Ano Xiii - No. 154 - Outubro De 1972

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Projeto

PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO

DA EDIpÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta

necessidade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora,

'.■"

visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante aprofundamento do nosso estudo.

um

Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questoes da atualidade

controvertidas, elucidando-as do ponto de _ vista cristáo a fim de que as dúvidas se . dissipem e a vivencia católica se fortaleca '* no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. EstevSo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio

com d.

Esteváo

Bettencourt e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual

conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo. A

d.

Estéváo

Bettencourt

agradecemos

a

confiaga

depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

FU-OtOHA

ciiuaá t 60UTCÍNA

MOOflL

ANO XII! — N» 154

OUTUBRO DE 1972

Indiice Pág. "VI A FACE DE DEUS..."

433

O esclarecimiento que se esperava:

ABSOLVigAO SACRAMENTAL SEM CONFISSAO ?

435

A novidade ecuménica:

PROTESTANTES COMUNGAM NA IGREJA CATÓLICA ?

445

Crtstaos e nao crlstfios Inlerrogam:

DESCOBERTOS OS MAIS ANTIGOS MANUSCRITOS DO NOVO TES

TAMENTO ?

454

"Nos subterráneos do Vaticano":

PIÓ XI MORREU ENVENENADO ?

461

Aínda no teatro:

E "O INTERROGATORIO" DE PETER WEISS ?

467

A guisa de crónica: ENCONTRÓ LATINO-AMERICANO DE BENEDITINOS

472

RESENHA DE LIVROS

NO

PRÓXIMO

470, 475

NÚMERO :

Mulheres e sacerdocio católico. «Acabou-se tabú de 800 anos» ? Prostitulcao legal ? Solschenizyn : Subservivéncia para sobreviver ? «Intelligentzia» russa contesta. X

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Assinatura anual

Cr$ 3000

Número avulso de qualquer mes

Cr$

Volumes encadernados de 1958 e 1959 (proco unitario)

Cr$ 35,00

índice Geral de 1957 a 1964

Cr$ 10,00

tndice de qualquer ano

Cr$

EDITORA BEDACAO DE PR

Caixa Postal 2.666 ZC-00

20000 Bio de Janeiro (GB)

LAUDES

S.

4,00

3,00

A.

ADMINISTRADO

Búa Sao Bafael, SS, ZC-09 20000 Blo de Janeiro (GB) Tels.: 2680981 e 268-2786

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

"VI A FACE DE DEUS..." Já se tem dito que o nosso século XX é sáculo de grandes

contrastes, ... contrastes no setor económico, no moral, no intelectual, no religioso... Ora, como que em confirmagáo desta verifícagáo, merece destaque especial a noticia comentada, há tempos, pelo jornalista Helio Werneck de «última Hora» (Rio

de Janeiro):

•-

I

« .

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I.

01

(i.

*,.

r o

O ASTRONAUTA PASTOR

"Ele nao é um cidadáo qualquer. Seu n me é JamesDn

Benson Irwin. Profissáo : astronauta.

Em agosto do ano passado, viajou para a

„„

iuuu

de jipe e viu a face de Deus. Do Mar da Tranqüilidade olhou

para esta intranquila bola azul rolando. Voltou. Saiu da quarentena, para entrar em retiro. Queria rever a face do Senhor da Paz.

Ontem declarou aos jomáis do mundo inteiro que nao queria mais ser astronauta. Quer ser pastor. Nao quer mais ser piloto da NASA. Quer ajudar Billy Graham (o grande pregador protestante) a pilotar a alma do rebanho.

'Vi a face de Deus na lúa e sei que nada posso fazer de

mais importante do que pregar a palavra de Jesús Cristo aos

homens'.

O telegrama da UPI chegou a todas as redagSes. Mas saiu publicado em página interna. Ninguém deu muita

importancia.

Sua declaragio, no entanto, foi a mais bela e simples que

a UPI jamáis transmitiu.

Nao teve voz na TV, nem vez ñas manchetes, porque todos nos estávamos muito ocupados com Havelange e futebol, com Perón e outros fantasmas políticos para darmos impor tancia á decisao de um astronauta que viu Deus.

Este James Benson Irwin foi á lúa. Esteve nos céus. E

agora quer ir para o Céu.

— 433 —

Nao de Apolo. Mas de sandalias.

E mais. Ouvindo a voz do Cristo, nao quer ir sozinho: este mundo azul de Gagarin é a sua tripulagáo". Entre outras muitas reflexóss, este artigo sugere as seguintes:

A ciencia e a técnica, mal aplicadas, podem «inebriar» o

homem e levá-lo á autodestruigáo física ou moral. Mas, quándo

inteligentemente cultivadas, elas também o podem maravilhosamente aproximar do Criador, dando-lhe a ver ou «apalpar» os vestigios da Sabedoria de Deus: «Vi a face de Deus na lúa...»

O ateu nao é ateu porque tenha evidencia de que Deus nao existe. Nao se pode provar, nem filosófica, nem científica mente, que Deus nao existe. O ateismo é urna posicáo optativa; ele se deve ao fato de que o homem nao equaciona corretamente

o problema de Deus. E nao o equaciona talvez porque tal pro blema lhe parece ultrapassado, de modo que nem merece aten-

gáo (parecer este de que muitos se retratam posteriormente). Ou entáo, se nao há descaso, a pessoa nao equaciona correta mente o problema de Deus por causa de conceitos obscuros, mal-entendidos, preconceitos, obstáculos de ordem moral...; sao estes que em tais circunstancias entretém o ateísmo; ■

Todavía quem reta e sinceramente usa da inteligencia, da vontade e dos seus outros predicados, cedo ou tarde encontra a Deus. Mais: entusiasma-se,1 como James Benson Irvvin, tornando-se arauto da Boa-Nova.

Possa a experiencia do astronauta valer a muitos e muitos de nossos contemporáneos"... Aqueles que nao tém fé, a fim de que saibam que é possivel t§-la neste sáculo XX, assodando

saúde física e mental, fina inteligencia, ampia ciencia e requin tada destreza com a crenca em Deus, em Cristo e no Evangelho. Deus nao deixa de se manifestar a quem O procura lealmente Possa valer também aqueles que já tém a graga da fé, servindo-lhes de estimulo para apregoarem mais e melhor, por palavras, feitos e toda a sua conduta de vida, a grande mensagem do Evangelho, da qual tantos homens tém sede sem o

saber: Deus Pai vive e, por Cristo, nos chama a viver com

Ele,... feitos filhos no Filho.

E. B.

1A palavra "entusiasmo" vem do grego "en-theou-sla". Significa o es tado e as express5es de ánimo de quem está chelo de Deus. — 434 —

«PERGUNTE E

RESPONDEREMOS»

Ano XIII — N? 154 — Outubro de, 1972

O esclarecimento que se esperava:

absolvicáo sacramental sem confissao? Em síntese: Aos 16 de junho de 1972, foram promulgadas pela Santa

Sé algumas normas pastarais relativas ao sacramento da Confissfio. —_Esve

é reafirmado como meló ordinario de remlssao dos pecados graves. Reconhecem-se, poróm, casos de necessldade, em que sí faz mlster dar a

absolvlcao coletlva a urna assembléla arrependida. Fica, porém, a criterio dos blspcs estipular para as respectivas dloceses quals sflo esses casos;

entre as condlcoes para a validado da absolvlcao coletlva, está a resolucao, por parte dos fiéis, de confessarem os pecados já absolvldos dentro do

prazo máximo de um ano. O Documento pede aos párocos e fiéis que évltem, em toda a medida do posslvel, que se crlem situacSes de emergen

cia ou de grave necessldade em que nflo naja sacerdotes suficientes para atender ás conflssoes Individuáis. Urna boa organizacSo de horarios e calen

darios facilitará o atendlmento pessoal a cada fiel Interessado. As absolvl-

c8es coletlvas, nos termos Indicados, dovem flcar sendo excecees, ao menos nos territorios de atendlmento paroqulal regular. Ñas térras de

mlssSo, o documento sugere aos misslonários que, ao menos urna vez por

ano, atendam em confissao é populacao católica mediante pré«lo planejamento das visitas de desobrlga. A razio por que a Igreja continua exlglndo a conflssSo auricular dos pecados já absolvidos coletlvamente, é que a confissao, por preceito divino, faz parte Integrante do sacramento (pode, pols, ser deslocada, mas nao dispensada).

Em suma, o novo Documento velo facilitar e tranquilizar o trabalho

dos sacerdotes e esclarecer as consclenclas dos fiéis, fomentando outros-

slm a boa ordem e a disciplina na pastoral da Confissao sacramental. A con fissao dita comunitaria so terá valor de sacramento se Incluir a acusacBo especifica dos pecados a um sacerdote, que absolverá Imediatamente o penitente.

Comentario: Sabe-se que nos últimos tempos o sacramen

to da Confissao tem sido objeto de especiáis estudos. Entre outros motivos, apontam-se os casos, nao raros, de afluencia de fiéis ao sacramento sem que haja número suficiente de sa cerdotes para atender a todos. Tém-se propalado também te— 435 —

4

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

ses e concepgóes que disseminam dúvidas sobre a nscessidade,

a periodicidade e o valor da confissáq sacramental. Sao freqüentes os ritos penitenciáis em que a absolvicáo é dada a to dos os fiéis sem que se tenham confessado previamente. O povo de Deus sente-se inseguro e inquieto diante da variedade de teses e atitudes dos respectivos pastores. Em conseqüéncia,

numerosos bispos se dirigiram á Sania Sé a fim de pedir-lhe

instrugóes a respeito da administracáo do sacramento da Peni tencia: poder-se-ia dispensar a confissáo auricular e especifica dos pecados? Quais os principios teológicos e pastorais que devem animar o clero e os fiéis nesse setor? Já há muito se esperava a resposta da Santa Sé. Veio fi nalmente como fruto de meticulosos estudos: a Congregado para a Doutrina da Fé, em colaboragáo com outros Dicastérios de Roma e grande número de peritos, elaborou urna serie de normas pastorais que foram submetidas ao S. Padre Paulo

VI. Este as aprovou aos 16/VI/1972, data em que o documen to foi assinado pelo Cardeal Francisco Seper, Prefeito da Congregagáo para a Doutrina da Fé. A publicagáo do texto, que se abre com as palavras «Sacramentum Poenitentiae», deu-se aos 13 de julho de 1972; trata-se de um conjunto de treze nor mas precedidas de breve introdugáo.

Dada a grande importancia dessas instrugóes, vamos abaixo procurar, resumi-las e brevemente comenta-las.

NORMAS PASTORAIS 1.

Confissáo dos pecados, inst¡tui$So divina

O Concilio de Trento (1545-1563) declarou que, para a remissáo plena e perfeita dos pecados, se requerem do peni tente tres atos: a contrigáo, a confissáo e a satisfagáo. Ensinou também que a absolvigáo dada pelo sacerdote é um ato de natureza judiciária e que, por direito divino, é necessário confessar ao sacerdote todos e cada um dos pecados moríais, bem como as circunstancias que mudam a especie dos mesmos e de que o penitente se recordé após diligente exame de consciéncia. Cf. Denzinger-Schonmetzer, «Enquirídio» n* 1704. 1706-1709. — 436 —

ABSOLVICAO COLETIVA E CONFISSAO

Ora diz a Instrucáo «Sacramentum Poenitentiae» de 16/VI/72: «A doutrina do Concilio de Trento deve ser firme mente mantida e fielmente aplicada na prática» (m I).

Como se vé, a Igreja nao se julga apta a abolir a confissáo sacramental, porque esta é decorrente de urna disposicáo do próprio Cristo, que confiou aos seus Apostólos a faculdade de perdoar ou nao perdoar os pecados — faculdade que só pode ser exercida mediante previo conhecimento de causa (cf. Jo 20,22). A confissio sacramental, portante, fica sendo o caminho normal para a remissáo dos pecados graves. Posto este principio geral, o Documento passa a conside

rar casos concretos.

2.

Necessidade grave

Textualmente diz o n* II das «Normas Pastorais»: "Pode acontecer que, por forca.de circunstancias particulares, dar a absolvigSo de modo colativo a um grupo de varios penitentes se torne licito ou até mesmo necessário, sem previa confissáo individual".

E quais seriam os casos de licita absolvicáo coletiva? O Documento enuncia os seguintes:

a) Perigo coletivo de morte tal que nao haja tempo para que o sacerdote ou os sacerdotes presentes possam ouvir a cada um dos penitentes em particular. — Tal perigo de morte ocorre por ocasiáo de alguma batalha na frente de guerra ou de

bombardeio aéreo ou naufragio ou incendio. Foi nas guerras

mundiais de 1914-1918 e 1939-1945 que tais perigos comegaram a ocorrer com mais freqüéncia, merecendo especiáis indul tos da Santa Sé para se dar absolvigáo coletiva. — Mas nao somente os_perigos de morte vém ao caso. A Instrueáo men

ciona outrossim

b) Afluencia de fiéis tal que nao haja confessores sufici

entes para atender, como convém, as confissóes de cada peni tente dentro de razoável espaco de tempo. Requer-se, porém, que, caso nao fossem absolvidos coletivamente, tais fiéis esta-

riam obrigados a ficar, por muito tempo, sem grasa sacra mental ou sem a S. Comunháo.

— 437 —

6

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

Tais circunstancias podem ocorrer em térras de missóes,

mas nao somente lá; também podem verificar-se em térras de há muito cristianizadas. Todavía parecem nao se verificar em pa-

róquias, igrejas e cápelas onde o atendimento seja regular ou de periodicidade nao muito espagada; quem nao se oonfessa ai num dado domingo, paderá fazé-lo em outro domingo pró ximo. É de notar que os fiéis nao tém a obrigagáo de comúngar precisamente em tal ou tal dia; embora seja fortemente

recomendada a freqüente comunháo eucarística, nao é menos para desejar que esta se faga em condigóes dignas e reverentes (hoje rejeita-se a «sacramentalizagáo» rotineira, ou seja, a freqüentagáo mais ou menos inconsciente e incoerente dos sa cramentos) .

