Ano Xxvii - No. 292 - Setembro De 1986

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Projeto

PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO

DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la

pedir (1 Pedro 3,15). Esta

necessídade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé

hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas

correntes

filosóficas

e

religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propoe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabal no assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual

conteúdo

da

revista

teológico

-

filosófica

"Pergunte

Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

e

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

respondernos SUMARIO

Ritmo Vital


ni

"Carnis Resurrectionem"?

O

,_

Milagres: Sim ou Nao?

J2

Santa María Goretti: Luz sobre o caso

3

E as f¡naneas da Santa Sé?

^

"O Segredo de Fátima

oo

Os Ritos Soviéticos

«g

O Zen-Budismo

a

m

O ce a.

ANO

XXVII

-

SETEMBRO

-

1986

292

PERGUNTE E RESPONDEREMOS

SETEMBRO - 1986

Publicado mensa!

N°292

SUMARIO Como traduzir

Diretor-Responsave.:

,.CARms RESURRECT(0NEM..?

Estévao Bettencourt OSB

Autor e Redator de toda a materia

Entre as muitas noticias de nossos tempos:

publicada oeste periódico

MILAGRES: SIM OU NAO?

Diretor-Admininrador

D. Hildebrando P. Martins OSB

g

9

Um "livro bran«>":

SANTA MARÍA GORETTI: LUZ SOBRE 0 CASO

Administradlo e distribuido:

Edipóes Lumen Christi Oom Gerardo. 40-59 andar, S/501

Questáo indiscreta? E AS FINANCAS DA SANTA SÉ?

Caixa postal 2666

Que será?

20001 - Rio de Janeiro - RJ

„..,..,.,.. __

Tel.r (021)291-7122

OS RITOS SOVIÉTICOS

Rio de Janeiro

Em voga no Ocidente:

de 1986:

26

Para substituir os ritos religiosos:

"Marques Saraiva" Santos Rodrigues. 240

Assinatura

17

._„

O SEGREDO DE FATIMA" por José

Geraldes Freiré

Composicáb e I mpressao:

n

O ZEN-BUDISMO

41

NOTAS

45

CzS 100,00

Número avulso CzS 11,00 Para pagamento da assinatura de 1986, queira depositar a importan cia no Banco do Brasil para crédito na Conta Córreme n9 0031 304 1

em nome do Mosteiro de Sao Bento

do Rio de Janeiro, pagável na Agen cia da Praca Mauá (n? 0435) ou en

viar VALE POSTAL pagável na Agencia Central dos Correios do Rio de Janeiro.

RENOVÉ QUANTO ANTES

A SUA ASSINATURA

« 00

NO PRÓXIMO NÚMERO 293-Outubro-1986 A encíclica "Senhor e Fonte de Vida". - A única Igreja de Jesús Cristo. - "Em Cuba nao há tortura". - "Horizonte de Esperanca. Teología da Libertario". - Urna carta da

África do Sul. - Igreja Católica "Liberal". Cemitérios: jardins de lazer?

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA COMUNIQUE-NOS QUALQUER

MUOANCA OE ENDERECO

Ritmo Vital Toda sociedade que trabalhe, tem seu organograma, seu crono-

grama, seus balan?os, suas estatlsticas... Mas tem também algo de invisível e, por isto, algo que menos chama a atencáo, a saber: o seu ritmo vi tal, o seu metabolismo interior. Este é pressuposto indispensável, táo identificado com o organismo que s<5 se pensa nele quando nao vai bem ou quando há disturbios respiratorios ou circulatorios. Algo de semelhante se dá com a Igreja. Esta é o Corpo de Cristo, que exerce sua missáo neste mundo, concebendo seus organogramas e cronogramas..., mas vivificada por um ritmo interior, que é a vida espiri tual dos seus membros..., vida espiritual que tem seu cerne na vida de

oracjio. Esta deve ser algo de táo entranhado no cristáo que ele a pratique sem ter consciéncia disto, como ele nao tem consciéncia de que res pira, de que digere, de que o sangue circula em suas veias... Sabiamente dizia o Peregrino Russo: "Reza, e pensa o que quiseres... Reza, e faze o que quiseres... Reza, e nada temas... Reza de urna forma ou de outra, mas reza sempre, e nao te desvies da oracáo por nada

no mundo".^ O programa é belo, mas-aparentemente utópico ou inexeqülvel. Como realiza-lo? - Os mostres nos indicariam duas regras muito simples: 1} Reservar diariamente um espado digno (bem situado dentro do nosso horario) para a oracáo pessoal e silenciosa; nao nos contentemos apenas com as "sobras" de tempo, pois estas sao raras e ficam muito aquém do valor da oracáo. Tal espago deve ser programado, pois nao basta ter a intencáo de rezar; sabemos que as distracoes logo nos acometem ou as aves do céu nos assaltam e devoram a sementé da Pala-

vra de Deus lampada nos nossos coracóes (cf. Mt 13,4). Por conseguinte, no seu horario de oracao o cristáo aplica-se a leí tura meditada da S. Es critura ou de algum sólido livro de espiritualidade. Ao terminar a oracáo de vinte ou trinta minutos no mfnimo (pois em menos tempo é difícil penetrarmos no fundo de nos mesmos, táo densa é a nuvem de distracóes e preocupacóes que existem na periferia da nossa mente), o cristSo deve

estar como quem sai de um mergulho profundo (no océano de Oeus) ou como Moisés que trazia os efeitos íntimos do seu contato com Deus (cf.

2Cor 3,7s; Ex 34,29s). Ele está polarizado ou imantado por Deus. Pois bem; procure conservar essa polarizado durante o resto do seu dia.

1 O Peregrino Russo. Tres relatos inéditos.Ed. Paulinas, SSo Paulo 1985, pp. 104.106.

385

2) Em vista disto, entregue-se aos afazeres da sua jornada com um propósito firme e ¡nquebrantável: "Nao resistir ao Espirito Santo" ou, como diría Sao Paulo, "nao entristecer o Espirito Santo de Deus" (cf. Ef 4,30). Ele é o Mestre interior, que nos fala e leva adiante nos caminhos que conduzem ao Pai mediante o Filho (cf. Ef 2,18). A grande aventura de descobrirmos Deus é obra da graca ou dom do Senhor, mas a graca requer disponibilidade e prontidáo generosa da nossa parte; sem o qué, ela nao se expande, mas é sufocada. A entrega dócil aos apelos do Espirito (por mais surpreendentes ou incómodos que parecam) tem sua compensacio estupenda, pois implica cada vez mais "ver o Invisível" (Hb 11,27), penetrar no Absoluto, naquele que é para sempre a Grande Resposta e o Tu perféito de todos os homens. O Espirito Santo, pois, se encarrega do que julgamos nao poder fazer; Ele o realiza desde que the digamos Sim em tudo. Conseqüentemente a uniáo com Deus torna-se no cristáo como que urna "segunda natureza", um ritmo de vida (comparável á respiracáo e á circulacáo do sangue), de que o discípulo nao tem consciéncia,

por estar tio arraigado dentro dele. Observa va Santo Antio, um dos mestres da vida de oracáo: "Só oramos bem quando ignoramos que es tamos rezando"; alude assim a este estado permanente de oracáo que re sulta do exerefeio regular e perseverante da oracáo explícita e consciente. Possam os cristáos dos nossos dias atender ao convite do Senhor e da sua Igreja, que os chamam para urna vida de oracáo mais intensa e profunda..., oracáo sem a qual "em váo trabalham os construtores da ca sa, em váo vigiam os guardas da cidade" (S1126,1)! E.B.

386

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" ANO XXVII - n5 292 - Setembro de 1986 Como traduzír

" Carnls Resurrectionem " ? Em slntese: É aqui apresentado mais um documento da Santa Sé refe rente ao momento da ressurreigSo final. Em vista da teoría que a admite logo

após a morte do individuo, a Sagrada CongregagSo para a Doutrina da Fé afirma que esta se dará táo-somente na consumagSo da historia, quando o Senhor vier para julgar todos os homens; todos entáo ressuscitaráo; haverá, pois, a ressurreigSo da carne. Em conseqüénda, a Sagrada CongregagSo pa ra a Doutrina da Fé ensina que a traducáo da fórmula latina "carnis resurrec-

tíonem" do Símbolo dos Apóstalos há de ser "ressurreigáo da carne" e nao "ressurreigáo dos mortos"; esta última fórmula poderia ser entendida no sentído de que o homem morre todo, sem que naja separagáo de corpo e alma, e por isto ressuscita ¡mediatamente após 'a morte (e nao no día do jufzo univer-

Os cristáos professam a ressurreicáo dos mortos. Classicamente e

com fundamento na própria S. Escritura (cf. 1Cor 15,23; 1Ts 4,15; 2Cor 5,1-4), diz-se que a ressurreic§o ocorrerá quando Cristo voltar para con sumar a historia e julgar todos os homens. Nos últimos decenios, porém, tem-se divulgado a tese de que a ressurreicáo se dá logo após a morte do individuo; em conseqüénda a Missa por um cristáo falecido é, nao raro, chamada "Missa da RessurreigSo". Esta concepcáo vai tomando o vulto de urna doutrina teológica válida e tranquila...

Ora sabe-se que a Sagrada Congregado para a Doutrina da Fé já publicou aos 17/05/1979 urna Instrucáo a respeito, rejeitando tal teoría; cf. PR 238/1979, pp. 399-404; 275/1984, pp. 266-281. A fim de evitar qualquer hesitacáo sobre o assunto, deu-se posterior pronunciamento da mesma S. Congregacao, que passaremos a analisar ñas páginas seguintes. Encontra-se em Italiano na coletánea Documenta inde a Concilio Vaticano

Secundo Expíete Edita (1966-1985).' Librería Editrice Vaticana 1986, pp.

' "Documentos publicados após o Término do Concilio do Vaticano II

(1966-1985)".

387

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

249-251. Tal pronunciamento deve datar de dezembro de 1983 (como se deduz da respectiva apresentacjio) ou do comego de 1984; a quanto sa bemos, é inédito no Brasil. Eis a tradugáo portuguesa do texto em pauta, á qual acrescentaremos breve comentario:

1. O TEXTO DA SANTA SÉ "í. O artigo 'carnis resunectionem" do Símbolo dos Apostólos loi até agora Iraduzido para as diversas línguas de maneiras diferentes:

- tomándose ao pé da letra o texto latino do Símbolo dos Apostólos;1

- traduzindo-se o termo 'camis'por um equivalente? - traduzindo-se o vocábulo 'camis' pelo termo 'mortuorum', tirado do ar tigo 'Et exspecto resurrectionem mortuorum' do Símbolo niceno-constantino-

potitano.3

2. A questáo da tradugSo do artigo 'camis resurrectionem' do Símbolo dos Apostólos foi examinada pela Sagrada Congregado para a Douthna da Fé, que numa de suas reuni6es ordinarias adotou as decisóes abaixo, acompanhadas de suas respectivas razdes teológicas.

1 Ver traducóes em l/ngua italiana, francesa e portuguesa: - 'La risurrezione deila carne' fMes.sale Romano, Conferenza Episcopale Italiana, 2* edizione, 1983, p. 306);

- 'La résurrection de la chair' (Missel Romain pour les pays franco-

phones, París 1974, p. 11).

- 'A ressurreicao da carne' (Missal Romano, Conferencia Nacional

dos Bispos do Brasil, Rio de Janeiro 1973, p. 351).

2 Ver traducSo inglesa: - The résurrection of the body' (The Román Ritual: Rite of Baptism for Children. English translatíon approved by the National Conference ofCatholic Bishops and confírmedby the Apostolic See, New York 1970, p. 89).

3 Ver tradugóes em alema"o e espanhol: - 'Auferstehung der Toten' CMessbuch tur die Bistümer des deutschen

Sprachgebietes, 1974, Teil, 1,p. 119); - 'La ressurrección de los muertos' (Libro de la sede. Secretariado Nacional de Liturgia, Madrid 1983, p. 394). 388

"CARNIS RESSURRECTIONEM"

Tais decisóes, aprovadas pelo S. Padre em audiencia concedida a S. Eminencia o CardeaiJoseph Ratzinger, Prefeito da mesma Congregagáo, aos 2 de dezembro de 1983, toram transmitidas a este Dicastério com urna carta datada do día 14 de dezembro subseqüente (Prot. 121/75).

CONGREGACÁO PARA A DOUTRINA DA FÉ A) DECISÓES 1. Em principio, nao há razóes doutrinárias contra a traducáo 'ressurreigáo dos morios', como se esta fórmula nao exprimisse a mesma fé profes-

sada pela ¡fórmula 'ressurreigáo da carne', mas há urna convergencia de ra zóes teológicas conjunturais que militam em favor da conservagáo da tradugao exaia tradicional (literal).

2. Ñas traducóes que futuramente forem apresentadas para ser apro vadas pela autoridade eclesiástica, dever-se-á manter a traducáo exata literal. 3. Nos lugares onde a mudanga tenha sido autorizada, convém comu nicar aos Srs. Bispos as razóes que recomendam o retomo á tradugSo exata tradicional.

B) RAZÓES TEOLÓGICAS E CONJUNTURAIS Militam pela conservagáo da traducáo exata tradicional do artigo do Símbolo dos Apostólos 'camis resurrectksnem' as seguintes razóes: 1) As duas fórmulas 'ressurreigSo dos mortos' e 'ressurreigSo da carne'

sao expressóes diversas e complementares da mesma tradigáo primitiva da

Igreja; por feto a prevalénda exclusiva ou total da fórmula 'réssurreigáo dos mortos' viña a ser um empobrecimento doutrinal. Com efeito, é verdade que também esta última contém implícitamente a afírmacSo da réssurreigáo corpo ral, mas a fórmula 'réssurreigáo da carne', como expressSo, é mais explícita ao afirmar aquele particular aspecto da ressurreigáo, como demonstra a sua

própria origem.

2) No abandono da fórmula 'ressurreigáo da carne' está contido operigo de se sutragarem as modernas teorías que pSem a ressurreigáo na hora da morte, excluindo oráticamente a ressurreigáo corporal, especialmente desta carne. Na sua Carta 'Sobre Algumas Questóes Concementes á Escatologia' (17/05/79), a Sagrada Congregagáo para a Doutrina da Fé chamou a atengáo

dos Bispos para a atualdifusáo de tal teoría 'espiritualizante'da ressurreigáo". 389

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

2. COMENTARIOS 1) Acrescentamos que, entre as próprias tradugóes oficiáis existen tes no Brasil, ocorre, além de "ressurreicáo da carne" (Missal), também a

fórmula "ressurreicáo dos mortos" (Rito do Batismo de Cnancas, Profissáo de Fé feita ¡mediatamente antes da infusáo da agua; Rito de Unció dos Enfermos).

2) A Sagrada Congregado para a Ooutrina da Fé afirma que am bas as fórmulas traduzem a verdade da fé, mas prefere a clássica por razoes "conjunturais", ou seja, em vista de falsas concepcóes que poderiam ser hoje em dia associadas á fórmula "ressurreicáo dos mortos". - Quais seriam tais concepcóes?

Urna teoría recente nega a distincáo real de corpo e alma; conside ra-os como duas facetas (como cara e coroa) da mesma e única realidade humana; o homem seria um todo monolítico. Em conseqüénda.quartdoa pessoa morre, morre toda a sua realidade; nao sobrevive a alma espiri tual separada do corpo. Ora, para evitar um hiato ou urna ruptura na existencia do ser humano, urna corrente teológica moderna afirma que a ressurreicáo se dá logo após a morte. Por conseguinte, tal corrente prp-

fessa nao a ressurreicáo da carne, pois esta é sepultada e decompóe-se,

mas a ressurreicáo dos mortos; é o falecido que ressuscita, sem que se faca a distincáo de corpo e alma.

Ora tal teoria nao corresponde á mensagem bíblica nem á doutrina da Igreja. Por isto é que, a fim de evitar seja veiculada entre os fiéis, a

Santa Sé nao admite a traducáo "ressurreicao dos mortos", mas deseja que se mantenha o teor exato da formulacáo latina: "ressurreicáo da car

ne". Quanto á expressáo "ressurreicáo dos corpos", é tida como equiva lente a "ressurreicáo da carne"; nao implica a ambigüidade contida na

fórmula "ressurreicáo dos mortos", mas nao há por que a substituir a "ressurreicáo da carne".

