Ano Xx - No. 237 - Setembro De 1979

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Projeto

PERGUNTE E RESPONDEREMOS ON-LIN-E

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO

DAEDigÁOON-LINE Diz Sao

Pedro que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta

necessidade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé '.■"

■\<

hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e

Responderemos propoe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade

controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se

dissipem e a vivencia católica se fortaleca

no Brasil e no

mundo. Queira Deus

abencoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site. Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d.

Esteváo

Bettencourt e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo

da

revista

teológico

-

filosófica

"Pergunte

e

Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

Sumario Pao.

"CREIO NA RESSURREICAO DOS MORTOS"

353

No Ano Internacional da Ctlanca:

OS DIREITOS DA CRIANQA

35S

As riquezas do crlst3o:

OS DONS DO ESPIRITO SANTO

36S

Sansacionais!

PROFECÍAS DE IMINENTE FIM DO MUNDO

378

"O que o olho nSo vlu..."

"REFLEXÓES SOBRE VIDA APÓS A VIDA"

392

LIVROS EM ESTANTE

394

,

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

*

NO

PRÓXIMO





NÚMERO:

«Criacóo e mito» por O. Loretz. — Justica original : existiu ? Que seria ? — «Manicomios, prisóes e conventos» por E. Goffman. — «O mllagre da fé» (filme). — «Creio na ressurreicao dos morros».

x

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Número avulso de qualquer mes

Cr$

18,00

Assinatura anual

Cr$ 180,00

Diregao e Redasáo de Estévao Bettencourt O.S.B. ADMINISTRACAO

REDAgAO DE PR

Livraria Mlssionárla Editora Rúa México, Ul-B (Castelo) 20.031 Rio de Janeiro (RJ)

Calxa Postal 2.666

Tel.: 224-0059

««.««v xv

"CREIO HA RESSÜRREKÁO DOS A S. Igreja, por meio da Congregacáo para a Doutr nffida 4

Fé, houve por bem publicar aos 17/05/79 urna Carta-Instruyao

sobre algumas questóes referentes á escatologia ou á consumacáo do homem e do mundo.

A oportunidade desse documento se depreende do fato de

que numerosas teorías, disseminadas por livros, conferencias e cursos, vém atenuando ou desfigurando nos fiéis as concepcóes genuinamente cristas sobre tais assuntos. Alguns chegam a

perguntar: haverá alguma coisa para além da morte? Subsis

tirá algo de nos mesmos ou espera-nos o nada? — Ora a res-

posta que se dé a tais perguntas, é de importancia capital para a orientacáo da vida presente; o significado desta depende, inegavelmente, da maneira como se conceba o além.

Eis por que vamos, a seguir, transcrever a parte principal da referida Carta, que em próximo número publicaremos na íntegra, acompanhada de comentario. «Esta Sagrada Congregacao, que tem a

responsabilidade de

promover e de defender a doutrina da fé, propoe-se hoje recordar

aquito que a Igreja ensina, em nome de Cristo, especialmente quanto

ao que sobreven» entre a morte do cristáo e a ressurreicao universal. 1)

A Igreja eré numa ressurreicao dos morros

(cf. Símbolo

dos Apostólos).

2)

A

Igreja entende

esta ressurreicao

referida

ao

homem

todo; esta, para os eleitos, nao é outra coisa senáo a extensao aos homens da própria ressurreicao de Cristo.

3)

A Igreja afirma a sobrevivencia e a subsistencia, depois

da morte, de um elemento espiritual, dotado de consciénca e de

vontade, de tal modo que o eu humano subsista. Para designar es:e

elemento, a Igreja emprega a palavra olma, consagrada pelo uso

que déla fazem a Sagrada Escritura e a Tradicño. Sem ignorar que

este termo é tomado na Biblia em diversos significados, Ela ¡ulga,

nao obstante, que nao existe qualquer razáo seria para o reatar e considera mesmo ser absolutamente índispensável um instrumento verbal para suster a fé dos cristáos.

4) A Igreja excluí todas as formas de pensamento e de expressáo que, se adotadas, tornarían» absurdos ou ininteli,gíveis a sua

oracao, os seus rijos fúnebres e o seu culto dos mortos, realidades que, na sua substancia, constituem lugares teológicos. 5)

A Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera

'a gloriosa manifestacáo de Nosso Senhor Jesús Cristo' (cf. Consti— 353 —

tuicSo Dei Verbusn), que Ela considera como distinta e diferida «m relacáo á.quola condicao própria do homem ¡mediatamente depois da morte.

ó) A Igreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem depois da morte, excluí qualqtier explicacáo que rirasse o seu sen

tido á Assuncao de Nossa Senhora, naquilo que esta tem de único,

ou seja fato de ser a glorificacao corporal da Virgem Santíssima urna antecipacáo da glortficacáo que está destinada a todos os outros eleitos.

7)

A Igreja, em adesáo fiel ao Novo Testamento e á TradicSo,

acredita na felicídade dos justos que 'estaráo um dia com Cristo'. Ao mesmo tempo, Ela eré numa pena que há de castigar para sempre o pecador que for privado da visáo de Deus, e aínda na reper-

eussSo desta pena em todo o ser do mesmo pecador. E, Ela eré existir para os eleitos urna eventual purificacáo visáo de Deus, a qual no entonto é absolutamente diversa dos condenados. E isto o .que a Igreja entende quando

por fim, previa á da pena falo de

Inferno e de Purgatorio.

Pelo que respeita á condicao do homem depois da morte, há que precaver-se particularmente contra o perígo de representacóes

fundadas apenas na imaginaeño e arbitrarias, porque o excesso das mesmas entra em grande parte ñas dificuldades que muitas vezes a fé crista encontró. No entonto, as imagens de que se serve a Sagrada Escritura merecem todo o respeito. Mas é preciso captar o

seu sentido profundo, evitando o risco de as atenuar demasiada mente, o que equivale nao raro a esvaziar da própria substancia as realidades que sao indicadas por tais imagens».

Voltaremos ao assunto. Por ora interessa realgar algo do conteúdo do item 7. O cristáo espera, para depois da morte, o encontró com Deus face-a-face,... com Deus que já é conhecido e cuja pre-

senca já 6 desfmtada no decorrer mesmo da presente peregri-

nagáo. Esse encontró será a resposta a todas as aspiragóes do

ser humano, nada ficando por desejar. Deus, porém, será sempre novo para a criatura, pois Ele só nao é novo para si mesmo; Ele provocará urna feliz admiragáo, que nao conhecerá sucessáo de tempos.

Possa a consciéncia destas verdades penetrar mais e mais no intimo de cada leitor, a fim de estruturar a sua conduta cotidiana. Seja esta realmente um antegozo da vida eterna, pois há continuidade entre a vida presente e aquela que nos chamamos a vida futura! E.B.

— 354 —

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Ano XX — N' 237 — Setembro de 1979

No Ano Internacional da Crianza:

os direitos da crianca Em sintose: O Ano Internacional da Crianca proclamado pela ONU para 1979 deve avivar na opiniSo pública a consclencia dos graves proble mas por que passam as crlancas tanto nos países subdesenvolvidos quanto nos povos ricos. Naqueles a falta da devlda allmentagSo ocasiona doencaa

e morte prematura; além do que, a insuficiente escolarlzacSo e o trabalho pesado, inepto aos menores, s§o flagelos dolorosos. Nos países desenvol vidos, os pequeños sfio vltimas principalmente do esfacelamento da fami lia, que fácilmente redunda em criminalidad© dos fllhos; a crianca é, nfio raro, tida como indesejada e incomoda, porque diminuí as possibllldades de gozo e prazer por parte dos pais. Devem-se levar em conta também os fllhos dos emigrantes, nao raro sujeltos a ser descaracterizados pelo sistema educacional da patria que os hospeda.

Ora tais condlcóes de existencia da c Nanea em nossos días nao sSo

nem crlstSs nem humanas. Precisamente a fim de Ihes fazer frente, a Organlzacao das Nacdes Unidas promulgou em 20/11/59 a Declaracfio dos Direitos da Crianca. A estes a Igreja acrescentou o direlto de nascer, que a prática do aborto recusa á crianca.

A fim de remediar radicalmente a sltuacáo da crianca em nossos días, far-se-la mlster reformar a mentalldade dos homens e dos povos, que se preocupam excesslvamente com armas e com o ter mala (em detri mento do ser mala). Enquanto esta tSo almelada convers&o nfio ocorre, é para desejar que se multipliquem as obras asslstenclals á Infancia, como

sao a UNICEF (de caráter Internacional lelgo) e os organismos católicos de atendimento ¿s criancas e ¿s pessoas carentes em geral: Obra da Infancia Misslonária, Caritas Internacional, Cor Unum, Adveniat, Mlsereor... Possam estes modelos suscitar a generosidade do povo brasileiro, em cujo seio multldóes de crlancas pedem auxilio I

Comentario: Aos 21/12/76, a Assembléia Gerai das Nacóes Unidas proclamou o ano de 1979 «Ano Internacional da Crianoa». Visava assim despertar o interesse dos Governos e da opiniáo pública em geral para os graves problemas de que — 355 —

4

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 237/1979

sofrem os pequeninos no mundo inteiro, mesmo nos países desenvolvidos.

A oportunidade dessa proclamagáo nos leva a procurar

tomar consciéncia da situagáo das criangas em nossos dias assim como das providencias mais adequadas e urgentes em

favor das mesmas.

1.

A situagao das crianzas lioje

Distinguiremos os países em via de desenvolvimento e os países desenvolvidos.

1.1.

Povos em vías de desenvolvimento

Compreende-se que nos países em vias de desenvolvimento a situagáo das criangas seja particularmente aflitiva, pois estas constituem a parte mais desprotegida de toda a populagáo. Na verdade, a crianga ai é flagelada antes mesmo que nasca, visto que a carencia alimentar da genitora exerce sobre

ela seus efeitos negativos; a crianga insuficientemente nutrida durante a gestagáo corre o perigo de nao se desenvolver nor malmente e, urna vez nascida, é sujeita a próximo perigo de morte. A Organizagáo Mundial da Saúde prevé que, dos 122 milhóes de criangas nascidas em 1978, 12 milhdes pereceráo antes do fim de 1979.

Dado, porém, que escapem da morte no seu primeiro ano de existencia, as criangas dos países subdesenvolvidos estáo expostas á fome e, por conseguinte, ia doenca e, mais, á própria morte precoce (muitas molestias que nao sao mortais em

criangas bem nutridas, prdvocam a morte nos casos de sub-

alimentagáo).

Sabe-se que a insuficiente alimentagáo prejudica o sistema nervoso e, especialmente, o cerebro, acarretando depressáo

nervosa e psíquica; produz outrossim fraqueza generalizada, pouca resistencia as doengas e aos microbios, exiguo rendi-

mento no trabalho e enveíhecimento precoce. Por outro lado,

a má alimentagáo, carente de proteínas, vitaminas e sais minerais, é causa de graves molestias como o beri-béri, a cegueira

total e incurável, o raquitismo, o kwashiorkor... que, se nao

— 356 —

OS DIRECTOS DA CRIANCA

levam á morte, deixam o organismo combalido. A Organizagáo Mundial da Saúde declarava aos 7/04/79:

"Seto molestias matam todos os anos, no munido, mals de dez m1lhSe3

de crlancas, embora para seis délas exista vacina eficaz, ao passo que a

sétima poderla ser evitada mediante melhor distribulcfio das aguas pota» veis. As seis molestias que poderlam ser afastadas por meló de vacina, sSo a difteria, a coqueluche, o tétano, o sarampo, a pollomlelite e a tuberculoso. Estas matam anualmente cinco milhOes de crlancas, pravo* cando em outras Invalidez permanente, como a ceguelra, a parallsla par cial ou total, o retardamento mental, etc. A vaclnacáo das crlancas contra

essas molestias custarla multo menos do que é gasto para tentar curar os doentes asslm atetados. A comunidade internacional está-se esforzando para conseguir... providenciar a vacina de todas as criancas contra essas

seis molestias, mas tal medida nSo poderá salvar os pequenlnos que, erri virtude da carencia alimentar de suas mSes,

nascerem

com menos de

dois quilos e meló".

Note-se ainda que aos flagelos da fome e da doenga, para as criangas dos países subdesenvolvidos, se acrescentam as

ameacas do analfabetismo e do trabalho pesado, inadequado á idade infantil. É particularmente dolorosa a condicáo das meninas, seja porque em alguns países sao menos consideradas

do que os meninos, seja porque em muitas regióes da África

persistem costumes cruéis, como a mutilacáo dos órgáos sexuais..., costume para o qual alertou recentemente um Con-

gresso da Organizagño Mundial da Saúde em Khartoum (Suda). 1.2.

Povos desenvolvidos

Nos países industrializados, a situacáo das criancas nao é táo dramática. Ao contrario, no tocante á alimentagáo, ao ves

tuario, ao atendimento médico, á escola, ás diversóes, a situagáo em geral ó boa ou mesmo, em alguns casos, esmerada.

Muitas criancas de tais países sao superalimentadas e gozam de diversas chances de escolarizacáo e aprendizagem, como também de grande variedade de diversóes. Todavía quem se

debruca de mais perto sobre a realidade social dos povos desen volvidos, verifica graves carencias que afetam especialmente as crianzas.

a) Em primeiro lugar, seja mencionada a prática do aborto legal ou clandestino. Se nos países subdesenvolvidos

morrem de fome anualmente milhóes de criangas, é possível que nos países desenvolvidos igual número de criangas morra

antes de nascer. -

E note-se que a tendencia das diversas legis—357 —

6

cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

lagóes leva a ampliar cada vez mais os casos de aborto «legal», como se este fosse um direito da mulher, quando na verdade nao existe direito de matar um inocente! b) Em segundo lugar, as criangas dos países desenvolvi dos sao afetadas por outras carencias como a da moradia exi gua, a da máe que trabalha enquanto os filhos sao pequeños, a do divorcio e — mais — o alcoolismo, as drogas, o consumismo desenfreado, a violencia, a agressividade... Na verdade, os apartamentos modernos sao dispostos de modo a só poder abrigar familias de dois ou tres filhos, os quais difícilmente gozam de área para brincar ou jogar; só resta a alternativa da rúa com os perigos físicos e moráis que esta acarreta. Por sua vez, o trabalho profissional da mulher que tenha criangas pequeñas, se de um lado pode ser neces-

Gario, de outro lado subtrai as criangas, durante longas horas do dia, a presenga e o afeto insubstituíveis de sua máe.

Todavía é certo que os maiores danos para as criangas sao provocados pelo esfacelamento da familia, táo freqüente ñas sociedades industrializadas; nestas cerca da metade dos casa mentas termina em divorcio; também ai é elevado o número de separacóes legáis e de unióos maritais destituidas de qualquer vinculo conjugal. Ora as vitimas mais atingidas por tais

ocorréncias sao os filhos. Nao é sem razáo que a criminalidade incide com mais freqüéncia nos filhos de familias divor ciadas ou mal constituidas.

