Ano Xviii - No. 205 - Janeiro De 1977

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Projeto PERGUNTE

E RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor

com autorizacáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoríam)

APRESENTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanza a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e

Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de

¥_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se

dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabalho assim como a equipe

de

Veritatis

Splendor

que

se

encarrega do respectivo site. Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos

convenio com

d.

Esteváo

Bettencourt e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo. A

d.

Esteváo

Bettencourt

agradecemos

a

confiaga

depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

índice HOMEM E MÁQUINA

1

Psicología e ética: ÉXAMES PSICOLÓGICOS

E DIREITOS DO HOMEM

3

Um livro "ousado":

"O PECADO DE NOSSA ÉPOCA"

14

Mais urna escola religiosa japonesa:

"PERFECT LIBERTY"

27

"Ciencia" e "Mística" :

E A CIENCIA CRISTA : QUE É ?

37

LIVROS

45

EM ESTANTE

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

NO

PRÓXIMO

NÚMERO :

Indiferenca religiosa : fenómeno de nossos dias. — Que fez Jesús dos doze aos trinta anos ? — "Jesús responde a um padre" (livro).

«PERGUNTE Assinatwa

E

anual

Número avulso

de

Cr$ 75,00 qualquer

EDITORA C

RESPONDEREMOS»

DE

PU

Calxu Postal 2.666

ZC-00 20.000 Rio de Janeiro (RJ)

mós

Cr$

LAUDES

S.

7.00

A.

ADMINISTRAQAO

Rúa Sao Rafael, 38, ZC-09

20.000 Rio de Janeiro (RJ) Tels.: 268-9981 e 268-2796

HOMEM

E

MAQUINA

O novo ano se abre sob o signo da máquina e da automagáo, cujas expressóes sao cada vez mais flagrantes.

A máquina é inegavelmente fator de progresso e bem-estar para o homem; basta lembrar os beneficios das comunicagóes imediatas, dos transportes rápidos, da medicina e da cngenharia modernas... Todavia nao ó sem razáo que bons pensadores levantam um brado de alerta fren le ao crcscente uso da máquina. Com efeito, — esta marca profundamente a mentalidade dos homens; torna-os pragmáticos, utilitaristas, ou seja, voltados cada vez mais para a produgáo e o rendimento. A própria pessoa hu mana corre o risco de ser menos estimada do que a máquina,

porque esta é mais eficiente e veloz em seu trabalho do que o homem. Assim os seres humanos — de toda e qualquer carnada social — correm o perigo de ser avassalados pela máquina;

— a civilizagáo da máquina é também a da poluijáo (das aguas, do ar, do som...) — o que redunda mais urna vez em detrimento do próprio homem; este vai assim prepa rando a ruina de si mesmo. O Clube de Roma, reunindo den tistas do mundo inteiro, tem manifestado as suas preocupa-

cóes a propósito das conseqüéncias do ritmo da civilizaeáo

contemporánea. — Em suma, a vida humana tende a tornar-se cada vez menos humana e cada vez mais roboüzada ou mecanicizada pela influencia sempre maior dos fatores mecánicos na vida de hoje.

A verificagáo destes fatos sugere ao cristáo urna reflexáo e um desafio. Já o Concilio do Vaticano II observava muito oportuna

mente algumas das conseqüéncias do cientificismo e do tec nicismo: "O progresso atual das ciencias e da técnica, cujos métodos nao conseguem atingir as profundezas das realidades, pode favorecer certo fenomenlsmo e agnosticismo, quando o método de pesquisa usado por estas disciplinas é

indevidamente admitido como

norma

suprema na

pro

cura de toda a verdade. Existe ainda o perlgo de que o homem, confiando demasiadamente ñas descobertas atuais, julgue bastar a si mesmo, descui dando os valores mais elevados" (Const. "Gaudium et Spes" rfi 57). "A nossa época, mais do que os séculos passados, precisa de sabedoria para que se tornem mais humanas todas as novidades descobertas pelo homem.

Realmente

estará em

perigo

a

nao surgirem homens mais sabios" (ib. n? 15).

_ 1 _

sorte

tutuca jflc^. murjgojse

w-,t*»

f

CENTRAL

Em resposta ao problema assim esbogado,

compete ao

cristáo ser, mais do que nunca, coerente com os principios que professa. Essa coeréncia será um servigo aos homens, que nao lhes é lícito recusar. A sabedoria crista ensina, com efeito, o valor de certos «desvalores», tais como — o valor da inutilidade... Entenda-se aquí a inutilidade do que nao é calculável ou ponderável, mas diz respeito ao misterio do próprio homem: a arte, a ética (os gregos costumavam associar o bem e o belo), a religiáo e o culto sagrado,

a filosofía... É alravés destas manifcslngócs de si que o ho mem se encontra consigo mesmo e se torna mais auténtica mente humano, porque pela intuicáo e a mística se eleva ao Infinito e Transcendental;

— o valor da gratuidade... Esta significa «agir por agir»

ou «agir porque a agáo como tal vale ou merece o esforgo do homem», independentemente de qualquer retribuigáo mate rial. Assim o amor de benevolencia, que quer táo somente o bem do ser amado, sem cobiga de vantagens para quem ama,

é um espécimen

dessa gratuidade que dignifica o

homem;

— o valor do silencio... Este propicia um clima de saúde mental, no qual o homem se restaura, libertando-se das dilaceragóes impostas pela luta ruidosa de cada dia;

— o valor da contemplacáo e da otaca»... É no exercício destas que o homem se aproxima mais explícitamente do

Infinito e passa a criar nao com máos humanas, mas com as máos do próprio Deus;

— o valor do contato com a natureza... Esta lembra ao homem o misterio do mundo, dos espagos, dos mares, das florestas, dos insetos, dos pássaros, da vida... Lembra ao homem que ele nao é senhor do que o cerca, mas está envol vido num misterio de sabedoria, que lhe fala da Primeira e Suprema Inteligencia.

É mistcr, pois, que os cristáos, longo de ceder á onda do pragmatismo, se disponham a cultivar tais bens, cuja falta vem sendo altamente nociva á sociedade contemporánea. Quem pode compreender esses valores (que nao sao propriamente valores de fé, e, por isto, sao patrimonio da humanidade inteira) senáo aqueles que tém consciéncia de que o homem se diferencia radicalmente da máquina, porque aberto para novas

e novas formas de criatividade, em demanda do Bem Absoluto? Que Ele conceda a todos a virtude da fidelidade a tal tarefa! E.B.

— 2 —

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Ano XVIII — N' 205 — Janeiro de 1977

Psicología e ética:

exames psicológicos e direitos do homem Em síntese: Este artigo estuda os testes psicotécnicos e os de personalidade, chegando ás seguintes conclusoes:

1) Os exames psicotécnicos ou os testes psicológicos que visam apenas a averiguar aptidóes profissionais ou a avaliar características habitualmente externadas pelo paciente, via de regra nao constituem pro blema ético.

2) Os exames que tendem a penetrar no intimo psíquico ou moral do paciente, só se tornam lícitos depois de obtido o consentimento escla recido e livre do cliente interessado. Este estará obrigado a nao revelar os segredos que Ihe tenham sido confiados, nem se poderá expor a ocasióes próximas de pecado ou a reviver situacóes pecaminosas de sua vida passada.

3) O psicólogo estará também obrigado a segredo, de modo que, sem o consentimento do interessado, nao Ihe será lícito comunicar a quem quer que seja, os conhecimentos adquiridos através do exame da personalidade.

4)

Os mestres reconhecem

freqüentemente, duvidosos

ou

que os

resultados

de tais exames sao,

¡ncertos.

Comentario: Vai crescendo no mundo dos estudiosos e no grande público o interesse pela psicología e as suas aplicacóes: varias empresas, escolas e firmas só contratam fun cionarios ou colaboradores após realizado teste psicotécnico ou mesmo exames aínda mais profundos. Também em Semi narios e Institutos Religiosos os candidatos sao, por vezes, selecionados de acordó com o resultado de tais exames. Ora tal praxe tem despertado graves problemas éticos. Com efeito, pergunta-se: até que ponto é lícito penetrar no íntimo de 3

4

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

alguém? Será permitido exigir que passe por exame analí tico? Pode-se proceder a tal exame sem o consentimento explícito e livre do candidato? A estas questóes nao somente os autores procurado responder. Também os pensadores e cristáos se ve ni interessando pelo assunto e tém bastóos quo visam a salvaguardar a dignidade e

cristáos tém filósofos nao proposto su os inconfun-

díveis direitos da pessoa humana. Vamos, pois, abordar o problema ñas páginas que se seguem, sob a luz das mais

recentes declaragóes que a propósito tém sido feitas por auto ridades médicas e religiosas, valendo-nos do artigo do Pe. Vittorio Marcozzi: «Indagini psicologiche e diritti del)a persona», em «La Civiltá Cattolica» 3024, 19/VI/1976, pp. 541-551. Comecaremos por indagar:

1.

Teste psicológico : que é ?

O tosté psicológico consiste em submeter urna pessoa a

situado estimulante que tenda a provocar determinado comportamento; tal comportamento poderá ser dimensionado numéricamente e comparado ao de outros individuos postos em circunstancias semelhantes.

A expressáo «teste mental» foi utilizada, pela primeira

vez, pelo psicólogo norte-americano J. M. Cattell em 1890, a fim de designar provas psicológicas impostas a estudantes universitarios.

Em 1905, Binet concebeu um teste para aquilatar a inte

ligencia na idade escolar. Outros testes foram sendo sucessi-

vamente preparados para se reconhecerem as tendencias, as habilidades, os graus de memoria, as capacidades profissionais e outros predicados de estudantes e candidatos a profissóes.

Durante a primeira guerra mundial (1914-18), o Dr. Ter-

man aplicou testes aos recrutas do Exército, colhendo daí bons resultados. Foi o que levou alguns psicólogos norte-ame ricanos a preconizar a aplicacáo de exames psicológicos tam

bém a civis que pleiteassem alguma funcáo social. — 4 —

EXAMES PSICOLÓGICOS E ÉTICA

O uso de testes foi-se estendendo mais a mais nos Esta dos Unidos, contando com a aceitacáo de muitos mestres, mas também enfrentando críticas e oposicóes, pois em alguns casos os testes discriminavam os meninos nao propriamente por diferengas intelectuais, mas, sim, por criterios de lingua, raga e cultura...

Atualmcntc

distinguem-se

tres

tipos

do

lestes

psicoló

gicos:

— os de medida de inteligencia. Referem-se a urna escala que se constrói na base da complexidade dos problemas propostos ao candidato. Há testes de inteligencia a ser aplicados a enancas e adolescentes (idade evolutiva) como os há para adultos; — os testes de aptidao. Destinam-se a avaliar as disposigóes e capacidades da pessoa em vista de atividades espe

cíficas

(profissóes liberáis, artes, magisterio...).

zados em empresas, firmas, escolas, etc.;

Sao utili

— os testes de personalidade. Sao aplicados quando se trata de descobrir os traaos psíquicos, principalmente os mais ocultos e pessoais de alguém; tentam penetrar no íntimo do candidato. Os teste de personalidade podem ser classificados em duas categorías: a) testes estruturados, que constam de perguntas, as quais o interessado deve responder («self-report inventory»). O mais famoso é o teste M.M.P.L («Minnesota Multiphasic Personality Inventory»); b) testes nao estruturados, os quais constam de técni cas projetivas. Apresentam cenas ou manchas vagas e inde terminadas. O cliente, diante délas, deve dizer o que as man chas lhe recordam ou o que as cenas significam para ele. Dado que as manchas e as cenas nao tém significado definido (nao sao estruturadas), julga-se que os comentarios feitos pelo paciente sao a projegáo do que existe no psíquico do mesmo, principalmente no seu inconsciente. Assim o psicólogo admite que possa depreender as tendencias, as repugnancias e os afetos mais profundos e ocultos da pessoa analisada.

Dentre os numerosos testes de personalidade, um dos mais famosos é o de Rorschach (1884-1922): apresenta dez 5

6

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

tabelas, que contém manchas simétricas, algumas de urna só cor, outras policrómicas. O paciente deve dizer tudo o que vé, enquanto o psicólogo leva em conta os comentarios do cliente, o tempo de que necessita para proferir o que quer dizer, e outros dados. Este tipo de teste fez sucesso enorme, a ponto que em Nova Iorque foi criado o Instituto Rorschach, ao qual cstava associada urna revista ilustrativa dos estudos

de Rorschach. Em 1961, Sundbcrg julgava que o teste de Rorschach era aplicado nos Estados Unidos a um milháo de pessoas por ano. Isto implicaría cinco milhóes de horas de trabalho (571 anos) e as despesas de 25 milhóes de dólares. Compreende-se que táo ampio uso dos testes de Rorschach tenha dado ensejo a abusos, exageros e fanatismo, provo cando a crítica dos estudiosos mais equilibrados; tais críticas, porém, nao invalidam o método como tal. O «Thematic Apperception Test» de Murray consta de tres series de dez tabelas, que apresentam cenas nao bem

definidas com figuras em atitudes vagas.

Aplicam-se quando

se trata de analisar conflitos existentes no cliente.

Os testes figurativos de Szondi constam de seis series de oito figuras cada urna. Cada serie representa diversos sujeitos: um homossexual (ou urna lésbica), um sádico, um homi

cida, um histérico, um epiléptico, um paranoico, um maniaco, um catatónico, um deprimido... O paciente, colocado diante dessas diversas figuras, é convidado a escolher dentre elas as duas que lhe sao mais simpáticas e as duas que lhe parecem mais antipáticas.

Além dos testes de personalidade até aqui mencionados, existem outras técnicas psicológicas especiáis, que visam a penetrar no intimo do ser humano. Vejamos sumariamente algo a respeito.

2.

Penetrando no íntimo do ser humano

Dá-se o nome de «traeos íntimos» ou «interioridade» ao

setor da alma (ou psyché) que essa pessoa nao costuma reve

lar a ninguém ou só revela a parentes ou amigos íntimos: assim sao desejos íntimos, tendencias profundas, afetos, repug

nancias, recordagóes...

Muitas vezes esse setor do nosso psi-

quismo é desconhecido mesmo ao próprio sujeito; é o seu inconsciente ou subconsciente, que, embora ignorado ou mal — 6 —

EXAMES PSICOLÓGICOS E ÉTICA

conhecido pela pessoa, pode influir amplamente no comportamento e no género de vida desse sujeito.

Para penetrar dentro das profundidades do psiquismo humano, existem hoje em día varias técnicas, sendo algumas de índole preponderantemente fisiológica e outras prevalentemente analíticas.

2.1.