3) As razóes pelas quais nao se pode admitir a ¡dentificacáo de cor po e alma nem, por conseguinte, a ressurreicáo logo após a morte, jé foram longamente explanadas nos citados artigos de PR; ver p. 387 deste fascículo. Por isto aqui enfatuaremos apenas os textos bíblicos que contradizem a tal teoria: Jo 6,54: "Ouem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, eeuo ressuscitarei no último día".

1Cor 15,22s: "Assim como todos morrem em Adáo, em Cristo todos receberáo a vida. Cada um, porém, em sua ordem: como primicias. Cristo; depois, agüeles que pertencem a Cristo, por ocasiáo de sua vinda (paru390

"CARNIS RESSURRECTIONEM"

sia)". Donde se vé que o "último dia" éoda "parusia" ou o da segunda vinda de Cristo.

Jo 5,28s: "Nao vos admiréis com isto: vem a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirSo a voz do Filho do Homem e sairáo:os que liverem praticado o bem, para urna ressuneigáo de vida; os que tiverem

praticado o mal, para urna ressurreicáo de condenacño".

1Ts 4,16: "Quando o Senhor, ao sinal dado, á voz do arcanjo e ao som da trombeta tfwna, descer do céu, entSo os morios em Cristo ressuscitaráo". Está claro que neste texto as imagens apocalípticas de "desuda do céu", "trombeta divina" e "voz do arcano" nao podem ser tomadas ao pé da letra.

2Cor 5,1-4: "Sabemos que, se a nossa morada terrestre, esta tenda, for destruida, tetemos no céu um edificio, obra de Deus, morada eterna, nao feita por mios humanas. Tanto assim que gememos pelo ardente desojo de revestir por cima da nossa morada terrestre a nossa habitacáo celeste, o que será possfvel se tormos encontrados vestidos e nao ñus. Pois nos, que estamos nesta tenda, gememos acabrunhados, porque nao queremos ser despojados da nossa veste, mas revestir a outra por cima desta, a ñm de que o que é mortal, se/a absorvido pela vida".

Nestes dizeres, o Apostólo exprime o desejo de nao morrer, ou seja, de nao ser despojado do corpo mortal, mas de revestir por cima do corpo mortal o corpo ¡mortal ou a gloria celeste. E Sao Paulo afirma que ¡sto nao é ¡mposstvel; condicáo para tanto é que, no dia em que Cristo voltar, sejamos encontrados vestidos, isto é, vivos, e nao ñus, isto é, nao

despojados do corpo mortal pela morte. Donde se deduz que a morte nos desnuda do corpo mortal e nos deixa sem corpo ou sem veste até o dia da parusia, quando receberemos o corpo glorioso, como nova veste. 4) Os textos bíblicos citados evidenciam ainda o seguinte: nao se pode dizer que a tese da separadlo de corpo e alma em vista da ressurreicéo no dia final seja urna concepgáo platónica ou grega, alheia á mensagem bíblica. Muito ao contrario; ela está profundamente inserida na mensagem do Novo Testamento. A Biblia nao professa algum sistema

filosófico definido ou exclusivo, mas serve-se do instrumental da filosofía em geral, para exprimir a sua mensagem de fé. No Antigo Testamento prevaleciam concepcoes semitas e urna escatologia muiró pálida ou em

brionaria; no Novo Testamento tais noyóes desabrocharam puma esca

tologia mais lúcida, que ensina a separadlo de corpo e alma na hora da

morte e a futura recomposicáo do ser humano na consumado da histo ria (Deus nao terá que catar a poeira do cadáver deteriorado, mas unirá á mesma alma o que a Filosofía chama "materia prima"; donde resultará o corpo correspondente a tal alma).

391

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

5) Tal é a doutrina que a Igreja professa na Instru9áo da Sagrada

Congregacáo para a Doutrina da Fé datada de 17/05/1979:

"A lgreja afirma a sobrevivencia e a subsistencia, depois da morte de

um elemento espiritual, dotado de consdéncia e de vontade, de te/ modo que o

eu humano1 subsista, embora entrementes careca do complemento do seu

corpo. Para designar esse elemento, a Igreja emprega a palavra 'alma', con sagrada peto uso que déla fazem a Sagrada Escritura e a Tradigáo. Sem igno

rar que este termo é tomado na Biblia em diversos significados, Elajulga, nao obstante, que nao existe qualquer razáo seria para o rejeitar e considera mesmo ser absolutamente indispensável um instrumento verbal para susten tara fé dos cristáos" (n93).

As consideracóes propostas neste artigo evidenciam quanto em Teología se faz necessária urna terminología precisa e clara para evitar mal-entendidos e erros na fé.

A propósito ver também PR 291/1986, pp. 338-346 (apreciacño do livro

"Escatotogia Crista"de J.B. Libánio e M. Cl. Bingemer).

Quando dizer NAO é precisofior Pauto Goilarte. Publícacóes CEDI-

CARMO, Rúa Grao Mongol 502, 30000 Beto Horizonte (MG), 1985, 125 x 195

mm, 112 pp.

Mais de quatro mil sacerdotes tombaram nos campos de concentracáo

durante a última guerra. Um deles foi o carmelita holandés Freí TitoÓrandsma, cuja biografía se encontra neste livro. Freí Tito foi um homem polivalente: Sa cerdote e Religioso, dedicou-se ao magisterio, ao jornalismo, ao ecumenismo e á vida pastoral. A um confrade que Ihe observava a necessidade de poupar-

se em razáo de sua frágil saúde, respondeu: "O Senhor nao fez tudo o que podía por nos?". Atendía solícitamente tanto ao aluno universitario como á máe preocupada por seu fílho. Curvava a cabega diante do voto de obediencia reli giosa e bradava aos céus contra a violáceo da liberdade da imprensa; escutava a todos com paciencia e resistía á perseguígSo dosjudeus por parte dos nazistas, que o fizeram morrer mediante urna injecáo de ácido fénico aos 26/07/1942. Aos 3/11/1985 o Papa Joáo Pauto llopmclamou Bem-aventurado, dizendo: "Este homem é um mártir do nosso secuto".

392

MILAGRES: SIM OU NAO? Entre as murtas noticias de nossos tempos:

Milagres: Sim ou Nao? Em símese: Apesar do descrédito que sofre a palavra "milagre" em nossos días, a Igreja continua a professar a possibilidade e a existencia de auténticos milagres. Estes nao sao sintptesmente demonstragóes do poder de

Deus, mas vém a ser, conforme a linguagem bíblica, slnais,./sto é, acenos

eloqüentes de Deus aos homens a fim de dissipar dúvidas ou demonstrara Providencia e o Amor de Deus para com as criaturas. - De modo especial, a Igreja eré que Deus faz milagres queatestem a santidade de homens e muIheres que a devogáo popular considera "santos"; a Igreja, para confirmar tal opiniáo. geralmente espera que Deus se pronuncie sobre a temática, realizan do um ou dois milagres ou sinais. Existe em Roma a CongregagSo para as Causas dos Santos, que examina a documentagSo relativa a cada candidato a canonizagáo e que, por conseguinte, se interessa pela autenticidade ou neo de tatos tidos como milagrosos.

O artigo seguinte aprésenla declaragóes de umprofessore médico que

trabalha em tal Congregag&o, e oferece tres relatos de milagres reconhecidos como tais pelos peritos médicos e canonistas.

Os milagres hoje em día correm o perigo do descrédito, pois se ve rifica que mu ¡tos fatos até época recente tidos como inexplicávéis sio elucidados pela ciencia médica e pela parapsicologia. Nao obstante, a Igreja continua a valorizar os milagres dentro de certas co.ndicóes: 1) o episodio em foco tenha realmente ocorrido como fato históri co (é preciso examinar criticamente os relatos de "prodigios" logo que sejam a presentados pelo povo de Deus; muitas narracóes sao entáo comprovadas como fantasiosas e nao históricas);

2) o episodio histórico seja totalmente ¡nexplicável pela ciencia; 3) haja ocorrido em condigóes dignas de Deus, como resposta do Senhor a um contexto adequado ou a preces de fiéis devotos. Esta ter-

ceira característica é muito acentuada em nossos días, pois o milagre só 393

JO

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

tem sentido na medida em que é um sinal (semeion, diz sempre o evan gelista Sao Joáo) de algo maior ou de urna mensagem de Deus aos homens. Exemplo tfpico de milagre-sinal é o da cura do paralitico em Me 2,3-12: Jesús, ao vé-lo, perdoou-lhe os pecados; visto que os circuns tantes nao acreditavam na validado do gesto do Senhor, Este mandou que o paralitico se levantasse e andasse. O "sinal" comprovou a autoridade de Jesús; tornou-se urna palavra mais eloqüente do Senhor Jesús.

Precisamente porque acredita no valor dos milagres, a Igreja exige, para a canonizacáo dos Santos, milagres comprovados; estes sao tidos como sinais de Deus que autenticam as virtudes dos Santos e possibilitam a Igreja propor tais fiéis como amigos de Deus e intercessores dos

homens. - Alias, é de notar que toda canonizacáo de Santo é proferida

com a assisténcia infallvel do Espirito Santo; é urna afirmacáo de fato dogmático, ou seja, do fato de que tal ou tal servo(a) de Deus é modelo de vida crista e pode ser tido(a) como intercessor(a) junto a Deus; em tal tipo de definicáo a Igreja nao pode errar, pois toca a fé.

Recentemente o jornalista italiano Vittorio Messori foi entrevistar

personalidades da Santa Sé relacionadas com os processos de canonizacao dos Santos. Ñas páginas subseqüentes, publicaremos partes de um diálogo havido entre o jornalista e o Prof. Dr. Marcello Meschini, médico legista de Roma e Secretario dos Processos de Averiguado de Milagres.1

1. Milagres: como averiguá-los? O Dr. Marcello Meschini logo observou que, para se poder falar de milagre, se requerem sucessivas pericias médicas: o exame de cada caso comeca na própria diocese da pessoa tida como virtuosa; os médicos lo cáis estudam o ocorrido e recolhem toda a documentacáo atinente ao

fato. O material é enviado a Santa Sé, que submete o caso á "Consulta Médica" da S. Congregacáo para as Causas dos Santos; urna Comissáo de cinco médicos examina os dados com plena liberdade científica e au tonomía de decisáo: as discussdes podem tornar-se candentes. Desde que os médicos reconhecam a total inexplicabilidade do caso, este é leva do a exame teológico, que ocorre em duas fases: primeiramente, há urna sessáo de teólogos apenas, que investigam os aspectos religiosos das ocorréncias (terá havido al manifestacSes supersticiosas, v§ gloria ou, ao contrario, auténtica piedade?); depois, o documentarlo é apresentade a urna Congregacáo de Cardeais e Bispos. Os resultados de. todas essas

' Extraímos estes dados da revista JESÚS, das Edigóes Paulinas da Italia,

margo 1986, pp. 90s.

394

MILAGRES: SIM OU NAO?

11

pericias sao levados ao Papa; se este os reconhece como válidos, lé-se na sua presenca o decreto referente á validade do milagre. Assim é aberto o

caminho para a Beatificapáo ou para a Canonizado da pessoa em foco.^

O Santo Padre pode dispensar da exigencia de milagres desde que naja evidencia de se tratar de um mártir que derramou o sangue estritamente por fidelidade á fé católica.

Observou o Dr. Marcello Meschini: "Para que urna cura seja por nos considerada como científicamente inexplicável e nÉagrosa, precisamos de conhecer bem o diagnóstico e as probabiídades de cura; precisamos também de saber se foi cura definitiva, completa, obtída sem tratamento adequado e em periodo de tempo nao natu ral, isto é, de maneira instantánea ou inexplicavelmente rápida.

Para poder definir isto tudo, requer-se evidentemente urna documentacao rigorosa a ser estudada pela Postulacáo da Causa, que nem sempre é fá cil obter; os peritos podem pedir novas pesquisas e, mesmo assim, sSo muítas vezes obrigados a pronunciarse negativamente por falta de documentos suficientes".

2. Alguns exemplos Acrescentou o Prof. Meschini:

"Muitos pensam que as curas que reconhecemos e que servem aos processos de canonizacao, devam referirse á vida e á morte de algum en

fermo; este, sem a intercessSo do Santo, tena monido. Na verdade, porém, os

casos sao muito diversificados; nao exigimos que as previsoes de cura tenham sido nulas para pódennos falar de milagres". A fim de ilustrar as suas afirmacSes, Meschini citóu o seguinte caso:

havia urna menina afetada de piodermite, isto é, urna infeccao da pele

que se estendia sobre o rosto ¡nteiro; com o tempo, a doenca poderia

provocar danos orgánicos, mas no momento limitava-se a desfigurar a paciente (causando-Ihe, sem dúvida, disturbios psicológicos). Ora a invo cado do Servo de Deus N.N. provocou o completo e definitivo desaparecimento da molestia no decorrer de urna noite. O caso foi reconhecido como milagroso e ocasionou a glorificacSo do 'candidato'.

Eis outro caso mais recente e impressionante, em que a vida nao estava em perigo, mas se tornara mais difícil: um menino indiano nascera

1 A respeito de BeatifícacSo e Canonizacao de Santos vero artigo de

PR 249/1980. pp. 355-364.

12

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

com os pés tortos; as plantas dos pés nao pousavam sobre o chao, mas estavam voltadas uma para a outra, de modo que so era possivel b crianca arrastar-se sobre a parte lateral dos pés. O médico de sua pobre aldeia natal diagnosticara o caráter definitivo e irreverslvel da deformacáo. Com

efeito, o menino, ao crescer, nao pudera senáo aprender a arrastar-se com muito cansaco, apoiando-se em duas bengalas. Certa manhá, quando penosamente se dirigía á escola distante tres quilómetros da choupana de sua familia, deixou-se cair esgotado numa atitude de desespero.

Sua irmi, jovenzinha, o acompanhava; para consola-lo, propós-lhe que

orassem. Mas a quem haveriam de rezar? A menina Ihe sugeriu que invocassem a Fundadora do Instituto Religioso no qual sua tia se fizera freirá. Esta, com efeito, dizia muitas vezes que a Madre "fazia milagres". Dito e feito; as duas enancas ¡nvocaram a Madre e logo ocorreu abura. O en fermo pode ¡mediatamente desfazer-se de suas bengalas e caminhar normalmente até a escola, onde todos conheciam a sua deformacáo e, por isto, ficaram perplexos. Para dissipar as dúvidas sobré a realidade dos fatos, pediram ao menino que fosse jogar bola com os colegas; ele o fez, sim, naturalmente experimentando o grande cansaco de quem treina pela primeira vez.

Eis mais um exemplo de milagre reconhecido como tal, segundo o

Prof. Dr. Marcello Meschini:

Uma menina canadense, afetada de leucemia, era vltima também de um tumor retro-esternal (atrás do osso esterno), dentro da caixa torá

cica - o que Ihe acarretava sufocacáo crescente. Apesar de sucessivas in-

tervencóes cirúrgicas, a situacáo da menina foi-se agravando a ponto que

os médicos recomendaram aos país que a levassem para casa a fim de que morresse entre os seus. Na falta de esperanca de cura, os genitores

chegaram a preparar o traje com que a menina seria sepultada. Eis, porém, que um dos familiares Ihes sugeriu comecassem uma novena a um "Servo de Deus" cuja causa estava sendo examinada em Roma. Ora a paciente foi piorando sempre até o último dia da novena, quando, com "enorme surpresa de todos, ela se sentou na cama e pediu alimentacáo. As suas atitudes doravante eram de uma pessoa sadia. Foi entáo submetida a rigorosos exames médicos, que evidenciaram a total inexplicabildade do fato; todavía, antes de emitir um jubo sobre a cura, os peritos esperaram oito anos, a fim de se certificar de que o tumor nao tornaría a aparecer. Após este prazo, os médicos puderam afirmar a plena inexpli-

cabilidade científica da cura.1

' Os médicos nao falam de milagre no sentido teológico. Éá ComissSo

de canonistas e teólogos que compete examinar o fato do ponto de vista da té. 396

MILAGRES: SIM OU NAO?

