Ano Xxxiv - No. 378 - Novembro De 1993

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Projeto

PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESBvTTAQÁO DA EDipÁO ON-LINE Diz Sao

Pedro que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la

pedir (1 Pedro 3,15).

Esta

necessidade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé ■>■-.-*

hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e

religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante aprofundamento do nosso estudo.

um

Eis o que neste site Pergunte e

Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade

_, controvertidas, elucidando-as do ponto de

IL vista cristáo a fim de que as dúvidas se

¿ dissipem e a vivencia católica se fortaleca

J" no Brasil e no mundo. Queira Deus

abengoar. este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. EstevSo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d.

Esteváo

Bettencourt e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo

da

revista

teológico

-

filosófica

"Pergunte

e

Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

ANO XXXIV

NOVEMBRO 1993

<

SUMARIO

5

"Amar alguém é dizer-lhe: 'Tu nao morreras' " (G. Marcel)

UJ

Sudario de Turim: Rejeitado o teste do Carbono 14

O eo UJ

D

O

i UJ _j

ta

O ce o.

"Jesús, Precursor « Anunciador da Nova Era", por Lauro Trevi "Nem Batizados nem Casamentos..." Os Anticoncepcionais e a Ameaca de Estupro Manipulacao da Vida Humana "Santo Antonio de Categeró": Quem era? O Neocatecumenato

Um Testemunho significativo

PERGUNTE E RESPONDEREMOS

NOVEMBRO 1993 N9 378

Publicacao mensal

Diretor-Responsável

''

Estévao Bettencourt QSB

SUMARIO

•'•> ':'■"<:...

Autor e Redator de toda a materia publicada neste periódico

Diretor-Administrador: D. Hildebrando P. Martins OSB

"Amar alguóm á dizer-lhe: 'Tu nao

morreras' " (G. Marcel)

481

Novos estudos sobre o Sudario de Turim: Rejeitado o teste

do Carbono 14

482

Confusao "empolgante":

Administracáo e distribuicao: Edicoes "Lumen Christi"

Rúa Dom Gerardo, 40 — 5? andar - sala 501 Tel.: (021) 291-7122

Fax (021) 263-5679

"Jesús, precursor e anunciador da Nova Era", por Lauro Trevisan 488 Pastoral n'gida: "Nem batizados nem calamentos..." . . . 497 Caso delicado:

Endereco para correspondencia: Ed. "Lumen Christi" Caixa Postal 2666 Cep 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Impretsao e Encadernapao

"MARQUES SARAIVA"

Os anticoncepcional e a ameaca de estupro

Ciencia e Consciéncia: Manipulacao da vida humana Mais urna vez: "Santo Antonio de Categeró": Quem era? Urna Palavra do Papa sobre

504

513

522

O Neocatecumenato

525

Um testemunho significativo

527

GRÁFICOS E EDITORES S.A. Tels.: (021)273-9498/273-9447

NO PRÓXIMO NÚMERO: "Jesús era um Extraterrestre" (J.J. Beni'tez). - "0 Pecado: o que dizer?" (Xavier Thévenot). - O Segredo da Confissao. - A Crise das Vocacoes. — Um Padre Ca tólico num País Proibido. — Nova Era: mais urna vez. COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA ASSINATURA ANUAL PARA 1994

(12 números) CR$ 2.000,00 - n? avulso ou atrasado CR$ 200,00 _O pagamento poderá será sua escolha:.

1. Enviar EM CARTA cheque nominal ao Mosteiro de Sao Bento do Rio de. Janeiro, cruza

do, anotando no verso: "VÁLIDO SOMENTE PARA DEPÓSITO na conta do favorecído" e, onde consta "Cód. da Ag. e o N? da C/C", anotar: 0229 - 02011469-5.

2. Depósito no BANCO DO BRASIL. Ag.0435-9 Rio C/C 0031-304-1 do Mosteiro de S. Ben to do Rio de Janeiro, enviando a seguir xerox da guia de depósito para nosso controle. 3. VALE POSTAL pagável na Ag. Central 52004 - Cep 20001-970 - Rio. Sendo novo Assinante. é favor enviar carta com nome e endereco legi'veis. Sendo renovacao, anotar no VP nome e endereco em que está recebendo a Revista.

"AMAR ALGUÉM É DIZER-LHE:

'TU NAO MORRERAS!'" UNISMJTCS - FAFIS BIBLIOTECA

(Gabriel Marcel)

Estas palavras do filósofo francés encerram profunda verdade, que é, ao mesmo tempo, sorridente e desconcertante. Sorridente... Pois nos lembram que o nao morrer ou o viver para sempre é a grande aspiracáo de todo ser humano. É em funcSo da vida que o homem descobre outros valores, como a verdade, o bem, a felicidade... Por conseguinte, o nao morrer é o maior presente que alguém possa dar á pessoa amada.

Desconcertante... Porque se pode perguntar: que criatura é capaz de dar tal presente? — Nenhuma. A vida é algo misterioso, cuja origem escapa ao homem e cuja posse é fugaz... Portanto nenhuma criatura ama a ponto de garantir a imortalidade. A esta altura os nossos olhos sao espontáneamente impelidos a voltar-se para o Criador. A fé nos diz que Ele é o Primeiro Amor, Aquele que ama gratuitamente (cf. Uo 3,19). E precisamente é Ele quem garante ao homem a vida plena ou a vitória sobre a morte. Diz o livro da Sabedoria:"Deus nao fez a morte nem se compraz com a morte dos viventes... Ele tudo criou para que subsista" (Sb 1,13s); ou aínda: "Deus criou o homem para a imortalidade e o fez imagem de sua própria nature za; foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo" (Sb 2,23s). Estas consideracSes vém muito a propósito no mes de novembro, que se abre com urna reflexao sobre o alérrr. a 19/11 celebram-se todos os San tos; a 2/11 comemoram-se os fiéis defuntos. Todos sao criaturas de Deus, sobre as quais paira um ato de amor divino; na origem de cada criatura há o amor de Deus, que a concebeu para a fazer consorte de sua vida. Nao existe outra razao que explique a existencia de cada ser humano. A morte, como os homens a experimentam, resulta de urna desordem introduzida pelo pecado no plano do Criador, ... desordem, porém, que foi resgatada pela própria morte e a ressurreicao de Cristo, o segundo Adao (cf. Rm 5, 12-17). Em virtude da vitória de Jesús sobre o pecado e a morte, o cristao sabe que ele passa pela morte, a fim de despojar-se do seu frágil corpo de argila e revestir-se de corpo glorioso configurado ao Corpo de Cristo ressuscitado (cf. 2Cor 5,1-5). Portanto, o que importa ao cristSo é corresponder ao Primeiro Amor, conduzindo-se de tal modo que o Artífice Divino possa executar seu de signio sobre a criatura. A tristeza e o pranto sa*o assim superados, pois o cristao sabe que existe realmente Aquele que ama e que, por certo, pode dizer: "Na*o morreras!" ao homem que deseje a vida e fuja de toda trilha do pecado e da morte.

Possa o Primeiro Amor imprimir a conviccSo da fé na mente de todos aqueles que se interessam por saber por que existem e para que existem! E.B. 481

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" ANO XXXIV - N? 378 - Novembro de 1993 Novos estudos sobre o

SUDARIO DE TURIM: REJEITADO O TESTE DO CARBONO 14

Em síntese: De 10 a 12 de ¡unho de 1993 realizouse em Roma o II Congresso Internacional sobre o Santo Sudario promovido pela Sociedade

francesa intitulada "Centre International d'Etudes sur le Linceuil de Tu-

rin" (CIELT). Participaram do céname cerca de duzéntos peritos, aos quais se dirigiram cinqüenta conferencistas em clima estritamente cientí fico e aconfessional. Entre as conclusoes apresentadas, destacase a re/eicao do teste do Carbono 14, efetuado em 1988, como metodológicamente im preciso. Novas descobertas após tal data vieram confirmar a antigüidade do Sudario e fizeram progredir o estudo da imagem e do homem de tal mortalha: confirmase a impressSo de que tal homem foi rea/mente Jesús; pesquisadores ¡udeus que participaram da assembléia, levaram sua contri' buicSo, comparando traeos do Sudario com os costumes /udeus de sepultamento, com os tragos étnicos dos israelitas e com a tecelagem judaica de outrora.

Em 1998 cefebrarse-á o primeiro centenario das pesquisas sobre o S. Sudario, esperándose entao resultados aínda mais elucidativos dos traeos característicos dessa peca venerável. *

*

*

É con herido no mundo cultural de nossos tempos o lencol guardado em Turim e tido como o Sudario que envolveu Jesús Cristo quando descido da Cruz. Muitas noti'cias se tém publicado a respeito, das quais urna das

mais significativas, em época recente, foi a do teste do Carbono 14; com efeito, em outubro de 1988 tres grupos de pesquisadores submeteram amostras do Sudario a tal teste e proclamaram ao mundo que, longe de ser

um paño do ini'cio da era crista, era um tecido medieval, cujas origensdeviam estar entre 1260 e 1390. Esta comunicacao repercutiu como urna 482

SUDARIO DE TURIM E CARBONO 14 bomba no mundo católico e ná*o católico, nao porque a fé crista dependa da autenticidade do Sudario1, mas porque numerosos estudos anterior mente realizados convergiam unánimemente para afirmar a genuinidade do Sudario.

O teste de 1988, porém, nao encerrou a questao. Novas pesquisas e

reflexdes tiveram lugar em alguns países para avaliartal resultado. Dentre

os passos assim dados, destaca-se um Congresso Internacional reunido em Roma de 10 a 12 de junho de 1993. É precisamente sobre os trabalhos e as conclusoes deste certame que versarlo as páginas seguintes. 1. O CONGRESSO DE JUNHO DE 1993

1. Existe em París o Centre International d'Etudes sur le Linceuil de

Turin, CIELT (Centro Internacional de Estudos do Sudario de Turim), que tem promovido encontros e debates sobre o Santo Sudario. Realizou o seu segundo Congresso Internacional em Roma de 10 a 12 de junho de 1993: comparecerán-! cerca de duzentos congressistas (dentistas americanos, ita

lianos, franceses, anglo-saxóes, alemáfes, belgas, su icos, espanhóis, mexica nos, australianos...), diante dos quais cinqüenta conferencistas explanaram o assunto.

A assembléia teve caráter estritamente científico e ná*o confessional, embora déla participassem representantes da Igreja, como o Cardeal Stickler, outrora Prefeito da Biblioteca e dos Arquivos do Vaticano, Mons.

Van Lierde, Prefeito da Casa Pontificia. Havia também entre os presentes os embaixadores da Franca e da Italia junto á Santa Sé.

2. Qual era propriamente o objeto dos estudos e debates? Tratava-se de urna peca de linho branco, que mede 436 cm de comprimento e 108 cm de largura. Sobre a tela descobre-se urna dupla imagem: a de manchas de sangue correspondentes aos diversos ferimentosde um crucificado; a do rosto e do corpo alongado de um homem visto de frente e de costas sobre esse longo lencol, que o recobria da cabeca aos pés. Essas ¡magens aparecem em negativo, como bem descobriu o advogado Serondo Pia, ao fotografar a mortalha em 1898. 3. Desde o segundo dia do Congresso, a imprensa italiana registrava em manchetes: "O Santo Sudario é auténtico" (Corriere della Sera), "Um

1 A fé na ressurreicao de Jesús sempre foi professada independentemen te

da existencia ou nao de tal reliquia.

483

"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

dentista russo o diz: é auténtico" (II Messagero). Explicava o Corriere della Sera: "Paradoxo da era pos-comunista: um dentista Premio Lénin, de formacSo marxista, vem em socorro do Santo Sudario". Urna dezena de jomáis repetiu tais informacoes. Na verdade, um jovem pesquisador russo, Dimitri Kouznetsov, conde

corado com o Premio Lénin, foi especialmente ao Congresso para demons trar os fatores de imprecisáo que afetam o teste do Carbono 14 quando aplicado a certos tecidos, como o linho: por razoes de ordem científica, Dimitri e sua equipe de Moscou recusaram a datacao medieval atribuida ao Sudario e propuseram o sáculo I como data provável. Além disto, outros pesquisadores, entre osquais o Dr. Rémi van Haelst, belga, e o Dr. Jouvenroux, francés, mostraram as numerosas impreci-

soes de cálculo contidas no artigo da revista Nature, que em 1988 afirmava

ser o Sudario oriundo dos séculos XIII/XIV. Ao que o Dr. Olivier Pourrat, professor de Medicina, acrescentava:

"Mesmo que o resultado nao fosse erróneo, ele nao oferece garantía suficiente. Será útil fazer de novo um exame de datacao... Pois os resulta dos, para ser tidos como científicos, devem poder ser reproduzidos. Isto é de regra".

Em conclusSo: o exame realizado em 1988 perdeu sua credibilidade por falta de rigor metodológico, como reconheceram os pesquisadores, desde que se propalaram os resultados de tal teste.

2. DESCOBERTAS RECENTES

A recusa da datacao medieval pode ser confirmada por outrás experi encias e descobertas posteriores a 1988. Assim, por exemplo, o Prof. Jéróme Lejeune realizou pesquisas sobre um manuscrito húngaro datado de 1192 a 1195 conservado na Biblioteca Nacional de Budapest e chamado Codex de Pray. Esse documento traz urna ilustracao, que consta de quatro desenhos a representar a descida de Cruz e a colocacSo de Jesús na mortalha. 0 Prof. Lejeune, em Budapest, estudou as minucias de cada desenho e verificou que o desenhista deve ter tido "sob os olhos entre 1100 e 1200 um modelo que possuia precisamen te todas as características do Sudario que está em Turim". 484

SUDARIO DE TURIM E CARBONO 14 Ao tomar conhecimento desta conclusSo de Lejeune, o Prof. André

van Cauwenberghe, presidente do CIELT, declarou: "Após esta descoberta efetuada sobre o Codex de Pray, o exame do C 14 já nao tem valor aos nossos olhos".

Outro fato interessante contribuiu para tancar o descrédito sobre o referido teste. Com efeito; o Dr. Jean-Maurice Clercq, especialista em nu mismática, estudou 2254 moedas do Imperio Bizantino cunhadas entre

350 e a queda de Constantinopla em 1453: descobríu que muitasdessas

moedas - principalmente algumas do sáculo VI — traziam urna efigie de Cristo cujos pormenores parecem inspirados pelos traeos do semblante gra vado na mortalha de Turim.

Estas e outras noticias foram levadas ao Congresso de junho 1993 em Roma, convergindo em favor de urna datacao antiga do S. Sudario. Os cro nistas observara outrossim que nenhum dos autores do exame feito em

1988 compareceu ao Congresso de 1993 em Roma para defender seu trabalho e suas conclusSes; nem se fizeram representar, embora tenham sido dos primeiros convidados.

