Ano Xx - No. 234 - Junho De 1979

  • Uploaded by: Apostolado Veritatis Splendor
  • 0
  • 0
  • April 2020
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View Ano Xx - No. 234 - Junho De 1979 as PDF for free.

More details

  • Words: 16,188
  • Pages: 50
Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoríam)

APRESErsTTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15). Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda queslóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de

vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabal no

assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo. A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

Sumario N..

"DEUS EM ASCENSAO"

221

Canal de Beagle:

A SANTA SÉ ENTRE A ARGENTINA E O CHILE

223

Enciclopédico o claro:

O DOCUMENTO DE PUEBLA

232

ApSndlce: A alocu?áo de Jo3o Paulo II aos 21/02/79

261

Notável testemunho:

A ENCÍCLICA "REDEMPTOR HOMINIS"

263

LIVROS EM ESTANTE

3a capa

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

NO

PRÓXIMO

NÚMERO:

«Sexo/espionagem» de David Lewis. — «Coisas da vida». «As profecías do Papa Jooo XXIII» por Píer Carpí. Ainda o Mé

todo Billings.

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Número avulso de qualquer mes

Cr$

18,00

Assinatura anual

Cr$

180,00

Direcab e Reda$áo de Estéváo Bettencourt O.S.B. ADMINISTBACAO

Livraria Mlssionária Editora Búa México, 168-B (Castelo)

redacao DE nv pb REDAgAO PR

20.031 Rio de Janeiro (RJ)

Caixa Postal 2.686

Tel.: 224-0059

20.000 Rio de Janeiro (RJ)

CENT

"DEUS EM ASCENSÁO"

%* ZTLÜ&JS**" I!*»». recemWe

dois artigos de jornalistas italianos — Umberto *we-^*>Cto yanni María Pace — que mostram e documentara a volta dos filósofos e dentistas para Deus nos tempos atuais. Nao há

duvida, o estilo dos articulistas é de crónica para o grande publico, mas nem por isto deixa de ser significativo. * Umberto Eco propóe a tese de que o senso do sacro é mato em toda criatura humana. As suas expressóes podem

variar, mas, como tal, ele atravessa os sáculos e as revolu-

goes culturáis. O homem de hoje, mesmo quando professa o ateísmo, exprime-se segundo modalidades que sao caracte rísticas do pensamento religioso. Com efeito, os adeptos do

marxismo

ateu, por

exemplo, professam

um

messianismo

libertador, que renovará a sociedade, abolindo toda injusaca

e acarretando o surto do homem novo (nao se pode esquecer

alias, que Marx foi judeu e reproduziu em termos leigos a expectativa messiánica do judaismo, vendo no proletariado sacrificado em prol da justiga o Messias dos nossos tempos). Enquanto os jomáis, de um lado, noticiam que a sociedade se toma cada vez mais arreligiosa, de outro lado, divulgam

o aparecimento de correntes e grupos místicos das mais diver sas tendencias (oriental, milenarista, apocalíptica...). A crise das ideologías totalitarias (marxismo russo, maoísmo

chinés, nacional-socialismo...) e, de modo especial, a reconciliagáo da China com os Estados Unidos tém decepcionado os que professavam irrestritamente a mística do comunismo e a onipoténcia do Partido, fazendo que se voltem para o Transcendental; com efeito, nenhuma das potencias mera mente humanas se mostra suficiente para preencher as gran des e incoercíveis aspiragóes que todo ser humano traz em

seu intimo.

Giovanni María Pace detém-se mais sobre o senso reli gioso dos estudiosos das ciencias naturais. Após o divorcio proclamado entre a ciencia e a fé na época moderna e, de modo particular, no sáculo passado (com as teorías evolucio

nistas e mecanicistas de Darwin), os cientistas retornam

espontáneamente para Deus, guiados pela evidencia mesma das conclusoes a que váo chegando. «O fato é patente no mundo anglo-saxónico, especialmente na Inglaterra, onde urna estatística informa que em dez cientistas oito seguem urna fé religiosa». Mas nao somente entre os anglo-saxónicos isto ocorre: na Universidade de Miláo, o prof. Felice Mon-

della ministra um curso intitulado «Aspectos Filosóficos do » Cf. ISTO t, 18/4/1979, pp. 58-62.

— 221 —

Problema Mente-Cerebro»; em suas aulas o professor tem

repetido a palavra «alma»; ele se apressa em esclarecer «É

urna coincidencia». Mas é urna coincidencia significativa! Um dos fatores que tém levado os estudiosos a reconhe-

cer a presenta de Deus no mundo, é a realidade do uni verso. ... Verifica-se que este nao é estático (nem sempre

existiu e nem sempre existirá). Já em 1913 um astrónomo do

Observatorio Lowell, nos Estados Unidos, descobriu galaxias

que se afastavam da Térra á veiocidade de miihóes de quilometros por hora. Na mesma época, outro astrónomo, Edwin Hubble, fortalecía a tese de um universo em expansáo, e

Albert Einstein elaborava a teoría da constante ampliagáo das fronteiras do cosmos. Ora, raciocinaram os novos cosmó logos, se o universo se dilata, ele o faz a partir de um mo mento inicial, o big bang (a grande explosáo), da qual se originaram a materia em expansáo, com as categorías de

espago e de tempo. A prova definitiva do big bang foi obtida em 1965, com a descoberta da radiagáo existente em todo o universo,... radiagáo que é tida como o residuo ou o eco da tremenda explosáo inicial. Assim a nogáo de Deus Criador do mundo, professada pelas Escrituras, se esboga no horizonte dos astrónomos: «Os cientistas escalaram montanhas da igno rancia, conquistaram os cumes mais altos e, quando finalmente se debrucaram sobre o último pico, encontraram sentados lá em cima um bando de teólogos»

(p. 62).

Por isto dizia

Einstein: «Na nossa época materialista, os trabalhadores da ciencia sao os únicos homens profundamente religiosos... Nao posso conceber um dentista auténtico que nao tenha fé

profunda».

Estas afirmagóes podem ser interpretadas á luz da observagáo de Lovell: «Tenho a impressáo de que, mais do que aumento dos cientistas que acreditam em Deus, ocorre o aumento dos cientistas que já nao se envergonham de pro clamar a sua própria fé».

É esta a crónica despretensiosa que os informes jornalís-

ticos oferecem ao público. A averiguagáo dos fatos fala pro fundamente as pessoas de fé e, de modo especial, aos cristáos. É a estes que, em última análise, compete levar a resposta cabal aos anseios dos seus semelhantes que váo deseo-

brindo os vestigios do Criador através da caminhada dos seus

estudos.

É, pois, para desejar que este mes de junho, mes de Pentecostés ou do Espirito que renova a face da térra, seja

para os cristáos penhor de nova tomada de consciéncia da responsabilidade que lhes toca na hora atual. «Brilhe a vossa luz diante dos homens...» (Mt 5,16). — 222 —

E B.

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» Ano XX — N* 234 — Junho de 1979

Cana! de Beagle:

a santa sé entre a argentina e o chile Em slnlese: o presente artigo aprésente os precedentes do recenta litigio ocorrido entre a Argentina e o Chile por causa da soberanía sobre a

regláo do Canal de Beagle. Após tentativas de acordó direto, os dols países

houveram por bem em 1971 recorrer á arbltragem da Coroa da Inglaterra.

Esta, tendo constituido urna comissfio Internacional de lurlstas, apresentou, após cinco anos e meló de estudos, um laudo favorável ao Chile; este país ficarla com o dominio das llhas Picton, Lennox e Nueva postas até entfio sob litigio. — A Argentina, porém, julgou nSo poder abrir mSo de sua sobe ranía sobre tal regiáo; pelo que, aos 25/01/78, declarou nula ou "n§o legalmente pronunciada" a sentenga de arbitragem. Segulram-se conversares sobre o assunto por parte de urna comissáo mista, que nSo consegulu acordó. Tudo se encaminhava para um confuto armado entre os dois países quando ambos resolveram atender a urna sugestSo que Ihes vlnha sendo feita por outras nacSes, a saber: a de solicitar a IntervencSo da Santa Sé. Esta envlou entáo a 25/12/78 um legado seu, o Cardeal Antonio Samoré, ao Cone-Sul, obtendo finalmente que aos 8/01/79 os dols países assinassem acordó que afastava o perlgo de guerra (mediata e resolvía pedir á Santa

Sé urna medlacSo para o confuto.

Asslm a diplomacia do Vaticano se pos mals urna vez a servlco da paz mundial, colaborando na mlssSo pastoral e religiosa da S. Igreja. Tanto o S. Padre Joáo Paulo II como o Cardeal Samoré e os bispos do Cone-Sul recorreram a instante oracáo e pediram as preces dos liéis para obter a

almejado éxito — o que bem demonstra o interesse pastoral ou religioso

que anímou a S. Igreja em sua funcSo de mediadora da paz.

Comentario: Aos 8/01/79, a Argentina e o Chile solici-

taram ao Papa Joáo Paulo Ú aceitasse a mediacáo no con-

flito que opunha esses dois países entre si. O Sumo Pontífice respondeu favoravelmente — o que evitou o desencadeamento de guerra desastrosa entre as duas nacdes vizinhas. Visto que o caso tem remotos antecedentes e nem sempre aparecau

claro aos olhos do público, vamos, ñas páginas subseqüentes, reconstituir o paño de fundo do gesto de 8/01 pp. e procurar

medir o alcance do confuto e das suas possiveis solucóes. — 223 —

4

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 234/1979

1.

O remoto fundo histórico

O litigio versa sobre a zona contida entre o estreito de Magalháes e o cabo Horn, que o estreito de Drake separa da

Antártida.

O estreito de Magalháes, descoberto em 1520, era a única

passagem marítima entre o Atlántico e o Pacífico até 1615.

Nesta data, descobriu-se, abaixo do cabo Horn, a ampia via

do estreito de Drake. Em 1830, foi descoberto também o

canal de Beagle, que tomou tal nome por causa da nave que

realizou o empreendimento sob o comando do capitáo inglés

R. Fitzoy. O canal de Beagle se estende na direcáo Leste-Oeste a 70 milhas aproximadamente ao Norte do cabo Horn, tendo a largura de 3 a 3,5 milhas. O seu comprimento é cal culado em 120 milhas se, conforme a tese argentina, se lhe dáo por limites ao Oriente as ilhas de Novarino e de Picton ou em 150 milhas se, de acordó com os chilenos, se assinala o cabo Sao Pió como ponto de partida do canal ao Oriente. A importancia de tal zona se percebe do fato de que ela inclui as tres referidas passagens marítimas, que sao as úni cas vias interoceánicas naturais do hemisferio ocidental. O interesse de diversas nagdes pela regiáo se agugou recente-

mente por varios motivos: assim os litigios ocorridos em torno do canal de Panamá, os disturbios políticos da África do Sul, a evolucáo do direito do mar e a projetada exploragáo dos recursos minerais da Antártida, cujos territorios sao reivin

dicados também pela Argentina e pelo Chile em fungáo da sua posicáo geográfica frente ao Polo Sul.

A diferenga na computagáo da extensáo do canal de Bea gle nao é meramente da algada cartográfica. Ao contrario, é objeto da polémica que se desenvolve há decenios entre a Argentina e o Chile.

Segundo o dimensionamento chileno, as tres ilhas de Pic ton, Lennox e Nueva — pequeñas e escassamente habitadas — encontram-se ao Sul do canal e, por conseguinte, sao de pro-

priedade chilena (de acordó com o art. 3 do Tratado de Limi tes de 23/07/1881, que assinala ao Chile «todas as ilhas ao Sul do Canal de Beagle até o Cabo Horn»). Ao invés, a Ar gentina atribuí ao canal urna dimensáo que excluí as tres ilhas referidas do teor do mesmo artigo 3»; tais ilhas recairiam, pois, sob o dominio da Agentina, juntamente com outras — 224 —

S. SÉ ENTRE ARGENTINA E CHILE

ilhas vizinhas, praticamente nao habitáveis.

Para afirmar a

sua posigáo, a Argentina se louva também no Protocolo de 1V05/1S93 e na Acta aclaratoria de los Pactos de arbitraje y limitación do alrmamentos de 10/07/1902. Segundo a Argen tina, o limite entre os Océanos Atlántico e Pacífico é o meri diano que passa pelo Cabo Horn, ficando para a Agentina as ilhas a Leste desta e para o Chile as ilhas a Oeste. O litigio fronteiric.0 entre os dois países teve a sua primeira expressáo em 1847. Entre as etapas mais importantes dos debates, sobressai o Tratado General de Arbitraje de 28/05/1902, documento pelo qual os dois Governos se obrigaram a submeter os seus pontos de vista á arbitragem da

Coroa inglesa.

O recurso a esta nao foi realmente efetivado

senáo em conseqüéncia do Acuerdo de arbitraje o compiro-,

miso respecto a una controversia entre las Repúblicas de Ar gentina y de Chile en la Zona del Canal de Beagle, assinado aos 22/07/1971.

