Revista Pergunte E Responderemos - Ano Iv - No. 041 - Maio De 1961

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Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memorietm)

APRESEISTTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz

Sao

Pedro

que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanca e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores:

aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site. Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos

convenio com

d.

Esteváo

Bettencourt

e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo. A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confisca depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

ANO

IV

41 M

A

I

C

19

6

1

ÍNDICE Pág.

I.

VIDA MODERNA E RELIGI&O

1) "Como se há de julgar, do ponto de vista cristáo, a adocao de filhos, hoje em dia táo npregoada ?" n.

2)

í*s

DOGMÁTICA

"Como se conciliam a Providencia Divina e a existencia

de tanta desgrana -no mundo ?

Meu bom füho morreu em trágico desastre. Nao terá Deus

errado, ao permitir isso ?"

19I}

S) "Dizia-me um amigo: 'Nao perca sen lempo, procurando saber quais sao os pretensos designios da Providencia; procure,

antes, dar execucáo ás mas providencias. Nao confie na moral do 'Deus é grande', pois sabemos que Ele, i infinitamente grande, mas que isto nao impede sejam infinitamente inflexíveia os leis que regem o universo'.

Desejo, em conseqüéncia, saber como se relacionara c Provi

dencia e as leis fixas do universo" m.



SAGBADA ESCRITURA

U) "Que quer dizer Sao Paulo quando escreve :■ 'Completo em tninha carne o que falta ás tribulacóes de Cristo, em favor do aeu corpo, que é o Igreja' (Col 1,2-0? Se Jesús Cristo era Deus, a sita obra terá sido perfeita e

nao pode carecer de complemento !" IV.

6)

> ?

■ ■*?*

MORAL

5) "Que sao prdpriamente os escrúpulos de'consciéncia? E que tratamento se há de dar as pessoas escrupulosas?" . .

V.

J-*°

201

HISTORIA DO CRISTIANISMO

"Que vém a ser os Institutos Seculares, de origem. re

cente na historia t"

CORRESPONDENCIA MIÚDA COM

APROVAgAO

• ECLESIÁSTICA

212 325

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS» Ano IV — N» 41 — Moio de 1961

I.

VIDA MODERNA B RELIGIAO

MOACYR (Rio de Janeiro):

1) «Como se há de julgar, do ponto de vista cristáo, a adocáo de filhos, hoje em día, táo apregoada?» A adocáo, no estrito sentido jurídico, é a instituicáo civil

que visa fazer passar urna pessoa (dita «adotada») da sua própria familia para a familia de outra pessoa (dita «adotante»), com as conseqüéncias jurídicas estipuladas pela legislacáo do respectivo país.

A conveniencia ou nao da adocáo de filhos nao é questáo que possa ser solucionada apenas por criterios de gósto pessoal, de situagáo económica ou de coridigóes higiénicas; na verdade, ela afeta muito intimamente a consdéncia crista, pois implica em um juizo sobre a personalidade humana, o sentido da vida,

do casamento, etc. Ademáis a praxe da adocáo tem tomado proporgóes crescentes nos últimos tempos, suscitando novas e

complexas questóes (assim na Franca, de 1941 a 1957, 20.000 lares sem filhos adotaram um total de 40.000 criancas aproxi

madamente; na Inglaterra, de 1946 a 1950, registraram-se 17.000 casos de adocáo; nos EE. UU. da América contam-se 75.000 casos de adocáo por ano).

É esta situacáo que leva o cristáo a considerar o fenóme no do ponto de vista estritamente cristáo, a fim de se orien

tar devidamente na vida cotidiana. Ñas páginas que se seguem,

abordaremos sucessivamente tres aspectos da questáo : 1) oportunidade da adocáo de filhos; 2) condicóes para que seja feliz;

3) deveres dos pais adotivos. 1.

1

Oportunidade da adogao

Em primeiro lugar, seja licito recordar o grande valor da

prole na vida de um casal: o amor que os cdnjuges consagram um

ao outro tende naturalmente a se concretlzar nos filhos, pois loi em vista:- da multlplicacao da especie que o Criador Incutíu no ser humano o atratativo do amor e da vida, conjugal. A existencia e as exigencias da prole preservam do egoísmo o amor matrimonial, fazendo que éste fique sempre aberto para outrem, em vez de se fe char no narcisismo e no gozo mesquinho. Além disto, os filhos vém a ser para os pais motivo de especial alegría: a alegría de colaboxarein na obra comum de educar, obra que deve dar estrutura á sua vida.

— 183 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 4171961. qu. 1

2. Disto se segU2 a grande conveniencia de que casáis, por natureza esteréis, recorram á adojáo de filhos, desde que

tenham possibilidades dé prover á educagáo dos mesmos. Al-

guns autores modernos apresentam a adogáo quase como um

dever em nossos dias, apelando para dois motivos principáis :

— aumenta cada vez mais o número de criangas que nascem fora do casamento. Urna estatística de Franga, por exemplo, revelou que naquele país, de 1944 a 1958, 16.700 donzelas de menos de 20 anos de idade tiveram prole sem estar casa das; dessas, 9.200 legalizaran! sua situacáo mediante casamen to; 7,500, porém, permanecerán! sem marido, deixando outros

tantos filhos sem pai. Em 195Í ainda na Franga 3.500 bebés foram abandonados por suas genitoras. Pergunta-se: que fu

turo podem ter tais criangas se nao se lhes dé um lar con veniente?

Conclui-se assim em favor da adocáo. Tal conclusao é corrobo rada por pesquisas da Psicología moderna : esta ensina nao haver melhon educandário do que o lar; qualquer instituto, por mais aprimorado que seja, jamáis pode suprir o que um lar sadio íornece. Cf. J. Bowlby, Material Care and Mental Health. Genebra 1952 (obra publicada pela «Organizacáo Mundial da Saúde»).

— Os autores apelam também para a quota crescente da delinqüéncia infantil, que, alias, é conseqüéncia do mal ante rior. Outrora acontecía que criangas abandonadas ou negligenciadas fácilmente morriam por falta de recursos (assim na Franga, em 1802, dentre 5.500 bebés abrigados em institutos públicos, faleceram 3.000!). Hoje em día tal nao se dá; gragas

aos progressos da medicina, consegue-se assegurar a sobrevi vencia da maioria das criangas abandonadas; elas, porém, se

tornam muitas vézes delinqüentes ou vém a ser genitores des naturados.

Como evitar isto, ao menos em parte, dizem, se

nao mediante educacáo em urna familia adotiva bem cons tituida?

Do seu lado, os próprios pais adotivos sao os primeiros a expe rimentar a grande conveniencia da adocáo; observam alguns auto res que muitas vézes. quando se lhes quer elogiar o heroísmo abne gado, respondem com sorriso, como se julgassem multo natural o seu procedimento. Um pai adotivo ehegou certa vez a declarar que

considerava a adocáo nao como «obra de caridade» (no sentido de esmola), mas como «obra de vida», isto é, obra que dava sentido á sua vida, fazendo-a entrar na grande corrente da iecundidade huma

na. Na verdade, caridade e vida nao se excluem; antes, completam-se mutuamente.

3. Mas nao haverá riscos e perigos na praxe da adogáo? Levem-se era 'corita, por exemplo, os seguintes tópicos : — 184 —

A ADOCAO DE FILHOS

a) Nao seráo para temer os defeitos, tanto de caráter como de saúde, que a crianca possa ter herdado de seus pais? — Quanto aos defeitos de caráter (ou de patrimonio psí quico), inegávelmente devem merecer a atengáo dos educado res. Hoje em dia, porém, nao se lhes dá a mesma importancia que outrora; na formacáo da personalidade, atribui-se müito mais peso e influencia á educagáo; esta é capaz de retificar até certo grau as tendencias congénitas da crianca. Os autores nao sao unánimes ao avaliarem as partes respecti vas da heranga psíquica e da educacjio na formacáo da personali dade : há quem assinale 10% de influencia ás inclinac.8es inatas, e 90 % á educacáo (o que parece exagerado); outros atribuem 20 % á natureza e 80% á educagáo, ou seja, ás pessoas que educam (fa miliares e educadores) e ao. ambiente de educacáo (familia, es cola.. .).

Quanto á constituigáo física, os médicos desaconselham a ado;áo de urna crianga antes do primeiro mes de vida justa mente para que haja observacáb das suas condigóes de saúde; doutro lado, julgam que a maioria das deficiencias físicas pode,via de regra, ser devidamente averiguada no decorrer dos primeiros 15/18 meses de vida da crianga. Dado o continuo progresso da psicologia e da medicina, os técnicos estaráo habili

tados a fornecer indicagóes cada vez mais precisas sobre as possibilidades de desenvolvimento psico-somático dos diversos bebés, ficando assim em grande parte removidos os perigos que ameagam os pais adotivos por parte da heranga físico-psíquica dos pequeninos. Existem mesmo instituigóes que distribuem

criteriosamente o servigo de adogáo, de maneira a fornecer ás pessoas adotantes as possíveís garantías de éxito. b)

Um casal que diz nao ser rico, nao cometerá temeri-

dade adotando um filho?

— Faz-se mister lembrar que os deveres primarios dos pais adotivos para com a crianga consistem própriamente nao em lhe dar aquilo que a riqueza proporciona, mas em Ihe de dicar amor verdadeiro e em prepará-la sólidamente para a vida,

assegurando-lhe boa educagáo moral e religiosa. Quem dá isso é nao pode dar mais, certamente comunica o que há de me¡hor e pratica enorme beneficio. c)

E, se após o ato de adocao, sobrevier, por nascimento,

a prole própria do casal, nao haverá perigo de ciúmes no lar? — Em verdade, nova prole pode imprevistamente sobrevir. De acordó com determinada estatística européia, tal já se deu

— 185 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 41/1961, qu. 1

em 12 casos num total de 650 casáis (cf. H.M. Oger, Le pro-

bléme moral de l'adoption, em «Nouvelle Revue Théologique» 6 [1959] 630). Contudo a experiencia mesma ensina que o amor devotado pelos pais a seus filhos adotívos nao diminuiu após a geragao da própria prole; ao contrario, parece que os pais conservam sempre carinho especial para com a crianga que primeiramente lhes suscitou os cuidados paternos.

d)

E nao haverá inconveniente em adotar urna só cri

anga?

— Os autores fazem observar que a familia normalmente conta algumas criangas, e criangas de ambos os sexos. Ora adotar é, de certo modo, constituir urna familia. Estas premissas insinuam a conveniencia de adotar mais de um peque nino. Do seu lado, a experiencia dos Institutos de adogáo cor robora essa insinuagáo. A proposicao aínda pode ser ilustrada pela seguinte consideraCáo: um filho adotivo em geral inspira múltiplas solicitudes a seus pais, tornando-se fácilmente aquilo que numa familia normal se chama pejorativamente «o íilho único»; ora, justamente para evitar tSo grave mal, é desejável que a atencáo dos cdnjuges se reparta entre dois ou mais filhos adotívos. Estes, porém, deverio ser, na medida do possivel, irmaos e irmás nascidos do mesmo casal, nao sdmente a fim de nao se separarem criancas da mesma origem, mas também para se evitarem dissabores na educacáo (verdade é que,

conforme atesta a experiencia, meninos e meninas de casáis dife rentes costumam comportar-se no lar adotivo como irmáos e irmás).

Após as ponderagóes até aquí desenvolvidas, parece ficar suficientemente estabelecida a conveniencia da adogáo de filhos. Passemos agora a outro aspecto da questáo, a saber : 2.

As condicSes de adocao bem sucedida

Os autores enunciam algumas normas para garantir o bom éxito da adogáo, dentre as quais se destacam as seguintes: 1) Haja reta intencáo por parte dos pais adotívos; o que quer dizer : visem sinceramente o bem da crianga, abstendo-se de fazer do pequenino a solugáo interesseira ou o remedio para problemas do casal.

Os estudiosos apontam algumas intengóes que, embora ás:

vézes nada tenham de mau (muito ao contrario...), sao alheias á crianga, e por isto constituem fundamento inadequado para garantir o éxito da adogáo: — 186 —

A ADOCAO DE FILHOS

a)

em ion casal:

consolidar a uniao matrimonial mal equilibrada ou evitar rup

tura entre, os cónjuges; — reter o marido ou a esposa em casa; compensar (no marido ón na mulher) jugal; ■

urna

decepgáo

con

— tornar o casal «igual aos outros», que temí filhos.

b)

em pessoas idosas,

a

adocáo

pode

ser sugerida pela in-

tenc3o de

— nao se verem sos e abandonadas na velhice;

garantir urna especie de empregada doméstica nao assalaria-

da. que cuide da residencia e trate do amo ou da ama em caso de doenca;

— assegurar

gocios, etc.

c)

herdeiro

de

haveres

materiais,

empresas,

ne

em rama pessoa celibat&ria, poderia haver intencáo de

— obter «revanches ou compensagáo para a sua sorte e o seu

inconformismo;

—desafogar desdém ou agxessividade para com o outro sexo.

Um casal movido por reta intencáo constituí o ambiente ideal para a adoeao (se é casal estéril, aceite a sua esterilidade sem amar gura nem sentimento de írustragáo ou inlericridade). As estatisticas

prop5em, entre outras, a seguinte tabela de casos de adocáo mal

sucedida:

Adotantes

Malogros

Casáis bem constituidos Celibatários Viúvos Divorciados

1 % 4 % 6% 9 %

A escala se explica pelo fato de que intencdes menos retas ímuito provávelmente, de maneira inconsciente) mais e mais se váo iníiltrando nos adotantes recenseados (a estatistica ácima íoi publi cada por C. Launay, em «L'adoption». Les Éditions sociales francaises, 17 rué Viéte, Paris).

2) A idade da crianga no ato de adocáo nao seja muito adiantada: poderá variar entre um mes e dois ou tres anos.

A máe adotiva mais fácilmente se afeigoa ao filho se o recebeu

como bebé. Por seu lado, a crianga adotada após os tres, e principalmente após os cinco anos de idade, corre o perigo de sofrer desequilibrio psíquico, mormente se passou pelas máos de diversas pessoas.

Quanto á idade dos país que desejam adotar, parece que

a época ideal para a mulher sao os 25/30 anos de idade; para o varáo,... os 30/35 anos.

Requer-se, com efeito, certa juventude nos pais adotivos, pois estes, ao adotar, assumem tarefa de grande responsabili— 187 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 4171961, qu. 1

dade e fadiga perante Deus, a sociedade e a própria crianga. Ademáis, um casal.que já tenha dez ou mais anos de vida

conjugal, muito provávelmente já contraiu habitos.de «socie

dade a dois» tais que a criancinha ai difícilmente^ encontraría lugar.

