Ano Xxxviii - No. 421 - Junho De 1997

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P rojeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO DA EDIQÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15). Esta necessidade de darmos conta

da nossa esperanga e da nossa fé hoje é •;'.

mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas



correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questoes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar

este trabalho assim como a equipe Veritatis Splendor que se encarrega

de do

respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacao.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

Ano xxxviii

Junho 1997

"Por Causa do seu grande Amor..." (Ef 2,4)

Os Armenios professam a Fé Católica Profecias Desmentidas

A Anticoncepcáo (Contracepcáo) Nova Era: Desafios Fundamentalismo: Que é?

Televisáo e Ética Livros em Estante

421

PERGUNTE E RESPONDEREMOS

JUNHO1997

Publicacáo Mensal

N°421

SUMARIO

Di reto r Responsável

Estévao Bettencourt OSB Autor e Redator de toda a materia

"Por Causa do seu

publicada neste periódico

grande Amor..." (Ef 2,4)

241

A respeito de Jesús Cristo: Os Armenios professam a Fé Católica

242

Diretor-Administrador:

D. Hildebrando P. Martins OSB

A Bem da Verdade:

Administrado e Oistribuigáo: Edicóes "Lumen Christi"

Profecías Desmentidas

Rúa Dom Gerardo, 40 - 5o andar - sala 501

O Médico estuda:

Tel.: (021) 291-7122

A Anticoncepcáo (Contracepgáo)

Fax (021) 263-5679

Enderece»

para

248

260

Sempre atuai:

Correspondencia:

Ed. "Lumen Christi"

Nova Era: Desafios

269

Mais urna vez:

Caíxa Postal 2666 CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO e "PER GUNTE E RESPONDEREMOS" na INTERNET: http://www.osb.org.br.

Fundamentalismo: Que é? Um Brado de Alerta:

276

Televisáo e Ética

284

Livros em Estante

285

Impressaoe EncadernapSo

COM APROVASÁO ECLESIÁSTICA

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Tels.: (021) 273-9498/273-9447

Y NO PRÓXIMO NÚMERO:

A Igreja e os Divorciados de novo casados (Joáo Paulo II). - «Separados, Unidos. Urna Esperanca Possível» (P. Salaün). - «Aborto Legal? Isso nao existe!» (L. C. Lodi da Cruz). - Atividade Humanitaria de Joao Paulo II. - Métodos Naturais: Paternidade Res

ponsável. - A "Folha Universal" diz a Verdade? - O Livro de Urantia. - «Eunucos pelo Reino de Deus» (U. Ranke - Heinemann).

(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSINATURA: (NÚMERO AVULSO

R$ 25,00). R$ 2,50).

O pagamento poderá ser á sua escolha: 1. Enviar em Carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO BENTO/RJ. 2.

Depósito em qualquer agencia do BANCO DO BRASIL, para agencia 0435-9 Rio na C/C 31.304-1 do Mosteiro de S. Bento/RJ, enviando em seguida por carta ou fax. comprovante do depósito, para nosso controle.

3. Em qualquer agencia dos Correios. VALE POSTAL, enderecado ás EDICÓES "LUMEN CHRISTI" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ

Obs.: Correspondencia para:

Edicdes "Lumen Christi"

Caixa Postal 2666 20001-970 Rio de Janeiro - RJ

>

"POR CAUSA DO SEU GRANDE AMOR..." (Ef 2,4) O mes de junho é dedicado ao Sagrado Coracao de Jesús. Esta devocáo tomou vulto especial por ocasiáo das aparicóes de Jesús a S. Margarida María Alacoque (t 1690), na época em que o jansenismo atemorizava os fiéis, propondo-lhes um Deus que nao quería a salvacáo de todos os homens, mas apenas a dos eleitos. Em réplica a esta concepcáo, Jesús apresentou o

seu Coracáo, símbolo do amor de Deus por toda a humanidade, amor táo forte que assumiu o que é do homem para dar-lhe o que é de Deus.

Sao Paulo explana esse amor com muita énfase ao recordar a situacáo de gentíos e judeus antes de Cristo: estavam mortos sob o dominio do peca do... "Mas Deus rico em misericordia, por causa do seu grande amor..." O mas Deus é adversativo; inverte o quadro sombrío da morte, tornando-o lumi nosa perspectiva de vida. Essa reviravolta é devida ao amor de Deus; o Apos tólo faz questáo de realcar bem o amor gratuito: "Deus que é misericordioso, por causa do grande amor... a nos, que estávamos mortos" (Ef 2,1-5). A mor te, no caso, nao era apenas ausencia de vida, mas era a revoita e a inimizade para com Deus. Nada havia no homem que pudesse provocar a benevolencia

divina. Mas precisamente nisto consiste o amor de Deus: ele nao precisa de ser motivado pela amabilidade do seu objeto; ao contrario, é esse amor que cria a amabilidade do objeto. O homem nao é amado por Deus porque seja bom e amável, mas é bom e amável porque Deus o ama... Amando-nos, Deus "nos tornou vivos em Cristo" (Ef 2,5). Como nos tornou vivos? - Enviando-nos o Filho, que assumiu o que é do homem no seio da Virgem; "trabalhou com máos humanas, pensou com inteligencia humana, agiu com vontade humana, amou com coracáo humano" (Gaudium et Spes n° 22); a seguir, morreu na Cruz, ressuscitou e nos deixou Batismo e Eucaris tía para participarmos da Vitoria de Cristo. Assim fomos salvos. Esta palavra, na linguagem religiosa, talvez esteja inflacionada e empalidecida. Para entendéla, pensemos no que acontece na vida do dia-a-dia, quando alguém é arran cado das garras da morte (morte corporal); pensemos no que ocorre quando os bombeiros saivam alguém das chamas de um incendio ou quando a Defesa Civil retira vivo alguém soterrado pelos escombros de urna casa que desabou! Como ai é claro e quase palpável o conceito de salvacáo! Sem dúvida, a

vida cotidiana está cheia de parábolas ou de situacóes que sao imagens daquilo que acontece no plano superior ou espiritual. Fomos salvos nao para morrer finalmente, mas para urna vida ainda mais preciosa do que a vida terrestre..., salvos para a vida eterna. E salvos pela grapa, gratuitamente.

Entende-se entáo que Jesús apareca neste mes de junho sob o símbo

lo do Coracáo a recordar a verdade básica do Cristianismo ou a extraordinaria facanha do amor de Deus, facanha esquecida ou empalidecida na mente de muitos fiéis. Recordando-a, o Senhor pede urna resposta á altura do dom de Deus: "Eis o Coracáo que muito amou os homens, mas deles só tem recebido ingratidao". E. B. 241

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XXXVIII - N° 421 - Junho de 1997 A respeito de Jesús Cristo:

OS ARMENIOS PROFESSAM A FÉ CATÓLICA

Em síntese: Os armenios se tornaran) cristaos no século IV. No século VI, porém, separaram-se da Igreja Católica, aderindo ao monofisismo, condenado pelo Concilio de Calcedonia em 451; tal heresia professava haverem Cristo urna só Pessoa (divina) e urna só natureza (tendo a natureza divina absorvido a humana); a fórmula de Calcedonia reconhecia em Cristo urna Pessoa (divina) e duas naturezas (a divina e a humana). Em 1741, após outras tentativas de reuniao com Roma, urna parte do povo armenio voltou á plena comunháo com a Igreja Católica. Eis, porém, que no dia 13/12/96 o Catholicos (Patriarca) armenio Karekin I visitou o Papa

e assinou com Joao Paulo II urna Declaragáo pela qual professam, católi cos e armenios, a mesma fé cristológica ou calcedonense. Está assim removido um serio obstáculo para a plena comunháo de católicos e armenios. Existem outros, talvez de menor vulto, como o primado do Papa e os dogmas mariológicos. Valiosas conversagóes entre teólogos católi cos e armenios tém aplainado o caminho e continuarao a aplainá-lo até a

plena comunháo dos armenios com os católicos. O relacionamento entre Joao Paulo II e o Patriarca Karekin I é muito fraterno e alvissareiro.

A Armenia é pouco conhecida em nosso Brasil, onde a colonia armenia nao é numerosa.

Trata-se de um país situado a SO da Asia e a NE da Turquía, outrora integrante da Uniáo das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Foi conquista

da a regiao por Alexandre Magno em 328 a.C. e em 66 a.C. por Roma. Em 301 tornou-se a primeira nacáo a fazer do Cristianismo a sua religiáo oficial. O país esteve depois sob o controle bizantino, quando a capital do Imperio Romano foi transferida de Roma para Bízáncio (Constantinopla). Aos bizantinos sucederam-se os persas, os árabes, os mongóis, os tur cos otomanos. A influencia russa se fez mais e mais sentir no século XIX. Após a primeira guerra mundial (1914-1918) foi criada urna República 242

OS ARMENIOS PROFESSAM A FÉ CATÓLICA Armenia, a qual sem demora foi absorvida pela URSS e pela Turquía. Desde a desintegragáo da URSS (1989) a Armenia é urna República livre, associada á Comunidade Russa.

Vejamos quem sao os armenios e como se sitúa o Cristianismo na Armenia.

1. QUEM SAO OS ARMENIOS? Os armenios sao um povo de origem indoeuropéia, que se

autodenominou Hay (Hayk, no plural). Alguns séculos antes de Cristo, estabeleceram-se no planalto da Anatólia Oriental (atual Turquía) e ñas

regióes orientáis da Asia Menor. Constítuiam a Grande Armenia (em tor

no do monte Ararat). Entre 95 e 55 a.C, sob o imperio de Tigran o Gran de, os armenios atingiram o auge de sua prosperidade. Todavía foram sucessivamente retalhados pela Pérsia e por Roma, donde se originaram a Persarménia (ao Oriente) e a Armenia Romana (ao Ocidente). No curso dos séculos, os armenios constituiram reinos e principados próprios, sempre ameacados por povos vizinhos. Em 1375 foram dominados pelos tur cos otomanos e perderam sua independencia até nosso século.

Após a primeíra guerra mundial (1914-1918), tendo caído o Imperio

Otomano, foi criada a República Armenia independente, de breve dura-

cáo (1918-20), pois o seu territorio foi ocupado pelos turcos e os russos soviéticos. Quando a URSS se desfez em 1989, a República Armenia do Cáucaso tomou-se independente e agregou-se á Comunidade dos Esta dos Independentes; atualmente é a menor e a mais densamente povoada das ex-repúblicas soviéticas; tem a superficie de 29.800 km2 e conta 3.426.000 de habitantes, segundo a estimativa de 1992; um milhao e meio de armenios moram na capital Erevan, a "Cidade Rosa". Por conseguinte, a Armenia atual é apenas um fragmento da antiga Persarménia; a sua populacáo consta de 94% de armenios e pequeñas minorías de russos e curdos. Quase um mílhao e meio de armenios moram ñas outras repúbli cas ex-soviéticas (Rússía, Georgia, Azerbaijao). Outros dois milhóes de armenios estáo dispersos pelos Estados Unidos, a Franca, o Líbano... Os

armenios da diáspora, embora tenham perdido o uso da sua língua materna, conservam viva a sua consciéncia étnica. A maioria dos armenios é crista.

2. O CRISTIANISMO DA ARMENIA Os armenios foram levados á fé crista por um missíonário chamado

Gregorio o Iluminador. Este nobre armenio foi educado na Asia Menor (Capadócia), onde foi ordenado presbítero. Voltando para a Armenia, converteu o rei Tíridate II entre 280 e 290. Esta conversao ocasionou a da

nacáo inteíra; o clero pagáo, primeramente hostil, passou a ¡ncorporar-se á Igreja em fileiras cerradas. O Cristianismo na Armenia se organizou em torno de urna sede central ocupada por Sao Gregorio e seus sucessores. 243

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

Gregorio o Iluminador recebeu do Bispo de Cesaréia da Capadócia (que o ordenou) o título de Katholikós, isto é, dotado de jurisdicáo universal. É de notar que na Armenia nao foi adotado o celibato do clero, nem mesmo o dos Bispos (que ñas comunidades orientáis costumam ser celibatários, recrutados entre os monges).

A rápida conversáo dos armenios ao Cristianismo nao deixou de encontrar resistencia; houve tentativas de voltar ao paganismo; houve também conflitos entre o Katholikós ou Bispo Primaz e o soberano, ora por motivos religiosos, ora por motivos políticos. O rei armenio temia que a

conversáo ao Cristianismo o tornasse dependente do Imperio de

Constantinopla, também ele cristáo. Nada, porém, impediu a implantacáo sempre mais profunda do Evangelho no seio do povo armenio - o que se deve á acáo particularmente zelosa dos grandes Bispos que foram Nerses (364-374) e Shahak (390-420).

Nerses reuniu em 365 um primeiro Concilio nacional, que fixou as regras disciplinares para a comunidade crista armenia. No inicio do século V, sob o pastoreio do Bispo Shahak, o sabio Meshrop dotou a língua armenia de um alfabeto original, tornando-a urna língua de cultura, espe cialmente cultura crista; traduziu para o armenio a S. Escritura, a Liturgia e obras dos Padres da Igreja. Formou-se assim a Liturgia de rito armenio,

afim á bizantina e á antioquena, Liturgia até hoje muito viva. Destes fatos resultou a síntese entre a nacáo armenia e o Cristianismo, síntese que se protraiu através dos séculos, apesar das tentativas, de soberanos estrangeiros, de dissolver esta alianca, impondo crencas estranhas ao povo armenio. Aconteceu, porém, que no século V se registraram disputas cristológicas movidas por duas correntes heréticas: a dos Nestorianos

(condenados pelo Concilio de Éfeso em 431) e a dos Monofisitas (conde

nados pelo Concilio de Calcedonia em 451). Os armenios ficaram afastados dos debates teológicos. No século VI, porém, sofreram o influxo dos monofisitas da Mesopotámia e da Siria, de modo que em meados do sé-

culo VI aderiram ao Monofisismo; este afirmava haver em Cristo urna só Pessoa (divina) e urna só natureza (divina), tendo sido a natureza huma na absorvida pela divina.

Em 562 o Imperador bizantino Mauricio obteve do rei Khosrau II a cessáo da parte ocidental da Armenia. Tentou entáo levar para a fé orto doxa calcedonense o povo armenio; todavía só conseguiu a adesáo de vinte e um Bispos; os demais ficaram firmes no Monofisismo - o que provo-

cou o cisma do povo armenio. A resistencia ao Imperador bizantino nao era devida apenas a motivos religiosos; muitos armenios receavam ser domina dos politicamente por Bizáncio; daí recusarem a própria fé dos bizantinos. A divisáo religiosa dos armenios determinou o seu relacionamento com a Sé de Roma, que professa a doutrina de Calcedonia. Na Idade 244

OS ARMENIOS PROFESSAM A FÉ CATÓLICA Media houve algumas tentativas de reuniáo com a Sé de Roma. A tenta tiva bem sucedida e de caráter estável até hoje deu-se em 1741; verdade

é que desde o tempo das Cruzadas havia na Cilícia (Turquia meridional) urna pequeña comunidade armenia unida a Roma.

O fato é que atualmente existem armenios católicos e armenios se parados de Roma. Estes últimos contam 6.000.000 de fiéis, organizados em dois Patriarcados, um em Etchmiadzin perto de Erevan (Armenia), sen do o respectivo Patriarca reconhecido praticamente como o Chefe de todos os armenios cristáos. O outro Patriarcado tem sede no Líbano, em Antelias. O Patriarca de Etchmiadzin, Karekin I Sarkassian, esteve em visita ao Papa entre 10 e 14/12/96, após urna primeira visita realizada de 15 a 19/4/1983. Era acompanhado por urna comitiva importante, onde se encontravam os Bispos armenios de Jerusalém e de Constantinopla1.

O ponto alto da visita ocorreu aos 13/12/96, quando o Santo Padre recebeu em sua Biblioteca particular o Patriarca Karekin I. Examinemos as ocorréncias desta visita.

3. A VISITA DE KAREKIN I AO PAPA Após discursos de parte a parte, foi assinada por Joáo Paulo II e Karekin I urna Declaracáo de Fé dotada de enorme importancia, porque por ela católicos e armenios professam a reta fé definida pelo Concilio de Calcedonia. Assim pós-se termo á dissidéncia de doutrina ou á heresia monofisita que separava Roma e os cristáos armenios. Visto que a Declaracáo é longa, destacamos, a seguir, os seus prin cipáis tragos.

