Ano Xxix - No. 315 - Agosto De 1988

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Projeto PERGUNTE

E RESPONDEREMOS ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO

DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15). Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanca e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questoes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortaieca no Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual

conteúdo da revista teológico filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo. A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

SUMARIO Mae de Deus, Máe dos Homens

"Antropología do Prazer" Vida Crista e Penitencia

"Em nome do Diabo" As Frustracdes do Aborto José Moscati, o Médico Santo Notas

ANO XXIX

AGOSTO

1988

315

PERGUNTE E RESPONDEREMOS

AGOSTO - 1988

Pubjicapao mensal

N9315

SUMARIO

Oiretor-Responsável: Estéváo Bettencourt OSB

Autor e Redator de toda a materia publicada nesie periódico

Diretor-Administrador: 0. Hildebrando P. Martins OSB

Administracáo e distribuicáo: Edicóes Lumen Christi Oom Gerardo, 40 - 5" andar S/501 Tel.: (021)291-7122

Caixa Postal 2666 20001 - Pió de Janeiro - RJ

Máe de Deus, Má"e dos Homens

337

Em foco:

"Antropología do Prazer"

338

Prazer ou Perfeicao? Vida Crista e Penitencia

353

Tese-antítese: "Em Nome do Diabo"

361

Fala a experiencia: As Frustra poes do Aborto

367

Um Santo leigo em nosso século:

José Moscati, o Médico Santo

377

Notas

383

"MARQUES-SARAJVA" aúneos e cdijorcs s*

iSSINATURA: Cz$ 2.000,00 i partir de 15 de agosto)

úmero avulso: Cz$ 200,00 agamento {¿ escolha).

NO PRÓXIMO NÚMERO: 316 -Setembro- 1988 Deus Existe? - A Religiao na URSS. - O ca so Lefebvre. - A "Biblia de Jerusalém": Sim

. VALE

POSTAL

a Agencia Central dus

Correios do Rio de Janeiro.

ou Nao? - "Como se faz um Padre Celibatário" (G. de Moura)

I. CHEQUE BANCÁRIO 1. No Banco do Brasil, pata crédito na Cun

ta Corrente n?0031. 304 1 em nome do MosteirodeS. Bentodo Rio de Janeiro, pa-

gável na Agencia da Praca Mauá (n°0435).

COM APROVAQÁO ECLESIÁSTICA

RENOVÉ QUANTO ANTES

COMUNIQUE NOS OUALOUER

A SUA ASSINATURA

MUDANCA DE ENDE.RECO

¡-V»' A

Máe de Deus, Máe dos Homéñs O mes de agosto, no calendario católico, é marcado pela Assuncao de Mari a, que encerra o Ano Mariano.

A Assuncao é o desfecho da vida terrestre daquela que foi a Máe por excelencia. Já as primeiras páginas da Biblia falam de urna mulher, chama

da Eva, ou seja, Máe da Vida (cf. Gn 3,20}. Esta teria urna descendencia (ou, melhor, segundo o hebraico, um descendente) que esmagaria a cabeca da

Serpente (cf. Gn 3,15). Assim o papel de Eva se tornou pleno em Maria, a nova Eva, cujo Filho, Jesús Cristo, esmagou o Maligno. No Evangelho, Jesús duas vezes chama sua Máe "Mulher" (cf. Jo 2,3; 19,26). Este apelativo, estranho á primeira vista, é altamente honroso para Maria; há de ser entendido como alusáo ao texto de Gn 3,15, que menciona

a Mulher,... a Mulher que daria á luz o Vencedor da Serpente. Maria assim é apresentada por Jesús como a Mulher por excelencia,... dignificada pela sua típica funcao de Mae. Jesús quis ainda estender a Matemidade de Maria a todos os homens...

Sim; pendente da Cruz, disse a Maria, aludindo a Joáo: "Mulher, eis o teu fi lho" e a Joao: "Eis a tua Mae" (Jo 19,25-27). Por fim, no último livro da Biblia, ou seja, no Apocalipse, capítulo 12, retorna a imagem da Mulher-Máe, fazendo eco ao Génesis. Com efeito; apa rece urna Mulher misteriosa: é revestida de luz, mas ao mesmo tempo sofre

as dores do parto; finalmente dá á luz um Filho, que é evidentemente o Messias; este vence a sanha do Dragao e é arrebatado aos céus. A Mulher as sim descrita é a Filha de Sion (cf. Sf 3,14; Zc 2,14); é a Mulher do Génesis, que se torna plena em Maria, a Mae do Salvador. Enquanto este entra triun

fante na gloria do céu, a Muiher-Mae permanece na térra, perseguida pelo Maligno e defendida por Deus; ela tem outros filhos, que o Dragao quer arre batar para o Mal. Bem se vé ai a Maternidade de Maria a se prolongar na San ta Máe Igreja; os filhos da Igreja sao filhos de Maria, que assim continua a exercer a sua Maternidade até o fim dos sáculos.

Este breve percurso bíblico mostra como está gravada no Livro Santo a figura da Muiher-Mae,... Máe da Vida; sim, a primeira Eva já é esboco da segunda Eva, Maria SS., a Máe da Vida por excelencia, que apareceu na plenitude dos tempos e consuma a sua missao através da Maternidade da Igreja.

É por isto que na piedade católica nao pode faltar o amor á Mae da Vida, Máe que, compreensiva, intercede pelos filhos quando Ihes falta vinho ou quando Ihes faltam os subsidios para chegarem a plenitude da Vida!

"Á vossa protecao recorremos, Santa Mae de Deus..." E.B.

337

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XXIX -- N? 315 - Agosto de 1988

Em foco:

"Antropología do Prazer" por Hubert Lepargneur

Em síntese: O Pe. Lepargneur percorre algumas escolas que se manifestaram sobre o sentido do prazer, desde a antigüidade até os nossos dias. Detém-se tongamente sobre o pensamento católico, que ele critica por ter sido, durante séculos, pessimista em relacao ao prazer (conforme Lepargneur}. Concluí insinuando que a doutrina da Igreja e a estima do prazer se vio aproximando mutuamente nos últimos tempos. Contudo o livro é, por vezes, obscuro; nao apresenta urna tese claramente definida. Na verdade, a Igreja distingue entre o prazer sensi'vel lou mesmo sen sual) e o prazer espiritual. Este é parte integrante da formaqao de urna perso-

nalidade e da vocacao que o Criador deu a todo ser humano; este foi feito

para a vida (cf. Sb 2,23s). — Quanto ao prazer sensível, nao é mau, desde que subordinado a urna finalidade ulterior; o prazer pelo prazer redunda em hedonismo total, que nunca satisfaz ao homem e, deixando-o insaciado, pode suscitar o uso de drogas (fuga da realidade) e a conseqüente criminalidade.- O homem há de se reger nao pelo "principio do prazer", mas pelo da auto-realizacao ou perfeicao, que incluí necessariamente certas renuncias e privacoes, indispenséveis para que a pessoa cresca harmoniosamente e des cubra cada vez mais a verdadeira alegría.

Após escrever a "Antropología do Sofrimento" (cf. PR 289/1986, pp.

252-261), o Pe. Hubert Lepargneur escreveu a "Antropología do Prazer",1 1 Ed. Papirus, Campiñas 1985, 135 x 210 mm, 185 pp. 338

"ANTROPOLOGÍA DO PRAZER'

livro que suscita problemas, deixando o leitor sujeito a interrogacóes. Na verdade, o assunto está muito em foco na filosofía contemporánea, especial mente por causa da "revolucáo sexual", que i rrom peu nos últimos decenios. Sis a razáo pela qual abordaremos o conteúdo do livro e Ihe teceremos alguns comentarios.

1. Linhas principáis do livro 1.1. Que diz o autor?

0 Pe. Lepargneur apresenta a posicao de varios pensadores e escolas

em relagáo ao prazer e ao desejo (desejo que se deve entender como "dtsejo sensi'vel" ou "da sensibilidade" no contexto do livro}: os estoicos, os antigos escritores da Igreja, a teología medieval, Lutero e os reformadores do sáculo XVI, a Psicanálise moderna, o Estruturalismo de Michel Foucault... saopas-

sados em revista. É enfatizada, de modo especial, a severidade com que os mestres cristaos dos primeiros sáculos consideraran^ o uso da genitalidade

mesmo entre cónjuges. Á p. 27 Lepargneur propoe evolucao das idéias no

campo católico:

"Simplificando muito, vamos distinguir tres fases: urna primeira domi nada pelo pessimismo e a grande figura de Santo Agostinho; urna segunda, que principia com a voz mais otimista de Sao Tomás de Aquino, mas que nunca se impós completamente neste particular, na prútica eclesial, a que

vira mais nítidamente ao pessimismo entre o sáculo XIV (Guilherme de Occam) e o II Concilio do Vaticano (década de 1960); a fase atual, a partir dos meados do sáculo XX, caracterizase pela contestacao, a indecisao, os conflitos de consciéncia e de coswmes, as releituras, os cortes epistemológi cos, isto é, nos motiva a rever de perto os problemas" (pp. 27s). Para apoiar suas afirmacoes, H. Lepargneur se refere a livros de histo

ria ou a autores "de segunda mao", nem sempre católicos, que ele cita com certa freqüéncia como pontos de apoio de seus dizeres: M.-O. Métral (p. 27), Georges Duby (pp. 27ss), J. Nooman (pp.34-36), L. Flandrin (p.37), Jacques Doyon (p. 33), J.-M. Pohier (p. 115, autor cujas posicoes liberáis foram censuradas pelo magisterio da Igreja), G. W. Forell (p. 117, protestan te). Melhor teria sido que Lepargneur recorresse menos aos julgamentos pro feridos por tais autores, nao raro unilateral; pode ría ter sido mais indepen den te no seu modo de analisar o passado. Leva em conta muito mais os traeos negativos do que os positivos de maneira um tanto preconcebida;

nem parece interessado em entender os antigos dentro do seu respectivo contexto.

339

4

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988 Quem acaba de ler o livro em foco, nao percebe claramente o que o

autor quer dizer ou qual a tese final da sua obra: certamente mostra nao

seguir a orientapao de S. Gregorio de Nissa (T394), S. Agostinho (t430), S.

Cesário de Arles (t542), S. Gregorio Magno (t604). Mas também nao mani-

festa a sua posicáo diante da questao: o prazer, como prazer, é lícito ao cristao?... ao ser humano digno e honesto? — 0 leitor se vé interpelado por grande número de sentenpas de filósofos, teólogos, psicólogos (nem sempre expostas com clareza; ver pp. 38,40); encontra também criticas á doutrina

católica e a outras escolas..., mas em vao procuraría saber para onde caminha o pensamento do autor. Eis os parágrafos fináis do livro: "Por enquanto, seguimos o conselho que deu, há mais de um decenio, o psicanalista Jean Bergeret, já que concordamos sobre a relevancia atual de suas observacoes: 'Seria desejável que a psiquiatría, a filosofía e a teología ¡n-

terrogassem aínda mais a psicanálise com vistas a esclarecer, no quadro de cada indivídualidade, urna melhor elaboracao estruturante do prazer, sem impor, através de interditos ou idéias tao rígidos quanto infundados, regras

ou códigos éticos demais rígidos e irrealistas. Sendo essencialmente variaveis os graus de maturacao..., os modelos éticos só podem se conceber como tao específicamente personalizados quanto os modelos hedónicos'. E aínda esta assertiva final do mesmo artigo de J. Bergeret: 'Que caminho sobra para os teólogos percorrerem, nao apenas ñas re/acóes de troca de informacoes com os outros pesquisadores, mas sobretudo no interior deles mesmos, para tentar ¡r aínda mais longe?'

Prazer, fim ou combusti'vel do desejo? Esta e outras perguntas, nunca totalmente respondidas, nao significam para nos qualquer ¡ndevida relativizaqao da moral. Duas imagens, para finalizar. 'Gosto muito de Yacatan, o país dos Mayas: ai vivi tres días de felicidade, ñas chopas dos camponeses, os únicos tres dias de felicidade de minha vida.' Quem fez esta recente decíaracao? O maior romancista contemporáneo da Italia. Sic transit gloria mundi. 'Sobre a tela de Molenaer de Haarlem (comeco do sáculo XVIII), vé-se urna jovem senhora sendo perneada por urna velha servidora diante dum garoto que brinca: o pé da senhora repousa sobre urna caveíra, o garoto faz borbu-

Ihas de sabio'.' 'E ninguém vos tirará a vossa alegría' (Jo 16,22)" (pp. 184s). 1.2. A Igreja no livro No tocante á Igreja Católica, o autor nem sempre é fiel e reverente porta-voz: julga que, "como a URSS, a Igreja romana é urna gerontocracia

1 Em nota o autor observa que a citacao é de André Chastel em Le Monde,

21/11/1984, e acrescenta: "Tratase evidentemente da 'Senhora Mundo', ale goría da Vaidade Universal. O prazer-vaidade nem dura tanto quanto esta tela holandesa, o tempo duma borbulha de sabSo." 340

•antropología do prazer"

¡nevitavelmente conservadora" (p. 42). Estes dizeres comparam indevidamente Igreja (Corpo de Cristo Místico) e URSS (Estado ateu e materialista); além do qué. pecam por insinuar que a fidelidade ao passado é própria dos velhos, ao passo que a juventude seria típicamente ¡novadora. Ora a Igreja, ao professar o seu Credo, nao se pode reger por criterios meramente huma

nos ou pela evolupáo de culturas e mentalidades; ela tem que ser o eco vivo da Palavra de Deus, que por vezes "é loucura e escándalo" (1Cor 1,23). Á p. 42 aínda, o autor escreve: "De 1909 a 1940 o Tribunal da Rota anulou 40 casamentos por exclusao do bem da prole". - Ora um erudito pensador como'H. Lepargneur bem sabe que a Igreja nao anula (nao torna nulo o casamento válido), mas declara nulos os casamentos que sempre foram nulos, mas paree i am válidos no foro externo.

Á p. 75, Lepargneur apresenta urna versao da doutrina do pecado original que é caricatura, apoíando-se para tanto nos escritos de J.-M. Pohíer. — É de crer que Lepargneur, como amigo professor de Teología, tenha consciéncía de que a versao assim apresentada e criticada nao correspon

de ao que a Igreja ensína.2 2 Eis o que se lé ás pp. 75s do livro em foco: "Na opiniao do Pe. Pohier... acreditar que o homem é ¡mortal por natureza, que ele se tornou mortal em decorréncia duma culpa que Ihe feria merecido a retracto do privilegio da imortalidade, por parte daquele que ¡he

teña outorgado... Acreditar que o homem pode recuperar este privilegio com a condicao de morrer para si mesmo e aniquilarse na obediencia..., eis que se parece... com os votos mais típicos da fase crítica do complexo de

Édipo " (os grifos sao nossos). Este texto merece reparos:

1) Natureza... privilegio... Se o homem era ¡mortal por natureza, ele nao o era por privilegio. Na terminología usada pelo autor, há, portanto,

urna contradicao:privilegio é o que vem acrescentado a natureza.

2) Na verdade, o homem tem urna alma ¡mortal por sua própria natu reza (pois é espiritual). Mas o homem nao é só alma; é também corpo unido a alma; este composto tende a se decompor pelo desgaste dos órgaos cor póreos. Ora rio estado original Deus concedeu ao homem (como composto de corpo e alma) o privilegio de nao se decompor ou nao morrer (cf. Gn 2,17; 3,19). Este privilegio foi perdido pelo pecado dos prime/ros país (cf. Rm 5,12-17). Pois bem: Cristo nao nos redlmiu da mortalidade do homem

ou do composto (mortalidade do homem que nao impede a ¡mortalidade da alma), mas prometeu-nos a ressurreicao após a morte, á semelhanca do que aconteceu com o próprio Jesús. — Nisto nio há resquicio do complexo de

Édipo. 341

6

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988 Além do mais, o autor se refere freqüentemente a "Igreja romana",

teminologia esta pouco usual na bibliografía católica e costumeira em livros de nao-católicos; cf. pp. 112.115.117.179... A única Igreja fundada por Cristo (cf. Mt 16,16-19; Jo 21,15-17) é católica (= universal), apostólica (= fundada sobre e por Cristo, mediante os Apostólos) e romana, porque Pe

dro, o chefe dos Apostólos e seus sucessores tiveram e tém sede em Roma. O livro de Lepargneur, assim sumariamente apresentado, sugere

2. Reflexoes Á guisa de comentarios da obra, proporemos quatro pontos: 2.1. Prazer sensível e prazer espiritual

Para dissertar com clareza sobre o tema "prazer", é indispensável dis tinguir "prazer sensi'vel" e "prazer espiritual".

