Ano Xxxviii - No. 419 - Abril De 1997

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P rojeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (7n memoriam)

APRESENTAQÁO DA EDIQÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da rtossa esperanga a todo aquele que no-la pedir

(1 Pedro 3,15).

■-

Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanca e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de

vista crístáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar este

trabalho

Veritatis

assim

como

Splendor que

se

a

equipe

de

encarrega do

respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico filosófica "Pergunte e

Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacao.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

Ano xxxvm

Abril 1997

419

"Cantai um cántico novo..." (SI 96,1)

Pastores protestantes se tornam católicos.

Ensino Religioso Aconfessional?... Sem ónus para o Estado?

As Mensagens de Vassula Ryden Que significa rezar pelos mortos?

Como se transmite a Vida Humana? O Homem é Descendente do Macaco? "Budismo, o Desafio da Modernidade"

ABRIL 1997

PERGUNTE E RESPONDEREMOS

N°419

Publicagáo Mensal SUMARIO

Diretor Responsável

Estéváo Bettencourt OSB

Autor e Redator de toda a materia publicada neste periódico

"Cantal um cántico novo..." (SI 96,1) Nos Estados Unidos: Pastores protestantes

Diretor-Administrador:

se tornam católicos

D. Hildebrando P. Martins OSB

145

146

Discussáo candente:

Ensino Religioso Aconfessional?...

Administracáo e Distribuicao:

Edicóes "Lumen Christi" Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501

Sem ónus para o Estado?

Tel.: (021) 291-7122

As Mensagens de Vassula Ryden

Fax (021) 263-5679

Novo Pronunciamento sobre: Na Comunháo dos Santos:

Endereco para Correspondencia: Ed. "Lumen Christi"

Que significa rezar pelos morios? Poucos conhecem as Minucias:

Caixa Postal 2666

CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Visite O MOSTEIRO DE SAO BENTO e "PER GUNTE E RESPONDEREMOS" na INTERNET: http://www.osb.org.br.

Como se transmite a Vida Humana?

161 165 171

176

Pergunta Popular:

O Homem é Descendente do Macaco? .... 181 Diz a Imprensa:

"Budismo, o Desafio da Modernidade" ... 188

Impressao e EncadernaipSb

COM APROVAQÁO ECLESIÁSTICA

"MA RQUBS SA RAI VA " • GRÁFICOS E EDITORES Ltda. Tels.: (021) 273-9498 /273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO:

«Sua Santidade» (Bernstein e Politi) - Planejamento Familiar e Aborto (Dr. J. E. dos Santos Alves). - «Eutanasia: um Desafio para a Consciéncia» (Marciano Vidal). Fundamentalismo: origem e histórico. - A Missa do Campeiro ou do Boiadeiro. (PARA RENOVAQAO OU NOVA ASSINATURA: (NÚMERO AVULSO

R$ 25,00). R$ 2,50).

O pagamento poderá ser á sua escolha:

1. Enviar em Carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO BENTO/RJ. 2 Depósito em qualquer agencia do BANCO DO BRASIL, para agencia 0435-9 Rio na

C/C 31.304-1 do Mosteiro de S. Bento/RJ, enviando em seguida por carta ou fax, comprovante do depósito, para nosso controle.

3 Em qualquer agencia dos Correios, VALE POSTAL, enderezado ás EDIQOES "LUMEN ' CHRISTI" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ Obs.. Correspondencia para:

Edicoes "Lumen Christi" Caixa Postal 2666

20001-970

Rio de Janeiro - RJ

y

"CANTAI UM CÁNTICO NOVO..." (Si 96,1) O mes de abril é todo perpassado pelos ecos de Páscoa, celebrada aos 30/03pp. Na vigilia da Ressurreicáo do Senhor, os cristáos renovaram as suas promessas de Batismo, recordados de que pelo Batismo participaram da morte de Jesús ao pecado e da sua ressurreicáo como novo Adáo. Ser batizado é realmente ser nova criatura, enxertada em Cristo, feita filho(a) de Deus no FILHO. Faz-se necessário, porém, renovar periódicamente a consci-

éncia desta grande verdade, visto que a natureza, lerda como é, tende a levar sempre á rotina e á acomodacáo. S. Agostinho (t 430) dirígia-se aos cristáos recém-batizados na vigilia de Páscoa em termos que até hoje conservam pleno valor:

"Ó irmaos, ó filhos, ó novos rebentos da Igreja Católica, ó geragao san

ta e celestial, que renascestes em Cristo para urna vida nova! Ouvi-me, ou antes, ouvi através do meu convite: Cantai ao Senhor um cántico novo. 'Já canto', dir-me-eis. Sim, ougo que cantáis. Mas oxalá a vossa vida nao dé testemunho contra a vossa lingual

Cantal com a voz, cantai com o coragao, cantai com a boca, cantai com a vida: 'Cantai ao Senhor um cántico novo' (SI 96,1). Perguntais-me o que deveis cantara respeito daquele a quem amáis. Sem dúvida, é acerca daquele a quem amáis que vos desejais cantar. Queréis saber entao que louvores haveis de cantar? Já o ouvistes: Cantai ao Senhor um cántico novo. E que louvores? Cantai os vossos louvores na assembléia dos santos. O maior iouvordo cántico éopróprío cantor. Queréis tributar louvores a Deus? Sede vos o cántico que haveis de cantar. Vos sois o Seu maior louvor, se viverdes santamente". Estas palavras de S. Agostinho lembram oportunamente que a riqueza do cristáo consiste em sua fidelidade incondicional a Deus; sua vida, ainda que modesta, é um cántico ao Senhor: "Nao deixeis de viver santamente, e louvareis sempre a Deus. Deixais

de O louvarquando vos afastais dajustiga e do que Lhe agrada. Se nunca vos desviardes do bom caminho, ainda que se cale a vossa língua, clamará a vossa vida e o ouvido estará perto do vosso coragao. Porque, assim como os nossos ouvidos escutam as nossas palavras, assim os ouvidos de Deus escutam os nossos pensamentos" (S. Agostinho).

E, cantando a Deus por urna vida santa, o cristáo canta também aos seus irmaos. Nao há dúvida, aquilo de que o mundo de hoje mais necessita, é o testemunho de vivencias coerentes e corajosas, decididas a amar a Ver dade e a morrer por ela no comezinho de cada dia ou também no pareo sangrento da perseguicáo. Quem assim procede, é urna flor rara, que real mente proclama a novidade de Páscoa ou da Vitoria de Cristo sobre o pecado

e a morte. - Ser arauto de tal mensagem é a maior dignidade que alguém possa almejar neste mundo. Seja cada cristáo urna nova criatura num mundo sedento de "novidades"!

E. B. 145

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XXXVIII-N° 419-Abril de 1997 Nos Estados Unidos:

PASTORES PROTESTANTES SE TORNAM CATÓLICOS Em síntese: A revista norte-americana SURSUM CORDA! Special edition 1996, refere a noticia de que nos últimos anos cinqüenta pastores

protestantes se converteram ao Catolicismo, sendo que outros mais estao a caminho da Igreja Católica. Cita varios casos de tal ocorréncia, ex pondo os motivos que levaram tais cristSos a conversao. As tres razóes mais freqüentemente apontadas sao as seguintes: 1) o subjetivismo que reina ñas denominagóes protestantes em conseqüéncia do principio do "tivre exame da Biblia"; cada cristao é tido como apto a interpretara Palavra de Deus segundo Ihe parega; 2) o retomo á literatura patrística ou dos oito prímeiros séculos da Igreja, evidenciando o modo de entender a fé professado pelos antigos cristaos; 3) a definigáo do canon da Biblia, que nao é deduzida da própría Biblia, mas sim da Tradigao oral, que é anterior a Biblia e a identifica ou abona, indicando o respectivo catálogo. *

*

*

A revista norte-americana SURSUM CORDA!, Special edition 1996, refere a noticia de que nos últimos anos cinqüenta pastores protestantes

se converteram ao Catolicismo, sendo que outros mais estáo a caminho da Igreja Católica. O artigo respectivo, da autoría de Elizabeth Althau, tem

por título Protestant Pastors on the Road to Rome (pp. 2-13). Cita vari os casos de tal ocorréncia, expondo os motivos que levaram tais cristáos á conversao. Visto o significado muito atual de tal fenómeno, publicamos, a seguir, em traducáo portuguesa, quatro de tais relatos.

1. INTRODUgÁO Nos últimos dez anos, no mínimo cinqüenta pastores protestantes, na maíoria evangélicos, renunciaram as suas funcóes e encontraram o

caminho para a Igreja Católica. Cada qual passou por conflitos da mente e do coracáo; cada qual sachficou conforto e seguranca. Muítos haviam sido induzidos, por especial doutrinacao, a temer e desprezar a Igreja

Católica; os demais simplesmente consideravam-na como a mais erró nea de todas as seitas. 146

PASTORES PROTESTANTES SE TORNAM CATÓLICOS

3

Já que um dos fatores mais penosos dessa caminhada é a solidáo, alguns dos ex-pastores constituiram uma sociedade chamada The Network (A Rede) para se ajudarem mutuamente na caminhada. Dos cento e cinqüenta membros dessa sociedade, cerca de cem aínda estio desenvolvendo seu processo de conversáo. E a lista vai crescendo... 2. EXCOMUNGADO: BILL BALES

Bill Bales cresceu em ambiente presbiteriano progressista em Bethesda, Md. "Eu tinha uma especie de fé adormecida em Cristo", lembra ele. "Eu nao tinha vida de oracáo regular nem praticava o estudo da Biblia. Essas coisas eram, para mim, secundarias".

Bales matriculou-se num curso preparatorio para a Faculdade de Medicina numa Universidade americana; jogava futebol. Contraiu uma lesáo pulmonar, que o obrigou a penosa cirurgia.

"Comecei a contemplar coisas tais como a morte. Passei a conviver com cristáos que tinham uma fé robusta. Comecei a rezar: 'Se Deus exis te, que Ele se revele!'. Se existisse realmente, eu ficaria feliz por crer nele. Comecei a ler a Biblia, e algumas páginas da mesma tomaram sen tido para mim".

Passou a freqüentar uma igreja presbiteriana mais tradicional, e ficou impressionado pela conduta de muitos de seus membros. "Cristo era uma realidade. Vocé podía ter um relacionamento com Ele. Nao era um feixe de palavras vazias".

Bales deixou de lado seus planos de estudar Medicina. Pós-se a trabalhar pordoís anos numa Pastoral de Juventude de uma igreja presbi teriana; depois fez-se pastor numa igreja nao denominacional (nao conven cional) protestante. "Mas eu tinha que entrar num Seminario, caso eu quisesse continuar o meu ministerio pastoral. Eu desejava mais aprendizagem - e também algum tempo para pensar a respeito de certas idéias e possíveis solucóes. Havia tantas ¡ndagacóes que me surgiam na mente!". Bales entrou para o Gordon Conwell Theological Seminary, instituicáo seria interdenominacional em South Hamilton, Mass. Essa época foi, para ele, maravilhosa. "Reverenciavam a Escritura. Alguns dos professores que eu freqüentava, interpretavam o Antigo Testamento de maneira semelhante á dos Padres da Igreja1 e bem melhor do que muita gente no evangelismo. Nao 1 Padres da Igreja sao aqueles escritores que contribuirán! para a reta formulagao das verdades da fé relativas á SS. Trindade, a Jesús Cristo, a Igreja, a graga... Sao padres (= país) mediante a transmissao da Palavra da vida. A época patrística temiina com S. Gregorio Magno no Ocidente (t 604) e no Oriente com S. JoSo Damasceno (f 749). (Nota do tradutor).

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

estudávamos a fundo os Padres. Tratava-se mais de urna escota de treinamento para pastores do que de urna escola de graduacáo". Terminados os estudos em 1985, Bales aceitou o encargo de pastor associado na igreja presbiteriana de Gainesville, na Virginia. A principio ele esteve ali muito feliz. "Mas na primavera de 1988, algumas das questóes que eu nunca con siderara realmente ou que abordara superficialmente, comecaram a emer-

gir. A mais crucial era a da definicao do canon das Escrituras. Quem tinha

a autoridade necessária para definir o conteúdo do catálogo sagrado? É esta urna questáo fundamental. Senti-me mais e mais estranho á resposta calvinista, que eu sempre professara1; as outras sentencas proferidas no mundo protestante, fora do Calvinismo, pareciam-me muito lacunosas.

Eu nao estava a ponto de ser atraído pelo Catolicismo, embora eu acreditasse que devia haver urna resposta para as perguntas que eu levantava. Desde que Scott Hahn, meu amigo dos tempos do Seminario, se convertera ao Catolicismo, estava a conversáo no meu subconsciente. Na seqüéncia dos tempos, eu sentía que devia ser plenamente honesto, reconhecendo a fragilidade da minha posicáo relativa ao canon. Urna saída, n§o satisfatória, porém, seria passar-me para urna mo-

dalidade de protestantismo mais liberal. Se Deus nao instituiu urna auto ridade sobre a térra capaz de decidir a respeito de certos problemas, entáo parecia-me que tudo ia pelos ares. Eu nao conseguía contornar essa questao".

Mas, se o Catolicismo era urna possibilidade, Bales tinha urna serie de leituras a fazer, urna serie de respostas a confrontar. Ele encontrou o

Development of Christian Doctrine, de Newman, o The Spirit of Catholicism de Karl Adam, e algumas obras de Louis Bouyer especial mente interessantes.

"Mais e mais me convencí, através do estudo da historia, de que a doutrina católica já era professada na antigüidade, talvez em termos me nos desenvolvidos, mas já presentes aos antigos. Convenci-me também, mediante as Escrituras, de que, na maioria dos casos em que havia urna definicáo (como a do primado de Pedro) ou ainda nos casos controverti dos, a Igreja Católica tinha a melhor argumentacáo; isto nao quer dizer que eu havia de decidir minha filiacáo á Igreja por efeito de alguma passa1 Para os reformadores protestantes em geral, um livro é inspirado por Deus se produz abundantes frutos espirítuais para o leitor ou se é escrito em belo estilo literario ou, ainda, se é de origem apostólica. Como se vé, o primeiro criterio é muito subjetivo; o segundo nao se aplica a varios livros da Biblia, cujo estilo deixa a desejar (cf. Apocalipse). Confonve o terceiro criterio, poder-se-ia pórem dúvida a inspiragao e a canonicidade de alguns livros do Novo Testamento. (Nota do tradutor). 148

PASTORES PROTESTANTES SE TORNAM CATÓLICOS

6

gem bíblica. Eu via também que, de modo muito lógico e compreensível, a Igreja Católica tinha crescido, favorecida pela acao de Deus. Parecía me mais razoável pensar assim".

No fim de 1989, Bales se sentía pouco á vontade no exercício do seu ministerio e da sua pregacáo. Renunciou a eles no comeco de 1990.

"Eu tentava conceber uma imagem pouco atraente do presbiterianísmo. Os presbiterianos tinham sofrido outras defeccóes: as de Scott Hahn e a de Gerry Matatícs, por exemplo. Havia um punhado de crentes que nao queriam deixar-me partir".

Bales julgava que podía ter evitado uma excomunhao formal se se transferisse primeiramente para uma Igreja episcopal. Mas ele estava sin ceramente certo de que a Igreja Católica era o seu destino, e ele nao o quería negar de público. Em conseqüéncía, o processo de excomunhao contra ele foi iniciado. "Encontrei-me tres ou quatro vezes com pequeñas comissóes. Da primeira vez tentaram-me compreender e colheram informacóes para ins tituir o processo jurídico. Nao houve jamáis aiguma mesquinhez. A terca parte do presbiterio votou pela n§o-excomunháo; nao houve unanímidade". Quais sao as conseqüéncias da excomunhao no presbiterianismo?

"Existe a concepeáo generalizada, declara Bales, de que o excomungado tem que se arrepender, pois está imerso em determinado tipo de pecado. O modo de tratar o excomungado varia de paróquía para pa-

róquia. A minha paróquia era de linha muito dura. Essa dureza ¡ntimidava. Abandonar a paróquia era molesto. Eu o via como se fosse morrer para toda aquela gente.

A voz dos nossos amigos era suave. Mas a chefia nao estava em absoluto interessada em que algum membro da congregacáo continuasse a ser meu amigo... A comunidade era muito fechada. Ali havia muitas amizades profundas, um monte de gente boa".