Nao é suficiente para se dar absolvigáo coletiva o grande afluxo de fiéis por ocasiáo de festividades ou peregrinagóss, desde que possa haver confessores á disposigáo dos penitentes (n* m)

Alias, já em 1679 o Papa Inocencio XI condenou a opiniáo de osrtos teólogos segundo a qual seria lícito absolver pecado res que só se confessassem parcialmente de suas faltas em vírtude da grande afluencia de penitentes (como se verifica, por

exemplo, nos grandes dias de festa ou de indulgencias). Recu sando dispensar a confissáo integral dos pecados nesses casos, o Pontífice quería evitar possíveis abusos: certos penitentes poderiam intencionalmente escoibar os dias de grande afluen cia ao confessionário para receber a absolvigáo sacramental sem fazer a acusagáo pessoal de suas faltas. O Documento lembra também que aos bispos e sacerdotes toca a obrigacáo, em consciéncia, de evitar que o número de confessores se torne insuficiente pelo fato de alguns presbíteros negligenciarem este nobre ministerio para se ocupar com afazeres temporais ou menos nscessários, afazeres estes que po deriam ser desempenhados por leigos idóneos ou por diáconos n' IV).

Recapitulando: para que se possa dar a absolvigáo cole tiva sem previa confissáo dos pecados (mas com a obrigagáo de os confessar posteriormente, como se verá adiante), requer-se a ocorréncia simultánea de tres condigóes: a)

haja grande multidáo de pessoas que se queiram con

fessar;

— 438 —

ABSOLVICAO COLETIVA E CONFISSAO

b) seja de todo insuficiente o número de sacerdotes disponíveis para atender de modo conveniente as confissóes indi viduáis;

c)

em virtude dessa situacáo, os fiéis mencionados esta-

riam obrigados a ficar- por muito tempo privados da graca do

sacramento da confissáo ou da S. Comunháo. Pergunta-se agora:

3.

A quem compete avallar a neeessidade grave?

A fim de evitar possíveis arbitrariedades e práticas incoe-

rentes, a Santa Sé estabelece que a avaliacáo dos casos de grave neeessidade atrás mencionados compete ao bispo local; este se pronunciará após ter ouvido os pareceres de outros bispos da sua Conferencia Episcopal. Nao toca, pois, aos vigários ou presbíteros em particular definir se em tal ou tal caso se verificam as condicóes hecessárias para poder dar absolvicáo coletíva.

"Se Doróm, além dos casos estabelecidos pelo blspo, venha a surgir

a neeessidade grave de dar a absolvlcáo sacramental coletíva, o sacerdote está obrlgado a recorrer previamente, sempre que possíve, ao blspo, para

poder licitamente dar a absolvlcfio; em caso contrario, tenha o cuidado de informar, quanto antes, o mesmo blspo a respelto dessa neeessidade e da absolvlgfio dada" (n? V).

Vé-se que deste modo a Santa Sé visa a assegurar ordem e homogeneidade na pastoral: ao bispo compete coordenar as diversas iniciativas.

A referencia ao bispo local ou mesmo á Conferencia dos Bispos da regiáo constituí urna das principáis novidades trazidas pela Instrucáo de 16/VI/72.

Na verdade, já aos 25/111/1944 a Sagrada Penitenciaria

de Roma, atendendo a dúvidas que lhe foram propostas, determinou o seguinte: torna-se licito dar a absolvicáo coletiva a urna assembléia numerosa de fiéis, desde que, para tanto, se registre urna neeessidade grave e urgente, neeessidade proporcional ao

preceito divino de se fazer a confissáo integral dos pecados.

Tal neeessidade grave e urgente ocorreria, por exemplo, se os fiéis, sem culpa sua, tivessem de permanecer muito tempo sem — 439 —

8

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 154/1972

_

a graga sacramental e a S. Comunháo. Nesses casos, porém, a S. Penitenciaria ¡embrava insistentemente que os fiéis, após ter recebido a absolvigáo sacramental sem previa confissáo,

ficavam na obrigacáo de confessar todos os pecados graves ainda nao acusados. Cf. Denzinger-Schonmeteer, «Enquirídio» n* 3834s. — Nao havia, porém, nessa determinagáo datada de 1944, alusáo ao bispo local como juiz e coordenador das práticas de excegáo. 4.

Confissáo posterior á obsolvijáo

a) A Instrugáo volta a lembrar algo que sempre foi incutido nos casos de absolvicáo sacramental coletiva: os fiéis, além de arrepender-se e propor reparar os males ou escándalos cau sados pelo pecado, deveráo tomar a resolugáo de confessar sin gularmente e em ocasiáo oportuna os pecados graves que no

momento nao podem confessar. Estas disposigóes sao requeri

das para a validade do sacramento. Donde se segué que quem nao tenha o propósito dé, em ocasiáo oportuna, confessar es

pecíficamente os pecados graves, nao recebe a cramental, mesmo que esteja presente ao ato Aos padres toca o dever de instruir devidamente dessas condigóes. Tenha-se em vista o n" VI

absolvigáo sa da absolvicáo. os fiéis acerca da Instrugáo:

"Pelo que diz respello aos liéis, para que possam usufruir da absolvlg&o sacramental dada em conjunto a diversas pessoas ao mesmo tempo,

é absolutamente exigido que se achem bem dispostos, Isto é, que cada um deles esteja arrependido dos próprios pecados cometidos, se proponha evita-los para o futuro, tenha a intencáo (irme de reparar os escándalos ou danos qué por ventura tenha causado e, ao mesmo lempo, tome a reso-

luc&o de confessar singularmente os pecados graves que de momento nSo pode confessar desse modo, dentro do prazo devido. Os fiéis sejam diligen temente Instruidos pelos sacerdotes acerca destas disposicSes e condicSes requeridas para a validade do sacramento".

b) o prazo dentro do qual se ideve fazer a confissáo auri cular dos pecados absolvidos será o de um ano. Os fiéis nao

poderáo receber nova absolvigáo coletiva se nao tíverem pre

viamente feito a confissáo auricular dos pecados já absolvidos coletivamente. Excetuam-se naturalmente as pessoas que estejam impedidas de fazer a confissáo auricular por justa causa ou por impedimento moral (falta de sacerdote, doenga grave, impossibilidade de viajar...).

Pode-92 notar que a indicagáo do prazo dentro do qual os fiéis, urna vez absolvidos, devam realizar a acusacáo dos pe— 440 —

ABSOLVICAO COLETTIVA E CONFISSAO

cados respectivos, é também algo de novo na legislacáo da Igre-

ja. As Instruyes anteriores, embora insistissem na necessida-

de da confissáo dos pecados absolvidos, nao indicavam táo pre cisamente o prazo.

c) É também interessante observar que a Instrugáo «Sa-

cramentum Poenitentiae» incute de novo o preceito da ígreja segundo o qual todo cristáo deve confessar-se ao menos urna vez por ano — excetuando-se aqueles que nao ten]jam pecado grave. — A materia obligatoria do sacramento da Confissáo sao apenas os pecados graves. Esta observagáo é importante para tranquilizar as consciéncias de muitos cristáos; mas nao deveria tornar-se ocasiáo para que as pessoas que julguem nao ter pecado grave, deixem de freqüentar regularmente o sacra

mento da Penitencia. Precisamente no n» XII a Instrugáo se

refere a confissáo freqüente ou «por devocáo», a fim de reco-

mendá-la: «Deve-se evitar absolutamente que a confissáo in dividual seja reservada só para os pecados graves; isto privaría os fiéis dos enormes beneficios da confissáo e prejudicaria a fama daqueles que se aproximam singularmente do sacra mento» .

Aos sacerdotes, portante, incumbe nao afastar os fiéis que desejem fazer sua confissáo regular de pecados leves; ao con trario, recomendem tal prática como fonte de copiosas gracas para a vida espiritual, segundo Lsmbrou Pió XII na encíclica «Mystici Corporis Christi». — De outro lado, compreende-se

que ao sacerdote nao convém nutrir atitudes infantas ou doentias, atendendo desorganizadamente a certas pessoas. Estabelega o padre um plano de atendimiento e trabalho para poder exercer os seus diversos afazeres (inclusive o ministerio da confissáo) de maneira justa e orgánica. d)

Ainda resta idizer urna palavra sobre a obrigagáo de

confessar específicamente os pecados graves mesmo quando já absolvidos coletivamente. É algo que a muitos parece assaz estranho: por que acusar pecados já perdoados? — A exigencia S2 explica pelo fato de que a ígreja tem consciéncia de nao poder dispensar a confissáo individual (quando esta seja possivel), pois faz parte integrante do sacramento. A ígreja pode, sim, antecipar a absolvigáo para proporcionar tranqüilidade e paz á pessoa arrependida. Essa antecipagáo, porém, nao é senáo inversáo da ordem que, em circunstancias normáis, seria: con fissáo seguida de absolvigáo. — Pode-se notar que, na antiga ígreja, os bispos exigiam mesmo que a absolvigáo fosse prece— 441 —

10

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

dida também da satisfagáo sacramental (havia confissáo, pe nitencia ou satisfagáo pública durante urna quarentena de

dias ou mais, e absolvigáo sacramental, geralmente na quintafeira santa). 5.

Deveres paslorais

a) A fim de evitar a multiplicagáo dos casos de absolvigáo coletiva (que, conforme se idepreende, devem ficar sendo excegóes), a Instrugáo «Sacramentum Poenátentiae» dispóe o seguinte: "Para que os fiéis possam satisfazer fácilmente á obrigacao de con-

fessar-se de modo individual, procure-se que ñas Igrejas haja coníessores

á dlsposlcáo em días e horas estabelecldos de acordó com a comodldade dos fiéis.

Naqueles lugares Impervios e afastados onde o sacerdote val só rara mente durante o ano, organlzem-se as coisas de tal maneira que o mesmo sacerdote, na medida do posslvel, em cada urna das visitas ouca as conflssóes sacramentáis Individuáis de urna parte dos penitentes, enquanto aos outros penitentes, se se verificaren! as condlcSes de que se falou ácima no n? III, dará a absolvicSo sacramental de forma coletiva; de tal modo, porém, que todos os fiéis, se Isso for vlável, pelo menos urna vez cada ano possam realizar a conflssfio Individual" (n? IX).

Em outras palavras, a Santa Sé pede haja calendarios e horarios de atendimento as confissóes individuáis, de modo que todos os fiéis possam ter acesso ao sacramento da Penitencia, no mínimo urna vez por ano. Consta, pois, entre as obrigacóes do pastor de almas a de proporcionar ao povo de Deus as ocasióes de se confessar regularmente; como se compreende, o sa cerdote se desempenhará deste dever sem detrimento de outras obrigagóes sacerdotais (o que quer di2jer que procurará ajudar os fiéis a formarem sua consciénda para que o sacramento da confissáo seja por eles recebido com o máximo de propósito e fruto).

b) No tocante aos ritos penitenciáis comunitarios, o recen

te Documento os recomenda como úteis a preparar mais frutuosa confissáo dos pecados. Lembra, porém, que nao devem

ser identificados com o sacramento da Penitencia a menos que

os fiéis, no decorrer do rito (ou seja, após as leituras, os can

tos, as preces e o exame de consciénda) fagam a sua confis sáo individual e recebam a absolvigáo do sacerdote ao qual se

confessem. O rito penitencial sem confissáo individual é urna

paraliturgia válida na medida em que concorre para excitar a — 442 —

ABSOLVICAO COLETIVA E C0NFI5SA0

11

contrigáo dos fiéis; é útil para apagar os pecados leves; quanto ao pecado grave, ele é normalmente perdoado mediante a confissáo sacramental.

c) A absolvigáo sacramental deve ser dada fora da S. Missa. Parece, porém, que a S. Sé nao quer excluir sejam um

rito penitencial e as confissóes sacramentáis colocados no limiar da S. Missa, ampliando-sa assim a costiimeira celebragáo

penitencial que é prescrita como preparagáo para a liturgia eucarística.

d) O valor das normas Pastorais ou do novo Documento da Santa Sé é enfáticamente incutido pelo inciso final do mesmo, que adverte: "As absolvieses sacramentáis dadas de forma coletiva, sem serem observadas as normas ácima elencadas, devem ser tidas como abusos graves. Todos os pastores devem banir cuidadosamente tais abusos, cons cientes da próprla responsabllldade pelo que se refere ao bem das almas

e á dlgnidade do sacramento da Penitencia que deve ser mantlda" (n? XIII).

A designacáo «abusos graves» ocorrente ácima é sufici

ente para tornar de todo indesejáveis aos sacerdotes e ao povo

de Deus as transgressóes das normas emanadas pela Santa Sé para a administracáo do sacramento da Penitencia. Este pode mesmo ser inválido ou nulo no caso de se ministrar a absolvigáo coletiva sem que se cumpram as exigencias formuladas

no Documento «Sacramentum Poenitentiae»; com efeito, note-

-se o final do n» VI: «Os fiéis sejam diligentemente instruidos pelos sacerdotes acerca destas disposigóes e condigóes requeri das para a validado do sacramento». 6.

Caso especial

A pessoa que viva em situagáo de escándalo, poderá rece-

ber a absolvigáo coletiva desde que se ache sinceramente arrependida e proponha seriamente reparar o escándalo. Mas nao

se aproximará da S. Comunháo sem ter previamente reparado o escándalo, de acordó com o juízo do confessor a quem tal pessoa recorrerá antes de voltar á Eucaristía (cf. n» XI). O motivo desta determinagáo é o intuito de se evitarem

a perplexidade e os equívocos que possam surgir no povo de Deus em conseqüéncia da freqüentagáo da S. Eucaristía por parte de quem esteja, aparentemente ao menos, vinculado a urna

situagáo ilegítima. — 443 —

12

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

Conclusao Pergunta-se agora: qual a contribuigáo que as recentes nor

mas trouxeram para urna melhor pastoral do sacramento da confissáo?

Podemos compreendé-la em quatro ítens:

1) Renovada certeza teológica: a confissáo sacramental é, mais urna vez, valorizada como objeto de preceito divino e

importante fator de progresso espiritual, chegando-se a reco mendar a confissáo «por devocáo».

2)

Ampliaicáo d» número dos casos em que se pode dar

absoMcáo coletíva. Nao somente em perigo de morte, mas também em situac.6ss menos raras e extraordinarias admite-se gra

ve necessidade devida a ingente afluencia de fiéis e insuficien cia (involuntaria) de confessores para atender-lhes. Ampliando tal número de casos, a Instrucáo «Sacramentum Poenitentiae»

nao faz senáo desenvolver homogéneamente principios langados pela Instrucáo de 24/111/1944.

3)

Mais clara regulamentaca'o éo processo. Fica ao crite

rio do pastor diocesano (bispo) julgar se se realizam as condigóes para se dar a absolvicjio coletíva.

4) Enunciacáio das condigoes de validade tfa absolvipao coletíva: arrependimento, propósito, reparagáo de escándalo e danos, intencáo de confessar dentro do prazo máximo de um ano os pecados a ser absolvidos coletivamente.

