Ano Xviii - No. 215 - Novembro De 1977

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Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoríam)

APRESEISTTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanza a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15). Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de

$L vista cristáo a fim de que as dúvidas se

dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo. A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confisca depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

índice pág.

"SE EXISTES, DÁ-ME A LUZ I" Aínda o homem

457

e a máquina:

"OS ASTRONAUTAS QUE VOLTARAM MÍSTICOS"

459

Queimar os cadáveres ?

SIM OU NAO A CREMACAO ?

468

Mais um documento de Roma:

A ESCOLA CATÓLICA AÍNDA VALE?

479

A historia como escola da vida: "REGULAMENTAQAO DO LIVROS

EM

DIVORCIO"

493

ESTANTE

497

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

NO

PRÓXIMO

NÚMERO

«Vida após a vida»». — «A Biblia na linguagem de hó¡e». A priraeira confissáo das enancas. — Valores e mudanca social.

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Asslnatura anual

Cr$ 75,00

Número avulso de qualquer mes

Cr$

REDACAO

Cabra

ADMINISTRACAO

DE PR

Postal

Ltvraria Mlsslonárla Editora Rúa México, 168-B (Castelo)

2.666

ZC-00

20.000 Rio de Janeiro

7,00

(RJ)

20.000 Rio de Janeiro Tel.: 2240059

(RJ)

SE EXISTES, DÁ-ME A LUZ!" fcnri Georges Clouzot (# 1907), famoso cineasta francés,

casado com Vera, filha de Gilberto Amado, foi ferido pela viuvez prematura. Soube, porém, fazer deste duro golpe a ocasiáo de descobrir valores nunca dantes concebidos, como

ele mesmo refere: "Tudo partlu de um «entíntenlo de .desconforto espiritual. A provacgo

da morte de Vera, mlnha esposa, foi terrivel ? mas nunca pensei em procurar

cotnsolacüo na Idéía de que nos reencontraríamos em outro mundo. .Mío'; naquele momento eu estava multo afastado da esperanca do Além. Contudo sentía que a filosofía do absurdo, depots de multo me ter atraído, desemboeava num Impasse. EntSo dlsse a mlm mesmo que, na falta de salvacio sobrenatural, era preciso que eu doscobrlsse uma salvacao para agora, no Oecorrer mesmo desta vida. Ou saja, um modo de existir em

harmonía comlgo

mesmo,

aem

procurar putra

recompensa

que

n'So

esta. E pus-me a ler. U, II multo e, por acaso, encontré! a obra dé Slmone Well. Mediante o exemplo da sua vida, a explicaeáo que ela dava do mal e do sofrimento .dos inocentes, mediante a sua fé, o seu modo de amar o próximo mate do que a si mesma, «través disto tudo, pensei que talvez houvesse uma saida. O comentario do Pai-Nosso que ela redigira e que recitava, esgotada de fadiga, nos vinhais da zona livre (da Franca) no

inicio da ocupacao nazista", o seu diario de usina, lato tudo me Impressto-

nava Sentla-me diretamente interpelado. Descobri que a fé nao é algo que se possa dlscutlí de maneira abstraía e meramente intelectual. Comecel entáo a recitar uma oracao multo vaga, que nao era nem mesmo a oraclo de Abraao, pois, quando Abraao disse: 'Aquí estou', dlante de Deus, ele acreditava totalmente num Deus único. Eu, porém, nao chegava a tanto. Estava dlante de um Deus deaconhecldo. Dizia: 'Se existes, dá-me a luz I' Creio que, o verdadelro pecado, eu o cometí quando tinha qulnze ou dezessels anos; era o pecado contra o espirito, que 6 um reflexo ,do

pecado original; era o pecado de querer ser eu mesmo apenas por mlm

mesmo".

Este texto nos sugere algumas ponderales: 1) Clouzot julga que o seu problema fundamental era o da auto-suficiéncia,... auto-suficiéncia que nao raro aco

mete o jovem quando quer ser «ele mesmo».

2) Clouzot caiu finalmente na filosofía do absurdo... Todavía um acontecimento imprevisto mostrou-lhe que esta é artificial demais para o homem. As aspiragóes á vida, ao bem, ao amor... seriam meramente utopistas? Seria necessário conformar-se com um brusco NSo dito pela Morte aos anseios mais espontáneos do ser humano? — Afinal, o olho, todo feito para a luz natural, tem a sua resposta. O ouvido, todo feito para o som, também tem a sua resposta. O pulmáo, todo feito para o ar, tem outrossim a sua resposta. Ora, se — 457 —

no plano biológico o homem possui uma serie de expectativas devidamente preenchidas, no plano superior das aspiragóes espirituais nao teria ele a sua resposta? 3)

Como quer que seja, Clouzot nao percebia solucáo

para as suas indagacóes.

Todavía resolveu ressurgir do ni-

iüsmo: procuraría a sua satisfacáo em cultivar a honestidade, a sinceridade, a retidáo... Este é realmente o caminho inicial para o Transcendental. Quem aceita o absoluto da honestidade, da veracidade, da dignidade,... quem tem horror as semiatitudes covardes, está na diregáo que leva ao Absoluto Divino.

4) Clouzot pós-se a ler... Entre as muitas leituras empreendidas, deparou com as obras de Simone Weill, fisósofa francesa de origem judaica, que, a partir do indife rentismo, chegara a • fé crista. Simone sofreu duramente, como Clouzot sofreu, e, em meio á dor, descobriu cada vez mais a Deus. A tempera firme de Simone Weil impressionou Clouzot. Se ela chegara a encontrar sua grande resposta no Bem Absoluto que é Deus, por que nao a poderia encontrar também ele? Sem querer predefinir algo, Clouzot comegou a orar...; orava condicionalmente, dizendo: «Se Tu existes,

dá-me a luz!» Esta prece, todo ateu a pode proferir, sem cair na incoeréncia; é uma especie de desafio ao Senhor, que o Senhor nao rejeita;... nao rejeita, porque provém da sin ceridade do coragáo humano; é a expressáo de quem pro cura sem afirmar mais do que pode, mas também sem ter medo do que possa ser verdade. 5) Finalmente, Clouzot encontrou a resposta para o sentido da vida. Encontrou-a em Deus, o Bem Absoluto. Na verdade, todo homem é como uma agulha magnética atraida invisivelmente pelo Norte; este existe realmente e atua, embora imperceptível; enquanto a agulha está desviada do seu polo, é inquieta e agitada; contudo, desde que se volte para

ele, repousa e estabiliza-se. Assim é a criatura humana: irresistivelmente atraída pela Verdade, pelo Amor, pelo Bem,... pelo Senhor Deus, ela se angustia enquanto nao se volta decididamente para Ele; todavía, desde que O descubra e Lhe diga o seu Sim, encontra a paz e a saciedade. A historia está cheia de tais tcstemunhos.

Possam sel

úteis a nossa geragáo! E.B.

— 458 —

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Ano XVIII — N' 215 — Novembro de

1977

Aínda o homem e a máquina :

"os astronautas que voltaram místicos" Em síntese: As páginas que se seguem, reproduzem o texto da reportagem de Helio Costa Junto a astronautas norte-americanos que a

TV-QIobo transmltlu em agosto pp. no seu programa "O Fantástico". Acrescentam-se algumas reflexóes que exaltam o valor de tais depoimentos: o contato com o espago imenso desvenda ao homem um pouco da gran

deza de Deus e da pequenez ou insuficiencia da gloria terrestre.

Comentario:

O público

telespectador

foi

surpreendido

em agosto pp. pela reportagem do programa «O Fantástico»

(Rede de TV-GIobo) referente a astronautas que estiveram

na Lúa. O jornalista Helio Costa, tendo-os entrevistado nos Estados Unidos, redigiu um texto que foi transmitido pela televisño e vai aqui reproduzido na íntegra. O que chama a

atengáo em tais depoimentos, é a transformagáo interior por que passaram esses heróis do espago; a experiencia da reali-

dade cósmica despertou-lhes ou avivou-lhes o senso do Trans

cendental ou da presenga de Deus no universo; tornou-os também mais interessados pelo homem do que pela máquina. É o que o repórter quis exprimir mediante o título abaixo, ao qual se seguirá o texto de Helio Costa.

OS ASTRONAUTAS QUE VOLTARAM MÍSTICOS Há oito anos, em ¡ulho em 1969, o homem descia na Lúa pela primeira vez. Esta viagem, repetida varias vezes nos anos seguintes,

cusiou

maiores

de

dólares

e

dentistas, pilotos e

24

bilhdes

técnicos

dos

exigiu

a

Estados

participando Unidos.

dos

Homens

inteiramente dedicados á tecnología e á ciencia. Mas essas missoes nao foram apenas um feito científico. Aba la ram profundamente os homens que délas participaran!. Um deles

— 459 —

4

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

é hoje um religioso. Outro está envolvido em esfudos de parapsi cología e quase todos vivem ¡solados, recusando-se até mesmo o

falar do assunto.

O que existe

no

espaco

tanto o seu comportamento?

que faz os De

1969

a

astronautas

1972,

doze

mudarem

americanos

andaram na superficie da Lúa e, depois disso, nao mais conseguiram agir ou pensar como antes da viagem.

As mudanzas Neil Armstrong foi o primeiro a pisar o solo lunar e também o primeiro a mudar completamente. Depois de ser recebido como herói e entrar para a Historia, Armstrong foi

depressáo. pletamente á loucura, Armstrong versidade, verdadeiro esquecido.

vírima de urna fortePediu demissáo da Agencia Espacial e ¡solou-se com até mesmo de sua familia. O astronauta chegou quase acusando todos de usa-lo como herói e símbolo. Hoje, leciona engenharia aeronáutica em urna pequeña Unionde é tratado apenas como mais um professor, e tem. pavor da imprensa. A única coisa que quer, é ser

Edwin Aldrin, o segundo astronauta a pisar a Lúa, passou pelos mesmos problemas emocionáis. Ele deixou a barba e os cábelos crescerem e víveu afastado de tudo e de todos, em urna cabana ñas montanhas da California. Quando decidiu voltar á sua vida normal, nao resistiu e teve de ser internado em um hospital para tratamento de disturbios nervosos. Aínda ho¡e está tentando recuperar-se.

Irwin religioso O Coronel

James Irwin,

que

tripulou

a

Apolo

15, após

sua

missao fundou urna organizacao religiosa, juntamente com dois outros astronautas — Alfred Worden, também da Apolo 15, eWilliam Pogue, da Missao Skylab — e vive hoje, como diz, «pela causa de Deus». O piloto de provas, o astronauta que ondou na Lúa, é agora um místico, preocupado em divulgar o Evangelho eem conquistar almas.

— De que maneira sua viagem á mento de vida ?

Lúa mudou seo comporta

Irwin — Minha viagem á Lúa fez com que eu mudasse com pletamente minha maneira de sentir as coisas. O que vi e o que-

— 460 —

ASTRONAUTAS E MÍSTICA

senti, me fizeram mudar. Só de ver a Térra ¡nteira, e ver o quanto é frágil e sem igual, eu passei a fer urna idéia diferente do lugar em que vivemos. O fato de estar táo longe da civilízacao me fez amar a vida que existe na Térra. Eu voltei, sentindo-me muito mais humano do que antes, quando me considerava apenas um

técnico frío e analítico. Minha viagem me transformou. Voltei mais interes&ado nos sentimentos humanos, tentando mostrar a todos o lugar precioso que é a Térra e a necessidade que temos de trabaJhar juntos para que nosso mundo seja preservado. Voltei com urna mensagem divina que enriquecerá a vida de todo ser humano.

— O que vocé sentiu ao

caminhar na

superficie

da

Lúa?

Irwin — Senti algo completamente diferente do que sinto aquí na Térra.

Antes de tudo eu tinha apenas a sexta

parte do meu

peso, por causa da gravidade lunar (menor que a da Térra).

Psi

cológicamente, eu me senti diferente também porque vía a Térra no -espaco do tamanho de urna bolinha de gude.

me senti flutuando porque sabia

Espiritualmente, eu

que nao estava

só.

Que

havia

olguém mais ao meu lado, além do meu colega de missao, David Scott.

O .que quero dizer, é que senti a presenta de Deus.

Estou convencido de que Deus estava ali para me ajudar de todas as maneiras.

Mary Irwin, esposa de Irwin, acha que a viagem á lúa trans-formou seu marido em um homem maravilhoso, sensível e sobretudo crente. Os que trabalham com James Irwin na Organizacáo Reli giosa Vóo Alto, em Colorado Springs, véem o ex-astronauta como um

líder

espiritual,

«¡nteiramente

Apesar de estar apenas com

dedicado

46 anos,

á

causa

James

do

Senhor».

Irwin

¡á

teve

dois ataques cardíacos, mas acha que a morte é apenas mais urna

viagem espacial até o paraíso do Criador de tudo. Segundo médicos, cientistas e estudiosos do programa espacial americano, o treinamento rigorosíssimo a que os astronautas foram

submetidos durante dez anos, para suas viagens, é responsável, em parte, pelo comportamento

dos vóos espaciáis.

estranho

que muitos mostraram

depois

Os astronautas praticamente abandonavam suas

-familias « seus amigos e viviam exclusivamente em funcáo da NASA. — 461 —

j6

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS? 215/1977

Mitchell e o ocultismo Edgard Mitchell, comandante do Módulo Lunar da Apolo em 1971, é doufor em ciencias aeronáuticas e físicas.

