Ano Xix - No. 223 - Julho De 1978

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Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESEISTTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que elevemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta

necessidade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabalho assim como a

equipe de Veritatis Splendor encarrega do respectivo site.

que

se

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos

convenio

com

d.

Esteváo

Bettencourt

e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo. A

d.

Esteváo

Bettencourt

agradecemos

a

confiaga

depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

t

Índice pág.

"HOJE, SE OUVIRDES A SUA VOZ..." (SI 94,7)

273

Os bispos da Alemanha falam sobre

'SER CRISTAO11 de Hans Küng

275

Urna pratlca antfga em novos termos :

OS DIZIMOS : QUE SAO ?

282

Questdes de Pastoral :

ABSOLVICAO COLETIVA CASAMENTO RELIGIOSO E FÉ CATÓLICA

295

No tealro, um sucesso :

"É..." por Mlllor Fernandes

305

Paradoxo de nossos días : RETORNO A VIRGINDADE

310

LIVROS EM ESTANTE

314

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

NO

PRÓXIMO

NÚMERO:

«O que é milagre na Biblia» (A. Weiser) — O aborto diante da leí no Brasil. — O Triángulo das Bermudas. — E a Atlántida ? X

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Assinatura anual

Cr$

100,00

Número avulso de qualquer mes

Cr$

10,00

BEDACAO DE PR

r> i«, i>«<,t«i 9 ttae Calxa Postal 2.666 ZC-00

20.000 Rio de Janeiro

ADMINISTRACAO

(RJ)

Llvrarla Misslonária Editora Rua MéxicOi 168.B (Gástelo) 20.031 Rio de Janeiro (RJ) Tcl.:

224-0059

"HOJE, SE OUY1RDES A SUA VOZ..." (SI 94,7) A imprensa, aos 9/08/78, noticiou um discurso proferido pelo escritor russo Alexander Soljenitzyn na Universidade de Harvard

(U.S.A.).

O famoso pensador cristáo comentou a

situagáo geral dos povos ditos ocidentais (Europa Ocidental

e América) apontando entre os mesmos graves lacunas, que

Soljenitzyn tem como síntomas de falencia moral.

Eis um

dos trechos mais significativos da sua alocucáo: "O declinlo da coragem pode ser o aspecto mals gritante que um observador de fora nota no Ocidente de nossos días. O mundo ocidental

perdeu sua coragem... em cada país, em cada Govemo, em cada Partido político e, naturalmente, ñas Nacdes Unidas. Esse declinlo de coragem ó particularmente claro entre os grupos governantes da élite Intelectual... É preciso dizer que desde os lempos anllgos o declínlo da coragem tem sido considerado o comeco do flm" (cf. "Jornal do Brasil" 9/06/78, 1? cad., p. 13).

E, se perguntássemos a Soljenitzyn quais as causas da falta de coragem que ele denuncia, respondería com palavras do mesmo discurso: os bens materiais ou o culto do materia lismo vém embotando a fibra dos homens do Ocidente; estes parecem amolecidos ou acovardados pela civilizacáo do bem•estar ou do consumo. O escritor julga que, ao contrario, «o povo russo através da escola do intenso sofrimento por que tem passado, alcancou tal desenvolvimento espiritual que

o sistema ocidental, a ele comparado, nao apresenta atrativos». Na verdade, o povo russo, sujeito a pressáo e vigi lancia permanentes, tem aprendido a descobrir ou redescobrir os valores da transcendencia e da mística que o regime soviético lhe quis extirpar; cf. PR 221/1978, pp. 193-214.

As observagóes de Soljenityzn fazem, de certo modo, eco as de outro grande pensador: Arnold Toynbee (cf. PR 175/1974, pp. 273s). Parecem diagnosticar fielmente a realidade do mundo ocidental: tem-se a impressáo de que é um mundo a desmoronar, pois, sob o imperio do egoísmo e do comodismo, vai perdendo valores fundamentáis como sao o respeito á familia, á vida, á honra, á palavra dada... O escritor russo

reconhece que as suas ponderacóes sao seve

ras, mas afirma que as propóe como amigo, e nao como adversario. Na verdade, trata-se de um cristáo que fala ao — 273 —

mundo ocidental bergado pelo Evangelho e que é cioso de preservar os valores ameagados de ruina pela filosofía nao crista do hedonismo e do materialismo.

Em réplica, Soljenitzyn propóe um reerguimento espiri tual e assevera: «Ninguém na térra tem outro caminho a nao ser para cima:».

Tais palavras falam vivamente a todo cristáo consciente da sua missáo. Pode-se dizer, sem hesitagáo, que um dos mais graves males do nosso mundo é a falta de decisáo ou coragem necessárias para se levarem a termo os grandes ideáis do Evangelho. Um dos mais rudimentares preceitos do Senhor é precisamente: «Seja o vosso 'sim' sim e o vosso 'nao' nao. O que passa disto, vem do Maligno» (Mt 5,37). Já este aspecto da mensagem do Evangelho, por mais mo

desto que parega, pode ciencia. A experiencia tido para muitos... E execugáo de tal norma capacidade de renuncia.

ser objeto de serio exame de consleva a perguntar se ainda tem sen que por esta pergunta? — Porque a supóe certa austeridade de vida ou

É, pois, a identidade dos cristáos que Soljenitzyn inter pela. Se o mundo vai mal, sofrendo de covardia e incoeréncia, compete aos discípulos de Cristo assumir a sua parte de responsabilidade; lembrem-se de que o Senhor os quis constituir

«sal

da térra»,

«luz

do

mundo

e

«fermento na

massa» (cf. Mt 5,13s; 13,33). Este programa exige de cada um austeridade, sobriedade e coeréncia de vida; exige mais definida adaptagáo á mensagem do Evangelho. Claro está que a problemática geral do mundo toma proporgóes que ultrapassam longe a capacidade de agáo de um cristáo isolado ou mesmo de muitos cristáos reunidos. Pouco importa, porém; o que o Senhor pede a cada um, é táo somente o esforco e a luta que lhe estáo ao alcance; Ele sabe aprovei-

tar tudo o que cada qual lhe queira oferecer de bom, dando imprevisivel fecundidade ao mais insignificante dos nossos atos sinceros. O cristáo eré nesta verdades ele eré que o Senhor quer salvar os homens mediante os homens,... me diante cada um, e que, por isto, cada qual! é valioso no plano de Deus. «Hoje, se ouvirdes a sua voz, nao endurecais os vossos coraffóes... í» (SI 94,7s). E.B. — 274 —

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS > Ano XIX — N« 223 — Julho de 1978

Os btepos da Alemanha falam sobra

"ser
Em sínlese: Aos 14/11/77 o episcopado alemSo reunido em Würzburg houva por bem publicar urna Declarácfio a respeito do llvro "Ser CristSo" de Hans Küng, visto que esta obra tem contribuido largamente para abalar a fé de mullos cristSos. O documento, abalxo transcrito em seus tópicos principáis, aponta o livro como "reduclonlsta", o que quer dizer: a obra «fio salvaguarda tudo que deve proíessar uma autentica confissfio de fé católica; principalmente a Dlvlndade de Cristo e a realidade da Redencfio sfio apresentadas de manelra omissa e Insuficiente; o autor passa ao lado do teor de textos bíblicos e da doutrlna do magisterio da Igreja. Sendo assim, o livro se presta a graves mal-entendidos, em vista dos quals a Conferencia Nacional dos Bispos da Alemanha julgou ser seu dever pronunclar-se nos termos da DeclaracSo transcrita a seguir.

Comentario: Hans Küng é famoso teólogo

suico cujo

livro «Ser Cristáo» já foi comentado em PR 186/1975, pp. 246-262; 209/1977, pp. 225-229; é obra que tem merecido severas restrigóes da parte dos teólogos e da Santa Sé. Nao obstante, o livro continua a ser propagado em diversas linguas, inclusive em portugués e no Brasil, apesar das solicitagóes feitas a Hans Küng no sentido de que modifique o conteúdo

da sua obra em certos pontos insuficientemente explanados

pelo autor.

Küng apresenta seu livro como «pequeña suma» ou compendio da fé católica, proposicáo esta que muitos leitores aceitam tranquilamente. Eis por que o episcopado alemáo se sentiu compelido a tomar posigáo oficial diante de «Sei — 275 —

4

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1978

Cristáo» de Küng, publicando aos 14/11/1977 urna Decíaragáo a respeito de tal livro. Visto que esse documento pode ser de grande valor também no Brasil, onde a obra de Küng tem despertado interesse, apresentamos, a seguir, as passagens principáis da Declaracáo em tradugáo portuguesa.

DECLARADO DO EPISCOPADO ALEMÁO «No novo livro do Prof. Küng intitulado 'Ser Cristáo,' cujo esforco teológico e cujo interesse pastoral reconhecemos, encontramos outros-

sím certas expressóes, qve nao vemos como se conciliem com principios da fé católica (notem-se principalmente a Cricfologia, a doutrina da SS. Trindade, a teología da Igreja e dos sacramentos, o papel de María na historia da salvacao). . .

Em carta minuciosa ao professor Küng, dotada de 22 de abril de 1977, o presidente da Conferencia dos Bispos da Alemanha propos ao autor algumas perguntas precisas referentes a algumas afirmacoes

do livro Ser CristSo. Até o presente momento o professor Küng nao

respondeu a tais questóes, mesmo depoís das que Ihe reíteraram

exortacáes instantes

outras cartas.

0 livro 'Ser Cristáo' continua a ser propagado e editado, sem modificacSes, em outras línguas. Visto que tal livro se apresenta como 'compendio da fé crista e é utilizado por varias pessoas como

urna especie de manual da fé crista, a Conferencia dos Alemanha sente-se obrigada a tomar posicáo novamente obra. Os Bispos nao o fariam se nao julgassem ter o dever em vista da fé dos cristáos. Pois 'Ser Cristáo' de Küng

Bispos da dianre da de fazé-lo contribuiu

largamente para abalar a fé de muítos, como nos informam numerosos teslemunhos...

Embora pretenda ser um compendio, o livro 'Ser Cristño1, nao

trata de tudo que é indispensável á fé católica, como, por exemplo, os sete sacramentos e a sua signifieacáo para a vida crista. Mesmo entre os temas abordados é preciso pergunfemos se sao considerados em consonancia com a fé.. . O método teológico aplicado pelo pro fessor Küng é insuficiente e redutivo *; ... em certos temas impor

tantes provoca urna ruptura com a tradicao da fé e da doufrina

católica, desde que aplicado coerentemente. O distanciamento em

relacáo ao método de trabalho teológico da tradicao anterior da 1 Isto é, reduz os artlgos da fé a proposites que nflo correspondem

a quanto a RevelacSo Divina enslna a respeito.

— 276 —

«SER CRISTAO» DE H. KÜNG

Igreja, assim como urna escolha arbitraria de textos bíblicos aconretam urna reducao (Verkürzung) do conteúdo da fé... O professor Kung

nao aprésenla ao leitor o Cristo por completo nem a acáo salvtfica

do mesmo em toda a sua plenitude. Nao basta que um teólogo afirme de maneíra genérica a sua fidelidade ás solertes proflssoes de fé ; é preciso que as profira claramente e que desenvolva harmónica mente o conteúdo das mesmas.

1.

Jesús Cristo, verdadeiro Deus e vertfadeíro homem

... Desecamos aquí .por em relevo a reducao {Verkürzung) uni lateral e deficiente da doutrína referente a Jesús Cristo. Insistimos

particularmente neste ponto porque é o fundamento da fé crista (cf. ICor 3,11). No livro, a Divindade de Jesús Cristo é negügenáada. Contudo Jesús de Nazaré é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Nao se pode empobrecer o teor destes dois enunciados nem reduzir um ao outro, pois ambos sao necessários. Com efeito, Jesús Cristo nao pode fazer o que Ele faz se Ele nao é o que Ele é¡ o Filho eterno de Deus nao criado, Deus como o Pai, da mesma natureza que o Pai, uníu-se na encarnacáo com o homem Jesús numa unidade de pessoa. Nao ha dúvida de que ¡sto é grande misterio. Mas deve.ser professado fielmente; caso contrario, a doutrina da salvacao, fruto da acdo redentora de Jesús de Nazaré, é seriamente posta em xeque; o Evangelho, Boa-Nova da nossa salvacao em Jesús Cristo,... nao poderla ser expresso e proclamado com tudo que ele tem de indispensável.

O enunciado ocasional de que Jesús era o Filho dé Deus é descricao insuficiente de Cristo. Com efeito, sabemos que a graca redentora também confere urna filiacao : 'Vos todos sois filhos de

Deus, pela fé, em Cristo Jesús' (Gl 3,26). Por consegointe, também nos podemos e devenios chamar Deus nosso Pai, segundo a paiavra do Senhor...

Em 'Ser Cristáo' encontra-se urna serie de títulos de soberanía aplicados a Cristo de maneira única. Assim Jesús é freqOentemente designado 'o lugar-Jenente' (Sachwalter) de Deus. Mas, mesmo que

seja aplicado de maneira singular a Jesús Cristo, este título nao descreve suficientemente a realidade de Jesús Cristo. Houve, no decorrer dos sáculos, muitos lugar-tenentes de Deus: Moisés e os profetas antes de Cristo, os Apostólos e os men:ageiros da Igreja depois de Cristo. Mas todos esses lugar-tenentes ultrapassam a si mesmos e acenam ao Messias que está para vir ou que ¡á velo. Ao contrario,

— 277 —

6

«PERGUNTK E RESPONDEREMOS» 223/1978

Jesús Cristo se dirige ¡mediatamente aos homens. Assim Paulo pode escrever: 'Nao é a nos que pregamos, mas ao Cristo Jesús Senhor; somos apenas os vossos servidores por cauta de Jesús' (2Cor 4,5). No Evangelho segundo S. Joao, Jesús Cristo diz de si mesmo : 'Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senao por mim* (Jo 14,ó). E no discurso sobre o pao da vida, que aceña á Eucaristía, Ele diz: 'Eu sou o pao vivo que desceu do céu. Quem comer deste pao, vivera para sempre. O pao que darei, é a minha carne para a vida do mundo... Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia... Assim como o Pa!, que é vivo, me enviou- e eu vivo pelo Pai, assim aquele que me come, vivera por mim' (Jo 6,51.54.57). Estas palavras nao teriam sentido se Jesús nao fosse, ó diferenca de todos os lugar-tenentes de Deus, Deus mesmo, o Filho de Deus eterno e nao

criado... Ora Jesús Cristo nño é o Filho por ser lugar-tenente de Deus, mas Ele é o lugar-tenente de Deus por ser o Filho de Deus.

