Ano Xviii - No. 208 - Abril De 1977

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Projeto

PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESEIVfTAQÁO

DA EDIQÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15). Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanca e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas

correntes

filosóficas

e

religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de

BL vista cristáo a fim de que as dúvidas se

: dissipem e a vivencia católica se fortalega

*" no Brasil e no mundo. Queira Deus

abengoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d.

Esteváo

Bettencourt e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual

conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo. A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confisca depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

íí.%

DIVERGENCIA ENTRE IRMÁOS A opiniáo pública brasileira foi impressionada recentemente pela acusagáo de «comunistas» lanzada, através da imprensa, a dois bispos missionários. Visto que os comen tarios ao fato nao esclarecerán! a situacáo, a redagáo de PR nao se pode furtar a urna palavra serena e respeitosa sobre o assunto,... palavra que se desdobra nos seguintes ítens: 1) A expressáo «católico comunista», como tal, inclui urna contradigáo. Nao é possível ser alguém católico (crente em Deus) e comunista (ateu, materialista). Ora nao há dúvida de que nossos bispos tém todos o zelo de Deus. Acon tece, porém, freqüentemente que as pessoas interessadas por questóes sociais e, em especial, pela defesa dos direitos dos pobres fácilmente acabam sendo tachadas de comunistas. Na verdade, nao é preciso ser comunista para propugnar a justica social, mas o próprio Evangelho a reivindica como característica da ordem de coisas intencionada pelo próprio Deus. 2) O perigo que ameaga os defensores cristáos dos direi tos humanos em nossos dias, é o do horizontalismo, ou seja,

o de fazer preponderar tal tarefa sobre as demais. — Ña

realidade, o Cristianismo vé a promogáo do homem como decorréncia da instauragáo do Reino de Deus entre os povos. «Reafirmando sempre o primado de sua vocagáo espiritual, a Igreja recusa-se a substituir o anuncio do Reino pela proclamagáo das libertagóes puramente humanas e afirma mesmo que a sua contribuigáo para a libertagáo ficaria incompleta se ela negligenciasse anunciar a salvagáo em Jesús Cristo» (Paulo VI, «A Evangelizagáo no mundo contemporáneo» n* 34). 3)

No caso concreto dos prelados brasileiros, é oportuno

levar em conta que, por dobaixo das noticias dos jomáis, há

muilos latos do caráter particular que o público ignora c que constituem a legítima «privacidade» dos nossos bispos e do relacionamento de uns com os outros. De modo especial, o fiel católico respeita essa «privacidade» e observa sincera discrigáo em relagáo á mesma. 4) Por conseguinte, se é sempre difícil julgar o pró ximo, mais difícil se torna ísto no caso em foco. Quem resolve tomar partido por uns ou por outros em nome da justiga, corre o risco de cometer suma injustiga. Nao se deve esquecer que militas vezes as pessoas que erram, podem estar — 141 —

movidas por reta intengáo; desejam o bem, mas sao infelizes ao procurar realizá-lo concretamente. Ora é difícil, se nao impossível, ao homem que julga, penetrar as consciéncias alheias. 5) No povo de Deus, há aqueles que se impressionam e perturbam vivamente com as divergencias de nossos bispos frente á situagáo sócio-económico-política do Brasil. Outros, ao contrario, sabem olhar com tranqüilidade e confianca para tais diferencas. Colocamo-nos entre estes. Com efeito; os nossos bispos professam todos a mesma fe e desejam todos ser fiéis ao Evangelho; acontece, porém, que a situagáo real do Brasil é táo complexa que sinceramente pode haver opinióes contraditórias sobre a maneira de resolver os ingentes problemas da nossa sociedade. Somos como quem se vé diante de um semáforo que apresenta luz amarela (nem verde nem vermelha): enquanto, por prudencia, uns preferem nao atra

vessar a rúa para nao serem surpreendidos por eventual acidente, outros, também por prudencia, julgam que tém de atravessar para nao serem surpreendidos por um serio atraso ou pelo fracasso na procura de seu ideal... Quem tem razáo dentre uns e outros? — Ninguém o pode dizer. É certamente

a virtude da prudencia que em ambos os casos dita o Sim

e o Nao; na verdade, a prudencia é urna virtude que nao tem

padrees meramente objetivos, mas está intimamente relacio nada com a escola, a formagáo, as experiencias de vida, a idade... da pessoa prudente.

Donde se vé que mesmo entre

aqueles que divergem em torno do mesmo assunto, pode haver grande e respeitável virtude. Os padrees de prudencia de quem julga, nem sempre se poderáo impor á pessoa que é julgada.

6)

Ponderados todos estes aspectos da questáo, o cris-

táo é convidado a entregar ao Senhor Deus, na oracáo, o famoso caso, que, alias, vai passando para os anais do pas-

sado. A, Igreja sempre pode e poderá,apontar em seu seio as marcas das limilacóes humanas; estas nao a impodiram do ser o Corpo de Cristo prolongado através dos sáculos, mas antes a constituiram tal; é com tais marcas que Ela é, por vontade de Deus, sacramento ou fonte de vida para quem se lhe aproxima com fé e amor.

Seja a Páscoa, mais urna vez celebrada neste mes de

abril, o penhor de que tal fé e tal amor se nao de corroborar

em todos os fiéis cristáos, para que déem lúcido testemunho do

Cristo

Ressuscitado,

o

qual

nos

ensinou estar

a

nossa

consumagáo intimamente associada á vitória sobre o pecado e a morte!

E.B.

— 142 _

«PERMUTE

E

RESPONDEREMOS» Ano XVIII — N" 208 — Abril de 1977

O interesse religioso de nossos días:

e a igreja messiánica mundial? Em síntese: A Igreja MessiSnica Mundial deve-se a Meishu-Sama, mestre japonés que em 1926 recebeu urna "iluminagáo" e concebeu o plano de fundar urna nova corrente filosólico-religiosa.

O Messianismo propoe dois planos da realidade : o invisível, espi ritual, e o visível, material; este depende daquele. Ora até hoje, dizem,

os hómens viveram principalmente em funcáo dos bens materiais e sofrem

de diversos males acarretados pela cobiga, o egoísmo e o odio. Ora Deus está para dar inicio a nova era, era de Luz, que substituirá a era de trevas ou penumbra em que estamos. Essa nova era está sendo preparada pelo Johrei... Johrei significa a purificagao do espirito (ou do corpo espi ritual) mediante a infusáo da Luz Divina. Essa Luz elimina as máculas do espirito

humano

e,

conseqüentemente,

concorre

para

curar

os

corpos _ e

remover os males físicos que afligem a humanidade. Em conseqüéncia, haverá sobre a térra um paraíso de bonanca, caracterizado pela Verdade,

a Virtude e a Beleza.

Esta

a)

teísmo) ?

mensagem

deixa

interrogares

Que diz o Messianismo a respeito de Deus (panteísmo ou mono

...

do

Messias (pessoa ou metáfora) ?

(reencarnagáo ou mera sobrevivencia) ?

b)

abertas:

...

da vida

postuma

As revelagóes hoje em dia devem ser consideradas com espirito

crítico muito agudo, pois muilas sao as que os homens atribuem a Deus, quando na -verdade nao passam de fenómenos vagos, subjetivos e

emo

cionáis. Para que alguém creía, deve ter credenciais ou motivos de credibilidade.

c)

A idéia do um paraíso terrestre ó um sonho antigo, que retorna

periódicamente ñas crengas dos homens. Parece que será inexeqüivel ató

o fim dos tempos. O Cristianismo propoe o reino de Deus como resultado

da consumacáo da obra de Cristo no fim dos tempos, depois que o pecado

e a morte tiverem sido debelados. As curas apregoadas pelos devotos do Messianismo deveriam ser examinadas segundo criterios científicos para que fenómenos emotivos nao sejam confundidos com sinais divinos extraor dinarios ou milagres.

— 143 —

4

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS*- 208/1977

d) O Messianismo diz nao ser religiáo, mas algo mais do que urna religiáo. Pergunta-se: pode haver algo mais polarizante e totalizante do que a religiáo? Em suma,

o

Messianismo vem a ser mais

urna

das expressoes

do

perene senso religioso da humanidade. Carece, porém, de credenciais e da coeréncia lógica que sao indispensáveis para que possa merecer a aceitacáo de quem reflete um pouco.

Comentario:

Muitas pessoas indagam a respeito de Joh-

rei ou da «Igreja Messiánica Mundial», que vai encontrando

crescente número de adeptos no Brasil.

Sabe-se que o pen-

samento religioso japonés tem penetrado em nosso país através de suas formas máis recentes, que tem aumentado o ecleticismo religioso da nossa gente. Embora já tenhamos abor dado o tema «Johrei» em PR 139/1971, pp. 32S-335, voltamos ao assunto a fim de atender a leitores interessados.

1.

Igrejo Messiónica : origens

O fundador da Igreja Messiánica Mundial é o mestre Meishu-Sama. Este, em 1881 oriundo de familia pobre no Japáo, desde os seus anos de infancia, se dedicava ao pró ximo necessitado. Aos quarenta e cinco anos do idade, ou seja, em 1926 recebeu «maravilhosa revelagáo», que o impeliu a fundar nova sociedade religiosa. A «revelacáo» mostrou a Meishu-Sama a causa das mise rias humanas no plano físico: devem-se a males espirituais ou a manchas interiores existentes dentro dos homens. Em conseqüéncia, Deus está para renovar o mundo, enviando a Di vina Luz, que transformará a Vclha Era da Noite em Nova Era do Dia.i A Meishu-Sama caberia propagar a Divina Luz.

A transfiguracáo do mundo há de se fazer mediante um cataclismo, que será o maior de toda a historia da humani dade. Mas, «depois da grande purificacáo do mundo inteiro urna Era de Luz e Júbilo substituirá a Era das Trevas e da Miseria... Todos os males e erros causados pela ignorancia das Divinas Leis seráo corrigidos» (palavras do Fundador). Meishu-Sama sentiu-se, pois, chamado a contribuir para realizar o mundo ideal marcado por Verdade, Virtude e Beleza, das quais decorreráo saúde, prosperidade e paz para — 144 —

IGREJA MESSIÁNICA E JOHREI

todos os homens. Esse mundo será a concretizacáo do Pa raíso na térra, concebido por Deus desde os primordios da criacáo, mas aínda nao efetivado até os nossos días. O fundador passou o resto da sua vida a propagar a sua mensagem; formou discípulos e ministros da respectiva dou-

trina; escreveu artigos e livros; fundou centros de cultura e arte. Até 1950 a organizagáo chamava-se «Nippon Kannon

Kydan» (=Igreja Kannon do Japáo); foi-lhe entáo trocado o nome, que é atualmente «Sekai Kyusei-Kyo» (= Igreja

Messiánica Mundial). Quando Meishu-Sama faleceu, a sua esposa continuou a com o cognome de Nidai-Sama, vice-lider espiritual. Esta construiu o santuario principal da sociedade em Atami, a 80 km de Tóquio. Atualmente, o Movimento é dirigido pela terceira filha do Fundador: Kyoshu-Sama, nome que signi obra

fica «Líder espiritual».

Os adeptos dá nova corrente possuem

centenas de templos, onde trabalham mais de 3.000 minis tros, esparsos pelo Japáo, pelas ilhas Hawai, os Estados Uni dos, o Brasil...

Vejamos mais precisamente as grandes linhas do anuncio da Igreja Massiánica.

2.

A mensagem

Procuraremos resumir em poucos tópicos a doutrina da Igreja Messiánica:

2.1.

Visível

e ¡nvisível

Um dos principios mais básicos do Messianismo ensina que «o mundo visível ou material é reflexo e copia do mundo invisivel, espiritual». Estes dois mundos estáo intimamente relacionados entre si, de tal modo, porém, que o espirito tem a primazia sobre a materia. Tudo o que ocorre no mundo material, ocorreu, primeiramente, no mundo espiritual.

De modo especial, deve-se notar que os pensamentos erró neos, as palavras e as agñes más do homem constituem má culas espirituais; estas causam mal-estar mental e físico na pessoa que as traz.

— 145 —

6

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

Para se libertar deste mal-estar, a pessoa tem que tomar consciéncia da importancia do mundo espiritual e compreender que neste se acha a verdadeira causa de suas dificuldades.

2.2.

Johrei

Todo ser humano, pelo fato de ser sujeito a erros, traz máculas em seu corpo espiritual. Visto que tais máculas sao espirituais, elas só podem ser removidas pelo Poder de Deus. Esse poder purificador de Deus, Meishu-Sama o experimentou e apregoou ao mundo: é a Luz Divina, que vem ao homem sob forma de Johrei. Johrei,

em

japonés,

compóe-se

de

joh

=

purificar,

e

rei = espirito ou corpo espiritual. Portanto, Johrei vem a ser «purificagáo do corpo espiritual pela luz divina» ou, mais amplamente, a invocagáo da Luz Divina para que purifique o intimo do devoto. Essa Luz atinge o chamado «corpo espiri tual», e nao o físico diretamente.

O Johrei é a síntese da mensagem da Igreja Messiánica: "O Johrei é um dos principios básicos da nossa Igreja e o ato que caracteriza a nossa tárela religiosa. É essencialmente importante nos servicos

religiosos que realizamos"

("A

Igreja

Messiánica Mundial",

p. 24).

O Johrei, ou seja, a canalizado da Luz Divina que se faz nos atos de culto do Messianismo, pode curar espiritualmente; eliminando as máculas espirituais, ele provoca a diminuicáo da tensáo nervosa e a normalizagáo das funcóes men táis; em conseqüéncia, a pessoa concebe bondade e amor para com o próximo, chegando mesmo as suas faces a transfigurar-se. Mais: o Johrei pode também causar a cessacáo dos sofrimcnlos físicos o a cura de doengas corpóreas, pois «o

espiritual e o físico estáo em perfeita conformidadc entre si», dizem os cánones messiánicos.