Bill Bales foi recebido na Igreja Católica na festa dos Santos Anjos da Guarda (2/10) de 1990. 3. PATO MORTO: MARCUS GRODI

Marcus Grodi cresceu numa igreja luterana um tanto liberal, perto de Toledo, Ohio. Era ativo no Grupo Jovem, catequizava e confirmava os colegas na fé. "Conheci muitas coísas", disse ele, "mas nao penetraram em meu coracáo". "Os acampamentos de veráo dos jovens da Igreja pareciam preparados mais para uma exibicao de música do que para temas espirituais". 149

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

Os colegas de Grodi na Escola Superior provinham de diversas de-

nominacóes religiosas, nao, porém, do Catolicismo. "Minha visáo do Ca tolicismo nao era extremamente negativa, mas trazíamos um monte de interpretagóes mitológicas da Igreja Católica, que se encontrava do outro lado da cidade. Imaginávamos que estivesse cheia de supersticoes, e que o povo estava quase escravizado pelos padres e as freirás".

Marcus, porém, comecou a se surpreender, vistas as diferencas exis tentes entre as denominacoes protestantes.

Grodi estudava Engenharia em Case Western Reserve. "Passei tres anos sem entrar numa igreja", declarou. "Eu estava envolvido numa convivencia fraterna e tudo que Ihe diz respeito. Finalmente no veráo an terior ao meu último ano experimentei urna profunda renovacáo da minha fé mediante o testemunho de um amigo - o que representou urna guiñada de 180" na minha vida".

Grodi voltou para a sua igreja luterana e achou que as palavras da Liturgia Ihe significavam alguma coisa pela primeira vez. "Mas, quando considerei os bancos da igreja, vi estudantes de Escolas Superiores que eram como eu quando tinha a idade deles, a recitar palavras sem as com-

preender. Eu concluí entáo que o liturgicismo tradicional estava morto; ele produzia cristáos de nome apenas, quase destituidos de compreensáo. Eu julguei que Deus quería ouvir algo de diferente, nao as mesmas coisas cada domingo".

Urna vez formado, Grodi comecou a trabalhar como engenheiro e como apostólo da juventude. Escolheu o congregacionalismo1. "Cada igreja

congregacional é autónoma e pode decidir a respeito do que ela quer

fazer. Ela pode redigir seu próprío Credo. É surpreendente o que algumas igrejas congregacionais, de fato, créem". Em 1978,... Grodí entrou para o Gordon-Conwell Theological Seminary. Muito lucrou nos anos que ali viveu.

"Eu nao rejeito meu fundo evangélico. Ele me levou de volta para Jesús Cristo. Colocou em meu coracáo o sincero desejo de Lhe dar total mente a minha vida. E creio que foi por causa desta convicgao que agora eu sou católico. Mesmo o Seminario Gordon-Conwell, com seu zelo pela S. Escritura e pela verdade (visto que era interdenominacional, evitava as

questóes controvertidas da Igreja Batista, da Metodista e da Presbiteriana), proporcionou a muitos de nos a ocasiáo de passarmos para a Igreja Cató lica^ 1 Congregacionalismo é a denominagao protestante em que a Congregagao govema a

si mesma mediante os pastores que ela escolhe. Nao reconhece hierarquia. (Nota do tradutor).

150

PASTORES PROTESTANTES SE TORNAM CATÓLICOS

7

Grodi voltou para a sua igreja congregacional com entusiasmo e conviccáo. Era urna igreja da Florida: "Eu nao estava lá nem seis meses quan-

do percebí que havia algo menos bom no congregacionalismo. Mas eu nao sabia indicar exatamente o que era".

Grodi entrou na Igreja Presbiteriana como pastor, mas as dúvidas continuaram. "Como poderia eu estar certo de que nossos pontos de vista presbiterianos estavam corretos em comparac§o com os de meus irmáos metodistas ou da Assembléia de Deus ou da Igreja de Cristo ou dos anglicanos - ou até dos católicos? Como poderia eu saber que a minha interpretacáo da Escritura era coerente com aquilo que Jesús Cristo real mente disse?

Eu quería ser fiel. Eu sabia que um día comparecerei diante de Jesús Cristo, meu Senhor, e terei que dar contas das almas das pessoas que dirijo. Eu tinha consciéncia de que eu devia ter certeza de que os meus ensinamentos eram verídicos e o meu procedimento era correto". Grodi nao podía ir pedir ajuda á chefia da Igreja Presbiteriana. "Eu tinha rejeitado quase todos os seus pontos de vista. A maioria deles era muíto liberal. Deixavam muíta coísa ao arbitrio de cada um. Nove sobre dez oficios que chegavam ao meu escritorio provenientes da chefia cen tral, iam parar na cesta de papéis.

Nao havía normas. Eu estava reinventando o fio condutor. Nao teria sentido admitir que Jesús fundou urna Igreja e depois deixou tudo ao leu". Grodi tentou voltar sua atencáo para urna denomínacáo mais con servadora, mas nao se sentía á vontade com o que ele chamava o aspec to de escolha pessoal vigente entre as denominacóes protestantes. Renunciou entáo as suas fungóes de pastor e voltou para Case Western Reserve, com a ¡ntencáo de conseguir o seu Ph. D. em Biología molecular e depoís associar ciencia e religiáo no cultivo da Bioética. "Eu imagínava que acabaria sendo um professor de Genética ou de Etica em alguma Faculdade".

Nao estava longe de terminar a sua tese doutoral quando numa manhá urna noticia de jornal Ihe chamou a atencáo: "O teólogo católico Scott Hahn fará urna palestra na paróquia local".

Teólogo católico Scott Hahn? "Havia oito anos que nao nos víamos. Fui entao ouvi-lo, escutei a sua gravagáo e li o livro Catholicism and Fundamentalism de Karl Keating. Ao cabo de fazer estas tres coisas, eu era um pato morto". Grodi pós-se a ler os antigos Padres da Igreja e a

historia da Igreja. Ele tinha consciéncia de que nao podía continuar a ser protestante. "Meu problema é que eu nao me podia tornar católico. Havia coisas estranhas em demasía. Imagine que vocé foi protestante durante 151

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

quarenta anos e se poe a considerar o Menino Jesús de Praga; este há de parecer realmente estranho. Eu crescera com todos esses preconceitos. A Igreja Católica e a Mafia eram, para mim, a mesma coisa. Os católicos bebiam e fumavam.

Mas verifiquei que, se eu pudesse confiar na autoridade do magiste rio situado na cátedra de Pedro, tudo mais se assentaria em seu lugar certo. Foi o livro Development of Christian Doctrine de Newman que me convenceu disto. E assim eu já era um católico". Marcus Grodi foi recebido na Igreja Católica em 1993. Comentario da Redagáo de PR: Muito interessante é o raciocinio final de Marcus Grodi. O criterio que autentica a Igreja de Cristo ou a

Igreja fundada por Cristo, nao é a virtude ou o pecado dos seus membros, pois estes sao criaturas oscilantes, que, hoje virtuosos, amanha podem vira ser pecadores. O criterio de autenticidade é a presenca de Cristo na Igreja ou, mais explicitamente, a assisténcia prometida por Cristo a sua Igreja confiada a Pedro e seus sucessores (cf. Mt 16,16-19; 28,18-20; Jo 14,26; 16,13-15). Quem eré nesta promessa de Jesús, adere lógicamente a Igreja Católica e sabe considerar o comportamento dos fiéis católicos dentro dos moldes da fragilidade humana (também existente entre os pro

testantes); há entre os católicos certamente belos testemunhos de santidade. O que importa, porém, é Cristo presente e atuante, e nao a conduta dos homens fiéis ou infléis a Cristo.

4. O HOMEM CÓSMICO: STEVE WOOD O caminho de Steve Wood para o Seminario Gordon-Conwell foi muito diferente do de Bill Bales e Marcus Grodi. Ele foi educado por país fiéis e dignos presbiterianos, mas "nao como urna crianca dócil", dizia ele. "Eu Ihes dei muita dor de cabeca. Fui ingrato, rebelde e teimoso". Após um par de anos muito desregrados na mais desregrada república da Universidade da Florida, Steve desistiu de tudo, e entrou para a Marinha. Pós-se a procurar urna alternativa para o hedonismo ou a procura

sistemática do prazer. Quando o seu navio estava no porto da baía de Virginia, Steve empregou o seu tempo livre no Edgar Cayce Institute, apren-

dendo misticismo e medítacáo orientáis. Os seus companheiros da Mari nha chamavam-no "o homem cósmico". Todavía um amigo gurú insistiu em que Steve aprofundasse a sua própria religiao, antes de procurar mais elevadas formas de consciéncia de si mesmo.

"Nada quero com o Cristianismo!" protestava Wood. Mas, diante da insistencia do seu amigo, Wood comprou urna Biblia. "Eles vendem Biblias no Cayce Institute de todos os tipos. Minha teología foi fraca, de tal modo que eu nao sabia a diferenca entre aqueles 152

PASTORES PROTESTANTES SE TORNAM CATÓLICOS

9

que tém 'Evangelhos secretos perdidos' e aqueles que nao os tém. Já que eu nao tinha capacidade de discernir, eu continuava a proferir os meus Ohms, meus mantras diante da prateleira de Biblias. Por graca de Deus, eu adquirí uma Biblia auténtica".

Wood julgava que acharia a Biblia árida e cheia de poeira. Surpreendeu-se, porém, porque a encontrou muito dinámica. Logo ele se deixou persuadir da natureza divina e da missáo de Jesús Cristo assim como da sua própria pecaminosidade. Ele passou assim por uma profunda e clássica conversao evangélica.

Wood sentiu-se atraído pela Cápela do Calvario na California, santu ario náo-denominacíonal muito impregnado de significado bíblico, que era

procurado por muitos jovens. Ele aprendeu a desprezar o Batismo que ele havia recebido como enanca, julgando que o Batismo de enancas era um infeliz vestigio do Catolicismo Romano. Estudou hebraico e grego numa escola da Assembléia de Deus e exerceu sua atividade pastoral com a

juventude na Cápela do Calvario.

A seguir, retornou para a Florida na esperanga de acender nos jo vens do lugar a fé muito viva que ele havia experimentado na California. Em 1978 foi ordenado por uma Igreja carismática interdenominacional. Batízou de novo muitos católicos e protestantes. Entrementes encontrouse com aquela que se tornou sua esposa Karen. Pouco depois, ele se matriculou no Gordon-Conwell Semínary.

Ficou muito surpreso ao aprender que muitos teólogos protestantes de bom nome aprovavam o Batismo de criancas. O casal Steve e Karen Wood estava á espera do seu primeiro filho, o que tornava urgente a solucáo da questáo.

"Eu estava para ser o pai de uma enanca chamada á vida eterna e eu quería estar seguro de proceder corretamente. Afinal concluí pela validade do Batísmo de criancas - conclusáo que me foi muito difícil. Nao somente ela me levou a maíor proximidade da Escritura, mas também me

fez voltado para a historia da Igreja".

Wood tornou-se pastor de uma igreja protestante nova em Venice,

Fia., onde ele servíu durante quase dez anos. Continuava a estudar e a perguntar como Cristo quería que fosse a sua Igreja. Levou sua congregacáo a filiar-se á Igreja Presbiteriana da América, e pós-se a ler sempre

maís assiduamente os antígos Padres da Igreja. "Se vocé quer encontrar a Igreja, eis os seus sinais a ser descobertos: una, santa, católica e apos tólica, como refere o Credo de Nicéia (325), pelo qual nos professamos a nossa fé. Os reformadores protestantes mudaram as notas de identidade da Igreja e, se vocé muda as notas, nunca encontrará a Igreja. 153

10

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

A Igreja é una. Mas um diagrama da Igreja Presbiteriana nos dois últimos séculos se parece com o desenho esquemático para uma placa de computador".

Wood meditou muito sobre a oracáo de Cristo na sua última ceia. Ele pediu em prol da unidade da Igreja. Wood estava convicto de que Cristo tinha em vista nao apenas uma unidade espiritual dos crentes, mas sim uma unidade visível, táo perceptível que os nao crentes a pudessem descobrir, como Jesús disse, a fim de acreditarem.

Ele pregou sobre essas notas num sermáo datado de 1986. Disse aos seus fiéis que nao compreendia como podia acontecer que essa ora cáo de Cristo podia ficar sem resposta.

"A Igreja Católica ficava ainda fora de cogitacio para mim. Vocé sabe que algumas vezes a verdade é identificada com uma pessoa para que o

impensável se possa tornar pensável.

Sim. Eu ouvi dizer que Scott Hahn era uma causa perdida. Mas eu pensei que era meu dever chamar Gerry Matatics e falar-lhe da Igreja". Wood se esforcou. Ele se adentrou nos Padres da Igreja antiga. Ele conversou com sua esposa. A questáo do governo da Igreja tomou-se obscura, nao mais clara:

"Os Apostólos impuseram as máos sobre homens, e os designaram como oficiáis da Igreja".

Wood fora perturbado durante anos pela tese protestante referente ao vínculo matrimonial. Ele entáo estava chegando á conclusao de que Cristo o quería indissolúvel. Desanimado por causa da esterilidade de um ativismo em favor da vida que durara muitos anos, ele comecou a perce-

ber que somente a santidade do casamento podia oferecer um funda mento sólido para se conceber a santidade da vida.

Ele preparou um sermáo sobre Oséias, o profeta do Antigo Testa mento cuja esposa se foi para tornar-se uma prostituta. "Deus mandou a Oséias que trouxesse de novo a sua esposa para

casa. E serviu-se do adulterio dessa mulher para ilustrar a apostasia do povo de Israel. Como procedería eu para apresentar a lei de Cristo, que era também a da Igreja Católica, a uma assembléia protestante? Pior ainda: depois que terminei o sermáo, tomei consciéncia de que nao devia dar a comunháo a pessoas divorciadas e de novo casadas". Ele se desculpou junto á congregacáo, pronunciou uma béngáo e

partiu para o seu escritorio. Os mais antigos o seguiram e aceitaram a sua renuncia ao cargo. 154

PASTORES PROTESTANTES SE TORNAM CATÓLICOS

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Poucas semanas depois, Wood foi cumprir urna sentenca que o condenava a sessenta dias de prisáo por ter, numa Clínica, dissuadido alguém de abortar. Na prisáo ele leu muito e pediu luzes a Deus para que descobrisse a verdadeira Igreja. Ele esperava receber urna inspiragáo. Em lugar disto, ele recebeu urna visita: a visita do Bispo de Venice. Steve e Karen Wood foram recebidos na Igreja Católica em julho de 1990.

5. MISSIONÁRIOS ENVIADOS AO CATOLICISMO Muitos dos convertidos do protestantismo ao Catolicismo comecam por questionar as suas crencas protestantes ao perceberem as muitas interpretacóes dadas á S. Escritura por homens de boa vontade. Kristine Franklin foi educada como "urna crista bíblica" fundamentalista em Tacóme (Washington). O seu marido Marty era de familia episcopal (anglicana) e fora batizado numa comunidade chamada "Vida Jovem" (anglicana).

Explica Kristine Franklin que aprendeu desde enanca a valorizar enor memente a vocagáo de missionáho(a) em térra estrangeira: "Meu irmáo e minha irmá mais velhos se tornaram missionários, ele na Espanha, em El

Salvador, em Costa Rica e no México, afastando os católicos das igrejas de Roma. Minha irmá e seu marido foram á Nova Guiñé". Logo depois de se casarem, Marty e Kristine se puseram a planejar

sua atividade missionária. Levaram oito anos a se preparar para tanto, e dois anos e meio para angaríar fundos que Ihes permitissem viajar para além-mar. O casal foi primeramente para Costa Rica, depois para a Guatemala.

Havia na Guatemala grande número de missionários protestantes, trabalhando entre católicos. Dizia Kristine: "... trabalhando com grande sucesso, porque os católicos nao estáo devidamente instruidos na fé e esta é minha opiniáo - porque os missionários americanos, ao chegarem, oferecem vantagens de vida de estilo americano".

Disse ainda Kristine: "Quando estávamos na Guatemala, varias coi sas se tornaram muito claras para mim. Urna délas era que, apesar de

toda a minha educacáo religiosa, eu nada sabia a respeito do Catolicismo.

Só tinha nocáo daquilo que me haviam dito e de que era urna religiáo falsa". Num grupo de estudos da Biblia Kristine Franklin encontrou pela primeira vez urna católica romana muito fiel.

