Umuarama, domingo, 15 de março de 2009
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CRÔNICA
Para os que também se apaixonaram Apesar do Folclore englobar cantigas, músicas, gravuras, anedotas e tudo o mais que possa ser criado pelas pessoas, os seus seres fantásticos são mais evidentes, até porque não existe música, poema, gravura sem um personagem. E para quem se interessou e quer saber mais, aqui vão alguns nomes e detalhes de personagens folclóricos brasileiros. No rol dos mais lembrados, temos os que vivem nas profundezas da mata, os mitos indígenas protetores da natureza: A serpente de fogo Boitatá; o indiozinho cachaceiro Caipora; o anão de pés invertidos Curupira; o enorme monstro de pelos vermelhos Mapinguari. Todos eles são impiedosos com os transgressores e vân-
dalos da natureza. Caçadores, lenhadores e outras pessoas mal intencionadas desaparecem, morrem ou voltam loucas da mata por encontrarem estes vigilantes. Temos também alguns personagens malandros: o Boto, que sai dos rios da Amazônia durante a noite, assume forma de homem e usa seu charme para seduzir as moças, engravidá-las e depois desaparecer; o famoso SaciPererê, símbolo do nosso folclore, um negrinho peralta de perna só, com gorro vermelho e pito de fumo, que atazana a vida pacífica dos animais e de quem mora pela zona rural. Temos também os seres que assustam crianças e gente adulta através dos tempos: o Lobisomem, primeiro filho homem depois de uma seqüência de seis filhas mulheres ou qualquer um que for atacado por um lobo ou lobisomem e não morrer se torna um desses seres que só se manifestam durante a lua-cheia; a Cuca (a bruxa-jacaré), o Homem do Saco e as demais bruxas ve-
lhas e feias, que levam embora as crianças desobedientes; a bela Iara (moça-peixe), sereia que encanta os homens e os leva para as profundezas das águas; a Mula-sem-cabeça, que é no que se transformam as mulheres que fazem sexo com um padre. Fora os vários fantasmas, assombrações e maldições variadas. Personagens e lendas não faltam nesse mundo, e para
saber de mais algumas boas histórias e mais detalhes desse universo tão interessante, existem alguns sites muito bons: o www.sosaci.org, site do interessantíssimo da Sociedade dos Observadores de Saci e o www.prdagente.pr.gov.br, um ótimo projeto do Governo do Paraná, através do qual se compilou a Culinária, as Festas Tradicionais e várias histórias e lendas do nosso estado.
Músicos umuaramenses desbravando São Paulo Ainda me encontro em terras paulistanas junto com meu parceiro Nevilton. Após terminarmos as gravações de nosso primeiro disco e tocar com casa cheia no Neu Club, aqui em São Paulo, Capital, estamos enviando o material gravado para Los Angeles, Califórnia para ser mixado e masterizado pelo nosso amigo e produtor musical Marconi de Morais, que lá reside. As primeiras audições do disco, ainda pré-mixado mostram que o resultado vai ser muito bom. Muita energia e nitidez. Mas enquanto o disco não sai, Nevilton vai publicando os detalhes das gravações, fotos e outras curiosidades sobre o nosso dia-a-dia paulistano no site da banda: www.nevilton.com.br.
Paixão à primeira vista Estou apaixonado. Não, não é por uma garota. Por essas semanas as lembranças das noites de Quaresma, cheias daquela mistura de medo e maravilhamento com o desconhecido; medo da noite escura e dos seres que a habitam me fizeram ir atrás mais referências sobre esse conhecimento popular um tanto abandonado hoje em dia. E não deu outra: me rendi aos encantos do Folclore. O termo Folclore foi criado em 1846 pelo arqueólogo inglês Ambrose Merton (pseudônimo de William John Thoms), através da união de duas palavras daquela língua: Folk (povo) e Lore (saber). Significando “Sabedoria Popular” é usado para se referir às tradições, costumes e superstições de um povo. Fico imaginando os primeiros humanos do mundo, quando a ciência sequer era cogitada, olhando as estrelas, ouvindo os ruídos da mata, sentindo o mundo vivo ao seu redor e sem saber explicar nada daquilo. Certamente tinham medo - o desconhecido dá medo - então resolveram tentar dar nome às causas do mundo: o dia e a noite, as chuvas, as flores, a morte e a escuridão da floresta nasceram das primeiras manifestações da criatividade do homem. Aí não demorou muito para nascerem os deuses, as fadas, os elementais, as lendas e todo o resto que compõe as crenças e histórias do repertório folclórico de um povo. O Saci, a Cuca, o Curupira, o Boitatá e outros amigos; o Carnaval, as Festas Juninas, as Cavalhadas; cantigas de roda, piadas, adivinhações, cantigas de ninar, serenatas, versinhos e tudo mais que não se sabe de onde nasceu, que é de todos, do consciente coletivo é folclore. E por ser resultado das primeiras manifestações de criatividade humana, o folclore tem essa importância para as artes. Podemos ver até os dias de hoje vários artistas se utilizam de elementos culturais antigos em suas obras. E veremos isso sempre, pois a sabedoria popular é inesgotável de elementos interessantes. A preocupação que me vem é: até quando essa sabedoria popular será preservada e passada para as próximas gerações? As lendas rurais já nem chegam mais aos nossos ouvidos. Desmascarados pelas luzes da cidade, os lobisomens e mulas-sem-cabeça fogem para os fundões da mata, ou do pouco que resta delas. As lendas urbanas, cada vez menos originais, menos interessantes e menos locais, não refletem a realidade de onde são difundidas (quando o são). É chato perceber que a “Loira do Banheiro” que me amedrontava quando pequeno passeia por todas as escolas de todas as cidades do país. É chato perceber que minha cidade não tem uma assombração própria ou um tesouro escondido. Que as esquinas de Umuarama não têm nada de especial pra se descobrir. Ou pior, é triste saber que existem ótimas histórias, que até dariam bons documentários, livros ou filmes, mas essas memórias ainda são consideradas lixo sem importância e estão para cair no baú do esquecimento, pra sempre. Pra mim é notório que nos orgulhamos do que nos é especial, cuidamos melhor do que conhecemos, preservamos mais o que é raro, que só nós temos. O sentimento de comunidade nasce quando a população possui, além do mesmo chão, o mesmo respeito por esse chão. O exercício da história, da preservação da memória, é um passo fundamental para a preservação dos bons valores de uma sociedade e para o nascimento do amor e respeito dos populares pelo espaço onde vivem. É esse o meu apelo ao leitor. Quem souber de alguma história, lenda, acontecimento curioso, personagens reais ou fictícios de Umuarama ou qualquer outra cidade da região, é só me enviar a história. Pelo e-mail do Cultura & Arte (
[email protected]) ou pelo correio, para o endereço da redação do Umuarama Ilustrado. Essas histórias serão todas lidas e, se aprovadas, publicadas nesta página com a autorização do remetente. Não existe prazo final para o envio. Eu e a cidade aguardamos curiosos e ansiosos.
Nevilton, Fernando e Lobão, no Estúdio YB, em São Paulo.
OS CARECAS
Por Jefferson Silveira