Projeto PERGUNTE E
RESPONDEREMOS ON-LINE
Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoríam)
APRESErsrTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15). Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanca e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propoe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site. Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. Esteváo Bettencourt, OSB
NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico • filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo. A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.
Sumario pág.
"MINHA SENHORA DONA..."
1
Os teólogos dlscutem :
TEOLOGÍA DA LIBERTAgAO
3
Aínda em foco:
OS MENINOS DE DEUS
18
Ciencia ou ficcáo ?
DISCOS VOADORES : SIM OU NAO ? LIVROS EM
32
ESTANTE
4? capa
COM APROVACAO ECLESIÁSTICA
NO
PRÓXIMO
NÚMERO :
Psicopolítica: que é ? — E os cultos afro-brasileiros ? — Relacoes sexuais pré-matrimoniais. — A tutela dos filhos quando os país se separam.
X
«PERGUNTE Diregao
e
E
Rcdagao de
RESPONDEREMOS» Estévao
Bettencourt
O.SE.
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Número avulso de qualquer mes
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REDACAO DE PE
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224-0059
"MINHA SENHORA DONA..." Luis Guimaráes Rosa, embora nao fosse propriamente católico, deixou-nos tres versos que bem exprimem o con^ teúdo de Natal e Ano Novo, cujas entre
«MINHA SENHORA DONA:
UM MENINO NASCEU, O MUNDO TORNOU A
Detenhamo-nos um pouco sobre tais
Eles vém a ser, antes do mais, um anuncio..., anuncio dirigido *á senhora dona. Quem será essa senhora?
O cristáo é levado a pensar imediatamente no anuncio dirigido a María (cf. Le 1,26-38). A María disse o anjo que lhe nasceria um filho. Eis, porém, que a figura de María se
prolonga na Santa Máe Igreja, de modo que a mensagem é hoje dirigida á Igreja: o menino que havia de nascer, já nas ceu ... A Igreja ouve isto em cada celebragáo - de Natal e, dentro da Igreja, cada cristáo o ouve, pois o anuncio inter pela cada qual pessoalmente. «Um menino nasceu...»
Nao há maior alegría para urna
máe do que a de saber que lhe nasceu um filho. A crian;a
é vida nova, fruto dos penosos sacrificios de longos meses... As dores do parto se transforman! em exultagáo desde que o pequenino tenha nascido.
Esta verdade toca também de muito perto os cristáos... Natal é celebrado no fim,... no fim de cada ano, quando os homens estáo cansados e agitados, e pensam em encerrar mais um periodo de atividades... Mais um ano passou, somando-se aos anteriores para dizer-nos que nos tornamos mais velhos, mais próximos do fim desta jornada terrestre.
Ora precisamente o contraste entre a moldura de fim de ano
e a presenga do Menino ou da vida recém-nascida, o encon tró do fim e do comeco, sao extremamente significativos para o cristáo. Lembram-nos que, para o discípulo de Cristo, nao
há fim propriamente dito, mas apenas .transicáo de urna etapa para outra... O fim do ano nao é quebra nem rup tura, mas transigáo para novo ano,... novo ano nao so na computagáo dos astrónomos, mas novo ano de graga, teste-
munho do sonriso benevolente de Deus. Cada ano que entra, a primeira vista, significa envelhecimento..., envelhecimento do homem exterior de que fala Sao Paulo (cf. 2Cor 4,16); na verdade, porém, cada ano que entra, é um passo a mais para a plenilude da vida; significa o desabrochamento do novo homem ou do homem interior, seminalmente formado em nos pelo batismo; essa vida nova nao conhece ocaso, mas apenas üesabrochamento...
«O mundo tornou a comegar...» Sim; quando o Me nino nasceu, tocando e santificando a carne humana, Ele tocou de certo modo o mundo inteiro e o recriou; Ele tor nou o mundo aínda mais rico de Deus e, por isto, mais transparente para o Criador; a luz, a videira, o caminho, a porta, o cordeiro, a pedra angular, o bom pastor, a mulher que perdeu sua moeda... vém a ser imagens translúcidas do Senhor Deus.
Com o nascimento do Menino, o mundo entrou
em nova fase de sua existencia, pois doravante cada ele
mento material (a agua, o pao, o sal, o óleo, os gestos e as palavras do homem...) se tornou apto a exprimir e comu
nicar a vida de Deus no plano sacramental.
«O mondo tornou a eomegar...» Esta expressáo poderia lembrar o «eterno retorno» de que falam as antigás mitologias. .., eterno retomo que, na sua insipidez e monotonía, provocava a repulsa do homem (até hoje quem admite a reencarnagáo, tende a libertar-se do penoso ciclo das reen-
carnagóes). Nao é, porém, no sentido dos mitólogos que o cristáo entende o «tornou a comegar». Como dito, este recomeco significa um progresso, nova penetracáo da Eternidade dentro do tempo, do Absoluto dentro do relativo, do Nccessário dentro do contingente, do infinitamente Santo dentro do finito e miserável...
Conscientes disto, iniciamos o ano de 1979, que todos desejam espontáneamente seja o mais venturoso possível. Desejamo-lo também nos aos nossos leitores. Todavía sabe mos que a expressáo «o mais venturoso possivel» é poliva lente. Que significa ela? — Cada um terá a sua resposta.
Importa, porém, salientar que, qualquer que venha* a ser o
conteúdo do novo ano, será este um ano de graga, de redengáo, de caminhada para a Casa do Pai... Que a consciéncia destas verdades nos acompanhe mes por mes até o fim! Pos-
samos nos santificar e transfigurar todos os acontecimentos do ano, procurando vivé-los numa atitude de eternidade ou de juventude que nao conhece decünioí E, assim fazendo, teremos, sem dúvida, o ano mais venturoso possível... E.B. 2
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» Ano XX — N« 229 — Janeiro dV 1979
Os teólogos discutem:
teología da libertacáo Em sintese: A Teología da LibertagSo (TL,) vem a ser a elaboragáo do modo como entender a salvacáo trazlda por Cristo aos homens.
Tal tarefa admite diversos matlzes.
Em suas formas extremadas, que sao
bíblicos
dentro
muito difundidas, propugna um Ideal de bem-estar sóclo-económico, que abstrai dos valores transcendental e da escatologia crista propiamente dita. Os autores mais ayancados dessa concepcio jogam com os textos
de
modo a
enquadrá-los
de suas
teses
em grande parte crlpto-marxistas ou abertamente marxlstas.
A
propósito
deve-se
notar que
a
salvacSo
preconcebidas,
adquirida
por
Cristo,
émbora tenha em mira o homem todo (corpo e espirito), so pode ser
entendida á luz de criterios sobrenaturals ou de fé; ela transcende'O3 limites do sódo-económlco. Ademáis o Ideal de urna sociedade perfelta vem a ser um mito, pois a realidade do pecado acompanhará os homens até o fim da historia. Isto nfio quer dizer que os crlstfios devam delxar de se interessar pela justlca social e a ImpiantagSo visivel do Reino de Deus na térra; significa, porém, que, mesmo que nSo conslgam atingir a meta Ideal, os erlstfios conservam sua esperanca na vltórla definitiva do bem
sobre
o
mal.
Comentario: Abordaremos, a seguir, um dos temas mais candentes da atualidade teológica. Trata-se de saber o cue se entende, do ponto de vista do Evangelho, por «libertacáo»
dentro da realidade concreta em que vivem os povos mais pobres, principalmente os latino-americanos. É mormente em vista destes que está sendo cultivada a Teologia da LibertaCao (TL). Nota-se, entre os seus fautores, urna gama de posigóes, desde as mais moderadas até as mais extremadas; aqueles cujas obras mais se tém propagado, sao Gustavo Gutiérrez1, Hugo Assmann2, E. Dussel", J. C. Scannone, polis,
i 'Gustavo Gutiérrez, "Teologia da Libertacáo". Ed. Vozes, PetróEd. Vozes 1975. -H. Assmann, Teología delta prassl di liberazlone. Assisi 1974. 3E. Dussel, Histoire el Ihéologie de la libéraUon. París 1972. 3
4
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
L. Segundo..., todos latino-americanos, ciosos de urna sintese teológica latino-americana...
produzir
Ñas páginas subseqüentes, exporemos ao menos as gran
des teses da Teología da Libertagáo, retiradas dos escritos de G. Gutiérrez, H. Assmann e E. Dussel. A explanacáo do tema suscitará as reflexóes posteriores.
1.
As grandes teses da TL
A palavra «libertagáo», segundo os citados autores, cor
responde ao vocábulo biblico «redengáo», significando o dom que Cristo trouxe aos homens, dom ao qual corresponde uma tarefa. Vejamos, pois, como, em proposigóes sucintas, enten der esse dom-tarefa.
1)
A libertacáo que Cristo veio trazer aos homens, nao
é de índole meramente espiritual, mas abrange também o plano corpóreo-material, visto que o homem é psicossomático e vive num mundo material. Os fautores da TL dizem-se contrarios á distingáo entre
espiritual e material, entre temporal e eterno, entre profano e sagrado.
2) O alcance dessa libertacáo há de ser depreendido da situagáo histórica e concreta em que vivem os povos, máxime os da América Latina (AL); como dito, a TL é
concebida em vista do continente latino-americano.
3) Ora a AL consta de populacóes oprimidas e espo liadas. Na década de 1950 ápregoava-se para esses povos o desenvolvimento, visto estarem subdesenvolvidos nos setores
da economía, da saúde, da escola, da cultura...
Os pafses
ricos elaboraram entáo projetos de Alianca para o Progresso dos Povos latino-americanos. Aconteceu, porém, que tais pro jetos só redundaram em maior escravizagáo dos pobres e em crescentes beneficios industriáis e económicos para os povos ricos, mormente para os Estados Unidos da América (cf. Gu tiérrez, ob. cit., p. 84). Verificou-se entáo que o subdesenvolvimento dos povos latino-americanos vinha a ser um subproduto do desenvolvimento dos povos europeus e, em espe cial, da nagáo norte-americana (cf. Gutiérrez, ob. cit., p. 78).
— 4 —
teología da libertacao
4) Eis por que a palavra de ordem já nao é «desenvolvimento», mas «libertagáo», ou seja, reagáo contra a opressáo e a espoliagáo de que sao vitimas os povos da AL. Essa libertagáo é entendida nos termos abaixo reproduzidos: 'Tentar melhorlas dentro da ordem atual era pouco eficiente... Só urna quebra radical do presente estado de coisas, uma transformacáo profunda do sistema de proprledade, o acesso ao poder da classe explo rada, urna revolucáo social que rompa com tal dependencia, pode per
mitir acesso a uma sociedade
diferente, a
uma sociedade socialista.
Ou, pelo menos, fazer que esta seja posslvel" P. 34).
5)
A
teología
deve
interessar-se
(cf. Gutiérrez, ob. clt
vivamente
por
essa
situagáo de opressáo dos povos latino-americanos. Ela vem a ser uma reflexáo, k luz da Palavra do Senhor, sobre as condicóes de dominagáo que pesam sobre as populagóes latino-americanas. O trabalho teológico que há de ser assim empreen-
dido, diferencia-se da dássica teología pelo fato de nao pro ceder das premissas da filosofía grega, a qual era metafísica, estática e essencialista, mas toma como ponto de partida o devir histórico ou a realidade concreta, histórica dos homens;
esta vem a ser um «lugar teológico» de primeira importancia. A teología trata de fatos concretos e de realidades determi nadas.
Diz G. Gutiérrez:
"A teología é reflexáo, atltude critica. Primeiro é o compromisso de caridade, de servico. A teología vem depols, é ato segundo. Pode-se dlzer da teología o que da filosofía afirmava Kegel: só se levanta ao crepúsculo. A acflo pastoral da Igreja nSo se deduz como conclusfio de premissas teológicas. A teología nao gera a pastoral, ó antes reflexao sobre ela"
(ob. clt.,
p. 24).
6) Qual é, entáo, a agáo pastoral sobre a qual a teo logía se deve construir?
— Consiste no engajamento dos cristáos na realidade da
luta de classes. Esta já é um fato antigo na historia- nao sao os cristáos que Ihe devem dar origem em nossos dias; eles a encontram em exercicio no decorrer de toda a his
toria da humanidade; é, pois, dever dos cristáos assumir a
sua parte nessa luta, a fim de contribuirem para a formacáo de uma sociedade sem classes. "Aquele que fala de luta de classes, nao a 'propugna' — como se
ouve dlzer — no sentido de criá-la de Inicio por um ato de (má) vontade; o que faz, é provar um fato, e no máximo contribuir para que dele se tome consdéncia. E nada existe mals palpável do que um fato" (Gutiérrez, ob. clt., p. 228).
