Projeto
PERGUNTE E RESPONDEREMOS
ON-LINE Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)
APRESENTAQÁO DA EDIQÁO ON-LINE Diz Sao
Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).
Esta
necessidade de
darmos
conta da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e
'
religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante aprofundamento do nosso estudo.
um
Eis o que neste site Pergunte e
-, W_ '\ ■**
Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabalho assim como a equipe
de
Veritatis
Splendor
que
se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Estevio Bettencourt, OSB
NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e
oassamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
Sudo da revista teológico - filosófica "Pergunte_ e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de pubhcagao. A d
Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.
FILOSOFÍA
CICMCIA <
60UTDINA
MORAL
MICTÓUIA Jo
ANO XIII — N«
155
NOVEMBRO DE 1972
índice Pág. DE ENCONTRÓ EM ENCONTRÓ
477
LEMBRE-SE
479
Recuo ? Progresso ? Mal-entendido ? "PAULO VI PROIBE MULHERES DE SEREM MINISTRAS DE DEUS"?
"NOVAS LEIS DA IGREJA CASAMENTO !"
DERRUBAM
TABUS
DE
800
ANOS : 480
Há quem debata:
PROSTITUigAO LEGAL?
495
Cristianismo na Rússia:
SUBSERVIÉNCIA PARA NAO MORRER ?
510
Oposicao ao regime: A "INTELLIGENTZIA" RUSSA CONTESTA
518
LIVROS
528
NO
EM
RESENHA
PRÓXIMO
NÚMERO :
A estatura física de Jesús; como era Jesús ? Divorcio lega
lizado .pela Igreja ? Ressurreicáo logo após a morte ? «O Profeta» de Gibran. X
«PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS»
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Volumes encadernados de 1958 e 1959 (prego unitario)
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índice de qualquer ano
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LAUDES
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ADMINISTRADO Búa Sao Rafael, 38, ZC-09 20000 Rio de Janeiro (GB) Tels.: 268-9981 e 268-2796
COM APROVACAO ECLESIÁSTICA
DE
ENCONTRÓ
EM
ENCONTRÓ
"" O mes de novembro inicia-se com um olhar para p Além, pois se abre com as comemoragóes de Todos os Santos e Finados. Por que entáo nao propor aquí uma palavra sobre o que se chama «morte» ? — Morte ?... Conversa feia e tétrica !
— Longe disso. Se és cristáo, nao há morte para ti, mas apenas troca de vida. «A morte nao é senáo uma das mentiras deste mundo», dizia o grande cristáo Louis Veuillot, ao qual fez eco o P. Sertillanges: «A morte é um simples incidente de uma vida imortal». Na verdade, a morte é a consumagáo ou a plenitude do encontró do homem com Deus, encontró que se vai realizando em etapas cada vez mais pregnantes todos os días desta nossa caminhada. Dia por día, o cristáo troca de vida, dizendo Nao ao velho homem e abrindo-se conseqüentemente para a nova criatura, nele iniciada pelo Batismo e cons tantemente alimentada pela Eucaristía. Por isto puderam os mestres dizer que «somente sao dignos ás viver aqueles que nao tém medo de morrer» (Th. Roosevelt), ou ainda: «Quem ensinasse os homens a morrer, ensiná-los-ia a viver». (Mon taigne) , ou de novo : «A morte é como o verbo que as línguas germánicas colocam no fím da frase e que a ilumina toda» (A. Valensin). No Evangelho, o Senhor Jesús ilustra o que seja a morte,
recorrendo a duas metáforas: o Cristo que nos ocorrerá no
termo desta caminhada terrestre, poderá ou seja, como complemento de um amor ou também como ladráo, como intruso assusta e desinstala quem se instalou ou
ser tido como Esposo, densamente cultivado, que, em plena noite, fechou em si mesmo.
É na parábola das dez virgens (cf. Mt 25,1-13) que encon
tramos a primeira imagem. A morte ai é comparada ao en contró da esposa com o Esposo. Para o cristáo que viva em
atitude de auténtico amor, o Cristo é, sim, o Esposo ; a morte vem a ser a ruptura de véus e sombras, que cedem á plena luz e á fruigáo incontestada do TU mais nobre ou do TU divino. Ou, como diria S. Agostinho: «A morte é a companheira do amor ; é ela que abre a porta e permite chegarmos Áquele que amamos». A espasa do Cántico dos Cánticos formula uma de suas atitudes auando diz : «Eu durmo, mas o meu coraejio vigía» (Cánt 5,2). Tal é a atitude permanente do cristáo: dorme,
— 477 —
isto é, aceita a realidade e as condicóes da vida temporal, entregando-se fielmente a tudo que seja inerente á sua candieáo humana, mas guarda sempre viva a perspectiva do encontró final; jamáis se deixa absorver integralmente pelas lides da caminfhada, porque nao perde consciéncia de que estas ainda
sao aceno á eternidade.
Em outras passagens bíblicas (ct Mt 25,43; Le 12,39 ; 1 Tes 5,2.4 ; Apc 3,3 ; 16,15), a morte é insinuada como assalto violento cometido por um ladráo. Esta perspectiva é decorrente da atitude de instalacáo que o homem tome frente a Deus e aos outros homens; quem se fecha em si e se acomoda em urna praga-forte ilusoria, corre o risco de ser desacomodado e perturbado pela vinda de Cristo no fim de seus dias terrestres. A morte entáo, em vez de ser.o encontró de dois sorrisos e plenitude de vida, é decepeáo e fantasma. Donde se vé que, em última análise, é o próprio homem quem da o sentido respectivo á sua morte. Quem vive a sede do Infinito e se encaminha para Ele táo corajosa e sincera mente quanto possível, terá o Dsm Infinito ; fechará os olhos
do corpo para abrir os do espirito a visáo face-a-face. Mas
quem, embora feito para o Infinito, se feche para Ele, nao evitará esse Infinito; somente o experimentará como Grande Surpresa para a qual nao se terá preparado.
«Mas vos, irmáos, nao estáis ñas trevas para que aquele dia vos surpreenda como um ladráo... Todos vos sois filhos da luz e filhos do dia. Nao somos filhos da noite nem das tre
vas !» (1 Tes 5,4s).
É na perspectiva destas idéias que apresentamos mais este
número de PR aos nossos leitores. Possa de algum modo con correr para irradiar luz e contribuir para que caía um pouco mais do véu que encobre a face da Beleza Infinita, á qual todo
homem aspira S
E. B.
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LEMBRE-SE Se vocé está triste porque perdeu o seu amor, Lembre-se daquele que nao teve um amor para perder. Se vocé se decepciono^ com alguma coisa, Lembre-se daquele cujo nascimento já foi urna decepsao. Se vocé está cansado de trabalhar, Lembre-se daquele que, angustiado, perdeu o emprego.
Se vocé reclama de urna comida mal feita, Lembre-se daquele que morre faminto sem um pedaco de pao. Se um sonho seu foi desfeito, Lembre-se daquele que vive num pesadelo constante.
Se vocé anda aborrecido, Lembre-se daquele que espera um sorriso seu.
Se vocé teve um amor para perder,
Um trabalho para cansar-se, Um sonho desfeito, Urna tristeza para sentir. Urna comida para reclamar,...
Lembre-se de agradecer a Deus!
Porque existem muitos, Que dariam tudo para ficar no seu lugar.
(Anónimo)
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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» Ano XIII — N* 155 — Novembro de 1972
Recuo ? Progresso ? Mal-entendido ?
"Paulo VI proibe mulheres de serem
ministras de deus"?1 "novas leis da igreja derrubam tabus de 800 anos: casamento!"8 Em sfntese: O S. Padre Paulo VI, em duas Cartas Apostólicas data das de 15/VI11/72, reformou os ministerios ecleslais anexos ao sacramento
da Ordem. Foram extintas as Ordens menores do ostlarlado e do exorclstado,
ficando as funcSes de leitor e acólito com os nomes de "ministerio da Palavra" e "ministerio do altar" respectivamente. Estes dois ministerios
podem ser conferidos a cristSos lelgos, nSo destinados ao presbiterado, e devem ser entregues aos que se destlnem ás Ordens sacras do dlaconato e do presbiterado. A primeira tonsura e o subdiaconato foram supressos; ¡mediatamente antes da ordenacSo diaconal, o candidato será asslnalado por um rito próprlo de entrada no estado clerical; os candidatos cellbatárlos
receberáo a cónsagracao do celibato. Fol nesse contexto que Paulo VI declarou que as mulheres nao receberlam a Instltuicáo do leltorado e do acolitado; poderáo, porém, continuar a ler textos bíblicos e exercer outras funcfies que exerclam na liturgia da Igreja; para tanto, nño terfio titulo Jurí dico, mas a assistencla do Espirito Santo. A Igreja nSo pretende afastar as mulheres do servico de evangelizacSo e Instaurado do Reino. Ao contrario, as mulheres tóm assumldo funcSes cada vez mais vultosas na Igreja. Há quem pleltele sejam também ordenadas pelo sacramento da Ordem. Todavía diante desta perspectiva as oplnides se dlvldem : há motivos ponderáveis para se desejar que o homem e a mulher, excercendo funcSes diversas na Igreja, se complementem mutuamente. O Espirito de Cristo, que rege a Igreja, manifestará oportunamente os seus designios, caso as mulheres devam ser admitidas ao sacramento da Ordem. 1 Mánchete do "Jornal do Brasil" (Rio de Janeiro) aos 15/IX/72, p. 9.
Note-se que ao lado figurava outra mánchete, do teor segulnte: "Feministas abrem odio ao homem". Um telegrama de Nova lorque dlzla entSo: "O odio aos homens é o novo lema do Movlmento de LibertacSo Femlnlna decre tado pelo seu setor de Nova lorque durante urna reunido da qual partlciparam cerca de 200 mulheres, jovens em sua maioria".
"Mánchete do jornal "Última Hora" (Rio de Janeiro), aos 14/IX/72.
— 480 —
MULHERES E SERVIDOS NA IGREJA
6
Quanto ao celibato dos presbíteros, nio fo! abolido. Apenes fol con firmada a norma, promulgada por Paulo VI em 1967, segundo a qual podem ser admitidos ao dlaconato homens já casados; os diáconos, porém, nio ca sados ou vlúvos, nao tém autorizado para se casar.
Comentario:
O grande público no Brasil foi, em ee-
tembro pp., abalado por noticias ora «sinistras», ora «alvissareiras» : o Papa Paulo VI teria feito restricóes á participagáo da mulher nos oficios de culto católicos, entravando
iniciativas e atividades das mulheres já ocorrentes na Igreja.
O mesmo Pontífice teria derrubado tabus de 800 anos «admitindo homens casados para suprir a deficiencia de padres a partir de Janeiro de 1973» (UH). — A inquietacáo se deve, em grande parte, á maneira como as noticias foram transmitidas, pois na verdade nao houve, da parte da Santa Sé, retrocesso nem desconsideragáo frente a quem quer que seja.
O que houve, foi apenas a reformulacjío dos ministerios (servieos prestados as comunidades) da Igreja — tarefa necessária e muito desejada desde o Concilio do Vaticano n. Aos 15/VÜI/72, o S. Padre Paulo VI assinou duas «Cartas Apostólicas» J que regulamentam de novo modo o assunto: no primeiro desses documentos encontram-se duas linhas, de teor tranquilo, que infelizmente deram margem a equívocos. Eis por que, ñas páginas que se seguem, vamos expor algo sobre a reforma recém-introduzida por Paulo VI no sacramento da. Ordem e sobre o papel da mulher na Igreja de hoje.
1.
Sacramento da Ordem : como era ?
A S. Escritura menciona o ministerio sacerdotal como algo que provém de Cristo e é praticado pelos Apóstelos: esse ministerio compreende graus diversos, que, em linha ascen dente, sao o diaconato, o presbiterado, o episcopado; cf. Flp 1, 1; At 6, 1-6; 1 Tim 4, 14; S, 22; 2 Tim 1, 6. O bispo possui 1A primeira dessas Cartas cometa pelas palavras "Mlnisterla quaedam" e versa sobre a reforma das Ordens Menores. — A outra se abre com os termos "Ad pascendum", e trata do diaconato.
— 481 —
é
tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
á plenitude do sacerdocio cristáo, participando, ao máximo, do
sacerdocio de Cristo. Este é comunicado em grau inferior aos presbíteros (padres) e aos diáconos. As funcóes de servico dos diáconos foram sendo desdobradas no decorrer dos tem-
pos. Tiveram assim origem os ministerios (também ditos «Or dens») dos subdiáconos (destinados a servir aos diáconos),
acólitos (chamados a servir aos subdiáconos na liturgia), exorcistas (cuja tarefa era conjurar os demonios), leitores (chamados a ler no culto divino) e ostiarios (encarregados de abrir e fechar as portas da igreja). As Ordens inferiores ao diaconato nao sao sacramento (riáo imprimem caráter na alma), mas sacramentáis (ritos e
fungóes anexas ao sacramento da Ordem). O ostiariado, o leitorado, o exorcistado e o acolitado sao ditos «Ordens meno res». O subdiaconato, embora nao imprima caráter, é classicamente tido como «Ordem maior» no Ocidente (nao entre
qs orientáis), pois impóe a obrigagáo do celibato e do Oficio
tíivino. O diaconato, o presbiterado e o episcopado sao Ordens niaiores e constituem os tres graus propriamente ditos do sa cramento da Ordem (o qual impóe caráter, ou seja, sinete indelével na alma do ministro de Deus).
As Ordens menores sao mencionadas todas pela primeira
vez nos escritos do Papa S. Cornélio (t 253); nao sao admi
nistradas pela imposigáo das máos nem pela invocagáo do Es pirito Santo,
■ , O ingresso no estado clerical é assinalado pela cerimónia da tonsura. Esta consiste na raspagem da cabeleira do can
didato. Posteriormente a tonsura veio a ser urna coroa tra gada na cabega do clérigo e (suscetível de diversas formas. Em suma, nos últimos sáculos dava-se o seguinte: mediante um
rito denominado «Primeira Tonsura», o aspirante ao sacer docio tornava-se clérigo. Depois, gradualmente ia recebendo as Ordens menores (ostiariado, leitorado, exorcistado e aco litado) como preparagáo para o sacerdocio. A este chegava finalmente através das Ordens maiores do subdiaconato e do diaconato.
Acontece, porém, que nos tempos recentes já nao tém
grande sentido certas Ordens menores: o abrir e fechar de portas da igreja tornou-se funcáo rotineira confiada a um sa-
cristáo ou funcionario da igreja (outrora, quando havia peni
tentes públicos, as portas eram solenemente fechadas em certos momentos da liturgia por um ministro especialmente or
denado para tanto). A prática do exorcismo maior hoje em — 482 —
MULHERES E SERVIDOS NA IGREJA
dia é reservada a quem tenha especial delegagáo do hispo e só se pratica raramente. A tonsura, na medida em que sig nifica raspagem de cábelos, também carece de significado é aplicacáo. Daí a necessidade de se reformularem as Ordens sacerdotais — o que foi feito pelas duas Cartas Apostólicas» atrás mencionadas, nos seguintes termos: ,.
2.
Como fica após a reformulasao ?
Vejamos em primeiro lugar o conteúdo da Carta Apostó
lica «Ministeria quaedam». 2.1.
1.
Reforma das Ordens menores
As Ordens menores do ostiariado e do exorcistado
seráo extintas a partir de 1* de Janeiro de 1973, visto que se tornaram pouco usuais em nossos tempos.
2.
As Ordens de leitor e acólito permaneceráo todavía
com o nome de ministerios. Sao servicos a ser prestados na Igreja: ler ñas funcóes litúrgicas e acolitar no culto sagrado.
Donde os nomes respectivos: «ministerio da Palavra» e «mi nisterio do altar».
Tais ministerios poderSo ser confiados a leigos, ou seja, a
pessoas que nao aspirem á Ordem sacerdotal. Deverao ser conferidos a todos os aspirantes as Ordens sacras.
Todos os que tiverem recebido esses ministerios, deveráo exercé-los; nao seráo títulos nem meras reminiscencias do passado. 3. O leitorado e acolitado seráo conferidos por um bispo ou por um «Superior Maior» de Ordem clerical (Abade beneditino, Provincial...). Ao rito de colagáo desses ministerios
se dará o nome de «Instituicáo», e nao o de «ordenagáo».