O Papa Joáo Paulo Meo Patriarca Karekin I professam "a fé comum na SS. Trindade, que católicos e armenios receberam do Evangelho de Cristo e da Santa Tradicáo da Igreja". Segue-se o tópico novo e mais significativo:

"O Papa e o Patriarca consideran) com particular satisfagao o grande progresso que as suas comunidades realizaran) na procura comum de unidade em Cristo, o Verbo de Deus feito carne. Deus períeito em sua Divindade, homem períeito em sua humanidade, sua Divindade está uni

da a sua humanidade na pessoa do Filho Único de Deus, numa uniáo que é real, períeita, sem confusáo, sem alteragáo, sem divisáo, sem alguma forma de separagáo". Este texto corresponde exatamente ao que o Concilio de Calcedonia promulgou em 451 para afastar a heresia monofisita. As quatro fórmulas

1 Éde notar que posteriormente, aos 25/01/97, também esteve em visita ao Santo Padre o Patriarca Aram I Keshishian, de Antelias.

245

6

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

adverbiais de Calcedonia retornam na Declaracáo conjunta: a Divindade e a humanidade se unem em Cristo

sem confusáo ou sem se fundir, sem que a humanidade fosse absorvida pela Divindade;

sem alteragáo, ficando intato o que é de Deus e o que é do homem; sem divisáo, sem que houvesse dois eu (um divino e outro humano) em Jesús ou preservada a unicidade da Pessoa Divina; sem alguma forma de separacáo; em tudo e por tudo Jesús agía

como Deus e homem, realizando o que se chama a atividade teándrica ou divino-humana.

A fórmula de Calcedonia ("em Jesús Cristo há urna Pessoa Divina e duas naturezas - a divina e a humana") prestou-se a mal-entendidos na época em que foi promulgada (451). Os cristáos de lingua grega usavam

e abusavam de dialética, lancando confusáo em seus ouvintes. Tal acabou sendo o caso dos armenios, cuja lingua original nao era o grego;

rejeitaram a definicáo de Calcedonia, julgando que implicava urna recaí

da no Nestorianismo condenado pelo Concilio de Éfeso em 431.

Ao voltar á sua patria, o Katholikós armenio explicou aos seus fiéis os acontecimentos de Roma. 4. OS ECOS DO ENCONTRÓ

Aos 22/12/1996 o Patriarca armenio Karekin I celebrou a S. Missa na catedral de Etchmiadzin, durante a qual expós á assembléia o que acon tecerá exatamente por ocasiüo de sua visita ao Papa e as igrejas de Roma. Antes do mais, recordou ser "verdade sólida, indiscutível, que Cristo fundou urna única Igreja, deu á humanidade um só Evangelho, pregou urna só verdade". E continuou:

"Em nossa Declaragao comum adotamos claramente, como itinera rio fundamental, a via da cooperagao no nosso testemunho cristao em nossos tempos... Principalmente dissemos que certas discussóes

verificadas outrora no decorrer da historia entre as nossas duas Igrejas no tocante a determinadas questóes dogmáticas e, em particular, com referencia ao entendimento da Pessoa de Jesús Cristo, estao atualmente ultrapassadas, porque em conseqüéncia dos estudos recíprocos, dos encontros e dos diálogos, chegamos á mesma conclusáo sobre aquilo que está expresso de modo maravilhoso e com clareza sem par por um dos personagens mais santos da nossa Igreja - Nerses Shnordali; com

efeito, reconhecemos Cristo como Deus perfeito e Homem períeito, e professamos que as duas naturezas - a divina e a humana - nao estáo se246

OS ARMENIOS PROFESSAM A FÉ CATÓLICA

paradas uma da outra, mas unidas sem confusáo. Foi esta a verdade que nos restabelecemos em nossa Declaragáo comum". Como se vé, o Katholikós quis assim cancelar todo resquicio de heresia monofisita que ainda pesasse sobre os cristáos armenios. Compreende-se, porém, que a importante Declaragáo ainda nao é o ponto final das divergencias entre os armenios e a Sé de Roma; ainda há que aprofundar a doutrina do primado e da infalibilidade do Papa como tam-

bém a dos dogmas mariológicos (Imaculada Conceicáo e Assuncáo cor

poral).

O Patriarca armenio e a Santa Sé estáo dispostos a continuar as

conversacóes teológicas para atenuar ou mesmo apagar as diferencas e

favorecer assim a plena comunháo entre Roma e Etchmiadzin.

Alias, o S. Padre Joáo Paulo II, em seu discurso de recepcáo do Katholikós no mesmo dia 13/12/96, fez pronunciamentos muito

alvissareiros, dizendo entre outras coisas:

"Este novo encontró é para nos motivo de grande alegría, de reconhecimento e de confíanga. Antes do mais, demos gragas ao Pai das luzes (Tg 1,17), que nos chamou á comunháo do seu Filho. É dele que vem todo dom períeito. Sede benvindos nesta casa e em nossa Igreja, pois que sois para nos irmáos bem-amados. Estai certos de que a vossa visita é realmente uma béngáo para o sucessorde Pedro, para a Igreja de Roma e para toda a Igreja Católica... A comunháo profunda que neste momento

experimentamos, tem sua fonte em nossa fé comum no único Senhor, fé

selada pelo dom do Batismo...

Em virtude da sucessáo apostólica, que nos permite reconhecer reci

procamente a validade do sacerdocio ministerial e o episcopado, as nossas Igrejas celebram os mesmos sacramentos, em particular o Batismo e a Eucaristía. Por conseguinte, elas podem juntas glorificar a Deus Pai, Filho e Espirito Santo e ser o sinal e o sacramento do plano de amor de Deus, que quer congregar na unidade todos os seus fílhos dispersos (Jo

11,52). Por conseguinte, as nossas Igrejas estáo ocupadas na mesma missáo em prol do mundo de hoje. Por isto tencionamos cumprir juntos esta missáo, cada qual segundo a sua tarefa específica, cuidando da porgáo do rebanho que Cristo confiou a cada um dos seus pastores, consci

entes de que realmente precisamos uns dos outros. É neste espirito de

reciprocidade fraterna que a Igreja armenia católica, a qual tem as mesmas raizes espirituais e a mesma cultura que a vossa Igreja, tem também o lugar na missáo e contribuí para nos unir ainda mais".

Resta agora pedir ao Senhor Deus que leve a termo a obra iniciada e realize a plena comunháo entre católicos e armenios, já que o pomo de dissidéncia de maior vulto (a divergencia cristológica) foi removido. 247

A bem da verdade:

PROFECÍAS DESMENTIDAS

Em síntese: Pululam em nossos dias as "profecías" de fim do mundo precedido de catástrofes, guerras, que apavoram muita gente. O presente artigo reúne alguns casos de predigóes que nao se cumpríram, procuran do assim evidenciar que se trata de prqjegóes da imaginagSo de muitas pessoas angustiadas pela atual situagao do mundo; nao vendo solugao humana para a problemática contemporánea, apelam para urna intervengao de Deus ou de extraterrestres, que modificarao o rumo da historia ou porao fim a presente fase. O curso mesmo dos últimos anos tem desmen tido varías "profecías". Ao crístáo compete viver cada día em atitude de vigilancia e prontidáo, pois cada dia, e nao somente os últimos dias do século XX, pode ser, para ele, o dia do grande desfecho de sua caminhada terrestre ou o do encontró final com o Senhor. Parece que nao se pode excluir que há quem se aproveite da crendice popular para ganhardinheiro, sugestionando-a desonestamente.

As profecías neste fim de milenio pululam, predizendo catástrofes e flagelos dos mais diversos tipos... Todavía quem acompanha o noticiario, pode verificar que as noticias se contradizem por vezes ou que sao

desmentidas pelo próprio curso dos acontecímentos. É importante consi

derar este aspecto da questáo para se poder aquilatar a veracidade e a

autoridade de tais predicoes. - É o que será feíto ñas páginas subseqüen-

tes.

1. O TERCEIRO SEGREDO DE FÁTIMA Como se sabe, Maria SSma. no ano de 1917 terá transmitido á Irma Lucia em Fátima tres segredos. Os doís primeíros já foram revelados; o

terceiro devia ser manifestado em 1960. Dado, porém, que nao o foi, muitas pessoas até hoje pretendem imaginar e descobrir qual o seu teor. Em conseqüéncia a imprensa e alguns "videntes" tém divulgado o que deva ter sido o conteúdo do terceiro segredo. Nos últimos tempos, tornou-se

flagrante a contradicao entre esses oráculos, o que demonstra a sua in consistencia. Com efeito,

1) O jornal O GLOBO, a 1/2/1997, p. 33, publicou a seguinte noticia: 248

profecías desmentidas

«LISBOA. Misterio que durou quase 80 anos, a terceira previsao de Nossa Senhora de Fátima finalmente se tornou pública: a derrubada do impe rio colonial portugués pelo comunismo internacional, ocorrida em 1974. A revelagáo foi feita pela revista "Viseo", que ouviu fontes do Vaticano e confirmou a historia com a Irma Lucia de Jesús, a única testemunha viva das aparigóes da padroeira de Portugal, entre maio e outubro de 1917, na Cova da iría, a cem quilómetros de Lisboa. Segundo a "Visáo", o Vaticano só nao revelou o segredo antes para

nao entrar em conflito com o Governo Salazare, depois, para nao tumul tuar aínda mais aja agitada maré política portuguesa do pós-25 de abril

de 1974. 'O Vaticano nao quena meter no mesmo saco os socialistas Mario Soares, Almeida Santos e Costa Gomes, e um Partido Comunista prepon

derante em determinada fase, diz a revista»

No texto atrás, é de notar que a referencia ás "fontes do Vaticano" é muito vaga; nao se aponta alguma instancia concreta nem os nomes das pessoas responsáveis. Doutro lado, verifica-se que nenhum órgao oficial da Santa Sé publicou a noticia em pauta. O Papa Joáo Paulo II nunca se referiu ao terceiro segredo de Fátima; muito menos se pode dizer que revelou ou autorizou a revelagáo do famoso segredo. Donde se vé que é inconsistente a noticia transcrita pela revista VISÁO e retransmitida pelo

jornal O GLOBO.

2) O periódico DESTINO, ano Vil, n° 108, novembro de 1995, traz em sua capa de rosto a mánchete: "Enfim Revelado! O 3o Segredo de

Fátima". Ás pp. 36-40 prossegue: "Portador de estigmas semelhantes aos

de Cristo, Giorgio Bongiovanni divulga pelo mundo o terceiro segredo de Fátima". O artigo devido a Cadu Silveira refere o seguinte: «Portador de estigmas semelhantes aos de Cristo, Giorgio Bon giovanni divulga pelo mundo o terceiro segredo de Fátima

'Recebida Máe Celeste a missáo de divulgar pelo mundo o terceiro

segredo de Fátima, que o Vaticano nao ousou revelar'. As palavras do italiano Giorgio Bongiovanni sao proferidas num tom calmo e convincen te. Mas nao é apenas sua voz que provoca a crenga no ouvinte. Na verdade, é seu corpo o mais forte testemunho de que ele nao mente quando diz que recebeu urna mensagem diretamente de María, a máe de Jesús. Giorgio é um estigmatizado, como o foram Sao Francisco de Assis e San

ta Teresa de Ávila. Ele traz na testa, ñas máos, nos pés, nos flancos e sobre o coragáo estigmas semelhantes ás feridas que Jesús recebeu ao ser crucificado. Médicos do mundo inteirojá o examinaram e nao conseguiram explicar por que motivo seus ferimentos nao infeccionam e o sangue das chagas coagula em tres segundos e nao em seis minutos, como seria natural. 249

10

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

Giorgio explica que sua primeira visao de María ocorreu em abríl de

1989, na Italia. 'A aparígáo tinha aspecto feminino e seu brilho superava o do Sol', conta ele. 'Ela se identifícou como 'A máe do menino' e disse que me confiaría urna missáo.' Em novas manifestagoes, a figura luminosa afirmou a Giorgio que ele era a reencamagáo de Francisco - o menino portugués que, juntamente com sua Irma Jacinta e sua prima Lucia, teste-' munhou as aparígóes de Nossa Senhora do Rosárío em Fátima, entre 13 de maio e 13 de outubro de 1917.

Seguindo oríentagóes de María, em 2 de setembro de 1989 Giorgio chegou a Fátima, em Portugal».

A Virgem SSma. terá revelado a Bongiovanni as palavras que ela dirigiu a Lucia em 1917 e que DESTINO reproduz as pp. 39s: «E agora proclame em meu nome - Um grande castigo caira sobre a humanidade, nao hoje, nem amanhá, mas na segunda metade do sáculo 20.

Eujá havia revelado aos meninos Mélanie e Maximin em La Sálete e hoje repito a vocé, porque a humanidade tem pecado e pisoteado o "dom" que havia feito. Nao existe ordem em nenhum lugar do mundo e Satanás reina nos mais altos postos, decidindo a diregao das coisas. Ele, efetivamente, conseguirá introduzir-se nos mais altos lugares da Igreja. Ele chegará a seduzir o espirito dos grandes dentistas que inventam as armas com as quais será possivei destruir em poucos minutos grande parte da humanidade. Terá sob seu dominio os poderosos que govemam

os povos e os incitará a fabricar enormes quantidades dessas armas. E, se a humanidade nao se opusera tudo isso, estarei obrigada a deixarlivre o brago de meu Filho. Entao se verá que Deus castigará os homens com mais severidade do que fez no diluvio. Chegará o tempo dos tempos e o fim dos fins; se a humanidade nao se converter e tudo continuar como agora, o piorderá agravarse muito mais e os grandes e os potentes perecerao junto aos pequeños e aos fráeos. Também para a Igreja chegará o tempo e suas maiores provas. Cerdeáis se oporáo a cardeais, bispos a bispos, Satanás caminhará por entre suas filas e em Roma haverá mu-

dangas. O que está podre caira, e o que cairjá nao se levantará mais. A Igreja será ofuscada e o mundo transtornado pelo terror. Chegará o tem po em que nenhum reí, imperador, cardeal ou bispo esperará aquele que no entanto vira, porém para castigar segundo os designios de seu Pai. Urna grande guerra comegará na segunda metade do secuto 20. Fogo e fumaga cairao do céu, as aguas dos océanos se tomaráo vapore a espu ma subirá mexendo e afundando tudo. Milhóes e milhóes perecerao a cada hora e aqueles que ficarem com vida invejaráo os morios. Porqualquer lugar por onde se olhe, haverá angustia, miserias, ruinas em todos os países. Está vendo? O tempo se aproxima cada vez mais e o abismo 250

profecías desmentidas

22

aumenta sem esperanga. Os bons perecerao junto aos maus, os grandes com os pequeños, os príncipes da Igreja com seus fiéis e os governantes com seus povos. Haverá morte por todas as partes por causa dos erros

cometidos pelos insensatos e pelos partidarios de Satanás, o qual entao,

e só entao, reinará sobre o mundo, e por fim, quando aqueles que sobreviverem a tudo isso estiverem aínda com vida, proclamaráo novamente a

Deus e a sua gloría e Lhe servirao como em um tempo, quando o mundo nao era táo pervertido como agora. Vai, minha menina, e conta tudo. Eu, para tal fim, estarei sempre ao seu lado para ajudá-la». Como se vé, esta revelagáo do segredo nao concorda com a ante rior. Ademáis o porta-voz do oráculo, estigmatizado, deve, antes do mais,

ser submetido a exames médicos para se avaliar o seu estado de saúde. 3) Outros intérpretes concordam, em grande parte, com as predi-

góes de Giorgio Bongiovanni: prevéem flagelos múltiplos sobre a térra. Este tipo de "profecías" explica-se pela sítuagáo em que se acha o mundo presente: há crises diversas na economía, na política, no uso dos recur sos da ciencia e da tecnología. Muitas pessoas se apavoram... Ademáis fim de século e fim de milenio suscitam a idéia de fim do mundo; daí julgarem muitos que deve haver um fim da era presente para dar inicio a urna nova era. Esse fim será calamitoso, pois se eré que Deus vai punir a

humanidade entregue á devassidáo e á corrupeáo. Todavía as pessoas

honestas escaparáo das calamidades e veráo a bonanga sobre a térra. Este é um tipo de consolagáo e reconforto subjetivos que muitos cidadáos de hoje criam para si e transmitem aos seus semelhantes; encontram aceitacáo, porque muita gente está descrente dos meios convencionais de salvar da crise a sociedade contemporánea. Todavía é ilusoria a consolagáo que assim vai proposta, pois carece de fundamento em documentagáo objetiva e fidedigna. 2. O APOCALIPSE O Apocalipse é um dos livros que mais se prestam a despertar con-

cepcóes fantasiosas a respeito dos próximos anos. Na imprensa brasileira, podem-se colher algumas noticias que evidenciam a falsidade de tais predigoes.