— 5 —
6
tPERGUNTE E RESPONDEREMOS? 229/1979
"Quem pretende negar a existencia da luta de classes ou quem recusa engajar-se na mesma, Já tomou partido, pois está favorecendo os interessés da classe dominante. Nfio hé lugar para neutralldade nessa materia" (cf. Gutiérrez, ob. clt. 229) \
Pode-se mesmo dizer que, conforme os fautores mais avangados da TL, o cristáo nao dirá: «Sou, antes do mais, cristáo, e, em funcáo dos ditames da minha fé, farei a minha opgáo política»; mas, ao contrario, afirmará: «Primeiramente fago a minha opgáo política (no caso, marxista) e,
depois, perguntar-me-ei como, dentro desse quadro político, poderei viver a minha fé. Esta acrescentará um grau a mais de intensidade e de espirito crítico ao meu empenho em prol da libertacáo» (cf. H. Assmann, ob. cit., p. 159). 7)
O criterio da verdade de urna proposigáo, mesmo em
materia teológica, é a eficacia dessa proposigáo para a tarefa da libertacáo.
"A verdade
Sao palavras de H. Assmann: é
o nome
dado
pela
comunidade histórica
aos
atos
históricos que foram, sao e serSo etlcazes para a MbertacSo do homem" (ob. clt.. p. 67).
"A fó deve ser entendida fundamentalmente como praxis, no signi ficado denso — de praxis histórica e nao slmplesmente no signifi cado de praxis religiosa... Do ponto de vista histórico, a fé só pode ser verdadeira, quando 'se faz a verdade1, ou seja, quando ela é histó ricamente eficaz para a libertacfio do homem" (ob. clt., p. 37).
Conseqüentemente, se determinada proposigáo teológica é ineficaz para produzir ou preparar a libertacáo das classes
oprimidas, nao pode merecer o qualificatiyo de verídica; é, antes, falsa, alienante, e deve ser repudiada em favor de teses libertadoras.
i Gutiérrez, ob. clt., p. 228, nota 51, cita um texto de Karl Marx para confirmar a sua afirmativa:
"No que me diz respeito, nSo me pertence o mérito de haver descoberto a existencia de classes na sociedade moderna, nem a luta entre alas. Multo antes de mlm, os historiadores burgueses havlam descrito o desenvotvlmento histórico dessa luta de classes, e os economistas bur gueses estudado a sua anatomía económica. O que flz de novo fol: 1. demonstrar que a existencia de classes só se liga a etapas do desenvolvimento histórico determinado pela produc&o; 2. que a luta de classes leva neceasarlamente a ditadura do proletariado; 3. que esta ditadura constituí apenas a transi£fio para a aboilcSo de todas as classes e a urna sociedade sem classes..." (carta a Weydemeyer. de 5703/1852, em K. Marx-F. Engels, Etudes philosophiques. París 1961, p. 151).
— 6 —
teología da ubertacao
8)
Para corroborar sua tese em prol do engajamento
político na luta de classes, os autores da TL afirniam que o
próprio Jesús tomou parte ñas campanhas políticas do seu tempo. Assim Gutiérrez (ob. cit., pp. 191-199) aponta tres aspectos que lhes parecem fundamentar essa afirmagáo: a) a complexa relacáo de Jesús com os zelotes ou com o partido judeu revolucionario anti-romano: o Apostólo Simáo Zelote pertencia certamente ao partido; provavelmente também outros, como Judas Iscariotes e Pedro e, talvez, os filhos de Zebedeu, diz Gutiérrez. Jesús e seus discípulos foram freqüentemente relacionados com os zelotes; cf. At 5,37; 21,38; Le 13,1.
b) Jesús assumiu posigáo de luta perante os poderosos do povo judeu. Qualificava Herodes de «raposa» (cf. Le 13,32). Os"publícanos, vistos pelo povo como colaboradores do poder político dominante, eram colocados entre os pecadores (cf. Mt 9,10; 21,31; Le 5,30; 7,34) K Jesús opunha-se aos ricos e poderosos e fazia radical opsáo pelos pobres.
c) Jesús morreu em máos do poder político, opressor do povo judeu. O titulo colocado no alto da cruz indicava culpabilidade política:
urna
«Reí dos judeus».
9) Em conseqüéncia de suas premissas, Gutiérrez propóe «espiritualidade da libertagáo», cujos principáis tragos
seriam:
a)
conversa© ao próximo, ao homem oprimido, á classe
social espoliada, á raga desprezada (ob. cit, p. 173).
«Con-
verter-se é comprometer-se com o processo de libertagáo dos pobres e explorados, comprometer-se lúcida, realística e con
cretamente. Nao só com generosidade, mas também com análise de situagáo e com estrategia de agáo» (ib., p. 173).
b) Vivencia de gratuidade. A comunháo com o Senhor e com todos os homens é, antes de tudo, um dom... Quem tem consciéncia disto, considera como um dom seus encontros com os outros homens. iAo citar estes textos do Evangelho, Gutiérrez parece esquecer que Jesús se refere com certa compreensSo e misericordia aos pecadores e publícanos, nunca assumindo posigáo hostil em relacio aos mesmos. As advertencias de Jesús voltavam-se únicamente para os hipócritas (que eram geralmente os farlseus).
— 7 —
8
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
Urna das expressóes dessa gratuidade é a oragáo, a nos pue em concalo com Deus. Todavía a oragao nao ser ajenante nem evasiva. Ao contrario, a Ti* ensina para chegar á uniáo com Deus, o cristao deve passar
qual aeve que, pelo
homem; a oragao também leva a encontrar mais plenamente o iiomem.
c)
A gratuidade é fonte da alegría crista.
Esta nasce
do dom já recebido e ainda por ser recebido. A alegría, porém, nao deve diminuir a intensidade do compromisso em favor dos homens nem há de levar a conciliagáo fácil e barata. Eia se caracteriza positivamente pelas palavras do «Magnificat», as quais exprimem a alegría da criatura que sabe ser amada por Deus.
Em síntese, a espiritualidade da libertacáo é a espiritua-
lidade dos anawtm ou dos pobres, de que tanto fala o An-
tigo Testamento; tais pobres sao os despojados, colonizados e escravizados pelos poderosos; em conseqüéncia, colocam sua esperanza em Deus so, o qual é a sua única fonte de riqueza interior e de seguranga.
Eis, em grandes tragos, o que se entende por «Teología da Libertagáo» segundo os seus mais característicos e avangados autores. Como se pode compreender, tais idéias desencadearam contestagáo entre os estudiosos e mesmo no público interessado.
Importa-nos agora repensar e pesar a nova mensa-
gem teológica. •
2.
Urna avaliagao
Distinguiremos dois principáis
2.1.
pontos de
reflexáo.
A salvejáo crista
Passando sem delongas ao ámago da questáo, observa remos que a salva,áo anunciada por Cristo nao se refere
apenas aos valores espirituais, como bem afirmam os arautos aa TL. ü cristáo deve procurar encarnar os princ.pios evan
gélicos de justiga e fraternidade dentro dos moldes da sociedade em que vive. Por isto requer-se haja cristáos que militem na política e, em geral, nos setores das ciencias e das artes a fim de que as realidades terrestres sejam orientadas — 8 —
teología da libertacao
segundo os ditames apregoados pelo Senhor Jesús.
9
Todavía
neste particular quatro restrigóes háo de ser-feitas as teses da TL:
a) Embora nao haja dualismo ou oposigáo antagónica . entre o espiritual e o corporal (mas, ao contrario, tendencia a integrar), existe, sem dúvida, dualidade ou distingáo entre um e outro. Por isto pode (e deve) haver hierarquia entre um e outro ou prioridade dos valores espirituais sobre os temporais ou materiais.
b) A procura da justica social, por parte dos cristáos, há de ser inspirada por principios teológicos. Sao estes que devem iluminar a praxis ou a agáo política dos cristáos, e nao vice-versa. Caso nao se salvaguarde a primazia dos eter
nos principios da fé, reduz-se o Cristianismo a um sistema de Moral (moralismo) ou de agáo social. Com outras palavras: o cristáo é chamado a fazer, pri meramente, urna opcáo de fé sobrenatural, e táo somente
em funjáo desta é incitado a conceber seus programas polí ticos. Ora a fé diz sempre «adesáo ao transcendental», «supe-
ragáo dos criterios puramente racionáis ou científicos»; a sua mensagem é inseparável do misterio da cruz, que, para uns,
é loucura e, para outros, é escándalo (cf. ICor 1,23). Isto quer dizer que as perspectivas cristas de urna ordem política nunca seráo as de algum partido que só leve em conta cri terios de ciencias humanas; muito menos, seráo as do mar xismo. Mais amplamente dir-se-á: a mensagem de salvagáo crista nunca se identificará com a libertagáo proposta por
correntes políticas, mas últrapassa-a; o coragáo humano tem
aspiracóes grandes demais para que possam ser saciadas simplesmente pelo bem-estar temporal; por isto o Evangelho propóe aos homens mais do que prosperidade material.
c) O cristáo sabe outrossim que existe no mundo o «misterio da iniqüidade» (cf. 2Ts 2,7) ou o pecado original,
o qual só será plenamente debelado no fim dos tempos. Essa Vitoria completa do bem sobre o mal nao será realidade enquanto a historia prosseguir seu curso; nem se pode espe rar que a argucia humana a obtenha por inteiro. Somente o
Senhor Jesús, ao consumar a historia, pora termo a toda ini
qüidade, e entregará o reino ao Pai (cf. ICor 15,25-28). A consciéncia desta verdade é de grande peso, pois concorre para «relativizar» as teorías messiánicas que, procedentes de — 9 —
10
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
fontes heterogéneas, empolgam pensadores cristáos e náo-cris-
táos.
A sociedade sem lutas e sem injustigas corresponde a
um mito ou a um sonho que nunca se realizará enguanto estiver ativo o misterio da inigüidade; gualguer revolugáo social será sempre ameacada pela presenca do pecado no mundo. Em consegüéncia, afirmamos gue as proposigóes da fé podem ser auténticas verdades, mesmo gue nao tenham a virtude mágica de produzir urna sociedade nova e harmoniosa («sem classes», diría a TL); a instaurado do bem ou do Reino de Deus contará sempre com o obstáculo do pecado, gue desde o inicio até o fim da historia se fará sentir. Estas afirmacóes nao significam que os cristáos devam deixar de se interessar e sacrificar pela justica social, mas levam a negar o caráter de «absoluto mágico» gue muitos revolucionarios querem atribuir á sua obra revolucionaria. Que os homens trabalhem com afinco em prol de um mundo melhor! Procurem remover o pecado! Mas nao se iludam a respeito dos resultados que assim obteráo. A própria expe riencia do marxismo evidencia gue a sociedade comunista é
urna sociedade capitalista, ficando o capital concentrado ñas máos de poucos ou do Estado, como também é urna socie dade de
classes, onde
se distingucm
a classe dos dirigentes
supremos, a dos militares, a dos cientistas, a dos trabalhadores urbanos e rurais... d) O acirramento dos ánimos e a aplicagáo da violencia nao solucionam os graves problemas sociais; antes, geram novas atitudes de violencia e odio em represalia ás anteriores. Também a experiencia o comprova. Sao palavras do Papa Paulo VI: "A Igreja nSo pode aceitar a violencia, sobretudo a forca das armas — de que se perde o dominio, urna vez desencadeada — e a morte de pessoas sem dlscrlmlnacSo, como camlnho para a HbertacSo; ela sabe, efetivamente, que a violencia provoca sempre a violencia e gera Irreslstlvelmente novas formas de opressSo e de escravlzacfio, nSo raro bem mals pesadas do que aquetas que ela pretendía eliminar. Dlzfamos ouando da nossa viagem á Colombia: 'Exortamo-vos a nao por a vossa confianca na violencia, nem na revolucSo; tal atitude e con
traria ao espirito cristfio e pode também retardar, em vez dé favorecer, a etevacSo social á qual legítimamente aspiráis'. E aínda: 'Nos deve-
mos reafirmar que a violencia nSo é nem crista nem evangélica e que as mudancas bruscas ou violentas das estruturas seriam falazes e ineflcazes em si mesmas e, por certo, nao conformes á dignldáde dos povos'" (Carta 'Apostólica "Evangelii Nuntlandl", n"? 37).