Deve-se outrossim mencionar a importancia do Johrei no

combate á delinqüéncia juvenil e as doencas mentáis; removendo as máculas espirituais, ele proporciona melhor discernimento entre o bem e o mal, mais equilibrio emotivo, mais livre elevacáo da mente. O servico do Johrei é praticado pelos ministros da Igreja Messiánica, que assim tencionam contribuir para o desenvol— 146 —

IGREJA MESSIANICA E JOHREI

vimento espiritual da humanidade e para o advento do Pa raíso terrestre. Com muita énfase, os messiánicos afirmam que nao pretendem curar diretamente os corpos; Johrei nao pode ser usado como tratamento físico. Isto, porém, nao quer dizer que o Johrei seja recusado as pessoas enfermas ou hospitali

zadas. O servico do Johrei nao é pago; nenhum homem tem o poder de eliminar máculas espirituais; todos sao instrumentos, dos quais Deus se serve para transmitir a sua Luz. Todavía a pessoa que recebe Johrei, é convidada a dar seu donativo material com expressáo da sua gratidáo; o ministro messiánico o recebe e o coloca em lugar especial no templo santo.

2.3.

Alvorecer da Era da Luz

«Por. revelacáo, Meishu-Sama soube que a humanidade

está vivendo o grande periodo de transicáo e atravessando o limiar da Era Nova. O presente ciclo está chegando ao fim

e será substituido por outro: a Era da Luz. O que o Cristia nismo chamou 'o fim do mundo" ou 'o advento do Céu na Térra' significa a mesma coisa: o fim da Era presente» (livro citado, p. 33).

A historia até agora esteve marcada por lutas dos ho-

mens entre si, pois estes se acham imersos em semi-escuridáo, que impede a humanidade de compreender o verdadeiro signi

ficado

dos

acontecimentos.

Ora

Meishu-Sama

ensinou

ao

mundo que Deus ocultou a sua Luz Divina durante os séculos passados, em que os homens so interessavam apenas pelo progresso material. Eis, poróm, que chegou a época em que as palavras «seja feita a vossa vontade assim na térra como no céu» se tornaráo realidade, pois foi libertada a Luz Divina em favor dos homens. Haverá entáo um mundo de delicias,

onde todos os males e as aflicóes causadas pela ignorancia da Lei de Deus chegaráo ao fim.

Meishu-Sama explica tal expectativa nos seguintes termos: "É imperioso tomar consciéncia dessa yerdade, porque, em caso contrario, os principios básicos da Igreja Messi&nica Mundial e do Johrei nao poderáo ser integralmente compreendidos.

— 147 —

8

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

Em todo o prisma do universo, há pontos negativos e positivos, luz e trevas. Existem variedades de formas, condlcSes e medidas opostas em todas as coísas. Assim como existem día e noite em vinte e quatro horas, assim também existem o dia e a nolte no periodo de um ano, no período de cem anos. Nos podemos perceber esta verdade anallsando o passado'.

Esta transicáo da noite para o dia teve inicio no mais alto mundo espiritual e será refletida em varias partes do mundo {Isleo. É ela a glo riosa aurora, o maravilhoso alvorecor da Verdade, que homem algum lamáis conheceu" (livro citado, p. 37).

Ora, conforme os messiánicos, o Johrei é o fator provi dencialmente ministrado por Deus para preparar ou mesmo

iniciar a Era de Luz no mundo. 2.4.

O mundo de Beleza

A Nova Era e o Paraíso na térra teráo por característi cas a Verdade, a Virtude e a Beleza. Dentre estas notas, os messiánicos enfatizam especialmente a Beleza. Meishu-Sama disse que todas as obras da Divina Beleza existem na térra para alegría, prazer e íntima elevacáo espiritual dos homens. Urna das importantes missóes do Fundador foi construir q prototipo do céu na térra; recebeu a revelagáo de que essa tarefa era de fundamental valor, pois «a Divina AdministraCáo constrói através de modelos, de sorte que, se o Modelo Divino for construido em determinada regiáo do mundo, poderá ser ampliado em escala mundial» (livro citado, p. 28). Em conseqüéncia, Meíshu-Sama planejou a eonstrucáo dos tres prototipos do Paraíso na térra, escolhendo sob a Divina Orientacáo tres lugares de extraordinaria beleza natu ral no Japáo: Hakone, Atami e Kyoto. Tinha a intencáo de associar a beleza da natureza com a beleza produzida pelo homem.

Já foram terminados os templos de Hakone e Atami; sao constituidos de belos jardins, santuarios e edificios, inclu sive um Museu de Arte, onde pegas de rara beleza estáo expostas. — O terceiro modelo, o de Kyoto, aínda nao está concluido, mas vai sendo cncaminhado ao seu remate sob a diregáo de Kyoshu Sama, filha de Meishu-Sama e Suprema Autoridade do Messianismo. 1 Atualmente estamos dianle do portal de ¡menso impulso humana, dizem os messiánicos.

— 148 —

na historia

IGREJA MESSIÁNICA E JOHREI

A estima da beleza faz que os membros da Igreja Messiánica valorizem grandemente as artes, como a pintura, a escultura, a música, a literatura, a danga... Sao expressóes da Divina Beleza, das quais o homem participa criativamente. Além disto, o servico ao próximo é, para os messiánicos, algo que suscita urna atmosfera de Beleza, pois quem serve ao próximo se torna puro e poderoso canal do Poder Divino para o Johrei.

Sao estas as grandes linhas da mensagem da Igreja Messiánica Mundial. Importa-nos agora tecer algumas considsracóes a respeito.

3.

Um pouco de sertso crítico

1. A teología da Igreja Messiánica é sobria e pobre em conceitos; pouco diz a respeito de Deus e seus atributos. Pa rece estar muito mais interessada no homem e na instauracáo de um Paraíso terrestre mediante a purificacáo da humanidade a ser obtida pelo Johrei. O estudioso tem o direito de interrogar os messiánicos a propósito da nogáo que tém de Deus; será panteísta (a Divindade identificada com a nalureza e o homem, como professam o budismo e outras érenlas orientáis) ou monoteísta (Deus distinto do mundo e do homem, mas Criador Providente e Bom) ? — Certos escritos do Messianismo insinuam o pan teísmo, como já foi dito em PR 139/1971, pp. 333s. 2. O conceito de Messias, que dá o nome á nova sociedadc religiosa, precisaría de ser elucidado. Que entendem os adeptos do Johrei pelo nome de «Messias»? Será urna pessoa ou a bonanca que geralmente costuma ser associada a idéia de Messias? — A explicagáo do conceito é de máxima impor tancia, visto que a noeáo de Messias é típica da revelagáo judeo-cristá; a índole própria do povo brasileiro, que é cristáo por suas origens, exige nao haja ambigüidadc a este respeito.

3. A Igreja Mesiánica também é lacónica no que toca a vida postuma. Admite a sobrevivencia do núcleo da personalidade ou da alma após a chamada «morle» do ser humano? Professa a reencarnagáo? — Nao se pode conceber o silén-

— 149 —

10

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

cío a tal respeito, pois se trata de tema cuja importancia é capital para a orientacáo da caminhada do homem sobre a térra.

O Messianismo tem em mira a consumacáo da historia do género humano como tal, prevendo o Paraíso sobre a térra, mas nada diz a propósito dos individuos que faleceram e falecem antes do termo da historia universal.

4. A expectativa de um Paraíso sobre a térra corres ponde a velho sonho da humanidade... Está dentro das cate gorías de numerosos mitos da historia das Religióes. Compreende-se que o homem aspire a urna ordem de coisas renovada, em que já nao naja perversidade e odio. Todavía a experiencia ensina que o egoísmo e o amor próprio acompanham muitas vezes as mais belas iniciativas e dissipam os mais elevados ideáis da humanidade. Somente a graca

de Deus pode ajudar os homens a superarem as suas más tendencias e se unirem na base de genuino amor fraterno.

O Cristianismo ensina que nao haverá plena concordia e harmonía entre os homens senáo depois que Cristo tiver consumado a sua vitória sobre o pecado e a morte no fim dos tempos. Entrementes lutaremos sempre contra as más ten dencias da criatura humana. A experiencia dos séculos, prin cipalmente a de nossos dias, parece confirmar esta verdade; o homem progride na ciencia e na técnica, mas parece que fácilmente se deixa fascinar por suas obras, caindo, as vezes sem o sentir, sob o jugo e os ditames das conquistas materiais ; o próprio homem é, nao raro, sacrificado á máquina e á materia. Estas fazem que o homem se torne lobo para o homem

(«homo homini lupus»); pensadores e futurólogos

de nossos dias chama m a atencáo para tal fenómeno.

Se a Igreja Messiánica propóe o Johrei como sendo a graca salvadora de Deus, concedida para preparar os homens para o Paraíso terrestre, o estudioso tem o direito de pedir as credenciais de tal mensagem. Crer sem motivos de credibilidade é irracional (todavía é algo que acontece freqüentemente em nossos dias).

A revelagáo ou iluminacáo com a qual terá sido agra ciado Meishu-Sama, é, á primeira vista, algo de vago e subje tivo; as1 visóes e revelacóes hoje em dia (quando sao táo fre— 150 —

IGREJA MESSIÁNICA E JOHREI

qüentemente

apregoadas)

devem

ser

encaradas

11

com agudo

senso crítico; Deus pode manifestar-se em visóes, sem dúvida; mas a maioria das que lhe sao atribuidas, sao fenómenos meramente psicológicos. Perdem todo crédito desde que insinuem panteísmo.

5. O que atrai muitas pessoas ao Messianismo do Johrei, é a expectativa de curas e dons extraordinarios. Verdade é que os ministros messianicos nao pretendem agir diretamente sobre o físico dos seus fiéis; todavía nao deixam de propor a restauragáo da saúde corporal mediante a eliminagáo das máculas da mente. Ora sabe-se quanto hoje em dia as pessoas tendem a fazer da religiáo e dos ritos religiosos urna tera pia, ... a terapia daqueles que a medicina científica, por um motivo qualquer, nao atinge ou nao cura.

Muitos devotos afirmam, em cartas e testemunhos oráis, que foram curados pelo Johrei no plano da saúde física. Tais depoimentos apresentam o estilo e as características de processos emocionáis, em que a sugestáo desempenha papel im portante. A religiáo e a mística, por serem valores de primeira grandeza, tém poder altamente influente sobre o psí quico de pessoas combalidas por males e calamidades da vida presente. Seria, pois, temerario afirmar que as gracas obtidas em contato com a nova corrente religiosa japonesa sejam sinais da veracidade das crengas ai professadas. Note-se também que a idéia de «corpo espiritual» é fallía ou mesmo contraditória. Corpo, por definigáo, significa algo de quantitativo, extenso, dimensional, ao passo que espirito diz um ser real que nao tenha extensáo nem dimensóes. Deus é espirito puro, os anjos e a alma humana sao seres espirituais.

Quando Sao Paulo fala de «corpo espiritual» (ICor 15,44), refere-se táo somente ao corpo humano material ressuscitado e totalmente penetrado pela graga glorificadora e transfiguradora do Espirito Santo.

6. A Igreja Messiánica afirma que nao há incompatibilidade entre «ser cristáo» e «ser membro da Igreja Messiá nica», pois esta «é mais do que urna religiáo ; oferece um caminho completo de vida nos tres niveis da vida do homem — espiritual, mental e físico» (livro citado, p. 22). — 151 —

12

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

Perguntamo-nos:

pode haver algo

de

mais

exigente e

polarizante do que a religiáo? Esta é a doagáo do homem, com todas as suas potencialidades, ao seu Criador e Consu mador. Religiáo nao é apenas ritual, nem é somente escola de morigeragáo, mas é algo que atinge as profundidades do ser humano para levá-las ao pleno desabrochamento no encontró com o Absoluto ou com Deus.

Na verdadc, a Igrcja Mcssiánica propóe concepgóes tais que nao sao compativeis com o Cristianismo; este, apregoando a salvagáo por Jesús Cristo, Deus feito homem, é inconfundivel e supera as mais otimistas categorías do pensamento humano. O Cristianismo apregoou aos homens algo que ja máis algum profeta ou iluminado ousou dizer : «Ele (Deus) primeiro nos amou» (Uo 4,19). Ou aínda: «Nisto consiste o amor: nao fomos nos que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiagáo pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus assim nos amou, devemos, nos também, amarmo-nos uns aos outros» (Uo 4,10s).

Eis o que de mais importante ocorria observar sobre a mensagem do Johrei: ainda que proponha aos seus adeptos o «Pai Nosso» do Evangelho, transmite concepgóes acerca de Deus, do homem e da historia assaz diversas das do Evan gelho o filosóficamente insustentáveis. As sedes do Messianismo Mundial no Brasil nao fornecem senáo exigua bibliografía sobre as suas crengas. Citamos aqui a revista "Gloria", o opúsculo "A Igreja Messiánica Mundial" e folhetos de oracóes distribuidos nos templos messiánicos.

AMIGO, NAO

SE

ASSINATURA.

E OBTENHA-NOS

TES

PARA QUE

BALHAR

EM

ESQUEQA DE RENOVAR A SUA

POSSAMOS

PROL

DA

NOVOS

CONTINUAR A

VERDADE

— 152 —

ASSINAN-

E

DO

TRA-

AMOR!

Que revelagáo em

el palmar de troya?

Em aínteso: El Palmar de Troya é pequeña localidade da diocese de Sevilha (Espanha), onde pretensas visees e revelares ¡nspiraram a Clemente Domínguez Gómez a fundacáo de duas Congregares Religiosas (urna de homens e outra de mulheres), dedicadas á Sagrada Face. O velho ex-arcebispo de Hué (Vietnam), Mons. Ngó Dlnh Thuc, atraído pelo ambiente de piedade de El Palmar, conferiu al, aos 11/1/76, a ordenacáo presbiteral a cinco candidatos e a sagragüo episcopal a outros cinco (inclusive a Clemente). Severamente censurado pela Santa Sé, o arcebispo se arrependeu do gesto inconsiderado e foi absolvido pela Sé Apostólica. Embora o prelado tenha pedido aos seus amigos de El Palmar reconsiderassem o passo dado, estes se confirmaram em seu fanatismo, de modo que os bispos assim

ordenados

ordenaram

novos bispos e

sacerdotes...