Em suma, o Etocumento veio fomentar clareza, disciplina, frutuosidade e compreensáo da realidade no ministerio do sa cramento da Confissáo.

"Por um copo de agua que des a quem tenha sede, poderás ter urna conversa que te salve." O. Gambi

444 —

A novidade ecuménica:

protestantes comunsam

na igreja católica? Em sintese: O movimento ecuménico, visando a aproximar católicos,

protestantes e ortodoxos, suscitou a questSo da ¡ntercomunháo, ou seja,

da participagSo de protestantes e ortodoxos na comunh9o eucarlstica dis tribuida pela Igreja Católica.

O Concilio do Vaticano II abordou a questao, dlstinguindo entre cristáos ortodoxos e cristSos protestantes. Aqueles professam o mesmo teor

de fé na Eucaristía que a Igreja Católica professa, ao passo que os protes tantes tém a Eucaristía como mero símbolo do corpo de Cristo. Em conseqüéncla, o Concilio reconheceu a legltimidade de Intercomunháo de católicos e ortodoxos em certos casos, ao passo que se mostrou mals reservado em relacáo á intercomunháo de católicos e protestantes. O Diretórlo Ecuménico de 1967 e, por último, urna Instrucao do Secre

tariado Católico para a Uniáo dos CristSos, datada de 1/VI/1972, expllcitaram o pensamento da Igreja Católica: a intercomunhüo de católicos e ortodoxos é legitima desde que motivos ponderávels a ¡ustlfiquem e se evltem mal-entendidos. — Quanto & Intercomunháo entre católicos e pro testantes, supSe que os fiéis protestantes interessados n&o possam recorrer a um ministro de sua confissño religiosa, pecam espontáneamente a Eucaris

tía dos católicos e — o que é muito importante — professem a mesma fé na Eucaristía que a Igreja Católica professa. Esta mesma confissfio de fé cria entáo certa unidade entre católicos e protestantes para que, juntos, possam participar da mesma Eucaristía.

Comentario: Despertou vivo interesse no público a noti cia divulgada pela imprensa em julho pp. segundo a qual os protestantes doravante poderáo receber a S. Eucaristía distri buida no culto católico; nao se levariam mais em conta as di-

ferencas doutrinárias e eclesiais tradicionalmente apontadas

para impedir a intercomunháo ou a recepcáo da mesma comunháo eucarística por parte dos irmáos separados.

Em vista da necessidade de esclarecimentos em torno do

assunlo, vamos abaixo explanar em termos sucintos e precisos

a questáo da intercomurmáo e a mente da Igreja Católica a propósito.

— 445 —

14

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

1.

1.

Intercomunhcío : a questáo

É preciso, antes do mais, lembrar que, além dos cris-

táos católicos, existem — cristáos «rtodoxos, que no séc. XI se recusaram a man-

ter comunháo com Roma e a Igreja Católica; reunem-se em

Igrejas ou comunidades eclesiásticas autocéfalas, das quais a principal é a de Bizáncio ou Constantinopla;

— cristáos protestantes ou evangélicos, cujas origens es-

táo nos movimentos de Lutero, Calvino, Zvínglio, do sáculo XVI; — cristáos anglicanos, que se separaram da Igreja Cató lica no século XVI e sofreram em graus diversos influencia pro testante.

O movimento ecuménico, visando restaurar a unidade e a comunháo entre os cristáos, veio a suscitar naturalmente algumas questóes concernentes á participacáo de fiéis náo-católicos (protestantes, anglicanos, ortodoxos orientáis) na Eucaristía celebrada por católicos : seria lícito reunir católicos, protestan

tes e ortodoxos orientáis pela mesma Comunháo Eucarística,

antes ¿de chegarem á profissáo da mesma fé, dentro da mesma

comunháo de Igreja? Dado que sim, em que condigóes poderla isso ocorrer? Acelerar-se-ia o processo de restauracáo da uni dade crista? Ou se provocaría relativismo e confusáo entre os

fiéis, prejudicando assim o auténtico ecumenismo?

Nos últimos anos, registraram-se varios casos de intercomunháo eucaristíca em grupos pequeños ou em Congressos, encontros de estudos, etc., entre católicos e protestantes — o que avivou no mundo cristáo a necessidade de resposta as perguntas ácima.

2.

O Concilio do Vaticano II, no seu Decreto sobre o

Ecumenismo, formulou alguns principios atinentes ao assunto, mas ainda deixou questáo aberta, como se depreende dos seguintes dizeres:

"NSo é licito considerar a IntercomunhSo (communlcallo In sacrls) como um meio a ser aplicado Indiscriminadamente na restauracao da unidade dos cristáos. Esta Intercomunhao depende precipuamente de dols principios: da unidade da Igreja, que ela deve significar, e da partlcipacáo dos melos da graca. A significado da unidade proibe, na malorla das vezes, a Intercomunhao. A busca da graga, ás vezes, a recomenda. Sobre o modo con creto de agir decida prudentemente a autorldade do blspo local, conside

rando todas as circunstancias de tempo, lugar e pessoas, a nao ser que

outra coisa seja determinada pela Conferencia Episcopal segundo seus próprlos estatutos ou pela Santa Sé" ("Unltatls Redlntegratlo" n? 8).

— 446 —

PROTESTANTES COMUNGAM NA TGREJA?

15

Em outras palavras, o texto do Concilio lembra que a

legitimidade da intercomunháo (ou da participaeáo na mesma comunháo eucarística) depende de dois elementos:

unidade daqueles que comungam; tal unidade (na mes ma fé-e-na mesma Igreja) é suposta e expressa, como também é corroborada, pela Eucaristía. Entende-se entáo que os fiéis católicos, unidos pela mesma fé e pela mesma comunháo eclesial, freqüentem a mesma Eucaristía; mas nao se entende tao claramente que católicos e náo-católicos o fagam;

além de exprimir e corroborar unidade, a Eucaristía atende á necessidade que os homens tém de grasa de Deus; é alimento e remedio para a vida crista.

Conseqüentemente, desde que o uso da S. Eucaristía nao possa ser justificado por um e outro dos dois fatores ácima,

pairam reservas sobre a legitimidade do mesmo. Verdade é que todos os cristáos (católicos, protestantes, ortodoxos) geralmente procuram a graga de Deus. Mas nao é menos verdade que as diversas denominacóes cristas nao professam todas os mesmos artigos de fé : no tocante á S. Eucaristía, por exemplo, os pro

testantes costumam admití-la como símbolo do corpo de Cristo. Dai as reservas que o Concilio do Vaticano II exprimiu no tex to transcrito atrás, tendo em vista principalmente a interco munháo entre católicos e protestantes.

Quanto aos orientáis ortodoxos, embora nao professem o primado de Pedro e estejam separados da Igreja Católica, aceitam firmemente, como os católicos, a real presenca de Cristo na Eucaristía; além disto, entre eles há a sucessao apos

tólica ou seja, a transmissáo do sacerdocio conferido por Cristo aos Apostólos e, conseqüentemente, a auténtica consagracáo da

Eucaristía — Por isto, o Concilio do Vaticano H, ao conside rar de modo especial e em documento próprio as comunidades cristas orientáis separadas, determinou o seguinte: "Podem ser conferidos os sacramentos da Penitencia e da Eucaristía e da Unsfio dos Enfermos aos orientáis que de boa fé se acham separados da Igreja Católica, quando espontáneamente os pedem e estao bem dlspostos.

Também aos católicos é licito pedir os mesmos sacramentos aos ministros nao-católicos em cuja Igreja naja sacramentos válidos, sempre que a necessidade ou a verdadeira utllldade espiritual o aconselhar e o

acesso ao sacerdote católico se torne física ou moralmente Imposslvel ("Orlentalium Eccleslarum" n? 27).

— 447 —

16

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

3. Aos 27/IV/1967, o Secretariado para a Uniáo dos Cristáos, explicitando e desenvolvendo o pensamiento do Conci lio do Vaticano n, promulgou um Diretório Ecuménico para

uso dos fiéis católicos. Considerou separadamente a intercomunháo entre católicos e orientáis (bizantinos, melquitas, russos, coptas...) e a intercomunháo entre católicos e protestantes. Com vistas á primeira, exprimiu-se o Diretório nestes termos: "40.

Entre a Igreja Católica e as Igrejas Orientáis separadas de nos

existe multo Intima comunhao nos aasuntos de fé. Além disto, pela cele brado da Eucaristía do Senhor, em cada uma dessas Igrejas, a Igreja de Deus ó edificada e cresce; essas Igrejas, embora separadas, tém verdadeiros sacramentos (principalmente e, porém, em virtude da sucessao apostólica,

tém o sacerdocio e a Eucaristía). Há, portento, fundamento eclesiológlco e sa cramental para que alguma comunlcacSo ñas coisas sagradas com essas Igrejas, sem excluir o sacramento da Eucaristía, dadas as oportunas circuns tancias e com a aprovagao da autoridade eclesiástica, nao apenas seja permitida, mas algumas vezes até recomendada...

44 Fora dos casos de necessldade, pode-se considerar como justa razáo para aconselhar a comunlca$ao nos sacramentos a Impossibllidade

moral ou material em que se ache alguem de receber os sacramentos da própria Igreja durante um tempo notável, por causa de circunstancias par

ticulares e para evitar ao fiel ser privado, sem motivo legitimo, do fruto espiritual dos sacramentos".

Com respeito & intercomunháo de católicos e protestan tes, o Diretório fez as seguintes ponderagóes: "55.

A celebracSo dos sacramentos é acáo duma comunidade que,

ao celebrá-la, a realiza exprlmlndo por ela sua unidade na fé, no culto e na vida Por conseguirte, onde faltar esta unidade de fó, quanto aos sacra

mentos, é prolblda a partlclpagao dos IrmSos separados no culto católico, sobretudo nos sacramentos da Eucaristía, da Penitencia e da Uncao dos Enfermos. Entretanto, como os sacramentos constltuem nao apenas sinais de unidade, mas também fontes que proporcionam a graca, a Igreja pode, com raz6es suficientes, permitir o acesso de um Irm8o separado a esses sacramentos. Tal acesso pode ser permitido em perigo de morte ou em

caso de urgente necessldade (persegulgfio, prlsSo), quando o Irmao separado

nao pode dirlgir-se a um ministro de sua Comunhao e espontáneamente

pede os sacramentos ao sacerdote católico, contanto que exprima uma fé conforme á fé da Igreja quanto a esses sacramentos e esteja bem disposto. Para outros casos de urgente necessidade, decida o Ordinario do lugar ou a Conferencia Episcopal. Mas o católico, em casos parecidos, nao deve pedir esses sacramentos sen§o a um ministro que validamente tenha recebldo o sacramento da Ordem".

Comentando a passagem do Diretório referente á interco

munháo com os protestantes, o Cardeal Agostinho Bea, entáo Presidente do Secretariado para a Uniáo dos Cristáos, escrevia em outubro de 1968: "Os textos bem precisos (do Diretório) determinam as condicSes ne-

cessarias para se admitir um anglicano ou um protestante á comunhao

— 448 —

PROTESTANTES COMUNGAM NA IGREJA?

17

eucarlstica na Igreja Católica. NSo basta que algum desses crlstSos esteja esplrituatmente bem dlsposto e peca espontáneamente a comunháo a um ministro católico. É preciso, antes do mais, que se verifiquem duas outras cond¡Q6es: professe a mesma fé na Eucaristía que a Igreja Católica professa, e nSo possa ter acesso a um ministro da sua confissáo religiosa.

O Diretórlo cita, como exemplos, tres casos de torga maior em que tais condigdes se podem verificar: o perigo de morte, a perseguido, o encarceramento. Nos outros casos, o Ordinario do lugar ou a Conferencia Episcopal poderfio dar a permlssSo, se esta for solicitada, á condicSo, porém,

de que se trate de casos de urgente nacessldade, semelhantes aos que foram citados como exemplos, casos em que se verifiquem as mesmas condicdes.

Quando urna dessas condigSes nfio for preenchida, nao será possivel a admissfio á Comunh&o Eucarfstlca na Igreja Católica" ("Note sur l'application du Dlrectoire oecuménique" em "L'Osservatore Romano" 6/X/1968).

Pouco depois ainda, aos 13/XI/1968, o S. Padre VI di-

rigia-se aos membros do Secretariado para a Uniáo dos Cristáos, lembrando o papel que o Diretório deve exercer na acáo pas toral da Igreja:

"Nao precisamos de dizer-vos que, para promover eficazmente o ecumenismo, é preciso também gulá-lo, e submeter a prática do mesmo a regras

bem precisas. Segundo a nossa mente, o Diretório ecuménico nao é urna coletanea de conselhos que seria lícito ou acatar ou Ignorar, é urna verdadelra instrugáo, urna exposlgao da disciplina á qual se devem sujeltar aqueles que realmente querem servir ao ecumenismo" ("L'Osservatore Ro mano" 14/XI/1968).

4.

Em vista de hesitagóes e repetidas iniciativas de in-

tercomunháo arbitrariamente conosbidas, o Secretariado para a Uniáo dos Cristáos voltou a se pronunciar sobre o assunto

numa declaracáo assinada pelo respectivo Presidente, o Cardeal

Ian Willebrands, aos 7/1/1970. Dizia tal documento:

"Recenlemente, no decorrer de sua assemblóla plenária (Congregalio

plenarfa, cujos membros sfio quarenta bispos do mundo inteiro), realizada em Roma de 18 a 28 de novembro pp., o Secretariado para a UniSo dos CristSos ocupou-se multo atentamente com a intercomunhao. O Secretariado regozija-se pelos trabalhos que se vfio efetuando no mundo inteiro para aprofundar a teología da Igreja, do ministerio (sacerdotal) e da Eucaristía (sacramento e sacrificio) no contexto histórico da divlsSo dos cristSos. Toma conhecimento, com Interesse e provello, dos esforcos realizados para escla recer a problemática e precisar o vocabulario respectivo. Congratula-se prin cipalmente em vista do diálogo interconfessional sobre o assunto, o qual se desenvolve atualmente tanto no plano local quanto em escala mundial. O Secretariado manifesta a esperanga de que as conversagOes servirao para aproximar as posig6es. Verifica, porém, que até o presente momento o diálogo ainda nSo chegou a resultados capazes de ser adotados em comum

por aqueles que tém a responsabilidad© das Igrejas e comunidades eclesiais em

causa.