Com efeito. A revista INCRÍVEL, de maio 1996, pp. 76-79, apresenta um artigo de Carlos Vasconcellos intitulado "Apocalipse em Novem-

bro". A mánchete explica: "De passagem pelo Brasil, o monge Ornar Khayan fala da busca religiosa do homem, faz profecías sobre a política, o futuro do país e anuncia para breve a Terceira Guerra Mundial". Seguem-se trechos do artigo:

«A equipe de INCRÍVEL chegou ao Rio Othon Palace, em Copacabana, as 16h45min para a entrevista com o monge taoísta Ornar 251

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

Khayan, hospedado no quarto 2.519. Depois de aguardar alguns minu

tos, a reportagem foi atendida por urna jovem loura, de camiseta branca, caiga jeans e pés descalgos. Era urna disclpula. Ela disse que o mestre receberia a equipe assim que terminasse sua "meditagáo da tarde". Khayan - que afirma ter 94 anos, e nao aprésenla termais que 60 é filho de urna fídalga alema com um nobre indiano e nasceu em um navio inglés, em aguas brasileiras. Desta mistura, veio ao mundo um monge

budista do ramo tantrayanico (chamado no Ocidente de lamaísmo, refe rente aos lamas do Tibete), arcebispo da Igreja Gnóstica Taoísta (segui dora do Tao, o Caminho, segundo a filosofía tibetana), médico homeópata e, conforme artigos apresentados por seus discípulos brasileiros, Grao-

Mestre Rosa Cruz, Gráo-Cópta da Magonaría Egipcia e muitos outros títulos. Ele, ao estilo oriental, só se pronunciando na terceira pessoa, acrescentou: "O mestre também é doutor honorís causa 104 vezes. Algumas

informagoes que Ihe passaram estáo desatualizadas." Ornar Khayan diz falar 72 línguas, incluindo as mortas, e possuirum ampio conhecimento da etimología das palavras... Usando de mediunidade e de conhecimentos místicos, Khayan

garantiu que o apocalipse está chegando. E deu data, local e motivo da Terceira Guerra Mundial. Será em novembro deste ano, na China, por confíitos étnicos. "Muitos esperam que seja no Oriente Medio, mas nao será", garantiu. O conflito deverá durar seis meses, se alastrar por toda

Asia e África, arrasando o continente europeu e culminando com a captu

ra do papa. "Nao será este papa, que deverá perecer no meio deste ano", ressaltou. Mudangas no eixo da Térra, testes nucleares secretos, degelo dos icebergs, maremotos e terremotos deverSo fazer varias regióes submergirem até o ano 2000 - sao previsóes de Khayan que lembram muitas das

profecías de Nostradamus. Entre as faixas da térra apontadas por ele estáo as ilhasjaponesas, parte dos Estados Unidos (incluindo a California), partes do Brasil (como a cidade de Olinda, em Pemambuco) e varios bairros do Rio (Copacabana, lina do Govemador, Ipanema). "Mas será do Brasil, deste caos atual, que vira a luz para a Era de Aquarius, que comegara no ano 2020, com o mundo reencontrando seu equilibrio. Até Iá, um tergo da humanidade morrerá. Mas isso é apenas urna pequeña passagem neste grao de arela no cosmos. Nao se trata da Kaliyuga, o fím de todo o universo", disse o monge. Na data, 2020, outra coincidencia com as profecías de Nostradamus».

A profecía relativa ao Apocalipse e ao inicio da terceira guerra mun dial devia cumprir-se em novembro de 1996. Até hoje, porém, nada acon252

PROFECÍAS DESMENTIDAS

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teceu - o que bem mostra que se tratava de ficc.áo imaginosa. Nao há por que nos determos em longos comentarios, já que toda a noticia sobre Ornar Khayan carece de seriedade. - Sobre Nostradamus, a que se refe re Carlos Vasconcellos como o profeta queja teria predito o que O. Khayan predisse, ver o subtítulo 4 deste artigo. 3. "OS PROFETAS QUE ERRARAN!"

A revista MARIE CLAIRE, n° 63, junho de 1996, á p. 60, apresenta considerares de Walter Falceta Jr. sob o título "Profetas que erraram". Dentre as suas ponderagóes destacamos as seguintes: "Seguidores de Saint-Germain - alquimista que viveu na Franga no século 18 e que, em uma de sua encamagóes, teña sido o pai de Jesús também dizem que o mundo vai sucumbir em breve. O místico tena dito que, no próximo século, o planeta sería devastado por uma guerra nucle ar, que precedería a chegada do terceiro milenio. Elizabeth Prophet, líder de um dos grupos seguidores do alquimista, orienta seus adeptos nos EUA a construir abrigos nucleares para se proteger da hecatombe. Elajá tem o seu, em Montana.

A maiorparte das profecías modernas para o apocalipse só poderá serchecada depois do ano 2000, época preferida pelos místicos e visio narios para o fim dos tempos. Muitas previsóes, no entanto, já perderam o prazo de validade - e sem que houvesse daño nenhum ao planeta. Conhega aquí alguns dos profetas que erraram: • Lee Jang-Rim: em 28 de outubro de 1992, levou 100 mil fiéis da Igreja Missionária Dami, na Coréia, a esperar pelo minuto final, previsto

para a meia-noite. Uma chuva incandescente cama sobre o planeta e nuvens carregadas de dragóes desceriam á Térra. Nesse momento, prome tía o profeta, seus seguidores ascenderiam ao céu. Passada a meia-noite, nada aconteceu e Jang-Rim foi processado - pelo menos 46 fiéis haviam doado a ele todos os seus bens.

• Marina Tsvygun: a líder da estranha Grande Irmandade Branca, seita que mistura cristianismo e crenga em extraterrestres, ordenou a cen tenas de seguidores que no día 14 de novembro de 1993 se reunissem em Kiev, capital da Ucrania, para aguardar o fim do mundo. Como o pla neta nao se abalou, os liéis deram inicio a um quebra-quebra na cidade; 500 pessoas foram presas.

• Johannes Stoeffler: o astrólogo e matemático alemáo anunciou um diluvio para 20 de fevereiro de 1524. Alemaes e franceses construíram "arcas" para sobreviver á inundagao. Como se sabe, Stoeffler errou. • Nostradamus: o físico e astrólogo que viveu na Franga no século 16 teria previsto, segundo alguns de seus intérpretes, que o mundo aca253

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

baria em 10 de maio de 1988, com um terremoto que comegaria em Los Angeles (EUA). Nesse día, houve um tremor na cidade, mas os estragos

foram bem menores do que supunha Nostradamus: resumiram-se a alguns condutos rompidos e muito pánico entre os que conheciam a profecía". Como se observa, Nostradamus terá predito o fim do mundo para 1988. Passou-se a data e nao se cumpriu a profecía. A seguir, mostrare mos que as "Centurias" proféticas de Nostradamus sao tao obscuras e

imprecisas que podem ser interpretadas de diversas maneiras e contraditoriamente. Para o fim do mundo, segundo Nostradamus, há diversas datas. 4. NOSTRADAMUS

Miguel de Nostradamus (1503-1566) era um judeu convertido ao Cristianismo (o nome Nostradamus é a forma latina de Notre-Dame). Nasceu em Saint-Rémy (Franca). Estudou matemática, medicina e far macéutica. Muito jovem, aprendeu a contemplar o astrolábio (bacia cheia de agua, onde se projetavam os raios do sol) e as estrelas, afim de ler os destinos dos homens nos desenhos tragados sobre a agua ou no céu pelas estrelas. Suas predicóes estao formuladas ñas "Centurias", cente nas de estrofes de quatro versos cada urna. O teor desses versos é obs curo, pois está redigido em dialeto provencal (da Provenga, Franca), do século XVI, enxertado de outras línguas. Os comentadores reconhecem que os textos de Nostradamus sao suscetíveis de mais de urna interpretacáo em virtude do seu estilo lacónico e por estarem redigidos em provencal do séc. XVI enxertado de outras linguas. Além disto, os comentadores, para descobrir o sentido de certas palavras do texto, tém que deslocar as

respectivas letras, de modo que Rapis significaría París, Nercaf designa ría a Franca, Chypre equivalería a Henryc... Quanto aos comentarios dos estudiosos, nao raro violentam o texto do "profeta", ou, se nao o violentam, parecem arbitrarios, podendo ser substituidos por outros táo "vá lidos" quanto os do comentarista. Ademáis é de notar que os comentadores de Nostradamus, desejando ler nos seus textos acontecímentos da histo ria mundial, combinam entre si as quadras tiradas de diversas Centurias, como se, distantes urnas das outras, descrevessem todas o mesmo evento (alias, dizem os comentadores que Nostradamus mesmo espalhou suas

profecías sem ordem cronológica nem lógica para que a censura do sécu lo XVI nao o punisse).

Vejamos em particular o que se refere ao fim do mundo. Urna das mais famosas comentadoras de Nostradamus é a Sra. Erika Cheetham, que escreveu o livro "As Profecías de Nostradamus" (Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro 1977). Erika, tendo estudado o provencal, traduziu as Centurias para o vernáculo e acrescentou-lhes um comenta rio breve. 254

PROFECÍAS DESMENTIDAS

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A autora afirma que as profecías de Nostradamus se estendem até 1999, o que significa que o fim do mundo está para ocorrer naquele ano ou quicé no ano seguinte.

Outros comentadores discordam, admítindo que as profecías de Nostradamus tentam prever a historia até 3797, como o próprio "profeta" assevera no seguinte texto: "J'ai composé livres de pmphéties, lesquelles contentant chacun

cent quatrains astronomiques de prophéties, lesquelles j'ai un peu voulu rabouterobscurément, et son perpétuelles vaticinations pourd'ici á l'année 3797".

Este texto pode ser assím traduzido: "Compus livros de profecías, cada um dos quais contém cem quadras astronómicas de profecías, que eu quis elaborar obscuramente um pouco; sao vaticinios perpetuos para daqui até o ano 3797".

Na verdade, a própria Erika Cheetham admite que Nostradamus tenha profetizado o fim do mundo para o mes de fevereiro de 2769.

5. AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ As Testemunhas de Jeová constituem urna denominacáo religiosa derivada do Protestantismo, queja nao é crista, pois nao acredita na SS. Trindade nem em Jesús Cristo Deus e Homem. O seu fundador é Charles Taze Russell (1852-1916), oriundo de familia presbiteriana. Calculou a

data da segunda vinda de Cristo para 1914. Muita gente nos Estados Unidos deu crédito a esta "profecía" e se filiou á agremiacáo fundada por

Russell. Contudo em 1914 nada do previsto aconteceu. Russell entio explicou: "O Senhor aínda concede um pouco de tempo" e indicou o ano

de 1918 como o do inicio de um reino milenarista (de mil anos) de Cristo sobre a térra. A morte, que o colheu em 1916, poupou-o de novo desen gaño.

O sucessor de Charles Russell - Joseph Franklin Rutherford (1869 -1942) -viu-se obrigado a refazeros cálculos, indicando em conseqüéncia o ano de 1925 como o da vinda de Cristo e o da batalha final de Harmaguedon. Muitas pessoas, aflitas pela dura situacáo do mundo após a guerra de 1914 -1918, aderiram férvidamente a tal profecía... Dado que em 1925 também nada do predito ocorreu, Rutherford se pos a rever todo o calendario das Testemunhas e houve por bem nao fixar de ¡mediato data alguma para o cumprimento das suas profecías. Em 1968, porém,

Nathan Knorr, entáo presidente da Sociedade, afirmou, pela revista "Despertai", que o día de Harmaguedon cairia em 1975, segundo a crono logía bíblica. Tal cronología era proposta nos seguintes termos: Adáo foi 255

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

criado no outono do ano 4.026 a.C; donde se segué que em 1975 se completariam 6.000 anos da existencia do género humano. Esses 6.000 anos seriam seguidos do reino milenar de Cristo, paralelo ao descanso sabático em que o Senhor Deus entrou após os seis dias da criacáo do mundo. - O seguinte presidente da Sociedade "Torre de Vigía", Frederick

Franz, interrogado pela revista Time (11/07/1977,p. 39s) a respeito do nao cumprimento da profecía em 1975, respondeu que a contagem deve

ser alterada, pois o sétimo dia só comecou após a criacáo de Eva, a qual foi posterior á de Adáo; visto que a duracáo do intervalo entre o surto de Adáo e o de Eva ainda nao foi revelada pelo Senhor Deus, nao se pode aínda dizer quando comecará o sétimo milenio da humanidade ou o reino milenar de Cristo!

Sem comentarios... 6. MAHIKARI

A corrente religiosa Mahikari vem do Japáo e tenta implantar-se no

Brasil. A revista MARIE CLAIRE, n° e artigo citados atrás, publica as pp. 62s a seguinte noticia:

«Urna mochila e urna porgao de reais - essa é a receita da Mahikari

para quem estiver pleiteando um lugar no Éden. A seita de orígemjapone

sa que chegou em 1974 ao Brasil, e que afirma ter 800 mil seguidores no mundo, acredita que o apocalipse chegará antes do que esperam os esotéricos do Planalto: até o final dos anos 90. Assim, orienta seus segui dores a ter sempre á mao urna especie de kit-apocalipse - mochila de emergencia que incluí 15 itens indispensáveis, alimentos nao-pereciveis, capa e guarda-chuva (veja depoimento de urna ex-mahikari ñas pp. 257s). O fim, segundo a seita, será precedido porterríveis catástrofes climáticas, que traráo ao mundo fome e privagáo. Nesse caso, a mochila mahikari

tornase urna especie de passe para o paraíso, que, segundo a organizagao, deverá suceder á hecatombe. Para estar entre os sobreviventes, no entanto, urna bem fornida

lancheira nao basta. É necessário ainda que o candidato ao Nirvana tenha antes se purificado, processo que na Mahikari envolve tempo - e, principalmente, dinheiro.

O tempo é gasto no recebimento diario do "okiyome", urna especie de béngéo aplicada por iniciados nos seguidores e que tena porfinalida-

de ungi-los com a "energía da sétima dimensáo". É feita diariamente ñas cinco sedes da seita em Sao Paulo: depois de orar para Deus (eles acreditam na existencia de um Criador), mahikari espalmam as maos e as posicionam a 30 centímetros de distancia de urna parte do corpo da pes256

PROFECÍAS DESMENTIDAS

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soa a ser "purificada". Os pontos váo mudando no decorrer do processo, que dura 50 minutos.

Um dos dirigentes da seita em Sao Paulo (ele pediu para nao ser identificado por nao ter autorizagao da matriz japonesa para dar entrevis tas) explica o objetivo do okiyome: "Serve para purificar a humanidade do carma acumulado, do excesso de materialismo e dos erros cometidos contra a natureza e as criaturas de Deus".

Depois de recebera "béngáo", os adeptos da Mahikarisáo convida dos a fazer um "agradecimento" ao Criador- e ai é que entra o dinheiro. A gratidao deve serexpressa em reais. O valor fica a criterio dos "beneficia dos", que costumam dar entre R$ 1 e R$ 2. Como o okiyome deve ser recebido de preferencia todos os dias, no final, a salvagao nao sai por

menos de R$ 30 por mes. Isso sem contar a contribuigao obrigatória de R$ 14 que os adeptos tém de dar mensalmente á seita ("para manter o canal de comunicagáo com Deus"), os freqüentes "convites" que recebem para ajudarna construgáo de um ou outro memorial no Japao em honra a um mestre mahikari, e as taxas de pagamento dos seminarios que os

seguidores tém de cursar para galgar niveis mais altos na organizagáo um deles, para entrar no estágio intermediario, custa R$ 500.

Levando-se em conta o fato de a Mahikari ter 5 mil adeptos só no Brasil, é de se supor que, pelo menos, ñas finangas, está sólidamente preparada para o apocalipse».

Como se vé, faltam tres anos para acontecerem as catástrofes pre-

ditas para a década de 1990. É lícito perguntar: se em sete anos nada ocorreu do predito, acontecerá algo nos últimos tres anos?

A noticia atrás é interessante também porque mostra como o di nheiro corre juntamente com as "profecías".

7. CONCLUSÁO Ainda outros varios exemplos se poderiam citar de "profecías" nao cumpridas. A ansia de prever o fim dos tempos atuais parece corresponder á consciéncia que os homens tém, de estar vivendo urna época ingrata, atormentada por diversos perigos, sem que se veja solugáo humana para

a inseguranga e o medo que dominam muita gente. Conseqüentemente apelam para o Transcendental ou para Deus, que "dará um jeito" a este mundo; esse "jeito" é imaginado muito fantasiosa e arbitrariamente - o que redunda na variedade de "profecías" que pululam na sociedade con temporánea.

O bom senso e o espirito de fé católica desaconselham o dar crédi to a tais predicóes. Sao um fenómeno psicológico, um mecanismo de 257

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

reconforto e consolacáo, que nao resistem a uma crítica sadia. A genuína fé ensina que o Senhor recusou explicitamente revelar a data do fim do mundo ou do fim de alguma época (cf. Me 13,23; At 1,7). O que importa realmente ao crista o, é estar vigilante e viver cada dia como se fosse o último dia de sua passagem pela térra; o hoje do cristáo pode ser o dia do encontró final com o Senhor. Isto estrutura a vida dos fiéis e dá-lhe uma nota de seriedade e paz. Somente o pecado é temível e deplorável; onde nao há pecado, há paz, confianca e esperanca no Senhor e na sua infalível Providencia.

