Projeto PERGUNTE E
RESPONDEREMOS ON-LINE
Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)
APRESENTTAQAO
DA EDIQÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).
Esta necessidade de darmos conta
da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos
bombardeados
por
numerosas
correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.
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Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Estevao Bettencourt, OSB
NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.
Ano xxxk Novembro 1998 438 "Ó Morte, onde está a tua Vitoria?" (1 Cor 15,54) "O Dia do Senhor" "Para a tutela da fé" A salvagáo fora da Igreja visível
Religiáo: Fator de prosperidade material? "Brida" de Paulo Coelho "Na margem do Rio Piedra eu sentei e chorei" de Paulo Coelho
Sexo seguro? Um fato real
Pius wasn't silent (Pió nao se calou)
NOVEMBRO1998
PERGUNTE E RESPONDEREMOS
N°438
Publicado Mensal
Diretor
SUMARIO
Responsável
Estéváo Bettencourt OSB
"Ó Morte, onde está a tua Vitoria?"
481
Autor e Redator de toda a materia
Escreve Joáo Paulo II: "O Dia do Senhor"
482
Ainda a Palavra do Papa: "Para a tutela da fé"
492
Delicada questáo: A salvacáo fora da Igreja visível
499
Na Ordem do Dia: Religiáo: Fator de prosperidade material?
504
Obra de grande Sucesso: "Brida" de Paulo Coelho
509
publicada neste periódico Diretor-Administrador: O. Hildebrando P. Martins OSB
Admlnistracáo
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Correspondencia:
Ecleticismo irreverente: "Na margem do Rio Piedra eu sentei e
Ed. "Lumen Christi" Caixa Postal 2666
chorei" de Paulo Coelho
515
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Diz-se: Sexo seguro?
523
e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
Um fato real
526
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Pius wasn't silent (Pió nao se calou).. 528
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"O MORTE, ONDE ESTÁ A TUA VITÓRIA?" (1 Cor 15,54)
Á primeira vista, a morte é um espantalho, pois parece por termo vio
lento á vida, que é o que todo ser humano mais espontáneamente deseja. Já o notavam os antigos com certa tristeza. Assim em época remota, um sabio escritor comparava a morte á sangue-suga, que tem duas filhas: Traze! Traze!" (Pr 30,15); é insaciável, pois nunca diz: "Basta!". Os gregos précristáos tinham inveja dos deuses, pois estes praticavam as orgias e os bacanais que os homens praticam, mas, á diferenca dos homens, nao sucumbiam a morte; possuiam a athanasía, a imortalidade, que os homens nao tinham. O morrerfazia a grande diferenca entre os deuses e os homens. Ora sobre este paño de fundo Sao Paulo proclama a ressurreicáo de Cristo, penhor da ressurreicáo de todos os homens. E exclama: "A morte foi
absorvida na vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilháo?" (1 Cor 15,54s). A ressurreicáo de Cristo vem a ser a garantia da ressurreicáo de todos e conseqüente vitória sobre o imperio da morte. Tal
proposicáo é fundamental na mensagem crista, a tal ponto que sem ela nao há Cristianismo (cf. 1Cor 15,13.17). Os primeiros cristáos se compraziam em recorrer a ¡magens oferecidas pela própria natureza para ilustrar tal verdade: assim a crisálida, que, encerrada em seu casulo, se apresta a irromper sob a forma de urna borboleta multicolorida..., o ovo donde nova ave deve surgir... Também se valiam da lenda de um pretenso pássaro muito caro aos antigos; com efeito, dizia a tradicáo que a fénix, sendo o único individuo da sua especie, durava 500
anos. Estando na iminéncia de se extinguir, deixava a india, onde vivía, ia ao Líbano, onde arrecadava substancias aromáticas e, carregando a estas, pas-
sava para Heliópolis no Egito; sobre o altar dos sacrificios desta cidade fazia
para si um túmulo de incensó, mirra e outras esséncias; vinda a hora, moma. De seus restos moríais, porém, no dia seguinte nascia um verme, que, nutrindo-se da substancia do pássaro morto, tomava asas e, após tres dias,
voltava para a india; era a fénix ressuscitada!
Percorrendo a Sagrada Escritura do Novo Testamento encontramos ai a afirmacáo de que a morte é Páscoa, é passagem... Passagem da habitacáo de peregrino no estrangeiro para a entrada na patria (2Cor 5,6s), da posse velada para a posse revelada (Cl 3,3s), da sementeira para a messe {Gl 6,8s; 2Cor 9,6), da visáo em espelho e enigma para a visáo face-a-face (1Cor 13,12s). A consciéncia destas verdades fazia muitos Santos nao so-
mente nao temer a morte, mas até mesmo desejá-la ardentemente, como
fazia Sta. Teresa de Ávila ao exclamar: "Senhor, é tempo de nos vermos! É tempo de acabar esta noite de má pousada!". E.B. 481
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XXXIX - NQ 438 - Novembro de 1998
Escreve Joáo Paulo II:
"O DÍA DO SENHOR"
Em síntese: O S. Padre Joáo Paulo II lembra ao clero e aos fiéis o valor perene da observancia do domingo, apresentando-o como o Dia do Senhor, o Dia de Cristo, o Dia da Igreja, o Dia do Homem, o Dia dos Dias. O domingo é o ponto de convergencia de grandes verdades da fé católi
ca, pois está relacionado com a criagáo, a Redengáo e a consumagao da humanidade na gloria definitiva. Erecordagao dopassado, celebragao do presente e expectativa do futuro.
Aos 31/5/1998 o S. Padre Joáo Paulo II assinou a Carta Apostólica Dies Domini (O Dia do Senhor); trata do domingo, explanando o seu sentido teológico e as normas litúrgicas e moráis que caracterizam sua observancia.
O documento é de grande profundidade e riqueza espiritual. Divi-
de-se em cinco capítulos, que se seguem a breve Introducáo: 1) O Día do Senhor (a celebracáo da obra do Criador); 2) O Dia de Cristo (o dia de Jesús Ressuscitado e do dom do Espirito); 3) O Dia da Igreja (a assembléia eucarística, alma do domingo); 4) O Dia do Homem (o domin go, dia de alegría, repouso e solidariedade); 5) O Día dos Dias (o domin go, festa primordial, reveladora do sentido do tempo). Ao que se segué urna Conclusáo.
Ñas páginas subseqüentes seráo postos em relevo os principáis tópicos deste ampio documento. 1. Día do Senhor (n9 8-18)
O texto corneja lembrando o fundamento bíblico da santificacáo do domingo, que é o hexaémeron (Gn 1,1 -2,4a), relato da criacáo em 482
"O DÍA DO SENHOR"
seis dias, após os quais, no sétimo dia, Oeus descansa de toda a sua obra (cf. Gn 2,2). Evidentemente é este um relato antropomórfico, em que Deus faz as vezes de um trabalhador que se cansa e repousa de sete em sete dias. O autor sagrado assim concebe a obra da criacáo precisamente para dar um sólido fundamento ao repouso do sétimo dia:
Deus o terá observado, deixando um exemplo e um ensinamento para os homens.
«11. Se, na primeira página do Génesis, o 'trabalho' de Deus é exemplo para o homem, é igualmente o seu 'repouso': 'Deus repousou, no sétimo dia, do trabalho por Ele realizado' (Gn 2,2). Também aqui nos encontramos diante de um antropomorfismo, denso de urna mensagem sugestiva».
Os dizeres centráis deste capítulo 1 da Carta Apostólica estáo em seus §§ 15 e 16, que expóem claramente o sentido do dia do Senhor a partir dos elementos fornecidos pelo Antigo Testamento:
«15. Na verdade, a vida inteira do homem e todo o seu tempo devem ser vividos como louvor e agradecimento ao seu Criador. Mas a rela gáo do homem com Deus necessita também de momentos explícitamen te de oragáo, nos quais a relagáo se toma diálogo intenso, envolvendo toda a dimensáo da pessoa. O dia do Senhor é, por excelencia, o dia desta relagáo, no qual o homem eleva a Deus o seu canto, tornándose eco da inteira criagáo.
Porisso mesmo, é também o dia do repouso: a interrupgáo do ritmo muitas vezes oprimente das ocupagóes exprime, com a linguagem figu rada da novidade e do desprendimento, o reconhecimento da dependen cia de nos mesmos e do universo de Deus. Tudo é de Deus! 16. O mandamento do Decálogo, pelo qual Deus impóe a obser
vancia do sábado, tem, no livro do Éxodo, urna formulagáo característica:
'Recorda-te do dia de sábado, para o santificares' (20,8). E, mais adiante, o texto inspirado dá a razáo disso mesmo, referindo-se á obra de Deus: 'Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a térra, o mar e tudo quanto contém, e descansou no sétimo; por isso o Senhor abengoou o dia de
sábado e santificou-o' (v. 11). Antes de impor qualquer coisa a serprati-
cada, o mandamento indica algo a recordar. Convida a avivara memoria
daquela grande e fundamental obra de Deus que é a criagáo. É urna
memoria que deve animar toda a vida religiosa do homem, para depois confluir no dia em que ele é chamado a repousar». Sao merecedores de nota ainda os seguintes pontos: A criacáo que o Antigo Testamento atribuí a Deus (Elohim), o Novo 483
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
Testamento a relaciona com Jesús Cristo, que realizou urna nova criacáo. "Se é verdade que o Verbo se fez carne na plenitude dos tempos (Gl 4,4), também é certo que, em virtude precisamente do seu misterio de Filho eterno do Pai, Ele é origem e fim do universo. Afirma-o S. Joáo no prólogo do seu Evangelho: Tudo comecou a existir por meio dele, e sem ele nada foi criado' (Jo 1,3)" (n9 8). Em suma, já no Antigo Testamento os fiéis sao chamados a recor dar o sábado para o santificar (Ex 20,8), ou seja, para o consagrar ao
Senhor Deus, separando-se de seus afazeres cotidianos a fim de louvar a Deus e prestar-lhe acáo de gracas. 2. Dia de Cristo (n219-30)
Os cristáos tomaram consciéncia de que a criacáo recordada no sétimo dia ou no shabbat judaico foi refeita por Cristo ao ressuscitar após o sábado ou no primeiro dia da semana judaica. Daf o deslocamento do dia do Senhor para o dia da ressurreicáo ou para o primeiro dia da
semana judaica. É o que atestam os dizeres do Novo Testamento segun
do os quais o primeiro dia da semana passou a ser o dia da assembléia litúrgica ou da celebracáo da Eucaristía. Tal dia é chamado kyriaké heméra, dia do Senhor, em Ap 1,10. Assim o domingo cristáo já se esbo za nos escritos do Novo Testamento:
1Cor 16,2: "No primeiro dia da semana cada um de vos ponha de lado o que conseguir poupar".
At20,7: "No primeiro dia da semana, estando nos reunidos para a fragáo do pao..."
Ap 1,10: "No dia do Senhor fui movido pelo Espirito". Oito dias após a ressurreicáo, ou seja, em outro dia do Senhor, Jesús apareceu a Tomé; cf. Jo 20,26.
Cinqüenta dias após a ressurreicáo o Espirito Santo foi dado aos Apostólos em Pentecostés; cf. At 2,1.
O tato de que o sábado é o sétimo dia da semana judaica proporci ona aos cristáos a consideracáo de novo aspecto do domingo. Este nao
é somente o primeiro dia da semana judaica; é também o oitavo dia,
aquele que prolonga a semana da criacáo acrescentando-lhe mais um dia..., dia sem ocaso, que é o antegozo da vida sem fim. Para os pagaos, o dia do Senhor dos cristáos era o dia do Sol (o que até hoje é expresso pelos vocábulos Sunday, Sonntag). A Igreja aceitou esta designacáo transferindo-a para Cristo, que é o verdadeiro 484
"O DÍA DO SENHOR"
Sol da humanidade. Cristo é realmente a luz do mundo (cf. Jo 8,12; 9,5) e o dia comemorativo da sua ressurreicáo é o reflexo perene da revelacáo de sua gloria. Dia de luz, o domingo poderia chamar-se também Dia de Fogo, Sim, a luz de Cristo se associa intimamente ao fogo do Espirito; as duas imagens indicam o sentido do domingo cristáo, pois foi em domingo que Jesús comunicou o Espirito Santo aos Apostólos; cf. Jo 20,22s; At 2,1. A efusáo do Espirito foi o grande dom do Ressuscitado aos seus discípulos
no domingo de Páscoa e no de Pentecostés. Em conseqüéncia o domingo é, para os cristáos, um dia inesquecí-
vel e indelével apesar das dificuldades de observá-lo na sociedade con temporánea. A Igreja sente-se chamada a novo esforco catequético e pastoral para que nenhum cristáo ñas condicóes normáis da vida fique privado do abundante fluxo de graca que a celebracáo do domingo traz consigo.
3. O Dia da Igreja (ns 31-54) A assembléia eucarística vem a ser a alma do domingo.
Nao é suficiente que os discípulos de Cristo rezem individualmente
e recordem no silencio a morte e a ressurreicáo de Cristo. Sao chamados a se tornar membros do Corpo Místico de Cristo ou da ekklesía (convocacáo). Esta possui na Eucaristía a sua fonte e a sua densidade máxima. A dimensáo eclesial da Eucaristía realiza-se todas as vezes que esta é celebrada, mas com maior razáo exprime-se no dia em que toda a comu
nidade é convocada para relembrar a ressurreicáo do Senhor. Daí a obrigacáo que toca aos cristáos de participar da Eucaristía todos os domingos. Desta forma o dia do Senhor é também o dia da Igreja. Neste dia convém que toda a comunidade de cada paroquia se reúna em torno da Eucaristía, tome consciéncia da necessidade de viver na unidade de um
só pao e um só corpo, como povo peregrino a caminho do domingo sem fim: «47. ...O Código de Direito Canónico, de 1917, compilou pela primeira vez a tradigáo numa leí universa!. O Código atual confirma-a, di-
zendo que 'no domingo e nos outros días festivos de preceito, os fiéis tém obrigagáo de participar da Missa'. Essa lei foi normalmente entendida
como implicando obrigagáo grave; assim o ensina o Catecismo da Igreja Católica, sendo fácil compreender o motivo, quando se considera a im portancia que o domingo tem para a vida crista. 48. Hoje, como nos heroicos tempos iniciáis, em muitas regióes do
mundo, a situagáo apresenta-se difícil para muitos que desejam viver 485
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
coerentemente a sua fé. Algumas vezes, o ambiente é abertamente hos
til, outras vezes e com mais freqüéncia, é indiferente e refratário á mensagem do Evangelho. O crente, para nao ser vencido, deve poder contar com o apoto da comunidade crista. Por isso, é necessário que ele se convenga da importancia decisiva que tem, para a sua vida de fé, o fato de se reunir ao domingo com os outros irmáos, para celebrar a Páscoa do Senhor no sacramento da Nova Manga». Os fiéis que se ausentam da sua residencia habitual no domingo, devem procurar participar da Missa no lugar onde se encontram, enriquecendo assim a comunidade local com o seu testemunho pessoal.
A Missa dominical há de ser preparada com especial cuidado. É importante o canto da assembléia como expressáo da alegría do coracáo. O S. Padre explícita a necessidade de que os textos e as melodías sejam fiéis á tradicáo da Igreja: «50. Dado o caráter próprio da Missa dominical e a importancia
que ela tem para a vida dos fiéis, é necessário prepará-la com especial cuidado. Com as formas sugeridas pela sabedoria pastoral e pelos usos locáis que estejam em harmonía com as normas litúrgicas, é preciso ga rantirá celebragáo aquele caráter festivo que convém ao dia comemorativo da Ressurreigáo do Senhor. Com este objetivo, é importante dar a devida atengáo ao canto da assembléia, já que este é particularmente apto para exprimirá alegría do coragáo, faz ressaltara solenidade e favo rece a partilha da única fé e do mesmo amor. Por isso, é preciso ter a preocupagáo da sua qualidade, tanto no referente aos textos como as melodías, para que tudo aquilo que de criativo e original hoje se propóe, esteja de acordó com as disposigóes litúrgicas e seja digno daquela tradigáo eclesial que, em materia de música sacra, se gloria de um patrimo nio de valor ¡nestimável».
