Ano Xix - No. 227 - Novembro De 1978

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Projeto PERGUNTE

E RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoríam)

APRESENTTAQÁO

DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta

necessidade de darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé

hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas

correntes

filosóficas

e

religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa

crenga

católica

mediante

aprofundamento do nosso estudo.

um

Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propoe aos seus leitores: aborda questoes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabal no assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d.

Estevao Bettencourt e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual

conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo. A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

índice pao.

A FIM DE QUE O MUNDO CREÍA (Jo 18,23)

449

Profetas e "profetas":

E AS PROFECÍAS DE SAO MALAQUIAS ?

451

Problema dos educadores:

EDUCACAO SEXUAL

ÑAS

ESCOLAS?

457

"A SALWAQAO DO CRENTE É ETERNA"

466

Urna tese batista:

A Grande QuestSo:

A ALMA HUMANA É IMORTAL ?

475

Filosofía e Historia:

UMA DELIMITACAO PARA A FILOSOFÍA DA HISTORIA

482

A XII ASSEMBLÉIA GERAL DA FEDERACAO INTERNACIONAL DAS UNIVERSIDADES CATÓLICAS

486

LIVROS EM ESTANTE

489

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

NO

PRÓXIMO

NÚMERO :

A autenticidade do texto bíblico hoje. — Criatividade e espontaneidade na Liturgia. — Biorritmo : a nova ciencia ? — Maij uma vez a seita de Moon.

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

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20.031 Rio de Janeiro Tel. :

324-0059

(RJ)

A FIM DE QUE O MUNDO CREÍA,.. O mundo inteiro recebeu com sensagáo e surpresa a noticia da eleicáo do novo Papa Joáo Paulo I aos 16/10/78. O fato sugere variados comentarios... Procuremos, & luz da fé, repensar o importante acontecimento. 1) O novo Pontífice nao estava na lista dos papabilL Isto é muito significativo: nao estava rotulado, nem dera

margem a enquadramentos...

Mais urna vez os prognóstí-

cos e «profetas» foram desconcertados.

Realmente os desig

nios de Deus nao sao os designios dos homens (cf. Is 55,9); o Senhor conduz a sua Igreja por caminhos imprevisíveis, tragados pela sua imensa sabedoria.

A relativa rapidez do conclave é sinal de que a Igreja, em

meio a um mundo dividido, está coesa; os eleitorés soube-

ram considerar com visáo de fé a sucessáo de Joáo Paulo I, pondo de lado interesses espurios. 2) Joáo Paulo II é polonés... Já se disse que o Papa nao tem nacionalidade, pois deve ser homem de Deus, guiado por criterios transcendentais. Como quer que seja, o fato de ter a escolha recaído sobre um filho da nagáo polonesa tem sua importancia, visto que o plano de Deus se realiza por meio dos homens: — Temos um Papa que conhece de perto o sofrimento

e a perseguicáo. É alguém que está acostumado á vigilancia e á firmeza e que procurará com grande empenho manter a disciplina e preservar a integridade da fé dentro da S. Igreja, como o declarou o próprio Pontífice em sua primeira alocugáo aos Cardeais (17/10/78). De resto, os bispos polone

ses tém dado notável testemunho de coragem e intrepidez diante das autoridades comunistas — o que tem contribuido para manter viva a chama da fé e do zelo missionário no povo polonés;

— É de crer que se ameliorem as relagóes entre a Igreja e o Estado na Polonia e, quigá, em outros países da Cortina de ferro. Os católicos poloneses háo de se sentir prestigiados perante o Governo marxista de sua patria; este, por sua vez, há de respeitar um pouco mais a Igreja Católica na Polonia, brilhantemente sufragada pelos votos de um conclave inter nacional. Joáo Paulo II conhece, como poucos outros Car deais, as vias oportunas para obter mais liberdade em favor dos cristáos sufocados pelo marxismo; a Ostpolitik, sabia mente iniciada por Paulo VI, poderá assim prosseguir no intuito de aliviar o jugo que pesa sobre a Igreja do Leste

europeu, sem que haja indevidas concessóes ao marxismo; — 449 —

Wojtyla sempre foi um esteio da resistencia as injuncóes do comunismo. Alias, a Polonia católica bem merecía a homenagem que se lhe prestou na pessoa do Cardeal Wojtyla; os fiéis polo neses tém urna historia dura e sofrida, através da qual vém afirmando com heroísmo singular os valores da sua fé. 3)

Salientamos também que o novo Papa foi professor

de Teología. É um homem de estudo, apto a discernir a verdade e o erro em meio as diversas correntes de pensamento que cercam e penetram a Igreja. Levará adiante a obra de renovagáo programada pelo Concilio do Vaticano II, seguindo a inspiragáo fundamental do Concilio, sem indulgencia para com desvíos.

De resto, o nome Joáo Paulo II bem significa quanto o novo Pontífice tenciona seguir as pegadas dos anteriores, as quais foram de inegável fidelidade aos grandes principios do Evangelho e da Tradigáo católica. 4) Por certo, a tarefa de Joáo Paulo II nao será fácil. O novo Pontífice terá que se adaptar as duras exigencias da mesma,... especialmente duras para quem nao centava com isso. Todavia o povo de Deus há de acompanhá-lo com as suas preces; afinal de contas, o segredo das grandes realizagóes é a oragáo; é esta que dá fecundidade de agáo aos ins trumentos que a Providencia divina escolhe, como também sem a oragáo sao esteréis e perdidas as melhores qualificagóes humanas de qualquer chefe ou pastor. 5) Em síntese, os últimos tres meses foram marcados por vultosos acontecimentos na historia da Igreja. Considerando-os com olhar retrospectivo, o fiel católico encontra razóes para conceber urna santa ufanía:... a ufanía de, por graga de Deus, pertencer k santa e única Igreja de Cristo. Esta tem dado provas de rica e singular vitalidade, surpreendendo o mundo com novas e novas atitudes, do mais alto valor, a fim de responder aos desafios que os tempos lhe propóem. Enquanto a humanidade se debate em crises diver sas, a Igreja Católica, sem deixar de sentir a repercussáo

dessas crises em suas fileiras, mostra dispor de urna fonte de energía e vida que ultrapassa os valores humanos e que

denota a presenga do próprio Cristo em seu Corpo Místico. e

Saiba o fiel católico compreender os sinais dos tempos compenetre-se dos motivos que lhe sugerem essa santa

ufanía!

Consciente, pois, a novo título, da nobreza de sua

vocagáo crista, procure testemunhar com toda a coeréncia possivel a presenga do Senhor Jesús que vive na Igreja e vive em cada um dos membros desta... A fim de que o mundo creia (Jo 18,23)! E.B.

— 450 —

«PERGUHTE

E

RESPONDEREMOS»

Ano XIX — N» 227 — Novembro de 1978

Profetas e "profetas":

e as profecías de sao malaquias ? Em ahítese: As "profecías" de S. Malaqulas, que voltaram á baila por ocasláo do último conclave pontificio, carecem de toda e qualquer autorldade, segundo os resultados da boa critica histórica. S. Malaqulas (1095-1140) fol bispo de Armagh na Irlanda no século XII. Até o secuto XVI nenhum autor ou documento mencionou as suas "profe cías" ; estas foram Ignoradas até 1595, quando o benedltlno Amoldo de Wyon as Inserlu no seu opúsculo "Llgnum Vltae". Hoje em día pode-se dlzer que tal documento teve orlgem em 1590 durante o conclave que devla eleger o sucessor de Urbano Vil; entre os Cardeals mals em vista estava Simoncelll, cldadáo de Orvleto e antlgo blspo desta cldade; ora os amigos de Simoncelll qulseram favorecer a eleicáo deste prelado, apresentando urna lista "profética" de 111 Papas em que o sufragado após Urbano Vil

era o Papa "De antlqultate urbis" (Da antlguldade da cldade), Isto é, o Papa de Orvleto (= Urbs vetus, cidade antiga); em vista disto, forjaram urna serió de dísticos papáis mals ou menos condlzentes com a realidade desde Celestino II (1143-1144), mas assaz arbitrarla após Urbano Vil. Toda vía essa fraude foi vá, pols quem salu elelto do conclave em 1590 fol o Cardeal Sfrondate, arceblspo de Mlláo, que tomou o nome de Gregorio XIV. Estes dados bastam para dlsslpar qualquer dúvlda acerca da pretensa autoridade das "profecías" de Sao Malaquias.

Comentario: Estiveram mais urna vez em grande voga as ditas «profecías de S. Malaquias» por ocasiáo do último conclave papal em outubro 1978. A imprensa as mencionava como referencial para se predizer a identidade do futuro Papa; as conjeturas foram as mais variadas possíveis, pre tensamente apoiadas também em outras fontes de prognós ticos (Nostradamus e semelhantes). Verificou-se, porém, que

os resultados foram totalmente diversos do que se previa — o que bem mostra que a S. Igreja transcende as cate

gorías dos homens e, em última análise, é regida pelo próprio Deus; quem a queira considerar segundo criterios mera— 451 —

i

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 227/1978

mente humanos, arrisca-se a falhar, por completo, em suas perspectivas. Pode-se esperar que as ligóes do último con clave contribuam para avivar no público a consciéncia desta

verdade.

Em vista da atualidade que continuam tendo as «profe cías» de S. Malaquias (as quais prevéem o fim do mundo para o ano 2000 aproximadamente), proporemos abaixo alguns dados que ajudem o leitor a julgar a autoridade de tal documento. Antes de mais nada, porém, será necessário esbogar

1.

O conteúdo das «profecías»

Sao Malaquias de Armagh (distinga-se bem do profeta S. Malaquias, do Antigo Testamento) nasceu na Irlanda em 1095 aproximadamente. Fez-se monge em Bangor, tornando-se depois arcebispo-primaz de Armagh. Veio a falecer em 1148.

É a esse santo que se atribuí a famosa «Profecía dos Papas», a qual terá sido escrita em 1139, quando Malaquias passou um mes em Roma. Consta de 111 breves dísticos latinos, que tentam caracterizar a figura de cada Pontífice desde Celestino n (1143-1144) até Pedro II, que presenciará o fim do mundo. Esse texto, embora seja atribuido a um autor do séc. XII, só se tornou de conhecimento público em 1595, quando o beneditino Amoldo de Wyon o inseriu no seu opúsculo «Lignum Vitae», publicado em Veneza naquele ano. Os 111 disticos no «Lignum Vitae» sao acompanhados de breve comentario do historiador espanhol Alonso Ciacconio O.P. (f depois de 1601). O comentario aplica os dísticos

da Profecía aos 74 Papas que governaram desde Celestino II (t 1144), um dos contemporáneos de S. Malaquias, até Ur

bano VII (t 1590); mostra como o conteúdo de cada oráculo se cumpriu adequadamente na figura de cada Pontífice a que é referido. O comentario de Ciacconio, indicando onde comega a serie dos Papas considerados pelos dísticos, permite calcular aproximadamente a época em que se deverá dar o fim do Papado e a segunda vinda do Senhor; assim contam-se 38 Pontífices desde Urbano VII (t 1590) até o fim do mundo, sendo que o Papa Joáo Paulo H, que vem a ser «De labore solis» (Da fadiga do sol) ainda terá dois sucessores, o último dos quais, Pedro II, verá, com a geragáo dos seus contem poráneos, a consumagáo da historia. _ 452 —

AS cPROFECIAS> DE S. MALAQUIAS

2.

A autorídode éa «Profecía»

A Profecía de Malaquias, logo depois de divulgada em 1595, obteve sucesso considerável. É inegável que os disticos interpretados por Ciacconio se aplicam bem aos Papas desde Celestino n até Urbano VIL Eis alguns exemplos mais característicos:

Avis Ostiensis (Ave de ostia) convém adequadamente a Gregorio IX (1227-1241), que foi Cardeal-bispo de ostia e tinha urna águia em seu brasáo; De parvo homine (Do pequeño homem) corresponde a Pió HI (t 1503), que se chamava Francisco Piccolomini (Pequeño homem);

Jerusalem Campaniae (Jerusalém da Campanha) designa bem Urbano IV (1261-1264), nascido em Troyes (Campanha) e Patriarca de Jerusalém. De Urbano VII (t 1590) em diante, Ciacconio nao interpretou mais os oráculos. Muitos historiadores, porém, julgam que continuam a quadrar bem com as figuras dos Pontífices que se tém assentado sobre a cátedra de Pedro. Assim, para tomar exemplos recentes, indicar-se-iam. Crux de cruce (Cruz oriunda da cruz), distico que designa Pió IX (1846-1878) com acertó, pois este Pontífice sofreu duros golpes da parte da Casa de Savoia, em cuja emblema figurava urna cruz; ReHgio depopulata (Religiáo devastada)

é o dístico bem

adaptado a Bento XV (1914-1922), que durante o seu ponti ficado assistiu á primeira guerra mundial; Fides intrépida

(Fé

intrépida)

corresponde

a Pío

XI

(1922-1939), Pontífice das missóes e defensor da verdade

contra modernas teorías sociais e políticas;

Pastor et Nauta caracterizaría o Papa Joáo XXIH ex-Patriarca de Veneza, cidade das góndolas, reconhecido por sua ardente tempera de Pastor de almas... — 453 —

6

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 227/1978

Admitida a veracidade da Profecía na base das observag5es ácima, julgam alguns autores que o fim do mundo nao está longe (talvez venha por volta do ano 2000), pois só deverá haver tres Papas até a segunda vinda de Cristo:

De labore solis

(Da fadiga do sol)

= Joáo Paulo II.

De gloria olivae (Da gloria da oliveira). Para terminar, diz o texto (após o 111» dístico): «Du rante a derradeira perseguicjLo, que a Santa Igreja Romana sofrerá, será Pontífice Pedro Romano, que apascentará as suas ovelhas em meio a muitas tribulacóes. Terminadas estas,

a cidade das sete colinas será destruida, e o Juiz terriveí

julgará seu povo».