— 10 —
teología da ijbertacao
11
O que se deve apregoar como via de solugáo das injus-
tigas sociais, é a reeducagáo dos homens,...
de todos sem
excegáo (ricos e pobres); é a conversáo de todos a Deus e ao próximo. Essa conversáo fará que uns e outros, nao por itnposigáo das armas, mas por convicgáo íntima, se interessem pelos irmáos e procurem constituir urna sociedade mais fraterna. Eis, de novo, o pensamento de Paulo VI: "A Igreja tem certamente como algo importante e urgente que se construam estruturas mais humanas, mais justas, mais respeltadoras dos direltos da pessoa, menos opressivas e menos escravizadoras; mas ela
continua a estar consciente de que ainda as melhores estruturas ou os sistemas mais bem idealizados depressa se tornam desumanos, se as tendencias inumanas do coragáo do homem nao se acharem purificadas, se nao houver urna conversfio do coragáo e do modo de encarar as coisas naqueles que vivem em tais estruturas ou que as comandan)" (Ib. n9 36).
Passemos agora a pontos mais particulares da Teología da Libertagáo latino-americana.
2.2. 2.2.1.
As ambigüidades da TL Ubertajóo
A palavra «libertagáo» é relativamente recente no voca bulario teológico; ela veio substituir o termo «redehgáo», usado pelos escritos do Novo Testamento (cf. Me 10,45; ICor 1,30; 6,20; Cl 1,14), como também toma o lugar de «salvagáo». «Libertagáo» é a palavra familiar ao vocabulario marxista; basta lembrar, para nao citar outros fatos, que o Par
tido de Luís Carlos Prestes no Brasil se chamava «Alianga Nacional Libertadora»}
O vocábulo «libertagáo» é apto a atrair todos os homens, os quais, porém, nao o entenderáo sempre do mesmo modo. Com efeito; é certo, de um lado, que todo homem aspira- a ser libertado de algo que ele julgue constrangedor; de outro lado, esse libertar-se é entendido de variadas maneiras: assim o budismo apregoa «libertagáo»1; o espiritismo, outrossim2; >Cf. J. Masson, Le bouddhteme, chemin de Hbéralion. DDB 1973. A libertasSo budista tem em mira a lei do karma e o ciclo dos renasci-» mentos
ou reencarnacóes.
sUm dos llvros de Chico Xavier tem por titulo "Ubertacáo".
— 11 —
12
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
o marxismo, ídem1; a psicoterapia, também, a seu modo (Befreiung) 2; os movimentos feministas radicáis preconizam também a libertagáo ou emancipacáo da mulher. O Cristianismo também almeja a libertacáo do género humano; todavia entende-a em sentido diferente, pois tem em vista principalmente a Vitoria sobre o pecado e a morte, á qual Cristo deu inicio, mas que só estará consumada no fim dos tempos.
Sao palavras de Sao Paulo:
"A criacáo fot submetida á valdade... na esperanza de ela tam bém ser liberta da escravidáo da corrupcSo para entrar na tlberdade da gloria dos fllhos de Deus... E nSo só ela. Mas também nos... gememos Interiormente, suspi rando pela redenc9o do nosso corpo" (Rm 8,20s. 23).
Essa polivalencia da palavra «libertacáo» levará o leitor a procurar, antes do mais, desoobrir em que sentido é ela entendida pelos autores que a utilizam. Em nao poucos casos, concluirá que ela tem conotarjóes políticas marxistas.
2.2.2.
Praxis
O vocábulo praxis designa em grego «o fazer» ou a prática, o agir do homem. 0 Cristianismo proclama a necessidade de se praticarem os mandamentos de Deus; cf. Uo 2,4s. A praxis, segundo o Cristianismo, exprime urna das dimensóes do ser humano: aquela que decorre da teoría ou da contemplado da verdade.
ao
Acontece, porém, que praxis é vocábulo caro também marxismo, onde toma significado bem diferente. Com
efeito, para Marx, o homem se define pelo trabalho, e nao pelo pensar; o trabalho faz o homem e o homem faz o tra
balho; o trabalho devidamente cultivado ou a praxis leva á
revolujáo social.
1 Cf. o llvro de tafflo nacional". Ed. »
A filosofía, o direito e as concepcóes artísNlklta Kruschov Intitulado "O movimento de Vitoria, Rio de Janeiro 1963.
Ilber-
* Cf. a obra de Medard Boss: Lebensangst, Schuldgefühle und Pay-
ehotherapeutlsehe Befreiung, Verlag Hans Huber, Berne 1961; traducfio brasllelra em Sao Paulo 1975 (Medo da vida, sentlmento de culpa e HbertacSo' psicolerapéutlca).
— 12 —
TEOLOGÍA DA UBERTACAO
13
ticas... tornam-se assim fungóes do trabalho e da produgáo, e nao vice-versa...
Vé-se, pois, que o mesmo vocábulo encobre e manifesta sistemas filosóficos radicalmente diversos...
Nos escritos da
TL praxis tem, nao raro, significado mais marxista do que cristáo; o que eles assim valorizam, é a orthopraxis, ou seja, urna praxis corretamente libertadora (no sentido marxista ou no sentido cristáo?), com menosprezo da orthodoxia ou da reta doutrina da fé.
2.2.3.
Teología taKno*amertcana
Os pioneiros da TL fazem questáo de dizer que a clássica teología é alienante, porque helenizante, e que a espiritualidade católica existente no Brasil até época recente era de origem européiá. Por isto apregoam urna teología ou, em particular, urna cristologia para a América Latina.
Todavía quem lé as obras de tais autores, verifica que os mesmos estudaram na Europa, onde se imbuiram notoria mente dos principios e das conclusoes da exegese bíblica alema (nao raro, protestante) e das teses dos teólogos germánicos (em especial, Moltmann, protestante). Ora os escritos dos
teólogos da libertagáo referem-se frequentemente, de maneira explícita ou implícita, a tais autores europeus. É o que relativiza enormemente o qualificativo de «latino-americana» que os mesmos atribuem á sua obra teológica. Ademáis note-se
que esta nao é, em absoluto, popular; passa muito longe das concepgSes «teológicas» ou da fé das populagóes «oprimidas» latino-americanas.
2.2.4.
Conversáo
Gutiérrez incute a necessidade de conversáo do cristáo. Essa conversáo significa voltar-se para o próximo, para o opri
mido ... A conversáo a Deus é menos mencionada,... talvez por estar implícita na conversáo para o irmáo. Nao há dúvida de que é impossível amar a Deus sem amar ao próximo. Todavía seria para desejar que os teó logos da libertagáo dessem a devida importancia á conver sáo e ao relacionamento direto do cristáo a Deus; é em fun-
— 13 —
14
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
gao do amor diretamente ofereddo a Deus que o se volta para o seu semelhante sem fazer acepgáo soas, como Deus nao a faz. Pode acontecer, sim, guém, através do exercício da filantropía, chegue ao
homem de pesque al-
amor de Deus,... Deus desconhecido até entáo. Todavía, para quem conhece a Deus, é indispensável colocar o amor a Deus como fonte e esteio do amor ao próximo. Mais ainda: a TL insiste muito em acusar as classes mais abastadas como sendo dominadoras e opressoras... O pecado
do mundo estaría de um lado só e abrangeria toda a coletividade (sem excegáo de individuos) rotulada como tiránica... Ora esta perspectiva é evidentemente unilateral e exagerada. Nao se podem incriminar todas as pessoas que nao pertengam as
carnadas
mais
humildes da sociedade,
ao mesmo
tempo que se inocentam estas carnadas de maneira genérica e indistinta.
2.2.5.
Outros tópicos
a) O contato com as obras dos teólogos da libertagáo manifesta ao leitor um espirito nacionalista exacerbado, que se exprime em rejeicáo ou condenagáo da cultura européia e da hegemonía norte-americana. E. Dussel fala da «dominagao pedagógica» dos teólogos europeus (cf. «Les luttes de libération bousculent la théologie». París 1975, p. 75). Ver. dade é que o patriotismo ou o amor aos valores da patria
é um valor a ser cultivado. Verifica-se, porém, que o nacio nalismo apregoado pela TL nao é simplesmente urna virtude; percebe-se que vem a ser a expressáo de urna ideología poli-
tico-social que se reveste de rótulo religioso ou, ainda, é a
manipulagáo de valores religiosos em favor de um sistema político. A TL sacraliza, de maneira «elegante» os movimentos nacionalistas latino-americanos, dos quais alguns nao sao auténticos, porque vém a ser formas «camufladas» de entregar o continente latino-americano aos países dominantes do bloco socialista. b) A TL de tal modo valoriza a historia que a absolutiza de certo modo. — Verdade é que Deus falou aos homens mediante acontecimentos, que constituem a historia da Revelagáo e da salvagáo. A Revelagáo, porém, se encerrou com a vínda de Cristo e a geragáo dos Apostólos. Após Cristo a — 14 —
teología da libertacao
15
historia dos homens continua; ela traz seus sinais,... sinais que os cristáos devem procurar ler, mas que multas vezes sao ambiguos ou suscetiveis de interpretares diversas, se nao contraditórias. Na verdade, os profetas das heterogé
neas correntes de pensamento moderno baseiam-se, por vezes, nos mesmos fatos históricos para apregoar teses opostas. A
historia, assim como a natureza, apresenta-se ao estudioso de modo bruto e ambiguo. Ora é preciso que o teólogo saiba distinguir entre Historia e historia ou entre interpretagóes objetivas e interpretagóes subjetivas, preconcebidas, dos acon-
tecimentos históricos... De modo especial, a super-valorizagáo que a TL atribuí á historia e, em especial, a historia contemporánea, aproxima-se da correspondente posigáo mar-
xista; a historia, para Marx, nao desemboca na escatologia crista, mas, sim, numa pretensa sociedade sem classes. Pois bem; a TL faz questáo de se confinar também a este termo meramente terrestre e humano, desdenhando as perspectivas transcendentais da escatologia bíblica. Resta agora dizer urna palavra sobre
3.
Jesús e a política
G. Gutiérrez e outros autores julgam poder descobrir no Evangelh'o indicios de que Jesús teve intengóes políticas
revolucionarias (o que naturalmente fundamentaría a Teología
da Libertagáo revolucionaria). Todavía urna leitura atenta dos Evangelhos leva a conclusáo contraria: Jesús teve em
mira fundar um Reino, sim, o Reino de Deus, sem contudo se opor partidariamente as autoridades civis constituidas em sua época.
Eis os textos que vém a propósito:
a) Interrogado por Pilatos, Jesús respondeu: «Meu reino nao é deste mundo; se fosse deste mundo, meus súditos teriam combatido para que nao fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino nao é daqui» (Jo 18,36). Com estas palavras Jesús afirmava que a sua missáo nao era de índole política. Esta atitude foi confirmada quando
prenderam Jesús; nao somente o Senhor nao opós resistencia,
mas ainda censurou a Pedro, que o quisera defender com a espada; Ele tería podido isentar-se na mesma hora, mas que ría seguir até o extremo a vontade do Pai, segundo a qual — 15 —
16
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
o Reino de Deus nao seria instaurado nem defendido em luta armada; cf. Mt 26,53. b) Em outra ocasiáo, Jesús proclamou a liceidade dos impostes a ser pagos a César, asseverando: «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus» (Me 12,17). Recomendando o justo pagamento do imposto, Jesús mostraya que nao era agente revolucionario desejoso de destruir de imediato as estruturas políticas vigentes em sua época.
c) Doutra feita, tendo Jesús a ocasiáo de ser aclamado rei pela multidáo a quem dera pao, retirou-se para a montanha (cf. Jo 6,15). A seguir, declarou aos ouvintes que Ele nao viera trazer pao material, mas, sim, um alimento de índole espiritual: a carne e o sangue do Filho do homem (cf. Jo 6,26-58). Expós-se assim a perder grande número de discípulos; aqueles que ficaram com Ele, propós decisiva opgáo de fé: renunciassem á esperanza de um Reino opu lento para seguir o Messias pobre, que nao tinha sequer onde reclinar a cabeca (cf. Le 9,58).
d) As bem-aventurangas evangélicas apregoadas por Jesús supóem concepgáo bem diversa da de um Reino politico: a proclamacjáo da pobreza (cf. Le 6,20) ou mesmo táo somenle do espirito do pobreza (cf. Mt 5,3) nao se coaduna com a expectativa de fundagáo de um reino terrestre ou com a perspectiva de urna luta armada pela conquista do poder.
— A última das bem-aventurangas é a dos perseguidos (cf. Mt 5,10) — o que também mostra como Jesús estava longe de prometer aos discípulos o bem-estar social ou económico. e) Por último, as tentagóes no deserto levam Jesús a rejeitar todo messianismo de ordem meramente terrestre ou
humana. Explícitamente o Senhor rejeitou «todos os reinos deste mundo e a sua gloria» (Mt 4,8; cf. Le 4,5), eviden ciando que o seu ideal nao era o da ascensáo ao poder político.
