Projeto PERGUNTE E
RESPONDEREMOS ON-LINE
Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de
Dom Esteváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)
APRESENTAQÁO DA EDIQÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanza a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15). Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que
somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar
— —
consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.
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Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propoe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista crístáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar
este trabalho assim como a equipe de Veritatis
Splendor que se encarrega do
respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB
NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos
convenio
com
d.
Esteváo
Bettencourt
e
passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
e
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada
em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.
Ano xxxk Setembro 1998 436 Chamados ao Heroísmo
Oficinas de Oracáo: Reconhecidas e Aprovadas "O Martelo das Feiticeiras"
Setembro 1998: Mes sinistro? O Anticristo: Quem é ele?
A Igreja Universal do Reino de Deus e o dízimo A Origem do Papado Separados e Re-casados
SETEMBRO1998
PERGUNTE E RESPONDEREMOS
N°436
Publicacáo Mensa!
Diretor
SUMARIO
Responsável
Estéváo
Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico Diretor-Administrador: D. Hildebrando P. Martins OSB
Administra9áo
e
Distribuidlo:
Edifóes "Lumen Christi" Rúa Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501 TeL (021) 291-7122 Fax (021) 263-5679 Enderezo
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Chamados ao Heroísmo
385
Para aprender a orar: Oficinas de Oracáo: Reconhecidas e Aprovadas
386
Manual de Inquisidores: "O Martelo das Feiticeiras"
392
Profecías... Setembro 1998: Mes sinistro?
405
Fim do Mundo? O Anticristo: Quem é ele?
411
Que pensar? A Igreja Universal do Reino de Deus e o dízimo
417
Discute-se: A origem do Papado
423
Problema freqüente: Separados e Re-casados
429
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CHAMADOS AO HEROÍSMO Um dos mais graves males que possam acometer um católico praticante,
é a acédia ou o desánimo, ás vezes causada por decepgóes ou frustracóes. A natureza humana, principalmente quando se póe ao encalco de valores
transcendentais invisíveis, está sujeita ao cansaco espiritual. Nem tudo corresponde ao ideal que alguém concebe quando comeca sua carreira de vida pessoal. Alias, dizem os psicólogos que a criatura humana passa por tres fases
de possível crise em seu currículo de vida: a primeira é a quadra dos vinte anos, em que o jovem é tentado a jogar fora os valores recebidos dos mais velhos, que ele considera "cafonas" ou ultrapassados, para ser ele mesmo, descobrindo seus próprios valores; faz suas experiencias de vida e finalmente se acalma. Segue-se a crise dos quarenta anos, que representam mais ou menos a metade da vida;
quem olha para tras, verifica possíveis ferimentos na caminhada, sente-se um tanto desesperanzado, e tende a recomecar a vida, voltando ao comportamento
de seus vinte anos; é a fase de mudancas, nem sempre felizes. Finalmente ocorre a crise dos sessenta anos, idade em que a pessoa comeca a se sentir inepta a realizar suas funcóes habituáis; a sociedade a vai marginalizando - o que causa
tedio e mal-estar.
Se essas crise estáo no potencial da natureza humana e se a psicología as explica, compete ao cristáo fazer tudo para nao Ihes sucumbir; é oportuno que tome consciéncia de que pertencem ao ritmo de evolucáo de sua caminhada terrestre, e nao permita que tais fases deixem marcas profundas em sua perso-
nalidade. A fé há de ajudar o cristáo a superar a lerdeza da natureza e chegar devidamente ao termo da estrada encetada. Como se compreende, o cristáo nao
está isento de sentir o que a fragilidade humana suscita em todo homem, mas ele deve saber que é chamado ao heroísmo. Com efeito, desde o seu Batismo, o discípulo de Cristo é vocacionado a tanto, a tal ponto que, quando se inicia o processo de canonizacáo de um(a) servo(a) de Deus, um dos primeiros passos da Igreja é averiguar se a pessoa foi heroica na prática das virtudes; nao menos do que isto...
O Apostólo enfatiza estas verdades ao escrever aos hebreus ou a urna
comunidade de cristáos outrora generosos e magnánimos, mas no momento desfalecentes, prestes a jogar fora os valores do seu passado; assemelham-se a atletas que, já no fim do pareo, alegam nao agüentar mais. Diz-lhes entáo o autor sagrado:
"Lembrai-vos dos vossosprimordios;... suportastes um combate doloroso...
É de perseveranga que tendes necessidade... Umpouco, muitopouco tempo, e
aquele que vem, al estará; ele nao tardará. Omeujusto mera pela fé"(Hb 10,32.36s). É essa fé perseverante e "teimosa" que obtém a Vitoria final.
"Sei em quem acreditei...", diz Sao Paulo a Timoteo (2Tm 1,12), ele que pode escrever: "Murtas vezes vi-me em perigo de morte. Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Tres vezes fui flagelado. Urna vez, apedrejado Tres vezes naufraguei. passei um dia e urna norte em arto mar" (2Cor 11,23-25). E.B. 385
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XXXIX - N9 436 - Setembro de 1998
Para aprender a orar:
OFICINAS DE ORAQÁO: RECONHECIDAS E APROVADAS
Em síntese: As Oficinas de Oragáo, estruturadas pelo Pe. Freí Ignacio Larrañaga, tencionam ensinar aos cristáos os meios de progredir na vida de oracáo. Fazem-no através de um roteiro de quinze sessdes, estritamente programadas, que leva o discípulo nao somente á prática de oragáo mais profunda e frutuosa, mas também á irradiagáo dessa vida espiritual no apostolado, em consonancia com a Igreja. Tém sido de gran de utilidade para numerosas pessoas, assim beneficiadas pela experien cia e a sabedoria do Pe. Larrañaga.
Aos 4/10/1997 o Pontificio Conselho para os Leigos houve porbem reconheceras Oficinas de Oragáo e Vida como Associagáo privada inter nacional de fiéis leigos, de direito pontificio, e aprovou os respectivos Estatutos, a título experimental, por cinco anos.
As Oficinas de Oracáo vém a ser urna instituicáo nova, cujo nome mesmo chama a atencáo, provocando os interesses de muitos cristáos. O seu fundador e orientador é o Pe. Inácio Larrañaga, capuchinho espanhol, que tem percorrido a América Latina pregando retiros e dando cur sos de espiritualidade com grande proveito para os participantes. Como resultado de sua prolongada experiencia, concebeu urna metodología que ajude o cristáo e aprofundar-se e aperfeicoar-se na vida de oracáo.
É o que se chama "Oficina de Oracáo". - A seguir, exporemos o que sao
as Oficinas de Oracáo e Vida e o texto do decreto do Pontificio Conselho para os Leigos que as aprova em data de 4/10/1997, assim como os Cánones do Código de Direito Canónico que mais interessam ao assunto. 386
OFICINAS DE ORAQÁO: RECONHECIDAS E APROVADAS
3
1. Oficinas de Oracáo: que sao?
1. A Oficina de Oracáo é um método de aprender a orar. Sem dúvida, a oracáo é dom de Deus, fruto da acáo do Espirito Santo no homem (cf. Rm 8,26). Mas isto nao dispensa o cristáo de se mobilizar para poder entreter-se com Deus. A experiencia ensina que muitas pessoas tém dificuldade para se recolher e entrar em diálogo com o Deus invisível; as
distracóes sobrevém freqüentemente áquele que tenta orar. É por isto que existem métodos para suscitar o encontró do homem com o Senhor, facilitando-lhe a concentracáo e o aprofundamento. Ora a Oficina de Oracáo tenciona atender a este objetivo. A apren-
dizagem ai nao é teórica como num curso, mas prática, como numa ofici na. E, como numa oficina, aprende-se trabalhando e trabalha-se aprendendo. "Na Oficina de Oragáo aprende-se a entrar paulatinamente em relagáo pessoal com o Senhor, a estabelecer urna corrente atenciosa e
afetiva com um TU na fé e no amor. E isto, desde os primeiros passos até
a oragáo de contempiagáo, passando por urna variada gama de modos de relacionarse com Deus, de maneira que cada assistente, ao final, escolha e fique com um esquema prático de oragáo que melhor se adap te as suas condigóes pessoais" (Oficinas de Oragáo. Manual para os Guias, pp. 7s, doravante Manual). 2. A Oficina se distingue por
- rigorosa pontualidade no cumprimento dos horarios; - seriedade, pois se trata de algo muito importante; daí nao se permitirem elementos que lembrem reunióes sociais, como refrescos, café, biscoitos...;
- rigor. O Guia da Oficina deve seguir estritamente o que Ihe é prescrito no Manual, sem interpolacóes ou alteracoes subjetivas. 3. A Oficina de Oragáo consta de quinze sessóes semanais, cada urna das quais dura duas horas. O número ideal de participantes fica entre 15 e 25 pessoas; somente em casos especiáis tal número poderá ser maior ou menor.
Cada Oficina é dirigida por um Guia (eventualmente por dois), cuja funcáo consiste em por em prática, ponto por ponto, o espirito e o conteúdo do Manual.
Á frente dos Guias há urna Equipe Coordenadora, de ámbito regio nal, cuja funcáo é autorizar, controlar e organizar a marcha das Oficinas. 387
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 436/1998
Ácima desta Equipe há um Responsável Nacional em cada país. E á frente dos Responsáveis Nacionais há um Responsável Internacional, cujo papel é animar a realizacáo das Oficinas e zelar pela fecundidade espiritual.
4. As Oficinas de Oracáo oferecem um servico provisorio, limita do e aberto: ensinar a orar. Qualquer cristáo pode candidatar-se a tal aprendizagem, desde que preencha um único pré-requisito: o desejo sincero de entrar em relacáo cada vez mais íntima com Deus. Termi nadas as quinze sessóes de aprendizagem, o cristáo procurará exercer sua vida de piedade e apostolado, comprometido com sua paróquia ou sua diocese.
5. As Oficinas de Oracáo tém caráter laical. Isto quer dizer que seus destinatarios ¡mediatos sao os leigos, embora comunidades religio sas e Noviciados tenham sido e sejam também beneficiados por elas. A maioria dos Guias sao leigos - o que nao excluí haja também sacerdotes e Religiosas nesta fungáo. As Equipes de Coordenacáo sao exclusivamente integradas por leigos. 6. Aínda é de notar que as Oficinas cultivam fielmente o sentido de Igreja. Querem prestar um servico verdadeiramente eclesial em conso nancia com os Bispos e com o Santo Padre o Papa. Antes da instalacáo de urna Oficina, a Equipe responsável deve fazer-se presente ao Bispo local: informe-o sobre a natureza e o propósi to das Oficinas, entregando-lhe todo o material que nelas se usa, e pecaIhe sua autorizacáo e suas béncáos para iniciar a tarefa. Também os párocos merecem todo o respeito das Equipes de coordenacáo e dos
Guias; estes háo de os por a par do andamento dos trabalhos do grupo e apresentar-lhes os novos apostólos daí oriundos.
Todavía as Oficinas nao necessitam de Assessor eclesiástico propriamente dito, pois o roteiro de suas reunióes já é definido por um Manu al preciso e bem orientado; além do qué, a presenca de um sacerdote pode inibir os leigos em sua criatividade e dinámica. 2. O Decreto de Aprovacáo
Eis o texto do decreto N. 2250/97/S - 61B ■ 83 do Pontificio ConseIho para os Leigos que, aos 4/10/1997, reconheceu as Oficinas de Ora cáo:
«Acolhendo a solicitacáo apresentada pelas autoridades das Ofici nas de Oracáo e Vida relativa ao reconhecimento das Oficinas como Associacáo privada internacional de fiéis na Igreja Católica, 388
OFICINAS DE ORACÁO: RECONHECIDAS E APROVADAS
5
Tendo presente que esta benéfica experiencia pedagógica e associativa fundada pelo Rev. Pe. Inácio Larrañaga Orbegozo propóe - introduzir seus integrantes na vida de oracáo e urna síntese vital da oracáo com as atividades temporais ordinarias segundo o estilo próprio dessas Oficinas,
- através dessa conjugacáo de fé e vida ordinaria tornar seus inte grantes conscientes da sua condicao e da sua dignidade batismais e da sua responsabilidade na missáo que Deus confia a Igreja no mundo se gundo a parte que toca a cada cristao,
- fazer de cada Oficina um viveiro de vocacóes para o apostolado leigo a servico da Igreja ñas respectivas dioceses e paróquias (cf. Estatu tos n9 4), Considerando os objetivos gerais das Oficinas, que sao: - fidelidade, no apostolado, ao Evangelho de Nosso Senhor Jesús Cristo e aos ensinamentos do Magisterio, - preocupacáo prioritaria com a educacáo, na fé, de todos os seus membros,
- ser presenca da Igreja em toda parte do mundo em que se encontrem,
- adesáo incondicional á Igreja Católica, á hierarquia da Igreja e ao seu Magisterio, segundo documentos do servico, - diálogo permanente com os Bispos de cada lugar (cf. Estatutos n95),
Recomendando que o servico próprio das Oficinas, que é ensinar a orar e ajudar o crescimento na vida crista, crie raizes na Liturgia e nos sacramentos da Igreja, especialmente na Eucaristía, que é fonte e vérti ce de toda oracáo e vida crista (cf. Constituicáo conciliar Sacrosanctum Concilium n9 1-20) e se enriqueca sempre com o preciosíssimo tesouro da grande Tradicáo da Igreja relativo as diversas formas e experiencias de oracáo,
Tendo recebido muito numerosos testemunhos de Ordinarios diocesanos e Párocos de diversos países e continentes, que assinalam os bons frutos de conversáo, santidade e apostolado suscitado pelas Oficinas,
Tendo estudado os Estatutos das Oficinas de Oracáo e Vida e outros documentos procedentes de tal experiencia associativa e encontrando-os conformes á doutrina e á disciplina da Igreja Católica, 389
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 436/1998
O PONTIFICIO CONSELHO PARA OS LEIGOS DECRETA
o reconhecimento das Oficinas de Oracáo e Vida como Associa9áo pri vada internacional de fiéis, de direito pontificio, com personalidade jurídi
ca segundo os cánones 298 a 311 e 321 a 329 do Título V (Livro VI, Parte I) do Código de Direito Canónico vigente, e a aprovacáo de seus Estatu tos apresentados em seu teor original e depositados no Arquivo deste Dicástério, por um período ad experímentum (para experiencia) de cin co anos.
Stanislaw Rylko Secretario
J. Francis Stafford Presidente
Dado na Cidade do Vaticano, aos 4 de outubro de 1997 Memoria de Sao Francisco de Assis» 3. Fundamentado Jurídica
Á guisa de complemento, transcrevemos, a seguir, os principáis dos cánones citados pelo Decreto de aprovacáo das Oficinas:
Can. 298 -§ 1. Na Igreja existem associagóes, distintas dos insti tutos de vida consagrada e das sociedades de vida apostólica, ñas quais os fiéis, clérigos ou leigos, ou conjuntamente clérigos e leigos, se empenham, mediante esforgo comum, por alimentar uma vida mais perfeita e promover o culto público, a doutrina crista ou outras obras de apostolado, isto é, iniciativas de evangetizagáo, exercfcio de obras de piedade ou caridade, e animagáo da ordem temporal com espirito cristao. § 2. Os fiéis déem seu nome principalmente ás associagóes que tenham sido erigidas, louvadas ou recomendadas pela competente autoridade eclesiástica.
Can. 299 -§1. Por acordó particular, os fiéis tém o direito de cons tituir associagóes, para a obtengáo dos fins mencionados no can. 298, § 1, salvas as prescrigóes do can. 301, § 1.
§ 2. Essas associagóes, embora louvadas e recomendadas pela autoridade eclesiástica, denominam-se associagóes particulares.
§ 3. Nenhuma associagáo particular de fiéis é reconhecida na Igre ja, a nao ser que seus estatutos sejam aprovados pela autoridade com petente.
Can. 300 - Nenhuma associagáo assuma o nome de "católica", sem o consentimento da autoridade eclesiástica competente, de acordó 390
OFICINAS DE ORAQÁO: RECONHECIDAS E APROVADAS
7
com o can. 312.
Can. 301 -§ 1. Cabe únicamente á autoridade eclesiástica compe tente erigir associagoes de fiéis que se proponham ensinar a doutrina crista em nome da Igreja ou promover o culto público, ou as que se pro ponham outros fins, cuja obtengáo está reservada, por sua natureza, á autoridade eclesiástica.
§ 2. A autoridade eclesiástica competente, se o julgar oportuno, pode erigir associagoes de fiéis também para a obtengáo direta ou indireta de outras finalidades espirituais, cuja consecugáo nao se tiver assegurado suficientemente com iniciativas particulares. § 3. As associagoes de fiéis erigidas pela autoridade eclesiástica competente denominam-se associagoes particulares.