4. As funcóes de leitor sao assim explicitadas p3la Carta «Ministeria quaedam»: "O Leitor é Instituido para a funcSo que Ihe é próprla:' ler a Palavra de Deus ñas assemblélas litúrgicas. Por Isso mesmo na Mlssa e nos demals atos sagrados, competlr-lhe-á fazer as lelturas da S. Escritura (á excecfio, porém, ■tío Evangelho); na falta do salmista, será ele também quem recitará o salmo .entre as lelturas; ademáis apresentará as IntencSes da oracSo universal dos fióla, quando nSo houver diácono ou cantor á dlsposIcSo. Cabe-lhe aínda dirigir o canto e orientar a partielpaeSo do povo fiel e Instruir os fiéis em
— 483 —
8
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 1S5/1972
vista de urna recepcSo digna dos sacramentos. Poderá, além disto, na medida em que for necessárlq, ocupar-se da preparacSo de outros fiéis, os quals, por encargo temporario, devem ler a S. Escritura nos atos sagrados" (§ V).
Quanto ao acólito, exercerá as seguintes tarefas, segun do o mesmo documento: "O acólito é instituido para ajudar o diácono e para ministrar ao sacer
dote. É sua tarefa, portento: cuidar do servlco do altar, auxiliar o diácono e o sacerdote nos atos litúrgicos, sobretodo na celebracáo da S. Mlssa; distribuir, como ministro extraordinario, a S. ComunhSo nos seguintes casos: todas as vezes qe os ministros de que se trata no can. 845 do Código de Dlrelto Ca nónico, faltarem ou nao o puderem fazer por motivo de doenca, de idade avancada ou de exigencias do ministerio pastoral; todas as vezes que o número dos fiéis que se aproximara da Sagrada Mesa, é tSo elevado que pos3a vlr a ocasionar urna demora demasiada da Mlssa. Pode-lhe ser con fiado, aínda, em circunstancias extraordinarias o expor publicamente o SS. Sacramento á adoracSo dos fiéis e depols fazer a respectiva reposicio; nSo
pode, porém, dar a béncáo ao povo. Na medida em que for necessário, po derá também cuidar da Instrugáo de outros fiéis que, por um encargo tempo rario, devem ajudar o diácono ou o sacerdote nos atos litúrgicos — transpor tando o missal, a cruz, as velas etc., ou exercendo outras funcSes deste tipo" {§ VI).
5. As Conferencias de Bispos de alguma regiáo, caso o julguem oportuno, poderáo pedir á Santa Sé a rntrodugáo de outros ministerios em seus territorios diocesanos: assim poderá haver o ministerio de catequista, de dispensador das obras de
caridáde, ñe ostiario (ou porteiro), de exorcista...
6. A ordem de subdiácono seja tida como extinta tam bém a partir de 1« de Janeiro de 1973, ficando doravante as suas funcóes a cargo dos acólitos. Donde se segué que as Ordens sacras ou o sacramento da Ordem compreenderáo ape nas os graus do diaconato, do presbiterado e do episcopado. 7.
É neste contexto que a Carta «Ministeria quaedam»
apresenta a passagem: «A instituicáo de leitor e de acólito, em confiotrmitfoíto dom a veraerável tradicáo da Igreja, é reser vada aos varees» (§ VII).
Este texto nada inova: segundo o clássico costume da Igre ja, os ministerios litúrgicos sempre foram destinados aos homens apenas (com excecáo do caso das diaconisas, de que falaremos á pg. 492). A Igreja reafirmou isto no inciso ácima, pois últimamente se tém ouvido vozes em favor da participacáo das mulheres ñas Ordens sacras ou nos ministerios eclesi ásticos; Paulo VI nao julgou oportuno por ora atender a tais solicitagóes. A rigor, as páginas bíblicas e a teología nao se opóem a que a mulher exerga ministerio ou servicos até hoje — 484 —
MULHERES E SERVIDOS NA IGREJA
9
reservados aos homens na Igreja (exporemos mais explícita mente o assunto 'as pp. 487-494 deste fascículo).
A determinagáo de Paulo VT nao excluí que as mulhe-
res continuem a exercer as fungóes de ler trechos da Biblia, comentar a S. Missa e dirigir a assembléia dos fiéis..., que últimamente elas~vém praticando. Poderáo fazé-lo tranquila mente a convite do pároco ou dos responsáveis pela liturgia de determinada coiramidade. — A diferenga em relacáo aos homens é que exerceráo essas fungóes sem instituigáo confe rida pelo bispo e sem título jurídico — o que nao quer dizer que nao teráo a assisténcia do Espirito Santo para se desem-
penhar frutuosamente de tais tarefas.
Para evitar qualquer equívoco a propósito, note-se aínda:
A Santa Sé nao pretende vedar o acesso das mulheres a fungóes de rasponsabilidade na Igreja. Ficam de pé, pois, os en cargos das Ministras da S. Eucaristía (encarregadas de distri buir a S. Comunháo), o das Religiosas postas á frente de paróquias (onde dáo todo o atendimento, menos a celebragáo da Missa, do sacramento da Confissáo e outras fungóes estritamente sacerdotais); existem também mulheres coordenadoras da catequese em paróquias ou mesmo em dioceses. Algumas fazem parte do Conselho Pastoral de determinadas dioceses. Note-se igualmente que nos últimos tempos a Santa Sé tem mais e mais solicitado a colaboragáo especial de mulheres: houve-as como observadoras no Concilio do Vaticano II, assim co mo as há em diversas comissóes internacionais constituidas pelo Vaticano para atender a assuntos do momento («Justiga e Paz», Laicato Católico...). Em 1970, o S. Padre houve por bem declarar Doutoras da Igreja as santas Teresa de Ávila .e Catarina de Sena, abrindo assim um precedente de todo iné dito na historia da Igreja. — Alias, o Papa Joáo XXm, em
sua encíclica «Pacem in terris»
(1963, n." 41-43), observava
que um dos sinais dos nossos tempos é «a entrada da mulher na vida pública, entrada mais rápida talvez entre os póvos de civilizagáo crista, mais lenta, mas sempre de modo ampio, em meio las outras tradigóes e culturas». Passemos agora a Carta Apostólica «Ad pascendum»: 2.2.
Sobre o diaconato
O diaconato sempre foi tido como ministerio de relevo na Igreja. Sao Paulo, na carta aos Filipenses, saúda nao só os bispos, mas também os diáconos (1,1), e a Timoteo descreve — 485 —
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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
solícitamente as virtudes características do diácono (cf. 1 Tim 3,8-13). Os diáconos, como diáconos, exerceram fungóes benemé ritas durante sáculos, servindo tanto ao altar como ao susten to material de seus irmáos. Na Made Media, porém, foi-se extinguindo o diaconato permanente; os diáconos eram ordenados para receber oportunamente o presbiterado. Ora o Concilio
do Vaticano n resolveu restaurar o diaconato como fomcáo per manente. Já aos 18/VI/1967 Paulo VI publicou normas rela tivas a tal Ordem, determinando, entre outras coisas, que os
candidatos ao diaconato paderiam ser escolhidos entre homens casados de bom renome; urna vez ordenado, porém, o diácono
celibatário perdería o direito de se casar; o diácono que enviuvasse, deveria abster-se de segundas nupcias. A Carta Apostó lica «Ad pascendum» de 15/VII/72 vem completar as normas anteriores nos seguintes termos: 1. Dado que foi extinta a Primeira Tonsura, cria-se um rito para a admissáo dos candidatos ao estado clerical, ou seja, ao estado dos diáconos e presbíteros.
2. Institui-se, antes da ordenacüo diaconal, um ato pú blico e ritual obligatorio para os candidatos ao diaconato nao casados: tal ato litúrgico é «a consagracáo do celibato observa do por causa do reino dos céus». A Igreja assim intenciona
dar relevo ao celibato dos ministros do altar.
3. O diaconato incardina o candidato (do clero secular) em determinada diocese. O que quer dizer: ninguém é orde nado independentemente da benevolencia e da responsabilidade de um bispo.
4. O diaconato obriga o candidato ao sacerdocio a cele
brar a Liturgia das
Horas
(antigamente
chamada «Brevia
rio»). Os diáconos permanentes sao incitados a recitar todos os dias ao menos urna parte da Liturgia das Horas a ser de terminada pela Conferencia Episcopal.
5. Os diáconos chamados ao sacerdocio nao seráo orde
nados sem ter completado primeiramente o curso de estudos definido pela Santa Sé.
Quanto aos diáconos permanentes, faráo os estudos teoló gicos programados pela Conferencia dos Bispos do respectivo
país, levando-se em conta as circunstancias próprias da regiáo. Tais programas de estudos deveráo receber a aprovagáo da S. Congregagáo para a Educacáo Católica (Roma). — 486 —
MULHERES E SERVIDOS NA IGREJA
11
Sao estas as principáis normas emanadas da S. Sé para regulamentar a ordenacáo de diáconos. As disposigóes das duas Cartas Apostólicas concernentes respectivamente aos ministerios e ao diaconato entraráo em vigor a partir de 1.» de Janeiro de 1973.
Como se vé, no documento papal referente ao diaconato nao se extingue o celibato dos presbíteros que no sáculo XII se tornou lei universal da Igreja (tabú de 800 anos?). O que se
admite, é que homens já casados recebam o diaconato; o diá
cono, porém, nao casado ou viúvo nao pode casar-se. Nesse mesmo documento nao há mengáo de ordenacjáo de mulheres, mas é mantida a praxe tradicional de reservar o sacramento da Ordem aos homens. Pergunta-se entáo: poderia um dia a Igreja vir a conferir o diaconato ou o presbiterato ás mulheres? Tenemos mulheres sacerdotizas ?
A tais perguntas nao se pode dar resposta definitiva, mas apenas sugerir dados que ajudaráo o leitor a formar seu juízo sobre o assunto. É o que vamos fazer a seguir.
3.
A mulher e a ordenac.ao sacerdotal
1. Nos últimos anos tem sido proposta ás autoridades da Igreja, com insistencia crescente, a perspectiva de se conferir a ordenagáo sacerdotal a pessoas do sexo feminino. O Sínodo Mundial dos Bispos, reunido em Roma nos meses de outubro/ novembro 1971, recebeu peticces favoráveis a essa abertura; provinham de grupos de senhoras ou de associagóes feminlnas que encontravam em numerosos livros, opúsculos, artigos e manifestos a inspiragáo para redigirem a sua argumentacáo. 2. A título de ilustracáo, pode-se citar o seguinte episo dio: em abril de 1971, os bispos do Canadá estavam reunidos em Ottawa, realizando a sua assembléia anual, quando simul táneamente na mesma cidade ocorria um Congresso das mu
lheres
da
«Canadian
Catholic Conference». Esses encontros
possibilitaram um intercambio entre bispos e senhoras sobre
o estatuto da mulher na Igreja: 65 bispos e 60 mulheres participaram das conversacóes. Estas terminaram com a apresentacáo de cinco votos aos bispos do Canadá por parte das mu lheres:
1) Declarassem os bispos, de maneira nítida e sem equí voco, que as mulheres sao, na Igreja, membros dotados dos mesmos direitos e das mesmas responsabilidades que os homens. — 487 —
f12 . - ■ ■ - «PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972 " 2) Entregássem ao próximo Sínodo dos Bispos urna peti-
gáo enérgica para que sejam abolidas todas as discriminagóes -do Direito Canónico e da Tradigáo no tocante aos direitos dos
homeris e das mulheres na Igreja.
3) Consagrassem aos ministerios da Igreja mulheres aptas , para tais fungóes. 4) Empenhassem seus melhores esforgos para que mu lheres qualificadas passassem a integrar as diversas comissóes e organizagóes de trabalho da Igreja.
5) Promulgassem disposigóes práticas para que os pres bíteros, ñas suas atitudes frente as mulheres, á sexualidade e ao casamento, reconhegam os direitos e as prerrogativas próprias da mulher. , Esses votos foram aceites pelos bispos canarienses, que ,se declararan* dispostos a representar tais aspiragóes no Síno do Mundial dos Bispos em 1971. Apenas um bispo recusou as mogóes feministas: o bispo auxiliar da eparquía ucraniana de Toronto, que afirmava ser o lar o lugar próprio da mulher. Semelhantes movimentós tém-se registrado em países da Europa setentrional. Seja mencionado añida o Concilio Pasto ral Holandés. Em Janeiro de 1970 esta assembléia se pronunciou sobre a seguinte proposigáo: «É importante que a mulher seja, sem demora, chamada a todas as fungóes eclesiais, desde que a sua nomeacáo nao acarreto dificuldades. A evolugáo dos fa-
■ tos deveria orientar-ae no sentido de que a mulher possa desempenhar todas as fungóes eclesiais, inclusive a celebragáo • da Eucaristía». Na votagáo respectiva, registraram-se: 72 vo tos- favoráveis á proposigáo (incluido o voto do, bispo D. E. Ernst, de Breda); 12 votos contrarios (entre os quais o de tres
' "bispos e o do Cardeal Alfrink); 24 abstengóes (atitude compartilhada por tres bispos).
■ :: 3; E quais seriam as razóes aduzidas em favor da ordenar.gao sacerdotal das mulheres? — Em suma, fazem apelo á nova concepgáo da mulher que as condigóes sociológicas de nossos tempos vém mais e mais incutindo. Estamos vivendo a época da emancipagáo da mu lher; a esta, pois, devem-se atribuir direitos iguais aos dos homensj por que entáo conservar as discriminagoes no setor das -fungóes eclesiásticas? Excluir destas a mulher significaría rea firmar a desconfianga na Igreja em relagáo ao sexo feminino; •Seria um antifeminismo incompreensível.
— 488 —
MÜLHERES E SERVIDOS NA IGREJA
18
Em termos positivos, há quem aponte para a profunda capacidade que a mulher tem, áe assimilar e exprimir os valores religiosos. Nao cometería injustiga o legislador que a quisesse .impedir de participar intimamente do sacerdocio que Cristo exerce mediante a -Igreja? Nao estaría defendendo um injus tificado primado ou monopolio do homem frente á mulher ? 4. A tal argumentagáo autores de nomeada respondem propondo as seguintes ponderagóes:
.
a) A Igreja nao ignora nem menospreza a igualdade de
direitos do homem e da mulher. A Biblia a incute desde a sua primeira página, quando relata a origem do homem e da mu lher (cf. Gen 1-2). Foi mesmo a Igreja que, movida pela mensagem ido Evangeího, propugnou a dignidade da mulher, vili pendiada pelo mundo pré-cristáo; de maneira especial, a Igre
ja'inspirou-se ñas páginas de S. Lucas concernentes a María
SS., Isabel, Ana a viúva, Marta e María, as mulheres que acompanhavam e sustentavam Jesús em suas viagens missianárias, as santas mulheres que prantearam Jesús ao carregar a cruz, ás mulheres «evangelistas» ou portadoras da Boa-Nova da res-
surreicáo para os Apostólos. Sao Paulo, inspirándose nos ensinamentos do Mestre, dizia: «Em Cristo nao há nem homem nem inülher» (Gal 3,28), isto é, em Cristo desaparecen! todas
as discriminacóes legalistas que poderiam vigorar outrora en tre, o homem e a mulher. É, pois, profundamente cristáo afir
mar que o homem e a mulher gozam dos mesmos direitos fun damentáis decorrentes da posse da mesma natureza humana; merecem igualmente todo o respeito que se deve ao ser hu mano como tal.
Tornados cristáos, o homem e a mulher gozam da mes:ma filiacáo divina e da mesma vocagáo á santidade. Por isto ■sao corresponsáveis na Igreja pela estensáo e consumacáo do Reino de Cristo. O Concilio do Vaticano H o reafirmou recentemente em mais de urna passagem (tenha-se em vista, por exemplo, a Constituigáo «Lumen Gentium» nn. 31-33). A Igreja também nao ignora a profunda sensibilidade re ligiosa e a imensa riqueza espiritual da mulher. Toda a histo ria da Igreja dá testemunho da luz, do amor e da santidade que ida mulher se irradiaram sobre todo o povo de Deus. Sejam lembradas de modo especial cartas figuras femininas que orien-
taram ou desencadearam movimentos ou escolas de vida e es-
piritualidade cristas através dos sáculos: S. Brígida, S. Cata-
. riña de Sena, S. Teresa de Ávila, S. Francisca de Chanta], S. Ángela Merid...