Estas passagens evangélicas bastam para dissipar eventuais dúvidas sobre as intensóes políticas de Jesús. Criar a imagem de um Jesús revolucionario no plano das instituigóes civis seria deturpar a figura de Cristo.
Muitas outras observagóes poderiam aínda ser propostas com referencia á Teología da Libertagáo. Estas, porém, sao — 16 —
teología da ubertacao
17
suficientes para mostrar aos estudiosos as principáis facetas do tema. Admitimos as formas moderadas e ortodoxas de se entender a libertagáo ou salvarlo trazida por Cristo (nelas se dá o primado aos valores transcendentais); nao se vé, porém, como aceitar formas extremadas, que tém levantado grande celeuma e perdem o direito ao nome de teses cató licas.
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LIBÁNIO, J. B., Dlscernlmento e Política. Petrópolls, Ed. Vozes 1977. MARTINS
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181/1975,
pp.
10-28.
— 17 —
Aínda em foco:
os meninos de deus
Em sinlese: Os Meninos de Deus constituem um movimento dos mais extremados da chamada "Jesús Revolutlon" ou Revolucfio por Jesús, de caráter "hlpple", oriunda nos Estados Unidos, e hoje propagada por diversos países do mundo. Apregoam o amor como sendo a única leí de Deus, em oposic&o
ao odio e aos interesses egoístas da sociedade de consumo. Todavía o amor assim preconizado é multas vezes cegó, instintivo ou meramente erótico; isto redunda em libertinagem e orgias, que os Meninos de Deus vfim cometendo de manelra notoria no Brasil.
Se, de um lado, se pode louvar o fato de que os jovens hoje maní*
festam vibrante senso místico, de outro lado se deve lamentar a superficialidade dessa mística, que chega a ser irreverente e pornográfica, deturpando os mals nobres valores do Cristianismo.
Aos adultos toca a funcSo de procurar esclarecer esses ]ovens, ten
tando canalizar para
a
Verdade
e
o
Bem o
entusiasmo dos
mesmos e
apresentando a auténtica resposta crlstS ¿s suas aspIracOes fundamentáis. Na verdade, os jovens de hoje, multas vezes, sabem o que nflo querem, mas
n§o sabem
o
Comentario:
que
querem.
Em PR 184/1975,
pp.
168-176,
foi
apre-
sentado o movimento dos Meninos de Deus, que se tem mos
trado irrequieto tanto no Brasil como fora do Brasil. Passados quase quatro anos, tal Movimento continua a agitar, recorrendo a novos meios (panfletos e atitudes), que deixam o público perplexo.
ao assunto, sados para minaremos Deus»; 2)
Tal é o motivo por que voltamos
desejosos de aduzir novos elementos aos interesque possam avaliar melhor tal Movimento. Exa sucessivamente: 1) a origem dos «Meninos de as suas idéias principáis; 3) seguir-se-á final
mente um juizo sobre o assunto.
Advertimos o leitor de que, para melhor evidenciar o teor da pregagáo dos Meninos de Deus, seremos obrigados a transcrever textos de baixa linguagem e conteúdo indeco
roso, extraídos dos panfletos dos Meninos de Deus. O leitor compreenderá a finalidade deste método, que se destina exclu sivamente a mais lúcida tomada de consciéncia de urna realidade que vem interpelando a nossa sociedade. — 18 —
OS MENINOS DE DEUS
1.
19
O surto do Movimento
A origem do Movimento é um tanto obscura.
Eis, po-
rém, o que se pode dizer a respeito:
O fundador dos Meninos de Deus é um protestante norte-americano fundamentalista, chamado David Berg, o qual passou a ser conhecido por Pai Davi ou por Moisés Davi ou, simplesmente, por Mo, visto que os membros do Movimento adotam novo nome, tirado da Biblia. David Berg ou Moisés Davi deve ter atualmente entre cinqüenta e sessenta anos de idade. Iniciou a sua campanha pelos anos de 1968/69 juntamente com seus quatro filhos e respectivas consortes. Em 1969, como alega, teve a previsto de iminente terremoto, em conseqüéncia da qual a sua obra se foi difundindo com Ímpetuosidade especial. Junto a David Berg desempenhou importante fungáo a máe do «profeta», chamada Avó ñas cartas do Pai Davi. Para entender devidamente a obra de Mo, faz-se mister considerá-la no seu contexto histórico. Na verdade, ela se sitúa dentro da corrente da «Jesús Revolution» dos Estados Unidos, ou seja, no contexto das manifestacóes «hippies», emocionáis e espontáneas, em prol de Jesús Cristo, do Evangelho e dos valores místicos em geral, que desde a década de 1960 vém proliferando nos Estados Unidos. Eis por que devemos, antes do mais, descrever algumas das características desta.
1.1.
A «Jesús Revolution»
A «Jesús Revolution»
se deve a jovens
e
adultos que
outrora se entregaram as drogas e depois resolveram fazer a viagem (trip) do éxtase com Jesús, em vez de fazé-la com a droga.
Muitos desses jovens constituiram na California comuni
dades de tipo singular, que procuravam associar, em luga res retirados, algumas características de um convento. cató lico, de um ashram (mosteiro) indiano e de um albergue de juventude. Praticavam, em conseqüéncia, o estudo e a meditasáo, um certo artesanato (até mesmo trabamos grá ficos), um tanto de agricultura e a acolhida de hospedes... — 19 —
20
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
Ao lado dessas comunidades rurais, surgiram as urba nas, de tipo ativo e dinámico. Constituem o Movimento dos
«Street Christians» (Cristáos de rúa), que se espalhou pelo litoral Oeste, pelo centro, pelo Sul e pelo Leste dos Estados Unidos. A índole mais violenta ou agressiva desses «Street Christians» mereceu-lhes o nome de «Jesús freaks» (= os monstros ou os furiosos de Jesús).
Esses «filhos das flores convertidos ao Cristianismo» eram animados por veemente zelo «missionário». Ñas cidades norte-americanas de maior importancia encontrava-se um ou mais «café de Jesús» (Jesús coffee house) com os
títulos mais estranhos (e irreverentes) possíveis: «As Cata cumbas», «O Ventre da Baleia», «O Eu-Sou», «O Areópago», «O café dos cansinas», «A casa do Pai», «O Jesus-em-nós», «O Albergue do Amor», «A Porta Aberta», «O Signo do Peixe», «O Buraco da Agulha», «O Maranatha», «A Casa do Ágape», «O Tabernáculo», etc. Esses
lugares eram outrora
tojas
comerciáis,
garages,
clubes noturnos, salas de jogo e coisas semelhantes. Foi lá que comegaram a se formar grupos de «missionários de longa caminhada» (highway missionaries), recém-convertidos,
de 17 a 25 anos, que, sob a guia de líderes «carismáticos» (um pouco mais idosos, por vezes), passaram a se dedicar
totalmente ao
«apostolado».
Tais
«cafés»
comportavam
ou
possuiam um dormitorio, urna sala de encontros, urna cápela e urna discoteca.
Os «cristáos das rúas» vivem em comunháo de bens, sustentando-se principalmente com o produto da venda de
jornais próprios da «Jesús Revolution». Ñas vias públicas agarram-se aos transeúntes, a fim de anunciar-lhes que Je
sús os ama, importunando-os por vezes até obter a sua con-
versáo mediata: o missionário nao raro convida o nao-con
vertido a ajoelhar-se com ele na calcada, a fim de manifestar
a sua adesáo a Cristo Salvador. Esses arautos de Jesús também se encontram nos grandes agrupamentos de música rock, pop ou «acida» (psicodélica), nao para participar do uso de drogas, mas precisamente para converter os jovens viciados...
É neste contexto que se situam os fundadores do Movi
mento dos Meninos de Deus (Children of God). — 20 —
OS MENINOS DE DEUS
1.2.
21
A obra de David Berg
Os Meninos de Deus constituem a mais avancada e infla mada ala da «Jesús Revolution». Foi o que Ihes valeu ampia propagagáo, tendo chegado á Suiga, á Noruega, á Inglaterra, á Holanda, á Bélgica, ... ao Brasil... • O Movimento conseguiu atrair a si duas importantes figuras da «Jesús Revolution»: David Hoyt, de Atlanta, e Linda Meissner, os quais, ao se toroarem Meninos de Deus, arrastaram consigo grande número de companheiros. Os Meninos de Deus procuram levar vida estritamente
comum, á semelhanga, como dizem, do que faziam os primeiros cristáos. Nao trabalham a nao ser para manter a ordem
em suas casas. Dedicam-se á tarefa da «missáo», arreca dando dinheiro para os mais necessitados e tentando conver ter o público ao seu modo de pensar e viver. Para eles, o
mundo, do ponto de vista ético, vai mal, de modo que está iminente o fim da historia com seus numerosos «Ai, ai, ai!». Apregoam esta proposigáo com veeméncia, ao mesmo tempo
que se mostram infensos á Igreja Católica e a qualquer denominagáo protestante, como também á sociedade de con sumo em que vivemos.
Interessa-nos agora reconstituir mais precisamente
2.
As principáis kfétas «los Meninos
Nao há grande consistencia nem profundidade na mensagem dos Meninos, que sao muito mais emotivos e- sentimentais do que intelectuais. Como quer que seja, distinguire mos tres pontos da mesma:
2.1.
Imméncia do fim do mundo
Moisés Davi deixou-se impressionar pelo texto de Dn 9,2: "No prlmelro ano do reinado de Darlo, fllho de Assuero, eu, Daniel, conslderel, ao ler os llvros, o número de anos que, segundo a palavra
do
Senhor dirigida
ao profeta Jeremías, devlam
medir o
Jerusalém estarla em ruina; era de setenta anos".
tempo em que
Mo diz ter recebido, também ele, do Senhor urna revelagáo relativa a 70 anos. Com efeito, no veráo de 1970 — 21 —
22
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 229/1979
estova muito doente, quando perguntou ao Senhor: «Quantos seráo os dias da minha vida?» O Senhor entáo «bateu sete setes com urna pausa significativa, seguidos por tres setes, indicando por outras palavras que um periodo de 49 anos precedería outro periodo de 21 anos, formando um total de 70 anos». Dai deduziu Mo que o Senhor se referia ao
primeiro período de sua vida (49 anos), o qual terminou em 1968, ano em que principiou a RevoJucáo dos Meninos de Deus.
Tal período seria seguido por outro, que duraría 21
anos de vida, ou seja, até 1989. Moisés Davi tem certeza de que morrerá nesta data. Comegará entáo o «tempo das assolagóes» (ou desolacóes), que se protrairá por tres anos e meio, de modo que o mundo acabará em 1993 (esta data é confirmada pela profecía de urna velha cigana,
diz Mo).
Em sintese, eis a cronologia tragada por Moisés Davi para os próximos tempos:
1968/1969:
Fim do tempo dos gentíos; Restauracáo do resto de Israel nos Meninos de -Deus.
Fim da década de 70 e/ou principio da de 80: Subida do Anticristo ao poder. 1985:
O Concertó cristo.
(a Alianga)
confirmado pelo
Anti
1985:
Comega a sétima semana de Daniel ou os últi mos sete anos da historia do mundo.
1989:
Comeca a grande tribulacáo final.
1993:
Jesús vem!
Mo Davi, por conseguinte, nao verá a grande tribulagáo do fim dos tempos.
Estes dados numéricos querem dizer aínda que entre o inicio do Movimento dos Meninos de Deus (1969) e o fim do mundo (1993) decorreráo 24 anos, número este que cor
responde as 24 horas do día, ou seja, as 12 x 12 horas que os ponteiros de um relógio percorrem! — Ora precisa mente o Senhor mostrou, certa vez, a Mo um grande relógio de bolso antigo, de ouro, ornamentado com pesada corrente
— 22 —
OS MENINOS DE DEUS
23
de ouro, e a propósito dignou-se fazer-lhe revelagóes sobre a data do fim do mundo. Sinais precursores do fim
do
mundo seriam,
conforme
os Meninos de Deus: nevoeiro (smog) que se deve á poluicáo atmosférica, a admissáo de novos países no Mercado Comum Europeu, a tomada de Jerusalém pelos judeus...!
nos.
O Apocalipse é naturalmente um escrito caro aos Meni O Capítulo 20 deste livro é por eles interpretado no
sentido milenarista; após o reinado milenar de Cristo, durante
o qual o demonio será acorrentado, a térra será purificada por fogo atómico e se tomará a mansáo eterna dos homens.. Estas idéias despertam nos Meninos urna atitude tensa; julgam estar sempre em luta acarrada contra Satanás, na iminéncia de grandes males: "Os meninos de Deus lancam o ataque!