3. SERIA A MORTALHA DE JESÚS? Urna vez confirmada a antigüidade do Sudario, há quem recentemente coloque a pergunta crítica: tal peca seria mesmo o lenco I que envolveu Jesús? Eis como a formula o matemático epistemólogo Arnaud Aaron Upinsky: "A questio agora já nao é saber se o Sudario é falso ou auténtico. A prova de sua autenticidade já fot dada. A questio é: tratase realmente da mortalha do cadáver de Jesús?". O Congresso de 1993 também abordou o assunto, aduzindo novos elementos de urna resposta positiva. Ei-los:

Pode-se dizer, sem medo de errar, que o cadáver depositado na mor talha trazia as marcas de quem fora crucificado segundo o procedimento dos romanos no sáculo I; fora, sim, flagelado e trazia os vestigios de ferimentos na testa (coroa de espinhos?).

Além disto, a Sra. Rebecca Jackson, Diretora Associada do Turin Shroud Corporation dos Estados Unidos, apresentou um estudo das ca

racterísticas judaicas do Sudario: tecido, trapos físicos do cadáver típi cos dos judeus, ritos funerarios pressupostos... E concluiuque "o homem envolvido nesse lencol era um judeu". 485

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

Mais: dois exegetas franceses, os Professores Robert Babinet e Bernard Ribay, apresentaram interessantes estudos segundo os quais a imagem

gravada no lencol de Turim traz traeos correspondentes ao que Sao Joao narra no seu Evangelho (20,3-7). Com efeito, diz o evangelista em 20,6s: "Simao Pedro vé os panos de finho por térra e o sudario que cobríra a cabeca de Jesús. O sudario nao estava com os panos de linho no chao, mas

enrolado eis hena topón". Estas tres palavras gregas fináis tém sido traduzidas por "num lugar

único" ou "em outro lugar". Na verdade, porém, segundo os dois exege tas, dever-se-iam traduzir por "no seu mesmo lugar". Em tal caso, o evan gelista estaría dizendo o seguinte: Jesús havia sido recoberto com urna mortalha e sua cabeca estava envolvida numa faixa de tecido que Ihe aper-

tava o queixo. Joao "viu e acreditou", diz o evangelista em 20,8. Que viu ele? — Responde o Prof. Bernard Ribay: "Joao viu que o involucro de panos havia ficado fechado e intato, no seu lugar dentro do túmulo. Compreendeu que o corpo de Jesús, em dado momento, desaparecerá desse involucro, deixando-o intato ou invio lado... Observando a co/ocacao dos panos funerarios, Joao teve a prpva real de que o cadáver de Jesús desaparecerá de modo tota/mente inexplicável. A faixa que envolvía a cabeca e apertava o queixo, também ficara

no seu lugar". Ainda outras comunicacoes, dentre as cinqüenta apresentadas no Congresso, contribuirsm para identificar a figura de Jesús na mortalha de Turim. Sabe-se, desde muito, que tal figura nao foi pintada no Sudario por mao de algum artista: a hipótesejáfoi definitivamente descartada. Urna pe rita norte-americana de Los Angeles, Isabel Piczek, explicou porqueexistem no Sudario minúsculos residuos de tinta ou de pintura, observaveis ao microscopio: devem-se ao fato de que, quando o Sudario era antigamente exposto ao público, era colocada urna toalha pintada sobre a mortalha a fim de a proteger; em conseqüéncia, pequeñas parcelas de tinta terao caí do sobre o Sudario.

4. E OS BOMBARDEIOS DE RAÍ OS?

No mesmo Congresso, o Professor Joao Batista Rinaudo afirmou que, mediante o bombardeio de protónios sobre o linho, é possível obter um colorido do paño muito semelhante ao do Sudario; dizia, porém, o próprio

Professor que "tal sentenca ainda carecia de plena confirmacao". 486

SUDARIO DE TURIM E CARBONO 14

Por outro lado, o pesquisador siciliano Sebastiao Rodante asseverou que, expondo aos raios ultra-violetas um tecido de linho impregnado de aloes e mirra ainda úmido, era possi'vel obter manchas coloridas que lembrariam as do Santo Sudario. Tais afirmacSes, porém, deixaram aberta a questao:quem teria deto nado protónios ou raios ultra-violetas sobre o Sudario úmido para obtera ¡magem e todos os tragos coloridos nele existentes? A resposta a esta pergunta é decisiva para se poder aquilatar o valor das experiencias indicadas.

5. O FUTURO 00 SUDARIO Os congressistas se interessaram outrossim pela conservacao do Suda rio, pepa famosa entre dentistas do mundo inteiro e provocadora do interesse de cristaos e nao cristaos. O Prof. Silvio Diana, de Roma, assegurou que o Sudario nio apresenta sinais de grave deterioracao: esse mestre tem-se empenhado pala manutencao da importante peca em boas condicSes. A Igreja tomou recentemente providencias para melhor garantir a integrídade do Sudario: está em novo relicario de vidro á prova de bala e de acidentes atmosféricos e prote gido contra incursSes de ladroes. Ná*o obstante, os Professores Paúl Maloney e Alan Adler, dos Estados Unidos, observaram que ainda se pode aprimorar o sistema de conservacao da reliquia, pois as manchas de sangue tendem a empalidecer por efeito de desagregacao, e a periferia do tecido vai-se desgastando. Foram entao apresentadas varías propostas de melhor conservacao do Sudario.

Eis, em perneas páginas, urna símese das comunicapoes que mobilizaram um dos rnais recentes Congressos sobre o Sudario. Verifica-se que os cientistas, trabalhando únicamente com dados de pesquisa científica, fa vorece m sempre mais a tese da autenticidade do Sudario como peca que envolveu o corpo de Jesús. Para 1998 preparase novoe soleneCongresso Internacional, que comemorará os cem anos de pesquisas relativas a tal reliquia; esperam os estudiosos poder, naquela ocasiao, apresentar ainda novos e mais interessantes resultados de suas pesquisas.

Ver a propósito o artigo de Geneviéve Esquíen LINCEUIL DE TURIN: LES VRAIES QUESTIONS, em L'HOMMENOUVEAU, 20/6/1993, p.20.

487

Confusao "empolgante'

"JESÚS, PRECURSOR E ANUNCIADOR DA NOVA ERA"

por Lauro Trevisan

Em síntese: O fivro de Lauro Trevisan afirma ao leitor que a mente humana tem o poder de conseguir tudo quanto deseja, desdé que se con centre no objeto alme/ado; o pensamento se materializará ou concretizará, de modo que quem assim procede, pode ficar rico, ganhar um carro,

obter saúde... O homem sempre teve tais poderes; Jesús Cristo os revelou

explícitamente no Evangelho, diz L. Trevisan; mas os homens nSo acredi-

taram em tao estupenda noticia, a ponto de conceberem a vida como provacio e luta. Ora, anuncia o autor, está para terminar o segundo milenio

ou a Era de Peixes, que em 2001 cederá á Era do Aquário; nesta os ho mens terao a coragem de utilizar sua forca mental e conseguir todos os

bens que quiserem; será essa a Nova Era ou a plena Era de Cristo.

Infelizmente o autor é fantasioso. Nao leva em conta a hostilidade da filosofía da Nova Era ao Cristianismo, e propaga ¡ndiretamente tal corrente de idéias. A lém disto, construí as suas promessas de éxito sobre concepcoes panteístas, que nSo resistem ao crivo da crítica sadia. Se Trevisan encontra tao grande acolhida do público, isto se deve, em grande parte, ao fato de que, inconscientemente, vulgus vult decipi (a massa quer ser enga

ñada ou gosta de ser engañada), como diziam os antígos romanos. *

*

*

Lauro Trevisan tornou-se muito conhecido no Brasil por seus cursos e

livros, que apregoam higiene mental e conquista da felicidade pelo poder da mente. Toca em fibras muito sensíveis da pessoa humana e tenta cativar o ouvinte ou o leitor prometendo-lhe maravilhas, caso utiliza os recursos da sua mente.

Um dos últimos livros do autor intitulase: "Jesús, Precursor e Anun

ciador da Nova Era".1 L. Trevisan serve-se da expressao ambigua "Nova 1 Editora e Distribuidora da Mente. Santa María (RS), 140x120 mm,

223pp.

488

"JESÚS, PRECURSOR E ANUNCIADOR DA NOVA ERA"

9

Era", que tem sentido cronológico e significado filosófico, para incutir aos seus leitores, com nova énfase, a sua tese "solucionadorade todos os pro blemas". - A seguir, proporemos as linhas-mestras desse livro e Ihes fa re mos alguns comentarios.

Já publicamos comentarios de livros de Lauro Trevisan em PR 263/ 1982, pp. 299-309 ("O Poder infinito de sua Mente") e 270/1983, pp. 423-432 ("Os Poderes de Jesús Cristo").

1. O CONTEÚDO DO LIVRO L. Trevisan parte do principio de que "o homem é filho de Deus" e, por isto, tem o poder de Deus.

Pata ativar esse poder de Deus que nele está, basta-I he mentalizar as coisas que deseja: dinheiro, casa, automóvel, saúde, paz com todos, bem-estar... Concentrando seu pensamento em tais objetos, o homem esta ría "orando". Ora Jesús prometeu eficacia infalível á oracao. Donde con cluí Lauro Trevisan que o homem tudo pode.

A mentalizacao assim entendida também é chamada "fé" (cf. p. 117). Quem tem "fé" (= quem pensa naquilo que deseja, confiando na eficacia desse ato), tudo consegue, mesmo que nao tenha religiao nenhuma (cf. p. 117).

Tal poder sempre existiu nos homens. Jesús, porém, o revelou explí citamente. Todavía acontece que a humanidade nao teve a coragem de

crer nisso. Em conseqüéncia, capitulou diante das dificuldades de cada día

(doencas, fome, pobreza...) e julgou dever suportar todas as desventuras com resígnacao, configurando-se a Cristo Crucificado. Por isto viveram os homens 2.000 anos na Era de Peixes. Acontece, porém, que de dois mil em dois mil anos se muda o signo que rege a historia da humanidade na Térra, conforme a astrologia; por isto em 2001 comecará a Era do Aquário, melhor que a dos Peixes; nessa Nova Era, Cristo reinará plenamente

pelo poder mental dos seus adeptos: "Os caminhos da Nova Era conduzirao ao estágio mais elevado da hu manidade.

O homem de Aquárius ultrapassa as crencas luciferianas e alcanca a dimensSo divina do humano.

Peixes é o mundo das sombras - Aquárius é o mundo da luz. 489

JO

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

Peixes é o mundo da ignorancia — Aquárius alcanza a sabedoria. Peixes é a 'era demoniaca' - Aquárius é o mundo de Deus" (p. 192). Na Nova Era os homens tomara o consciéncia do Poder infinito exis tente em cada um e o utilizarao para construir um mundo feliz, em que todas as desgracas serao debeladas pelas forcas do pensamento ou pela

"oracao". "NSo admira a re/eicao ao Cristo, porque sua mensagem cometía o milagre de dar um salto de dois mil a quatro mil anos. Situado na Era de Peixes, falava para Aquárius. Em Peixes viveu, falou e nao foi recebido. Aquárius ouvirá, compreenderá e vivera.

Aquárius é o grande momento do Cristo" (p. 67). Trevisan joga com o sentido de "Nova Era". Esta é entendida por ele como pen'odo de bonanca, em que Jesús Cristo será plenamente reconhecido e seguido. Acontece, porém, que "Nova Era", no sentido da filosofía religiosa contemporánea, é um conjunto de idéias sincretistas, que p reten-

dem suplantar o Cristianismo e extingui-lo; cf. PR 354/1991, pp. 518526; 360/1992, pp. 235-240. Assim, na base da ambigüidade, L. Trevisan dá impulso a urna corrente ideológica anticrista, ignorando (ou pretendendo ignorar) quanto tal corrente tem de avesso á mensagem bíblica. Em suma, tal é o conteúdo do livro de L. Trevisan, que nao se cansa de repetir as mesmas idéias. Passamos a citar os textos maís significativos do seu pensamento: "Tornando-o (o homem) fílho de deus... pelo conhecimento da ver-

dade, Jesús mostrou que o fílho de Deus tem o poder de Deus" (p. 94). "Tudo o que subconsciente aceita como verdade, cumpre. Nao há limites para o exercicio desse Poder, a nao ser aquele imposto pela mente da própria pessoa.

O pensamento, portanto, é o veículo que aciona esse Poder. Dai que a ciencia do Poder da Mente concluí que o pensamento é urna real¡dade mental que se torna realidade física. 490

"JESÚS, PRECURSOR E ANUNCIADOR DA NOVA ERA"



Pensar é poder.

Pode quem pensa que pode. Ao pensamento segue-se a reagao; á reagao segue-se a agio; á agio segue-se a materializagao.

Assim como toda substancia busca a sua forma, como toda esséncia exige a sua expressao, como toda causa contém seu efeito — da mesma maneira todo pensamento contém a sua materializagio" (p. 28). "Tudo o que alguém consegue pensar, criar e pedir, pode a/cancar.

O Poder nao se manifesta apenas se o pedido for razoável. De mais a mais, pertence ao individuo pedir o que Ihe faz bem. Se Deus somente

atendesse o que é explícitamente bom e recusasse o que nao é bom, estaría cerceando a liberdade que outorgou á criatura humana. Com clareza meridiana Jesús ensinou que tudo que se pede se rece be. E compfetou afirmando que qualquer pessoa que peca receberá, nao importando se é pobre, ignorante, má, infeliz, deprimida, rústica, feia, desagradável.

Se vocé comega a refletir fundo sobre essa revelacao do Cristo, ficará espantado.

A ser verdade, ai está a redencao da humanidade. Está passando fome? Pega alimento. Está doente? Pega saúde. Está triste? Pega alegría.

Está dormindo na rúa? Pega casa. Está com medo? Peca protegió divina. Quer casar? Pega casamento. Precisa de um carro? Pega-o" (pp. 81s).

"A Palavra desencadena a Forga divina... 491

12

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

Como deducao: Toda oracao feita com fé, pelo católico, protestante, espirita, budista, umbandista, ou sem religiao — sempre produz o resul tado... Se/a o objeto da fé verdadeiro ou falso, ao gerar a fé, produzirá o re-,

sultado. É a leí criada por Deus que assim funciona" (p. 117).

"A ciencia do Poder da Mente, que é, em última análise, a grande ciencia da Nova Era de Aquárius, está investindo fundo na verdade de que a doenca nasce na mente e se expressa no corpo, e, conseqüentemente, a saúde nasce na mente e se materializa no corpo" (p. 29). Perguntamos agora: 2. QUE DIZER? Tres observacSes, entre outras, podem ser feitas ao livro de L. Trevisan.

2.1. Nova Era A fórmula "Nova Era" é ocasiao para que L. Trevisan repita idéias já expressas em seus livros anteriores, que tém sabor panteísta e se colocam na escola do norte-americano Joseph Murphy.

