Ano Xix - No. 224 - Agosto De 1978

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Projeto

PERGUNTE

E RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao

Pedro que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta

necessidade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé

hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e

religiosas contrarias á fé católica. Somos

assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e

Responderemos propóe aos seus leitores:

aborda questóes da atualidade „ controvertidas, elucidando-as do ponto de

M vista cristáo a fim de que as dúvidas se

. dissipem e a vivencia católica se fortalega *J" no Brasil e no mundo. Queira Deus

abengoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e

nassamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo

da revista teológico - filosófica "Pergunte_ e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de pubhcagao. A d Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

índice pis-

OS ASTRÓNOMOS E DEUS

317

Llvro novo sobre anliga temática: "O QUE É MILAQRE NA BIBLIA" de Alfons Welser

319

Um mistarlo que preocupa a multos:

O TRIANGULO DAS BERMUOAS

335

Na linha do "misterio":

E A ATLANTIDA ?

348

LIVROS EM

358

ESTANTE

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

NO

PRÓXIMO

NÚMERO :

O aborto diante da le¡ no Brasil. — «Pecado : o que é ?» — E a III Conferencia do Episcopado latino-americano ? — «Contaros imediatos

do terceiro grau».

X

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Assinatura anual

Cr$

100,00

Número avulso de qualquer mes

Cr$

10,00

REDAQAO DE PR Caixa



* ,

nM=

Postal 2.666 ZC00 20.000 Rio de Janeiro (RJ)

ADMINISTBACAO

Livraria Misslonária Editora

Rua w6^eOt leg-B (Castelo) 20.031 Rio de Janeiro (RJ) Tel.: 224-0059

OS ASTRÓNOMOS E DEUS A imprensa noticiou recentemente que os astrónomos estáo sempre mais convictos de que o universo se acha em expansáo; consta de galácias que se váo afastando urnas das outras com velocidade crescente, como se resultassem de formidável explosáo ocorrida há varios bilhóes de anos atrás. Esta hipótese, que já tem seus cinqüenta anos, a principio encontrou resistencia por parte de grandes sabios como o famoso Albert Einstein. Todavia foi-se impondo, de modo que o próprio Einstein se rendeu á evidencia da mesma. Muitos dentistas teriam preferido admitir um universo estático e sem comego, pois isto os dispensaría de procurar urna causa para a origem do mundo; nao teriam que recorrer & meta física ou á existencia de Deus Criador. Eis, porém, que esta é cada vez mais perceptivel... Assim a própria ciencia, á medida que vai galgando os picos do saber, vai-se aproxi mando mais e mais da intuicáo do próprio Criador: "Para o dentista, que tem vivido pela sua fé no poder da razSo, a historia acaba como um pesadelo. Ele escalou as montanhas da Igno rancia; está na Imlnéncia de conquistar o último pico; quando se ergue sobre a rocha final, é saudado por um grupo de teólogos que estavam sentados lá há séculos" >.

Esta interessante noticia nos leva a refletir:

Há pouco mais de cem anos, os homens julgavam existir

inevitável dilema entre a ciencia e a fé. Quem estudasse, teria que renunciar as suas crencas religiosas, pois estas seriam a cobertura da ignorancia e do medo! Hoje pode-se

dizer: «A pouca ciencia afasta de Deus, a muita ciencia leva a Deus» ou, em outras palavras, o estudo superficial e assistemático pode afastar de Deus, ao passo que a pesquisa seria e coerente leva ao encontró do Senhor. Por qué? Como explicar isto?

— De um lado, a exegese bíblica, beneficiada pelas des-

cobertas recentes da lingüistica, da arqueología e da historiografia, pos em evidencia os géneros literarios da S. Escri

tura; vé-se que as páginas sagradas visam a ensinar aos homens verdades de salvagáo eterna e nao proposigóes de ciencias naturais. A consciéncia disto desfez objecóes que i R. Jastrow, "Teráo os astrónomos encontrado Deus?", no "Jornal

do Brasil", 2/07/78, cad.

especial, p.

6.

— 317 —

outrora os teólogos levantavam, em nome da Palavra de Deus, contra as ciencias modernas (tenha-se em vista, por exemplo, o que ocorreu no caso de Galileu!). A teología pode assim abrir-se amplamente ao diálogo com as ciencias. De outro lado, as posigóes anti-religiosas de muitos cientistas foram cedendo a urna visáo mais serena e objetiva da verdade. Os cientistas foram percebendo que nem tudo o que eles ensinavam (e ensinam), em nome da ciencia, é realmente expressáo da ciencia. Na verdade, cada dentista tem as suas concepcóes filosóficas e seus referenciais, em fungáo dos quais ele apreende e interpreta os fenómenos (a táo almejada neutralidade científica parece ser um mito ou urna utopia!). Assim os cientistas que utilizavam a ciencia moderna para negar a existencia de Deus, verificam hoje que as mesmas conclusóes científicas se coadunam perfeitamente com a realidade do Criador,... Criador que é distinto da materia e do mundo e vem a ser o Supremo Artífice das galácias e dos mundos que conhecemos! De

resto,

aqueles que em nome da ciencia recusam a

Deus, em última análise fazem da sua ciencia urna religiáo,... religiáo dotada de rígidos dogmas. Segundo tais pensadores, a ciencia explica tudo, ou deve poder elucidar tudo, como se ela fosse um valor absoluto e cabal. Tal premissa nao é provada, mas é aceita e profesesada com fé dogmática; em última análise, ela consiste em atribuir á ciencia os predicados de um sistema religioso... Ao invés, o auténtico dentista nao pode deixar de ser humilde; o pro-

gresso dos estudos, & medida que lhe dissipa certas dúvidas,

abre novas e novas interrogagóes, evidenciando-lhe a

exigüidade do seu saber.

As conclusóes dos astrónomos que encontram os vesti gios de Deus na historia do universo, nao tém apenas valor

teórico; significam, entre outras coisas, que na origem do nosso mundo

existe

urna

Inteligencia,...

conhece cada criatura, cada ser humano,

Inteligencia que

e que entende

aquilo que os homens nao entendem. É essa Inteligencia que, através do noticiario da imprensa, parece dizer hoje a todos:

«Paz e confianga!

Nao estáis sos. Aquele que vos criou, é

também a Grande Resposta as vossas aspiragóes!»

Na tentativa modesta de contribuir para que os homens de nossos tempos melhor possam perceber tal mensagem, é

que foram escritas as páginas subseqüentes!

— 318 —

E.B.

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS.

Ano XIX — N« 224 — Agosto de 1978

Um livro novo sobre antiga temática:

"o que é milagre na biblia" de Alfons Weiser Em tíntese: O livro de Alfons Weiser apenas reconhece como fatos cortamente históricos os milagros de cura realizados por Jesús; o autor, porém, julga que tais curas poderlam ser equiparadas ás dos taumaturgos helenistas; os evangelistas as terlo entendido numa vls§o de fé, narrando-as como testemunhos da crenca da Igreja nascente. Ora a teología enslna que o milagre é um slnal outorgado por Oeus aos homens para corroborar a RevelagSo oral; é urna palavra extraordi naria e enfática que ilustra a ünguagem comum. Os mllagres sao plena mente compreensivels á luz da Encarnacáo — misterio pelo qual Deus se faz homem para falar aos homens linguagem humana.

um

Os teólogos estipularam os requisitos para que se possa diferenciar auténtico milagre (sinal de Deus) de fenómenos meramente naturals

psicológicos ou parapsicológicos. Com efeito, o slnal de Deus deve ser — um

populares);

— ... — ... religiosa.

falo

real

inexplicável

histórico

(excluem-se

á luz da

ciencia

as

narracSes

fantaslstas

contemporánea ao fato,

obtido como resposta de Deus a urna atltude auténticamente

Vé-se, pols, que a enfase, no concelto de milagre, é colocada sobre o elemento sinal ou "parte do diálogo existente entre Deus e a humanldade".

A luz

destas

premlssas,

deve-se dlzer que o

livro de

A. Weiser

cede gratuitamente a preconceitos de critica e de hermenéutica. Deve-se professar a realidade histórica das curas realizadas por Jesús; foram mllagres segundo o conceito de milagre atrás exposto. Quanto aos exor cismos, seria indigno afirmar que Jesús os tenha praticado por mera

adaptacáo ou acomodacáo á mentalldade errónea do povo Judeu. No tocante aos demais mllagres de Jesús (ressurrelcáo de mortos, dominio

— 319 —

4

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

sobre a natureza...), nao há razáo para negar-lhes a autenticidade histó rica, visto que pertencem ao estilo da comunicagáq de Deus aos homens: estilo de encarnacáo, que faz do corpo humano e do mundo vislvel o instrumento e o espelho de realidades esplrituais e transcenderíais.

Comentario: Acaba de ser publicado mais um livro im portante sobre o tema «milagre», com o título «O que é milagre na Biblia. Para vocé entender os relatos dos Evangelhos» \ O autor, Alfons Weiser, de 44 anos de idade, concluiu o doutorado em Teología na Universidade de Würzburg e exerce atualmente o magisterio na Escola Superior de Teo logía em Vallendar, perto de Coblenga. Em vista das teses langadas por A. Weiser, vamos, a seguir, resumir o conteúdo do livro e propor reflexóes sobre o mesmo.

1.

As teses do livro

O autor se concentra no estudo dos Evangelhos, quais distingue cinco tipos de milagre:

nos t

— as

curas

de

enfermos

(cegos,

leprosos,

surdo-mu-

dos...)» — as expulsóes de demonios, — os milagres de «dominio sobre a natureza» (conversáo da agua, em vinho, multiplicagáo de páes, caminhar sobre as aguas...), — as ressurreigóes de mortos (a filha de Jairo, o jovem

de Naim, Lázaro), — os milagres concomitantes, isto é, milagres que nao foram realizados pelo próprio Jesús, mas aconteceram com a

sua pessoa; sao milagres que acompanham a sua existencia, á maneira de indicadores (a conceicáo por obra do Espirito Santo, a revelagáo por ocasiáo do batismo e da transfigurag&o, os sinais e abalos cósmicos por ocasiáo da Jesús, a ascensáo ao céu).

morte de

iTraduc&o de D. Mateus Rocha O.S.B. Colecáo "Entender a Bi blia"-3. — EdlgSes Paulinas, Sao Paulo 1976, 185 X 22' mm, 189 pp.

— 320 —

«O QUE fe MILAGRE NA BIBLIA»

Analisando os relatos evangélicos concernentes a esses milagres, A. Weiser julga que seguem um roteiro literario semelhante ou idéntico ao das narrativas helenísticas pagas de milagres (o deus Asclépio em Epidauro, o Imperador Vespasiano, o taumaturgo Apolónio de Tiana e outros também «praticaram milagres»!). Todavía reconhece que os relatos evangélicos se inspiram em motivos e intengóes diversos dos que movem os escritores pagaos. Destas ponderacóes o autor tira conclusóes no tocante á historicidade dos milagres dos Evangelhos:

1) os relatos de curas podem corresponder a fatos reais, que difícilmente conseguimos hoje identificar, pois na verdade nao temos os milagres, mas apenas relatos de milagres. Jesús, assim como os taumaturgos pagaos, deve ter realizado fatos que os seus contemporáneos julgavam milagrosos, mas que nao teráo sido mais do que fenómenos explicáveis pelas leis da natureza, ou seja, da psicología ou da parapsicología. O autor nota que, quando os antigos falavam de milagres, ape nas intencionavam professar a agáo de Deus em meio aos homens, sem pretender indicar derrogagáo as leis da natu reza; essa agáo constante de Deus era muito mais percebida e enfatizada pelos homens de outrora do que pelos nossos contemporáneos.

O pensamento de Weiser se exprime nítidamente através dos seguintes dizeres: "NSo há um único caso sequer em que os aconteclmentos histórica mente indiscutivels como as curas e os fatos tidos como exorcismos aparecam como 'violacfio ou suspensSo das leis naturals'. Talvez julgariamos mais acertadamente os aconteclmentos, se os conslderéssemos como o resultado de torcas que se sltuam para além dos limites da percepcSo normal dos sentidos. A realldade, de fato, é muito mais ampia do que aquilo que podemos perceber mediante os sentidos e avallar na sua relagSo de causa e efelto. A realidade que se sitúa para além da percepcSo dos sentidos, abrange nSo somente aqueles torcas que Integram a 'natureza' do mundo e do homem, como também aquele funda mento último e pessoal que está na base de todo acontecimento: Deus. Aqueles que acredltam nSo poder passar, neste mundo, slmplesmente sem

acreditar na acSo de Deus, nao admltlrSo que ele atue em alguma cura, nem mesmo ñas curas extraordinarias. AdmitirSo, no máximo, a presenca

de forcas parapsicologías. Mas aqueles que acredltam em Deus como fundamento último de qualquer acontecimento, perceberSo a presenca

benéfica de Deus para além dos resultados das forcas parapslcológlcas, mas ao mesmo tempo agindo nelas, e o proclamarüo em sua fé. So se

pode falar em mllagre dentro desta perspectiva de fé" (ob. clt. p. 162s).

2)

Quanto ás expulsóes de demonios, A. Weiser identi

fica-as com curas psicossomáticas.

— 321 —

O autor póe em dúvida

6

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

nao somente a possibilidade da possessáo diabólica, mas também a própria existencia do demonio; este nao seria um anjo mau, mas apenas criagáo literaria. O autor nao pretende dirimir a dúvida, mas concluí nos seguintes termos: "A questfio de

saber se

o

mal

existe como

poder

pessoal

r»8o

é

tño Importante como ás vezes no-lo fazem ver. O Novo Testamento nao esclarece a questáo, mas enfatiza que o mal — qualquer que seja a natureza — foi vencido pelo Cristo" (p. 108).