13

Após narrar tais fatos, acrescentou o Prof. Dr. Meschini:

"Hoje em dia o progresso da medicina é tai que toma mais raros os ca sos em que devamos reconhecer curas dotadas de características nao natu-

rais ou prodigiosas. Doutro lado, tal progresso tornou possfvela uWizagao de meios que controlam a índole total e definitiva da cura com precisáo e seguranea que outrora nao tíhhamos. Em todo caso, ñas minhas aulas para osjovens que freqüentam o Studium instituido pela Congregacáo para as Causas dos Santos, recomendó absoluto rigor, objetividade, aceitagáo táo-somente dos principios reconhecidos pela ciencia oficial; nunca admitam fazer de Wpóteses teses comprobadas, transformar proposicóes prováveis em certas e

seguras, nem recorram apenas ao método dedutivo.1 Todos trabalhamos para

a gloria de Deus; ora o Senhor nao precisa de afirmacóes vagas, ilusorias ou superficiais. Mas é o próprio Deus do Evangelho que nos Incita sempre, e de todo modo, a procurar a verdade".

Sao estas algumas observares importantes relativas ao tema "milagros". Verifica-se que a Igreja acredita em fatos que, totalmente inexplicáveis pelos estudiosos, sejam sinais de auténtica intervencáo de Deus na historia dos homens, ... sinais da benevolencia e do amor de Deus ás suas criaturas necessitadas de urna Palavra "forte" do Todo-Po deroso.

Apocalipse, por Freí Battistíni. - Edicáo própria; endereco: Av. Pe. Anchieta, Caixá Postal 93.630, CEP25900- Magé (RJ), 1986, 115x 155mm, 70 pp.

Freí Francisco Battistíni acaba de lanpar mais um livro de orientagáo catequética, tendo em vista os mal-entendidos correntes a respeito do Apoca lipse. De modo especial mostra que a Besta do Apocalipse, identificada pelo número 666, é o símbolo do Imperador Ñero e nada tem que ver com per-

sonagens posteriores da historia. Alude aos rumores de próximo fim do mun do, procurando dissipar a expectativa de iminentes acontecimentos assustadores. Por fim, aponía o caminho da satvagáo, tal como a Igreja Católica o apresenta aos fiéis. Certamente o livro tara bem aos leitores atingidos por ru mores alarmistas falsamente fundamentados no Apocalipse.

..'O método dedutivo é o que prescinde da observacáo empírica e de-

duz conclusóes a partir de principios teóricos.

397

Um "livro branco":

Santa Maria Goretti: luz sobre o (aso Em sfntese: A 5. Congregagáo para as Causas dos Santos publicou recentemente um livro resultante de minucioso estudo realizado sobre o processo de canonizacáo de Santa Maria Goretti, mártir da té em 1902. Talprocesso foi impugnado pelo escritor italiano Giordano Bruno Guerri em 1984 como se tivesse glorificado urna menina débil mental, ignorante e desprezfvel.

- O estudo ofetuado por peritos da Santa Sé mostra que Giordano Bruno Guerri nao leve conhedmento do texto dos documentos e dos tatos atinentes a Maria Goretti; escreveu na base de preconceitos e de interpretagdes ten denciosas dos acontecimentos. O depoimento de A. Serenelli, assassino de Maria Goretti, transcrito neste artigo, corrobora o valor da heroica menina, que morreu por ñdelidade aos seus principios éticos cristáos.

Já em PR 283/1985, pp. 506-511, foi dada a noticia de que o escritor italiano Giordano Bruno Guerri em 1984 publicou o livro Pavera Santa, povero assassino: la vera storia di Maria Goretti. Procurava provar que a menina Maria Goretti, de doze anos, nao passava de urna débil mental de Nettuno, que a Santa Sé quis canonizar a fim de atender a interesses de-

correntes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945): necessidade de revalorizar a virgindade, vilipendiada pelas tropas de ocupacáo da Italia, e exaltar a pobreza frente á riqueza dos militares norte-americanos.

O livro de Giordano Bruno Guerri nao teve no público a repercussao que se esperava, causando decepcáo ao autor e ao editor, que julga-

vam tirar da edicáo rico lucro financeiro. G.B. Guerri se acostumara aos

sucessos editoriais, publicando biografías de membros do alto escaláo do fascismo italiano. Para responder ao autor critico, a S. Congregagáo para as Causas dos Santos nomeou urna Comissáo presidida por Mons. Nicola Ferrara, Prelado Emérito da Sacra Rota Romana, e destinada a investigar o fun damento das alegagóes e acusacóes do referido escritor. Após um ano de atento trabalho, esta Comissáo pode dar á luz o livro A proposito di Ma ria Goretti. Santita e Canortizzazioni, pp. 154, Librería Editrice Vaticana. 398

SANTA MARÍA GORETTI: LUZ SOBRE O CASO

15

Tal estudo foi elaborado com seriedade objetiva, em plano de estrita pesquisa historiográfica. Os historiadores da Santa Sé trabalharam com especial afinco, visto que nos últimos tempos se tem verificado urna campanha de livros que tendem a desfigurar os Santos: assim a escritora Ida Magli apresentou Santa Teresinha de Lisieux como histérica, neuróti ca e, provavelmente, atéia; Guido Ceronetti quis ver em Sao Joáo Bosco um homem de tendencias pederastas, "atraído para os jovens por um doentio enternecimento sexual"; Giordano Bruno Guerri considera María Goretti como "urna desgranada obscurecida pela ignorancia, urna miserável rázinha destituida de inteligencia". Ora a Comissáo do Vaticano, no livro recém-publicado, mostrou que Giordano Bruno Guerri incorreu em 77 erros na sua obra acusatoria. O escritor nao replicou a esta demontracáo, alegando que o seu advogado Ihe havia recomendado esta atitude. Acrescentou que, se há erros no seu livro, isto se deve ao fato de que o Vaticano mantém inacesstveis os documentos respectivos. Os comenta dores, porém, observam que, se um historiador nao dispóe dos docu mentos necessários para trabalhar, nao deve reconstituir os fatos como se estivessem devidamente fundamentados. Mais: verifica-se que muitas das réplicas da Santa Sé foram formuladas na base de documentos que Guerri tinha em msos; este se enganou até mesmo ao transcrever textos

latinos citados em sua obra. A clamorosa defesa de G. B. Guerri consistiu em afirmar que ele era vítima de "nova Inquisicao", de "procedimentos medievais", numa "situacao paralela á*de Galileu" (o que se tornou "chaváo", vazio de conteúdo, especialmente no caso de Guerri, em que se

tratava nao de um debate filosófico, mas de urna questáo de fatos históri cos... que se resoive mediante documentos). O assassino de María Goretti, após arrepender-se do delito, fez-se frade franciscano, e aos 05/05/1961 escreveu II Mió Testamento Spirítuale (O Meu Testamento Espiritual), onde se lé a seguinte passagem, escarne

cida por G. B. Guerri, mas altamente valorizada pela Comissáo da Santa Sé:

"Sou um anciáo de quase 80 anos, prestes a encerrar a minha jomada. Langando um olhar sobre o passado, reconheco que no infrio da minha ¡uventude entrei por urna vida falsa: a estrada do mal, queme levou á ruina. Eu acompanhava, alravés da imprensa, os espetáculos e os maus exemptos que a maior parte dos jovens segué trilhando aqueta estrada sem preocupacóes.

Eu mesmo nao me preocupava com os rumos que seguía. Junto a mim eu ti

nha pessoas de fé e de prática religiosa, mas nSo Ihes dava atengáo, obceca do por urna torga bruta que me empurrava pela via do mal. Aos vinte anos cometí o delito passional, cuja recordagáo hoje é suficiente para me encherde horror. María Goretti, Santa, foi o anjo bom que a Providencia havia colocado

enante de meus passos. Aínda conservo guardadas no meu coráceo as patavras suas de censura e de perdió. Ela rezou por mim, intercedeu por mim, seu assassino. Seguiram-se trinta anos de prisáo. Se eu nao tora menor de 399

16

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

idade, teña sido condenado para o resto da vida. Aceitéis sentenca merecida: resignado, expiei a minha culpa. María foi realmente a minha luz, a minha pro-

tetara; com o seu auxilb, Uve boa conduta e procurei viver honestamente quando a sociedade me aceitón de novo entre os seus membros. Os filhos de

SSo Francisco, os frades menores capuchinhos das Marcas, com seráfica ca

ridade, me acolheram nao como servidor, mas como irmao. Vivo com eles desde 1936. E agora espero com serenidade o momento de ser admitido ávisáo de Deus, de abragar de novo os meus entes queridos, de estar perto do meu anjo protetor e da sua cara genitora Assunta. Aqueles que lerem esta 'mi

nha carta, queiram daf deduzir a licao de fugir do mal, seguir o bem sempre desde a infancia. Lembrem-se de que a religiáo, com os seus preceitos, nao é coisa que se possa dispensar, mas é o verdadeiro apoto, a única vía segura

em todas as circunstancias, mesmo ñas mais dotorosas da vida. Paz e bem!"

(Texto publicado por Fortunato Gbmei no livro II pugnale de¡ tanti remorsi.

Vita di Alessandro Serenelli, l'uccisore di Santa María Goretti. Nettuno 1983, p. 69).

Estas palavras de A. Serenelli vém a ser auténtico filáo para se entender o caso de María Goretti. A coragem e a fidelidade da menina as-

sassinada acabaram por vencer a furia do próprio assassino. Tais testemunhos e exemplos de vida podem parecer estranhos a quem nao tenha antenas para captar os valores moráis em foco, mas sao o argumento

mais convincente de que ácima dos valores materiais e transitorios se

acham os valores espirituais e definitivos (cf. 2Cor 4,17s); estes sao per-

ceptíveis a quem se liberte de preconceitos e paixóes, a fim de apreender a Verdade.

A propósito ver

Vittorio Messori, II caso María Goretti: quando l'lnquisizione é laica

em JESÚS mato 1986, pp. 67-70.

Cónego José Amaral Mello. Um exemplo de Vida Sacerdotal, por Mons. Primo Vieira. - Ed. Loyola, SSo Paulo 1986. 138x208mm, 157 pp.

Estudante de medicina, José Amaral Mello (1895-1942), já no último ano, optou pela vida sacerdotal, sendo ordenado em 1923. Consagrou toda a

sua existencia ao magisterio eclesiástico e á formacáo de futuros sacerdotes. Foi o orientador espiritual do consagrado escritor Paulo Setúbal, cujos passos ele acompanhou até a conversáo e a morte edificante. Na obra postuma de Setúbal, Confíteor, o Con. José aparece com o pseudónimo de Padre Z.; foi quem terminou o livro, interrompido pela morte do autor. Sua vida, iluminada por fé candente, constituiu-se num admirável exemplo de caridade intensa, de mortüfícacSo constante e de evangélica pobreza. 400

Questáo indiscreta?

E as financas da Santa Sé?

Em símese: Quem considera o processo de receitas e despesas da Santa Sé, verifica que esta é deficitaria há atguns anos e tende cada vez mais

a ser tal. As razóes deste déficit permanente sao, em parte, a criacSo (após o

Concilio do Vaticano II) de Organismos novos para atender ás exigencias da missáo da Igreja no mundo contemporáneo, a intemacionalizacio da Curia

Romana, a reaíizacáo de assembléias (Sínodos, Conclaves...) ordinarias e

extraordinarias... A generosidade dos fiéis do mundo inteiro tem contribuido para aliviar as Rnancas da Santa Sé, mas as ¡acunas na economía exigem solugSo mais sistemática e garantida.

O Instituto para as Obras de Retigiáo (IOR) é quase um Banco do Vati cano, que últimamente foi infeliz ao prestar apoio ao Banco Ambrosiano de Roberto Calvi (MilSo). Apuradas as responsabilidades, verifícou-se que o diretor do IOR, Mons. Pauto Marclnkus, procedeu de boa fé e guarda o seu nome honrado; nao obstante, a Santa Sé quis pagar 240.800.000 de dólares aos credores do Banco Ambrosiano para ressarcir os danos sofridos. Os "tesouros" do Vaticano (Obras de arte dos Museus e da Pinacote ca) seo patrimonio da humanidade inteira, do qual o Vaticano é guardiSo qualifícado. NSo seria desejável que esse patrimonio artístico fosse desbaratado; deve-se a doadores magnánimos que, ao entregar seus bens á Santa Sé, tínham muitas vezes a intengáo de fazer do Sumo Pontífice o tutor dos objetos de arte consignados.

A Santa Sé está para tomar públicos os seus balancos anuais para que todos os fiéis, tomando conhecimento dos mesmos, se sintamcada vez mais Igreja juntamente com os seus Pastores. ■

Vem nao raro a baila o tema "Finanzas da Santa Sé". A respeito transmitem-se hipóteses e afirmacoes fantasiosas ao lado de outras multo verídicas. Sabe-se que a economia do Vaticano tem sofrido abalos e situacdes deficitarias nos últimos anos. O assunto jé foi abordado em 401

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

PR 233/1979, pp. 194-216. Visto que é sempre atual, volta ds páginas deste fascículo, ilustrado por publicares recentes.

1. As diversas faces do problema A Igreja é chamada, na Biblia, "Esposa de Cristo", "Morada de Deus entre os homens", "Povo de Deus", "Corpo de Cristo"-títulos es tes que póem em relevo o aspecto transcendental ou místico da Igreja; esta nao é apenas urna assembléia de pessoas que procuram ser hones tas, mas é o Cristo vivo através dos séculos a prolongar o misterio da Encarnacio. - Todavia a Igreja é, ao mesmo tempo, urna realidade histórica e social, que necessita de lidar com meios temporais e materiais para po der cumprir a sua missüo na térra. Desde os primeiros séculos, os cristáos ofereceram suas doacóes para sustentar os irmáos e a obra de evangelizacáo da Igreja; o dinheiro assim oferecido exige órgaos administrati vos com seus procedimentos próprios; estes ainda em nossos dias ocorrem, avolumados pela complexidade da vida moderna.

Quem considera a face temporal da Igreja, distingue quatro aspec tos naquilo que se chama "as financas papáis": 1) o Papa é o Bispo de Roma e, como tal, tem a seus cuidados o balanco da diocese de Roma; 2} o Papa é o Soberano do Estado Pontificio do Vaticano, que também tem seu orcamento próprio; 3) o Papa é o Pastor da Igreja Universal - o que significa mais um tipo de contabilidade; 4) o Papa ¡ndiretamente respon de também pelo Instituto para as Obras de Religiáo (Istituto per le Opera di Reügione - IOR). Vejamos o que se pode dizer sobre cada um dos tres últimos aspec

tos da questio, já que o primeiro nao costuma vir d baila nos comenta rios públicos.

2.0 Estado do Vaticano

O "Estado da Cidade do Vaticano" é o resquicio do que foi outrora

o Estado Pontificio. Este tem sua origem em doacóes de térras que desde os primeiros séculos os fiéis faziam ao Bispo de Roma, constituindo o

"Patrimonio de Sio Pedro"; em 756, o mordomo (e, depois, reí) Pepino o Breve, da Franca, reconheceu esses territorios como Estado próprio ad ministrado pelo Bispo de Roma (o Papa) em meio a urna Europa ainda convulsionada pelas invasSes bárbaras. Em 1870 tal Estado cedeu á unifi-

cacáo da península itálica, e só em 1929 foi restaurado sob forma de mi

núsculo territorio independente (0/44 km2). Ele é necessário para facilitar o exercfcio da missüo universal do Sumo Pontífice, que, tendo de se rela

cionar com o mundo inteiro sobre questóes relevantes e delicadas, nao pode estar sujeito ao controle de potencia estrangeira. 402

E AS FINANZAS DA SANTA SÉ?