14,

Ao voltar da

Lúa, largou tudo para estudar ocultismo e parapsicología.

— O

que

o

senhor chama

de

conscientizacáo

planetaria ?

Mitchell — Isto significa ter consciéncia e preocupando com o nosso planeta como um todo, como ele é visto do universo, e nao apenas com regióes deste planeta.

— Em outras palavras: a Térra é urna coisa só ? ^v

••i

Mitchell — Urna térra, um povo, urna unidade — o ponto de vista da Térra total. — Foi isto que vocé sentiu ao ver a Térra de longe ?

Mitchell — Sim. Sem dúvida, isfo aconteceu comigo e com outros. Todos nos sentimos esta neces;idade de considerar a Térra um todo indivisível.

Sem pedir autorizacao á NASA, pois temia as repercussoes, Ed Mitchell fez urna experiencia com telepatía durante sua viagem á Lúa. Os resultados desta experiencia convencerán! Mitchell de que o mundo está prestes a encontrar urna nova forma de energía.

— O senhor podería explicar as experiencias que fez com a parapsicología durante sua viagem á Lúa ? Mitchell — A experiencia que fiz, ¡á trinta

anos

nos

laboratorios.

Cinco

figuras

tinha sido

tentada há

geométricas

sao

colo

cadas sobre urna mesa, cada urna com um número. Lá da Lúa eu tentava acertar qual o número de cada figura, enquanto um amigo em Houston olhava fixamente para as figuras, tentando fazer urna

transmissao telepática.

A nossa experiencia foi bem sucedida.

Será que no espaco as mensagens telepáticas se propagam e sao recebidas com mais facilidade? Ed Mitchell diz que nao sabe explicar,

até

agora,

o

sucesso de

Soviética acaba de informar em telepatia, na esperanza radio nos voos espaciáis. A usar as mensagens cerebrais,

sua

experiencia,

mas

a

Uniao

que está treinando seus cosmonautas de, no futuro, nao precisar mais do NASA, entretanto, nao tem planos de pelo menos por enquanto.

— 462 —

ASTRONAUTAS E MÍSTICA

— Portante, o senhor acha que depois de ¡r ao espaco homem nunca mais é o mesmo outra vez ?

o

Mitchell — Isto aconteceu com quase todos os astronautas. Nos voltamos sentindo algo diferente. Mais preocupados com a Térra, com os problemas da Humanidade e muito mais cientes de tudo. Outro fator que contribuiu para o comportamento estranho dos astronautas, foi o esquecimento do público. Eles eram considerados heróis do século. Suas fotos apareaam nos ¡ornáis de todo o mundo e, como outras pessoas famosas, nao podiam sair á rúa sem serem

assediados

pelos

fas.

Depois,

tudo

gente se lembra dos homens que andaram

acabou. na

Hoje,

pouca

Lúa, ou seria capaz

de reconhecé-los.

W*orden, assistente social Voces :e lembram, por exemplo, do Coronel Alfred Worden, comandante da Apolo 15? O Coronel Worden é hoje diretor do Programa de Assisténcia Social de urna grande industria na Florida. Recebeu varias propostas para irabolhar como técnico especializado, mas preferiu itm campo diferente, onde mais importante é o ser humano.

— O que existe no

espaco que faz o homem

Worden — Vou ter de responder de de vista técnico, um vóo espacial é como onde somos protegidos por urna pequeña sou a ser diferente quando chegamos á tuando no espaco.

Pela primeira no céu, do mesmo tamanho, tao que a Térra também tem um fim; existe, no sistema solar, nenhum como a Térra. A Térra é o único

mos

tratando

o

mudar tanto ?

duas maneiras. Do ponto un vóo a grande altura,

cápsula. Mas tudo pasLúa e vimos a Térra fluvez, vi a Térra como vejo a Lúa pequeña. Ai comecei a pensar é nela que todos vivemos. Nao lugar capaz de sustentar a vida lugar que temos o nos nao esta

nosso planeta adequadamente. Quando passava vía o universo com muito mais estrelas do que

por tras da Lúa, e

se vé

na Térra,

e via sua

imen;!dao,

pensava. . .: talvez

outras térras como a nossa, mas ¡nacessiveis. único que temos.

Nao podemos

O nosso

existam

mundo é o

deslrui-lo.

O Coronel Worden vive agora com sua familia em West Palm Beach, Florida. Seus filhos voltaram a ler urna vida normal. Nao sao mais apontados como os filhos do «homem que foi á Lúa». Sua esposa

prefere

o

anonimato em

que

— 463 —

se

encontram

agora.

J

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

Visdo diferente Alguns astronautas mudaram muito, como Armstrong, Aldrin, Mitchell, Irwin, Worden e Pogue. Outros mudaram pouco, mas

mudaram. Todos, sem excecao, trocaram as cabines dos jatos pelos

escritorios mais seguros de agencias do governo ou de empresas particulares. Metade dos astronautas do Programa Apolo se dívorciou e cinco ainda estdo fazendo tratamento psiquiátrico. Dos astronautas soviéticos, pouco se sabe, mas sua historia segué os mesmos eaminhos de seus colegas americanos. Todos voltaram com

urna visao diferente do mundo. descreve assim:

vez.

Visco que o Coronel James Irwin

«Eu voltei sentindo-me urna pessoa diferente.

Um místico, tai-

Muitos nos véem, depois de nossas viagens á Lúa, como mís

ticos, mas algo muito estranho aconteceu realmente, que mudou nos-as vidas. Eu, por exemplo, voltei sentindo-me muito mais perto de Deus e meus sentimentos religiosos sao muito mais profundos agora.

Voltei mais humano, mais espiritual».

Edgar Mitchell pensa da mesma forma.

«Eu acho que minha vida mudou muito.

Ninguém pode fazer

urna viagem espacial sem se transformar profundamente. Primeiro com a fama que se adquire, mas principalmente porque é impos-

sível ver a Térra no espaco sem se emocionar e sem mudar nossa concepcao sobre este planeta».

Os astronautas americanos foram preparados durante dez anos para suas viagens espaciáis. Mas será que foram preparados para voltar á Térra? Quem responde é o Coronel Worden, da Apolo 15:

«Como vocé sabe, nos passamos dias, semanas, meses e anos tremando para nosso vóo. Mas, em nenhum momento, durante este treinamento, nos ensinaram como voltar á Térra e como enfrentar e te impacto. Acho que todo projeto do governo é assim mesmo. O governo tinha um objetivo e nos treinou para conseguir alcancá-lo. nosso.

Depois, o problema do reajuslamenfo era exclusivamente E isto criou problemas serios para muitos astronautas. Nos

nao no. preparamos para enfrentar o mundo depois de nosso vóo espacial».

O que aconteceu com estes astronautas, ninguém sabe ao certo. O fato é que e!es viveram durante dias, e até meses, no — 464 —

ASTRONAUTAS E MÍSTICA

espato e viram a Térra a 300 mil quilómetros de distancia, enquanto

andavam sobre a superficie de um outro corpo celeste.

E a Térra

ficou infinitamente pequeña e o universo extraordinariamente ¡menso. Explioac.60 psicológica

O Dr. Justin Carey, diretor da Associacao dos Psicólogos de

Nova lorque, tenta explicar assim esta mudanca:

«Observando os astronautas no seu regresso á Térra vemos claramente que passaram por mudanca radical em seu estilo de vida inteira dedicada á tecnología, á engenharia e á ciencia; nos os encontramos em outras atividades completamente diferente* Em setores que nada tinham a ver com seu trabalho antes do vóo espa

cial. Portanto, alguma coisa aconteceu lá no espaco, porque eles mudaram completamente sua personalidade. Viram a Térra de urna

posicao privilegiada e isfo mudou sua maneira de pensar».

A Dra. Alice Carey, secretaria da Associacao dos Psicólogos, diz que «na vida que conhecemos na Térra, exisfem momentos em que passamos

emocoes

extremas que

podem

ser

de

dor ou

de

alegría. Estas emocoes nao acontecem sempre, mas, quando acon-

tecem, podem modificar totalmente a maneira de urna pessoa pen sar, sentir e ver o futuro. Eu acho que foi isto que aconfeceu com

os astronautas».

O que aconteceu realmente, ninguém sabe. Teria sido a visño da Térra que levou Irwin a sentir a presenca de Deus?. .. Armstrong a se isolar de ludo e de todos? Aldrin a ter um disturbio nervoso?

O que fez com que o homem-máquina se voltasse para os proble

mas da Humanidade, como o Coronel Worden, como Harrison Smifh, que se elegeu senador para defender os pobres e os indios do Novo México? O que fez com que Scott Carpenter procurasse no fundo dos océanos, como mergulhador, o que n5o encontrou no espaco?

A única opiniáo aceitável é que os astronautas nao foram preparados para enfrentar o mundo depois de seus vóos espaciáis e nao conseguem entender como um planeta, táo pequeño e único,

pode se destruir aos poucos com o homem matando o seu semeIhanfe ñas .guerras que nao acabam nunca, e destruindo a própria

térra, que aos poucos se vai tornando estéril e sem vida, como a Lúa que visita ram.

Surpreendentes como sao, tais declaragóes sugerem algu-

mas ponderacóes, que abaixo proporemos: — 465 —

10

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS^ 215/1977

TENTANDO REFLETIR. . .

1.

Antes do mais, convém observar que os astronautas

foram homens criteriosamente escolhidos entre os mais sadios

e equilibrados. Por conseguinte, as suas declaragóes manifestam as reagóes de alguém que sai da rotina da vida diaria

para descobrir realidades que escapam ao comum dos mortais. As suas paiavras «místicas» nada tém de mórbido, mas brotam do genuino espirito humano.

2. Nos astronautas avivou-se a consciéncia da presenga de Deus... Isto é bem compreensivel; diz o salmo 18 que os céus cantam a gloria de Deus e proclamam o seu poder criador (v. 2). O contato do homem com a natureza, prin cipalmente com os espagos cósmicos, só pode contribuir para

manifestar-lhe os vestigios do Criador, cuja sabedoria e poder se espalham no infinitamente grande e no infinitamente pe queño. Alias, diz muito bem o adagio: «A pouca ciencia afasta de Deus; a muita ciencia leva a Deus». Em nossos días, táo marcados pelo materialismo, o testemunho de fé dos astronautas (Edwin Aldrin chegou a fazer desassombradamente a primeira Comunháo na Lúa por ocasiáo da primeira alunissagem, em 1969) vem mostrar como a religiáo nao é expressáo de urna cultura ultrapassada nem é exclu siva do temperamento feminino ou compensagáo para trau mas e fracassos na vida, mas é auténtica expressáo da inte

ligencia e da vontade do homem livre de paixóes e posto em presenga das realidades fundamentáis.

3. Os cosmonautas voltaram mais interessados pelos valores humanos... Viram a pequenez da térra e a relatividade dos bens que costumam fascinar os homens. E dispu-

seram-se a refazer a escala dos valores, colocando o homem

logo abaixo de Deus e os bens espirituais ácima dos bens materiais. Afirmava muito sabiamente o filósofo e matemá tico francés Blaise Pascal (f 1662): «O homem é um canijo pensante. Ele morre, mas sabe que morre, ao passo que as árvores (muito maiores do que o homem) morrem, mas nao sabem que morrem». O que faz a grandeza do mundo visivel, é o homem, dotado de inteligencia e vontade; pequeño em volume, o homem domina a materia por suas faculdades

espirituais. Está claro, pois, que a pessoa humana, com o que ela tem de misterioso e imprevisivel, mais vale do que a máquina e os lucros financeiros. É o que os astronautas lembram ao público numa época em que muito mais impor— 466 —

ASTRONAUTAS E MÍSTICA

11

tante parece ser a máquina com a sua produtividade do que o ser humano, que, embora pobre e pequenino, foi feito á

imagem e semelhanca de Deus.

4. É outrossim interessante notar como os astronautas, que foram objeto da atengáo do mundo inteiro e obtiveraní o maior sucesso que se tenha podido imaginar até hoje, nao quiseram usufruir das «vantagens» dessa gloria. Retira-

ram-se para lugares discretos, trabalham modestamente, servem ao próximo... quando poderiam ser «estrelas»» para o grande público. Este estranho comportamento bem recorda que, afinal de contas, todos os bens materiais sao pequeños demais para o homem; tudo é transitorio...; nada é capaz de preencher a sede de Infinito que todo homem traz em si e que as viagens ao espago só concorrem para agucar. Vém ao caso mais urna vez as famosas palavras de S. Agostinho: «Senhor, Tu nos fizeste para Ti e inquieto é o nosso coracáo

enquanto nao repousa em Ti»

(Confissóes II).

Pode-se, pois, dizer que o depoimento dos astronautas

vem a ser mensagem de enorme valor para a humanidade contemporánea. A tendencia da vida de hoje, absorvente e

materializante, é a de fazer crer ao homem que a ciencia e a técnica dispensam religiáo,... que esta é um produto do medo, da infantilidade e da ignorancia do género humano,...

que Deus tem de morrer para que o homem possa viver como Super-Homem (Nietzsche),... que Deus e a religiáo sao fatores de alienagáo ou o opio do povo... Na verdade, todas estas modernas concepcóes, imaturas e levianas, caem diante da atitude dos astronautas. Note-se, alias, que a reportagem da TV-GIobo menciona o fato de que também os cosmonautas soviéticos, formados na escola do materialismo ateu, regressaram á térra com urna visáo diferente do mundo,... visáo

que o Coronel James Irwin assim compendia: «Voltei sentindo-me muito mais perto de Deus; meus sentimentos reli giosos sao muito mais profundos agora. Voltei mais humano, mais espiritual».