O Governo inglés, aceitando a solicitagáo de arbitragem datada de 22/07/1971, entregou, segundo o seu costume em tais casos, o estudo da questáo a urna corte judiciária. Esta foi composta por cinco juizes da Corte Internacional de Justic.a de Haia (um inglés, um francés, um sueco, um norte-americano e um nigeriano); após cinco anos e meio, a Comissáo entregou o seu laudo, unánimemente proferido, ao Governo británico, que o sancionou e deu a conhecer as par tes interessadas aos 2 de maio de 1977; tal sentenga, como

rezava

o art.

14 do

Compromisso

argentino-chileno,

seria

«legalmente obrigatória e inapelável». O laudo assinalava ao Chile as ilhas Picton, Lennox e Nueva e, implícitamente, todas as outras ao sul do canal de Beagle; ficaria assim res-

trito apenas á parte continental dos dois países o principio de que o Océano Pacífico na regiáo toca ao Chile e o Océano

Atlántico á Argentina.

2.

A denuncia do laudo

Eis, porém, que, aos 25/01/1978, o Governo de Buenos Aires declarou nula a sentenga de arbitragem; julgava-a «nao legalmente pronunciada», baseando-se para tanto em razóes minuciosas, que nao vem ao caso expor.

Estes poucos elementos basíam para manifestar quáo

desagradáveis devem ter sido para a Argentina as determina_ 225 —

6

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 234/1979

góes do laudo de arbitragem e as suas conseqüéncias. A revisao do principio de que o Atlántico toca táo somente á Ar gentina e o Pacifico ao Chile parecía á Argentina acarretar serio prejuizo para o equilibrio das forgas no sul do conti

nente americano; o Chile estenderia seu poder e sua agáo

para dentro do Océano Atlántico, gozando da faculdade de controlar, mediante posigóes adquiridas no estreito de Magalháes, no canal de Beagle e no estreito de Drake, a navegagáo argentina e as vias que a ligam a outros países do mundo ocidental. A Argentina, por voz do seu Governo, proclamou que nao podia admitir tal reviravolta de sua posigáo na ponta aus tral do continente.

Sendo assim, aos 20/02/1978, em Puerto Montt (Chile)

os presidentes da Argentina e do Chile assinaram urna Acta, que estabelecia a realizagáo de negociagóes diretas entre os

dois países, ficando sem valor a sentenca pronunciada pela comissáo de arbitragem referida.

As conversagóes foram, na verdade, efetuadas dentro do prazo estipulado, isto é, até 2/11/1978. Nesta data, a comis

sáo mista de negociagóes pode propor aos Governos dos dois

países a realizagáo de varios acordos referentes a problemas económicos e a alguns aspectos da política antartica. Todavía ficavam pendentes as questóes básicas concernentes á jurisdi cáo dos dois países sobre aguas e térras da ponta do conti nente sul-americano; apenas haviam sido esbogadas solugóes nao amadurecidas: assim as ilhas em litigio seriam desmilita rizadas, seriam constituidas em territorios neutros, seriam destinadas exclusivamente a fins pacíficos ou seriam cenado de atividades promovidas por comités mistos argentino-chi lenos. Ora a falta de proposta de solugáo global e amadurecida

fez que a pendencia se agravasse. Ó Governo chileno passou a insistir na execugáo do laudo que lhe atribuía a soberanía

sobre todas as ilhas em questáo. Quanto á Argentina, declarava que, somente no caso de ter jurisdigáo sobre certo número de ilhas, gozaría de seguranga frente á projecáo chilena no Atlántico Sül.

O impasse das conversacóes fortaleceu a hipótese de guerra entre os dois países, pois o clima era de forte tensáo no Cone-Sul. Foram chamadas aos quarteis e enviadas as fronteiras meridionais diversas levas de reservistas de ambos — 226 —

S. SÉ ENTRE ARGENTINA E CHILE

os países. Moveram-se em prol de negociagoes de paz os diplomatas interessados, especialmente os embaucadores dos Estados Unidos e os Nuncios Apostólicos acreditados em Bue

nos Aires e em Santiago.

3.

A ¡ntervensSo da Igreja

Durante o ano mesmo de 1978, enquanto ocorriam as con-

versagóes argentino-chilenas em ambiente tenso e pesado, os

bispos da Argentina e do Chile houveram por bem publicar

urna carta pastoral coletiva datada de 12/09/78, na qual diziam

entre outras coisas:

"Solicitamos as Autoridades que, em vlrtude da sua prolissSo de fé crista, abandonem todo comportamento apto a favorecer a guerra; detenham

o insidioso dinamismo da corrida aos armamentos e salvaguaidem os legí

timos direitos da soberanía nacional segundo um ampio criterio «e diálogo

e de fraterna compreensáo. Recordem-se das palavras de Pió XII: 'Nada

ó perdido com a paz; tudo pode ser perdido com a guerra"" (L'Osservatore Romano 29/09/78)

A seguir, os bispos exortavam os fiéis a unir-se de modo especial em oracáo pela paz no domingo 24 de setembro. O jornal L'Osservatore Romano, noticiando o documento em 29/09, punha em evidencia a importancia atribuida pela Santa Sé ao problema da paz entre os dois países.

Durante o seu breve pontificado, o Papa Joáo Paulo I quis corroborar o apelo dos bispos argentinos e chilenos, dirigindo-lhes urna mensagem aos 20/09/78, a qual teve o signi ficado de um testamento.

Aos 2/11/78, estava, sem éxito,

encerrado o prazo das

negocia7Óes diretas previstas pela Acta de Puerto Montt. A Argentina excluia entáo o recurso a Corte Internacional de Justiga. Em conseqüéncia, parecía que, para evitar a guerra, só restava urna alternativa a ser imediatamente posta em prática, a saber: a mediacáo de um país amigo. Os Governos dos dois países pareciam um tanto céticos quanto aos bons resul tados da mediagáo em táo espinhosa situa?áo; todavía varios órgáos e entidades sugeriram a conveniencia de um apalo á Santa Sé. Em vista deste passo, foi enunciado um encontró dos chanceleres dos dois países em litigio aos 12/12/78; seria a extrema tentativa de solucio... Caso esta falhasse, só restaría realmente o confuto armado! — 227 —

8

«PERPUNTE E RESPONDEREMOS* 23'1/107r>

Foi entáo que o Santo Padre Joáo Paulo II quis enviar mensagem telegráfica aos presidentes dos dois países, apelando para a conciliacáo, sem, porém, mencionar alguma mediagáo. Na realidade, o encontró dos chanceleres se realizou sem fruto algum — o que aínda diluiu a esperanca de solu;áo pací fica. Verdade é que as duas partes em litigio concordavam

fundamentalmente em pedir a mediagáo da Santa Sé, mas

julgavam nao dever expor S. Santidade o Papa a um doloroso insucesso. A situagáo se tornava cada vez mais aflitiva, quando aos 15 de dezembro de 1978 o Governo argentino se dirigiu ao Conselho de Seguranga das Nagóes Unidas para informá-lo sobre o «estado de tensáo» existente entre os dois pa:ses. Aos

21/12/78 era a vez do Chile, que solicitava a convocagáo ime-

diata do Conselho Permanente da Organizagáo dos Estados Americanos para tomar as providencias cabíveis no caso. Era opiniáo de varios Governos — principalmente da América Latina — que sonriente a Santa Sé poderia obter o apaziguamento dos ánimos. Ora o descnrolar dos acontecimentos foi assim descrito pe^ S. Padre em seu discurso ao Colegio Cardinalícic em 22/12/78: "No día de onlem, diante das noticias sempre mais alarmantes que retatavam o agravamento e mesmo o posslvel (tldo por nSo poucos como (mínente) desfecho da situagáo, del a saber ás duas partes interessadas a mlnha disposicao — ou até o desejo — de enviar ás duas capltals um representante especial, para obter mais diretas e concretas InformacSes sobre as respectivas posicSes, assim como para examinarem e procurarem Juntos a possibilidade de uma honrosa composlc§o pacifica da questSo. No flm do dia chegou a noticia da aceltacSo de tal proposta por parte dos dois Governos, com expressóes de gratldSo e de confianca, que, en-

quanto me reconfortavam, me iazem também aínda sentir a responsabilldade que tal intervengo comporta; como quer que seja, a Santa Sé julga nSo

poder furtar-se a" tal responsabilidade. E, visto que ambas as partes enfati-

zam unánimemente a urgencia de intervencSo, a Santa Sé procederá com toda a possivel solicltude.

Entrementes desejo renovar o meu caloroso apelo aos responsaveis, para que evitem passos que possam acarretar conseqüéncias Imprevlslvels — ou, antes, demasiado previsiveis — da danos e de sofrimentos para as populacSes dos dois países irmáos".

O feliz efeito da atitude do Papa fez-se sentir sem demora. No dia seguinte, o jornal de Roma Corrieíre della Sera escrevia: — 228 —

S. SÉ ENTRE ARGENTINA E CHILE "Argentina e Chile dellveram-se quando já estavam em plena via de colislo. A ordem de cessacSo de alarme ocorreu ontem de manha quando o Governo de Buenos Aires anunclou ter aceito a missáo de um represen tante do Pontífice para encaminhar conversacoes entre a Argentina e o Chila... o que a decisao do Papa fora aceita com gratidao... Foi ¡mediata e posí.iva lambém a aiitude de Santiago. Mesmo com as suas inevitáveis limitacbes, a inteivenfáo do Vaticano afastou — ao menos por enquanto o perigo de um conllito que nos últimos días se agravava. As noticias pro» venien.es das regioes limítrofes nao deixavam dúvidas sobre a densidade da ameaca".

Ao mesmo tempo, os jomáis de Washington comunicavam que a Organizagáo dos Estados Americanos, na reuniáo

do seu Conselho Permanente, decidirá suspender qualquer medida, na expectativa dos resultados da missáo enviada aos dois países em litigio. O gesto de Joáo Paulo II inspirava res-

peito, admiracáo e confianga.

4.

Finalmente, um acordó provisorio

O enviado papal foi o Cardeal Antonio Samoré, que par-

tiu de Roma aos 25/12, acompanhado por Mons. Faustino Sáinz Muñoz e pelo Pe. Fiorello Cavalli, do Conselho de Ne gocios Públicos da Igreja. Desembarcaran! em Buenos Aires, donde seguiram para Santiago; continuaram as negociagóes aló chcgar a urna conclusño positiva aos 8/01/79 em Montevidéu.

A principio, o Cardeal Samoré tentou levar os dois Go-

vernos a retomar as conversares diretas.

Todavía esta ten

tativa foi frustrada pela irredutibilidade das duas partes. Assim, na impossibilidade de acordó direto, o legado pontificio

procurou fazer que os dois contendentes concordassem em dirigir á Santa Sé um formal pedido de mediagáo. O acordó foi finalmente assinado em Montevidéu (territorio neutro) aos 8/01/79. A mediagáo difere da arbitragem pelo fato de nao

serem as suas conclusóes obrigatórias (como sao as da arbi tragem). A mediacáo, no caso, teria em seu favor a autori-

dade moral de que goza a Santa Sé, principalmente entre os países católicos.

O acordó de Montevidéu logrou, de imediato, dois efeitos

muito positivos: o afastamento da perspectiva de guerra armada entre a Argentina e o Chile e a realizado de urna

pausa ñas discussóes, pausa propicia a suscitar clima de maior

serenidade e mutua confianga. A Argentina e o Chile volta— 229 —

10

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

riam a considerar-se como dois países irmáos, cujas sortes estáo indissoluvelmente associadas entre si; puseram de parte

exageradas tendencias nacionalistas e procuraram viver o juramento proferido em 1904 debaixo da estatua do Cristo dos Andes: «Estas montanhas desabaráo antes que argentinos e chilenos rompam a paz jurada aos pos de Cristo Redentor».

O Cardeal Samoré revelou singulares dotes de diplomata unidos a vivo esp.rito de fé. Dizia ele posteriormente que as negociagóes com os seus interlocutores haviam decorrido em

nivel elevado; «tinham sido ponderados os valores moráis e

espirituais da qusstáo e nao apenas os aspectos jurídicos e

políticos que até entáo tinham interessado as conversacóes argentino-chilenas. Os dois Governos tomaram consciéncia de que, tendo solicitado a intervengo do Papa, cuja autoridada é marcadamente espiritual e cujo objetivo principal é a paz, o novo caminho a seguir seria o de conversar com o Sumo

Pontífice e, na presenca deste, conversar entre si» (cf. revista

Criterio, 25/01/1979, p. 6).

A diplomacia pontificia vem a ser um aspecto e um ins trumento da mlssáo da Igreja; adota, em seus procedimentos, criterios moráis e religiosos, que a caracterizam em ampia escala. Ora o Cardeal Samoré foi fiel a essa tática, que ele pos em relevo ñas entrevistas á imprensa e á televisüo; soli-

citou as preces das comunidades contemplativas e entregoj-se

ele mesmo á oragño; participou de cerimónias religiosas cm favor da paz o promoveu outras nos santuarios de Lujan (Ar gentina) e Maipú (Chile). Mencionou enfáticamente o valor da oracáo na homilia proferida na Catedral de Buenos Aires e voltou a referi-la no discurso pronunciado por ocasiáo da assinatura do acordó no Ministerio do Exterior em Montevidéu.