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14
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
Por conseguinte, nao é por desconhecer ou menosprezar
á índole e os predicados valiosos da muiher que a Igreja re
serva o sacramento da Ordem aos homens.
b) Acontece, porém, que a Igreja julga dever encarar a questáo á luz da Palavra de Deus, que fala através da Escritu ra e da Tradigáo crista. Ora na Escritura verifica-se que Jesús nao conferiu as mu-
Iheres o mandato que Ele conferiu aos Apostólos, embora o Senhor tivesse entre os seus seguidores xnulheres dotadas de elevados predicados. Recentemente a pastora protestante nor te-americana Elsie Gibson escreveu sobre o ministerio das mulheres ñas comunidades evangélicas dos EE. UU.: formulou
entáo a hipótese de que, entre os setenta discípulos enviados por Jesús em missáo, havia mulheres; acrescenta mesmo: «Por que nao haveria, entre eles, casáis destinados a tal tarefa ?» Esta interrogacáo parece recolocar nos tempos de Cristo as condicóes vigentes atualmente em algumas comunidades eclesiais protestantes. Na verdade, S. Lucas distingue entre as mu lheres que serviam ou ministravam a Jesús e aos doze com os seus bens, e os «discípulos», homens que haveriam de rece bar especial mandato (cf. Le 8,1-3).
Inspirando a certas mulheres que o seguissem, Jesús manifestou a intencáo de assinalar á muiher urna funcáo no desenvolvimento, da Igreja; nao pretendía confinar a muiher nos termos de sua vida particular de esposa e máe. Parece, porém, nao menos evidente que Ele quis atribuir á muiher um papel diverso do que Ele conferiu aos Apostólos, ou seja, urna fungáo distinta do ministerio sacerdotal.
c) Dirá todavía alguém: Jesús, procedendo como proce-
deu, nao fez senáo adaptar-se á mentalidade do seu tempo; deixou de atribuir as mulheres urna funcáo que naquela épo
ca teria suscitado incompreensáo, visto que os judeus nao eram prontos a aceitar a pregacáo de urna muiher. — É difícil crer que, neste particular, Jesús se tenha adaptado simplesmente aos costumes da sua gente: de maneira geral, o Senhor nao receava contrariar os preconceitos e os hábitos que lhe parecessem falhos; assim Ele se opds aos homens que, em nome das leis israelitas, queriam condenar a muiher adúltera (cf. Jo 8,3-11); defendeu María de Betania que o ungiu, mas foi cri ticada (cf. Jo 12, 7s); louvou a pecadora aroependida que mostrou mais amor do que Simáo o fariseu (cf. Le 7,36-50); fez da muiher samaritana a sua mensageira junto aos homens da aldeia (cf. Jo 4, 39-42); quando ressuscitou, manifestou-se pri— 490 —
MULHERES E SERVICOS NA IGREJA
15
meiramente a María Madalena antes de aparecer aos Apostó los e confiou & mulher o encargo de anunciar a Boa-Nova aos Apostólos (cf. Jo 20,11-18). Jesús sabia que o testemunho de
María Madalena e de suas companheiras haveria de ser tido como desvario (cf. Le 24,11); todavía conscientemente escolheu a mulher para urna funcáo que haveria de ser comemorada no Evangelho através dos seculos. — Estes dados levam a crer ¡que Jesús, rompendo com preconceitos momentáneos, quis assinalar á mulher nao um papel secundario, mas urna
fttncáo essencial na instauragáo do g»u reino. Tal funcáo, pc¿
rém, nao é o ministerio sacerdotal. Foi aos Apostólos que Jesús confiou a sua missáo e as suas facuidades: «Foi-me dado todo o poder no céu e na térra. Ide, pois, e ensinai todas as nagóes, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo; ensinai-as a cumprir tudo quanto vos tsnho mandado. E eu estarei convosco até a consumacáo dos sáculos» (cf. Mt 28,18-20). O papel atribuido ás mulheres por ocasiáo da ressurreicáo de
Cristo nao pode ser invocado para diminuir a forca destas palavras de Cristo aos Apostólos: María Madalena foi encarregada de transmitir a mensagem aos Apostólos — o que leva a crer que estes constituiam a autoridade responsável por ex celencia. d) Autoridade responsável... Esta expressáo deve ser, antes do mais, tida como sinónima de «servigo humilde e desa pegado de egoísmo». Nao se fale, pois, de superioridade dos homens em relacáo ás mulheres na edificacáo da Igreja; mas fale-se de oomptementariedade... complementariedade que supóe diversidade de funcóes.
Essa complementariedade é necessária: os Apostólos tive
ram que receber a mensagem transmitida pelas mulheres, a fim de tornar-se, por sua vez, testemunhas da ressurreicáo; as mulheres tiveram que comunicar a mensagem aos Apóstelos
para que fosse difundida com autoridade. Isto bem pode signi ficar que o ministerio sacerdotal dos homens terá sempre necessidade da mulher para cumprir a sua missáo e que a mu lher precisará sempre do ministerio dos presbíteros exerddo em nome de Cristo. Todo prurrido de vá gloria masculina se
dissipa, desde que se tenha presente tal fato: as mulheres, mais fiéis a Cristo durante a sua Paixáo, mais capazes de acolher o Ressuscitado, foram escolhidas em primeiro lugar para di fundir a Boa-Nova, Este fato ilustra a condicáo permanente do desenvolvimento da Igreja: dentro da mesma natureza hu mana fundamental do varáo e da mulher, há diversidade de — 491 —
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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 165/1972
dons (naturais e sobrenaturais) que, devidamente respeitados,
se devem exercer em complementariedade harmoniosa.
O designio de Cristo que assim se depreeride das páginas
do Evangelho, nao parece ser mera concessáo feita & menta lidade dos antigos pouco favoráyel a mulher, como notamos; Cristo contradisse a essa mentalidade sempre que julgoa opor tuno fazé-lo.
e) A Tradigáo constante da Ignsja compreendeu as intengóes de Cristo no sentido ácima. Ela atribuiu as mulheres fun-
góes ou ministerios que tiveram o nome de «diaconias»; donde se derivou o nome de «mulheres diaconisas». Tais fungóes eram:
— a instrueáo religiosa, a preparagáo dos catecúmenos para o batismo;
— a visita as mulheres enfermas, a quem as diaconisas
levavam a S. Comunháo e impunham as máos; — a assisténda as mulheres durante o batismo, a acolhida das mulheres as portas do templo sagrado; o papel de intér^ mediárias entre as demais mulheres e o bispo que se encontrassem em coloquio; — o canto litúrgico.
As diaconisas, alias, só foram instituidas ñas comunidades cristas do Oriente; nao as houve nem no Egito nem no Ocidente. Tal instituigáo foi desaparecendo do cenário da Igreja a paf¿ tír do sáculo V, pois a sua fungáo principal, que era a de pres-r tar assisténda ao batismo das mulheres, deixou de ssr necessária (o batismo foi sendo administrado por infusáo da águá so bre a pele da crianga, e nao mais por imersáo dentro da água)V
Os autores notam que o diaconato das mulheres na antigüidade poderla ser equiparado as Ordens menores dadas, du rante sáculos, aos candidatos masculinos (porteiro, leitor, exordsta, acólito). Nao equivaleria ao diaconato, que constituí
o primeiro grau do sacramento da Ordem. Os documentos da
Igreja antiga faziam questáo de distinguir claramente as fungóes das diaconisas das do ministerio sacerdotal. Assim, por exemplo, rezam as «Constituigóes Apostólicas» (séc. IV): "A dlaconisa nSo abencoa, nem realiza algo do que fazem os presbí
teros e os diáconos; mas vigía as portas e asslste aos presbíteros quando
batlzam por motivos de conveniencia" ("Epitome Constltutlonum Apostólicaruin" 19,5; ed. Funk, p. 84).
Em conseqüéncia de quanto acaba de ser dito, conduem bons autores: pbde-se hoje pensar em atribuir as mulheres-nuy — 492 —
MULHERES E SERVICOS NA IGREJA
17,
merosas e importantes fungóes na vida da Igreja; o sacramen to da Ordem, porém, fíca reservado aos homens. 5. Em última análise, é á autoridade da Igreja que com pete dirimir as dúvidas nesse setor. Desde que o Espirito faga ver á Igreja outras vias e perspectivas que nao as tradicionais
hesite campo, é céfto que o Sumo Pontífice modificará as de-
terminagóes que até agora vigoraram na Igreja e foram recen*
temente confirmadas pelas Cartas Apostólicas de 15/vm/72.
Bibliografía: J. Galot, "L'acesso della donna al mlnlsteri della Chlesa", em "La Clvllta Cattollca" 123/2926, 20/V/1972, pp. 317-329. P. R. Morettl, "II sacerdozlo e la donna", em "Consacrazlone e Ser virlo" XX, malo 1971, pp. 265-275. • - * R. van Eyden, "La femme dans les fonctlons llturglques", em "Conct-
llum" n? 72, pp. 53-76.
E. Gossmann, "La femme-prétre?", ern "Conclllum" n? 34, pp. 103112.
J. Petare, "La femme et le minlstére dans l'Église", em "Conclllum" n? 34, pp. 113-123. • J. Sonnemans, "Vers l'ordlnatlon des femmes?", em "Splrllus" 1966. pp. 403-422. ■ '
■ H. van der Meer, "Prlestertum der Frau ". Freiburg |/Br. 1963.
"La femme et le sacerdoce", em IDOC Internacional rr? 20 (15/111/1970^
pp. 49-60.
APÉNDICE Em confirmagáo do que acaba de ser exposto, traduzimos
e transcrevemos aqui a palavra do jornal do Vaticano «L'Osservatore Romano» (ed. francesa de 13/X/1972, p. 12):
ESCLARECIMENTOS A RESPEITO DO MOTU PROPRIO "MINISTERIA QUAEDAM"
Apresentando aos leitores as duas recentes Cartas Apos
tólicas "Ministeria quaedam" e "Ad pascendum",... certos órgaos da imprensa de diversos países publicaram comentarios desfavoráveis á norma n° Vil do Motu proprio "Minlsteria quaedam", ou seja, á norma que reserva aos homens a instituigao de Leitor e de Acólito.
'
— 493 —
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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
A propósito convém observar que o Motu Proprio "Minlsteria quaedam" abriu aos leigos o acesso desses ministerios que eram outrora, como Ordens menores, reservados aos clé rigos. Quanto ao exercício, por parte das mulheres, de certas funcdes na liturgia, o Motu Proprio nao tencionou inovar coisa alguma, mas manteve-se fiel ás normas vigentes até agora. De resto, nao teria sido oportuno antecipar ou julgar desde ]á o que poderá ser decidido ulteriormente depois do estudo da participagao das mulheres na vida comunitaria da Igreja; tal estudo foi desejado por alguns Bispos no decorrer do Sínodo de 1971.
é por isto... que nada impede que as mulheres continuem
a ser encarregadas de leituras públicas durante as celebracóes litúrgicas, como, alias, elas já fazem desde alguns anos, con
forme as disposicSes da "Instituigao Geral do novo Missal Romano" promulgada aos 3 de abril de 1969. Nao ó, pois, necessárlo para esse sen/ico estabelecer urna investidura for mal e canónica da parte do Bispo. Da mesma forma, em virtude das normas vigentes, os Bispos tém sempre a faculdade de pedir á Santa Sé urna autorlzagáo para que as mulheres possam, na qualidade de mi
nistros extraordinarios, distribuir a Santa Comunhao.
Eis o sentido muito preciso da norma n Vil do Proprio "Minlsteria quaedam".
— 494 —
Motu
Há quem debata:
prostituido legal?
Em sfnteae: A prostltulcfio ou a entrega que a mulher faz de si em troca de dinhelro, vem-se alastrando no mundo Inteiro. Assume mésmo for mas cada vez mals requintadas, que atlngem até pessoas de nivel social um tanto elevado. A vista do fenómeno, há quem se Ihe mostré indiferente ou mesmo quem julgue dever pleitear a sua oflclalizacfio e regulamenfacfio por parte dos governos clvls.
Na verdade, a prostitulcfio é urna aberracfio: em nfio poucos casos supSe carencia afetlva da jovem na infancia ou na adolescencia; supfie, em
outros casos, baixo nivel económico, transformacSes soclals, decadencia moral... O sexo é Inseparável do amor, que ele pode exprimir depois que o amor se tenha identificado e concretlzado num contrato de vida a dols; sexo sem amor ou fora do amor conjugal Já nfio é humano, mas algo de cegó e degradante.
Por meno da mulher a pfio com
isto a conscléncla crista preconiza o combate ás causas do fenó prostltulcfio: haja elevagfio do nivel cultural e proflsslonal da flm de que ela possa trabalhar e, conseqüentemente, ganhar seu honestldade. Haja respelto, ordem e dignldade ñas familias. Inten-
siflque-se o combate & miseria e aos tugurios ou ás favelas.
As prostitutas slo recuperávels para a socledade, desde que se Ihe* dlspensem benevolencia e paciencia. Procurem os assistentes socials compreatider a psicología de tais pessoas, a flm de ajudá-las a se firmaren) huma vida semelhante á das outras mulheres; ó preciso dizer-lhes eloqüentemente que elas tem valores e que podem ocupar lugar valioso no con» junto da socledade.
Comentario: Vai-se difundindo cada vez mais o fenómeno da prostituicáo. Numerosos inquéritos sobre a realidade e a vida das pessoas atingidas pelo fenómeno tem suscitado co mentarios e estudos diversos sobre o assunto. Há mesmo quem pleiteie a legalizacáo ou o reconhecimento dos prostíbulos e da profissáo respectiva. Ñas páginas que se seguem, procuraremos desenvolver algumas reflexóes sobre a problemática assim esboeada1. 10 leitor compreenderá que nfio será posslvel evitar certas constatacSes realistas, sem as quals a abordagem do assunto poderla ser tlda como slmplórla ou Inútil.
A propósito Já publicamos um artigo em PR 64/1963, pp. 165-172.
— 495 _
20
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» .156/1972
1.
1.
.,
•-
De que se trata propriamente ?
A palavra «prostituir» vem do verbo latino «prostítue--
re», que significa «colocar diante, expor»; déla se deriva «pros
tituta (s)» para designar as cortesas de Roma que se coloca-
vam á entrada das casas de devassidáo.
Existem muitas definigóes de «prostituigáo» tanto no Dlreitp como na Moral. Pode-se dizer que é a «entrega de si mediatite pagamento»; é úma das formas mais impressioriantes de relacionamento sexual fora do matrimonio, pois é movida, antes do mais, pela perspectiva de ganhar dinheiro. Deve-se dizer,-porém, que a responsabilidade da prostituigáo nao recaí
apenas (e nem sempre em primeiro lugar) sobre a muiheí,
mas; sim, também -sobre aqueles que exploram á mulher, co-
)nb sejam os chamados «proxenetas». Este nome, difícil de sé definhy designa a pessoa que ■•••
' — favorece ou defende a.prostituigáo de outrem; — reparte os rendimentos da prostituigáo alheia;
,", ■ — coabita com quem habitualmente se entrega á prosr
". .'-.•
tituigáo;
1 — entrava a agáo preventiva contra a prostituicáo ou a reeducagáo ,de quem desta precise.
L>..'.\ i; r:,3 -';•.«■■•
2.
.•■;'...
As formas que a prostituicáo assume, tém-se multiplU
caído: éxistem as mulheres que se colocam nás calcadas das rúas,
a,espera do «cliente», fazendo ó possível para atraí-lo, como
também há as" que se encontram em albergues e motéis como serventes; há as que, vivendo em nivel cultural um pouco superior, constituem um pequeño «estudio», tém seus te lefones e sua «agenda» com nomes e enderegos de clientes «ha bitúes»; há as que vivem em equipe com outras, servindo-se de;urna intermediaria, cuja fungáo é enviar-lhes o cliente que tenha escolhido tal ou tal mulher por causa da fotografía res pectiva. - -•.
Além das «profissionais» (de modesto e de elevado estilo), existem as ocasionáis, que procuram dissimular a sua vida pri vada, tentando nao se diferenciar das outras mulheres. Nao
poucas délas contam com um homem que as sustenta habitual;
mente, pagando-lhe as despesas e compensando-se do séu mo
do. Nao raro a mulher senté necessidade de um tal homem, que a apoie, sustente e defenda ñas «complicagóes» da vida: ela o ama e o teme ao mesmo tempo; esse homem «sustenta dor» a protege, mas também pode chegar a espancá-la. — 496 —
PROSTITUIDO LEGAL?
._
21
. Observa o Dr. Petiziol: "Ela (a prostituta) senté a necessldade de ser explorada e humllhada.
Ele (o sustentador), movido pela Imaturldade, senté a'tendencia a se pre|u*
dicara si' mesmo e a ser Iludido. A prostituta aceita com certo prazer a tira
nía «jo seu homem, que a Insulta e espanca. O relacionamento que se estabe-
lece entre os dols, toma-se posslvel pelo fato de que a agressividade sádica do sustentador encontra um terreno extremamente favorável ñas tendencias masoqulstas da prostituta... De outra parte, a HusSo de estar sendo prote
gida facilita a tendencia déla a se sacrificar pelo seu sustentador... Estar protegido significa sentlr-se amado. Na prostituta, urna tal sltüacSo enche" o seu vazlo .afetlvo" (extraído da revista francesa "Ecclesia" n? 280, julho-agosto 1972, p. 28).