É, portante, para desejar que a presente gera?áo se beneficie espiritualmente com as viagens á Lúa até hoje rea lizadas. Se estas nao trouxeram riquezas materiais para a Térra, é certo que proporcionaran! algo de ainda maior, ou seja, urna nova consciéncia dos valores espirituais, e deixaram apelo eloqüente a que os homens se libertem do fascínio

induzido pelos bens materiais em favor da redescoberta do

Transcendental e do Absoluto.

— 467 —

Quelmar os cadáveres ?

sim ou nao á cremacáo?

Em sintese: Desde a pré-histórla, estáo em uso tanto o costume de sepultar como o de incinerar os cadáveres. O Cristianismo, herdando, alias, a tradigao judaica, consagrou exclusivamente a inumacáo, fícando a cremacao em uso tSo somente entre alguns povos nao cristáos. Nos séc. XVIII e XIX, o racionalismo, a Maconaria e certos pensadores materialistas propugnaran) a cremacio em lugar da inumacSo, tendo em vista explícitamente contradizer ás verdades cristas da ressurreicáo dos

morios e da imortalidade da alma; o corpo humano poderla ser tratado como líxo, porque nada flcaria da pessoa após o óbito; houve mesmo quem propugnasse a industrializacáo e a comerclalizacáo das cinzas huma nas, para efeitos de ilumlnacao a gas, adubo da térra, etc.

Diante de tais poslcóes, a Igreja, ñas décadas de 1880 e 1890, houve por bem condenar a cremacao impondo sangdes aos fiéis que a pedissem ou a aplicassem. Todavía quase setenta anos após a primeira sancüo

(1886-1964) a S. Igreja julgou oportuno mitigar as normas condenatorias anteriores, visto que hoje em dia a cremacSo vem sendo solicitada nSo raro por motivos de higiene, de economía, de urbanismo e outros, sem alguma intencáo anticrista. Conseqüentemente, os fiéis que pecam a cremacüo para seus cadáveres, nao estáo sujeitos a san^áo. Nao obstante, a Igreja continua preferindo a InumacSo, visto que esta melhor respeita a dignidade do corpo humano e realca a diferenca entre um cadáver humano e urna peca de lixo.

Tal mudanca de disciplina nao afeta o Credo, visto que a prática da cremacio nao impede, em absoluto, a ressurreicáo dos corpos e a imor

talidade da alma.

Comentario: Em agosto pp. levantou-se mais urna vez (e entáo no Rio de Janeiro) a questáo da conveniencia e da liceidade da cremagáo dos cadáveres, visto que na Cámara dos Deputados do Estado tramitou um projeto que visava á instalagáo de fornos crematorios.

Em tais circunstancias, a

opiniáo pública interessou-se pela posigáo da Igreja frente á questáo. Dado que o assunto conserva toda a atualidade, exporemos, ñas páginas que se seguem, a doutrina da Igreja sobre o tema «cremacáo de cadáveres». — 468 —

CREMACAO DE CADÁVERES

1.

13

Um pouco de historia

Antes do mais, notemos:

A cremacáo ou incineragáo é o rito funerario que con siste em reduzir o cadáver a cinzas por meio do fogo. Ao contrario, a inumagáo ou o sepultamento entrega os despojos humanos á térra ou a urna cámara sepulcral, onde sofreráo

a agáo das causas naturais.

1.

A inumagáo é praticada desde a idade da pedra

talhada, como atestam as sepulturas pré-históricas encontra das em Cro-Magnon, Aurignac, La Chapelle-aux-Saints...

A crcmagáo, por sua vez, já era conhecida na idade neolitica, e, mais ainda, na do bronze; apenas no final desta parece ter sido amplamente praticada.

Os dois ritos persistiram através dos séculos com predo minancia aparente da inumagáo. É difícil assinalar urna causa única para essa diversidade de costumes. Pode-se julgar

que

motivos

de

ordem

prática

ou

funcional

tenham

influenciado os antigos; mas é certo que um dos fatores prin cipáis, neste particular, foram as idéias religiosas dos diver sos povos e as suas crengas concernentes 'á vida futura. Note-se, alias, que os ritos funerarios sempre foram a expressáo dos conceitos que os homens tinham da realidade da morte; por conseguinte, a escolha entre inumagáo e cremagáo terá sido inspirada pelas concepgóes que os antigos nutriam com referencia á morte e ao Além. Basta examinar os cos tumes funerarios dos semitas, dos egipcios, dos persas, dos gregos, dos romanos, dos germanos,... para perceber, atra

vés dos mesmos, a filosofía religiosa que tais povos profes-

savam no tocante á morte e á realidade postuma.

Quando o Cristianismo sobreveio á civilizac.áo antiga, adotou desde a origem a inumagáo como única maneira de tratar os mortos. Tal rito era também o único usual entre os israelitas. Todavía a própria doutrina crista justificava a preferencia pelo sepultamento; este parece ser um modo mais respeitoso e reverente de tratar, os corpos,... corpos que, conforme a fé crista, sao em vida o templo do Espirito Santo, alimentado pelo próprio corpo eucaristico de Cristo.

A propagacáo do Cristianismo fez que se propagasse também o costume de sepultar os mortos, de modo que aos — 469 —

J.4

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

poucos no mundo cristáo foi desaperecendo a prática da cre magáo. Apenas em populagóes nao cristas e por vezes aínda primitivas se foi conservando o uso de incinerar, mesclado de práticas nao raro exóticas. 2. No século XVIII, a Revolugáo Francesa despertou no Ocidente a atengáo para a cremagáo. Em 1798 foi pro-

posta a construgáo, em Paris (Montmartre), de um colum bario (ou edificio a nichos) no qual seriam guardadas as urnas funerarias portadoras das cinzas de cadáveres cremados. Quatro grandes portas lhe dariam acesso, dedicadas respectivamente á Infancia, á Juventude, á Maturidade e á Velhice; quatro estradas, sinuosas como sinuosa é a vida, levariam até o monumento central desse edificio,... monu mento que seria urna pirámide coroada de um tripe, a signi ficar o fim de tudo. O projeto encontrou pouca ressonáncia, de modo que, embora muito focalizada e discutida, a crema gáo nao chegou a ser usual nos países cristáos até a segunda metade do século XEX.

Este, fortemente marcado por idéias materialistas e atéias, constituiu um clima propicio á disseminagáo da tese e da prática da cremagáo; naquela época, esta praxe significava urna réplica ao Cristianismo ou a expressáo de que nada há após a morte, podendo conseqüentemente o cadáver humano ser tratado como lixo.

Em 1849, Jacob Grimm defendia a incineragáo numa

comunicagáo feita á Academia de Berlim. Em 1857, a mesma prática foi apregoada por Coletti em Pádua. Nos anos sub-

seqüentes, foi

apresentada

em

Congressos

de Medicina

e

outros ñas cidades de Florenga, Miláo, Veneza, Ñapóles, Roma... Em 1873 o Senado italiano autorizou a cremagáo e em 1874 foi construido um forno crematorio em Miláo. Outros se lhe seguiram na Italia e fora da Italia. Simultá neamente foram-se também fundando sociedades destinadas á propagagáo da incineragáo. A mentalidade dos arautos da cremajáo no século pasevidencia-se muito bem através de testemunhos que chegayam a apregoar a comercializagáo e a industrializagáo sado

das cinzas humanas.

O Dr. Xavier Rudler, por exemplo, escrevia em carta ao Dr. Caffe: — 470 —

CREMACAO DE CADÁVERES

15

"Acho que nada há de mals simples do que colocar os cadáveres etn

urna retorta a gas e tazedlos dlstllar até eslarem reduzldos a clnzas. O gas resultante dessa dlstllacáo poderla servir para a llumlnacfio, desde que tlvéssemos poderosas máquinas que o depuraasem...".

Em pequeña brochara de autor anónimo, intitulada «Brü-

lons nos morts!», lia-se a seguinte frase:

"Essa combustSo desprende vapores, que é preciso tornar, na medida do posslvel, inocuos. Aguardamos possam um día ser utilizados; a ciencia por certo nfio deixará de o possibil itar".

O autor inglés Henry Thompson apresentou ao público o seguinte cálculo: "Dado o número de óbitos ocorrentes na cldade de Londres, poder-se-lam recolher dos aparelhos crematorios, no flm de cada ano, 200.000 libras de ossadas humanas destinadas a adubar o solo. Isto diminuirla consideravelmente as despesas de Importacáo" ("Questlons actuelles", t. LXXXII p. 284).

Ainda ia

ponderava:

mais longe

"Oual nfio era urnas de cinzas no sepultura por outro, no flm de seis ou

o

Professor Moleschott,

quando

o valor dessa poeira que os antlgos deposltavam ñas fundo dos túmulos I... Se trocássemos um lugar de depols que tlvesse servido durante um ano, terlamos, dez anos, um campo dos mais fértels... Assim se

aumentarla a producfio de cereals" (Hornsteln, "Les Sepulturas", p. 148).

Eis aínda um depoimento que bem atesta como a tese da cremaeáo dos cadáveres, no fim do século passado, era sugerida por intencáo filosófica anticristá... Em carta cir cular da Franco-maconaria encontra-se o seguinte: "A

Igreja

Romana

lancou-nos um

desafio

condenando

a

crema?So

dos cadáveres, que a nossa socledade até agora propagou com os mals vantajosos resultados. Os FF... deverlam empregar todos os melos para propagar a praxe da cremacfio. A lgre|a, prolbindo quelmar os corpos, afirma seus dlreitos sobre os vivos e os morios, sobre as consciénclas e os corpos, e procura conservar no povo crencas antigás, hoje dlsslpadas á luz da ciencia, crencas concernentes á espirltualidade da alma e á vida futura" (R. des Se. Ecc, t. LIV, p. 508).

O arcebispo de París, Cardeal Richard,

gida ao clero aos 24/11/1890, observava:

em carta diri

"As doutrlnas professadas pelos homens que procuram enaltecer a cremacfio, constltuem motivo para tornar tal tentativa suspeita aos fiéis. Em geral, trata-se de homens abertamente filiados á Franco-maconaria ou,

— 471 —

.16

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS;» 215/1977

ao menos, • de homens que n§o se acaulelam suficientemente contra

a

Influencia das seitas condenadas pela Igreja ou contra a seducáo dos

erros propagados

na sociedade contemporánea

pelo

naturalismo

sob o

pretexto de progresso científico. Alias, ¡á iríais de urna vez os ¡nimigos da Religüo declararam em alta voz que a grande vantagem da incineracáo seria a de afastar dos funerais o sacerdote e substituir o sepultamento

cristáo pelas exequias meramente civis". (Testemunhos

colhidos no

artigo "Incinération"

de J

Besson

em

JIDictionnaire Apologétique de la Foi Catholique" II. Paris 1911, col. 637s).

Diante da praxe inspirada por tais concepeóes, pode-se

compreender que a atitude da Igreja tenha sido de recusa

formal.

2.

O Nao no materialismo

Aos 19 de maio de 1886, a Congregado Romana do Santo Oficio houve por bem condenar a prática da cremacjio dos cadáveres mediante o seguinte decreto:

"Numerosos bispos e fiéis esclarecidos verificaran) que homens de fé dúbla ou ligados á Maconaria trabalham hoje em dia ativamente por res

taurar o costume pagao de queimar os cadáveres humanos e que até mesmo

vao sendo fundadas sociedades que se destinam especialmente a tal fim. Receiam os bispos e os cristáos mencionados que os artificios e sofismas dos ¡novadores iludam os fiéis e, aos poucos, concorram para diminuir a estima e o respeito do costume cristio de sepultar os corpos, costume constante e

consagrado pelos ritos sotenes

da

Igreja.

Ora, para

dar aos

fiéis urna norma certa que os preserve de tal armadilha, pediram á Suprema Congregacao da Inquisicao Romana Universal que esclarecesse

1)

Se é

2)

Se é licito a alguém prese rever a cremacio do próprio cadáver

promover a

licito matricular-se ñas sociedades

incineracáo dos cadáveres humanos ?

que tem por finalidade

ou do cadáver de outrem ?

Os Srs. Cardeais membros da Congregagáo do Santo Oficio, após ter

seria e maduramente ponderado as perguntas atrás expostas e, depois de ter ouvldo o parecer dos consultores, julgaram dever responder:

A primeira pergunta, negativamente. E, caso se trate de sociedades

filiadas á Maconaria, sejam aplicadas as sancóes que a

esta se devem.

A segunda pergunta, negativamente. As presentes

respostas foram

levadas ao conheclmento de S. Santi-

dade nosso Santo Padre Lefio XIII, o qual aprovou e confirmou as decisdes dos EE. Padres, e ordenou fossem comunicadas aos Ordinarios 1 dos luga1 "Ordinarios" sSo os bispos e os prelados que tenham jurlsdicfio de

bispos em suas prelazias.