3) Os demais tipos de milagres (ressurreigáo de mortos, dominio sobre a natureza, milagres concomitantes...) nao corresponden! a fato algum, mas vém a ser construgóes lite

rarias realizadas pelos primeiros cristáos, a fim de exprimir a sua fé pós-pascal em Jesús. Com outras palavras: após Páscoa, os discípulos compreenderam que Jesús é o Senhor da vida e da morte, dotado de poderes sobre a natureza; por conseguinte, exprimiram essa sua convicgáo concebendo «estórias» ñas quais Jesús, já antes de Páscoa, aparece domi nando a natureza e a morte ou é manifestado como Senhor das criaturas... Em suma, dentre todos os milagres narrados pelos Evangelhos, somente a ressurreigáo corporal de Jesús Cristo é tra tada de maneira diferente; o autor nao lhe procura paralelos ñas literaturas antigás nem lhe sugere explicagóes natura listas: «A fé na ressurreigáo (de Jesús), com base nos testemunhos do Novo Testamento, é honesta e responsável do ponto de vista intelectual» (p. 167). Isto... porque ela ocupa um lugar central nos escritos do Novo Testamento, a ponto de Sao Paulo poder dizer: «Se Cristo nao ressuscitou, ilu soria é a nossa fé e ainda estamos em nossos pecados» (ICor 15,17). Foi mesmo a consciéncia da ressurreigáo do Senhor que levou os discípulos a conceber e confeccionar os ecos antecipados desse fato durante a vida terrestre de Jesús. Esses ecos ou relatos milagrosos nao sao informagóes, mas expressóes da fé dos antigos. Considerando os taumaturgos da literatura paga, o autor se detém especialmente sobre a figura de Apolónio de Tiana, pregador pitagórico helenista do século I d.C, cuja biogra

fía foi redigida por Filostrato no século Ilt d.C., a pedido da

Imperatriz Julia Domna: terá realizado expulsóes de demo nios e prodigios de dominio sobre a natureza. A respeito escreve A. Weiser:

— 322 —

"NSo se pode duvidar de que Apolónlo tenha existido e realizado coisas extraordinarias. É muito pouco provável que um personagem que

tenha conseguido tanta celebridade seja pura flcc&o. Mas já nfio é posslvel determinar com preclsáo em que conslstlam as capacidades extraor dinarias de Apolflnlo e mediante quais acOes ele realizou suas curas e

granjeou fama. É bem posslvel, e até mesmo provável, que ele tenha curado doentes, inclusive doentes que sofriam de perturbagOes pslcossomáticas e eram considerados como possessos do demfinio, e que também possuisse poderes parapsicológlcos. Globalmente, os tatos atribuidos a Apolonlo sao da mesma natureza que os atribuidos a Jesús cem anos antes...

A dlferenga fundamental entre os milagros de Apotfinlo e os mila

gros de Jesús nao está nem na natureza dos fenómenos milagrosos, nem menos ainda na circunstancia de os prlmelros terem sido Inventados e os segundos terem sido fatos reals. A dlferenga consiste, antes de

tudo,... na significado que se atribuí aos milagros operados" (ob. clt., pp. 160s).

Como se vé, A. Weiser nao dá grande énfase aos milagres nos Evangelhos. Só aceita propríamente as curas reali

zadas por Jesús, comparáveis as de taumaturgos nao cristaos e explicáveis por fatores naturais. As razóes que levam o autor a essa atitude, sao duas: 1) o confronto com; narracóes de milagres da literatura grega e com relatos de exorcismos da literatura judaica); 2) o próprio conceito bíblico de mila-

gre, que A. Weiser assim formula á p. 21: «Os milagres sao acontecimentos estranhos, que o crente entende como sinais da agáo salvadora de Deus».

O adjetivo «estranho», no caso, é intencionalmente vago; nao implica necessariamente superagáo das leis da natureza. — Quanto á palavra «crente», restringe o significado do milagre ao ámbito das pessoas de fé. Ora estes elementos como também outros dados colhidos no livro de A. Weiser nos levam a propor algumas observacóes a este autor e a sua obra.

Em conseqüéncia, abordaremos, a seguir, os textos

da literatura helenística assim como o próprio conceito de milagre.

2.

Os textos da literatura extra-bíblica

1. A. Weiser tenta mostrar paralelos literarios entre as narragóes de milagres helenisticas e as evangélicas. Deve-se reconhecer tal fenómeno literario nos casos em que realmente

ocorra; na verdade, sabe-se que os evangelistas adotaram for

mas de escrever comuns na sua época para exprimir a men-

sagem evangélica (que, embora revestida de tal roupagem, era algo de totalmente inédito). — 323 —

8

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 224/1978

Todavía nao se deve exagerar o alcance desta afirmagáo. O próprio Weiser reconhece que mais de urna narragáo de milagre rompe o esquema literario, ora porque lhe acrescenta elementos próprios, ora porque tenciona mostrar a cor respondencia entre o fato narrado e as profecías do Antigo Testamento. O mesmo autor também reconhece que os rela tos evangélicos sao sobrios e objetivos, evitando ornamentar a descric,áo com tragos fantasiosos e evidentemente irreais; ao contrario, as narragóes helenísticas sao marcadas por ele

mentos imaginativos e fantasistas, que denunciam composigóes ficticias e nao se coadunam com o estilo de narragóes históricas; cf. pp. 50s. A existencia de paralelos entre as narragóes evangélicas e as helenísticas nao significa, segundo Weiser, que aquelas nao correspondan! a acontecimientos históricos. Como dito, o que Weiser contesta, é que se trate, nos Evangelhos, de acontecimentos que transcendam as leis da natureza; tratar-se-ia, antes, de fatos que a medicina moderna e a parapsicología

explicariam e que a fé dos antigos cristáos entendeu como sinais da messianidade de Jesús. Mais adiante, diremos que tal interpretagáo dos milagres de Jesús é gratuita; deriva-se de urna atitude que de antemáo rejeita o valor ou o signifi cado de intervengóes objetivas de Deus no ámbito da natu reza.

Importa, por ora, analisar mais atentamente os relatos de «milagres» pagaos.

2. Os estudiosos de historia, literatura e religiáo tém procurado investigar o que haja realmente ocorrido em Epi-

dauro. A arqueología, com as suas escavagóes, e a epigrafía, com a descoberta de inscrigóes, vém permitindo a reconstituigáo dos fatos. Sabe-se que em Epidauro (Grecia) havia perto do templo de Asclépio (o Asclepeion) urna fonte sa

grada; o acesso ao templo era facultado por duplo pórtico; este, com as suas arcadas, servia de dormitorio (ábaton) • posto á disposigáo dos peregrinos que aguardavam a cura. No ábaton os sacerdotes praticavam um rito que adormecía o paciente (egkoímesJs); este entáo mergulhava em sonó sa grado, que o dispunha a receber as comunicagóes da Divindade. Esta, como se pregava, aparecía durante o sonó e

i Ábaton, em grego, é o lugar inacessfvel ou o santuario.

— 324 —

«O QUE É MILAGRE NA BIBLIA»

9

explicava ao doente como ficaria curado. Tal sonho era o grande objetivo da peregrinagáo. Os enfermos visitados pela Divindade durante a noite davam-se por curados desde a manhá ou, ao menos, diziam ter recebido as indicagóes terapéu ticas que os curariam. Depositavam sua oferta no templo e voltavam para casa.

Ñas paredes internas do santuario de Epidauro, encontram-se relatos escritos de curas ai obtidas. Seis desses narram os casos de mulheres que, após a aparigáo da Divindade em sonho ou depois de ter tido relacóes com o deus local, deram á luz. Assim, por exemplo: "Cleo estava grávida havia cinco anos. Por isto, suplicante, fol ao templo do deus; adormeceu no ábalon. Logo que salu deste e se vlu fora do templo, deu á luz um menino, que, ao aparecer, se lavou na agua da fonte e se pos a camlnhar junto á sua máe".

Urna dezena de casos refere-se a doengas da vista. A falta de higiene ocasiona tais molestias. O termo «cegueira», em tais relatos, significa «inflamagáo e abcessos das pálpe bras», os quais podem ser táo violentos que a visáo cesse. A cura, porém, de tais males está ao alcance da medicina. Eis alguns espécimens: "Um homem fol ter ao templo em súplica. Estava caolho. As suas pálpebras nao recobriam coisa alguma... No templo, as pessoas o tlnham por multo slmplório por acreditar que recuperarla a vista, pois do seu olho nada ficava senfio o respectivo lugar. Enquanto dormía, fol agrá* ciado por urna vlsáo; parecía que a Divindade Ihe preparava um remedio; abria-lhe as pálpebras e nelas derramava o remedio. Por ocasISo da aurora, salu e enxergou com os dols olhos", "Um cegó perdeu o seu colirio durante o banho. Dormiu no ábaton, sonhou que a Divindade Ihe aconselhava que procurasse o colirio no grande albergue á esquerda, na entrada. Urna vez nascido o dia, o cegó, auxiliado por um escravo, fot procurar o colirio. o colirio e ficou bom".

Entrou no albergue, viu

"TlmSo de X. foi ferido por um golpe de langa debaixo do olho. Enquanto dormía, teve um sonho; pareceu-lhe que a Divindade triturava urna erva e Ihe derramava algo no olho. Ele está curado".

Há também casos de mudez e paralisia: "Urna jovem muda perambulava no santuario. Víu urna serpente descer de urna árvore e penetrar dentro da alvenaria. Espantada, ela

chamou pal e mSe.

Voltou curada".

"Clemenes de Argos estava paralitico. Apresentou-se no ábatorr; ador meceu e teve um sonho: a Divindade o envolveu com urna coberta vermelha, levou-o ao banho fora do recinto sagrado, num tanque de agua

— 325 —

10

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 224/1978

multo frfa. Tremía de angustia; Asklepios disse-lhe que ele nao curava os covardes, mas, sim, táo somante aqueles que o procurassem com confianza. Ele nao Ihes fazia mal algum, mas despedia-os, curados, para

casa.

Clemenes acordou, tomou um banho, e voltou em perfeito estado".

Há dois casos de feridas purulentas e um de tumor abdo minal, que parecem supor urna intervencáo cirúrgica ele mentar: "Ferldo por urna langa, Evippos tlnha a ponta da mesma encravada na maxlla havia seis anos. Adormeceu no ábaton; a Olvindade Ihe retirou essa ponta de lanca e a colocou em suas máos. Quando despontava o día, ele se fol curado, levando a ponta ñas maos". "N.N. de X. está ferido no peito. A chaga é purulenta; foi ter com a Olvindade em súplicas. Dormiu no ábaton e teve urna vistió: a Dlvlndade ihe lavou o peito com lelte fresco e untou a ferida com ungüento. Depois de té-la enxugado, ordenou-lhe que se lavasse na agua fría. Ao despertar, mergulhou na agua corrente e ficou curado". "Um homem sofría de tumor no abdomen. Teve um sonho no ábaton: a Dlvindade mandou a seus auxiliares que o Imoblllzassem e ihe abríssem

o ventre. Ele fugiu, mas fol apreendldo e atado quando atravessava a eolelra da porta. Asklepios abriu-lhe o ventre, retirou-lhe o abcesso e coseu a ferida; o doente foi desatado. Voltou curado; o solo estava coberto de sangue".

Eis aínda dois casos: "Eraslpa de C. tinha o ventre inchado e nada conseguía digerir. Dor miu no ábaton; teve um sonho; a Divindade ihe fazla massagens sobre o abdomen e a abracava; depois o deus Ihe ofereceu, numa taca, um remedio, que ele Ihe mandou beber; forcou a vomitar; ela o fez, sujando a sua roupa. Ao nascer do día, verificou que o vestido estava todo sujo de vómitos; sentlu-se curada". "N. N. de X. sofría de um tumor. Entrou no santuario. Nao obteve o que pedia. A Dlvindade nSo se mostrou durante o seu sonó no ¿batan; ele julgou entfio ter sido esquecido pelo deus e voltou para casa. Toda

vía, nSo podendo suportar por mals tempo a dor, quis sulcidar-se traspas-

sando o abcesso com urna punhalada. A sua filha encontrou-o desfalecido, tomou-o nos bracos, retirou o punhal. O sangue jorrou do tumor e o doente ffcou curado".

Outras semelhantes narragóes poderiam ser aduzidas. Estas, porém, sao suficientes para evidenciar que os «milagres» de Epidauro sao — fatos que as ciencias médicas e a psicología explicam satisfátonamente;

— 326 —

«O QUE fi MILAGRE NA BIBLIA»

11

— as narrasóes respectivas devem-se, em grande parte,

á fantasía do narrador, que explora a capacidade de admiragáo dos leitores;

,

— diferem profundamente das harragóes evangélicas tanto pelo conteúdo como pela forma. Vé-se que a forma lite

raria dos portentos helenistas nem sempre é a mesma como

também nao o é a forma literaria dos relatos evangélicos. A propósito apraz-nos citar o testemunho de Wolfgang Trilling, que, estudando a cura do cegó em Me 10,46-52, se detém sobre o género literario da narragáo respectiva: "Os elementos típicos do genero literario de urna narrativa de cura podem-se obter fácilmente através do confronto com todos os outros

textos, principalmente com os dos Sinótlcos, sem se recorrer á hlpótese de urna derivacio direta do tipo helenístico de narrativas de prodigios. O esquema segundo o qual se constroem essas narrativas, devu ser enten

dido antes como esquema narrativo geral popular do que mediante derlvacfio direta da baixa literatura helenística. Pode-se supor que todas essas narrativas seguem, independentemente entre si, as mesmas leis do modo popular de narrar" ("O anuncio de Cristo nos Evangelhos Sino cos", p. 142).

Em conseqüéncia, dir-se-á: o confronto das curas narra

das pelo Evangelho com as dos relatos helenistas nao redunda em detrimento da autenticidade histórica dos relatos evangé licos nem obriga a reduzir os fatos narrados pelos evange

listas a fenómenos puramente naturais. Ao contrario, póe em evidencia as diferengas de mentalidade e redacáo exis tentes entre os textos bíblicos e os textos extra-bíblicos. Passemos agora a analisar o conceito de milagre.

2.