"Olhando para tras agora, verifico que ela foi para mim um desses marcos ao longo da estrada. Era urna mulher profundamente devota, prova155

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-PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

velmente da minha idade; nao era missionária. Tornava-se muito claro, a

partir das suas palavras e da sua conduta, que era urna católica muito dedicada a Jesús Cristo. Foi surpreendente para mim, depois que ela se foi, ouvir as outras mulheres se referirem ás suas tentativas de a evan gelizar, pois era obvio, para mim, que ela nao precisava de ser evan gelizada.

Outra coisa que me impressionou, é que meu marido estava dando aulas para enancas norte-americanas e canadenses, pertencentes a cer

ca de quarenta denominacoes. Assim pudemos tomar consciéncia do que era o protestantismo americano na América Latina; também fomos bom bardeados pela realidade do protestantismo, que é um conjunto de gru pos nos quais cada um tem sua mensagem própria. Entre aqueles que trabalham em áreas rurais, há um acordó tácito sobre essas diferencas: de um lado da montanha, acham-se os pentecostais e, do outro lado, os metodistas. Estes dizem aqueles: 'Se voces nao ensinarem ao meu povo que ele tem que falar em línguas para rece-

ber o Espirito Santo, nos nao diremos á gente de voces que eles tém que batizar suas enancas".

Além de sentir-se perturbado por essa ampia variedade de doutrinas e práticas existentes entre os missionários, o casal Franklin foi impressionado pelo analfabetismo ou quase analfabetismo de alguns membros do clero protestante.

Alguns tém apenas a instrucáo primaria e logo sao feitos pastores. Outros proclamavam a si mesmos ministros do Evangelho, sem ter o devido aprendizado; talvez tivessem um exemplar de partes da Escritura Sagrada. Eles traziam um monte de perguntas. Vocé nao pode traduzir a Biblia para o linguajar da cada um deles. Vocé tem que Ihes ensinar urna maneira totalmente nova de ver o mundo. E vocé tem que Ihes transmitir um sistema de interpretado da Biblia. E aqui está a pergunta:... qual sistema?" Apesar de tudo, esta nao era a questáo mais difícil.

"Para mim, era realmente intrigante o fato de que eu vinha de um nivel de instrucáo e vivia numa regiáo em que havia 60% de analfabetos.

Comecei a me colocar perguntas como: 'Como alguém se pode tornar cristáo se nao sabe ler? Se minha responsabilidade, como crista, consis te em conhecer minha Biblia por dentro e por fora e entender de teología e estudá-la diariamente e chegar a conclusoes teológicas próprias (quero dizer que o protestantismo está baseado na interpretado pessoal que cada um dá á Biblia), como é que aquele povo poderia realizar isso? 156

PASTORES PROTESTANTES SE TORNAM CATÓLICOS

13

Que é que esse povo tem de cristáo se ele nao sabe ler? E nunca chegaráo a ler. Que é que Deus jamáis teve em vista para eles? E pense agora: há atualmente poucos sáculos que tais povos da América Latina podem conseguir ler, mas no resto do mundo há urna multidáo de gente

que nao sabe ler. Que é o Evangelho para eles? Quem será responsável pela tarefa de ir até eles para Ihes pregar a verdade? O casal Franklin pós-se a discutir estas e outras perguntas. Se, de um lado, havia boas novas pelo fato de que Guatemala se estava protestantizando, de outro lado a historia da Europa Ocidental sugería que as coisas nao iam táo bem.

"As nac.6es européias que se passaram para o protestantismo em conseqüéncia da Reforma, sao agora países sem Deus. Quando a Refor

ma os atingiu, os povos foram protestantizados por um certo número de geracóes; depois destas, quase como conseqüéncia natural, se tornaram sociedades atéias.

De acordó com o meu modo de ver, isto acontece porque, se vocé introduz o principio do livre exame e da interpretacáo privada (pessoal) da Biblia, vocé, na verdade, está introduzindo o povo no conceito de que a verdade é algo de subjetivo. Ora o Catolicismo e nossa fé crista estáo baseados em verdades objetivas.

E o povo pode deixar de crer em principios absolutos de Moral. Na

igreja protestante da Guatemala, de classe media, em que nos servía mos, havia um bom número de pessoas divorciadas e casadas de novo. Perguntamos a um desses casáis com que fizemos amizade: 'Como é que voces puderam renascer? Como é que voces se tornaram protestan tes?1 A esposa do homem em questáo o abandonara e ele nao consegui rá anular seu primeiro casamento... Foi-me parecendo que o protestantis mo na Guatemala está muito ligado ao modo de vida norte-americano. Ele se parece com algo importado, á semelhanca dos hamburgers de

McDonald e Reebok".

A igreja na qual o casal Franklin servia, distava, de sua casa, cerca de dez milhas. Num domingo eles voltavam de carro para casa com seus dois filhos. Passaram diante de urna igreja católica que ficava a dois quar-

teiroes da sua residencia.

"Minha filha, que tinha quatro anos aproximadamente, disse: 'Máe, por que n§o entramos na igreja católica?' Tomei consciéncia de que eu

nao tinha resposta. Eu nao podia dizer: 'Porque eles nao ensinam a ver dade1, pois eu nao pensava assim... Pude verificar que nos, os protestan tes, escolhíamos as nossas igrejas de acordó com a nossa doutrina pes soal. Isto faz de nos a autoridade suprema, que julga o que é verdade e o 157

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

que é correto. Isto realmente me impressionou: minha interpretacáo da Escritura é o criterio da verdade. Eu escolho minha verdade. Eu escolho minha verdade crista.

Entáo comecamos a ler urna serie de livros de historia da Igreja. Fomos servir numa igreja episcopal, que ficava nos arredores. Nunca nos tínhamos aproximado do Catolicismo. Meu marido nao entendía a Liturgia. Eu nunca tinha assistido a um oficio litúrgico.

Qual foi nossa impressáo ao presenciarmos um cerimonial litúrgico pela primeira vez?

Eu gritei. Sentia-me táo bem que me ajoelhei para a Comunháo. Havia ali urna beleza, embora tudo me parecesse muito estranho. Era bonito ver as criancas ser levadas ao Batismo. Eu fora educada numa tradicáo anabatista, que nao aceita o Batismo de changas, de modo que eu nunca vira tal coisa. Era grandiosa a énfase dada á Liturgia, na qual a Eucaristía se sucedía ao sermáo.

Em meu coracáo havia algo que eu nunca experimentara antes. Nao sou urna pessoa que anda á cata de experiencias, mas o que eu via era muito profundo e muito emocionante. Meu marido tinha o claro sentimento de estar entrando em sua casa.

Apesar disto tudo, faltava-nos alguma coisa. Nao pudemos ficar muito tempo na ¡greja episcopal, pois a teología ali era quase nula. Renuncia mos á nossa missáo, e voltamos para os Estados Unidos. Nao sabíamos ainda onde íamos parar. Só sabíamos que nao podíamos continuar a ser protestantes".

O casal Franklin tinha deixado nos Estados Unidos urna igreja muito dinámica. Nao podiam voltar para ela.

"Era difícil, pois lá tínhamos amigos. Nao sabíamos onde nos agar rar, mas sabíamos onde nao nos agarrar. Apesar de tudo, procuramos a ¡greja episcopal nos Estados Unidos. Era um bom oasis. Neste comeca

mos a estudar seriamente a doutrina católica. Nao tardou muito e já podí

amos superar a antítese 'Escritura versus Igreja1. Já nao era difícil fazermos a síntese entre urna e outra. Algumas das outras doutrinas ainda nos pareciam difíceís... Mas, já que tínhamos vivido fora da nossa cultura,

havíamos aprendido a considerar as coísas com olhos diferentes. Era o que acontecía: tínhamos aprendido a olhar o Catolicismo um pouco mais como ele é ou sem preconceitos.

Para nos, a grande questáo era: 'Que é a verdade? E como a pode mos reconhecer? E sobre que base hao de repousar nossas crencas? Como havemos de decidir?' Quando nos pusemos a comparar a face 158

PASTORES PROTESTANTES SE TORNAM CATÓLICOS

15

nítida da Igreja Católica com a face nítida do protestantismo, a Igreja Ca tólica ganhou nos planos da lógica, da historia, da filosofía e da Escritura. Todas as nossas respostas lá se encontravam".

Marty e Kristine Frankiin foram recebidos na Igreja Católica em abril de 1996. 6. REFLETINDO...

Os testemunhos atrás citados sugerem, entre outras, tres reflexóes principáis.

6.1. Subjetivismo

Um dos grandes motivos para a conversáo dos irmáos em pauta foi o subjetivismo do protestantismo. Cada crente é incitado ao livre exame

da Biblia, donde cada qual deduz seus principios de fé e de Moral. É isto que explica o esfacelamento da Reforma: na época em que Marty Frankiin ensinava, havia criangas de quarenta denominacóes protestantes na tur

ma. Encontram-se também crentes que estáo fora de alguma denominacáo ou de algum sistema e se guiam únicamente pela Biblia, lida e enten dida segundo Ihes parece. Tais atitudes nao podem deixar de esvaziar o próprio Cristianismo, pois há denominacóes oriundas do protestantismo que já nao sao cristas, como as Testemunhas de Jeová, os Mórmons, a Ciencia Crista...

Os séculos XVI e XVII deram origem ao subjetivismo do pensar ou á relativizacáo da verdade. Lutero (t 1546) foi o arauto desse subjetivismo em materia de religiao, e Descartes (t 1650) o foi no tocante á Filosofía. De Descartes em diante a Filosofía se volta quase exclusivamente para a capacidade de conhecimento do homem e vai relativizando a verdade, tanto no sensismo (Thomas Hobbes, Condillac) como no idealismo (Kant, Hegel). Ora Deus nao se terá revelado aos homens, entregando ao leu ou ao arbitrio dos homens a sua Santa Palavra. Era sabio instituir urna instancia que garantisse a conservacao incólume da sua mensagem: foi o que Je sús Cristo fez, confiando a Pedro e seus sucessores a guarda do EvangeIho (cf. Mt 16,16-19; Le 22,31s; Jo 21,15-17; Jo 14,26; 16,13-15); a única Igreja fundada por Cristo tem a certeza de que Jesús Ihe está presente e Ihe assiste até o fim dos tempos (cf. Mt 28,18-20) de modo que nela se

mantém intata a verdade transmitida pelo Senhor Deus aos homens. A verdade é algo de objetivo, independente do parecer subjetivo e da cultu ra dos homens (isto nao quer dizer que ela nao interpele pessoalmente a cada ser humano).

É, pois, na Igreja Católica que se encentra o depósito da fé íntegro e fielmente conservado. Este depósito é como urna sementé que vai des159

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

dobrando suas virtualidades, de modo que no decorrer dos tempos se

váo descobrindo as riquezas contidas na sementé da Palavra de Deus; essa descoberta é homogénea ou está em continuidade com suas origens e é garantida pela assisténcia do Senhor Jesús e do seu Espirito. 6.2. A Definicáo do Canon (catálogo) bíblico Um dos pontos cruciáis que abalaram os convertidos em foco, era o de saber como se definiu o catálogo dos livros sagrados. Certamente nao é a própria Biblia que delimita o seu catálogo; é algo de fora da Biblia,

anterior á Biblia ou é a Tradigáo oral. É esta que autentica e recomenda

os escritos sagrados. Por conseguinte, é ilusorio dizer alguém que segué somente a Biblia; segué, sim, a Tradicáo oral que apresenta a Biblia e, conseqüentemente, apresenta o sentido ou a interpretacáo da Biblia. Os católicos seguem a Tradicáo oral que parte de Jesús Cristo e dos Apostó los. Os protestantes seguem a Tradicáo oral que vem dos judeus de Jámnia e que é adotada pelo fundador da respectiva denominacáo (Lutero, Calvino,

Wesley...); este fundador do século XVI ou posterior dá inicio á tradicáo oral e ao modo de interpretar a Biblia próprios dos luteranos, dos calvinis tas, dos metodistas... Assim os protestantes tém também sua tradigáo oral, que é anterior á Biblia e a acompanha...; todavía é tradigáo oral que nao comeca com Jesús Cristo e os Apostólos, mas comeca com um homem "iluminado" dos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX, XX...

6.3. A Historia do Cristianismo Os convertidos de que falam os relatos atrás, verificaram que o Cris tianismo nao comecou com Lutero nem com Calvino, nem com Wesley...,

mas comegou com Jesús Cristo. É importante, portante, retroceder para tras do século XVI e considerar a literatura crista dos primeiros séculos ou os escritos ditos "patrísticos" (que váo até o século VIII); tais escritos, como os de S. Justino (t 165), S. Ireneu (t 202), Orígenes (t 250), S.

Basilio (t 379), S. Atanásio (t 373), S. Leáo Magno (t 461), S. Gregorio Magno (f 604)... sao aínda o eco vivo da pregacáo dos Apóstelos e dos discípulos dos Apóstelos; nao há melhores intérpretes da Palavra de Deus do que tais autores. Foi o que Henry Newman e a Escola de Oxford veri

ficaram na Inglaterra do século passado, suscitando importante movimento

de volta ao Catolicismo. O Cristianismo nao comeca no século XVI (nem recomeca em tal época), mas tem inicio em Cristo e na geracáo dos Após telos, que Ele formou e dotou dos carismas do Espirito Santo para que transmitissem incólume a verdade do Evangelho.

160

Discussao candente:

ENSINO RELIGIOSO ACONFESSIONAL?... SEM

ÓNUS PARA O ESTADO?

Em síntese: A nova Leide Diretrízes e Bases da Educagao, promul gada aos 20/12/96, prevé o ensino religioso ñas escolas públicas sem

ónus ou encargos para o Govemo; além do qué, esse ensino deveria ser aconfessional, segundo muitos govemantes e mestres. - Ora tais posi-

góes ferem a índole democrática do Estado brasileiro. Este recebe dinheiro (impostos) da populagáo para servir á mesma. Se o Estado é leigo ou

arreligioso, o povo brasileiro é religioso; toca-lhe o direito de ser atendido ñas escolas oficiáis de acordó com a modalidade de educagao - e educa-

gao religiosa, se for o caso - que os pais querem dar aos filhos. Se as familias optam por ensino religioso confessional em casa, compete ao Estado oferecer as criangas o ensino religioso confessional correspon

dente, subvencionando com o dinheiro público ou o dinheiro do povo os professores de cada confissao registrada.

Aos 20/12/96 foi sancionada a nova Lei de Diretrízes e Bases da

Educacáo, também chamada "Lei Darcy Ribeiro", que, no tocante ao en sino religioso, prevé: "Ensino religioso de matrícula facultativa, no horario normal de aulas, mas sem ónus para os cofres públicos". Além de nao ser remunerado pelo Estado, o ensino religioso, como se pensa, deverá ser aconfessional, ou seja, ministrará concepcóes reli giosas que nao sejam propriamente católicas nem protestantes, nem es

piritas nem judaicas... Tal perspectiva tem agitado os ambientes religio sos do país, que nao aceitam nem urna nem outra das normas assim formuladas.

Vejamos o que se pode dizer a respeito nao somente do ponto de vista católico, mas também á luz dos principios da democracia.

1. QUE É O ENSINO ACONFESSIONAL? A nocáo e a prática do ensino religioso aconfessional encontram adeptos nao somente em ambientes governamentáis, mas também entre pensadores católicos e protestantes. Entre outros, distinguem-se profes sores do Estado do Paraná reunidos na Associacao Interconfessional de 161

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

Educa$áo de Curitiba (ASSINTEC); defendem a mesma tese o Conselho de Igrejas para a Educacáo Religiosa (CIER) de Santa Catarina e o Insti tuto Regional de Pastoral de Mato Grosso do Sul (IRPAMAT). Por ocasiáo da elaboracáo da Constituigao do país, enviaram á Assembléia Constitu irte a seguinte mensagem:

"Educagao Religiosa... nao pode ser entendida como mera informagáo sobre urna ou mais religióes... ser confundida com doutrinagáo, catequese ou formagao da fé dos crentes das diversas confíssdes religio sas, religióes, igrejas... Assim a visao de Educagao religiosa é muito semelhante á da educagao e necessita de seracolhida como integrante da vida escolar, ajudando a tornaras relagóes mais humanas e fraternas, ou seja, favorecendo para que a educagao seja mais personalizante, necessária á formagao da personaüdade do ser humano, fomecendo criterio de seguranga na busca da sua maturídade e plena realizagao, processo de formagao social e pessoal, que permita ao educando um ambiente mais favorável ao desenvolvimento de atitudes de abertura ao sentido mais profundo e radical da vida, da relagao com o Transcendente, o Sagrado, a partir do elemento cultural já presente nele... Portante Educagao Religiosa nSo é ensino da religiao, mas realida-

de mais ampia e mais rica, que nao visa a formagao de crentes, mas á de seres humanos compromissados com a vida, agentes da historia, cons-

trutores de urna nova sociedade mais justa, fraterna e solidaría". Como se vé, a Educacáo Religiosa assim entendida redunda em Educacáo Moral e Cívica. Perde seu caráter de transmissáo das verda des da fé ou deixa de ser profissáo de um Credo para reconhecer tio somente o Deus que a razio ou a filosofía pode atingir. Nem os fiéis cató licos nem os protestantes nem algum outro cidadáo religioso que seja convicto de sua fé, poderá aceitar essa redugao do ensino religioso ao plano do aconfessional.