Processos prevalentemente fisiológicos

Entre os processos prevalentemente fisiológicos, enume-

ram-se o Lie-detector ou polígrafo e a narcoanálise.

O Lie-detecto!r é um instrumento que registra as reagóes fisiológicas da pessoa (aceleracáo das pulsacóes cardíacas, freqüéncia da respiracáo, dilatagáo das pupilas, suor e outros sintonías...) resultantes de perguntas habilidosas e aptas a revelar (ao menos indiretamente) dados que a pessoa inter rogada queira silenciar.

A narcoanálise aplica ao paciente substancias químicas próprias para provocar estados de semiconsciéncia semelhantes ao da hipnose; em tais condicóes o paciente perde o con trole ou os seus poderes de inibicáo e deixa que falem as suas faculdades mnemónicas e inconscientes. Submetida á narcoanálise,

a

pessoa,

hábilmente

interrogada,

pode

fazer

revelagócs que em circunstancias normáis nao faria ncm poderia fazer.

2.2.

Técnicas psicanalíticas

Mais usuais do que as anteriores sao as técnicas psicana líticas. Recorrem geralmente á livre associagáo de idéias.

A livre associacáo consiste em manifestar ao psicólogo as idéias que as palavras e expressóes dcssc psicólogo desencadeiam na mente do paciente ; este nao deve silenciar nenhuma recordacáo ou imagem que lhe ocorra. Para que tal procedimento seja facilitado, a pessoa analisada se senta cómo damente em uma poltrona ou se deita em um diva, e o psicó logo lhe fica atrás, deixando ao cliente toda a liberdade para falar. O analista levará em conta os silencios, as reticencias e as resistencias do paciente. A partir do que ouve e observa

da parte deste, procura conhecer o íntimo do seu paciente. Coloca-se agora a grave pergunta atinente 'á — 7 —

8

/-PERGUNTE E RESPONDEREMOS;» 205/1977

3.

Liceidocfe dos testes psicológicos

Para julgar a liceidade ou iliceidade dos testes psicoló

gicos, é preciso distinguir entre as técnicas que nao revelam a intimidada do paciente e aquelas que a revelam.

3.1.

Testes psicotéenicos

Os testes que nao revelam a intimidade do paciente, sao

os que se destinam apenas a verificar e medir certas aptidoes e capacidades da pessoa... Tais aptidoes ja sao manifestadas

espontáneamente pelo próprio comportamento habitual do pa ciente; podem ser observadas por quem o acompanha de perto, embora menos claramente do que mediante testes psicológicos.

Ora pode haver casos em que é nao somente oportuno, mas

também necessário, que se conhegam as habilidades próprias de determinada pessoa, principalmente se esta pretende assumir alguma fungáo de responsabilidade. Por isto é lícito, de modo geral, impor testes psicotécnicos ou testes de desenvolvimento intelectual ou de aptidáo profissional a quem se encaminhe para determinada profissáo ou determinado emprego:

tenham-se em vista, de modo especial, as fungóes de moto rista, piloto, aviador, maquinista, enfermeiro, médico, etc.

3.2.

Testes que revelam a intimidada

Há testes que contribuem para penetrar a «privacidade» do paciente, tornando conhecidos certos traaos de sua perso-

nalidade ou do seu modo de vida que tal pessoa poderia legí timamente nao querer revelar.

Para que tais testes possam

ser licitamente aplicados* é necessário, antes do mais, que o psicólogo informe o paciente a respeito da natureza dos men cionados testes e a respeito dos riscos que eles podem acarretar. Só será licito proceder a tais exames de personalidade depois que o interessado tiver assegurado ao psicólogo o seu consentimento dentro dos limites em que o paciente possa realmente dar tal consentimento (há casos em que o paciente nao pode abrir máo de sua «privacidade»; é o que ocorre prin_ 8 —

EXAMES PSICOLÓGICOS E ÉTICA

cipalmente guando essa privacidade está associada a legítimos direitos de terceiros). Se um psicólogo tenta penetrar no intimo de alguém sem

a autorizagáo deste sujeito, está violando um direito natural próprio da pessoa humana como tal. Por isto qualquer intromissáo nao autorizada na intimidade de outrem é grave ofensa a dignidade humana. Significa ignorar o que a pessoa tem de específico e rebaixá-la ao nivel de objeto ou coisa. Na ver-

dade, a pessoa humana, dotada de consciéncia e de livre arbi trio, é «sui iuris» ou é senhora de si mesma.

Mais ainda: intrometer-se na intimidade de alguém sem consentimento constituí urna ingerencia irreverente no relacionamento que o ser humano deve ter diretamente com Deus. Com efeito, o homem, tendo sido feito diretamente por Deus e para Deus, nao pode ser devassado por alguma criatura; toca a cada qual assumir as suas responsabilidades direta mente diante de Deus, sem imposi^áo ou constrangimento da parte de quem quer que seja. Está claro, porém, que Deus, tendo feito o homem social, pede a todo homem ausculte a sociedade e procure conhecer o plano de Deus através dos auténticos meios pelos quais Ele se comunica aos homens; a nmguém seria lícito (salvo raras exeecóes) formar sua cons ciéncia e pautar sua vida sem aprender por vias humanas os designios de Deus.

Esta doutrina é recomendada tanto por mestres eclesiás ticos como por fontes civis e leigas. Assim tenham-se em vista as palavras de Pió XII aos participantes do XITI Congresso Internacional de Psicología Aplicada (10/W/1958): "O conleúdo do pslqulsmo como tal pertence exclusivamente ao próprlo sujeito; so a este toca conhecé-lo. Todavía o suieito mesmo já manlfesta algo desse conteúdo através do seu comportamento. Quando o psicó logo se ocupa com o que é assim revelado, nio viola o psiquismo Intimo do sujeito... Mas há urna ampia parte do seu mundo interior que a pessoa so manlfesta a poucos confidentes e defende contra a ¡ntrusáo de outrem. Por consegulnte, certas coisas seráo guardadas

em

segredo

a todo prego

e em relacáo^a quem quer que seja. Há no Intimo de cada pessoa outras

coisas de que o próprio sujeito nio consegue tornar-se consciente. A pslcotogia ensina que existe urna regiüo intima do psiqutsmo — especialmente no que se refere a tendencias e disposicdes — táo oculta que o individuo

— 9 —

10

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 205/1977

nunca chegará a conhecé-la, nem mesmo a supo-la. E, como é Ilícito apropriar-se dos bens de outrem

e atentar contra a sita Integridade corporal sem o seu consenlimento, assim também nao é lícito entrar no intimo de alguém contra a vontade desse alguém, qualquer quo seja a técnica ou o método aplicado" ("Acta Apostolicae Sedis" 50 [1958] p. 276).

O Concilio do Vaticano II, na sua Constituicáo «Gaudium ct Spos», cnsitüi: "Cresce...

a consciéncia da dignidade

eximia

da

pessoa

humana,

superior a todas as coisas. Seus direltos e deveres sao universais e invio-

láveis. é preciso portan'.o que se tornem acesslveis ao homem todas aquelas coisas que Ihe sao humana. Tais

sao:

necessárias para levar

urna vida

alimento, roupa, habitacSo, direlto

verdadeiramente

de

escolher livremente o estado de vida e de constituir ramilla, direito á educagáo, ao trabalho, á boa lama, ao respeito, á conveniente informacáo, direito de agir segundo a norma reta de sua consciéncia, direito á protejo da vida parti cular e á justa liberdade, também em materia religiosa" (n? 26).

O Conselho Económico e Social das Nagóes Unidas em 1973 dedicou-se tongamente ao estudo dos problemas relacio nados com o exame da personalidade humana. Sugeriu nor mas referentes á formagáo profissional dos examinadores, á discricáo dos exames e á aplicagáo de algumas técnicas como a narcoanálise. No tocante ao exame da personalidade, propós: "Exija-se que o interessado ou o seu tutor dé o respectivo consentimento com pleno conhecimento de causa; esse consentimento deverá abranger também o uso que se há de fazer dos resultados do exame e a identidade

da pessoa ou

da organizado ás quais

os

resultados se rao comu

nicados. A

protecáo da dignidade humana deverá merecer atencáo particular

no caso dos testes cujo éxito se

funda essencialmente sobre a revelagao inconsciente, por parte do interessado, de aspectos da personalidade que ele preferiría guardar em segredo" ("Nations Unies, Conseil Economique

et Social. Commission des Droits de l'homme et progrés de la science et de la technique". E/CN. 4/1116, 23 janvier 1973, pp. 96s).

Também a «American Psychological Association» publicou em 1973 alguns «principios éticos a serem observados na pesquisa psicológica feita sobre seres humanos». Dentre estas normas, há urna que afirma que a pesquisa nao deve ultrapassar os limites estipulados pela pessoa examinada. Ou, como se lé textualmente em outra passagem: «O direito de livre escolha requer que a decisáo de submeter-se ao exame — 10 —

EXAMES PSICOLÓGICOS E ÉTICA

11

seja tomada á luz de adequada e exata informac.áo». («Ethical Principies in the Conduct of Research with Human Participants». Published by American Psychological Association, Inc. Washington 1973, p. 27).

Em suma, para que um teste de personalidade seja lícito, o psicólogo ou o analista deverá obter do paciente um conscntimento esclarecido e livre. Em outros tormos, deverá — informar o cliente a respeito da índole dos testes e dos objetivos que ele tem em vista. Advertirá o interessado

de que, durante o exame, lhe poderáo aflorar a mente sentimentos, indinacóes e aversóes, dos quais ele nem suspeita. Há de lhe manifestar outrossim a margem de incertezas e de dificuldades moráis que tais exames acarretam. Além do mais, deverá obter a licenga do paciente para comunicar a terceiros as revelagoes que este lhe venha a fazer, caso isto seja necessário

(deveráo entáo esses terceiros guardar segredo a res

peito do que lhes tiver sido transmitido) ; — respeitar a liberdade do paciente, de tal modo que este possa dizer um Sim isento de qualquer tipo de constrangimento: "Se o consentlmento for extorquido injustamente, a acáo do psicólogo será ¡licita. Se for viciado por falta de liberdade (devida á ignorancia, ao erro, ao engaño), qualquer tentativa de penetrar ñas profundidades da alma será imoral" (Pió XII, Discurso acs participantes do XIII Congresso Inter

nacional de Psicología Aplicada", I. cit. p. 277).

Resta agora observar um ponto importante, apto a pro porcionar urna visáo equilibrada do assunto:

4.

Incerteza dos resultados

É preciso notar que, apesar de quanto por vezes se afirma, as pesquisas psicanalíticas nem sempre oferecem resultados seguros. Em todos os testes há urna cota, mais ou menos ampia, de interpretagáo subjetiva que depende das teorías adotadas pelo psicólogo e da natureza dos métodos de pes quisa. A inseguranga é maior quando se trata da narcoaná-

lise e da aplicacáo do Lie-detector ou polígrafo.

Os mais abalizados estudiosos concordam entre afirmar isto. E. Planchard, por exemplo, escreve: — 11 —

si

ao

12

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

"Os testes projetlvos baseiam-se sobre principios Incontestáveis. Mas a experiencia reduzida, limitada no tempo e no espaco, que constituí a materia dos testes projetlvos, é, multas vezes, desproporcionada — devemos coníessá-lo — em relagSo ¿s conclusSes numerosas, precisas, dogmáticas, que da! sao deduzidas. Grande parte da aparente riqueza de diagnóstico se deve, sem dúvida, á imaginacáo, á engenhosidade, ás Idéias preconcebidas do examinador. As técnicas projetivas, extremamente (ou mesmo demasia damente) numerosas, sSo, na verdade, de valor desigual; neste setor, a Imaglnacáo parece ter tomado

llvre curso, emancipando-se por vezes

do

freio do espirito científico" (E. Planchard, "Théorie et pratique des tests".

Paris 1972, pp. 320s),

R. Meili observa a seu turno: "Nada é mais difícil de se julgar do que uma afirmacSo psieodiagnóstica referente a uma pessoa: será exata ou nao? Por vezes, tem-se valo rizado excessivamente a eficacia de tais testes. Últimamente conhecemos melhor o emprego destes e, conseqüentemente, a interpretado dos resul tados se torna mais segura" ("Psychodlagnostik", em "Lexikon der Psychologie". B. 3. Freiburg i./Br. 1973, col. 24).

Pode-se citar outrossim o testemunho de R. Stagner e C. M. Solley: "Muito se tem discutido a validado dos testes projetivos. Alguns psi

cólogos sustentam que as estimativas dos traeos de personalidade derivadas de tais melos sao notavelmente exatas. Por exemplo, muitos psicólogos que trabalham no ámbito da Industria, aplicam os testes para avaliar a aptidao dos candidatos a postos de direefio, pols julgam que a capaeldade de suportar frustracóes pode ser medida através de tais meios. Também a maioria dos psicólogos clínicos que trabaiha nos cárceres de menores, ñas

Clínicas de Higiene Mental, nos hospitais e em consultorios particulares, recorre largamente a esses testes. Por outro lado, muitos psicólogos, pesquisadores científicos, procuraram verificar as predicSes feitas através de testes projetivos, e obtlveram resultados modestos. Asslm a controversia sobre a validade dos testes projetlvos continua; serSo necessárias aínda numerosas pesquisas

de

longa

duracSo antes de chegarmos a

posta definitiva" ("Le basl della Psicología". Roma 1973, p. 710).

dar res-

As advertencias relativas a falhas dos testes de persona lidade poderiam multiplicar-se. Veja-se, por exemplo, Rosenzweigart, «Personality», em «Encyclopaedia Britannica», vol. 17 (1969); J. Perse, «Projectives (Méthodes)», em «Encyclopae dia Universalis» 13 (1972), p. 634; P. Greco, «Psychologie», ib. pp. 759s; W. Allport, «Psicología della personalitá, Zürich 1973, pp. 358-372.

— 12 —

EXAMES PSICOLÓGICOS E ÉTICA

5.

13

Conclusoo

As consideracóes até aqui apresentadas podem-se reca pitular nos seguintes itens: 1) Os exames psicotécnicos ou os testes psicológicos que visam apenas a averiguar aptiddes profissionais ou avaliar

caracteristicas habitualmente externadas pelo paciente, via-de-regra, nao constituem problema ético. 2) Os exames que tendem a penetrar no intimo psíquico ou moral do paciente só se tornam licites depois de obtido o consentimento esclarecido e livre do cliente interessado. Este estará obrigado a ñáo revelar os segredos que lhe tenham sido confiados, nem se poderá expor a ocasióes próximas de pecado ou a reviver situagóes pecaminosas de sua vida passada.