Apesar

das declaracdes solenes, em contrario, do Sr. Cardeal-arcebispo de Sevilha, os devotos continúan) a afluir a El Palmar, provindo, em grande parte, do estrangeiro, e levando multo dinheiro para o santuario e as obras de Cle

mente e seus adeptos. Últimamente Clemente foi atingido de ceguelra física; todavia os fiéis de El Palmar esperam de Deus a sua cura como

sinal retumbante

de

que Clemente tem mais

autoridade do que o Papa

(visto que este, segundo dizem, é mal assessorado e vitima de drogas e

pressóes que o despersonallzam).

N§o há dúvida de que a base de toda essa triste historia é mera mente subjetiva: trata-se de visoes ficticias ou alucinadas de gente sim

ples e destituida de senso crítico... Pode-se dizer isto tranquilamente, visto que "pelos frutos se conhece a árvore"; qualquer cisma ou qualquer ruptura de comunháo com a Igreja .fundada por Cristo sobre Pedro só pode ser obra humana

ou satánica, nunca, porém,

obra

do

Espirito de

Oeus.

Quanto aos estigmas que Clemente recebeu em suas mitos, sao pouco ou nada significativos aos olhos da ciencia moderna e da jurisprudencia da Igreja.

Comentario: Em PR 206/1977, pp. 77-90, foi publicada urna análise do livro «Jesús responde a um padre», obra que transmite «revelagóes» de Jesús Cristo a urna «vidente» belga a respeito da realidade da Igreja contemporánea. Tal livro se refere aos acontecimentos de El Palmar de Troya (Es

panha), apresentando-os como típica manifestagáo do Senhor Deus em nossos dias; essa revelagáo teria o intuito de incitar os cristáos a conservar as suas tradigóes e rejeitar a renovac.áo conciliar do Vaticano II.

— 153 —

14

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

Visto que aqui no Brasil os fatos ocorridos em El Palmar de Troya tiveram aínda outras repercussóes, vamos descrevé-los sumariamente e propor urna apreciacáo dos mesmos.

1.

O desencodeamento dos fatos

1. El Palmar do Troya ó pequeña localidade situada a 40 km do Sevilha. Foi lá que tres meninas, chamadas respec tivamente Josefa, Ana Rafaela e Ana, tendo entre oito e doze anos de idade, deram inocentemente ocasiáo a compli cada historia. — A reconstituigáo dos fatos em sua origem

(1968) nao é muito clara, pois há poucos documentos escri

tos a respeito, e mais relatos oráis. Como quer que seja, pode-se propor a seguinte versáo, colhida em fontes fide dignas.

Aos 29 de maio de 1968, as tres meninas haviam entrado num bosque para colher flores. Em breve, porém, tiveram medo da solidáo e comeearam a ver um vulto estranho; urna dizia ser um touro, outra o identificava com outro animal, ao passo que a terceira julgava ser urna mulher. Fugiram logo para a aldeia, onde narraram o episodio. Como se compreende, a opiniáo pública se fixou de preferencia na idéia de que urna mulher aparecerá realmente as crianzas, sendo essa mulher a própria Virgem María. Se esta se manifestara em Lourdes e Fátima, por que nao seria isto possívcl cm El Palmar de Troya ? Em conseqüéncia, na escola os mais velhos comecaram a falar as meninas a respeito de Lourdes e Fátima, de tal

modo que as «videntes» passaram a dizer que tinham visto

«urna mulher». Até hoje as enancas dizem que lhes apareceu «urna mulher», e nao «a Virgem». Centenas de pessoas as

acompanhavam ao lugar da sugestioná-las mais e mais.

«apariciio»,

concorrendo

para

Na quinta-feira santa seguinte, urna senhora do lugar disse ter visto Nossa Senhora escoltada por dois discos voadores !.. . Entrementes as autoridades eclesiásticas da diocese de Sovilha intervieram em El Palmar; verificando a

índole fantasista das «aparigóes», comecaram a advertir os fiéis contra as mesmas. Nao obstante, o número de adeptos foi crescendo. Entre estes, sobressai um certo sacerdote cha mado

Clemente Domínguez

Gómez,

— 154 —

que

passou

a

ter suas

EL PALMAR DE TROYA

15

visóes em El Palmar; recebeu os estigmas (chagas) do Senhor

Jesús em suas máos, estigmas que ele nao ocultava. «Seguindo ordens dadas pelo Senhor», Clemente viajou para o

estrangeiro, conseguindo difundir a mensagem de El Palmar

e fazendo numerosos adeptos; mediante amigos, a mensagem chegou até a Venezuela, onde encontrou forte eco. Assim

também Clemente angariou valioso apoio financeiro. Em El

Palmar mesmo o número de peregrinos e devotos (nao da diocese do Sevilha, mas de fora) foi crescendo, atraídos todos pela fé ñas aparigóes e pelas características de piedoso san tuario mañano que se foram dando áquele lugar.

Ainda «iluminado pelo Senhor», Clemente houve por bem fundar duas Congregagóes Religiosas — urna para homens e outra para mulheres : Congregagóes «de Carmelitas da Santa Face de Cristo». Esses frades e freirás trajam-se curiosa mente : por cima do hábito trazem duas estampas da Sagrada Face (urna, sobre o peito, e a outra sobre o ombro esquerdo); levam austera e fervorosa vida, que impressiona os visitantes. Essas ocorréncias se deram á revelia das intervengóes contrarias do Sr. Cardeal-arcebispo de Sevilha, das quais as mais solenes se verificaram publicamente aos 18 de maio de 1970, 15 de margo de 1972 e 2 de Janeiro de 1976. 2. A siluagáo era tal, quando em 1975 Mons. Pedro Martín Ngó Dinh Thuc, ex-arcebispo de Hué no Vietnam, re sidente em Roma, foi a Espanha. Os vietnamitas parecem especialmente afeigoados á Espanha, porque, em parte, foram evangelizados por dominicanos espanhóis; o arcebispo percorreu os santuarios marianos daquele país e chegou final mente a El Palmar. Anciáo como era, impressionado pelos progressos do materialismo e da impiedade, deve-se ter fácil mente deixadq sugestionar pelo ambiente de fervor o de apa rente presenga do sobrenatural que encontrou naquela aldeia. Clemente entáo resolveu pedir-lhe que conferisse as ordens sagradas aos orientadores do santuario local. Num gesto mis terioso (do qual se arrependeu posteriormente), Mons. Ngó Dinh Thuc, crendo ñas pretensas revelagóes particulares, aquiesccu a solicitac.no : aos 11 de Janeiro de 1976, na igreja da aldeia de El Palmar de Troya, sem a autorizagáo do arce bispo local ou de Roma e usando o Ritual anterior a renovagáo litúrgica, ordenou sacerdotes cinco candidatos (dois espanhóis, um francés e dois irlandeses) e conferiu o epis— 155 —

1G

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

copado a tres sacerdotes espanhóis e dois americanos (entre os quais estava Clemente Domínguez Gómez).

Tais ordenagóes (episcopais e presbiterais) foram váli das, segundo créem certos teólogos, pois o sagrante era verdadeiro bispo e usou um Ritual que a Igreja até época recentissima usava. Todavía outros teólogos perguntam se as orde nagóes conferidas a margeni da Igreja ou fora da comunháo da Igreja correspondem á inlencáo de Cristo, ministro princi pal de qualquer sacramento. Jamáis se poderia supor, da parte do Senhor Jesús, a intengáo de dividir o seu Corpo Mís

tico. A autoridade da Igreja até hoje nao se quis pronunciar oficialmente sobre o assunto. Os bispos assim ordenados se encarregaram de multipli car ordenagóes sacerdotais e episcopais (talvez válidas, mas ilícitas). Tal fato causón confusáo no povo espanhol. 3. Na verdade, a ordenagáo de sacerdotes sem autorizagáo do bispo respectivo, e a de bispos sem mandato de Roma sao dos mais graves delitos que um bispo possa come

ter, pois esses atos violem a comunháo eclesial e dividem o Corpo da Igreja; dúo, sim, origem a urna hierarquia nova, principalmente se se trata de bispos, separada daquela que está em comunháo com Pedro; constitui-se assim urna «igrejinha» á parte, cismática.

Visto que isto aconteceu na China, onde alguns bispos católicos, premidos pelo Governo comunista, se prestaram a conferir a ordem episcopal a candidatos do Governo partida rios de cisma, o S. Padre Pió XII, aos 9 de abril de 1951, houve por bem impor severa excomunháo aqueles que confiram ou recebam o episcopado sem explícita autorizagáo da

Santa Sé. Em conseqüéncia, Mons. Ngó Dinh Thuc e os cinco presbíteros por ele ordenados bispos incorreram em excomu nháo, como noticiou o Sr. Nuncio Apostólico na Espanha, Mons. Luigi Dandaglio, quatro dias após o doloroso acontecimento de El Palmar. Eis a noticia publicada por S. Exce lencia : "A Igreja tendo o dever de vigiar em favor da pureza da fé, da san-

tidade dos sacramentos e da observancia da disciplina eclesiástica, após atento exame dos fatos concernentes ás presumidas ordenacSes episcopais de El Palmar de Troya, declaramos que o arcebispo Pedro Martínho Ngó Dinh Thuc e os sacerdotes Clemente Dominguez Gómez, Manuel Alonso Corral, Camilo Estevez Puga, Michael Donnelly e Francis Bernard Sandler

— 156 —

EL PALMAR DE TROYA

17

¡ncorreram, no instante mesmo em que cometeram tal delito, na pena de excomunhao muito especialmente reservada á Santa Sé. Essa pena canónica foi instituida pelo decreto de 9 de abril de 1951, cujo teor é o seguinte:

do S.

Oficio

datada

'O bispo, de qualquer rito ou dignidade, que ordene bispo urna pessoa nao nomeada pela Sé 'Apostólica ou nao explícitamente confirmada por esta, assim como aqucle que recebe tal ordenacao, mesmo no caso de sofrerem grave pressáo, incorrem ipso tacto em excomunhao muito especialmente reservada á Sé Apostólica'.

Após esta solene afirmacáo, só nos resta pedir a Deus e fazer votos para que os atos ácima referidos nao se repitam e os responsáveis pelos mesmos, arrependidos de seu gesto, acolham o apelo do Vigário de Cristo, que os convida a voltar á comunháo da Igreja. Sevilha,

aos

(a)

15 de

fevereiro

de 1976

Luigi Dandaglio

Nuncio Apostólico"

Quanto aos candidatos que o arcebispo vietnamita ordenou presbíteros, foram, sem demora, suspensos de ordens, isto é, impedidos jurídicamente de exercer qualquer funcáo sacer dotal : «Saibam que a Igreja nao reconhece, nem rcconhecerá a sua ordenagáo e, para todos os efeitos jurídicos, os consi dera no mesmo estado em que se achavam antes» (S. Con-

Kregacáo para a Doutrina da Fé). Esta medida bem se compreende; basta perguntar que garantías se tem de que os

ministros

assim

ordenados

para exerecer um de tal nome ?

possuam

as condigóes

ministerio sacerdotal

ou

Na verdade, Mons. Ngó Dinh Thuc,

mínimas

episcopal

pouco

digno

depois dos

dolorosos acontecimentos, arrependeu-se do que fez, pediu a Santa Só a respectiva absolvigáo e exortou os bispos assim ordenados a que reconhecessem o seu erro e desistissem de realizar ilegítimas ordenacóes. O velho arcebispo foi absolvido, visto que estava profundamente contrito e se deixara iludir pelo aspecto de fervor religioso dos adeptos do san tuario de El Palmar. O Cardeal-arcebispo de Sevilha, Mons. Bueno y Monreal, aos 14 de Janeiro de 1976, publicou longa nota, em que esclarecía os fiéis nos seguintes termos : "Desde que se propalou entre nos a noticia sobrenaturais ocorridos em El Palmar de Troya ou provincia, as autoridades diocesanas de Sevilha desenrolar dos fatos. Depois de os ter devidamente

— 157 —

de pretensos fenómenos em outros lugares desta seguiram atentamente o estudado e aprofundado,

18

«PERGüNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

chegaram á triste conclusio de que nSo só nao existem indicios de inter-

vencSes extraordinarias nesses locáis, mas, muito ao contrario, abundam provas de que estas nao existem" (cf. "La Documentaron Catholique", n? 1693, 7/111/1976, p. 234).

Apesar destas declaragóes da autoridade eclesiástica, o fanatismo dos devotos, provenientes de fora da diocese de Sevilha, continua a se exercer. Isto leva aínda centenas de peregrinos a El Palmar, principalmente no dia 15 de cada mes, especialmente reservado á devogáo noturna no lugar. Nesse dia os bispos ilegítimos, que residem em Sevilha, váo todos a El Palmar e concelebram a seu modo, isto é, cada um diz a S. Missa á parte, mas todos nal mesma hora; a concelebragáo propriamente dita é, para eles, pecado. Todas as noites apai'ece em El Palmar um de tais bispos para celebrar. Na aldeia colocaram eles um pároco

«nomeado por María

Santissima», pároco cujos paroquianos sao táo somente os frades e as freirás das Congregagóes fundadas por Clemente. Dos doze frades, somente um é espanhol, ao passo que das

quatorze freirás só duas sao espanholas (sendo urna a Prioreza, cujo estado de ñervos fez que tivesse de sair do seu convento originario).