Procurando interpretar os dísticos ácima, há quem queira

prever a historia dos

tempos fináis nos

seguintes

termos:

As divisas Pastor Angelicus (Pió XII), Pastor et Nauta (Joáo XXIII) e Flos Florum (Paulo VI) indicam um periodo de grande paz e bonanca para a religiáo (seráo mesmo os nossos tempos? Parecem táo diferentes de tal previsáo). Santidade angélica deveria florescer no Pastor e ñas ovelhas da Igreja; o Pastor, sendo navegante, gozaría de grande pres tigio no mundo inteiro e empreenderia viagens intercontinentais a fim de confirmar a pregacáo do Evangelho em toda parte (note-se, porém, que. o grande viajante nao foi Joáo XXEH, o Pastor et Nauta, mas, sim, Paulo VI). Os tres últi mos disticos insinuam os acontecimentos que deveráo prece der ¡mediatamente a manifestagáo do Anticristo; flagelos, como urna calamitosa expansáo do islamismo (Lúa crescente),1 penas e fadigas sobre os filhos da luz (Sol); além disto, a almejada conversáo dos judeus a Cristo

(a oliveira

simboliza o povo judaico em Rm 11,17-20). Depois disto, sob o Papa Pedro II, Cristo aparecerá como Juiz Universal... Que dizer dessas conjeturas?

Carecem de autoridade. Usando de toda a objetividade, os bons críticos nao hesitam em rejeitar a autenticidade da Profecía de Malaquias. Quem primeiramente a impugnou apelando para argumen

tos aínda hoje plenamente válidos, foi o Pe. Ménestrier S. J., * Nada disso aconteceu sob Jofio Paulo I.

— 454 —

AS «PROFECÍAS» DE S. MALAQUIAS

no seu livro «Réfutation des Prophéties faussement attribuées

á S. Malachie sur les élections des Papes» (París 1689). Eis as principáis razóes desde entáo aduzidas contra a genuinidade das Profecías:

1) Durante cerca de 450 anos, isto é, desde S. Malaquias (f 1148) até o opúsculo «Lignum Vitae» (1595), jamáis autor algum fez alusáo aos oráculos de S. Malaquias; nem os historiadores medievais e renascentistas, ao escrever a Vida dos Papas, mencionam tal documento, que certamente deveria ser citado, caso fosse conhecido. E por que motivo, em que circunstancias, tena este caído em máos de Ciacconio, seu comentador, após 450 anos de ocultamente? E como de

Ciacconio terá sido transmitido a Wyon, que o editou pela

primeira vez?

2) Ao argumento do silencio associa-se a verificagáo de faltas históricas e teológicas na Profeda de Malaquias. De fato, na lista dos Papas figuram antipapas (como Vítor W,

1159-1164; Nicolau V, 1328-1330; Clemente VH, 1378-1394), efeito este que difícilmente se poderia atribuir a inspiragáo divina. A fínalidade mesma da Profecía (insinuar a época do fim do mundo) parece contrariar á intencáo de Cristo, que em mais de urna ocasiáo se negou a revelar aos homens a data do juizo final (cf. Me 13,32; At 1,7). Além disto, a aplicagáo dos dísticos aos respectivos Papas baseia-se em notas por vezes acidentais na figura dos, respectivos Pontí fices, o que lhe dá um cunho de arbitrario; assim Nicolau V

(legitimo Papa de 1447 a 1455) traz o distico Da modlcitate lunae (Da pequenez da Lúa) por ter nascido de familia mo desta no lugar chamada Lunegiana; Pío n (1458-1464) é assinalado «De capra et albergo (Da cabra e do albergue) por haver sido secretario dos Cardeais Capmnica e Albergati! Positivamente

podem-se

indicar

as

circunstancias

que

deram ocasiáo á falsificagáo: observe-se, antes do mais, que os dísticos dos Papas até 1590 aludem todos a tragos con cretos e particulares de cada Pontífice: lugar e familia de origem, cargos exércidos antes da eleigáo, figuras dos brasóes, etc. — De 1590 em diante, porém, os oráculos apenas referem qualidades moráis, cuja aplicagáo é assaz vaga,

podendo convir a mais de um Pontífice; assim «Vir Rsligiosu3» (Varáo religioso), Ignis ardeos (Fogo ardente), lides — 455 —

8

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 227/1973

intrépida (Fé intrépida); qual Papa nao merecería esses qua-

liíicativos, caso nao fosse de todo indigno?

Observada esta diferenga, julgam alguns críticos que a «Profecía de Sao Malaquias» foi forjada justamente nesse ano de 1590, quando o falsificador já conhecia parte da his toria dos Papas que ele havia de caracterizar, ficando-lhe desconhecida a outra parte (a do futuro). O ensejo para se inventar a «Profecía» terá sido o conclave de 15ao, apos a morte de Urbano VII; o certame foi arduo, durando um mes e dezenove dias. Entre os prelados mais em vista, achava-se o Cardeal Simoncelli, cídadáo de Orvieto e antigo bispo dcsta cidade; ora julga-se que os amigos de Simoncelli pretenderam favorecer a eleigáo deste candidato, apresentando aos interéssados urna lista «profética» de Papas em que o sufragado pelo Espirito Santo após o Pontífice Urbano VII era o Papa De antiquitate urbis (Da antigüidade da cidade), isto é, o Papa de Orvieto (= Urbs vetus = cidade antiga); em vista disto, teráo forjado urna serie de dísticos papáis condizentes com a realidade desde Celestino II (no século XII), mas assaz arbitraria após Urbano VII. Essa lista, com a qual os mis tificadores quiseram associar até mesmo o nome abalizado de Sao Malaquias, nao logrou o desejado efeito, pois na verdade quem saiu eleito do conclave foi o Cardeal Sfrondate, arcebispo de Miláo, que tomou o nome de Gregorio XIV

... É esta urna das explicagóes mais correntes dos motivos que teráo inspirado a pseudo-profecia de S. Malaquias!

Ménestrier, na obra referida, cita outro caso semelhante ao de recurso á «autoridade divina» para decidir a eleigáo de um Papa. Após a morte de Clemente K (1669), alguns adeptos do candidato Cardeal Bona, lembrando-se do texto de Eclo 15,1: «Quem teme a Deus, fará obras boas (bona)» (Qui timet Deum, faciet bona), espalharam o seguinte trocadilho: «Gnammaticae leges plenimque Ecclesia snemit: Easet Papa bonus si Bona Papa foret».

«As leis da gramática, geralmente a Igreja as despreza. Haveria um bom Papa, se Bona Papa fosse». Diante destas váo seria evocar ilustrar a historia futuros tempos ou

observacóes da crítica abalizada, vé-se que a «Profecía» de S. Malaquias, seja para do Papado, seja para prever o decurso dos

mesmo a época da segunda vinda de Cristo. — 456 —

Problema dos educadores:

educacáo sexual ñas escolas ?

Em sfntese: No Brasil dlscute-se a oportunidade de se Introduzlr ñas escolas a educajSo sexual como disciplina Integrante dos currfculos. O presente artigo mostra que a tarefa de educar sexualmente (e nfio apenas

ministrar nocdes anatómicas e fisiológicas) compete primeramente aos genitores, cuja funcáo ó insubstltulvel. Toca outrosslm aos educadores, que devem continuar a missáo dos país no Servico de OrlentacSo Educacional de cada escola; todavía nfio há de ser ministrada em sala de aula, pois nem todos os alunos que integram urna turma escolar experimentan* as mesmas necessidades neste particular; os esclarecimentos útels a uns poderlam suscitar problemas desnecessários e prematuros em outros. Vé-se, pols, que a educacfio sexual deve ser oferecida de manelra gradatlva, levando-se em conta a evolucSo fisiológica e psicológica do educando, ou seja, em pleno respelto á personalldade de cada qual. — Acrescente-se que a InstrucSo biológica é Inseparável da educagáo dos afetos ou do coracfio; sem esta, pode produzlr clamorosas aberracóes na conduta dos educandos.

Comentario:

Últimamente tem-se levantado com insis

tencia urna questáo relativa á educagáo sexual: deverá ser ministrada na escola, em disciplinas que integrem o currículo

escolar?

Na verdade, táo impregnado de motivos eróticos é

o ambiente no qual vivem as criangas e os adolescentes que se pergunta se a escola nao deveria oficialmente assumir a

tarefa de iniciá-los na vida sexual...

Seriam assim mais efi

cazmente preparados para exercer suas responsabilidades na

sociedade contemporánea.

A proposta, porém, suscita obje-

Cóes... Eis por que abordaremos, a seguir, o assunto, estudando: 1) o que é propriamente educagáo sexual, 2) a quem e como compete ministrá-la.

1.

Que é educajao sexual ?

1. Educagüo sexual distingue-se de instrucáo sexual. Esta tem em mira esclarecer o discípulo a respeito da fisio logía do sexo ou do aparelho genital e de seu funcionamento.

É exposicáo objetiva, de estilo científico e impessoal. Ora a educacáo sexual acrescenta a essa instrugáo toda urna «filo sofía» da vida sexual, da qual decorrem normas aptas a orientar o uso do sexo e a formagáo de auténtica personali— 457 —

10

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 227/1978

dade; propóe o sentido da vida sexual, sua finalidade e seu papel na existencia de um ser humano digno e nobre. Pro cura assim suscitar bons hábitos na pessoa do educando. Transcrevemos aqui as reflexóes de Joáo Mohana sobre o assunto: "A sexualldade é urna parte Importante. Mas n§o esquecer que é

sempre urna parte. Urna parte da vida afetlva global. Quem se esquece de educar a afetlvldade (o corac.áo) dos jovens e pretende educar a sexua lldade apenas, está preparando o terreno para as sementes do psiquiatra. Os psicólogos mals credltados estSo de acordó em que a educacio sexual deve ser entendida como uma parte da educas&o afetiva. Do contrario, como lembrou Ignace Lepp, dá-se a entender ao jovem que o sexo é o plvó da existencia" (Prepare seus fllhos para o futuro, p. 20).

Há cerca de cinqUenta anos, a educagáo sexual era algo

de mal visto por certos mestres católicos, que a julgavam provocadora ou inconveniente. Nao seria lícito, pois, falar de educagáo sexual. Esta atitude pode ter sido oportuna em seu contexto histórico; em nao poneos ambientes evitava-se falar. publicamente de sexo. Nos tempos atuais, visto que o erotismo e a pornografía chamam a atengáo de todos os cidadaos, desde a infancia, para a temática sexual, deve-se afir mar a necessidade de sadia e bem orientada educagáo sexual a ser ministrada desde que o educando mostré interesse pelo assunto. Com efeito, é preciso que a crianga, ao despertar para a realidade sexual, aprenda inmediatamente (e na me dida em que disto seja capaz) a se comportar diante da mesma, tomando consciéncia das responsabilidades que lhe tocam diante da vida sexual.

2.

Neste particular, dois extremos háo de ser evitados:

a) a teoría de Jean-Jacques Rousseau (t 1778), que afirmava ser a natureza humana boa por si mesma; nao

necessitaria de educagáo nem morigeragáo, pois os próprios instintos seriam propensos ao reto uso das fungóes sexuais.

Quem adota tais premissas, rejeita a educagáo sexual; é o que ocorre, por exemplo, na escola de Summerhill, apresen-

tada por A. S. Neill no íivro «Liberdade sem medo» (Ibrasa, Sao Paulo, 4» ed. 1967); b)

a teoría do quietismo, que admite, sim, a desordem

das concupiscencias instintivas do homem, mas julga que a graga de Deus orienta cada individuo a fim de que encontré o caminho da virtude, sem intervengo de pais ou mestres. Tal quietismo justificaría, do seu modo, o absoluto silencio dos educadores no tocante ao sexo. — 458 —

EDUCACAO SEXUAL ÑAS ESCOLAS?

11

Ora a genuína posigáo católica situa-se entre os dois extremos. Assevera que a natureza humana é sede de im pulsos instintivos e cegos; por conseguinte, necessita de educacáo,... educagáo que a graga de Deus favorece, sem dis pensar, porém, a mediacáo de país e educadores, que Deus quer chamar a colaborar consigo na formagáo dos homens. A escola de Summerhill é utópica, e, conseqüentemente, desastrosa... Na realidade, nao se pode dizer que a natu reza humana seja por si mesma propensa tao somente ao bem; todo ser humano vem ao mundo trazendo um potencial de qualidades positivas, nao plenamente desabrochadas e — mais aínda — mescladas de deficiencias ou más tendencias. Esse potencial aínda nao maduro tem que amadurecer; pre cisa também de ser burilado e podado. Para tanto, necessita da acáo de pessoas aptas a levar ao pleno desabrochamento as boas qualidades da crianga e do adolescente, ao mesmo tempo que a ajudem a se desvencilhar das suas inclinagóes deficientes. O egoísmo congénito será sempre o grande entrave que dificultará ao ser humano a sua própria realizagáo ou o encontró consigo mesmo; o egoísmo faz do individuo o padráo da sua conduta, ao passo que é fora de si, no seu Autor ou Criador, que o homem tem a verdadeira medida do seu ser.

3. No tocante á vida sexual, o papel do educador incluirá profundo respeito ao educando e á materia minis trada. Trata-se de revelar o que se pode chamar «o miste

rio da vida», dando-se a esta expressáo o significado religioso

ou místico que ela comporta. Na verdade, o misterio da vida é o plano providencial que faz das fungóes sexuais (com todos os sentimentos que se lhes prendem) urna participacáo

no poder criador e vivificante do próprio Deus. O amor, com todas as suas expressóes, deve entáo aparecer ao adoles cente, como algo de belo, respeitável ou mesmo sagrado, posto a servigo dos sabios designios do Criador. Pergunta-se agora:

2.

A quem compete educar?

O ponto nevrálgico da questáo em nossos dias consiste em definir se a escola deve ou nao ministrar edücacáo sexual em sala de aula. A propósito, ocorrem as seguintes ponderagóes:

— 459 —

12

tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 227/1978 2.1.