— 449 —

«FERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

Apostólicas Sedis" 62 [19701 pp. 184-188).

E quais seriam os principios doutrinários que a Igreja tenciona manter incólumes através do diálogo ecuménico? _ Sumariamente, no caso, podem-se realcar entre outros:

a Eucaristía é o sacrificio de Cristo perpetuado sobre «atares

para que a Igreja (os fiéis) dele participan como co-oferentes

e como hostias, oferecendo e oferecendo-se com Cristo ao Pai.

DesToSo sacrificial resulta urna ceia sagrada na^ualse

recebe realmente Cristo, Deus e Homem, sob forma de pao e

vinho (ou como sacramento) para alimentar a vida em grasa dos fiéis.

A Eucaristía, reunindo os membros de Cristo em torno de um só pao e urna so mesa, supóe-nos unidos na mesma fe e na

nísma comunháo da Igreja ou no mesmo corpo eetaULte o Apostólo : «Embora muitos, somos um só pao e um sócorpo, porque todos participamos do mesmo pao» (1 Cor ÍU.IO-

Por conseguirte, onde falte unidade ou a comunhao de

fé e de Igreja entre os homens, ha objegóes a que Participem

fa mesma Eucaristía; esta supóe certos degraus de unidade conquistados; quando estes nao existem, torna-se prematuro

™So da S. Eucaristía. Sendo sinal eficaz de unidade, a Eu

caristía nao pode, sem a fundamentacáo devida, exprimir nem

efetuar essa unidade no corpo e através do corpo de Cnsto. Em outros termos: a comunhao com Cristo tem dois aspectos

Separáveis um do outro : «uniáo com o Corpo de Cristo que e a I¿eja, e uniáo com o Corpo de Cristo que e a Eucaristía. «A Igreja faz a Eucaristía, e a Eucaristía faz a Igreja» diz com acertó a teología, explicítando as palavras do Apostelo.

É sobre este fundo de cena que se sitúa o mais recente do

cumento do Sacretariado para a Uniáo dos Cristaos, que passamos a explanar.

— 450 —

PROTESTANTES COMUNGAM NA IGREJA? 2.

19

A paiavra mais recente

A 1WI/1972, a Santa Sé promulgou mais urna Instrugáo sobre a intercomunháo assinada pelo Candeal Willebrands de-

pois de devidamente aprovada pelo Santo Padre Paulo VI. O

documento tem enímirá esclarecer dúvidas sobre o assunto e ampliar o sentido das normas até aqui vigentes, como se depreenderá abaixo.

1.

A Instrugáo comeca por lembrar o nexo íntimo exis

tente entre a Eucaristía e a Igreja :

"A Eucaristía contém realmente aqullo que é o fundamento mesmo do ser e da unidade da Igreja: o Corpo de Cristo oferec.do em sacrificio é dado aos fiéis como pao da vida eterna".

Ela supóe o sacerdocio instituido por Cristo e transmitido através da sucessáo apostólica até nossos dias. Constituí o centro e o ápice de toda a vida crista.

2 A Eucaristía é também alimento sacramental: «meio de fazer os fiéis viver a vida mesma de Cristo, de incorpora-los mais profundamente a Ele». Pela recepcao freqüente da Euca ristía, o cristáo ss incorpora cada vez mais no corpo de Cristo e participa cada vez mais do misterio da Igreja. Assim concebida, a Eucaristía é necessária a todo cnstao segundo as x palavras de Cristo: «Se nao comerdes a carne do Füho do homem e nao bebentes o seu sangue, nao tsreis a vida em vos» (Jo 6, 53).

3

Proporcionando insergáo mais íntima em Cristo e na

Igreja', a Eucaristía contém a resposta as necessidades da vida espiritual de cada cristáo. Em todo cristáo, é normal a neces-

sidade da Eucaristía. Os que nao estáo em plena comunnao

com a Igreja Católica (isto é, os ortodoxos, os anglicanos, os protestantes) recorrem aos ministros das suas comunidades para participar da celebragáo que entre eles toma os nomes de «Sinaxe, Liturgia, Santa Ceia...»

Mas que responde a Igreja Católica a um cristáo nao-cató

lico que nao possa recorrer a um ministro de sua confissao de fé? E que responde Ela a quem, por outros motivos, pega a Eucaristía a um padre católico?

A Instrugáo volta a repetir o nexo indissolúvel existente entre a Igreja (Católica) e Eucaristía. Observa, porém, que — 451 —

20

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

154/1972

esse vinculo nao é violado caso se dé a Eucaristía a um cristáo náo-católico dentro das seguintes circunstancias:

— o cristáo sinta verdadeira necessidade do alimento euca-

rístico;

— nao possa, por longo espago de tempo, recorrer a um ministro da sua comunidad©;

— pega espontáneamente a um ministro católico a Comu-

nháo Eucarística;

— viva á altura do seu nome de cristáo; e — o que é particularmente digno de nota — profasse a mesma fé na Eu caristía que a Igroja Católica proüessa; isto é, reconhega a real presenga de Cristo (Deus e Homem) sob as figuras do pao e do vinho;

— a admissáo de um cristáo náo-católico á comunháo eucarística da Igreja Católica nao suscité perigo nem perturbagáo para a fé dos fiéis católicos. 4.

A recente

Instrugáo do Secretariado para

a Uniáo

dos Cristáos lembra que o Diretório Ecuménico estabeleceu normas diversas para a intercomunháo de católicos com orto doxos e para a intercomunháo com protestantes (cf. p. 16 deste fascículo). Os ortodoxos professam a mesma fé eucarística que os católicos, ao passo que os protestantes nao admitem a presenga real de Cristo na Eucaristía (esta seria mero símbolo do corpo de Cristo); por isto, para que naja intercomunháo de

católicos e protestantes, requer-se que estes pessoalmente, é

em termos explícitos, manifestem a mesma fé que a Igreja Católica professa. 5. No tocante á intercomunháo com protestantes, o Di retório Ecuménico (n' 55) a admite em casos excepcionais, como perigo de morte, encarceramento, perseguigáo. Reconhece, porém, outros casos «de urgente necessidade», em que a intercomunháo com protestantes possa ser praticada; ao bispo do lugar ou á Conferencia Nacional dos Bispos compete julgar as diversas situagóes e estabeleoer se ha ou nao, em cada urna délas, as condigóes necessárias para a intercomunháo com

protestantes. Ora a Instrugáo de l/VI/1972 explícita um pouco mais o assunto : afirma que os casos «de urgente necessidade» nao sao apenas os de perigo de morte ou sofrimento físico. Há também a necessidade espiritual: — 452 —

PROTESTANTES COMUNGAM NA IGREJA?

21

"Citemos o caso da diáspora: em nossa época de ampios destaca mentos de populac&es, acontece, mals freqüentemente do que no passado,

que eristáos nao-católicos se encontrem dispersos cá e lá em regiSes cató licas. Esses crlstios estSo multas vezes afastados da asslstencia religiosa que as suas comunidades religiosas Ihes poderfam dar ou só se poderiam

beneficiar déla a preso de grandes esforcos e despesas. Se preencherem -as demals condlcSes previstas pelo Diretórlo, poderao ser admitidos á comunháo eucarfstica; mas tocará ao blspo do lugar examinar caso por caso" (InstrugSo, n? 6, fim).

Há, pois, um entendimento mais largo e benigno das situagóes' excepcionais que permitam a intercomunháo. Esta

supóe sempre, da parte do cristáo (católico ou náo-católico), a fome e a sede de graga e de comunháo com Cristo; essa

fome, na recente Instrucáo da S. Sé, é equiparada a algo de grave, que há de merecer especial atencáo da parte da Igreja Católica. Eis por que, em regióes de grupos protestantes mi noritarios em meio a populacho católica, poderá doravante haver intercomunháo entre católicos e protestantes, caso os pro

testantes háo tenham ministro de seu culto a quem possam

fácilmente recorrer e desejem receber a Eucaristía dos católi cos, professando a fé eucarística católica. Ao bispo local (ou á Conferencia Nacional dos Bispos) tocará dizer a palavra de finitiva em cada caso.

Esta ampliagio das diretrizes da Santa Sé é consentánea com a doutrina constante da Igreja concerniente á Eucaristía; evita o relativismo e, ao mesmo tempo, tem sadio valor ecu ménico. Como se vé, porém, a recente Instrucáo nao acoberta a intercomunháo em celebracóes católicas as quais assistam

protestantes que tenham possibilidade de recorrer a um pastor

de sua denominagáo; muito menos acoberta celebragóes oficia

das conjuntamente por presbíteros católicos e pastores protes

tantes. Nestes casos nao haveria a «necessidade urgente» apre-

goada pela Instrugáo de 1«/VI/T2. É de notar também que qualquer tipo de intercomunháo supóe que católicos e protes

tantes professem o mesmo teor de fé na S. Eucaristía.

— 453 —

Crtstaos e nao cristáos interrogam:

descobertos os mais antigos manuscritos do novo testamento? Em alntese: Em margo de 1972, o Pe. José O'Callaghan S.J., paplró-

togo espanhol e professor do Pontllíclo Instituto Bíblico de Roma, pubticou

um artigo no qual declarou haver Identificado, entre os manuscritos das grutas de Qumran (Palestina), alguns fragmentos do Evangelho de S Marcos

e da carta de S Tiago. O maior paplrólogo da Italia, o Prof. Sergio Darls,

deoois de minucioso exame do material paleográfico e dos argumentos da

O'Callaghan, aceitou a tese deste estudioso. Esses fragmentos do Novo

Testamento haverlam sido escritos por volta de 50 d. C. — o que tem significado notável para os estudos sobre a origem dos Evangelhos: o llvro de S Marcos teria sido escrito na Palestina (e nao em Roma) por urna

testemunha ocular e auricular dos elementos narrados, a grande.proxlmidade da vida e da pregagao dlreta de Jesús Cristo (e nSo por cerca de 67/70, como bons exegetas julgam).

Deve-se, porém, dizer que a tese do Pe. O'Callaghan encontra objecaes oor parte de certos estudiosos: o papirólogo espanhol supóe textos do Novo Testamento um tanto diversos (em pontos acldentais) daquele que se tornou clásslco ñas edlgoes do Novo Testamento. — Nao há, porém. argumentos que refutem cabalmente a poslcáo de O'Callaghan, a qual, apesar de enfrentar objecaes nao desprezlvels, mereceu respelto e acato por parte de autoridades no assunto. Fica a criterio do leltor ponderar as razdes pro e contra e formar seu julzo sobre a questSo.

Comentario:

Nos últimos meses, a imprensa propagou a

noticia de que foram identificados manuscritos de Qumran (grutas situadas a NO do Mar Morto, Palestina) como sendo os mais antigos fragmentos do Evangelho de S. Marcos e de outros livros do Novo Testamento. A identificacáo desses ma nuscritos (ou papiros) se deve ao Pe. José O'Callaghan S.J., especialista espanhol em papirologia e professor em Barcelona

e em Roma, que publicou o resultado de suas pesquisas sob o título «Papiros neotestamentarios en la cueva 7 de Qumran.'» na revista «Bíblica» do Pontificio Instituto Bíblico de Roma, t 53"l972 pp. 91-100. Segundo o Pe. O'Callaghan, os manus

critos em ouestáo teriam sido confeccionados em meados do

sáculo I da nossa era — o que importaría numa profunda re-

visáo de nossas concepcóes concernentes a origem do Novo l es

tamento

Com efeito; abalizados autores atribuem a redacao — 454 —

PESCOBERTOS

MANUSCRITOS

BÍBLICOS?

23

do Evangelho segundo S. Marcos aos anos de 67/70 (S. Mar cos teria escrito, segundo o antigo testemunho de S. Ireneu,

após a morte de S. Pedro e S. Paulo, o que quer dizer: após 67 d. C). Ora, se as conclusóes do papirólogo fossem confir madas, dever-se-ia antecipar de quinze ou vinte anos a antiguidade do primeiro Evangelho escrito. Além disto, admitir-se-ia um lapso de tempo muito mais breve para situar a cha mada «pré-história dos Evangelhos» ou a «historia das formas do Evangelho» (cf. PR 152/1972, pp. 343-358). Em suma, as

teses e hipóteses concernentes á origem dos Evangelhos (questáo muito estudada em nossos dias) teriam que levar em conta novos e importantes dados. — É o que tem suscitado a atencáo dos estudiosos da S. Escritura, merecendo breve relatório do assunto para os leitores de PR.

Comecaremos por propor o teor exato dos estudos e das

conclusóes do Pe. O'Callaghan; ao que se seguiráo alguns co mentarios

ilustrativos.

1. '

Eshjdos e conclusóes de O'Callaghan

Sabemos que já nao existe autógrafo dos textos do Novo

Testamento, mas apenas copias. O fato é normal, visto que de nenhum dos autores clássicos, gregos ou latinos, nos foram

conservados os respectivos manuscritos; as obras de Virgilio

(t 19 a. C), por exemplo, nos sao conhecidas através de urna copia que dista dos autógrafos 350 anos; entre os autógrafos de Tito Lávio (t 17 d. C.) e a copia mais antiga dos mesmos há um intervalo de 500 anos...

No tocante ao Novo Testamento, o manuscrito mais antigo que possuímos, é o fragmento da John Ryland's Library, hoje conservado em Manchester (Inglaterra) com a sigla P 45 : es crito no Egito, data da primeira metade do século II (cerca de 130 d.C.) e apresenta versículos do Evangelho segundo S. Joáo cap. 18.

É sobre este fundo de cena que se sitúa a noticia langada pelo Pe.

O'Callaghan S. J.

Em 1947 foram descobsrtos em grutas do deserto de Judá (Palestina) interessantes manuscritos, ditos manuscritos de Qumran (porque situados perto das ruinas do mosteiro essénio — 455 —

24

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

de Khirbet Qumran). Entre esses manuscritos, estavam nu merosos textos hebraicos e aramaicos da S. Escritura que datavam de 100 a. C. a 68 d. C.; assim, por exemplo, dois rolos de pergaminho com o livro do profeta Isaías, um rolo com

o livro dos salmos, um comentario do texto do profeta Haba-

cuque, textos de espiritualidade dos monges residentes em Qumran, além de numerosos fragmentos bíblicos e nao bíblicos.

Na quarta gruta de Qumran (sigla 4Q) encontraram-se fragmentos da traducáo grega do Antigo Testamento (dita tra ducáo «dos LXX») misturados com muitos textos hebraicos e aramaicos, que pareciam todos ter a mesma origem.