Viver o dia-a-dia na presenca de Deus e servir-lhe de coracáo ale gre e tranquilo - tal é a vocacáo do cristáo também nos dias atuais.

APÉNDICE Julgamos interessante transcrever, a seguir, o depoimento de Andrea, egressa da Sociedade Mahikari, tal como foi publicado pela re vista MARIE CLAIRE, n° citado, p. 64:

"ATEA MORTE DOS MAMONAS ERA UM SINAL DO APOCALIPSE Andrea (nome ficticio), 36 anos, ex-membro da Mahikari Há seis anos, recebi o okiyome (especie de béngao) de uma amiga e sentí uma grande serenidade. Procurava um caminho de aperíeigoamento espiritual, mas nao tinha certeza se o encontraría na Mahikari. Os dirigentes insistiram para que eu me tornasse uma Kumité (membro oficial da organizagao). Quando meu pai morreu, o okiyome me reconfortou muito. Decidí aceitar o convite. Mesmo assim, continuava me sentindo pressionada pelos orientadoras. Volta e meia eles insistiam para que eu fízesse determinada coisa: que trabalhasse pela entidade, que participasse de todas as cerimónias, que trouxesse amigas etc. Sentía que, quanto mais

eu fazia pela Mahikari, mais era solicitada - minha dedicagao nunca era suficiente.

Desde o comego, percebi muitas coisas erradas lá dentro. Mas ia ficando porque me sentía bem, física e espiritualmente, com o okiyome. A

Mahikari diz que o ser humano é livre, mas tem determinagóes que lembram o cristianismo medieval. Proíbem o sexo antes e fora do casamento e desaconselham todo tipo de remedio. Dizem que o okiyome resolve tudo. Algumas máes deixam até de aplicar vacinas nos filhos. Eles envolvem os seguidores pelo medo: falam em castigos, espiritos maus e catástrofes do fim do mundo. Eu mesma nunca acreditei nesse

apocalipse. Jamáis preparei a tal mochila de emergencia. Os líderes organizavam aulas com demonstragóes práticas de como prepará-la. Os itens 'indispensáveis' incluiam uma saboneteira e uma toalhinha para que 258

PROFECÍAS DESMENTIDAS

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as pessoas pudessem ¡impar as m§os antes de manipular o Omitama (medalha 'sagrada' que os Kumités carregam sempre com eles). Nunca assisti a essas aulas e sempre perguntava: 'E se a tragedia acontecer na rúa e a sua mochila estiverem casa, de que adíanta?' Um día, levei um párente ao templo e um Kumité Ihe perguntou:

'Quando é que vocé vai fazer o seminario (curso de iniciagáo para se tornar um membro da Mahikari)?' Ele respondeu que nao sabia. O Kumité

disse: 'Nao sabe? Se vocé nao fizer logo, quando o Batismo de Fogo (maneira pela qual os adeptos da seita chamam a catástrofe que provoca

rá o fim do mundo) chegar, vocé vaimorrerí' Qualquerdesgraga que acon tecía era um sinal de que o Batismo de Fogo estava chegando - da guerra no Líbano á morte dos Mamonas Assassinas.

Este ano, tive acesso ao conteúdo de urna reuniáo feita por um dirigente com urna equipe de orientadores. O líder recomendava que nao se admitissem aidéticos nos templos, 'para evitar a contaminagáo'. Nao sei o que me irritou mais: se a ignorancia ou a discriminagáo. Em determi nado momento, um orientador perguntou qual o conselho que deveria dar a urna integrante que quisesse se separar de um nao-integrante (para casáis adeptos da Mahikari, o casamento é indissolúvel). A resposta foi

que ele deveria apoiara separagáo, desde que ela parecesse inevitável e nao comprometesse a situagao financeira da mulher. A partir daí, caí na real: fiz as contas e constatei que os "agradecimentos" que os membros destinam á manutengáo da organizagáo dariam, pelo menos, para manter urna segunda entidade. Decidí sair. Hoje, em vez de lamentar o tempo que perdí lá, prefiro ver o saldo positivo da minha experiencia: tive apoio no momento em que perdí pes soas queridas, descobri um espago no meu coragao para ajudar os ou-

tros, aprendí a conviver com pessoas totalmente diferentes de mim e, cla ro, a prestar mais atengao antes de me envolver com elas."

Rezar a vida e Viver a Orasáo, por Frei Alberto Beckháuser OFM. - Ed. Vozes, Petrópolis 1997, 105 x 160mm, 172 pp. Este precioso livreto é, de certo modo, urna introdugáo á vida de

oragáo entendida como "um langar-se em Deus, um mergulhar no miste rio. Poderíamos talvez comparara oragáo com o sal que se langa na agua.

Ele se comunica com a agua de tal modo que se diluí na agua, sem deixar de ser sal" (p. 16). Após esta explanagáo de ordem doutrinária, o autor considera diversas modalidades e fórmulas de oragáo (Liturgia das Horas e devogoes populares) de maneira clara e profunda. Tratase de válido subsidio de espiritualidade. 259

O Médico estuda

A ANTICONCEPQÁO (CONTRACEPQÁO)

Damos prosseguimento á serie de artigos do Dr. Joáo Evangelista dos Santos Alves sobre a reprodugáo humana. Já foram abordados os temas referentes ao inicio da vida humana e ao aborto em PR 419 (abril 97) e 420 (maio 97) respectivamente. As páginas que se seguem, consi-

deraráo a anticoncepcáo, que pode ser praticada mediante métodos de barreira (a camisinha, o diafragma, os espermicidas) e métodos invasivos (ligadura de trompas, vasectomia e pílulas anticoncepcionais). O autor do artigo explana a acáo desses recursos com minucias científicas de gran de utilidade. - Ao Dr. J. E. dos Santos Alves seja consignada, mais urna vez, a gratidao da Redacáo de PR.

1. MÉTODOS DE BARREIRA Os métodos contraceptivos sao aqueles que impedem a concepcao da vida humana, interrompendo o processo fisiológico de sua forma-

cáo iniciado pelo ato sexual. Numerosos sao os meios utilizados atualmente para esse fim. Varios deles sao muito antigos e foram sempre di

fundidos com o objetivo de transformar a sexuaiidade humana em prática sem compromisso, banalizada e promiscua. Sao os chamados "métodos de barreira", que servem de obstáculo, de barreira mecánica ou química, á penetracáo dos espermatozoides no útero: o condón ou preservativo ou "camisinha", usado pelo homem; o diafragma1 e os espermaticidas (com primidos, cremes, etc.) usados pelas mulheres. Esses métodos - além de nao atingirem eficazmente o fim a que se propóem, pelo elevado índice

de falhas - foram sempre fatores estimulantes da promiscuidade sexual e, conseqüentemente, da propagacáo de doencas venéreas; estas se

cronificavam e deixavam graves seqüelas - inclusive esterilidade irreversível - em muitos homens e mulheres, sobretudo na época anterior aos antibióticos, pela precariedade dos tratamentos de entao, mas também nos días atuais. Além disto, todos eles tém efeitos colaterais, pouco ou mais graves, sobre o organismo e o psiquismo das pessoas que os usam. Muitos efei tos sao até insuspeitados, como, por exemplo, possíveis conseqüéncias nocivas causadas pela absorcao, através do epitelio vaginal, de subs1 DIAFRAGMA - ariefato anticoncepcional usado pela mulher, que consiste em um dispositivo de borracha para ser ajustado sobre o coló uterino a fim de evitar a penetragao dos espermatozoides. 260

A ANTICONCEPgÁO (CONTRACEPgÁO)

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táncias espermatotóxicas ai colocadas com freqüéncia e mantidas por tempo variável. Esses métodos dispensam maiores comentarios.

Nos dias presentes, estamos assistindo, em escala mundial, a um recrudescimento das antigás doencas venéreas e ao surgimento, quase epidémico, de outras novas entidades nosológicas sexualmente transmissíveis, nao obstante os poderosos medicamentos existentes. Atribuise isto á promiscuidade crescente, favorecida que é pela difusáo de anticoncepcionais modernos e antigos.

2. MÉTODOS INVASIVOS: LIGADURA DE TROMPAS E VASECTOMIA Outros métodos anticoncepcionais sao chamados invasivos porque, de certa forma, agridem o organismo humano: a ligadura de trompas, a vasectomia e os anticoncepcionais hormonais (as chamadas "pílulas", as injecoes de depósito, os "implantes", etc.). Estes métodos - além de desordenarem a natureza do ato sexual e lesarem a integridade corporal e fisiológica das pessoas as quais sao aplicados - atingem gravemente o espirito e a nobreza da Medicina, esvaziando-a de seu conteúdo ético e desvirtuando sua finalidade. A supressáo da funcáo generativa - pela ligadura de trompas ou pela vasectomia - constituí cirurgia mutiladora, realizada quase sempre por causas alheias ao problema de saúde, ou situando-se fora do contexto terapéutico; extrapola portanto a aleada do médico, cuja funcáo primordial é prevenir e tratar doencas, aliviar a dor e diminuir o sofrimento nos casos incuráveis.

1) A experiencia clínica mostra que a cirurgia para ligadura de trom pas pode causar disturbios hormonais1 em muítas mulheres, devidos ao fato de que o ato cirúrgico pode prejudicar a vascularizacáo dos ovarios, pois é possível que as arterias nutridoras dos ovarios sejam parcialmente lesadas juntamente com as da trompa. Como conseqüéncia, a funcáo ovariana poderá ser afetada, resultando supressáo da ovulacáo, o que significará ausencia de progesterona2, que é necessária ao equilibrio hormonal e á regularidade menstrual. A falta de progesterona nao é ino cua, porque o estrogénio3 deixa de ser neutralizado e a acáo constante

deste hormónio pode desencadear urna serie de problemas para o orga nismo feminino. Dores pélvicas crónicas sao outros síntomas que dao lugar a queixas de muitas pacientes submetidas a ligadura de trompas.

1 HORMÓNIO - Substancia produzida por um tecido orgánico e que transportada,

geralmente pela corrente sanguínea, a outro tecido, Ihe excita a atividade funcional. Por exemplo: os hormónios produzidos pela hipófíse sao levados a outras glándulas, como tireóide, ovarios, testículos, etc., fazendo com que estas funcionem. 2 PROGESTERONA é o hormónio produzido pelo ovario na segunda fase do ciclo reprodutor, ou seja, após a ovulagao. Prepara a mucosa uterina para acolher o embriáo, se ocorrer a fecundagao.

3 ESTROGÉNIO é o hormónio feminizante, produzido principalmente pelos ovarios. 261

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

2) A vasectomia consiste na ligadura do conduto deferente, por onde passam os espermatozoides que sao ejaculados no coito. Ocluido o conduto deferente, os espermatozoides ficam retidos e nao sao mais eli minados juntamente com o líquido espermático, o qual continua a ser ejaculado, pois tem origem em estruturas que ficam além do ponto de

oclusáo. Alguns médicos que aplicam o método em seus clientes, referem o temor, nao infundado, de ocorrer impotencia sexual como conseqüéncia da vasectomia. Sabe-se também que podem ocorrer reacóes autoimunes pela formacáo de anticorpos anti-espermatozóides.

Mais recentemente, artigo publicado no Jornal da Associacáo Mé dica Americana (JAMA 269{7): 873-882,1993)' mostra ser maior a inci dencia de cáncer de próstata entre os vasectomizados. 3) Ambos os métodos, ligadura de trompas e vasectomia, sao geralmente considerados irreversíveis, nao só pela dificuldade de reconstrucáo cirúrgica e recuperacáo anatómica satisfatórias, mas também pe las possíveis conseqüéncias prejudicial sobre as gónadas (ovarios e tes tículos), que podem ficar alteradas na funcáo reprodutiva e também na funcáo hormonal. A irreversibilidade, porém, é relativa, no sentido de que a reversáo da fertilidade nao ocorre espontáneamente, pois exige intervencáo cirúrgica reconstrutora mais delicada que a mutiladora. O resulta do é incerto, porém possível. Portanto, a indicacao cirúrgica reconstrutora

torna-se válida pela possibilidade de éxito, maior atualmente gracas ás novas técnicas de micro-cirurgia.

3. MÉTODOS INVASIVOS: PÍLULAS ANTICONCEPCIONAIS Sao também chamadas contraceptivos hormonais oráis ou anovulatórios.

Nao se conhecem ainda, com precisao, o mecanismo íntimo de

acáo das pílulas anticoncepcionais nem todas as conseqüéncias que seu uso prolongado pode causar ao organismo da mulher e á sua descenden cia. Porém, alguns aspectos do mecanismo de acáo das "pílulas" sao conhecidos. Agindo sobre o hipotálamo2 e a hipófise3, interferem as "pílu1 "In conclusión, the results from this study support the hypothesis that vasectomy ¡ncreases the risk ofprostate cáncer. The overall risk ofprostate cáncer was increased

by 56% and risk afíer 20 years following the vasectomy was elevated by 89%" (JAMA, vol. 269, n° 7, pág.881).

2 HIPOTÁLAMO - Regiao do cerebro, localizada em sua parte central e inferior. Contém centros controladores de determinados processos vitáis como o metabolismo de certas substancias, o sonó, a temperatura do corpo, etc., e as fungóes genitais, pelo controle que exerce sobre a glándula hipófise.

3 HIPÓFISE - ou Pituitaria - Glándula de secregao interna do tamanho de urna ervitha,

pesando menos de 1g. ligada ao assoatho cerebral (regiao do hipotálamo) por um

pedículo. Está alojada em pequeño estojo ósseo na base do cránio, que a protege. É a glándula mais importante do organismo porque "controla" as outras glándulas de 262

AANTICONCEPQÁO (CONTRACEPgÁO)

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las" em toda a fisiología endocrina feminina, alterando o ¡nter-relacionamento glandular, comandado que é por estímulos provenientes daquelas estruturas. Sabe-se, assim, que o efeito anticoncepcional dessas subs tancias é conseqüéncia de malfazeja acáo direta sobre o delicadissimo sis

tema endocrino feminino, alterando-lhe o funcionamento normal e impondoIhe um ritmo patológico; este pode tornar-se estável e persistir assim altera do, mesmo após a retirada da causa (suspensáo do uso das "pílulas"). Compóem-se, as "pílulas", da associacao de hormónios estrogénicos e progestogénicos; nao se pode excluir qualquer desses hormónios de ser responsável pelos efeitos produzidos, pois se tem verificado que am bos podem interferir sinergicamente e os progestogénios podem ser

metabolizados em estrogénios, sendo estes, geralmente, os mais respon sabilizados.

É muito difícil escolher a pílula anticoncepcional que oferece riscos menos graves. Mesmo os pesquisadores encontram dificuldades para selecionar criterios através dos quais os progestogénios e estrogénios possam ser devidamente comparados, pois entram em jogo varios fatores nem sempre facéis de serem avaliados. Para se sentir a dificuldade

do problema, basta observar o grande número de produtos existentes no mercado: um mesmo laboratorio possui dois e até tres produtos, variando ñas substancias e ñas dosagens. Quanto as doses, nem sempre as menores sao menos agressivas,

pois se trata eventualmente de hormónio de maior potencia, superando a atividade biológica dos outros hormónios usados em doses mais eleva

das. Cada laboratorio procura obter a preferencia dos médicos, apregoando certas características dos seus produtos e apresentando-os como se fossem os melhores, os menos perigosos. Na verdade, isto nao ocorre, pois, se assim fosse, tal ou tal produto obteria unanimidade dos receituários e outros seriam abandonados. Alguns produtos utilizados durante muitos anos no mundo inteiro por milhóes de mulheres, sadias ou nao, eram anunciados como sendo os que ofereciam mais seguranca, mas foram posteriormente retirados do mercado, certamente por motivos graves. Sabe-se, por outro lado, que cada pessoa tem seus sistemas enzi-

máticos com algumas características próprias, que metabolizam melhor certas substancias e outras nao. Cada pessoa tem suas idiossincrasias1, secregáo interna pormeio de hormónios específicos, que caem na circulagáo e agem,

cada um, sobre a glándula a que se destina. Assim, temos: adrenocorticotrofina (ACTH), para as glándulas supra-renais ou adrenais; tireotrofína, para a tireóide; gonadotrofina, para as gónadas (ovarios e testículos). Além desses, produz outros hormónios, como: somatotrofína, que é o honvónio do crescimento; prolactina, que excita a formagáo de /e/te pelas mamas, etc.. A hipófíse, porsua vez, é controlada pelo hipotálamo. 1 IDIOSSINCRASIA - Característica peculiar a um individuo, devido a qual ele reage diferentemente da maioría, em relagáo a certos medicamentos ou tratamentos. 263

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

tem seus fatores predisponentes a determinadas doencas e, portante, a determinadas complicares. E tu do isto é difícil de avaliar, de precisar. Já

foi dito, com acertó, que toda mulher que toma pilula anticoncepcional, está se submetendo a urna verdadeira experiencia em escala mundial. E

a experiencia continua em andamento, a tal ponto que se pode afirmar que, na historia da humanidade, em tempo algum, urna droga, com meca nismo de acao nao devidamente esclarecido e com tantos efeitos colaterais

e complicagóes possíveis, foi liberaimente aplicada a táo grande número de

pessoas, normáis ou doentes, por tempo táo prolongado. Sobre o mecanismo de acao das pilulas contraceptivas convém assinalar ainda um fato importante: o seu possível efeito abortivo. Veja mos.