Os genitores

É aos genitores que toca, antes do mais, a tarefa de oferecer aos filhos os inicios da educagáo sexual. Com cfeito; esta faz parte do grande processo educacional que se inicia no lar e desde o bergo. Mais do que ninguém os genitores (a máe especialmente) estáo (ou devem estar) em contato oom seus filhos; conhecem-lhes o temperamento próprio e compreendem as suas manifestagóes, de modo a poder acudir-lhes oportunamente. Se os pais nao realizam essa tarefa em casa, com o amor que lhes deve ser peculiar, fácilmente os filhos váo pedir infórmaseos a estranhos (dentro ou fora de casa) ou recebem de terceiros, talvez na rúa, noticias para as quais nao estáo amadurecidos.

É preciso, pois, que os genitores vengam a timidez que

muitas vezes' os impede de exercer tal missao. Essa timidez

se deve, em grande parte, á inadequagáo pessoal que os mes-

mos experimentam para tanto. Em vista disto, os cursos de preparagáo para o casamento devem tentar mostrar aos futu ros nubentes a necessidade de se disporem para a tarefa que lhes compete também no tocante á iniciagáo sexual dos filhos; procurem eles próprios iniciar-se na pedagogía respectiva,

lendo algo a respeito e colhendo instrugóes de quem lhas possa oferecer. Muito se recomenda a propósito o livro de Joáo Mohana citado na bibliografía deste artigo.

O silencio dos genitores neste particular pode tornar-se grave omissáo, dado que o assunto «sexo» está presente ás criangas e aos adolescentes através da televisáo, das revistas e dos jomáis, que sao realidades caseiras. A crianga tem o direito de ser'iniciada de maneira sabia e digna no problema do soxo e nos percalgos que este lhe pode oferecer; ora, como a todo direito corresponde um dever, é aos genitores que, em primeira linha, toca o dever de lhes ministrar os inicios da educagáo sexual, desde que estes se fagam necessários (note-se bem a cláusula:... desde que estes se fagam necessários).

Vém

ao caso

as sabias ponderagóes de Joáo Mohana:

"Já que a sexualldade surge desde o amanhecer do homem, é preciso que o menino nSo se slnta perplexo, tonto, dentro déla ou com ela dentro de si. Esta é mais urna tarefa de papal e mam Se. Evitar que o Zeca se perca ñas interrogados desse Impulso fantástico. Nao contem com a escola. A escola completará a educacSo sexual comecada pelos pais. A escola nSo deve fazer a IniciafSo. É tarefa delicada

— 460 —

EDUCACÁO SEXUAL ÑAS ESCOLAS?

13

demals, que requer paciencia, oportunldade, e lacos de confiante Intimi

dada entre as partes em questfio. Ninguém melhor que o pal e a mfie nesta cátedra. Infelizmente multos país se sentem nela como réus no banco, e por Isso n§o se sentam. Alguns alegam falta de esclareclmentos (o que nSo é justiflcável no mundo atual).

A verdade é que mulios sSo portadores de frustracóes, de InsatisfacSes

neste terreno, nfio tém prazer em passear com os fllhos por reglfies onde estarfio a pisar freqüenlemente em ferldas, cicatrizas, lembrancas amargas, problemas latentes, latejantes. Outros nao carregam essa problemática, mas estSo dentro das muralhas de preconceltos que satanlzaram o sexo, fogem do assunto como da peste, ou entSo, ao contrario, por ter banldo de si um mínimo de valores sensatos, cotnecam violando a planta frágil, pisando com patas de cávalo no palacio de vidro. Omitlr-re na educacáo sexual dos filhos é, em geral, o teste mals evi dente da probtematlzacSo na nossa própria vida .sexual. NSo tenham dúvida" (ob. clt., p. 18).

2.2.

A escola

Á escola toca o (ou, se estes nao a educagáo sexual dos ministrada em sala

papel de continuar a funcáo dos pais preencheram:... a funcáo de iniciar a alunos). Todavía esta nao há de ser de aula, ou seja, de maneira coletiva,

pois na mesma turma de alunos pode haver

há) por

(e geralmente

diversos graus de amadurecimento físico e psíquico e, conseguinte, diversas necessidades neste particular. Os

esclarecimentos úteis a certos estudantes podem tornar-se nocivos a outros por serem inoportunos; despertaráo em

alguns educandos problemas ainda nao existentes e desnecessários. Por isto é para desejar que o Estado nao introduza a educacáo sexual nos currículos oficiáis como disciplina a ser ministrada em sala de aula; ao Governo compete respeitar a sensibilidade e o tino próprios dos genitores e dos educadores que continuam a obra destes.

A educacáo sexual há de ser ministrada em caráter estritamente pessoal, ou seja, levando-se em conta as caracterís

ticas próprias e inconfundíveis de cada educando,

as quais

merecem ser respeitadas; cada adolescente tem sua persona-

lidade própria.

Por isto é ao Servigo de Orientacáo Educacio

nal que na escola compete ministrar nogóes de educacáo sexual, de acordó com as necessidades de cada aluno. Em verdade, é de supor que em tal setor da escola trabalhem profissionais capacitados nao somente por seu saber intelec tual e sua habilidade didática, mas também por seu teor de vida digna e modelar. Tais pessoas procuraráo manter con— 461 —

14

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 227/1978

tato com os genitores ou os responsáveis dos educandos a fim de poder desenvolver homogéneamente a tarefa que estes devem ter iniciado em casa ou mesmo a fim de lhes minis trar os subsidios de que necessitem para desempenhar-se de tal missáo.

As observagóes ácima nao excluem que, quando algum professor seja explícitamente interrogado por um discípulo a respeito de assuntos sexuais, o mestre propicie os ensinamentos solicitados dentro do quadro característico do aluno e em termos pessoais.

O que em sala de aula pode e deve ser ministrado a todos os alunos, sao principios de formacáo geral — base e garantía da reta educacáo sexual. Por suas palavras (profe ridas oportunamente)

e, mais ainda, por seu teor de vida, o

professor de biología, de ciencias sociais, de expressáo oral e escrita... deve ser um educador (e nao apenas um instrutor).

A todo mestre, pelo fato mesmo de .ser mestre, toca

especial autoridade,... autoridade de que o professor deve fazer uso para transmitir aos seus discípulos o testemunho concreto e as grandes normas da magnanimidade, da fidelidade, da sinceridade, da veracidade, da coragem na luta em

prol da verdade e do bem..., e, se é cristáo, as grandes linhas da cosmovisáo crista (cosmovisáo crista que pode e deve iluminar qualquer tema dos currículos escolares). Ao

mestre compete interessar-se, na medida em que isto seja oportuno, pela formacáo integral dos alunos, e nao apenas pelo enriquecimento intelectual dos mesmos.

Restam ainda duas perguntas importantes:

3.

Como... ? E quando... ?

A maneira como praticar a educagáo sexual, há de me recer primeiramente a nossa atengáo. 3.1.

Con»... ?

a) Antes do mais, é para desejar que país e educadores tratem do tema com naturalidade e simplicidade. Evitem atitudes misteriosas que poderiam insinuar tratar-se de assunto pecaminoso ou indecente. O embarago e o constrangimento por parte do educador poderiam despertar malicia e agucar indevidamente a curiosidade do educando; sao aptos também

— 462 —

EDUCACAO SEXUAL ÑAS ESCOLAS?

15

a provocar mórbidamente a imaginacáo do adolescente, ao passo que a simplicidade dos mais velhos provoca a simplicidade dos educandos.

b) Requer-se outrossim que o educador nato minta nem sonegue a verdade ao educando na medida em que este a pede (como dito, porém, nao se deve propor tudo de urna vez, mas graduar os ensinamentos, de acordó com as exi gencias do pupilo). Qualquer mentira ou qualquer historieta simplória cedo ou tarde provoca a perda da confianga do ado lescente em relagáo aos educadores. Sabemos que,, no tocante á origem dos bebés, há (ou havia) varias historietas em curso: o nene teria sido encontrado no jardim, quando a mamáe fora colher rosas..., ou teria sido trazido pela parteira em urna maleta... ou a cegonha teria introduzido a criancinha em casa. Cada qual dessas mentirinhas exige. novas mentiras para que nao seja imediatamente desmascarada pelas enancas curiosas. A perda de confianza nos pais e educadores por parte

de crianzas e adolescentes é desastrosa, pois o menino ou a

menina

se

sentirá impelido (a)

a

procurar

em fontes nao

auténticas as explicagóes que poderia ter recebido dos genuí-

nos mestres. Compreende-se que estes nao proponham nogóes demasiado científicas ou técnicas sobre a concepgáo e o nascimento das criangas, mas requer-se que nao fiquem em comparagóes poéticas ou em termos vagos e abstratos.

c) A verdade nao excluí, mas antes exige, a discrlcSo ou o discernimento ao falar. Os assuntos referentes á transmissáo da vida nao devem ser banalizados. O educador que os aborde sem a justa medida, arrisca-se a falar demais e a prejudicar, em vez de construir a personalidade do educando. Por certo, nao é fácil dizer o necessário, utilizando palavras claras (que nao deixem insatisfagáo) e, ao mesmo tempo,

breves (que nao váo além da dosagem oportuna). o educador há de se exercitar nesta arte.

d)

Todavía

Como dito, a instrugáo sexual há de ser acompa-

nhada de educábate ou de principios de formagáo da persona

lidade. É preciso que o mestre ensine ao aluno o significado da vida sexual, a sua indissolúvel ligacáo com o matrimonio, a necessidade de subordiná-la á construgáo de um lar ou de urna célula da S. Igreja. Chame a atengáo para as aberragóes sexuais que hoje em día váo passando por normáis, tais como as relagóes pré-matrimoniais, o homossexualismo — 463 —

16

cPERGUNTE E RESPONDEREMOS> 227/1978

e a masturbagáo; ajude o educando a nao se deixar arrastar por correntes de pensamento e de conduta que desfigurem a grandeza do ser humano. A propósito destes males, veja-se a Instrugáo

«Persona Humana>

da S.

Congregacáo

para a

Doutrina da Fé, datada de 28/12/1975 e PR196/1976, pp. 139-150; 200/1976, pp. 337-348. Apraz também lembrar as palavras de Pió XII, que, embora proferidas em 1951, guarda.m sua plena atualidade: "Há um terreno no qual a educacfio da opinláo pública, a sua retificacfio, se impSem com urgencia trágica... Queremos falar aquí de escritos, llvros e artigos acerca da InlclacSo sexual, os quals multas vezes obtém hoje enormes éxitos de livraria e inundan) o mundo inteiro, Invadlndo a Infancia, submergindo a geracfio que sobe para a vida, perturbando nolvos e Jovens casáis.

... Essa literatura... parece nfio levar em conta a experiencia geral de ontem, hoje e sempre, a qual, fundada na natureza, atesta que, na

educacfio moral, nem a iniclacño nem a Instrugfio apresentam por si qualquer vantagem e que, pelo contrario, sfio gravemente malsfis o prejudiclals, se nfio vfio fortemente unidas a urna constante disciplina, a vigoroso dominio de si mesmo e sobretudo ao uso das torcas sobrenaturals da oracfio e dos sacramentos" (Discurso aos Pais de familia franceses, proferido aos

16 de setembro de 1951; cf. REB XI [1951] pp. 965s). "Referlmo-nos

á

inlciacáo sexual

completa, que nada quer

ocultar

nem deixar na escurldfio. Nfio há nlsso urna excesslva e perniciosa estima

do saber ? Existe também urna educacfio sexual eficaz, que com toda a

seguranca ensina na calma e objetlvldade o que o Jovem deve saber para se guiar a si mesmo e tratar com o seu meio. De resto, há de se Insistir, na educagfio sexual, como alias em toda a educacfio, sobre o dominio de si mesmo e a formacfio religiosa" (Discurso aos Pslcoterapeutas, proferido aos 13 de abril de 1953; cf. REB XIII [1953] p. 464).

3.2.

Quando...?

Nao há um momento só na vida da crianza ou do ado lescente em que se deva ministrar a educagáo sexual. Pois, assim como o físico se vai desenvolvendo paulatinamente, assim o espirito há de ser progressivamente esclarecido a respeito de suas potencialidades fisiológicas. É a própria natu reza humana que pede certo resguardo da parte dos educa dores, para que se possa desabrochar normalmente. A pre matura apresentagáo de determinadas funches sexuais pode despertar certos instintos em seres humanos que nao tenham nem o corpo nem o espirito preparados para tanto. Observa muito oportunamente o Pe. Alvaro Negromonte:

— 464 —

EDUCACAO SEXUAL ÑAS ESCOLAS?

17

"6 verdade que o desenvolvlmento do espirito torga e antecipa o desenvolvlmento físico. Porém, este ó infinitamente mals lento, e quebra sempre o equilibrio necessárlo do desenvolvimento normal. E, 'mesmo que o corpo segulsse o espirito no mesmo passo, serla aínda urna anteclpacfio desnecessárla e nefasta, porque contraria á natureza. NSo é o espirito que deve despertar o Instinto, mas este é que deve acordar aquele" (A educacSo sexual. Rio de Janeiro, 3a. ed. 1942, p. 94).

É preciso, porém, que, desde que os genitores percebam interesse ou curiosidade de seus filhos pelo que se refere ao sexo, acompanhem mais atentamente as criangas a fim de as orientar sobre'o assunto na medida da capacidade e da necessidade das mesmas. Nao se pode, pois, fixar idade pre cisa para iniciar tal tarefa. Esta terá comego logo que as perguntas explícitas ou as atitudes dos filhos sugiram a oportunidade de se lhes falar do sexo. As primeiras explicaCóes costumam influir poderosamente sobre a orientagáo de vida do educando, pois nao raro transmitem impressóes indeléveis, que inclinam a enanca ou para o bem ou para o mal. Nao temos em mira, neste artigo, descér aos pormenores de como deva ser ministrada a eduoagáo sexual, pois isto seria tema para outro estudo. Apenas interessa evidenciar, no presente momento do Brasil, que a escola nao deve assumir em suas salas de aula, e de maneira coletiva, a tarefa que toca insubstituivelmente aos pais e ao Servigo de Orientagáo Educacional de cada educandário. Bibliografía:

'

JoSo Mohana, Prepare seus filhos para o futuro. Porto Alegre 1972.

Pe. José Goncalves Fllho, Método de EducacSo Sexual dirigido a

Juventude. SSo Paulo 1976.

Marla-Cláudla Monchaux, A verdade sobre os bebes. Educacfio Sexual dos 6 aos 12 anos. Sao Paulo 1976.

