Revista Pergunte E Responderemos - Ano Iv - No. 048 - Dezembro De 1961

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Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanca e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.

Vv.-r

Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabal no assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos

convenio

com

d.

Esteváo

Bettencourt

e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo. A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

ANO

IV

4 DEZEMBRC 19

6

ÍNDICE Pág.

i. 1)

filosofía e religiao

"Nao é necessário que o segundo sexo seja tido como sexo

frágil, lembra Simow de Beauvoir. O casamento e a maternidade parecem meros meios de assujeitamento da mulker. Nao seriam sinal de maturidade do pensamento contemporá neo as tendencias feministas que propalam a emancipando da mulker (principalmente ñas suas relacóes com o marido e com a prole) assim como a equiparacáo da mulher ao vardo na vida

pública ?"

i95 II.

2)

SAGRADA ESCRITURA

"Quevi terá sido o autor do Pentateuco (Génesii, Éxodo,

Levitico, Números, Deuteronomio) ?

Moisés ? Hoje etn dia há quem o negué. Os nossos conceüos bíblicos mais fundamentáis vao sendo sucessivamente revolucio

nados !"

ni.

3)

MORAL

"Pode haver imperfeicóes moráis que nao sejam pecados

(nem sequer pecados leves)?

• Estará o komem obrigado a praticar, em tildo, o que há de

mais perfeito ?"

'

51G IV.

i)

5Pí

SOCIOLOGÍA

"O problema social poderá ser resolvido simplesmente

pelo amor ?

Lendo a vida de Sao Francisco de Assis, Inácio Lepp com-

preendeu que o que faltava no comunismo marxtsta era o amor.

Até que ponto o amor será soluc&o ?" V.

HISTORIA

DA

SS2 RELIGIAO

5) "Qual a origem do povo comumente chamado 'cigano' ? Dis-se que provém dos filhos de Lameque : Jabel, Jubal e Tubalcaim, que deram inicio respectivamente ao pastoreio do gado, a arte da música e o metalurgia do cobre e do ferro (cf. Gen

J,,2O-SZ). Sao ésses justamente os afazeres aos quais se dedicam

de preferencia os ciganos"

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

5S8

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Ano IV — N' 48 — Dezembro de 1961

I.

FILOSOFÍA E RELIGIAO

SDIONE (Sao Paulo):

1) «Nao é necessário que o segundo sexo seja tido como sexo frágil, lembra Simone de Beauvoir. O casamento e a ma-

tenrdade parecem meros meios de assujeitamento da mulher. Nao seriam sinal de maturidade do pensamento contem

poráneo as tendencias feministas que propalan» a emancipacáo

da mulher (principalmente ñas suas relacoes com o marido e a prole) assim como a equiparacao da mulher ao varao na vida pública ?»

O feminismo moderno, tendendo a igualar de mane'ra quase absoluta a mulher ao varáo, merece serias reservas por parte da consciéncia crista, pois em última análise contradiz a ditames da natureza; em vez .de mais valorizar a mulher, concorre em nao poucos casos para a vilipendiar.

A fim de consolidar esta afirmagáo, lembraremos abaixo os principáis pontos em que realmente a natureza diferencia o varáo e á mulher, exigindo respeito e coibindo exageradas ten dencias ao nivelamento.

1.

Diferenca psicológica

Á fisiologia característica do varáo e da mulher corres ponde um psiquismo ou urna atitude de alma característica de cada um dos dois sexos.

Com efeito; dir-se-ia que a mulher existe normalmente para

ser mae, máe no sentido físico ou, ao menos, no sentido espiri tual. Observa-se mesmo que a mulher é muito mais marcada pela vocagáo á maternidade do que o varáo pela vocagáó á

paternidade; a mulher está toda (física e psíquicamente) voltada para a prole, de sorte que, mesmo quando nao é máe no sentido físico, ela tende sempre a exercer urna maternidade espiritual Alias, S. Paulo ensinava que a mulher se resgata pela mater nidade (cf. 1 Tim 2,16).

Tal característica do sexo feminino explica bem esta outra nota

típica: o amor e a afetividade marcam. profundamente a personal!— 495 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961, qu. 1

dade da mulher; ela costuma dedicar-se, com toda a alma e todo , o ser, ao objeto de seu amor, de modo que os choques afetivos

nela repercutem intensamente; ás decepcSes na vida de amor saco-

dem-na com veeméncia, podendo deixá-la desconsertada. Por isto também se verifica que a mulher, ao se perverter no amor, pode fácilmente chegar aos requintes extremos da corrupcáo; doutro lado, quando ela ama genulnamente, ama nao raro com rasgos de nobreza e heroísmo extraordinarios.

O varáo, ao contrario, embora costume ter vontade impe riosa e desejos violentos, é muito menos condicionado (quer

no físico, quer no psíquico) pela fungáo sexual; o exercício do

amor néle nao desencadeia conseqüéncias táo duradouras e decisivas. A sua sensibilidade é menos atingida pelo amor sexual. O varáo é mais caracterizado pela responsabilidade do ganha-

-pao ou da luta profissional; dir-se-ia que a sua fungáo típica é a de arrimo da familia. Isto implica, no varáo, capacidade de raciocinar geraimente clara e muito lógica, assim como vontade

forte e tenaz ao encalgo do seu objetivo. Conseqüentemente o homem é capaz de esforgos físicos que chamam a atengáo e que a mulher geraimente nao pode sustentar.

Contudo, se a mulher carece da constancia necessária para muitos trabamos penosos, há certos setores em que ela se re vela mais perseverante e, por isto, mais eficaz do que o homem. Sim; observam os estudiosos ser difícil encontrar um varáo que iguale a mulher na tarefa de «pacientar» junto á cabeceira

de um doente. Mais ainda: se a mulher nao possui a lógica e

a rigidez de raciocinio que caracterizam o homem, ela tem,

muito mais do que ó varáo, o sentido do real e concreto — o que certamente é de grande vantagem na vida social. «Em presenca de urna crianca recém-nascida, o varáo pensa logo na maneira de a fazer entrar na engrenagem das tarefas temporais, indagando: 'Que profissSo exercerá? Que carreira seguirá?'. A

mulher toma

atitude preferível, preocupando-se antes com a situa-

gáo pessoal do pequenino: 'Será ele feliz?'. A mulher está voltada para as pessoas mais do que para as coisas ou as estruturas; e isto, em virtude da sua capacidade própria de intuigáo, que muitas vézes se engaña, mas nao raro acérta. O homem julga um orador político pelas idéias e o programa que éste propóe, deixando-se seduzir pelo

encanto da voz ou do gesto; mas nem sempre avalia com acertó. Os ditadores modernos nao seduziram únicamente o elemento feminino dos povos que éles levaram á ruina» (H. Rondet, Éléments pour une

théologie de la femme, em «Nouvelle Revue Théologique» 79 [1957] 937).

Pelo seu papel materno, a mulher, ainda que permanega

oculta no lar, contribuí poderosamente para dar configura 7áo

á sociedade. É ela quem imprime aos futuros cidadáos os pri— 496 —

VERDADEIRO E

FALSO FEMINISMO

meiros tragos de educagáo justamente nos anos de infancia, em que as almas sao-mais dóceis e maleáveis: um cristáo, um sa cerdote, um pai e esposo reproduzem muitas vézes os valores ora mais pronunciados, ora mais atenuados, de suas respectivas genitoras. O Imperador Napoleáo Bonaparte podía dizer: «É á minha máe e aos seus bons principios que devo minha carreira e todo o bem que tenha praticado».

2.

Diferenga social

A personalidade íeminina, sendo diferente da masculina, como acabamos de ver, destina-se naturalmente a exercer outras funches

na sociedade;

em conseqüéncia,

atribuir a mulher

encargos que se

atribuem ao varáo, está longe de significar engrandecimento e nobilitacáo, antes equivale a cometer injustica e ofender a dignidade feminina.

O setor de trabalhos da mulher é, por excelencia, o lar, no

qual ela deve promover harmonía e brilho, interessando-se pelo

marido e os filhos. Compreende-se bem isto á luz de quanto até aqui foi dito.

Nao se poderiam, porém, limitar as atividades da mulher ao lar apenas. É oportuno que tenha o olhar aberto para as indigencias do ambiente em que ela vive, tomando certa parte nos trabalhos do marido. Urna esposa de industrial ou comerciante, por exemplo, pode, com vantagem geral, interessar-se pelo bem dos funcionarios e empregados da firma respectiva. Caso o marido seja propenso a raciocinar com demasiada frieza, levando em conta principalmente número.s, estatisticas e valores inanimados, a mulher lhe fará ver que tam-

bém estáo interessadas na empresa pessoas e familias, as quais merecem tratamento proporcional áquele que os si e aos seus no respectivo lar.

patrdes dispensam a

Verifica-se outrossim que os regimes de economía e vida social contemporáneos libertaram a mulher de varios afazeres domésticos (hoje os servigos de casa, como limpeza de aposen tos, preparagáo das refeigóes, lavandaria... tendem a ser mais e mais funcionáis, simples e rápidos)... Isto lhe permite dedicar-se a tarefas que se váo abrindo fora do lar e que o curso

da vida moderna tem suscitado com exigencias imperiosas; sao tarefas que parecem requisitar urgentemente a colaboragáo da

mulher, como assisténcia social, as modalidades de educagáo

especializada, a enfermagem, a ginecología, a medicina de criangas, etc. Mais ainda: a insuficiencia de salario dos maridos e o celibato obrigatório (devido ao excedente de mulheres em — 497 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961. qu. 1

rela-áo aos homens, principalmente após as guerras) obrigam freqüentemente a mulher a se empregar, trabalhando fora do lar. Compreende-se assim, sem dificuldade, que a mulher venha a exercer urna atividade pública; contudo nao toda e qualquer carreira ou profissáo lhe convém: policia, exército, trabalho de minas, conducáo de veículos públicos, etc., nao constituem o ambiente proporcionado á personalidade da mulher; tomam-se mesmo ocasiáo de ruina física e moral para ela. Deve-se observar que a liberdade precoce <em materia de hora

rios e orcamentos) de que a donzela vem a gozar em relagao a seus Dais pelo fato de estar trabalhando íora de casa e perceber salario,, exige receba educacao muito sólida e adequada, a fim de que nao abuse dessa liberdade.

Dito isto faz-se mister frisar: nao resta düvida de que as tare-

fas que mais estima devem

merecer da parte da mulher e mais

honra lhe podem proporcionar, sao as incumbencias de esposa e mae, as quais tém lugar, por excelencia, no lar.

Quanto ao sufragio feminino ñas eleigóes políticas, é algo que a consciéncia crista nao sómente aceita, mas hoje em dia recomenda, pois se eré que as mulheres, por seu temperamento especial, constituiráo sempre um esteio de harmonía e paz

entre os homens e os povos, equilibrando assim as tendencias mais violentas e, por vézes, apaixonadas dos varóes.

É o que S. Santidade o Papa Pió XII recordava em sua alocucáo proferida ao XIII Congresso da Uniáo Mundial das Orgamzagaes Femininas Católica-s, no dia 24 de abril de 1952: «Há também para a mulher urna atividade exterior, pois, se em outros tempos a influencia da mulher se limitava ao lar e as cer

canas do lar, em nossa época ela se estende (agrade isto ao publico

ou nlo) a um dominio cada vez mais vasto da vida s°«al e pública,, ou seja aos Parlamentos, aos tribunais, ao jornalismo, as diversas profiss5es ao mundo do trabalho. .Contribua a mulher em cada um désses setores com a sua obra de paz! Se realmente todas as mu lheres movidas pelo sentimento ¡nato que lhes faz detestar a guerra,

desenvolvessem urna atividade concreta para evitar os conflitos a£ mados. seria impossivel que a coordenacao te*aj^*am®a £*o atingisse o seu objetivo» («Acta Apostolicae Sedis» XLIV [195^J
latinamente no inicio déste sáculo: na Finlandia, em 1907; na No

ruega em 1913; na Dinamarca, na Suécia e na Holanda, em 1915, nos Estados Unidos da América, em 1920; na Italia, .em 1946; na

Franca de maneira precaria em 1914, de maneira eficaz e genuina em 1946.

.

Para encerrar estas consideragóes atinentes a tarefas so-

ciais da mulher, váo aqui transcritas algumas sugestóes que poderáo servir para ilustrar o tema:

— 498 —

'

VERDADEIRO E FALSO FEMINISMO «Atualmente a monotonía de certas tarefas que se íazem em serie, é menos.penosa para a mulher, que, mais fácilmente do que

o varáo, é capaz de realizar um trabaflio quase mecánico com as

máos, aplicando simultáneamente o seu pensamento a outros obje tivos. Nossas avós pensavam em mil coisas enquanto faziam seu tricd ou sua tecelagem. Cabe as mulheres instituir seus inquéritos a tal propósito e dadnos as respectivas conclusdes. Dentre as profissSes liberáis, as tarefas do magisterio ficarao sempre franqueadas as mulheres; seria mesmo desejável que a instrugáo dos meninos lhes fósse confiada em mate larga escala. Nos Estados Unidos, as escolas primarias católicas estáo em máos de Religiosas; a juventude jamáis o lamentou.

A mulher será sempre melhor enfermeira do que o " homem, porque, nos casos de serem ambos igualmente competentes, ela contribui com a paciencia, a dedicagáo e mesmo a resistencia física necessária ás vigilias, que constituem o apanágio do sexo feminino. As

tarefas de cirurgiáo e de dentista mais pertencem á aleada do ho

mem. A carreira do médico nao deverá ser acessível sem restricáo ás mulheres; contudo há algumas especializacóes em que estas levam varitagem: assim, suposta igual competencia de varáo e mulher, a mulher há de ser mais solícita para cuidar de criancas anormais ou retardadas, assim como de bebés e anciáos. A mulher é essenciai mente máe... mesmo nao sendo máe segundo a carne, ela o ficará sendo segundo o esplrito| Há hoje mulheres na advocacia e nos tribunaiá. É desejável que lhes confiem a defesa dos menores e que se assentem de preferencia nos tribunais de jovens. Dever-se-ia preconizar o'acesso das mulheres aos cargos de preíeito, ministro, embaixatriz? A norma habitual servirá de criterio para resolver a questao: a mulher vé a realidade concreta, o bem das pessoas... Ela filosofa pouco sobre a historia do mundo, mas interessa-se calorosamente pela historia das pessoas, pelos fatdres capazes de tornar os individuos felizes ou infelizes. Seria para dese-

jar que as leis estipulassem em cada conselho municipal, em cada

conselho geral, mesmo em todas as cámaras de representantes do povo, certo número de lugares reservados ás mulheres, lugares aos quais se prenderla o exercício da funcáo essencial das mulheres, que é a maternidades (Rondet, art. cit. 939s).

A diferenga social, que acaba de ser recordada, é acompanhada ainda pela

3.

Diferenga religiosa

Verdade é que o varáo e a mulher possuem igualmente

alma religiosa. Contudo a religibsidade no ser humano nao é angélica..., nao é independente das reagóes e manifestagóes do corpo; ao contrario, solicita o homem inteiro, aproveitando as qualidades que cada individuo fornece para dar gloria a Deus e santificar-se a si mesmo. Assim se explica que a piedade da mulher se configure de modo diverso do que caracteriza a piedade do varáo. A mulher, muito dada á ternura do amor e á intuicáo imediata da realidade, lembra o Amor Divino ou a terceira Pessoa da SSma.

— 499 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961. qu. 1

Trindade — o Espirito Santo. O varáo, antes propenso á lógica e á

clareza do raciocinio, representa raelhor a Sabedoria Divina, ou seja, a segunda Pessoa da SSma. Trindade — o Verbo de Deus.

Daí se segué a diversidade de funcóes

religiosas que

tocam naturalmente ao varáo e á mulher: o homem é cha

mado para os cargos de chefia, representando diretamente o

Cristo, seja como, marido no lar, seja como sacerdote na hie-

rarquia da Igreja. A mulher é, antes, destinada a representar o comportamento receptivo e fecundante que cabe á humanidade frente a Deus e a Cristo: -a mulher simboliza, sim, a

Igreja, que recebe de Cristo as gragas sobrenaturais da Redengáo e as transmite ao mundo (desempenhando um papel de mac) de maneira pura, incontaminada (desempenhando um papel de virgem).

A mulher nao convém o exercicio do sacerdocio cristao, pois éste implica urna posicáo de chefia ou de representacáo de Cristo Cabega. Ora para tal encargo o Criador se dignou adaptar nao a natureza da mulher mas a do varáo. Esta conclusáo é corroborada pelos dizeres do Novo Testamento analisados em «P. R.» 42/1961, qu. 2.

Importa agora acentuar que o reconhecimento das diferencas ácima apontadas de modo nenhum significa seja a mu lher tida, pelo Cristianismo, como criatura secundaria em rela?áo ao varáo. A visáo crista apenas insiste em que, embora varáo e mulher reproduzam ambos a imagem de Deus, cada um o faz de maneira inconfundivel, de sorte que seria ofensa ao Criador, e detrimento para as criaturas, querer em tudo equiparar as atividadesdo homem e da mulher na sociedade. Diga-se, por conseguinte, alguma coisa sobre a igual dignidade de varáo e mulher tal como a entende o Cristianismo. 4.

1.

Apesar de tudo, igual dignidade...

O Evangelho, entrando no mundo, reabilitou a digni

dade da mulher até entáo depreciada.

Tida como auxiliar condigna do varáo (cf. Gen 2,18), a mulher é, á luz da Teología, portadora da imagem de Deus, chamada, como o homem, a ser membro vivo do Corpo Mistico de Cristo e a gozar da eterna visáo de Deus na bem-aven-

turanga celeste; apenas lhe competem aqui na térra fungóes di ferentes das do varáo no ámbito da sociedade religiosa (Igreja) e civil. Em urna palavra: o Cristianismo reconhece que a mulher constituí o sexo fraco (ao menos no sentido físico), nao, porém, sexo secundario ou menos digno de estima do que o sexo forte ou viril. — 500 —

VERDADEIRO E FALSO FEMINISMO É Sao Paulo quem proclama:

«Todos vos soisfilhos de Deus..'. pois todos, batizados em Cristo, revestistes o Cristo; já nao há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem varúo nem mullier, pois todos constituís um só era Cristo» (Gal 3,26-28).

Com estas palavras, o Apostólo nao pretende negar a diversidade de fungóes — que ele alhures no seu epistolario sublinha —, mas, antes, rejeitar o modo de pensar antigo, que menosprezava a mulher e o escravo, pelo simples fato de serem mulher e escravo.

Assim, no tocante ao casamento,' por

exemplo, a Moral

crista ensina que o que é proibido á mulher, é igualmente proibido ao homem; nao pode haver condescendencia para com os males moráis de quem quer que seja. A civilizagáo paga anterior a de Roma reconhecia ao marido, e

ao marido sb, o direito de pleitear divorcio, sem levar em conta o

ponto de vista da mulher — o' que naturalmente significava menos-

prézo para com esta. A legislagao de Roma paga já exigía o consentimento livre da mulher para proceder ao divorcio. Finalmente as normas matrimoniáis do Cristianismo impuseram o ideal do casa mento indissolúvel — o que exige mutua doagáo integral de marido e mulher. •

O ideal da mulher crista vem a ser Maria Santíssima em seu tríplice aspecto de virgem, esposa e mae; valorizando Maria, a Igreja dá um dos mais eloqüentes testemunhos de quanto Ela estima a mulher. «Nem Atenas, nem Roma, luzeiros de civilizagáo... conseguiram, pelas altas especulagóes da filosofía ou pela sabedoria de suas leis, elevar a mulher á altura que convém á sua natureza. Ao invés, o Cristianismo em primeiro lugar, e ele só, descobriu e cultivou na mulher miss5es e tarefas que sao o verdadeiro fundamento da dignidade feminina e o motivo da mais auténtica exaltacáo... Assim aparecem e se afirmam, na civilizagáo crista, novos tipos de mulheres,

como o tipo de mártir da religiao, de santa, de apóstola, de virgem,

de promotora de ampias renovag3es, de consoladora de todos os soírirnentos humanos, de amparo das almas perdidas, de educadora. A medida oue se vao manifestando as novas indigencias sociais, a missáo benéfica da mulher se expande, e a mulher crista se torna, como a- bom direito é o caso hoje em dia, nao menos do que o varáo, um fator necessário de civilizagáo e progresso» (Pió XII, Alocucao ao XIII Congresso da Uniáo Mundial das Organizagñes Fe-

mininas Católicas, proferida aos 24 de abril de 1952). 2.