Sabe-se também quáo grande é a influencia do alcoolismo e das drogas no nascimento de enancas com taras físicas ou psíquicas. Quanto aos meios de comunicacáo social, benemé ritos por sua capacidade de unir os homens entre si, sao em parte responsáveis pela difusáo de imagens e modelos que deformam as criangas, tornando-se, para estas, escolas de vio lencia, crueldade e deseducacáo sexual.

Acontece, em suma, que a sociedade industrial, baseada

eobre o binomio «producáo-consumo», vé na crianga um con

sumidor em potencial e, por isto, nao hesita em despertar nela

toda especie de desejos e necessidades artificiáis; explora-a nao

para que seja mais humana, ou seja, mais propensa a servir aos outros, mas, sim, para avivar nela as tendencias naturais ao egoísmo e ao hedonismo possessivo. — 358 —

OS DIREITOS DA CRIANgA

c)

Dentre todos, o aspecto mais grave do problema da

crianga na sociedade industrial moderna é a difusáo-da men-

talidade segundo a qual os filhos sao um peso e um impedi mento á liberdade, em vez de serem a expressáo viva do amor dos pais. Com efeito, em certas familias as crianzas percebem que nao foram acolhidas por seus genitores, enquanto certos Estados consideram cada crianza que nasce, como mais um conviva que rivalizará com outros em torno da precaria mesa da vida.

Sem dúvida, ainda há familias que aceitam todos os filhos que Deus lhes dá. Todavía a sociedade e o Estado nem sempre as apoiam. O pai de familia numerosa encontra obstáculos para conseguir emprego, pois muitas empresas recusam fun cionarios que tenham mais de dois ou tres filhos. Em conseqüéncia, a manga é vista por nao poucos casáis como «desmancha-prazer», segundo diziam os bispos da Bélgica em Declaragáo conjunta referente ao Ano da Crianga (dezembro de 1978): "A procura do dlnhelro, do prazer e da comodidade leva certas familias a considerar a crianga como urna parcela, entre outras, do orca-

mento familiar, parcela que é objeto de fríos cálculos" ("La Documentatlon Catholique" 21/01/79, col. 92.

Com outras palavras: a crianga nao raro é considerada como alguém que incomoda, impóe sacrificios, impede ou res tringe a liberdade de movimento e as possibilidades de gozar a vida, constituindo um peso indesejado no balango doméstico.

Disto se segué a limitagáo dos nascimentos a um só, ou entáo o aborto (aborto que freqüentemente é praticado por mulheres de boas condigóes financeiras, que nao querem ter mais de um ou dois filhos).

d)

Pior ainda se torna a situagáo da crianga, se ela é

um excepcional físico ou psíquico (mongolóide, retardado men tal, paralitico...). Mesmo que encontré acolhida por parte dos genitores, tal crianga difícilmente é aceita pela sociedade; tenham-se em vista as dificuldades existentes para colocar essa crianga em escola adequada.

e) Merecem especial mengáo ainda os filhos de emigran tes. Alguns paises nao permitem que o emigrante possa levar consigo a esposa e os filhos. Outros países obrigam as crian-

cas imigrantes a se adaptar as estruturas da educagáo local, — 359 —

8

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

nao lhes concedendo a possibilidade de ter escolas próprias onde possam aprender a língua materna e receber a formagáo correspondente as tradicóes culturáis da sua patria de origem. Ainda outro mal aflige as criangas emigrantes: o trabalho em menor idade. Conforme estatistica do «Bureau International du Travail», os menores com menos de quinze anos que trabalham no mundo, sao 52 milhóes (29 na Asia do Sul, 10 na África, 9 na Asia Oriental, 3 na América Latina, e 1 nos

países desenvolvidos cuja economía esteja baseada no comer cio); dessas criangas, 42 milhóes trabalham na agricultura e 10 em pequeñas lojas e fábricas. Sabe-se, de resto, que nao raro o trabalho dos menores de idade é realizado em circuns tancias incómodas e pobremente remunerado.

Eis, em grandes linhas, os aspectos negativos da situagáo da crianca no mundo de hoje. Procuremos agora refletir sobre tal quadro.

2.

Ponderando...

Tais condigóes de existencia da crianca nao sao nem cris

tas nem mesmo humanas. Estáo em choque nao só com os ditames do Evangelho e os ensinamentos da Igreja, mas tam-

bém com os sentimentos mais espontáneos do ser humano. Es tes, alias, encontraram a sua expressáo na Declaragáo dos Direitos da Crianga.

Com efeito, aos 20/11/1959, a Assembléia Geral das Nagóes Unidas aprovou urna Declaragáo — unánimemente confir mada pela 2» Conferencia Internacional dos Direitos do Homem (Teerá 1968) — que professa em dez pontos os direitos que

«háo de ser rcconhecidos a todas as criancas, sem excegáo

alguma». Eis o texto respectivo, que significa um passo im

portante em demanda do pleno humanismo a que aspiram (aa menos, em teoría) todos os povos: "Principio 1?: A crianza gozará de todos os direitos enunciados nesta DeclaracSo. Todas as crlancas, absolutamente sem qualquer excecflo,

serSo credoras destes direitos, sem dlstlncfio ou dlscrlmlnacfio por motivo de raga, sexo, língua, religiáo, oplniao política ou de outra natureza, origem

nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condlc&o, quer sua, quer da sua familia.

Principio 2?: A crlanga gozará de protecSo especial e ser-lhe-So proporcionadas oportunidades e facilidades por leí e por outros meios, a flm de Irte facultar o desenvolvimiento fisico, mental, moral, espiritual e

— 360 —

OS DIREITOS DA CRIANgA

?

social de lorma sadia e normal e em condlcfies de liberdade e dlgnidade. Na promulgacao de leis que visem a este objetivo, "levar-se-fio em conta, sobretudo, os ¡nleresses superiores da crianca.

Principio 3?:

Desde o nasclmento. toda crlanca terá direlto a um

nome e a urna nacionalidade.

P.-incipio 4?: A crianza gozará dos beneficios da previdencia social. Terá dlreito a crescer e desenvolver-se com saúde. Em vista disto, tanto a crianca como á mae serSo proporcionados cuidados médicos e protecao

social adequada, principalmente nos periodos pré-natal e pós-natal. A crianca terá dlreito a alimentacSo. moradia, recreacfio e cuidados módicos oportunos.

Principio

5?:

A

crianca

incapacitada

física ou

mentalmente

ou

que sofre de alguma InadaptagSo social, tem o direito de receber o tratamento, a educacSo e os cuidados especiáis de que precisa em virtude

do seú estado e da sua condicáo. Principio 69:

Para

o desenvolvimento

completo e

harmonloso

de

sua personalidade, a crianca precisa de amor e compreensSo. Criar-se-á, sempre que posslvel, sob os cuidados e a responsabltldade dos pais e sempre num ambiente de afeto e seguranga moral e material; salvo cir cunstancias excepclonals, a crianga de tenra idade nao será apartada da

sua mSe. A sociedade e as autoridades caberao a obrlgagfio de propor cionar cuidados especiáis ás criancas sem familia e áquelas que carece-

rem de meios adequados de subsistencia, é desejável a prestado de ajuda oficial ou de outra natureza para a manutengan dos filhos de familias numerosas.

Principio 7?: A crianza terá direlto a receber educacao, que será gratuita e obligatoria pelo menos no grau primario. Ser-lhe-á proporcionada urna educacSo capaz de promover a sua cultura geral e de capacitá-la a, em condlcQes de Iguals oportunidades, desenvolver as suas aptidfies, a sua capacidade de emitir |uízo e o seu senso de responsabllldade moral e social, e a tornar-se um membro útil da sociedade. Os superiores lnteresses da crlanga serSo a diretrlz a nortear os responsávels pela sua educacao e orientacSo; esta responsabllidade cabe, em prlmeiro lugar, aos pais. A crianca terá ampia oportunldade para brincar e divertlr-se, visando aos propósitos mesmos de sua educacao: a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-áo em promover o gozo deste direlto.

Principio B?:

A crianca figurará, em qualsquer circunstancias, entre

os primelros a receber protegSo e socorro.

Principio 99: A crianza deve ser protegida contra quaisquer formas de negligencia, crueldade e exploragáo. Nao será jamáis objeto de tráfico, sob qualquer forma. Nfio será permitido a crlanga empregar-se antes de

urna Idade minlma conveniente; de nenhuma forma será levada a, ou ser-lhe-á permitido, empenhar-se em qualquer ocupacáo ou emprego que Ihe prejudique a saúde ou a educagfio, ou que Interflra em seu desenvol vimento físico, mental ou moral. Principio 109: A crlanga gozará de protegño contra atos que possam suscitar discrlmlnacáo racial, religiosa ou de qualquer outra natureza.

Crlar-so-á num ambiente de compreensao, de tolerancia, de amlzade entre os povos. de paz e de fraternidade universal, em plena consciéncia — 361 —

10

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

de que o seu esforco e a sua aptidSo devem ser postos a servlco do seus semelhantes".

O reconhecimento de tais artigos por parte dos poyos em

geral nao significa que sejam apenas estes os direitos da

crianza. A Igreja Ihes acrescenta, em nome tanto do Evangelho como da lei natural, «o direito á vida, á vcrdade e ao amor» (Paulo VI). Assim, por exemplo, se exprimía o Papa Joáo Paulo II aos 13/01/79, dirigindo-se ao Comité dos Jomalistas Europeus para os Direitos da Crianza: "A Santa Sé julga que se pode também falar dos direitos da crlanca

desde a sua concelcSo no seto materno, merecendo particular mencao o direlto a vida, pols a experiencia mostra sempre mals que a crlanca pre cisa de especial protecSo, de fato e de direito, antes mesmo que nasca.

Poderlamos Insistir também no direlto da crlanga a nascer em verdadelra familia porque é de importancia capital, para ela, que possa beneflciar-se, desde o inicio, da colaboracáo do pal e da mae unidos em matrimonio Indissolúvel.

A crianca deve também ser educada na sua familia, pols os genitores

sSo os seus prlmeiros e principáis educadores. Isto é exigido pelo clima de afeto e de seguranca moral e material que a psicología da crlanca requer...

A crianca tem outrossim direlto á verdade e a uma escola que leve em conta os valores éticos fundamentáis e torne posslvel uma educagéo

espiritual, em conformidade com

a filiacSo religiosa da

crlanca,

com

a

orientacao legítimamente desejada por seus genitores e com as exigencias de uma llberdade de conscléncia bem compreendlda. Para usufruir desta, deve o jovem ser preparado e formado durante a infancia e a adolescencia. é normal que a Igreja manifesté e propugne as suas responsabilidades sobre tal ponto" ("L'Osservatore Romano" 14/01/79).

A Igreja fundamenta a sua preocupacáo com os direitos da crianca sobre o fato de que esta nao existe para o servicp dos adultos nem deve ser subordinada ao prazer e aos inte-

resses destes, mas é uma pessoa humana. A crianca também nao é apenas um adulto em miniatura que vale em vista do

que será amanhá. Ao contrario, diz a mensagem crista: tem

valor inestimável a crianca como tal, na medida em que é pes

soa humana e nao enquanto é um adulto em potencial. Afir-

mava Paulo VI: "A Infancia é uma fase essencial da vida humana. Toda crlanca tem o direlto de vlver plenamente a sua Infancia e de produzlr uma contrlbulgSo original á humanlzacSo, ao desenvolvimento e á renovacfio da socledade".

É principalmente com o olhar de Cristo que a Igreja con sidera as mancas. Jesús dizia: «Deixai as criangas virem a — 362 —

os direitos da crianca

u

mim. Nao as impegais, pois délas é o Reino de Deus» (Me 10,14); esse seu carinho, Jesús o exprimía abracando e abengoando os pequeninos. Guiada pelos ensinamentos do Divino Mestre, a Igreja, através dos sáculos, criou obras de atendimento as criangas, principalmente as abandonadas e las sofredoras; tenham-se em vista as numerosas escolas, creches, orfa natos, institutos de recuperagáo, hospitais infantis... ainda hoje mantidos por Congregagóes Religiosas. Com vistas espe ciáis ao Terceiro Mundo, existe a chamada «Obra Pontificia da Santa Infancia» ou, hoje, «Obra da Infancia Missionária», fundada em 1843 no intuito de salvar as criangas mediante as criangas, ou seja, incitando as criangas dos países desenvolvi dos a ajudar os seus semelhantes do Terceiro Mundo. Esta

Obra sustenta atualmente a formagáo de 7 milhóes de crian-

gas em noventa países do mundo. Perguntemo-nos agora:

3.

E que fazer hoje em día ?

O Ano Internacional da Crianga nao pode limitar-se ape nas á verificagáo de situagóes. Deve também procurar levar•lhes remedio, incentivando quanto já se faz em prol da crianga no mundo e suscitando novas iniciativas em favor da mesma.

É certo que, para resolver radicalmente o problema da

fome e da mortandade infantil, será necessário mudar a nentalidade dos povos em geral e converter os homens a urna vida

mais humana e mais crista. Com efeito; há duas fontes de despesas no orgamento geral das nagóes que poderiam ser can celadas em vista de atendimento mais adequado as criangas necessitadas: as despesas com os armamentos bélicos e o con-

sumismo provocado pela estima do ter mais (em detrimento

do stir mais). Somente com armas bélicas os povos gastaram

400 bilhóes de dólares em 1978! E tais armas foram forneci-

das, em parte, a povos subdesenvolvidos que, por sinal, parecem ciosos

(forgadamente ciosos...)

de armar-se para a guerra.

Diz sabiamente o Papa Joáo Paulo II em sua encíclica «Redemptor Hominis»: "Em vez do pSo e da ajuda cultural a novos Estados e nacSes que estSo a despertar para a vida independente, algumas vezas se Ihes oferecem, n9o raro com abundancia, armas modernas e meios de destruicao,

postos ao servic.o de conflitos armados e de guerras, que nSo sSo tanto urna exigencia da defesa dos seus justos direitos e da sua soberanía

— 363 —

12

tPERGUWTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

quanto sobretudo urna forma de 'chauvinismo', de Imperialismo e de neo-

colonlallsmo de varios géneros. Todos sabemos bem que as zonas de

miseria ou de tome que existem no nosso globo, poderlam ser fertilizadas num breve espaco de lempo, se os gigantescos investimentos para os armamentos, que servem para a guerra e para a destrulcao, tivessem sido em contrapartida convertidos em investimentos para a alimentacSo, que servem para a vida"

(n9 16).