3) O psicólogo estará obrigado a segredo, de modo que, sem o consentimento do interessado, nao poderá comunicar a quem quer que seja, os conhecimentos adquiridos através do exame da personalidade. 4) Os mestres reconhecem que os resultados de tais exa mes sao, freqüentemente, duvidosos e incertos.

RECEBEREMOS

COM

GRATIDAO QUAISQUER OBSER-

VAQOES E CRÍTICAS DE NOSSOS

LEITORES A RESPEITO

DO

NAO

CONTEÚDO

ESCREVER:

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DA

REVISTA

CAIXA

PR.

POSTAL

JANEIRO (RJ).

— 13 —

2666,

DEIXEM

20.000

DE

RIO

NOS

DE

Um livro "ousado" :

"o pecado de nossa época"1

Em síntese:

O Dr. Karl Menninger é famoso psiquiatra norte-ameri

cano, que no livro "O pecado de nossa época" estuda o fato de que a palavra e o próprio conceito de "pecado" estáo sendo esquecidos e banidos em nossas sociedades modernas. O banimento comecou pela substituido

da nogao de pecado pela de críaie (a nocáo ética cedeu á nocao jurídica); esta, por sua vez, foi substituida pelas nocoes de síntoma e doenca; o

pecado de outrora seria hoje o mero resultado de condicionamentos, trau mas e complexos. O autor exempiifica esta sua tese citando numerosos

exemplos concretos de tal ocorréncia. Em especial, refere-se aos grandes males da época contemporánea, como as guerras, os genocidios, a por

nografía, a violencia, o uso de drogas, a mentira, a crueldade com animáis, com criancas, as formas de escravidáo, o tráfico de drogas... Na sociedade de hoje, na qual cada cidadSo é reduzido a unidade ou peao, ninguém se julga responsável por tais abusos; as corporacóes tém olhos e ouvidos,

pensam,

planejam

e

lembram;

mas

nao

tém

consciéncia

nem

remóreos.

Ora, seguido o Dr. Menninger, esta süuacdo de fndiferenca em relacáo aos valores éticos e ao pecado é nociva ao próprio bsm-ostar da sociedade. Reoonhscer as responsabilidades e as culpas é fator de reostruturacáo dos individuos e da sociodade; seria principio da renovacao dos homens, os quais, em conseqüéncia, conccberiüm a espüranipa de mclhores días.

Consciente dicto, o Dr. Mennir.ger procura estimular os ministros religiosos de qualquer Credo a fím de que realizem sua miss&o cem a pl&na conviecáo do valor ¡ndispercsável que Ihes toca: ajudar os homens a cenceber responsabilidades pessoais o coletivas, ajudá-los também a distinguir entre o 'ce:r. e o mal éticos, ois formas de üorvitjo que a título algum podem cessar em nossos dias. 0 livro é paiticula-rpcp.'o rotávcl polo fato de so oriíjinr.r da pona de um psiquintra, quo, como pioíissioncl, floiiuncia a covnrdia da sociedade contemporfinea frente r.o pecado ci:e nela existe. O autor nao so delino por algum Credo, mas esvima profundamente os vaiores religiosos. — Embora o seu livro ienha páginas que a teología completaría com os dados da fe, ó obra de valor. *



o

Comentario: Apareceu no mercado brasileiro um livro «audaz», porque fala de «pecado»... Nao é obra de sacer dote ou ministro religioso nem de teólogo, mas de famoso psiquiatra — o Dr. Karl Menninger, que assim se aprésenla: 1 Publicacao da Livraria Jocó Olympio Editora 1975. Autoría de Karl

Menninger e traducáo de Clarice Llspector.

— 14 —

«O PECADO DE NOSSA ÉPOCA»

"Nao sou teólogo,

profeta ou

sociólogo,

sou

um

15

médico,

talando

urna llnguagem médica com um acento psiquiátrico. Para os médicos, a

saúde é o bem supremo, o estado de ser ideal. E a saúde mental — alguns acreditam — inclui todas as saúdes: fisica, social, cultural e moral (espi ritual)" (Hvro citado, p. 221).

O Dr. Menninger fundou um Centro Psiquiátrico em Topeka, Kansas (U.S.A.), conhecido no mundo inteiro. Escrevcu varias obras e pcrlcnce a grande número de organizares psiquiátricas norte-americanas. Se no seu livro «Human Mind»

(1930) o Dr. Karl Men

ninger abordava as enfermidades mentáis de que sofre o ser humano, nésta sua última obra ele considera as enfermidades moráis do homem. Mostra que, apesar da aversáo que hoje em dia se tem 'á palavra «pecado», a realidade deste existe e o simples fato de nao a reconhecer é causa de maiores males do que a denuncia sincera e leal da realidade. O livro resulta, como diz o autor no seu «Postfácio», de experiencia adquirida nao somente em consultorio médico, mas também em Seminarios de estudos; verificou entáo que sacer

dotes e outros ministros religiosos se acham, hoje em dia, perplexos, porque lhes parece que a sua missáo é inútil. Ora ceder a essa impressáo seria trair o próprio género humano, como afirma Menniníjer, apoiando-se em urna pnssagem do fnmoso historiador inglés Arnold Toynbee (que nao era cristáo): "Poderlamos acusar a raca humana com Imparcialidade, urna vez que somos humanos, de urna 'brecha moral', urna brecha que vem uimentando & medida cus a tecnología tem um processo cumulativo e a moral fica estagnada...

A rxfatftnein dessn brncha moral e a importancia ria necessfdade de fccha-la tem sido reconhenlda pelos genios espiriluais do mundo. Os ensi-

namentos de Buda nao diferem neste aspecto daqueles dos filósofos chineses Confúcio, Laotsé, dos antlgos filósofos gregos Sócrates e Zeno (o fundador da filosofia estoica) ou de todos os profetas hebreus, desde Amos no oitavo século a. C. até Jesús. Os líderes espirituais estavam camlnho certo. Devemos seguir sua indicacáo.

no

A ciencia nunca suplantou a rellgiao, e espero que nunca o faga... A ciencia também comecou a descobrir como curar os males físicos. No

entanto, até agora nio deu slnais de ser capaz de arcar com os problemas mais serios do homem. Ainda nao foi capaz de curar o homem de sua pecaminosidade ou de sua sensacáo de inseguranga ou de evitar a dor do fracasso e o medo da morte. Além disso, nao conseguiu ajudá-lo a

— 15 —

W

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

sair da prisSo de seu egocentrismo inato para a comunhSo ou uniao com urna realidade muito mafor, mais importante, mals valiosa e mals duradoura do que o próprio individuo...

Estou convencido de que o problema fundamental do homem é o seu egocentrismo. Ele sonha fazer do universo um lugar que Ihe seja agradável com muito tempo livre, descontracao, seguranea e saúde, e sem tome nem pobreza..." ("Surviving the Futura". Oxford University Press 1971, citado por Menningor á p. 217s).

Consciente desta realidade, Menninger tem-se dedicado

em sua «Menninger Foundation» também á orientagáo clínica de sacerdotes e pastores confusos perante a situagáo moral da nossa sociedade ocidental.

Vamos, a seguir, propor os principáis tópicos do livro em foco.

1.

O desaparecimento do pecado

Os homens de nossos dias já nao falam de pecado e tém horror a ouvir esta palavra. Quando ocorre algo que Ihe corresponda, qualificam-no de «nocivo, prejudicial, pernicioso, vergonhoso», nao, porém, de «pecaminoso». Para ilustrar o fato de que o pecado desapareceu, Menninger cita episodios da historia norte-americana: Em 1952, o Presidente Truman, a pedido do Congresso,

instituiu um Dia Nacional de Oracáo. Em 1953, o Presidente Eisenhower, fazendo a sua primeira declaragáo presidencial, referiu-se ao pecado; inspirava-se em um discurso do Presi dente Abraham Lincoln proferido em 1863. Todavía comentou um articulista da revista «Theology Today»: "Nenhuma das convocacoes subseqüentes de Eisenhower para a prece mencionou o pecado. A palavra nao era compatível com a vis&o do coman dante supremo de um povo orgulhoso e confiante... Desde 1953, nenhum

outro presidente menclonou o pecado como urna fraqueza nacional. Nem

Kennedy, nem Johnson, nem Nlxon. Para maior seguranca, evitaram a palavra. Os republicanos referiram-se aos problemas de 'orgulho' e 'justlca1. Os demócratas referiram-se ampio concelto de pecado. Nao

a 'deficiencias'. Mas nenhum usou o consigo imaginar um presidente atual

batendo no peito em nome da nagáo e rogando 'Deus seja misericordioso conosco, pecadores', embora na oplnifio de especialistas esta seja urna das melhores manelras de comecar" (livro citado, p. 1Ss).

Feitas estas observagóes, o Dr. Menninger procura recons tituir as etapas que levaram ao desaparecimento da nagáo e da palavra «pecado» em nossos dias. — 16 —

«O PECADO DE NOSSA ÉPOCA»

2.

17

Etapas do desaparecimento

Em súrtese, o Dr. Menninger afirma que o concertó de pecado foi sendo aos poucos substituido pelo de crime; depois este foi removido pelo de doen^a. Isto quer dizer: o pecado deixou de ser urna falta moral para ser táo somente urna transgressáo jurídica, ou a violacáo de urna ordem conven

cional. ' Posleriormonte, a ordem jurídica foi substituida pela psicopatológica; o pecado deixou de ser algo que afete a responsabilidade de alguém para ser considerado um desequili brio de reacóes psicológicas, do qual o sujeito nao tem culpa, pois é simplesmente a vítima de defeitos de educagáo e de traumas incutidos pela sociedade. Examinemos sucessivamente cada urna como sao apresentadas por Karl Menninger.

2.1.

destas

etapas,

Do pleno moral para o plano jurídico

A primeira metamorfose do concertó de pecado consiste em que foi deslocado do foro da consciéncia e da lei moral natural, objetiva, para o plano do Direito, e do Direito posi tivo. «O policial substituiu o sacerdote. Com isto, muitos 'pecados' doram a impressáo de desaparecer, tendo recebido novo nome e novo monitor» (p. 49). Ora essa mudanza de foro nao beneficiou, mas, ao con trario, prejudicou a sociedade. As sangóes jurídicas impos tas pela polícia e pelo Estado sao, muitas vezes, mais vinga-

tivas do que medicináis e regeneradoras. A maquinaria repres-

sora do Estado

(ou

da Polícia)

«é imponente, poderosa

e

monstruosa; mas é ineficaz e tremendamente dispendiosa; como controle do crime, ó um completo fracasso. E, urna vez que processa apenas urna pequeña porcentagem dos transgressores ..., representa mais urna farca moral, um dispositivo simbólico, do que um controle prático dos desvíos de comportamento... Existem, em resumo, duas especies de 'justiga': urna para os pobres, e outra para nos» (cf. p. 51). «As pessoas

1 Entende-sa aqui o direito ou o foro jurídico separado do ético ou do foro moral. Tal separacao é aberrante, mas decorre do chamado "posi tivismo jurídico"; este considera as leis como meras convengdes estabetecidas pelo Estado para preservar natureza do próprio ser humano.

o

bem

— 17 —

comum,

sem

fundamento

na

18

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS? 205/1977

que nao podem pagar a um advogado hábil para representá-las e que... sao «inapelavelmente encarceradas em prisóes horrí-

veis, aguardando o sempre adiado julgamento, tém poucos 'direitos' verdadeiros» (p. 52).

muito

Em conseqüéncia, «muitos bandidos e suspeitos apodrecem em calabou^os fora das? nossas vistas, nutrindo seu odio e

planejando vinganea. Outros, entretanto, continuam scus cri-

mes sem serem intimidados, advertidos, capturados, julgados, sentenciados ou punidos. Cinqüenta por cento jamáis sao pre sos, vinte por cento nunca sao considerados culpados» (p. 55).

O Dr. Karl Menninger se alonga sobre o duro e ineficaz tratamento infligido aos prisioneiros : saem dos cárceres em piores condigóes de saúde física, psíquica e moral do que as que traziam ao ser encarcerados. Tal é o resultado de se negligenciar o foro da consciéncia, da educagáo ou reeducagáo ética do ser humano, para se dar atengáo táo somente aos valores do foro externo ou jurídico.

2.2.

Do plano jurídico para o plano medico

Com os progressos da psicología e da psicanálise, muitos pensadores foram aos poucos tendendo a considerar o pecado, e também o crime, como conseqüéncias de doengas psíquicas. Por conseguinte, em vez do recurso a punicáo para certos

males do comportamento, instaurou-se o recurso á medicina.

Um homem pode matar seu melhor amigo ou seu pior inimigo durante um delirio, e ainda assim nao cometer crime; caso nele se evidencie urna condigáo denominada «doenga mental»

influente no ato criminoso, é-lhe cancelada a culpa legal e o paciente é confiado aos cuidados dos médicos.

Na verdade, há diversos graus de voluntariedade do com

portamento humano. Estes dependem das condigóes de saúde física e psíquica do pretenso réu, de sorte que nem tudo aquilo que no foro externo é gravemente eondenável, é sempre cem por cento imputável ao «réu» como culpa. A consciéncia desta verdade se foi estruturando paulatinamente a partir das pes quisas realizadas

— no campo da hipnose, por Mesmer em 1775, Braid em 1841, Liebault e Bernheim em 1880, Charcot em 1886 ; — 18 —

«O PECADO DE NOSSA ÉPOCA»

19

— no campo da psicanálise, por Freud, de 1910 em diante;

— no campo dos reflexos condicionados, por Pavlov, de 1900 em diante, por Watson em 1915 ; — no setor do uso das drogas, que provocam efeitos espe cíficos de alteracáo no humor e no comportamento do consu midor.