Com

vistas em particular ao livro de

Simone de Beauvoir

(«Le deuxiéme sexe»), seja licito repetir; a visáo otimista que b

Cristianismo desvenda sobre a mulher, de modo nenhum implica esquecimento das diferengas psico-somáticas vigentes entre os dois sexos. Tais diferengas, incutidas pela natureza mesma, ou seja, pelo Criador, nao poderáo ser negligenciadas sem que haja detrimento

para a própria dignidade de ambos os sexos; a salvaguarda e a expansáo da nobreza feminina estáo justamente no respeito as capa-, cidades e ás limitagSes que a natureza imp6e á mulher. É dentro da

— 501 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961. qu. 1

linha de suas aptidóes naturais, e sómente dentro desta, que cada

criatura atinge a sua verdadeira grandeza. Por conseguinte, a espe

cial dedicacáo da muiher aos afazeres de esposa e máe no lar, asslm como as restrigoes feitas á sua intervengáo em certas tarefas da vida pública, estáo longe de significar servilismo para a natureza feminina; constituem, ao contrario, o roteiro que a muiher deverá levar em conta para conseguir seu ideal... o seu genuino «feminismo». Vao aquí transcritas oportunas palavras de Pió XII a tal pro pósito:

«Na sua dignidade pessoal de filhos de Deus, o homem e a muiher sao absolutamente iguais, como também no tocante ao fim último da vida humana, que é a eterna uniáo com Deus na bem-ayenturanca celeste. Constituirá motivo de gloria perene para a Igreja o fato de ter chamado a atengáo e a estima de todos para esta ver-

dade, libertando assim a muiher de degradante servidlo contraria á natureza. Todavía o homem e a muiher nao podem conservar e aperfeicoar essa sua dignidade a menos que respeitem e desenvol-

vam as qualidades particulares que a natureza outorgou a um e a

outra; tais qualidades, físicas e espirítuais, sao indestrutíveis, de tal modo

que, todas as

vézes

que alguém as tente violar,

a

natureza

mesma se encarrega de as restaurar» (AlocugSo ás Delegadas das Associagóes Católicas da Italia, proferida aos 21 de outubro de 1945).

De outro lado, ninguém fará questáo de afirmar que a muiher é intelectualmente inferior ao homem, afirmacao esta que Simone de Beauvoir combate. O fato de que o sexo feminino, no decorrer da historia, nao tenha dado a ciencia tantos nomes famosos quantos deu o sexo masculino, é muito acidental; deve-se,- em grande parte, ao regime educacional dos tempos passados: a muiher era entáo pre parada quase exclusivamente para os deveres de dona de casa, nao

para os estudos. Isto nao quer dizer que ela nao possua notáveis

dotes

mesmo

para

a vida

intelectual;

os nomes de grandes

pesquisas científicas

e

a

historia

contemporánea

aponta

pioneiras femininas nos setores das

da cultura em geral.

Contudo

parece que

também na linha da intelectualidade há ocupagoes que mais convém

ao homem do que k muiher; quais seriam essas tarefas, eis o que a experiencia, e nao a teoria forjada de antemao. deve dizer.

3.

Por fim, pode-se notar que, se os movimentos feminis

tas modernos suscitaram atitudes reservadas por parte de pensadores católicos, isto se déve ao fato de terem sido tais movi mentos freqüentemente encabecadps por arautos materialistas, em particular socialistas ou marxistas, os quais faziam da «emancipacáo da muiher» um aspecto da «luta de classes» re

volucionaria. Na verdade, a emancipacáo da muiher tem sido (e ainda é em nossos dias) muitas vézes planejada dentro de quadros ateus tendentes ao socialismo exagerado e ao comu

nismo.

No sáculo passado, por exemplo, o socialista Saint-Simón (t 1825) e seus discípulos eram enérgicos porta-vozes da emancipagáo da mu iher visando sem dúvida mitigar a sorte das numerosas operarías que entao trabalhavam ñas fábricas sob um regime muito pouco hu mano. Contudo verifica-se que a forma socialista-marxista de eraan— 502 —

VERDADEIRO

E FALSO

FEMINISMO

cipagáo é de todo ilusoria: desarraiga do lar a esposa e máe, tor nando-a, mero órgáo de reproducáo da sociedade; numa nacao socia lista, a mulher, depois de gerar a prole, a entrega ao Estado, que

se encarrega da educacáo das criancas; entrementes a máe de familia vai ocupar de novo seu lugar na fábrica ou na oficina, equiparada ao varao no pior sentido que esta expressáo possa ter.

Em 1945 o Santo Padre o Papa Pió XII denunciava o mterésse pouco construtor que os Estados totalitarios tém na «libertagáo da mulher»:

«Para a mulher voltam-se varios movimentos políticos, a finí de a ganhar para a sua causa. Alguns sistemas totalitarios Ihe poem ante os olhos estupendas promessas: paridade de direitos com o homem; protecáo ás gestantes e parturientes; cozinha e outros servicos comunitarios que a libertem do peso dos cuidados domésticos, jardins de infancia públicos e outras instituigóes mantidas e admi nistradas pelo Estado... a fim de a eximir dos deveres maternos para com os próprios filhos, escolas gratuitas, assisténcia médica em casos de doenca...

Nao intencionamos negar as vantagens que se possar.i originar de

urna ou outra dessas medidas sociais, desde que sejam aplicadas dentro das devidas proporgóes... Contudo ainda continua aberta a questáo essencial: ter-se-á assim melhorado a condicao da mulher? A paridade de direitos com o homem, fazendo a mulher abandonar a casa, onde ela era rainha, assujeitou-a ao mesmo fardo e tempo de trabalho. Tém-sé desprezado a sua verdadeira dignidade e o sólido fundamento de todos os seus direitos, isto é. as características pró-

prias do seu ser feminino e a íntima coordenacáo dos dois

sexos;

tem-se perdido de vista o fim intencionado pelo Criador desejoso do bem da sociedade humana e principalmente da familia. Ñas concess5es feitas k mulher, é fácil perceber nao tanto o respeito á dignidad-3 e á missáo da mesma quanto o intuito de promover o poderío económico e militar do Estado totalitario, ao qual tudo há de ser inexorávelmente subordinados (Alocugáo ás Delegadas das Associacdes Católicas da Italia, proferida aos 21 de outubro de 1945).

Á luz das observagóes até aqui propostas, concluiremos que o Cristianismo nao é absolutamente infenso ao chamado «feminismo» ou á tendencia a dar maior projegáo á mulher na vida pública. Contudo essa maior projegáo, segundo a concepgáo crista, observará sempre as leis e os limites impostes pela natureza ao varáo e á mulher, de modo a merecer rejeigáo qualquer sistema que vise equiparar promiscuamente' os dois sexos na distribuigáo das tarefas sociais (os limites e as diferengas de atribuigóesforam suficientemente esbogados nos parágrafos precedentes). «A mulher está obrigada a contribuir com o varáo para o bem da «civitas», na qual ela compartilha dignidade igual á do homem; cada qual dos dois sexos deve tomar a si a parte que Ihe diz respeito

— 503 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961. qu. 1

de acordó com a sua natureza, as suas características, as suas apti"dóes físicas, intelectuais e moráis. Ambos tém o direito e o dever de colaborar para o bem total da sociedade e da patria; mas está claro que o homem é, por temperamento, mais levado a tratar de afaze-

res exteriores, de tarefas publicas, ao passo que a mulher costuma

ter mais perspicacia e mais tato para avaliar e resolver os proble mas delicados da vida doméstica e familiar, base de toda a vida social (o que, alias, nao impede que muitas saibam realmente dar provas de grande habilidade nos setores mais variados das atividades públicas» (Pió XII, Alócueáo as Delegadas das Assocíagóes Cató licas da Italia, de 21 de outubro de 1945).

Apéndice: A

Magna Carta das Maes

Á guisa de complemento ilustrativo, segue-se aqui o do cumento básico ou a «Magna Carta do Movimento Mundial das Máes», movimento fundado em Paris no ano de 1947, como fruto do III Congresso Internacional intitulado «A Máe, artífice do progresso humano». A Organizagáo das Nagóes Unidas (ONU) recebeu o Movimento em seu gremio, entre as asso-

ciagóes náo-governamentais. Reúne as organizacóes de cada país que prestem adesáo á «Magna Carta das Máes» abaixo transcrita:

'

«A máe se coloca em primeira linha entre os artífices do pro gresso humano na vida familiar, económica, social e cívica.

Chamada a realizar, com o pai, a obra de procriacáo, a mae é, com o- pai, responsável, segundo os designios de Deus, pela tárela educadora que complementa a obra do Criador. . Ela desenvolve os valores moráis e espirituais sem os quais qualquer tipo de civilizacáo redunda em aviltamento da pessoa humana,

que passa entáo a ser considerada como meio e nao como fim. A influencia que a mae exerce no lar, deve irradiar-se na cidade, na vida nacional e internacional. Os dons peculiares da mulher pres-

tam contribuigáo indispensável á vida cívica, social e económica.

O Movimento Mundial das Máes, para realizar a sua tarefa, apoia-

se sobre as declaracSes seguintes:

1) Dotada da mesma

natureza que o homem,

a mulher deve

gozar de liberdade nara escolher seu estado de vida, assim como da faculdade de ai se expandir em toda a medida do possivel;em par

ticular, ela tem direito absoluto ao respeito de sua personahdade na vida conjugal e na maternidade. 2) A educacáo e a vida social devem levar em conta tanto a igualdade essencial do varao e da mulher como as diferengas espe

cificas que correspondem ás funcóes próprias e complementares de um e de outra.

3) A uniáo dos esposos e a fecundidade da sua vida conjugal nao devem ser nem impostas nem entravadas pelas legislacñes, as instituigñes ou as organizacóes económicas. 4) A familia legítimamente constituida e estável é que pode

assegurar a máe o ambiente mais favorável á sua felicidade pessoal, á do seu marido e á dos filhos. Será também a familia o melhor esteio da grandeza da patria e do progresso do género humano. — 504 —

MOISÉS, AUTOR DO PENTATEUCO

5) É na familia, e em particular por intermedio de seus genito res que os iilhos recebem normalmente os principáis elementos do sua íormacáo pessóal e familiar. As instituicSes públicas ou parti culares

devem

prolongar,

completar,

e nao

substituir

a educacao

dada pela familia.

6) As condicSes de vida económica das nagSes devem permitir á mae que livremente se consagre as suas funcSes domésticas; as atividades familiares e caseiras das maes tém, alias, real e importante valor económico na vida das nacóes, principalmente na economía da consumagáo.

Em conseqüéncia, é indispensável que ñas diversas nag5es se tra-

balhe para que a opiniáo pública, as leis e as instituicóes reconhégam a valor da missáo da mulher no mundo, particularmente o valor da sua tarefa na familia e na sociedade».

Assim fala a sabedoria humana sonancia coma mensagem crista!

H.

ainda no

sáculo XX,

em con

SAGRADA ESCRITURA

ESTUDIOSO (Salvador):

2) «Quem

terá sido o autor do Pentateuco

(Génesis,

Éxodo, Levítico, Números, DeuteronSmio)? Moisés? Hoje em día, há quem o negué. Os uossos conceitos bíblicos mais fundamentáis vao sendo sueessivamente revo lucionados!»

-

A questáo do autor do Pentateuco háo é mero problema

de literatura e historia. Envolve a filosofía e a teolpgia, pois a ela se prende a nossa maneira geral de conceituar o Judaismo e o Cristianismo. Com efeito, se Moisés, chefe e libertador do povo de Israel no séc. XIII a. C, é o autor dos cinco livros citados, pode-se admitir a índole sobrenatural da religiáo ju

daica e, por conseguinte, do Cristianismo. Se, porém, o Penta teuco teve origem posterior a Moisés e foi falsamente atribuido a éste personagem, a religiáo de Israel e a sua continuacáo no

Cristianismo estáo baseadas sobre o erro ou mesmo sobre a mentira e a fraude; nada tém de sobrenatural, fazendo-se mister entáo reformar nosso conceito tradicional de Cristianis mo. Daí o interésse que racionalistas e cristáos dedicam ao estudo do assunto.

Embora o católico saiba que a sua fé nada tem a recear da parte

dos críticos, nao lhe é vedado (pode-se mesmo tornar recomendável) considerar os termos dos debates movidos em torno de Moisés e do Pentateuco. Devidamente conduzidos, ésses estudos podem benefi ciar a fé, pois lhe dáo por base um mais claro conhecimento dos designios da Providencia.

— 505 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961, qu. 2 Guiados desde já por esta perspectiva, abaixo examinaremos, em primeiro lugar, um pouco do histórico da questáo; a seguir, referi remos os principios de solucáo propostos pela sadia exegese con temporánea.

1.

O histórico da questáo

A. Até o séc. XVI

Pode-se dizer que até o séc. XVI ninguém pensava seria

mente em negar, tenha sido Moisés o autor do Pentateuco.

A atitude positiva dos estudiosos era apoiada por forte tradigáo de testemunhos em favor da autoría de Moisés; désses testemunhos váo aqui citados os principáis:

1) testemunhos do próprio Pentateuco. Lé-se

explícita

mente no Pentateuco que Moisés escreveu ao menos certos epi sodios do Livro Sagrado:

assim a batalha de Israel contra os amalecitas (Éx 17,8-13); cf. Éx 17 4 *

as" íeis «Código da Alianca» (Éx 20,23-23,33); cí. Éx 24,4;

as condicoes da Alianca (Éx 34,11-26); cí. Éx 34,27; as etapas da caminhada no deserto (Núm 33,2-49); cf. Núm 33,2; a pega poética que comumente é dita «cántico de Moisés» (Dt 32,1-43); cf. Dt 31,22; urna lei entregue aos levitas,

a qual, segundo o contexto, bem

poderia ser quase o livro inteiro do Deuteronómio (cf. Dt 31,9. 24). Os estudiosos presumiram que Moisés tenha redigido ainda outras

passagens do Pentateuco, pois sómente assim se explicaría a designa-

gao «Livro da Lei de Moisés» ou «Lei de Moisés», íreqüente na tra-

dicáo judaica para designar os cinco primeiros escritos da Biblia.

Com efeito; tenham-se em vista

2) testemunhos das Escrituras do Antigo Testamento. Ha mengáo do «Livro da Lei de Moisés», em Jos 8,31; 23 ;6; 4 Rs 14,6;

«Livro de Moisés», em 4 Rs 2,3; 2 Crón 35,12; Esdr 6,18; Ne 13,1; «Livro da Lei do Senhor dada por meio de Moisés», em 2 Crón 3414'

' «Lei de Moisés», em 2 Crón 23,18; Bar 2,2; Dan 9,11.13.

Levem-se em conta ainda algumas passagens dos Profetas em

que a redacáo do Pentateuco é associada a Moisés: Os 8, 12; Jer 31,33; Am 2,9s; 4,11; Is 1, 11-14; Bar 2,27s.

O

depoimento désses

textos

parece

corroborado

pela

auton-

dade dos

3) testemunhos do Novo Testamento. Também o Senhor Jesús se reíeriu ao «livro de Moisés» (Me 12,26), á «Lei dada por Moisés» (Jo 7,19). Asseverou que Moisés es— 506 —

MOISÉS, AUTOR DO PENTATEUCO

creveu a respeito de Jesús, mas que os judeus nao acreditavam néle (Jesús), porque nao davam fé nem mesmo aos escritos de.Moisés (Jo 5 46s)

Certas prescrig6es do Pentateuco sao tidas pelo Senhor

como' prescricSes de Moisés: assim a circuncisáo

(Lev 2,3;cf. Jo

722); o libelo de repudio á esposa (Dt 24,1; cf. Me 10,3-5; Mt 19,8); a oblagáo do leproso curado (Lev 13,49; 14,2-32; cí. Mt 8,4; Le 5,14).

Também os contemporáneos de Jesús atribuiam a Moisés as leis

do Pentateuco; assim. os lariseus (cf. Mt 19,7; Jo 8,5; At 6,14), os saduceus (cí; Mt 22,24), os discípulos de Cristo (cf. Jo 1,45). "Tal modo de pensar reaparece nos escritos dos Apostólos: At 322s (cf. Dt 18,15,39; 7,37; Lev 23,29); At 7,37s; 28,23; Rom 10,5 (cf. Lev 18,5; Dt 30,12s); Rom 10,19 (cf. Dt 32,21); 1 Cor 9,9. Além désses, merecem ponderacáo os

4) testemunhos da tradicao judaica e crista. Pode-se dizer que até o séc. XVI era quase unánime a afirma-

gao de que Moisés escrevera o Pentateuco, de tal modo que parece

inútil transcrever aquí algum depoimento. Interessa apenas realcar como essa' arenca estava arraigada: segundo os escritores judeus

Flávlo José (t 102/103 d. c.) e Filáo de Atexandria (t cérea de 50 d c) terá sido o próprio Moisés quem em Dt 34 escreveu antecipadamente a narrativa da sua morte (cf. Ant. IV 8,48; Vita Moisis II 51).

Sis, porém, que nos tempos modernos se modificou o pensamento dos exegetas; agugados por senso crítico assaz perspicaz, assim como por conhecimentos mais exatos de historia, lingüística e literatura antigás. Aos poucos foram percebendo que a questáo da redagáo do Pentateuco é mais complexa do que se pensava; esta se deve ter processado por etapas e pela colaboragáo de máos diversas. Conseqüentemente comegaram a ser propostas teorías diversas a respeito das origens do livro da Lei de Israel. Voltemos nossa atengáo para essa segunda fase da historia da exegese do Pentateuco.

B. Do séc. XVI aos nossos días.

Após tímidos ensaios inovadores nos séc. XVI e XVII, ini-

ciou-se própriamente no séc. XVIII a chamada «Crítica do Pen tateuco».

Costuma-se indicar como protagonista da nova atitude exegética o médico francés da corte de Luís XV, Jean Astruc. católico conver tido do calvinismo. Em 1753, Astruc propunha suas idéias no livro «Conjectures sur les mémoires originaux dont il paroit que Moyse s'est servi pour composer le livre de la Genése»: tendo observado o uso de certos vocábulos e, em particular, o dos nomes de Deus — Javé e Eloím — no livro do Génesis e nos dois primeiros capítulos do Éxodo concluía que, além de fontes menores, quatro principáis documentos haviam concorrido para a confecgáo do Génesis; désses, dois lhe pareciam sobressair pela sua importancia: o documento Eloístlco (no qual a designagáo Eloim predominava) e o documento

javistico (no qual Javé era muito mais freqüente). Assim surglu a «teoría dos documentos».

— 507 —

«PERGUNTE

E RESPONDEREMOS» 48/1961,

qu. 2

Como se compreende, esta hipótese nos decenios seguintes foi

rees ludada e retocada de diversos modos. Estenderam-na a todo o Pentateuco: outras teorías lhe íoram acrescentadas ou substituidas, dando um panorama complexo de sentencas oscilantes ou mesmo contraditórias urnas as outras, que nao vem ao caso expor aquí.

2. Passaremos ¡mediatamente á teoría que representa o ponto alto da crítica, alcangando grande voga entre os estu

diosos: é a teoría do professor alemáo Julio Wellhausen (18441918), a qual se aplica nao sómente ao Pentateuco, mas tam-

bém ao livro de Josué (conjunto éste que Wellhausen denomi-

nava «Hexateuco»). Eis as grandes linhas do sistema:

Wellhausen partía de um pressuposto nao própriamente exegético nem literario, mas filosófico hegeliano: admitía, sim, que todos os povos passam por um evolucionismo cultural e religioso, percorrendo sucessivamente fases de vida nómade (errante), agrícola (estável, sedentaria) e comerciante, para chegar finalmente ao artesanato. Paralelamente, a mentalidade religiosa se desenvolvería a partir de formas e práticas grosseiras (animismo, fetichismo, politeísmo...), atingindo por úl timo o monoteísmo (culto de um só Deus pessoal e transcen dente). O povo de Israel nao terá escapado a essa trajetória de evolugáo, conforme Wellhausen; foi, portante, em fungáo

déste pressuposto que o crítico alemáo arquitetou a sua teoría sobre a origem da Lei de Israel, manifestando, alias, profundo ceticismo no tocante ao valor histórico dos livros bíblicos. É muito revolucionaria a idéia que do antigo povo hebreu propos

Wellhausen; com efeito, os iniciadores do monoteísmo em Israel teriam sido os profetas (séc. IX/Vm a. C); os escritos déstes constituiriam as partes mais antigás da Biblia. Quanto

ao Pentateuco, ter-se-ia originado por fusáo de quatro documen

tos oriundos em épocas diversas, náó, porém, antes do séc. IX (Moisés viveu no séc. xm a. C). A fim dé granjear autori-

dade para a obra resultante da fusáo, a classe dominante em

Israel a terá atribuido a Moisés, figura semi-lendária, de cuja historia pouco ou nada se sabe. As quatro fontes utilizadas seriam:

1) o Código Javista (J), que teve origem no reino de Judá, me ridional, por volta de 850 a. C; comeca pela segunda descricáo da criacao do mundo em Gen 2,4b. compreendendo a historia dos Patri

arcas a vida de Moisés e ao menos as primeiras incursSes de Israel

na térra de Canaá. Usa desde o inicio das suas narrativas p nome de Javé, com o qual Deus se revelou a Moisés.

