Ano Xx - No. 235 - Julho De 1979

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Projeto

PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoríam)

APRESErsTTAgÁO

DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao

Pedro que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la

pedir (1 Pedro 3,15).

Esta

necessidade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé

hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas J.



correntes

filosóficas

e

religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante aprofundamento do nosso estudo.

um

Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questoes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d.

Esteváo Bettencourt e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e

Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

Sumario UM LÍDER, UMA ESPERANQA

265

"O Novo Testamento Vivo" : "COISAS DA VIDA"

267

Mala um llvro sensacional :

"SEXO/ESPIONAGEM", por David Lewls

279

Urna entrevista:

AÍNDA O MÉTODO BILLINGS

295

No mundo do sensacional:

"AS PROFECÍAS DO PAPA JOAO XXIII", por Pier Carpí LIVROS EM

301

ESTANTE

4C Capa

COM APROVAQAO ECLESIÁSTICA

NO

PRÓXIMO

NÚMERO:

"O rosto materno de Deus". — A pastoral dos divorciados.

— "A questáo homossexual" por Marc Oraison. — "Universo em Desencanto".

X

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Número avulso de qualquer mes

Cr$

18,00

Assinatura anual

Cr$

180,00

Direcao e Redacao de Estéváo Bettencourt O.S.B. ADMINISTRACAO

Livraria Mlsslonária Editora Rúa México, 168-B (Gástelo)

REDACAO DE PR

20.031 Eio de Janeiro
Cabca Postel 2666

Tel.: 224-0059

20.000 Rio de Janeiro (RJ)

UM LÍDER, UMA ESPERANZA..

M

. Inegavelmente, urna das figuras mais em foco no rio internacional dos últimos tempos tem sido o Papa Joáo Paulo n. O número de peregrinos que o querem ver e ouvir todas as semanas, vem aumentando extraordinariamente, a

ponto de se darem as audiencias na basílica e na praca de Sao Pedro. De modo especial, chamou a atencáo do mundo a recente visita de S. Santidade á Polonia, país comunista vigiado pelo «irmáo russo».

Essa visita oficialmente tinha o caráter de peregrinagáo aos santuarios poloneses, por ocasiáo do nono centenario do martirio de S. Estanislau, bispo de Cracovia. Todavía a im prensa observou (e com razáo) que ela assumiu também urna fungáo política. Com efeito, S. Santidade quis iniciar um diá logo construtivo com o Governo comunista de Varsóvia e, conseqüentemente, com os demais regimes marxistas do Leste europeu. Após trinta e mais anos de dominio materialista, é chegado o momento de se promover a aproximacáo entre as instituicóes soviéticas e a Igreja Católica,... particularmente a Igreja na Polonia, que representa auténticamente o povo polonés. Foram incisivas as palavras de Joáo Paulo II as auto ridades do seu país natal: «Cristo jamáis aceitará que o homem seja considerado únicamente como um meio de producáo, e

valorizado táo somente de acordó com este princ'pio»... «Nao é possivel que a pessoa humana... passe por este mundo sem deixar rastros. Nao é possivel que ao ser humano interesse apenas aquilo que ele constrói neste mundo, aquilo que ele conquista e aquilo que ele desfruta neste mundo». Sim; o homem nao é máquina de producáo destinada a promover a

economía do Estado, mas é um ser aberto ao Transcendental

e ao Absoluto; somente quem leve em consideracáo esta dimensáo da pessoa humana, estará em condigSes de evitar injurias contra ela.

O diálogo, da parte da Igreja, é desinteressado de con quistas políticas ou da procura de privilegios. Interessa táo somente á Igreja poder servir ao homem como Cristo serviu a este, a fim de mostrar:lhe o caminho para o Pai : «Nao há o que temer, nao há imperialismo dentro da Igreja, há apenas a vontade de servir. Precisamos de aproximar-nos uns dos outros... É preciso abrir as fronteiras». Dai a exortacáo de Joáo Paulo n a que os fiéis poloneses «trabalhem

para a paz e a recondliagáo entre povos e nagóes dé todo o mundo». — 265 —

4.4

A iniciativa do diálogo assim preconizado foi tida pelo Sumo Pontífice como «um ato de coragem de ambas as par tes»: «As vezes é necessário um ato de coragem para seguirmos urna direcáo pela qual ninguém tenha antes caminhado. E a visita de um Papa á Polonia é um acontecimento sem precedentes na historia milenar deste país». Ato de cora gem ... É este um dos valores de que S. Santidade tem dado as provas mais evidentes, nao se poupando em nada para

exercer até as últimas conseqüéncias a sua missáo de pastor. A quanto parece, as autoridades polonesas estáo dispos

tas a aceitar o diálogo com a Igreja. Embora tenham pro curado cercear a participado dos fiéis nos atos públicos da visita, tiveram e tém que reconhecíer o dinamismo e o vigor

da fé do povo polonés. Esta fé é «urna reálidade viva e pal pitante, que contém urna mensagem de otimismo e esperanga... Cristo nao morre jamáis. A morte nao tem poder sobre ele». De resto, somente a mensagem evangélica poderá libertar o homem das ameacas totalitarias de que dáo testemunho até hoje os campos de concentragáo visitados pelo Papa em sina) de solidariedade a todos os seres humanos, mesmo aqueles que passaram e passam pelos mais degradantes aviltamentos. Os jornalistas que observam o cenário do mundo neste

momento, véem surgir na pessoa de Joáo Paulo II a figura de um líder:

"Joao Paulo chega á Cátedra de S. Pedro quando há um certo vacuo

na Ilderanga mundial, que ele bem poderla preencher. O presidente Mao morreu; Brejnev provavelmente está morrendo e seus colegas ocupados com problemas de sucessáo; o presidente Cárter mostrou-se menos do que carlsmátlco e os países europeus nao conseguiram produzlr estadistas do calibre dos do imediato pos-guerra. O Papa tem urna oporlunidade única de exercer lideranca moral, nao apenas sobre os católicos, nem mesmo sobre os cristáos apenas, mas sobre toda a humanidade" (Norman St John-Stevas, em "JORNAL DO BRASIL" cad. esp. 13/05/79, p. 1).

Ora, ao considerar tais falos, o cristáo nao pode deixar de se sentir vivamente interpelado. Se o Papa, por sua funcáo

pessoal, é o portador, por excelencia, da mensagem evangélica, todo cristáo pode estar certo de que Ihe toca urna parcela da

¡mensa responsabilidadc que compete a S. Santidade,... res-

ponsabilidade de ser a expressáo falada e vivida da Boa-Nova,

que nenhuma outra conseguiu substituir até hoje. Dizia muito sabiamente R. Garaudy quando aínda comunista :

«A vida e a morte de Cristo pertencem também a nos, a todos aqueles para quem olas lém sentido. Pertencem a nos,. que aprendemos de Cristo que o homem foi criado criador!» K.B.

— 266 —

PERGUHTE E RESPONDEREMOS» Aro XX — N« 235 — Julho do 1979 PUC-RS.

BIBLIOTECA CENTRAL

"O Novo Testamento Vivo" :

"coisas da vida" Em slnlese : "Coisas da Vida. 0 Novo Testamento vivo em llnguagem ■atuallzada" n§o aprésenla simplesmente a traducáo do texto do Novo Tes tamento, mas, sim, urna paráfrase do mesmo inspirada pelo3 artigos de fá do Protestantismo, é o que o presente estudo procura mostrar citando exemplos diversos. O texto de "Coisas da Vida" difere da próprla versSo de

Ferrelra de Almeida, geralmente usada pelo Protestantismo, é de lamentar que o texto bíblico sofra tais interpoiacces e Interpretares sem que o (altor seja devidamente advertido. Quem toma em máos urna edlcSo do Novo Testamento em linguagem atualizada, tem o direüo de querer encontrar ai a realidade objetiva da Palavra de Deus.

Comentario: Está sendo divulgado o livro intitulado «Coisas da Vida. O Novo Testamento vivo em linguagem atua lizada. Edicáo especial» (abreviadamente, neste estudo, CV), da Editora Mundo Cristáo, Sao Paulo (SP). O livro, na quarta capa, é apresentado pelo pastor Roberto Me AlLster, autor do programa de televisáo «Coisas da Vida», em nome da comunidade pentecostal protestante «Nova Vida» do Rio de

Janeiro (RJ). Como diz a segunda página de rosto, trata-se do «Novo Testamento Vivo em linguagem atualizada». Todavía quem folheia o livro em pauta, verifica que a linguagem do Novo Tes tamento nao foi apenas atualizada; ela foi também interpretada e parafraseada, como se depreende de notas colocadas ao pé das páginas com os dizeres : «Literalmente...» ou «Subenten dido ...» Quem compara o texto em foco com os origináis do Novo Testamento, verifica que houve, nao raro, interpretagóes discutíveis ou mesmo tendenciosas na preparagáo do texto bíblico de «Coisas da Vida»; em conseqüéncia, este nem sempre é propriamente a Palavra de Deus, mas exprime o

— 267 —

4

«FERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

pensamento do(s) tradutor(es) protestantes que o confecionou(aram).

Ora nao há quem nao reconhega a necessidade de se faci litar o acesso do público moderno ao texto sagrado mediante o recurso a linguagpm clara e atualizada,... linguagem que diga com as expressoes de hoje o que o Novo Testamento signi fica com as suas expressoes do sáculo I. Ao tentar fazer esta transposicáo, o tradutor deve precayer-se contra a tentayáo de interpretar o texto bíblico segundo as suas categorias pessoais de pensamento; é mister que guarde a máxima objetividade, embora isto nem sempre seja fácil. Ora «Coisas da Vida» apresenta evidentes paráfrases do texto bíblico, que já nao correspondem ao teor objetivo da Escritura, mas por vezes constituem discretas Iiqóes de pensamento protestante. É o que pas earnos a considerar, apontando algumas passagens de CV, dentre muitas, que já nao reproduzem fielmente o sentido do original grego. Alias, o texto de «Coisas da Vida» é o mesmo já publi

cado sob o título «O mais importante é o amor» — livro este que PR comentou em seu n» 218/1978, pp. 63-69. Apenas em CV faltou o roteiro de doutrinacáo protestante que faz parte da edicáo de «O mais importante ó o amor».

T.

Trechos parafraseados

Limitar-nos-emos a indicar as paráfrases que mais valor

doutrinário tenham.

1)

Rm 1,

17

Diz o texto da «Biblia de Jernsalém» (BJ): "Nele (no Evangelho) a lustica de Deus so revela da fé para a fé, conforme está escrito: O fuato vivera da té".

Eis a versáo de Ferreira de AJmeida (FA), usual entre os protestantes : "A lustica de Deus se revela no Evangelho de té em (é, como está esciito: O justo vivará por (ó".

— 268 —

«COISAS DA VIDA»

Assim se lé em CV : "Esta Boa Nova nos diz que Deus nos prepara para taz Justos aos olhos de Deus — quando colocamos nossa flanca em Cristo como Salvador. Isto é realizado pela fé, fim. Tal como a Escritura afirma. 'O homem que encontra a trá-la confiando em Deus'".

o céu — e nos fé e nossa cortdo principio ao vida, val encon-

O texto traduzido em CV desdobra o original expondo o sentido protestante de fé: «esta é confianca em Cristo Salvador». O texto de Habacuc 2,4, citado pelo Apostólo, é interpretado no mesmo sentido: pela fé vem a ser confiando em Dcu3. A palavra «justo» vem a ser, no caso, «o homem que encontra a vida». Com esta paráfrase, o tradutor quis insinuar a doutrina da justificagáo pela fé (= confianga) sem a prática de obras. Ora, objetivamente falando, tal tese nao se encontra no texto

bíblico. Este diz apenas : «O justo (o homem reto) vivera pela fé», sem insinuar a maneira como alguém se torna justo \

2)

Gl 3,11

O Apostólo cita mais urna vez o texto de Habacuc 2,4, que

o tradutor de CV assim verte :

"O homem que encontra a vida, a encontrará por mefo da confianza

em Deus".

Vém a propósito as observagóes atrás registradas sobre a

justificagáo.

31

Hb 10, 38

Mais urna vez o texto de Hab 2,4 ocorre em citagáo do

Apostólo, sendo assim apresentado pelo tradutor de CV:

"E aqueles cuja fó os tornou bons aos olhos de Deus, devem vlver pela fé, confiando nele em tudo".

Aqui tem-se explícitamente a doutrina do «tornar-se bom (ou justo) mediante a fé-confianga».

* "Tornar-se justo", "ser justificado" ou "justlflcacfio", na llnguagem paulina, signlflcam o "tornar-se amigo de Deus, obtendo o perdSo dos pe

cados".

— 269 —

6

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

Ora é de notar que a palavra grega pístis, geralmente tra-

duzida por fé, tem urna tonalidade intelectual. Com efeito, crer na Biblia incluí, além da confianga, a adesáo da inteligencia á mensagem proposta pelo Senhor Deus (cf. Cl 1, 4s; Ef 1,15-21; ICor 1,25...). É por causa do conteúdo intelectual da men sagem da fé que Sao Joáo escreve o seu Evangelho e a sua primeira epístola; quer incutir, a respeito de Jesús, que Ele foi verdadeiro Deus e verdadeiro homem durante todo o decorrer da sua existencia terrestre, nao excluida a fase da sua Paixáo e morte; o Evangelista julga de suma importancia rejeitar a

doutrina de Cerinto, para defender a verdade a respeito de Jesús. Vejam-se: Jo 20,31: "Estes prodigios foram escritos para que acreditéis que Jesús ó o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida om seu nomo".

Uo 5,53: "Quem é que vence o mundo senSo aquele que eré que Jesús é Filho de Deus? Este é o que veio pela agua e pelo sangue, Jesús Cristo; nSo so pela agua, mas pela agua e pelo sangue".