A nojao de milagre

Segundo vimos, A. Weiser define o milagre como «acon-

tecimento estranho que o crente entende como sinal da agáo salvadora de Deus»

(p. 21).

Ora esta definigáo merece duas observagóes: 2.1.

Sinal

1. O milagre, na verdade, nao deve ser entendido qual mera ostentagáo ou «show» do poder divino. Nao é mera mente o extraordinario que interessa ou importa no milagre, — 327 —

U

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

mas é o seu caráter de sínal. O Evangelho segundo S. Joáo usa sistemáticamente o vocábulo «sinal» (seméion) para desig nar os feitos extraordinarios de Jesús, atribuindo grande im portancia as obras ou, equivalentemente, aos sinais de Jesús; cf. Jo 6,26; 10,37s; 12,37; 15,24. O milagre é propriamente urna palavra de Deus',... palavra mais forte e enfática do que os vocábulos habituáis ou oráis; o Senhor Deus dirige as criaturas esse tipo de pala vra sempre que o julga oportuno..., geralmente para cor roborar determinada mensagem, para autenticar certo emissário ou mensageiro ou para responder a urna atitude de

prece e expectativa dos homens... Assim o milagre é urna parte do diálogo entre Deus e a humanidade; vem a ser um aceno, um indicio ou urna prova da parte do Senhor. Nao é o portento como tal que importa, mas, sim, o significado do portento no contexto da historia da salvagáo.

sinal é, pois, essencial ao milagre algo de sabio e meramente espetacular e ficamos que o milagre, ser considerado a parte

A fungáo de

conceito de milagre; é o que faz do harmonioso, em vez de ser algo de assombroso. Em conseqüéncia, veri principalmente na Biblia, nao pode do contexto da Revelagáo de Deus

aos homens. 2. Para ilustrar melhor esta afirmagáo, lembraremos o seguinte:

Deus, em seu plano eterno, nao quis deixar o género humano entregue a ordem puramente natural,... ordem que a razáo e a experiencia científica podem penetrar satisfatoriamente. Nao; o Senhor Deus quis elevar o homem á ordem

sobrenatural, ou seja, ao consorcio da vida trinitaria ou á categoría de filho de Deus chamado a ver face-a-face a Beleza Infinita. Tal vocacáo, Deus a quis revelar aos homens pelo» misterio do Verbo Encarnado... Deus se fez um de nos para falar aos homens em linguagem e sinais humanos, de fácil compreensáo. Mais: o Senhor quis levar ao extremo as

cons2qüéncias da Encarnacáo, oferecendo ao homem sinais mais eloqüentes e persuasivos do que a simples linguagem

cotidiana, que também os charlatáes e falsos profetas empregam para iludir as multidóes. Deus feito homem quis usar a

linguagem dos sinais mais enfáticos que sao os milagres,...

1 Toda

palavra é

um

sinal.

— 328 —

cO QUE É MILAGRE NA B1BLIA>

33

milagres que só Deus pode realizar e que assinalam de maneira insofismável a presenga e a mensagem do Senhor Deus.

Eis por que Jesús quis efetuar milagres; tencionava cor roborar a sua pregagáo, por vezes, «escandalosa»: «Para que saibais que o Filho do Homem tem o poder de perdoar os pecados, eu te ordeno — disse ele ao paralítico — levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa» (Me 2,10s). Jesús também quis significar, por meio de curas, exorcismos, vitória sobre a morte, dominio sobre a natureza.... a restauragáo da ordem espiritual e da ordem física violadas pelo pecado dos primeiros homens. Em conseqüéncia deste plano de Deus, entende-se que o corpo humano e o mundo material se tenham tornado instru mentos do Redentor e o espelho no qual se refletem valores espirituais transcendentais. Diz muito sabiamente M. Blondel: "O milagro é o recurso desea divina phllanthropla i, da qual fala Sao Paulo, e que, humanizando-se em sua linguagem e em sua condes cendencia, faz transparecer por slnals anormais a sua anormal bondade" (art. Mlracle, em A. Lalande, Vocabulalre technique de la phllosophle. París 1947, 5? ed., p. 615).

Também apraz citar as palavras de S. Atanásio (t 373), que póem em evidencia a relagáo entre o material e o espi ritual ou entre o humano e o divino nos milagres de Cristo: "Quando Ele quis curar da febre a sogra de Pedro, foi num gesto

humano que Ele estendeu a mSo; mas a sua vitória sobre a doenca fol

divina.

Também quando Ele quis curar o cegó de nascenca, a sua boca

secretou urna saliva humana, mas fol a Intervencáo de Deus que abrlu os olhos mediante esse lodo. E, quando Ele chamou Lázaro dentre os mortos, proferlu como homem, palavras humanas, mas foi como Deus que Ele o devolveu á vida" (Or. III contra Árlanos, n? 32, Patr. Mlgne, serie grega, t. 26, 392).

Urna vez estabelecido que o milagre é sempre um sinal, e sinal que condiz bem com todo o designio salvífico de Deus, perguntamo-nos: como o milagre é sinal? Ou como chama a atengáo do homem? 2.2.

1.

Os milagres e as leis da natureza

S. Agostinho, ao comentar a multiplicacáo dos páes

realizada por Jesús segundo Jo 6, tenta definir a maneira como o milagre é sinal ou palavra enfática do Senhor: i Phllanthropla = amor aos homens.

— 329 —

Cf.

Tt 3,4.

14

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

"Os milagros com que Deus rege o mundo e dirige a criacfio inteira, ficam tfio velados na vida quotldlana que quase nlnguém se digna con ceder um pouco de atencño ás prodigiosas e admlráveis obras de Deus em cada grio de trigo. Por Isso, fiel á sua misericordia, quls Deus realizar em determinados tempos algumas coisas que flcam fora do curso normal e da ordem da nalureza, a flm de que os homens que estáo cegos em relagSo aos milagres quotldianos se comovam com a expe riencia de um aconteclmento nSo maíor, porém mais anormal. Realmente, a ordem de todo o cosmos é um milagre malor do que saciar cinco mil homens com cinco pfies. Entretanto ninguém se admira do primeiro, ao passo que o segundo semeia admlracSo entre os homens por se tratar de milagre, nao maior, porém mais raro. Quem alimenta hoje o mundo intelro senSo aquele que de alguns graos de trigo tira colheitas Inteiras? Ele aglu, pols, como o próprio Oeus. Pelo mesmo poder com que con verte alguns grfios de trigo numa colhelta, multiplicou os cinco páes em suas mfios. Tal poder estava ñas mSos de Cristo, e os cinco páes eram como semen tes; desta vez, porém, nao as confiou á térra, mas multiplicou-as, ele que fez a térra. Isso ocorreu diante de nossos sentidos para a ediflcacfio de nosso espirito. Mostrou-se a nossos olhos, para que a razáo o considere, para que descubramos com admlracao o Deus invisivel em suas obras visfveis e, despertados para a fé e por ela purifi cados, aspiremos a ver de modo supra-sensívei a quem conhecemos como

invlslvel através das

S. Joáo 24,1; ed.

coisas visfveis" (Comentario sobre o

Mlgne

lat. 35,

1592s).

Evangelho de

Como se vé, S. Agostinho distingue entre as maravilhas que Deus. realiza diariamente e que constituem o curso natu ral das coisas, e as maravilhas que o Senhor se digna efetuar ocasionalmente e que, por isto, chamam singularmente a atencáo dos homens.

Na base desta distincáo do mestre, dizemos: Para que o milagre possa ser sinal realmente significa tivo, requer-se que

— seja um fenómeno objetivo histórico... Nao basta que seja mera ficcáo ou construgáo literaria. Nem é sufi

ciente que seja projegáo meramente pessoal ou subjetiva da fé de um grupo; por conseguinte, nao se pode aceitar a defi-

nicáo que Goethe dava de milagre: «des Glaubens liebstes Kind — o filho predileto da credulidade». O milagre é um sinal de Deus que se dirige 1) aos incrédulos, para ajudá-los a conceber a fé, 2) aos fiéis, para corroborar-lhes a fé; — fuja á ordem normal ou natural dos acontecimentos. Caso contrario, o milagre nao seria apto a suscitar de maneira eficaz a reflexáo dos homens. 2.

Dirá alguém: mas que significa «fugir á ordem natu

ral ou normal dos acontecimentos?» — 330 —

Hoje em dia os cientis-

«O QUE É MILAGRE NA BÍBLJA>

15

tas discutem a respeito de determinismo ou indeterminismo

das leis da natureza. Pelo fato de um fenómeno escapar ao curso comum das leis naturais, pode-se logo dizer, que resulta

de urna intervengáo extraordinaria de Deus? Este é o ponto mais nevrálgico de toda a temática que estamos abordando. Em resposta, observemos quanto segué:

As ciencias naturais contemporáneas ensinam que o deter minismo dos fenómenos no plano macrofisico nao é senáo o resultado de um sem número de reagóes no plano microfísico e que cada urna dessas reagóes é indeterminada. É a repetigáo estatística e constante dos mesmos fenómenos macrofísicos que permite estabelecr leis físicas; estas sao praticamente táo estáveis que se pode falar de determinismo absoluto dos fenómenos naturais.

Para

aprofundar

este

estudo,

faz-se

mister distinguir

entre «determinismo-indeterminismo» no plano ñsico e no plano metafísico. Os cientistas falam urna linguagem física e nao entram no setor da metafísica. Os físicos, alias, nao pre-

tendem negar o determinismo metafísico; segundo este, tudo o que é contingente, deve ter sua causa, que é também a sua razáo suficiente. Nao se pode negar a veracidade desta proposigáo, sem negar o principio de contradigáo ou os prin cipios mais fundamentáis da lógica. Por conseguinte, nao há indeterminismo das agóes e reagóes dos elementos naturais, mas determinismo, até mesmo no plano microscópico. A pro pósito veja PR 176/1974, pp. 338-341. De resto, a questáo nao importa para se fixar o conceito de milagre. Em qualquer hipótese, deve-se dizer que o milagre é um fato que foge ao curso normal dos acontecimentos de tal modo, porém, que a ciencia contemporánea ao

mesmo nao veja absolutamente nenhuma explicagáo possivel para tal excegáo. Se os homens de ciencia entrevéem qual quer pista para explicar naturalmente um acontecimento tido como milagroso, este já nao pode ser estudado como provável sinal divino ou milagre no sentido da apologética católica. Eis alguns dos casos de curas realizadas em Lourdes, por

exemplo,

que a medicina hoje em dia tem por totalmente

inexplicáveis:

recuperagáo

instantánea

da

vista

após

total

atrofia do ñervo ótico; cura instantánea de cáncer do piloro

e do fígado com plena restauragáo das funcóes digestivas; cura instantánea de meningite tuberculosa com bacilos de — 331 —

16

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

Koch no liquido céfalo-raquidiano, o qual continha 150 linfocitos por mmB... Alias, duas das notas características das curas milagrosas consistem em que *



™'7V!

1) ocorram em casos de doencas orgánicas e lesóes físi cas, nao nos casos de doengas funcionáis (que podem fácil mente ser dissipadas por desbloqueio psicológico),

2) ocorram instantáneamente, pois, quando a natureza e a medicina curam doencas orgánicas, geralmente o fazem paulatinamente. 3. Indagará o leitor: mas por que basta que a ciencia contemporánea ao fato tido como milagroso nao possa expli car tal fato? Nao seria mais lógico afirmar que o milagre é um acontecimento que a ciencia jamáis, nem daqui a cinqüenta ou cem anos, poderá explicar? — Nao. Se o essencial do milagre consistisse em ser sinal maravilhoso ou portentoso, poder-se-ia incluir em seu conceito a cláusula de «inexplicável mesmo em época futura».l Como, porém, o milagre é, antes do mais, um sinal,... sinal de Deus que fala aos homens em determinado contexto da historia, basta que nesse preciso contexto os homens nao tenham explicagáo natural para o portento nem entrevejam alguma pista para chegar á elucidacao científica do fato. Se nao há realmente nenhuma explicagáo ou sombra de explicagáo no momento e se o quadro dentro do qual o fenómeno se produziu é digno de Deus, pode-se crer que o Senhor ai tenha proferido sua palavra mais enfática que é o milagre.

4. Em síntese, para que a teología; possa falar de mila gre, háo de se preencher os tres seguintes requisitos: 1) Trate-se de um fato real... Este deve ser averi guado com exatidáo, para que se tenha noticia fiel á realidade ocorrida. Freqüentemente os relatos de milagres correntes entre a gente simples devem-se táo somente á fan tasía popular, que os tornou «portentosos».

2) Trate-se de fato real que as ciencias naturais con temporáneas ao fato nao possam em absoluto explicar. A Igreja nao faz questáo de descobrir ou impingir milagres ao

público; desde que qualquer brecha se oferega para urna elu!Tal

cláusula,

alias,

seria

Incertas do futuro da medicina.

temeraria,

— 332 —

pois

logarla

com

variantes

«O QUE fi MILAGRE NA BIBLIA»

17

cidacáo científica, o fato portentoso deixa de ser considerado pelos teólogos. A Igreja apenas aceita os milagres que, a

luz de crítica objetiva e severa, parec.am realmente ser sinais

de Deus.

3) O fato histórico inexplicável pela ciencia deve ter ocorrido em contexto que possa merecer a cháncela ou a resposta do Senhor Deus. Ve-se, pois, que nao basta o aspecto portentoso do fato. Com efeito; se o milagre é sinal, deve-se inserir em ámbito de diálogo entre Deus e as criaturas. Por conseguinte, nao pode ser milagre no sentido da apologética católica qualquer fato portentoso que confirme a vaidade, o espirito mercenario ou comercial, os vicios, o charlata

nismo. ..

Se, por hipótese, alguma vez se verifique um fenó

meno inexplicável pela ciencia em moldura de pecado e cor-

rupgáo, dir-se-á que se trata de artimanha do demonio. Tal caso, porém, é tido como extremamente raro, pois, nos am

bientes de vicios, os portentos sao geralmente explicáveis pela

psicología e a parapsicología...