— 472 —

CREMACAO DE CADÁVERES

17

res, para que estes instruam oportunamente os fiéis a respeito do reprovável costume de queimar os cadáveres humanos e com todos os esforcos afastem do mesmo o rebanho a eles confiado.

Jos. Mancinl, Secretario da S.R.U.

Inquisicáo"

Mais: aos 15 de dezembro de 1886, novo decreto do S. Oficio ordenava que nao se desse a sepultura eclesiástica aos fiéis que espontáneamente tivessem escolhido a cremagáo

e, notoriamente, houvessem perseverado nessa opgáo até a hora da mor te. Finalmente aos 27 de julho de 1892 um terceiro decreto proibia a celebragáo pública da S. Missa era sufragio dos fiéis que estivessem incluidos na cláusula ácima, sem, porém, excluir a celebracáo privada da S. Missa pelos mesmos. Proibia outrossim a administragáo dos últimos sacra mentos a quem tivesse solicitado a cremagáo do respectivo

cadáver, embora tal pessoa estivesse consciente de que tal praxe contrariava á legislagáo da Igreja.

Tais

rém, que

decretos

sao, sem

dúvida,

severos.

Note-se,

po

1) Nao rejeitam a cremagáo em nome do Direito natu ral ou do Direito divino positivo; a proibigáo nao apela para algum preceito do Senhor que a Igreja nao possa modificar. Mas apenas constituí Direito positivo da Igreja que se baseia em circunstancias próprias da época, ou seja, na necessidade de dissipar conceptees falsas ou materialistas que, por oca-

siáo das campanhas crematorias, punham em perigo a fé dos católicos na segunda metade do século XIX. 2) O que o decreto de 1886 rejeita, é a incineracáo pro posta como rito normal de funerais. Nao ficaria excluida a

mesma

em

casos

excepcionais,

como

as

circunstancias

de

guerra, epidemias e outras. Tais casos extraordinarios ficariam fora do ámbito da legislagáo ordinaria.

3) Note-se, alias, que na india, por exemplo, as auto ridades eclesiásticas no século passado mandaram aos sacer

dotes católicos que nao interferissem nos casos em que os cadáveres de cristáos eram incinerados por parentes náo-cristáos, em vista de razóes de prestigio de casta (cf. «Collectanea S. Congregationis de Propaganda Fide» n* 1626s, setembro de 1884). Qualquer intervengáo dos missionários nessa praxe provocaría serias represalias, prejudicando des-

necessariamente a obra de evangelizagáo — 473 —

do povo indiano.

^8

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

Em certas provincias do Japáo, a incineragáo tornou-se usual para os próprios fiéis católicos, com a licenga da Santa Sé, pois naquele país tal praxe carece de significado anti-

cristáo.

4)

Mesmo nos casos ordinarios, as censuras do S. Ofi

cio só atingiriam aqueles que voluntariamente se tornassem

culpados de incineragáo. Conseqüentemente excetuavam-se aqueles que sofressem a incineragáo sem a terem solicitado; também nao atingiriam aqueles que, por forga de imposigóes incontornáveis, tivessem que cooperar na cremagáo; tal seria o caso de médicos, funcionarios e operarios que fossem, por razoes de emprego, constrangidos a colaborar em tal prática, sem poderem correr o risco de perder o seu emprego abrup tamente.

Ainda a titulo de ilustragáo, pode-se citar o seguinte

fato:

A respeito de membros (bragos, pernas, etc.) amputados em intervengóes drúrgicas, Religiosas que trabalhavam num hospital dos Estados Unidos da América, nao sabendo como proceder, interrogaran! a Santa Sé a propósito. Aos 3 de agosto de 1897, receberam em resposta as seguintes nor mas: seria desejável, ñas dependencias do hospital se reser-

vasse pequeño espago de térra, que, após a béngáo do Ritual, ficasse destinado a receber os membros extraídos de pacien tes; caso, porém, esta praxe fosse dificil ou inexeqüível, se conformassem aos costumes vigentes no lugar, ou sepultando em térra profana ou, se os médicos o mandassem, recorrendo •á cremagáo.

O Direito Canónico promulgado em 1917 incorporou as determinagóes do S. Oficio atrás expostas: Quem pedisse a cremagáo do seu cadáver e nao se rctratasse até o fim da vida, fioaria privado de sepultura eclesiás

tica (can. 2291, n' 5; can. 1240, § 1', n« 5, e can. 1203)

assim como do rito habitual de exequias (can. 1204); além disto, nao seria licito celebrar publicamente a S. Missa por tais pessoas após a morte, nao ficando excluida, porém, a possibilidade de se lhes aplicar a S. Missa em caráter privado (cf. can. 1241). Passaram-se os tempos...

primeiro

decreto

do

S. Oficio

Quase oitenta anos depois do

a

respeito

— 474 —

da

cremagáo

de

CREMACÁO DE CADÁVERES

19

cadáveres, a S. Igreja julgou oportuno reconsiderar as medi das disciplinares referentes a cremagáo adotadas em fíns do secuto passado.

Diga-se, alias: as medidas disciplinares da Igreja dependem das circunstancias de cada época da historia: v:-sam a preservar e favorecer a mensagem do Evangelho dentro dessas circunstancias. Com a evolugáo dos tempos, as normas disciplinares da Igreja sao revistas a fim de melhor corres ponder as necessidades de outros tempos. Foi justamente o que se deu com as sancóes outrora anexas á incineracáo.

3.

Urna nova atitvde

1. Visto que a recusa da cremacáo, na Igreja, nao era decorréncia de urna verdade de fé, mas simples norma suge rida por circunstancias históricas, a S. Igreja, diante de situacóes novas,

houve

por

bem

rever a

sua

atitude

anterior,

publicando aos 24/X/1964 a seguinte Instruyo emanada da S. Congregacáo do S. Oficio:

"A Igreja sempre procurou fomentar o piedoso e cons tante costume cristáo de sepultar os cadáveres dos fiéis. Ela o fez, ora ¡nstituindo ritos que oportunamente punham em relevo a significacao simbólica e religiosa da inumagáo, ora cominando penas contra aqueles que contrariassem táo salutar costume. A Igreja exerceu essa vigilancia principalmente nos casos em que a inumagáo era combatida em virtude de

ánimo infenso aos costumes cristaos e ás tradigóes eclesiás ticas, por parte de pessoas que tencionavam substituir o pultamento pela cremagáo a fim de negar as verdades cris

tas, máxime a da ressurreicáo dos mortos e a da imortalidade da alma humana.

Como se compreende, tal intencáo era algo de mera mente subjetivo por parte dos fautores da cremacáo, pois a cremacáo como tal nao contradiz ás verdades da fé crista. Com efeito, a ¡ncineragao do cadáver nao atinge a alma nem impede a Onipoténcia Divina de ressuscitar o corpo; por

conseguirte, nao implica pas da fé.

objetiva negagao daqueles princi

Donde se vé que a cremagao nao é algo de intrínseca mente mau ou por si infenso á religiáo crista. A Igreja sem— 475 —

^0

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

pre professou isto, de modo que nao se opunha nem opóe á. incineragáo de cadáveres em circunstancias especiáis,

como, por exemplo, nos casos em que constava ou consta com certeza que a cremagáo era ou é praticada por intencáo

honesta e graves motivos, principalmente por razóes de ordem pública.

Nos últimos tempos tornou-se evidente, de um lado, que o espirito anti-religioso, fautor da cremacáo, se vai atenuando, como, de outro lado, aparecem com clareza e freqüéncia crescentes, circunstancias que dificultam a praxe de sepultar os cadáveres. Em conseqüéncia, tém sido apresentadas á Santa Sé peticóes no sentido de obter a mitigagáo da disciplina eclesiástica concerniente á cremacáo dos cadáveres. Alias, consta que esta hoje em dia é freqüentemente praticada sem o mínimo odio á Igreja e aos costumes cristáos, mas única mente por motivos de higiene ou de economía ou de outra ordem, seja pública, seja particular. A Santa Mae Igreja, atenta, sem dúvida, ao bem espiritual dos fiéis em primeiro lugar, mas também consciente de necessidades de outra índole, houve por bem acolher com ánimo benigno tais solicitagóes, estabelecendo quanto se segué:

1)

Cuide-se de que o costume de sepultar os

corpos

dos fiéis defuntos seja santamente conservado. Por isto os Ordinarios, mediante instrugdes e explanacóes oportunas, procurem fazer que o povo cristáo evite a prática da cremacáo

e nao se alaste, a nao ser por motivos imperiosos, do costume de sepultar, que a Igreja sempre favoreceu e consagrou com ritos solenes. 2)

Todavia,

para que nao sejam

demasiado

agravadas

as dificuldades oriundas das circunstancias de nossos dias e a fim de que nao se torne necessário recorrer a freqüentes dispensas da legislagáo vigente, parece de bom alvitre mitigar de certo modo as prescrigoes do Direito Canónico atinentes á cremagáo. Isto será feito nos seguintes termos: Doravante, o canon 1203 § 2 (que proibe seja executado o pedido de cremagao) e o canon 1240 § 1 n? 5 (que veda a sepultura eclesiástica a quem ordene a cremagáo de seu cadáver) já nao teráo vigencia universal, mas apenas seráo aplicados aos casos em que conste que a cremagáo foi escohida no intuito de contradizer ás verdades cristas, ou em con-

— 476 —

CREMACAO DE CADÁVERES

21

seqüéncia de ánimo sectario, ou ainda por odio á fé católica e á Igreja.

.

3) Disto se segué que ás pessoas que escolherem a cremagáo, nao se deveráo negar, por esse motivo, nem os

sacramentos nem os sufragios públicos a nao ser que conste terem essas pessoas feito sua opgáo a fim de contradizer aos principios do Cristianismo (como dito atrás).

4) A fim de que nao se atenué o respeito dos fiéis cató licos á Tradicáo da Igreja e fique manifesta a mente da Igreja alheia á cremagáo, o rito litúrgico de sepultamento e os subseqüentes sufragios nunca poderáo ser celebrados no próprio recinto da cremagáo nem durante a trasladagáo do ca dáver para o local da incineragao.

Esta Instrugáo foi firmada pelos Eminentíssimos Padres encarregados da tutela da fé e dos costumes na sessáo plenária de 8 de maio de 1963. E Sua Santidade o Papa Paulo VI dignou-se aprová-la em audiencia concedida ao Eminentíssimo Secretario do S. Oficio em 5 de julho do mesmo ano.

Sebastiáo Másala,

2.

Secretario"

Este importante documento, como se percebe, sugere

algumas observacóes:

a) Antes do mais, chama a atengáo a afirmacáo de que a recusa da cremacáo, por parte da Igreja, nao se devia a razóes dogmáticas ou a principios de fé, mas únicamente á necessidade de manter viva nos fiéis cristáos a consciéncia de certas verdades que os fautores da cremagáo tencionavam apagar.

b)

Por conseguinte, urna eventual alteragáo das nor

mas disciplinares anteriormente publicadas

sobre

cremagáo

de cadáveres nao significa modificacáo de artigo do Credo nem concessáo a filosofías nao cristas, mas, simplesmente, traduzir de nova maneira as eternas verdades da fé: se a

cremagáo se torna por vezes recomendada por razóes higié nicas, económicas, urbanísticas ou outros motivos respeitáveis, nao há por que se lhe opor.

c) Contudo a Igreja continua a preferir o sepultamento dos cadáveres e considera a cremagáo como praxe de exce— 477 —

.22

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

Cao ou de emergencia (excegáo, porém, que a Igreja nao recusará aos seus fiéis desde que nao seja inspirada por motivos anticristáos). As razóes de tal preferencia sao as

seguintes:

— O respeito á natureza e ao curso natural das coisas.

O senso cristáo reverencia as obras de Deus.

Este principio

se aplica ao caso da decomposi^áo dos cadáveres e (com milito mais preméncia ainda) a tudo que diz respeito á geraQáo de novo ser humano.

— A consciéncia da dignidade do corpo humano. O Fi-

lho de Deus, encarnando-se, tocou e santificou a carne. Mais ainda: esta, pelo Batismo, é feita portadora de Deus, templo da SS. Trindade; a Eucaristía a póe em contato íntimo com

o corpo santíssimo de Gristo. Sendo assim, repugna espontá neamente ao cristáo tratar o corpo humano como se trata urna porgáo de materia tornada inútil, langada ao lixo e des truida pelo fogo; a carne que, conforme Santo Agostinho, «o Espirito Santo usou para toda obra boa» («De cura pro mortuis gerenda» 2), merece respeito, respeito que os antigos já na pré-história tributavam aos seus mortos, embora se inspirassem em motivos diferentes. O sepultamento ex prime bem a fé na ressurreigáo ou a idéia de que a morte é,^ como diziam os antigos, um sonó; e o cemitério (koimetérion, em grego) é um dormitorio, onde os defuntos aguar-

dam o dia de despertar e ir ao encontró do Senhor. Se é com a morte que comeca a verdadeira vida, por que praticar com os cadáveres um rito que insinúa a total dissolugáo do sujeito?

Eis, assim expostos, os elementos que se possam oferecer aos fiéis católicos e ao público em geral a respeito da posigio

da Igreja frente á cremacáo de cadáveres; esta fica sendo

lícita ao cristáo que, por motivos razoáveis, a deseje, embora a Igreja como tal nao se disponha a fomentá-la, mas, ao contrario, prefira a inuma;áo.