A. C. Andry e St. Schepp, De onde vdm os bebes. Rio de Janeiro 1968. Gustl Gebhardt, Dos 5 aos 25 anos. Dinámica do sexo. SSo Paulo 1975.

Pe. Gláuclo vinfclo Colmbra, Casamento: O amor a servlco. Movlmento por um Mundo CristSo. Belo Horizonte 1977. JoSo Batista Megale, Conversas de amor e sexo. Caxlas do Sui 1974.

A. Negromonte, A Educacfio Sexual. Rio de Janeiro 1942 (3a. ed.). André Berge. L'éducatlon sexuelle chez PenfanL París 1965.

PR 2/1958, pp. S7-59 (educacfio sexual). PR 97/1968, pp. 35-46 ("Llberdade sem medo").

— 465 —

Urna tese batista:

"a salvacáo do (rente é eterna"

Em sínteae: O presente artigo aborda a tese batista segundo a qual "a salvacSo do crente é eterna". Tal predicado é entendido no sen tido de "Inamlsslvel" — o que quer dlzer: quem ere realmente, pode ter certeza de que obterá a salvacüo eterna, apesar das tontacóes e Infi delidades passageiras. Na verdade, esta tese se deriva do concelto luterano

e calvinista de justlflcacfio. NSo leva em conta, porém, a llberdade de arbitrio do homem; Deus, que nos crlou sem nos, nao nos salva sem nos, diz S. Agostlnho. Note-se outrosslm que a S. Escritura incute vivamente a necessldade de boas obras; cf. Rm 2,6-10; Tg 2,14.17.19. 21 s. 24. 26.

á claro que as boas obras asslm recomendadas nSo constituem urna fonte

de salvacfio Independente dos méritos de Cristo, pols sao produzldas com o auxilio da grasa do Redentor, que nelas frutillca. Seria Imposslvel, porém, nSo as levar em conta no processo da nossa |ustlflcacSo (cf. Mt 5-7).

Eis por que nfio se pode afirmar que a salvacSo do crente é Inamlsslvel deade que este creia realmente.

Comentario: As teses teológicas do protestantismo continuam a ser apregoadas entre nos, atingindo especialmente as pessoas mais simples, que se deixam impressionar pela

eloqüéncia de quem as profere. Entre estas, merece atengáo especial a sentenga segundo a qual a salvagáo do crente é

eterna... Isto vem confundindo os fiéis católicos a ponto que da Amazonia a redagáo de PR recebeu o pedido de esclarecimento da materia. É o que procuraremos oferecer ñas

páginas

subseqüentes,

comegando

por expor a origem da

denominacáo batista.

1.

Os Batistas : origem

As comunidades batistas nao se derivam nem de Sao

Joáo Batista nem de ¡mediatos discípulos do Precursor, pois disto nao há, em absoluto, indicios documentados.

Ao con

trario, claros testemunhos da historia apontam os inicios do movimento batista no século XVI d.C.

Contemporáneamente a Lutero, um grupo de cristáos, chefiados por Thomas Münzer, Balthasar Hübmaier, George

Baurock, Ludwig Hoetzer, julgava que o Reformador nao ia suficientemente longe nos seus propósitos. Na Alemanha e — 466 —



BATISTAS E SALVAgAO ETERNA

19

na Suíca comegaram entáo a apregoar urna Igreja, em grau máximo, espiritual, destituida de hierarquia visível e consti tuida exclusivamente pela adesáo consciente dos homens á Palavra de Deus. O sinal característico dessa nova Igreja seria o batismo a ser administrado aos adultos, nao ás criangas, de sorte que os membros do grupo batizavam de novo os fiéis que lhes aderiam (donde o nome de Anabatistas, Rebatizadores, que lhes foi dado).

O movimento anabatista sofreu forte represalia por parte de Lutero, Zvínglio e dos principes alemáes. Desencadeou revoltas fanáticas, das quais a mais famosa é a dos campo-, neses, cujo chefe, Thomas Münzer, foi decapitado em 1525. Nao poucos anabatistas, fugindo á perseguigáo, comegaram a propagar suas idéias na Italia, na Boémia, na Morávia, na Alsácia, nos Países-Baixos, na Escandinávia, na Inglaterra, subsistindo até hoje em pequeños grupos.

Mais importantes sao as ramificagóes que procederam do tronco anabatista. Eis, alias, urna das características ou quase-

-constantes do movimento protestante: Lutero atribuiu a si o

direito de derrogar á Tradicáo para fazer prevalecer suas intuicóes religiosas individuáis; em conseqüéncia, é imitado periódicamente pon homens que se julgam iluminados á semelhanga de Lutero, e entáo se separam do bloco luterano ou da comunidade protestante a que pertencem, para dar origem a novo tipo de Cristianismo baseado no senso subjetivo do fundador.

Conhecem-se hoje, como derivagóes do grupo anabatista,

as seitas dos Menonitas (de Meno Simons, f 1559), máos Hutterianos (de llago Hutter), a Igreja dos nos Estados Unidos da América do Norte, a Igreja máos Evangélicos Unidos e a Igreja Batista, de todas

dos IrIrmáos dos Ir a mais

numerosa.

Os Batistas tém por fundador o inglés John Smyth (t 1617). Foi primeiramente pastor anglicano. Movido por espirito reacionário, que agitava nao poucos crístáos de sua patria, quería urna reforma ainda mais radical que a angli-

cana; em particular, nao se conformava com a organizagáo hierárquica (episcopal) e a liturgia da Igreja anglicana, que ele julgava supérflua. Por isto formou em Gainsborough urna pequeña comunidade dissidente do Anglicanismo, no ano de 1604; foi, porém, obrigado a se exilar com os seus companheiros, indo ter a Amsterdam (Holanda), onde o calvinismo

— 467 —

20

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 227/1978

predominava. No degredo viveu em casa de um padeiro menonita, que o persuadiu de que era inválido o batismo confe rido as enancas (tese anabatista!). Smyth entáo administrou a si mesmo um segundo batismo, de cujo valor, porém, comesou em breve a duvidar.

Em conseqüéncia,

seus com-

panheiros por ele convencidos da tese anabatista, o expulsa-

ram da comunidade; Smyth nao conseguiu ser admitido nem mesmo entre os menonitas, aos quais pedirá acolhimento. Em 1612, um grupo de seus discípulos voltou á Inglaterra, e lá fundou a primeira Igreja dita Batista (nao mais Anabatista), também chamada «dos Batistas gerais», porque, contraria

mente 'á doutrina calvinista, ensinava que Cristo pela cruz

salvou todos os fiéis. Outro grupo se formou, pouco depois, dito «dos Batistas regulares ou particulares»; com efeito, em 1641 outra pequeña comunidade de dissidentes do Anglicanismo em Londres se convenceu da tese anabatista; mandou entáo um de seus membros, Ricardo Blount, a Rijnsburg na Holanda, a fim de pedir o batismo de adulto á seita de Dompelaers (cisáo menonita) e levar á Inglaterra o «verdadeiro batismo». Blount desincumbiu-se da sua missáo; voltando em

1641, rebatizou por imersáo (única forma de batismo reconhecida pela seita) 55 membros da comunidade de Londres; aceitou do calvinismo holandés a doutrina de que Cristo salva somente os predestinados; donde o nome de «Batistas parti

culares» que lhes coube.

Hoje em dia contam-se cerca de vinte seitas batistas, que em 1905 se uniram de maneira um tanto vaga na «Liga Mundial Batista»; sao, entre outros, os batistas calvinistas, os b. congregacionalistas, os b. primitivos, os b. do livre pensamento, os b. dos seis principios (porque aceitam como único fundamento da fé e da vida crista os seis pontos men cionados em Hb 6,ls: arrependimento, fé, batismo, imposigáo das máos, ressurreigáo dos mortos, juízo eterno), os b. tunkers, os b. campbellitas, os batizantes de si mesmos, os b. abertos, os b. fechados, os b. do sétimo dia, etc. Cada comunidade batista é independente de qualquer autoridade visivel, seja eclesiástica, seja civil; rege-se direta-

mente «por Jesús Cristo e pelo Espirito Santo», que agem

na assembléia; nao há, pois, hierarquia nem jurisdigáo ecle siástica. Todo o poder de governo reside na assembléia "dos fiéis, que elege os que por ela respondem (pastores e diá conos).

— 468 ~

BATISTAS E SALVACAO ETERNA

21

Em sua doutrina, os batistas seguem teses calvinistas: Deus predestina diretamente nao só para a gloria, mas também para a condenagáo eterna; a justifioagáo ou a graga é obtida mediante a fé; nao apaga, mas recobre o pecado; os sacramentos (Batismo e Ceia) nao sao meios comunicadores da graga, servem apenas para corroborá-la em quem os recebe com fé. Como em geral no Protestantismo, a Biblia é tida como única fonte de doutrina.

Examinemos agora mais precisamente a

a qual

2.

tese segundo

«A salva;áo do trente é eterna»

Para os batistas, «a salvagáo do crente é eterna», o que

quer dizer: todo homem que firme e sinceramente confie em

Cristo, pode considerar-se filho de Deus, destinado infalivelmente a conseguir a bem-aventuranga eterna; nada absoluta mente (nem tentagóes, nem infidelidades passageiras) lhe poderá arrebatar o galardáo celeste; Deus, que é rico em meios para auxiliar os seus fiéis, saberá sempre fazer preva lecer a virtude e a causa do bem em tal homem. Donde se

segué que as obras (sejam virtuosas, sejam pecaminosas) nao

influem decisivamente sobre a salvagáo eterna; tudo depende de crer, ou melhor, confiar em Cristo. Quanto aos que se perdem no inferno, será preciso dizer que em verdade nunca tiveram a graga de Deus, pois esta, urna vez possuida, leva

infalivelmente o seu possuidor a gloria celeste.

Os textos bíblicos sobre os quais se funda tal doutrina, seriam aqueles em que Jesús ou os Apostólos afirmam terem os fiéis recebido a vida eterna; cf. Jo 3,15.36; 5,24; 6,40.47. Enquanto estas passagens gozam de alto aprego entre os batistas, é menos comentado o sermáo de Jesús sobre a montanha (Mt 5-7), trecho em que o Senhor recomenda aos fiéis urna conduta de vida aparentemente legalista, cumplidora de obras.

Urna síntese da soteriologia batista se encontra no livrinho de William Taylor, «A salvagáo do crente é eterna», ao qual havemos de nos referir mais de urna vez ñas consideragóes subseqüentes.

3.

Que dizer?

Em primeiro lugar, reconheca-se que «vida eterna», se gundo as Escrituras, é realmente vida imortal ou sem fim

— 469 —

22

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 227/1978

(Taylor, no seu opúsculo, muito se empenha por demonstrar

filológica e etimológicamente que «o eterno quer dizer eterno mesmo»; cf. p. 13). Nao resta dúvida, pois, de que a vida que Deus dá ao homem em Cristo, de per si, carece de fim (tem como qualidade inerente a si a imortalidade). Disto, porém, seguir-se-á que vida eterna é também inamissível, quando dada de presente a urna criatura? Nao. A ilagáo nao seria lógica nem é recomendada pelas

Escrituras.

Nao seria lógica... Algo de eterno nao é necessariamente algo que nao possa ser perdido pelo seu possuidor (sem deixar de ser por si mesmo eterno). Posso possuir um tesouro em si duradouro ou perene; se eu o guardar fiel

mente, ele será duradouro em meu proveito; se o negligenciar,

perdé-lo-ei, isto é, o tesouro continuará a ser perene, nao, porém, em meu favor. O adjetivo eterno, portanto, designa a índole do dom que Deus concede aos homens, quando se considera este dom da parte de Deus e em si mesmo. Para que este dom se torne permanente ou sem fim no cristáo, nao se exclui (ao contrario, a Escritura a requer) a livre colaboragáo deste, ou seja, a livre aceitagáo da graga e a continua entrega do discípulo a esta, pois Deus, que nos fez sem nos, nao nos salva sem nos, como diz S. Agostinho. O Senhor, sem dúvida, é fiel as suas promessas e aos seus dons (cf. Rm 8,31s; ICor 1,9); nao retira por iniciativa própria o que Ele concedeu, mas também nao forga o homem nem a aceitar nem a guardar o dom divino; justamente, se o Cria dor fez o homem livre, fé-lo para que este, a diferenga das criaturas inferiores, se encaminhasse para Deus usando do seu livre arbitrio. Entende-se, porém, por que os batistas identificam vida

eterna e vida inamissível. Nao reconhecem o valor do livre arbitrio e da colaboragáo humana com a graga de Deus; e nao o reconhecem por causa das premissas luteranas e calvi nistas que eles abragam. Em que consistem, pois, essas premissas luterano-calvi nistas? Lutero no sáculo XVI deu inicio ao movimento da Re forma, afirmando, entre outras coisas, que o pecado original destruiu o livre arbitrio no homem, de sorte que este é inca paz de fazer o bem (praticar boas obras)

— 470 —

de acordó com as

BATISTAS E SALVAgAO ETERNA

23

decisóes da sua vontade. Em compensagáo, Lutero ensinava que seus discípulos podiam ter certeza da sua justificacáo (ou de possuirem a amizade de Deus nesta vida) na medida em que tivessem fé ou confianga inabalável em Cristo. Calvino retomou estas idéias e as desenvolveu; ensinou que a fé ou confianga no Redentor dá ao érente certeza infalivel nao só da sua justificacáo momentánea (na vida presente), mas também da sua salvacáo eterna (na vida futura); a vontade humana nao entra em conta no processo de salvagáo eterna; desta forma Calvino queria enfáticamente exaltar que Deus é tudo, e o homem nada. A honra de Deus lhe parecía exi gir tais afirmafióes. Notemos que os mesmos principios levaram Calvino a dizer também que existe urna predestinacáo que é absoluta da parte de Deus: desde toda a eternidade, o Todo-Poderoso decretou que tais e tais individuos se salvaráo no céu, ao passo que tais e tais outros se perderáo no inferno; esse decreto de predestinacáo é de todo inalterável; o homem nada pode fazer contra ele, de modo que o predestinado para

a gloria recebe a graca de Deus e, aínda que peque, nao fica

no pecado; o predestinado para o inferno nunca recebe a graca de Deus e, aínda que pratique atos bons, nao deixa de ser viciado ou mau. Estas idéias repercutiram, sem dúvida, na formagáo do Credo batista. Nos seus inicios (séc. XVII) os batistas se dividiam em «Batistas gerais» (professando que Cristo por sua cruz salvou todos os crentes) e «Batistas particulares» (professando que salvou apenas os predestinados). No decorrer do séc. XVII, na Inglaterra foram prevalecendo os Batistas particulares, enquanto declinavam os Batistas gerais. No séc. XVIII, quando as comunidades batistas corriam o perigo de certo

entorpecimento espiritual, foram provocadas a novo fervor

por John Wesley (t 1791), fundador do Metodismo, que propugnava urna espiritualidade mais metódica. Os batistas, por seu turno, comegaram entáo um movimento de evangelizagáo popular, tendo como um dos seus pioneiros no inicio do séc. XIX William Carey Taylor; este fundou a «Sociedade dos Batistas particulares para a propagagáo do Evangelho entre

os pagaos» e partiu para as indias. Foi este movimento que deu as características próprias á vida batista na Inglaterra e nos Estados Unidos.