Nao se compreende em que sentido e em virtude de que pretensao

Jesús seria o lugar-tenente de Deus se Ele nao fosse também o Filho

de Deus eterno e nao criado.

2.

O «orn que Deus nos faz de si em Jesús de Nazaré

Ninguém ¡ulgue que estamos apenas propondo um litigio de palavras. Trata-se, antes, de afirmar que Jesús Cristo nao é somente mestre e modelo para nos, mas também o Salvador e a vida eterna, se nos aderimos a Jesús com fé plena. Houve inúmeras testemunhas que, por sua vida e sua morte, atestaram a sua fé em Deus; assim, a carta aos Hebreus fala de 'vmo nuvem de testemunhas', 'das quais nao era digno o mundo' (Hb 12,1 ; 11,38). Mas nenhuma délas podio salvar-nos nem por seus sofrimentos nem por sua morte. Ao contrario, Jesús Cristo nos resgatou por sua vida, sua paixáo e sua morte, porque Ele nao era verdadeiro homem apenas, mas também Filho Divino de Deu* enviado pelo Pai celeste para a nossa salvacao. Lé-se na primeiro carta de Pedro : 'Sabéis que nao por algo de corrupttvel, prata ou ouro, fostes resgatados da vossa va conduta, herdada de vossos pais, mas pelo sangue precioso de um Cordeiro sem dáfeitó nem mancha, o Cristo' (1, 18s).

Quando a Divindade de Jesús de Nazaré — verdadeiro Deus e verdadeiro homem — nao é expressa e afirmada com clareza e sem ambigüidade alguma, entao torna-se ¡nevitável urna falaz reducao do Evangelho. Pois o cerne do Evangelho como mensagem de salvacao — 278 —

«SER CRISTÁO» DE H. KÜNG

é este : Deus mesmo nos ama ; ama cada homem, os pecadores também, e todos nos também como pecadores... Por conseguirle, o amor de Deus por nos nao é apenas intencao (Gesinnung). O amor de Deus nao é um amor inoperante, mas

um amor ativo. Em seu amor, Deus nao faz apenas alguma coisa por nos, mas Ele se compromete em nosso favor, enviando-nos o seu Filho único e eterno em nosso beneficio, a f!m de que recuperemos por Ele a vida eterna perdida.. .

Nada disto é suficientemente expresso no livro 'Ser CristSo'. £ certo que Jesús de Nazaré ai aparece como o lugar-tenente de Deus em nosso favor. Mas nao se vé claramente se, pelo envío do seu Filho Divino, o Pai se manifestó como amor.. . No último capí tulo do livro 'Ser Cristáo', que compreende quase cem páginas sob o título 'A prárica' (Die Praxis), o grande mandamento do amor nao é tratado sistemáticamente; peguntaríamos mesmo se ele ai chega a ser mencionado... O fato de que nos, como Pedro, somos interrogados por Jesús com as palavras: 'Tu me amas?' (Jo 21,15),

nao parece ter peso suficiente para figurar num pequeño compendio como 'Ser Cristáo'... E por isto que nao podemos considerar essa súmula como suficiente. A obra d-a salvacáo de Deus em Jesús Cristo ai está reduzida de tal maneira que devemos tomar nossas distancias em relacao a ela.

3.

Redujao da realidode da Reden$ao

Visto que a acáo salvífica de Deus por Jesús Cristo é «presen

tada de maneira redutiva, o fruto da obra de redencao por Cristo também o é quase ¡nevitavelmente. O fruto da Redencao é um misterio. Isto nao quer dizer que nada saibamos de certo a seu respeito. Mis terio quer, antes, dizer que a graca da Redencao nos une mais estreitamente a Cristo do que o pode algum homem, tao esbeltamente que Isto ultrapassa nossas foreas e nosso compreensáo. . .

Na S. Missa, diz-se no momento da mistura da agua e do vinho: 'Como esta agua se mistura ao vinho em vista do sacramento da a Nanea, possamos nos ser unidos á Divindade daquele que assumiu a nossa humanidade'. Ora o Prof. KOng faz suas as seguintes palavras: 'Será que hoje um homem razoável quer aínda tornar-se Deus ?' (p. 433 da ediedo alema). £ com pesar que lemos isto. Com efeito, quem pensa ou quem ensína que o homem, pela Redencao, deixa de ser homem por ter-se tornado Deus? Na enearnaedo, o Filho de Deus

— 279 _

8


nao deixa de ser Deus, e na Redencao o homem nao deixa de ser homem. Ele nao se torna Deus, mas toma parte na vida eterna que

Ihe é oferecida ; toma parte na vida e, portento, na santidade de Deus. O sinal e o conteúdo dessa vida é a ressurreicao dos mortos, que vem a ser a participacSo permanente na vida eterna e bem-aventurada de Deus. Uto também é um mutério; ultrapassa a nossa compreensáo. Todavia, se o silenciarmos, a fé católica sofrerá urna

reducao. No que diz respeito á realidade da salvacao, o fruto da obra da Redencao por Jesús Cristo é engañosamente reduzido no livro 'Ser Cristao'.

Por comeguinte, compete aos Bispos declarar que 'Ser Cristao' nao pode ser considerado com urna apresentacao adequada da fé católica no tocante aos pontos aquí citados como exemplos. Os Bis pos assim se manifestam em virtude do seu dever de testemunhar a verdadeira fé e defendé-la.

Os complementos e corretivos, que sao necessários ao livro, exigem outro método teológico. Devem ai ser introduzidos, sem reducao,

os textos bíblicos em toda a sua plenitude e o ensinamento autoritativo da Igreja. Nao se veja rusto urna maneira de complicar superfluamente a fé crista. Jesús Cristo é verdadeiro Deus c verdadeiro homem. Tal é o conteúdo fundamental da nossa fé crista. Esta dupla afirmativa excluí qualquer alternativa entre urna Cristologia unilateral ou exclusiva a partir da humanidade de Cristo e urna Cristologia trocada somente a partir do alto ou da Divindade de Cristo. As duas

Cristologías podem e devem ser professadas simultáneamente... Os Bispos tem a obrigacáo de insistir ne:te ponto em vista de urna autén tica apresentacao do Cristo e do ser cristao. A afirmacao de que Jesús Cristo

é verdadeiro Deus e verda

deiro homem é a afirmacáo essencial do Concilio ecuménico de Nicéia (325), que condenou como herética a doutrina de Ario, se

gundo a qual o Filho de Deus seria a criatura mais elevada...

A reafírmacao da fé formulada no Concilio de Nícéía nao prejudica a causa ecuménica. Pois o restemunho do primeiro Concilio universal pertence ao depósito da fé que é comum aos cristaos católico , orto doxos e reformados; é mesmo a base dos esforcos envidados em vista da unidade de todos os cristaos. Se esta base comum é posta em xeque ou mesmo apenas relegada para um plano secundario, o ecumenismo é privado de todo cálido fundamento.

Os Bispos insistem sobre a necessidade de :e confessar a fe crista na sua tntegridade. . . convictos de que a fé em Cristo pro-

— 280 —

«SER CRISTAO» DE H. KÜNG

9

fessada em toda a sua riqueza é mais digna de crencca do que a fé reduzida, mesmo se a fé nao reduzida contém e exprime misterios,

pois os misterios de Deus sao mais dignos de crédito do que os solu$5es dos horneas. Würzburg, 14 de novembro de 1977»

Esta Declaragáo do Episcopado alemáo, abalizada como

é, é apta a dissipar qualquer equivoco a respeito do livro «Ser Cristáo» de Hans Küng. Nao há dúvida, as tentativas de reformular as verdades da fé e encontrar-lhes expressóes atualizadas, bem como a intencáo de falar linguagem aceitável

aos irmáos separados sao louváveis na medida em que guardem o essencial do depósito revelado pelo Senhor Deus aos homens. Desde que este depósito sofra detrimento, as referidas tentativas já nao realizam a obra de Deus, mas procuram solugóes ou adaptacóes as medidas dos homens,

solugóes estas que nao podem merecer o aprego e o respeito que só convém á Palavra de Deus. «Os misterios de Deus sao mais dignos de fé do que as solugóes dos homens».

AMIGO (A),

SE PR 1)

LHE AGRADA, QUEIRA PAGAR EM TEMPO A SUA ASSINATURA;

2)

COLABORE DA

NA

DIFUSÁO

REVISTA !

— 281 —

Uma prática antiga em novos termos:

os dízimos: que sao?

Em sfntese:

A instituicSo dos dízimos basela-so na consciéncia de

que os bens naturals pertencem ao Senhor e, por isto, o homem deve oferecer á Divindade uma parcela dos mesmos. No Antigo Testamento, esta nocfio era corroborada pelo falo mesmo de que o Senhor dera a Israel a

térra de Canaá. Os dizimos, definidos com precisSo pela Lei de Moisés, delxaram de ter vigor no inicio da era crista. Todavía a partir do século VI alguns Concilios comecaram a estipular o pagamento de dfzlmos em vista do sustento do culto e das obras da Igreja. As autoridades civis, a partir de Carlos Magno, confirmavam as leis da Igreja. A instituicáo ficou em vigor até o século XVIII, quando a Revolucáo Francesa resolveu extinguir a praxe na Franca, sendo esta atitude imitada pelos demais Governos europeus durante o século XIX. No Brasil, a proclamacáo da República acarretou a abollcáo das leis dizimistas. Últimamente em nosso país os Bispos pensam em restaurar o instituto dos dizlmos, nao, porém, em termos de outrora. Os dfzlmos nfio corresponderáo á décima parte dos rendimentos de alguém, mas a uma quanlia livremente estipulada pelo doador; nem estarao sujeitos a excomunháo ou alguma sancáo os fiéis que nao pagarem dfzimos. Os dizimos assim concebidos substituiráo o sistema de espórtulas pagas por ocasiSo dos atos de culto; desempenharáo uma fungao formativa junto aos fiéis católicos, pois ¡ncutiráo ou avivario nestes a consciéncia de que sao corresponsáveis pela sua comunldade paroquial ou diocesana. Nao é, pois, a perspectiva (ilusoria) de malores rendimentos que leva a Igreja a promover hoje a

InstltuicSo dos dizimos, mas, sim, a intencflo pastoral de crfar nos fiéis católicos uma consciéncia viva e lúcida de que sao membros ativos e

participantes da Igreja.

Comentario: Nos últimos anos volta-se a falar de dizimos na Igreja do Brasil, em substituido ao sistema de espórtulas do culto, de que já tratou PR 2/1958, pp. 73-76; 69/1963, pp. 388-396. Muitas pessoas tém-se mostrado interessadas por conhecer o que venham a ser os dízimos, pois o assunto

se presta a equívocos e conjeturas. Eis por que exporemos, a seguir, a doutrina bíblica referente aos dízimos e algo do histórico desta instituicáo; ao que se seguiráo algumas noticias e reflexóes sobre a restauracáo dos dízimos hoje no Brasil.

— 282 —

OS DÍZIMOS: QUE SAO?

1.

11

Os tfízimos na Biblia

1. A palavra «dizimo» vem do latim decimu(s). Na Biblia significa a décima parte dos produtos que os israelitas deviam consignar ao Templo e aos seus ministros (sacerdotes, levitas) em vista do sustento do culto e das pessoas encarregadas deste. O dizimo do culto, ao lado do qual existia o dizimo do rei (cf. ISm 8,15-17), é instituicáo antiga em Israel, pois data dos tempos de Abraáo (séc. XIX a. C); este pagou o dízimo a Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo (Gn 14,17-20); Jaco, ao fugir para a Mesopotámia, prometeu ao Senhor pagar o dizimo de quanto Ele lhe concedesse (Gn 28,22). A prática dos dizimos era freqüente ñas religióes antigás: No Egito as vultosas doagóes dos faraós e dos maiorais aos templos haviam contribuido para que estes possuissem um tergo dos territorios egipcios. Entre os gregos, registraram-se costumes semelhantes, como também em Roma, onde Cicero escarnecía os abusos verificados a tal propósito («De natura deorum» I, HI). A concepgáo subjacente a prática do dízimo é a de que

a térra inteira pertence a Deus ou á Divindade; por conseguinte, o homem, ao perceber os frutos da térra, se senté impelido a oferecer o seu tributo ao Senhor. Em Israel tal concepgáo era reforgada pelo fato de que realmente o Senhor Deus doara ao povo a Térra Prometida, como se depreende dos testemunhos abaixo: "Quando entrares na térra que o Senhor teu Deus te há de dar em

heranga e all te fixares e estabeleceres, tomarás as primicias de todos os

frutos que colheres na térra que te der o Senhor teu Deus; pó-los-és num cesto e irás ao lugar que o Senhor teu Deus tiver escolhido para al habitar o seu nome. Apresentar-te-ás ao sacerdote de servico nessa altura, e dir-lhe-ás: 'Reconhe;o hoje perante o Senhor meu Deus que me instalei na térra que o Senhor tinha jurado a nossos país'. O sacerdote receberá o cesto da tua mao e depositá-lo-á diante do altar do Senhor teu Deus" (Dt 26, 1-4). "Nenhuma térra pertence, e vos sois

(Lv 25,23).

será vendida definitivamente, porque a térra Me apenas estrangeiros e hospedes na mlnha casa"

A maneira de pagar os dízimos é estipulada pelos diversos livros do Antigo Testamento e pela Tradigáo judaica. — 283 —

12

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1978

A Leí de Moisés considera os produtos do solo e o gado como sujeitos a dizimo. Se alguém preferisse nao pagar com bens naturais, mas, sim, com dinheiro, era obrigado a acrescentar ao seu tributo um quinto do respectivo valor. É assim, por exemplo, que se termina o livro do Levitico:

"Todo dizimo da térra relativo ás sementes do solo ou aos frutos das árvores, pertence ao Senhor e Ihe é consagrado. E, se alguém qulser resgatar uma parte do seu dfzlmo, ajuntará um quinto. Quanto ao dfzimo, seja ele qual for, de gado miúdo ou graúdo, o décimo de todos os animáis que passam debalxo do cajado do pastor, será consagrado ao Senhor. Nao se examinará se o animal é bom ou defeituoso, e nSo se substituirá; se, contudo, algum animal for substituido, tanto ele como o seu substituto seráo Igualmente santos; nSo poderáo ser objeto de resgate" (Lv 27,30-33).