" Saberse qué há verdadeiras redes de proxenetas, prosti tutas; intermediarias, donos de albergues e hoteis, que exploram á prostituigáp, fazendo déla um comercio altamente lucrativo;
müitos adquiriram, por esta via, elevadas quantias. O Rio de
Janeiro é urna das cidades do mundo mais adiantadas em próstituicáo, que ai se pratica nao somente em zonas mal freqüentadas, mas também em bairros finos: cinco orgañizacóes, com apartamentos, fichários, telefones, «madamés» na chefia res
pectiva, fundonam eficazmente na «Cidade Maravilhosa». Em Hamburgo (Alemanha), existe o «Eros-Center», onde residen) e funcionam 136 prostitutas, proporcionando ao proprietárió
da empresa ganhos notorios. Em 1948 (verdade é que já há
muito), Kinsey afirmava que 69% da populagáo masculina branca dos EE. UU. recorría as prostitutas; mas acrescentaya: «Um grande número desses machos só teve urna ou duas experiencias (com mulher) e nao mais do que 15 a 20% dentre eles só tiveram tais relagóes cinco vezes, ao máximo, por ano, no decorrer de cinco anos de sua vida» (extraído de «Ecle-
sia» n.« citado, p. ¿9).
•3. Entre as causas que motivam e favorecem a prostituicáo, podem-se apontar: a)
Fatores socio-económicos
Sabe-se que a prostituigáo se alastra quando as populacoes crescem mais rápidamente do qoie as oportunidades de
empregoou de ganha-páo. Sabe-se também que é dais classes pobres- quenprocede o maior número de prostitutas e que se en-
Ixegam ao vicio mais fácilmente as operarlas nao qualifícádas do que as qualificadas.
-:
Observa-se outrossim que a prostituigáo é estimulada pe los grandes desequilibrios sociais, como sao — 497 —
22
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
— as guerras, com as suas bruscas transformacóes eco
nómicas (inflagáo, penuria de víveres e 'habitagóes...) e sociais (destacamento de populagóes);
— as rápidas mudangas de estnituras e valores tradidonais (como se deram no Japáo, por exemplo, após a guerra
de 1939-45),.
Grande número de prostitutas vem de familias destroca
das pelos flagelos públicos; provém principalmente dos lares
onde faltou o pai e onde a instrucáo se tornou muito precaria ou mesmo nula.
Muitas vezes, jovens que deixam o torráo natal e a vida rural para ir ao encalco de emprego ñas grandes cidades, se véem vitimas da miseria e, na impossibilidade de sobreviver honestamente, passam a ganhar o pao pela prática do vicio. Da mesma forma, numerosas jovens do campo, passandq a viver ñas cidades, fácilmente se deixam arrastar pelo caminho da devassidáo. Pode-se apontar aqui no Brasil também como fator de prostituigáo a falta de legislacáo social para a categoría de empregadas domésticas. Estas, deixando o interior para trabalhar ñas grandes cidades sem garantía jurídica, sao muitas vezes sujeitag a exploracáo desumana. As novas modalidades da prostituicáo — de estilo requin tado ou de tipo ocasional — devem-se as «exigencias» da so-
ciedade de consumo: pessoas que trabalham, qiierem comple tar a sua receita mediante a entrega de si mesmas; outras, sub-
jugadas pelos padrees de vida de certos ambientes, nao reslstem aos atrativos do dinheiro, que lhes permitirá comprar roupa nova, adornos, e prover-se de certo conforto; também as máes solteiras precisam de atender, por meios extraordinarios, ao sustento de seu(s) filho(s). O uso da pilula e de outros an-
ticoncepcionais abre o caminho fácil a esse tipo de receituário económico. b)
Fatores psicológicos
Verifíca-se 'haver estnituras psicológicas que predispSem
urna mulher á prostituigáo: devem-se geralmente a carénelas afetivas que marquem a infancia e a adolescencia da pessoa.
As neuroses e o alcoolismo também desempenham papel
importante no desenvolvimento do vicio. Em bom número de casos, trata-se de mulheres oligofrénicas.
— 498 —
PROSTITUIQAO LEGAL?
23
Sao essas causas psicológicas que explicam a persistencia
do fenómeno da prostituigáo. Esta nem sempre desaparece quando a mulher é promovida j a tendencia ao vicio da prosti
tuigáo se adapta fácilmente a novas situagóes; consegue am-
bientar-se ñas estrutaras e ñas formas da sociedado que evolui. Consegue também adaptar-se á acáo da policía e á evolugáo dos seus métodos (nos países em que há repressáo poli cial) ; a policia pode desmantelar, por certo tempo, a rede da prostituigáo; mas esta se desloca e reaparece em outra parte sob novas formas.
Vejamos agora o novo enfoque do problema que se poe por parte de quem preconiza a
2.
Legitímaselo e oficializac.ao da prost¡fuie.ao
Nao faltam vozes, na opiniáo pública, que se mostram condescendentes para com o fenómeno da prostituigáo, chegando a apontar motivos para torná-lo publicamente legal. Quais seriam tais motivos?
1) Pode-se comegar por verificar que, para nao poucos homens e mulheres, a prostituigáo ainda é urna «saida» cómo da. Além das razóes económicas que inspiram essa «simpatía», existem os que julgam que a prostituigáo é urna «necessidade sedal», necessidade táo antiga quanto o mundo e que é inútil
procurar erradicar.1
De resto — há quem o diga — é inevitável haver urna categoría de mulheres sacrificadas... sacrificadas para que as
legitimas esposas possam viver tranquilas; enquanto houver prostíbulos, estará afastada, para multas esposas, a ameaga de que /seus maridos levem vida dupla ou tenham «duplo lar». Com efeito; eis o que escreve urna leitora da revista francesa «Elle» (28/K/1970): "Se eu tlvesse que me ausentar durante algum tempo, se meu marido tlvesse que ficar só durante meses, eu preferirla que freqOentasse um desses estabeleclmentos (prostíbulos) a ve-lo ladeado de urna 'amlgulnha'. Eu nSo terla ciumes por sabé-lo ñas casas de tolerancia, pols nestas nSo há amor, mas outra colsa" (testemunho extraído de "Ecclesla" rfl citado, p. 29).
•Há quem observe que Já em 600 a.C.
nas, regulamentava a prostltulc&o.
— 499 —
o legislador Sólon, de Ate
24
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
Em conseqüéncia, a tais pessoas parece normal, se nao imperioso, que se legalize a prostítuigáo, criando-se oficialmen te as casas de tolerancia. Assim se removería o quadro triste e humilhante das prostitutas de rúa: estando estas encerradas em estabelecimentos próprios, ficaria oculto algo que nao .deve ser debatido publicamente; a prostituigáo continuaria a exis tir sem inquietar ostensivamente a- vida da sodedade. Na vefdade, querer remover o fenómeno da prostituigáo significaría revolver urna ordem de coisas estabelecida e perturbar a «traii-
qüilidade» pública.
■
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Tornou-se porta-voz desse modo de pensar o deputado-prefeito de Nice (Franga), Dr. Jacques Médecin, que aos 24 de marco de 1970, em um debate sobre o turismo, manifestou o desejo de poder «reunir todas essas damas em um vasto con junta predial. «Elas ai poderiam adquirir seu apartamento ou
seu estudio; tornar-se-iam proprietárias e poderiam entregar le livremente>ao seu mister como profissionais organizadas. Elas nao ocupariam mais as calcadas... Como prefeito dacidade», dizia o Dr. Jacques Médecin, «pensó sempre no equilibrio do meu orgamento, e sei que toda transagáo deve sempre estar sujeita a taxas». Sabe-se, alias, que o Dr. Jacques Médecin, desde 1968, en-
trou em contato com os prefeitos de outras grandes cidades litoráneas da Franga, para tentar regulamentar a «nova prqfissáo». . ... 2) A posigáo de Jacques Médecin encontrou eco na Cá mara dos Deputados da Franga, onde o deputado Dr. Claude
Peyret, arauto dos interesses sanitarios e sociais da nagáo, passou a propugnar a causa da regulamentagáo: todas as casas de prostítuigáo, ditas «Clínicas sexuais», seriam administradas pe los governos municipais, que nelas colocariam os servigos de médicos e os prestimos de assistentes sociais. Desta forma se obteriam — urna solugáo para a recrudescencia das dcengas ve néreas, as quais os médicos dariam toda a atengáo; — um dique para a criminalidade. Os atentados ao pudor, as violagóes da honra da mulher e os crimes sexuais, cujo nú
mero vai crescendo, seriam coñudos mediante a intervtengáb legisladora do Estado nesse setor;
— um meio para suprimir o mister de proxeneta e de pro curar readaptar as mulheres que nao tenham «a. prostituigáo no sangue».
.
— 500 —
-••.-'
¿
PROSTITUICAO LEGAL?
'
25
O debate assim aberto-na Franga nao sé confina-a este
país apenas. Encontro'u eco nos EE. UU.,1 na Grá-Bretanha, na
Dinamarca e alhures; no Brasil, a questáo já tem sido levanta da (ef. PR 64/1963, pp. 165-172). É lógico, pois, que pergun-
temos:
..
3.
Sim ou Nao á oficializa$ao ?
,. .....
; ;
Antes do mais, faz-se mister analisar serenamente as razóes aduzidas em favor. .'C 3.1.
Sim?
a) As doencas venéreas estáo realmente emrecrudescéncio, afetando todos os países desenvolvidos: já foram declara dos 150 milhóes de casos de blenorragia, e 30 ou 35 milhoes de casos de sífilis no mundo. '-"... Todavía procurar a solugáo para este mal na oficializar Cao da prostituigáo seria simplesmente iludirle e contornar a problema. Este requer solugáo muito mais profunda e real, ou seja, o despertar da consciéncia, na sociedade, de que os desmandos eróticos ou a liberdade sexual fora do matrimonio, longe de ser benéficos ou toleráveis, sao causa de desgragas físicas e psíquicas para os individuos e as familias. Se nao to car neste ponto fundamental- será inútil qualquer programa de saneamento físico, psíquico ou social. Ademáis pode-se perguntar se nao se menosprezariam a medicina e os médicos casó
sé quísessé fazé-los servir, em- casas de prostituicáo, a ínstií
tucionalizacáo e perpetuagáo de umaprática que é aviltameri* to da mulher e alienagáo da dignidade humana. • Note-se o seguinte: em 1935, o Dr. Bizard, médico-chefe do Dispensario Policial de París, declarou que um só prostí
bulo em norte da cerca de mulheres
París, aberto oficialmente para os trabalhadores do África, era freqüentado aos sábados e domingos por 1.600 clientes, que iam procurar entre dez e quinze válidas. Donde se segué que cada urna dessas mulher
res era atingida por quarenta ou cinqüenta visitantes em cada um desses días. — Que dizer do estado de saúde de tais mu
lheres?
b) A criminalidade, longe de ser contida, seria favorecida pala oficializagáo da prostituigáo. Os prostíbulos fomehtam 'Nos
EE.UU da América,
o
Conselho Municipal de
(Nevada) deu estatuto legal á prostltulcáo em 12/XII/1970.
— 501 —
Virginia Clty
!
26
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 155/1972
o menosprezo dos valores humanos e concorrem para fomen tar o desequilibrio psíquico, donde procedem os mais variados crimes. Sao freqüentemente verificados no Brasil suicidios de prostitutas, que se langam sob os trens, cortam veias dos pul sos ou derramam gasolina no corpo, para se qossimar vivas. Isto se explica pelo fato de que a prostituta é urna pessoa ina daptada (carente de afeto desde o lar) que, mediante o exercício da prostituigáo, ainda mais inaptada as torna; a vida vem a ser-lhe intolerável, pois nao lhe oferece a realizagáo de si mesma.
c) Os atentados ao pudor, as violagóes da honra feminina e os crimes sexuais nao sao funcóes da existencia ou náo-existencia de casas de tolerancia. Na Franca, ande tais estabelecimentos sao oficialmente proibidos, o número de tais atenta dos deveria estar em aumento constante; ora as estatísticas
revelam que em 1970 houve diminuicáo em relagáo a 1969: 2572, em vez de 3699. Na Alemanha, onde as casas de tolerancia tém existencia legal, os atentados ao pudor e maltas congéneres sáú, ao menos, táo numerosos quanto na Franca. As motivagoes que levam um homem a tais desmandos nao sao as mesmas que levam a procurar urna prostituta.
d) A profissáo de proxeneta nao se extinguiría com a ofíciallzagáo da prostituigáo. Com efeito, pergunta-se: quem.recrutaria as prostitutas para as casas do Estado? Até 1946,
guando na Franga
foi abolida
a prostituigáo oficial, havia
sessenta proxenetas autorizados pela policía com o nome de «placeurs»
(colocadores).
e) A readaptagáo
social
das
prostitutas recolhidas em
casas de tolerancia estatais seria utópica. Nao se deve supor que haja «sangue de prostitutas» ou que a prostituigáo decorra de elementos congénitos em certas mulheres e ausentes em outras. As mulheres que se prostítuem, sao, em geral, recuperáveis para a sociedade; todavía só podem ser readaptadas á vida normal caso deixem o ambiente de prostituigáo que as con diciona para o vicio.
Passemos, pois, á consideragáo de 3.2.
A reposta crista
A cansciéncia crista, perante a prostítuigáo, instituciona lizada ou nao, nao pode senáo tomar atitude de repulsa pe— 502 —
SUGESTÓES LAUDES
PARA SEU BOM PRESENTE
DE NATAL Esta oferta aparece exclusivamente em
PERGUNTE E RESPONDEREMOS:
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3)
Preencha o taláo anexo e remeta-nos {unto com seu cheque.
4)
Se vocé quiser, inciua no envelope seu cartaoe ele será reme tido junto com o presente. Mas isso nao é necessário: de
qualquer forma nos diremos quem ó o ofertante, com nossos votos de Feliz Natal.
PROSTITUICAO LEGAL?
remptória, todavía sem nutrir
ádio au
27
aversáo ás vítimas
desse mal. E por qué?
1. a separagáo entre sexo e amor (amor entendido no sentido conjugal) é incompreensível para o cristáo. O sexo, na
medida em que significa entrega corpórea, nao é senáo a expressáo derradeira e definitiva do amor; por isto deve ser pre cedido pelo surto e crescimento do amor entre duas pessoas que tendem a se complementar mutuamente no plano espiritual,
afetivo e também no plano biológico, corpóreo. Por isto qual-
quer relagáo sexual fora do casamento vem a ser urna aberragáo.
2. Muito mais repelente, porém, é o comercio do sexo que se chama «prostituigáo». Esta nao pode deixar de signifi car degradagáo, bestializacáo do ser humano, pois subordina
as expressóes mais nobres do ser humano (que sao as do amor)
ao dinheiro e á especulagáo comercial; a pessoa humana se
torna assim mercadoria. A psicología ensina que a prostituigáo é inegavelmente o
mais sorrateiro dos atentados á dignidad© humana. As pessoas que se lhe entregam — geralmente pessoas pobres, desampa radas fácilmente sao levadas a se sentir táo diferentes do
comum dos moríais que chegam a ter nojo do seu tipo de vida. Quem retirasse a máscara de muita «filha do prazer», desoobri-
-la-ia frustrada e profundamente triste por nao ser senáo urna coisa entre os bragos de qualquer desconhecido.
Muito significativo é o testemunho de Simone de Beauvoir,
a insuspeita escritora francesa:
"A prostituta ó um bode expiatorio: o homem langa sobre ela a sua
torpeza e a renega. Quer esteja sob a tutela de um estatuto legal e da vigilancia policial, quer trabalhe na clandestlnldade, em todo e qualquer caso é tratada como parla... A prostituta nao lem os direltos de urna pessoa; nela se encontram si
multáneamente todas as Imagens da escravatura femlnlna" (extraído de "Deuxléme sexe").
Escravatura... Sim. A mulher se vende, deixando-se agenciar pelas leis do dinheiro e nao raro pelos interesses de um grande senhor, de tal modo que já se tem falado do «trá fico de múlheres brancas*. — 503 —
28
' ■
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
.
Gilbért Cesbron,nb seu livro «Ce que je crois», observa
o seguinte: "A dlgnldade da pessoa humana ó una e Indivlsfvel...
£ preciso que extirpemos de nos, a todo momento, todo e qualquer vestiglo-de racismo... Por exemplo, recusar e combater a prostltulcáo sob todas as suas formas, em lugar de subscrever ao folclore.qué a toma fami liar. .. Pois também a prostltulcfio repousa sobre um tipo de racismo: haverla düas ragas de mulheres — a raca a que pertence a senhora sua mfie, e"á raca da p..."