As descobertas realizadas em conseqüéncia de tais pesqui sas levaram muitos estudiosos a conceber urna «nova moral social» ou urna «moral sem pecado». Tudo que outrora se chamava «pecador», passaria a ser tido como doenca psíquica. O maior impulso em directo a essa nova maneira de en carar os defeitos de comportamento deve-se á instauragáo do método psicanalítico por parte de Siegmund Freud. Verdade é que a clássica moral religiosa reconhece graus de voluntariedade, como também circunstancias que atenuam ou cancelam a responsabilidade do pecador; todavía os autores da clássica moral crista nem por isto excluem a possibilidade

de pecado, pois nao se pode dizer que todos os homens sejam irresponsáveis ou doentes mentáis ; a sociedade geralmente atribuí a cada um dos seus membros direitos e deveres, supondo-o capaz de os exercer com responsabilidade. Se nem todos sao 100 % mentalmente sadios (o que, de fato, é raro),

admite-se urna pequeña faixa de anormalidade que é normal e admissível no homem responsável. Como fator influente na estruturagáo das novas concep-

cóes éticas, deve-se mencionar outrossim o estudo dos refle xos condicionados de Pavlov. Este foi difundido nos Estados Unidos pelo Prof. John B. Watson, da Universidadc de Chi cago, através das teorías do «behaviorismo» (cf. PR 194/1976, pp. 65-77). A estas associaram-se escolas psicológicas como a da «Gestalt» (figura), que contribuiram para reduzir o com portamento humano ao plano da mecánica : a pessoa reagiria a estímulos como um ser irracional ou como um robó, sem

que se lhe pudessem atribuir liberdade de opgáo e responsa bilidade. Assim as premissas materialistas de nao poucos estu diosos levaram-nos a negar o comportamento típico humano e, conseqüentemente, as nogóes de consciéncia moral e pecado. — 19 —

20

«PERGUNTE E

RESPONDEREMOS»

205/1977

As novas teorías psicológicas nao somente provocaram modificagóes na prática da medicina e do policiamento das cidades, mas também alteraram costumes e padrees sociais. Sugeriram novos métodos de educagáo da crianga, nos quais o conceito de pecado nao tinha mais lugar. «Nao existem criangas más ; apenas existem maus país», veio a ser o novo «slogan». Em conseqíiéncia, muitos pais concebcram o pro blema ilo educar sous filhos ; p:is:;ar;un a procurar nao os «condicionar» e praticar o certo e evitar o errado. Essa tática os levou a surpresas ; com efeito, «inexplicavelmente» manifestava-se o comportamento errado dos filhos. Que fazer entáo ? Chamá-lo «pecado» ja nao tinha sentido; seria ultrapassado. Encarar essa má conduta como síntoma de doenga, de desajuste ou de angustia da crianca ou do jovem? — «Nem pensar !» — Mas entáo considerá-lo como síntoma de educacáo falida ou errada por parte dos pais ? — «Também nem

pensar!» — Todavía, apesar desses raciocinios, muitos geni tores nao conseguiam nem conseguern libertar-se da impressáo de que sao responsáveis pelo comportamento erróneo de seus

filhos; seguindo as teorías dos condicionamentos e dos nao

condicicnamcníos, engsnaram-se e prciudícaram os filhos por su?, omissáo.

Foram estes fatores, concatenados através dos últimos decenios, que provocaram «o crepúsculo do pocado». Este aínda ó mencionado nos rituais da Igreja, mas nao é mais objeto de conversa, debate ou discussáo; o vocábulo «pecado» foi sepul tado no silencio dns rodas sociais. Mesmo os crentes, que acre-

ditam haver pecados ou falhas moráis ofensivas ao Amor de Deus, evitam usar a palavra «pecado»; confessam a si ou a Deus diretamente os seus pecados, mas reservam esta prática para o foro meramente interno ou pessoal. «Pecado» tornou-se

unía palavra que provoca o riso ou a sátira. O pensamento do Dr. Menninger estende-sc aínda a outro aspecto do problema.

3.

A irresponsabili:'cde coJcíiva

O aumento da populagáo mundial em nossos días faz que a sociedade se transforme, por vezes, em massa, na qual a pessoa humana é diluida á guisa de um peáo. — 20 —

«O PECADO DE NOSSA ÉPOCA»

21

Em conseqüéncia, verifica-se muitas vezes que um grupo tem comportamento erróneo: pratica violencias, assaltos, mor ticinios, guerras, genocidios, mas dentro do grande grupo o

individuo parece tornar-se cada vez menos significante e, cer-

tamente, cada vez menos responsável por seus atos e pelos atos do grupo.

"Exórcitos, 6 claro, s3o grupos formados com o objetivo de eslabelccer, em nome de grupos maiores, a intimidacao, a destruicao, a carnificina, a tortura, o massacre, a vlolacao e o terror desejados pelo grupo malor. Ninguém discute a maldade dos terrfvels atos da guerra, mas quem é o

culpado ? Eu, nao ; obedecí a ordens. Eu, nao; apenas transmití as ordens. Eu, nao; emlti as ordons com base ñas decisóes do comando. Eu, nao ; era apenas o executivo do grupo administrativo.

Nos, nao ; espeficamos

um objetivo generalizado de acordó com a determinacáo nacional.

A medida que os grupos se multlplicam, o individuo parece tornar-se

cada vez menos significante e, cortamente, cada vez menos responsável por seus atos e pelos atos de seu grupo" (p. 96).

O autor se detém, a seguir, sobre varios tipos de pecado cuja responsabilidade repousa sobre mais de urna pessoa ou mais de um grupo, sem que todavía alguém chcge a estar consciente da sua parte: assim certas guerras, a escravidáo

vigente em algumas partes do mundo (escravidáo branca, trá

fico de mulheres e de criancas), a miseria de certas classes sociais, os pecados ambientáis (como a poluicáo resultante de urna desenfreada corrida ao «ter mais», em detrimento do «ser mais»), o uso das drogas, o desperdicio das materias

primas...

"Possuo varias pastas repletas de exemplos de grupos que absorvem culpas e fogem da responsabilidade de erros. O escándalo da ITT, por exemplo, envolvendo dois procuradores-gerais dos Estados Unidos e fun cionarios da organizacao do Partido Republicano, trouxe á baila que a ITT era um ¡menso e poderoso conglomerado que havia 'engolado' muitas outras companhias de pequeño porte, sendo que algumas délas contra a vontade de seus acionistas. Aparentemente ela se esquiva á instauracao e'etiva do processo por seus atos, através de varios artificios tipo suborno — coisas pelas quais um individuo poderla ser preso" (p. 111).

Quem é responsável por estes e outros males? Certamente sao pecaminosos; mas quem cometeu o pecado? Ninguém quer ser responsável por isso. Alguém disse a alguém que dissesse a alguém que fizesse isso ou aquilo. Alguém decidiu comecar

e alguém concordou em continuar. Mas quem é o responsável pelo resultado final? Como me coloco diante de tal situagáo? — 21 —

22

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

A filosofía desse procedimento é exposta por um famoso professor de Economia da Universidade de Wisconsin, que iniciou certa vez o estudo do que seja corporagáo com as seguintes palavras : "O homem é criado por Deus individualmente; a corporacáo é um individuo criado pelo homem. Como um homem, a corporacáo possui um corpo. Possui Dragos e pernas; n§o possui apenas quatro, mas milhares de membros. Tem urna mente e um objetivo. Tem olhos e ouvldos e urna especie de cerebro; ela pensa, planeja e lembra. E pode crescer até flcar ¡mensa e forte.

Mas

nao possui

consciéncia!

Assim a corporagio jamáis sofre de sentlmentos de culpa. Pode matar e ser morta; pode fazer o mal e o bem; pode flcar doente e pode morrer.

Mas, por outro lado, nSo tem piedade e n3o importa o sofrimento ou prejuízo que cause; nao tem remorsos" (p. 110).

Após estas verificagóes, o Dr. Karl Menninger expóe a sua tese :

4.

A tese do livro

1. O descrédito em que caiu a palavra «pecado», leva o pensador a urna reflcxáo seria e profunda. Nao adianta dizer

que o pecado nao existe : os homens se véem cada vez mais

envoltos ñas malhas de seus erros e em situacóes sombrías. Existem desvíos moráis que nao podem ser classificados simplesmente como fainas jurídicas (ou crimes de foro externo) ou como doencas físicas ou psicossomáticas. Existem, sim, comportamentos nao éticos, imorais. Muitos até chegam a reconhecer isto, embora nao falem de pecado (para evitar qualquer referencia implícita ou indireta a Deus); preferem falar apenas de imoralidade ou comportamento anti-social. Todavía — diz o Dr. Menninger — há vantagem em se guardar o conceito de «pecado» e mesmo a palavra respectiva. É o que sugere Paúl Tillich (teólogo protestante) ao escrever : "Existe um fato misterioso relacionado com as grandes palavras da

nossa tradlgSo religiosa; elas

nao podem sor substituidas. Todas

as ten

tativas de substitüicSo — inclusive as que eu mesmo tentei fazer — falharam.... conduzlram a dlscussSes esteréis e superflclals. NSo existem subs titutos para palavras como 'pecado' e 'graga'. Mas existe um meio de redescobrlr o seu significado: é o mesmo camlnho que nos leva ás profundezas de nossa existencia humana. Nessas profundezas essas palavras ganharam poder através dos tempos, e é lá que devem ser reencontradas por cada geragáo, e por cada um de nos em particular" ("You are accepted", A. D., 1:36, setembro 1972).

— 22 —

«O PECADO DE NOSSA éPOCA»

23

A afirmacáo destas verdades provoca no Dr. Menninger a necessidade de responder a urna objegáo. Poderiam, sim, os leitores e amigos acusá-lo de ser retrógrado, ele um psicanalista treinado e conceituado. Estaría preconizando a volta do moralismo antigo, que incutia nos discípulos a obediencia as normas éticas mediante ameagas de castigos severos e defor madores da personalidade ? O conceito de pecado, utilizado para justificar tremendas punicóes, estaría para ser de novo apregoado ?

— Nao, diz o Dr. Menninger. O moralismo que se pre ocupa mais com a formalidade, a legalidade e a vinganga do que com a formagáo e o engrandecimento da pessoa humana, merece ser reprovado. Pode ser mais criminoso do que o próprio crime que tal moralismo pretende extinguir. A propósito, cita o autor a carta que um colega, o Dr. Lawrence S. Kubie, autoridade pioneira no movimento psicanalítico, lhe escreveu. Essa carta é a resposta do signatario a urna consulta que lhe fez o Dr. Menninger a respeito da oportunidade de publicar hoje em día um livro que desperté os homens para a consciéncia de pecado. Eis o trecho que vem ao caso neste contexto : "Certamento nao é necessárlo que ninguém nos lombre (mas talvez seja necessário que se lembre ao público) que os antibióticos e a aspirina também sSo empregados de manelra errada. Nao os atacamos por isto. Obviamente concordamos em que, so por ter sido freqüentemente mal empregado, o conceito de doenca nSo deixa de ter valor para um conheclmento mais profundo do pecado. Do mesmo modo, o fato de que o conceito de pecado tenha sido tanta vez usado como urna desculpa para a brutal!* dade e a vinganca (mascarada de castigo justo), nao quer dizer que nao tenha valor, se e quando usado adequadamente.

Acredito que vocé prestarla um grande servlco faiendo urna exposlc§o critica da tendencia ao uso erróneo de ambos os conceitos de pecado e doenca em relagáo ao comportamento incorreto! iA partir daf, poderla apontar maneiras mais sabias de usar ambos os conceitos" (p. 47).

Acrescenta o Dr. Menninger : "Encorajado por esse colega sagaz e possível utllidade de fezer reviver o uso da amor á palavra, mas pela relntroducao dos sabilldade moral. Chamar a algo 'pecado' e

por muitos outros, busque! a palavra 'pecado' — nao por conceitos de culpa e responlidar com ele como tal pode ser urna salvaguarda útil ou urna manelra de solucionar o problema. Arrepender-se de um síntoma nao traz grandes beneficios, mas n§o se arre-

— 23 —

24

-PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

pender de um pecado pode acarretar um grande mal. Vice-versa, apenas o fato de analisar um pecado nSo é táo benéfico e ás vezes ignorar um síntoma pode vir a ser muito prejudicial" (p. 68).

Como se desenvolve a tese de Menninger ?

2. O autor afirma que, se os homens de hoje voltarem a roconlioccr a sua rosponsabilidade pessoal nos males que ocorroni tanto cni sua vida individual como na sociedade, scráo psicológicamente aliviados e recuperaráo um pouco da paz e da felicidade perdidas. "O miasma e a depressáo do mundo atual sSo em parte resultado da r.ossa convicgSo auto-induzida de que, desde que o pecado deixou de existir, apenas os neuróticos precisam de ser tratados e os criminosos punidos. O resto pode ficar por ai e ler os ¡ornáis. Ou ver televisSo. Cuide da sua vida e fique de olho no camlnho que leva á melhor chance.

Tal como é, o vago e amorfo mal aparece á nossa volta, e, quando esta ou aquela coisa terrível está acontecendo o esta coisa horrfvel con

tinua e esta triste circunstancia se desenvolve e, quando apesar disto ninguém é responsável, nlnguém é culpado nem sao feitas perguntas moráis,

quando, em resumo, nao há nada a fazer, nos afundamos num desamparo desesperador. Esperamos a cada dia urna melhora, expectantes, mas nao esperangados.

Por isto, digo que a conseqüéncia de minha proposta nao seria urna malor depressáo e, sim, menor. Se o conceito de responsabilidade pessoal e para com o próximo reíornasse á aceitacáo pública, a esperanca voltaria ao mundo junto com ela" (p. 180s).

Reconhecer as próprias faltas e confessá-las, diz o autor, é fator de reconstrugáo da personalidade; esta se liberta entáo e se recompóe.

Assim K. Menninger insinúa o valor da confissao do pe cado, que — como se comproendo — ele nao explana no sen tido da confissao sacramental (visto que nao é um teólogo), mas que, como psicanalista, ele entrevé claramente. Sao dignas de

nota as observacces

do autor,

que

nao

deixam de ser translúcidas apesar da linguagem técnica e um tanto pesada do analista : "A difundida necessidade de declaracSo aberta, reconheclmento e confissSo vem á luz ocasionalmente no desenvolvlmento de um novo culto, no qual a comunicacáo e divulgaoáosSo consideradas parte da auto-realizacáo. Tais cultos freqüentemente sSo efémeros, pols dependem muito

— 24 —

«O PECADO DE NOSSA ÉPOCA? de solucóes superficiais, mas sio no entanto populares, sentlmentos de culpa Inconfessos sSo difIcéis de tolerar. de ser confessados a alguém.

uma vez que Eies precisam

E o sacerdote é um 'alguém' muito especial. Ele se encontra num lugar especial; ele tem uma autoridade especial. Nao apenas por ter recebido uma educagáo teológica e talvez psicológica, mas por ser ele um

'homem de Deus'. É dedicado, é desprendido. Nao deseja ferir ninguém, mas apenas ajudar — e isso é raro.

Se o sacerdote diz 'Isso é claramente um pecado', em geral aceitames sua decisao. Criminoso ou nao, sintomático ou nao, ele diz que é pecaminoso, e o pecado paga-se com a morte. Mas há uma solucáo: penitencia, confissao, restituicáo, expiacáo. O alivio do sentimento de culpa vem automáticamente. A consciéncia humana é como a policía; pode ser ¡ludida, sufocada, entorpecida ou subornada. Mas nao impunemente. Nos conhecemos algumas dessas penas. Certos sacerdotes evltarn a responsabilidade aconsejando: 'O pe cado é uma 110580 antlquada. Nao há necessldade de sentir-se culpado e vir penitenclar-se comlgo, amigo. Vocé n§o é um pecador, e, slm, doente ou criminoso, de modo que preciso apenas dlrlgi-lo para a esquerda ou para a direita, para um médico ou para a policía'.