Doutro lado, recomenda-se certo intervalo entre o contrac to matrimonial e o ato de adogáo, a fim de que o. lar chegue á devida estabilidade e os cóngujes possam adquirir a quase certeza de que nao háo de gerar; os ginecologistas julgam curáveis 20 ou 30% dos casos de esterilidade, recomendando por isto a espera de quatro ou cinco anos antes da adogáo.

3) Haja garantías jurídicas para a adogáo. Aqueles que geraram a crianga e a transferem para outro casal, devem fixar em termos precisos as suas relacóes para com o pequenino; o normal é que renunciem a qualquer reiviridicagáo,. a fim de nao entravar a tarefa educacional dos pais adotiyos nem ácarretar perturbagóes no espirito da crianga. Deixar que urna crianga pertenga simultáneamente a duas familias equivale a

criar para ela urna situagáo falsa, que cedo ou tarde poderá

afetar a sua vida psíquica. 3.

Os deveres dos pais adotivos

Os autores inculcam que as familias de adogáo devem ten der a considerar-se familias normáis, de modo que os melhores pais adotivos sao aqueles que esquecem a sua qualidade de adotantes, para dispensar aos filhos adotivos a educagáo que dispensariam aos próprios filhos. Isto concretamente quer. dizer:

1) proporcionem aos pequeninos urna existencia digna, consentánea com os predicados da natureza humana, o que está longe de implicar em Iuxo ou comodismo.

2)

Assegurem-lhes a devida educagáo, nao sómente física,

mas também religiosa e moral. • ; . 3) Aceitem a crianza tal como ela é, procurando corrigir os respectivos defeitos e.desenvolver tudo que nela haja de bom (virtudes, prendas intelectuais, artísticas, etc.). Abster-se-

-áo, portante, de impor ao jovem algum rumo de vida que suponha determinadas aptidóes inatas nos membros da familia adotante, nao, porém, na familia do adotado: assimr se fór. ne? ^

cessário, renunciaráo á alegría de fazer de seu filho o conti- ' nuador de urna tradicáo de músicos, de literatos, de militares ou espoitistas... Desaconselha-se outrossim aos pais criar um

ambiente de desconfianga óú de exagerado rigorismo é mesqúi— 188 —

A ADOCAO PE FimOS

nho controle, como se á crianca, em virtude da sua origem, estivesse fadada a' prorromper em vicios ou taras. 4) Nao critiquem os pais da crianga adotada, ainda que estes sejam desnaturados. Entre outros males, provocariam

represalia no ánimo do adolescente, pois éste naturalmente tende a nutrir espontánea simpatía para com aqueles que o geraram.

5)

Observem discricao e reserva ao falar das origens da

prole adotada, evitando relatar os respectivos casos, principal mente em seus pormenores. Tais minucias poderiam chegar aos ouvidos dos filhos, ocasionando atmosfera de mal-estar no lar.

6)

Incumbe aos pais o dever de revelar á crianga a sua

condigáó de adotíva. O jovem tem, sim, o direito de conhecer a sua situagáo na sociedade e no mundo. Alguns adotantes hesitam diante do cumplimento déste dever, pois receam que, em conseqüéncia, deixem de ser amados por seus filhos. Tal xeceio, porém, é vicioso : significa atraso afetivo; na ver-

dade, o adulto devidamente formado nao pensa tanto em «ser amado» como em «amar»; a crianca, sim, é que, em virtude da sua Índole mesma infantil e vacilante, procura ácima de ludo «ser amada» para atender á sua inseguranca.

Nao se protraia, portante, indevidamente o cumprimento de tal dever. De resto, a experiencia comprova que a crianca aceita bem a noticia da sua adoc&o, quando narrada com o tino conveniente. Longe de conceber menos amor para com os pais adotivos, inuitas vézes passa a lhes dedicar especial gratidáo por a terem abrigado, escolhendo-a entre tantas outras.

.



Revelacáo tardía, feita após a puberdade, poderia provocar re-

volta no jovem e, por vézes, atitude de fuga em relacáo aos pais ado tivos. Em conseqüéncia, os "psicólogos aconselham, seja feita a comunicacáo em linguagem adequada antes mesmo que a crianca comece a freqüentar a escola.

Eis como a tese propósito se exprime urna obra publicada pela O.N.U. com o titulo «írtude sur l'ádoption des mineurs». O.N.U., Département des questions sociales. New York 1953, pág. 82 : «Como tém verificado os Institutos de coloeacáo dos deslocados, muitos pais adotivos estáo convictos de que a crianca só lhes per-

tence realmente, caso ignore por completo a sua adocao. Esperan» poder ocultar-lhe éste fato indefinidamente ou, se prevéem que o jo vem acabará inevitávelmente por se inteirar déle, procurara diferir o mais ppssivel o momento da comunicacáo. Ora é para recear que a crianca venha a descobrir a verdade em circunstancias pouco opor

tunas ese deixe abalar profundamente em sua confianca na sinceridade dos pais. O adolescente pode chegar mesmo a distanciar-se dos pais por o haverem d&ixado na ignorancia.

NSo póucos pais adotivos ainda seguem' essa norma de conduta,

cujas conseqüéncias sao desastrosas. As vézes mesmo, váo residir em outra regiáo, movidos pela engañadora esperanca de mantér o

segrédo, como se o jovem nao estivesse inevitávelmente fadado a to-

— 189 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961, qu. 2 e 3 mar conhecimento

da

verdade

ao

examinar

seus

documentos em

maior idade.

Na maioria dos casos, os pais adotivos assim procedem por recearem que a enanca conceba menos amor para com éles; acontece,

porém, nao raro que inconscientemente éles experimentan! urna es pecie de vergonha e de sentimento de iníerioridade por nao haverem sido capazes de procriar um íilho seu».

De quanto acaba de ser dito, bem se depreende que a adogáo merece carinhosa atencáo da parte da consciéncia crista: é obra, em nossos dias, assaz imperiosa,... e obra de abnega-

Qáo, nao de compensagáo temporal. Na verdade, «há mais felicidade em dar do que em receber», dizia o Senhor Jesús (cf. At 20,35). H.

DOGMÁTICA

MAE DE AVIADOR (Rio de Janeiro):

2) «Gomo se conciliam a Providencia Divina e a exis tencia de tanta desgrasa no mundo? Meu bom filho morreu em trágico desastre. Nao terá Deus errado, ao permitir isso?»

CONTURBADO (Niterói):

3)

«Dizia-me um amigo: 'Nao perca seu tempo, pro

curando saber quais sao os pretensos designios da Providencia; procure, antes, dar execucao as suas providencias. Nao confie na moral do 'Deus é grande', pois sabemos quei Ele é infinita mente grande, mas que isto nao impede sejam infinitamente inílexíveis as leis que regem o universo'. Desejo, em conseqüéncia, saber como se relacionam a Pro

videncia e as leis fixas do universo».

As questóes ácima tratam da Providencia Divina e da sua acáo neste mundo focalizando dois aspectos do problema: «Deus e o soírimento do homenw; «Deus e os meios de prover á felicidade nuJá mais de urna vez em «P. R.» tivemos ocasiüo de abordar questoes semelhantes. Assim em

«P

:

R.» 5/1957, 32/1960, 36/1960, 3/1957, 31/1960,

qu. qu. qu. qu. qu.

1 3 2 5 4

— — — — —

o mal no mundo; as imperfeiedes do universo; Deus, autor do pecado? o inferno; bondade de Deus e inferno.

Evitando repetir sem necessidade o que já dissemos sdbre o assunto, trataremos abaixo dos tres seguintes pontos : 1) a realidade

— 190 —

PROVIDENCIA DIVINA E DESGRACA HUMANA

da Providencia Divina; 2) Providencia Divina e felicidade humana; 3) Providencia e «Providencialismo».

1.

A realidade da Providencia

A Providencia é o atributo divino que preside ao govérno de todas as coisas, fazendo que cada qual se encaminhe para o respectivo fim, ou seja, para Deus. A existencia da Providencia constituí urna verdade racio nal, professada por filósofos, fora mesmo do Cristianismo. Com efeito, a idéia de um Deus desinteressado pela felicidade do

género humano é ilógica; opor-se-ia á nocáo de Perfeigáo Di vina; em verdade,

ou Deus é o Autor do mundo e do homem. Neste caso, tendo criado em vista de determinado fim. Ele acompanha as suas criaturas até a consecucáo désse íim; ou simplesmente Deus nao é..., nao existe. Professar um Deus sem Providencia é professar um absurdo; equivale mesmo a negar a existencia de Deus.

Resta, porém, averiguar como a solicitude do Senhor para

com as criaturas se concilia com as desgragas existentes no uni verso. É o que vamos focalizar, procurando tragar algumas grandes linhas que concorram para elucidar os casos parti culares.

2.

Providencia Divina e felicidade humana

1. Antes do mais, faz-se mister recordar evocando sumariamente o que já foi dito em Longe de ser urna entidade ou algo de carencia de entidade devida,... da entidade sente em tal ou tal ser; assim diz-se que

em que consiste o mal, «P. R.» 5/1957, qu. 1. positivo, o mal é urna que deveria estar pre a falta de br.acos, num

homem, é um mal, pois os bragos pertencem á integridade da natu-

reza humana (o homem se desenvolve e afirma naturalmente median te os seus bracos); o mesmo, porém, nao se dirá da falta de nadadeiras no homem, pois a natureza humana por si nao foi feita para viver dentro da agua. Distingue-se

.

o mal ou a carencia na ordem física: o mal físico, do qual áci

ma demos um exemplo (a ausencia de bracos); o mal ou a carencia na ordem moral; o mal moral. Consiste na

falta de harmonia de determinado ato humano com o seu Fim Su premo oü com Deus. Todo ato oposto a Lei de Deus ou pecado é um

O Senhor nSo fez o mundo mau, mas deu originariamente a cada

criatura o grau de perfeigáo correspondente h sua esséncia. O mal entrou no mundo por obra do homem. Éste abusou da faculdade de

livre arbitrio : em vez de-a dirigir para; Deus, Bem Supremo, o prl-

mei.ro homem a dirigiu conscientemente para urna criatura. Rompendo assim a harmonia da natureza humana com Deus, o pnmeiro pal — 191 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» ,41/1961, qu. 2 e 3

fez que se rompesse a harmonía dos elementos inferiores materiais existentes dentro do homem e em tdrno déste; dai os desgastes de saúde, a dar e a morte que todo homem padece; daf também as ca lamidades do cosmos, como secas, endientes, incendios, etc.

De todo o mal, moral e físico, assim desencadeado, a Sabedoria Divina está isenta de culpa; cf. «P. R.» 36/1960, qu. 2. A raiz das desgrasas é a liberdade humana, íacüldade que Deus outorgou ao ho mem para o dignificar, mas que éste usou indevidamente. O Criador nao quis entravar nem canalizar o uso dessa liberdade, pois isto se ria contraditório e indigno do Todo-Poderoso. Éste devia ter, e de fato tinha, recursos suficientes (mesmo sobejos) para nao permitir que o mal vencesse o bem, sem que fósse necessário violentar, a li berdade humana. Justamente tais recursos constituem o objetivo em tdrno do qual se exerce a Providencia Divina... É, portanto, a esta que vamos agora voltar nossa atencáo de maneira especial.

2. Os teólogos costumam afirmar, como notamos atrás, que Deus jamáis haveria permitido á criatura humana desencadear o mal neste mundo, se Ele nao tivesse a Sabedoria e o Poder necessários para fazer dos males a ocasiáo de bens, e bens aínda maiores. Eis como S. Agostinho exprime essa verdade:

«O Deus Todo-Poderoso.... sendo sumamente bom, de modo1 ne-

nhum permitiría aparecesse algum mal em suas obras, se Ele nao

tivesse o poder e a bondades para fazer sair do próprio mal o bem» (Enchiridion XI).

3. Pergunta-se, porém: qual será o tipo de bem que o Criador pode querer produzir a partir dos males que as suas criaturas acarretam sobre o mundo ?

a) Em primeiro lugar, observa-se que nao seráo bens materiais (saúde, dinheiro, emprégo, isengáo de tribulagóes, etc.), porque tais valores sao muito relativos; satisfazem ape nas a urna parte do composto humano, ou seja, ao corpo; na

verdade, o ser humano só atinge a sua grandeza característica mediante o desenvolvimento da sua personalidade, a qual é marcada principalmente pelos valores da alma. Acontece mes mo nao raro que os bens temporais causem detrimento, pois embotam a consciéncia, fazendo-lhe esquecer que há bens maiores: os bens da vida eterna. Em lugar de favorecer a

formagáo da personalidade humana, que é esencialmente aberta para o Infinito, tendem a fechá-la na mesquinhez e no egoís

mo. É, antes, pela privacáo désses bens temporais que o ho mem se torna mais perfeito homem, emancipando-se de afeto desregrado a si e a criaturas que nao o podem verdadeiramente engrandecer.

— 192 —

PROVIDENCIA DIVINA E PESGRACA HUMANA

b) Por conseguíate,'.os beiis que a Providencia Divina há de visar (se nao exclusivamente, ao menos primariamente), sao os bens da alma e da vida eterna, pois é sómente mediante estes que a-criatura humana se torna perfeita como criatura

humana. A distribüicáo dos bens da alma veni.a ser assím o criterio primario, embora nao exclusivo, para se aquilatar se a Providencia Divina «erra oü nao erra», «é justa ou injusta». ' Nao há dúvida, enquanto a Sabedoria de Deus vai oferecendo ao homem os meiús de santificado ou de consecucáo da felicidade

eterna, Ela nao lhe nega, em doses oportunas, os bens temporais

(saúde, solucao de crise íinanceira, boa fama...); o cristáo, porém, deve ter consciéncia de que ésses valores temporais sao consolares passageiras (devidas ao íato de sermos corpo e alma, e nao única mente alma), consolac6es destinadas apenas a alentar o homem mor tal na demanda do que é Eterno.

Jesús Cristo propós a seus discípulos nao própriamente consolos

e compensacées temporais, mas simplesmente «abracar a cruz e segui-Lo abnegadamente»

(cf. Mt 16,24s); éste é certamente; um dos

traeos marcantes de qualquer programa de vida crista; a lidelidade a Deus nao garante necessáriamente felicidade terrestre. As gragas temporais nao háo de faltar ao cristáo, mas ser-lhe-áo dadas em funcao de bens maiores; em conseqüéncia, um curriculo de vida que, humanamente falando, seja pouco afagado pela sorte, pode, nao obs tante, estar perfeitamente englobado dentro da plano da Providencia Divina.