' v
3. A prostituigáo pode ser tida também como urna re quintada forma de alienasSo. Dizem com razáo bons sociólogos
que a sociedade de hoje está, a mais de um titulo, alienada,- isto
é, dependente: o dinheiro, o facilitarismo, o comodismo fazem que o homem de hoje multas vezes vilipendie os valores mais característicamente humanos. A prostituigáo da mulher pode ser, pois, encarada como sinal ou símbolo da prostituicáo'do mundo: «Cada vez que um homem ou urna mulher, no casa mento ou fora do casamento, se comporta como objeto, cada vez que os vínculos da amizade cedem á cobiga, ao dinheiro, ás facilidades, aos hábitos, há prostituigáo» (J. Sullivan, «Car je t'aime, ó éternité!»).
A prostituicáo da mulher nao é, pois, um problema de rúa, de casa, de zona apenas; é um problema de civilizagáo e dos valores do espirito. Urna civilizagáo nao tarda a se degradar desde que ela perca o respeito á mulher. É, sim, na mulher qué residem as primeiras reservas de energía da sociedade; é a mulher que forma ou plasma os primordios e principios do ho mem; é da mulher, em grande parte, que depende o surto, o nutrimento e a corroboragáo dos valores que superem o atrativo do dinheiro e do materialismo. Tais valores entram em xeque desde que se conculque a dignidade da mulher.
4. Compreende-se que a Igreja, mais de urna vez, tenha feito ouvir a sua palavra a respeito da prostituigáo. > • O Concilio do Vaticano n, por exempló, na sua Constituir gao sobre a Igreja no mundo moderno, observou o seguinte: "Tudo o que ofende a dignidade humana, como as condlgSes infra-humanas de vida,... a prostltulcfio, o mercado de mulheres e jovens e tambóm as condlcOes degradantes de trabalho,... todas estas prátlcas e outras seme-
Ihantes sfio dignas de censura. Enquanto elas degradam a cMllzacSo huma
na desonram mais os que se comportam desta manelra do que aqueles .que
padecem tais Injurias. E contradlzem sobremanera á honra do Criador"
- 504 -
PROSTITUICAO LEGAL?
2?
OS. Padre Paulo VI, em 1966, recebeu os membros da
FAI (Federagáo Abolicionista Internacional) \ aos quais apr*gantou a prostituicáo como sendo a forma mais degradante da escravátura moderna:
"A I uta na quaí vos" émpenhastes, deve nSo sementé. nSo diminuir., o seu esforco, mas prossegul-lo e Intenslflcá-lo de todos os modos; trata-se dé esforcos de formacSo e educacSo para que cada um compreenda-a par te de responsabllldade que Ihe toca nesta dolorosa situacáo... ' ■■
■
De resto, tais esforgos encontram naturalmente prdfunda ressonáncla
nos nossos contemporáneos, pols estSo na linha das conquistas que a nossa época reivindica com certo garbo... . ,'
Em que época foram os homens, mals do que hoje, senstoelr» aos direttos e á dlgnldade da pessoa humana? Em que época houve mais vozes a protestar contra a opressSo, a tomar a defesa dos fracos, a reivindicar a autonomía da pessoa humana, a condenar a exptoracSo do homem pelo homem? Mas em que setor tal exploracáo é mais evidente e mals revoltante do que nesse indigno comercio que, com dlrelto, podemos considerar como
a forma mals degradante da escravátura moderna e o opróbrlo da socledade?" ("L'Osservatore Romano", 13/V/1966).
Dé resto, nao nos podemos furtar a transcrever outróssim o depoimento do Frof, Si Hamza Boubakeur, Reitor do Instituto Mugulmano de París:
"A prostitulcio só pode existir e proliferer numa socledade desajustada, mal organizada, na qual a pessoa humana é despojada do seu valor Intrín
seco e da sua vocacüo primordial. A questio, portante, se coloca nestes ter mos : 'Será favorável ou contrario a urna socledade o fato de que, por sua pésslma organlzacSo, suas lnjusticas e por causa do primado atribuido ao
dlnhelro, ela dé orlgem e desenvoltura á prostituIcSo, a ponto de obrigar á
mulher a fazer de suas Inclinares sexuais naturais um comercio?" (extraído de "Ecclesla", n? citado na bibliografía, pp. 32s).
EStas observacóes e interrrogagóes dispensam qualquer
comentario. O fato, porém, cada vez mais flagrante da prosr tituicáo langa ,de maneira pungente a pergunta:
4.
Que fazer díante do mal ?
É utópico pretender chegar á total extincáo do doloroso fenómeno da prostituigáo. Isto contudo nao impede que se tomem medidas de profilaxia e saneamento. As sugestóes que ora
se seguem, nao pretendem esgotar o assurato, mas apenas inci tar á reflexáo.
1 Essa entldade, com sede em Qenebra (Suica), se empenha pela extln-
cao da regulamentacSo ou oficializacSo da prostitulcfio.
— 505 —
30
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 156/1972
1. Como medidas de prevengáo contra a prostituigáo, parecem merecer consideragáo:
a) A promsocáo intelectual e pwrfissional da mulhar. O feminismo exagerado é, sem dúvida, fonte de serios problemas para a própría mulher e para a sociedade. Existe, porém, urna auténtica ascensáo da mulher. Muitas e muitas das prostitutas
no Brasil sao analfabetas ou, ao menos, desprovidas de qualquer formagáo profissional; sabem que, com a sua falta de pre paro profissional, só poderiam ganhar a vida como domésticas. Nao aceitam, porém, este ganha-páo, pois aspiram ao conforto
e iks diversóes — metas que nao atingiriam mediante o trabalho honesto. Em conseqüéncia, entregam-se á prostituigáo, que é para elas manancial altamente lucrativo e até as obriga a
manter urna certa aparéncia de bsm-estar económico e social.
No afá de lucrar, há prostitutas que atendem diariamente a
trinta ou mais homens; isto, além de Ihes tirar todo pudor físi co e moral, inutiliza-as para a vida sexual normal, pois as
embrutece e insensibiliza, transformando-as em meros instru mentos físicos do prazer alhelo.
b) Renovada atenea© á infancia e a adolescencia abando
nadas ou semi-a'bandonaJdas. Tem-se verificado que, no Brasil, 50% das prostitutas sao menores entre 18 a 21 anos de idade. É indispensável que a familia oferega aos filhos um am-
bjente moralmente sadio, organizado, que conté com a presenga
assídua da genitora (a mulher que trabalha fora de casa, cuide de nao deixar totalmente os filhos sem a sua assisténcia).
Os abrigos de menores sejam regidos por normas de boa disciplina e amizade; em caso contrario, transformam-se em viveiros de futuras meretrizes. c) Assisténcia á máe solteira» O desamparo em que esta
se vé, leva-a muitas vezes a ruina moral.
d) Urbanizacáo planejada, que evite cortigos, favelas, poróes superpovoados, onde se instaura a promiscuidade de costumes.
e) Reerguimento moral da sociedade em geiral. Também os homens sao responsáveis pelas chagas da prostituicáo: uns, porque impelidos pela procura íde prazer libidinoso; outros, porque incitados pela cobiga da exploragáo comercial e do lu cro material. — 506 —
PHOSTITPICAO LEGAL?
Nao há dúvida também de que a imprensa escrita, falada
e tefevissonada, p
tro, desviados da sua auténtica finalidade, desempenham papel
de relevo na perversáo da infancia e da adolescencia. -
2.
A prostituta é recuperável para o convivio normal da
sociedade. Todavía o caminho da reeducacao é lento e exige
grande paciencia ¿tos assistentes sociais. Geralmente a prosti tuta é profundamente descrente dos homens e da sociedade; ademáis acostumou-se a ganhar muito dinheiro sem trabalhar — o que a torna instalada ou acomodada. Deve-se observar, porém, que muitas estáo profundamen
te oonstrangidas e traumatizadas no seu tipo de vida; deseja-
riam abandoná-lo caso o pudessem, todavía nao o conseguem
sem o auxilio benévolo e verdadeiramente altruista da socie
dade. Já existem casas de recuperasáo para tais pessoas, em
que se lhes procura mostrar que elas tém seu lugar na socieda de; desperte-se-lhes a consciéncia dos valores que nelas existam latentes. Tais atitudes compensaráo a carencia afetiva e os traumas profundos de que foram vítimas muitas e muitas pros
titutas na infancia ou na adolescencia. Tidas como pessoas sem
valor, elas se desvalorizaran! conscientemente; poderáo, porém, reaver-se caso se convengam de que tém valor e chances á semelhanca de outras mulheres.
A guisa de conclusáo e apéndice, publicamos a seguir o
depoimento de Micheline, que (durante dezoito anos se entregou á prostituicáp e finalmente conseguiu recuperar-se. Ninguém
mais indicado do que tal pessoa para falar sobre a psicología da prostituta.
APÉNDICE: «UM FOSSO SE ABRIU» "Como ajudar urna prostituta a salr do fosso? £ preciso dar-lhe a saber
que, quando ela o qulser, ela o poderá e nSo estará sozinha ent&o. é mlster, porém, nao dourar a pllula (pols logo a mulher desanimarla); salba ela que
nfio fol rejeltada por todos e que h¿ pessoas que nela acredltam, prontas para ajudá-la a recomecar na vida a partir da estaca zero; tornem-na consciente de que será longo, difícil, mas possfvel.
Utópico
6 utópico e Insensato erar que em qualquer momento se pode pedir a urna mulher: 'Retirare, val trabalhar... I' NSo é posslvel. Eu mesma eu nfio acredltava ñas prostitutas, nSo acredltava em mim. Lembro-me de que a — 507 —
32
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
principio cpnslderava como pessoas graciosamente iluminadas as assistentes socials que me dizlam que eu poderla llvrar-me da situagáo. Um fosso abrlu-se entre a prostituta e as outras mulheres. Temos também nos um código de honra. Pols desprezamos todos aqueles que vém ter conosco, que multas vezes nos pedem horrores e que dáo gargathadas ao ver-nos envoltas na salada. Desprezamos também essas mulheres que riem ao ver-nos na calcada em atitude de sofrlmento, mulheres que multas vezes
tém amantes para o seu prazer... Por que desojáis que sejamos tentadas a nos reunir a elas?
'
Trabalhar duramente por um día Intelro a flm de ganhar o que ganha*
mos em qulnze minutos ao prostituir-nos,... cozlnhar com pouco dlnhelro,.'...
n9o comprar aqullo que desejamos, nem mesmo aqullo de que precisamos... Por que, em nome de qué, em nome de que ética urna mulher aceitarla tais sacrificios? Em nome de que entraríamos em urna sociedade que de antemSo nos rejeita e nao eré em nos?
■ ■.
¡
Nao é posslvel pedir a urna prostituta que faga todos essea esforgos para llbertar-se do fosso, desde que ela nao tenha o desejo profundo de.p
fazer. Todavía haverá um momento em que ela há de querer mudar; en.tSo é que a sociedade Ihe deverá estar presente.
Quando urna mulher concebe o desojo de delxar a prostltuigSo, ela nSo
sabe realmente o que procura; ela quer apenas mudar, quer retomar um lugar'na sociedade. A partir desse momento, ela se encontrará a bragos com
mil diflculdades que ela Irá descobrindo aos poucos e que multas vezes'Ihe parecerSo Insuperáveis.
-
Fazer um orgamento é multo difícil para urna mulher que tertha o costume de gastar sem contar. É esta, crelo, a malor diflculdade ou, ao me nos, urna das (numeras diflculdades.
:
:
A seguir, depois que alguém tem urna lacuna de treze anos em sua
vida, reconhecamos que os lugares que Ihe s3o oferecldos süo os mals Incó modos e os menos remunerados; dal as recaldas todas.
'.
'
O mals duro, para mlm, fol acostumar-me a um horario de trabalho, a
úm salarlo de miseria. Eu nio sabia como haverla de dangar... Quando trabalhava, quería voltar ao prostíbulo. Pensava: que estou eu a fazéf aquí"? Perco o meu tempo; no prostíbulo já teria ganho tanto dinhelro... Mas, quando voltava ao prostíbulo, este nSo era a mesma coisa que antes; eu sofría, e o dlnhelro nada conseguía; entáo eu gastava tudo, e. bem depressa 1 A prostituta pensa que tudo se compra. Quando de repente ela nSo tem mals dlnhelro, sente-se perdida.
.
'
No seu verdadetro lugar
;
Só aos poucos a prostituta recoloca as coisas no seu lugar certo, le
vando em conta o Indispensávei e o vital. É o que é Indispensávei a urna
prostituta, nada tem que ver com o Indispensávei a outra mulher. Multas vezes a prostituta que está num prostíbulo, é empolgada por-déséjós que depois Ihe parecerSo fúteis. Lembro-me de ter gasto um reembolso da Segucanga Social (que me era Indispensávei para vlver I) em produtos de maquilagem e em urna copiosa refelcio. Apertel o cinto durante duas semanas. NSo pude prosseguir; recaí. •
— 508 —
PROSTITUICAO LEGAL ?
■ ■••■■• 33
Mas eu nfio sabia entáo que, desde o meu prlmelro ensato na fábrica
(donde eu logo tentel escapar, julgando que eu tlnha a chance de nao ■per. obrigada a flcar lá a vida Intelra), eu dera um passo decisivo e hada, poste riormente, voltaria a ser como fora. Mlnhas amigas da calcada levaram-me a mal esse ensalo na fábrica. Para elas, aparentemente esse passo equivalía a decadencia.
- Agora, porém, compreendo que eu representava para elas urna espe rance, e que mlnha volta á prostltulcfio era urna desfeita.
*•»■;•.
'
(a) Mlcheilne (18 anos de prostltuIgSb)'
'
Bibliografía:
1
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Cólmela, Beto Ho
rizonte 1966.
"A prostituicSo ó necessérla? Depolmentos". Ed. ClvlllzagSo Brasileira, Rio de Janeiro 1966.
Francls Mlller, "Companhelras noturnas". Ed. Adlmax. Waldyr Abreu, "O submundo da prostituido, vadlagem e jogo do bi cho", Llvrarla Freltas Bastos, Rio de Janeiro e SSo Paulo. gao".
Pedro Pernambuco Fllho, "O problema pslcopatológico da prostituíConferencia Nacional de defesa contra a sífilis. .
Lagenest e Barruel, "Lenocinio e prostltuicfio no Brasil". Ed. Agio
Rio de Janeiro.
Felipe de Miranda Rosa, "Patología Social". Zahar Editores, Rio de Ja neiro 1966. ■ . Nelson Hungría, "Comentarlos. ao Código", vol. VIII, 3» ed. Revista "Realldade", SSo Paulo, julho 1968.
•
> . Revista VEccIesla" rfl 280, ]ulllet-aoút 1972: "Le polnt sur la prostltutlpn" par Alaln Sorel e André Merlaud, pp. 18-47.
— 509 —
Cristianismo na Rússia:
subserviéncia para nao morrer?
Em elntese: Os cristfios na Rússia constltuem a Igreja ortodoxa russa cismática (separada de Roma); apenas pequeños grupos de católicos e
protestantes subslstem naquele país. A Igreja russa, para nao perecer por completo, tem-se submetldo ao governo soviético, com detrimento para o
testemunho crlstáo. Em conseqüéncla, o escritor Alexander Solschenlzyn
dlrlqiu urna carta de protesto enérgico e positivo ao Patriarca de Moscou, carta que, publicada em Paris aos 30/111/72* val retransmitida com alguns comentarios.
Coment&rio: Os cristáos na Rússia aderiram oficialmente
ao cisma proclamado por Miguel Cerulário, patriarca de Cons-
tantinopla, em 1054. Constituem urna «Igreja» separada de Ro
ma, dita «ortodoxa» e governada por ura Sínodo, á frente do qual está o Patriarca de Moscou. Existem na Rússia contem
poránea, além dos cristáos «ortodoxos», pequeños grupos de católicos e protestantes.
Após arevolugáo de 1917, a Igreja russa sofreu dura per-
séguicáo. As instituigSes cristas que ainda subsistem, estáo sú bitas a severo controle por parte do Estado; este serve-se dos elementos religiosos para promover interesses políticos, tanto
no ámbito nacional como no internacional. Registra-se, porem, nítida resistencia da «intelligentzia» (ou dos intelectuais) russa
aos procedimentos do governo, como se verá no artigo seguinte deste fascículo.