O próprio S.. Padre, aos 22/12/78, convidada o mundo cristáo á oragáo, quando anunciava o envió de um represen tante ao Cone-Sul. Também a lv de Janeiro de 1979, por ocasiáo do Ángelus, pediu as preces de todos para que fosse coroado de éxito o alvissareiro desenrolar das conversares.

Alias, muito antes da missáo pontificia na América do Sul, já os bispos da Argentina e do Chile haviam exortado os seus fiéis a que orassem pela paz.

Assim a tarefa do Cardeal Samoré nao foi apenas urna Vitoria no plano diplomático, mas equivaleu também a um — 230 —

S. SÉ ENTRE ARGENTINA E CHILE

11

despertar da fé e a uma atuagáo pastoral da Igreja, que ds tal forma procurava ser a auténtica representante do Senhor da paz entre os povos. A Santa Sé professa, entre os seus principios, o de manter-se neutra diante dos conflitos internacionais. Todavia, no artigo 24 do Tratado do Latráo (que definiu o Estado do Vaticano e o seu Estatuto), atribuiu a si o direito de intervir sempre que «as partes em litigio fagam concorde apalo á missáo de paz da Igreja; esta entáo se dispóe a fazer valer a sua autoridade moral e espiritual».

Aos 6/06/78, Paulo VI referiu-se a este artigo em sua mensagem sobre o desarmamento dirigida á Assembléia Geral das Nagóes Unidas: "Condividindo os vossos problemas, conscientes das vossas dificuldades, fortes em nossa própiia fraqueza, dizemo-vos com giande simplicidade: se alguma vez julgardes que a Santa Sé possa contrlouir pata supe rar os obstáculos que entiavam o caminho da paz, esta Sé nao se escon derá debalxo do aigumento da sua Intempotalidade, nem recuaiá dlante da responsabilidade que uma Inlervencio desejada e solici.ada possa acarretar. A tal ponto estimamos e amamos a pazl Fiuto da boa vontade dos homons, mas constantemente exposta a perigos que a boa vontade nao consegue sempre superar, a paz sempre apateceu á humanidade, piincipalmente, como um dom de Deus. A Ele nos a pediremos" (cf. La Civillá Caltolica, 1978, III. p. 83).

É sob a luz destas palavras, proferidas meses antes da interven ?áo de Joáo Paulo II, que se deve considerar o gesto pacificador da Santa Sé no Cone-Sul. De resto, tal atitude

nao foi algo de singular na historia da Igreja; outras varias se Ihe antecederán!, sendo famosa, entre todas, a de Alexandre VI: aos 4 de maio de 1493, o Pontífice, a pedido de Por tugal e da Espanha, proferiu sentenga que arbitrava sobre a posse

das térras já descobertas

novo mundo.

ou a serem descobertas no

Mais recentemente, Leáo XIII, solicitado pela

Espanha e a Alemanha, interveio na controversia destes dois países relativa ás ilhas Carolinas (1885), caso este ao qual muito se assemelha o conflito argentino-chileno.

Em suma, se a intervengáo de Joáo Paulo II no Cone-Sul nao foi algo de inédito, foi cerlamente um gesto de coragem e desprendimento, que bem pos em evidencia a solicitude pastoral da S. Igreja. Estas páginas muito devem ao artigo de Glovann! Rullf, La medlazione della Santa Sede Ira Argentina e Cile per la zona auslrale del due paesl, in La Civillá Caltoliea, 3089, 3/03/79, pp. 470-479.

— 231 —

Enciclopédico e claro:

o documento de puebla

Em sintese: O texto da 3a. Assembléla da Conferencia Episcopal Latino-Americana se aprésenla como sintese harmoniosa dos aspectos espi ritual e temporais da missao da Igreja. Quem nele deseja ver um incentivo á acao social e á militancia em prol da justíga, encontra al sobejo fundamento para tanto. Todavía nSo se deverla ler o documento unllateralmente, tentando entender tais passagens em sentido extremado. Ao contrario, há de se reconhecer que a praxis apregoada pela Assembtéia de Puebla é decorréncia de urna vlsáo de fé nítidamente proposta em prfmeiro plano e em réplica a teses avancadas oriundas dos setores mais radicáis da chamada "teología da MbertacSo". Segundo o documento de Puebla, a missSo da (oreja fica sendo, antes do mais, urna tarefa escatológlca e transcendental (n? 150s. 383), tarefa, porém, que passa por estruturas temporais e se preocupa serlamente com a Ciislianizacao das mesmas (n? 152...), a tal ponto que esquecer tais estruturas seria incoeréncia ou traicao ao Evangelho (n? 356). Entre as proposicñes características do documento, sallentam-se: Jesús

como Deus e homem (n
(n? 98), a Igreja como intencionada e preparada por Cristo (n? 129), a Igreja como camlnho normativo que Deus aponta ao homem (n? 130), a Igreja de Cristo como una e única depositáiia da plenitude dos meios de salvagao (n? 131), a necessidade de se julgar a política á luz da fó, e nSo vlce-versa (n? 414), a atualidade e a autorldade do maglstéilo da Igreja (n? 130s. 156-8. 343s), a suficiencia da mensagem evangélica para promover a libertacáo do homem (n? 411), o primado da oracáo (n? 151s), a rejeicáo da violencia como pretenso meio de libertacao (n? 393s)... relvindlcacoes dos bispos em favor da justica, mesmo as que mais ousadas parecam (como seriam o direito de asilo, n? 1056, a anlstia como slnal de reconciliacao crista, n? 1052s...) sao formuladas á luz da fé e da oríentacáo trans cendental do Evangelho.

Comentario: Cerno é do conhecimento de muitos, de 27/01 a 13/02/79 realizou-se em Puebla de los Angeles (México) a

3» Assembléia Geral da Conferencia Episcopal Latino-Ameri-

cana (CELAM), que estudou o tema «Evangelizaeáo no pre sente e no futuro da América Latina». Para esse encontró convergiram as atenúes de numerosos homens, cristáos e nao cristáos, interessados na sorte da América Latina e no papel que á Igreja toca ai desempenhar. O documento final, expressáo do pensamento unánime (apenas houve um voto em branco) dos 179 bispos votantes, vem a ser urna declaragáo — 232 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

13

de principios e um conjunto de normas pastarais da Igreja frente aos anseios das populagóes da América Latina de hoje. Dada a importancia de tal documento, procuraremos, a

seguir, transmitir urna sintese do seu conteúdo, baseada no texto provisorio do mesmo,... texto aprovado pelos bispos

reunidos em Puebla, mas ainda nao confirmado pela Santa Sé.

Na verdade, pode-se crer que o documento venha a ser rati ficado em sua substancia, pois foi elaborado em ass'duo con tato com o S. Padre Joáo Paulo n, na tentativa de exprimir,

da maneira mais fiel possível, o pensamento oficial da Igreja. Utilizaremos o texto publicado pelas Edigóes Paulinas, citando

os números indicadores de parágrafos do documento. Trata-se de um volume de 359 páginas, de estilo um tanto denso, mas assaz claro. Procuraremos expó-Io acompanhando, de

modo geral, a seqüéncia dos temas abordados. Podem-se dis cernir, como inspiragáo metodológica do documento, as tres

etapas características do clássico método da Agáo Católica: Ver, Julgar, Agir.

PARTE

I:

VER

O titulo da Parle I vem a ser: «Visáo pastoral da reali-

dade latino-americana».

Neste panorama distinguem-se alguns tragos caracterís

ticos:

1.1.

O contexto só cío-culturaI

O contexto sócio-cultural da pastoral latino.americana

aponta

— distancia crescente entre ricos e pobres — o que é

contrario ao des-.gnio do Criador (n* 17);

— milhóes de latino-americanos que sao vítimas de sala

rio de fome, desemprego e subemprego, desnutrigáo, mortalidade infantil, falta de morada adequada, problemas de saúde e de instabilidade no trabalho (n* 18); — abusos de poder, que se traduzem em delato, viola-

gáo da privacidade, torturas, exilio, terrorismo... — 233 —

(n» 23b);

14

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

— enfraquecimento do quadro político, com graves pre-

juizos para a participacáo dos cidadáos na condugáo dos seus próprios destinos (n* 25);

— economía do mercado livre, legitimada por ideologías

liberáis, que anlcpóem o capital ao trabalho, o económico ao

social

(n' 26e);

— ideologías marxistas, como também ideologías de Se guranza Nacional, que sacrificam valores cristáos em nome do totalitarismo (n« 26f);

— debilitagáo dos valores básicos da familia, que se torna presa fácil do divorcio e do abandono do lar (n? 29).

O panorama se estende com grande realismo e fidelidade

a outros itens da realidade social latino-americana. Vejamos agora a

1.2.

SifuacSo da Igreja hoje na América Latina

Eis algumas notas típicas:

1) O continente latino-americano, evangelizado outrora por missionários católicos, vai hoje conhecendo um surto de pluralismo religioso e de indiferentismo (n.os 41-46). 2)

Ouve-se um generalizado clamor pela justiga e pelo

respeito aos dircitos íundamcntais do homcm.

JÉ o que tem

levado a Igreja a publicar numerosas cartas pastorais e decla-

ragóes sobre a jusüca social (n.os 49-51).

3) As comunidades eclesiais de base (CEBs), cuja exis tencia conta dez anos apenas, tém-se constituido focos de evangelizado e libertagáo, embora em alguns lugares os inte-

resses políticos as tenham manobrado para que se afastem

da auténtica comunháo com os seus bispos (n.os 58-58).

4) O laicato católico tem tomado consciéncia de sua missáo, contribuindo para renovar a vida paroquial e dioce sana e a catequese (n.os 59s. 71s).

— 234 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

15

5) A liturgia reestruturada tem conseguido purificar a mentalidade religiosa de muitos fiéis, promovendo a partid» pagáo destes ñas celebragóes sagradas (n' 61). Procuram-se agora

1.3.

Tendencias atuais que esbocam o futuro

Sejam assinalados os seguintes tragos, que parecem pos-

sibilitar a previsáo do contexto futuro dentro do qual se desen volverá a evangelizagáo da América Latina: 1) O ritmo acelerado de crescimento da populagáo, que se concentra ñas grandes cidades. No futuro, a populagáo será majoritariamer.te jovem e terá crescente dificuldade para encontrar emprego (n9 73). 2)

Os meios de comunicagáo social tendem a programar

sempre mais a vida do homem e da sociedade, exercendo inñuéncia crescente sobre o respectivo ambiente (n« 73). 3)

Os modelos sociais Janeados pela tecnocracia tendem

a se impor, apesar dos anseios por urna ordem internacional mais justa (n» 73).

4) A mingua dos recursos naturais leva alguns pensa dores a propugnar a redujo da populagáo das nagóes pobres, enquanto outros propóem urna 'prosperidade racionada', isto é, urna sobriedade compartilhada (nJ 73). Estas tendencias suscitam aspiragóes no homem latino-americano, que a Igreja apoia e que consistem essencial-

mcnte cm urna qttalidade de vida mais humana, com distri-

buigáo mais justa dos bens e oportunidades e com mais respeito á dignidade humana (n' 74).

Tal sumario levantamiento de características do conti nente latino-americano provoca naturalmente a necessidade de um julgamento. Pergunta-se: a presente situagáo será con

forme ao

plano

de Deus para a América Latina?

designio de salvagáo que o

Qual o

Senhor dispós para a América

Latina?

É o que o documento expóe em sua Parte II.

— 235 —

16

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

PARTE

II:

JULGAR

O texto de Puebla propóe nesta sua segunda Parte dois capítulos: 1) conteúdo da evangelizagáo; 2) que é evangelizar? A fim de atingir maior clareza e síntese, apresentaremos estes dois capítulos, que se sobrepóem freqüentemente, sem respeitar estritamente a ordem dos respectivos parágrafos.

II. 1.

Que é evangelizar ?

Por certo, o plano de Deus sobre a América Latina é um designio de justica, fraternidade e amor a ser apregoado me diante a evangelizagáo.

Diga-se, pois, o que é evangelizagáo

segundo o documento de Puebla.

«A evangelizagáo é um chamado a. participagáo na comunháo... Ela nos leva a participarmos dos gemidos do Espi rito, que quer libertar toda a criagáo» (n« 127). «A evangelizagáo,

que leva em consideragáo o homem

todo, procura atingi-Io em sua totalidade, dimensáo religiosa» (n' 268).

a

partir

de sua

O conteúdo essencial da evangelizagáo é «a proclamagáo clara de que Jesús Cristo, Filho de Deus feito homem, morto e ressuscitado, oferece a salvagáo a todos os homens como dom da graga e da misericordia de Deus» (n' 243). Com

outras palavras

aínda:

«A

evangelizagáo

leva a

conhecer Jesús como o Senhor, aquele que nos revela o Pai e nos comunica o seu Espirito. Ela nos chama á conversáo, que é reconciliagáo e vida nova; Ela nos leva á comunháo

com o Pai, a qual nos torna filhos e irmáos. Pela caridade derramada em nossos coragóes, faz brotar no mundo frutos de justiga, de perdáo, de respeito, de dignidade e de paz» (n» 244).

