Ano Xxxix - No. 429 - Fevereiro De 1998

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  • Pages: 54
P rojeto

PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO DA EDIQÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15). Esta necessidade de darmos conta

da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos

bombardeados

por

numerosas

correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade

""

controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se

:

dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar

este trabalho assim como a equipe Veritatis Splendor que se encarrega

de do

respectivo site. Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estéváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos

convenio

com

d.

Esteváo

Bettencourt

e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagao. A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

Ano xxxix Fevereiro 1998 429 A Pará-oikía (paróquia) do Cristáo

A Declaracáo do Rio de Janeiro Sobre a Familia As Organizacoes Internacionais e a Familia Urna conversáo a Vida

A Pdicáo Oficial do Catecismo da Igreja Católica Lutero e Maria Santíssima

Os Doutores da Igreja 989.000.000 de Católicos no Mundo O Tempo na Concepcáo Judaico-cristá

PERGUNTE E RESPONDEREMOS

FEVEREIRO1998

Publicacáo Mensal

Diretor

N°429

SUMARIO

Responsável

Estéváo Bettencourt OSB Autor e Redator de toda a materia publicada

neste

A Declaracáo do Rio de Janeiro Sobre a Familia 50

D. Hildebrando P. Martins OSB e

Distribuicáo:

Edi?óes "Lumen Christi" Rúa Dom Gerardo, 40 - 5o andar - sala 501 Tel.: (021) 291-7122 Fax (021) 263-5679 Enderezo

para

49

No Riocentro:

periódico

Diretor-Administrador:

Administracáo

A Pará-oikía (paróquia) do Cristáo

Uma voz abalizada fala: As Organizacóes Internacionais e a Familia

76

Fala o Rei do Aborto: Uma Conversáo á Vida

70

Agitacáo na Opiniáo Pública:

Correspondencia:

Ed. "Lumen Christi"

A Edicáo Oficial do Catecismo da Igreja

Católica

74

O Protestantismo se afastou...

Caixa Postal 2666 CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Visite o MOSTEIRO DE SAO BENTO e "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" na INTERNET: http://vzww.osb.org.br

e-ma¡l: LUMEN.CHRISTI @ PEMAIL.NET ImpressSoe Encadernacato

Lutero e Maria Santíssima

81

Sania Teresinha entre Os Doutores da Igreja

87

A Linguagem dos Números:

989.000.000 de Católicos no Mundo

91

O Tempo na Concepcáo judaico-cristá ..

93

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA "MARQUES SARAIVA "

GRÁFICOS E EDITORES Ltda. Tels.: (027) 273-9498 / 273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO:

O Papa e as Sagradas Imagens. - "Querido Papa" (Freí Betto): comentarios. -"Macona-

ria e Fé Crista" (J. Scott Horrell). - "A Nova Era diante da Fé Crista" (Cario Maccari). "Católicos pelo Direito de Decidir"; quem sao? - A Indissolubilidade do Matrimonio: Objecóes e Respostas.

(PARA RENOVACÁO OU NOVA ASSIN ATURA:

RS 30,00).

(NÚMERO AVULSO

RS 3,00).

O pagamento poderá ser á sua escolha: 1. Enviar em Carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO

BENTO/RJ.

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3. Em qualquer agencia dos Correios, VALE POSTAL, enderezado as EDICÓES "LUMEN CHRISTI" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ

Obs.:

Correspondencia

para: Edicóes "Lumen Christi"

Caixa Postal 2666 20001-970 Rio de Janeiro -

RJ

y

A PARÁ-OIKÍA (PARÓQUIA) DO CRISTÁO O cristáo utiliza os vocábulos "paróquia, pároco, paroquiano" sem taivez se dar conta de todo o alcance desses termos. Na verdade, sao portado

res de profundo significado.

Com efeito, paróquia vem do grego pará-oikía, o que significa casa ou pousada (oikía) ao lado... (para). Tal é a tenda que o viandante ergue quando faz urna parada na estrada para repousar; nao entra na cidade, mas acam

pa ao lado (ou fora) da cidade, porque nao é cidadáo da mesma nem preten de al¡ fixar residencia; ele quer ir adiante; por isto é pároikos. O vocábulo é muito caro á linguagem bíblica: o povo de Deus e cada um dos seus membros sao tidos como viandantes ou peregrinos sobre a tér

ra, em demanda da Cidade Definitiva, "cujo Arquiteto e Construtor é o próprio Deus" (Hb 11,10). O autor da epístola aos Hebreus chega a dizer: "Nao temos aqui urna cidade estável, mas procuramos a futura" (Hb 13,14). Com muito

acertó o cristáo percebe que este mundo nao pode ser o destino supremo do homem; as contradicóes aqui existentes acenam a urna realidade melhor, em que o Bem e o Mal seráo reconhecidos como tais. Consciente disto, Sao Pedro se refere "aos tempos da nossa paroikía", vocábulo que se traduz geralmente por exilio: "Portai-vos com temor durante o tempo da vossa paroikía" (1Pd 1,17). Na verdade, "a cidadania do cristáo está nos céus, donde ele espera ansiosamente o Salvador, que o levará para a gloria" (Fl 3,20). As mesmas conviccóes se expressam nítidamente na literatura crista dos primeiros séculos. Assim as Atas do Martirio de Sao Policarpo (t 156) saúdam os leitores destinatarios com as palavras: "A Igreja de Deus que é pároca em Esmirna á Igreja de Deus que é pároca em Filomélio". "Ser páro co", no caso, significa "ser viandante acampado a caminho da meta definiti va". Esse mesmo documento refere-se "a todas as paróquias (assentamentos de caminheiros) da Igreja Católica". Um pouco mais tarde, no século III, um cristáo anónimo escrevia a Diogneto, dizendo-lhe: "Os cristáos habitam a sua patria, mas como pároikoi, (viandantes). De tudo participam como cidadáos, mas tudo suportam como estrangeiros. Toda térra estrangeira é patria para eles, e toda patria Ihes é térra estrangeira" (5,5). Tal vocabulario passou para a linguagem católica posterior, mas foi per-

dendo o seu significado originario táo importante. É oportuno reavivar nos

cristáos a consciéncia de que tudo passa neste mundo ("passa a figura deste

mundo" 1Cor 7,31). Isto nao dispensa os fiéis, pároikoi de trabalhar zelosamente na construcáo de um mundo melhor, mas abre horizontes, e ajuda a olhar para o futuro que trará a resposta cabal aos anseios dos homens, resposta que nenhuma obra meramente terrestre, por mais bela que seja, jamáis poderá propiciar. E.B. 49



PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XXXIX-N° 429-Fevereiro de 1998

No Riocentro:

A DECLARAQÁO DO RIO DE JANEIRO

SOBRE A FAMÍLIA

Em síntese: A familia é atualmente ameagada por normas gover-

namentais e costumes que a destroem, ferindo nao somente a Moral ca tólica, mas a própria dignidade humana. O Congresso Teológico-Pastoral realizado no Rio de Janeiro de 1o a 3 de outubro de 1997 reafirmou a Familia "como Dom e Compromisso, Esperanga da Humanidade". O res pectivo texto vai abaixo publicado. *

*

*

Com a devida autorizagáo, publicamos a seguir, precedido de bre ve Introdugáo, o texto das Conclusóes do Congresso sobre a Familia (Rio de Janeiro, 1 "-3/10/97). O texto tem caráter provisorio, mas como tal é altamente significativo, merecendo pleno acato.

Um Congresso Teológico-Pastoral Internacional teve lugar no Rio de Janeiro, de 1 ° a 3 de outubro, quando se realizou o Segundo Encontró do Santo Padre com as Familias. Mais de 2.500 participantes provenien tes de cada continente, representantes de 75 países, reuniram-se por

intermedio do Pontificio Conseiho para a Familia e da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Ouvindo especialistas de todo o mundo e trabalhando em

pequeños grupos, foram explorados os aspectos mais importantes do tema deste Encontró Mundial: A Familia, o Dom, o Compromisso, a Es peranga para a Humanidade. Estas conclusóes sao fruto do trabalho dos participantes desse Congresso.

A DECLARACÁO DO RIO DE JANEIRO SOBRE A FAMÍLIA 1. A FAMÍLIA EM TEMPOS TURBULENTOS 1.1. A familia está sob a mira de ataque em muitas nacóes. Urna ideolo gía anti-família tem sido promovida por organizacóes e individuos que, muitas vezes, nao obedecem a principios democráticos. 50

A DECLARAgÁO DO RIO DE JANEIRO SOBRE A FAMÍLIA

3

1.2. Temos testemunhado urna guerra contra a familia, em nivel tanto nacional como internacional. Nesta década, em Conferencias das Nacoes Unidas, tém sido vistas tentativas para "desconstruir" a fa milia de tal forma que o sentido de "casamento", "familia" e "maternidade" é agora contestado. Tem sido estabelecida urna falsa oposicáo entre os direitos da familia e os de seus membros individuáis. Sob o nome de liberdade, tém sido promovidos "direitos sexuais" espurios e "direitos de reproducáo". Entretanto, estes direitos estáo, de fato, principalmente, a servico do controle populacional. Sao ins pirados em teorías científicas em descrédito, num feminismo ultrapassado e numa mal-direcionada preocupacáo com o meio-ambiente.

1.3. A familia senté os efeitos de urna tendencia neo-totalitária. Ñas so ciedades em que o consumismo e o materialismo substituíram os valores humanos, a pessoa é reduzida a simples coisa. Desta for ma, "liberado" dos eios da familia e da sociedade, o individuo ¡sola do, vítima de urna nova forma de alienacáo, torna-se suscetível a todas as formas de despotismo.

1.4. Urna linha social-materialista, ao lado do egoísmo e da irresponsabilidade, contribuí para a dissolucáo da familia, deixando urna multidáo de vítimas indefesas. A familia está sofrendo com a desvalorizacáo do casamento através do divorcio, da desercáo e da coabitacao. Um clima de permissividade encoraja exploracáo de criancas, o aumento do vicio em drogas e a criminalidade juvenil. Criancas abandonadas vagam pelas rúas, ao passo que outras criangas estáo abandonadas em casa. Tanto a violencia contra as mulhe-

res aumenta, como a violencia do aborto; o infanticidio e a eutana sia calam fundo no coracáo da familia. Na verdade, as familias de hoje estáo ameacadas por urna sub-repticia cultura da morte. 1.5. A dissolucáo da familia é urna das maiores causas da pobreza em muitas sociedades. A maior parte dos pobres do mundo é de mulheres e criancas que sao, muitas vezes, exploradas em sua pobreza. 1.6. A queda da natalidade e o número crescente de idosos dependen

tes está produzindo urna crise económica. As tensóes entre as geracóes aumentam, os mais velhos nao sao sempre respeitados; as tradicóes culturáis se perdem e o tecido social torna-se enfraquecido.

1.7. Entretanto, em face de todos estes desafios, rejeitamos o cliché "a familia está em um estado de crise". Com confianza, proclamamos que, apesar de pressóes sem precedentes, a familia é e sempre será um dom, um compromisso e a esperanca da humanidade! 51

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

2. A FAMILIA COMO DOM

Com a gratidáo ao Senhor, proclamamos os sete dons da familia.

2.1. A familia é o dom do Senhor, o Criador. É a primeira célula, viva e natural da sociedade.

2.2. A familia é alimentada pelo dom mutuo do amor entre marido e es posa no casamento. A pessoa humana é criada para esta doacao de amor, que está no projeto original de Deus.

2.3. A familia recebeu o dom da transmissáo da vida humana - a maternidade e a paternidade.

2.4. Cada crianca é um dom de Deus, com dignidade e direitos ¡natos, desde o momento da concepcáo. 2.5. A vida em familia é um dom diario - um dom que requer amor, paci

encia e sacrificio. É um dom que perpassa as diferentes geracóes numa cadeia ¡nterminável de reciprocidade e solidariedade.

2.6. A familia é um belíssimo dom á sociedade, a toda a humanidade. Nesta primeira escola de virtudes, aprendemos o respeito ao outro, a ajuda mutua e o auto-controle.

2.7. A familia é um dom para a Nova Evangelizacáo. Através da oracáo em familia e do testemunho profético de fidelidade, generosidade e hospitalidade, as familias cristas revelam Cristo ao mundo.

3. A FAMÍLIA COMO COMPROM1SSO Os dons de Deus pressupóem responsabilidades e, portante, o reconhecimento dos seguintes compromissos: 3.1. A familia é o paradigma e requer um compromisso mutuo. Convoca

mos as familias no sentido de refletir e renovar este compromisso, de encontrar tempo para estar juntos, para rezar junto, para se co municar e estabelecer confianca recíproca.

3.2. O primeiro compromisso é o próprio casamento. Convocamos os cónjuges a urna renovada dedicacáo recíproca. Sao sempre benvindos os movimentos cujos objetivos sejam promover a fideli

dade conjugal e a abertura á vida. Convocamos os Governos a le gislar em favor dos elos matrimoniáis.

3.3. A familia é o "santuario da vida". Seu compromisso com a protecáo e a nutricáo da vida, desde o momento da concepcáo, é preenchido verdadeiramente através da paternidade responsável. 52

A DECLARAQÁO DO RIO DE JANEIRO SOBRE A FAMÍLIA

5

Denunciamos toda e qualquer invasáo pública ou privada a este santuario. Chamamos a atencáo especialmente para as novas ameagas á liberdade de reprodugáo, que incluem as campanhas de esterilizagáo em massa.

3.4. Denunciamos, especialmente, os programas de "contracepgáo de emergencia", que estáo sendo promovidos entre as mulheres refu giadas. Na verdade, trata-se da promogáo do aborto em consorcio

com as agencias das Nagóes Unidas e com os grupos de controle populacional. Esta é urna grande injustica com as familias que se encontram em circunstancias trágicas, e envolve riscos para a saúde das mulheres. 3.5. Mais do que nunca, a familia precisa comprometer-se com os nao nascidos. Clamamos por protecáo legal e social para a pessoa do náo-nascido. As familias precisam estar vigilantes em relagáo as novas formas químicas de aborto (abortivos), criados para uso doméstico; além disso, devem estar prontas para as novas tecnologías que ameagam o conceito exato de paternidade: a clonagem, por exemplo. 3.6. O compromisso da juventude com a cultura da vida deve tornar-se

urna prioridade em todos os níveis, a comegar pela educagáo para a vida dentro de casa e na paróquia. 3.7. Clamamos pela solidariedade com as familias cujos membros estáo lutando contra o vicio das drogas, no sentido de criar novas estrate gias para apoiá-las, bem como fomecer um apoio maior a movimentos comprometidos com a integracáo daqueles que sofrem em sua volta á familia e á sociedade. 3.8. O compromisso dos pais em educar seus filhos implica responsabi lidades, embora os pais tenham o direito de escolher a educagáo

que desejam para seus filhos. Rejeitamos a imposicáo de ideologí

as as criancas, através de programas, modelos e métodos que usurpam dos pais seu direito de serem agentes da educacáo. 3.9. Dar urna educagáo auténtica sobre o amor e a sexualidade humana é direito e dever dos pais e deve ser realizado dentro de casa; apoi-

ada, se necessário, por outros, mas que esteja sempre sob a supervisáo e o controle dos pais. Os pais devem-se organizar para resistir

aos esforgos do Estado, dos meios de comunicagáo de massa ou

de grupos de controle populacional para corromper seus filhos.

3.10. A sociedade deve ter compromisso com a familia, mas isso só pode ser atingido urna vez que as familias se tornem protagonistas de 53

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

urna política da familia. A acáo política em beneficio das familias deve ser objetivada no apoio as familias que criam seus filhos em qualquer setor da vida social.