Vai a seguir, transcrita urna expressáo dessa resistencia. É urna carta do escritor Alexander Isaevic Solschenizyn ao Pa triarca Pimen, de Moscou, em que levanta veemente protesto
contra a «docilidade» com que as autoridades ortodoxas russas
se submetem ao governo. Esta carta foi transmitida de mso em máo dentro da Uniáo Soviética e publicada pelo jornal «Russkaja mysl», dos emigrantes russos residentes em París, aos 30 de margo de 1972. O texto constituí urna das pegas mais importantes do «Samizdat» ou da documentagáo que clandes tinamente passa da Rússia para o estrangeiro. — 510 —
CARTA DE SOLSCHENIZYN
85
Alexander Solscheni^yn é Premio Nobel de literatura. Pu-
blicou na Rússia a narrativa «Um dia na vida de Iva Denisovic». Cristáó convicto, recusou-se a aceitar, entre outras diretrizes
do Partido, a de escrever Deus com d minúsculo. Em conseqüéncia, nao p&de mais publicar em sua patria. As suas prodücóes ulteriores foram-dadas a lume no Ocidente europeu; dessas obras merecem destaque os romances «Agosto 1914» e «Na órbita do inferno».
O testemunho dado por Solschenizyn na carta aqui pu blicada é o de um cristáo plenamente consciente de suas res
ponsabilidades. O autor confessa-se membro fiel da Igreja or todoxa russa, que ele julga ser a herdeira das melhores tradiCóes russas e o baluarte dos valores moráis da nagáo. Rejeita, porém, os compromissos com o Estado ateu, concorrendo assim para revigorar o ánimo dos cristáos e dos grupos de cidadáos que na Rússia sofrem a pressáo do Estado. O texto abaixo fala eloqüentemente a quem o leia com atencáo. «A Pimen, Patriarca de todas as Rússias. Santidade,
O assunto de que trata esta carta pesa como urna pedra se pulcral sobre todos os fiéis ortodoxos em que aínda exista urna cen-
teina de vida, e dilacera-lhes o coracao. Todos o sabem; gritaram-no
em voz forte, e, nao obstante, todos de novo se. calaram resignadamente. A essa grande pedra sepulcral bastáva que sobreviesse um
pequeño seixo para derrubar ó muro do silencio. O pequeño seixo que deu o último impulso, foi para mim a vossa mensagem que ouvi na noite dé Natal.
Tocou-me dolorosamente a passagem em que Vos falastes dos fi lhos. (talvez pela primeira vez se fale deles a partir de tao elevada cátedra nos últimos cinqOenta anos). Exortastes os genitores a in culcar nos filhos, juntamente com o amor á patria, também o amor á Igreja (sem dúvida, também á própria fé?}, e Ihes pedistes que fortalecessem esse amor com o seu exemplo. Ao perceber esse apelo, veio-me á memoria a minha primeira infancia, na qua! presencie! mul tas celebracóes litúrgicas; tornaram-se tao vivas e puras as impres-
s5es que entáo colhi que nenhuma pedra de mó e nenhuma teoría ¡amáis conseguiram destruí-las.
Mas .que significa esse apelo? Por que dirigir esta exortacáo tao justa apenas aos emigrados russos? Por que somente os filhos des-
— 511 —
36
«PERGUNTE E BESPONDEREMOS> 155/1972
tes hdo de ser educados na fé crista? Por que só do rebanho qué está
longe acauteláis para que distinga calúnias e mentiras e se fortale¿a;
na verdade e na ¡ustica? E nos nao precisaríamos de as reconhecer"
também? E aos nossos filhos devenios ou nao devemos inculcar ó
amor á Igreja? * É verdade que Cristo mandou ir á procura da ove I ha perdida quandó as outras noventa e nove estejam em segurancá. Mas, quando as noventa e nove estao dispersas, nao se deveráo de dicar a elas os primeiros cuidados? Cristianismo agonizante?
Por que é que, quando desejo mandar batizar o meu filho na Igreja, devo apresentar o meu passaporte? Em virtude de que exigen
cias canónicas o Patriarcado de Moscou precisa de registrar os que foram batizados? 3 i maravilhosa a forca de animo desses genitores e q
sua inconsciente resistencia, em virtule das quais suportam o ^adasIramento fraicoeiro, cadastramento que fará sofram perseguicoes no
seu posto de trabalho e sejam publicamente escarnecidos pelos ignorantes.
Mas com o batismo esgotam-se as possibilidad«s de ter coragem moral; com o batismo das enancas termina a parHcipacáo dos filhos na vida da Igreja; ficam totalmente fechadas para essas enancas as
vias de acesso á educacSo da fé; nao Ihes é permitida a partidpacao ativa ñas celebracóes litúrgicas; as vezes nem podem receber a
Comunháo ou mesmo estar simplesmente presentes na lgre¡a.a N6s defraudamos os nossos filhos privando-os da experiencia irrepetível e angélicamente pura de freqüentar os oficios litúrgicos; tal experiSncía nao pode ser suprida em idade adulta; multas veces mesmo os adultos nao estao em condicSes de compreender o que perdéram. Nao é reconhecido o direito de se continuar a fé dos país; também
n8o é reconhecido o direito dos país, de educar os filhos segundo «Desde 1918 é prolblda na UniSo Soviética qualquer forma organi
zada de Instrucflo religiosa de crianzas, mesmo que se]a de carater pri vado.
'Desde 1960, para se batizar urna crlanca na Rússla Soviética, é pre
ciso que os dols genitores déem o consentlmento. As listas de atos da Igreja-
com os respectivos registros tSm de ser enviadas ás autoridades estatals. Soischenlzyn mandou batizar seus filhos com qulnze meses de Idade. *A populacSo dos tres aos dezolto anos de Idade é vedada a partid-; pacSo atlva na conflgurasSo da vida da Igreja. Tém-se verificado também novas e novas tentativas de atestar as crlancas até da partlcipasfio passlva das celebracOes litúrgicas.
— 512 —
CARTA DE SOLSCHENIZYN
37
as suas próprias conviccoes. E vos, chefes da Igreja, vos adaptáis a
esse estado de coisas e o fomentáis, descobrindo um auténtico ¿¡nal da liberdade de profissáo religiosa no falo de que somos abrigados a entregar os nossos filhos ¡ndefesos nao em maos neutras, mas ao
dominio da propaganda ateísta mais primitiva e desonesta;... fato de que os adolescentes, subtraidos ao Cristianismo para
no nao
serem por ele contaminados, nao tém opcáo para se educar moralmente senao escolher entre o manual do propagandista agitador e o Código Penal.
• : Já perdemos os últimos cinqüenta anos. Nao digo que libertemos o presente; mas, o futuro do nosso país, como havemos de salvá-lo? ... Esse futuro que. será plasmado pelas enancas de hoje? Em última análise, o verdadeiro e profundo destino do nosso país depende desta alternativa : radicar-se-á definitivamente na consciSncia do povo a eqüldade da forsa ou será que as consciencias se purificarao do. ofuscamento e de novo resplandecerá a forca da eqüidade? Sqberemos restaurar em nos ao menos alguns traeos do Cristianismo ou haveremos de perderlos por completo e nos entregaremos aos cál culos da consevacao de nos mesmos e do utilitarismo ? Conformismo na Igreja ?
■ O estudo da historia russa dos últimos sáculos nos confirma na cónsciSncia de que esta tena transcorrido de maneira incomparavelmente mais humana e harmoniosa, se a Igreja nao tivesse renunciado
á sua autonomía própria e o povo tivesse escutado a sua voz, como,
por exemplo, na Polonia. Infelizmente entre nos isto nao se dá. Infe lizmente temos perdido e perdemos sempre mais a luminosa atmos
fera moral crista na qual durante um milenio se formaram nossos costumes, nosso modo de viver, a nossa visáo do mundo, o nosso
folclore, até mesmo a denominacSo de nossa gente Krestjanín1. Es
tamos perdendo os últimos restos e características de um povo cristao. Isto tudo nao deve constituir a preocupacáo principal do patriarca russo ? A Igreja russa exprime os seus pontos de vista indignados desde que ha ¡a algum mal na África ou no Extremo Oriente; somente
sobré os males internos do nosso país é que ela absolutamente nada diz3. Por que é que da suprema autoridad» eclesiástica nos che10 autor se apolava na palavra Krestjanln, que hoje na Rússla signi fica "campones", mas etimológicamente se deriva de Chrlstlantn, crfstfio.
•■""• '0 patriarcado de Moscou toma parte Intensa na "luta em prol da paz" e professa sem reserva os objetivos da política externa soviética, no Vletnam, no próximo Oriente e nos países em desenvolvlmento. Ao contrérlo.-.nao há a mínima crítica á realídade soviética por parte das autoridades eclesiásticas.ortodoxas da Rússla.
— 513 —
-
- •
J8
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
gam encíclicas táo Iradidonalmente tranquilas ? Por que é que todos os documentos eclesiásticos sao táo otimistas como se fossém publicados em meio ao povo mais cristáo da térra? Depois de tantas encíclicas tranquilas, nao chegará talvez um dia infeliz em que riño haverá mais necessidade de as escrever? Pois nao hovera mais a quem as dirigir, visto que> estará extinto o rebanho inteiro, ficanao apenas a chancelaria do Patriarcado. ^
Já se pas&aram seis anos desde que dois estimados sacerdóteí/ Jakunin e Eschliman, dirigiram famosa carta * ao Vosso predecessor e, medíante o seu exemplo, demonstraran) que a pura chama da. fé crista em nossa patria aínda nao se extinguiu. Com muitos e persua sivos exemplos puseram em evidencia a sujeicSo voluntaria — que
chega á autodestruicáo —, á qual foi levada a Igreja russa; pediram igualmente que se Ihes indicasse o que em sua carta nao correspón-
desse a verdade. Eis, porém, que cada urna de suas palavras era verídica; nenhuma das autoridades eclesiásticas tentou refuta-loj. E como Ihes responderam ? — Da maneira mais simples « grosseira : condenaram-nos por haver dito a verdade; suspenderam-nos da celebracao do culto divino. E Vas, Patriarca, até hoje nao corrigistes este erro.
Também a terrível carta dos dóze fiéis de V¡atká ficou sem res-
posta; apenas foram sufocados os seus autores8. E o destemido arcebispo Ermogen de Kaluga foi relegado para um mosteiro, onde até ho¡e permanece. Por qué ? — Porque, aínda que tarde, se ínsurgiu contra o ateísmo amargurado, nao permitindo que as igrejas fossem fechadas e as imagens e os livros litúrgicos incendiados — falos
estes que ocorreram antes de 1964 em outras dioceses8. Já se passaram seis anos desde que tais coisas foram proclama das em alta voz; e que foi que mudou? Para cada ¡greja ainda aberta
■ Em novembro de 1965 os dols sacerdotes dlrlgiram-se ao patriarca AtekslJ e protestaram contra o que eles Julgavam ser dependencia servil do seqüentemente separacfio da Igreja e do Estado de acordó com a Conspatrlarcado de Moscou em relacao ao governo soviético. Pediram contltlcáo soviética e o Direito Canónico.
'Essa carta, asslnada por doze fiéis, foi redigida por B. V. Talantov em junho de 1966 e dirigida ao Patriarca de Moscou para denunciar arbitrariedades no fechamento de Igrejas. Talantov morreu no carcere em
Janeiro de 1971. • O arcebispo Ermogen (Golubev) foi o único prelado que abertamente reslstlu a perseguido religiosa desencadeada por Chruschtschov. Desde no
vembro de 1965, vive no mosteiro de Zlrovicy, perto de Minsk.
— 514 —
CARTA DE SOLSCHENIZYN
39
ao culto, existem vinte que foram lesadas ou destruidas e outras vinte se acham em ruinas ou profanadas. Nao há espetáculo mais dilace rador do que aqueles esqueletos, refugios de pássaros de cemitério *. Quantos sao os povoados na Rússia, dos quais a mais próxima igreja dista cem ou duzentos quilómetros? Completamente destituidas de yjrejas ficaram as nossas regioes sétentrionais, que desde a antigOÍdade sao o berso do estilo russo e, a quanto parece, constituem a mais genuína esperanca do futuro russo. Qualqxier tentativa de restaurar
a cnais modesta capelinha é, conforme as leis unilaterais da separacao3,
vedada aos fiéis atuantes, aos oferentes e aos autores de testamen tos. Quanto ao toque de sinos, nem ousamos pedir seja concedido. Mas por que foi a Rússia despojada da sua antiga beleza, e da sua melhor voz? Mas por ,que apenas falar de ¡grejas ? Entre nos
é ¡mpossível encontrar urna Biblia. A Biblia é-nos trazida de fora, como outrora os nossos pregadores no-la traziam para a regiáo do Indiglrka B.
Já se passaram seis anos, e a Igreja conseguiu obter a mínima concessáo? Como dantes, o Soviet para questoes religiosas tem em maos secretamente todos os distritos eclesiásticos, nomeia os pres
bíteros e bispos (até mesmo as pessoas mais .escandalosas a fim de que seja mais fácil zombetear e atacar a Igreja). A Igreja é dirigida de modo ditatorial pelos ateus. Coisa nunca
vista em 2.000 anos I Aos ateus é confiado também todo o controle das financas da Igreja e o uso das ofertas, isto é, daqueles centavos doados por maos devotas. De outro lado, porém, com gestos gene
rosos sao doados a fundos estranhos até cinco milhoes de rublos4, enquanto os pobres sao atestados das portas das igrejas
e urna
paróquia pobre nao tem meios para restaurar o seu teto que se ache em mau estado. Os sacerdotes nao gozam de direito algum ñas suas igrejasB; só Ihes é permitido, por ora, o exercício do culto divino j e ¡sto apenas no interior da igreja. Desde que queiram transpor o limiar da igreja para visitar um doente ou ir ao cemitério, devem pedir a autorizacáo da administracao soviética.
1 Segundo Informales de fonte ocidental, o número de Igrejas e cá pelas em 1917 era de 70.000; hoje aínda há 10.000 santuarios ortodo xos abertos na Rússia.
toda
'Trata-so da leí que separa a Igreja e o Estado e se tornou base de a campanha antl-rellglosa da
Rússia.
1 Rio e bacía homónima da Slbórla do Norte.
'O patriarcado de Moscou gasta anualmente mllhoes de rublos para o "Fundo soviético de paz" e outras Institulgóes da "luta em prol da paz". 'Desde 1961, estSo os sacerdotes afastados da dlrecSo administra tiva e económica das Igrejas; essa funcáo está a cargo de Conselhos compostos de lelgos, manipulados pelas autoridades estatals.
— 515 —
40
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
O sacrificio vence
-:.ü .1
-ii
Quais sao os argumentos que podem convencer de que a destruicao plane¡ado da alma e do corpo da Igreja «mpreendida pelos áteus é o melhor modo de conservar a Igreja em vida ? E con servó-la para quem? Certamente nao para Cristo. E conservá-la como? Com a mentira? Mas depois da mentira com que máos se há de cele brar a Eucaristía ? . •;r.-;i
Santidade,
nao
desprezeis
a minha indigna
voz.
Talvez nem
mesmo de sete em sete anos chegue aos vossos ouvidos semelhante voz. Nao nos deixeis supor, nao nos facais crer que, para os bispos da Igreja russa, a autoridade terrestre tem mais valor do que a auto-
ridade celeste e que a responsabilidade pelas coisas da térra é mais terrível do que a responsabilidade diante de Deus. Nem diante dos homens e menos ainda na oracáo é-nos lícito proceder como se os vínculos exteriores fossem mais fortes do; que o nosso espirito. Também no ¡nido da historia, a luta nao fpi fácil para o Cristianismo; nao obstante, ele resistiu e prosperou. E mostrou-nos o caminho : o sacrificio. Aquele que é despojado de todas
as posibilidades meteríais, é sempre vitorioso através do saaifício. Bem sabemos que muitos dos nossos sacerdotes e fiéis foram chamados a padecer o mesmo martirio dos primeiros séculos do Cristianismo. . Outrora os cristaos eram aHrados aos leoes; hoje se sofre á perda apenas dos bens. Nestes días em que Vos vos prostrais de ¡oelhós
diante da cruz que se ergue no centro da igr«ja *, perguntaj' ao
Senhor: qual poderia ser a finalidade de vosso servico a um povo que perdeu já'.quase por completo o espirito do Cristianismo e o estilo cristao ?
(a)
Alejander Solschenizyn
Quaresma, domingo da adoracao da Santa Cruz 12 de marco de 1972»
.
■
'No 3? domingo da Quaresma, segundo o rito bizantino, a cruz é solénemente levada ao centro da igreja e exposta a veneracáo dos fiéis.