A tendencia ao ensino aconfessional, que partiu de grupos religio sos, mas nao da Igreja Católica como tal, está sendo atualmente conside rada pelo Governo como a melhor forma de preservar o ensino religioso, dada a pluralidade de correntes religiosas existentes no Brasil. Diante

disto, impoe-se urna reflexáo objetiva e serena.

2. QUE DIZER DO ENSINO ACONFESSIONAL? Distinguiremos o dever do Estado e a posicao da Igreja. 2.1. O Devor do Estado

O ensino aconfessional, se for adotado pelo Governo, vira a ser um gesto de desrespeito aos cidadáos brasileiros, que tém suas crencas re162

ENSINO RELIGIOSO ACONFESSIONAL?... SEM ÓNUS PARA O ESTADO? 19

ligiosas e possuem o direito de ver essas crencas respeitadas quando o Governo oferece ensino religioso ñas escolas públicas. Dirá alguém: mas o Estado leigo, arreligioso1, pode ou deve oferecer aulas de religiáo ñas escolas oficiáis?

Respondemos que o Estado pode ser leigo ou arreligioso, mas a populacao brasileira é religiosa, profundamente religiosa. - O papel do Estado é servir ao povo, proporcionando-lhe os servigos de que necessita para seu bem-estar (hospitais, transportes, moradia, escola...). A escola es tatal deve ser continuadora da tarefa educativa dos pais na familia. É o que lembra a Declaragáo Gravissimum Educationis do Concilio do Vaticano II: "A tarefa de ministrar a educagáo, embona primordialmente seja da

familia, necessita do auxilio de toda a sociedade... É encargo seu (do Estado) promover de muitos modos a educagáo da juventude... De acordo com o principio da subsidiaríedade, na falta de iniciativa dos pais e das outras sociedades, deve a sociedade civil levar a termo a obra da educa gáo, respeitando, porém, o desejo dos pais" (n° 3,7). Com efeito, a educagáo dos filhos está entregue primeiramente aos genitores; sao eles que definem o tipo de educagáo que daráo aos filhos e querem que a escola ministre as suas criancas. Por conseguinte, se os

pais sao religiosos, tém o direito de exigir que a escola oferega ensino religioso - aquele ensino religioso que continué as nogóes e a formagáo que os alunos recebem em casa. O Estado que nao oferega tal tipo de servigo, nao é democrático; impoe aos alunos urna visáo arreligiosa, ou seja, urna visáo na qual a religiao é um elemento acidental, nao integran te, como seria a filiagáo a tal ou tal sociedade cultural ou esportiva. Com efeito; é impossível ser neutro em materia de religiao; quem nao a professa oficialmente, indica que ela nao é necessária para a formagáo da ju ventude; únicamente necessárias seriam a geografía, a historia, a mate mática... Isto equivale a negar o valor próprio da religiáo.

Com outras palavras: a Religiáo nao se apresenta ao Estado como algo que possa ser ignorado. Refutamos bem: o Estado pode omitir o

ensino da Informática em suas escolas, pois o estudo desta ciencia nao constituí parte integrante, imprescindível, da formagáo de urna pessoa humana. A Religiáo, porém, trata do sentido da vida. Ela tenta responder as perguntas básicas: Quem sou eu? Donde venho? Para onde vou? Por que trabalho? Por que sofro?... Verdade é que o Estado nao tem o direito de dar urna resposta oficial obrigatória a tais perguntas, dizendo aos cida-

dáos para que é que eles existem, mas o Estado tem o dever de oferecer 1 Distinguimos arreligioso e irreligioso. O primeiro significa "sem religiáo" (o prefixo a é negativo). O segundo quer dizer "contrario á religiao". 163

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

a cada um dos seus súditos os meios para elucidar tais perguntas funda mentáis, decisivas para nortear a vida nao só do individuo, mas também da sociedade.

Daí o dever que toca ao Estado, de oferecer ensino religioso aos alunos cujos pais o solicitam e o oferecer confessional sem criar urna nova religiáo (filosófica), que nao corresponde á opcao dos interessados.

Para corroborar quanto acaba de ser dito, seja citado o artigo 26, letra c da Declaracáo Universal dos Direitos Humanos promulgada pela ONU em 1948:

"Os pais tém príoridade de direito na escolha do género de instmgáo que será ministrada a seus fíihos".

Vai mais adiante ainda o Protocolo Adicional da Convencáo Européia de Salvaguarda dos Direitos do Homem, art. 2o: "O Estado, no exercício de suas fungóes, que deve assumirno domi nio da educagáo e do ensino, respeitará o direito, dos pais, de assegurar

esta educagáo e este ensino conforme suas convicgóes religiosas e filo sóficas".

A propósito vale a pena transcrever consideracoes de D. Lourenco de Almeida Prado no seu artigo "Ensino Religioso no Estado Democráti co" (revista Cultura e Fé, ano XIX, n° 73, abril/junho de 1996): «O Estado é prestador de servigos. Recolhe o dinheiro dos impostos, nao para tomarse urna entidade poderosa e dominadora (risco que é tentagáo do que se torna forte), mas para prestar servigos em atendimento ás carencias e desejos dos cidadaos. Há urna certa analogía entre a organizagao do Estado e a de urna cooperativa. Como observou lucida mente Joao XXIII, a vida moderna, com o progresso da ciencia e da técni ca, com o crescimento da vida urbana, tornou certos bens fundamentáis, como transporte, saúde, moradia e educagáo, inacessíveis a cada um singularmente. As pessoas tém que se associar para construir e equipar um hospital. Cada um coopera com urna contríbuigáo. O hospital, entre tanto, nao é fim, mas um meto. Meio para tomar a assisténcia á saúde

acessivel a cada um. O arrecadado é devolvido em servigos. Servigos que atendam ás postulagóes dos associados. Imaginemos que o diretor desse hospital se desse, um dia, á prepotencia de determinar que, no

mesmo, só se praticaría a homeopatía. Nada tenho contra a homeopatía,

mas é ao doente que cabe o direito de escolher o tipo de medicina e, até, o próprio médico. Esse hospital, se quisesse ser plenamente democrático e humanizado, nao devería impor um médico determinado, mas oferecer

varios médicos, a fim de que a variedade permitisse a escolha. Os cooperadores sejuntam nao para criar urna entidade prepotente, mas um 164

ENSINO RELIGIOSO ACONFESSIONAL?... SEM ONUS PARA O ESTADO? 21

servigo capaz de dar a cada um o que deseja. Para precisar a fungáo servidora (nao dominadora) do Estado e, ao mesmo tempo, marcara dife-

renga entre neutralidade tiránica, que nega a verdadeira neutralidade, que é oferta variada, para cada um ter o direito de escolher, imaginarei um Estado metido em difículdades internacionais que, pretendendo fícar neu tro em materia da língua moderna, se dispusesse a retirar do currículo oficial o ensino de qualquer língua. Quem quisesse aprender francés ou

inglés assumisse o ónus e o fizesse em aulas particulares. É a neutralida

de que se pretende em relagáo ao ensino religioso. Negar. Qual seria a verdadeira neutralidade estatal em relagáo ao ensino da língua? Colocar se na posigáo de devedor. Deve ao cidadáo, contribuinte do imposto, o ensino de língua. Oferecerá varias línguas, na medida do possível, para que cada um possa optarpela que prefere... Assim, no tocante á Religiáo, 0 Estado deverá assegurar, sem ónus para o contribuinte, o ensino e condigóes a cada um para a escolha...».

Passemos agora ao exame da 2.2. Posigáo da Igreja

A Igreja Católica reconhece a existencia de varias correntes religio sas no Brasil. Mas nem por isto pleiteia o ensino aconfessional nem mes mo o interconfessional1, mas sim o ensino pluriconfessional, em que cada cidadáo encontra a mensagem correspondente as suas conviccóes religiosas: a católica, a protestante, a judaica...

Os Papas tém repetido a necessidade de nao se mutilar a doutrina católica na catequese, nem mesmo a título de facilitar o ensino religioso, ou promover o ecumenismo. Sao palavras de Paulo VI:

"A fidelidade ao depósito da Revelagáo é claro que exige também que nao se passe em silencio alguma verdade essencial da fé: o Povo de Deus, confiado aos nossos cuidados, tem o sagrado e inalienável direito de receber a Palavra de Deus, toda a Palavra de Deus" (Alocugáo aos Padres Conciliares, citado por Odiláo Moura, Ecumenismo e Ensino Re ligioso na Escola Pública, Rio de Janeiro 1988, p.15). Joáo Paulo II retoma o pensamento de Paulo VI: "Para ser verdadeira a oblagáo da fé, aqueles que se tomam discípu los de Cristo tém o direito de receber a palavra da fé nao mutilada, 1 O ensino interconfessional nao corresponde nem a mensagem católica completa, nem á protestante na sua íntegra. Se o aluno nao completar sua fonvagao na Igreja, como há de ser o caso de muitos, ficará ao nivel de um Credo religioso próprio, muito mais próximo do protestantismo do que do Catolicismo, teto é, por certo, muito incon veniente; nao é lícito ao cristao ocasionar voluntariamente o surto de um ramo do Cristianismo. 165

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TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

falsificada ou diminuida, mas sim plena e integral, com todo o seu rigor e com todo o seu vigor. Atraigoarem qualquer ponto a integridade da mensagem é esvaziar perígosamente a própria catequese... Assim a nenhum catequista verdadeiro é lícito fazer, por seu próprío arbitrio, urna selegéo, no depósito da fé, entre aquilo que considere importante e aquilo que ele julgue sem importancia, para ensinaro 'importante' e rejeitaro resto" (Exortagáo Apostólica Catechesi Tradendae n° 30).

Vé-se que seria traicáo querer mutilar a mensagem da fé no que ela tem de essencial, qualquer que fosse o motivo evocado. Passemos a ulterior aspecto da problemática.

3. "... SEM ÓNUS PARA O ESTADO" De quanto foi dito até agora decorre, com clareza, que ao Estado compete oferecer o ensino religioso que as familias solicitem, sem ulteri or encargo para estas; visto que pagam impostos, tém o direito de receber do Governo os servicos de que precisam, inclusive o da educagáo correspondente ao desejo dos pais. Continuagáo da pág. 192:

finito e o Infinito, o relativo e o Absoluto, o temporario e o Eterno, o contin gente e o Necessário, em última análise,... o Sim e o Nao. Ora isto nao se sustenta aos olhos da razáo e, portanto, nao se concilia com a mentalida-

de ocidental, que costuma ser rigorosamente lógica. É a falta de conhecimento exato da doutrina budista que a torna aparentemente compativel com as categorías científicas do homem de hoje. Quem se aprofunda em materia religiosa, verifica a incompatibilidade da filosofía budista com a mentalidade científica do homem ocidental. 2) Na verdade, o que atrai no budismo, é a sua sede de valores invisíveis e superiores. Todo homem possui o anseio do Absoluto, que fica além das criaturas finitas e relativas como sao. A ascese budista, a sua procura de claro encontró com a Divindade mediante um coracáo purifi cado é que fascinam o cidadáo contemporáneo. Todavía é de notar que a

Mística nao é privilegio do budismo; ela é humana e, por isto, está muito presente no Cristianismo. Este conta na sua historia com grandes figuras

contemplativas, cheias do amor a Deus e ao próximo, como Sao Paulo

Apostólo, Sta. Teresa de Ávila, Santo Inácio de Loiola, Sao Francisco de

Assis, Santa Teresa de Lisieux, Santa Catarina de Sena... Basta estudar um pouco a tradigáo crista para descobrir belas e profundas páginas de elevacáo espiritual, que nada deixam a desejar para quem procura a intimidade com Deus (além do qué, nao ferem a lógica). Continua na pág. 187 166

Novo Pronunciamento sobre

AS MENSAGENS DE VASSULA RYDEN

Em síntese: A Congregagao para a Doutrina da Fé, aos 29 de novembro de 1996, emitiu nova Declaragáo sobre as obras da Sra. Vassula

Ryden, que atribuí a Jesús Cristo certos oráculos relativos á reuniáo dos cristaos, á piedade crista, a flagelos que deverao sobrevir a humanidade... Tal Declaragáo confirma os dizeres de Declaragáo anterior, datada de 6 de outubro de 1995 e dissipa qualquerdúvida que possa subsistirá respeito do alvitre que o fiel católico deve tomar frente ás mensagens

provenientes da Sra. Vassula. Esta merece respeito. Competía, porém, ao magisterio da Igreja esclarecer o povo católico, ao qual Vassula dirige seus escritos.

A Sra. Vassula Ryden, greco-ortodoxa, tem apresentado ao mundo mensagens que ela diz receber de Jesús Cristo, relativas á reuniáo dos cristaos, á auténtica piedade, a castigos vindouros... Esses dizeres se acham colecionados em diversos voiumes, que vém deixando o povo ca tólico sem saber o que julgar a respeito. Diante da situacáo assim oriunda, a Congregacáo para a Doutrina da Fé, em 6 de outubro de 1995, emitiu urna Notificacáo que desabonava tais mensagens, qualificando-as de meditacóes pessoais da Sra. Vassula, e nao de oráculos divinos. Tal Declaracáo da S. Sé suscitou ampia con testacáo, como se nao fosse auténtica ou como se nao emanasse de autoridade competente nem tivesse forca de lei. Em conseqüéncia, a Congregacáo para a Doutrina da Fé publicou nova Declaracáo datada de

29 de novembro de 1996, que confirma a anterior e dissipa qualquer mal entendido a respeito da mesma.

Dada a importancia desta segunda Declaragáo, publicamo-la a se guir, antepondo-lhe, para maior clareza do leitor, a primeira Notificacáo, já reproduzida em PR 406/1996, pp. 116s. O leitor encontrará ainda em PR

406/1996, pp. 118-123 um comentario de D. Murilo Krieger, Bispo de Pon-

ta Grossa (PR) em defesa da autenticidade da primeira Notificacáo. Eis a Notificacáo de 6/10/95: 167

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

CONGREGAQÁO PARA A DOUTRINA DA FÉ NOTIFICAQÁO Muitos bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos se dirigen) a

esta Congregagáo para ter um juízo autorízado sobre a atividade da Senhora Vassula Ryden, greco-ortodoxa, ¡vsidente na Suíga, que está a difundir nos ambientes católicos do mundo inteiro, com a sua palavra e com os seus escritos, mensagens atribuidas a presumíveis revelagóes celestes.

Um exame atento e sereno da inteira questáo, realizado por esta Congregagáo a fím de "por á prova as inspiragóes para verificar se provém verdadeiramente de Deus" (cf. Uo 4,1), fez notar- ao lado de aspec tos positivos - um conjunto de elementos fundamentáis, que devem ser considerados negativos á luz da doutrina católica. Além de evidenciar o carátersuspeito das modalidades com que acontecem essas presumíveis revelagóes, é imperioso ressaltar alguns erros doutrinais nelas contidos.

Entre outras coisas, com urna linguagem ambigua fala-se das Pes soas da Santíssima Trindade, até confundir os específicos nomes e fungóes das Pessoas Divinas. Preanuncia-se nessas presumíveis revelagóes um ¡mínente período de predominio do Anticristo no seio da Igreja. Profe tizase em chave milenarista urna intervengéo resolutiva e gloriosa de Deus, que estaría para instaurar sobre a térra, antes aínda da vinda definitiva de Cristo, urna era de paz e de bem-estar universal. Anunciase, além disso, o futuro próximo de urna Igreja que seria urna especie de comunidade pancristé, em contraste com a doutrina católica. O fato de nos escritos posteriores da Senhora Ryden os menciona dos erros já nao aparecerem, é sinal de que as presumíveis "mensagens celestes" sao apenas fruto de meditagóes privadas.