"Nova Era", na astrologia, supoe o anel do Zodíaco com suas doze casas, situadas de 30 em 30 gratis na circunferencia de 360 graus. Cada qual dessas casas é dotada de um símbolo: Cameiro, Touro, Gémeos, Caranguejo,... Peixes, Aquário ou Aguadeiro1 ... Cada um desses símbolos corresponde a urna constelacao, com a qual o signo coincidía há cerca de

2000 anos. Em nossos dias já há urna defasagem entre os sinais do Zodíaco

e as constelacoes que outrora Ihes correspondían!. Ademáis o anel do Zo díaco a cercar a Térra nao existe; supoe a Térra como centro ¡móvel de planetas e astros que a cercariam — o que é totalmente erróneo. Para explicar melhor em que consiste esse erro, notemos que os as

trólogos contemporáneos, ao estudarem os sinais do Zodíaco, supoem

que as conste lacees estejam hoje na mesma posipao em que se achavam há

mais de dois mil anos, quando foram estabelecidas pela primeira vez. Naquela época a passagem do Sol pelo ponto vernal (inicio da primavera no hemisferio Norte) coincidía com a entrada do mesmo no signo da constela-

' Aquário ou Aguadeiro tem por símbolo um jovem portador de um cán

taro de agua, que ele vai derramando aos poucos. 492

"JESÚS, PRECURSOR E ANUNCIADOR DA NOVA ERA"

13

cao do Carneiro. Mas, em virtude de fenómeno de precessao dos equino-

dos, o ponto vernal va¡ recuando sobre a eclíptica á razüo de 50", 26 por ano, ou seja, 30 graus em 2.150 anos (exatamente urna casa do Zodíaco).1

Vé-se, pois, que a teoría das Eras do Zodíaco, que teriam cada qual a duracao de 2.000 anos, é altamente fantasiosa; a nada corresponde na realidade do universo. Ademáis, segundo a habitual enumeracao das casas do Zodíaco (encontrada ñas fontes da astrologia), o signo de Peixes estaría depois de Aquário (Aguadeiro), e nao antes; Aguadeiro seria o 119 sinal,

e Peixes o 12? ou último da serie. Por isto o discurso que anuncia a transí-

cao de Peixes para Aquário e o próximo advento de urna Nova Era é vazio e falso.

2.2. Poder da Mente e Oracao

L. Trevisan identifica poder da mente, oracao e fé, que, na verdade,

sao tres realidades distintas.

O poder da mente de que fala o autor, é algo de imaginoso. Se fosse real, todo doente que o exercesse ficaria sadio, todo pobre ficaria rico, quem quisesse um carro, conseguiría um carro. Ora isto nao se dá. - O que

pode ocorrer, é a autosugestao: urna pessoa otimista é predisposta á de-

sempenhar bem as suas atividades; enrrconseqüéncia, o seu otimismo é penhor de éxito em seus empreendimentos. A sugestao rompe os bloqueios mentáis e pode facilitar resultados positivos em favor de quem a aceita.

L. Trevisan concebe o poder da mente em perspectiva monista-panteísta; ele mesmo diz que "o individuo contém o universo e o universo é uno com o individuo. Há perfeita interacao entre os seres humanos e o universo. O homem é uno com a materia, com as plantas, com os animáis e

1 Para explicar o que se/a precessao, devemos explicar, antes do mais, o

que se/a a eclíptica.

Eclíptica é o grande círculo tragado na abobada celeste pelo aparente movimento do Soi durante o ano, correspondente ao movimento da Térra em torno do Sol. Equinócio é a época do ano focorrente de seis em seis meses) em que o Sol, no seu aparente movimento sobre a eclíptica, corta o quadro celes te; nessa ocasiao (21 de margo e 21 de setembro), o dia e a noite tém a mesma duracao. — Acontece, porém, que o movimento do equinócio vai sofrendo um lento recuo de 50", 26 por ano; isto se chama "a precessao dos equinócios", em conseqüéncia da qual o momento do equinócio vai sendo lentamente antecipado. 493

J4

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

com todos os seres existentes" (p. 29). Disto se segué que, ao acionar a sua mente, a pessoa está acionando urna grande rede, de tal modo que o im pulso produzido pela mente vai repercutir quase mecánicamente á distan cia e fazer que fora da mente se concretize ou materialize aquilo que é concebido mentalmente. - Tal suposicao, porém, é falsa; ninguém enri quece pelo simples fato de pensar em dinheiro; ninguém se livra de urna

doenca pelo simples fato de pensar sempre em saúde.

Quanto á oracao, é preciso dizer que muito difere de poder da mente. A oracao supoe Deus distinto do homem e do mundo, voltado, porém, para o homem como um pai é voltado para seus filhos. Na oracao, o oran te, que é sempre amado por Deus, pede ao Pai Celeste os bens de que necessita, sem ter outra garantía de atendimento a nao ser a benevolencia do próprio Deus. Nada há de mágico ou de mecánico na oracáo; tudo se de senrola num clima de confianca da criatura devotada ao Criador. Por sua vez, fé nada tem que ver com forca ou energia mental ou físi

ca. É a adesao do homem a Deus que I he fala; tal adesao tem um cunho in

telectual (há urna profissao de artigos de fé ou de verdades de fé), mas também urna nota de entrega total e confiante a Deus. Por isto existe di ferenga entre a fé do budista, a do umbandista, a do maometano e a do fiel

católico...; cada Credo religioso tem suas proposicoes próprias, que nao podem ser reduzidas a sentimentos subjetivos; Deus Pai falou aos homens por Jesús Cristo, de modo que a Palavra de Deus ná"o pode ser relativizada

nem equiparada a palavra de um mestre humano. 2.3. A Seducao do Maravilhoso

Se alguém perguntasse por que Lauro Trevisan faz tanto sucesso (seus

livros tém sai'do em numerosas edicoes), poderíamos responder que ele to

ca urna fibra muito sensível do ser humano: o desejo de maravilhoso ou de

solugoes rápidas, prontas, portentosas ou mesmo... mágicas. Os meios convencionais de lutar na vida sao morosos, cansativos e, nao raro, pouco eficazes. Por isto todo homem sonría com algo de diferente, que ele nao tem, mas que gostaria de ter; e deixa-se levar fácilmente por quem atende a esse gosto de maravilhoso-mágico, aínda que o maravilhoso seja fantástico ou

irracional aos o I nos de quem pensa um pouco. Desta maneira os adultos tém um ponto comum com as enancas, que também sonham e se deleitam

com seus sonhos, por mais irreais que sejam; dir-se-ia que a enanca sobrevi ve nos adultos, sem que estes tenham consciéncia de tal fenómeno.

Estas ponderacoes sao ilustradas por um observador perspicaz no seu livro de título desafiador: "Me conta urna Mentira" (Ed. Santuario, Apa recida, SP):

494

"JESÚS. PRECURSOR E ANUNCIADOR DA NOVA ERA"



"A i/ha de Creta fica meio perdida no Mar Mediterráneo. Mas foiali,

segundo os historiadores, que nasceu a civilizacao ocidental há 3.400 anos. Apesar dessa gloria histórica, seus habitantes se sentem solitarios e ¿ margem do mundo. Quando chegam os turistas, os habitantes da ilhapraticam o mais original dos assaltos. Arrancam dos visitantes nao o seu dinheiro e as suas jóias, mas noticias e novidades que acontecem no outro lado do mundo. Eles querem saber tudo, simplesmente tudo, e um pouco mais'. Depois de horas de conversa, quando o turista imagina quejé esgotou

seu repertorio, os cretenses insistem: 'Conté mais urna historia de sua tér ra. NEM QUE SEJA MENTIRA!'

Os turistas sonham com viagens e i/has. Quando lá chegam, deseobrem que os habitantes dessas ilhas sonham com os países de onde eles vie-

ram. Os^cretenses jé tém a sua i/ha e nao a desejam. Os turistas tém o seu

país e vivem viajando como se buscassem urna térra para morar.

Sonho é um desejo, e ninguém deseja o queja tem" (Rómulo Cándi

do de Souza, obra citada, pp. 9s).

O éxito de Trevisan parece ser do tipo das estórias que os turistas contam aos cretenses e que os cretenses deviam contar aos turistas. Incons

cientemente todo ser humano gosta de ouvir belas narrativas, mesmo

quando nao distinguem bem entre verdade e mentira.1

Também o famoso historiador do pensamento religioso antigo e mo derno, Mircea Eüade, se refere a tal fenómeno, quando afirma que o gosto dos mitos nao é coisa de povos primitivos apenas. Também o homem con temporáneo se compraz em mitos modernos, pois estes o ajudam a fugir mentalmente da dura realidade de cada dia. Eis as observacSes de Eliade: "Poder-se-ia escrever um livro inteiro sobre os mitos do homem mo derno e sobre as mitologías camufladas nos espetáculos que ele prefere e nos livros que ele lé. Aquela 'oficina de sonhos' que é o cinema, retoma e emprega um grande número de motivos míticos: a luta entre o Herói e o

1 Com isto nao queremos dizer que somente o anseio de utopia mágica es

teja em favor de L. Trevisan. Podemos admitir que o poder de sugestao e a capacidade de serenar o psiquismo humano contribuam para o relativo bem-estar de varios de seus clientes. Mas eremos que estes pagam preco muito caro para conseguir esses magros e inconsistentes beneficios, preco que pode deixar conseqüéncias mais negativas do que positivas na mente dos "pagantes". 495

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

Monstro, os combates e as provas de iniciacao, as figuras e as imagens para

digmáticas (a 'Mocinha', o 'Herói', a paisagem paradisiaca, o 'inferno', etc.). Também a leitura tem urna fungió mitológica, pois e/a vem a ser, pa ra o homem moderno, urna 'fuga do Tempo', semelhante áquela realizada mediante os mitos. Quer 'mate' o tempo com um romance policial, quer penetre em um universo estranho, apresentado por um romance qualquer, a leitura langa o homem moderno para fora da sua duragSo pessoal e o inseré em outros ritmos; e/a o faz viver urna outra 'historia' " (tradugao por tuguesa do texto de "II Sacro e ¡I Profano", Torino 1967, p. 161).

Estas consideracoes sao parámetros muito lúcidos para explicar o porqué da grande aceitacao das belas promessas feitas por L. T revi san. — Em perspectiva crista, diremos que o fiel católico nao recusa o otimismo; ao contrario, longe de ser tristonho ou masoquista, ele é sereno e confian te; todavía ele o é como Cristo Iho ensinou, a saber: as provacoes que todo ser humano experimentam na vida presente, sao penhor de crescimento in terior e de mais íntima configurado ao Senhor Jesús, que transfigurou a

Cruz, tornando-a árvore da vida e penhor de gloria. É mais realista e efici

ente este modo de pensar do que a proposta mágica do monismo-pante ísmo.

■k

*

*

ALTA FUNCIONARÍA BRITÁNICA SE CONVERTE AO CATOLICISMO A decisao, do Sínodo Anglicano da Inglaterra, de conferir o ministe

rio sacerdotal as muiheres provocou divisao entre os membros da Comu-

nhao Anglicana. Nao poucos tém passado ou tencionam passar para o Ca tolicismo, julgando que a medida tomada distancia demais da Grande Tradicao Crista o Anglicanismo.

É interessante notar que, entre esses anglicanos dissidentes, se encontram também muiheres. Urna das mais famosas foi a Sra. Ann Widdecom-

be, de 46 anos de idade, Subsecretaría da Seguranca Social do Governo Major. Foi recebida na Igreja Católica — o que suscitou longos comenta rios dos meios de comunicacao social, que previram outros casos de mu iheres dispostas a passar para o Catolicismo. A Igreja Católica na Inglaterra vem-se preocupando com o fenóme no. Importa-lhe definir a atitude a tomar frente aos varios pedidos de

(Continua na pág. 524) 496

Pastoral rígida:

'NEM BATIZADOS NEM CASAMIENTOS'

Em sintese: Urna Pastoral severa tende a negar os sacramentos do Batismo e do Matrimonio a católicos que, por um motivo ou outro, nao praticam a sua fé. Tende assim a criar urna Igre/a de poucos fiéis, tida como auténtica.»— Tal tendencia é contraditada, de modo especial, pela Exorta-

cao Apostólica Familiaris Consortio do PapaJoao Paulo II, que, alias, nao faz senao expor os principios que devem animar o bom pastor: nSo esma-

gar o canico rachado, nao extinguir o pavio aínda fumegante... (cf. Is 42, 3). Ao pastor muito importa considerar o que possa haver de bom e válido nos fiéis que o procuram ocasionalmente e desenvoivé-lo com zelo e amor pastoral.

De modo particular, no tocante ao Batismo de enancas cu/os pais nao sao casados na Igre/a, note-se que o que importa á Pastoral, é qué tais enancas — urna vez batizadas — possam um día receber a instrucao religiosa

correspondente: os próprios pais ou os padrinhos talvez o possam fazer (nao poucas pessoas nao devidamente casadas guardam viva fé e sofrem por estar afastadas dos sacramentos). Se os pais e padrinhos nao podem ou nao querem assumir a responsabilidade da catequese das enancas, com

pete á comunidade paroquiai, dirigida pelo Vigário, instituir a Catequese de tais enancas, para que estas nSo fiquem sem Batismo. A final, quando o sacerdote batiza, é a Igre/a, como Mae, que está atuando; por conseguinte, a comunidade paroquiai (a Igre/a local) deve assumir as conseqüéncias do Batismo conferido na respectiva paróquia. A enanca nSo há de pagar por eventuais erros de seus pais, punida pela recusa do Batismo. *

*

*

Existe em varias dioceses do Brasil e do estrangeiro urna tendencia a negar o sacramento do Batismo a enancas cujos pais nao sejam casados na

Igreja. Verifica-se também a tendencia a recusar o casamento sacramental a noivos nao praticantes e as Missas de funerais ou de sétimo dia solicita das por pessoas nao estritamente ligadas á Igreja.

Essas tendencias tém sido funestas para o Catolicismo. Muitas pessoas

se afastam da Igreja por se sentí re m brusca e injustamente repelidas. Por 497

.18

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

certo, tal praxe demasiado rigorosa ou puritana nao condiz com a suprema lei de toda acao pastoral, que é lucrar as almas ou "tornar-se tudo para to dos, a fim de salvar alguns a todo custo" (1Cor 9,22). Examinemos de per si os tres casos propostos.