As "pilulas" impedem a gravidez por dois efeitos: 1) inibem a ovulacáo, isto é, impedem a liberacáo do óvulo, que fica retido no ovario; 2)

modificam as características do muco cervical1, dificultando a penetracáo dos espermatozoides no útero, em direcáo as trompas.

Acontece que, algumas vezes, esses efeitos falham: pode haver urna ovulacáo de escape, e um número suficiente de espermatozoides pode vencer a barreira do muco cervical alterado pela "pilula" e fecundar o óvulo, dando inicio ao novo ser humano. Este, ao chegar no útero, en contrará um ambiente hostil, pois os hormónios artificiáis que compóem as "pilulas" nao preparam bem a mucosa uterina para recebé-lo. Mesmo assim, o novo ser poderá nidar-se e a gravidez prosseguir normalmente até o termo: será urna "faina" do método. Porém, o mais provável, neste caso, é que nao haja nidacáo2 ou que esta ocorra imperfeitamente e o endométrio3 descame, provocando urna hemorragia tipo menstrual, que consiste, no caso, em um aborto oculto, sem que a mulher o saiba: ai está 0 possível efeito abortivo.

A simples análise dos aspectos já conhecidos do mecanismo de acao das "pilulas" permitiría concluir pela existencia dos numerosos efei tos colaterais graves, que a experiencia veio demonstrar. Inclusive em documento do Ministerio da Saúde sobre gravidez de alto risco estáo re lacionados muitos desses efeitos colaterais. A simples leitura daquele documento seria suficiente para, agindo sensatamente, excluirem-se as 1 MUCO CERVICAL - Secregáo mucosa do coló uterino. As vezes é fluida, semelhan-

te á "clara de ovo cru", que desee pela vagina e umedece os óigaos externos (periodo

fértil do ciclo reprodutor), outras vezes é espessa e fica retida no próprio coló uterino (período infértil).

2 NIDACÁO - Nidifícagao - Implantagao do embriáo, já na forma de blastocisto, no endométrio do útero grávido.

3 ENDOMÉTRIO - Mucosa que reveste a cavidade uterina e onde o embriáo se ani-

nha.

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A ANTICONCEPgÁO (CONTRACEPgÁO)

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"pílulas" das condutas de programas de planejamento familiar, principal mente em pacientes que apresentam fatores de risco obstétrico, pois a administracao dessas substancias vai agravar os referidos fatores de ris co e acrescentar outros, na mesma paciente.

Sao numerosos os efeitos colaterais das pílulas anticoncepcionais. Eles podem incidir praticamente sobre todos os aparelhos e órgaos do corpo: aparelho cardiovascular, digestivo, respiratorio, urinario. Podem produzir efeitos nocivos sobre a coagulacáo sanguínea, sobre o sistema nervoso central, sobre o metabolismo, sobre os órgáos genitais, sobre as mamas, sobre a visáo, audicáo, etc.. Podem desencadear o cáncer em

certos órgaos de pessoas predispostas ou agravar cáncer preexistente, inclusive ativar cáncer subclinico, que talvez permanecesse latente inde

finidamente.

Os tumores estrógeno-dependentes desenvolvem-se em tecidos

cujas mitoses1 sao aceleradas pela acáo do hormónio estrogénio. Assim, 0 aparecimento de cáncer estrógeno-dependente (na mama, por exemplo) pode ser desencadeado pelo uso prolongado desse hormónio, em pacientes susceptíveis ao desenvolvimento daqueles tumores. Também admite-se que possa agir como co-fator, em sinergismo com o HPV (pa piloma virus humano), no desencadeamento do cáncer do coló uterino. nais:

Contra-indicacóes médicas ao uso de pílulas anticoncepcio

É difícil distinguir entre contra-indicacóes relativas e contra-indica-

?5es absolutas, pois cada pessoa apresenta particularidades difíceis de aquilatar.

Enumeramos, entre outras, as seguintes:

Portadoras ou com antecedentes pessoais ou familiares de: hipertensáo arterial, diabete, tumores malignos hormónios-dependentes (cán cer da mama, cáncer do endométrio, etc.). Portadoras ou com antecedentes pessoais de: flebite, embolia, varizes, coronariopatia, cardiopatia crónica, hiperlipidemia, hepatopatia, nefropatia, enxaqueca, epilepsia, psicose, certos disturbios visuais, tumor maligno de qualquer órgáo ou tipo, tumor benigno hormónio-dependente (mioma uterino, nodulo e displasia mamaria, etc.), mastopatia funcional, displasia cervical, tumor hipofisário, certas endocrinopatias, colagenoses, anemia falciforme, etc. Mulheres obesas. Mulheres magras. Mulheres fu mantes. Mulheres com 35 anos de idade ou mais. Mulheres com mais de 5 anos de uso de "pílulas", em quaisquer condigóes. Adolescentes, etc. 1 MITOSE - Modo de divisáo celular, típico das células somáticas e das células germinativas dos seres superiores. 265

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

Pelo exposto, vemos que o uso de pilulas anticoncepcionais ¡mpóe

rigoroso e constante controle médico das consumidoras, o que, na prática, é impossível, pois demandaria uma junta médica composta de varios especialistas e numerosos exames complementares, em faixa etária que normalmente nao exige acompanhamento médico periódico. Todos os efeitos colaterais possíveis sao muito difíceis de se prever e podem provocar graves danos á saúde, caindo a responsabilidade, em última análise, sobre o médico que prescreve a "pílula", muitas vezes pressionado pelas circunstancias.

Portanto, quando um médico pensar em indicar pílula anticoncepci onal, deverá refletir sobre todos estes problemas. Alias, o termo indicacao nao se aplica aos anticoncepcionais. Em Medicina, quando indi camos um produto para ser usado pelo cliente, só o fazemos após diag nosticar uma doenga ou constatar um disturbio orgánico que necessita de ser corrigido. Nos procuramos, com os medicamentos, restabelecer o estado orgánico normal. Com os anticoncepcionais ocorre exatamente o contrario: sao produtos hormonais usados em pacientes endocrinologicamente sadias, visando a alterar-lhes o normal funcionamento endocrino. Nao podemos indicar um produto com a finalidade de criar uma situacáo anormal. Seria um contra-senso, e estaríamos contrariando aquele antigo

preceito da medicina: "primo non nocere" ("primeiro nao prejudicar")As implicacóes ético-sociais e o próprio mecanismo de acáo das pilulas anticoncepcionais - por si dañoso ao organismo feminino -, os efeitos colaterais, as contra-indicacóes e o exaustivo acompanhamento médico exigido para oferecer relativa seguranca as usuarias da "pílula", excluem de seu uso um número táo grande de mulheres - praticamente toda a populagáo feminina - que nos surpreenderia ver tais produtos serem recomendados e distribuidos por ¡nstituicóes governamentais, quan do deveriam reprimir seu uso indevido, para fins contraceptivos. 4. ANTICONCEPCIONALISMO E ABORTISMO Tempos atrás, quando foi langada a pílula anovulatória com finali dade anticoncepcional, defendeu-se - para justificar a difusáo da mesma - a idéia de que a anticoncepcao disseminada diminuiría o número de abor tos provocados, dada a reducáo drástica das gestacdes ditas indesejadas. Na mesma época, muitos estudiosos do assunto rebateram este argumento, fazendo ver que a anticoncepcao generalizada banalizaria a sexualidade humana e seria um estímulo a mais para a prática desorde nada do sexo. Conseqüentemente, desenvolvería uma poderosa mentalidade anti-natalista, estágio intermediario e necessário para se chegar á

tolerancia e depois á plena aceitacáo do aborto como "coisa normal", que deveria ser legalizada. 266

AANTICONCEPgAO (CONTRACEPgAO)

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O tempo veio provar o acertó dessa advertencia, mostrando que qualquer desrespeito á lei moral natural leva sempre a desregramentos cada vez maiores. O anticoncepcionalismo, quebrando o primeiro elo da Lei Moral de respeito á vida humana, favorece o uso de métodos cripto-

abortivos e depois a aceitagao do abortamento livremente praticado. Evi tar filhos aumenta a incidencia de aborto provocado ao invés de a dimi nuir. No mundo inteiro a promocáo do anticoncepcionalismo precedeu e preparou a promocáo do abortismo. Os fatos indicam que, ñas cidades

onde mais se pratica a anticoncepcáo, é que mais se realiza o aborto, o que desmente, na prática, a apressada idéia de que a difusáo de métodos anticoncepcionais seria capaz de diminuir a incidencia do aborto. O que aconteceu em outros países, já se observa no Brasil: o surgimento de instituicóes que se destinam, inicialmente, a propagar e

difundir métodos anticoncepcionais; urna vez criada a mentalidade propi cia, lanca-se a campanha, de inicio velada e depois abertamente, em favor da "legalizacáo" do aborto.

É justa a preocupacao pelo crescente aumento de gestacoes indesejadas, sobretudo em mulheres solteiras e de idade cada vez mais precoce. Mas é evidente que constituí um contra-senso a promocáo abusiva do sexo pelos meios de publicidade, estimulada inclusive pela difusáo de métodos anticoncepcionais, que sao colocados á venda sem a mínima restrigáo. Cria-se, assim, urna atmosfera de desvalorizado da funcáo sexual, com estímulo de unióes em todos os ambientes e em todas as idades, mas sobretudo entre adolescentes. Estes, sem discernimento suficiente - pela falta de orientacáo correta e de valores humanos autén ticos, que nao Ihes sao devidamente transmitidos - sao levados, pela propaganda e pelas facilidades, a atitudes irrefletidas e inconseqüentes, porém capazes de gerar novas vidas. Os efeitos contraceptivos dos mé todos utilizados, que nao sao infalíveis, se anulam pelo exagerado estí mulo ao processo procriador, tanto no uso ordenado da vida conjugal como no uso desordenado do sexo sem compromisso. Entáo o recurso passa a ser o apelo ao abortamento provocado, eliminando-se os filhos ditos indesejados (em número cada vez maior) de máes solteiras ou mesmo de familias constituidas. Mas que culpa tém os filhos de serem indesejados?... E, se algum pai ou máe, por doenca ou por velhice, se tornar indesejado, terá o filho o direíto de exterminá-lo?...

A mentalidade anti-natalista evolui da contracepcáo, em si má, ao aborto livre e deste á eutanasia de pessoas gravemente enfermas em qualquer idade. E tudo isto em nome de pseudodireitos nunca devidamente explicados, porém apoiados em chavóes amplamente difundidos, que conseguem anestesiar as consciéncias atónitas pelo ritmo da vida atual, e, por isto mesmo, pouco atentas á realidade e importancia de certos fatos. 267

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

5. ANTICONCEPQÁO E INTEGRIDADE NA TRANSMISSÁO DA VIDA Deve ficar claro que a desaprovacáo ética dos métodos anticoncepcionais nao tem como fundamento principal, nem necessário, os seus efeitos colaterais nocivos ao organismo, nem as suas contra-indicacoes clínicas, graves em muitos casos e praticamente desprezíveis em outros. A malicia mais importante da anticoncepgáo está em seu efeito objetivo, que consiste em interferir na fonte da vida, desnaturando o ato sexual, esvaziando-o de sua verdade intrínseca e de seu fim natural, tentando obstar, voluntaria mente, ao dom da vida, ao surgimento da nova vida humana projetada pelo ato praticado, banalizando-o por subtrair-lhe o senso de responsabilidade.

É importante que se entenda bem a diferenca entre a contracepcáo e os métodos naturais de pianejamento familiar segundo os principios da paternidade responsável. Em primeiro lugar, para que naja responsabili dade na paternidade, é necessário que estejam as pessoas - e, melhor

aínda, toda a sociedade - impregnadas de um profundo respeito á dignidade da vida humana desde sua origem, respeitando a integridade do processo de sua transmissáo. Os métodos contraceptivos, como o nome indica, visam a tornar

infecundos os atos potencialmente fecundos, fechando-os, todos, á pos-

sibilidade de transmissáo da vida. Já os métodos naturais preservam a integridade de todos os atos, conservando-os sempre abertos á transmis sáo da vida. Esta, no período infértil, nao se concretiza por motivos natu rais: os gametas nao se encontram; e, no período fértil, n§o ocorre pela abstinencia sexual, atitude válida na vida de um casal, sempre que for assumida por motivos relevantes, e os há de varias naturezas. Nao se trata, portanto, de considerar, no casal, o desejo de ter ou nao ter filhos, mas sim a intencáo de respeitar ou nao a natureza e o fim intrínsecos do ato sexual, que é a própria origem da vida humana. Numa

sucessáo de atos, isentos de qualquer manipulacao contraceptiva, ocorrendo gravidez, o casal desconhece qual foi o ato fecundo, pois todos estavam abertos á vida, e assim estariam, mesmo se nao houvesse ocor-

rido a gravidez, visto que esta nao fora propositalmente evitada. Se hou vesse uso de método contraceptivo - antes, durante ou depois de cada

ato, visando a infecundidade - entáo, no plano ético, todos teriam sido, moralmente, fechados á vida, mesmo que, no plano físico, biológico, a

contracepcao "falhasse" e houvesse urna gravidez.

É incorreto afirmar-se que o ato sexual só é licito quando o casal deseja ou pode ter filho. A infertilidade nao voluntaria de um ato sexual normalmente realizado nao interfere em sua moralidade. A licitude do ato está no respeito á integridade do mesmo e no contexto em que se realiza, e, obviamente, na aceitacao do filho, se ocorrer a gravidez, ainda que imprevista ou "indesejada". 268

Sempre atual

NOVA ERA: DESAFÍOS

Em síntese: Nova Era é um conjunto de teses nem sempre lógicamente concatenadas entre si. Procura atender aos anseios da humanidade contemporánea inquieta com a situagao presente, em busca de algo de novo. Este algo é procurado muito mais nos sentimentos e na experiencia sensível de cada um do que no exercício da inteligencia. Em Nova Era mesclam-se religióes orientáis (com seu panteísmo e o reencarnacionismo), gnosticismo (com suas doutrinas secretas), channelling ou comunicagáo com extra-terrestres, ufologia, hotismo ou ten dencia a unidade de tudo e todos para formar um só holon (todo), um pouco de Cristianismo (com a imagem de Jesús Cristo Maytreia e a Bi blia)... Este conjunto atrai muita gente, porque parece atenderá todos os tipos de "mística". Todavía a falta de nexo lógico e o acumulo fantasioso das proposigóes de New Age fazem que nao resista ao crivo do bom senso e da reta fé.

Nova Era (New Age) continua em moda, embora já tenha perdido um tanto do seu poder atrativo. Muitos ouvem falar e falam de Nova Era, mas nao sabem exatamente como a definir nem caracterizar. E com razáo... Já em PR 384/1994, pp. 194-206 foi apresentado um quadro dos tragos típicos de Nova Era. Como, porém, o assunto está sempre em voga, voltamos a ele neste número, tentando explanar outros aspectos da temática.

1. NOVA ERA: QUE É? É difícil definir Nova Era. Nao é urna religiáo, mas é religiosa. Nao é sistema filosófico, mas é urna visáo do mundo e do homem, que oferece criterios de interpretacáo da realidade. Nao é urna ciencia, mas pretende basear-se em leis "científicas". Em suma, Nova Era é urna nebulosa, na qual se encontram esoterismo e ocultismo, pensamento místico, concepc5es mágicas, gnosticismo (ou doutrinas reservadas a iniciados), religi óes orientáis, ufologia, comunicagáo com extraterrestres e algumas remi niscencias de Cristianismo. O movimento nasceu na California (U.S.A.) em meados do século XX. Está muito ligado á publicacao, em 1948, do livro de Alice Ann Bailey (1880-1949): "O Regresso de Cristo". Alice Ann Bailey, por sua vez, era discípula de Helena Blavatsky, a fundadora da Teosofía. A mentalidade que se originou desse livro e dos seus antecedentes, fundindo-se com 269

30

TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

outras correntes de pensamento, foi-se propagando amplamente, sem que se possa dizer que Nova Era tem estruturas administrativas, governo

central, organizacáo ou quadros de adeptos; nao possui sedes sociais,

nem livros sagrados nem dirigentes nem dogmas, como também nao tem

fundador(es).