A Missa há de ser catívante e participada. Faz-se mister, porém, guardar a distincáo entre o sacerdocio comum dos fiéis, conferido aos leigos pelos sacramentos do Batismo e da Crisma e o sacerdocio minis
terial conferido pelo sacramento da Ordem: é "distincáo bem mais que disciplinar entre a tarefa própria do celebrante e a que é atribuida aos diáconos e aos fiéis nao ordenados" (n9 51). A celebracáo da Eucaristía é o coracáo do domingo, mas a santificacao do domingo nao se restringe a ela. Outros momentos do dia hao de ser impregnados da paz e da alegría do Ressuscitado:
«52. Se a partidpagáo na Eucaristía é o coragáo do domingo, seria contudo restritivo reduzir apenas a isso o dever de santificá-lo. Na verda486
"O DÍA DO SENHOR"
de, o dia do Senhor é bem vivido, se todo ele estiver marcado pela lembranga agradecida e efetiva das obras de Deus. Ora, isto obriga cada um
dos discípulos de Cristo a conferir, também aos outros momentos do dia passados tora do contexto litúrgico - vida de familia, relagóes sociais,
horas de diversáo -, um estilo tal que ajude a fazer transparecer a paz e a alegría do Ressuscitado no tecido ordinario da vida. Por exemplo, o encontró mais tranquilo dos pais e dos filhos pode dar ocasiáo nao só para se abrirem a escuta recíproca, mas também para viverem juntos algum momento de formagáo e de maior recolhimento. Por que nao pro gramar, inclusive na vida laical, quando forpossível, especiáis iniciativas de oragáo - de modo particular a celebragáo solene das Vésperas - ou entáo eventuais momentos de catequese, que, na vigilia do domingo ou
durante a tarde deste, preparem ou completem na alma do cristao o dom próprio da Eucaristía?».
Vém ao caso ainda as assembléias dominicais na ausencia do sa cerdote. Ocorrem nao raro em virtude da escassez do clero. Existem nor mas da Santa Sé e de cada Conferencia Episcopal que as orientam.
Todavía deve permanecer claro na consciéncia do clero e dos fiéis que é preciso tender a celebrar a S. Missa mesmo em lugares distantes, de tal modo que as pessoas habitualmente privadas da celebracao eucarística se possam beneficiar déla o maior número de vezes possível, garantindo-se-lhes a presenca periódica de um sacerdote (cf. n9 53). Por fim, os fiéis que, por motivo de doenca ou outra razáo grave, estáo impedidos de participar da S. Missa, podem-se unir a urna celebracao eucarística mediante a televisáo e o radio. Verdade é que este géne ro de transmissáo nao é adequado para se cumprir o preceito dominical, que requer a participacáo dos fiéis congregados num mesmo lugar. Mas, para aqueles que estáo impedidos de freqüentar a Eucaristía (e, por isto,
estáo dispensados da mesma), a transmissáo televisiva ou radiofónica é de grande valor, principalmente se completada pelo generoso servico de um Ministro Extraordinario da Comunháo Eucarística, que leve o Santíssimo Sacramento aos doentes e Ihes ofereca a saudacáo e a solidariedade de toda a comunidade (nQ 54). 4. O Dia do Homem (ns 55-73)
O domingo é também o dia do homem, caracterizado por alegría, repouso e solidariedade.
A ressurreicáo do Senhor e as gracas que déla decorrem, sao motivo de júbilo para os cristáos desde os primeiros tempos da Igreja. S. Agostinho (t 430), fazendo eco a testemunhos anteriores, escreve: 487
8
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
"Omitem-se osjejuns e rezase de pé como sinal da ressurreigáo; poristo também se canta todos os domingos o aleluia" (epístola 55, 28); cf.ns55.
O cristáo é alegre apesar das dificuldades que a vida de cada dia
Ihe apresenta; sonriente o pecado pode causar auténtica tristeza, porque separa do Sumo Bem, que nao se pode perder: Deus. O próprio Senhor rezou para que os discípulos tenham "a plenitude de sua alegría" (Jo
17,13). É claro que tal alegría nao deve ser confundida com sentimentos
espalhafatosos e superficiais, que, passando rápidamente, deixam o coracáo ¡nsatisfeito; cf. n9 56s. O domingo, dia de festa e de alegría, é também dia de descanso. O
repouso é coisa sagrada, constituindo a condicáo necessária para o homem se subtrair ao ciclo, por vezes excessivamente absorvente, dos afazeres terrenos e retomar consciéncia de que tudo é obra de Deus, do qual o homem é lugar-tenente subordinado; o poder que a ciencia e a
técnica conferem ao homem nao o tornam um outro Deus; cf. n9 65. A Igreja tem legislado sobre a necessidade do repouso dominical, incutindo-o aos fiéis para que possam elevar a mente ao Senhor e freqüentar a S. Eucaristía. O atual Código de Direito Canónico prescreve o seguinte: «Can. 1247 - No domingo e nos outros dias de festa de preceito,
os fiéis tém a obrigagáo de participar da missa; além disso, devem abster-se das atividades e negocios que impegam o culto a ser prestado a Deus, a alegría própria do dia do Senhor e o devido descanso da mente e do corpo. Can. 1248 - § 1, Satisfaz ao preceito de participar da missa quem assiste á missa em qualquer lugar onde é celebrada em rito católico, no próprio dia de festa ou na tarde do dia anterior. § 2. Por falta de ministro sagrado ou por outra grave causa, se a
participagáo na celebragáo eucarística se tornar impossível, recomenda se vivamente que os fiéis participen) da liturgia da Palavra, se houver, na igreja paroquial ou em outro lugar sagrado, celebrada de acordó com as
prescrígóes do Bispo diocesano; ou entáo se dediquem á oragáoportempo
conveniente, pessoalmente ou em familia, ou em grupo de familias de acordó com a oportunidade».
É contraria aos principios cristáos a tendencia de alguns regimes a estabelecer dias de repouso diferentes para os diversos membros da
familia, impedindo assim que pais e filhos se reunam ao domingo e compartilhem mutuamente seus interesses (cf. n9 66). A fim de conservar os valores do repouso dominical, é para desejar 488
"O DIA DO SENHOR"
que os cristáos saibam escolher, dentre as varias propostas de divertimento, aquelas que sao compatíveis com a santificacáo do domingo; com efeito, verifica-se que certas ocupacoes recreativas sao mais absorventes e exigentes do que repousantes; assim, em vez de contribuir para o bem espiritual e corporal do cristáo, impossibilitam-no de usufruir das grapas que o dia do Senhor oferece a todos (cf. ne 67s).
Solidariedade... "O domingo deve dar oportunidade aos fiéis para se dedicarem também as atividades de misericordia, caridade e aposto lado" (n9 69).
Essa caridade nao há de se exprimir apenas no óbolo, mas há de criar a cultura da solidariedade, concretizada tanto entre os membros da comunidade como em favor da sociedade inteira. Já os Apostólos incutiam o dever do amor fraterno decorrente de freqüentar a Eucaristía; cf.
1Cor 16,2; 11,20-22; Tg 2,2-4. Os Padres da Igreja muito o enfatizar'am,
como se depreende, entre outros, dos seguintes dizeres de Sao Joáo Crisóstomo, bispo de Constantinopla (t 407):
«Queres honrar o Corpo de Cristo? Nao permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que nao tém o que vestir, nem o honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá lora o abandonas ao frío e a nudez. Aquele que disse: 'Isto é o meu Corpo', confirmando o fato com a sua palavra, também afirmou: 'Vos me vistes
com fome e nao me destes de comer', e aínda: 'Na medida em que o recusastes a um destes meus irmáos mais pequeninos, a mim o recu-
sastes. (...): De que serviría, afina!, adornara mesa de Cristo com vasos
de ouro, se Ele morre de fome na pessoa dos pobres? Primeiro dá de comer
a quem tem fome, e depois ornamenta a sua mesa com o que sobra».
«Sao palavras que lembram, eficazmente, á comunidade crista o deverde fazerda Eucaristía o lugar onde a fraternidade se torne solidaríedade concreta, onde os últimos sejam os prímeiros na consideragáo e na estima dos irmáos, onde o próprío Cristo, através da doagáo generosa dos ríeos aos pobres, possa de algum modo continuar ao longo dos tem-
pos o milagre da multiplicagáo dos páes».
5. O Dia dos Dias (ns 74-80)
"O domingo, festa primordial, reveladora do sentido do tempo" (sub
título do capítulo).
«75. Sendo o domingo da Páscoa semanal, que evoca e torna pre sente o dia em que Cristo ressuscitou dos morios, ele é também o dia que revela o sentido do tempo. Nao tem qualquer afinidade com os ciclos
cósmicos que, segundo a religiáo natural e a cultura humana, poderiam 489
10
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
ritmar o tempo, fazendo crer talvez ao mito do eterno retorno. O domingo cristáo é diferente! Nascendo da Ressurreigáo, ele sulca os tempos do homem, os meses, os anos, os séculos como urna seta ¡angada que os atravessa, oríentando-os para a meta da segunda vinda de Cristo. O do
mingo prefigura o dia final, o da Parusia, já antecipada de algum modo
pela gloria de Cristo no acontecimento da Ressurreigáo.
Com efeito, tudo aquilo que suceder até ao fim do mundo será ape
nas urna expansáo e expiicitagáo do que aconteceu no dia em que o corpo martirizado do Crucificado ressuscitou pela forga do Espirito e se tornou, por sua vez, a fonte do Espirito para a humanidade. Por isso, o cristáo sabe que nao deve esperar outro tempo de salvagao, visto que o mundo, qualquer que seja a sua duragáo cronológica, já vive no último tempo. Nao só a Igreja, mas o próprio universo e a historia sao continua
mente dominados e guiados por Cristo glorificado. É esta energía de vida
que impele a criagáo - esta 'tem gemido e sofrido as dores do parto, até ao presente' (Rm 8,22) - para a meta do seu pleno resgate. Deste caminho, o homem pode ter apenas urna vaga percepgáo; mas os cristáos
possuem a chave de interpretagáo e a certeza dele, constituindo a santificagáo do domingo um testemunho significativo que eles sao cha mados a dar, para que os tempos do homem sejam sempre sustentados pela esperanga».
A celebrado do domingo de Páscoa - a solenidade das solenidades - foi aos poucos inspirando á Igreja a estruturacáo do ano litúrgico: a Quaresma preparatoria da Páscoa e o cinqüentenário que prolonga de
modo especial a celebracáo da Páscoa até Pentecostés. Segue-se o ci clo de Natal, que comemora o misterio da Encarnacao do Senhor (ns 76s).
"Na celebracáo do ciclo anual dos misterios de Cristo, a Santa Igre ja venera, com especial amor, porque indissoluvelmente unida á obra de salvacáo de seu Filho, a bem-aventurada Virgem María, Máe de Deus" (na 78). Dilatando ainda seus horizontes, a liturgia da Igreja venera também a memoria dos mártires e de outros Santos; esta nao empalidece a
figura de Cristo, mas, ao contrario, a exalta, mostrando a eficacia da Redencáo efetuada pelo Senhor.
A necessidade de solenizar certas datas do ano litúrgico levou a Igreja a estipular días santos de guarda, nos quais sao obrigatórios a freqüentacáo da S. Missa e o repouso. Visto, porém, que tais datas, caindo em dias de semana, nao podem ser devidamente celebradas pelo povo fiel, a Igreja permite que sua solenizacáo seja transferida para o
domingo mais próximo; é o que acontece no Brasil com as festas da Epifanía, da Ascensáo do Senhor, da Assuncáo de María, dos SS. Apósto490
"O DÍA DO SENHOR"
los Pedro e Paulo e de todos os Santos. É para desejar, porém, que a celebracáo do domingo nao perca o caráter próprio do día do Senhor, cedendo freqüentemente a festividades dos Santos (n9 78-80). 6. Conclusáo (n9 81-87)
Na Conclusáo, o S. Padre retoma as linhas doutrinárias anteriores
e acrescenta em síntese o seguinte:
«84. Instituido para amparo da vida crista, o domingo adquire natu ralmente também um valor de testemunho e anuncio. Día de oragao, de comunháo, de alegría, ele repercútese sobre a sociedade, irradiando sobre ela energías de vida e motivos de esperanga. O domingo é o anun cio de que o tempo, habitado porAquele que é o Ressuscitado e o Se nhor da historia, nao é o túmulo das nossas ilusóes, mas o bergo de um futuro sempre novo, a oportunidade que nos é dada de transformar os momentos fugazes desta vida em sementes de eternidade. O domingo é convite a olhar para frente, é o dia em que a comunidade crista eleva para Cristo o seu grito: "Maranatha: Vinde, Senhor!" (1Cor 16,22). Com este grito de esperanga e expectativa, ela faz-se companheira e susten táculo da esperanga dos homens. De domingo a domingo, iluminada por Cristo, caminha para o domingo, sem fim, da Jerusalém celeste, quando estiver completa em todas as suas feigdes a mística Cidade de Deus, que 'nao necessita de Sol nem de Luz para a iluminar, porque é iluminada
pela gloria de Deus, e a sua luz é o Cordeiro' (Ap 21,23)».
Nesta tensao para a meta, a Igreja é sustentada e animada pelo
Espirito:
"O Espirito está presente ininterruptamente em cada dia da Igreja, irrompendo, imprevisível e generoso, com a riqueza dos seus dons; mas,
na assembléia dominical congregada para a celebragáo semanal da Páscoa, a Igreja colocase especialmente á escuta dele e com Ele tende para Cristo, no desejo ardente de seu regresso glorioso: 'O Espirito e a Esposa dizem: Veml' (Ap 22,17)" (n3 85).
O texto aqui apresentado sintéticamente merece ser lido na ínte
gra por todos os fiéis católicos, pois ultrapassa os limites da Teología
Moral e do Direito Canónico, oferecendo urna apresentacáo sumaria das
verdades da fé.
491
Ainda a Palavra do Papa:
"PARA A TUTELA DA FÉ" Em síntese: O Motu Proprío Ad tuendam Fidem foi promulgado
pelo S. Padre a fim de atualizar o Código de Direito Canónico em seus
cánones 750 e 1371. Tais cánones foram formulados em 1983, anterior mente ao texto da Profissáo de Fé Católica editado em 1989 pela Congregagáopara a Doutrina da Fé. O documento pontificio trata de enfatizar as verdades que a respeito da fé e da Moral sao propostas pela Igreja em termos definitivos, ... definitivos porque tém nexo histórico e lógico com os dogmas de fé revelados pelo próprío Deus. Entre essas verdades "conectadas", estáo a condenagáo da eutanasia direta, a canonizagáo dos Santos, a legitimidade da eleigáo papal, a reserva da ordenagáo sa cerdotal aos homens. *
*
*
Aos 18/5/1998 o S. Padre Joáo Paulo II assinou a Carta Apostólica Motu Proprio" que corneja com as palavras Ad tuendam Fidem (Para a Tutela da Fé). Visto que, para muitos crlstáos, nao ficaram claros o conteúdo desse documento e a própria atitude do S. Padre, vamos dedicarIhe as páginas seguintes.