19

A administrado da Cidade do Vaticano está entregue ao "Governatorato", que supervisiona diversas seccóes: Correios do Vaticano, Museus Vaticanos, Servícos de Seguranca, Servicos Técnicos (distribuicáo da energía elétrica, aquecimento, limpeza...), Manutencáo dos ¡movéis e dos jardins do Vaticano, Observatorio do Vaticano, Radio Vaticano,

Guarda Suica... No Vaticano trabalham 1565 pessoás assalariadas, ás quais se devem acrescentar, na folha de pagamentos, 560 aposentadas; cerca de 58% das despesas se faz com o pagamento dos servidores. A receita se deve a venda de selos, moedas, produtos alimenticios, vestes, ga solina..., bilhetes de entrada nos Museus (estes fácilmente sao deficita rios, pois as despesas de conservado, restaurado e vigilancia freqüentemente ultrapassam as receitas dos ¡ngressos). Em 1984 o balanco acusou um pequeño superávit de 700.000 marcos alemáes aproximadamen te.

3. A Santa Sé

Sob este título compreenderemos o movimento financeiro que se

refere ao governo da Igreja Universal.

3.1. As tarefas da Santa Sé O Senhor Jesús quis fazer de Redro e seus sucessores "o principio e o fundamento perpetuo e visível da unidade da fé e da comunhio"

(Constituido Lumen Gentium n? 18). Para exercer ó pastoreio de mais de

840 milhóes de fiéis esparsos pelo mundo inteiro, o Papa precisa de cola boradores experimentados que o assessorem estreitamente. Estáo distri buidos pelas Congregares Romanas (que sao quase Ministerios), pelos Secretariados e Conselhos, as Nunciaturas, o Tribunal da Segnatura

Apostólica, o 'da Rota Romana, o Arquivo e a Biblioteca do Vaticano, a Pontificia Academia de Ciencias, os Pontificios Institutos de Arqueologia,

de Música Sacra...

EstSo a servido da Santa Sé 1932 péssoas (entre clérigos e leigos),

ás quais se acrescentam, na folha de pagr.mento, 1019 aposentados.

Além das despesas ocorrentes com os Organismos ácima e seu pessoal, devem-se registrar as que a Santa Sé realiza em prol das Missóes ou da evangelizado em térras nao cristas. Mais: sempre que ocorre no mundo alguma catástrofe de vulto, o Santo Padre se senté obrigado. a enviar recursos ou ajuda ás vítimas respectivas.

Em 1984 as despesas da Santa Sé elevaram-se a 197.600.000 de marcos alemaes, ao passo que as entradas nSo foram além de

108.60*0.000 de marcos; houve, pois, um déficit de 89 milhóes de marcos. 403

20

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

Alias, desde 1973 o orcamento da Santa Sé é deficitario em escala cres-

cente. As razóes desse déficit sao bem compreensíveis:

a} ocorreram recentemente na vida da Igreja alguns eventos ex-

d« 0¿t?Á"°\qZ£?Oj£am suficie"temente autofinanciados: o Concilio

do Vaticano II (1962-1965, quatro sessóes a 60 milhóes de francos cada uma), a construcáo da nova sala de audiencias por Paulo VI (seis bilhóes de liras), os dois conclaves de 1978 (8 bilhóes de liras cada um);

b) o Concilio do Vaticano II suscitou a criacáo de novos Organis

mos^ todos eles assaz dispendiosos: o Secretariado para a Uniio dos

Cnstaos, o Secretariado para o Diálogo com os Nao Cristáos, o Secreta riado para o Diálogo com os Nao Crentes, a Comissáo "Justica e Paz" o Conselho dos Leigos, a Comissáo para as Comunicares Sociais, o Pon tificio Conselho para a Cultura, a Comissáo para a Pastoral do Migrante e

do Turismo, a Comissáo para a América Latina, o Conselho Cor Unum_.

c) além disto, o Concilio do Vaticano II provocou a realizacáo pe riódica de Sínodos Mundiais de Bispos, a internadonalizacáo da Curia Romana, a convocacao de peritos estrangeiros, a reforma da Liturgia e

do Direito Canónico, que exigiram a participacáo de especialistas do mundo inteiro em viagens sucessivas de estudo e trabalho... Isto tudo

acarretou pagamento de novos salarios, viagens internacionais, instala(oes e escritorios adequados, etc.;

d) a Santa Sé tem mais e mais participado de reunióese Congres-

sos Internacionais destinados a estudar problemas da humanidade

tem

ampliado o seu Corpo Diplomático, tem desenvolvido a sua acáo ecumé

nica; mediante o Pontificio Conselho Cor Unum tem desenvolvido acáo eficaz em prol do desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo;

e) atendendo ás exigencias da vida contemporánea, a Santa Sé tem

aumentado o salario dos seus servidores. Verdade é que estes nao sao de

alto nfvel. Como quer que seja, a Santa Sé é o Estado onde há menos diferencas salaríais no mundo: em 1977, por exemplo, um funcionario do mais alto escaláo no ápice da sua carreira (como seria o Substituto da Se

cretaria de Estado) recebia 600.000 liras mensais, ao passo que os servi

dores menos graduados (porteiros, caixeiros, auxiliares de escritorio )

percebiam 400.000 liras mensais. Notemos ainda que os servidores da Santa Sé gozam de especiáis regalías: além de assisténcia médica apo-

sentadoria, abonos de familia, usuais em todos os países, tém aluguéis a precos reduzidos, acesso ás lojas de comercio do Vaticano, que vendem a presos módicos...;

f) em vista da penuria de muitos daqueles que recorrem aos Orga nismos da Santa Sé, muitos servicos sao prestados a título gratuito ou

quase gratuito. Assim nos Tribunais da Santa Sé as taxas pagas pelos 404

E AS FINANgAS DA SANTA SÉ? interessados nao cobrem 20% das despesas totais, ficando 80% a cargo do Sumo Pontífice. De modo geral, a Curia Romana aboliu suas taxas ou tornou-as simbólicas - o que acarreta novo rombo ñas f¡nangas gerais. O S. Padre Joáo Paulo II referia-se a isto em sua alocucáo de 9/11/79 diri gida aos Cardeais: "A Santa Sé Apostólica, para realizar eficazmente a missáo universal da Igreja, para poder cumprir o programa pastoral do Concilio, para trabalhar na evangefízacáo, precisa de recursos fínanceiros. Contado estes, em compara-

cSo com aqueles que o mundo gasta, por exemplo, com os armamentos, sao arquimodestos!" Ora as receitas nao acompanham o aumento das despesas; nem mesmo recorrendo a contencio de gastos com viagens, servicos dispensáveis, etc. consegue-se equilibrar o orgamento da Santa Sé, anualmente

deficitario. A previsáo de déficit para 1986 vai além de 100 bilhóes de li ras.

Vejamos agora quais os recursos de que dispóe o Sumo Pontífice. 3.2. Patrimonio e administracáo

Urna boa parte do patrimonio da Santa Sé é constituida pela quan-

tia que o Estado Italiano em 1929 enttegou ao Sumo Pontífice a titulo de indenizagáo pelos bens perdidos em territorio italiano no ano de 1870:

750.000.000 de liras em especie e um bilháo de liras em tttulos do Estado a 5%. - Visto que essa quantia se destinava a ressarcir a Igreja por perdas sofridas na Italia, Pió XI julgou de justica aplicar parte de tal dinheiro na Italia mesma: construiu, portento, Seminarios para formar sacerdotes e restaurou muitas casas paroquiais semidestrufdas, principalmente no Sul da Italia. Outra parte serviu a construcSo do edificio Sao Calixto no

Trastevere (para a administracáo da Curia) e b reestruturagüo da Bibliote

ca e da Pinacoteca Vaticanas.

Durante séculos a Santa Sé nao teve orgamento sistemático; nem sentía necessidade disto, pois as despesas e receitas nao eram táo sujeitas a variantes quanto nos tempos modernos. Havia no Estado Pontificio diversos Organismos administrativos, cada qual com seu orgamento e

sua autonomía. LeSo XIII (1878-1903) comegou a centralizar o sistema. Todavia foi Paulo VI quem tomou a importante iniciativa de criar a Prefeitura dos Assuntos Económicos (PAE) da Santa Sé mediante a Constituigáo Regimini Ecdesiae Universas de 15/08/1967. Tal instituto tem o encargo de coordenar todas as secgóes administrativas dos bens da Santa Sé e exercer sobre elas urna certa vigilancia; de modo especial, compete-lhe apresentar ao Sumo Pontífice o balango de cada ano administrati vo findo e o orgamento previsto para o ano seguinte. EstSo, pois, subor dinadas a PAE: a Administragáo do Patrimonio da Sé Apostólica (APSA), 405

22

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

o Governatorato do Estado do Vaticano, a Sagrada Congregado para a Evangelizado dos Povos, a Fábrica de Sao Pedro, a Cérnara Apostólica, os cabidos de Sao Pedro, Santa María Maior, Sao Joáo do Latráo, Sao Paulo fora dos Muros, a Universidade do Latráo, etc. É atual presidente da Prefeitura o Cardeal Giuseppe Caprio, assessorado por um Conselho de quatro Cardeais estrangeiros: Krol, dos Estados Unidos, Hóffner, da Alemanha, Aramburu, da Argentina, e Sin, das Filipinas.

Em particular, a APSA compreende dois Departamentos: o Ordina rio e o Extraordinario. O Departamento Ordinario administra quase todo o patrimonio imobiliário da Santa Sé (edificios das S. Congregacóes, dos Tribunais, dos Secretariados...). O Departamento Extraordinario da AP SA administra os bens recebidos como indenizacáo em 1929. A principio, tais valores foram investidos em empresas italianas tidas como de utilidade pública: a Sotieta Genérale Immobiliare. a Sorieta deU'Acqua Pía Antica Mareta (que realizava obras públicas de abastecimento), o Banco di Santo Spirito, o Banco Ambrosiano, conjuntos hoteleiros, como o Cavaflieri Hilton de Roma... Os criterios que atualmente regem a aplicacáo desse patrimonio sao os seguintes:

1} evitar todo ¡nvestimento que possa causar problemas de ordem moral: assim os da industria farmacéutica (que, entre outras coisas, fabri ca contraceptivos), os da industria armamentista (pois a Igreja deseja o desarmamento e a paz), os da rede cinematográfica, os da construcáo ci vil (para evitar as especulacóes imobiliárias, freqüentes na Italia)... 2) evitar partid pa?áo majoritária, para que os representantes da Santa Sé nao tenham que tomar parte decisiva nos Conselhos de Administragáo, que muitas vezes optam por medidas odiosas (despedidas de funcionarios, liquidacóes, represalias aos funcionarios...). O Vaticano, alias, nao teria condigóes de suprir as necessidades financeiras urgentes de firmas das quais fosse acionario majoritário. Por conseguinte, a norma é repartir os investimentos por varias empresas, só assumindo 5% do ca pital; 3) transferir os investimentos da Italia para o estrangeiro (Estados Unidos, Sufca, Alemanha, Japáo, Franca, Canadá...). Este criterio se deve nao só á tendencia a internacionalizar a Curia, mas também ao fato de que mais vantajosas sao as propostas estrangeiras. A Santa Sé tende também a vender ¡movéis para transforma-los em acóes, pois isto é financeiramente mais recomendável.

. 3.3. Como superar o déficit anual? 0 principio da colegialidade ou da corresponsabilidade dentro da Igreja faz que o Papa nao se veja entregue a si mesmo para cobrir as lacunas do balanco da Santa Sé. As dioceses esparsas pelo mundo inteiro

406

E AS FINANZAS DA SANTA SÉ?

23

tém-se empenhado generosamente por solucionar a problemática, numa autentica atitude de comunháo e servico. Eis as principáis formas de ajuda colegial levada á Santa Sé:

1) O Óbulo de Sao Pedro. Desde o século VIII na Inglaterra existe o

costume de apoiar a Santa Sé financeiramente. Tal prática se mahteve através da Idade Media na Escandinávia, na Polonia, na Hungría. Foi in

centivada no século passado pelos católicos franceses, que, juntamente com os fiéis do mundo inteiro, se dispuseram a enviar subsidios ao Papa Pió IX após a perda do Estado Pontificio. A coleta respectiva, chamada

"Óbulo de Sao Pedro", tem lugar geralmente na festa de Sao Pedro

(29/06), no domingo precedente ou no domingo subseqüente. A impor tancia arrecadada sob o Papa Joao XXIII (1958-1962) subía a 12/15 miIhóes de dólares; na década de 70 desceu até 4.000.000 de dólares. A po-

pularidade do Papa Joao Paulo II contribuiu para avivar de novo a generosidade dos católicos. Todavía em 1984 registrou-se forte babea, devi da á infeliz gestáo do IOR unido ao Banco Ambrosiano, de que falaremos

em breve.

2) Contribuicóes especiáis de dioceses ou de Conferencias E piscopaís tém socorrido á Santa Sé no combate aos seus déficits mais recen tes. A partir de 1983, por exemplo, a Conferencia dos Bispos da Alema nha Ocidental tem contribuido anualmente com 5.000.000 de marcos; 3) Por ocasiáo de audiencias, visitas pastorais ou outros acontecí-

mentos, o S. Padre tem recebido donativos em especie ou em cheques, que aliviam as suas financas. Em 1981, tais ofertas chegaram a um total de 30 milhóes de marcos alemáes. Tais subsidios ajudam a Santa Sé a

enfrentar o desafio de suas financas, mas nao sao suficientes; em 1384 foi preciso, pela primeira vez, mexer no patrimonio da Santa Sé resultante

das indenízacóes pagas em 1929, ao passo que até entáo o Óbulo de Sao Pedro e doaedes anexas haviam bastado. O problema exige remedio mais cabal, que o S. Padre JoSo Paulo II vem estucando com seus asses-

sores qualificados.

4. O Instituto para as Obras de Religiáo (IOR) Em 1887 o Papa Leao XIII criou um Instituto Bancário de pequeño porte no Vaticano. Este foi-se desenvolvendo, dada a importancia dos

servicos que prestava.

Aos 27/06/1942 o Papa Pió XII deu-lhe a estrutura do chamado Istituto per le Opere di ReGgione (IOR); atualmente tem por finalidade ad ministrar depósitos de dioceses, paróquias. Organismos da Santa Sé, Ordens Religiosas, Universidades Católicas e pessoas particulares que tenham acesso ao Instituto (funcionarios da Santa Sé, diplomatas creden407

24

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

ciados junto a esta...); o Instituto pode transferir tais depósitos para o estrangeiro, especialmente para territorios de missáo... Durante varios anos o IOR prestou bons servicos; os seus eventuais excedentes constituiram

um fundo de reserva. Todavía o Instituto comprometeu-se com o Banco Ambrosiano de Miláo, tributando a este excessiva confianca; quando o Ambrosiano, sob o banqueiro Roberto Calvi, faliu, o IOR se viu atingido, ficando em má situacáo Mons. Paulo Marcinkus, seu Diretor; este, bem intencionado, dera caucáo e apoio ás atividades de Calvi. No processo instaurado para apurar as responsabilidades, verificou-se que a honra de Mons. Marcinkus ficava incólume, pois nao assinara os documentos liti giosos, mas dois dos colaboradores do prelado - Mennini e Strobel - foram indigitados pela Justica Italiana e, por isto, fixaram residencia dentro do Vaticano. Em meados de 1984 o Instituto pagou aos credores do Ban

co Ambrosiano a quantia de 240.800.000 de dólares, sem que estivesse jurídicamente obrigado a isto, pois nao era responsável pela falencia do

Ambrosiano: tal quantia saiu das reservas ou do patrimonio que o IOR em quase cem anos de existencia conseguirá formar. A experiencia dolorosa levou a Santa Sé a pensar numa reforma do

IOR, que poderá constar dos seguintes tragos: 1) a gestáo do Instituto seja colocada ñas máos de leigos experi mentados;

2) a gestáo e o balanco do Instituto sejam controlados regular mente por um órgáo independente;

3) seja nomeada urna Comissáo de peritos economistas que ga ranta a sadia administrado do Instituto e exclua especulares arriscadas.