Denunciamos a legislacáo que discrimina familias ou que interfere na vida da familia, em áreas como educacáo, impostos, emprego, saúde, habitacáo, etc. 3.11. O compromisso com as familias pobres e com as enancas abando

nadas deve ser urna prioridade política e social. Clamamos por justica para todas as familias, mas, em especial, por solidariedade as familias pobres. Denunciamos os projetos que controlam o tamanho das familias dos pobres, inclusive as familias de refugiados e familias sob ocupacao. Na verdade, estas familias necessitam de cuidados de saúde primarios, edu cacáo, protecáo legal efetiva, condicóes decentes de vida e de justica

económica. 3.12. Clamamos aos políticos, legisladores e economistas que se comprometam a construir urna economía para as familias, onde a pessoa humana está sempre no centro. A subsidiariedade significa que á familia, nao ao Estado, nao as grandes organizacóes, deve ser dada a responsabilidade na gerencia e no desenvolvimento de sua

própria economía. 3.13. O compromisso da fé em Jesús Cristo cria um elo de unidade den tro da grande familia da Igreja. Convocamos os clérigos para a construcáo da familia espiritual da Igreja através da pastoral das familias ñas paróquias, fato que inclui o ensino e a oracáo pela dignidade da vida humana, do casamento e da familia. Recomendamos urna preparacáo sistemática de seminaristas e preparacao constante de clérigos para a prioridade da familia no cuidado pastoral na paróquia e na diocese. 3.14. Urna espiritualidade mais profunda da familia é necessária para

enriquecer o compromisso, com Cristo, de todos os membros da comunidade de vida e amor.

4. A FAMÍLIA COMO ESPERANCA PARA A HUMANIDADE 4.1. Nestes anos que nos levam ao Terceiro Milenio, fazem eco as palavras do Papa Joáo Paulo II no Primeiro Encontró Mundial em Roma, 1994: "Familias, voces sao gaudium et spes, alegría e esperanca!" 4.2. As familias oferecem a maior esperanca em relacáo ao sofrimento das criancas abandonadas, particularmente aquelas que estáo ñas 54

A DECLARACÁO DO RIO DE JANEIRO SOBRE A FAMÍLIA

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rúas de nossas cidades grandes. Acolhemos os movimentos que facilitam a adogáo e desenvolvem modelos familiares que se devotam a estas changas.

4.3. A esperanga para familias pobres pode ser oferecida pela educacáo das mulheres, por cuidados para com a saúde das criangas, mas,

ácima de tudo, pelas familias mais prósperas que facam urna "opgáo preferencial pelos pobres e desvalidos."

4.4. Acolhemos os rápidos avangos dos métodos naturais modernos de regulagáo da fertilidade, na esperanga de que eles possam ser amplamente divulgados pelo mundo.

4.5. Os diversos movimentos de jovens para a vida e para a familia sao um grande sinal de esperanga para o mundo, nao só como a Igreja do futuro, mas como urna forga ativa na Igreja de hoje.

4.6. Em face de continua disseminagáo das drogas, a familia oferece esperanga para evitar o vicio, curando aqueles que sof rem e reinte grándoos á sociedade.

4.7. Aplaudimos esforgos de movimentos e paróquias que trabalham jun tos e em harmonía para evangelizar familias e para formá-las em seu papel de evangelizagáo. Um entendimento mais profundo do sacramento do matrimonio está enriquecendo a vida da fé e dos sacramentos em muitas familias hoje.

4.8. Regozijamo-nos na esperanga oferecida a familias dissolvidas, par ticularmente familias uniparentais, através de urna evangelizagáo que as acolhe na comunidade da paróquia e reconhece que todas as familias podem evangelizar, aínda que dissolvidas.

4.9. Esperamos por mais cooperagáo ecuménica na familia e nos assuntos da vida humana.

4.10. A esperanga de urna nova evangelizagáo, através de e para as familias é baseada na unidade de fé e de fidelidade á Igreja. Desta

forma, o Evangelho de Cristo, a Boa-nova da familia, ressoará até os confins da térra.

Que o Espirito Santo traga urna renovagáo de nossos coragóes no momento em que nos preparamos para o Terceiro Milenio! Que nos com prometamos com alegría no trabalho que abra urna nova era para as familias, fortalecidas pelo Senhor da Vida, que é o Senhor da Familia.

55

Uma voz abalizada fala:

AS ORGANIZARES INTERNACIONAIS E A FAMÍLIA Prof- Mary Anne Glendon

A familia é agredida por Organizacóes Intemacionais, inclusive a

ONU, em nome dos direitos do individuo, tidos como absolutos. A Profa

Mary Anne Glendon, da Faculdade de Direito da Universidade de Harvard e Presidente da Delegagáo da Santa Sé na Conferencia de Pequim so bre a Mulher, proferiu a respeto notável conferencia ño Riocentro aos 2/10/97, apontando fatos concretos, geralmente ignorados pelo grande público. O nivel da explanacáo é elevado e erudito, evidenciando que se trata de porta-voz devidamente abalizada para falar. Eis o respectivo texto:

A FAMÍLIA E A SOCIEDADE:

AS ORGANIZARES INTERNACIONAIS E A DEFESA DA FAMÍLIA INTRODUCÁO Quanto mais refletimos sobre o tópico "Organizacóes Intemacio nais e a Defesa da Familia", mais perplexidades parecem acumular-se numa única palavrinha "e". Que ligacóes há, ou deveria haver, entre os mais antigos agrupamentos sociais e enormes Organizacóes modernas, que sao táo distantes da vida diaria? A Declaracáo Universal dos Direitos

Humanos da ONU proclama que a familia merece a protecáo da socie-

dade e do Estado1. Mas nao há qualquer evidencia, no paño de fundo histórico da Declaracáo, de que os seus redatores esperassem que a própria ONU desempenhasse um papel relevante na protecáo da familia — exceto naquilo de que as familias poderiam beneficiar-se das ativida-

des humanitarias de agencias tais como a Organizacáo Mundial da Saúde e o Fundo da ONU para a Infancia. Agora que a ONU e suas agencias

especializadas se tornaram burocracias em expansáo, simbióticamente entrelagadas com grandes associagóes intemacionais de lobby, ainda nao está nada claro como instituicóes desse nivel podem melhor atender

as familias. De fato, as atuais atividades de muitas organizacóes intema cionais freqü ente mente levam-nos a interrogar se a familia precisa de

ser defendida por elas ou protegida contra elas! 1 Deciaragáo Universal, Art. 16 (1948). 56

AS ORGANIZAgÓES INTERNACIONAL E A FAMÍLIA

9

O que está fora de discussáo, é que, no mundo de hoje, cada vez mais familias estao sendo atetadas, para o bem ou para o mal, pelas operacóes de varios tipos de agentes internacionais remotos - desde multinacional até órgáos supranacionais (mundiais como a ONU e o Banco Mundial, ou regionais como a Organizacáo dos Estados America nos e a Uniáo Européia), sem falar da vasta gama de Organizacóes Nao Governamentais (um termo que incluí grupos táo diferentes na sua aproximacáo á familia, como a Federacáo Internacional de Planejamento Familiar e a Igreja Católica).

Os efeitos das Organizacóes Internacionais sobre as familias sao as vezes diretos e intencionáis - como acontece com os diversos

servicos prestados pela Igreja através de suas 300.000 organizacóes educacionais, de saúde e ajuda, servindo principalmente as familias mais pobres no mundo. Freqüentemente, entretanto, a vida da familia é afetada por atividades multinacionais dirigidas a outros fins - como

quando urna Companhia transiere suas operacóes, criando empregos em um país e destruindo-os em outro. Quando organizacóes de con trole de populacáo pretendem atuar sobre a familia, típicamente agem

de modo indireto, buscando influenciar agencias nacionais e interna cionais ou grupos privados de servíco social que estáo em contato direto com familias. A minúscula conjuncáo "e" no meu título, portanto, cobre urna rede de relacíonamentos extremamente complexa, alguns benéficos as familias, alguns dañosos, e alguns cujos efeitos sao mistos, ou difíceis de discernir.

O que mais gustaríamos de saber sobre tudo isso, é: como ampliar

os beneficios e, ao mesmo tempo, reduzir os danos? No momento, ainda é muito limitado o nosso conhecimento sobre como todas essas organi zacóes internacionais realmente afetam a vida da familia. Portanto, o que eu gostaria de focalizar hoje sao as atividades relativas á familia de

um único grupo de organizacóes: a ONU e suas afiliadas. Especificamente, desejo chamar a atencáo para urna tendencia surpreendente que está tomando vulto enquanto se aproxima o 50Q aniversario da Declaracáo Universal dos Direitos do Homem da ONU. Essa transformacáo é nada menos do que um multifacetado assalto a diversos principios fun damentáis consagrados na Declaracáo, inclusive a afirmacáo de que a

familia é a unidade social básica, e que ela merece protecáo. Embora estes ataques tragam as bandeiras de varios movimentos de libertacáo,

sugerirei que eles também representam propostas para formas de con

trole social sem precedentes. Finalmente, oferecerei algumas sugestóes baseadas no ensinamento social católico sobre como podemos reconhecer e combater essas tentativas de voltar o projeto dos direitos humanos contra a familia. 57

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

I. A VISÁO DA DECLARAgÁO DE 1948: A FAMÍLIA ENQUANTO OBJETO DE PROTEQÁO DOS DIREITOS HUMANOS

A primeira manifestacáo importante de interesse pela familia feita por urna organizacáo internacional ocorreu em 1948 quando foi emitida a Declaracáo Americana dos Direitos e Deveres do Homem em Bogotá, Colombia. Esse documento notável foi urna das principáis influencias ñas disposicóes relativas á familia da Declaracáo Universal dos Direitos do Homem da ONU, que foi aprovada em Paris, mais tarde no mesmo ano.

Lendo hoje esses dois documentos, nao se pode deixar de notar a inten sa presenca das referencias á familia. Ambas as Declaracóes destacam que a familia é a unidade fundamental da sociedade; salientam que to dos tém o direito de casar-se e estabelecer familia; que o lar é inviolável; que o trabalhador tem direito a um padráo de vida aceitável para si próprio e sua familia; e que a familia em geral, e a maternidade e a infancia em

particular, sao merecedoras da protecáo da sociedade e do Estado2. A De

claracáo da ONU dispóe, adicionalmente, sobre a igualdade dos esposos, e

sobre o direito dos pais de dirigir e escolher a formacáo dos seus filhos3.

Vale a pena refletir sobre por que os redatores desses documentos

de direitos humanos do após-guerra decidiram incluir a familia como ob jeto de protecáo. Cartas mais antigás, como o "Bill of Rights" americano e a Declaracáo dos Direitos do Homem e do Cidadáo francesa, nao mencionavam absolutamente o assunto. A explicacáo parece ser que os re

datores das declaracóes de pós-guerra usaram, até certo ponto, Constituicoes nacionais como modelos. No que concerne as familias, há gran des semelhancas no modo como o tema é abordado ñas Declaracóes e ñas varias Constituicóes de países da Europa continental e América Latina". Mas isso nos leva precisamente a urna pergunta ulterior. Por que esses países acrescentaram a protecáo á familia as suas listas de direi tos políticos e civis tradicionais? Essa transformacáo pode ser atribuida primeramente á influencia dos partidos Sociais Cristáos e Demócratas Cristáos, cujas políticas sobre familia, por sua vez, foram inspiradas pelas 2 Declaragáo Universal, Arts, 16 e 25; Declaracáo Americana, Arts. 6, 7, 9 e 14. 3 Declaracáo Universal, Arts. 16 e 26.

4 Porexemplo, Solivia 1945 (Art. 133: "O matrimonio, a familia e a maternidade estáo sob a protegió do Estado"); Franca 1946 (Preámbulo: 'A nagáo garante ao individuo e é familia as condigóes necessárias para seu desenvolvimento"); Irlanda 1937 (Art. 41: "O Estado reconhece a familia como a primeira, natural e fundamental unidade grupa! da sociedade... Portanto, o Estado garante a protegáo da familia através de sua Constituigáo e autoridade..."); Italia 1947 (Art. 29: "A República reconhece os direitos da familia enquanto unidade social natural baseada no matrimonio"); Espanha 1945 (Art. 22: "O Estado reconhece e protege a familia enquanto instituigáo natural e

fundamental da sociedade com direitos e deveres anteriores e superiores a quaiquer

lei positiva"). Urna linguagem semelhante encontrase na Constituigáo de 1947 do Brasil e ñas Constituigdes de 1946-1947 dos Estados da Alemanha ocupada. 58

AS ORGANIZARES INTERNACIONAL E A FAMÍLIA

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Encíclicas sociais da Igreja Católica. Embora ninguém tenha chamado a atencáo para isso na ocasiáo, um conjunto comum de idéias passou assim dos ensinamentos sociais cristáos, por via da política normal, para a lei naci onal, e eventualmente encontrou seu caminho até as DeclaracÓes de Bogo tá e da ONU. A recepcáo dessas idéias no processo de redacáo da ONU foi possivelmente facilitada pelo fato de católicos proeminentes, particularmen te o filósofo Jacques Maritain e o diplomata libanes Charles Malik, estarem entre os principáis arquitetos do projeto de direitos humanos da ONU. Outra importante ligacáo entre as DeclaracÓes de 1948 e certas Constituicóes nacionais reside na maneira como tratam da familia. As duas declaracóes internacionais pertencem, em forma e em espirito, a um conjunto de instrumentos relativos aos direitos do pós-guerra, que nao sao, filosóficamente, nem libertarios nem coletivistas. Sao baseados antes num conjunto comum de afirmacoes sobre o homem e a sociedade que poderiam ser chamadas dignitaristas ou personalistas. As declaracóes de Bogotá e da ONU indicam, numa linguagem quase idéntica, que todos os homens e mulheres nascem livres e iguais em dignidade e direi tos; que o ser humano é dotado de razáo e consciéncia, e que todos devem agir entre si num espirito de fraternidade5. Ambos os documentos tratam o portador de direitos individuáis, nao como mónade auto-sufici ente, mas como pessoa inserida em relacionamentos comunitarios e fa miliares. A declaracáo da ONU, por exemplo, indica que cada um tem deveres para com a "comunidade, único lugar onde é possível o desenvolvimento livre e completo da própria personalidade"6. Quanto ao problema que nos envolve hoje, é interessante notar que a historia das DeclaracÓes de 1948 silencia sobre como suas consi derares relativas á familia deveriam ser levadas a efeito. Tudo indica que os redatores consideravam a protecao da familia como uma tarefa que devia ser cumprida por instituicóes mais próximas das próprias fami lias. O principio de subsidiariedade parece implícito no Artigo 16 da De claracáo da ONU, que estabelece: "A familia... merece a protecao da sociedade [bem como] do Estado". Para além de afirmar um pequeño núcleo de principios fundamentáis que as instituicóes públicas e priva das estariam chamadas a observar, o envolvimento da ONU, em seus primeiros anos, com as familias ficou básicamente limitado a prover assisténcia humanitaria.

Entretanto, com o passar do tempo, a ONU tornou-se uma buro cracia complexa, empregando milhares de funcionarios internacionais. Suas agencias especializadas multiplicaram-se e estenderam seus al cances. Aiguns dos grupos mais novos da ONU, como o Fundo para a 5 Declaragáo Americana, Preámbulo; Declaragáo da ONU, Art. 1. 6 Declaragáo da ONU, Art. 29; cf. Declaragáo Americana, Preámbulo. 59

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Populacáo e o Comité para a Situacáo da Muiher, pretenderam gerenciar a familia mais do que assisti-la. Conforme a burocracia da ONU cresceu e expandiu-se, atraiu grupos de interesse desejosos de influenciar suas atividades, criando relacóes estreitas de trabalho com esses grupos. In felizmente, alguns desses grupos ¡nternacionais de lobby desejavam pro teger a familia tanto quanto lobos desejariam proteger cordeiros. O assalto á familia comecou assim nos bastidores, muito antes de vir a público.