— 516 —
if; /; yÑerii'rriesmo úma
. :"e atíastéce as máquinas qúe-^.'|
v<; ¿ompánhia que há'60'arios ^^abrem novas estradas^J;'^.^/1 ' vernacpmpanhandoio- ' *'
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1 '«.pfpgrcsso, presente em todo- /responsabilidade^aior é ,'. ^ • ^.o país (com cerca "de 3500 - \ com gente. \ , t •••■
^^■prpdütós)/;rio';carnr3o.>i: /c'': técnicas administrativas?;'''$c-p¿
g js\ v."Chegóü%á''. - íJ\ Ti»n«í»'arnn«7Aníro *Y*\m be
■,.-.•'grandeIlhlE DOuC lEZCf i i
•
i1
* **
Oposi$ao ao regime:
a "intelligentzia" russa contesta
Em símese: Homens de letras, clónelas e técnica na Rússia Soviética vfim protestando enérgicamente contra a falta de llberdade e a violadlo dos dlreltos mals elementares do homem naquele país. O "náo-conformlsmo' comeeou quando em 1956 Chruschtschov Inlclou o processo de destallnlza» efio; entño os Intelectuals do país, sem recelo, foram mostrando os abu sos do regime stallnlsta. Em 1965, deu-se novo surto de rigor Ideológico, dlante do qual a "Intelligentzia" russa nfio cedeu. Urna organlzacáo clandestina dita "Samlzdat" envía para o estrangelro noticias e documentos re
lativos á pressSo do governo soviético sobre a mentalidade dos seus cldadfios O governo russo, em conseqOSncla, tem procurado desenvolver urna política Interna "equilibrada", nfio permltlndo a restallnlzacfio do país,
mas também nfio abrlndo mSo do controle dos acontecimientos naclonals. O náo-conformlsmo dos Intelectuals causa serlo embaraco ás autoridades governamentals, pols estas preclsam dos dentistas e técnicos para promo ver o progresso Industrial e económico do país; os dentistas, porém, ale-
gam que, sem llberdade para realizar Intercambio com o estrangelro, nfio Ihes é posslvel pesquisar e trabalhar; embora esses homens de oposl-
efio dlvlrjam entre si quanto á forma de govemo ideal que a resistencia deverla Instaurar na Rússia, estáo unánimes ao pleitear auténtica democratlzacfio do país. Todavía por ora nfio se véem Indicios de que as autoridades soviéticas se tenham disposto a atender a tal reivindicedlo. Em apéndice
a este artigo, léem-se depolmentos
sobre os proces-
sos aplicados, ñas Clínicas de psiquiatría da Rússia Soviética, aos clda-
dfios que de algum modo se oponham a orlentacáo Ideológica do regime vi gente.
Comentario: Sabe-se que existe atualmente na Rússia so
viética um forte nao-conformismo frente aos rumos totalita rios e anti-religiosos do governo do país. Especialmente digno
de nota é o fato de que boa parte dos intelectuais russos (es
critores e dentistas), representando a chamada «intelligentzia», nao aceitam a pressáo governamental. Parece de importancia reconstituir o curso e as manifestagóes dessa resistencia, a fim de apreciarmos o significado dos diversos casos de oposicáo de que vem falando a imprensa no Brasil e no estrangeiro. — 518 —
: ; ;
«INTELLIGENTZIA» RUSSA CONTESTA
1.
48
Surto e desenvolvimento da resistencia
Os inicios do náo-conformismo na Rússia soviética situam-se nos tempos da destalinizagáo desencadeada por Nikita Chruschtschov ou, mais precisamente, na época da vigésima
Converigao do Partido Comunista em 1956. A ocasiáo sócio-
psicológica para o despertar de um movimento de oposigáo na Rússia foi a condenagáo oficial do stalinismo; milhares de pessoas que voltaram entáo dos campos de concentragáo, narraram os horrores da perseguigao que haviam sofrido; tais re
latos repercutiram com especial veeméncia nos escritores e li teratos russos, os quais, em virtude do abrandamento do regime, perderam o receio de explanar o assunto. Ademáis a no va geracáo, posterior a Stalin-, comegou a manifestar-se com
mais espirito critico e destemor do que os antepassados. A obra literaria que melhor expós ao público o terror do regime stalinista, é o romance de Alexandre Solschenizyn: «Um dia na vida de Iva Denisovic». Foi publicado em 1962 sob a tutela de A. T. Tuardovskij, redator-chefe da revista «Novij Mir». A fim de vencer a resistencia levantada contra a publicagáo de tal obra, foi preciso que os interessados enviassem o respectivo manus
crito a Chruschtschov; foi o Chefe de Estado mesmo quem autorizou a impressáo do livro. O romance de Solschenizyn
logrou éxito sensacional: em poucas horas haviam sido vendi
dos 100.000 exemplares — o que nao impediu que, depois da deposigáo de Chruschtechov, tenha sido proibida a venda de tal livro.
As tendencias democratizantes suscitadas por Chruschtchov despertaram nos intelectuais soviéticos a esperanga de abertura para os valores humanos propriamente ditos. Contudo essas esperangas se dissiparam quando em 1965 se deu o fim áo período de destalinizacáo e comegaram a vigorar novas
medidas repressivas. Como expressáo da nova atitude do governo, pode-se citar a condenagáo do crítico literario A. Sinjavskij e do tradutor J. Daniel em fevereiro de 1966.
Longe de se intimidar com a repressáo, os homens de le
tras do país desencadearam urna onda de protestos enderegados a magistrados e dirigentes tanto do governo como do Par tido; eram assinados nao somente por conhecidas personali dades do mundo das letras da Rússia, mas também por grupos
de escritores e artistas, que condenavam veementemente as pri-
meiras manifestagóes de urna restalinizagáo do país. Esses pro testos recorriam a argumentos de ordem jurídica contra instituigóes soviéticas e magistrados. Os cientistas e técnicos russos so— 519 —
44
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
,
lidarizaram-se com a onda de contestagá»; em Janeiro de 1968, quando foram condenados os intelectuais A. Ginsburg, J. Galanskov, A. Dobrovol'skij e V. Laschkova, 45% dos signata
rios de veemente protesto contra tal ato eram cultores das ciencias naturais. A crítica ao governo foi assumindo novos matizes: económico, social, político, ideológico, etc. A cúpula do Partido Comunista Russo, julgando perigosa
a onda contestataria, houve por bem apertar o cerco aos opo
sitores mediante duras medidas: exclusáo da corporagáo profissional ou do Partido, perda ou ameaga de penda do empre-
go, «expurgo» das redacoes de revistas, internacáo em clini cas psiquiátricas...
Sobrevieram o movimento revolucionario da Tchecoslováquia e as agitagóes de estudantes na Polonia em 1968, que provocaram recrudescencia da opressáo na Rússia:. aos 17/XÜ/70,
o jornal «Pravda» atacou o dentista A. Amalrik, que em novembro anterior fora condenado a tres anos de prisáo. Aos 18/in e 24/X de 1971, o jornal «Izvestija» dio Governo criticou a «Amnesty International», órgáo destinado a atender a presos políticos, por causa dos relatónos que tal sociedade publicou sobre a intemacáo forgada de pessoas sadias em clinicas psiquiátricas.
Nem por isto se calaram as vozes dos intelectuais. EspaIhou-se urna literatura espuria datilografada e policopiada sem autorizagáo do governo, apresentando poesías, narragóes, ensaios políticos, pegas de teatro, memorias... literatura essa que tomou o nome de «Samizdat» (editora própria). Na pri mavera de 1968, constituiu-se um Servigo de Noticias da Oposigáo com o nome de «Crónica da Atualidade», que de dois em
dois meses passou a disseminar informagóes sobre prisóes e
processos judiciários na Rússia. Em junho de 1968, foi propa gado o «memorándum» do físico atomista A. Sacharov com o título «Pensamentos sobre o progresso, a coexistencia pacifica e a liberdade espiritual». Em novembro de 1970 fundou-se o
Comité para a Defesa dos Direitos Humanos por iniciativa dos
físicos A. Sacharov, V. Chalice e A. N. Tverdochlebov. Todos
estes fatos atestam o vigor do náo-conformismo dos dentistas e técnicos soviéticos.
Além dos intelectuais soviéticos propriamente ditos, há cristáos que protestam na Rússia, seja contra a política reli giosa do governo, que quer utilizar a Igreja (ortodoxa, nao unida a Roma) em favor de seus interesses, saja contra as próprias autoridades edesiásticas ortodoxas, que se conformaram — 520 —
tINTELLIGENTZIA» RUSSA CONTESTA
45
com a opressáo governamental. Também as populacóes nao russas (ucranianos, tátaros da Criméia e outras) que se acham
sob o regime soviético, exercem resistencia contra os processos de coagáo do governo.
2.
As ¡déias mentoras da resistencia
Pergunta-se agora: quais seriam os principios inspirado res e os objetivos da oposigáo ao governo? As diversas tendencias podem
resumir-se
sob
tres
ítens: há os resistentes que professam auténtico marsdsmo-leninismo (1), os que abracam urna «Ideología crista» (2), e
os que adotam urna füosiofia liberal (3) •
1) Os auténticos marxistas-leninistas julgam que o gover
no deteriorou a ideología dos fundadores e mentores do Parti
do e exigem a volta aos principios respectivos. Em conseqüéncia, propugnam tolerancia para com os cidadáos que divergem da ideologia instaurada no país, tolerancia apregoada pe
la Constitruicáo Soviética. 2) Os resistentes de «ideología crista» desejam a aplica-
cáo da «moral crista» na vida pública. Tal expressáo nao signi
fica urna filosofía religiosa ou eclesiástica, mas urna «doutrina política» diferente.
3) Os liberáis preconizam a instauragáo, na Rússia So viética, de urna democracia de tipo ocidental. Ao lado dessas grandes direcóes da resistencia, registram-se outras, de índole mais nacionalista ou mais crista-eclesiás
tica. Pode-ss dizer, porém, que um denominador comum move as diversas correntes da oposigáo: a aspiragáo a que se instau re no país o respeito aos direitos humanos — em particular, o respeito á liberdade de expressáo, como também ao direito de procurar, receber e transmitir informagóes e idéias sem o entrave das fronteiras nacionais. Os escritores ou a «intelligentria» literaria propugnam outrossim veracidade, justiga e legalidade.
Vé-se, pois, que a oposigáo nao pratica urna estrategia definida e única. O que une os oponentes entre si, é a consciéncia de que o sistema precisa de reforma; nao pretendem, porém, ser revolucionarios ou subversivos. Ao contrario, quando respondem a processos jurídicos, os oponentes do go verno rejeitam enérgicamente a acusagáo de estarem exercen-
— 521 —
46
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
do atividades antÍH9oviéticas; apelam para a Constituigáo do
pais e para os direitos que teóricamente lhes sao reconheddos. Perante os juízes chegam a citar, de memoria, os textos de leis e de artigos da Constituigáo que favorecem a liberdade e
que evidendam a ilegalidade das perseguigóes, dos métodos policiais e dos julgamentos a que sao submetidos.
Na verdade, reza o artigo 125 da Constituicáo da Uniáo Soviética: "Em conformidade com os Interesses dos trabalhadores e para corrobo rar a ordem socialista, as leis garantem aos cldadSos da URSS a) b)
c) d)
a liberdade de palavra; a liberdade de Imprensa;
a liberdade de assocíac6es e assemblélas; a liberdade de desfiles e demonstrac8es ñas mas".
Pode-se, por fim, levantar a questáo: será que os protes
tos contra as constantes violagóes da legalidade por parte do governo nao significam, em última análise, a rejeicáo do sis tema soviético como tal (sistema sob o qual se praticam tais injusticas) ? O «Programa dos Demócratas» publicado no Oddente em 1969 insinúa claramente a condenagáo do próprio regime soviético. Este texto, alias, representaya o modo de
pensar político de pessoas procedentes das mais diversas ca rnadas sociais e das mais diferentes convicgóes filosóficas! ma terialistas e idealistas, ateus e crentes, sodalistas e natíonalistas... •
A intuigáo de que, em última análise, o protesto antigovernamental significa repulsa do próprio sovietismo preocupa
seriamente os dirigentes do país. Verdade é que a oposicáfo ainda nao constituí perigo direto para a subsisténda do regi
me, pois este ainda conta com a solidariedade da grande massa de camponeses e operarios do país. Vejamos agora
3.
A otitude atual do governo soviético
Desde 1971, o Partido Comunista da Rússia (ou, ao me
nos, a ala predominante do mesmo) tem-se oposto la onda de restalinizagáo. Na 24». Convengáo do Partido (abril de 1971), Breznev pronunciou-se contra os dois extrems: rastalinizagáo e destalinizagáo. Ao mesmo tempo, recomendou o prinrípitt do — 522 —
«INTELLIGENTZIA» RUSSA CONTESTA
47
«realismo socialista» e, indiretamente, urna politizacáo da lite ratura. Ameagou de «desprezo por parte da sociedade» aque les que ousassem «caluniar a realidade soviética». Assim o governo, frente ao náo-conformismo, procura caminhar entre «,direita» e «esquerda»; continua, porém, a exercer controle ideo lógico sobre os acontecimentos do país.
A resistencia, pelo fato de partir dos intelectuais (inclu
sive dos dentistas), causa especiáis apreensóes ao governo so viético. Este precisa dos pesquisadores e técnicos para prosse-
guir a industrializagáo e prover a economía do país. Os inte
lectuais, porém, julgam nao poder trabalhar ñas condigóes que o govemo lhes oferece. Em margo de 1970, os tres den
tistas A. Sacharov, V. F. Turcin e Z. V. Medvedev dirigiram um apelo programático e moderado á cúpula do Partido Comu nista; nesse documento acusavam o sistema vigente de ser responsável pela estagnagáo económica do país e pelo recuo da técnica nacional comparada á dos paises industrializados do Oddente. Lembravam que, sem liberdade de informagáo, discussáo e pensamento, sem contatos internacionais e sem suspensáo da censura, se tornam impossíveis os progressos da dénda e da técnica. Um boletim publicado em favor dos direitbs humanos dizia: «O progresso científico e industrial exige elevado grau de liberdade criativa, a qual nao pode ser sepa rada das outras formas de liberdade do homem».
Tal atitude dos intelectuais coloca o
diante de importante alternativa:
governo soviético
ou proceder com toda a severidade contra os intelec tuais (cientistas, técnicos e escritores) da oposigáo — o que redundaría em diminuigáo do ritmo de progresso industrial do país e incapaddade de fazer concorréncia aos demais povos prodütores,
— ou permitir cautelosa e gradativa abertura do sistema político e social da Russia na diregáo de auna democratízagáo do país..
Leve-se em conta aínda que a insuficiencia da produgáo e do reabastecimento da populagáo poderia agravar a insatisfagáo existente em certos setores do povo. As agitagóes dos operarios da Polonia em dezembro de 1970 serviram de sinal e alarme para os regimes soviéticos. Por ora a resposta do governo russo aos intelectuais (com bate ao estalinismo, sem suspensáo, porém, de controle e cen sura) nao logrou satisfazer aos oponentes: ao contrario, tem — 523 —
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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 156/1972
acirrado a resisténtía. Eis por que o governo soviético leva a serio a oposigáo. Esta parece que só recuará diante de autén tica democratizagáo do país. Por enquanto, porém, nao se véem sinais de ponderável abrandamento do regime instaurado na URSS. As noticias deste artigo foram colhldas numa resentía devlda a L.S.
Maslov e, com o titulo "Nonkonformismus In der Sowjetunlon"» publicada em "Herder Korrespondenz" H. 2, Februar 1972, pp, pp. 66-69.
O mesmo periódico "Herder Korrespondenz" apresenta ou'tras noticias
concernentes á contestado pratlcada por intelectuals russos. Vejam-se os números de fevereiro 1S68, p. 98; malo 1968, pp. 210-212. 244; junho 1968, pp 263-265; novembro 1968, p. 545; agosto 1970, pp. 370-374; Janeiro 1971, p. 53; agosto 1971, pp. 374-378.
Merece atencSo também o estudo de André Martín, em "Études" no
vembro 1971, pp.
483-514, publicado com o titulo "Enterres vivants...".