5. Conclusáo Na medida em que existe e trabalha neste mundo, a Igreja utiliza os

recursos materiais indispensáveis para o exerclcio da sua missáo. Ela nao

o pode fazer simploriamente, pois isto equivaleria a atirar-se conscien temente na bancarrota; mas tem que se valer das normas de economistas e peritos fidedignos. Quem compreende isto, nio se surpreende por sa ber que a Santa Sé tem seu organograma administrativo. Este é relati vamente modesto, se comparado com o de outras instituicóes. Deve-se mesmo louvar a coragem dos Papas Paulo VI e Joio Paulo II, que, apesar da exigüidade de recursos financeiros, neo se tém furtado a instituir novos e novos Organismos (com todas as despesas decorrentes) para atender ao bom desempenho da missáo da Igreja no mundo contempo

ráneo. Vé-se que nao é o criterio do dinheiro nem sao os interesses eco

nómicos que orientam as opcóes e tomadas de posicio da Santa Sé. É

esta magnanimidade dos Pontífices que explica, em grande parte, o défi cit da Santa Sé. 408

E AS FINANCAS DA SANTA SÉ?

25

Há quem se ¡mpressione com os "tesouros" guardados no Vatica no. Tais tesouros sao os Museus, as Galerías de Quadros ou a Pinacote ca, a Biblioteca... Nao poucas pessoas julgam que esses bens deverism ser vendidos; dar-se-ia o dinheiro correspondente aos pobres ou aos credores do Vaticano! - A tai sugestáo pode-se responder citando Mi 26,13: os discípulos de Jesús se ¡ndignaram porque um frasco de perfume precio so nao fora vendido para socorrer aos pobres; o Senhor respondeu que .nao sonriente a esmola, mas certos outros valores merecem respeito e devem ser deixados incólumes. Na verdade, as obras de arte guardadas no Vaticano sao o fruto do sacrificio de muitas geragóes e constituem atualmente um patrimonio comum de toda a humanidade; a presente geracáo nao tem o direito de dispersar ou destruir esse tesouro artístico, mas deve transmiti-lo ás geracóes seguintes. Alias, a maioria de tais bens está vinculada á vontade do respectivo doador, que tinha em mira urna finalidade especifica (nao raro explicitada) quando fez a outorga. Mais: o Vaticano possui bens que pertencem a pessoas privadas ou a familias

(assim os fundos da casa dos Borghese, nos Arquivos Vaticanos). Em vista disto, pode-se perguntar se o Vaticano é realmente proprietário de

tais valores ou se nao é antes o guardiáo qualificado dos mesmos. É de

notar, por exemplo, que o Tratado firmado entre a Santa Sé e o Estado Pontificio em 1929 estipulava que os tesouros de arte e de ciéncja exis tentes na Cidade do Vaticano e no Palacio do Latráo "devem permanecer acesslveis aos pesquisadores e visitantes".

0 que se pode esperar da Santa Sé - e o que de fato esta realizará é a minuciosa apresentacáo de contas ao público. - Alias, desde 1979 sao publicados os resultados fináis do balanco anual da Santa Sé: receita, despesa, e eventual déficit sem especificacáo de dados particulares. Atualmente está em cogitacáo um relatório mais preciso, o que nao é fá cil, pois sao múltiplos os Organismos e Departamentos que contribuem para formar o balanco. Nao poucas dioceses e paróquias efetuam a sua prestacao de contas aos fiéis, a fim de Ihes avivar a consciéncia de que,

junto com seus pastores, sao a Igreja. O Sumo Pontífice está para fazer o mesmo, a fim de corroborar no Povo de Deus a sua conviccáo de que é a Igreja esparsa pelo mundo inteiro.

A propósito: CEfíETI, GIOVANNI, Ressources et activités financiares du Vatican, em Concilium n-137, setembro 1978, pp. 15-32. CHEUNI, JEAN, Au Vatican sous Jean-Paul II. Hachette 1985.

HÓFFNER, JOSEPH, Per Bilanci Sani, Cargo agli esperti, em 30 Giomi, apríle 1986. pp. 6345.

409

Que será?

"O segredo de Fátima" por José Geraldes Freiré

Em síntese: O Pe. José Geraldes Freiré realizou minuciosa pesquisa sobre os acontecimentos de 1917 em Fátima e o segredo relacionado com os mesmos. Observa que a última parte deste segredo nao foi revelada ao mun do, embota a vidente Ir. Lucia tenha insinuado que podeña ser desvendada em 1960. O autor da pesquisa propóe entáo sua interpretagáo da terceira parte do segredo em Svro que vai analisado neste artigo: o segredo referír sela a Portugal e aos recentes acontecimentos de que tem sido teatro esta nagio. Com efeito, diz Freiré, Portugal, tendo sido pouco fiel a sua vocagSo católica a partir de 1959 (ano em que recusou abrir sua Contituigáo em nome de Deus), sofreu vexames e humilhacóes decorrentes da escalada comunista após 1974 tanto na metrópole como ñas colonias de Ultramar. O avango do marxismo causou serios danos ao povo católico de Portugal. Felizmente foi contido e rechagado oportunamente, pois a Virgem SS. em Fátima havia

prometido que a fé seria mantída em Portugal. Todavía, observa o Pe. Geral

des Freiré, é preciso que se observe mais eferentemente o apelo de Nossa Senhora á oragSo, é conversao e á penitencia. - O autor reconhece que a sua explicagáo Oca no plano das conjeturas, pois há realmente poucos dados ob jetivos e válidos para se identificar o conteúdo do segredo de Fátima.

O Pe. José Geraldes Freiré, da diocese de Portalegre e Castelo Branco (Portugal), é Professor Extraordinario da Faculdade de Letras em Coimbra. Tem-se dedicado ao estudo do segredo de Fátima, especial

mente da sua terceira parte, que náo foi revelada pela Santa Sé e que deixa muitas pessoas perplexas e curiosas. Como fruto de suas pesqui sas, o Pe. Geraldes Freiré publicou o livro "O Segredo de Fátima. A ter

ceira parte é sobre Portugal?".1 Esta obra, minuciosa e assaz documen

tada (na medida em que o pode ser), atende a anseios de muitos leitores desejosos de conhecer o "segredo de Fátima". Por ¡sto apresentaremos,

ñas páginas subseqüentes, os traeos principáis da obra. É certo, porém. 1Edigáo do Santuario de Fátima 1978 (2? edigáo ampliada), 205 pp. 162x232mm.

410

"O SEGREDO DE FÁTIMA"

27

que a explicacáo do Pe. Geraldes Freiré vem a ser, como ele mesmo diz, urna conjetura {cf. p. 172). Tem o valor de corresponder aos estudos de um pesquisador serio e honesto.

Mais precisamente: tendo tido a ocasiáo de ir a Portugal e Fátima em maio pp., concebí o propósito de lá procurar esclarecer-me, de fonte

limpa, sobre o conteúdo da terceira parte do segredo de Fátima, de que tem falado freqüentemente a imprensa no Brasil. Inspecionando curio

samente algumas livrarias importantes, encontrei o livro do Pe. José Geraldes Freiré, monografía especializada sobre o assunto e talvez a melhor do ponto de vista da documentacáo e da honestidade do autor. Eis por que a trouxe para o Brasil e a apresento sumariamente aos leitores de PR, sem ter a ¡ntencáo de definir algo sobre o assunto; muito me nos desejo dizer o que seja, em detrimento de qualquer nacáo; todos os homens sao pecadores, lembra Sao Paulo, e precisam da graca de Deus (cf. Rm 3,9.23). Antes, refiro o conteúdo do livro para evidenciar quáo va riadas sao as interpretacóes do segredo e quáo pouco se devem assustar os fiéis que ouvem falar de próximo fim do mundo em nome do segredo de Fátima. A propósito já foram publicados alguns artigos em PR, dos quais o último é o de PR 258/1981, pp. 330-340. - Na exposicáo subseqüente, ater-nos-emos estritamente ao que refere o Pe. José Geraldes Freiré.

1. A redacáo do "Segredo"

As aparicóes de Nossa Senhora em Fátima deram-se de 13 de maio a 13 de outubro de 1917. Os tres pequeños pastores assim agraciados nada escreveram de imediato a tal respeito.

A partir de 1937 a vidente Irma Lucia redigiu quatro relatos ou

"Memorias", atendendo a solicitacóes de seus Superiores e tendo obtido licenca do Céu para fazd-lo. O terceiro Memorial, datado de 30/08/1941, revela duas partes do

segredo que a Virgem SS. confiara aos pequeños pastores: a primeira parte compreendia urna visáo do inferno; a segunda parte dizia respeito ao fim da guerra de 1914-1918 e á conversio da Rússia, que seria obtida mediante oracáo e penitencia. A terceira parte do segredo foi redigida entre 25/12/1943 e 09/01/1944; o texto ficou em envelope lacrado, que foi entregue ao Sr. Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva. Este nao

abriu o segredo. Em 1957 o envelope lacrado foi enviado ¿ Santa Sé. Lu cia havia observado que, por ordem do Céu, o terceiro segredo nao de411

28

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

veria ser manifestado antes de 1960. Aconteceu, porém, que neste ano, apesar da grande expectativa reinante, o segredo nao fot revelado ao pú blico pelo Papa Joáo XXIII; o Pontífice, segundo referem fontes abaliza

das, o leu e, depois, colocou o respectivo envelope em outro involucro e guardou tudo nos arquivos secretos do Vaticano.

Nao se sabe por que nao foi publicado o conteúdo desse terceiro segredo; os Papas e os seus colaboradores mais próximos nao somente mantiveram plena discricáo sobre o assunto, mas nao quiseram revelar o

porqué da sua laconicidade. Tal atitude de reserva provocou a curiosidade do público em geral e da imprensa: foram (e sao até hoje) divulgadas noticias aterradoras, segundo as quais o terceiro segredo de Fátima anuncia catástrofes apocalípticas, fome terrível, queda de meteoro, gi gantes sobre a térra, guerras horrendas, próximo fim do mundo, perse-

guicóes ao Santo Padre, aos fiéis católicos... (pp. 29-39). O Cardeal Ottaviani, porém, desmentiu tais noticias, que certamente sao fantasiosas e altamente hipotéticas.

2. A tese do autor do livro O Pe. Geraldes Freiré, após ter reunido e estudado ampia documentacáo sobre Fátima e o terceiro segredo, julga poder concluir que este se refere a Portugal e vai-se cumprindo na historia recente deste país. Com efeito, argumenta o autor, a Virgem SS. predisse no segundo segredo, após haver recomendado oracáo e penitencia: "Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e teráo paz;

se nao, espalhará os seus erros pelo mundo, promovendo güeñas e perseguicóes á Igreja".

Ora Geraldes Freiré observa que tais predicóos desastrosas encontram a sua realizacáo na vida de Portugal dos últimos decenios. Eis os

fatos que ele aponta como graves ofensas aos direitos de Deus e da fé em térras de Portugal:

1) Aos 8 de julho de 59, a Assembléia Legislativa Nacional rejeitou a invocado do nome de Deus no principio da Constituicáo Portuguesa, ou seja, recusou o seguinte preámbulo de Constituicáo:

"A Nacáo Portuguesa, fíela fé em que nasceu e em que se engrandeceu, invoca o nome de Deus ao volar, pelos seus representantes eleitos, a leí fundamental que segué".

412

"O SEGREDO DE FÁTIMA"

29

Para basear a recusa, alegavam os congressistas a pluricontinentalidade de Portugal, cujas provincias contavam com muitos ateus, pagaos e sequazes de religióes diferentes do Cristianismo.

2) No mesmo ano de 1959, outra grave ofensa aos direitos da Igreja foi cometida pelo Governo portugués. Na verdade, o Sr. Bispo do Porto D. Antonio Ferreira Gomes propugnava os direitos fundamentáis do homem e da justica social; isto Ihe valeu urna campanha hostil da parte dos mentores do Governo, que o tachavam de comunista. No dia 24/07/59, D. Antonio partiu Nvremente para o estrangeiro; quando, sema nas depois, procurou regressar a Portugal, foi impedido de atravessar as fronteiras, embora comprovasse a legalidade da sua situacjo cívica. Em conseqüéncia, mesmo sem decreto de exilio e sem nota pública, o Bispo do Porto viu-se obrigado a habitar no estrangeiro até a queda do Primeiro-Ministro Salazar; so aos 18/6/69 pode voltar a Portugal e reassumir o governo de sua diocese. - Verdade é que este caso foi muito con trovertido em Portugal; como quer que seja, o Pe. Geraldes Freiré julga que "o exilio (sem lei) do Bispo do Porto foi um grave atentado á liberdade da Igreja. Ao menos que houvesse um processo e urna sentenca ju dicial!" (p. 122).

Os fatos de 1959 "negavam o valor das consagrares anterior mente feitas de Portugal aos Coracóe.s de Jesús e de María. O Govemo e os representantes do povo falavam em Deus, promoviam festas, comparticipavam obras religiosas - mas o seu coracáo e as suas acóes estavam longe dos mandamentos de Deus" (p. 123).

3) Continua o Pe. Geraldes Freiré: "É nossa opiniáo que existe urna

relacáo de culpa entre a recusa oficial do Nome de Deus na Constituido

Portuguesa e os sofrimemos e humilhacóes por que Portugal tem passado desde entáo, tanto interna como externamente" (p. 128). O autor póese entáo a comentar "a expansio dos erros da Rússia no antigo Ultramar Portugués": o esforco de evangelizacio realizado pelos portugueses du rante mais de quinhentos anos foi fortemente ameacado, se nao anulado, pelos avanzos do comunismo ñas antigás colonias de Portugal. Observa

Freiré: "Só urna de nossas antigás colonias permanece e quer continuar unida a Portugal: é a que tinha e continua a orgulhar-se do nome de Cidade do Santo Nome de Deus de Macau!" (p. 128). Os anos de 1960 e seguintes foram efervescentes ñas colonias por tuguesas: tumultos, revoltas, represalias, guerras, encarceramentos e homicidios foram af cometidos... Finalmente em 1974 o Governo instala do pela revolucao de 25/04/74 proclamou o direito das colonias portu guesas á autodeterminacio. Rápidamente as Forcas Armadas abando na ram o Ultramar Portugués, entregando-o, em cada territorio, ao "úni-

413

30

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

co legitimo representante" do seu povo indígena. Acontece, porém, que, de todos os movimentos de libertacáo existentes, só os marxistas-leninistas tiveram a simpatía e a ajuda do Governo de Lisboa: em Angola, Mozambique e Timor os planos da Rússia para as coidnias portuguesas foram fielmente executados; os missionários perseguidos deixaram, em mais de metade dos efetivos, o seu campo de apostolado; os novos Bis-

pos nativos, apos urna fase de esperance, reconhecem que, sob o mar xismo-leninismo, a Igreja nao tem grande futuro.

Observa o Pe. Geraldes Freiré: "Os nossos olhos devem abrirse. Em Fátima, a 13 de julho de 1917, Nossa Senhora disse: 'Se nao atenderem aos meus pedidos, a Rússia espa-

Ihará os seus erras pelo mundo, promovendo guerras e persegúigOes á tgreja.

Os bons serño martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, varias nagOes serio aniquiladas'.

Que vemos hoje ñas ex-colónias portuguesas?... Estará a aplicarse a nos, agora, a segunda parte do 'segredo de Fátima'? Ou nao será isto antes a realizacSo, sobre nos, da terceira parte?

Oxalá sobre os novos países de expressSo portuguesa se reaBze tambóm a conclusBo da profecía de Fátima: 'Por fím, o meu Imaculado Coráceo triunfaré'"(pp.131s).

4) A Revolucáo de 25/04/74 levantou os finimos do povo portugués. Verifica-so, porém, que o Partido Comunista Portugués foi o principal vencedor do processo revolucionario entfio iniciado; os setores do trabaIho, do ensino e da informante foram dominados pela forca e a virulencia dos comunistas. Os jomáis estatizados, a Radio nacionalizada, e a televisfio mantiveram campanhas sistemáticas contra a Moral e a Doutrina da Igreja; defendeu-se o divorcio, a contracep$3o livre, o aborto, e atacaram-se o culto religioso, as peregrinacóes a Fátima, etc. Formou-se em

Portugal a córreme dos "CristSos para o Socialismo", que acusavam a Igreja de compromisso com o fascismo e pediram a sáfda do Nuncio Apostólico e a "renuncia" de todos os Bispos ¿s suas dioceses. O ensino foi posto a servico da implantado do marxismo, com o incentivo do Mi nisterio da Educacfio, que forneceu textos destinados á "redclagem" po lítica dos professoras e do pessoal escolar. - Assim se instaurou a "D¡namizacfio Cultural" filomarxista.