II. O ASSALTO Á FAMILIA: A FAMÍLIA ENQUANTO OBSTÁCULO Para compreender por que e como o principio da protecáo á fami lia passou a ser atacado na ONU, é conveniente considerar urna serie de eventos importantes que aconteceram em 1995. No comeco desse ano, o Secretariado da ONU para o Ano Internacional da Familia publicou um

folheto dizendo: "O principio básico da organizacáo social sao os direitos humanos dos individuos, que foram estabelecidos em instrumentos internacionais dos direitos humanos"7.

Essa idéia parece bastante inocente, mas somente até quando se considera o modo como ela se encaixa na Declaracáo de 1948, que es-

tabelece que a familia é a unidade básica da sociedade. O Secretariado

da ONU previu essa pergunta. É verdade, admitiram eles, que "varios

documentos sobre direitos humanos" referem-se á familia como a unidade social básica, garantindo a sua protecáo e assisténcia, mas "o poder da familia é e deve ser limitado pelos direitos humanos básicos dos seus membros individuáis. A protecáo e assisténcia dispensadas á familia devem salvaguardar esses direitos".

Ninguém pode razoavelmente colocar objecóes a essa proposicáo, se ela apenas significa que nao há direitos que sejam ilimitados, mesmo

aqueles relativos á familia. Mas, junto com outras apreciacóes na ONU, particularmente aquela que erosionava sutilmente a autoridade moral dos pais na Convencao de 1989 sobre os Direitos da Chanca8, a orientacáo de 1995 parecía fazer parte de um esforco deliberado para colocar os direitos individuáis em oposicáo as relacóes familiares, para inserir o 7 Depart. da ONU para coordenado de Poli'ticas e Desenvolvimento Sustentado, Secretariado para o Ano Internacional da Familia, Guia Indicativo para Agio sobre Assuntos da Familia (Viena: ONU, 1995), par. 74. 6 Ver Bruce c. Hafen e Jonathan O. Hafen, "Abandoning Children to their Autonomy:

The United Nations Convention on the Rights oí the Child", 37 Harvard Intemational Law Journal 449 (1996), descreyendo como grupos de interesse que fracassaram em política nacional voltaram-se para a arena internacional para obter aceitagáo de sua visáo extremada sobre autonomía das enancas. De acordó com urna publicagáo oficial da ONU, "reconhece-se em geral na comunidade internacional que as organizagóes nao govemamentais tiveram um impacto direto e indireto nesta Convengáo sem paralelo na historia da redagáo de acoróos internacionais". Doek e Cantwell, The United Nations Convention on the Rights of the Child (Amsterdam: Nijhoff, 1992), 23-24. 60

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Estado entre as enancas e os pais, e para minar o status da familia como objeto de protecáo dos direitos humanos. Essa interpretacáo ganhou plausibilidade em novembro de 1995, quando o Comité da ONU sobre os Direitos da Crianca atacou ferozmente a Santa Sé por suas reservas quanto a esses aspectos da Convencáo dos Direitos da Crianca9. Consi derando que todos esses documentos foram publicados pela própria ONU, acontecía que a raposa estava no galinheiro.

Todas as dúvidas relativas a essa avaliacáo foram eliminadas pela conferencia da ONU sobre a Muiher que ocorreu em Pequim em setembro daquele ano10. Quando li pela primeira vez o rascunho do documento da Conferencia preparado pelo Comité da ONU sobre a Situacáo da Muiher, mal pude acreditar no que estava vendo. Como tinha sido possível que o programa de acao proposto para a Conferencia da Muiher pra-

ticamente nao mencionasse o matrimonio, a maternidade, ou a vida em familia em lugar algum de suas 149 páginas? E quando o matrimonio e a vida em familia - e até a religiáo - eram mencionados, apresentavam-se básicamente a partir de um enfoque negativo como fontes de opressáo ou obstáculos ao progresso da muiher! A explicacáo é que o Comité da ONU sobre a Situacáo da Muiher se havia tornado, em grande parte,

ferramenta de grupos de interesses particulares que promoviam um tipo de feminismo já ultrapassado nos próprios países onde se originara. O rascunho de Pequim repetiu assim muitos dos desgastados "clichés" do feminismo de 1970 - um feminismo que havia alienado a grande maioria

das mulheres, através de sua desatencáo para os problemas da vida real no trabalho e na familia, mediante a sua hostilidade aos homens e sua infeliz indiferenca quanto ao bem-estar das enancas11. Ñas negociacoes previas a Conferencia, esses ataques feministas

da velha guarda contra a familia foram combinados com esforcos para promover urna noció mais recente: a idéia de que a familia e a identidade sexual sao apenas categorías arbitrarias, construidas socialmente, e infinitamente maleáveis. Na própria Conferencia de Pequim, urna coalisáo, liderada pela Uniáo Européia, continuou esse esforco duplo para "desconstruir" a familia e remover qualquer referencia positiva ao matri monio, á maternidade, á familia, aos direitos dos pais e á religiáo. 9 Comité da ONU sobre os Direitos da Crianca, notas de imprensa de 16 e 25 de novembro de 1995, citadas em Matt Daniels, Revolution by Treaty: An Analysis of the U.N. Convention on the Rights of the Child (Washington: Free Congress Foundation, 1996), p. 12. Este Relatório da ONU também ataca a Igreja Católica por conservar escolas para um só sexo, assim como o sacerdocio masculino! 10 Para urna descrigáo mais detalhada, ver Glendon, "What happened at Beijing", First Things, Janeiro de 1996. p. 30. " Ver Elizabeth Fox-Genovese, 'Feminism is not the Story of my Ufe': How Today's

Feminist Élite Has Lost Touch with the Real Concerns of Women (New York: Doubleday, 1996). 61

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Aquelas delegadas pareciam desconhecer que a linguagem que

tentavam remover dos documentos de Pequim, sao centais na maioria de suas próprias Constituicóes nacionais! Foi um panorama triste ver muiheres da Franca, Irlanda, Italia, Alemanha e Espanha tripudiando sobre os direitos humanos que foram ganhos pelos sacrificios de seus próprios pais e máes! E mais triste ainda ver delegadas de muitos países em desenvolvimento permanecerem em silencio, enquanto materias de interesse vital para seus próprios concidadáos eram subordinadas ás agen das dos grupos de interesse do primeiro mundo. Um estranho a essas controversias ficaria imaginando por que al-

guém poderia desejar prejudicar o principio da protecáo á familia, justa mente numa época em que as familias estáo submetidas a tensóes excepcionais em todas as partes do mundo. As respostas padronizadas que se escutam a esta questáo, sao montadas em termos de liberdade individual, igualdade entre os sexos e compaixáo para com as vítimas de abuso marital e infantil. Ouvimos que nao se pode permitir que a familia se interponha no caminho dos direitos das muiheres e das criancas. E que, de qualquer forma, a familia foi definida táo rígidamente que deu injusta preferencia ao casamento heterossexual, em detrimento da cohabitacáo sem matrimonio ou das unióes homossexuais.

Mas acredito que seria um engaño ver estes assaltos ao principio da protecáo á familia meramente como esforcos mal dirigidos para pro mover a liberdade e a igualdade. Eles sao também ligados ao poder e aos interesses, embora seja difícil dizer até que ponto. Muito da lideranca e do apoio financeiro para essas iniciativas provém de pessoas que estáo interessadas nao nos direitos das muiheres ou das criancas ou dos homossexuais, mas na preservacáo dos próprios privilegios. Procuram nao a libertacáo geral, mas o controle social ñas máos deles. Seus motivos menos obvios podem ser vislumbrados nos estranhos direitos novos que propóem - direitos que freqüentemente se tor-

nam facas de dois gumes, "direito para mim, dever para vocé". Os cha mados "direitos reprodutivos", por exemplo, podem representar autono

mía para algumas muiheres, mas também constituem urna cobertura conveniente para esforcos de controle sobre o tamanho das familias po bres por quaisquer meios. O "direito de morrer" proposto pode satisfazer os desejos, de algumas pessoas abastadas, de se sentirem "no controle " até o fím, mas nao se tenha dúvida de que pressagia o dever de morrer para aqueles que estáo doentes, abandonados, e incapazes de pagar pelos cuidados médicos. Quanto aos "direitos sexuais", nao parece fantasioso vé-los como versáo moderna do "pao e circo", urna oferta de líberdade sexual ilimitada como distracáo para a perda da genuína liber dade e negacáo da justica económica. 62

AS ORGANIZACÓES INTERNACIONAL E A FAMÍLIA

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Os propósitos mais indesejáveis dos promotores das iniciativas internacionais anti-família podem ser percebidos no triángulo de ferro de exclusáo que estáo montando em seus próprios países natais: estáo excluindo a vida nova pelo aborto e a esterilizacáo; trancando a porta con

tra os estrangeiros através de políticas restritivas de imigracáo; e voltando as costas aos pobres através dé cortes nos programas de assisténcia á familia. No que tange ao auxilio externo, daráo milhóes para "servicos reprodutivos", mas tostóes para nutricáo materna e infantil, agua pura, ou cuidados primarios com a saúde12. Como os fariseus no Evangelho se gundo Mateus (23), "eles preparam fardos pesados para os ombros dos outros homens, mas nao movem um dedo para ajudá-los". Quando olham para as enancas dos pobres, vém somente urna ameaca ao meio ambi ente, um presságio de agitacáo social, e urna ameaca ao seu próprio nivel de consumismo. A principal fonte de problemas do mundo, a seu ver, é a superpopulacáo, e a sua principal solucáo é eliminar os pobres. É esta agenda vergonhosa que liga silenciosamente o movimento do direito ao aborto com os movimentos anti-imigracáo nos países de

senvolvidos e com certos segmentos dos movimentos ambientalistas13. É essa agenda que se esconde atrás das saias dos movimentos femini-

nos, mas nao tem qualquer apreco pelas mulheres. É essa agenda que

conseguiu apoio em um número grande demais de agencias da ONU14, e se insinuou na política externa de um número excessivo de países de senvolvidos. É essa agenda que demasiados delegados trouxeram para as recentes conferencias da ONU. Num certo sentido, os atuais ataques á familia representam urna

nova versáo de urna estória que é táo velha quanto a própria política. Os grupos que desejam minar a ordem estabelecida, desde a Revolucáo francesa aos marxistas do século XX, típicamente atacaram as familias, que sustentam os valores da velha ordem. E os tiramos sempre souberam que, quanto mais os individuos forem desligados das familias e de outros grupos mediadores, tanto mais fácilmente poderáo ser subjugados. O movimento para "desconstruir" a familia e legitimar estilos de vida 12 Ver Michel Schooyans, "L'Europe et le controle de la population dans le TiersMonde", Familia et Vita ( Pontificio Conselho para a Familia, 1997), pp. 84-88.

13 Para urna discussáo dos vínculos entre o controle da populagáo, os direitos da muiher e o ambientalismo na mentalidade do Departamento de Estado dos Estados Unidos, verJeffreyGedmin, "Clinton's Touchy-Feely Foreign Policy", Weekly Standard, 13 de maio de 1996, pp. 19,22-23.

14 Especialmente do Fundo para a Populagáo da ONU cujo Relatório de 1997 pega passagens de urna "Carta sobre os Direitos Sexuais e Reprodutivos" publicado pela Federacáo Internacional de Planejamento Familiar (IPPF), permitindo legitimar a reivindicacáo do IPPF no sentido de que sua controvertida agenda estaría fundada num "consenso internacional". State of the World Population, 1997. 63

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

alternativos tem assim implicares sobre a liberdade humana muito dife rentes das imaginadas pelas feministas e ativistas homossexuais, sufici entemente inocentes para acreditar que estariam melhor sem a familia.

Entretanto, o que torna a nossa situacáo atual históricamente nova, é que o ataque á familia é difuso. Nao pode ser identificado com urna nacáo em particular, ou urna regiáo, ou urna única ideología. Suas diver

sas manifestacoes tém pouco em comum, fora a promocio dos interesses de urna classe burocrática-gerencial-terapéutica animada quase ex clusivamente pelo desejo de consolidar a prosperidade sem precedentes que teve na segunda metade do século XX. Como colocou recentemente um administrador do Programa de Desenvolvimento da ONU: "Urna élite global emergente, básicamente urbana e interligada de diversos modos, possui grande poder e riqueza, enquanto mais da metade da humanida-

de está abandonada"15.

Essa nova classe é realmente internacional. Seus membros - os operarios do conhecimento, muito movéis, semi-educados, que povoam agencias do governo, empresas, universidades, profissóes, meios de comunicacáo de massa e agencias de servico social de toda nacáo cada vez tém mais em comum entre si do que com os pobres de suas próprias sociedades16. De fato, o Relatório sobre o Desenvolvimento Humano da ONU de 1996, indica que esta disparidade cresce cada vez mais ao ponto de que os aquinhoados e os pobres vivem cada vez mais em mundos separados17.

O mundo nunca viu antes algo parecido com esta forca amorfa, nao-estatal, que pretende conquistar o controle social a partir de urna

classe que procura manter, nao exercer, a sua posicao. Seu movimento nao tem cabeca, mas tem muitos bracos que se movem mais ou menos na mesma direcáo. Essa direcáo comum nasce menos de conspiracáo

do que de um paralelismo inconsciente. Nao sao propriamente contra á familia, mas determinados a nao deixar que a familia, a religiáo ou qualquer outra ¡nstituicáo se coloque no caminho daquilo que desejam.

É fácil ver por que grupos de interesse da nova classe, bem finan

ciados, acorrem as organizacoes intemacionais como a ONU e a Corte 15 Barbara Crossette, "U.N. Survey Finds World Rich-Poor Gap Widening", New York

Times, 15 de julho de 1996, p. A3.

1C O finado Christopher Lasen escreveu extensamente sobre este assunto, especial mente em The Revolt of the Élites and the Betrayal oí Democracy (New York: Norton, 1995). Kenneth Anderson continuou a crítica em artigos recentes, p. ex. "Heartless World Revisited", Times Literary Supplement, 22 de setembro de 1995.

" Programa de Desenvolvimento da ONU, Human Development Report 1996, (Oxford

University Press, 1996).

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Européia para os Direitos Humanos18. Em seus países de origem, desdenham os processos políticos normáis, que iriam expor suas agendas ao julgamento de seus concidadios. Antes, procuram influenciar agencias administrativas, ou obter sentencas inapeláveis de Cortes Constitucionais nao eleitas. Portante, nao deve gerar surpresa que tenham assumido, rápidamente, novas oportunidades para operarem longe da observagao pública e da responsabilidade democrática. Organizares como a Federacáo Internacional para o Planejamento Familiar (IPPF) tém feito todos os esforcos para transformar as conferencias da ONU em pracas de fabricacáo "off-shore" para fazer com que a agenda do controle populacional se torne um "padrao internacional", que entáo poderia ser usado para influenciar nao só as agencias internacionais, mas também

políticas locáis e programas de ajuda externa. Desse modo, urna agenda controversa pode afetar as vidas de milhóes de pessoas, sem jamáis ter sido submetida á prova das urnas. Em resumo, os anos entre 1948 e 1995 assistiram ao crescimento de diversos movimentos que visavam a tratar a familia {e a religiáo) como

obstáculos aos direitos humanos, em vez de objeto da protecáo dos di reitos humanos. Ao final de 1995, parecía que os principios a favor da familia da Declaracáo Universal de 1948, para além de seu reconhecimento, corriam serio perigo de ser distorcidos ou suprimidos. Isso nos traz a seguinte questáo: III. QUE FAZER? Muitos homens e mulheres de boa vontade, desgostosos com es-

ses desenvolvimentos e desencorajados em geral pela incapacidade da ONU para cumprir sua promessa inicial, acreditam que os grupos prófamília nao deveriam ter mais nada a ver com a ONU. Mas há varias

razóes teológicas e de prudencia pelas quais essa opcáo é problemática para os católicos. Em primeiro lugar, a Cristandade Católica exige que sejamos ativos no mundo. Somos chamados, cada um com seus dons diferentes, a ser o sal da térra, o fermento do pao social, trabalhadores na vinha para a vinda do Reino.