A evangelizagáo «comega nesta vida, tem sua plenitude na eternidade» (n' 245).

A evangelizagáo assim entendida tem «lagos de uniáo muito fortes» com a promogáo humana em seus aspectos de

— 236 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

17

desenvolvimento e libertagáo (n» 247). Portante a Igreja nao precisa de recorrer a sistemas e ideologías para amar, defen der e colaborar para a libertagáo do homem: no centro da mensagem da qual é depositaría e pregoeira, ela encontra inspiragáo para atuar em favor da fraternidade, da justiga e da paz, contra as dominagóes, escravidóes, discrimina;6es, vio lencias e atentados á liberdade religiosa, contra as agressóes ao homem, e tudo o que atenta contra a vida» (n« 247, citando Joáo Paulo II em seu discurso inaugural da 3» CELAM III 2). seja

De modo especial, o capítulo 1» da Parte n expóe qual

11.2.

O conteúdo da evangelizado

Os bispos reunidos em Puebla fizeram eco ao discurso

programático proferido peio Papa Joáo Paulo II ao abrir a 3» Assembléia da CELaM em 28/U1/79. Por conseguinte, apresentaram como pontos centráis da evangelizagáo: a ver-

dade sobre Jesús Cristo, a verdade sobre a missáo da Igreja, a verdade sobre o homem. Assim é que o documento de Pue bla contém urna sintese valiosa de Cnstologia, Eciesioiogia e Antropología; cada um destes tratados eniauza a mensagem perene da te e denuncia erros que Últimamente neles se tem introduzido.

II. 2.1.

A verdade sobre Jesús Cristo

«É dever nosso anunciar claramente, sem deixar dúvidas

ou equívocos, o misterio da Encarnagáo: tanto a Divindade

de Jesús Cristo tal como a ensina a fé da Igreja, quanto a realidade e a forga de sua dimensáo humana e histórica. Devenios apresentar... Jesús de Nazaré... consciente de sua missáo, anunciador e realizador do Reino e fundador da sua Igreja, a qual tem Pedro como alicerce visível; Jesús Cristo vivo, presente e atuante na historia e na sua Igreja» (n* 98). «Nao podemos desfigurar, parcializar ou ideologizar a pessoa de Jesús Cristo, nem fazendo déla um político, uní líder, um revolucionario ou um simples profeta, nem redu-

— 237 —

18

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

zindo ao mero campo individual aquele que é o Senhor da Historia. Fazendo eco ao discurso que nos dirige o Santo Padre ao inaugurar a nossa Conferencia, afirmamos: 'Qualquer silencio, esquecimento, mutilac/áo ou inadequada acentuacáo da intcgridade do misterio de Jesús Cristo, que se separe da

fé da Igreja, nao pode ser conteúdo válido da evangelizacáo'.

Urna coisa sao as 'releituras do Evangelho, resultado de especulagóes teóricas' e 'as hipóteses, talvez brilhantes, porém, frágeis e inconsistentes que délas derivam', e outra coisa a 'afirmaca» da fe da Igreja: Jesús Cristo, Verbo e Filho de Deus, se faz homem para aproximar-se do homem e oferccer-lhe, pela forc.a de seu ministerio, a salvac.áo, grande dom de Deus' »

(n« 99).

A seguir, o documento apresenta urna síntese de toda a

obra salvlfica de Jesús Cristo, que destruiu o poder do pecado sobre o lenho da cruz e, como penhor de nossa participagáo em sua Vitoria, nos deixou a Eucaristía e o Espirito Santo (n.os 100-127). 11.2.2.

A verdade sobre a Igreja

«A Igreja é inseparável de Cristo, porque Ele mesmo a fundou, por um ato expresso de sua vontade, sobre Pedro e os doze, constituindo-a como sacramento universal e necessário de salva;áo. A Igreja nao é um 'resultado' posterior

nem urna simples conseqüéncia 'desencadeada' pela agáo evangelizadora de Jesús. Ela nasce certamente desta a;áo, mas de modo direto, pois é o mesmo Senhor que convoca os seus

discípulos e Ihes comunica o poder do seu Espirito, dotando a nascente comunidade de todos os meios e elementos essen-

ciais que

o povo católico

instituicáo divina»

reconhece,

(n° 129).

em

sua

fe,

como

da

Fazendo frente a correntes teológicas pouco ortodoxas, o documento enfatiza assim o fato de que a Igreja nao é algo de acidental ou imprevisto por Jesús, mas é realmente a efe-

tivacáo de um designio alimentado pelo Senhor Jesús antes mesmo da sua Paixáo.

«Além disto, Jesús aponta a sua Igreja como caminho normativo. Nao cabe, pois, á decisáo do homem aceitá-la ou nao...

Aceitar

o Cristo

exige aceitar a Igreja»

— 238 —

(n'

130).

O DOCUMENTO DE PUEBLA

19

«A Igreja de Cristo é urna só: aquela edificada sobre Pedro... Só na Igreja Católica se dá a plenitude dos meios de salvagáo, legados por Jesús aos homens mediante os apostólos» (n* 131). Os membros da Igreja constituem um povo santo, «como

cidadáos do céu, com o coragáo enraizado em Dais mediante a oracáo e a contemplagáo. Atitude esta que nao quer dizer fuga ao terreno, mas condi;áo para urna entrega fecunda aos homens. Pois quem nao tiver aprendido a adorar a vontade

do Pai no silencio da oracáo, difícilmente conseguirá fazé-lo

quando o seu irmáo exigir renuncia, dor, humilhagáo» (n' 151).

A autoridade que Cristo concede aos pastores da Igreja,

é muito mais do que um simples poder jurídico. É particlpagáo no misterio de Cristo Cabeca e, por isto, urna realidade de ordem sacramental (n» 156). «Considerado em sua totalidade, o ministerio hierárquico é urna realidade de ordem sacramental, vital e jurídica, como a Igreja» (n« 157). «O dever de obediencia que o povo de Deus tem frente aos pastores que o conduzem, fundamenta-se — mais do que em consideracóes jurídicas — no respeito de fé ante a pre-

senga sacramental do Senhor neles.

Esta é urna realidado

objetiva de fé, que independe de qualquer consideragáo pes-

soal» (n« 158).

O documento de Puebla atende também á questáo da

«Igreja popular» ou «Igreja que nasce do povo». Tal expressáo é ambigua. Se significa «Igreja encarnada nos meios populares e revestida dos sinais da cultura popular», nada

há que lhe objetar. Mas se significa outra Igreja, distinta da Igreja oficial ou institucional, é claro que merece recusa, pois implica divisáo no seio da Igreja e negagáo da fun;áo hierár-

quica. Tal posigáo, de resto, poderia ser condicionada por fatores ideológicos, como dízia Joáo Paulo II ao inaugurar a assembléia da CELAM (n« 162). Entre as notas de que se reveste a Igreja de Cristo, o documento destaca «comunháo e participagáo». Comunháo...

Isto quer dizer que a Igreja, como sacra

mento universal de salvagáo, está inteiramente a servigo da — 239 —

20

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

comunháo dos homens com Deus e entre si. A Igreja se esforga por dar ao mundo um exemplo de comunháo de amor em Cristo. Cada comunidade eclesial deveria constituir-se em modelo de convivencia, onde se consigam unir liberdade e

soiidariedade

(n» 171s).

Participaga»... Entre outras coisas, isto significa que a Igreja deve ser, na América Latina de hoje, «a escola onde se eduquem homens capazes de fazer historia com Cristo e como Cristo», a fim de impulsionar eficazmente todos os seus semelhantes em diregáo ao Reino de Deus. Por conseguinte, a Igreja ensinará os homens a evitar duas atitudes extremas: a) o passivismo dos que cruzam os bra;os diante do desen rolar da histeria, esperando que somente Deus atue e liberte; b) o ativismo dos que, numa perspectiva secularizada, consideram Deus distante e, por isto, tentam angustiosa e frené ticamente levar sem Deus a historia á frente (nv 173s). A esta altura, o documento se refere a praxis ou ao modo de agir de Jesús: Cristo procurou a cada instante seguir fiel mente a vontads do Pai, perscrutando os sinais da Providen cia e a hora que o Pai marcara para cada um de seus passos (m 176). Ao mesmo tempo, porém, Jesús sabia que a agáo do Pai devia passar através da sua agáo pcssoal (n' 175). Donde se vé que a América Latina precisa de homens que, como Jesús, sejam capazes de trilhar dócilmente os caminhos que a Providencia Divina indica,... capazes também de rea lizar sua conversáo pessoal, a fim de poder agir em favor

dos seus irmáos sofredores (n? 178). — Estas observares afastam decisivamente a imagem do cristáo guerrilheiro, pro

tagonistas da luta de classes e dado á praxis marxista da libertagáo. É certo que Jesús Cristo, o modelo, nao procedeu de tal modo.

A tarefa do cristáo assim esbogada será sempre ardua e dramática por causa do pecado existente no mundo. Todavía a Igreja sente-se animada a empreendé-la, pois confia na intercessáo de Maria, a quem o povo cristáo dedica filial veneraCáo sempre recomendada pelos Sumos Pontífices (n.os 180-231). II. 2.3.

A verdade sobre o homem

«No misterio de Cristo, Deas desee ao mais profundo do ser humano para restaurar, a partir de dentro, a sua dignidade» (n* 202).

— 240 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

21

Na América Latina, essa dignidade é ameagada por cinco

enfoques erróneos:

Na visáo determinista, o homem se julga vitima de forcas ocultas e mágicas, ás quais deve servir para nao ser aniquilado por elas. Donde a prática da feitigaria e o interesse crescente pelos horóscopos. Essa visáo leva o homem a cruzar os bracos diante da historia, acreditando que tudo o que acontece é imposto por Deus (n» 205).

«Uma variante dessa visáo determinista se apoia na idéia errónea de que os homens nao sao fundamentalmente iguais entre si...

Dai decorre com freqüéncia a situacáo real de

desigualdade em que vivem operarios, camponeses, indígenas

e empregadas domésticas»

(n» 208).

Na visáo psicologista, a pessoa humana é tida como jo-

guete do instinto fundamental erótico e privada de liberdade.

A esta concepgáo se prendem o pansexualismo e o machismo latino-americano (n» 207).

Na visáo economista, a pessoa é considerada como peca

que produz e consomé; é julgada em nome do ter, do poder o do prazer. Esta perspectiva assume modalidades próprias no liberalismo económico e no marxismo coletivista; este

último é materialista e ateu, sufocando o direito á liberdade

religiosa, que está na base de todas as liberdades (n.os 208-210). A visáo estatista tem sua base na teoría da Seguranza Nacional. Limita as liberdades individuáis e confunde a vontade da Nagáo

(n? 211).

Na visáo dentista, só se reconhece como verdade aquilo que a ciencia pode demonstrar. A meta é a conquista do universo mediante a ciencia; em nome desta tudo se justifica, inclusive o que possa constituir afronta á dignidade humana. As comunidades nacionais sao submetidas ás decisóes de um novo poder: a tecnocracia (n' 212). Frente a esses enfoques deformadores, os bispos latino-americanos professam que «todo homem e toda mulher, por mais insignificantes que paregam, tém em si próprios uma nobreza inviolável, que eles mesmos e os demais devem respeitar e fazer respeitar sem condigóes» (m 214). — 241 —

22

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS? 234/1979

Condenam «todo menosprezo, diminuido ou injuria as

pessoas e aos seus direitos inalienáveis, todo atentado contra

a vida humana, desde aquela que ainda está oculta no seio

materno até a que s¿ tornou inútil e a que está concluindo o sea curso temporal, toda vioiagáo ou degradagáo da con

vivencia entre os individuos, os grupos sociais e as nacóes» (m 215).

O reconhecimento da dignidade humana exige o respeito á liberdade,... liberdade que possibiiita ao homem me.hor cultuar a Deus como filho, colaborar com os homens como irmáo, dominar o mundo como senhor (n} 219).

A dignidade humana opóe-se o pecado, tanto aquele que

rompe diretamente com Deus, como aqueie que viola as boas relagóes com os homens em conseqüéncia de egoísmo, ambigáo, inveja, injustiga... (n.os 255-235). Urna vez exposto o conteúdo da passam a considerar alguns aspectos da América Latina: evangelizagáo e evangelizado e reiigiosidade popular

evangelizagáo, os bispos do mesmo no contexto cultura (n.os 2Ó3-316), (n.os 317-341), evange

lizagáo, libcrtagáo e promogáo humana (n.os 342-3Y8), evan gelizagáo, ideoiogias c política (n.us 379-416).

II.3.

II.3.1.