Feitas estas ponderales livro de A. Weiser.

3.

sobre o milagre, voltemos ao

Reflexño final sobre o Hvro

Exporemos o nosso pensamento em quatro pontos:

1) O milagre, entendido como sinal ou palavra enfática de Deus aos homens, é condizente com a disposicáo divina de salvagáo; a" Encarnagáo do Filho de Deus é o principio explicativo da realidade dos milagres. Estes constituem um

sinal apto a despertar a fé dos incrédulos e corroborar a dos

crentes. Tal enfoque explica que a Tradicáo crista sempre tenha entendido os milagres de Jesús como fatos históricos e reais; nao se deveria hoje negar tal realidade, mas apenas procurar discernir os géneros literarios que a exprimem.

2) As curas de enfermidades realizadas por Jesús sejam compreendidas a luz do conceito de milagre atrás exposto.

Nao importa saber se todas as molestias curadas pelo Senhor

eram incuráveis pela medicina moderna. Mas interessa veri ficar que foram curas inexplicáveis pelos homens da época,

as quais ocorriam á guisa de resposta do Senhor á fé ou aos anseios dos ouvintes de Cristo. Preenchiam, pois, a furcgáo de palavra nova, mais viva do que a oral, a fim de reve

lar aos homens o plano de Deus. — 333 —

18

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

3) Os exorcismos praticados por Jesús nao foram meros atos convencionais, que correspondessem táo somente á crendice do povo judeu de outrora. Seria indigno da parte de Jesús, que veio dar testemunho da verdade (cf. Jo 18,37), proceder «fingidamente» como se existisse a possessáo diabó

lica quando esta nao existia. Jesús nao terá feito o papel de «palhago», confirmando os homens num erro religioso até nossos dias. Deve-se, pois, afirmar nao só a existencia do demo nio, mas também a possibilidade da possessáo diabólica. Isto nao quer dizér que nos preocupemos hoje com possessáo dia bólica; a grande maioria dos casos popularmente apontados como tais sao casos de epilepsia ou doencjas semelhantes. 4) Quanto aos outros tipos de milagres recenseados por A. Weiser (dominio sobre a natureza, ressurreicáo dos mortos, milagres concomitantes), verifica-se que é gratuito negar a realidade histórica dos mesmos. O Deus todo-poderoso possui naturalmente o dominio sobre a vida e a morte e sobre as forgas da natureza; se derroga a estas, nao o faz arbi trariamente, mas, sim, para assinalar mais eficazmente a sua presenca e a sua agáo entre os homens.

Eis o que, em poucas páginas, convinha observar a respeito do livro «O que é milagre na Biblia» de A. Weiser. É obra erudita, mas preconcebidamente unilateral e exagerada. Carece do enfoque teológico que nao deve faltar a quem cultiva a exegese e a hermenéutica! Bibliografía: Louis Monden, "Le miracle, signe de salut". Paulo

W. Trllling, 1976. M.

"O anuncio de

Schmaus,

"A Fé da

PR 171/1974, pp. 91-103 PR -los?);

176/1974,

pp.

Cristo

nos

Igreja", vol.

Desclée de Brouwer 1960.

Evangelhos

I. Petrópolis

Sinólicos".

Sao

1976.

(os milagres de Jesús: historia ou lenda?);

323-337

(milagres e

"milagres":

como

¡dentificá-

PR 176/1974, pp. 338-346 (pode realmente haver milagres?);

PR 173/1974, pp. 203-205 (existencia do demonio); PR 174/1974, pp. 246-257 (possessSo diabólica);

PR 174/1974, pp. 257-267 (o possesso de Gerasa e os porcos); PR 180/1974, pp. 496-499 (possessSo diabólica).

— 334 —

Um misterio que preocupa a inultos:

o triángulo das bermudas

Em síntese: O "Triangulo das Bermudas" ó urna área marítima situada entre a Florida e o arqulpélago das Bermudas, na qual se vem registrando numerosos e estranhos desastres de navegacáo marítima e aérea. A Imaginario dos observadores tem procurado expllcacáo para esses misteriosos fenómenos: há quem recorra á hlpótese de Intervencóes de habitantes de outros planetas na Ierra, outros pensam em conseqüdrtcias da elevada civillzacáo da Atlántida... Todavía a "Coast Guard" norte-americana, que há decenios vem pesquisando os fenómenos ocorrentes no Caribe, julga poder expllcá-los satisfatoriamente pelas circuns tancias iisicas da área em questáo assim como pela Impericia dos homens que por al yiajam. Se as teorías mlrabolantes encontram grande voga entre o público, Isto se explica pelo fasclnio que naturalmente desper tara nos homens as historias ou estórias misteriosas, fora do comum ou até mesmo slnistras.

Comentario: De vez em quando ouve-se falar do cha mado «Triángulo das Bermudas» como túmulo de navios, avióes e homens, que lá desaparecem bruscamente, sem quase deixar vestigios de si, de tal modo que se torna difícil con jeturar a maneira como pereceram. — Os misteriosos fatos do Triángulo tém suscitado a imaginagáo dos observadores, que tentam propor explicagóes dos mais diversos tipos para os mesmos, recorrendo até á parapsicología e a tradicoes

filosóficas antigás. Eis por que vamos, ñas páginas subseqüentes, abordar o fenómeno do «Triángulo do Diabo», como também se di2, examinando as teorías propostas para elucidá-lo e procurando a explicarlo mais fidedigna do mesmo.

T. 1.

O «Triángulo do Diabo»

A denominagáo

«Triángulo das Bermudas>

deve-se

ao jornalista Vincent H. Gaddis, que em fevereiro de 1964,

na revista «Argosy», usou pela primeira vez a expressáo. Esta designava a área marítima compreendida por urna liniha imaginaria que, partindo da costa da Florida (U.S.A.), iría até Porto Rico, a Leste; subiría até o arquipélago das Ber

mudas e voltaria á Florida. A expressáo foi consagrada pelo livro «Horizontes invisíveis» (Chilton 1965) do mesmo autor. — 335 —

20

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

Hoje em dia o próprio V. H. Gaddis reconhece que a denominacáo é imprecisa. Na verdade, o «Triangulo das Bermudas» corresponde a urna área de limites imprecisos, que melhor pode ser tida como um trapézio, ou seja, urna área de quatro lados, que nao tem dois lados ou dois ángulos iguais; há também quem a assemelhe a um losango. O Triángulo das Bermudas constituí hoje o quarto dos temas misteriosos que vém sendo estudados por cientistas, filósofos e curiosos diversos. Eis a lista completa de tais assuntos:

1)

O «Abominável Homem das Neves», designagáo im

propria para significar seres humanos nao identificados, ultra-

-primitivos; 2) «Monstros Marinhos e de Agua Doce», animáis ainda nao identificados, de enorme tamanho, existentes em lagos, ríos e mares; 3) UFOS (Unidentified Flying Objects), objetos voadores nao identificados (OVNI), ou seja, o que impropriamente se chama «discos voadores»;

4)

O «Triángulo das Bermudas» ou «do Diabo».

Como dito, a área do «Triángulo do Diabo» é conside rada altamente perigosa para a navegacáo, seja marítima, seja aérea, pois nela tém sido destruidos navios grandes e pequenos, assim como avióes, de maneira tal que por vezes nao

se puderam descobrir remanescentes (cadáveres humanos, destrocos de navios ou manchas de óleo a tona...). Os relató

nos insinuam que ai se registram manifestacóes magnéticas espantosas, anomalías de visáo dos navegantes ou dos avia dores, zonas morías de rádiocomunicacáo...

2.

O jornalista Vincent H.

Gaddis tentou

elaborar a

lista das vitimas do Triángulo do Diabo a partir de 1800, chegando a enumerar 71 desastres até o ano de 1974. Apresentamos, a seguir, alguns desses acidentes:

1800. O «USS Pickering» com destino a Guadalupe, Indias Ocidentais, vindo de New Castle, Delaware, desapareceu com urna tripulagáo de noventa homens.

1814.

O «USS Wasp», com 140 marinheiros, deu noti

cias pela última vez no Caribe no dia 9 de outubro. — 336 —

O TRIANGULO DAS BERMUDAS

foi

21

1854. Embora em excelentes condicóes, a escuna «Bella» l encontrada sem pessoa alguma ñas indias Ocidentais.

1918. O «USS Cyclops», um navio oarvoeiro da Mari nha, saiu de Barbados com destino a Baltimore no dia 4 de margo. Considerado um dos mais estarrecedores misterios da Marinha, o enorme navio desapareceu com 308 homens, inclu sive o Cónsul Geral Alfredo L. M. Gottschalk.

1921. Durante a primeira metade deste ano desapareceram tantos navios que cinco departamentos do Governo norte-americano foram investigar. Todos esses navios tinham partido de algum porto da costa Leste dos Estados Unidos. Alguns haviam entrado na área do Triángulo; outros fizeram

o contorno pelo Norte. Entre os navios maiores, misterio samente perdidos, estavam o italiano «Monte San Michele», o inglés «Esperanza de Larrinage», o brasileiro «Cabedelo», o navio-tanque británico «Ottawa», o transportador de enxo-

fre

«Hewitt»,

assim

como

embarcagóes

menores,

como

os

barcos noruegueses «Svartskog», o Steinsund» e o «Florino». Nada se sabe sobre o paradeiro desses navios. Alguns meses antes, dois outros navios sairam da costa Leste para o desconhecido. Foram o navio espanhol «Yutte» e o russo «Albyan».

1945. No dia 5 de dezembro o vóo 19, de cinco torpedeiros TBM Avenger, saiu do Aeroporto Naval em Fort Lauderdale, na Florida, para um vóo rotineiro de patrulha-

mento a Leste da Florida. Mensagens pelo radio enviadas durante o vóo revelaram que os pilotos estavam perdidos, e

todos os giroscopios e bússolas de todos os avióes estavam

«ficando

malucos

e

que

nao

sabiam

qual

era

a

dire;áo

Oeste». Estimaram sua posicáo como sendo de cerca de 225 milhas ao Nordeste do aeroporto da Marinha. A última mensagem da patrulha perdida terminou com urna sentenga ina

cabada. Um hidroaviáo Martín de patrulha, com urna tripulagáo de treze homens, foi enviado para o salvamento. Os cinco bombardeiros, assim como o aviáo de salvamento, nunca mais foram vistos. A despeito de urna busca que i Escuna vem

do

Inglés Schooner, e designa

nave a vela.

— 337 —

um

tipo antlgo de

22

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS! 224/1978

abrangeu 380.000 milhas quadradas, jamáis encontraram destrocos, cadáveres ou pistas de óleo sobre as aguas.1 1967. Com quatro homens a bordo, um Chase YC-122, convertido em aviáo de carga, desapareceu entre Palm Beach e a Grande Bahama, no dia 11 de Janeiro.

1971. Um jato de combate F-4 Phantom II levantou vóo na Momestead Air Forcé Base no dia 10 de setembro. Um radar seguiu a posigáo do aviáo a um ponto cerca de oitenta e cinco milhas a Sudeste de Miami. Depois o sinal desapareceu. Urna busca imediata, mas infrutífera, foi feita

naquela área, onde a agua nao tem mais de trinta pés de profundidade.

1972. No dia 21 de outubro um aviáo da Flamingo Airlines partiu de Bimini e desapareceu sem deixar qualquer vestigio. 1973. O «Anita>, cargueiro de 20.000 toneladas, com urna tripulagáo de trinta e dois homens, partiu de Norfolk para o desconhecido no dia 21 de margo. 1974. O iate de cinqüenta e quatro pés «Saba Bank» saiu de Nassau no dia 10 de margo num cruzeiro de inauguragáo para Miami. Urna busca vá feita pela Coast Guard foi suspensa no dia 27 de abril. Para explicar tais fatos, os estudiosos tém recorrido nao sonriente a dados da ciencia, mas também a concepgóes fic cionistas e filosóficas. Deste trabalho resultam diversas teo rías, que vamos, a seguir, recensear.

2.

As explicagoes ficcionistas

Proporemos quatro das principáis teorías de índole ima ginativa: 2.1.

O «mundo paralelo»

Esta tese ensina que existe um mundo paralelo ao nosso, tridimensional como o nosso, que penetra no nosso mediante jé este o mals famoso e comentado dos desastres do Triángulo da morte.

— 338 —

O TRIANGULO DAS BERMUDAS

23

aberturas ou vórtices. Objetos e seres do nosso mundo poderiam passar por tais aberturas ou vórtices para esse mundo paralelo. Por conseguinte, avioes, navios e homens desapare cidos deste mundo teriam transitado por «vórtices vis» para outros mundos.1 2.2.

Energía psíquica e energía gravitadonal

Semelhante á anterior é esta teoría, que assim pode ser exposta:

De acordó com o colaborador intimo de Albert Einstein, o físico Premio Nobel Pascal Jordán, existe forte relagáo entre a gravidade e a forca ou energía que transmite a telepatia. Mais: parece haver lugares sobre a térra nos quais a energia psíquica e a gravitacional se combinam para formar um vórtice de teletransmissáo.

Tal teoría é ilustrada por dois exemplos:

a) Em 1899, perto das avenidas Baltic e Florida em Atlantic City, New Jersey, de acordó com dúzias de relatos de testemunhas visuais, um homem foi visto subindo para o o céu, as pernas e os bragos estendidos. Tudo o que os obser vadores desesperados puderam fazer, foi olhar e ouvir ater rorizados enquanto o homem repetidamente gritava: «Ponham-me no chao!» b) A algumas milhas de Gallatin, Tennesse, na tarde ensolarada de 23/09/1880, David Lang saiu de casa e atravessou um pasto para inspecionar um par de cávalos. Seus dois filhos pequeños, Sarah e George, estavam brincando com cávalos de madeira e trenzinhos. Gritou-lhe entáo a esposa: «Volte depressa, Dave, quero que me leve á cidade antes que as lojas fechem».