A excomunhao infligida pela Santa Sé parece nao ter importancia aos olhos de tais «prelados», pois alegam que sao os bispos da Espanha que estáo fora da comunháo da Igreja pelo fato de admiürem a nova Liturgia da Missa e nao terem proibido filmes como «Jesús Cristo Superstar». A respeito do Papa pessoalmente nutrem a seguinte opiniáo : "Do Papa pouco se pode esperar. Está cercado de maus assessores e drogado. Quando fala, nao é responsável pelo que diz. Ñas ocasióes em que aparece nos balcóes do Vaticano, nao é ele mesmo, mas urna réplica

de Paulo VI" (depoimento colhido por D. Luiz Vera Ordas, enviado especial

mente a El Palmar de Troya pela redagáo da revista "Iglesia-Mundo" ; cf. n
Os peregrinos, em boa parle eslrangeiros, eontribuem com dinheiro para a subsistencia e a expansáo das obras materiais das Congregagóes fundadas por Clemente. Um grupo de fiéis norte-americanos, por exemplo, depois de haver passado urna semana em El Palmar, repetía entusiasmado : «We have seen Mary!» (Vimos María!). Nao é, pois, de estranhar a noticia segundo a qual se estáo arrecadando milhóes de dólares para construir urna basílica em El Palmar. 4. Últimamente Clemente foi atingido pela cegueira... Insondável designio de Deus ! Todavía este fato mesmo pro— 158 —

EL PALMAR DE TROYA

19

vocou nova atitude de fanatismo : os adeptos de El Palmar tém por certo que o Senhor restituirá a vista a Clemente, oferecendo assim ao mundo um sinal retumbante de que a obra do vidente é auténtica, ao passo que a atuacáo de Paulo VI e da Santa Sé está pervertida. Eis significativo texto extraído de um panfleto intitulado «Som e Imagem do céu na televisáo de Deus. A palavra final sobre as mais recentes aparigóes do sáculo», panfleto que os devotos de El Palmar tém disseminado em língua portuguesa no Brasil: "DOM CLEMENTE DOMÍNGUEZ PERDE OS

DOIS OLHOS !

O DESAFIO DO SÉCULO. A ÉTICA DA GRACA E A PALAVRA FINAL Dom Clemente Domínguez Gómez, hoje bispo e principal videnle das

aparigóes em Palmar, perdeu em acídente de automóvel os perfurados ou rasgados, ficando cegó irremediavelmentel.

dois

olhos,

O acontecimento, assim era de esperar, gerou emocáo entre os amigos de Palmar, tanto na Europa, como nos demais continentes. Como admitir que o íntimo amigo e confidente das mensagens celes tes cm Palmar nSo houvesse merecido melhor sorle? Ou, quem sabe, nao seria esse o sinal de que as tais mensagens eram urna farsa, e Clemente um mistificador punido por Deus ? Só dob meses depois voltaram os diálogos com o céu. Diante do Santissimo Sacramento, na cápela, em presenca de seus confrades de CongregacSo, em comovente súplica ao Senhor, Clemente pedíu-Lhe a devolucao dos olhos perdidos. Ougamos a resposta : 'Entreguei todos os poderes á minha Máe Santissima para que Ela te devolva os olhos...! Por ¡ntervencáo déla terás os dois olhos novos! Ninguém pense que Palmar esteja sepultado. Mais que nunca está de pé,

porque a vitória está na PaixSo... A glorificado vem depois. Estou pre parando o futuro Papa, passo a passo. Serás, futuramente, PEDRO, aquele

que consolidará a fé e a integridade da Igreja, opondo-se tenazmente as heresias, e assistido por legióes de anjos !

Ó Palmar de Troya! És a segunda Jerusalém, gloria dos Oliváis, esplendor do Pontificado ! Logo vira o reinado do anti-papa! En, porém, estou formando o grande Papa.

Compadeco-me de ti pelas dores que experimentarás em tua missáo de Pontífice t Caso nao aceites o cargo, um outro será escolhldo em teu lugar'.

1 O laudo médico foi firmado a 16 de junho de 1976, no Hospital San Sebastian, Espanha, pode ser visto por quem o desejar.

— 159 —

20

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

Palmar de Troya, o maior lugar de que haverá !...

aparicoes que houve, que há e

No dia 7 de setembro, entre outras determinares, a Virgem María assim falou : 'Clemente, Jesús entregou em minhas os olhos, quanto antes. Confia em mim !

é preciso entretanto que se pega com

máos o

perseverando

Que seja esperado! Diante deste milagre, muitos se O

poder de

restituir-te

este milagre!

converleráo !'

GRANDE SUSPENSE

Nos quatro continentes, urna expectativa enche os coraedes pelo anunciado prodigio. Nao pelo milagre em si, mas pelo que ele representa. Ele representa: O selo oficial de

Deus

á obra de Palmar.

Sela a nova hierarquia ali consagrada. Sela a linha da doutrína tradicional mais urna vez.

Sela Dom Clemente no futuro

Pontificado cj Igreja.

Sela a ingerencia da Virgem María como Pastora e Máe da Igreja I Quem pretenderá insurgir-se contra o anunciado sinal ? Certamente, quem nao aceita regras de um jogo limpo, e sao jurados inimigos de Deus e da Virgem Marta. Esses preferem virar a mesa a perder o jogo! Há também os coitadinhos que andam por ai oferecendo a sua parap

sicología como

farmacia

portátil

qu& tudo

resolve sem

milagre. É hora

entáo de desafiá-los a que corram a Palmar, enquanto é tempo, e ponham dois olhos novos ñas órbitas vazias de Dom Clemente, antecipando-se a Deus. Diríamos, porém, a todos eles, desde já: é melhor que calem a boca!"

Estes dizeres, de um lado, provocam surpresa..., surpresa pelo fanatismo passional e obcecado dos sequazes de

El Palmar... De outro lado, suscitam compaixáo : como é doloroso cror que os valores mais preciosos do homem, que sao os da fé, estáo sendo ameagados e vilipendiados ! Tal atitude dolorida, porém, se fundamenta em mal-entendidos ou em informagóes distorcidas; poderia ser mitigada ou anulada se os adeptos de El Palmar fossem mais esclarecidos a respeito do que está realmente ocorrendo na Igreja : os abusos, em materia de liturgia e disciplina, nao provém dos ensinamentos do Concilio, mas devem-se a iniciativas arbitrarias de pessoas ou grupos particulares, que, embora filhos da Igreja, houveram por bem seguir seu alvitre próprio, pondo assim em jogo o bem comum! A respeito de tais abusos tem-se pro— 160 —

EL PALMAR DE TROYA

21

nunciado repetidamente o S. Padre Paulo VI, profligando-os e pedindo aos seus autores reconsideracáo das respectivas atitudes. Quanto as normas oficiáis que regem a renovacáo eclesial, sao inspiradas pelas puras fontes do Catolicismo e, por conseguinte, isentas de mésela de protestantismo ou ideología desvirtuada. Ademáis diga-se : a cegueira nao há de ser con

siderada

necessariamente

como

castigo

de

Deus

ou

como

sinal de pecaminosidade da pessoa afolada.

2. Proporemos 2.1.

Que pensar a tal propósito ? tres

considerares :

Nao há dúvida. . .

Após os exames a que tem procedido a autoridade ecle siástica, nao pode haver dúvida de que os fatos de El Palmar nao merecem o crédito de fenómenos sobrenaturais, mas sao pura expressáo da fe de gente simples, mal informada, des tituida de senso crítico ou de gente doente e mentalmente prejudicada. Ao menos parece ser este o caso da maioria dos que tém participado ativamente de tais acontecimentos. Mais explícitamente

digamos :

a) A resistencia dos protagonistas dos episodios do El Palmar á Santa Sé e aos bispos a esta unidos ó evidente sinal de que nao se trata de obra inspirada por Deus. Toda atitude

piedosa que leve ao separatismo e á cisáo da Igreja fundada por Cristo e entregue a Pedro, é piedade objetivamente falsa (ainda que os seus adeptos possam estar subjetivamente de boa fé ou candidamente engañados). Da mesma forma, nenhuma «revelacáo do céu» que provoque a divisáo dos cristáos, pode ser atribuida a Deus.

b) As pretensas visóos do El Palmar hao do ser avaliadas pelos seus frutos, pois «é pelos frutos que se conhece a árvore» (Mt 7,16-20). Ora visóes separatistas háo de ser atribuidas á sugestáo de gente pré-disposta ao maravilhoso. Santa Teresa de Ávila conhecia tal fenómeno existente entre as monjas e os fiéis na Espanha do séc. XVI; tinha-o como o resultado de exercícios ascéticos e mortificagóes mal orien tadas, que, debilitando os ñervos e a resistencia física, propiciavam um clima de descontrole da fantasía.. .; entáo eclodiam as visóes. A Santa curava o fenómeno, mandando servir alimentagáo mais substanciosa aos «visionarios» !

— 161 —

22

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»' 208/1977

c) Quanto aos estigmas de Clemente, constituem cri terio extremamente débil de interven?áo do Senhor Deus. Alias, deve-se observar que o extraordinario, na Tradicáo da Igreja, significa muito pouco; merece mesmo suspeita nega tiva até que se possa provar com argumentos objetivos que nao é projeeáo subjetiva ou doentia da criatura.

Ao examinar a vida dos Santos, a jurisprudencia da Igreja foi e é extremamente cautelosa no tocante a estigmas,

éxtases e fenómenos semelhantes. Assim já o Papa Bento XIV, em sua época (1740-58), legislando sobre o assunto, admitía causas naturais que podiam (e podem) provocar estigmas ; hoje a parapsicología e a descoberta de fraude em varios casos nos habilitam a usar de mais cautela ainda. De modo especial, a Igreja foi muito severa durante o processo de canonizagáo de Santa Gema Galgani (f 1903), a Santa que, ao meditar a Paixáo do Senhor, era marcada por estigmas e sinais extraordinarios ; o único dado que a Igreja oficial mente aprovou no caso, foram as virtudes heroicas da Santa, nao, porém, os fenómenos singulares; apenas interessou aos canonistas averiguar que nao houvera a minima fraudulencia ou intengáo de vaidade por parte da Santa estigmatizada. 2.2.

Tem futuro ?

Pergunta-se se a obra cismática iniciada em El Palmar de Troya tem perspectivas de futuro ou de duragáo.

Sem ter a pretensáo de profetizar, podemos apontar dois motivos que levam a crer num próximo esmorecimento do fervor inicial:

a) as ordenagóes de bispos cismáticos «em cadeia», as quais deixaram os fiéis espanhóis perplexos e desfavoravelmente impressionados ;

b)

a cegueira de Clemente, que veio prejudicar as ati-

vidades deste chefe. Verdade é que o fanatismo é sempre difícil de ser erra dicado; a Espanha até hoje sofre as conseqüéncias dani-

nhas das «visóes» de Garabandal e da Legiáo Branca que, em conseqüénda, lá se fundou.

Os fiéis católicos nao podem deixar de pedir a Deus, juntamente com a recuperagáo da vista do líder, a reintegracáo dos cismáticos na unidade da Igreja. — 162 —

EL PALMAR DE TROYA

2.3.

23

Visóes e revelacóes particulares

O episodio de El Palmar de Troya tem seu vemiz sedutor pelo fato de tais acontecimentos se dizerem desencadeados por intervengáo extraordinaria da SS. Virgem e de Cristo. Valorizam-se entáo as revelacóes particulares mais do que o magisterio oficial da Igreja. A propósito ja foram publica das certas observ.'icóes em PR 206/1977, pp. 77-90.

Deve-se

aínda

consignar

que,

simultáneamente

com

o

caso de El Palmar, se vai desenrolando o de D. Marcel Lefébvre. Este bispo nao apela para visóes ou revelacóes, mas para doutrinas teológicas que ele também sobrepóe á autoridade oficial da Igreja. Assim no ano de 1976 o S. Padre Paulo VI e a Igreja se viram colocados diante dos dois mais graves episodios de indisciplina episcopal registrados nos últi mos anos. Dos dois o de D. Lefébvre parece o mais grave e renitente.

Embora suponham realidades históricas, geográficas e sociais diferentes, ambos os casos tém em comum a nota do

subjetivismo; antes seguir intuicóes pessoais ou particulares do que a voz oficial e pública da Igreja. O homem se faz arbitro supremo das comunicagóes de Deus aos seus irmáos,

por mais incompatíveis que as suas conclusóes se tornem com a ordem vigente, objetiva e imprescindivel da Igreja. É claro que tais principios sao portadores de gérmens de esfacelamento e destruigáo dos maiores valores; há neles algo (ou muito) do subjetivismo luterano, que acarretou o cisma do séc. XVI e do qual hoje se lamentam táo dolorosamente os cristáos na procura de restaurar a unidade violada. Se nao se admitem instancias objetivas dentro do Cristianismo, aptas a garantir a unidad^ e a coesáo de todos, evitando os indivi dualismos mortais, diga-se entáo que Cristo inútilmente pre-

gou o Evangelho na térra ou mesmo foi simplório e imprevi-

dentc; e, se simplório e imprevidente, nao foi Deus e Homem, mas táo somente um grande homem,... um grande homem cuja autoridade muito perde pelo fato de ter sido impre vidente ... Eis as idéias deletérias que, em última análise, estáo incluidas na atitude de D. Lefébvre e na dos líderes de El Palmar. Donde se vé a veracidade do lema: ou os cristáos seguem a Igreja no que ela oficialmente professa e determina, ou simplesmente se assonhoreiam da doutrina e da obra de Cristo, e as distorcem cada um para o seu lado, desfiguran do-as e sufocando-as por completo.

— 163 —

Renovacáo e conservadorismo:

que é a chamada "missa de sao pió v" ?