Aspectos particulares

Evangelizasáo e cultura

A cultura

é

o conjunto

de valores que animam

e de

contravalores que debilitam um povo, e que reunem os mem-

bros desse povo sobre a base de urna única consciéncia coletiva. A cultura abrange as formas pelas quais esse povo se exprime: língua, costumes, instituijóes e estruturas de con vivencia social... (n7 265). Ora todo homem nasce no seio de urna cultura. Por isto a Igreja procura atingir, com a sua agáo evangelizadora, nao somente os individuos, mas também a cultura de cada povo. Ela trata de alcangar e transformar, com a forga do Evangelho, os criterios de julgamento, os valores determinantes, os pontos de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modeios de vida da humanidade que este-

— 242 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

23

jam em contraste com a Palavra de Deus e com o designio de salvagáo (n* 272). A evangelizagáo da cultura terá de enfrentar os serios problemas que as megápoles, com sua índole desumana e secularizada, oferecem aos portadores da Boa-Nova (n.os 304-313). Para tanto, há de descobrir caminhos pastorais adap tados as circunstancias de vida ñas grandes cidades. Haverá também de interessar-se, em especial, pelo sistema educativo, pela catequese, pelo mundo operario, pelos grupos indígenas

e afro-americanos como pela promogáo da mulher conforme a própria identidade feminina (n.os 314-316).

11.3.2.

Evangelízaselo e religiosidade popular

Entende-se por religiosidade popular o conjunto das crengas profundas de um povo e das atitudes e expressóes que as manifestam. É, com outras palavras, a forma cultural que a religiáo adota num determinado povo. A religiáo do povo latino-americano, em sua forma cultural mais característica, é expressáo da fé católica (n* 317); ao lado de grandes valo res, apresenta aspectos negativos ou supersticiosos derivados de influencias estranhas e de ignorancia (n* 328). Ora é necessário que o catolicismo popular seja purifi cado, completado e dinamizado pelo Evangelho. Para tanto, requer-se que os agentes de evangelizagáo se aproximem do povo, procurem compreender-lhe as expressóes religiosas e for talecer a fé preciosa, mas debilitada, da gente simples (n' 330). Se nao o fizerem, produzir-se-á um vazio, que será ocupado pelas seitas, consumismo, (m 341).

11.3.3.

palos messianismos políticos secularizados, pelo que gera o tedio, ou pelo pansexualismo pagáo

Evangelízaselo, libértaselo e promosao humana

A contribuigáo da Igreja para a libertagáo e promo?áo humana vem-se concretizando através do que se denomina «ensinamentos sociais da Igreja» (n» 343).

Há todavia diferentes concepgóes e aplicagóes da libertagáo, as quais nao convergem entre si. Em conseqüéncia, sejam — 243 —

24

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

propostos alguns criterios que emanam do próprio magisterio da Igreja: — a libertacáo tem um ponto de partida, que é o pecado social e coletivo ou o misterio da iniqüidade; — a libertagáo tem também a sua meta ou o seu para..., que é o crescimento progressivo no ser mediante a comunháo com Deus e com os homens, e que chega ao ponto máximo na perfeita comunháo do céu (n* 352s);

— «a libertagáo se baseia nos tres grandes pilares indi cados pelo Papa Joáo Paulo II como orientagáo definida: a verdade sobre Jesús Cristo, a verdade sobre a Igreja, a verdade sobre o homem» (n» 355).

— «A libertacáo sabe utilizar os meios evangélicos com a sua peculiar eficacia. Ela nao recorre a tipo algum de violencia nem á dialética da luta de classes, mas, sim, á vigo rosa energia e acáo dos cristáos, que, movidos pelo Espirito, acorrem para responder ao clamor de milhóes e milhóes de

irmáos» (n» 357).

«O homem cai na escravidáo quando diviniza ou absolutiza a riqueza, o poder, o Estado, o sexo, o prazer ou qualquer criatura de Deus, inclusive o próprio ser do homem ou

a sua razáo humana... A adoragáo do náo-adorável e a absolutizagáo do relativo conduzem á violagáo do mais intimo da pessoa humana», que assim é desfigurada... «A queda dos ídolos restituí ao homem a verdadeira liberdade. Deus, livre por excelencia, quer entrar em diálogo com um ser livre, capaz de fazer suas op;óes e de exercer suas responsa bilidades pessoais e comunitarias». É, pois, á queda de todos os ídolos que deve tender a evangelizacüo libertadora (n» 362). 1.3.4.

Evangel¡za$cio, ideologías e política

A fé crista nao há de ser vivida apenas nos ámbitos da privacidade do individuo ou da familia, mas deve penetrar também a ordem profissional, económica, social e politica, a fim de que também na vida pública se manifestem os gran des ditames do Evangelho (n« 381). A finalidade que o Senhor assinalou á sua Igreja, é de

ordem religiosa; por isto, quando se pronuncia sobre questóes — 244 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

25

de foro civil, a Igreja nao é animada por finalidade política, económica ou social. Todavía a Igreja sabe que da sua mensagem religiosa decorrem luzes aptas a estabelecer a sociedade civil segundo a lei de Deus (n» 383). a)

Evangelizado e política

Faz-se mister distinguir dois conceitos de política (n» 384). No seu sentido ampio, a política visa á obtengáo do bem comum, nacional e internacional. Compete-lhe precisar os

valores fundamentáis da comunidade, concillando igualdade e liberdade, autoridade pública, legitima autonomía e participagáo das pessoas e dos grupos.

Define também a ética das

relacóes sociais. Neste sentido a política interessa á Igreja, pois é urna forma de consagrar o mundo a Deus (n» 385).

Existe também a política de partido, a qual se refere &

atividade de grupos que tencionam exercer o poder para resol

ver as questóes económicas, políticas ou sociais de acordó com os sous próprios criterios. Estes, embora possam inspirar-se na doutrina crista, chegam muitas vezes a diferentes conclusóes. Por isto nenhum partido político, por mais inspi rado que seja pela doutrina da Igreja, pode pretender ter valor absoluto para todos os cristáos (n« 386). A política partidaria é o campo dos Ieigos, aos quais a Igreja oferece criterios derivados da visáo crista do homem (n» 387). Quanto aos pastores e aos Religiosos, devem despojar-se de toda ideologia político-partidaria que possa condi cionar seus criterios e atitudes. Compete-lhes preocupar-se com a unidade, jamáis misturando as coisas de Deus com atitudes meramente políticas (n' 388). Somente em circuns tancias excepcionais será lícito a um sacerdote exercer a lideranga em partido político; isto, porém, só acontecerá com o consentimento do respectivo bispo, consultado o Conselho Presbiteral e, se o caso o exigir, também a Conferencia Epis copal do país (n' 389). Quanto á violencia política, os bispos condenam a tor tura física e psicológica, os seqüestros, a perseguicáo a dissidentes políticos ou suspeitos (n' 393).

Repudiam jovialmente

a violencia terrorista e guerrilheira. Na verdade, nao se jus tifica o crime como caminho de libertagáo (n* 394). — 245 —

26

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

b)

Evangelizado e ideologías

Por «ideología» entende-se toda tentativa de explicar os diferentes aspectos da sociedade em fun^áo dos interesses de determinado grupo; a ideologia convoca os homens á combatividade a fim de transformaren! a sociedade segundo os men cionados interesses (n' 396).

«As ideologías trazem em si mesmas a tendencia a absolutizar os interesses que defendem e as estrategias que pro-

movem.

Em tal casó, transformam-se em verdadeiras reli-

gióes leigas» (n? 397).

Tres sao as ideologías que ameagam o continente latino-americano: — o liberalismo capitalista, idolatría da riqueza em sua forma individualista (n» 403); — o coletivismo marxista, que também leva á idolatría da riqueza, desta vez em sua forma coletivista, tendo por torga motriz a luta de classes (n.os 404-406); — a doutrina da Scguranca Nacional, que desenvolve um sistema de repressáo em concordancia com o seu conceilo de «guerra permanente» (n? 407s). Neste contexto os bispos fazem referencia á Teología da Libertagáo em sua forma extremada, rejeitando decidida mente tal forma de discurso, que realmente já nao merece o nome de «teología»:

«É preciso observar aqui o risco de ideologizagáo a que se expóe a reflexáo teológica, quando feita a partir de urna praxis que recorre á análise marxista. As conseqüéncias sao a total politizagáo da existencia crista, a dissolugáo da linguagem das ciencias sociais e o esvaziamento da dimensáo trans cendental da salvagáo crista» (n* 406).

«A tentagáo de certos grupos consiste em considerar urna política determinada como urgencia primeira, como condigáo previa para que a Igreja possa cumprir a sua missáo. É iden tificar a mensagem crista com urna ideologia e submeté-la a esta, convidando a urna 'releitura' do Evangelho a partir de — 246 -,

O DOCUMENTO DE PUEBLA

27

urna op°áo política. Pois bem; é preciso ler o político a par tir do Evangelho, e nao o contrario» (n' 414). Estas observares sao de elevada importancia, pois equivalem a dizer que a Teología da Libertacáo elaborada por certos teólogos latino-americanos nao pode pretender apresentar-se como auténtica forma de interpretacáo da mensagem crista.

Mais adiante o documento de Puebla se refere «á radicalizagáo de certos grupos, os quais esperam que o Reino venha de urna alianca estratégica da Igreja com o marxismo, excluida qualquer outra alternativa (para eles nao se trata apenas de ser marxista, mas de ser marxista em nome da fé)» (n* 415). É claro que também esta posijáo merece recusa. Verdade é que os bispos censuram outrossim o alheamento da Igreja á ordem social, cultural e política (n' 413), como também o integrismo, que pretende reconstruir urna

Cristandade medieval, onde haja estreita alianca entre o poder civil e o poder eclesiástico (n» 415). Assim o documento de Puebla se encaminha para a sua terceira parte, que é relativa mais diretamente ao agir do cristao ñas presantes conjunturas da América Latina.

PARTE

III:

AGIR

Esta terceira parte se subdivide dedicados respectivamente aos

em

quatro

capítulos,

Centros ou focos de comunhao e participacáo:

— a familia

(n/* 417-466);

— as comunidades eclesiais de base, a paróquia, a Igreja particular (ou diocese), n.os 467-50S; Agentes de comunhao e partícipacao: — o ministerio hierárquico

(n.os 507-563);

— a vida consagrada (n.os 564-617); — os leigos (n.os 618-663);

— a pastoral vocacional

(n.os 664-706).

— 247 —

28

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

Meios para a comunháo e participacao: — Liturgia e oragáo (n.™ 707-772); — testemunho (n.°* 773-785); — catequese (n.os 786-817); — educagáo (n.°s 818-864);

— comunicagáo social (n.os 865-868).

Diálogo para a comunháo e participado (n.09 869-896). Sobre cada qual destes tópicos, diremos algunas palavras, que seráo poucas em relagáo á riqueza do documento. III. 1. III. 1.1.

Centros de comunháo e participajáo A familia

A familia vem a ser a Igreja doméstica, ameagada, sem dúvida, pelos males que afligem a grande sociedade contem poránea: injustica social, baixo nivel económico de vida, domina;áo e manipulado, desemprego, salario, secularismo... Frente a essa problemática, os bispos lembram a necessidade de se promover um espirito de comunhao entre os membros de cada familia. A educagáo na justica e no amor e a catequese sao outros momentos importantes da pastoral

familiar, que há de ser cada vez mais adaptada á realidade latino-americana (n.os 417-466). Em especial, destacamos:

«Em atitude pastoral profundamente evangélica, atenda-se com profundo senso de compreensiva prudencia ao grave problema das unióes matrimoniáis 'de facto' e das fami lias incompletas»

(n' 458).

«Diante das campanhas anti-natalistas de origem gover-

namental ou promovidas por outros países, as familias devem dispor de conhecimentos suficientes sobre os múltiplos efeitos negativos das técnicas que se propóem ñas filosofías neo-mal tusianas, e proceder de modo a aplicar integralmente as nor— 248 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

29

mas éticas clara e repetidamente enunciadas pelo magistério> (n* 460).

«Para conseguir urna honesta regulamentagáo da fecundidade, deve-se promover a criagáo de centros, onde pessoal

qualificado ensine científicamente os métodos naturais. Esta alternativa humanista evita os males éticos e sociais da anticoncep;áo e da esterilizagáo, que históricamente tém sido passos previos á legalizagáo do aborto» (n* 461). III. 1.2.

CEBs, Paróquta, Igreja particular

a) As comunidades ecíesiais de base oferecem aos seus membros maior inter-relagáo pessoal e a ocasiáo oportuna de refletir sobre a realidade do Evangelho (n9 477). É neces-

sário, porém, que se procurem animadores devidamente for mados para as mesmas, a fim de que nao percam o auténtico sentido eclesial (n.<« 478-496).

b) As paróquias váo assumindo formas renovadas em consonancia com as mudan;as da pastoral dos últimos anos: os leigos sao convocados para os Conselhos de Pastoral e outros servigos; há constante atualizagáo da catequese e maior

prcsenga do presbítero em meio ao povo (n' 479). Contudo ainda subsistem dificuldades, como certa primazia do admi nistrativo sobre o pastoral, rotina, falta de preparagáo para os sacramentos..., fechamento da paróquia sobre si mesma sem considerar as graves urgencias apostólicas do conjunto (n.°s 481. 492. 497-501).

c)

As Igrejas particulares ou dioceses tém feito esforgo

para aprimorar seus servigos mediante cañáis adequados para o diálogo: Conselhos Presbiterais, Conselhos de Pastoral, Comissóes Diocesanas... Os bispos tém procurado viver a colegialidade de maneira eficaz, reunindo-se em Conferencias Nacionais e Internacionais (n.os 482-485).