Can. 324 -§ 1.A associagáo particular de fiéis escolhe livremente seu moderador e seus oficiáis, de acordó com os estatutos. § 2. A associagáo particular de fiéis, se desejar um conselheiro espiritual, pode escolhé-lo livremente entre os sacerdotes que exercem legítimamente o ministerio na diocese, o qual, porém, necessita da confirmagáo do Ordinario local. Can. 327 - Os fiéis leigos tenham em grande aprego as associa goes constituidas para as finalidades espirituais mencionadas no can. 298, particularmente aquetas que se propoem animar de espirito cristáo as realidades temporais e, desse modo, alimentam grandemente a uniáo mais íntima entre afee a vida. Can. 328 - Os que presidem as associagoes de leigos, mesmo as
erigidas em virtude de privilegio apostólico, cuidem de que suas associa goes, onde for conveniente, colaborem com as outras associagoes de fiéis e déem apoio as diversas atividades dos cristáos, principalmente as existentes no mesmo territorio.
Can. 329 - Os moderadores de associagoes de leigos cuidem de que os membros sejam formados devidamente para o exercicio do apos tolado próprio dos leigos.
Possam as Oficinas de Oracáo e Vida preencher suas finalidades, levando muitos fiéis a mais e mais descobrir a Face da Beleza Infinita!
391
Manual de Inquisidores:
"O MARTELO DAS FEITICEIRAS"
Em síntese: O presente artigo tenciona colocar o livro "O Martelo das Feiticeiras" no seu genuino contexto, fornecendo ao leitor aspectos da historia da Inquisigáo que possibilitam mais objetiva compreensáo do fenómeno. A objetividade do historiador nao pode consistir em negar faIhas e erros, mas exige que estes sejam considerados dentro dos parámetros da época em que foram cometidos. *
*
*
A revista "Raga-Raiz", editada pela Uniáo de Mulheres de Mato Grosso, em seu número de maio 1998, pp. 63-68, publicou um artigo sobre o livro "Malleus Maleficarum (O Martelo das Feiticeiras)", em que critica amargamente a Igreja Católica (e o protestantismo). Em sua introducáo escreve o(a) articulista:
«As religióes católicas e mais tarde alguns segmentos da protes tante levaram á tortura e á morte, em nome de Cristo, mais de cem mil mulheres, sob o pretexto, entre outras acusagóes descabidas, de serem amantes do demonio. Esse genocidio tornou submissos os corpos das mulheres, e passivas as suas vontades, até os dias de hoje.
Duzentos anos depois, ás vésperas do ano 2000, o fanatismo do demonio está de volta, dotando 'satanás' de tantos poderes - quanto as
leis de causa e efeito - que nem mesmo o pobre 'diabo' jamáis supós possuir. E, se nao abrirmos os olhos para os anti-cristos, que ai estáo, colhendo o queplantaram ao longo da vida e verdaderamente enlouquecidos por seus traumas de infancia nao curados, poderemos assistirnovamente o renascer da religiao do diabo. E sabe Deus o que essas men
tes doentias nao poderáo causar novamente ás mulheres. 'Xou Xatanás'l» (P- 63). Esta introducáo, passional como é, evidencia o estilo da dissertacáo. A pedido de leitores, apresentamos nestas páginas um comentario do livro "Malleus Maleficarum". Na verdade, a Editora "Rosa dos Tempos" publicou em 1991 um Manual de Inquisidores, redigido em 1484 pelos Inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger, com o título ácima1. O livro descreve, com muito realismo, o modo como os Inquisidores procediam quando se viam 11ntrodugáo histórica de Rose Mane Muraro e Prefacio de Carlos Byington. Tradugáo de Paulo Froes. - Ed. Rosa dos Ventos, Rio de Janeiro, 1991. 392
"O MARTELO DAS FEITICEIRAS"
diante de um caso tido como diabólico. Contribuem para impressionar o leitor também a Introducáo Histórica e o Prefacio da obra, devidos a dois autores contemporáneos, que encaram a temática do ponto de vista do feminismo e da psicanálise. Eis por que as páginas seguintes seráo dedicadas a um comentario da obra. LOlivro O livro é o que o título diz: o Martelo ou o modo de punir as feiticei-
ras ou bruxas do fim da Idade Media. Por "feiticeira" ou "bruxa" entendia-se, naquela época, urna mulher
manipulada em seu corpo (sexualmente) pelo demonio. Admitia-se que
o Maligno pudesse ter consorcio sexual com mulheres: se fosse demonio masculino, seria chamado íncubo (de noite copulava com mulheres, perturbando-lhes o sonó e causando-lhes pesadelos, como se dizia). Se
fosse demonio feminino, era dito súcubo, aquele que se deita por baixo, copulando com um homem e causando-lhe pesadelos. Deste contato carnal nasceriam filhos... filhos enfeiticados e malvados sobre a terral Os medievais acreditavam na existencia de tais seres e tais fenó
menos - o que, na verdade, é totalmente impossível, poiso demonio (anjo mau) nao tem sexo nem corporeidade. Movidos por tal crenca, os
defensores da boa Ética, na Idade Media, nao podiam deixar de se insur
gir com veeméncia contra tal procedimento; era, para eles, um dever de consciéncia, ao qual nao se podiam furtar sem que a consciéncia os acusasse gravemente.
O modo como procediam na repressao á bruxaria ou á infestacáo do demonio, era o que a Idade Media conhecia: muito estranho para os cidadáos do século XX (embora ainda hoje naja tortura e bárbaros tratos
ñas prisdes e nos campos de concentracáo). Ó procedimento dos Inquisi
dores é descrito muito minuciosamente, tocando profundamente o leitor.
Nao menos impressionantes sao as páginas 5-41 de Rose Marie Muraro e Carlos Byington, que analisam o fenómeno das bruxas em cha ve sociológica e psicológica, transmitindo ao público de hoje hediondas imagens da Idade Media. Que dizer a propósito? 2. Comentando...
Abordaremos a problemática em tres etapas.
2.1. Bruxaria e mentalidade medieval Evidentemente em nossos dias nenhum teólogo afirma que o de
monio tem corpo e pode efetuar cópula sexual. É espirito, independente 393
10
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 436/1998
de qualquer constitu¡9áo somática. Os antigos, porém, tiveram dificuldade de conceber um espirito puro, isento de corporeidade (aínda que etérea ou sutil). Os estoicos imaginavam o pneuma divino como algo de corpóreo a penetrar o mundo material. Os judeus iam mais longe: admitiam que os
anjos tivessem pecado sexualmente com mulheres, dando ocasiáo ao dilu vio narrado em Gn 6-9; cf. Gn 6,1s (e a interpretado dada pela traducáo grega dos LXX). Na Tradicáo crista, tal concepcáo esteve presente até o fim da Idade Media, como se vé; nunca foi dogma de fé, mas apenas tese comum.
Compreende-se que quem abracasse tal pressuposto e admitisse a existencia de íncubos e súcubos, reagisse enérgicamente contra táo grande mal. Os medievais o faziam de boa fé, dentro das categorías de pensamento que Ihes eram familiares e de cuja validade nao duvidavam. Os historiadores que hoje consideram esse passado, tendem a julgá-lo através das categorías de pensamento modernas, exigindo dos antigos o que eles nao sabiam nem podiam dar; nao levam em conta os textos que
exprimem o ardente amor pela verdade, pela justica e pelo bem que anímava os Inquisidores de modo geral. Eis, por exemplo, o espelho do Inquisidor redigido por Bernardo de Gui, um dos mais famosos Inquisidores no século XIV (1303-1328): "O Inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zelo pela verda de religiosa, pela salvagáo das almas e pela extírpagáo das heresias. Em meio as dificuldades permanecerá calmo, nunca cederá á cólera nem a indignagáo. Deve ser intrépido, enfrentar o perigo até a morte; todavía nao precipite as situagóes por causa de audacia irrefletida. Deve ser in-
sensível aos rogos e as propostas daqueles que o querem aliciar; mas também nao deve endurecer o seu coragáo a ponto de recusar adlamentos e abrandamentos das penas conforme as circunstancias. Nos casos duvidosos, seja circunspecto, nao dé fácil crédito ao que parece provável e muitas vezes nao é verdade; também nao rejeite obstinadamente a opiniáo contraria, pois o que parece improvável, freqüentemente acaba por ser comprovado como verdade... O amor da verdade e a piedade, que devem residir no coragáo de umjuiz, brílhem nos seus olhos, a fim de
que suas decisóes jamáis possam parecer ditadas pela cupidez e a crueldade"(Prática VI p... ed. Douis 232s).
Algo de semelhante se encontra sob a pena de outro célebre Inquisidor: Nicolau Eymeric O.P. - em seu Directorium (Parte III, ques-
táo 1S, De conditione inquisitoris). Escreve Jean Guiraud em seu artigo Inquisition, publicado no
Dictíonnaire Apologétique de la Foi Catholique, vol. II, coluna 866: ''Ao lado de jufzes violentos ou cruéis, havia grande número que, 394
"O MARTELO DAS FEITICEIRAS"
tendo incessantemente Deus ante os olhos, habentes Deum prae oculis,
como diziam certas sentengas, eram plenamente conscientes da gravidade e das pesadas responsabilidades do seu ministerio. Sacerdotes e
monges trabalhavam para a gloria de Deus e a defesa da verdade, movi dos por razóes de ordem sobrenatural; detestaram a heresia, mas eram cheios de misericordia para com os indigitados. Condenar um inocente parecia-lhes urna monstruosidade, e, como Ihes recomendavam os Pa pas, só pronunciavam urna sentenga condenatoria quando a culpabilidade nao Ihes deixava nenhuma dúvida. Reconduzir á ortodoxia um herege era, para eles, urna grande alegría e, em vez de o entregar ao brago secular e á morte, que tirava toda esperanga de conversáo, eles preferíam recorrer ás penitencias canónicas e a penalidades temporarias, pos-
sibilitando ao culpado o emendarse. Tais sentimentos sao muitas vezes expressos nos Manuais dos Inquisidores e nos possibilitam apreciar a boa fé, a consciéncia, a retidao e mesmo a caridade de muitos dentre eles". Para preservar e garantir tais predicados dos Inquisidores, a autoridade eclesiástica promulgava certas normas, acompanhando os proce-
dimentos da Inquisicáo:
- garantías de idade: o Papa Clemente V, no Concilio de Viena (1311), seguindo preceitos de seus antecessores, dispós que ninguém
pudesse exercer as fungóes de Inquisidor antes dos 40 anos; - garantías de honestidade: Alexandre IV (1255), Urbano IV (1262), Clemente IV (1265), Gregorio X (1273), Nicolau IV (1290) insistiram ñas qualidades moráis, na honestidade e na pureza de costumes a ser exigidas dos Inquisidores: - garantías de saber: também se declarava indispensável ao Inquisidor um bom conhecimento de Teología e Direito Canónico. A maneira como procediam os juízes era continuamente acompanhada e controlada, na medida em que isto era possível na Idade Media. Mais de urna vez, a Santa Sé interveio para moderar o zelo e punir os
excessos dos Inquisidores. É de notar, por exemplo, que o Papa Cle
mente V, no Concilio de Viena (1311), determinou fosse excomungado o Inquisidor que se aproveitasse das suas fungóes para fazer lucros ilícitos ou extorquir dos acusados quantias de dinheiro; para ser absolvido de tal pena, o Inquisidor deveria reparar os danos causados. Todo Inquisidor que abusasse comprovadamente do seu ministerio, era sem demora deposto do cargo, fosse pelos Superiores de sua Ordem, fosse pelos lega
dos papáis, fosse diretamente pela Santa Sé. Os bispos eram obrigados, em consciéncia, a comunicar ao Papa todos os desmandos cometidos
pelos Inquisidores; o mesmo devertocava aos notarios e demais oficiáis de justica que acompanhavam o Inquisidor. 395
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Vé-se, pois, que, se, de um lado, o procedimento da Inquisicáo é algo que hoje ninguém na Igreja ousaria repetir, de outro lado foi algo que procedía da boa fé e do zelo religioso dos pastores medievais; para eles, era dever de justica corrigir os hereges, pois solapavam os bens espirituais, que, para os medievais, tinham ainda mais valor do que os bens materiais. A depredacáo da fé os indignava, como hoje a depreda-
cao de um patrimonio material exaspera seu proprietário. Detenhamo-nos agora sobre alguns tópicos das páginas introdutórias de Rose Marie Muraro e Carlos Byington. 2.2. As páginas introdutórias Rose Marie Muraro comenta o número de vítimas da Inquisicáo
nos seguintes termos: "Deidre English e Barbara Ehrenreich, em seu livro Witches, Nurses and Midwives (The Feminist Press, 1973), nos dáo estatísticas aterra doras do que foi a queima de mulheres feiticeiras em fogueiras durante esses quatro séculos. 'A extensáo da caga as bruxas é espantosa. No fim do secuto XV e no comego do sáculo XVI, houve milhares e milhares de
execugóes - usualmente eram queimadas vivas na fogueira - na Alemanha, na Italia e em outros países. A partir de meados do século XVI, o
terror se espalhou por toda a Europa, comegando pela Franga e a Ingla terra. Um escritor estimou o número de execugóes em seiscentas por ano para certas cidades, urna media de duas por dia, exceto aos domin gos. Novecentas bruxas foram executadas num único ano na área de Wertzberg, e cerca de mil na diocese de Como. Em Toulouse, quatrocentas foram assassinadas num único dia; no arcebispado de Trier, em 1585,
duas aldeias foram deixadas apenas com duas mulheres moradoras cada urna. Muitos escritores estimaram que o número total de mulheres execu tadas subía á casa dos milhóes e as mulheres constituiam 85% de todos
os bruxos e bruxas que foram executados'. Outros cálculos levantados por Marilyn French, em seu }á citado livro, mostram que o número mínimo de mulheres queimadas vivas é de cemmil"(p. 13).
A propósito observamos: 1. A historia é o terreno mais palmilhado pelas ideologías. O histo riador tende a narrar os fatos de acordó com os seus parámetros e obje
tivos; os que desejam denigrir a Inquisicáo, sao propensos a exagerar suas dimensóes, sem atenta consulta ás respectivas fontes. No tocante
ás penas infligidas a hereges e bruxas, nao existe a documentacáo desejável, pois o registro de fatos outrora se fazia mais difícilmente do que hoje. Como quer que seja, temos ao nosso alcance alguns espécimens 396
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dos sáculos XIII e XIV; assim, por exemplo:
De 1249 a 1258 em Carcassonne (Franca) a Inquisicáo proferiu 278 sentencas; a pena de prisáo é relativamente rara; a mais freqüente é a que manda prestar servico na Térra Santa.
De 1308 a 1328 Bernardo de Gui em Tolosa exerceu com severidade as suas funcdes: em dezoito Sermones Generales proferiu 929 sentencas assim distribuidas:
Imposicao da cruz: 132 vezes Peregrinacáo: 9 vezes
Servico na Térra Santa: 143 vezes
Encarceramento platónico pronunciado sobre defunto: 17 vezes Entrega ao braco secular (pena de morte): 42 vezes Absolvicao de defuntos: 3 vezes Exumacáo: 9 vezes Sentencas contra contumazes: 40 vezes Exposicáo no pelourinho: 2 vezes
Degradacáo: 2 vezes Exilio: 1 vez
Destruicao de casa: 22 vezes
Queima do Talmud: 1 vez
Absolvicáo de prisioneiro: 139 vezes
Esta lista mostra que a entrega ao braco secular ou a pena de morte era relativamente rara.
De 1318 a 1324 em Pamiers (Franca), a Inquisicáo julgou 98 acu sados: 5 foram entregues ao braco secular; 35 condenados ao cárcere; 2 absolvidos; a respeito dos demais nada consta; teráo sido absolvidos?... exilados? ... enviados para a Térra Santa? Como quer que seja, de 98 consta que apenas cinco sofreram a condenacáo capital.