2) O Código Eloísto (E), que se originou pouco depois (antes de 722, queda de Samaría) no reino da Samaria (setentrional). Nesse

documento, que comeca com a historia de Abraao, Deus aparece íre— 508 —

MOISÉS, AUTOR DO PENTATEUCO qüentemente a falar em" sonhos e a manifestar diretamente seus designios aos homens; os Patriarcas sao politeístas. Usa predominan temente o nome Eloün, ficando Javé reservado a secg6es posteriores a Éx 3 (revelacao do nome Javé no Sinai). Os documentos J e E teráo sido fundidos, e de algum modo reto cados em um único «Jeovista» (JE) por volta de 650. 3) O Deuterondmio (D) se deverta a um grupo de sacerdotes de Jerusalém, que desejavam fazer do templo de Jerusalém. o santuario Único, nacional; em conseqüéncia, teráo redigido ésse código como se fósse escrito por Moisés, e em 622 o teráo apresentado ao público

qual obra recém-descoberta no templo após um periodo de esquecimento. Foi fundido com JE, servindo de norma para a revisáo dos escritos sagrados anteriores.

4) O Código Sacerdotal (P, do alemáo «Priesterkodex») seria a compilacao de algumas series de narrativas e leis, de caráter ritual. A compilacao se terá feito por etapas no fim do exilio (séc. VI a. C.) ou pouco depois (séc . V), sob a influencia do profeta Ezequiel e da su? escola de sacerdotes. Foi promulgada por Esdras em meados do séc. V aproximadamente. O Código P foi fundido com a obra JED,

fornecendo o quadro ou o arcabougo para as demais narrativas e leis; assim se constituiu a chamada «Lei de Moisés» ou a Torah dos judeus. que, a partir de. 330 a. C. (época de Alexandre Magno), nao

terá sófrido ulteriores acréscimos.

Eis, rápidamente expostas, as idéias de Wellhausen. No mundo dos exegetas encontraram franco apoio da parte de uns, como também decidida oposieáo da parte de outros. Durante decenios, nao há dúvida, exerceram considerável influ

encia sobre os estudos e as publicacóes bíblicas em geral. A me dida, porém, que se foram avolumando os resultados de pesqui sas literarias, arqueológicas, historiográficas, .. .foram-se evi

denciando também as falhas da teoría wellhauseniana; esta apareceu como sistema demasiado esquemático e rígido, sugerido

por idéias preconcebidas mais do que pelo exame da realidade histórica; os discípulos de Wellhausen dissecaram os próprios

documentos-fontes, tentando, segundo criterios mais ou menos arbitrarios, distinguir «fontes de fontes»; imaginaran! urna nova

cronología absoluta e relativa, de modo que hoje em diá estáo longe da unanimidade nesse setor.

3.

Que dizer, em grandes linhas, da teoría de Wellhausen?

Em resumo, duas sao as principáis deficiencias do sistema.

1) É inconsistente o pressuposto de que a religiáo de Is rael tenha passado paulatinamente das formas mais grosseiras até a mais pura ou o monoteísmo. De modo geral, as pesquisas de historia das religióes deram a ver que o animismo, o feti chismo e semelhantes crencas nao sao expressóes primitivas e originarias da religiosidade, mas constituem modalidades pos

teriores e decadentes. Em particular no povo de Israel, nao há vestigio de politeísmo ou idolatría, de tal modo que o monote— 509 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961, qu. 2

ísmo parece realmente ter sido nao a forma tardía, mas a ex-

pressáo primaria e genuina da religiosidade em Israel. Os argumentos que corroboram

esta conclusáo já foram apre-

sentados em «P. R.» 2/1957, qu. 6; aqui lembramos apenas que, desde os primeiros capítulos da Biblia, os autores israelitas se referem a

um so Deus: assim na descrieáo da criacáo do mundo um so Senhor tira do nada todas as coisas (Gen 1,1-2,4); é Ele mesmo quem se manifesta aos primeiros homens (Gen 2,25-4,26), permite o diluvio e contrai alianca com Noé (Gen 6-9); dispersa os homens soberbos (Gen 11,1-9) e finalmente se revela a Abraáo e ao poyo de Israel (Gen 121-3). Donde se vé que os escritores de Israel tinham consciéncia de que a religiáo primitiva era monoteísta e de que &les éram, por vocacáo divina dirigida a Abraáo (séc. XVIII), os herdeiros e continuadores désse monoteísmo primordial.

Isto explica, já nao haja em nossos dias estudioso sincero que atribua aos profetas a invengáo do monoteísmo israelita. 2) As descobertas arqueológicas e literarias foram mos

trando com evidencia crescente que as leis e narrativas contidas no Pentateuco eram muitb mais antigás do que julgava Wellhausen; em conseqüéncia, percebeu-se que as datas de ori gem dos documentos-fontes J e E (séc. IX/VHI a. C.) assinaladas pelo crítico alemáo nao poderiam ser sustentadas. Com efeito, as pesquisas contemporáneas tém manifestado aos es

tudiosos o ambiente do Próximo Oriente com seus códigos legis lativos e seus monumentos literarios; um confronto désses do

cumentos com a Lei de Israel permite estabelecer muitos pon tos de contato entre o Pentateuco e a cultura oriental (egipcia,

assiria, babilonia, fenicia...) do segundo milenio a. C, de modo que se deve admitir para os dados (leis e narrativas) do Penta teuco origem muito anterior ao movimento profético (séc. IX a. C). Wellhausen, ao propor suas datas, nao tinha conhecimento désses resultados da ciencia arqueológica contemporánea. «Os estudos de arqueología e de historia antiga evidenciaram de modo especial que Israel nao é um povo ¡solado na historia da civilizacao . A descoberta de códigos orientáis, dos quais alguns sao de varios séculos anteriores a Moisés (nos últimos anos, além do código de Hamurabi, íoram encontrados os códigos mais antigos dos xeis Lipit-ishtar e Bilalama), mostrou que o corpo de leis de Moisés, atribuido por Wellhausen á época do exilio (séc. VI a. O. contém elementos arcaicos; ele nao é, de modo algum, anacrónico na época

em que a Biblia o coloca» (G. Rinaldi. Pentateuco, em «Enciclopedia Cattolica» IX 1151).

Feitas estas observagóes restritivas á teoría de Wellhausen e as que déla dependem, fica aberta a questáo: que se deverá entáo dizer, em termos positivos, a respeito da origem do Pen*— 510 —

MOISÉS,

AUTOR

DO

PENTATEUCO

tateuco? Excluir-se-á a hipótese de fontes e da colaboragáo de varios redatores? É o que passamos a analisar. 2.

Principios de solucao

Nao resta dúvida de que a origem do texto do Pentateuco,

como ele hoje existe, corresponde a um processo histórico lento

e complexo, do qual nao se pódem recompor com toda a exatidáo as fases sucessivas. A sadia crítica moderna se contenta com a indicagáo de pontos adquiridos no estudo, pontos que

deveráo merecer atencáo em qualquer tentativa de reconstituigáo completa, da historia. Tais pontos :reduzem-se aos tres seguintes:

1) Na configuracáo "do texto atual do Pentateuco, nao se podem negar o uso de fontes e a colaboracáo de máos diversas. Esta afirmacáo se baseia em indicios varios: a) falta, por vézes, continuidade ou nexo lógico entre certas seccóes do Pentateuco — o que faz crer hajam sido redigidas independentemente urnas das outras e posteriormente justapostas.

.

Haja vista, por exemplo, a secgáo Gen l,l-,4a: narra a criacáo do mundo até a etapa iinal. Pois bem; logo em 2,4b o leitor é recon-

duzido á íase da térra deserta e destituida de vegetagáo; o escritor sagrado p6e-se entáo a narrar de novo o aparecimento do homem, dos vegetáis e dos animáis... Em Gen 4,26, lé-se que Adáo teve um filho, Sete, e que os homens comegaram entáo a invocar o nome de Javé. Ora pouco adiante, em 5,1, recomeca a historia da descendencia de Adáo com o nascimenfo de Sete, nao havendo mencao do nome de Javé até 5,29. Levem-se em conta outrossim Gen 7,7 e 7,10; Ex 19,9-25 e 20,18-21. As vézes, a continuidade da- narrativa é interrompida por urna seceáo, que parece inserita: assim o texto de Éx 2,23a se prossegue lógicamente em 4,19. As admoestagoes de Moisés a Data e Abirá, em Núm 16,12-15, se prosseguem nao em 16,16-24 (revoíta de Coré), mas em 16,25-35 (punieáo dos dois mencionados revoltosos).

b) Kegistram-se sececes em duplicata. Tenham-se em vista, por exemplo, as duas descricoes da criagao (Gen l,l-2,4a c 2,4b-25); a vocacao de Moisés é narrada duas vézes

(cf. Ex 3 e 6). O Decálogo é referido pela primeira vez em Éx 20, pela segunda vez em Dt 5. O catálogo das principáis íestas religiosas - aparece em cinco passagens: Éx 23,14-17; 34,8-23; Dt 16,1-16; Lev 23,1-44; Núm 28s. A respeito dos dizimos, a legislagáo ocorre em quatro trechos distintos: Lev 27,30-33; Núm 28,21-24; Dt 14,22-29 e 26,12-15... As vézes o enunciado'da mesma lei é assaz uniforme ñas diversas secc5es em

que ocorre;

outras vézes,

— 511 —

porém,

parece supor

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961,

qu. 2

diferentes situagóes económicas, sociais e religiosas; assim a lei do ano sabático em Éx 23,10s visa apenas os produtos agrícolas, ao

passo que em Dt 15,1-15 tem em mira as dividas pessoais.

c) O vocabulario e o estilo do Pentateuco oscilam, sugexindo autores diversos. O uso das designacoes de Deus, de acdrdo com o texto hebraico, do Pentateuco, se configura do seguinte modo: Gen

Javé

Eloim Javé-Eloim

145 165 20

ÉX

Lev

Núm

393 56

310

387 10

1

Dt

Total

547 10

1782

241

21

Verdade é que o criterio dos nomes divinos nao merece plena confianca, pois os manuscritos por vézes discordam entre si na transmissáo do texto sagrado. Note-se que o sogro de Moisés é chamado Raguel em Éx 2,18, Jotro em Éx 31; 4, 19, e Hobab em Jz 1.-16; 4,11. A montanha onde Deus se revelou a Moisés, é o Sinai (em Éx 3,12;19,l-3) também dito Horeb (em Éx 3,1; 17,6; 33,6 e no Deuteronómio). No Deuteronómio ocorrem expressóes características, como

«Javé teu Eloím», «vosso Eloim», «aderir a Deus», «fazer o que é

bom aos olhos de Javé», «exterminar o mal do meio de...», «obser var os mandamentos». O estilo é original, solene, moroso e ampio. Diferentes mentalidades se refletem ñas páginas do Pentateuco. Com efeito, urna serie de textos revela um modo de pensar muito amigo, dos esquemas, dos números, das datas, das genealogías, usando de formas de estribilho (cf. Gen l,l-2,4a; 5,1-32); ésse modo de pensar, também muito afeifoado á Lei e aos ritos, é dito «sacerdo

tal»; os textos que déle dependem, sao agrupados numa fonte deno minada «Código Sacerdotal» (Priesterkodex, conforme Wellhausen). Ao lado dessa mentalidade, reflete-se no Pentateuco um modo de pensar muito mais espontáneo e vivaz, que tende a fugir dos es quemas e da monotonía; concebe Deus em termos figurados, a semelhanga de um homem

(antropomorfismos);

nao

costuma

enunciar

as verdades por meio de fórmulas abstratas,' filosóficas, mas antes

por meio de diálogos movimentados. Além disto, revela gdsto parti cular pelas explicagSes etimológicas de caráter popular, interpretan do por exemplo, os nomes de Eva (Gen 3,20), Caim (Gen 4,1). Noé (Gen 5,29). Ismael (Gen 16,1). Isaque (Gen 18,12-15), Amon e Moab (Gen 19 37s), Jaco, Esaú e Edom (Gen 25,25s), Babel (Gen 25,25s), Babel (Gen 119), Segor (Gen 19,22), Bersabéia (Gen 26,33), Betel (Gen 28,19). Tal é a mentalidade dita «javista», porque está associada aos textos em que predomina o nome «Javé». Também se assinala a mentalidade elofsta (ligada ao uso do nome «Eloim»), caracterizada por conceitos mais espirituais e menos antropomórficos a respeito de Deus; também marcada por especial apreco á moral e por estima dos sonhos como cañáis de comunicacjio de Deus

aos homens.

d) Podem-se apontar no Pentateuco passagens que, supon-

do época posterior a Moisés, devem ser atribuidas a redatores subseqüentes.

— 512 —

MOISÉS, AUTOR DO PENTATEUCO

Tais seriam: o estatuto do reí (Dt 17,14-20; cf. 1 Sam 10,25); a tabela dos reis de Edom (Gen 36,31-39; cf. v. 31); preceitos íora de

propósito nos tempos de Moisés, como a lei do siclo do santuario

(= templo de Jerusalém,

construido no periodo dos reis), em Ex

303; glossas explicativas, como Éx 16,35s...

A conclusáo de que o Pentateuco teve suas fontes litera rias e sofreu acréscimos posteriores torna-se destarte assaz evi dente ao estudioso. Para o exegeta católico, é corroborada pelo

testemunho da Pontificia Comissáo Bíblica, a qual em 1948 assim se pronunciava:

«Quanto á composigáo do Pentateuco... em junho de 1906 Já a

Pontificia Comissáo Biblica admitía se dissesse que Moisés, ao compor a sua obra, se tenha servido de documentos escritos ou de tradigbes oráis e admitía outrossim modiíicac3es e adicSes posteriores a Moisés.

Hoje ninguém p5e mais em dúvida a existencia dessas iontes ou

recusa admitir um aumento progressivo das leis mosaicas devido as circunstancias sociais e religiosas de épocas posteriores, aumento pro

gressivo que se manifesta também ñas narrativas históricas. No entanto, há presentemente, mesmo entre os exegetas nao católicos, as mais diversas opini6es sóhre a natureza, o número, a nomenclatura

de tais documentos e sua data. Nem faltam autores que, em varios . países, com argumentos puramente críticos ou históricos e sem in-

tengáo apologética, rejeitam decididamente as teorías até agora mais em voga e procuram explicar as particularidades de redagao do Pen- .

tateuco nao pela diversidade dos supostos documentos, mas pela psicolog'a e pelas características, melhor conhecidas hoje, do pensamento e da expressáo dos antigos orientáis, ou pela diversidade do género

literario exigido pelas varias materias. Convidamos por isto os sabios católicos a estudar estes problemas sem preconceitos, k luz da crítica verdadeira e dos resultados obtidos pelas outras ciencias relaciona das.
Urna vez estabelecido o uso de fontes na redacáo do Pen tateuco, póe-se ulterior questáo: quais seriam essas fontes? 2) As fontes do Pentateuco sao tradigóes assaz antigás do

povo de Israel, as quais foram sendo reunidas em «familias de

tradisoes», em parte oráis, em parte escritas, e nao necessáriamente em códigos ou blocos literarios escritos. Esta proposicáo se apoia na realidade da vida, do povo israelita antigo, que passamos a expor mais minuciosamente: Supóe-se que, junto aos grandes santuarios da Térra Santa, se foram formando, desde remota época, narrativas de índole

histórica ou de índole legislativa... Eram recitadas perante os peregrinos, servindo-lhes de instrucáo e motivo de oracáo; visavam dar resposta as questóes fundamentáis de toda cria_ 513 _

«PERGUNTÉ E RESPONDEREMOS» 48/1961, qu. 2

,

tura humana e, em particular, do povo de Israel (Donde vimos? Para onde vamos? Que fazemos na térra?). — Tais tradigóes,

das quais urna ou outra terá sido esporádicamente redigida por escrito, foram sendo agrupadas em «ciclos» ou «familias», sob a influencia de algum personagem respeitável..... Os crite rios de agrupamento eram múltiplos:

.

Podia ser um determinado vocábulo ou um esquema de redagao. Entre ésses vocábulos-chaves, tornou-se muito importante, por exemplo, a palavra toledoth (= geragóes ou historia de...); nota-se, com eíeito, que o livro do Génesis é percorrido por nove toledoth, ou nove blocos literarios, dos quais oito referem os nomes e alguns dos feitos

dos descendentes de determinado personagem: assim há os toledoth (geragóes livro da familia) de Adáo (Gen 5,1), Noé (6,9), Sem (11,10),

Terá (11,27) Ismael (25,12), Isaque (25,19), Esaú (36,1). Jaco (37,2); distingue-se mais um toledoth no Génesis, que é a peca inicial ou l,l-2,4a, «historia da formacüo do céu e da térra». No livro dos Nú meros (3,1-4) léem-se outrossim os toledoth de Aarao e Moisés. — Destarte a historia religiosa da humanidade era descrita mediante a apresentacáo de series de geragóes.

O criterio de agrupamento das tradigóes podia ser também a trama da vida de certo personagem. Assim distingue-se o «ciclo da

vida de Abraao»: as peregrinagóes déste Patriarca (Gen 12), a sepa-

ragáo de Abraáo e Lote (Gen 13), a alianga com Deus (Gen 15), o nascimento de Israel (Gen 16), a intercessáo de Abraao em favor de Sodoma e Gomorra associada á promessa do nascimento de Isaque (Gen 18s), o nascimento de Isaque (Gen 21,1-7), o sacrificio de Abraao (Gen 21,14-18), a solicitude do velho pai em proporcionar digno casa mento a seu filho (Gen 24). Mais ainda: podiam-se agrupar as tradigSes de acordó com os respectivos temas havendo entáo em cada familia de tradig5es um tema central a dominar a serie de episodios. É o que se dá, por.exemplo com o tema do «pecado que se vaí mais e mais propagando»: esta idéia confere unidadc aos episodios de Gen 2,4b-4,24 (criacáo, pecado original e pecado de Caim), 6-9 (o pecado provocador do diluvio), 9,18-29 (o pecado até mesmo entre os filhos do justo Noé), 11,1-9 (a soberba é a torre de Babel). Ésses quadros constituem o fundo negro que justifica e explica a vocagao de Abraao por parte do Senhor.

Os críticos contemporáneos costumam admitir que os agrupamentos de tradigóes, por suas notas características, vém a^ coincidir com o que Wellhausen denominou as fontes J, E, P e D. Renunciam geralmente a assinalar datas precisas para a formagáo das familias de tradigóes; na verdade, estas se devem ter constituido aos poucos, de acordó com as necessidades va riadas da instrugáo e da devogáo dos fiéis.

Pergunta-se agora: qual o papel de Moisés na constituigáo

das familias de tradigóes e conseqüentemente na formagáo do Pentateuco? — 514 —

MOISÉS,

AUTOR

DO PENTATEUCO

3) Na rcdagáo do Pentateuco, Moisés terá desenvolvido um tríplice papel:

'a) Em relagáo a certos episodios, Moisés terá sido autor

e escritor direto.

b) A outros episodios Moisés nao terá dado a forma es crita, mas, sim, o caráter oficial, incutindo-os e promulgando-os com a sua autoridade junto ao povo; teráo sido redigidos por israelitas anteriores ou posteriores a Moisés. c) Além disto, Moisés criou em Israel um espirito, u'a " mentalidade — a mentalidade teocrática própria do povo eleito de Deus; ésse espirito uno e bem marcado inspiraría as novas leis que se tornassém necessárias em Israel para atender a fases posteriores da, vida do povo de Deus.