Prazer sensível é o que toca á sensibilidade, aos sentidos externos e in ternos do ser humano, podendo tornarse sensual (erótico, lúbrico, lascivo). Prazer espiritual é o que tem sede no plano espiritual; é motivado por valo res espirituais ou transcendentais (Deus, a uniao com Deus, a perspectiva da bem-aventuranpa definitiva, etc.). 2.1.1. Prazer espiritual O prazer ou gozo espiritual paira no horizonte dos fiéis como grande dom de Deus, Pode-se dizer que todo homem foi feito e chamado para usu-

fruir de tal prazer. Assim diz o Senhor no Evangelho ao servo fiel: "Entra na alegria do teu Senhor" (Mt 25,12-23). O Apocalipse, em seus dois últimos capítulos (21 e 22), apresenta as nupcias do Cordeiro com a Igreja como

ponto final de toda a historia da salvacao. Esta implica a fruipao "daquilo

que o olho nao viu, o ouvido nao ouviu, o coracáo do homem jamáis percebeu"(1Cor2,9). Na vida presente a alegria espiritual resulta da uniao com o Senhor ou da fidelidade

a vontade de Deus; vem a ser tanto mais significativa quanto

mais generoso for o cristao em sua resposta a Deus. É o antegozo da bemaventuranca celeste, que muitos amigos de Deus experimentaram no decorrer

da sua peregrinado terrestre. Situado no plano espiritual, este prazer é compatível com a tribulagao no plano corporal, como atesta Sao Paulo: prisioneiro em Roma, o Apostólo escreveu a carta aos Filipenses, que é um convi te á alegria (cf. 2,2; 4,4.10). Aos corintios declara o Apostólo: "Estou cheio

342

"ANTROPOLOGÍA DO PRAZER' de consolo; transbordo de alegría em toda a minha tribulagao" (7,4). Aos

Romanos: "Nos nos gloriamos ñas tribulacoes, sabendo que a tribulacáo produz a perseveranca, a perseveranca urna virtude comprovada" (5,3s). Por ¡sto o cristao exercita a alegría como virtude e como dom do Espi rito Santo (cf. Gl 5,22), a ponto de se dizer que "um santo triste é um triste

santo". Urna das expressoes de tal alegría, entre outras, é o cultivo do teatro religioso, dos autos paralitúrgicos, dos jogos, das festas de familia nos ám bitos católicos desde a Idade Media até os nossos dias (coisa que Lepargneur reconhece á p. 64). - Donde se vé que o prazer espiritual nao "destrona Deus nem faz de Deus um meio para f¡ns humanos", como afirma Lepagneur, citando o autor protestante G.W. Forell (pp. 125s). De resto, sao inseparáveis um do outro o amor de Deus e o gozo pessoal do cristao que ama; dan do gloria a Deus, o cristao nao se aniquila, mas, ao contrario, se auto-realiza. 2.1.2. Prazer sensível

O prazer sensível ou decorrente da vida sensitiva nao é mau em si. O Cristianismo nao é dualista, ou seja, nao ensina que só o espirito é bom e a

carne é má; ele sabe, ao contrario, que carne e espirito no plano ontológico sao criaturas do único Deus, que as fez para se completarem mutuamente. — Acontece, porém, que no plano ético as tendencias da carne nao raro se antecipam ao ditame da razao e o sobrepujam. Já Sao Paulo reconhecia: "O querer o bem está ao meu alcance, nac, porém, o praticá-lo. Com efeito, nao

faco o bem que eu quero, mas cometo o mal que nao quero" (Rm 7,18s). E aos Gálatas: "A carne tem aspíracoes contrarías ao espirito, e o espirito con trarias á carne" (Gl 5,17). Disto se segué que a indiscriminada satisfacao dos desejos sensi'veis do homem alimenta paixoes que ameacam sufocar os anseíos do espirito; estes

afetos podem tornar-se veementes a ponto mesmo de desfigurar a personalidade humana (cf. 1Cor 6,9-11).

Os antigos tinham viva consciéncia do ardor dos impulsos da carne. Daí a severidade com que consideravam todas as concessoes feitas á natureza

sensível. Muito estímavam a ascese sistemática, á qual exorta o próprio Apostólo: "Nao sabéis que aqueles que correm no estadio, correm todos, mas um só ganha o premio? Correi, portanto, de maneira a consegui-lo. Os atletas

se abstém de tudo; eles, para ganhar urna coma perecível; nos, porém, para ganhar urna coroa imperecível. Quanto a mim, é assim que corro, nao ao incerto; é assim que pratico o pugilato, mas nao como quem fere o ar. Trato duramente o meu corpo e reduzo-o á servidio, a fim de que nao aconteca 343

8

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

que, tendo proclamado a mensagem aos outros, venha eu mesmo a ser repro-

vado" (1 Cor 9,24-27).

Visto que na cópula sexual os impulsos naturais sao excitados ao máximo para se obter a finalidade do respectivo ato, varios mestres cristaos

antigose medievais recomendavam aos cónjuges extrema cautela a fim de nao cairem em atitudes meramente sensuais ou contrarias a dignidade racional do ser humano. Sao estas recomendacoes que muitos historiadores citam e

criticam, escarnecendo a mentalidade dos antigos. A propósito observamos: A excessiva prudencia da parte de escritores antigos nao significa que

condenassem o matrimonio. Já Sao Paulo se insurgía contra aqueles que proibiam o casamento (1Tm 4,3) e recomendava as nupcias a quem tivesse

vocacao matrimonial (cf. ITm 5,14; 1Cor 7,9); descreveu mesmo o matri monio como "o grande sacramento relacionado com a uniao de Cristo com a

sua Igreja" (Ef 5,32). - Ocorre, porém, que certas prescricóes legáis do Antigo Testamento sugeriam aos cristaos reservas no tocante ao uso do ma trimonio (cf. Lv 15,1-33).

Tal modo de ver era condicionado por fatores contingentes, e nao pe las premissas doutrinárias do próprio Cristianismo; com o tempo, cedeu a concepcoes menos pessimistas. Os mestres contemporáneos preferem ser mais sobrios no concernente ás cautelas necessárias para evitar os desmandos dos afetos; cada cristao faca seu programa de vida harmoniosa e bela, na qual a carne deve corresponder

ao ideal de vida concebido pela razao e pela fé. Continua válida a meta: nao permitir que os afetos sensuais sobrepujem as aspiragóes da mente, mas os

meios recomendados sao mais freqüentementé deixados a criterio de cada qual dos interessados. Com outras palavras: pode-se reconhecer o valor do prazer sensível,

contanto que seja subordinado ao espi'rito. Alias, tudo o que o homem,

como homem reto e digno, faz, traz o cunho do espi'rito ou da espiritualidade; o ser humano é, em todas as suas expressoes, psicossomático, de modo que até as funcoes que Ihe sao comuns com os animáis inferiores, trazem sua

marca própria, derivada da espiritualidade da alma humana. Verdade é que o Papa Inocencio XI em 1679 condenou a proposigao seguinte: "Nao é pecado comer, beber ou fazer uso do matrimonio única

mente por prazer sensual" (Ver Oenzinger-Schonmetzer, Enquin'dio dos 2108s [1158]). Tal condenacao nao significa que ao cristao nao seja lícito desejar o prazer sensual, mas quer dizer que o pra

Símbolos e Defini^des nP

zer sensual lícito (o de um bom prato para quem precisa de alimento, oda 344

'ANTROPOLOGÍA DO PRAZER"

relagao conjugal entre esposo e esposa...) deve ser regido e dimensionado pela razao; esta tem que saber colocar esses prazeres dentro da ordem har-

moniosa da vida de alguém que mais e mais procura chegar a Deus; o prazer tem que estar em sintonía com a orapao e o trabalho, nao pode ser uma ilha ou um bloco independente, quase subtrai'do a Deus, mas há de ser a expréssao de alguém que pertence ao Senhor tanto por sua alma como por sua constituicao corpórea. — Deus quis anexar o prazer a certos atos destinados á conservacao do ¡ndivi'duo (a alimentacáo) e á conservacao da especie (o ato sexual), a fim de estimular a pessoa á prática desses atos. Isto significa que tal prazer é licito (pois Deus o propicia); é lícito, porém, nao como finalidade em si, mas como meio associado a determinado fim; na medida em que o prazer serve á conservacao do individuo ou a conservacao da especie, é válido e pode ser procurado. Notemos que a cópula conjugal é I ícita também nos dias esteréis da mulher, pois é a própria natureza quem proporcio

na esses períodos de pausa. Em conseqüéncia, o homem nao fere a natureza ou a lei de Deus quando realiza o ato sexual em tais condicoes. Os prazeres de uma recreacáo, de um passeio, de um concertó, do cul tivo da arte... sao justificados desde que isto implique — como geralmente

acontece — distensao, restauracao do físico e do psíquico desgastados... Ao contrario, o prazer sensível pelo prazer apenas, sem finalidade ulterior ou su

perior, pode escravizar o homem e desfigurá-lo, jogando-o abaixo de sua dignidade; é o que ocorre quando se procura a comida pelo bom gosto da comi da apenas, o sexo tao somente por causa do deleite do sexo, a bebida apenas pela euforia que ela provoca...

2.2. Amor e prazer

2.2.1. O "principio do prazer"

É freqüente associar entre si amor e prazer, como se todo amor devesse acarretar uma compensacao ou um deleite sensível paraquem ama. Prin cipalmente na idade juvenil amor e prazer podem parecer inseparáveis um do outro.

De modo geral, é lícito dizer que a sociedade moderna tem por normal o gozo e o prazer, ao passo que foge indistintamente do sofrímento, do sacrificio, da renuncia..., como se fossem formas de castracao, ¡ncompreen-

síveis num programa de auto-realizacao. Principalmente Sigmund Freud, o

pai da Psicanálise materialista, disseminou a concepcao de que a felicidade consiste no prazer. Eis o que tal mestre diz, após perguntar qual o objetivo da vida:

345

20

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

"A resposta difícilmente pode errar; os homens tendem á felicidade, querem tornarse felizes e permanecer assim. Esta tendencia tem dois aspec tos: um positivo e outro negativo. De um lado, quer-se a ausencia de dor e desprazer; do outro. a experiencia de fortes sensacoes de prazer. No sentido

mais estrito, a felicidade só se refere á última... Como se vé, é simplesmente o programa do principio do prazer que estabelece o alvo da vida" f Das unbflhagen in der Kultur, pp. 433s).

Notemos que, para Freud, o prazer tem sempre um cunho sexual; é satisfazlo orgánica ou fi'sica, á qual serve o Eros ou a Libido. Ora Freud reconheceu que o prazer assim entendido nao tem continuidade ou é passageiro. Por isto tambérn julga que o homem jamáis pode ser feliz; na melhor das hipóteses, poderia gozar "moderadamente"... O "principio do prazer", atrás exposto, só pode levar á amargura da desilusao ou da resignacáo "moderada" de Freud. Muitos daqueles que ¡dentificam prazer e felicidade, caem no hedonismo desenfreado: procuram acumular prazeres, fazendo de todo momento a ocasiao de novo prazer... Daí resultam fácilmente a depravacao moral e a decadencia social. Alias, no livro mesmo de H. Lepargneur, é citado o pensamento de

Alexander Lowen, partidario da libertacao do prazer sensorial: o homem

teria que reencontrar as sensacoes perdidas ou as de Adao no Éden. Todavia o próprio Lowen confessou: "Nem o antigo código moral nem o novo código amoral, a ética do divertimento, traz uma resposta significativa ao problema do comportamento sexual no mundo atual. Obviamente nao há resposta... Embora eu tenha enfatizado o prazer, nao posso admitir que a sua busca exclusiva se/a o objeti

vo da vida. Por sua própria natureza, quanto mais o procuramos, mais se es

quiva... Há uma antírese entre prazer e realizacio, oriunda do fato da realizagao exigir autodisciplina. O compromisso com o objetivo ou uma tarefa

envolve necessariamente o sacrificio de alguns prazeres ¡mediatos. Se a pessoa é incapaz de adiar a gratificaqao ¡mediata de seus desejos, será como uma crianca cujas realizacoes nada sao e cujos prazeres só tém sentido para si, como crianca" (A. Lowen, Prazer. Uma abordagem criativa da vida, Sao

Paulo 1984. citado as pp. 5Js de Lepargneur, obra em foco). O fracasso do princi'pio do prazer ou do hedonismo total leva-nos a procurar outro caminho para a descoberta da felicidade. Tal será 2.2.2. 0 "principio da auto-realizapao"

0 ser humano foi feito por Deus para a vida e a vida plena. Tal é o otimismo cristao.

346

"ANTROPOLOGÍA DO PRAZER"

U.

Esta plena auto-relizacao só pode ser obtida mediante a subordinado dos impulsos instintivos ao ideal concebido pela razáo (que a fé, no cristao, ilumina). - Ora tal subordinacao implica renuncia, indispensável na evolucao normal da crianca e do adulto.

Para ilustrá-lo, transcrevemos aqui urna passagem do livro "Prazer ou Amor?" de D. Valfredo Tepe, bispo de llhéus, livro que é a auténtica resposta crista ao problema levantado por H. Lepargneur:

"Já no plano natural vemos como a mortificacao está a servido da vi da, da realizacao. Os seres vivos unicelulares sao potencialmente ¡moríais,

com a condicao da renuncia. A medida que crescem, perde-se o equilibrio entre superficie e volume. Ou acabam morrendo, esclerosados, ou renunciam á sua existencia anterior, dividindose em dois, para retomar o processo

de crescimento. A divisSo é um truque da na tureza que Ihes permite a continuacao da vida. Partindo desta idéia, um dentista conseguiu, num expe rimento de laboratorio, manter amebas em vida durante cento e trinta días,

sem divisio, praticando apenas nelas urna amputacao cada día. Oeste modo os protozoários podiam continuar o processo de assimilacao e crescimento. Normalmente, as amebas se dividem em duas de dois em dois días. As ame bas que sofreram amputacao tornaram-se, pois, 65 vezes mais velhas que suas irmas. A amputacao transformou-se em meio poderoso de rejuvenescimentó.