Chamou especialmente a atencáo a sétima gruta (7Q), na qual se descobriram apenas fragmentos escritos em grego, num total de 19 pecas. Estes fragmentos, a diferenga dos manus critos das outras grutas (que eram de pergaminho ou de pele de animáis), eram todos de papiro. Tal particularidade podia levar a crer que a sétima gruta de Qumran (7Q) devia ter um depósito de origem diversa da dos demais depósitos. Todavía o estudo dos textos de 7Q era extremamente difícil, já que os manuscritos respectivos eram de tamanho minúsculo; somente dois puderam ser identificados como sendo o texto de Éx 28, 4-7 e Jer 6, 43-44 respectivamente.

Ora foi ao restante dos manuscritos de 7Q que o Pe. O' Callaghan aplicou seus esforgos : tratava-se de fragmentos muito pequeños, nos quais se podía encontrar o máximo de 28 le tras ou o mínimo de urna letra; além disto, a péssima conservacáo do material difícultava sobremaneira a identificacáo dos dizeres. O Pe. O'Callaghan procurou primeiramente reconhe-

cer neases textos gregos alguma passagem do Antigo Testa mento, e finalmente pode anunciar no artigo citado de «Bíblica» a identificacáo de Me 6,52-53 em 7Q 51; Me 4,28, em 7Q 6; e Tg 1,23-24 em 7Q 8. Em urna nota do mesmo artigo, o Pe. O'Callaghan anuncia que em breve proporá ao público a identificagáo de outros fragmentos; assim At 27,38 em 7Q 6 (se gunda parte); Me 12,17, em 7Q 7; Rom 5,11-12, em 7Q 9; 2 Pe 1,15 em 7Q 10, e Me 6,48 em 7Q 15. Julga que, dessas cinco identificacóes, as tres primeiras s¡áo prováyeis, e as duas últimas possíveis. Levando em conta a paleografía (ou os tipos de es1 Leia-se: sétima gruta de Qumran, manuscrito rfl 5. — De maneira

semelhante lelam-se as siglas seguintes.

— 456 —

DESCOBERTOS MANUSCRITOS BÍBLICOS?

25

crita de cada fragmento), o papirólogo julga poder atribuir os referidos manuscritos a um período que vai de 50 a. C. a 50 d. C.

Caso as condusóes do Pe. O'Callaghan sejam auténticas, teráo significado de grande relevo. O Evangelho de Marcos te na sido escrito antes da queda de Jerusalém (70 d. C); e provavelmente dever-se^ia a testemunha ocular e auricular de boa

parte dos fatos e dizeres narrados. Estaría em xeque urna an-

tiga tradigáo segundo a qual o Evangelho de Marcos haveria

sido escrito em Roma pelo evangelista Marcos, que fazia as vezes de secretario do Apostólo S. Pedro.

Pergunta-se agora: diante de táo importantes proposigóes lancadas ao público,

2

Que dizer?

O estudioso que procure formular um julgamento sobre a

tese do Pe. O'Callaghan, encontrará comentarios favoráveis

como também sentengas céticas por parte de peritos no assunto. Abaixo proporemos sucessivamente urnas e outras opinióes. 2.1.

Vozes positivas

Foi em dezembro de 1971 que o Pet. O'Callaghan chegou

ás suas condusóes concernentes aos papiros da sétima gruta de Qumran. Imediatamente ele as propós a outros professores do Instituto Bíblico de Roma, que julgaram a tese verossímil.

Os mesmos solicitaram o parecer ide peritos italianos; estes, a principio, foram infensos ás condusóes de O'Callaghan, pois nao quadravam com as premissas adotadas no estudo dos ma

nuscritos de Qumran (admitia-se que só reproduziam textos do

Antigo Testamento). Todavía o Professor Sergio Daris, o melhor papirólogo da Italia nos tempos atuais, após urna sessáo de sete horas aproximou-se da posigáo de O'Callaghan e acabou por aceitar plenamente a esta.

Ponderando as descobertas e os argumentos propostos por

O'Callaghan, o Pe. Alonso-Schókel, Vice-Reitor do Pontificio Instituto Bíblico de Roma, fez as seguintes declaragdes:

"Diría que nos encontramos dlante de tese multo sólida. O'Callaghan traz urna expllcacSo multo coerente, cujo valor é notavelmente reforjado pelo fato de que esclarece os nove fragmentos da gruta 7 de Qumran aínda — 457 —

26

«PERGUNTE E RESP0NDEREMOS> 154/1972

nao identificados. ... Concretamente, trata-se hoje de hlpótese seria e sólida Seria preciso suplantá-la por argumentos tSo fortes quanto aqueles que Ó'Callaghan formula para prová-la" (texto publicado por "La Documentatlon Catholique" 1609, 21/V/1972. p. 489).

Todavia, apesar do otímismo assim expresso, nao deixa de haver dificuldades contra a tese de Ó'Callaghan, dificuldades, alias, de que este autor mesmo tem consciéncia. Vamos abordá-las.

2.2.

Vozes reservados

Eis o que se objeta á tese do professor do Pontificio Insti tuto Bíblico:

a)

Nao se deve esquecer que as letras claramente visí-

veis nos fragmentos analisados sao relativamente pouco nume

rosas- etn 7Q 5, por exemplo, léem-se com seguranga 11 letras e, com probabilidade, 9 letras, todas dispostas num conjunto de cinco linhas.

b) Mais: as identificacóes propostas por Ó'Callaghan nao coincidem sempre plenamente com o texto grego usual do

Novo Testamento (munido do respectivo aparato critico) : as sim, por exemplo, em Tg 1,24 o Pe. Ó'Callaghan supoe em

determinado manuscrito a omissáo do pronome reflexivo se1; em Me 6,13, p papirólogo espanhol propóe outrossim a omissao da expressáb-«a (ou la) térra» — o que de resto nao altera o sentido da frase2. — Estas dificuldades, porém, nao sao de «rande monta, pois as variantes acidentais nos textos do Novo

Testamento (erros de grafía, omissóes de partículas, acréscimos de letras...) sao freqüentes e tranquilamente reconhecidas pelos estudiosos, que nem por isto rejeitam os manuscri tos portadores de variantes novas.

c) O Pe. Ó'Callaghan julgou descobrir em pequeños frag mentos de papiros, com poucas letras legíveis, varios textos do

Novo Testamento. — Pergunta-se entáo : por que outros textos

(como os do Antigo Testamento traduzido para o grego ou os

de apócrifos ou aínda os de literatura profana) nao poderiam

também satisfazer as exigencias dos grupos de letras encon•Els o texto de Tg 1,24 no seu teor habitual: "Mal acaba de se con

templar, sai dall e esquece o que era". 1 Me 6, 53: "Finda a travessia, aproximaram-se de Genesaré e tocaram a térra (ou aportaram)".

— 458 —

DESCOBERTOS MANUSCRITOS BÍBLICOS?

27

trados nos papiros de Qumran? Por exemplo, o conjunto nnes

foi interpretado como vestigio de Gennesaré pelo Pe. O'Calla

ghan, que tem em vista Me 6,53; poderia, porém, ser enten dido como resquicio do verbo egénnesen (gerou, em grego).

O Pe. O'Callaghan, cíente desta objegáo, declarou, entre

oútras coisas, que havia consultado a respsito o especialista Prof. Sergio Daris; este lhe respondeu que, quanto mais nu merosos sao os textos que em determinado contexto se identificam com um documento preciso (como é o Novo Testamen

to), menor é a probabilidade de identifícacáo diferente. Portanto, se os diversos fragmentos de 7Q podem ser identifica dos todos com textos do Novo Testamento, nao se deve pro curar fora do Novo Testamento a identificagáo dos mesmos.

d)

A data dos manuscritos é assinalada pelo Pe. O'Calla

ghan como sendo os meados do século I d. C. O fundamento

para a indicagáo da data é o exams paleográfico (ou do tipo da escrita) dos fragmentos. — Todavía o próprio papirologo

espanhol reconhece que o argumento paleográfico nao é deci sivo, mas pode levar a resultados oscilantes.

Sabe-se que em 68 d. C. o edificio central dos monges

de Qumran foi destruido pelos invasores romanos. Mas as rui

nas do mesmo foram «utilizadas pelos judeus por ocasiao da segunda revolta judaica chefiada por Simáo Bar Kochba, o

«Filho da Estrela» (132-135 d. C.). Ora parece nao estar ex cluido que os manuscritos gregos em foco tenham sido coloca dos na sétima gruta de Qumran nao antes de 68 d. C, mas, sim, posteriormente, por urna comunidade crista residente nos arredores de Qumran, ou seja, em Jericó.

e) O estudioso dominicano Pe. Benoit, Diretor da Escola Bíblica e Arqueológica de Jerusalém, objetou ao Pe. O'Calla

ghan o fato de que este construirá sua tese exclusivamente na base de fotografías e conssqüentemente identificara som bras e rugosidades dessas fotografías com tragos de caligrafía antiga O Pe. O'Callaghan, na verdade, viajou para jeru salém depois de haver publicado a sua teoría, a fim de tomar contato com o papiro original; isto, porém, nao o demoveu da sua tese, pois voltou declarando : «O estudo do papiro original confirmou plenamente os meus resultados». O Pe. Benoit manteve-se todavía contrario á posigáo de O'Caliaghan, observando o seguinte: «É psicológicamente difícil renunciar á autoría de urna tal descoberta». — 459 —

28

«PERGÜNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

3.

Conclusao

Em suma, ponderando os diversos argumentos discutidos pelos estudiosos dos manuscritos de 7Q, o Pe. Carlos Martini S. J., atual Reitor do Pontificio Instituto Bíblico de Roma, faz as seguintes reflexóes: "É difícil por ora apresentar pravas decisivas contra as identificacSes

propostas (pelo Pe. O'Callaghan). Mas o estado fragmentario dos textos impede também de afirmar que estamos diante de argumentos positivamente

certos em favor dessas identificacSes. Trata-se atualmente de urna hipótese

apoiada sobre consideracSes serias e dignas de grande atencSo, hipótese que deverá ser, nos tempos vindouros, estudada do ponto de vista paleográfico, paplrológico e arqueológico e que é apta a despertar o interesse por tal género de estudo. Assim se explica a importancia atribuida a noticia,

principalmente pela imprensa inglesa e norte-americana" ("La Documentation Catholique" n? 1609, 21/V/1972, p. 488).

Estas palavras deixam o leitor consciente de estar diante de urna questáo aberta; cabe ao estudioso ou aos interessados ponderar as razóes apresentadas pelas peritos no assunto e optar pela atitude (afirmativa ou negativa) que lhe pareca mais razoável. — Seja lícito, porém, lembrar o seguinte: nao se pode em absoluto censurar a posicáo de q
mente qualquer afirmacáo que mereca aprego científico. — De resto, a veraeidade e a autenticidade dos Evangelhos, embora muito se benefíciem com a hipótese do Pe. O'Callaghan, de modo

nenhum dependem da confirmacáo da sentenca do brilhante papirólogo do Pontificio Instituto Bíblico de Roma. Bibliografía:

José O'Callaghan, "Papiros neotestamentarios en la cueva 7 de Qumran?" em "Bíblica" 53 (1972) pp. 91-100. Carlos Martini, "Note sui paplri della grotta 7"di Qumran", ib. pp. 101-104.

ídem, "Testi neotestamentari tra i manoscrltti del deserto di Giuda ", em "La Civilta Cattolica" n? 2924, 15/IV/1972, pp. 156-158. "La Documentation Catholique" n? 1609, 21/V/1972, pp. 487-489.

Jorge Mejia, "Un problema bíblico: la antigüedad del Nuevo Testamen

to", em "Criterio" n? 1644, 25/V/1972, pp. 270-273.

Raúl Ruijs, "Descoberta sensacional ou "Atualizacao" n? 29, maio 1972, pp. 224-226.

hipótese imprudente?",

"Time WeeWy", 1/V/1972, pp. 29s. "Der Spiegel" Nr. 23, 29/V/1972, pp. 126s.

— 460 —

em

"Nos subterráneos do Vaticano" :

Pió XI morreu envenenado?

Em síntese: A Imprensa divulgou a noticia de que o Papa Pío XI aos 10/11/1939 terla morrldo assassinado em conseqüéncla de urna InjecSo mortífera aplicada ao Pontífice pelo Dr. Petacci, pal da companhelra de Benito Mussolini. A fonte de tal comunicacSo serian» os arqulvos secretos do Cardeal Tlsserant, que faleceu em 1971 após ter passado quarenta anos

em Roma a servlco da Santa Sé. — Ora o Pe. Angelo Martlnl S.J., em

artigo do jornal 'L' Osservatore Romano', que aquí resumimos, demonstra a improcedencia de tal noticia. A nlnguém está franqueado o arquivo secreto do Cardeal Tlsserant, do qual se diz ter sido extraída a noticia. Alétn do mais, pode-se reconstituir a seqüéncla dos acontecimentos de 9 e 10/11/1939 nos aposentos do enfermo Papa Pió XI, verlflcando-se asslm que o Dr. Petacci nao esteve entáo Junto ao Pontífice.

Para explicar o recente vozerio falso em torno da morte de Pió XI, pode-se apresentar a segulnte conjetura: há tempos, correrram de fato

em Roma rumores segundo os quals Pió XI teria sido assassinado, rumores, porém, Infundados e tendenciosos. O Cardeal Tlsserant anotou em seu

diario tal fenómeno (costumava langar al a noticia de acontecimentos re levantes e até de palavras que ouvia); isto nSo quer dlzer que o prelado qulsesse endossar o vozerio superficial. Os herdeiros dos arquivos se cretos do Cardeal terfio utilizado esse diario, Interpretando tendenciosa mente o

registro felto por Tisserant.

Comentario: Em maio 1972, o público internacional foi surpreendido pela noticia segundo a qual o Papa Pió XI teria morrido envenenado na madrugada de 10/11/1939. Tal noticia haveria sido depreendida dos arquivos secretos do Cardeal Eu genio Tisserant recém-falscido em Roma. Tal documentário, enviado para a Franga, teria sido explanado pelos amigos do prelado, que ai haveriam encontrado a «revelagáo» sensacional. Visto que o caso susciten dúvidas e perplexidades nos leitores, vamos, ñas páginas que se seguem, expor a versáo que dos acon

tecimentos refere o Pe. Angelo Martini S. J. no jornal «L* Os servatore Romano» de 30/VI/1972 (edigáo francesa) p. 9. — 461 —

30

cPERGUNTE E RESPONDEREMOS> 154/1972

1.