— 478 —

Mais um documento de Roma :

a escola católica ainda vale?

Em slnlese: A S. Congregacio para a Educagao Católica publicou

em comeco de juiho de 1977 um documento sobre a Escola Católica Frente & perplexidade e ao desanimo que, por varios motivos (reallstamenie elencados), tém felto recuar varios educadores católicos, esse documento ven* a ser urna viva exortac&o a que se continué a tareta das Escolas Católicas.

Estas nSo sSo apenas um meló de evangelizado que a Igroja exerc» legítimamente, mas constltuem um servico que garante o pluralismo esco lar,. .. pluralismo escolar que todo Governo deveria favorecer, pois compete aos país escolher para seus filhos a educacio que mais oportuna Ihespareja.

O documento lembra á Escola Católica a sua nota típica ou diferen cial : a referencia a Jesús Cristo. Esta característica deve transparecer nfio

somante no ensino explícito e sistemático da doutrlna católica, mas tambóm na maneira como as ciernáis disciplinas sejam ministradas; ainda que reconheca a plena autonomía de método das ciencias profanas, o mestre

católico as deve ensinar de modo que as torne transparentes á Suprema Verdade e aos valores absolutos.

O testemunho de vida dos professores e o espirito de coleglalidade fraterna dos mesmos sao recomendados pelo documento. É tambóm foca lizada a necessldade de que a Escola Católica nao sirva apenas as classes mais aquinhoadas, mas promova outrosslm os mais pobres e marginalizados. da socledade.

O texto se encerra pedindo aos educadores católicos, acreditem pro-

rundamente na Importancia da sua missao, a qual nao pode ser avallada segundo criterios humanos de eficacia imedlata, pols, além de depender da liberdade humana do educador e do educando, eta depende outrosslm da graca divina. Certa de que esta nao falta aos educadores católicos a.

Igreja afuma que "em nossa socledade pluralista, mais do que nunca

a

a

Escola Católica pode prestar um servico inapreciável e necessário" (n? 91)

Comentario:

A Santa Sé acaba de publicar um do

cumento programático relativo á Escola Católica e á sua mis-

sáo no mundo atual. Tal documento, datado de 19/m/77, mas só publicado em 5 de juiho de 1977, desenvolve e com

plementa o texto da Declaragáo «Gravissimum Educationis» do Concilio do Vaticano II, cujos dizeres foram sucintos* — 479 —

^4

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

embora suficientemente claros para mostrar o lugar de relevo da Escola Católica nos dias atuais:

"Entre todos os meios de educacáo, a escola reveste-se de importancia particular...; constituí mesmo um centro onde se encontram para partilhar as responsabilidades do seu funcionamento e do seu progresso, familias, professores e outros grupos..., em suma, toda a comunldade humana. É bela, mas penosa, a vocacáo daqueles que ... assumem o encargo da educacáo ñas escolas" (Decl. "Gravissimum Educationis" n? 5).

Apesar do encomio tecido pelo Concilio á Escola Cató lica, varios educandários católicos foram fechados por seus próprios dirigentes, inseguros da missáo que realmente lhes tocaría. A desorientacáo e o ceticismo de educadores cató licos deram ocasiáo a que a S. Congregagáo para a Educa-

gáo Católica estudasse com realismo e profundidade o pro blema, elaborando finalmente ó documento em foco. Impor tante como é, este merece ser sintetizado em nossas páginas. É o que faremos a seguir, acompanhando os sucessivos sub títulos de tal trabalho: 1) A Escola Católica e a missáo da Igreja; 2) A atual problemática da Escola Católica; 3) A" Escola e a humanizagáo pela cultura; 4) O projeto educa tivo da Escola Católica; 5) Responsabilidades da Escola Ca tólica hoje; 6) Linhas de acáo; 7) Compromisso corajoso e solidario; 8) Conclusáo.

1.

A Escola Católica e a missáo .da Igreja (nos. 5-15)

Á Igreja quis o Senhor Deus confiar a missáo de evan

gelizar o mundo, anunciando a todos o Evangelho, gerando

pelo Batismo novas criaturas em Cristo e educando-as para que vivam como filhos de Deus.

Foi a fim de cumprir cssa sua missáo que a Igreja houve por bem instituir escolas católicas, visto que estas sao

o meio privilegiado de formar integralmente a pessoa hu

mana, transmitindo-lhe a concepgáo do mundo, do homem e da historia que o Evangelho apregoa. Se em todos os tempos foi válida a presenga da Igreja no ambiente da educa cáo e da escola, tal presenga

parece

em

nossos

dias mais

necessária do que outrora, visto que o pluralismo cultural exige a formacáo de personalidades sólidamente estruturadas para resistirem ao relativismo que debilita e leva a vacilar todo cristáo menos consciente do teor da fé crista. — 480 —

:

A ESCOLA CATÓLICA

25

A Igreja preconiza a liberdade de ensino, em oposigáo ao monopolio por parte do Estado, dado que somente no caso de liberdade de ensino (que implica a existencia da Escola

particular)

sao respeitados a liberdade de consciéncia e o

direito dos país a escolherem a escola que melhor corres ponda á sua filosofía de vida.

Estas premissas fundamentam, na Igreja, a convicgáo

de que a Escola Católica desempenha hoje em dia urna tarefa indispensável e urgente nao somente por sua atuacáo reli

giosa, mas também por possibilitar o diálogo entré as cultu

ras e assim fomentar a formagáo integral da pessóa humana.

O desaparecimento da Escola Católica viria a ser, pois, urna

perda considerável para a dvilizagáo e para ó homem consi derado tanto do ponto de vista natural como do ponto dé vista da fé e da sua vocagáo sobrenatural. Todavía a Escola Católica, valorizada como merece, tem sido alvo de objegóes e dificuldades que se torna necessário

levar em conta.

2.

A atual problemática (nos. 16-24)

Sao seis as principáis objegóes que hoje em dia se levan-

tam contra a Escola Católica. 2.1.

SecularízasSo

(n?

18)

Dentro e fora da Igreja, há pessoas que apregoam o fechamento de todas as instituigóes eclesiais tanto no campo

da educagáo (escolas) como no da enfermagem (hospitais) e no dos meios de comunicagáo social (jomáis, revistas, emissoras de radio e de televisáo). A Igreja deveria deixar esses setores exclusivamente á iniciativa leiga! — O principio que inspira tal tese, é o do laicismo ou secularismo... Ora nao se vé por que a Igreja nao poderia

recorrer á escola, á imprensa e á enfermagem para teste-

munhar a mensagem do Evangelho. Ao contrario, é opor tuno que a inspiragáo crista penetre em tais meios, pois ela só pode ser fator de mais eficacia na prestagáo de servigo á comunidade; além do que, assiste á Igreja o inalienável direito de servir aos homens mediante tais recursos. — 481 —

.26

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977 2.2.

Proselitismo

(n« 19)

Como dizem, a Igreja procuraría fazer da escola um ins

trumento de suas finalidades religiosas — o que redundaría

em desonesto proselitismo.

— Em resposta, seja dito que a Escola Católica respeita a autonomia de métodos e finalidades das ciencias profanas, que ela deve procurar ministrar com esmero. Todavía ela

visa a urna educacáo integral. Ora esta nao pode abstraí da dimensáo religiosa inata em todo homem. O cultivo dessa dimensáo contribuirá para o sadio desenvolvimento de todos

os aspectos da personalidade do educando. Está claro, porém, que pode haver desvíos ou fanatismo na formagáo religiosa dos alunos. A Igreja rejeita todo sistema educacional que recorra a meios desonsstos ou falsos a fim de atingir obje tivos tidos como válidos ou religiosos, pois na verdade o fim nao justifica os meios. 2.3.

FunsSo ¡á desnecessória

(n« 20)

Muitos afirmam que a Escola Católica se tornou anacró nica. .. Era, sim, justificada e útil ñas épocas em que o Estado nao oferecia educandários aos cidadáos; nos últimos decenios, porém, o Governo de cada país vem mais e mais

assumindo essa missáo, de modo que se torna desnecessária a Escola confessional...

— Diante desta objeQáo,

duas observacóes se impóem:

a) É preciso que, ao lado da Escola oficial, que minis tra a filosofía (liberal ou nao) do Governo, exista a Escola confessional, a fim de assegurar a liberdade de op;áo por parte dos cidadáos; a estes deve-se facultar seguir a escola

que mais corresponda as suas convicgóes.

b) No Brasil de modo especial (como, alias, em muitos outros países), o Estado nao preenche cabalmente a tarefa de educar. Caso se fechasse a Escola Católica, a sociedade sofreria grande detrimento, que nao é lícito ao Governo acarretar para os seus cidadáos. 2.4.

Servíso as élites

(n< 21)

Objeta-se que a Escola Católica tem restringido a sua fungáo educativa as classes sociais mais abastadas, favorecendo assim urna discriminagáo sócio-económica. — 482 —

A ESCOLA CATÓLICA

— Observe-se natureza de escola des de seus alunos grande maioria de

27

que a Escola Católica, por sua própria particular, costuma depender das anuidapara poder subsistir. É o que faz que a seus alunos seja pagante.

Isto acontece na medida em que o Estado se desinteressa da Escola Católica, nao lhe dando as subvengóes opor tunas para que possa conceder maior número de bolsas de estudo. Mesmo assim deve-se afirmar que toda Escola Cató lica é pródiga em vagas gratuitas ou parcialmente gratuitas.

Note-se ainda que no Brasil os alunos das Escolas Cató licas de terceiro grau nao sao sempre os das classes mais abastadas. Com efeito, o exame vestibular classifica nos primeiros lugares os alunos que fazem maior número de pontos. Ora estes costumam ser os que tém mais tempo para estudar e melhores ocasióes para se preparar; sao, pois, os estudantes que nao trabalham, mas apenas estudam, porque tém recur sos. Acontece, portento, que as vagas das escolas oficiáis sao, muitas vezes, preenchidas pelos estudantes financeiramente mais aquinhoados, ficando os demais destinados ás escolas particulares. Donde se vé que as Faculdades católi cas nao servem apenas as familias ricas. Ademáis o servico ás familias abastadas é táo necessário quanto o servico ás familias pobres. O mal estaña na exclusividade, ou seja, na dedicagáo a urnas com esquecimento das necessidades das outras. O documento de Roma men ciona mais de urna vez o dever de que a Escola Católica nao seja de élites apenas, mas sirva a todo o povo de Deus (cf. nn.os 21 e 58). 2.5.

Ineficacia

(n? 22)

Alega-se que a Esco?a Católica nao tem conseguido for

mar cristáos convictos e preparados para a a?áo política e social. — A averiguado dos frutos da educagáo católica é algo

de assaz difícil.

Áo lado de casos aparentemente esteréis,

existem, sem dúvida, os de pessoas que receberam e mostram, por toda a sua conduta de vida, um genuino cunho de Cristianismo. Sao numerosos os homens e as mulheres que, em sua vida profissional ou política, atuam em funcáo da — 483 —

.28

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

sua educagáo católica.

Mesmo nos casos em que parece ter

sido inútil a formagáo católica, os frutos da escola se podem tornar perceptiveis (como, de fato, tem acontecido) anos após a passagem do educando pela Escola Católica. Seria,

pois, inoportuna qualquer atitude de desánimo por parte dos educadores católicos diante das vicissitudes da sua missáo. Nao há dúvida, porém, de que urna formagáo religiosa mal ministrada ou destituida de bases psicopedagógicas pode redundar em serio detrimento para o aluno. É o que explica a renovagáo da catequese apregoada pela Igreja e posta em prática nos educandários católicos atualizados. 2.6.

Evangelizado mais direta (n* 23)

Houve (e talvez haja) educadores católicos que julgam estar perdendo tempo em suas escolas, visto que ihes parece hayer setores de evangelizagáo mais direta e de importancia prioritaria. Além disto, as reais dificuldades para encontrar pessoal docente e recursos financeiros acabrunham varios educadores católicos. Fechando entáo suas escolas, alguns váo-se dedicar á pastoral dos pequeninos e marginalizados ñas regióes pobres, enquanto outros váo procurar engajamento ñas escolas oficiáis.

— É certo que merece grande zelo a evangelizagáo da-

queles que nao podem ter acesso á Escola Católica.

Isto,

porém, nao quer dizer que, em vista daqueles, esta deva ser

fechada. A Escola Católica tem fungáo insubstituível. Fechá-la significa nao somente contrariar as intengóes do Con cilio do Vaticano II, mas também trair a missáo evangeli-

zadora da Igreja (que nao pode dispensar os educandários católicos) e frustrar válida expectativa das populagóes cris tas. Seja licito lembrar que o setor da educagáo é táo im portante que é dos primeiros visados pelos Partidos Comu

nistas quando assumem o poder: interessam-se imediatamente por fechar as Escolas Católicas, reconhecendo o valor enorme que Ihes toca na cristianizagáo de um país.

■... ^*i

Nos seus incisos 74-75, o documento volta a falar da

apregoada ineficacia da Escola católica e da procura de apos

tolado mais direto, observando entáo:

"A aparente ineficacia... aduzida algumas vezes para justificar o abandono das Escolas Católicas leva, antes, a submeter a exame aprofun-

— 484 —

A ESCOLA CATÓLICA dado a atlvldade educacional

concreta da Escola Católica e a nos

29 lem-

brarmos da atitude de humildade e esperanca própria do educador, cuja obra nao pode ser avallada á luz dos criterios racionáis de eficiencia que costumam ser aplicados a outros empreendimentos" (n? 75).

