um Brasil maior e melhor. Se se cerceia esta perspectiva, condena-se o país ao desestímulo e ao envelhecimento. Tal é o caso de 489

10

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

outros países, nos quais a natalidade mal cobre o número de óbitos. Na Italia, por exemplo, o crescimento da populacáo chegou a 1%, o que é alarmante, embora as conseqüéncias nao se facam sentir de ¡mediato. Eis alguns dados da Italia:

De 1951 a 1961, a juventude passou de 18,8% a 17,3% sobre o total da populacao. Em 1970, era 16%. Em 1981, 15,5% e em 1994 13,8%. O decréscimo está continuando... até onde? até quando?... com que resultados?

Sao estas algumas reflexóes que mostram os aspectos negativos de urna legislacáo que, á primeira vista, parece contribuir para resolver um problema, mas na verdade vem agravar a situacáo geral do Brasil. O médico e os agentes da saúde católicos devem ter direito á objecáo de consciéncia, de modo que nao sejam sujeitos a cometer a iniqüidade prevista pela lei.

Crescer em Comunháo com o Pai, 5 volumes, por varios autores. -Ed. Vozes, Petrópolis 1996, 180x260mm.

Eis um manual de catequese destinado a idades sucessivas desde a infancia até a adolescencia. Deve-se a urna equipe de professores do Paraná. O texto é muito ilustrado, cheio de sugestóes para celebrar a Palavra, além de numerosos gráficos e exercícios que facilitam a aprendizagem. Essa bela apresentagáo, porém, reveste um conteúdo que surpreende pela sua superficialidade de explanagoes; dir-se-ia que os au tores quiseram evitar ser precisos, de modo a apresentar um Cristianis mo vago, fácil, que nao incomode muito. Especialmente lacunosa é ai a Moral católica: versa mais sobre a vida comunitaria e social do que sobre a grande realidade da comunháo com as tres Pessoas da SSma. Trindade e as expressóes da mesma na prática das virtudes teologais e mo

ráis; os capítulos sobre o pecado sao também muito distantes do conceito preciso de pecado. Quem aprende por tais livros, está insuficiente

mente catequizado e mal preparado para ser, como diz o Senhor Jesús, sal da térra, luz do mundo e fermento da massa (cf. Mt 5, 13s; 13,33). Em conseqüéncia de táo deficiente catequese, nao há como estranhar que naja católicos ecléticos, mais levados pelas emocoes religiosas do que pela luz da Verdade do Evangelho; váo procurar fora do Catolicismo o que Ihes pode ser dado, com muito mais riqueza doutrinária, dentro do Catolicismo.

490

Voz corajosa:

"EM NOME DA CIENCIA, PAREM..."

Em síntese: O biólogo francés Dr. Jacques Testard concedeu urna entrevista em que chama a atengáo para os perigos que a pesquisa cien

tífica pode acarretar para a dignidade humana, se nao leva em conta os

limites que a Ética indica. O ser humano nao pode ser tratado como "coisa"ou como materia da qualsó interessem as reagóes físico-químicas. A

manipulacáo genética, se, de um lado, pode beneficiara medicina, pode, de outro lado, sacrificar o ser humano, fazendo-o joguete de interesses espurios e degradantes.

As experiencias de Engenharia Genética tém-se multiplicado, pro

vocando comentarios, uns alvissareiros, outros sinistros. Há quem veja a pessoa humana ameacada em sua dignidade singular, pois a reproducao humana é tratada como qualquer outro processo bioquímico, sem se considerar o que nela há de específicamente humano. A propósito o biólogo francés Dr. Jacques Testard concedeu signifi cativa entrevista publicada na FOLHA DE SAO PAULO em 8/3/87 e que,

com o tempo, em vez de perder, só ganhou atualidade. É de notar que

Jacques Testard nao é contrario ao progresso da ciencia, pois tem praticado a fecundacáo artificial; julga, porém, que a pesquisa científica tem

de reconhecer os limites que a Ética, salvaguardando a dignidade hu

mana, impóe ao estudioso. A ciencia sem consciéncia ética, em vez de servir ao homem, se volta contra o homem. - Publicamos, a seguir, o texto de Jacques Testard juntamente com a introducáo que o jornalista Milton Blay redigiu para a FOLHA. 1. Introducáo

«Pela primeira vez um dentista especializado ñas técnicas da pro-

criagáo artificial proclama publicamente suas 'vivas inquietudes' face a evolugáo de sua disciplina e propóe urna moratoria internacional. 'Eu nao irei mais longe. Nao tentarei outras 'premieres'. Minha última proeza foi o congelamento de embrides humanos.' Quem langa o grito de alerta, é o professor francés Jacques Testan,

biólogo, pesquisador do Inserm, Instituto Especializado em Inseminagáo 491

12

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

Artificial, membro da equipe do Hospital Antoine-Belcere, em Claman (suburbio parisiense), e um dos melhores especialistas mundiais em fecundagáo 'in vitro'.

Tratase de uma posicáo ultra-minoritáría deste ex-militante trotskista? Ou, ao contrario, é o inicio de uma tomada de consciéncia frente á ameaga da manipulagáo das células sexuais e dos embrides humanos? Desiludido, Jacques Testart respondeu á Folha em París: 'Tratase de uma posigáo minoritaria no mundo científico. Outros continuaráo. Nao porque sejam melhores, mas pela vontade de ver seus nomes nos ¡or náis e aparecer na televisáo. Eu reivindico uma lógica da 'náo-descoberta', uma ética da 'nao-pesquisa'. Sei que será um 'suicidio profissional', mas nao faz mal: chegou a hora de dizer em alto e bom tom que nao existe pesquisa neutra e que só suas aplicagóes sao boas ou ruins. Este postulado é mentiroso e perigoso. Se me demonstrarem que uma única vez uma descoberta que correspondía a um desejo nao foi aplicada, entáo recomegarei...'». 2. A Entrevista

«Folha - Cinco anos após o nascimento de Amandine, o primeiro bebé-proveta francés, fecundado 'in vitro' pela equipe do Hospi tal de Clamart, o senhor anuncia no livro 'Oeuf Transparent' ('Ovo

Transparente', em portugués, da 'Éditions Flammarion') que 'vive

mos o momento da pausa da auto-iimitagáo do pesquisador'. Por

qué? Jacques Testart - Se prosseguirmos, chegaremos rápidamente a uma nova situacáo, que nada tem a ver com a primeira funcáo da fecundacáo '¡n vitro1: responder a um diagnóstico e dar um filho a um casal estéril. Amanhá veremos nascer o bebé 'prét-á-porter' e, dentro de alguns anos, poderemos oferecer ovos 'á la carie', com sexo determinado, em conformidade com normas garantidas. Nossos filhos seráo escolhidos como ca chorros no canil: cor do pelo, tamanho das patas, forma das orelhas.

Eu nao pretendo, por exemplo, cortar um ovo humano em dois,

retirar uma ou varias células de um óvulo fecundado para determinar o sexo da enanca a nascer ou para fazer o diagnóstico de uma ano malía genética. Prefiro dedicar-me ao aperfeicoamento das técnicas existentes e a

desenvolver, nos animáis, os estudos sobre congelamento dos óvulos. Folha - Qual é exatamente o perigo?

Testart - A perspectiva do bebé sob medida me inquieta. Uma equi492

"EM NOME DA CIENCIA, PAREM..."

13

pe científica multidisciplinar francesa anunciou recentemente a deseo-

berta de urna técnica de diagnóstico do sexo dos embrióes bovinos. É um primeiro passo para a determinacáo futura do sexo do embriáo hu mano.

No inicio, esta técnica será proposta como um progresso médico para as doencas hereditarias ligadas ao sexo. Depois, as pessoas passaráo a se interessar pela fecundacao 'in vitro1 para escolher o sexo dos seus fiihos e os especialistas seráo tentados a 'fabricar' gémeos. Um dia

saberemos agir sobre o embriáo e assim substituir um gene por outro, para corrigir tal ou tal malformacáo. Entáo, o termo 'fabricar bebés' per derá as aspas.

Encontramo-nos diante de urna encruzilhada: seguir adiante signifi ca satisfazer, a medio prazo, o sonho dos biólogos de fazer homens sob medida, na mais perfeita lógica hitleriana.

A técnica nos oferecerá 'ovos á la carte'. E no cardápio biogenético as propostas seráo infinitas: podemos imaginar a fecundacáo do óvulo pelo óvulo (sem a presenca do espermatozoide), a auto-procriacáo feminina (que permitirá á mulher ter um filho que será sua copia genética), a gestacáo humana no ventre de um animal, e até, por que nao, a gravidez masculina.

Folha - Existem na Franga e em outros países efue praticam a

fecundagáo 'in vitro' comités de Ética encarregados de estudareste tipo de problema. Por que eles nao se manifestam?

Testart - Os comités de Ética, que nao tém poder legal, também se sentem ultrapassados pelos avancos científicos. Por exemplo, eles aín da nao se manifestaram sobre o congelamento de embrióes, que se tornou corriqueiro. Quando urna mulher engravida, o que fazer com os em

brióes congelados? Na falta de resposta nos decidimos caso por caso, de comum acordó com o casal. Em setembro de 84, a equipe do Hospital Belcere publicou um mé

todo de micro-injecáo de espermatozoide no óvulo. O comité de Ética respondeu negativamente, dizendo que era prematuro e pedindo novos estudos em animáis. Resultado: hoje, na Franja, varias equipes aplicam esta técnica, sem terem aguardado nossas conclusoes. Assistimos atualmente a urna tal volúpia entre as equipes médicas que ninguém respeita as regras éticas, ninguém tem tempo para perder com reflexáo. Por isso proponho urna moratoria ¡mediata das experi encias». 493

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

3. Réplica e Tréplica

O Dr. Nelson Donadío, de Sao Paulo, discorda de Jacques Testard, conforme a FOLHA DE SAO PAULO, número citado: "Há duas semanas, nasceu o décimo bebé de proveta da Santa Casa

de Sao Paulo, instituicáo pioneira no Brasil na fecundacáo 'in vitro'. A equipe responsável pelo setor de fecundacáo extra-corpórea da Santa Casa é dirigida pelo médico Nelson Donadío, 51, diretor do Centro Bioló gico de Reproducáo Humana da Santa Casa Santa Isabel de Sao Paulo, e presidente da Sociedade Brasileira de Reproducáo Humana (SBRH). Apesar de ser freqüentador assíduo do laboratorio em Clamart, e de uti lizar um procedimento semelhante ao desenvolvido por Testart, Donadío discorda do médico francés quanto á necessidade de interromper as pes quisas no campo da fecundacáo extra-corpórea...

O médico brasileira concorda com Testart em que nao existe urna cien cia neutra. Mas isto, segundo ele, nao é justificativa para interromper as

pesquisas. Senáo, diz o médico, as pesquisas com os átomos teriam de ser interrompidas, devido ao risco de sua utilizacáo para fins militares. Para Donadío, as pesquisas sobre fecundacáo extra-corpórea, ao lado de ajudar a resolver problemas de casáis esteréis, podem auxiliar a desenvolver o tratamento de doencas imunológicas, genéticas e do cáncer. O homem nao é táo burro quanto Testart pensa. Santos Dumont suicidou-se porque viu os avióes sendo utilizados para a guerra. No entanto, como transpor grandes distancias a cávalo ou a burro?, indaga o médico brasileiro". Seja observado: os resultados de qualquer pesquisa científica po dem ser utilizados tanto para o bem como para o mal; nem por isto se pode querer impedir o pesquisador de estudar; importa apenas controlar a aplicacáo dos frutos do seu trabalho na sociedade. No caso presente, o que se

discute, é o próprio objeto da pesquisa científica: urna coisa é o átomo e a

materia irracional (nada tem de transcendente); outra realidade é a materia reprodutiva do ser humano, pois esta tem algo de transcendental ou possui urna dignidade que proibe seja equiparada á materia infra-humana. Eis o que invalida a argumentacáo do Dr. Nelson Donadío.

CARO(A) LEITOR(A), JÁ QUE SE APROXIMA O NATAL, POR QUE NAO PENSAR EM OFERECER A SEUS AMIGOS UMA ASSINATURA

DE PR, QUE TORNE VOCÉ PRESENTE A CADA UM(A) DELE(A)S TODOS OS MESES DE 1998? A NOSSA REVISTA PRETENDE SER

UM INFORMATIVO QUE AJUDE A PONDERAR OS PROBLEMAS DE NOSSOS DÍAS. TODOS PRECISAMOS DE PENSAR PARA MAIS AMAR O NOSSO IDEAL.

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Excomunháo?

O CASO DE D. LEFÉBVRE ATUALMENTE

Em sfntese: O Arcebispo D. Marcel Lefébvre ordenou Bispos sem autorizagáo da Santa Sé aos 30/6/1988, incorrendo, por isto, em excomunháo. Esta pena atingiu outrossim o Bispo con-consagrante e os Bispos consagrados. O movimento lefébvriano está sob a marca da excomunháo, pois é um movimento cismático, que nao se atém as dispo-

sigóes da Santa Sé.

Quanto áspessoas individuáis, para que incorram em excomunháo, duas condigóes se requerem: 1) adesáo íntima aos principios de D. Lefébvre, em flagrante oposigáo ao magisterio de Joáo Paulo II; 2) manifestagáo patente dessa adesáo mediante participagáo em celebragóes litúrgicas e outras atividades lefébvrianas. *

*

*

O Sr. Bispo Mons. Norbert Brunner, da diocese de Sion (Suíca), ¡nterrogou a Santa Sé a respeito da situacáo jurídica daqueles fiéis que aderem ao cisma provocado por Mons. Marcel Lefébvre. Por estar na diocese de Sion a Fraternidade Sacerdotal Sao Pió X, com sede em Écone, freqüentemente Ihe ocorre a pergunta, feita pelos fiéis, a propósito da situacáo jurídica dos irmáos lefébvrianos.