Os fariseus julgaram passíveis de dizimos mínimas plantas que servissem de condimento:

também

as

"Al de vos, escribas e fariseus hipócritas, porque pagáis o dizimo da hortelS, do funcho e do comlnho, e desprezais o mals importante da Lei: a justica, a misericordia e a fidelidade. Deviels pratlcar estas coisas sem deixar aquelas" <Mt 23,23; cf. Le 11, 42; 18,12).

Com a ruina do Templo em Jerusalém no ano de 70 d. C, entrou em desuso o instituto dos dizimos. Vejamos agora como o Cristianismo costume do Antigo Testamento.

2.

considerou

tal

O histórico dos dízimos no Cristianismo

Nos escritos do Novo Testamento, nao há mengáo explí cita da obrigacáo de pagar dizimos. Apenas aparece o prin

cipio, proposto pelo próprio Senhor Jesús, de que «o operario é digno do seu salario» (Mt 10,10; Le 10,7). Sao Paulo o

repete ao dizer que «aqueles que servem ao altar, participam do altar» (ICor 9,13). Nos primeiros sáculos do Cristianismo, as ofertas espon

táneas dos fiéis tornavam supérflua qualquer regulamentacáo do assunto. Todavía, com o passar do tempo e a expansáo da Igreja, evidenciou-se a necessidade de se estipularem certas

normas relativas á participagáo dos fiéis no sustento do culto sagrado e dos seus ministros. Nao se sabe exatamente de quando datam as primeiras determinacóes canónicas a — 284 —

OS D1ZIM0S: QUE SAO?

13

este respeito; mas é certo que os Concilios regionais de Tours (567) e de Mácon (583) estabeleceram principios refe rentes aos dízimos. Os Concilios subseqüentes renovaram tais injungoes — o que mostra que encontravam dificuldades para serem aplicadas. Em breve as autoridades civis puseram-se a apoiar as leis da Igreja concernentes aos dízimos. O Imperador Carlos Magno (800-814) repetiu o preceito eclesiástico em suas leis «capitulares», impondo penas a quem o infringisse; chegou a sujeitar os próprios bens da coroa á praxe dos dízimos. Os reís Luís o Bonacháo (814-840) e Carlos o Calvo (875-877) confirmaran! as determinagóes de Carlos Magno.

Em breve, porém, comegaram a registrar-se abusos. No sáculo XI, período em que a Igreja lutava contra a investi

dura leiga (eram os principes que nomeavam os Bispos) verificava-se que muitos senhores feudais e nobres usurpavam os d:zimos em seu proveito ou os retinham, desviando-os das finalidades previstas pela Igreja. Por

ditos

«gregorianos»

(seguidores

do

isto,

Papa

os reformadores

S.

Gregorio VII,

1073-1085) lamentavam tal mal. No século seguinte, o Con cilio ecuménico do Latráo (1179) considerou a situacáo e houve por bem estabelecer que os dizimos eram intransferíveis, quaisquer que fossem os títulos de reivindicacáo apresentados por príncipes e nobres.

Ao mesmo tempo, porém, comecaram as isengóes de dízimos. Foram assim beneficiados os monges, que lavravam

térras até entáo nao cultivadas, assim como as Ordens Mili

tares dos Templarios e dos Hospitaleros. Contudo no Con cilio do Latráo IV (1215) o Papa Inocencio m ordenou que os Religiosos pagassem dízimos das térras que, ao serem

adquiridas, já estivessem sujeitas ao tributo decimal, aínda que essas térras passassem a ser cultivadas pelos próprios Religiosos ou ás custas

destes.

É também no século xm que se inicia a luta dos leigos

contra a instituifiáo dos dízimos. Wiclef (1320-1384) e Huss (1372-1415) no século XV, prenunciando a reforma protes tante, tornaram-se arautos famosos dessa luta. Em conse-

qüéncia, o Papa Martinho V, na sessáo Vm do Concilio de Constanga (14/05/1415), condenou a proposicáo de Wiclef e Huss:

— 285 —

14

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1978 "Os dizimos sSo meras esmolas, e aos paroquianos é lícito, por causa

dos pecados dos seus prelados, desviá-los a seu alvltre" (Denzinger-Schónmetzer, "Enquirldio dos Símbolos e Definlcdes" 1168 [598]).

Finalmente o Concilio de Trento (1545-1563), aos 3/12/1563, sob o Papa Pió V, reafirmou o caráter obrigatório do pagamento dos dizimos e previu a excomunháo para aqueles que os desviassem, declarando que nao poderiam ser absolvidos senáo depois de os haverem devolvido (sess. XXV, c. 12).

No sáculo XVTII, o dizimo havia caido no franco desa grado dos fiéis cristáos. Já quase nao preenchia as suas finalidades. Com efeito, destinado a atender as paróquias e

ao seu clero, os dizimos, em sua maior parte, iam beneficiar o alto clero e instituicóes estranhas ao servigo paroquial. Os grandes arrecadadores de dizimos eram prósperos (havia Bispos e prelados diversos comendatarios, ou seja, leigos que traziam títulos eclesiásticos quase exclusivamente para se beneficiar dos rendimentos materiais respectivos), ao passo que vultoso número de presbíteros recebiam urna «congrua» insuficiente. Em suma, as quantias arrecadadas nao eram devidamente aplicadas aos fins estipulados pela legislacáo eclesiástica e civil. Por sua parte, os economistas do século XVIII eram hostis ao dízimo, porque nao era calculado sobre a producáo liquida; Adam Smith o condenou por nao corresponder ao seu conceito de imposto; este deveria ser determinado e nao arbitrario; a quantia a ser paga e a época do pagamento deveriam ser pré-estabelecidas.

Voltaire e os filósofos pretendiam demonstrar que os dizimos nao eram de direito divino. Os magistrados, o babeo clero e os agricultores eram infensos a esse tipo de imposto. Em conseqüéncia, numerosos libelos foram enviados ao Parlamento francés, pedindo ou a reforma ou a supressáo dos dizimos. A Assembléia Constituinte de Franca resolveu finalmente extinguir esse uso. Na noite de 4 de agosto de 1789, os deputados do clero renunciaram aos seus privilegios e, em particular, aos dizimos. Aos 21 de setembro de 1789, o rei Luís XVI promulgou o decreto que declarava extinta a praxe dos dizimos. — 286 —

OS DtZIMOS: QUE SAO?

15

A nova legislagáo francesa estendeu-se as demais nacóes européias, de sorte que até 1848 foi abolida, em todo o continente europeu, a cobranza dos dizimos; ficou apenas urna pequeña porgáo da Italia sujeita a esse regime até 1887.

A mogáo abolidora foi, em parte, inspirada pelo espirito anticlerical, mesmo antieclesial, que se implantou em nume rosos países dos sáculos XVIII e XIX. Em parte, ela se deve também -as mudangas radicáis por que passou o século XIX, nos setores sociais e industriáis. t

Levem-se em conta, igualmente, os abusos e as retorsóes por que passou a prática do dizimo, tornando-a muitas vezes antipática ao povo de Deus. Por último, é de notar a contribuigáo que o espirito capitalista deve ter dado ao descrédito e ao declinio do sistema de dizimos.

No Brasil, durante o segundo Imperio, o Governo, independentemente de qualquer entendimento com a Santa Sé, foi deixando de cobrar em muitas Provincias o dízimo que o Imperador devia arrecadar como Gráo-Mestre da Ordem de Cristo; entrementes, o Estado contribuía com diminutas congruas para o sustento do clero e pagava parcamente o professorado de alguns Seminarios. Urna vez, porém, procla mada a República, desaparecerán! por completo a prática dos dizimos assim como a das congruas. Atualmente a instituigáo dos dizimos é regida pelo can. 1502 do Código de Direito Canónico (1917), que assim reza: "No tocante ao pagamento de d(zimos e primicias, observem-se os estatutos e os louvávels coslumes vigentes em cada regiáo".

Ora em quase todos os países do mundo está abolida a

antiga legislagáo eclesiástica referente aos dizimos, de modo que estes pratioamente cairam em desuso. G. Lepointe, no «Dictionnaire de Droit Canonique», t. IV, coluna 1244, escrevia em 1949 que o dízimo ainda subsistía no Líbano entre os maronitas, ñas ilhas anglo-normandas e no Canadá.

Todavía hoje em día os Bispos pensam em substituir na Igreja o sistema de esportillas pelo dos dízimos (sendo

que estes vém a ser entendidos de modo assaz diferente do

que caracterizou os sáculos passados). Examinemos, pois, o que pode significar em nossos días o novo instituto dos dízimos.

— 287 —

16

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1978

3.

E os dízimos hoje ?

1. Antes do mais, é de se notar que, ao se falar de dizimo em nossos tempos, já nao se tem em vista a décima parte dos rendimentos de alguém, mas simplesmente urna contribuigáo ou taxa, estipulada a criterio de cada um, em favor do culto e das obras da Igreja. Mais: o nao pagamento

de tal taxa nao implica ou nao implicará excomunháo sangáo de especie alguma.

ou

A razáo pela qual as autoridades eclesiásticas tém estudado a viabilidade da introdugáo da prática dos dízimos assim entendida é a seguinte: O culto sagrado e as obras da Igreja (como também os sacerdotes, em parte) necessitam do apoio financeiro dos fiéis para que possam subsistir, a servigo, alias, dos próprios fiéis. Para atender a tal necessidade, desde épocas .remotas

sao praticadas as espórtulas ou ofertas de bens naturáis (a principio) ou de dinheiro (posteriormente) por ocasiáo da ceiebragáo dos atos do culto; tais contribnigóes foram sendo regulamentadas pelo Direito da Igreja e pelos bispos dioce sanos, sendo hoje conhecidas pelo nome de «esportillas» (a propósito já foram publicadas longas explanagóes em PR 2/1958, pp. 73-76; 69/1963, pp. 388-396). Acontece, porém, que o sistema de esportillas se presta a mal-entendidos e inconvenientes, pois associa a ceiebragáo do culto sagrado e o dinheiro. Verdade é que as esportillas nao sao prego dos atos do culto; estes nao podem ser vendidos (o que seria simonía ou grave pecado; cf. At 8, 18-24). Os atos do culto sao apenas a ocasiáo para que os fiéis possam contribuir financeiramente para o sustento da obra pastoral

da Igreja. Todavia as autoridades eclesiásticas pensam em desfazer o binomio «culto sagrado-espórtulas», provendo de outra forma ao sustento da missáo da Igreja. 2. Os passos até hoje dados no Brasil implantagáo dos dízimos sao os seguintes:

em

vista da

1) Por ocasiáo da sua X Assembléia Geral (Sao Paulo, 1969), os Bispos do Brasil, respondendo a insistente solicitado dos presbíteros, classificaram como «pastoralmente inadequado o atual sistema de taxas»;... inadequado, por causa da estreita correlagáo que, na mente de nao poucas pessoas, — 288 —

OS DÍZIMOS: QUE SAO?

17

pode sugerir entre culto sagrado e dinheiro. Em conseqüéncia, os Bispos do Brasil estabeleceram, em votacáo, que se fizesse

«um estudo teológico e científico sobre o dízimo a ser apli

cado sistemáticamente».

2) A Comissáo Central da Conferencia Nacional dos Bispos, pouco. depois, confiou á Coordenacáo Nacional da Campanha da Fraternidade o encargo de proceder a levantamentos e apresentar sugestóes para a implantacáo do sistema de dízimos no Brasil. Como fruto desse trabalho, apareceu o

folheto «Campanha Nacional do Dízimo» em maio de 1970.

3) Durante a XI Assembléia Geral (Brasilia 1970), a Comissáo Central nomeou urna Comissáo Especial para con

tinuar os estudos já iniciados. Ampio questionário foi enviado as dioceses. Com base nos resultados deste, a Comissáo Especial elaborou um plano para a implantacáo dos dizimos no terri torio nacional.

4) Tal plano foi aprovado pela XII Assembléia Geral do Episcopado (Belo Horizonte, fevereiro 1971). 5) De 1971 a 1974, varios setores regionais da Confe rencia Nacional dos Bispos comecaram a se movimentar no sentido da adocáo do novo sistema. Algumas dioceses chegaram a implantá-lo em ámbito diocesano, enguanto paróguias isoladas o faziam, independentemente de diretrizes nacionais, em todas as partes do Brasil.