A freqúénda as igrejasdimlnuiu. Alguns sacerdotes foram aliciados pelo Governo de esquerda, que os quería colocar em seus órgSos admi nistrativos so lado de comunistas (coisa que os Bispos nSo permitiram). 414

"O SEGREDO DE FÁTIMA"

31

Finalmente a campanha marxista foi sofrendo seus reveses. Os mi litantes católicos se puseram ñas rúas e, lutando corajosamente, conseguiram rechacar os comunistas instalados no poder; estes perderam as eleicSes de 25 de abril e 25 de novembro de 1975, mas aínda retém certo poder em Portugal.

A esta altura o Pe. Freiré comenta: " 'A Rússia espathará os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguicOes á Igreja' - disse Nossa Senhora em Fátima a 13 de julho de 1917, na segunda parte do 'segredo'. Portugal fo¡ poupado durante e após a II Guerra Mundial, gragas á protegió divina, como nos garante ñas suas Cartas a Irma Luda. Se, desde 1959, Portugal no seu todo foi duramente atingido com guerras e hurrilhagóes; se, após o 25 de abril, o povo portugués sentiu de di versos modos a opressSo comunista; se a Rússia espaihou e continua a di fundir entre nos os seus erros e a perseguirá Igreja - nao haveremos nos de pensar que se está a realizar a continuagáo (ató agora nao revelada) do 'se gredo de Fátima'? Sio os tatos que nos abrem os olhos para a sua interpretado, á luz da func&o providencial de Fátima em relagéo ao aparedmento e expansio do comunismo. Por nossa parte, pensamos que Portugal está cumprindo, por meto da expiacáo, a terceira parte do 'segredo de Fátima'. Também para nos a Rússia está a ser o agoite de que Deu's se serve para punirá inlideüdade nacional.

Resta-nos urna esperanga. O texto da IV Memoria termina: 'Em Portugal

se conservará sempre o dogma da fé1 (EPF, IV. 148). Que este indicio de perspectiva protetora seja continuado por outras palavras de bom augurio e que termine com a promessa e a certeza de que 'por ñm o Meu Imaculado Coragáo triunfará'!" (pp. 138s).

5) Aos elementos assim recordados o Pe. Geraldes Freiré associa mais o seguinte: ao anoitecer de 21/01/1976, o povo portugués pode ver um sinal no céu. As ¡mpressóes dos que o observaram, sao diversas: uns dizem que era urna foice incandescente; outros, um 5, e mais outros, um

S... As explicares dadas para este fato sSo as mais variadas: fumaca de

aviio a jato..., aurora boreal... estrato de nuvem no qual se refíetiam os

ratos solares ao crepúsculo... O Pe. Geraldes Freiré julga que, qualquer

que seja a explicacfio dada ao fenómeno, foi um sinal enviado por Deus para Indicar que "algo já profetizado está em decurso de realizacSo no tempo" (p. 147).

Estaría assim confirmada a tese do Pe. Freiré, segundo a qual o terceiro segredo de Fátima se refere aos acontecimentos ocorridos em Portugal a partir de 1959: abandono dos principios da fé e conseqüente 415

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

infiltrado do comunismo, do qual Nossa Senhora quer salvar aquela na-

c§o. Como conclusáo da tese, dever-se-ia recomendar mais atencao á mensagem da Virgem, que pedia oracáo, conversao e penitencia em penhor de preservado da fé e das auténticas tradicdes do povo portugués.

Em sfntese, o autor da obra escreve:

"O ensaio critico acabado de fazer leva-nos a conjecturar que a terceira parte do segredo de Fátima podorá conter os seguintes pontos: 1 - Apelo especial a Portugal para que cumpra os pedidos de Nossa Senhora; 2 - Anuncio de que, se Portugal for infiel, depois do ano de 1960 será punido; 3 - A Rassia espalhará os seus erros em Portugal e ñas suas co

lonias, o que levará a guerras que terminario com a independencia das colonias e com persegulcóes á Igreja;

4 - Portugal Europeu será castigado, sofrendo grandes perturbacóes sodais e ataques A doutrina da Igreja, a ponto de muitos se afastarem do caminho da salvacSo; 5 - Aviso de que um sinal no céu de Portugal indicará que o perigo do dominio dos 'erros da Rússia' nao tara terminado com a apa rente pachicacao da vida pública;

6 - Promessa de que 'em Portugal se conservará sempre o dog ma da fé' e de que 'por fim o Imaculado Coracáo de María triunfará'

(IV Memoria, EPF, 148)" (p. 171).

A tudo isto acrescenta o Pe. Freiré:

"Espero que o leitor me reconhccerá a honestidade Intelectual e moral de ter conduzido desde o principio até ao fim este longo estudo sobre o que é, em mlnha opinISo, com probabtHdade. a 'terceira parte do segredo de Fatima'... Nao conheco o texto do 'segredo', que conti nua guardado no Vaticano; por bao nSo posto dizer que tenho a certe za. Quanto acabo de aprasentar é, portante, apenas urna conjectura, mas que julgo apoiada em fatos claros e em indicios tirados dos textos da Irmi Luda" (p. 172).

416

"O SEGREDO DE FÁTIMA"

33

Passemos agora a urna 3. Reflexáo final

Nao podemos deixar de louvar o esforzó de pesquisador desenvol vido pelo Pe. Geraldes Freiré. Colecionou ampia documentado sobre Fátima e seu segredo; trabalhou com honestidade e seriedade, oferecen-

do a'o público urna obra que merece respeito. - Após ler com atencüo esse livro, ocorrem-nos as seguintes ponderacóes:

1) O estudo do Pe. Geraldes Freiré evidencia quanto o caso do terceiro segredo de Fátima está envolto em penumbra e, por isto, sujeito a hipóteses e conjeturas. A laconicidade dos tragos desse "segredo" dá ocasiáo as mais diversas interpretacóes, que dependem muito mais da

imaginacao dos intérpretes do que da documentacio objetiva. 2) O Pe. Freiré mostra que a Santa Sé tem ¡ntencionalmente evita do falar do assunto. Segundo o autor do livro, isto se deve ao fato de que o terceiro segredo trata da política interna de Portugal (Governo salazarista, revolucáo de abril de 1974 e acontecimentos subseqüentes...); por isto a revelacáo do segredo poderia parecer ¡ntromissáo da Santa Sé em questóes de ordem interna da nacáo.portuguesa. Pode ser esta a razáo exata do silencio dos Papas a respeito do segredo de Fátima. Todavia pode-se também admitir que os Pontífices hajam ponderado que o se gredo nada de essencialmente novo acrescenta á clássica mensagem de Fátima e dos Evangelhos: "Oracáo, Conversáo e Penitencia" (cf. Le 18,1; Me 1,15).

3) A conjetura do Pe. Geraldes Freiré toma como objeto do terceiro

segredo de Fátima Portugal e sua historia recente. Será que o autor essim procedeu porque é portugués? - Como quer que seja, é um portu gués que conhece bem o assunto e todas as interpretacóes dadas ao se gredo de Fátima. A sua conclusáo insinúa que nao se deveria relacionar o segredo de Fátima com catástrofes, guerras internacionais, crimes re

tumbantes do cenário mundial. É freqüente em nossos dias associar cata

clismos famosos e o segredo de Fátima; este comería as mais variadas profecías sinistras (inclusive a do atentado ao Papa na Praca de Sao Pedro)... A tendencia a proceder assim - típica da imprensa escrita e falada - é arbitraria e fantasiosa; deve ser rechacada. 4} Se a identificando do conteúdo do terceiro segredo de Fátima com os acontecimentos recentes da história-de Portugal é i conjetural,

devemos acrescentar que nao é conjetural a reflexáo que o Pe. Geraldes Freiré apresenta ao concluir sua obra; está Tora de dúvida que Fátima faz 417

34

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

ressoar aos ouvidos de todos os fiéis a sua perene e ¡nsofismável mensagem: oracio, conversáo e penitencia. Em vez de se preocuparen-! com o

conteúdo do segredo de Fátima, procurem os católicos abrir-se coeren-

teniente a exortacao da Virgetn SS., que nao é senSo a do Evangelho e a

da Santa Igreja: renunciem ainda mais decididamente ao pecado e ás

concessóes que conduzem ao pecado e á infidelidade, a fim de levar urna

vida cada vez mais auténticamente crista, pois o Senhor quer salvar os homens mediante a colaborado dos seus irmáos; somos todos respon-

sáveis pela salvacao dé nossos semelhantes, e nos desempenhamos

desta tarefa na medida em que nos esforzamos para ser plenamente luz no mundo, sal na térra e fermento na massa (cf. Mt 5,13s; 13,33): "Se o sal perder o seu sabor, com que há de se salgar?" (Mt 5,13). Se os cristáos perderem sua identidade, quem levará ao mundo a mensagem salvlfica do Evangelho? - Eis o que certamente deve ficar no espirito de quem se interessa por Fátima e seu segredo.

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418

OS RITOS SOVIÉTICOS

35

Para substituir os ritos religiosos:

Os Ritos Soviéticos Em tíntese: A Rússia Soviética, embora professe oficialmente a ideo-

logia atéia, instituiu ritos cívicos para acompanhar a vida dos seus cidadios desde o nascer até o morrea .. ritos que lembram de perto as cerim&nias re ligiosas e suscitam, a seu modo o sonso místico dos participantes. Tal fato é alómente significativo, pois evidencia quanto o senso religioso é profundo no ser humano, a ponto de se manifestar sob formas leigas quando é privado de suas expressdes auténticamente inspiradas peía fé. *

*

*

Verifica-se na Rússia Soviética contemporánea que a vida dos cida-

dáos, desde o nascer até o morrer, é acompanhada por ritos cívicos, que apresentam grande semelhanca com os ritos religiosos e despertam, a

seu modo, o senso místico dos participantes. Também as grandes festas do calendario nacional, a transicáo das estacóes do ano, a celebracáo dos heróis do pats... sao ocasiio de cerimónias rituais significativas. - A se guir, examinaremos a origem e a inspiracao fundamental de tais ritos, a exporemoso desenrolar dos principáis dentre eles.

1. Origem e inspiracao básica Já na época de Trotsky pensavam os mentores soviéticos na cele bracáo ritual de algumas datas cívicas. Na década de 1950 e principal mente ñas regióes do Mar Báltico (N.O. da URSS), na Bielorússia Oc¡dental, na Ucrania e na Moldavia forarrr adotadas de maneira sistemática

tais cerimónias a fim de contrapor-se ás reminiscencias religiosas dos cidadáos; em tais territorios a religláo ainda era um símbolo da indepen dencia e da consciáncia nacional das respectivas populacóes.- A primeira de tais cerimónias foi a de "entrada da idade adulta", concebida para

apagar o ritual de Confirmacao dos luteranos e inaugurada em 1957.1 O éxito de tal praxe incitou as autoridades soviéticas a introduzir outras ce rimónias rituais, desta vez relativas ao casamento, ao nascimento e aos hiñerais...

1 Na Estonia, por exemplo, contavam-se 3.500 Confirmacoes em 1950 e maisde 10.000 em 1957. 419

36

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986 Alias, nao somente o desejo de combater a religiáo sugeriu aos go-

vernantes a adocSo de tais ritos; visava m também a difundir entre os jovens um certo idealismo e entusiasmo que dissipassem o ceticismo, a delinqüéncia, o alcoolismo, o divorcio... existentes em carnadas da populació, especialmente ñas mais jovens. Urna certa "educacáo" doscidadáos

seria assim obtida, com beneficios para a fidelidade ao socialismo e ao patriotismo soviético. O jornal Pravda de 18/10/1984 apontava como finalidade de tais ritos: "incutir nos jovens urna visáo do mundo científicomaterialista do mundo". "Do avanco desses novos ritos dependerá o desaparecimento dos preconceitos religiosos. Esses ritos sao um meio efi caz de luta contra a influencia da religiáo", escrevia um especialista no assunto. Por sua vez, Constantino Chernenko em discurso de junho de 1983 afirmava: "A transformado revolucionaria da sociedade nao será

possfvel sem que transformemos o próprio homem. E nosso Partido adota o principio de que a formacáo do homem novo nao é apenas um objetivo da mais alta importancia, mas é também um meio obrigatório da construcáo comunista".

Por isto os ritos sao preparados por Comissóes de peritos: artistas, sociólogos, historiadores, representantes do Partido e do Soviet localEstes elaboram os textos para cada cerimdnia antes de entrega-los aos agentes de propaganda, que desenvolvem intensas campanhas de difu-

sáo dos mesmos.

Examinemos agora o desenrolar de algumas de taiscerimónias.

2. Principáis ritos Enumeraremos quatro cerjmónias principáis. 2.1. A Atribuicáo do Nome Tal é o rito que corresponde ao Batismo cristáo. A partir de 1960,

foi muito fomentado para substituir a cerimdnia do oktiabriny,1 que caira

em desuso. Pode ser celebrado dentro das primeiras seis semanas de existencia da enanca.

No dia aprazado, os pais, familiares e amigos do pequenino (nao raro portadores de medalhas ganhas na guerra patriótica) dirigem-se ao Palacio do Malkxitfca (= Recém-nascido, em russo); sao acompanhados pelos respondentes ou padrinhos. A recepcionista do Palacio, trajando

' Oktiabriny é a cerimónia inlroduzida nos primeiros anos da revolugáo rus-

sa. O nome era urna réplica a krestiny, Batismo em russo; em vez de krest, (cruz), foi utilizado o radical oktiabr, outubro, com o sufíxo iny. 420

OS RITOS SOVIÉTICOS

37

vestido longo, acolhe máe e filho num saláo especialmente destinado a preparar a cerimónia. A seguir, convida solenemente todos a subirem

para a sala dos ritos. O pai entáo toma a enanca nos bracos, precedido pela recepcionista; o cortejo caminha processionalmente ao som de mar cha própria. A sala dos ritos é dominada por vitró, que representa mSe e

enanca; diante deste há algo que nao é propiamente nem urna mesa

simples, nem urna escrevaninha, mas se assemelha a um altar, portador de flores e do emblema da República. É entao que entra em cena a fun-

qonária que presidirá á cerimónia ritual.

Também revestida de traje longo, trazendo ao pescoco um grande colar do qual pende urna medalha com os símbolos da República (foice e martelo), a dirigente pronuncia breve discurso, no qual felicita com sim patía a familia portadora da crianca. Diz entáo:

"Os filhos sao tesouro inestimável na sociedade socialista. Tornam-se objeto de preocupacao constante do nosso Partido leninista. Vamos hoj'e proceder ao registro de novo cidadSo da URSS. Qual o nome que desojáis dar á crianca?"

Após a resposta dos genitores, toca-se o hiño da Uniáo Soviética,

em honra do novo cidadao.

A seguir, os genitores e os responsáveis se comprometem a educar a crianca em conformidade com "as exigencias da sociedade". Sio cha mados a assinar um por um, a declaracáo de nascimento e o registro civil da crianca. Em troca, sáo-lhes entregues um certificado, que equivale a um salvo-conduto, e urna "carta para o futuro" comemorativa de tal dia. Em torno do pescoco da enanca coloca-se urna fita (azul ou rosa, segun

do o sexo) com urna medalha. Após o qué, os participantes sao convida

dos a passar para a sala contigua, onde um copo de mousseux espu

mante é oferecido a todos pelos genitores, os quais recebem congratula

res calorosas de cada convidado. Retiram-se entáo para a casa da fami lia em festa, que continua a celebracáo no lar.