Em sinlese: A Missa de Sao Pío V tem sido o ponió de referencia da ortodoxia de muitos dos conservadores católicos que se opóem á reno vacáo da Igreja apregoada pelo Concilio do Vaticano II. Fala-se muito de tal "Missa", mas poucos sabem o que esta expressao significa, e o valor de criterio de ortodoxia que ela tenha ou nao tenha. Ora um grande perito da Liturgia explica o que quer dizer propriamente "Missa de SSo Pió V" e tece consideracóes a respeito do conservadorismo católico. Em poucas palavras, mostra que nada de essencial fol modificado na Liturgia, nem houve ai infiltracáo protestante. Por conseguinte, é atitude pouco lógica fazer da "Missa de Sao Pió V" um símbolo de resistencia á renovacao da Igreja.

y

*

Comentario:

*

#

Em nossos dias os movimentos conserva

dores dentro da Igreja, como os de D. Marcel Lefébvre El

Palmar de Troya e outros (as vezes inspirados em revelacóas particulares), apelam para a Liturgia de Sao Pió V como

sendo a genuina expressáo da ortodoxia católica, pretensa mente deturpada pelo novo ritual promulgado por Paulo VI Em conseqüéncia, ouve-se falar freqüentemente de «Liturgia ou Missa de Sao Pió V», em contraposigáo a nova Liturgia eucanstica; todavía poucas pessoas sabem exatamente qual

a diferenca entre urna e outra e quais as verdades ou os

valores que assim estáo em jogo.

Eis por que, a seguir, vamos reproduzir em traducáo portuguesa a palavra de um estudioso de grande autoridade, Mons. Aimé-Georges Martimort, professor no Instituto Cató lico de Tolosa e consultor da S. Congregacfio para o Culto Divino. Traz o título «Mais qu'est-ce que la Messe de Saint Pie V ?» (Mas que é a I üssa de Sao Pío ?), e foi publicado no jornal «La Croix» de 26/VIII/1976, assím como no fas cículo «Notitiae» (outubro de 1976) da mesma S. Congre-

gagáo.

As sabias explicagóes do autor sao aptas a elucidar a questáo, desfazendo dúvidas que alguns fiéis ou grupos possam alimentar a respeito da nova Liturgia da Missa. Eis o texto em foco : — 184 —

A «MISSA DE SAO PIÓ V»

1.

25

Introdugao

«Aqueles que preconizam aderir ao rito da Missa de Sao Pió V, teriam dificuldade seria para utilizar um exemplar do Missal publicado em 1570 pelo Papa dominicano ; só existem alguns exemplares ñas grandes bibliotecas-arquivo, as quais nao costumam emprestar as obras do sáculo XVI. Por con-

soguinte, contontam-se simplesmente com livros que se encontram nos armarios das sacristías e que, desde a página de título, dao a saber que 'o Missal editado por ordem de Sao Pió V foi revisto por encargo de outros Papas e reformado por Pió X'. Os documentos liminares explicam o papel de Clemente VIII e Urbano VIII; isto — diga-se de passagem — mostra que nunca foi considerada intocável a reforma litúr gica do Concilio de Trento. De resto, esse mesmo Missal passou por suas últimas modificacóes ás vésperas do Concilio do Vaticano II, em 1962; e mesmo durante a primeira sessáo do Concilio, Joáo XXIII fez proclamar em plena assembléia conciliar que havia resolvido acrescentar o nome de Sao José no venerável Canon Romano, ao qual ninguém tocara havia sáculos.

Do mesmo modo, o Breviario editado por Sao Pió V. tornou-se o objeto de numerosas reformas sucessivas, das quais as mais importantes foram assinadas por Sao Pío X, por Pió XII e por Joáo XXIII. É verdade que os simples fiéis, ignorando os problemas do Oficio dos clérigos, nao se apaixonariam pro ou contra as modificacóes por que tenha passado; mas nenhum dos clérigos que hoje movem ruidosa campanha, pensaría em voltar ao Oficio contido no Breviario de fins do sáculo XVI, pois o tamanho deste, se o conhecessem, lhes parecería excessivo.

2.

As razóes da oposi§6o

Finalmente, as pessoas se valem do nome de Sao Pió V para opó-lo ao de Paulo VI, pois sob a autoridade de Paulo VI é que foram publicados o Ordinario da Missa de 1969 e o Missal completo de 1970. Mas qual o fundamento exato dessa oposicáo ? Esse fundamento nao podem ser os abusos que se verifi-

cam em tal igreja ou cápela, mesmo que esses maus exemplos sejam assaz freqüentes. O Papa e os bispos os tém censu rado com nitidez suficiente para que nao haja equívoco ; de resto, os que cometem abusos, recorrem a textos que nao

— 165 —

26

<;PERGUNTE E RESPONDEREMOS?- 208/1977

estáo no Missal e a práticas que contradizem as prescrigóes deste.

Será essa oposicáo táo somente um episodio da velha disputa ilustrada por Claudel referente á 'Missa ao avesso' ?1 Mas a celebracáo frente ao povo sempre foi praticada pelo

Papa em suas basílicas e era expressamente prevista como possivel ñas rubricas do Missal de Sao Pió V. Será entáo que essa oposigáo vem a ser urna expressáo do sofrimento que experimentaram muitos cristáos quando viram desaparecer bruscamente dos nossos Oficios o latim, e, conseqüentemente, as melodías gregorianas ou as polifonías do Renascimento ? Por certo, essa dor é compreensível e merece respeito, mas a causa desse sofrimento nao pode ser

imputada ao Missal dé Paulo VI; este se acha redigido em latim; conserva os textos veneráveis compostos por Sao Leáo e Sao Gregorio. Por conseguinte, é licito ao sacerdote que celebre sem a presenga de urna assembléia ou diante de um grupo particular, utilizar o Missal latino de Paulo VI e o livro de canto que lhe corresponde, publicado em 1973 pela Abadia de Solesmes. Em todas as grandes cidades, os pastores de almas procuram gcralmente oferecer aos fiéis que o desejem, urna Missa de domingo em latim. O Concilio exprimiu também o desejo explícito de que todos os fiéis sejam acostumados ao canto latino de certos

textos do Ordinario da Missa para poder participar de assembléias internacionais por ocasiáo de peregrinagóes ou Con-

gressos. Na Alemanha, verifiquei que a multidáo de fiéis que participavam da Missa das maiores festas, estavam fami liarizados com esses cantos, a ponto que o celebrante podia ser um francés; alias, a 'Schola cantorum' (o coro) interpretava também um repertorio polifónico latino. Talvez nos

na Franga sejamos incapazes do meio-termo, ou desse equili brio entre o latim e as línguas modernas, que foi intencio nado e definido pelo Concilio do Vaticano II após laboriosos

debates e trabalhos de comissáo, dos quais posso dar testemunho porque deles participei. Mas nao haja equívoco : a celebragáo da Liturgia em língua vernácula é um progresso irreversível; a oragáo da Igreja nao pode ser reservada aqueles que possuem a cultura

clássica (sao, alias, cada vez mais raros); em nossa época a 1 "Missa ao avesso", os fiéis.

no caso, é a

Missa celebrada de

— 166 —

frente para

A «MISSA DE SAO PIÓ V»

27

fé do carvoeiro já nao pode bastar, se é que alguma vez tenha sido suficiente. Os monges mesmos foram progressivamente seguindo o movimento, nao por moda, mas pelo desejo de dar maior profundidade espiritual á sua oragáo. Estes aspectos positivos sao plenamente válidos, apesar das dificuldades com as quais nos deparamos no tocante á qualidade

das tradicoes, á criatividade musical e, em certos países, as divisóos lingüísticas: cssas dificuldadcs foram longamente ponderadas, visto que o debate no Concilio durou semanas.

Nem por este motivo, pois, se pode opor a Missa de Sao

Pió V á Missa de Paulo VI.

3.

As diferengas entre as duas Liturgias

Quais sao entáo as diferencas entre esses dois ritos euca-

rísticos ?

O texto do Canon Romano é idéntico nos dois Missais, com excegáo de aproximadamente tres modificagóes: a 'Isto é meu corpo' acrescentou-se 'entregue por vos' ; em vez de 'Todas as vezes que fizerdes isto...', diz-se mais simplesmonte : Taréis isto em memoria de mim'; a fórmula 'Mysterium fidei' (Misterio da fé), que nao fazia parte das palavras de Cristo, foi colocada depois délas, e agora serve de convite ao povo,

para

que diga a aclamacáo

inspirada por

Sao Paulo : 'Proclamamos a vossa morte.. .'

Do 'Pai Nosso' ao fim da Missa as mudangas sao minimas ; deve-se notar que foi supresso o último Evangelho, que o bispo recitava particularmente ao deixar o altar, e que na

Missa dos sacerdotes dava a indevida impressáo de ser um recomeco. No inicio da Missa o salmo 'Iudica me' era fre-

qüentemcnte omitido, como, por exemplo, ñas Missas dos morios; atualmente o ato penitencial tem mais relevo o com porta mais variedades.

Evidentemente foi o Ofertorio que, ñas sessóes da Comissáo do 'Consilium' romano, deu lugar as controversias mais vivas (teólogos e liturgistas já o discutiam havia tres séculos); foi o Ofertorio que sofreu a modificagáo mais decisiva: a maioria das oragóes que outrora o sacerdote dizia em voz baixa, repetiam-se ou antecipavam indevidamente as fórmu las da Oracáo Eucaristica. Por outro lado, na pastoral popu lar dos anos de 1935 a 1950 haviam proliferado interpretagóes alegóricas do Ofertorio, que acarretavam o perigo de — 167 —

28

^PERGUNTE E RESPONDEREMOS-) 208/1977

se esquecer o essencial; por conseguinte, a simplificagáo se impunha. Por último, a restauragáo da Oragáo Universal, tra dicional na antigüidade, e que persistía sob a forma das Oragóes ao pé da cruz na sexta-feira santa, foi favoravelmente acolhida em toda a parte, se bem que a maneira de executá-la ainda nao seja sempre a ideal. Será que o novo 'Ordo Missae' será censurado por oferecer tres Oragóes Eucaristicas, em livre concurrencia com o Canon Romano? Dersas oragóes, urna é a mais antiga que se conhega : a de Hipólito de Roma, do inicio do sáculo III; as duas outras, principalmente a que traz o n' 4, aproximam-se da tradigáo oriental; exprimem, em termos por vezes mais claros do que os do Canon Romano, o caráter sacrifical da Missa e a oblagáo do Cristo pela Igreja.

E o novo sistema de leituras da Missa suscita queixas ? Possibilita a todos os fiéis terem doravante o conhecimento de todo o Novo Testamento e das passagens mais importan tes do Antigo; neste particular, a Liturgia bizantina nos dava

o exemplo. Por certo, urna tal distribuigáo nao podia ser perfeita logo na sua primeira esquematizacáo ; será objeto de ulteriores retoques, que só a experiencia de varios anos poderá sugerir. Todavía ela exige, da parte dos sacerdotes, urna cultura bíblica, que geralmente nao tinham adquirido ; principalmente exige fe na Palavra de Deus. Nao posso ima ginar que alguém dentro os sacerdotes queira voltar á antiga distribuigáo dos Evangelhos e das Epístolas, tanto para os domingos como para os dias de semana.

4.

Por que a campanha contra «a Missa de Paulo VI» ?

Donde vem essa cnmpnnha contra «a Missa de Paulo VI»? Embora seja ruidosa na Franga, nao ó da Franga que ela procede. Alias, devo dizer que D. Marcel Lefébvre nao tomou a palavra nos debates da primeira sessáo do Concilio concernentes ao projeto da Constituigáo Litúrgica; ele havia de

intervir aos 26 de outubro de 1962, mas, talvez por causa da hora tardía, ele se contentou com a entrega de seu texto

escrito ao Secretariado, que o transmitiu fielmente á comissáo : queixava-se táo somente da ambigüidade do texto proposto no referente aos principios que regeriam a adaptagáo litúrgica, e mostrava-se inquieto ao considerar as faculdadss que eram outorgadas as Conferencias Episcopais ; desejava, — 168 —

A * MISSA DE SAO PIÓ V?

antes,

que

a

autoridade

inteiro ñas máos do Papa.

em

materia

litúrgica

29

ficasse por

Foi na própria Roma que teve lugar o inicio das hostili dades ; pouco depois da publicagáo, em abril de 1969, do

novo 'Ordo Missae' (Liturgia da Missa), dois sacerdotes ita

lianos, dos quais um, se nao me engaño, integrava o corpo de oficiáis de uma Congregacáo Romana, e o oulro Iccionava

em uma Faculdade eclesiástica, rcdigiram uma brochura de 29 páginas intitulada 'Breve esame critico del novus Ordo Missae' ; essa brochura foi encaminhada a Paulo VI pelos Cardeais Ottaviani e Bacci, os quais explicavam, em carta anexa, o seu pensamento assim concebido: 'se se consideram, nesse novo Ordo Missae, os elementos novos suscetíveis de interpretagóes muito diversas que ai parecem subentendidas ou implicadas, deve-se dizer que a nova Liturgia Eucaristica se afasta, de maneira impressionante, tanto em seu conjunto como em seus pormenores, da teología católica da S. Missa tal como foi formulada na 22a. sessáo do Concilio de Trento..." E a carta terminava com o voto de que fosse mantida 'a possibilidade de continuar a recorrer ao integro e fecundo Missal Romano de Sao Pió V...'. Essa carta se tornou de dominio público : na Italia, onde alias se moviam tristes e caluniosas campanhas contra o Cardeal Lercaro, presidente do 'Consilium' litúrgico, os hebdomadarios e alguns jornais apoderaram-se déla. Na Franca, a mesma foi reproduzida em 'Ilinéraires' de dezembro 1969. Contudo, em fevereiro, o Cardeal Ottaviani declarou 'lamentar que tivessem

abusado do seu nome num sentido que ele nao desejava, pela publicagáo de uma carta que ele enderegara ao Santo Padre, sem autorizar a sua publicagáo'. Ele se declarava satisfeito com as explicagóes doutrinárias que o Papa oferecera em dois discursos de novembro de 1969. Finalmente, a Congregacáo para a Doutrina da Fé exa-

minou todo o dossié : vorificou que nenhumu crítica válida era feita ao Ordinario mesmo da Missa, a seus textos ou rubricas. Únicamente na Institutio Generalis Missalis, Romani isto é, na longa introdugáo preliminar do Missal tinham sido apontadas as fórmulas que haviam provocado a celeuma: nenhuma estava errada, sem dúvida, mas diversas, tomadas isoladamente, podiam ser julgadas incompletas, principalmente

um certo artigo 7, precipuo cávalo de batalha dos opositores. Em conseqüéncia, por ocasiáo da edicáo do Missal completo, promulgado aos 26 de margo de 1970, para evitar todo equi voco no futuro, varios artigos dessa Apresentagáo foram

— 169 —

30

cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 203/1977

ampliados; a mesma Apresentagáo foi precedida de um Preámbulo, que oferecia em 15 artigos um resumo da doutrina eucaristica conforme o ensinamento dos Concilios de Trento e do Vaticano II. Esses textos aparecem no inicio de todos os Missais de altar latinos e franceses; por conseguinte, podem ser fácilmente consultados.