4.

A doutrina bíblica

Pergunta-se: nao se poderia fundamentar na Escritura a

identificagáo de vida eterna e vida inamissível? — 471 —

24

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 227/1978

Nao.

É bem evidente que a Escritura acautela os fiéis

contra o perigo de, por sua própria culpa, perderem a grac.a

de Deus e, conseqüentemente, a vida eterna. É, por exemplo,

o que S. Paulo inculca aos Filipenses: «Assim como sempre obedecestes..., assim também operai a vossa salvagáo com temor e tremor> (2,12). O mesmo Apostólo diz que procura tornar-se conforme á morte de Cristo, «para ver se de alguma maneira posso chegar á ressurreigáo dos mortos. Nao que já a tenha alcangado ou que seja perfeito, mas prossigo para abragar aquilo para o que" fui também preso por Cristo Jesús. Irmáos, quanto a mim, nao julgo que haja alcanzado; mas urna coisa fago, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avangando para as que estáo diante de mim, prossigo para o alvo, pelo premio da soberana vocagáo de Deus em Cristo Jesús» (3,10-14; tradugáo de Ferreira de Almeida).

Aos corintios o Apostólo afirma exercer a mesma solicitude para conseguir a salvagáo: "Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E fago ísto por causa do Evangelho, para ser também participante dele. NSo sabéis vos que os que correm no estadio, todos na verdade correm, mas um so leva o premio ? Corral de tal maneira que o alcancéis. E todo aquele que luta, de tudo se abstétn; eles o fazem para alcancar urna coroa corruptível; nos, porém, urna Incorruptlvel. Pols eu asstm corro, nfio como a coisa Incerta; assim combato, nSo como batendo no ar. Antes sub|ugo o meu corpo, e o reduzo á servldüo, para que, pregando aos outros,

eu mesmo nSo venha de alguma maneira a ficar reprovado" (1Cor 9, 22-27).

W. C. Taylor, analisando esta passagem táo significativa,

julga que o Apostólo nao se refere á consecugáo da salvagáo eterna, mas apenas á obtencáo de um galardáo independente da salvagáo; Paulo tcria tido a certeza de ser salvo, nao, porém, a de conseguir urna coroa de vitória no céu (como

os atletas podem hesitar a respeito de sua vitória ou da aqui-

sigáo de urna coroa no estadio). Ora esta distingáo do comen tador inglés é totalmente estranha á Biblia; vida eterna e

galardáo (ou coroa) da vida eterna se identificam plenamente na Escritura Sagrada; o dom que Deus dá definitivamente ao homem no céu, é um só, é simplesmente a vida eterna; nao há vida eterna com galardáo (ou com coroa) nem vida eterna

sem galardáo (ou sem coroa): "Bem-aventurado o varfio que sofre a tentacfio, porque, quando for provado, recebará a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que O amam" (Tg 1,12). "Quando aparecer o Sumo Pastor, alcanzareis a Incorruptlvel coroa de gloria" (1Pd 5,4).

— 472 —

BATISTAS E SALVACAO ETERNA

23

"Só fiel até a morte, e eu te darel a coroa da vida... Guarda o qua tens para que nlnguém tome a tua coroa", diz o Senhor no Apocallpse (210311)

Alias, tava, mas cem como obras boas eterna:

toda a epistola de Sao Tiago (que Lutero rejeique Calvino e os protestantes modernos reconhecanónica) inculca fortemente a necessidade de para que o cristáo nao venha a perder a vida

"Meus Irmaos, que aprovelta se alguém dlsser que tem (é, e nfio tlver as obras ? Porventura a fé pode salvá-lo?... A fé, se nSo tlver as obras, é morta em si mesma... Tu crés que sá um so Deua; fazos bem. Tambóm os demonios o créem e estremecem. Porventura o nosso pal Abrafio nao fol justificado pelas obras, quando oferecla sobre o altar o seu fllho Isaque? Bem vés que a fé coopera com as suas obras e que pelas obras a fé

fol aperfelcoada... Vés entSo que o homem é Justificado pelas obras, e nfio somonte pela fó... Porque, assim como o corpo sem o espirito está morto,

asslm também a fé sem obras é morta" (Tg 2,14. 17. 19. 21 s. 24. 26).

Se, de outro lado, Sao Paulo tanto acentúa o valor da fé (principalmente em Rm e Gl), parecendo excluir o das obras, isto se deve ao fatq de que Sao Paulo tem em vista o inicio da justificagáo; combatendo a mentalidade legalista de certos judeus, quer afirmar nao haver méritos previos do homem que lhe possam merecer o dom da fé sobrenatural; esta é concedida por Deus de modo totalmente gratuito, sem que em absoluto o homem a possa atrair a titulo de justica ou em recompensa; é, sim, crendo dócilmente na Palavra de Deus com ánimo contrito que o pecador comega a ser amigo de Deus e recebe o germen da graga santificante ou da vida

eterna; depois desta primeira conversáo e justificagáo é que poderá, com o auxilio de Deus, realizar obras meritorias. — Sao Tiago nao contradiz a Sao Paulo porque visa a questáo diferente: considera nao o ingresso no estado, de graca,

mas a conservagáo desta última; assegura entáo que finpos-

sivel é perseverar na amizade de Deus únicamente mediante a fé; as obras boas se tornam imprescindíveis para que alguém nao se torne como os demonios, os quais acreditam, sim, mas, nao obstante, estáo condenados por nao terem as obras da caridade. Quem considera as perspectivas próprias de Sao Paulo e de Sao Tiago, nao dará valor absoluto a afirmagóes de .um

ou de outro separadas do seu contexto, e saberá estimar a necessidade das boas obras para que alguém nao se perca. Merece atengáo o fato de que a S. Escritura exige categóri camente as obras boas de todo e qualquer cristáo, sem dis— 473 —

26

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 227/1978

tinguir entre predestinados e nao predestinados; nao fala de homens que, aparentemente apenas, se perderáo pelas suas

más obras, e homens que realmente se perderáo pelas suas más obras.

É Sao Paulo quem assim escreve:

"Deus recompensará cada um segundo as suas obras, a saber: a vida eterna aos que, com perseverarla em fazer o bem, procuram gloria e honra e Incorrupcfio; mas a indlgnacfio e a Ira aos que sao contenciosos e desobedientes a verdade e obedientes a Inlqüldade; trlbulacfio e angustia sobre toda alma do homem que obra o mal, primeramente do Judeu, e também do grego; gloria, porém, e honra e paz a qualquer que obra o bem, primeramente ao judeu, e também ao grego" (Rm 2,6-10; traducfio

de Ferrelra de Almeida).

Vé-se nesta passagem como Sao Paulo mesmo associa estritamente a sorte eterna á prática de obras. Contudo está claro que as boas obras do justo nao constituem urna fonte de salvagáo independente dos méritos de Cristo; sao produzidas com o auxilio da graga do Redentor, que nelas frutifica. Seria impossível, porém, nao as levar em conta no processo da nossa justificagáo; haja vista o relevo enorme que Cristo lhes deu no seu sermáo sobre a montanha, que, segundo Sao Mateus, proferido logo no limiar da vida pública de Jesús, constituí a Magna Carta do Reino de Deus. Nenhum comentador de autoridade, cristáo ou nao cristáo, ousaria afirmar que «o sermáo do monte em geral só ensina indiretamente o Evangelho... a própria linguagem do Evangelho está ausente de Mateus 5 a 7» (cf. Taylor, ob. cit, p. 79). Ao contrario, os estudiosos e os homens de Deus sempre reconheceram no sermáo sobré a montanha urna das expressóes mais típicas da mensagem de Jesús ao mundo. Por último, será preciso reconhecer (fazendo eco á S. Es critura e aos nossos irmáos batistas) que a graga santificante possuída nesta vida é realmente o germen ou a sementé da

gloria celeste; nao há solugáo de continuidade entre o dom de Deus que os justos trazem nesta peregrinagáo terrestre, e o dom que renova a alma e o corpo dos santos no céu; a diferenga é apenas a que intercede entre a sementé e a planta plenamente desenvolvida. Neste sentido pode-se e deve-se dizer que eterno é o dom de Deus; isto, porém, nao significa que o homem nao o possa recusar livremente no decorrer desta vida, mesmo depois de o haver aceito. Nao levar em

conta a liberdade da criatura seria indigno de Deus, que jus tamente quer ser louvado nao apenas por autómatos, mas por seres a quem Ele deu urna livre vontade como expressáo de maior perfeigáo ontológica. — 474 —

A Grande Questáo:

a alma humana é imortal?

Em síntese < A imortalldade natural da alma humana se evidencia, no plano filosófico, a partir de tres argumentos principáis: — a alma humana, sendo espirito, é simples ou nSo composta ; por

consegulnte, nfio se decompSe ou nfio se dissolve por sua próprla natureza. Deus, que a crlou, poderla anlquilá-la, mas nfio o faz, pote Isto contradiría á sabedorla e á justlca do Criador;

— a alma humana aspira naturalmente á vida, e á vida sem flm; ora tal desejo Inato nfio pode ser frustrado, pois, se o fosse, a natureza serla absurda e suporla o absurdo em sua origem. Todavía nfio se pode

crer que o ser humano seja o único absurdo em molo a um mundo chelo de ordem e harmonía naturals;

— a alma humana aspira naturalmente á justa sancfio ou á retrlbuicfio devida ao bem e ao mal. Já que esta só ocorre precariamente na vida presente, deve haver outra vida na qual a justlca seja exercida. Em caso contrario, a historia serla absurda, terminando com o espezlnhamento (ao menos, parcial) do bem e da virtude e a exaltacáo (ao menos, parcial) do mal. Verdade ó que o composto humano (corpo e alma) aspira á vida imortal. Todavía o composto humano é, por sua natureza, pereclvel, de modo que o seu desejo de Imortalldade é veleidade, Incapaz de encontrar a sua resposta natural. A fé enslna que o Senhor Deus ressuscitará o ser humano depois da experiencia da decomposlgáo ou da morte, sendo Cristo o penhor e o exemplar da ressurreica'o de todos os homens.

Comentario: Sabe-se que a morte nao póe fim, por com pleto, á pessoa humana, pois os feitos desta continuam pre sentes aos pósteros; principalmente aquelas pessoas que con-

tribuem mais eficazmente para a construgáo ou a destruigáo

da humanidade, permanecem, de certo modo, atuando junto as geracóes posteriores. É este o tipo de imortalidade que, por exemplo, o marxismo propóe ao ser humano a partir de suas premissas materialistas; a escola de Marx tenta recon

fortar seus discípulos dizendo-lhes que a grandeza imortal do homem consiste em ser o carváo lancado na grande locomo— 475 —

28

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS 227/1978

tiva da historia da humanidade; destrua-se, contanto que faga avangar o comboio, em cuja marcha cada um se imortaliza. Outras correntes de pensamento admitem a sobrevivencia da alma humana; sustentam, porém, a tese de que esta perde a sua individualidade e se integra num grande todo que leva

urna vida impessoal. é o que professa o hinduísmo em geral. Há, porém, quem afirme que a alma humana é por si mesma imortal, de tal modo que, quando o corpo já nao lhe oferece condigóes de exercer suas atividades psicossomáticas, a alma se separa do mesmo e subsiste em sua realidade indi vidual e pessoal, excrcendo os atos próprios da sua vida espi ritual. É esta a tese clássica ñas escolas de filosofía cristas. Últimamente, porém, alguns pensadores católicos, negando a

distingáo real de corpo e alma, asseveram que a morte extin gue por completo o ser humano, mas Deus o ressuscita imediatamente após a morte!

Esta última tese nao se sustenta desde que se admita, como se deve admitir, a distingáo real de corpo e alma. No artigo anterior ficou comprovado que a alma humana é espi ritual e o corpo material; a recusa desta afirmativa implica, ao menos implícitamente, profissáo de materialismo. Ñas páginas subseqüentes, apresentaremos os

argumen

tos em favor da imortalidade natural da alma humana, que é um ser distinto do respectivo corpo.

1.

A natureza mesma da alma humana

A morte é a dissolugáo do ser vivo.

Um ser pode dissolver-se de duas maneiras: por si mesmo ou em razáo de outrem. No primeiro caso, dissolve-se diretamente; no segundo caso, a dissolugáo ocorre em virtude da dependencia em que tal ser se encontra em relagáo a outro que se dissolve. Ora a alma humana nao pode dissolver-se' por si, por que nao é composta de partes, mas é simples, como todo espirito é simples ou isento de composigáo. A quantidade e a

— 476 —

ALMA HUMANA & IMORTAL

29

extensáo sao propriedades dos corpos; um espirito nao consta de partes justapostas. A alma humana nao pode dissolver-se em razáo de sua

dependencia de outrem, ou, no caso, do corpo, porque ela nao depende do corpo para existir; sendo espirito, é diretamente criada por Deus e pode subsistir sem o corpo, embora exista para se unir á materia e constituir com esta um todo substancial que é o composto humano.