Na vida humana observamos algo semelhante. A dieta tem cunho de mortificacao. mas serve á vida; alivia o coracio sobrecarregado pela tarefa de impelir o sangue por um organismo inchado pela gordura. No plano espiri tual tornase fatal a inchacao do homem que segué desenfreadamente o principio do prazer. Ele se enche de bens, de satisfacoes, de conhecimentos e de glorias; julgase engrandecido e nao percebe que esté ficando imobilizado e asfixiado. O re/uvenescimento está na mortificacao; amputando o que é excessivo, renunciando ao crescimento demasiado de suas tendencias instin tivas, o homem ganha nova vida" (pp. 126s). A esta altura dirá alguém: a nfo-satisfacao de um desejo é frustracao e gera neurose... — Deve-se responder distinguindo entre frustrapao e privacao:

nenhuma auténtica renuncia é frustradlo. É privacao, sim; nao raro dolorosa

e difícil: "A renuncia dói, é-certo — mas com bisturí esterilizado; a ferida lo go cicatriza, sem inflamapáo nem supurapao. Urna privapáo só se torna frus tracao supurante, quando nela nao há nem conformidade nem compensacao. Renuncia é aceitacao ativa e consciente de urna privacao por motivo su perior como, por exemplo, o amor a um grande ideal ou o amor a Deus" (Valfredo Tepe, ob. cit., p. 127). 347

12

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988 "O cristao, cujo lema de vida é o principio da realizacao, a procura da

perfeicao, soluciona o confuto entre o Eu e o Id pela renuncia consciente as exigencias descabidas dos instintos. Contra a tríplice concupiscencia que reina no mundo, isto é, dentro de cada um, a cobica dos olhos, a cobica da

carne e a soberba da vida, armase o cristao pela esmofa, pelo jejum e pela oracao. 'Boa é a oracao acompanhada de jejum; e dar esmola vafe mais do que juntar tesouros de ouro' (Tb 12,8). No termo técnico 'esmola'resume a Ascética todo o esforco para debelar a exagerada tendencia á posse de bens

materiais. A palavra 'jejum' designa os meios estratégicos para fazer frente aos desejos da carne, tanto no terreno da volúpia como no da gula. A 'oracao', enfim, é a melhor arma para manter o homem 'no seu lugar': criatura de Deus que nao tem motivo de vangloriar-se como se nao houvesse recebido tudo de Outrem (cf. I Cor 4,7). Com outras palavras: a finalidade do ser humano nao é a satisfacáo, mas a perfeicao. Quando o homem se aposenta na satisfacáo — e ai está o

perigo da apregoada 'vida boa' —, ele nao se realiza, f/'ca descontente, doen-

te. O enfado, o tedio pode até parausar a vontade de viver e levar ao suici dio. Jogar fora todas as riquezas, como o fez S. Francisco, pode assumir o

aspecto de verdadeira libertario e renascimento. A alma, desimpedida, comeca a correr o seu caminho como um gigante: o caminho da perfeicao,

a plena realizacao, impelida pela esperanza, essa energía dinámica que jamáis permite ao homem acomodarse em acampamentos provisorios" fValfredo Tepe, ob. cit., pp. 130s). Continua o autor desta obra:

"Um médico observou: 'Nao raro experimentamos o seguinte: vém a nos pacientes, homens e mulheres, falando-nos do tempo difícil que tiveram

de atravessar, dos esforcos penosos que tiveram de fazer para alcanzar deter minado alvo, e, depois que alcancaram esta meta e julgavam poder gozar sua

vida sossegadamente, nesse momento adoeceram. Mais:existem até observa(des de individuos que passaram por provacoes gravissimas, e, quando tal

fase terminou e eles voltaram a viver em abastanza e sossego, pensando to dos que entSo poderiam realmente gozar a vida e ser felizes, nesse momento

cometeram suicidio... Opulencia, portanto. causa realmente doencas, e isso porque seduz o homem a tomar o caminho da comodidade, a permanecer preferentemente na passividade ou a deixar atrofiadas muitas das suas capa

cidades e posibilidades, por causa de sua atividade unilateral, é um erro

substancial, infelizmente muito disseminado, pensar que nada seria mais favorável para a saúde do que o nao fazer nada e a preguica. O contrario é que é verdade. O individuo a quem se fazem exigencias, o homem que se subor dina a um fim maior e mais elevado, o homem que experimenta possuir urna

vida plena de sentido, este homem é sao" (p. 117). 348

"ANTROPOLOGÍA DO PRAZER"

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Ainda a respeito da cobica nao mortificada pode-se citar urna página de Jorge Amado, que observa como os crimes tém pavimentado as estradas que levam ás, minas do ouro metálico; vicios e sangue derramado tém adu-

bado as térras do 'cacau dourado': "Os trabalhadores na ropa tinham o visgo do cacau mole preso aos pés, virava urna casca grossa que nenhuma agua lavava ¡amáis. E eles todos, tra balhadores, jaguncos, coronéis, adyogados, médicos, comerciantes e exporta dores, tinham o visgo do cacau preso na alma, lá dentro no mais profundo

do coracao. Nao havia educacio, cultura e sentimento que o lavassem. Cacau era dinheiro, era poder, era a vida toda, estava lá dentro deles, nao apenas plantado sobre a térra negra e poderosa deseiva. Nascia dentro de cada um,

lanqava sobre cada um urna sombra má, apagava os bons sentimentos" (Tér ras do Sem Fim, 1957, p. 245). 2.3. Amor e Sofrimento

Vimos quanto é ilusorio crer que amor é apenas prazer ou que alguém possa chegar á auto-realizacao evitando o sofrimento. Acrescentemos que, muito paradoxalmente, o sofrimento está ligado á grandeza ou á perfeicao do ser humano.

Com efeito. Observe-se que os seres inanimados (minerais), quando percutidos ou lesados, nao reagem; nada sentem; sao os mais imperfeitos dos seres, pois nao tém vida. Passando para o m'vel dos seres vivos vegetativos, verificamos que, quando um vegetal ou urna planta é maltratada ou mutila da, ela tende a se restaurar reagindo contra a lesao infligida; dir-se-ia que nao

é impassi'vel como os minerais. Subindo ao degrau dos animáis irracionais, percebemos que reagem muito sensivelmente aos golpes dolorosos; gemem,

rugem, fogem, contra-atacam. .. Elevando-nos ainda na escala dos seres, chegamos ao homem, que certamente sofre mais do que os restantes seres visíveis, porque, além de sofrer físicamente, ele sabe que sofre (tem consciéncia

psicológica); o homem reflete sobre o seu sofrimento, comparando-o com o seu ideal e verificando que este é, nao raro, truncado ou prejudicado pelas adversidades da caminhada: um pai ou urna máe de familia atingidos em sua saúde fi'sica quando tém filhos pequeños, sentem, além do incómodo fisico, a dor de nao poderem desempenhar devidamente a sua tarefa de educado res. .. Diremos mesmo:

quanto mais um ser humano i nobre e profundo

(no plano moral), tanto mais sofre; quanto menos alguém tem ideal ou vive como criatura inteligente, tanto menos sofre; diz-se que a máfe desnaturada é

aqueta que nao se sensibiliza pela dor dos filhos.

Eis em que termos o sofrimento é essencial ao homem e característi co da sua transcendencia: ele decorre da dignidade mesma da natureza hu-

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

mana, que aspira legítimamente a realizacóes prejudicadas pelos golpes da vida. Ele decorre, com outras palavras, da nobreza intelectual (e espiritual)

do ser humano, que nio só conhece, mas sabe que conhece ou reflete sobre si mesmo (coisa que os animáis inferiores nao realizam).

Compreendem-se entáo as palavras do S. Padre Joao Paulo II:

"Aínda que os sofrimemos do mundo dos animáis sejam bem conhecidos e estejam próximos ao homem, aquilo que nos exprimimos com a palavra 'sofrimento' parece ser algo particularmente essencial á natureza huma na. .. 0 sofrimento parece pertencer á transcendencia do homem" (Carta Salvifici Doloris s>?2¿ Está claro, porém, que urna pessoa de fé sabe superar a dor natural que a afeta, olhando para o modelo do Cristo Jesús; Este, diante da perspec

tiva da sua Paixlo e Morte, orava: "Pai, se possível, que este cálice passe sem que eu o beba; faca-se, porém, a tua vontade e nao a minha" (Mt 26,39). Ácima de tudo, importa ao cristáo identificar-se com o designio do Pai, que certamente é mais sabio que os planos dos homens.

2.4. As "raíles pagas" da Moral católica

1. Á p. 72, H. Lepargneur, criticando a Moral católica, sugere que "ela tem raízes

no pensamento pagao"; cita, em apoio seu, os nomes de Michel

Foucault ("filósofo e pesquisador da historia, mas nao cristao") e J.-M.

Pohier, professor de Moral censurado pelo magisterio da Igreja. Antes do mais, notemos: é estranho que Lepargneur, em seu livro, pro cure fundamentar-se em autores que ou nao sao cristaos ou sao dissidentes

da reta doutrina católica. Pergunta-se agora: como a Moral crista tem raízes no pensamento pagao?

— é. certo que a cosmovisao crista, monoteísta como é, difere radi calmente da cosmovisao paga, que era politeísta (mitológica) ou panteísta

(estoica) ou dualista (pitagorismo, orfismo...). É certo também que o Evangelho dignificou enormemente a pessoa humana (a mulher, as enancas, os

enfermos e carentes...); enobreceu a familia... É o que se depreende da leitu-

ra dos documentos amigos, entre os quais sobressai a Epístola a Oiogneto, joia da literatura dos sáculos I l/l 11. Se há pontos de contato entre a Moral crista e a Moral grega pré-crista,

sao pontos acidentais (é certo que o ideal da Patria dos estoicos muito signi350

"ANTROPOLOGÍA DO PRAZER"

15

ficou para os cristaos) ou, aínda, pontos que a lei natural, incutida a todo homem pelo Criador, recomendava tanto a pagaos como a cristaos; neste rol estáo os que M. Foucault menciona: "a monogamia procriadora, a condenapao das relacoes homossexuais, a exaltacio da continencia". Assim há, por vezes, semelhancas entre Cristianismo e correntes nao cristas, semelhancas que nao sao devidas a algum empréstimo, mas simplesmente decorrem do fato de que a natureza humana é a mesma em todos os individuos, ccm suas aspiracoes éticas e religiosas congénitas.

2. Á p. 117 Lepargneur, ao falar de María SS., afirma que "a figura da Virgem-Mae nao é própria do Cristianismo, bem assentada na mitología". - Nao nos deteremos na refutacáo desta sentenca, visto que o tema já foi longamente abordado em PR 294/1986, pp. 510-521. 3. De modo especial, a vida una (celibato ou virgindade) é menospre-

zada por muitos pensadores contemporáneos; Lepargneur alude ao celibato sacerdotal "institucionalizado por volta do sáculo XI" (p. 117). Na verdade, o celibato sacerdotal tem sua origem na mais pura concep-

cao de vida crista, apresentada por S. Paulo em 1Cor 7,25-35: o Apostólo ai observa que os valores definitivos entraram neste mundo desde a vinda de

Cristo; por conseguinte, "o tempo se fez breve" (ICor 7,29); o cristao tem interesse em concentrar todo o seu tempo, suas ocupacoes e preocupacoes

no servipo ou no desenvolví mentó do Reino de Deus já iniciado; daí a esti ma da vocapáo a vida una ou indivisa; esta permite dedicapao mais livre e in

tegral á causa do Reino: "Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar á esposa, e fica dividido" (1Cor 7,33). Aqui está a raíz do

celibato abrapado por amor a Cristo. Parece que desde os tempos de Sao Paulo já era cultivado na Igreja, como a resposta mais espontánea e auténtica que o cristao podía (e pode) dar ao anuncio do Reino; o celibato sacerdotal, inspirado por tal convicpao, foi-se tornando prática sempre mais usual, que os Concilios regionais foram sancionando desde o de Elvira (Espanha) em 306 (?).

Sobre a penitencia crista, que alguns querem assemelhar a práticas encratistas ou dualistas nao auténticamente cristas, veja-se o artigo respectivo ás pp. 353-360 deste fascículo.

Poder-se-iam fazer ainda algumas observapoes sobre a forma literaria do livro, no qual muitos galicismos se encontram.

3. Conclusáo O prazer integra o desenvolvimiento e a plena realizacfo da pessoa hu mana. Ninguém pode renunciar a todo prazer sem correr o risco da deforma351

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

cao psicológica. Esta verdade nao é nova no Catolicismo, pois já foi vivenciada pelo Apostólo Sao Paulo e os primeiros cristaos. Todavía o ponto nevrálgico da questao consiste em definir o que é o prazer integrante da grandeza humana: será o prazer no sentido freudiano (erotizante, sexual) ou o prazer

em acepcao mais elevada? - O que diferencia o cristao do hedonismo moderno, é a opcáo por este segundo sentido de prazer: é subordinado á ple na realizacao e á perfeicao do homem, a qual nao pode deixar de incluir pri va pao e renuncia assumidas em vista de urna finalidade superior.

Nao há, pois, dilema entre Deus e o prazer. Ao contrario, a glorificacao do Criador implica inevitavelmente o engrandecimento e a feücidade da

criatura, ainda que esta nao se preocupe com sua bem-aventuranca. Infelizmente os princi'pios da filosofía de Sigmund Freud tém influ enciado autores cristaos que, por sua vez, ¡nduzem sutilmente os fiéis a ce der ao princi'pio do prazer; donde resulta freqüentemente o hedonismo ja máis satisfeito, e propenso ás drogas e ao crime.

Para dissipar idéias tao erróneas, muito se recomenda o livro de D. Valfredo Tepe: "Prazer ou Amor?", Ed. Mensageiro da Fé, Salvador. O autor, com grande sabedoria psicológica e teológica, evidencia que o amor, perfei

cao de todo homem, tonge de excluir certas renuncias, as exige e aceita com alegría, pois sao condigao de servípo a Deus e grandeza da criatura. Muito úteis também sao

VIKTOR FRANKL, Psicoterapia e Sentido da Vida. Ed. Quadrante,

Rúa Iperoig, 604 - VALFREDO TEPE, 05016 Sao Paulo (SP).

VALFREDO TEPE, O Sentido da Vida, Ed. Vozes, Petrópolis (RJ).

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Prazer ou Perfeipüo?

Vida Crista e Penitencia Em síntese: A vida crístS nSo pode dispensara renuncia e a mortificacao, visto que dentro da natureza humana existen» tendencias desregradas, as

quais nao se harmonizam com o ideal que a razao eafé concebem, É neces-

serio, pois, vencer ou extirpar a desorden) interior. Isto se pode obter mediante a aceitacSo paciente e amorosa das tríbulacoes desta vida, que a Providencia Divina sabiamente dispensa aos homens; mas requer-se outrossim que o cristSo {com a graca divina) saiba empreender renuncias espontá neas até mesmo a coisas lícitas (monificacoes ou penitencias), pois estes exercicios fortafecem a vontade do homem e a habilitam a resistir mais te nazmente ás tentacdes e más inclinacoes. Os exercicios de penitencia nSo sao fins, mas sao meios. Sao meios que outrora assumiam características lioje talvez menos praticáveis (severos jejuns, tongas vigilias noturnas, peregrinacdes a pé...); mas, como quer que se/a, hSo de ser exercicios significativos e eficazes, aptos a corroborar a von tade na demanda da virtude e na fuga do pecado. — Aséese significa origina

riamente o treinamento que o atleta espontáneamente empreendia (mesmo sem ter adversario) para que, no día da competicio, pudesse estar adestrado e vencer o pareo. Sem treinamento previo e habitual, nio pode haver esperanca de vitaría no estadio. Assim também, sem aséese ou penitencia nao pode haver progresso na vida espiritual do cristao.

Tendo em vista as condipoes de vida dos homens de nossos tempos, a

Igreja reformulou as suas normas relativas á prática da virtude da penitencia.

Esta reforma suscitou certa hesitacáo em muitos fiéis, os quais as vezes passaram a crer queja nao se podenem devepraticar a penitencia; esta f icaria re servada para certas vocacSes especiáis na Igreja ou estaria ligada a tipos de cultura que hoje nao mais existem.

Ora estas concepcoes tém graves conseqüéncias na vida crista... Na verdade, as normas da Igreja sSo claras e aptas a promover a santificapao dos 353

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

fiéis que Ihes queiram dar atencao. Eis por que, neste artigo, consideraremos a Constituicao Apostólica Paenitemini de Paulo VI, emanada logo após o

Concilio do Vaticano II (17/02/66) e assumida pelo atual Código de Oireito Canónico, além de alguns documentos congéneres da Igreja que orientam o

povo de Deus em materia penitencial.1 Para facilitar a exposicáo do assunto, procederemos por perguntas e respostas.