Além disso, a Senhora Ryden, participando habitualmente nos sa cramentos da Igreja Católica, embora se/a greco-ortodoxa, suscita em di versos ambientes da Igreja Católica nao pouca surpresa; parece pór-se ácima de qualquerjurisdigáo eclesiástica e de todas as regras canónicas e cria, de fato, urna desordem ecuménica, que irrita nao poucas autorida des, ministros e fiéis da sua própria Igreja, colocándose fora da disciplina eclesiástica da mesma.

Considerando que, nao obstante alguns aspectos positivos, o efeito das atividades exercidas por Vassula Ryden é negativo, esta Congrega-

gao solicita a intervengao dos Bispos, a fím de que informem adequadamente os seus fiéis, e nao seja concedido nenhum espago no ámbito das 168

AS MENSAGENS DE VASSULA RYDEN

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prúprías dioceses á difusáo das suas idéias. Convida, por fim, todos os fiéis a nao consideraren! como sobrenaturais os escritos e as intervengóes da Senhora Vassuia Ryden, e a conservarem a pureza da fé que o Senhor confíou á Igreja.

Cidade do Vaticano, 6 de Outubro de 1995. Eis a segunda Notificará o:

Cidade do Vaticano, 29 de novembro de 1996.

Hoje foi dado ao público o seguinte Comunicado da Congregagáo para a Doutrina da Fé:

Chegaram á Congregagáo para a Doutrina da Fé diversas perguntas relativas ao valor e á autoridade da Notificagao da mesma Congregagáo datada de 6 de outubro de 1995 e publicada no jornal L'OSSERVATORE

ROMANO de 23/24 de outubro de 1995, pág.2; dizia respeito aos escritos

e as mensagens da Sra. Vassuia Ryden, atribuidos a presumidas revelagóes e difundidos em ambientes católicos do mundo inteiro.

A este propósito a Congregagáo para a Doutrina da Fé queroferecer as seguintes precisóes: 1) A Notificagao dirigida aos Pastores e aos fiéis da Igreja Católica mantém todo o seu vigor. Foi aprovada pelas autoridades competentes e será publicada no órgao oficial da Santa Sé ACTA APOSTOUCAE SEDIS, com a assinatura do Prefeito e do Secretario da Congregagáo. 2) Com relagáo as noticias que alguns órgáos da imprensa difundiram a respeito de urna interpretagao restritiva de tal Notificagao, interpretagáo dada pelo Cardeal Prefeito numa conversa privada com um grupo

de pessoas as quais concedeu audiencia em Guadalajara (México) aos 10 de maio de 1996, o mesmo Cardeal Prefeito deseja esclarecer que a) como ele mesmo afinvou, os fiéis nao devem considerar as men sagens de Vassuia Ryden como revelagáo divina, mas apenas como meditagóes pessoais dessa senhora; b) em tais meditagóes, como já afirmava a Notificagao, juntamente com aspectos positivos, existem elementos negativos do ponto de vista da doutrina católica;

c) por conseguinte, os pastores e fiéis sao convidados, a propósito, a um serio discernimento espiritual e a conservara pureza da fé, dos costu-

mes e da vida espiritual, sem se apoiar em presumidas revelagóes, mas seguindo a Palavra de Deus revelada e as diretrizes do magisterio da Igreja. 169

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

No que concerne á difusao de textos das presumidas revelagóes pri

vadas, a Congregagáo para a Doutrína da Fé esclarece: 1) Nao é, de modo algum, válida a interpretagao dada por algumas pessoas a urna Decisáo aprovada por Paulo VI em 14 de outubro de 1966 e promulgada em 15 de novembro do mesmo ano, em virtude da qual (interpretagao) se poderíam difundir livremente, na Igreja, livros e mensagens provenientes de presumidas revelagóes. Na verdade, aqueta Deci

sáo se referia á aboligáo do índex de Livros Proibidos e estipulava que, eliminada a censura relativa, permanecía a obrigagáo moral de nao pro

pagar nem ler aqueles escritos que póem em perigo aféeos bons costumes.

2) Nao obstante, para a difusao de textos de presumidas revelagóes privadas, continua válida a norma do Código de Direito Canónico vigente, canon 823, § 1o, que confere aos Pastores o direito de exigir que sejam

submetidos ao seu juízo, antes de sua publicagáo, os escritos dos fiéis que tratam da fé e da Moral. 3) As presumidas revelagóes sobrenaturais e os escritos correspon

dentes estáo, em primeira instancia, sujeitos ao juízo do Bispo Diocesano e, em casos particulares, ao da Conferencia dos Bispos e ao da Congre gagao para a Doutrina da Fé.

Diante de tais textos da Congregacáo para a Doutrina da Fé, o fiel

católico nao hesita sobre o alvitre que Ihe compete tomar. A Igreja funda da por Cristo e confiada a Pedro e seus sucessores tem a promessa da assisténcia infalível de Cristo para que conserve incólume o patrimonio

da fé; cf. Mt 16,16-19; Le 22,31s; Jo 21,15-17;14,26; 16,13-15. A Sra.

Vassula merece respeito. As Declaragóes da Santa Sé visam aos escritos que Vassula transmite nao somente ao povo ortodoxo (do qual ela é membro), mas também ao mundo católico, que, em conseqüéncia, se senté perplexo. Era, pois, necessário que a Igreja, Máe e Mestra, dissesse a respeito urna palavra de esclarecimento aos fiéis católicos.

PARA RESPONDER ÁS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ MUITO SE RECOMENDARA OS ESCRITOS DO PE. EGIONOR CU-

NHA INTITULADOS: "BÍBLIA, SANGUE E MEDICINA", "ESTÁ PRÓXI

MO O FIM DO MUNDO?", "IMAGENS E SANTOS", "INFERNO", "HO-

MENS DE SERIE 'B'", "A SANTÍSSIMA TRINDADE", "A SENHORA

CONTESTADA"... A ARGUMENTACÁO É SÓLIDA E DE FÁCIL LEITURA. PEDIDOS Á EDITORA AVE-MARIA, RÚA MARTIM FRANCISCO, 656, 01226-000 SAO PAULO (SP). 170

Na Comunháo dos Santos:

QUE SIGNIFICA REZAR PELOS MORTOS?

Em síntese: Rezar pelos morios e, especialmente, celebrara S. Missa pelos morios nao é celebrara fé das pessoas falecidas nem é celebrar

a fé dos que ficaram neste mundo. É celebrar o misterio da fé, ou seja, o

sacrificio de Cristo perpetuado sobre os nossos altares e oferecido ao Pai em favor de tal ou tal irmao ou irmá falecido(a). Mediante a S. Missa, a

Igreja pede ao Pai que faga que o amor a Deus existente na alma do(a) falecido(a) seja corroborado para que extinga qualquer amor desregrado

ou qualquer resquicio de pecado que tenha ficado na alma do defunto. Este

se encontra em estado de purificagao, preparándose para ver Deus face-aface mediante o repudio radical de qualquer escoria de infidelidade. *

*

*

Um jornal paroquial publicou em novembro pp. um artigo intitulado "O que significa rezar pelos falecidos". O conteúdo da explanacáo é ambi guo e suscitou hesitacáo em varios leitores. Daí a conveniencia de algumas reflexoes sobre o assunto. Eis os trechos mais significativos do artigo;

"A festa de todos os Santos e o dia dos Finados nos oferecem urna ótima oportunidade para refletirmos sobre nossas atitudes para com nos-

sos falecidos. Mais concretamente, sobre o sentido das Missas de sétimo dia, trigésimo dia e primeiro ano... Redescubramos o sentido da Eucaristía oferecida pelos defuntos:

toda Missa é renovagáo do dom total de Jesús Cristo, que morreu por nos e ressuscitou para a nossa salvagño. Oferecer a Missa por um irmáo que faleceu é um ato com duplo sentido: celebragáo da fé que ele tinha e da fé que nos temos. O fundamento do Cristianismo é a fé em Jesús Cristo ressuscitado. 'Se Cristo nao ressuscitou, va é nossa fé...'

A Missa é um ato de fé na comunháo dos santos, isto é: quer viva mos peregrinos nesta tena, querjá estejamos com Deus, fonvamos urna

só Comunidade de Batizados".

Passemos a um comentario.

1. QUE É A MISSA? O autor do artigo afirma que a Missa é "renovagáo do dom total de

Jesús Cristo, que morreu por nos e ressuscitou para nossa salvagao". 171

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

Ora aquí já se ¡mpóe urna observacáo: a Missa nao é propriamente a

renovacáo da entrega de Cristo ao Pai; a palavra "renovacáo" pode suge rir a idéia de repeticáo - o que seria falso, visto que o sacrificio de Cristo foi cabal e infinitamente meritorio; é irrepetível, de modo que mais adequado é falar de "perpetuado" ou "re-apresentacao" do sacrificio de Cris to sobre os nossos altares.

Outra observado - e esta mais grave - refere-se á afirmacáo de que "a Missa é a celebracao da fé que a pessoa falecida tinha e a celebracao da fé que nos temos". - Ora isto é falho ou falso. Na verdade, a Missa nao é a celebragáo da fé das criaturas: a Missa é a re-apresentacáo do sacrificio do Caivário, com a diferenca de que na Cruz Jesús se ofereceu a sos ao Pai, ao passo que sobre os nossos altares Ele se oferece conos-

co ou com a sua Igreja ao Pai. Com outras palavras: a Missa nao é a celebracáo da fé, mas é a celebragáo do misterio da fé por excelencia. Jesús torna presente sobre os nossos altares a sua entrega ao Pai para que nos entreguemos com Ele na qualidade de cooferentes e na qualidade de cooferecidos, participando do sacerdocio de Cristo e da condicáo de Cristo como vítima ou hostia. Perguntamos entáo: 2. POR QUE CELEBRAR A MISSA PELOS DEFUNTOS?

A resposta está associada á doutrina do purgatorio, que vai aquí bre vemente recordada. 1) O amor a Deus, num cristáo, pode coexistir com tendencias desregradas e pecados leves (ao menos, semideliberados). Há, sim, em todo individuo humano um lastro ¡nato de desordem: egoísmo, vaidade, amor

próprio, covardia, negligencia, moleza, infidelidade... acham-se táo inti mamente arraigados no interior do homem que chegam por vezes a acompanhar as suas mais serias tentativas de se elevar a Deus e dar a Deus o lugar primacial que Ihe toca. A psicología das profundidades ensina que essas tendencias nem sempre sao conscientes, mas muitas vezes atuam no nosso subconsciente ou inconsciente.

2) Mais: todo pecado (principalmente quando grave, mas também a falta leve) deixa na alma um resquicio de si ou urna inclinacáo má (meta fóricamente:... deixa urna cicatriz, deixa um pouco de ferrugem na alma, dificultando-lhe a prática do bem). Com efeito; o pecado implica sempre urna desordem. Quando, após o pecado (grave ou leve), a pessoa se arrepende e pede perdáo a Deus, o Pai do céu perdoa (o Senhor nunca rejeita a contrica o sincera). Mas o amor do pecador arrependido, por mais genuino e leal que seja, pode nao ser suficiente para extinguir todo res quicio de amor desregrado, egoísta, existente na alma. Em conseqüén172

QUE SIGNIFICA REZAR PELOS MORTOS?

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cia, o pecador arrependido recebe o perdáo do seu pecado, mas ainda deve libertar-se da desordem deixada pelo pecado em sua alma; quantas vezes se verifica que, mesmo após urna confissao sincera e contrita, o

cristao recaí ñas faltas de que se arrependeu! Isto se deve ao fato de que ficou no seu íntimo a raiz ou o principio do pecado. Figuradamente, póde se dizer que o cristao arranca a folha e o caule da tiririca, mas difícilmente

arranca também o caroco ou a raiz da tiririca; esta se manifesta dentro em pouco, através de novos pecados. Para extirpar o principio do pecado remanescente, o cristao deve excitar e exercitar mais intensamente o amor

a Deus. Ora este estímulo do amor a Deus se realiza mediante a satisfagáo ou atos de penitencia que despertem e fortalecam o amor a Deus no íntimo do cristao.

Notemos bem: a satisfacáo assim entendida nao deve ser compara da a urna multa mais ou menos arbitraria imposta por Deus ou a um cas tigo vingativo; é, antes, um auxilio medicinal; é também urna exigencia do amor do cristao a Deus, amor que, estando debilitado, pode ser corrobo rado e purificado. 3) Digamos agora que um cristao morre com o seu amor voltado para Deus, mas ainda portador de contradicdes ou incoeréncias: ama a Deus, mas caí em impaciencia, maledicencia, omissóes... O Senhor Deus nao há de o rejeitar, porque ele nao opóe um obstáculo decisivo ao amor de Deus, mas também é de notar que esse cristao nao poderá ver Deus face-aface como acontece aos cristáos purificados de todo resquicio de pecado. Deus é tres vezes santo: por isto nao pode subsistir diante dele nenhuma sombra de pecado. Por conseguinte, a misericordia divina concede a essa alma a graca de se purificar depois da morte: nao se trata de conversáo do pecado mortal para a vida da graga, mas trata-se de eliminar o apego ao "pecadinho", que é sempre pecado ou deficiencia. Essa purificacáo nao se faz pelo fogo, mas faz-se pela ¡ntensificacáo do amor a Deus; este, tornando-se mais intenso ou mais forte, apaga os resquicios do pecado exis tentes na alma. Tal é o processo que se realiza no purgatorio postumo.

Os cristáos peregrinos na térra podem ajudar seus irmáos falecidos que estejam no purgatorio, mediante oracoes ou sufragios: pedem a Deus que fortalega o amor das almas do purgatorio para que apague toda som bra de tendencias desregradas e Ihes permita entrar quanto antes na visáo de Deus face-a-face.

Ora a S. Missa é o melhor meio de sufragar as almas do purgatorio. Oferecemos a Deus o sacrificio de Cristo perpetuado sobre os nossos altares para que o Pai conceda a essas almas a graga necessária para vencerem as resistencias do pecado ou do "pecadinho"... Sabemos por experiencia como é difícil a cada um de nos vencer certos impulsos 173

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

desordenados que nos humilham, que nos repudiamos, mas que se acham táo arraigados em nosso íntimo que difícilmente os eliminamos. Tenhamos em vista os movimentos de impaciencia que nao queremos alimen tar, mas que se antecipam á nossa deliberagáo e nos fazem sofrer porque nos desfiguram... Pois bem: essas coisas desregradas tém que desapa recer por completo para que possamos ver Deus face-a-face. A purificacáo da alma ou a extirpacáo dos resquicios do pecado há de ser normalmente realizada na vida presente, de modo que, terminada a caminhada terrestre, a alma do cristáo possa ¡mediatamente gozar da visáo de Deus face-a-face. Caso, porém, nao ocorra nesta vida a eliminacáo dos resquicios do pecado, a misericordia divina concede ao cristáo a graca do purgatorio postumo. Este nao é um lugar, mas um estado no qual o amor a Deus existente na alma do falecido toma posse, por com pleto, dessa alma livrando-a de qualquer apego ao pecado.

3. NOCÓES COMPLEMENTARES 1. Notemos a propósito que a comunicacáo de bens espirituais entre os fiéis nao conhece classes nem privilegios; todos os bens espirituais da Igreja circulam entre todos os membros desta. Por isto nao é adequada a expressáo "as almas mais abandonadas no purgatorio"; nao há alma abandonada.

Mais explícitamente: nao se deve imaginar o purgatorio como se fosse um cárcere onde se encontrem prisioneros de origens diversas; os que tém familia numerosa e rica, ai recebem mais visitas e presentes, ou seja, passam melhor do que aqueles que pertencem a familias pobres ou negligentes; poderáo sair da prisáo mais cedo do que os seus compa-

nheiros indigentes. Evitemos transpor tal imagem, com suas categorías e classes, para o além-túmulo. O purgatorio, de certo modo, transcende os conceitos que adquirimos neste mundo; pertence aos sabios e misterio

sos designios salvíficos de Deus, a respeito dos quais a Revelacáo Divina é sobria. Por isto nao devemos crer que urna alma do purgatorio pela qual ninguém reza - ou porque nao tem familiares na térra ou porque só tem familiares incrédulos ou pobres -, é "urna alma abandonada"; na verdade, ela está envolvida pela infinita misericordia de Deus, á qual a Igreja sempre eleva suas preces em favor de todos os que carecem (doentes, moribundos,

viajantes, enancas que morrem sem o Batismo, almas do purgatorio...). Assim vemos como é infundada a alegacáo seguinte: "As almas de familias pobres que nao tém dinheiro para mandar celebrar Missas, so-

frem mais, e mais tempo, no purgatorio, do que as almas dos ricos! O dinheiro é decisivo até no purgatorio!"