Em segundo lugar, tal como a Igreja já reconheceu muitas vezes, a 18 Um quadro completo das recentes mudangas no papel das organizagoes interna

cionais em relagáo á familia precisaría incluir a Comissao Européia e a Corte de Direitos Humanos de Strasbourg. Para urna análise profunda dos caminhos da pro tegió á familia na Europa realizada por um dos principáis estudiosos da legisiagáo sobre a familia no mundo, ver Marie-Thérése Meulders-Klein, "Internationalisation des Drolts de l'Homme et Evolution du Droit de la Famille: Un Voyage Sans Destination?", ed. F. Dekeuwer-Defossez (París: L.G.D.J., 1996), pp. 179-213; e "Vie

Privée, Vie Familiale et Droits de l'Homme" Rev. Int. Droit Comparé (1992), pp. 767-794. 65

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

ONU, apesar dos seus defeitos, desperdicios e fracassos, tem feito muito bem, especialmente nos países pobres, e oferece muita esperanca num

mundo onde as nacóes enfrentam muitos desafios que atravessam as fronteiras nacionais19. Na Familiaris Consortio, o Santo Padre disse as familias que o papel social e político da familia foi "alargado de modo inteiramente novo" por causa da "dimensáo mundial de varios problemas sociais". Esse papel, disse, envolve agora "cooperacáo para uma nova ordem internacio nal", participando "no crescimento auténticamente humano da sociedade e das suas instituicoes, ou mantendo de varios modos associacoes que espe

cíficamente se dedicam aos problemas de ordem internacional"20. Em terceiro lugar, tal como se evidenciou na atividade da Santa Sé na ONU, mesmo urnas poucas vozes podem fazer diferenca, quando falam a verdade e chamam o bem e o mal pelo nome. Muito da melhor

linguagem sobre justica social em documentos recentes da ONU está lá porque a Santa Sé a propós ou a defendeu. Gracas á Santa Sé, a ONU continua comprometida com o principio de que o aborto nunca deverá ser proposto como meio de controle da natalidade. Mesmo em Pequim,

onde era uma minoría pequeña, a Santa Sé foi capaz de salvar artigos sobre a protecáo á familia, pondo-os em destaque. Quando a Uníáo Européia lutou contra todas as referencias positivas á familia, á religiáo e á autoridade dos pais, enviamos uma nota de imprensa a todos os maiores jomáis europeus perguntando por que os representantes da Europa estavam tomando posicóes contrarias as suas próprias Constituicóes e ás políticas dos seus governos relativas á familia. Perguntamos se esses

delegados representavam realmente a política oficial ou a opiniáo públi ca de seus países. Em 24 horas, comecaram a ser levantadas questoes nos Parlamentos europeus sobre o que estavam fazendo realmente seus delegados em Pequim. Antes de passar mais um dia, os delegados euro peus recuaram de sua posicóes e os textos contestados foram salvos. No fim da Conferencia de Pequim, muita gente boa e religiosa ain-

da considerava que o documento da Conferencia era táo cheio de defei tos que a Santa Sé deveria rejeitá-lo inteiramente. Pediram que nossa delegacáo se retirasse da Conferencia. Mas o Papa Joáo Paulo II ins-

truiu-nos a nao tomar o caminho da retirada. Falando desde o próprio núcleo da tradicáo teológica católica, disse: "Aceitem o que é bom no documento, e denunciem vigorosamente o que é falso ou pernicioso". O tempo já demonstrou a sabedoria dessa orientacáo. A Conferen cia do Habitat de Istambul, realizada um ano depois de Pequim, presen-

ciou uma derrota fragorosa da coalisáo anti-família. Como um repórter 19 William F. Murphy, 'The United Nations: Why Bother?" The Pilol, 29 de setembro de 1995, p. 12. Ver especialmente, neste contexto, o discurso do Santo Padre na ONU em outubro de 1995. 20 Familiaris Consortio, 48. 66

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colocou: "Apesar de muita pressáo, golpes e chantagem aberta, os paí ses em desenvolvimento recusaram-se a curvar-se á pressao ocidental

favorável á 'saúde reprodutiva' e á definicáo ambigua da 'familia'. Em vez disso, os representantes do G-77 recolheram votos para: reafirmar a importancia dos direitos dos país; garantir o respeito aos valores religio sos e éticos dos Estados membros; reconhecer que a familia (e nao a palavra-código 'familias') é a unidade básica da sociedade; e cancelar todas as referencias á 'saúde reprodutiva', salvo urna cujo fraseado impedia

que fosse usada para impor o aborto no mundo em desenvolvimento"21. Até mesmo o Secretariado da ONU para o Ano da Familia parece ter experimentado urna mudanca no coracáo, ou pelo menos ñas apa-

réncias. Em 1997 publicou um relatório de tom muito diferente do folheto de 1995, que citei anteriormente. Em seu sumario oficial de todas as provisóes relativas á familia das últimas conferencias da ONU, o Secre tariado destaca principalmente as provisóes que sobreviveram devido

aos esforcos da Santa Sé!22. Parece indiscutível a conclusáo de que a retirada da Santa Sé da ONU só teria servido para o conforto dos agentes da cultura da morte. Contudo, chegou a hora de reconhecer que a Santa Sé na ONU tem sido muitas vezes como o menino holandés que impediu a ¡nundacao, mantendo seu dedo no dique. Chegou a hora de atender ao chamado urgente

do Santo Padre para as próprias familias se tornarem "'protagonistas' da chamada 'política familiar' e assumir a responsabilidade de transformar a sociedade"23. O Pontificio Conselho para a Familia reiterou recentemente este chamado, lembrando-nos que 'a familia nao está abandona

da (...) As familias devem associar-se, organizar-se e construir a política familiar (...) através de processos democráticos de participacáo, a fami lia deve assegurar que o Estado reconheca sua autonomía, seus direitos e seu valor como a comunidade resiliente do futuro"23. Como mae e avó, sei que nao é fácil para os membros da familia responder a este apelo. Cada um de nos terá que discernir através da oracáo como deverá contribuir. Mas o Papa Joáo Paulo II nos lembra que há urna coisa que as familias podem fazer, independentemente de sua situacáo na vida. Elas podem esforcar-se para "oferecer a todos o testemunho de urna dedicacáo generosa e desinteressada pelos problemas

sociais, mediante a 'opcáo preferencia!" pelos pobres e marginalizados"25.

21 Mary Meaney, "Radical Rout", National Review, 15dejulho de 1996.

22 Relatório da Secretaria Geral do Ano Internacional da Familia (ONU, Genebra, 6 de Janeiro de 1997).

23 Familiaris Consortio, 44. Ver também a Introdugáo a Caña sobre os direitos da familia, que chama as familias a se "unirem na defesa e promocáo dos seus direitos". 24 "Una Economía perla Famiglia", L'Osservatore Romano, 14 de margo de 1996, p. 4. 25 Familiaris Consortio, 47. 67

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

Além disso, exorta as familias cristas "a engajarem-se ativamente a to dos os níveis" em associacóes que trabalhem para o bem comum e o bem da familia26. No que concerne á arena internacional, isto nos traz de volta a urna das questóes que propus no inicio destas consideracóes: como saber o que ajuda ou prejudica a familia? Devemos lembrar-nos de que a Igreja tem meditado profundamente esta questáo, á luz das Escrituras e de sua

própria experiencia como "perita em humanidade". Os frutos dessa meditacáo estáo ao nosso alcance no rico armazém do ensinamento social

católico. Como coloca o Padre Richard John Neuhaus: "Nenhum Estado, nenhum partido, nenhuma instituicáo académica, nenhuma outra comunidade de fé tem proposto urna visáo táo abrangente e táo sólida da

familia no mundo moderno. O ensinamento da Igreja é urna proposta corajosa pela justica familiar, que pode informar integralmente o pensa-

mento e a acáo públicos, desde a política de bem-estar e as práticas

empregatícias até o direito dos pais de escolherem a educacáo que desejam para seus filhos"27. Embora o pensamento social católico nao traga respostas a ques tóes políticas específicas, ele ilumina nossas indagacoes com seus tres grandes principios "S": subjetividade, solidariedade e subsidiariedade. Acontece, por razóes que mencionei antes, que esses tres principi os estáo presentes nos grandes documentos sobre direitos humanos do

século XX: as Declaracóes de Bogotá e da ONU, e numerosas Constituicóes do pós-guerra. Urna teoría da subjetividade está implícita em sua

visáo da pessoa humana, que evita a falsa oposicáo entre individuo e familia, rejeitando tanto o individualismo radical quanto a total subordinacao dos individuos ao grupo28. A solidariedade está explícita ñas muitas provisóes que tratam da justica social e no reconhecimento de que o

individuo nao pode florescer fora das familias e comunidades. A subsidiariedade está implícita no principio da protecáo á familia, que está agora sob assalto. Esse principio significa que o Governo nao deve substituir a familia, mas sim ajudar as familias a fazerem melhor o que fazem. Todos esses principios precisam de ser recuperados e vivificados para urna nova geracáo, que esqueceu o que os homens e mulheres que 26 Familiaris Consortio, 72. O destaque é nosso.

" Richard John Neuhaus, 'To Propose the Truth", Crisis, abril de 1994, pp. 20, 25. 23 Considerar, por exemplo, as explanagóes da Corte Constitucional da Alemanha sobre a "imagem do homem" na Lei Básica Alema de 1949: "A imagem do homem na

Leí Básica nao é a de um individuo ¡solado soberano. Pelo contrario, a Lei Básica resolve a tensáo entre o individuo e a sociedade a favor da coordenagáo e interdependencia com a comunidade, sem tocar no valor intrínseco da pessoa". Investment Aid Case, 4 BVeríGe 7 (1954). 68

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21^

sobreviveram ao desastre económico e á guerra mundial, aprenderam através de amargas experiencias.

Os redatores das grandes Cartas de pós-guerra tinham um senso agudo da importancia da familia nao só para seu próprio bem, mas também para o bem de seu ambicioso projeto moderno de direitos humanos.

Afinal, como se pode promover a liberdade, a dignidade e a solidariedade humanas, sem um número suficiente de homens e mulheres capazes e

dispostos a sustentar esses exigentes principios? E onde háo de ser for mados esses homens e mulheres, se nao, antes de tudo, em familias sólidas e saudáveis? Resulta que a sociedade deve atender as necessidades ¡mediatas das pessoas inseridas em familias desfeitas ou disfuncionais, mas deve fazé-lo sem abalar as frágeis estruturas familiares, que, a longo prazo, sao as mais favoráveis ao desenvolvimento humano. As ¡mplicacóes em relacáo ao nosso tema - as organizacoes internacionais e a familia - sao claras: o que pode ser feito pela familia nao deve ser assumido por estruturas sociais maiores; o que pode ser feito pelas estruturas intermediarias da sociedade civil nao deve passar para o Governo; o que pode ser feito em um nivel mais baixo do Governo, nao deve ser assumido por um nivel mais alto e a fortiori nao por organiza coes internacionais distantes. Quando se aproxima o 509 aniversario da Declaracáo Universal dos Direitos Humanos, nos, membros de familias, podemos ajudar a recuperar sua visáo original favorável á familia, que corresponde táo de perto aos ensinamentos sociais católicos.

Caras irmás e irmáos em Cristo, resolvamos entáo responder ao

apelo do Santo Padre para nos tornarmos protagonistas da política fami liar. Nao desprezemos a política, pois, como ensinaram Aristóteles e Sao Tomás de Aquino, ela é a grande arte de ordenar, em conjunto, as nossas vidas para o bem comum. Recuperemos sim a política das máos daqueles que a pervertem, visando a propósitos malignos. Lutemos pelo direito de determinar democráticamente as condigóes sob as quais vi vemos, trabalhamos e criamos nossas familias. Resistamos aos especi alistas auto-nomeados, que fingem saber melhor do que nos como criar nossos filhos. Tomemos de volta a educagáo de nossos filhos das máos dos secularistas proselitistas. Resgatemos a nossa arte, música e litera tura dos mercenarios do hedonismo. Nao busquemos matar a ONU de

fome, mas procuremos colocá-la numa dieta correta. Empenhemo-nos

em assumir quaiquer papel que pudermos na construcáo da civilizagáo da vida, resistindo á cultura da morte. Como os filhos dos hebreus antigos, podemos fazé-lo confiantes em que, ao obedecer ao mandamento de "escolher a vida", o Senhor mesmo "marcha á nossa frente; ele estará conosco e nunca nos deixará nem nos abandonará" (Deuteronómio, 31). 69

Fala o Reí do Aborto:

UMA CONVERSÁO Á VIDA

O Dr. Bernard Nathanson, já apresentado em PR 424/1997, pp. 418-420, refere a sua conversáo de praticante de milhares de abortos á defesa da vida e, ao mesmo tempo, do indiferentismo religioso á fé cató lica. O texto que se segué, foi apresentado pelo próprio autor no Congresso Teológico-Pastoral do Riocentro aos 3 de outubro de 1997. *

*

*

Médico, ginecologista e obstetra na cidade de Nova York. Foi confundador da Liga Nacional pelos Direitos do Aborto nos Estados Uni dos, primeira organizacáo política no mundo para promover o aborto. Foi colaborador da Federacáo Internacional da Paternidade Planejada e

médico diretor (1970-1972) da maior Clínica abortista do mundo. Duran te dois anos foram praticados nessa Clínica 60.000 (sessenta mil) abortos.

No inicio de 1973, deixou a Clínica de abortos e tornou-se Diretor do Departamento de Obstetricia da Universidade de Columbia, na cida de de Nova York. Comecou, entáo, a usar novas tecnologías, tais como ultrassom, monitoramento do coracáo do feto, fetoscopia, histeroscopia, para ver o interior do útero e muitos outros aparelhos de tecnología avan-

cada.

Posteriormente, após anos de estudos destas tecnologías avancadas para observar o ventre materno, Dr. Nathanson abriu sua consciéncia e reconheceu, grapas aos avancos da ciencia, a existencia da vida

desde o momento da concepcáo.

Atualmente, o Dr. Nathanson tornou-se um dedicado dentista a

revelar suas descobertas por todo o mundo e é, hoje em dia, um dos maiores advogados dos direitos humanos no seio materno.

Até 1988, havia escrito varios livros contra o aborto e foi produtor dos filmes "O Grito do Silencioso", "Eclipse da Razao" e "A Resposta".

Seu segundo filme "Eclipse da Razáo" ganhou varios premios em impor

tantes festivais de cinema e chegou a ser apontado para o "Osear" em Hollywood.

UM TESTEMUNHO DE CONVERSÁO Eis um testemunho e nao urna apresentacáo sobre o aborto. Des culpas antecipadas, pois poderia parecer urna apresentacáo muito pes70

UMA CONVERSÁO Á VIDA

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soal. Nasci na fé judia e de tradicáo hebraica. Por uma serie de circuns

tancias, que nao menciono, perdi a fé completamente em minha infancia e adolescencia, a ponto de chegar a ser chamado de judeu ateu. Entáo, sem moral centrada em Deus, e impulsionado por firme dedicacáo a uma

situacáo relativista e também uma moral relativista ou de situacáo, coloquei-me, ¡mediatamente, a servico do pior e mais completo dos males, o ataque á vida. Fui um dos organizadores do NARAL, nos Estados Uni dos, que era um grupo cabalístico poderoso para lutar contra todas as leis que se opunham ao aborto. Percorri os Estados Unidos por inteiro e estive em outros países, nesta cruzada a favor do aborto. Simultaneamente fui Diretor da maior Clínica de abortos do mundo ocidental e du rante dois anos fui totalmente responsável por 75.000 (setenta e cinco mil) abortos.