1. A doutrina da Igreja P. - Afinal que se entende por penitencia?

R. - Responde o S. Padre Paulo VI no seu sermao de Quarta-feira de Cinzasde 1967: "A penitencia é um corretivo da nossa maneíra de viver. Bem o sabe

mos: nossa natureza nao é perfeita. Nao funciona bem. Traz em si profunda

desordem interna, á qual se deve dar remedio. Eis por que todos quantos entoam a apología... da substancial bondade da vida humana, safo profetas de ilusoes e, muitas vezes, de desilusoes, pois nossa vida, em seu desenvolvimento e em seu funcionamento, abandonada a si própria, sem esses corretivos e sem tal disciplina que redimensionam... a expressao de toda a nossa ativida-

de, a vida nao seria boa e, por isto, nao seria nem mesmo realmente feliz". Como se vé, penitencia vem a ser a purif ¡cacao e o burilamento da na

tureza humana desregrada e incoerente. Quem nao aceita essa disciplina e

diz Sim a todos os seus impulsos, nao se comporta á altura de sua vocacáo de filho de Deus; conseqüentemente nao pode ser feliz, pois é constante mente humilhado e trai'do por seus afetos desregrados, como nota o Apostó lo:

"Nao consigo entender o quefaco, pois nao pratico o que quero e facó

o que detesto... O querer o bem está ao meu alcance, nao, porém, o praticálo... Eu me comprazo na lei de Deus segundo o homem interior, mas peresbo outra lei nos meus membros, que peleja contra a lei da minha razSo e me

acorrenta á lei do pecado, que existe em meus membros. Infeliz de mim!" (Rm 7,15-24). Ver também Gl 5,16-26. P. - Em que consiste a penitencia? Responde Paulo VI no mesmo serma*o: "Se perguntássemos aos estudiosos em que é que consiste, ouviríamos

responder que o primeiro elemento é a metánoia, ¡sto é, urna mudanca inteTal documentafao está reunida no fascículo: "Penitencia", n9 173 da se rie "Documentos Pontificios"da Ed. Vozes. 354

VIDA CRISTA E PENITENCIA

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rior. Que é mais fácil: mudanca interior ou mudanca exterior? é mais fácil, por exemplo, renunciar a alguma coisa que de fora cerca a nossa vida ou transformar o coracao, nossos pensamentos, instintos, idéias, aquele tesouro de interioridade que todos obstinadamente guardam no íntimo, dizendo: 'Eu sou assim; safo estes os meus principios, o meu modo de pensar, a minha educacao e - a grande palavra - a minha personalidade'?"

0 apelo á metánoia ou á mudanza de mente, a conversao interior, está na primeira pregagáo de Jesús: "O Reino de Deusestá próximo. Metanoeite

(convertei-vos) e crede no Evangelho" (Me 1, 15). É, pois, no Cntimo de cada um de nos que comeca a tarefa de purificacao; o comportamento ex terior decorrerá do nosso modo de pensar e de amar. A metánoia é algo de

mais exigente e difícil do que doar os bens que nos sao extrínsecos (dinheiro, vestes, comida...); alguém pode praticar muitas obras de caridade sem ter realizado urna profunda e seria mudanca interior. Continua o S. Padre:

"A Igreja, pronta e solícitamente, nos admoesta: é para a metánoia que deves dirigir a tua atencáo e os teus esforcos. É necessário deveras reno var o espirito. A penitencia ná"o significa um regresso na vida e na pedagogía moderna; realiza, antes, um progresso, visto que torna o homem mais inte rior, e é mais exigente quanto a... tornar a personalidade tal qual deve ser: crista*... Importa morrer interiormente, se queremos renascer. É necessário ter a coragem... da acusacfo de si e nao dos outros. Devemos reconhecer ple

namente: sou fraco, sou ilógico, fui mau e cometí a falta que devo deplorar na consciéncia... dizendo sinceramente mea culpa".

Por conseguinte, a penitencia nada tem que ver com masoquismo ou morbidez psíquica; ao contrario, é a atitude heroica e magnánima de quem

deseja libertar sua personalidade de qualquer forma de escravidao interior. Dizer Pequei e tirar daí as conseqüéncias é muito mais nobre e belo do que por máscaras que me facam passar por algo que nao sou. P. - A penitencia é apenas interior ou espiritual? R. - "Em tempo algum pode a verdadeira penitencia prescindir de urna ascese também física. .Com efeito; todo o nosso ser, alma e corpo...

deve participar ativamente deste ato religioso, com que a criatura reconhece a santidade e majestade divina.

A necessidade da mortif¡cacao do corpo aparece claramente se se consi dera a fragilidade da nossa natureza, na qual, a pos o pecado de Ada"o, a car355

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"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

ne e o espirito tém desejos contrarios entre si. Tal exercícto de mortif icacffo do corpo — bem longe de qualquer forma de estoicismo - nao implica urna condenacio da carne, carne que o Filho de Deus se dignou de assumir; an tes, a mortrficapao visa á libertacao do homem, que, em razao da concupis cencia, freqüentemente se acha como que agrilhoado pela parte sensitiva do seu ser; através do jejum corporal, o homem readquire vigor, e o ferimento infligido pela intemperanpa á dignidade da nossa natureza ó curado pela me dicina de urna salutar abstinencia" (Const. Paenitemini n° 20). Na verdade, somos psicossomáticos, de modo que tudo o que é autén ticamente humano se traduz sempre em expressoes corpóreas e sensfveis. Daí a necessidade de que a conversao interior assuma formas exteriores; o próprio Deus se encarrega de nos enviar ocasioes de renuncia corpórea (mo

lestias físicas, flagelos naturais, penuria material...), mas, como se dirá mais adiante, é oportuno que o próprio cristáo empreenda espontáneamente exercicios de penitencia física, como o jejum, a abstinencia, a vigilia noturna... pois tais práticas treinam e fortalecem a vontade, habilitando-a a dizer Sim ou Nao decididos no momento da tentapao ou de urna encruzilhada.

Sabemos que o jogador de futebol treina seus músculos, mesmo que nao tenha adversario, para poder jogar em competicáo no dia previsto; se ele nao treina espontáneamente, pode perder a esperanca de vencer na dispu

ta do torneio. Assim também o soldado faz exercícios de tiro, de marcha, de acampamento... mesmo que nao esteja em guerra, porque, se nao os praticar, nao poderá enfrentar o adversario em campo de batalha. — Ora o cristao é

um atleta e um soldado de Cristo (cf. ICor 9,24-27; 2Tm 2,3-5); por isto também deve tremar espontáneamente a sua vontade, com a grapa de Deus, dizendo Nao (a um prazer supérfluo) quando Ihe seria lícito dizer Sim, a

fim de fortalecer a vontade, adestrando-a a resistir aos assaltos das tentapoes. Os antigos cristaos realizaram a ascese (tal é o nome grego desse treinamento) com grande coragem, entregando-se.a prolongadas práticas de je

jum e vigilias. Em nossos dias, as condigóes gerais de saúde nao permitem ir tao longe, pois é necessário ter farpas físicas e psíquicas capazes de enfren tar o desgaste do trabalho e dos incómodos de cada dia. Todavía nem por

isto está abolida a penitencia na Igreja (nem o podería estar). Eis o que ob serva a Constituido Paenitemini:

"O caráter preeminentemente interior... da penitencia... nao excluí nem atenúa... a prática exterior de tal virtude, antes evoca com particular ur

gencia a necessidade desta, e induz a Igreja — sempre atenta aos sinais dos tempos — a buscar, alóm da abstinencia e do jejum, expressoes novas, mais

aptas a realizar, segundo a índole das diversas épocas, o próprio fim da peni tencia" (n° 18). 356

VIDA CRISTA E PENITENCIA Assim quem nao pode jejuar rigorosamente, fapa um jejum mitigado; abstenha-se de alimentos supérfluos; adié a hora de satisf azer a justos désejos; reze um pouco mais no cometo ou no fim do dia... P. - A penitencia assim entendida constituiría urna entre outras cor-

rentes de vida crista? Seria algo deixado a escolha de cada um? R. - Nao. A Constituicáo é milito enfática a tal propósito: "Por leí di vina, todos os fiéis sao obrigados a fazer penitencia" {n° 35 § 1°). Por lei divina... Isto quer dizer, que se trata de um preceito do proprio Deus. Com efeito; somos todos chamados, antes do mais, a ver Deus face-a-face; esta é a razao pela qual fomos criados. Devemos, pois, prepa rar-nos a esse encontró final e supremo com o Senhor Deus. Ora ninguém pode ver a Deus face-a-face se traz em si resquicios de pecado (Deus é tres vezes santo; cf. Is 6,3). Daí o imperativo — decorrente da nossa vocapao mais fundamental - de nos corrigirmos ou de nos libertarmos das sombras do pecado para poder ver a Deus. E — notemos bem — a ocasiao normal de realizarmos essa purificacao é a vida presente, e nao o purgatorio postumo (este é urna concessao extraordinaria de Deus feita á fragilidade das criatu ras). Todos os fiéis... — Por conseguinte, clérigos. Religiosos ou leigos, to

dos, sem excecao, estao obrigados á prática da penitencia. Nao há vida cris

ta que nao seja penitente; seria despropositado julgar que no sáculo XX, tao marcado pelo humanismo, se possa pensar num ideal de vida crista isento de penitencia. O que pode mudar, sao as formas de mortificacáo, e nao a realidade desta.

P. — Como satisfazer ao preceito divino da penitencia? R. — Eis a resposta da Constituicao Paenitemini:

"A Igreja convida todos a fazerem acompanhar a eonversáo interior do

espirito com o exercício voluntario de atos exteriores de penitencia: a) Insiste, antes de tudo, em que se exerca a virtude da penitencia na fidelidade perseverante aos deveres do próprio estado, na aceitacao das drficuldades provenientes do próprio trabalho e da convivencia humana, na pa ciente suportacfo das provacóss da vida terrena e da profunda inseguranca que a permeia.

b) Aqueles membros da Igreja que sao atingidos pelas enfermedades, pelas doencas, pela pobreza, pela desventura, ou que sao perseguidos por 357

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

amor da justica, sao convidados a unir suas dores ao sofrimento de Cristo, de modo a poderem nao somante satisfacer mais intensamente o preceito da penitencia, mas também obter para seus irritóos a vida da graca e para si mesmos aquela bem-aventuranca que no Evangalho é prometida aos que

sofrem" ( n
ta, em primeiro lugar, a aceitacao generosa da dureza da vida cotidiana, da qual ninguém está isento (trabalho, convivio com o próximo, doencas, po

breza...). A Providencia Divina se encarrega de oferecer-nos tais oportunida des de santif ¡cacao. Importa, pois, aceitá-las nao em atitude meramente "re signada e cabisbaixa", mas com o coracao dilatado, porque se trata de gracas

de Deus... O texto indica dois tipos de fecundidade de tais provacoes: 1) configuram o paciente a Cristo, dando-lhe o penhor de partid pacao mais íntima na Páscoa do Senhor; quem padece com Cristo, ressuscitará e triunfará com Ele; 2) tornam

o cristáo corredentor com Cristo ("obtém para seus irmlos

a vida da graca", diz a Constituicao); habilitam-no a atender a irmaos afas

tados da vida reta, imersos no pecado e impermeáveis á Palavra de Deus; nao falanso, mas configurando-se a Cristo Crucificado, o cristáo pode ser mis-

sionário junto a essas pessoas; sabemos que a Providencia Divina quer salvar a uns mediante outros,

servindo-se especialmente da rede de vasos

comu

nicantes que é a Comunhao dos Santos. Acrescenta o texto da Constituicao:

"Afora as renuncias impostas pelo peso da vida cotidiana, a Igreja convida todos os cristaos indistintamente a corresponderem ao preceito divi

no da penitencia por atos voluntarios" (n° 27). Tais atos voluntarios ou espontáneos nao de ser programados por cada fiel de acordó com o seu quadro próprio de vida espiritual: casa qual deve fa zer o diagnóstico do seu relacionamento com Deus e o próximo; deve colo car o dedo em suas chagas ou em seus pontos nevrálgicos e procurar conseqüentemente o remedio adequado ou o antídoto: a inclinacao ao abuso da palavra exigirá mais rigorosa prática do silencio, a tendencia a impaciencia suscitará especial atencao ao próximo, a intemperanca levará a abstinencia

em pontos bem definidos, etc.1 Além do mais, o jejum, a sobriedade, a vigí-

1 No plano da saúde física, qualquer dor ou síntoma de desequilibrio pro voca logo a procura de diagnóstico e do tratamento adequado. — Somente na vida espiritual é que haveria displicencia? 358

VIDA CRISTA E PENITENCIA

23

lia noturna, a privacáo de prazeres (especialmente quando isto redunda em

ajuda ao próximo)... sao sempre recomendáveis, qualquer que seja a proble mática pessoal de cada cristao. Diz o texto da Constituicao: "Conservando - onde quer que ele pos» ser oportunamente mam ¡do

- o costume (observado por tantos séculos com normas canónicas) de exercer a penitencia mediante a abstinencia de carne e o jejum, a Igreja tenciona corroborar também, com suas prescricoes, os outros modos de fazer peniten cia" (n°32). P. — No plano estritamente jurídico, quais sao as normas da Igreja ati nentes á penitencia?

R. — A Constituicao Paenitemini responde nos seguintes termos (que foram confirmados pelo Código de Direito Canónico): "379 O tempo da Quaresma conserva seu caráter penitencial. 38? Os días de penitencia a ser obrigatoriamente observados em toda a Igreja sao todas as sextas-feiras do ano e a quarta-feirá de Cinzas. 399 Salvas as dispensas previstas pelo Direito, deve-se observar absti

nencia em todas as sextas-feiras do ano que nao caiam em festa de preceito, ao passo que a abstinencia e o jejum se observa rao na quarta-f eirá de Cinzas... e na sexta-feira da Paixáo e Morte do Senhor.

40°

A lei da abstinencia proíbe o uso de carne, mas nao o uso de

ovos, de laticínios e de qualquer condimento mesmo de gordura animal.

41° A Lei de jejum obriga a fazer urna única refeicao durante o dia, mas nao proibe tomar um pouco de alimento pela manha e á noite, atendose _ no qUe respeita á quantidade e a qualidade — aos costumes locáis aprovados.

42? Á lei da abstinencia estSo obrigados os que completaram quatorze anos. Á lei do jejum estao obrigados todos os fiéis, dos vinte e um anos completos ao sessenta comecados.

43? No tocante aos de idade inferior, apliquem-se os pastores de almas e os pais, com particular cuidado, a educá-los no verdadeiro sentido da peni tencia". No Brasil, a Conferencia Nacional dos Bispos, usando de faculdade concedida pela Santa Sé e tendo em vista as circunstancias de vida da popu ladlo local, houve por bem determinar: 359

24

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988 "Ñas sextas-feiras do ano (inclusive as da Quaresma, excetuada a sex-

ta-feira Santa) fica a abstinencia comutada em outras formas de penitencia, principalmente em obras de caridade e exercicios de piedade". Podemos agora passar a urna

2. Conclusáo De quanto foi explanado na leitura dos documentos da Igreja, pode mos reter o seguinte:

1) A penitencia — corretivo da nossa vida — é ¡nerente e obrigatória á existencia do cristao. Nao há vocacao crista que nao inclua a prática da peni tencia, pois somos todos chamados a ver a Deus face-a-face, o que nao é possi'vel a quem traga tendencias desordenadas.

2) Embora a penitencia seja, antes do mais, conversao interior, ela nao dispensa expressdes corpóreas, dado que o ser humano só se realiza plena mente nesta vida dentro de formas corpóreas.

3) Dessas maneiras corpóreas de fazer penitencia, muitas nos sao im postas pela Providencia Oivina, que assim nos estimula a fazer o que a nossa natureza lerda nao teria coragem de praticar (infelizmente, porém, nem sempre o cristao está alerta para tais "visitas do Senhor" e fecha-se a elas). Todavia a Igreja julga necessário que cada cristao empreenda obras espontáneas

de penitencia; a própria Igreja, alias, impoe levíssima prática de jejum e abs tinencia e deixa á consciéncia de cada um fazer o diagnóstico de sua vida es piritual a fim de aplicar-lhe os remedios necessários. Este dever pessoal — que é urna lei de vida - deve estar bem presente ao espirito de cada fiel, e merecerá ser levado muito a serio, pois se trata da Grande Tarefa da vida crista (preparar a veste nupcial para a ceia da vida eterna). 4) Nesse contexto, caso se pergunte se a vida do cristao leigo no mun do é vida de penitencia, compreende-se que nao há outra resposta senao a

positiva. Quanto mais o cristaoqueira vivera "conversao dos seus costumes", tanto mais há de se empenhar por praticar a morte ao velho homem, sem a

qual é ¡mpossível a formacáo da nova criatura ou do Cristo Jesús em nos. Se os documentos jurídicos atualmente pouco falam de penitencia, nao deixa de ser imperiosa a necessidade de purificacao interior, mediante práticas adeguadas, que cada irmao e irma deve assumir em consciéncia diante de Deus.