Os Meninos de Deus estao
na ofensiva! Os Meninos de Deus estao invadindo os portáis do Inferno! Os Meninos de Deus estao devastando o ten ¡torio do Diabo — justamente como vocé faz quando sal para testemunhar — bem no territorio do Dlabo — bem ñas suas fortalezas... O Inlmigo nunca sabe o que vocé vai inventarl Ele nao sabe que tipo de iravessura vocé vai tramar da próxima vez..." (folheto "Ataque" n? 171, de 6/20/72, §§ 28.30.).
Estas sao expressóes típicas da mente belicosa ou agressiva dos Meninos de Deus em relacáo a Satanás e a varias instituigóes deste mundo, que eles dassificam como satánicas. 2.2.
O amor
Urna das notas mais marcantes da mensagem dos Meni nos de Deus é o elogio do amor, em oposi;áo ao odio que ca
racteriza
muí tas
das
mariifestagóes da sociedade moderna.
Apregoam, porém, um amor que nem sempre é cristáo, mas erótico e lascivo.
Por isto a linguagem que empregam para
recomendar o amor, é de baixo caláo, chegando á pornografía.
Transcrevemos aqui (com a devida venia do leitor) alguns trechos dos panfletos de Mo: "Chega-te para lá! Sal-me do caminhol Quero Ir para a cama com Jesús) O que fizeste com Jesús, que é chamado o C.isto? Tira a tua maldita porca.la daqui para fora! És um maldito cabráo
— 23 —
24
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
malcheiroso! Nao quero que mals hlnguém a nSo ser Jesús me fodal Sou a esposa de Cristo!" (Mo, Vamos talar de Jesús, n"? 20, 5/12/70, p. 4 § 25)..
Os Meninos de Deus, vivendo em seus lares, nao rejeitam a comunháo de mulheres. A fim de fundamentar esta tese, alegam que, para a Biblia, a Esposa é urna multídáo de pessoas, ou seja, todo o povo de Deus. Tenham-se em vista as expressóes dos profetas que interpelam Israel como a filha de Sion (Lm 2,13.18); na parábola das dez virgens em Mt 25,1-13, «a verdadeira esposa entrou em cinco exemplares» para se casar com o esposo: «No entanto Ele (Jesús) fala de todas como urna Esposa: 'Tu és a minha Esposa'» (Mo, Urna Esposa, n» 249, SD, 28/10/72, p. 3 § 17). Eis outras secgóes de Mo: "Em Mt 25 o esposo chegou: cinco virgens prudentes entraram, e cinco loucas nao! Como se explica que fosse um casamento se entra ram cinco virgens em vez de so urna ? — Todas elas iam casar com Cristo? As cinco eram a Esposa ou n8o? Se nao, quem eram elas? E como se explica que todas as cinco entrassem se apenas há urna igreja? — Urna Esposa!" (Mo, Ib. § 10, p. 2). "Nos somos revolucionarios! Se a Igreja tem dado demasiada énfase ao casamento, nos vamos para o extremo oposto de Ihe dar énfase de menos e quase depreciar o casamento" (Ib. § 21, p. 4).
Mo coloca em paralelo a esposa particular e a propriedade particular, profligando urna e outra: "A familia privada é a base do sistema capitalista e interesseiro da empresa privada e de todos os seus males egoístas! A historia das
comunas mostra que as de maior sucesso ou ... requereram o celibato total ou abandonaram a uniáo privada do casamento, em favor do casa
mento do grupo! Porque descobrlram que o grupo privado familiar era sempre urna ameaca para a unldade familiar malor como um todo! A
maloria das Igrejas renunclaram Intelramente 6 Comunldado Familiar da Igreja em favor de casamentos privados em casas privadas e de um casamento de apenas urna vez por semana com Deus na sua casa! Ahí isto é casamento com a sua Esposa ?" (Mo, ib. § 12, p. 4).
Em conseqüéncia,
os Meninos de Deus
exortatn:
"NSo ames apenas de palavra, mas por obras e em verdade. Partllha o teu dinheiro, roupa, casa, educacSo e mesmo sexo com os que preclsaml" (Advertencia da Avó, mSe do pal Oavi, 4? capa do folheto).
Em síntese, os Meninos de Deus nao sao contrarios ao casamento, mas nao aceitam a estabilidade deste e apregoam
— 24 —
OS MENINOS DE DEUS
a liberdade de unióes sexuais promiscuas satisfagam aos interessados.
25
desde que estas
Acusados pelo programa Flávio Cavalcanti de pregar o amor livre, os Meninos de Deus responderam nos seguintes termos em carta aberta, publicada pela imprensa: "NSo nos achamos no dlrelto de nos Intrometer na vida particular dos membros, se desejam ter relajóos mais intimas com pessoas que amaro ou que acredltam poder ajudar a aproximarem-se mals de Deus, sendo tais pessoas adultas e responsávels".
Impelido por tais idéias, Moisés Davi louva a «prostituígao», usando fórmulas capciosas e guase sacrilegas: "é uma batalha de amor!
NSo é fácil para essas garatas all, cada
noite, mas elas desfrutam isso. NSo ó fácil ter que amar esses homens e dancar com eles e conversar com eles metade da nolte e dormir com eles a outra metade I Mas elas amam Isso, porque sabem que é seu trabalho e seu dever e seu chamamento e sua vocacSo e sua luta e sua batalha! Elas sSo bons soldados! Eu estou táo orgulhoso délas I
Grasas a Deus por um bom soldado, um verdadeiro soldado, que sabe como lutar, como usar a arma da palavra, e como manejá-la — mesmo na camal" (Mo, Luladores, 21/9/76, n? 531, p. 6, §§ 65-68).
Como se vé, tais idéias disseminam a perversáo total sob a capa de servico a Deus — ó que realmente vem a ser sacrilego.
Eis ainda palavras de Mo: "NSo havla uma llnha de distlncSo entre os dols, carne e espirito. NSo havla melo-caminho, nSo havla 'quase*. Tlnha que ser 'tudo ou nada', ou etes nSo acreditarlam que era amor verdadeiro. Eles nfio podlarn entender como voce podía se oferecer para encher os seus cora* cOes, mas nSo seus corpos, satlsfazer suas almas, mas nSo sua carne faminta.
Os dois eram inseparávels, um nSo podía passar sem o outro, e nos tlnhamos que alimentar a ambos. Com» o Apostólo Tiago declara tSo claramente naquela passagem (2,15-17) aquí citada: 'Se um irmfio ou uma IrmS estfverem carecidos de roupa e necessitados de alimento cotidiano (uma necessidade ffslca essencial como sexo), e qualquer dentre vos Ihe disser: 'Ide em paz, aquecel-vos e fartai-vos, sem contudo
Ihe dardes o necessárlo para o corpo, qual é o proveito disso?'".
Grande número dos panfletos dos Meninos de Deus fazem
eco a tais concepgóes.
— 25 —
26
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
2.3.
Jesús Cristo
É difícil perceber através dos panfletos de Mo se os Me ninos de Deus aceitam ou nao a Divindade de Jesús Cristo. Referem-se constantemente a Jesús como homem; tém-no também como Deus? Talvez os Meninos de Deus nao pensem em elaborar aiguma teología ou Cristologia. Herdeiros da fé protestante, de que o pai Davi era outrora professo, é provável que tenham diluido as crengas originarias do pro testantismo; noje dáo mais énfase á emotividade sentimen tal, alimentada por ignorancia religiosa e falta de cultura geral (ou mesmo por urna atitude predefinida de contra-cul tura ou de desafio a cultura vigente, com tudo o que ela possa ter de bom e de mau). Procuremos agora formular
3.
Um juízo sobre a temática
Após quanto foi dito, na base de textos mesmos dos
Meninos de
Deus,
verifica-se
que
este Movimento
merece
severas restrigóes:
3.1.
Pontos negativos
3.1.1.
Superficialidad» e emotividade
Como os demais grupos da «Jesus-Revolution», os Meni nos de Deus carecem de nogóes adequadas a propósito de Jesús Cristo e do Cristianismo. No Brasil, muitos nao tém
a instru;áo do segundo grau ou, as vezes, nem a do primeiro grau completo. Isto os torna superficiais e, nao raro, irreve rentes e libertinos. Utilizam as Escrituras Sagradas á luz de certa tradicáo protestante; todavia ignoram os resultados da exégese contemporánea sadia. Acontece também que mesclam os dizeres do Livro Sagrado com dados de «revelagóes» particulares, produzindo assim urna mensagem eclética, apa
rentemente
bíblica, mas
fortemente subjetiva e
fantasista.
Alias, os Movimentos religiosos jovens de estilo «hippie»
sao prejudicados pela sua nota de antiintelectualismo ou por falta de formagáo filosófico-doutrinária. Esta lacuna amea— 26 —
OS MENINOS DE DEUS
27
ga-os de inconsistencia, pois a fantasía e as emocóes sao volúveis; nada de estável se pode construir sem a luz da inte ligencia. Mesmo as atitudes religiosas do ser humano tém
que ser baseadas em premissas racionáis e filosóficas para ser auténticas; em caso contrario, degeneram em falsas mís
ticas, atrás das quais se ocultam paixóes e afetos, por vezes desregrados, dos respectivos «místicos».
3.1.2.
Amor e «amor»
Precisamente esta última hipótese se realiza no Movi-
mento dos Meninos de Deus. Apregoam, em todos os seus escritos, o amor — valor inestimável. Todavía sob o rótulo do amor se esconde, no seu comportamento, a paixáo instin tiva e desenfreada.
Alguns fascículos do grupo sao sigilosos, isto é, priva tivos dos membros do Movimento; trazem, por isto, a sigla
SD (So para Discípulos). É justamente nesses panfletos que mais se manifestam os equívocos a respeito de amor; pro-
póem, em linguagem por vezes pornográfica, a satisfagáo dos instintos carnais ou o «amor» grupal (= sexo grupal), com
dissolugáo da familia; os desenhos ilustrativos que acompanham tais textos, sao abertamente lascivos. Tenham-se em
vista especialmente «A Batalha da Cama» e «Urna Esposa», fascículos dos quais já transcrevemos trechos ñas páginas anteriores.
Os Meninos de Deus disseminam suas idéias e fazem prosélitos ñas rúas, oferecendo ajuda a quem parega neces-
sitado; podem até dispor-se a trocar o pneu baixo de um
carro como também podem oferecer o amor sexual de alguma das suas «irmás em Cristo»; essas «irmás em Cristo»
á noite, nos lares dos Meninos de Deus, tornam-se «esposas»
ou instrumentos de satisfagáo para os rapazes em absoluta promiscuidade. Isto tudo é praticado sob a alegagáo de que a única lei de Deus é o amor.
A conquista de adeptos ñas rúas é chamada «pescagem»,
«pescaría»... sexo). Para os líderes e pescagem de
e «pescaría em anzol de ago» (= através do este fim sao utilizados os mais simplórios, que os mais esclarecidos enviam ás rúas para «a
rúa»; também esses irmáos menos instruidos — 27 —
28
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS? 229/1979
sao utilizados em trabalhos domésticos, como lavar pratos e limpar o chao.
Transcrevemos aqui o depoimento de alguém que, a título de estudo, freqüentou lares dos Meninos de Deus: 'Mantel com eles. Comem no chao sobre esteiras de palha. Fazem oracSes Iniciáis e durante o jantar cilam versos que antecipadamente decoram da Bfblia. ■ Cantam cangSes retiradas dos Salmos ou de livros espirltuals ou ainda inspiradas na vida de Sao Francisco de Assls, que eles tém como araulo.
Todavía a imagem da pobreza é contrastada por residirem em bela casa á beira-mar com urna suite e tres quartos, telefone e slnteco no piso, ao preso de CrS 7.000,00. Após o jantar, perguntaram-me se estava com
desejasse,
terla
prontamente
urna
das
'esposas'
fome sexual; caso o
á
mlnha
disposlcfio.
Asslm íazem com todos os que chegam, citando sempre Sfio Paulo, que
diz: 'Para os puros, tudo é puro' (Tt 1,15) ou aqueia passagem: 'Se teu olho é mau, quao densas seráo as t revas I' (Mt 6,22s). Asslm pro
curan) certas passagens da Biblia que podem fácilmente confundir o visi tante menos avisado.
no
Durante o jantar perguntei pelo irmáo N.N., que havia conhecido
grupo e que
nao estava á mesa.
Disseram-me que ele
estava
'ser-
vindo a Deus1, ocupado no momento, e que jantatia depois. Julguei entao que o referido irmáo estivesse em jejum ou oragáo, por noima mística do grupo. Mas, após o jantar, avlstel o itmáo salndo... de um dos aposentos acampanhado de urna neóflta, onde estivsra em relagSes
sexuals 'no servido de Deus1".