Parece difícil, se nao impossível, coibir a corrida arma mentista a que se refere o S. Padre. Todavía nem por isto é lícito aos cristáos cruzar os bracos diante do desafio que a infancia abandonada levanta para a humanidade. Eis por que se faz necessário multiplicar as obras assistenciais, que ten-

dem a minorar os flagelos dos quais sofrem as enancas; era-

bora tais recursos nao resolvam o problema pela raiz, sao indispensáveis para evitar que maior número de pequeninos seja vitimado pela fome, pela doenca e pela morte. Em ámbito internacional existe a UNICEF (United Natíons International Children's Emergency Fund), organizagáo destinada a ajudar as criangas carentes. Ao receber o diretor desta entidade dois meses antes de morrer, Paulo VI quis incentivar táo benemé rita obra. Joáo Paulo II, por sua vez, dirigiu-se aos jornalistas europeus aos 13/01/79 nestes tormos: "A Santa Sé nao se satisfaz apenas com um olhar lnteressado e

simpático sobre quanto de válido vier a ser feito em 1979...

Ela está

pronta a encorajar tudo o que for projetado e realizado para o verdadelro bem das criancas, pols estas constltuem uma populacáo Imensa, que pre cisa de protecáo e de promocSo particulares, dada a precariedade das suas condlcóes" ("L'Osservatore Romano", 14/01/79).

A própria Igreja procura intervir no encaminhamento de alivio para os menores carentes mediante as suas instituicoes missionárias e seus organismos internacionais de ajuda aos necessitados (Cor ünum, Caritas Internationalis, Obra da In fancia Missionária, BICESODEPAX em colaboragáo com o

Conselho Mundial das Igrejas); além do que existem institui coes de caráter nacional dotadas da mesma finalidade, como sao Catritas Nacional, IHQsereor, Adveniat, Máos Estendidas, Aide a Toute Détresse (A.T.D.)...

Possam estes modelos despertar também no Brasil viva

consciéncia do problema da crianca carente e suscitar apos tólos que se empenhem por socorré-la em suas necessidades nao somente materiais, mas também espirituais!

Este artigo segué de perto o editorial "I cristlanl neil'Anno Intema-

zlonale del Bambino", da revista "La Clvlltá Cattollca", n
— 364 —

As riquezas do cristao :

os dons do espirito santo

Em sfntese:

Os dons do Espirito Santo sSo como que "receptores"

aptos a captar os Impulsos do Espirito mediante os quais o crlstSo se encaminha para a perfeicSo em estilo novo ou com a eficacia que o próprio Deus Ihe confere. Posslbllltam ao crlstSo ter a Intulcfio profunda do significado das verdades reveladas por Deus asslm como de cada cria tura. Proporcionam tambero tomadas de atitude que nem a razSo natural nem as virtudes humanas, sujeitas sempre a hesitac6es e falhas, conseguirlam indicar ou efetivar.

Para Ilustrar o que sSo os dons, pode-se recorrer & Imagem de um barco que navega: se ó movido a remos, avanga lenta e penosamente, com grande esforco para os remadores. Caso, porém, estos desdobrem as velas do barco para que capte o sopro dos ventos favorávels, os rema dores descansam e o barco progride em estilo novo segundo velocidade "sobre-humana". — Ora o barco movido ao sopro do vento que bate contra as velas, é Imagem do cristao impelido pelo Espirito, segundo me didas divinas, para a meta da sua santlflcacio. Os dons do Espirito Santo sfio sete, segundo a habitual recensfio dos teólogos: sabedorla, entendlmento, .ciencia, conselho, fortaleza, pledade, temor de Deus. Para se beneficiar da 8960 do Espirito Santo, o crlstSo deve dlspor-se de duas maneiras principáis: a) cultivando o amor, pols ó o amor que propicia aflnldade com Deus e, por conseguinte, torna o cristao apto a ser movido pelo Espirito de Deus; b) procurando jamáis dizer um N3o consciente e voluntario ás Insplracoes do Espirito. Quem se acostuma a viver asslm, cresce mals velozmente na sua estatura definitiva e se configura mala fielmente ao Cristo Jesús.

Comentario: Em nossos días a renovagáo da oracáo e da espiritualidade cristas apela freqüentemente para a acáo do Espirito Santo nos coragñes. Muitos fiéis se tornam conscien tes de que «ninguém pode dizer 'Jesús Cristo é o Senhor1 senáo sob a mocáo do Espirito Santo (cf. ICor 12,3); sabem cada vez melhor que «todos os que sao movidos pelo Espirito de Deus, sao filhos de Deus» (cf. Rm 8,14). A consciénda destas verdades vem despertando cada vez mais a ateneáo para a teología espiritual. É, pois, o momento de procurarmos conhecer melhor as maneiras como o Espirito Santo age nos coragoes, descrevendo os seus dons e o significado destes na vida dos filhos de Deus.

— 365 —

14

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 237/1979

1.

"Que sao os dons do Espirito Santo ?

1. De inicio, é preciso propor a distincáo que a Teología costuma fazer entre dons e carismos (embora a palavra chárísma em grego signifique dom).

Por carLsmas entendem-se gracas especiáis pelas quais o Espirito Santo torna os cristáos aptos a tarefas e fungóes que

contribuem para o bem ou o servigo da comunidade: assim seriam o dom da profecía, o das curas, o das linguas, o da interpretagáo das linguas... Os carismas tém por vezes (nao sempre) índole extraordinaria, como no caso de certas curas ou da glossolalia.

Por dons compreendem-se faculdades outorgadas ao cris-

táo para seguir mais seguramente os impulsos do Espirito no caminho da perfeicáo espiritual. Os dons e seus efeitos sao discretos, nao chamando a atengáo do público por faganhas portentosas.

2.

Para entender melhor o que sejam os dons do Espi

rito, recorramos a urna analogía: Quando urna crianoa nasce para a vida presente, é dotada por Deus de tudo que é necessário á sua existencia humana: recebe, sim, um organismo completo e urna alma portadora de faculdades típicas do ser humano. Como se compreende, esse conjunto ainda nao está plenamente desenvolvido quando o bebé vem ao mundo, mas é certo que a crianca possui tudo que constituí a pessoa humana. Ora algo de análogo se dá na vida espiritual. Diz-nos Je

sús que renascemos da agua e do Espirito Santo pelo batismo (cf. Jo 3,5). Este renascer importa receber urna vida nova, a vida dos filhos de Deus, trazida pela graga santificante. Essa vida nova tem suas faculdades próprias, que sao: 1)

as virtudes infusas

a) b)

teologais (fe, esperanga, caridade): virtudes que nos póem em contato imediato com Deus;

moráis

leza):

(prudencia,

justiga,

temperanca,

forta

virtudes que orientam o comportamento

do cristáo frente aos valores deste mundo;

2)

os dons do Espirito Santo, «receptáculos» próprios

para captar as mogóes do Espirito Santo. — 366 —

OS DONS DO ESPIRITO SANTO

15

Importa salientar bem a diferenga entre as virtudes infu sas e os dons do Espirito Santo.

As virtudes infusas sao ditas infusas porque nao adquiri

das pelo homem.

Sao principios de reta agáo outorgados ao

cristáo juntamente com a graga santificante, para que se com

porte nao apenas como ser racional, mas como filho de Deus, elevado á ordem sobrenatural1. Os criterios de conduta do cristáo sao as grandes verdades da fé ou da ordem sobrena tural (que nem sempre coincidem com os da razáo); por isto é que, ao renascer como filho de Deus, todo homeír recebe os respectivos principios de conduta nova, que sao es virtudes infusas. Destas, tres se orientam diretamente para Deus (a fé, a esperanga e a caridade) e quatro se orientam para o reto uso dos bens deste mundo (prudencia, justica, temperanga, for taleza) . Quando o cristáo age mediante as virtudes infusas, é ele mesmo quem age segundo moldes humanos, limitados, lutando contra os obstáculos que geralmente a prática do bem

encontra; de maneira lenta e trabalhosa o cristáo cresce na

fé, na caridade, na temperanga, na fortaleza..., estando sem pre sujeito a contradizer-se ou a cometer um ato incoerente com tais virtudes.

É sobre este fundo de cena que se devem entender os dons do Espirito Santo. Estes podem ser comparados a facili

dades novas ou «antenas» que nos permitem apreender rao-

Cóes do Espirito Santo em virtude das quais agimos segundo

um estilo novo, certeiro, firme, sem hesitagáo alguma e com

toda a clarividencia. Esta afirmagáo pode-se tornar mais clara mediante algumas comparagóes:

a)

Imaginemos um barco que navega a remos... Adian-

ta-se lentamente e com grande esforgo e fadiga por parte dos remadores. Caso, porém, este barco tenha velas dobradas, admitamos que os remadores resolvam desdobrá-las, a fim de captar o vento que lhes é favorável. Em conseqüéncia, os maru-

jos deixaráo de remar, e o mesmo barco será movido a velocidade «sobre-humana», de maneira nova e muito mais veloz do que quando movido a remos.

Ora o «mover-se a remos» corresponde ao esforgo humano

(sempre prevenido pela graga) para progredir na prática do i Sobrenatural nao auer dizer portentoso ou maravilhoso, mas designa

o que ultrapassa as exigencias de qualquer natureza criada,... o que ó dado gratuitamente por Deus. É sobrenatural, portante a elevacSo do homem á filiacáo divina ou á comunhSo de vida com o próprlo Deus.

— 367 —

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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

bem mediante as virtudes infusas. O «deixar-se mover pelo vento que bate ñas velas desdobradas», corresponde ao progresso provocado pela agáo direta do Espirito Santo, que move os seus dons (= velas) em nos; progredimos entáo muito mais rápidamente segundo um estilo novo.

b) Eis outra comparagáo: admitamos um pintor genial que se dispóe a realizar urna obra-mestra. Para iniciar, ele confia aos discípulos mais adiantados o trabalho de preparar a tela, combinar as cores e esquematizar o quadro. Quando tudo está preparado e corneja a parte mais importante da obra, o próprio mestre traca as linhas finissimas de sua obra, reve lando o seu genio e cristalizando a sua inspiragáo. — De maneira análoga, o Espirito traga no íntimo de cada cristáo a imagem do Cristo Jesús. Os inicios desta tarefa, Ele os realiza mediante a nossa colaboragáo, permitindo-nos agir segundo os nossos moldes humanos (ou mediante as virtudes infusas). Quando, porém, se trata dos tragos mais típicos do Cristo na alma humana, o próprio Espirito assume a tarefa de os deli near utilizando instrumentos especialmente finos e precisos, que sao seus dons. Exemplificando, diremos: o homem prudente que, para a ortentacfio de seus atos, só dispusesse de suas qualídades naturais e da virtude infusa da prudencia, acertarla realmente, mas com grande lentidSo, depols

de varias tentativas. A prudencia humana é Insegura e tímida, mesmo quando acería. — Ao contrario, quem age sob o influxo do dom do con-

selho, que corresponde á virtude da prudencia, descobre de manelra rá pida, certelra e firme o quo deve fazer em cada caso.

Eis outro exemplo: quando o crlstSo se eleva, pela luz da fé, ao conheclmento de Deus, ele o faz de maneira imperfelta e laboriosa, recorrendo a Imagens que sao, ao mesmo tempo, claras e obscuras. — Dado, porém, que o crlstSo seja movido pelo Espirito mediante os dons de sabedoria e inteligencia, ele contempla Deus e seu plano satvifico nutna lúcida concatenac.no de Idélas em poucos instantes e com grande sabor espiritual (em vez dos esforcos exigidos pela virtude da fé).

As normas das virtudes sao diferentes das normas dos dons. Quem age sob o influxo das virtudes, segué a norma do homem iluminado pela luz de Deus. Mas quem age sob o influxo dos dons do Espirito, segué a norma do próprio Deus participada ao homem. 3. santos.

Note-se que os dons do Espirito nao sao privilegio dos. Todos os cristáos os recebem no Batismo.

Nem sao

necessários apenas para as grandes obras, mas tornam-se indispensáveis la santificagáo do cristáo mesmo na vida cotidiana. — 368 —

OS DONS DO ESPIRITO SANTO

17

O cristáo pode permitir cada vez mais a agáo do Espirito Santo em sua vida mediante os dons, caso se dedique especial

mente ao cultivo das virtudes (principalmente da caridade) e se torne mais e mais dócil as inspiracóes do Espirito Santo. A prática do amor é importante, pois é o amor que nos comu

nica particular afinidade com Deus, adaptando-nos ao modo de agir do próprio Deus.

Procuremos agora penetrar no sentido próprio de cada um dos dons do Espirito.

2.

Os dons em particular

A Tradigáo crista costuma enunciar sete dons do Espirito,

baseando-se no texto de Is 11,1-3 traduzido para o grego na versáo dos LXX: "iBrotará urna vara do tronco de Jessé E um rebento germinará das suas raizes. 3E repousará sobre ele o espirito do Senhor: Espirito de sabedoria e entendimento, Conselho e fortaleza,

Ciencia e temor de Deus, ■ipiedade..."

O texto original hebraico, em lugar de piedade, dá a ler: «Sua inspiragáo estará no temor do Senhor». Enumerando seis ou sete dons do Espirito, o texto bíblico nao tenciona esgotar a realidado dos mesmos: estes sao tantos quantos se fazem necessários para que o Espirito leve o cristáo á perfeigáo defi

nitiva. Os sete dons enumerados pelo texto dos LXX e pela Tradigáo vém a ser, sem dúvida, os principáis. Distingamo-los de acordó com a faculdade humana em que cada qual se sitúa: Intelecto: ciencia, entendimento, sabedoria, conselho. Vontade: piedade. Apetite irascível: fortaleza.

Apetite de cobicíi: temor de Deus.

Passemos agora á análise de cada qual de per si. 2.1.

Ciencia

A ciencia humana perscruta o universo e seus fenómenos, procurando as causas imediatas destes e concatenando-as entre

si para ter urna explicagáo mais ou menos clara da realidade. — 369 —

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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

Ora o dom da ciencia, embora nao defina a natureza e as propriedades físicas ou químicas de cada criatura, faz que o

cristáo penetre na realidade deste mundo sob a luz de Deus;

vé cada criatura como reflexo da sabedoria do Criador e como aceno ao Supremo Bem.

Mais: o dom da ciencia leva o homem a compreender, de um lado, o vestigio de Deus que há em cada ser criado, e, de

outro lado, a exigüidade ou insuficiencia de cada qual.

Vestigio de Deus...

Sao Francisco de Assis soube ouvir

e proclamar o canto das criaturas ao Senhor.

As flores, as

aves, a agua, o fogo, o sol... tudo lhe falava de Deus; tudo lhe era ocasiáo de contemplar e amar a Deus.

Exigüidade... Toda criatura, por mais bela que seja, é sempre limitada e insuficiente para o coragáo humano. Este foi feito para o Bem Infinito e só neste pode repousar. Perce-

bendo isto após urna vida leviana, muitos homens e mulheres se converteram radicalmente a Deus. Tal foi o caso de S. Francisco Borja (f 1572), que, ao contemplar o cadáver da rainha Isabel, exclamou: «Nao voltarei a servir a um senhor que possa morrer!» Tal foi outrossim o caso de S. Silvestre (t 1267)... Estes cometeram a «loucura» de tudo deixar a fim de possuir mais plenamente urna só coisa: o Reino de Deus ou a presenga do próprio Deus.