360

Tese-antítese:

Em Nome do Diabo" por Víctor Willi

Em síntese: David Yallop, no livro "Em Nome de Deus", defendeu a tese de que o Papa Joao Paulo I foi assassinado aos 29/09/78. Esta sensacio nal noticia é contraditada pelo ¡orna/ista Víctor Willi, após críteríosa pesqui sa, no livro Im Ñamen des Teufels (Em Nome do Diabo, Chrístiana Verlag). V. Willi mostra que D. Yallop se inspirou em preconceitos, que o levaram a

cometer erros de historiografía e crónica — o que desacredita ahipótese de seu livro.

Positivamente, o jornalista sui'co julga que Joao Paulo I faleceu de disstress, ou seja, de enfarte decorrente da angustia que o acometía no exer-

ci'cio das suas pesadas funcóes de Sumo Pontífice.

Em PR 276/1984, pp. 398-402 e 278/1985, pp. 57-60 foi comentado o livro "Em Nome de Deus" de David Yallop, escritor inglés, que tenta per

suadir o público de que a morte brusca do Papa Joao Paulo I (29/09/78) foi devida a um assassínio. Tal livro encontrou enorme repercussao, traduzido que foi para onze li'nguas. — Acontece, porém, que o jornalista su ico Víctor Willi, após minuciosa pesquisa, redigiu um desmentido da tese de Yallop, intitulado "Em Nome do Diabo" (Im Ñamen des Teufels). — A revista 30 Giorni, em sua edicao brasileira de novembro 1987, publicou urna resenha de tal obra, da pena de Tommaso Ricci.

Torna-se muito oportuno que o público brasileiro tome conhecimento do conteúdo do livro de V. Willi, publicado na Europa (Christiana Verlag, Editora Christiana) em 1987. Eis por que transcrevemos em PR as páginas do "Anti-Yallop" de Tommaso Ricci.

1. Por que "Nao" a David Yallop? A "sabia" mistura de fatos e suposicoes, de banalidades e absurdos, de erros e boatos servida aos leitores pelo escritor inglés David Yallop em 361

26

"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

seu livro "Em Nome de Deus" (1984) comeca a ficar indigesta. As vítimas do venenoso coquetel sao muitas, pois a inverosst'mil historia do assassinato

de Joao Paulo I já foi traduzida em 11 línguas e ainda hoje se encontra ñas listas de livros mais vendidos. A revista alema Der Spiegel de 5 de outubro deste ano coloca-o em nono lugar entre os best-sallers. Tres anos depois, aparece no mercado editorial urna nova obra sobre

esse tema. Traz o título bastante polémico de "Im Ñamen des Teufels" (Em nome do diabo) e seu autor, o jornalista suíco Víctor Willi, correspon

dente da Radio Suíca em Roma desde 1967, a apresenta como "a primeira tomada de posicao indireta do Vaticano" sobre o delicado assunto, urna vez que "esta exposiclo foi apresentada ao Vaticano em novembro de 1986 pa ra urna veríficacáo e obteve, algumas semanas depois, a aprovapao da Sala

de Imprensa do Vaticano através de seu diretor, Joaquim Navarro", é a pri

meira vez — constata Willi — que a Santa Sé entra no mérito da questao do suposto envenenamento do Papa Joao Paulo I e adverte, um pouco miste

riosamente, que a suatese é num certo sentido "mais grave" que a de Yailop, que, como se sabe, atribuí a paternidade do compló a seis personagens: o arcebíspo Paúl Marcinkus, o entao Secretario de Estado Jean Villot, o

ex-cardeal de Chicago John Cody, os falecidos banqueiros M¡chele Sindona e Roberto Calvi e o "empresario" Licio Gelli.

Willi observa inicialmente que o sucesso de "Em Nome de Deus" foi obtido apesar dos juízos negativos da crítica. "Urna historia de terror para se ler na praia", sentenciou o Frankfurter Allgemeine Zeitung. "Depois de 450 páginas, a tese do assassinato continua nao provada e nao verificável como antes, além de altamente improvável", na opiniao do Neue Züricher

Zeitung. "Eu o considero como pura fantasía" (Peter Hebbletwaite, "The Tablet"); "Se Yailop tivesse só urna pálida idéia da real problemática vatica na, teria chegado a urna conclusao muito mais simples e nao tío sensaciona-

lista" (Hans Jakob Stehle, "Die Zeit"). Mas a apressada condenacao por parte dos especialistas nao desencorajou os leitores, observou Willi. Entáo, como se explica o sucesso? Willi, sociólogo de formacao, afirma que Yailop, na falta de provas concretas, apostou no "complexo anti-romano" e nos sentimentos "farisaísticos" particularmente presentes no mundo anglo-saxao. De fato, boa parte do livro de Willi é dedicada á total incompreensáo da específica mentalidade católica demonstrada por Yailop (o inglés nao conhece a li'ngua italiana e precisou de servir-se de terceiros para realizar muitas das pesquisas ligadas ao seu livro). Porém, Yailop conhece muito bem um aspecto do Vaticano: "Ele estava certo de que o Vaticano nao reagina ao seu

livro". Reforcado por esta conviccao, o escritor inglés pode rechear o seu livro com urna enorme quantidade de calúnias e insinuacoes contra o Vatica no e a Curia Romana, retratados segundo estereotipos renasce/itistas, onde a intriga aparece como o principal método de trabalho. Segundo Willi, aqui 362

"EM NOME DO DIABO"

27

também aparece o típico modo protestante de considerar Roma. Yallop,

longe de proceder segundo o antigo principio jurídico do "in dubio pro reo",

adotou o criterio segundo o qual "o acusado deve provar a sua inocencia". Mas, nos países de língua alema, esse principio nao vale: até prova em con

trario, todos sao inocentes. Valeu mais o preconceito: "até prova em contra rio, quem cai em desgrapa, é um bandido". Um outro erro metodológico atribuido a Yallop diz respeito á perver sa confusao entre moventes e provas.

"Se o intefesse de certas pessoas na morte de Joao Paulo I é fácilmen te demonstrável, isso nao serve para provar o crime". Esta é urna considerapao obvia para os modernos procedimientos de busca da verdade. Mas o livro em questao, aproveitando-se do forcoso silencio da parte caluniada, faz o papel de um advogado que lé a sentenpa sem conhecer a acusacao. A esse respeito, Willi cita alguns exemplos do modo de proceder de Yallop, no qual pequeños indicios de verdade sao acintosamente utilizados para confirmar a tese pré-constituída do assassinsto e os particulares que nao se adaptam á conclusao toreada sao alegremente deixados de lado. O primeiro exemplo apresentado por Willi concerne ao relacionamento entre o novo Papa e o cardeal Villot, Secretario de Estado. Tres anos antes da publicapao de "Em Nome de Deus", o ministro das Relacóes Exteriores da Italia, Giulio Andreotti, tinha publicado um testemunho digno de nota em seu livro "In ogni morte di Papa" ("Sempre que morre um Papa"): "O cardeal (Viliot) me disseque esse mes foi muito edificante para ele. No trigésimo dia ele teria dito ao Papa que nao Ihe daria mais conselhos e ¡ndicaedes, desculpando-se por ter que fazé-lo; a resposta, porém, foi de gratidáo e simpatía". Na pretensiosa pesquisa de Yallop nao há trapo desse relato. Outro exemplo: urna das provas "indiscutíveis" contra Paúl Marcinkus seria constituida pelo fato de que

naquela manha de 29 de setembro ele teria chegado muito cedo ao Vatica no, "o local do crime", ao contrario dos seus hábitos. Neste caso, Yallop |cita a sua fonte: o sargento Giovanni Roegen, da Guarda Suípa. Interrogad^ por Willi, o sargento desmentiu categóricamente ter dado essa informapao, confirmando também que Marcinkus costuma dirigir-se ao trabalho pouco depois do amanhecer. Um outro motivo dominante na obra de Yallop diz respeito á saúde do Papa Luciani. O inglés acredita com absoluta certeza

que o Papa esbanjava saúde, mas Willi demonstra que cinco anos antes Lu ciani havia pedido a Paulo VI que nao o nomeasse Patriarca de Veneza: "Sin-

to muito, Santidade, mas nao creio ser o mais indicado para isso. A minha voz está cada vez mais fraca e a minha saúde inspira cuidados". Dois meses depois da morte do Papa, o sacerdote suípo Aloys von Euw, autor de urna biografía de Albino Luciani, conversoucom Edoardo, irmSo do Papa, que declarou: "Meu irmao nao tinha boa saúde". Por esse motivo, um dos seus sobrinhos tinha dito antes do Conclave de agosto: "Esperamos que nao seja

eleito Papa". Existem numerosos testemunhos sobre a saúde precaria do Pa363

28

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

pa Luciani. Um deles é do arcebispo de Trento, Alessandro María Gottardi.

"Quando os peregrinos de Veneza foram recebidos em audiencia no dia 4 de setembro de 1978, a mínha alegria diminuiu. Fiquei muito triste ao ver o as pecto fi'sico do Papa e disse isso aos sacerdotes que estavam ao meu redor. Parecía que Joao Paulo I estava oprimido por um peso que ultrapassava mui to as suas torcas. Fui atravessado por um pensamento, um pensamento que logo afastei. . . Depois, aconteceu o que aconteceu". E mais ainda. No dia

23 de setembro de 1978, cinco días antes da sua morte, o Papa tomou posse da Basílica do Latrao. Estava presente o cónego Joseph Geraud, procurador geral da Congregacao dos Sulpicianos, médico profissional antes de entrar na Ordem. Depois da cerimónia, ele disse: "Se eu fosse o médico do Papa, eu Ihe diría que fosse para a cama ¡mediatamente". Na mesma ocasiao, Giulio

Andreotti escreveu: "O seu aspecto me impressionou. Estava quase desfeito, muito diferente do sorridente otimista da semana anterior. . . Durante a Missa, notamos a palidez crescente e o suor que continuamente brilhava em sua testa". Esses testemunhos tornariam mais provável urna morte natural e, por isto, Yallop nao os leva em conslderacao, inteiramente decidido a de

monstrar o homicidio. Recentemente o ex-secretário de Joao Paulo I, Die go Lorenzi, declarou em um programa de te levi sao, levado ao ar na Italia no

dia 2 de outubro passado, que na noite de 28 de setembro o Papa se queixou de fortes dores no peito.

Willi ataca ainda um outro pilar sustentador da trama de Yallop: a

imagem de um Papa progressista, contrario á Humanas Vitae1 e partidario da teología da libertacáo. Numerosas páginas de "Im Ñamen des

Teufels"

sao dedicadas a esse assunto; délas emerge um Papa que nunca tomou atitudes contestadoras diante da famosa Encíclica de Paulo VI (o que nao quer dizer que, como bom pastor, nao estivesse consciente das dificuldades que os casáis católicos encontravam para entender as razoes profundas da Humanae Vitae). Existe sobre este ponto um outro testemunho que desmen

te o quadro fornecido por Yallop. É de Giovanni Gennari, especialista em assuntos religiosos do jornal italiano Paese Sera, de tendencia comunista.

Durante muitos anos, Gennari foi professor de Teología Moral no Seminario Diocesano de Roma, e teve a ocasiao de conhecer Albino Luciani, que se hospedava ali sempre que ia a Roma. Nos numerosos encontros que teve

com o prelado veneziano, Gennari jamáis teve a sensacao de estar diante de um Luciani "de esquerda". Gennari recorda aínda que Luciani ¡mpos ao edi tor de seu livro "Catequese em Migalhas" a publicacao em apéndice do Cate cismo de Sao Pió X. Em Veneza. tinha fechado a FUCI (Federacao dos Uni versitarios Católicos Italianos) por causa de suas posturas excessivamente

abertas; as vezes, assistindo aos exames oráis de Teología Ecuménica, per-

1 Humanaa Vitae é a Encíclica de Pauto VI que aceita a limitaeao da prole pelo recurso aos métodos naturais apenas. {Nota da RedacSo). 364

"EM NOME DO DIABO"

29

guntava aos estudantes onde eles tinham lido aquetas "heresias" ("ñas apostilas", respondiam os estupefatos alunos). Além do mais, nao seria lícito

falar em "reorganizacao em estilo progressista" a propósito das nomeacoes que o Papa Luciani desejava fazer, entre as quais se destacava a do Cardeal

Benelli como Secretario de Estado. Gennari, que aparece na lista das pessoas a quem Yallop agradece pela colaborado ("de fato, Yallop me procurou di-

zendo que queria escrever urna biografía de Joao Paulo I e eu infelizmente confiei e contei-lhe o que sabia"), elaborou urna minuciosa análise textual da edicao italiana de "Em Nome de Deus", encontrando urna quantidade ¡ncrível de erros. Por exemplo: Giovanni Benelli é apresentado como Vice secretario de Estado (cargo que nao existe) e como Secretario de Estado (cargo que nunca ocupou); "depois da Humarme Vitae nao foram publica das outras Encíclicas papáis" (ora vejam-se Octogésima Adveniens, Marialis Cultus, Quinqué iam annos); na página 163, lé-se que com a e leí cao de Lu

ciani "toda a Curia teria sofrido urna derrota", ao passo que um pouco mais

adiante sustenta que Luciani "tinha provavelmente menos ¡nimigos na Curia que qualquer outro Cardeal". O cárdeal Hamer é definido como "Prefeito" da Congregapao para a Doutrina da Fé (nunca o foi): "pela primeira vez um

Papa (Joao Paulo I, ndr) falava ao povo de um modo e como um estilo que todos compreendiam" (o que foi feito de Joao XXIII?); "Um dos novos tí tulos que Luciani tinha adquirido, era o de bispo de Roma. Antes a cidade

nao tinha um bispo, ao contrario de Milao, Florenca, Veneza e Ñapóles, des de um século" (como esquecer o relacionamento de Pió XII com Roma?). Yallop elenca entre os gestos "revolucionarios" de Joao Paulo I a abolicao da tiara (já estabelecida por Paulo VI); "como decano do Sacro Colegio, Felici conheciaas tramas da Curia melhor do que qualquer um" (o decano era Confalonieri). Erros como estes, que denotam um desleixo e umadesinformacao notáveis, existem as dezenas no livro.

2. A tese de V. Wlli Mas qual é a tese proposta pelo livro de Willi em relacao a rnorte de Joao Paulo I? Willi considera muito mais racional a tese da morte natural provocada por stress. Eis o que diz a respe i to um professor de medicina Psicossocial de Zurique entrevistado por Willi: "Extistem hoje estudos muito acurados sobre a relacao entre o stress e o enfarte (que foi a causa mortis de terminada pelos médicos vaticanos, ndr). Nao é tanto o volume de trabaIho como tal que tem importancia decisiva, mes o chamado dis-stress. Estamos diante de um dis-stress quando o paciente está submetido a um peso que

considera excessivo, que nao está em condicoes de controlar e influenciar, que Ihe tira a liberdade de decidir segundo suas próprias conviccóes, que o faz sentir-se obrigado a agir contra as suas conviccóes profundas. Era em urna situacao desse género, segundo a descricao de Willi, que se encontrava 365

30

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

Joáo Paulo I..." Naturalmente, como explica mais adiante o professor, a relapao stress-enfarte nao é obrigatória.