Em conseqüéncia, pode-se dizer que Moisés é «o autor da substancia da Lei ou do Pentateuco»: o que ai nao está dire tamente marcado pelo estilo de Moisés, está certamente mar cado pela mentalidade de Moisés. O termo «autor do Penta teuco» toma assim o sentido mais ampio de «responsável pelo Pentateuco». Note-se que a Pontificia Comissáo Biblica, no trecho atrás (pág. 513) citado, fala de profunda influencia de Moisés no texto do Pentateuco, sem precisar ulteriormente em que tenha consistido essa influencia do Legislador. Destarté vé-se que a falha dos críticos liberáis nao consiste própriaménte.em admitir fontes do Pentateuco (a existencia destas é plenamente compatível com a inspiragáo biblica, como íicou demons trado em «P. R.» 26/1960, qu. 5), mas em querer distanciar de Moisés essas fontes, de modo a negar a influencia do chefe de Israel sobre a Lei e, por conseguirle, a ántigüidade desta. Para ilustrar como Moisés se relaciona com a Lei de Israel, os exegetas recorrem ao fato seguinte: muitas nagSes contemporáneas se regem pelo «Código de leis de Napoleáo»; sabe-se, porém, que ao corpo legislativo emanado diretamente de Napoleáo cada país foi acrescentando determinacóes novas a fim de atualizar e explicitar a legislacáo de Napoleáo; essas leis novas, embora nao sejam diretamente da autoría de Napoleáo, exprimem, nao obstante, o espirito r e os principios de Napoleáo; por isto continua-se a dizer que o Código legislativo de Napoleáo está em vigor em tais- nacj5es. — Algo de semelhante se terá dado eom o núcleo de normas diretamente for muladas por Moisés e as que legisladores posteriores lhes acrescentaram; estas nao quebraram a unidade do conjunto, pois traduziam de modo genuino a mente de Moisés; daí poder atribuir-se simplesmente a Lei ou o Pentateuco a Moisés.

Também lembram os estudiosos que Tomismo nao designa apenas o sistema doutrinário que S. Tomaz consignou em seus escritos; abrange outrossim o desdobramento desse sistema tal como ele se deu por obra dos genuinos discípulos de Sao Tomaz.

Eis as principáis conclusóes a que chegou a crítica sadia

em nossos tempos na elucubracáo das origens do Pentateuco.

«PERGUNTE E

RESPONDEREMOS» 48/1961, qu. 3

Proposigóes mais minuciosas seriam

demasiado conjeturáis;

abstemo-nos portante de as formular aqui. Pode-se supor que

ulteriores estudos projetem mais luz aínda sobre o assunto, sem, porém, derrogar a quanto acaba de ser exposto. m.

MORAL

SEQUIOSO (Belo Horizonte):

3) «Pode haver imperfeicoes moráis que nao sejam peca* dos (nem sequer pecados leves)?

Estará o homem obligado a praticar, em tudo, o que há de

mais perfeito?» Antes do mais, convém delimitar devidamente o conceito de imperíeicáo moral. A seguir, determinaremos as relacóes desta com o pecado. Por fim, á guisa de conclusáo, seráo formuladas algumas mormas de alcance prático.

1.

Que é a imperfeigao moral prdpriamente dita?

Por «imperfeigáo moral» em sentido estrito entende-se o

ato que, embora nao viole algum preceito explicito da lei de

Deus, vem a ser contradigáo a um conselho dado direta ou

indiretamente pelo Senhor a fim de facilitar a uniáo da alma <:om Deus; seria a prática de um bem menor, com rejeigáo cons ciente de um bem maior. Em outros termos: désigna-se como imperfeigáo moral o ato de vontade pelo qual determinada pessoa, podendo escolher •entre dois alvitres, honestos ambos, mas de valor desigual, opta deliberadamente pela solucio que tal pessoa julga ser a menos perfeita do ponto de vista moral. — Nao vém ao caso, portan te, as pequeñas faltas que escapam á deliberagáo do agente,

por mais virtuoso que seja; ficam involuntarias e subtraidas á

responsabilidade do sujeito (a menos que éste deliberadamente ■dé ocasiáo remota a tais ímpetos da natureza). Eis alguns exemplos assaz significativos;

. Um jovem estudante, sequioso do bem, mas um tanto leviano, ■viu-se certa vez em situagáo penosa da sua vida; resolveu entao du rante nove dias consecutivos assistir á S. Missa celebrada na cápela mesma de sua Escola, ora antes, ora depois das aulas. Urna vez ter minados ésses exercícios de piedade, verificou que nao Ihe havlam prejudicado o cumprimento dos deveres de estado. Em conseqüéncia, surgiu-lhe espontáneamente no espirito, ávido de bem, urna perspec

tiva nova, que o comecou a torturar: poderia continuar a participar diariamente da Missa, á semelhanca de tais e tais colegas que o faziam sem negligenciar suas obrigacSes profissionais. NSo indo a Missa,

— 516 —

AS IMPERFEICOES MORÁIS SERAO PECADOS?
jeituras que ele poderia dispensar ou que, com um pouco de generosi-dade, procurando distribuir melhor o tempo, poderia lazer em outro -período do dia. Em última análise, punha-se-lhe o dilema: «maior ge-

:nerosidade» ou «menor generosidades no servigo de Deus?... «Mais jeríeigáo» ou «menos perfeicáo» (sem que houvesse transgressao de -algum preceito) no exercicio da vida crista? Caso optasse, ñas circunstancias ácima,

pela náo-assisténcia á

IMissa fora dos dias de preceito, o jovem teria cometido um ato dos •que chamamos ácima «imperíeigáo moral». Nao está claro que tal Jmperfeigao seria também um pecado. Por isto interessa-nos neste artigo indagar se haveria pecado ou nSo no ato de recusa do jovem. Outro exemplo: Ludovico costuma conceder a si mesmo peque mos prazeres desnecessários, como o uso de fumo, refrescos especiáis, ■conversas demasiadamente prolongadas... Em-determinada ocasiáo •da vida, ele percebe que a renuncia a tais concessdes lhe daria mais

liberdade e vigor espiritual para procurar a Deus; passa entáo a expe rimentar continuamente o chamado da graga que o convida a mudar

•de regime. É assim que se pae em sua alma o dilema: «bem maior> ■ou «bem menor» na caminhada para Deus? Dado que nao se renda .ao convite, cometerá urna «imperfeigao moral». Será isso um pecado?

Assim exposto o conceito de «imperfeigáo moral», vejamos -como se relaciona com o pecado. 2.

Imperfeicao moral e pecado

O assunto tem sido ardorosamente estudado pelos teólogos, fican«do até hoje aberta a questao. Há, sim, autores que distinguem ciarajnente entre imperfeicao moral e pecado, julgando que aqueta possa «correr sem culpa do sujeito respectivo. Neste caso, a pessoa se deveria arrepender sinceramente de suas imperíeigdes, repudiando-as por ■serení entraves á agáo da graca na alma, mas nao as deveria acusar •ern conlissáo sacramental, pois, nao sendo pecados, n&o constituiriam rmatéria para absolvigáo. A imperfeicao seria um ato defeituoso, nao, porém pecaminoso. — O primeiro autor que haja sustentado esta sen-

tenga parece ser o teólogo Joáo de Lugo, professor de Moral no Co legio Romano de 1620 a 1641 (cf. «De paenitentia», disp. III, sect I

Oiitros teólogos, seguindo um ensinamento mais tradicional, afir-

•jnam que t6da imperfeicao consciente e voluntarla (como ácima des brevemos) vem a ser pecado (ao menos, leve). Na verdade, por muito estranho que isto parega, deve-se dizer que .as duas sentengas nao se excluem; antes, desde que se faga o que muitas vézes se urna distingáo. Distinguiremos, portanto, •o plano teórico, abstrato, e a linha prática,

A. Em teoría...

completam-se mutuamente, deve fazer em tais casos: no nosso problema entre dos atos concretos.

".

Consideremos a imperfeigáo moral em si mesma ou inde.pendentemeríte de quaisquer circunstancias em que ela na reaüdade concreta ocorra.

"

Imperfeicao, dizíamos, nao é violagáo de um preceito do Senhor, mas apenas negligencia de um conselho ou de urna — 517 —

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

48/1961,

qü.

3

norma que visa promover maior perfeigáo espiritual. Ora a execugáo de urna tal norma ou de um conselho ficará sempre

facultativa; em si mesma nunca poderá constituir um devér; paralelamente, portante, a sua violagáo por si só nunca equivalerá a um pecado. O conselho que impusesse obrigágáo,-já deixaria de ser conselho para tornar-se preceito. ;

Donde se v§ que, abstratamente considerada, a imperfeigáo moral nao pode ser tida cómo pecado. Por si, ela ainda é um

ato bom, ato concorde, sim, com a Lei de Deus; apenas se la menta que.tenha por objeto um bem exiguo, em vez de um bem

maior, qué o agente, se fósse mais generoso, poderia, sem dú-

vida, escolher. Contudo o «bem menor» nao pode ser confun dido com o «mal», como o «menos branco» nao chega a ser «negro», nem o «menos quente» chega a ser «frió».

Conseqüentemente, dever-se-á dizer: em teoría, ou abstratamente falando, nao peca o estudante que, voluntariamente, deixa de, assistir á S. Missa em día de semana para se dedicar entrementes a leituras ilustrativas ou mesmo a práticas esportivas moralmente'lícitas.

Contudo é de notar que ha realidade 'prática riáo existem

atos abstratos, independentes de circunstancias concretas que

inevitávelmente váo influir na qualíficácáo moral da conduta humana.

Por isto faz-se mister voltemos agora a nossa atengáo para outro aspecto da questáo. B. Na prática. Todo ato humano (consciente e deliberado) é inspirado por determinada intengáo do respectivo agente, que, assim agindo, visa atingir tal ou tal objetivo preciso. Ora a intengáo do agente é, sempre e necessáriamente, ou boa ou má, do ponto de vista moral; em outros termos, a inten gáo do agente, em todo e qualquer caso, está necessáriamente voltada para um objetivo que, em última análise, ou é confor me á Lei de Deus ou contradiz a esta (todo homem age sempre,

direta ou indiretamente, em vista do último Fim ou em vista de Deus, ensina a Ética geral).

Digamos entáo que aiguém seja colocado diante de üm con selho de perfeigáo espiritual... conselho que convida a fazer urna obra de maior virtude do que as que tal pessoa costuma praticar (tratar-se-ia, por exemplo, de renunciar ao fumo, a conversas supérfluas, assistir á S. Missa em dia de semana...). A pessoa assim intimada entrará em deliberagáo consigo mes— 518 —

AS

IMPERFEICOES MORÁIS SERAO PECADOS?

.

ma, a fim de proferir o seu «sim» ou o seu «nao» ao convite do momento.... Se, depois dé deliberar, ela puder sinceramente dizer: «É bom para mim nao atender a tal conselho, pois essa omissáo favorecerá o desenvolvimento normal da minha vida de amor a Deus», tal pessoa, deixando de praticar o conselho,

estará realizando um ato bom, um ato de virtude; escolhendo um bem (em si mesmo) menor em vez do bem (em si mesmo)

maior, tal pessoa nao estará cometendo pecado; nem estará praticando um ato moralmente neutro ou indiferente, mas, sim, um ato positivamente bom, ato diretamente encaminhado para a maior uniáo com Deus. A esta altura, surge espontáneamente a questao: como justificar táo estranha sentenca? Quais seriam os motivos pelos quais urna obra (em si mesma) menos perfeita podaría ser rejeitada em nome da própria virtude ou da maior uniáo com Deus? Os moralistas costumam indicar quatro rázoes: 1) a obra mais Derfeita entraría em confuto com outra obra que, embora mais modesta,, nao poderia ser prejudicada, por pertencer aos deveres de estado do sujeito íem outros. termos- o conselho contra riaría a algum preceito): por exemplo, a máe de familia que só pudesse ir á S. Missa em dia de semana, abandonando seu filhinho grave mente doente em casa, em nome da virtude mesma deveria desistir de praticar o conselho de perfeicáo;

2) a obra mais perfeita imporia ao nosso próximo sacrificios que a caridade exigiría lhe fóssem poupados: por exemplo, urna pessoa cega que só pudesse ir á S. Missa quando" acompanhada por outrem, deveria levar em conta a situagáo da acompanhante; eventualmente, eni nome da caridade mesma, teria que renunciar á S. Missa 3) a obra mais perfeita exigiría do sujeito sacrificios tais que éste perdería a alegría necessária á restauracáo de suas foreas ou á expansao normal de sua vida psíquica. Em outros termos: sendo aínda principiante na vida crista, a pessoa nao agüentaria a renuncia que a obra melhor exigiría de sua parte. Tal é o caso de quem aüida precisa de suas horas de recreio (conversas, leituras, divertimentos lícitos...), porque o silencio prolongado e o isolamento seriam mais prejudiciais

do que benéficos a sua saúde mental;

4) a preocupado de seguir as obras de conselho provocaría obsessáo e perturbagdes nervosas que entravariam a vida espiritual, do sujeito. É o que se pode dar com pessoas tendentes aos escrúpu

los ás quais indiscriminadamente se quisesse inoutir a prática do mais

perfeito (fácilmente pérderiam o senso do

equilibrio).

Digamos, porém, que, depois de deliberar consigo, a pessoa nao possa indicar algum dos motivos ácima ou, em suma, algum motivo razoável para declinar o conselho. Ao contrario, ela

vé claramente que a obra aconselhada, embora mortifique a natureza, muito concorreria para desenvolver a sua caridade, sem prejuízo para o próximo, sem mesmo contra-indicagáo alguma...

— 519: —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961, gu. 3

No caso, como julgaíia o moralista? " ■ Omitir a obra aconselhada equivale a urna atitude desar-

razoada (freqüentemente mesmo, a urna atitude inspirada por negligencia ou preguiga); ora comportar-se voluntariamente demaneira desarrazoada ém relagáo a Deus é pecado..., pecad» leve ou grave conforme as conseqüéhcias désse comportamento desarrazoado.

Todavía nao poderla alguém dizer com plena paz de espirito s

«Omito a obra aconselhada. nao porque nutra más inteng5.es, massimplesmente porque nao é obra absolutamente obligatoria»? — Replicariam os moralistas que essa neutralidade seria ilusoria; na verdade servirla de cobertura «honesta» ou de pretexto para o comodismo a covardia ou o egoísmo da pessoa. Em última analise, urna das leis fundamentáis de todo tipo de vida (por conseguinte, tambem da vida crista) é «crescer e desenvolver-se»; a vida é dinámica, de modo que quem consente em paralisá-la, já a está sufocando; enx

conseqüéncia, quem voluntariamente rejeite o bem maior para praticar o bem menor sem motivo justificado,... únicamente por covar

dia

está derrogando as leis de sua vida espiritual, concorrendo»

para atrofiá-la — o que vem a ser um ato desarrazoado ou, mais pre cisamente, um mal moral, um pecado.

Quem se acostuma a sufocar a voz da consciéncia todas as vézesque esta indica urna obra melhor (nao, porém. de preceito), arrisca-

-se a extinguir por completo essa voz interior assim como a acao da graca em sua alma. É de recear que o dom de Deus, sucesivamente-

repelido pelo cristáo comodista, já nao seja concedido a éste; entac* as concupiscencias tomam vulto, as paix6es explodem com facilidader.

levando a alma ao pecado grave.

Em resumo: de quanto acaba de ser exposto, dever-se-á. concluir que, na prática, a omissáo consciente e deliberada deatos melhores (nao preceituados pelo Senhor Deus, mas apenas

aconselhados) em caso algum escapa a urna das seguintes clas-

sificagóes: «ato moralmente bom», «ato moralmente mau ou. pecaminoso». Alias tal conclusSo nao constituí senáo urna faceta de um prin cipio estabelecido por abalizados mestres da vida espiritual: na prá tica, todos os atos do justo (ou da alma em estado de graga) que na» sejam pecados veniais, sao atos meritorios.

Impoem-se agora algumas normas complementares, que o título-

abaixo apresentará.

3. L

Ulteriores observagoes

Na vida cotidiana pode acontecer que nao consigamos perce-

ber com exatidáo o verdadeiro motivo de nossas ag5es ou omissoes:

prudencia auténtica, construtiva, ou covardia. negligencia mórbida? É com efeito, difícil discernir onde termina a genuina sabedona e onde comega o descaso. Em casos de dúvida, a alma bem intencio nada optará pelo alvitre que lhe parecer mais acertado; o Senhor — 520 —

AS IMPERFEICOES MORÁIS SERAO PECADOS?

Deus entao levará em conta a sinceridade com que essa criatura estiver procurando alcancar a perfeigáo.

2. Justamente a diliculdade que experimentamos para avaliar devidamente o motivo de nossas omiss8es, leva-nos a crer que comete mos imperíeigoes (atos pouco generosos, covardes...) nao de todo conscientes e voluntarias. Essas. na medida mesma em que s&o inde liberadas, ficam aouém da moralidade, nao podendo ser classiíicadas nem como atos bons nem como atos pecaminosos.

De modo geral, verificarse que todo homem pratica muitos atos

tao espontáneos que antecedem qualquer reflexáo e uso da liberdade. Por estas circunstancias, tais atos nao acarretam sancao (recompen

sa ou pena) sobre si; própriamente «nao contam» na vida moral do

individuo. Contudo — deve-se dizer — sao atos que. embora nao constituam um mal moral em si mesmos, ao menos interrompem a caminhada para a perfeicáo espiritual, impedem que a vida do sujeito seja inteiramente cheia, disseminam o vazio ñas jornadas da pessoa. Faz-se mister, portante, combater a.ocorréncia de tais atos, a fim de que nao se perca alguma parcela de tempo e seja devidamente desdobrado o potencial de perfeicao latente em cada personalidade. O com

bate será travado na medida em que a alma procurar mais e mais controlar suas agSes, vencendo a concupiscencia desregrada assim como a rotina espiritual. Verdade é que nem os santos conseguiram sempre evitar todos os atos indeliberados; contudo progrediram pela

senda da perfeigáo na medida em que os foram debelando. 3. Procurando adquirir o pleno dominio sobre si, a alma justa estará enfrentando outro obstáculo para a perfeigáo: os atos tibios ou «remissos». Estes sao atos em que nao está empenhado todo o vigor religioso da pessoa; processam-se como que na periferia da alma, deixando adormecida urna boa parte de suas energías sobrenaturais. K o que se dá, por exemplo, com quem possui dez talentos ou «dez graus de amor» a Deus, mas na realidade age como se tivesse apenas cinco talentos ou «cinco graus de amor»; e assim age porque é vo luntariamente mole ou covarde... Os atos remissos ou tibios dispSem ao pecado grave, pois deixam inexplorado o vigor sobrenatural da alma, acarretando-lhe urna especie de atrofia espiritual (á semelhanca do que se dá com quem tem dois bracos, mas só se serve de nm, talvez por estar engessado o outro; éste outro, p&rmanecendo inerte, tende a se atrofiar e perder). Como se compreende, a atrofia espiri tual assim induzida permitirá o desenvolvimento de concupiscencias e paixSes, as quais cedo ou tarde sobrepujaráo os bons hábitos, provo cando faltas graves.

Destas considerac3es se depreende a importancia da luta contra a rotina ou contra todo modo de agir superficial e tibio. 4. Após o que loi dito, vé-se que resposta dar á questáo: está. o cristáo obrigado, sob pecado, a praticar sempre o que há de mais

perfeito, nao lhe sendo licito optar por um ato bom menos perfeito? A solucáo se reduz aos seguintes termos: o cristáo está, sim, obri gado a seguir sempre o alvitre mais perfeito (em caso contrario,

sufocaría a sua vida espiritual). Observe-se, porém: a) nao se trata do mais perfeito entendido de maneira absoluta,

pois éste nao estarla talvez proporcionado ás condigOes individuáis e ás gragas que Deus distribuí pessoalmente a tal sujeito. Trata-s* apenas do mais perfeito proporcional ás possibilidades de cada indi viduo. — Assim nem todos estao obrigados a abracar o celibato por

amor a Cristo, embora éste género de vida seja em si mais" perfeito

— 521 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 43/1961,

qu. 4

do que o estado conjugal (cf. 1 Cor 7). Há casos, sem dúvida, (e nu merosos) em que o mais perfeito, para tal e tal sujeito, consiste em contrair matrimonio; na vida matrimonial entáo o cristáo deverá manter viva a consciéncia de que foi chamado a praticar a perfel§ao ou a ser santo;

.

.

.;

b) para que haja ohrigagáo de seguir o alvitre mais perfeito. é.

necessário outrossim que a pessoa o veja como tal, isto é, tenha cía-: reza de que é o Espirito Santo que lhe está indicando urna obra mais. perfeita a realizar. Recusar arbitrariamente a inspiracao do Espirito

Santo percebida com clareza, dizem bons autores, nao é atitude ins

pirada pelo amor a Deus, nem atitude que se concille com intencao e aspiracóes retas; vem a ser, antes, algo de desarrazoado ou, no caso, uro pecado.