1. O BATISMO DE CRIANZAS. .. A revisao da praxe batismal da Igreja consiste em fazer que o rito do Batismo nao seja mera cerimdnia de dez ou quinze minutos, sem continui-

"dade sensível na vida da crianca; o Batismo, ao contrario, há de ser um rito de que a crianca se torna consciente pela adequada ¡nstrucao religiosa, tao logo que chegue á idade da razáo. — O que importa, portante, á Pastoral, é que haja catequese para a crianca que recebe o sacramento do Batismo. Ora a catequese da crianca pode ocorrer nao sonriente nos casos de fa

milias católicas prat¡cantes, mas também ñas situacoes em que os pais nao estao devidamente casados. Muitos desses genitores estao dispostos a trans mitir as verdades da fé aos seus filhos, dando-Inés a necessária educacao re ligiosa (sabemos que nao poucos guardam a fé viva e sofrem por estar ex cluidos dos sacramentos). Se, porém, os genitores ná*o podem ou nao querem dar catequese aos filhos, haja recurso a padrinhos que sejam bons ca tólicos e assumam a formacao religiosa de seus afilhados1. Se nem padri nhos tais se podem encontrar, é para desejar que a comunidade paroquial se interesse pela educacSo religiosa das enancas que nao tém familiares aptos a Ihes transmitir as verdades da fé; cada paróquia deveria estar

atenta a esse problema e instituir, entre as suas Pastorais, aquela que se dedique especialmente a enancas de pais nao legítimamente casados, a fim

de que tais pequeninos nao fiquem privados do Batismo. Devemos lembrar

que a Igreja éMae;é Elaquem ministra o sacramento do Batismo; é Elaquem educa na fé mediante os seus membros; por isto cada fiel católico deve sentirse responsável, com a Santa Mae Igreja, pela regenerado batismal e pela formacSo catequética de todas as enancas; por conseguinte, o proble ma das enancas cujos pais nao sao legítimamente casados interpela nao somente o clero, mas toda a comunidade paroquial e pede que esta, com o

pároco, se interesse para que nenhuma crianca fique sem o Batismo.

1 Para possibilitar aos pais e padrinhos o exercício de suas fungoes religio sas junto as enancas, existem os Cursos de Preparacao dos mesmos para o Batismo. Tais Cursos ás vezes se ressentem depouco conteúdo e significado.

Poderiam ser reforeados e revitalizados. 498

"NEM BATIZADOS NEM CASAMENTOS"

19

Com outras palavras: quando um casal leva seu filho ao Batismo e um ministro de Deus confere o sacramento, é toda a Igreja que batiza. Por conseguinte, toda a Igreja se compromete com essa crianca: os pais, em primeiro lugar; a seguir, os padrinhos (que sao os vice-gerentes dos pais

para a formacáb religiosa dos afilhados);a comunidade paroquial com seu pároco ou, aínda, os familiares e amigos da crianca batizada. A crianca nao deve pagar pelo tipo de vida dos genitores, nem ser pu

nida por causa disto.

Tal sentenca é fundamentada na palavra do S. Padre Joao Paulo II,

que na sua Exortacao Apostólica Familiaris Consortio considera o caso de pessoas unidas sem o sacramento do matrimonio, dizendo entao:

"(Os divorciados que contrairam novas nupcias) se/'am exortados a ouvir a Palavra de Deus, a freqüentar o Sacrificio da Missa, a perseverar na

oracao, a incrementar as obras de caridade e as iniciativas da comunidade

em favor da justica, a educar os filhos na fé crista, e cultivar o espirito e as obras de penitencia para assim impiorarem, día a dia, a grapa de Deus" (n? 83).

Obsérvese que o texto recomenda a educacao dos filhos na fé crista

(grifo nosso). Ora isto supoe que tais-enancas sejam batizadas. É necessá-

rio, pois, que os pastores se interessem por ajudar os casáis ilegítimos a cumprir a exortacao do S. Padre. — Assim se poderá conservar a chama da fé e do amor cristaos em tais pessoas; muitas destas, abatidas pela situacao irregular em que vivem, desejam ardentemente urna palavra de estímulo e reconforto da parte da Igreja. — Na sua fragilidade, muitos desses casáis, se abandonados ou menosprezados pelas paróquias católicas, vao procurar ajuda espiritual numa confissao religiosa nao católica. Cíente disto, o bom pastor se empenha por salvar e fomentar tudo o que possa haver de bom e

válido em fiéis espiritualmente debilitados, a exemplo do Bom Pastor do Evangelho; cf. Jo 10,1-18.

2. O CASAMENTO DE CATÓLICOS FRACOS NA FÉ Outro problema de Pastoral contemporánea é o dos católicos que pedem o sacramento do Matrimonio, mas sao indiferentes a fé ou tém fé lán guida.

O Sínodo dos Bispos em 1980 e o S. Padre Joao Paulo II, na sua Exortacao Apostólica Familiaris Consortio (22/11/1981), se preocuparam 499

20

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

com o assunto. Do estudo da questao resultou o inciso n? 68 de tal Exortacao, cujos tópicos principáis vao abaixo reproduzidos. Adverte primeiramente o S. Padre que "a fé de quem pede casar-se na Igreja pode existir em graus diversos e é dever primario dos pastores fa-

zé-la descobrir de novo, nutri-la e torná-la madura". Se o sacerdote ou seu representante encontra boa vontade e receptividade por parte dos noivos que se dizem indiferentes ou, ainda, se verifica que os noivos se dispdem a fazer o que a Igreja eré e ensina a respeito do matrimonio, nao deve rejeitar o seu pedido de casamento religioso; ao contrario, admita-os ao matrimo nio sacramental. Importa que tais noivos sejam animados por intencao reta e sincera, sem a qual, como se compreende, nao se poderiam casar na Igre ja. Eis as palavras do próprio S. Padre, que leva em conta a possibilidade de que motivos sociais influam no desejo dos noivos:

"É verdade, contudo, que, em alguns territorios, motivos de caráter mais social que auténticamente religioso, induzem os noivos a casar-se na igreja. Nao admira. O matrimonio, na verdade, nao é um acontecimento que diz respeito só a quem se casa. Por sua própria natureza é também um fato social, que compromete os esposos ante a sociedade. Desde sempre a

sua celebracao se faz com festa, que une as familias e os amigos, é normal, portanto, que entrem motivos sociais, juntamente com ospessoais, napeticao do casamento na igreja.

Todavía, nao se deve esquecer que estes noivos, pela forca do seu batismo, estao já realmente inseridos na Al¡anca nupcial de Cristo com a Igreja e que, pela sua reta intencao, acolheram o projeto de Deus sobre o matrimonio, e, portanto, ao menos implícitamente, querem aquilo que a Igreja faz quando celebra o matrimonio. Portanto, o mero fato de neste pedido entrarem motivos de caráter social, nao justifica urna eventual re cusa da celebracao do matrimonio pelos pastores. De resto, como ensinou o Concilio Vaticano II, os sacramentos com as palavras e os elementos rituais nutrem e robustecen) a fé:1** aquela fépara a qual os noivos já estSo encaminhados pela forca da retidao da sua intencao, que a grapa de Cristo nao deixa certamente de favorecer e de sustentar".

Afastar-se de tal norma pode acarretar injustipa por parte dos pasto res de almas:

"Querer estabelecer criterios ulteriores de admissao á celebracao eclesial do matrimonio, que deveriam considerar o grau de fé dos nubentes.

168 Cf. Constítuicao Sacrosanctum Concilium n? 59. 500

"NEM BATIZADOS NEM CASAMENTOS"

compreende. além do mais, riscos graves. Antes de tudo, o de pronunciar

jufzos infundados e discriminatorios; depois, o risco de levantar dúvidas sobre a validade de matrimonios ¡á celebrados, com daño grave para as comunidades Cristis, e de novas inquietacoes injustificadas para a consciencia dos esposos; cair-se-ia no perigo de contestar ou de por em dúvida a sacramentalidade de muitos matrimonios de irmaos separados da comunhao plena com a Igreja Católica, contradizendo assim a tradicao eclesial" (n? 68).

É claro que, se os nubentes recusam de modo explícito e formal a

doutrina da Igreja sobre o matrimonio, nao devem ser admitidos ao casa mento religioso:

"Quando, nao obstante todas as tentativas feitas, os nubentes mostram recusar de modo explícito e formal o que a Igreja quer fazer ao cele brar o matrimonio dos batizados, o pastor nSo os pode admitir á celebragao. Mesmo se constrangido, ele tem o dever de avaliar a situacao e fazer compreender aos interessados que, estando assim as coisas, nSo é a Igreja, mas eles mesmos que impedem a celebracSo que, nao obstante, pedem. Mais urna vez se manifesté com toda a urgencia a necessidade de evangelizacao e catequese pré e pós-matrimoniais, feitas por toda a comunidade cristS, para que cada homem e'cada muiher que se casam, o possam fazer de modo a celebrar o sacramento do matrimonio nao só válida, mas também frutuosamente" (n? 68). Como se vé, o S. Padre preconiza um tipo de Pastoral que procura nao esmagar o can¡90

rachado nem apagar o pavio ainda fumegante

(cf. Is 42,3). Em vez de afasiar os cristaos fráeos na fé, é misterque o sa cerdote os ajude a descobrir a alegría da fé e da auténtica vida cristS; casem-se na Igreja desde que oferecam o mínimo dé condicoes exigidas, em vez de se unirem em concubinato (o matrimonio civil nao substituí o sa cramento).

3. MISSAS DE 7? DÍA E DE CASAMENTO... Há tambórn quem ponha em dúvida a conveniencia de se celebrar a S. Missa por pessoas falecidas quando tais celebracoes sao solicitadas por fa miliares ou amigos nao estritamente ligados á Igreja. A propósito transcrevemos, a seguir, em tradupao portuguesa, um ar

tigo de Marie-Madeleine Martinie, publicado no jornal L'Homme Nouveau

de 18/07/93, p. 5. Redigido em estilo simples, vai ao ámago da questao. 501

22

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993 "Nao haverá mais Missa de Casamento nem Missa de Funerais

Certa vez havia um Bispo que nao quería que a Eucaristía em sua diocese se tornasse propriedade de grupos particulares. Por isto proibiu a to dos os sacerdotes a celebracSo de Missas de casamento e Missas de funerais. A proibicao era tao rigorosa que sacerdotes vindos de fora para oficiar ca samentas nao mais puderam celebrar a S. Missa por sua irmaou seu sobrinho que se casava.

Com todo o respeito que se deve a um Bispo (especialmente a um Bispo cu/o Boletim Diocesano publica belas frases sobre a Missa), é lícito dizer: "Senhor Bispo, V. Excia. nao estaría desconhecendo um aspecto da vida dos fiéis... pouco fiéis? Esses crístaos batizados, muitas vezes mal ins truidos, nao sabem exatamente em que créem e se sentem muito longe da Moral Crista tal como a apresentam os meios de comunicacao social... Esses crístaos, numerosos como sao, fazem parte do rebanho, mas rara mente entram no aprisco. Quero dizer que eles nao freqüentam as igrejas, e quase nada sabem a respeito da Eucaristía,... Eucaristía que, como bem diz V. Ex.cia, é "a presenca viva e atuante do Cristo Jesús na sua Igreja".

A Liturgia Eucaristica, acrescenta V. Ex.cia, "nao pertence nem ao sacer dote nem á paróquia nem á comunídade".

Esses católicos batizados nao prat¡cantes, na maioria dos casos, guar-

dam aínda um só vínculo com a Igreja. E esse vínculo é a sua presenca nos enterros e nos casamentas. A/guns, bem o sabemos, comparecerá entao

por motivo de conveniencias sociais ("é preciso que nos ve/am no enterro

de tal pessoa importante... ou no casamento da filha de tal homem de prestigio"). Mas outros, muitas mais numerosos, comparecem por amiza-

de. Por conseguinte, ... com o coracao aberto mais do que de costume,

pois compartílham urna alegría e urna dor.

Nesses días nao estao eles mais perto de nos do que em outros dias? E nao é essa a ocasiao de Ihes dar a ouvir a Palavra de Deus,... tornando-a acessivel medíante um bom comentario? Nao é também a ocasiao de Ihes mostrar urna comunidade viva?

Quando o celebrante se esforca para bem preparar toda a cerimónia, quantas vezes acontece que pessoas nio prat¡can tes pedem o texto da ho

milía ou da Oracao dos Fiéis? Isto aconteceu por ocasiao das Missas de Fu nerais de dois homens que eu bem conhecia. Um tinha numerosos amigos no mundo do esporte — muito indiferente é fé. O outro freqüentava assiduamente, por razdes profissíonais, ambientes nSo indiferentes, mas hostis é Igreja.

Ambos eram muito estimados. Por isto as igrejas paroquiais das res pectivas familias tornaram-se pequeñas para conter seus amigos, que em 502

"NEM BATIZADOS NEM CASAMIENTOS"

23

tais dias ouviram falar sobre a vida e a morte com palavras das quais taivez tenham guardado recordacSo.

Poder-se-ia ter comentado, diante desses incrédulos, cada rito impor

tante da celebracao, pondo em re/evo o seu significado. — E o que se veri fica ñas Missas de defunto, verificase também nos casamentos religiosos.

Por ocasiao de nupcias, mais aínda que na ocorréncia de hiñerais, é bemum "grupo particular" que enche a igreja e de certo modo "se apropria" do sacerdote e da Eucaristía. Mas o fato de ornamentaren) a igreja, escolherem as músicas e até as leituras, convidarem seus amigos... signifi ca que, no dia do casamento, a assembléia está separada da grande comu nidade dos fiéis?

Os pequeños riachos fazem os grandes ríos, como é notorio. Será que as pequeñas comunidades nao constituem também a grande comunidade

eclesial, contanto que nao se fechem sobre si mesmas, mas sintam e quei-

ram estar unidas a toda a Igreja? Duas familias, dois grupos de amigos que se regozijam juntos em torno de urna cerimdnia seria, constitutiva de algo importante, nao merecem ser oferecidos juntamente com o pao e o vinho

do sacrificio, sempre que isto seja possivel?

Os fiéis que pensam assim, nao reivindicam aMissacomoumdireito. Colocando-a no centro da sua cerimónia de casamento, querem solenizar

seu compromisso, pois eles sabem, com V. Ex.cia, que a Missa "é o sacra mento do amor, é o misterio da fé, é o pao da estrada, é o Cristo Jesús, o Homem-Deus em nos e na sua Igreja". E a eles parece normal professar a sua fé diante dos amigos trajados com as suas melhores vestes, alegres, comovidos também^.. amigos que talvez perguntarao a si mesmos: "E se tudo isso fosse verdade?"

Comentando... As considerares de Marie-MadeleineMartinienosin-

teressam, porque mais uma vez mostram que a verdadeira Pastoral é aquela que sabe aproveitar tudo o que haja de bom e válido ñas pessoas física

mente distanciadas, a fim de Ihes ir ao encontró e atingí-las onde e como possam ser atingidas. A auténtica Pastoral nao se limita a cuidar das ove-

¡has sadias e fortes, mas devota especial atencao ás fracas e titubeantes, a

exemplo do Senhor Jesús, que disse: "Nao sao os que tém saúde que pre cisa m de médico, mas os doentes. Eu nSo vim chamar justos, mas pecado res" (Me 2,17; cf. Le 5, 31s).