6)

As Assembléias Gerais XIII

(Sao

Paulo,

1973)

e-

XIV (Itaici, 1974) da CNBB voltaram a tratar do assunto. De um lado, reafirmaram o seu desejo de ver implantado o sistema de dízimos no Brasil. De outro lado, porém, verificaram a impossibilidade de introduzi-lo em todas as diocese:-» do Brasil segundo as mesmas normas e etapas. Cada regiáo ou mesmo cada diocese do nosso país tem as suas caracte rísticas próprias, que devem ser levadas em conta, de modo que nao se pode pretender impor um mesmo esquema de trabalho a todas. A XXV Assembléia conduiu seus estudos sobre a questáo,

firmando os seguintes principios:

a) Todas as dioceses do Brasil devem ter como meta a implantacáo do dizimo, como sistema de contribuicóes periódicas que substítuiráo progressivamente o sistema de taxas e esportillas. — 289 —

18

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1978

b) Cada diocese proceda á tarefa de conscientizar o povo e os agentes de pastoral a respeito dos dizimos. Procure organizar o novo sistema tanto ao nivel diocesano quanto ao nivel paroquial. c) As dioceses, dentro de um mesmo Regional, devem prestar-se ajuda mutua, promovendo intercambio de expe riencias.

d) Os setores regionais cuidem da elaboragáo de subsi dios escritos para a implantagáo dos dízimos a fim de atender ás necessidades e aos pedidos de cada diocese. e)

Os

organismos

nacionais prestem

aos

regionais

a

devida assessoria.

f)

Cada diocese fixará a data a partir da qual comegará

a vigorar o sistema de dízimos em seu territorio.

Como se vé, a Conferencia dos Bispos, embora mantenha a aspiracáo a substituir as espórtulas pelos dízimos, mudou a sua tática: abandonou a idéia de um plano nacional e optou por urna atitude mais flexível e diversificada, confiando a cada Regional e a cada diocese a tarefa de estudar como proceder á implantagáo dos dízimos dentro das suas circuns tancias próprias. A intengáo da CNBB é bem definida; todavia a sua execugáo depende de fatores varios e há de ser conce bida com realismo.

O motivo pelo qual a CNBB insiste na implantagáo do sistema de dizimos, é pastoral e nao financeiro. Em outras palavras: nao é a perspectiva (ilusoria) de rendas e emolu mentos maiores que leva os bispos a optar pelos dízimos, mas é simplesmente a consciéncia de que este sistema é mais pedagógico e mais adaptado aos ditames de auténtica cons ciéncia crista; nao somente dissipa os equívocos resultantes do sistema de espórtulas, mas aviva a nogáo de que todos sao membros responsáveis da mesma comunidade eclesial.

3. Até agora, no Brasil, varias paróquias (perfazendo um total de-aproximadamente noventa) realizaran!, com resul tados, a experiencia dos dízimos. Eis algumas destas: Nossa Senhora da Conceigáo da Tijuca, Agua Santa e Imaculada Conceigáo, do Rio de Janeiro; — 290 —

OS DÍZIMOS: QUE SAO?

19

Sao Bento e Nossa Senhora da Imaculada Conceigáo, de Nova Friburgo; Santa Cecilia, da diocese de Volta Redonda; Nossa Senhora das Dores, Nossa Santo Antonio, de Juiz de Fora;

Senhora

da

Gloria,

Sao Paulo de Muriaé e Nossa Senhora do Rosario, de Leopoldina; Promissáo, de Lins; Orlándia, de Franca;

Nossa Senhora da Conceicáo e Santo Antonio, da prelada de

Santarém;

Tauá, de Crateús;

Senhora Sant'Ana, da diocese de Iguatu...

A experiencia de 64 paróquias (entre as quais as ácima recenseadas) que responderam a um inquérito da CNBB sobre a implantagáo dos dízimos, permite estabelecer alguns denominadores comuns dessa experiencia. É o que será mostrado sob o subtitulo abaixo: 4.

As licoes da experiencia

A tentativa de introdugáo do dizimo em determinada paróquia exige que se faca, antes do mais, intensa preparagáo

ou conscientizacáo dos fiéis. 4.1.

ConscienHzajSo

Esta pode ser efetuada primeiramente mediante distribuigáo de um questionário que revele o modo de pensar e

as condicóes de vida da comunidade local. Urna vez averi

guados estes elementos, a campanha de conscientizacáo pode proceder por meio de pregacóes, palestras, reunióes, folhetos,

cartas... Essa campanha, que pode durar alguns meses, há de terminar com urna consulta aos fiéis, a fim de se verificar se concordam ou nao com a implantagáo dos dízimos; o consen— 291 —

20

cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1S78

timento dos paroquianos é indispensável, pois eles devem sentir-se corresponsáveis pela comunidade eclesiástica local

e participar ativamente de suas grandes iniciativas.

Urna vez obtido o consentimento, passa-se á implantagáo. 4.2.

Imp4anla(áo

A contribuicáo dizimista há de ser livre por parte dos fiéis. Quem a aceita, preenche urna ficha de inscrigáo. — A quantia a ser paga pode ser estipulada segundo um de tres criterios: a) cada dizimista estipula a quantia com a qual deseja contribuir; b) o dizimista paga urna percentagem de suas rendas (por exemplo, 1%);

c) há um mínimo estipulado para todos os contribuintes igualmente. Dessas tres modalidades, a primeira é inegavelmente a mais recomendável, pois é a que apela para o senso de respon-

sabilidade de cada fiel. A segunda é desagradável a muitos. A terceira nao leva em conta as desigualdades económicas dos membros da paróquia.

A coleta dos dizimos pode ser feita ou ñas dependencias da igreja ou a domicilio. Perguntamo-nos 4.3.

agora:

Quais as conseqüéncias do sistema?

Urna vez implantado o dizimo, subsistem aínda os emolu

mentos e as coletas do culto?

Sao tres as atitudes das paróquias a respeito: a) Algumas suprimiram todas as esportillas (taxas de Batismo, Matrimonio, enterres...) assim como as coletas no Ofertorio da Missa.

b)

rentes

Outras

ao culto

paróquias

(Batizados,

suprimiram

casamentes,

as

espórtulas

enterres...),

refe

mas

conservaram as coletas no Ofertorio da Missa, como meió de

colaboracáo oferecido aos que nao pagam o dizimo.

— 292 —

OS D1ZIM0S: QUE SAO?

21

c) Outras paróguias suprimiram as esportillas (Batizados, casamentes...) somente em favor dos dizimistas. Ora, das tres atitudes a mais oportuna é a primeira, porque mais coerente. Com efeito, a tendencia da CNBB é a de chegar a suprimir todos os emolumentos percebidos por ocasiáo do culto. Todavía nada impede que, nos casos de despesas extraordinarias (construgáo de cápela, reforma da igreja, compra de órgáos...), o pároco ou o Bispo receba doacóes espontáneas, promova festas, quermesses e coisas semelhantes, ou proceda a urna coleta especial esporádica destinada a atender a tal específica necessidade da comunidade. 4.4.

E quais os resultados?

Os resultados da implantagáo dos dízimos ñas diversas paróquias foram sempre muito concretos. A experiencia apresenta aspectos positivos, ao lado de outros (em menor número) negativos: 4.4.1.

Resultados positivos

a) O sistema de dízimos é extremamente educativo; desperta e cultiva nos fiéis a cqnsciéncia de comunidade e corresponsabilidade ou, aínda, de Igreja.

b)

Aviva-se entre ricos e pobres da paróquia o sentido

de justica e fraternidade. c)

,

O sentido de esmola desaparece para dar lugar ao

de servigo.

d)

Desenvolve-se o espirito de fé e de participacáo dos

ieigos.

e)

O sacerdote se beneficia de maior tranqüilidade para

poder dedicar-se ao ministerio e planejar as suas atividades paroquiais.

f)

Quanto melhor é a conscientizacáo, tanto maior é

a participacáo dos fiéis.

Devem-se, porém, registrar — 293 —

22

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1978

4.4.2.

Resultados negativos

a) A maioria do povo, em certos lugares, nao contribuí espontáneamente. b)

É difícil penetrar nos meios mais pobres.

c)

Ocorre falta de pontualidade por parte dos dizimistas.

d)

Verificam-se desistencias e desánimos.

Estes aspectos negativos podem ser contornados mediante urna conscientizagáo mais eficiente e penetrante. Nao se pode esquecer que se trata de um processo educativo... processo que geralmente requer certo tempo para que as pessoas o possam assumir com responsabilidade.

Em sintese: o sistema de dizimos nao é mais prático ou funcional do que o de esportillas (é mais fácil receber a espórtula por ocasiáo dos atos de culto). Mas o sistema de dízimos é preferível porque supóe educagáo da fé e crescimento da consciéncia «de Igreja» da parte dos fiéis católicos. O sistema de dizimos supóe compromisso, o que nao é cómodo, de modo que pode encontrar resistencia por parte de pessoas mal formadas ou orientadas. A estas será preciso oferecer subsidios para que reflitam e formem melhor a sua consciéncia. Enquanto nao há urna conscientizagáo mais penetrante, talvez acontega em varias paróquias que só um pequeño grupo de

cristáos adultos opte pelos dízimos; entrementes a maioria preferirá pagar espórtulas por ocasiáo dos atos do culto, embora o faga de má vontade e, reclame da instituigáo vigente.

Todavia estes obstáculos nao' sao decisivos. Ao contrario,

vém a ser um estimulo a que os pastores e os fiéis leigos procurem despertar os seus irmáos menos esclarecidos para a necessidade de

assumirem com responsabilidade o desem-

penho de seus deveres na Igreja. Ver a propósito o volume 8 da Colecao "Estudos da CNBB", intitulado "Pastoral do Dizimo". Merecem aínda referencia

. ..^ ^^^.^.^

D. Osear de Ollveira, "Os dízimos eclesiásticos do Brasil nos periodos da colonia e do Imperio". Belo Horizonte 1964.

G. Lepointe, "Dime", em "Dlctionnaire de Drolt Canon", t. IV, París 1949, COlS. 1231-1244.

P. Palazzlnl e P. Fedele, "Decime", t. IV. Clttá del Vaticano, cois. 1269-1273.

— 294 —

em

"Enciclopedia Cattollca",

Questdes de Pastoral:

absolviólo coletiva casamento religioso e fé católica

Em slntese: As páginas seguintes apresentam, com algumas notas esclarecedoras, o texto do artigo de Mons. P. Boillon, bispo de Verdun, que relata a poslcfio da Santa Sé frente a tres problemas da pastoral moderna: 1) o recurso freqOente á absolvicfio coletiva dos pecados; 2) o casamento religioso de católicos que dlzem nSo ter fé; 3) os católicos divorciados que contraiam novas nupcias clvls e procurem os sacramentos.

Quanto ao primelro caso, a Santa Sé lembra as normas das InstrucSes anteriores emanadas em 1972 e 1973; a absolvicao coletiva é excecfio; por consegulnté, supSe circunstancias de emergencia; ao blspo diocesano compete avallar a estas, e autorizar a absolvicao coletiva, se a julgar oportuna. Aos fiéis incumbe o dever de, na primelra ocasiSo, se confessarem dos pecados absolvidos coletivamente; nfio podem recebar nova absolvicao

coletiva sem

ter

realizado

previamente a

co'nfissfio

dos

pecados



perdoados.

Sobre o casamento religioso dos católicos que dlgam nfio ter fé, a

Santa Sé propoe que nfio se constranja nlnguém a receber um sacramento,

mas que também nfio se recuse o sacramento a quem o peca (desde que nfio haja indicios de má fé da parte de quem o solicite).

No tocante á vida sacramental dos católicos divorciados e unidos em novas nupcias civis, a Santa Sé pede que se guardem as normas vigentes: nfio sejam admitidos á Comunhfio Eucarlstica enquanto vlvam maritalmente. Isto nfio quer dlzer que tais fiéis se devam considerar condenados definitiva mente: se tém obrigacáo de vlver juntos para poder educar seus fllhos nascidos das nupcias civis, recomendem-se á graca de Deus, orem asslduamente, freqüentem a S. Mlssa, procurem levar vida reta..., certos de que o Senhor Deus pode resolver as situacfies mais dificels e salvar por

vias Imprevisiveis.





*

Comentario: Sabe-se que, a propósito dos sacramentos da

Reconciliacáo e do Matrimonio, novas e novas questoes vém

sendo colocadas na vida pastoral: pergunta-se, por exemplo, em que circunstancias e até que ponto é lícito a um sacerdote outorgar a absolvigáo coletiva a um grupo de fiéis, visto que

se multiplicam os casos de absolvigáo coletiva. Interroga-se

outrossim como proceder diante de um par de noivos que

pedem o casamento religioso católico, mas dizem nao ter fé. Indaga-se ainda como tratar os católicos divorciados que tenham contraído novas nupcias civis. — 295 —

24

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 223/1978

Ora tais questóes precisamente foram levadas pelo Sr. Bispo de Verdun (Franga), Mons. P. Boillon, -á Santa Sé por ocasiáo de urna visita «ad limina» l realizada em 1977. Ao voltar de Roma, o Sr. Bispo houve por bem comunicar ao público no seu Boletim Diocesano («Eglise de Verdun»,

13/02/78) os esclarecimentos resultantes das indagagóes feitas

as Congregagóes Romanas encarregadas dos assuntos em pauta.

As respostas dadas pela Santa Sé a Mons. Boillon tém interesse geral, podendo ser úteis a outros pastores (bispos,

sacerdotes, agentes de pastoral); eis por que parece oportuno

publicar ñas páginas seguintes em tradugáo artigo do Sr. Bispo de Verdun2.

brasileira

o

Antes, porém, de entrarmos diretamente no texto em pauta, oferecemos aos nossos leitores os elementos necessários á plena compreensáo das questóes.

1. 1.

O paño de fundo

A Igreja tem declarado repetidamente que a con-

fissáo individual de todos os pecados graves é de direito divino, ou seja, deve-se diretamente á vontade do próprio Deus, e nao a urna instituigáo humana. Por isto a Igreja

nao tem o direito de abolir a confissáo sacramental. Vejam-se os decretos do .Concilio de Trento (1545-1563), cap.. V, cánones

6,7 e 8, sobre o sacramento da Penitencia (DenzingerSchonmetzer, Enquirídio dos Símbolos e Definigóes n.08 1679-1683. 1706s).