5. A

discussáo podia

Um símbolo ter cessado

logo após.

Na verdade,

porém, a Liturgia contra a qual se dirige o ataque, era táo somente um símbolo : a reforma da Liturgia da Missa é a manifestagáo mais palpável, popular e universal da obra de atualizagáo da Igreja, empreendida por Joáo XXHI, pro posta pelo Concilio e posta em marcha pelo Papa Paulo VI. A recusa da nova Liturgia, os ataques outrora lancados con tra o Cardeal Lercaro ou hoje contra Mons. Bugnini sao apenas um aspecto de uma recusa mais geral, e explicam que sejam atacados simultáneamente o Concilio, o Papa e os

Cardeais que o Papa encarregou das mais altas responsabi lidades do após-Concílio. No dia mesmo do encerramento do Concilio, D. Lefébvre e um sacerdote seu amigo expunham, á mesa a que tinham sido convidados como eu, as razóes jurídicas de que se valiam para considerar inválidas algumas decisóes do Concilio do Vaticano II. Tinham eles prestado a devida atencáo as intervencóes dos padres conciliares de todos os países que descreviam a evolugáo do mundo e os problemas que ela coloca para a Igreja de hoje? Nao tinham eles observado a unanimidade que, no decorrer de quatro anos, tinha progressivamente reunido os espíritos e os cora-

góes de mais de 2.000 bispos após confrontes táo vivazes quanto os dos Concilios dos sáculos passados ?»

Como

se vé,

segundo

Mons.

Martimort,

a

rejeieáo

da

nova Liturgia Eucaristica nao é senáo a expressáo de toda

uma atitude anti-renovadora que se apoderou de certos setores de católicos. Estes nao aceitam nenhuma forma de revisáo da disciplina (nao dizemos:... da fé ou dos artigos do Credo) da Igreja. Por principio, fecham-sc.

Donde a pergunta lógica:

E por que táo peremptório

negativismo ?

A explicacáo é sugerida pelo artigo remetemos o leitor.

— 170 —

seguinte,

ao qual

Aínda o caso de D. Lefébvre:

e por que "nao" a renovacao?

O Prof. Dr. Lukas Vischer é o Direlor do Secretariado de «Fé e Constituieáo» do Conselho Mundial das Igrejas. Protestante de cultura e visáo, analisa o caso do eonservadorismo de D. Marcel Lefébvre e de outros líderes ou grupos cristáos (católicos e nao católicos) em nossos días, pro curando deseobrir a, razáo de tal atitude. Como se compreende, o assunto é altamente complexo ; numerosas sao as cau sas de conservadorismo hoje1. Como quer que seja, o Dr. Lukas Vischer parece apontar urna, que é básica. Eis por que transcrevemos abaixo, em tradueáo portuguesa, um ar

tigo deste pensador, publicado em «Service Oecuménique de Presse et d'Information» (SOEPI), de dezembro de 1976. Embora protestante, o articulista considera com objetividade e fidelidade a atitude de D. Lefébvre e pensadores con géneres, propondo válidas reflexóes sobre o problema e le vando em conta especial as repercussóes do conservadorismo sobre o movimento ecuménico (reconstituigáo da unidade rompida pelos cismas dos séculos V, XI e XVI). Eis o texto em foco :

1.

D. Lefébvre e a Tradicao

«Já há alguns meses - que o conflito levantado na Igreja Católica Romana por D. Lefébvre e seu movimento ocupa as manchetes da imprensa ocidental. Todavía seria erróneo deixarmo-nos impressionar, de modo especial, pelo impacto do caso. A orientac.áo tomada pelo Concilio do Vaticano II

é irreversível. Afinal de contas, o protesto de D. Lefébvre nao tem futuro. Nao obstante, o acontecimento é significa tivo ; trata-se de 'urna voz de baixo' que acaba de se fazer ouvir. i Por "conservadorismo" entendemos o espirito de conservagáo obce cado e fanático, nao o sadio espirito de fideiidade a valores que, em hipótese alguma, podem ser lancados fora. - Ou mesmo : ... muitos meses (Nota do tradutor).

— 171 —

32

cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

Esse confuto nao é especifico da Igreja Católica Romana.

D. Lefébvre tem irmáos em numerosas Igrejas : cada Igreja

tem sua forma própria de tradicionalismo,... tradicionalismo " que assume as características típicas da respectiva Igreja, exprimindo-se em movimentos de integrismo ou confessionalismo ou fundamentalismo ou oposigáo a qualquer reforma litúrgica. Se bom que as difcrengas entre uns e outros paregam grandes á primeira vista, elas na verdade tém muita ■coisa em comum. Varias das declaragóes de D. Lefébvre poderiam ter sido escritas também por outros líderes fundamentalistas. Compartilham a mesma insistencia sobre a ver dade recebida, a mesma apología do estilo de missáo que estava em voga no sáculo XIX, as mesmas opinióes políticas conservadoras, o mesmo anticomunismo cegó... Entáo, perguntamo-nos, por que foram necessários dez anos para que essa mentalidade explodisse ?1 D. Lefébvre bem participou do Vaticano II. Por que nao sofreu ele naquela época o mesmo impacto ? Esta reagáo tardía está, sem

dúvida, relacionada com a mudanga de atmosfera fundamen tal que se realizou depois do Concilio. A década de 1960 foi marcada pelo surto de novas perspectivas e concepgóes da Igreja e da sociedade. Pensavam muitos que a Igreja pudesse voltar a ocupar o seu lugar e o seu propósito em conseqüéncia da renovagáo. Hoje essa esperanga propulsora desapareceu. A renovagáo da Igreja mostrou-se muito mais difícil do que previam muitos daqueles que alimentavam esperanzas

simplonas. Os problemas da sociedade multiplicaram-se e parecem hoje ser insolúveis. Este fato criou urna atmosfera propicia para gerar a nostalgia das certezas da tradigáo. E muitos chegaram assim á conclusáo de que, se a renovagáo nao conseguiu solucionar os problemas, devemos ter a liberdade de voltar á Tradigáo, que nos dará ao menos a forga necessária para fazer frente aos problemas de hoje. Deveria ser claro, porém, que urna tal reagáo é ilusoria. Pois, concre tamente, ela equivale a capitular diante dos desafios con temporáneos.

Essa nova tendencia ao tradicionalismo poderia fácil mente levar as Igrejas a reduzir o seu compromisso com o movimento ecuménico, ou mesmo a abandoná-lo. Elas diráo que tém a obrigagáo de respeitar a sensibilidade dos seus membros conservadores, e que continuar na via do ecumeDez anos a

partir do término do Concilio

— 172 —

do Vaticano

II

(1965).

POR QUE «.NAO A RENOVACAO?

33

nismo implicaría um risco serio de tensóes e de divisóes no seio de cada Igreja. Todavía esta seria urna conclusáo preci pitada e errónea. Ao contrario, torna-se necessário ver no

surto de movimentos tradicionalistas um problema comum a

ser tratado em consultas recíprocas. Será realmente preciso considerar o movimento ecuménico como ruptura com a Tra

digáo? Nao será mais exato afirmar que o movimento ecumé nico oferece melhor possibilidade de vivermos da experiencia da Tradigáo? Assim a melhor resposta a dar aos movimentos tradicionalistas seria o pedido de que continuem a caminhar na estrada em demanda da unidade da Igreja. Aqueles que se comprometeram com o movimento ecu

ménico sao, em ultima instancia, os tradicionalistas mais conscienciosos ! Enquanto os tradicionalistas de hoje consideram um passado relativamente recente como autoridade obrigatória para eles — a Liturgia de Pió V, o reavivamento do séc. XIX, o biblicismo, etc. —, os ecumenistas procuram

voltar a auténtica fonte da Tradigáo. Enquanto os primeiros se opóem aos desafios do momento presente, os outros (os

ecumenistas) tentam, ainda de maneira inadequada, prestar ouvidos, no caudal da Tradigáo, 'á Palavra de Deus que se

dirige a nos hoje. É essenciaí, para o movimento ecuménico,

dar a compreender esse genuino respeito da Tradigáo que nos

anima, que nos inspira e que nos permite responder a situagóes novas».

A estas interessantes reflexóes seja proposto

2.

Breve comentario

Dois pontos parecem merecer especial atengáo :

,2.1.

Igreja e Igrejas

O Dr. Lukas Vischer fala de «Igrejas». Fá-lo como pro testante, cntendendo por «Igreja» urna aglomeragáo de cristáos que procuram animar-se mutuamente pela leitura da

Palavra de Deus e a celebragáo da ceia

(=

memorial

do

Senhor), sem, porém, admitir o sacramento da Igreja, isto é, a realidade divina da Igreja fundada por Cristo e entregue a Pedro. Em linguagem católica, dir-se-ia, a rigor, que existe

— 173 —

34

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

urna só Igreja de Cristo (aquela apascentada por Pedro e seus sucessores em nome de Cristo); fora desta, há comu nidades eclesiais (a luterana, a anglicana, a metodista...). Todavía mesmo em documentos católicos de boa nota já se tem utilizado a palavra «Igrejas», sem que por isto se tencione modificar a eclesiologia católica (o motivo desta nomen clatura é tnlvez o fato de ser mais simples e breve). Por conseguinte, o artigo do Dr. Vischcr podo ser sadiamente entendido por católicos, mesmo que fale de «Igrejas».

2.2.

A tese do artigo

O articulista quer-nos dizer que muitos fiéis católicos confiaram no programa de renovagáo da Igreja elaborado pelo Vaticano II, porque julgavam que tal programa resti tuiría á Igreja toda a posicáo de autoridade e prestigio que as transformacóes sociais dos últimos decenios lhe subtrairam. Foram averiguando, porém, que os problemas da sociedade ou da humanidade de hoje sao tais que as tentativas de por em prática a renovagáo da Igreja nao deram os frutos imediatos que déla osperavam; muitos filhos da Igreja nao entenderam devidamente as intenqóes do Vaticano II; outros, se as entenderam, deram-lhes na prática interpretagóes erró neas, suscitando crcitos que pstavam (c esláo) frontalmente

em oposigáo as inlencóos do Concilio; o pluralismo da socie dade de hoje, a mentalidade existencialista, as correntes hedonistas, o psicologismo e a influencia da filosofía de Freud, entre outros fatores, contribuiram para que muitos membros da Igreja Católica dessem falsa

orientagáo

aos programas

de renovagáo da Igreja. Em conseqüéncia, houve decepgóes,

perplexidade e amargura em muitos católicos de boa fé e santas intencóes. Estes provocam e alimentam a onda tradi-

cionalista, que no caso ó saudosista, c que nao pode ter futuro, pois que ó impossivel ignorannos a evolucáo dos tom-

pos e a necessidade de dar á S. Igreja expressóes compreen-

síveis aos homens de hoje (sem que por isto sejamos traidores em relagáo á Verdade revelada por Cristo).

— 174 —

Um discurso de paraninfo:

delicias humanas e ensino brasileiro

Publicamos,

a seguir,

o discurso de

paraninfo

de

urna

turma de Historia da Universidade Santa Ürsula (Rio de Ja neiro), que colou grau aos 19/12/76. O mestre autor deste trabalho foi o Professor Vicente Costa Santos Tapajos, titu lar de Historia Contemporánea naquela Universidade.

Essa peca magistral tem valor principalmente por salientar alguns problemas importantes :

1)

Refere

as precarias

condic.óes

do

professorado

no

Brasil... As preocupacóes do pragmatismo e do imediatismo fazem que se atenué a qualidade da preparagáo dos mestres. A tendencia é fazer que se multipliquem professores, mas

professores de baixo nivel intelectual e profissional, com detri mento dos mestres que desejem adquirir mais esmerada preparagáo para melhor exercicio do magisterio. De modo

especial,

o

Prof.

Tapajós

lamenta

os

termos

da Portaría 790 do Ministerio da Educacáo e Cultura, men

cionando protestos de diversas Universidades, aos quais PR

se associa por estas suas páginas : a improvisaeáo de pro fessores e profissionais mediante a Licenciatura curta pode talvez beneficiar certos pontos do país, mas redunda em detri mento do ensino e da vida profissional no Brasil em geral.

2) O discurso do Prof. Tapajós também menciona o esvaziamcnlo do esludo das ciencias humanas e, em especial, da Historia. É esta mais urna conseqüéncia do imediatismo e pragmatismo. Os interesses da sociedade de hoje se voltam

principalmente para

as

ciencias

ditas

«exatas»

(por

mais

hesitantes que sejam) e a tecnología, pois estas asseguram carreira e futuro... Sem negarmos a necessidade indispensável da técnica e dos meios de subsistencia de nossos pro fissionais, desejamos lembrar que, se nao se pensa no homem com grande carinho, a sociedade pode tornar-se um campo de batalha em que as máquinas, movidas por poucos peritos,

esmagaráo familias e populares. Quem avalia o saber táo — 175 —

36

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»» 208/1977

somente pela utilidade prática ou produtiva que ele tenha, deprecia-o e redu-lo á qualidade de meio ou instrumento, pois o subordina a urna finalidade ulterior. O saber é valor em si mesmo, independentemente da utilidade produtiva que lhe sobrevenha.

O discurso do Prof. Tapajós, dando tcstemunho de tais kióias, nu'rwro ser lido coni ntcncáo.

1.