Ninguém negará ser lícito ao cristáo desejar bens tempo rais (a cura de urna doenga, a obtengáo de um emprégo, a so brevivencia de esposo ou filho...), na medida em que dáo ali vio e estímulo para ulterior caminhada na térra; considerando-se sob ésse aspecto, o discípulo de Cristo pode pedi-los ao

Fai do céu; mas nao deve fazer da obtencáo dos mesmos a pe1-

dra de toque para julgar a Providencia Divina; mal sabemos o que, na verdade, nos convém; tentamos acertar, conjeturando que a saúde ou o emprégo seriam valiosos para melhor conseguirmos a vida eterna (o único bem que em hipótese alguma podemos perder), mas fácilmente nos iludimos (nem mesmo urna vida longa sobre a térra pode ser tida como algo de cer tamente vantajoso para a salvagáo eterna; morte prematura nao é necessáriamente um mal; quem pode prever o uso que

dos seus futuros anos de vida faria um jovem falecido na flor da idade?)..Por isto asseverava S. Agostinho «haver certos bens que Deus nos denega justamente por nos ser propicio e que Ele só concedería se nos quisesse punir» (Deus quaedam negat propitius quae concedit iratus», In lo tr. 73).

Aínda em outros térnios: o cristao lembra-se-á de -que nao é o

¿entro do mundo de modo que tudo deya acontecer de acordó com

— 193 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 4171961, qu. 2 e 3

.

o que ele julga oportuno. O criterio que há de nortear os seus julzos e desejos, seja sempre o segulnte: «Será que, mediante a consecucáo de tal ou tal bem temporal, me tornare! homem mais perfeito, menos mesquinho ou apegado a mim, mais aberto para Deus e o próximo?». & certamente éste o criterio que a Providencia Divina aplica ao distribuir os seus bens, denegando por vézés o que nos parece vantajoso e permitindo o que nos causa repulsa momentánea.

4.

A situagáo do cristáo que nesta vida temporal julga

tudo á luz da eternidade, empregando «estranhos» criterios

para avaliar felicidade e desgrasa, pode muito bem ser ilustra da por duas imagens que um escritor moderno, Antonin Eymieu, assim propóe : «A vida neste mundo é apenas um coméco, nao é o todo. ¡É um

meio, e nao o fim. O plano da Providencia nSo consiste um colocar o céu sobre a térra, mas em dar aos homens s6bre a térra os meios de merecer o céu. Tal é o ponto de vista de Deus. Para compreender algo da Pro videncia, é preciso ver o mundo dentro desta perspectiva. Nao en

tenderemos coisa alguma se considerarmos essa grande questao ape nas em seus aspectos laterais, em seus pormenores, pormenores que jmpedem a visáo do conjunto, como urna árvore diante dos olhos de

alguém pode encobrir a floresta. Muito menos nos havemos de deter sobre o mau aspecto da questáo, ou seja, sobre o ponto de vista ter restre; a realidade aparecería entáo como um tapete visto ás avessas. Sé consideramos o mundo presente independentemente do mun do futuro, ele se torna incompreensivel».

Oportuno comentario poderia ser aqui inserido : quem con sidera a historia déste mundo do ponto de vista meramente hu mano ou terrestre, é fácilmente levado a julgá-la um absurdo, em que tudo parece frustrado e fracassado... Lembre-se, po-

rém, de que éste aspecto da realidade nao é senáo o avésso de um tapete cuja verdadeira face (a outra, a que vem depois e por cima) é belíssima, rica de colorido e harmonía; essa ou tra face da realidade é a que Deus, em seu sabio plano,

contempla

e

a

que

nos um

dia veremos,

quando contem-

plarmos as coisas diretamente sob a luz de Deus e da eter nidade. Se a realidade nos parece hedionda, isto se dá por que a contemplamos de um ponto de vista inadequado, ou, simplesmente, do lado avésso.

«A criancinha no seio materno, se tivesse o uso da i-azáo. Se já. íósse urna especie de sabio que conhecesse perfeitamente o seu mundozinho próprio, mas nada mais soubesse, se portante ignorasse que um dia haveria de nascer, essa infeliz criancinha nao compreenderia a sua situacao: perguntaria por que acaso lá teria sido colocada, qual a razáo de ser dos choques misteriosos que a afetariam, qual o sentido dos seus pulmOes destituidos de ar, qual o valor dos seus olhos des tituidos de luz, qual o significado dos seus membros encolhidos e des-

— 194 —

PROVIDENCIA DIVINA E DESGRANA HUMANA

tituidos de uso. Julgaria a sua existencia absurda, e com razáo. Tal existencia só se justifica á luz do termo para o qual ela tende. A vida fóra do seio materno, eis a única explicado dessa primeira eta pa. A vida do céu, eis a única explicado da existencia humana neste mundo. É para o céu que a Providencia Divina nos vai levando, na medida em que a nossa liberdade a isto nao se op5e. Ela nao nos lava para a riqueza, o gozo ou os prazeres fúteis da térra; estas

coisas, que a nos talvez apaixonem, nao a interessam ou só a interessam na proporcáo em que ela (a Providencia) as pode conside rar como meios para determinado fim. É para o céu que a Provi dencia tende, de tal sorte que os choques que nos sucedem com dor, para ela nao sao senao meios mais eficazes de nos levar ao termo e de assegurar nossa entrada no mundo eterno» (La Providence et la guerre. París 1917. 31s).

A imagem da criancinha no seio materno é realmente

feliz, para ilustrar a condicáo do cristáo nesta vida: o dis

cípulo de Cristo vai, sim, passando por um processo de ges-

tagáo de tal modo que só ao chegar á gloria celeste poderá

reconhecer o significado e o valor de cada um dos elementos

e episodios que ora lhe parecem obscuros (alias, a imagem já foi utilizada por Sao Paulo em Gal 4,16; 1 Cor 13,lls).

— A eternidade, e nao o tempo, eis o ponto de referencia do modo de pensar e desejar do cristáo. As idéias até aqui expostaa projetam luz sobre novo aspecto da questao, a saber :

3.

Providencia e «providencialismo»

1. Por «providencialismos entende-se a mentalidade de quem julga que Deus, por ser providente, há de derrogar mesmo ás leis da natureza de maneira milagrosa,... geralmente a íim de promover o bem-estar temporal e imediato dos fiéis! Vendo que na verdade o Senhor nao procede assim, os «antiprovidencialistas> negam simplesmente a Providencia Divina, asseveran-

do que os acontecimentos se desencadeiam cegamente segundo as ine-

xoráveis leis da natureza. Como se compreende, ambas as posicóes sao erróneas.

Com efeito. Já vimos que a Providencia Divina nao se

pode identificar com um sistema de meios que garantam a felicidade temporal do homem. Portante, nao se pode esperar,

sob a alegagáo de que «Deus é grande», que seremos neces-

sáriamente isentos de alguma afligáo; isto só se entendería- se a afligáo fósse um mal; ora tal nao se dá: a cruz é freqüen-

temente o melhor instrumento de quebra do egoísmo e de

adesáo mais plena do homem ao Supremo Bem, Deus. Disto se segué que nao podemos contar com milagres como se fóssem efeitos normáis da Providencia. Esta costu— 195 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 4V1961. qu. 2 e 3

ma, antes, exercer-se mediante o concurso das causas criadas, aproveitando a atividade natural, até mesmo as deficiencias e falhas, de cada urna, em vez de as remover ou de as impe dir portentosamente. Vé-se, pois, que, mesmo sob o regime da Providencia, o homem, longe de se poder isentar de cola borar ativamente, tem o dever de utilizar industriosamente os

recursos que Ihe estejam ao alcance a finí de obter a solugáo que parega mais adequada para os seus problemas; é justa

mente no setor dos recursos naturais que a Providencia Di

vina exerce primariamente a sua agáo.

Fica, pois, de pé o adagio assaz divulgado entre os fiéis: «É preciso orar como se tudo dependesse de Deus, e agir como se tudo dependesse de nos». Na verdade, a Providencia Divina

digna-se envolver, na execugáo dos seus sabios planos, tanto a nossa prece quanto a nossa atividade. Urna e outra sao, por livre designio divino, necessárias; mas nem urna nem ou

tra é por si eficaz, a sua eficacia; lhes provém únicamente do fato de que a Providencia as quer utilizar. Cf. «P. R. 17/1959, qu. 2. 2. A fim de melhor ilustrar as proposigSes ácima, transcrevemos aqui um ou outro dos exemplos da historia universal aduzidos pelo nosso consulente «conturbado» como motivo de perturbagáo ;

«Veja o Chile, nagao católica: é sacudido por terremotos. A Rússia, nao.

Veja Lisboa ! Em pleno dia de Todos os Santos de 1755 foi de vastada por um dos maiores cataclismas de que se tem noticia, ape-

sar da presenga real de Cristo sobre os altares... Veja a historia, veja S. Luís de Montfort: poderia ter salvo a Franca pela renovagao religiosa; morreu, porém, aos 40 anos, ao passo que o satírico Voltaire se foi aos 90 anos! Por que? Porque um cuidava da saúde, e o outro nao... Mas temos exemplos de casa :

Eduardo Prado, que tanto fez pelo Catolicismo no Brasil nuraa fase táo difícil no inicio da República, morre estúpidamente de febre amarela so por ter passado menos de 48 horas no Rio. Ao contrario, Saldanha Marinho, arquimagónico, inimigo figadal da Igreja, residiu anos a fio nesta cidade e nunca foi picado pelos mosquitos. Veja a falta que nos faz um padre como o Pe. Leonel Franca, e a nenhuma falta que nos faria o comunista N. N. hoje ainda vivo...

Mas por que? Porque o saudoso jesuíta teve sempre o coracád fra-

co e o camarada N. N. nao sofre de perturbag8es cardlo-vasculares...

A Providencia nao modifica as leis de acó do universo. Um louco ou urna crianca que se pendurar numa janela além do limite exi gido pela leí do equilibrio, caira no campo gravitacional, esborrachado Entretanto, um ladráo poderá pular de urna janela para outra, se nao violar a lei da gravidade, que rege todos os corpos... santifica dos ou nao pela prática dos sacramentos...».

Os fatos assim catalogados nao depdem contra a veracidade da doutrina que expusemos. nem se devem tornar motivo de perturbaCáo. Para que o leitor o reconhega, bastará lembrar que — 19S —

PROVIDENCIA DIVINA E DESGRACA HUMANA

al urna parda temporal, urna ca'amidade particular ou pública, nos aparecem como desastres que desconcertam. — Nao é assim, porém, que Deus os julga; em verdade. os flagelos na ordem temporal nao implicam em prejuízo na linha dos valores eternos (únicos valo res que em caso algum • poderiam ser negligendados pela Providen cia). Ao contrario do que comumente se pensa, a experiencia ensina que, em vista do egoísmo congénito do homem, a dor é a escola de engrandecimehío da criatura; a Providencia, por isto, nao a dispensa (dado que Ela queira proceder ordenadamente; ou sem milagres). b) Deus nao recompensa a virtud a com a longevidade, nem pune o pecado com a morte prematura ou trágica; a justa saneao se exerce primariamente no plano espiritual, que & o plano onde se situam

os verdadeirós valores. Note-se também que Deus nao precisa necessariamente de tal ou tal instrumento humano (sacerdote ou homem público de grande valor) para realizar seus designios; Ele pode per mitir a morte aparentemente precoce de benemérito personagem sem

que com isto o plano da Providencia sofra o mínimo detrimento; o Senhcr é assaz poderoso para suprir, como de fato supre, por outra

via; a responsabilidade do reino de Deus. em última análise, é d'Éle!

Quanto á existencia, as vézes prolongada, dos homens maus neste

mundo, S. Agostinho propde as seguintes observacóes :

sDeus se serve dos homens maus, nao atendendo á má intencáo dos mesmos, mas á reta intengáo do próprio Deus. Na verdade, assirr. como os maus fazem mau uso da natureza humana, ou seja,. da obra boa de Deus, assim o Deus bom faz uso bom até mesmo das obras más dos homens, iniquos, a finí de que de modo nenhum fiquem frustrados os designios do Todo-Poderoso. Se file, bom como é, nao tivesse o poder de íazer servir os maus á causa da justica e da bondade, de modo nenhum permitiría que nascessem ou vives-

sem. Tais homens, Deus nao os fez maus; file simplesmente lhes deu

a natureza humana.

Criou a natureza de cada ser, mas nao

criou os pecados, que sao algo de contrario á natureza. É verdade que em sua preciéncia file nao podia ignorar que tais individuos haviam de se tornar mausí contudo, assim como sabia quais os males que éles haviam de cometer, sabia também quais os bens que dés-

ses males Ele havia de tirar» (serm. 214,3).

As idéias do S. Doutor nao sao senáo a explicacao dos principios gerais até aquí

propostos.

c) As leis da natureza sao geralmente respeitadas e aproveitadas pela Providencia Divina. Isto, poxém, nao quer dizer que sejam inflexiveis; Deus as dobra ao seu poder, produzindo milagres segun

do seus sabios designios. Os portentos, porém, supóem urna finalidade grande e importante a ser atingida; o Senhor nao faz milagres a esmo, por mera ostentacao de poder. Cf.
Eis quanto se podia sumariamente dizsr á guisa de elucidagáo das questóes formuladas no cabegalho déste artigo.

— 197 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961, qu. 4

III.

SAGRADA ESCRITURA

MONTEIRO (Juiz de Fora):

4) «Que quer dizer Sao Paulo quando escreve: 'Com pleto em minha carne o que falta as tribulas&es de Cristo, em favor do seu corpo, que é a Igreja' (Col 1,24)? Se Jesús Cristo era Deus, a sua obra terá sido perfeita

e nao pode carecer de complemento!»

Os dizeres do Apostólo se explicam sem dificuldade, des de que se tenham em vista os seguintes tópicos: a)

Origem do texto

Sao Paulo estava deudo no cárcere em Roma, durante o bienio de 61 a 63. Sofría naturalmente com isto, pois, cheio de ardor pela salvacáo das almas, desejaria continuar a percorrer o mundo e pregar,

como havia feito até entáo. Prisioneiro, Sao Paulo mantinha, nao obstante, vivo intercambio com os íiéis das mais distantes regioes, procurando dar a todos a palavra de orientagáo oportuna. Foi o que o levou a escrever aos cristáos de Colossas (Asia menor) urna carta, na qual se encontra o trecho que nos interessa. Aproximemo-nos, pois, de tal passagem.