Objeta-se, porém: dado que a alma humana nao existe necessária, mas contingentemente, nao poderia ela deixar de existir ou ser aniquilada? Em outras palavras: Deus, que criou a alma humana, tirando-a do nada, nao a poderia reduzir ao nada? Neste caso, a alma humana nao se decomporia nem se dissolveria, mas simplesmente perdería a existencia. Eis a resposta adequada: Deus, que criou, pode certamente aniquilar qualquer criatura, pois seu ato criador é livre; Ele nao é obrigado a conservar na existencia qualquer criatura que seja. Se, porém, consideramos a Onipoténcia Divina nao como atributo de Deus isolado, mas era relacáo aos outros atributos divinos, verificamos que a aniquilacáo de urna alma humana contrariarla á sabedoria e á justica de Deus. Com efeito, sería urna especie de contradicho, pois Deus retiraría o ser de urna criatura depois de lhe ter dado urna natureza ¡mortal; além disto, a aniquilacáo seria algo de injusto, pois tornaría impossivel a aplicagáo das sancóes merecidas pelo ser humano nesta vida.

Note-se, alias, que esta última é a única razáo que Kant (t

1804)

aceita

para afirmar a

imortalidade

da

alma.

A

sobrevivencia da pessoa humana, diz este filósofo, é urna exi gencia da consciéncia moral, pois é evidente que a justica nao reina neste mundo: a virtude nao costuma ser devidamente recompensada, nem o vicio adequadamente punido. Antes, o contrario ocorre com freqüéncia: o justo é perse guido, enquanto os maus prosperam. Ulteriores ponderagóes sobre este assunto seguir-se-áo sob o subtitulo 2 deste artigo. Conclui-se,

pois,

que

a

alma

humana é

naturalmente

imortal e nao deixa de usufruir desta sua prerrogativa, pois Deus nao subtrai as criaturas o que lhes outorgou como atri butos próprios.

— 477 —

30

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 227/1978

2.

O desejo natural

Todo ser tendo a se conservar e a perseverar na exis tencia. Nos seres que usufruem de conhecimento, esse desejo é condicionado pelo conhecimento. O animal irracional conhece apenas a existencia presente e nao déseja outra realidade; nao teme a morte porque nao a conhece. O homem, porém,

conhece o ser de modo absoluto, abstraindo do tempo. Deseja,

em conseqüéncia, existir sem tempo ou, positivamente, con forme toda a duragáo possível do tempo — o que é existir sem limites de duragáo. Ora o desejo natural de urna vida sem fim se deriva da própria natureza do homem; nao é algo de convencional ou dependente de alguma forma de cultura. Tal desejo nao pode ser frustrado ou váo; se o fosse, a natureza humana seria contraditória e absurda. Mais: ela suporia o Absurdo na sua origem, pois teria sido feita para a vida e a vida sem fim, mas nao teria a capacidade de usufruir da imortalidade. Por conseguirte, a alma humana há de ser imortal, a fim de poder fruir da plenitude de vida á qual ela naturalmente aspira.

Dir-se-á, porém: se tal argumento é válido para a alma, há de ser válido também para o corpo, ou melhor, para o homem todo (composto de corpo e alma). Com efeito, o ser humano como tal deseja viver sempre e tem espontáneo hor

ror á morte.

Em resposta, consideremos o seguinte: O desejo de imortalidade do homem (ou do composto de corpo e alma), embora seja natural, nao é senáo urna veleidade ou urna aspiracáo ineficaz, pois o composto humano tende naturalmente a desgastar-se; os órgáos corpóreos se váo extenuando e tornando ineptos para a vida; no momento em

que

estáo

totalmente

deteriorados,

a

vida

nesse

orga

nismo se torna impossível e a alma humana se separa do mesmo.

Ao contrario, o desejo de imortalidade da alma humana pode ser eficaz, visto que a alma, nao sendo composta, nao se dissolve; além do mais, tem condicóes de sobreviver sepa rada do corpo. — 478 —

ALMA HUMANA É IMORTAL

31

Há, pois, urna diferenga entre o desejo natural de imortalidade do composto humano e o desejo natural de imortalidade da alma humana. Em conseqüéncia, diz a filosofía, o

primeiro nao tem conseqüéncias segundo as tem.

práticas, ao

passo que o

Estas afirmagóes háo de ser completadas pelos dados da fé. Esta ensina que o Senhor Deus, atendendo gratuitamente ao desejo natural de imortalidade do composto humano, instituiu a ressurreicáo física dos mortos. Jesús Cristo, Deus feito homem, tendo assumido a carne humana, quis padecer a morte do homem, a fim de vencé-la e ressuscitar como primicias de urna nova humanidade (cf. ICor 15,20). A ressurreigáo de Cristo é o penhor da ressurreicáo de todos os homens, a qual ocorrerá na consumagáo dos tempos, quando o Senhor vier em sua gloria para dizer a última palavra da historia.

Assim a fé ensina que o composto humano terá duragáo sem fim, pois, embora morra, o Senhor Deus lhe quer dar a vitória sobre a morte e conceder a plenitude da vida.

3.

A sangao da ¡ust¡;a

O ser humano foi feito para a justiga, a qual aspira com toda a veeméncia. Contudo a justiga na vida presente é

precaria. Freqüentemente as pessoas retas e dignas sao ma terialmente prejudicadas por praticarem o bem, ao passo que

os criminosos e iniquos sao materialmente beneficiados pela

perversáo; a justiga humana e o curso da historia nao raro «premiam» os maus e «castigam» os bons.

Ora, se a alma humana nao fosse apta a sobreviver após a existencia presente a fim de receber a sancáo de seus atos, a justiga ficaria definitivamente violada e conculcada no caso de muitos homens. A historia da humanidade terminaría com o triunfo (ao menos, parcial) da injustiga e da desordem sobre a justiga e o bem. A prática da virtude nao seria reconhecida como tal, mas, antes, colocada em plano de desprezo e rejeigáo. Ora tais conseqüéncias suporiam um mundo absurdo, e, na origem deste mundo, um principio de contradigáo e absurdo, conseqüéncias estas que nao condizem com

— 479 —

32

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 227/1973

a ordem e a harmonía que se verificam em geral no universo. Daí afirmar-se que a alma humana é, por si, imortal e, por conseguinte, apta a receber na vida postuma a justa sangáo, que muitas vezes na vida presente lhe é negada. Se nada houvesse que correspondesse as aspiragóes inatas á vida, á justiga, á verdade, ao amor... que todo homem

traz naturalmente em si, teriam plena razáo os que, mediante entorpecentes e psiootrópicos, procuram «paraísos artificiáis», ou aqueles que póem fim a si mesmos no suicidio. Diz sabia mente Gabriel Marcel: "Se a morte é a realidade última, todo valor se aniquila no escándalo puro; a realidade está como que ferida em seu coracao".

O que acaba de ser dito, pode ser ilustrado pela verificagáo de certos fenómenos ocorrentes na natureza. Esta parece excluir a frustracáo e o absurdo; com efeito, se tenho olhos, é porque existe a luz para a qual o olho é feito; se tenho ouvidos, é porque existem sons e melodías;

se tenho pulmóes, existe o ar que lhes corresponde; se tenho fome e sede, existem os alimentos de que preciso; se a mulher tem o senso da maternidade e aspira a ser máe, existe para ela a maternidade ou o poder tornar-se máe. Mais aínda: se as aguas do mar sobem por ocasiáo das mares, tornando-se agitadas e inquietas, sei que essa agitagáo nao é casual, mas se deve ao atrativo sobre elas exercido pela Lúa; se

a agulha

magnética

se

agita

dentro

da

bússola,

posso

estar certo de que existe um polo Norte (invisível, sim, mas muito real) que a atrai e só permite repouse quando devidamente voltada para o seu Norte. Assim análogamente, se verifico em mim (anteriormente a qualquer reflexáo filosófica ou religiosa) a sede de certos valores ou mesmo do Infinito, posso estar certo de que tais valores e o Bem Infinito existem no Além, em correspon dencia a tais aspiragóes. Simone de Beauvoir, imbuida de existencialismo, escreveu muito acertadamente:

— 480 —

ALMA HUMANA B IMORTAL

33

"Uma vida, para que seja Interessante, deve assemelhar-se a uma ascensfio: galga-se um patamar e, depois, outro...; cada patamar nSo existe senfio em vista do patamar segulnte... Se essa subida, chegando ao auge, retrocede, ela se toma absurda desde o seu ponto de partida" ("Le sang des autres").

Aprofundando um pouco mais estas reflexóes, observa mos: o universo se apresenta marcado por nota de profunda harmonía; é o que declaram os estudiosos de qualquer dos reinos naturais: mineral, vegetal e animal (irracional). Einstein experimentava admiragáo extática ao considerar a drdem do infinitamente grande. Alias, as ciencias naturais nao seriam possíveis se o universo e a natureza nao fossem inteligíveis ou nao fossem o produto de uma Inteligencia Suprema que concebeu cada uma das criaturas (grandes e pequeñas) e seu maravilhoso interrelacionamento. Pergunta-se, pois: somente o homem e sua existencia sobre a térra seriam algo de absurdo ou destituido de explioacáo e razáo de ser?

Vé-se que o absurdo consistiría, antes, em se admitir que somente o ser humano seja marcado pela nota do absurdo no conjunto das criaturas; parece desarrazoado que, colocado no todo harmonioso do universo, o homem, e somente o ho mem, nao se beneficie da ordem que se exprime no conjunto e em cada um dos seus outros setores.

Em conclusáo: certas interrogacóes e aspiragóes espon táneas em todo homem exigem resposta. Ora, já que tal res-

posta nao é dada na vida presente por alguma das finitas

criaturas que nos cercam, há uma vida postuma, em que encontramos, sem disputa nem contestacáo, a resposta aos

mais genuinos anseios do ser humano (resposta que é indis-

sociável da fruicáo do Bem Infinito ou do Criador).

A propósito:

R.

Verneaux,

"Filosofía

do

homem".

Llvraria

Ouas

Cldades,

Sao

Paulo 1969.

"Unwandelbares Im Wandel der Zelt", herausgegebon von Hans Pfell. Band II, pp. 15-72. Aschaffenburg 1977.

PR 117/1969, pp. 372-385 (Deus existe ?); PR 118/1969, pp. 411-416 (Absuido ou Misterio?).

— 481 —

Filosofía e Historia:

urna delimitado para a filosofía da historia

Apresentamos, a seguir, o erudito estudo do Prof. Arno Wehllng,1 a quem a redacfio de PR exprime a sua gratldSo. O articulista mostra como o historiador necessariamente é levado por 8uas próprlas pesquisas a praticar urna filosofía ou urna reflexáo aprofundada sobre o misterio do humanismo. Tal reflexfio se Impfie principalmente quando as leis naturals, soclals, jurídicas, económicas se revelam imprecisas e Ineffcazes para explicar o curso da historia; é entfio que o historiador, felto filósofo, se torna mals consciente de que nem tudo se elucida por (atores puramente naturals, mas se requer a afirmac&o do Transcendental, ao qual está vinculado o misterio do homem que age na historia. •



*

Eis o .texto do Prof. Arno Wehling:

1.

O problema

O crescimento do campo teórico da Historia — como, de resto, das demais ciencias sociais — fez com que se desenvolvesse toda urna teoría e toda urna metodología da

Historia. Problemas epistemológicos e metodológicos, até há pouco relegados a segundo plano ou simplesmente nao exis tentes, passaram a ser objeto de interesse por parte do historiador. Tal ordem de preocupacóes explica-se, por um lado, pelo

crescimento do conhecimento histórico, tanto em termos hor¡zontais (novos temas ou redescobertas de temas antigos,

como a pré-história, os povos nao europeus) como em ter mos verticais (os novos ritmos temporais, com o estudo das longas duragóes ou estruturas, das medias duragóes ou con junturas e das curtas duragóes ou acontecimentos). Por

outro lado, explica-se pelo impacto das transformagoes epis temológicas — especialmente aquelas acarretadas pela Física 1Bacharel e Licenciado pela Unlversldade do Brasil. Doutor em Historia pela Universidade de SSo Paulo. Professor da Unlversidade Fe deral do Rio de Janeiro, da Unlversidade Gama Filho e da Universidade Santa Úrsula. Memoro do Instituto Histórico e Geográfico Brasilelro.

— 482 —

FILOSOFÍA E HISTORIA

35

einsteiniana —, promovendo o romplmento com as concepgóes deterministas da Física newtoniana e suas representa» góes ortodoxas do século XIX: o positivismo, o marxismo, o evolucionismo. da

Desta forma, surgiu o problema, erudito e académico, delimitacáo entre os dois campos recentemente abertos

ou ampliados — o da epistemología e o da metodología da Historia — e o campo mais antígo da filosofía da Historia. Onde estáo as fronteiras?

2.

A epistemología histórica

A epistemología histórica estuda a natureza do processo histórico. Como lembra Blanché, ela é urna das abordagens epistemológicas possíveis, á qual se acrescentam a epistemo logía direta ou intemporal, de caráter físico-matemático, e a epistemología genética, de fundo biológico.1 Questóes como a dos ritmos temporais, a da construgáo do conhecimento histórico, a do instrumental de análise do processo histórico, a da explanagáo histórica, sao problemas de natureza epistemológica na Historia. Inseparável déla é a problemática metodológica, pois de um posicionamento epistemológico fluí o criterio seletor dos métodos aplicados ao estudo do passado. Problemas de periodizagáo, de selecto e análise documental, de interdisciplina-

ridade na investigagáo, constituem por sua vez o fulcro de urna metodología da Historia.3

A epistemología e a metodología da Historia constituem,

atualmente, o arcabougo teórico do conhecimento histórico. Sao, efetivamente, os elementos que lhe dáo a necessária cientificidade: nenhum historiador — ao contrario do que ocorria há poucas geragóes — pode dispensá-los e simplesmente mergulhar de forma desordenada no empirismo da pesquisa. Tal estado de espirito reflete a descoberta de urna «Nova Historia», urna Historia em que há nao um, mas varios níveis de acontecimento num mesmo momento histórico. Ou, como situou em texto já clássico Braudel: »R. Blanché, féplstémologle, París, PUF, 1972, p. 39-41. a A. Wehllng, Os níveis da obJellvWade histórica, Rio de Janeiro, APHA, 1975, p. 20.