Urna vez desfeitas as objegóes que soem ser levantadas contra a Escola Católica, o documento passa a considerar mais diretamente a tarefa própria da mesma. Para tanto, propóe, á guisa de paño de fundo, a fungáo da escola como tal.

3.

Escola e humaniza;ao pela cultura (nos. 25-31)

Nao há escola que se possa dispensar de ter seus refe-

renciais filosóficos ou sua concepgáo de vida. Mesmo aquela que se diz leiga ou neutra em materia de religiáo, é tal por

que professa que a religiáo é um elemento secundario ou acidental na formagáo da" pessoa humana. Em outros ter mos: também a Escola leiga emite um juízo sobre a religiáo. ■li

Visto, pois, que nao há escola sem filosofía, é para desejar que todos os membros da mesma comunidade escolar se inspirem na mesma cosmovisáo ou filosofía. Em outras palavras aínda: a Escola nao se pode limitar a desenvolver táo somente um ou outro aspecto (profissionalizante) da personalidade do educando, mas é necessário que ela vise á educacáo integral ou á promogáo de todas as face tas do ser humano. Sim; requer-se que a Escola forme o caráter dos seus alunos, ajudando-os a conquistar a sua liberdade psicológica (ou o dominio sobre as paixóes que

escravizam),... mostrando-lhes também a dimensáo ética da cultura e dos valores que esta oferece. Ora tais tarefas nao

sao possíveis, se nao se propóem ao educando os valores abso lutos que dáo o sentido á vida, ao trabalho, ao sofrimento e as Vitorias do homem sobre a térra. A proposigáo de tais valores é especialmente importante

em nossos dias, quando o desenvolvimento das ciencias e da tecnología ameaca despersonalizar e massificar o ser humano, considerando-o como pega de engrenagem ou como número no sistema de produgáo e consumo. Em tais circunstancias, «a escola deve tender com énfase a ser urna escola realmente

educadora, apta a formar personalidades autónomas e res— 485 —

jW

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

ponsáveis, capazes de opcóes livres e conformes á conscién-

cia»

(n* 31).

É sobre este fundo de premissas que se realza agora

4.

O projeto educativo da Escola Católica (nos. 33-62) É esta a mais longa parte do documento, o que bem

mostra a intengáo, alimentada pelos autores respectivos, de propor a imagem ideal da Escola Católica.

1. Pergunta-se, Escola Católica?

pois:

que é que faz da escola urna

— «O que define a escola como católica, é a sua refe rencia á concepgáo crista da realidade. Essa concepgáo tem em seu centro a figura de Jesús Cristo» (rf> 33).

O Cristo é,

pois, o fundamento do projeto educativo da Escola Católica.

2. Deste fato decorre que o modelo educativo da Es cola Católica visa a promover, como dito atrás, o homem

todo, com todos os seus valores, ou seja, visa á formagáo integral da pessoa humana. Este programa compreende duas tarefas: a de procurar a síntese entre a cultura e a fé, como também a de promover a comunháo entre a fé e a vida.

a) Síntese entre a cultura e a fé... A visáo crista valoriza as disciplinas profanas, reconhecendo a cada urna a autonomía e a metodología próprias. Isto quer dizer que numa Escola Católica o ensino das ciencias exatas e profa nas deve merecer todo o esmero dos educadores. Alias, tais

ciencias, suscitando questóes e dúvidas, oferecem ao professor e ao aluno o ensejo de se elevarem aos valores transcendentais; a verdade científica, cada vez mais penetrada e apro-

fundada, leva ao reconhecimento da Verdade Eterna. Como se compreende, tal aprofundamento dependerá sempre do professor; a este compete, por sua palavra e por sua viven cia, manifestar aos discípulos a verdade crista, que é a consumagáo de toda verdade científica. Urna escola na qual seja exercida esta forma de magisterio, insinúa a mensagem crista através de todas as suas aulas, de tal modo que o ensino religioso ai nao seja algo de artificial ou adventicio.

Ademáis a síntese a ser feita entre a cultura e a fé exige que a Escola Católica ministre de maneira explícita e sistemática os ensinamentos da doutrina católica tal como é — 486 —

A ESCOLA CATÓLICA

31

professada pela Igreja. Este ensino nao tem finalidade mera

mente intelectual, mas visa a provocar a adesáo de toda a

pessoa do educando a Jesús Cristo. Se bem que a familia e a paróquia devam ser focos e veículos da catequese, nao se pode insistir demais sobre a necessidade e a importancia da catequese na Escola Católica. A fim de preencher devidamente esta tarefa, será necessário que os responsáveis pela Escola se interessem pela preparagáo doutrinária e a atualizagáo psicopedagógica dos seus catequistas e professores de Religiáo.

Cf. nn.°« 49-52.

A catequese assim ministrada deve possibilitar ao aluno opcóes conscientes e aptas a se traduzir em vida.

b) Sintiese entre a fé e a vida... A Escola Católica ensinará, sim, os seus alunos «a descobrir na trama da exis tencia humana um convite a se engajarem no servido de Deus em favor dos seus irmáos e em prol da transformacáo do mundo em urna mansáo digna dos homens» (n« 45). Esse engajamento só será satisfatório se a Escola souber orientar o aluno para a prática das virtudes, especialmente da caridade, que configura o cristáo ao Cristo Jesús. De modo especial, o n« 48 do documento refere-se aos meios de comunicacáo social. Sejam os alunos preparados a enfrentar as mensagens respectivas de maneira madura e consciente; saibam submeter tais mensagens a julgamento crítico e integra-las, sempre que possivel, em sua cultura

humana e crista. O aluno de urna Escola Católica aprenderá também a considerar o saber nao como meio de chegar ao sucesso ou acumular riquezas, mas como penhor de servico

e de responsabilidade frente aos outros homens. Longe de levar ao orgulho e á exasperagáo dos conflitos, a Escola Católica procurará despertar em seus alunos urna atitude de partilha das preocupagóes e das esperangas de todos os homens.

3.

No tocante á justiga social, a Escola Católica há de

se mostrar muito sensível aos apelos que de toda parte se

levantam em favor de um mundo muito sensível aos apelos que de toda parte se levantam em favor de um mundo mais justo. Incutirá nos alunos a prática da justiga nao somente

ñas suas grandes linhas, mas também no ámbito da vida

cotidiana da escola. Para que tal ensinamento possa ser efi

cazmente ministrado, requer-se que a Escola Católica faga — 487 —

_32

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

todo empenho para nao ser urna escola de élites,

aberta

exclusivamente aos filhos de familias abastadas, como tem acontecido em alguns países. «A Igreja se preocupa em ofe-

recer o seu servigo educativo aos que sao destituidos de bens materiais, aos que carecem do afeto e do sustento da familia ou aos que sao estranhos ao dom da fé»

4.

(n« 58).

Os objetivos da Escola Católica só seráo atingidos

se esta puder contar com homogeneidade de conviccóes dos

membros da comunidade escolar. Estes deveráo colaborar entre si sob o signo da fraternidade, ajudando-se mutua

mente a levar um estilo de vida evangélica. Assim a Escola Católica se tornará um sinal para todos os homens e, em conseqüéncia, se poderá dizer que colaborar no apostolado da Escola Católica é «preencher urna tarefa eclesial insubstituível e urgente» (Paulo VI, discurso ao Prof. Giuseppe Lazzati,

Reitor

da Universidade

do

Sagrado

Coragáo,

em

«Ensinamentos de Paulo VI», vol. 9, 1971, p. 1082 da edigáo

italiana).

Os dados até aqui propostos evidenciam a oportunidade da abordagem subseqüente:

5.

Responsabilidades da Escola Católica hoje (nos. 64-68)

Quem se disponha a participar na missáo que a Igreja desempenha através da Escola Católica, deve munir-se de «coragem perseverante, que nao se deixe impressionar nem pelas dificuldades intrínsecas ou extrínsecas da tarefa, nem pela persistencia de slogans já ultrapassados que tendem a suprimir a Escola Católica». Ceder a esses slogans será prejudicar a própria Igreja; cf. n« 64.

Esta reconhece, scm dúvida, que existem instituicóes de ensino católicas que nao correspondem ao seu genuino mo delo e nao prestam o servigo que délas se poderia esperar. Entre as causas que provocam urna tal deficiencia, devem-se apontar duas principáis:

a) falta a muitos dos educadores católicos a consciéncia clara do que a Escola Católica tem de próprio e, talvez, a coragem de assumir todas as conseqüéncias dessas suas características próprias.

— 488 —

A ESCOLA CATÓLICA

33

b) A tarefa da Escola Católica é hoje mais ardua e complexa do que outrora, porque o educandário católico deve saber encarnar a mensagem crista dentro dos moldes da sociedade moderna, que se vai transformando sempre mais em sentido pluralista e secularista.

A fim de superar tais dificuldades, os educadores cató licos procuraráo realizar urna autocrítica permanente e um retorno constante aos principios e aos motivos que inspiram a sua missáo. É certo que tais meios nao fornecem resposta pronta para todos os problemas da Escola Católica, mas ao menos apontam os criterios aptos para encaminhar a solugáo dos mesmos. — Será necessário outrossim que os educadores católicos procurem ouvir os que labutam em escolas cristas nao católicas, a fim de se unirem na colaboracáo que lhes seja possível e cultivarem assim um sadio ecumenismo. Abram mesmo o diálogo aos mestres das escolas oficiáis do Governo e aos membros das familias de seus alunos.

6.

Lmhas efe ajao (nos. 69-82)

Vem ao caso abordar aínda sumariamente seis proble mas particulares que a Escola Católica enfrenta nos tempos atuais.

6.1.

Organizasáo

e plane¡amento

(nn.o> 70-72)

Na organizagáo e no planejamento da Escola Católica a hierarquia da Igreja reconhecerá a funejío e a competencia dos educadores leigos. A Escola procurará também adaptar-se á pastoral de conjunto da respectiva diocese, conser vando em tudo o vinculo com aqueles que o Espirito Santo

instiluiu para governarem a Igreja de Dcus (cf. At 20,28). 6.2.

Caróter especifico

(n« 73)

A garantía do caráter especifico da Escola Católica é da competencia nao só da autoridade episcopal, que se encar-

rega especialmente de velar pela ortodoxia da doutrina e a integridade da Moral vigentes na Escola Católica, mas tam

bém da responsabilidade de toda a comunidade educadora e, particularmente, os genitores cristáos. Estes devem sustentar

— 489 —

34

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

e apoiar o esforgo educativo da Escola Católica e participar, tanto quanto lhes toca, do esforco da mesma. Os professores, por seu lado, cuidaráo de manter a atmosfera crista que deve impregnar o ensinamento e a vida da escola.

6.3.

Os Institutos Religiosos e a Escola Católica (nn.»' 74-76)

Verifica-se que certas Congregares Religiosas fundadas em vista da educagáo católica tém abandonado tal tarefa por motivos diversos. — É preciso, porém, nao ceder -á onda de pessimismo que muitas vezes inspira tais atitudes; o edu cador católico saberá conservar a humildade e a esperance de quem foi chamado ao apostolado pelo próprio Deus. A transferencia de Religiosos educadores para outras áreas de apostolado deverá levar em conta o juízo da autoridade eclesiástica competente, a quem toca supervisionar e orientar a pastoral de conjunto da Igreja. 6.4.

A Escola Católica em ten-as de missáo

(n* 77)

Em países de missáo, ainda é maior a importancia da Escola Católica, que se esforgará por colaborar eficazmente para o desenvolvimento da comunidade étnica na qual ela está arraigada.

6.5.

Os professores da Escola Católica

Inn." 78-80)

«Os professores sao os agentes mais importantes da Es

cola Católica, dando-lhe o seu sua agáo e do seu testemunho»

cunho específico através (n« 78).

da

Deste principio se segué que a escola deve esforgar-se por promover a continua formacáó crista dos seus mestres, habilitando-os ao seu apostolado específico. — Onde existam associagóes de professores destinadas a proteger os interesses

dos mesmos, sejam respeitadas; todavía nao esquega o professor católico que em tudo deve ele deixar-se guiar por sua consciéncia crista; jamáis, portante, lhe será lícito funcionar ora como profissional, ora como cristáo, mas, ao contrario, desempenhe integralmente a sua missáo como profissional cristáo.

— 490 —

A ESCOLA CATÓLICA

6.6.

35

Situaeáo económica da Escola Católica Inn." 81-82)

O documento menciona o caso de Escolas Católicas que

regularizaran! ou melhoraram as suas condigóes económicas nos paises em que o Estado, reconhecendo a necessidade e as vantagens do pluralismo escolar, lhes ofereceu subsidios ou mesmo entrou em convenios ou contratos com as mesmas, sem lhes tirar a possibilidade de exercer a sua missáo própria. Tais casos constituem um estímulo para a Escola Cató lica. De resto, as autoridades públicas, auxiliando os educandários católicos, estáo contribuindo para assegurar á patria a liberdade de ensino e o direito que compete aos pais, de escolher para seus filhos a educagáo mais conforme as suas legítimas aspiragóes.

Em seu último capítulo, o documento dirige aos educa dores urna exortagáo á coragem no desempenho da sua missáo.