Em suma, Nova Era é um modo de pensar eclético, que promete

auto-realizagáo, progresso, felicidade, mas sem muita lógica e coeréncia de pensamento. Corresponde ao nosso tempo, em que os homens raciocinam muito e bem quando se trata de ciencias exatas, mas poem de lado a razao e se deixam guiar pelo sentimento quando se trata das ciencias humanas e da procura do sentido da vida. Por ser táo eclética, Nova Era pretende ter muitos mestres, como

seriam Adlous Huxley, G. Lessing, R. Scheldrake, W. James, Rudolf Steiner, Cari Gustav Jung, o Pe. Teilhard de Chardin S. J. e mestre Eckhart (sendo estes dois últimos nomes, na realidade, falsamente evocados). A expansáo inicial de New Age foi enorme; calcula-se em dezenas de miIhares o número de livros e panfletos esparsos a respeito tanto em livrari-

as como em bancas de jomáis.

Considerando de mais perto ou fazendo urna radiografía do conjun to "Nova Era", verificamos que nela confluem quatro grandes correntes de idéias, cada urna das quais recolhe, por sua vez, modalidades mais sutis de pensamento.

2. QUATRO GRANDES CORRENTES

Seráo apontadas: a) urna aparente estrutura científica, b) religióes orientáis, c) um enfoque psicológico, d) astrologia e ufologia. 2.1. Aparente estrutura científica

Nova Era pretende basear-se em estruturas científicas. Com efeito; rejeita a Física ciássica, que Newton iniciou, concebendo o universo como urna grande máquina, cujos elementos estáo em equilibrio por sua interacáo, que mantém o universo em movimento. Justamente um dos mentores de Nova Era é o físico atómico Fritjof Capra; seguindo suas

pegadas, Nova Era ensina que o universo nao é urna máquina, mas é um corpo vívente, único e grande, governado nao pelas leis da mecánica, mas por relacionamentos qualitativos. Todos os seres sao, de certo modo,

parentes entre si e constituem urna só familia. É o que se chama o holismo

(holon, em grego, quer dizer todo); o holismo é a filosofía que valoriza o todo. O mesmo sistema se chama também monismo, porque admite urna só (monos) realidade com muitas facetas.

O próprio ser humano faz parte dessa tessitura única; é fragmento do todo; participa da vida orgánica do conjunto. Nao se pode colocar fora 270

NOVA ERA: DESAFÍOS

31

deste, como um observador neutro ou sujeito independente; deve fazer parte da familia. Em conseqüéncia, o ser humano nao é realmente livre e responsável por seus atos; ele participa da vida do todo, embora nao tenha consciéncia disto.

A própria Divindade está integrada nesse conjunto ou nesse holon. Daí o nome de panteísmo que se dá ao sistema (pan = tudo; théos = Deus). Por isto nao se fala de criacáo, mas de evolucáo de urna substan cia básica divina.

Outra conseqüéncia importante das premissas adotadas é que to das as distincóes clássicas sao abolidas: corpo e alma, consciente e in

consciente, intelectualidade e sentimentos, Deus e mundo, céu e térra, homem e mulher. 2.2. As Religióes Orientáis

As religióes orientáis parecem corresponder bem ao ideal de unidade geral. Com efeito; para o taoísmo chinés, toda a realidade nao é senáo um organismo vívente único, cujas forcas opostas, o ying e o yang, se mantém mutuamente em equilibrio. Ying é o principio feminino, obscuro, passivo, envolvente, introvertido, sintético. Yang é o masculino, claro, ativo, criativo, extrovertido, analítico. O homem só pode ser feliz se realiza em si mesmo o equilibrio entre o ying e o yang, donde resulta a paz interior.

Outro elemento das religióes orientáis interessa á Nova Era: estáo baseadas sobre a experiencia e os sentimentos mais do que sobre a razáo e a autoridade. Para Nova Era, o Cristianismo é a religiáo do Livro; seus dogmas e sua Moral se impóem de fora para dentro do cristáo. Nova Era corresponde aos anseios do homem moderno, porque prefere a auto nomía religiosa e moral, baseada sobre os sentimentos e a experiencia de cada um. New Age se opóe ao Cristianismo ainda por outro motivo. Este pa

rece valorizar demais o eu pessoal, com sua dignidade inconfundível. As religióes orientáis, ao contrario, julgam que o eu nao é o que há de mais

profundo no ser humano; abaixo do eu haveria o si mesmo (Self, Selbst); este coincide com a Divindade. Sendo assim, vé-se que o homem já nao

é capaz de pecar e nao peca realmente, pois o verdadeiro ser do homem é divino. A descoberta do si mesmo profundo se faz pela intuicao e a expe riencia, pela fuga de tudo aquilo que está unido ao eu superficial. Se o homem nao consegue essa descoberta numa encarnacáo, há de conse-

gui-la em urna próxima encarnacáo. As sucessivas voltas á carne devem levar o homem até o pleno esvaziamento de si, penhor de felicidade. 271

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

2.3. Nova Psicología

Para New Age, o eu consciente mergulha no océano de urna consciéncia coletiva, presente em todos os seres humanos. Esse consciente coletivo é o depósito de todas as experiencias da humanidade desde as suas origens; nele estáo guardadas as imagens, as conceptees, experi encias e as categorías de pensamento de todos os homens. O acesso a esse material assim arquivado se faz por sonhos, lendas, mitos, fábulas... Um desses elementos existentes no mais profundo do nosso ser seria o si mesmo, e este seria a própria Divindade. Desta maneira, o homem

encontra Deus descendo ao mais profundo de si mesmo; Deus está em cada ser humano ou, melhor, é cada ser humano; nao é distinto do ho mem; o homem é a própria Divindade.

Desenvolvendo técnicas psicológicas, Nova Era julga que os ho mens podem reviver os acontecimentos ligados ao seu nascimento (o rebirth) para evitar certos traumas. Podem também fazer viagens que levam as portas da morte. Admite ainda o channelling ou a comunicacáo com coisas ou seres postos além do mundo visível; seriam espíritos desencarnados e seres extra-terrestres.

2.4. Astrologia e Ocultismo: "Está escrito ñas Estrelas" Este quarto elemento é dos mais sedutores. Os homens sempre acreditaram que existem doutrinas secretas, ocultas aos nao iniciados, que levam a urna especial felicidade e conferem ao individuo grandes poderes. Um dos meios de chegar a tais nocóes secretas é a leitura da configuracáo dos astros que se faz pela astrologia e o horóscopo. Dir-se-ia que os acontecimentos da vida dos homens estáo escritos ñas estrelas.

New Age abraca a teoría de que o fim do segundo milenio trará grandes novidades para o mundo. Sim; por volta do ano 2000, a Térra ficará sob o signo do Aguadeiro (Aquarius), que mudará a marcha da historia. Conforme os astrólogos, a humanidade viveu sob o signo do Touro na época dos imperios e das religióes da Mesopotámia. Seguiu-se o signo de Aries (Carneiro), na época da religiáo judaica, desde Abraáo até

Cristo; depois houve o signo de Peixes, que caracterizou a época do Cris tianismo até nossos tempos. Em breve comecará a era do Aguadeiro ou do rapaz portador de um cántaro de agua, que ele derramará sobre a Térra em sinal das béncáos que esta receberá; comecará entáo urna nova

ordem mundial, urna nova humanidade, com urna nova religiáo. O crédito dado pela Nova Era á astrologia faz contraste com a sua pretensa base científica, pois a astrologia é pseudo-ciéncia. O Senhor da era de Aguadeiro será Maitreya ou Saint-Germain,

que é também Jesús Cristo. Para Alice Bailey e seus seguidores, nao tem importancia o Cristo histórico; Cristo é um conjunto de vibragoes, que 272

NOVA ERA: DESAFÍOS

33

pode aparecer sob diversas formas: Buda, Hermes, Zaratustra, Jesús, Maní e... também Maitreya. A Biblia entra no uso de New Age como livro respeitável, do qual cada leitor pode tirar as idéias que mais Ihe aprazam. Donde surge a pergunta: 3. QUE DIZER?

Basta ler o elenco de teses da Nova Era para perceber de ¡mediato que nao só fere o Cristianismo, mas também fere a lógica e o reto modo de pensar. Indiquemos alguns pontos mais salientes. 3.1. Panteísmo

Deus nao pode ser identificado com o homem e o universo. Por definicáo, Ele é absoluto, eterno, infinitamente santo e perfeito, ao passo que o homem e o mundo sao passageiros, efémeros, relativos e finitos. Ora nao há continuidade entre o finito e o Infinito; o Infinito nao é o finito quilometricamente prolongado, mas é algo que nao tem partes nem sucessáo. Querer identificar entre si o finito e o Infinito é querer identificar entre si o Sim e o Nao - o que é contraditório e poe fim á Lógica. 3.2. Jesús Cristo

Jesús Cristo é Deus feito homem; ver artigo das pp. 242-247 deste fascículo. "O Verbo se fez carne e habitou entre nos" (Jo 1,14). No decorrer da historia o misterio da Encarnacáo de Deus sempre foi pedra de escándalo para toda corrente dualista, avessa á materia; Deus nao se poderia revestir de carne humana, frágil como é esta. Se teve um corpo, foi corpo aparente; se pareceu sofrer, foi ilusáo ótica, porque Deus nao pode sofrer. Daí a reducáo de Jesús Cristo, em New Age, á condicáo de vibracóes, que tomam expressóes diversas em Buda, Zaratustra, Jesús... 3.3. O Homem

Segundo Nova Era, o homem é, por si mesmo, bom, porque no fundo de si mesmo ele coincide com a Divindade. Ele nao pode pecar, nem precisa de redencáo ou de ajuda externa para ser fiel. Outra é a linguagem crista. Reconhecemos que o homem é ontologicamente bom, mas sabemos que no plano moral ele está ferido pelo abuso de sua liberdade de arbitrio ou pelo pecado. Por si mesmo ele nao é capaz de praticar o bem. Precisa da graga de Deus, obtida por Cristo Redentor. "Deus é quem realiza em vos o querer e o fazer" (Fl 2,13). Ele pode recusar a graca, que certamente Deus nao Ihe impóe. Já que o homem é ferido pelo pecado, ele precisa de preceitos para que o iluminem a fim de que possa encontrar o caminho que leva á vida. Nenhum esforco de concentracáo psíquica, nenhuma receita esotérica pode trazer ao homem paz e harmonía, pois "sem Mim nada podéis fazer" (Jo 15,5). 273

34

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

Em nossos dias, a idéia de dependencia do homem frente a Deus é, para muitos, difícil, se nao superada. Sao tentados pelo sonho da auto suficiencia, que dispensa a fé. Aceitar a dependencia do homem frente a Deus Pai, que primeiro nos amou (1 Jo 4,19), é crer. 3.4. A Oracáo

A oracáo nao é introspeccáo, nao é entrada da mente para além do eu, até o si mesmo, que seria a própria Divindade. A oracáo crista supóe dualidade ou o encontró com o Grande Eu, ao qual o homem presta adoracáo, acáo de grasas, súplica e expiacao. A oragáo é a elevacáo da mente a Deus para que o homem mais e mais se identifique com a vonta-

de do Pai: "Pai, nao se faca a minha vontade, mas a tua" (Le 22,42). Verdade é que Deus habita nos justos como em seu templo; cf. 1Cor 3,16; 6,19. Mas Deus fica sendo sempre o Grande Outro. Dizia S. Agostinho: "Intimior intimo meo, Superior summo meo. - Mais íntimo a mim do que o que eu tenho de mais íntimo, mais elevado do que o que eu tenho de mais elevado".

Ademáis a oracáo crista é trinitaria: dirigida ao Pai, mediante o FiIho, no Espirito Santo: "Pois que sois filhos, Deus enviou aos vossos cora-

cóes o Espirito do seu Filho, pelo qual clamáis Abba, Pai!" (Gl 4,6).

E, além de trinitaria, é eclesial. Rezamos na Igreja e com a Igreja, pela qual Cristo continua a sua obra sacerdotal, perpetuando o sacrificio do Calvario na Eucaristía.

3.5. Nao cabem ai o Sofrimento e a Morte

Na mensagem da Nova Era nao há lugar para o sofrimento, que parece algo de absurdo e estéril. Nem se pode imaginar que Cristo tenha salvado o mundo pela Cruz. A salvacao aquariana vem através de técni cas psicológicas, regressáo de idade e renascimento, viagens até as por

tas da morte e todos os artificios que aumentam o potencial energético do homem.

O cristáo, sem dúvida, luta contra o sofrimento, mas, quando este se apresenta, nao o julga insensato ou absurdo. Sabe que, unido á Cruz de Cristo, participa da obra redentora de Jesús Cristo, que foi e é fonte de salvacáo. Precisamente a Cruz foi escolhida por Deus Pai como meio de revelar seu amor aos homens: "Nisto consiste o amor: nao fomos nos que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiacao pelos nossos pecados" (1 Jo 4,10).

Para o cristáo, a morte nao é porta para nova encarnacáo, á qual outras se seguiráo, até que chegue ao nirvana. A morte é preparada por

toda a vida do homem na térra, na qual cada ato livre tem um valor de eternidade. 274

NOVA ERA: DESAFÍOS

35

3.6. A Fé

Para a Nova Era, creré urna forma de experiencia que o homem faz de si mesmo, este si mesmo profundo que é a própria Divindade. O homem se defronta consigo mesmo como um pássaro na sua gaiola, to pando com o espelho da sua própria realidade. O Cristianismo nao nega que a fé seja urna experiencia e que, por isto, ela pode ser entendida, em alguns de seus aspectos, pela psicología religiosa. Mas é mais do que isto: fica sendo um ato da inteligencia huma na, feita para a Verdade... e para a Verdade Suprema, que é Deus. A fé

nao recusa (antes exige... em alguns casos) o estudo e a pesquisa, dos quais resulta a descoberta de Deus transcendente. A Este o homem se entrega livremente sob o influxo da graca de Deus, ultrapassando a si mesmo.

3.7. Holismo

A Nova Era propóe a mística da uniáo; todos os seres formam um só todo (hólon), incluidos Deus e o homem. O Cristianismo afirma que nao há fusáo entre Deus e o homem;

permanecem distintos como eu e Tu. É por isto que pode haver amor entre Deus e o homem. Para os cristaos, Deus é Amor (cf. Uo 4,10) - o que supóe um ser amado distinto daquele que ama.

4. CONCLUSÁO Em suma, Nova Era atrai precisamente pelo seu título, que propóe

novidade ou urna nova fase da historia. A humanidade está cansada e um tanto desesperanzada pelos acontecimentos trágicos do século XX, que está findando, marcado por duas guerras mundiais, das quais a se gunda tem seus ecos até nossos dias. Os meios convencionais, lógicos, parecem ter falido na tentativa de solucionar os problemas da humanida

de. Procura-se entáo no mundo da fantasía e ñas estrelas a resposta para o homem infeliz na Térra. - Entende-se tal anseio, mas pode-se dizer com certeza que nao é pelo abandono da razáo e da lógica que o homem vai

criar urna nova era ou urna era de felicidade para si. A fe crista, tal como transmitida pela Igreja Católica, salvou a cultura antiga do caos em que as invasoes dos bárbaros ameacavam projetá-la. Essa mesma fé, plena

mente vivida por seus seguidores, salvará também o mundo contemporá neo das graves ameacas que sobre ele pesam. O que importa, é o revigoramento da fé e da vivencia coerente daqueles que Cristo chamou

a ser "o sal da térra e a luz do mundo" (cf. Mt 5,13s), o fermento na massa (cf. Mt 13,33).

Este artigo muito deve á Carta Pastoral do Cardeal Godfried Danneels, Arcebispo de Malines-Bruxelas, porocasiáo do Natal de 1990. 275

Wlais urna vez:

FUNDAMENTALÍSIMO: QUE É?

Em síntese: O Fundamentalismo teve orígem no sáculo XIX em ambientes protestantes dos Estados Unidos, em réplica aos avangos das ciencias bíblicas, que, recorrendo á lingüística, á arqueología, á paleografía,

pareciam contradizer áféea Moral cristas. A desconfíanga para com certo tipo de pesquisas científicas e certas modalidades do progresso redundou em mentalidade estrena e fechada, apegada á letra da Biblia ou de um código sagrado, mentalidade que, de formas adaptadas, passou

para segmentos do judaismo, do islamismo e até do Catolicismo. - Tal mentalidade revela inseguranga por parte dos seus adeptos, que, para

nao perder a fé, julgam dever fecharse a toda pesquisa sadia. Além do mais, opessimismo e o apavoramento sistemáticos que o Fundamentalismo inspira, sao atitudes pouco naturais ao ser humano, que foi feito para a luz da verdade. Além do mais, tém-se registrado casos de desequilibrio men tal decorrentes das concepgdes negativistas do Fundamentalismo. Este parte de urna premissa válida - guardar e preservar a verdade revelada -, mas falha ao tragar diretrizes de mentalidade e comportamento malsás.