5. Concluindo, dir-se-á de maneira geral: na prática a alma deve lembrar-se de que o seú programa de vida consiste nao sómente em nao recair no pecado, mas em subir constantemente para Deus... e subir em ritmo acelerado; como a pedra cai com velocidade crescente na medida em que se aproxima da térra que a atrai, assim as almas devem caminhar mais e mais rápidamente para Deus, na me-; dida em que se aproximam do Senhor e sao" atraídas por Ele. - •

Por conseguinte, nao se preocupem as almas com demasiadacasuistica indagando sutilmente q'uais as fronteiras entre o licito e o ilícito onde cessa o bem e onde comeca o pecado... A vida constituí algo de dinámico; a sua lei capital é positiva: «crescer e multiplicar

se» (cf. Gen 1,28), e nao meramente negativa («nao se mutilar»); quem apenas pensa em nao se mutilar, sem se preocupar com o des-

dobramento positivo e constante de suas energías, está na verdade. ocasionando o depauperamento e a extincáo de sua vida. A vitalidade ou cresce ou diminuí; nao pode, porém, permanecer estagnada; t6da estagnacáo é passo para a morte. Eis o que se verifica tanto no plano da vida física como no da vida espiritual crista. Possam as almas sequiosas do bem abrir o ólho para estas verdades táo importantes, mas na prática táo pouco valorizadas!

IV.

SOCIOLOGÍA

MARCI (Rio de Janeiro):

4) «O problema social poderá ser resolvido simplesmente pelo amor?

Lendo a vida de Sao Francisco do Assis, Inacio Lepp compreendeu que o que faltava no comunismo marxista era o amor. Até que ponto o amor será solucao?»

Desde o sáculo passado, a questáo social vem chamando

insistentemente a atencáo do mundo civilizado. .

Há cérea de setenta anos atrás, a escola de Angers (Franga) esperava obter a solucáo dos problemas sociais ünicamente

pela aplicagáo da caridade. Outros pensadores, ao contrario, apelavam, e ainda hoje apelam, para a justica apenas, ou seja,

para nova distribuigáo de direitos e deveres na sociedade, nao reconhecendo lugar para instituigóes de caridade espontánea;

esta lhes aparece, antes, como fonte de humilhagáo. do índi— 522 —

JUSTICA OU

CARIDADE?

gente. Tal é o ponto de vista dos movimentos socialistas em geral.

Ora o auténtico pensamento cristáo se sitúa no meio e ácima dessas duas sentencas unilaterais: deriva a solugáo dos problemos sociais nao sómente da caridade (a qual por vézes é demasiado vaga e incerta), nem sómente da justica (a qual muitas vézes leva a um regime rígido e pouco humano), mas de um elemento intermediario entre justica e caridade, que é a chamada justica social. Em urna Semana de Intelectuals Católicos (1948). assim se pronunciava Mons. Blanchet, Reitor do Instituto Católico de Paris: «Creio que ninguém cometerá o contra-senso de pensar que pre tendemos resolver as questóes de ordem social por urna caridade entendida no sentido estreito e mesquinho de bondade paternalista, es pecie de protecáo concedida por benevolencia pelo forte ao fraco. A caridade vai além da justica, supondo.a sempre, nunca a eliminando. Nenhum cristáo pode tirar partido de urna organizacáo que vise a degradacao dos homens. Nao se tem o direito de fazer mutilados em serie com o pretexto de que possuiremos a bondade necessária para lhes fornecer muletas» (Les Intellectuels devant la charité du Christ. Paris 1948, 142s). Já Santo Agostinho, no séc. V, afirmava que as obras de bene ficencia nao constituem a última palavra do programa social dos cristáos:

«Nao devemos desejar que haja infelizes para que possamos fazer obras de misericordia. Das pao a quem tem fome; contudo melhor seria que ninguém tivesse íome e que nao precisasses de dar a nin guém. Vestes a quem está nu; oxalá todos tivessem roupas para se vestir e nao hpuvesse necessidade dessa obra de misericordia!... Todos ésses servicos sfio exigidos porque há indigencia. Suprime os infelizes; nao haverá mais ocasiáo para obras de misericordia. Extinguir-se-á por isto a chama do amor? Mais autentico, mais puro, muito mais leal será teu amor por urna pessoa feliz, da qual nao podes fazer um devedor, pois, quando com teus dons empenhas a gratidao do infeliz, talvez desejes elevar-te perante ele, talvez desejes que ele esteja abaixo de ti. Deseja antes que ele seja teu igual; ambos sede submissos Aquele que nao tem que agradecer a ninguém» (Tractatus

VIH n. 5, ed. Migne lat. 35, 2038s).

Vejamos por etapas o que significa «justiga social». 1.

1.

A justica e suas especies

Justica é a virtude mediante a qual o homem, com

vontade constante, dá a cada um o que lhe é devido.

Donde se vé que a justica é virtude eminentemente social;

ninguém a exerce para consigo mesmo. Tres sao as especies de justica:

a) a justica comutativa. É a que se exerce entre individuos e grupos particulares, visando proteger os direitos de cada um.

— 523 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

48/1961+

qu.

4

Exige que se troquem ou permutem valores iguais; proibe usur par e tirar bens alheios. Sua. violagáo obriga a. restituicáo ou indenizagáo. Constituí o imprescindivel fundamento de t6da a ordem social, de modo que nao poderia ser substituida de modo habitual pela caridade (ou seja, por urna compensacáo espontánea; nao firmada jurídi

camente, por mais vultuosa que fósse essa compensacáo). Eis' como

a propósito se exprimía o Papa Pió XI: «Para ser auténticamente verdadeira,

a

caridade

deve

sempre

levar em consideracáo a justiga. Urna pretensa caridade, que priva o operario do salario a que tem direito, nada tem da verdadeira cari dade; nao é mais do que urna falsidade, urna simulacáo. O operario nao deve receber a título de esmola aquilo que lhe cabe por direito; a ninguém é permitido esquivar-se as graves obrigacoes impostas pela justica, concedendo presentes a título de misericordia» (ene. fcDivini Redcmptoris»).

b) A justiga legal ou geral. É a que rege as relagóes do particular com a comunidade, exigindo que cada um dé o neces-

sário ao bem comum ou geral (daí chamar-se «justiga geral»).

Ésse necessário é muitas vézes estipulado por leis positivas do poder civil (donde o nome de justiga «legal»). As autoridades

tém a obrigagáo de promulgar normas que realmente concor-

ram para o bem comum; correspondentemente, aos súditos in cumbe o dever de as observar.

c) A justica distributiva. Estabelece as relagóes da comu nidade com os individuos, visando o bem pessoal de cada um dos membros da sociedade. Reparte entre estes os deveres e os beneficios (encargos, dignidades, recompensas), nao segundo

igualdade matemática, mas de acordó com as capacidades de cada qual. Na medida em que o individuo consagra seus esforgos ao bem comum, a comunidade está obrigada (por justiga distributiva) a prover ao bem pessoal désse individuo. A

justica

distributiva adquire

importancia

crescente em nossos

días, vista a ingerencia cada vez maior do Estado na vida social e

económica dos súditos.

2. Na vida social, faz parelha com a justiga a virtude da caridade. Esta difere daquela pelo fato de que atende ao

próximo, nao por dever própriamente dito ou por motivo de regras de antemáo estipuladas (regras que seriam, por vézes,

demasiado teóricas e pouco adaptadas á realidade), mas por

urna tomada de consciéncia imediata das indigencias do próximo. Os bens que a caridade dispensa, nao sao determinados por lei, mas pelas necessidades reais de cada caso e pela grandeza de alma de quem os concede; a sua medida, portante, é variável,' podendo coincidir com a da justiga como também ficar aquém — 524 —

JUSTICA OU CARIDADE?

ou ir além da medida da justiga. Aínda mesmo que alguém tenha perdido seus.direitos e já nao esteja habilitado a pleitear os auxilios da justiga, pode ser socorrido pela caridade. É, alias,' 6 que se dá ñas relagSes do homem com Deus: o Senhor íaz brilhar o seu sol sobre os bons e os maus, embora estes se tenham

afastado da fidelidade que deviam a Deus (cf. Mt 5, 38^42).

Pois bem. Entre a jostica comutativa (que representa a forma mais rígida de regrar as relagóes entre oshomens) e

a caridade (que constitui a maneira mais espontánea e variá-

■vel de as definir) coloca-se

2.

A justica social

É a partir da encíclica «Quadragesimo anno» (1931) de Pió XI que se fala de «justiga social». Tem algo de comum com a caridade e com a justiea comutativa, situando-se por isto entre ambas.

Em verdade, tem algo de comum com a caridade, pois nao

se deriva de obrigagáo precisa, formulada em termos jurídicos; excede assim as exigencias da estrita justiga. Contudo nao é

mera efusáo de amor, pois decorre de urna obrigacáo moral, ou seja, da obrigagáo que todo homem tem de respeitar a digni-

dade de seus semelhantes, ainda que éste respeito nao venha estipulado por alguma lei positiva. Em outras palavras: a jus

tiga social faz que um individuo por si mesmo, sem esperar

preserróes extrínsecas, atenda ás necessidades de seu próximo, ■a finí de proporcionar a éste condigóes de vida verdadeiramen-

te humanas. A justiga social, por conseguinte, se baseia nao em troca

de bens materiais, mas (mais do que qualquer outra modalidade de Justina") ñas obrigagóes que resultam imediatamente da natureza social do homem e da finalidade comunitaria que tem os

bens terrestres. Alguns exemplos concorreráo para ilustrar o conceito. Admita-se que um devedor se ache impossibilitado de pagar a •sua divida dentro do prazo estabeleddo segundo a justiea. O seu «redor pode infligir-lhe a sangao prevista pela lei da justiea comuta-tiva em tais casos; verifica, porém, que, assim íazendo, langaria o de-vedor em cóndicoes desumanas. tornando impossível á vitima (e quicá

-á sua familia) levarem o ritmo de vida necessário para que a digni•dade humana de cada um se afirme e desenvolva (a miseria acarreíaria absorcáo por excessivo trabalho, surto de doencas físicas, abatimento moral, desespero, crimes. etc.). A vista disso, embora nao es

teja obrigado por justiea comutativa a conceder dilatacao do prazo de pagamento, o credor resolve concedé-la... Dir-se-á entáo que proce-

deu movido pelo seu senso de Justina social...

— 525 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961,

no

qu. 4

Admita-se outrossim que os signatarios de determinado contrato,

momento de

cumprir seus compromissos. verificam que os res

pectivos encargos, por motivos imprevisíveis, se tomaram demasiado onerosos, até mesmo contrarios á íinalidade por éles visada; decidem

entao modificar o contrato, nao cumprindo as cláusulas anteriormente assinadas. Move-os a isto a jnstica social... Comportar-se de outra forma já nao seria exercer a justica, mas cometer suma injustica. Pode haver, de fato, casos em que a cega observancia dos direitos redunda em clamorosa violacüo da justica: «Summum ius. sumiría iniuria» já rezava o antigo adagio romano. Toda lei tem, sim, urna

letra (formulacáo oral) e um espirito (mentalidade que a inspira e finalidade a atingir); ora a letra por vézes, em lugar de servir ao espirito

(como deveria), sufoca-o e mata-o...

Outro exemplo seria o do patráo que, tendo conseguido lucros imprevistos em certo ano, resolve repartir o quociente com os seus

operarios. Já nao age por justica comutativa, mas por justica social. Podem ser contemplados pela justica social até mesmo os cidadáos que nada produzem: tais sao os doentes. os mutilados, as cri-

ancas pequeñas. Tém o direito inalienável de viver, e de viver em condieSes dignas da natureza humana tal como esta néles.se encontra realizada. Os genitores, por conseguinte. devem a seus íilhos o que seja necessário ao desenvolvimento físico e espiritual dos mesmos;

doutro lado, a prole deve aos genitores assisténcia filial e solidariedade nos encargos de familia, antes mesmo que alguma lei positiva formule tais deveres.

Enumera-se, além disso, entre as realizac5es da justica social, a

assisténcia que povos mais favorecidos prestam a outros. subdesenvolvidos (envío de produtos naturais, de artefatos, assim como fran quía para imigracáo...).

As idéias até aqui propostas ainda se esclareceráo mediante rápida consideragáo das relagóes vigentes entre 3.

1.

Justica e caridade

Acontece que nao poucas das prescrigóes" da justiga so

cial váo sendo hoje cm dia explícitamente promulgadas pela lei

civil; tornam-se objeto de justica legal, quando outrora eram tidas como objeto da virtude da caridade: os abonos familiares", as diversas formas de pensóes, aposentadorias, as instituigóes de protecáo ao operario. Isto se deve ao caráter cada vez mais complexo da vida social: a multiplicagáo de encargos e respon

sabilidades dos individuos em empresas, fábricas, escritorios,

etc., levou os legisladores a explicar cada vez mais o que é estritamente dever de justiga (seja comutativa, seja social) e o que fica sendo mera atuagáo da caridade. Assim se verifica a tendencia crescente a transferir do dominio da caridade ou da livre iniciativa para o setor da justiga ou da obrigagáo certas práticas e instituigóes que antigamente ficavam dependentes 'apenas do bom senso cristáo dos proprietários. Apesar dessa tendencia a se afirmarem cada vez mais os direitos e as suas — 526 —

JUSTICA OU CARIDADE?

sangóes respectivas, fica de pé a norma: a caridade é a alma

da justiga social, de tal modo que o individuo deve procurar cumprir a lei em espirito de amor ou de caridade. Com outras

palavras: a justiga há de ser considerada nao como algo de absoluto, mas como um requisito da caridade, ...o primeiro

e mais indispensável requisito da caridade.

Eis oportunas palavras de Pió XI a respeito: «A justiga social deve penetrar completamente as instituicoes e a vida inteira dos póvos. Sua eficacia verdadeiramente operante deye-se manifestar sobretudo pela criagáo de urna ordem juridica^s social que informe toda a vida económica e cuja alma seja » oarid&de» (ene. «Quadragesimo anno»).

De resto, o próprio filósofo pagáo Aristóteles (t 322 a. C.) exortava os legisladores a fomentar a compreensáo amigável e mutua entre os cidadaos; isto os deveria preocupar mais, dizia, do que fazer observar simplesmente a justiga, pois a justiga regula apenas a conduta exterior do homem, ao passo que a amizade une os coracóes: «A justica nao seria necessária, se entre os homens reinasse perfeita

amizade», concluí o filósofo.

2. Em última análisé, justiga e caridade sao inseparáveis urna da outra, de tal modo que justica sem caridade se torna corpo sem alma; doutro lado, caridade sem justiga equivale a violagáo da ordem e hipocrisia. É o que se depreende dos tres seguintes tópicos:

1) A justiga nos leva a considerar o próximo como outro cidadáo, com o qual cada um de nos deve conviver; o seu papel, portante, consiste em delimitar e definir rigorosamente direitos e deveres de cada um; por isto, tende a acentuar barreiras e distancias.

A caridade, ao contrario, une, pois leva a considerar o pró ximo como um outro Eu, que devemos amar como a nos mesmos. Com razáo diz-se que a justiga estabelece a ordem, os moldes, as estruturas, que a caridade deve encher de vida. 2) A justiga tem por objeto apenas o cumprimento de obri-

gacoes exteriores, sem levar em conta a personalidade ou o ínti

mo do cidadáo. A caridade, ao invés, atinge os coragóes, pro

cura compreender casos e problemas pessoais, preservando a lei de cair no esquematismo e no mecanicismo esteréis ou moríais. A justiga pode talvez extinguir as

raizes dos conflitos

isociais,

mas por si só nao consegue aproximar e fundir os ánimos. Quando falta um vínculo pessoal e afetivo para unir os cidadaos, a experi encia ensina que se tornam vas as melhores fórmulas e as mais sistemáticas organizagóes. Em conseqüéncia, afirma-se que a justiga, por si só, constrói um mundo rigido, capaz de subjugar. sem contudo atrair..., ou üma casa bem arrumada, mas destituida de calor...

— 527 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»

48/1961,

qu.

5

ou ainda urna máquina técnicamente perfeita, mas carecente de, lubri ficante para suavizar o seu funcionamento.

3) Verifica-se que a justiga dá apenas o que é estritamente

devido. Contudo, mesmo depois de preenchidas as estritas obrigagóes da justiga, resta freqüentemente um Vasto setor de an gustias e indigencias cuja solugáo nao está contida dentro' decategoria ou sob título, algum de justiga. Mesmo o individuocujos direitos sao plenamente respeitados, freqüentemente ainda apresenta lacunas dignas de atengáo, para as quais só acaridade pode dar remedio adequado. Em suma, «quem age por justica é um homem correto, mas sem a caridade nao é ainda um homem bom. E mesmo. levando as coisas, com rigor, nem é ainda perfeitamente correto. Porque summum lusr siinima iniuria — a justica rigorosa torna-se ás vézes odiosa injustica. O filho de país indigentes que enriqueceu e dá a seus país apenasa pensáo alimentar prescrita pela lei, nao é justo, é horrlvelmenteinjusto. Há urna única maneira de ser justo: é a de ser caridoso. A justica que faz abstragao do amor, nao é mais justica» (C. van Gestel, A Igreja e a questáo social. Rio de Janeiro 1956, 161).

3. Por fim, pode-se observar que a justiga social, preco nizada pela encíclica «Quadragesimo anno», nao é estritamente

inspirada pela fé crista (ela se deduz dos principios mesmos da. sabedoria humana anterior a Revelagáo sobrenatural). Contu-do ela só se desabrocha plenamente na base dos conceitos deDeus e do homem que a fé crista incute. Com efeito, é o Evangelho que leva a considerar os bens materiais como criaturase propriedades de Deus, entregues ao mero uso dos homens; é também o Evangelho que faz apreciar o género humano todo-

como a familia dos filhos de Deus. A «justiga social» adquire entáo seu colorido mais vivo: vem a ser a «justiga de família»dos filhos de'Deus. V.

HISTORIA DA RELIGÓLO

ARGEMIRO (RS):

5) «Qual a origem do povo comumente chamado 'ciganoT D¡z-se que provém dos filhos de Lameque: Jabel, Jubal e Tubalcaím, que deram inicio respectivamente ao pastoreio dogado, á arte da música e a metalurgia do cobre e do ferro (cf. Gen 4,20-22). Sao ésses justamente os afazeres aos quaisse dedicam de preferencia os ciganos».

Os ciganos constituem um povo nómade, espalhado pela

Europa Central, a Asia Ocidehtal, o Norte da África, a Amé— 528 —

QUEM SAO OS

CIGANOS?

rica e a Australia, conservando sempre os mesmos característi cos de raga e de género de vida.

Dois sao os nomes principáis que designam essa estirpe:

a) ciganos, forma portuguesa do original «Atzigan» ou «Atsigan», que ~na Turquia e na Grecia deu «Tshingian»; na Bulgaria e na Ruménia, «Tsigan»; na Hungría, «Czigany», na Alemanha, «Zigeuner»; na Italia «Zingari»; na Inglaterra, «Tinker» ou «Tinkler». O apelativo «cigano» parece derivar-se de «jigani», denominagSo . de ama tribo da tndia pertencente á raga dravidiana, raga que resul ta da íusao dos negritos (primitivos habitantes da península hindú) com os turanianos, povo de raga amarela, proveniente dos montes Urais. Os estudiosos modernos sao levados a crer que os ciganos provem

realmente dos Jiganis da India, pois acentuada é a aiinidade de tragos raciais e de dialetp, vigente entre os dois povos. b) egipcios, nome devido a urna crenga divulgada pelos próprios ciganos quando entraram em cena na Europa medieval; segundo essa crenga, os ciganos seriam oriundos do Egito, ,ou melhor, de urna regiáo chamada «Pequeño Egito» (= Palestina). Tal nome tomou as

formas «Gypsy» na Inglaterra; «Gitano» (de Egiptiano) na Espanha;

«Gyphtos» no grego moderno. A mesma crenga explica denominagSes similares dadas aos' ciganos: «Pharaoh nepek» (povo de Faraó) na

Hungría; «Faraón», na Ruménia. Outros nomes atribuidos ao mesmo povo seriam:' «boémios» ou «bohémiens>, na Franga; «Heyu-""ns» (= pagaos) na Alemanha. Os próprios ciganos se designavam durante algum tempo como «Roma nos» a fim de se recomendar aos olhos dos demais povos.