É para desejar que as Igrejas particulares procurem assegurar a constante formagáo e renovagáo dos seus agentes de pastoral, incentivando a espiritualidade e os cursos de capacitacáo mediante retiros, jornadas e dias de oragáo (m 502).

As dioceses também háo de dar maior relevo ao seu caráter missionário e á comunháo eclesial, compartilhando valores e experiencias, como também favorecendo o intercambio de pessoas e bens (n» 503). — 249 —

30

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

III.2.

III. 2.1.

Agentes de comunhSo e particípaselo

O ministerio hterórquico

O ministerio hierárquico é exercido presbíteros e pelos diáconos. a)

O

catequista.

bispo

é

o

pelos bispos, pelos

prímeiro evangelizador e o

primeiro

Por isto deve sempre atualizar-se doutrinalmente,

animar e guiar a todos os que ensinam na Igreja, a fim de evitar «magisterios paralelos» de pessoas e grupos (n' 532).

O bispo também é sinal e construtor da unidade. Pro cura criar na diocese um clima tal de comunháo eclesial que permita a todos viverem sua pertenca peculiar á familia dio cesana (n» 533). ^ O bispo é outrossim pontífice e santificador. «Apoiado em

seu próprio testemunho, promove a santidade de todos os fiéis como meio primeiro de evangelizagáo. Exerce pessoalmente a sua fungáo de presidente e promotor da Liturgia» (n' 534).

Aos bispos compete dar preferencial atengáo ao Semi nario, vista a sua importancia na forma;áo dos presbíteros, de quem depende, em grande parte, a dcsejada renovagáo de toda a Igreja (n» 552). b) Os presbíteros sao os principáis colaboradores dos bispos no seu tríplice ministerio (n» 534). O celibato minis terial, dom do próprio Cristo, vem a ser garantía de urna

dedicagáo generosa e livre ao servigo dos homens (n' 537). O presbítero é um homem de Deus; só pode ser profeta na medida em que tenha feito a experiencia do Deus vivo. A ora?áo cm

todas as

suas

formas o

ajudará a manter essa

experiencia, que ele deverá partilhar com os irmáos (n' 538). c)

O carisma do diácono tem grande eficacia na reali-

zacáo de urna Igreja servidora e pobre (n' 541). Haja para os diáconos permanentes urna formacáo adequada e continua (n« 560). III.2.2.

A vida consograda

É motivo de alegría para os bispos verificar a presenca

dinámica de numerosas pessoas consagradas que, em toda a América Latina, dedicam a sua vida á evangelizagáo (n» 564).

— 250 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

31

Os bispos desejam «incentivar os Religiosos a assumirem o compromisso preferencial pelos pobres, tendo em conta o que disse Joáo Paulo II: «Sois sacerdotes e Religiosos. Nao sois dirigentes sociais, líderes políticos ou funcionarios de um poder temporal. Por isso vos repito: Nao tenhamos a ilusáo de estantíos scrvindo ao Evangelho se deixarmos diluir o nosso carisma através de exagerado interesse pelo vasto campo dos problemas temporais» (n* 610, citando o discurso do Papa aos Sacerdotes e Religiosos do México, 14).

III.2.3.

Os leigos

«Membro da Igreja fiel a Cristo, o leigo está comprome tido com a construyo do Reino em sua dimensáo temporal» (n' 628). «Os bispos fazem um apelo urgente aos leigos a fim de que se comprometam na missáo evangeiizaüora aa Igreja, da qual a promogáo da justica é a parte integrante e indispensavel que mais atinge os Jeigos, sempre em comunháo com os pastores» (n° 64t>). «Deve-se fomentar especial criatividade para estabelecer ministerios ou scrvigos que possam ser exerciaos por leigos, de acordó com as necessidades da evangelizagáo. Tenha-se espa

cial cuidado na lormacáo adequada aos candidatos» (ng 65ó). «A mulher deve estar presente em todas as realidades temporais, contribuindo com o seu próprio ser de mulher, juntamente com o homem, na transiorma;áo da sociedade. O valor do trabalho da mulher nao deve ser apenas o de atender a necessidades económicas, mas também o de contri buir para a formacáo da muiher e a construcáo da nova sociedade» (n" 662 J.

III.2.4.

A pastoral vocacional

«Segundo o designio divino, todos nos, cristáos, nos rea lizamos como homens: vocagao humana. E nos realizamos como cristáos vivendo o nosso batismo no seu sentido de con vite a sermos santos — comunháo e cooperado com Deus —

e a

nos tornarmos membros

ativos

— 251 —

da

comunidade, dando

32


testemunho do Reino — comunháo e cooperagáo com os demais homens: — voca$áo crista. Devemos enfim descobrir a nossa missáo concreta — ou leiga ou de vida consagrada ou ministerial hierárquica — que nos permite dar nossa contribuigáo especifica para a construcáo do Reino: vocagao cristal específica. Assim cumpriremos, plena e ministerialmente, a nossa missáo evangelizadora» (n» 668).

«A fase juvenil é período privilegiado, embora nao único, para a opgáo vital. Por isto, toda pastoral juvenil deve ser sempre pastoral vocacional. 'É preciso reativar urna agáo

pastoral intensa que, partindo da vocagáo crista em geral e de urna pastoral juvenil entusiasta, dé á Igreja os servidores de que necessita' (Joáo Paulo II, discurso inaugural da III

CELAM)» (n« 679).

«Já que o presbítero deve ser o homem da comunháo, deve-se insistir em que os seminaristas vivam a austeridade, a disciplina, a responsabilidade e o espirito de pobreza, num clima de auténtica vida comunitaria. Sejam formados seria mente para o celibato. Tudo isto exige a renuncia c a entrega que se pedem ao presbítero» (n» 692).

III.3.

Meios para a comunháo e participajóo

Chama-nos a atengáo o fato de que, entre os meios de comunháo e parlicipagáo, venha enunciada em primeiro lugar a oragáo, seja em sua forma social e comunitaria, seja em sua modalidade particular. Realmente é a orajáo que obtém

do Senhor a fecundidade para todas as iniciativas apostólicas

que a Igreja possa empreender. III.3.1.

Liturgia, ora$áo particular, piedade popular

a) «Deve-se dar a Liturgia a sua verdadeira dimensáo de ponto culminante e fonte da atividade da Igreja» (nf 746).

«Celebre-se

a fé,

durante

a

Liturgia, com

expressóes

culturáis que concordem com urna sadia criatividade... Haja, porém, sempre o cuidado de que nao seja instrumentalizada a Liturgia para fins alheios
(n' 749).

— 252 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

33

«Fonha-se especial esmero na preparagáo da homilía, que tem grande valor de evangelizagáo» (n« 752). «Sejam incentivadas as celebragóes transmitidas por radio e televisáo, levando em conta a natureza da Liturgia e a índole dos respectivos meios de tomunicacáo utilizados> (n- 758).

«Sejam

incentivadas

as

celebragóes

transmitidas

por

radio e televisáo, levando em conta a natureza da Liturgia e a índole dos respectivos meios de oomunica;áo utilizados> (n* 758). «Os sacerdotes prestem dedicagáo especial ao sacramento da reconciliagáo» (n' 760).

b)

No

tocante

á

oracáo particular,

merece relevo a

seguinte norma do documento: «O Seminario, os mosteiros, as escolas e outros centros de formagáo sejam utilizados como lugar privilegiado para orar, irradiar vida de oragáo e formar mestres de oracáo» (nu 763). c)

A

propósito

da

piedade

popular,

recomendam

os

bispos:

«Empreguem-se os valores da piedade popular como ponto de partida para se obter que a fé do povo alcance maior maturidade e profundidade; por isto a piedade popular se baseará na Palavra de Deus e no sentido de pertenga á Igreja> (n* 768).

«Nao se prive o povo de suas expressóes de piedade popu lar sem lhe proporcionar algo de melhor.

dancas necessárias gradativamente e com (n° 769). III. 3.2.

Fa^am-se as mu-

previa

catequese»

Testemunho

«Esta é a nossa primeira opgáo pastoral: a própria comunidade crista, seus leigos, seus pastores, seus ministros e seus

Religiosos devem converter-se cada vez mais para poder evangelizar os outros» (n» 782).

ao Evangelho,

«Isto... nos pede oracáo mais assídua, mais meditagáo das Escrituras, e que nos despojemos

— 253 —

profunda íntima e

_34

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

efetivamente, de acordó com o Evangelho, dos nossos privi legios... Pede-nos ainda maior simplicidade de vida, compromisso na realizagáo de fatos significativos como o cumprimento exato da 'hipoteca social' da propriedade, a comu nicado crista de bens materiais e espirituais, a colaboragáo em acóes comunitarias de promojáo humana...» (n> 784). III. 3.3.

Catequese

A catequese, na América Latina, enfrenta, entre outros, os problemas seguintes:

Há quem só transmita catequese vivencial sem apresentagáo da doutrina crista. Outros se limitam á doutrina, sem se preocupar com a expressño

concreta

da mesma na

vida

ou com a oragáo e a Liturgia. Há também quem difunda, na catequese, hipóteses teológicas que nao representam o pensamento oficial da Igreja (n.os 794-798).

Ora «quem catequiza, deve saber que a fidelidade a Jesús Cristo há de andar unida indissoluvelmente á fidelidade á

Igreja»

(n? 802).

«A fidelidade ao homem latino-americano exige da cate

quese que ela penetre, assuma e purifique os valores da nossa

cultura. Portanto, que se empenhe no uso e na adaptacáo da linguagem catequética» (n> 8U3). A catequese deverá, pois,

a) «formar homens comprometidos pessoalmente com Cristo, capazes de parücipagáo e comunháo no seio da Igreja,

e entregues ao servico de salvagáo»

(n» 806);

b) «tomar como fonte principal a Escritura, lida no contexto da vida, 'á luz da Sagrada Tradijáo e do magisterio

da Igreja, transmitindo o símbolo da fé; portanto, dará im

portancia ao apostolado bíblico, difundindo a Biblia, formando círculos bíblicos, etc.» (n' 807). II 1.3.4.

Educado

«A educajño evangelizadora assume e completa a nogáo de 'educagáo libertadora', porque deve contribuir para a con— 254 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

35

versáo educativa do homem total, nao apenas no seu eu pro

fundo e individual, mas também no seu eu periférico e social, orientando-o radicalmente para a genuína libertagáo crista, que abre para o homem a plena participacáo no misterio de Cristo ressuscitado, isto é, urna comunháo filial com o Pai e urna comunháo fraterna com os homens seus irmáos» (n» 830). «A Igreja proclama a liberdade de ensino, nao para favo recer privilegios ou lucro particular, mas como um direito que as pessoas e comunidades tém a verdade» (n' 841). «De acordó com tais principios, o Estado deveria distri buir equitativamente o seu ornamento com os servigos educa

tivos nao estatais, a fim de que os pais, que também sao con-

tribuintes, possam escolher livremente a educagao para os seus filhos» (n' 842).

Os bispos da América Latina «reafirmam eficazmente a

importancia da escola católica em todos os seus niveis... de

acordó com as orientasóes do Documento da S. Congregagáo para a Educagáo Católica» (n' 844).

Deve-se dizer especialmente que «a Universidade Cató

lica, pcnta de Ian^a da mensagem crista no mundo universi

tario, presta grande servigo á Igreja e á sociedade. Ela cumprirá a sua fun^áo,

como católica, encontrando

o seu significado último em Cristo, em sua mensagem salva

dora que abrange o homem em sua totalidade. Enquanto Uni-

vcrsidáde, procurará sobressair pela seriedade cient'fica, pelo

compromisso com a verdade, pela preparado de profissionais competentes para o mundo do trabalho e por sua busca de solucóes para os angustiantes problemas da América Latina» (m 861). III.3.5.

Comunicasáo social

«Pela diversidade dos meios existentes (cinema, radio, televisáo, imprensa, teatro, etc.), que atuam de forma simul tánea e massiva, a comunicagáo social incide em toda a vida

do homem e exerce sobre ele, de maneira consciente e subli-

minar, urna influencia decisiva.

A comunicagáo social se encontra condicionada pela realidade sócio-cultural de nossos países e, por sua vez, constituí um dos fatores determinantes que mantém essa realidade... — 255 —

36

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

«A exploragáo das paixóes, dos sentimentos, da violencia e do sexo, com fins consumistas, constituí flagrante violagáo

dos direitos individuáis. Tal violado é evidente na indiscriminagáo das mensagens repetitivas ou subliminares, com pouco respeito á pessoa e principalmente á familia» (n> 8G5). Levando em conta o fenómeno descrito, os bispos formulam, entre outras, as seguintes propostas pastorais: «a) É urgente que a hierarquia e os agentes de pas toral em geral conhe;am, compreendam e experimentem em maior profundidade o fenómeno da comunicagáo social, a fim de adaptarem as suas respostas pastorais a essa nova realidade». «b) É necessário criar onde nao existe, e fortalecer onde já existe, um departamento ou organismo especifico, nacional ou diocesano, para a comunicagáo social, incorporando-o ñas atividades de todas as áreas pastorais».