7.

Compromisso corajoso e solidario (nos. 83-90)

Quem quer que se dedique ao apostolado da educagáo, deve estar animado de sólida fé na necessidade e ñas pos-

sibilidades de tal apostolado. Mais urna vez, a S. Congregagáo para a Educagáo Católica langa a todos os educadores

católicos um apelo para que nao se deixem penetrar pela dúvida a respeito da importancia que toca ao ensino cristáo

entre os múltiplos Igreja. Os

servigos

que caracterizam a

resultados obtidos pela

Escola

Católica

missáo

nao

da

devem

ser avaliados segundo os criterios da eficiencia imediata. Além da liberdade tanto do educador como do educando, tenha-se em consideragáo a agáo da graga divina. «A graga e a liberdade produzem os seus frutos segundo o ritmo do Espirito, ao qual nao se podem aplicar categorías temporais» (n» 84). Colaborando com urna e outra, a Escola Ca tólica torna-se o fermento que comunica ao mundo o senso cristáo. Mesmo diante dos modestos recursos de que disponha e frente ao pequeño número de alunos que atinja, a Escola Católica nao pode renunciar a prestar o seu servigo

específico, desde que ela fique fiel ao modelo próprio. Os educadores católicos, cientes da importancia da sua missáo, — 491 —

36

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

aplicar-se-áo a reflexáo constante sobre a mesma a fim de redescobrir o valor apostólico da sua tarefa. Sao estas as grandes linhas do recente documento da S. Congregagáo para a Educagáo Católica relativo á Escola Católica. Em suma, constituí uma palavra de caloroso incen tivo ao trabalho dos educadores católicos, palavra realista e consciente em meio á perplexidade que se tenha apossado de varios dentre os mesmos. «Em nossa sociedade pluralista, a Escola Católica, mais do que nunca, pode prestar um servigo inapreciável e necessário» (n» 91).

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— 492 —

A historia como escola da vida:

"regulamentacao do divorcio"

Em stntese: Vai abaixo transcrito um artigo do Prof. Haroldo ValladSo, emérito jurista, que mostra a historia da legislacao divorclsta em alguns países: o divorcio, tido a principio como solucao para os males da familia, está sendo mais e mals dificultado na Bollvla, na Uniáo Soviética, na lugoslávia, na Atemanha Ocidental, ou seja, tanto em países llvres como em países comunistas. Ñas Unas Filipinas chegou mesmo a ser abolido. — Eis o que despena a esperance de que no Brasil, após a experiencia divorcista, a legislacao volte a defender a familia, assegurando-lhe a sua Indlssolubllidade.

O divorcio continua a interessar a opiniáo pública brasileira, visto ser urna chaga que se infligiu á nossa populacáo. Eis por que transcrevemos, ñas páginas que se seguem, um artigo do Prof. Haroldo Valladáo, catedrático de Direito In

ternacional Privado, publicado com o título ácima no «Jor nal do Brasil» de 6/10/77, 1« Caderno, p. 11, e merecedor de ampia divulgacáo. Quando estas reflexóes forem editadas em PR, talvez o divorcio já tenha sido regulamentado. Como quer que seja, o artigo do Prof. Valladáo conservará o seu valor, porque

mostrará a historia do divorcio regulamentado em alguns países: a tendencia dos legisladores foi a de restringir sempre mais as possibilidades de dissolucáo da familia, até mesmo chegar ao ponto de abolir o divorcio, como ñas Filipinas.

Perguntamo-nos: será esta a sorte do Brasil? Fazemos votos para que sim. Já que o divorcio é realidade entre nos, permita Deus que a experiencia do mesmo leve os nossos legisladores, conscientes da sua monstruosidade, a afastá-lo futuramente da legislagáo do nosso país. Damos agora a palavra ao Prof. Haroldo Valladáo: A base jurídica da anti-social emenda constitucional revo-

gatória da proibicáo do divorcio nao tinha a menor proceden

cia. Reviveu superadíssima doutrina, individualista, profunda mente egoísta, da Revolucáo Francesa de 1789, considerando — 493 —

38

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

o casamento e a familia simples relacáo contratual, p.ex., urna locagáo, e, assim, dissolúveis á vontade dos cónjuges e até apenas pela de um deles, pelo repudio.

Foi, pois, orientagáo completamente cega á evolugáo jurídico-social dos últimos 60 anos e em pleno apogeu, que elevou a familia a órgao primaz do Estado, a urna instituigáo de nivel constitucional, protegida e sublimada em todas as

Cartas Magnas, chegando a nivel internacional, defendida na Declaragáo dos Principios Sociais da América (México, 1945), como "núcleo primario e fundamental da sociedade". Foi, •conseqüentemente, retirada do campo privativista e civilista, afastada do Código Civil, para um Código autónomo, para os novos Códigos de Familia, promulgados em muitos países. *

em

*

*

O relacionamento entre o divorcio e a separa gao consiste que o divorcio é antifamília, é arma

bélica para a sua

destruigao por um desabrido individualismo. A sabia e divina

Igreja Católica, para quem a familia é sagrada, nao o podia ¡amáis admitir e para as crises familiares adotou o justo e

equitativo remedio, a separacáo dos que brigam, sempre pro visoria e temporaria, o desquite, que é apenas urna pausa — que toda discordia exige — para a solugio, ausencia da

vanguarda processual no Brasil e no mundo, para a conciliacao ou a reconciliacáo.

Nao há guerra sem paz e o desquite é tempo para meditagáo, reflexio e acordó construtivo, vivificado pela paciencia, pelo amor, pelo perdao e pelo sacrificio para a salvagáo da

familia. Tudo isto demonstramos em nosso folheto, Direito do Casamento e da Familia, e Divorcio, em conferencia no Instituto

dos Advogados Brasileiros, que aprovou nossa posigáo, ás vésperas da rejeigáo, em 1975, da emenda ora aprovada.

O problema jurídico máximo do divorcio, urna vez admi tido, é o legislativo, o da lei que o deverá regular. E o direito pede que se faga de forma a impedir, o que tem acontecido freqüentemente em muitos Estados, que ele se transforme numa poligamia sucessiva, legal, obtenlvel pelo puro capricho

dos cónjuges, ou, quando previsto em vergonhosas leis facili

tarías ou através de fraude, pela simulagáo dos casos esta-

— 494 —

REGULAMENTACAO DO DIVORCIO

39

belecidos: adulterio, injuria grave, etc. Nos Estados Unidos urna divorciada chegou, a propósito, a escrever um livro inti tulado Minha Profissáo é ser Cúmplice de Adulterio, descrevendo sua atividade em adulterios simulados, para um escri torio de advocacia... Na Franca, últimamente, advogados e interessados solicitaram do Presidente Giscard leis facilita doras, ao máximo, do divorcio ao simples alvedrio do interessado, para evitar os incómodos e despesas de processos si mulados para prova dos casos legáis. Por isto exclamou um dos maiores juristas do nosso século, Justice Holmes, da Corte Suprema dos Estados Unidos: "Quando urna atriz de Hollywood se casa pela terceira vez com um magnata do poder económico, que se casa pela quarta vez, esse ato tanto tem a ver com a instituigáo do casa mento quanto a prostituidlo tem a ver com a virgindade".

Para coartar esses abusos contra a familia e a sociedade, urna evolucao heroica se observa no Direito Comparado dos

Estados que o admitem, no sentido de limitar e de dificul

tar, particularmente no processo, a obtencáo do divorcio.

Procura-se retirar-lhe o caráter individualista da dissolucao de urna familia inteira, com a dispersao desumana de cónjuges, filhos e parentes, p.ex., pela simples obstinagáo de um ou dos dois cónjuges.

Exige-se que, realmente, o divorcio aterida ás conotacóes sociais da instituigáo familiar — que a levaram a nivel de direito público, constitucional e internacional — aos interesses de todos os membros da familia e aos da sociedade.

Cito, desde logo, em nossa América Latina, o Art. 130 do recente Código de Familia, da Bolívia, 1974, que após enu merar precisas causas de divorcio conclui: "O juiz deve apre ciar as pravas e admitir o divorcio somente quando da gravidade das mesmas resulta profundamente comprometida a

esséncia mesma do casamento, assím como o interesse dos filhos e da sociedade". Na lei inglesa sobre divorcio, de 1971, deu-se grande forga aos julzes, permitindo até investigagdes ex-officio e estabeleceu-se, com grande énfase, normas para estimular e obter a reconciliagáo, em fases sucessivas com

longos periodos de Intervalo, inclusive tornando-a um dever

para os advogados das partes. Estes só podem levar a causa — 495 —

JO

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

a juízo se provarem ter com elas discutido a possibilidade da reconciliagáo e Ihes ter dado nomes e enderegos de pessoas qualif¡cadas para tentar a mesma reconciliagáo, p.ex., sacer dotes, psicanalistas...

Relembro o que aconteceu na Uniáo Soviética onde, após

cerca de 20

anos (desde 1918), da

adocáo do regime

do

amor livre, do casamento de fato e do divorcio unilateral, proclamou-se em 1936 que se tratava de concepgdes burguesas, diferentes da ética do Partido e desde 1944 tornou-se o casa

mento obrigatório e solene (realizado em Palacios especiáis como os de Moscou) e foi muito dificultado o divorcio. Os Juizes de 1? Instancia, do Tribunal do Povo, só tém fungóes, na materia, reconciliatórias, conseguindo obté-la em mais de 50 % dos pedidos apresentados. O divorcio só pode ser con cedido, se falhar a reconciliagao, pelo tribunal de 2? Instancia, que decide a seu criterio, no interesse da familia e da socledade, nao h aven do causas predeterminadas, sendo difícil, sujeito a taxas altas e crescentes quando sucessivo e, praticamente impossível, se há filhos menores.

Nos demais países socialistas a diretriz é a mesma. No Código da Familia e da Tutela da lugoslávia, de 1964, enfatiza-se a necessidade da reconciliagao e estabeleceu-se no Art. 56, § 29, que, apesar de urna desuniáo completa e durável, o divorcio nao é admissível desde que, por conseqüéncia, o interesse dos filhos menores comuns venha a ser prejudicado no caso, ou, por outras razdes, o mesmo divorcio seja con trario ás regras de vida em sociedade. Na Polonia adita-se a excegáo da chamada "recriminagáo", pela qual o divorcio pedido pelo cdnjuge culpado nao pode ser decretado.

A última leí do divorcio da Alemanha Ocidental dificultou-o sobremodo, exigindo como condigóes previas consultas e pareceres de psicanalistas e psiquiatras e varias e difíceis formalidades. Note-se que, assim como há Estados que estabelecem o

divorcio, há outros que o suprimem pelos maus efeitos cau sados á familia. Assim o fez o Código Civil das Filipinas de 1952, abolindo lei divorcista anterior, substituindo-a pela separagáo ou desquite.

É

para

desejar que

estas

ressonáncia em nosso Brasil.

palavras

— 496 —

encontrem

ampia

LIVROS

EM

ESTANTE

O Misterio de Satanás. Dlabo e Inferno na Biblia e na literatura uni versal, por Frederico Dattler. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1977, 130 x 200 mm. 178 pp.

O erudito exegeta Pe. Dattter nos brinda com mais um de seus lívros, ... inspirado este pela necessidade de se considerar um tema que o ro mance e o cinema últimamente puseram em grande voga. O autor, na prlmeira parte da obra, estuda os temas "demonios, espfritos imundos, Sata nás, Dlabo, Inferno", procurando depreender da Biblia Sagrada o significado

de tais expressdes. Na segunda parte, Ilustra os mesmos assuntos a partir de textos da literatura antiga e moderna, que o autor traduz e comenta, a fim de mostrar que a crenca no Diabo ó, até os nossos dias, muito pre sente ao pensamento humano.

Em suma, o Pe. Dattler afirma que "espfritos ¡mundos e demonios" representan) a cultura antiga, que, nao sabendo como explicar certas doencas malignas e outras calamidades, as atribula á acSo de espfritos maus. Por consegulnte, nao existem demonios, se por "demonios" entendemos "seres invisfvels que provocam doencas". Conseqüentemente, Dattler nega a possessSo diabólica e reduz os respectivos casos mencionados pelo

Evangelho a molestias e estados mórbidos. — Todavía o exegeta aceita firmemente a existencia de Satanás ou do Dlabo; este nao provoca moles tias físicas, mas tentacSes e quedas moráis. Els as palavras de Dattler:

"Se os demonios e os espírltos malignos sSo frutos da imaglnacSo milenar do género humano, nao ó permitido afirmar a mesma coisa no tocante ao Satanás ou Dlabo. A existencia dele é tflo segura e misteriosa quanto a do próprio Deus. Ademáis, demonios e espirites maus causam doengas e sao responsávels pela 'possessSo'; o Satanás, porém, é o ten tador no campo espiritual e sobrenatural; ele é o antagonista de Deus. Se, por um lado, Deus nos quer bem e deseja a nossa saivacáo, o Diabo, por outro lado, nos quer mal e envida esforcos por nos perder" (p. 43).

Ao deter-se sobre Satanás e sua acSo, Dattter se mantém lacónico: julga que nao o podemos considerar como um anjo decaído (p. 91) nem como urna criatura de Deus (p. 94). Apenas tenhamos certeza de que ele existe e de que é o Adversarlo de Deus e dos homens.