4)

Rm 3, 21s

BJ: "Agora, porém, independentemente da Lei, se manifestou a fustiga de Deus, testemunhada pela Lei e pelos Profetas, justica de Deus que opera pela fé em Jesús Cristo, em favor de todos os que créem, pois n3o há diferenca..." FA:

"Mas

agora,

sem

leí, se

manifestou a

justlca

de Deus teste

munhada pela leí e pelos profetas: justlca de Deus mediante a fó em Jesús Cristo, para todos e sobre todos os que créem, porque nao há dlstlngSo..." CV: "Agora, porém, Deus nos mostrou um caminho diferente para o céu — nSo o (ato de sermos 'bonzlnhos' e procurarmos guardar suas leis, mas um novo caminho (aínda que nio seja tSo novo asslm, realmente, pois as Escrituras falaram dele há multo lempo). Agora Deus diz que nos aceitará e nos absolverá — Ele nos declarará 'sem culpa' — se nos confiarmos em Jesús Cristo para Ele tirar os nossos pecados. E todos nos podemos ser salvos deste mesmo modo, vlndo a Cristo, nSo Importa o que somos ou o que temos sido".

O texto de OV é evidentemente urna paráfrase. Incute de novo a justificacáo pela fé-confianga : «Deus nos absolverá... se nos confiarmos em Jesús Cristo». Sem ulterior comentario...

Em suma, as mesmas tendenciosas concepcóes de fé e de justificasáo ocorrem constantemente em CV. Baste citar ainda Rm 3, 26 : "E agora, também nos días atuais, Ele pode receber pecadores do mesmo modo, porque Jesús tirou os pecados deles.

— 270 —

«COISAS DA VIDA» Mas n3o será injusto que Deus delxe libertos es criminosos e diga que «les sao inocentes? Nio, porque Ele age dessa maneira baseando-se na confianca que eles deposltam em Jesús, Aquele que tirou seus pecados".

Para a orientagáo do leitor, citamos Rm 3,26 na versáo protestante de FA, que corresponde ao original grego : "Deus

tem em vista a manlfestacio da

sua Justica

no tempo

pre

sente, para Ele mesmo ser Justo e o Justificador daquele que tem fé em Jesús".

A comparagáo é significativa por si mesma.

5)

Mt 16, 19

BJ : "Eu te darel as chaves do Reino dos céus, e o oue ligares na -Ierra será ligado nos céus, e o que desligares na térra será desligado nos céus". FA:

"Dar-to-el as chaves do reino dos céus; o que ligares na térra,

CV:

"E Eu darel a vocé as chaves do Reino dos Céus; todas as

será ligado nos céus, e o que desligares na térra será desligado nos céus". portas que vocé fechar na térra terSo sido fechadas no céu ; e todas as portas que vocó abrir na térra terao sido abertas no céu !"

A esta versáo de CV duas observagóes se impóem: a) O tradutor substituto o binomio «ligar e desligar» por «fechar e abrir as portas». Isto parece mais condizente com a imagem das chaves. Todavía as expressóes ligar e desligar tém sentido técnico na linguagem dos rabinos : significam o uso de jurisdicáo, ou seja, condenar e absolver; ora esta significacáo se perde pela tradugáo «fechar e abrir portas», expres-

sáó esta que tem sentido vago. Jesús, ao usar o binomio ligar-

-desligar, tencionava atribuir a Pedro o exercício de jurisdiejio que a teología protestante nao aceita. b)

A tradugáo de CV emprega o verbo na forma de mais-

-que-perfeito : «... teráo sido fechadas... abertas». Isto signi fica que a palavra de Pedro tem o valor de mera declaragáo,... declaracáo de um feito já ocorrido antes que Pedro fale ; a palavra de Pedro já nao é a palavra eficiente que, conforme o texto original, ela deve ser. A tradujáo correta é, pois : «Tudo o que ligares na térra, será ligado no céu... Tudo o que des ligares na térra, será desligado no céu», como, alias, se encontra em FA. — 271 —

8

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

6)

Le 2,7

BJ: "E ela deu á luz o seu fllho primogénito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque nao havia lugar para eles na sala". FA: "E ela deu á luz o seu fllho primogénito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura porque nao havia lugar para eles na hospedarla". CV: "E ela deu á luz seu primeiro filho, um menino. Enrolou-0 num cobertor e O deitou numa manjedoura, porque nao havia lugar para eles na hospedarla da aldela".

Como foi dito em PR 216/1977, pp. 523s, o termo grego prootótokos, na Iinguagem do Novo Testamento, tem conotaCóes semitas, que o tornam equivalente a bam-amado. Veja-se, por exemplo, Zc 12,10 : "Pranteá-lo-áo como quem pranteia um unigénito, e chorá-lo-So como se chora amargamente o primogénito".

Nesta passagem, percebe-se que há sinonimia entre «uni

génito», «primogénito» e «bem-amado». Por conseguinte,

a

traducáo «deu á luz o seu primeiro filho» é evidentemente urna

interpretagáo... e interpretacáo preconcebida em favor de urna tese protestante. 7)

ICor 9,5

BJ: "N9o temos o direito de levar conosco, ñas viagens, urna muIher crlsti, como os outros apostólos e os irmáos do Senhor e Cefas ?" FA: "Nao temos nos o direito de levar conosco urna mulher irmá, como também os demals apostólos, e os irmáos do Senhor, e Cefas ?" CV: "Se eu tivesse urna esposa e ela fosse urna órente, eu nao poderla levá-la nessas viagens, tal como fazem os outros discípulos e como fazem os irmáos do Senhor e como Pedro faz ?"

A palavra grega gyné, usada pelo Apostólo, significa propriamente mulher, seja esposa, seja nao esposa. Como se vé, a BJ deixou o termo na sua accepclo ampia, objetiva, ao passo que CV o interpretou no sentido de esposa. 8)

ITm 3,ls

BJ:

"Fiel é esta palavra: se alguém aspira ao episcopado, boa obra

deseja. É preciso, porém, que o epíscopo seja irrepreensivel, esposo de

urna única mulher, sobrio, chelo da bom senso, simples no vestir, hojpitaleiro, competente no enslno".

— 272 —

«COISAS DA VIDA»

9

FA: "Esta é urna palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, exce lente obra deseja. Convém, pols, que o blspo seja irrepreenslvet, marido de urna mulher, vigilante, sobrio, honesto, hospltaleiro, apto para enslnar".

CV:

"É um dito verdadelro que, se um hcmem deseja ser pistor,

tem uma boa amblcáo. Porcue um pastor deve ser um homem bom, contra cuja vida nao se possa falar nada. Deve ter apenas uma mulher, e deve ser trabathador Incansável, cuidadoso, ordelro, e chelo de boas obras. Oeve ter prazer em receber hospedes em casa, e deve ser um bom mestre da Biblia".

Dois comentarios vém a propósito : a) A palavra pastor em CV está colocada em lugar do grego epískopos. Este vocábulo (donde se derivou bispo em portugués) nao significa ainda, no epistolario paulino, o bispo

«monarquiano» que já aparece ñas cartas de S. Inácio de Antioquia (t 110), mas, sim, o superintendente ou inspector ou vigilante da comunidade. É esta uma func.áo que nao tem cor respondente na vida da Igreja pós-apostólica; por isto os bons tradutores nao traduzem epískopos nem por bispo nem por

presbítero (em grego presbíteros) nem por pastor (ppimén), mas deixam o vocábulo grego na sua originalidade: epíscopo. — Por que entáo CV verte por pastdr ?

Tal traducáo aparece mais impropria ainda se se consi dera que em lTm 5,17 o vocábulo presbíteros também é traduzido, em CV, por pastores. Por conseguinte, a mesma palavra

pastor verte, em CV, epískopos e presbjrteros. Por qué? — Pela tendencia a impingir ao texto paulino a imagem de uma comu

nidade protestante, onde só há pastor c diáconos, e nao há epískopos ou bispo ? Repare-se que a palavra diákonos é preservada em CV, dando diácono em lTm 3,8. b) A expressáo «bom mestre da Biblia» especifica o ma gisterio do epískopos, dando-lhe tonalidade restrita, particular mente usual em comunidades protestantes.

9)

Uní 5,21s

BJ : "Conjuro-te diante de Deus e de Cristo Jesús e dos anjos etel105 que observes estas regras sem preconceito, nada fazendo por favoritismo. A ninguém imponhas apiessadamente as mdos, nao participes dos pecados de outrem. A ti mesmo. conserva-te puro".

FA: "Conjuro-te diante de Deus e do Senhor Jesús Cristo e dos anjos eleitos que sem prevencáo guardes estas coisas, nada fazendo por

— 273 —

10

ePERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

parclalldade. A nlnguém Imponhas precipitadamente as rnüos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mosmo puro". CV: "Ccm toda a solenidade eu Ihe ordeno, na presenta de Deus e do Senhor Jesús Cristo e dos santos anjos, que vocó faca ¡sto, quer o pastor seja seu amigo particular, quer nao. Todos devem ser tratados de modo exatamonto iaual. Nunca tenha Dressa em escolhor um pastor, pols de outro modo vocd poderá nao percebcr os pecados délo. E entüo pare cerá que vocé os aprova..."

Como se vé, as traducóes de BJ e FA nao mencionam pas tor algum, porque isto nao ocorre no original. Com que direito, pois, CV introduz tal referencia no seu texto ?

10) BJ:

lTm 3,16 "Seguramente grande é o misterio da pledade: Ele fol manifestado na carne,

justificado no Espirito, contemplado petos arijos, proclamado ás nagóes, crido no mundo,

exaltado na gloria". FA : "E sem dúvida alquma qrande é o misterio da pledade: Aquele que se manifestou cm carne, fol justificado em espirito, visto dos anjos, pre gado aos gentios, crido no mundo, e recebldo ácima na gloria".

CV: "É bem verdade que o modo de levar urna vida piedosa nSo é colsa fácil. Mas a solucáo está em Cristo, que velo á térra como homem, demonstrou oue era imaculado e puro em seu Espirito, fot servido pelos anjos, proclamado entre as nageos, aceito pelos homens em toda parte e recebldo novamente em sua gloria lá no céu".

Como se vé, CV evita a palavra misterio (mystérion),

embora esta no epistolario paulino seja espscialmente densa e deva ser focalizada como tal. Interpreta, pois, mystérion como sendo «o nao fácil modo de levar urna vida piedosa» (tonalidade ética). A seguir, acrescenta, por própria conta, que a solugáo do problema está em Cristo... — Na verdade, o texto original quer dizer o seguinte: é grande ou admiravel o compendio da fé que os versos de um hiño da Igreja antiga emmciavam através de binomios:

Manifestou-se... foi justificado

Carne... Espirito

Contemplado... proclamado

Anjos... nagóes

Crido... exaltado

Mundo... gloria — 274 —


11

CV nao guarda a forma lírica da citagáo feita pelo Apos tólo, mas confunde os dizeres de lTm 3,16, como se fossem todos do mesmo autor. 11)

Rm 6,3-5

BJ: "Ou nao sabéis que todos os quo tomos balizados em Cristo Jesús, é na sua morte que fomos balizados? Pois pelo batismo nos fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela gloria do Pal, assim também nos vivamos vida nova. Por que, se nos tornamos urna coisa so com ele por urna morte semelhante á sua, seremos urna coisa so com ele também por urna ressurreígSo seme lhante á sua". FA: "Ou nSo sabéis que todos quantos fomos batlzados em Jesús Cristo, (omos balizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo ressuscltou dos mortos pela gloria do Pal, assim andemos nos também em novidade de vida. Por que, se fomos plantados juntamente com ele na semethanca da sua morte, também o seremos na da sua ressurreicáo". CV: "O poder do pecado sobre nos fol quebrado quando nos torna mos cristSos e fomos balizados a fim de sermos urna parte de Jesús Cristo; através da sua morte fol esmagado o poder da natureza pecaminosa de voces. iA natureza humana Inclinada ao pecado que voces tinham foi sepul tada com Ele pelo batismo quando Ele morreu. Quando Deus o Pal, com poder glorioso, trouxe-0 novamente de volta á vida, a sua maravilhosa vida nova foi-lhes dada para que voces dosfrutassem déla".

Como se vé, o tradutor nao valoriza suficientemente o rito

batismal; a morte e a ressurreigáo do cristáo ter-se-iam dado por ocasiáo da morte e da ressurreicáo de Cristo, e nao por efeito do sacramento do batismo. Esta tese é protestante ; nao condiz com o pensamento paulino, segundo o qual a imersáo na agua batismal comunica ao neófito participagáo na morte e na ressurreigáo de Cristo. Estranha é a expressáo de CV: «Somos» ou «Sao urna parte de Jesús Cristo».

12)

lCor7,12

BJ: "Aos outros digo eu, nao o Senhor: se algum lrmSo tem esposa nSo crista e esta consente em habitar com ele, nao a repudie."

FA: "Mas aos outros digo eu, nSo o Senhor: Se algum Irmao tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ete, nSo a delxe". CV: "Aquí eu gostaria de acrescentar algumas sugestOes minhas: estas nao s6o ordens diretas do Senhor, mas me parecem certas. Se um

— 275 —

12

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

.crisláo tiver urna esposa que nao seja cristS e ela qulser ficar com ele assim mesmo, ele nao deve deixá-la nem divorciar-se déla".

O segundo período deste trecho estaría claro mesmo sem o acréscimo nem divorciar-se déla (o grifo é nosso), que nao se acha no texto original.

13)

Mt 19,16s

BJ : "Alguém se aproximou de Jesús e disse : 'Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?' Respondeu: 'Por que me perguntas sobre o que é bom? O Bom é um so. Mas, se queres entrar para a vida, guarda os mandamientos'".