Elevada e ardua missao do professor

«Este ano de 1976 é particularmente importante para mim por dois motivos : completo quarenta anos de magiste

rio, quarenta anos em que venho lidando, diariamente, sem interrupgóes, com dezenas e dezenas de jovens, numa entrega de amor e compreensáo. E, também vinte anos se passaram desde que, pela primeira vez, tive a honra de paraninfar um grupo de professorandas da Faculdade de Filosofía Santa Úrsula.

Foi, pois, com imenso prazer e muito orgulho, como se fora urna homenagem em comemoragáo aqueles eventos, que recebi o convite para ser o padrinho de voces.

Muito obrigado, meus amigos. Desde que os conheci, ha.

dois anos, foi assim que os considerei : amigos, mais do que alunos, companheiros que estudavam comigo, que se abriam

comigo, que procuravam comigo resposta para dúvidas e so-

lugáo para problemas.

Desde o primeiro momento, compreendi a

honestidade

das intengóes com que se langavam á carreira, táo pouco respeitada, mas táo respeitável, do magisterio. Acompanhei aten

tamente a sua íormacño, o devolamento com que esludaram, o carinho que dedicaram 'ás disciplinas de seu curriculo.

Sinto que estáo preparados para a pesada missáo que tém a cumprir, pois bem conhecem a sua responsabilidade. Acreditam — como eu acredito — que nossa missáo nao é apenas ensinar. A educacáo deve ser feita fundamentalmente no lar, mas, na atual conjuntura, deve ser promovida igual

mente na escola, onde muitos hábitos podem ser adquiridos ou modificados. O professor é, por isso mesmo, em última análise, o arquiteto do Futuro. Pode plasmar heróis e sabios, grandes políticos e generáis vitoriosos, os homens de bem e — 176 —

CIENCIAS HUMANAS E ENSINO BRASILEIRO

37

as máes de familia. Mas o professor é também um domador

de instintos. Deve vencer o deboche, combater o vicio, denun ciar o crime, transmitir o respeito á lei e á moral.

O professor é um médico de almas. Deve destruir o de sánimo e orientar os discípulos no estudo e nos problemas da. vida. Estudar-lhes a personalidade e tentar corrigir as distotX'óes.

O professor é, antes de tudo, o amigo, que dá apoio e perdoa, que aplaude e se rejubila com os éxitos e as con quistas.

Todos nos, seus mestres, temos realizar alguma coisa nesse sentido.

tido Por

oportunidade de isso sentimo-nos

felizes.

Anónimamente,

continuaremos o bom combate

e —

o

que é mais importante — mais fortes sempre, ao contrario do que deveria ser, com o peso dos anos, porque já agora contaremos com voces, forga nova, imbuidos dos mesmos ideáis, preciosos aliados na hita por um Brasil melhor, de mais justiga e mais amor.

Como padrinho de voces, estou tranquilo. Sei que voces tém o necessário para enfrentar a luta: a vocagáo, o amor

a profissáo e á Historia. Quem se entrega a urna carreira forrado pelo escudo da vocagáo, estará sempre tranquilo. Outros seráo mais ricos, teráo vantagens maiores, obteráo títulos e posigóes mais fácilmente. Voces seráo preteridos,

talvez, algumas vezes, e muitos teráo seus nomes esquecidos até mesmo por alunos que conseguirem Vitorias e fortuna.

Mas voces olharáo tudo isso como coisa natural. É a mais

alta fungáo do mestre. Nossa compensagáo é a certeza de que fizcmos o que devíamos, plena consciéncia de que cum plimos o juramonto, como o que acabaram de fazer, a cer

teza de que um pouquinho de nos, de nossa personulidade, deixamos em nossos alunos.

Esta é a gloria que fica, eleva, honra e consola. 2.

O mercado .de trabalho

Tenho confianga em voces. Confio em que voces saberáo enfrentar, com dignidade, as muitas dificuldades que se apresentaráo.

A primeira délas : o mercado de trabalho. — 177 —

38

tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

Há grande número de jovens professores lutando contra o desemprego num mercado de trabalho que cresce sem cessar, mas que realmente oferece poucas oportunidades. As últimas reformas curriculares reduziram extraordinariamente as horas-aula das disciplinas históricas. Se até pouco tempo havia o ensino da Historia em todas as series dos antibos cur sos ginasial e colegial, o até mcsmo em cadeiras separadas a

Historia Geral e a do Brasil, agora os professores estao redu-

zidos, praticamente, a urna ou duas series do 29 grau, pois, para o 1", numa confusáo entre título de área e nome de disciplina, se estabeleceu urna imprecisa e obscura materia que recebeu o nome de «Estudos Sociais». Um exame, mesmo que rápido, dos programas de ensino mostrará que essa cadeira é, na maior parte das vezes, apenas urna acumulacáo de pontos de Historia, Geografía, Sociologia e Economía, su perficialmente estudadas, e ensinadas por professores profissionais que nao receberam adequada formacáo e preparagáo. A saturagáo do mercado de trabalho, pelo menos em nossa cidade1, é de tal forma que, ainda agora, o Goyerno anuncia novo concurso, mas declara, de saida, que nao há vagas no Rio e em Niterói.

Nova medida vem agravar ainda mais a situagáo. A Portaría 790 do Ministerio da Educagáo e Cultura, atendendo sem dúvida as necessidades e as condigóes de centros de me

nores possibilidades culturáis, veio regular a licenciatura curta em dois anos e, ao mesmo tempo, estabelecer normas para o

registro de professores, dando aos licenciados em Estudos Sociais em cursos rápidos o direito exclusivo de ensinar no primeiro grau, limitando dessa forma ainda mais o campo de trabalho dos formados em Historia e Geografía após quatro

anos de estudo. Assim urna medida aceitável, e talvez neces-

sária para resolver problemas de algumas regióes mais pobres do país, veio a afetar nao só as possibilidades de trabalho,

mas a própria qualidadc do ensino ñas grandes cidades.

Os professores de muitas Universidades Federáis, como a do Rio de Janeiro e a Fluminense, assim como os da Universidade de Sao Paulo, já se ergueram num movimento de combate as licenciaturas curtas generalizadas, onde a for macáo do profissional é apressada e superficial, implicando no credenciamento de professores sem adequado preparo, cul

minando portanto no rebaixamento do já precario nivel do ensino. 1 Cidade

do

Rio

de

Janeiro.

— 178 —

CIENCIAS HUMANAS E ENSINO BRASILEIRO

3.

39

O esvaziamento do estudo das ciencias humanas

Cada vez mais vai-se acentuando um processo de esva ziamento das Ciencias Humanas. Dia a dia, as antigás Faculdades de Filosofía váo sendo despidas do seu antigo papel de agencias de cultura para se transformarem em simples cur sos de formacáo de profissionais. A preocupacáo de ganhar

tcmpo leva i mudanga de alitudcs e á própria desconceituaCáo das disciplinas.

A Historia está morrendo. Nao apenas como materia de ensino, englobada num conjunto informe que nao é nem Historia nem Geografía, mas também na sua própria conceituagáo. Hoje em muitos lugares já nao se estuda Historia, mas Metodología da Historia, dando-se á teoría importancia superior á do conhecimento dos fatos, que sao o objeto e, ao mesmo tempo, a ossatura da ciencia histórica. O Economismo

e o Sociologismo passaram a ser as grandes preocupagóes, levando a urna historia invertebrada, passivel de deformagáo conforme os interesses e as preocupagóes dos que a fazem.

Historia é urna ciencia com objetivos próprios e métodos específicos. Já transcorreu mais de meio-século desde que Hauser e Simiand expuseram e contrapuseram os elementos dos principios e dos métodos que, segundo eles, distinguí am, urnas das outras, a Historia, a Sociología e a Economía. Lembremos apenas que estas diferencas consistiam essencialmente no caráter comparativo dos métodos sociológico e económico, e no caráter monográfico e funcional do método histórico.

£ claro que o campo da Historia se ampliou, e nao se

estuda o fato puro e simples, como um individuo isolado numa

sociedade sem vínculos.

Som dúvida nenhuma, o emprego do novas técnicas, a associagáo com as outras ciencias — como a estatística, de que fala Georges Lefébvre, e as «matemáticas sociais», objeto das esperancas de Fernand Braudel — manifestam um dos tragos mais notáveis da historiografía atual: sua permanente ansia de expansáo. O historiador contemporáneo recusa-se a confinar-se num dominio ou numa serie de dominios, como escreve Jean Glénisson. Conscientemente, ele apela para todos os recursos em condigóes de ajudá-lo a ampliar seu campo

de visáo. Mas daí a abandonar o conhecimento dos fatos históricos, pelo medo de ser considerado caduco ou ultrapas— 179 _

40

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 208/1977

sado, e cuidar de generalizagóes (um dos erros mais serios

no conhecimento histórico) há, sem dúvida, muito grande e muito seria.

4.

urna diferenga

Voto de confianza na ¡uventude

Desculpem-me, meus amigos, por estas palavras, por vezes amargas, num dia de festa. Mas creio ser esta a missáo do paraninfo : mostrar a realidade, para que seus afilhados possam escolher os caminhos a tomar. Voces estáo conscientes das dificuldades enfrentar. Sei que saberáo ultrapassá-las.

que

teráo

de

Eu creio em voces.

Creio na mocidade que ainda nao foi contaminada pelos vicios que a vida ensina,... na mocidade que estuda e que trabalha, que enfrenta dificuldades sem temor, buscando a vitória.

Creio na mocidade que tem ainda a fé que move montanhas, que sonha com um mundo melhor ;.. . na mocidade que luta, e vé na cultura um objetivo ;.. . na mocidade mais

Dom Quixote do que Sancho Panga, que nao aceita imposicóes e tem ainda o mito da liberdade.

Creio na mocidade que é o futuro, vulcáo em erupeáo, mar em ressaca, motor em movimento ;... na mocidade que é renovagáo, sangue ñas veias, sorriso nos olhos, cantares nos labios. Creio na mocidade. Creio em voces, meus alunos, que sao ainda a chama do entusiasmo capaz de reacender em nossos coragóes as cinzas de muitas desilusóes. Com o convivio de voces, voltamos á juventude, revemos nossos sonhos, vivemos outra vez. Sen timos forgas novas em corpos gastos, planos que retornam e dáo ánimo de continuar a lutar na certeza de ser útil, na alegria de viver ! — 180 —

CIENCIAS HUMANAS E ENSINO BRASILEIRO

41

Muito obligado, meus amigos. Muito obrigado por permitirem que recomece, mais urna vez, em cada um de voces !»

Possam estas ponderagóes, de sabio conteúdo e de apreciável forma literaria, encontrar eco favorável em nossa opiniáo pública, máxime entre aqueles a. quem competo orientar a escola e a vida profissional em nosso Brasil! Estéváo Bettencourt O.S.B. (Continuacao da 3? capa) A tese da liberdade de ensino merece

pleno apoio da parte do pen

sador cristáo. É necessário, sim, respeitar a dignidade da pessoa humana, á qual nao se pode impor determinado modo de pensar, padronizado pelo

Estado; ora precisamente a escola particular, correspondendo ás iniciativas dos cidadáos, alende ao direito que familia tem de escolher, segundo as suas conviccoes, o género de educacáo de seus filhos ; o adulto também encontra, ñas diversas escolas estafáis e particulares, a que mais condiga com suas opcoes filosófico-rel¡glosas. Ademáis o regime democrático reve rencia a liberdade do homem e, por isto, rejeita o monopolio escolar e se póe em favor do pluralismo educacional. O Pe. Waldemar Martins propugna, pois, a tese da liberdade de ensino, comprovando-a com sólidos argumentos e rica documentacáo, que valorizam altamente o seu livro. Analisa outrossim o papel do Estado no tocante á subvencáo das escolas particulares.

Todavía o autor nao se restringe a tal tese. Considera os efeitos da implantacao da Lei de Diretrizes e Bases: "Desencadeou um processo rápido de abertura de escolas e de cursos em todos os graus, que terminou por criar um clima de euforia e de vertigem, onde era mais importante

o número de vagas do que a qualidade do ensino" (p. 5).

Principalmente o ensino superior tem interessado a iniciativa particu lar, visto que as condicóes de sobrevivencia ñas escolas de 1? e, parcial mente, ñas de 29 grau, eram cada vez mais problemáticas. Tém-se fundado

numerosas Facilidades em diversos pontos do país, onde há carencia de professores e muitos alunos só podem freqüentar a escola em fim de se mana — o que redunda em detrimento do ensino e distribuicao inflacionaria de diplomas. Esta situacáo levou recentemente o Ministro da Educacáo a proibir a fundacáo de novas Escolas superiores a fim de que se possa

proceder a urna revisáo da desordenada situacáo do ensino brasileiro.

O livro do Pe. Waldemar Martins merece toda a consideracao por parte dos estudiosos.. Nao significa recuo em relacáo á tese da liberdade de ensino (a qual deverá ser mantida intocável em genuino estilo democrático), mas implica em

alerta e despertar de consciéncias para um

mal. do qual,

alias, já vai tomando consciéncia o Ministerio da Educacáo. Congratulamo-nos com o autor pelo seu valioso trabalho. contrar eco ñas esferas competentes !

Possa E. B.

— 181 —

en

42

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS > 208/1977

Á YI SEMANA TEOLÓGICA NACIONAL Real¡zou-se em Petrópolis (RJ), aos 9, 10 e 11 de fevereiro pp., a VI Semana Teológica Nacional promovida pelo CID (Centro de Investigado e Documentacáo) dos Franciscanos de Petrópolis. Versou sobre "Direitos Humanos e Evangelizado", contando com a presenga de quase sessenta participantes, vindos do Exlremo-Norte, do Centro e do Extremo-Sul do pais e dedicados, quase todos, ao estudo da teologin c de disciplinas afins. Entre os participantes, salientavam-se D. Cándido Padin, bispo de Bauru, o Pe. Juan Luís Segundo SJ, de Montevidéu, e o Prof. Mario Pontes de Miranda, emérito jurista do Rio de Janeiro.