APÉNDICE Á guisa de complemento e ilustragáo de quanto acabamos
de dizer, váo transcritos aqui alguns documentos fornecidos pe lo «Samizdat» concernentes as Clínicas psiquiátricas em que os «carrascos de avental branco» se encarregam de punir as pessoas recalcitrantes á ideología do regime soviético. 1) Diz, por exemplo, a «Crónica» de junho 1970: «Os
cidodñoi
nao integrado» no» quadroi da política soviética sSo íntermentáis e moscno com loucot furiosos. Se nao cedem a le recusam a renunciar oí suas convicfSes, sao submefidos a verdadeira» torturas físicasi tn¡etam-se-lhes doses macísas de aminatina e de sulfaslna, que causafn choques depressivos e graves reacSes no plano físico. A sulfasina faz subir a temperatura a 4O'¡ provoca extremo enfraqueeiraonto, reumatismo ñas articulacSes, violentas dores nado» com oí doenle»
de cobija e dores nos lugares em que as InjojSoi foram dadas. Habllualmenle, essas
¡njocSes sao aplicadas em casos extremos, ou ie|a, nos pacientes de laucura furiosa. As in]e(8es intramusculares de aminasina... provocam dolorosos abcessos, que 4 pre ciso eliminar com bisturí mediante !nterven;5es cl/urajcas. Quando o 'enfermo' nao é dócil, os enfermeiros o onvolvem, da cabe;a aos pos, com faixas molhadas e as apertam tanto que o infeliz nao consegue respirar. Quando as foixas comeqom a secar, as dores se lornam instiportdveis. Um enfermeiro controla o pulso do prisioneiro para afrouxar o aperto antes que o paciente sucumba.
A guisa de represalia, os internados recalcitrantes sao amarrados ao lelto ¿'urania- tris diai consecutivos. Nenhum cuidado sanitario Ihes e ministrado. O infeliz nao tem o direíto de ir aos
banheiros e fica jazendo nos
seus excrementos».
2) VlaitBmir Guerchoun refere-se as condigóes de vida na Clínica-Penitenciaria de Orel. Tal prisioneiro, nascido em 1930, — 524 —
«INTELLIGENTZIA» RUSSA CONTESTA
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era pedreiro; foi detído por causa de panfletos publicados em París pelo Comité dos Direitos do Homem e encontrados em poder de Vladimir. Este cidadáo nao negou haver assinado outros apelos contra a injustiga dirigidos a Organismos internacionais defensores dos Direitos do Homem. O Instituto Serbsky" diágnosticou nesse- cidadáo urna «esquizofrenia cró
nica»; pelo que foi internado em Clínica Psiquiátrica, onde escreveu o seu jornal, de que váo extraídos aqui alguns trechos: 9 de mar(0.
Declarom-nos que as carta» doravante só («rao despachada*
dual vetes por mis. É exatamente o mesrao que se dá na
prísáo de Boutyrka.
No dia 27 de fevereiro, chegou um combólo regular proveniente de Boutyrkaj as celas (do prisioneiros) estao superloladasi há memo sele, olio pessoas em cada cela de 16 x 17 m'j o que redunda em 2 m* por pessaa. Alias, essa é a norma. Nao há como mexer-se. Só é possível circular nos corredores em caso de extrema necessidadei ir ao WC, apanhar prodgtot farmacéuticos da enfermarla, fumar ñas retiradas. As retiradas aquí sao urna auténtica cloaca (qualro buracas e dúos torneiras para 54 pessoas} ¡ lembram muito os retiradas das eslacSes fer roviarias, no pior sentido da palavra. Menos da melade de todos os doentes trabalham na confeceáo de redes — trabalho este que carece, por completo, de dina mismo. Passeio: urna hora em pequeños patios, muilo menores do que em Boetyrka. Ñas cetas, nao há um biombo i só se pode oscrevjr sentado no
A
luz é deficiente.
10 de marco. Comunicaram-nos que serao confiscados todos os lápit e esferográficas, as quais só nos serao fornecidos para necessidades precisast escrever car tas... Aos poucos, «ludo entra em ordem>, e essa ordem será semelhante a de
Tcherniakhovsk, mas
multiplicada ulteriormente peta tradicáo
da Cintra!
de
Orel.
Como nos tratam? — A mínima frase imprudente dita ao medico ou a enfer mera pode servir de pretexto a que prescrevam urna serie de ¡njecSes de aminatina. De resto, as vezes essas in¡ec.3es sao prescritas sem pretexto algum, segundo o bel-prazer ou o capricho arbitrario do médico. O Chefe da seccao é um ocu lista... O segur.do médico é um otorrinolaringologistai o terceiro, um clínico geral. Parece que o Oirelor da Clínica, o tenente-coronel Barychnikov 6 ele mesmo candidato ao asilo. É realmente por puro acaso que é o Diretor deste hospital,
como ele foi anteriormente Diretor do Hospital para tuberculosos... É preciso dizer
que, antes da nossa chegada, este hospital se destinava a tuberculosos e Barychnikov ¡á era o respectivo Diretor. A especialidade desse lugar-tenente é a cirurgia. A chegada de nosso comboio proveniente de Boutyrka (60 pessoas), prescreveram o mesmo tratamenta para todos, sem excec.ao e sem exame terapéutico. A mim, por exemplo, tiraram a pressao arterial, mas nao o fizeram aos outros. A maioria-doj que chegaram, comecou a receber aminasina por for;a, sob forma de InjecSes. Minguen se interessava pelo seu coracao, pelo seu ffgado ou por suas
doencas eventuais, visto que estes órgaos nao se relacionan) com a psiquiatría. So-
ment(« duas pesoas nao foram tratadas com aminasina; traziam contra-indicacSes assinaladas em suas fichas aínda no Instituto Derbsky. Um desses pacientes sofría de grave doenca de ffgado, conseqüíneio de golpes recebidos em Boutyrka, golpes que exigirán
11
intervencao
eirírgica
no Instituto Sylifosovsky.
da marc.o, da manhá. — ... A oxperiencia me convence- cada vez mais
de que o queixar-se de determinado remedio só tone para que Ihe aumentem a dose desse remedio ou receilem um medicamento suplementar. Isto \a aconteceu
De noite, das 7 ás 6 h 30 rain, temos o direito de ocupar o refortorio. A turma escreve cartas, ¡oga dominó, xadrez. Barulho infernal, tohu-bohu que fere os
— 525 —
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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972
ouvídetl At carias que etcrevo, lornam-se eslranhat. Comparen) ai cartat que escrevt era Boulyrka com at que envió daqvi e corapreenderSo quol é a minha vida aqui e como aluam os remedios prescritos... Kozilch, ouvindo minhai advertencias a res-
peilo da
sua
rosponsabilidade
Irenlo as arbitrariedades..., ameajou-me
de
me
transferir para unta cela de doentes gravemente afeladoi. Alias, ¡á live o prazér de tal vizinhanca e raesmo por bástanlo tempo, durante molí d« um mSs. Fol preci samente quando eles luntavam, mediante injecSes, fazer que eu renuncios!» a minha greve de tome, mas nao o conseguirán), se bem que viver em meio a estes daentet, ao mesmo lempo que recebem injecSes, é absolutamente indetcrillvel I So suspendí a minha greve em fins de Janeiro, quando me declararan) que iam suprimir ai minhas visitas.. .
Na Clínica, muitos sao os que soirem dos denles, mas nao sao levados ao dentista. Ot enfermeiros se contentatn com dar-lhes calmantes, aconselhando-lhes que comam com cuidado. Zombam de nos chamando nottat celas supervoadas. «saletas» a ameacando de repreensáo os quo ousem chama.la» «celas». A ultima moda táo os sufixos de ternura: omínasela, ele, ote,. . . Aqui zombeteiami as «saletas», as «¡n¡e;Sezinhas», as «análises de pequeños excrementos»! 19, sexta-feira. — Acabam de colocar em
nosta
cela um doente gravemente
enfermo, que sofre de critet nolurnas de epilepsia. Desde a primeira noite, ele moIhou a sua cama. O cheiro fica, pois o cotchoo está embebido, e apenas troca ran) o tensol».
Estes depoimentos sao suficientemente eloqüentes para ilustrar a situacáo de pressionamento político na URSS, con tra a qual reage a «intelligentzia» do país. Foram colhidos, entre muitos outros, no interessante artigo de «Études» da autoría de André Martin, citado na bibliografía da p. 524 deste fascículo. Estéváo Bettencoiirt O.S.B.
— 526 —
renovacao 1973
Para que nio se interrompam as assinaturas, pedimos aos nossos leitores que fagam suas renovagoes aínda este ano: a) Enviem cheque pagável no Rio de Janeiro em nome da Editora Laudes, no valor de Cr$ 30,00, ao endereco seguinte: Rúa Sao Rafael, 38, 20000 RIO (GB) ZC-03. b)
Se possível, juntem ao cheque o recorte de seu en
dereco, cortado do envelope de PR. Isso facilitará a localizagao de suas fichas para o lancamento da renovacSo.
Amigo, vocé observou que, á diferenca do ocorrído em outros anos, o prego da assinatura de PR em 1973 nio foi aumentado: serio Cr$ 30,00, como em 1972. Maniéremos o
prego, apesar dos aumentos de salarios e outros, previstos para o setor gráfico. Seja este gesto um veemente apelo aos nossos leitores para que procurem difundir PR! Se cada assinante obtiver
um novo assinante (um, no mínimo!), teremos duplicado o cír culo de leitores da revista. Estaremos entio compensados do nosso esforgo.
Amigo, nao deixe, pois, de mostrar PR a seus amigos e faca que ao menos um assine o periódico. Esperamos multo mate de vocé, pois vocé compreende o valor de ajudar todos os hbmens a pensar um pouco mals. Aoroveite também o ensejo de Natal para presentear seus
familiares e conhecidos com assinaturas de PR. Vocé estará
dando um presente que o tornará presente aos seus durante o ano inteiro.
E, se vocé tiver alguma observagáo ou sugestio a fazer-nos, nio hesite em no-la enviar quanto antes. Desejamos ser vir, e servir bem. Gratos Redacio e admlnistracio de PR — 527 —
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«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 155/1972 EXTRAÍDO DA 1MPRENSA
«DOM EUGINIO ELOGIA MONGE BENEDITINO
O Cardeal-Areebispo do Rio de Janeiro, Dom Eugenio Sales, ologíou o monge benediHno Dom EsfévSo Bettencourt pela sua firmeza
na doutrina católica e pela orientasáo que imprime na publleacáo «Pergunte e Responderemos».
«O Pastor da Arquídiooese, disse Dom Eugenio, respon&ável pela orientasáo doutrínária dos católicos da Guanabara, toma publicó seo apoio a Dom Estévéto pela sua constante fidelidade aos ensinamentos da Igreja».
(«O Globo», 17/X/72, pág. 2)
livros em resentía Léxico bíblico-Iftórglco, pelo Pe. Frederico Dattler, SVD. — Edi
tora Vozes, Petrópolis 1972, 160 x 230 mm, 168 pp.
Eis em língua portuguesa, mais um Dicionário que vem facilitar e
enriquecerTenSmento de vocábulos bíblicos. Est^ porém,. difere dos
queja conhecemos pelo fato de escolher seus verbetes e orientar suaa «posicóes em funcáo da liturgia: trate-se de palavras que interessam
aí culto sagrado, desenvolvidas de modo a facilitar a compreensao da
Kturgfe da Igrejk. Asshn, por exemplo, ao abordar os termos «Morte»
bu «Além-túimllo», um Dicionário Bíblico exporta a doutrina da S Escri
tura crineernente a esses (temas ; ao contrario, o Léxico bíbhco-liturgico, nos verbetes correspondentes, aborda ritos e costumes^funerários (é claro,
norém que estes, a seu moa», póem o feitor em contato com as crencas e verdades teológicas que os judeus e os antigos cristáos professavam). SS
Dignos de nota, entre outros, sao os verbetes "Jesús Cristo, Mana
OracSo, Magia e Superstisáo...". O autor coloca ante os olnos do
leitór ampio panorama de textos bíblicos atinentes ao assunto, devida-
mente classificados. O novo Dicionário será muito útil aos cnstaos que desejem ter urna oragáo mais nutrida e aprofundada.
.
Seréis batlzados no Espirito Santo, por Haroldo J. RahnvS.J.
e María J. R. Lamego — Edicóes Loyola, Sao Paulo 1972, 140x210mm, 257 pp.
•' Este livro constituí um dos compendios básicos do movimento pentecostal católico, a respeito do qual já foi publicado um artigo em PB 149/1972, pp. 230-238. Esse movimento parte da premissa de qae o Espirito Santo se manifesta especialmente aos fiéis que lhte sao dóceis, comunicando-lhes nova visáo da realidade e do plano de Deus», suavidade
e paz interiores ; pode mesmo dotá-los do dom (carisma) de línf»»8 raras óu estranhas para louvar a Deus e tesítemunhar a asao do Espirito — 528 —
perante a assembléia dos irmáos; os fiéis carismáticos poden» até realizar curas maravilhosas.
O livro em foco expóe os fundamentos bíblicos e teológicos^ dessa
especial atencáo ao Espirito Santo: mostra que a atitude de docilidade
ao Espirito se verificou intensamente na Igreja antiga; ora é perene
a missáo do Espirito no Corpo Místico de Cristo era vista da sántíficacáo dos fiéis; portante aínda hoje o Espirito há de agir era todo cristáo que O procure sinceramente. Quanto ao "batismo no Espirito Santo", nao constituí um-novo~ sacramento, .mas, sim, o conhecimento experimental do que o Espirito está realizando no intimo do cristáo: "O que acontece no
momento em que as pessoas sao batizadas no Espirito, varía muito. Urna pessoa que orou pela vinda do Espirito, sentiu como que urna córrante elétrica passar por ela. Outra sentiu-se penetrada de 'um estranho calor'. Muitos sentem simplesmente urna paz profunda e muita alegría. Mas o
mais importante nao sao as sensacóes físicas ou emocóes que a pessoa experimenta quando é batizada no Espirito. É urna transformacáo que
se opera "pela vivencia do Espirito Santo em nos de urna maneiva nova. É urna nova especie <de contato com o Senhor" (p. 94). O movimento de Pentecostés pretende assim
restaurar emnossos
dias a experiencia, as grasas e o fervor que marcaram os primeiros criatáos. O pentecostalísmo contribuiría para renovar a Igreja em nossos tempos, despertando eficazmente os fiéis católicos para a interioridade, a oracáo tranquila e a ac.fio apostólica.
Os autores do livro procuram expor claramente o seu pensamento, de modo a dissipar mal-entendidos: desejam guardar plena fidelidade á doutrina da S. Igreja, evitar o sentimentalismo superficial, como tambcm o sectarismo que divide. Citam copiosamente nao só textos bíblicos, mas também documentos do Concilio do Vaticano II e do S. Padre Paulo VI; o livro abre-se com urna Carta-Imprimatur de D. Antonio de Siqueira, arcebispo de Campiñas. No fim da obra encontram-se roteiros para se realizar a "experiencia" do Espirito Santo em comunidade durante um
día, dois ou tres dias, assim como urna coletánea de oracóes ao Espirito.
A rigor, nada se pode objetar contra a doutrina do livro em foco e os encontros "para orar no Espirito Santo", que se vém multiplicando no Brasil. Bons frutos tém sido oBtidos por tal movimento; murtas pes soas reencontram assim o valor da oracáa, do recolhimento, da caridade fraterna, da generosidade... Todavía será sempre necessário vigiar para que o pentecostalismo nao degenere em religiosidade subjetivista, senti
mental, alienada por pretensas visees, curas, línguas estranhas, euforia vazia etc. Nao há dúvida, o ser humano deve ir a Deus com toda a sua
8ensib"iiidade; é preciso, porém, que esta 5eja sempre subordinada á
razao e á fé e nunca as sobrepuje. A pedra de toque do movimento será
a fidelidade á Igreja e a conservacáo da comunháo humilde e fraterna com todo o povo de Deus. E. B.
MELBOURNE - AUSTRALIA
18 a 25 de fevereiro de 1973
A CREDÍBRlS TU RISMO, sucessora de Camillo •
Kahn, o¿gulh"a-se de ter organizado com fetal éxito, peregrirtacoesj>os Con;
gressóV EücarYsticos' áé tóüÑÍCH, BOMBAIM e BÓGOTÁVe a|orá,4stá organizando
urna ab.40.° CoñgresSo Éucaristico que terá a Assisténclá Espiritual de D. Esteváo Bitten-
'"'i
courtO. S. B.,.e qué visitará: Papeete, Nandi,
Aucktand, Melbourne, Sidñéy, Hong Kon'g, Teherán, Térra Santa, Roma e Paris. Vocé podérá participar deste ato de fé crista com tudo financiado a longo prazo e
com as facilidades que o Grupo ■
Uniáo de Bancos pode Ihe
,
■-
oferecer.
CREDIBRÁS TURISMO
GRUPO UNIAO DE BANCOS, SAO PAULO - RÚA MARCONI. I3I - \? ANO. - TELS: 235-7BII. 233-40S4 c 37-4830 P. ALEGRE - RÚA DOS AÑORADAS. I354 - I? AND. - TEL 25-8173
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