FA: "Eis que, aproximando-se de Jesús um mancebo, disse-lhe: 'Bom mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?' E ele disse-lhe:

'Por que me chamas bom? Nao há bom senao um só, que é Deus. Se queres,

porém,

entrar na

vida, guarda es

mandamentos'".

CV: "Alguém velo a Jesús com esta pergunta : 'Bom Jesús, que ato eu devo praticar para conseguir a vida eterna?' — 'Bom?' perguntou Ele.

'Só há um que é realmente bom — e esse é Deus. Mas, respondendo á sua

pergunta, vocé

pode chegar

ao céu

se guardar

os mandamentos'".

O tradutor de CV nao levou c»m conta a diferon<;:i exis tente entre Me e Le, de um lado, e Mt, do outro lado, na reda-

gáo da primeira pergunta. Segundo Me 10,17 e Le 18,18, a interrogado soa: «Bom mestre, que farei para alcanzar a vida eterna?» Esta pergunta motiva a resposta de Jesús : «Por que me chamas bom? Ningucm é bom senáo Deus».

Em Mt 19,16s, o texto é outro, como se vé ñas versóes de BJ e FA. Ora o tradutor de CV guardou em Mt a forma da per gunta de Me e Le, e alterón a resposta de Jesús, reduzindo-a a

«Bom?». De passagem, observamos que (ulvez ob dizeres de Me 10,17» e Le 18,18s causem dificuldade ao leitor, visto que Jesús carece dizer que nao é Deus : dir-se-ia que Ele estranhou o apelativo bom, próprio de Deus só. Todavía o texto se há de entender do seguinte modo : o jovem que procurou Jesús, percebia no Mestre algo mais do que nos demais rabinos. Daí o qualificativo bom, que nao se dava a um rabino. Ora Jesús quis levar adiantc a intuigáo que o seu interlocutor tivera, dizendo-lhe: «Se me chamas bom, compreende o alcance do que dizes : bom é Deus só; compreende, pois, que sou Deus». — 276 —

«COISAS DA VIDA»

13

14) Verifica-se ainda que, no final de cada carta do Apostólo, o tradutor de CV acrescentou por sua própria conta um fecho que nao se encontra no original. Assim, por exemplo, em Rra 16,27: «Com toda a estima, Paulo»,

em ICor 16,24: «Cordialmente, Paulo», em Gl 6,18: «Com estima, Paulo», em Tg 5, 20: «Afetuosamente, Tiago», em 1 Jo 5,21: «Afetuosamente, Joáo». Embora estes acréscimos sejam de pouoa monta, nao deixam de ser urna intervengáo arbitraria no texto sagrado. Outro titulo de observagóes se impóe.

2.

Palavras-chaves trocadas

Há certos termos da linguagem bíblica que se tornaram importantes no vocabulario teológico cristáo. Sao prenhes de

conotagóes que outras palavras aparentemente mais populares (> usnnis níio i£m. Os traduloros sao frcqiicmtomente propen

sos a trocar tais termos-chaves por outros mais «claros»; fazendo-o, tornam o texto talvez mais compreensível a um leitor inexperiente, mas, sem dúvida, despojam-no de significagóes e alusóes que todo leitor da S. Escritura deveria aos poucos perceber e apreciar. Eis por que lamentamos a ausencia, em CV, de palavras como:

misterio (mystérion). Ver CV Rm 16,25-27 (mystérion = = favor divino); ITm 3,16 (mystárion = modo de levar vida piedosa); Ef 3,3 (mystérian = favor divino); ICor 2,7 (mys

térion = sabio plano de Deus); ICor 4,1 (mystérion = segredos de Deus) ;

mediador (mesítss). Ver CV ITm 2,5, onde há longa paráfrase ; cpískopos. Ver CV ITm 3,1; 5,17; impor as máos. Ver CV 1 Tm 5,22 ; autor da salvacáo. Ver CV Hb 2,10 («líder perfeito, capaz — 277 —

14

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

de conduzi-Ias para a sua salvagáo»); memoria (anamnesis). Ver CV Le 22, 19; ICor ll,24s; ligar-desiigar. Ver CV Mt 16,19; parábola. Ver CV Mt 13, 3.10.13; Jo 16,25.29 (o tradutor usa «iluslracáo» ou «historia») ;

escribas. Ver CV Me 3,22 (escribas = mestres judaicos de religiáo) ; fariseus. Ver CV Me 2, 6. 18.24 (fariseus = líderes reli giosos judaicos). Em Me 3,6 «fariseus» ocorre com nota expli cativa ao pé da página.

Julgamos que melhor seria manter o uso de tais palavras•chayes, acrecentando, porém, á traducáo do texto sagrado um glosario explicativo ou notas de roda-pé aptas a elucidar o sentido dos vocábulos mais dificeis.

3.

Conclusóo

As observacóes destas páginas nao pretendem exaurir o tema. Todavía parecem suficientes para mostrar que o texto de «Coisas da Vida» nao pode ser tido simplesmente como tra ducáo atualizada do Novo Testamento. É, antes, urna interpretagáo do texto bíblico inspirada por criterios de teología pro testante. Ora julgamos que tal texto nao pode satisfazer a leítor algum, qualquer que seja a sua crenca religiosa ou a sua filosofía. Na verdade, o leitor que tome em máos um livro inti

tulado «Novo Testamento» tem o direito de querer encontrar ai o texto do Novo Testamento em sua realidade objetiva, sem retoques subjetivos. O tradutor deve empenhar-se por atenuar,

tanto quanto possivel, a cota de intorpretacóes que gcralmcnte está associada a tarefa de traduzir. Sempre que a traducáo pareja ficar ineompreénsível ao leitor, complete a sua obra com observacóes elucidativas, expondo as diversas maneiras de se entender tal passagem difícil; deíxe, porém, o leitor optar entre as varías interpretacóes legítimas.

Para eximir-se de qualquer censura, bastaría que os edi

tores de «Coisas da Vida» modificassem o titulo da obra, explicitando: «O Novo Testamento parafraseado e interpretado á

luz dos artigos de fé do protestantismo». — 278 —

Mai9 um Hvfo sensacional:

"sexo/espionasen)"

Em edítese: O livro "Sexo/Esplonagem" de David Lewls (Ed. Afrodlte. Lisboa 1977) revela ao público os processos de exploracSo do sexo pelos Servlcos Secretos Soviéticos. O KGB (Comité de Seguranca do Estado) russo trelna mocas ("andorinhas") e rapazas ou homens ("corvos")

para

que seduzam em armadllhas grandes Estadistas, políticos, empresarios, clen« tlstas...; os atos de perversáo sexual sSo fotografados, filmados e gravados mediante aparelhagem dissimulada em quartos especialmente preparados para tal objetivo em Moscou ou em outras cldades. Essas Imagens sBo apresentadas á vlllma na prlmelra oportunldade, ao mesmo tempo que se Ihe propBe ou trabalhar para o inlmlgo (revelando segredos políticos, eco nómicos. Industriáis...) ou asslstlr á revelacSo de tais Imagens (o que geralmente acarreta a ruina moral ou física da v(tlma); na grande maioria dos casos, o paciente aceita servir aos Interesses da Rússia Soviética.

David Lewls descreve, na base de pesquisas e entrevistas crlterlosamente realizadas, as elapas de treinamento dos agentes da sexo/esplonagem: mostra como tendem a Insensibilizar por completo a pessoa humana, curvando-a religiosamente aos ditames do Estado Soviético. O autor relata outrosslm diversos casos concretos de sexo/esplonagem bem ou mal suce dida. Aponta os Instrumentos e a aparelhagem que a mals moderna tecnolo gía tem criado para captar imagens e sons sorratelramente: falsos mamllos e donte3 postigos podem ser portadores de um minúsculo transmlssor de som; ao dorso de urna mosca ou de um pombo se pode aflxar um dispo

sitivo eletronico que capte vozes ou sons. A luz de urna estrela ou de um cigarro acesso pode ser Intensificada de modo a permitir que se tlrem

fotografías...

Em suma, o llvro atesta o vilipendio da pessoa humana, que é entre gue á "prostltulcSo sagrada" hoje como nos tempos pré-cristfios em homenagem e servlco ao Estado absolutista, auto-endeusado.

Comentario:

Em PR 230/1979, pp. 47-57 foi publicado

um artigo sobre a Psicopolitica ou as táticas de pressáo psico

lógica e lavagem de cránio aplicadas por agentes comunistas

no mundo inteiro. As páginas que se seguem, desenvolvem outros aspectos da mesma temática, expondo os processos de prostituigáo sexual adotados pelo servigo de espionagem sovié

tico a fim de subjugar personagens importantes segundo os interesses políticos da U.R.S.S. — 279 —

16

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

A fonte de informacóes que utilizaremos, é o livro de David Lewis: «Sexo/Espionagem», da Ed. Afrodite, Lisboa 1977 K O autor é um jornalista nascido em Londres no ano de 1942. Comegou a carreira como repórter fotográfico no pe ríodo do pós-guerra da Argelia. Enveredou pelo jornalismo de pesquisa, conseguindo abalar as Cortes e a opiniáo pública da Inglaterra em favor de um play-boy londrino acusado de assassínio. Para escrever «Sexo/Espionagem», o autor procurou munir-se de noticias precisas, cíente de que os informantes, em tais casos, podem ser intencionalmente falsificadores ou deturpadores da realidade. Aplicando, pois, os melhores ditames da criteriologia jornalistica, David Lewis, durante quase vinte e cinco anos, leu jomáis e revistas europeus e norte-americanos, procurando acompanhar as ondas e os feitos da política inter

nacional; leu outrossim numerosos livros especializados na te mática, estando a bibliografía devidamente elencada no fim da obra em pauta (pp. 211-214). David Lewis realizou também entrevistas com pessoas relevantes para o seu objetivo e teve conversas informáis... Tendo sido sabio e criterioso nessas

abordagens, julga haver colhido informagóes fidedignas, que no seu livro «Sexo/Espionagem» sao expostas ao leitor e ilus

tradas por fotografías. É, pois, desse material que vamos, a seguir, escolher alguns tópicos principáis, procurando nssim divulgar um noticiario que nao pode deixar de suscitar seria reflexáo por parte do público ledor. Tendo em vista informar o leitor, nao nos furtaremos, ncsle artigo, a transcrever pormenores que poderiam ser chocantes

e despropositados se nao se tratasse do estudo serio e objetivo de um tema extremamente delicado e importante.

1.

SeHo/espionageni: que é? Para qué?

1. A sexo/espionagem (ou sexespionagem) consiste em explorar as propensóes sexuais de homens e mulheres impor tantes em vista de interesses políticos de determinada nacáo. A rede de espionagem procura colocar nos caminhos de um chefe ou ministro de Estado, de um diplomata, de um empre> Mais precisamente: "Sexplonage — The explotatlon ol Sex by Soviet

Intelllgence" de David Lewis. Tradujo de María Gullhermlna Ramalho. — Ed. Afrodita, Lisboa 1977, 145 x 210 mm. 213 pp.

— 280 —

«SEXO/ESPIONAGEM>

17

sárío..., residente no seu próprio país ou no estrangeiro, urna serie de mogas («andorinhas») ou homens («corvos») atraentes, que excitem a heterossexualidade ou a homossexualidade da pessoa focalizada. Esta, seduzida pela «andorinha» ou pelo «corvo», aceita «ir para a cama» com tal parceira(o) em quarto devidamente preparado pelas autoridades espiás: nesse quarto se encontram, ocultos, microfones, cámaras fotográficas, má quinas de filmar, televisionar..., de tal sorte que o ato sexual e todo o seu contexto passional sao documentados com a máxima

fidelidade. Durante o consorcio sensual, pode a «andorinha» (ou o «corvo») tentar obter do (a) parceiro(a) noticias e revelac,5es do segredos estratégicos... Isto, porém, nao é sempre viável nem é de primeira importancia. Para que a armadilha da sexespionagem seja bem sucedida, basta que se tirem signi ficativas imagens das cenas sexuais... Estas, na primeira ocasiáo oportuna, sao apresentadas á vítima, que entáo se senté extremamente surpresa pela ocorréncia. Nessa altura, as auto ridades espiás, recorrendo á chantagem, propóem á sua presa a alternativa: ou colaborar com o inimigo, ficando as imagens sob sigilo, ou ver-se difamado perante a opiniáo pública inter nacional. Ora, na grande maioria dos casos, a vitima aceita a primeira opgáo; caso nao o queira, arrisca-se a perder as suas funcóes por via de demissáo, em meio a um escándalo público. Eis as observa^óes de David Lewls : «Aínda há a tendencia para se pensar a espionagem apenas em

termos de obtencao de informacoes. é certo que este é ainda um ele mento importante da espionagem, embora menos do que era antiga-

mente. Ho¡e os segredos tendem a ter urna vida curra e o que agora é material altamente Valioso pode nao ter qualquer valor, passado um mes. O equípamento militar torna-se obsoleto mesmo antes de entrar ao servido; códigos e cifras podem ser alterados rápidamente;

os planos defensivos sao suficientemente flexivcis para sobreviverem ás maiores brecha; na seguranza. Mas um

homem

ou urna mulher

subvertidos e depois deixados em liberdade para continuaren! as suas

carreiras sao como urna bomba fazendo tiquetaque, algures no meio áa rociedade, urna bomba que pode ser acionada no momento mais prejudicial, por controle á distancia, a partir do número dois da Praca Dzerzhinsky.

Estes dois fatores gémeos — espionagem e subversáo — sao aquilo que, em última

análise, faz da sexespionagem

urna ameaca

maior á paz e a seguranca do que todos os satélites, navios e avioes espides no seu conjunto» (pp. 198).