O sacerdote nao pode minimizar o pecado e manter sua funcáo em nossa cultura. Se ele ou nos 'dissermos nio termos pecados, estamos a nos engañar, e a verdade ná0 está conosco' (Uo 1,8). Precisamos do sacerdote como um arbitro para guiar-nos, acusar-nos, censurar-nos, exortar-nos, Interceder por nos e absolver-nos. Nao o fazer é o pecado dele"

(p. 191).

O livro de K. Menninger apresenta aínda numerosas fa cetas interessantes e surpreendentes pela sua lealdade e cla rividencia. Tem autoridade para o grande público pelo fato de se originar da pena de alguém que é técnico analista e que nao mostra compromisso com algum Credo religioso ; é difícil, se nao impossível, perceber através das páginas do livro, qual a exata posigáo religiosa do autor; apenas se pode dizer que, como cientista, ele estima a religiáo. Desta forma K. Menninger vem a ser também um grande animador dos ministros religiosos de qualquer confissao, pelo fato de contribuirem para despertar as consciéncias dos homens e nao permitirem se iludam a respeito de suas responsabili dades. Como clínico e analista, o Dr. Karl Menninger mostra

ter grande experiencia também do que ocorre no íntimo de sacerdotes, pastores e rabinos. Estes por vezes se manifestam — 25 —

26

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 205/1977

perplexos e abatidos diante do progresso do materialismo; parece-lhes inútil ou ultrapassada a sua missáo no mundo de

hoje e, por isto, entram em crise. Karl Menninger os interpela para lhes dizer que tal atitude é inadequada da parte dos mi nistros religiosos : "Dos 8.000 leigos e sacerdotes com os quals conferenciamos, cinco problemas fundamentáis surglram: a porda do resistencia, a perda de dlrogño, a erosSo da cultura, a confusfio de pensamento, a exaustfio... Tornaram-se palhas secas, lampiSes enfumagados, vasos de barro..., fle chas sem dlrecao. Perderam a coragem. Mas eles podem ser reanimadosl" (p. 215).

A interpelado do Dr. Meninger dirige-se outrossim aos

colegas médicos, pois estes, como mais profundos conhecedores das causas e raízes da angustia do homem contemporáneo, sao chamados a exercer indispensável fungáo na recuperacáo da paz e do bom senso que a sociedade e os individuos perderam em nossa época.

Congratulamo-nos com o Dr. Karl Menninger e sua obra, e fazemos votos para que o livro aqui analisado encontré ampia difusáo em nossa térra. Repitamo-lo : nao se trata de estudo de teólogo (do ponto de vista da teología, poderia ser tido cá

ou lá como insuficiente), mas, sim, do escrito denso e sabio de alguém que fala ao homem a partir dos mais genuínos valo res humanos (sem esquecer a abertura das consciéncias para o transcendental).

— 26 —

Mais urna escola religiosa japonesa

"perfect liberty"

Em síntese: A "Perteita Uberdade" é urna forma de religiáo de origem japonesa. O seu fundador, Tokuharu Miki, foi monge budista da seita Zen; recebeu, pois, seus principios básicos do budismo. Em 1923, após especial "revelacSo" divina, houve por bem fundar a Ordem Hito-No-MIchl, a qual fol perseguida pelo Governo japonés, que a dissolveu em 1937. Todavía o patriarca Tokochika Miki em 1946 restaurou a Ordem com o noms de "Perfeita Uberdade", logrando entSo aceitacSo por parte das autoridades governamentals. Hoje a PL está esparsa nao somente no Japáo, onde tem sua sede central, mas também na América do Norte e do Sul.

A mensagem da "Perfeita uberdade" é principalmente de índole ética, visando k formacáo da pessoa e da sociedade. A sua teología ó relativamente simples : propSe um conceito de Deus que se Inspira ora no panteísmo ora no monoteísmo (ó de crer, porém, que a inspiracáo fun damenta! seja panteísta); o Patriarca que rege a PL, tem atributos de Sal vador, que o tornam muito superior aos demais homens (embora se diga igual aos outros seres humanos). Ouanto á vida postuma, a doutrina da PL é extremamente sobria ; esta concentra-se principalmente na morigeragfio

em vista da vida presente. A PL propñe curas e efeitos maravilhosos a serem obtidos pelas preces dos seus adeptos. Este tópico é propicio a angariar-lhe novos e novos adeptos, visto que muitas pessoas consideram (talvez Inconscientemente) a reügiáo como sistema de profilaxia contra os males ou de psicoterapia ñas horas de afllcáo.

Comentario:

Vem-se propagando rápidamente no Brasil

a corrente ético-religiosa chamada

«Perfect Liberty»

(PL).

Transmitindo normas de formacáo da personalidade com colo rido religioso, tem atraído varios adeptos, enquanto muita gente se questiona sobre a origem e o conteúdo da mensagem da PL.

Em vista destas perguntas, proporemos, a seguir, as notas mais características de tal corrente religiosa japonesa. 1.

Orígens

Conforme os próprios peelistas, o fundador da sua denominagáo é o patriarca Tokuharu Miki, dito «Kyosso» (= fun dador). Nasceu em Matsuyama, provincia de Ehime (Japáo). — 27 —

23

^PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

Com oito anos de idade, fez-se monge budista da seita Zen. Todavía aos quarenta e cinco anos conheceu o mestre Tokumitsu Kanada, iniciador de nova corrente religiosa, e tornou-se discípulo do mesmo. Após o falecimento deste, Tokuharu continuou a seguir a orientagáo deixada pelo mestre. Cinco anos mais tarde, recebeu a iluminaeáo divina em certo alvorecer do dia.

Ilustrado por tal «revelacáo», resolveu em 1923 fundar a Ordem Hito-No-michi (=o Caminho da 'Humanidade), que se

propagou rápidamente, chegando a atingir um milháo de adep tos no prazo de dez anos. Todavía a sua doutrina nao encontrou aceitagáo por parte do Governo japonés, que passou a perse

guir as novas comunidades e em 1937 as dissolveu. Este golpe terá provocado a morte do Patriarca no ano seguinte. Sucedeu a Tokuharu-Miki o patriarca

Tokuchika Miki,

que também foi vítima de perseguigáo, mas finalmente logrou ser reconhecido como inocente e ser posto em liberdade. Em conseqüéncia, aos 29/DC/1946 fundou urna comunidade reli

giosa dita «Perfeita Liberdade» na cidade de Tossu (provincia de Saga). Este marco deu inicio a nova fase da sociedade, que passou a se expandir rápidamente, fixando em 1953 a sua sede central em Tondabayashi, provincia de Osaka, onde ocupa urna área de dez milhóes de metros quadrados; nessa área encontram-se numerosos estabelecimentos como o Templo

Central, palacetes laterais, o Mausoléu do Fundador, a Torre da Grande Paz, Edificios de Treinamento, Hospital da PL, Centro de computador eletrónico, instituigóes educacionais e esportivas.. .

Alcm do Japáo, a PL atingiu tambcm os Estados Unidos da América do Norte, o Brasil, a Argentina, o Perú, o Paraguai e alguns países da Europa.

Em 1969 o Patriarca Tukuchika Miki visitou o Brasil pela segunda vez, sendo entáo agraciado com o título de cidadáo honorario paulistano. O atual Patriarca da PL chama-se Tsugui-Oyá.

Vejamos agora o que a PL propóe aos seus seguidores. — 28 —

«PERFECT LIBERTV»

2.

29

Doutrina

A mensagem da «Perfeita Liberdade» é, antes do mais, de Índole ética ou moral. Apresenta normas para que a pessoa

se liberte mais e mais de suas paixóes e consiga bom relacionamento com todos os homens. Este código ético tem certas premissas teológicas:

2.1.

Deus

A respeito de Deus, certas afirmacóes da PL insinuam o panteísmo (a Divindade, o mundo e o homem seriam urna só substancia), embora outras suponham o conceito de Deus Cria dor próprio do monoteísmo. Os textos da PL falam muito freqüentemente de Deus, as vezes com certa ambigüidade. Vamos citar alguns dos que poderiam ser interpretados em sentido panteísta:

a) «A crianca é fiEio de Deus... £ Deas em estado puro c expressa o espirito divino. O espirito divino para a crianza é reflctir os seus país. Foi assim que Deus criou a crianza» (Instrucoes para a Vida Religioisa da PL, p. 54). Neste texto a crianca

aparece como o próprio Deus

e

também como criatura de Deus. Nisto há incoeréncia, desde que se levem a rigor os termos utilizados. Na verdade, a cria tura é radicalmente distinta do Criador; jamáis é o pró prio Deus.

b) «Há casos em que urna crianca quer certo tipo de alimento e os país Ihe dad. Mas como a crianza está comendo dentáis, resolvem tirá-lo déla. Isto está errado. Quando a enanca «uer, devc-so dar até da se satisfacer. Impedir os desejos de urna crianca é nao rcconhecer a natureza divina de urna crianza» (Iivro citado, p. 47). A frase final do inciso pode ser tida como expressáo de panteísmo.

Alias, nao é de estranhar que a PL abrace o panteísmo,

visto que suas origens estáo muito associadas ao budismo, o qual é panteísta. As fórmulas de oragáo em que o fiel se dirige a um Tu divino (como se Deus fosse distinto do orante) sao, — 29 —

30

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

na PL e em toda corrente panteísta, expressóes da consciéncia que todo homem tem, de que Deus é Pai, é Amor, é Justiga, é Misericordia ou, em síntese, é a Grande Besposta. para o homem. Por mais que o homem se identifique com a Divindade (como se ele fosse urna centelha da Divindade envolvida na materia), nao lhe é possível perder a nogáo de que Deus ó radicalmente diverso do homem, pois é o Grande Tu, sem o qual o homem nao explicaría nem a sua vida nem a historia universal.

2.2.

O Patriarca

A PL atribui grande importancia á figura do Patriarca (Oshieoyá), que a orienta espiritualmente. Periódicamente a PL apresenta aos seus fiéis um Patriar ca, que tem a mesma autoridade que o próprio Fundador. É este fator que, segundo os peelistas, distingue a PL de qualquer outra religiáo. Tal crene.a é justificada pelo atual Patriarca da PL nos seguintes termos: "Nao é possível salvar as pessoas se os enslnamentos nSo se harmonlzam com a época em que sao pregados. Por isto é necessárlo para cada época um Patriarca atualizado. Eu, compreendendo a verdade transmitida por Kyosso, moldo-a de maneira a torná-la harmónica com a sociedade atual. Neste processo, evidentemente, surge urna característica própria para a verdade, expressa por mim. tulas é assim mesmo que deve ser. As pró ximas gera;5es de Oshleoyás, provavelmente, i rao moldar os enslnamentos de urna forma nova, expressando suas características próprias. Assim é que está certo" (Jornal Perfeita Liberdade, setembro 1S76, p. 1).

O Oshieoyá é «a única pessoa no mundo capaz de conhecer o espirito divino e transmitir os ensinamentos aos homens». Ele é «a esséncia dos ensinamentos e tem a func.áo de ser um intermediario entre Deus e os homens». É ele quem ensina aos homens o caminho da perfeita liberdade e assim os salva. Todavía nao deve ser adorado como Deus (Jornal Perfeita Liberdade, ib.). Mais: «o Patriarca sabe o porqué do estudo, o porqué da infelicidade, o porqué das doengas, o porqué das coisas mal sucedidas. Sabe também qual o método para aloangar o sucesso, a saúde, e a concretizagáo dos ideáis» (ib. p. 2).

A fungáo do Patriarca (Oshieoyá) é mais explícitamente caracterizada na seguinte passagem :

— 30 —

.

«PERFECT LIBERTY» "Devemos pensar profundamente

no espirito

31 caritativo

de

Oshleoyá-

-Samé. É ele quem recebe os crimes, doencas e Invirtudes e infelicidades

pratlcados pelo homem que ora a prece de Oyashlklrl, em seu corpo, e assume todas as responsabilidades por esses atos. Oshleoyá-Samá devolve esses atos a Deus no dia do Agradecimento (dia 21 de cada mes), limpando o seu corpo. E asslm, por mais um mes, ele se responsabiliza pelos atos humanos, para que nos possamos receber as gracas de Oyashlklrl. O Patriarca faz com que, de qualquer forma, o homem possa alcancar a íell-

cldade. É so tor fó para seguir os onslnomentos.

Siga vocé também os ensinamentos com ardor, para receber as gracas de Deus e do Patriarca. Alcance, através da PL, a graga de ter nascido, a felicldade de ser urna pessoa. Tenha urna fé seria, ouvindo os ensinamentos, e nao se esquecendo de orar pela manhS e á noite. Praticando os ensina mentos, qualquer pessoa pode alcancar a felicldade.

Receba muitas gracas de Oeus e de Oshleoyá-Samá..." (InstrucSes para a Vida Religiosa da PL, p. 110).

O Patriarca comunica grasas aos homens. Se nao é Deus, parece compartilhar, até certo ponto, a eficiencia salvífica do próprio Deus.

2.3.

Os preceitos da PL

As publicacóes fundamentáis

da PL

sao

mais voltadas

para a ética do que para a metafísica e a teología. A PL assim aparece essencialmente como urna escola de permanente educagáo ou formacáo da pessoa e da sociedade, levando os ho mens a viver em arte ou beleza; com efeito, «Vida é Arte» é urna das afirmacóes mais freqüentes dos escritos da PL.

Essa vida em arte será realizada se os peelistas seguirem algumas normas que os mestres da PL codificaram em dois catálogos

básicos:

o

«Guia da

Vida

cotidiana

baseado

na

crenga da PL» e os «Vinte e um preceitos da PL». A seguir, transcreveremos um e outro.

1)

Aqueles que seguem o «Guia da Vida Cotidiana» a PL

promete que «se livraráo dos seus sofrimentos, desenvolvendo assim a própria capacidade, com a qual alcangaráo a felicidade». Eis as normas do «Guia» :

"1. Aplicare! o Makoto1 ñas acfies e ñas palavras, procurando atrlbuir-lhes a atenc&o necessária.

1 Makoto = dedlcacSo.

— 31 —

32

-PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

2. Deixarei de reclamar das pessoas, das coisas e do lempo; assim procurare! descobrir os defeitos em meus pensamentos e ñas mintias afees, lembrando-me sempre de empregar o espirito criativo e idealizador.

3.

Saberel viver agradecendo ás pessoas e ás coisas.

4.

