Cultura & Arte 2009 - Fev-22

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Umuarama, domingo, 22 de fevereiro de 2009

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CRÔNICA Por Thiago Calixto

Amor de Carnaval

Finalmente chegamos ao fim de semana de Carnaval. É agora que os foliões se reúnem nas ruas e nos salões Brasil afora para festejar a liberdade e a fartura que, deveria desaparecer durante a quaresma. Mas os tempos mudaram, a quaresma não conta tanto assim e, pra muita gente, nem o carnaval conta tanto. O espírito do carnaval mudou, envelheceu e, como nós mesmos, perdeu a inocência. Nos tempos antigos diziam “brincar o carnaval”, depois virou “pular carnaval”, hoje deve ser algo próximo à “zoar no carnaval”. Pode ser uma simples questão etimológica mas, no meu humilde ponto de vista, existe um abismo entre “brincar” e “zoar”, um abismo perigoso e estraga-prazeres. Os carnavais de outrora eram cantados (e são lembrados até hoje) por marchinhas e sambas de compositores do povo ou de grandes nomes da música nacional. A idéia da máscara, da fantasia, abria portas para as pessoas serem quem elas quisessem por um fim de semana. Brincavam, cantavam, se divertiam e, na quarta-feira de cinzas todos voltavam a ser o que realmente eram novamente. Ninguém ferido física ou metafisicamente. Corações e corpos sãos e salvos, exceto pela ressaca, no caso até bem vinda, quase como um prêmio. Inclusive, a melancolia inerente da quarta-feira de cinzas é a desculpa pra essa ressaca física e moral, quando se percebe que o mundo real está aí novamente, para ser enfrentado até o próximo feriado. Foi nesse clima de máscaras e personagens que surgiram por aqui, trazidos da Comédia dell’arte italiana, os palhaços Pierrot, Arlequim e Colombina, figuras bastante famosas do nosso folclore carnavalesco. Mas quem são eles? O Pierrot é apaixonado pela Colombina mas não é correspondido, representa o amor, é um sonhador, tradicionalmente retratado com uma lágrima escorrendo pelo rosto e vestindo blusa e calças bufantes brancas. Colombina é uma moça esperta e bem humorada, caracterizada de várias formas diferentes. Ela é apaixonada pelo Arlequim e com ele gosta de brincar o carnaval. Arlequim é o malandro brincalhão, que sai pelas noites de carnaval tentando encontrar o seu par, a Colombina, mas enquanto não a encontra, engana os marmanjos, rouba beijos das moças desavisadas, os doces das crianças e se diverte de montão. Ele é caracterizado por uma roupa de losangos coloridos e cara de palhaço alegre. Hoje em dia o Pierrot prefere ficar em casa, há muito perigo na algazarra dos foliões afoitos pelo excesso. O Arlequim continua aprontando das suas, mas ultimamente o pessoal anda violento, e ele acaba saindo ferido de suas traquinagens. O coitado quase que morreu ano passado. A Colombina não se dá mais ao respeito, não espera mais o Arlequim brincalhão, anda preferindo algo mais radical, como esses rapazes sem nome, sem camisa e sem delongas.

FESTIVAL DE ROCK AO VIVO PELA INTERNET. A ABRAFIN – Associação Brasileira de Festivais Independentes transmitirá, pela internet, vários festivais de rock indepentede do país. Dentre eles está o Grito Rock de Cuiabá, onde a banda umuaramense Nevilton estará se apresentando hoje à noite. Se você acompanha a banda, não perca essa chance. Acesse www.abrafin.com.br à partir das 19h e se conecte. O show de Nevilton está previsto para as 23h.

Por Lisiê Ferre Lotti

Hoje tem brigadeiro na casa do Schopenhauer! Há exatamente 221 anos, no dia 22 de fevereiro de 1788, nascia o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, em Danzig na Prússia (Gdansk, na atual Polônia). É claro que depois de 2 séculos ninguém lembraria de seu nome se ele não tivesse sido imortalizado como um dos principais filósofos do século XIX. Disseminador das idéias do pensamento irracionalista, influenciou grandes nomes como Nietszche, Freud, Jung, Albert Einsten e outros. Introduziu o budismo e idéias hinduístas na metafísica alemã. Conhecido pelo seu pessimismo, Schopenhauer foi um ser pouco sociável, alegava preferir a companhia de cães à humanos, e nunca se casou. “A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais”, dizia. Em sua Magnum Opus ( do latim, Grande Obra), cuja primeira edição foi publicada em 1819, “ O mundo como vontade e como representação” , Schopenhauer enfatiza suas idéias a respeito de como somos movidos por nossas vontades e como nossa visão , ou “representação” de mundo, não passa de um reflexo do que realmente somos. Ao que ele chama de nossa Vontade, atribuiu o valor de força fundamental da natureza, e base da

conduta humana, onde os nossos desejos físicos, espirituais e sexuais jamais são satisfeitos. Sendo, portanto, considerada a fonte de todos os nossos sofrimentos. “A felicidade não passa de um sonho, e a dor é real... Há oitenta anos que o sinto. Quanto a isso, não posso fazer outra coisa senão me resignar, e dizer que as moscas nasceram para serem comidas pelas aranhas e os homens para serem devorados pelo pesar.” Schopenhauer considera o viver como um eterno ir e vir entre a dor e o tédio, pois quando nossa vontade é saciada, nos causa tédio, e logo depois a vontade volta ao seu posto de falta. Uma das formas apontadas por ele, para se afastar da Vontade, foi a Arte, pois esta permite que os homens olhem a vida de fora, e contemplem o mundo sem serem afetados pelas paixões individuais; Assim ficaríamos livres do sofrimento.. pelo menos por um instante. Para o filósofo o reconhecimento veio somente nos seus últimos anos de vida, quando publicou em 1851, a obra “Parerga e Paralipomena”, que é um enorme tratado filosófico sobre vários assuntos. Sua fama era tão grande nesse período que