«e) Faz-se mister educar o público receptor para que tenha atitude crítica frente ao impacto das mensagens ideo lógicas, culturáis e publicitarias que nos bombardeiam conti nuamente a fim de se evitarem os efeitos negativos da manipulagáo e massificagáo». «f) É necessária e urgente a presenga meios de comunicagáo de massa» (n? 868).

III. 4.

da Igreja nos

Diálogo para a comunháo e participa sao

Considere-se que, ao lado da fé católica, implantada desde a descoberta, existem na América Latina outras crengas reli giosas cristas nao católicas (protestantes, orientáis oxtodoxas) como também confissóes nao cristas (o judaismo, o islamismo, numerosas formas de religióes asiáticas e africanas e de para-religióes). Além disto, registra-se a náo-crenga (ateísmo explícito ou indiferentismo religioso). Cf. n.os 869-875.

Diante de tal fenómeno, os bispos da América Latina

tencionam incrementar o diálogo religioso (com os adeptos de outras crengas) ou o diálogo filosófico (com aqueles que nao tém fé); cf. n» 869. Em particular prcconizam: — 256 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

37

— «procurar adequada apresentagáo da doutrina lica, que oferega urna justa hierarquia de verdades

cató (con forme o Decreto do Vaticano II sobre o Ecumenismo, 11) e urna resposta válida aos planejamentos que vém da situagáo

concreta latino-americana»

(nv 889);

— «orientar nossas comunidades, com base num discernimento lúcido sobre as formas religiosas ou para-religiosas mencionadas, e as distorgóes que elas encerram para a viven cia da fé crista» (n' 893);

— «tomar consciéncia da realidade e extensáo do fenó meno da náo-cren,a, com vistas á purificagáo da fé e da

vida, e a urna colaboragáo em verdadeira paz, para a edifi-

cagáo do mundo»

(n» 895).

Seguem-se mais duas partes do documento: a quarta complementa as anteriores, ao passo que a quinta lhes serve de fecho. Examinemo-las ainda sumariamente.

PARTE IV : IGREJA MISSIONÁRIA A SERVIDO DA EVANGELIZADO NA AMÉRICA LATINA Nesta parte IV, os bispos propñem suas opgóes preferenciais pelos pobres (n.<* 897-930) e pelos jovens (n.os gal

lee). Apresentam outrossim normas para a colaboragáo dos cristáos com os homens que constroem a sociedade pluralista na América Latina (n.os 967-1014)). Por fim, expóem qnal

deva ser a agáo da Igreja pela pessoa humana na sociedade

nacional e internacional

(n.os 1015-1058).

A propósito teceremos apenas breve comentario.

As opgóes preferenciais da Igreja pelos pobres e pelos jovens nao

significam menosprezo ou

rejei-áo dos que nao

sao tais. A Igreja, como Máe e Mestra, nao pode esquecer homem algum, nem lhe é lícito excluir do seu zelo pastoral

quem quer que seja. Quando ela pretende voltar-se especial

mente para os pobres e os jovens, Ela nao tenciona senáo fazer o que toda boa máe faz quando dedica mais atengáo

e cuidado ao(s) filho(s) mais carente(s). — Ademáis deve-se

— 257 —

38

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

dizer que pobres nao sao somente aqueles que nao possuem dinheiro ou bens materiais, mas sao todos aqueles que estáo afastados dos bens definitivos ou dos valores da eternidade que a mensagem crista procura comunicar. Ora tais sao, em grau maior ou menor, todos os homens, sempre ameagados de valorizar mais as coisas visiveis e materiais do que as rea lidades transcendentais e eternas. Donde se vé que a opsáo pelos pobres nada tem de restritivo ou exclusivo. Além disto, note-se: a Igreja sabe que tem de anun ciar o Reino de Dcus dentro das circunstancias concretas da sociedade latino-americana contemporánea,... sociedade na qual labutam, como responsáveis, diversas categorías de construtores, os quais nem todos sao fiéis católicos. Daí as observagóes dos n.os 967-1014 do documento. A Igreja ai ss dirige

aos políticos e homens de Governo (n* S99), aos intelectuais e

universitarios (n> 1000), aos cientistas (n> 1001), aos respon sáveis dos meios de comunicado (n« 1002), aos criadores na arte (n9 1003), aos juristas (tí> 1004), aos opsrários (n* 1005), aos camponcses (n1 100G), aos economistas (n* 1007), aos

militares (n" 1008), aos funcionarios públicos (n" 1009), a todos, enfim, que contribuam para as atividades normáis da sociedade, profissionais liberáis, comorciantes. . . a fim de que assumam a prepria missáo com espirito de servi.o no povo,

o qual deles espera a defesa de sua vida, de seus direitos e a promogüo do seu bem-estar (n' 1010). Nos subseqüentes n.os 1015-1058, os bispos, como Pas tores, voltam a lembrar a dignidade da pessoa humana e as

conseqüéncias que desta decorrem no ámbito de cada nagáo como também no plano internacional: direito á vida, a integridade física e ps'quica, á protegáo legal, á libardade reli

giosa, á liberdade de opiniáo, á participagáo nos bens e ser-

vicos, a construir o seu próprio destino, ao acesso á proprie-

dade,... direito de cada nagáo a urna convivencia internanacional justa com as outras nagóos, guardando-se pleno respeito á autodeterminajáo económica, política, social e cultural de cada povo...

Que o longo o belo programa de a7áo da Igreja e dos homens de boa vontade no continente latino-americano se torne realidade concreta sob o dinamismo do Espirito Santo, eis a aspiragáo final expressa na Parte V do documento (n.°* 1059-1069). — 258 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

39

Tais sao ,em síntese despretensiosa, as grandes linhas do documento promulgado pela m Assembléia Geral da CELAM

em fevereiro de 1979. Como dito, o texto aguarda a palavra final da Santa Sé, que, como se eré, nao lhe imporá alteracóes substanciáis, visto que foi concebido em consonancia com as diretrizes emanadas do Papa Joáo Paulo n. Resta agora propor sucinta

CONCLUSÁO A grande pergunta que se levantava (e levanta) em torno de Puebla, soa: A 3* Assembléia da CELAM confirmou a famosa «teología da libertacáo»? Emitiu principios revolucio narios? Será estimulo a adogáo de posigóes extremadas por parte dos agentes de pastoral da Igreja? Eis o que, em resposta, se deve dizer:

1)

A teologia da libertagáo admite matizes...

O mais

radical desses matizes, difundido por teólogos de renome, apregoa a análise marxista da sociedade como base de elaboragáo teológica; pretende julgar os dizeres da fé á luz da praxis

política ou da realidade social; concebe Cristo como revolu cionario e inspirador de guerrilha e violencia armada... Ora é evidente que tais proposigóes foram explícitamente rejeitadas pelo documento de Puebla, como se depreende dos n.os 98.99. 129. 130. 131. 357. 406... atrás citados. Por conseguinte, a teologia da libertagáo em sua forma extre mada foi nítidamente rejeitada pela Conferencia de Pueblax.

Há outra modalidade de teologia da libertagáo, sendo esta outra clássica. Sim; «libertagáo» é a palavra que moder namente substituí «redengáo» no vocabulario teológico de cer1 NSo podemos delxar de lembrar aquí os dizeres dos n? 406 e 414 :

"é preciso observar o risco de IdeoIogizagSo a que se expSe a reílexSo teológica, quando feita a partir de urna praxis que recorre á análise mar xista. As conseqüénclas sSo a total polItlzacSo da existencia crista, a dlssolucáo da linguagem das ciencias sociais e o esvazlamento da dimensáo trans cendental da salvacao crista"

(n? 406).

"é preciso ler o político a partir do Evangelho, e nSo ao contrario"

(n? 414).

— 259 —

40

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 234/1979

tos autores* . Ora, se entendermos «Iibertagáo» no sentido da redengáo paulina, está claro que a teología da libertagáo (= redengáo) foi reafirmada pelos bispos em Puebla,... e reafirmada em vista das condicóes concretas latino-america nas (veja-se o trecho de discurso do Papa Joáo Paulo H transcrito em apéndice a este artigo, pp. 261s). Esta modalidade afirma a Iibertagáo do homem subjugado pelo pecado ou pelos ídolos que ele cria, a fim de que possa usufruir da comunháo com Deus e com todos os seus irmáos. Natural mente tal Iibertagáo nao é meramente espiritual, pois o ho mem é um ser psicossomático; ademáis o Reino de Deus há de ser procurado neste mundo mesmo; daí o imperativo de que os cristáos se empenhem pela implantagáo da justiga social. Todavia as Escrituras ensinam que o Reino de Deus é escatológico, isto é, so se realizará plenamente no fim dos

tempos; no decorrer da historia o pecado será sempre urna

réálidade viva, que se oporá á plena instauragáo da ordem crista neste mundo (o que nao deve ser pretexto para que os cristáos cruzem os bragos); cf. n? 153. 2) As grandes verdades relativas a Cristo e á Igreja, obnubiladas em debates sobre a Iibertagáo, foram reafirma das em Puebla: assim Jesús como Deus e homem (n» 99), a consciéncia que Jesús tinha da sua missáo (nl> 98), a Igreja como intencionada e preparada conscientemente por Cristo (n1* 129), a Igreja como caminho normativo que Deus aponta ao homem (n« 130), a Igreja de Cristo como una e única

depositaría da plenitude dos meios de salvagáo (n« 131), a necessidade de se julgar a política a luz da fé, e nao vice versa (n' 414), a atualidade e a autoridade do magisterio da Igreja (n.as 130s. 156-158. 343s), a suficiencia da men-

sagem evangélica para promover a Iibertagáo do homem (m 411), a rojeicáo da violencia como pretenso moio de libertagáo (n* 393s), o primado da oracáo (n» 151s)... Pode-se mesmo dizer que no documento de Puebla se encontra urna profunda e bela exposicáo das grandes verdades da fé crista, 1 Merece atengSo o fato de que o S. Padre Joño Paulo II Intclou a sua prlmelra encíclica, asslnada na data de 4/03/79, com as palavras "Redemptor Homlnls". O Papa quis acentuar o termo clásslco paulino, que significa a mlssao de Cristo, evitando recorrer ao vocábulo "llbertacSo", mals recente na llnguagem teológica, mas ambiguo ou suscetlvel de ser entendido em sentido pouco crlstao ou no sentido extremado que se Ihe quer hoja atribuir. De resto, deve-se lembrar que o vocábulo "HbertacSo" entrou na ter minología teológica por influxo do marxismo, que usa freqüentemente os termos "opressáo" e "NbertacSo". O Partido do líder comunista no Brasil,

Luís Carlos Prestes, chamava-se "Alianca Libertadora Naoional" 1

_ 260 —

O DOCUMENTO DE PUEBLA

41

formuladas nítidamente, de modo a dar o primado aos valo res sobrenaturais e transcendentes do Evangelho.

3) As reivindicagóes dos bispos da CELAM em favor da justiga, mesmo as que mais ousadas paree,am (como seriam a valorizagáo do direito de asilo, n1' 1056, a anistia como sinal da reconciliagáo crista, n» 1052s...) sao formuladas á luz da fé e da orientagáo transcendental do Evangelho. Nuda tém de partidario ou passional. Nem pretendem ser enuncia dos dogmáticos, mas sao conclusóes concretas a que levam os principios da fé serenamente entendidos e penetrados. Assim o texto da 3" Assembléia da CELAM se aprésenla como sintese harmoniosa dos aspectos espirituais e temporais da missáo da Igreja. Quem nele deseja ver um incentivo á acáo social e á militáncia em prol da justiga, encontra ai sobejo fundamento para tanto. Todavía nao se deveria ler o documento unilateralmente, tentando entender tais passagens em sentido extremado. Ao contrario, há de se reco-

nhecer que a praxis apregoada pela Assembléia de Puebla é

decorréncia de urna visáo de fé nitidamente proposta em primeiro plano; a missáo da Igreja fica sendo, antes do mais, urna tarefa escatológica e transcendental (n.os 150s. 383), tarefa, porém, que passa por estruturas temporais e se preo cupa seriamente com a cristianizagáo das mesmas (n* 152...), a tal ponto que esquecer tais estruturas seria incoeréncia ou traigáo ao Evangelho (n« 356). O documento é, pois, sabia mente equilibrado e dotado de alto valor teológico e pastoral.