Procurarei

beneficiar

os

meus

semelhantes,

lembrando-me do

espirito altruista.

5.

Evitare! zangar-me conlra alguém ou contra alguma coisa.

6.

Desistí reí de apegar-me ao pensamento próprio e cair na teimosia.

7.

Afastarei a impaciencia, as preocupacoes e n§o me desanimare!

8.

Esforcar-me-ei para nao ser levado pela ganancia.

9.

Repelirei em qualquer ocasiáo o desejo que me torna astucioso.

com as coisas, nem com os meus próprios casos.

10.

Levare¡ urna vida de casado com verdadeira harmonia.

11. Considerare! que meus filhos sao criancas de Deus, e crlá-los-e! para que venham a ser úteis a humanidade e ao mundo; reconhecendo também que sao eles reflexos dos país, nao os criare! com carlnho excessivo simplesmente para satistazer meus sentimentos. 12.

Acordarei todas as manhSs com bastante dísposicáo.

13. Largare! de reclamar dos alimentos ou dar-lhes preferñncia, nem beberé! ou comeré! em excesso ou desordenadamente.

14.

Deixarei de

ser

preguicoso e

(¡car

descontente em

15.

Controlar-me-ei

16.

Largare! de me

17.

Evitare! fazer ou falar quaisquer coisas que causem desagrado

queixando-me e preocupando-me com as coisas alheias. para

nao

passar do

servico,

limite ñas coisas.

vangloriar e tornar-mc arrogante.

aos outros.

18.

Deixarei de pensar em desprezar alguém.

19.

Lembrarei

20.

Retribuiré! as gragas recebldas fazendo esforco para conseguir

sempre

do espirito de oblagáo.

novos elementos para a PL.

21.

Reconhecerei as gracas de Deus e as de Oshleoyá-Samá". ("Guia

— 32 _

á Perfeita Liberdade", sem páginas numeradas)

«PERFECT LIBERTY»

33

Os comentarios destas normas oferecidos pelos mestres peelistas equivalem a auténticas ligóes de higiene mental e corporal (com relagáo á comida, á bebida, ao sonó, iás doencas...) ou também ligóes de harmonía conjugal, de boa educacáo dos filhos, de fraterno relacionamento com todos os homens, de perdáo aos ofensores, etc. A prática de tais normas leva o adepto á «Perfeita Liberdade», isto é, a um estado livre de qualquer preconceito e das tendencias negativas do caráter; quem consegue isto, alcanga a plena felicidade.

2) Eis agora os «Preceitos da PL». Como se vé, tém índole um pouco mais teológica; todavía a tónica dominante

é a ética. Foram estabeletídos pelo Patriarca Tokuchika Miki aos 29 de setembro de 1947, constituindo a base da doutrina peelista: "1.

Vida é arte.

2.

A vida do homem é a seqüéncla da sua própria expressáo.

3.

O homem em si é a manifestacSo de Deus.

4.

Sofre quem nao expressa a própria personalidade.

5.

Quem se precipita nos sentimentos emotivos, arruina a perso

nalidade.

6.

A

verdadelra qualidade da pessoa

revela-se quando

seu

ego

nfio atua.

7.

Todas as coisas existem em relagáo mutua como integracáo única.

8.

Viva evidente e positivo como o Sol.

9.

Todos os

seres

humanos

sSo

Iguais

na

condic§o

de

serem

expressoes de Deus.

10.

Procure abengoar e beneficiar o próximo e a si.

11.

Basele-se, ñas coisas que fizer, Inteiramente em Deus.

12.

Cada coisa tem o seu principio peculiar de acordó com o que é.

13.

Há um dever aos homens e outro ás mulheres.

14.

Tudo existe em prol da paz mundial.

15.

Tudo reflete os fatos como um espelho.

16.

Tudo progride e evolui.

17.

Assegure corretamente a esséncia

18.

Esteja sompre decidido para urna escolha certa, perante a bifur-

de cada coisa.

cacáo do bem e do mal.

19.

Entre ¡mediatamente em acfio assim que perceber a necessidade.

20.

Viva no perfeito estado de equilibrio material e espiritual.

21.

Viva dentro da Perfeita Liberdade".

("Guia á Perfeita Liberdade")

— 33 —

34

cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

A leitura destes preceitos e da filosofía que os inspira, suscita ao leitor algumas questóes e dúvidas, que vamos sin tetizar sob o título abaixo.

3.

Reflexoes fináis

1) A «Pcrfeita Liberdade» pretende ser uma religiáo,... e religiáo independente das demais. Tem seus templos, seu Pa triarca, suas fórmulas de oragáo... Quem segué a PL, evi dentemente nao pode ser cristáo, máxime se leva em conta que a PL é, a quanto parece, panteísta, ao passo que o Cris tianismo admite um só Deus radicalmente diverso de qualquer criatura, porque transcendental (o que nao quer dizer que seja distante do homem ; tenham-se em vista as páginas bíblicas). 2) Embora ligada ao budismo por suas origens, a PL é muito mais otimista do que o budismo em relagáo ao mundo e ao homem; exalta a beleza da natureza e dos artefatos humanos; propóe a procura da felicidade pela satisfagáo come dida dos desejos do homem ; em suma, esforga-se por induzir os homens a sorrir para a vida e o mundo. 3) A PL dá importancia as curas de males físicos e mentáis,... curas obtidas mediante a prece. As publicagóes peelistas nao deixam de incluir em seu noticiario a narragáo de extraordinarios beneficios corporais obtidos através da prática e das preces prescritas pela PL. Isto, sem dúvida, con corre para atrair novos e novos adeptos para os núcleos peelis

tas, visto que muitas pessoas apreciam na religiáo principal mente os efeitos «curandeiros» que ela possa aearretar (sem se preocupar com a mensagem filosófica ou teológica da reli

giáo). — Quanto a essas curas maravilhosas ou milagrosas,

6 de crcr que, cm grande parle, sao as conscqüéncias benéfi cas da sugestáo e da psicoterapia que a PL ó capaz de suscitar em seus adeptos. com

4) A PL insiste no recurso freqüente á oragáo. Propóe ónfaso especial a oraráo matinal ou mosmo a «missa

matinal (aasamairi)», a qual nao ó sonúo um conjunto de pre ces a ser feitas em casa mesmo.

É oportuno que todo peelista coloque diariamente num envelope o seu hóshó, ou seja, urna pequeña contribuigáo des

tinada a atividades sociais e públicas (os mestres peelistas nao 34

«PERFECT LIBERTY>

35

falam explicitamente de pobres nem de esmolas). Esse dinheiro servirá a expandir os ensinamentos da PL e salvar a humanidade. «O Patriarca usa essa quantia para que haja mais pessoas com espíritos evoluídos como o seu, depois que tiverem aprendido os ensinamentos» (Instrucóes para a Vida Religiosa da PL, p. 97).

A Divindado se comunica aos homens mediante os «mishirassé» (advertencias divinas ou sinais admoestadores, que visam a desviar o homem do mau caminho). O peelista pode receber

da Divindade um «mioshie», ou seja, urna orientacáo lúcida em casos perplexos. Essa iluminacáo pode ter caráter repen tino e impressionante. É preciso que a pessoa saiba recebé-la e segui-la dócilmente.

6) Nao se encontram nos escritos da PL eselarecimontes precisos referentes á vida postuma. Tenha-se em vista esta lacónica passagem:

"Sem prometer as alórias do céu nem atemorizar com Divindades

punitivas, a PL dirige-se "aqueles que buscam urna atitude religiosa. Só

assim ser5o capazes de usar sou próprio potencial psiquico-espiritual para o encontró com Dcus.

O melhor modo de nos prep3rarmos para a vida futura — ensina a ó viver esta v'da tSo bsm quanto possível. Através da reforma das emocoes. do controle do egoísmo, do respeito á própria Hdividualidad9, do respeito aos semelhantes — sejam familiares, amigos ou desconhecidos. Só assim ela será auténtica. Devemos também ser permanentemente re

PL

ceptivos ás novas idéias e ao amor pelos outros.

Molestias e sofrimentos esplrltuais sSo apenas reflexos de um modo erróneo de pensar e agir. Sao como avisos divinos, para que oompreendam-ss a

necessidade de

reformular comportamentos

e

pensamentos.

N3o

dsvemos no? conformar com a infelicidade, pois Deus nos deseja somente

niorjri.i. Precisamos descobrir a raz3o real daquilo que nos acontece. F. isso rorA pnssivel com a onen¡ac,5o espiritual da PL, nue nos reconduzirá á tranpüilidade" (Revista "Perleita Liberdado" n
Difícil é depreender se reencarnado ou nao. Nao cmboni freqüentemente se íxlorcatos a alinionlagrio e

os mestres peelistas professam a fazem mcnc/io da Isi do Harina, refiram üs lcis divinas (alsumas a saúde), as quais o hemem está

sujeito.

Visto que as crencas orientáis geralmente adoíam a tese reencarnacionisto, seria de supor que também a PL o fizesse. É, porém, estranha a sobriedade des respectivos escritos a — 35 —

36

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

respeito da morte e das eventualidades que se lhe sigam. A verificagáo desse silencio concorre mais ainda para incutir no estudioso a impressáo de que PL é urna escola de formacáo moral, que tem certa base religiosa; a predominancia dos inte-

resses da PL é ética, ficando a teología em fungáo da ética.

Este artigo foi escrito após ausculta fiel de publicares peo listas como

"InstrucSes para a Vida Religiosa da PL" (sem editora nem data). "Guia á Perfeita Llberdade" (impresso em portugués pela PL Kyodan em Tondabayashi, Osaka, Japfio). "PL. Revista para Sao Paulo, capital).

a

Paz Universal"

(publicada trimestralmente

em

"Jornal Perfeita Liberdade" (mensa!, publicado em S9o Paulo, capital).

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— 36 —

"Ciencia" e "Mística":

e a ciencia crista: que é?

Em sintese: A Ciencia Crista tem por fundadora a Sra. Mary Baker Eddy, nascida nos Estados Unidos em 1821 e lá falecida em 1910. De constituicSo nervosa, a Sra. Mary Baker sofreu de dores na espinha durante grande parte da sua vida. Foi certa vez consultar o Dr. Phineas Qulmby, mesmeriano, que Ihe Incutiu a tese de que as curas físicas se obtém por torcas mentáis ou por Influxo da mente sobre o corpo do paciente. A Sra. Mary Baker Eddy deu a tal doutrina um rótulo cristáo, afirmando que a fé em Cristo e a oracSo realizam curas de doencas corporals... A esta afirmagáo básica se associam algumas propostc5es de teo logía fantasista, que constituem a sintese da chamada "Ciencia Crista". Esta tem caráter fortemente pantetsta; nega a realidade da doenca e do pecado, de tat modo que o adepto da Ciencia Crista é exortado a crer que esses males nao existem e, conseqüentemente, a Übertar-se da ¡mpressüo que eles causam sobre o sujeito I — A seita da Sra. Mary Eddy acrescenta á Biblia o livro da fundadora chamado "Science and Health" (Ciencia e Saúde), que é mesmo mais valorizado pelos "dentistas" do que a própria Escritura Sagrada.

Comentario:

Em números anteriores, temos apresentádo

denominagóes do Protestantismo. Voltamo-nos agora para

a

Ciencia Crista («Christian Science»), da qual existem núcleos também no Brasil, muito mediante a fé religiosa.

interessados

em promover curas

Proporemos as origens da «Christian Science» e as prin cipáis doutrinas professadas por essa denominagao.

1.

Ciencia Crista : origens

A fundadora da «Christian Science» é a Sra. Mary Baker,

nascida aos 16 de julho de 1821 em Bow, Estado de New Hampshire (U.S.A.). Pertencia a familia protestante da denominagao congregacionalista, que a educou na fé dessa denominacáo. Era crianga de tempera forte e caráter nervoso. Por volta do doze anos de idade, alimentava discussóes com seu — 37 —

38

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

pai sobre religiáo — o que a prostrava muitas vezes no leito. Em certa ocasiáo, depois que os socorros médicos haviam falhado, sua máe conseguiu restaurar-lhe a saúde mediante calma sugestáo.

Dizia a Sra. Mary Baker que, aos doze anos de idade, ela refutava os mais velhos da Igreja Congregacionalista em Tilton, N. H. Dizia tambcm que seu irmáo Alberto lhe ensinara

hebraico, latim e grego — o que é sujeito a dúvidas por parte dos biógrafos.

Em 1843, Mary casou-se com o coronel Glover, que morreu de febre seis meses depois. Após a morte do marido, teve um filho, a quem nao conseguiu dedicar afeigáo; nao podía supor

tar o menino perto de si, embora os familiares insistissem em que Mary exercesse suas funches maternais. Em 1853 casou-se pela segunda vez com um dentista cha

mado Daniel Patterson. Todavía divorciou-se, alegando infidelidade do marido.

A Sra. Mary Baker sofría de um mal de espinha, que a

afetava nao só física, mas também mentalmente. Esta molestia a acompanhou durante grande parte de sua vida, prejudicando tanto o primeiro como o segundo matrimonio, Em 1862 resolveu consultar o famoso Dr. Phineas Quimby em Portland, Estado de Maine, que seguía a escola do Dr. Charles Poyen,

célebre mesmerista >. A Sra. fio com tal médico; este lhe farmacéuticos, mas admitir a a correcáo dos erros mentáis

Mary Patterson passou horas a dizia nao acreditar em remedios cura de doengas físicas mediante correspondentes a tais molestias;

a dissipagáo do erro mental e a posse da verdade redundariam

em cura física da paciente. Rejeitando produtos farmacéuticos,

o Dr. Quimby introduziu a cliente em estado de sonó mesmérico; mediante essa terapia, a Sra. Patterson deu-se finalmente

por curada. Discutía com o médico os ensinamentos e métodos por ele aplicados; acabou felicitando-o pelos resultados obtidos, resultados, porém, que a Sra. Patterson atribuía nao ao mes-

merismo, mas «á compreensáo profunda que o Dr. Quimby tinha da verdade trazida por Cristo».

i Franz Antón Mesmer (t 1815) era um médico alemSo que pretendía ter descoberto no fmá o remedio para todas as doencas. Todo ser vivo possuma um fluido magnético misterioso capaz de passar de um individuo para outro, estabelecendo Influencias reciprocas e curas. Posteriormente os posqulsadores ¡dentliicaram o "magnetismo animal" com o hipnotismo.

— 38 —

«CIENCIA CRISTA»

39

As doutrinas e práticas do Dr. Quimby marcaram profun damente o espirito da Sra. Patterson, que os foi incorporando á sintese que mais tarde veio a ser chamada «Ciencia Crista». Escreveu posteriormente a Sra. Mary Patterson : "Foi depois da morte de Quimby que descobri, em 1866, os fatos importantes relacionados com o espirito e com a superioridade deste sobre a materia, e denominei 'Ciencia Crista' a minha descoberta".