2. É de notar ainda que muitos dos réus sentenciados podiam go
zar de indulto, que os dispensava total ou parcialmente da sua pena. Podiam também usufruir de licenca para sair do cárcere e ir tirar ferias em casa; em Carcassonne, por exemplo, aos 13 de setembro de 1250, o bispo deu a urna mulher chamada Alazais Sicrela permissáo para sair do cárcere e ir aonde quisesse até a festa de Todos os Santos (19 de novembro), ou seja, durante sete semanas. Licenca semelhante foi dada por cinco semanas a um certo Guilherme Sabatier, de Capendu, na ocasiáo de Pentecostés (9/05/1251). Raimundo Volguier de Villar-en-Val obteve urna licenca que expirava no dia 20/05/1251, mas que Ihe foi prorrogada 397
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até o dia 27. Outro caso é o de Pagane, viúva de Pons Arnaud de Preixan, que, encarcerada, obteve licenga para ferias de 15/06 a 15/08 de 1251. Os prisioneiros tinham o direito de se afastar do cárcere para tratamento de saúde por quanto tempo fosse necessário. Sao numerosos os casos de que se tem noticia: assim aos 16/04/1250, Bernard Raymond, de Conques, obteve a autorízacáo para deixar a sua cela propter
infirmitatem. Aos 9/08 seguintes, a mesma permissáo era dada a Bernard Mourgues de Villarzel-en-Razés, com a condicáo de que voltasse oito dias após obter a cura. A 14/05 a mesma concessáo era feita a Armand Brunet de Couffoulens; e a 15/08 a Arnaud Miraud de Caunes. A 13/03/ 1253 Bernard Borrel foi posto em liberdade propter infirmitatem, deven
do voltar ao cárcere quinze dias após a cura. A 17/08 seguinte, Raine, filha de Adalbert de Couffoulens, foi autorizada a permanecer fora do cárcere quousque convaluerit de aegritudine sua (até que ficasse boa
da sua doencaj... A repeticáo de tais casos a intervalos breves, e as
vezes no mesmo dia, mostra que nao se tratava de excecoes, mas de urna rotina bem definida.
3. Também havia autorizacáo aos presos para ir cuidar de seus familiares em casa. Ás vezes os problemas de familia levavam os Inquisidores a comutar a pena de prisáo por outra que permitisse atendimento á familia. Até mesmo os mais severos praticavam tal gesto; sábe se, por exemplo, que o rigoroso juiz Bernard de Caux em 1246 condenou á prisáo perpetua um herege relapso, chamado Bernard Sabatier, mas, na própria sentenca condenatoria, observava que, o pai do réu sendo um bom católico, anciáo e doente, o filho poderia ficar junto do pai enquanto este vivesse, afim de Ihe dispensar tratamento.
4. Acontece também que as penas infligidas aos réus eram abrandadas ou mesmo supressas: a 3/09/1252 P. Brice de Montréal obteve a troca da prisáo por urna peregrinacáo á Térra Santa. Aos 27/06/1256 um réu que devia peregrinar á Térra Santa, recebeu em troca outra pena: pagaría 50 sóidos de multa, pois nao podia viajar propter senectutem {por causa da idade anciá). Sao conhecidos também os casos de indulto total: O Inquisidor Bernard Gui, em seu Manual apresenta a fórmula que se aplicava para agraciar plenamente o réu. O mesmo Bernard Gui reabilitou um condenado para que pudesse exercer funcoes públicas; a um filho de condenado que cumprira a pena, reconheceu o direito de ocupar o consulado e exercer funcoes públicas.
5. A historia também registra o fato de que os Inquisidores estavam atentos a distinguir falsas e verdadeiras acusacóes. Conta-se, por exem plo, o caso, ocorrido em Pamiers (1324), de Pierre Peyre e Guilhaume Gautier: ambos colaboraram com Pierre de Gaillac, tabeliáo de Tarscon,
numa campanha contra Guillem Trom; este também era tabeliáo e atraía 398
"O MARTELO DAS FEITICEIRAS"
a si a clientela, de modo que Pierre de Gaillac, querendo livrar-se dele, acusou-o de heresia perante a Inquisicáo, apoiado no falso testemunho de Pierre Peyre e Guillaume Gautier; estes dois cidadáos, comprovada-
mente tidos como falsarios, foram condenados, e Guillem Trom reconhecido como inocente.
6. É certo, porém, que nem todos os Inquisidores tiveram a mesma elevacáo de espirito e a mesma retidáo de consciéncia. Alguns se mostraram obcecados na repressáo á heresia, procedendo cruelmente. Os historiadores registram tais abusos, mas nao costumam registrar as cen
suras que a Santa Sé infligiu aos oficiáis ¡moderados ou indignos, sempre que ela teve noticia dos fatos; alias, nao somente ela, mas também os legados papáis e os bispos se insurgiram contra os excessos dos Inquisidores; nao eram raras as admoestacóes á prudencia e á brandura emanadas das autoridades eclesiásticas para a orientacáo dos Inquisidores; estes deviam proceder com pureza de intencáo (superando paixóes, pressoes e preconceitos) e com a virtude da discricáo. Consta também que os Papas mais de urna vez deram ordens aos Inquisidores para que usassem de brandura em casos precisos: Inocen
cio IV, por exemplo, mandou aos Inquisidores Guillaume Durand e Pierre Raymond que absolvessem Guillaume Fort, cidadao de Pamiers; aos 24/ 12/1248 mandou soltar os hereges cuja punicáo Ihe parecía suficiente; aos 5/08/1249, encarregou o bispo de Albi de restituir á comunháo da Igreja Jean Fenessa de Albi e sua esposa Arsinde, condenados pelo Inquisidor Ferrier.
Em 1305 o Inquisidor de Carcassone provocou, porseus rigores, a revolta da opiniáo pública: os habitantes de Carcassonne, Albi e Cordes dirigiram-se á Santa Sé. As suas queixas foram acolhidas pelo Papa Cle mente V, que aos 13/03/1306 nomeou os Cardeais Pierre Taillefer de la Chapelle e Béranger Frédol para fazer um inquérito do que ocorria na regiáo; enquanto este se processava e as prisoes eram inspecionadas, estava suspensa toda perseguicáo de hereges. Os dois prelados iniciaram a visita aos cárceres de Carcassonne nos últimos dias de abril; encontraram ai quarenta prisioneiros que se queixavam dos carcereiros; estes foram logo substituidos por outros mais humanitarios; aos detidos foram assinaladas celas recém-reformadas e foi permitido passear per carrerias muri largi ou em espaco mais ampio; os guardas receberam a ordem de entregar aos prisioneiros tudo o que fosse enviado pelo rei ou por seus amigos para a sua manutencáo. Os dois Cardeais visitaram outrossim os cárceres de Albi aos 4/05/1306; mandaram retirar as correntes que prendiam os encarcerados, designaram outros guardas, man daram melhoraras condicóes sanitarias das prisoes, abrindo janelas para a penetracáo da luz e do ar. 399
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Refere-se também que o Papa Honorio IV (1258-87) aboliu, na Toscana, as terríveis Constituicóes que o Imperador Frederico II havia editado contra as heresias.1
Bonifacio VIII, tido como um Papa austero, mandou rever varios processos de condenacao de hereges; com efeito, tres meses após as-
sumir o pontificado, aos 29/03/1295, mandou revisar o processo do fran ciscano Paganus de Pietrasanta; aos 13/02/1297 anulou a condenacáo, por heresia, de Rainero Gatti de Viterbo e seus dois filhos, porque fora proferida na base de um testemunho manchado por perjurio. Em 1298 o mesmo Papa mandou restituir aos filhos de um herege os bens confisca dos pela Inquisicáo. Intimou também ao Inquisidor da provincia de Roma, Adáo de Coma, que deixasse de perseguir um cidadáo de Orvieto já absolvido por dois Inquisidores. Estes dados históricos e outros que se poderiam acrescentar, nao costumam ser citados pelos comentadores da Inquisicáo. Apresentam geralmente aspectos negativos da mesma, sem levar em conta a mentalidade dos medievais e o que os próprios Inquisidores (assim como as
autoridades superiores) faziam para evitar injusticas e corrigir abusos. Ora um juízo objetivo e imparcial sobre o passado exige que, ao lado das falhas, se apontem também os elementos atenuantes ou mesmo as jus tificativas subjetivas daqueles que as cometiam. 2.3. O apreco da mulher
Tanto Rose Marie Murara como Carlos Byington analisam o fenó meno da condenacáo das bruxas como sendo um episodio do
antifeminismo que, segundo eles, tem expressáo já na primeira página
da Biblia; esta apresenta a mulher como seduzida pela serpente e sedutora do homem (cf. Gn 3,1-7). Em resposta dir-se-á:
2.3.1. A Biblia e a mulher Sem dúvida, o Antigo Testamento se apresenta no estilo literario
de homens que viveram antes de Cristo e no Oriente. Nao obstante, devese reconhecer que a Biblia dignifica a mulher como nenhum livro antigo; basta lembrar algumas grandes figuras femininas que concorrem para
1 É de notar que a Inquisigáo nunca foi um tribunal meramente eclesiástico; sempre
teve a participagáo (e participagáo de vulto crescente) do poder regio, pois os assuntos religiosos eram na antigüidade e na Idade Media, assuntos de interesse do Estado; a repressáo das heresias (especialmente dos cataros, que pilhavam e saqueavam as fazendas) era praticada também pelo braco secular, que muitas vezes abusou da sua autoridade. Quanto mais o tempo passava, mais o poder regio se ingería no tribunal da Inquisigáo, servindo-se da religiáo para fíns políticos. 400
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tecer a historia do Antigo Testamento: Rute, a moabita (livro de Rute); Débora, a profetisa que desperta o senso nacional religioso dos homens do seu tempo (Jz 4,1-5,31); Ana, máe de Samuel, autora de famoso cán tico (1Sm 2,1-10); Judite, a heroína que salva sua gente em Betúlia (livro de Judite); Ester, que intercede pelo seu povo e o preserva do exterminio (livro de Ester); a máe dos ¡rmáos macabeus, que os incitou corajosa mente ao martirio (2Mc 7,20-23).
No Novo Testamento, Maria Ssma. é a grande figura feminina que se torna a nova Eva ou a máe dos viventes por excelencia, além da qual outras mulheres aparecem associadas ao ministerio de Jesús (cf. Le 8,13; Mt 27.55S).
Em sua Carta Apostólica sobre a Dignidade da Mulher, o Papa Joáo Paulo II quis lembrar que a própria mulher em Gn 3 é apresentada como Máe do Salvador e da linhagem dos que lutam contra a serpente e o pecado:
"'Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendencia e a
déla; esta te esmagará a cabega enquanto tu te langas contra o seu calcanhar' (Gn 3,15). É significativo que o anuncio do Redentor, do Salva dor do mundo, contido nestas palavras, se refira á mulher. Esta é a nomeada em primeiro lugar no Proto-Evangelho como progenitora daquele que será o Redentor do homem. E, se a Redengáo deve realizarse mediante a luta contra o mal, por meio da inimizade contra a estirpe da mulher e a
estirpe daquele que, como pai da mentira, é o primeiro autor do pecado
na historia do homem, esta será também a inimizade entre ele e a mu lher" (ns 11). Mais adiante diz o Papa:
"Em cada época e em cada país encontramos numerosas mulhe res perfeitas (cf. Pr 31,10), que - nao obstante perseguigóes, dificuldades e discriminagóes - participaran! na missáo da Igreja. Basta mencio nar aqui Mónica, máe de Agostinho, Macrina, Olga de Kiev, Matilde de Toscana, Edviges da Silesia e Edviges de Cracovia, Elisabeth da Turíngia, Brígi da da Suécia, Joana d'Arc, Rosa de Lima, Elisabeth Seaton e Mary Ward. O testemunho e as obras de mulheres cristas tiveram um influxo significativo na vida da Igreja, como também na da sociedade. Mesmo diante de graves discriminagóes sociais, as mulheres santas agiram de
modo livre, fortalecidas pela sua uniáo com Cristo. Semelhante uniáo e liberdade enraizadas em Deus explicam, por exemplo, a grande obra de Santa Catarina de Sena na vida da Igreja e de Santa Teresa de Jesús na vida monástica" (n9 27).
Seria preconceituoso ignorar quanto o Cristianismo se empenhou pela dlgnificacáo da mulher; esta tem em Maria Ssma. o modelo da grande401
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za que Deus atribuí á mulher chamada a ser Máe... Máe do próprio homem, que depende da mulher nos seus primeiros anos em grau singular! 2.3.2. A Idade Media e a mulher Urna grande historiadora contemporánea - Régine Pemoud - dedicou-se ao estudo da Idade Media, procurando dissipar os preconceitos que contra tal fase da historia muitas vezes sao formulados gratuitamen
te. Escreveu urna obra inteira sobre a mulher medieval, com o título "A Mulher no Tempo das Catedrais" (Gradiva, Lisboa); além do qué, é auto ra dos livros "Luz sobre a Idade Media" (Publicacóes Europa-América, Mem Martins, Portugal), "O Mito da Idade Media" (ibidem) e "Idade Me dia: o que nao nos ensinaram" (Ed. Agir, Rio de Janeiro 1979; cf. PR 240/ 1979, pp. 520-534). A autora se esmera por mostrar como sao repetidos certos chavóes sobre a Idade Media, sem que as pessoas usem de sadio senso crítico, antes mesmo movidas por concepcóes predefinidas. Eis alguns fatos mencionados por Régine Pemoud sobre a mulher
medieval, aptos a desfazer imagens erróneas: Nos tempos feudais a rainha era coroada como o rei, geralmente em Reims ou, por vezes, em outras catedrais. A coroacáo da rainha era tao prestigiada quanto a do Rei. A última rainha a ser coroada foi María de Medicis em 1610, na cidade de París. Algumas rainhas medievais desempenharam ampias funcóes, dominando a sua época; tais foram Leonor de Aquitánia (f1204) e Branca de Castela (|1252); no caso da ausencia, da doenca ou da morte do rei, exerciam poder incontestado, tendo a sua chancelaria, as suas armas e o seu campo de atividade pessoal. Verdade é que a jovem era dada em casamento pelos pais sem que tivesse livre escolha do seu futuro consorte. Todavía observe-se que também o rapaz era assim tratado; por conseguinte, homens e mulheres eram sujeitos ao mesmo regime. AIgreja lutou contra essa imposigáo de casamentes; exigiu e exige que os nubentes déem livre consentimento a sua uniáo matrimonial e
formulou impedimentos diversos que, opondo-se á grandeza e á santidade do casamento, o tornam nulo. De passagem observe-se que nem mesmo em nossos dias a legislacáo muculmana garante á mulher a liberdade de escolha do seu marido.
Precisamente por causa da valorizacáo prestada pela Igreja á mu lher, varias figuras femininas desempenharam notável papel na Igreja medieval. Certas abadessas, por exemplo, eram auténticos senhores feu dais, cujas funcóes eram respeitadas como as dos outros senhores; administravam vastos territorios com aldeias, paróquias; algumas usavam
báculo, como o bispo... Seja mencionada, entre outras, a abadessa Heloisa, do mosteiro do Paráclito, em meados do século XII: recebia o dízimo de urna 402
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vinha, tinha direito a foros sobre feno ou trigo, explorava urna granja... As monjas da época eram pessoas instruidas e cultas dentro dos padroes do seu tempo (século XII). A própria abadessa Heloisa ensinava ás suas monjas o grego e o hebraico. A abadessa Hrotsvitha de Gandersheim exerceu grande influencia literaria sobre os países germánicos; atribuem-se-lhe seis comedias em prosa e rima, que imitam o estilo de Teréncio (t 159 a.C), comediógrafo latino. Alias, muitos mosteiros de monges e monjas ministravam a instrucáo ás criancas da sua regiáo, formando o que se chamava "escolas monasteriais".
É surpreendente ainda notar que a enciclopedia mais conhecida do século XII se deve a urna mulher, ou seja, á abadessa Herrade de Landsberg. Tem o título "Hortus Dellciarum" (Jardim de Delicias) e fornece as informacdes mais seguras sobre as técnicas do seu tempo. Algo de semelhante se encontra ñas obras de S. Hildegardis de Bingen.
Todavía o espécimen mais típico do papel que urna mulher podía desempenhar na Idade Media, pode ser encontrado em Fontevrault (Fran ca), no inicio do século XII. O pregador Roberto d'Arbrissel, tendo conse guido a conversáo de numerosos homens e muiheres, resolveu fundar dois mosteiros: um para os homens e outro para as muiheres. Entre eles erguia-se a igreja, que era o único lugar onde monges e monjas se podiam encontrar. Ora esse mosteiro foi colocado sob a autoridade nao de um abade, mas de urna abadessa; esta, por vontade do fundador, devia ser viúva, tendo, pois, a experiencia do casamento. Notemos ainda a figura de Joana d'Arc (1412-1431): a audiencia que conseguiu da parte do rei da Franca e dos seus córteseos para de sempenhar as suas facanhas heroicas, é realmente algo de extraordinario. Mesmo as muiheres que nao eram altas damas, nem abadessas nem monjas, mas camponesas ou profissionais de alguma arte da épo ca, exerciam sua influencia na vida pública. Com efeito; nos arquivos medievais lé-se mais de urna vez o caso de urna mulher casada que agía por conta própria, abrindo, por exemplo, urna loja comercial, sem preci sar, para isto, da autorizacao do marido. Os registros de Paris datados do século XIII apresentam muiheres médicas, professoras, boticarias, tintureiras, copistas, miniaturistas, encadernadoras. Tem-se noticia, cá ou lá, das queixas de urna cabeleireira, de urna vendedora de sal, da viúva de um lavrador, de urna cortesa...