— 281 —

18

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 235/1979

2. A plática da sexespionagem exige todo um conjunto de recursos altamente requintados, a saber: a) pessoas adequadamente treinadas para tanto. Em vista dito, existem escolas de sexo, com seus segredos,... segredos que aos alunos nao é licito revelar sob duras penas. «Poucas andorinhas conseguem voar para fora do ninho. Se o tentarem, as suas asas podem ser brutalmente cortadas> (p. 85);

b) aparelhagem de imagem e som esmeradamente insta lada a fim de que se capte a vitima em seus momentos e posigóes mais expressivos. O escándalo deve ser violento e insofismável. Para tanto, colaboram engenheiros, técnicos, psicólogos, sociólogos, médicos, farmacéuticos (pois há também o recurso a drogas)..., obedecendo a um plano sagazmente concebido pela direcáo central da Espionagem. 3. Dentre os povos que praticam a sexespionagem, distingue-se a U.R.S.S. Com efeito, os russos tém-se dedicado especialmente a este tipo de procedimento — o que parece explicar-se fundamentalmente pelo caráter antipermissivo da cultura soviética oficial. Essa antipermissividade acarreta duas conseqüéncias:

— os soviéticos sao educados a considerar a permissividade sexual e a pornografía como frutos do capitalismo. Em conseqüéncia, concluem que a sexespionagem, demonstrando abusos sexuais de personagens ocidentais, vem a ser arma especial mente eficaz contra os países do Ocidente ; — a sexespionagem abre aos cidadáos russos a oportunidade de tomar parte em aventuras sexuais e «gozar» da por nografía a titulo de servigo á patria, sem complexo de culpa, «quase da mesma maneira como um advogado de censura estuda os filmes pornográficos» (p. 41). Sao palavras de Levvis : «A sexespionagem é urna técnica seria e complexa de subversáo que ocupa o tempo de milhares de oficiáis, técnicos, 'companheiros

de «ama* e peritos em observacáo. Mantém apartamentos especiáis em Moscou, onde as intrigas podem ser realizadas, t§m quartos equi pados com aparelhos fotográficos eletrónicos nos maiores notéis por toda a Uniao Soviética e possuem escolas especiáis de sexo onde os 'companheiros de cama' masculinos e femininos sao tremados. O KGB

— 282 —

<SEXO/ESPIONAGEM>

19

tem investido enormes somas de dinheiro e lempo na industria da sexespionagem» (p. 40).

É mister agora encaramos diretamente o grande orga

nismo acionar da sexespionagem, que é o KGB (Komitet Gosndarstvennoy Bezopasnosti, Comité de Seguranga do Es tado ou Servico Secreto da Uniáo Soviética) de Moscou.

2.

O KBG

«Um edificio alto de pedra cinzenta no n» 2 da Praga Dzerzhinsky em Moscou é o quartel-general da organizacáo de Servidos Secretos mais poderosa do mundo, o Komitet Gosn darstvennoy Bezopasnosti ou KGB» (p. 43).

«Essa organizacáo secreta emprega cerca de novecentos mil oficiáis do Estado-Maior a juntar a centenas de milhares de agentes em regime de part-time. É urna conseqüéncia lógica do conceito de ditadura científica, que Lenine definiu em 1920 como 'nem mais nem menos do que um poder sem limites assentando diretamente da forga, nao limitado por coisa alguma nem restringido por quaisquer leis ou regras absolutas'»

(p. 43). As raizes do KGB estáo no século XVI, quando o czar Iva o Terrível fez da policía secreta russa um órgáo para reprimir revolucionarios internos e agir contra a espionagem externa. Em 1881, após o assassinio do czar Alexandre II, foi cons tituido o Departamento de Protecáo do Estado ou Okhrana, tendo por modelo o eficiente servigo secreto alemáo. Os seus agentes comegaram sem demora a atuar no estrangeiro. Em 1883 os espides do Okhrana foram para a América pela primeira vez para vigiarem Vladimir Legaev, um ex-membro do Okhrana. — O Okhrana promoveu a criagáo de agentes de informagáo

em todos os níveis da sociedade. «O seu objetivo era fazer da Rússia urna nagáo de espides», diz Richard Deacon no seu estudo sobre o Servigo Secreto russo.

É sobre este fundo de cena que se deve entender a atual organizagio do KGB, «a aranha da Praga Dzerzhinsky» (p. 43). As informagóes colhidas pelo KGB estáo contidas em arquivos de acó constantemente atualizados, gravadas em fitas — 283 —

20


magnéticas ou registradas em fichas e fotografias. A um toque de botáo, um técnico da Secgáo de Informacóes do Centro pode acionar as bobinas de gravagáo; entáo os telimpressores emitem os pormenores pessoais de qualquer dos dez milhóes de homens e mulheres que interessam á U.R.S.S.

Entre outros, tornou-se famoso o diretor do KGB Lavrenti Pavlovich Beria. Como Stalin, era natural da Georgia, nascido em Tifies em 1898. Foi Beria quem comegou a desenvolver a sexespionagem como arma poderosa de subversáo. O seu interesse nessa técnica pode, em parte, ter nascido da sua per vertida forma;áo sexual; gostava especialmente de mogas muito jovens. Ñas dependencias do KGB encontra-se a secgáo que con trola as «andorinhas» e os «corvos»; é um bloco de cinco anda

res disfargado em armazém no centro de Moscou. Em tal secgño se planejam o treinamento dos espióes do sexo, assim como as armadilhas a serem preparadas para tal ou tal per-

sonagem.

Vejamos, pois, como procedem

3.

As escolas de sexo

As escolas de sexo se destinam a libertar os seus alunos de qualquer inibigáo sexual. Elas os ensinam a. proporcionar aos seus parceiros o máximo prazer, aparentando gostar de

todas as variagóes e perversóes possíveis do ato sexual e agir com toda a naturalidade. Além disto, as escolas ensinam a satisfazer ao operador de cámara invis'.vel do KGB; este faz questáo de que o rosto do parceiro csteja voltado para a

cámara a fim de que a chantagem posterior possa ser eficaz. As candidatas a «andorinhas» sao recrutadas em toda a Uniáo Soviética. A beleza física, unida a inteligencia e charme,

sao condigóes básicas para a convocagáo; além disto, requer-se

b conhecimento de urna língua estrangeira (inglés, francés ou

alemáo) — o que nao é difícil na U.R.S.S., visto que lá é comum o estudo dos principáis idiomas internacionais.

Depois de selecionada, a jovem é chamada á entrevista com um agente do KGB. A principio, nao há referencia ao — 284 —

«SEXO/ESPIONAGEM»

21

sexo. Apenas lhe dizem que o seu nome foi indicado para um trabalho bem remunerado na máquina do Partido, com direito a apartamento particular em Moscou ou em alguma grande cidade, e outras vantagens; viajará para o estrangeiro e terá

contato com éstrangeiros...; receberá talóes para fazer com

pras em lojas de luxo, reservadas aos funcionarios do Par tido. Informam-na também de que o trabalho implica acesso a importantes segredos do Estado,... segredos que ela nunca poderá revelar nem aos parentes mais próximos.

É semelhante o processo de recrutamento dos «corvos» ou dos homens, heterossexuais ou homossexuais. Sao mulheres que selecionam os heterossexuais. Quanto aos homosse xuais (destinados a cativar membros homossexuais de embaíxadas ou turistas), sao muitas vezes homens prostituidos, a quem é dada a escolha entre trabalharem para o KGB ou serem

presos.

Para os espines destinados ao estrangeiro, o KGB propor

ciona instrucáo a respeito dos costumes e das atitudes sexuals dos países de destino: revistas, jomáis e filmes, principalmente pornográficos, constituem o instrumental de aprendizagem, copiosamente exibido aos candidatos. O KGB construiu mesmo cidados ficticias onde os pormenores do estilo de vida dos varios paises éstrangeiros sao imitados, incluindo a moeda corrente, os bilhetes de ónibus, os presos dos géneros alimen ticios. ..

Eis palavras de David Lewis: «Antes de sua fuga para o Ocidenfe, nos meados dos anos

ses&enta, Anatoli Sorokin traba'hara para o Departamento do Prí-

meiro Dlretório Principal do KGB e disse-me que o ambiente mais parece um cenario de um filme do que urna cidade real. Cada por

menor é exato como se re tratasse de um filme bem realizado. Há

urna rúa principal com edificios de ambos os lados e que tem cerca de duzentas ¡ardas de comprimento; há lojas, um cinema, um super

mercado e um banco. Durante as sescóes de treino a área enche-te de pessoas vestidas de modo a representaren! personagens típicas do país em estudo. Por exemplo, no cenarlo británico haveria policios,

um carteiro e um acougueiro aviando no seu talho. Há um autocarro

com condutor para que os agentes possam praticar, pedindo os bi

lhetes e dizendo para onde querem ir corretamente. Há urna estacáo de córrelos onde podem comprar selos, vales postáis, etc. Um outro

cenário representa urna vila inglesa com um pub e armazens. Toda a — 285 —

22

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

área é rodeada de vedacoes de árame farpado e potrulhada por guardas armados acomponhados por caes» (p. 60).

A instrugáo dos candidatos selecionados em primeira ins tancia comeca com um curso de doutrinagáo política, que dura quatro meses na escola Marx-Engels perto de Moscou. Neste primeiro periodo, nao se fala nem de sexo nem de espionagem. A disciplina do curso é exigente: o dia de trabalho comeca com o desjejum as 7h e acaba com urna aula final tas 22 h. Há duas pausas para as refeicóes e dois perío dos de descanso de quinze minutos. As tarefas dos días sao

extremamente duras, controladas por instrutores sempre aten tos a sinais de fraqueza física ou psicológica. Os jovens e as jovens, cuja idade é de dezoito anos em media, dormem em aposentos mistos e partilham chuveiros comuns. A noite estáo habitualmente táo cansados que nao pensam senáo em dormir. Esta primeira etapa de treinamento é suficientemente dura para eliminar os candidatos que nao tenham forte tem pera física ou psíquica, de modo que apenas um pequeño porcentual prossegue, passando para a Escola Superior Téc nica Lenine. Esta, distante de Moscou, é guardada por muralhas, caes e guardas armados. A disciplina ai é espartana: os objetos pessoais de cada aluno sao reduzidos ao mínimo; as camas de ferro dos longos dormitorios estáo separadas apenas por estreitos armarios de metal; o rapaz e a moga dormem lado a lado.

A énfase do treinamento é posta sobre a capacidade física e mental dos alunos. Estes sao enviados de madrugada para urna zona rochosa a fim de a atravessarem em desgas tantes corridas entre as rochas. Recebem aulas de educagáo física, que váo desde o paraquedismo & condugáo de carros a altas velocidades. O combate corpo a corpo constituí parte importante do programa.

As licñes teóricas sao divididas em duas categorías: a shistava rabota (trabalho limpo) e a gryaznaya rabota (trabalho sujo). O trabalho limpo compreende as técnicas aptas a recrutar voluntarios para a Uniáo Soviética. O trabalho sujo incluí as técnicas de suborno, extorsáo e chantagem: estas ensinam a preparar armadilhas de sexespionagem e a obter provas de faganhas escandalosas. Depois das aulas de

trabalho sujo, os

alunos sao induzidos a por em prática a — 286 —

<SEXO/ESPIONAGEM>

23

teoría, exercitando-se em relagóes heterossexuais e homos-

sexuais; o aprendiz tem que chegar a vencer qualquer repug nancia para com essas práticas e habilitar-se a dormir com qualquer pessoa (homem ou mulher) desde que o bem da Uniáo Soviética o solicite. Esta exigencia do curso causa

desánimo a muitos alunos, os quais, porém, costumam vencer

a sua repulsa.

O tiro ao alvo é outra disciplina regular do treinamento, sendo utilizadas pistolas silenciosas a gas, que produzem o som de um estalido de dedos e matam em quatro segun dos; a causa da morte em tais condieóes difícilmente pode ser averiguada. Os alunos também sao instruidos na aplicagáo de drogas venenosas langadas em doces, bebidas ou cigarros; aprendem quais as drogas a utilizar em vista dos seus diversos objetivos e quais os síntomas que a vítima apresenta em conseqüéncia; diz-se-lhes também que antídotos devam tomar, caso sejam vitimas de drogas. Também se pratica o exercício do aprísionamento. Nao é raro no dia-a-dia da escola um aluno ser repentina e brutal mente preso. O rapaz ou a moca entáo é despido (a), espancado(a) e sujeito(a) a todo típo de humilhagóes e degradacóes. Deve entáo inventar urna «estória» para justificar urna falsa identidade; cada urna das palavras dessa estória é exa minada e posta á prova... Assim o candidato vai-se esme rando na arte da ambigüidade e do cinismo; é corrigido e punido tantas vezes quantas se tornem necessárias para que seja um perfeito «artista». Se algum estudante tenciona abandonar o treinamento, renunciando á oarreira proposta, deve dispor-se a enfrentar surpresas extremamente desagradáveis: sabe que sofrerá duras sangóes, se nao mesmo a ruina moral ou física...