As palestras tiveram denso e candente conteúdo n§o zo pelo alto nivel dos conferencistas, mas tambcm pela natureza da temática. Como se compreende, nem tudo o oue foi enláo dito, teve caráter definitivo ; o valor desses

Encontros

eslá

piecisámenle

em

provocar

debates.

É difícil reproduzir todo o vai-e-vem das idéias decorrer dos tres dias de estudos. Houve teses muilo

que surgiram no avangadas, como também se registraram posicóes moderadas ao se definir o papel da evangelizacao frente á ardua tárela de defender e promover os direitos humanos.

Nao há dúvida de que estes, reconhecidos por pensadores notáveis desde épocas antigás e solenemente proclamados pela ONU em 1948, háo de ser respeilados e propugnados por todos os governanles dos povos ; aos crisláos, principalmente aos arauíos do Evangelho, toca a funcáo de avivar na sociedade a consciéncia do valor de tais diieitos. Todavía a maneira de fazé-lo é sempre o grande ponto de inlerrogagáo. Bem se compreende a perplexidade, visto que a realidade sócio-económico-politica do mundo e, de modo especial, do Brasil é algo de muilo complexo; aprésenla 'acetas varias, que cada observador considera segundo a inspiracáo da sua pru dencia e das suas experiencias pessoais.

A última palestra do Encontró, proferida pelo Prof. Riolando Azzi, apresentou um panorama das posicóes do episcopado brasileiro frente á situacáo nacional. Detenhamo-nos um pouco sobre o seu conteúdo.

O conferencista comegou por mencionar os poucos bispos e sacer

dotes que ainda pensam em termos de uniáo da Igreja e do Estado (Igreja-Cristandade), sendo intérprete desse modo de ver a "Sociedade Brasileira para a Defesa da Tradicáo, da Familia e da Propriedade". Descreveu outros-

sim a posigao avancada daqueles bispos que, seguindo a chamada "Teologia da Libertacáo", procedem a urna análise critica da realidade brasileira e denunciam publicamente as injustigas e violagoes de direitos humanos ai

ocorrentes, assumindo posigdes pouco conciliadoras ou mesmo antagonistas. Apresentou também a jsosigao moderada que, segundo Riolando Azzi, é a da maioria dos nossos bispos: estes desejam entendimento e colaboragáo entre a Igreja e o Estado,... colaboracSo que sempre existiu no Brasil e deu frutos benéficos tanto para a Igreja como para a patria. Reconhecem que o atuat Governo é um baluarte contra o comunismo, ao qual sucumbiría o Brasil em 1964. Tais bispos, porém, estáo conscientes da necessidade de certas reformas na vida socioeconómica do Brasil e exortam o Governo a acelerá-las, a fim de nao prolongar indevidamente o sofrimento de partes

— 182 —

VI SEMANA TEOLÓGICA NACIONAL

43

da nossa populado. Diante de violencias ocorridas nos últimos lempos, tais prelados recorrem ao diálogo com as autoridades militares e civis, a fim de esclarecer posicóes e aliviar tensóes. N8o somenle os bispos de oriéntacio mals avanzada, mas também os que guardam o equilibrio, estáo conscientes da necessidade de se defenderem os direitos humanos; lodavia, enquanto uns julgam que só o conseguirlo mediante denuncias públicas, outros preferem o trabalho discreto junto ás autoridades governamentais como sendo mais proficuo e eficaz. Julgamos que Riolando Azzi, em grandes linhas, foi feliz na sua descrigSo das atuais posicoes do nosso episcopado. Apenas desejamos obser var o seguinte: nao se devena quatificar simplesmente de "tridentina" a atitude moderada, como nao se pode considerar a mais avangada como "inspirada pelo Concilio do Vaticano II"; na verdade, o Concilio do Vati cano II foi moldado em termos de equilibrio profundo, e os documentos oficiáis da Santa Sé referentes á agio política dos cristáos sao claros e definidos em suas posigoes, mas, sem dúvida, avessos á luta violenta e á

agressio que provoque agressao. É á conversáo interior dos homens, antes

do mais, que deve tender a pregagáo do profeta1, como dizia muito bem o Pe. Joao Batista übánio S. J. em sua exposigao; o profeta nao tem receitas para mudar as estruturas da sociedade (estas sao da especialidade dos técnicos), embora o profeta saiba que a conversáo dos coragdes se deve espelhar na remocáo das iniquidades sociais. O que toca ao profeta, é criar o espago (o ambiente, o clima) necessário para que a resposta (a atitude) dos governantes seja crista; assim como toda pergunta prepara e condiciona a resposta respectiva, assim também toda a atuagao dos cristaos deveria preparar ou condicionar medidas de ¡nspiragao crista da parte do Governo.

É entre os moderados que PR tem procurado situar-se constantemente;

foi, alias, este o depoimento dado pelo diretor de PR quando, na mesa do painel final do Encontró Teológico, teve a ocasiáo de exprimir a sua orientacáo pessoal e a da revista. De um lado, o regime de Cristandade já fez época e nem sempre fol benéfico para a Igreja, visto que multas vezes o poder civil "cristáo" quis utilizar a Igreja para propugnar objetivos políticos e partidarios, sufocando assim a liberdade da Igreja. De outro lado, o comunismo, com sua filosofía radicalmente materialista e atéia, é incompativel com a visio crista do mundo e do homem. Atesta-o repetidamente o depoimento

de escritores russos

cujas obras

conseguem

atravessar

a

Cortina de Ferro; tenham-se em vista Soljenitzin e Andrei Sakharov (alias, o livro deste intitulado "Mon pays et le monde", pungente como é, foi citado como

documento apto a acautelar os

pensadores

ocidentais

contra

os

perigos do namoro com a esquerda). Neste contexto, vé-se a necessidade de que a Igreja se mantenha equidistante tanto da extrema-direita como da extrema-esquerda.

Possa a teología, sadíamente cultivada, contribuir para por mais e mais em relevo as linhas positivas da doutrina social que o Evangelho inspira a todos os homens de boa vontade !

E. B.

1 Profeta aqui significa o portador ou o arauto da

— 183 —

Palavra de

Deus.

livros em estante O homem moderno e a imagem bíblica do homem, por Leo Scheffczyk. Traducáo de Luiz Joáo Gaio. Colecáo "A palavra viva" — 9. — Ed. Pau linas, Sao Paulo 1975i 191 pp., 110x190 mm.

O homem está cada vez mais voltado para o misterio da sua própria realidade. Qual a sua ¡dentidade ? Deus ser-lhe-á o supremo rival, que a criatura terá de matar, a fim de poder ser ela mesmo? E em que consiste a grandeza do homem : no agir e produzir ou no contemplar em atitude aparentemente ociosa ? Os autores cristáos e nao cristáos tém procurado responder a estes

quesitos a partir de diversos pontos de vista. Leo Scheffczyk fá-lo, tendo antes os olhos a mensagem bíblica e comparando-a com a filosofía mo derna num livro que vem a ser um compendio de grande erudlcáo. O autor sabe descobrir ñas páginas escriturísticas as facetas da dignidade do homem, imagem e semelhan;a de Deus; aborda de manelra minuciosa o problema do sofrimento no Antigo Testamento, focalizando especialmente o livro de Jó e finalmente mostrando como em Cristo se elucidou plena

mente o misterio do homem táo grande e, ao mesmo tempo, táo misero 1 Sao estas as palavras de fecho do livro :

"O misterio de Cristo, o compendio de todo o pensamento bíblico acerca do homem, é o misterio de todo ser humano. O Homem-Deus revela-se como a palavra-chave que nos abre o acesso ao homem, até mesmo ao homem atual, que se está perdendo... Por isso, tanto para o incrédulo

como para o crente, quando investiga acerca do homem, tem validada a

frase de

Dosloyevski: 'Jamáis pude

imaginar o homem...

sem

Ele'"

(p. 191). O livro é obra de valor no seu género. Vem, de certo modo, completar o volume intitulado "Antropología do Antigo Testamento" de Hans Walter Wolff {ed. Loyola 1975), já apresentado em PR 190/1975, 3? capa.

Judeus e cristáos, pelo Padre Humberto Porto. — Ed. Loyola, S3o Paulo 1976, 185 pp. 140x210 mm.

O autor já publicou duas obras sobre o judaismo, expondo assim os resultados de estudos que, de há muito, vem fazendo sobre Israel. Dada a sua competencia, foi eleito co-presidente da Fraternidade Crístáo-Judalca de Sao Paulo. — O livro percorre as grandes obras das literaturas judia

e crista dos cinco primeiros sáculos, ou melhor, até S. Agostinho (+ 430),

examinando o desenvolvimento das idéias referentes as relaces entre judeus e cristáos; assim como houve um anti-Cristianismo de judeus, houve um

anti-Judaísmo de cristáos. É muito interessante apreciar os argumentos apresentados pelos sucessivos escritores cristáos dessa taixa da historia, onde

já se encontram os rudimentos de certo diálogo entre judeus e cristáos.

O autor se manifesta francamente simpático aos israelitas, pondo sempre em relevo o que possa mitigar as acusares feitas aos judeus pelos escritores cristáos antigos. Na verdade, essa atitude é válida ou mesmo necessária se se levam em conta os escritos paulinos, principal mente Rm 9-11. Julgamos, porém, que o autor se deixa, por vezes, levar longe demais pela sua tendencia a diluir o que possa redundar em desdouro de Israel; assim á p. 156 pretende H. Porto explicar a dispersáo judaica como fenómeno

iniciado

no cativeiro babilónico e

quista de Alexandre e a helenizacSo do Oriente — 184 —

ampliado com a con

Próximo;

a tomada de

Jerusalém por Tito é considerada sem vinculacfio alguma com as palavras de Jesús no Evangelho (Mt 24) ou como se nao livesse relagáo com a rejeícáo do Messias por parte dos judeus. Nao obstante, o livro é

em

llngua

portuguesa

um

altamente instrutivo; valoriza-se por explanar

assunto

que

ainda é muito

pouco

conhecido

entre nos.

Filosofía dos erros, por Eduardo Prado de Rio de Janeiro 1977, 168 pp., 118x183 mm.

Mendonca. —

Ed. Agir,

O autor é um dos grandes filósofos do Brasil, formado na linha do pensamento cristáo. Por sete anos foi Diretor do Instituto de Filosofía e Ciencias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Concebeu a original e fecunda idéia de escrever sobre a "filosofía dos erros", ten tando por a descoberto algo da psicología daqueles que erram flagrantemente, mas talvez nao saibam identificar adequadamente o seu erro nem os respectivos porqués. O trabalho é pioneiro e benemérito. No seu primeiro capitulo, o autor nos diz que nao basta combater os erros, denunclando-os e argüindo-os, mas é necessário outrossim apor tar a verdade :

"Chamamos comodista á luta contra os erros que se satisfaz num combate que a eles se opóe de maneira puramente negativa. Assim como a felicidade nao é alcancada diretamente, mas através daquilo que a produz como urna conseqüéncia..., assim também julgamos que o erro so é combatido eficazmente na medida em que se consegue implantar a ver dade" (p. 21).

Muitas vezes as pessoas erram e permanecem no erro, táo somente

porque nao encontram a maneira adequada e honrosa de sair das suas falhas. Postas estas premissas, o autor considera alguns grandes erros do pensamento ou da sociedade de nossos dias: a confusáo entre sucesso e verdade (também o erro pode fazer sucesso !); o equivoco de certo heroísmo

aparente, que na verdade nao é senáo um mecanismo compensatorio do sentimento de inferioridade do "herói"; a valorizacáo do poder jovem, que muitas vezes nao é senáo a fuga de adultos incapazes de um testemunho de autenticidade... Em seu décimo e último capitulo, E. Prado de Men donca concluí que o homem moderno nao é um cientifícísta nem um racio nalista, mas um homem de fé..., nao de fé sobrenatural, e, sim, de fé humana, estrítamente natural... E por qué? Porque esse homem eré, slmplesmente eré; n9o se senté na obrigacao de discutir ou argumentar para

fazer as suas opgoes de vida. — Por certo, o autor provoca o leítor, inci

tando-a refletir, talvez a discordar, mas certamente a se aprofundar "lancando um olhar sobre a vida que passa" (subtitulo do livro). O autor se refere em todo o decorrer da obra a fatos e dados da

historia da Filosofía — o que

onriquece grandemente a sua exposícSo.

Ousarlamos pedír-lhe que, em próxima edicao, cite as fontes e os reper

torios dos quais hauríu tais dados, poís ¡sto estimularía o ieítor a ulteriores pesquisas.

O livro se dirige ao público que pensa e que se disponha a acompanhar as finuras do pensamento do autor, que por vezes desconcerta e ironiza sadlamente, a exemplo do mestre Sócrates. Llberdade de ensino, por Waldemar Valle Martins. — Ed. Loyola, Sao Paulo 1976, 205 pp. 140x210 mm.

O autor publica em nossos dias um trabalho que fol elaborado pela

primeira vez como tese de láurea em 1962, pouco depols de promulgada a Lei de Diretrizes de Bases da Educacio Nacional. Quatorze anos depois, o livro vem a lume, enriquecido por consideracóes sugeridas pela atualidade brasileira.

(Continua na

pág.

181)

■•O PROGRESSISMO E O CONSERVADU

RISMO CERTAMENTE SE ORIGINAM DA

MESMA FONTE COMUM E PODEM TER COMO

MOTIVACÁO

PARA

O

UMA

REGRESSAO.

PROGRESSISTA,

REGRESSAO

PARA A ADOLESCENCIA, A IDADE DAS ECLOSÓES, ONDE A CONTINUIDADE SUR GE COMO FREIO. PARA O CONSERVADOR,

VOLTA PARA UM PASSADO LONGINCUO,

SITUADO NO AQUÉM DE SEU PRÓPRIO

NASCIMENTO : Só TEM VALOR O QUE PERTENCE AQUELE TEMPO". (ROGER SCHUTZ)

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