É conhecido também o caso da camponesa Galhardina de Fréchou, que, diante de urna proposta de arrendamento feita pelo abade de Sao Salvino aos habitantes de Cauterets (Pirineus), foi a única a votar nao, enquanto toda a populacáo votou sim. Alias, as muiheres votavam como os homens, ñas assembléias rurais e ñas urbanas. 403
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Foi sonriente no fim do século XVI, por um decreto do Parlamento Francés de 1593, que a mulher foi explícitamente afastada das funcoes públicas naquele país. E isto, por influencia do Dlreito Romano, que mais
e mais ia sendo adotado pelas legislacdes pós-medievais; foi entáo con finada áquilo que outrora e sempre foi o seu dominio privilegiado: o lar e a educacáo dos filhos.
Estes fatos tém significado em nossos dias, quando movimentos feministas reivindicam os direitos da mulher na sociedade atual. Vemos que tencionam precisamente superar um obscurecimento da figura feminina que é pós-medieval. A Idade Media, no caso, bem poderia servir de modelo á mulher contemporánea. Esta, porém, no afá de assumir seu lugar junto ao homem, parece ás vezes esquecer-se da sua própria ¡dentidade e originalidade; é o que observa muito a propósito Régine Pernoud: "Tudo acontece como se a mulher, deslumbrada de satisfacáo á idéia de ter penetrado no mundo masculino, ficasse incapaz do esforgo de imaginagáo suplementarque Ihe seria preciso, para trazera esse mundo a sua própria marca, aqueta precisamente que falta á nossa sociedade. Basta-lhe imitar o homem, ser considerada capaz de exercer as mesmas profissóes, de adotar os comportamentos, e até os hábitos, em relagáo ao vestuario do seu parceiro, sem mesmo por a si mesma a questáo do
que é em si contestável e do que deveria ser contestado. É de perguntar
se ela nao será movida por urna admiragáo inconsciente, que se pode considerar excessiva, dum mundo masculino que ela acredita necessário e que basta copiar com tanta exatidáo quanto for possível, mesmo que seja á custa da perda da sua própria identidade e negando antecipadamente a sua originalidade" (p. 103). Com estas ponderacoes tencionamos recolocar o livro "O Martelo das Feiticeiras" no seu genuino contexto, fornecendo ao leitor aspectos da historia da Inquisicao que possibilitam mais objetiva compreensáo do fenómeno. A objetividade do historiador nao pode consistir em negar faIhas e erros, mas exige que falhas e erros sejam considerados dentro dos parámetros da época em que foram cometidos. Ver a propósito:
PR 220/1978, pp. 150-163 (Igreja, Direitos Humanos e Inquisigáo) PR 297/1987, pp. 82-94 (Inquisigáo Espanhola) PR 300/1987, pp. 225-234 (Inquisigáo e Cristáos Novos) Curso de Historia da Igreja por Correspondencia, Caixa Postal 1362, 20001-970 Rio (RJ)
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Profecias...
SETEMBRO 1988: MES SINISTRO?
Em síntese: Estáo sendo veiculadas "profecias"que prevéem para
1998 ou, mais precisamente, para setembro de 1998, grandes flagelos sobre a humanidade ou o comego do fim de urna era; o Anticristo, já
presente na térra, deverá fazer sua aparigáo. - Parece que o próprio
decorrer da historia se encarrega de desmentir tais previsóes. Os mestres de espirítualidade admoestam os fiéis a que desconfiem de fenóme nos "místicos" extraordinarios, pois nao raro se devem á imaginagáo do(a)
vidente ou á intruseo do Maligno. Á guisa de comentario de tais profeci
as, o artigo apresenta urna explanagáo do que seja o dom da locugáo interior.
Váo pululando as "profecias" de flagelos e fim dos tempos neste término do segundo milenio. Muitas pessoas, ao ouvi-las, se sentem aba
ladas e desejosas de algum esclarecí mentó. É o que as páginas seguin-
tes proporáo, comentando duas previsóes que deveriam cumprir-se em 1998.
1. As "Profecías"
Apareceu recentemente um livro francés traduzido do inglés por Gilbert Grisé com o título "Le Temps de L'Antéchrist" (The Time of Antechrist); a edicáo é do próprio tradutor. A tese de tal livro afirma que o Anticristo nasceu no dia 29/02/1968 e comecará sua vida pública, como Jesús Cristo, aos trinta anos de idade, ou seja, em 1998, devendo morrer
em 2001 com a idade de trinta e tres anos. - É de notar, de passagem, que ¡á deveria ter comecado em fevereiro de 1998.
Profecía semelhante vai sendo, propagada, decorrente de locucóes interiores pelas quais a Virgem Santíssima, na data de 18/09/1988, terá comunicado a urna pessoa devota o seguinte:
"Faltam dez anos... Nesse período de dez anos, há de se cumprir o tempo da grande tribulagáo predita pela Sagrada Escritura e que deve ocorrer antes da segunda vinda de Jesús Cristo. Nesse período de dez anos manifestar-se-á o misterio da iniqüidade, preparado pela difusáo sempre crescente da apostasia. Nesse período de dez anos nao de se
realizar todos os acontecimentos que eu vos predisse". 405
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A seguir, vem oferecida urna aparente confirmacáo ou prova de que a profecía é auténtica:
"O número 666 indica tres vezes, feto é, multiplicado por 3 dá o total de 1998... Nesse período da historia, a franco-magonaria, ajudada pela magonaria eclesiástica, atingirá seu grande objetivo: construir um ídolo, que será colocado no lugar de Cristo e da Igreja. Haverá um falso Cristo
e urna falsa Igreja. Tereis chegado em 1998 ao cume da purificagáo, da
grande tribulagáo e da apostasia. Esta será generalizada, porque quase todos seguirao o falso Cristo e a falsa Igreja. Entáo a porta será abena para o aparecimento do homem ou da pessoa mesma do Anticristo". O prazo de dez anos se encerra aos 18/09/1998...
Visto que o tempo vai passando e nenhuma das profecías sinistras se cumpriu até os días atuais, as pessoas que acreditam na mensagem profética, dizem que, por causa de suas oracoes e seus sofrimentos, as catástrofes estáo sendo adiadas. Aínda corroborando as profecías em foco, podem-se lembrar as predicoes da "Mensagem da Misericordia Infinita" recebidas por locucao
interior: «A China e a Rússia se uniráo para cumprir os designios de Deus na historia desta humanidade. Daqui a pouco será a Alemanha que en
trará na purificagáo. Depois vira a morte do Papa. Volto a dizer-te que este fato - a morte do Papa - está condicionado á liberdade dos homens políticos. Tudo poderá acontecer antes, durante ou depois dos acontecimentos na Alemanha. Os fatos estáo relacionados. Matam o Papa para que a Igreja se cale. Este será o último Pedro. O Papa que vira nao será meu representante. Nao me pertencerá e, portanto, nao é escolhido e aceito por Mim. Seu governo será breve porque a crise levará o mundo para a hora final da historia desta humani dade sem Deus» (p. 140). «(...) Nesse tempo o Papa será assassinado por máos sacrilegas. E entáo será o fim... Será o triunfo do Amor e da Misericordia. O mundo
que vira será o Reino de Deus. Deus será tudo em todos que restarem para a gloria do Pai. Será um mundo novo, urna humanidade nova. Minha filha, escreve que tudo isto nao está longe. Está ai» (p. 134). Pergunta-se: 2. Que dizer?
As citadas "profecías" carecem de fundamento oficial. Devem-se a revelacoes particulares, que podem ser verídicas como também podem 406
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ser fruto da imaginacáo. Deus pode, sem dúvida, revelar a um(a) vidente fatos futuros, mas a ocorréncia real desta possibilidade tem que ser bem examinada a fim de se evitarem ilusóes devidas a estados psicopatológicos ou á vaidade humana ou ainda á astucia diabólica. Os mestres de espiritualidade exortam os fiéis á cautela e prudencia neste particular, como se deduz dos testemunhos abaixo:
Sao Joáo da Cruz (t 1591), doutor de Teologia Mística, escreve: "Em verdade, estou surpreso com o que acontece em nossos dias... Eis urna alma sensível, que tem quatro vinténs de prática de meditagao... Se ela, num instante de recolhimento, diz ouvir alguma palavra interior, logo isto é considerado como proveniente de Deus. E, persuadida de que
é assim, ela declara por toda parte: 'Deus me respondeu!', quando na verdade nada disso aconteceu.
Como eu afirmava há pouco, talpessoa falou a si mesma. Ela está iludida. Mais ainda: o desejo que esse tipo de mensagens e palavras interiores, revelagóes, inspira, faz a pessoa renovar dentro de si mesma
tais reflexóes. E quem a ouve, pensa sempre que é Deus quem fala e é Deus quem responde.
Fácilmente as pessoas imaginam que sao muito favorecidas por
Deus e que Deus Ihes falou e as inspirou; na verdade, porém, tudo isso se reduz a nada ou quase nada. Tais fatos podem levara alma para longe da fé pura...
Digam que as palavras e as revelacóes vém de Deus. Apesar dis to, nao nos devemos apoiar nelas com seguranga, porque fácilmente podemos enganar-nos, atribuindo-lhes tal ou tal significado. As visóes e as palavras de Deus tém valor verídico e ceño em si mesmas, mas nao tém sempre significado claro para nos... Elas, muitas vezes, nao tém o sentido que nos Ihes atribuímos...
A alma que se deleita em revelagóes, perde aos poucos aqueta perfeigáo que existe no regime da fé pura e de suas luzes; ela abre a porta ao demonio e Ihe permite que ele a engañe com outras revelagóes semelhantes, que ele sabe disfargar maravilhosamente e fazer passar por auténticas aos olhos de todos" (Subida do Carmelo, livro II). Insiste o Santo:
«O demonio se regozija muito ao ver urna alma admitir voluntaria mente as revelagóes e inclinarse a elas; porque encontra nessa disposi-
gáo muita oportunidade e entrada para insinuar erros e assim prejudicar, tanto quanto possível, a fé. Torno a dizer: a alma presa as gragas sensíveis permanece ignorante e grosseira na vida de fé, e fica sujeita muitas vezes a tentagóes graves e pensamentos importunos... 407
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Quanto á substancia de nossa fé, nao há mais artigos a revelar
além dosjá revelados na doutrina da Igreja; por essa razáo é necessário á alma nao só rejeitar qualquer coisa nova, mas também ter cautela para nao admitir outras variedades sutilmente misturadas á substancia dos dogmas. E, para mantera pureza da alma que se deve conservar em fé, mesmo quando Ihe forem comunicadas novamente verdades já revela das, nao Ihes deve dar crédito por este motivo de serem reveladas de novo, mas só porque fazem parte do ensinamento da Igreja; e, assim, fechando os olhos do entendimento a todas as revelagóes, simplesmente se apóia na doutrina da Igreja e na sua fé, que, como diz S. Paulo, entra pelo ouvido (Rm 10,17). Enáo Ihes dé fácilmente crédito nem submeta o entendimento a estas verdades da fé reveladas novamente, por mais
conformes e verdadeiras que paregam, se nao quiser ser engañada. Por que o demonio, a fim de iludirá alma pela insinuagáo de mentiras, comega poratrai-la com verdades e coisas verossfmeis para infundir-lhe seguranga, e logo depois a vai engañando: faz como quem cose o couro, que primeiro introduz a cerda rija e logo atrás vem o fio frouxo que nao podería entrarse nao fosse precedido pela cerda» (Subida do Carmelo, livro II). Certamente o Santo nao quer negar a possibilidade de fenómenos místicos extraordinarios, mas deseja recomendar cautela e discernimento.
Narra-se ainda que Santa Teresa de Ávila (t 1582) ouviu dizer que certa novica carmelita tinha revelacóes. Respondeu entáo: "Pois bem; proibi-lhe que jejue; dai-lhe um pedaco de carne de frango, e, se as visoes persistirem, trazei-a a mim".
A Santa nao era contraria ao jejum e á penitencia, mas quería dizer que as revelacóes da novica bem podiam ser alucinacóes decorrentes
de um estado de fraqueza física ou extenuacáo, de modo que o remedio seria dar-lhe o alimento que a livrasse do mal físico e psíquico. Urna pessoa enfraquecida por excessivo jejum estaría sujeita a fenómenos psíquicos doentios, pensava a Santa.
Os Santos nao aspiraram a fenómenos extraordinarios. Segundo os mestres, essa aspiracáo pode encobrir orgulho e vaidade. A sede de
maravilhoso pode levar o cristáo á ilusáo, ao fanatismo e á cegueira es piritual. "O justo vive da fé", diz Sao Paulo tres vezes (cf. Rm 1,17; Gl 3,11; Hb 10,38, citando Hab 2,4). O justo vive da fé, da esperanca e da caridade;
esta é o carisma por excelencia, pois é o vínculo da perfeicáo (cf. Cl 3,14). Passamos agora a propor o que é 3. Locucáo Interior
Responde o Pe. Stefano Gobbi em seu livro "Aos Sacerdotes, Filhos Prediletos de Nossa Senhora" (12a edicáo brasileira, 1991), pp. XLIV e XLV: 408
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«Que é locugáo interior? Antes de tudo deve-se afirmar que nao é um fato estranho, nem sensacional, mas é um fenómeno místico presen te na vida da Igreja e descrito nos manuais de teología espiritual. Nao é urna comunicagáo com Jesús, Nossa Senhora ou os Santos, através dos sentidos, como acontece ñas auténticas apangues. Nela nao se vé com os olhos, nao se ouve com os ouvidos, nao se toca nada. Nao é, também, somente urna boa inspiragáo, ou a luz que o Espirito Santo derrama, ordinariamente, na mente e no coragáo dos que rezam e vivem defé.
Quando se trata de um fenómeno auténtico, a locugáo interior é o dom de tudo o que Deus quer fazer conhecer e ajudar a cumprir, revestindo-o de pensamentos e de palavras humanas, conforme o estilo e a linguagem de quem recebe a mensagem.
A pessoa se torna instrumento de comunicagáo, embora conser vando intacta a própria liberdade, que se manifesta num ato de adesáo á agáo do Espirito Santo. Enquanto acolhe a palavra do Senhor, seu inte lecto permanece como que ¡nativo. Nao vai á procura dos pensamentos nem da maneira como expressá-los, como acontece, porexempio, a quem prepara um discurso importante ou escreve urna carta.
Sao Joáo da Cruz chama locugóes, ou palavras sobrenaturais for máis, as palavras distintas que o espirito recebe nao de si mesmo, mas de urna outra pessoa, estando ou nao recolhido (Subida do Monte Carmelo, Cap. 26, n92).
Tanquerey define as locugóes ou palavras sobrenaturais como manifestagóes do pensamento divino, apreendidas pelos sentidos inter nos ou externos (Compendio de Teología Ascética e Mística, cap. 3, nB 1494).
Pode-se, entáo, assim, definirás locugóes: Sao palavras claríssimas,
percebidas pela pessoa que as recebe como se nascessem do coragáo, as quais, unidas entre si, formam urna mensagem.
O chamado do céu é quase sempre de improviso. É o Senhor ou Nossa Senhora, os Anjos ou os Santos, que tomam a iniciativa do mo mento e do conteúdo da mensagem.
Para distinguir as locugóes auténticas das espurias, que sao fruto de engaño deliberado ou de mórbida auto-sugestáo, ou até mesmo de interferencia do Demonio, há normas muito precisas. A literatura, nesse ponto, nao é rica nem atualizada; ajudam-nos os escritos dos grandes
místicos, como S. Joáo da Cruz, Santa Teresa d'Ávila, Santo Inácio, San
ta Catarina de Genova e Santa Catarina de Sena. Também os estudos e tratados de Tanquerey, Royo Marín, A. Poulin, Garrígou-Lagrange e outros. 409
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Mais difícil é avallar o peso do elemento humano de que se reveste a inefável Palavra de Deus, para chegara compreender o que a mensagem contém de essencial, universal, e enfim, de divino. Ouve-se dizer, muitas vezes, que as mensagens contidas no nosso livro sao prolixas e muito freqüentes. Comparam-se essas mensagens com o estilo do Evangelho e das Aparigóes aprovadas pela Igreja, esquecendo-se de que se trata de manifestacóes da Palavra de Deus muito
diversas, nao só pela autoridade, mas também pela modalidade. Se temos respeito para com toda pessoa e sua liberdade, entáo por que deveríamos fazer excecao só para Deus, como se Ele tivesse que pedir-nos Iicenga e acomodarse aos nossos gostos na escoiha dos lugares, tempos, modos e instrumentos para poder entrar em comunicagao com seus filhos?
É preciso crescer no espirito de Sabedoria para alegrarse com Jesús, quando exclama: 'Eu te dou gragas, ó Pai, porque escondeste teus segredos aos doutos e sabios, e os revelaste aos pequeños'; e para exultar com a alma da Máe Celeste, quando canta: 'Encheste de bens os pobres e aos ricos despediste de maos vazias'».