O esquema da cerimónia da "Atribuicáo do Nome" é o mesmo em toda a Uni§o Soviética; os pormenores, porém, variamde regiio para re-

giáo. Eis, por exemplo, passagens do discurso proferido pelo(a) presi dente da cerimónia em Kiev (Ucrania):

"Cams pais... recordai-vos do vosso dever sagrado para com a socie dade socialista: educar um fího que seja digno combatente até a vitória com pleta do comunismo. Educai nele o amor ao trabalho e á sua grande patria so viética. Seja honesto, sincero, bom, chelo de respeito, de modo que a Maepatria se tome ufana.dele... E vos, veneráveis avós, trabalhastes sem tregua 421

38

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

durante a vossa vida; fízestes muito bem aos homens; educastes bons fílhos, que vos deramnetínhos..."

Nao se pode dizer que a apresentacao ao Palacio do Recém-Nascido seja obrigatória; cornudo sabe-se que é calorosamente estimulada. 2.1.0 Compromisso dos Jovens

Com dezesseis anos de ¡dade, o cidadáo recebe, em rito próprio, a sua carteira de ¡dentidade (em russo dir-se-ia "o seu passaporte", válido

táo-somente para uso dentro das fronteiras do país). Esta cerimánia foi introduzida em 1976, quando os "passaportes" de todos os cidadáos so

viéticos foram sendo progressivamente trocados. 0 rito tem porfinalidade "evidenciar aos jovens e ás jovens a importancia do acesso á plena cidadania; a carteira de ¡dentidade lembra a cada cidadáo soviético a necessidade de respeitar escrupulosamente as leis e as normas da vida soviétca" (Ñachi Prazdniki, Nossas Festas, Moscou 1977, p. 137).

O elemento central e altamente emocionante dessa cerimónia, cujos pormenores sao oscilantes, é o juramento prestado por um jovem em nome de seus colegas:

"Eu, tídadSo da Uniáo das Repúblicas Socialistas Soviéticas, neste tía e nesta hora soteno da minha vida, comprometo-me perante meus pais, meus amigos, meus colegas, meus mestres, diante do meu grande país e de todo o povo soviético, a ser sempre fiel á minha Patria bem-amada, a trazer garbosa e dignamente o título de cidadáo soviético, a cumprir honestamente e até o Sm os meus deveres de tídadSo, a trabalhare a estudar com afínco, colocando todas as minhas torcas e todas as minhas capacidades a servigo do meu Po vo e da minha grande Patria".

E todos os jovens de dezesseis anos exclamam: "Nos o juramos I

Nos o juramos!"

Outros ritos marcam a passagem para a maioridade, a entrada na

classe operaría, o recrutamento para o Exército soviético. Todavia as formas rituais dessas celebracóes ainda nao foram uniformizadas. 23.0 casamento

Existe ñas cidades soviéticas o Palacio dos Casamentos, que fre-

qüentemente é ornamentado com imagens simbólicas: ferraduras de cá valo estilizadas, "sinais de boa so ríe e felicidade", quadros elaborados sobre madeira, á semelhanca dos Icones, que representam o amor, a fa milia e a felicidade.

Os nubentes, ao penetrar nesse Palacio, sao acolhidos pela recep422

OS RITOS SOVIÉTICOS

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cionista, que os leva, em companhia das testemunhas, para salóessepara

dos, onde confirmam sua opgáo matrimonial. A noiva está vestida de branco, e traz na cabega um véu que lembra um coragáü. 0 noivo se acha vestido com temo escuro e gravata. Ao sairem cada qual do respectivo saláo, deparam-se com outra recepcionista, que desee pela escada de honra, cujos degraus sao dourados ("a escada dourada da felicidade"). Em tom de voz levemente enfático, ela convida os nubentes a subir para a sala dos ritos. Entáo sobem todos, enquanto se toca müsica aproprtada. A sala dos ritos é simples. Sobre a parede de fundo, vé-se uma tapecaria com personagens simbólicas, tendo em relevo a Fé, a Esperance e o Amor (em russo, "Vera, Nadiejda e Lioubov", tres santos muito venera

dos pelos russos ortodoxos). Diante dessa tapecaria, vé-se uma especie de altar de pedra, semelhante ao da Casa do Recém-Nascido. A pessoa que preside ¿ cerimónia, de pé atrás do "altar", evoca to da a importancia do rito e pede o consentimento matrimonial dos nu bentes. Tendo-o obtido, ela os declara unidos pelos lagos do casamento.

Assinam entáo, juntamente com as testemunhas, o termo de matrimonio. A seguir, sao levados a um pequeño tapete colocado a frente e á esquerda do "altar"; ali uma funcionaría Ihes oferece solenemente a taca co-

mum, da qual bebem alguns goles de suco. Depois, com uma fita ata o antebrago direito do marido ao da esposa, para "simbolizar a uniáo indissolúvel". A familia e os amigos sao convidados a felicitar os jovens es

posos. A seguir, passam para a sala contigua ornamentada simbólica

mente com uma nave, que serve de lámpada e que representa a familia a enfrentar as aguas tumultuadas da vida. Uma cornucopia, símbolo de fartura, é colocada sobre a mesa. Bebem a saúde do novo casal.

0 ritual de casamento varia segundo as regióes da URSS. Em Rostov-sobre-o-Don, no Sul do país, é influenciado pelas cerimónias da

Igreja Ortodoxa. Essa usa, sim, o tapete sobre o qual se coloca o casal, a taga (que lembra a Eucaristía) e o lago que ata os bragos dos nubentes

entre si. Na Ucrania, porém, a influencia é mais paga. No hall de entrada do Palacio arde o "Fogo Eterno", "símbolo da sucessáo das tradigóes re

volucionarias de luta e de combate do povo soviético". O presidente da cerimónia pronuncia a fórmula seguinte: "Aproximai-vos do Fogo eter no. O Fogo simboliza nossa recordagáo de todos aqueles que sacrificaram a vida pela liberdade e a independencia da nossa Patria soviética, pelos ideáis comunistas, por um céu puro ácima de nos, por nossa felici dade e pela de nosssos filhos. Que ele arda eternamente em vossos cora-

goesl" O nubente acende entáo a tocha que ele há de levar a frente da

procissáo até a sala dos ritos... 423

40

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986 Os discursos também podem diferir. Eis outro espécimen:

"Sob o céu pacifico de nossa Patria bem-amada, o Povo Soviético, guiado peto Partido de Lenin, segué a vía luminosa que leva ao comunismo. Sois filtra e filho de vosso povo heroico, esperanga e futuro desse povo... Ago ra sois também esposa e esposo. Fundáis urna nova familia, perpetuáis vossa Snhagem para o bem do nosso Estado socialista, a imortalidade do Povo so viético e para a vossa felicidade pessoat".

Em Moscou os jovens esposos váo depositar flores no túmulo do

soldado desconhecido, diante do qual arde o Fogo eterno. Sao levados ao muro do Kremlin, onde se encontra o Memorial dos monos da guerra, em grandes vefculos alugados para tal fim, e portadores de dois grandes

anéis de ouro entrelazados. Em Kazakhstan, na Asia Central, foram tam bém integrados no rito soviético elementos tradicionais. 2.4. Os funerais

Há também cerimónias soviéticas fúnebres. Constam de duas par

tes: urna: panikhide (palavra russa que designa o Oficio dos Mortos na I-

greja Ortodoxa) civil, ou seja, discursos em memoria do defunto, e urna procissáo que acompanha o caixáo ao som de música fúnebre. As autori dades tém procurado tornar cada vez mais significativos esses ritos, que regulamentam minuciosamente a música, o caixáo e as covas.

Nem sempre os ritos soviéticos conseguem erradicar dos cidadáos a reminiscencia das cerimónias religiosas. Nao raro os interessados participam daqueles e destas, principalmente quando se trata do casamento.

É evidente que o ritual civil é muito mais pobre de significado do que o religioso.

3. Condusáo

O fato de que o Estado Soviético ateu promove um cerimonial li túrgico para as grandes datas dvis da sua populagáo, bem mostra que o senso religioso continua vivo no povo russo. Este manifesta a necessidade de símbolos místicos; sob capa nao religiosa continua a professar a crenca em valores que so Deus pode oferecer adequadamente: a plena

felicidade, a eternidade, o servico a urna Causa Maior que mereja plena

dedicacáo... É impossível, porém, que um fator nio religioso assuma sa-

tisfatoriamente o lugar da própria Religiio na vida de um povo.

O presente artigo utilizou as páginas escritas por Michel Sollogoub, Professor de Economía em París e Mans, Wce-Presidente da Acáo Crista dos Estudantes Russos, páginas publicadas com o título: Du Berceau au Tombeau. Des rites pour tous les Ages en Unión Soviétique, em L'Actualité Religieuse dans le Monde, n*21, 15/03/85, pp. 6-9. 424

Em voga no Octdente:

0 Zen-Budismo Em síntese: O Zen-Budismo (e o Budismo em geral) é urna forma de monismo ( existe urna só substancia") ou mesmo de ateísmo ("nao há Deus (Ssbnto do homem"}; o que o Budismo apregoa, ó a fíberiagáo do núcleo cen

tral do homem alualmente preso á materia (corporeidade) e chamado a se de

sencamar para se merguihar no Grande Todo ou no Nirvana, onde perderá a

sua tdentídade ou o seu eu pessoal; é esta sorte "postuma" ou suprema que o

Zen oferece ao homem. - Tais idéias sSo depreendidas ■ tío livro Le Zen DémystUié", do Pe. Henry van Staelen. especialista em assuntos reli

giosos orientáis.

Entre as muitas corremos religiosas que do Oriente penetram no Ocidente, está o Zen-Budismo. Este ensina o esvaziamento interior para que o individuo humano se possa merguihar no Grande Todo. Até mes mo fiéis católicos consagrados a Deus por votos religiosos tentam en

contrar no Zen o caminho para a sua auto-realizacáo; sem querer deixar de ser cristSos, procuram valer-se da técnica budista Zen.

A propósito foi publicado em 1985 na Franca o livro "Ivresse ou Abandon de Soi. Le Zen Démystifié", da autoria do Pe. Henry van Staelen S. V. D., que esclarece o assunto com muita eficiencia. - E¡s por que abaixo nos voltaremos para o conteúdo dessa obra. 1. O Autor

O Pe. Henry van Staelen é missionário do Verbo Divino, de nació nalidade holandesa. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Niemega e doutorou-se em Filosofía pela de Cambridge (Inglaterra). Envia do para o Japáo, lecionou durante mais de trinta anos, em Ifngúa japone sa, Filosofía Moderna e Ciencia das Religides Comparadas. Proferiu con ferencias em Universidades do JapSo, da Alemanha, da Franca, da Ho landa, da Bélgica, da Inglaterra, da Rússia e dos Estados Unidos. Publi-

cou numerosos livros filosóficos e teológicos em seis idiomas (holandés, alemSo, inglés, francés, italiano e japonés). Foi nomeado por Paulo VI

"perito" do Concilio do Vaticano II; na base de seus conhecimentos redigíu em japonés (com a colaborado de teólogos europeus e japoneses) um ampio estudo dos documentos do Concilio, publicado em sete volumes. - Atualmente reside em Liverpool, e continua a estudar, escrever e 425

42

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

viajar para dar cursos e retiros espirituais tanto na América como na Asia. Após quase quarenta anos de contato com as religióes orientáis, o Pe. van Staelen publicou "Le Zen Démystifié" (O Zen Desmitificado). No principio da sua carreirá docente e missionária o autor estava certo de que poderia realizar fácil conúbio entre Cristianismo e Budismo (foi esta, alias, também a suposicáo de Thomas Merton, 1968, que nos últimos anos de sua vida se dedicou intensamente ao estudo da mística da India). Em 1982, porém, o Pe. van Staelen publicou "Ouverture á l'autre. Laquelle?", obra em que mostrava ter evoluído para conclusóes diferentes das de sua juventude. O seu pensamento aparece plenamente amadurecido no livro que ora estamos para apresentar.

2. A tese do livro 1. A palavra Zen é a forma japonesa do vocábulo chinés Ch'an, o qual por sua vez é transposicáo abreviada e ¡mperfeita do sánscrito Dhyana, que significa concentracáo espiritual, meditagao, transe, éxtase.

Dhyana é urna das palavras-chave do Budismo da india. Este, através da

China, foi levado para o Japáo, onde tomou modalidades especiáis sem perder a sua característica fundamental de sistema de meditacio. O Zen se transferiu posteriormente para o Ocidente, sendo a forma de Budismo mais difundida entre nos. Para concentrar-se, o adepto do Zen levanta-se entre tres e quatro horas da madrugada; vai para a sala de meditacáo, onde ele se senta sobre urna esteira de patha, de busto reto, e com o queixo para dentro, de modo que a ponta do nariz fique perpendicularmente ácima do umbigo. O budista fica assim diante de urna parede; res pira varias vezes profundamente; depois retém a respiracáo e vai deixando escapar o ar aos poucos. - Deve abster-se de pensar no que seja ou, melhor, deve refletir sobre o nada (Mu em japonés). Tende assim a iluminacáo interior (sartori); esta implica que o seu sujeito venha a identificar-se com o fundamento original de todo ser (a grande realidade básica, divina, indescritlvel, da qual todos os seres visfveis sao facetas apoucadas ou amesquinhadas); este estado final significa também a perda total da própria personalidade ou individualidade. Essa iluminacáo.'como se vé, nao é o encontró de alguém com alguém, mas, ao contrario, é a destruicáo de todo eu pessoal. Os pormenores de tal estado sao diversamente descritos pelos diversos autores budistas, e ás vezes em termos obscuros ou pouco compreenstveis. 2. Esta breve apresentacáo do Zen (e do amago da meditacáo bu dista) é suficiente para evidenciar que nao se pode combinar com a dou-

trina e os métodos de ora?áo do Cristianismo. Com efeito: 1) o cristáo, através da sua fé e da sua meditacáo, procura entrar em contato cada vez mais Intimo com um Deus pessoal ou com as tres

426

O ZEN-BUDISMO

43

Pessoas da SS. Trindade: "Vamos ao Pa¡ pelo Filho no Espirito Santo" (cf. Ef 2,18). O cristáo só pode aceitar o Nada como etapa previa para um

pleno encontró com Deus; é o Nada em relacáo aos afetos desregrados e a tudo que possa ser entrave para a descoberta de Deus (é neste sentido que se há de entender o Nada apregoado por S. Joáo da Cruz). A propó sito o Pe. Van Staelen cita Sta. Teresa: "Nunca nos será licito tentar eli minar a inteligencia, parausar nossa atividade intelectual por meio de técnicas, para esperarmos vazios e ociosos interiormente a ¡luminacáo" (p.28;cf.p.59).

2) A Mística crista leva ao amor, pois sabe que Deus é amor (1Jo 4,19) e espera do homem urna resposta de amor. Este pode exigir renun cia da criatura a si mesma, em vista de um reencontró em Deus. Ora o Zen nao conhece "Deus-Amor" nem pede do homem o amor a Deus, pois nao conhece um Deus distinto do homem, como se verá adiante.

3) O Zen nao impée preceitos moráis ou urna Ética correspondente.