Nao creíamos que essas regras de lógica terrestre e comercial sejam observadas também por Deus. O Senhor seria mesquinho se aten174

QUE SIGNIFICA REZAR PELOS MORTOS?

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desse menos solícitamente aos interesses daqueles que menos dinheiro tém; heranca monetaria nao significa primazia para alguém diante de Deus. Jamáis poderemos esquecer que a graca e a misericordia de Deus tém o primado sobre as obras dos homens. As almas dos pobres, por conseguinte, sao amadas por Deus como todas as demais. Acontece, porém, que entre nos e as almas do purgatorio há o dever

de sufragar... e de sufragar segundo determinada ordem: impóem-se á

nossa caridade primeiramente aqueles que nos estáo mais próximos (parentes, amigos, colaboradores, benfeitores...). A uma familia crista toca o dever de sufragar as almas, a comecar pelos membros defuntos dessa familia.

2. É oportuno observar que nao se pode oferecer a Comunhao Eucarística como tal nem pelos vivos nem pelos defuntos; a Comunhao, enquanto sacramento, age apenas sobre o cristáo a quem é dada; ninguém pode receber os sacramentos pelos outros. Todavía, na medida em

que é obra boa e meritoria, a S. Comunhao pode ser oferecida por vivos e defuntos (o mérito que adquiro ao comungar fervorosamente, posso oferecé-lo em favor de meus irmáos)...

Também tém valor de sufragio as oracóes particulares e comunitari as dos fiéis, a paciencia ñas provacóes de cada día, os sacrificios genero

samente empreendidos por amor a Deus e ao próximo. Ás obras boas, principalmente ás que sao praticadas com fervor, correspondem méritos preciosos, que podem ser aplicados em prol dos defuntos. 3. Notemos aínda que nao nos é possível avaliar a duragáo do pur gatorio, pois este nao está submetido ao sistema de anos e días que na térra observamos, considerando os movímentos dos astros. No purgato

rio a duracao é representada pelos atos espirituais (atos de conhecimento e amor) que as almas praticam. Cada um destes atos é uma unidade de duracáo ou um instante espiritual, e cada qual desses instantes pode corresponder a vinte, trinta ou sessenta horas do nosso tempo (como uma pessoa pode permanecer horas continuas absorvida por um único pensamento); os atos sucessivos dos espiritas constituem a serie de ins tantes espirituais chamada "evo" ou "eviternidade". Ora, já que nao se vé

qual a proporcáo vigente entre o tempo solar e o evo dos espíritos, torna se impossível avaliar a duracáo do purgatorio para alguma alma. Cada

qual traz em si afetos desregrados, que estáo arraigados com maior ou

menor profundidade, e assim opóem resistencia ao amor de Deus, que quer penetrar até o íntimo da alma.

Os sufragios podem ter efeíto retroativo: aplicam-se aos fiéis na medi da em que deles necessitem. Se alguém reza por uma alma que já se acha na gloria do céu, as suas preces beneficiaráo quem ainda precise délas. 175

Poucos conhecem as minucias:

COMO SE TRANSMITE A VIDA HUMANA?

Em síntese: O Dr. Joño Evangelista dos Santos Alves descneve mi nuciosamente o processo pelo qual se transmite a vida humana. Aponta a agao dos cromossomos e o subseqüente desenvolvimento do concepto até a plena confíguracao no útero materno.

O Dr. Joáo Evangelista dos Santos Alves, médico ginecologista e mastologista (CRM 5201135-7) escreveu um livro intitulado "Considera-

coes em torno da Sexualidade Humana e Integridade na Transmissáo da Vida". De tal obra, ainda nao editada, o ilustre autor permitiu a PR a publicacáo de capítulos seletos. Recebendo com gratidáo tal autorizado, a

nossa revista tenciona publicar em cinco de seus números (a partir do presente) as seccóes que mais precisóes de ordem médico-profissional apresentam, pois a fundamentacáo científica é muitas vezes breve demais ñas consideracóes filosóficas e éticas relativas á origem da vida humana. A ordem de publicacáo será a seguinte: 1) O processo de formacáo do embriáo; 2) O aborto; 3) Os métodos anticoncepcionais; 4) Os métodos naturais; 5) A fecundacáo artificial. A leitura e o entendimento de cada seccáo seráo independentes das outras seccóes. Ao Dr. Joáo Evangelista dos Santos Alves seja registrado o vivo agradecimento de PR por táo valiosa colaboracáo.

1. O INÍCIO DA VIDA HUMANA Sabemos que todas as células do organismo trabalham para a manutencáo da saúde e da integridade do próprio corpo a que pertencem, mas nao assim as células reprodutoras - espermatozoides (gametas

masculinos) e óvulos (gametas femininos) -, - as quais se destinam á transmissáo da vida, á perpetuacáo da especie. As células reprodutoras se diferenciam das demais células do orga nismo nao apenas pelo fim a que se destinam, mas também pela sua constituigáo cromossomial.

Como sabemos, os cromossomos - pequeníssimas partículas pre

sentes no núcleo das células - contém ¡menso número de partículas infi176

COMO SE TRANSMITE A VIDA HUMANA?

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nitesimais chamadas "genes", as quais sao responsáveis pela transmissáo dos caracteres hereditarios.

Os cromossomos caracterizam as diferentes especies de seres vi vos. Na especie humana, todas as células somáticas apresentam 46 cro mossomos (23 pares de cromossomos), sendo um par característico do

sexo, denominado XX para o sexo feminino e XY para o sexo masculino. Ao contrario das demais células do organismo, as células reprodu-

toras, ao amadurecerem, perdem, cada urna, a metade dos cromossomos: os pares de cromossomos se separam, ficando cada componente do par

em urna célula diferente. Desse modo, cada célula reprodutora madura fica com apenas 23 cromossomos ¡solados (nao em pares). Também os componentes do par de cromossomos sexuais se separam, de modo que

cada célula reprodutora feminina madura (o óvulo) contém um cromossomo X, enquanto que a célula reprodutora masculina (o espermatozoide) con tém também um cromossomo sexual, que pode ser o X ou o Y.

Quando urna célula reprodutora completa o seu desenvolvimento, apresentando metade do número de cromossomos próprio da especie humana, encontra-se em condicóes de se unir, de se fusionar á célula reprodutora madura do sexo oposto, também com o número de cromossomos reduzido á metade. Se isso acontece, as duas células reprodutoras maduras somam os seus cromossomos, e reconstituem os 23 pares próprios da especie. Transformam-se assim na célula mais imatura que exis te, com número completo de cromossomos (46 = 23 pares), mas que na realidade nao é apenas urna simples célula; é um novo ser humano, que surge com todas as suas características biológicas específicas e individu áis genéticamente determinadas. Nao pretendemos entrar em consideracoes filosóficas em torno da

conceituacáo ou definicao de vida humana. Todavia, podemos dizer que

a ciencia nos informa onde e quando se inicia o ciclo de urna nova vida. É fato científicamente comprovado e amplamente difundido que a fecundacáo do óvulo pelo espermatozoide, que normalmente ocorre na trompa1,

é o estágio em que comeca o ciclo de urna nova vida humana. É o inicio

de um processo vital que só terminará com a morte. Assim, o novo ser humano evolui segundo um plano inexorável até a plenitude do desenvol vimento de todo o organismo, cujas características já estavam contidas

nos cromossomos da célula única inicial. Com a fusao dos gametas constitui-se urna unidade bem estruturada que, pela transmissáo dos caracteres

hereditarios paternos e maternos, tem suas características futuras essenciais bem determinadas: sexo, grupo sanguíneo, fator Rh, cor dos olhos, 1 Trompa ou Tuba (Trompa de Falópio) é um tubo sinuoso e flexivel situado a cada la

do do útero, por onde os espermatozoides penetram em busca do óvulo para fecundá-lo. 177

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

da pele, dos cábelos, certas doencas hereditarias, a idade em que deveráo surgir as primeiras rugas, etc., e até mesmo o porte, tragos psicológi

cos, de temperamento, etc. Ali está escondido também o que, de certa

forma, se tornará a base da inteligencia e até mesmo da personalidade. Tanto assim é que - sabem muito bem os psicólogos - profundos distur bios da personalidade podem ter origem remota, no período pré-natal. Assim o novo ser formado com o padrao cromossómico humano é um ser vivo. Agora perguntamos: é coelho? é gato? Que especie de ser vivo é?

Nao há dúvida de que se trata de um ser vivo humano. É o que continuará a ser sempre: a mesma pessoa com toda a sua individualidade própria. É

a ciencia moderna que assim o demonstra. Querer negar esse fato é fa-

zer vistas grossas e ouvidos surdos a importantes descobertas científi cas. Há unidade e continuidade no desenvolvimento do novo ser, embora ocorram profundas modificacóes, porém todas acidentais, alterando-lhe

0 formato, o volume, etc., mas sem que naja mudanca substancial, espe cífica, pois é sempre o mesmo ser que, desenvolvendo-se, passa por todas as fases genéticamente determinadas na célula inicial. Para que o homem chegue as fases de recém-nascido, infancia, adolescencia, maturidade, velhice, é necessário que também passe pelas fases de formacáo no ventre materno, que comega na trompa, com a fecundacáo do óvulo pelo

espermatozoide, e evolui até o parto. Sao, todas, etapas da mesma vida.

2. EVOLUQÁO DO NASCITURO Entende-se por concepto o ser humano no período da vida que vai desde o seu inicio, na concepcao, até o nascimento; assim também o termo nascituro ("aquele que há de nascer; gerado, mas ainda nao nas-

cido")1; usa-se o termo embriao para designar o concepto durante as pri meiras semanas de vida, reservando-se o termo feto para designá-lo no

período subseqüente. As designacóes de mórula2 e blastocisto3 referem-se a fases iniciáis do embriáo, e a palavra ovo4 identifica os primeiros estágios de vida, a partir da célula inicial resultante da fusáo dos gametas (fecundacáo = concepcáo). 1o a 2o dias - A concepgáo ocorre na ampola tubária. Um novo ser humano - fruto da uniao de gametas humanos - inicia sua vida. Desde o momento da concepgáo, ainda sem nome, escondido no ventre materno, 1 Pequeño Dicionário Brasileiro da Lingua Portuguesa, H. DE LIMA BARRETO, Ed. Civilizado Brasileira S/A.

2 Mórula designa a fase inicial da vida embrionaria, em que o volume celular constituí urna massa sólida de células agrupadas, tomando aspecto semelhante ao da amora. 3 Blastocisto ou blástula designa a fase de desenvolvimento do embriao caracteriza da pelo aparecimento de urna vesícula no interior da mórula. 4 Ovo ou zigoto designa o óvulo fecundado pelo espermatozoide. 178

COMO SE TRANSMITE A VIDA HUMANA?

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está personalizado: é o filho de Eduardo e Isabel, com sua individualidade própria e irrepetível bem caracterizada. Nunca existiu, nem jamáis exis

tirá, outro ser humano igual. "É detentore executorde seu própño progra

ma genético". Decorridas algumas horas após a fecundacáo, ocorre a primeira divisáo celular. Segue-se urna serie de outras divisoes, aumen tando o número de células: é o novo ser humano em pleno desenvolvi-

mento. Após certo número de divisoes celulares, o concepto atinge a fase denominada mórula. Entrementes está sendo levado através da trompa em diregáo ao útero.

3o a 4o dias - O embriáo, sob a forma chamada mórula, com 12 a 16 células, chega á cavidade uterina. Forma-se urna cavidade no interior da mórula, passando o concepto a denomiar-se blastocisto. Já ñas células da mórula existe certa especificidade, de modo que as mais internas ficam situadas em um polo do blastocisto (o embrioblasto, que dá origem aos tecidos do embriáo) e as células externas achatam-se e formam a

parede do blastocisto (o trofoblasto1, que se converterá na placenta). 6o a 7o dias - Inicia-se a nidacáo, ou seja, a implantacáo do concepto, sob a forma de blastocisto, na mucosa uterina (endométrio), previamente preparada para recebé-lo.

12° dia - Inicia-se a diferenciacjáo dos tecidos embrionarios. 15° a 17° dias - Inicia-se a hematopoiese2 e a formacáo de vasos sanguíneos.

18° a 21° dias - O coracáo comeca a pulsar.

1o mes e meio - É possível fazer eletroencefalograma. A crianca já é capaz de realizar movimentos rudimentares, embora a máe ainda nao os perceba.

2o mes - Todos os sistemas orgánicos estáo praticamente formados.

É possível fazer um eletrocardiograma e pode-se ouvir as batidas de seu n \

J )

coracáo com instrumentos de precisáo. 3o mes - Todos os sistemas orgánicos estáo aptos a funcionar. A

>

respiratorios e de urinar também. Possui até impressóes digitais e já seria

y

crianca já é capaz de deglutir líquido amniótico3, de realizar movimentos

j

' Trofoblasto é o tecido que constituí o ovo dos mamíferos e dá origem aos anexos

v

fetais, inclusive a placenta.

2 Hematopoiese é a formagáo do sangue. 3 Amniótico - referente a ámnio - a mais interna das membranas fetais, que forma urna bolsa cheia de liquido (liquido amniótico), para protegáo do concepto. A rotura da "bolsa d'água" (porgáo da membrana que está relacionada ao orificio cervical) dá saída ao liquido amniótico, no inicio do trabalho de parto. 179

\

36

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

possível tirar sua carteira de identidade... Quando sua máe dorme, ela

tambétn dorme, e acorda quando ouve ruido forte do exterior ou quando sua máe realiza movimentos bruscos. Daí por diante, as únicas mudangas básicas seráo o crescimento e o aperfeicoamento do que já está for mado.

A propósito da vida humana na fase intra-uterina, o Dr. William A. Liley, chamado o "Pai da Fetologia", que aperfeicoou a transfusáo de sangue no feto, escreveu o seguinte (citado por Wilke): "O novo individuo comanda o seu ambiente e o seu destino com tenacidade de propósito; implantase na parede esponjosa do útero e, numa

demonstragao de vigor fisiológico, interrompe a menstruagao da máe. Aquele vai ser a sua casa durante os duzentos e setenta dias seguintes. Para tomá-la habitável, o embríao desenvolve uma placenta e um envoltorio protetor com líquido (amniótico). Ele resolve sozinho o problema de sua

conformagao e faz o arranjo extraordinario de sua convivencia com a máe, durante nove meses, embora sejam um e outro imunologicamente dife

rentes, de tal forma que nao poderíam receber um enxerto de pele, nem transfusáo de sangue um do outro. Apesar de tudo, toleram-se mutua mente em uniáo de vida de nove meses. Sabemos que o feto está sempre

se movimentando naquele liquido e sua posigáo depende de como ele se senté mais confortável. Senté dor, pressao extema, frío e percebe o som e a luz. O feto também bebe o líquido amniótico, e mais aínda se for artifi cialmente adogado, e menos se o gosto for desagradável. Ele soluga e

chupa o dedo. O feto dorme e acorda. Ás vezes, também fica enfadado,

quando tudo está do mesmo jeito, mas pode serensinado a ficar atento a um sinal diferente. Enfim, ele mesmo é quem determina o dia em que vai nascer, porque, sem sombra de dúvida, o comego do parto é uma decisao

unilateral do feto. Tal é, pois, o feto que nos conhecemos e que nóspróprí-

os fomos um dia. É o feto de que cuidamos na Obstetricia moderna, e que

vem a ser o mesmo bebé do qual cuidamos antes e depois do nascimento, o qual pode ficar doente antes de nascer, exigindo diagnóstico e tratamento como qualquer outro paciente".* No próximo número de PR publicaremos um estudo sobre Aborto,

da autoría do mesmo Dr. Joáo Evangelista dos Santos Alves.