David Lewis entrevistou urna «andorinha» que conseguiu escapar das garras do KGB, de modo a encontrar-se com o

jornalista na Tunisia. A mulher enojada de quanto experi mentara em suas aventuras anteriores, descreveu a Lewis as etapas de seu treinamento e as aplicacóes bem sucedidas do mesmo em sua carreira. Desse longo e minucioso relato

(pp. 71-85), transcreveremos apenas o seguinte trecho, que é

certamente muito significativo:

— 287 —

24

«PERGUNTE E RESP0NDEREMOS> 235/1979

«Todo o grupo de estudantes se reunió num grande atrio e maií urna vez as cadeiras estavam em círculo, mas agora ao centro havia

um colchSo no chao. Um instrutor entrou, acompanhado de um ¡ovem e de urna ¡ovem, ambos vestindo roupóes. Disse-nos que ¡amos ver urna demonstragao de técnicas para o ato sexual.-O casal despiu os roupóes e ficaram completamente ñus. Dirigiram-se para o centro do círculo e abracaram-se. A ¡ovem acaríciou o homem até o excitar e entSo deitaram-se no colchao. O instrutor estava de pé ¡unto deles e apontava os processos que a mulher utilizava para estimular o homem e tornar a sua resposta sexual mais acentuada e excitante. O instrutor ordenou á mulher que usas:e os labios e a língua no

homem. Fizeram tudo ¡sto sem qualquer sinal de embaraco. Final

mente mostraram diferentes posicoes de relacáo sexual e a aula ferminou com o casal concretizando a sua relacáo. No fim ficamos sentadas num silencio de embriaguez. Nunca viramos nada semelhante. Lembro-me perfeitamente da confusáo qve ficou no meu espirito. Sentia-me inebriada e excitada pelo que Hnha visto, mas, mais do que excitacao, sentia desgosto. Sentia que tinha estado a assistír a algo de obsceno e degradante» (p. 78). Prossegue David Lewis:

«Para Vera, o pior aspecto do seu treino como 'andorinha' foi a maneira como lentamente se alterou a sua períonalídade. 'Eu sentia que isso mo estava a acontecer, embora me considerasse sem poder para o evitar. Nao era simplesmente o ter-me tornado menos inibida sobre o meu corpo ou o ato sexual, mas sentia-me cada vez mais fria e mais calculista. Já nao considerava importantes as relacóes humanas. Um homem era meramente «m alvo a ser rápidamente con quistado e trabalhado. Que abordagem será mais eficaz? Como se

portará ole na cama? Com que rapidez poderá ser seduzido? Estas eram as porguntas que automáticamente se punham ao meu espirito. Quando o nosso treino acabou, éramos ¡ovens duras, cínicas, sofisti cadas, capazes de dormir com qualquer homem heterossexual e der-Ihe o máximo prazer» (pp. 83s).

A historia ds Vera continua, segundo Lewis: «Deram a Vera um apartamento confortável, embora quando tomasse parta em operacóes habitualmente fixasse 'residencia' num dos mais luxuosos 'ninhos de andorinhas' do KGB. Durante algum tempo suportou de boa vontade o seu modo de vida, a troco dos luxos que isso Ihe trazia, mas gradualmente algumas dúvidas comecaram a pñr-se-lhe. As suas ligacoes com ocidentais proporcíonaram-lhe urna nova

— 288 —

«SEXO/ESPIONAGEM>

25

vis6o dos problemas mundiais. A principio ela desprezava as suos historias, considerando-as propaganda, mas pouco a pouco compreendeu que muito da sua educacáo no sentido de exagerar a miseria objeta e a total corrupcao do sistema capitalista, tinha sido falsa.

'Comecei a ficar doente com aquüo que tinha de fazer', disse-me Vera. 'Em 1963 seduzi un ¡ovem estudante francés cojo pai tinha urna posicao importante na industria mineira. Estova para casar com

urna jovem de familia muito aristocrática e o KGB sabia

que um

escándalo rompería o noivado. A principio, o rapaz nao estava nada

interessado em mim; amava a sua noiva profundamente e nao Ihe quería ser infiel. Mat eu usei todos os truques quo tinha aprendido até que comecou por acreditar em mim e acabou por me desejar. Fomos para a cama e tiraram as folografias. Disseram ao rapaz que as fotografías seriam enviadas á familia da noiva, se nao convencesse o pai a colaborar em certas informacóej comerciáis. Nao tinha a mínima idéia do que é que eles queriam. O rapaz disse que precisava de tempo para pensar no asrunto. Nessa mesma tarde, enquanto posseava pela Praca Vermelha, foi morto por um carro. Tal vez fosse um

acídente'. Vera arrepiou-se. 'Mas isso foi para mim o ponto de ruptura. Sabia que tinha de deixar aquele trabalho e isso significava deixar o país'. Tres meses mais tarde Vera conseguiu, utilizando as técnicas que tao cuidadosamente Ihe haviam ensinado em Verkhonoye, seduzir um coronel do KGB e convenceu-o a dar-lhe os documentos nece-sáríós

para urnas ferias na Alemanha Oriental. Daí passou para o Ocidente.

Teve vma sorte incrível em viver para contar a sua historia, pois poucas 'andorinhas' conseguem voar do ninho. Se o tentarem, as suas asas podem ser brutalmente cortadas» (p. 85).

«Vera foi urna excecSo, rara e afortunada, á regra. Quando urna 'andorinha' deixa o ninho, voa como Ihe ordena o KGB — ou nunca mais voará»

(p.

88).

Agora, a fim de mais ilustrar a incrível trama da sexespionagem, apresentamos ao leitor alguns casos mais salientes dentre aqueles que o jornalista relata:

4.

Casos de amostragem

1. Chama a atencáo o caso do asente KGB de nome Yuri Krothkov. Depois de ter conseguido envolver o embaixador da Franga em Moscou, Sr. Maurice Dejean, numa aven-

— 289 —

26

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 235/1979

tura de adulterio, que comprometía a sua carreira, Yuri Krotkov resolveu interessar-se pelo adido aeronáutico da Embaixada de Franca, Coronel Louis Guibaud.

Eis como o refere

David Lewis: cDepois de microfones escondidos terem revelado que o coronel e a mulher se davam mal, Yuri pos no caminho do francés olgumas

betas 'andorinhas'. Por fim, ele sucumbiu e foi para o apartamento de urna loura, sendo lá fotografado. Em 1962 o KGB decidiu puxar a linha e apanhar este peixe gordo. O coronel Guibaud foi convidado a ir ao quartel-general do KGB e mostraram-lhe as fotografías. 'Tem duas alternativas, coronel', disse o agente do KGB, som

bríamente. 'Colaborar conosco ou enfrentar o escándalo que ¡me diatamente se seguirá á nossa publicacáo deste material'.

Mas para o galante coronel havia urna terceira alternativa. Regressou á embaixada, pos os seus assuntos em ordem e depois deu um tiro na cabeco.

A morte de Guibaud obrigou Krotkov a tomar urna decisao que trazia no espirito havia algum tempo. O desprezo pelos sentimentos humanos e a manípulacáo cínica de homens e mulheres que cada ato de sexespionagem envolve, tinham feito parte da vida de Yuri Krotkov durante tantos anos que ele nunca se tinha interrogado seriamente acerca da moralidade do seu trabaIho. Urna vez que comecou a fazer

perguntas a si mesmo, as dúvidas foram-se avolumando. Senfindo-se culpado da morte do coronel Guibaud, Yuri sabia que ¡á nao podio frabalhar mais para o KGB. Mas nenhum homem ou mulher se afasia dos servicos secretos soviéticos, a menos que "eles* o queiram e per

mitan). Restava a Krotkov urna única opcao — a desercao» (p. 99). David Lewis, a seguir, mostra que o coronel Krotkov conseguiu realmente evadir-se (o que é raro e difícil) e, urna vez liberto, contou as suas experiencias no KGB. 2.

Dentre os «corvos», salienta-se Karl Helfmann, que

se pos a servigo da República da Alemanha Oriental (sovié

tica) para exercer sexespionagem na Alemanha Ocidental. Durante quase cinco anos, viajou por toda a Alemanha no seu carro, passando de escritorio a escritorio e de cama a

cama. Em dado momento de sua carreira de espiáo, manteve relagóes sexuais com mais de oito mulheres diferentes, espar-

sas por toda a Alemanha numa única semana. Helfmann dispunha de informantes loucamente apaixonadas: urna, no Mi— 290 —

<SEXO/ESPIONAGEM>

27

nistério do Exterior da Alemanha Ocidental, que Ihe fornecia segredos de Estado; outra no escritorio Wiesbaden da Divisáo de Pesquisas Científicas dos Estados Unidos, que Ihe passava segredos técnicos; outras, ainda, eram secretarias de olhos

brilhantes em fábricas de avióes, que o cativavam com por-

menores de novas descobertas industriáis; por fim, tinha urna admiradora no consorcio do acó Mannesmann, que Ihe dava informagóes secretas relativas a assuntos de economía e industria. '

Finalmente Helfmann caiu ñas garras do Servigo de Se

guranza da Alemanha Ocidental, nao se sabe propiciamente como... Cré-se que urna de suas companheiras de quarto

habituáis o viu numa praia do Mediterráneo com a sua última

amante e teve ciúmes. Urna chamada telefónica para o Ser vigo de Contra-espionagem foi a vinganga exercida por essa mulher. Helfmann nao fez qualquer tentativa para professar a sua inocencia; as provas contra ele eram demasiado evi dentes. O tribunal aplicou-lhe a sentenga de aproximadamente

cinco anos de trabalhos forgados. Quando foi levado ao acam

pamento onde cumpriria a sentenga, Helfmann observou que o celibato forcado Ihe daria finalmente possibilidade de tomar fólego. «Logo que seja libertado, tenciono casar outra vez», disse ele.

3. Em 1963 um estudante italiano de dezenove anoj de idade, filho de funcionario do Governo, visitou a Uniáo Sovié tica durante as ferias. Era um jovem bissexual, táo satisfeito por dormir com um belo rapaz como com urna atraente moga. O KGB pos nos seus caminhos um rapaz louro de dezesseis anos, com o qual o estudante teve repetidas relagdes sexuais; as cenas foram fotografadas de maneira «feliz» e comprometedora! Regressando á patria, o jovem passou a ocupar um cargo na política á altura de sua primorosa educacáo e formagáo e do nome de sua familia. O KGB já previra tal carreira. O rapaz entrou mesmo nos servidos diplomáticos e galgou rápi

damente os primeiros degraus. Quando tinha vinte e sete anos, estava bem casado e era pai de um menino. Foi entáo que o KGB resolveu exercer chantagem sobre a sua vitima, ameagando-a mediante as fotografías tiradas outrora na Rússia. O jovem viu-se exposto a tudo perder: carreira promissora, respeito da familia, mulher e filho... Ora, apesar de todos — 291 —

28

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

os riscos, o diplomata italiano recusou a chantagem. Contou as autoridades do seu país o que ocorrera; conseguiram mesmo que o assunto fosse discretamente abafado.

As ameagas fo-

ram afastadas e foi salvaguardado o futuro familiar e profisBional do jovem. Teve sorte. Outros, sem a sua coragem e a sua capacidade de influir, ter-se-iam tornado traidores da

patria em subserviéncia ao inimigo, a fim de evitar a provável ruina moral de sua pessoa.

4. O KGB nao teve éxito também no caso do presidente Sukarno, da Indonesia. Com efeito, gozando de fama de apre ciador de mulheres, o presidente parecia ser alvo fácil de urna armadilha sexual durante urna visita a Moscou. Urna serie de belas mulheres lhe eram apresentadas e acabavam geralmente no seu quarto, onde cámaras ocultas filmavam as ocor-

réncias. Perto do fim da sua visita, o presidente foi escoltado ao quartel-general do KGB, onde os filmes lhe foram exibidos como preludio da chantagem. O Dr. Sukarno ficava radiante á medida que as películas eram aposentadas. Quando o espetáculo acabou e as luzes se acenderam, perguntou aos funcio narios do KGB, estupefatos, se seria possível obter copias dos filmes para levá-las consigo e exibi-las publicamente na Indo nesia. Consta que tenha dito: «O meu povo terá orgulho a meu respeito!» Em suma, o livro inteiro de Lewis está cheio de exemplos que manifestam os requintes astuciosos da sexespionagem soviética e mesmo... nao soviética. Para concluir, dire mos aínda algo a respeito da aparelhagem técnica utilizada pelos Servicos Secretos do KGB.

5.

A aparelhagem técnica espía

A grande inovacáo em espionagem cletrónica apareccu nos últimos anos de sessenta, com o aperfeigoamento de cir cuitos eletrónicos da espessura de urna batata frita, construi dos em finas folhas de sílica, A principio esses circuitos eram dispendiosos e dificeis de se produzir, mas hoje podem fabricados em serie e a precos baixos (p. 186).

ser

Existem outrossim radiomicrofones de 2,5 mm de diáme

tro, que podem ser fixados no dorso de urna mosca.

As mos

cas levam esses dispositivos para salas de conferencias forte-

mente guardadas pela policía, passando pelas fechaduras ou

~ 292 —

«SEXO/ESPIONAGEM»

29

pelos sistemas de ventilacáo. Antes de ser enviada para a sua missáo, a mosca pode receber urna injegáo de gas, que a matará dentro de um periodo de tempo determinado. Assim, logo após atingir a área-objetivo, a mosca morre, possibilitando ao transmissor atuar sem ser prejudicado pelo zumbido das asas (p. 186).

Também os pombos sao utilizados para levar ao peitoril de determinada janela um radiotransmissor. Os animáis sao guiados até o quarto por meio de um raio Jaser dirigido á

janela apropriada. Depois de seguirem objetivamente o raio e pousarem no peitoril, os pombos acionam com o bico um botáo, que desprende o transmissor e póe em atividade o aparelho. Depois de cumprida a missáo, o pombo regressa á sua base (p. 186s).

Há também transmissores adaptados a falsos mamilos e presos ao tórax da (o) agente de espionagem. Nem mesmo o exame do respectivo corpo nu é capaz de descobrir o trans missor. Tal aparelho é engenhosamente alimentado pelo calor do corpo; parece ter o alcance de algumas dezenas de metros (p. 188).