Certas celebracoes religiosas que assumem índole "social", nSo nao

de ser canceladas sem mais. Ao contrario, preservada a sua índole religiosa e mantido o devido respeito, sao ocasiao altamente oportuna para que as pessoas afastadas nao percam todo contato com a Igreja e consigam ouvir e ver palavras e gestos aptos a Ihes despertar o interesse religioso. 503

Caso delicado:

OS ANTICONCEPCIONAIS E A AMEAQA DE ESTUPRO

Em síntese: O Pe. Giacomo Perico S.J., famoso teólogo moralista, fazendo eco a outros moralistas da década de 1960, julga que as muiheres arriesgadas de estupro, como ocorre na Bosnia, tém o direito de se defen der do injusto agressor mediante o uso de anticoncepcionais. — O funda mento desta sentenca é o seguinte: existe urna diferenca radical entre a có pula sexual empreendida espontáneamente e por amor, e a cópula sexual pressionada violentamente.

No primeiro caso, está emjogo, antes do mais, o respeito é sexualidade humana, que por si é unitiva e fecunda; daíser ilícito o recurso a anti concepcionais. No segundo caso, está em jogo, antes do mais, a dignidade e a liberdade da muiher; ora isto permite á muiher o uso da legítima defesa; se a vítima nao pode impedir o contato físico do agressor, é-lhe lí cito procurar impedir (por recurso previo ou por meios anticoncepcionais, nao pelo aborto) as conseqüéncias do estupro.

Tal sentenca, publicada em recente artigo da revista La Civiltá Cat-

tolica, se reveste de certa autoridade, visto o caráter oficioso desse periódi co. Todavía nao seria correto deduzir dessa sentenca a conclusao de que a

pilula se tornou moralmente lícita; muito menos Valeria dizer que o abor

to ¡á é moralmente permitido. — A posicSo dos moralistas em foco tem em vista únicamente o caso de muiheres seriamente ameacadas de estupro e

desejosas de recorrerá legítima defesa. *

*

*

É notoria a violencia cometida contra populacoes da ex-lugoslávia; especialmente na Bósnia-Erzegovínia as muiheres musulmanas tém sido submetidas ao estupro, que as humilha e onera pesadamente. — Para evitar maiores danos, alguns autores católicos tém escrito em favor da legitimidade dos recursos anticoncepcionais, que tais muiheres poderiam utilizar, a fim de se ver livres do perigo de gravidez indesejada. Tal sentenca publi

cada na revista La Civiltá Cattolica, n? 3433, de 3/7/1993, pp. 37-46, em

artigo do Pe. Giacomo Perico S.J., tem agitado a opiniao pública, de mais 504

ANTICONCEPCIONAIS E AMEAQA DE ESTUPRO

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a mais que tal revista costuma exprimir oficiosamente o pensamento da

Santa Sé.

Passamos a estudar o tema, analisando a argumentado do Pe. Perico

S.J.; caso o leitor nao possa ler este artigo por inteiro, passe diretamente aos subtítulos n? 3 e 4.

1. OS DRAMÁTICOS ACONTECIMIENTOS DA BOSNIA As noticias das sin¡stras ocurrencias da Bosnia tém sido divulgadas por varios cañáis. Muito siginif¡cativos, porexemplo, sao os relatónos ofi

ciáis redigidos pela ComissSo de Inquérito presidida pelo ex-Primeiro Mi nistro da Polonia Tadeusz Mazowiecki, designado pela Comissao de Direi-

tos Humanos da ONU. Em 13 de fevereiro de 1993 o relatório apresentado a Genebra dizia sintéticamente:

"Tém sido cometidos estupros pelos beligerantes de qualquer parte, embora a maioria se/a praticada por soldados servios sobre mulheres mu sulmanas, multas vezes de menor idade. Nenhuma autoridade militar ou política moveu um dedo para conter tais crimes cometidos freqüentemente, até mesmo em muitos campos de concentracao. Na Bósnia-Erzegovínia e na Croacia o estupro é utilizado como meio de limpeza étnica. Nao raro é praticado diante de toda urna aldeia para terrificar a populacao e provo car a fuga de inteiros grupos étnicos" (Violazioni dei diritti umani nella exlugoslavia. II rapporto Mazowiecki, em Aggiornamenti Sociali 44-1993, p. 329).

A propósito pronunciou-se o Papa Joao Paulo II. Com o objetivo de solicitar urna ¡ntervencao da comunidade internacional, enviou ao Sr. Boutros Boutros-Ghali, Secretario Geral da ONU, urna mensagem datada

de 19/3/1993, em que sintetiza as atrocidades dizendo: "A morte, a tortu

ra, o estupro e a expulsao sao as múltiplas faces do odio" (L'Osservatore

Romano, 13/3/1993, p. 1). Os Movimentos Feministas do mundo inteiro manifestaram seu repu dio aos abusos cometidos contra as mulheres bosnias. O Centro Italiano Feminista escreveu ao Sr. Boutros-Ghali e ao Sr. Thadeusz Mazowiecki urna peticao, em que se lé:

"Em nome da purificacao étnica, milhares de senhoras, mocas e até

meninas sio vítimas de estupro em massa, que continuam a se realizarnos campos da violencia, apesar das explícitas denuncias da Amnesty Interna-

tional. Na ex-lugoslávia a violencia sexual foi fríamente planejada em es505

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"PERPUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

criterio como arma de guerra, e imposta, como obrigacao, ás tropas, com o objetivo declarado de fazer que as mulheres déem á luz 'pequeños inimigos'. Tratase de um artificio tremendo, comparável a certas práticas do

nacional-socialismo. É violencia diante da qual nSo é possivel calar" (M. Bonate, R¡mango lá, em II Nostro Tempo, 14/3/1993, p. 7).

Era de prever que as mulheres assim violentadas procurassem defen-

der-se da agressao e de suas conseqüéncias. Por isto tém recorrido a meios anticoncepcionais e ao aborto — o que vem suscitando debates e julgamentos diversos da parte de pensadores e da opiniao pública. Vejamos como, a luz da Moral católica, há*o de ser avaliados tais pro cedí mentos.

2. 0 ABORTAMENTO

O abortamento é sempre o exterminio de urna vida inocente, que

existe desde o momento em que se dá a fecundapao do óvulo pelo esper

matozoide. Só se pode admitir o homicidio em caso de legítima defesa ou quando alguém é injustamente agredido e nao tem outro meio de escapar da morte ¡mínente se nao extermina o agressor. Ora o feto na*o é injusto agressor; por isto conserva o seu direito á vida, mesmo que esta incomode a gestante; o fato de resultar de estupro nSo legitima a violencia do abor tamento.

Por isto o S. Padre, ao mesmo tempo que tem condenado a conduta dos estupradores, vem apelando para as familias dos fiéis cristaosafim de que ajudem as vítimas (má*es e filhos) da violencia; facam o possfvel para salvar a vida de urnas e outros; déem especial acolhida ás gestantes e aos recém-nascidos. Eis as palavras que o S. Padre dirigiu a Mons. Vinko Paujic, Arcebispo de Sarajevo, aos 2/3/1993, solicitando-lhe que motive a comunidade católica em favor das vítimas:

"É dever dos Pastores programar oportunas iniciativas, aptas a esti

mular as familias e promover gestos de reconciliacSo, generosidade e amor

cristao. De modo especial, é necessário que os Pastores e todos os fiéis res-

ponsáveis pela Pastoral familiar se encarreguem urgentemente de atender

ás esposas e aos jovens que sofreram violencia inspirada por odio racial ou brutal libidinagem. Essas criaturas, vítimas de tao grave ofensa, devem poder encontrar na comunidade o sustentáculo da compreensao e da solida-

ríedade. Em circunstancias tao dolorosas, será necessário ajudar as mulhe res a distinguir os atos de violencia, infligidos por homens desgarrados da 506

ANTICONCEPCIONAL E AMEACA PE ESTUPRO

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razio e da consciéncia, e a realidade de novos seres humanos que através de muitos males chegaram á vida...

Fique absolutamente claro que o nascituro, nao tendo responsabilidade das desgrapas ocorridas, é inocente e nio pode, em hipótese alguma, ser considerado como agressor. Estou certo de que também as outras comunidades eclesiais, nao só da Europa, mas de todas as partes do mundo, saberao encontrar meios adequados para prestar a/'uda ás pessoas e ás familias colocadas em condi-

coesde tanta gravidade material, psicológica e espiritual. A tais iniciativas

benéficas exprimo o meu estímulo mais cordial, lembrando as palavras de Cristo: 'Quem acolhe um destes pequeninos em meu nome, a mim acólhe'(Mc9,37)". 3. OS ANTICONCEPCIONAL

O recurso a anticoncepcionais na guerra da Bosnia foi considerado pela Moral católica, antes do mais, quando algumas Religiosas sofreram o estupro. A problemática, porém, é a mesma para qualquer mulher — consagrada ou nao por votos religiosos — que se veja em perigo de violentacao e eventual engravidamento.

flete:

Para avaliar a moralidade de tal procedimento, o Pe. Perico assim re

1) Distingamos entre a cópula sexual praticada por amor e a cópula

que ocorre sob pressao e violencia. No primeiro caso, há livre escolhado

homem e da mulher para realizarem um ato que, por sua índole mesma, é aberto á procriacSo. Ora os anticoncepcionais interferem no dorn recí proco de amor e no processo de reproducao, impedindo a fusao das célu las germináis; tal mecanismo é moraímente desordenado ou ilícito, como observava Paulo VI na encíclica Humanae Vitae (25/7/1968), que o Catecismo da Igreja Católica reproduz em seus §§ 2366-2379. Tenhamos em vista o trecho de Humanae Vitae n? 14, citado no § 2370 do Cate cismo:

É mora/mente ilícito "todo ato que, se/a em previsao da cópula con

jugal, se/a no decorrer da mesma, se/a no desdobramento de suas conseqüéncias naturais, tem como objetivo ou como meló tornar impossível a procriacSo".

Está claro, porém, que, quando a própria natureza humana é estéril por motivos de seu ritmo biológico, nao há obstáculo a realizacao da có507

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

pula conjugal, poisem tal caso anaoconcepcaonaodecorre dealgumarti ficio ou de intervencao dos interessados no processo mesmo da natureza. 2) Bem diferente é o caso de urna mulher que, na previsao de estupro ou de urna cópula violenta, se defende de antemao, tomando um anticon cepcional. Tal cópula ná*o é um ato de amor, que por sua própria índole deva estar aberto á vida, mas é urna agressao á liberdade e á dignidade da muIher.e, contra essa agressao, diz o Pe. Perico, a vi'tima tem o direito de legítima defesa. Se ela nao pode impedir o agressor de a tocar fisicamente, ela ao menos tem o direito de evitar as conseqüéncias maldosas dessa violacao física; entre tais conseqüéncias está a gravidez inoportuna, que só pode ser evitada mediante o recurso a um anticoncepcional. Tal recurso nao é a recusa de um dom do amor, mas pertence ao ámbito da legítima defesa a que tem direito toda pessoa injustamente agredida; á mulher do minada fisicamente pelo homem nao é dado escolher a abstinencia sexual; a cópula Ihe é imposta de maneira brutal e humilhante. Ora, reduzida a es sa incapacidade, a mulher conserva o direito de impedir, ao menos, as seqüelas da violentacao, ou seja, a procriacao. Com outras palavras: o criterio para avaliar o estupro nao é tanto o

sexto mandamento ou o nono mandamento do Decálogo, mas, sim, o

quinto mandamento1, .. quinto mandamento, na medida em que o estu

pro fere gravemente a liberdade e destrói a integrídade fi'sica e moral da mulher.

3) 0 Pe. Giacomo Perico, autor de tais consideracoes, nota ainda que as mesmas e a respectiva conclusao já haviam sido propostas por tres mora

listas famosos da década de 1960, que encararam o caso de Religiosas ameacadas de estupro no ex-Congo Belga: o Pe. Francisco Hürth, professor da Universidade Gregoriana de Roma; Mons. Ferdinando Lambruschi-

ni, professor de Teologia Moral da Pontificia Universidade do Latrao em Roma, e Mons. Pietro Palazzini, entao Secretario da CongregacSo do Con cilio em Roma e atualmente Cardeal da S. Igreja. Como referencial, o Pe. Perico cita o artigo de P. Palazzini, Fr. Hürth e F. Lambruschini: Come negarsi alia violenza?

em Studi Cattolici, novembro-dezembro de 1961,

pp. 62-72; a esse artigo a Santa Sé nunca opós urna réplica ou urna condenacao.

Devemos mencionar ainda a revista 30 Dias, ano VIII, n? 7 (julho de 1993), pp. 12-19, que publica importante panorama de opinioesde teólo-

1 Sexto mandamento: "Nao pecar contra a castidade".

Nono mandamento: "Nao dese/ar a mulher do próximo". Quinto mandamento: "NSo matar". 508

ANTICONCEPCIONAIS E AMEAgA DE ESTUPRO

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gos sobre o assunto, tendentes, em sua maioria, a reconhecer a sentenca do Pe. Perico.

Urna vez exposta a tese dos referidos autores, perguntamos: 4. QUE DIZER?

A propósito podem-se desenvolver quatro ponderacoes:

1) Trata-se de uma sentenca de bons teólogos, que estudam urna situacao especial, nao diretamente considerada pela encíclica Humanae Vitae. — Tais autores partem do principio de que a cópula por amor ou livremente aceita e desejada e a cópula imposta por estupro sao duas reali dades contrarias, como sao contrarias entre si o amor conjugal e o odio á liberdade e a opressao. Por conseguinte, nao tém vigencia no caso de estu

pro as normas moráis que devem reger a cópula por amor. No primeiro ca so, o que está em jogo primeiramente é o respeito á natureza da sexual i-

dade humana, que por si é unitiva e fecunda; no segundo caso, o que está em foco, antes do mais, é a dignidade da mulher, sua liberdade e seu direito á legítima defesa quando injustamente agredida.

A diferenca de situacoes é inegável. Seria fundamento para conduta diversa da indicada pela Humanae Vitae, conforme os teólogos atrás cita dos.