Cada cristáo é livre para aceitar ou nao as revelacóes particulares. No próximo artigo trataremos do Anticristo mencionado ñas pági nas precedentes.
Refazer a Vida? Carta aberta a urna Divorciada, porMichelMartinPrével. Tradugáo de Peter Nadas. - Ed. Santuario, Rúa Padre Claro Monteiro, 342, Aparecida (SP) 12570-000, 140 x 210 mm, 92 pp. O autor é animador de Retiros para casáis e para divorciados. Tendo em vista o grande número de pessoas infelizes em seu matrimonio, dirígese especialmente as mulheres separadas que vivem, em castidade, a fidelidade ao seu casamento. Reconhece o seu sofrimento, mas
propoe-lhes o amor de Deus como o grande lenitivo. A seguir, disserta sobre "Perdoar é possível", propóe a fidelidade como virtude bíblica ou mesmo divina e exalta o valor do testemunho de urna vida fiel, sustenta
da heroicamente, á revelia de quanto insufla o mundo de hoje. Termina com palavras do Papa, de um Bispo e o Rosario dos Divorciados. - O
livro é destinado a servir como valiosa fonte de coragem e estímulo para quantos(as) se encontram na penosa situagao de um matrimonio infeliz.
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Fim do mundo?
O ANTICRISTO: QUEM É ELE?
Em síntese: O artigo analisa os textos dos Evangelhos, de Sao Paulo e do Apocalipse, procurando o fundamento bíblico para a figura que comumente é chamada "o Anticristo". - Pode-se dizer, que nao há base neotestamentária para se conceber tal personagem. Tratase, an tes, de urna nogáo rabínica, que entrou na tradigáo crista, fundindo-se com figuras de literatura posterior a Cristo, especialmente com a expec
tativa romana do Ñero redivido: o Imperador, cruel como fora, o primeiro e típico perseguidor da Igreja, ressuscitaria no fim dos tempos, para seduzir os fiéis e ser definitivamente punido por Cristo. *
*
*
Costuma impressionar os cristáos a perspectiva de um Anticristo ou um pujante Adversario de Cristo, que deverá manifestar-se no fim dos tempos. Todavía tal expectativa permanece obscura. Verifica-se que os textos bíblicos sobre os quais se apoia tal concepcáo, sao suscetíveis de
mais de urna interpretado. Redigidos em estilo apocalíptico, usam de muitas figuras literarias, entre as quais a personificacáo de conceitos abs-
tratos e de realidades coletivas.
Examinemos, pois, estas passagens bíblicas para compreender o que objetivamente significam. 1. Os Sinóticos
No seu sermáo escatológico diz Jesús:
"Surgiráo numerosos falsos profetas, os quais seduziráo muita gen te" (Mt 24,11).
"Surgiráo falsos cristos (messias) e falsos profetas, os quais realizaráo portentos e prodigios notáveis, de modo a seduzir, se fosse possível, até os escolhidos. Eis que de antemáo vo-lo anuncio" (Mt 24,24s).
No sermáo do Senhor, os falsos messias e profetas, sedutores dos últimos tempos, aparecem como verdadeira legiáo, mas legiáo acéfala; Jesús nao menciona um chefe que possa ser dito "O ANTICRISTO".
Ainda é de notar que Jesús nao fala de Anticristo(s), mas de pseudocristos, embora os falsarios sejam inimigos (antitéticos) a Cris to; o termo técnico e clássico Anticristo se deve a época posterior, isto é, a S. Joáo, que escreveu no fim do séc. I (cf. 1 Jo 2,18.22; 4,3; 2Jo 7). 411
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Em conclusáo: o Anticristo, no Evangelho, nao aparece nem com
este título nem sob a forma de individuo único. Nao falta, porém, a predicao de que, no fim dos tempos, adversarios de Cristo surgiráo, mais numerosos e astutos que nunca, usurpando o nome e os poderes do Messias (= Cristo).
2. Escritos joaneus S. Joáo, ñas suas epístolas, por quatro vezes menciona explícita mente o Anticristo, tanto no singular como no plural: "Filhinhos, esta é a última hora. Assim como ouvistes, vem um (nao: o) Anticristo; já agora existe grande número de anticristos; é o que nos diz que esta é a última hora" (Uo 2,18); "Quem é o mentiroso senáo aquele que nega que Jesús é o Cristo (Messias)? Eis o Anticristo: aquele que nega o Pai e o Filho" (Uo 2,22); "Todo espirito que nao confessa Jesús, nao é de Deus; tal espirito, porém, é o do Anticristo, do qual ouvistes dizer que vem e que já agora está no mundo" (Uo 4,3);
"Muitos sedutores apareceram no mundo, os quais nao professam que Jesús Cristo se encarnou; ei-lo, o Sedutor e o Anticristo" (2Jo 7). A respeito destes textos, é de se notar que S. Joáo, o primeiro escritor a usar da palavra Anticristo na literatura crista,1 emprega este termo tanto no singular como no plural. Mesmo, porém, quando o toma
no singular, atribui-lhe sentido coletivo, pois o aplica a todo e qualquer individuo que negué a Jesús Cristo, isto é, que deturpe o sentido ortodo xo da Encarnacáo; Anticristo, para S. Joáo, é, pois, todo e qualquer herege. Suposto este conceito, assim se interpretaría a advertencia do Apos tólo nos versículos ácima citados: "Ouvistes dizer que vem um Anticristo? Com efeito, a tradicáo judaica já vo-lo insinúa... Em verdade, porém, vos asseguro: desde que irromperam no mundo erros e heresias a respeito de Jesús Cristo, o Anticristo já fez sua aparicáo; e notai que nao é um só, mas sao muitos os Anticristos, sao tantos quantos negam a messianídade de Jesús; na realidade, um Anticristo nao é senáo um negador do Cristo". No Apocalipse, S. Joáo nao fala explícitamente de Anticristo(s), mas apresenta duas figuras de Bestas, fantásticas, adversarias de Cristo (13, 1-8.11-17); estas combatem na Térra contra a Igreja e, por fim, sao
projetadas no lugar de perdícáo. Portanto, a nocáo de Anticristo nao é alheia ao Apocalipse; todavía, dois sao ai os Anticristos. Mais aínda: conforme os melhores exegetas, eles signíficam duas coletividades, a ' O termo composto pode significar tanto "Aquele que é contrarío a Cristo (ao Mes sias)" como "Aquele que se coloca em lugar do Cristo". Praticamente nao há multa diferenga entre estes dois sentidos. 412
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saber: o poder político que em qualquer época seja contrario á Igreja, coisa que sempre existiu e existirá (ao menos em surtos periódicos); e o poder das falsas religióes ou filosofías que, também por todo o decorrer da historia, travam luta contra a Verdade trazida por Cristo. As duas Bestas do Apocalipse realizam prodigios, suscitando a admiracáo dos homens, marcam com sinal próprio seus adoradores, blasfemam soberbamente etc., á semelhanca do que se lé nos textos escatológicos do EvangeIho e de S. Paulo. Todavía, o Apocalipse nao conhece o Anticristo individual. 3. As Cartas de Sao Paulo
S. Paulo propoe em 2Ts 2,3-10 a famosa descricáo do Adversario e do Obstáculo que o detém. Esta passagem nao menciona os muitos falsos profetas ocorrentes no Evangelho, e parece incutir a nocáo de um Inimigo individual, caracte
rizado como "Homem do pecado, Filho da perdicáo (homem destinado á ruina temporal e eterna), Adversario, Iníquo", nomes que, de resto, nao
se conseguiram impor na tradicáo, mas cederam ao termo de S. Joáo: Anticristo. A funcao do Iníquo será imitar o Cristo com o fito de O combaten arrogante e sacrilego, realizará milagres e far-se-á entronizar como Deus. Como entender a descricáo de tal personagem? Embora aprésente muitos traeos que favorecem a crenca num
Anticristo individual, ela pode ser interpretada na linha do Evangelho e de S. Joáo ácima reproduzida. Eis como entáo se explicaría o texto paulino: O Adversario, agente que atua pelo poder de Satanás (cf. v. 9), parece ser contemporáneo a S. Paulo mesmo, pois o Apostólo julgava que, em 51 da nossa era, ele só nao se manifestaría em público, visto estar detido por um Obstáculo. Existia, pois, mas coibido e velado, pronto a se manifestar em toda a sua pujanca; e este estado latente inegavelmente se protrai até os nossos días, devendo mesmo prolongar-se até que seja removido o Obstáculo, ou seja, até os últimos tempos. Na base desta verificacáo, julga-se que o Adversario "paulino" nao pode ser um individuo humano, mas deve ser urna coletividade de inimigos que vem atravessando os séculos: "anticristos" se sucedem a "anticristos", assumindo diversos tipos conforme as respectivas épocas em que vivem; Satanás, porém, é impedido de desenvolver por eles toda a malicia que intenciona; e tal estado de coisas durará até o fim dos tempos, quando,
por permissáo de Deus, se desencadeará todo o furor do Maligno e de
seus agentes multiplicados.
Mais ainda: verifica-se que o Adversario, assim entendido, há de ser identificado com o "Misterio da iniqüidade" (outra expressáo paulina
que designa a coletividade das forcas malignas), misterio que também 413
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em 51 "já se achava em atividade" (cf. v. 7). S. Paulo personificou o Miste rio da iniqüidade, dando-lhe os títulos de "Adversario, Iníquo..."; este proceder é muito habitual no estilo apocalíptico, que tende a representar coletividades como se fossem individuos: assim as duas Bestas de Ap
13 sao o símbolo de todos os artificios humanos (políticos e filosóficos) anticristáos; as duas testemunhas de Ap 11 significam o conjunto dos pregadores do Evangelho através dos séculos; o rei de Tiro, em Ez 28, designa a cidade capital e o reino de Tiro; o Faraó, em Ez 29-32, repre senta todo o Egito. E nao há dúvida de que o texto apocalíptico de 2Ts 2, por muito original que pareca, na realidade repete expressóes clássicas da literatura apocalíptica do Antigo Testamento, a ponto de poder ser considerado como um tecido de fórmulas proféticas... tomadas de empréstimo.1 De resto, o Apostólo, ao expor suas idéias, comprazia-se em atribuir a um individuo o que ele reconhecia convir a muitos; cf. 1Cor 4,6. Em favor da identificacáo do Iníquo (sujeito masculino) com o Mis terio da Iniqüidade (sujeito neutro, em grego) aponta-se ainda o fato de que o Apostólo, do outro lado, designa o Obstáculo igualmente sob a forma masculina (= Aquele que detém, v. 7) e sob a forma neutra (= Aquilo que detém, v. 6). Há, pois, entre as duas forcas que se opóem, um paralelismo de designacóes; isto insinúa que, assim como o Obstáculo já era contemporáneo a S. Paulo e ainda perdura, assim também o Adver
sario, o Iníquo, existe desde o inicio do Cristianismo e ainda aguarda, latente, o tempo de sua parusia. Donde mais urna vez se concluí que o Anticristo há de ser urna coletividade, e nao um individuo. Acrescentam, porém, os autores que a concepcáo coletiva nao excluí que no fim dos tempos tenha o poder maligno seu expoente máxi1 As figuras bíblicas a que S. Paulo alude, sao principalmente Antíoco Epifanes; o rei de Tiro, e Gog, rei de Magog.
A respeito de Antíoco, impío perseguidor da verdadeira fé no séc. II a. C, escreve
Daniel:
"O rei procederá como bem quiser, elevar-se-á e exaltar-se-á ácima de todo deus;
contra o Deus dos deuses dirá coisas monstruosas, e será bem sucedido, até que a cólera chegue ao auge, pois o que foi decretado se cumprirá" (Dn 11,36: cf. 7.25; 9,27). Ao rei de Tiro, personificacáo do reino de Tiro, escreve Ezequiel em nome de Deus: "Teu coracáo se exaltou e disseste: 'Sou um deus, ocupo um trono de deus no coragao dos mares'. Na verdade, porém, és um homem e nao Deus; nao obstante, queres ter um coracáo semelhante ao coracáo de um deus" (Ez 28,2).
Semelhante tipo ímpio éodo rei tiránico da Babilonia apresentado em Is 14,13s. Gog, rei de Magog, é personagem desconhecido na historia, mero símbolo literario. Ezequiel, nos capítulos 38s, o introduz como o chefe do exército dos inimigos de Deus, que no fim dos tempos fará urna incursáo devastadora sobre o povo de Deus.
Em sua soberba, e apesar do seu aparato pomposo, Gog, com seus súditos, será exterminado pelo Senhor Deus.
Os nomes "Iníquo, Homem do Pecado ou da Iniqüidade" podem ter sido sugeri
dos a S. Paulo por SI 89,23; 94,20.
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O ANTICRISTO: QUEM É ELE? mo ñas atividades de um homem, o qual será como que a "encarnacáo" de todos os artificios da iniqüidade. Nao se restrinja, porém, o conceito de Anticristo a este individuo.
4. Origem de um "Anticristo individual"
A idéia de um Anticristo individual parece ter origem nao ñas Escri turas do Novo Testamento, mas na tradicáo judaica. Nao há dúvida de que os israelitas, nos últimos séculos antes de Cristo, tendiam a dar sen tido literal ás descricóes muito figuradas de Ez 27; 38s; Dn 11; a partir do séc. II a.C, ¡nseriam sempre ñas suas cenas apocalípticas a imagem sinistra de um individuo que recapitularía em sí todo o poderío do mal. Ademáis, aconteceu que em 63 a.C. o general romano Pompeu se apoderou de Jerusalém e profanou o Templo de Javé, reproduzindo os tra eos do grande Adversario, o Profanador, que já cem anos antes fora Antíoco Epifanes (175-164 a.C). Ora, a figura de Pompeu, sobrepondose á de Antíoco, veio corroborar, na mente dos judeus, a idéia do Homem
Iníquo, perseguidor no fim dos tempos; os salmos ditos de Salomáo, apócrifo provavelmente escrito na época do general romano, aludem a
Pompeu como sendo o Pecador (2,1), o Dragáo soberbo (2,29), o ímpio
(17,13). Pois bem; é na linha desta tradicáo judaica que se sitúa o texto
de S. Paulo, 2Ts 2: o Apostólo nao fez senáo repetir os traeos literarios do grande Perseguidor e Sedutor, sem, por isto, exigir para as suas palavras a interpretacáo estritamente literal que as fontes judaicas, utilizadas pelo Apostólo, nao pedem; o que Paulo certamente quería incutir é que, nos últimos tempos, a mais violenta das perseguicoes será desencadeada sobre o povo de Deus, consoante o que claramente dizem os escritos escatológicos do Antigo Testamento (cf. Ez 38s; Jl 4,1-13; Zc 12,1-10). Quanto a S. Joáo, ele alude, como ácima foi dito, á expectativa judaica de um Perseguidor (Anticristo); corrige-a, porém, pela afirmacáo de que 0 Anticristo já veio e é múltiplo, pois múltiplos sao os hereges que aparecem.
Entre os cristáos subseqüentes, os tragos do Perseguidor, a cren9a no Anticristo individual, se pautaram sobre figuras da historia e da literatura posterior a Cristo; nao raro a concepeáo se fundía com a expec tativa romana do Ñero redivido: o Imperador matricida, o primeiro e típico Perseguidor da Igreja, ressuscitaria no fim dos tempos, para seduzir os fiéis e ser definitivamente punido por Cristo. Assim ainda pensavam con
temporáneos de S. Agostinho (t 430) e Sulpício Severo (t cerca de 420).1 Seria descabido enunciar outras tentativas feitas pelos autores cris táos para descrever o Anticristo futuro ou identificá-lo no decorrer da his toria; esses esforcos foram por vezes demasiado arbitrarios. Retenha-se 1 Cf. S. Agostinho, De civitate Dei 20. 19:
"Julgam que, ao dizer: Já agora está ativo o misterio da iniqüidade, o Apostólo tinha em vista Ñero, cujos feitos pareciam ser os do Anticristo. Donde nao poucos 415
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apenas que o caráter individual ou coletivo do Anticristo nao modifica as concepcóes gerais da escatologia crista; aos católicos fica a liberdade de optar por urna ou outra opiniáo. A Igreja recomenda principalmente sobriedade ñas elucubracoes atinentes a este assunto.