1. Profissio de Fé e Juramento
Todo fiel católico que assume um encargo de importancia na Igreja (clérigo, professor de Teología, Superior Religioso...), é obligado a profe rir urna Profissáo de Fé e a prestar juramento de fidelidade á S. Igreja2. Tal prescricáo se deve á necessidade de coeréncia: quem ó chamado a falar em nome da Igreja, tem o dever de transmitir o que a Igreja ensina ou, ao menos, nada transmitir que contrarié o ensinamento da Igreja; é 1 De própria iniciativa.
_
2 Tal ó o teor do canon 833, que especifica os cargos aos quais Profissáo de Fe e Juramento estáo anexos:
Canon 833 - Tém obrigagáo de fazer pessoalmente a Profissáo de fé, segundo a
fórmula aprovada pela Sé Apostólica:
1S diante do presidente ou de seu delegado, todos os que participem de um Conci lio Ecuménico ou particular, do Sínodo dos bispos ou do Sínodo diocesano, com voto deliberativo ou consultivo; o presidente, porsua vez, diante do Concilio ou do Sínodo; 2a os promovidos á dignidade cardinalícia, segundo os estatutos do Sacro Colegio; 3S diante do delegado da Sé Apostólica, todos os promovidos ao episcopado, e os que se equiparam ao Bispo diocesano; 492
"PARA A TUTELA DA FÉ"
13
este um dever de honestidade, pois o povo de Deus quer ouvir dos minis tros da Igreja o que a Igreja pensa e professa, e nao o que tal ou tal pessoa, por conta própria, pensa e professa. Se o bispo, o teólogo ou
outro oficial toma a liberdade de ensinar algo que destoe do magisterio da Igreja, está traindo a Igreja, iludindo os fiéis, além de ceder ao pecado de infidelidade as suas funcóes.
Aos 9/1/1989 a Congregacáo para a Doutrina da Fé, encarregada dos assuntos atinentes á fé, publicou novas fórmulas de Profissáo de Fé e de juramento anexo a serem observadas nos casos ácima indicados. Esses textos substituíam as fórmulas anteriores datadas de 1967; cf. PR
326/1989, pp. 316-319. Eis o teor do texto promulgado em 1989:
I. PROFISSÁO DE FÉ
A Profissáo de Fé consta do Símbolo Niceno-constantinopolitano,
ao qual sao acrescentadas tres proposicóes:
"Eu, N.N., creio e professo todas e cada qual das proposigoes que
estáo coñudas no Símbolo da Fé, a saber: Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso.
Criador do céu e da térra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor Jesús Cristo, Filho Unigénito de Deus, nas-
cido do Pai antes de todos os séculos;
Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
gerado, nao criado, consubstancial ao Pai. Por ele todas as coisas foram feitas.
Epor nos, homens, e para a nossa salvagáo, desceu dos céus;
e se encarnou pelo Espirito Santo no seio da Virgem María e se fez
homem.
4a diante do colegio dos consultores, o Administrador diocesano; 5a diante do Bispo diocesano ou de seu delegado, os Vigários gerais, os Vigários
episcopais e os Vigários judiciais;
69 diante do Ordinario local ou de seu delegado, os párocos, o reitor, os professores de teología e filosofía nos Seminarios, no inicio do exercício do cargo; e os pro movidos á ordem do diaconato;
7a diante do Gráo-chanceler e, na sua falta, diante do Ordinario local ou dos res pectivos delegados, o reitor de Universidade Eclesiástica ou Católica no inicio do exercício do seu cargo; diante do reitor, que seja sacerdote, ou diante do Ordinario
local ou dos respectivos delegados, os professores que lecionam disciplinas refe rentes áfée aos costumes em qualquer Universidade, no inicio do desempenho do
cargo;
8a os Superiores nos Institutos Religiosos e ñas Sociedades Clericais de vida apos
tólica, segundo a norma das Constituicoes".
Além da Profíssáo de Fé, devem emitir Juramento de Fidelidade aquelas pessoas
mencionadas nos nas 5-8 do referido canon. 493
t4
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
Também por nos foi crucificado sob Pondo Pilatos; padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras,
e subiu aos céus, onde está sentado á direita do Pal E de novo há de vir em sua gloría para julgar os vivos e os morios. E o seu reino nao terá fim. Creio no Espirito Santo,
Senhorque dá a vida, e procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; Ele que falou pelos Profetas.
Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica. Professo um só batismo para a remissáo dos pecados. E espero a ressurreigáo da carne
e a vida do mundo que há de vir. Amém.
Com fé firme creio também tudo aquilo que na Palavra de Deus, escrita ou oral, está contido e pela Igreja é proposto, ou mediante solene sentenga ou mediante o seu ordinario e universal magisterio, como ver dades reveladas por Deus que se impoem a fé.
Também abrago e retenho firmemente todas e cada qual das proposigoes que a respeito da doutrina da fé e dos costumes sao propostas pela Igreja em termos definitivos.
Além disto, com religioso obsequio da inteligencia e da vontade dou minha adesáo as doutrinas que o Pontífice Romano ou o Colegio dos Bispos enunciam ao exercerem seu auténtico magisterio, embora nao intencionem proclamá-las em termos definitivos". Segue-se o
II. JURAMENTO DE FIDELIDADE
Tal é a fórmula a ser usada pelos fiéis cristáos mencionados no eánon 833, ne 5-8:
"Eu, N.N., ao recebera fungáo de , prometo guardar sempre a comunháo com a Igreja Católica tanto pelas palavras que pro ferir como por meu modo de agir. Com grande diligencia e fidelidade, cumprirei os encargos a que
estou obrigado em relagáo seja á Igreja universal, seja a diocese na qual sou chamado a prestar servigo, segundo as prescrigóes do Direito.
No exercfcio de minhas fungóes, que em nome da Igreja me foram confiadas, conservare!'íntegro, transmitiré'! e ilustrare'! fielmente o depósi to da fé; por conseguinte evitare! qualquer doutrina a ela contraria. 494
"PARA A TUTELA DA FÉ"
15
Seguirei e fomentarei a disciplina comum da Igreja e guardarei a
observancia de todas as leis eclesiásticas, principalmente daquelas que estáo contidas no Código de Direito Canónico. Com obediencia crista, executarei o que for estabelecido pelos sa grados Pastores, como auténticos doutores e mestres da fé ou como governantes da Igreja, e fielmente prestare'! auxilio aos Bispos diocesanos, a fim de que a atividade apostólica a serexercida em nome e por manda to da Igreja se desenvolva dentro da comunháo da mesma Igreja. Assim me ajudem Deus e estes santos Evangelhos de Deus, que toco com as minhas máos".
Eis as variantes dos parágrafos 4 e 5 da Fórmula de Juramento válidas para os fiéis dos quais trata o canon 833, ns 8:
"Fomentarei a disciplina comum da Igreja e urgirei a observancia de todas as leis eclesiásticas, principalmente das que estáo contidas no Código de Direito Canónico. Com obediencia crista, executarei o que os sagrados Pastores como auténticos doutores e mestres da fé declaram ou como governantes da Igreja estabelecem, e com os Bispos diocesanos colaborare! de boa vontade para que a atividade apostólica, a ser exercida em nome e por man dato da Igreja, se desenvolva na comunháo da mesma Igreja, ressalvadas a índole e a finalidade do meu Instituto Religioso". Como se vé, a Profissáo de Fé versa sobre tres tipos de verdade:
1) os artigos de fé que o magisterio da Igreja (extraordinario ou solene e ordinario ou universal) propóe como verdades reveladas por Deus;
O magisterio extraordinario é o do Papa ou o de um Concilio Geral quando definem alguma proposicáo como artigo de fé; tal foi a definicáo do dogma da SS. Trindade por parte dos Concilios de Nicéia I (325) e Constantinopla I (381); tal foi a definicáo referente a Jesús Deus e Ho-
mem em Éfeso (431) e Calcedonia (451). Tal foi a definicáo do dogma da Imaculada Conceicáo por parte de Pió IX em 1854, a da Assuncáo Cor poral de María SS. por Pió XII em 1950.
O magisterio ordinario é o dos Bispos unidos ao S. Padre em con senso unánime. Tal é o ensinamento referente á existencia do demonio e do seu pecado. 2) As proposicóes que a respeito da fé e da Moral sao formuladas pela Igreja em termos definitivos; sao os ensinamentos dogmáticos e 495
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
moráis "necessários para preservar fielmente e expor o depósito da fé, mesmo que nao tenham sido propostas pelo magisterio da Igreja como formalmente revelados". Seriam, por exemplo, a doutrina da Igreja con traria á eutanasia direta, a canonizado dos Santos, a legitimidade da eleicáo de um Papa, a reserva do sacerdocio ministerial aos homens. 3) Os ensinamentos da Igreja emanados do Papa ou dos Bispos em uniáo com o Papa, aínda que nao tenham sido solenemente defini dos pela Igreja. Tal é o caso da encíclica Humanae Vitae (1968), que rejeita todo método artificial de limitacáo da natalidade.
2. O Código de Direito Canónico complementado Ocorre que o Código de Direito Canónico vigente foi promulgado aos 25/1/1983, ou seja, antes da publicacáo das novas fórmulas da Pro-
fissáo de Fé e do Juramento. Por isto em seus cánones nao menciona a segunda categoría de verdades contidas na Profissáo de Fé, como se
pode depreender dos cánones 750 e 1371, que váo aqui reproduzidos: "Can. 750 - Deve-se crer com fé divina e católica em tudo o que está contido na palavra de Deus escrita ou transmitida, a saber, no único depósito da fé confiado a Igreja, e que, ao mesmo tempo, é proposto como divinamente revelado pelo magisterio soiene da Igreja ou pelo seu magisterio ordinario e universal; isto se manifesta pela adesáo comum
dos fiéis sob a guia do magisterio sagrado; por ¡sso, todos estáo obrigados a evitar quaisquer doutrinas contrarias. Can. 1371 - Seja punido com justa pena:
1gaquele que, além do caso mencionado no can. 1364, § 1, ensina doutrina condenada pelo Romano Pontífice ou pelo Concilio Ecuménico ou com pertinacia rejeita a doutrina mencionada no can. 752, e, advertido pela Sé Apostólica ou pelo Ordinario, nao se retrata; 2S aquele que, de outro modo, nao obedece a legítima ordem ou proibigáo da Sé Apostólica, do Ordinario ou do Superior e, depois de advertencia, persiste na desobediencia".
A inadequacáo do Código de 1983 ao texto da Profissáo de Fé datado de 1989 levou o S. Padre a escrever o Motu Proprio Ad tuendam
Fidem. Neste documento Joao Paulo II chama a atencáo para a necessidade do ajuste e determina que sejam complementados os cánones 750 e 1371 do Código de Direito Canónico e o canon 598 do Código dos Cánones das Igrejas Orientáis.
No Código de Direito Canónico, o canon 750 passa a ter dois pa496
"PARA A TUTELA DA FÉ"
17
rágrafos: o primeiro é o texto de 1983; o segundo, acrescentado, tem a seguinte redacáo:
"2a. Todos e cada um dos artigos propostos em termos definitivos
pelo magisterio da Igreja referentes afee a Moral, isto é, aqueles que se fazem necessários para salvaguardar piedosamente e expor fielmente o depósito da fé, devem ser firmemente aceitos e sustentados; por isto quem negar as proposigoes que devem ser professadas definitivamente, opóe-
se a doutrina da Igreja Católica". O canon 1371 seja doravante lido com referencia ao canon 750 nos seguintes termos:
"Canon 1371. - Seja punido com justa pena:
1g. aquele que, além do caso mencionado no canon 1364 § 1S, ensina doutrina condenada pelo Romano Pontífice ou por um Concilio Ecuménico ou com pertinacia rejeita a doutrina mencionada no canon 750 § 2B ou no canon 752, e, advertido pela Sé Apostólica ou pelo Ordi
nario, nao se retrata...".
Á guisa de esclarecimento, seja dito: - o canon 752 reza o seguinte:
"Nao assentimento de fé, mas religioso obsequio da inteligencia e da vontade deve ser prestado á doutrina que o Sumo Pontífice ou o cole
gio dos Bispos, ao exercerem o magisterio auténtico, anunciam sobre a fé e a Moral, mesmo quando nao tenham a intengáo de proclamá-la por ato definitivo; portanto procurem os fiéis evitar tudo o que nao esteja de acordó com ela".
Como exemplo de tal doutrina nao ensinada em termos definitivos, mas merecedora de religioso obsequio, está o teor das encíclicas pa páis, das Exortacóes Apostólicas, das Cartas Apostólicas. Foi precisamente para tutelar a segunda categoría de verdades atrás enunciadas que o S. Padre quis promulgar o Motu Proprio Ad tuendam Fidem. Tal documento comeca exatamente com as seguintes palavras:
"Para a tutela da fé da Igreja Católica contra erros que se levantam
da parte de alguns fiéis, principalmente daqueles que se dedicam ao estudo das disciplinas da Sagrada Teología, pareceu-nos sumamente ne-
cessário... que no texto do Código de Direito Canónico e no Código dos Cánones das Igrejas Orientáis sejam acrescentadas normas...".
A propósito impde-se breve reflexáo. 497
18
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
3. Ponderando... O S. Padre, ao introduzir o seu Motu Proprio, lembra que Ihe foi confiado o encargo de confirmar seus irmaos na fé (Le 22,32). O Senhor Jesús fez de Pedro e seus sucessores os tutores das verdades revela das, a fim de que nao fossem ao leu ou nao se desvirtuassem ao passar de geracao em geracáo. Daí o dever que incumbe ao Papa Joáo Paulo II, de se pronunciar com autoridade sempre que esteja em perigo algum artigo da mensagem da fé crista. No caso em foco, alias, o Papa nada de novo afirmou; apenas atualizou o Código de Direito Canónico, dando-lhe a redacao necessária para que correspondesse a um documento da Igreja promulgado após a publicacao do Código em 1983. Esta revisáo dos cánones 750 e 1371 impunha-se nao somente por urna questáo de coeréncia jurídica, mas também por causa de contestacoes que alguns teó logos tém levantado contra o magisterio do Sumo Pontífice; sao despro positadas e também prejudiciais ao povo de Deus, frente ao qual pretendem lancar o descrédito sobre o que S. Santidade promulga no pleno exercício de seus direitos e deveres. O Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregacáo para a Dou-
trina da Fé, redigiu um Esclarecimento ao Motu Proprio Ad tuendam Fídem. Observa bem que tal documento tem em mira principalmente defender as verdades da segunda categoría e acrescenta: Todo fiel deve prestar um firme e definitivo assentimento a tais verdades, baseando-se sobre a fé na assisténcia do Espirito Santo ao magisterio e sobre a doutrína católica referente á infalibilidade do magis terio no tocante a tais proposigóes".
A seguir, compara entre si as verdades da primeira e da segunda categorías e afirma que "é importante enfatizar que nao há diferenca en tre urnas e outras no concernente ao caráter pleno e irrevogável do as
sentimento que Ihes é devido". A diferenca existe no tocante á virtude da fé, pois na primeira categoria o assentimento se baseia diretamente so bre a fé na autoridade da Palavra de Deus, "ao passo que na segunda categoria ele se baseia sobre a fé no Espirito Santo e na infalibilidade da autoridade do magisterio da Igreja".
No tocante á ordenacáo de mulheres, o Cardeal ñatzinger lembra que o S. Padre a rejeitou em Carta de 1994, lomando por base a Palavra de Deus escrita, constantemente preservada e aplicada na Tradicáo da Igreja".