A imprensa dá noticias de grupos fundamentalistas que atuam em

Israel, no Iraque e também nos Estados Unidos, na Franca e no próprio Brasil... Sao judeus, muculmanos e também cristaos....; as atuais sertas religiosas se apresentam freqüentemente como fundamentalistas... Mas, embora muitas vezes se fale de Fundamentalismo, nao sao muitas as pessoas que sabem o que isto seja precisamente. Na verdade, o conceito é abrangente, compreendendo varias facetas; apenas se sabe, de modo geral, que implica enérgica contestacáo e radicalismo violento.

Faz-se oportuno, portanto, explanar a nocáo de Fundamentalismo. O conhecimento mais exato do que seja, contribuirá para se entender a atitude de varias comentes religiosas cristas e nao cristas que atuam no mundo contemporáneo. Para compreender adequadamente o fenómeno, a melhor via é considerar as suas origens.

O Fundamentalismo já foi abordado em PR 338/1990, pp. 303-309 e 368/1993, pp. 31-41. 276

FUNDAMENTALÍSIMO: QUE É?

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1. FUNDAMENTALÍSIMO: COMO TEVE ORIGEM? O Fundamentalismo se originou no Sul e no Centro-Leste dos Esta dos Unidos em meados do sécuio XIX. Era um movimento chamado Bible belt (cinturao da Biblia), fortemente conservador do pensamento cristáo em réplica ao desenvolvimento antropológico (o darwinismo e a teoría da evolucáo das especies), ao pensamento liberal (que negava ou punha em dúvida verdades fundamentáis do Cristianismo, como a concepcáo virgi nal de Maria, a realidade do inferno...) e á crítica textual aplicada á S. Escritura.

Mais precisamente: o Fundamentalismo surgiu em pequeñas cidades e na zona rural dos Estados Unidos, mais propensa ao conservadu

rismo do que a zona industrial e as grandes metrópoles. Tinha por objeti vo preservar a ortodoxia do protestantismo frente á explanacáo científica da Biblia (estudo das línguas orientáis antigás, da arqueología, da

papirologia...). O estudo científico levava a conclusóes um tanto diversas das clássicas conclusóes dos intérpretes da Biblia; algumas dessas con clusóes eram sadias e aceitáveis (se nao mesmo obrigatórias), outras eram inspiradas por racionalismo (que negava os milagres e a Trans cendencia), de modo que muitos concebiam medo do aprofundamento científico e estabeleciam a oposicáo entre ortodoxia (reta fé) e ciencia. Para conservar a fé, parecia-lhes necessário renegar a ciencia. O movimento assim oriundo exerceu influencia sobre a historia nor te-americana dos primeiros decenios do sécuio XX. O cerne (hard core) da sua doutrina foi apresentado ao público no famoso The Fíve Points da Noagara Bible Conference em 1895:1) inspiracáo total e inerrancia (au sencia de erro) da Escritura Sagrada; 2) a Divindade de Jesús Cristo; 3) a conceicáo virginal de Jesús; 4) expiacáo dos pecados mediante o sangue de Cristo; 5) a ressurreicáo corporal de Jesús Cristo e a sua volta no fim dos tempos1.

O primeiro e o último pontos ácima foram principalmente significati vos. A afirmacao da inerrancia bíblica nao só implicava a rejeicáo da pes quisa científica e crítica do texto, mas propugnava a autoridade do Livro Sagrado como algo de indiscutível, fonte de certezas e seguranca religio sa para todos os homens. O quinto ponto redundava em proclamar o

milenarismo ou o reinado de Cristo sobre a térra em companhia dos seus fiéis, estando Satanás acorrentado por mil anos. Esta teoría, vigente entre antigos escritores da Igreja, como S. Ireneu, S. Justino, Papias... até S. Agostinho (t 430), fora restaurada no comeco do sécuio XIX na Inglaterra e difundiu-se dentro do protestantismo norte-americano de fins do sécuio 1 Estes cinco pontos sao insuficientes para a ortodoxia católica: faltam ai a referencia á SS. Trindade, a Igreja e aos sacramentos, capítulos sem os quais afeé mutilada. 277

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

XIX. Destacou-se dentro desta corrente o escritor Cyrus Scofield, autor da Scofield Reference Bible (1909), que tentou interpretar toda a mensagem bíblica em chave milenarista.

As concepcoes fundamentalistas expostas nos Cinco Pontos atrás enunciados foram muito divulgadas através de folhetos publicados em 1909 e 1915. Com efeito; em 1909 apareceu o primeiro de doze opúscu los intitulados The Fundamentáis: A Testimony to the Truth, obra em que colaboraram luteranos, anglicanos, calvinistas, presbiterianos, metodistas, batistas, congregacionalistas..., patrocinados pordois irmaos milionários de Los Angeles: Lyman e Milton Stewart. Foi enviada gratuita mente a pastores, missionários, estudantes de Teología e agentes de Pastoral dos Estados Unidos e da Grá-Bretanha, alcanzando a tiragem de 3.000.000 de exemplares. Em conseqüéncia, as teses fundamentalistas, que eram de nivel teológico, reservado a pensadores, passaram para as

carnadas populares com a característica de mobilizar as consciéncias e incentivar a luta contra os avancos do liberalismo.

O novo movimento tornou-se mais famoso ainda em virtude de acontecimentos de ressonáncia nacional e internacional: 1) Foram fundados institutos e associacóes bíblicas nacionais e internacionais fundamentalistas; assim o Los Angeles Institute, o Moody Bible Institute de Chicago, a Baptist Bible Unión of América. Em 1918 foi criada a World Christian Fundamentáis Association, com o projeto de recuperacáo do mundo ameacado pela modemidade e de conquista de posicóes de influencia dentro das diversas denominacóes protestantes.

2) A luta para que as leis de cada Estado norte-americano proibissem o ensino da evolucáo das especies ñas escolas públicas. Foi vitoriosa em quatro Estados: Tennesee (1925), Mississipi (1926), Arkansas (1928) e Texas (1929). Tornou-se famoso o caso do professor John T. Scopes, que ensinava Biología numa Escola Superior de Dayton (Tenn.); foi acu sado de ensinar o darwinismo á revelia da lei e entregue aos tribunais civis. O New York Times fez ampia divulgacao do caso, provocando um debate público e discussóes calorosas. Scopes acabou sendo condena do pelos tribunais.

3) O movimento fundamentalista conheceu seu apogeu entre 1910 e 1920. Foram anos em que a política internacional esteve preocupada com o aumento da potencia agressiva da Alemanha e o triunfo da Revolucáo comunista (1917) na Rússia. Estes fatos inspiraram aos milenaristas a tese de que o imperialismo alemáo era a Besta do Apocalipse e a ideologia comunista o Anticristo, prenuncio da iminéncia do juízo universal. De um lado, estaría o reino de Satanás e do Mal e, de outro lado, urna grande nacao chamada por Deus para defender a liberdade e a fé: os 278

FUNDAMENTALÍSIMO: QUE É?

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Estados Unidos. Esta nacáo seria o novo Israel da historia da salvagao. Assim o patriotismo era proclamado em nome da própria Biblia. 2. O FUNDAMENTALÍSIMO HOJE

A comente de pensamento atrás descrita sobreviveu ao longo dos

decenios e está viva ainda hoje. Suas idéias básicas extra pola m os limi tes do protestantismo, e penetram dentro do Catolicismo como também dentro de religióes nao cristas (judaismo e islamismo) e da política. Eis algumas de suas manifestagóes contemporáneas:

1) O Fundamentalismo nao é propriamente urna organizacáo nem urna estrutura social, mas é urna mentalidade. Já se escreveu em tom

exagerado e irónico: "Atira um ovo pela janela de um ónibus, e atingirás um fundamentalista quase em qualquer ponto dos Estados Unidos". Esta

sátira poderia estender-se a outras partes do globo.

2) O Fundamentalismo perdeu seu colorido originario norte-ameri cano; ele hoje em dia é sectarismo judeu ou muculmano. Ele assume também dentro do protestantismo as modalidades específicas das Teste-

munhas de Jeová, dos Mórmons, dos Adventistas do Sétimo Dia e, dentro do Catolicismo, as expressóes ditas do "integrismo". Pode também tradu-

zir-se em novas religióes cristas ou ecléticas de nossos dias, como tam bém na própria política.

3) Com efeito. O Fundamentalismo tem penetrado nos bastidores da política e das estruturas sociais. Na política norte-americana, cré-se

que foi de grande peso na eleicáo dos presidentes Cárter e Reagan. Na Guatemala, o presidente protestante Ríos Montt foi eleito por influencia fundamentalista. No Irá e no Iraque a populacáo fundamentalista imprimiu suas marcas á vida pública. Na Algéria, os fundamentalistas venceram urna eleicao, mas nao puderam assumir o poder por resistencia das Forcas

Armadas, o que dá ocasiáo a violentas invectivas do radicalismo tanto na Algéria como na Franga (que apoia o governo argelino); este país é sacudi do por sucessivos assaltos terroristas. Na América Central e na Meridional, a difusáo das seitas é, em parte, conseqüéncia da mentalidade fundamen

talista, que repercute em varios setores da sociedade, inclusive ñas familias. 4) A militáncia fundamentalista se volta contra varias frentes da vida moderna: o permissivismo moral, o secularismo, as tendencias filoco-

munistas, o ecumenismo... Recorre aos meios técnicos mais avancados como a televisao e a internet, ocasionando o que se chama "as igrejas eletrónicas", com seus telepregadores (Jimmy Swagart, Pat Robertson, Jim Bakker, Jerry Falwell, Robert Schuller...). O Fundamentalismo é pessimista quanto á historia presente e apa-

vorado quanto aos tempos futuros. Vale a pena desenvolver esta nota muito típica. 279

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

5) É marcante, no Fundamentalismo, a concepcjáo de que o mundo moderno está sob o dominio de Satanás e a Palavra de Deus chama os crentes a se comprometer na reconquista da sociedade, subtraindo-a as garras do Maligno1. Notam autores dessa corrente que o homem moder no nega a existencia da alma espiritual, degrada a criatura humana ao nivel dos animáis irracionais, proclama o libertinismo sexual, o aborto, a eutanasia, deixa impunes os crimes mais hediondos. O demonio seria o causador de todos estes males.

6) A mentalidade fundamentalista é também dogmatizante ou autoritaria. Difícilmente admite o diálogo ou o confronto de idéias. Somente o Fundamentalismo possui a verdade, de modo que somen-

te ele tem o direito de conquistar adeptos. A Biblia, interpretada como o respectivo líder a propóe, teria resposta para tudo nos setores religi

oso e social. Opóe-se ao pluralismo teológico2 como sendo este "um slogan hipócrita, que permite introduzir um ateu em cada aprisco". Nao há lugar para questionamentos, dúvidas..., mas só existem certe zas absolutas, que dáo aos seus seguidores a ¡mpressáo de pertencer a urna élite, á élite dos verdadeiros cristáos em meio a um Cristia nismo depravado. Tal seguranca dogmática parece encobrir o medo da liberdade e do dinamismo do progresso e do estudo. Recusa a

dfetincáo entre o essencial e o nao essencial dentro da fé e da Moral cristas; as hipóteses, as tradicóes laterais ou secundarias nao se tornam dogmas. 7) Em especial, o Fundamentalismo se exerce no setor da interpretacáo da Biblia.

Geralmente os Fundamentalistas tém a Biblia como único guia da vida espiritual. Pode acontecer, porém, que Ihe sobreponham os escritos do respectivo fundador ou chefe religioso, tido como pessoa inspirada e auténtica intérprete das Escrituras:

- assim o Livro de Mórmon, que seria "a plenitude do Evangelho Eterno", revelado a Joseph Smith; este o teria traduzido da língua egipcia reformada a partir de urnas placas de ouro, gracas a urna ajuda que, para

tal fim, o anjo Moroni Ihe proporcionou;

- assim também a obra de Ellen Gould White intitulada "O Senhor do Mundo", quase táo inspirada por Deus quanto a Biblia, segundo pensam os Adventistas;

1 É de notar, alias, o titulo do livro de Susan Rose: Keeping them out ofthe Hands of Satán (Arrebatándoos das maos de Satanás). 2 Pluralismo teológico é a existencia de teorías diversas que tentam elucidar urna questao religiosa, dentro dos limites mesmos da ortodoxia. 280

FUNDAMENTALÍSIMO: QUE É? - assim também o Corpo Doutrinário que os Regentes das Tes-

temunhas de Jeová (Watchtower, Torre de Vigia) oferecem aos seus seguidores.

Fora do Cristianismo, o Livro Santo é a Tora para os judeus, e o Coráo para os muculmanos. O que interessa aos fundamentalistas, é a letra do Livro..., letra que

qualquer ser humano entende por si mesmo (como pensam os mestres

fundamentalistas), sem recorrer ás ciencias lingüísticas, arqueológicas,

papirológicas... Nao interessa o autor humano do Livro Sagrado, com suas características de homem oriental e seus expressionismos, ambientado em séculos muito distantes dos tempos atuais. A inspiragáo bíblica é en tendida como um ditado mecánico, que dispensa a colaboracáo consci

ente e inteligente do escritor humano. Tudo é tomado ao pé da letra e, quando se verifica que esta nao se cumpriu tal como parecía ao leitor, há alguma explicacáo que tenta sustentar a interpretado literal: assim os adventistas esperaram o fim do mundo para 1843 e, depois, para 1844; já que nada aconteceu do que pensavam, o "profeta" William Miller decla-

rou: "Realmente em 1844 ocorreram grandes acontecimentos, mas no mundo invisível ou no céu; lá Cristo subiu á parte superior do Santuario para oficiar em favor dos homens". Em suma, a palavra do dirigente é indiscutida; tem quase a mesma autoridade que a Palavra de Deus. Isto acontece de maneira paradoxal: de um lado, o texto bíblico é tido como inteligível por si mesmo; doutro lado, porém, se reconhece a necessidade de um intérprete abalizado e inspirado que é o fundador ou o chefe do grupo fundamentalista. Procuremos agora propon

3. UMA AVALIAQÁO Comentaremos cinco aspectos da temática: 3.1. Algo de válido

Se em todo erro há um cerne de verdades, nao há dúvida de que na origem do Fundamentalismo há algo de válido, a saber: o desejo de sal

vaguardar a fé e a Moral. Estavam em perigo no século passado (e continuam a estar) por causa do racionalismo e do liberalismo, que penetra-

ram os estudos bíblicos e teológicos do século XIX; teorías pouco funda mentadas e preconcebidas ameagaram seriamente a ortodoxia. Era justo e normal que os crentes se acautelassem contra tal procedimento. Tbdavia a defesa proposta pelos Fundamentalistas foi cega e passional mais do que racional. O homo religiosus é também o animal rationale. Nao há por que se fechar totalmente á pesquisa da verdade, mesmo que esta seja mal orientada. Nao há por que ter medo do estudo. Nunca poderá 281

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

haver incompatibilidade entre a verdade científica e a verdade religiosa ou a fé bem compreendida. 3.2. Inspiracáo bíblica e ciencia

A S. Escritura foi redigida sob inspiracáo divina por homens antigos, que deram a sua contribuido á confeccáo do texto sagrado; tinham sua cultura, suas peculiaridades de linguagem e categorías de pensamento, que foram veículos da mensagem divina, de tal modo que, para entender esta última, se faz necessário passar através dos condicionamentos humanos que a envolvem. Durante séculos isto nao foi feito, por que o mundo oriental era quase desconhecido aos ocidentais; mas, a

partir do século passado, foi sendo revolvido o material arqueológico, filológico, paleográfico dos egipcios, dos assírios, dos babilonios, dos fenicios..., que projetou nova luz sobre o texto bíblico oriundo precisa mente no contexto de tais culturas. Daí um entendimento mais adequado e profundo de certas passagens bíblicas; este entendimento foi, a princi pio, proposto com certo deslumbramiento e com exageras, que assustaram as pessoas de fé. Todavía, urna vez ultrapassada a fase "deslumbra

da", os dentistas puderam propor ¡nterpretacóes e conclusóes equilibra das, consentáneas com as intencóes dos autores sagrados e com o ge nuino sentido do texto, embora nao correspondessem exatamente ao que se acreditava estar na Biblia; tenha-se em vista, por exemplo, a interpretacao literal outrora dada ao hexaémeron (Gn 1,1-2,4a). Afirmava ter sido o mundo criado em seis dias de vinte e quatro horas ou em seis períodos geológicos. A nova interpretacáo afirma que o autor sagrado nao quis

descrever a fenomenología da origem do mundo, pois muitas expressóes do Génesis sao chavóes literarios dos antigos, mas quis, mediante um expressionismo familiar aos israelitas de outrora, revelar qual o sentido do mundo, do homem, das criaturas inferiores, do trabalho, do matrimo nio, do mal... aos olhos de Deus. Em Gn 2,7, ao dizer que Deus fez o homem a partir do barro, o autor sagrado nao tencionou entrar ñas questóes modernas concernentes á evolucáo, mas usou de urna imagem (a

do oleiro), freqüente entre os antigos, para indicar a sabedoria, o carinho, a providencia, a maestría com que o Senhor quis dar origem ao ser huma

no. O S. Padre Joao Paulo II, fazendo eco a Pió XII, reconheceu a legitimidade da teoría evolucionista aplicada ao corpo (nao á alma) do homem; cf. PR 419/1997, pp. 181-187. Esta atitude nao fere a mensagem bíblica, que nao aborda o aspecto científico da origem do homem, mas, sim, o seu aspecto sapiencial ou filosófico-religioso. 3.3. A mente humana foi feita para afirmar

O Fundamentalismo exerce um papel de defesa frente aos erros modernos ou ao racionalismo liberal; chega a assumir posicóes agressi282

FUNDAMENTALÍSIMO: QUE É?