Willi concluí o seu tivro com observacoes de caráter geral sobre o

pontificado de Joáo Paulo I, negando que a sua brevidade seja sinónimo de irrealizacao "A humanidade tem necessidade de Papas fortes, de diplomatas espertos, de políticos habéis, de oradores poderosos e de muito dinheiro. So assim a Igreja pode manter-se ácima do turbilhao das potencias mundiais". Para o jornalista suíqo, a questáo fundamental sobre a figura dos Papas é se eles, para poderem sobreviver, sao obrigados a parecer "grandes" ou se tém liberdade para ser como Luciani, simples, modestos e f ráeos. "Mas a humani dade está em condicóes de acolher um verdadeiro Santo Padre santo?" A resposta de Willi é nao, "a humanidade ainda nao está madura para um santo

Santo Padre". Neste sentido, a tese de "Im Ñamen des Teufels" é "mais gra ve" que a de "Em Nome de Deus": neste, os responsáveis pela morte de Joáo Paulo I seriam seis pessoas; naquele, toda a humanidade. Todavía, Joao Paulo I foi um grande sínal, "cuja importancia é inversamente proporcional á duracáo de seu servico na sede de Sao Pedro", como disse Joao Paulo II re cordando o seu predecessor um ano depois da sua morte. "Numa época em que muitos no Vaticano consideram o seu pontificado como um acídente de

trabalho da Igreja ou até a prova de que o Espirito Santo se pode engañar", o fato de que a lembranpa do pontificado de Joao Paulo I continué tao pre

sente no espirito de tantos fiéis constituí para Willi a prova de que o seu pontificado foi de fato um sinal claro e perfeito.

(continuacáo da pág. 48) dade, o Ir. Roger, ao Concilio do Vaticano II na qualidade de observadores. É autor de obras sobre María, a Confissáo, a Eucaristía, o casamento, o celi

bato. Durante estes últimos anos, esteve em Genebra como colaborador ativo no Conselho Ecuménico das Igrejas".

O fato da ordenacáo é muito alvissareiro para o movimento ecuméni co. Nao pode deixar de suscitar em todos os cristáos os anseios de que mais e mais se dissipem os obstáculos á almejada unidade. E.B.

366

Fala a experiencia:

As Frustrares do Aborto Em síntese: A legalizacao do aborto em alguns países tem provocado

reacoes negativas da parte tanto do grande público como dos médicos: percebem quanto de desumano há nesta prática, e quanto os interesses espurios

(comerciáis) influem sobre a mesma. A própría mulher, submetida a tai intervencao, ainda que a peca espontáneamente, nao deixa de ser profunda mente atingida no seu natural instinto de manternidade, propenso ao carinho e a defesa da vida.

Estas afirmacoes sao ilustradas por depoimentos e episodios coletados ñas páginas seguintes.

0 aborto, legalizado em muitos pai'ses após enérgicas campanhas que

o postulavam como solucao de grave problemática, tem causado dissabores e decepcoes, que a imprensa vem registrando. No Brasil, a questao, deixada em aberto pela nova Constituicáo, esta

muito em foco. Há grupos que pleiteiam a legalizacao do aborto como pre

tensa resposta para urna questáo social. Diante disto, parece oportuno dar a conhecer a experiencia de povos qué já liberaram o aborto e atualmente coIhem os frutos da sua legislacao. Por conseguinte, examinaremos, a seguir, al

guns tópicos da situacáo na Franca, na Italia, na Inglaterra e nos Estados Unidos da América.

1. Na Franca Ao se celebrar o décimo aniversario da legalizado do aborto, milha-

res de manifestantes

pediram eloqüentemente ao Governo Francés que res-

taurasse algumas medidas de defesa das enancas ainda nao nascidas e impe

dí sse que oRU. 486, fármaco abortivo, seja vendido como qualquer outro produto farmacéutico. 367

32

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988 A propósito desta recente pflula abortiva, o CLER (Centra de Liaisons

des Equipes de Recherche) dirigiu a Sra. Barzach, Ministra Delegada para os

Setores da Familia e da Saúde, a seguinte carta datada de 31/01/88: "Sra. Ministra,

No momento em que V. Exda. esté para tomar urna decisao sobre a

autorizafio de venda, no comercio, do RU. 486, os membros da CLER

fazem questSo de reafirmar sua estima pelo respeito á vida humana desde a conceicio..

Jádiziamosem 1979: 'Como confirma a ciencia genética moderna, no embriao tem inicio urna vida que nao é nem a da mié nem a do pai, mas a de um novo ser

humano que se vai desenvolvendo por si mesmo. A este titulo, merece proteció' /'Supplément d'Amour et de Famille n° 118). No caso do RU.486, a decisao será tomada numa fase em que a mulher se defronta com muitos fatores que a debilitam.

Como indican) as ponderacoes do Comité Nacional de Ética, a difusao do RU.486 acarretaria inevitavelmente a banalizacao do aborto e, por conseguinte, a burla da lei.

Podemos, pois, evitar que o uso do RU.486 se torne urna prática con

traceptiva e contribua um pouco mais para a anestesia das consciéncias? Multas pessoas perguntam: 'Um pequeño atraso das regras... que importa isto?'

Julgamos que o respeito á criatura humana deve ser favorecido em to das as suas dimensSes - física, psicológica e espiritual -, qualquer que seja o estágio do desenvolvimento dessa criatura.

0 CLER assim se associa aqueles que desejam que a política da Fa milia em nosso país caminhe no sentido de acolhera enanca e respeitara vi da humana.

Queira, Sra. Ministra, aceitar a expressio da nossa elevada consideracao".

2. Na Italia Na Italia, a lei n° 194, que permitiu o aborto, completou dez anos em 22/05/88. Ñas proximidades desta data, a Igreja convidou a populacáo a re368

AS FRUSTRACOES DO ABORTO

33

fletir sobre o valor da vida humana, lembrando a mensagem de Isabel e

María SS.: "Bendito é o fruto do teu ventre!" Além da Igreja, certos grupos civis se movimentaram em Roma e em Millo no intuito de enfatizar todos os efeitos desastrosos de urna lei que permitiu dois milhoes de abortos. Mesmo alguns expoentes dos Partidos políticos abortistas declararan-i-

se favoráveis a urna revisáo dos efeitos da lei n° 194. Certos deputados de Partidos "leigos" denunciaram "os exi'guos recursos financeiros e científicos

que atualmente sao postos á disposicao da maternidade responsável" (o Es tado nao ajuda adequadamente as maes que queiram gerar e educar seus fiIhos com responsabilidade). Há também na Italia um Movimento "Pró-Vida", que apresentou ao

Parlamento ó seu quarto Relatório. Em 1987, sondou as causas que levam ao aborto voluntario. Em 1988, a Equipe "Pró-Vida" procurou investigar a atitude dos médicos perante a lei n° 194: na verdade, estes tém refletido so bre as conseqüéncias de tal norma, a ponto que varios já nao Ihe sao favorá veis. Com efeito, em 1986 os ginecologías que faziam objecao de conscién-

cía1 contra a lei, eram 59,5% (mais da metadeH, com leve aumento sobre o percentual de 1985; o mesmo se verificou entre os anestesistas e o pessoal da saúde em geral.

2.1. Urna entrevista 0 Dr. Salvatore Garsia, ginecología da Clínica Mangiagalli de Milao desde 1971, é um daqueles que submeteram sua opíníao a urna reconsidera-

cao. Durante cinco anos, ou seja, desde o comeco da vigencia da lei nV 194

até 1983, praticou abortamentos. Depois passou a exercer a objepcao de

consciéncia. — O repórter R.M. da revista Famiglia Cristiana2 foi entrevísta lo a respeito, obtendo as seguintes explicacoes:

R.M.: "Doutor Garsia, por que nao quis continuar a realizar aborta mentos?"

Dr. Garsia: "Urna atitude como a que tomei, é algo de muito pessoal. Diversos motivos podem influir, prevalecendo uns ou outros segundo os in-

' "Ob/ecao de consciéncia" é a recusa de obedecer a alguma lei motivada por razoes éticas pessoas (-de consciéncia). A legislacao italiana reconhece a objecao de consciéncia ao se tratar de abortamentos.

2 Vern? 6/1988, datado de JO/02/88. 369

32

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988 A propósito desta recente pt'lula abortiva, o CLER (Centre de Liaisons

des Equipe* de Recherche) dirigiu á Sra. Barzach, Ministra Delegada para os Setores da Fami'lia e da Saúde, a seguinte carta datada de 31/01/88: "Sra. Ministra,

No momento em que V. Excia. está para tomar urna decisao sobre a autorizacao de venda, no comercio, do RU. 486, os membros da CLER

fazem questao de reafirmar sua estima pelo respeito á vida humana desde a conceicao.. Já dinamos em 1979:

'Como confirma a ciencia genética moderna, no embriSo tem inicio urna vida que nao é nem a da mae nem a do pai, mas a de um novo ser

humano que se vai desenvolvendo por si mesmo. A este titulo, merece protecao' fSupplément d'Amour et de Familia n° 118). No caso do RU.486, a decisao será tomada numa fase em que a mulher se defronta com muitos fatores que a debilitam.

Como indicam as ponderacoes do Comité Nacional de Ética, a difusao do RU.486 acarretaría inevitavelmente a banalizacSo do aborto e, por conseguinte, a burla da leí.

Podemos, pois, evitar que o uso do RU.486 se torne urna plática con

traceptiva e contribua um pouco mais para a anestesia das consciéncias? Multas pessoas perguntam: 'Um pequeño atraso das regras... que importa isto?'

Julgamos que o respeito á criatura humana deve ser favorecido em to das as suas dimensoes - física, psicológica e espiritual -, qualquer que seja o estágio do desenvolvimento dessa criatura.

0 CLER assim se associa aqueles que dese/am que a política da Fa milia em nosso país caminhe no sentido de acolhera enanca e respeitar a vi da humana.

Queira, Sra. Ministra, aceitar a expressSo da nossa elevada consideracao".

2. Na Italia Na Italia, a lei n° 194, que permitiu o aborto, completou dez anos em

22/05/88. Ñas proximidades desta data, a Igreja convidou a populacáo a re368

AS FRUSTRAQOES DO ABORTO

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fletir sobre o valor da vida humana, lembrando a mensagem de Isabel e

María SS.: "Bendito é o fruto do teu ventre!" Além da Igreja, certos grupos civis se movimentaram em Roma e em Milao no intuito de enfatizar todos os efeitos desastrosos de urna lei que permitiu dois milhoes de abortos.

Mesmo alguns expoentes dos Partidos políticos abortistas declararamse favoráveis a urna revisáo dos efeitos da lei n° 194. Certos deputados de

Partidos "leigos" denunciaram "os exiguos recursos financeiros e científicos que atualmente sao postos á disposicao da maternidade responsável" (o Es tado nao ajuda adequadamente as maes que queiram gerar e educar seus fiIhos com responsabilidade).

Há também na Italia um Movimento "Pró-Vida", que apresentou ao Parlamento o seu quarto Relatório. Em 1987, sondou as causas que levam ao aborto voluntario. Em 1988, a Equipe "Pró-Vida" procurou investigar a atitude dos médicos perante a lei n° 194: na verdade, estes tém refletido so bre as conseqüéncias de tal norma, a ponto que varios já nao Ihe sao favorá veis. Com efeito, em 1986 os ginecologistas que faziam objepáo de conscién-

cia1 contra a lei, eram 59,5% (mais da metadeH, com leve aumento sobre o percentual de 1985; o mesmo se verificou entre os anestesistas e o pessoal da saúde em geral.

2.1. Urna entrevista

0 Dr. Salvatore Garsia, ginecologista da Clínica Mangiagalli de Milao desde 1971, é um daqueles que submeteram sua opiniao a urna reconsidera-

cao. Durante cinco anos, ou seja, desde o comeco da vigencia da lei nu 194 até

1983, praticou abortamentos. Depois passou a exercer a objecpáo de

consciéncia. - O repórter R.M. da revista Famiglia Cristiana2 foi entrevísta lo a respeito, obtendo as seguintes explicacoes:

R.M.: "Doutor Garsia, por que nao quis continuar a realizar aborta mentos?"

Dr. Garsia: "Urna atitude como a que tomei, é algo de muito pessoal. Diversos motivos podem influir, prevatecendo uns ou outros segundo os in-

1

"Objecao de consciéncia" é a recusa de obedecer a alguma lei motivada

por razoes éticas pessoas (-de consciéncia). A legislacao italiana reconhece a objecao de consciéncia ao se tratar de abortamentos.

2 Ver n? 6/1988, datado de 10/02/88. 369

34

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

divi'duos. Vém ao caso tres fatores principáis: emotividade. as conviccóes re ligiosas e algo que eu chamaría 'clínico, técnico e legislativo'".

R.M.: "Pode explicar melhor este terceiro elemento? Dr. G.: "Quero dizer que em alguns colegas meus, mais do que em

mim mesmo, houve o desejo de contestar uma leí que foi mal elaborada, mal aplicada e também desfigurada, pois, do conceito de extrema solucao de um

mal extremo, passaram a consideré-la como instrumento acessível a todos,

mesmo em casos que nao sempre ou quase nunca sao dramáticos. O aborto tornou-se um meto anticoncepcional como é o DIU, que, segundo bem sabe mos, provoca miniabortos". R.M.: "0 Sr. disse que nSo foi a desilusao decorrente da apiicacao da

leí que o levou a mudar de atitude. Também nao creio que aquilo que o Sr. chama 'conviccao religiosa'possa originarse repentinamente...". Dr.G.: "Nao, nao é verdade. A fé pode amadurecer dentro de uma pes-

soa. Também certos fatos, como a vivencia da prática do aborto, podem concorrer para uma mudanca de atitude: o médico que se torna responsável por uma interrupcao de gravidez, vive uma situacao altamente emotiva,

como é a de um soldado que em guerra mata um inimigo. É obrigado a fazélo porque veste uma farda, mas nao

creio que tenha prazer ao matar outra

pessoa. Análogamente, quem pratica dez abortamentos numa só manha, po de experimentar semelhante recusa".

R.M.: "Mas entao o médico que deixa de realizar abortamentos, é simplesmente vitima de uma rotina nao gratificante?

Dr.G: "Nao, nao creio que seja assim. Com efeito; quem traba/ha de tal maneira num Hospital tem sempre uma tarefa pesada". R.M.: "O Sr. deu o exemplo do soldado que mata um inimigo, isto é, um ser humano. Os médicos que praticam o aborto, como era o Sr., diriam que nao se trata de uma pessoa, mas de um aglomerado de células". Dr.G.: "NSo contemos lorotas; quando se provoca a interrupcao da gravidez na décima semana aproximadamente, nao se trata de um aglomera do de células. Além do mais, nos realizávamos abortamentos até em época mais adiantada, ou porque nos, médicos, nao conseguíamos efetuá-los ante riormente, ou porque as próprias mies se apresentavam com atraso e havia certa liberdade para aceité-las".

R.M.: "Lembra-se de algum episodio daqueles anos que q tenha especi almente impressionado?" 370

AS F RUSTRAgOES DO ABORTO

35

Dr. G.: "Nao esquecerei, por ceno, os semblantes das numerosas mocinhas que se apresentavam para abortar, sendo para algumas a segunda ou a

terceira vez..."

R.M.: "Dr. Garsia, com que se ocupa agora?" Dr. G.: "Cada um de nos, ginecologistas da Clínica Mangiagalli, se ocupa com tudo, desde o ambulatorio até as salas de parto, mas eu me dedi co com mais afinco á Oncología".

R.M.: "Fez urna mudanca considerável". 2.2. E no caso de AIDS? Na Italia a LILA (Liga Italiana Lotta all'AIDS), em margo de 1987,

sob o patrocinio do Ministerio da Saúde, publicou um documento em que afirmava: "A transmissao da infeccao da AIDS da mié atetada ao fitho está am~

píamente demonstrada. Todavía conhecem-se medidas eficazes para impedir antecipadamente a transmissao da doenca da mae ao fílho, como também existem medidas assistenciais que podem atenuar este risco, mesmo ñas muIheres já grávidas".