2) A argumentacao do Pe. Perico e de seus antecessores parece per suasiva, de mais a mais que a revista La Civiltá Cattolica goza de certo tí tulo de oficiosidade, exprimindo a linha de pensamento da Santa Sé. Ror enquanto, nao houve pronunciamento oficial a respeito. Os teólogos discutem entre si, havendo quem duvide da validade da sentenca do Pe. Perico; é o caso, por exemplo, de Philippe Goffinet, professor emérito de Teolo gía Moral em Namur (Bélgica), que observa:

"Quanto ao artigo de Perico, eu teña uma pergunta a fazerao autor: se a Humanae Vitae diz que o uso de anticoncepcionais é intrínsecamente desonesto, nenhuma circunstancia pode mudar a decisao. Nao é possi'vel considerar excecdes. NSo podemos aplicar o principio do mal menor nesse caso, inclusive porque ele é expresamente rejeitado pela Humanae Vi tae. Fazendo assim, deixamos a porta abena para a ava/iacao das circuns tancias" (citado em 30 Dias, julho/agosto 93, p. 14s). A mesma revista 30 Dias transcreve outrossim o testemunho de um professor de Universidade Pontificia que exerce funcoes num organismo da Santa Sé e que deseja ficar no anonimato: 509

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

"Nao existe caso-limite, quando um principio é universal. Isto vale também para o principio da legítima defesa, quando o meio usado deve ser proporcional ao bem que deve defender. Posso usar legitimamente urna bomba atómica para defender-me de um assaltante? Se o anticoncepcional enquanto tal, nao usado para fins terapéuticos, é intrínsecamente mau, é sempre mau. NSo devemos transformar isso num discurso sentimental. Se

afrouxamos a nossa posicSo, as conseqüéncias serio imprevisiveis" (arti

go citado, p. 15).

O Pe. Inácio Carrasco de Paula, Reitor da Universidade Romana da

Santa Cruz, adverte para certa modalidade das pfluías anticoncepcionais, que nem sempre é considerada:

"Devemos levar em conta um problema que surgiu depois da publicacao daquele artigo de Studi Cattolici 1961: a composicao química das pílulas de hoje é diferente, e muitas délas nao sao só anticoncepcionais, mas também abortivas. Impedem a vida do óvulo já fecundado. Obviamen te, o uso dessas pílulas nSo pode ser legitimado nem no caso-limite em questao" (ibd., p. 15). Vé-se assim como a questao é debatida.

3) Como quer que seja, de tal debate nao sería lícito deduzir que o uso de anticoncepcionais já foi reconhecido de modo geral pela Moral católica ou esteja para ser liberado para casos que nao sejam de legítima

defesa. Continua incólume a afirmacao da encíclica Humanae Vitae se gundo a qual a sexualidade humana deve ser respeitada em sua índole na tural, que é unitiva e procriativa; por isto quem espontáneamente pratica o ato sexual, é incitado, em consciéncia, a evitar artificios que derroguem á natureza. Nao seria válido, portanto, conjeturar que a doutrína da Hu manae Vitae venha a ser reformada; tal doutrína ná*o exprime urna lei po sitiva da Igreja, mas a lei natural ou a lei do Criador, que é inviolável; nes-

te 25? aniversario da encíclica há quem preconize a revi sao do texto em favor de maior abertura á contenpao artificial da natalidade; tal posicao tem sido descartada pelo Papa Joao Paulo II.

Muito menos se poderia depreender que o aborto foi legitimado pela Igreja. O aborto é a supressao de urna vida já existente e dotada do direito de existir; ao contrarío, no caso do estupro, trata-se de evitar o sur to de urna vida que resulta da violacao dos direitos da mulher. 4) Quanto á enanca que nasca em conseqüéncia de estupro, merece atenpgo e carinho. Se a própria mofe nao Ihe pode dispensar os cuidados devidos, toca á sociedade, especialmente aos fiéis católicos, interessar-se 510

ANTICONCEPCIONAIS E AMEAQA DE ESTUPRO

pela sobrevivencia e a educapao dessa crianza. O momento presente colo

ca as pessoas de bem diante de situacoes inéditas e desafiadoras, ás quais

é preciso saber responder com novas expressoes de solidariedade e amor

ou com desempenho de caridade heroica. Escreve o S. Padre ao Arcebispo de Sarajevo na carta atrás citada:

"Como imagens de Deus, essas novas criaturas deverao ser respeitadas

e amadas nao diversamente de qualquer outro membro da familia hu

mana".

*

*

*

APÉNDICE 0 assunto em foco é tao passional que a imprensa o tém deturpado, informando falsamente o público ledor (coisa que nao ocorre raramente

em se tratando de assuntos religiosos). Eis um espécimen extraído de um dos nossos periódicos:

"FREIRÁS AMEACADAS DE ESTUPRO USARÁO ANTICONCEPCIONAIS

Cidade do Vaticano (DN) - Os teólogos da Igreja Católica conhecidos como "linha dura" informaram ontem que as mulheres, religiosas ou nao, ameagadas de estupro podem tomar pi'lula ou usar outro anticoncep

cional, apesarde seuuso ter sido proibido pelos últimos papas. Referíndose aos estupros sofridos pelas mulheres na Bósnia-Herzegovínia, em parti

cular as freirás, o padre Giacomo Perico afirmou, em entrevista á revista dos jesuítas italianos "Civiltá Cattolica", que, nesses casos, existem razoes de "legítima defesa".

O teólogo destaca que, "na terrível circunstancia de um estupro, urna mulher pode sentir sua consciéncia moral tao abalada a ponto de ver no fruto da concepcSo somente o resultado de um ato ultra/ante e desumano contra sua integridade e contra seu povo, o que acaba levando-a a decidir pelo aborto". "O Papa condenou varias vezes as vio/acoes, sem condenar, entretanto, as mulheres que decidiram optar pelo aborto", disse o jesuí-

A propósito deste texto observamos:

1) No caso ná"o se trata de "teólogos da linha dura", mas, ao contra rio, dos que mais compreensivos querem ser; 511

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

2) ". . . apesar de seu uso ter sido proibido pelos últimos papas". —

Os Papas tém rejeitado os anticoncepcionais nas relacSes espontáneas, em que o amor realiza um ato auténticamente humano,... ato cuja índole na

tural é unitiva e procriadora. Os Papas nunca consideraran!, em seus docu

mentos oficiáis, o recurso a anticoncepcionais por parte de mulheres amea-

cadas de estupro.

3) "O papa condenou as violacoes, sem condenar as mulheres que de cid i ram optar pelo aborto". - Os Papas tém condenado o aborto em toda

e qualquer situacao, equiparando-o ao homici'dio, crime condenado pela lei natural: "Nao matarás". *

*

*

A vida Silencio» de Marthe Robin, por Raymond Peyret. Traducao de Antonio

Carlos Santin. - Foyer de Charité, Avenida Santa Cruz 1362 - 26700-000 Mendes (RJ1.121 pp.

Marthe Robin é urna mi'stica francesa que viveu de 1902 a 1982, parausada por completo desde os 26 anos de idade e cega no fim da vida. Recebeu os estigmas da

Paixao de Jesús e deixou de comer e dormir desde o seu terceiro decenio de idade. Recebia, porém, semanalmente a Eucaristía, que Ihe mantinha o vigor da alma e o ardor das virtudes. Nos fins de semana experimentava intensamente as dores da Paixáo de Jesús. Quería oferecer-se ao Pai com Jesús pela salvacao do mundo; esse ideal missionário, que ela imaginara poder realizar mediante longas viagens apostólicas, ela o concretizou "completando em sua carne o que falta á Paixao de Cristo" (Cl 1,24). Vivía deitada num quarto semi-escuro, onde recebia visitantes, aos quais transmitía grande reconforto mediante palavras simples e seu exemplo de entrega total á vontade do Pai.

O Bispo de Valenca (Franca) solicitou a dois professores de Medicina da FacuIda-

de de Liáfo que procedessem a um exame do fenómeno de Marta; a pericia reconheceu a sanidade mental da paciente como também a sua honestidade moral.

Apesar de imobilizada em seu diva" na fazenda onde nasceu (em Cháteauneuf

de Galaure), deu o impulso inicial á fundacao dos Foyers de Charité (Lares de Candade), onde vivem em comunidade pessoas consagradas a Deus e acolhedoras de hospe des em Retiro Espiritual. Por maís incn'vel que pareca, esse Lares encontram-se atual-

mente na Europa, na América, na África e na Asía; sao 69 Foyers distribuidos por quarenta países; no Brasil temos um em Mendes (RJ): Avenida Santa Cruz 1362 —

Humberto Antunes, Caixa postal 5, CEP 26700-000. É Casa de Retiros muito procu rada e benemérita. Marta Robin inspirou e sustentou numerosas outras obras e movímemos; aconselhou e ajudou os fundadores respectivos.

O livro ácima apresentado contém a biografía de Marthe e os inicios de sua obra apostólica, que a Igreja vem incentivando como dom do Espirito aos nossos tempos para lembrsr aos homens a fecundidade da vida de oracao e entrega total a Deus. 512

Ciencia e Consciéncia:

MANIPULAQÁO DA VIDA HUMANA

Em smtese: Em seu discurso de posse na Academia Fluminense de Medicina, o Dr. Joao Evangelista dos Santos A/ves, num rasgo decoragem e lucidez, houve por bem chamar a atencao do mundo dos dentistas para a tendencia, hoje assaz forte, de sobrepor os interesses pessoais de lucro e sucesso aos valores típicamente humanos. Especialmente a Medicina é ten

tada a se desdizer e degradar pelas práticas de manipulacao da vida humana cada vez mais sedutoras, como a experimentacSo em seres vivos ou em materia nobre, a fecundacao artificial com seus requintes (que envolvem o homem e animáis irracionais em práticas extremamente ousadas de fecundacao e gestacao), o aborto e seus eufemismos, a eutanasia e a obstinacao terapéutica desrespeitosa do paciente. As observacoes do ilus tre académico tém por ponto de partida a dignidade única do ser huma no em qualquer de suas fases de vida, dignidade já apregoada pelo filósofo francés Blaise Pasca! em termos de rara eloqüéncia. *

*

*

Em consonancia e complementacao do artigo anterior deste fascículo sobre anticoncepcional e respeito á natureza humana, vao aqui publicados

trechos do discurso do Académico Dr. Joao Evangelista dos Santos Alves por ocasiao de sua posse na Academia Fluminense de Medicina, aos 15 de abril de 1993. Trata-se de memorável e corajosa peca de literatura e

doutrina, que enfrenta diversas facetas da manipulacao da vida humana no setor da Medicina: o desejo de conquistar e dominar sempre mais tem leva do o homem a utilizar a tecnología sofisticada de nossos dias contra o proprio homem, reduzindo o seu semelhante a coisa ou objeto descartável. 0 Dr. J. E. dos Santos Alves levantou a voz contra tais abusos, que ameacam a Medicina, numa hora muito oportuna, especialmente no Brasil, vítima de interesses espurios dos meios de comunicacao social e de profissionais des tituidos de Ética. Eis os segmentos do longo discurso que mais parecem interessar aos leitores de PR, cuja directo aproveita o ensejo para agradecer ao Dr. J.E. dos Santos Alves a valiosa colaboracao. 513

34

"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

1. FALA O ACADÉMICO

"É o homem o único ser capaz de considerar a si próprio e á natureza que o rodeia; o único ser capaz de formular juizo de valores e de se esfor zar para viver segundo esses valores, com sentido ético; o único ser capaz de projetar-se além de si mesmo na busca de suas origens e ao encontró de seu fim último. Mesmo excluindo o concurso da fé e considerando o homem á luz na tural da razao, podemos constatar a grandeza da dignidade do ser humano, da vida humana, do dom da vida. Sabemos que cada ser humano em particular, na sua originalidade, é mais perfeito que todo o universo junto. Podemos perceber assim como é maravilhosa e preciosa a vida que cada ser humano recebeu e como é admirável e sublime o poder de transmiti-la através do exercício digno da sexualidade, e de conservá-la, através da Medicina, cuidando da saúde. Dizíamos que os outros cientistas podem manipular suas materias próprias de trabalho de modo quase ilimitado, utilizando ampia e irrestritamente a tecnología moderna. Já os médicos, éticamente, nSo podem e nao devem fazer tudo o que a tecnología possibilita que facam, pois sua materia de trabalho é o seu semelhante, é o próprio homem, a quem devem servir e respeitar. Por exemplo, é incontestável a licitude da conduta médica no trans plante de órgaos. Mas há que se regulamentar a sua prática, subordinando-

a a principios éticos, a fim de nao se perder o senso moral dessa extraordi naria intervencao cirúrgica que, éticamente desorientada, poderá perverter a Medicina, gerando urna mentalidade mercantilista e ultrajante pelo possi'vel uso indevido de doadores desinformados ou económicamente necessitados; também indefesos pacientes moribundos e agonizantes, mas aínda vivos e por um fio recuperáveis, poderiam ser inconscientemente utiliza dos - em avaliacá*o apressada — por máos ávidas de sucesso ou por mentes absorvidas pelo desejo incontido de láureas científicas.

Deve, portanto, a Medicina ser orientada por urna filosofía que tenha por fundamento valores universais e perenes, aos quais se subordinem os valores locáis e ocasionáis. Valores daqui e de hoje nao se podem sobrepor a valores universais e de sempre, pois, assim, inverteriam desastrosamente a hierarquia axiológica. 514

MANIPULAgÁO DA VIDA HUMANA

35

A Medicina se degeneraría sem rumo, nao fosse o componente filosófico-ético a transmitir-I he princi'pios de respeito á dignidade da vida huma na, á dignidade do corpo humano e de suas funcoes, em todas as fases de sua existencia, desde a concepcao até a morte natural. O distanciamento dessa filosofía implicaría em regressao e desvalori zado da própria ciencia médica, pois nSo é possi'vel promover a vida hu mana, desvalorízando-se a própria natureza da vida que se quer promover. Poder-se-ia alcancar rápido progresso médico, com melhor cqnhecimento do organismo humano e das leis que o regem na cura das mais graves doencas, se a tecnología moderna fosse aplicada, com fim puramente experi mental, em seres humanos alienados, que vivem nos hospicios ou ñas prisoes de alta periculosidade ou agonizam anónimos em hospitais públicos. Mas nao se pode admitir tal prática, porque seria um atentado á dignidade humana, á natureza humana, atingindo toda a humanidade e, portante, a cada homem pessoalmente, pois, quando se fala em humanidade, se subentende, obrigatoriamente a pessoa particular e, vice-versa, quando se fala na pessoa humana, subentende-se a humanidade genéricamente, a natureza humana. Por isso mesmo, experiencias como tais, praticadas pelos nazistas, foram consideradas crimes de lesa-humanidade. Acontece que a manipulacá'o tecnológica tem sido praticada, impune mente, nos dias atuais, com seres humanos em sua fase de vida embriona ria e fetal, sendo, inclusive, muitos deles "fabricados" para essa finalidade, ou para serem usados em experiencias ditas "científicas", fatos estes sobe-

jámente divulgados pela imprensa.

A mesma sociedade que hoje difunde, através da mídia, todas as aberracSes sexuais, banalizando a sexualidade humana — tornando-a, pela téc nica, artificialmente infecunda e promiscua — paradoxalmente busca, também pela técnica, a procriacao desvinculada do sexo, através do método da fecundacao artificial in vitro. Querem, na procura do sexo totalmente desvinculado da gravidez, encontrar a gravidez desvinculada do sexo e, quicá, a vida humana sem paternidade e sem matemidade. Primeiro, o filho sem pai e, depois, o filho sem mae: filhos de país ignorados ou ocultos, filhos do laboratorio e da comunidade, com sua ascendencia previamente manipulada. Que especie de valores norte ¡a essa sociedade? O hedonismo? O egoísmo? O consumismo?