Por certo, a fundadora da Ciencia Crista aprendeu do Dr. Quimby a eficacia dos poderes da mente sobre a materia e o

corpo.

Em 1866, a Sra. Patterson caiu sobre o gelo em Lynn, Massasuchetts. Sentiu-se entáo «milagrosamente» curada de seus sofrimentos. O episodio foi divulgado com o título de

«a queda milagrosa de Lynn» e é tido como o milagre básico da Ciencia Crista. A Sra. Patterson referia que o Dr. Cushing, após a queda, a achou insensivel, sofrendo de varias lesóes internas, que provocavam espasmos c sofrimentos internos... «O Dr. Cushing declarou incurável o meu mal, e disse que eu

nao poderia sobreviver tres días». — Eis, porém, que o próprio Dr. Cushing, ainda vivo em 1907, foi consultado sobre tal declarngáo, o rospondeu ncstes termos : em

"Nunca fiz semelhante declaracSo. Achei a paciente muito nervosa, parte inconsciente, semi-histérica, e queixando-se de forte dor atrás

da cabeca e do

pescoco. Tratei-a e nSo me surpreendi

com

o seu

resta-

belecimento. Na ocasiao ninguém falou de cura milagrosa".

Depois de curada «milagrosamente», a Sra. Mary come-

qou a ensinar os seus métodos de «Ciencia Crista», cobrando trezentos dólares por sete ligóes. Escreveu a mesma: «Fui le vada a pedir trezentos dólares em virtude de estranha Pro videncia. Deus mostrou-me de múltiplos

modos a

sabedoria

desta decisáo». A fundadora da «Ciencia Crista» morreu deixando perto de tres milhóes de dólares !

Em 1875, a Sra. Mary publicou o manual de seus conhecimentos com o título «A ciencia e a saúde, com chave para as Escrituras» (Science and Health, with Key to the Scriptures). Um ano depois fundou a primeira Associagáo da Ciencia Crista.

Em 1877, casou-se, pela terceira vez, com o Sr. Asa Gilbert Eddy, vendedor de máquinas de costura, a quem ela conferiu o título de Doutor, tornando-se assim Mrs. Dr. Eddy. — 39 —

40

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS? 205/1977

Embora contasse 56 anos de idade, os documentos casamento assinalavam-lhe a idade de 40 anos.

de

seu

Por mais de trinta anos, a Sra. Eddy ainda trabalhou com extraordinaria energía. Em 1882, o falecimento de seu esposo constituiu dura provacáo para os adeptos da «Ciencia Crista». Com efeito, perguntava-se por que a própria Sra. Eddy nao o pudora curar... — Na vordado, qimndo o marido adoeceu, a Sra. Eddy chamou o Dr. Noyes, um dos principáis médicos de Bostón. Este diagnosticou enfermidade do coragáo; a Sra. Eddy recusou o diagnóstico, e afirmou estar o seu esposo envenenado por arsénico mentalmente administrado por espíritus maus e inimigos! Todavía a autopsia realizada sobre

o cadáver do Sr. Asa Gilbert Eddy acusou disturbio valvular do coragáo e nenhum vestigio de arsénico. A Sra. Eddy negou também esse resultado da pericia dos médicos.

Aos 2 de dezembro de 1910, com a idade de 89 anos e meio, faleceu a Sra. Mary Baker Eddy, como todos os seres

humanos falecem, apesar da doutrina da fundadora segundo

a qual «Deus é Tudo, Deus é Vida; portanto a doenca e a morte nao existem». A Sra. Eddy negava a realidade da

doenga e da morte — tese esta que era fundamental para todo o sistema da «Ciencia Crista». Como dito, a fundadora deixava tres milhóes de dólares.

O Reitor do New College (Oxford), H. A. L. Fisher, resumiu uestes termos a figura da Sra. Eddy : "Fol urna estudiosa da Biblia, sincera, embora Intelramente acrltica; fof a mulher de tres maridos, que escreveu um 'best-seller', e morreu del-

xando perto de tres ml!h6es de dólares" ("Our New Religión").

A Sra. Eddy tinha elevado conceito de sua missáo, a ponto de escrever: "Ninguém pode tomar o

lugar da Vírgem

María, o

lugar de Jesús

Cristo, o lugar da autora de 'Ciencia e Saúde', a descobridora da 'Ciencia

Crista'" ("Retrospectlon and

Introspection", p.

70).

Exigía de seus adeptos que acreditassem nela como acre-

ditavam em Jesús Cristo e que aceitassem o seu livro «Ciencia e Saúde» como uma nova revelagáo paralela á Biblia Sagrada. Nos seus escritos ela se apresenta como a mulher maravilhosa chamada a salvar os seus semelhantes detidos ñas garras da morte.

_ 40 —

«CIENCIA CRISTA»

41

"Curei a difteria tubercular maligna e ossos cariosos que cediam á pressao do dedo, salvando-os quando os instrumentos do cirurgiSo se achavam sobre a mesa prontos para efetuar a amputacao. Curei em urna visita um cáncer que tinha corroído de tal forma a carne do pescoco que a

veia

jugular ficava exposta

("New York Sun",

19/12/1898,

a

ponto

de

conforme

sobressair

dtacSo

de

como

urna

corda"

Martín

and

Klann).

Vejamos agora em síntese

2.

A mensagem da Ciencia Crista

A Sra. Eddy foi mulher de pouca instrugáo e urna autodidata, que se interessou por problemas postos muito além do seu alcance. Em conseqüéncia, o seu livro «Ciencia e Saúde» se apresenta confuso, embora tenha passado por edicóes sucessivas e «memoradas». O sucesso da fundadora da «Ciencia

Crista» deve-se, em grande parte, ao fato de que suas afirmacóes confusas e constantemente repetidas deixavam em certos leitores a impressáo de ser profundas e altamente cien tíficas. O estudioso que leía objetivamente tais escritos, veri fica neles o gosto pelas divagacóes ilógicas, de tal modo que se pode resumir em algumas proposicóes o conteúdo da men sagem da Sra Eddy. 1. A Ciencia Crista professa o panteísmo, afirmando que Deus é Tudo, eco Bem Onipotente; portante, tudo o que nao é Deus, deixa simplesmente de possuir realidade objetiva.

Deus, a Verdade e a Saúde representan! a única realidade: "Se Deus ou o bem é real, entáo o mal, a dissemelhanga de Deus é irreal" ("Science and Health", edicao de 1910, p. 470).

"O mal nao tem realidade. N§o é nem pessoa, nem lugar, nem colsa, mas simplesmente urna crenca, urna ilusáo do senso material" (ib. p. 71).

2.

Se o mal existe sob múltiplas formas

(espiriluais e

físicas), cercando constantemente o homem, a Sra. Eddy o explicava admitindo a «Mente Mortal», ou seja, um principio

que existe em oposigáo a Deus e ao Bem. Essa Mente está repleta de erros, devendo ser-lhe atribuido todo aparente mal.

Ao admitir isto, a Sra. Mary Eddy caia em contradigáo con sigo mesma (admitindo algo fora de Deus); mais precisamente, caia no dualismo maniqueu, atribuindo o mal a um Principio independente de Deus e antagónico ao Senhor Deus. Visto que o mal tem por causa a Mente Mortal, ele deve ser debe lado nao por remedios, mas pelo raciocinio e a fé.

— 41 —

42

«PERGUNTE E

RESPONDEREMOS» 205/1977

3. O pecado e o sofrimento nao tém existencia física; devem ser banidos por um processo de «pensar corretamente».

A alma humana é algo de divino ; ora o que é divino, nao

pode pecar; logo a alma humana nao pode pecar.

4. A materia nao tom roalidade em si mesma ou por si mcsma: «Nao há vida, vcrdado, inteligencia ou substancia na materia.

Tudo

é

Mente

Infinita».

A

materia

parece

ser,

mas nao é.

Em conseqüéncia, a obesidade é urna «crenga adiposa». «Nao temos auténtica evidencia de que o alimento sustente a vida, mas apenas urna falsa evidencia disso».

Também a medicina e os remedios nao preservam a saúde do corpo. As curas se obtém por via mental, isto é, pela fé e pela oragáo tanto do enfermo como daqueles que lhe assistem (principalmente os ministros categorizados da Ciencia Crista). 5. A oracáo nao é propriamente um diálogo com Deus: «O mero hábito de pleitear com a Mente Divina como se

pleiteia com um ser humano perpetua a crenca em Deus como humanamente circunscrito» («Science and Health, p. 2).

Por isto a oracáo tem sentido e é eficaz na medida em que ela exerce efeito sobre a mente do orante, fazendo-a atuar mais poderosamente sobre o corpo : "As petlgóes trazem aos mortals somente os resultados da próprla fé do mortal" ("Sclence and Health", p. 11). "O efeito benéfico da

oraca"o

para os doentes é

sobre a mente

humana,... é urna crenca expulsando outra" ("Selence and Health", p. 12).

Assim a religiáo na Ciencia Crista vom a ser um sistema psicoterapéutico organizado segundo as linhas gerais de urna sociedade religiosa. A intencáo originaria da Sra. Eddy era apenas a de obter curas mediante a fé e a oracáo (= ins trumento psicoterapéutico). Escreve aínda a Sra. Eddy : "Dizeis que um tumor é doloroso. Mas Isto é imposslvel, pols a ma

teria sem a mente nao é dolorosa. O tumor simplesmente manifesta, por

meio da inflamagSo e da Inehacfio, urna crenca na dor, e esta crenca é

chamada tumor. Ora administra) mentalmente ao vosso paciente urna alta

dose de Verdade, e esta logo curará o tumor" ("Sclence and Health", p. 153).

— 42 —

«CIENCIA CRISTA»

43

6. Ainda segundo a Sra. Eddy, a pobreza é um mal como a doenga; por isto ela pode ser curada pelo reto pensar. Em sua primeira edicáo de «Science and Health», a autora dizia que tal livro oferecia oportunidade para se adquirir urna profissáo pela qual se pode acumular urna fortuna ! 7. Quanto á morte, ó «ilusáo, a mentira da vida na ma teria; é o irreal c a inverdade» («Science and Health», ed. de 1910, p. 584). "Aquilo que aos sentidos parece morte, é apenas urna ilusáo mortal, pois, para o verdadeiro homem e o verdadelro universo, nao existe processo mortal" (ib. 289).

"Os discípulos acreditavam que Jesús estava morto enquanto estava oculto na sepultura, ao passo que Ele estava vivo, demonstrando dentro do estreito túmulo o poder do Espirito para sobrepor-se ao senso mortal e material" (ib. p. 44).

A morte nao pode sobrevir a quem nao creia na reali-

dade déla.

8.

Ainda a respeito de Deus, a Sra. Mary Baker Eddy

escreveu :

"Vida, Verdade e Amor constituem a Pessoa trina chamada Deus, ou seja, o Principio triplamente divino, o Amor..., o mesmo em esséncia, embora multiforme em suas fu ñeñes: Deus, o Pai-Mfie; Cristo, a idéia espi

ritual de filiacáo; Divina Ciencia ou Santo Consolador" (ib. p. 331).

Em síntese, a fundadora da Ciencia Crista negou a SS. Trindade, como se equivalesse a politeísmo. Concebía Deus como sendo urna só Pessoa com facetas diferentes : Pai-Máe,

Filiacáo e Ciencia Crista ! Por isto também ela modificou a invocaeáo inicial da oracáo dominical, mudando o «Pai Nosso» em «Pai-Máe, Deus nosso» !

9.

No tocante a Jesús Cristo, as idéias de Mary Eddy

sao extremamente confusas. Em síntese, Jesús terá sido urna idéia

de

Deus

manifestada

em um

ser

humano

dotado

do

nome «Jesús». A segunda vinda de Jesús de que falam as Escrituras (cf. At 1,11), é entendida em termos coerentes : "A segunda aparicSo de Jesús é ¡nquestionavelmente o advento espi ritual da ayancante Idéia de Deus na Ciencia Crista" ("Retrospection and Introspection", p. 96).

— 43 —

44

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

Em estilo sintético, J. K. van Baalen assim exprime o

pensamento da Ciencia Crista referente á obra redentora de Cristo: "Em linguagem velada e com muito palavrório duplo, a Ciencia Crista ensina que Jesús foi colocado, em conseqüéncia de urna morte aparente, om túmulo ficticio, com corpo irreal, a fim do ofctuar urna redengáo desnecessária por pecados que jamáis loram urna rcalidado, pralicados em corpo imaginario, e que ele salva do mal que nao existe aqueles que váo caminhando para um suposto inferno, imaginacao falsa da errante Mente Mortal" ("O caos das seitas", p. 76).

Eis, sumariamente expostas, algumas das teses que carac-

terizam a doutrina e a mensagem da Ciencia Crista. Como se vé, trata-se de proposicóes nem sempre lógicamente concate nadas ; nao sao o fruto de elevado genio teológico, mas muito

mais a expressáo de um espirito imaginoso e original.

3.

Cenclusao

A Ciencia Crista é evidentemente urna seita protestante.

Tem o manual da Sra. Eddy em conta superior á própria Biblia. Nos oficios de culto respectivos, o primeiro leitor lé um trecho de «Science and Health» ; ao que se

segué

urna

passagem bíblica lida pelo segundo leitor no intuito de con firmar as teorías da fundadora.

A propagagáo da mensagem e das instituigóes da Ciencia Crista explica-se por fatores varios :

— a promessa de curas associadas a valores religiosos é

algo que atrai mais e mais o público no mundo inteiro. — É

certo que a Ciencia Crista, propondo o recurso a mcios psico lógicos para obter curas, pode realmente lograr éxito em mais de um caso. É inegável a influencia da mente sobre o corpo ; ansiedade, aborrecimentos e depressóes psíquicas podem pro vocar baixa da saúrle física e males psicossomáticos ; em tais casos, a restauracáo da paz mental (obtida através de fatores religiosos) resulla em melhoras da saúde corporal. Todavía

nao se creía que tais curas vém obtidas em conseqüéncia de auténtica interpretacáo do Evangelho; os valores cristáos, no caso da Ciencia Crista, sao mais ocasiáo e rótulo do que o ámago da mensagem dessa seita ;

«CIENCIA CRISTA>

45

— a promessa de Vitoria sobre a pobreza também impressiona o grande público. Como dito, a Sra. Eddy julgava que também a pobreza pode ser superada pelo reto pensar; — a aparéncia de nova revelagáo, imbuida de mística e expressa em linguagem peculiar, as vezes rebuscada («allness, somethingness...»), contribuiu para que a Ciencia Crista

cxcrcessc corlo fascinio sobro pessoas pouco críticas ou exi gentes.