Em 1944, porém, vistas as circunstancias da guerra mundial, a Sagrada Penitenciaria de Roma publicou urna

Instrugáo na qual declarava licita a absolvigáo geral dos

pecados, sem confissáo individual previa, dada a militares e civis em perigo de vida, desde que o número desses fiéis ou a falta de tempo impedissem o atendimento individual a cada um. Além disto, a S. Penitenciaria considerava os casos

de certas assembléias de fiéis que ficariam privados da graga sacramental e da Comunháo Eucarística se fossem obrigados a se confessar individualmente; permitía entáo que se lhes concedesse a absolvigáo coletiva; tais casos ocorrem gerali A visita "ad limina" é a visita ao S. Padre que todos os bispos devem realizar de cinco em cinco anos a (im de apresentar um relatório a S.

Santidade relativo á vida pastoral em sua diocese.

* O texto original foi publicado também em "La Documentation Catholl-

que" n? 1737, 5/03/78, pp. 244 s.

— 296 —

ABSOLVICAO COLETIVA, CASAMENTO RELIGIOSO

25

mente nos lugares onde o sacerdote aparece raramente durante o ano, por estar sobrecarregado de afazeres pastorals. A necessidade de nao privar tais ñéis da graga sacramental (sem culpa dos mesmos) levava a reconhecer a conveniencia da absolvigáo coletiva.

Após a segunda guerra mundial, a praxe dos pastores variou grandemente. O recurso á absolvigáo coletiva se foi multiplicando, nem sempre de acordó com as intencóes da Santa Sé; correu até a noticia infundada de que estaría abo lida a confissáo sacramental. Em conseqüénda da incerteza assim ocasionada, a Sa grada Congregagáo para a Doutrina da Fé em 1972 publicou

a Instrugáo «Normas Pastorais sobre a absolvigáo sacramen tal concedida de forma geral»; tal documento explicava pon tos deixados em obscuro pela Instrugáo de 1944. Finalmente

em dezembro de 1973 foi publicado o Novo Ritual do Sacra mento da Penitencia, que punha termo ás hesitagóes ante riores. Em conseqüéncia, existem hoje tres maneiras de se ministrar o sacramento da Penitencia:

a)

a celebracá» em quadro individual: o penitente, devi-

damente preparado por recolhimento pessoal, vai procurar o sacerdote. Após leitura bíblica (caso seja viável), faz sua confissáo, á qual se seguem as exortagóes do sacerdote e a absolvigáo sacramental;

b) a celebracf» comunitaria com confissáo e absolvicSo individuáis. Os fiéis, reunidos, preparam-se comunitariamente para a reconciliagáo mediante leituras, preces, cantos, exame

de consciéncia...

Depois váo procurar os sacerdotes presen

tes, aos quais fazem sua confissáo auricular e dos quais rece-

bem imediatamente a absolvigáo sacramental (caso nao haja óbice). A conclusáo do rito é comunitaria. Quem nao rea liza a confissáo pessoal, nao recebe o sacramento da recon ciliagáo, mas participa de urna paraliturgia penitencial; esta

é insuficiente para apagar os pecados graves; torna-se útil,

porém, para excitar a contrigáo e obter a remissáo dos peca dos leves;

c)

a celebracáo comunitaria oom confissáo e absolvigáo

gerais. O Ritual frisa que esta modalidade é excepcional. Ocorre quando nao há sacerdotes suficientes para atender pessoalmente a grande número de fiéis que pejam a penitencia — 297 —

26

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1978

sacramental dentro de prazo limitado, de tal modo que essas pessoas, caso nao fossem atendidas, ficariam por muito tempo — e sem culpa sua — privadas da graga sacramental e da S. Comunháo. Isto pode acontecer em territorios de missáo como também em regióes católicas onde naja penuria de sacerdotes para o ministerio pastoral em días festivos ou solenes. — Dado, porém, que se possa obter suficiente número de sacerdotes para ouvir pessoalmente o grande número de confissóes solicitadas, nao é licito recorrer á absolvigáo comu nitaria.

Como dito, compete ao bispo diocesano estipular os dias em que na sua diocese se costumam verificar as condigóes para a reconciliagáo comunitaria. Quanto aos fiéis que se queiram beneficiar dessa absolvigáo, requer-se estejam sinceramente contritos e tenham o propósito de suprir, no máximo dentro de um ano, a confissáa dos pecados que no momento nao lhes é possivel fazer. Nao poderáo receber nova absolvigáo comunitaria se nao tiverem anteriormente realizado a mencionada confissáo sacra mental (a nao ser que justo motivo os impega de procurar a confissáo): «A respeito dessas disposigóes e condigóes, exi gidas para o valor do sacramento, os sacerdotes admoestaráo diligentemente os fiéis». Sao estas as nogóes pressupostas pelo artigo de Mons. Boillon no tocante á confissáo sacramental. 2. No que diz respeito ao matrimonio, a exposigáo do Sr. Bispo de Verdun é clara. Aborda pontos que já foram considerados em PR 213/1977, pp. 391-404 (o casamento dos que dizem nao ter fé) e PR 214/1977, pp. 429-449 (procedimentos pastorais em relagáo aos católicos divorciados que tenham contraído noves nupcias civis). Passamos agora a transcrever o texto de Mons. Boillon.

2.

Dúvidas e principios de sokisáo

"A primeira Congregagáo que fomos procurar, foi a da Disciplina dos Sacramentos, isto é, a da Liturgia. Ali abordamos principalmente problemas relacionados com a Penitencia c com o Matrimonio.

— 298 —

ABSOLVICAO COLETTVA, CASAMENTO RELIGIOSO

2.1.

27

A índole excepcional das absolvieses ooletivos

Primeiramente tratamos do sacramento da reconciliacio. Havíamos sido recentemente induzidos ao diálogo sobre este assunto por urna intervengáo da referida Congregacáo, que •chamava a atencao para a reallzacáo demasiado freqOente de ritos penitenciáis com absolvicáo coletiva. Quisemos mostrar os beneficios deste tipo de liturgia, que realca melhor a dimensao eclesial do sacramento e que o apresenta como celebracáo da misericordia de Deus e nao simplesmente como exerefeio de purificacáo pessoal. Citamos os testemunhos de étimos cristáos, que declararam ter compreendido e vivido

melhor o sacramento em tais condigóes. De modo especial

falamos das reacóes dos jovens.

Em resposta, os oficiáis da S. Congregacáo disseram-nos que tal maneira de celebrar deveria ser estritamente excep cional, ou seja, proceder de modo 'reservado aos casos em

que nao seja possível proceder de modo diferente'. A fim de esclarecer o alcance desta exigencia, relatei o que fizemos em nossa catedral durante a Quaresma. A assembléia compunha-se

de quinhentas ou seiscentas pessoas. A liturgia durou mais de urna hora. Éramos apenas dez sacerdotes. Se tivéssemos resolvido atender a cada penitente em confissáo, a vigilia teria sido interminável. Acrescentei ainda o seguinte: o procedimento que consiste em ouvir a acusacao e em dar ¡mediatamente a

absolvicáo sem diálogo entre o sacerdote e o penitente, parece tanto a este como aquele demasiado formalista. Responderam-me os oficiáis da S. Congregagao que os

penitentes nao estavam obligados a se confessar naquela noite mesma. Podiam apresentar-se ao confessionário nos dias

subseqüentes. Por -conseguinte, nao havia urgencia.

Na verdade, o Secretario confessou-nos que o documento da Conqregacáo fora mal apresentado. Propunha tres modali dades de administrar o sacramento. Sem dúvida, o documento

observava

que havia exigencias especiáis

p^ra a terceira

modalidade, que era a da absolvicáo coletiva. Como quer que

seja, a maneira como o documento se exprimía, parecía deixar livre a escolha entre as tres modalidades. Na realidade, a intencao do documento era dizer que a escolha se limitava a duas opgoes: a confissáo individual e a cerimónla penitencial comunitaria, seguida de absolvigdes individuáis. — 299 —

28


Abordamos o mesmo assunto também com o Secretario Geral da Congregacáo para a Doutrina da Fé. Este fez questáo de lembrar que, em toda a tradigáo da Igreja, a aeusacáo das Faltas fez parte integrante do sacramento, exceto em casos de necessídade urgente. Por conseguinte, temos que levar em conta estes esclarecimentos, que exprimem nítidamente o pensamento do Papa. Nos nao somos proprietários dos sacramentos, mas apenas os

servidores e os usuarios dos mesmos. Doravante renunciaremos ás absolvieses coletivas, exceto em casos de necessidade, isto é, quando, sem culpa da parte do sacerdote, há urgencia em absolver um número de penitentes demasiado elevado para o número de confessores. Para que a interpretacáo dos casos de necessidade seja realmente levada a serio, foi-nos recordado que a autorizacáo do bispo diocesano se faz necessária cada vez que o sacerdote pensa em dar a absolvicáo cotetiva. Em conseqüéncia destas conversagóes, reconheci que talvez tenhamos voltado a nossa atencáo principalmente para as absolvigoes coletivas quando devíamos ter primeiramente dado énfase á confissáo individual. Na yerdade, esta se parece muito com um ato meramente confidencial; é preciso, pois, que Ihe demos um significado litúrgico. Faz-se mister que sacer

dotes e leigos reflitam sobre o próprio móvel do confessionário, sobre o conteúdo do ato sacramental e sobre a maneira de salientar a índole de ato litúrgico que compete ao mesmo, ou

de celebragáo destinada á gloria de Deus. é necessário outrossim que nao se tornem inúteis os progressos realizados pelas celebragóes penitenciáis. Esforgar-nos-emos por melhorar o teor e a estrutura destas; para tanto,

procuraremos restaurar nos cristáos o sentido do pecado, visto antes como recusa do amor de Deus do que como desvio moral ou fraqueza humilhante; tentaremos comunicar ao rito penitencial a tonalidade de alegre celebragáo do amor infinita mente misericordioso do Pai. 2.2.

O casamento de aislaos balizados que perderam a fé

Em Roma, também consideramos questóes concernentes ao matrimonio.

tongamente

duas

A primeira, que nos preocupa, refere-se aos cristáos que

receberam o Batismo, mas perderam por completo a fé. Declaram isto; todavia pedem á Igreja o sacramento do matri— 300 —

ABSOLVICAO COLETIVA, CASAMENTO RELIGIOSO

29

mdnio, porque, aos olhos de seus genitores e dos paroqulanos, nao seriam tidos como casados. Nao seria possível julgar que, para tais noivos, o casamento civil (desde que considerado por eles como indíssoiúvel) faria as vezes de verdadeiro casamento? A razSo de pensar assim é que o casamento civil vem a ser o único que eles possam celebrar honestamente. É esta urna questao nova. Com efeito; tornou-se freqüente, hoje em dia, o caso de familias muito cristas, ñas quais a fé dos genitores já nao passa para os filhos ou mesmo é fortemente rejeitada por estes.

A questáo já fora colocada á Santa Sé, especialmente pelos bispos franceses. Atualmente, porém, nao se vé que, para dois cristaos batizados, o matrimonio nao sacramental possa

ser válido. Nao obstante, é preciso nao estimulemos os noivos a realizar urna comedia receben do um sacramento no qual eles declaram nao acreditar. Em tais casos, é melhor aconse-

Ihar-lhes que se contentem com o casamento civil até o dia

em que mediante o despertar do seu Batismo, a graca de Deus os tocará. Todavia, desde que pegam o sacramento do matrimonio, o sacerdote nao o deve recusar a tais noivos. A Igreja é Máe; Ela acolhe, Ela esclarece, mas Ela jamáis constrange autoritativamente alguém seja a receber, seja a nao receber um sacra mento.

2.3.

Os divorciados que de novo se casaram

Outra questáo também preocupa os pastores. Diz respeito

aos divorciados que de novo se casaram. Nao se poderia considerar a conveniencia de que, em certos casos, após longo espago de penitencia, alguns pudessem ser admitidos á S. Eucaristía, sem que por isto se pusesse em xeque a indissolubilidade do casamento? — A resposta fol nítidamente negativa.

Pode-se compreender isto desde que pensemos na fragilidade do casamento em nossos dias. A Igreja é a única instituigao que a todo prego defende a estabilidade do mesmo. Dando provas de funesta falta de consciéncia, os Governos e os Partidos procuram maneiras de facilitar ainda mais o divorcio e assim desintegrar cada vez mais a célula básica da sociedade. — 301 —

30

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 223/1978

Compreende-se entáo como seria grave qualquer atitude da Igreja que parecesse atenuar, ainda que por pouco, a sua doutrina referente á indissolubilídade. Isto, porém, nao impede que se ponham algumas questoes dolorosas e complexas. Eis porque, sem querer suscitar falsas esperancas, o Cardeal Prefeito nos sugeriu que de novo consul temos Roma por escrito sobre tal assunto.

Julguei útil reproduzir aquí as diretrizes doutrinárias e pastorais recebidas em Roma. Elas ínteressam a todos: sacer dotes e leigos. Nao nos dispensam de continuar a procurar

solucoes, pois os problemas ainda existem; isto, tudo, porém, dentro da obediencia.

P. B."

3.

Observacóo frrral

Tres foram os pontos abordados pelo articulista Mons. Boillon: as absolvieses coletivas, o casamento de cristáos que digam ter perdido a fé, a Eucaristía de divorciados de novo casados civilmente.