A Santa Sé mandou estudar precisamente o caso em dois dos seus órgáos competentes no assunto: a Congregacáo para a Doutrina da Fé e o Pontificio Conselho para a Interpretacáo dos Textos Legislativos. A resposta foi entregue a Mons. Brunner em 31/10/1996 e publicada no Boletim SNOP, da Conferencia dos Bispos da Franca, n91813, de 4/7/1997 p. 23.

A seguir, apresentaremos a súmula de tal resposta, visto que interessa também ao Brasil, onde existem núcleos de comunidades aderentes ao cisma de Mons. Lefébvre.

Comecemos pelo paño de fundo. 1. Tres Perguntas

É notorio que aos 30/6/1988 D. Marcel Lefébvre, tendo D. Antonio

de Castro Mayer, entáo Bispo de Campos (FU), como con-consagrante, sagrou alguns Bispos sem autorizacáo da Santa Sé ou mesmo em cons495

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

ciente e flagrante desobediencia ao S. Padre Joáo Paulo II - o que é considerado falta gravíssima pela Moral católica e pelo Direito Canónico. Há quem sustente que tal gesto nao acarretou excomunháo para os Bispos ordenantes e ordenados. Para tanto, apoiam-se em declarac.5es de Cardeais e canonistas. Já que a situacáo se tornou confusa, Mons. Brunner dirigiu-se á Santa Sé com tres perguntas:

1) Mons. Lefébvre, Mons. Castro Mayer e os Bispos que eles consagraram, foram excomungados?

2) Os fiéis que pertencem á Fraternidade Sao Pió X e á sua obra estáo excomungados?

3) A celebragáo da S. Missa segundo o rito Tridentino por parte de Bispos e sacerdotes da Fraternidade é lícita? Como ficam os fiéis que déla tomam parte?

Em síntese, eis as respostas da Santa Sé mediante os dois órgáos atrás mencionados.

2. A Resposta da Santa Sé Distinguiremos sete pontos:

1) Nao há dúvida, D. Lefébvre, D. Castro Mayer e os Bispos por eles consagrados incorreram em excomunháo por efeito do canon 1382, que assim reza:

"O Bispo que, sem mandato pontificio, confere a alguém a consa-

gragáo episcopal e, igualmente, quem dele recebe a consagragáo, incorrem em excomunháo latae sententiae, reservada a Sé Apostólica". Isto quer dizer que o fato mesmo de um Bispo consagrar outro Bispo sem autorizacao pontificia acarreta a excomunháo para ambos, sem necessidade de algum processo ou de sentenca condenatoria (latae

sententiae). Tal excomunháo só pode ser absolvida pela Santa Sé. É de

notar, porém, que logo a 19/7/1988 a Congregacáo para os Bispos declarou explicitamente ter sido aplicado o canon 1382 no caso. Mais: aos 2/7/ 1988 o Motu proprio Ecclesia De¡ de Joáo Paulo II fez a mesma observac.áo, acrescentando que tal ato litúrgico era a consumacáo de um cis ma que vinha lentamente ocorrendo. O cisma, por sua vez, é delito ao qual está anexa a excomunháo latae sententiae, conforme o canon 1364: "O apóstata da fé, o herege e o cismático incorrem em excomunháo latae sententiae, salva a prescrigáo do canon 194 § 1B n9 2". Este canon 194 § 19 ns 2 reza: 496

O CASO DE D. LEFÉBVRE ATUALMENTE

17

Tica ipso iure destituido de oficios eclesiásticos quem tiver aban donado publicamente a fé católica ou a comunháo com a Igreja". 2) Em conseqüéncia, o movimento lefébvriano deve ser considera

do cismático.

3) Quanto as pessoas que aderem a tal movimento, só incorrem em

excomunháo latae sententiae, caso se verifiquem as seguintes condicóes:

a) a primeira condicao é de foro íntimo: tais pessoas compartilhem livre e conscientemente o essencial do cisma, ou seja, o seguimento de Mons. Lefébvre em formal desobediencia ao Sumo Pontífice e ao magis

terio da Igreja;

b) a segunda condicao é de natureza exterior ou visível: manifestem

sua opcáo cismática por atos visíveis; entre estes, se acha a participacáo exclusiva ñas funcóes litúrgicas lefébvrianas, sem que tomem parte ñas funcóes da Igreja Católica. - Note-se que nao incorre em excomunháo quem participa das funcóes litúrgicas lefébvrianas sem aderir ao espirito do cisma.

Observe-se, porém, que a participacáo nessas funcóes litúrgicas e em outras atividades que carecem de comunháo total com a Igreja, cons

tituí motivo de escándalo e divisáo da comunidade eclesial. Por' isto é

condenável.

4) Os diáconos e presbíteros lefébvrianos dáo sinais de aderir ao cisma nao só visivelmente, mas também intimamente. Por isto preenchem as duas condicóes ácima e estáo excomungados. 5) Quanto aos demais fiéis, nao estáo excomungados se apenas participam ocasionalmente das funcóes lefébvrianas e de atividades do respectivo movimento, sem professar doutrina e disciplina contrarias ao magisterio da Igreja. Nem sempre será fácil averiguar a situacáo jurídica de tais pessoas: cada caso há de ser considerado de per si. Como quer que seja, é altamente desaconselhado participar de qualquer manifestacao lefébvriana por causa dos perigos de escándalo e divisáo que isso

acarreta.

6) Os Bispos ordenados por D. Lefébvre foram validamente orde

nados.

7) Quanto aos padres ordenados por D. Lefébvre antes do cisma, quando estava suspensus a divinis (sem uso de ordens), foram tam bém validamente ordenados. Nao incorreram em excomunháo, mas, con forme o canon 265, estáo acéfalos e impedidos de realizar qualquer fun497

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

cao sacerdotal até que se incardinem legítimamente em alguma diocese. Eis o teor do canon 265:

"É necessário que todo clérigo esteja incardinado em alguma Igreja Particular ou Prelazia pessoal ou em algum Instituto de vida consagrada ou sociedade que tenha essa faculdade, de modo que nao se admitem, de forma alguma, clérigos acéfalos ou vagos". Comenta o Pe. Jesús Hortal:

"Incardinacáo provém do latim in (em) e cardo (gonzo, dobradiga). Canónicamente, é o ato mediante o qual, querpor disposigáo do Direito, quer por determinagáo do Superior legítimo, um clérigo fica absoluta e definitivamente incorporado a uma Igreja particular, a uma Prelazia pes soal, a um Instituto de vida consagrada ou a uma Sociedade que tenha a faculdade de incardinar clérigos" (Ver Código de Direito Canónico, Ed. Loyola).

Estas ponderacóes manifestam o caráter complexo da situacáo dos fiéis leigos que freqüentam alguma igreja lefébvriana ou com o cisma simpatizam, mas nao pretendem aderir ao cisma. Fazem algo de iricoerente e desaconselhado, pois isto pode gerar atitudes de infidelidade a única Igreja que Cristo instituiu e entregou aos Apostólos, prometendoIhes sua ¡nfalível assisténcia até o fim dos tempos (cf. Mt 28,18-20).

Cristo Total. Identificacáo de Jesús com sua Igreja, por Freí Francisco Battistini. - Ed. Vozes, Petrópolis 1997, 130x210 mm, 285pp. Frei Francisco Battistini é um benemérito carmelita, que se tem de dicado a vida pastoral e a redagáo de obras catequéticas, tendo em vista muitas vezes a apresentagáo da fé aos nao católicos. Reeditou o seu livro "Cristo Total" após revisáo e atualizagáo do texto, que foi enriqueci do por citagóes do Catecismo da Igreja Católica. A obra compreende duas partes: a primeira é um ensaio simples de Cristologia, que muito se detém sobre a credibilidade do misterio da Encarnagáo e propóe Jesús como o Salvador por sua Palavra e seu sacrificio. A segunda Parte do

livro trata da Igreja, que o autor, muito acertadamente, apresenta como inseparável de Jesús Cristo, pois é o Corpo de Cristo, nos dizeres de Sao Paulo (Cl 1,24). Em linguagem acessível, Frei Battistini procura jus

tificar a fé na Igreja que Cristo fundou e entregou ao Apostólo Pedro como sendo "a sua lgreja"(Mt 16,18); seja esta amada como a continuagáo da humanidade de Cristo, que foi dilacerda, mas era, e é, portadora dos tesouros da Divindade (Cl 1,19). - O livro é muito oportuno neste momento em que tanto se focaliza a Igreja nem sempre em seu verdadeiro aspecto de Sacramento prolongado do Senhor Jesús. 498

No Setor Extraordinario:

OS ESTIGMAS: QUE SAO? POR QUE SAO?

Em síntese: Os estigmas sao chagas que alguns fiéis trazem em seu corpo, configurándose a Cristo Crucificado. O fenómeno é comple xo, pois envolve nao só nogóes de Teología e Mística, mas também fatores de Psicologia e Medicina; elementos religiosos e reagóes fisiológicas se conjugam, tornando por vezes o diagnóstico difícil, já que o fenómeno assume varias facetas. Como quer que seja, dos muitos casos de pessoas estigmatizadas que se conhecem, pode-se dizer que varios sao au ténticamente sobrenaturais ou gragas extraordinarias concedidas pelo Senhor Deus. Com efeito; vém a ser urna modalidade de participagáo na Paixáo de Cristo decorrente de intensa devogáo a essa santa Paixáo;

témporfinalidade santificara pessoa estigmatizada pormais íntima uniáó

a Jesús Crucificado como também contribuir para a Redengao do mundo no sentido das palavras de Sao Paulo em Cl 1,24: "Completo em minha carneo que falta á Paixáo de Cristo em pro! do seu Corpo, que é a Igreja".

É certo que o fenómeno dos estigmas está associado á meditagáo

da Paixáo dolorosa, pois nao ocorre entre os cristáos orientáis, que mais se devotam á contemplagao do Cristo que reina através do lenho da Cruz. *

*

*

O fenómeno dos estigmas, tal como ocorre, por exemplo, em Frei Pió de Pietralcina (muito conhecido no Brasil) e outros fiéis, suscita interrogacoes: afinal que tipo de fenómeno é esse? Como se pode explicar?

Que sentido tem?

É a tais indagacóes que seráo dedicadas as páginas seguintes. 1. Estigmas: que sao?

A palavra estigma vem do grego stigma = picada dolorosa. Origina

riamente indicava a marca impressa no gado com ferro quente, em sinal de apropriacáo por parte do boiadeiro. Passou a designar, em linguagem crista, as chagas infligidas ao corpo de Nosso Senhor Jesús Cristo por ocasiáo de sua Paixáo. E, por último, significa as feridas que pessoas piedosas trazem em sua carne reproduzindo as chagas de Jesús.

Nao há noticia de pessoas estigmatizadas antes do século XIII. O primeiro caso registrado é o de Sao Francisco de Assis, que, aos 14/9/1224, recebeu em seu corpo os sinais da Paixáo de Jesús. Após esse Santo, varios outros casos ocorreram na historia da Igreja até nossos dias. 499

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

Também se observa que os cristáos protestantes apresentam pou-

quíssimos casos de estigmas, ao passo que os ortodoxos orientáis nao o conhecem em absoluto. A razáo disto é que o fenómeno dos estigmas está associado á contemplacáo da Paixáo dolorosa de Cristo, devocáo esta que tomou grande incremento no Ocidente a partir do século XIII por causa dos relatos dos cruzados e outros peregrinos que, voltando da Térra Santa, narravam minucias da Paixáo do Senhor como as haviam observado nos lugares sagrados.

Os estigmas vém a ser um fenómeno que a Psicología, a Medicina e a Teología tém estudado intensamente, a fim de Ihe dar urna explicacáo satisfatória, ou seja, sem ceder a um falso misticismo como também sem cair no naturalismo racionalista. Na verdade, há varios casos de pessoas estigmatizadas que nao podem ser elucidados todos da mesma maneira. É o que passamos a verificar. 2. Como explicar?

Procurando sintetizar o que a pesquisa transmite aos estudiosos, pode-se dizer o seguinte:

É inegável a influencia do psiquismo sobre o corpo humano. O medo faz empalidecer, dilata as pupilas, provoca suor frió, gaguejar... A vergonha faz enrubescer... Em certos casos ditos "crepusculares" (como os da consciéncia adormecida, hipnose...) se as imagens se tornam mais vivas e efetuam um processo psicoplástico: eczemas, dermografia (sinais ou letras na pele), acné (erupcáo pustulenta resultante de inflamacao), paralisia de certas funcóes do organismo...

Alguns pesquisadores admitem que urna idéia muito viva e estimada possa chegar a produzir sinais corpóreos. Assim a sugestáo incutida a urna pessoa muito sensível pode redundar em marcas no corpo dessa pessoa correspondentes ao objeto sugerido. Ver a propósito aínda o Apén dice deste artigo, pp. 506s.

Na base destas verificacoes, pode-se afirmar que a contemplafao

da Paixáo do Senhor em grau muito intenso pode produzir lesoes na pele do(a) contemplante, lesoes semelhantes áquelas que se encontram no

objeto contemplado. Em tal caso, os estigmas sao a expressáo do grau de elevacáo do sentimento religioso da pessoa, e evidenciam a que ponto

pode chegar a forca psíquica do individuo. É esta a explicacáo que se dá a casos de pessoas muito santas que apresentam estigmas: S. Francis co de Assís, S. Catarina de Sena, S. Gema Galgani, Frei Pió de

Píetralcina... A santidade de vida desses fiéis excluí qualquer processo

fraudulento, qualquer tendencia a fazer teatralidade ou tragedia, provo car compaixáo... O Senhor Deus concede a tais pessoas a graca de particíparem corporalmente da Paixáo de Cristo, atendendo assim a um an500

OS ESTIGMAS: QUE SAO? POR QUE SAO?

seio das mesmas, desejosas de se configurar ao Senhor Jesús; nessas

pessoas a graca de Deus serve-se da índole particularmente sensível de sua personalidade para provocar os sinais da Paixáo de Cristo. Todavía nem todos os casos de estigmas podem ser diagnosticados com seguranca e clareza.