Outro local utilizado para se esconder um transmissor é o interior de um dente falso (p. 188). Menciona-se também o transmissor vaginal, do tamanho de urna unha de polegar, que parece sor táo fácil de transmissor é adonado por

adaptar como o diafragma. O alteragóes químicas da vagina

durante a relagáo sexual, e dá inicio á rodagem da cámara (p.

192).

Os técnicos tém conseguido outrossim fabricar intensificadores de luz tais que é possível tirar fotografías á luz de um cigarro ou mesmo á luz das estrelas

(pp. 193 e

194).

Outros recursos poderiam ser ainda mencionados. Estes, porém, bastam para mostrar o extraordinario progresso da técnica no setor em pauta. Passemos agora a urna

6.

ConclusSo

Os fatos relatados por David Lewis podem ser tomados como espslho fiel da verdade. Sugerem serias reflexóes ao estudioso:

— 293 —

30

cPERGUNTE E RESPONDEREMOS> 235/1979

1) A sexespionagem supóe o trabalho esmerado das mais perspicazes inteligencias humanas a servigo da degradacio e do vilipendio da pessoa. Dir-se-ia algo de satánico ou diabó lico (o que nada tem a ver com possessáo diabólica), caso se entenda que Satanás é o anjo inteligente voltado requintada mente para o mal. Os campos de concentracáo, as lavagens de cránio (com sua ampia rede de recursos demolidores da pessoa) seriam feitos que também poderiamos chamar diabó licos no sentido enunciado. 2) Verifica-se que o Estado Soviético arroga a si as prerrogativas da própria Divindade. É algo de absoluto a que devem servir dócilmente os cidadáos, entregando-se mesmo á

prostituido sagrada dos cultos mitológicos pré-cristáos. Dir-se-ia que os extremos se tocam, como ensina o proverbial adagio; com efeito, redundam em semelhantes práticas o paganismo mitológico antigo e o ateísmo absolutista contem poráneo.

3) O ser humano é a grande vitima neste sáculo de conquistas materiais. Vem a ser reduzido ao papel de instru mento, do qual foram eliminados os sentimentos típicamente humanos. Menos vale, neste contexto, urna pessoa humana do que a perspectiva de conquistas materiais acariciada pelos Estados prepotentes de nossos días.

A inversáo de valores é flagrante. A pessoa humana vem a ser degradada e vilipendiada, de maneiras sorrateiras e hipócritas. 4) É oportuno que a opiniáo pública conhega tais fatos. Quem deseje refletir sobre o contexto mundial em que está inserido, há de levar em conta a desvalorizagáo total que a

pessoa humana vem sofrendo por parte de regimes poderosos, que ameagam alastrar-se cada vez mais. A guisa do bibliografía: BOUKOVSKY. WL. Urna nova doenca mental na URSS: a Oposito. Ed. Afrodita, Lisboa. MYAGKOV, A., Eu pertenel a KGB. Ed. Afrodita, Lisboa.

Processo «fas Vl.gont (2a. ed.),

Ed. Afrodlte, Lisboa.

26 anos na UniSo Soviética — notas do (6? ed.). Ed. Afrodite, Lisboa.

— 294 —

exilio do

Chico da Cul

'■*■" '

Urr»3 entrevista:

ainda o método billings

Em sinlese: Numa interessante entrevista, o Dr. John Billings e sua esposa propóem considerares de ordem fisiológica e técnica a respeito do método da ovulac.áo, próprio para favorecer a regulacSo dos nascimentos sem atentar contra a natureza. Além disto, professam determinada filosofia do amor e da vida conjugal, asseverando que o método da ovulacüo con tribuí para fortalecer a uniáo conjugal, aumentar a felicidade do casal e beneficiar a familia Inteira.



«

a

Comentario: O plañejamento familiar é tese aceita ou mesmo recomendada pelos pensadores católicos e pelo magis

terio da Igreja (cf. Const. «Gaudium et Spes» n» 50). Ape nas se discute a maneira de executá-lo, pois a limitagáo da prole (imposta por circunstancias freqüentes em nossos dias) é exeqüível através de diversos métodos, artificiáis uns, naturais outros. Ora a Igreja nao pode aceitar os processos que firam a natureza em seu modo próprio de agir, como sao as diversas formas de csterilizacáo, entre as quais estáo inclui das as intervencóes cirúrgicas e os anticoncepcionais. Dentre os métodos naturais, há um que, descoberto recentemente, vem merecendo a atencáo dos estudiosos pelas suas

qualidades de precisáo e eficiencia: é o método devido ao casal de médicos John J. Billings (neurologista e presidente

da World Organisation Ovulation Method Billings) e E. Lyn Billings, pediatra, ambos professores na Universidade de Mel-

bourne (Australia). A respeito deste método, PR já publicou um artigo em seu n' 199/1976, pp. 294-304. Visto que o assunto da limitagáo da prole vem constantemente á baila nos nossos dias, desejamos chamar a atengáo para o método Billings, trazendo-o de novo á consideragáo dos nossos leitores neste n" de PR. Para tanto, apresentaremos, a seguir, o texto de urna entrevista concedida pelo casal Billings ao jor

nal

«L'Osservatore Romano»

Antes do mais, porém,

em sua edigáo de 21/01/79.

importa sintetizar o que seja o

método Billings.

1.

Em que consiste o método ?

O método Billings ou da ovulacáo consiste em observar o muco (humor viscoso, mucoso) uterino que a mulher perde — 295 —

32

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

nos días em que pode ser fecundada ou no periodo da ovu-

lacáo. Tal observacáo pode ser realizada com relativa facilidade, pois a secregáo interna tem cor, densidade e elasticidade tais que se torna bem caracterizada. Nos dias em que a mulher verifique o derrame de secrecáo uterina por parte do seu organismo, deve abster-se de relacóes conjugáis. Fora destes dias, pode tranquilamente ter sua vida sexual legítima, sem perigo de conceber. Com efeito, quando nao há secregáo uterina (de composicáo química alcalina), o ambiente da vagina é ácido, de modo que os espermatozoides que lá penetrem, nao subsistem senáo meia-hora em vida; nao chegam, pois, a penetrar no útero. É a secrecáo uterina que propicia a passagem dos espermatozoides pelo coló do útero, de modo a poderem encontrar-se com o óvulo. O método tem sido apli cado com grande éxito, evidenciando ser seguro.

2.

A entrevista

«Repórter: Sr. e Sra. Billings, como chegaram ao método da evolucáo e sobre que principio se baseia ele ? Dr. Billings: Comecamos em 1952. Um sacerdote que assistia a um Centro de Consultas pró-Família pedira-me que o ajudasse. Dizia-me ele que alguns casáis lhe haviam solici tado ajuda no tocante ao controle dos nascimentos. Aceitei o convite com reticencias porque quase nada sabia a respeito dos métodos naturais. Mas pus-me a estudá-los e fiquei logo impressionado pelo tipo de pessoas que rccorriam a mim. Elas tinham, muitas vezes, problemas serios, que eu nunca me propusera; isto induziu-me a procurar urna solugáo que fosse

moralmente

aceitável.

Foi,

alias,

sempre nesie sentido

que

eu caminhei.

Estudei

o método

dos ritmos >, que era

o único entáo

conhecido, assim como os casos que se apresentavam como fracassos desse método. Compreendemos assim que de modo

nenhum se tratava de fracassos, mas, sim, de erros de entendimento e de aplicagáo; o método tinha sido mal compreendido e aplicado. Verificamos que, de outro lado, havia circuns1Também dito "de Oglno-Knaus" ou "da tabela". Procura calcular antecipadamenle, por via estatístlca, os dias em que a mulher é fecunda. O método, porém, é tido como falho, porque há organismos cujos ciclos ou ritmos menstruais sao Irregulares; em conseqüencia, nao poucas surpresas ocorrem na aplicacSo desse método.

— 296 —

AÍNDA O MÉTODO BILLJNGS

33

tandas ñas quais o método nao podía oferecer solucáo alguma. Em conseqüéncia, pusemo-nos a procurar um novo método; a leitura de obras científicas levou-nos a descobrir urna serie de informacóes sobre o muco cervical. Outros estudos sobre a temperatura interessavam á nossa pesquisa, mas foi o muco cervical que deteve, antes do mais, a nossa atenyáo porque as informagóes a propósito, ñas obras científicas, eram muito claras; desempenha papel de importancia capital na ovulacáo. Todas as nossas pesquisas desenvolve-

ram-se em laboratorio. Alguns ginecologistas colhiam amos tras de muco cervical e as levavam ao laboratorio. Falávamos com as mulheres que nos procuravam, a respeito dos síntomas

do muco colhido durante a sua menstruacáo.

Assim tenta

mos estabelecer os principios do método, método que o doutor Brown, vindo de Melbourne, pode comprovar científica

mente.

A ovulacáo é o ponto de chegada de um processo real mente muito complexo, no qual entram em jogo o cerebro, o hipotálamo, a hipcfise, os ovarios, que constituem um meca nismo delicado. Hoje em dia, há testes químicos que permitem avaliar os nívcis dos hormónios que concorrem para determinar o fenómeno da ovulacáo; por conseguinte, é possível prever o momento em que se há de produzir a ovulagáo. Existe no ciclo apenas um dia no qual ela se produz, mesmo ñas mulheres que tém ovulacáo múltipla. Examinamos cen tenas e centenas de mulheres no decorrer desses quinze últi mos anos, instituí ndo dosagens; e verificamos precisao e exatidáo extremas na observacáo do seu ciclo: as mulheres sao muito inteligentes.

Repórter: A encíclica «Humanae Vitae», da qual celebra

mos o décimo aniversario em 1978, suscitou problemas moráis a respeito da regulagáo dos nascimentos. Como o seu método responde a esses problemas?

Dr. Billings: No decorrer dos nossos trabalhos, tivemos a ocasiáo de conhecer as experiencias das pessoas que procuram resolver os problemas da regulagáo dos nascimentos mediante a contracep;áo (condons, diafragmas, pílula, DIU, etc.), e pudemos averiguar principalmente os efeitos nocivos desses instrumentos para a saúde da mulher e, muitas vezes, também para o casal; observamos outrossim a infidelidade que por vezes se segué á utilizagáo desses métodos por parte do ma rido ou da mulher. Acarretam desgaste do respeito mutuo, do amor e, por vezes, a desintegragáo do casamento. — 297 —

34

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

Quando Paulo VI, depois de ter estudado e orado, deu a conhecer ao mundo a sua encíclica, estávamos certos de que ai se achaya o ensinamento da Igreja. Sabíamos que Deus dera autoridade ao sucessor de Pedro para indicar aos homens de boa vontade o caminho certo, do ponto de vista moral,

para o controle dos nascimentos. Quando o Papa publicou «Humanae Vitae», enchemo-nos de alegría porque sempre acreditamos que tal era a decisáo certa, embora tivéssemos a consciéncia de que podíamos também enganar-nos e faltar

de sensibilidade. O magisterio da Igreja, desta forma, ajudou-nos a compreender plenamente a escolha á qual nos tinham levado os nossos estudos, as nossas pesquisas científi cas e a aplicagáo prática do nosso método.

-

O que Paulo VI afirmou em «Humanae Vitae» confirmou-

-nos em nossa tarefa e, principalmente, encorajou-nos a levar adiante a pesquisa científica, para que o método da ovulacao se torne sempre mais seguro e mais simples.

Entáo interessamo-nos pelos problemas dos países em vía de desenvolvimento. Estivemos na África, na India, no Paquistáo, em muitos outros países da Asia, do Pacífico e da América Latina. Em toda parte as pessoas compreendem o método e suas vantagens. Marido e mulher colaboram sem prejudicar a sua fertilidade; ficam abortos o. vida; o seu amor cresce e os faz amadurecer. E os beneficios nao sao colhidos apenas pelo casal que orienta com sabedoria sua fertilidade, mas também pelos filhos, por toda a familia, por toda a sociedade.

Repórter: Qual a eficacia do método da ovulagáo? E que

problemas as pessoas encontram na escolha e na aplicagáo do método? Dr. BUIings: Como so compreende, o primeiro problema é o de saber ensinar, de modo claro e simples, os principios do método, os síntomas que o caracterizan!, etc. Verificamos que todos aqueles que o quiseram aprender, foram capazes de compreendé-lo, qualquer que fosse o respectivo nivel social. Em Calcuta, por exemplo, mulheres analfabetas, que vivem na maior pobreza, compreendem logo o método e estáo dis postas a aplicá-lo.

Mesmo os maridos o aceitam bem. O método lhes agrada muito; mostram-se interessados pelas informagóes que recebem sobre o sistema genético da mulher. Acontece também que eles querem defender as suas esposas. Mencionemos outros— 298 —

aínda o método billings

35

sim os mugulmanos e todos os outros povos que encontramos. Desconcertados pelos males acarretados pelos métodos con traceptivos, aceitaram com entusiasmo o método natural de controle da fertilidade que lhes era proposto. O método da ovulasáo promove um comportamento moralmente sadio, desenvolve as virtudes que suscitam seguranoa e felicidade aó casal, e abre os cónjuges para um amor auténtico e generoso. No tocante a seguranca do método, podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que merece grande confianga. Se o esposo e a esposa colaboram para seguir os principios respec

tivos, essa confianga aproxima-se muito da que as pessoas tém na contracepgáo e na esterilizagáo. A experiencia mos-

trou que o percentual de casos de gravidez é de 1,5% mesmo

ou

menos.