A sensacional noticia

Aos 13/V/1972, a revista francesa «París Match» (n' 12017 publicou a mánchete seguinte; «ftevelagóes sensacionais no

testamento do Cardeal Tisserant: o Papa Pió XI foi assassinado». Em 27 linhas, o autor do artigo, dizendo-se de posse de memorias, notas e documentos do Cardeal Tisssrant, referia o seguinte :

O Papa Pió XI, doente, tencionava condenar Benito Mussolini e a política fascista em 1939; em vista disto, dera ordem ao Cardeal Tisserant para que convocasse os bispos da Italia;

em presenga da assembléia assim reunida, denunciaría as tra mas perseguidoras do fascismo, proferindo um discurso veemente preparado por Tisserant. A fim de poder agüentar as emocóes que tal gesto lhe acarretaria, o Papa teria pedido ao seu médico, o Professor Petacci, que lhe aplicasse urna injegáo

tonificante. Ora o Dr. Petacci era o pai da companheirá de Mussolini; por ordem do Duce, prevaleceu-se da ocasiáo para aplicar urna injegáo mortífera. Em conseqüéncia, poucas ho ras depois faleda o Papa Pió XI.

Essa noticia de «París Match», apresentada como algo

de inédito, foi acompanhada, na própria Tevista, por urna serie de outras «revelagóes» nao menos estranhas e sensacionais, concernentes aos. sucessores de Pió XI; eram tópicos irreverentes e acentuadamente quiméricos.

A imprensa cotidiana de numerosos países apoderou-se desse noticiario e o langou sobre os respectivos leitores durante alguns dias; os comentarios e as conjeturas foram assim desencadeados, envolvendo mesmo agencias e pessoas de certo renome.

Diante da celeuma assim provocada, pergunta-se numa ati-

tude serena e desapaixonada :

2.

Que pensar?

Pode-se dizer que o quadro está evidentemente destorcido. 1

Antes do mais, note-se que Pió XI nao tencionou con

vocar os bispos da Italia no intuito de condenar o fascismo. O que o Papa desejava, era celebrar com o episcopado reunido — 462 —

PIÓ XI ASSASSINADO?

31

em assembléia o décimo aniversario do Tratado do Latráo (Tratado que pos fim ao litigio vigente ¡desde 1870 entre o Es tado Italiano e o Vaticano); dirigiría entáo a palavra aos bispos. Aos 11 de fevereiro, data do aniversario, depois de «cápela papal» (ou Missa solene com participagáo do Pontífice) na basílica de Sao Pedro; Pió XI teria comemorado o feliz acontecimento; aos 12 de fevereiro, haveria discorrido em coloquio com os bispos sobre os principáis problemas que a Igneja entáo enfrentava na Italia. O texto do discurso comemorativo foi redigido pessoalmente por Pió XI em horas de trabalho noturno em fins de Janeiro e inicio de fevereiro, sem interferencia de colaborador algum. O texto foi entregue ao Cardeal Euge

nio Pacelli (Secretario de Estado), a fim de que o mandasse imprimir na Tipografía Vaticana; finalmente o Papa Joáo XXm tornou-o público em 1959, por ocasiáo do 30' aniversario do Tratado do Latráo.

Para a segunda reuniáo (12/11/1939) Pío XI nao redigiu

propriamente um texto, mas coletou um documentarlo e arrolou urna serie de temas sobre os quais poderia estabelecer um diálogo com os bispos italianos.

Por conseguinte, é falso dizer que o Cardeal Tisserant tenha participado diretamente dessas últimas atividades de Pío XI Somente os mais próximos colaboradores do Pontífice, isto é o Cardeal Pacelli (depois Pió XII), Mons. Tardini e Mons. Montini (hoje Papa Paulo VI), tíveram conhecimento do texto

impresso: os impressos, porém, foram destruidos logo apos a morte de Pió XI, por ordem do Cardeal Pacelli, Camerlengo da S Igreja e Chefe do Colegio Cardinalício. Os autógrafos

desse' texto, porém, redigidos por Pió XI, foram conservados

por Mons. Tardini, ficando no Arquivo dos Assuntos Extraor dinarios da Santa Sé.

2

Do ponto de vista jornalístico, é muito sugestivo apre-

sentar Pió XI a pedir ao seu médico que lhe amparasse a vida mediante urna injegáo, afim de que pudesse proferir um discur so abalador. Todavía tal versáo nao corresponde a realidade dos fatos Desde o veráo de 1936, Pió XI sofría de disturbios

circulatorios, que se tinham manifestado primeramente ñas pernas a ponto de o obrigar a ficar estendido. Foi nesta posicáo que durante certo tempo Pío XI deu suas audiencias; rece-

beu assim, por exemplo, os cinco bispos alemáes que ele chamou a Roma quando decidiu publicar a encíclica «Mit Brennender — 463 —

32

cPERGUNTE E RESPONDEREMOS»

154/1972

Sorge» sobre o nacional-socialismo. O médico assistente do Papa era entáo o Professor Milani. O Padre Gemelli O.F.M., Reitor da Universidade do Sagrado Coracáo de Miláo, conseguiu a colaboragáo do Prof. Dr. Bianchi, que se manteve em contato

com o Pontífice enfermo e com os dois médicos Dr. Milani e Dr. Rocchi. Em novembro de 1938, os disturbios circulatorios foram tais que o S. Padre caiu em coma, só conseguindo superar

a crise com grande dificuldade. Os médicos receavam complicagóes de uremia, em vista das quais foi solicitada a intervengáo do Prof. Buonanno. Como se vé, diversos médicos assistiram ao Papa nos últimos meses de sua vida, nunca, porém, o doutor Petacci, embora este figurasse entre os cirurgióes efe-

tivos contratados pelos servigos sanitarios da Cidacfe do Vati cano.

O Cardeal Confalonieri, ainda hoje vivo, e autor do livro

«Pió XI visto da vicino», afirmou que o Dr. Petacci nunca colocou os pés nos aposentos de Pió XI. As memorias de Mons. Tardini (depois Cardeal, e já falecido), escritas no decorrer

cotidiano dos acontecimentos, atestam a veneragáo desse pre lado por Mons. Confalonieri e Mons. Venini, que, com Frei Faustino, permaneceram constantemente junto ao Pontifice en fermo e, no último dia e na última noite, nao o deixaram por

um só instante. Donde se vé que a noticia de injegáo mortífera dada pelo Dr. Petacci durante a última noite de Pió XI é produto de pura ficcáo.

3.

E o pape! do Cardeal Tisserant ?

Os arautos da ficgáo invocam o patrocinio do Cardeal Tis serant para a sua noticia. O Card.

Como? Por qué?

Tisserant viveu quarenta anos em Roma como

estudioso orientalista, chegando a ser nomeado Bibliotecario da S. Igreja Romana. Deixou um arquivo de doze caixas, que depois de sua morte foram transportadas de Roma para a Franca e a Suica. É nesse documentarlo privado de Tisserant que dizem os repórteres haver colhido a noticia do assassinato de Pió XI. O articulista de «París Match» (n» citado), porém, nao cita diretamente — o que é importante e grave — o suposto texto redigido pelo Cardeal Tisserant portador da sensa cional noticia; o articulista apenas pretende apresentar o resu mo de quanto tena escrito Tisserant em suas notas intimas. — 464 —

PIÓ

XI

ASSASSINADO?

33

Atribuí assim ao Cardeal a paternidade da noticia, alegando outrossim que Tisserant acompanhou de perto Pió XI em seus últimos días. Pergunta-se : que dados havia nos arquivos do Cardeal Tis serant que pudessenvter sugerido a noticia sensacional divul gada por «París Match»?

Eis o que em resposta serena se pode afirmar: A narrativa de «París Match» concernente ao «assassínio» de Pió XI nao é nova nem inédita. Já foi discutida em 1946 pelo historiador Charles Pichón em seu volume «Histoire du

Vatican» : o autor ai refere que em alguns círculos de Roma

correu em determinada época a versáo da injecüo dada pelo Dr. Petacci; todavía, após haver feito a devida pesquisa dos fatos, concluiu Charles Pichón : «Era materialmente impossível realizar tal atentado».

No ano seguinte, o periódico ilustrado italiano «Oggi», aos 27/VII/47, publicou o artigo intitulado «Pió XI foi assassinado», da autoría de Giulio Romano (pseudónimo) ; este examinava com grande cuidado os acontecimentos dos últimos dias de Pío XI e apresentava um auténtico relato da evolugáo do estado de saúde do Pontífice: as 15 horas de 9/Ü/1939, Pió XI sofreu grave crise cardíaca, parcialmente superada, mas se guida de recaída as 3 horas de 10/Ü/39 — o que teve por conseqüencia a morte do Pontífice as 5 h 31 min de 10/H/39. Segundo Giulio Romano, terá circulado na Franga e na Inglaterra o rumor de que Pió XI fora vitima de atentado, ao passo que na Italia o Ministerio da Propaganda por sua cen sura sufocou tal rumor. Ora pode-se admitir muito plausivelmente que o Card. Tisserant tenha consignado em seu diario o desenrolar de tais acontecimentos. Alias, o próprio Tisserant, aínda vivo, afirmou que anotava diligentemente em seu diario o que acontecía em torno dele, a ponto de conservar palavras ditas ou escutadas pelo prelado. Deve-se observar, porém, que urna coisa é tomar nota de rumores em curso e outra coisa é identificar-se com tais rumo res e aprésente-los como noticia válida e endossada. No primeiro caso, o lancamento é perfeitamente compreensível e justificado. No segundo caso, se o Card. Tisserant — 465 —

34

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

tivesse endossado os rumores, dever-se-iam pedir provas ao Cardeal, provas que ele jamáis poderia fornecer, mas, ao con

trario, seriam impossíveis, dada a serie de documentos contra

rios á veracidade de tais rumores. Segundo o vozerio propa lado, a injecáo mortífera teria sido aplicada entre as 23 h de 9/n e as 3 h do dia seguinte. Ora nesse período de tempo, fora Mons. Tardini, Mons. Venini, os irmáos agostinianos que assistiam ao Papa, e o Dr. Rocchi, que nao se afastou do aparta

mento papal, nenhum outro médico ou enfermeiro se aproximou do enfermo. Nao se podem trazer provas do contrario, ou

seja, da interferencia de outra pessoa no quadro de fim de vida de Pió XI.

Assim percebe-se o papel do Cardeal Tisserant na celeuma que «París Match» suscitou. Na mais verossímil das hipóteses, o Cardeal Tisserant térá lancado em ssu Diario a noticia de que corriam rumores em Roma e no estrangeiro a afirmar o assassinio de Pió XI. Isto nao quer dizer que Tisserant fazia

sua a noticia como sendo o auténtico relato da realidade; ape nas consignava o fenómeno do vozerio, que a crítica historiográfica tem como falso.

Alias, pode-se notar ainda que em nossos dias nao é raro fazer-se sensacáo em torno ida pessoa ou da memoria de de terminado homem da Igreja, á custa da verdade e do respeito a fama alheia, Foi o que se deu em Janeiro de 1972, por exemplo, mediante o lancamento do livro «Pie XII devant l'histoire» (Pío XII diante da historia). Esta obra moveu a opiniáo pú blica da Franga, tornando-se objeto de comentarios de jomáis, radio e televisáo e reperoutindo na imprensa día outros países.

O procedimento sensacionalista é sempre o mesmo: o autor do «furo» apela para documentos explosivos inéditos, que nao sao oferecidos ao controle da crítica, ou que, quando oferecidos, nao resistem a um exame objetivo. A noticia mésela elementos

de verdade e fiecáo ou conjeturas, realizando assim a mistificagáo dos leitores e a denigracáo injusta de pessoas e valores

que deveriam ser respeitados. É de lamentar que tais proóedimentos encontrem conivéncia nos órgáos de informacáo do público.

Dados estes esclarecimentos, vé-se o que pensar da propa

lada' «estória» do assassinio de Pió XI: é assunto com o qual só perderáo tempo as pessoas inadvertidas e incautas.

A propósito, veja também "Informatlons Catholiques Internationales", rfl 413/414, agosto 1972, pp. 16-19.

— 466 —

Aínda no teatro:

e "o interrogatorio" de peter weiss?

Em síntese: Peter Welss, em urna peca de teatro, reproduz boa pane dos autos do processo de Franooforte, que em 1965 julgou 23 acu sados e ouvlu 350 testemunhas relacionados com o campo de concentracSo de Auschwltz. Os quadros pretendem ser fiéis á realldade ©corrida e sugerem ao espectador serlas reflexoes: 1) os maiorais do campo nao terlam cometido as suas cruéis facanhas se nSo tivessem contado com o apolo de milhares e mllhares de subalternos, que, amedrantados, acovardados ou inconscientes, executavam ordens desumanas; 2) o regime de desrespeito á pessoa humana ainda subsiste no mundo contemporáneo; 3) a desumanizacSo ó contagiante; as vltlmas, no afá de sobreviver, podlam chegar a conculcar as normas da justlca e da benevolencia ao próximo; a bajulacáo e a hipocrlsla eram usuals no campo; 4) os que queriam resistir á massllicacao e á lavagem cerebral em Auschwltz tlnham que pro curar guardar consciéncia dos porqufis de seu encarceramento; 5) até os carrascos, como também o povo alemfio em geral, foram vltlmas (ao me nos até certo ponto) da masslflcacao nacional-socialista.

Comentario:

Está percorrendo o Brasil a pega de teatro

«O Interrogatorio» de Peter Welss. Este autor assistíu a fase de instrucáo do processo de Francoforte (Alemanha) que era 1965 julgou os acusados (funcionarios, enfermeiros, carcereiros...) do campo de concentracáo de Auschwitz. Auschwitz era urna pequeña localidade situada na Polonia a 300 km de Varsóvia e 500 km de Berlina; la o nacional-socia lismo contituiu um grande acompamento de prisioneiros, famo so pela crueldade com que ai eram tratados os detentos.