Falo-lhes, agora, de minha conversáo á vida, médica e científica mente, sem dúvida, uma conversáo incompleta. Médica e científicamen te minha conversáo á vida deu-se, de maneira clara, pela minha compre-

ensáo cada vez maior da vida das pessoas e, sobretudo, da vida e do ciclo da vida desse pequeño ser humano, táo pequeño e vulnerável que se encontra no ventre materno. No inicio dos anos 70, havia uma grande quantidade de informacóes que me foram convencendo de que se trata-

va de um ser humano em toda a extensáo da palavra. Era alguém que tinha uma moral, uma dignidade, e que necessitava de protecáo e intervencáo. Contudo, nao foi tanto a informacáo científica, mas a máo de Deus em mim, que me fez compreender essa informacáo. Eis o crucial; nao apenas o acumulo de ¡nformacóes, mas a capacidade de assumi-las e trabalhar com perspectivas novas, que aiguns chamaram uma troca de paradigmas, de opiniáo, isto se deve a Deus, que me deu tal capacidade. Com o passar do tempo, na década de 70, todas as razóes sociais e médicas para o aborto, eu nao as aceitava mais. Atualmente, creio que nao há razóes sociais, económicas, médicas e psicológicas para o abor to; nao há razáo alguma. Tive, entáo, oportunidade de compreender mi nha missáo como médico e doutor, através da leitura da Encíclica do Papa Joáo Paulo II em que afirma que a missáo de gerar a vida nao deve

estar exposta á vontade arbitraria do homem. Devem-se reconhecer os

limites invioláveis do homem quanto ao seu corpo, que a ninguém é per mitido ultrapassar.

Nao se podem suprimir tais limites, por respeito á integridade do organismo humano e suas funcóes de acordó com os principios anterior mente mencionados e conforme a compreensáo correta do principio da

totalidade ilustrado pelo Papa Pió XII.

Minha conversáo científica e médica á vida, moralmente incomple71

24

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

ta, exigía dois elementos: 19) converter-me-ia em defensor da vida, publi camente, da mesma forma como antes participava de sua destruicáo; 29)

a busca da fé, em que poderia basear mais firmemente minhas conviccóes em favor da vida. Nao basta compreender que nao devemos matar;

sou contra toda forma de assassinato e pena de morte e guerra. Nao

matar é um mandamento, dom precioso de Deus; a sua criacáo perfeita é o homem.

Tornei-me porta-voz da defesa da vida; mas apresento-me aos senhores com o sangue de 75.000 (setenta e cinco mil) vidas inocentes em minhas máos. Urna destas vidas é a de meu próprio filho. Falhei também como esposo com varios casamentos falidos; faIhei como pai, como médico. Lembro-me agora da passagem de Sao Mateus: "Ouviram-se em Rama gritos, solucos e lamentos. Raquel nao quer consolar-se porque chora seus filhos mortos".

E como diz o Eclesiastes: "Nada é útil, tudo é vaidade". Nao podia suportar este peso moral intolerável, inimaginável, e continuar vivendo;

cheguei a pensar seriamente no suicidio. Urna vez mais, porém, a máo

de Deus ajudou-me, e um sacerdote amigo ajudou-me a sair do nada. Ele perguntou-me se gostaria de conversar com ele e eu aceitei. Nossas conversas duraram 5 (cinco) anos e me levaram a compreender que no

sofrimento e no amor infinito de Cristo encontraría o que estava buscan do: a fé, o perdáo, a absolvicio e a vida eterna.

A fé crista me mostrou a posicáo primordial da morte no mundo dos homens e o ápice da perfeicao humana: amar infinitamente. Mostrou-me

também que o mundo nao é como alguns cientistas seculares dizem: acontecimento de urna oportunidade insignificante; nao somos urna especie como segundo pensamento num mundo vazio. Os cientistas, sem dúvida, trabalham com a razáo, mas esta deve aperfeicoar-se com o auxilio da fé. Sem Deus como seu centro, a teoría científica mais sofisticada, mais abstrata, em minha opiniáo, é nihilismo inigualável na historia. Inclusive, o grande filósofo Bersgon, ao morrer, disse: "Todo bem que ocorre no mun do, ocorre desde que Cristo se fez presente nele". Assim creio.

A máo de Deus trabalha, urna vez mais, de maneira misteriosa. Quando na Universidade de Montreal, no Canadá, estudava Medicina, no fim dos anos 40, tinha como professor de Psiquiatría Cari Stern, judeu de Viena, emigrado para o Canadá. Tornamo-nos bons amigos; eu era um de seus estudantes favoritos e tentou convencer-me a estudar Psi quiatría. Nao sabia, entretanto, que o Dr. Stern se estava convertendo ao Catolicismo, quando o conheci. Alguns anos depois, deparei-me com um

livro que ele escreveu naquela época, em que falava de sua conversao. O último capítulo desse livro é urna longa carta ao seu irmáo que estava 72

UMA CONVERSÁO Á VIDA

25

em Israel. Seu irmáo continuava sionista e Stern quería explicar-lhe sua conversáo. A carta é longa, mas leio a última passagem, que fala de suas conviccóes. Diz ele:

"Nunca esquecerei a manhá de minha Primeira Comunháo; como em qualquer outra manhá de dezembro, entrei na igreja quando fora estava escuro. No interior havia muita gente como soi acontecer em qual

quer igreja católica, tanto na periferia como no centro de urna grande cidade, homens e mulheres vindos de casas pequeñas da área comerci al. Alguns vinham a Missa depois de terem trabalhado á tarde. Nossas

vidas, de minha esposa, de meus amigos, chegaram a um ponto conver gente a daqueles desconhecidos que nos rodeavam; foi como se aíestivessem nossospais e a Familia Cohén, osjudeus da Sinagoga de Cañan, Jack Moretain e Dorothy Day e as piedosas solteironas de nossa juventu-

de em Viena. Nao havia dúvida alguma de que para ELE comamos afastando-nos d'ELE. Porém, durante todo este tempo, ELE estava presente no centro de tudo". Permitam-me concluir meu testemunho dizendo-lhes:

"O amor é o poder mais duradouro deste mundo. Esta forga criado ra táo formosamente exemplificada na vida de Cristo, é o instrumento mais poderoso de que dispomos para buscar a humanidade, a paz e a justiga".

Que sabemos sobre a Biblia?, por Ariel Álvarez Valdés. Volume 1o. Tradugáo do Pe. Afonso Paschotte C.Ss.R. - Editora Santuario, Aparecida (SP) 1997, 140 x210mm, 100 p. O autor, licenciado em Teología Bíblica pelo Estudo Bíblico Francis cano de Jerusalém, aborda dez perguntas referentes ao texto bíblico: quantos livros tem a Biblia? A Arca de Noé existiu? Nao havia lugar para María na hospedaría? ...A intengáo do autor é desfazer falsas concepgóes

acerca de certas passagons escríturísticas; Ariel Álvarez o consegue em

varios casos, dissipando mal-entendidos. Todavía o seu estilo é breve e genérico demais, a ponto de desfigurar por vezes a realidade; é o que

ocorre, por exemplo, quando o autor dá a entender que o canon bíblico

só foi definido em 1546 pelo Concilio de Trento; esquece queja em 393 o Concilio de Hipona o havia definido como hoje ele é, tendo sido esta definigáo repetida pelos Concilios regionais de Cartago III (397), Cartago IV (419), Trulos (692) e pelo Concilio Geralde Florenga (1442). No tocan te ao diluvio, podería ter enfatizado as raizes do relato bíblico na Babilonia.

- Em suma, quem lé a obra de Ariel Álvarez, pode colhera impressáo de que o texto bíblico exige interpretagóes, por vezes, opostas as que se Ihe costumou atribuir - conclusáo sumaría demais ou mesmo falsa. 73

Agitagáo da Opiniáo Pública:

A EDIQÁO OFICIAL DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Em síntese: O texto oficial latino do Catecismo da Igreja foi publi cado aos 9/9/97. Em relagáo a primeira edicáo (esta, francesa), datada de 1992, contém mais de cem retoques, que nao afetam o essencial da doutrina; sao modifícagóes que esclarecem o texto anterior, quando necessário. Chamam a atengáo os números relativos a pena de morte. Esta nao é rejeitada como inaceitável, mas, diz a nova edigáo, as ocasióes de aplicar a pena capital em nossos dias sao extremamente raras ou mesmo inexistentes. O porque dessa avaliagáo do recurso á pena de morte con

siste em que a fé católica eré que todo homem - mesmo o mais criminoso - pode ser recuperado ou convertido pela graga de Deus, de modo que se deve evitar tirar-lhe a vida e sonegar-lhe a possibilidade de conver-

sáo; o bem da sociedade (que a pena de morte procuraría preservar) pode ser assegurado por outros meios, de que dispóe a autoridade go-

vernamental. Além do mais, sao notorios os abusos que decorrem de atribuirá um homem o poder de decidir sobre a vida e a morte de outrem.

O novo Catecismo da Igreja Católica (CIC) foi publicado em 1992. Redigido originariamente em francés (língua comum aos membros da Comissáo responsável pelo texto), foi traduzido para diversos idiomas. A língua latina é o idioma oficial da Igreja no Ocidente, de modo que a edicáo latina do Catecismo vem a ser a editio typica, a edicáo modelo ou paradigmática de tal obra. O texto latino beneficiou-se da experiencia de cinco anos de aplicacáo do Catecismo, de modo que o texto francés foi retocado em pouco mais de cem passagens. Trata-se de retoques que aperfeicoam o texto, mas nao o alteram em sua esséncia; segundo o

Cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregacáo para a Doutrina da

Fé, nao há diferenca fundamental entre a primeira e a nova edicáo do Catecismo; esta apenas é "mais exata, corrige certas ¡mprecisóes e pre-

enche certas lacunas". A publicacáo do texto emendado latino deu-se em 9/9/97.

A imprensa noticiou a revisáo do Catecismo, deixando, porém, in-

terrogacóes a bertas. Ñas páginas subseqüentes, apresentaremos os mais significativos pontos retocados. 74

A EDICÁO OFICIAL DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

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1. Os Pontos Revistos Deter-nos-emos sobre cinco pontos. 1.1. Pena de Morte Sao tres os parágrafos do Catecismo que abordam tal assunto: 1.1.1. CICn92265 a) Eis o texto anterior:

"A legitima defesa pode ser nao somente um direito, mas um dever grave, para aquele que é responsável pela vida de outros, pelo bem comum da familia ou da sociedade". b) Eis o texto revisto:

"A legítima defesa pode ser nao somente um direito, mas um dever

grave para aquele que é responsável pela vida alheia. A defesa do bem comum exige que o agressorseja posto em condigóes de nao mais prejudicar. Conseqüentemente os legítimos detentores da autoridade tém o direito de usar até mesmo das armas para rechagar o agressor da socie dade civil confiada á responsabilidade deles". Como se vé, o novo texto é mais longo e mais explícito, defendendo o direito da sociedade, mediante seus governantes, de recorrer as

armas para coibir a acáo dos malfeitores. 1.1.2. CICn9 2266 a) Eis o texto anterior:

"Preservar o bem comum da sociedade exige que o agressor seja

privado das possibilidades de prejudicar a outrem. A este título, o ensinamento tradicional da Igreja reconheceu como fundamentado o di mito e o dever da legítima autoridade pública de infligir penas proporcio nadas á gravidade dos delitos, sem excluir, em casos de extrema gravidade, a pena de morte. Por razóes análogas os detentores de autoridade tém o direito de repelir pelas armas os agressores da comunidade civil pela qual sao responsáveis. A pena tem como primeiro efeito compensar a desordem introduzida pela falta. Quando esta pena é voluntariamente aceita pelo culpado, tem valor de expiagáo. Além disso, a pena tem um valor medicinal, devendo, na medida dopossível, contribuir para a corregáo do culpado". b) Eis o texto revisto:

"O esforgo do Estado que procura conter os comportamentos ofen sivos aos direitos do homem e as regras fundamentáis da concordia civil 75

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

corresponde á exigencia de tutela do bem comum. A legítima autoridade pública tem o direito e o deverde infligir penas proporcionáis á gravidade dos delitos. A pena tem por finalidade, antes do mais, reparar o daño

causado pelo delito. Quando a pena é voluntariamente aceita pelo culpa do, ela se reveste de valor expiatorio. Além da defesa da ordem pública e pelo fato de que garante a seguranga dos cidadáos, toda pena tende a urna finalidade medicinal, de vendo, na medida do possível, contribuir para a emenda do culpado". Como se vé, o texto anterior mencionava a pena de morte; o novo

já nao o faz, embora nao a condene. Falava também do direito, da auto ridade pública, de reprimir pelas armas os agressores da nacáo - coisa que nao aparece no novo texto, para evitar a repeticáo do que foi dito no n9 2265. Tal omissáo, porém, nao significa a condenacao do uso de ar mas para garantir o bem comum; apenas evita a referencia aos instru mentos da violencia. Eis agora o texto mais importante sobre a pena de morte: 1.1.3. CICns 2267

a) Tal é o texto anterior:

"Se os meios nao sangrentos bastarem para defender as vidas humanas contra o agressor e para proteger a ordem pública e a seguran

ga das pessoas, a autoridade se limitará a esses meios, porque correspondem melhor as condigóes concretas do bem comum e estáo mais conformes á dignidade da pessoa humana". b) Eis o texto revisto:

"Dado que se possa reconhecer, sem hesitagáo, a identidade e a culpabilidade do réu, o ensinamento tradicional da Igreja nao excluí o recurso a pena de morte, se esta aparece comprovadamente como a única via praticável para a defesa eficaz da vida dos seres humanos ameagados por um injusto agressor. Se, ao contrario, os meios pacíficos sao suficientes para que a sociedade se defenda do agressor e para

proteger a seguranga das pessoas, a autoridade se limitará ao uso dos meios nao sangrentos, visto que sao os mais aptos para responder as

condigóes concretas do bem comum e os mais conformes a dignidade da pessoa humana. Com efeito, hoje, dado que o Estado tem recursos para reprimir eficazmente o crime, tornando inofensivo aquele que cometeu o delito, sem Ihe tirar a possibilidade de se recuperar, os casos de necessidade absoluta de supressáo do delinqüente tornam-se extremamente raros

ou mesmo inexistentes". Aqui se percebe que a pena de morte é descartada nao como algo

de mau ou iníquo em si, mas como um recurso praticamente desneces76

A EDIQÁO OFICIAL DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

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sário, pois nao há contexto que a exija; a preservacáo do bem comum

pode ser obtida sem a morte do criminoso, que, deixado em vida, pode usufruir da ocasiáo de se recuperar. 1.2. Homossexualismo

O ns 2358 assim rezava na edicáo francesa: "Um número nao negligenciável de homens e mulheres apresenta

tendencias homossexuais. Nao sao eles que escolhem sua condigno homossexual. Para a maioria, esta constituí urna provagáo". A nova redacáo substituiu a palavra "condicáo" por "inclinacáo"... "inclinacáo intrinsecamente (ou como tal) desordenada".

A razáo da substituicáo é que a palavra "condicáo" pode sugerir que o homossexualismo é ¡nato ou presente desde a concepcáo ou o nasclmento da pessoa. Visto que esta tese nao está provada, a nova redacáo usou um termo mais ampio, que pode enquadrar todas as teorí as relativas á origem da homossexualidade (seja por via congénita, seja por aquisicáo em certas situacóes). O adverbio "intrinsecamente

desordenado" significa que o homossexualismo contraria a natureza hu mana, constituida por homem e mulher complementares entre si.