Repórter: por que os casáis escolhem tal método? Dr. Billings: Hoje os jovens se interessam muito pelo pro blema da poluigáo e tém consciéncia de que outros métodos contraceptivos nao sao, na verdade, mais do que urna «poluigáo da pessoa». Por conseguinte, estáo dispostos a aceitar o que seja plenamente natural, como se dá no caso de nosso método. Nao se trata

sempre de urna questáo

de religiáo. As

vezes a cscolha dos jovens é inspirada pela sua filosofía de vida: elos querem encontrar solugóes naturais para os seus problemas.

Julgamos qus é este um dos motivos principáis da aceitagáo do método, sem considerar, naturalmente, as motivagóes religiosas que orientam os casáis cristáos.

Quando os esposos comegam a utilizar o método partilhando as responsabilidades das suas relagóes conjugáis, re sulta para eles urna nova consciéncia. Parece que a sua uniáo se fortalece, atingem urna felicidade mais perfeita. isto que aspiram todos, nao somente os católicos».

3.

Ora é a

Comentando...

A entrevista do Dr. Billings, além de indicares de ordem fisiológica e técnica, apresenta também urna determinada filo

sofía do amor e da vida conjugal. Assevera, entre outras coi sas, que o uso do método da ovulacáo e, por consegrante, a continencia periódica contribuem para fortalecer a uniáo con

jugal, aumentar a felicidade do casal e beneficiar a familia inteira.

— 299 —

36

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

Ora precisamente esta afirmagáo é impugnada por certas correntes contemporáneas. Dizem que a continencia perió dica, por mais bem estruturada que seja, é antinatural, por que priva das relacóes sexuais, quando muitas vezes o amor é mais intenso. Ela enquadra o amor dentro do calendario e assim ameaga a estabilidade conjugal.

Vamos, pois, refletir sobre táo grave dificuidade levan tada contra a continencia periódica. Observemos que tal objegáo supóe um conceito de amor que é parcial ou unilateral; esse conceito tende a identificar amor e sexo, ou mesmo a reduzir o amor ao ato de cópula. Na verdade, o amor, antes de ser relacionamento sexual, é procura efetiva do bem de outrem e exprime-se através de varias formas de atencáo, aprego, delicadeza... nao direta-

mente ligadas ao amplexo sexual. A continencia periódica é precisamente o teste que comprova, ou nao, a existencia do auténtico amor, que é, ao mesmo tempo, espiritual e sensivel. Os esposos que sabem abster-se de relacóes sexuais porque abragam o mesmo ideal ou porque um quer bem ao outro e nao lhe quer ser molesto ou importuno, mostram (precisa mente pela sua continencia) que tém o mais profundo e puro amor um ao outro. Quando um casal ou um dos cónjuges chega a dizer: «Ou tudo ou nada!», isto é: «Ou relagóes

sexuais ou nenhum relacionamento conjugal!», evidencia-se que o amor desse casal ou desse cónjuge é falso em si mesmo

e em suas expressóes; é antes instinto do que valor típica mente humano.

O sexo, no ser humano, vem a ser expressáo ou sinal do amor; por conseguinte, tem que pairar ácima dos instintos

ou dos impulsos meramente libidinais, numa conduta de domi nio e subordinagáo dos sentidos á razáo e ao ideal.

No ser

humano o sexo está a servido do amor e transmite o amor que o homem c a mulher concebem consciente e livremente em vista da construgáo de urna meta que ultrapassa os parti cularismos de um e outro.

Note-se outrossim que a continencia periódica consiste em fazer uso natural de fenómenos naturais. É isto que a toma especialmente sadia tanto do ponto de vista físico como do ponto do vista moral. A natureza é sabia, como se diz proverbialmente; respeitá-la é desenvolver as chances que ela por si mesma oferece ao homem, é certamente penhor de engrandecimento e nobreza da pessoa humana. — 300 —

No mundo do sensacional:

"as profecías do papa joao XXIII"

Em sintese: O livro "As profecías do Papa JoSo XXIII" do jornallsta Italiano Pier Carpí atribuí ao Papa Joao XXIII vaticinios que ele teria redigido em 1935, quando Delegado Apostólico na Turquía. Nessa mesma data

o arcebispo Angelo Roncalli terá sido recebido em urna Sociedade mística

secreta, que, como se depreende da narracio de Carpí, deve ter sido a Ordem Rosa-Cruz.

Ora a tese de que Angelo Roncalli tenha sido rosacruciano ou mem-

bro de Sociedade secreta ó fantaslsta e arbitrarla. As sociedades secretas ou esotéricas professam, a respelto de Deus e do homem, nocfles que nao se coadunam absolutamente com as concepcSes cristas, que Angelo Ron

calli professou a vida intelra. Ademáis o teor de tais profecías é vago e obscuro, podendo ser interpretado de varias maneiras.

O livro, portanto, vem a ser a expressSo da tendencia que multas Sociedades secretas alimenlam, de enumerar entre os seus membros pessoas de grande projecáo. Da obra em pauta, porém, nada de serio se pode deduzlr.

Comentario: Já saiu em segunda edigáo o livro «As pro fecías do Papa Joáo XXIII» (Ed. Difel, Sao Paulo 1977). Como todo livro que anuncia revelagóes, também este tem atraído e empolgado o público, sempre sequioso de conhecer o que está oculto, seja presente, seja futuro. Visto que esse livro cnvolve a personalidade do famoso Papa Joáo XXIII, propomo-nos analisá-lo e tecer-lhe alguns comentarios.

1.

O livro de Pier Carpi

Pier Carpí apresenta-se como jornalista italiano católico, que certo dia foi visitado por um anciáo misterioso. Este lhe falou dos grandes mestres do ocultismo como Alessandro Caglíostro (conde), Louís-Claude de Saint-Martin, Saint-Gormain, Christian Rosenkreutz... e finalmente também lhe

revelou que o Papa Joáo XXIII em 1935, quando era Delegado Apostólico na Turquía e na Grecia, foi recebido numa Sode._ 301 —

38

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 235/1979

dade esotérica (a quanto parece,

esta seria a Ordem Rosa*

-Cruz) 1. De ¡mediato, entáo, éscreveu urna serie de profecías, que se estendiam até 2033. O manuscrito dessas profecías estava em poder do anciáo, que houve por bem revelar parte délas ao jornalista Pier Carpi. Este as copiou e, finalmente, resolveu publicá-las com urna tentativa de interpretagáo,... tentativa que, como o próprio autor confessa, nem sempre consegue desvendar a linguagem obscura e simbolista do texto das profecías.

O livro de Pier Carpi, portanto, apresenta um esbogo biográfico de Angelo Roncalli (Papa Joáo XXIII); narra como

foi iniciado no ocultismo e refere os dizeres proféticos do Papa com os comentarios do editor Carpi.

A guisa de espécimen, ou seja, para facilitar a apreciacáo do leitor, transcrevemos, a seguir, um trecho das profecías de Joáo «O atormentado eleito nos tormentos, Pai viúvo cujos segredos María conhece. Calar-se-á por fé.

Pagas aínda o soldó de París. Nao aceitar a tentando do Pan teón, dos seus morios e dos seus vivos.

Viajando, te deíxarás no trono a ti mesmo. Nao te poderos le vantar mais, afrontarás os povos. Nao te compreenderáo, eles fe afron-

tarao. E tu te calarás. Pastagens inteiras sao queimadas, calas se matam teus pastores.

Babilonia tcm línguas demais. Quebraste a corrente, tu o sabes, sabé-lo-ás até a morte. Línguas diversas para o sacramento, linguas i Distingamos entre esotérico e exotérico.

Esotérico é o enslnamento reservado a poucos ou a Iniciados. Fica sendo secreto. Em materia de religiSo, o esoterismo é panteísta, ou seja, admite a Identidade entre Deus, o mundo e o homem. — Sociedade eso térica, portanto, é a que se fecha ao público e so admite pessoas seletas. Exotérico é o enslnamento transmitido ao grande público por vía clara e acessivel, ao contrario do que se dá com o esoterismo, que usa de linguagem obscura ou hermética (= fechada). — Sociedade exotóiica, portanto, é a que se abre aos interessados e propóe as suas doutrinas sem restrlcáo.

Esotérico vem do grego els = para dentro, ao passo que exotérico se

deriva da partícula grega ex = para fora.

— 302 —


39

diversas para a polavra. Hoje está extraviada. Tolheste o exorcismo ao sacramento e viste o vulto de Sata. Falar nao basta. Tu que vens das névoas serás ferido.

Nao soubeste escolher, admoestar, ousar, suplicar. Viste dema siado, nao quiseste relatar. A lgre¡a treme e tuas cartas abalam-na inútilmente.

Os melhores filhos vao-se, fazem-se servos do mal a que cha mamos bem. E quantos se restringem a ti sao esquecidos. Terás um dia de paz, um único. Depois te deverás entregar ao pacto. As névoas» (p. 85).

Segundo Carpi, «a profecía, muito obscura, refere-se a Paulo VI (sucessor de Joáo XXIII). O profeta emprega linguagem dura, cheia de piedade, amargas contestagóes, incita

mentos, até resignacáo.

O Papa é definido viúvo»

(p. 85).

Eis outra secano típica: «Grande lampejo no Oriente. Nao Ihe ouvis o estrondo, também isso será inesperado.

Isto ocorrerá quando no Oriente perecer um chefe e no Ocidente for assas:inado um chefe. Ao sul de Lutero. Rejeirai os assassinos que se apresentarem, rejeitai os que vierom apresentados. Os assas:inos estáo na Europa. Querem o Mediter ráneo. Depois haverá o delito sem assassinos.

O lempo incubou urna mente turva, á sombra da cruz rubra e negra, dcsconhecida de todos, filha dos foragidos de Nuremberg. Erra ordenou o delito sobre si própria. Há quem renuncia á vida, por amor do mal.

A térra desfolhará o massacre. Um morrerá por todos e será o melhor.

Nao é tempo de reis, jamáis o foi. Desde a morte de Frederico, todo reí é usurpador. Que se vá o rei, fiquem os povos. A Europa possui seré, haverá sangue ñas estradas.

— 303 —

40

tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

Mas também grandes procissoes e a Beatificada Vírgem des cera a t«rra. Nao a veréis na gruta, mas num coracáo que reviverá. Trará das trevas urna palavra que todos compreenderSo.

£ lempo das cartas» (p. 128).

cías

Como se vé, é assaz complexo e difícil o texto das profe (neste ponto, lembra as «Centurias» de Nostradamus;

cf. PR 217/1978, pp. 22-35). Por isto as Profecías de Joáo

XXHI poderáo ser sempre interpretadas de mais de urna maneira. Em conseqüéncia, poderáo ser sempre adaptadas ao esquema que o intérprete desejar (consciente ou inconsciente mente) adotar. Alias, o próprio Pier Carpi reconhece que o texto é obscuro em mais de urna oportunidade; cf. pp. 67. 72. 75. 18. 82.'

O exame do livro nos sugere, de ¡mediato, a pergunta:

2.

Que dizer ?

Evidentemente, um leitor que conhega um pouco de Cris tianismo, poderá reconhecer ¡mediatamente que as «profecías» de Joáo XXIII nao sao mais do que um produto da livre

imaginacáo, destituido de qualquer valor profético ou doutrinário propriamente dito. Para faremos quatro ponderacóes:

1)

fundamentar esta sentenca,

É de todo ilusorio julgar que Angelo Roncalli tenha

sido um iniciado no esoterismo e membro de alguma Sociedade secreta, como seria, por exemplo, a Rosa-Cruz. Com efeito, o esoterismo professa um conceito de Deus radical

mente diverso do conceito cristáo. Sim; os esotéricos afirmam

1 "O restante da profecía é difícil de Interpretar... Interessante, mesmo embora eu nSo tenha conseguido decifrá-lo, é tudo o que se diz sobre a eleicSo de um louco como santo, considerado pelo profeta um grande erro, contudo destinado a permanecer secreto nos séculos" (p. 78s). "NSo consigo definir com preclsfio a profecía seguinte" (p, 72). "NSo

(p. 75).

consigo

entender a

meló

a

estatua,

o

que

pode

significar"

"Teda a primelra parte da profecia diz respelto a um santo desconhecido, do quem ninguém nunca sabara coisa alguma... Sua rnorto colncldlu com atos vandálicos, com atos de terror que nao consigo unir por absoluta taita da referencias" (p. 82).

_ 304 —

«AS PROFECÍAS DE JOAO XXIIIf

41

que Deus nao criou o mundo a partir do nada, mas fé-Io ema nar de si. Com outras palavras: o mundo procede de Deus por etapas; antes do mais, emana a substancia primordial, que, por lenta evolucáo ou sucessivas emanagóes, se vai trans formando ñas diversas criaturas visíveis ou corpóreas até chegar as Ínfimas ou menos significativas. Quanto aos espi rites, também procedem de Deus por emanagáo, sob a forma de mónadas, as quais se manifestam através da materia. Esta concepgáo redunda em panteísmo, embora os esotéricos recusem esta conclusáo e o vocábulo «panteísmo». O emana-

tismo esotérico reduz a Divindade a um ser volúvel, finito e contingente, do qual nao se pode dizer que seja Absoluto (como querem os esotéricos).

Ao contrario, o Cristianismo é monoteísta; admite um só Deus distinto do mundo e do homem, de tal modo que nao há transigáo entre Deus e o mundo. Para salvaguardar a trans cendencia e o Absoluto de Deus, o Cristianismo afirma qie o mundo é criatura de Deus, produzido a partir do nada, ou seja, sem materia preexistente e sem ondulagóes da substan cia divina. Deus está presente a todas as criaturas por sua agáo criadora e conservadora, mas jamáis entra na composigáo de alguma criatura como parte integrante ou substrato da respectiva substancia.