43

vas... - Sem dúvida, a defesa é necessária, mas nao pode ser urna atitude exclusiva nem urna atitude de base. A inteligencia humana foi feita para captar a verdade; ela é atraída pelo fulgor da verdade ou por algo de positivo. O negativo, o Nao dito aos erros tem que ser conseqüéncia da

contemplagáo da verdade; ele é mais convicto e sólido se fundamentado na posse da verdade. A verdade, como tal, é luz que dissipa os erros, quando claramente proposta. Muito valiosa é a proposta da verdade em

termos positivos e nao agressivos. 3.4. Pessimismo

A imagem de Deus Juiz que se aproxima para julgar o mundo en tregue ao poder de Satanás é urna imagem pessimista demais, que nao

corresponde á plena mensagem crista. É certo que o mundo é vítima do pecado; mas nao se pode esquecer que Jesús venceu o Príncipe deste mundo (Jo 12,31), e que, por conseguinte, muitos valores positivos exis-

tem neste mundo mesmo; nao se podem silenciar o sacramento da Igreja

e os sete sacramentos, filetes que aplicam ao mundo as gracas da Páscoa de Cristo (perpetuada sobre os nossos altares em cada celebracáo eucarística). Cristo morreu na Cruz para salvar todos os homens, de modo que é mais justificada urna visao otimista da historia, embora esta seja

marcada pelas invectivas do pecado e do tentador. 3.5. Desequilibrio Mental As concepcoes pessimistas do Fundamentalismo, alimentadas pela expectativa de flagelos e calamidades, tém perturbado a saúde mental de

muitas pessoas. Em 1885 o jurista Richard Yao, de Wallstreet (EE. UU.), fundou a associagáo chamada Fundamentalist Anonymous, destinada a ajudar as pessoas fanatizadas pelo pessimismo a passarem para um

tipo de mentalidade e vivencia mais tranquilas; sabe-se que, em tres anos, cerca de 20.000 pessoas recorreram á ajuda dessa instituigáo. Isto é bem

compreensível, pois se verifica que a cosmovisáo fundamentalista afeta o psiquismo de seus seguidores, dificultando-lhes um modo de vida aberto á realidade objetiva e á normalidade. Em conclusáo, pode-se dizer que a intencáo inicial do Fundamen

talismo é válida, mas as linhas tragadas por seus arautos sao falhas e nocivas tanto á verdade natural quanto á fé e á pessoa humana. A fonte principal destas páginas é o artigo de Antonio Izquierdo: El Fundamentalismo, publicado emEccIesia VI-2 (1992), pp. 367-378. Este

artigo já foi utilizado em PR 368/1993, pp. 31-41; procuramos realgar as pectos do mesmo nao aproveitados anteriormente, o que sejustifica, dada a atualidade do tema.

283

Um Brado de Alerta:

TELEVISÁO E ÉTICA

A Uniáo dos Juristas Católicos do Rio de Janeiro publicou um Mani

festó sobre Televisáo e Ética, formulado a partir da proposicao de Carlos Eduardo de M. Ferraz e ultimado pelo grupo composto por Celio Borja, Barbosa Moreira, Luiz Sergio Widgderowitz e Paulo Silveira Martins Leáo. O texto foi finalmente submetido á assembléia, que o aprovou. Eis o teor de táo significativo pronunciamento: "1. Um dos atributos da democracia é a faculdade de se oporem direitos individuáis, civis, políticos e sociais as pretensóes do Estado e as

de qualquer corporacáo ou grupo detentor de poder ou de autoridade. 2. A Constituicáo (art. 220, §3° inc. II) determina ao legislador a adocáo de normas que garantam á pessoa e á familia o respeito, por parte dos meios de comunicacáo, aos valores éticos e sociais (art. 221, IV).

3. O Estatuto Universal da liberdade de imprensa, desde a sua sistematizacáo no Direito inglés, por Blackstone, sempre admitiu que o titu lar do direito violado pelo veículo impresso pudesse exigir reparacáo, bem como a responsabilizacáo do agente.

Neste sentido, e também com caráter preventivo, há a acáo civil pública, que se tem revelado, em alguns casos, instrumento importante para fazer valer principios constitucionais e legáis quahdo desrespeita-

dos pelos meios de comunicacáo social, cabendo notar que a Lei n° 7.347, que regulou aquela acáo, foi expressamente recebida pela própria Cons tituicáo, nos termos do art. 129 III e §1°. 4. A Constituicáo, hoje, além de permitir a atividade repressiva do Estado a requerimento do ofendido pelos mass media, impoe ao conces-

sionário de servicos de telecomunicacSes o dever jurídico de respeitar os valores éticos e sociais da familia e de preferir, na sua producáo e progra-

macáo, "as finalidades educativas, artísticas, culturáis e informati vas" (art. 221, IV e I). Como toda norma constitucional, nao pode ela ser interpretada de

maneira a esvaziar-se-lhe o conteúdo, tanto mais que dirigida á familia, que é pela própria Constituicáo conceituada como "base da sociedade" e destinatária da "especial protecáo do Estado" (art. 226). 284

LIVROS EM ESTANTE

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A Constituinte vedou "toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística" (art. 220, §2°). Isso nao exclui a legitimidade de providencias relacionadas com a faixa etária do telespectador, nem a

responsabilizacáo de quem viole os principios consagrados na própría Constituicáo - o que de modo algum se confunde com a idéia de censura.

Além disso, a Constituicáo dispóe que compete á Iei federal "estabelecer os meios legáis que garantam á pessoa e á familia a possibilidade de se defenderem de programas ou programacóes de radio e televi-

sáo que contrariem o disposto no art. 221", no qual, entre outros, está consagrado, repita-se, o respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e

da familia. Portanto, o legislador nao tem o que temer, pelo contrario, em dis cutir e editar Iei que, á luz de criterios objetivos e com as sancoes corres

pondentes, regulamente, como, alias, ocorre em todas as nacóes civiliza das do chamado primeiro mundo, o exercício da concessao, permis-

sáo e autorizacáo para o servico de radiofusao sonora e de sons e

imagens, (art. 221, caput), de conformidade com principios estabelecidos na Constituicáo Federal.

Neste sentido, a UNIÁO DOS JURISTAS CATÓLICOS DO RIO DE JANEIRO exorta o Congresso Nacional ao cumprimento desta atribuicáo, de fundamental importancia para a vida nacional, conforme expressamente

estabelecido pela Constituicáo Brasileira."

LIVROS EM ESTANTE

Diálogo com Deus, porD. García M. Columbas M. B. Tradugáo dos Monges do Mosteiro da Ressurreigáo. - Paulus Editora, Sao Paulo 1996, 120x205mm, 126 pp.

A oragáo é certamente o fruto da graga de Deus ou da agáo do Espi

rito Santo dentro do homem (cf. Rm 8,26). Mas ela tem um aspecto huma no, passa por mentes humanas. Dai a necessidade de aprendermos a

rezar ou a sermos dóceis ao Espirito. Com efeito, muitas pessoas sabem entreter-se na igreja enquanto se desenrola urna cerimónia audiovisual; quando, porém, termina essa cerimónia, nao sabem mais entreter-se com Deus no silencio e no recolhimento, pois Deus é invisivel, impalpável... e a natureza humana é psicossomática; ela se apoia em seres corpóreos 285

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para se elevara Deus. - Cientes disto, os mestres de espirítualidade con-

ceberam diversos métodos de oragao ( o inaciano, o carmelita, o beruliano...), todos válidos. O método mais antigo é a chamada lectio divina ou leitura divina, já praticada pelos judeus. O livro de García M. Columbas vem a ser urna Introdugáo a Lectio

Divina; o autor a explana meticulosamente e enriquece suas afírmagóes

com muitos textos da antiga literatura dos monges e da Tradigáo crista. Tem por base o texto do Livro Sagrado ou a Biblia e compreende quatro etapas: leitura, meditagáo, oragao, contemplagao. A leitura vai percorrendo o texto bíblico sem preocupagao científica ou escolar; faz-se a leitu ra por causa da leitura mesma, até que o leitor descubra um versículo que o impressione e o obrigue a parar, pois Ihe fala intimamente. Numa segun da etapa, a pessoa procura aprofundar o sentido do que leu ou do versí culo em pauta ( qual o sujeito, qual o objeto, qual o verbo, quais os predicados da frase lida...); é o que se chama meditagáo. A terceira eta pa é a oragao ou o falar com Deus em resposta ao Deus que falou; com efeito, quem viu e aprofundou alguma verdade da fé, senté necessidade de se expandir diante de Deus em urna prece espontánea. A quarta etapa (contemplagao) consiste em deter-se na presenga de Deus enquanto o texto aínda fala e suscita urna atitude correspondente; esta quarta etapa é estritamente dependente das anteriores; ela decorre da descoberta de que Deus é inefável ou nao cabe dentro de um discurso humano; em conseqüéncia, o silencio prenhe de adoragao, louvore gratidao é respos ta muito válida á mensagem divina.

D. Columbas reconhece que a utilizagáo da S. Escritura é difícil, visto que as páginas bíblicas foram redigidas há muitos séculos em ambiente oriental, muito diverso do contemporáneo. Daí a necessidade de que o orante recorra a algum manual de introdugáo á Biblia, a fim de entender o sentido exato do texto sagrado e nao atribuir as Escrituras urna mensa gem presumida, hipotética ou falsa. - Sao copiosos os frutos da lectio divina devidamente exercitada, como assinala D. Columbas; a perseveranga, o amor, a docilidade do coragao vém a ser condigóes impreteriveis para se colherem os resultados positivos de tal prática.

Muito útil será o livro de García M. Columbas a quem deseja sairde urna oragao rotineira para penetrar ñas vias da oragao e da uniao com Deus. Quem conhece a lectio divina, dispensa as técnicas orientáis de meditagáo que alguns cristáos pretendem adotar, arriscándose a cairem concepgóes panteistas ou nao cristas. *

*

*

Milagres. A Ciencia confirma a Fé, por Osear González Quevedo S. J. - Ed. Loyola, Sao Paulo 1996, 138 x 210 mm, 486 pp. 286

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O Pe. Osear Quevedo, conhecido como parapsicólogo, aborda um assunto que interessa tanto a Teología quanto á Parapsicología. Reconhece o milagre como um fato extraordinario realizado porDeus,

e por Deus só, ao passo que os fenómenos parapsicológicos sao ex traordinarios, mas realizados por causas criadas. Muito oportunamen

te diz ele que a Parapsicología tem, entre outras tarefas, a de "diferen ciar os verdadeiros dos falsos milagres" (p. 83). Verdade é que o Pe. Quevedo discute tongamente o conceito de milagre, usando de sutile zas, as vezes desnecessárias. Em conclusao, porém, Quevedo admi

te a existencia de milagres e critica acerbamente os estudiosos que a negam. Cita varios eventos tidos como milagrosos, quais sejam recu-

peragáo óssea, incombustibilidade, invulnerabilidade supranormal, cicatrízagóes instantáneas... Quevedo demonstra assim ter lido vasta bibliografía sobre o assunto. Todavía muitos dos casos de milagre mencionados pelo autor do

livro talvez nao resistam a urna crítica sadia. Sabemos que os antigos e medievais se compraziam em narrar feitos portentosos, sem se preocupar

com a historícidade dos mesmos. Atualmente a Igreja reconhece o "géne ro literario" da taumaturgia; Ela nao recusa de antemáo a possibilidade de milagre, mas mostrase consciente de que nem todos os prodigios descri

tos na hagiografía sao igualmente merecedores de crédito. Quevedo se detém longamente em transcrever e analisar tais relatos, procurando sa

berse hao de ser entendidos como fenómenos parapsicológicos ou como auténticos milagres. De modo especial, o autor deveria levar em conta os documentos recentes que explicam o traslado da Santa Casa de Loreto

(ver pp. 337-345); nao se trata de conjeturas racionalistas a contrariar o apregoado milagre, mas de um fato histórico que elucida os acontecimen-

tos referentes á Casa de Loreto. Como quer que seja, a obra de Quevedo tem o valor de salvar a

realidade do milagre quando muitos preconcebidamente a negam. Contudo nao se pode deixar de fazer alguns reparos a tal livro: 1) o estilo é extremamente agressivo quando o autor se dirige aos

"modernistas" e "racionalistas", que recusam a possibilidade do milagre; tem-nos na conta de "psicológicamente e gravemente doentes" ou

"culpavelmente cegos" (p. 190); dizem "sandices e infantilismos" (p. 413); "confundem alhos com bugalhos" (p. 475). Os modernistas sao "uns coitados, cujo preconceito os faz cair na irreflexáo e na ignorancia" (p. 444). Marcuse seria o autor de "urna comedia bufa" (p. 193). Ao transcrever

textos de outros autores, Quevedo nao hesita em Ihes inserir comentarios seus, postos entre parénteses. - Ora tal modo de escrever é passional e diferente dos trámites de redagáo de urna obra estritamente científica. 287

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 421/1997

2) "Nao há aparígóes de anjos" (p. 483). "Os morios nao agem neste

mundo" (p. 483). - Diríamos que, vía de regra, nem os anjos nem as almas dos defuntos aparecem neste mundo, mas a fé católica admite que, por permissáo de Deus, os anjos e os Santos se podem manifestar neste

mundo. É lícito crer, por exemplo, que a Virgem SSma. apareceu em Lourdes, Fátima, La Salette. Infelizmente o autor aceita o elogio que Ihe fizeram, de "ter aposentado brilhantemente os demonios, espíritos de moños" (p. 7). No tocante ao demonio, Quevedo fere a fé, professada pelo Catecismo da Igreja Católica, que reza:

"Por tras da opgao de desobediencia de nossos primeiros pais há urna voz sedutora que se opóe a Deus e que, por inveja, os faz cair na

morte. A Escritura e a Tradigao da Igreja véem neste ser um anjo destro nado chamado Satanás ou Diabo. A Igreja ensina que ele tinha sido ante riormente um anjo bom criado por Deus: 'O diabo e outros demonios foram por Deus criados bons em sua natureza, mas se tomaram maus por

sua própria iniciativa' (Concilio do Latrao IVem 1215; DS 800)".

3) O autor prefere a expressao revitalizagao ao termo ressurreigáo (pp. 76s. 143); prefere supranormal a sobrenatural (p. 68). Neste

último caso de milagres, mas é simplesmente o dom de Deus que habita no ser humano, Quevedo parece esquecer que sobrenatural, em Teolo gía, nao é algo de milagroso, mas é simplesmente o dom de Deus que habilita o ser humano a comungar com a vida do Deus Uno e Trino e Ihe permitirá um día ver Deus face-a-face. Tal dom nada tem que chame a atengao ou nada tem de extraordinario. Nao se deve identificar sobrena tural com portentoso.

4) Quevedo se faz de juiz dos teólogos, que ele classifica como "tradicionalistas" (uns) e "modernistas" ou "racionalistas" (outros). Parece

ser o teólogo por excelencia, ao menos no tocante ao capítulo "Milagres" - atitude esta que suscita reservas. Quevedo observa tudo do ponto de vista da Parapsicología - o que o leva a estranhas afirmagóes, como sao os seguintes dizeres: "O estudo dos fatos (inclusive do próprio fato da Revelagáo e do

fato de ser divina e nao de qualquer outra entidade ou mera invengao humana) quase totalmente nao pertence á Teología, senao á Parapsicología" (p. 62).

Em suma, o livro pretende defender o conceito de milagre, julgando

que os milagres sao necessário sustentáculo da fé (p. 73). Consegue ar rolar fatos e argumentos que credencíam sua tese. Mas a leitura da obra é cansativa pelo estilo prolixo e polémico.

Estéváo Bettencourt O.S.B. 288

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