O processo de Francofbrte levou 182 dias; os seus autos se estendem por 18.000 páginas, que relatam os depoimentos de 23 acusados, de 350 testemunhas e as intervengóes de 27 magistrados. Peter Weiss estudou minuciosamente esses autos,

assim como o livro do jornalista Berndt Naumann (o mais completo a respeito), e compñs a peca «Die Ermittlung» (O vn.-

terrogatório). Esta, mediante adaptagáo e cortes necessanos — 467 —

36

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

infligidos aos autos, procura retratar com fidelidade as ocorréncias do campo de Auschwitz. Consta de onze cantos (cantos, porque reproduz a estrutura literaria da «Divina Comedia» de

Dante); cada canto é, de certa maneira, autónomo e pode ser definido como um bloco de depoimentos, que trazem respecti vamente os seguintes títulos : 1) Canto da Plataforma, 2) Canto do campo, 3) Canto da máquina de fazer falar, 4) Canto dos sobreviventes, 5) Canto da morte de Lili Tofler, 6) Canto

do Sargento Stark, 7) Canto do Muro Negro, 8) Canto do fenol, 9) Canto do Cárcere, 10) Canto do ZyWon b, 11) Canto dos

tornos crematorios.

O espetáculo pretende nao somente informar os especta

dores a respeito do passado, mas também levá-los a refletir sobre a situagáo do mundo contemporáneo. Quais seriam entáo as notas da mensagem que Peter Weiss pretende comunicar ao público?

REFLEXÓES

O desenrolar ida peca «O Interrogatorio» vai sugerindo,

entre outras, as seguintes consideragóes : 1)

Se cada funcionario no campo quísesse opor-se as or-

dens recebidas, a situaeáo .podaría mudar. É, pois, enorme o al cance da conivéricia em atos de colaboracáo aparentemente in significante. Os matarais que chefiavam o campo de concentragáo, nao teriam podido exercer a sua crueldade se nao houvessem contado com o apoio de mimares e milhares de subal ternos. Estes iam cumprindo as ordens recebidas sem tomar

(ou sem querer tomar) consciéncia exata do que faziam; o raedo, a covardia, a inercia, talvez também a massificagáo, tor-

navam os funcionarios de Auschwitz elementos úteis ao exter minio de multidóes de seus semelhantes: «Ordens eram ordens» «O meu trabalho nao exigía investigagáo das causas de morte»,

«Estava dentro de minha competencia», tais eram as respostas,

dos acusados no processo. Enfim, a displicencia, o descaSo,

a omissáo despreocupada, por mais inocuas que parecam, po-

dem tornar-se tremendos fatores de prejuízo e ruina para o próximo.

2) «Eu sobreviví; mas o regime (do campo de concentrac5o) continua a sobiwviver». O espetáculo pretende despertar o

público para situacóes de violencia e de desrespeito á dignidade — 468 —

gQ INTERROGATORIO» DE P. WEISS

31

humana subsistentes até os nossos tempos; por isto no inicio da pega sao apresentadas algumas fotografías da dolorosa situacáo vigente no Vietnam, no Paquistáo e em outros países do mundo. Peter Weiss coloca na boca do Promotor do júri os segumtes dizeres : «Sabemos que é possivel crue milhoes de pessoas'sejam mais urna vez exterminadas sem reagir, e que este exterminio ultrapassará de muito, em eficiencia, os velhos mé todos» .

3)

A desumanizacao é contagiante. Quem entrava no

campo de concentraeáo, era despojado de tudo (trajes, docu mentos e demais pertences) e comecava a viver nova vida, de signado por um número. Doravante a tendencia de cada um era a de fazer tudo para sobreviver, de tal modo que os cri terios de justica e injustiga cediatu ao da utilidade; cada qual era levado a fazer o que fosse mais útil para si, ainda que

redundasse em injustica para o próximo. «Se dois homens co-

miam no mesmo prato, cada qual olhava para a cara do outro, a ver se este outro nao comia urna colherada a mais do que o seu companheiro».

Urna das táticas utilitarias consistía em procurar agradar

aos chefes do campo, até mesmo hipócritamente. Quem agra-

dasse, era promovido as funcóes de supervisor dos companheiros, usufruindo entáo de regalías.

O campo devia ser um sistema de «reeducacáo» c-u de la vagem de cránio para os detentes; mesmo os de ánimo mais forte corriam o risco de ser vencidos e revirados pelo ambiente do campo.

4)

Os prisioiieiros, ctentes do perigo de ser massificados

ou reeducados», proctíravam mantear sempne viva a «mscléncia dos motivos por que la estavam; essa conservacáo da consciéncia já era um ato de resistencia. Embora nao pudessem superar

os opressores, os prisioneiros tinham a esperanca de sobreviver para contar ao mundo o que acontecerá em Auschwitz. 5) A pega insinúa também que os funcionarios do campo nao eram somente carrascos, mas outrossim vítimas do sistema; até certa ponto foram envolvidos na massificacáo e na lavagem de cránio coletivas. Urna das testemunhas, referindo-se ao que

acontecía sob o nacional-socialismo, exclama: «Perdemos o há

bito de pensar. Outros pensavam por nos». Na escola, os mes-

tres ensinavam que as leis do Estado eram indiscutíveis e visa— 469 —

38

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

vam sempre ao bem da nagáo. A doutrinacáo era táo valori zada que diziam ao estudante: «Vocé precisa mais de instrucáo do que de pao».

A pega termina lembrando que o povo alemáo inteiro sofreu sob o nacional-socialismo. Hoje dever-se-ia olhar para o

que nele ha de positivo, em vez de reavivar fatos passados. Apás a recordagáo de táo pungentes episodios, «O Interro

gatorio» se encerra com o pedido de que o público nao aplauda

(o que seria ambiguo), mas faga um minuto de silencio. Na vendade, o silencio e a reflexáo sincera constituem a resposta: mais genuina que o espectador possa dar a táo significativo espetáculo, que pretende nao falar apenas de realidades passadas, mas trazer urna mensagem cheia de advertencia e seriedade para o homem contemporáneo.

resenha de livros Mysterium Salutls, II/l: Deus uno e trino. Compendio de dog mática histórico-salviíica, editado por Johannes Feiner e Magnus

Lohrer, com a colaboragáo de Hans Urs von Balthasar, Raphael Schulte Fr J. Schierse A. Hamman, L. Schefíczyk, A. Deisder, J. Pfammatter, M. Lohrer, K. Rahner. Traducáo de equipe de teólogos. — Editora Vozes, Petrópolis 1972, 160 x 230 nun, 367 pp. Este é o quarto tomo de urna obra monumental, que visa a apre-

sentar de maneira profunda e atual toda a doutrina da íé elaborada á luí da historia e da teología. O presente volume versa sobre a dou-

Sina da Revelacao concebente a Deus: sao abordados o monoteísmo

do Antigo Testamento e seu desenvolvimento nos escritos do Novo Testamento, que falam da vida transcendental do Deus uno (Pal, Filho e Espirito Santo); as interveneoes do magisterio da Igreja e as ela borares dos teólogos completara a sintese do volume. Trata-se ¿e

obra seria, criteriosa, que se desuna ao público estudioso oumesmo epecializado; o seu uso supfie iniciacao filosófico-biblica e exige tenacldade da parte do leitor,... tenacidade que Pederá ser altamente re compensada á medida que for penéTrando na densidade do livro.

Recebemos da Editora Vozes (Petrópolis) e podemos recomendar: Seremos um em dols. Orientac3o sobre o namoro, por Frei Luis Gonzaga, 4* edigáo.

Mtülier vocé, por Maria Aparecida Ataliba de Lima Goncalves, 5' edigáo.

Diálogos conjugáis — I. Curso para casáis. Coordenacáo de O. e

L. TmetaoTS. e N. Abráo, S. e A. Malheiros e C6n. van Veghel.

G Fazemos restrigOes ao livro «O sentido personalista do matri

monio» de B. Beni dos Santos (Vozes, Petrópolis) pelas consideracSes que apresenta sobre a limitacáo da naturalidade, os contraceptivos e a encíclica «Humanae Vitae».

— 470 —

A guisa de crónica :

encontró latino-americano de beneditinos

De22 a 29 de julho de 1972, como noticiou a imprensa, realizou-se ñas dependencias do Colegio do Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro um Encontró de Irmáos (sacerdotes ou nao) e Irmas (de estrita clausura ou de vida missionária) que militam sob a Regra de Sao Bento na América Latina! Estavam presentes, portante, nao apenas os beneditinos ditos «negros» (por usarem hábito negro), mas também benediti nos cistercienses, valombrosanos, olivetanos,... perfazendo um

total de cerca dé cem participantes. Destacavam-se na assem-

bléia veneráveis autoridades, como o Abade Primaz da Ordem

de Sao Bento, D. Rembert Weakland (norte-americano) e o Secretario Geral da Ordem, D. Paulo Gordan (alemáo), am

bos vindos especialmente de Roma; os Abades D. Marie de

Floris (francés) e D. Cornélio Tholens (holandés), encarregados da difusáo do monaquismo ñas nacoes novas; a Sra. Abadessa Elizabeth Sumner (inglesa), de Stanbrook (Ingla

terra), que representa as monjas na Confederacáo Geral Bene^-

ditina; o bispo D. José Comelis, missionário belga que trabaIha como Vigário Episcopal em Alagoúmas (BA), o Padre Ma nuel Edwards (chileno), Presidente da Conferencia Latino-Ame

ricana dos Religiosos (CLAR), o Padre Marcelo de Carvalho Azevedo S.J., Presidente da Conferencia Nacional dos Reli

giosos jdo Brasil (CRB) e outros vultos de grande relevo na familia beneditina.

Nunca se viu na historia dos beneditinos da América La tina urna assembléia táo variada, táo rica de valores pessoais e de ideáis.

1.

Finalrdade do Encontró

A Ordem de Sao Bento tem promovido, nos últimos tem-

pos, encontros monásticos nos continentes do chamado «Ter-

ceiro Mundo»: em 1964, deu-se o primeiro dos mesmos na Áfri

ca; em 1968, o segundo na Asia, em Bancoc (onde trágicamente

falecéu o monge trapista Tomás Merton); o terceiro foi o do Rio — 471 —

40

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

de Janeiro em 1972. O objetivo de tais encoritros nao é jurídico

(nao se trata de Capítulos Gerais, que promulguem leis e nor mas), mas, sim, o estucto ¡de problemas de espiritualidade e mo naquisino comuns a pessoas e comunidades que vivam em semelhantes condicóes geográficas e sociais. Os beneditinos pro-

curam ver como conservar os antígos valores do monaquismo

sem, por isto, ficarem alheios as situagóes novas, totalmente

inéditas, de nossos dias e nossos países; é isto que a Igreja tem pedido desde o Concilio do Vaticano II; essa atualizagáo,

que do patrimonio monástico procura tirar «nova et vetera>,

valores novos e antigos, é condigáo de sobrevivencia para a

Ordem monástica. Nao se pode negar a imensa vantagem de assembléias e estudos de tal género; como se diz, quatro olhos (no caso, talvez duzentos olhos) véem mais e melhor do que dois olhos apenas. O que em tais encontros os monges almejam (e certamehte foi o que ocorreu no Rio de Janeiro em 1972), é apenas saber como nao de viver melhor a sua vocacáo ia oragáo, á simplicidade de vida, á comunháo fraterna, ao

trabalho, ao estudo, em suma, como viver o seu testemunho de Evangelho em meio as populagóes em que estáo radicados. Trata-se, pois, de objetivos estritamente religiosos e monás ticos, nos quais nao há sombra de conotagáo política ou ideo lógica. Mediante conferencias, estudos em círculos, assembléias

plenárias, em julho de 1972 os Semanistas foram trocando ex periencias, impressóes, sugestóes de vida e agáo para o fu turo, etc.

2.

Programa

<,

No sábado 22 de julho á tarde, o Revmo. Abade Primaz fez a abertura dos estudos, proferindo notável palestra em por

tugués com o título «O monaquismo no mundo de hoje». De tal conferencia, merecem destaque especial os tópicos fináis:

"O futuro, vejo-o na busca dos valores monásticos, da sua base evangélica, na busca de um estilo de vida que os

revele ao homem do sáculo XX. Tal busca de Deus e da signi-

ficacáo da sua Palavra, da sua intervencáo na historia humana é dever de cada cristáo; os meios específicos dos monges

se resumem numa vida simples, pobre, celibatária, vivida em comunháo

com os

outros

homens,

todos voltados

para

a

mesma busca, vivida no continuo acolhimento da Palavra, vivida na continua oragáo, vivida na continua independencia e libertagáo das inutilidades que ocupam excessivo espago, produzidas pelo anseio de bens e de bem-estar. — 472 —

ENCONTRÓ DE BENEDITINOS

41

Eis aqui em duas palavras o programa do nosso futuro.

Tenho certeza de que os diálogos durante estes dias ajudaráo

cada um a descobrir novos aspectos gestes valores e a ver como vivé-tos com maior intensidade".

--- O dia 23/VII foi dedicado á ambientagáo : houve de manhá urna palestra sobre o histórico do beneditinismo na América Latina e outra sobre o contexto sociológico no qual se situam os mosteiros do continente. A tarde, fizeram-se circuios e de bates sobre os temas expostos de manhá (programa de trabalho este que seria observado nos seguintes dias de estado). A dinámica das sessóes de estudos e debates foi notavelmente eficaz.

Nos dias subseqüentes, sucederam-se os temas: pobreza e

trabalho dos monges (24/VH), Liturgia e oragáo (25/VII), vocacóes monásticas e juventude (27/VH), vida comumtána

(28/VII). O sábado 29 foi consagrado as sinteses e conclusoes

de cada um dos dias anteriores. Essas conclusoes foram nume

rosas, concretas, bem amadurecidas, podendo servir de diretri-

zes ou pontos de referencia para a prosperidade espiritual do monaquisino na América Latina. Ao menos urna parte das ex

periencias e conclusoes do Encontró será publicada nos «Cadernos» que a CIMBRA (Comissáo de Intercambio Monásüco no Brasil) vem editando (Caixa Postal 118, Sao Paulo, SP). Nao faltou em dia algum a oragáo comunitaria (Oficio Divino esmeradamente preparado) nem a celebracáo eucaristica, que constituiram sempre os pontos mais elevados do Encontró.

O clima reinante ñas sessóes de cada dia era sempre de profunda uniáo fraterna e benevolencia postas a servico do

ideal monástico. Através de todas as palestras e intervencoes

das assembléias percebia-ss nítidamente o desejo de acertar,

ou seja, de cumprir os designios que Deus tem para o monar

quismo nos dias de noje e no nosso continente. O fato de se falar especialmente de América Latina se justifica plenamente pelo fato de que entre nos as questóes e solucóes sao (e tem que ser) bem diferentes das que se colocam na Europa ou em outra regiáo do globo. É a historia deste continente que os mosteiros beneditinos compartilham, procurando ai viver o seu «Ora et labora»

(Ora e trabalha).