O dom da ciencia ensina também a reconhecer melhor o significado do sofrimento e das humilhagóes; estes «contra-valores», no plano de Deus, tém o valor de escola que liberta e purifica o homem. Configuram o cristáo a Jesús Cristo,

outorgando-lhe um penhor de participagáo na gloria do pró prio Senhor Jesús. Se nao fora o sofrimento, muitos e muitos homens nao sairiam de sua estatura ana e mesquinha,... nunca atingiriam a plenitude do seu desenvolvimento espiritual. Sao estes alguns dos frutos do dom da ciencia. 2.2.

Entcndimento ou inteligencia

A palavra «inteligencia» é, segundo alguns, derivada de intellegere = intuslegere, ler dentro, penetrar a fundo. Na ordem natural, entendemos (intelligimus) quando cap tamos o ámago de alguma realidade. Na linha da fé, parale lamente entender é penetrar, ler no íntimo das verdades reve ladas por Deus, é ter a intuigáo do seu significado profundo. — 370 —

OS DONS DO ESPIRITO SANTO

19

Pelo dotn do entendimiento, o cristáo contempla com mais lucidez o misterio da SS. Trindade, o amor do Redentor para com os homens, o significado da S. Eucaristía na vida crista... A penetracáo outorgada pelo dom da inteligencia (ou do entendimento) difere daquela que o teólogo obtém mediante o estudo; esta é relativamente penosa e lenta; além do que, pode ser alcancada por quem tenha acume intelectual, mesmo que nao possua grande amor. Ao contrario, o dom da inteligencia é eficaz mesmo sem estudo; é dado aos pequeninos e ignoran tes, desde que tenham grande amor a Deus. Para ilustrá-lo, conta-se que um irmáo leigo franciscano disse certa vez a S. Boaventura (t 1274), o Doutor Seráfico: «Felizes vos, homens doutos, que podéis amar a Deus muito

mais do que nos, os ignorantes!» Respondeu-Ihe Boaventura: «Nao é a doutrina alcangada nos livros que mede o amor; urna

pobre velha ignorante pode amar a Deus mais do que um

grande teólogo, se estiver unida a Deus». O irmáo compreendeu a licáo e saiu gritando pelas rúas: «Velhinha ignorante,

vocé pode amar a Deus mais do que o mestre Frei Boaven tura!»

O irmáo dizia a verdade.

Na ordem natural, é compreen-

sivel que o amor brote do conhecimento. Na ordem sobrena tural, porém, pode acontecer o inverso: é o amor que abre os

olhos do conhecimento. Os que mais amam a Deus, sao os que mais profundamente dissertam sobre Ele. Como frutos do dom do entendimento, podemos enunciar

as intuigóes das verdades da fé que sao concedidas a muitos cristáos durante o seu retiro espiritual ou no decurso de urna leitura inspirada pelo amor a Deus. O «renascer da agua e do Espirito», a imagem da videira e dos ramos, o «seguir a Cristo»... tomam entáo clareza nova, apta a transformar a vida do cristáo.

O dom do entendimento manifesta também o horror do pecado o a vastidáo da miseria humana. Por mais paradoxal

que paroca, é preciso observar que os santos, quanlo mais se

aproximaram de Deus (ou quanto mais foram santos), mais tiveram consciénda do seu pecado ou da sua distancia daquele que é tres vezes santo.

Em suma, o dom do entendimento faz ver melhor a san-

tidade de Deus, a infinidade do seu amor, o significado dos — 371 —

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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

seus apelos e também... a pobreza, nao raro mesquinha, da criatura que se compraz em si mesma em vez de aderir cora josamente ao Criador. 2.3.

O dom da

sobedoría

Na ordem natural do conhecimento, a inteligencia humana nao se contenta com nogóes isoladas, mas procura reunir suas concepgóes mima síntese sistemática, de modo a concatená-las numa visáo harmoniosa. A mente humana procura atingir os primeiros principios e as causas supremas de toda a realidade que ela conhece.

Ora a mesma sistematizagáo harmoniosa ocorre também na ordem sobrenatural. O dom da ciencia e o do entendimento

já proporcionam uma penetragáo profunda no significado de cada criatura e de cada verdade revelada respectivamente; oferecem também uma certa sintese dos objetos contemplados, relacionando-os com o Supremo Senhor, que é Deus. Todavía o dom que, por excelencia, efetua essa sintese harmoniosa e unitaria, é o da sabedoria. Esta abrange todos os conhecimentos do cristáo e os póe diretamente sob a luz de Deus, mos trando a grandeza do plano do Criador e a insondabilidade da vida daquele que é o Alfa e o omega de toda a criagáo. Mais: o dom da sabedoria nao realiza a sintese dos conhecimentos da fé em termos meramente intelectuais. Ele oferece um conhecimento sápido ou saboroso da verdade1...

Saboroso ou deleitoso, porque se deriva da experiencia do próprio Deus feita pelo cristáo ou da afinidade que o cristáo adquire com o Senhor pelo fato de mais a mais amar a Deus. Uma comparagáo ajudará a compreender tal proposigáo: para conhecer o sabor de uma laranja, posso consultar, intelectual e cien tíficamente, os tratados de Botánica; terei assim uma nojao

aproximada do que seja esse sabor. Mas a melhor via para conseguir o objetivo será, sem dúvida, a experiencia da propna laranja que se faz pelo paladar. Os resultados do estudo mera mente intelectual sao fríos e abstratos, ao passo que as vantagens da experiencia sao concretas e saborosas.

Ora, na verdade, os dons da ciencia e do entendimento

fazem-nos conhecer principalmente por via de amor ou de afi nidade com Deus.

Todavia é o dom da sabedoria que, por

»A palavra sabedoria vem de saber, derivado do verbo latino sapero,

que slgnillea "ter gosto de ..." — O vocábulo portugués sabor se o»lgina do latino sapor, que é da mesma raiz que sapero.

— 372 —

OS DONS DO ESPIRITO SANTO

21

excelencia, resulta dessa conaturalidade ou familiaridade com o Senhor. Ele se exerce na proporgáo da íntima uniáo que o cristáo tenha com o Senhor Deus. «O dom da sabedoria faz-nos ver com os olhos do Bem-amado», dizia um grande mís tico; a partir da excelsa atalaia que é o próprio Deus, contem

plamos todas as coisas quando usamos o dom da sabedoria. Estas verdades dáo a ver quanto nesta vida importa o amor de Deus. É este que propicia o conhecimento mais pers picaz e saboroso do mesmo Deus (o que nao quer dizer que se possa menosprezar o estudo, pois, se o Criador nos deu a inteligencia, foi para que a apliquemos á verdade por excelen

cia, que é Deus). Alias, observam muito a propósito os teó

logos: veremos a Deus face-a-face por toda a eternidade na proporgáo do amor com que o tivermos amado nesta vida. O grau do nosso amor, na hora da morte, será o grau da nossa visáo de Deus na vida eterna ou por todo o sempre. É por isto que se diz que o amor é o vínculo ou o remate da perfeigáo

(cf. Cl 3,14). «No ocaso de sua vida, cada um de nos será

julgado na base do amor», diz S. Joáo da Cruz. 2.4.

Conselho

Afirmam os teólogos que Deus nao deixa faltar ás suas

criaturas o que lhes é necessário, nem é propenso a dons

supérfluos, pois Deus tudo faz com número, peso e medida (cf. Sb 11,20). Em tudo resplandece a sua sabedoria. Por isto é que Deus é providente, ou seja, Ele providencia os meios para que cada criatura chegue retamente ao seu fim devido. Ora acontece que, para realizarmos determinada atividade, exercemos um processo mental que tem por objetivo examinar cuidadosamente nao só a conveniencia dessa atividade, mas também todas as circunstancias em que ela se deve desenrolar. Muitas vezes esse processo se efetua sem que dele tomemos plena consciéncia. Quando, porém, nos vemos diante de urna tarefa rara ou mais exigente do que as de rotina, o processo deliberativo é mais intenso e, por isto, se torna mais cons

ciente; a mente se esforca por ver claro e fazer a opcáo mais

adequada, sem que, porém, o consiga de imediato. Nao raro é necessário recorrer ao conselho de outra pessoa mais expe rimentada.

É por efeito da virtude (natural e infusa) da prudencia que cada cristáo delibera sobre o que deve e nao deve fazer. É a prudencia que avalia os meios em vista do respectivo fim. — 373 —

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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

Pois bem. Em correspondencia á virtude da prudencia, existe um dom do Espirito Santo, chamado «dom do conse lho». Este permite ao cristáo tomar as decisóes oportunas sem a fadiga e a inseguranga que muitas vezes caracterizan! as deliberacóes da virtude da prudencia. Esta por si nao basta para que o cristáo se comporte ü altura da sua vocagáo de filho de Deus,... vocagáo que exige simultáneamente grande cautela ou circunspecgáo e extrema audacia ou coragem. Nem sempre a virtude humana entrevé nítidamente o modo de proceder entre polos antitéticos. A criatura, limitada como é, nem sem pre consegue conhecer adequadamente o momento presente, menos aínda é apta a prever o futuro e — ainda — senté dificuldade em aplicar os conhecimentos do passado á compreensáo do presente e ao planejamento do futuro. É preciso, pois, que o Espirito Santo, em seu divino estilo, lhe inspire a reta, maneira de agir no momento oportuno e exatamente nos ter mos devidos.

Assim o dom do conselho aparece como um regente de orquestra que coordena divinamente todas as facilidades docristáo o as incita a urna atividade harmoniosa e equilibrada. Imagine-se com que circunspecgáo (cautela e audacia) um maestro rege os múltiplos instrumentos de sua orquestra: assinala a cada qual o momento precioso em que deve entrar e os

matizes que deve dar á sua melodia. Assim faz o Espirito me diante o dom do conselho em cada cristáo.

Diz a Escritura que há um tempo exato para cada ativi dade1; fora desse momento preciso, o que é oportuno pode tornar-se inoportuno. Ora nem sempre é fácil discernir se c iEis o texto de Ecl 3,1-8:

"Todas as coisas tém o seu tempo, e tudo o que existe debalxo dos céus tem a sua hora. Há tempo para nascer, e tempo

para

morrer.

Tempo para plantar, e tempo para arrancar o que se plantou. Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo

para para para para para para

matar, e tempo para dar vida. destruir, e tempo para edificar. chorar, e tempo para Mr. se afligir, e tempo para dancar. espalhar pedras, e tempo para as ajuntar. dar abracos, e tempo para se afastar deles.

Tempo para adquirir, e tempo para perder.

Tempo para guardar, e tempo para allrar fora. Tempo para rasgar,

e tempo

para coser.

Tempo para calar, e tempo para falar. Tempo para amar, e tempo para odiar. Tempo para a guerra, e tempo para a paz".

— 374 —

OS DONS DO ESPIRITO SANTO

23

oportuno falar ou calar, ficar ou partir, dizer Sim ou dizer Nafa. Nem as pessoas prudentes, após muito refietir, conseguem definir com seguranca o que convém fazer. Ora é precisa mente para superar tal dificuldade que o Espirito move o cristáo mediante o dom do conselho. 2.5.

Piedade

Todo homem é chamado a viver em sociedade, relacionando-se com Deus e com os seus semelhantes. Requer-se que esse relacionamento seja reto ou justo. Por isto a virtude da justiga rege as relagóes de cada ser humano, assumindo diver

sos nomes de acordó com o tipo de relacionamento que ela deve orientar: é justiga propriamente dita, sempre que nos relacio namos com aqueles a quem temos urna divida rigorosa; a jus-

tica se torna religiao desde que nos voltemos para Deus; é piedade, se nos relacionamos com nossos país, nossa familia ou nossa patria; é gratidao, em relagáo aos benfeitores. Ora há um dom do Espirito que orienta divinamente todas as relacóes que temos com Deus e com o próximo, tornando-as

mais profundas e perfeitas: é precisamente o dom da piedade.

Sao Paulo implícitamente alude a este dom quando escreve: «Recebestes o espirito de adogáo filial, pelo qual bradamos:

'Aba, ó Pai'» (Rm 8,15). O Espirito Santo, mediante o dom da

picdadc, nos faz, como filhos adotivos, reconhecer Deus como Pai.

E, pelo fato de reconhecermos Deus como Pai, considera mos as criaturas com olhar novo, inspirado pelo mesmo dom da piedade.

Examinemos de mais perto os efeitos do dom da piedade. Frente a Deus ele nos leva a superar as relagóes de «dar

e receber» que caracterizam a religiosidade natural; leva a nao considerar tanto os beneficios recetados da parte de Deus, mas, muito mais, o fato de que Deus é sumamente santo e sabio: «Nos vos damos gragas por vossa grande gloria», diz a Igreja no hiño da Liturgia eucaristica; é, sim, próprio de um filhoolhar a honra e a gloria de seu pai, sem levar em conta os beneficios que ele possa receber do mesmo. É o dom da pie

dade que leva os santos a desejar, ácima de tudo, a honra e a gloria de Deus «... para que em tudo seja Deus glorificado», diz Sao Bento, ao passo que S. Inácio de Loiola exclama: «... para a maior gloria de Deus». É também o dom da pie dade que desperta no cristáo viva e inabalável confianca em — 375 —

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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

Deus Pai,... confianga e entrega das quais dá testemunha S. Teresinha de Lisieux na sua doutrina sobre a infancia espi ritual. O dom de piedade nao incita os cristáos apenas a cum-

prir seus deveres para com Deus de maneira filial, mas leva-os também a experimentar interesse fraterno para com todos os

seus semelhantes. Típico exemplo deste sentimento encontra-se

na vida de S. Francisco de Assis: quando este, certo dia, sonhando com as glorias de tun cavaleiro medieval, avistou um leproso, sentiu-se impelido a superar qualquer repugnancia e a dar-lhe o ósculo que exprimía a fraternidade de todos os

homens entre si.

O dom de piedade, tornando o cristáo consciente de sua insergáo na familia dos filhos de Deus, move-o a ultrapassar as categorías do direito e do dever, a fim de testemunhar urna generosidade que nao regateia nem mede esforgos desde que sirva aos irmáos. É o que manifesta o Apostólo ao escrever: «Quanto a mim, de bom grado me despenderei, e me despenderei todo inteíro, em vosso favor» (2Cor 12,15). 2.6.

Fortaleza

A fidelidade á vocacáo crista depara-se com obstáculos

numerosos, alguns provenientes de fora do cristáo; outros, ao contrario, do seu íntimo ou das suas paixóes. Por isto diz o Senhor que «o Reino dos céus sofre violencia dos que querem entrar, e violentos se apoderam dele» (Mt 11,12).

Ora, em vista da necessidade de coragem e magnanimidade que incumbe ao cristáo, o Espirito lhe dá o dom da for taleza. Esta nem sempre consiste em realizar faganhas yul-

tosas e admiradas pelo público, mas nao raro implica pacien

cia, perseveranca, tenacidade, magnanimidade silenciosas...