Sobre o Inferno, o autor do livro afirma á p. 124 que nfio é um lugar, mas, slm, um estado de condenacfio que se seguirá á morte. A p. 119, o autor nos diz que, segundo a Biblia, os impíos serSo

aniquilados. Seria

oportuno que o Pe. Dattler explicasse melhor a sua manelra de entender os textos bíblicos, a fim de nfio parecer cair em contradicSo consigo mesmo.

A coletánea de textos da literatura antiga e moderna que se segué ás explanares bíblicas, é rica e instrutlva. Depols de estudar o novo livro de Dattler, observamos que aborda a

temática valendo-se únicamente dos recursos da exegese (lingüfstica e her menéutica) bíblica e da literatura profana sem citar a Tradicfio patrística e o magisterio da igreja. Se. além de citar a literatura profana, o autor

tivesse recorrido aos documentos da literatura teológica e das declaracdes da Igreja, teria oferecldo ao público um tratado mais objetivo e cabal da materia extremamente delicada que ele aborda, é gratuito e toreado dizer que os demonios sfio meras ficcCes da mente humana, ao passo que Satanás, na Biblia, é um ser real. A Biblia Insinúa a existencia dos anjos

— 497 —

42

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 215/1977

maus (cf. 2Pd 2,4 e Jd 6). — É difícil aceitar que Jesús tenha simulado

crer na possesslo diabólica, se na verdade nunca houve possessSo dia bólica; Ele, que veio para dar testemunho á verdade (cf. Jo 19,37) teria

confirmado os judeus na crendice e induzido os cristáos a falsa c'renca.

É certo que o autor multo honestamente reconhece na Introducao do

Iivro que apenas quls trabalhar como exegeta da S. Escritura e que, por conseguinte, as suas conctusdes ou negac6es tém por vezes valor mera mente relativo. Tenham-se em vista estes dfzeres

da p. 9:

"Quando as normas da Hermenéutica bíblica me obrigaram a senten ciar um nao, o leitor inteligente veja o que Ihe convém fazer. Pols, neste

campo, qualquer negacSo tem contra si a tradicáo da Igreja que, por sua vez, espelha Indubítavelmente a convicio universal da raca humana Bastarla lembrar ainda que a Biblia nao é a única fonte da Revelagáo r.em

a Hermenéutica moderna o único caminho que conduz á compreensSo adequada da Biblia. Sendo assim, qualquer 'náo-pode-ser' possui apenas valor relativo".

Esta advertencia da IntroducSo do llvro é de importancia capital para quem se disponha á leltura do mesmo. Julgamos, porém, que o novo escrito de Dattler poderá ser mal entendido, deixando perplexo quem nSo se

lembrar de que o autor nSo quis ser completo ao considerar o assunto

em foco.

Medicina e manipulacao, por B. Háring. Traducao do Italiano por Honorio Dalbosco. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1977, 130 x 200 mm, 248 pp. Eis mals um Iivro do famoso moralista Pe. Bernardo Haring. traduzido para o portugués. O autor tem-se voltado sempre mais para questaes atuais — o que bem se manifesta no llvro ácima, onde sao considerados pro blemas de ética médica e biológica de grande importancia. B. Háring

estudou seriamente a mais recente bibliografía referente a experiencias de medicina moderna e houve por bem encarar tais empreendimentos k luz da mensagem do Evangelho. Realca como criterios permanentes.de avaliacáo moral o respeito á pessoa humana, a necessldade de nao coisificar ou despersonallzar o paciente e a salvaguarda da liberdade do ser humano. Quem le as páginas de Háring, terá prazer em encontrar ai a explanacSo de certos aspectos da medicina hodierna assoclada a reflex5es filosóficas profundas : o behaviorismo, a engenharia genética, a pslcoclrurgia, a lavagem cerebral, o diagnóstico pré-natal, a reproducSo artificial do homem.

os problemas do comportamento de pessoas encarceradas, a manipulacao

dos moribundos, a eutanasia... vém sucessivamente ao caso, fornecendo ao leitor a ocasiao de ponderar tais assuntos e as questóes que lancam.

— Em numerosos pontos, o autor assume posicSes nítidas e contrarias á manipulacio do ser humano, mas em outros casos poder-se-ia desejar mals clareza e firmeza; assim principalmente no tocante á contraceocáo (pp. 111-115), máxime á p. 114.

Em sintese, o novo llvro de Haring vem a ser valiosa contribuicao para o progresso dos estudos de Ética médica; todavía quer-nos parecer que urna ou outra das sentencas ai emitidas merece ainda ser discutida, o que é bem compreensivel, dada a delicadeza das questaes abordadas. (Continua na 3? capa)

— 498 —

CARO LEITOR,

APROXIMA-SE O NATAL... LANCAMOS UM OLHAR RETROSPECTIVO SOBRE 1977. FOI, PARA PR, UM ANO IMPORTANTE, POIS PASSAMOS PARA AS EDICÓES PAULINAS, QUE SE TÉM MOSTRADO ALTAMENTE SOLÍCITAS EM PROMOVER A NOSSA REVISTA. EIS POR QUE DESEJAMOS IMPULSIONAR A DIFUSÁO DE PR, CONTANDO NATURALMENTE COM A COLABORACAO DOS NOSSOS LEITORES.

O (A) AMIGO (A) NAO ESTRANHARÁ O AUMENTO NO PRECO DA ASSINATURA QUE SE NOS IMPÓE PARA 1978: PASSARA PARA CR$ 100,00. Em 1977 MAJORAMOS O PRECO EM TERMOS INFERIORES AS NOSSAS NECESSIDADES. O AUMENTO QUE PROPO MOS, aínda é módico dentro do quadro geral DO CUSTO DE VIDA.

CERTOS DE QUE O (A) AMIGO (A) PREENDERÁ, SUGERIMOS-LHE:

NOS

COM-

1) RENOVÉ A SUA ASSINATURA QUANTO AN TES, POIS ISTO FACILITARÁ GRANDEMENTE O TRABALHO DA NOSSA ADMINISTRACÁO.

2) TORNE-SE PRESENTE AOS SEUS FAMILIARES E AMIGOS DURANTE O ANO INTEIRO, DANDO-LHES, COMO PRESENTE DE NATAL, UMA ASSINATURA DE PR.

3) COLABORE NA DIFUSÁO DE PR... QUEM CONSEGUIR CINCO ASSINATURAS NOVAS TERÁ DIREITO A SEXTA ASSINATURA GRATUITA. COMECE

DESDE



A

SUA

CAMPANHA,

AJU-

DANDO-NOS A PROPAGAR A BOA LEITURA. PARA TANTO, OFERECEMOS-LHE O VERSO DESTA FOLHA.

A Diregáo de PR

A Administragáo de PR,

Queiram enviar PR aos seguintes novos assinantes a

partir de dezembro de 1977:

1)

Nome (letra de forma)

Enderego (letra de forma) Doador (se for o caso): 2)

Nome (letra de forma)

Enderego (letra de forma)

Doador (se for o caso): 3)

Nome (letra de forma)

Enderego (letra de forma)

Doador (se for o caso): 4)

, Nome (letra de forma)

Enderego (letra de forma) Doador (se for o caso): 5)

Nome (letra de forma)

Enderego (letra de forma) Doador (se for o caso):

6)

Por

cortesía Nome (letra de forma)

Enderego (letra de forma)

Os dez mandamentos na educacáo, para país e educadores, por Johannes G rundel. — TraducSo do alemSo por Frei Ludovico Gomes de Castro. — Ed. Vozes, Petrópolis 1977, 140 x 210 mm, 96 pp. Tratar de ética ou moral hoje em dia é difícil tarefa, pois as normas da moralidade, para muitos, mudaram totalmente ou, quicá, já nao existem. Ora pode-se dizer que o novo llvro de J. Grúndel executa com geral acertó a sua tarefa de comentar os dez mandamentos da Le¡ de Oeus, guardando o devldo equilibrio. O autor percorre, sim, o Decálogo, anallsando o con texto histórico em que cada mandamento foi concebido no Antigo Testa mento, e mostra o significado concreto do mesmo em nossos días. Especial mente digno de nota é o comentario proposto ao precelto: "Nao farás

imagens de Deus": J. Gründel, após explicar a razáo transitoria do preceito de nao fazer estatuas e esculturas, chama a atencño para as falsas imagens de Deus que hoje sao feitas por quem ainda viva no infantilismo religioso ; também a imagem de Deus que é o homem, sofre nao raro deturpacóes por motivos preconcebidos, que nao se coadunam com autén tica formagáo crista. O ponto mals difícil de ser abordado em Moral, é

o que se refere a sexo e amor; contudo J. Gründel é feliz em suas pro-

posfcaes a respeito. Apenas desojaríamos que o autor definisse melhor a obrigatoriedade do preceito da Mlssa dominical: Grúndel nao a nega, mas também nao afirma suficientemente todo o seu alcance ; até hoje a S. lgre:a

considera graves tanto a obrlgacSo como a infracSo do precelto da* Missa aos domingos. — O lívro enumera os dez mandamentos segundo o modo usual entre os judeus hoje: este difere da maneira adotada entre os cató licos tño somente quanto á enumeracao dos preceltos, nSo, porém quanto ao seu conteúdo.

O livro, usado com a devida compreensáo, será muito útil á formacfio

da juventude e dos crlstaos em geral.

A Mesa da Palavra. Subsidios para a pregacao e a liturgia. Ano A: Tempo do Advento, sob a responsabilidade de Frei Raúl Ruiis. — Ed Vozes Petrópolis 1977, 160 x 20 mm, 64 pp.

»° "vro acíma é uma "seParata" da Revista Eclesiástica Brasileira

(REB), que, em cada um dos seus quatro fascículos anuais oferece subsi

dios para a pregacáo e a liturgia. Frei Raúl Ruijs, Freí SlmSo Voigt e Freí Leonardo Bolf, franciscanos, colaboram no volume ácima para apresentar a Liturgia dos quatro domingos do próximo Advento (27 de novembro a 18 de dezembro). A exptanacfio dos textos bíblicos ocorrentes ñas leituras de cada domingo é orientada pelos recursos da mals moderna exegese católica, que utiliza principalmente o Método da Historia das Formas Está

claro que a fundamentacSo cientfflca proposta pelos exegetas se destina a usuarios habilitados a compreendé-la, como deveriam ser os pregadores da Palavra de Deus; as proposlcfles dessa fundamentacao nao podem ser transmitidas como tais á gente simples ou a fiéis n5o preparados para tanto. O que importa na pregacSo, ó consolidar sadlamente a fé, despertar

a piedade e o entusiasmo dos ouvintes, de modo que estes saiam de cada celebracSo dominical mals fellzes por serem filhos de Deus e dispostos a apregoar convictamente a Boa-Nova do Reino. O aprofundamento científico e a dlscussSo critica de determinado texto bíblico sao preliminares que h8o de ter lugar entre especialistas, e nao em assembléias de culto. De resto, o conteúdo do livro em foco é ortodoxo e serio, resultando de louvável trabalho

exegético.

E.B.

ARRISCAR SENHOR, EU GOSTARIA DE

SER DAQUELES

A

VIDA

QUE ARRISCAM A VIDA.

SENHOR, TU NASCESTE DURANTE UMA VIAGEM E MORRESTE COMO

UM MALFEITOR,

DEPOIS DE TER PERCORRIDO, SEM DINHEIRO, TODOS OS CAMINHOS : OS DO EXILIO, DAS PEREGRINACÓES E DAS PREGACOES ITINERANTES, ARRANCA-ME DO MEU

EGOÍSMO E DO MEU CONFORTO.

MARCADO POR TUA CRUZ, NAO RECEIE EU A VIDA DURA E PERIGOSA EM QUE SE ARRISCA A PRÓPRIA

VIDA.

MAS, SENHOR, ALÉM DE TODAS AS AVENTURAS, MAIS OU MENOS ESPORTIVAS,

ALÉM DE TODOS OS PERIGOS DE UMA VIDA ENGAJADA NA ACAO,

ALÉM DE TODOS OS HEROÍSMOS QUE CHAMAM A ATENQAO, TORNA-ME DISPONIVEL A BELA AVENTURA

PARA A QUAL ME CHAMASTE.

DEVO, SENHOR, POR TUA PALAVRA, INVESTIR MINHA VIDA. OS OUTROS PODEM MUITO BEM SER SABIOS, MAS TU ME DISSESTE QUE

É PRECISO SER ARROJADO.

OUTROS ACREDITAM NA ORDEM, MAS TU ME DISSESTE QUE CREÍA NO AMOR.

OUTROS ACHAM QUE É PRECISO CONSERVAR, MAS TU ME DISSESTE QUE DÉ. OUTROS SE INSTALAM, MAS TU ME DISSESTE QUE CAMINHE E ESTEJA PRONTO

PARA A ALEGRÍA E O SOFRIMENTO, OS FRACASSOS E OS ÉXITOS, ...QUE NAO COLOQUE MINHA CONFIANCA EM MIM MESMO, MAS EM TI,

...QUE .ABRACE O JUGO CRISTAO SEM ME PREOCUPAR COM AS CONSEQÜÉNCIAS E FINALMENTE ARRISQUE A PRÓPRIA VIDA, CONFIANDO NO TEU AMOR.

Do diario de Pierre Bourgin, oficial paraquedist; morto a 1? de margo de 1959.

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