Eis, em poucas consideracoes, o sentido do Motu Proprio Ad tuendam Fidem, que alguns repórteres nao puderam transmitir adequadamente, visto tratar-se de assunto eminentemente teológico. 498
Delicada Questáo:
A SALVAQÁO FORA DA IGREJA VISÍVEL Em sfntese: Todos os homens, pormais diferentes que sejam, tém em comum: 1) tersido criados todos á imagem e semelhanga de Deus; 2) remidos todos pelo sangue de Cristo; 3) chamados todos á mesma bemaventuranga final. Sendo assim, Deus nao pode deixar de se fazer pre sente a todos e a qualquer um no decorrer desta vida. Ele interpela cada qual pela voz do Evangelho ou pela voz da consciéncia. Aqueles que, sem culpa própria, ignoram Cristo e sua Igreja, mas de boa fé e candida mente procuram seguir os ditames de sua consciéncia reta e bem forma da, sacrificándose para seguir o que elesjulgam sera Verdade e o Bem,
estáo seguindo a Deus e poderáo chegará patria celeste preparada para todos os homens sinceros e retos. Deus nao pede contas a ninguém daquilo que o próprio Deus nao Ihe confiou. *
*
*
O presente artigo se voltará para a delicada questáo da salvacáo fora da Igreja visível, considerando, de modo especial, a acáo do Espirito Santo em tal caso. Imp5e-se logo urna observacáo básica. 1. Todos iguais em tres planos
É forcoso reconhecer que todos os homens, por mais diferentes que sejam pela cultura e por suas crencas religiosas, sao iguais entre si em tres planos:
1) Todos trazem em si a imagem e semelhanga de Deus, pois todos sao dotados de inteligencia e vontade e, por isto, aspiram á Verda de, ao Bem, ao Absoluto, ao Infinito... Sabiamente registrava S. Agostinho: "Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso coragáo en-
quanto nao repousa em Ti" (Confissóes). O sinete do Criador está assim
gravado no íntimo de todo ser humano. 2) Todos foram remidos pelo sangue de Cristo, embora muitos
nao conhecam Jesús Cristo. O Sínodo dos Bispos da Asia, realizado em
Roma nos meses de abril e maio de 1998, reconheceu a dificuldade de o
anunciar aos povos de tradicóes religiosas muito antigás, como sao os
hinduístas, os brámanes, os budistas, os confucionistas, os xintoístas...;
verificaram os Bispos que mesmo na Asia se pode apregoar o Evangelho
desde que se mostré que o Cristianismo nao é urna religiáo meramente ocidental, mas responde aos anseios mais espontáneos do ser humano:
Jesús na Asia é o Compassivo, o Iluminado, o Purificador, o Mestre da 499
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
Sabedoria, o Amigo dos Pobres. 3) Todos sao chamados á mesma bem-aventuranca final ou á
visáo de Deus face-a-face, pois todo ser humano é capax Dei, capaz de apreender a Deus (Catecismo da Igreja Católica n9 27); ver Gaudium et SpesnB19§ 1.
2. Deus presente a todos os homens
Se todos os homens sao tao marcados por Deus, compreende-se que Deus se Ihes torna presente, de modo que o possam de algum modo perceber.
O Papa Paulo VI, numa alocucáo de 17/05/1972, o insinúa. Cita Sócrates, que se dizia inspirado por um genio (daimon), e Gandhi, que afirmava obedecer a urna still small voice, e acrescenta: "Sem recorrer aos exemplos extraordinarios, cada homem verdadeiro tem, dentro de si, urna fonte própria, intuitiva e normativa".
A afirmacio é um tanto vaga. Importante, porém, é que ela se refe
re a todos os homens, cristáos e nao cristáos.
O Concilio do Vaticano II explícita tal pensamento, afirmando: "Na intimidade da consciéncia, o homem descobre urna lei. Ele nao a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno a voz desta leí ¡he
soa nos ouvidos do coragáo: faze isto, evita aquilo. De fato o homem tem urna lei escrita por Deus em seu coragáo. Obedecer a ela é a própria
dignidade do homem, que serájulgado de acordó com esta lei. A consci éncia é o núcleo secretfssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz. Pela consciéncia se descobre, de modo admirável, aquela lei que se cumpre no amor de Deus e do próxi
mo" (Const. Gaudium et Spes nQ 16).
É digna de especial atencáo a referencia á consciéncia como
sacrário em que o homem se encontra nao com um genio do além, mas com o próprio Deus, que indica á criatura a vía de retorno para o Pai,
insuflando-lhe: "Pratica o bem, evita o mal". No mais íntimo de si todo homem ouve essa voz delicada do Criador.
É claro que tal realidade, com mais razáo ainda, se verifica no cris-
táo, que é feito templo da Ssma. Trindade desde o seu Batismo; cf. Rm 8,15; Gl 4,4. O Cristianismo é a resposta, por excelencia, ás aspiracoes de todo homem, como insinúa Tertuliano (f 220 aproximadamente) ao
exclamar: "Ó testemunho da alma naturalmente crista!" (Apologeticum 17).
Por ser templo do Espirito Santo (1 Cor 6,19), o cristáo tem mais do 500
A SALVAQÁO FORA DA IGREJA VISÍVEL que urna titile small voice a Ihe falar; tem o Mestre interior, que é o próprio Espirito Santo, o qual Ihe ensina o sentido profundo das palavras de Deus
que ele capta com os ouvidos. É Santo Agostinho quem o diz:
"Vede já, irmáos, este grande misterio: o som de nossas palavras fere o ouvido: o Mestre, porém, está dentro. Nao penséis que alguém aprenda alguma coisa do homem. Podemos chamar a atengáo com o ruido de nossa voz; mas, se no nosso interior nao estiver aquele que nos ensina, será vá nossa pregagáo. Irmáos, queréis dar-vos conta do que vos digo? Por acaso nao escutais todos este sermáo? Mas quantos sairao daquisem se instruir! Pelo que toca a mim, faleia todos; mas aqueles a quem nao fala aqueta Ungáo [Agostinho se referia a Uo 2,20.27], a
quem o Espirito Santo nao ensina interiormente, saem daqui sem instrugáo. O magisterio externo consiste em certas ajudas e avisos. Mas quem instruí os coragdes, tem sua cátedra no céu. Logo, é o Mestre interior quem ensina. Onde nao estiver sua inspiragáo nem sua ungáo, inútilmen te soaráo no exterioras palavras".
Visto que Deus se faz presente a todo ser humano, abordemos agora a questáo: 3. A salvacáo fora da Igreja Católica
O Concilio do Vaticano II considerou o problema, recolhendo os dados da teologia dos últimos séculos. Assim se exprime a Constituicáo Lumen Gentium n916: "O Salvador quer que todos os homens se salvem (cf. 1Tm 2,4). Portanto aqueles que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam Deus de coragáo sincero e tentam, sob o influxo da graga, cumprirpor obras a sua vontade conhecida através dos difames da consciéncia, podem conseguir a salvagáo eterna. E a Providencia Di vina nao nega os subsidios necessários a salvagáo aqueles que sem culpa aínda nao chegaram ao conhecimento expresso de Deus e se esforgam, nao sem a divina graga, por levar urna vida reta". A Constituicáo Gaudium et Spes n9 22 volta ao assunto:
"Isto (a participagáo no misterio pasca!) vale nao somente para os cristáos, mas também para todos os homens de boa vontade, em cujos
coragdes a graga opera de maneira invisível. Com efeito, tendo Cristo morrído por todos e sendo urna só a vocagáo última do homem, isto é, divina, devemos admitir que o Espirito Santo oferece a todos a possibilidade de se associarem, de modo conhecido por Deus, a este misterio pascar Como se vé, o Concilio deixa claro que nao é o esforco do "bom
pagáo" que Ihe vale a salvacáo, mas é a graca de Deus oferecida a todos que os leva a mobilizar-se em demanda do Bem. Nenhum ser humano é 501
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
privado dos subsidios necessários á salvacáo, sendo que Deus nao pede a um nao cristao contas da fidelidade ao Evangelho, que ele ignora.
Aínda mais recentemente, na encíclica sobre a Missáo do Reden tor, o Papa Joáo Paulo II professou e desenvolveu essa concepcáo otimista: "A universalidade da salvagáo em Cristo nao significa que eia se
destina apenas aqueles que, de maneira explícita, créem em Cristo e entraram na Igreja. Se é destinada a todos, a salvagáo deve ser posta
concretamente á disposicáo de todos. É evidente, porém, que, hoje como no passado, muitos homens nao tém a possibilidade de conhecer ou acei tara revelagáo do Evangelho, e de entrama Igreja. Vivem em condigóes socioculturais que o nao permitem, e freqüentemente foram educados noutras tradigóes religiosas. Para eles, a salvagáo de Cristo tornase acessívelem virtue de urna graga que, embora dotada de urna misteriosa reíagao com a Igreja, todavía nao os introduz formalmente nela, mas ilumina convenientemente a sua situagáo interior e ambiental. Esta graga provém de Cristo, é fruto do seu sacrificio e é comunicada pelo Espirito San to: ela permite a cada um alcangara salvagáo, com a sua livre colaboragáo. "Por isso o Concilio, após afirmar a dimensáo central do Misterio Pascal, diz: 'Isto nao vale apenas para aqueles que créem em Cristo, mas para todos os homens de boa vontade, no coragáo dos quais opera invisivelmente a graga. Na verdade, se Cristo morreu por todos e a vocagáo última do homem é realmente urna só, isto é, a divina, nos devemos acreditar que o Espirito Santo oferece a todos, de um modo que só Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao Misterio Pascal" (nB 10). Tal concepcáo está longe de induzir ao relativismo, pois o Concilio afirma a singularidade da Igreja Católica fundada por Cristo e entregue ao pastoreio de Pedro e seus sucessores; cf. Lumen Gentium na 8; Unitatis Redintegratio nB 8. A encíclica Ut unum sint de Joáo Paulo II aplica estas idéias ás comunidades cristas nao católicas, reconhecendo nelas valores que de-
vem ser levados á sua plenitude: "10. O Concilio diz que 'a Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católi ca, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunháo com ele', e contemporáneamente reconhece que fora da sua comunidade vi-
sível, se encontram muitos elementos de santificagáo e de verdade, os quais, por serem dons pertencentes á Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica'. " 'Por isso, as Igrejas e Comunidades separadas, embora creíamos que tenham defeitos, de forma alguma estáo despojadas de sentido e de
significagáo no misterio da salvagáo. Pois o Espirito de Cristo nao recusa 502
A SALVAgÁO FORA DA IGREJA VISÍVEL
23
servirse délas como de meios de salvagáo cuja virtude deriva da própria plenitude de graga e verdade confiada á Igreja Católica'. "11. Desse modo, a Igreja Católica afirma que, ao longo dos dois mil anos da sua historia, foi conservada na unidade com todos os bens
que Deus quer doar a sua Igreja, e isso apesar das crises, por vezes
graves, que a abalaram, as faltas de fidelidade de alguns dos seus minis
tros, e os erros que diariamente investem os seus membros. A Igreja
Católica sabe que, gragas ao apoio que Ihe vem do Espirito Santo, as fraquezas, as mediocridades, os pecados, e ás vezes as traigóes de al guns dos seus filhos, nao podem destruir aquilo que Deus nela infundiu tendo em vista o seu designio de graga. E até 'as portas do inferno nada poderáo contra ela' (Mt 16,18). Contudo, a Igreja Católica nao esquece que, no seu seio, muitos eclipsam o designio de Deus. Ao evocar a divi-
sáo dos cristaos, o Decreto sobre o ecumenismo nao ignora 'a culpa dos homens dum e doutro lado', reconhecendo que a responsabilidade nao pode seratribuida somente aos 'outros'. Porgraga de Deus, porém, nao foi destruido o que pertence á estrutura da Igreja de Cristo e nem mesmo aquela comu nháo que permanece com as outras Igrejas e Comunidades eclesiais. "Com efeito, os elementos de santificagáo e de verdade presentes ñas outras Comunidades cristas, em grau variável duma para outra, constituem a base objetiva da comunháo, aínda imperíeita, que existe entre elas e a Igreja Católica. "Na medida em que tais elementos se encontram ñas outras Comu nidades cristas, a única Igreja de Cristo tem nelas urna presenga operante.
Poresse motivo, o Concilio do Vaticano II fala de certa comunháo, embora imperíeita. A Constituigao Lumen Gentium ressalta que a Igreja Cató lica 'vé-se unida por muitos títulos'a estas Comunidades, por certa uniao verdadeira no Espirito Santo". No Brasil (como em outros países latino-americanos) o protestan tismo se acha assaz matizado: ao lado de denominacoes tradicionais, encontra-se o pentecostalismo, muito marcado pelas emocóes subjeti vas. Pode-se crer que muitos membros de tais comunidades estejam de
boa fé ou candidamente fora da Igreja Católica; estao compreendidos na categoría de nao católicos de que tratam Lumen Gentium 16 e Gaudium et Spes 22. Verifica-se, porém, que algumas recentes denominares
pentecostais sao ferrenhamente agressívas á Igreja Católica no intuito de a destruir (caso isto fosse possível); recorrem a falsas alegacoes ins piradas por preconceitos cegos. Isto suscita a pergunta: o Espirito Santo opera também naqueles que asslm procedem? Nao se vé como dar resposta positiva a esta questáo; diz o Senhor Jesús que a mentira tem por pai o próprio Satanás (cf. Jo 8,44). Queira o Espirito Santo ilumínar-lhes a mente e converté-los á Verdade e ao Amor! 503
Na Ordem do Día:
RELIGIAO: FATOR DE PROSPERIDADE MATERIAL?
Em síntese: Os dois artigos seguintes analisam a tendencia de aigumas correntes contemporáneas a apresentara religiao como fatorde enriquecimento e solugáo de problemas temporais. Os respectivos auto res sao protestantes, que, por isto mesmo, gozam de autoridade especi
al, visto que alguns grupos protestantes atraem os crentes com promessas gratuitas de milagres e prosperidade.
A revista protestante ULTIMATO, em seu número de julho 1998, pp. 3 e 4, publicou dois artigos relativos á alegacáo de que religiao traz prosperidade material e solucáo de problemas temporais. As ponderacoes apresentadas sao muito sabias e pertinentes; revestem-se de parti cular autoridade pelo fato de que, principalmente em ambientes protes tantes, se apregoa tal concepcáo de religiao. Váo, a seguir, reproduzidas as duas páginas, cujos autores ficaram no anonimato. «O CASAMENTO DA RELIGIAO COM O CIFRÁO
Cresce cada vez mais o casamento da religiao com a prosperida de. O ter continua atraindo mais que o ser. O fim principal do homem nao é glorificar a Deus nem gozá-lo para sempre, como queriam os teólogos da Assembléia de Westminster na metade do século XVII. O fim principal do homem é a seguranca financeira, sao os bens de consumo, é o con forto proporcionado pela máquina, é a beleza do corpo, a bejeza da roupa, a beleza das jóias, a beleza da casa, a beleza do carro. O que se valoriza, é a criatura e nao o Criador, a saúde do corpo e nao a saúde da alma, o tempo presente e nao a eternidade. A religiao está em alta. A explicacáo dada pela escritora Walnice Nogueira Galváo, professora aposentada de Teoría Literaria da USP, é que "o mundo está ficando táo insatisfeito que as pessoas estáo se voltando para a religiao". Nao importa qual a religiao. Pode ser o cristianis mo, pode ser o esoterismo, pode ser a mistura do cristianismo com o esoterismo (ai está Paulo Coelho). Nao há pureza doutrinária. Nao há necessariamente mudanca de caráter, mudanca de vida. Em muitos ca sos a religiao nao tem provocado renuncia, nao tem provocado desprendimento, nao tem provocado humildade. 504
RELIGIÁO: FATOR DE PROSPERIDADE MATERIAL?
25
Parece que algumas mulheres convertidas ao rebanho evangélico
continuam sexy, como a cantora Gretchen e a modelo Monique Evans. É o que diz a Folha de Sao Paulo (12/4/98). Parece que algumas mulhres convertidas á Renovagáo Carismática Católica continuam fúteis, como a socialite Gisella Amaral, que tem mais de cinqüenta tercinhos para com
binar com a roupa. É o que ela mesma diz. A élite carismática usa colar
de pérola e ouro de 1.344 reais, terco de pérola e ouro de 672 reais, medalha de 600 reais e anéis de ouro de 345 reais. Todas as jóias tém a imagem de Nossa Senhora Milagrosa (Veja, 8/4/98).