No inicio da missiva, Sao Paulo se .refere ao Evangelho e á sua vocacáo de ministro do Evangelho: aludindo a isso, verifica que tdda a sua vida, seus trabalhos, sua liberdade e seu cativeiro, estáo consagrados ao ministerio! apostólico; em conseqüéncia, nada lhe pode parecer inútil ou váo. nem mesmo a sua aparente inercia. Ao contrario prossegue Sao Paulo; os seus sofrimentos de prisloneiro (agravados pelos acharques de saúde e tantos outros males que o

podiam afligir), longe de o abter, vém a ser, para ele, fonte de vteemente alegría... — Alegría? Por que? — Porque tem o valor de colaboracáo na ohra de Redencao do mundo! Eis as palavras textuais do Apostólo: « .

Evangelho que ouvistes e que foi pregado a todas as cria

turas existentes debaixo do céu e do qual eu, Paulo, fui constituido Neste momento, encontró minha alegría nos sofrimentos que pa-

deco por vos e completo (antanapleróo) em minha carne o que fal ta as tribulacñes (toon thllpseon) de Cristo, em favor do seu corpo. que 6 a Igreja» (Col l,23s). Procuremos agora sondar

b)

As expressoes do Apostólo

Antanapleróo é vocábulo que, em toda a S. Escritura, so aqui ocorre. Possui extraordinaria fórga de expressáo, pois se compóe de anta = em lugar de; ana = para cima, até o alto; e pleróo = encher. Significa «acabar de encher até o — 198 —



«COMPLETO A PAIXAO DE CRISTO»

auge, em lugar de outrem...» ou «...

continuando a obra

de outrem».

...

toon thlípseon. A palavra thlípseis, tribulagóes, em

grego é mais forte do que pathémata, padecimentos. Designa tudo que Cristo suportou de penoso na sua vida cotidiana desde o nascimento no presepio até a morte de cruz. Os Evangelhos nos referem, sim, que, além de padecer as sangrentas

dores fináis de sua vida, Jesús quis sucessivamente experi mentar a fome (cf. Mt 4,2), a sede (cf. Jo 4,7; 19, 28), o cansado (cf. Jo 4,6), a pobreza de nao ter nem sequer onde pousar a cabega (cf. Mt 8,20).... enfim tudo aquilo que possa ocorrer de doloroso na vida de um homem aqui na térra,

qualquer que seja a sua categoría social. c)

Merecer e aplicar

Cristo ofereceu ao Pai celeste os sofrimentos que Ele

assim abragou. E essa oblagáo teve certamente valor infi

nito, porque era ato do Homem-Deus, sempre e irrestritamente agradável ao Pai.

Portante, nada faltou aos padecimentos de Cristo no plano do merecimento. O Senhor, por sua vida e morte na

térra, mereceu todas as gragas necessárias á salvagáo de to

dos os homens sem excegáo. Merecer, porém, ainda nao é aplicar; significa apenas adquirir; se essa aquisigáo visa beneficiar a outras pessoas, ela tem que ser estendida ou aplicada a essas outras pessoas.

É justamente isto que se dá com a Paixáo de Cristo; tendo merecido tudo em favor dos homens, ela devia e deve estender-se, isto é, tomar vulto concreto em cada criatura huma na no decorrer dos sáculos... Daí dizer-se que ela se com pleta ou é completada em cada cristáo. Em conseqüéncia, compreende-se que, se no plano do me

recimento nada falta á Paixáo de Cristo (seu valor é infinito), no plano da aplicagáo ou do desdobramento, algo lhe falta

naturalmente, algo que depende estritamente do fator «tempo», algo que sómente com a existencia sucessiva das geragóes cristas lhe pode advir. Em outros termos: a Paixáo de Cristo logrou ¡mediatamente a

a plenitude de seus frutos apenas na santíssima humanidade de Cristo; sómente esta ressuscitou como nova criatura (cf. 2 Cor 5,17), isenta de tddas as conseqü€ncias do pecado. Depois disto, é preci so

por designio de Deus, que os cristáos, um por um, percorram o

mesmo caminho trilhado pelo Senhor, isto é, padecam em umao com

Cristo urna parcela da Paixáo redentora, assimilando-a a si, a fim de conseguir os efeitos desta no dia da ressurreicSo dos corpos. En-

— 199 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961, qu. 4

quanto pois, houver cristSos neste mundo a trilhar tal caminho, ou se] a, até o fim dos séculos, poder-se-á dizer que a Paixáoi de Cristo

se vai estendendo ou desdoblando; ela vai tomando novos e novos suportes; vai adquirindo vulto ou configuracáo própria em novos sujeitos. Destarte S. Paulo afirma que, quando um cristáo sofre em

espirito cristáo, isto é, como membro vivo do Corpo Místico, já nao

é um simples filho de Adao que padece em castigo do pecado, mas é o Cristo que néle sofre para estender a ele a obra da Redencao. Na base dessas idéias, Pascal (t 1662) bem podia escrever:

«Jésus sera en agonie jusqu'á la fin du monde. — Jesús estará em agonía até o' fim do mundo».

Para tornar esta af irmacáo ainda mais clara, tenham-se em -vis ta os dizeres de S. Paulo aos Gálatas : sEstou crucificado com Cristo. E, se vivo, nao sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gal 2,19s). Esta frase se poderia também assim construir: «... E, se padeco, nao sou mais eu que padeco, é Cristo que padece em mim; é Cristo que prolonga sua paixáo em mim, dando-lhe novo, suporte, nova configuragáo concreta.»

E, da mesma forma que Sao Paulo, todo cristáo que viva na graga santificante, pode asseverar que é Cristo quem néle vive e padece, nao sómente ñas horas solenes e extraordinarias, mas tam bém nos momentos mais simples da vida cotidiana. S. Agostinho, cons ciente dessa realidade, falava da «Paixáo total de Cristo, que sofreu enquanto é nossa cabega, e que continua a sofrer em seus membros, isto é, em

nos»

(In

Ps

d)

LXI

Migne 36,

731).

Em prol da Igreja

Eis, porém, que o horizonte do Apostólo ainda se dilata : a Paixáo do Senhor, prolongada em cada cristáo, vai bene

ficiar nao sómente a éste, mas tambérr. a toda a comunidade, ou seja, aos demais membros da Igreja : «... em favor do Corpo de Cristo, que é a Igreja», diz o Apostólo. Cada um,

portanto, mesmo prostrado no cárcere ou no leito de dbenca, vem a ser portador da Redengáo em favor do próximo, des de que padeca como membro vivo do Corpo Místico de Cristo.

É o que o Sto. Padre Pió XII lembrava de maneira lapidar na sua encíclica sobre o- Carpo Místico de Cristo : «O que o nosso Divino Salvador comegou outrora pendente da cruz, Ele nao cessa de o perfazer continuamente na celeste bem-aventuranga... A nos é dado cooperar com Cristo nesta obra salvifica; da parte de um s6 (Senhor) e- por mediacSo de um só (Senhor) so mos salvos e salvamos» (ed. «Lumen Christi» pág. 53).

Como se vé, Cristo, desejando atingir todos os homens de qualquer época e lugar tem por bem servir-se de colaboradores, cujos trabalhos, fadigas e oragSes vém a ser instrumentos de seus méritos reden tores.

e)

Conclusáo

Em conclusáo, o texto de Col 1,24 oferece :

1)

urna teología (visáo teológica) do sofrimento. Sofrer, — 200 —

COMO TRATAR OS ESCRUPULOSOS ?

para o cristáo.náo é senáo continuar o sofrimento de Cristo, tendo em vista a finalidade redentora mesma da Paixáo do

Senhor. Em outros termos: sofrer, para o cristáo, é deixar que Cristo faga em seus membros o que Ele primeramente

fez na Cabega;

2) urna teología (visáo teológica) do trabalho. O so frimento que Sao Paulo tanto estimava, nao era, em grande parte, senáo a luta ou taréfa cotidiana. Nada, nenhuma

ocupacáo, parecía ao Apostólo destituida de rico alcance, pois, tudo que ele fazia, ele o fazia como membro consagrado a Cristo. Consciéncia análoga deve animar todo e qualquer cris táo ao abracar diariamente a sua lide aparentemente insigni

ficante : o trabalho do cristáo que esteja na graga santifican te, pode vir a ser extensáo da obra da Redengáo aos setores mais alheios ao santuario; 3) urna teología (visao teológica) da comunháo dos san

tos. O texto de Col 1,24 dá a ver que, independentemente da agáo direta sobre as almas por meio de palavra ou de exemplo, a vida fiel do cristáo é utilíssima ao próximo. Que esta proposigáo reconforte principalmente os que, impossibilitados de falar ou agir em público, se acham detidost num leito de dor, crucificados com Cristo! IV.

MORAL

TEEVI (Cruz Alta):

5) «Que sao própriamente os escrúpulos de consciéncia? E que tratamento se há de dar as pessoas escrupulosas?» A resposta as questOes ácima considerará primeramente a na-

tureza dos escrúpulos de consciéncia; a seguir, as suas causas, para

iinalmente apontar os principáis meios de os debelar.

1.

Que é a escrupulosidade?

1. Etimológicamente, o termo «escrúpulo» se deriva do latim «scrupuls», pedrinha pontiaguda que, entrando do cal

cado de alguém, muito perturba o andar. A forma neutra do

vocábulo, «scrupulum» designava entra os romanos urna umdade de peso equivalente a cérea de urna grama.

Aplicado ao setor da Moral crista, o termo «escrúpulo»

significa naturalmente um entrave ao progresso espiritual. Mais exatamente: significa urna disposigáo da alma que lhe faz crer sem motivo adequado, haja pecado onde de fato nao o há. A alma, acometida de escrúpulos, se vé obcecada pelo — 201 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41./1S61, qu. 5

temor de pecar; em conseqüéncia, nao ousa decidir-se á ac.áo no momento devido, e vive em continua angustia, consideran do os males que pretensamente cometeu no passádo e as crises que o futuro Ihe parece reservar.

Em outros termos: o escrúpulo de consciéncia é u'a modalidade do que a Psicología moderna chama «obsessáo», modalidade, porém, que só pode ser devidamente entendida e tra tada por quem admita a ordem sobrenatural e o pecado no sentido cristáo. Em vista de maior precisáo, duas distingóes se impóem: Consciéncia escrupulosa nao é consciéncia delicada. Esta sabe

delimitar devidamente os pecados e a sua gravidade; observa a diferenga exata entre falta e imperfeigao; por isto pode empregar os

meios oportunos para evitar até mesmo os mínimos desvíos, sem perder a paz. Ao contrario, a consciéncia escrupulosa está incapaíitada de avaliar adequadamente o que é pecado. Distinga-se outrossim a Idéia obsessiva que causa o escrú pulo, da idéia fbea. Idéia fixa vem a ser urna nocáo que paira sempre ante a mente do individuo, de tal modo, porém. que éste a aca ricia e cultiva, porque condiz com suas tendencias espontaneas (nao

raro megalomaniacas); assim a idéia iixa de ter importante missáo

a realizar em tal regiáo da térra..., a idéia fixa de ser Pitágoras ou Alexandre Magno .redivivo, etc. — Ao contrario, a idéia obsessi

va é aquela que sempre volta á mente do sujeito, mas que .éste reconhece como estranha á sua personalidade e intrusa ao seu pensa-

mento, da modo a lutar contra ela, sem contudo poder livrar-se da sua perspectiva; daí resultara naturalmente temor e angustia na alma. Urna das idéias obsessivas mais comuns e funestas é a de haver ofendido a Deus por acSes ou omiss6es, principalmente por

pensamentos e conseqüentemente, haver merecido o justo castigo do Senhor. Na alma escrupulosa o juizo da razáo assegura que ela

nSo pecou; contudo a pessoa nao tem a coragem de confiar nesse juizo; a emotividade ou o temor sensível nela prepondera.

2.

O estado de alma escrupulosa se pode reconhecer me

diante alguns síntomas característicos :

a) ¡nseguranca de alvitre. A pessoa escrupulosa julga nunca poder chegar á certeza em questóes de moral; por isto

difícilmente toma algum alvitre, e mais difícilmente mantém alvitre tomado;

b) impermeabilidade ao juizo alheio. A atmosfera de in certeza em que a alma escrupulosa versa, torna-a mais ou

menos impermeável aos pareceres de outras pessoas, mesmo

que ela lhes reconheca grande autoridade.

Assim o escrupuloso, depois de ouvir a sentenca tranquilizadora de algum sacerdote ou conselheiro, procura esquivar-se & mesma,

alegando nao» haver relatado suficientemente o seu caso, ou nao ha

ver sido devidamente entendido pelo conselheiro, ou nao haver com— 202 —

COMO TRATAR OS ESCRUPULOSOS ?

preendido com lucidez o teor do conselho... Em conseqüéncia, a pes-

soa escrupulosa ou tenta relatar de novo a «historia» ao sen inter locutor ou vai consultar a outros, com esperanca de encontrar fi nalmente «a sentensa acertada»... Passando, porém, de sacerdote a sacerdote ou de conselheiro a conselheiro, o escrupuloso arrisca-se

a cair em estado de perplexidade aínda maior.pois é de crer que

ouca pareceres diversos pelo íáto mesmo de que nem todos o conhecem de modo a julgar

c)

adecuadamente

o

seu

caso;

inquietude quanto a integridade da confissao sacra

mental. O escrupuloso receia nao ter manifestado todos os pormenores característicos do seu pecado; por isto déseja re novar acusagóes sacramentáis já válidamente efetuadas. Também costuma indicar cifras exageradas e inverossímeis, ao enunciar quantas vézes pecou. Interroga, sem acabar, o seu confessor a respeito do que éste lhe tenha mandado ou su

gerido fazer... Tendo-se confessado no sábado á tarde, deseja voltar á confissao no domingo de manhá para comungar;

d) recurso a sinais nervosos. Intencionando resistir de maneira bem concreta ao que éles julgam ser tentagáo, muitos escrupulosos realizam gestos descontrolados, fazem care tas e tomam atitudes de corpo assaz estranhas. Tendem a re

petir as mesmas oragóes, julgando-as inválidas por falta de atengáo; entregam-se assim a urna tensáo física mais ou me nos doentia. Um dos sinais mais característicos a que nao raro recorrem as

pessoas escrupulosas, é a «locáo das suas máos», ou, mais larga mente, o culto constante do asseio do corpo, atitude mediante a qual professam o seu desejo de pureza de alma.