Lange parou perto da cerca, olhou para o relógio de bolso e disse-lhe:

«Estarei de volta em poucos minutos». i Vórtice

nárío).

=

redemolnho,

remolnho,

voragem

(Aurelio,

Novo

Dtcto-

Infelizmente nfio conseguimos mais lúcidas explicacoes desta tese. O texto ácima foi transcrito do artigo de V. H. Gaddis intitulado "A zona crepuscular da morte" incluido na coletánea "Bermuda: Triángulo da Morte" sob a responsabllidade de Martín Ebon. Nova Época Editorial Ltda. Sio Paulo 1976.

— 339 —

24

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

Quando atravessou o campo, acenou mais urna vez, quando dois amigos, de carro, passavam em diregáo á casa... Nesse momento os olhos das cinco pessoas estavam obser vando David Lange, que súbitamente desapareceu no ar, para nunca mais voltar... Alias,

Charles

Fort,

no

seu

livro

«Térras

Novas»,

escreveu:

"Tenho muitos dados de desaparecimentos humanos. Tenho também dados sobre a queda de materia orgánica do céu. Devido á minha famfliaridade com relatos, nao me parece incrfvel que no céu, aparentemente

desocupado, haja bandos de coisas vivas" citada coletánea de Martín Ebon, pp. 177s).

(testemunhos

transcritos

da

Ora tais fenómenos explicarían), segundo alguns estudio sos, o desaparecimento de pessoas que, no Triángulo das Ber mudas, viajavam em navios ou avióes. Tem acontecido, sim, que as naves sao encontradas,... intatas ou sem danos, mas totalmente abandonadas.

2.3.

Habitantes de outros planetas

Há pensadores que julgam que habitantes de outros pla netas sao os responsáveis pelo desaparecimento de pessoas e veiculos no Triángulo das Bermudas.

Assim, por exemplo, admitem alguns que as tripulagóes de navios abandonados foram raptadas por seres de outros planetas. Em diversos casos, as tripulagóes desapareceram, mas os caes e as mascotes dos navios ficaram a bordo. Outros pensadores recorrem, em termos diferentes, a habitantes de outros planetas. Com efeito; lembram que os astronautas das viagens Apolo a caminho da Lúa se mara-

vilharam com a brancura da agua da área do Triángulo. A mesma surpresa foi expressa por pilotos que voaram a gran

des altitudes.

Dir-se-ia, em conseqüéncia, que as aguas do

bojo do mar estáo em continua agitagáo e efervescencia no Triángulo das Bermudas. Ora como explicar isto? — Poder-se-ia crer que homens de civilizacáo superior á nossa estiveram na térra em tempos imemoriais e deixaram no fundo dos mares um poder sofisticado, que cria ocasional mente campos magnéticos responsáveis pela condenagáo de

navios e avióes.

Segundo alguns autores, esses seres inteli

gentes extra-telúricos teriam constituido sobre a térra cam-

— 340 —

O TRIANGULO DAS BERMUDAS

25

pos artificiáis de gravidade, que vém a ser avenidas «supercolossais», as quais levam a outra parte do universo. 2.4.

A Atlfintida

Enfim, há também quem se lembre da teoría da Atláno continente submerso pelas aguas segundo Platáo (t 347 a.C). O principal arauto da explicacáo do misterio das Bermudas pela hipótese da Atlantida é Edgar Cayce, que, para isto, se vale tanto de investigagóes arqueológicas quanto de revelagóes mediúnicas ou espiritas. Essas revelagóes tiveram lugar entre 11 de outubro de 1923 e 3 de Janeiro de 1945; propüem a estória da Atlantida desde os inicios até a sua idade de ouro e a sua decadencia e ruina final. Os habi tantes da Atlantida teráo conhecido comunicagóes modernas, inclusive a eletrónica, transportes terrestres, aéreos e subma rinos, a neutralizagáo da gravidade, a utilizagáo da energía solar por meio de «pedras de fogo» e a transmissáo de forga para veículos aéreos, terrestres e aquáticos. O mau uso dessa tecnología terá provocado pelo menos um dos cataclismos que destruiram a Atlantida. Cayce, alias, sustentava através das suas visóes que a primeira encarnagáo da consciéncia de Cristo, chamada «Amelius», apareceu na Atlantida. tida,

Ora Edgar Cayce localizou a Atlantida perto de Bimini,

no Triángulo das Bermudas, pois blocos de pedras aparente mente burilados pela máo do homem foram encontrados a

trinta pés abaixo do nivel do mar na regiáo de Bimini. Os habitantes da Atlantida localizados no Caribe teráo utilizado poderosíssimas energias extraídas dos cristais, energías com-

paráveis aos lasers contemporáneos; além disto, sabiam atrair a energía solar. Pois bem; essas foreas estranhas e potentíssimas até hoje estariam exercendo a sua influencia no Ca ribe, provocando as anomalías eletromagnéticas, as falhas de radio, de bússolas, de ignigáo e outros fenómenos causadores do desaparecimento de navios e avióes.

Urna vez recenseadas as principáis explicagóes ficcionis-

tas para os fenómenos das Bermudas, passamos á pergunta:

3.

Que dizer ?

Como se vé, as teorías até aqui propostas sao mais ou menos gratuitas e arbitrarias.

— 341 —

26

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

Oe modo especial sobre a Atlántida pode-se afirmar o seguinte: — a pretensa maravilhosa civilizagáo da Atlántida é mera construgáo literaria de Platáo, destituida de fundamen tos arqueológicos e históricos, como se dirá no artigo seguinte (cf. pp. 348-357); nada prova que, no caso de ter existido a Atlántida, haja sido povoada por homens de elevada civilizagáo;

— a própria existencia da Atlántida (independentemente do seu tipo de cultura) é objeto de discussdes e hesitagóes por parte dos cientistas.

Quanto á tese de que os habitantes de outros planetas sao responsáveis pelos desastres ocorrentes no Caribe, é assaz inconsistente. Verdade é que pode haver seres inteligentes fora do globo terrestre; todavia nao temos a certeza de que existem (até hoje nao se pode provar a existencia da vida fora da térra); muito menos se pode dizer que tenham estado outrora em nosso planeta ou que aínda hoje exergam influen

cia sobre este. A fantasía gratuita está na raiz de tais hipóteses, distanciando-se dos dados concretos da ciencia empí rica.

De resto, as interpretagóes ficcionistas sao desnecessárias para elucidar o misterio do Triángulo das Bermudas. Na

realidade, a ciencia contemporánea julga ter elementos sufi

cientes para explicar os fenómenos desastrosos lá ocorrentes; em conseqüéncia, o sao alvitre e o bom senso se inclinam

para as teorías científicas,

deixando de lado

as gratuitas

especulagóes da fantasía. Vejamos, pois, como entendería fenómenos do Triángulo da Morte.

4. 4.1.

A U.S.

a

ciencia moderna

os

A explícaselo científica Coas» Guard

A U.S. Ooast Gnard é o órgáo oficial dos Estados Unidos responsável pelo policiamento do litoral norte-americano; tem empreendido as investigares subseqüentes aos desaparecimen-

tos de navios e avióes no Triángulo das Bermudas. — 342 —

É, por-

O TRIANGULO DAS BERMUDAS

27

tanto, a entidade que, com mais conhecimento de causa, está habilitada a falar sobre os fenómenos em pauta, visto que tem realizado pesquisas serias durante decenios orientadas segundo os criterios mais objetivos que se possam conceber.

Em vista disto, vamos reproduzir abaixo o texto de urna nota

oficial da U.S. Coast Guard Triangulo da Morte'.

referente

aos

fenómenos do

«O Triángulo Bermuda ou do Diabo é urna área imaginaría no sudeste do Atlántico ao longo da costa dos Estados Unidos, notável pela alta incidencia de perdas ínexplicáveis de navios, pequeños barcos e avioes. Os vértices do Triángulo geralmente aceitos sao: Bermuda, Miami, na Florida, e San Juan em Porto Rico. No passado, buscas extensivas, mas esteréis da Coast Guard foram realizadas em casos como o do desaparecimento de um esquadráo completo de TMB Avengers, logo depois de terem levantado vóo em Fort Lauderdale, Florida, ou do afundamento sem pistas do Marine Sulphur Queen no estreito da Florida. Essas buscas inope rantes credenciaram a crenca popular no misterio e ñas qualidades sobrenaturais do Triángulo Bermuda. Foram apresentadas teorías sem conta tentando explicar os varios desaparecimentos. As mais práticas parecem ser as do am biente e as que alegam erro humano. A maioria dos desaparecimentos pode ser atribuida as carac terísticas únicas de ambiente daquela área. Primeiro, o Triángulo do Diabo é um dos dois lugares da térra em que a bússola mag nética aponta para o verdadeiro Norte. Normalmente ela aponta para o Norte magnético. A diferenca entre os dois é conhecida como variacao de bússola. A percentagem de variagáo se altera em até vínte graus quando se circunavega a Ierra. Se esta varia cao de bússola ou erro nao for compensada, o navegante poderá desviar-se muito do seu curso, provocando problemas. Urna área chamada 'O Mar do Diabo' ■ por marinheiros neses c filipinos, localizada na costa Leste do Japao, também senta as mesmas características magnéticas. Assim como o gulo Bermuda, é ela conhecida por seus desaparecimentos riosos.

japo opreTrián miste

Outro fator ambiental é o caráter do Guif Stream. É extrema mente rápido e turbulento e pode rápidamente fazer desaparecer qualquer prova ou vestigio de um desastre. *Tal nota é extraída do já citado lívro de Martín Ebon, pp. 185-187.

— 343 —

28

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978 As intemperies ¡mprevisíveis do Caribe-Atlántico também desem-

penham o $eu papel.

Tempestades locáis súbitas e trombas dágua

freqüentemente significam

desastre para

pilotos e

marinheiros.

E finalmente a topografía do fundo do océano varia de exten sos bancos de areia ao redor das ilhas até as válelas oceánicas

Diois profundas sobre

do

mundo.

os

recifes,

a

tornando

rápido

o

O

fator

do

Com a

topología

está

desenrolar

erro

de

humano

interacao em

novos

nao

das correntes fortes

estado

de fluxo constante,

perigos

deve

ser

na

navegacao.

subestimado.

Um

grande número de barcos de turismo navega pelas aguas entre a Gold Coast da Florida e as Bahamas. Freqüentemente tentam cruzar o mar com barcos pequeños, conhecimento insuficiente dos perigos da área e falta de prática de marinhagem. A Coast Guard, em suma, nao está ¡mpressionada com as explicacoes sobrenatural dos desastres marítimos. Temos experien cia de que as forcas combinadas da natureza e a imprevisibiiidade da humanidade ultrapassam de longe a mais audaciosa ficcáo cien tífica».

Como se vé, o texto desta declaragáo é tranquilo. Emconhegam as explicacoes ficcionistas e «místicas», os Oficiáis da Coast Guard julgam poder dispensá-las para expli car o misterio do Triángulo; a natureza mesma, com a riqueza bora

de suas energías, é capaz de produzir fenómenos que á primeira vista nao tém explicagáo natural e, por isto, provocam a fantasía e a ficgáo, ... fenómenos, porém, que, mais exatamente investigados, sao perfeitamente cabíveis dentro do quadro geral e complexo das leis da natureza. Pessoalmente, o capitáo Adrián Lonsdale, da Guarda Costeira dos Estadas Unidos, participou das investigagóes feitas após a perda do Witchcraft (1967). Está convicto de que as más condigóes metereológicas, fainas mecánicas e erros humanos sao as únicas causas dos desastres do Triángulo da Morte. Eis o seu testemunho:

«O

desaparecimento

minha teoria.

do

Witchcraft

exemplifica

perfeitamente

A noite estava ventosa e urna das hélices tinha ava-

riado, o que logo limitava a velocidade do barco. O convés deste era coberto por um toldo típico das Bermudas, feito de cana entron cada, o qual, quando soprado pelo vento, atua como urna vela. Desenvolvendo pouca velocidade, puxado pela correnteza e empur344

O TRIANGULO DAS BERMUDAS

29

rado pelo vento, o barco foi provavelmente desviado para o Norte, em direcáo a Fort Lauderdale. Vista do mar, a cidade de Lauderdale se assemelha a Miami. Quando do Witchcraft assinalaram estar ao largo de Miami, achavam-se na realidad* ao largo de Lauderdale. Nos estivemos procurando no local errado. Depois, o barco deve ter sido arrestado para o mar, e foi o fim da tragedia».

Concluí o capitáo Lonsdale: «O Lloyd's de Londres informa que, anualmente, sao dados como desaparecidos cerca de 352 navios e avioes de turismo. Em quatro ou cinco casos, eles sao atingidos rao inesperadamente que seus pilotos nem tém tempo de lancar um .S.O.S. Se um navio afunda no meio de violenta tempestade na área do Atlántico conhecida como o Triángulo, para nos nao é mais do que um desas tre; para outros, que nao tém conhecimento dos detalhes, é o inacreditável e o misterioso. Suponho que é urna tendencia normal a de classificar qualqver coisa de sobrenatural, quando nao se consegue encontrar para ela urna explicacao lógica».

A famosa perda dos cinco torpedeiros TBM Avenger do vóo 19, aos 5 de dezembro de 1945, explioa-se dentro dos moldes do que pode acontecer em viagens aéreas. Eis como a elucida James Stewart-Gordon: O capitáo-chefe Taylor terá perdido o rumo da 'expedigáo. Deveria entáo ter sintonizado o seu radio para o canal livre de emergencia, que haveria possibilitado as estagóes costeiras informarem-no de sua posigáo. Nao o fez. Isto ocasionou a sua entrada em pánico.

Quanto

ao

Martín Mariner,

a

tripulagáo

do

cargueiro

Gaines Milis observou, as 7 h 50 min da tarde do dia do desaparecimento dos avióes, urna enorme explosáo numa área que coincidia com a rota do aparelho. A bem conhecida sus-

cetibilidade dos Martín Mariner para sofrerem avarias no sis tema de alimentacáo dos motores e para explodirem quando as condifióes meteorológicas sao más, só por si, fornece urna resposta.