Ñas linhas que se

segur"*1.—.examinaremos rápidamente

quem sao os ciganos (origem, historia, género de vida, de tfabalho...)

e quais os seus aspectos religiosos mais caracte

rísticos.

1.

Quem sao os cáganos?

Origem e esbóco histórico: como foi dito atrás, presume-seque os ciganos se derivem da tribo hindú dos jiganis. Apresentam estatura pequeña e tez de pele que pode variar desde a co-

loracáo escura do cigano da Arabia até o matiz claro do habi tante da Polonia. Em geral, tém um físico bem proporcionado e assaz ágil. Sao amigos dos ornamentos vistosos e dos trajes de cores carregadas, de preferencia vermelhos e verdes; as mulheres costumam usar lengos, colares e moedas de ouro em torno do pescogo, ficando-lhes os pés geralmente descalgos. Nao se tém anteriormente ao inicio do séc. XTV vestigios

seguros da estada dos ciganos na Europa. Parecem ter passado do Egito para as térras balcánicas, espalhando-se pela Hungría, a Boémia e a Rússia. A sua entrada nos territorios da Europa Ocidental (Alemanha, Franga, Suíga, Italia) nao se deve ter — 529 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961, qu. 5

dado antes do principio do séc. XV. Até hoje conservam os seus

caracteres raciais e lingüísticos bem definidos, pois só se casam entre si, sendo os matrimonios mistos ou exogámicos conside rados por éles como ilegítimos; em geral, tendem a se isolar

dos demais povos — o que em parte se deve ao seu tipo de vida nómade. Nenhuma nagáo os conta entre os seus concidadáos. É o que torna difícil avaliar o número de ciganos hoje existentes no mundo; calcula-se, porém, que atingem a cota de cinco milhóes. Nao prestam servigo militar nem tratam de registrar os

seus casamentes em cartório civil. Cada tribo ou bando nóma de tem seu chefe e sua forma de govérno autónomo. Dada a sua fama de gente fraudulenta e engañadora, os ciganos, do séc. XVI até o inicio do séc. XX, foram objeto da repressáo de certos governos europeus, que lhes infligiram penas diver sas: a escravidáo, na Ruménia e na Hungría (séc. XVHI/XIX), o exilio e a própria condenagáo á morte.

Atividades: ás suas atividades sao bem características:

manufatura de metal e madeira: fabricam e consertam utensilios

domésticos de cobre ou bronze (donde o nome de «caldeireiros» ou .«chaudronniers», que por vézes lhes é dado) ou de madeira (bancos,

domesticagáo e comercio de animáis

(cávalos, asnos, caes...);

canto e danca em público: houve tempo em que percorriam os

notéis e restaurantes da Europa Ocidental, apresentando suas mú sicas e seus coros artísticos com grande aplauso dos espectadores. Embora caregam de cultura e de produgóes literarias, a sua arte mu sical é altamente estimada, tendo mesmo iornecido ao compositor húngaro Frank Listz fecunda ¡nspiracáo para as suas lamosas rapso

dias? O genio dos ciganos se mantfesta também na poesia. que éles sabem utilizar para narrar historias folclóricas cheias de encanto;

adivinhagáo da sorte, quiromancia íou interpretagáo das linhas da máo também dita «leitura da buena-dicha»), práticas ocultistas

para atr'air o lavor ou a ira dos «espíritos superiores». Tal é a ocupa-

gao mais freqüente das mulheres ciganas.

Ainda outro título que no decorrer da historia foi Intima

mente associado aos ciganos e ao seu govérno de vida, é o

titulo de «peregrinos religiosos». Sendo assim, consideraremos abaixo os aspectos religiosos que os ciganos apresentam ao

observador.

2.

Ciganos e Keligiao em gcral

Os ciganos nao tém Religiáo própria, característica da raga, como a tém os judeus; mas adaptam-se ás idéias religiosas do país em que se acham, fundindo-as com crengas supersticio

sas comuns a muitos povos, Assim, na Turquía e na Arabia professam o islamismo; na Grecia e na Ruménia, a «ortodoxia» — 530 —

QUEM

SAU OS

CIGANOS?

crista nacional; na Hungria, em Portugal e na Espanha, o cato-.licismo. Em /erdade, porém," nao cumprem muito exatamente os deveres religiosos do Cristianismo; principalmente no tocan

te á vida sexual, sao indulgentes. Além disto, parecem inclina

dos a crer no fatalismo dos destinos humanos. Vivendo no cenário cristáo da Idade Media, compreende-se que os ciganos tenham estado envolvidos em mais de uma manifestagáo da fé crista. Os historiadores observam, por exemplo, que nao era raro passarem éles por peregrinos cristáos, gozando, a éste título, dos favores e privilegios que os prelados e os principes concediam as caravanas de peregrinos; gozavam mesmo da tutela e dos beneficios que os Papas costumavam dispensar aos cristáos

qué deiriañdavam os grandes santuarios. Parece, porém, que

os ciganos nem sempre se manliveram á altura de tal bene volencia, pois déla abusaram para cometer maleficios; assim, por exemplo, se exprime o cronista Aventinus na primeira metade do séc. XVI: «A fraude e o roubo sao proibidos aos outros

povos...; estes, porém (os ciganos), se atribuem a licenga de os praticar».

A má lama que, apesar do caráter de peregrinos cristáos, pesava sobre os ciganos. encontrou expressáo em uma altercacáo graciosa, bem característica da mentalidade popular. Com efeito. dizia-se na Idade Media que os cravos^.com os quais foi crucificado o Senhor

Jesús, haviam sido forjaos por ciganos e que, em conseqüéncia, tal povo fóra amaldicoado' Diante desta falsa acusacSo, os ciganos da

Alsácia e da Lituánia se defendiam inteligentemente...: chamavam a atencáo para o costume introduzido nos séc. XII/XIII na iconografía crista, costume de representar o Senhor crucificado com tres cravos e nao, como na primitiva Igreja se representava, com quatro cravos... Aproveitando-se da estranheza que ésse novo hábito provocava no povo cristáo, os ciganos pretendiam justificá-lo contando que uma mulher cigana, dcsejosa de impedir a crueldade contra Jesús, tentara roubar dos judeus os quatro cravos com os quais se dispunham

a

crucificá-Lo;

tendo conseguido

subtrair

ao

menos um

crevo, os carrascos haviam sido obrigados a crucificar com tres pregos em vez de quatro: um era. cada máo, e um nos dois pés sobrepostos. Assim, segundo a intengáo dos apologistas ciganos, a figura do Divino Crucificado, longe de constituir desdouro para a fama dos boémios. deveria, antes, torná-los mais caros aos cristáos!... Esta altercacáo pode ser ilustrada pelo fato de que a primeira representacao do Crucificado com tres cravos data do séc. XTI; está forjada em cobre e é de origem bizantina... Ora, se os ciganos bizantinos possuiam o monopolio

da metalurgia nessa época,

poder-se-ia supor

que tal inovacáo na representacáo do crucifixo se deva aos ciganos, os quais destarte visavam afastar de si a calúnia de terem concorrido, pela sua industria no séc. I, para atormentar o Senhor Jesús.

Outro encontró, digno de nota, dos ciganos com o Cristianismo

é a peregrinagáo,

que ésse povo ainda em nossos dias costuma em-

— 531 —

«PERGUNTE

E RESPONDEREMOS» 48/1961,

qu.

5

preender ao santuario dito «das Tres Marías» (Les Saintes Maries

de la Mer) na ilha de Camargue perto de Marselha no mar Mediter ráneo. Conforme antiga narrativa, ésse santuario assinala o lugar onde desembarcaram Maria, máe de S. Tiago o Menor, María de Sa lomé, máe de S. JoSo Evangelista e S. Tiago o Maior, e Maria Ma-

dálena, acompanhadas de José de Arimatéia, de Lázaro e de Sara,

companheira egipcia das tres Marías: teriam sido expulsos da Pales tina ' pelos perseguidores da íé; embarcando entáo numa navezinha destituida dos devidos recursos, a pequeña caravana, por evidente tutela da Providencia Divina, teria chegado incólume a Camargue, e daí haveria iniciado a evangelizacao da Gália. Em comemoracáo do episodio (cuja autenticidade nao interessa discutir aqui), os cristáos ergueram na mencionada ilha urna grandiosa igreja, onde estáo guar dadas as reliquias de Santa Sara, que os ciganos cristáos veneram

como süa padroeira. Ora, sendo a festa das «Tres Marias» celebrada anualmente a 25 de maio, os ciganos de varias partes do mundo

(Franca, Alemanha, Austria, Italia. Espanha e até do Marrocos) costumam afluir ao santuario, podendo o número de peregrinos chegar a um total de 5.000; os mais antigos vestigios (ofertas votivas) désse piedoso costume chegam a ser anteriores ao ano de 1450! A igreja do santuario fica. por ocasiáo de tais peregrinagóes. inteiramente ocupada pelos ciganos, os quais dáo á localidade toda um aspecto festivo, meio-relijiioso, meio-profano; suas manifestacñes de piedade nem sempre condizem com a genuina mentalidade católica.

Ainda no tocante as relacóes dos ciganos com o Cristianis mo, pode-se notar os seguinte: na Franca há cérea de vinte sacerdotes (capeláes) consagrados á cura de almas entre os boémios, sob a direcáo geral do Padre Feluny, capeláo-mor

(outros capeláes existem na Alemanha, na Espanha, no Mar

rocos). Justamente durante os festejos de 1961 em Camargue um désses sacerdotes franceses declarou á imprensa: «As mulheres ciganas... nao sao moralmente transviadas. Inegáveímente, os ciganos praticam uniñes de amor livre; muitos désses

casos, porém, se devem simplesmente ao fato de que. nao conseguem obter os documentos que o govérno requer para o matrimonio civil. Tais circunstancias, porém, nao impedem que os ciganos estejam bem. convictos das obrigacoes decorrentes do matrimonio. Entre éles o varáo que tenha escolhido urna mulher, sabe permanecer-lhe fiel, sendo o adulterio passivel de penas severissimas... Nos últimos tempos, tendo-se a Igreja mais ainda aproximado déles, designando

capeláes para lhes assistir, muitas situagdes de familias irregulares

foram legalizadas; numerosos batizados tém sido efetuados; eu mesmo já tive a ocasiSo de assistir á primeira Comunháo de seis ciganazinhas».

O repórter Emilio Marini, que transmite a acrescenta quase á guisa de comentario:

declaracáo

ácima,

«Nao há dúvida, quem se aproxima daqueles carros (dos ciganos) e conversa com os respectivos moradores toma consciéncia de que o juízo muito freqüentemente proferido sobre éles é de todo injusto; trata-se, na verdade, de gente honesta, trabalhadora, de gente que fica á margem da sociedade, principalmente porque a sociedade nao a

sabe acolher com a devida estima. Trata-se de gente que está ape-

_ 532 —

QUEM SAO OS CIGANOS? gada ao seu carro como o camponés está apegado a sua térra, e que,

embora pareea nao ter patria, é enormemente afeicoada á sua fami

lia a sua tribo, ao seu -carro, á sua liberdade» (extraído da revista «Orizzonti» n* 28, de 9 de julho de 1961).

Éste triodo de ver compreensivo e benévolo parece assaz

oportuno na hora presente para acautelar contra generalizag5es pouco equitativas. Um juízo sobre o valor dos ciganos há de ser circunspecto e matizado, levando em conta fatóres varios

que nao poderíamos aqui explanar por completo. Resta agora considerar as relagóes que ppssa haver entre 3.

Os ciganos e a Biblia

Fergunta-se: os ciganos proviriam de Jabel, Jubal e Tubalcaím, descendentes de Caim, que se tornaram os Patriarcas dos pastores, dos metalurgistas e dos músicos (cf. Gen 4, 20-22) ?

A resposta afirmativa seria bem alheia á mensagem do

texto sagrado. Com efeito, os onze primeiros capítulos do Génesis nao pretendem descrever quadros da cultura primitiva, nem visam sugerir como a humanidade antiga vivía, do ponto de vista da

civilizagáo. (Js autor sagrado mesmo, escrevendo milenios e mi lenios após

sabia, nem exatamente ciáis. Para deveria ter

s.s principios da humanidade sobre a térra, nao

podia o tipo que o feito

saber pelas escolas do seu tempo, qual era de cultura que caracterizava as geracóes ini escritor bíblico referisse ésses dados, Deús o. milagre de lhos revelar especialmente; o

Senhor, porém, náb quis realizar tal portento, pois nao era

necessário á fínalidade da Biblia, que é estritamente religiosa:

o que o autor sagrado devia descrever, e de fato descreveu, era a fisionomía moral das primeiras geracóes, ou seja, como se foram desenvolvendo as relagóes da humanidade com Deús

após a queda de Adáo e Eva. Em vista disto, o hagiógrafo

apresentou o morticinio de Caím (assassino de seu irmáo Abel; cf. Gen 4,1-16), e quis mostrar como os descendentes de Cato foram sendo mais e mais contaminados pelo pecado (cf. Gen 4,17-24).

Nessa linhagem de Caím ou «dos Cainitas» (Gen 4,17-24),

algumas notas características chamam a nossa atengáo, pois constituem a chave da interpretagáo do texto e evidenciam bem a intengáo do autor sagrado. Tais notas seriam: a) a ausencia de números: — Ao contrario do que se ve

rifica na linhagem dos bons ou dos filhos de Sete, nao há um — 533 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 48/1961, qu. 5

só número para indicar «os anos de vida» dos cainitas. Ora essa ausencia de números simboliza, segundo a mentalidade dos

antigos, desordem, corrupgáo, alheamento a Deus, pois o .nú mero por si indica harmonía, simetría (note-se como a linha-

gem de Sete ou dos setitas é toda acompanhada de números; cf. Gen 5,1-32). O autor sagrado, por ésse proceder estilístico,

quer dizer que os descendentes de Caím se tornaram alheios a Deus, ou seja, pecadores notorios, prolongando-se a maldade de Caím na posteridade déste Patriarca.

b) Tal afirmagáo atinge o seu auge quando o escritor

chega ao fim da tabela dos cainitas, ou seja, a Lameque e sua familia. Sim; Lameque, tomando duas esposas, aparece como

um libertino e debochado que também é vingativo sequioso de sangue; chega mesmo a decantar ou exprimir em versos a sua mentalidade violenta (cf. Gen 4, 23s). c) Dentro déste quadro de idéias, a mengáo das grandio sas realizagóes de cultura dos cainitas (pastoreio do gado, me talurgia, cultivo da música com instrumentos esmerados) toma

significado próprio. Essas realizagóes, entendidas ao pé da letra, seriam anacrónicas, sétima geragáo do género domesticagáo de animáis e a Paleontología, estas sao

pois nao se pode admitir que na humano já se tenham praticado a a técnica metalúrgica; como atesta conquistas relativamente tardías da

humanidade. Os primeiros homens viviam da colheita de frutas, raízes, bulbos... que a natureza lhes oíerecia, ou da caca rudimentar de animáis selvagens e peixes. O cacador e o pescador eram sobrios em suas aspiragóes; nao se preocupavam müito com a armazenagem das provisóes. Pinturas e incisóes íeitas ñas rochas da pré-históna nos mostram cenas de caga e os instrumentos entáo utilizados: fossas, lacos,

redes, gaiolas primitivas, em que a presa podia licar em vida até se

tornar necessária ao consumo; foi talvez déstes artificios de caca que se originou o uso de domesticar os animáis. Embora o género humano já conté 500.000 ou 600.000 anos.de existencia, a domestlcacSo de animáis nao parece anterior ao ano 8.000 a. C, época em que aparecem também os primeiros vestigios de civilizacáo agrícola (foices e picaretas de pedra). Os primeiros instrumentos de sdpro terao sido assovios confeccionados com ossos de rena e usados.pelos cacadores a fim de se manterem em contato uns com os outros. Quanto á elaboracáo e ao emprégo dos metáis, foi-se aperfeicoando lentamente; a idade do bronze nos leva ao quinto milenio antes de. Cristo- ao passo que o ferro meteórico era usado no Egito no ter-

ceiro milenio a. C, ó ferro terrestre só entrou em uso por volta do séc. XIV a. C.

Atributado realizagóes de cultura da idade do bronze e do ferro aos homens primitivos, o autor sagrado quería apenas

exprimir de maneira bem clara e familiar aos seus leitores (no — 534 —

-,

QUEM

SAO OS

CIGANOS ?

segundo milenio antes de Cristo) urna verdade de índole reli giosa, nao de índole paleontológica ou científica; quería, sim, exprimir como os pecadores se deixavam, por assim dizer, fas cinar pela materia e pelas conquistas de prosperidade terrena', alimentando com isto as suas paixóes ou os seus instintos mais baixos; estavam obcecados pelas produgóes materiais em conseqüéncia de haver abandonado a Deus. Em Lameque, o séti mo (o expoente mais representativo) da linhagem cainita, pe

cado e instrumentos de cultura aparecem estreitamente asso-

ciados: Lameque é assassino pela espada, e, em arte poética, canta as duas esposas os seus sentimentos baixos, evoluídos até o extremo: «Sete vézes será vingado Caim, Lameque, porém, setenta e sete vézes»

(4,24; cf. 4,15).

Em outros termos: o autor sagrado, transpondo os dados cul turáis da sua época para tempos em que nao erarn' conhecidos, quería

apenas designar os objetos déste mundo com que entravem em con

tato as primeiras geracoes humanas; nao lhe importava dizer exatamente quais eram ésses objetos materiais; quaisquer que fossem, o hagiógraíó queria di2er que eram utilizados pelos homens impíos para proporcionar a si urna vida cómoda, ou seja, urna especie de

compensacáo por terem deixado o verdadeiro Bem, que é Deus. É,

alias, o que se verifica ainda hoje. Ao registrar isto, a Sagrada Escritura e os exegetas nao visam condenar a cultura profana. Apenas verificam a tendencia inegável

d
já que

nao se

sabe

Note-se, por fim, que a transposicáo dos dados culturáis da idade do bronze para os primeiros tempos da humanidade constituí um anacronismo necessário para que os episodios fóssem entendidos pelos leitores ¡mediatos (judeus destituidos de conhecimentos geográficos, paleontológicos...). O artificio nao prejudicava a finalidade primaria da Biblia, que é ensinar a doutrina da salvacáo. Paralelamente, dir-se-á: nao prejudicam. mas, ao contrario, possibilitam, o ensino religioso as imagens do Crucificado em que os soldados romanos sao representados em vestiario e armadura medievais, a inscricáo sobre a cruz traz as iniciáis INRI (do latim «lesus Nazarenus Rex Iudaeorum»); também as imagens da Vlrgem Santissima e do Menino Jesús que apresentam os traeos raciais do chinés, do hindú, do africano, do flamengo ou do italiano renascen-

tista; as imagens dos magos sob forma dé tres reís, um branco,

outro negro, outro amarelo, junto ao presepio...

Estas consideragóes já sao suficientes para mostrar que

vas seriam as tentativas de associar o povo dos ciganos á linha_ 535 _

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS 48/1961

gem de Cai'm, como se fóssem éles os herdeiros da cultura e da dvilizagáo dos cainitas. O autor sagrado seria o primeiro a rejeitar essa aproximagáo, pois ele nunca teve a intencjio de descrever o tipo de civilizagáo das primeiras geragóes huma nas. Os estudiosos, portanto, contentar-se-áo com os conhecimentos modestos que a historia profana apresenta a respeito das origens dos ciganos.

Aos prezados correspondentes que nao nos enviaram seus enderegos, sentimos nao poder satisfazer como quiséramós.

AOS NOSSOS LEITORES E AMIGOS QUE AÍNDA NAO TENHAM SALDADO SEUS PAGAMENTOS DE ASSDÍATURAS OU PEDIDOS, ROGAMOS O FAVOR DE O FAZER A FIM DE QUE «P. R.», POR SUA VEZ, POSSA SATISFAZER AOS SEUS COMPROMISSOS.

A TODOS DESEJAMOS AS MAIS RICAS GRABAS DE SANTO NATAL E FELIZ ANO NOVO. D. ESTÉVAO BETTENCOURT O. S. B.

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Assinatura anual

Assinatura anual (vía aérea) Número avulso de 1961 Número de año atrasado

Cr$ 300,00

••.. ".