Pode-se e deve-se tranquilamente afirmar que o Encontró

foi altamente valioso e positivo para a Igreja e sua missao — 473 —

42

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 154/1972

evangélica na América Latina. Os que tiyeram a ventura de

participar do certame, assim como os fiéis cristáos e mesmo todos os homens de boa vontade, podem congratular-se pela

nealizacáo e o éxito de táo importante conclave.

Á guisa de condusáo, seja licito destacar aqui as palavras

fináis da exposigáo feita no painel sobre a oragáo no dia 25/VH/72:

"Os monges sao dispensados pelo Senhor Deus das obrigagSes de familia e de afazeres lucrativos a fim de viver, por excelencia, de Deus e para Deus. Aos monges, portanto, com

pete na S. Igreja de Deus — e principalmente em nossos dias, quando a prática da oracáo é assaz reduzida ou esquecida — cultivar a vida de oracao, seja particular, seja comunitaria. Há aqueles e aquelas que permanecem

constantemente na

clausura a fim de usufruir dos beneficios que o retiro do mundo pode propiciar á vida espiritual. Outros há que Deus

coloca em atividades fora da clausura compatíveis com o estado monástico; também estes, do seu modo, sao chama

dos a desenvolver profunda vida de oragáo; esta Ihes será

sempre possivel, pois Deus nao nega a sua grasa a quem

Ele assinala determinada tarefa, por mais agitada que seja".

Terminamos aqui citando a condusáo com que o Pe. Rene

Voillaume encerra o seu livro «Prier pour vivre»:

"A vida contemplativa, no claustro ou fora do claustro, nao é outra coisa senáo urna antecipagáo do que deve ser um dia o estado de vida de toda criatura humana; esta é a sua última e verdadeira justificativa, sem a qual ela nao tem

sentido. Antecipamos desde já o que deve sor o destino de

todo homem salvo e glorificado por Cristo... Apesar de nos-

sas fraquezas e da maneira miserável como vivemos tal vocapáo, nosso estado de vida fica sendo a afirmagáo da vocacáo sobrenatural da humanidade. O mundo precisa de ver essas realidades, nao somente afirmadas em pregacóes, mas

realmente antecipadas ante os seus olhos em vidas humanas' ("Prier pour vivre". Paris 1966, p. 125).

A leitura destas palavras poderá sugerir ao leitor o que

foram os interesses e os valores que marcaram o Encontró Latino-Americano de Beneditinos em julho de 1972. Estéváo Bettencourt O-S.B. — 474 —

resenha de livros O problema da revelacao, por Claude Tresmontant. Tradugáo de

Ático Rubini. Colegao «Teológica» 4. Edigoes Paulinas, Sao Paulo 1972, 140 x 210 mm, 341 pp.

O enslnamento de Ieschuá. de Nazaré, por Claude Tresmontant.

Tradugfio de Luiz Joáo Caio e Francisco Luza. «Catequese bíblica» 3. Edigóes Paulinas, Sao Paulo 1972, 140 x 210 mm, 304 pp.

-Claude Tresmontant tem-se dedicado especialmente ao estudo do pensamento semita, já havendo mesmo publicado estudos sobre a mentalidade ou a filosofía dos hebreus antigos. O autor caracte-

riza-se também por seu interesse pelas ciencias naturais e a filosofía moderna. Como fruto de suas pesquisas e reflexóes assim orientadas,

deu a lume tres obras notáveis que constituem urna serie bem con catenada: «Comment se pose aujourd'hui le probléme de l'existence

de Dieu» (Como se coloca hoje o problema da existencia de Deus), obra nao traduzida para o portugués; «O problema da revelagáo» e

«O ensinamento de Ieschuá de Nazaré». No

primeiro

desses

livros,

Tresmontant

analisa as

correntes

do pensamento moderno e mostra que nem o ateísmo nem o panteís mo conseguem satisfazer as interrogacoes do homem; a existencia de Deus distinto do mundo resulta do exercicio da razao bem conduzida; os dados das ciencias naturais levam a admitir um Absoluto criador.

Em «O problema da revelacáo», o autor

indaga

se

Deus,

o

Absoluto criador, se maniíestou aos homens de maneira especial, desenvolvendo a revelag&o que a própria natureza laz do seu Autor. Estuda, pois, o tato Israel e a mensagem dBs profetas biblicos; es tes trouxeram ao mundo algo de novo, que nao se reduz a causas meramente humanas e naturais: «A historia de Israel é constante

mente trabalhada pela máo, pela presenga invisivel mas eficaz, pela agáo poderosa e discreta daquele que... nela habita. Isso se prova, isso se vé... O que humanamente é impossível, ele o faz, em cir

cunstancias tais que só ele pode fazé-lo» (pp. 187s). Tresmontant faz eco assim a bons historiadores, que aíirmam ser a historia de Israel um constante testemunho da especial intervengao de Deus no

mundo. O livro é altamente interessante e proveitoso, prestando-se muito bem a iniciar o leitor nos escritos do Antigo Testamento e no dinamismo da historia da salvagáo. Em «O ensinamento de Ieschuá de Nazaré», Tresmontant ana-

lisa a doutrina do último grande Profeta de Israel, Jesús Cristo, e mostra que é a suprema revelagáo de Deus aos homens íeita medi ante o próprio Filho de Deus encarnado. Tresmontant procura re

constituir a mensagem de Cristo a partir das categorías de pensa mento semita: «Todos sabem que, para compreender Platáo, Aristó

teles ou Plotino, é preciso lé-los em grego. Para compreender Kant, Hegel ou Marx, é mister lé-los em alem&o. O mesmo vale parao rabi

Ieschuá:

para compreender-lhe

o pensamento,

seria neces-

sário reencontrar o aramaico subjacente ao grego da tradugáo de

que dispomos» (p. 22). O autor, recorrendo a seu instrumental de conhecimentos semitas, estuda sucessivamente os milagres de Jesús (que ele aceita e apresenta como continuacSo da obra do Criador), » magisterio de Cristo a sua pobreza, a dogura e o poder, a miseri cordia, a paz... e urna serie de outras facetas da figura de Jesús

Cristo.

O conjunto é muito positivo, embora nSo se possa dizer — 475 —

44

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 154/1972

que constituí urna síntese de teología do Evangelho. O livro se ter mina com as interrogacOes: «Quem é Jesús?» e «A questáo da verdade do Cristianismo». A primeira responde professando a Divindade de Cristo. Quanto á segunda, faz a seguinte observacáo: «Existe um íundo comum a todos os monoteísmos: a conviccáo de que existe um Ser absoluto distinto do mundo e criador do mundo. Existe um íundo comum ao judaismo, ao cristianismo e ao islamis mo: a conviccao de que em Israel Deus se manifestou. E, depois, existe urna parte que é própria do cristianismo, que nao é aceita pelo judaismo: a parte específicamente crista, a pessoa e o ensinamento

do rabí Ieschuá.

Nao pensamos, como a maior parte de nossos contemporáneos,

que a questáo da verdade do cristianismo seja... questáo cega, irracional, resultado de urna opcSo mais ou menos e sentimental. Pensamos que a questáo da verdade do mo... resulta da anállse, da inteligencia e da experiencia»

de adesáo arbitraria Cristianis (p. 302s).

Como se vé, Tresmontant se esforca por mostrar a credibilidade da mensagem crista. Quem deseja chegar á certeza a respeito da genuinidade do cristianismo, tem recursos racionáis e científicos de

que se poderá valer com proveito. É claro que o ato final de fé depende da graca de Deus; é sobrenatural. Mas a íé nao é urna adesao cega ou sentimental; ela completa o trabalho da razáo e propor

ciona urna sintese harmoniosa de respostas para as grandes interro gacOes

do homem.

Sendo assim, nao se pode deixar de recomendar calorosamente o

uso dos livros de época em que, mais tacáo á adesao de ponder a todos os

Tresmontant aqui mencionados. Vivemos numa do que nunca, é preciso dar o máximo de fundamenfé; possa o cristáo «estar sempre pronto a res que lhe pedirem a justificativa da fé e da espe-

ranca que o animam!»

(cf. 1 Pe 3,15).

Aqui flca a sugestüo para que as também a tradugáo do primeiro livro da se coloca hoje ó. problema da existencia data de 1966, conserva a sua atualidade.

edigñes Paulinas publiquem serie aqui analisada: «Como de Deus». Embora traga a Tresmontant tem o dom de

um estilo agradável, dado a imagens concretas e a sinteses bíblicas, filosóficas e científicas.

A Igreja na crlse atual, por Henri de Lubac. Tradugáo de Adail-

ton Gomes Ferreira. Colecao «Teológica» 10. — EdicSes Paulinas.

SSo Paulo 1972, 140 x 210 mm, 79pp. O autor — que é abalizado teólogo jesuíta — analisa a situacáo

de translcáo por que passa a Igreja contemporánea, dando provas de profunda clarividencia e equilibrio. Distingue entre a pesquisa construtiva, que faz crescer a fé, e a critica agressiva, que rejeita o passado da Tgreja e as autoridades eclesiásticas contemporáneas. Alude também ao racionalismo que Invade certas correntes de pensamento cristáo, ameacando a integridade da fé. — Depois de expor coro rea

lismo alguns síntomas da crise religiosa atual, o P. de Lubac aponta elementos positivos, que sao penhor de conflanga e paz para os

fiéis católicos dos nossos dias: há novas expressCes de fé e amor cristáos, que nao chamam tanto a atengao quanto os abusos; nos paises da Cortina de Perro, os cristáos dao heroico testemunho de auténtico cristianismo. — O livro faz bem a quem o lé: se, de um lado, aponta desatinos, de outro lado inspira serenidade e con

fianca. Os dizeres do P. de Lubac tém especial autoridade pelo fato — 476 —

de se perceber que está longe de ser autor preconcebido ou

apai-

xonado (em sentido extremado); ao contrario, de Lubac escreve com grande erudigáo, citando numerosos autores e dominando bem a pa norámica da Igreja contemporánea. Recomenda-se vivamente tal leitura ás pessoas que se sintam perplexas diante da presente situacáo da Igreja de Cristo.

A Eucaristía, Iibertacao do homem, por Mario Cuminetti. Traducáo de Francisco Luza e JoSo Galo. Colecáo «Teológica» 9. — EdigSes Paulinas, Sao Paulo 1972, 140 x 210 mm, 91 pp.

O livro aprésente o texto de tres conferencias proferidas pelo autor em 1969,. na cidade de Miláo. Lembra que a Eucaristía está associada ao fundo de cena da cela pasca! judaica; esta visava á libertacáo ou redencáo de Israel. Multo mais, pois, a Eucaristía tende á libertagáo e á plena consumacáo nao só do Irornem, mas do mundo inteiro. Portanto, a Eucaristía devidamente celebrada e recebida pe las assembléias cristas dá a estas o corpo de Cristo sacramental e concorre para torná-las o corpo de Cristo plenamente realizado.

A palavra «libertagáo», na mente do autor, está isenta de conotac5és ideológicas, como se depreende dos segulntes dizeres: «O ho mem está-se libertando dos Ídolos que havia construido; mas está sempro no perigo de substitui-los por outros. A liberíacáo total é urna meta que só será atingida quando o homem tiver alcangado a perfeita unlao com Deus. O Espirito, que renova todas as coisas, incute-nos a esperanca de que um dia lá chegaremos» (p. 89). O livro nao pretende abordar todos os aspectos da S. Euca ristía, mas é útil á meditacáo e ao estudo, fundamentado, como se acha,

em sólida base

bíblica.

Gula da assembléia crista 0. Festas oom prevaléncU sobre o domingo, Lecionárlo, Biografía dos Santos, índices, por Thierry Ma-

ertens e Jeán Frisque. Traducáo de Frei Bruno Palma, orientacáo

de Maucyr Gibin SSS. mm, 210 pp;

— Editora Vozes, Petrópolis 1972, 160 x 230

Este é o último volume de ampio comentario dos textos da li turgia de cada domingo e das principáis solenidades do ano eclesiás tico. Temos aqui as festas da Apresentagao do Senhor (2/11), de S. José (19/ni), da Anunciacáo (25/111), de S. Joáo B. (24/VI), de S. Pedro e S. Paulo (29/VI), da Transfiguragáo do Senhor (6/ VIII), da Assungao da Virgem Maria (15/VIII), da Exaltacáo da Cruz (14/IX), da festa de todos os Santos (P/XI), da Imaculada Concei-

cao de María (8/XII). Cada comentario da liturgia apresenta urna parte exegética (análise rigorosa dos textos bíblicos) e urna parte doutrinária (meditacáo teológica), visando assim servir á pregagáo

dos sacerdotes, a aulas e á reflexáo dos fiéis. bastante

elevado;

os volumes

anteriores

a

O nivel da obra é

este tinham

secgOes

de

valor teológico duvidoso; -o volume 9, porém, apresenta-se correto e bem elaborado. — Importantes também sao os apéndices da obra: a indicagSo dos textos que o novo lecionário assinala para cada dia do ano (atualmente nao há mais Missal que contenha todos os textos bíblicos e as oragdes da Mlssa de cada dia em um só volume); além

disto, um-esbogo biográfico de cada Santo do calendario litúrgico. E.B.

MELBOURNE - AUSTRALIA

18 a 25 de fevereiro de 1973

A CREDIBRÁS TU

RISMO, sucessoratie Carnillb Kahn, orgulhá-se déter organizado

com total éxito, peregrinajes aos Ck>ñ-

gressos Eucaristicos. de MUNICH; BÓM-

BAIM e BOGOTÁ, e agora está organizando urna ao 4O.C Congresso Eucaristico que terá a Assisténcia Espiritual de D. Esteváo Bitten-

court, O. S. B., e que visitará:-Papéete, Nandí, Auckland, Melbourne, Sidney, Hong Kong, Teherán, Térra Santa, Roma e París. Vocé poderá participar deste ato de fé crista com tudo financiado a longo prazo e

comas facilidades que o Grupo Uniáo de Bancos pode Ihe oferecer.

CREDIBRÁS TURISMO GRUPO UNlAO DE BANCOS. GB - AV. RIO BRANOO. 37 - TELS: 243-Í990 e 231-0061 SAO PAULO - RÚA MARCONI, 131 - Io ANO. - TELS: 235-7811, 233-4054 e 37-4830

P. ALEGRE - RÚA DOS ANDRADAS, 1354 - I? AND. - TEL: 25-8173 B. HORIZONTE - AV. JOAO PINHEIRO, 146 - 7." AND. - TELS: 22-6957 e 22-6120 ou em qualquer Agenda da UNlAO DE BANCOS

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