O Evangelho segundo o Filho, por Norman Mailer. Tradugáo de Marcos Aaráo Reis e Valeria Rodrigues. - Ed. Record, Rio de Janeiro 1998 (4S edigáo), 135 x210 mm, 204 pp. Este iivro tem sido um 'best-seller'que, aos olhos da fé crista, nao merece apreco, pois desrespeita ouzombeteia valores que, para um cristáo, sao intocáveis. Com efeito, o autor cria um romance no qual Jesús pessoalmente conta sua pretensa historia: "Nao diría que as palavras de Marcos sejam falsas, elas contém muito exagero. E mais ainda as de Mateus e Lucas e Joáo, que me atribuirán) frases que nunca proferí, descrevendo-me como amável, quando eu estava pálido de ira... Portanto farei meu próprio relato" (p. 7). Tratase de um Jesús pecador até o dia do seu Batismo; foi entáo que "busquei o mal dentro de mim, fixando-me nos momentos em que, segundo minhas lembrangas, desrespeitar a minha máe e tivera pensamentos luxuriosos. Talvez tenha sido um tanto severo ao julgar terceiros" (p. 31). Por ocasiáo do Batismo "o Verbo entrou em Jesús e sua vida mudoupara melhor"(cf. p. 31); "Aquele que vivia dentro da concha de mim, tinha vindo finalmente á superficie, e era melhor do que eu. Eu me transformara nele" (p. 33). O autor continua explanando, a seu modo, os capítulos das narracóes evangélicas. No fim da vida apresenta Jesús a fraquejar na fé: "Deus era meu pai, mas eu me sentía no direito de questionar o seu poder. Será mesmo onipotente? Igual a Eva, desejei o co-
nhecimento do bem e do mal. E foi minha própría voz que ouvi, afirmando que Ele era um deus, mas havia outros, e que, se falhara com Ele, também Ele tinha falhado comigo. Por isso talvez eu estivesse na cruz" (p. 197). Como se vé, o autor é ambiguo, deixando ao leitora interrogacao: afinal de contas, quem foi esse Jesús? Parece deleitarse em desenvolver estilo literario sobre a tessitura dos valores mais preciosos para todo cristáo, valores que ele vai conculcando e espezinhando com certo sarcasmo. suspeitam que Ñero há de ressuscitare ser o Anticristo. Alguns, porém, créem que Ñero nao foi moño, mas, sim, arrebatado, de sorte a ser tido por morto; permanece vivo no vigor da idade que tinha quando o deram por extinto; ficará oculto até ser revelado no tempo devido e restabelecido no trono. A mim tanta presungáo por parte dos que conjeturam, causa grande surpresa". Eis o testemunho de Sulpício Severo:
"Cré-se que, embora se tenha traspassado com urna espada, (Ñero) foi curado de sua chaga e conservado em vida, conforme o que dele está escrito: A sua chaga mortal foi curada (Ap 13,3); no fim dos tempos há de ser langado (no mundo) para consumar o misterio da iniqüidade" (Hist. sacr. 2,29). 416
Que pensar?
A IGREJA UNIVERSAL DO REINO
DE DEUS E O DÍZIMO
Em síntese: A Igreja Universal do Reino de Deus apregoa o dízimo táo enfáticamente que redunda em propor ou quase impor um comercio com Deus. Isto contraria as grandes linhas do Novo Testamento, que
realga a gratuidade dos dons de Deus, como se pode depreender dos textos citados no artigo abaixo. O que todo fiel deve oferecer a Deus, é um coragáo contrito e humilde, que possa ser preenchido pela graga. Quanto aos bens materiais, nao há promessa de Deus, no Novo Testa mento, que garanta aos fiéis fartura e bem-estar neste mundo. *
*
*
A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) apregoa insistente mente a prática do dízimo e do sacrificio como condicóes para obter be neficios da parte de Deus. Os fiéis se entregam a tais costumes na ex pectativa de sair de seus problemas de ordem económica, profissional, familiar..., dando assim ocasiáo ao arrecadamento de elevadas quantias de dinheiro e outras ofertas, no Brasil todo e no estrangeiro. O recurso as
"ofertas" é poderoso fator de crescimento da IURD, que vai construindo templos, comprando emissoras de radio, televisáo e publicando seus impressos nem sempre fidedignos.
O jornal "Folha Universal", edicáo de 8/3/1998, publica um artigo muito elucidativo da tese referente ao dízimo e as "ofertas" na IURD. Vista a sua importancia, transcreveremos e comentaremos os seus prin cipáis dizeres ñas páginas subseqüentes. 1.0 Texto em Pauta
Eis o trecho mais significativo do artigo citado, que tem por título "O
sacrificio nosso de cada día - O DÍZIMO":
"Temos ouvido vez por outra pessoas afirmarem que a prática de darodfzimo é coisa do Antigo Testamento e que agora, sob a Dispensagao da Graga, ninguém é mais obrigado a fazer coisa alguma. Há até quem diga que Jesús nunca mandou ou recomendou a prática do dízimo. Enganam-se redondamente os que assim pensam. Nesta passagem, por
exemplo, o Senhor Jesús diz que os fariseus deveriam praticar a justiga, a misericordia e afé, e cita o dízimo como algo comum entre o povo 417
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afirmando que sua prática nao devia ser omitida. Em outras palavras, urna coisa nao anula a outra. O fato de contribuir com a Igreja nao isenta as pessoas de praticarem a fé, bem como serpiedoso e consagrado nao
justifica alguém que nao é dizimista. Na verdade, o dízimo é um sacrificio que se coloca no altar. Embora muitos crístáos o considerem urna obrigagáo ou a simples devolugáo daquilo que pertence a Deus, na prática nao é táo fácil ser dizimista... Os
ricos consideram muito dinheiro a décima parte dos seus rendimentos. No livro de Malaquias, capítulo 3, versículo 10, encontramos o tex to áureo do dízimo: 'Trazei todos os dfzimos a casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhordos Exércitos, se eu nao vos abrir as janelas do céu, e nao derramar sobre vos talbéngáo, que déla vos advenha a maior abastanga'.
O desafio que Deus faz ao Seu povo no sentido de provar a Ele por intermedio do dízimo que entrega a Deus parte da sua renda, mas tem a promessa de que as janelas do céu seráo abertas e as béngáos da pros-
peridade cairáo abundantemente sobre ele. É urna troca que se faz com
Deus por proposta d'Ele mesmo. Alias, todo sacrificio supóe troca; ora se sacrificava para obter urna béngáo, ora porgratidáo por té-la recebido. Contase que certa vez alguém questionou um pastor da seguinte
maneira: 'Entáo, segundo suas palavras sobre o dízimo, o senhor está propondo um negocio com Deus'.
Ao que o pastor respondeu: 'E vocé conhece alguém melhor do que Deus com quem negociar?'" (p. 3). Comentemos tais dizeres. 2. Refletindo...
1) O autor do artigo afirma: "ser piedoso e consagrado nao justifica alguém que nao é dizimista". Ora isto quer dizer que a justificacáo ou a graca de Deus, que apaga o pecado, custa dinheiro; sem dar a décima
parte dos seus (grandes ou pequeños) rendimentos, o crente nao obtém a graca de Deus. Esta vem a ser "comprada", caso se queira usar urna linguagem mais crua.
2) O articulista reafirma a necessidade do dízimo, garantindo aos crentes que as béngáos materiais, além das espirituais, sao dadas a quem
entrega dinheiro á Igreja: "As janelas do céu serao abertas e as béncaos da prosperidade cairáo abundantemente sobre o dizimista". O autor nao hesita em reconhecer que a religiáo se torna um comercio; é urna troca que se faz com Deus por proposta dele mesmo; o sacrificio é oferecido 418
A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS E O DÍZIMO
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para receber urna béncáo; faz-se assim um negocio com Deus, que é o mais seguro negociante.
Estas conclusoes sao lógicamente deduzidas das declarapóes ofi ciáis da IURD. É preciso, pois, negociar com Deus, a tal ponto que, quanto mais alguém oferece ou "paga", tanto mais preciosos beneficios espirituais e materiais estará "comprando".
Diante da perplexidade que tais afirmacóes suscitam, convém pro curar na própria Escritura a comprovacáo ou a refutacáo de tais concepcóes. Na verdade, nao é difícil achar nos textos do Novo Testamento a
desdita ou a refutacáo das conclusoes propostas. - Levem-se em conta as seguintes passagens:
Mt 10,8: "De grapa recebestes, de graca dai". - Nos antecedentes Jesús dissera: "Curai os doentes, ressuscitai os morios, purificai os le prosos, expulsai os demonios". Disto se deduz que os fiéis recebem gra tuitamente de Deus a sua graca, até mesmo... os beneficios corporais que Ele queira conceder. A grapa é gratuita, nao comprada; por isto tem que ser transmitida gratuitamente; nao se fala de dinheiro no caso.
Ef 2,8: Sao Paulo é muito claro ao dizer que somos salvos gratuita mente, nao pelo dízimo nem pelo dinheiro que alguém dé á Igreja:
"Pela graga fostes salvos, por meto da fé. E isso nao vem de vos, é o dom de Deus. Nao vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho".
O Apostólo acentúa fortemente a gratuidade da salvacáo. Ninguém a compra; S. Paulo nao faz referencia ao dinheiro. A salvacáo nao é algo que alguém mereca porque é bom independentemente da graca de Deus; é Deus quem chama o homem gratuitamente para ser seu amigo. Verda de é que Sao Tiago acrescenta que ninguém permanece na amizade com Deus, se nao pratica a virtude e a caridade para com os irmáos. Quem eré e nao pratica a virtude, é como o demonio que tem fé, mas nao
pratica o bem; por isto eré e estremece (cf. Tg 2,18-24). É de notar que
Sao Tiago fala da caridade para com os irmáos, mas nao fala do dinheiro
pago á Igreja ou do dízimo. Afinal o protestantismo tanto proclama a gratuidade da salvacáo, seguindo a doutrina de Lutero, que nao se en-
tende como a IURD tanto recomenda o comercio ou o negocio com Deus. Realmente tal atitude póe em evidencia grande interesse por captar re cursos financeiros.
At 8,9-24: «Vivía, havia tempo, na cidade, um homem chamado Simio, o qual, praticando a magia, excitava a admiragáo do povo de Samaría e pretendía ser alguém importante. Todos, do menor ao maior, 419
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TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 436/1998
¡he davam atengáo, dizendo: 'Este é o Poder de Deus, que se chama Grande'. Davam-lhe atengáo porque ele, por muito tempo, os fascinara com suas artes mágicas. Quando, porém, acreditaram em Fiiipe, que Ihes anunciara a Boa Nova do Reino de Deus e do nome de Jesús Cristo, homens e mulheres faziam-se batizar. Opróprio Simáo, ele também, acreditou. E, tendo recebido o batismo, estava constantemente com Fiiipe, admirándose ao observar os sinais e grandes atos de poder que se rea-
lizavam.
Os apostólos, que estavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaría acolhera a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e Joáo. Es tes, descendo até lá, oraram por eles, a fim de que recebessem o Espirito Santo. Pois nao tinha caído aínda sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em nome do Senhor Jesús. Entáo comegaram a
impor-lhes as máos, e eles recebiam o Espirito Santo.
Quando Simáo viu que o Espirito era dado pela imposigáo das máos dos apostólos, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: 'Dai-me também a mim este poder, para que receba o Espirito Santo todo aquele a quem eu impuser as máos'. Pedro, porém, replicou: 'Perega o teu dinheiro, e tu com ele, porque julgaste poder comprar com dinheiro o dom de Deus! Nao terás parte nem heranga neste ministerio, porque o teu coragáo nao
é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, desta maldade tua e ora ao Senhor, para que te possa ser perdoado este pensamento do teu cora gáo; pois eu te vejo na amargura do fel e nos lagos da iniqüidade'. Simáo respondeu: 'Rogai vos por mim ao Senhor, para que nao me sobrevenha
nada do que acabáis de dizer'»
Como se vé, o mago Simáo converteu-se ao Evangelho e quis com
prar as gracas do Espirito Santo, ofercendo dinheiro á Igreja. Sao Pedro o censurou severamente, e Simao reconheceu que havia errado. Póde
se crer que hoje ainda quem pretende receber dons de Deus em troca de
dinheiro, está pretendendo comprar as dádivas divinas - o que é rejeita-
do peremptoriamente pelo Senhor.
At 20,35. Sao palavras de Sao Paulo: "Em tudo vos mostrei que,
afadigando-nos assim, é que devemos ajudar os traeos, tendo presentes as palavras do Senhor Jesús, que disse: 'Há mais felicidade em dar do que em receber"'.
Eis um principio solene enunciado por Jesús: há mais felicidade em dar do que em receber. Se isto vale para nos, homens, vale por exce lencia para Deus, que é o primeiro Doador. É Ele quem tem a iniciativa de dar; quer dar de graca, porque "Ele primeiro nos amou" (cf. 1 Jo 4,19). Ele quer dar muito mais do que a criatura pode imaginar ou quer receber. Todavía ninguém provoca Deus, ninguém obriga Deus a dar mediante o 420
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dízimo ou a oferta. Pensar que isto seja possível equivale a fazer de Deus um grande Banqueiro ou um esperto negociante humano.
3. Tres observares complementares 1) Considere-se urna objecáo que poderia ser levantada: nao há um preceito da Igreja que manda atender as necessidades da comunida-
de eclesial? Isto já foi formulado nos termos seguintes: "Pagar dízimos
segundo o costume". Observe-se que o dízimo, quando ocorre na Igreja, nao é entendido
como a décima parte dos emolumentos de alguém, mas significa urna contribuicáo estipulada por cada fiel católico que o possa e como o queira. Essa contribuicáo nao tem a finalidade de atrair gracas espirituais e materiais de Deus; tem, sim, a funcáo de ajudar a Igreja, colaborando com ela para que possa realizar sua missao apostólica. Nenhum fiel ca
tólico pretende negociar com Deus, julgando que receberá favores divi
nos na proporcáo de quanto ofereca a Deus. O que se requer, é que o católico se sinta solidario com a Igreja e coopere com a tarefa evangelizadora.
Nao há dúvida, em algumas paróquias foi instaurado o regime do dízimo. Como dito, nao se trata da décima parte da renda de alguém, mas de urna contribuicáo espontánea para o sustento da vida paroquial coisa muito justa. Mas é de notar que, se alguém nao pode ou nao quer
praticar o dízimo, nao é excluido da paróquia, muito menos... excluido das gragas de Deus. Peca-as em oracáo, como Jesús manda (cf. Mt 7,711; Le 11,9), e será atendido segundo o beneplácito divino, sem oferta de
dinheiro. Nao se pode imaginar que o dinheiro oferecido atraía os favores divinos. Se isto fosse verdade, que seria feito dos pobres, que nao tém dinheiro? Afinal o Cristianismo nao é a reiigiáo dos ricos nem dos que pretendem tornar-se ricos de bens materiais.
2) Conforme as concepcoes da ILJRD, a prosperidade material é a conseqüéncia certa e indiscutível dos dízimos ou das ofertas em dinheiro feitas com fé. O fiel na ILJRD é levado a crer que toda pessoa que tem fé e oferece... se torna rica. Ora também isto contradiz ao Evangelho: Jesús nao prometeu dinheiro nem bens materiais aos seus seguidores. Ao con trario, Ele disse ao jovem rico: "Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá o montante aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois vem e segue-me" (Mt 19,21). - Este texto chega a dizer que a perfeicáo crista consiste nao em ambicionar riquezas, mas em desapego e despojamento. O jovem rico, que deseja ser perfeito, é aconselhado por Jesús no sentido de se desfazer das suas riquezas, dando-as aos po bres. Trata-se de urna vocagáo especial, muito cara ao Senhor Jesús e 421
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aos cristáos, vocacáo que é a antítese daquilo que a IURD apregoa. Assim evidencia-se mais urna vez que a IURD está longe de ser a auténtica
intérprete do Evangelho. 3) As exortacóes da IURD em prol do di'zimo e das ofertas se ba-
seiam em textos do Antigo Testamento, que supóem um estágio da Re-
velacáo Divina ultrapassado pelo Senhor Jesús e pelo Evangelho. Tenham-se em vista os seguintes trechos: Le 16,14s: "Os faríseus, amigos do dinheiro, zombavam de Jesús. Jesús Ihes disse: 'Vos sois os que querem passar por justos diante dos homens, mas Deus conhece os coragdes; o que é elevado para os nomens, é abominável diante de Deus'". Le 12,13-15: "Alguém da multidáo Ihe disse: 'Mestre, dize a meu irmáo que reparta a heranga comigo'. Ele respondeu: 'Homem, quem me
estabeleceu juiz ou arbitro da vossa partilha?'. Depois Ihes disse: 'Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez, pois, mesmo na abun dancia, a vida do homem nao é assegurada por seus bens'".
A concepeáo de que quem é fiel a Deus, recebe gracas temporais nesta vida mesma, deve-se á antiga nocáo de vida postuma dos israelitas: julgavam que a morte reduzia o núcleo da personalidade (os rephaim) a
um estado de inconsciencia no cheol (subterráneo); em conseqüéncia a retribuicáo de Deus aos fiéis justos devia ser dada na vida presente em riqueza, saúde, vida longa, amigos ..., daí Me 3,10. Tal nocáo, porém, foi superada pelo Novo Testamento, que ensina haver urna outra vida, ple namente lúcida no além,... vida postuma na qual cada um(a) colherá os frutos do que tiver semeado na vida presente. Esta se torna preparacáo ou ante-cámara da vida no além, que para os justos será a verdadeira vida.