A título
de
filantropía ou de proselitismo, os Meninos
de Deus realizam espctáculos teatrais em colegios, orfanatos, penitenciarias, nos quais ridicularizam a sociedade de con sumo e as instituigóes do Cristianismo. Paradoxalmente,
freqüentam
boates,
onde
se
entregam
á bebida. Nao somente freqüentam «festinhas», mas as promovem, a fim de «ganhar almas para o Senhor»; o vinho e outras bebidas alcoólicas circulam entáo, pois, dizem, «assim é lícito em todas as familias cristas». 3.1.3.
O fim do mundo
A expectativa do próximo fim do mundo, alimentada pelos Meninos de Deus, é urna das notas das seitas moder nas. Julgam que o mundo vai mal (o que nao é difícil perceber) e que só Deus lhe poderá dar remedio, intervindo de — 28 —
OS MENINOS DE DEUS
29
maneira drástica, numa catástrofe e num julgamento fináis. A expectativa dessa manifestagáo do Senhor na historia é apta a entreter o fervor e fomentar o proselitismo dos membros das seitas; estes vém a ser os privilegiados ou aqueles
que tém a graga da salvagáo próxima em meio á crescente
perdigáo
da
humanidade.
Nao é nova a expectativa de eminente consumagáo da
historia; já no sáculo V, quando os bárbaros invadiam o Im perio Romano e os cristáos sofriam graves tribulagóes, a solugáo parecia ser a vinda do Senhor como Juiz para por
termo aos séculos. A mesma expectativa se fez sentir nos sáculos subseqüentes, sempre que a humanidade passou por fase mais calamitosa. Hoje é natural que ela prorrompa mais urna vez, visto que os tempos sao arduos. Isto, porém, nao quer dizer que Cristo há de voltar realmente em breve. Os cálculos produzidos pelos Meninos de Deus sao inconsis tentes e nada significam, pois utilizam textos de Daniel e
outros autores bíblicos sem conhecimentos exegéticos e seni
compreensáo do sentido originario de tais passagens. Ade máis as revelagóes particulares feitas a Vovó sao algo de arbitrario.
3.1.4.
Colaboraren» ou fuga ?
Tais ponderagóes levam muitos cronistas contemporáneos (e com plena razáo) a perguntar se o Movimento dos Meni nos de Deus nao vem a representar antes urna fuga ou um
alibi de alguns jovens em relagáo as tarefas que eles deve-
riam assumir na sociedade. — Mesmo quem nao concorda com os criterios e o ritmo de vida da sociedade contempo ránea, tem a obrigagáo de nela permanecer, a fim de contri buir para a renovar e restaurar sobre novas bases. Esta tarefa de ficar para contribuir na reforma é mais ardua taivez do que a de se marginalizar e opor um protesto irra cional e emotivo; além do que, exige boa dose de humildade e renuncia da pessoa a si mesma.
3.1.5.
Institucionalízaselo e carisma
A reagáo dos «Children of God» (e de Movimentos para lelos) contra a institucionalizacáo dos carismas, ou seja, con— 29 —
30
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
tra a organizagáo e o
juridismo e,
em especial,
contra a
Igreja visível e institucional tem cedido a novas formas de institucionalizagáo, de estruturagáo e de autoritarismo den
tro do próprio Movimento.
Entre os «Children of God» é o
«chairman» quem decide tudo; ao que parece, a comuna ou
a «familia» nao deve influir na escolha do «chairman», repre sentante de Cristo. Este mesmo nao foi escomido, mas escolheu os seus discípulos. O autoritarismo rígido faz que a
estrutura de urna «familia» de Meninos de Deus seja muito
simples: reduz-se a urna cadeia de comando. Alias, tem sido esta a sorte
-americanos:
tentam
reafervorar
dos
reavivamentos norte-
denominagóes
«envelheci-
das»; entram entáo em choque com a hierarquia e chegam a
ruptura, mas em breve tornam-se novas seitas solidificadas e endurecidas por rígidas estruturas.
Após as observagóes críticas até aqui propostas, nao poderíamos deixar de apontar outros aspectos, menos som bríos, do Movimento em foco.
3.2.
3.2.1.
Lendo ñas entre-linhas...
O senso místico
Como os demais Movimentos religiosos dos jovens do nosso tempo, também o dos Meninos de Deus equivale a urna afirmagáo dó senso místico inerente a todo ser humano, mesmo no séc. XX.
Manifesta-se desta forma urna reagáo
contra o materialismo. Esboga-se um despertar de consciéncias para os males que os criterios da produgáo e do con sumo vém infligindo á sociedade contemporánea.
Infelizmente, porém, os jovens que aderem a tais Movi
mentos nao tém idéias claras a respeito do que querem; apenas
sabem o que nao querem. Muitos deles procedem de ambien tes sofridos, passaram por dramas materiais ou moráis, conheceram solidáo, abandono e decepgóes, e apegaram-se á nova mística como tábua de salvagáo, sofregamente abragada e entusiásticamente professada. Muitos podem estar iludidos em sua consciéncia fraca ou mal formada. Mereceriam aten— 30 —
OS MENINOS DE DEUS
,
31
gao, esclarecimento e acompanhamento benévolos, para que possam encontrar a Resposta Auténtica para as suas aspi rares.
3.2.2.
A ¡uventude e a fé
Também se pode reconhecer com aprego o fato de que grupos de jovens em nossos dias falem de Jesús e da Biblia Sagrada, ou seja, de temas religiosos, quando tantos homens se embotaram para esses valores ou tém vergonha de proclamá-los. Os jovens, do seu modo, parecem dar testemunho de que a religiáo, longe de ser um valor ultrapassado ou o opio do povo ou algo de alienante, é realmente capaz de fazer vibrar a juventude. Apenas é de lamentar, como dito, que os jovens «místicos» de hoje caregam de formagáo doutrinária e de profundidade religiosa. Compete aos adultos procurar comunicar-lhes esta dimensáo que Ihes falta, ten
tando canalizar para a Verdade e o Bem o entusiasmo emo cional e um tanto caótico que os anima.
Á guisa de bibliografía: ABREU, A., Católicos Pentecostals e outros carlsmátlcos dos Unidos, In "Atualizagáo" 32, agosto 1972, pp. 341-361. BLEISTEIN,
R.(
Jesus-Bewegung,
Jugend
und
nos
Esta
Klrche,
in
"Stimmen
US.A.,
in
"Etudes",
der Zeit", juli 1972, p. 1s.
luln
de
DUSCHESNE, J., Jesus-Revolutlon 1972. pp. 803-821. ODRY, A., Ebi Wort 27/07/1973, p. 22.
PR 184/1975, pp. Whose Children?,
(ehlt:
made
Verantwortung,
In
In
168-175. In
"Time", January 24, 1972.
— 31 —
"Rhelnischer
Merkur"
Ciencia ou ficeSo ?
discos voadores: slm ou nao?
Em sfntese:
O
fenómeno dos discos
voadores ou OVNI
(Objetos
Voadores NSo Identificados) desde 1947 vem despertando a atencSo do público com certa insistencia. Fácilmente os noticiarios o assoclam á existencia de habitantes em outros planetas e a teses Imaglnosas ou
fantasistas. rumores
é o que tem
concernentes
ao
provocado a reserva dos dentistas diante dos
assunto.
Todavía hoje em día o acervo de casos de observacSo de discos voadores é tal que o fenómeno parece poder merecer a atencSo dos dentistas. Considerado de modo objetivo, o problema deve ser formu lado em duas etapas: 1) Certos casos de percepcáo de OVNI correspondem a urna reaIldade objetiva que nao possa ser Identificada com alguma das realidades hoja
em dia
2)
reconhecldas
pela
ciencia?
Desde que a resposta seja afirmativa, pergunta-se ulteriormente:
— essa realidade nova poderá ser explicada pelas leis das ciencias naturais hoje vigentes? — ... ou so poderá Física intelramente novo?
— ... ou
dotados
de
ser elucidada
so se explica pela
inteligencia?
pelas
lels de
um
sistema
de
intervencSo de seres extra-terrestres
Ao quesito n? 1 pode-se responder afirmativamente, embora a grande maloria dos casos tidos como de discos voadores nao sejam tais. Ao complexo quesito n? 2 nenhuma resposta segura pode ser dada. De modo especial, a hlpólese de habitantes em outros planetas se defronta com serlas dlficuldades, vistas as enormes distancias que separam a Térra de outros astros eventualmente seja, a fó nao se opñe a tal suposicfio.
habitados.
Como
quer que
Em suma, parece Importante que se estude a questSo dos OVNI para que melhor se possam ai discernir dos elementos fantasiosos o que ela possa oferecer de serio e digno de ulterior atencSo.
Comentario: Nao é raro ler-se nos jomáis a noticia do aparecimento de algum «disco voador» e das conseqüéncias de tal fenómeno entre os habitantes de determinada regiáo. Aos 24/10/78, por exemplo, o «Jornal do Brasil» noticiava: «Piloto australiano desaparece com seu aviáo depois de encon— 32 —
DISCOS VOADORES?
33
tro imediato de 3* grau» (Cad. B. p. 5); tratava-se de Frederick Valentich, que descreveu o OVNI (objeto voador nao identificado) durante seis minutos antes de desaparecer, e informou que o motor do seu Cessna-182 comecava a falhar. No dia seguinte (25/10/78), o mesmo periódico, á p. 8 do 1» Cademo, publicava a mánchete: «Cientista garante que
foi OVNI, e nao cometa, o que caiu na Sibéria há 70 anos». A freqüéncia com que semelhantes noticias sao difundidas,
assim como o interesse que no público despertam, levam-nos a procurar estudar o fenómeno dos discos voadores (OVNI) ñas páginas de PR. Cientes de que o assunto se presta a
vaos devaneios da fantasía, abordá-lo-emos em estilo serio e objetivo, procurando apenas informar os leitores sem antecipar solugáo alguma para as questóes assim lancadas.
1.
Observajao preliminar
Há decenios que a imprensa fala de discos voadores nao só no Brasil, mas no mundo inteiro. Principalmente a partir de 1947 as noticias a propósito se tém multiplicado: a princi pio, os dentistas consideravam, de certo modo, ridículos tais rumores; um estudo mais aprofundado dos fenómenos assim apregoados parecía «herético». Em nossos dias, nao se pode dizer o mesmo: embora os dentistas continuem reservados no tocante ao assunto, já varios admitem dedicar-lhe sua atenjáo. Fala-se mesmo de Ufologia, nova ciénda que versa sobre os UFO, ou seja, Unidentified Flying Objects (objetos voadores nao identificados). No Brasil, as noticias referentes a discos voadores sao exploradas, entre outras correntes de pensamento, por seitas e sociedades religiosas ou místicas, que procuram em tais fenómenos a confirmasáo de suas crengas e alimentam a fan-
tasia popular de maneira, as vezes, doentia ou alienante. É isto que exige especial sobriedade da parte de quem deseje
cultivar a objetividade científica neste particular. Tal seja, pois, a nossa atitude diante do discutido fenómeno dos discos voadores; procuraremos distinguir ñas diversas noticias regis tradas sobre o assunto as que possam merecer atengáo, e tentaremos indicar as trilhas para um encaminhamento sereno dos respectivos estudos.
Comecemos por examinar o histórico e o estado atual das pesquisas.
— 33 —
34
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 229/1979
2. 2.1.
Ontem e hoje
Breve histórico
1. Há quem pretenda comegar a historia das observagóes de discos voadores em 1897. Com efeito, urna pesquisa realizada em jomáis provincianos dos Estados Unidos revelou que já naquele ano a imprensa norte-americana noticiara fenómenos que muito parecem ter-se assemelhado aos dos OVNI. Todavía foi somente após a guerra mundial de 1939-1945 que comecaram a ser propaladas de maneira mais assidua e sistemática noticias sobre discos voadores. As autoridades militares norte-americanas mostraram interesse pelo assunto, visto que poderia tratar-se de produtos bélicos langados pelos
adversarios. Em 1947 foi constituida pela U.S. Air Forcé urna comissáo própria para estudar a questáo; essa comissáo trabalhou ampia e minuciosamente até 1966 e coletou a sua documentacáo num grosso dossié ou «Livro Azul»; tal coletánea se concluía com julgamento negativo ou cético a respeito dos U.F.O.; parece que havia interesse, da parte dos militares norte-americanos, em diminuir, perante a opiniáo pública, a atragáo do fenómeno1. Eis, porém, que a própria U.S. Air Forcé solicitou em 1966 a um Comité de pesquisadores e dentistas da Universidade de Colorado que estudasse também o fenómeno dos OVNI. Ora esse Comité publicou em 1969 o resultado de seus estudos num livro de cerca de mil páginas intitulado «Scientific Study of Unidentified Flying Objects» (New York 1969). Tal relatório foi criticado como sendo tendencioso e, por isto, contrario á existencia de discos voadores; logo no inicio do livro, o Dr. Condón, presidente da Comissáo, expunha consideragóes que insinuavam nada haver de serio na problemática dos OVNI, pois os arautos das noticias referentes a estes haveriam sido, em muitos casos, comprovadas vitimas de ilusóes. 2. Apesar disto, as pesquisas sobre discos voadores prosseguiram tanto nos EE.UU. como no estrangeiro, de tal modo que hoje em dia mesmo dentistas de renome reconhecem que o fenómeno merece ser estudado objetiva e científi camente, sem paixóes nem emotividade. A pesquisa assim 1 Alias, esse Interesse restritlvo é registrado, a seu modo, pelo filme "Contatos imedlatos do 3? grau"; cf. PR 225/1976, pp. 399-404.