Boa parte do movimento neopentecostal, tanto protestante como católico, está comprometido com a chamada Teología da Prosperidade, o oposto da Teologia da Libertacao. O casamento da religiao com a pros
peridade é sólido, mais consolidado que muitos matrimonios entre ho mem e mulher. Nao há sinais de ruptura á vista. A fé religiosa é conside rada um trampolim para a obtencáo e manutengáo da qualidade de vida. Zilda Couto, esposa do dono da construtora Emig, testemunha: 'Há um ano, muitos dos meus imóveis estavam desalugados. Orei para que a situacáo melhorasse e foi incrível: dois meses depois, eles estavam to
dos ocupados'. As béncáos recebidas por meio da oracáo sao quase sempre ligadas á prosperidade. Como, por exemplo, no caso de Cristina Simonsen e Cristina Cabrera, ambas vítimas de ladróes milagrosamente salvas, a primeira de perder um relógio avaliado em 30.000 dólares, e a segunda de perder suas jóias.
O Jesús atual parece proteger a riqueza dos ricos e o Jesús dos velhos tempos mandava ajuntar tesouros no céu, 'onde os ladróes nao arrombam nem furtam' (Mt 6,19). O Jesús de hoje parece encorajar a riqueza e o Jesús de ontem explicava que 'mais bem-aventurado é dar
do que receber' (At 20,35). O Jesús deste final de século parece nao esvaziar os bens de ninguém e o Jesús do Evangelho encorajava o esvaziamento das riquezas, em beneficio da própria pessoa, em beneficio alheio e em beneficio do reino de Deus (Le 18,18-30; 19,1-10). No casamento da religiao com o cifráo há coisas muito esquisitas.
Hoje, o perigo é Jesús nos causar um desapontamento, como se pode
ver nestas palavras de Ángela Guerra, esposa do ex-ministro Alceni Guer ra: 'Nao pego as coisas a Jesús para amanhá. É para hoje. Oro e pego que Ele nao me desaponte'. Ontem, o perigo era nos desapontarmos a Jesús.
O lado mau desse novo despertar religioso é que os novos crentes nao conseguem enxergar o valor das riquezas acumuladas no céu. Sao
como aquele homem muito rico que procurou Jesús e depois desistiu dele (Le 18,18-23)»». 505
26
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
«Riqueza e sabedoria
Qual das duas é mais necessária? Qual é a nossa maior necessi-
dade? O que pedimos a Deus com mais freqüéncia? Parece que está havendo um erro de orientacáo muito grave, que tem causado nao pequeño maleficio á Igreja e, ao mesmo tempo, urna
afluencia enorme de novos crentes. Esse erro de orientacáo agrada á massa e atrai discípulos. Ele se propaga rápidamente pelo pulpito, pela televisáo e pelos livros.
Nunca se orou tanto como hoje em dia. No mundo inteiro. Em to das as reiigioes. Tanto ñas igrejas históricas como ñas igrejas pentecostais e carismáticas, talvez mais nestas que naquelas. Além do seu aspecto devocional, de comunháo com Deus, a oracáo tem sido anunciada e usa da como instrumento válido e certo de adquirir, preservar e aumentar
tesouros na térra. (Veja O casamento da religiáo com o cifrao ñas pági nas anteriores). Por que nao oramos também por outros valores, por outras gracas, por outras béncáos, certamente muito mais necessárias e valiosas que as riquezas? Em nossas oracóes nao temos o costume de suplicar a
Deus coisas como amor, compaixáo, desprendimento, humildade, paci encia, coragem, entusiasmo, alegría, pureza sexual, direcáo, poder para
testemunhar e assim por diante. Será que esses dons valem menos que as riquezas? Qual desses dois grupos de oracáo contribuí mais para a implantacáo e expansáo do reino de Deus na térra? A oracáo é o instrumento adequado para se adquirir sabedoria,
urna das nossas maiores carencias. É Tiago quem explica: "Se algum de voces tem falta de sabedoria, peca a Deus, que a todos dá livremente, de
boa vontade; e Ihe será concedida" (Tg 1,5 NVI). Foi exatamente isso que Salomáo rogou a Deus, quando era jovem e tinha acabado de subir ao trono de Israel, em lugar de seu pai Davi (1 Rs 3,3-15). Ele fez o meIhor uso possível da oracáo e Deus se agradou muito de sua súplica. Salomáo era um homem encantado com a sabedoria e a ela se refere
quase urna centena de vezes nos livros de Proverbios e Eclesiastes. Outro escritor bíblico apaixonado por esse tipo de sabedoria que promana de Deus, é Jó. E é exatamente Jó que faz comparacáo entre a sabedoria e riqueza. Para ele a sabedoria é muito mais cara que o ouro fino, o ouro de Ofir, muito mais preciosa que o ónix, a safira, o coral, o cristal, as pérolas e o topázio da Etiopia (Jó 28,12-28). A sabedoria a que se refere a Biblia nao é a sabedoria dos sabios
deste mundo. É urna sabedoria sobria, centralizada em Deus, que ensi506
RELIGIÁO: FATOR DE PROSPERIDADE MATERIAL?
27
na a viver e a morrer, que tem fortes conotacóes éticas, que sabe distin guir com acertó a luz das trevas, que promove um bom relacionamento do ser humano com Deus. O ponto de partida dessa sabedoria dinámica é o temor do Senhor. Daí o testemunho de Salomáo: "Para ser sabio é preciso primeiro temer ao Deus Eterno. Se vocé conhece o Deus Santo, entáo tem compreensáo das coisas" (Pv 9,10 BLH). Esse mesmo conceito de sabedoria aparece em Jó (28,28) e nos Salmos (111,10)». A fim de ilustrar os dizeres de táo sabios artigos, seguem-se urna poesía e urna estória cheias de significacáo moral, que também é crista. SEJA!
Se vocé nao puder ser um pinheiro no topo de urna colina, Seja urna arbusto no vale.
Mas seja o melhor arbusto á margem do regato. Seja um ramo, se nao puder ser urna árvore. Se nao puder ser ramo, seja um pouco de relva e dé alegría a algum caminho.
Se vocé nao puder ser almfscar, seja entáo apenas urna tilia, mas a tilia mais viva do lago!
Nao podemos ser todos capitáes; temos de ser trípulacáo. Há alguma coisa para todos nos aquí. Há grandes obras e outras menores a realizar, Eéapróxima tarefa que devemos empreender. Se vocé nao puder ser urna estrada, seja urna senda. Se nao puder ser o sol, seja urna estrela. Nao é pelo tamanho que terá éxito ou fracasso, Mas seja o melhor do que quer que vocé seja! Sem comentarios...
Segue-se urna estória. PENSE NISTO
Logo após a Primeira Guerra Mundial, um jovem piloto inglés experimentava o seu frágil aviáo monomotor numa arrojada aventura ao redor do mundo.
Pouco depois de levantar vóo de um dos pequeños e improvisados
aeródromos na india, ouviu um estranho ruido que vinha de tras do seu
assento. Percebeu logo que havia um rato a bordo e que poderia, roendo a cobertura da lona, destruir o seu frágil aviáo. Poderia voltar ao aeroporto para se livrar de seu incómodo, perigoso e inesperado companheiro 507
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
de viagem. Lembrou-se, contudo, de que ratos nao resistem a grandes alturas. Voando cada vez mais alto, percebeu, pouco a pouco, cessarem
os ruidos que quase punham em perigo sua viagem. Assim é a vida...
Quando "ratos" ameacam destrui-lo por inveja... calúnia... ou male dicencias...
Se o agridem... voe mais alto... Se o ofendem... voe mais alto... Se o acusam... voe mais alto...
Se o criticam... voe mais alto... Se Ihe fazem injusticas... voe mais alto... Lembre-se ... os "ratos" nao resistem ás alturas...
Deus Espirito Santo, por Charles Journet. Tradugáo de José Madureira Beca. Colegio "Obras Básicas74. - Editora Santuario de Aparecida e Editora Perpetuo Socorro do Porto (Portugal) 1998, 145 x 210 mm, 132 pp.
O Cardeal Charles Journet foi um grande teólogo, professor da Universidade de Friburgo (Suíga). Além de obras de Teología Dogmática, deixou escritos de índole ascético-mística correspondentes a retiros que pregava, associando entre si um profundo saber teológico e urna linguagem simples e compreensível. O presente livro resulta do último retiro que Ch. Journet pregou, sendo assim o testamento espiritual do mestre. Compreende duas partes: I. O Espirito Santo no Misterio Trinitario de Deus e II. Virtudes e Dons do Espirito Santo. Esta segunda parte desenvolve a riqueza de gragas que o cristáo recebe através dos sacramentos e explana o significado de cada um dos sete dons do Espirito Santo. "Existe, por exemplo, a virtude da temperanga crista, que nos ajuda a usar todas as coisas que estáo a nossa disposigáo como se fossem apenas emprestadas,... fazendo-nos ver que nao temos um direito abso
luto sobre elas, mas apenas o dever de as usarmos e gerirmos para a nossa felicidade e para a felicidade do nosso próximo" (pp. 88s). O livro muito se recomenda a quem deseje aprofundar a sua vida espiritual.
508
Obra de grande sucesso:
"BRIDA" de Paulo Coelho
Em síntese: O livro Brida de Paulo Coelho relata as etapas de
iniciagáo de urna jovem irlandesa nos segredos da magia. É obra alta
mente fantasiosa, a ponto de carecer de nexo lógico e incidir em contradigóes. O autor se vale de concepgóes panteístas, animistas, reencarnacionistas..., dando-lhes por vezes um rótulo cristáo e bíblico,
que pode iludir muitos leitores. O éxito desta e das outras obras de Paulo Coelho se deve, em grande parte, ao fato de que toca urna fibra neurálgica da sociedade con temporánea: os homens parecem estar cansados do materialismo e do
tecnicismo; nao véem solugáo para graves problemas que afligem o mun do; por isto sao propensos a aceitar a proposta de solugóes maravilhosas ou mágicas, mesmo que venham apresentadas em discurso ilógico e incoerente; o emocional prevalece nao raro sobre o racional em nossos dias.
O cristáo é consciente dos males que afligem a sociedade, mas nao se desliga da razáo e da fé. Sabe que existe a Providencia Divina e que esta jamáis abandona "a obra de suas máos"; Deus sabe tirar dos
males que o homem comete, bens aínda maiores (S. Agostinho). Por isto o cristáo pede a Deus as gragas necessárias para o mundo de hoje, ciente de que a oragáo associada a urna conduta de vida fiel e santa é o tesouro mais valioso de que o mundo precisa.
Paulo Coelho nasceu no Rio de Janeiro em 1947. Aos 25 anos de idade, após certo período vivido ñas funcoes de ator e diretor de teatro, resolveu dedicar-se inteiramente á música e ao jornalismo. Editou em
1972 a revista 2001, que retratava o estilo de vida e o pensamento da década de 1970. A partir desta data, iniciou os estudos de Magia e Ocul
tismo, que o levaram a ingressar em diversas "Ordens Místicas" e partici
par de Seminarios no mundo inteiro. Em 1986, depois de percorrer a pé a rota medieval de Santiago de Compostella, escreveu O Diario de um Mago; no ano seguinte, lancou o livro O Alquimista; em 1990 Brida. Estas obras tém tido edicóes sucessivas e enorme divulgacáo, tornando509
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TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
se um fenómeno da literatura brasileira contemporánea1. Deter-nos-emos sobre o volume BRIDA, que narra o caminho de iniciacáo na magia percorrido ficticiamente por urna jovem irlandesa cha mada Brida. Trata-se, como dito, de ficcao, mas ficcáo que vem chaman do a atencáo do grande público, como se estivesse propondo verdades desconhecidas e extraordinariamente gratificantes. 1. Alguns tragos do livro
A iniciacáo da bruxa Brida O'Fern na magia faz-se na escola de outra bruxa, chamada Wicca, e na de um mago da montanha de Folk.
As etapas desse processo sao acidentadas; implicam visñes, regressio no tempo, leitura de cartas de Taró, etc. A fantasía se esmera por descrever cenas de clareira de floresta, de alto de montanha, de penetracáo em catedral, em biblioteca de subsolo, ritos de cristal de quartzo, de pequeña ametista, nudez...
As concepcóes filosófico-religiosas subjacentes ao enredo do livro sao as do panteísmo revestido de alusóes esdrúxulas á Biblia, como se esta pudesse coadunar-se com aquele. "Somos eternos" (p. 87). "Deus se manifesta em tudo, mas a palavra é um dos seus meios favoritos de agir" (p. 92). 1 Noticia a revista de Domingo do JORNAL DO BRASIL, de 9/08/98, p. 26: «Tratamentó de choque. No dia primeiro de junho de 1996, o engenheiro Pedro Coelho levou seu filho, Paulo, a urna simples consulta na Casa de Saúde Dr. Eiras, em Botafogo. Chegandolá, foram recebidos por urna freirá que, virando-se para o meni no, disse: 'Seu quarto é no nono andar'. Comecava assim a primeira das tres intemacóes sofrídas pelo escritor Paulo Coelho. O prontuario do entáo adolescente de 17 anos tenta justificar a decisao do pai: 'Segundo o pal, o paciente vem apresentando modificacoes psicológicas... tornou-se agressivo, hostilizando abertamente os genitores. Ató politicamente mostrase contrario ao pai'. Aos 85 anos, Pedro Coelho tenta explicar hoje a atitude tomada há 23 anos: 'Havfamos perdido o controle sobre nosso filho. Eu, que sempre quis vé-lo engenheiro, nao podería deixá-lo fazendo
teatro, andando em más companhias, principalmente naquela época, um período muito conturbado. Ainda assim, acho que nao deveria té-lo internado. Se o fíz, foipor recomendagáo módica'.
Paulo Coelho desculpa o pai. Mais: diz que nao há culpa alguma, porque, segundo ele, nao houve crime algum. 'Papai fez aquilo como forma de me proteger, de se aproximar mais de mim. Tanto que, em todas as internagdes, ele nunca deixou de me visitar'. A visita do pai ó urna de suas lembrancas mais constantes. Junto com os luminosos da Bafa de Guanabara, vistos de sua janela, do violáo e da máquina de escrever em seu quarto e dos choques elétricos que tomava. Nao achava muito
ruim, os choques. 'É horrível de ver, mas para quem está tomando é até confortável.
Dá urna certa dorméncia. Eso'».
510
"BRIDA"
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"As palavras eram Deus" (p. 93).
Nao obstante, o autor fala de criacáo (p. 46), conceito que supoe Deus distinto do mundo e nao identificado com o mundo.
As almas se dividem ou repartem, de modo a explicar o aumento da populacáo mundial. Por isto cada individuo tem urna Outra Parte ou Outras Partes, que Ihe correspondem e que se derivaram da mesma alma inicial. As almas ou as partes de alma se encarnam em sucessivas encarnacóes (pp. 43s).
Há, porém, criaturas que descendem dos anjos (p. 69). "O resto da humanidade só conseguirá a uniáo com Deus se, em algum momento, em algum instante de sua vida, conseguir comungar com a sua Outra Parte" (p. 69).
As florestas sao regidas por espíritos, que "gostam de gentilezas ou do pedido de licenca daqueles que desejam penetrar nos seus bos ques" (p. 7).