Ficou com saudade daquele texto legal, ou só perdeu a edição do Ilustrado de algum desses domingos? Seus problemas acabaram! As páginas Cultura & Arte estão disponíveis na internet, no meu blog, o Lobservando. É só acessar www.lobservando.blogspot.com e estará tudo lá, do jeitinho que saiu no Ilustrado.

obras, ao alcance dos que estiverem dispostos a penetrar nessa visão excêntrica sobre os mais variados temas da existência humana. Morreu no dia 21 de setembro de 1860, em Frankfurt, aos 72 anos de idade.

O Filósofo da Vila. “Viva intensamente, morra jovem e deixe um belo cadáver”. Essa é a máxima que muitos artistas levam ao pé da letra, incluindo quem a inventou, o ator norte-americano James Dean, morto aos 24 anos de idade. Nesse rol de mártires precoces temos vários músicos como Kurt Cobain, Jimmy Hendrix e Janis Joplin, todos os três eram ícones do rock e morreram aos 27 anos de idade, no fim dos anos 1960 e início dos 70. Apesar de serem mitos importados, eles ainda fazem a cabeça de muitos jovens brasileiros nos dias de hoje. Entretanto, esse pessoal mais jovem não faz idéia de que, muito antes do rock existir, o Brasil teve seu músico rebelde, boêmio e de morte prematura. Ele não empunhava guitarras, mas um vilão; não tinha pinta de galã, muito pelo contrário, era feio. Esse cara se chamava Noel Rosa, foi um sambista importantíssimo e revolucionário na história da música nacional. Ele morreu aos 26 anos de idade, de uma tuberculose adquirida, desenvolvida e cultivada por uma vida curta e desregrada de bebidas, cigarro, mulheres, samba e muita festa. Aos 17 anos de idade Noel era um rapaz branquelo, de classe média, estudante de medicina, que tocava bandolin, violão e fazia parte de alguns grupos musicais de sua roda social, como o Bando dos Tangarás. Ele dividia seu cotidiano entre os estudos e a noite nos botecos cariocas, onde conheceu vários sambistas da Vila Isabel. Nas rodas de samba do morro, cercado com seus amigos negros e malandros, Noel parecia mais magro e mais frágil do que realmente era, mas foram justamente essas suas características que ajudaram a aproximar a música que se fazia no morro dos ouvidos que estavam no asfalto. Seu primeiro grande sucesso foi a canção Com que Roupa, cujos primeiros versos são uma paródia ao hino nacional. Depois de ver sua criação virar um grande sucesso das rádios e do carnaval, Noel, sempre muito criativo,

OS CARECAS

Cultura & Arte na Internet

chegou a ser publicada num jornal local a notícia de um ferimento que ele havia feito na testa. Com toda amargura e solidão, Schopenhauer nos deixou sua genialidade impressa em suas

inspirado por suas desventuras amorosas, desafios musicais de outros sambistas e tudo o que o cercava, começou a escrever compulsivamente vários sambas que se tornariam sucessos como Fita Amarela, A Dama do Cabaré, Três Apitos, Conversa de Botequim, Ultimo Desejo, e outros tantos. Noel, também conhecido como Poeta da Vila e Filósofo do Samba, deixou para posteridade um tesouro de 259 sambas, e para tal tarefa vivia cercado de grandes companheiros de música e boemia, como Ismael Silva, Cartola e Aracy de Almeida, Francisco Alves e Mario Reis. Esse Rio de Janeiro carnavalesco e malandro dos anos 30 está bem capturado no filme Noel – O Poeta da Vila, de 2006, dirigido por Ricardo van Steen, tendo no elenco estrelas como Camila Pitanga (Ceci, a dama do cabaré), Jonathan Haagensen (Cartola), Supla (num divertido Mário Lago) e outros. O destaque fica, sem sombra de dúvidas, para o estreante Rafael Raposo, que vive um Noel Rosa muito convincente e sincero de nuances, inclusive na fisionomia. Rafael consegue passar essa aura deslocada de Noel que não parece pertencer nem ao “morro” nem ao “asfalto”, mas a algo maior, definível apenas como “imortalidade”. Com uma trilha sonora de primeira, fotografia e ambientação bem cuidadas, atuações convincentes e cenas inesquecíveis, a magia do morro e do samba está toda lá. Além do mais, a saga de Noel e seus compadres, que driblavam (ou tentavam driblar) as autoridades, a própria saúde e as mulheres para permanecerem na abençoada boemia, é um argumento que não tem onde dar errado. Uma película nada menos do que inspiradora. Caso se interesse pelo filme e não o encontre em sua locadora, visite: www.noelpoetadavila.com.br , ali você pode pedi-lo diretamente ao pessoal da Imovision, empresa que distribui o filme.

Por Jefferson Silveira

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