Pelo dom da fortaleza, o Espirito impele o cristáo nao apenas

áquilo que as forcas humanas podem alcangar, mas também áquilo que a forga de Deus atinge. É essa forga de Deus que

pode transformar os obstáculos em meios; é ela que assegura

tranqüilidade e paz mesmo ñas horas mais tormentosas. Foi ela que inspirou a S. Francisco de Assis palavras táo signifi

cativas quanto estas: «Irmáo Leáo, a perfeita alegría consiste em padecer por Cristo, que tanto quis padecer por nos». 2.7.

Temor de Deus

Para entender o significado deste dom, distingamos diver sos tipos de temor: a) o temor covarde ou da covardia; b) o — 376 —

OS DONS DO ESPIRITO SANTO

25

temor servil ou do castigo; c) o temor filial. Este consiste na repugnancia que o cristáo experimenta diante da perspectiva de poder-se afastar de Deus; brota das próprias entranhas do amor. Nao se concebe o amor sem este tipo de temor. Com outras palavras: as virtudes afastam, sim, o cristáo do pecado, ajudando-o a vencer as tentagóes. Isto, porém, acontece através de lutas, hesitagóes e, nao raro, deficiencias. Ora pelo dom do temor de Deus a Vitoria é rápida e perfeita, pois entáo é o Espirito que move o cristáo a dizer Nao á tentagáo.

O dom do temor de Deus se prende inseparavelmente á

virtude da humildade. Esta nos faz conhecer nossa miseria; impede a presungáo e a vá gloria, e assim nos torna conscien

tes de que podemos ofender a Deus; daí surge o santo temor

de Deus. O mesmo dom também se liga á virtude da temperanga; esta modera a concupiscencia e os impulsos desorde

nados do coragáo; com ela converge o temor de Deus, que, por

impulso de ordem superior, modera os apetites que poderiam ofender a Deus.

Os santos deram provas sensíveis de santo temor de Deus. Tenha-se em vista S. Luís ae Gonzaga, que, conforme se narra, derramou copiosas lágrimas certa vez quando teve que con-

fessar suas faltas,... faltas que, na verdade, difícilmente pode riam ser tidas como pecados. Para o santo, essas pequeninas faltas eram sinais do perigo de poder um dia afastar-se de Deus. Ora, para quem ama, qualquer perigo deste tipo tem importancia.

Eis, em grandes linhas, o significado dos dons do Espirito

Santo na vida crista.

Sao elementos valiosos para o progresso

interior, elementos que o Espirito mais e mais utiliza, se o

cristáo procura amar realmente a Deus e ao próximo e jamáis dizcr um Nao consciente as inspiragóes da graga. Bibliografía:

FALVO S., A hora do Espí'llo Santo. Ed. Paulinas, SSo Paulo 1975. KONG H., BRAND P. e outros, A experiencia do Espirito Santo. Ed.

,S H. G". e outros, O ESPIRITO SANTO. Ed. Vozes, PetróMARTINEZ,

L.

M., Os dons do Espirito Santo.

Ed.

Paulinas,

SSo

Paulo 1976

ídem, Os frutos do Espirito Santo. Ed. Paulinas, SSo Paulo 1976.

ídem, A tel

do Espirito: as hem-aventurancas.

Paulo 1976.

Ed.

Paulinas, SSo

SCHEEBEN. M. J., O Espirito Santo. Ed. Loyola, Sao Paulo 1977. SMET, W., Eu faco um mundo novo. Ed. Loyola, Sao Paulo 1978.

— 377 —

Sensacional!

profecías de ¡mínente fim do mundo

Em 8Íntese: O presente artigo refero onze revelagOes ou profecías concernentes ao "próximo" fim do mundo. Transmltem noticias minuciosas e espantosas a respelto de calamidades que estariam para se desencadear em breva sobre o género humano. A propósito de tais mensagens, observe-se:

1)

É válida e altamente Importante a exortacSo á oracSo e á peni

tencia. Esta merece dócil atencSo da parte dos cristSos.

2) Quanto ao anuncio de datas e calamidades referentes ao fim do mundo, deve-se notar que contraria ao teor e ao estilo da Revelacfio bí blica. Esta é multo sobria neste particular; Jesús recusou-se explícita mente a revelar a data do jufzo final

(cf. Me 13,32).

3) Sobro Fátima e seu segredo, pouco pols as comunlcagóes feltas por Ir. Lucia distam Vlrgem; os estudiosos julgam difícil distinguir o Ir. Lucia provenha propiamente de María SS. e tado pela vidente em seu fervor.

se pode dizer de seguro, 25 anos das aparicSes da que nessas mensagens de o que haja sido acrescen-

4) As noticias de imlnente fim do mundo corresponden!, de certo modo, a um anseio psicológico e espontáneo dos homens contemporáneos. Multas pessoas, verificando que as coisas vao mal, julgam que "so Deus pode dar um jeito". Na verdade, porém, dlsse o Senhor: "Tempo vira em que desojareis ver o dia do Fllho do Homem, e nSo o veréis" (Le 17, 22). Estas palavras prevéem tempos diffeeis para os cristios, sem que todavia o Senhor intervenha drásticamente na historia para alivlar-lhes a sorte.

Por conseguinte, as "profecías" em pauta merecem considerado tSo somante na medida em que corroborara a seguinte mensagem destituida de data e descrlcóes minuciosas: "Oral e fazei penitencia pelos vossos pecados I"

Comentario: Nao sao raras as vozes que se levantam hoje em dia para predizer a proximidade do fim do mundo. Descrevem com minucias os tragos catastróficos que deveráo carac terizar a consumagáo da historia e quais os meios de escapar as grandes calamidades que entáo se desencadearáo sobre os homens. Para fazer valer a sua autoridade, referem-se a visóes e revelacóes do Senhor ou da Virgem SS. a tal ou tal vidente. — 378 —

PROFECÍAS DE FIM DO MUNDO

27

Em conseqüéncia, muitas pessoas indagam, perplexas, a respeito do significado e do peso que possam ter tais predicóes.

É o que vamos examinar ñas páginas subseqüentes: exporemos prímeiramente o conteúdo de algumas das profecías mais em voga; depois refletiremos sobre as mesmas á luz de criterios teológicos.

1.

Que dizem as profecías?

Recensearemos onze profecías dentre as que nos tém chegado as máos a partir das mais diversas procedenciasl. 1.1.

No ano 2000

Colhemos de folhas datilografadas a seguinte «revelagáo» de um católico praticante: "Consclentlze-se o leitor e medite um pouco sobre a historia da humanldade e verifique desde Abraio até Moisés, ou seja, desde 2000 até 1570, antes da vlnda de Jesús Cristo. De 1570 para 2000 s§o exatamente 430 anos, islo é, quando Jesús Cristo velo á térra pela prlmelra vez. (slcl).

Ao verlflcarmos que de 1570 para 1979 sfio 409 anos, facamos a dife

rente entre 430

e

409; o que obteremos? exatamente 20 anos

e,

para

malor surprosa, vejamos a diferenca de 1979 para 2000 — 21 anos, Isto é, em 2000, quando poderá realizarse a segunda vlnda de Nosso Senhor Jesús Cristo á térra para julgar os vivos e os morios, conforme está escrito na

Oracáo da Proflssao de Fé rezada pelos católicos do mundo Inteiro: 'Crelo

em um só Deus, Pal todo-poderoso, Criador do céu e da térra... Ressuscitou ao lerceiro dia, conforme as Escrituras e subiu aos céus, onde está

sentado á dlreita do Pal E DE NOVO HA DE VIR EM SUA GLORIA, PARA JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS. E O SEU REINO NAO TERA FIM'".

A propósito desejamos observar: A cronología de Israel mais apurada e recente assinala, como época de Abraáo, o século XVIII a.C. (em cerca de 1850

terá Abraáo chegado a Canaá; cf. Gn 12); a data do Éxodo e da obra de Moisés é o ano de 1250 aproximadamente. Diante desta computacao, vé-se que já nao tém sentido os cálculos da «profecía» atrás citada; desmoronan! por completo.

Alias, há diversas vias para predizer o fim do mundo em

2000, das quais destacamos aínda a seguinte: aos seis dias da JNáo nos será possfvel identificar com preclsáo as fontes aduzimos, porque recebemos tais noticias em folhas policoplada3 nem sempre citam com a devida clareza o documentarlo em causa.

— 379 —

que que

28

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 237/1979

criacáo devem corresponder seis milenios da historia da humanidade, visto que mil anos dos homens equivalem a um dia para Deus (cf. 2Pd 3,8). Ora, dizem, Adáo foi criado 4000 anos antes de Cristo. Após Cristo estáo para encerrar-se dois milenios; era 2000 terminará o sexto milenio da historia da humanidade. Donde se depreende que o mundo há de acabar entáo, para que o género humano entre no grande repouso do Senhor ou no seu sétimo dia.

Ora também esta profecia é falsa a mais de um titulo:

— a seccáo de Gn l,l-2,4a nao tenciona indicar o número

de dias ou de eras em que haja sido criado o mundo, mas tem

em mira aludir á semana de trabalho do homem a fim de incutir o repouso do sétimo dia, como se este tivesse sido observado pelo próprio Deus;

nao se pode dizer que o género humano tenha surgido

sobre a térra 4000 anos antes de Cristo. A ciencia contradiz frontalmente a esta suposigáo.

Passemos agora a outra profecia: 1.2.

Trevas, trovoadas c luz...

A estigmatizada Marie Julie Jahenni (Département Loire,

Franga) terá Jesús manifestado o seguinte: "Dou-vos

um

sinal:

eu virel

como

um

trovSo terrlvel

sobre

este

mundo pecaminoso, numa nolte de frió Invernó e nessa nolte t6o (ría um vento quente soprará, seguido de chuva de pedras e de relámpagos, que se preclpitarño sobre o povo, sobre este povo que nao quer acreditar em mim...

O ar será envenenado por gases venenosos, enxofre e urna fumaca que mata. Enviará urna tempestado que acabará com todas as casas que

a sabedoria dos homens construlu. Nessa noite vire! para acabar com as cidades do pecado. Cal rao os planos das ambicSes humanas. Ai de vos, chelos de podrldSo, que tendes a coragem de me insultar I

Enquanto o meu Anjo da Morte com a espada de rnlnha justica arrasar os Infléis, procurará vingar-se, caira sobre os justos, mas eu vos quero dar um slnal que Indica o principio destas calamidades. Numa nolte de invernó, quando ouvirdes que no mundo rolam as trovoadas, de forma que as montanhas tremem, fechai as portas e janelas e coloca! panos ñas brechas, e nSo olheis para os mais horrivels horrores que jamáis houve. Deus limpará a térra. E os que restaren» serSo apenas urna terca parte da humanidade, o rebanho que se conservou fiel. Reunl-

— 380 —

PROFECÍAS DE FIM DO MUNDO

29

•vos dlante do meu Cruclflxo, chamal vossos protetores: Süo Miguel, Sfio José, o Anjo da Guarda, colocal-vos debalxo da protecSo da minha MSe e nSo tenhals medo. Escutal novamenle o que disse: acendel velas bentas e rezal o terco, porque o terco é a espada mals aguda da minha M9e. Tende perseverarla, nSo desaniméis. Sfio tres días de trevas. lApós estes tres días surgirá a paz para vos, e o sol iluminará novamente e aquecerá a térra. Será urna destruicSo enorme, só ficarSo as casas onde estavam os meus. Eu, vosso Deus, terei llmpado tudo. Urna terca parte da humanidade se salvará. Os que flcarem, deverSo agradecer á SS. Trlndade pela protec&o concedida e hio de louvar a Deus. Haverá um só rebanho, um só pastor, urna só Igreja.

...

Cair&o dois juízes

sobre a

térra.

Um

caira

da térra: guerras,

revolucees e outras desgracas. Outro Juiz caira do céu sobre o mundo Inteiro: urna escuridfio terrlvel, tres días e tres noites. Nessa escurldfio será Impossível ver alguma coisa. Essa escurldSo será acompanhada de pesti

lencia dos ares. Depois do terceiro dfa as ondas do mar se levantarao a cem metros de altura e lavaráo a pestilencia. Só velas bentas ilumlnaráo. A ben;áo do padre é a bénjáo de Jesús".

Por ora, abstemo-nos de comentarios.

1.3.

Trevas e morte

O «Almanaque Ilustrado das Familias Católicas Brasileiras» á p. 85 (sem data nem número de edicto ñas folhas utili zadas) publicou a seguintc noticia: "Chorando, a Santlssima Virgem anuncia 70 horas de trevas, desaparecendo 75% da humanldade. Oplniáo do Censor Diocesano, há nada contra a fé e a Moral'.

C&nego

Francisco

Manfredi:

'NSo

O dltame diocesano vem com data de 12 de junho de 1966 e assi-

natura do bispo de San Juan Dom Andino Rodríguez y Olmos".

Segundo parece, a revelaeáo em pauta foi dirigida a urna Religiosa estigmatizada na Italia, na sexta-feira santa 16 de abril de 1954. Eis outros trechos da mensagem transmitida a essa Irma pela Virgem SS.: "Os homens vlvem obstinados nos seus pecados. Está multo próxima a Ira de Deus. Grandes calamidades, revoluc.6es sangrentas, (uracSes terrívels logo virSo por sobre a térra e os ríos e os mares transbordarSo. Proclama, grita em voz alta, até que os sacerdotes de Deus oucam a minha voz para que avisem ¿ humanldade que o castigo está multo perto

— 381 —

30

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

e que, se os homens nSo se voltarem para Oeus com a oracSo e a peni* ténela, o mundo será lancado numa nova e terrlbillssima guerra. As armas mais mortíferas destruIrSo os povos e as nacSes.

Nuvens como relámpagos penetrantes de fogo do céu e urna tem pestada de fogo calrSo sobre a térra. Este castigo, Jamáis visto na historia da humanldade, durará setenta horas. O3 ateus seráo confundidos e ani quilados. Muitos se perderáo, porque se detém na obstlnacáo dos seus pecados. Ver-se-á entáo o poder da luz sobre a Ierra. NSo fique silenciosa porque se aproxlmam as horas das trevas e do abandono. Incllno-me sobre o mundo, tendo em suspensáo a justiga de Deus. De outra forma, estas coisas já teriam acontecido. Oragdes e penitencias sSo necessárias, porque os homens devem voltar-se para Deus e para o meu CoracSo Imaculado. Eu que sou a medianeira entre Deus e os homens e, por este meló, parte do mundo será salva. Proclama, bradando estas coisas a todos, como o mesmo eco de minha voz. Anuncia porque Isto ajudará a salvar multas almas e impedir multa destruIcSo na Igreja e no mundo".

Eis outra profecía:

1.4.