Queira o Espirito de Deus impulsionar os povos latino-americanos a viver conseqüentemente as linhas programá ticas da mensagem de Pueblaí

APÉNDICE Apraz citar aquí um trecho da alocugáo proferida pelo S. Padre Joáo Paulo II na audiencia geral de 21/02/79, em alusáo ao tema «libertagáo». S. Santidade salientava entáo a Índole clássica e perene deste vocábulo, que sempre esteve presente nos escritos da teología e, por conseguinte, nao é algo de novo nem de específico em nossos dias ou na Amé rica Latina. A libertacáo tem a sua fonte na verdade apre goada por Cristo:

«Fo! para que fácássemos livres que Cristo nos liberto» (Gl 5,1). Assim a übertajfio é certamente urna realidade de fé, um dos funda-

— 261 —

42

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 234/1979

mentáis temas bíblicos, inscritos profundamente na missSo salvífka de Cristo, na obra da Redenjáo e no seu ensinamento. Este tema nunca

deixou de constituir o conteúdo da vida espiritual dos cristfios. A Conferénáa do Episcopado Latino-Americano testemunha que este tema volta em novo contexto histórico; por isto deve ele retomac-se na sua profundidade própria e na sua autenticidade evangélica. .. A 'teología da liberta$ao' é freqüentemente relacionada (algumas vezes demasiado exclusivamente) com a América Latina; é necessário, porém, dar razáo a um dos grandes teólogos contemporá neos (Hans Urs von Ba'thasar), que (ustamerrie exige urna teología da libertacáo de dimensáo universal. S6 sao diversos os contextos, mas a realidade mesma da iiberdade para a qual nos Iibertou Cristo, é universal. A mlssáo da teología é encontrar o seu verdadeiro signi ficado nos diversos e concretos contextos históricos contemporáneos. O próprio Cristo relaciona, de modo especial, a libértaselo com a consciéncia da verdade: 'Conhecerels a verdade e a verdade vos

libertará' (Jo 8,32). Esta frase garante sobretudo o significado Íntimo da Iiberdade para a qual nos liberta Cristo. LiberJa;6o significa trans

fórmaselo interior do homem, que é conseqüéncía do conhecimento da verdade. A transfórmaselo é, portante, processo espiritual, em que o homem se aperfeicoa na [usttea e na santidade verdadeira (cf. Ef 4,24). O homem, assim ermadurecido internamente, toma-se repre sentante e porta-voz desra ¡usti$a e santidade verdadeira nos diver

sos meios da vida social. A verdade tem importancia nao só para o creseimento da consciéncia humana, aprofundando deste modo a vida interior do homem; a verdade tem aínda significado e forga profética. Constituí o conteúdo do testemunho e requer wn testemunho. Encon tramos esta forja profética

da verdade no ensinamento de Cristo.

Como Profeta, como testemunha da Verdade, Cristo opóe-se repeti damente á náo-verdade; fá-lo com grande forja e decisáo e multas

vezes nao hesita em deplorar o que é falso. Tornemos a ler cuidado samente o Evangeiho; nele encontraremos nao poucas expressóes severas, como, por exemplo, sepulcros calados, guias cegos, hipócritas, expressóes que pronuncia Cristo, consciente das conseqüenclas que O esperam» (L'Osservatore Romano, ed. portuguesa, 25/02/1979, p. 12).

As palavras do S. Padre Joáo Paulo II, enfa tizando, antes

do mais, a libertagáo como conversáo interior de todo homem, apresentam a auténtica maneira de se abordar o táo contro vertido tema da «libertagáo».

— 262 —

Notável testemunho: ;

'

a encíclica "redemptor hominis"

Com a data de 4/03/79 veio a lume a primeira encíclica do pontificado de Joáo Paulo n. Este documento traga as grandes linhas do pensamento do Sumo Pontífice; foi, por isto, objeto de atencáo especial da parte do mundo católico e de ambientes nao católicos. A

encíclica

se

divide

em quatro partes:

1)

Heranca

(1-6); O misterio da Redencáo (7-12); 3) O homem remido e

a sua situagáo no mundo contemporáneo (13-17); 4) A missáo da Igreja e o destino do homem (18-22).

1) Heranca. ..OS. Padre se aprésenla como sucessor de Paulo VI chamado por Deus a governar a Igreja numa época em que se aviva a consciéncia da. colegialidade episcopal. Este surto do espirito de colegialidade é altamente alvissareiro. A tendencia & comunháo leva também a valorizar omovimento ecuménico ou as tentativas de re-uniáo dos cristáos-

2) O misterio da Bedenc&o... Joáo Paulo II aborda a figura de Cristo, que revela o homem ao próprio homem e,. pela Encarnacáo, se une, de certo modo, a cada homem. Cristoveio redimir-nos do pecado, «restituindo ao homem a dignidade e o sentido da sua existencia no mundo». Pois bem; toca á Igreja assumir e prolongar a missáo de Cristo, entrando em diálogo com todos os homens.

3) O homem remido... Todos os caminhos da Igreja levam ao homem, porque todos os caminhos de Cristo se dirigiam para o homem... Homem que parece hoje estar cons tantemente ameacado por aquilo mesmo que ele produz, ou seja, pelo resultado do trabalho de sua inteligencia, de sua

vontade e de suas máos. Pois esses produtos sao dirigidos, nao raro, contra o próprio homem cm virtude de um progresso desvinculado da moral e da ética. A nova ordem, mais humana e digna, só poderá ser atingida se ocorrer urna ver-

dadeira conversáo das mentes, das vontades e dos coracóes. — 263 —

44

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 234/1979

«'Uve fome e nao me destes de comer...; estava nu e nao me

vestisfes...; estava na prisSo e nao fostes visitar-me' (Mt 25,42$).

Estas palavras adquirem um maior cunho de admoestacao aínda, se pensamos que, em vez do pao e da ajuda cultural a novos Estados e ftacóes que estao a despertar para a vida independente, algumas vezes se Ihes oferecem, nao raro cor» abundancia, armas modernas « meios de destruicáo, postos ao servico de conflitos armados e de guerras, que nao sao tanto urna exigencia da defesa dos seus ¡ustos

direitos e da sua soberanía quanto sobretudo urna forma de chauvi nismo, de imperialismo e de neocolcmialismo de varios géneros» (n? 16).

Embora todos os programas sociais, económicos e polí ticos pretendam ser humanistas, os direitos do homem sao

violados de diversas maneiras nos campos de concentrado, nos atos de violencia, tortura, terrorismo..., a que assistimos hoje em dia.

4) Missao da Igreja... A Igreja procura ver o homem com os olhos do próprio Cristo. Ela se senté responsável pela verdade que Cristo lhe confiou para transmitir a todos os homens mediante as diversas atividades de seus filhos. A Igreja procura realizar fielmente essa sua missáo, revigorando-se constantemente nos mananciais da Eucaristía e da Pe nitencia sacramental. Na Igreja cada cristáo é chamado a servir e, mediante o servigo, a reinar com Cristo.

É sob a sombra e a tutela de María SS. que a Igreja

deseja cumprir a sua tarefa neste mundo. María deve encontrar-se em todos os caminhos da vida cotidiana da Igreja. Se todos os fiéis permanecerem unidos na oracáo com María, poderáo receber nova efusáo do Espirito Santo, que se deu aos Apostólos no Cenáculo de Jerusalém para serem testemunhas de Cristo até as extremidades da térra.

Estévao Bettencourt O.S.B.

— 264 —

livros

em

estante

Dlreltos de Deus e DIrellos Humanos, por J. E. Martins Térra S. J. — Ed. Paulinas, S§o Paulo 1979, 130 x 200 mm, 116 pp.

Como Insinúa o titulo, o livro toca um dos temas mals candentes da

atualídade. Procura focalizar o problema dos direitos humanos em perspec

tiva bíblica, ou seja, evidenciando que os direilos do homem estSo funda

mentados no fato de que este é imagem e semelhanca de Deus. Posto este principio, deve-se reconhecer que, independentemente de rasa, cor, sexo, idade ou cultura, todo ser humano é dotado de direilos Intangíveis, que nenhum poder político ou de outra ordem pode violar legítimamente. Os pro fetas do Antigo Testamento proclamaran! solenemente os direitos das viúvas, dos órfáos e dos pobres frente aos reís de Israel, condenando todo tipo de arbitrariedade.

Caso alguma escola queira negar o fundamento transcendental dos direitos humanos, estes perdem o seu caráter Intocável. Com efeito, passam a ter por base táo somente o convencionalismo estipulado entre os homens

e as sociedades: o ser humano é entáo entregue á "benevolencia" de tal grupo ou tal Partido, que respeitará ou nao os seus direitos seguindo ¡nteresses particulares.

SSo estas as Idóias que o autor desenvolve em seu livro, recorrendo, de ponta a ponta, a textos bíblicos. O Pe. Térra nao se limita, porém, ao uso da S. Escritura; procura desenvolver as suas teses mediante o instru

mental da filosofía e da teología — o que dá novo valor á sua obra. De modo especial, recomendamos ao leitor o capitulo 3: "A sacralldade do homem" (pp. 31-36).

De Medellln a Puebla. A praxis dos Padres da América Latina, por

José Marlns e equipe. Colecáo "Pastoral e Comunidade" 10. — Ed. Paulinas, SSo Paulo 1979, 145x210 mm, 228 pp.

Este livro vem a ser urna especie de sumario dos documentos publi cados por blspos ou por Conferencias Eplscopais da América Latina desde a Assembléia Geral do CELAM em Medellin (1968) até a de Puebla (1979). Os autores se esforcaram arduamente por descobrir esses documentos (declarares, cartas pastorais, comunicacóes, mensagens...) publicados em todo o territorio latino-americano, apresentando finalmente urna lista com pleta (ou quase completa) dos mesmos, dispostos por ordem cronológica e geográfica. Além disto, oferece ao leitor urna antologia de textos tidos como mais relevantes para se esc:ever a historia da Igreja no último decenio A obra é benemérita. Através da mesma verifica-se o cuidado que tem tido o episcopado latino-americano para salvaguardar os direitos do homem em perspectiva crista. Nota-se, porém, que faltam intervengóes sob:e assuntos de fé e de Moral pessoal; quase nada há sobre as grandes ver dades do Credo que se v3o dlluindo ou deturpando na mentalidade de muitos grupos católicos, como também nada sobre certos pontos atinentes k Moral da familia e dos individuos. E, nao obstante, podemos dizer que nao faltaram ocasioes para tais pronunclamentos...!

Tóxicos O que os país devem saber, por Jorge Medeiros Silva. ColegSo "Hoiizonte". — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1979, 120x188 mm, 122 pp. O autor aborda o difícil problema dos tóxicos entre os jovens, apresentando aos pais numerosas e válidas Informacoes a respeito do vocabu lario próprio e da gfrla de tal setor (tóxico, entorpéceme, psicotróplco...), a respeito dos entorpecentes principáis (maconha, cocaína, anfetaminas...) como também a propósito da prevencáo, do tratamento e da repressáo do uso de drogas. O autor julga que aos país compete fungSo de alia impor tancia na prevencSo da procura de entorpecentes :

"Diversas medidas de caráter oficial vém sendo ensaiadas em todos os niveis e setoies, com as deficiencias próprias de um país grande, pobre e subdesenvolvido. Prevencao, lepressáo, tratamento, as linhas básicas de atuacáo no combate ás drogas.

fiscalizado formam

Entretanto nenhuma providencia, pública ou privada, oficial ou n§o, surte efelto se inoculada numa socledade cujos lares estáo desestruturados, onde impera tudo menos o amor.

Drogas é fuga ou muleta. Uns procuram ñas aluclnacóes estímulos ou

depressdes, Ilusorio encontró consigo mesmos e com urna fellcldade que a vida nSo Ihes proporcionou ou que nao souberam usufruir; outros nelas buscam amparo, salda, evasáo a toda sorte de sofrimentos reais ou Imagináiios.

Lares razoavelmente organizados calclflcam a personalidade de jovens

em formacao, hoje as principáis vltimas do surto de tóxicos.

A boa estrutura doméstica compreende, além do amor, um mínimo de conheclmentos e experiencias transmlsstveis de pais para filhcs" (pp. 7s).

Possam as noticias transmitidas por Jorge Medeiros da Silva ser úteis a numerosas familias I

Sinal de contradl?áo, por Karol Wojtyla. Traducao do Ir. Isabel Fontes

Leal Ferreira. Colegao "Agua Viva" n? 3. - Ed. Paulinas, Sao Paulo 1979, 145X215 mm, 238 pp.

Els o texto das meditagSes de exerclcios espirltuais pregados pelo Cardeal Woitvla (hola Papa Joao Paulo II) ao S. Padre Paulo VI e a seus

imedfatos colaboíadores no Vaticano em 1976. Tém por tema centra Jesús

Cristo! principalmente em sua Paixao e Ressurrelcfio. Tres capítulos sSo

dedicados aos misterios do Rosario — o que revela o profundo esplrHo de oracSo e de piedade marlana que anima o pregador. O estilo guarda as

características-da palavra falada e fluente. O llvro concorre para Ilustrar a

peraonalldade do atual Papa, que em poucos meses se Impósao mundo Intelro dando provas de seu zelo pastoral e de sua facllidade de comunl-

cacSo Vé-se que o Papa é fiel aos principios da vida interior e que, pre cisamente por causa disto, tem apurado senso das coisas de Deus, tornan-

do-se assim apto a seguir e Indicar a vía regia em meló aos escolhos da camlnhada terrestre.

Tal llvro tem feito grande e merecido sucesso. E.B.

Related Documents


More Documents from "Apostolado Veritatis Splendor"