CONHECA MELHOR A IGREJA MEDIANTE O CURSO DE ECLE-

SIOLOGIA POR CORRESPONDENCIA DA ESCOLA "MATER ECCLESIAE" - CAIXA POSTAL 1362, 20001-970 RIO DE JANEIRO (RJ). TELEFAX: (021) 242-4552. 1 WILKE. J.C., O Aborto, 2a edifáo, pág. 36, 1988, Edigóes Paulinas. 180

Pergunta Popular:

O HOMEM É DESCENDENTE DO MACACO?

Em síntese: O ser humano é um composto de corpo material e alma

espiritual. A alma, nao sendo materia, nao veto (nem vem) da materia preexistente posta em evolugáo. O corpo, sendo material, pode terorigem na materia viva preexistente, nao, porém, na materia dos macacos atuais (orangutango, chimpanzé, gorila), pois estes sao especializados ao extre mo. O corpo humano pode terorigem num tronco primitivo, dito "primata", do qual teráo procedido os macacos e o corpo organizado ao qual Deus infundiu a alma espiritual, dando inicio ao primeiro ser humano; desta maneira se pode aceitar a hipótese evolucionista; o corpo humano seria primo dos macacos modernos, mas o homem, como tal, seria de urna dignidade muito superior, porque animado por urna alma espiritual. Esta doutrina é reconhecida pela Igreja, em nome da qual tém falado Pió XII e Joáo Paulo II. O darwinismo fot condenado no sáculo passado, porque admitía urna evolugáo mecanicista, devida simplesmente a luta pela vida. A S. Escritura nao se opóe a quanto está dito, porque nao tenciona ensinar ciencias naturais; a imagem do Deus-Oleiro era muito freqüente na antigüidade. *

*

*

Pergunta-se em linguagem popular se, afinal de contas, o homem descende do macaco ou é primo do macaco. A questáo é provocada pe los freqüentes debates sobre evolugáo, que deixam o público inseguro, visto que nao raro faltam claras nocoes filosóficas. Eis por que passamos a considerar o assunto.

1. HOMEM: COMPOSTO DE CORPO E ALMA

Nao se pode responder adequadamente á pergunta se nao se ob serva a distingáo entre os dois componentes do ser humano, que sao o corpo e a alma. Na verdade, o homem nao é um bloco monolítico, mas a unidade do homem provém de que os seus dois componentes (corpo material e alma espiritual) se unem entre si como materia e forma no sentido aristotélico-tomista. A alma é o principio vital que vivifica a mate ria, e faz que o calcio, o ferro, o magnesio, o potássio e os demais ele mentos químicos do organismo humano funcionem nao isoladamente, mas como integrantes de um conjunto harmonioso e unitario, que se cha ma "o ser humano". 181

38_

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

Visto que o corpo é materia e a alma é espirito, cada qual destes dois componentes tem sua origem própria. 1.1. Origem da Alma Humana

Sendo espiritual, a alma humana nao provém da materia em evolu cáo, pois o espirito nao é éter nem gas nem energía elétrica, mas é um

ser totalmente incorpóreo (nao redutível a números ou nao "matema-

tizável"), dotado de inteligencia e vontade. Por conseguinte, a alma hu mana é criada diretamente por Deus e infundida ao óvulo fecundado pelo espermatozoide, dando assim origem a um embriáo ou um novo ser hu mano. Até nossos días a alma humana é criada diretamente por Deus todas as vezes que se dá a fecundacáo de um óvulo. 1.2. Origem do Corpo Humano

Se o corpo humano é materia, nada impede que se admita a origem do mesmo a partir da materia viva preexistente. Assim falando, o filósofo

nao professa necessariamente o evolucionismo ou o fato da evolucáo, mas professa a legitimidade ou racionalidade (a possibilidade lógica) da evolucáo da materia viva. Toca á ciencia, mediante suas pesquisas paleontológicas, precisar a resposta, afirmando ou nao o fato e, eventualmente, as modalidades da evolucáo. Dado, porém, que o corpo humano venha da materia viva preexistente, nao se pode dizer que vem ou procede do macaco tal como hoje o conhecemos (orangutango, chimpanzé, gorila), pois este tipo de viventes está

de tal modo especializado que nao evolui mais1. O corpo humano viria entao de um tronco mais primitivo dito "o primata", do qual teriam procedi do os macacos mais aperfeicoados e o corpo organizado, apto a ser sede

da vida humana. A este corpo organizado o Criador terá infundido a alma humana, especialmente criada para tal corpo, dando assim origem a um vívente específicamente diverso dos macacos, pois dotado de alma (prin cipio vital) espiritual, á diferenca dos macacos, cujo principio vital (alma vegetativa e sensitiva) é material; há, pois, o salto da vida do macaco para a vida do ser humano; o principio vital do primata terá desaparecido quando Deus Ihe terá infundido a alma humana. Desta maneira há de ser enten

dida a expressáo "o homem é primo do macaco", nao descendente do ma caco; note-se bem, alias, que nao se trata do homem como tal, mas apenas do corpo humano, sendo ainda que tal corpo animado por urna alma espiri

tual pertence a urna categoría de viventes muito superior á dos macacos. 1 A evolugáo nao é um processo indefinido; ela chega ao seu climax; após o qué,

declina. É o que se dá, porexemplo, com os chifres dos animáis irracionais: até certo ponto, sao instrumento valioso de defesa; quando, porém, excedem determinadas dimensóes, tomam-se trambolho mortífero. Algo de semelhante ocorre com a cauda:

até certo tamanho é útil; ultrapassadas essas dimensóes, vem a ser um peso mortb. 182

O HOMEM É DESCENDENTE DO MACACO?

39

2. O PENSAMIENTO DA IGREJA

A doutrina atrás exposta está contida nos ensinamentos da Igreja. A

propósito pronunc¡ou-se o Papa Pío XII em sua encíclica Humani Generis datada de 12/08/1950:

«O Magisterio da Igreja nao proíbe que, em conformidade com o atu-

al estado das ciencias e da teología, seja objeto de pesquisas e de discussóes, por parte dos competentes em ambos os campos, a doutrina do evolucionismo, enquanto e/a investiga a orígem do corpo humano, que proviña de materia orgánica preexistente (a fé católica nos obriga a professar que as almas sao criadas ¡mediatamente por Deus). Isto, porém,

deve serfeito de tal maneira que as razóes das duas opinióes, ¡sto é, da que é favorável e da que é contraría ao evolucionismo, sejam ponderadas e julgadas com a necessáría seriedade, moderagao, justa medida e contanto que todos estejam dispostos a se sujeitarem aojuízo da Igreja, á qual Crísto confiou o oficio de interpretar auténticamente a S. Escritura e de defender os dogmas da fé. Alguns, porém, ultrapassam temeraria mente esta liberdade de discussáo, procedendo como se estivessejá de monstrado com certeza plena que o corpo humano se tenha originado de materia orgánica preexistente, argumentando com certos indicios encon trados até agora e com raciocinios baseados sobre tais indicios; e isto como se ñas fontes da Revelagáo nao existisse nada que exija neste assunto a maior moderagao e cautela.»

O S. Padre Joáo Paulo II em mensagem dirigida á Pontificia Acade mia das Ciencias, datada de 22/10/1996, escrevia: «Pió XII sublinhou este ponto essencial: se o corpo humano tem a

sua origem da materia viva que Ihe preexiste, a alma espiritual é ¡mediata mente criada por Deus ('anima enim a Deo immediate creari catholica fides nos retiñere iubef, Ene. Humani generis, AAS 42 [1950], pág. 575).

Como conseqüéncia, as teorías da evolugao que, em fungáo das filo sofías que as inspiram, consideram o espirito como emergente das forgas da materia viva ou como um simples epifenómeno desta materia, sao incompatíveis com a verdade sobre o homem. Elas sao poroutro lado incapazes de fundar a dignidade da pessoa. Com o homem, encontramo-nos entáo diante duma diferenga de or-

dem ontológica, diante dum salto ontológico, poder-se-ia dizer. Mas supor

urna tal descontinuidade ontológica, nao é ir ao encontró desta continuidade física que parece ser como o fio condutor das pesquisas sobre a evolugao, e isto a partir do plano da física e da química? A consideragáo do método utilizado ñas diversas ordens do saberpermite harmonizar dois pontos de vista, que pareceriam inconciliáveis. As ciencias da observagao descrevem e medem, de modo cada vez mais preciso, as múltiplas 183

40

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

man/festacoes da vida e inscrevem-nas na Iinha do tempo. O momento da passagem para o espiritual nao é objeto duma observagao deste tipo, que nao pode nem sequer manifestar, a nivel experimental, urna serie de sinais muito preciosos da especificidade do ser humano. Mas a experiencia do saber metafisico, da consciéncia de si e da sua reflexividade, a da consciéncia moral, a da liberdade, ou aínda a experiencia estética e reli giosa, sao da competencia da análise e da neflexáo filosófica, ainda que a teología esclarega o seu sentido último segundo os desígnbs do Criador».

Como se vé, o Papa Joáo Paulo II retoma e abona a posicáo de Pió XII, levando-a um pouco mais adiante, pois afirma que "a teoría da evolu

cáo é mais do que urna hipótese"; visto o grande número de dados empíricos (fósseis, testemunhos da Genética e da Biología), o Papa ad mite a grande probabilidade da evolucáo. Esta atitude de Joáo Paulo II (que, como se vé, nao canonizou nem dogmatizou a evolucáo) causou especie ao grande público; pelo qué exige elucidagáo:

1) ao se pronunciar de tal maneira, Joáo Paulo II nao falou como Mestre da fé nem tencionou formular um dogma, mas, como estudioso e em seu nome pessoal, diz aceitar a verossimilhanca da teoría evolucionista. Se algum fiel católico nao concorda com tal teoría, nao está ferindo o Credo; tenha a liberdade de pensar como queíra;

2) a Igreja combateu o evolucionismo proposto por Charles Darwin de modo que, ao aceitar hoje a teoría da evolucáo, parece cair em contradicáo.... - A contradícáo é apenas aparente: a Igreja opós-se ao darwinismo por ser urna doutrina mecanicísta, ateleológica; afirma a evolucáo na

base da "luta pela vida (struggle for I ¡fe)": as especies mais fortes teráo

subsistido nesse embate, ao passo que as mais iracas teráo perecido. Ora tal teoría contrariava os dados da fé; esta admite um Deus Criador Providente, que concebeu o universo e o ser humano segundo a sua sabedoria ou segundo modelos e metas a realizar. Com o decorrer do tem po, porém, o primeiro impacto causado pelo darwínismo foi-se amainan do...; os teólogos abriram os olhos para os dados cada vez mais eviden tes da evolucáo e perceberam que poderíam distinguir entre os elemen tos empíricos e a interpretado filosófica materialista que Darwin Ihes dava; assumiram os resultados da paleontología, e os ¡nterpretaram em chave finalista, ou seja, á luz da Providencia Divina, que tem seu plano a respeito do mundo e do homem; se a evolucáo ocorreu (diga-o a ciencia, definindo tanto o fato quanto as modalidades do mesmo), ocorreu segundo

intencóes predefinidas pelo Criador, e nao ao acaso nem por efeíto da forca bruta. O que a Igreja rejeitou, e rejeíta, no darwinismo, é a sua pers pectiva materialista, que dispensa a Sabedoria Divina. A evolucáo torna se assim aceitável... aceítável na proporgáo dos argumentos concretos, de ordem experimental, que a possam fundamentar. Dizemos aceitável (podendo ser aceita), e nao "definida como dogma de fé". 184

O HOMEM É DESCENDENTE DO MACACO?

O que a Igreja propoe como absolutamente certo no tocante á origem do mundo e do homem, sao dois pontos básicos: a) Criacáo da materia inicial, em sua forma primitiva, como os den tistas a concebem ao falar do big bang ou de teorías semelhantes. A materia nao é eterna, mas criada por Deus. - Este Ihe poderá ter dado as leis da sua evolucáo, que a foram organizando ou complexificando através dos reinos mineral, vegetal e animal irracional. b) Quando a materia atingiu o grau de evolucao correspondente ao do organismo humano, o Senhor Deus terá criado a alma espiritual para esse organismo, dando origem ao ser humano.

A concepcáo católica, portanto, inspirada pela sá razao e pela fé, exige dois atos criadores de Deus: o primeiro para dar origem á materia primitiva, donde terá procedido a evolucao; e o segundo, para dar origem ao espirito, ou seja, as almas1 dos primeiros seres humanos e dos seus descendentes.

Levanta-se, porém, urna dúvida:

3. E A PALAVRA DA BÍBLIA? Em Gn 2,7 está dito que Deus formou o corpo do homem a partir do barro - o que parece excluir o conceito de evolucio. A propósito, porém, deve-se observar:

1) a S. Escritura nao foi redigida para ensinar ao homem ciencias naturais. Ela tem em vista expor ao homem o sentido e o valor das criatu ras que as ciencias exploram e descrevem. Esta verdade tornou-se evi dente em conseqüéncia do caso Galileu (séc. XVII), de modo que nenhum exegeta a póe em dúvida nos nossos dias. 2) A imagem do Deus-Oleiro era muito freqüente na antigüidade précristá, visto que, para um povo primitivo, o oleiro é um "pequeño Deus". Com efeito; a populacáo depende dele para obter seus jarros, pratos e tigelas; ademáis trabalha com agilidade e presteza que o tornam figura

venerável. É o que atesta o exegeta G. Lambert, no artigo L'Encyclique Humani Generís et l'Ecriture Sainte, em Nouvelle Revue Théologique 73(1951)234:

"Nao se pode perder de vista a importancia da cerámica ñas civilizagóes antigás e prímitivas e quanto a profissao do oleiro estava espalhada. 1 A alma humana é espirito ou espiritual. Todavía devemos notar que o conceito de

espirito é mais ampio do que o de alma. Espirito é, sim, um ser incorpóreo dotado de inteligencia e vontade. Ora Deus é espirito nao criado. O anjo é espirito criado para existir sem corpo. A alma humana é espirito criado para se aperfeigoar no corpo. 185

42

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

Para o homem que entao procurava explicagáo para a sua orígem própría, a hipótese do Oleiro Divino era algo de obvio, como parece... Numa viagem ás tenas bíblicas, o autor destas linhas visitou um olei ro de Naplous. Em homenagem aos seus visitantes, o velho artesáo fabrícou sucesivamente, em um nada de tempo, urna lamparina com tres bo cas, um gracioso jarro de quinze centímetros de altura, um pote para o /e/fe, um jarro grande e dilatado, de aproximadamente cinqüenta centíme tros de altura. Nao tínha instrumento a nao ser seus olhos, o polegar e o dedo indicador; nao tínha compasso a nao seros seus olhos. Sobre o seu tomo, que ele impulsionava com o pé, todos estes objetos surgiam de repente entre os seus dedos criadores, a seu bel-prazere segundo a sua

fantasía. Com maravilhosa facilidade e surpreendente rapidez. Entao foinos dado compreenderporque ñas Escrituras o oleiro e sua obra servem de imagem da obra do Criador. Tal imagem evoca períeitamente a sobera na liberdade de Deus, seu maravilhoso poder criador, seu dominio abso luto sobre a obra de suas maos, a total dependencia da criatura que so mos nos frente ao nosso Criador, assim como a bondade e a misericordia de Deus para com a nossa fragilidade.

O tema antigo e popular do Deus-oleiro poderá parecer infantil e simplório tao somente aqueles que nao se derem ao trabalho de procurar conhecer a mentalidade segundo a qual tal explicagáo nos é proposta pelo Divino Autor das Escrituras".

Eis alguns exemplos de quanto era propagada a ¡magem do Deusoleiro na antigüidade, especialmente entre os assírios e babilonios, os egipcios, os autores gregos e latinos, assim como ñas tradicóes de al guns povos ditos primitivos:

Assim na epopéia babilónica de Gilgamesch conta-se que, para criar Enkidu, a deusa Aruru "plasmou argila". Na lenda assiro-babilónica de Ea e Atar-hasis, a deusa Miami, intencionando criar sete homens e sete muIheres, fez quatorze blocos de argila, dos quais suas auxiliares plasmaram quatorze corpos; a deusa rematou-os, imprimindo-lhes tragos de in

dividuos humanos e configurando-os á sua própria imagem.

No Egito um baixo-relevo em Deir-el-Bahari e outro em Luxor apresentam o deus Cnum modelando sobre a sua roda de oleiro os corpos respectivamente da rainha Hatshepsout e do Faraó Amenofis III; as deusas colocavam sob o nariz de tais bonecos o sinal hieroglífico da vida f, para que a respirassem e se tornassem seres vivos. Noticias devidas a G.