— 483 —

36

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 227/1978

"A prlmelra... urna Historia quase Imóvel, a do homem ñas suas relacfies com o meló que o cerca;

Abaixo

desta

Historia

...

a dos grupos e

de

acontecimentos" 3.

Terceira...

Imóvet,

grupamentos.

urna

Historia

enflm, a Historia tradicional...

3.

lentamente

ritmada,

do individuo, a Historia

A filosofía da historia

Como situar, face a tais revolugóes do pensamento his tórico, o status e o papel da Filosofía da Historia? A Filosofía da Historia é, antes de tudo, como colocou Morente, urna necessidade espiritual do homem.

Nao é urna

teorizagáo da «praxis» histórica; neste sentido as filosofías materialistas da Historia sao epistemologías e metodologías da Historia, já que buscam esclarecer os processos cognitivos de abordagem do passado, e nao urna meditagáo especula tiva sobre o destino do Homem. Necessidade espiritual que se acentúa, segundo Morente, ñas épocas de crise e que se diluí em momentos de transfor-

magóes mais lentas:

"O orgulho do homem chega ás vezes — sobretudo em épocas de próspera regularidade — ao extremo de esquecer que a suprema direcáo do transcurso histórico pertence a Deus, e acredita que a vida dos homens —' tanto a Individual como a coletlva — pode estar intelramente determinada pelas averiguacdes científicas que obtém o exercíclo metódico da razSo. Mas um dia, de repente, no horizonte sereno, aparecem

densas

nuvens

de

tormenta.

Estala

o

confuto,

sobrevém

a

crise. A vida... se faz angustiosamente problemática. As leis das cien cias sociais, moráis, jurídicas, económicas, essas lels naturais de que táo ufano se sentía o homem, revelam-se Imprecisas, ineficazes, falsas".4

Com efeito, se pensarmos ñas meditagóes de Santo Agostinho, em plena crise do século V, no Maquiavel das lutas renascentistas, em Vico ás voltas com a inquietagáo iluminista, num Hegel pós-napoleónico, em Marx contemporáneo das origens do industrialismo, em Spengler e Toynbee mar

cados pelas guerras mundiais, e no próprio Morente ao escrever essas suas «Idéias para urna filosofía da Historia da Espanha» após a guerra civil e durante a mundial, nao há como deixar de reconhecer que o trágico estimula a medita» F. Braudel, La Mediterráneo et le monde méditerranéen á l'.époque de PMlippe II, Paris, A. Colín, 1949, p. Xlll-XIV. *M. Q. Morente, Idea de la hispanidad, Madrid, Espasa Calpe, 1961, p.

131-132.

— 484 —

FILOSOFÍA E HISTORIA

,

37

gao filosófica sobre o destino temporal do homem, a Histo ria. É nestes momentos, quando as explicagóes sociais, eco nómicas, políticas parecem ao homem casuísticas, menores,

que se impóe a grande reflexáo filosófica. Ela surge, para tras dos pequeños acontecimentos críticos, na poesía de Dante e de Goethe, ou na prociamagáo de Spengler: "Haverá quem enxergue além das horas presentes, além do seu continente e do seu país, quem alongue a vista para lá do circulo estrello de suas próprlas ativídades ?" *.

Além da necessidade espiritual, a filosofía da Historia traz a marca da especulagáo filosófica. Ela nao é — episte mológica ou gnoseologicamente falando — urna atividade his tórica,

coordenada

por elementos

e categorías nascidos da

investigagáo (pesquisa pura, metodología ou teoría).

Ela uti

liza padróes, criterios e normas de origem filosófica, que se aplicam, mutatis mutandis, as demais adjetivagóes de que se

vale a meditagáo filosófica: a filosofía da natureza, a filosofía da ciencia, a filosofía da matemática, etc.

Finalmente,

a filosofía

da Historia

utiliza o conheci-

mento histórico, de preferencia naquilo que possua de «aca bado», «estáveb ou «imutável». A informagáo histórica em qualquer de seus niveis serve de referencial — daí a neces sidade do consenso historiografía) e da objetividade da infor magáo — á especulagáo filosófica. O arquetipo construido

pelo filósofo da Historia é um modelo ao qual os referenciais históricos dáo a organicidade conceitual e a viabilidade teórica.

É evidente, portante, que a «dúvida», a «tema em aberto», a questáo pouco documentada, a inferencia, nao podem ter abrigo senáo incidental e provisoriamente numa auténtica filosofía da Historia, sob pena de a mudanga posterior do referencial comprometer a solidez do edificio teórico. A Filosofía da Historia é urna meditagáo sobre o homem

no tempo, vale dizer, na Historia. Nao é, nem se propóe, urna meditagáo sobre o processo histórico em si, pois que o perpassa e ultrapassa: "Um olhar para a Historia da humanldade nos conduz ao misterio do

nosso

humanismo" °.

6 0, Spengler, Jahre der EntscheMung, Munique, Deutscher Verlag, 1961, p

21

6K, Jaspers, The orlgin and goal ol Histoiy,

1968,

p. XIII.

— 485 —

New Haven, Yale,

Á XII ASSEMBLÉIA GERAL DA FEDERADO

INTERNACIONAL DAS UNIVERSIDADES CATÓLICAS De 21 a 24 de agosto pp. teve lugar em Porto Alegre («Campus> da Pontificia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) a XII Assembléia Geral da Federagáo Internacional das Universidades Católicas (FIUC). Este organismo con grega cerca de 160 das 600 Universidades Católicas do mundo inteiro, procurando promover entre as mesmas o conhecimento mutuo e o intercambio de valores. Em Porto Alegre estavam representadas 98 Universidades ou Associacóes Uni versitarias Católicas provenientes de um total de trinta naQóes. Além do que, se assinalavam o representante do Diretor Geral da UNESCO, o do Conselho Internacional do Ensino Católico, o de «All India Association for Christian Higher Education», o da Associacáo Internacional das Universidades e outros varios, que contribuiam para abrilhantar os debates da assembléia. O tema dos estudos empreendidos tinha por título «A Universidade Católica, caminho de pluralismo cultural a ser-

vico da Igreja e da humanidades. Com outras palavras: a XII Assembléia da FIUC procurou aprofundar o papel da Universidade Católica numa sociedade em que as correntes

de cultura sao cada vez mais variegadas; estas, alias, se defrontam mesmo dentro da própria Universidade Católica. Tal tema foi previamente estudado a nivel regional (nacio nal, continental), de tal modo que cinco relatónos fóram apresentados á Assembléia: o da Europa, o da América do Norte, o da América Latina, o da India e o da Asia Sul-Este (Filipinas, Indonesia e, por extensáo, Coréia e Japáo)... Esses relatónos espelhavam bem as características culturáis das respectivas regióes e os embates que provocam ñas instituicóes de ensino superior católico: nao raro convergiam entre si, afirmando que á Universidade Católica toca a missáo de evangelizar a cultura e promover o diálogo entre a fé e a ciencia; tal tarefa, como se compreende, há de assumir notas próprias em cada regiáo ou mesmo em cada país. Nao foi possivel, nos debates, descer a pormenores muito con

cretos nem deduzir dai resolugóes de ordem precisa, visto que os membros da assembléia provinham dos mais diversos pon tos do globo e, por isto, viviam realidades muito diferentes urnas das outras. Todavía urna das metas mais consideradas nos grupos de estudos foi a constituigáo de assembléias seto-

— 486 —

XII ASSEMBLÉIA GERAL DA FIUC

39

riáis, ñas quais as Universidades Católicas poderáo discutir entre si a solucáo de problemas comuns. Como acontece em todas as assembléias internacionais, a troca pessoal de idéias é experiencias entre os participantes foi um dos grandes valo res que enriqueceram a todos. Mais de urna vez foi posta em relevo a importancia do ensino católico como fator de evangelizacáo; a presenca numerosa e significativa de Reiteres, Vice-Reitores, Decanos da India, das Filipinas, do Japáo, da Coréia, da Indonesia... dava testemunho lúcido do valor da agáo missionária empreendida em séculos passados naqueles países; a Asia, embora seja um continente preponderantemente nao cristáo, conta hoje com importante representacáo da Igreja nos diversos níveis escolares de algumas de suas grandes nacóes. Este fato estimula os educadores católicos a que prossigam a sua tarefa, certos de que os frutos da Escola Católica nem sempre sao perceptíveis de imediato, mas nao raro permanecem invisíveis ou só posteriormente se tornam patentes.

Á guisa de conclusáo, apraz-nos citar aqui as palavras com que o Presidente da FIUC, Pe. Hervé Carrier, ex-Reitor da Universidade Gregoriana de Roma, encerrava em Porto Alegre as suas reflexóes sobre a funcáo da Universidade Católica em nossos dias:

«Urna nova cultura crista chegará a tomar vulto em nossos tempos ? Qualquer que seja a resposta teórica ao problema de sabermos se pode haver urna cultura crista, todos podemos alimentar a conviccáo de que nos:a fé no Evangelho, forca sempre criadora, saberá estimular os homens atuais em sua busca da verdade e da ¡ustíca, da fraternidade e de um sentido da vida, que exige urna justificativa cabal. Em sva longo historia, será que alguma vez as Universidades Católicas tiveram responsabilidade rao pesada, táo estimuladora? Somos um fermento modesto, talvez desprezível, se considerarmos a pobreza de nossos instrumentos; todavía a causa do Evangelho, a qual nos queremos servir, torna Ilimitadas as nossas

esperancas, fundadas sobre a verdade. Henrí Marrou, o grande his toriador do Cristianismo, o afirmava na Sorbonne com audacia surpreendente — quase paulina — quando falava da 'todo-poderosa minoría decidida'. A verdade, e nao nossos fracos recursos, legitima a nossa

desmedida esperanca,

recordava

Marrou, e acrescentava :

'Também nos, crlstaos, embora indignos e pouco numerosos, podemos e devemos assümir a responsabilidade do mundo e a orientacáo da

historia. Só nos podemos dar-lhe um sentido solido ! Aqui repetiré! — 487 —

40

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 227/1978

os dizeres misterioso! que um apologista deseonhecido, no sáculo II,

proferia perante o mundo pagao : 'Numa palavra, o que a alma é

no corpo, os crístSos o sao no mundo' (epístola a Diogneto). Pala-

vras fortes demais? Muito rudes talvez, para quem fale a linguagem

do pluralismo? Por certo, sim, se quisermos entender tais dizeres como expressoes da cobica do poder ou de urna ideologia de domi nio terrestre. A mesma afirmacao, porém, terá sentido totalmente diverso, se a entendermos como expressáo das finalidades supremas do Evangelho e do absoluto da nossa esperanca.. .

A Universidade Católica alimenta um tipo de esperanca única em meio as culturas atuais e, se através do diálogo pluralista está atenta a todas as vozes dos homens, ela Ihes recordó todas as palavras do Evangelho».

Em síntese, o Pe. Carrier, interpretando auténticamente a situagáo das Universidades Católicas no mundo contempo ráneo, julga que Ihes toca incomensurável esperanza, porque

propóem aos homens a mensagem da Verdade, a qual goza de extraordinario poder persuasivo. Exercendo tal missáo, faráo jus as palavras que um autor anónimo proferia no século II: «O que a alma é no corpo, os cristáos o sao nc mundo».

Sabemos que a Verdade tem seu fulgor próprio, apto a arrebatar todo homem sincero, pois toda criatura racional foi feita para a Verdade e para o Bem. É precisamente o brilho da Verdade que explica tenha o Cristianismo obtido a

vitória sobre o Imperio Romano perseguidor nos tres primeiros séculos; sem armas nem dinheiro, a mensagem da dade do Evangelho prevaleceu sobre o poderío armado Césares, porque o atrativo da Verdade é mais forte do tudo; a Verdade é a grande resposta a que todo homem

aspira.

ver dos que reto

É a certeza disto que fundamenta a esperanga de

quem trabalha ñas Universidades Católicas.

A próxima assembléia

geral

da FIUC

terá

lugar

em

agosto/setembro de 1980, na sede da Universidade de Louvain-la-Neuve.

Estévao Bettencourt O.S.B.

— 488 —

livros em estante Hlpóteses sobre Jesús, por Vittorlo Messori. Tradugáo de Jorge Soares. — Ed. Paulinas, SSo Paulo 1978, 132 x 200 mm, 364 pp.

Els a obra de um Jornallsta que resolveu abordar as questfies funda mentáis da mensagem crista: Deus existe ? Jesús Cristo exlstlu ? Foi

mero homem ? Fol um deus da mitología ? é Deus e homem ? Qual o

ámago da mensagem crista ? Em que se diferencia de outras mensagens religiosas, como a do Islamismo e a do budismo ? A estas e outras perguntas o autor responde com raciocinios e ponderacfies acesslvels ao grande público, mostrando que realmente a mensagem crista é a de Deus feito homem para revelar aos homens o que a razfio jamáis terla atingido. Com outras palavras: V. Messori chega á conclusfio de que a mais plauslvel das hlpóteses sobre Jesús é a que a fó propóe. A razfio aconselha a apostar em favor da historicidade dos Evangelhos. Assim o livro se apresenta como valioso compendio de apologética católica, útil aos cristáos que desejem fundamentar melhor a sua fé, e também aos nSo cristáos que

estejam dlspostos a investigar sinceramente a veracidade da mensagem católica. NSo sem fundamento já conhece tal llvro dezolto edicSes e olto traducdes para llnguas estrangeiras (o original é italiano). Vem preencher

Importante lacuna em nossa bibliografía teológica brasileira.

Deus é comunhSo. O concello moderno de pessoa e a teología trl» nltárla, por Cirilo Folch Gomes O. S. B. — Roma 1978, 170 x 242 mm, 191 pp. Registramos a publlcacao deste volume, que é parte de urna tese de láurea elaborada pelo conhecido professor de Teología D. Cirilo, que, após brllhantes estudos em Roma, voltou recentemente ao Brasil. Trata-se de trabalho de alta erudlcSo, no qual o autor procura aprofundar o concelto de pessoa aplicado á SS. Trindade; a dlssertacáo significa notável marco no desenvolvimiento da teología trinitaria. Congratulamo-nos com o autor.