Colecáo encadernada de 1957 Col. encadernada de 1958, 1959, 1960

KEDA£ÁO Caixa Postal 2666 Rio de Janeiro

Cr$ 300,00iríaisCr$280,00 de porte Cr$ 30,00 Cr$ 35,00 Cr$ 400,00 Cr$ 550,00 (cada urna)

ADMINISXRACAO R. Real Grandeza, 108 — Botafogo Tel. 26-1822 — Rio de Janeiro



1961

ÍNDICE

ÍNDICE /•"■

1961

(Os números & direita indicam respectivamente fascículo, ano.de edicao, que'stáo focalizada c paginac.áo)

ADAPTACAO DA IGREJA

ADOCAO DE FILHOS «ADORAR OS SANTOS" AFINIDADE DO HOMEM COM DEUS pela inteligencia e o amor "AGNUS DEI" AGRARIA, REFORMA ALCOFORADO MARIANA "ALÉM

DO

QUE

ESTA

ESCRITO"

• (1 Cor 4,6) ALMA DOS IRRACIONAIS

AMOR E MARXISMO ANALFABETISMO DE ADULTOS .. ANGLICANOS

MÉNICO

E

CONCILIO

ECU

ANIMÁIS IRRACIONAIS E ALMA . ANJO E PISCINA DE BEZATA

(Jo 5, 3b-4) ANTICONCEPCIONISMO

DA

"CAUSA

MEIRA" ARTE SACRA inicial ASSIMILAC.AO nos viventes

PRI-

AT3NAG0RAS, Patriarca de Constan-

tinopla

41/1961, qu. 1, pág. 183. 43/196?, qu. 5, pág. 301. 37/1961, 43/1961, 43/1961, 47/1961,

qu. 2, pág. 12. corr. miúda, pág. 314. qu. 3, pág. 339. qu. 6, pág. 488.

37/1961, qu. 2, pág. 15. 44/1961, qu. 1, pág. 319. 48/1961, qu. 4, pág. 522. 37/1961, qu. 5, pág. 26.

43/1961, qu. 2, pág. 296.

44/1961, qu. 1, pág. 319.

43/1961, qu. 4, pág. 299. 37/1961, qu. 5, pág. 27;

APOSTASIA : pecado irremissível ? .. APOSTÓLOS E VIRILIDADE ARCA DA ALIANCA ARCA DE NOÉ e Igreja ARGUMENTO

43/1961, qu. 2, pág. 293.

.'.

AUTOMATISMO PSICOLÓGICO AUTONOMÍA DA CONSCIÉNCIA

45/1961, qu. 3, pág. 378; 47/1961, qu. 5, pág. 486. 40/1961, qu. 3, pág. 149.

42/1961, qu. 2, pág. 240. 38/1961, qu. 3, pág. 69. 47/1961, qu. 3, pág. 470.

40/1961, qu. 2, pág. 146. 39/1961, qu. 1, pág. 98. 44/1961, qu. 1, pág. 321. 43/1961, qu. 3, pág. 298.

42/1961, qu. 1, pág. 227.

HUMANA AUTOR DO PENTATEUCO

37/1961, qu. 4, pág. 23. 48/1961, qu. 2, pág. 505. 43/1961, qu. 1, pág. 276.

AUTO-SUGESTAO

B BAHA'I (ReligiSo) BALAA e o asno que falou

BATISMO DAS CRIANZAS e sua ne-

cessidade

BENEFICENCIA

cura de almas

ESPIRITUAL

ou

— 3 —

44/1961, qu. 5, pág. 352. 46/1961, qu. 5, pág. 433.

41/1961, corr. miúda, pág. 224.

39/1961, qu. 2, pág. 105.

BENS AGRADÁVEIS OU DELEITO SOS, OTÉIS, HONESTOS BERNADETE SOUBIROUS (Santa) e a grafologia BEZATA, piscina milagrosa (Jo 5, 3b-4)

BOA FÉ E VERDADEIRA FÉ

44/1961, qu. 1, pág. 323. 45/1961, qu. 1, pág. 370.

43/1961, qu. 4, pág. 299.

40/1961," qu. 5, pág. 164.

c CANIBALISMO "CÁPELA SIXTINA" da pré-história . CARIDADE E JUSTIQA CASÁIS SEM FILHOS E ADO^ÁO . CASOS DE CONSCIÉNCIA CASTRAQÁO DE MENINOS <e voz de soprano CATOLICISMO E PROTESTANTIS MO NA COLOMBIA CAUSA PRIMEIRA CAUSAS DE ESCRÚPULOS DE CONSCIÉNCIA CELIBATO a luz do Cristianismo ...

CEREBRO e "limpeza de cránio" .... CERTEZA MORAL DA CONSCIÉN CIA CHAMADO TARDÍO AO SACERDO CIO "CHAVES DE SAO PEDRO" de Peyrefitte CIENCIAS OCULTAS E GRAFOLOGIA CIGANOS (orígem, historia, género de vida, de trabalho) CINISMO da mentalidade moderna CIVILIZAQÁO CRISTA, sua significa5áo CÓDIGOS JAVISTA, ELOISTA, DEUTERONÓMICO E SACERDOTAL .. COLOMBIA E PERSEGUICAO RELI

GIOSA COMISSOES DE ESTUDOS DO CON CILIO ECUMÉNICO COMUNHAO sob as duas especies CONCILIAQÁO ENTRE PROVIDEN CIA DIVINA E DESGRACA NO MUNDO CONCILIO ECUMÉNICO DO VATI CANO II CONFISSAO SACRAMENTAL DOS ESCRUPULOSOS CONGREGACÁO E ORDEM RELI GIOSA CONSCIÉNCIA ERRÓNEA NO MUNDO MODERNO

39/1961, 39/1961, 48/1961, 41/1961, 40/1961,

qu. qu. qu. qu. qu.

1, 1, 4, 1, 5,

pág. pág. pág. pág. pág.

101. 99. 526. 183. 161.

42/1961, qu. 3, pág. 247. 42/1961, qu. 5, pág. 239. 40/1961, qu. 2, pág. 146. 41/1961, qu. 5, 46/1961, qu. 7, cf. 41/1961, qu. 37/1961, qu. 1,

pág. 204. pág. 441; 6. pág. 213. pág. 3.

40/1961, qu. 6, pág. 176.

45/1961, corr. miúda, pág. 404. 43/1961, qu. 6, pág. 307. 45/1961, qu. 1, pág. 363. 48/1961, qu. 5, pág. 528. 37/1961, qu. 4, pág. 23. 46/1961, qu. 1, pág. 408. 48/1961, qu. 2, pág. 508. 42/1961, qu. 5, pág.-259. 43/1961, qu. 2, pág. 283. 41/1961, corr. miúda, pág. 224. 41/1961, qu. 2, pág. 190. 43/1961, qu. 2, pág. 281.

41/1961, qu. 5, pág. 203. 41/1961, qu. 6, pág. 213. 40/1961, qu. 6, pág. 170. 40/1961, qu. 5, pág. 160.

CONSELHOS EVANGÉLICOS CONSTITUigAO NACIONAL DE 1946 CONSUMACÁO DA OBRA DA REDENCAO CONTRADigOES APARENTES NOS EVANGELHOS CONVIVENCIA DA IGREJA COM OS NAO-CATÓLICOS CORDEIRO DE PASCOA

41/1961, qu. 6, pág. 213. 45/1P61, qu. 5, pág. 402. 40/1961, qu. 4, pág. 157. 40/1961, qu. 4. pág. 155. 37/1961, qu. 6, pág. 33. 39/1961, qu. 3, pág. 112.

CORPO HUMANO, sinal do espirito . CORPO MÍSTICO DE CRISTO CRANIO, "LAVAGEM" DE CRIACAO DO MUNDO EM SEIS DÍAS CRISTAOS e o sinal da Cruz CRITICAS CONTRA A IGREJA

42/1961, qu. 4, pág. 250. 38/1961, qu. 2, pág. 63. 37/1961, qu. 1, pág. 3.

CANAL DE SANTIFICAQAO GAMADA

39/1961, qu. 2, pág. 105. 45/1961, qu. 4, pág. 386.

CRUZ ANTES DE CRISTO

'...

...

CULTO CATÓLICO e os náo-católicos. DAS IMAGENS DOS SANTOS DE SATANAZ

DATA MÓVEL DA SEMANA SANTA DATAS DA PRÉ-HISTÓRIA "DECLARAgAO UNIVERSAL DIREITOS DO HOMEM"

DOS

"DELIRIO MÍSTICO" DESAJUSTAMENTO PSÍQUICO PRO

40/1961, corr. miúda, pág. 180. 45/1961, qu. 4, pág. 387. 39/1961, qu. 2, pág. 111.

45/1961, qu. 4, pág. 385. 46/1961, qu. 4, pág. 431.

41/1961, corr. miúda, pág. 224. 42/19ÍU, qu. 4, pág. 225. 37/1961, qu. 4, pág. 22.

39/1961, qu. 3, pág. 112. 39/1961, qu. 1, pág. 91. 45/1961, qu. 5, pág. 402.

37/1961, qu. 1, pág. 8.

VOCADO PELOS PAÍS E EDUCA DORES

43/1961, qu. 1, pág. 279.

NISTRACAO DO ENSINO

45/1961, qu. 5, pág. 402.

DESCENTRALIZADO DESCIDA

DO

DA

ANJO NA

DE BEZATA (Jo 5, 3b-4)

ADMI-

PISCINA

DESDOBRAMENTO DA PERSONALIDADE "DEUS É GRANDE" DEUS E O SOFRIMENTO DO HO MEM OU O ACASO Jia origem do mundo PONTO DE REFERENCIA DE TODAS AS CRIATURAS .... "DEUSA", palavra inexistente em he braico DEVERES DO INDIVIDUO em relacáo á sua consciéncia

DEVERES DOS PAÍS ADOTIVOS ..

DEVOgAO AOS SANTOS E CANONIZAgOES DIABÓLICA POSSESSAO (e o Pe. Surin)

— 5 —

43/Í961, qu. 4, pág. 299. 42/1961, qu. 1, pág. 235.

41/1961, qu. 2 e 3, pág. 195. 41/1961, qu. 2 e 3, pág. 190. 40/1961, qu. 2, pág. 143.

39/1961, qu. 4, pág. 123. 37/1961, qu. 2, pág. 11.

40/1961, qu. 6, pág. 169.

41/1961, qu. 1, pág. 188. 45/1961, con-, miúda, pág. 404.

47/1961, qu. 2, pág. 459.

DIFERENCA PSICOLÓGICA, SOCIAL

E RELIGIOSA ENTRE O HOMEM

E A MULHER

48/1961, qu. 1, pág. 495.

PULOSOS

41/1961, qu. 5, pag. 210.

DIRECAO ESPIRITUAL DOS ESCRU-

DIREITO DE MINISTRAR EDUCACAO CRISTA A JUVENTUDE ....

DIRETRIZES E BASES DA EDUCA-

.

37/1961, qu. 6, pag. 39.

CAO

45/1961, qu. 5, pag. 393.

RA A EDUCÁOSLO

45/1961, qu. 5, pág. 399.

DISTRÍBÜICAO DE RECURSOS PADOENCA E GENIALIDADE DOGMA ÁCIMA DA MORAL E DA

,

,

_

47/1961, qu. 2, pag. 467.

APOLOGÉTICA DOMESTICACÁO DOS ANIMÁIS ...

38/1961, qu. 2, pag. 62. 44/1961, qu. 2, pág. 331.

E JUSTICA DE DEUS DOYLE, método de

44/1961, qu. 1 e 2, pág. 326. 47/1961, qu. 5, pág. 486. 42/1961, qu. 1, pag. 235.

DOR NOS ANIMÁIS IRRACIONAIS

DUPLA PERSONALIDADE DURKHEIM e a consciéncia

40/1961, qu. 5, pág. 166.

ECTOPLASMA EDUCACAO DA CONSCIÉNCIA .... DIRETRIZES E BASES EGOÍSMO E EGOCENTRISMO EMANCIPACAO DA MULHER .... ENDOCRINAS, GLÁNDULAS EQUILIBRIO HORMONIAL ESCAPULARIO

E

DADES

SU AS

38/1961, 40/1961, 45/1961, 46/1961, 48/1961, 46/1961, 43/1961,

MODALI-

luva de parafina, materializacáo . escrita automática

JOSUÉ ESTADO E IGREJA

DO

LINGUA-

SOL

E

:..

ESTAT1STICA DAS DIVERSAS RE-

LIGIÓES

ESTERILIZACAO

PROVISORIA

DA

EUCARISTÍA

ESCRITURA

SA-

MULHER

E

GRADA (paralelismo)

.

45/1961, qu. 5, pag. 398.

DE DEUS

"ESTACIONAMENTO"

47. 160. 393. 443. 500. 420. 421.

, 42/1961, qu. 2, pág. 240. 42/1961, qu. 1, pag. 227.

ESCRÚPULO DE CONSCIÉNCIA ... ESPIRITISMO E SEUS FEN6ME-

DA

pag. pág. pág. pág. pág. pag. pág. .

ÚNICA

ESCOLHA DOS APOSTÓLOS ESCRITA AUTOMÁTICA

GEM BÍBLICA

1, 5, 5, 7, 1, 2, 2,

43/1961, corr. miuda, pag. 314.

ESCOLA PÚBLICA OU ESCOLA

ESPONTANEIDADE

qu. qu. qu. qu. qu. qu. qu.

EVANGELHOS, APARENTES CON-

TRADICOES NOS

— 6 —

38/1961, qu. 3, pag. 68.

41/1961, qu. 5, pág. 201. 38/1961, qu. 1, pág. 47. 42/1961, qu. 1, pág. 227.

38/1961, qu. 2, pág. 60.

45/1961, qu. 2, pág. 373. 37/1961, qu. 6, pág. 33. _

1O<S

39/1961, qu. 5, pág. 126. ,

45/1961, qu. 3, pag. 378. eo

38/1961, qu. 2, pág. 58. 40/1961, qu. 4, pág. 155.



EXEMPLO DE VIDA, seu valor EXPRESSAO "OS QUE NASCERAM DA MULHER" EXTRA-SENSORIAL PERCEPgAO ..

FAMÍLIA E ESTADO diante do direito de educar FAQUIRISMO FATORES PRINCIPÁIS DAS DIFERENCAS RACIAIS

FAUSTO FÉ BAHA'I

FECUNDACAO HUMANA em labora

43/1961, qn. 1, pág. 280.

38/1961, qu. 4, pág. 72. 42/1961, qu. 1, pág. 230.

45/1961, qu. 5, pág. 393. 41/1961, corr. miúda, pág. 224.

46/1961,. qu. 2, pág. 414. 37/1961, qu. 4, pág. 21. 44/1961, qu. 5, pág. 352.

torio "FEMINISMO" E FEMINISMO FENÓMENOS DE MATERIALIZACAO. DOS ESPÍRITUS PSICOGRAFIA FENOTIPO FIÉIS CATÓLICOS E OS CULTOS NAO-CATÓLICOS FILHOS ADOTIVOS FILOMENA, Santa FIXACAO DA DATA DE PASCOA ..

40/1961, qu. 1, pág. 135. 42/1961, qu. 2, pág. 239.

DE ENSINO FOME e aumento da populasáo mundial

45/1961, qu. 5, pág. 401. 37/1961, qu. 5, pág. 25;

FLEXIBILIDADE DOS PROGRAMAS

"FORA DA IGREJA NAO HA SAL-

38/1961, qu. 1, pág. 47.

41/1961, qu. 1, pág. 227.

46/1961, qu. 2, pág. 415. 46/1961, 41/1961, 44/1961, 39/1961,

qu. qu. qu. qu.

4, 1, 4, 3,

pág. pág. pág. pág.

426. 183. 344. U7.

45/1961, qu. 3, pág. 378.

VACAO" FORCA DA SUGESTAO

47/1961, qu. 3, pág. 469. 43/1961, qu. 1, pág. 275.

médium FRANCO-ATIRADORES DE DEUS E

42/1961, qu. 1, pág. 236.

FRANCISCO CANDIDO XAVIER,

DE CRISTO FREUD e a conseiéneia moral

39/1961, qu. 2, pág. 102. 40/1961, qu. 5, pág. 166.

G

'GENOTIPO

46/1961, qu. 2, pág. 415.

GENUFLEXAO GERACAO GESTOS E ORACAO GLÁNDULAS ENDOCRINAS GLICOSE E FECUNDIDADE GRAFOLOGIA

43/1961, 44/1961, 42/1961, 46/1961, 47/1961, 45/1961,

qu. qu. qu. qu. qu. qu.

5, 1, 4, 2, 5, 1,

pág. pág. pág. pág. pág. pág.

301. 321. 251. 420. 487. 365.

H HEBR 6,4-6 ; 10,26-31 ; 12,16s HEURTIN, MARÍA

40/1961, qu. 3, pág. 149. 37/1961, qu. 2, pág. 13.

— 7 —

HOBBES E A CONSCIÉNCIA MORAL HOMEM,, imagem e semelhansa de

40/1961, qu. 5, pág. 165.

lidade transcendente HORMÓNIOS

39/1961, qu. 1, pág. 91. 46/1961, qu. 2, pág. 420.

tólicos HUYSMANS, J.K.

37/1961, qu. 6, pág. 33. 37/1961, qu. 4, pág. 23.

Deus HOMEM' DA PRÉ-HISTÓRIA fe a rea-

HOSTILIDADE OU TOLERANCIA DA IGREJA em' relacáo aos náo-ca-

ÍDOLOS

IGREJA

CATÓLICA

ROMANA IGREJA DE

CRISTO nao

sociedade de santos IGREJA E ESTADO IGREJA,

CAO

APOSTÓLICA

NECESSARIA

é

A

apenas SALVA-

IGREJA E A PROMOQÁO DAS MULHERES AS FUNCOES SACER-

DOTAIS E

SORTE

MAS

POSTUMA

DAS AL

IGUAL DIGNIDADE ENTRE O HO

MEM E A MULHER

IGUALDADE BIOLÓGICA ENTRE AS

RASAS HUMANAS

IMAGEM

DEUS

E

SEMELHANC.A

DE

37/1961, qu. 2, pág. 10.

37/1961, qu. 2, pág. 10. 39/1961, qu. 2, pág. 102.

39/1961, qu. 2, pag. 103. 37/1961, qu. 6, pág. 33.

47/1961, qu. 3, pág. 469. 42/1961, qu. 2, pág. 246.

40/1961, qu. 2, pág. 146. 48/1961, qu. 1, pág. 500.

46/1961, qu. 1, pag. 413. 37/1961, qu. 2, pág. 9.

IMOLAgAO DO CORDEIRO PASCAL. IMPERFEICAO MORAL E PECADO.

39/1961, qu. 3, pág. 115. 48/1961, qu. 3, pág..516.

ALHEIO ÍNDICE DOS LIVROS PROIBIDOS .

41/1961, qu. 5, pág. 202. 40/1961, corr. miuda, pag. 180.

RELIGIOSO INDULGENCIAS INFLACAO POPULACIÓNAL

44/1961, 39/1961, 43/1961, 37/1961,

IMPERMEABILIDADE

AO

JU1ZO

INDIVIDUALISMO AGNÓSTICO COLETIVISMO MARXISTA

E

INFUSAO

E

DA ALMA

HUMANA

qu. qu. qu. qu.

3, pag. 340. 2, pág. 102. 6 e 7, pag. 313. 5, pág. 25.

FECUNDAgAO DO GERMEN INQUIETUDE QUANTO A INTEGRI-

47/1961, corr. miuda, pag. 492.

MENTAL INQUISICAO ESPANHOLA

41/1961, qu. 5, pág. 203. 37/1961, qu. 6, pág. 36. 38/1961, qu. 6, pag. 81.

DADE

DA

CONFISSAO

SACRA

INQUÉRITOS SOBRE EFICACIA DA

PREGADO

INSEGURANCA DE ALVITRE

INSEMINACAO ARTIFICIAL INSPIRACAO BÍBLICA INSTINTO E INTELIGENCIA

_ 8 —

38/1961, qu. 2, pág. 66.

41/1961, qu. 5, pág. 202.

.

40/1961, corr. miúda, pag. 180. 47/1961, qu. 4, pág. 478. 44/1961, qu. 1, pág. 325.

.INSTITUTO

INTERNACIONAL

DE

PESQUISAS GRAFOLÓGICAS .... INSTITUTOS SECULARES

IRREMISSIBILIDADE DOS ? IRRITABILIDADE

DOS

PECA

ISOLAMENTO GEOGRÁFICO E SO. - CIAL

JEJUM E PENITENCIA

JOÁO BATISTA (Sao), prerrogativas. JOÁO EV. (Sao), em 5,3b-4

JOAO MARÍA VIANNEY (Sao), e a grafologia JOÁO XXIII (Papa) e a pregac.5o ...