Conta-se o caso de u'a mulher que tinha a preocupacáo exa gerada da limpeza. Seu marido queixava-se de que ela lhe tornava

a vida quase insuportável por exigir o mais rigoroso asseio para ela, suas vestes, seus filhos e o domicilio inteiro; trajava-se da ma neira mais imaculada possível, desprezando todas as mulheres que nao compartilhassem seus austeros principios, que ela chamava sim-

plesmente seus «bons modos». Ora em vista dessa obcecado foi submetida a exame psíquico,

dando eñtao a saber que, durante cinco anos de vida conjugal, tivera relacdes extra-matrimoniais. Havia cedido a ésse vicio, depois

de receber em sua adolescencia urna educagáo multo severa; tinham-Ihe dito íreqüentemente que os abusos sexuais nao convinham a donzelas de sua categoría, pois eram o apanágio das pessoas «sujas». Destarte acostumara-se a associar em sua mente as idéias de desordem-carnal e imundicie física. Em conseqüéncia, tal pessoa, vindo em época posterior a se entregar ao pecado da carne, passara

a sentir os protestos de sua consciéncia, protestos que sa traduziam

pelo desejo espontáneo e cada vez mais imperioso de limpeza físi

ca. Tal desejo exigente nela permanecía mesmo depois de haver

abandonado o vicio, em sinal de arrependimento e remorso de alma (cf. Vanderveldt-Odenwald, Psychiatrie et Catholicisme. París 1954, 474).

;

— 203 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961, qu. 5

3. Os autores de espiritualidade costumam afirmar ser assaz elevado o número de pessoas vítimas dos escrúpulos de consciéncia. Embora as estatisticas nem sempre fornegam urna imagem.fiel da realidade, pode-se citar o seguinte resultado de inquérito: 400

estudantes de um Instituto dos EE. UU. da América, todas norfe-

-americanas, mas de classes sociais diversas, faram oportunamente

questionadas sobre o assunto; em resultado, apurou-se que 25 % se sentiam habitualmente aíetadas de escrúpulos, ao passo que cérea de 50 % eram vitimas de crises passagelras (cf. J. Mullen, Psycho-

logical Factors in the Pastoral Treatment oí Scrupules. Washington 1927. 29s). Esbocada

a natureza da

escrupulosidade de consciéncia, laz-se

agora mister indagar sumariamente quais seriam as raízes de tal estado de alma.

l¿.

As causas de escrúpulos de consciéncia

Podem ser agrupadas sob alguns títulos, abaixo recenseados :

a)

Causas de ordem fisiológica ou somática: entendem-

-se nesta categoría, primeiramente, os estados de saúda física

debilitada, em conseqüéncia de excesso de trabalho, nutrigáo insuficiente, perturbagóes digestivas, molestia prolongada, jejum, vigilias e outras austeridades físicas nao regradas pela

virtude da prudencia. Em tais circunstancias, a pessoa se sen-

te como que de antemáo derrotada diante dos embates da

vida; carece da energía necessária para considerar serenamen

te as situagóes e tomar resolugóes adequadas. A mesma debilidade pode ser acarretada por falta de recreios honestos, que permitam ao individuo mudar de idéias, desfazendo-se de

preocupagóes que podem tomar proporgóes obsessivas. b)

Causas d« ordem psíquica. Tenham-se em vista prin

cipalmente

— os temperamentos melancólicos, dados á suspeita e á tristeza; — os temperamentos meticulosos, sempre prontos a descobrlr

razóos de duvidar, sempre desejosos de possuir certeza absoluta, mesmo ao se tratar de causas contingentes; o infantilismo e a fmaturidade de juizo. Em nao poucos ca

sos, a consciéncia do adulto escrupuloso íicou no nivel que tinha quando era crianza; conseqüentemente, incapacitado de formar seus juizos, o escrupuloso vé-se impelido! a procurar a tutela ou a aütoridade de outros para regrar a sua vida.

c)

Causas de ordem moral. Enumeram-se aqui

— a fuga de urna situacáo desagradável... É o que se dá quán-

do alguém, nSo tendo coragem para emendar algum eostume de vida — 204 —

COMO TRATAR OS ESCRUPULOSOS ? irregular, procura esquecer tal problema concentrando toda a sua atencao sobre outros pontos de sua conduta que absolutamente nao merecem tanto cuidado; tém-se entao os «escrúpulos de compensá baos, de que já se tratou em «P. R.> 40/1961, qu. 6;

— o egocentrismo» a vaídade, o desejo quicá inconsciente de cha mar a atencao para si. Há, com efeito, pessoas que nao manifestam a mais pálida aspiragao a se ver livres dos seus escrúpulos; ao con trario, parecem apegadas a sua situacao, como que contentes por merecerem a atencao de diretores espirituais e médicos. Tais pes soas sao, de um lado, as que mais procuram conselheiros e guias e, de outro lado, as que menos prontas estáo a submeter-se ao ar bitrio alheio. Alguns autores chegam a crer que a mor parte dos casos de escrúpulos se deve a um lastro de orgulho e espirito de reivindicacáo latentes na pessoa aletada. Esta opiniáo, porém, pare ce exagerar, visto que elevado número de escrupulosos se ressente realmente da insuficiencia de discernimento, sem que se possa asseverar haja nisto alguma ponta de vaidade ou orgulho; — faltas graves cometidas na vida passada. Pode acontecer que

alguém, após longo período de vida desregrada, se emende definiti

vamente, mas nao consiga desvencilhar-se de obsessiva recordacáo das suas culpas anteriores; revolve-as constantemente em seu espi rito, deixando de dar a devida atencao ás ocupacñes da hora presente.

d)

Causas extrínsecas. Entre estas, devetn ser citadas

— as falhas de educacao. Afagos e mimos demasiados fácilmen

te provocam na adolescencia urna atitudo de inseguranca, que pode

vir a ser a raiz de escrupulosidade. O mesmo se diga de urna dis

ciplina excessivamente rigorosa, inspirada por normas moráis estreitas e pessimistas; tal regime só faz onerar e amedrontar, além do necessário, a consciéncia dos jovens; — a convivencia com pessoas escrupulosas e a leitura de obras

que desfigurem a idéia de Deus Pai Misericordioso, sobrepondo-Lhe a de um terrível Juiz, sao outros tantos fomentos de escrúpulos.

e) Por fim, nao se poderia deixar de aludir a agao do demonio em oertos casos de escrúpulos (nao se creia, porém, que sao muito numerosos). O Maligno tem todo o interésse em paralisar o progresso espi ritual dos fiéis, provocando néles a confusao característica da es crupulosidade. O Senhor permite a acáo do demonio, visando com isto o bem das almas; com efeito, urna crise de escrúpulos pode ser ocasiáo providencial para que o cristao pratique as virtudes da humildade e da obediencia,... para que aguce em si o horror ao

pecado e forme a sua consciéncia dentro dos moldes da delicadeza, que é penhor de santiíicacao crescente. Alias, provocada ou nao pelo demonio, toda crise de escrúpulos é sempre acompanhada pela graca de Deus que fornece á alma o auxilio necessário para que tire da sua provagao todo o proveito espiritual (purificacao, acrisolamento das virtudes); deve-se mesmo dizer que é sempre em vista désse enriquecimento espiritual que Deus permite sejam as almas acometi das de escrúpulos.

3.

Os estudiosos costumam indicar algumas notas que — 205 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961- qu. 5

desde cedo caracterizan! as pessoas predispostas á escrupulosidade. Ei-Ias em resumo : já em idade infantil, manifestam ten dencia a manias e «tiques» ñervosos; tém pavor de estar sos e mostram-se muito sensíveis a repreensóes. Com o decorrer

do tempo, revelam dificuldade para tomar alvitre na vida; vi sando entáo obter luz e certeza para suas opcóes, dáo-se mais

e mais a introspecgáo ou á reflexáo sobre si mesmas — o que nao pode deixar de deformar progressivamente a sua menta-

lidade, sujeitando-a paulatinamente a verdadeira obsessáo.

Adotando-£3 oportunas medidas na educacáo, pode-se im pedir que a tendencia aos escrúpulos prevalega ñas almas in clinadas a éles; evitam-se ascim crises penosas. Essa preservagáo requer cuidado zeloso por parte dos educadores. Como meios eficazes de profilaxia, recomendam-se regime de vida higiénica, era que oportunamente se ministra ura tónico do sistema nervoso, assim como os demais tratamentos médi cos de que possa necessitar o paciente; formacáo moral muito sólida, baseada em visáo larga e profun da da vida espiritual mais do que em ameacas aterradoras;

combate ao isolacionismo e & demasiada instropecgao do adoles

cente.

A psicoterapia poderá ser útil se fór orientada por um medico respeitoso dos valores sobrenaturais.

Dado, porém, que, alguém se torne vitima de escrupulosidade, quais as medidas a tomar? É o que o parágrafo abaixo considerará. 3.

Remediar!... E como?

1. Tenha-se consciéncia de que a escrupulosidade, apesar da sua semelhanea com delicadeza de alma, é um mal a ser enérgicamente combatido. A energía será tanto mais necessária no caso quanto mais puros ou santos fórem os aspec tos sob os quais se poderá encobrir o veneno da escrupulo sidade. A fim de avivar a consciéncia dos perigos em que incorre urna

pessoa escrupulosa, váo aquí apontados alguns dos nocivos efeitos de que pode vir a ser vitima.

No plano íisico, os escrupulosos debilitam mais e mais o sis tema nervoso e a saúde lisica, chegando a ocasionar neurastenia crónica e outras molestias.

No plano psíquico e religioso, os escrúpulos podem tornar a pes

soa vitima de manias em grau mais ou menos próximo do-ridiculo. Fecham o coracjio no egocentrismo, com prejuizo para a caridade íraterna. Julgando estar em pecado grave e, por conseguinte, con-

— 206 —

COMO TRATAR OS ESCRUPULOSOS ?

denado por Deus, o escrupuloso fácilmente perde a coragem na vida assim como a confianca no Senhor, que ele mais e mais tende a considerar como juiz excessivamente severo. A oracáo se lhe torna cada vez mais difícil, absorvido que está por suas preocupacoes sub jetivas; nao reconhecendo mais em Daus a face do Pai misericordio so, insensivelmente perde o gósto da oracáo assim como o da recepcáo dos sacramentos da Penitencia e da Eucaristía. Também acontece que o escrupuloso, dando atengáo exagerada

a coisas que nao a merecem, perca tempo em «resolver» pseüdo-problemaso deixe de cumprir importantes deveres de estado e negligencie o verdadeiro servico de Deus. Compreende-se outrossim que, vítima de desatinos, a pessoa escrupulosa se ponha a viver urna vida de contrastes : hoje submete-se a rigorosas práticas de mortificagáo, prestes a ir procurar amanhá um desafógo na licenciosidade e no g6zo dos ilícitos prazeres. A nocao do bem assim se obscurece na sua mente, a vida crista se lhe torna impossível.

2. Será preciso, pois, reagir sem demora contra as primeiras manifestagdes da escrupulosidade; em vista disto, os mestres enumeram urna serie de diretivas oportunas. Distinguiremos abaixo entre diretivas cuja aplicacáo de pende do paciente e do seu diretor conjuntamente, e diretivas que dizem respeito ao diretor espiritual apenas.

A.

Normas cuja aplicacáo depende tanto do paciente

como do diretor de consciéncia.

1)

O paciente deve chegar a reconhecer que é escrupu

loso e que o escrúpulo é um grande mal; enquanto nao esteja convicto dessas verdades, qualquer tratamento torna-se váo. 2) A oracáo é arma capital no combate a qualquer mal. Acontece, porém, freqüentemente que o escrupuloso deva reaprender a rezar, restaurando em si urna atitude de piedade filial para com o Pai das Misericordias e de confianea no Re dentor; terá que vencer, portante, o afastamento em relagáo a Deus que a obsessáo angustiosa do juízo final lhe possa ter ocasionado. Nessa tarefa, poderáo e deveráo ser úteis ao pa ciente o seu diretor espiritual e os seus amigos, dando-lhe es«larecimentos e conselhos. Na oracáo,

o escrupuloso

pedirá amor a Deus e paciencia na

provacao, fdrgá na luta e libertagáo da obsessáo. 3)

Após a prece, o remedio por excelencia vem a ser a

obediencia total a um diretor espiritual prudente e esclareci do. Sem obediencia, e obediencia absoluta, pode-se crer que o paciente jamáis conseguirá libertar-se do seu mal.

te

Por isto, urna vez escolhido o respectivo guia de consciéncia, o escrupuloso, por pretexto nenhum, deve trocá-lo; caso tenha que se

— 207 —•

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961, qu. 5

aíastar déle por motivo de viagem. confesse-se com outro sacerdote, mas permanega fiel ás instrucSes do antigo diretor espiritual. Dad» que o escrupuloso recuse obediencia integral, o diretor está habili tado a Ihe dizer que nao o pode dirigir.

4) O escrupuloso deve aos poucos habituar-se a desprezar os escrúpulos. Saiba que urna das melhores táticas para

vencer as suas angustias é a de nao Ihes dar importancia; por conseguinte, em vez de se agitar diante de alguma tentagáo, como se tivesse de enfrentar um adversario real e perigoso, conserve sua superioridade serena e indiferente. Principalmen te nao se entregue a gestos, contorsóes e atitudes estranhas, visando simbolizar a sua resistencia á tentagáo. Tais gestos nao estáo á altura de gerar a almejada certeza e paz na alma, pois com o tempo esta já nao se contenta com um, dois, tres gestos, mas tende a multiplicá-los indefinidamente, podendoassim chegar ás raias da demencia. Concretizando as idéias ácima, diremos: urna pessoa escrupulosa,

tentada por pensamentos contra a íé nao reaja diretamente pronun ciando mentalmente um ato de íé, pois com isto só contribuiría para, aumentar as tentacOes e os escrúpulos... O que ela deve fazer, é

simplesmente desprezar o pensamento, lembrando-se de que éste só se torna pecado, caso haja consentimento, e consentimento certamento dado. Em geral, tais tentacoes nao sao em si coisa grave, mas reduzem-se a atos de imaginacáo sem grande importancia.

O desprézo dos escrúpulos assim recomendado implica um conjunto de pequeñas normas práticas, que váo abaixo enun ciadas :

a) Ao agir, para formar a sua consciéncia, a pessoa es crupulosa valer-se-á do ceguinte principio: «Enquanto eu náO' vir, como dois e dois sao quatro, que tal agáo é pecaminosa, poderei praticá-la ou... que tal omissáo é pecaminosa, poderei abster-me». Em outros termos : o escrupuloso seguirá o axioma : «Lex dubia,

lex nulla», isto é, «A lei duvidosa nao obriga». Esta norma, que sepoderia, sem mais, recomendar as pessoas de consciéncia laxa, há deser inculcada aos escrupulosos.