Unía aparisáo: haverá pragas e guerras

A revista franciscana «Eco Seráfico», de abril de 1947, publioou um artigo de Frei Faustino Wessoly O.F.M., que se referia as aparcóos de Heede (Alemanha), divulgadas pelo jornal «Das Neue Volk» de 15/08/1946.

Conforme Frei Faustino, a Santa Máe de Deus em Heede

apareccu por cem vezcs a meninas em idade escolar, man

dando, através das mesmas, mensagens ao Papa. mento de Frei Faustino:

Eis o depoi-

"Eu me encontrava em Alttotlng, célebre santuario e lugar de peregrinaqSo da Bavlera. Num serm9o dominical, no tempo da Quaresma, o vigárlo Pe. José Engelhart disse o segulnte: 'Urna noticia digna de fá nos vem do Norte da Alemanha: em Heede, atdela célebre pelas aparic5es de

Nossa Senhora, aparece agora Nosso Senhor em pessoa a urna das quatro jovens que vlram Nossa Senhora. E Isto se verifica há varios meses1. O Revmo. Vigárlo de Alttotlng, homem prudente, contlnuou asslm : 'Eu me informe) minuciosamente a respeito dessas aparicSes no próprlo lugar, e,

só depois de me ter convencido da veracldade dos fatos, tome) a resolu(So, como imposta pela coincidencia, de publica-tos'.

O bispo de Osnabruck — contlnuou o vigárlo —, ao receber noticias das apartides, enviou ao lugar dols dos seus sacerdotes conhecldos como

contrarios e críticos em acreditar semelhantes noticias, como vigárlo e coadjutor. Foram incumbidos de Investigar minuciosamente e relatar. E os resultados? Eu mesmo recebl urna carta do vigárlo de Heede, na qual ele me escreve: 'Temos em máo testemunhos irrefutávels da veracidade das aparlcóes de Nosso Senhor'. Ambos, vigárlo e coadjutor, estSo portanto convencidos (considerando sua prlmeira incredulidade em materia de

— 382 —

profecías de fim do mundo

31

aparicSes) da que as apartases em Heede sSo urna realldade. E qual o conteúdo das comunlcacóes de Nosso Senhor? Eis o que diz:

Os homens nSo ouvlram mlnha M9e, quando Ihes apareceu em Fátlma,

recomendando que flzessem penitencia. Na última hora venho eu mesmo para prevenir e exortar a humanldade. Os tempos sSo multo serios... Os homens devem fazer penitencia, afastar-se de todo o coracSo dos seus pecados, devem rezar, e rezar muito, a flm de que se aplaque a Ira de Deus. Particularmente se deve rezar multo o Rosario. Esta oracSo é multo poderosa aos olhos de Deus. Os divertlmentos e conversares devem ser restringidos.

Quando em 21 de outubro de 1945 estava por reallzar-se em Heede urna sessSo de baile, Nosso Senhor comunicou a Greta Gansfert, agra ciada vidente, o seguinte recado: 'Dize ao pároco que eu ordeno que nSo se deve realizar o baile. O vigário tem que publicar na igreja. Ai dos país que, nlo obstante, mandarem para lá as suas filhas I TerSo que prestar um

dia severísslmas coritas'.

O Pe. Vigário publicou esta ordem de Nosso Senhor na Igreja e o resultado foi que nlnguém se atreveu a ir aquele baile. Este, portento, nSo se realizou, apesar de todas as preparares feltas. Para o futuro, nln guém mais teve a ousadia de realizar nessa paróquia qualquer baile. N. Senhor havia dito também: 'Eu quero que Heede seja urna paróquia modelar. Todos os abusos deverSo ser abolidos e os habitantes devem dar bons exemplos aos peregrinos'. Diz Freí Wessoly: 'Repetidas vezes Deus nos tem prevenido, por meló de um santo e de sua própria mié, que flzéssemos penitencia. Pols nos aguardam terrfveis provacSes em tempo multo próximo. Nlsto se enquadram as profecías dos tempos passados e modernos. Grande parte desses terriveis aconteclmentos já se realizou, mas o plor está para vir. O que foi que Nosso Senhor revelou á bem-aventurada Ana Taigi ? — 'Pra-

gas terrestres vlráo primeiro; essas serSo terriveis, mas seráo abreviadas e mitigadas pela penitencia e oracfio de muitos milhSes de homens. Haverá grandes guerras ñas quais milhSes de homens perecerao pelo ferro. Depois dessas pragas terrestres, vlráo as celestes, que cairáo únicamente sobre os impenitentes. Estes castigos serio tremendos e nada os mitigará, mas se cumprlráo com todo o rigor'".

Passcmos agora a mais outra famosa profecía.

1.5.

E o segredo de Fófima ?

As aparigóes de Fátima, ocorridas em 1917, teráo reve lado a Luda um segredo a respeito da futura sorte da humanidade. Em 1960, esperava-se que tal mensagem fosse manifes

tada ao mundo inteiro — o que nao oeorreu. Todavía em 1965 — 383 —

32

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

o jornal alemáo «Neues Europa», de Stuttgart, publicou a mensagem, até entáo secreta, de Fátima, alegando té-la recebido

do Vaticano.

O texto de «Neues Europa» foi publicado por

outros grandes jomáis europeus, sem que o Vaticano jamáis emitisse algum desmentido ou sentenga contraria. Eis alguns tópicos do famoso texto: "Sobre toda a humanldade vira um grande castigo, nem hoje, nem amanhá, mas na segunda metade do século XX. O que eu expressei em La

Salette através das enancas Melania o Maximino, repito hoje diante de ti: a humanidade prevaricou (e tornou-se criminosa), e o presente que I he dei foi pisado aos pés.

...

O mundo está em estertores. A grande, grande guerra cal

na

segunda metade do século XX. Fogo e fumaca cairáo do céu e tudo o

que estava em pe rulrá. E milhSes e milhSes de criaturas humanas perderao a vida de urna hora para outra, e os que ainda ficarem vivos invejaráo os que tlverem morrido. Para onde quer que se ojhe na térra inteira, ver-se-So tribulacao, miseria e morte em todos os paises... O tempo dos tempos aproxlma-se, o flm de todos os fins".

Mais: em setembro de 1961, a revista italiana «Messagero

del Cuore di Maria» publicou um artigo do Pe. Agostinho Fuer tes, do qual váo extraídos aqui alguns dizeres:

"Eu vos trago urna noticia multo Importante de Fátima. O Santo Padre Dermltiu-me visitar Lucia. E ela me recebeu chela de tristeza. Parecla-me emagrecida e abatida. Logo que me vlu, dlsse-me: 'Padre, a Madona está insatlsfeita, porque nlnguém se importou com a sua mensagem de 1917. Nem os bons nem os maus se deixam dirigir por ela...

Crela-me, padre, o Senhor Deus castigará o mundo dentro de pouco

tempo. O castigo está as portas. Vira logo. Padre, procure Imaginar o malor sofrimento corporal posslvel, e quantas almas calrSo no inferno, e isto acontecerá se nSo se rezar e se nao flzer penitencia. A Rússia será o agullhSo escolhldo por Deus para castigar a huma nldade, se nos com as nossas oracóes e os nossos sacramentos nao Ihe

alcancarmos a graca da conversáo... O que mals entristece os coracBes de Jesús e María, é a queda das almas dos Religiosos e dos padres... Satanás se apoderará das almas consagradas; ele tente estragá-las para, dessa manelra, levar as outras & im penitencia final. A Mfie de Deus dlsse expressamente: 'Nos nos aproximamos dos últimos días'. Ela me

dlsse Isto tres vezes ... os últimos meios de salvacfio dados ao mundo

sfio o terco e a devoefio ao Coracáo de María, depois de todos os outros

meios de salvacao terem sido esgotados e desprezados pelos homens".

.; \^.

Sobre Fátima proporemos algumas noticias e considera-

Cóes a mais na segunda parte deste artigo, pp. 389s. — 384 —

profecías de fim do mundo

1.6.

33

Atrás da Cortina de Ferro

Também nos países comunistas diz-se terem ocorrido aparicóes da Virgem SS., que propóem mensagens ameagadoras aos pecados da humanidade.

Na Lituánia Senhora ter-se-á dezoito anos, que, nistas. No local inexplicavelmente seguiram,

mas,

(diocese de Per.evezys), por exemplo, Nossa manifestado visivelmente a urna jovem de por isto, foi denunciada as autoridades comu

das aparigóes, os fiéis ergueram um altar; todos os que tentaram destrui-lo nada con-

ao contrario,

foram punidos. A mensagem

transmitida pela vidente é semelhante á de Fátima, Lourdes e Garabandal, pois exorta os homens á oragáo e á penitencia. Na Eslováquia, a cidade de Turzovka, com seus 3.000 habitantes, foi também teatro de aparigóes mañanas. A Vir gem SS. ai apareceu a um pai de familia de 42 anos, guarda florestal, chamado Matous Lasuta. Este foi preso como visio nario alucinado e doentio; logo, porém, as autoridades chegaram á conclusáo de que era homem normal. O escritor Er nesto Kratzer falou pessoalmente com diversas pessoas proce

dentes da Eslováquia, as quais afirmaram ter visto um miraculoso fenómeno do sol e até mesmo a própria Virgem SS. As

peregrinac.óes a Turzovka sao incessantes apesar de ocorrerem

em territorio comunista. A mensagem se assemelha á de outras

aparigóes: pede oragáo e penitencia, em vista, de flagelos iminentes, que estáo para se desencadear sobre a humanidade.

María Santíssima é para o mundo de hoje o que a arca foi para Noé e sua familia.

Sobre Turzovka existem duas publicacóes: urna se deve ao Pe. Joáo Schmid, passionista, que reside no convento dos

Passionistas em Schwarzenfeld (D 8472), Alemanha. A outra é do escritor Carlos Wagner, distribuida pela Livraria M. Haussler de Viena (Austria). 1.7.

A mensagem da Senhora de Todos os Povos

Sob o título de Senhora de Todos os Povos, diz-se que a Virgem SS. apareceu a urna vidente em Amsterdam (Holanda) a partir de 1945.

Essa pessoa teve como confessor e diretor

espiritual, desde 1918 até 1967 (quando morreu), o frade domi nicano Padre Frene. Através da vidente, María SS. teria trans— 385 —

34

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

mitido serias advertencias a respeito dos graves acontecimentos que vém marcando os nossos tempos. Haverá também ditado urna oracáo que traz aprovagáo eclesiástica e já foi traduzida para trinta e duas línguas. 1.8.

Outras aparijóes

Entre outras, vém ao caso ainda as aparigóes da Santíssima Virgem a urna Ir. Romana a partir de 1946. Em um de seus éxtases, a vidente viu urna chuva de fogo a cair sobre a Rússia. Esclamou: "Virgem

Santíssima,

— Nüo, nlo será

será

bomba

a bomba atómica ? atómica;

nSo

haverá

guerra.

— Mas por que vejo muitas das pessoas que calrem fulminadas ? ... e outras segulrem Ilesas ?

passam

pelas

rúas

— Ah, é um castigo especial para os maus e para os Impíos".

Finalmente menciona-se Teresa Neumann, a estigmatizada de Konnersreuth, que transmitiu a seguinte mensagem de Cristo: "Tenho sido Insultado pelos pecados da humanidade. O castigo é inevitável. Se me pedes que salve almas no último momento, satisfar-ie-ei. Alé aqui as almas sacrificadas que vivem em cada paróquia, detiveram o castigo; agora, porém, lepaiacao já nao é suficiente; vira o castigo certo e inevitável. Vira repentinamente" (trecho transcrito do "Almanaque Ilus trado das Familias

Católicas Brasileñas").

Pergunta-se agora:

2.

Que idizer a propósito ?

Proporemos quatro observagóes:

2.1.

Ono{áo e penitencia

As mensagens mencionadas sao todas válidas na medida em que exortam os homens á oragáo e á penitencia. Diante da situagáo moral e material que aflige a humanidade de nossos dias, o cristáo sente-se obrigado a praticar, corrí zelo especial, — 386 —

profecías de fim do mundo

35

a oragáo, que pede a Deus as gragas que o mundo nao pode dar a si mesmo, e a penitencia, em expiacáo dos pecados da

humanidade.

Pode-se, porém, duvidar da autenticidade das previsóes referentes á proximidade do fim do mundo e de acontecimentos catastróficos sobre a térra. Se alguém quer dar crédito a tais profecías, nao peca contra a fé, pois, a rigor, tais predigóes nada tém de herético. Acontece, porém, que, sempre que um cristáo é interpelado por urna noticia milagrosa ou portentosa, deve procurar as credenciais aptas a autenticar tal noticia. Ora realmente essas credenciais, nos casos em pauta, nem sempre sao sólidas. É o que se depreenderá das consideracóes subseqüentes.

2.2.

Revelajóes particulares

A teología distingue entre revelacáo pública de Deus aos homens e revelacoes particulares. Pela revelacao pública o Senhor comunica aos homens as grandes verdades da fé e as linhas do seu plano salvífico. EncexTou-se este processo com a vinda de Cristo e a geragáo dos Apostólos (cf. Const. «Dei Verbum» tí> 4). Todos os cristáos aceitam a Revelagáo pública pelo fato mesmo de professarem o Credo. •

Após Jesús Cristo só pode haver na Igreja revelacíes par ticulares, isto é, comunicagóes cujo teor nao se impóe como objeto de fé a todos os fiéis. O leque das revelagóes parti culares tem-se ampliado nos últimos decenios; numerosos sao os casos relatados por criancas, jovens, adultos. Religiosos, a tal ponto que é preciso aplicar-lnes o senso critico a fim de se distinguir de fenómenos alucinatórios e doentios urna possivel comunicagáo de Deus aos homens. A S. Igreja tem-se pronunciado mesmo sobre alguns casos de pretensas revelacóes particulares, negando a autenticidade das mesmas, ou seja,

reduzindo-as a fenómenos meramente humanos ou doentios. Tal foi o caso de Garabandal, El Palmar de Troya... (cf. PR

208/1977, pp. 153-163).

Quais seriam os criterios de autenticidade de determinada revelagáo particular? — Entre outros, assinalam-se — 387 —

36

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

a)

o teor da doutrína revelada seja condizente com as

verdades da fé. Ora, entre outros casos, notamos que isto nao ocorre exatamente no caso da mensagem de Nossa Senhora de Todos os Povos, como se pode depreender da análise publi cada em PR 161/1973, pp. 222-232. b)

O estilo das auténticas revelacóes ou profecias é sem-

pre sobrio. A mengáo minuciosa e precisa de acontecimentos (tragedias, calamidades...) foge ao que se dá ñas profecias bíblicas; corresponde, antes, a urna atitude psicológica do cidadáo contemporáneo do que a urna revelacáo divina; fornece devaneio á fantasía e satisfagáo á curiosidade, mas nao costuma ter a autenticidade das verdadeiras profecias. Ora veri-

fica-se que a grande maioria das profecias citadas neste artigo tém características minuciosas e sensacionalistas (ano 2000, trováo em noite de frío invernó, uso de velas bentas, morte de 2/3 da humanidade, escuridáo de tres dias e tres noites, ondas do mar a cem metros de altura, tempestade de fogo sobre a térra durante setenta horas...).

c) Sabe-se outrossim que o Senhor Jesús recusou explicitamente revelar aos discípulos a data do fim do mundo. Afir-

mava Ele ao se despedir dos Apostólos: «Nao compete a vos

conhecer os tempos e os momentos que o Pai tem em seu

poder» (At 1,7). Mais aínda: dizia Jesús que «a respeito daquele día e daquela hora ninguém sabe coisa alguma a nao ser o Pai» (cf. Me 13,32) — o que bem evidencia que nao

estava em sua missáo de Doutor dos homens revelar a data do juizo final.