JORGE (Sao) JOSUÉ E O SOL JUDEUS E RACISMO JUNQUEIRA FREIRÉ JUSTICA E CARIDADE E DIREITO

E INJUSTIC.A em relagáo aos irra-

cionais SOCIAL

LAICISMO LATIFUNDIOS "LAVAGEM DE CRÁNIO" LEÁO XIII te a atuagáo pública da Igreja

LEÍ DE MOISÉS (as tábuas) LIBERDADE DE ARBITRIO E A GRAFOLOGIA DE ACAO que a Igreja reivindica para Si DE PREGAR O EVANGELHO ..

LIBERTINISMO

LICEIDADE DO ATO HUMANO ... LIMBO e criancas nao batizadas LIMITACÁO

TALIDADE

ARTIFICIAL

DA

NA-

DA NATALIDADE pelos métodos

térmico e Doyle LITURGIA DA PREGAQÁO EM VERNÁCULO LIVRE ARBITRIO LIVROS PROIBIDOS, índice dos LOGOSOFIA •• LOTE e suas filhas (Gln 19, 10-38) LUVA DE PARAFINA

.

— 9 —

45/1961, qu. 1, pág. 366. 41/1961, qu. 5, pág. 211. 40/1961, qu. 3, pág. 149. 44/1961, qu. 1, pág. 321. 46/1961, qu. 2, pág. 419.

41/1961, corr. miúda, pág. 224.

38/1961, qu. 4, pág. 72. 43/1961, qu. 4, pág. 299. 45/1961, 38/1961, 43/1961, 45/1961, 46/1961, 47/1961, 48/1961, 44/1961,

qu. qu. qu. qu. qu. qu. qu. qu.

1, 2, 4, 2, 1, 6, 4, 2,

pág. pág. pág. pág. pág. pág. pág. pág.

372. 65. 351. 373. 407. 488. 526; 332;

44/1961, qu. 2, pág. 332; 48/1961, qu. 4, pág. 523.

37/1961, qu. 4, pág. 23. 44/1961, qu. 3, pág. 338. 37/1961, qu. 1, pág. 3.

37/1961, qu. 6, pág. 34.

38/1961, 44/1961, 45/1961, 37/1961,

qu. qu. qu. qu.

3, pág. 2, pág. l.pág. 6, pág.

67. 332. 364. 33.

37/1961, qu. 6, pág. 39.

46/1961, qu. 7, pág. 443.

40/1961, qu. 6, pág. 169. 40/1961, corr. miúda, pág. 180.

37/1961, qu. 5, pág. 29;

45/1961, qu. 3, pág. 378;

47/1961, 38/1961, 45/1961, 40/1961, 40/1961, 40/1961, 46/1961, 38/1961,

qu. 5, pág. 486. qu. 2, pág. 64 ; corr. miúda, pág. 403. qu. 2, pág. 141. corr. miúda, pág. 180. corr. miúda, pág. 179. qu. 6, pág. 437. qu. 1, pág. 47.

M MAGIA

39/1961, qu. 1, pág. 101.

MAGNA CARTA DAS MÁES MAGO BALAA em Núm 22,22-35 MAL EXISTENTE NO MUNDO

MANEIRA DE FAZER O SINAL DA

CRUZ MARÍA SSMA., diversos títulos de ... MARIANA ALCOFORADO, Sóror ... MARXISMO

E FEMINISMO

«MATERIALIZAgAO

DOS

ESPIRI-

TOS" MATERNIDADE e vocagáo da mulher. MECANICISMO BIOLÓGICO MEDICINA E DIRECAO ESPIRI TUAL MEFISTÓFELES MENTALIDADE MODERNA E CONSClfiNCIA MORAL SATÁNICA "MENTICÍDIO" MÉTODO TÉRMICO para limita^áo da

natalidade MIGRACÓES E CRUZAMENTOS .... MILAGRES ATRIBUÍDOS A SANTA FILOMENA .-. DE DEUS, finalidade adequada .. MISSAO DA IGREJA MITO DE PROMETEU E*O MAR

XISMO

MODIFICACÓES

NO

í

VEGETAL E

NO ANIMAL MOISÉS E PENTATEUCO MONOTEÍSMO E POLITEÍSMO EM ISRAEL MORALIDADE BOA OU MA DE UMA ACAO MORETTI, Frei J. M. (notável grafó fono)

48/1961, qu. 1, pág. 504. 46/1961, qu. 5, pág. 433. 37/1961, corr. miúda, pág. 41.... ■ 45/1961, 43/1961, 47/1961, 48/1961,

TIPO

SOMÁTICO

VENTES MULHERES NO

DOS

pág. pág. pág. pág.

/

/

38/1961, qu. 1, pág. 53. 48/1961, qu. 1, pág. 495. 44/19G1, qu. 1, pág. 320. 41/1961, qu. 5, pág. 211. 37/1961, qu. 4, pág. 21.

*.

39/1961, qu. 5, pág. 165. 37/1961, qu. 4, pág. 19. 37/1961, qu. 1, pág. 3.

47/1961, qu. 5, pág. 486. 46/1961, qu. 2, pág. 418. 44/1961, qu. 4, pág. 349. 45/1961, qu. 2, pág. 375. 39/1961, qu. 2, pág. 104.

37/1961, qu. 4, pág. 20. 46/1961, qu. 3, pág. 423. 48/1961, qu. 2, pág. 505.

48/1961, qu. 2, pág. 509.

VI-

SACERDOCIO LU

TERANO MUNDO E PROVIDENCIA DIVINA.

N "NASCERAM DA MULHER"

(Mt 11,11)

— 10 —

38/1961, qu. 6, pág. 87. 45/1961, qu. 1, pág. 366.

38/1961, qu. 6, pág. 80.

39/1961, qu. 3, pág. 112.

37/1961, qu. 1, pág. 3.

46/1961, qu. 2, pág. 422.

41/1961, qu. 2, pág. 238. 41/1961, qu. 2 e 3, pág. 194.

! 38/1961, qu. 4, pág. 72.



'' .

389. 314. 488. 526;



MUDANCA DE DATA DA SEMANA SANTA

DE

4, 7, 6, 4,

48/1961, qu. 1, pág. 502.

MUgÚLMANOS NA ESPANHA DE PERSONALIDADE

.

qu. qu. qu. qu.



'

-i "NAZARENO" (significado do titulo). NEANDERTHAL, homem de ■■. NEGLIGENCIA NA FORMACAO DA

CONSCIÉNCIA

;

-í.

NEO-MALTHUSIANISMO ' NEOVITALISTAS ...:

.-.

NEWMAN, Cardeal

/ NEUROSE E SANTIFICACAO,

'"NÓMADES :t: NOME DE DEUS e fontes do Penta-

teuco NORMÁIS E ANORMAIS

«ODIAR PAI E MAE" (Le 14,26)

...

ORDEM E CONGREGACAO RELI GIOSA .-. ORIGEM DO HOMEM E A BÍBLIA . ORTODOXOS SEPARADOS DA IGREJA E UNIDADE OVULACAO (como averiguá-la) .....

39/1961, qu. 2, pág. 106. 39/1961, qu. 1, pág. 95.

41/1961, qu. 6, pág. 172.

37/1961, qu. 5, pág. 25. 44/1961, qu.' 1, pág. 322. 39/1961, qu. 2, pág. 109.

47/1961, qu. 1, pág. 451. 39/1961, qu. 1, pág. 92.

48/1961, qu. 2, pág. 507. 47/1961, qu. 1, pág. 451.

40/1961, qu. 4, pág. 159. 41/1961, qu. 6, pág. 213. 41/1961, corr. miúda, pág. 272. 43/1961, qu. 3, pág. 297. , 47/1961, qu. 5, pág. 487.

PALAVRAS DE JESÚS APARENTE MENTE CONTRADITÓRIAS PARADEIRO DAS TABUAS DA LEÍ. PARAFINA, LUVA DE

38/1961, qu. 4, pág. 71. 38/1961, qu. 3, pág. 69. 38/1961, qu. 1, pág. 47.

PARTO SEM DOR

46/1961, qu. 4, pág. 426. 40/1961, corr. miúda, pág. 180.

PARTICIPADO DOS CATÓLICOS NO CULTO DE OUTRAS CONFISSOES RELIGIOSAS

PASCOA

NO

CALENDARIO

TAO JUDAICA PAVLOV, Ivan Petrovitch

CRIS-

PAZ DE CRISTO E ESPADA PECADO E IMPERFEICAO MORAL. PECADOS IRREMISSÍVEIS ? PENTATEUCO, AUTOR DO PEQUIM, HOMEM DE PERCEPCAO EXTRA-SENSORIAL . PERDAO DOS PECADOS, SEMPRE

39/1961, qu. 3, pág. 114. 39/1961, qu. 3, pág. 112. 37/1961, qu. 1, pág. 4. 40/1961, 48/1961, 40/1961, 48/1961, 39/1961, 42/1961,

qu. qu. qu. qu. qu. qu.

4, 3, 3, 2, 1, 1,

pág. pág: pág. pág. pág. pág.

155. 516. 149. 505. 93. 230.

POSSÍVEL PEREGRINAJES RELIGIOSAS ....

40/1961, qu. S, pág. 149. 42/1961, qu. 5, pág. 256.

TARDADAS PEYREFITTE, Ro«rer PIEDADE E PROCISSOES CRISTAS. SINAIS SENSÍVEIS

46/1961, 43/1961, 42/1961, 42/1961,

PERFEigAO DO GÉNERO HUMANO. PERSONALIDADE DUPLA PESSOA ANORMAL E SANTIDADE. PESSOAS PSÍQUICAMENTE RE

— 11 —

39/1961, qu. 3, pág. 120. 42/1961, qu. 1, pág. 235. 47/1961, qu. 1, pág. 451.

qu. qu. qu. qu.

1, 6, 4, 4,

pág. pág. pág. pág.

452. 307. 254. • 250.

PIÓ XI e a educagao



PIO XII c os judeus sua rosisáo no tocante á verdade e ao erro e Reforma Agraria

PLANO DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCACAO POPULAQÁO MUNDIAL, AUMENTO

DA

"PORQUE NAO SOU CRISTAO", de Russell

FOSICAO DOS DEDOS NO TRAQAR O SINAL DA CRUZ

POSSESSAO Surin)

DIABÓLICA

(e o

Pe.

PRAZER NO ANIMAL IRRACIONAL. PRECURSOR DO MESSIAS, dignidade

PREGAQÁO DA PALAVRA DE DEUS

PRÉ-HISTÓRIA, RELIGIAO NA .... "PREPUCIO SANTO", reliquia do ... PRESENCA SENSÍVEL DE CRISTO NO MUNDO PRIMADO DE PEDRO PRINCIPIOS REFLEXOS NA PORMACÁO DA CONSCIÉNCIA PROCISSOES PAGAS E PIEDADE .POPULAR PROGESTERONA E ESTERILIZAQÁO PROGNÓSTICOS DE FOME e aumen to da populaQáo do globo PROGRESSO CIENTÍFICO E CONS CIÉNCIA MORAL PROTESTANTES E CATÓLICOS NA

COLOMBIA

PROVIDENCIA

DIVINA E

37/1961, qu. 6, pág. 40.

44/1961, qu. 3, pág. 338. 37/1961, qu. 6, pág. 38. 44/1961, qu. 3, pág. 338.

>C'j,-

-•':, '■',"■» ' • .

45/1961, qu. 5, pág. 393.

37/1961, qu. 5, pág. 25;

45/1961, qu. 3, pág. 378. 40/1961, qu. 2, pág. 140. 45/1961, qu. 4, pág. 390.

47/1961, qu. 2, pág. 459.

43/1961, qu. 1, pág. 323. 38/1961, qu. 4, pág. 73.

38/1961, qu. 2, pág. 57.

39/1961, qu. 1, pág. 99. 43/1961, qu. 7, pág. 3Q7.

39/1961, qu. 2, pág. 106. 47/1961, qu. 3, pág. 470. 40/1961, qu. 6, pág. 177. 42/1961, qu. 5, pág. 256. 42/1961, qu. 4, pág. 249.

45/1961, qu. 3, pág-. 378.

FELICI-

DADE HUMANA E "PROVIDENCIALISMO" PSICANÁLISE PSICOGRAFIA

PSÍQUICO E FÍSICO, intimamente re

lacionados

37/1961, qu. 5, pág. 25.

40/1961, qu. 1, pág. 138.

42/1961, qu. 5, pág. 257. 41/1961, 41/1961, 40/1961, 42/1961,

qu. 2 e 3, pág. 191. qu. 2 e 3, pág. 195. corr. miúda, pág. 179. qu. 1, pág. 227.

45/1961, qu. 1, pág. 364.

Q QUARTODECIMANOS

39/1961, qu. 3, pág. 114.

R

RACAS HUMANAS, sua origem RACISMO FRENTE A CIENCIA E AO CRISTIANISMO

— 12 '—

46/W61, qu. 2, pág. 407. 46/1961, qu. 1, pág. 407.

i

,

i-.

•' ...../: , /'. '

,

EEALIDADE DA PROVIDENCIA ... , DE SATA ■RELATIVISMO DA MENTALIDADE

CONTEMPORÁNEA REERGUIMENTO DO

NÍVEL

MO

RAL DA HUMANIDADE CONTEM PORÁNEA REPLEXOS CONDICIONADOS "REFORMA AGRARIA E MORAL CRISTA RELACÓES DA IGREJA COM AS POTENCIAS DÉSTE MUNDO .... RELACOES INTIMAS ENTRE O PSÍ QUICO E O FÍSICO RELIGIAO DE ESTADO DO "OUVIR", RELIGIAO DA PALAVRA NA PRÉ-HISTÓRIA "RELÓGIO DA EVOLUQAO" REPRESENTAgAO DE SATA REVELACAO BÍBLICA contraria a toda conceituacáo pejorativa da ma teria pelos oráculos "RITOS CHINESES" ROBERTO BELARMINO (Sao) e a grafologáa "ROMANA" IGREJA (significado do título) ROPS, Daniel RUSSELL, Bertrand ("Porque nao sou cristáo")

41/1961, qu. 2, pág. 191. 37/1961, qn. 4, pág. 17.

37/1961, qu. 4, pág. 22. 37/1961, qu. 5, pág. 30. 37/1961, qu. 1, pág. 4.

44/1961, qu. 3, pág. 336. 37/1961, qu. 6, pág. 39. 45/1961, qu. 1, pág. 364. 37/1961, qu. 6, pág. 39; 38/1961, 39/1961, 39/1961, 37/1961,

qu. qu. qu. qu.

2, 1, 4, 4,

pág. pág. pág. pág.

59; 91. 123. 19.

37/1961, qu. 2, pág. 13. 38/1961, qu. 2, pág. 61. 43/1961, qu. 5, pág. 303. 45/1961, qu. 1, pág. 372. 39/1961, qu. 2, pág. 106. 38/1961, qu. 6, pág. 86. 40/1961, qu. 2, pág. 140.

SACERDOCIO E SEXO MASCULINO. SAGRADA ESCRITURA, fonte prima ria da doutrina crista

41/1961, qu. 2, pág. 238.

DA IGREJA SANTIFICACAO DOS ANORMAIS .. SARTRE E A CONSCIENCIA MORAL SATANISMO

46/1961, 47/1961, 40/1961, 37/1961,

^SALVAQAO DOS QUE VIVEM FORA

SECRETARIADO PRO UNIAO DOS CRISTAOS SECULARES INSTITUTOS

"SELECAO NATURAL" SEMELHANCA E IMAGEM DE DEUS .-. SENTIMENTALISMO PARA COM OS ANIMÁIS SEPULTAMENTO ENTRE OS ANTIGOS «SEXO SEGUNDO"

SIMONE DE BEAUVOIR

— 13 —

38/1961, qu. 2, pág. 60. corr. miúda, pág. 448. qu. 1, pág. 457. qu. 5, pág. 167. qu. 4, pág. 19.

43/1961, qu. 3, pág. 295. 41/1961, qu. 5, pág. 211. 46/1961, qu. 2, pág. 418. 37/1961, qu. 2, pág. 10. 44/1961, qu. 2, pág. 335. 39/1961, qu. 1, pág. 98. 48/1961, qu. 1, pág. 495.

48/1961, qu. 1, pág. 495.

SINAIS DE DEUS E SONHOS

40/1961, corr. miúda, pág.

NISMO SINÁNTROPO

45/1961, qu. 4, pág. 385. 39/1961, qu. 1, pág. 93. '

SINAL

DA

CRUZ

NO

CRISTIA

SISTEMAS DE GRAFOLOGIA

SISTEMA NERVOSO ....' SOFRIMENTO DOS ANIMÁIS ..... CRISTAO SOL, "ESTACIONAMENTO" DO .... SOLTEIRONAS E A SOCIEDADE ... SOPRANOS E CASTRAQÁO DE ME

NINOS

SORTE POSTUMA DAS ALMAS .... SPENCER, Darwin e a consciéncia

45/1961, qu. 1, pág. 365.

37/1961, 44/1961, 41/1961, 45/1961, 46/1961,

qu. qu. qu. qu. qu.

1, 1, 4, 2, 7,

pág. pág. pág. pág. pág.

4. 319. 200. 373. 440.

42/1961, qu. 3, pág. 247. 40/1961, qu. 2, pág. 146.

moral SUFRAGIOS tem beneficio dos suicidas. SUGESTÁO "SUMMUM JUS, SUMMA INJURIA". SUPERSTICÁO E GRAFOLOGIA ... SURIN S. J., Padre

40/1961, qu. 5, pág. 165. 40/1961, qu. 2, pág. 142. 43/1961, qu. 1, pág. 276.

TABUAS DA LEÍ DE MOISÉS TALAR VESTE TARDÍA VINDA DE CRISTO AO MUNDO TÉCNICA DA "LAVAGEM DE CRÁNIO" TEMARIO DO CONCILIO II DO VA

38/1961, qu. 3, pág. 67. 38/1961, qu. 5, pág. 76.

TEMPOS, SENTIDO CRISTAO DOS.

38/1961, qu. 2, pág. 61.

TICANO

TERESA DE AVILA (Santa) e a gra-

fologia

TESTEMUNHO DA CONSCIÉNCIA . TITANISMO CONTEMPORÁNEO ... «TODAS AS RELIGIOES SAO BOAS". TOLERANCIA PARA COM O ERRO . TOMAZ DE AQUINO

fologia

(Sao) e a gra-

e o resumo do pensamento cristáo

dos medievais TORQUEMADA, Tomaz de TORTURAS DA "LAVAGEM

CRANIO" TOTEMISMO

TRANSFORMACÁO

DOS

DO

VALORES

NEGATIVOS EM POSITIVOS

48/1961, qu. 4, pág. 528. 45/1961, qu. 1, pág. 363. 47/1961, qu. 2, pág. 459.

39/1961, qu. 4, pág. 119.

37/1961, qu. 1, pág. 5.

43/1961, qu. 2, pág. 290. 45/1961, qu. 1, pág. 373. 40/1961, 37/1961, 40/1961, 37/1961,

qu. 5, pág. 160. qu. 4, pág. 21.

corr. miúda, pág. 180. qu. 6, pág. 37.

45/1961, qu. 1, pág. 370. 37/1961, qu. 6, pág. 35. 38/1961, qu. 6, pág. 85.

37/1961, qu. 1, pág. 6. 39/1961, qu. 1, pág. 101. 45/1961, qu. 1, pág. 373.

u UNIAO DOS CRISTAOS

43/1961, qu. 2, pág. 292.

— 14—

VALORES ESPIRITUAIS E MATERIÁIS VALORES TEMPORAIS VATICANO, CONCILIO ECUMÉNICO II ...: VERDADE, direitos da VIDA CATÓLICA NA COLOMBIA ... VIDA COMUM E RELIGIAO VITALISMO VITORINO, Mario VOCAC.ÁO A MATERNIDADE VOTOS RELIGIOSOS

WELLHAUSEN, Julio

37/1961, qu. 5, pág. 32. 41/1961, qu. 3, pág. 193.

43/1961, 37/1961, 42/1961, 41/1961, 44/1961,

qu. qu. qu. qu. qu. 39/1961, qu. 48/1961, qu. 41/1961, qu.

2, 6, 5, 6, 1,

pág. pág. pág. pág. pág.

281. 33. 260. 213. 320.

2, pág. 108. 1, pág. 495. 6, pág. 213.

48/1961, qu. 2, pág. 508.

— 15 —

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