Está claro que estas ponderacoes nao significam que os fiéis nao podem aspirar a condicóes de vida dignas neste mundo e pedir ao Se nhor Deus o necessário para chegar a tanto. O próprio Jesús ensinou-
nos a pedir "o pao nosso de cada dia". É lícito, pois, pedir saúde e bens
materiais, nao, porém, como se fossem a resposta certeira aos bons servicos prestados pelo orante a Deus, mas, sim, como subsidios que parecem oportunos para facilitar a caminhada do cristao em demanda da Casa
do Pai. Nenhuma oracáo é perdida ou inútil; se Deus nao atende na me dida do que Ihe sugerimos, Ele atende de modo mais sabio e mais condizente com o verdadeiro bem do orante.
Eis algumas considerares que as "ofertas" na IURD sugerem a quem as compara com a mensagem bíblica. 422
Discute-se:
A ORIGEM DO PAPADO
Em síntese: A internet tem divulgado veementes ataques ao Ca tolicismo, especialmente ao Papado. Tratase de alegagoes destituidas de apoio de fontes bibliográficas ou apoiadas em bibliografía imperfeta mente citada - o que atesta serem noticias de segunda ou terceira máo ou mesmo "chavóes" repetidos sem grande conhecimento de causa. Abaixo é abordada a origem do Papado em resposta a afirmagóes altamente
tendenciosas. Nao se pode deixar de registrar estranheza pelo fato de que os protestantes, táo ciosos de seguirá Biblia, e táo somente a Biblia, no momento de atacar esquegam a Biblia para se ater a outros criterios.
Os protestantes tém utilizado a Internet para difundir veementes
ataques á Igreja Católica, que podem impressionar o público, embora falhos e, nao raro, eivados de inverdades. Os interessados pedem a PR
que procure esclarecer. É o que vamos fazer, comentando trecho de urna calorosa home-page.
1. A Versáo Eletrónica Eis o texto que vem ao caso:
«O Sistema Católico Romano comegou a tomar forma quando o
Imperador Constantino, convertido ao Cristianismo, presidiu o 1g Conci lio das Igrejas no ano 313 e no século IV construiram a 1S basílica em Roma. As Igrejas que eram livres comegaram a perder autonomía com o Papa Inocencio I, ano 401, que, dizendo-se "Governante das Igrejas de Deus, exigía que todas as controversias fossem levadas a ele. O papa Leáo I, ano 440, usou mais autoridade e exigiu respeito; alguns historia dores viram nele o 1Bpapa. Naqueles tempos ninguém supunha que 'S. Pedro foipapa'; fóra casado e nao teve ambigúes temporais». Estes dizeres apresentam imprecisoes e erras:
1) O Imperador Constantino nao presidiu ao Concilio de Nicéia I (1e Concilio geral) ocorrido em 325, e nao em 313.0 Papa Sao Silvestre nao compareceu por causa de sua idade e da grande distancia entre Roma e a Asia Menor (Turquía de hoje), mas enviou dois representantes: os presbíteros Vítor e Vicente. A presidencia foi exercida, provavelmente,
pelos delegados papáis e pelo bispo Ósio de Córdoba (Espanha). 423
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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 436/1998
2) O primado de Pedro e seus sucessores nao é algo que os homens criaram, mas deve-se ao próprio Cristo, que o instituiu, como se depreenderá do subtítulo 2 deste artigo. 3) O fato de Pedro ter sido casado nao impede ter sido o primeiro Papa. O celibato nao é inerente ao sacramento da Ordem. Ademáis Pe dro se casou antes de comecar a seguir Jesús Cristo. 2. O Primado de Pedro no Novo Testamento
Pedro é, sem dúvida, o Apostólo mais citado no Novo Testamento: 171 vezes, ao passo que o segundo citado é Joáo, cujo nome ocorre 46 vezes:
a) Pedro é o primeiro que Jesús chama e envía: Me 1,16-20; Mt 4,18s; Le 5,1-11;
b) na lista dos Apostólos, é sempre o primeiro, ao passo que Judas é o último: Mt 10,2-4; Me 3,16-19; Le 6,14-16; At 1,13; c) a vocacáo de Pedro está associada a urna mudanca de nome: verJo 1,41s;Mc3,16; Lc6,14; Mt 16,18. JesuslhedáonomedeKephas,
Rocha. Na antigüidade, o nome exprimía a realidade íntima do respecti vo sujeito; tém-se exemplos disto entre os assírios e babilonios. No Antigo Testamento, Deus mudou o nome de Abram por Abraham (Gn 17,5)1, 0 de Sarai por Sara (Gn 17.15)2, o de Jaco por Israel (Gn 32,29)3; de cada vez a mudanca de nome implicou urna promessa,... promessa que dizia
respeito aos fundamentos do povo de Deus. Ao trocar o nome de Simáo pelo de Kephas (Rocha), Jesús quis significar que, no novo Povo de Deus, Pedro terá o papel de fundamento sólido como a rocha; d) muito significativo é o texto de Mt 16,13-19, cuja autenticidade literaria é reconhecida por bons exegetas protestantes, de tal modo estáo ai presentes os aramaísmos ou os ecos da linguagem viva do próprio Cristo. - Qual seria o significado dessa passagem? e) Pedro confessou a messianidade e a filiacáo divina de Jesús; em resposta, o Senhor Ihe declarou: "Tu és Rocha e sobre essa Rocha
edificarei a minha Igreja e as portas do Hades (da regiáo dos mortos) nao prevaleceráo contra ela" (Mt 16,18). A imagem da rocha significa a soli dez de que gozará "a minha Igreja". A mesma metáfora aparece em Mt 1 Gn 17,5: "Nao mais te chamarás pelo nome de Abráo, mas teu nome será Abraáo, pois te concederei tornar-te pai de urna multidáo de nagdes". 2 Gn 17,15: Deus disse a Abraáo: 'Nao mais chamarás a tua mulher Sarai..., pois terá por nome Sara".
3 Gn 37,29: "Nao mais serás chamado Jaco, mas Israel, pois lutaste com Deus e os homens, e venceste". 424
A ORIGEM DO PAPADO
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7,24-27; Le 6,47-49, onde se tala do homem que constituí a sua casa sobre a rocha, conferindo-lhe firmeza inabalável1. "A minha Igreja" parece traduzir o hebraico qahal, palavra que designava a assembléia do povo de Deus no Antigo Testamento. Verda de é que Cristo também é dito Pedra fundamental da Igreja; ver Mt 21,42, citando o SI 118,22. Isto, porém, nao impede que Pedro seja o funda
mento visível instituido por Cristo invisível; Jesús também se diz luz do mundo (Jo 8,12) - o que nao impede que os Apostólos sejam a luz do mundo (Mt 5,14); "só Deus é bom" (Me 10,17), mas os homens, também podem ser ditos bons {Mt 5,45; 12,35).
Verdade também é que Sao Paulo, em 1Cor 3,11, diz que ninguém pode colocar outro fundamento senáo Jesús Cristo. Na verdade, como
nos casos anteriores, Cristo é o termo mais profundo e básico, mas Ele quer ter representantes visíveis, a tal ponto que o próprio Sao Paulo escreve: Ttve como ponto de honra nao anunciar o Evangelho a nao ser onde o nome de Cristo ainda nao fora anunciado, para nao edificar sobre 0 fundamento assentado por outrem" (Rm 15,20).
Além do mais, Jesús confere a Pedro "as chaves do Reino dos Céus". Estas significam a autoridade para govemar urna casa ou um pa
lacio, autoridade que compete a um mordomo ou a um Primeiro-Ministro, como se pode depreender de Is 22,19-222.
A expressáo "ligar e desligar" tem fundo semita; era usual entre os rabinos e significava:
- declarar lícito ou ilícito (desligando ou ligando); - condenar ou absolver, excluir da comunidade ou reintegrar na comunidade.
Donde se concluí que Pedro recebeu faculdades para decidir e le gislar ou para administrar a Igreja de modo geral. Verdade é que Jesús disse semelhantes palavras aos doze Apostólos reunidos: "Em verdade eu vos declaro: tudo o que ligardes na térra será ligado no céu; tudo o que desligardes na térra, será desligado no céu" (Mt 18,18). Esta declaracáo quer dizer que o colegiado dos Apostólos com Pedro terá as mesmas faculdades que Pedro a sos. 1 Há quem julgue que, ao referirse a esta pedra, Jesús quería indicar nao a Pedra (Pedro), mas Ele mesmo (Jesús) ou a fé de Pedro. Ora nao se entende que, na frase Tu és Rocha, e sobre esta Rocha edificare'! a minha Igreja", Jesús tenha mudado bruscamente o significado de Rocha; isto geraria confusáo de linguagem.
2 O mordomo Sobna é deposto do seu cargo e substituido por Eliaquim, a quem é entregue "a chave da casa de Davi; ele abrirá e ninguém fechará, ele fechará e ninguém abrirá" (Is 22,22). 425
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O. Culmann e outros autores protestantes reconhecem que Jesús quis confiar a Pedro uma funcao preeminente; julgam, porém, que era limitada no tempo e intransmissível. Caso, porém, fosse intransmissível, dever-se-ia dizer que o edificio da Igreja ficaria sem seu fundamento ¡me diato; acabaría caindo ou, se nao caisse, Jesús teria dado a Pedro um encargo de fundamento inútil.
f) Em Le 22,31 s lé-se: "O Senhor disse: 'Simáo, Simáo, Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo; eu, porém, orei por ti, para que tua fé nao desfaleca. E tu, quando te convelieres, confirma teus irmáos". Jesús supoe um assalto de Satanás contra os justos - o que é bem conhecido dos escritores sagrados; assim Zacarías profeta apresenta Satanás acusando o Sumo Sacerdote Josué (3,1s); cf. 1 Rs 22,22;
1Cr 21,1; Sb 2,24. Os essénios imaginavam um momento em que Sata nás receberá de Deus a autorizacáo para abalar a comunidade messiánica. Ora Jesús faz alusáo a tal assalto diabólico e ora pela fé de Pedro, que, segundo Mt 16,17-19, foi constituido fundamento de uma comunidade contra a qual as potencias malignas nao poderáo prevale
cer; Pedro deverá exercer a funcáo de fortalecer a fé de seus irmáos. -
Há, porém, quem lembre que Pedro chegou a renegar Jesús por tres vezes (cf. Le 22,34); de fato, Pedro fraquejou no momento da Paixáo do
Senhor; mas arrependeu-se e chorou amargamente {Mt 26,75). Isto bem
mostra que nao é a virtude ou a excelencia de Pedro (e de seus sucesso-
res) que garante aos cristáos a incolumidade da fé, mas é a assísténcia do Senhor Jesús, que se serve de qualquer instrumento para realizar sua
obra salvífica.
g) A seceáo de Jo 21,15-17 aínda ¡nteressa. É a entrega do man dato que foi prometido a Pedro em Mt 16,13-19; Jesús pede a Pedro uma tríplice afirmacáo de amor e fidelidade para apagar a tríplice renegacáo de Pedro. Jesús constituiu Pedro pastor do seu rebanho; a tríplice repeticáo de fidelidade pode ter sido a fórmula de um compromisso ou de um contrato segundo os moldes da época ou conforme o costume semítico
(cf. Gn 23,7-23). Nao há dúvida, os demais Apostólos foram também chamados ao pastoreio do rebanho de Cristo; como quer que seja, Pedro recebeu de modo pessoal, singular, e em termos ilimitados, a faculdade que seria conferida aos outros Apostólos. Mais uma vez se verifica que
Pedro possui pessoalmente, por concessáo do próprio Cristo, aquilo que
os demais Apostólos receberam colegialmente.
h) Deve-se notar aínda o papel desempenhado por Pedro tanto no
decorrer da vida pública de Jesús quanto após a Ascensáo:
Pedro responde pelos Apostólos em geral: Mt 17,24-27; Me 14 26-
31.37; Le 5,4-11;
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Pedro fala em nome do colegiado: Jo 6,69s ("Senhor, a quem ¡re mos?...); Mt 16,18 ("Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo"); Mt 15,15s ("Explica-nos essa parábola"); Mt 19,27 ("Eis que deixamos tudo e te seguimos"); Mt 18,21 ("Senhor, quantasvezesdevoperdoar...?"); Le 12,41 ("Senhor, é para nos que estás contando essa parábola...?). "Pedro e os que estavam com Pedro" é expressáo que póe em relevo o nome de Pedro, fazendo eco a sentencas bíblicas em que o nome posto em realce é o do chefe. Assim vejam-se: Le 9,23: "Pedro e os que estavam com ele..."; cf. Le 9,32
Mt 16,7: "Ide e dizei a seus discípulos e a Pedro..." At 2,14: "Pedro, em companhia dos onze..."; cf. At 2,37
At 5,29: "Pedro e os Apostólos... disseram..." 1Cor 9,5: "... como os outros Apostólos, os irmáos do Senhor e Pedro..." A comparar com
1Sm 22,6: "Davi e a gente que o acompanhava..." Me 3,7: "Jesús com os seus discípulos..." Ap 12,7: "Miguel e os seus anjos..." Pedro, após a Ascensáo, preside, levanta-se, fala...: At 1,15; 2,41; 5,15; 15,7;
Pedro é o primeiro a abrir as portas da Igreja aos pagaos sem Ihes impor a circuncisáo, á revelia do que desejava a faecáo judaizante da comunidade nascente; cf. At 10,9-43.
i) Em Gl 2,11-14 lé-se o incidente de Antioquia ou a resistencia de Paulo a Pedro, episodio que nao tem o alcance a ele geralmente atribu ido. Na verdade, Pedro e Paulo professavam a mesma doutrina; eram
favoráveis á entrada dos pagaos na Igreja mediante o Batismo (sem a circuncisáo). Paulo, o grande arauto da liberdade dos pagaos frente á Lei de Moisés, sabia fazer aos judeus concessóes de índole pastoral, que nao afetavam a pureza da fé: assim mandou circuncidar Timoteo para que pudesse pregar o Evangelho aos israelitas (At 16,3); fazia-se "judeu com os judeus" (1 Cor 9,20), prestou-se duas vezes a um voto usual entre os judeus (cf. At 18,18 e 21,23-27). Apenas em Antioquia Paulo julgou que a concessáo feita por Pedro aos judeus (nao comer alimentos proibidos pela Lei de Moisés) era ambigua e apta a ter conseqüéncias indesejáveis; o exemplo de Pedro tinha tal autoridade que podía constituir nor427
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ma: "os outros judeus comecaram também a fingir junto com Pedro, a tal ponto que até Barnabé se deixou levar pela sua hipocrisia" (Gl 2,13). Por causa do grande prestigio de que gozava Pedro, o Apostólo Paulo houve por bem dissuadir Pedro de tal conduta (que nao era pecaminosa, mas exprimía uma atitude pastoral pouco feliz).
S. Paulo, alias, tinha consciéncia de que a condicáo de apóstolicidade era representada por Pedro. Em conseqüéncia, após o seu retiro na Arabia, Paulo "foi a Jerusalém para avistar-se com Pedro, com quem ficou quinze días" (Gl 1,18). Mais: quatorze anos após a sua conversáo, o mesmo Paulo "subiu de novo a Jerusalém em virtude de uma revelacáo e expós, em forma reservada, aos notáveis o Evangelho que ele pregava entre os gentios, a fim de nao correr, nem ter corrido, em váo" (Gl 2,2).
Jerusalém, a cidade dos Apostólos e dos Santos, ficava sendo para Sao Paulo um referencial permanente; entre as comunidades de pagaos con vertidos e a dos Apostólos a coleta em favor dos pobres de Jerusalém, que Paulo muito enfatizava, era o sinal concreto de comunháo; cf. 1Cor 16,2; Rm 15,25-28.
j) Merece atencao também o Concilio de Jerusalém, realizado por volta de 49 para dirimir a questáo: deve-se impor ou nao aos gentios a Lei de Moisés e, de modo especial, a circuncisáo?
- Pedro tomou a palavra para acalmar os ánimos: lembrou entáo que o próprio Deus o havia encarregado de batizar o centuriáo romano Cornélio sem Ihe impor a circuncisáo, e acrescentou a palavra decisoria:
"Agora, pois, por que tentáis a Deus, impondo ao pescoco dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem mesmo nos pudemos suportar?" (At 15,10). "Entáo toda a assembléia se calou" (At 15,12). A seguir, Tiago tomou a palavra para confirmar a decisáo de Pedro: "Simáo acaba de expor-nos como Deus se dignou, primeiro, escolher dentre os gentios um povo dedicado ao seu nome. Com isto concordam as palavras dos Profe tas..." (At 15,14s). Tiago concordou com a solucáo dada por Pedro, e
formulou quatro cláusulas que os gentios convertidos deveriam observar para manter a boa paz ñas comunidades de Antioquia, da Siria e da Cilícia, onde conviviam judeo-cristáos e étnico-cristáos; todos os presen
tes, Apostólos e presbíteros, concordaram com a solucáo formulada por Pedro e explicitada por Tiago.