1.3. O Transplante de Órgáos a) Eis o que dizia o n9 2296:

"O transplante de órgáos nao é moralmente aceitável se o doador ou seus representantes legáis nao deram para isso explícito consentimento. O transplante de órgáos é conforme á moral e pode ser meritorio se os perigos e os riscos físicos e psíquicos a que se expóe o doador sao

proporcionáis ao bem que se busca no destinatario. É moralmente inadmissível provocar diretamente a mutilagáo que venha a tornar alguém inválido, ou a morte de um ser humano, mesmo que seja para retardar a morte de outras pessoas". b) Eis o texto revisto:

"O transplante de órgáos é conforme á leí moral, se os perigos e

riscos físicos e psíquicos ocorrentes para o doador sao proporcionáis ao bem acarretado ao destinatario. A doagáo de órgáos após a morte é um ato nobre e meritorio, que deve ser estimulado como manifestagáo de solidariedade generosa. O transplante nao é moralmente aceitável no caso em que o doador ou seus tutores responsáveis nao tenham dado seu consentimento explícito".

O novo texto acrescenta ao anterior urna palavra de estímulo á doagáo de órgáos após a morte do doador: é ato nobre de solidariedade 77

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

para com grande número de pessoas, que por vezes dependem da caridade alheia para poder sobreviver.

A primeira parte do parágrafo refere-se á doacáo entre vivos; em tal caso, aceita-se que o doador sofra algum daño decorrente da doacáo (transfusáo de sangue, por exemplo), mas requer-se que o beneficio cau sado ao receptor seja maior do que tal daño. No caso de doacáo de morto para vivo, exige-se a morte real (nao provocada artificialmente) do

doador - o que torna tal operacáo muito delicada. 1.4. Limitacao da Prole

a) O texto anterior do n9 2372 dizia:

"O Estado é responsável pelo bem-estar dos cidadáos. Por isso é legítimo que ele intervenha para orientara demografía da populagáo. Pode fazer isso através de urna informagáo objetiva e respeitosa, mas nunca por via autoritaria e por coagáo. O Estado nao pode legítimamente subs tituir a iniciativa dos esposos, primeiros responsáveis pela procriagáo e educagáo de seus filhos. O Estado nao está autorizado a favorecer meios de regulagáo da populagáo contrarios á moral". b) A nova redacáo conserva o texto anterior na íntegra com a seguinte cláusula final: "A propósito, o Estado nao está autorizado a intervir por recursos contrarios á lei moral".

Vé-se que o final difere da redacáo anterior por pequeña diferenca: o Estado nao deve aplicar meios contrarios á lei moral, diz a nova versáo, em lugar de "nao deve favorecer meios de regulacáo demográfica con trarios á Moral". A nova redacáo parece mais ampia, aludindo em geral "a meios contrarios á lei moral" em qualquer setor que seja, e nao apenas em vista da regulacáo da natalidade. 1.5. O Magisterio da Igreja

a) O n9 88 estava assim redigido:

"O Magisterio da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando, utilizando urna forma que obriga o povo cristáo a urna adesáo irrevogável de fé, propóe verdades contidas na Revelagáo divina ou verdades que com estas tém urna conexáo necessária".

b) A nova redacáo fez um acréscimo:

"O Magisterio da Igreja empenha plenamente a autoridade que recebeu de Cristo quando define dogmas, isto é, quando, utilizando urna forma que obriga o povo cristáo a urna adesáo irrevogável de fé, propóe verdades contidas na Revelagáo Divina ou verdades que com estas tém 78

A EDICÁO OFICIAL DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

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urna conexáo necessária ou quando propóe, de modo definitivo, ver dades que tém entre si uma necessária conexáo". Como se vé, o final do texto foi acrescido da cláusula "quando pro póe, de modo definitivo, verdades que tem entre si uma conexáo neces

sária". Tal suplemento tem em vista, por exemplo, o caso da ordenacáo de mulheres para o presbiterado: trata-se de uma declaracáo que se pren

de as nocóes de Igreja e sacramento da Ordem, cuja estrutura nao pode ser alterada (mas seria alterada, se se autorizasse a ordenacáo presbiteral de mulheres).

Tais sao os principáis retoques que a nova edicáo - a latina, typica - do Catecismo apresenta. Nao afetam a doutrina da Igreja como tal. Seja agora examinado de mais perto o problema da pena de morte, táo comentado em nossos dias.

2. A Pena de Morte na Redacáo retocada

Como dito, a nova redacáo do Catecismo nao exclui nem condena a aplicacáo da pena de morte. Esta fica sendo aceitável "nos casos de extrema gravidade", como afirmava a redacáo de 1992. A novidade con siste em dizer que "tais casos sao extremamente raros ou mesmo

inexistentes" (CIC n9 2267). Trata-se, pois, de uma questáo de avaliacáo:

será que a pena de morte, hoje em dia, é a única defesa possível para a sociedade ou é a única maneira de coibir a criminalidade e proteger o

bem comum? - Pode-se crer que nao seja o recurso único e necessário a fim de garantir seguranca ou alivio para os cidadáos; outros meios atingem o mesmo objetivo, pode-se pensar, sem sacrificar a vida do delinqüente; este, de resto, é um ser humano, que talvez tenha a oportunidade de se recuperar, caso seja devidamente tratado.

E quais seriam as razóes que levam a Igreja a restringir de tal ma neira a aplicabilidade da pena de morte? Podem-se apontar tres motivos principáis:

1) O Cristianismo é fundamentado sobre o Cristo Ressuscitado, que se tornou fonte de vida ou fonte de possível conversáo da existencia humana voltada para o pecado e a morte, mas capaz de receber a graca da recuperacáo. Todo ser humano é imagem e semelhanca de Deus, cuja conversáo fica sendo sempre possível. Nao se prive de tal graca a criatu ra delinqüente, obrigando-a a morrer quicá ainda empedernida ou fecha da para os apelos de Deus. O tempo é sempre um grande remedio e um sabio conselheiro. O bem comum pode ser assegurado por outros meios.

2) A absolutizacáo do poder dos homens sobre os homens pode levar ao exercício da tiranía. Com outras palavras: atribuir a um juiz ou a 79

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

um tribunal o direito de decretar a morte de alguém pode ocasionar gra ves abusos (voluntarios ou involuntarios); é o que atestam as tragedias do racismo, os processos sumarios dos regimes totalitarios e a minucio sa sistematizáoslo dos genocidios ou da extincáo de populacoes sob o pretexto de garantir os interesses públicos... So Deus é o Juiz justo e imparcial, que também é o único Senhor da vida e da morte; somente quando Deus julga é que nao há de recear sentencas injustas.

3) Cristo aceitou a pena de morte numa atitude de livre entrega á

sentenca dos homens. Ele mesmo dizia:

"Ninguém me tira a vida, mas eu a dou Hvremente. Tenho o poder de entregá-la e o poder de retomá-la" (Jo 10,18). A pena de morte que Cristo sofreu, nao pode ser tida como paradigma do comportamento dos homens entre si. Cristo quis morrer para salvar a humanidade; isto nao pode ser reiterado. O que se pode e deve imitar em Jesús Cristo, é o amor a todos os homens, a misericordia irrestrita e a confianca ñas possibilidades de mudanca do pecador, do mais atolado dos criminosos, até o último instante da sua vida. Eis tres razóes que levam a Igreja a crer que a oportunidade con creta de se aplicar a pena de morte em nossos dias é quase nula ou mesmo nula. Prevalecem fortes razóes em contrario.

Pergunte ao Papa, 50 Perguntas a Joáo Paulo II, por Augusto Silberstein e Paulo Marcos Brancher. - Legnar Informática e Editora Ltda, Rúa das Camelias 854, 04048-061 Sao Paulo (SP) 1997, 140x210 mm 126 pp.

Augusto Castejón Silberstein e Paulo Marcos Brancher sao dois jovens que se interessam por problemas da atualidade e a resposta que o Papa Ihes dá em seus discursos e escritos. Escolheram cinqüenta questóes relativas á sexualidade, a vida social, a Moral, a ciencia... e procuraram nos pronunciamentos de Joáo Paulo II a resposta adequada. Póde

se dizer que fizeram um bom trabalho, pois souberam ser plenamente fiéis aos ensinamentos do S. Padre; cada resposta cita alguns textos do Papa e tece-lhes comentarios sabios e corretos. Como espécimen do

acertó com que procedem os dois autores, citamos trechos de seus co

mentarios ao uso de preservativos: "Além de que o uso de preservativos nao é 100% seguro, liberar o seu uso convida a um tipo de comportamen to sexual incompatível com a dignidade humana... O uso da chamada

'camisinha'acaba estimulando, queiramos ou nao, urna prática desenfreada do sexo... O preservativo oferece urna falsa idéia de seguranga e nao preserva o fundamental" (pp. 57s).

O livro é muito recomendável e merece parabéns aos respectivos

autores.

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O Protestantismo se afastou...

LUTERO E MARÍA SANTÍSSIMA Em síntese: O protestantismo contemporáneo se mostra avesso a

María SSma., ao menos em suas denominagóes mais recentes. Nisto ele se afasia dos reformadores do século XVI, que conservaram reverencia e estima a Santa Máe de Deus. Em nossos dias, há indicios de retorno as origens, em correntes protestantes mais tradicionais. No artigo que se segué será exposto o pensamento de Lutero, Calvino e Zvinglio, ao que se acrescentará o testemunho de Madre Basiléia Schiink, luterana, quepleiteia em nossos dias a recuperagáo da veneragáo á Santa Máe de Deus. *

*

*

O protestantismo contemporáneo, ao menos em suas modalida des mais recentes, é avesso a Maria Santíssima, afastando-se do pensa

mento dos reformadores do século XVI. Estes guardaram muito da vene rado tradicional á Santa Máe de Deus. Nota-se, porém, urna tendencia a retornar á posigáo de Lutero, como se depreenderá das declaracoes de Madre Basiléia Schiink, que seráo transcritas após apresentacáo da mente dos reformadores.

1. Os Reformadores do século XVI

Os reformadores reconhecem a grandeza da Santa Máe de Deus -

título este que Lutero utiliza, em fidelidade ao Concilio de Efeso (431).

Em 1522 o mesmo escreveu um comentario do Magníficat de Maria, no

qual pede á Virgem SS. que ore por ele; com efeito, este texto termina exclamando:

"Pegamos a Deus que nos faga compreender bem as palavras do Magníficat... Oxalá Cristo nos conceda esta graga por intercessáo de sua Santa Máe! Amém."

Em relacáo á Imaculada Conceicáo, nao é claro o pensamento de Lutero; este nao é sistemático em suas afirmacóes; nao raro é influenci ado pela situacáo do momento e pela finalidade que tem em vista, che-

gando, por isto, a proferir sentencas contraditórias. Lutero sustentou que

o Filho de Deus devia nascer de urna Virgem pura; em 1528, afirmou que a alma humana de Maria, ao ser infundida no seu corpo, foi purificada da culpa original1. Mas em escritos posteriores, identifica a Virgem SS. com ■ Schimmelpfennig R. é da opiniáo de que Lutero defendeu exatamenle a doutrina

que em 1854 foi proclamada dogma de fé pelo Papa Pió X. Cf. Die Geschichte der Maríenverehrung im deutschen Protestantismos, Paderborn 1952, pp. 14s. 81

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

os demais seres humanos, que, para ele, sao simultáneamente justos e

pecadores.

Como quer que seja, as referencias de Lutero á Máe de Deus supreendem por sua freqüéncia e seu conteúdo - o que bem mostra que, para ele, Maria nao era assunto secundario. Em suma, podemos obser var com Nordhues Petri:

"As afirmagdes de Lutero permitem dizerque María poderia ocupar um lugar importante também na piedade plasmada pelas exigencias e pelos principios da Reforma, sem que por isto se deva renunciar áquilo que é considerado essencial para a concepgáo evangélica da fé" (U. V. Balthasar, Beinert, Jungclause e outros, O Culto a María Hoje, p. 80). No calendario luterano ficaram tres festas marianas, que tém base no Novo Testamento e estáo muito ligadas a Cristo: a Anunciacáo ou

festa da Encarnacáo, a Visitacáo de Maria a Isabel ou festa da vinda de Cristo, e a Purificacáo de Maria aos quarenta dias após o parto, também tida como festa da Apresentacáo de Jesús no Templo. O que acaba de ser dito a propósito de Lutero, aplica-se, de certo modo, também aos outros reformadores do século XVI, especialmente a

Zvinglio, de Zürich (Suica).

Calvino aceita o título "Máe de Deus" definido pelo Concilio de Éfeso

em 431. Sustenta a perpetua virgindade de Maria, afirmando que "os

irmáos de Jesús" citados em Mt 13,55 nao sao filhos de Maria, mas parentes do Senhor; professar o contrario, segundo Calvino, significa "igno rancia", "louca sutileza" e "abuso da S. Escritura".

Zvinglio, o reformador em Zürich, conservou tres festas marianas e

a recitacáo da Ave Maria durante o culto sagrado.

Todavía a veneracáo a María foi-se atenuando sempre mais no decorrer dos tempos entre os protestantes. No século XVIII particular mente, século do racionalismo iluminista, os reformados deixaram de

reconhecer a figura de Maria e de celebrar até as festas marianas que tém fundamento bíblico (Anunciacáo, Visitacáo, Apresentacáo no tem plo...).

O endurecimento da posicáo protestante, principalmente nos tem

pos recentes, vem a ser, em grande parte, urna réplica á recente devocáo a Maria dentro do Catolicismo. 2. Sinais de aproximacáo

1) Merece atencáo o seguinte parágrafo tirado do Evangelischer Erwachsenenkatechismus. Kursbuch des Glaudens (Catecismo 82

LUTERO E MARÍA SANTÍSSIMA

_35

Evangélico para adultos. Manual da Fé), publicado a cargo da Igreja

Luterana da Alemanha, sob a direcáo de W. Jentsch e outros autores em Gütersloh:

"María faz parte do Evangelho... É apresentada como aquela que ouviu de maneira exemplar a palavra de Deus, como a serva do Senhor que diz sim a palavra de Deus, como a cheia de graca que por si mesma

nada é, mas que é tudo por bondade de Deus. É, com efeito, o modelo

original dos homens que se abrem a Deus e se deixam enriquecer por

Ele o modelo original da comunidade dos crentes, da Igreja... 'Concebi do por obra do Espirito Santo, nascido de María Virgem1, é urna verdade

que confessamos a respeito de Jesús; conseqüentemente confessamos

que María é Máe de Nosso Senhor. O elemento feminino, receptivo, ma terno nao é a parte pior da realidade humana; antes, é a melhor e, sobretudo, a melhor da realidade crista" (p. 392s).

Assim o Catecismo Luterano afirma que Maria nao é só católica; ela é também evangélica. Maria é tida outrossim como arquetipo da Igre ja, á semelhanca do que afirma a teología católica:

"Como ela deu ao mundo o Salvador, assim a Igreja o leva aos

homens por meio do Evangelho. Como Maria, assim também a Igreja vé em si mesma a humilde serva a quem o Senhor fez grandes coisas (Le 1,48s)" (Catecismo Luterano, p. 922). 2) Após a segunda guerra mundial (1939-1945) apareceram em

ámbito protestante novas formas de vida comunitaria, á semelhanca da vida conventual que Lutero abandonou. Sejam citadas:

- a Comunidade de Taizé, que tem origem protestante, mas assu-

miu caráter ecuménico, acolhendo em seu seio católicos fiéis ao Catoli cismo;

- a Comunidade ou a Ordem do Ágape e da Reconciliacáo, em área anglicana;

- a Comunidade Ecuménica das Irmas de Maria, fundada em Darmstadt (Alemanha) e espalhada pelo Brasil e outros países. Deseja servir a Cristo seguindo o exemplo de Maria; as Irmas dessa Comunida

de acrescentam ao seu nome de batismo o de Maria, como acontece ñas Congregacóes Religiosas Católicas.