1) Com referencia as absolvieses coletivas, a S. Congregacáo para a Disciplina dos Sacramentos enfatiza que estas constituem excec.5es e que, na verdade, só existem duas maneiras ordinarias de celebrar o sacramento da Reconcilia-

gáo: a) a estritamente individual e b) a comunitaria, seguida de absolvicáo individual dada a quem se confesse. Transcrevemos, pois, o texto do novo Ritual da Peni tencia que aborda o assunto e que deve ser entendido á luz da excegáo mencionada:

"31. A íntegra confissáo individual e absolvicáo continúan* sendo a única forma ordinaria de reconciliacáo dos fiéis com Deus e a Igreja, a nao ser que urna impossibilidade física ou moral dispense desta confissáo. Pode suceder, com efeito, que circunstancias particulares tornem lícito, e até necessário, conceder a absolvicáo geral a varios penitentes sem previa confissáo individual. — 302 —

ABSOLVICAO COLETIVA. CASAMENTO RELIGIOSO

31

Além de perigo de morte, em caso de grave necessídade, será lícito absolver sacramentalmente de urna só vez varios fiéis que se tenham confessado apenas genéricamente, depois

de exortados ao arrependimento. Isto ocorre, por exemplo, quando, em razáo do número de penitentes, nao houver confessores suficientes para ouvir como convém todas as confissóes em tempo razoável, vendo-se os penitentes, sem culpa própria, obrigados a privar-se por mais tempo da graca sacramental ou da Sagrada Comunháo. O que pode acorrer sobretudo em térras de missóes, mas também em outros lugares e ainda onde a reuniáo de muitas pessoas exija esta solugáo. Isto nao será lícito mesmo h aven do grande número de

penitentes, como, por exemplo, em alguma festa ou em pere-

grinac5es, quando se puder contar com confessores em número suficiente.

32.

membros

Compete ao Bispo

diocesano, ouvidos os

da Conferencia Episcopal,, julgar

demais

se ocorrem as

referidas con dignes e determinar quando é lícito dar a absolvicáo sacramental na forma geral. Além dos casos estabelecidos pelo Bispo diocesano, ocorrendo outra necessidade grave de conceder a absolvicao geral a varios fiéis ao mesmo tempo, o sacerdote deverá recorrer, sempre que possível, ao Ordinario do lugar para dar licitamente essa absolvigáo; caso contrario, informará quanto antes ao Ordinario da necessidade que se apresentou e da absolvigáo geral concedida.

33. Para que os fiéis possam beneficiar-se da absolvicao sacramental dada simultáneamente, é indispensável que estejam convenientemente dispostos, isto é, que, arrependidos de suas culpas, tenham o propósito de nao tornar a cometé-las, de reparar os danos e escándalos causados e de confessar indivi dualmente, em tempo oportuno, os

pecados graves que no

momento nao podem confessar. Os sacerdotes instruiráo dili

gentemente os fiéis sobre estas disposicóes e condigóes reque ridas para a validade do sacramento.

34. Aqueles que tiveram pecados graves perdoados pela absolvigáo em comum, devem procurar a confissSo auricular antes de receber outra absolvigáo desse tipo, a nao ser que impedidos por justa causa. Em todo caso, devem procurar o qno

__

32

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1973

confessor dentro de um ano, se nao íor moralmente impossivel. Pois também vigora para eles o preceito de que todo cristáo deve confessar ao sacerdote urna vez por ano todos os peca

dos, ¡sto é, as faltas graves que nao houver confessado indi vidualmente".

2) No tocante ao segundo ponto, apraz lembrar que a norma ditada pela Santa Sé vem confirmar as sugestóes pro postas em PR 213/1977, pp. 391-404: nao se devem recusar os sacramentos (ncm o do matrimonio) a quem os peca, a menos que haja evidentes indicios de que o candidato ao sacramento esteja de má fé ou disposto a cometer sacrilegio

ou, ainda, manifesté estar intencionando um

tipo

de vida

contrario áquele que os sacramentos exigem dos fiéis. — Pode-se supor (até se provar o contrario, caso por caso) que aqueles que pedem um sacramento sejam movidos por certo respeito religioso, que o pastor de almas deve saber fomentar, em vez de sufocar.

3) Quanto ao terceiro ponto, compreende-se que, se alguém leva um tipo de vida moralmente erróneo, nao pode freqüentar a Eucaristía, visto que esta supóe o estado de graca, nem pode ter acesso ao sacramento da Penitencia se nao abandona seu tipo de vida má. Isto, porém, nao quer dizer que as pessoas divorciadas e de novo casadas no foro civil estejam todas excluidas da salvacáo eterna. Pode acon tecer que, por motivo dos filhos, nao tenham a possibilidade de dissolver sua uniáo civil. Em tais casos, recomendem-se á graga de Deus, freqüentem a S. Missa (embora sem comun-

gar) e orem assiduamente; em suma, procurem levar autén tica vida crista na medida do possível, confiando na Provi dencia Divina, que tem recursos invisíveis para salvar aque les que sinceramente se arrependam de suas faltas.

Alias, a recomendacáo de orar e nao deixar de freqüen tar a Igreja se estende também aos que estáo apegados ao

erro, pois a oragáo é sempre o primeiro passo que alguém possa e deva dar em vista da sua conversáo.

.

Eis alguns dados que nos parecía oportuno levar ao conhe-

cimento de nossos leitores sobre assuntos hoje em día deli

cados e candentes. Esclarecem o povo de Deus e preservam a boa ordem na S. Igreja.

— 304 —

No teatro, um sucesso:

u f

n por Millor Fernandes

Bm aintese: A peca "é..." de Millor Fernandos reproduz com realismo um episodio tipleo da socledade contemporánea. Defrontam-se duas geraedes: a dos menos jovens e a dos mals Jovens; aquela, com as caracte rísticas da rotina artística e fiel eos seus compromlssos; esta, livre de qualquer preconcelto e dlsposta a superar todos os tabus. Urna jovem representante da nova geracáo — Ludmlla — com seus 24 anos de idade, consegue atralr Mario, o professor universitario prestes a completar 25 anos de casamento com Vera. Mario Ihe darla um fllho, visto que Oto, o companheiro de Ludmila, era estéril. Todavía Mario e Ludmlla se apaixonam um pelo outro e passam a vlver juntos, com grande dor para Oto, que ó

obrigado a abandonar a companheira. Em dado momento, porém, Ludmlla e Mario ouvem a noticia de que Oto se sulcldou — o que redunda em ruina de ánimo de Ludmila e frustrapSo para Mario. A peca termina pela constatado da desgraca ("é ...") proferida pela esposa de Mario.

Esse "É..." contém toda a mensagem da pega, que se poderla assim resumir: é, de fato,... o libertinismo e o desrespelto a certo valores

relacionados com o amor e o casamento so levam ao vazlo e á decepeáo. é

Inútil querer conculcar tais valores em nome de falso feminismo, visto que estáo intimamente associados á saúde física e psíquica do ser humano ou á própria natureza e dignldade do homem.

Comentario: Está fazendo grande sucesso no Rio de Janeiro a peca de teatro «É...» da autoría de Millor Fernandes, humorista de renome; há um ano e meio que se acha no cartaz da «Maison de France», sendo os principáis artistas Fernanda Montenegro e seu marido Fernando Torres (legíti mamente casados).

Millor Fernandes apresenta assim o que ele chama «um

fato verídico que ainda nao aconteceu», tencionando insinuar que o enredo da peca corresponde á realidade mesma de nossa vida social — o que se pode reconhecer sem hesitacáo.

Ao apresentá-la, o autor sabe fazé-lo de modo a propor ao público estupenda ocasiáo de reflexáo sobre os novos rumos da sociedade contemporánea. Os artistas interpretan! tal enredo de maneira vivaz e eloqüente. Resumiremos, a seguir, o con-teúdo da pega, a fim de tecer algumas ponderagóes a respeito. — 305 —

34

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1978

1.

O enredo

Um casal de meia-idade, prestes a celebrar as suas bodas

de prata, vive feliz. Mario, o marido, é professor universitario, ao passo que Vera exerce as prendas domésticas. No rol dos seus conhecimentos, encontram-se duas irmás solteiras — Sara (28 anos) e Ludmila (24 anos) — e um rapaz chamado Oto. Estes representam a mentalidade jovem moderna, isenta de qualquer «preconceito» em relagáo a amor e sexo. As duas irmás sao pioneiras do feminismo ou da total «libertagáo» da mulher; a própria Ludmila apresenta-se como urna jovem mineira cujo nome originario é María José Formiga, mas que, descontente com tal nome, o trocou pelo de Ludmila Sakharov Triana. Ludmila e Oto vivem juntos há um ano sem vinculo conjugal. Pensam em ter um filho. Todavía verifica-se que Oto é estéril. Em consequéncia, Oto e Ludmila estáo dispostos a recorrer a um homem apto a fecundar Ludmila. Esta, urna vez grávida, poderia passar o feto a urna máe de aluguel, que, após nove meses de gestagáo, lhe daria a crianga como se fosse o filho de Ludmila...

Após muito deliberar com sua companheira, Oto pede ao professor Mario queira exercer a fungáo de «reprodutor» junto a Ludmila. Mario é tido como o homem ideal para tanto, porque é homem bom e já de certa idade, estabilizado em sua vida conjugal — o que parece afastar a hipótese de que venha a apaixonar-se por Ludmila. Mario, a principio, recusa, qualificando de Ioucura a iniciativa proposta; mas, finalmente, diante das insinuagdes de Ludmila, deixa-se vencer e consente; Oto, ao mesmo tempo que dirige o convite a Mario, mostra-se contrariado e violentado interiormente.

A consequéncia do coloquio é que Mario e Ludmila passam a se encontrar. Disto nasce a paixáo entre ambos, embora Mario a principio reconhega estar cometendo urna traigáo á sua esposa e um desatino. Oto, ao acompanhar o desenrolar dos fatos, perturba-se: vé-se obrigado a aceitar que Ludmila e Mario tenham relagóes entre si, mas insiste em coabitar com Ludmila. Esta, porém, nao faz caso dele, de

sorte que Oto a deixa. Vera, a esposa de Mario, vem a descobrir a vida dupla que seu marido leva há seis meses com Ludmila e, simulta-

— 306 —

*É...» DE MILLOR FERNANDES

neamente,

com a esposa...

35

Mario confessa essa realidade.

Finalmente, envolvido pela paixáo, sai morar com Ludmila.

de

casa

e passa a

Desesperada, Vera também procura entregar-se ao libertinismo, mas senté nbjo das novas experiencias. Por último, Mario vai procurá-la para tratar do desquite; enquanto conversam, o marido recebe um telefonema de Ludmila, que lhe comunica o suicidio de Oto. Antes de por termo á vida, este deixa um bilhete com urna única palavra: «É...». — O

fato dramático destruiu a felicidade de Lu'dmila, como tam

bém a de Mario. Ao verificar isto, Vera se adianta para a

frente do palco e diz a mesma e única palavra aos espectadores:

«É...» — o que significa a constatagáo dos fatos: desespero,

perplexidade, ruina...

como resultados das experiencias de

amor livre e feminismo desenfreado. Assim termina a pega.

2.

Refletindo...

Sem pretender ser filósofo, Millor Fernandes envia á sociedade de hoje urna mensagem de inestimável valor, mensagem que tem seu peso próprio por proceder de alguém que se dedica antes ao humor e á liberdade de critica do que a teses de moral estruturada. Millor retrata fielmente as tenden cias da vida moderna, principalmente como se desenrola ñas carnadas mais abastadas das grandes cidades.

O enredo que ele propóe, presta-se a diversos comentarios, que procuraremos sintetizar em dois itens. 2.1.

O confute das gerajóes

Nao há dúvida, o autor apresenta o confronto entre duas geraróes: a dos «tempos passados», respeitosa de certos hábitos

moráis (embora sujeita a violá-los por incoeréncia da natureza

humana) e amiga de certa rotina (rotina que Vera qualifica de artística). Tal geracáo representa, na pega, a fcdelidade ao vínculo conjugal, a dedicagáo da mulher ao marido, aos filhos, ab lar...; o interesse e o carinho do esposo pela esposa e

psla familia constituida. A geragáo nova seria a antitese de tal «rotina»: estaría disposta a quebrar os «tabus» e a enve-

— 307 —

36

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1973

redar por caminhos novos, isentos de qualquer orientagáo moral; Ludmila é a expressáo típica dessa mentalidade, por seu modo de falar, de se vestir, de andar e de cultivar seus afetos...

Ao confrontar as duas geragóes e as respectivas mentali dades, poder-se-ia julgar que a nova geragáo é mais «arejada», mais «auténtica», ao passo que a antiga peca por nao acom-

panhar a natural evolugáo da vida e da sociedade, deixando-se assim ultrapassar. O suicidio de Oto, jovem e eufórico a

principio, mas posteriormente desesperado e frustrado diante do

resultado

negativo

de suas

experiencias de vida livre,

traduz em alto e bom tom a tese que a peca insinúa. -É o

suicidio de Oto (aparentemente rejeitado por Ludmila) que leva a própria Ludmila a sentir a amargura do fruto que táo saboroso lhe parecía; o vazio, a morte, a dissipagáo da falsa

euforia sao a conseqüéncia da emancipagáo desenfreada. Em conseqüéncia, o «É...» final da pega, com suas reticencias, leva o espectador a procurar urna complementagáo. Esta, segundo o enredo, parece ser:

•«É verdade: o respeito e a fidelidade conjugáis, que julgávamos ser tabú e rotina cega, ainda sao preservativos da saúde e do bem-estar. A experiencia se encarrega de dizé-lo». <É... É ilusorio crer que no desenfreio se encontré maior felicidade do que no compromisso consciente e voluntariamente aceito». 2.2.

O feminismo

A valorizagáo da mulher, que consista em dar a esta um

lugar na vida pública, associando-a ao homem na diregáo da sociedade, é urna das notas características e positivas dos tempos modernos, como, alias, notava o Papa Joáo XXIII na sua encíclica «Pacem in terris»: "Tres fenómenos caracterlzam a nossa época.

Prlmeiro, a gradual ascensáo economico-socfal das classes trabalhadoras.

Em segundo lugar, o fato por demals conhecido do Ingresso da mulher na vida pública: mais acentuado talvez em povos de civilizado crista; mais tardío, mas Já em escala considerável, em povos de outras tradicBes e culturas. Torna-se a mulher cada vez mais cónscia da própria dignldade

— 308 —

<É...» DE MILLOR FERNANDES

37

humana, nao sofre mals ser tratada como um objeto ou um Instrumento, reivindica direltos e deveres consentáneos com sua dlgnldade de pessoa, tanto na vida familiar como na sua vida social. Notamos finalmente que em nossos días evolulu a socledade humana para um padrSo social e político completamente novo" (n?s 39-42).