De resto, alguns estudiosos hoje em dia reconhecem que há dez áreas equidistantes sobre a face da térra, onde ocorrem fenómenos singulares ou desafiadores semelhantes ao do Triángulo das Bermudas... Se nem todos os dentistas dáo énfase ao número dez, reconhecem ao menos a existencia dos

— 345 —

30

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

perigos que certa regiáo do mar do Japáo e que a Sable Island (litoral atlántico do Canadá) oferecem & navegagáo. — A

existencia destes lugares escabrosos é explicada por condigóes físicas da térra, das aguas e dos ares. 4.2.

A fascina;» pelo maravilhoso e pelo sínislro

Quem observa as diversas teorías apresentadas para ex plicar os fenómenos do Triángulo das Bermudas, verifica que o público, talvez inconscientemente, é propenso a admitir a presenca e a agio de elementos estranhos, sinistros, apavoradores, desde que se lhe oferega a ocasiáo. Está na psicología das massas aceitar forgas desconhecidas, poderes misteriosos a ameaearem a vida do homem. Tudo que nao seja fácil mente explicado, muitas vezes é tido como efeito de poderes do além. Mais: as hipóteses mirabolantes geralmente agrádam mais ao público do que a verdade na sua singeleza ou na sua cientificidade. É por isto que encontram grande voga os romances de ficgáo que falam de visitas de astronautas (deuses) á térra, por mais eivados de erros e imprecisóes que estejam tais romances; tenham-se em vista os de Erich von Daniken, que foi processado por ter cometido desonestidades e fraudes na redagáo do seu livro «Eram os deuses astronautas?». Os mis terios e as surpresas que a hipotética visita de astronautas propóe ao leitor, tem algo de «gostoso» ou mesmo fascinante para o grande público. É pelo mesmo motivo que estáo fre-

qüentemente no cartaz filmes inspirados por fatos mirabo lantes sinistros, terremotos devastadores, afundamento de navios gigantescos e incendios em arranha-céus. Últimamente os temas «demonio» e «possessáo diabólica» tém sido explo rados, encontrando sempre atitude receptiva da parte do pú blico.

Pergunta-se: donde vem todo esse interesse ou o fas-

cínio por desastres e calamidades, dado que no mundo real já os há demais? Nao seria necessário acrescentar á realidade toda a onda sinistra de ficgáo. — Parece que a realidade nunca é suficiente! A psicología humana procura, tal

vez inconscientemente, mais e mais imagens ou teorias que

correspondan! á curiosidade pelo maravilhoso, pelo estranho e até mesmo... pelo sinistro. Nao estáo fora de propósito as reflexóes de Martín Ebon na obra citada, p. 205: — 346 —

O TRIANGULO DAS BERMUDAS

31

«Lembram-se da primeira alunissagem? Todos estovamos grudados na televisáo, até altas horas da madrugada para ver a transmissáo ao vivo dos nossos astronautas aterrissando na Lúa e vio lando em sua superficie. E como nos tornamos blasés! As aterrissagens posteriores na Lúa pareceram anticlimáticas e os astronautas de ontem agora fazem promocoes comerciáis, revelam suas crises emocionáis em autobiografías ou se divorcian) sem alarde.

Eles, descobrimos, nao sao super-homens. Nem o sao os nossos dirigentes, os líderes da industria, da religiáo, do divertimento; nao inspiram terror nem confianca e nos estamos á procura de... de qué?

Estamos á procura de deuses. Estamos á procura de seres mais poderosos e mais sabios do que nos. Estamos á procura de seguranca e á procura do medo e do terror. Se seres sobrenatural agarram aeroplanos no céu, capturam ou afundam navios e portanto sao criaturas mais poderosas do que nos, sao seres divinos. Talvez sejam táo poderosos e inte ligentes que sat'bam as respostas a perguntas a que nao pode mos responder. Porque aqui estamos aproximando-nos do f¡m do século XX e nos sentimos como se fóssemos os seres humanos mais confusos que a térra ¡á conheceu».

Uma vez ponderadas as teorías propostas por este artigo, concluimos nao haver necessidade de se explicar o fenómeno do Triangulo das Bermudas por recurso á «mística» ou a

forgas inteligentes invisíveis. Bastam as elucidagóes científi cas, que concorrem para dissipar a falsa procura do maravi-

Ihoso e do estranho táo cultivada a propósito do Triángulo

• da Morte!

A guisa de bibliografía:

Martín Ebon, "Bermuda: Triángulo da Morte".

Ltda. Sfio Paulo

1976.

Nova Época Editorial

James Stewart-Gordon, Oual a verdade sobre o triángulo das mudaa?, em "SelecSes" t. IX, tfi 53, outubro 1975', pp. 34-39.

Ber-

PR 217/1978, Dánlken).

von

pp.

12-21

(a

propósito

— 347 —

das

teorías

de

Erích

Na linha do "misterio" :

e a atlantida?

Em sfntese:

O testemunho mais

antígo que se tenha da existencia

e da clvlllzacio da Atlantida é o de PlatSo (427-347 a.C.) em seus diá

logos "Timeu" e "Crltlas". Platáo diz ter recebldo as noticias respec tivas da parte do avó de Crltlas, que atribula a Solón recordacSo de uma vlagem feita ao Egito. Neste país, os sacerdotes de Sais teriam relatado ao legislador ateniense a tradicáo da Atlantida: já havla 9.000 anos, terla existido a Atlantida com os portentos de sua civilizado! A tradlcSo respectiva tem tragos mitológicos: tralava-se de uma ilha-contlnente que coubera em partllha ao deus Poseidónlo (Netuno), o qual se unirá a uma criatura mortal, Cllto, e déla tlvera cinco pares de fllhos gémeos, protagonistas do progresso e da cultura da Atlántidal... A seqüéncla da narrativa desenrola-se nesse tom lendário. Em

conseqüéncia, os cientistas e filósofos hoja em dia reconhecem

que Platáo, mediante a sua descncao, apenas quis apresentar o Estado ideal em estilo de flcgao, á semelhanca do que ocorre com os livros de Julio Verne e Osear Wells. Os textos de Platáo tém valor filosófico; nada, poróm, slgnificam no plano da historiografía e da arqueología. Pode-se admitir, todavia, que PlatSo, ao conceber a sua imagem ideal e ficticia da Atlantida, tenha tldo em mira alguma catástrofe geológica dessas que

nSo raro abalaram a face da térra no decorrer da historia.

É mesmo

posslvel que o filósofo tenha pensado em determinado cataclismo ocorrldo no Océano Atlántico. Isto, porém, nSo basta para se dizer que a

elevada clvlllzacio e a profunda sabedoria atribuidas Atlantida correspondem a realidades históricas.

aos

habitantes da

O fato de que a narragáo de Platáo encontrou tanto eco na historia do pensamento deve-se ao senso do misterio e do místico que é profun damente

arraigado

na

natureza

humana.

Comentario: O estudo da Atlantida tem importancia nao somente por seu aspecto geológico, mas principalmente pelo fato de que as correntes ocultistas de nossos dias, afirmam herdar a sublime sabedoria da Atlantida, sabedoria que, como dizem, só pode ser revelada a iniciados; Mme. Blavatsky, por exemplo, e o coronel Olcott, mentores da Teosofía moderna, passavam por já ter vivido na Atlantida em anterior encarnacáo...



Interessa-nos,

por

conseguinte,

— 348 —

primeiramente

E A ATLÁNTICA?

33

averiguar o que referem as fontes históricas a respeito da Atlántida para, a seguir, formularmos um juízo seguro sobre a existencia e o significado do famoso continente.

1. 1.

O testenumho das fontes históricas

O vocábulo Atláatida vem de Atlas ou Atlanta, nome

de um dos deuses da mitología grega, pertencente á familia das divindades do mar; atribuiam-se-lhe inteligencia superior, ciencia universal e, em particular, o conhecimento de todos os abismos do océano. Como o nome indica (Atlas vem do radical grego tal ou tía, que significa «carregar»), o deus Atlas era o Portador por excelencia, pois sustentava sobre a cabeca e os fortes ombros todo o peso do Céu (diziam uns) ou (conforme outros) as enormes colunas que da Térra separavam a abobada celeste.

As narrativas mitológicas variam um pouco na maneira de explicar como Atlas passou a exercer tal fungáo: urna versáo refere que o herói Perseu, filho de Júpiter, se apresentou um dia ao tita Atlante (os titas eram os filhos gigan

tescos de Ouranos, céu, e Gea, térra), pedindo-lhe asilo; já

que Atlante o negou, o herói, fazendo refulgir aos seus olhos a cabeca de Medusa, transformou o tita numa montanha cha mada Atlas (norte da África), sobre a qual haveriam de se apoiar o céu e os astros!

Diz outra narrativa que foi o próprio Júpiter quem sentenciou Atlas, oondenando-o a carregar sobre os ombros o • peso do Atlas. Este, segundo Heródoto, era enorme monte da Libia, cujas altas cumiadas, envolvidas em nuvens, suge-

riam aos libios tratar-se de urna coluna do céu. O motivo da condenacáo teria sido o apoio dado por Atlas a urna revolta

dos titas contra Júpiter.

Urna terceira lenda completa as anteriores contando que Hércules foi ter certa vez com Atlas, a fim de roubar os pomos de ouro do jardim das Hesperides; enquanto Hércules ficaria sustentando a abobada celeste, Atlas iria colher os almejados frutos. Aconteceu, porém, que, ao voltar do latro cinio, Atlas recusou-se a retomar o seu fardo habitual; Hér cules entáo, usando de um ardil, fez que ao menos por um — 349 —

34

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

momento Atlas aceitasse a carga;

entrementes

apoderou-se

dos pomos e abandonou seu cúmplice. 2.

Deixando

de

parte

a

mitología,

verificamos

que o

nome do deus assim focalizado foi, sob a forma do adjetivo Atlántida, dado a um continente que a tradigáo dos antigos narra ter sido submerso pelas aguas. Donde vem essa tradigáo?

A mais antiga fonte de tal noticia é o filósofo grego Platáo (427-347 a.C), era duas de suas obras: os diálogos «Timeu» (21-25) e «Critias». — Vejamos, pois, o que a pro pósito refere tal escritor. Platáo atribuí a certo Critias, de Atenas, urna da qual Critias teria tomado conhecimento através escritos por ele encontrados em casa de seu avo de sua juventude. Nesses escritos, dizia Crítias,

narrativa de alguns nos anos Solón, o

grande legislador ateniense do séc. VI a.C, consignara recordagóes de urna viagem que fizera ao Egito: estivera entáo em visita aos sacerdotes de Sais (cidade do delta do Nilo), os quais teriam relatado ao legista de Atenas algo das suas venerandas e longinquas tradigóes... Dentre estas se destacava a seguinte: havia 9.000 anos, existia, em frente das Colunas de Hércules (estreito de Gibraltar), urna ilha-conti-

nente, maior do que a Labia e a Asia reunidas. Tal ilha coubera em partilha ao deus Poseidónio (Netuno), que se unirá a urna criatura mortal, Clito, vindo a ter cinco pares de filhos gémeos. Netuno, havendo educado esses herdeiros, repartiu entre eles o dominio da ilha, tocando ao mais velho, Atlas, o mando supremo (donde o nome de Atlántida dado a todo o territorio). Os dez irmáos geraram posteridade nume rosa, a qual recobriu a Atlántida, levando vida caracterizada por sabedoria e felicidade.

Muito interessante era a configuracáo geográfica da regiáo: constava de urna ilha central, onde se erguiam o tem plo de Netuno e Clito, assim como o palacio regio. Essa ilha central tinha o diámetro de cinco estágios (888 m), e era cercada por um canal largo de um estadio (177,60 m). Ha via, em seguida, um anel de térra, da largura de dois estadios

(355,20 m), e outro canal de aguas, também largo de dois estadios. Mais um cinturáo de térra e um terceiro canal — 350 —

E A ATLANTIDA?

35

se avistavam a seguir, medindo cada qual tres estadios (532,80 m). Após o terceiro canal, estendia-se mais um anel de térra, o qual inedia cinqüenta estadios (8.880 m) de lar gura. Nos limites exteriores deste terceiro cinturáo encontrava-se finalmente o mar aberto.

Os descendentes de Netuno ou os Atlantes einda embelezaram a obra de seu divino Genitor, construindo longas pontes, pujantes muralhas, torres, fortalezas, quarteis, arse-

nais, ginásios, jardins, hipódromos, etc. Notável era a afluen cia de naves á Atlantida; provenientes de todas as partes do

mundo, podiam penetrar, por meio de cañáis artificiáis, até o ámago do continente, provocando intenso movimento diurno e noturno.

Na ilha central, o templo de Poseidónio se estendia im ponente sobre a área de um estadio (177,60 m) de comprimento e tres pletros de largura (88,60m, ao todo); cercavam-no muralhas refulgentes de outro e metáis preciosos. Condigno era o esplendor do palacio dos reis, situado ñas proximidades e rodeado de casernas. Duas inextinguíveis fontes de agua afloravam ao solo da ilha central, urna quente, a outra fría, alimentando os balnearios, refrescando o bos

que de Poseidónio e irrigando, por sabio sistema de cañáis, todo o continente até as suas extremidades.

A densa populacáo da ilha se distribuía por 60.000 dis tritos, constituidos a semelhanga de auténticas circunscricóes militares: esses distritos forneciam la defesa do continente 10.000 carros de combate, 240.000 cávalos, 1.200.000 guerreiros (vinte por distrito), 240.000 marinheiros para 1.200 * naves

(cada qual dotada de duzentos homens).