Esta diferenga básica no conceito de Deus faz que um cristáo jamáis possa tornar-se esotérico sem deixar de ser cristáo, e vice-versa. Ora Angelo Roncalli foi auténticamente cristáo, como manifestam todos os seus escritos. 2) A tese de que haja verdades a ser mantidas em segrcdo para as multidóes e reveladas apenas aos iniciados, nao é crista. Com outras palavras: o Cristianismo nao dis tingue «verdades para o vulgo» (exotéricas) e «verdades para

as

élites»

(esotéricas).

Isto seria totalmente contrario

as

intengóes de Cristo, que disse aos seus apostólos; «Nada há de encoberto que nao venho a ser descoberro, nem de oculto que nao venha a ser revelado. O que vos digo as escuras,

dizei-o á luz do día; o que vos é dito aos ouvidos, proclama¡-o sobre os telhados» (Mt 10, 26s).

Com estas palavras, Jesús mandava aos seus discípulos proclamassem destemidamcnte tudo o que o Mestre transmi— 305 —

42

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 235/1979

tira ao grupo restrito dos seus apostólos e ¡mediatos segui dores.

Por isto toda tentativa de identificar o Cristianismo com elitismo doutrinário ou gnóstico fere o ámago da mensagem crista. Hoje em dia mais do que nunca, os pastores da Igreja apregoam a necessidade de que todos os fiéis católicos se instruam nas verdades da fé ou estudem teología (nao há dúvida, o estudo aprofundado da teología nem sempre foi cultivado pelos fiéis, por motivos contingentes, mas nao porque houvesse verdades proibidas ou inacess:veis aos fiéis leigos).

Vé-se, pois, que sao incompatíveis entre si o esoterismo (que é essencialmente reservado aos iniciados) e o Catolicismo. 3) O fato de que o ocultismo queira enumerar Angelo Roncalli ou o Papa Joáo XXIII entre os seus grandes adep tos nao nos surpreende. Na verdade, o ocultismo quer-se apresentar como sendo a filosofía de muitos dos grandes

vultos da historia e do saber, como certos faraós, Pitágoras, Sócrates, Platáo, Moisés, Salomáo, Jesús Cristo, Descartes, Leibnitz, etc... Joáo XXIII teria que estar naturalmente nessa lista. A título de ilustragáo, transcrevemos aqui um anuncio publicitario da Ordem Rosa-Cruz: «Cresce no Recife o moviinento da antiga e mística Ordem Rosacruz, que leve sua ori.gem no Egito durante o reinado de Amenhotep

IV no ano 1350 a.C. Isto é o que relalam os documentos rosacruzes, que afirmam também ter a sociedade nascido como escola de misterio, de sabedoria secreta e reunido desde aquela época até nossos días pessoa; interessadas em obter conhecimentos esotéricos. Inicialmente a Ordem restríngiu-se ao Egito, mas, com o passar dos tempos, espalhou-se por todo o Oriente, attngtndo a Europa na Idade Media. Em 1964 chegaram os prímeiros rosacruzes á América do Norte, mais específicamente a Filadélfia, onde foi criado um núcleo da Ordem. Dal á América do Su I foi apenas um passo» («Dia rio de Pernambuco», 19/11/78, seceáo C, p. 1).

Talvez o fato de que Joáo XXIII se tenha mostrado aberto á vida moderna e fautor do ecumenismo (sem, porém, cair no relativismo), deve ter inspirado aos mestres esotéricos

o desejo de inclui-ío na lista dos grandes «iniciados».

4) O homem contemporáneo, maltratado pela inclemen cia da historia recente, senté especial necessidade de conhecer — 306 —

¿AS PROFECÍAS DE JOAO XXIIJb

43

o futwo, na expectativa de que traga em breve o fim do mundo ou o fim da época má que atravessamos. É o que explica o pulular de «profecías» em nossos tempos; além de Nostradamus, Malaquias e outras, também as de Joáo XXIII

atenderiam a esse anseio.

Verdade é que as «profecías» de

Joáo XXIII publicadas por Pier Caipi nao prevéem dias meihores..., mas também é verdade que, segundo o editor, ape nas 20% das predicóes contidas na pasta do velho visitante foram reveladas a Pier Carpi. Como quer que seja, nao há quem nao experimente o desejo de desvendar as incógnitas do futuro... Em conseqüéncia, alguns chegam a criar fantasiosamente as respostas que julgam poder atribuir a um órgáo celeste para satisfazer

aos seus anseios. É o que terá acontecido a Pier Carpi ou aqueles que Ihe forneceram o texto das «profecías» de Joáo XXIII.

É oportuno aínda dizer algo sobre a Ordem Rosa-Cruz, a que repetidamente alude o livro em pauta.

3.

E a Rosa-Cruz ?

A origen) da Rosa-Cruz está numa estória propalada no séc. XVII por um teólogo luterano aiemáo chamado Johannes Valentín Andreae (1586-1654). Com efeito.

Em 1610 apareceu na Alemanha um manus

crito intitulado «Fama Fraternitatis Rosae Crucis», de autor anónimo, que em 1614 o mandou imprimir na cidade de Cassel. Em 1615 saiu a quarta edicáo desse livro, juntamente com outra obra do mesmo escritor anónimo: «Confessio Fralernitatis Rosae Crucis ad eruditos Europae». Em 1616, apa receu «Die Chymische Hochzeit Christiani Rosenkreutz» aínda do mesmo autor anónimo. Estes livros de modo geral propunham a renovacáo da Igreja, do Estado e da sociedade mediante um grupo de pessoas de escol perYacentes 'á «Fraternidade Rosa-Cruz». Esta, conforme o autor, haveria sido fundada por Christian Rosen kreutz, que teña dado o seu próprio nome á Fraternidade (Rosenkreutz, em

aiemáo,

significa

Rosa-Cruz).

do fundador narrava o autor anónimo o seguinte: — 307 —

A respeka

44

jPERGUNTE E RESPONDEREMOS rel="nofollow"> 235/1979

Christian Rosenkreutz nasceu na Alemanha em 1378. Fez os seus primeiros estudos num mosteiro, onde aprendeu o latim e o grego. Aos 16 anos de idade, terá comecado a viajar pelo Oriente e pelo Egito, onde travou relagóes com os maiores sabios e magos da época. De volta á sua térra natal, reuniu sete companheiros para fundar com eles a Fraternidade Rosa-Cruz; os membros desta procurariam, me diante viagens ao Oriente, imbuir-se da sabedoria dos antigos, que eles trariam para a sua sede na Europa. A Sociedade assim constituida ficaria sendo secreta. Christian Rosenkreutz faleceu em 1484, com 106 anos de idade (longevo por causa do elixir da longa vida, que ele descobrira). Morreu no fundo de urna caverna, onde passara os últimos anos de vida. Transformada em sepultura, essa mansáo devia permanecer ignorada até 1604, data prevista por Rosenkreutz para se manifestar ao público. Foi entáo que a Fraternidade comecou a ser divulgada mediante a difusáo do escrito «Fama Fraternitatis», que circulou ampiamente de máos em máos, com um convite para que as pessoas iluminadas entrassem na Fraternidade.

Essas noticias e a exorta?áo anexa encontraran! profunda ressonáncia na sociedade européia do scc. XVII, que muito se interessava por assuntos esotéricos, mágicos e misteriosos. Muitos alquimistas e «místicos» puseram-se a procurar alguma sede da «Rosa-Cruz» para nela ingressar. Todavía ninguém

encontrava núcleo algum da mesma. Em conseqüéncia, os admiradores mais habéis tentaram organizar eles mesmos, e segundo os padrees indicados ñas citadas obras anónimas, So ciedades secretas ditas «de Rosa-Cruz».

Enquanto os acontecimentos assim se precipitavam, Johannes Valentín Andreae resolveu declarar que o autor dos escri tos sobre a Rosa-Cruz era ele mesmo ; explicou ao público

que, dessa forma, tencionara ridicularizar a manía do mara-

vilhoso e o alquimismo ocultista, que caracterizavam os homens de seu tempo. Nao lhe deram crédito, porém, de modo que a Alemanha e, depois, a Franca se viram recobertas por

urna onda de escritos referentes á Rosa-Cruz.

Em 1632 foi

afixado em París um Manifestó que anunciava a chegada dos rosacrucianos, «salvadores do mundo». O bibliógrafo fran cés Gabriel Naudé (1600-1653) escreveu contra a Rosa-Cruz — 308 —

o livro «Itistruction á la France sur la vérité de l'histoire de

la Rose-Croix»; mas nao conseguiu deter a propagagáo desta.

Táo

rápida difusáo deve-se ao

cunho maravilhoso das

promessas e dos recursos apresentados pelos escritos rosacru-

cianos: a alquimia, a cabala, a ciencia dos números eram apli cadas á descoberta dos segredos da natureza. Os rosacrucianos esperavam conseguir facuidades sobrenaturais que os isentassem das necessidades dos homens em geral; nao sentiriam nem fome nem sede, nem enfermidade nem velhice; reconheceriam o intimo dos homens — o que lhes permitiría recusar a pessoas indignas a entrada ñas suas Fraternidades.

No séc. XVIII deu-se o apelativo de «Rosa-Cruz» a todos

os grupos de «iluminados» que afirmavam ter relagóes secre tas com o mundo invisível. A própria Maconaria adotou o

titulo de «Cavaleiro Rosa-Cruz» para o 18» grau do Rito Escocés e Antigo, para o 12' grau do Rito Adonhiramita e para o 17' grau do Rito Moderno ou Francés. Isto, porém, nao significa que entre a Magonaria e a Rosa-Cruz haja algum vinculo jurídico.

Como se compreende, a Rosa-Cruz assim constituida está baseada sobre um conjunto de ilusóes; sustenta-se e propaga-se

na base de divagagóes fantasistas, encontrando seu poder sedutor ñas promessas de «maravilhas» e «faculdades extraornárias» que ela propóe aos seus candidatos.

Ver a propósito:

ALGERMISSEN, K., Rosenkreuzer, in Lexikon für Theologie und Klrche, Bd. 9. Frelburg i./Br. 1964, cois. 49s.

CRISTIANI, L, Rosacroce, In Enciclopedia Cattolica, t. X. Cittá del Vaticano, cois. 1343s.

KLOPPENBURG, B., O Rosacrucianismo no Brasil. Colecáo Vozes em Defesa da Fé n? 10. Petrópolis 1959. PR 183/1975, pp. 103-115.

Estévao Bettencourt

OS B.

livros

em

estante

Arte para a fé. Igrejas e cápelas depois do Concillo Vattcano II, por Mons. Guilherme Schubert. Publicacoes CID. Pastoral/5. — Ed. Vozes, Petrópolis 1979, 158 x 230 mm, 194 pp. de texto e 61 pp. de ilustracdes. Eis um livro que, de há muito, era desejado. A piedade crista tem erguido seus templos sagrados, todavía nem sempre de acordó com as

genufnas normas do espirito litúrgico. A casa de Deus é, antes do mais,

o lugar de encontró dos fiéis para a celebracáo da S. Eucaristía, centro da Liturgia- é preciso, pois, que todo arquiteto, decorador, sacerdote e fiel cristáo conheca exatamente as linhas inspiradoras da arte sacra ató os

seus últimos pormenores. É em atencao a esta Importante tarefa que Mons. Guilherme Schubert, benemérito por longa carrelra de mestre e artista,

apresenta ao público o livro em pauta. O autor prop&e, antes do mais,

alquns principios fundamentáis da arte sacra (conceito de igreja, oportu-

nidade de construí-la, varios tipos de igrejas...); depois, focaliza o templo sagrado ccm as suas diversas dependencias, seu mobiliario e suas alfalas, levando em conta nao so a funcionalidade, mas também a fidelidade ás dimensóes da fé que os devem caracterizar. Em sua terceira parte, o livro considera questdes especiáis, como as de conservacáo do patrimonio hls-

tórico-artístico. O caderno Iconográfico, colocado em apéndice ao texto, é rico em fotografías das mais belas realizacñes da arte sacra contempo ránea.

Só podemos aplaudir a obra de Mons. Schubert e desejar-lhe produza copiosos frutos para a arte religiosa e para o gáudio da nossa popu-

lacáo Nao pederíamos, alias, deixar de notar que o texto assim publicado

corresponde a prelecóes ministradas pelo autor na Faculdade de Arqu.tetura

e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. prelegoes que¡os

mestres daquela Universidade pedlram fossem editadas sob forma de livro, a fim de servirem ao grande público.

Cilacáo e Mito. Homem e mundo segundo os capítulos Iniciáis do

(Génesis, por Oswald Loretz. Traducáo de José Améríco de Ass.s Coubnho Colecáo "Biblioteca de Estudos Bíblicos" 6. - Ed. Paulinas. Sao Paulo 1979, 145 x 210 mm, 169 pp.

A temática sobre a qual versa o presente livro. é de grande atualidade.

O autor écSoe intenciona abordar Génesis 1-3 do ponto de vista mera

mentecienWco (histórico, literario, arqueológico...): para ele esta seccao blbMca ó nsplrada por mentalidade mítica, isto é. por mental.dade que exoNme grandeverdades- filosóficas e teológicas através de Imagens Cortamente Loretz conhece bem as literaturas antigás e os comentadores modernos das mesmas, fornecendo assim material de arande uti Idade

para o teólogo. Este deverá levar em conta os dados do livro de Loretz

l»m de naoT atribuir ao texto bíblico o que este nao quer
se relaclonam dlretamente com passagens do texto bíblico que Mm sido objeto da especial consideragflo por parte do magisterio da igreja. -

Em suma o lívro de Loretz nao pretende apresentar conclusSes defi

nitivas mas apenas provocar o re-estudo e o debate das questoes atinen

tes á antropología bíblica. Destina-se a especialistas que

possam com-

preender a linguagem técnica do autor e os matizes das suas posees. E.

B.

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