Precisamente na Sociedade das Irmas de Darmstadt vive Madre Basiléia Schlink, que publicou o livro "Maria - Der Weg der Mutter des Herrn" traduzido para o portugués por Irma Arturis e publicado em Cuntiba no ano'de 1982. Desse precioso escrito, sejam extraídos alguns trechos dos mais significativos encontrados no respectivo epílogo: 83

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998 Epílogo

Martinho Lutero escreveu a respeito de María:

"O que sao as servas, os servos, os senhores, as mulheres os principes, os reís, os monarcas da térra, em comparagáo com a Virgem María, que, além de ter nascido de urna estirpe real, é também Máe de

Deus', a mulhermais importante da térra? No meio de toda a crístandade ela é ajóia mais preciosa depois de Cristo, a qual nunca pode ser sufici entemente exaltada; a imperatriz e rainha mais digna, elevada ácima de toda nobreza, sabedoria e santidade".

"Porjustiga teria sido necessárío encomendar-lhe um carro de ouro e conduzi-la com 4.000 cávalos, tocando a trombeta diante da carruagem, anunciando: 'Aqui viaja a mulher bendita entre todas as mulheres, a soberana de todo o género humano'. Mas tudo isso foi silenciado; a po

bre jovenzinha segué a pé, por um caminho táo longo e, apesar d'isso, é de fato a máe de Deus. Por isso nao nos deveríamos admirar, se todos'os

montes tivessem pulado e dangado de alegría".

"Esta única palavra máe de Deus contém toda a sua honra. Ninguém pode dizeralgo de maiordela ou exaltá-la, dirígindo-se a ela, mes-

mo que tivesse tantas línguas quantas folhas crescem ñas folhágens,

quantas graminhas há na térra, quantas estrelas brilham no céu e quantos

gráozinhos de areia existem no mar. Para entender o significado do que é

ser máe de Deus, é preciso avallar e pesar esta palavra no coragáo " (explicagáo para o Magníficat).

Ao ler estas palavras de Martinho Lutero, que até o fim de sua vida honrava a máe de Jesús, que santificava as festas de María e diariamen te cantava o Magníficat, se percebe quáo longe nos geralmente nos dis tanciamos da correta atitude para com ela, como Martinho Lutero nos ensina, baseando-se na Sagrada Escritura. Quáo profundamente todos nos, evangélicos, deixamo-nos envolverpor urna mentalidade racionalista,

apesar de que em nossos escritos confessionais se léem sentengas como esta: "María é digna de ser honrada e exaltada no mais alto grau" (Art. 21,27 da Apología da Confissáo de Augsburgo)!

O racionalismo ignorou por completo o misterio da santidade. O que é santo, é bem diferente do resto; diante do que é santo, só nos podemos quedar em admiragáo, adorar e prostrar-nos no pó. O que é santo, nao é possível compreendé-lo. Diante da exortagáo, de Martinho " Essa expressáo significa que María nao é a máe de um grande homem qualquer, mas sim a máe do Filho de Deus, o qual é a segunda Pessoa da Divindade. Infeliz mente a Divindade de Jesús é negada hoje muitas vezes, ao ser apresentado como um mero homem ou até mesmo como um pecador. (N. d. Basiléia Schlink). 84

LUTERO E MARÍA SANTÍSSIMA

37

Lutero, de que María nunca pode ser suficientemente honrada na cristandade como a mulher suprema, como ajóia mais preciosa depois de Cris to eu sou obrigada a me confessar adepta daqueles que durante muitos

anos de sua vida nao seguiram esta admoestagáo de exalta-la e assim

também nao cumpriram a exortagao da Sagrada Escritura segundo a qual as geragóes considerariam María bem-aventurada (Lucas 1,48). Eu nao entrei na fila destas geragóes. É verdade que também li na Sagrada Es critura como Isabel, mulher agraciada por Deus, falando pelo Espirito

Santo e denominando María "a máe do meu Senhor", Ihe prestou a maior

homenagem, ao Ihe dizercomo prima mais idosa: "Donde me vem a hon ra de tu entrares em minha casa?!" Eu, de fato, poderla ter aprendido o procedimento correto com Isabel. Mas eu nao prestei homenagem a Ma

ría com pensamento algum, com nenhum sentimento do coragao, com

palavra alguma, nem com algum canto. E muito menos eu a louvava sem fim, deixando de seguir a oríentagáo de Lutero, quando escreve que ja

máis chegaríamos a exaltá-la o suficiente.

Minha intengáo, ao escrever este opúsculo sobre o caminho de

María segundo o que diz déla a Sagrada Escritura, foi conscientemente reparar esta omissáopela qual me tornei culpada para com o testemunho da Palavra de Deus. Ñas últimas décadas o Senhor me concedeu a gra-

ca de aprender a amar e honrar cada vez mais a María, a máe de Jesús. E isto á medida que, pela Sagrada Escritura, me ia aprofundando no conhe'cimento de sua vida e dos seus caminhos. Minha sincera intengáo, ao escrever este livro, é fazer o que posso para ajudar, a fim de que entre nos os evangélicos, a máe de nosso Senhor seja novamente amada e

honrada como Ihe compete, segundo as palavras da Sagrada Esentura e conforme nos recomendou Martinho Lutero, nosso reformador.

Com gratidáo gostaria de confessar aqui quanto o testemunho de sua obediencia, de sua entrega total de disponibilidade para andar todos

os seus penosos caminhos, me foram urna béngáo. Pois ela viveu e an-

dou o caminho da humilhagáo, numa atitude que - no dizerde Lutero, cuando escreve a introdugáo ao Magníficat - nos pode servir deexemplo: "A delicada máe de Cristo sabe ensinar melhor do que ninguem - pelo exemplo de sua prática - como devemos conhecer, louvar e amar a Deus ...

Quanto amor nos, os evangélicos, dedicamos aos apostólos Paulo e Pedro! Muitas vezes até encontramo-nos num relacionamento individu al e espiritual com eles. Nos os honramos e Ihes agradecemos por terem

andado este caminho de discípulos de Cristo. Agradecemos ao apostólo Paulo, porque sabemos que, sem ele, a mensagem de Jesús nao tena

chegádo até nos, os gentíos. Exaltamos, cheios de gratidao, os madres

de nossa Igreja, cujo sangue foi sementé da qual a Igreja tira vida^ E nos esquecemos muitas vezes de agradecer a María, a máe de nosso Senhor. 85

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

Nao está ela inserida na "nuvem de testemunhas" que nos circun-

dam (cf. Hebreus 12,1) e cujo testemunho nos deve fortalecer para a luta que temos a sustentar? ^

Se honramos apostólos e arcanjos e deles esperamos que seiam

nossos guias no caminho, usando seus nomes para denominar comuni

dades e igrejas nossas, entáo, como é que poderfamos excluir María

que esta ligada a Jesús como a primeira e mais íntima e que andou com Ele o caminho da cruz?

A nossa Igreja Evangélica deixou de Ihe prestar honra e louvor receando com isto reduzira honra devida a Jesús. Mas o que acontece é o segumte: toda honra auténtica dirigida aos discípulos de Jesús e tam-

bem a Sua máe aumenta a honra do Senhor. Pois foi Ele, só Ele que os

elegeu, os cobríu com Sua graga e fez deles Seu vaso de eleicáo Por sua fe, seu amor e sua dedicagáo para com Deus, é Deus colocado no

centro das atengoes e é glorificado.

É também intengáo nossa - como Irmandade de María - contribuir

em obediencia á Sagrada Escritura, para que nosso Senhor Jesús nao

seja entristecido por um comportamento nosso destituido de reverencia para com Sua máe ou até de desprezo. Pois ela é Sua máe que O deu a

luz e O cnou e educou e a cujo respeito falou o Espirito Santo por inter

medio de Isabel: "Bem-aventurada a que creu!"

Jesús espera de nos que a honremos e amemos. É isto que nos é

proposto pela Palavra de Deus e é, portanto, Sua vontade. Esomente os que guardam Sua palavra, sao os que amam a Jesús de verdade (Joáo 14,23).

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86

Santa Teresinha entre

OS DOUTORES DA IGREJA

Em síntese: Doutor da Igreja é aquele crístáo ou aquela crista que

se distinguiu por notorio saber teológico em qualquer época da historia. O conceito de Doutor da igreja difere do de Padre da Igreja, pois Padre da Igreja é somente aquele que contribuiu para a reta formulagao dos artigos da fé até o século Vil no Ocidente e até o secuto VIII no Oriente. Há Padres da Igreja que sao Doutores. Assim os quatro maiores Padres latinos (S. Ambrosio, S. Agostinho, S. Jerónimo e S. Gregorio Magno) e os quatro maiores Padres gregos (S. Atanásio, S. Basilio, S. Gregorio de Nazianzo e S. Joáo Crísóstomo). *

*

*

A inscricáo de Sta. Teresinha de Lisieux entre os Doutores da Igreja despertou a atencáo do público para o conceito de tal título. Que significa ser "Doutor(a) da Igreja"? - Eis o que as páginas subseqüentes procuraráo dizer.

1. Doutores da Igreja: quem sao?

Os Doutores da Igreja sao homens e mulheres ilustres que, pela sua santidade, pela ortodoxia de sua fé, e principalmente pelo eminente sa ber teológico, atestado por escritos varios, foram honrados com tal titulo por designio da Igreja.

Os Doutores se assemelham aos Padres da Igreja, dos quais também diferem, como se verá a seguir.

Padres da Igreja sao aqueles cristáos (Bispos, presbíteros, diáconos ou leigos) que contribuíram eficazmente para a reta formulacáo das ver dades da fé (SS. Trindade, Encarnacáo do Verbo, Igreja, Sacramentos...) nos tempos dos grandes debates e heresias. O seu período se encerra

em 604 (com a morte de S. Gregorio Magno) no Ocidente e em 749 (com a morte de S. Joáo Damasceno) no Oriente.

Para que alguém seja considerado Padre da Igreja, requer-se anti-

güidade (até os séculos Vil/VIH), ao passo que isto nao ocorre com um Doutor. 87

12

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

Para os Padres da Igreja, basta o reconhecimento concreto nao explicitado, da Igreja, ao passo que para os Doutores se requer'uma proclamacáo explícita feita por um Papa ou por um Concilio. Para os Padres, nao se requer um saber extraordinario, ao passo

que para um Doutor se exige um saber de grande vulto.

Por conseguinte, o que caracteriza um Padre da Igreja é princi palmente a sua antigüidade; ao contrario, o Doutor se identifica

precipuamente pelo seu saber notorio. Isto, porém, nao impede que

naja Padres da Igreja que também sao Doutores, como se verifica por exemplo, no caso dos maiores Padres do Ocidente (S. Ambrosio'

S. Agostinho, S. Jerónimo, S. Gregorio Magno) e no dos quatro maio

res Padres do Oriente (S. Atanásio, S. Basilio, S. Gregorio de Nazianzo e S. Joáo Cnsóstomo). Sao os oito grandes Doutores da Igreja.

Esta terminología, precisa como é, nao era usual na antigüidade

pois a palavra doutortinha o sentido de doctor, docente, mestre, de modo que eram doutores antigamente aqueles que conheciam bem os artigos da fé e os sabiam explanar com clareza. Sao Paulo parece aludir a este sentido ampio de mestre, quando diz que o Senhor "constituiu apostólos, profetas, evangelistas, pastores em sua Igreja" (cf Ef

4,11; ver 2Cor 12,28; At 13,1).

Com o tempo, o título de Doutor foi-se tornando mais específicoa principio era atribuido somente a Padres da Igreja, isto é, aqueles Padres que sobressaíram por seu brilho doutrinário. Interessante é notar que nenhum mártir foi proclamado doutor da Igreja (tal poderia ter sido o caso de S. Cipriano de Cartago, vigoroso defensor da unidade da Igreja),... e nao o foi porque o martirio é con siderado o maior título de gloria, que nao necessita de algum comple

mento para enaltecer a figura do cristáo.

No século XVI a Igreja abriu máo da nota da antigüidade e passou a designar como Doutores figuras de épocas mais recentes. A pnmeira proclamacáo neste sentido foi feita pelo Papa S. Pió V, aos 11/4/1567, em favor de S. Tomás de Aquino (f 1274). Outras procla-

macóes ocorreram posteriormente, como se depreende da lista

publicada a seguir.

Além dos Doutores reconhecidos na Igreja inteira, há os que pos-

suem tal título apenas em determinado país ou ambiente. Tal é o caso

de S. Leandro de Sevilha (f 604), doutor na Espanha, e S. Próspero da Aquitania (f após 455), Doutor entre os Cónegos Regulares do Latráo.

88

41

OS DOUTORES DA IGREJA

2. Os Doutores da Igreja

NOMES

FUNCÁO

DATADA

NA IGREJA

MORTE

PAÍS NATAL OBRAS PRINCIPÁIS

Hilario de Poitiers

Bispo

367

Franca

Atanásio

Bispo

373

Egito

A Tríndade.

Comentario aos Salmos. Comentario a S.Mateus. A Encamacáo do Worhn VTjIUw.

Apología contra os Arianos. Efrém

Diácono

378

Siria

Comentarios á Biblia. Poemas de Nísibe.

Basilio

Bispo

379

Turquía

Tratado do Espirito Santo.

Cirilio de Jerusalém

Bispo

386

Palestina

Catequeses

Gregorio

Bispo

390

Turquía

Homilías. Cartas.

Ambrosio

Bispo

397

Italia

Comentario do Evangelho de Lucas. Tratado da Virgindade.

Joáo

Bispo

407

Turquía

O Sacerdocio. Homilías. Cartas.

Jerónimo

Monge

419

lugoslávia

Vulgata {Traducáo Latina da Biblia)

Agostinho

Bispo

430

Argelia

Confissoes. Cidade de Deus A Trindade. Cartas.

Cirilo de

Bispo

444

Egito

Comentario de S. Joáo.

Pedro Crisólogo

Bispo

450

Italia

Homilías.

Leáo Magno

Papa

461

Italia

Homilías. Cartas.

Gregorio

Papa

604

Italia

Moral. Diálogos.

Bispo

636

Espanha

Etimologías

Beda o Venerável

Monge

735

Inglaterra

Historia Eclesiástica

Joáo

Monge

749

Siria

Versos.

Nazianzeno

Crisóstomo

Alexandria

Contra Nestórío.

Magno

Isidoro de Sevilha

dos Anglos.

Damasceno

89

Contra os Iconoclastas.

42

'PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

Pedro Damiáo

Cardeal

1072

Italia

0 Livro de Sodoma. Vida de S. Romualdo. Sermóes.

Anselmo

Bispo

1109

Inglaterra

Monologion. Proslogion. A Verdade. Cartas.

Bernardo

Abade

1153

Franca

A Graca. Para Eugenio III. Sermóes sobre o

Antonio de Pádua

Frade

1231

Portugal

Sermóes

Tomás de Aquino

Frade

1274

Italia

Suma Teológica. Contra Gentiles. Com. de Pedro Lombardo.

Boaventura

Cardeal

1274

Italia

Apología dos pobres.

Cántico dos Cánticos.

Itinerario do Espirito a Deus.

Alberto Magno

Bispo

1280

Alemanha

38 volumes sobre ciencia, teología, filosofía, Biblia.

Catarina de Sena

Religiosa

1380

Italia

Diálogo. Cartas.

Teresa de

Monja

1582

Espanha

Autobiografía. Caminho da Perfeícáo. Castelo Interior ou As moradas.

Joáo da Cruz

Frade

1591

Espanha

Cántico Espiritual Subida da Carmelo

Pedro Canísio

Padre

1597

Alemanha

Catecismo.

Lou renco de Bríndisi

Frade

1619

Italia

Comentario do Génesis. Sermóes.