A prosperidade da vida na regiáo era extraordinariamente favorecida pela bonanga da térra: duas colheitas ao ano, flora e fauna abundantes completavam as riquezas do solo e do subsolo: ouro, prata, estanho, oricalco, pedras preciosas... Durante muitos e muitos séculos, continua a narrativa de Platáo, os reis da Atlantida se mantiveram á altura de sua linhagem divina, comportando-se sobria e virtuosamente. Aos poucos, porém, deixaram-se dominar pela cobic.a e as paixóes: em vez de fomentar a agricultura e o comercio, respeitando os deuses e suas leis, passaram a se preocupar com

— 351 —

36

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

a dilatacáo de seu poder, subjugando militarmente as ilhas vizinhas, toda a África até o Egito, e a Europa até a Tirrénida. Á vista disto, Júpiter reuniu a assembléia dos deuses e resolveu castigar a linhagem pervertida dos Atlantes. A cidade de Atenas na Grecia tornou-se o instrumento da punicáo, assumindo, sim, a chefia da resistencia aos invasores insulares. Atenas, embora abandonada por seus aliados, con-

seguiu vencer os inimigos, libertando os povos dominados a leste das Colunas de Hércules. A seguir, terremotos e inundagóes flagelaram a Atlántida, vindo esta finalmente a pere cer, totalmente tragada pelas aguas em um dia e urna noite! Eis o que refere Platáo no séc. V a.C. (notemos o grande número de intermediarios — Crítias, o avó de Critias, Solón de Atenas, os sacerdotes do Egito — que o teráo posto a par do «episodio» ocorrido havia mais de 9.000 anos...; é esta urna via assaz acidentada!). Outros autores que, na antigüidade, aludem á Atlántida sao posteriores ao filósofo grego e

dele dependem literariamente; nem Heródoto (f 424/402 a.C.)

nem Hornero (séc. VIH a.C.) nem algum dos escritores pré-

-socráticos

(contrariamente ao que se pensava há decenios

atrás) pode ser tido como testemunha da sorte da Atlántida: «A Atlántida só é mencionada por Platáo e por aqueles que 0 leram» (S. Gsell, «Histoire ancienne de l'Afrique du Nord» 1 1913, 328). Importa-nos, por conseguinte, indagar agora qual seria o genuino sentido do relato de Platáo. Para chegarmos a urna conclusáo sólida, examinaremos primeiramente o que a respeito pensaram os intérpretes no decorrer dos sáculos.

2.

As variadas ¡nterpretasoes

O tema da Atlántida tem sido amplamente explorado pelos escritores modernos, ora em tom serio de estudos cien tíficos, ora em literatura de romance e ficcáo. 1.

Em primeiro lugar, registram-se intérpretes que muito

estimaram a narrativa de Platáo; coligindo todos os dados elucidativos fomecidos pelos textos do filósofo, procuraram reconstituir a carta geográfica minuciosa do desaparecido con tinente, a lista de seus reis, as peripecias de sua historia...

— 352 —

E A ATLÁNTIDA?

37

Sem descer a tantos pormenores, principalmente sem se prender as indicagóes de tempo e lugar, outros autores, desde as primeiras geragóes após Piatáo até nossos dias, admitiram e admitem o desaparecimento, em época pré-histórica, de um continente, quigá habitado e altamente civilizado; contudo muito diferem entre si ao tentarem identificar a malograda térra.

Rudbeck, por exemplo, colocou a antiga Atlántida na regiáo da Escandinávia moderna; Latreille, na Pérsia atual; Bailly (em 1779), no planalto da Mongólia, conjeturando todo um sistema de migragoes dos povos na base dessa hipótese. De Baer, que tratou muito longamente do assunto, quis ver nos habitantes da Atlántida as doze tribos de Israel; o cata clismo de que fala Piatáo, correspondería ao que aniquilou as cidades de Sodoma e Gomorra! Nao poucos intérpretes voltaram suas vistas para a América, sendo que Mac-Culloch assimilou a Atlántida as Antilhas: as pequeñas ilhas disse minadas entre a América e a Europa seriam os vestigios da regiáo tragada pelas ondas; em favor desta opiniáo, cita-se o fato de que ñas ilhas Canarias foi encontrado pelos descobridores espanhois um povo dito «dos Guanches», hoje desa parecido, povo que mostrava costumes semelhantes aos dos egipcios e aos de indios da América, e cuja lingua parece ter tido afinidades com a destes últimos. De Paw julgaya que a

América mesma nao é senáo a Atlántida, outrora, sim, devo rada pelas aguas, mas posteriormente abandonada por estas; a civilizacáo atlántida ainda nos seria atestada pela dos povos pré-colombianos do México, do Perú e da foz do Guadalquivir.

Hoje em dia a hipótese mais em voga sitúa a antiga • Atlántida ao largo de Gibraltar, onde se encontram as ilhas dos Agores, da Madeira, das Canarias e do Cabo Verde (que seriam os últimos vestigios do continente submerso). Em 1898 sondagens realizadas ao norte dos Agores trouxeram a

tona massas de larvas tais que só se formam sob a pressáo atmosférica; seriam, por conseguinte, larvas anteriores á

época em que os vulcóes da Atlántida foram tragados pelas aguas; nota-se outrossim que a fauna dos quatro menciona dos arquipélagos é de origem continental, semelhante á das Antilhas e á das costas do Senegal — o que é tido como indicio de que todas estas térra outrora constituiam um único continente. O geólogo francés Pierre Termier é decidido defensor desta tese.

— 353 —

38

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

2. Ao lado dos que, sob esta ou aquela modalidade, admitem a existencia da AÜántida, há os que em absoluto nao a aceitam. Lembram, entre outros argumentos, o fato de que já Aristóteles, o maior discípulo de Platáo, considerava a narrativa da Atlántida como fabulosa. Recentemente Bessmertny dizia que o problema da Atlán

tida de Platáo, por sua natureza mesma, pertence á categoría dos «fenómenos infra-racionais», só tendo atualidade para as pessoas que querem «descobrir urna patria e um objetivo». A Atlántida seria o símbolo da aspiragáo inata em todo ho-

mem a urna patria ideal, aspiracáo que em termos análogos se exprime na mitología de cada povo: por conseguinte, os gregos, através de Platáo, teráo falado da Atlántida, como os suecos falaram de San Brandan; os celtas, de Avalun; os alemáes, de Viñeta, etc. Em vista do elevado número de obras literarias, de ficgóes, que desenvolvem o tema da Atlán tida, regiáo de vida bem-aventurada, Bessmertny chega a falar do «complexo da Atlántida»; cf. Bessmertny, «L'Atlantide», París 1935 (trad. francesa).

Este catálogo de teorías já é suficiente para ilustrar os dados do problema. Pergunta-se agora:

3.

Qual o auténtico significado da narrativa de Platao ? Para se chegar a clareza no assunto, distinga-se entre o

aspecto geológico e o aspecto üterárro-filosófioo da narrativa concernente á Atlántida.

1. O aspecto geológico. É fato inegável que a face da Térra e seus acidentes geográficos se modifícam lenta e con tinuamente: catástrofes e cataclismos váo mudando incessantemente a configuragáo do globo; pode-se mesmo assegurar

que porcóes de térra tém sido devoradas no decorrer dos tempos pelas aguas do mar, percebendo entáo os respectivos habitantes e os documentos de sua civilizagáo.

Um caso assaz curioso a este propósito é o que se pode

observar na famosa

ilha

de Páscoa,

também

dita

Vai-Hu.

Está situada ñas extremidades meridionais do océano Paci

fico, mais próxima do litoral do Chile do que da costa austra-

— 354 —

E A ATLANTIDA?

39

liana; mede 25 km de perímetro, sendo habitada por urna populacho de raga mista polinésica, inteligente e dotada de certa civilizacáo. Ora nessa porgáo de térra encontram-se mo numentos gigantescos que parecem ser estatuas .de Divindades confeccionadas por antigos habitantes da ilha; estes teráo desaparecido, extinguindo-se assim urna civilizacáo que, a julgar por tais documentos, deve ter sido relativamente elevada. Os estudiosos perguntam se esses homens nao pereceram numa catástrofe, da qual tuna conseqüéncia e um testemunho seria a pequeña ilha de Páscoa até hoje subsistente. Se nao se pode dar resposta dirimente a esta questáo, o caso mencio

nado muito concorre para ilustrar o fato — pressuposto por Platáo — de que regióes e civilizacóes tém surgido e pere

cido sucessivamente na face da térra através dos sáculos. O filósofo grego mesmo terá observado em torno de si, na Gre cia e na Italia meridional, a agáo incessante das forgas da natureza a modificaren! os acidentes geográficos.

Dito isto, faz-se mister abordar o outro aspecto do tema que focalizamos.

2.

O aspecto Uterário-fitasófico da Atlantida de Platáo.

Embora muito plausivel seja a destruicáo de regióes e civilizagóes por efeito de cataclismos, nao se poderia daí inferir que Platáo, ao narrar a historia da Atlántida, aluda a um episodio real e histórico. Muito ao contrario; a narrativa do escritor grego tem a aparéncia de um episodio artificialmente forjado para transmitir idéias filosóficas, nao noticias de índole historiográfica. E quais seriam os fundamentos desta afirmagáo?

'

1)

Em primeiro lugar, note-se que, embora Platáo des-

creva urna civilizagáo altamente desenvolvida e se refira a um conflito armado certamente vultoso entre os povos da

Atlántida e os do Mediterráneo, nenhum autor, na antigüidade antes de Platáo, mencionou tais tópicos; no decorrer de 9.000 anos tais temas teráo ficado totalmente envoltos em silencio... Esta falta de documentos e testemunhos é estranha. Talvez, porém, nao se lhe deva atribuir importancia decisiva no estudo da questáo.

Levar-se-á entáo em conta o

seguinte:

2) A narrativa de Platáo encerra dados anacrónicos ou incompativeis entre si. Com efeito. De um lado, a Geología — 355 —

40

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

permite-nos admitir a existencia de territorios a oeste de Gibraltar (atual regiáo do Atlántico) no fim da era terciaria

e até no inicio da quaternária; em todo caso, porém, numa época que certamente distava de Solón pelo intervalo de mais de 9.000 anos. A «Atlántida de Platáo», portanto, se apre-

senta recente demais para poder identificar-se com urna pre sumida «Atlántida dos geólogos». — Do outro lado, porém, existindo 9.000 anos antes de Solón, a Atlántida de Platáo está recuada ou longe demais para poder ser o cenário de urna civilizagáo tal como o filósofo a descreve, civilizagáo que com esmero utilizava os metáis...; nove mil anos antes de Solón de Atenas, o género humano ainda vivía, quando muito, no grau de cultura da pedra polida, nao conhecendo ainda a metalurgia. A propósito vém as observagóes do Prof. A. Rivaud, um dos recentes comentadores do «Timeu» e do «Crítias»: "Todos os elementos da sua descricáo da Atlántida, Platáo os colheu em torno de si, no mundo grego, em (Atenas mesmo, ou nos conflns da clvillzacáo helénica, em Creta e talvez no Eglto... O templo de Poseidonlo e Cllto é em

tudo semelhante a qualquer

templo grego. É um pouqulnho malor do que o templo de Diana em Éfeso e o de Júpiter Olimpio em Atenas. Os ornamentos sao mais ricos, mas o estilo da ornamentacfio é o mesmo...

Quase sem salr de Atenas, PlatSo podía encontrar todos os elemen tos essenclals da sua narrativa. Nao é necessário suponhamos hipotéticas tradicdes referentes a um antlgo Imperio celta ou ao reino misterioso do Aztli ou do Metzli. Quando os atenienses Mam o 'Crítias', al reconheclam, talvez retocados e ampliados, espetáculos familiares. Quem sabe, de resto, se Platáo nao fazia empréstimos á literatura de romances ante rior a ele?... Em todo caso, é fácil ver que a descricáo da Atlántida nño está Isenta de Intencdes edificantes" (Platón, éd. 'Les Belles Lettres' t. X 248-251).

3) Pondere-se outrossim que as cifras indicadas por Platáo para caracterizar os distritos, assim como os efetivos militares, as dimensóes do continente, etc., parecem ser simé tricas

demais

para

corresponder

á

realidade:

antes, caráter estilizado e ficticio (tenham-se dados numéricos que atrás enunciamos).

apresentam,

em vista os

"Um dos traeos mais impressionantes da fiecáo platónica é a regutaridade geométrica das ¡nstalacdes da Atlántida. A bem dizer, esta regu-

laridade é característica comum de todas as cidades de utopia" (Rivaud, ob. clt. 251).

— 356 —

E A ATLANTIDA?

41

4) Estas observagóes sao corroboradas por mais urna reflexáo. Tudo nos diálogos «Timeu» e «Critias» é narrado em funcáo de urna doutrina filosófica ou sociológica que o autor quer firmemente incutir aos seus leitores; Platáo, tendo, sim, em vista ensinar qual deveria ser o Estado ideal, houve por bem enunciar os característicos deste nao de maneira abstraía e teórica, mas á guisa de um poeta e estilista, ou seja, sob a forma de urna narrativa imaginaria semelhante aos modernos romances de ficgáo científica (como sao os de Julio Verne e Wells); tais obras, por seu estilo suave e agradável, sao fácilmente assimiladas pelos leitores... 3.

Em oonclusao: a critica sadia admite que a narrativa

de Platáo se possa ter inspirado de alguma catástrofe geoló gica dessas que nao raro abalaram a face da Térra no decor-

rer da historia (é possivel mesmo que o filósofo tenha tido em vista determinado cataclismo ocorrido no Océano Atlán tico). Os tragos, porém, com que Platáo descreve a «sua»

Atlántida háo de ser tidos como imaginarios.

Eis, mais urna vez, o juizo abalizado de Rivaud: "Poeta como era,... PlatSo por vezes se entregava á sua fantasía, que era Inesgotável e experimentava prazer sutil em jogar suas belas Imagens... O mito da Atlántida e, por consegulnte, o 'Critias' Inteiro sao simples fábulas" (ob. cit. 12).

Donde se vé, em última análise, que nunca tiveram realidade a «elevada civilizagáo» e a «profunda sabedoria» dos habitantes da Atlántida, dos quais se dizem herdeiros os «ilu minados» e ocultistas modernos! Desfaz-se assim o caráter autoritario e misterioso com que estes apresentam suas doutrinas. A destarte o do místico arraigados

fantasía dos homens as elaborou, dando, porém, valioso testemunho de que o senso do misterio e constituí um dos predicados mais profundamente na natureza humana.