Cegó e sem mfios, por Jacques Lebratón. TraducSo do Pe. Mauricio Ruffier. ColecSo "Testemunhos de hoje" - 4. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1978, 140 x 210 mm, 247 pp. Jacques Lebreton nasceu em Brest (Franca) no ano de 1922. Por oca* sifio da segunda guerra mundial, allstou-se em Londres no exérclto francés da resistencia ao nacional-socialismo. Enviado para a Libia, após a batalha de ElMAIameln, urna granada explodiu-ihe ñas mfios; perdeu entSo as mSos e os olhos. A principio revoltou-se contra a nova sltuacSo, mas, após ardua luta Interior, resolveu conformar-se e mesmo tornar-se útil aos seus Irmáos. Casou-se e tornou-se pai de familia. Como tivesse um irmáo que era padre-operario, resolveu Ir morar num barraco dos suburbios de París a flm de comparlllhar a sorte dos humildes. Passou-se, porém, para o comunismo... Finalmente o contato com sacerdotes e as boas leituras o reconduziram a Igreja Católica; velo a ser fervoroso discípulo de Cristo. Tal é a narracao feita pelo próprio Lebreton nesse llvro, que vem a ser a sua quase autobiografía. Admiram-se, através dessas páginas, a fir meza de caráter do autor e a acfio da Providencia Divina, que amparou Jacques Lebreton de modo a fazer dele, mutilado e cegó, um dos grandes heróis da humanidade. Els um dos trechos fináis do livro:

— 489 —

42

«PERGUNTE K RESPONDEREMOS» 227/1978

"Senhor, eu experimente) a dor atroz de perder Juntamente as e os olhos, mas esta nada era e eu preferirla revívenla mil vezes, de prefe rencia a outra: a de perder-te novamente I Quanto me sentía envergonhado, enquanto camlnhava rumo á tua casal Outrora eu vivera debalxo do leu teto. Cedendo a urna Incompreensrvel demencia, eu atralcoara o teu afeto e o abandonara para procurar alhures a felicldade com que me cumulavas. Sédenlo de amor, ndo podías aceitar que o meu te fosse oferecldo á torca e, nao sem tristeza, sabendo bem demals o que eu la colher, delxaste-me partir. Oh I Pal, quantas decepc&es, quantas amarguras I E agora, esfaimado pela falta de ternura, eu regressava. Nao havla que temer o teu Julgamento, a tua cólera, o teu castigo ? Teda sido pura ]usllca; tudo Isso, eu merecía" (p. 246). O llvro será substancioso alimento para o espirito de quantos sofrem físicamente e julgam a vida carente de sentido. O testemunho de Lebreton mostra que pode haver enorme riqueza interior e verdadelra felicidade mesmo no contexto das deficiencias ffsicas. Estas nao sao desejávels a quem quer que seja, mas, desde que ocorram, podem vlr a ser ocasiáo de extraordinario cresclmento Interior.

Cartas de um condenado, por A. M. Lemonnler. Apresentacáo de Michel Quolst. Traducfio de María Helena Kosinskl de Cavalcanti. Colecto "Perspectivas" — 7. — Ed. Paulinas, SSo Paulo 1978, 110 x 180 mm,

146 pp.

Jacques Fesch, após duplo crlme, passou tres anos e olto meses na prlsSo da Santo em París, á espera de julgamento e condenacSo. De ateu que era, tornou-se crlstio no cárcere e morreu santamente, pela gulthotlna, a 1"?/10/1957. O Itinerario espiritual desse homem ó narrado ao vivo pelo próprlo J. Fesch em cartas dirigidas a familiares e amigos. Tais depolmentos sfio Interessantísslmos, pols vém a ser o espelho de um drama Interior, que val sendo aos poucos Iluminado e-suavizado pela entrada de Cristo e a vida de fé. Trata-se de experiencias multo pessoals e profundas, que se assemelham á do bom ladrfio do Evangelho (cf. Le 23, 40-43). A. M. Lemonnler compilou e, com as devldas licencas, publlcou tais cartas, Ilustrando-as com dados biográficos que ajudam o leltor a compreender melhor o perfil psicológico e religioso do condenado. — Este livro vem a ser, a seu modo, precioso. Servirá para aclarar o sofrlmento

de pessoas que, culpadas ou nao, se sentem desanimadas e prestes a desesperar. Será útil também, de modo geral, a todos os homens, pols n8o há quem, por um motivo ou por outro, nSo conheca o sofrlmento e nSo precise de encontrar o sentido da dor.

Eis como Jacques descreve o seu primeiro encontró com Deus: "Pouco a pouco ful obrlgado a rever meue conceltos, nSo tinha mals certeza da inexistencia de Deus, eslava Meando receptivo, sem no entanto ter fé. Tentava crer por meló da razio, sem rezar ou quase nada rezando. E depols, no flm de um ano de pilsáo, me velo urna dor afellva multo forte, da qual sofrl multo, brutalmente, e em poucas horas Uve a fé, orna certeza absoluta. Acredite! e nSo compreendla mals como tinha sido possl* vel delxar de crer. A graca me vlsilou, urna grande alegila me Invadiu e,

_ 490 —

PREZADO ASSINANTE,

NAO HA QUEM

IGNORE OS

ELEVADOS ÍNDICES DE

INFLACAO MONETARIA POR QUE PASSA O BRASIL, JA HA ANOS...

APESAR DISTO, A NOSSA REVISTA TEM

CURADO,

DE

CERTO

MODO,

IGNORAR

TAO

PRO

VIOLENTA

SUBIDA DO CUSTO DE VIDA, ELEVANDO MUITO MÓDICA MENTE O

PREOO

DE SUA ASSINATURA ANUAL

ASSIM

PROCEDEMOS PORQUE NAO TEMOS OBJETIVOS COMER CIÁIS. EIS, FORÉM, QUE NESTE MOMENTO JA NAO NOS É LICITO FECHAR OS OLHOS A REALIDADE, POIS ISTO

SERIA MORTAL PARA O NOSSO PR. TIVEMOS, POIS, QUE FAZER

UM

ORCAMENTO

MINUCIOSO

PARA 1979...

EM

CONSEQOÉNCIA, EVIDENCIOU-SE QUE, SE PR NAO QUER

SAIR DE CIRCULACAO NO PRÓXIMO ANO, DEVE COBRAR CR$ 180,00 (CENTO E OITENTA CRUZEIROS) POR ASSINA TURA ANUAL.

É O QUE LHE COMUNICAMOS, CERTOS DE SUA CAPACIDADE

DE COMPREENSAO.

COLABORACAO DE V.S.

CONTAMOS,

POIS, COM

A

E OUSAMOS AÍNDA PEDIR-LHE

QUEIRA DIFUNDIR PR, OBTENDO-NOS NOVOS ASSINANTES.

V.S. PODERA UTILIZAR O VERSO DESTA FOLHA.

GRATOS,

DIRECAO E REDACAO DE PR

AMIGO, SE ESTA REVISTA LHE É OTIL, AJUDE-NOS A DIFUNDI-LA PARA QUE OUTROS SE POSSAM DÉLA BENEFICIAR. SABEMOS QUE MUITOS PROBLEMAS SAO TAIS ÚNICAMENTE POR FALTA DE RETO EQUACIONAMENTO DOS RESPECTIVOS DADOS. QUEM CONSEGUIR CINCO ASSINATURAS NOVAS, TERA DIREITO A SEXTA ASSINATURA GRATUITA.

QUEIRA, POIS,

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FOLHA E ENVIAR-NO-LA, PREENCHIDA, COM O NUMERARIO COR RESPONDENTE. ASSINATURAS NOVAS 1)

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sobretudo, urna grande paz. Em poucos Instantes tudo ficou claro. Fol urna alegría sensivel multo forte, talvez agora tenha a tendencia de querer sen-

tl-la aínda, quando o essenclal nSo é a emocáo, mas a fe" (p. 31).

Louvado o Senhor, que, como diz S. Agostlnho, "nunca permitirla o

mal se dos males nao soubesse tirar bens aínda malores" !

O sangue pela Justlca. Pe. Joao Bosco Ponido Burnler SJ., por Pe. José Coelho de Souza S. J. — Ed. Loyola, SSo Paulo 1978, 140 x 208 mm, 251 pp.

Aos 12/10/76, morrla em Ribelrfio Bonito (MT) o Pe. JoSo Bosco Penido Burnier S. J., vltima da violencia de um soldado, que o feriu porque tentou defender mulheres pobres e Inermes torturadas pela policía. Este

duro fato despertou vivo interesse tanto no Brasil como no estrangeiro. Em conseqüéncla, o Pe. José Coelho de Souza, da mesma Companhia de Jesús, houve por bem coletar documentos, depoimentos e outros dadcs com os quals redlgiu a primelra biografía desse heról. Nascldo em 1917, JoSo Bosco entrou na Companhia em 1937, vlndo a ocupar al diversos cargos importantes: foi Secretarlo do Pe. Asslstente para a América Latina em Roma, Vlce-Provlncial, Pe. Mestre. Finalmente resolveu deixar os estudos e a vida urbana para Ir dedicar-se aos Indios de Mato Grosso, passando os dez últimos anos de sua vida como mlsslonárlo na prelazla de Diamantino. .A tarefa era ardua por causa do clima de tensóes entre fazendelros, peoes e posseiros, que disputavam as térras até mesmo dentro das reservas dos selvagens. O Pe. Joáo Bosco sustentou heroicamente a mlssSo, animado como era por ardente espirito de oracSo e por notável austerldade de vida, que o levava a renunciar freqOentemente a si em favor dos Interesses do próximo.

Parabens ao Pe. Coelho por haver compilado estes prlmelros dados biográficos, que nos permitem compreender melhor a acfio da graca em um mártir contemporáneo I

Vida depols da vida, por Dr. Raymond A. Moody Jr. — Circulo do

Llvro, SSo Paulo, sem data, 120 x 175 mm, 172 pp.

Já em PR 216/1977, pp. 501-506, comentamos o artigo de "Selecfles

do Reader's Dlgest" que condensava o conteúdo do llvro ácima registrado. Esta obra foi publicada em portugués e dlfunde-se entre os assoclados do Circulo do Llvro e seus amigos. Reproduz os depoimentos de pessoas que tocaram as ralas da morte, mas foram reatlvadas por médicos o puderam narrar o que assim julgaram experimentar. Desejamos frisar mals urna vez que se trata de testemunhos fantaslstas, que supoem os principios do espiritismo kardeclsta: o espirito vaguearla fora do corpo e assistlria do alto ás tentativas de reatlvacáo efetuadas por clínicos e especialistas; o além é descrito á semelhanca da realidade terrestre, com jardlns, tunéis, barrelras, párenles e amigos, etc. Nao haveria dlferenca de sancfio para bons e maus; um espirito de luz acolherla os desencarnados...! As questOes atinentes á morte e ao além sao das que mais despertam a curlosidade de todo ser humano. Em conseqüéncla, muitos escritores e poetas tentaram Imaginar o que sejam, apoiando-se naturalmente na figura das realidades terrestres; os conceltos de viagem, migracáo, retorno, reen

contró... sao freqüentes em tal tipo de literatura. Entende-se, pols, que certas pessoas, convidadas a descrever sua pretensa experiencia do além, o tenham feito mediante tais artificios da fantasía e da literatura. Sao dema siado antropomórflcos e puerls para poder merecer crédito. Em linguagem crista, dlr-se-la com o (Apostólo Sao Paulo: "O que o olho nao viu, o que o ouvldo nSo ouviu, o que o coracáo do homem jamáis percebeu, els o que Deus preparou para aqueles que O amam" (1Cor 2,9). O crlstáo sabe que, após a morte, encontrará sem véus nem sombras Aquele que é a Beleza infinita e cuja presenca ele já desfruta na penumbra de cada dia. Tal experiencia é inefável ou indizfvel I

E. B.

FID ELID ADE «A FIDELIDADE COMPREENDE A OBSERVANCIA DAS NORMAS

LITÚRGICAS

PROMULGADAS

PELAS AUTORIDADES ECLESIÁSTICAS.

REJEITA, POIS, O COSTUME DE INTRODUZIR NOVIDADES ARBITRA RIAS. .. OU DE RECUSAR, COM OBSTINACAO, QUANTO SE ESTA3ELECEU LEGÍTIMAMENTE COM RELACÁO AOS SAGRADOS RITOS. . . A FIDELIDADE SE REFERE TAMBEM A GRANDE DISCIPLINA DA

IGREJA... DISCIPLINA QUE NAO é DE TAL ÍNDOLE QUE DEPRIMA

OU — COMO DIZEM ALGUNS — MORTIFIQUE, MAS QUE TEM EM VISTA DEFENDER A SADIA ORGANIZACÁO DO CORPO MÍSTICO DE CRISTO, A FIM DE QUE TODOS OS MEMBROS, UNIDOS ENTRE SI, REALIZEM SUAS FUNCOES DE MODO EFICIENTE E NATURAL.

ALÉM DISTO, A FIDELIDADE EQUIVALE AO CUMPRIMENTO DAS

EXIGENCIAS DA VOCACÁO SACERDOTAL E DA VOCACÁO RELI GIOSA, DE MODO QUE SACERDOTES E RELIGIOSOS OBSERVEM

SEMPRE O QUE LIVREMENTE PROMETERAM DIANTE DE DEUS E PROCUREM MAIS E MAIS QUE A VIDA SEJA CONCEBIDA EM TODO O SEU SENTIDO SOBRENATURAL.

POR ÚLTIMO, NO QUE DIZ RESPEITO AOS FIÉIS — SEGUNDO INDICA A PROPRIA PALAVRA — CONVÉM QUE A FIDELIDADE SEJA

UMA ATITUDE QUE PROCEDA ESPONTÁNEAMENTE DA SUA CONDICÁO MESMA DE CRISTÁOS».

JOÁO PAULO

II, aos

17/10/78

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