— 34 —
DISCOS VOADORES?
35
concebida nao significa que se admita de antemáo a exis tencia de habitantes em outros planetas, nem que se favoreca determinada corrente religiosa ou filosófica. Trata-se apenas de tentar apurar o que haja de verídico e de falso no acervo de noticias coletadas a respeito do fenómeno e de procurar saber quais as plausiveis explicagóes para os eventuais fatos reais.
2.2.
Ho¡e em dio. ..
No grande dossié dos discos voadores até hoje observa dos, eis os dados que mais salientes parecem a um estudioso contemporáneo.
a) Mais de cinqüenta mil casos estáo hoje em dia ficha dos, á disposigáo dos pesquisadores. b) Os estudiosos tém recorrido á estatística: levando em conta os lugares geográficos nos quais, em determinada faixa de tempo (relativamente breve), os fenómenos de dis cos voadores tém sido observados, chegaram á conclusáo de que por vezes tais fenómenos se distribuem segundo um arco, como se o objeto nao identificado se fosse deslocando dentro dos parámetros de rigorosa geometría linear. Esta característica de alinhamento temporal e espacial dos OVNI é chamada ortotonía. Há quem a conteste, enquanto outros
estudiosos dizem conhecer mais de quarenta casos de OVNI
que comegaram a ser vistos nos Estados Unidos e foram pouco depois observados na Franca, chegando a atravessar o ter ritorio francés.
c) Para evitar as ilusóes óticas, os cientistas tém recor rido ao radar. Os resultados da aplicacáo do radar para detectar OVNI foram, pela primeira vez, expressos pelo Mi nistro do Exército da Franga, Gal. Robert Galley, que declarou em 24/02/1974: "Reglstraram-se na Franca observares de radar para as quais nfio há explicarlo. Temos também o testemunho de pilotos militares a res peito dos OVNI... Nesses fenómenos aéreos, fenómenos visuais (nao digo mais do que isto), que foram registrados sob a sigla OVNI, é certo que exlstem elementos que escapam á nossa compreensáo e que até o
presente momento fícam relativamente Inexplicados. Eu diría mesmo: nSo se pode recusar o fato de que em nossos días certos fenómenos atmos féricos
flcatn
Inexplicados
ou
mal
explicados".
— 35 —
36
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
d) Como dito, quem aceita estudar seriamente o fenó meno dos discos voadores, nao está necessariamente acei tando alguma tese religiosa ou filosófica. Em testemunho desla afirmagáo, publicamos, a seguir, a lista de dezesseis expncagoes que os dentistas dáo á grande maioria dos fenó menos que popularmente sao apresentados como Índices de discos voadores. Os OVNI seriam: — estrelas ou astros brilhantes em pleno dia (principal mente Venus) ou
— sondas espaciáis isoladas ou em cadeia, ou — satélites artificiáis 1957), ou — satélites tre, ou
que,
(principalmente
caindo,
entram
na
desde o final de atmosfera terres
— meteoritos, ou — foguetes ou destrogos de foguetes espaciáis, ou — nuvens que tenham a forma de lentes, ou — grupos de aves emigrantes, ou
— reflexos de faróis de carros e de incendios, ou
— fenómenos de ionizacáo do ar tes de explosáo atómica), ou — armas
secretas e aparelhos
(fragmentos resultan
voadores
secretos,
que
estáo sendo experimentados, ou
— raios láser, ou
— resultados de ilusóes óticas, ou — resultados de alucinacóes, isoladas e coletivas, ou — efeitos luminosos diversos associados ao sol e á lúa, ou
— objetos de visóes místicas tidas por pessoas fanáticas. Todavia, mesmo excluindo do estudo todos os casos suscetíveis de alguma das explicares ácima, ficam outros (tal-
— 36 —
DISCOS VOADORES?
37
vez urna porcentagem de 5% apenas) que em absoluto nao sao enquadráveis em alguma de tais hipóteses. e) Faz-se mister outrossim observar que existem, sim, fotografías de OVNI suspensos no ar; todavía nao há foto
grafía de OVNI pousado por térra ou sobre o mar, nem há fotografía de tripulante desses objetos voadores. É arbitra rio dizer-se que os pilotos de tais «naves espaciáis» sao pequeños e verdes
(little green men).
Em 1.750 ou mais casos de aterrissagem, as testemunhas dizem ter visto tripulantes do OVNI: seriam, segundo
certos observadores, de pequeña estatura (lm de altura); em vez de escadas, teriam utilizado muletas para descer da sua nave espacial, ficando no solo as marcas dessas muletas. Geralmente, dizem, mostraram-se esses visitantes propensos a fugir ou desaparecer quando os habitantes da térra tentaram aproximar-se deles. Sao raros os casos de pessoas que digam ter viajado em disco voador. As testemurihas que procuraram chegar perto de algum OVNI, experimentaram efeitos térmicos ou ondas de calor.
Nao obstante, entre os cultores da Ufologia, há os que julgam poder adiantar a seguinte tese, que tem o sabor de ficcáo científica:
Os diversos discos voadores até hoje conhecidos podem
ser reduzidos a tres* ou quatro tipos de aparelho perfeita-
mente definidos. Os seus pilotos pertencem a dois tipos hu manos, que operam independentemente um do outro, mas, as vezes, também em mutuo entendimiento ou mesmo constituindo tripulagáo mista: o primeiro tipo seria de gente de baixa estatura (1 m aproximadamente) com membros muito finos, cabeca grande sem nariz e sem boca, mas com olhos
de forma alongada; o outro tipo seria gigante, com a altura física de cerca de 2m e aparéncia mais semelhante a nossa Os especialistas nesse campo de estudos dizem que, na base de trezentos casos bem observados, podem reconstituir os dois retratos-padróes dos visitantes, identificados por características constantes. Sendo assim, julgam poder distin guir dos verdadeiros casos de aterrissagem aqueles que sao falsamente imaginados.
f) Entre as «testemunhas» de discos voadores encontram-se, no Brasil e fora do Brasil, profissionais de diversos — 37 —
38
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 229/1979
tipos de acor,do com as características sociológicas do país. Todavía apenas 10% dessas testemunhas sao pessoas de certa projegáo pública; há quem julgue que, quanto mais alguém tem responsabilidades sociais, tanto mais receia dar testemunho público a respeito de OVNI.
Cerca de 60% das testemunhas sao adultos, isto é, pes soas cuja faixa etária vai dos 20 aos 60 anos. g) A duragáo da observagáo do OVNI é geralmente de poucos minutos; as testemunhas observam a olho nu ou com binóculos ou mediante cámara fotográfica.
30% das observagóes tém ocorrido durante o dia, e 70% á noite. h) 70% das observagóes se devem a grupos de duas testemunhas; em poucos casos grandes aglomeragóes de pes soas atestaram o fenómeno de OVNI.
i) O número das observagóes está em fungáo direta da nebulosidade. do céu. Isto é importante porque mostra a índole visual do fenómeno. Assim, mais de 60% das obser vagóes ocorreram sobre um céu claro a mais de 10 km de distancia, e 25% a menos de 150 m. j) 60% dos OVNI sao movéis e rápidos. Em 45% dos casos as testemunhas dizem que observaran! trajetórias com
plexas: os OVNI teriam descrito curvas e arabescos com brus cas mudangas de diregáo. Ás vezes os OVNI parecem parar
em pleno vóo e recomegam a viagem bruscamente de modo a desafiar todas as leis da Física e da Mecánica. A velocidade dos OVNI é, nao raro, fulminante: em poucos segundos percorrem a abobada celeste; calcula-se que, em linha reta, perfazem 2.500 ou 3.000 km por hora, sem, porém, produzir ruido algum.
k) 20% dos testemunhos afirmam que os discos voadores aterrissaram. Na metade dos casos de aterrissagem, o lugar da térra escolhido para tanto é de populacáo pouco densa. Também na metade dos casos de aterrissagem, os
OVNI deixaram vestigios de si no solo por eles atingido;
esses vestigios sao marcas de pés (tres ou quatro pés no centro de um círculo). Os estudiosos tentaram calcular a massa necessária para produzir tais vestigios em fungáo das
— 38 —
DISCOS VOADORES?
39
características dos diversos solos; chegaram á conclusáo de que tal massa deve ser da ordem de dez a trinta toneladas. Nos lugares marcados pelo contato com discos voadores, observaram-se notáveis depósitos de calcio.
Eis alguns dos elementos contidos nos registros de arquivos concernentes aos discos voadores. Urna vez feito tal levantamento sumario, importa tragar as pistas de reflexáo sobre os mesmos.
3.
A interprétaselo dos dados
Urna das fontes de ambigüidades no estudo dos OVNI está em que geralmente as pessoas nao distinguem suficien temente
1)
entre fatos e «fatos» e
2)
entre as diversas explicagóes que possam ser dadas
aos fatos eventualmente reais.
Ao contrario, o público é propenso a associar aparentes fatos a determinada interpretagáo religiosa ou filosófica. Por isto, em vez de nos perguntarmos: «Somos favoráveis ou contrarios aos discos voadores?», teremos que considerar
separadamente duas questóes no nosso subseqüente estudo:
1) Reconhecemos que ao menos alguns dos elementos observados no tocante aos OVNI corresponden! a realidades
objetivas que nao podem ser enquadradas no rol das reali
dades objetivas até hoje conhecidas?
2) Em caso afirmativo, julgamos que tal realidade obje tiva poderá ser explicada a partir das leis físicas atualmente
conhecidas ou eremos que só terá elucidagáo em fungáo de conceitos de outra ordem?
É ao estudo destas duas perguntas que, a seguir, nos dedicaremos.
3.1.
Fatos e «fatos» inexplfcáveis
As noticias concernentes a OVNI baseiam-se 1) ou sobre a percepeáo direta que dizem ter tido em relagáo a tais objetos;
— 39 —
as
testemunhas
«
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2)
ou sobre fenómenos físicos, que seriam conseqüén-
cias da passagem de um disco voador;
3)
ou sobre ambos os dados.
Examinemos cada qual destas hipóteses, de per si. 3.1.1.
Percep;áo direta
A primeira indagagáo que esta hipótese sugere, é a de saber em que medida a percepcáo foi fiel á realidade. Na maioria dos casos, essas percepgóes diretas foram reconhecidas como meramente subjetivas (erro, ilusáo, imaginagáo) ou até como fraudulentas... Entre outros, sabe-se que o escri tor Adamsky apresentou como verídicos relatos romanceados de viagens em disco voador até o planeta Marte. Todavia numa minoría de casos, que, mesmo assim, sao numerosos, tais percepgóes foram comprovadamente baseadas
em realidades objetivas.
É a esta conclusáo que levam as
seguintes ponderagóes:
a) muitas observagóes de OVNI sao devidas a pilotos de avióes e controladores de navegagáo aérea, cuja profissáo implica aptidáo especial para discernir e caracterizar objetos no
espago.
<
b) As observagóes do homem da rúa exigem natural mente mais reserva. Mas nem por isto háo de ser desprezadas. Em alguns casos foram idénticas as dos especialistas. Foi o que aconteceu em 1973/1974 quando um foguete russo entrou na atmosfera; as observagóes de cidadáos e camponeses coincidiram com as que foram efetuadas nos observa torios.
c) Urna noticia isolada, mesmo quando proveniente de bom observador, pode ser objeto de reserva. O mesmo, porém, nao se diga quando um fenómeno é observado de igual modo por diversos observadores Índependentes uns dos outros. Ora numerosos OVNI foram reconhecidos em tais condigóes. d) O estudo estatistico dos casos de OVNI apresenta, por vezes, características que nao ocorreriam se se tratasse de fenómenos meramente subjetivos; assim, por exemplo,
— 40 —
DISCOS VOADORES?