Estéváo Bettenoonrt O.S.B.

— 357 —

livros em estante Teología e Prátlca. Teología do Político e suas medlaeSes, por Clo-

dovls Boff, O.S.M. ColefSo CID-Teologla / 15. — Ed. Vozes, Petrópolis 1978, 40 pp., 137 x 210 mm.

Este llvro corresponde á tese de doutoramento apresentada pelo autor á Unlversldade Católica de Louvaln, onde mereceu rasgados elogios. Na verdade, Clodovls Boff oferece ao público brasllelro urna obra notável, cujo conteúdo se poderla assim compendiar:

Está multo em voga hoje em dia a chamada "Teología da L!bertac§o", que vem a ser também a "Teología das realidades políticas", faceta da "Teología das realidades terrestres". Este aspecto da teología é legitimo na

medida em que o Cristianismo tende a se encarnar na vida e em todas as atlvldades do homem, nio excluidos os seus empreendlmentos políticos. Acontece, porém, que as diversas expressóes da teología da llbertacáo nem sempre sSo auténticos discursos teológicos, mas, slm, discursos ideoló gicos. Por isto o autor propde tres momentos para que se possa elaborar urna auténtica teología da libertacSo:

1} o exame das realidades socio-políticas, económicas, culturáis..., que háo de ser a base de qualquer reflexáo teológica. Sem o conheclmento

exato de tais realidades, o autor ¡ulga (com razfio) ser Imposstvel construir algurha slntese teológica referente á Polis ou á Cidade dos homens; 2) felto o exame da situacSo concreta de determinada sociedade (ou como ó mais comum atualmente, dos povos latino-americanos), o teó logo deve apllcar-lhe os criterios da fe, que sao Inconfundlveis; a teología nao se deve transformar em

politologia ou

sociología; caso se perca a

nocSo dos principios da fó, alimenta-se a confusáo concernente ao concelto de libertacáo {que hoje em dia é polivalente e ambiguo}. "A teología nao

se deve colocar na estelra de discursos que nao sao o seu" (p. 15). Cíodovis Boff realca que nao ó teología qualquer discurso feito sobre temas

religiosos; nao basta que o discurso ceda, no plano verbal, ás sirenes sóclc-pol(ticas para se outorgar atestado de modernidade (cf. p. 16);

3)

por fim, o discurso teológico tem que incidir na prátlca e há

de ser Iluminado por esta; ele visa a cristianizar o mundo. Todavía essa praxis nada tem que ver com atlvidades Ideológicas. "A teoría produz um efelto sobre a prátlca, mas há que ser um efeito próprio" (p. 17). A teología nSo transforma a realidade como tal; se a transformasse diretamente, sena urna "teología encantada" (p. 16). O que a teología produz é urna transformacao (hermeméutlca) no nivel das Idélas,...

idéias estas que levarao os

cristáos a procurar ñas ciencias humanas (política, economía, educacSo...) os recursos necessários á cristianizacao da sociedade civil.

Assim o livro de Clodovís Boff se aprésente como um quase tratado de epistemología teológica elaborado em vista das múltiplas e confusas

"teologías da libertagao" que tém surgido em torno de nos, depreciando

a próprla teología. Por conseguinte, é obra que procura a "justeza" ou a disciplina do saber teológico. Neste ponto, é altamente benemérito. N8o propSe programas de acao política, mas um discurso sobre o método de

— 358 —

LIVROS EM ESTANTE

cultivar lelturas, o autor tamente

43

a teología. É trabalho meticuloso, resultante de ampias e variadas crlterlosamente selecionadas e aproveitadas. Só podemos felicitar por tal trabalho, o qual, porém, flcará reservado a estudiosos estriespecializados no setor da metodología teológica.

Problemas fundamentáis da Filosofía

Moral,

por Jacques Maritain.

Traducfio, prefacio e notas de Gerardo Dantas Barrete. — Ed. Agir, Rio de Janeiro 1977, 207 pp., 137 x 210 mm.

O grande filósofo católico Jacques Maritain, embora já falecido, brinda o público com um livro de Ética, que reproduz o texto de aulas ministradas pelo eminente mestre. O autor analisa os principáis conceitos de qualquer sistema de Moral: o bem e o valor, a llberdade, o flm e os melos, o fim último, dlrelto e dever, a falta, a sancáo... De acordó com as suas premlssas, Maritain fundamenta essas nocoes

em principios metaffsicos, que dao consistencia e durabilldade aos concei tos analisados. Ao fazé-lo, o filósofo se distancia consciente e voluntaria mente de outras escolas modernas de ética: diz Nao a Kant, que pretendeu basear a Moral sohre a nocfio de dever, concebida como categoría a prlorl ou "calda do céu" na mente do homem (o dever serla um valor absoluto, nlo relacionado com valores transcendental); diz Nao tambétn a Augusto Com te, que concebe a Moral como ciencia dos costumes,... ciencia descrltlva (desbreve os modos de conduta dos povos e pretende expllcá-los), nao, porém, ciencia normativa. Diz Nño outrosslm ao empi rismo lógico, que reduz as normas éticas a questdes de lógica da llngua-

gem. Op&e-se aínda ao pslcologlsmo, que desacredita da razáo e tencíona

reduzlr as normas moráis a expressBes dos sentimentos subconscientes e dos instintos.

Após examinar essas diversas correntes de Ética

moderna é que

Maritain propde a fundamentacfio metafísica das principáis nocoes da Ética. Preserva assim a objetivldade e perenldade de certos valores moráis, a llberdade e a responsabllldade do ser humano, o flm transcendental do agir moral, a nog&o de conscléncia heteronoma (ou Iluminada pela let eterna de Deus), etc.

Tal llvro é de grande peso neste momento em que reina confusfio no tocante ás normas do comportamento moral. Dlz-se que "a Moral já era", pols, sem metafísica, qualquer sistema ético vem a ser subjetivo e Inse guro ; é somente com fundamentos metafIsleos que se pode erguer um sistema de Moral á altura da dlgnldade humana.

Como fiel católico, Maritain nao delxa de fazer, cá e lá, referencia a

tópicos da Biblia e da teología, é o que acontece, por exemplo, ás

pp 101-103, quando aborda o conteúdo do Ecleslastes ou Qohelet; no final do llvro o autor propBe o sermfio da montanha (Mt 5-7) como código modelar da ética crista.

O leltor talvez estranhe a llnguagem escolástica de Maritain. Esta. Dorém nño é difícil, tornando-se familiar a quem a deseje compreender.

Perseverando na leitura do llvro, o estudioso colherá, sem dúvlda, copiosos — 359 —

44

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 224/1978

frutos intelectuals, pols as páginas de

Marilaln sao lúcidas e ricas em

seus conceltos.

A InterpretacSo do quarto Evangelho, por C. H. Dodd. TraducSo de Pe. José Raimundo Vidiga! CSsR. Nova Colegáo Bíblica-4. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1977, 625 pp., 130 x 200 mm. O autor é famoso exegeta de confissáo anglicana, que se tornou benemérito por este estudo profundo do IV Evangelho assim como por outros escritos bíblicos. No volume em foco, propSe primeramente o con

texto histórico e cultural no qual teve origem o IV Evangelho (pp. 11-177);

depois (pp. 181-381) estuda as idéias-mestras do evangelista (vida eterna,

verdade, fé, espirito, Messias, Logos, Fllho de Deus, filho do homem...); por último (pp. 386-599), volta-se para a estrutura do Evangelho segundo

Joao, no'qual distingue o livro dos slnais (Jo 2-12) e o llvro da PalxSo (Jo 13-21). O autor é sólido em suas aflrmacSes, abrindo perspectivas claras e profundas aos olhos do leltor. NSo chega a discutir a questao do autor do IV Evangelho ou a chamada "questSo joanéla", para a qual a critica liberal tem respostas multo diversas. C. H. Dodd clnge-se ao conteúdo do IV Evan gelho e á sua moldura de origem, tornando-se valioso guia para os estu diosos dlspostos a Ir ao ámago das questóes.

O desafio de Talzé. Ir. Roger, por José Luis González-Balado. Tradu-

5§o de Alexandre Mcintyre S. J., da edigSo Italiana revista pelo autor. CoIscSo "Perspectivas". — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1977, 184 pp., 140x210 mm.

Talzé é o nome de um mostelro de tnonges protestantes, que, através da leitura da Biblia, descobriram os valores da vida monástica e houveram por bem constituir urna comunldade na Borgonha (Franga), onde se dedl-

cam á oragSo, ao trabalho, á acolhida de hospedes e aos anselos da ju-

ventude. Tém procurado conferir ao seu mostelro as notas de sincera aber tura *ao catolicismo, de modo que sSo urna expressSo de ecumenlsmo válido existente entre os irmáos evangélicos.

O fenómeno de Taizé tem chamado a ateng&o nao só de crlstSos, mas também de homens de boa vontade, porque oferece a todos um reduto de espiritualldade profunda e sorrldente ao público sem detrimento da sua Interioridade. Um dos fundadores do mosteiro é seu atuai prior, o Ir. Roger Schütz, de naclonatldade sulga, filho de pastor protestante. Ora é a Taizé e, em especial, á vida e á obra do Ir. Roger que o

llvro em pauta é dedicado. Pretende propiciar a ampio circulo de leitores o conheclmento das grandes linhas de doutrlna e comportamento que o mosteiro de Taizé cultiva em favor do mundo de hoja. Aos olhos da Santa Sé, a Importancia de Talzó é tal que o mosteiro tem um repre

sentante Junto ao Vaticano : o Ir. Max Thurian. Els as palavras de Roger Schütz que explicam.tal fato :

"Para concretizar a comunhSo, creio sobretudo ñas relagóes Interpes-

soals. Esta nova relagSo permitirá um diálogo direto, para nos entendermos sempre na limpidez do coragSo. N8o veja ainda todo o alcance disto, mas

— 360 —

amo a Igreja 'peregrinante1 que está em Roma, com o seu blspo. Que Ihe posso pedir senSo que nos ilumine e também que nos aqueca ao calor do fogo?" (p. 128)

É oportuna a leltura do livro de José Luis González-Balado, porque pSe em evidencia a ac&o do Espirito de Deus entre os crlst&os de nossos dias; Talzé significa docllldade aos apelos do Senhor e coragem na execucflo de suas santas InspiracOes.

Salmos Verso e Reverso, por Santos Benett Traducfio de Ir. Isabel Fontes Leal Ferreira. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1978, 286 pp., 153x223 mm. Multas pessoas procuram comentarios sobre os salmos para melhor compreendé-los e proferl-los em orac&o. Infelizmente a literatura braslleira

a respeito ó multo pobre. O presente livro nao pretende oferecer a exegese dos salmos, mas apresenta reflexdes que o autor Instituí sobre 25 salmos;

o texto destes serve de ocasISo para que S. Benetti desenvolva a sua medltacfio. As pessoas ciosas de cultivar a oracao (e qual o crlst&o que n&o é tal ?) encontrarSo nessas páginas alimento valioso para a vida espiritual.

O estilo do autor, por vezes metafórico e poético, é forte e penetrante. E. B.

«A

BOA-NOVA

HA

DE

MAIS, PELO TESTEMUNHO.

SER

EM

QUE

COMPREENSÁO

VIVEM,

E

DE

ANTES

DO

SUPONHAMOS UM CRISTÁO OU UM

PUNHADO DE CRISTÁOS QUE, MANA

PROCLAMADA,

NO SEIO DA COMUNIDADE HU

MANIFESTAM

ACOLHIMENTO,

A

SUA

CAPACIDADE

DE

A SUA

COMUNHÁO

DE

VIDA E DESTINO COM OS DEMAIS, A SUA SOLIDARIEDADE NOS

ESFORCOS BOM.

DE

ASSIM

TODOS ELES

PARA TUDO

IRRADIAM,

AQUILO

DE MODO

QUE

É

NOBRE

E

ABSOLUTAMENTE SIM

PLES E ESPONTANEO, A SUA FÉ EM VALORES QUE ESTÁO PARA ALÉM DOS VALORES CORRENTES, E A SUA ESPERANCA EM ALGO QUE NAO SE VÉ E QUE OS HOMENS NAO SERIAM CAPAZES SEQUER DE IMAGINAR.

POR FORCA DESSE TESTEMUNHO SEM PALAVRAS,

TAIS CRISTÁOS FAZEM AFLORAR NO CORACÁO DAQUELES QUE OS VÉEM VIVER, SAO ASSIM?

QUE É

PERGUNTAS INDECLINAVEIS:

POR QUE

E

ELES

POR QUE ¡É QUE ELES VIVEM DAQUELA MANE1RA?

OU QUEM É — QUE OS INSPIRA?

POR QUE É QUE

ELES ESTÁO CONOSCO?

SEMELHANTE TESTEMUNHO CONSTITUÍ CÁO

SILENCIOSA, MAS

-NOVA.

DA

VALOROSA

E

PROCLAMA-

EFICAZ

DA

BOA-

NISSO JA HA UM GESTO INICIAL DE EVANGELIZACÁO.

AQUELE QUE FOI

LIZA.

MUITO

JA UMA

EVANGELIZADO, POR SUA VEZ, EVANGE

ESTA NISSO O TESTE DA VERDADE, A PEDRA DE TOQUE EVANGELIZACÁO:

QUE TENHA

NAO

ACOLHIDO

A

SE

PODE

PALAVRA

CONCEBER

E

UMA

SE TENHA

PESSOA

ENTREGADO

AO REINO SEM SE TORNAR ALGUÉM QUE T6STEMUNHA E,

POR

SEU TURNO, ANUNCIA ESSA PALAVRA».

{PAULO VI,

«A

EVANGELIZACÁO

CONTEMPORÁNEO»

N.08

21

E

DO MUNDO

24).

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