0 mesmo documento avalia em 35% o risco de transmissao da AIDS da mae para a crianpa.

Fo¡ entrevistado, a respeito do problema, o Prof. Nicola Natale, gine-

cologista e presidente da Associacfo dos Portadores de Objecao de Consciéncia no campo da Medicina. Declarou que se pode mesmo avaliar em 40% a probabilidade de contagio do filho por parte da mae aidética. . Tal contagio se realiza principalmente durante a gravidez e, muito ra ramente, por ocasiáo do parto. Sabemos também que o virus passa para o

leite materno, mas ainda nao é claro se e como afeta a enanca. Ademáis é preciso observar que 70% dos bebés que nascem com o vfrus aidético, cos-

tumam perdé-lo durante os seis primeiros meses de vida; os restantes 30% geralmente morrem.

Perguntou entSo o repórter: "Do ponto de vista médico, haveráalguma indicacao de aborto para urna muther aidética?" Respondeu o Dr. Natale: "Nao. Poderia responder também com urna

pergunta: por que motivo essa mulher deveria abortar? Se quisermos refletir 371

36

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

co'm seriedade, pederemos apontar apenas duas razoes: grave daño para a crianza recám-nascida ou grave daño para a mié. Examinemos o primeiro caso, fazendo urna observafio previa:

Na Italia, a AIDS atinge geralmente as mulheres dependentes de tó xicos ou unidas a um companheiro tóxicodependente. Estes sao casáis que,

por causa do abuso da droga, geralmente tém baixa fertilidade e tSm alto percentual de abortamentos voluntarios e aínda mais alta incidencia de abortamentos espontáneos. Podemos dizer que, de cem mulheres dependentes de

tóxicos, apenas trinta ou menos chegam ao parto. Os 30% desses 30%, isto é, os 10% das enancas nascidas de mulheres aidéticas correm o risco de contrair a AIDS.

Fagamos agora urna ponderacio fundamental: nos todos, desde que fomos concebidos no seio materno, estamos destinados a morrer antes ou

depois de nascer. EntSo por que anteapar a mortePSe a alternativa é ou eli

minar logo urna enanca' ou deixá-la correr o risco da AIDS, prefiro deixá-la correr o risco". Repórter: "E quanto aos riscos que pode sofrer a mié?" Dr N. Natale: "Nos bastidores da Medicina temos noticia de que a gra videz pode comportar um agravamento da molestia, mas os dados por ora

sao escassos e todos devem ainda ser comprovados". Repórter; "Por conseguinte, nenhuma razio médica recomenda de an-

temió o aborto. Mas para a mulher viciada em drogas e aidética, nao haveria

urna justificativa de ordem psicológica e social em favor do aborto?" Or. N. Natale: "Está claro que um estado de psiquismo frágil e urna situagao de marginalizagio social sio traeos característicos dos toxicode-pen-

dentes; ninguém o pode negar. Mas o fato de que essas pessoas se acham em tais condiedes n§o invalida o que dizia hápouco: sabemos que muitas delas querem abortar e levamos isto em consideracio, mas nem por isto devemos consentir no aborto. A sotucao que se deve tentar com todo o afinco, é a de procurar recuperar os dependentes de tóxicos". Até aquí o Dr. N. Natale, que se revela milito sensível ao valor da vida humana e reconhece que a Medicina existe para defendé-la e nunca para ex-

terminá-la.

1 que tafvez escape da AIDS (Nota do tradutor). 372

AS FRUSTRACOES DO ABORTO

37

3. Na Inglaterra Já em PR 213/1977, pp. 377-390, foi apresentado o livro "Bebes para queimar" (Babies for burning), dos jornalistas Michael Lichtfield e Susan

Kentish. Munidos de gravador e dissimulando-se como se fossem casados ou namorados entre si, foram ter a diversas Clínicas e varios médicos, a firr de

pedir aconselhamento, pois "suspeitavam estar Susan' grávida".

Puderam

entao perceber a trama existente a fim de orientar os clientes de tais casas

para a prática do aborto; embora Susan nao estivesse grávida, o laudo resul tante do exame de urina era geralmente "Grávida" (mesmo quando em de terminada ocasiao foi dada para exame a urina de Michael). A mentira e a Mais: puderam os jornalistas averiguar que mais de um médico vendia as crian cas extraídas do seio materno a fábricas de sabao e cosméticos, visto que a gordura animal é a mais recomendada

desonestidade eram evidentesl

para a confeccao de tais artigosl - No mesmo livro, os dois autores observam que nos Estados Unidos e na Holanda puderam averiguar procedimentos semelhantes aos da Inglaterra. Ora recentemente tornou-se clamoroso neste mesmo país um outro episodio relacionado com o aborto. Passamos a relatá-lo depois de apresen-

tar o respectivo paño de fundo: Na Inglaterra o aborto é um direito reconhecido a toda mulher que o requeira; nenhuma formalidade ou condicao restritiva se impoe á candidata desde que esteja dentro das primeiras vinte e oito semanas de gestacao, ou dentro dos seus sete primeiros meses...

Recentemente o Deputado liberal David Aitón apresentou ao Parla mento um projeto que restringe para dezoito meses o prazo de liceidade do aborto. Já foi vitorioso na primeira etapa de tramitagao, mas encontra muítos adversarios, entre os quais a própria Primeira Ministra Margaret That-

cher. é provável que se chegue a urna solucao de compromisso: nem 28 nem 18, mas 24 meses... Entrementes ñas salas de cirurgia ocorrem realidades atrozes, guarda

das sob silencio. A sociedade permissiva, de um lado, as tolera, mas, de ou tro lado, exige que nao sejam proclamadas. De vez em quándo, porém, díse um "furo"; algumas das pessoas mesmas que trabalham na prática do aborto, concebem

horror diante de fatos mais estridentes; tém compaixSo

das vítimas, ouvem o bradó da consciéncia e já nao podem guardar o silen cio...

Foi precisamente por este canal que se tornou conhecido um episodio ocorrido há meses no Hospital Maior de Carlisle, no Norte da Inglaterra. 373

38

"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

Urna menina de cinco meses, extraída abortivamente do seio mater no, foi deixada com vida em cima de urna bandeja de metal sobre urna mesa

enquanto agonizava; morreu finalmente após duas horas (segundo o médico responsável) ou após tres horas (segundo outros). Entao lancaram-na dentro do incinerador.

O cirurgiSo responsável afirmou que a crianca tinha vinte e urna sema

nas de existencia e que, por conseguinte, podía ser legalmente eliminada do seio materno. Quando retirada deste, a menina respirava e tinha oitenta pulsacóes cardíacas por minuto. "Que fazer com ela?", perguntava o pessoal de enfermagem. O médico de planteo respondeu que nada havia a fazer: os pulmóes, dizia, nao estavam suficientemente formados; além do qué, julgava que havia deformacóes cerebrais causadas pela substancia abortiva ingerida pela mae por ordem do médico, para que perdesse a enanca. Estes dois lau dos, dos quais o segundo hipotético, equivaliam á sentenpa de morte decre tada para a enanca.

Já que a menina continuava a respirar e gesticular, urna das tres enfer-

meiras assistentes houve por bem batizá-la. Foi este o único ato humanita rio (e cristao) que se praticou em favor déla. Quando, após muito sofrer, a

enanca morreu, foi envolvida em urna sacóla de plástico e jogada no incine rador; assim jamáis se poderia averiguar se era verídico ou nao o diagnóstico do médico.

Nunca o público teria tomado conhecimento do episodio se asenfermeiras presentes, atormentadas em sua consciéncia, nao o tivessem contado confidencialmente ao Pe. Peter Houghton. Este convenceu-as de que deviam levar o fato ás autoridades judiciárias.

O Hospital, em conseqüéncia, esteve sob inquérito, por denuncia do Movimento inglés "Pró-Vida". Todavia a East Cumbria Health Authority, instituí cao sanitaria regional governamental, absorveu o Hospital, declaran do no seu laudo oficial que aquela ¡nterrupcáb de gravidez, plenamente líci ta, fora executada correctly and compassíonately, isto é, corretamente e

com a devida compaixao! - Se se requer um coracao de pedra para assistir impassivelmente á morte de um inocente, supoe-se ánimo maligno ou sarcástíco para escrever que a operacao atrás descrita foi praticada "com a devida compaixao"!

O caso desta menina ó talvez um entre milhares de semelhantes, Igno rados pelo público; vem a ser síntoma de mentalidade e situacSo pouco hon rosas (ou mesmo desonrosas) para a sociedade humana. Atualmente, o Movi mento inglés "Pró-Vida" pede que tais casos de nascimento e> morte sejam oficialmente registrados. 374

AS FRUSTRACOES DO ABORTO

39

4. Nos Estados Unidos Nos Estados Unidos a celebracao do 15? aniversario da legalizarlo do aborto suscitou turbulentas

manifestacoes em defesa da vida. Em Washing ton 50.000 pessoas participaran! da iniciativa nacional, de que jomáis e re vistas publicaram fotografías significativas: viam-se homens e mulheres, in clusive jovens, ostentando faixas com os dizeres "March for Ufe", "The Gift

of Ufe", "God's Special Gift"... (Marcha em favor da Vida, O Dom da Vida, Especial Dom de. Deus).

5. ConclusSo . O aborto, além de ser um atentado á vida de urna enanca ¡nocente, é

também um trauma profundo infligido ao psiquismo'da mulher. Esta tem congénito o instinto da matemidade, que comporta carinho e amor pela vida. Eis alguns depoimentos de pessoas que fizeram a experiencia do aborto e reve lam as impressoes que isto Ihes causou: Urna estudante solteira, de 20 anos de idade, ao recordar o ambiente

em que certa vez sofreu o aborto, assim fala: "Péssima impressao de tumulto e de desprezo por voces, médicos. Voces me causam nojol" Outra estudante, com 22 anos, declara: "Jamáis esquecerei a sala cheia de sangue e de indiferenca!" Urna trabaIhadora, casada, com 25 anos, se disse desiludida pelo am biente "nao hostil, mas frió, indiferente, como se nao estivessem tratando

com mulheres portadoras de tío serio problema". Urna dona de casa com 35 anos de idade, casada: "Nao creio que cer

tas recordacóes se apaguem só porque o queremos. Parece-me ter perdido urna crianca minha, destruindo-a com as minhas ma*os".

Urna trabalhadora, com 41 anos, casada: "Quando vejo urna crianca que poderia ter a idade do meu filho, ou quando vejo urna mulher grávida,

experimento grande tristeza e um sehtimento de vazio". Urna dona de casa, com vinte e sete anos de idade, casada: "Sinto raíva de mim, raiva também de quem nao me explicou suficientemente as coi sas quando pedi o aborto. Eu devia saber melhor o que era, como o pratica-

vam e principalmente o ambiente no qual eu me encontraría!" Outra dona de casa, com 35 anos de idade: "Sinto raiva de quem me colocou na cabeca que eu era velha demais para ter um filho". 375

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"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

Urna estudante de 22 anos: "Jamáis poderei perdoar a mim mesma o que fiz. Perdí a vontade e o entusiasmo de viver".

Estes testemunhos foram colhidos num inquérito realizado na Italia.1 Revelam o que alguns chamam a "síndrome pos-aborto". Este fere a mulher no que ela tem de mais específico e caro; para a grande maioria, nao é um dos muitos acontecimientos da vida, sujeitos a ser arquivados e esquecidos, mas deixa marcas duradouras.

Eis as razoes por que a Moral católica se opoe ao abortamento: o pro-

prío bem da mulher, além do respeito á vida do filho, exigem a repulsa de tal prática. Em vez de pensar em liberar ou facilitar o aborto, seria para desejar que as autoridades públicas e particulares se preocupassem com o amparo

a gestante, a fim de que possa ter seu filho naturalmente e, caso necessário, o entregue, depois de nascido, a quem o possa educar numa familia adotiva ou em ¡nstituicoes do Estado ou particulares devidamente aparelhadas com pessoal e instalacoes. •





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1

Ver "Famiglia Cristiana", n9 6 de 1988, JO/02, pp. 38s. 376

Um Santo leigo em nosso século:

José Moscati, o Médico Santo Em síntese: Giuseppe Moscati foi um leigo, médico, professor universi tario, pesquisador. que se tornou santo através do exercfcio mesmo da sua profissao. Via os pacientes como irmSos que dele esperavam nao sonriente o alivio do corpo, mas também o incentivo espiritual. Dedicava-se-lhes nos Hospitais e em seu consultorio, procurando estar sempre em día com a

ciencia a fim de melhor servir aos enfermos. Desprendido de bens materiais e de seus interesses particulares, nao raro dava também dinheiro aos clientes mais necessitados, de modo que morreu pobre. Deixou Notas pessoais e cartas varías, que revelam o segredo de sua nobreza de caráter ou a sua profunda vida de oracio e uniao com Deus.

Beatificado por Paulo VI em 16/11/1975, foi canonizado em 25/10/ 1987, por ocasiao do Sínodo Mundial dos Bispos referente aos Leigos. Sao José Moscati é um testemunho de como, no mundo de ho/e e no exercfcio de urna profissio de grande relevo, pode o crístao santificarse, tornándose herói de virtudes, queem vidavalerama Moscati o titulo de "Médico santo". *

*

*

A vida dos Santos é sempre um sinal que fala eloqüentemente á humanidade, pois eles traduzem em termos concretos e vivenciais o que os livros apresentam em teoría; assim mostrsm que os mais be los ideáis sao viáveis e

encontram, mesmo em época de materialismo, quem os ponha em prática

com a graca do Senhor Jesús. Por isto os mestres de espiritualidade recomendam a todos os cristáos que periódicamente se voltem para a figura dos Santos, a fim de aprender deles, de modo vivencial, a arte da perfeicao espi ritual (que é também a plena humanizacao do individuo)-. Cada Santo tem suas peculiaridades, evidenciando que, com qualquer temperamento e em qualquer vocacao dados por Oeus, a pessoa pode chegar á plenitude das suas

virtualidades; na verdade, hinguém é chamado ao meio-termo ou á mediocridade. Tal foi.o caso, entre outros, de Giuseppe Moscati (1880-1927), médi co, professor universitario e pesquisador, que o Papa Paulo VI proclamou 377

42

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

Bem-aventurado aos 16/11/1975 e Joao Paulo II canonizou aos 25/10/1987 (durante o Sínodo Mundial dos Bispos que tratava dos Leigos na Igreja). Segue-se um perfil da vida e da personalidade deste Santo.

1. Dados biográficos Giuseppe Moscati nasceu aos 25/07/1880 em Benevento (Italia), de familia íntegra; o pa¡, Francesco Moscati, era jurista, que chegou a ser Pre sidente do Tribunal de Benevento e Conselheiro do Tribunal de Recursos de Ñapóles. A Sra. Rosa De Luca Moscati era, no dizer do filho Giuseppe, a mulher forte de que fala a S. Escritura em Proverbios 31,10-31.

Desde 1884 a familia morón em Ñapóles, onde também Giuseppe viveu e morreu. Fez os estudos de Humanidades em Ñapóles, onde entrou pa

ra a Facutdade de Medicina em outubro de 1897, com dezessete anos de idade.

Dedicou-se ardorosamente ao estudo e a prática da Medicina, pro

curando sempre atualizar os seus conhecimentos. Conseguiu o Doutorado em Medicina aos 4/08/1903. Poucos meses depois, prestou concurso para trabalhar nos Hospitais de Ñapóles; já o seu saber científico surpreendia os examinadores.

Em 1908 foi nomeado Assistente Ordinario no Instituto de Química Fisiológica. Conseguiu a Livre Docencia desta materia em 1911, e a de Clí nica Médica Geral em 1921. Em 1919 foi promovido a Diretor de Sala nos Hospitais Reunidos de Ñapóles.