Apregoa a placidez, o autodominio e a impassibilidade, que parecem pairar ácima da distincáo entre o bem e o mal. 4) O Cristianismo conhece a graca de Deus, que socorre a fraqueza

humana e ajuda a criatura a se purificar do pecado para se abrir ao

Absoluto ou ao Senhor. Ora os conceitos de graca e Redencáo oferecidas por Deus 30 homem sao totalmente- alheios ao Budismo; este incita o

homem a exerclcios físicos e mentáis muito exigentes, que a criatura deve desempenhar por si; os mestres budistas sabem punir corporalmente, e com veeméncia, os discípulos para que estes se esforcem na prática da meditacio. Eis dois depoimentos tirados do livro em pauta:

"Na sala de meditacáo, um monge circula, munido de um bastió, com o qual corrige eventuais atas ou posturas de oracSo deficientes. E, se atguém for vencido pelo sonó, receberé censuras e insultos... O discípulo deve perió dicamente ir procurar o mestre para ser orientado por ele... Deve expandirse, fundirse no mestre... E, para tanto, deve sentarse diante dele, para poder ocaskmalmente receber um golpe. Até mesmo esta 'amabilidade' parece dever contribuir para facilitara iluminacáo desosada" (p. 38). "Quando trinta ou quarenta homens e mulheres gritam perdidamente, de propósito, todos ao mesmo lempo, sem ordem nem harmonía, o Mu, o obser vador pode acreditar que se acha num antro de leóes. Os exercitantes o fazem muitas vezes com urna violencia e urna continuidade tais que o corpo inteiro estremece e que, mesmo na temporada fría, o suor corre pelas costas. Numa palavra, temse um caos infernal. Entrementes os monges vigilantes vSo e vém entre as ñleiras desses leñes que rugem, trazando ñas máos o bastió ameagador para excitá-los mais aínda" (p. 71, transcrito do livro de

Lassalle, Le Bouddhisme Zen, p. 28, ed. alema). 427

44

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

5) Em slntese, o Zen é bem caracterizado por Mestre Suzuki, que muito o difundiu no Ocidente e que claramente confessa: "O Zen nao é unía religiáo no sentido ordinario da palavra. Pois o Zen nao reconhece um Deus que tenha dirato á nossa adoragáo. N&o conhece morada no além ou um destino para os defuntos. E principalmente: o Zen nao admite alma, cuja sorte postuma e imortalidade suscitam para muitos um tre mendo problema. O Zen está totalmente livre desses obstáculos religiosos e dogmáticos. O homem só se toma llvre se rejeita a terrível obrigagáo de conseguir a sua redengáo e sua salvagáo. O Zen mostra claramente a (utilidade de toda crenca num Deus pessoal. Apesar de tudo, ele traz a mensagem uni versal da libertagáo em todo lempo, em todo lugar e para todo homem" (Transcrito da p. 108 do tivro em pauta).

Esta decíarafio nao deixa dúvidas sobre a incompatibilidade de Budismo e Cristianismo. Aquele é urna forma de monismo ("Existe urna só substancia") ou mesmo de ateísmo ("nao há Deus distinto do ho mem"); o que o Budismo apregoa, é a libertacao do núcleo central do homem atualmente preso á materia (corporeidade) e chamado a se descencarnar para se perder (perder sua identidade) no Grande Todo ou no

Nirvana; é esta a sorte "postuma" ou suprema que o Zen oferece ao ho mem. Ao contrario, o Cristianismo eré num só Oeus, que por amor criou o homem e o chama ao consorcio de sua vida; o amor de Deus se manifesta especialmente no misterio da EncarnacSo, mediante o qual Deus redime o homem do pecado e Ihe abre o acesso á vida eterna perdida pela recusa do homem ao Criador. Existe urna Providencia Paterna que, com a sua graca, ajuda o homem a firmar seus passos no caminho do bem e da vida.

Verdade é que muitos cristáos procuram aprender do Zen ao me nos os exerclcios respiratorios e físicos, que propiciam a concentracáo interior, sem que tenham a intencáo de aderir a filosofía budista. - Ob

serva o Pe. van Staelen:

"Nao se pode reduzir a Yoga, o Zen e, menos aínda, a Meditacéo Transcendental a simples técnicas de relaxamento. Mesmo se no nivel psico lógico, nervoso e fisiológico se verifica urna certa eficacia, feto se dá, na mato-

na dos casos, ao prego de graves btoqueios espirituais" (p. 58).

Registramos esta observacáo sem a comentar. Há autores cristáos que ensinam como aproveitar a técnica corporal dos orientáis em clima puramente cristao; entre outros, Yves Monchanin em "loga para Cris táos". E fato, porém, que muitos cristáos, ao se exercitarem nessa técni ca, mais e mais se deixam absorver pela mentalidade monista, panteísta á qual está ligada em suas ralzes.

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Notas 1. O ZELO MISSIONÁRIO Há quem julgue que nao há necessidade de esforco missionário para transmitir a fé católica a todos os homens. Pregar o Evangelho seria desrespeitar a crenca ou a cultura dos irmáos; bastaría, pois, que os mi sionarios católicos se interessassem por promover as popula?oes carentes levando-lhes instruyo, normas de higiene, profissionalizacjio... sem to

car em assuntos de fé.

O problema foi abordado por um grande arcebispo, Mons. Duval, de Rouen (Franca), por ocasiáo de Pentecostés pp. (18/05/86), quando em sua homilia disse:

"Lembramo-nos hoje dos primordios da tgreja ou do dia em que, impeli dos pelo Espirito, os primeíros Apóstalos comegaram a anunciar a Boa-Nova de Cristo morto e ressuscitado. Lembramo-nos também de todos aqueles que,

vivificados pelo Espirito Santo, nos últimos vinte secutas levaram a serio o

apelo de Cristo: 'Ide, enslnaia todas as nagóes' (Mt 28,19).

A evangetizac&o do mundo está longo de se ter encerrado. O Espirito Santo nos 6 dado também a nos para que possamos continuar a anunciar a Boa-Nova de Cristo...

Todavía varias vezes no deconer destas últimas semanas encontrei cristSos quejutgam que a fase de evangetizagáo está terminada. Os homens se distribuem geralmente por diversas religióes. Por que náq respeitar este estado de lata? Todas as religióes nSo contém urna parte de verdade? Procu remos, pois, entender-nos entre crentes e haverá um bom progresso...

Contudo o respeito, o diálogo, a oragSo em comum nao extinguem as

diferencas entre as religióes que, para ser breve, eu poderia caracterizar do seguinte modo.

Os homens procuram respostas para as suas grandes interrogagóes a

respeito do que sSo, do que viráo a ser, e de Deus. As grandes religióes nao 429

KGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

" '

ujjfciifl aflcí n axfJessáo dessa procura da parte do homem. A té crista, porém, tem sua fonte na Revelagáo de Deus por Jesús Cristo. A té crista repou-

sa sobre a RevelagSo de Deus, ao passo que as outras religióes sao a expressSo de urna procura de Deus da parte do homem Esta diferenga faz que

o diálogo respeitoso nao possa suprimir o esforgo que temos de fazer para manifestar a outros a Boa-Nova revelada em Jesús Cristo e por Jesús Cristo.

Outros homens, menos favorecidos do que nos, tém o dimito, e/es também, de conhecer a riqueza do misterio de Cristo, na qual eremos que toda a humanidade pode encontrar, complenitude inimaginável, tudo o que ela procu ra, tafeando, a respeito de Deus, do homem e do seu destino, da vida, da morte e da verdade fEvangetü Nuntiandi ns 53). Dialogar é escutar os ou

tros, mas é também chegar ao ponto de professar a totaüdade da nossa fé ou, antes, a totatidade da RevelagSo de Cristo que fundamenta a nossa fé.

Evangelizar nao 6 impor a fé aos outros; é oferecera outros a oportuni-

dade de conhecer nao nossas pesquisas, mas a RevelagSo que Deus nos entregou, para que ela possa servir a todos os homens. Evangelizar é talar

a respeito de Deus a todos os que procuram a Deus" (Botetim Diocesano Rouen-Le Havre n* 11,30/05/1986).

A propósito observamos:.

1) A Igreja é essencialmente missionária, de acordó com as palavras do Senhor Jesús: "Ide, ensinai a todos os povos... batizando-os em nome do Pa¡, do Filho e do Espirito Santo" (cf. Mt 28,18-20)..., palavras que os Apostólos comecaram a por em prática desde o dia de Pentecostés (cf.At2).

2) Evangelizar é um ato de amor ao próximo. Significa entregar-lhe o Pió da Palavra e da Vida, que é o mais necessário e precioso de todos

os bens, pois os seus efeitos ultrapassam os limites da vida terrestre. Sem saber por que e para que vive, o homem, mesmo bem aquinhoado no

plano material, cai no tédjo, e nao raro póe termo á sua existencia insípi

da.

3) Entre as denominares cristas, que tiveram a graca de receber a Revelacáo de Deus em Jesús Cristo, só aquela que remonta sem inter-

rupeáo e sem recomeco até Jesús Cristo e os Apostólos chefiados por

Pedro está credenciada para propor ao mundo a auténtica Palavra de

Oeus.

4) A própria realidade da sociedade contemporánea, vltima da vio lencia, do desatino e de atitudes irracionais, é um renovado apelo ao zelo missionário dos fiéis católicos. Na falta de quem Ihes anuncie a Boa Nova 430

INSTITUIgÁO E CARISMA

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de maneira vivaz e profunda, os homens de nossos dias -se deixem tevar por mensagens emotivas, que significam a abdicacjo da razáo e do bom senso em favor de um misticismo cegó e nocivo a pessoa humana. Para

nao nos alongarmos, citamos urna entre outras manchetes de nossos

¡ornáis: "Seita é acusada em Sao Paulo de surrar e torturar criancas" (Jornal do Brasil, 3/7/86, 1?cademo, p. 16); as mais famintas.de tais criancas eram obrigadas a comer até a exaustáo e engolir o próprio vó mito; eram consideradas como levianas, tendo parte com Satanás e seu reino de trevas angustiantes!

2. INSTITUICAO E CARISMA

Existem, em nossos dias, dentro da Igreja iniciativas e movimentos novos que parecem suscitados pelo Espirito Santo. Podem ser carismas ou dons especiáis. O Concilio do Vaticano II reconheceu o valor de tais dons, quando auténticos; lembrou, porém, que por vezes sao ilusorios: a fantasía e a vontade própria de um cristao podem, consciente ou incons

cientemente, acobertar-se com o título de "carisma do Espirito". É preci

so, pois, que haja discernimento entre genulnos e falsos carismas. 0 mesmo Concilio atribuí á autoridade-oficial da Igreja tal funcao de discer nimento:

"Os carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratídáo e consolagáo, pois sao perfei-

lamente adaptados e úteis ás necessidades da Igreja. Os dons extraordina

rios, todavía, nao devem ser temerariamente pedidos, nem deles devem presungosamente ser esperados frutos de obras apostólicas. O jubo sobre sua autentícidade e seu ordenado exercfcio compete aos que govemam a Igreja. A eles em especial cabe nao extinguir o Espirito, mas provar todas as coisas e (¡car com o que é bom" (Const. Lumen Gentium n? 12).

A sabedoria desta norma é comprovada por trechos .da autobiogra fía de S. Margarida Maria Alacoque, (t 1630). Esta foi agraciada por aparicóes do Sagrado Corac§o de Jesús, que I he pediu trabalhasse pela re

novado da piedade católica, incutindo o amor de Deus muito esquecido

pelos jansenistas da época. Tal Santa, como geralmente os videntes, encontrou resistencia da parte das autoridades eclesiásticas, que tém o de-

ver de ser prudentes e nao dar fácil crédito ao extraordinario (como ensina o Doutor Místico Sao Joáo da Cruz}; os Superiores pediam á Ir. Mar garida Maria que se ativesse fielmente as normas da Regra de sua Congregacao Religiosa. Ora a Santa refere as seguintes palavras de Jesús, que deveriam servir-Ihe de or¡entac.ao: 431

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 292/1986

"Tem consciénda de que, de modo nenhum, me sinto ofendido por to das essas lutas e oposigóes que me fazes por causa da obediencia..., obe diencia pela qual dei a minha vida. Mas quero que saibas que sou o Senhor Absoluto dos meus dons e das minhas criaturas, e ninguém me poderá impe dir de realizar os meus designios. Portanto, nao somente quero que fagas aquilo que as Superioras te diráo... Mas quero que nao creías fácilmente em qualquer revelagáo e nao te confíes prontamente, pois Satanás range os dentes e arde para te engañar. Por feto nada fagas sem a aprovagáode quem te

orienta, a fím de que, tendo contigo a autoridade da obediencia, ele nao te

possa iludir; na verdade, ele nao tem poder sobre quem obedece" ^Autobio grafía. n*47e 57; Vita e Opere di S. M.M. Alacoque, Roma 1985, pp. 46. 55).

Em outra passagem dizia Jesús:

"Por mais poderoso que eu se/a, nada quero que fagas sem a licenca

da Superiora..."(ib. mm. Frammenti rf3; ib. p. 172).

A linguagem é própria do século XVII; recorre a matizes que hoje em día nao seriam enfatizados. Mas a mensagem faz eco ás normas clássicas, já formuladas por S. Inácio de Antioquia (f 110): "Nada sem o Bispo (Nil sirte Episcopo)". As divisóes dentro da Igreja sao algo que ofende profundamente o Senhor Jesús. Em sua última oracáo, Ele pediu que to dos os seus discípulos fossem um, perfeitos na unidade {cf. Jo17.21.23). Por isto todo "carisma" que leve a cisóes com a hierarquia da Icireja, é suspeito de inautenticidade ou de inspiracio espuria. Os discípulos de Cristo sejam pacientes uns com os outros, e caminhem juntos, carregando mutuamente os seus fardos (cf. Gl 6,2)

Estéváo Bettencourt. O.SJB.

Despacho de Macumba contra um Casal Feliz, por Pe. Edvino Au gusto Friderichs S. J. - Ed. Loyola, SSo Paulo 1985, 138x208 mm, 77pp. Sob forma de novela, o Pe. Friderichs S.J., famoso parapsicótogo, enca ra os fenómenos do Espiritismo e da Umbanda, que tanto impressionam o público, propondo a expticagSo científica dos mesmos. A leitura se toma muito agradável em virtude da forma literaria de romance, e oferece sempre a sá qputrina a respeito da "eficacia" dos despachos, da evocagSo dos exus e orixás, da torca da mente como também a propósito da reencamagSo... O autor está de parabéns!

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O MOSTEIRO DE SAO BENTO

Grande Álbum, em estojo: formato 36,5 x 28 Obra de arte, com

texto em portugués e inglés por Dom Marcos Barbosa. O.S.B.

Dezoito fotografías artísticas (preto-branco) por Hugo Leal, o

mesmo que fotografou Ouro Preto e Salvador - Bahia.

Como nem todos podem vir ao Rio de Janeiro ou penetrar na clausura, poderao contudo admirar a beleza arquitetónica desse monumento colonial do inicio do século XVII.

Edicáo "Lumen Christi - CzS 400,00

EDIQOES

"LUMEN

CHRISTI"

MOSTEIRO DE SAO BENTO Rúa Dom Gerardo 40, — 5° andar — Sala 501 Caixa Postal 2666 — Tel.: (021) 291-7122 20001 — Rio de Janeiro — RJ

NOVIDADE SOBRE HISTORIA DA IGREJA NO BRASIL D. Jerónimo de Lemos O.S.B., monge do Mosteiro de Sao Bento,

dedicado estudioso da historia da Igreja, nao so do Rio de Janeiro, mas do Brasil. Após minuciosa e longa pesquisa nos arquivos do Río e da Arquidiocese, bem como da Biblioteca Nacional, projeta urna nova luz ¡nteramente inédita e justa, sobre a pessoa do insigne Bispo do Rio de Ja neiro, Dom Pedro María de Lacerda, que desempenhou papel altamente

relevante na chamada Questáo Religiosa. O autor faz também o primeiro levantamento histórico sobre o Pa dre Almeida Martins: prova que o mesmo sacerdote se retratou e abjurou

a seita macónica; pesquisa todo o longo período que vai de 1869 (e está mesmo antes) e até além de 1890; refere-se ainda aos dois sucessores de

Dom Lacerda, D. Joáo Esberard e O. José Pereira da Silva Barros; sempre que possivel aborda também a atuafáo dos monges Beneditinos e questóes atinentes aos mesmos.

Já terminada a obra, está sendo revisada e preparada para a ¡mpressáo.

DIÁLOGO ECUMÉNICO: Temas controvertidos, por D. Estéváo Betten-

court O.S.B. 2- edigáo, com dois novos capítulos: "A Santissima

Trindade: fórmula paga?", "Seita e espirito sectario".

RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA (23 edigáo), por D. Cirilo Folch Gomes Q.S.B. - Continua sendo muito procurado este "manual" de

Teología que estuda de maneira completa e extensa todo o conteúdo do "Credo do povo de Deus". O autor, falecido a 2/12/1983, dedicou sua vida de estudos ao aprofundamento das mais variadas questóes teológicas. 690 páginas Cr$ 73,80.

ATENDE-SE PELO REEMBOLSO POSTAL

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