Roberto Belarmino

Cardeal

1621

Italia

Controversias.

Francisco de

Bispo

1622

Franca

Introducáo á vida devota. Tratado do amor de Deus.

Afonso de Ligório

Bispo

1787

Italia

Teología Moral. Glorias de María. Prática de amar a J. Cristo. A oracáo.

S. Teresa de

Monja

1897

Franca

Autobiografía.

Ávila

Noite Obscura.

Sales

Lisieux

Alguns Doutores receberam um aposto que caracteriza sua perso-

nalidade. Assim

90

OS DOUTORES DA IGREJA

43

S. Anselmo de Cantuária, Doutor Mariano (devoto de María SS.) S. Bernardo de Claraval, Doutor Melifluo (dotado de palavra doce como o mel)

S. Antonio de Pádua, Doutor Evangélico (eximio pregadordo Evangelho)

S. Tomás de Aquino, Doutor Angélico, Comum S. Boaventura, Doutor Seráfico

S. Alberto Magno, Doutor Universal (grande erudito também ñas ciencias naturais de sua época)

S. Afonso Maria de Ligório, Doutor Zelosíssimo (sabio moralista) Santa Teresinha se distinguiu no campo da Espiritualidade ou da Ascética e Mística. Desenvolveu as palavras do Senhor Jesús que convidam os fiéis a se tornar enancas espiritualmente (cf. Mt 18,3s) vivendo como filhos bem-amados na presenca de Deus. A monja carmelita deduziu profundas conclusóes dos dizeres do Senhor, que ela explanou com simplicidade na sua autobiografía intitulada "Historia de urna Alma" e em escritos paralelos, inclusive poesías. Essas obras fizeram enorme bem a

Igreja, o que justifica plenamente o título de Doutora que Ihe foi conferido pelo Papa Joáo Paulo II aos 19/10/97. A Linguagem dos Números:

989.000.000 DE CATÓLICOS NO MUNDO Segundo o último Anuario da Igreja Católica recém-publicado pela Santa Sé existem atualmente 989 milhóes de católicos no mundo, ou seja, 17,4 % da populacáo global. Esta proporcáo tem-se mantido estavel.

O maiorcrescimento de católicos deu-se na Asia, chegando a 4,9%

em 1995 Pela primeira vez o número de católicos da Asia ultrapassa os

100 milhóes As llhas Filipinas contam 58,7 milhóes de católicos, supe rando os Estados Unidos, que tém 57 milhóes, e a Italia com seus 55,6 milhóes A taxa mais elevada de crescimento é a da parte asiática da exUniáo Soviética, onde se julga que o número de católicos passou de 122.000 a um milháo.

Na África, o crescimento registrado é de 4,1 %, e o número de católicos é de 107 milhóes. 91

44

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS8 429/1998

A América Latina é o continente mais católico, com seus 415 mi lhóes de fiéis. O Brasil conta 135 milhóes de católicos. Na Europa, o crescimento é mais lento. O número de católicos

passou de 287,5 milhóes a 289 milhóes.

A América do Norte (Estados Unidos e Canadá) conta 69 6 mi

lhóes de fiéis.

A Oceania progride também: registra 7,8 milhóes de católicos, ou

seja, 100.000 mais do que em 1995.

Estes dados servem de estímulo ao zelo missionário dos católicos, aos ouvidos dos quais ressoa o mandato de Cristo: "Ide e pregai o Evangelho..." (Mt 28, 18). Observa o Santo Padre na sua encíclica sobre a Validade do Mandato Missionário:

«37. O multiplicarse das Igrejas jovens, nos últimos tempos, nao deve ¡ludir-nos. Nos territorios confiados a estas Igrejas, especialmente na Asia, mas também na África, na América Latina e na Oceania, existem varias zonas nao evangelizadas: povos inteiros e áreas culturáis de gran de importancia, em muitas nagóes, aínda nao foram alcangados pelo anun cio evangélico nem pela presenga da Igreja local. Inclusive em países tradicionalmente cristáos, há regióes confiadas ao regime especial da missáo ad gentes,1 com grupos e áreas nao evangelizadas. Impóe-se,

pois, nestes países, nao apenas urna nova evangelizagao, mas, em certos casos, a primeira evangelizagao...

40. A atividade missionária ainda hoje representa o máximo desa

fio para a Igreja. Á medida que se aproxima o fim do segundo milenio da

Redengáo, é cada vez mais evidente que os povos que ainda nao receberam o primeiro anuncio de Cristo constituem a maioria da humanidade. Certamente o balango da atividade missionária dos tempos modernos é positivo: a Igreja está estabelecida em todos os continentes, e a maioria dos fiéis e das Igrejas particulares já nao está na velha Europa, mas nos continentes que os missionários abriram á fé.

Permanece, porém, o fato de que os confins da Térra, para onde 0 Evangelho deve ser levado, alargam-se cada vez mais, e a sentenga de Tertuliano, segundo a qual o Evangelho foi anunciado por toda a Térra e a todos os povos, está ainda longe de se concretizar: a missáo ad gentes ainda está no comego. Novos povos aparecem no cenário mundial e também eles tém o direito de receber o anuncio da salvagao. O crescimento demográfico no Sul e no Oriente, em países náocristáos, faz aumentar continuamente o número das pessoas que ig-

noram a redengáo de Cristo». 1 aos pagaos (Nota da Redagao).

92

O TEMPO NA CONCEPQÁO JUDAICO-CRISTÁ1 O tempo é algo de misterioso, pois está em fluxo constante: o pas-

sado já se foi, o futuro aínda nao existe, e o presente escapa... Por isto os pensadores antigos em geral refletiram sobre o significado do tempo. Na Grecia e em países do Oriente a ¡mpressáo de que o tempo é cíclico e se desenvolve em continuos retornos fez que muitas escolas depreciassem

o tempo; era simbolizado por urna serpente que se enrosca e, após muito girar, acaba mordendo a própria cauda (donde se perceberia o náo-senso do tempo); para muitos, era necessário escapar do eterno retorno ou do ciclo das reencarnacóes. Outro, porém, foi o modo de pensar dos judeus e cristáos, como passamos a expor.

1. A Historia no Judaismo

1. Chama-nos a atencáo o fato de que os judeus, no mundo antigo tenham valorizado a historia, escrevendo livros que percorrem os tempos

desde Abraáo (século XIX a. C.) até a época dos Macabeus (século II a. C). A razáo deste fato é a conviccáo de que a historia é um discurso de Deus, do único Deus, que se revela por ditos e feitos aos homens (os

ditos sao ilustrados pelos feitos e vice-versa). Conseqüentemente a ¡magem que methor significa o tempo, no caso, é a de um cone que se abre aos poucos, comecando com o primeiro Adáo e culminando no segundo Adáo, o qual encerra os tempos. Já no primeiro homem se espelhava a imagem do futuro ou do final:

RomS.14

2. Os israelitas, por mais conscientes que fossem do valor do tem po, sabiam que houve um desastre no inicio da historia, desastre que explica os males das épocas subseqüentes: doencas, morte, flagelos di

versos... É o que dá a entender o relato do pecado original em Génesis 3: o homem foi dotado originariamente de bonanca material e espiritual, mas perdeu-a por efeito de urna ruptura com o Criador. Esta conviccáo judaica é atestada, a seu modo, por outros povos antigos, que referem também urna desordem original, responsável pela inclemencia da historia. Eis algumas dessas lendas, que, embora ficticias, exprimem a consciéncia, ' Síntese de urna conferencia proferida pelo Pe. Estéváo Bettencourt O.S.B. na IX Semana de Filosofía da Faculdade Eclesiástica Joáo Paulo II aos 30/10/97. 93

46

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

compartilhada por muitos povos em diversos continentes, de que houve urna queda inicial correspondente ao pecado original da Biblia:

Em New South Wales (África) varias tribos afirmam que os primei-

ros homens foram destinados a nao morrer. Contudo era-lhes proibido aproximarse de certa árvore oca, em que abelhas selvagens tinham feito a sua colméia. No decorrer do tempo, as mulheres cobigaram o mel da árvore proibida, até que, belo día, urna délas, desprezando as admoestagóes dos homens, tomou do seu machado e o arremessou contra o tron co; ¡mediatamente saiu deste urna enorme coruja. Era a Morte, a qual de entáo por diante circula livremente sobre o mundo e reivindica para si tudo que ela possa tocar com as asas.

Os pigmeus referem que Deus (Mugasa) a principio criou dois rapa-

zes e umajovem, com os quais vivía amigavelmente na floresta, comopai com seus filhos, num lugar de toda bonanga: nada faltava aos homens,

nem tinham que recear por alguma perspectiva de morte. Mugasa apenas Ihesproibira queprocurassem vera sua face. Habitava urna tenda, diante da qual diariamente a jovem tinha que depositar lenha para o fogo e um jarro de agua. Um día, porém, a moga, vencida pela curiosidade, escondeu-se atrás de urna árvore, ficando á espreita do "Pai", que havia de aparecer. De fato, ela o pode ver, quando estendia o brago reluzente de

ornamentos a fim de apanhar o jarro. A menina alegrou-se entáo profun damente e guardou o segredo do ocorrido. Mugasa, porém, percebera a desobediencia. Chamou os tres irmáos á sua presenga e Ihes censurou a falta, predizendo-lhes que havia de os deixar; para o futuro, a indigencia e a morte pesariam sobre eles. Os prantos do grupinho humano nao conseguiram deter a sentenga; certa noite Mugasa partiu rio ácima, e nao foi mais visto. Quanto ao primeiro filho que nasceu á mulher, morreu após tres días de existencia...

Os Bagandas da África Central contam que Kintu, o primeiro ho-

mem, depois de ter superado varios testes, obteve a licenga de se casar com Nambí, urna das filhas de Mugulo (o Céu ou o Alto). O pai da donzela deixou que ela viesse com seu consorte para a térra, trazendo ricos pre

sentes, entre os quais urna galinha; ao despedirse do casal, mandou que se apressassem por sair, aproveitando o fato de que o irmáo de Nambí,

chamado Warumbe (a Morte), estava fora de casa; recomendou-lhes, outrossim, nao voltassem para apanhar o que querque tivessem esquecido. Durante a caminhada, porém, Nambi verificou que chegara a hora de

dar de comer á galinha; já que esquecera o milho, consentiu entáo em

que Kintu voltasse á casa para buscá-lo. Mugulo, o pai, ao rever o genro, irritou-se pela desobediencia; Warumbe (a Morte), estando de novo em casa,

fez questáo de acompanhar Kintu; toda resistencia tendo sido vá, a Morte

desceu com o casal para a tena, onde até hoje habita com os homens.

Graciosa é a historia que contam os japoneses: o príncipe Ninighi 94

O TEMPO NA CONCEPQÁO JUDAICO-CRISTÁ

47

se enamorou pela princesa "Florescente como as flores". O pal da jovem, que era o Deus da Grande Montanha, consentiu em seu casamento, e deixou-a partir com sua irmá mais velha "Alta como as rochas". Esta, porém, era tremendamente feia, de sorte que o noivoa mandou voltarpara casa. Em conseqüéncia, o velho Deus amaldigoou o genro, e declarou que sua posteridade seria frágil e delicada como as flores! Os "Bataks" de Palawan (ilhas Filipinas) contam que o seu deus

costumava ressuscitar os mortos. Todavía certa vez os homens o quiseram engañar, apresentando-lhe um tubaráo enfaixado como um cadáver. Quando a Divindade descobriu a astucia, amaldigoou os homens, condenando-os a ficar sujeitos ao sofrimento e á /norte.

3. Voltando ao texto bíblico, verificamos que ele nao somentenarra

a desobediencia do homem, mas promete outrossim a restauracáo da amizade de Deus com os homens, no chamado Proto-Evangelho (cf. Gn 3 15). Essa restauracáo se daria em Cristo e por Cristo na pienitude dos te'mpos. Em conseqüéncia, após o primeiro pecado duas correntes perpassam a historia: o progresso do mal e a obra da restaurado mediante os Patriarcas e os Profetas. 2. A Historia no Cristianismo

O aguardado Messias veio, inaugurando nova fase da historia. Esta

agora é fortemente ambigua, pois ainda nao consumada; nela se cruzam

dois aiones ou dois mundos: o mundo velho, herdeiro do primeiro Adao, contaminado pelo pecado, e o mundo novo, iniciado pelo segundo Adáo. É o que Sao Paulo refere, ao dizer que "a nos chegaram os fins ou as pontas de dois séculos" (1Cor 10,11):

2*Addb

Em Ef 4,22-24 encontra-se a imagem do homem velho e do homem novo que habitam em nos, de tal modo que o recuo do velho implica um avango do novo homem no cristáo. É o que se pode significar pelo gráfico de dois ángulos que se cruzam: um, que se fecha, é o velho homem; o outro, que se abre, é o novo homem; cf. Ef 4,22-24:

95

1!

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 429/1998

^ Mesmo ambiguo como é, o tempo atual é o tempo oportuno ou o kairós, tempo decisivo ou essencial. Toda a historia que assim corre, tem

seu ponto alto em cada domingo, pois entáo se comemora a Páscoa'ou a

Vitoria do segundo Adáo sobre o pecado e a morte, Vitoria da qual partici-

pam os cristaos pela Eucaristía; em cada domingo o cristáo vive um pouco mais os valores definitivos, que tendem a absorver o que é velho.

Assim se evidencia o valor do tempo para o cristáo; é o período de desdobramento de um germen de eternidade colocado em cada neófito

pelo Batismo e alimentado pela Eucaristía.

De resto, o valor do tempo já saltava aos olhos do filósofo estoico Séneca (t 65 d.C), que escrevia a seu amigo Lucílio: "Meu caro Lucílio, reivindica a posse de ti mesmo. Teu tempo até

agora te era tomado, roubado; ele te escapava. Recupera-o e cuida dele.

A verdade, ei-la: nosso tempo, arrancam-nos urna parte dele, desviam outra parte e o resto nos escorre entre os dedos. Todavía é mais digno de

censura perdé-lo por negligencia. E, para quem considera bem, urna boa parte da vida decorre em feitos desajeitados; outra parte decorre na vadiagem; a vida inteira passa enquanto fazemos coisas diferentes daquelas que deveríamos fazer.

Poderias citar-me um homem que dé valor ao tempo, que reconheca o valor de um día, que compreenda que ele morre diariamente? Nosso erro está emjulgar que a morte está diante de nos. No que se refere ao essencial, ela já passou. Urna parte da nossa vida está atrás de nos e

pertence á morte.

Por conseguinte, caro Lucílio, faze o que dizes: segura cada hora. Serás assim menos dependente do amanha, pois tu te terás apoderado do día presente. Os homens adiam a vida para mais tarde. Enquanto o fazem, a vida se escoa.

Lucílio, tudo se acha fora do nosso alcance. Somente o tempo nos

pertence. Este bem fugidio, escorregadio, é a única coisa de que a natureza nos fez proprietários. E o primeiro que sobrevém, no-lo arrebata! As pessoas sao loucas: diante do mínimo presente, de quase nenhum valor,

cada qual se senté obrigado a retribui-lo, ao passo que ninguém sejulgá

obrigado em virtude do tempo que Ihe é concedido, tempo que é a única coisa que homem algum pode retribuir, seja ele o mais grato dos homens" (Séneca, Carta a Lucílio I § 2).

Estéváo Bettencourt O.S.B.

96

PARA O ANO LETIVO: 1998

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Virgem e Máe - 11. Jesús teve irmáos? - 12. O Culto aos Santos - 13. E as imagens sagradas? - 14. Alterado o Decálogo? - 15. Sábado ou Domingo? 16. 666 (Ap. 13,18) - 17. Vocé sabe quando? - 18. Seita e Espirito Sectario19. Apéndice geral: A era Constantina RS 16,80.

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