Os filhos deixam de ser dom para se transformarem em subprodutos descartáveis do ato sexual ou se tornarem objetos de consumo, que sao

"fabricados" em provetas, selecionados e escolhidos os mais aptos. Os que 515

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

nao prestam, sao desprezados, e os melhores sao congelados; posterior

mente, os que sobram, sá*o destruidos ou "lancados pelos esgotos", no dizer de um renomado adepto do método. A fecundacao in vitro passa, necessariamente, pela aceitacao do abor to provocado. Sua pré-história tem origem, aparentemente contraditória,

na difusao da mentalidade anticoncepcional. Esta gerou e impulsionou o movimento abortista no mundo inteiro, cuja conseqüéncia foi a desvalorizacao da vida humana, convertendo-a, nos primeiros dias de sua existencia, em objeto de experimentacáo cienti'fica.

0 embriao humano assim "produzido" fica exposto a milhares de possibilidades de "uso", inclusive a de ser implantado em útero de macaca ou de cadela ou de porca, como, alias, já foi anunciada sua realizacao experimental. Para que as condutas anti-éticas sejam mais fácilmente aceitas, criamse expressoes disfamadas, dúbias, ambiguas com o fim de mascarar o verdadeiro sentido dos atos propostos. Entre outros exemplos, a expressao "pré-embriao" foi criada para se

justificar, impunemente, experiencias com o ser humano em seus primei ros dias de existencia. Como bem colocou, em recente "Jomada de Reproduplo Humana", o Dr. Dernival Brandao, que assim seexpressou: "Falar em pré-embriao é tota/mente arbitrario, sem fundamentacao científica, e serve apenas para autorizar experimentales em embrides até aqueta fase em que estes nao sao mais usados para implan tacao intra-uterina, porque se tornam imprestáveis para isso. Tal expressSo constituí urna maniputacSo lingüistica." Outra locucao — "extracao menstrual" — foi encomendada para se justificar o aborto precoce, como muito bem denunciou o Académico Prof. Altamiro Vianna, em magnifico discurso pronunciado nesta casa, com as segu intes pa lavras: "Estarrece-nos ver, em nossos tempos, em recente Congresso ínternacional, aprovar-se a designacao de "extracao menstrual" para a prética do aborto, quando o atraso do cataménio se/a de até seis semanas. Visa a denominacao eufemi'stica, como subterfugio lingüístico, aliviar a consciéncia de médicos e pacientes, quando praticam o aborto ovular". "O novo apelido em nada modifica a esséncia do fato, que em si mesmo é malicioso", concluí o Prof. Altamiro Vianna. 516

MANIPULAgÁO DA VIDA HUMANA

Atualmente, truncando o obvio para confundir, alegam os abortistas, para justificar o aborto de conceptos com má formacao congénita, que "defendem o direito de urna enanca nascer perfeita e saudável, visando á plenitude de sua ¡ntegracao na sociedade." Ora. é obvio que ninguém deixará de defender esta causa. Mas o que disfarcadamente eles defendem, é que só as enancas perfeitas e saudáveis tém o direito de nascer e integrar se na sociedade; as outras, as deficientes, devem ser destruidas no ventre materno.

Como reagirao intimamente a isso os nossos irmSos deficientes, que ao nosso lado vivem o dia-a-dia da existencia?

0 Académico, Prof. Herbert Práxedes, com muita propriedade, classificou esta proposta, de matar no útero materno as criancas deficientes,

como sendo "a mais macabra forma de apartheid: Mate hoje o deficiente f i'sico de amanha".

E as denominacoes eufemi'sticas do aborto vao-se sucedendo para ocultar sua verdadeira face. Assim sao denominados: aborto terapéutico, aborto eugénico, aborto sentimental, honroso, social, etc. "Tais denominacoes — no dizer do académico Prof. Waldenirde Braganca — sao tentativas de introduzir novas cunhas, de abrir novas fendas, na mu ral ha ética da Medicina". Em ¡numeras oportunidades tem o académico Dr. Carlos Tortelly Costa execrado a prática do aborto provocado, definindo-o como "abominável agressao a vidas humanas inocentes e indefesas.". Ninguém ignora que existem situacoes delicadas, dificílimas e até dra máticas, mas em nenhum caso o exterminio pré-natal de um ser humano constituí solucao digna, nem eficaz. Além de ser um atentado contra urna vida humana indefesa, constituí o aborto voluntariamente provocado um atentado também á consciéncia da míe, á do pai, e á do médico: é um processo de destruí cao da própria consciéncia humana.

Estou convencido de que, na grande maíoría dos casos em que as maes procuram o aborto como solucao para os seus problemas, elas o fazem levadas pelo desespero, pelo sofrimento, pelo medo e pela desinformacao, sem pleno conheci mentó do horror em que consiste esta prática criminosa. Compete ao médico esclarecé-las e orienta-las na busca de reais solucSes para suas dificuldades, excluindo o aborto, que nunca será solu517

38

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"378/1993

cao para coisa alguma; pelo contrarío, constituirá sempre um novo proble ma acrescentado ao que se pretende resolver.

Minhas senhoras e meus senhores, a verdadeira solucá*o para todos esses problemas é tarefa que exige a participacao de toda a comunidade.

Compete á sociedade buscar solucoes justas, positivas e compatfveis com a dignidade humana, sem arrastar a Medicina para práticas anti-éticas, con trarias ao seu espirito e finalidade. A legislacao e todos os recursos devem ser colocados a servico da maternidade e da vida, protegendo-se o filho e a mae. Protegendo-se também o médico, pois as leis e as circunstancias, sen

do ordenadas para o prossegui mentó da gravidez, servem-lhe de apoio para

que nao resvale para práticas tao contrarias ao seu juramento.

Este é o caminho: tratar a mae e proteger o filho. Este é o dever do

médico; assistir a seus pacientes desde o im'cio da vida, na concepcao, até

o seu último alentó.

Nao há dúvida de que o médico perderá sempre a última batalha na

luta pela vida. Mas é sua funcá*o pugnar sem tregua, desde os cuidados próprios do período pré-natal, no alvorecer da existencia, até a luta angustian

te no C.T.I., face-a-face com a morte, a qual, como a vida, também deve ser respeitada. A utilizacao de sofisticada aparelhagem tecnológica é útil para salvar urna vida, mas é inconveniente quando usada para ocultar a

morte já ocorrida e devidamente constatada e comprovada. Nestas circuns

tancias, a retirada dos aparelhos extraordinarios constituí um ato de res-

peito á morte e, absolutamente, nao configura a eutanasia, a qual consiste na omissao ou no ato deliberadamente praticado para provocar a morte. Esta, sim, é condenável e criminosa. Oeve o médico, portanto, reunir pru dencia e sabedoria científica suficientes para decidir a hora de retirar os re cursos extraordinarios nos casos em que a indicacSo dos mesmos deixa de

existir pela evolucao ¡rreversível do quadro clínico, seguramente demons

trada. Nesta situacao, comprovadamente ¡rreversível, mas enquanto houver sinal de vida, o paciente será atendido em suas necessidades básicas de

alimentacfo, hidratacao, higiene, etc, pelos recursos médicos ordinaria mente dispon íveis.

Quanto á pena de morte para crimes hediondos, tao discutida nos úl

timos meses, nada tem a ver com a Medicina. É problema que pertence a outras ciencias. Mas é bom lembrar que nao pode o médico ser envolvido no processo executório, utilizando a Medicina para penalizar um condena do. Estou-me prolongando demasiado. Todavía, foi necessário pela im portancia e atualidade do tema enfocado, o qual constituí materia diaria518

MANIPULAgÁO DA VIDA HUMANA

39

mente veiculada nos meios de comunicacao de massa, mas quase sempre erróneamente apresentada, confundindo assim a populacho em geral e

também envolvendo o médico, pressionando-o para adotar condutas que ferem a sua vocacao e o seu juramento. Por isso é conveniente insistir na necessidade de urna filosofía para alicercare orientara Medicina. Nao, porém, urna filosofía de ocasiao, inventada pela imagínacao humana e tao volúvel quanto ela. Mas, sim, urna auténtica filosofía, profunda e perene, im plícita na própria natureza racional do homem, e que deve ser devidamente apreendida, aprofundada e explicitada pela razao, com o máximo de f¡delidade possível; será fundamentada sobretudo no devido respeito á ele vada dignidade da vida humana desde o ato gerador até o último instante de sua existencia; dignidade esta que, infelizmente, vem sendo, nos últi mos anos, descaracterizada, deformada e desrespeitada, em contraste com o impressionante progresso científico e tecnológico que a humanidadealcancou; tal progresso devena aumentar no homem a consciéncia de seu transcendente valor e, portanto, o respeito pela sua vida e pelo processo de sua concepcao.

Urge, portante conduzir e orientar as conquistas científicas moder nas e futuras para o restabeleci mentó e preservacáo do ¡mprescindível res peito á dignidade do ser humano, em sua plenítude.

Somente pensando e agindo nesse nivel será possível encontrar a verdadeira so lucio para os grandes problemas que afligem a humanidade. Que Deus nos ilumine nesse mister".

2. REFLETINDO.. . Sejam destacados os sete pontos que o Académico Dr. J.E. dos San

tos Alves aborda em seu discurso:

2.1. A dignidade do ser humano

"Sabemos que cada ser humano em particular, na sua originalidade, é mais perfeito do que todo o universo junto". — O autor faz eco ao filósofo e matemático francés Blaise Pasca! (t 1662), de cujos "Pensamentos" ex tra irnos as seguintes sentencas:

"O homem é apenas um canigo, o mais frágil da natureza, mas é um canigo pensante. Nao é necessário que o universo se arme para esmagá-lo;

um vapor, urna gota d'água basta para matá-lo. Mas, aínda que o universo o esmagasse, o homem aínda seria mais nobre do que aquilo que o mata, 519

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

porque ele sabe que ele morre, ao passo que o universo ignora a vantagem que ele tem sobre o homem" (fragmento 347).

"Nao é a partir do espago que devo procurar a minha dignidade, mas

é a partir da boa ordem do meu pensar. Eu nao terei vantagem alguma se

possuir térras; pelo espaco o universo me compreende e me traga como um ponto, pelo pensamento eu compreendo o universo" (fragmento 348).

"Todos os corpos, o firmamento, as estrelas, a térra e seus reinos nao valem o menor dos espíritos, pois o espirito conhece tudo isso, e conhece

a si mesmo. E os corpos nada conhecem.

Todos os corpos reunidos, e todos os espíritos reunidos, e todas as suas obras nao valem o mínimo de amor. Pois o amor pertence a urna or dem de coisas infinitamente mais elevadas.

De todos os corpos reunidos nao se poderia extrairum mínimo pen

samento. É impossível, pois pertence a outra ordem de coisas. E de todos os corpos e espíritos nao se poderia extrair um movimento de verdadeiro

amor.' Isto é impossível, pertence a outra ordem de coisas, á ordem so brenatural".

2.2. Transplantes de órgaos

Constituem maravilhosa intervéngalo cirúrgica, que corre, porém, o

risco de perverter a Medicina, se for éticamente desorientada. A mentalidade mercantilista poderia servír-se de doadores desinformados ou econó micamente necessitados ou aínda de indefesos pacientes moribundos. 2.3. Experimentado em seres vivos

Os regimes totalitarios e quipe outras instituicSes tém utilizado seres deficientes, prisioneiros, pacientes termináis... para experimentacSo médi ca. A prática pode ser sedutora, pois parece possibilitar mais rápido progresso da Medicina, mas é indigna do profesional.

2.4. Fecundacao artificial

Hoje se pensa em procriaclo desvinculada do sexo, como se pratica sexo desvinculado da procriagfo. Isto tem levado os pesquisadores a pro-

3 Pascal tem em vista o amor como virtude infusa, da qual fala Sao Paulo

em Rm 5,5: "O amor de Deus foi derramado em nossos coracoes pelo Espirito que nos foi dado". 520

MANIPULADO DA VIDA HUMANA

41

mover a implantapSo do embriao humano em útero de macaca, porca ou cadela..., como também a tentar a hibridacao de ser humano e macaco..., com o fim de obter "trabajadores bracais" (escravos eventuais) e materia para experimentacao médica.

2.5. Aborto

O mortici'nio de seres inocentes vertí sendo preconizado com todos os

recursos, inclusive mediante a falsidade de eufemismos criados para encobrir a hediondez do crime.

2.6. Eutanasia provocada

O autor, com razao, condena a eutanasia induzida por aclo direta ocisiva ou por subtracao dos meios ordinarios de sustentar a vida (alimentacao, hidratacao, higiene...). Mas reconhece a legitimidade de se desligar a

sofisticada aparelhagem tecnológica, quando a morte está devidamente constatada e comprovada ou quando a evolucao irreversi'vel do quadro clí

nico está seguramente demonstrada. É preciso respeitar a morte do pacien

te e nao o utilizar para experiencias que só servem aos interesses de médi cos.

2.7. Pena de morte

Tal assunto nao é da aleada direta da Medicina, mas sim de outras ciencias. Todavía é de lembrar que o médico n§o pode permitir que a Me dicina seja utilizada para penalizar um condenado. Sao estas as observaedes que o Dr. Joá*o Evangelista dos Santos Alves houve por bem propor a seus colegas de Academia, ou seja, aos membros da alta cúpula da Medicina, a fim de preservar valores que a corrida ao sucesso e ao dinheiro em nossos dias tende a conculcar. Parabéns, ilus

tre Académico!

*

*

*

"INTERROGA A BELEZA DA TÉRRA, INTERROGA A BELEZA DO MAR,

INTERROGA A BELEZA DO AR QUE SE DILATA E DIFUNDE, INTERROGA A

BELEZA DO CEU... INTERROGA TODAS ESSAS REALIDADES. TODAS TE RESPONDERÁO: 'VÉ, NOS SOMOS BELAS'. A SUA BELEZA É UMA PROFISSÁO. TAIS BELEZAS SUJEITAS A MUDANQAS. QUEM AS FEZ SENÁO AQUELE QUE

É O BELO NAO SUJEITO A MUDANQAS?"

(S. Agostinho)

521

Mais urna vez:

'SANTO ANTONIO DE CATEGERÓ' QUEM ERA?