Se, depois' de agir conforme tal regra, o escrupuloso comegar a suspeitar de haver cometido'pecado grave, nao julgue ter realmente pecado, a nao ser que isto se Ihe incuta

táo evidentemente como a proposigio «dois e dois sao quatro».

b) Eis outra norma valiosa para formar a consciéncia da pessoa escrupulosa que esteja obrigada a tomar alguma

atitude. Pergunte a si mesma: «Que diria eu a quem se visse na situagáo embaragosa em que me acho?». A resposta á per— 208 —

COMO TRATAR OS ESCRUPULOSOS ?

gunta proposta de maneira táo objetiva talvez aflore sem gran de dificuldade á mente do escrupuloso. Dado que resolva o

caso assim formulado, nao hesite em seguir práticamente tal

solucáo. c) O paciente nao deverá esperar entrar finalmente em

paz mediante capitulacáo, isto é, cedendo, «ao menos desta. vez,... pela última vez», aos escrúpulos. Será ilusoria a paz assim conseguida, pois sem demora a pessoa verá outro mo

tivo de angustia, que lhe parecerá tanto mais grave quanto-

mais fraca ela se tiver mostrado anteriormente. d) Abstenha-se o escrupuloso de repetir atos que lhe paregam inválidos, mesmo quando se tratar de atos grave mente preceituados. Repetindo-os, o paciente, longe de solu cionar sua angustia, entrará num verdadeiro labirinto, pois constantemente verá falhas nos atos repetidos, falhas tanto

mais graves quanto mais ele se fór cansando pela multipli-

cacio.

Em particular, no tocante ái confissáo de seus pecados, o escrupuloso tende a multiplicar as mesmas acusagóes, julgando nao se ter feito.compreender devidamente ñas confissóes anteriores. Resista, porém, enérgicamente a tal propsnsáo,

pelos motivos indicados. O confessor, do seu lado, ajudará o paciente a relutar, replicando-lhe o seguinte : «Concordo em ouvir a acusacáo de pecados de. tua vida passada desde que, em presenca de Deus, me possas afirmar estes tres pontos:

tens certeza de haver cometido tais pecados; cometendo-os, tinhas certeza de estar praticando

pecados

mortais;

nunca acusaste tais pecados em confissáo sacramental».

Caso o penitente titubeie a respeito de algum désses itens, o confessor deverá tranquilamente proibir-lhe a acusagáo. Note-se bem : o penitente nao deve julgar ter sido pecado grave urna agao que nao lhe tenha parecido tal desde que ele a cometeu ou urna acáo que só tardíamente ele imagina haver sido grave. Na verdade, o pecado grave só é tal quando cometido com pleno conhecimento de causa, conhecimento que nao pode deixar de suscitar imediatamente perturbacao na alma do pecador.

5)

O escrupuloso procurará debelar tudo que possa ser

fonte ou fomento de melancolía em sua vida (leituras dema siado severas, convivencia com pessoas escrupulosas...)

Esforce-se por ter um horario em que trabalho e recreio-

estejam devidamente equilibrados.

— 209 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961, qu. 5 Com outras palavras: trabalhe de maneira metódica, de modo a evitar atrópelos e imprevistos, que agitam os ñervos e podem le var á exaustáo; na medida do cabivel, proporcione ao organismo a restauragáo de suas fórgas. — Doutro lado, todo tipo de ociosidade há de ser evitado, pois vem a ser íonte de tedio, tedio que pro

porciona o surto de angustias; o trabalhó regrado entretém a ale gría de viver.

6) Em muitos casos, será oportuno que o paciente con sulte ura médico ou um psiquiatra, de consciéncia bem forma da, e siga fielmente a orientacáo que tal especialista lhe der. B.

Normas que dizem respeito ao diretor apenas.

O diretor de consciéncia a quem uma pessoa escrupulosa se chegue, pedindo orientagáo, procurará levar em conta algumas regras de sabedoria, que os mestres costumam assim delinear :

1) Esforce-se, antes do mais, por ganhar a confianca do consulente; e isto, mediante duas atitudes:

— mostré dedicacáo, sendo paciente para ouvir historias e explicagóes, e respondendo com brandura, sem, porém, per mitir desobediencia; dé provas de seguranza e competencia.

Depois de deixar o paciente falar, o diretor nao deve repetir o relato, pois a pessoa escrupulosa poderia encontrar meios de dizer que nao íoi exatamente assim,...

e recomecaria toda a sua expo-

iá áo...

.

As questfies formuladas pelo.diretor seráo simples e claras, nao se detendo em pormenores que nao merecam grande atencáo. A fisionomía do pai espiritual se conservará firme e calma. Isto

nao poderá deixar de redundar em alivio e paz para o paciente.

2)

Tendo ganho a confianga da pessoa escrupulosa, o

diretor tratará de obter a sua obediencia.

Em vista disto, incutirá ao paciente o principio de que so a obe

diencia

o poderá curar; acentuará bem que o escrupuloso sempre

poderá obedecer com a consciéncia tranquila, mesmo que o diretor esteja errado, pois Deus pede do escrupuloso uma só atitude: a obe diencia.

As

ordens

deveráo

ser breves,

claras

e categóricas,

evitando

qualquer frase condicionada («se isso te perturba...») ou qualquer tipo de hesitagáo («parece..., melhor seria..., provávelmente...»). O diretor espiritual nao precisará de apresentar os motivos de suas

normas, pois o paciente poderia querer discuti-los, o que seria vao ou mesmo nocivo. O diretor ponderará previamente as normas a dar, de modo a nao ter que se desdizer; a desdita redundarla em detri mento da autoridade. Por fim, o pai espiritual procurará certificar-

-se de que suas diretivas foram dévidamente- observadas; em mais — 210 —

QUE SAO OS «INSTITUTOS SECULARES» ?

de um caso, terá que repetir varias vézes a mesma prescricáo; deverá mesmo entregá-la por escrito para que finalmente venha a ser cumprida (diz-se que, no momento de obedecer, o escrupuloso tende a recuar como o condenado diante do suplicio).

3)

Em particular, no tocante a confissáo sacramental,

lembre-se o sacerdote de que existem os chamados «privilegios dos escrupulosos». Do seu lado, o penitente deverá ter consci éncia de que o uso désses privilegios nao lhe é apenas faculta tivo, mas chega a ser obrigatório, desde que o confessor o imponha. Tais privilegios dizem respeito á integridade material da confissáo. Assim, a juízo do confessor, o penitente deverá reduzir seu exame de consciéncia a poucos minutos ou mesmo emiti-lo; o sacerdote encarregar-se-á entáo de interrogar no

confessionário. Em outros casos, o escrupuloso limitar-se-á a acusar dois ou tres pecados certamente cometidos e de maior importancia, abstendo-se em geral de relatar pormenores; de resto, tratará de excitar contrigáo e propósito, principalmen

te a respeito das faltas mais notáveis da vida passada.

A satisfagáo imposta pelo confessor deverá ser leve e

fácil.

Quanto á periodicidade da penitencia sacramental, o sa cerdote tomará como norma nao permitir mais de urna con fissáo por semana; caso o penitente-volte após intervalo mais

breve sem ter cometido evidente pecado mortal, o confessor apenas lhe dará a béncáo, recomendando-lhe que faca um ato de contrigáo e continué tranquilamente a comungar.

4) Por fim, o sacerdote estimará a colaboracao do mé dico, sempre que fór oportuna. Em geral, a agáo conjunta do padre e do clínico dá ótimos resultados; a fim de que estes frutos sejam realmente obtidos, requer-se consonancia ñas respostas e ñas diretivas de um e de outro.

Assim ficam delineados os principáis remedios (sobrenaturais e naturais) a ser utilizados para a cura dos escrúpulos

de consciéncia. Devidamente aplicados, tais recursos podem restituir paz e alegría as almas.

V.

HISTORIA DO CRISTIANISMO

PAULO "(Passa Vinte):

6)

«Que vém a ser os Institutos Seculares, de origem

recente na historia?»

O Santo Padre o Papa Pió XII definiu os Institutos Se culares como sendo «associagóes de clérigos ou leigos cujos — 211 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS> 41/1961, qu. 6

membros fazem profissáo de praticar no mundo os conselhqs evangélicos, a fím de atingir a perfeigáo crista e exercer ple namente o apostolado» (Constituigáo «Provida Mater» art 1). Como se vé. os Institutos Seculares sao urna forma de procura da períeicáo crista e de irradiacao da mesma no mundo; urna das suas características mais notáveis é o fato de que, á diferenca do que se dá ñas Ordens e Congregacoes Religiosas (que também se destinam k santificado e ao apostolado), os membros dos Institutos

Seculares vivem no mundo e ñas familias, em parte identificados coni as pessoas do século quanto ao traje e quanto ao regime geral de vida.

A existencia oficial e a legislagáo de tais Institutos datam

dos últimos anos da historia (cf. Constituigáo de Pió XII «Provida Mater» de 2 de fevereiro de 1947; Motu proprio do mesmo Pontífice «Primo feliciter» de 12 de margo de 1948; Instrugáo da S. C. dos Religiosos «Cum Sanctissimus» de 19 de margo de 1948). Destarte os Institutos seculares vém a ser a última modalidade do testemunho de Cristo que a Igreja dá ao mundo, fazéndo desabrochar da riqueza de sua vida um tipo de santificagáo e evangelizagáo bem adaptado as necessidades da hora presente. É o que vamos ver de mais perto no inciso abaixo. Em 313 o edito de Miláo, reconhecendo plena liberdade ao Cris tianismo, tornou-se ocasiáo para que a Igreja fósse procurada e pe netrada por muitos cidadáos cuja conversáo era superficial ou interesseira e cujo teor de vida era mediocre; em conseqüéncia, muitos e muitos cristáos, desejosos- de viver mais autentica e profundamen

te o espirito do Evangelho, se retiraram da sociedade. passando a viver no deserto, ¡solados ou em comunidades apartadas. Foi ésse movimento que aos poucos deu origem á vida religiosa constituida sob urna Regra, em mosteiros e conventos, dos quais hoje existem numerosas modalidades, muito conhecidas nos países cristáos. Ora dezesseis sáculos após aquéle fenómeno, terminada-a segun

da guerra mundial, pode-se dizer que acontecimento Inverso se vem

registrando: a Igreja, em vez de ser invadida pelas multid3es, as vézes convertidas superficialmente em vista de favores do Estado,

encontra-se, ao contrario, distanciada das massas por um processo continuo de descristianizacao, que os governos, nao raro, fomentam; muitos dos cidadáos contemporáneos já nao freqüentam os templos

e o culto. É justamente essa apostasia que causa o desatino e a mi seria do mundo atual. Consciente, pois. de que é portadora de sal-

vacáo para a sociedade laicizada e angustiada de nossos dias, a Igre ja houve por bem nos últimos tempos desenvolver urna nova forma de testemunho que, em vez de se exercer pelo heroísmo do retiro e do silencio, procura agir como o fermento na massa, levedando ou

sobrenaturalizando século.

as formas mais comuns e obvias da vida no

Essa nova forma de testemunho sao os Institutos Seculares, cujos

membros nao abandonam o mundo, mas ai procuram heroicamente

— 212 —

QUE SAO OS «INSTITUTOS SECULARES» ?

,viver a perfecto crista, a fim de poder mais eficazmente levar o Evangelho a seus irmíios.

Importa-nos aprofundar esta nogáo sumaria de «Institu tos Seculares», considerando algo dos seus precedentes histó ricos e da sua atual organizagáo. 1. 1.

Precedentes históricos

Desde os primordios da Igreja, existiram varóes e

muflieres que procuraram atingir a perfeigáo crista seguindo nao sómente os mandamentos da Lei de Deus, mas também os chamados «conselhos evangélicos» (cf. Mt 19,21: «Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá-o aos pobres, e terás

um tesouro no céu; a seguir, vem e segue-Me»). A autoridade da Igreja, considerando com especial carinho ésse tipo de vida sequiosa da perfeicáo, tomou-o sob a

sua protegáo e deu-lhe aos poucos certas normas que fóssem garantía de sua prosperidade. Assim sem grande demora se delinearam duas notas que ainda hoje caracterizan! de maneira essencial o estado de vida conforme aos conselhos evan gélicos : emissao dos votos públicos de pobreza, castidades perfelta e obe diencia dentro de urna familia religiosa ou dentro de um Instituto

religioso aprovado pela Igreja; vida comum ou comunitaria (cenobítica) — o que implica reuniáo de certo número de irmaos para viverem sob o mesmo teto (num cenobio), sob os mesmos Superiores e sob a mesma Regra.

Estas duas notas constituem o que hoje em día na Igreja se chama por excelencia «a vida religiosa» ou «o estado re

ligioso» ... Estado religioso, porque em tal tipo de vida há estabilidade,

consagracáo temporaria

ou

perpetua

dos

membros, certa publicidade ou notoriedade de tal instituiQáo. Quanto á denominacáo «votos públicos», designa votos recebidos em nome da Igreja por um Superior devidamente delegado para isso. Os canonistas distinguem os votos públicos em solenes e simples; a «solenidade». no caso, nao implica maior pompa sensivel, mas, sim,

urna consagracáo mais estrita, com conseqüéncias mais vastas e ri gorosas (cf. «P. R.» 27/1960, qu. 6). Os votos públicos solenes cons

tituem as chamadas Ordens Religiosas, as quais tiveram origem su-

cessivamente no decorrer da historia antes do século XVI (Ordem

de Sao Bento,... de S. Domingos,... de S. Francisco,..; de S. Agos-

tinho,... do Monte Carmelo, etc.); os votos públicos simples cons tituem as Congregac3es Religiosas, cuja fundacao data geralmente de época moderna ou do século XVI a nossos dias (CongregacSo do SSmo. Redentor,... dos Missionários do S. Corac&o,... dos Salesianos, etc.).

— 213 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961, qu. 6

2. Ao lado daqueles que procuraram e procuram seguir os conselhos evangélicos dentro das normas ácima referidas (votos públicos e vida comum), a historia registra avultado

número de fiéis que, igualmente desejosos de observar os con selhos do Senhor, se puseram a viver vida comum, sem, porém, emitir votos públicos. Tais íoram, por exemplo, as Beguinas. instituidas, como se eré, no séc. XII em Liége por um pregador de penitencia, Lamberto li Béguin (o Gago); propagaram-se principalmente pela Flándría em

comunidades entregues á oracáo, ao trabalho manual, ao tratamen-

ta dos enfermos, ao sepultamento dos mortos e á instrucáo de don-

zelas.