Há casos em que os estigmas aparecem juntamente com varios sín tomas doentios e que parecem ter causa na configuracáo mórbida da pessoa estigmatizada e nao na grapa de Deus. De modo especial salienta-se a histeria; a pessoa histérica assume freqüentemente comportamentos e estilo devida teatrais, exibicionistas, procurando chamar a atencáo dos outros, impressionando-os ou cativando a sua simpatía ou a sua compaixáo; daí a facilidade com que tais pessoas podem querer parecer se com Jesús Cristo Crucificado por mitomania ou por um desejo doentio.

Em alguns casos o anseio psicológico da dramatizacáo ou de impressionar os outros pode ter produzido a configuracáo corpórea correspon dente, sem que se possa dizer que tais pessoas tenham sido especial mente esquecidas pela grapa de Deus. Nao é necessário que essa

dramatizacáo histérica seja efeito consciente e premeditado da parte da pessoa estigmatizada; o inconsciente pode levá-la a apresentar a confi

guracáo estigmatizada, de modo que nao se pode dizer que todos os

histéricos sao mentirosos e hipócritas. Estas dados complexos relacionados com a Psicología e Fisiología tornam polivalente o fenómeno dos estigmas. Cada caso há de ser con siderado de per si. Haverá mesmo casos em que nao se poderá definir com clareza a índole do fenómeno: seria realmente urna graca de Deus

ou resultaría únicamente da natureza mórbida da pessoa em foco? É de crer que nao raro os dois fatores se conjugam entresi. Em todo caso, porém, será sempre de grande valia a análise do contexto em que ocorrem os estigmas como também a consideracao do

teor de vida ou do comportamento geral da pessoa estigmatizada. Se o

exercício das virtudes (amor a Deus e ao próximo, espirito de penitencia, prática da oracáo) é notorio, pode-se crer que os estigmas sao a resposta do Senhor Deus á piedade do(a) seu(sua) servo(a). Ainda se deve notar que nem todas as chagas que aparecem no

corpo humano podem ser tidas como estigmas. Geralmente os estigmas

aparecem e desaparecem instantáneamente (podem aparecer, por exemplo, na noite de quinta para sexta-feira e desaparecer na noite seguinte,

devendo o mesmo fenómeno reaparecer na semana seguinte). Além dis to, os estigmas nao sao acompanhados de supuracáo; sao persistentes, apesar de todos os tratamentos e cuidados médicos que se Ihe dispensem. Pergunta-se agora: 501

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

3. Qual o significado religioso dos estigmas?

Antes do mais, é de notar o seguinte: na medida em que sao au ténticos fenómenos sobrenaturais (questao que deve ser cuidadosamente investigada), os estigmas nao sao essenciais a urna vida santa; a prática das virtudes, mesmo em grau heroico, nao leva necessariamente á producáo de estigmas.

Quando ocorrem e sao genuínos dons de Deus, revestem-se de duplo significado: 1) Participacáo física da Paixáo de Cristo, correpondente a um anseio da pessoa piedosa. O Senhor concede a fiéis que se devotam a reconhecer seu Amor Crucificado, a grapa de trazer em seu corpo os vestigios da Paixáo de Cristo.

2) Essa participacáo da Paixáo do Senhor tem efeito de santificacao nao só em favor da pessoa estigmatizada, mas também em favor do próximo, segundo diz Sao Paulo: "Completo em minha carne o que falta á Paixáo de Cristo em favor do seu Corpo, que é a Igreja" (Cl 1,24). Na verdade, ninguém pode acrescentar algum valor á Paixáo de Cristo infi nitamente meritoria, mas todo cristao pode dar a essa Paixáo a moldura própria da sua personaüdade, pode estendé-la ao seu respectivo "aquí e agora" em favor dos irmáos ou numa atitude corredentora. Na Comunháo dos Santos cada qual pode ser útil aos irmáos na medida em que se configura a Cristo Redentor. 4. Casos Concretos

A guisa de complemento, váo apresentados alguns casos concretos de estigmatizacáo, tidos como auténticos uns (nao, porém, artigos de fé), duvidosos outros. 4.1. Casos tidos como auténticos 4.1.1. Sao Francisco de Assis (1181- 1226)

Aos 14 de setembro de 1224, festa da Exaltacáo da Santa Cruz, enquanto rezava no eremitério do Monte Alverne, Francisco teve a visáo

de um Serafim, sobre o qual brilhava o Crucificado. Quando a imagem desapareceu, Francisco sentiu "o coracáo arder de amor, enquanto na sua carne estavam impressos os sinais da Paixáo do Senhor; apareceram ñas suas máos e nos seus pés as marcas dos cravos: além disto, trazia no costado urna fenda como se tivesse sido atingido por urna lanca;

a túnica e o calcáo do santo se achavam manchados de sangue. É Tomás de Celano, o biógrafo mais famoso de Francisco, quem o narra (Vita I Parte II, Cap. II, p. 93). S. Boaventura (t 1274) oferece relato semelhante em Legenda Maior, cap. XIII, p.2. Testemunhas oculares confirmam o fato, pois o puderam observar no cadáver do Santo. 502

OS ESTIGMAS: QUE SAO? POR QUE SAO?

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Imediatamente após o falecimento de Francisco, Freí Elias escreveu ao Provincial da Franca com grande alegría: "Anuncio-vos urna grande alegría, ou mesmo um novo milagre. Des de a origem do mundo, nunca se ouviu contar táo maravilhosa coisa, a nao ser do Filho de Deus, que é Cristo nosso Deus. Com efeito; muito antes da sua moríe, o nosso Pai e Irmáo apareceu crucificado, trazendo . em seu corpo as cinco chagas, que sao realmente os estigmas de Cristo: as suas máos e os seus pés tinham, por assim dizer, furos devidos a

pregos cravados na carne... ao passo que o seu costado parecía tersido golpeado por urna langa, deixando as marcas de sangue" (S. Boaventura, Legenda Maior Lectio tenia).

A noticia dos estigmas de S. Francisco é táo documentada por téstemunhas próximas ao fato que os críticos julgam nao os poder por em

dúvida. É, sim, possível discutir a configuracáo desses estigmas, pois os relatos nem sempre concordam entre si. É razoável, pois, acreditar que Francisco, ao contemplar assiduamente a Paixáo do Senhor, foi agracia

do com as chagas decorrentes dessa Santa Paixáo.

4.1.2. Santa Catarina de Sena (1347 - 1380) Parece que nao teve estigmas visíveis, mas chagas internas.

A biografía de Catarina foi escrita por testemunhas fidedignas, como por exemplo, o Bem-aventurado Raimundo de Cápua, confessor da San ta e, posteriormente, Mestre Geral da Ordem Dominicana; verdade é que a admiracáo de Raimundo por Catarina levou o biógrafo a certos exageros, mas julga-se que, em substancia, o que ele refere é fidedigno. Desde enanca, Catarina foi muito atraída por Jesús; retirava-se numa gruta para rezar a sos durante horas. Fez-se Irma da Ordem Terceira de S. Domingos, e teve visoes e éxtases que repercutiam sobre o seu corpo, o qual se enrijecia e até levitava. Recebeu estigmas internos, ou seja, as dores dos estigmas. Eis como o Bem-aventurado Raimundo o descreve na qualidade de testemunha ocular:

Catarina estava na cápela de S. Sixtina em Pisa. Recebeu a S. Comunháo e, como relatam as pessoas presentes na cápela, ela estendeu os bracos e as máos: ficou radiante de luz e caiu por térra, como se tivesse sido mortalmente ferida. Pouco depois recuperou os sentidos.

Entáo, conta o Bem-aventurado Raimundo, ela chamou seu confes sor, e em voz baixa Ihe disse: "Saiba, ó Pai, que pela misericordia de Deus, trago no meü corpo os estigmas de Jesús. Vi o Senhor pregado á Cruz: das cicatrizes de suas sacratíssimas chagas desceram cinco filetes de sangue, dirigidos respectivamente ás máos, aos pés e ao coracáo. Cíente do misterio, exclamei logo: 'Ah, Senhor meu Deus, eu Te peco que nao aparecam essas cicatrizes na superficie do meu corpo'. Enquanto eu 503

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o dizia, antes que os filetes chegassem a mim, a sua cor de sangue se transformou em cor refulgente, e, sob a forma de luz pura, chegavam aos cinco pontos do meu corpo, isto é, as máos, aos pés e ao coracáo". Perguntou-lhe entáo o Bem-aventurado Raimundo: "Nenhum filete chegou ao lado direito?". Respondeu ela: "Nao, mas sim ao lado esquer-

do, ácima do meu coracáo - aquela luz que saia do lado direito de Jesús, feriu-me diretamente". Continuou o Bem-aventurado Raimundo: "Sentes

dor nesses cinco pontos?". Ela, após profundo suspiro, respondeu: "É tal

a dor que sinto nesses cinco pontos, especialmente no coracáo, que, se o Senhor nao fizer outro milagre, nao me parece possível que eu possa subsistir, escapando da morte dentro de poucos días". Após a morte de Catarina, o Pe. Prior do Convento da Minerva escreveu ao Bem-aventurado Raimundo para dizer-lhe que ele e muitas outras testemunhas tinham visto as chagas no corpo da Santa por ocasiáo das suas exequias. Além disto, no pé de Catarina que se conserva em Veneza, se observa a marca das chagas: o mesmo se dá na máo da Santa que é guardada no Convento de S. Sixto em Roma. 4.1.3. Santa Verónica Giuliana (1660 - 1727) Era capuchinha. Foi canonizada por Gregorio XI. Desde crianca,

desejou imitar os mártires, que haviam sofrido por amor de Jesús. Recebeu os estigmas aos 5 de abril de 1697, no decorrer de longo éxtase. Essas chagas foram observadas pelo Bispo Mons. Eustachi, de Cittá di Castello, com quatro outras testemunhas e, mais tarde, por diversas Irmas Capuchinhas. O Pe. Tassinari, que acompanhou o Sr. Bispo, descreve:

"Mons. Eustachi observou e fez observar a todos nos as chagas das máos de Irma Verónica; na parte superior destas, havia urna ferida gran de como o calibre de um prego de tamanho medio ou do diámetro de um pequeño quattrino florentino: em cima de cada chaga, havia urna tenue crosta... Quanto á chaga do costado, á esquerda, seria urna ferida do

tamanho do dedo mindinho, larga no meio e pontiaguda ñas duas extre midades" (Sumario do Processo de Canonizagáo, p. 212). 4.1.4. Santa Gema Galgani (1878 - 1903) Desde menina, foi muito virtuosa: sofreu vicissitudes de familia. Experimentou disturbios psiconeuróticos, quando um jovem se enamorou déla, e quis pedi-la em noivado. As tías com quem ela morava, consideravam essa perspectiva com bons olhos, porque o rapaz era serio. Gema, porém, se recusava; sem saber como evitaría o passo, pedia a Deus que a ajudasse. Adoeceu gravemente, ficando desengañada. Mas foi curada imprevistamente após muitas oracóes.

Numa visáo apareceu-lhe Jesús Crucificado. Sentiu profundas do res. Diz ela: "As chagas de Jesús ficaram gravadas na minha mente de 504

OS ESTIGMAS: QUE SAO? POR QUE SAO?

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maneira táo viva que jamáis se apagaram". Após a S. Comunháo, certo dia, recebeu promessa de um grande presente. Avisou o confessor. O presente consistía nos estigmas, que se formaram nela enquanto contemplava Jesús com as chagas abertas: destas procediam raios de fogo, que atingiam os pontos correspondentes do corpo de Gema. Esses es

tigmas se abriam todas as semanas as 20 horas de quinta-feira e permaneciam abertos até as 15 horas de sexta-feira, derramando sangue. Uma vez terminado o fluxo de sangue, as chagas comecavam a se enxugar e fechar. No dia seguinte ou, ao mais tardar, no domingo, tudo estava fe chado e, no lugar dos estigmas, se observava uma mancha branca. 4.1.5. Frei Pió de Pietralcina (1887 - 1968)

Foi capuchinho. Durante cinqüenta anos, trouxe os estigmas: alguns desapareceram pouco antes da sua morte; outros, logo depois do seu

falecimento. - O caso tem sido estudado meticulosamente, pois é relati

vamente recente e sujeito a exames mais rigorosos do que os casos an teriormente registrados. Frei Pió era de saúde fraca, mas homem de grande bondade e virtude; a todos inspirava simpatía e confianca; as vezes passava quinze ou dezesseis horas por dia confessando e atendendo ao povo.

O primeiro especialista que examinou os estigmas de Frei Pío, foi o Prof. Bignami. Deu ordem para que se enfaixassem as feridas na presen9a de duas testemunhas e se lacrasse a bandagem. Durante oito dias sucessivos, todas as manhas eram trocadas as faixas. No oitavo dia, foram retiradas definitivamente as ataduras; o Pe. Pió celebrou entáo a S. Missa, verificando-se entáo que de suas máos jorrava tanto sangue que as testemunhas foram obrigadas a fornecer-lhe lencos para que as enxugasse. Alias, dia por dia, as chagas, ao serem descobertas, emitiam sangue. O Dr. Andrea Cardone, médico da familia de Frei Pió desde 1910, afirma que encontrou em ambas as máos do padre perfuracóes do diá metro de 1,5 cm; atravessavam a palma da máo táo profundamente que esta se tornava transparente para a luz.

Muitos médicos examinaram as chagas de Frei Pió, sem poder ave

riguar algum indicio de embuste, hipocrisia ou mentira. É o que leva a

crer que se trata de auténtico fenómeno suscitado pela graca de Deus. 4.2. Casos duvidosos e falsos

Sao muitos os casos de duvidosos e falsos estigmas. Relacionare mos apenas tres deles.