41
— tanto maior é o número de observagóes de OVNI quanto mais limpo e claro está o céu. Isto significa que tais observacóes respeitam os limites da visáo humana; — entre as testemunhas de OVNI encontra-se todo o leque das diversas faixas etárias e das categorías sócio-profissionais da populagáo considerada;
— o número de observagóes registradas no mundo inteiro coincide com a densidade de populacho de cada nagáo estudada; — os relatos das testemunhas levam a atribuir aos OVNI
certos tragos constantes,
a
saber:
os efeitos
físicos
atrás
assinalados. 3.1.2.
Efeitos físicos dos OVNI
Tais efeitos físicos podem ser de índole ótica (fotogra fías, filmes) ou de índole violenta (queimaduras, agáo mag
nética que resulta na imobilizacáo de um carro, na extingáo de seus faróis, na parada de seu radio...). Tais efeitos po dem ser acompanhados de testemunhos diretos. É notorio que pessoas inescrupulosas falsificaram «fotografías de dis cos voadores».
3.1.3.
Unta prímeira triagem entre fotos reais
Urna vez averiguados fenómenos reais e objetivos, o estudioso deve procurar saber se sao realmente- estranhos ou se nao podem ser explicados pelos conhecimentos científicos contemporáneos.
Ora em muitos casos os especialistas (físi
cos, astrónomos, metereólógos...) concluiram que tal ou tal objeto, tido como OVNI .por um observador nao especialista, na verdade era um fenómeno meramente natural: meteorito, que entrara na atmosfera, planeta, estrela, etc. Em outros casos, porém, os especialistas reconheceram que o objeto percebido nao podia ser classificado entre as realidades já
conhecidas; a estranheza nao raro provínha do fato de que o objeto em pauta mudava súbitamente de direcáo segundo velocidade que as leis da Física nao poderiam explicar. Prossigamos as nossas reflexóes procurando as possíveis de explicagóes dos fatos objetivos reconhecidamente estranhos.
vias
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42
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3.2.
As possíveis explicajóos
Os estudiosos e os dentistas que reconhecem a realidade dos fenómenos de OVNI véem-se hesitantes quando se trata de explicar tais fatos. Tres teses sao entáo propostas:
1) Os fenómenos dos OVNI poderáo um dia ser expli cados dentro do quadro das leis físicas hoje conhecidas; 2) tais fenómenos poderáo ser elucidados pelas ciencias naturais, sim, mas táo somente na base de principios físicos inteiramente novos;
3) os fenómenos OVNI nao sao puramente físicos; só se explicam pela intervengáo de seres extra-terrestres dota dos de inteligencia.
É muito difícil e delicado fazer algum pronunciamento sobre qualquer destas hipóteses. Como quer que seja, seguem-se algumas reflexóes a respeito:
3.2.1.
A Física e suas leis
No tocante á hipótese 1), é naturalmente a primeira que o cientista e o estudioso honesto devem levar em conta:
toca-lhes o dever de tentar explicar os fenómenos novos á luz das leis da ciencia já conhecidas. Ora parece que até agora nao foram esgotadas as pers
pectivas de explicacáo por meio da Física. Há, por exemplo, quem julgue que o fenómeno dos OVNI poderia ser elu cidado se se pesquisasse um pouco mais o setor muito novo da antimatéria.
Outros julgam que os fenómenos OVNI nao sao senáo robos americanos ou russos. Tal hipótese, porém, é contes tada, pois nao se vé como produzir robos que tenham com-
portamento táo estranho quanto o dos discos voadores; nem
se percebe o ínteresse que os americanos ou os russos teriam
no uso de tais aparelhos, visto que dispóem de satélites, de índole e funcionamento relativamente simples, que lhes fornecem informacóes satisfatórias sobre os acontecimientos ocorrentes na face da térra.
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DISCOS VOADORES?
3.2.2.
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Principios físicos inteiramente novos
A segunda hipótese conforme a qual se poderiam expli car os discos voadores na base de principios físicos inteira mente novos, incluí um postulado:... postulado de nova Fí sica. Verdade é que a historia das ciencias naturais revela
auténticas e revolucionarias surpresas causadas aos dentistas
pelo desenrolar mesmo de suas pesquisas. Assim certos fenó
menos mecánicos e eletromagnéticos que pareciam misterio sos aos dentistas no inido do século XX, foram satisfatoriamente elucidados pela concepjáo de urna teoria física abso lutamente nova, que foi a teoria da relatividade.
3.2.3.
Habitantes de outros píemelas
Se bem que esta hipótese seja sugerida por alguns casos mais significativos, compreende-se que os dentistas lhe oponHam resistencia. Tal explicagáo parece fazer recuar a cien cia aos tempos do animismo ou a urna concepgáo do universo
em que o milagre era algo de pressuposto e habitual; de tal concepcáo a dénda se emancipou desde os tempos de Newton (t 1727) — o que a libertou de serios entraves ao seu desenvolvimento.
Mesmo, porém, que alguém queira admitir habitantes em outros planetas, encontrará serias dificuldades para tornar verossímil tal hipótese. Esta langa, pois, novas incógnitas ao estudioso. Com efeito, tais seres vivos e inteligentes prove
nientes de outros planetas deveriam ter constituigáo física e longevidade bem diversas dos nossos padrdes comuns. Na verdade,
— se nos limitamos á consideragáo do nosso sistema solar apenas, verificamos que ascondigóes de existencia diferem profundamente da térra para qualquer outro planeta. Os seres vivos inteligentes que existissem em Júpiter deve riam poder nao só sobreviver, mas mesmo sentir-se bem, á temperatura de — 140° C que caracteriza a superfíde desse planeta1; i Verdade é que os satélites de Júpiter e Saturno sSo cercados de atmosfera e de um campo de gravidade semelhantes aos da térra. Poder-se-ia entüo imaginar que ñas profundidades desses planetas existia vida...
e
vida inteligente!
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— se passamos para fora do nosso sistema solar, obser vamos que as imensas distancias tornam altamente improvável urna visita de habitantes de tais regióes do espago. Sim; além de ter que gozar de grande Iongevidade, tais seres inteligentes precisariam de veículos cuja velocidade ultrapassasse a da luz — e que só seria possível dentro dos pará metros de outro sistema de Física (sistema que difícilmente poderia ser por nos concebido).
Há, porém, quem contorne o problema levantando a hipótese de que os OVNI nao sao tripulados, mas apenas guia dos á distancia por sistemas de sinais. Todavía mesmo esta hipótese suscita reservas, pois que a transmissáo de sinais de comando só se faria dentro do prazo de dezenas, centenas
ou milhares de anos.
Sao estas ponderagóes que provocam em muitos cientistas urna atitude de censura diante das noticias espalhadas por periódicos de vulgarizagáo ou ficgáo científica, segundo'as quais o fenómeno dos discos voadores encontra a sua explicagáo mais plausivel e natural na hipótese de visita de seres extra-terrestres. Talvez por efeito da literatura de ficgáo e vulgarizagáo científica esteja táo difundida a crenga em outros mundos habitados. Urna pesquisa realizada em 1973 nos Es tados Unidos revelava que 51% da populagáo norte-ameri
cana estavam convictos de que o fenómeno dos OVNI se deve a seres inteligentes extra-terrestres!...
Da parte da fé católica, nao há objegáo á tese de que outros mundos sejam habitados por seres inteligentes; a Revelagáo bíblica nada insinúa a respeito, ficando, pois, a questáo aberta a pesquisa dos cientistas. Cf. PR 225/1978, pp. 401s.
Tentemos agora, de tudo quanto foi dito, deduzir urna 4.
Conclusao
O fenómeno dos discos voadores tem dividido os cien tistas, pois, em parte, supóe dados que, científicamente, pare-
cem objetivos; em parte, porém, se prende á fantasía e a teorías místicas. Alias, algo de semelhante se dá com os fenómenos parapsicológicos: enquanto muitos cientistas os ignoram conscientemente, outros lhes dedicam consideragáo sistemática e científica. 44
Como quer que seja, segundo o atual estado das pesqui sas, pode-se dizer que, no grande acervo de registros de OVNI, ao menos urna pequeña porcentagem merece atengáo por constituir categoría de fenómenos físicos até esta época desconhecidos ou nao elucidados. For conseguinte, vé-se que estudar tais fenómenos inexplicados pode ser tarefa de den tista serio e honesto, tarefa independente da hipótese de exis-
tirem habitantes
em
outros planetas.
Infelizmente,
porém,
há quem confunda a pesquisa sobre os OVNI com a aceitac.áo desta hipótese e de numerosas concepgóes fantasistas que muitas vezes a acompanham.
É oportuno que os homens de ciencia consagrem ura pouco de sua atencáo ao fenómeno dos OVNI. Somente assim este será examinado com seriedade e se dissiparáo nao pou-
cas teses imaginosas que alimentam indevidamente a curiosidade do público.
No atual estado das pesquisas, seria afoito querer tomar
posigáo definida diante da questáo dos OVNI. O que a cien cia consegue hoje entrever neste particular, é simplesmsnte a conclusáo de que o estudo honesto dos fenómenos ditos de OVNI nao é heresia científica, mas, antes, servigo prestado a comunidade humana a fim de que esta nao se torne vítima de exploragio da falsa ciencia nem seja afetada por urna especie de super-psicose de alcance
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j A teología de Maleus, por Javier Pikaza. Tradugáo do espanhol pelo •■•,•• Pe. José Raimundo Vidigal CSsR. ColegSo "Teología dos Evangelhos de Jesús" 2. Ed. Paulinas, SSo Paulo 1978, 153 pp., 135 x 210 mm.
A teología de Marcos, por Francisco de la Calle. Tradugao do espanhol pelo Pe. José Raimundo Vidigal CSsR. Colegáo "Teología dos Evangelhos
de Jesús" 1. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1978, 143 pp., 135 x 210 mm.
A teología de Lucas, por Javier Pikaza. Tradugio do espanhol pelo Pe. José Raimundo Vidigal CSsR.. Colegáo "Teología dos Evangelhos de Jesús" 3. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1978, 190 pp., 135 x 210 mm. A teología do quarto Evanqelho, por Francisco de la Calle. Tradugáo do espanhol pelo Pe. José Raimundo Vidigal CSsR. Colegáo "Teología dos Evangelhos
de
Jesús"
4. — Ed.
Paulinas,
Sao
Paulo
1978,
163
pp.,
135 x 210 mm.
Estes quatro volumes constituem urna colegáo completa, que vem ocupar lugar importante em nossa bibliografía teológica, pois nao raro se procuram compendios que apresentem de manelra sucinta e acessivel o pensamento teolóqico de cada evangelista. Os autores, profesosres espa-
nhóis, renunciaram a discussSes de índole academicista, que consistiriam
em arrolar e analisar sentengas de exegetas diversos; procuram, antes, expor
em termos positivos a mensagem do texto bíblico tal como decorre da exegese católica atualizada, dentro das linhas de pensamento da Igreja. Assim o leitor perceberá fácilmente os fios condutores que levam do Antigo ao Novo Testamento assim como a contibuigáo própria de cada evangelista á apresentagáo da mensagem do Senhor Jesús. A este titulo, a colegáo será
de grande utllidade para os pregadores e' os circuios bíblicos (embora nao seja de nivel popular). Os professores e estudantes de Teología encon-
traráo al valiosos subsidios ; todavía o estilo de urna escola de Teología exigirá certa complementagáo
académica.
A Igreja do Deus Vivo. Curso bíblico popular sobre a verdadelra Igreja,
por Fr. Battistlni, 2? ed. (particular). — Magé 1978, 139 pp., 135x210 pp. Já em PR 223/1978, 3? capa, registramos a publicagáo da primeira edi-
gáo deste livro, destinado a ajudar o povo a se firmar na fé católica e nao se deixar arrastar por pregadores fanáticos. O autor registra muito bem na sua introdugio que, "enquanto o católico, bem intencionado, fala de uniáo, de amor, de compreensáo, de ecumenismo, esses pregadores inculcam um verdadeiro odio contra o Catolicismo, contra a Virgem María, contra o Papa, etc." (p. 8). E nossa boa gente se vé multas vezes indefesa e incapaz de refutar os sofismas de tais arautos sectarios. Ora o livro em pauta é valioso instrumento para tanto ; servirá grandemente para a pastoral, que ultimamente se tem ressentido da falta de instrumentos populares que auxlliem os católicos a se precaver contra os pregadoros proselltistas... A prova do valor do livro está em que, dentro de poucos mesos, a obra já alcangou duas edlgdes, sendo a segunda ampliada e revista. Embora seja de edig&o particular, o livro se encontra a venda ñas livrarias católicas. Pode ser soli citado diretamente a Frei Francisco Battistlni, Avenida Padre Anchleta 256, 25900 Magé (FU). — Sinceros parabens ao autor!
EB.