Destas citacóes pode-se concluir que o colegiado dos doze é estruturado; tem uma chefia na pessoa do Apostólo Pedro. Isto significa que os sucessores dos Apostólos constituem um colegio no qual perma nece a funcáo primacial petrina. Verdade é que o Novo Testamento nao fala explícitamente da sucessáo de Pedro com suas prerrogativas; esta, porém, é deduzida do fato de que a Igreja é concebida por Cristo como uma instituicáo que devcrá durar até o fim dos tempos (Mt 16,18; 28,20). 428
Problema freqüente:
SEPARADOS E RE-CASADOS
Em síntese: O artigo explica por que pessoas validamente casa das na Igreja, separadas do(a) respectivo(a) consorte e re-casadas nao podem receber a Comunháo Eucarística; vivem numa situagáo pecami nosa, que excluí da prática sacramental, enquanto perdura. O matrimo nio validamente contraído e carnalmente consumado é indissolúvel. No caso de fracasso matrimonial, entende-se que haja separagáo dos cónjuges, f¡cando porém ambos obrígados a conservara fidelidade ao vínculo conjugal mediante um teor de vida casta - o que é edificante e habilita á prática sacramental. As páginas subseqüentes proporao outrossim duas pistas de solugáo para pessoas separadas e re-casadas. *
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É sempre atual o caso de pessoas que se casaram na Igreja, foram infelizes no seu matrimonio, por ¡sto separaram-se e contraíram nova uniáo meramente civil ou simplesmente se juntaram a outra pessoa.
A Igreja tem dedicado especial atencáo a esses seus filhos, a fim de que nao se julguem abandonados e execrados. Em que consiste essa modalidade de cuidados pastorais? - A resposta já foi explanada em PR 431/1998, pp. 162-172. Voltamos ao assunto ñas páginas subseqüentes. Ver também á p. 410 deste fascículo a apresentacáo do lívro "Refazer a Vida?"
1. Pistas de solugáo
É preciso notar que urna pessoa casada na Igreja, mas separada do(a) consorte nao está impossibilitada de receber os sacramentos, des
de que nao se una a novo(a) parceiro(a). É, alias, edificante acompanhar
tais pessoas infelizes no casamento, vivendo a sos a sua fidelidade con jugal. Dáo um testemunho de coeréncia e coragem raro e muito significa tivo na sociedade hedonista em que vivem.
Quanto as pessoas que, após separagáo, vivem maritalmente sem
o sacramento do matrimonio, podem-se apresentar duas eventuais solucóes para o caso:
1) Procurem averiguar se nao houve algum impedimento canónico no ato de contrairem seu matrimonio religioso, impedimento que terá tor nado nulo tal casamento; entre esses impedimentos, estáo os de ordem 429
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psíquica (incapacidade de levar vida a dois,... de assumir compromisso definitivo,... de ter relacóes heterossexuais...) ou de ordem moral
(desonestidade dolosa, atitudes falsas ou mentirosas de um dos parceiros...)... Ver a propósito PR 303/1987, pp. 338-357. - Desde que se possa suspeitar da existencia de algum impedimento dirimente, a parte interessada poderá dar entrada no Tribunal Eclesiástico de sua regiáo a um processo para investigaros fatos e, eventualmente, declarar nulo o casa mento ocorrido. A Igreja nao anulará um casamento validamente contra
ído e consumado, mas poderá declarar nulo um casamento inválidamen te contraído.
2) Se nao há fundamento real para pleitear a declaracáo de nulidade, resta aos dois parceiros outra atitude, que tem sido solucáo em alguns casos, especialmente após certa idade: ponham-se de acordó para
viverem sob o mesmo teto como irmáo e irmá; daráo ajuda mutua um ao outro, mas abster-se-áo de relacionamento sexual. Se nenhuma das duas pistas de solucáo é viável, toca aos cónjuges nao casados na Igreja conservar a fé, entregar seu caso a Deus e procurar freqüentar a igreja, participando da S. Missa (sem comungar) e
de alguma atividade paroquial compatível com o seu estado. É o que preconiza o Santo Padre Joáo Paulo II na sua Exortacáo Apostólica Familiaris Consortio ns 84:
«Juntamente com o Sínodo exorto vivamente os pastores e a inteira comunidade dos fiéis a ajudar os divorciados, promovendo com caridade solicita que eles nao se considerem separados da Igreja, podendo, e melhor devendo, enquanto batizados, participar na sua vida. Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a freqüentar o Sacrificio da Missa,
a perseverar na oragáo, a incrementar as obras de caridade e as iniciati vas da comunidade em favor da justiga, a educar os filhos na fé crista, a cultivar o espirito e as obras de penitencia para assim implorarem, dia a día, a graga de Deus. Reze por eles a Igreja, encoraje-os, mostre-se máe misericordiosa e sustente-os na fé e na esperanga... A reconciliagáo pelo sacramento da penitencia - que abriría o caminho ao sacramento eucarístico - pode ser concedida só aqueles que, arrependidos de ter violado o sinal da Alianga e da fidelidade a Cristo,
estao sinceramente dispostos a urna forma de vida nao mais em contradigao com a indissolubilidade do matrimonio. Isto tem como conseqüéncia, concretamente, que quando o homem e a mulher, por motivos serios quais, por exemplo, a educagáo dos filhos - nao se podem separar, assumem a obrigagáo de viverem plena continencia, isto é, de abster-se dos atos próprios dos cónjuges.
Igualmente o respeito devido quer ao sacramento do matrimonio 430
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quer aos próprios cónjuges e aos seus familiares, quer aínda á comunidade dos fiéis proíbe os pastores, por qualquer motivo ou pretexto mesmo pastoral, de fazer em favor dos divorciados que contraem urna nova uniáo, cerimónias de qualquer género. Estas dariam a impressáo de celebragáo de novas nupcias sacramentáis válidas, e conseqüentemente induziriam em erro sobre a indissolubilidade do matrimonio contraído validamente.
Agindo de tal maneira, a Igreja professa a própria fidelidade a Cris
to eá sua verdade; ao mesmo tempo comportase com espirito materno para com estes seus filhos, especialmente para com aqueles que, sem culpa, foram abandonados pelo legítimo cónjuge. Com firme confianga ela vé que, mesmo aqueles que se afastaram do mandamento do Senhor e vivem agora nesse estado, poderao obter de Deus a graca da conversáo e da salvagáo, se perseverarem na oragao, na penitencia e na caridade».
A propósito o Sr. Arcebispo de Maceió D. Edvaldo Goncalves do Amaral publicou no jornal "L'Osservatore Romano", edicáo portuguesa, um valioso artigo, que transcrevemos a seguir, notável por seu tom pas toral: Impedir os re-casados de comungar?
Vamos comecar esclarecendo o que se entende por re-casados. Com freqüéncia ocorrem casos dolorosos de casáis que já nao podem viver juntos. Criou-se urna situacáo tal que a vida a dois se tornou intolerável. Mais de urna vez, na orientacáo espiritual, quando há risco de
agressáo física, os filhos estáo criados e a mulher tem independencia económica, eu mesmo ten no aconselhado a triste e traumática separacáo do casal como solucáo extrema para ambos poderem viver em paz e o odio nao vir a substituir o amor do inicio da vida conjugal. Mas, note-se bem, é solucáo extrema e nunca se realiza sem muita dor e o conseqüente trauma. E ainda: requerem-se conjuntamente as tres condicoes ácima.
E agora, que acontece com a mulher crista separada assim (quase diria «á forca») de seu único e legítimo marido? Ela deve conservar a fé de seu sacramento do matrimonio, manter a fidelidade ao seu esposo,
embora distante e talvez já com outra companheira. Sua fé Ihe diz que o vínculo matrimonial permanece enquanto os dois estiverem vivos. Nessas condicoes, ela é urna crista como qualquer outra, com to dos os direitos á participacáo nos sacramentos da Igreja, as associacóes religiosas, onde poderá ter qualquer cargo e exercer qualquer funcáo. O fato de estar separada de seu marido (mantendo-se fiel ao sacramento 431
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recebido) em nada altera sua condicáo de crista. Estou exemplificando com a esposa - caso mais comum - mas com o marido ocorre a mesma
situacáo religiosa. Acontece, porém, com muita freqüéncia, sobretudo quando os cónjuges separados sao jovens, que eles se casem outra vez no civil, após o
divorcio, estando vivo o cónjuge legítimo. É o que chamo aqui re-casa dos. E agora, qual é sua situacáo na Igreja?
Surgiu recentemente na pastoral urna simpatia bem difundida, com ressaibos de demagogia, em favorecer os re-casados, permitindo-lhes a admissáo á comunháo eucarística. Com freqüéncia, ouvimos pessoas re-casadas nos dizerem que a diocese tal, que Padre Fulano, que Frei Sicrano permitem que eles comunguem, apesar de viverem maritalmente com alguém sem o sacramento do Matrimonio. Será isso possível den tro da moral católica?
É claro que nao, infelizmente - temos que responder com coragem evangélica. Bom seria que fosse possível, mas diante da verdade do Evangelho, sabemos que nao o é. Temos casos dolorosos de pessoas que cometeram na vida o erro - agora irreparável - de ir conviver com outra, sem poder receber o sacramento do matrimonio, porque já era
casado com alguém. Ocorre ainda o caso particular daqueia pessoa que foi conviver com outra, sem se terem casado, e até podendo fazé-lo por que ambos sao solteiros, mas o homem (em geral é ele e nao ela) se nega a receber o sacramento. Tal caso, evidentemente, é paralelo ao dos re-casados e esses também nao podem ser admitidos á comunháo eucarística.
É clara a doutrina crista neste ponto. O sacramento do matrimonio é indissolúvel pela palavra de Cristo: O que Deus uniu, o homem nao separe. Eu vos declaro: quem despede sua mulher- fora o caso da uniáo ilícita - e casa com outra, comete adulterio (cf. Mt 19,6 e 9). Se o matri monio é indissolúvel e o re-casado comete adulterio casando com outra pessoa, é evidente que ele vive urna condicáo irregular e nao pode ser admitido aos sacramentos da Igreja. Desejamos que ele se arrependa do
mal feito - e nao vamos carregar que «ele vive em pecado» - mas a sua situacáo permanece irregular, embora freqüentes vezes nada mais se possa fazer, por causa da educacáo dos filhos pequeños, pelo dever de justica para com aquela que entregou sua vida a ele, pela irreversibilidade da situacáo de anos e anos, e tantas outras ponderáveis razóes. Joáo Paulo II, em sua Exortacáo Apostólica sobre a Familia, de 22/
11/1981, relembra a doutrina crista: "A Igreja reafirma sua praxis, funda mentada na Sagrada Escritura, de nao admitir a comunháo eucarística os divorciados que contraíram nova uniáo. Seu estado e condigóes de 432
vida contradizem objetivamente áquela uniáo de amor entre Cristo e a Igreja. Se estas pessoas fossem admitidas a Eucaristía, os fiéis seríam induzidos em erro acerca da indissolubilidade do matrimonio" {Familiaris Consortio, ns 84). Falando das pessoas unidas só civilmente, ensina o Sumo Pontífice: Tratando-as embora com muita caridade, os pastores da Igreja nao poderáo infelizmente admiti-las aos sacramentos" (idem, n9 82). É claro o ensinamento da Igreja: se aceitamos o matrimonio indissolúvel, os re-casados nao podem ser admitidos á comunháo eucarística. Se assim nao fosse, nao seria preciso um sacramento para
constituir a familia. Cada um casaría e se separaría quantas vezes quisesse, continuando tranquilamente na vida sacramental da Igreja. Sei muito bem que os defensores da admissáo dos re-casados á comunháo eucarística nao desejam chegar a esse extremo, ao qual nos conduz a mais simples lógica.
Que fazer, entao, em nossa pastoral familiar? Seguir a orientacáo pontificia, exortando os divorciados re-casados e os unidos maritalmente sem o sacramento a perseverarem na oracao, na escuta da Palavra de Deus e na freqüéncia devota da Santa Missa. Participem das obras de caridade e das iniciativas da Igreja em favor da justica, educando os filhos na vida crista e, sobretudo, preparando os jovens para um matri monio consciente e responsável. Vamos exortá-los a fazer a comunháo espiritual na Santa Missa, devidamente dispostos e desejosos de receber o Corpo de Cristo por urna oracáo sincera e talvez com maior proveito espiritual do que aqueles que, por ratina e sem piedade alguma, recebem a sagrada hostia em nossas celebracóes sem nenhuma conviccáo e adequada preparacáo espiritual.
Vivamos na fidelidade e no amor á Santa Igreja para nossa acáo pastoral estar sempre em uniáo com Pedro, que é o Vigário de Cristo para nossa fé católica.
D. EDVALDO GONSALVES AMARAL Arcebispo de Maceió (Brasil) Estéváo Bettencourt O.S.B.
NO V I D A D E - "OS PRINCIPIOS DA FILOSOFÍA DE SAO TOMÁS DE AQUINO" (As vinte e quatro teses fundamentáis) - Padre Édouard Hugon O.P. Traducáo e introducáo: D. Odiláo Moura O.S.B. (da Academia Brasileira de Filosofía). EDIPUCRS-1998.320 págs
R$ 16,00.
Obra de grande utilidade para a compreensáo da doutrina de SAO TOMÁS DE AQUINO,
de autoría de um dos mais eminentes tomistas do século, ela analisa e explica em termos acessíveis, em síntese completa, essa doutrina.
As "vinte e quatro teses" foram formuladas por notáveis mestres católicos, a pedido do Papa Sao Pió X, e, após, aprovadas e promulgadas pelo seu sucessor, o Papa Bento XV. Do Padre Hugon esse Papa solicitou explicar aquelas teses em um livro, e assim surgiu a obra, que, escrita em francés e agora traduzida em nosso idioma, foi publicada pela P.U.C. de Porto Alegre.
Embora o seu conteúdo seja filosófico, incursos muito valiosos e esclarecedores nela estáo referentes á Teología.
Em tempos passados o livro do Padre Hugon foi usado como texto de aula em nossos Seminarios e Ginásios. A atual traducáo facilitará o entendímento da doutrina do Angélico para os leígos e seminaristas interessados na esséncia do Tomismo.
Além desta obra, encontram-se ñas Edicóes "Lumen Christi" os seguintes escritos de Sao Tomás, traduzidos por Dom Odiláo Moura O.S.B.:
- SUMA CONTRA OS GENTÍOS, Volume I - Livros ls e II9. Traducáo de Dom Odiláo Moura, OSB. Baseada em parte em traducáo de Dom Ludgero Jaspers, OSB. Revisado por Luis A. deBoni. Co-edicáo 1990. EST/Sulina/UCS. Edicáo bilingüe. 377 págs R$ 28,00. - SUMA CONTRA OS GENTÍOS, Volume II - Livros llle e IVS. Traducáo de Dom Odiláo Moura, OSB. Baseada em parte em traducáo de Dom Ludgero Jaspers, OSB. Revisáo de Luis A. de Boni. Edicáo bilingüe 927 págs. Edicáo de 1996. EDIPUCRS/EST. R$ 45,00.
- COMPENDIO DE TEOLOGÍA, Traducáo e introducáo de Dom Odiláo Moura, OSB,
EDIPUCRS 1996.287 págs. Segunda edicáo da última obra de Sao Tomás, contendo o seu último pensamento teológico. Apresentacáo de Mons. Urbano Zilles R$ 14,00.
- O ENTE E A ESSÉNCIA, Traducáo e introducáo com notas de Dom Odiláo Moura, OSB. Edicáo bilingüe, Comentario Ed. Presenca. 1991 - 180 págs. Constituí esta obra, a primeira escrita por Sao Tomás, urna síntese de sua doutrina filosófica R$ 15,00.
- EXPOSICÁO SOBRE O CREDO, Traducáo e notas de Dom Odiláo Moura OSB. Terceira edicáo. Ed. Loyola. 1995.120 págs
R$9,90.
Pedidos pelo Reembolso Postal ou pagamento conforme 2a capa. RENOVÉ QUANTO ANTES SUA ASSINATURA DE PR.
RENOVACÁOOUNOVAASSINATURA:
R$30 00
NÚMERO AVULSO
R$ 3,00. PR de 97:
Encadernado em percalina, 590 págs. com índice (Número limitado de exemplares)... R$ 50,00