4.2.1. Santa Clara de Montefalco (1268 - 1308)

Dizem que nao teve propriamente estigmas, mas trazia em seu cor po os instrumentos da Paixáo do Senhor, encontrados ai em autopsia depois da morte. 505

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No día após os funerais fez-se a autopsia e diz-se que no coracáo da santa foram encontrados os cravos, a langa, o flagelo, um crucifixo de carne e ñervos.... Tal resultado, porém, é contestado, pois a autopsia foi realizada por urna Irma na presenca de outras Religiosas, que nada sabiam de anatomía.

Cré-se que interpretaram a estrutura interna do coracáo como se

fossem os instrumentos da Paixáo. Interpretado imaginosa, favorecida pela fantasía e a afetividade.

4.2.2. Margarida de Cittá di Castello (1248 - 1291) Algo de semelhante se relata a propósito desta Irma: objetos de piedade e tres pérolas teráo sido encontrados em seu coracáo - o que carece de documentacáo adequada. 4.2.3. Paulo Diebel Em 1928 na cidade de Paris foi descoberto o senhor alemáo Paulo Diebel.

Dizia que podía produzir á vontade lágrimas de sangue e estigmas.

Observado atentamente pelo Dr. Osty, foi desmascarado. O médico virou as pálpebras de Diebel e verificou que estavam cheias de pontadas de alfinete e, por isto, sangravam. Quanto aos estigmas, eram falsifica dos com o sangue de Diebel retirado de urna chaga de suas pernas.

APÉNDICE Dizíamos que o psíquico exerce influencia sobre o físico do indivi duo humano. Com outras palavras: todo fato psíquico (um pensamento, um desejo íntimo e oculto...) provoca um movimento do corpo humano. A fim de mais o evidenciar, sejam, a seguir, citados mais alguns significati vos exemplos: 1) Digamos que alguém quer atravessar um riacho passando por urna passarela frágil ou um tronco de árvore. Se essa passarela tem corrimáo, a pessoa passa fácilmente sem utilizar o corrimáo. Todavía, se nao há corrimáo, a pessoa perde o equilibrio e cai nagua. Por que cai, se, no primeiro caso, passou bem sem se servir do corrimáo? Eis a resposta: se

nao há corrimáo, a pessoa naturalmente senté inseguranca e concebe o medo de cair nagua; ora esse medo (sentimento íntimo) repercute no físico, provocando desequilibrio e a queda da pessoa. No caso de haver corrimáo, o passageiro se senté mais garantido e seguro; ora esse sen timento de garantía faz que tenha firmeza ñas pernas para nao cair nagua. 2) Tracemos um círculo sobre urna folha de papel, com urna grande cruz no centro do círculo. Depois tomemos um fio a prumo ou um péndulo e mantenhamo-lo suspenso sobre o círculo. Feito isto, fechemos os olhos e ponhamo-nos a pensar no círculo, com a máo imóvel sustentando o 506

OS ESTIGMAS: QUE SAO? POR QUE SAO?

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péndulo colocado sobre o círculo.... Dentro em pouco veremos que o péndulo comecará a girar sobre o círculo, pois a ¡magem do círculo entretida em nossa mente provocará o automatismo corpóreo ou a circulacáo visível; a energía da mente se traduz dessa maneira perceptível. Algo de análogo ocorre se, em vez de pensar no círculo, pensamos na cruz tragada dentro do círculo: o péndulo fará o movimento de cruz, por que a imagem mental repercutirá no físico do individuo. 3) Urna pessoa histérica passeia de noite, de um lado para o outro, em sua casa; tem urna vela acesa na máo. Ouviu dizer que nessa casa

há fantasmas noturnos, barulhos misteriosos e coisas semelhantes. Póe-

se entáo a pensar: "Se a vela se apagar, ficarei na escuridáo. Que medo horrível!". E eis que, estranhamente, no mesmo instante, a pessoa apa ga a vela. Como? Por qué? - Porque a imagem da vela que se apaga passou da mente para a corporeidade dessa pessoa, provocando a realizacáo concreta do ato vislumbrado mentalmente.

Observam os estudiosos que tal fato nao ocorre com qualquer indi viduo; supóe-se urna personalidade histérica ou, ao menos, alguém de fantasía muíto viva e vibrante, dotada de fraco senso crítico. 4) Coloquemos urna pessoa no centro de um espelho cóncavo. A certa distancia coloquemos outro individuo no centro de outro espelho cóncavo. Este segundo individuo poderá sentir o que o primeiro pensa, se as cordas vocais do primeiro estiverem exatamente no centro do es pelho cóncavo. O fenómeno se explica pelo fato de que as cordas vocais se movem, mesmo que imperceptivelmente, pronunciando as palavras que a pessoa pensa. O som levíssimo assim emitido pela pessoa do pri meiro espelho chega até o outro individuo porque os espeihos cóncavos aumentam o volume do som.

Deve-se observar que estes fenómenos de automatismo ou de reflexo do psíquico sobre o físico explicam fatos aparentemente misterio sos e, por isto, atribuidos a espíritos do além. Tal é o caso, entre outros, da chamada "escrita automática" ou psicografia. - Eis o que se dá com o psicógrafo: ele se sugestiona, consciente ou inconscientemente, no sen

tido de que está para receber o espirito de urna pessoa "desencarnada";

nao raro o psicógrafo conhece esse espirito "desencarnado" (pode ser

um grande escritor ou um grande vulto do passado...). No momento em que o psicógrafo julga que está baixando o espirito com sua mensagem, a máo do psicógrafo póe-se a escrever automáticamente, como se estivesse sendo guiada pelo espirito do além... Escreve aquilo que o seu

inconsciente conhece a respeito do desencarnado; freqüentemente ele toma conhecimento do "desencarnádo" lendo inconscientemente, no in consciente de quem o consulta, as noticias que Ihe sao assim oferecidas. A mensagem pode ser muito bela e confortadora, mas ela certamente nao provém do além; ela sai do inconsciente do psicógrafo sugestionado. 507

Aínda no Plano do Extraordinario:

TRANSE E ÉXTASE: QUE SAO? Em síntese: O éxtase é um estado de contemplagáo de Deus táo intensa que as outras fungóes da alma humana se retraem ou atenuam. A consciéncia se encontra em superconcentragáo, pois a verdade se Ihe

torna mais luminosa e o bem mais atraente do que de costume. A pessoa extática fica imóvel, perde quase totalmente a sensibilidade, adquire uma expressáo de felicidade e bem-estar. Nao pode o éxtase ser provocado; é muitas vezes a consumagáo de uma vida ascética ou austera, empe-

nhada em mortificar as paixóes desregradas.

A santidade nao está necessariamente ligada a éxtases. Estes vém a ser uma graga especial, um antegozo da bem-aventuranga celeste, que nao pode ser descrito em linguagem humana (tí 2Cor 12,2-4; 1 Cor 2,9). Quanto ao transe, é um estado psicológico de apagamento total ou parcial do consciente, que dá lugar ao aparecimento de manifestagóes próprías do inconsciente; é um procedimento humano, e nao uma graga mística. *

*

*

O transe é fenómeno assaz comum ñas sessóes espiritas e umbandistas. O éxtase tem semelhanca com o transe e ocorre na Igreja Católi ca. Daí a conveniencia de se caracterizar claramente um e outro fenóme no para se evitar o sincretismo religioso. Comecaremos por examinar 1. O Transe

O transe é um estado psicofisiológico particular, semelhante ao sonó,

em que se tem um total ou parcial apagamento do consciente e o apare cimento de manifestagóes próprias do inconsciente. O eletroencefalograma, porém, continua tendo características próprias do estado de vigilia. Distinguem-se transe mediúnico e transe hipnótico.

1) O transe mediúnico é induzido ou por auto-sugestáo (o médium ou o Pai-de-Santo julga receber um espirito que o domina) ou por estí mulos rítmicos monótonos (batuque, refráo de uma cantilena...), esgotamento físico, tensáo emotiva, estado de expectativa...

Com outras palavras: a auto-sugestáo é aquela sugestáo que o in

dividuo realiza sobre si mesmo. A pessoa eré em algo que nao existe ou eré num objeto real ou num acontecimento real, atribuindo-lhe, porém, particu laridades irreais ou ficticias. Essa crenca nao decorre de raciocinio; carece 508

TRANSE E ÉXTASE: QUE SAO?

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de senso crítico; é freqüentemente acompanhada de dissociacáo da consciéncia, de modo que o individuo, privado de sua lucidez habitual, exerce funcóes instintivas, automáticas,... que nao exerceria em caso de lucidez.

A auto-sugestáo ocorre com freqüéncia entre povos primitivos ou em enancas, em pessoas mentalmente retardadas como também pode

acontecer em pessoas normáis e sadias como conseqüéncia de cansa50, fortes emocSes, depressao nervosa, distracóes...

O transe derivado de auto-sugestáo geralmente supóe concentra-

gao ou preparacáo psicológica mais ou menos Ionga. Ás vezes depende de predisposicáo hereditaria.

2) O transe hipnótico é geralmente devido á sugestáo induzida por um hipnotizador.

Tanto o transe mediúnico como o hipnótico tém efeitos comuns: - quem volta do transe para a normalidade, nao se recorda do que disse ou fez durante o transe; nao se lembra do que "o espirito Ihe inspirou ou disse";

- o corpo em transe torna-se insensível;

- registra-se, durante o transe, aumento das pulsacóes (entre 70 e 120 ás vezes), diminuicao do ritmo respiratorio (pode chegar a 12 por minuto), esfriamento das máos e dos pés; - ao despertar do transe, a pessoa pode sentir náuseas e vertigem. Experimenta cansaco.

Passemos agora á análise de

2. O Éxtase 2.1. Que é o Éxtase? A palavra éxtase vem do grego ex-stasis = estar tora de si.

Significa, na linguagem teológica católica, o arrebatamento do espi

rito frente a algo de extraordinario, que Ihe absorve a atencáo. É a expe

riencia de estar em contato espiritual com um ser transcendente ou com o próprio Deus.

O éxtase místico é caracterizado por imobilidade quase absoluta, pelo enfraquecimentó ou pela perda total da sensibilidade, pela diminuicáo das funcóes vegetativas (respiracáo, circulacáo...), por urna expressáo de profunda felicidade (fisionomía extática), por um sentimento de bem-estar ou, raramente, por sentimento de dor. O éxtase pode ser acompanhado de arrebatamento ou levitacáo. Nao acarreta perda de memoria. 509

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Em poucas palavras, o éxtase místico consiste na intensificacáo de urna determinada funcáo, com atenuacáo de outras funcóes: o amor a Deus se torna táo intenso que o espirito Ihe aplica todo ou quase todo o seu dinamismo e se retrai de outras funcóes. A consciéncia se encontra num estado de superconcentracáo, pois a verdade se torna mais lumino sa e o bem mais atraente do que de costume. Tal estado de alma impele a pessoa ao exercício da caridade e da bondade. O Papa Bento XIV (1740 -1758) se dedicou especialmente ao estudo dos fenómenos místicos ou resultantes de mais íntimo contato com Deus. Deixou a famosa obra De Servorum Dei Beatificatione (Sobre a

Beatificado dos Servos de Deus), na qual estipula os seguintes sinais para que se possa ter o éxtase como genuino fenómeno místico: a) nao preceda nenhuma enfermidade nem alguma outra causa meramente natural que o possa ter produzido; b) nao se reproduza com periodicidade fixa; c) nao ofusque nem obscureca o intelecto;

d) nao provoque o esquecimento de coisas passadas e, em particu lar, das coisas ditas e ouvidas durante o éxtase. O esquecimento, no

caso, é tido como prova de éxtase nao auténtico. Na verdade, pode haver um éxtase doentio, derivado de disturbios afetivos, conflitos íntimos, frustracóes, abuso do álcool, emprego de dro

gas, epilepsia... É acompanhado de alucinacóes, delirios, fantasía (= sonho de olhos abertos)...

Em certos casos, principalmente quando se trata de pessoas religio sas, mas psicópatas, torna-se difícil distinguir o éxtase auténtico do doentio. O Dr. Janet descreve o seguinte fenómeno ocorrido com a Sra. Madeleine: Madeleine colocava as máos juntas sobre o peito ou abría os bracos

como se estivesse crucificada ou se deixava ficar tranquilamente como que adormecida. O importante é que ela nao reagia aos estímulos corri-

queiros; nao obedecía, nao respondía e nao se acordava quando provo cada; nao somente estava enfraquecida em sua capacidade de replicar, mas a perderá por completo. Apenas urna excecáo se registrava, a sa ber: quando o médico Ihe dava ordens, todas as funcóes psicológicas internas se avivavam e desenvolviam bem; depois que acordava ou mesmo quando se atenuava o éxtase, Madeleine ficava recolhida. Ela podia narrar ou escrever tudo o que havia pensado e as alegrías que experi mentara, como também o que acontecerá em torno déla... Certa vez o médico tocou-lhe um dos dedos, pós-lhe um objeto na máo, disse-lhe dois números e pediu-lhe que os somasse, murmurou-lhe no ouvido urna 510

TRANSE E ÉXTASE: QUE SAO? sílaba sem significado. Quase sempre, ao despertar, ela contava ao Dr. Janet o que ele Ihe havia dito.

Tal caso nao é de éxtase, mas de transe hipnótico, embora com aparéncias religiosas, pois Madeleine obedecía automáticamente as ordens do médico, que fazia as vezes de hipnotizador.

Nao se pode excluir, porém, que pessoas neuróticas, mas sincera mente piedosas, tenham auténticos éxtases místicos. Para distinguir e caracterizar o éxtase no caso, é preciso levar em conta nao somente a conduta geral do individuo extático, mas também, e principalmente, o objeto que absorve tal pessoa e a poe em estado de concentracáo, como também o comportamento da mesma após o éxtase.