No séc. XIV tiveram origem os chamados «Irmáos da Vida Co mum», fundados por Gerardo Groóte (t 1384) na Holanda; em co-

munidade levavam urna vida de oragSo, estudos e magisterio. Sociedades semelhantes surgiram ñas séculos posteriores: a dos Oratorianos, por iniciativa de S. Filipe Neri (t 1595); a dos Sulpicianos por obra do Pe. Jean Jacques Olier (t 1657); a dos Eudistas,

devida' a S. Joáo Eudes (t 1680); a dos Missionários da África («Pe

res Blancs»), organizada pelo Cardeal Lavigerie (t 1892). Na Congregacao dos Lazaristas ou Sacerdotes da Missáo e na das Irmas de Caridade (Vicentinas), ambas instituidas por S. Vicente de Paulo (t 1660), os sacerdotes e as irmás fazem, sim, os votos de pobreza, obediencia e castidade, votos, porém, privados, nao públicos... Existem enfim familias religiosas que levam vida comum com

um voto apenas (o de castidade) ou dois ou mesmo tres, de carátér privado; pode ocorrer também que a questáo dos votos fique total

mente entregue a iniciativa pessoal de cada um dos interessados. Em qualquer hipótese, porém, o espirito dessas CongregacCes é o

dos conselhos evangélicos vividos de maneira adaptada as exigencias

do apostolado nos tempos posteriores ao séc. XVI (miss5es em tér ras pagas, educacáo da juventude, assisténcia a enfermos, etc.).

3.

Será mister notar outrossim que, além dos fiéis aos

quais a Providencia outorgou os beneficios da vida comum re

gular (com ou sem votos), sempre houve aqueles que, embora

desejassem consagrar sua existencia a Deus, se viram obriga-

dos a permanecer na familia e na sociedade. Para tais cris-

táos, a partir da Alta Idade Media, foram fundadas as cha madas «Ordens Terceiras» seculares (de acordó com Sao Francisco e Sao Domingos, a «Ordem Primeira» seria a dos frades ou a dos conventos masculinos; a «Ordem Segunda», a

das Religiosas ou a dos conventos femininos)... No decorrer dos tempos, aconteceu que os terciarios aspiraran* a consagrar-se mais estritamente a Deus por meio de obrigagóes se melhantes as da vida conventual, a serem executadas, porem, no mundo mesmo. Tal aspiragao se tornou particularmente

forte por ocasiáo da Revolucáo Francesa (1789) e da onda

de laicismo que se desencadeou sobre as nagóes cristas no — 214 —

QUE SAO OS «INSTITUTOS SECULARES» ?

séc. XIX: mosteiros e conventos foram entáo extintos; Reli

giosos e Religiosas viram-se expulsos de suas patrias; entáo a necessidade de recristianizar o mundo levou numerosos cris-

táos a empreender no mundo mesmo urna vida crista muito intensa, norteada, enquanto possível, pelos próprios conselhos evangélicos : em vista disto, tiveram que renunciar a qualquer

insignia (hábito distintivo, nome...) que os pudesse denun ciar como pessoas totalmente consagradas a Deus e que lhes dificultasse o acesso a lugares descristianizados; o segrédo, observado até mesmo no seio da familia, ficou sendo por vézes urna das notas características dessa nova modalidade de vida crista. As duas primeiras realizaeóes de tal género sao

o Instituto íeminino chamado «Sociedade das Filhas do Coracáo de María»; íoi fundado era 1790 para suprir á falta de Religiosas na Franca : senhoras cristas procuravam observar rigorosamente as normas de pobreza, obediencia e castidade, permanecendo ñas casas de familia e dedicando-se a obras boas na diocese ou ao auxilio do clero ñas paróquias;

a Sociedade dos Padres do S. Coracáo de Jesús, fundada aos 2 de fevereiro de 1791 em plena Revolucáo Francesa pelo Pe. Pedro

de Cloriviére, membro da Companhia de Jesús entáo supressa; visava proporcionar aos sacerdotes um ou outro dos beneficios da vida con forme aos conselhos evangélicos, sem que tivessem de abandonar o servico das respectivas dioceses; tres dos primeiros dez membros dessa Sociedade padeceram o martirio.

Pode-se registrar também a fundacáo do «Instituto Normal Ca tólico» nome civil da «Sociedade das Filhas do Monte Calvario». No ano de 1852 a jovem professóra Henriqueta Adelina Désir (t 1885) deu inicio a tal obra em Paris, estabelecendo urna casa para a educacáo de donzelas e a formacáo de professóras católicas; tinha em vista contrapor-se as tentativas análogas de urna sociedade macóni-

ca, que atingía a juventude feminlna. Em 1866 a fundadora comecou a levar vida comum com suas companheiras de ideal, sem, po-

rém, vestir hábito característico.

Algumas das novas sociedades chegaram a compreender

duas classes de membros : enquanto uns viviam em comunidade, trajando ou nao hábito distintivo, outros, mais nume

rosos, permaneciam em suas casas de familia ou no mundo, constituindo como que a «máo alongada» da Sociedade, des

tinada diretamente ao apostolado nos meios que os cenobitas nao atingiriam por si. Exemplo bem marcante désse tipo de Instituto é a chamada «Obra da Juventude (Oeuvre de la Jeunesse)». fundada em 1821 na cidade de Marselha (Franca) pelo Pe. Joseph Allemand; visava recolher em educandários meninos abandonados a fim de lhes propor cionar sólida formacao1 religiosa e civil. Os membros da Ohra eram

— 215 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961, qu. 6 todos varSes leigos; a maioria vivia com seus familiares, entregando-se a ocupagoes proíissionais próprias (eram advogados, médicos,

banqueiros, que, com parte de suas rendas, cohriam as despesas do-

Instituto) ; mesmo os que viviam no século, faziam os votos de castidade, obediencia, zélo e estabilidad», nao, porém, o de pobreza. De todos os candidatos exigia-se a disposigáo de se consagrar a Deus e á educagáo da juventude.

As

Congregagóes

assim

instituidas

expandiram-se

por

todo o séc. XIX, encontrando ampia aceitagáo entre os fiéis. Em conseqüéncia, tornaram-se objeto de especial atengáo da,'

autoridade da Igreja. Muitos bispos aplaudiam efusivamente as novas iniciativas, realcando os grandes beneficios que prestavam á recristianizagáó da sociedade por corresponderem adequadamente as necessidades dos tempos modernos. Nao faltavam, porém, pastores que em tais Institutos apontavam .

riscos e perigos, decorrentes, a seu ver, do caráter velado oa

mesmo secreto dessas organizagóes (caracterizacáo dos mem-

bros perante o público seria esteio de boa disciplina interna). — Do seu lado, os canonistas punham a questáo : como classificar e, por conseguinte, tratar tais sociedades cujos membros reproduziam varios dos tragos da vida religiosa (pobre

za, obediencia, castidade), mas nao possuiam nem votos públi cos nem o correspondente quadro de vida comum?

Breve digressáo histórica concorrerá para ilustrar o problema da: época.

Já no séc. XIX grandes dúvidas haviam pairado sobre a sufi ciencia de votos públicos simples para constituir o «estado religiosoi-

ou o «status perfectionis (acquirendae)», estado

em que se procura

atingir a perfeicáo. Até essa época recente, portanto, muitos canonis tas julgavam que só poderiam ser tidos icomo «Religiosos» os professos de votos solenes. Nao obstante, prevaleceu a tese larga, ja apregoada por varios canonistas e decisivamente patrocinada por Leao XIII na Constituicao «Conditae a Christos- de 8 de dezembro-

de 1900; neste documento o Pontífice asseverava que votos públicos

simples e aprovacáo do hispo competente bastam para constituir ura

Instituto Religioso ou a «vida religiosa» no sentido canónico. O atual Código de Direito Eclesiástico, promulgado em 1918. tornou defini tiva esta concepgáo. dando-lhe a seguinte modalidade: chama-se Ordem Religiosa o Instituto de votos solenes, ao passo que o de vo tos simples há de ser designado como CongregacS» Religiosa (cf. can. 488, 1*, 2' e 3*). —< Esta disposicáo representava urna inovagáo, consentánea e oportuna, dentro das categorías do Direito até entáo' vigente.

Diante do recente surto de¡ Institutos destituidos de votos, públi cos e de vida comum, muitos canonistas nos últimos decenios interrogavam um tanto perplexos; será preciso alargar mais ainda o-.conceito de «vida religiosa» a fim de abranger também tais associagñes?

5. Aos poucos, as dúvidas se foram dissipando* pois tan to os pastores de almas como os juristas se empenharam por — 216 —

QUE" SAO OS «INSTITUTOS SECULARES» ?

cqnceber.as normas que, de um lado, garantiriam a subsis

tencia das novas sociedades e, de outro lado, removeriam os

perigos de desvirtuamento no século. Importa salientar que os riscos decorrentes da índole ve lada de tais Institutos foram removidos pelo estabelecimento

de sabia norma: as regras e as tarefas de qualquer dessas entidades deveriam ser sempre manifestadas á competente autoridade eclesiástica, de modo a nada se fazer sem a aprovagáo e a vigilancia zelosa da hierarquia da Igreja: «... a fim de que o ocultamento devido ao espirito de prudencia nao degenere, por efeito de prudencia da carne, em simulacáo

culposa», rezava já em 1889 o decreto «Ecclesia Catholica» atinente aos ensaios de Institutos Secularas daquela época (cf. A.S.S. 23 [1889] 634).

Até h,oje, na verdade, nao há Instituto Secular que exista

ou trabalhe independentemente do beneplácito de um bispo.

Quanto á posigáo jurídica de tais sociedades dentro da Igreja, ela foi sendo esclarecida no decorrer dos últimos de cenios, de modo que em 1947 S.S. o Papa Pió XII julgou chegado o momento de Ihes dar estatuto canónico : a nova legislagáo se acha na Constituigáo «Provida Mater Ecclesia» de 2 de fevereiro de 1947, ulteriormente explicitada pelos do cumentos da Santa Sé que citamos á pág. 212. Toraa-se oportuno, pois, lanear rápido olhar sobre tais normas que regem a terceira forma do «status perfectionis» ou do estado em que oficialmente se procura atingir a perfeicáo crista dentro da

Igreja (terceira forma, pois, como foi dito, a primeira é a das Ordens e Congregac5es Religiosas, que tém votos públicos e vida co-

mum; a segunda é a das Sociedades que só tém vida comnm, sem

votos públicos; a terceira, portanto, vem a ser a dos Institutos que nao observam necessariamente nem vida comum, mas, nao obstante, se assemelham ás duas formas anteriores pelo fato de que seus membros consagrani de maneira total e permanente sua vida á prática dos conselhos evangélicos e a demanda da períeicao crista).

2.

A legislacáo hoje vigente para os Institutos Seculares

Vao abaixo transcritas as instrugSes válidas para todo e qual quer Instituto Secular; cada um déstes é regido outrossim por Constituicao própria, que visa diretamente a tarefa da respectiva entidáde.

: 1. «Os Institutos Seculares sao associagóes... cujos mem bros professam no século os conselhos evangélicos...» Essa conceituagáo, formulada no art. 1» da Constituigáo «Provida Mater», implica profissáo de castidade, obediencia é pobreza cujo teor a própria Constituigáo assim explícita: — 217 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961, qu. 6

Castídade. Entendem-se a castidade períeita ou o celibato abra cado por voto, juramento ou consagracáo que obrigue em consciéncia, de acordó com a Constituigao própria de cada Instituto! Secular. Isto quer dizer que as pessoas casadas nao podem ser recebidas como membros em sentido estrito de tais Sociedades. Os Institutos, porém, admitem membros em sentido largo ou «agregados», que nao assumem todas as obrigagoes dos membros da primeira categoría. Obediencia.

A esta o candidato se sujeita de maneira estável

por voto ou promessa, de modo a estar sob a dependencia e a orientacao continuas de Superiores, de acordó com as Constituicoes do respectivo Instituto. Bem se compreende tal exigencia: a vida no século fácilmente desorienta, abrindo o caminho a múltiplos desvirtuamentos.

Pobreza. Os membros dos Institutos Seculares também a proíessam por voto ou promessa, que lhes tira o livre uso dos bens temporais, limitando-o segundo as ConstttuigSes próprias. Estas po dem proibir que se facam certas despesas sem licenca, exigir prestacáo de contas a um Superior, pedir contribuicüo para as despesas gerais do Instituto. Do seu lado, o Instituto está obrlgado a assegurar a subsistencia de seus membros, nao mediante fornecimento de bens materiais ou de pens5es, mas providenciando para que tenham algum trabalho remunerado ou alguma fonte de renda.

2. Os votos proferidos nos Institutos Seculares nao sao votos públicos (no sentido do Direito Canónico), isto é, votos que a Igreja receba oficialmente por um delegado seu. Con-

tudo também nao sao votos meramente privados, isto é, de foro interno ou de consciéncia apenas, mas, segundo alguns canonistas, podem ser ditos votos semipúblicos, isto é, votos

privados reconhecidos pela Igreja e dotados de efeitos jurídi cos no foro externo. 3.

O liame vigente entre o Instituto e seus membros

deve ser estável;

o que quer dizer que, mesmo que os votos ou as pro-

messas sejam temporarias, devem ser renovados no fim do respecti vo prazo ou, caso nao o queira, a pessoa abandona livre e legalmen-

te o Instituto.

mutuo e pleno, de tal modo que, de acordó com as Constituicóes, a pessoa se dé inteiramente ao Instituto e éste, por sua vez, se interesse e responda por cada um de seus membros (principalmente no plano espiritual e apostólico, mas também. segundo as necessidades, no plano temporal). Em virtude da doacao total aqui mencio nada, compreende-se que nenhum membro de Instituto Secular tem o direito de reservar para si urna parte sequer de seus dias, seqüestrando-a á vontade e ao controle de seus Superiores. Os dizeres ácima nao impedem que as Constituicñes de cada Instituto estipulem casos em que se poderáj proceder á demissao de algum membro nao adaptado ao respectivo género de vida.

— 218 —



' QUE SAO OS «INSTITUTOS SECULARES» ?

4. Cada Instituto Secular há de ter ao menos urna casa comum, na qual

a) possam residir os Superiores respectivos, principal mente os gerais e regionais; b) os membros do Instituto se possam recolher por prazo ora mais, ora menos longo, a fim de receber ou completar

a sua formacáo ou para realizar o seu retiro espiritual e aná logos exercícios de piedade;

- c)

possam ser recebidos os membros que, por motivo

de saúde ou outra razáo, estejam incapacitados de prover á sua subsistencia ou sofram detrimento por morar no século.