Nao sao

necessárias ulteriores ponderacóes

para

que o

leitor compreenda que a Ciencia Crista pretende atender a aspiragóes fundamentáis de todo ser humano (saúde, vida, vitória sobre o mal) ; todavía oferece aos seus adeptos muito mais urna psicoterapia banal do que urna auténtica adesáo á mensagem do Evangelho.

Á guisa de bibliografía :

L. Humble, "A Ciencia Crista". Col. "Vozes em Defesa da Fé" n"? 25. Petrópolis 1959.

Jan Karel van Baalen, "O caos das seitas". Sao Paulo 1974.

Esteva*) Bettencourt O.S.B.

livros em estante A fé da Ig-eja. Vol. II: Cristologia: 1. Os pre9supostos, por Michael Schmaus. Traducio do original alemSo por Marcal Versiani. — Ed. Vozes, Petrópolis 1976, 160x230 mm, 154 pp.

Já em PR 199/1976, p. 234 apresentamos o volume I desta obra de peso (seis volumes). O autor é um dos maiores teólogos alemáes da atualidade ; embora nao seja dos mais novos, conserva todo o valor de grande pensador e escritor. Além do que, segué fielmente o pensamento da Igreja (que Schmaus sabe situar corretamente em nossos dias). Merece, pois, toda a confianca do estudioso.

Sob o

titulo "Cristologia:

Pressupostos",

o autor apresenta a dou-

trlna referente á Imagem de Deus no lAntigo Testamento (c. 1), á Criacáo (origem do mundo e do homem, c. 2), ao Pecado Original e ao Pecado Hereditario (c. 3) e aos Anjos (c. 4). O título "Pressupostos da Cristologia" é algo de novo nos tratados de Teología Sistemática ; significa o Cristocentrismo de Michael Schmaus. Este desenvolve os aspectos bíblicos, his tóricos e dogmáticos de cada tema com riqueza de dados e profundidade, que satisfazem ao leitor.

— 45 —

46

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

Schmaus aborda assuntos delicados e discutidos em nossos dias, tomando poslcdes equilibradas. Assim, por exemplo, no tocante ao surto do homem admite que, sendo este um composto de corpo e alma, aquele pode-se ter originado da materia preexistente; a alma, porém, foi diretamente criada e infundída por Deus na materia do primata devidamente evoluído. O que importa nesta sentenca, é a distincSo de corpo e alma e a atribuicao de origem própria a cada urna dessas partes componentes do ser humano; a alma humana, sendo espiritual, nSo se pode derivar da materia em evolucao, mas deve ter seu "vir-a-ser" peculiar. Cf. pp. 75-101.

No que diz respeito ao pecado dos primeiros pais, o autor afirma,

como a

Igreja oficialmente desde o séc. V (controversias pelagianas), a

existencia da justiga original com seus dons gratuitos, e expóe magistralmente os conceitos de "natural" e "sobrenatural". Como se compreende, Schmaus nao pretende afirmar que os primeiros homens (é assim que ele se refere aos protagonistas de Gn 1-3) tenham ultrapassado as condicoes

físicas e culturáis do homem primitivo: "NSo temos dúvida em dizer que a graca dos primeiros homens nao pressupunha um estado cultural ou espiritual especialmente elevado" (p. 115). — O pecado inicial consistiu, diz Schmaus com a sadia exegese, na soberba, que levou os primeiros homens á desobediencia — o que nada tem a ver com o abuso das funcóes sexuais. É importante que Schmaus reafirme a doutrina oficial da Igreja sobre o assunto, pois muitos fiéis católicos se véem perplexos no tocante ao pecado dos primeiros país, havendo mesmo quem julgue "ser o paraíso terrestre urna esperanca e nSo urna saudade". Na verdade, a doutrina concernente á culpa original nao é da aleada da arqueología ou da paleontología nem do alcance da filosofía ou da razáo natural, mas é

proposicáo de fé; sendo assim, só é possfvel formular tal doutrina á luz dos documentos da fé, que sSo a Escritura Sagrada entendida segundo os ensinamentos oficiáis do magisterio da Igreja. Qualquer reformulacáo que nao leve em conta tais documentos, vem a ser teoría de pensadores, nao, porém, o eco dos ensinamentos da fé.

Quanto aos anjos bons e ao demonio, Schmaus, fiel ao seu método,

afirma a existencia dos mésmos, baseando-se também, para Isto, ñas expressdes da S. Escritura tais como sempre foram entendidas pela S. Igreja

e, ainda recentemente, por S. S. o Papa Paulo VI. Cf. pp. 141-154.

Em suma, o Manual de Teología Dogmática da autoría de M. Schmaus é das melhores obras no género, nao só pelo conteúdo doutrinário como também pela maneira de apresentar a materia. É acessivel aos fiéis católicos de cultura media e vem a ser especialmente recomendável aos estudiosos e estudantes de Teología.

Escuta, metí poVo, por Mlchel Cüenot. — Ed. Paulinas, SSo Paulo 1976, 140x205 rom, 265 pp.

Mlchel Cüenot é um sacerdote francés, que sucedeu ao Pe. Jacques

Loew na direcSo geral da MIssSo Operarla SSo Pedro e SSo Paulo (MOP),

que tem Importante núcleo em Vila Yolanda (Osasco, SP). Míchel Cüenot esteve no Brasil desde novembro 1974 até agosto 1975; conviveu com o povo simples, principalmente em Osasco, procurando transmitlr-lhe urna

iniciacSo blblico-lltúrgica, inspirada nos métodos da "Escola da Fé (Ecole de la Foi)" dirigida por Jacques Loew em Friburgo (Suíga).

— 46 —

LIVROS EM ESTANTE

47

O presente livro é precisamente o fruto dessa docencia simples e viva realizada por Cüenot em Osasco. A fim de tornar o sentido das Escri turas mals acesslvel a pessoas de pouca cultura ou mesmo analfabetas, 0 Pe. Cüenot e seus colaboradores procuram acompanhar com mímicas o expressionlsmo dos textos bíblicos: gestos de máos e atltudes do corpo traduzem o conteúdo bíblico de manelra vivaz — o que, alias, é muito fiel ao estilo dos autores bíblicos (os orientáis eram exuberantes em ex-

pressio corpórea), é o que explica naja no livro varias Imagens de gestos litúrgicos a

obteve, contato etapas: de vida

ilustrar diversos trechos

bíblicos.

O éxito que o Pe.

Cüenot

está documentado no próprlo ilvro em foco; para o autor, o dos cristaos com a Palavra de Deus se deve realizar em tres escutari compreender, mudar de vida. Ora a respeito de mudanca Cüenot transcreve os seguintes depoimentos col h idos entre os

fiéis de Osasco:

"O que foi extraordinario, é que mesmo as pessoas que nSo sabem ler nem escrever participaram, com as palavras, da experiencia que vivemos

juntos" (p. 12). "Eu estava completamente derrotada em mlnha vida. Tudo corría muito mal: brigas, gritos, cansado de todos. Agora consegui recuperar e

isso mudou completamente o meu lar. NSo se i como agradecer a Deus" (p. 12).

"Eu nao quis faltar nem um día. No aperto do ónlbus rezo por todo esse pessoal, recitando o salmo 138: 'Senhor, espía bem o meu coracño, prova-me, conhece bem tudo que pensó, vé se estou trilhando o

mau ca-

minho e conduze-me pelo caminho da eternidade'" (p. 12). O livro apresenta 25 roteiros para reunióos blblico-litúrgicas, que consideram a historia da salvacSo desde Abraao até Jesús Cristo: o aUor propoe, além de textos, as IndicacOes propicias a se criar urna encenacSo simbolista digna da Palavra de Deus.

So podemos congratular-nos com o autor pelo feliz trabalho que tem realizado e que, mediante o seu livro, ele torna possivel aos agentes de pastoral blbllco-litúrglca. O livro será de grande valor em comunidades de base ou paroquiais ou aínda em educandárlos. É para desejar, porém, que se guarde sempre a justa medida e a devlda sobriedade no recurso & mímica; esta nao é senao um instrumental de edificacfio e compreenslo. Deus se esconde

na vida. Temas

para reflexao

e

orienlacáo,

por

Inácio SJrieder S. J. — Ed. Loyola, SSo Paulo 1976, 140 x 210 mm, 221 pp.

O Pe. Strieder é jovem professor de Teologia em Sao Leopoldo (RS).

Apresenta-nos um livro que é o eco escrito de palestras radiofónicas rea1 izadas na Alemanha: relíete sobre 57 Jemas de atualldade relativos á ple-

dade, á Biblia, á apologética, procurando dirimir dúvidas e definir o signi

ficado que cada problema abordado toma para o homem de hoje. O con teúdo é claro e acessivel a todo leitor de cultura media. O autor exprime fielmente o pensamento católico frente ás diversas ¡nterrogagoes e situacóes que interpleam o homem

de hoje. O propósito do autor nao é o de um

— 47 —

48

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 205/1977

especialista e pesqulsador; por Isto ás pp. 9 e 10 refere urna exegese de éx 3,1-6 que poderia ser mals técnica e rigorosa (Javé = Aquele que é?,

Anjo semelhante a ser humano ?), mas que nSo diminuí o valor da obra. E. B.

Américo Jacobina Lacombe, Para a Historia das Origens da Universtdade Católica, na Revista "Verbum", tomo XXXII, fase. 2, julho de 1976, pp. 71-85.

A reconsBo do um discurso nflo ó, som dúvida, usual. Em so trotando, porém, do discurso proferido pelo Professor Américo Jacobina Lacombe em sua aula inaugural de 1976 na Pontificia Unlverstdade Católica do Rio de Janeiro, o comentario nao so se justifica, como se impoe.

"Para a Historia das origens da Unlversidade Católica" é trabalho que ficará na historia da historiografía brasilelra como contribulcáo á historia da educacáo, da Igreja e das idéias religiosas no Brasil. O autor historia os estabelecimentos existentes e as tentativas de formalizacSo dos cursos superiores no Brasil desde a colonia. Menciona, assim, o Colegio do Terreiro de Jesús, na Bahía (1568 e 1572); o Real Colegio da Bahía (século XVII); e as tentativas dos jesuítas de elevá-Io a Universidade ; a tentativa dos mineiros de estabelecer urna escola de Medi cina (1768); os cursos de humanidades ministrados nos demais colegios

jesuítas, no mosteiro benedltlno do Rio de Janeiro, no convento de Santo Antonio da mesma cidade e no convento do Carmo da Bahia (este, com

um inieressante exemplo de 1839 extraído de Kldder). Concluí, a este respeito, o autor:

"Nao nos demoraremos na referencia a essas atlvldades intelectuals das Ordens Religiosas para demonstrar que os conventos constituiram n§o somente centros de devocSo, mas também importantes núcleos de estudos, únicos lugares onde encontravam acolhlda as atividades culturáis. Para isso dlspunham de bibliotecas que, se nSo s3o comparávels aos grandes centros europeus, ao menos estavam aparelhadas com as obras principáis de influencia no momento..." (p. 77). No Imperio e no inicio da República a Idéla da Unlversidade brasi lelra reapareceu e fol postergada varias vezes. Pelo lado católico, Lacombe refere-se á proposta de Cándido Mendes de Almeida, em 1866, para que se "organlze urna Universidade no sentido católico". A Idéia de Cándido Mendes de Almeida reapareceu nos Congressos Católicos da Bahía (1900) e do Rio de Janeiro (1908); neste mesmo ano

o Abade do Mosteiro de Sao Bento de Sao Paulo fundou a primelra Faculdade de Filosofía do Brasil, agregada á Universidade Católica de Louvain. Também em S9o Paulo, e em 1908, o Seminario Arquldlocesano transformou-se em Pontificia Faculdade de Filosofía e Letras.

A estas tentativas embrionarias sucedeu-se a fundacSo, em 1932, do Instituto Católico de Estudos Superiores, embriSo da futura PUC do Rio

de Janeiro (organizada a partir de 1940). Também Faculdades de Filosofía

— 48 —

católicas se crlaram, de acordó com a leí Francisco Campos: em Sao Paulo, a "Sedes Sapientlae" (1933), e,

no Rio

de Janeiro, a de Santa

Úrsula (1939). A Universidade Católica, portento, derivou-se do movimento geral de criacSo do ensino superior no Brasil e da aspiracao, bem mais antiga, á

existencia de uma Universidade religiosa. O Professor Américo Jacobina Lacombe pertenceu á geracao dos que, sob a lideranga de Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso Lima, renovaram o catolicismo brasileiro, tendo, como principáis instrumentos, o Centro D. Vital (com a revista "A Ordom") e a Pontificia Unlvorsldade Católica do Rio. Seu histórico ó, em conseqüéncia, depolmento importante do participante. O autor,

numa de suas conclusóes, afirma :

"Fiz questáo de ressaltar que a enaguo de estabeiecimentos católicos de cultura superior é uma linha constante em nossa formagSo desde a colonia.

Teremos correspondido ás esperanzas das ansiaram ? Só o futuro responderá" (pp. 82s).

geracóes

que

por

nos

A despeito das dificuldades e das dúvidas que o Professor Américo Jacobina Lacombe menciona, poder-se-ia responder afirmativamente. Sobretudo se a Universidade Católica continuar preocupada na articulacSo da fé com a razio, da "Sapientia" com a "Scientia". Ou, como se diz num

dos documentos do Concilio Vaticano II, plina seja cultivada segundo principios e dade peculiar da pesquisa científica, de mals profunda compreensáo das diversas

citado pelo autor: "Cada disci métodos próprios e com a liberforma que se atinja uma sempre materias. De maneira multo cons-

clenclosa, levem-se em conta os novos problemas e as pesquisas do progresso atual, para chegar-se a perceber com mais profundeza como a fé e a razao colaboram para a percepcSo da verdade, que é uma só. Sigam-se as pegadas dos doutores da Igreja e, em especial, de S. Tomás de Aqulno" ("Gravisslmum Educationis" rfl 10).

Esta recenslo é da autoría do Prof. Arno WeMing, Bacharel e Licen ciado pela Universidade do Brasil, Doutor em Historia pela Universidade de Sao Paulo, Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da

Universidade Gama Fllho e da Universtdade Santa Úrsula.

NADA TE

PERTURBE,

NADA TE ESPANTE.

TUDO PASSA!

SO DEUS NAO MUDA

A PACIENCIA TUDO ALCANCA.

QUEM A DEUS TEM,

NADA LHE FALTA.

SO DEUS BASTA 1

Santa Teresa de Jesús

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