2.2. Significado do Éxtase Pergunta-se agora: Qual o valor e qual o significado do auténtico éxtase místico? - O éxtase místico nao é um fenómeno necessário nem mesmo nos elevados graus de santidade. O extraordinario fica sendo sempre urna excecáo. Como quer que seja, quando Deus permite o éxtase, permite a exteriorizacáo do profundo amor da criatura ao Senhor; Este se revela mais nítidamente á pessoa fiel, permitindo que ela se deixe absolver de maneira mais radical pela contemplacáo da santidade e da perfeigáo di

vinas. Como se compreende, nao se trata da visáo de Deus face-a-face (reservada para o céu), mas de um olhar da mente mais penetrante so bre o Infinito de Deus. Quem é agraciado com tal olhar, nao consegue descrever com precisáo o que viu durante o éxtase, pois a linguagem humana é inadequada para relatara experiencia de Deus mais aprofundada. Alguns Santos gozaram de tal privilegio contemplativo (assim Sao Paulo, S.

Agostinho, Sta. Catarina de Sena, a Bem-aventurada Ángela de Foligno...);

referiram-se a tal graca, afirmando que nao Ihes era possívei exprimir o que

haviam experimentado naqueles momentos extáticos ou momentos de ultrapassamento do humano para usufruir, mais de perto, da presenca de Deus. Sao Paulo, por exemplo, afirma que foi elevado místicamente até "o terceiro céu" (2Cor 12,2-4) e se refere aos tragos característicos desse enlevo: aparente separacáo de corpo e alma', arrebatamento ao paraí1 Efe o texto paulino: "Mencionare! as visdes e revelacóes do Senhor. Conhego um homem em Cristo que, há quatorze anos, foi arrebatado ao terceiro céu - se em seu corpo, nao sei; se tora do corpo, nao sei; Deus o sabe! E sei que esse homem - se no corpo ou fora do corpo, nao sei; Deus o sabe! - foi arrebatado até o paraíso e ouviu palavras inefáveis, que nao é lícito ao homem repetir".

É de notar que a alma nao se pode separar do corpo sem que este morra, pois a alma

é o principio vital sem o qual o corpo nao tem vida. A alma nao vagueia fora do corpo. 511

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so, palavras ¡ndizíveis ou irrepetíveis, mas frisa bem que só na outra vida será dado ao homem gozar daquilo que os olhos jamáis viram e os ouvidos jamáis ouviram (cf. 1 Cor 2,9).

S. Agostinho (t 430), por sua vez, relata o "éxtase de Ostia", que Ihe foi dado experimentar juntamente com sua máe Santa Ménica pouco antes que esta falecesse. O texto é um tanto longo, mas altamente signi ficativo:

«Pouco antes de morrer - nao sabíamos entáo que a sua morte fosse ¡mínente -, encontrávamo-nos os dois a sos, apoiados numajanela que dava para um jardim interior da casa onde morávamos. Era em

Ostia. Agora que pensó nisso, vejo nesse encontró a máo de Deus. Ali estávamos, longe das pessoas, ela e eu, depois de urna viagem longa e

fatigante, repondo as forgas para iniciar a travessia para a África.

Comegamos a conversar tranquilamente, esquecendo-nos das coi sas passadas e pensando somente no porvir. Perguntávamo-nos como seria a vida eterna dos santos, da qual o Apostólo diz que nem olho algum viu, nem ouvido algum ouviu, nem passou pelo coragáo do homem o que será. Voltávamos o nosso coragáo para a ¡mensa catarata da fonte da vida que está em Deus, para que, inundados pela sua agua, pudéssemos entender alguma coisa de urna realidade táo grande. Conclu ímos que o maiorprazer dos sentidos nao pode nem merece ser compa rado com o que deve ser a felicidade eterna.

Cada vez mais entusiasmados, percorremos gradualmente todos os seres criados, até ascendermos ao céu, donde o sol e a lúa enviam os seus raios á térra. E aínda nos elevamos mais: talando das obras de Deus e admirando-as, chegamos até as nossas próprias almas; passamos além, e continuamos a subir, até chegarmos a essa regiáo da abundancia sem fim, onde Deus apascenta eternamente Israel com opastio da sua Verdade. Ali a vida é essa Sabedoria pela qual todas as coisas sao, tanto as que foram como as que serio; sem que ela própria se faga a si mesma, pois é como sempre foi e sempre será; é até melhor dizer que nela nao há foi nem

será, mas somente é; porque é eterna, e foi e será nao sao eternos. Enquanto assim falávamos e suspirávamos pela Sabedoria, quase chegamos a alcangá-la, num ímpeto do nosso coragáo. Mas logo depois,

melancólicamente, deixamos esses dons do Espirito e voltamos ao váo ruido das palavras de cada día -palavras que comegam e que terminam, e que em nada se assemelham á Palavra de Deus, Senhor nosso, que é em si mesmo, que nunca envelhece, antes rejuvenesce todas as coisas. Dizíamos: suponhamos que haja alguém em quem emudega o désejo da carne, bem como as muitas fantasías e imagens da térra, da agua e 512

TRANSE E ÉXTASE: QUE SAO?

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do ar; em quem se calem os céus, e a própria alma silencie e suba para além de si mesma, esquecida de si; em quem emudegam os sonhos e as invengdes da imaginagáo; em quem, por último, se calem completamente todas as vozes, todos os gestos, tudo o que, para suceder, precisa do tempo - pois todas essas coisas dizem a quem as escuta: 'Nao nos fizemos a nos mesmas, fez-nos Aquele que permanece eternamente'. Se, depois de tudo isto, todas as coisas se calassem e escutassem Aquele que as fez, e só Ele falasse - nao através délas, mas diretamente, de modo que a sua palavra fosse pronunciada, nao através de vozes

humanas, nem de anjos, nem de tronos, nem de enigmas que é preciso interpretar, mas por Ele próprio... Se, como agora, espiritualmente eleva dos e com o pensamento posto na Sabedoria eterna, esta contemplagáo perdurasse, e cessassem todas as visóes que nao se referissem a Deus, e somente a dEle nos atraísse, absorvesse e abismasse na alegría mais íntima, de maneira que a vida fosse sempre como esse momento de visáo total pelo qual suspiramos: nao seria isto aquele entra no gozo do teu Senhor?

Falamos de tudo isso, embora nao com estas palavras nem do mesmo modo. E á medida que falávamos, todas as coisas deste mundo nos pareciam sem importancia. E minha máe disse-me entáo: - 'Quanto a mim, meu filho, já nao desejo nada desta vida. Nád tenho nada a fazeraqui, nem seipara que continuo vivendo;já nao espero nada deste mundo. Havia urna coisa pela qual desejava viver um pouco mais, e era ver-te cristáo e católico antes de morrer. Deus já mo concedeu, mais do que esperava, poisjá te vejo afastado das pobres satisfagdes mundanas e servindo a Deus. Que fago aquiainda?'» (Confissdes I. IX).

Observe-se ainda que, conforme os místicos, o éxtase sobrevém sem que o individuo o espere e tente provocar. Pode ser de breve duracáo, como também pode durar um pouco mais; como quer que seja, é

sempre algo de passageiro. É o termo consumado a que pode levar urna vida de ascese e purificacáo; o asceta é alguém que escolhe deliberada mente um género de vida austera, apto a dominar e amortecer as paixóes desregradas mediante o exercício de vontade enérgica sustentada pela graca de Deus.

Em suma, o éxtase é urna graca especial, que nao caracteriza necessariamente a santidade. O que define esta última, é o ardente amor a

Deus, que leva á contemplagáo e á experiencia do Senhor, sem que tal estado íntimo se traduza obrigatoriamente em efeitos corporais.

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Que será?

"OUQO VOZES DO ALÉM QUE ME ATORMENTAN!..."

Em síntese: Os demonios e espirites desencamados nao tém corpo nem boca para falar; por conseguinte as vozes aterradoras nao vém da parte deles, como julgam muitas pessoas angustiadas, e tanto mais angustiadas quanto mais procuram afastar os "espíritos maus". O demo nio existe, sim, mas nao é o autor de todos os fenómenos extraordinarios que ocorrem ao homem. As vozes atribuidas aos demonios e maus espí ritus sao portanto fenómenos meramente subjetivos ou alucinagóes. Alucinagáo é a percepgáo do que nao existe; é urna falsa percepgáo. Está associada ao estado de ánimo do individuo ou ao consumo de

drogas. O cansago, o tedio, a exaustáo física e psíquica podem produzir alucinagóes visuais, auditivas, olfativas, gustativas e tácteis, de acordó com as preocupagóes ou aspiragóes do individuo. Há alucinagóes cons cientes e outras semiconscientes. A pessoa que nao tem nogáo de estar vendo o irreal, já se acha predisposta a um estado patológico.

Há pessoas que dizem ouvir vozes do além, que as atormentam. Julgam tratar-se de demonios ou de espíritos desencarnados que ¡nfestam a vida dos mortais na térra. E pedem socorro! Mandaram celebrar Missas, fizeram novenas, trezenas... para se livrarde tais agressóes, mas nada conseguiram; ao contrario, quanto mais rezaram, tanto mais se sentem perseguidas. Daí a pergunta: que será? Como explicar o fato?

Proporemos ao quesito urna resposta negativa, á qual se seguirá outra, de índole positiva. 1. A Resposta Negativa As vozes que atormentam, nao podem provir de espíritos desen carnados nem de demonios, pois estes nao tém corpo nem boca para falar: nao podem articular sons. Tais vozes, como diremos a seguir, sao projecoes subjetivas do inconsciente da pessoa "ouvinte"; nada tém de

transubjetivo. - Se, porém, a pessoa eré que se trata de maus espíritos e pede a Deus que a livre dos mesmos, ela se estará mais e mais persuadindo de que é infestada por maus espíritos e estará mais sujeita a projetar ou imaginar tais vozes a Ihe falar. O que tal pessoa deve pedir a Deus, é paz, saúde, bom ánimo, nao, porém, a expulsáo de espíritos maus (que nao sao a causa do fenómeno). 514

"OUgO VOZES DO ALÉM QUE ME ATORMENTAM..."

35

Verdade é que na vida de Santa Joana d'Arc e de outros Santos se diz que ouviram vozes do além. Notemos, porém: eram vozes recontó dadoras e amigas, nao hostis. Deus pode, em casos muito espe ciáis, permitir que alguém faga a experiencia subjetiva de vozes frater-

nais, a fim de estimular e levar a pessoa em foco á prática do bem. Isto,

porém, é raro. O fenómeno há de ser cuidadosamente examinado, para que nao se confunda expressáo do psiquismo humano com intervencáo do além. Positivamente talando, o caso analisado é o de alucinacáo auditiva.

Vejamos, pois, o que se entende por alucinacáo.

2. Alucinacáo: que é? 2.1. Significado e modalidades

Alucinacáo é urna percepcáo sem objeto ou meramente subjetiva.

É urna falsa percepcáo ou aínda é urna projegáo da fantasía, que repre senta como existente o que nao existe.

A pessoa alucinada pode estar fortemente convencida de que está

realmente percebendo como existente o que nao existe, ou o que é ape nas fruto da sua imaginacáo. Se a alucinacáo desenvolve um enredo prolongado, chama-se deli rio. Todos os sentidos podem ser sujeitos de alucinacáo: existem aluci-

nacoes visuais, auditivas, olfativas, gustativas e tácteis... As alucinacóes podem ser simples, como rumores, assovios, vozes aterradoras ou consoladoras, toque de sirene, barulho de carros que passam, de gente que desfila... O conteúdo das alucinacóes depende muito do estado de ánimo do

individuo, ou seja, liga-se as idéias, aos desejos, as preocupacóes da pessoa alucinada; por isto tanto podem servir para o reconforto como para o apavoramento.

Quando a alucinacáo é provocada por substancias tóxicas, é possível identificar o tóxico através do tipo de alucinacáo, pois o álcool, a co caína, a morfina, a mescalina produzem imagens específicas, que revelam o tipo do tóxico originante.

Eis um exemplo de alucinacáo provocada pelo opio: Um fumante de opio imaginou estar dormindo; de repente ter-se-á acordado. Apalpando em torno de si na escuridáo da noite, sentiu algo de frío e duro: era um cadáver. Sem se amedrantar, tomou o morto em 515

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

seus bracos e o levou para o quarto vizinho; fechou a porta, trancou-a á chave e voltou a deitar-se em sua cama. Mal havia adormecido, ouviu um

rumor que o despertou. A porta se abriu e o cadáver tornou a entrar no quarto, cambaleando como se por tras da carne Ihe faltasse a ossatura.

Dirigiu-se para a cama do parceiro deitado e, sem dizer palavra, se estendeu com todo o seu peso sobre o infeliz vidente: este sentiu passar pelo

seu rosto a barba e os cábelos do morto como também o seu hálito cadavé rico. Ver F. Salis-Seewis, Visioni e allucinazioni. Preto 18922, p. 111. Este é um exemplo de alucinacáo visual e táctil. 2.2. Alucinacoes conscientes e inconscientes Nao é raro que a pessoa alucinada se torne consciente da inconsis tencia de sua percepcáo ou, ao menos, duvide daquilo que ela percebe. Silvio Pellico (1789 - 1854) foi um patriota italiano que passou dez

anos (1820 - 1830) num cárcere da fortaleza austríaca de Spielberg; sofreu horrivelmente, como ele mesmo descreve na obra Le Míe Prigioni (1832). Desgastado pelo cansaco e o tedio, teve também alucinacoes conscientes, que relata nos seguintes termos:

"Parecia-me, embora estivesse acordado, que ora ouvia gemidos no meu cárcere, ora ouvia risadas contidas. Desde a infancia, nunca acreditei em bruxas e duendes, mas na prisáo aqueles gemidos e aquetas risa das me apavoravam; eu nao sabia como os explicar, de modo que eu era levado a perguntar se nao estava sendo infestado por potencias malig nas desconhecidas. Muitas vezes acendi, tremendo, a lamparina e gritei

indagando se nao havia alguém debaixo da cama a cagoar de mim. Sentado a mesa de leitura, parecia-me que alguém me estava pu-

xando pela roupa ou que estavam empuñando um livro de modo a fazé-

lo cair no chao ou aínda parecia-me que um individuo atrás de mim esta va soprando no fogo da lamparina para apagá-lo. Entáo eu me levantava e pulava, olhava em torno de mim, circulava desconfiado pelo recinto e perguntava a mim mesmo se eu tinha enlouquecido ou se estava com a mente lúcida" (Le Míe Prigioni, Torino SEI 1943, pp. 132s).