Dedicou-se á pesquisa, em laboratorio, sobre a acao dos amidos e da glicose no organismo humano. Publicou os resultados destes estudos em cer

ca de trinta relatórios e comunicacdes editados na Italia e no estrangeiro. Es tes trabalhos o tornaram famoso e estimado tanto na sua patria como fora desta. A convite do Governo italiano, viajou para diversos países da Europa a fim de participar de Congressos: em 1911, por exemplo, esteve em Viena (Austria) como membro do Congresso Internacional de Fisiologia; em 1923, foi a Edimburgo (Escocia), tomando parte no Congresso Internacional de Fisiopatologia.

Morreu com a fama de sabio e santo aos 12/04/1927. Com efeito; aos 12 de abril de 1927, após a S. Missa e a Comunhao, o Prof. Moscati voltou á casa e preparou-se para seguir para o Hospital. Depois de fatigosa manha de trabalho, dispds-se a enfrentar a habitual fila de clientes em seu am378

JOSÉ MOSCATI, O MÉDICO SANTO

43

bulatório. Mas as 15 horas retirou-se para um quarto, dizendo: "Estou-me sentindo mal". Sentou-se numa poltrona, cruzou os bracos sobre o peito, reclinou a cabeca, e, sem urna palavra, expirou. Tinha 47 anos de idade.

2. A figura do médico Giuseppe Moscati era um apaixonado da Medicina; para ele, o contato diario com os doentes era urna necessidade. Logo que se formou, comecou

a servir no Hospital dos Incuráveis, que ele nao deixou de freqüentar até o fim da sua vida. Em suas Notas pessoais, encontra-se o seguinte depoimento: "Quando rapaz, eu olhava com ¡nteresse para o Hospital dos Incurá

veis, que meu pai apontava á distancia, ou se/a, do terraco de casa; isto me inspirava sentimentos de compaixao pela indizível dor dos enfermos, que naquele recinto procuravam alivio. Urna salutar perturbacao me acometía e eu comecava a pensar na caducidade de todas as coisas e as ilusoes se dissipa-

vam, como cafam as flores dos laran/ais que me cercavam". Como ás flores sucedem os frutos, assim também na vida de Moscati a perda de ilusoes levou-o a um empenho realista e fecundo em favor dos seus irmáos sofredores. 0 papel do médico, Moscati o descreveu em carta dirigida a um seu aluno recém-formado:

"Lembra-te de que, segundo a Medicina, assumiste a responsabilidade de urna sublime missSo. Persevera, com Deus no coracao..., com amor e

compaixao para com os que sio abandonados, com fé e entusiasmo, surdo aos louvores e ás críticas, insensíveis á inveja, disposto únicamente á prática do bem". Vé-se que Moscati considerava o exerci'cio da sua profissao como a res-

posta a urna vocacao; ele quería dedicar-se a esta com fé e amor, inspirado

pelas mais puras ¡ntencSes. Passava longas horas do dia e da noite no labora torio para descobrir as causas das doencas e definir os respectivos remedos; quería assim servir,... e servir do melhor modo possível. A sua vida tornou-se urna resposta a Deus, que o colocou no mundo para agir segundo os planos do Criador; era também urna resposta ás necessidades e aos sofrimentos dos homens. Assim escreveu ele num pedaco de papel encontrado entre outros documentos:

"Seja a dor considerada nao como urna oscilacao ou urna contracSo muscular, e'sim como o grito de urna alma, de um irmSo, ao qualoutro irmao, o médico acode com o calor do amor ou a caridade". 379

44

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988 Em carta escrita a um médico, seu ex-aluno, pode-se ler: "Recorda-te de que te deves ocupar nSo apenas com o corpo, mas tam-

bém com as almas". Com estas palavras, Moscati revelava seu zelo pela pessoa do enfermo, que freqüentemente deseja encontrar no médico mais do que um profissio-

nal ou um técnico, e sim também um estímulo e reconforto. É o que apare

ce em outro escrito de Moscati: "O médico acha-se em posicao privilegiada, pois freqüentemente está diante de pessoas que, apesar dos seus erros passados, estéío dispostas a voltar aos bons principios herdados de seus antepassados; estSo ansiosas por en contrar apoio premidas pela dor. Feliz o médico que sabe compreender o

misterio desses coracoes e inflamá-los novamente \"

"Felizes nos, médicos, multas vezes incapazes de debelar urna doencal Felizes nos, se nos lembramos de que, além dos corpos, temos diante de nos almas imortais,... em relacao as quais urge o preceito evangélico de amá-tas como a nos mesmos".

"Os doentes sao a imagem de Jesús Cristo e os atribulados sao os diletos e preferidos de Deus". 0 seu amor pelos doentes nao Ihe deixava treguas: durante o dia estava nos Hospitais, na cátedra universitaria, em visita aos doentes, especialmente aos mais miseráveis; e de noite dedicava bom espapo de tempo ao estudo, a f im de sempre oferecer aos pacientes e alunos o melhor que pudesse saber e adquirir. Mesmo durante o dia, quando o Prof. Moscati voltava dos Hospitais

para casa, encontrava a sua residencia cheia de pacientes á espera.

3. O homem de Deus Tal dedicacao nao era interesseira. Muito pelo contrario. Praticava o desapego dos bens materiais. Quando julgava os emolumentos elevados de-

mais, restituía a metade, ou mais do que isto, aos seus clientes. Dos mais ne-

cessitados nao cobrava honorarios, dizendo que o importante era curá-los. Na sala de espera do seu consultorio havia um cesto onde os clientes podiam depositar o preco da consulta. Certo dia, pouco após a guerra de 1914-18, apareceu-lhe um homem que estivera na frente de batalha. Após o atendí-

mentó, perguntou o paciente ao médico: "Quanto Ihe devo, professor?" O

doutor sorriu: "Pensa, antes do mais, em ficar bom. Se podes, coloca no ces to o que queres, mas, se precisas, tira aquilo que te é necessário". Nao raro era Moscati quem pagava aos seus doentes: alguns destes encontravam urna

380

JOSÉ MOSCATI, 0 MÉDICO SANTO

45

quantia em notas debaixo do travesseiro; outros, dentro do envelope porta

dor da receita... Eram proverbiáis as suas iniciativas neste particular, de modo que Moscati morreu pobre. Os seus costumes irrepreensíveis e a sua piedade valiam-lhe zombarías de muí tos, que o acusavam de louco ou de "maníaco religioso", pois nao o

podiam atacar no plano científico e profesional. Moscati nao fazia caso disso. Encontra-se mesmo em suas Notas particulares a seguinte norma: "Ama a Verdade. Mostra-te como és, sem disfarces e sem fingimento. E, se a Verdade te custar a perseguido, aceita-a; e, se te acarretar tormentos, suporta-os. E, se por causa da Verdade tivesses que sacrificar a ti ea tua vi da, sé forte no sacrificio " (17/10/1922). Moscati

conhecia as intrigas, as rivalidades, os comprometimentos

usuais entre colegas para chegar a posicdes vantajosas na car reirá médica. Lutou, porém, para acabar com práticas e costumes pouco honestos nos Hospitais, nao somente porque degradam a figura do médico, mas também

porque prejudicam a formacao dos estudantes, futuros médicos, e causam danos aos próprios pacientes. Combatía, pois, o nepotismo, o proteccionis mo e o favoritismo nos concursos e ñas promocoes de carreira, que muitas

vezes redundam em baixa de nivel profissional e, indiretamente, em detri mento dos enfermos. A essa retidao de costumes o médico e professor sabia associar profun

da humildade; dizia que "o Senhor Ihe concederá a grapa de compreender que Ele é tudo e eu nada sou". Tinha consciéncia de sua absoluta dependen cia em relacao ao Senhor da vida. 0 segredo dessa nobreza de caráter era a vida interior ou a uniao com Oeus cultivadas por Moscati. Comecava o dia dirigindo-se, muito cedo, á

igreja do Gesü Nuovo, onde recebia a S. Eucaristía. As suas Notas pessoais revelam que ele sabia falar a Cristo com a simplicidade de urna enanca, exprimindo-lhe quanto experimentava em sua alma. Quando tinha um pouco de lazer, passava muito tempo na igreja em oracao e adoracao. Como se vé, Giuseppe Moscati abracou, a luz da fé, "a sublime profissáo de médico", que ele considerava um servico de amor apostólico e um culto prestado a Deus na pessoa dos irmSos sofredores. Durante a sua breve existencia terrestre, cuidou de milhares de pessoas, para as quais foi instru mento de recuperacao da saúde; os seus contemporáneos pareciam entrever em sua pessoa e em seu modo de agir um aceno a bondade do própno Deus. Daí a palavra que de boca em boca se propagava, quando faleceu aos 47 anos

de idade: "Morreu o professor santo!" 381

46

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988 Leigo médico, dentista e santo. Estas palavras resumem urna existen

cia, delineiam um ideal e abrem um caminho, suscitando a imitacao de quantos se achem hoje em circunstancias de vida semelhantes. A propósito pódese consultar o artigo "II Médico Santo: Giuseppe Mos-

cati", de Paolo Molinari S.J. em "La Civiltá Cattolica" n? 3297,07/11/87, pp. 236-248. Destas páginas foram transcritos os textos de Moscati citados; ñas mesmas é indicada ampia bibliografía. Estéváfo Bettencourt O.S.B.

Correspondencia Miúda "Sobre a encomendacao dos suicidas, sei que houve modif¡cacao...

Nada achei no novo Código de Direito Canónico... Que é permitido hoje?" J.P. (RS)

A Igreja, até o novo Código de Direito Canónico, datado de 1983, fazia restricoes a maneira de celebrar os sufragios pelos suicidas que morressem sem sinal de arrependimento; evitava-se publicidade, nao, porém, a ora-

pío por esses irmaos falecidos. A razáo disto estava no desejo de diferenciar o tipo de morte contraria á Le i de Deus do tipo de morte resignada e respeitosa da vontade do Senhor. Ocorre, porém, que nos últimos tempos se tomou consciéncia mais ní tida de que muitos suicidas cometem tal ato de revolta em estado de deses pero alucinado, doentio, privados, em parte ao menos, de sua lucidez men tal e responsabilidade moral. Além disto, observa-se que nunca se pode sa

ber o que acontece no íntimo de urna pessoa; pode arrepender-se de suas fal tas, sem mesmo dar sinal disto. Em conseqüéncia, o novo Código nSo prevé restricao alguma aos sufra

gios pelos suicidas e ao sepultamento eclesiástico dos mesmos. Eis o que dizem os cánones:

Canon 1184 — "§ 1. Devem ser privados das exequias eclesiásticas, a

nao ser que antes da morte tenham dado algum sinal de penitencia: 19 os apóstatas, hereges e cismáticos notorios; 29 os que tiverem escolhido a cremacSo do seu corpo por motivos con trarios á fé cristajo outros pecadores manifestos, aos quais nao possam conceder exe

quias eclesiásticas sem escándalo público dos fiáis. § 2. Em caso de dúvida, seja consultado o Ordinario local, a cujo ¡ufzo se deve obedecer.

Canon 1185 — A quem se negaram exequias eclesiásticas, deve-se também negar qualquer Missa exequial". 382

NOTAS

47

Comenta o Pe. Jesús Hortal: "A exclusao é só da Missa exequial no sentido estrito, nao da aplicacao particular da Missa".

Como se vé, nao há referencia aos suicidas nestes cánones restritivos. Ver o propósito Dadeus Grings: A Ortopráxis da Igreja. Ed. Santuario 1986, pp. 152s: E.B.

NOTAS FILME SOBRE A VIDA SEXUAL DE JESÚS? Há muito, e repetidamente, vem sendo divulgada a noticia de que urna empresa norte-americana estaría preparando um filme blasfemo sobre a vida

sexual de Jesús. Numerosos protestos foram enviados ao respectivo endereco, combatendo tal idéia e pedindo a revogagáo do projeto. A Santa Sé e muitos Bispos se interessaram por conhecer a fundamentacáo de tal rumor, de modo que o Cardeal Joseph Bernardin, Arcebispo de Chicago, devidamente interrogado, respondeu a Mons. Pió Laght, Pró-Núncio Apostólico em Washington, nos seguintes termos: "Prezado Monsenhor Laght,

A respeito do pedido de informacoes da Secretaria de Estado referente a um filme que, como se diz, descreveria a vida sexual de Jesús, estou feliz por comunicar a V. Excia. que nao há fundamento para apreensóes.

Já há varios anos que circulam rumores neste sentido e ninguém pare ce saber quando e onde comecaram. Sempre se associou tal notfcia a Modera

People News, empresa que nao está registrada em Franklin Park, Illinois. Certo é que muitas pessoas alarmadas pediram freqüentemente ao público que protestasse junto a William J. Scott, Procurador Geral do Illinois. Ora o Sr. Scott deixou o seu oficio em 1979. Apesar de tudo, os rumores persistem. Espalharam-se para além das nossas fronteiras e voltam periódicamente á tona para alarmar os fiéis e os demais homens que professam a religiao católica. Faco votos para que esta ¡nformacáo tranqüitize as pessoas inquietas e evite ao Oficio do Procurador Geral um novo fluxo de peticoes bem inten

cionadas, mas totalmente desnecessárias. Estou feliz por ser útil a V. Excia." Esta decía racao do Cardeal Bernardin vem a propósito também para o Brasil, pois ente nos foram, sem dúvida, numerosos os oficios e cartas envía383

48

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 315/1988

dos aos Estados Unidos á guisa de protesto contra um projeto que na realidade nao existia. A intencao de quem assim se empenhou em prol do respeito a Boa Causa, é louvável. Mas deve-se outrossim evitar exacerbar situapoes que nao fundamentam alarme.

(0 texto do comunicado do Cardeal Bernardin foi traduzido a partir da versao francesa do mesmo publicada em SNOP, Boletim do Secretariado Geral do Episcopado Francés, edicao n?709, de 20/04/1988, p.8.

O IRMÁO MAX THURIAN ORDENADO PRESBÍTERO É mundialmente conhecida a comunidade protestante de Taizé-Cluny (Franca), que desde a década de 1940 faz reviver entre os Reformados a vida monástica como seus tres votos típicos (inclusive o de castidade). Ponto de convergencia de muitos cristaos, também católicos e ortodoxos, Taizé promove encontros de jovens, retiros espirituais, sessoes de estudos, que tém

contribuido notavelmente para a reaproximacao dos discípulos de Cristo se parados.

Entre os fundadores e dirigentes de tal comunidade, estao os Irs. Ro-

ger Schutz (muito chegado aos últimos Papas e aos grandes eventos do Cato

licismo) e Max Thurian. Ora a propósito deste último, sabe-se que recentemente se tornou católico e recebeu a ordenacao presbiteral, noticia esta muito significativa, pois mostra como a grapa de Deus se faz presente nos homens de boa vontade.

Eis o que se lé no Boletim BIP-SNOP-SOP, periódico hebdomadario e ecuménico de ¡nformapóes, nPBSS 631, datado de 18/05/1988, pp. 5s: "París, 18 de maio (BSD) — A comunidade ecuménica de Taizé anun cia num de seus comunicados a ordenacao do Irmio protestante Max Thurían. Ela define nessa ocasiao, a posicio da comunidade frente ao sacerdocio católico.

Desde 1972, isto é, há dezesseis anos a comunidade de Taizé conta en tre os seus membros sacerdotes católicos. Ser presbítero nSo modifica a sua pertenca á comunidade. Eis que, há pouco mais de um ano, um dos mem bros da comunidade, o Irmio Max Thurian, foi ordenado pelo antigo arcebispo de Ñapóles, o Cardeal Ursi.

Nascido em 1921, o Ir. Max Thurian emitiuseus compromissos vitali cios na comunidade de Taizé em 1949. Acompanhou o fundador da comuni(continua na pág. 30) 384

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Maria, Virgem e Mae -11. Jesús teve ¡rmffoí? 12. O Culto aos Santos - 13. E as imagens sagrados? - 14. Alterado o Decálo go? - 15. Sábado ou Domingo? - 16. 666 (Ap. 13.18) - 17. Vocé sabe quando? - 18. Seita e Espirito sectario - 19. Apéndice geral. - 304 págs

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