Afinal de contas, "tudo no Universo tem vida; procure estar sempre em contato com esta vida. Ela entende a sua linguagem" (p. 68). - Isto supóe o animismo ou a animacáo das criaturas irracionais por espíritos superiores. Todo esse ecleticismo filosófico-religioso é acompanhado de lin guagem e conceitos da Biblia e do Cristianismo. Assim o Evangelho (Le
15,8s) é citado em folha de rosto; o salmo 90, á p. 31; o livro do Génesis, ás pp. 45 e 273. A "Noite Escura" de Sao Joáo da Cruz é constantemente citada para indicar o processo de iniciacáo na Magia (cf. p. 26.63.279). O Anjo da Guarda aparece ás pp. 30s.
A Magia é definida como "urna ponte..., urna ponte que permite a vocé andar do mundo visível para o invisível. E aprender as licóes de ambos os mundos" (p. 24). Ora é precisamente o contato com o mundo invisível e seus segredos ou seus misterios que Brida quer conseguir e que os bruxos Ihe ensinam. Quem é iniciado na Magia, "pode gozar de poderes extraordinarios, como o de mudar a direcáo do vento, abrir bura cos em nuvens, utilizando apenas a forca do pensamento. Brida, como
todo o mundo, era fascinada por prodigios dessa natureza" (p. 28). Nao falta a referencia ao amor, vocábulo escrito com A maiúsculo, mas em termos confusos:
"A esséncia da Criacáo é urna só...E esta esséncia se chama Amor. O Amor é a forga que nos reúne de volta, para condensar a experiencia espalhada em muñas vidas, em muitos lugares do mundo" (p. 46). 511
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
2. Que dizer? Proporemos tres pontos de reflexáo.
2.1. Fícelo ilógica 1. Paulo Coelho é um artista de teatro e conserva esta sua vocacao mesmo no exercício da sua obra literaria: gosta de escrever poéticamen
te, recorrendo copiosamente á ficcáo e á imaginacáo. 2. Infelizmente, porém, faltam ao autor os principios da lógica e nocóes fundamentáis de Filosofía, de modo que ele cai freqüentemente em contradices e aberracóes. Destinado como é ao grande público, o livro vem a ser urna escola poderosa de confusáo mental e obscurantis
mo filosófico-religoso. Veja-se, por exemplo, o seguinte: no tocante á origem dos homens, está dito ora que sao eternos (como só Deus), ora que sao descendentes de anjos (criaturas), ora que resultam de reencarnacao de almas que se partem para explicar o crescimento demográfico! - Alias, a suposicao de que as almas humanas se dividem como células para permitir o aumento da populacao é ilógica; o espirito nao tem partes e, por isto, nao se pode repartir.
A teoría de que tudo no universo tem vida, é chamada "animismo";
vem a ser urna das formas mais primitivas e imperfeitas de Filosofía Re ligiosa. Prende-se á concepcáo de que os bosques, os ríos, as montanhas, os mares... tém seus espíritos tutores e governadores. 2.2. A confusáo religiosa A mistura de concepcoes que Paulo Coelho apresenta, se torna mais grave desde que se considere que ele envolve elevados valores do
Cristianismo como se fossem condizentes com tais nocoes. Com efeito; é certo que a Biblia é contraria ao panteísmo, á reencarnacao (cf. Hb 9,27; Jo 1,21), a iniciacáo em segredos reservados a poucos privilegia
dos, á supersticáo das cartas ou do Taró. A "noite escura" de que fala Sao Joáo da Cruz, nada tem que ver
com as etapas de iniciacáo mágica. Mas é a fase de desprendimento das coisas sensíveis e das consolares pela qual passa o cristáo que vai progredindo na vida de oracáo.
Na verdade, embora P. Coelho pareca querer "combater o Bom Combate e manter a fé", como exorta Sao Paulo em 2Tm 4,7 (ver "Répli
ca" em O GLOBO), ele nao o faz como cristáo; nem pode ser tido pelos leitores como arauto de urna determinada modalidade do Cristianismo.
As concepcóes de suas obras nao sao cristas; deve-se mesmo dizer que 512
"BRIDA"
33
nao se filiam a nenhuma corrente de pensamento, porque implicam contradicóes e incoeréncias: o que é afirmado em alguma página do livro, é explícita ou implícitamente negado em outra página. 2.3. Magia A definicáo de Magia como ponte entre o vísível e o ¡nvisível nao é específica da Magia. Ela se aplica propriamente á Mística (= ascensáo
do visível ao invisível). Tal processo de ascensáo é altamente cristáo; a mensagem do Evangelho consiste precisamente em dizer-nos que "Deus se fez visível aos olhos humanos, para que, a partir da intuicáo de Deus encarnado, os homens se deixassem levar ao amor dos bens invisíveis" (cf. Liturgia do Natal). Magia, segundo o Dicionário de Aurelio, é "arte ou ciencia oculta com que se pretende produzir, por meio de certos atos e palavras e por interferencia de espíritos, genios ou demonios, efeitos e fenómenos ex traordinarios, contrarios as leis naturais". - Com outras palavras: Magia é a arte, conhecida apenas pelos iniciados, de forcar ou dobrar a Divindade mediante a execucáo de rituais ou receitas secretas. Isto difere bem da Mística, que supóe sempre humildade e devotamento da criatura a Deus, que é Pai providente. A procura de magia ou de solucoes maravilhosas para os proble
mas que a ciencia e a tecnología nao conseguem resolver, está muito em voga nos nossos dias. A humanidade parece estar cansada do materia lismo e decepcionada pelo cientificismo; vé-se a bracos com problemas
de fome, doencas, analfabetismo, miseria..., que os peritos e técnicos nao conseguem resolver. Há exigua confianca nos homens que regem os destinos dos povos (visto que os problemas sao altamente comple xos). Por isto surge espontamente no psiquismo dos homens contempo ráneos a expectativa de solucoes mágicas ou maravilhosas, descobertas em redutos ainda nao explorados, como seriam as escolas de Ocultismo e Esoterismo.
É esta sede, muito emocional e pouco racional, que explica o sucesso dos escritos de Paulo Coelho. O autor toca em ponto nevrálgico da
sociedade contemporánea, pois apresenta o modelo de alguém que, com éxito, procura os poderes de "mudar a direcáo do vento, abrir buracos em
nuvens, utilizando apenas a torca do pensamento. Brida, como todo o
mundo, era fascinada por prodigios dessa natureza" (p. 28). Estas pala vras do autor sao de grande importancia para se entender a repercussáo
de sua obra: "Todo o mundo" gostaria de mudar as realidades adversas pela simples torca do seu pensamento! A proximidade do ano 2000 con tribuí para agucar a expectativa de uma irrupcáo do Divino e de um outro mundo no mundo presente. 513
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
É preciso, porém, que o raciocinio exerca urna crítica serena e sa-
dia sobre tal proposta de Paulo Coelho. A inteligencia deve preponderar sobre as emocóes, penetrando-as, de modo que nao se tornem ilógicas ou infantis. - O cristáo, de modo especial, é interpelado pelo livro de Paulo Coelho: ele reconhece a inclemencia dos tempos atuais, mas eré e confia na Providencia Divina; sabe que o Senhor nao abandona as cria turas que Ele fez com tanto carinho. As desgracas que atualmente afligem a humanidade, estáo englobadas num plano sabio e santo de Deus. Este tira dos próprios males que os homens cometem, bens ainda maiores, como diz S. Agostinho. Por conseguinte, é na fé e na fidelidade a Deus que o ser humano encontra reconforto e esperanca neste momento. Nao há segredos reservados a poucos privilegiados. Nao há receitas de efeitos maravilhosos, detidas por chefes de grupos iniciáticos. Afir ma o Senhor Jesús:
"Nada há de encoberto que nao venha a ser descoberto, nem de oculto que nao venha a ser revelado. O que vos digo ás escuras, dizei-o á luz do dia; o que vos é dito aos ouvidos, proclamai-o sobre os telhados" (Mt 10,26b-27).
Os anjos existem, sim, mas nao há como os forcar a exercer acáo
benéfica ou maléfica sobre os homens mediante procedimentos mágicos. A Magia, portanto, corresponde a um sonho inspirado pela hybris (arrogancia) do homem, que, no seu íntimo, gostaria de ser como Deus (cf. Gn 3,4s)l
APROXIMA-SE O NATAL... CARO(A) LEITOR(A), ÑAS PROXIMIDADES DO NATAL, MUITAS PESSOAS PENSAM EM DAR PRESENTES. NAO RARO ACABAM
DANDO ALGO DE SUPÉRFLUO OU ALGO QUE O(A) BENEFICIADO(A)
JÁ POSSUI OU AÍNDA ALGO QUE SE CONSOMÉ SEM DEIXAR LEMBRANCA DO DOADOR. DAÍ A PERGUNTA: POR QUE NAO PENSAR
EM OFERECER UMA ASSINATURA DA SUA REVISTA PR, QUE DE-
VERÁ CHEGAR TODOS OS MESES DO ANO SEGUINTE Á CASA
DO(A) AMIGO(A), RECORDANDO-LHE A AMIZADE DE QUEM PRESENTEOU? A REVISTA PR PROCURA ACOMPANHAR OS QUESTIONAMENTOS QUE A VIDA DE CADA DIA SUSCITA AOS Cl-
DADÁOS CONTEMPORÁNEOS, PROPONDO-LHES PARÁMETROS PARA UMA REFLEXÁO CRISTA EM MEIO ÁS DÚVIDAS E AOS DE
SAFÍOS DE NOSSOS TEMPOS. NAO SERIA O CASO DE PROMOVÉ-
LA E PROPAGÁ-LA?
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Ecleticismo irreverente:
"NA MARGEM DO RIO PIEDRA EU SENTEI E CHOREI" por Paulo Coelho
Em sfntese: Paulo Coelho escreve um romance em que o amor de dois jovens se estreita em torno de valores religiosos ou "místicos". O rapaz é iniciado numa religiáo tendente a mitología (venera a Máe Térra, assemelhada á Virgem Santíssima, que, porsua vez, é tida como deusa ou como a face feminina de Deus); é seminarista católico, que realiza milagres, mas renuncia ao Seminario e a faculdade de realizar milagres para se unir a jovem Pilar, amiga de infancia, que ele reencontra após onze anos de ausencia, tornando-a adepta de suas crengas religiosas, "místicas" e ecléticas.
O livro é fantasioso e irreverente, pois joga com conceitos e valo res da fé católica, misturando-os com elementos de mitología e magia. *
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Paulo Coelho apresenta mais um de seus livros, sempre no género da ficcáo religiosa esotérica; tendo por título "Na Margem do Rio Piedra eu sentei e chorei"1, propóe urna mistura de conceitos cristáos com nocoes de ocultismo e magia. Dir-se-ia que deseja sugerir urna nova etapa do Cristianismo, impregnada de feminismo, ao mesmo tempo que explo ra o namoro e a uniáo de um homem "mago" com urna jovem estudante espanhola de familia católica.
Dadas as suas ambigüidades, o livro merece comentarios. 1.0 ENREDO
O livro conta a estória de dois jovens que na Espanha se conheceram durante a infancia. Terminada a adolescencia, o rapaz partiu, dizendo que ia conhecer o mundo. A moca, chamada Pilar, depois de terminar seus estudos de segundo grau, foi para Saragoca, onde entrou numa
Faculdade. Trocavam cartas, cuja freqüéncia foi-se amiudando da parte do rapaz; ele falava sempre mais de Deus e da Mística, ao passo que ela ia perdendo a fé. Finalmente ele a convida para assistir a urna conferen cia que ele faria em Madrid; Pilar vai ao seu encontró, e fica surpresa por perceber que o jovem é famoso conferencista, realiza milagres e é assediado por muitas pessoas carentes. Ela comeca a se maravilhar pelo 1 Ed. Rocco, Rio de Janeiro 1994, 140 x 236 pp. 515
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vulto desse homem, que também se volta para ela com amor. Os dois se póem a viajar juntos, pois ele quer mostrar á sua amiga o mundo mágico, religioso e místico que ele freqüenta; indica-lhe um Seminario "católico" ao qual está incorporado. Pilar resiste a essas novas idéias, mas vai sen do fascinada por esse homem, que ela ama cada vez mais. Após diver sas peripecias e andancas, que váo de sábado 4 de dezembro a sextafeira 10 de dezembro de 1993, os dois resolvem unir-se. A fim de o fazer com a béncáo da Grande Máe (a Virgem María), o rapaz renuncia ao
dom das curas que ele exerce. Eis o que diz o jovem:
"Ontem eupedia Virgem um milagro... Pedí que retirasse meu dom... Tenho um pouco de dinheiro, e toda a experiencia que anos de viagem me deram. Compraremos urna casa, arranjarei um emprego, e servirei a Deus como fez Sao José, com a humildade de urna pessoa anónima. Nao preciso mais de milagres para manter viva a minha fé. Preciso de vocé"(pp.217s).
Pilar parece nao aceitar a troca. O rapaz desaparece. Ela entáo se póe as margens do Rio Piedra, onde chora, e escreve seu romance. Fi nalmente o jovem reaparece: ela se alegra e ele, tomando-a pelas máos,
leva-a consigo. Ela pergunta:
"Vocé acha que seu dom voltará?"Ao que ele responde: "Nao sei. Mas Deus sempre me deu urna segunda chance na vida. Está me dando
com vocé. E me ajudará a reencontrar o meu caminho" (p. 236).
Assim termina o livro; pode impressionar pela fluencia da narrativa, pela descricáo vivaz de cenas interessantes de amor entre um jovem e urna jovem..., cenas ñas quais Pilar aparece hesitante, mas cada vez mais propensa a aceitar o seu parceiro.
Resta agora analisar os conceitos religiosos que o livro veicula, pois certamente é obra impregnada de senso místico, embora muito con fuso. Paulo Coelho joga com nocoes e vocábulos do Catolicismo; talvez queira passar por católico, mas na verdade é eclético, como se depreende da análise que se segué.
2. ASPECTOS RELIGIOSOS
2.1. Os conceitos de Deus, Deusa...
1. O que mais chama a atencao, no livro, é a ambigüidade do conceito de Deus. Paulo Coelho fala de Deus, Deusa, Deusa-Máe: "O artista conhecia a Grande Máe, a Deusa, a face misericordiosa
de Deus" (p. 111).