É de notar que Silvio Pellico nao estava adormecido no caso, mas em vigilia sofría veemente alucinacáo devida ao desgaste físico e psíquico.

Interessantes sao também as alucinacóes de espelho, que podem ser reconhecidas como tais pelos videntes. Em tal caso, o alucinado vé a si mesmo como se fosse outra pessoa. Alias, já o filósofo Aristóteles (t 322 a.C.) referia o episodio de um homem que, ao sair a passeio, via diante de si a sua própria imagem. Eis dois outros episodios dignos de nota: 516

"OUgO VOZES DO ALÉM QUE ME ATORMENTAM..."

37

O poeta alemáo Johann Wolfgang von Goethe (1749 - 1832) refere que, enquanto certa vez andava a cávalo levando na cabeca tristes pen-

samentos, teve a visáo de outro cavaleiro que Ihe vinha ao encontró e, coisa ¡mpossível, aquele estranho era ele mesmo. Entáo Goethe sacudiu a cabeca para dissipartal imagem, mas ¡mediatamente viu que essa mesma imagem, em vez de desaparecer, se Ihe aproximava mais aínda. - Ao contar o fato mais tarde, Goethe reconheceu que nao se tratava de algo posto tora dele, visto pelos olhos do seu corpo, mas sim de urna imagem mental; cf. Aus meinem Leben. Dichtung und Wahrheit, 1808. Coisa semelhante aconteceu a Guy de Maupassant (1850 - 1893), romancista francés. Era genial, mas tinha momentos de patología mental.

Um día, quando se achava sentado á mesa de trabalho, num quarto si lencioso em que nao havia pessoa estranha, Maupassant ouviu a porta abrir-se e virou-se para ela angustiado. Qual nao foi a sua surpresa ao ver a copia dele mesmo! Esse personagem sentou-se diante de Maupassant e Ihe ditou, a quanto parece, tudo o que ele devia dizer. Cf. A. Munthe, citado por J. Lhermitte, Les hallucinations. Clinique et Physio-pathologie, 1951. Aínda outros episodios desse tipo se encontram na literatura res

pectiva. Verdade é que muitas vezes as pessoas alucinadas nao se dáo conta ¡mediatamente da inconsistencia de suas percepcóes; difícilmente acreditam em quem Ihes chama a atencáo para as conclusóes da moderna ciencia parapsicológica. Associando idéias, fazemos agora mencáo de 2.3. Alucinagóes coletivas

Em períodos de intenso sofrimento ou de exaltacáo de ánimos em grupos fanáticos, podem ocorrer alucinacoes coletivas ou epidemias

alucinatórias. Exemplo típico é o seguinte: Certa vez, numa nave inglesa um marujo viu urna prancha de madei-

ra flutuar sobre as aguas do mar. Imaginou logo que fosse o fantasma de um companheiro morto e jogado ao mar havia poucos dias. Pós-se entáo a descrever com vivacidade o que vira, de modo que os colegas de tripu-

lacáo acudiram para ver o fantasma descrito. Eis, porém, que, quando se aproximaran! da tábua flutuante, perderam qualquer ilusáo a respeito, pois perceberam que nada de extraordinario havia ai. Pode-se crer que na Idade Media, quando os homens viam bruxas ou "mulheres infestadas pelo demonio", havia alucinacáo coletiva. Após a segunda guerra mundial (1939 - 1945), violenta como foi,

deíxando enormes estragos materiais e moráis, foram freqüentes os ca517

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

sos de alucinacáo coletiva. As pessoas traumatizadas viam coisas

alvissareiras, que respondiam aos seus anseios; melhor dizendo:... projetavam, como se estivessem vendo, mensagens de consolo e reconstru-

cáo... Tornou-se famoso o caso de Marta de Bolsena (Italia), que dizia ter visóes de Nossa Senhora em determinada gruta; as suas narrativas en-

contraram crédito em cerca de trinta pessoas, que julgavam, também elas, ter visóes e, quando o imaginavam, entravam em éxtase: esse éxtase podía ocorrer quando caminhavam pelas estradas; entáo ¡am, como se fossem sonámbulas, para a gruta das aparicóes. O seu semblante ficava tenso, apavorado; nao pronunciavam frases completas, mas exclamacóes. Agitavam-se violentamente, batendo com o rosto por térra,

sacudiam os bracos emitiam sons estranhos.... O fenómeno foi observa do por psicólogos e profissionais especializados, que chegaram á suspeita de que os fatos eram, ao menos em parte, dirigidos e comandados como peca teatral. Como quer que seja, a sugestáo ou a persuasáo sub

jetiva de que havia aparicóes era capaz de provocar toda urna encenacáo e profundos transtornos psicológicos ñas pessoas afetadas. Estas observacóes estáo longe de significar que todas as narrativas

de aparicáo sejam falsas; apenas contribuem para recomendar cautela e prudencia diante de casos portentosos. Os especialistas, em seu diagnóstico e sua experiencia, acreditam que as alucinacoes permanentes e resistentes a qualquer terapia ou psicoterapia sao síntomas de estado mental doentio. Com efeito; as pes

soas sadias, cedo ou tarde, se dáo conta do caráter subjetivo das suas alucinares. Quem nao se torna consciente disto, vive num estado de

delirio continuo e anormal. A causa desse estado pode ser urna doenca nervosa, como a histeria, a epilepsia, a encefalite crónica, o uso de dro gas e o recurso a narcóticos.

Também se observa que as alucinares provém muitas vezes de forte sugestionamento ou de grande expectativa, que deixa os ánimos excitados; essa expectativa gera a imagem ou o som que a pessoa espe ra. Urna pessoa alucinada pode contagiar outras, dando origem a aluci nacáo coletiva. Estes dados de psicología e parapsicología sao úteis para a explica-

cáo dos fenómenos espiritas de materizalizacáo dos espíritos, aparicóes

de defuntos, visáo extracorpórea (alma "que sai do corpo" e tudo vé " lá de cima"), etc.

518

Colegio Fundamentalista:

"CHAMADA DA MEIA-NOITE'

Em síntese: A córtente "Chamada da Meia-Noite" é de índole pro

testante, desligada de qualquer denominacáo do protestantismo. Pode ser definida como "fundamentalista", isto é, como intérprete literal do tex to bíblico, rejeitando os subsidios verídicos que a ciencia contemporánea oferece para mais profunda compreensáo do texto sagrado. Conseqüentemente fenómenos extraordinarios (como os OVNIs) e os desvíos doutrinários (seitas e correntes tidas como heterodoxas) sao atribuidos aos anjos maus ou demonios. Esta mentalidade se traduz numa colecáo de livros intitulados "Os Fatos sobre..." da autoría de John Ankerberg e John Weldon, que tratam de criagáo e evolugáo, OVNIs, Anjos, Espíritos-Guias, Nova Era, Jesús o Messias, Movimento da Fé... livros dos quais as páginas seguintes comentam os tópicos principáis.

Existe urna corrente protestante intitulada "Chamada da Meia-Noi te", desligada de qualquer outra corrente do protestantismo, que se iden tifica nos seguintes termos:

" 'Mas, á meia-noite, ouviu-se um grito: Eis o noivo! Sai ao seu encontró' (Mt 25,6).

A 'Obra Missionária Chamada da Meia-Noite' é urna missáo sem fins

lucrativos, que eré em toda a Biblia como infalível e eterna Palavra de Deus (2 Pe 1,21). Sua tarefa é alcangar todo o mundo com a mensagem de salvacáo em Jesús Cristo e aprofundar os crístáos no conhecimento da Palavra de Deus, preparando-os para a volta do Senhor». Essa Sociedade publicou sete livros que exprimem o pensamento

fundamentalista respectivo: a Biblia é interpretada ao pé da letra em qual quer de suas páginas, sem consideracáo dos géneros literarios que a compóem. A presenca do demonio é denunciada em diversos fenóme nos da vida contemporánea, de modo que o leitor se pode sentir pressionado pelos anjos maus nao somente quando se Ihe fala de ecología,

discos voadores, evolucáo das especies..., mas também quando se faz urna pregacáo bíblica nao condizente com as interpretares fundamentalistas da "Chamada da Meia-Noite". Ñas páginas subseqüentes passaremos em revista os principáis tó picos da colecáo "Chamada da Meia-Noite", que tem por autores John Ankerberg e John Weldon. - A respeito de Fundamentalismo, ver PR 519

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

421/1997, pp. 276-283. O presente artigo oferece espécimens concre tos dessa corre nte. 1. Os Discos Voadores

1. Para os dois autores em pauta, o fenómeno dos discos voadores é inegável. Citam numerosos testemunhos da existencia dessa realidade misteriosa. Tais testemunhos permitem classificar os tatos em sete cate gorías de crescente densidade: VD (VisÓes Distantes): observacáo de luzes estranhas no céu; Cl-I (Contatos Imediatos de 19 Grau): visáo de um disco voador (OVNI, Objeto Voador Nao Identificado) com ou sem tripulantes a 150 m mais ou menos;

Cl-ll (Contatos Imediatos de 29 Grau): os OVNIs deixam efeitos físi cos no ambiente (marcas de aterrissagem, galhos quebrados...);

CI-III (Contatos Imediatos de 3g Grau): os OVNIs aparecem com tri pulantes bem próximos ou mesmo em térra; CI-IV (Contatos Imediatos de 4S Grau): os tripulantes dos OVNIs pra-

ticam supostos seqüestros, levando á torga para bordo pessoas com as quais realizam experiencias de comunicacáo ou coisas semelhantes; Cl-V (Contatos Imediatos de 5S Grau): é o caso das pessoas que afirmam estar em contato pessoal com entidades espaciáis mediante meios ocultos;

CI-VI (Contatos Imediatos de 6S Grau): ocorrem quando há ferimentos ou mortes resultantes de um encontró pessoal com OVNIs. 2. Após expor esses conceitos correntes, J. Ankerberg e J. Weldon

propóem sua tese: afirmam que nao se trata de ¡ntervencóes do além nem de ilusóes óticas, mas de auténticos fenómenos provocados pelos demonios. Julgam poder argumentar assim, com a Biblia ñas máos: "Varias passagens da Escritura podem dizer alguma coisa a respeito do fenómeno OVNI. Por exemplo, a Biblia ensina que nos últimos tempos Satanás vira sobre o mundo com 'todo poder e sinais e prodigios da

mentira' e que Deus permitirá grandes sinais do céu (2Ts2,9s; Le21,11). Um fenómeno como OVNIs satánicos pode ser entao esperado á medida que a nossa era chega ao fim. Efésios 2,2 se refere a Satanás quando fala do 'principe da potestade do ar'" (p. 71). 3. E por que os demonios produzem tal fenómeno?

A resposta se acha ás p. 58s do livro: «Milhares de individuos estáo desejosos de entrar em contato com urna civilizagáo vastamente superior do espago, na esperanga de que ela 520

"CHAMADA DA MEIA-NOITE"

possa resolver os problemas do mundo e terminar a guerra, a pobreza e tudo o mais de que ninguém gosta. Inclusive, alguns de nossos políticos

e estadistas tém esse anseio. Assim nao é surpresa que os demonios, cujo principal objetivo é o engaño espiritual (afastar as pessoas de Deus), se aproveitem dessa esperanga e busquem perverté-la. Considere o seguinte:

Urna das principáis influencias culturáis dos OVNIs é destruir a fé na Biblia. Os fenómenos OVNI defendem o mito da evolugáo naturalista... e

a idéia de que o homem pode se aperfeigoar finalmente a si mesmo, separado de Deus. Para muitos, a crenga nos OVNIs substituiu a fé pessoal em Deus, urna vez que as entidades OVNI os encorajam a olhar para os céus (ou para os alienígenas) a fim de obter sua salvagáo indivi dual e coletiva. Os encontros com OVNIs também promovem o ocultismo e expandem o seu territorio sob um disfarce novo e inesperado. Para outros ainda, o fenómeno OVNI torna a Biblia anacrónica e destrói a sua autoridade, relegando-a a um nivel de literatura terrena bastante primitiva. Os fenómenos OVNI tendem a depreciar o lugar da humanidade

no Universo, de sua altura bíblica para algo muito inferior. O homem nao é mais a coroa da criacáo de Deus e aquele porquem Cristo morreu. Em vez disso, é urna especie de criatura infinitamente inferior- urna especie inferior entre provavelmente bilhóes de especies mais avangadas no Universo. Muitos teoristas extraterrenos colocam entáo o homem como um ponto infinitamente pequeño num Universo infinitamente vasto, cuja úni ca e legítima esperanga de sobrevivencia é entrar em contato com urna forma de vida muito mais evoluída. Mas o resultado final é diminuir o valor do homem, a idéia dele ter sido feito á imagem de Deus, e a importancia

do fato de que o próprio Deus se tornou homem pela encarnagáo. Isso tende também a depreciar o conceito da expiagáo e redengáo crista de um modo complexo demais para ser discutido aquí». 4. Que diz a fé católica a respeito? Na verdade, a fé católica julga que a questáo dos discos voadores e de habitantes em outros planetas é estritamente da aleada da ciencia.