Lambert, L'Encyclique «Humani Generis» et l'Écriture Sainte, em Nouvelle Revue Théologique 73 (1951) 233ss.

Entre os Maoris da Nova Zelandia conta-se o seguinte episodio: 186

O HOMEM É DESCENDENTE DO MACACO?

43

Um certo deus, conhecido pelos nomes de Tu, Tiki e Tañé, tomou argila vermelha á margem de um rio, plasmou-a misturando-lhe o seu próprio sangue, e déla fez urna copia exata da divindade; depois de a terminar, animou-a soprando-lhe na boca e ñas narinas; ela entáo nasceu para a vida, e espirrou. O homem plasmado pelo criador Maori parecia-se tanto com este que mereceu por ele ser chamado Tiki-Ahua, isto é, imagem de Tiki.

Quando o escritor sagrado em Gn 2,7 recorre á imagem do Oleiro, nao quer significar senáo que há urna analogía entre o oleiro e Deus no modo de tratar seu artefato: como o oleiro é sabio, providente, carinhoso, soberano... em relagáo ao barro, assim Deus é (infinitamente mais) sabio, providente, carinhoso, soberano em relacáo ao homem, independentemente do modo como tenham vindo á existencia o homem e a mulher. Assim se verifica que o texto bíblico nao faz obstáculo ás concepcóes modernas relativas á origem do ser humano.

Continuagao da pág. 166: 3) Podemos também apontar no artigo de Ernesto Soto a referencia a que "nao existem no budismo nem Deus todo-poderoso, dogmas

¡ntocáveis, ou normas moráis impostas do exterior". - Realmente estas proposicóes negativas satisfazem ao subjetivismo da mentalidade mo derna, segundo a qual cada um faz sua religiáo, tem "sua verdade" e pratica sua ética no campo religioso. - Todavía religiáo significa reconhecer a Suma Perfeicáo ou o Ser Supremo e, conseqüentemente, tributarIhe a obediencia devida; o budismo escapa a esta conseqüéncia pelo fato de afirmar que todo ser humano é a própria Divindade ou urna centelha da Divindade. Como dito, porém, o panteísmo é falso e ilusorio. Há urna nobre grandeza em entregar-se a criatura ao Criador como sendo a fonte de todos os bens e o esteio da plena realizacáo da criatura. 4) O Catolicismo também é rico de símbolos, que se exprimem através da Liturgia bem celebrada; esta se destina a fazer passar o orante do visível ao Invisível e ao amor dos bens definitivos.

Em conclusáo, verifica-se que nao há como justificar pela lógica e pela mentalidade científica o atrativo do budismo sobre o homem ocidental. A expansao daquela filosofía religiosa vem a ser um apelo indireto para que os fiéis católicos déem a conhecer ao mundo os valores da oragao e da contemplacáo do Cristianismo. Vivenciando-os e expondo-os aos seus semelhantes, estaráo correspondendo a profundo anseio da sociedade moderna. Estéváo Bettencourt O.S.B. 187

Diz a Imprensa:

"BUDISMO, O DESAFIO DA MODERNIDADE"

Em síntese: O budismo vai-se expandindo na Europa e na América nao porque corresponda ao espirito lógico e cientificista do homem oci-

dental, mas porque é urna tentativa de descobrirmais e mais os valores da oragáo e da contemplagao. Ora o Cristianismo possui rica tradigao mística, que pode atender as aspiragóes do homem contemporáneo, ao passo que o budismo, professando o panteísmo, incide numa falta contra a lógica, visto que o Absoluto (á Divindade) nunca se poderá identificar com o relativo (o mundo vislvel). A propagagáo do budismo vem a ser um apelo indireto aos fiéis católicos para que mostrem ao mundo, de maneira teórica e vivenciada, as riquezas de seu patrimonio de oragáo e contem plagao. *

*

*

O JORNAL DO BRASIL, cad. B, edicao de 10/11/96, pág. 4 publicou um artigo de Ernesto Soto intitulado "Budismo, o Desafio da Modernidade". - Dado que tem chamado a atencáo de muitos leitores, passamos a comentá-lo ñas páginas subseqüentes. 1. "BUDISMO, DESAFIO..."

Antes do mais, importa por em relevo os principáis traeos do artigo em foco. Assim comeca o autor:

«Parece religiáo, tem gosto de religiáo, jeito de religiáo, mas nao é

religiáo. É o budismo, apontado como o maior fenómeno espiritual deste

final de milenio. Urna verdadeira onda budista envolve o mundo ocidental. A crescente aceitagáo de nogoes como Karma e reencamagao, dezenas de livros, filmes (após Bertolucci é Jean-Jacques Annaud quem filma atualmente no Tibete com Brad Pitt no papel principal), programas de televisao e a enorme popularidade mundial do Dalai Lama sao apenas alguns

indicativos da surpreendente atragáo que os ensinamentos de Buda exercem sobre os ocidentais, fascinando um público constituido principalmen te por universitarios, profissionais liberáis e formadores de opiniáo.

dentistas sociais se debrugam sobre o fenómeno procurando enten der como as milenares propostas budistas (Buda viveu no século VI, an tes de Cristo), mais antigás que as do cristianismo, respondem as indagagóes espirituais do homem da virada do terceiro milenio que convive com 188

"BUDISMO, O DESAFIO DA MODERNIDADE"

45

viagens espaciáis, computadores, informagao em tempo real, CNN e Internet».

Entre as causas que explicam o avanco do budismo, o articulista aponta as seguintes:

1) O budismo oferece ajuda "para enfrentar a angustia e a depressáo geradas pela ameaca do desemprego, a crise económica, social e psico lógica. E, por nao encontrarem ñas instituicóes religiosas tradicionais respostas as suas inquietacóes nem aceitarem que Ihes respondam com 'normas' enquanto elas buscam desesperadamente um sentido".

2) "O budismo atrai também porque jamáis se afasta da experiencia cotidiana das pessoas, resiste perfeitamente á crítica da razáo e jamáis faz apelo a algo exterior. Na cultura budista nao existem nem Deus todo poderoso, dogmas intocáveis ou normas moráis impostas do exterior. Albert Einstein costumava afirmar que o budismo era a única religiáo compatível com a ciencia moderna. O budismo dá um gosto de divino permanecendo totalmente humano".

3) "O budismo fascina por seu respeito ao próximo, sua visao tole rante do ser humano e o profundo respeito pelo meio ambiente... A atitude nao violenta do Dalai Lama em relacáo aos chineses que oprimem e cometem crime de genocidio no Tibete contribuí para o charme envolvente e pouco discreto do budismo". 4) "O budismo é perfeitamente conciliável com a atual cultura ocidental. Os ocidentais parecem ter-se cansado de conviver com um Deus exterior ao mundo real e de acreditar em verdades imutáveis. Mas nao é só isto. O budismo vem também seduzindo pela beleza de seus rituais,. sua liturgia e exotismo. Para muitos ocidentais, ele atende as necessidades de símbolos e emocáo religiosa sem renunciar a urna transacáo raci onal e pragmática." Dito isto, vejamos propriamente em que consiste o Budismo. Poderemos averiguar que a pretensa conciliacao de budismo e mentalidade ocidental é mais aparente do que real; consiste mais em palavras do que em convergencias doutrinárias. O pensamento oriental é pouco lógico em se tratando de religiáo, ao passo que o pensamento ocidental prima pelo rigor lógico, que é o penhor do éxito de toda pesquisa científica. 2. O BUDISMO: MENSAGEM

Vejamos quem foi o fundador, e o que anunciou ao mundo. 2.1. O fundador

A Palavra "Buda" significa, em língua páli, "o Iluminado". É o cognome

atribuido a Siddhartha Gautama, também conhecido por "Sakyamuni\o 189

46

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

sabio dos Sakya). Deve ter vivido entre os anos 566 a 486 a.C, no nor

deste da india. Filho de familia principesca, foi educado por seu pai no luxo burgués. Casou-se com 19 anos e levou urna vida conjugal feliz e abastada durante dez anos. A existencia faustosa que levava, no entanto, nao Ihe satisfez. Um belo dia, estimulado pelo encontró com um velho, um doente e um cortejo

fúnebre, viu-se forcado a considerar a realidade da vida e a seriedade da passagem do homem sobre a térra. Depois, o exemplo de um religioso mendicante levou o príncipe a abandonar tudo para pesquisar as causas do sofrimento, da velhice, da morte e do renascer. Abandonou entáo a familia, fez-se monge numa floresta e se pos a estudar os grandes mestres da época.

2.2. As quatro "nobres verdades" Buda refletiu sobre a realidade que o cercava, fez o respectivo di agnóstico, procurou a causa dos fatos descobertos e finalmente a cura e a terapia dos males apontados. Esse roteiro se concretizou do seguinte modo:

1-0 homem é afetado por múltiplos sofrimentos. Dukkha, ou sofri mento, é o mesmo que nascer, declinar e morrer. Nesse itinerario estáo disseminadas a dor e a tribulagáo. A continua mudanga de tudo, ou sua desintegrado, é especial motivo de sofrimento. 2 - A causa de todo esse sofrimento é o desejo, o anseio; o homem quer ser, quer ter ou quer evitar... Apega-se ás coisas sensíveis, porque estas Ihe proporcionam urna satisfacáo momentánea, satisfagao esta que, por sua vez, gera aínda mais desejos e apegos. A causa dessa avidez é a

ignorancia do significado das coisas sensíveis; o homem tende a nao considerar o quanto elas sao vazias. Se alguém morre com desejos nao realizados, deve renascer, e o ciclo de dores continuará. 3-0 sofrimento cessa quando se extinguem todas as aspiracóes da mente e dos sentidos do individuo. Quem se liberta de todos os anseios experimenta a cura e goza de paz e felicidade indizíveis, num estado dito "Nirvana".

4 - Pergunta-se, entáo: qual a via que leva a tal felicidade? É a via

media entre a extrema mortificacáo e a desenfreada satisfacáo dos anseios

sensuais. É esta a quarta "nobre verdade", que por sua vez compreende oito deveres:

Sila: a) discurso reto; b) agir reto; c) meios de subsistencia justos; Samadhi: d) esforco justo; e) atencáo justa; f) meditacáo justa (concentragáo);

Panna: g) idéias justas; h) aspiracóes (pensamento) justas. 190

"BUDISMO, O DESAFIO DA MODERNIDADE"

47

2.3. O Nirvana

A palavra "M/vana"(sánscrito) significa desaparecimento ou extingo, á semelhanga da extincáo do fogo. Buda afirmava que o mundo todo está em chamas, incendiado pelo fogo do desejo. Cada reencarnacáo reacende urna chama. O Nirvana a apaga definitivamente e poe termo á vida como os homens a entendem comumente. Por isso, nao pode ser descrito com palavras; só o conhece quem o experimentou pessoalmente. Pode ser

atingido nesta térra mesmo, embora isso seja difícil e fique reservado a poucos.

O Nirvana só é pleno após a última desencarnacáo. Entáo, todos os atributos pessoais desapareceráo; nao haverá mais eu, tu e ele, com suas notas características.

Na verdade, o budismo ensina que no homem nao existe um eu ou

urna alma permanente; professa a an-atta (nao-alma). Essa doutrina é tida como o ñervo do budismo; é aquilo que o distingue de todos os outros sistemas filosófico-religiosos. O eu é apenas urna combinacáo, sempre em mudanca, de forcas e energías mentáis e físicas, que se podem agru par em cinco categorías:

- Materia: solidez, fluidez, calor, movimento;

- Sensac§o: visáo, audicáo, paladar, olfato, tato, memoria;

- Percepcáo: as seis percepcóes correspondentes ás seis sensacóes;

- Formacáo mental: vontade ou atividade mental; - Consciéncia: a reacáo ou a resposta aos fenómenos. Conseqüentemente, no Nirvana ou no estado de paz absoluta, o eu

estará desintegrado, e nao se poderá falar de felicidade pessoal. Haverá um nada, nao em sentido negativo, mas sim um nada positivo, porque será a negacSo das realidades negativas. O bramanismo propóe a salvagáo mediante a fusao do eu e do Absoluto; o budismo, ao contrario, diz que nao devem existir nem o eu nem o Absoluto, mas a superacáo de ambos no Nirvana, ou em algo que é totalmente positivo e inefável. Os budistas, mesmo os nao consagrados á vida monástica, tendem a levar urna vida sempre mais sobria, pois procuram extinguir em si mesmos todo desejo e anseio, a fim de poder atingir o Nirvana. Por isso, também os monges sao como que os adeptos modelares do budismo; sao os conselheiros e orientadores, por excelencia, do povo budista.

Buda era contrario aos ritos religiosos e ás oragoes e cerimónias litúrgicas. Por isso, nao fundou casta sacerdotal nem quis organizar ou estruturar a sociedade dos seus discípulos. 191

48

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 419/1997

3. COMPARANDO BUDISMO E CRISTIANISMO...

Há quem diga que o budismo, na sua concepcáo originaria, nao é urna religiao, pois volta a sua atencáo para o homem mais do que para

Deus, procurando levar seus adeptos ao auto-desenvolvimento e á insensibilidade frente as paixdes.

O budismo tem em comum com o Cristianismo o anseio por urna vida pura e perfeita, isenta de paixdes desregradas. Todavía, as diferencas sao evidentes:

- o budismo prega a auto-salvacáo, ao passo que o Cristianismo

prega a "hétero-salvacao". É Deus quem toma a si a salvacáo do homem (que este, sem dúvida, pode rejeitar);

- o Cristianismo se interessa pela salvacáo do homem, mas sem deixar de ser teocéntrico ou de estar voltado para Deus; a salvagáo do homem dá gloria a Deus. Em última análise, o mundo e o homem existem porque Deus, que é o Sumo Bem, os fez para difundir a sua bondade e espelhar no homem a sua imagem e semelhanca.

- o Cristianismo propoe ao homem o encontró com o "Grande Tu" ou o grande referencial de sua vida. Deixa de ser um sistema físico e mecanicísta para ser a mensagem do Amor que "primeiro nos amou" (1 Jo 4,19) e que espera a condigna resposta do homem. A cruz de Cristo, Deus e homem verdadeiro, faz a ponte entre o céu e a térra, e dá ao sofrimento o sentido de um testemunho de fidelídade e amor. A dor foi

transfigurada pela ressurreicáo na Páscoa;

- além dessas, há ainda urna diferenca fundamental: enquanto o Cristianismo é monoteísta e fala de um Deus que é o primeiro Amor, o budismo é panteísta, isto é, identifica a divindade com o homem e o mun do. Essa premissa básica provoca urna diferenciacáo geral entre o siste

ma de Buda e o de Jesús Cristo. É, sim, ilógico identificar o homem -

contingente e volúvel como é - com a própria divindade, que por definicáo é o contrario do contingente e volúvel. Deus é essencialmente distinto do homem, do mundo e das realidades visíveis, pois Ele é absoluto e eterno, ao passo que as criaturas sensíveis sao relativas, transitorias e temporarias. O infinito nao resulta das realidades finitas postas em evolucáo. Nem devemos

imaginar que o eterno seja a soma de numerosíssimas parcelas de tempo. 4. POR QUE O BUDISMO ATRAI?

Proporemos quatro consideracóes

1) Para quem reflete, o panteísmo é ilógico ou aberrante, como dito, pois afirma que tudo (pan) é Deus (Theós). Desta maneira identifica o (Continua ñas págs. 166 e 187) 192

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Trecho de apresentacáo: "...O presente texto, como lemos no prólogo da edicáo espanhola, reúne conferencias originariamente dirigidas a auditorios monásticos. Podem, entretanto, por sua simplicidade, aliada ao dominio seguro e profundo do tema, orientar leigos e religiosos na prática frutuosa da lectio divina...".

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Trecho do prefacio: "...Na crise atual que a vida religiosa, profundamente, ainda atravessa, nao é oportuno urna modernizacáo, mas apenas urna resposta do radicalismo evangélico testemunhado pela grande tradigáo...".

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Trecho da introducáo:"... A traducáo que estas páginas apresentam, é a vida de um santo escrita por um santo. S. Gregorio, o grande Papa restaurador da disciplina eclesiástica após a invasáo dos Bárbaros, o reformador da liturgia romana, escreve a vida de S. Bento...".

- OS OBLATOS SECULARES na familia beneditina. D. Jean Guilmard, OSB. Traducáo: Bernard Barrandon, obl. O.S.B. Sao Paulo. 1995. Mosteiro de Sao Bento -

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