O auténtico feminismo, porém, nao pode consistir em descaracterizar a mulher. Nao pode equivaler a atribuir á mulher um comportamento idéntico ao do homem. A psicología da mulher e a do homem diferem urna da outra, embora se completen! mutuamente; por isto a mulher tocam fungóes que o homem nao pode preencher, e vice-versa. A mulher foi

feita para lidar com a vida em seus aspectos mais delicados,

sendo a maternidade a fungáo mais típica dessa vocacáol; o homem, ao invés, foi feito para enfrentar as tarefas arduas e pesadas que a defesa e a conservagáo da vida impóem. O feminismo que nao respeite as diferengas naturais existentes entre o homem e a mulher, mas tenda a equiparar o com portamento da mulher ao do homem, já nao é feminismo, mas é nova forma de submissáo da mulher ao homem. Algumas correntes feministas «invejam», no homem, a apregoada liberdade sexual que lhe é atribuida: liberdade de relagóes pré-matrimoniais, extra-conjugais, sexo sem amor... Ora, na verdade, nem o homem possui legítimamente tal liber dade; ao homem compete respeitar o amor e o casamento; o

sexo, tanto para o homem como para a mulher, é a expressáo do amor estabilizado pelo vínculo conjugal; sem a sociedade estável do casamento, os filhos nao tém lar, nao tém fami lia... Quem, pois, atribuí ao homem a liberdade de violar tais valores e quer «emancipar» a mulher assinalando-lhe o mesmo «direito», desfigura a mulher, concebendo-a segundo urna caricatura do homem — o que redunda em dupla escra-

vizagáo da mulher.

Eis algumas reflexóes que a pega «É...» de Millor Fernandes sugere ao espectador. Trata-se de obra altamente

realista, cujas cenas e linguagem reproduzem fielmente o estilo libertino de certos ambientes sociais. Millor Fernandes, porém, apresenta tais quadros nao por baixo diletantismo, mas em vista da comunicagáo de mensagem ao grande pú blico apta a sacudir e despertar os iludidos.

» A vlrgindade é o exercfcio da maternidade em plano nao corpóreo,

pols ela assegura á mulher a liberdade de se doar em termos que o casa mento nem sempre lhe permite.

— 309 —

"Paradoxo" de nossos dias:

retorno a virgindade

Em slntese: V6o, a seguir, transcritas algumas ponderales da escri tora Barbara Cartiand a respeito de novo interesse do público pelo valor da

virgindade. Os numerosos romances da autoria de Barbara apresentam como

protagonistas mulheres virgens; ora em dols anos a sua liragem chegou á casa dos 70 milhSes, esparsos, como estáo, pela Europa, pela América do Norte e pela Asia...

Barbara Cartiand julga, com razáo, que essa estima (ao menos implí cita) da virgindade se deve á saturacSo de sexo que caracteriza a presente geracSo. Em última análise, a mulher senté que a libertinagem sexual a humilha e colsifica ñas máos dos homens; o que a mulher quer, é ser amada como esposa; por sua vez, "o rapaz quer para esposa urna garota

bem diferente daquelas com que ele faz programas".

Comentario: A revista «Seleeóes», em seu número de abril de 1978, publicou duas páginas com o título «A virgin dade está de novo em moda». Trata-se de um condensado do artigo de Barbara Cartiand editado em «The Times of London», de 15/04/1977. B. Cartiand é a autora de nume rosos romances tais como «The Dragón and the Pearl», «A Touch of Love», «The Curse of the Clan», «Never Laugh at Love», «The Impetuous Duchess», «Innocent in Paris», «A Kiss of Silk», «Say Yes», «Samantra»... As observacóes

propostas pela escritora sobre a virgindade sao dignas de atengáo. Eis por que vamos, a seguir, transcreyer o artigo

de «Seleeóes» e acrescentar-lhe sucintos comentarios.

'

A VIRGINDADE ESTÁ DE NOVO EM MODA

«Era obvio que o declínio da onda pornográfica seria seguido de um surto de romantismo, mas mesmo assim a nova Era de Romantísmo tomou de surpresa escritores, editores e produtores cinematográficos. Foí Walt Disney quem ofirmou; «Cada vez que elos fazem um

filme pornográfico, eu faco dinheiro». Quanto a m¡m, estou convencida de que, cada vez que as mulheres deparam com alguma pornografia vulgar e degradante, compram um de meus livros. Nesses dois anos

— 310 —

RETORNO A VIRGINDADE

39

que passaram, as vendas de meos romances otingíram cifras astro nómicas, chegando agora á casa dos 70 milhoes. Sou eu quem mais

vende na Europa, na Turquía, em Cingapura, na india, ñas Filipinas,

no Sri Lanko e na América do Norte. Qual a razao disso? £ que as

minhas heroínas sao vir.gens.

Há quinze anos, os editores advertían» os románticos escritores que para eles trabalhavam, que deviatn «modernizar-se» — escrevet

sobre divorcio e amores nao sacramentados. «Eu sou da década dos vinte», preven!. «Eramos inocentes e nao havia esse negocio de entrar e sair promiscuamente de camas, nao. Nao estou discutindo se é assim agora; so estou dizendo que'ocho ¡sso muito pouco romántico». Assim, .quando estourou a onda romántica, eu tinha mais de cento e cinqüenta virgens em letra de forma ! «Nada iém a ver com a vida e o pen&amento moderno», escarneceram os críticos. Será mesmo? Ainda estou para encontrar um homem que nao queira para mulher urna garota bem diferente daquelas com quem ■ ele faz «programas». E ainda estou para ver urna mulher que nSo anseie por um amor de éxtase e dotninacao .por parte de um homem que a idolatre. E urna mulher Idealizada que cada homem poe em seu escrfnio secreto e adora como esposa, mae de seu$ filhos, como farol e inspiracao.

Conheco o problema e entendo as dificuldadei em que se vé urna garota moderna, quando um homem espera que ela va com ele para a cama na primeira ou segunda vez que se encontram. «Todo mundo faz ¡sso» é a expressao da mais insidiosa forma de corrupcao. Essa coisa de «dormir com qualquer um» afeta o caráter e a personalidade da mulher. Serem amadas, adoradas, mimadas, protegidas — é isso que as mulheres do mundo inteiro querem e aposto que no fim vao mesmo

conseguir, porque, se o problema é, como sempre foi, cíclico, em cinco ou dez anos a virgindade volta á moda. E com isso retornamos aos

nobres ideáis e á decencia, que se fundamen)am na cóstid'ade

feminina.

Com o retorno ao romántico, a promiscuídade — da mesma forma que a crassa vulgaridade da pornografía, que degrada as mulheres — inevitavelmente se desatualiza. Quando a baixeza atinge seu nfvel máximo e ¡a nao é possfvel desnudar-se mais .que o nu, a

«folha de parreira» volta a ser atraénte e a Virtude toma o lugar

do Mal.

— 311 —

40

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1978

No afá de serem livres, modernas e igualarem-se aos homens, as mulheres perderam nao só a sua virgindade mas também sua mística,

e era exatamente esta a qualidade que contínha algo de divino, que

¡nspirou grandes obras-primas em todas as culturas conhecidas. Mas onde encontrar, entre as mulheres de ho¡e, urna Simonetta Vespucci, que nos deu a Venus de Botticelli; urna Beatriz, inspiracáo de multa: das maiores obras de Dante; ou urna Mary Fitton, a «Dark Lady» dos sonetos de Shakespeare? Sem Impedimentos nem diferencas (pequeñas que sejam) entre os dois sexos, em breve estaremos podendo produzir urna Supermulher. O problema é que, com isso, vamos perder o Super-Homem, porque ele só é super, só goza de plenitude, quando sua capacidade espiritual está sublinhada pela perfeicáo pura e mística de seu ideal, A Mulher Virgem»,

2.

Repensando. ..

A escritora observa que a estima — explícita ou, ao

menos, implícita — da virgindade está de novo em voga... E por que motivos?

O principal se deriva da natureza ou de certas categorias espontáneas do ser humano. Com efeito;

a

jovem que se entrega levianamente ao

rapaz, nao pode deixar de experimentar, ao menos após a «aventura», a impressáo de ter sido explorada e jugueteada... Depois da(s) aventura (s), a jovem é deixada de lado como um objeto ou um trapo que já nao serve; a moca fica pro fundamente marcada em seu psíquico e em, seu físico por tal experiencia, sentindo-se vitima de abuso e frustrada; a sua intimidade é devassada sem que isto lhe traga alguma compensagáo equivalente. Ao contrario, o rapaz é muito menos

sensível ao trauma, de modo que, ao sair da «aventura», está disposto a outra, enquanto a jovem se senté diminuida e perplexa.

Em última instancia, é a valorizacáo da própria mulher

que se insurge contra a libertinagem sexual. Nao há pari-

dade de condicóes entre o rapaz e a moga ao se entregarem

a urna «aventura»: o sexo feminino é mais sensível e deli

cado do que o masculino. Em conseqüéncia, passada a «eufo ria» da experiencia sexual, a moca se senté, nao raro, vulne— 312 —

RETORNO A VIRGINDADE

41

rada, ao passo que o rapaz julga estar «incólume» ou mesmo «triunfante»... — Está claro que, com isto, nao queremos

dizer que ao rapaz toque o direito de libertinagem, direito que é recusado á mulher; também ao rapaz; compete guardar res-

peito ao sexo oposto e á pessoa de quem ele se aproxima; o sexo só pode ser entendido, tanto pelo rapaz como pela moca, como a última e suprema expressáo do amor que se estabiiizou pelo casamento e pela constituigáo de um lar. Fora do

casamento, o sexo é a manifestagáo de paixáo um tanto cega e traumatizante.

Ao ler tais observacóes, muitos diráo que sao inspiradas por tabus e preconceitos convencionais, dos quais a sociedade deve libertar-se para poder evoluir...

Respondemos: a prova

de que nao se trata de tabus e preconceitos convencionais,

está em que a própria natureza humana é afetada pelo libertinismo sexual; a neurose, tida como a doenca do século, e o grande número de suicidios registrados em nossos dias, prin cipalmente entre os jovens, atestam que o desenfreio sexual

fere nao somente o físico, mas também o psíquico da cria tura humana, desajustando-a profundamente.

Em última análise, o que a mulher quer, é ser amada como pessoa e respeitada em sua dignidade. Por seu lado, o que o rapaz quer, é urna jovem que possa compartilhar fiel mente seus interesses, seu ideal, ou seja, «urna garota bem diferente daquelas com quem ele faz programa». Esteváo Bettencourt, O.S.B.

MT 20,1-16 Senhor,

também fui convidado para a testa da vida. Nao sei se cheguef atrasado,

Nao seí se trabalho urna hora ou o dia Inteiro...

Mas sei que, paral Ti, só chegam atrasados á vida os que nunca chegam a [parte alguma.

O trabalho só vale na medida do amor que se p6e nele. Rito Días — 313 —

livros em estante O Profela Assasslnado. Historia dos textos evangélicos da Palxfio. Tradujo de Jofio Pedro Mondes. Colecfio "Biblioteca de estudos bíblicos" — 1. — Ed. Paulinas, Sao Paulo-1978, 145x210 mm, 213 pp.

O Pe. Hugues Cousin ó doutor em Teología e professor na Faculdade de Teología de Llfio asslm como ñas Escolas dominicanas de París e Jerusalóm. Dedlca-se, neste llvro, a reconstltuicfio dos aconteclmentos que caracterizaran! os últimos días de Jesús. Partlndo da premlssa (aceltável,

até certo ponto) de que os relatos evangélicos nfio sSo fotografías dos acon teclmentos, mas narracóes redlgldas em vista do anuncio da fé e da cate-

queso, o autor prop6e urna tentativa de reproduzir a seqüéncia dos fatos da Palxfio do Senhor que Ihe é singular: "Relato da Palxfio segundo Hugues Cousln" (pp. 169s); por consegulnte, o próprlo Cousin nfio pretende atribuir valor definitivo ao seu estudo, mas, sim, o mérito de um ensaio a ser exa minado pela critica.

Entre es notas peculiares do trabalho de Cousin, destaca-se a suposjcfio de que a solene entrada de Jesús em Jerusalóm, geralmente celebrada cinco días antes da comemoracfio de sua morte, deva ter ocorrldo por ocasISo de urna das festas das Tendas ou dos Tabernáculos, Isto é, em flns de setembro ou comeco de outubro; em tal solenldade, os judeus usavam folhagens ou ramos para a ornamentacfio litúrgica. O autor assim julga poder explicar melhor que Jesús, nos días anteriores á sua morte (ocorrlda a 7 de abril de 30), se ocultasse da policía do Templo de Jerusalóm, a tal ponto que Judas teve de denunciar aos sumos sacerdotes o local onde o Mestre se achava (cf. Jo 11, S¡7).

Cousln também Julga que Jesús previa a sua morte por meló de lapldacfio, e nfio de crucifixfio. Na verdade, a lapidacfio era a pena que os Judeus Infliglam aos blasfemadores e falsos profetas. A cruciflxfio, ao con

trario, só podía ser aplicada pelos romanos, que assim condenavam os sica

rios e revoltosos contra a autoridade Imperial. Jesús, pois, esperava morrer

como vltima do cumprlmento de urna mlssSo religiosa (renovacfio das expec tativas e observancias de Israel), mas, na verdade, terá sido pelos sacerdotes

entregue aos romanos, que o fizeram morrer no Gólgota como agitador politico. Asslm a morte de Jesús fol roubada,'isto é, fol infligida de maneira Ilegitima ou por falso motivo I Que dlzer a propósito ?