Toca aos pesquisadores investigar a índole dos fenómenos apontados: seráo movidos por causas extra-terrestres ou nao? A fé aceitará qualquer conclusáo comprovada: em qualquer hipótese, os possfveis seres

extra-terrestres sao criaturas do mesmo e único Deus que conhecemos; a visáo da fé crista nao sofrerá alteracao. - Quanto á explicacao por recurso aos demonios, é totalmente gratuita, para nao dizer:... absurda.

Os demonios ou anjos maus nao tém corpo: nao se vé nem como nem por que produziriam os fenómenos OVNIs. As alegacóes de Ankerberg e Weldon sao despropositadas. O reconhecimento de seres extra-terres tres nao desvia o cristáo da verdadeira fé, mas, ao contrario, revela nova

faceta da infinita Sabedoria de Deus. 521

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

2. Criacáo ou Evolucáo? 1. No Nvro "Os fatos sobre Criacáo e Evolucáo...", J. Ankerberg e J. Weldon se mostram radicalmente contrarios á evolucáo das especies. Argumentam alegando que

a) a teoría evolucionista é materialista; torna o homem "produto de forcas impessoais da materia, do acaso e do tempo" (p. 7);

b) o evolucionismo é "responsável pela visáo agnóstica e cética do século vinte... Trata-se de urna teoría que mudou literalmente o mundo"

(P- 9); c) há dentistas que afirmam ser "a criacáo especial a melhor teoría"

(p. 53); d) a Biblia ensina a criacáo direta das especies: Gn 1, 27.31; SI 148,5; Mt 19,4s; Rm 5,12-14; 1Cor 15,21s,

Em conclusáo, afirmam os autores: "As teorías que tentam harmonizar criacáo e evoiucáo entre si, por mais bem intencionadas que sejam, estáo prestando um desservico. Por exempio, se a evolugáo for verdadeira, Moisés estava certamente errado quando escreveu o relato da cñagáo de Génesis. Assim sendo, a fim de acomodar a evolugáo, as teorías de harmonizagáo geralmente impóem urna interpretagáo figurada ou náo-literal sobre Génesis 1-2. No entanto,

mais do que urna dúzia de outros livros bíblicos também interpretam

Génesis de forma literal. Eles sao igualmente implicados em erro por in terpretar falsamente o livro de Génesis" (p. 69). Os autores do livro em foco censuram especialmente Darwin e o darwinismo como erróneos: seriam destruidores da fé,... nao somente da fé em Deus Criador, mas também da fé em Jesús Cristo Redentor, pois

esvaziam os conceitos de Adáo e Eva e pecado original; ver pp. 58s. Os regimes totalitarios do nacional-socialismo e do comunismo se terao ins pirado ñas teorías do evolucionismo das especies. 2. Que diz a fé católica a propósito?

A propósito notamos que os dois autores se equivocam quando identificam evolucionismo e materialismo. Na verdade, o evolucionismo é conciliável com a visáo religiosa (nao materialista) da origem das especi es. Com efeito; deve-se dizer que a materia primitiva nao é eterna, mas teve origem, e origem por um ato criador do Senhor Deus; Este Ihe terá dado as leis da sua evolucáo, de modo que esta seguiu seu curso regido

pela Sabedoria divina; a evolucáo nao é meramente mecánica e cega (como propunha Darwin), mas finalista ou teleológica (dirigida para de terminado fim previsto pelo Criador). Quando a materia atingiu o grau de organizacáo e perfeicáo necessárias para que haja vida humana, Deus 522

"CHAMADA DA MEIA-NOITE"

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terá criado a alma humana espiritual a ser infundida no corpo do primata, dando origem ao primeiro homem. Assim se combinam entre si criacáo e evolucáo. O fato da evolucáo parece evidente, mas nao depSe em abso luto contra a existencia e a providencia de Deus Criador.

3. Os Espfritos-Guias John Ankerberg e John Weldon abordam também "Os Fatos sobre os Espíritos-Guias. Como evitar a Seducáo do Mundo dos Espíritos e dos Po deres Demoníacos". Manifestam ai também a mentalidade fundamentalista. 1. Comecam por aludir á canalizacio, técnica que vem assim expli cada:

«Canalizagáo é um termo da Nova Era para exprimir a possessáo demoníaca. Ela ocorre quando seres humanos entregam voluntariamen te suas mentes e corpos aos seres espirituais. Esses espíritos entram e controlam as pessoas, usando-as para transmitir ensinamentos espiritu ais ou outras informagóes. Quando os espíritos falam pela boca das pes soas, isso é chamado canalizagáo» (p. 11). 2. O canalizador seria um médium poderoso, capaz de captar mensagens muito especiáis. Eis o que nos dizem os dois autores:

«O aval dado a canalizagáo por famosos astros de cinema e televisáo está tornando essa prática socialmente aceitável. Exemplos de as

tros que tém esse tipo de influencia sao Shiriey Mac Laine, Linda Evans (do seriado Dinastía), Michel York (do filme Romeu e Julieta) e outros.

A atriz Sharon Gless, que faz o papel de Cagney no seriado de TV Cagney e Lacey, ganhou o premio Emmy em 1987 pelo seu desempenho na serie. Em seu discurso de agradecimento, ela disse a dezenas de milhares de pessoas que seu sucesso era devido a Lazarís, urna entidade espiritual que fala através do médium Jach Pursel. A popularidade da canalizagáo pode ser também vista através de novos centros de retiro de workshops em todo o país. Nesses lugares, as pessoas aprendem a abrir suas mentes e corpos aos espíritos, a fim de também se tomarem canalizadoras. Nos centros de retiro de workshops sao ministradas aulas ao vivo pelos próprios espíritos, motivando os alunos a iniciarem grupos de estudo, centros de pesquisas e revistas dedicadas únicamente ao estudo ou desenvolvimento da canalizagáo» (pp. 12s). 3. Os espíritos se manifestam através dos canalizadores, tomam nomes diversos: dizem ser espíritos de pessoas falecidas ou seres extraterrestres (marcianos ou venusianos), deuses de culturas antigás ou modernas, Jesús Cristo, anjos... ou ainda apresentam-se como o Incons ciente Coletivo, o Insconsciente Criativo, o Eu Superior, a alma Transcen523

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dente, a Mente Universal ou também o Espirito Santo. Dizem ser tais para desviar os homens e mulhers da verdade. Na realidade, nao sao

senáo demonios: «Certoft conceitos da psicología moderna estáo se tornando um im portante instrumento para camuflar as coisas demoníacas e expandir a

sua influencia na sociedade sob outro nome. Prova disso é que virtualmente todo poder oculto ou manifestagáo espirita tem sido explicado psi

cológica ou parapsicologicamente, ou endossado humanísticamente como oí; novos poderes da mente. Uma vez que a psicología redefine esses

espiritos como o potencial oculto da mente humana, o alvo da terapia passa a ser o de obter sucesso em fazer uso desses novos poderes.

Essa abordagem concorda com os propósitos estabelecidos por muitos dos espiritos que dizem que o seu alvo é capacitar as pessoas a entrarem em contato com a sua própria intuigáo, seu Eu superior, sua subpersonalidade criativa ou seu potencial divino, a fim de que no futuro todos se tornem um canal para algo. Em esséncia, os espiritos querem que o

homem considere a atividade deles como nada mais que as operagóes normáis da mente humana. O que eles dnsejam é invisibilidade» (p. 33). «A primeira incidencia histórica da canalizagáo foi registrada na Bi

blia em Génesis capítulo 3. Lá nojardim do Éden, o diabo usou a serpente como um canal pura engañar Eva (Gn 3,1-5; 2Cor 11,3; Ap 12,9). Atra-

vés da canalizagáo, o diabo levou o homem a duvidar de Deus, com gra ves conseqüéncias. Significativamente, há razóes importantes para crer que a realidade básica da canalizagáo sugerida aquí jamáis se alterou no que se refere: (1) á origenr¡ (o diabo ou demonio); (2) ao seu resultado (ilusáo espiritual que destró> a confianga em Deus); (3) as suas conseqü éncias Quizo divino; Gn 3,13-19; Dt 18,9-13). A canalizagáo é, pois, con donada pela Biblia como uma prática maligna diante de Deus. Ela é rejeitada por ser uma forma de espiritismo que envolve contato com demonios e a divulgagáo dos seus falsos ensinamentos. A Biblia ensina igualmente que 'nos últimos tempos, alguns apostatarao da fé, por obedecerem a espiritos engañadores e a ensinos de demonio:;' (1 Tm 4,1). Os ensinamentos espiritas deturpam a nature-

za de Deus, mentem sobre Cristo e distorcem o caminho da salvagáo. Os que confiam ñas doutrinas espiritas enirontam o juízo da morte. Sob a autoridade do próprio Cristo, descubrimos que o inferno é um lugar real

(Mt 25,46; Le 16,19-31). Os dtwónios que asseguram aos homens que o pecado nao é real e o inferno nao existí. promovem a ruina eterna dos que confiam neles» (pp. 42s).

4. Que diz a re:;peito a fé católica?

A fé católica afirma qun os fenómenos mediúnicos sao meras manifestacoes do psiquismo humano; o inconsciente e a sugefstáo funcionam 524

"CHAMADA DA MEIA-NOITE"

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amplamente ñas sessóes espiritas, umbandistas e congéneres, revelan do um raio de acao muito mais largo do que habitualmente se pensa. Por conseguinte, nem espíhtos "desencarnados" {como dizem os espiritas) nem os demonios (como dizem os fundamentalistas) atuam no espiritis mo e ñas reunióes mediúnicas. A parapsicología explica o que possa haver de maravilhoso ou portentoso nessas sessóes, dispensando qualquer elucidacáo "mística".

4. Anjos

Outro llvro de J. Ankerberg e J. Weldon refere-se aos anjos: "Quem sao eles. Donde vém e o que fazem hoje" (subtítulo do livro). 1. Os autores atrlbuem estranhos predicados aos anjos: «Os anjos... sao incrivelmente poderosos, e possuem grande inteli

gencia e sabedoria. Utilizam-se das mesmas medidas que os homens (Apocalipse 21,17) e podem comer tanto comida humana quanto comida

angelical (Génesis 19,3; Salmo 78,23-25). Os anjos tém, aparentemente, corpos espirituais. Embora nunca se casem (Lucas 20,35.36), isso nao implica, necessariamente, que náopossuam sexo».

A expressáo "Anjo do Senhor", ocorrente em Gn 22,11s; Ex 3,2; 2 Rs 19,35, segundo Ankerberg e Weldon, refere-se ao Senhor Jesús Cristo

(P- 23). 2. Existem anjos maus, decaídos, chamados "demonios". Os dois autores em foco atribuem-lhes papel importante na historia das seitas contemporáneas: "A maioria das pessoas se surpreenderia ao saber que literalmente muitas das seitas contemporáneas e das novas religióes fo-

ram instituidas e/ou sao nutridas por meio de contato angelical" (p. 40). Assim os mórmons, as Testemunhas de Jeová, a Igreja da Nova Jerusalém, a antroposofia de Rudolph Steiner, o Método Silva de Controle Men tal, a Irmandade da Auto-Realizacao, fundada por Paramaghansa Yoganda; cf. pp. 40s. Mals: á p. 51 lé-se o seguinte: «Qual a parcela do ocultismo nao infiltrada por anjos caídos? Astrologia e as demais formas de adivinhagáo, magia cerimonial, exercício da

mediunidade e sessóes espiritas, bruxaria e satanismo, desenvolvimento

mediúnico, xamanismo - tudo isso está literalmente infestado de anjos caídos e de seus engaños. Como afirma a Harper's Encyclopedia of Mystical and Paranormal Experience (Enciclopedia Harper de Experien cias Místicas e Paranormais), na Nova Era, no ocultismo e ñas crengas religiosas, os anjos fizeram urna reaparigáo cheia de popularidade. Eles sao retratados nos aspectos cármicos da astrologia, sao incorporados,

meditase

neles, e afirmase que existem no reino dos espíritos. Invo525

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 426/1997

cam-se hostes angelicais nos rituais de magia e em varios tipos de magia e bruxaria. A concepgao popular afirma que existem anjos benevolentes que sao diferentes de demonios.

Sem dúvida, esse é um dos objetivos primordiais dos demonios que imitam anjos piedosos - confundir as pessoas quanto ao campo de operagáo deles. Se as pessoas puderem ser convencidas de que o reino do ocultismo é o próprio dominio das manifestacóes angelicais, elas estaráo muito mais inclinadas a experimentá-lo. E, além do mais, se ninguém sabe o que um anjo é de fato, qualquer espirito que reivindicar ser um anjo soará convincente. Por isso mesmo, um número muito grande de pesso as que hoje contactam anjos estáo lenta, porém decisivamente, sendo levadas diretamente ao dominio das trevas» (p. 51).

ñeferindo-se á Igreja Católica, os autores comentam as aparicóes atribuidas a María SSma., especialmente as de Medjugorje, e afirmam que "a teología e os ensinamentos do catolicismo sao antibíblicos" (p. 55).

Á p. 62 está escrito: "Os OVNIs só podem ser explicados recorrendo á demonologia". 3. Que dizer a respeito?

Os autores, mais urna vez, se deixam levar pelo fundamentalismo ou por estreiteza de pensamento, atribuindo a anjos maus ou demonios tudo o que Ihes parece erróneo: ínstituicóes, movimentos espiritas, livros... Os anjos maus estariam iludindo os homens com todo tipo de farsas e armadilhas. Ora a fé católica professa a existencia do demonio; sabe, porém,

que o que Ihe interessa é o pecado. S. Agostinho afirma que o demonio é um cao amarrado, que pode latir muito, mas só morde a quem se Ihe chega perto. As limitacoes intelectuais e moráis do homem sao suficien

tes para explicar a variedade de crencas e teorías aberrantes do mundo contemporáneo como também explicam muitos dos desvíos moráis de nossos tempos; nao é necessário admitir o demonio a atuar em tudo o que se desvirtúa ou perverte.