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A "Deusa" será a 'lace misericordiosa de Deus"? Trata-se de mera forca de expressáo? 2. Em outras passagens o autor identifica María e a própria Divindade. Assim, por exemplo, ao falar da definicáo do dogma da Imaculada
Conceicáo por Pió IX (1854), Paulo Coelho se mostra entusiasta do fato e afirma que é o primeiro passo do caminho... "do caminho que vai levar
Nossa Senhora a ser considerada a encarnacáo da face feminina de Deus. Afinal já aceitamos que Jesús encarnou sua face masculina" (p. 171). E continua:
"Quanto tempo vai demorar para que aceitemos urna Santíssima Trindade onde a mulher aparece? A SS. Trindade do Espirito Santo, da Máe e do Filho?" (p. 171). Ora aqui há auténtica deturpacáo de urna verdade da té cara a todos os cristáos. As afirmacóes sao levianas; fazem jogo de palavras que nao tém lógica, ou nao resistem ao crivo da razáo. O desejo de agra
dar ao feminismo pode ter inspirado tais dizeres. Alias, o livro inteiro re vela grande "devocáo" a María SS.; todavía a Santíssima Virgem é enten dida quase como figura mitológica; o autor usa vocabulario quase católi co, mas entende-o em sentido nao católico; nunca se poderá equiparar María a Jesús, sendo ambos (cada qual a seu modo) a encarnacáo de Deus, como propóe Paulo Coelho. Sao inaceitáveis os dizeres: "As pessoas rezavam, cantavam, dangavam na chuva, adorando a Deus e a Virgem María...". Mais adiante:"... abengoado por Deus e pela
Deusa" (p. 142). 3. A confusáo se torna mais grave e explícita na seguinte passa-
gem, em que o jovem conversa com Pilar a respeito de María SS.: "Ela foi normal. Teve outros filhos. A Biblia nos conta que Jesús teve mais dois irmáos. A virgindade na concepgáo de Jesús se deve a outro fato: María inicia urna nova era de graga. Ali comega outra etapa. Ela é a noiva cós mica, a Térra, que se abre para o céu, e se deixa fertilizar. Neste momento, gragas á sua coragem de aceitar o próprio desti
no, ela permite que Deus venha á Térra. Ese transforma na Grande Máe... Ela é o rosto feminino de Deus. Ela tem sua própria divindade" (p. 86). O autor deturpa o conceito de virgindade de María. Veja-se: a) admite que María teve mais de um filho. Ignora o sentido da
palavra irmáo (= adelphós, em grego; 'ah, em hebraico) nos livros sa517
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grados. 'Ah pode significar familiar ou párente em sentido ampio, como
se depreende de Gn 13,8; 29,12.15; 31,23; 1Cr 23,21-23; 2Cr 36,10... É
de notar também que Jesús, ao morrer, entregou sua Máe aos cuidados de Joao, filho de Zebedeu e Salomé (cf. Jo 19,25-27); por que o teria feito, se María tinha outros filhos? O assunto já foi amplamente conside rado em nosso Curso de Diálogo Ecuménico, Módulo 23 (Caixa postal 1362, 20001-970 Rio, RJ);
b) María é dita "a noiva cósmica, a Térra (com maiúscula), que se abre para o céu e se deixa fertilizar"... Que significa isto? A afirmacáo tem sabor mitológico; a Terra-Máe sempre fecunda é, sim, urna figura das mitologías antigás;
c) "María tem a sua própria divindade". A sá razáo pergunta: existe mais de urna Divindade? Paulo Coelho recua ao politeísmo e á mitolo gía? Será isto condizente com o século das luzes (como se chama o século XX)? Vé-se que o próprio autor recusa definir-se; o diálogo do jovem com Pilar é interrumpido sem que haja esclarecímento.
A confusáo ou a falta de lógica é aínda mais pronunciada no trecho abaixo:
"Ficamos ali, aos pés da Virgem... Ela nos olhava. A camponesa adolescente que dissera Sim ao seu destino. A muiherque aceitou levar no ventre o filho de Deus, e no coragáo o amor da Deusa. Ela era capaz de compreender" (p. 120).
4. Na passagem seguinte a linguagem aproxima-se do panteísmo
(tudo é Deus ou tudo é a Divindade):
"Quem parte em busca de Deus, está perdendo seu tempo. Pode percorrer muitos caminhos, filiarse a muitas religióes e seitas - mas, desta maneira, jamáis irá encontrá-Lo.
Deus está aquí, agora, ao nosso lado. Podemos vé-lo nesta bruma, neste chao, nestas roupas, nestes sapatos. Seus anjos velam enquanto dormimos, e nos ajudam enquanto trabalhamos. Para encontrar Deus, basta olhará nossa volta" (p. 160).
5. O texto se prolonga na seguinte afirmacáo:
"Para vocé teruma vida espiritual, nao precisa entrar para um se minario, nem fazerjejum, abstinencia e castidade. Basta terfé e aceitar Deus. A partir daf, cada um se transforma no Seu caminho, passamos a ser o veículo de Seus milagres" (p. 161). '
Tem-se a impressáo de que os milagres sao um sinal normal, quase necessário, da vida espiritual,... sinal independente de ascese (jejum, 518
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abstinencia e castidade...). Ora nao há vida mística sem ascese, para o cristáo. A vida mística supóe a purificacáo do coracáo e a isencáo de paixóes desregradas; o jejum e a abstinencia sao os meios clássicos (recomendados também por nao cristáos) para promover a liberdade e a pureza do coracáo. Ademáis o dom dos milagres é tido pela Teología comO um carisma, que nao pode ser "institucionalizado" ou nao pode ser reduzido a urna etapa necessária do desabrochamento espiritual. 6.0 texto do livro chega a apresentar urna Oracao á Lúa, que Pau lo Coelho coloca nos labios de urna das figuras femininas do seu romance: "Ela abríu os bragos em forma de cruz, virou as palmas das maos para cima, e fícou contemplando a lúa.
'Onde fui me meter?, pensei. Vim assistira urna conferencia, termineino Paseo de Castellana com esta louca, e amanhá viajo para Bilbao'.
'Ó espelho da Deusa Térra - disse a moga, com os olhos fechados - nos ensina nosso poder, faze com que os homens nos compreendam. Nascendo, brilhando, morrendo e ressuscitando no céu, vocé nos mos-
trou o ciclo da sementé e do fruto'. A moga esticou os bragos para o céu, e fícou um longo tempo nesta posicáo. As pessoas que passavam olhavam e riam, mas ela nem se dava conta; quem morria de vergonha, era eu, por estar ao seu lado'.
'Euprecisava fazeristo, disse, depois de urna longa reverencia para a lúa. Para que a Deusa nos proteja'" (p. 31). Como se vé, o título de deusa passa agora para a Lúa. A Lúa tem
como símbolo a agua (p. 33); tocar a agua com os olhos fixos na Lúa cheia e ao som de urna flauta é algo que faz a muiher reconhecer um pouco mais a sua natureza de muiher (p. 33). As muiheres aprendem da Grande Máe, que parece ser a Térra ou até as cavernas (p. 32), sendo que Cibele (figura das religides antigás da Grecia) é "urna das manifestacóes da Grande Máe... governa as colheitas.sustenta as cidades, devolve á muiher o seu papel de sacerdotisa" (p. 33). Finalmente a moca que rezou á Lúa e que venera a Grande Máe, confessa: "Fago parte da religiáo da Térra" (p. 34). Mesmo quem leia com boa vontade as páginas de Paulo Coelho,
encontra serias dificuldades para concatenar os conceitos do autor, colocando-os em ordem sistemática e lógica. Nao se percebe o que o autor quer dizer propriamente; é certo, porém, que através de suas afirmacóes
confusas e incoe rentes há nítida tendencia a favorecer a exaltacáo da muiher; o livro assim está "na crista da onda".1 - Julgamos que Paulo 1 Especialmente a figura de María Santfssima é mal tratada pelo modismo contempo
ráneo. Lé-se na imprensa do Rio de Janeiro urna noticia cuja fonte nao nos foipos519
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Coelho poderia ter realizado seu propósito feminista sem recorrer á mitologia e a falsas alegajes religiosas; a mitología foge da realidade e re cua a um estágio ultrapassado da historia da humanidade. 2.2. A Nocáo de Religiáo
Em conseqüéncia de táo confusas concepcoes de Deus, compreende-se que Paulo Coelho tenha urna nocáo muito relativista de religiáo; todas tém o mesmo valor doutrinário, embora nao convirjam entre si, como se depreende dos dizeres seguintes:
"A verdade está sempre onde existe fé. Olhei de novo a igreja á minha volta - as pedras gastas, tantas vezes derrabadas e recolocadas no lugar. O que fazia o homem insistir tanto, trabalhar tanto para recons truir aquele pequeño templo - num lugar remoto, encravado em montanhas táo altas? Afé.
- Os budistas estavam com a razáo, os hindus estavam com a razáo, os indios estavam com a razáo, os mugulmanos estavam com a ra záo, osjudeus estavam com a razáo. Sempre que o homem seguisse com sinceridade - o caminho da fé, ele seria capaz de unirse a Deus, e operar milagres.
Mas nao adiantava apenas saber isto: era preciso fazer urna escoIha. Escolhi a Igreja Católica porque fui criado nela e minha infancia estava impregnada de seus misterios. Se tivesse nascidojudeu, teña escolhido o judaismo. Deus é o mesmo, embora tenha mil nomes; mas vocé precisa escolher um nome para chamá-lo" (p. 112)
Paulo Coelho apresenta o herói do livro como seminarista: "Entrei para um seminario aqui perto. Durante quatro anos estudei tudo o que
podia. Neste período fiz contato com os Esclarecidos, os Carismáticos, as diversas correntes que procuravam abrir portas fechadas havia muito tempo... Havia um movimento de retorno á inocencia original do Cristia nismo" (p. 113).
sível identificar com precisáo: "A forja de Nossa Senhora
Um dos títulos mais fortes na máo da agente literaria Lucia Riff, Mary's message to the worid, de Annie Kirkwood (Putnam), historia de urna mulher que se comunica com Nossa Senhora, foi parar com a Record. Na Bienal, Sergio Machado fez oferta irrecusável, nao deu nem para Lucia abrir leiláo. Tudo indica que Nossa Senhora é o novo fíláo esotérico, prestes a deshancara mania dos anjos (o que, alias, só confir
ma o estupendo radar de Paulo Coelho nessa área, urna vez que Na margem do Rio Piedra é justamente sobre a imagem feminina de Deus)". 520
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O próprio Superior do Seminario (que o autor confunde errónea mente com mosteiro, pp. 113 e 126, e com convento, p. 157) parece ceder á visáo "carismática" de Paulo Coelho (pp. 164s).
3. REFLEXÁO FINAL 1. O livro de Paulo Coelho pode exercer atracáo sobre o grande público, porque toca numa fibra delicada do coracáo humano: o senso do misterio. Deus é, sem dúvida, transcendente, e essa grandeza misterio sa de Deus parece falar ao coracáo de todo homem que procure o senti do da vida: Deus é fascinante, como dizem os historiadores da Religiáo. Todavía o senso do misterio ou a Mística nao pode estar desligado da razáo; se nao, perde-se em devaneios fantasiosos, em associacáo de conceitos que nao se combinam entre si e que redundam em vazio jogo de palavras. A razáo tem o direito de examinar a credibilidade das proposicoes de fé e de Mística que Ihe ocorrem; embora a razáo nao atinja o ámago do misterio de Deus, que é transcendental, ela pode e deve pro curar as credenciais das teorías de fé que Ihe sao propostas. Nao basta
falar "bonito" e piedosamente para falar de maneira correta. O grande público que nao tenha iniciacáo filosófica e o hábito da Lógica, pode taivez impressionar-se com as ascensóes místicas de Paulo Coelho; estas, porém, nada significam quando submetidas ao crivo do raciocinio. 2. As incursóes de Paulo Coelho dentro das proposicóes da fé ca
tólica, aludindo á SS. Trindade, á Virgem Maria, as aparicóes de Lourdes, aos carismas do Espirito Santo... ferem o senso religioso dos cristáos em geral, pois parecem brincar com valores muito preciosos. Maria nao é deusa, nem a SS. Trindade pode incluir urna figura humana em seu mis terio. As verdades da fé nao sao produto da mente humana, mas correspondem á realidade mesma e objetiva de Deus.
3. Vale a pena, sem dúvida, exaltar a mulher e seus predicados, como pleiteia o sadio feminismo. Mas, para tanto, nao é necessário, nem lícito, voltar á mitología grosseira, que admite deuses e deusas (a Máe Térra, a deusa Lúa, Cibele...).
4. A auténtica Mística implica o conhecimento de Deus, distinto do homem (porque Criador do homem),... conhecimento que se faz por ex periencia ou porfamiliaridade com Deus. O cristáo que se entrega ao Pai no cumprimento cotidiano e fiel da sua santíssima vontade, cultiva assim urna certa afinidade com Deus; é a afinidade produzida pelo amor, amor
que abre os olhos da mente e proporciona o conhecimento experimental ou místico. Na verdade, como diz o próprio Jesús, todo cristáo fiel (aquele que ama a Deus coerentemente) é templo da SS. Trindade (cf. Jo 14,23); ele pode ignorar este grande dom, vivendo dispersivamente ou 521
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sempre fora de si; mas pode também tornar-se mais e mais consciente
desta graca, vivendo num diálogo constante com Deus mediante urna conduta generosa e irrestritamente dedicada. Este tipo de comportamento faz a afinidade da criatura com o Criador e ensina a descobrir o miste
rio de Deus. É o que se chama "vida mística" dentro das concepcóes do
Cristianismo. Nada tem que ver com milagres ou dons extraordinarios; alias, estes fenómenos háo de ser considerados criteriosamente para que nao se confundam expressóes (mórbidas?) do psiquismo humano com a acáo do Espirito Santo.1
6. Paulo Coelho tem-se interessado pela magia. Todos sabem apro ximadamente o que este conceito significa, mas é necessário esclaréce lo bem. Com efeito; magia é a arte de dominar as forcas da natureza e da historia mediante fórmulas ou práticas tidas como capazes de sobrepujar os próprios deuses; vem a ser urna deturpacáo da religiao, pois pretende
atribuir aos magos ou a pessoas privilegiadas poderes divinos. Os povos primitivos, na falta de recursos científicos e tecnológicos, procuravam resolver seus problemas pelo uso da magia. Esta pode lograr éxito se ela se baseia (inconscientemente talvez) no aproveitamento de forcas da natureza ou no sugestionamento que ela incute a quem Ihe dá crédito. Para enfatizarsua autoridade, os magos dos povos primitivos se reuniam em grupos secretos, que tinham cada qual seu patrono; submetiam-se a um processo de ¡niciacáo, que sign¡f¡cava a morte ao velho homem e a ressurreicáo de um novo ser, dotado das faculdades e prerrogativas dos colegas-magos.
Em conclusáo, pode-se dizer que o livro "Na margem do Rio Piedra..." joga com valores religiosos muito caros aos cristios e, por isto, merecedores de respeito, mesmo da parte de um romancista. O fato de citar o místico cristáo Tomás Merton á p. 11 nao legitima o conteúdo da obra. 1 Os mestres da vida espiritual chamam a atengáo para o caráter ambiguo que podem teros fenómenos extraordinarios, táo almejados pormuitaspessoas religiosas. Nao raramente (embora nem sempre) provém da fantasía do fiel, instigada talvezpor alguma tendencia doentía ou pela vaidade, a curíosidade... Efe o que a propósito escreve Sao JoSo da Cruz:
"Importa saber que, nao obstante poderem ser obra de Deus os efeitos extraordi narios que se produzem nos sentidos corporais, é necessário que as almas nao os queiram admitir nem terseguranga nales; antes, é preciso fugir inteiramente de tais coisas, sem querer examinarse sao boas ou más. Porque quanto mais exteriores e corporais, menos ceño 6 que sao de Deus. Com efeito, 6 mais próprio de Deus comunicarse ao espirito - e nisto há para a alma mais seguranga e lucro - do que aos sentidos, fonte de freqüentes erros e numerosos perigos... Há tanta diferenga entre a sensibilidade e a razio como entre o corpo e a alma e, na realidade, o senti do corporal é táo ignorante das coisas espirituais como um jumento o é das coisas racionáis, e mais aínda" (A Subida do Monte Carmelo, I. II, cap. XI, 2).
"Émelhorpadecerpor Deus do que fazer milagres" (Ditos de Luz e Amor, n. 181). 522
Diz-se...
SEXO SEGURO?