Cousin nfio quer discutir explícitamente a difícil questfio da ciencia

que Jesús terá tido a respelto da sua mlssao (cf. p. 209). Este é o ponto nevrálglco da sua posicSo. Poder-se-á admitir que o Senhor naja ignorado o modo como se desfecharla o seu ministerio profótico?... que haja con jeturado algo de diverso do que haverla de acontecer? — Os autores nflo propOem todos a mesma resposta a tais perguntas. Nfio vemos, porém, como concillar a tese de Cousln com a realidade do único eu de Jesús

Cristo; com eíelto, o seu eu nfio era o de um homem, mas o da segunda

pessoa da SS. Trlndade, segundo a deflnlcfio do Concillo ecuménico de Calcedonia (451) até hoje válida (cf. o documento "O Misterio do Fllho de Deus" emanado da S. Congregacfio para a Doutrina da Fó aos 21 de feverelro de 1972 e comentado em PR 151/1972, pp. 316-321). Em conseqüéncla,

tudo o que Deus sabe, Jesús o sabia, embora a sua natureza humana tenha experimentado os diversos graus do saber humano: o consciente, o sub consciente e o Inconsciente; cf. M. Schmaus, "A Fé da Igreja", vol. 3, pp. 201-203. Els por que nfio Julgamos poder abonar a tese de Cousln referente á previsfio que Cristo fazia de sua morte.

— 314 —

LIVROS EM ESTANTE

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Quanto & anteclpacfio da entrada solene em Jerusalém para alguma

festa das Tendas, nada se Ihe pode opor em nome da fé. Pode ser aceita por quem Julgue suficientes as razSes de Cousln — o que é dlscutlvel. Como quer que seja, o livro é Interessante. Vem a ser mais um espé

cimen da apllcacSo concreta do Método da Historia das Formas, que, como método, é válido; contudo as tentativas de apllcacáo do mesmo sao, por

vezes, conjeturáis, visto que o terreno da exegese multo se presta a hlpóteses (algumas mais fundamentadas, outras menos...).

Autentlcidade histórica dos Evangelhos. Estudos de criterlologta, por F Lambiasi TraducSo de H. Dalbosco. Colegio "Biblioteca de estudos bíbli cos» — 2. — Ed. Paulinas, Sfio Paulo 1978, 145x210 mm, 264 pp.

Nao é raro perguntar-se: qual o valor histórico dos Evangelhos? Pode mos dar-lhes crédito ?

Até 1950 os estudiosos respondlam: os Evangelhos foram escritos por dols Apostólos e dois discípulos de Apostólos; por conseguinte, sfio a bio grafía exata de Jesús. Em nossos días, porém, verifica-se que, além de tal

conslderacáo, outra se imp6e: sabe-se que entre a redacfio dos Evangelhos e Jesús ocorreram varias medlacGes. Isto é: os feltos e os dlzeres de Jesús foram transmitidos oralmente, aplicados a catequese, á Liturgia, á apologética...; foram recolhidos em fontes escritas e finalmente propostos

de forma pessoal pelos seus redatores fináis. Ora o estudo dessas medla cGes ImpOe-se para que se possa avallar a autentlcidade ou veracldade do texto dos Evangelhos; a próprla S. Igreja, através da Instrucfio "Sancta Matar Ecclesla" de 21/04/1964, reconheceu e recomendou o estudo das etapas que medelam entre Jesús e os evangelistas (etapas que sfio compreendldas sob os nomes de historia das tradlcfies, historia das formas e historia das redacfies).

Ora o Pe. Lambías! dedlcou-se de manelra exaustiva a tal pesquisa, procurando: 1) apresentar o histórico do problema criterlológlco (récensela entfio as posIcSes de Kasemann, Cerfaux, Trllllng, Delomne, autores cató licos e protestantes); 2) expor os criterios aptos a se Julgar a autenticldade dos Evangelhos em geral e das perfcopes (soladas em particular; 3) propor exemplos concretos através dos quais se pode acompanhar o trabalho dos pesqulsadores

contemporáneos.

A obra de Lambiasi é notável por sua abrangfincla e sua clareza de exposicSo; torna acessivel a um estudioso (|á Iniciado) os assuntos mais delicados da exegese moderna. As conclusOes a que chega o autor, sfio notavelmente equilibradas: mostram que os Evangelhos nfio podem ser entendidos como llvros de crónicas (historlclsmo) nem qual mera expressfio da fé ou do querlgma (pregacfio) da Igreja, desvinculada de base na rea-

lidade histórica (o que serla a tese do querigmatlsmo). Diz o autor textual mente, exprlmlndo em sfntese o seu pensamento:

"Os Evangelhos devem ser abordados como se nos aprasentam: his

toria querigmáttca de Jesús Cristo, Isto ó, historia verdadefra de Jesús na interprelacfio segura da Igreja. Jé nlo tem sentido, portanto, falar da altor»

nativa: historia ou querigma, Jesús ou Cristo. A próprfa expressfio 'Jesús da historia, Cristo da té' devo ser abandonada, Justamente porque se ressante de urna poalefio alternativa, que, submetlda a prova dos fatos, resulta ser aprlorlstlca e artificiosa; dualismo tfio radical acaba, no fundo, por destruir os próprlos polos da alternativa, porque a historia interessa Uunbétn o Cristo e a fé nfio pode prescindir do Jesús de Mazaré.

— 315 —

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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 223/1978

Sem reduzlr a fé á historia (hisloricismo) ou absorver a historia na fé (querigmatluno), ha necessidade de urna teología que salba 'distinguir

para unir1, lato é, que, sem sacrificar o sentido ao acontecimento ou o

aconteclmentó ao sentido, saiba apreender a unldade orgánica do real his tórico na sua incindlbilidade de dado e de significado. Já se Impde urna Geschlchte-Kerygma-Theologie" (pp. 2553).

O que importa salientar nesle texto, é o acento colocado sobre a Identldade da figura de Jesús que viveu na Palestina e que fol apregoado posteriormente pelos discípulos. O conteúdo da fé corresponde á realidade dos feltos e dizeres de Jesús. Naturalmente esses feitos e dizeres foram, em grau maior ou menor, redlgidos em estilo de catequese e sistematlzacSo teológica, mas, nem por isto, perderam o seu valor de testemunhos da verdade.

Reconheca-se o valioso contributo do estudo de Lambiasi ao sadio entendimento dos Evangelhos; a sua obra torna-se tndispensável a quem deseje enfrentar seriamente a questSo da autentlcldade histórica dos Evan gelhos.

Teología para o Crlstáo de hoje. Vol. 59: A vida na fe, pelo Instituto Diocesano de Enslno Superior de Würzburg. TraducSo a cargo dos professores do Colegio M. Cristo Reí, Sfio Leopoldo (RS). — Ed. Loyola, Sao Paulo 1976, 158x230 mm, 249 pp.

Esta coletánea volumosa, que val aparecendo

em etapas e ciclos,

chega atuahrtente ao seu quinto e último ciclo de licSes da primelra etapa

fundamental. Tal etapa ou serie de licSes aprésenla urna visáo global de

temas

centráis da fé,

como Deus, Jesús

Cristo, a

lgreja,

o crlstSo

no

mundo...; os diversos tratados sao ricamente ilustrados por categorías ou tragos do pensamento filosófico moderno, de modo a tomar nítido o signifi cado atual de tais temas da fé.

O presente votume aborda: 1) características da vida na fé (compreensáo crista do homem e da historia); 2) conscléncia, leí e Hberdade (nogSes básicas de Teología Moral); 3) o crlstáo na comunldade dos homens (esperanzas postas na lgreja); 4) a responsabilidade do crlstSo perante o mundo; 5) Deus, tudo em todas as coisas (Jesús Cristo, revelador do Pai e portador da salvacao final). — Os autores souberam encarar os diversos temas com profundidade. A traducáo brasilelra enriquece o texto

original pelo fato de completar a bibliografía com obras brasilelras e pro curar adaptar á compreensSo do leitor braslleiro os tópicos demasiado dependentes do contexto europeu original.

Poder-se-lam citar belas passagens do llvro, como as que se referem a Deus (pp. 213-230), á conscléncia moral (pp. 102-107), á familia (pp. 177-182, tema que os tradutores ampllaram em vista dos Interesses do público bra

slleiro). .. Embora redlgido com erudlcáo, o livro podará ser fácilmente utili

zado por um leitor de cultura media, que multo se beneficiará do contato com as páginas da obra.

Congratulamo-nos com as Edicfles Loyola pela feliz iniciativa de difun dir tal coletánea no Brasil, mormente após adaptácáo didática merecedora de todo encomio.

Pe

Religiosos, vivencia e Evangelho, por J. M. R. TMIard. Traduclo de Ruffier S J. — Ed. Loyola, Sio Paulo 1978, 140x210 mm, 182 pp. O Pe. Tillard tem-se devotado ao estudo da Vida Religiosa ou vida

— 316 —

consagrada a Deus pelos votos de pobreza, castldade e obediencia. O llvro que as EdicSes Loyola acabam de publicar, já nfio trata de formas de "aggiornamento" ou atuallzacfio das instltulcOes monástlco-religlosas,

mas

volta-se para as questóes mais fundamentáis que a temáátlca possa sugerir e que os jovens propóem com freqüéncla: Por que entrar na Vida Reli giosa? Tém futuro as comunidades religiosas? Haverla necessidade de se guardar fidelidade ao carisma do Fundador? O autor justifica a Vida Religiosa a partir de nocoes bíblicas como a de "seguir o Cristo" e a radicalidade da vocacao crista. Considerados á luz destas concepcSes, os Religiosos aparecem como cristfios que recebem de Deus o chamado para realizar concretamente em sua vida certas atitudes que os demais cristaos devem estar prontos a realizar (embora o Senhor

Oeus momentáneamente nSo os chame a tanto). Com efeito, todo crlstáo

pode ser chamado a renunciar até ás suas posses maís legitimas desde que a seqüela coerente do Cristo o exija ("se teu olho, tua mSo, teu pé te escan daliza, arranca-o", diz o Senhor em Mt 5, 29s; 18,8). Ora os Religiosos sfio, na realldade, chamados a tal renuncia, a fim de que se tornem slnais con cretos da atitude básica que todo cristáo deve assumir perante o Senhor Deus. Compreendendo o valioso significado de tal vocacSo, os próprios Irmfios protestantes tém cultivado formas de vida monástica semelhantes ás da Igreja Católica.

O Pe. Tlllard considera também a difícil sltuacfio dos Superiores Reli giosos na fase de crise de autorldade por que passa o mundo atual. PropOe-Ihes confianca no Espirito de Oeus, que certamente quer que o Evangelho continué brilhando por sobre o mundo atual: as formas ctássicas da Vida Religiosa nao estfio destinadas a socobrar num desesperado "Salve-se quem puder". Mas também pode-se pressentir que o Espirito suscitará aínda novos rebentos a partir dos antigos troncos das Ordens e CongregacOes Religiosas já existentes.

O llvro é dos melhores que se tenham escrito sobre Vida Religiosa,

merecendo elogios por suas poslcíes equilibradas — o que o torna recomendável a quantos se interessem pela espiritualidade crista.

A Igreja do Deus vivo. Curso bíblico popular sobre a verdadeira Igreja,

por Fr. Battistini. — Edicfio particular, Mago 1978, 135x210 mm, 133 pp.

Este llvro tem intencfles nítidamente pastarais, destlnando-se a escla recer os fiéis a respelto dos temas sobre os quais católicos e protestantes divergem: livre exame da Biblia, fé e obras, Imagens, Maria SS., purgatorio, batismo de criancas... Apresenta outrossim um sumario da orlgem e do Credo das principáis denominacóes protestantes. Além disto, aborda o espiritismo e a tese da reencarnacfio. A apresentac&o da posicfio católica é, de cada vez, fundamentada sobre textos bíblicos, de modo a poder gozar de validado perante os IrmSos separados. O llvro é útil, pols mullos fiéis católicos se deixam impressionar por arautos do proselitismo, sentlndo-se freqüentemente Indefesos para redargüir as explanacSes e objec&es destes. Se os irmfios evangélicos tlvessem consciéncla, por exemplo, da data a partir da qual comecou a existir a sua respectiva denomlnacfio ecleslal, mais fácilmente perceberlam que nao se trata da Igreja fundada por Cristo e deíxariam de exercer o proselitismo.

Só se pode desejar que tal obra se divulgue entre os fiéis católicos,

mormente entre os que estáo em contato freqüente com comunidades ecleslais nfio católicas. Os agentes de pastoral e os Srs. Párocos terfio al valioso subsidio para circuios bíblicos e aulas, numa hora em que as obras congéneres, anteriormente editadas com freqüóncia, estáo esgotadas. E.B.

PARÁFRASES DO EVANOELHO MT 5,13 SENHOR,

NUM MUNDO DE TANTOS

DESILUDIDOS, DESCONFIADOS, (SOLITARIOS E OPRIMIDOS,

QUE EU NAO DEIXE DE SER SAL DA TÉRRA

A

DAR

SABOR

A

VIDA

E

SENTIDO

A

MORTE!

MT 13,24-30.36-43 SE

O

NAO

JOIO TE

NASCER

PE£O

PECO-TE

A

MINHA

FORCAS

CORAGEM

PARA

PARA

EU

VOLTA, O

ARRANCAR,

NASCER

TRIGO.

MT 13, 3-23

MESMO QUE

EM

EU

TERRENO

NAO

DEIXE

DURO, DE

SER

PEDREGOSO (E

DE

ESPINHOS,

SEMEADOR!

PORQUE

NEM

CAMPOS

CHEIOS

DE

FLORES,

NEM

CAMPOS

CHEIOS

DE

TRIGO,

NEM

CEIFAR,

NEM

COLHER

É

IMPORTANTE.

-

56

É

IMPORTANTE

SEMEAR.

MT 13, 33

DI ANTE

DAS

PESSOAS-MASSA,

DOS IDO

QUE

EU

NAO

ME

CANSE DE

SER

GRUPOS-MASSA, MUNDO-MASSA,

FERMENTO! RITO

(Ver Editorial:

DÍAS

«Se ho¡e ouvirdes a sua voz...»)

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