Em suma, é lamentável encontrar em autores de certa cultura geral,

como sao os dois escritores em foco, urna obsessáo tal que estreita os horizontes e impede de compreender a realidade de maneira mais tran quila e objetiva, menos apavorada e apavorante. O espirito proselitista e sectario se reflete bem no fim de cada livro da serie, quando o leitor é convidado a procurar "urna Igreja que honre a Jesús ou a escrever para a Editora 'Chamada da Meia-Noite'". A fé nao rejeita os subsidios da ci encia moderna que possam dilatar seu horizonte de maneira comprovadamente certeira; ela nada tem a temer das conclusóes devidamente demonstradas do pensamento moderno. 526

LIVROS EM ESTANTE Novo Testamento. Tradugáo Oficial da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil. Ed. Paulinas e Loyola, Sao Paulo 1997. No final do volume lé-se a seguinte nota: "Esta tradugáo está abena a aprimoramento. Poristo ficaremos gratos a pessoas que enviarem suas observagoes". Cientes deste convite, propomos, a seguir, algumas ponderagóes que merecen) atengáo.

Logo no inicio do livro encontrase urna Jabela Cronológica ("Linha do Tempo"), onde se lé: "Mais ou menos 6 a. C, Nascimento de Jesús. Jesús em Nazaré". -Alguns leitores tém entendido erróneamente estas palavras como se os editores quisessem dizer que Jesús nasceu em Nazaré. Em vista desta

experiencia, sería desejável urna explicitagáo: "Nascimento de Jesús em Belém.

Jesús vaipara Nazaré".

Em Mt 19,12 a palavra "eunucos"é traduzida por "incapazes de casamen to". - Ora tal versículo costuma ser aplicado, na literatura ascética e nos docu mentos oficiáis da Igreja, aos que abracara o celibato. Estes nao sao incapa zes de se casar. Daí ser preferível guardar a palavra "eunuco" no texto e, em nota de rodapé, explicá-la.

Em Mt 12,28, em vez do binomio "corpo e alma", como pede o contexto,

foi utilizado o binomio "corpo e vida"- o que nao tem sentido. Nao se vé porque evitar a palavra "alma"; alias, ela aparece em Ap 6,8 ("Vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido imolados"). Em Mt25,1, o título posto pelos tradutores reza: "As dez virgens". O texto, porém, traduzparthénoipor'pvens", evitando a palavra "virgens". Náohárazáo para isto, de mais a mais que "virgem"aparece em 1Cor 7,25.34.36. EmF11,1 lé-se:"... com seus bispos e diáconos". O leitor moderno poderá datdeduzirque na comunidade de Filipos havia muitos bispos no sentido atual da palavra - o que seria falso. Daí ser melhor guardar a palavra "epíscopos" como faz a Biblia de Jerusalém, e explicar o seu sentido em rodapé. Em Jo 1,3s a poniuagáo nao é a melhor. As mais recentes tradugóes trazem: "Judo foi feito por Ele, e sem Ele nada foi feito. O que foi feito, nele era vida". Talé o modo de entendernos primeiros séculos (muito consentáneo com o paralelismo das frases da língua hebraica); somente no século IV foi modifi cada apontuagáopara evitaros mal-entendidos que o arianismo efetuava na base deste versículo.

Em Jo 1,21s também a leitura nao é a mais consentánea com os antigos intérpretes, que liam: "A todos os que O acolheram, aos que créem em seu nome,

deu o poder de se tomarem filhos de Deus, Ele que nao nasceu do sangue nem do

ímpeto da carne nem do desejo do homem". É Jesús quem dá o poder de nos tomarmos filhos de Deus, no caso, Jesús que nasceu virginalmente.

Porfim, dado que tal tradugáo se destina ao grande público, é de lamentar que seja acompanhada de táo poucas notas explicativas em rodapé. A finalidade da edigáo exigiría mais copiosas e significativas notas de pé de página. 527

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A Águia e a Galinha, por Leonardo Boff. - Ed. Vozes, Petrópolis 1977, 160x230mm, 206pp.

O autor parte de urna lenda de Gana (África Ocidental), segundo a qual urna águia foi criada num galinheiro, como asgalinhas. Assumiu, pois, o modo de viver das galinhas; era, em aparéncia, urna galinha, mas galinha dentro da qual havia urna águia. Só a muito custo, por obra de um naturalista, é que a

águia passou a voarpara as alturas, emancipándose dos limites do galinheiro e

tornándose o que ela realmente era. - Assim, diz Leonardo Boff, cada ser humano hospeda dentro de si urna águia; sentese portador de um projeto de vida que atinge o Infinito. Quer romper os limites apenados do seu viver cotidi

ano. Há, porém, movimentos políticos e sociais que pretendem reduzirapessoa humana a simples galinha, confinando-a aos limites do galinheiro. O autor se preocupa com a questáo de dar asas á águia, fazendo-a ganhar altura, integrando, porém, o que é válido na galinha. Sáopalavras de L. Boff: "O grande desafio atual é criar condigóes para que emerja o arquetipo da

águia. Poderes mundiais tém interesse em mantero ser humano na situagao de galinha. Querem apagar de sua consciéncia a vocagáo de águia. Por isto a grande maioria da humanidade é homogeneizada nos gostos, ñas idéias, no consumo, nos valores, conforme um só tipo de cultura (ocidental), de música (rock), de comida (fast food), de Ifngua (inglés), de modo de produgáo (mercado capitalista), de desenvolvimento (material). Recusamos ser somente galinhas. Queremos ser também águias, que ganham altura e que projetam visóes para além do galinheiro. Acolhemos

prazerosamente nossas rafzes (galinha) mas nao á custa da copa (águia), que mediante suas folhas entra em contato com o sol, a chuva, o are o universo

inteiro... As águias nao desprezam a térra, senáopara voarnos céus, medindose com os picos das montanhas e com os ventos mais fortes" (pp. 175s).

Aqui está urna tese que L. Boff vem propugnando nos seus últimos pro-

nunciamentos de maneira um tanto exagerada e radical. Éde inspiragáo reta e

crista, na medida em que apregoa reconhecera dignidade humana e superar um ceño conformismo ou comodismo covarde, que impede o ser humano de chegarao heroísmo ou, em linguagem crista, á santidade. - Todavía a linguagem do livro é assaz ambigua, recorrendo a jogos de palavras, metáforas poéticas, antíteses, que podem impressionar o leitor, mas nao tém grande conteúdo sig nificativo. Exemplo típico dessa ambigüidade sao as páginas 161s: o autor rejeita o panteísmo, mas acrescenta: "A Suprema Realidade pode ser comparada a um ilimitado mar-oceano de ser, de vida e de amor. Nos somos apenas ondas deste mar-oceano. A onda é e nao é o mar", (p. 162).

Em suma, nao se véem erros de fé na obra, mas idéias bonitas expressas de maneira um tanto vaga e figurada.

Estéváo Bettencourt O.S.B. 528

PUBLICACÓES MONÁSTICAS SAO BENTO, O ETERNO NO TEMPO, D. Lourengo de Almeida Prado, O.S.B. Ed. "LUMEN CHRISTI", 1994, 289 págs

R$ 15,00.

(A coletánea que forma este volume, representa até pela volta freqüente aos mesmos textos e as mesmas reflexóes, pensamentos ou meditacóes de um beneditino que ficou mais conhecido como educador, sem nunca deixar de querer ser, antes de tudo, um discípulo do Patriarca de Monte Cassino).

SALTERIO MEU MINHA ALEGRÍA, os 150 Salmos pelas Monjas beneditinas de Santa Maria - SP. Salterio ilustrado para criancas e adultos com alma de crianca... 23 edicáo. 1994, Formato: 21,5 x 16cm

R$ 11,50.

ESCRITOS MONÁSTICOS - SAO JERÓNIMO: Vida do Bem-aventurado Paulo, primei-

ro eremita. Vida de S. Maleo, escravo e monge. Vida de S. Hilario. Carta XXIII a Eustáquia. Traducáo: D. Abade Timoteo Amoroso Anastácio, OSB. Revisáo Mosteiro Maria Máe de Cristo. Impressáo: Mosteiro da Santa Cruz. 1996. 148 págs RS 11,00. A ESCOLHA DE DEUS, comentario sobre a Regra de Sao Bento, por Dom Basilio Penido, OSB. 2a edicáo revista- 1997. 215 págs R$ 15,00. A PROCURA DE DEUS, segundo a Regra de Sao Bento. Esther de Waal Traduzido do original inglés pelas monjas do Mosteiro do Encontró, Curitiba/PR. CIMBRA - 1994. 115 págs R$ 16,50. Apresentado pelo Dr. Roberto Runcie, arcebispo anglicano de Cantuária, pelo Cardeal Basil Hume, OSB, arcebispo de Westminster e de D. Paulo Rocha, OSB, abade de Sao Bento da Bahía.

A REGRA DE SAO BENTO, 3a edicáo em latim-portugués, com anotacóes por Dom Joáo Evangelista Enout OSB. A Regra que Sao bento escreveu no século VI continua viva em todos os mosteiros do nosso tempo, aos quais nao faltam vocacóes para monges e monjas. 210 págs

R$ 11,50.

PERSPECTIVAS DA REGRA DE SAO BENTO, Irma Aquinata Bóckmann OSB. Comentario sobre o Prólogo e os capítulos 53, 58, 72, 73 da Regra Beneditina Traducáo do alemáo por D. Mateus Rocha OSB.

A autora é professora no Pontificio Ateneu de Santo Anselmo em Roma (Monte Aventino). Tem divulgado suas pesquisas nao só na Alemanha, Italia, Franca, Portugal, Espanha, como também nos Estados Unidos, Brasil, Tanzania, Coréia e Filipinas, por ocasiáo de Cursos e Retiros. 364 págs

RS 10,20.

SAO BENTO E A PROFISSÁO DE MONGE, por Dom Joáo Evangelista Enout O.S.B. 190 págs R$ 10,70. O genio, ou seja, a santidade de um monge da Igreja latina do século VI (480-540) SAO BENTO - transformou-o em exemplo vivo, em mestre e em legislador de um estado de vida crista, empenhado na procura crescente da face e da verdade de Deus, espelhada na trajetória de um viver humano renascido do sangue redentor de Cristo. - Assim, o discípulo de Sao Bento ouve o chamado para fazer-se monge, para assumir a "profissáo de monge". Pedidos pelo Reembolso Postal ou conforme 2a capa.

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RENOVAQÁOOU NOVA ASSINATURA 1997/1998: NÚMERO AVULSO PERGUNTE E RESPONDEREMOS ANO DE 1996: (Encadernado em percalina, 590 págs. com índice incluido. Número limitado de exemplares R$ 45,00).

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A "Lumen Christi" oferece as seguintes obras: 1. RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA (2a ed.), por Dom Cirilo Folch Gomes O.S.B. (falecido a 2/12/83). Teólogo conceituado, autor de um tratado completo de Teologia Dogmática, comentando o Credo do Povo de Deus, promulgado pelo Papa Paulo VI. Um alentado volume de 700págs., best seller de nossas

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2. O MISTERIO DO DEUS VIVO, P. Patfport O.P. O Autor foi examinador de D. Cirilo para a conquista da láurea de Doutor em Teologia no Instituto Pontificio Santo Tomás de Aquino em Roma. Para Professores e Alunos de Teologia, é um Tratado de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de índole didática. 230 págs R$ 16,80.

3. DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temos controvertidos. 3a Edicáo. Seu Autor, D. Estéváo Bettencourt, considera os principáis pontos da clássica controversia, entre Católicos e Protestantes, procurando mostrar que a discussáo no plano teológico perdeu muito de sua razáo de ser, pois, nao raro, versa

mais sobre palavras do que sobre conceitos ou proposicóes - 380 páginas.

SUMARIO: 1. O catálogo bíblico: livros canónicos e livros apócrifos - 2. Somente a Escritura? - 3. Somente a fé? Nao as obras? - 4. A SS. Trindade, Fórmula paga? - 5. O primado de Pedro - 6. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento. - 7. A Confissáo dos pecados - 8. O Purgatorio - 9. As indulgencias - 10. María, Virgem e Máe - 11. Jesús teve irmáos? - 12. O Culto aos Santos - 13. E as

imagens sagradas? - 14. Alterado o Decálogo? - 15. Sábado ou Domingo? 16. 666 (Ap. 13,18) - 17. Vocé sabe quando? - 18. Seita e Espirito Sectario -

19. Apéndice geral: A era Constantiniana

R$ 16,80.

4. LITURGIA PARA O POVO DE DEUS, 4a ed. por D. Cario Fiore SDB e D. Hildebrando Martins OSB.

É a Constituicáo sobre a Liturgia (Sacrosanctum Concilium) explicada aos fiéis,

em todo o seu conteúdo (Principios gerais, Acáo Pastoral, o Ministerio da Eu caristía, os Sacramentos (com os seus ritos), o Oficio divino, o Ano litúrgico, a Música e a Artes sacras), com breves questionários para estudo em grupos. 215 págs R$ 7,20. 5. LITURGIA DAS HORAS, Instrugáo geral: (importancia da Oracáo na vida da Igreja, a Santificacáo do dia, os diversos elementos da Liturgia das Horas, Celebracóes ao longo do ciclo anual, Celebragáo comunitaria). - 100 págs R$ 4,80. 6. LITURGIA DA MISSA - Ordinario para celebragáo da Eucaristía com o povo.

25a edicáo atualizada, em preto e vermelho. Traducáo oficial da CNBB, contendo as 11 Oracóes Eucaristicas, com acréscimo das aclamacóes e novos tex tos. - 108 págs R$ 1,45. Pedidos pelo Reembolso Postal. Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO

E "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" na INTERNET: http://www.osb.org.br

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