5. A incorporagáo a um Instituto Secular faz-se por eta pas, que sao geralmente as tres seguintes: aspirantado, nor malmente durante um ano; noviciado, sempre de dois anos no

mínimo; profissao temporaria, que se estende por cinco, seis ou mais anos. Como se vé, sao etapas mais prolongadas do que as da admissáo na vida religiosa o que bem se entende: náoi havendo vida comum eíetiva, a formacao nao pode ser táo intensiva; nao obstante, requer-se que esta seja muito sólida, a iim de preparar almas capazes de sustentar o arduo ideal da perfeicáo crista no século.

Sao quatro as condigóes gerais para que alguém possa ser válidamente admitido em Instituto Secular: a)

seja fiel católico;

b) esteja livre de qualquer dos impedimentos estipulados pelo Direito comum e particular (impedimentos dos quais alguns váo

abaixo recenseados);

c) tenha reta intengáo, inspirada por motivo sobrenatural; d) seja física e moralmente capaz de viver os conselhos evan gélicos e exercer o apostolado no respectivo Instituto.

Em materia de saúde física, em geral se requer o minimo necessário para observar os Estatutos. Há, porém, Constituigóes que em absoluto nao mencionam a saúde como re quisito, ou declaram explícitamente que podem ser admitidas pessoas enfermas; outras, enfim, enumeram entre os objetivos do respectivo Instituto a santificagáo da própria doenga e con-

sideram os sofrimentos dos membros enfermos quais podero

sos meios de apostolado (é o que se dá, por exemplo, entre as «Missionárias dos Enfermos»). Nao há dúvida de que a entrada em um Instituto Secular corresponde a urna graga especial ou a um chamado da parte de Deus.

Entre os impedimentos á admissáo, podem-se destacar: _ 219 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961. qu. 6 a) idade inferior a 15 anos. Em geral, o periodo de entrada num Instituto Secular vai dos 18 aos 30 anos de idade (há excecSes, é claro); algumas Constituic.5es exigem para a incorporagao defini tiva o mínimo de 35 ou mesmo de 40 anos de idade; b) o vínculo do sacramento do matrimonio, a menos que os

dois cónjuges resolvam

quanto ao leito e ao teto.

separar-se de modo

legitimo e

perpetuo,

c) o «ser arrimo de familia» de modo tal que, contralndo as obrigagSes do Instituto, a pessoa nao possa cumprir os deveres de justica para com os familiares.

Sao estas as grandes linhas que dáo estrutura aos Insti tutos Seculares e Ihes asseguram agáo de todo benéfica no mundo contemporáneo, como sumariamente se depreende do parágrafo abaixo.

3.

1.

Vitalidade dos Institutos Seculares

Examinados em si e em seus frutos, os Institutos Se

culares parecem corresponder providencialmente as necessidades dos nossos dias. Com efeito,

a) tornam possível a prática sistemática dos conselhos evangélicos a muitas pessoas que, embora devotas e idóneas, nao a poderiam abragar entrando numa Congregagáo de vida cenobitica. Tais pessoas sao em nossa época mais numerosas do que em'

tempos idos : tenham-se em vista os que se ressentem de saúde tra ca, necessitando de cautelas permanentes; os que constituem arrimo de familia ou de algum modo estáo obrigados a ficar com os seus familiares; os que tém temperamento zeloso, mas particularista e pouco apto á vida comum...

Anexando-se a um Instituto Secular, ésses cristáos sao es timulados por muitas gragas a realizar o que de outro modo nao realizariam em prol de sua santificagáo e da cristianizagáo do mundo.

b) Os Institutos Seculares levam aos mais íntimos re cantos da alta e da baixa sociedade o testemunho da vida crista conscientemente vivida; conseguem assim frutos de apostolado que sacerdotes, Religiosos e Religiosas, em virtude dos seus distintivos de estado, nao poderiam obter.

c)

Principalmente ñas épocas e regióes de perseguigáb,

aberta ou velada, á Igreja, tais Institutos sao oportunos; po-

dem escapar, sem dificuldade, as leis antirreligiosas, prestando ao povo de Deus servigos de que viria a carecer. O mesmo papel importante Ihes compete nos períodos e países de instabilidade política, de preconceitos anticlericais, etc. — 220 —

QUE SAO OS «INSTITUTOS SECULARES» ?

2. Estas observagóes sao corroboradas pela consideragáo do surpreendente número de Institutos Seculares que váo surgindo dentro da Sta. Igreja. Tendo sido definitivamente firmados os respectivos Es tatutos gerais era. 1947, já em 1950 contavam-se mais de 95 entidades que pediam á Santa Sé a sua erec.áo canónica como

Institutos Seculares. De 1947 a 1957 eram 170 as que haviam pleiteado tal graga. Parece que mais numerosas ainda sao as instituigóes que, disseminadas pelo orbe inteiro, se váo or ganizando a fim de poder pedir á Santa Sé o título de Ins tituto Secular.

Essas associagóes aprésentam características assaz varia das, sempre concebidas com a finalidade de dar ao mundo um testemunho mais eficaz e proficuo. A Santa Sé nao se op5e á multiplicagáo de matizes na organizagáo dos Institutos Se culares; alguns désses distinguem mesmo diversas categorías de membros dispostas como que em circuios concéntricos em torno da autoridade nuclear, á qual se ligam por liames ora mais, ora menos estritos; cada qual dessas categorías, dota

da de cultura, especializacjio e capacidade de apostolado próprias, se harmoniza com as demais a fim de atingir o objetivo

característico do respectivo Instituto. A jurisprudencia a respeito dos Institutos Seculares vai sendo assim aos poucos elaborada a partir das experiencias que se váo fazendo nesse setor. Nao há dúvida, muita cautela se requer no recrutamen-

to e na formagáo dos membros dessas sociedades, pois a vida em pleno mundo apresenta inegáveis perigos para a conservagáo do espirito dos conselhos evangélicos:

<¿A experiencia evidenciou as dificuldades e os perigos que por vézes, e mesmo fácilmente, acarreto essa vida de perfeicáo conduzida táo livremente, sem o socorro exterior do hábito religioso e da vida comunitaria, sem a vigilancia dos Ordinarios (Prelados dioce sanos), aos quais ela poderia fácilmente ficar desconhecida,... sem a vigilancia dos próprios Superiores, que multas vézes se acham

distantes» (Pió XII, Constituicáo «Provida Mater» n'1 10).

Enquanto tais perigos váo sendo debelados, multiplicam-se os frutos bons produzidos pelos Institutos Seculares. Em conseqüéncia, a Sta. Igreja os incentiva... Incentiva-os, porém, sem intencionar de modo algum depreciar as antigás e tradicionais formas de vida religiosa, caracterizadas por hábi to e clausura; as antigás e as novas modalidades de procura da perfeigáo evangélica deverio ser simultáneamente. afirma

das a fim de que nao se dilua o patrimonio espiritual confiado por Cristo á sua Igreja.

:

— 221 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961. qu. 6

É o que um comentario oficioso da Sta. Sé mesma afirmava aos 14 de marco de 1947, pouco depois de promulgada a Constitulcao «Provida Mater» :

«ÑSo se creia que nos tempos modernos, os quais parecem tao propicios a ésses novos rebentos da graca e do apostolado, asi instituicóes precedentes, sempre fecundas, tenham íuncao menos impor tante a cumprir ou possibilidades mais restritas de expansáo. Ao contrario o déselo comum é o de acrescentar novos brilhantes a coroa da' Igreja, de modo tal que dal resulte fulgor mais intenso. As Ordens antigás e as CongregacSes religiosas posteriormente fun dadas conservam intata a sua importancia tradicional e insubstltuivel, mesmo diante das necessidades e exigencias mais variadas da vida moderna; continuam a funcionar plenamente com vitalidade táo rica de méritos que é preciso considerá-las como urna das maiores glorias da Igreja» («Osservatore Romano», 14 de marco de 1947).

4.

Apéndice

Completando as informacoes ácima, segue-se a lista dos Insti

tutos Seculares atualmente estabelecidos no Brasil.

I. 1.

Institutos Masculinos

Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz

Finalidade: difundir em tddas as classes da sociedade civil, especialmente na intelectual, a vida de perfeicáo evangélica. Em 1957 a Sociedade, de origem espanhola, chegou ao Brasil, fundando urna casa em Marília (SP), Rúa Sao José ¡87. Nao tem outra dependencia no Brasil. Casa Generalicia: Vialle Bruno Buozzi 73, Madrid, Espanha.

2.

limaos de María do Apostolado Católico

Finalidade: o apostolado lelgo em toda a sua extensS.0. O Instituto, de origem alema, chegou ao Brasil em 1952, lun-

dando urna casa em Santa Maria (RS), Escola Industrial, Caixa

postal 70. Nao tem oütra dependencia no Brasil. Casa Generalicia:

Sch6nstatter Marienbrüder, Vallendar a. Rh., Hoherstr. 77, Alemanha. n.

1.

Institutos Femininos

Irm5s de Maria do Apostolado Católico

Finalidade: prestar servicos em todo o campo de educacao e assisténcia social. As Irmas vestem hábito e vivem em' comunldade. A Sociedade, de origem alema, possui dez casas no Brasil, sendo a principal a de Santa Maria (RS), Rúa Domingos de Almeida 849, aCixa postal 67.

2.

Sociedade das Senhoras de Nazaré

Finalidade: o apostolado social em toda a sua extensao. Nao

vestem hábito e podem viver fora da comunidade.

Possuem duas casas no Brasil, sendo a principal a de Sao Paulo

(SP), Avenida ■ Nazaré 1361, Ipiranga.

— 222 —

QUE SAO OS «INSTITUTOS SECULARES» ?

3.

Companhia das Catequistas

Finalidades o ensino da .doutrina crista e o cuidado de igrejas e cápelas.





,

Vestem hábito; vivem em comunidade, mas podem íundar resi dencias só com duas Irmas, no interior, mesmo onde nao naja •-assisténcia espiritual freqüente. Dedicam-se muito á fundacáo de Escolas Paroquiais.

.

.

A Companhia, de origem brasileira. subsiste em 95 casas no

Brasil, sendo a principal a de Rodeio (SO, Rúa Baráo do Rio Branco. 4.

Catequistas Missionárias de Sao Francisco de Assis

Finalidade: a catequese dos japoneses. Nao vestem hábito e vivem em comunidade.

O Instituto, de origem brasileira, possui duas casas no Brasil, devendo a correspondencia ser dirigida á principal délas: Escola Pió X. Jaraguá (SP). 5.

Beneficencia Popular

Finalidade: trabalhar pelo apostolado eucaristico da primeira sexta-feira de cada mes.

Vestem uniforme e vivem em comunidade. O Instituto, de origem brasileira, possui quatorze casas no Brasil, sendo a principal a de Mariana (MG), Travessa S. Francisco.

6. Catequistas do Sagrado Coracllo de Jesús . Finalidade: educacáo, instrucáo e catequese dos filhos de ucra nianos.

be orJgem brasileira, éste Instituto possui urna só casa, «ra Pru. dentópolis (PR): Colegio Santa Olga. 7.

Instituto Corac&o de Jesús

Finalidade: assisténcia religiosa e social pelo apostolado paroquial.

As Irmas vestem hábito e vivem em comunidade. De origem ale ma, possuem cinco casas no Brasil; das quais a principal é a de Bra co do Norte, Municipio de Tubaráo (SO.

8.

Servas de Jesús Sacerdote

Finalidade: prestar auxilio ao clero.

As Irmas nao vestem hábito, mas vivem em comunidade. Fun dada no Brasil, a Sociedade tem sua maior casa em Ribeiráo Préto (SP): Rúa JoSo Penteado 1426, Caixa postal 586. 9.

Instituto Nossa Senhora do Cenáculo

Finalidade: obras á& assisténcia social a senhoras. mocas e criancas.

As Irmas nao vestem hábito, mas vivem em comunidade. Fun dada no Brasil, a instituic&o conta duas casas, das quais a principal é a de Monte Santo (MG), Rúa Cel. Antonio Paulino 722.

— 223 —

«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 41/1961

10.

Misionarlas de María (Irmas Xaverlanas)

Finalidade: apostolado paroquial. Oriundo da Italia, o Instituto tem urna casa no Brasil, em Londrina (PR). 11.

Instituto Nossa Senhora das Grabas

Finalidade: educa gao da juventude e obras sociais. As Irmas vestem uniforme e vivem em comunidade. Fundadas

no Brasil, estáo distribuidas por cinco casas, entre as quais sobressai a de Vermclho Novo (MG), vía Raúl Soares (diocese de Caratinga).

12.

LegSo de Nossa Senhora Rainha dos Coracdes

Finalidade: o apostolado pela imprensa.

As Irmas nao vestem hábito, mas vivem em comunidade. Fun

dadas no Brasil, ocupam duas casas, além da sua sede principal em Belém (PA), Rúa Castilho Franca 61. 13.

InstitulgSo Teresiana

Finalidade : educacao e instrucao da juventude feminina ém ni

vel superior.

Oriundas da Espanha, as Irmas possuem duas casas no Brasil, das quais a mais importante é a do Rio de Janeiro (GB), Rúa Mar qués de S. Vicente 331.

CORRESPONDENCIA

MlODA

T. H. (Salvador): A respeito do batismo das cnangas e de sua necessidade, veja "P.K." 6/1958, qu. 4. Sobre o culto das imagens, cf. "P.R." 4/1957, qu. 4 e 6. A propósito da comunháo sob as duas especies, cf. "P.R." 9/1958, qu. 6.

HERMINIO (Salvador): Sobre o faquirismo, cf. "P.R." 33/1960, qu. 4. Quanto á necessidade de jejum e penitencia, veja T.R." 12/1958, qu. 4; 7/1958, qu. 9.

IVO (Sta. Catarina):

Poderia mandar-nos algum enderégo para

a resposta ?

D. ESTÉVAO BETTENCOURT OJS.B.

«PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS»

Assinatura anual de 1961 Assinatura anual de 1961 (via aérea)

Cr$ 200,00 Cr$ 250,00

Número avulso de 1961

Cr$

Número de ano atrasado Colecáo encadernada de 1957

Cr$ 25,00 Cr$ 320,00

Colesáo encadernada de 1958, 1959, 1960 ..

20,00

Cr$ 450,00 (cada)

REDAQAO

ADMINISTRADO

Caixa Postal 2666

R. Real Grandeza, 108 — Botafogo

Rio de Janeiro

Xel. 26-1822 —Rio de Janeiro

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