Em conseqüéncia, é difícil admitir que o Senhor Jesús esteja revelando tal data através de mensagens particulares.

Quanto á aprovagáo eclesiástica concedida ao texto de

tais revelagóes ou a oracóes que lhes estáo associadas, nao quer dizer que a Igreja confirme tais mensagens com a autoridade do seu magisterio. Apenas significa que o censor eclesiástico nada viu de herético em tais textos. A rigor, pois, nao e ím-

possível que as mensagens respectivas tenham sido reveladas pelo Senhor Deus. Há, porém, distancia muito grande entre

«nao ser impossivel» e «ocorrer de fato» ou «ser fato reab. De modo especial, digamos algo sobre — 388 —

profecías de fim do mundo

2.3.

37

O segredo de Fátima

As aparigóes de Fátima deram-se em 1917. A historia das mesmas, a principio, era conhecida apenas através do inquérito realizado pelo Cónego Formigáo em setembro-outu-

bro de 1917. Acontece, porém, que, aproximando-se o 25»

aniversario das aparigóes (1917-1942), a vidente Lucia (no Carmelo, Ir. Maria Lucia do Coragáo Lnaculado) enriqueceu a narrativa contando fatos outrora nao divulgados e fazendo apelo a novas comunicagóes do Alto. Em conseqüéncia, as revelagóes de Fátima ao mundo tém-se feito por etapas suces-

sivas, sendo que ñas últimas alguns autores julgam difícil dis cernir os pormenores que pertencem estritamente ao teor da

mensagem daqueles que a vidente acrescentou em seu santo fervor (cf. H. Maréchal, Memorial des Apparitkms de la Vierge dans l'Église. París 1957, p. 146). É muito importante observar

este fato, pois faz suspeitar que nem todos os dizeres das revelagóes de Fátima se devem á Virgem Maria, já que sao, em parte, redutíveis a Ir. Lucia.

Quanto ao segredo de Fátima, ele se prende á terceira

aparigáo de Nossa Senhora, verificada aos 13 de julho de 1917. Instada pelo bispo de Leiria (as vésperas do 25fl aniversario das aparigóes, Lucia disse ter obtido licenga do céu para comu

nicar o segredo num relato de quinze páginas datado de 31/08/1941: a mensagem do segredo consta de tres partes,

duas das quais foram ¡mediatamente reveladas; a terceira,

porém, ficaria contida em envelope lacrado, sobre o qualse lia • «Nao abrir antes de 1960»; interrogada sobre o motivodesta restrigáo, Lucia respondeu sempre: «A SS. Virgem a quer assim».

A primeira parte do segredo compreendia urna visto do

inferno: Lucia, Francisco e Jacinta perceberam como que um grande mar de fogo e, nele mergulhados, os demonios e as almas. Trata-se de um quadro figurado, cheio de íma-

gens literarias adaptadas a capacidade perceptiva das criangas. A segunda parte do segredo predizia o fim da guerra

mundial de 1914-1918 e o comego de outra pior sob o reinado de Pió XI. E acrescentava :

"Quando virdes urna noite alumlada por urna luz desconhecida, sabeJ que é o grande sinal que Deus vos dá, de que vai a punir o mundo de seus crimes por meio da guerra, da fome e de persegulc6es á Igreja e ao Santo Padre.

— 389 —

38

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 237/1979

Para impedir, vlrel a pedir a consagrado da Rússla a meu culado Coracio e a comunhíio reparadora nos prlmelros sábados.

Ima

Se atenderem ao meu pedido, a Rússla converter-se-á e terSo paz; se nao, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguícoes á Igreja. Os bons serio martirizados; o Santo Padre terá multo que

sofrer; varias nagfies serio aniquiladas...

Por fim, o meu Imaculado

Coracio

triunfará 1".

A propósito, observemos : a guerra aue devia comecar sob Pío XI, na verdade só comecou em 1939, isto é, sob o Papa

Pío XII!

Ouanto á terceira parte do segredo, aue devia ficar oculta até 1960, nao foi objeto de divulgagáo oficial por parte da S. Igreja nem em 1960 nem depois. As noticias divulgadas pelos jomáis em 1965 como auténtica revelacáo do segredo nao tém a cháncela oficial da Igreja. Pergunta-se: por que a Santa Sé nao divulgou tal segredo em 1960 ?

As respostas podem ser as mais variadas. Julgamos, porém, muito provável que o S. Padre Joáo XXIII nao quisesse entreter a atencáo do povo cristáo com revelares particulares cuja autoridade era discutida (pois na verdade nao se sabe o que no teor desse segredo provém da Virgem María e o que é proferido táo somentc pela Ir. Lucia). Bastava á autori dade da Igreja comunicar ao povo de Deus a exortacáo á oracáo e á penitencia que sempre se derivou de Fátima. Real mente estas atitudes sao de importancia capital, qualquer que seja a sucessáo dos acontecimentos do próximo futuro. As profecías (mesmo as auténticas) nao alteram em nada a mensagem concreta, essencial, de oragáo e penitencia. É isto que absolutamente importa aos homens a fim de que nao percam os valores verdadeiros e eternos.

2.4.

A expectativa do fim do mundo

Para entender o pulular de profecías relativas ao iminente

fim do mundo, deve-se levar em conta que o fenómeno pode ser ilustrado por fatores psicológicos. Com efeito, nossos tempos sao difíceis; a segunda guerra mundial (1939-1945) deixou o género humano extremamente

convulsionado; até hoje os males se prolongam através da violencia, da alta de pregos, da poluicáo, etc. É natural, pois, que certas pessoas religiosas digam: «As coisas váo táo mal que só Deus pode dar um jeito nisto !• Só urna intervencáo do

— 390 —

_^

profecías de toi do mundo

39

céu pode acabar com as desgragas da humanidade! Os homens estáo provocando o fim do mundo!» Estes dizeres sao mais emotivos do que propriamente teológicos. Os homens, postos sob calamidade, sempre julgaram que o fím do mundo estava próximo; foi o que se deu no séc. V, quando Roma estava para cair sob os golpes dos bárbaros; foi o que se deu no fim da Idade Media, quando a peste devastava a Europa; é o que se dá também em nossos dias (nao alongamos a enumeracáo de datas intencionalmente).

Por conseguinte, a predicáo de iminente catástrofe e de próximo fim do mundo pode nao ser devida a alguma revelacáo divina, mas, sim, a urna atitude psicológica muito compreenslvel; seria a resposta espontánea do homem «mtem-

poráneo aos males que o afligem. Julgamos que as predicóes trágicas que hoje em dia correm, nao sao mais do que a expressáo da psicología religiosa de muitos cristáos dos nossos

tempos que se sentem perplexos diante do desenrolar da his toria presente. De todos esses rumores, possa o povo de Deus ao menos aproveitar a insistente exortagáo á oracáo e á peni tencia!

Esta, sim, tem valor perene e é a melhor resposta

a qualquer desafio dos tempos.

Devem-se também notar as palavras do Divino Mestre: «Tempo vira em que desejareis ver o dia do Filho do Homem, e nao o veréis» (Le 17,22). Nestes termos Jesús prediz sitúa-

cóes dificeis e fases angustiantes para os seus seguidores; estes, premidos por flagelos e tragedias, haveriam de ansiar pela vinda solene do próprio Deus como Juiz e Consumador da historia (no dia do Filho do Homem); todavía este anseio nao correspondería ao designio de Deus; o Senhor Jesús riáo voltaria segundo as expectativas ou as aspiracóes dos seus discípulos.

Eis por que julgamos que as proferías em pauta merecem

consideracáo táo somente na medida em que corroboram a seguinte mensagem destituida de data e descrigóes minuciosas: «Orai e fazei penitencia pelos vossos pecados e pelos do mundo inteiro!» A propósito

PR 4/1958, pp. 169-174 (segredo de Fátlma).

PR 161/1973, pp. 222-232

(aparlefio de Nossa Senhora de Todos

os Povos).

PR 170/1974, pp. 72-83 (aparlcOes e "aparlcoes" de Nossa Senhora). PR 170/1974, pp. 64-88 (memorias e cartas da Ir. Lucia).

— 391 —

"O que o olho nao víu..."

"reflexóes sobre vida após a vida"

A edigáo de «Selegóes» de abril 1979 aborda mais urna vez o tema «Vida após a vida», já considerado em «Selegóes» de setembro 1977 e comentado em PR 216/1977, pp. 501-506.

Voltamos ao assunto neste fascículo porque o tema, sen sacional como é, tornou a provocar indagac.óes de varios leitores. Na verdade, trata-se de pesquisas empreendidas pelo

Dr. Raymon Moody, médico norte-americano, junto a pacien tes que estiverana em coma, mas conseguiram recuperar-se. Tais pessoas posteriormente relataram ao Dr. Moody a expe riencia do além que fizeram durante o espaco de quase morte. O Dr. Moody publicou esses relatos em um primeiro volume

intitulado «After Life» (1975). Tendo, após esta data, colhido outros testemunhos, houve por bem editá-los em novo livro

com o título «Reflections on Life After Life», cujo teor nao difere do anterior; é este segundo volume que ocasiona o artigo «Cidade de luz, reino das trevas», de «Selegóes» de abril 1979, pp. 25-29.

1.

Um espécimen dos relatos

Antes do mais, transcrevemos um breve e significativo

exemplar dos depoimentos colhidos por Raymond Moody. "Um homem está morrendo. Quando chega ao ponto sofrlmento ffslco, ouve o médico declarar que está morto.

máximo

do

Comeca entSo a ouvlr um ruido forte, como campaínha ou cigarra estridente, e ao mesmo tempo senté que está se deslocando velozmente através de

um túnel comprldo e

escuro. Depols

dlsso,

vé-se de

repente

separado do seu corpo físico, que observa de longe, como se fosse um

espectador. Dessa posigSo favorável, asslste ás tentativas para a sua rossurrelcSo. Percebe que aínda possul um 'corpo', mas de natureza multo

diversa e com poderes multo diferentes do

para tras.

corpo

físico que ele delxou

Logo depols, outras pessoas vem ao seu encontró e o ajudam. Ele vislumbra os espfritos de parantes o amigos que já morreram. Aparece a. sua frente urna alma carinhosa e acolhedora (um ser luminoso). Este ser Ihe faz urna pergunta sem palavras, para Induzl-lo a avallar sua vida, e

— 392 —

¿A VIDA APÓS A VIDA?

41

o ajuda, mostrando-lhe urna reapresentac&o Instantánea dos marcos prin cipáis dessa existencia. Finalmente, vé

que se aproxima

de

urna especie

de

barreira, que

aparentemente representa o limite entre a vida terrena e a posterior. O 'morto' entfio acha que precisa voltar á Térra — que ainda nao chegou a hora da sua morte. Resiste, pofs a essa altura já se absorveu com as

experiencias da vida eterna e nao deseja regressar. Sente-se dominado por profundos sentlmentos de alegría, ternura e paz. Nio obstante, de algum modo ele torna a se reencarnar no seu corpo físico e volta a vlver" (art. clt. p. 25s).

Passemos a

2.

Algumas observagóes

1) Antes do mais, nota-se que os depoimentos publicados por Moody descrevem a vida do além & semelhanga do aquém: túnel que dá passagem a urna cidade de luz, em que há jardim, amigos e felicidade... Dir-se-ia que se trata de vida terrestre em nova edigáo, melhorada e embelezada. Ora nao há quem nao veja que tais descrigóes se podem

explicar cabalmente como projegóes do subconsciente ou do

inconsciente dos pacientes. Nao há necessidade de recorrer a revelacóes ou a experiencias do além para elucidar a oñgem de tais narragóes. 2)

A inspiracáo desses depoimentos é evidentemente es

pirita. O espiritismo admite, sim, que os espíritos se desencarnem e, revestidos de perispírito ou de corpo astral, pairem ácima do seu corpo inanimado ou terrestre, podendo depois

voltar a enoarnar-se. Além disto, chama-nos a atengáo a falta de referencia clara e explícita a Daus em tais relatos; ora o

espiritismo é, sim, um sistema que professa Deus e o amor a Deus, mas que parece interessar-se mais por comunicagóes

com os espíritos do que com o encontró do próprio Deus. Ora, para quem tem fé monoteísta, é impossível admitir que o além nao proporcione a criatura um relacionamento direto e imediato com o Senhor Deus, que é o Alfa e o ómega da toda a criagáo.

3) Para o cristáo, a chamada «morte» é, antes do mais, o encontró com Deus,... com o mesmo Deug que na vida presente é reconhecido através dos véus da fe. Na verdade, Deus é o grande «polo» de atragáo da vida humana, em demanda do qual todos os homens retos, consciente ou incons cientemente, peregrinam. Cidade de luz, jardim ameno, belas -- 3S3 —

42

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 237/1979

cores... sao realidades muito pobres ou mesmo insuficientes

para a criatura humana. Bem dizia S. Agostinho: «Senhor,

Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso coragáo enquanto nao repousa em Ti». Quanto aos parentes e amigos, é certo

que cada um de nos os encontrará de novo na «casa do Pai»,

mas seráo reconhecidos e amados em funqáo de Deus; o amor a Deus nao sofrerá divisáo nem dilaceracáo ñas criaturas,

mas, ao contrario, esse amor é que assegurará o amor de cada qual aos seus semelhantes.

A fim de entender o que será a vida eterna para si pessoalmente, o cristáo se esforga por avaliar o seu relacionamento com Deus na vida presente: é íntimo ? É saboroso ?

Tem algum significado estrutural ? — Nao há ruptura ou hiato entre a existencia terrestre e a postuma; há apenas revelacáo ou queda de véus. Daí a importancia da pergunta: «Quem é Deus para mim hoje ?» — A resposta sincera que cada um dé a esta mterrogagáo, manifestar-lhe-á, de certo modo, o que a vida eterna será para essa pessoa. EstévSo Bettencourt O.S.B.

livros

em

estante

O descompasso da teoría com a práttca: urna IndagacSo ñas rafees da Moral, por Hubert Lepargneur. Cadernos de Teología e Pastoral n? 14.