Em síntese: O Dr. Celso de Almeida Kundlatsch, CRM 9.501, em
Sao Paulo, afirma que a camisinha é falha em31% dos casos em que é aplicada. Para saber se alguém está ou nao contaminado pelo HIV, é indispensável o exame de sangue antí-HIV, feito sob a orientagáo de um médico. A abstinencia e a monogamia conjugal mutuamente fiel constituem a grande estrategia no combate a infecgáo aidética. *
*
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Apregoa-se constantemente que os preservativos permitem sexo
seguro. - O Dr. Celso de Almeida Kundlatsch, CRM 9.501, em Sao Paulo (SP), tem-se dedicado ao estudo de tal assunto - o que Ihe fornece ele mentos precisos para dissertar a respeito. A seguir, vai publicado um artigo desse benemérito pesquisador, que dissipa preconceitos e mal entendidos relativos a tal questáo. - A Direcao de PR agradece a esse gentil colaborador mais esta valiosa contribuicáo científica. HIV E PRESERVATIVOS
1. O virus causador da Aids, o HIV, pode ser transmitido por tres vías principáis: pelo sangue contaminado, pela mae doente para o filho, e por via sexual.
a) O sangue contaminado pode atingir as pessoas pela transfusáo de sangue total ou seus derivados e por instrumentáis sujos com ele, que atravessem a nossa pele, com agulha de injecáo, acupuntura, tatuagem, alicate de unha etc.
b) A máe doente pode transmitir o HIV através da placenta ou durante o parto ou pelo aleitamento.
c) O HIV pode ser transmitido pelo sexo oral, vaginal ou anal. Qualquer pessoa contaminada pelo HIV pode passá-lo para o seu companheiro ou companheira sexual por qualquer dessas vias. Basta entrar em situacáo de risco. O virus pode ser transmitido do homem infectado para a mulher, da mulher infectada para o homem, do homem infectado para outro homem ou da mulher infectada para outra mulher. As vezes urna única relacáo sexual já é suficiente para a contaminacao acontecer. Em outros casos sao necessárias varias relacoes. 523
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2. Considerando a importancia da transmissáo sexual do HIV na epidemia de Aids, as estrategias de prevencáo se concentram em identi ficar e promover práticas sexuais que sejam "de risco menor", como se diz. Como o nome indica, sao consideradas "de risco menor" que outras
práticas sexuais, pois há a evidencia de que elas reduzem, mas nao necessariamente eliminam, o risco da transmissáo sexual do HIV de um parceiro para outro.
"Sexo mais seguro" ou "menos arriscado" ou "de risco menor" sao os termos para designar práticas sexuais que tém menor probabilidade
de passar HIV (human immunodeficiency virus) de um parceiro sexual para outro, durante a atividade sexual.
O termo "sexo seguro" foi inicialmente usado para denominar essas práticas, mas as evidencias indicam, já há algum tempo, que poucas práticas sao completamente livres de risco. Portanto, "sexo mais segu ro", "sexo menos arriscado" ou "sexo de risco menor" devem substituir o termo "sexo seguro", que alguns, erróneamente, teimam em usar. Na
literatura internacional o termo "safe sex" foi substituido por "safer sex". 3. Para saber se urna pessoa está ou nao contaminada pelo HIV é necessário o exame de sangue anti-HIV, feito sob a orientacao de um
médico.
Pela aparéncia nao se pode saber se alguém nao está contamina do. Só porque o(a) parceiro(a) nao leva jeito de ter HIV. Supergata sofis ticada, garata de boa familia, amiga de turma, colega de trabalho, nivel social e cultural altos, porque ele ou ela tem carro importado e boas ma-
neiras etc., nao sao garantías. É indispensável o exame de sangue. Nao
é possível fazer teste de Aids pelo olho.
Urna estrategia ampia de prevencáo usa múltiplos recursos para proteger o maior número possível de pessoas sob risco.
A abstinencia e a monogamia mutuamente fiel1 sao partes dessa
estrategia.
As camisinhas claramente tém um papel central no "sexo de risco
menor", para aqueles que nao sao mutuamente monógamos. Urna metanálise de diversos estudos sobre a transmissáo sexual do HIV em heterossexuais concluiu que a eficacia da camisinha é em torno de 69%, muito abaixo do suposto. A protecáo oferecida está diretamente relaci onada com o uso correto do preservativo e a sua qualidade. Em media, em 31% dos casos, a camisinha nao garante contra a Aids. Tres relacoes com a camisinha tém o risco equivalente a urna relacáo sem camisinha. É muito.
1A Ética natural e a Moral católica entendem a expressáo no sentido de monogamia
conjugal. (Nota da Redagáo)
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SEXO SEGURO?
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Pessoas que fazem uso de tóxicos na veía ou tém múltiplos parceiros ou tém relacáo sexual com estas pessoas, sao de alto risco. Cautela. 4. Os exames de sangue normalmente usados detectam os anticorpos que o organismo produz contra o HIV. Para a producáo dos anticorpos, sao necessários de dois a tres meses. Em casos raros leva um pouco mais.
Para ter certeza de que nao estáo contaminados, os namorados, ambos, devem fazer tres exames de sangue, em épocas diferentes: no inicio do namoro, no terceiro mes e no sexto mes. Os exames devem ser feitos sob a orientacáo de um médico porque, as vezes, a interpretacáo dos resultados pode ser meio confusa; já houve casos de pessoas sadias pensarem estar com Aids, nao estando, e cometerem desatinos.
Durante os seis meses de estudo do sangue, praticando a absti nencia, os namorados devem dialogar muito e se estudar mutuamente para ver se o companheiro(a) merece fé. Até aqui o Dr. Celso de Almeida Kundlatsch.
Acrescentem-se as observacdes de outros dois estudiosos: "PRESERVATIVOS: FALHAM EM 69% DOS CASOS Profilaticamente, está provado que os preservativos de melhorqua-
lidade falham em 69% dos casos. É a brincadeira da 'roleta-russa'. Pes
quisa realizada por Richard Smith, um especialista americano na transmissáo da Aids, apresenta seis grandes falhas do preservativo, entre as
quais menciona por exemplo, a deterioracáo do látex, ocasionada pelas condicóes de transporte e armazenagem. Ainda que os preservativos cheguem em perfeitas condicóes aos usuarios, estes ainda nao seriam seguros. 'O tamanho do virus HIV da Aids é 450 vezes menor que o
espermatozoide. Estes pequeños virus podem passar entre os poros do látex táo fácilmente em um bom preservativo como em um defeituoso' (Richard Smlth, 'The Condom: Is it really safe sex?', Public Education Commitee, Seattle, EUA, julho de 1991, p. 1-3). Nao é com preservativos que se debela o mal da Aids, mas com urna orientacáo condizente com a moral natural. Nenhuma pessoa sen sata e honesta diz: 'Vamos ensinar os pivetes a roubar, mas sem que ninguém corra perigo de vida'. O roubo é imoral. Táo imoral como a promiscuidade sexual. Entáo, por que dizer: vamos ensinar a praticar o ato
sexual promiscuo, com os preservativos, para que ninguém corra perigo de contagio?". (D. Rafael Llano Cifuentes, O GLOBO, 24/02/98) A linguagem dos profissionais é assaz eloqüente por si mesma. 525
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UM FATO REAL Um leitor amigo enviou a PR o seguinte texto, que bem merece divulgacáo:
Sem desejar afastar-me da familia e nao almejando viverna mono tonía de urna semi-reclusáo, decidí aliar-me a urna muiher de 42 anos, quando minha idadejá alcangava os 78.
Tendo saúde relativamente boa, mantinha vigor e invejável virilidade, surpreendendo a muitos de meus conhecidos. Viúvo, desposeí a muiher a quem me retiro; ela é da terceira uniáo. Morávamos numa cidade serrana, enquanto os filhos residiam no Rio de Janeiro. Visitávamos e éramos visitados; tudo ia bem. Nunca tivemos em mente que algum día pudéssemos esperar filhos de nossa uniáo conjugal. Além da idade, minha muiher tomava contraceptivos. Nossa
religiao se restringía a conhecimentos e práticas espiritualistas do Racionalismo Cristáo, e espiritas. Enfim, nao fomos alertados sobre os horrores que ocorrem quando da extirpagáo de um feto. A concepgáo evitava-se sempre e sem qualquer escrúpulo. Tudo caminhava normal, quando, em viagem para urna estagáo de aguas, minha muiher notou vestigios de menstruagáo. Respeitados os "seus dias", entramos num clima de namoro como de hábito. Decorridas poucas semanas, foi constatada gravidez; e gravidez indesejada!... Nem
eu e muito menos minha muiher estávamos preparados para receber tal noticia: nao ficava bem a dois velhos terem nos bracos urna criancinha, produto de nossa extemporánea relagáo amorosa. Pessoas fariam co mentarios desagradáveis e nos levariam á chacota. Perplexos, guarda mos o segredo para nos, enquanto demandamos solugáo ¡mediata. Um día, falei com minha muiher para deixarmos vir a crianga, mas ela foi categóricamente contra; tinha lá suas razóes!...
Consultamos, entáo, os médicos da cidade onde morávamos, e ñas
adjacéncias, para saber como proceder na efetivagáo do aborto. É de
notar que nenhum deles quis submeter-se a tal responsabilidade, em vis ta mesmo do adiantado estado de gestagáo (tres meses), e por outras implicagdes que nos negaram esclarecer.
Passados tres meses, já se podia saber tratarse de urna crianga do sexo feminino. Ceño amigo, urna vez, nos aconselhou a virao Rio de 526
UM FATO REAL
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Janeiro e procurar a policlínica de determinado bairro, onde o aborto era praticado sem restricóes e em grande número. Fomos até lá e marcamos consulta. Isto feito, agendamos a cirurgia. Na data aprazada estávamos lá, numa sala onde diversas mulheres conversavam sobre assuntos obs tétricos. Aguardada a chamada, minha mulher foi conduzida a um recinto, para onde se dirigiu também o médico obstetra que havíamos contrata
do. Fiquei a espera de noticias. Mais de urna hora depois, surgiu na porta o tal médico mostrándose nervoso e ensangüentado. Entrou noutra sala,
de onde saiu trazendo consigo um colega que Ihe segurava a máo. Estranhando tal conduta, tive aumentada a expectativa. Mais um tempo após, sairam os obstetras e chamaram-me de maneira inquietante. Pensei: será que mataram minha mulher!?... Adentrei o quarto, onde encontrei minha mulher toda ensangüentada, como também estavam os dois médicos. Eles tentaram mostrar-me a impossibilidade de executar-se a operacáo. Com efeito, os médicos primeramente consultados, presúmese,
já haviam percebido a dificuldade só agora conhecida pelos doutores ali presentes: o feto, ao pressentir que ia ser atingido pelos instrumentos
cirúrgicos, esquivavase impetuosamente, fazendo evolugdes e dando cambalhotas para defenderse de ser fisgado. Impressionante era sua
luta pela sobrevivencia! Feitas tantas tentativas, concluiram os médicos que nao se devia prosseguir, afirmando que era fato insólito na sua carreirá de 35 anos naquela especialidade! Voltamos para casa decididos a nao mais pensar em extirpar a menina que já passava dos tres meses, repito. Nao demorou, contudo,
fomos aconselhados a submetero caso ao diagnóstico de urna vidente, a qual só nos atendeu por deferencia toda especial. Rondóse ela em esta do de concentragáo, falou persuadindo os pais a nao permitir o aborto: a nascitura teña urna missáo a cumprir na térra. (?!...) Deixamos, pois, a enanca nascer, e hoje tem completos 12 anos. Ela é a nossa maior aiegrial
Sem comentarios. Nao é o oráculo da vidente que interessa no caso, mas a verificacáo de que o aborto é a crueldade dos adultos projetada sobre urna enanca inocente.
527
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 438/1998
PIUS WASN'T SILENT
PIÓ NAO SE CALOU O jornal New York Times publicou em margo pp. a seguirte carta do leitor William A. Donohue a respeito do pretenso silencio do Papa Pió XII frente á perseguiráo dos judeus movida pelos nazistas: Pius Wasn't Silent
To the Editor:
Your March 18 editorial on the Vatican document on the Holocaust chastises Pope John Paúl II for defending "the silence ofPope Pius XII during theThirdReich".
If Pius was "silent" during the Holocaust, why did this newspaper congratúlate him on Dec. 25,1941, forbeing "a lonely volee in the silence and darkness enveloping Europe this Christmas"? And why did it editoríallze the following year that Pius "is a lonely voice crying out ofthe silence ota continent"? William A. Donohue New York, March 18, 1998 The wríter is president of the Catholic League for Religious and Civil Rights. Em traducáo portuguesa: "Ao Editor,
O seu editorial de 18 de margo a respeito do documento do Vaticano referente ao Holocausto censura o Papa Joáo Paulo IIpor defender 'o silencio do Papa Pió XII durante o 39 Reich'.
Se Pió se calou durante o Holocausto, por que é que esse jornal se congratulou com ele em 25 de dezembro de 1941 por ser ele 'a única voz no silencio e ñas trevas que envolvem a Europa neste Natal'? Epor que publicou no ano seguinte outro editorial, dizendo que Pió 'é a única voz que clama no silencio de um continente'? William A. Donohue Nova lorque, 18 de margo de 1998
O missivista é presidente da Liga Católica em prol dos Direitos Religio
sos e Civis".
Esta breve noticia é muito importante, porque evidencia como se faz a onda de um preconceito, devido este á pega de Rolf Hochhut "Der Stellvertreter" (O Representante) apresentada em 1963, dezoito anos após o término da segunda guerra mundial. Durante dezoito anos, judeus e nao judeus reconheceram em Pió XII o corajoso e prudente defensor dos direitos humanos. Estéváo Bettencourt O.S.B. 528
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católica. (Coletánea de artigos publicados na revista "O Mensageiro de Santo Antonio") 28 edicáo. 165 págs. 1997 R$ 7,00.
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N O V I D A D E Dom BENTO SILVA SANTOS, O.S.B. A imortalidade da alma no "Fédon" de Platáo. Porto Alegre, EDIPUCRS (em preparacáo).
Trata-se de um estudo sobre a dímensáo místico-ascética de Platáo, isto é, acerca da conviccáo da existencia de uma vida para além da morte. "Na morte de Sócrates, homem justo, Platáo deixa entrever ao leitor um lampejo de imortalidade e simultaneamente a sua concepcáo radical da filosofía como 'exercício de morte' (...) Mesmo que
seja afirmada através de raciocinios inseguros e limitados, a imortalidade da alma traduz na obra de Platáo uma ansia profunda de busca de explicacóes acerca do problema existencial humano de todos os tempos: com a morte termina tudo ou há uma vida para além da dissolucáo do corpo?" (Conclusáo do lívro). Outros livros de Dom Bento Silva Santos, O.S.B.:
Teología do $vápgélñqdeSao Jpáo. Aparecida:(SP),M$%infü'á/ib, 1994, Íé
"Devo parabenizá-lo pelo éxito neste emprendimento. Estou certo de que sua teolo gía joanina será um instrumento muito útil para o estudo de Sao Joño tanto nos semina rios e cursos superiores de teología quanto em cursos de teología para leigos" (Padre Jaldemir Vitório, S. J., Carta, 3.07.1995).
-Fée Sacramentos no Evangelho de Sao Jóaó..Ápáréciáá^SPÍ[iiÉ^Csájfitii^ rio, 1995,134 págs.%:. :.......:.......:,.i.^-.^^^M\2fiO "Os escritos de Dom Bento demonstram uma ampia e bem organizada leitura das obras importantes para os estudos que vem fazendo. A questáo que o presente voiume estuda é o da relacáo entre fé e sacramentos. 'A salvacáo provém de uma confianca subjetiva {sola fides) ou de uma mediacáo sacramental?"' (Padre Paschoal Rangel, S.D.N., Atualizacáo 256 [1995] 382).
- A experiencia de Deus no Antigo Testamento. Aparecida (SPj,.EcL ;$anfuá¿:■■■
rio, 1996,144 págs
".
;.........:t..v.;..^.¿^
"Este livro dá continuidade a duas obras precedentes do autor, que versam sobre os escritos joaninos, adotando sempre a mesma metódica: explanar o sentido religioso ou
teológico do texto sagrado... explanacáo esta que deve sero ponto de partida da exegese católica. Exorta o Concilio Vaticano II: 'A Sagrada Escritura há de serlida e interpretada segundo aquele mesmo Espirito por quemfoi escrita'(Const Dei Verbum, ne 12)" (Dom Estéváo Bettencourt, O.S.B., Apresentagáo da obra).
Pedidos pelo Reembolso Postal ou pagamento conforme 2a capa.