Ed. Vozes, Petrópotls 1979, 95 pp., 135x210 mm. O Pe. Lepargneur, teólogo de renome nacional e Internacional, oferece

ao público um livro sobre assunto candente: a Incoeréncla em que incide freqüentemente o comportamento humano, pols na verdade o agir ou a conduta nem sempre corresponde ao pensar ou á teoría; há teorías que flcam distantes da prátlca e há prátlcas totalmente divorciadas da respec tiva teoria.

O autor mostra que o problema é de todos os tempos; |á era denun

ciado por Demócrlto de Abdera (460-370 a. C.) e pontllha toda a historia

do pensamento. A seguir, Lepargneur discute varios conceitos Implicados pela problemática: o de praxis, os de relativo e absoluto, o dos condiclonamentos do ato humano (Ética da sltuacfio)... Após eruditas considerac6es, concluí que nunca haverá adequacSo entre teoría e prática, pols o desajuste tem sua raíz na próprla constituido do ser humano: este é fraco e falho. Todavía é preciso combater esse desajuste e tentar reduzír a distancia entre teoría e prátlca. É a dissoclacáo entre esta e aquela que pSe a Moral em constante tensfio e dinamismo. Nessa tensSo, que se opde á Inercia ou estagnacSo do ser humano, Lepargneur chama a atencfio para o papel da vlrtude da prudencia: esta há de tentar refletlr sobre a teoria, de um lado, e, de outro lado, sobre as circunstancias concretas em que se encontra o agente; a prudSncla procurará Indicar as atltudes mals coerentes e tiéls para o comportamento do ser humano. — Cremos

que a conclusSo de Lepargneur é válida; apenas enfatizarfamos a necessl-

— 394 —

LTVROS EM ESTANTE

43

dade premente de se diminuir a distancia entre teoría e prática; todo crlstáo, chamado a pertelcfio e á santldade como é, deve sentlr-se cada vez mals impelido á coeréncla ou a ser a expressfio concreta do Amor de Deus.

O llvro é rico em cltacOes e documentacfio, aparecendo como fruto

de asslduas e variadas lelturas sobre o assunto. Destina-se a estudiosos de certo nivel, aptos a compreender o vocabulario e o raciocinio do autor.

Ao lado de trechos multo Interessantes, como o das pp. 12s (em que o autor exp&e sumariamente a tese do llvro), há outros que nos parecem merecer certa revisSo: asslm o da p. 74, que se refere á leí natural com

um tanto de amargura. Gostarlamos de perguntar a Lepargneur em que

sentido entende a frase: "A Igreja nfio se revoltou em condenar a máe

de preferencia ao nasclturo, mesmo na presenca de filhos ]á numerosos e esbeltamente dependentes da mfie para a sua sobrevivencia" (p. 74). Na verdade, a Moral crista nSo' condena nem a mfie nem o filho em caso

de perigo para ambos, mas trata de salvar um e outro, utilizando os meios mals eficazes para Isto; tanto a mfie como o fllho sao seres humanos e tém o dlreito de vlver, o qual Ihes deve ser respeitado.

Protetas ontem e hoje, por Norbert

Lohílnk. Traducao de Celeste

María Jardlm de Moraes. Colecfio "A Palavra Viva" rff 19. — Ed. Paulinas, SSo Paulo 1979, 110x190 mm, 90 pp.

O presente Itvro traz o texto de quatro conferencias proferidas pelo

exegeta iesulta N. Lohffnk, ¡á conhecido no Brasil por outras obras suas.

A exposlcáo do tema decorre em llnguagem multo acesslvel, pois fol con

cebida principalmente para rádlo-ouvlntes — o que nao pre|udlca o conteúdo, vasado ñas mais recentes pesquisas bfblicas. O autor apresenta teses ponderéveis a respelto do profetismo fora de Israel, a respelto dos profetas bíblicos "revolucionarlos" como tamben» a propósito das predlgCes messianlcas em Israel e no locante a existencia de profetas em nossos días. No primelro capitulo, por exemplo, Lohflnk cita fenómenos de profecía ocorrentes entre os povos orientáis pré-crlstfios; havla. sim, como testemunham documentos escavados nos últimos decenios em Mari e albures, emlssárlos da Dlvlndade que transmltlam aos reís mensagens diversas... No capitulo quarto, Lohflnk afirma que, mesmo após os profetas bíblicos até nossos días, houve e hé profetas; cita, por exem plo, SSo Francisco de Assls e S. Tereslnha de Usleux, que contribuirán! para que os crlstfios descobrlssem a esplrltualldade evangélica de maneira adequada ás suas respectivas épocas (cf. p. 80). Apenas nos parece que Lohflnk deverla mencionar a' posslbllldade

de IIus6es por parte de pessoas que se dizem profetas ou portadores de mensagem divina. É preciso nfio "Inflaclonar" o termo "profeta", visto que ó Inórente ao pslqulsmo humano querer alguém passar por emissárlo de Deus". A experiencia comprova qufio fácilmente um devoto atribuí a si o carisma da "profecía".

As novas sellas, por Alaln Woodrow. Traducao do francés por Celeste

María Jardlm de Moraes. — Ed. Paginas, SSo Paulo 1979. 130 x 200 mm, 241 pp.

O llvro é de grande atualldade, pols vem responder ao compreenslvel interesse que o público em geral alimenta pelo fenOmeno "místico" das novas sellas. Estas se multiplican»

com

modalidades diversas, correspon-

dendo ás variadas tendencias psicológicas do homem religioso: há as pesslmlstas, que prevéem o flm do mundo para breve; as curandelras, que prometem milagros; as ocultistas, que tem revelacóes reservadas ao»

— 395 —

44

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 237/1979

Iniciados; as orientalistas, oriundas da India, do JapSo e da Coréfa; as racionalistas, que pretendem fundir ciencia e religiao, como a Ciencia Crista, a teosofía, etc.

O fenómeno pede expllcacao. Ora, com acertó. Alaln Woodrow Julga que o veemente surto das seltas contemporáneas vem a ser a réplica á crise que tem afetado a próprla Igreja Católica ou a Reiigiao clássica: o

secularlsmo e a teología da morte de Deus tém procurado apagar as manl-

festacóes religiosas da vida moderna; dizem que Deus é urna palavra sem ressonfincla e que o homem de hoje )á pode dispensar o auxilio do Senhor para prover a si mesmo. Ora o fenómeno das seltas significa a recusa de tais concepcóes secularlstas: por ele irrompe do mals profundo

do ser humano a dlmensáo religiosa congénlta e Indelével, contradizendo a Marx, Nietzsche e Freud, que aínda recentemente classlficavam a rellglSo como um fenómeno espurio e pereclvel da historia dos homens.

Alain Woodrow, depols de ponderar estes dados, analisa a origem e a mensagem das principáis seltas modernas: Meninos de Deus, Krlshna, Testemunhas de Jeová, Mórmons, Adventistas... Detém-se sobre os métodos empregados para conquistar e catequizar adeptos de tais grupos:

as técnicas de persuasfio modernas, utilizando recursos psicológicos, podem convencer de qualquer colsa qualquer pessoa nao

precavida: a

pessoa

humana é asslm manipulada, pols o fanatismo e a obsessSo levam nSo raro á desonestidade. O livro aprésenla, em apéndice, um quadro sinótico esquemático de dezesseis sellas, assim como um estudo mals difuso da Seicho-No-Ie. forma religiosa japonesa, que promete curas.

Recomendamos vivamente a leitura de tal obra, pois esclarece o leltor a respeito de um fenómeno que mais e mais se Impóe á atengao do público. As seitas modernas constituem um desafio aos fiéis católicos para que assumam com toda a coeréncla e convlccfio a sua mlssfio de portadores da Boa-Nova; procurem responder aos anseios do homem

moderno, "que abre para si cisternas rotas, as quais nao podom reter as aguas"

(cf. Jr 2,13).

Puebla. A evangelízaoslo no presente e no futuro da América Latina.

Texto oficial da CNBB, acompanhado de IntroducSo e Subsidios da autoría de Frei Clodovls Boff O.S.M. — Ed. Vozes, Petrópolls 1979, 136x200mm,

336 + 29 pp.

Dlspomos agora do documento final da 3? Assembléla Geral do Epis copado Latino-americano reunido em Puebla (laneiro-fevereiro 1979) Tra-

ta-se da forma definitiva, revista, retocada e aprovada pela Santa Sé. Por

consegulnte, perde o seu valor o texto provisorio lancado ao publico em

marco pp.

A edlcSo das Vozes, como a da Ed. Loyola e a dos Paulinos, apresenta outrosslm o texto dos tres discursos do S. Padre Joáo Pauloi II proferidos no México com referencia a assemblóla episcopal de Puebla. Verifica-se que o texto provisorio fol retocado de principio a fim, nao em termos substanciáis, mas de acordó com enfoques mals teológicos «u mals precisos; vé-se que a Santa Sé teve grande cuidado por dar ao público

um

texto

oue

realmente corresponda

cristao sobre a América Latina.

ao

genuino

pensamento

A IntroducSo á Leitura das ConclusSes de Puebla elaborada por Freí Clodovls Boff parece-nos um tanto unilateral. Com efelto, o autor distin gue dez temas-eixo no documento de Puebla, entre os quals nao Incluí as verdades a respeito de Cristo, a respeito da Igreja e a respeito do

— 396 —

homem, que o referido documento muito enfatlza, fazendo eco, alias, ao discurso inaugural do Paulo JoSo Paulo II. Frei Clodovis descobre os eixos

do documento em assuntos de ordem sóclo-económlco-polltica, nSo levando talvez na devida conta a Crlstologia, a Eclesiologia e a Antropología pro-

fessadas pelos Bispos em Puebla. Ora é certo que o episcopado reunido no México se preocupou também — e primordialmente — com as ver dades da fé a serem transmitidas ás populacees latino-americanas.

É com prazer que saudamos a publicacáo do texto definitivo da Assembléia de Puebla, destinado a dar novo Impulso á sadia evangelizacao da América Latina.

Escatologia e Ressurreicao, por JoSo Evangelista Martins Térra S.J.

Coiecáo "Serie Bíblica" n? 7. — Ed. Loyola, S8o Paulo 1979, 140x210mm, 110 pp.

O Pe. J. E. M. Térra é incansável produtor de boa bibliografía teo lógica e exegótico-blbllca. Desta vez publica o primeiro de dois livros programados sobre a consumagáo do homem e da historia assim como sobre a ressuTreicao de Cristo. Comeca com um capitulo sobre a morte; após o qual examina os conceitos de escatologia (individual e cósmica); a seguir, considera os fundamentos históricos da fó na ressurrelcSo de Cristo, a teología da ressurrelcSo do Senhor, o sacerdocio do Cristo

ressus'cltado...

As exposicfles teológicas e exegétlcas do autor tem

sua solidez;

todavía resultam, em parte, de estudos feltos há cerca de dez anos, como

afirma o próprio Pe. Térra á p. 3. Seráo completadas ou talvez cá ou la retocadas pela publicacáo da nova obra que o autor está preparando sobre tal temática. Em especial, parece-nos que os capítulos iniciáis do livro atinentes á ressurreigSo em geral e á escatologia individual e cósmica deveráo ser retidos e enriquecidos á luz da Carta da S. Congregado

para a Doutrlna de Fó datada de 17/05/79, a respeito de questees atinen tes á escatologia bíbllco-cristá. Este documento — cuja leltura será alta mente proficua a todos os fiéis católicos — enfatiza a distincáo entre escatologia pessoal e escatologia universal assim como a sobrevivencia, após a morte, de um "elemento espiritual, dotado de conscléncla e de vontade, de tal modo que o eu humano subsista". Esse elemento é, pela tradicSo crista, chamado "alma humana". De resto, o conteúdo dos artigos

de tal carta da Santa Sé será oportunamente explanado ñas páginas de PR. Apraz-nos ainda transcrever aqui as reflexdes do Pe. Térra sobre antropología semita e antropología grega:

"NSo raras vezes a nocSo de Imortaildade é1 atribuida a filosofía grega e contraposta á Idéla de ressurreicao, que serla típicamente bíblica ou

semítica. Na realldade, porém, ambas a9 nocSes emergem na Biblia ao mesmo tempo e sao tributarlas da cultura helenística. Alias, a pretensSo

de quallficar alguma nocSo como típicamente semitlca é bastante proble mática. A identificacBo entre antropología bíblica e antropología semitlca também ó simplista. Durante os mil anos de elaboracSo da literatura veterolestamentária, ela sofreu as mals diversas aculluracSes (egipcia — lite

ratura sapiencial t — cananéla ou fenicia, assírla, persa, grega,

etc.)"

(p. 5, nota 1).

Estamos plenamente de acordó com o Pe. Térra, cuja posicfio é preferlveX áquela que identifica a antropología semítica com o pensamento bíblico; este é assim depauperado, pols na verdade os autores bíblicos assumiram oportunamente também o instrumental de outras concepgSes filo sóficas para exprimir o conteúdo da mensagem do Senhor aos homensi O livro em pauta será útil aos leitores principalmente nos capítulos que dizem respeito á ressurreicao de Cristo (pp. 39-110). O autor af responde validamente a urna serie de dúvidas e anseios propostos pelo homem moderno.

E.B.

Aos que estáo em luto1

SE TU ME AMAS, NAO CHORES.

SE CONHECESSES O MISTERIO INSONDÁVEL DO CEU ONDE

ME

ENCONTRÓ...

SE PUDESSES VER E SENTIR O QUE SINTO E VEJO NESTES

HORIZONTES SEM FIM E NESTA LUZ QUE TUDO ALCANCA E PENETRA, JAMÁIS

CHORARLAS POR MIM.

ESTOU AGORA ABSORVIDO PELO ENCANTO DE DEUS, PELAS SUAS EXPRESSOES DE INFINITA BELEZA. EM CONFRONTO COM ESTA NOVA VIDA,

AS COISAS DO TEMPO PASSADO SAO PEQUEÑAS E INSIGNIFICANTES.

CONSERVO AÍNDA TODO O MEU AFETO POR TI E UMA TERNURA QUE JAMÁIS TE PUDE, EM VERDADE, REVELAR. AMAMO-NOS TERNAMENTE EM

VIDA,

MAS TUDO ERA ENTÁO MUITO FUGAZ E

LIMITADO.

VIVO NA SERENA EXPECTATIVA DA TUA CHEGADA, UM DÍA,

ENTRE NOS...

PENSA EM MIM ASSIM:

ÑAS TUAS LUTAS PENSA NESTA MARAVILHOSA MORADA

ONDE NAO

EXISTE A MORTE

E ONDE, JUNTOS, VTVEREMOS NO ENLEVO MAIS PURO E MAIS INTENSO,

JUNTO A FONTE INESGOTAVEL DA ALEGRÍA E DO AMOR.

SE TU VERDADEIRAMENTE ME AMAS,

NAO CHORES MAIS POR MIM. Eü ESTOU EM PAZ! iVer Editorial, pp. 353s.

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