Em sfntese: Antonio de Categeró (= de Calatagerona ou de Cartago)

existiu nos séculos XV/XVI, tendo nascido na África. Jovem, foi /evado

como escravo para a Sicilia, onde conheceu a fé católica e pediu o Batísmo, recebendo entao o nome de Antonio. Posto em liberdade após muítos anos de cativeiro, fez-se franciscano e sempre praticou heroicas virtu

des, que Ihe valeram a estima do povo siciliano e a fama de Santo. Esta

perdurou após a sua morte até nossos dias. O processo canónico de Beati

ficado (etapa anterior e necessária á CanonizacSo ou é inscricao no Ca

tálogo dos Santos) foi iniciado, mas nao chegou a termo, de modo que o Venerável Antonio de Categeró nunca foi declarado oficialmente nem

Bem-aventurado nem Santo pela Igre/a. No sécu/o XVI,dizem, a Inquisicao, vendo a fama de Antonio, deu permissao para que suas estampas tivessem um diadema ou auréola na caoeca — o que certamente nao equiva le á Beatif¡cacao prevista pelos cánones oficiáis da Igre/a. *

*

*

Em Pñ 373/1993, pp. 283-285 foi publicado um artigo que negava a existencia de Antonio de Categeró no Catálogo dos Santos ou no Marti rologio da Igreja Católica. Esta proposicSo continua válida. Acontece, porém, que nao somente comunidades nao católicas, mas também paróquias

católicas veneram "Santo Antonio de Categeró". Mais: as Edicoes Paulinas publicaram o livro "Santo Antonio de Categeró, Sinal Profético do Empenho pelos Pobres", da autoría de Mons. Salvatore Guastella, que descobriu

as reliquias desse homem de Deus em 1977; Mons. Guastella cita docu mentos que comprovam a existencia de Antonio de Categeró, nao, porém, a sua CanonizacSo.

Eis por que voltamos ao assunto nestas páginas. Após ter pesquisado mais a fundo a questao, podemos chegar á seguinte conclusao: Existiu, de fato, um homem venerável nascido na Cirenaica (África

do Norte) e por isto, chamado posteriormente Antonio Calatagerona; este aposto seria a deformacao de cartaginés (= oriundo de Cartago, Norte da

África); a expressao Calatagerona, na linguagem popular, tornou-se Cate522

"SANTO ANTONIO DE CATEGERÓ"

43

geró. Este mesmo personagem é também chamado Antonio Etíope por ser de raca negra1, como tem o nome de Antonio de Noto por ter morrido nesta cidade (Sicilia).

A sua biografía, devidamente documentada, pode ser assim compen

diada:

Terá nascido por volta de 1490 perto da cidade de Barca (ou, dizem outros, na Guiñé Portuguesa) de familia muculmana, que o educou segun

do o Corá*o. Foi aprisionado e feito escravo, indo para a Sicilia a bordo de urna galé. Como escravo, conheceu a fé católica e abracou-a fervorosamen

te, recebendo no dia do seu Batismo o nome de Antonio. Viveu alguns decenios com os patr6es, após o que foi posto em liberdade. Pediu entao e recebeu o hábito franciscano, e exerceu virtudes em grau heroico. Tornouse enfermeiro desvelado dos indigentes, depois do que levou.uma existen

cia eremítica. Os sicilianos atribuiram-lhe milagres numerosos e tiveram-

no como santo. Após a sua morte em Barca (Sicilia) no ano de 1549, instaurou-se um processo diocesano para averiguar as virtudes de Antonio e

eventüalmente canonizá-lo (inscrevé-lo no Catálogo dos Santos). Tal pro cesso nao chegou ao fim. O fato é que Antonio de Categeró nunca foi nem sequer oficialmente beatificado (a BeatificacSo é a etapa anterior, indispensável, á Canonizado). O povo, porém, o foi invocando como Santo; daí ficar conhecido como Santo Antonio de Categeró. Tal tipo de canonizacao popular nSo tem validade na Igreja Católica, que, desde o sáculo X,

exige rigoroso processo jurídico e minuciosa investigacáfo para declarar alguém "Bem-aventurado(a)" e, posteriormente, "Santo(a)".

Refere Mons. Salvatore Gustella no livro citado, p. 57, que "a Inquisicao, vendo os milagres e a grande santidade de Antonio, deu permissao para que suas estampas tivessem um diadema ou auréola na cabeca, em si-

nal da gloria de que ele já goza na bem-aventuranca". Todavía na nota 62 da mesma página observa: "Até agora nao foi possível saber quando e on de a competente autoridade eclesiástica autorizou a impressao de sua imagem com auréola, como diz o biógrafo Daga". Por conseguinte, podemos dizer, em poucas palavras, que existiu a fi gura de Antonio de Categeró nos séculos XV/XVI; sabe-se como viveu e

morreu, pois existe documentado suficiente para o narrar. Sábese tam bém que na igreja do O' em Sao Paulo existem restos mortais de Antonio, a saber: o cubito e o radio do antebraco direito (de 26,5 cm de comprimen

tó). Mas nao se pode dizer que tenha sido canonizado ou reconhecido co-

1 Há, porém, quem julgue que Antonio Etíope era outro personagem. 523

44

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

mo Santo pela Igreja. O título "Bem-aventurado" Ihe é comumente atri buido em documentos antigos, visto que o processo de Beat¡ficacá*o foi iniciado (todavía nunca chegou a termo, como dito). O Venerável Antonio de Categeró pode estar na gloria do céu; nao é a Canonízacao que faz o Santo; ela apenas o reconhece e declara. Todavía, já que nao houve Canonízacáo nem BeatifícacSo por parte da Igreja, segundo mandam os cánones, ná"o se deveria fomentar a devocao a esse irmao fran ciscano, equiparando-o aos Santos canonizados.

A Igreja reconheceu recentemente os grandes méritos da Irma Josefi

na Bakhita, nascida no Sudao (África); foi feita escrava e serviu durante muitos anos aos senhores; posta em liberdade, tornou-se urna religiosa de

notáveís virtudes, beatificada aos 17/5/92; cf. PR 364/1992, pp. 410-421. Está em curso o processo de Beatif¡cacao de Pierre Toussaint, ex-escravo negro do Haití; cf. PR 364/1992, pp. 422-424. Sao Benedito, o negro, e os mártires de Uganda sSo Santos africanos, que bem revelam que a santidade floresce em todas as partes do mundo.

*

*

*

(Continuagao da pág. 496)

admissao. Em vista disto, os trinta e seis Bispos católicos da Inglaterra e do País de Gales se reuniram para estudar a resposta a ser dada as varias solicitacoes. No final do seu Encontró publicaram um documento, que define

oseu modo de proceder no futuro. Para ser recebido na Igreja Católica, nao basta que um crístSo anglicano rejeite a ordenacao de mulheres; é ne-

cessário que manifesté outrossim, de maneíra so lene, que aceita integral mente a doutrina e as normas moráis da Igreja Católica.

A admissao da Sra. Ann Widdecombe na Igreja Católica foi celebrada em solene cerímonia na catedral de Westminster aos 21/04/93. Seus padri-

nhos foram o Deputado liberal democrático David Aitón e o Deputado conservador Julián Brazer. Na tarde desse mesmo dia a Sra. Widdecombe participou, pela primeira vez, da S. Missa na cápela da cripta do Parlamen to. As leituras bíblicas foram feitas pelo Sr. John Gummer, Ministro da Agricultura e membro do Sínodo Anglicano, que também pensa em se converter ao Catolicismo. As cerímónias foram presididas pelo Pe. Michael

Seed, assistente do Cardeal Basil Hume. Essa foi a primeira vez que, após a ruptura da Coroa Inglesa com a Santa Sé (1534), um sacerdote católico celebrou na cápela do Parlamento. 524

Uma Palavra do Papa sobre

O NEOCATECUMENATO

De 13 a 17 de abril de 1993 reuniu-se em Viena (Austria) um Congresso referente ao Neocatecumenato, Moví mentó de reavivamento espiri tual fundado em 1964 por Kiko Arguello, pintor espanhol; cf. PR 290/ 1986, pp. 300-310 (as origens do Mbvimento). O Congresso contou com a presenta de 120 Bispos, dos quais cinco Cardeais, numerosos sacerdotes

e leigos provenientes de todos os pai'ses da Europa, desde Portugal até a Rússia. Trocaram experiencias acerca da estruturacSo do Movimento e do seu papel na Nova Evangelizacao. O S. Padre quis fazer-se ai' presente me diante uma Carta aos participantes, que exprimía a sua aprovacao e o seu estímulo ao Movimento.

Visto que em nossos dias o Neocatecumenato ainda nao é suficiente mente conhecido, havendo mesmo maj-entendidos a respeito, publicamos abaixo esse documento pontificio:

"Veneráveis Confrades no Episcopado. Caríssimos Irmaos e IrmSs,

É para mim motivo de grande consolo, poucos anos após meu apelo a

uma Nova EvangelizacSo da Europa, saber que estáis reunidos em Viena para refletir ¡untos sobre os frutos da atividade missionária que sacerdotes, apostólos itinerantes e fam/lias do Caminho Neocatecumenal estao desenvolvendo com generoso impulso e grande zelo pelo Evangelho.

Por ocasiao da abertura dos trabalhos da Assembléia Especial para a Europa, aos 5 de junho de 1990, observe! com pesar que em nosso conti nente muitas pessoas se habituaram a ver a realidade 'como se Deus nao existisse'. Eu acrescentaria que, nessa perspectiva, o homem se torna a fonte da lei moral, de uma lei, porém, que o homem dá a si mesmo e que constituí a medida da sua consciéncia e do seu comportamento flnsegnamenti, vol. XIII, 1, 1990, pp. 1517s). Dou tro lado, nSo se pode negar que o Espirito Santo, por meio do Concilio do Vaticano II, suscitou instru mentos válidos, entre os quais o Caminho Neocatecumenal, para responder és questoes do homem contemporáneo. Após varios anos e é luz dos resul525

46

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

tados obtidos, resolví estimular por escrito essa experiencia em vista da Nova Evangelizacao, dese/ando que seja ajudada e valorizada por meus irmaos no Episcopado (cf. Carta de 30/08/1990 transcrita em Pfí 347/1991, pp. 183-185). Desses resultados, mu¡tos dentre vos sao as testemunhas diretas e os

primeiros protagonistas, pela ajuda que eles oferecem á difusao dessa nova realidade eclesial. Eis por que vossa reflexao de hoje é importante, como foi a dos Bispos do continente americano durante o Encontró do ano passado em Santo Domingo.

O Caminho Neocatecumenal, no qual se formam os apostólos itine rantes e as familias missionárías, pode responder aos desafíos do secularismo, da difusao das seitas, da falta de vocacdes. A reflexSo sobre a Palavra de Deus e a participacao na Eucaristía tornam possi'vel urna iniciacao progressiva nos santos misterios, geram células vivas da Igre/a, renovam a vita-

lidade da paróquia gracas a cristSos adultos capazes de testemunhar a verdade por urna fé radicalmente vivida. Esse Caminho aparece como peculiarmente apto para contribuir, ñas

zonas descristianizadas, á necessária reimplantacao da Igre/a: leva o comportamento moral do homem a prestar obediencia á Verdade revelada

e é reconstituigSo do tecido social mesmo, destruido pelo desconhecimento de Deus e do seu amor. Em certas regioes ¡á se constituem núcleos de familias missionárías, que podem ser luz do Cristo e exemplo de vida. Mas essa missao nao seria possivel sem presbíteros preparados para acompanhar e sustentar, com seu ministerio sacramental, essa obra de Nova

Evangelizacao. Sou grato ao Senhor, que quis que nascessem numerosas vocacdes e, por conseguinte, se constituissem Seminarios diocesanos e missionários em diversos países da Europa, Seminarios colocados sob o suave

patrocinio da Virgem María, invocada como Redemptoris Mater (Mae do Redentor).

Coloco sob a protecao materna e a poderosa inspiracao de María vos so Encontró, que poderá dar-vos fmpeto e coragem em vosso compromisso apostólico dirigido ao homem contemporáneo. Este precisa de ser guiado por pastores e testemunhas enviadas para que conheca Deus, invoque o no-

me do Senhor e dele receba a sa/vacao. Que a luz de Cristo Ressuscitado, que celebramos so/enemente na vi

gilia de Páscoa, continué a brílhar em vos, sustentando-vos na missao ao servico da Igre/a e da humanidade inteira.

Do Vaticano, 12 de abril de 1993 Joao Paulo II" 526

TESTEMUNHO SIGNIFICATIVO

47

É de notar que o Neocatecumenato já fundó'ú nove Seminarios Re-

demptoris Mater para servir á Nova Evangelizado, respectivamente em

Roma, Madrid, Varsóvia, Berlim, Londres, Valencia, Haarlem, Pola, Macerata. Outros estao em via de formacfo na Europa e fora desta. Nao sao

Seminarios do Neocatecumenato, reservados apenas ao Movimento, mas sao instituicoes missionárias internacionais.

Como se vé, o Sumo Pontífice se interessa pelo Neocatecumenato como obra suscitada pelo Espirito de Deus em resposta ás necessidades da Igreja e do mundo contemporáneos.

UM TESTEMUNHO SIGNIFICATIVO Numa época de desencontros como é a nossa, torna-se especialmente

gratificante ler um depoimento como o da autora da seguinte carta:

"Quem Ihe escreve, ó urna desconhecida peregrina, que passou a

maior parte de sua vida longe da Igreja Católica, e que há tres anos ouviu o chamado interno de Nossa Sénhora para voltar á Igreja. Tenho 34 anos. Passei muito tempo perguntando-me: quem sou? De onde vim? Para onde vou?, de costas voltadas para a Igreja Católica, convencida de que o último lugar em que procuraría essas respostas seria o Catolicismo. Vasculhei muito; fui a religioes orientáis, esoterismo. Nova Era... Editei urna revista chamada NAVE, onde abordava o mundo novo e a Nova Era, certa de que este era o caminho: o universalismo, o fim das religioes - que considerava separatistas - com a soma de todas elas. Até que um dia percebi que me enganava. E comecei a sentir urna alegría tao sobrenatural que sabia ser obra de Deus. Procurei de onde vinha — a fonte — e percebi nítidamente que vinha da Igreja Católica! 'Nao é possível!' - disse para mim mesma.

Mas era! E fui, levada pela orelha (era assím que me sentía), me re conciliar com a Mié. Percebi entao coisas lindas, que antes nao via - vi que o Caminho da Igreja é mais interno (dentro de nos) do que externo; e tudo que havia fora (as regras, os exercícios espirituais, etc.) era para le var a pessoa mais para dentro, de encontró a Cristo. 527

48

"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 378/1993

Passei a rezar o Terco, a sentir a presenca de Nossa Senhora na minha

vida, limpando e transformando tudo. E tudo mudou!

... (Meu marido e eu) temos a intencao de estabelecer urna comunidade crista-católica. ... Abandonamos tudo para isso. Nossa vontade (e acre dito ser vontade de Nossa Mae) é apresentar o Catolicismo ao pessoal que se afastou da Igreja, buscando Deus em outras religioes. Ou seja, falar com aqueles que estío do jeito que eu estava - procurando Deus num ashram,1 enquanto na Igreja está tudo . Para isso, sei que sou portadora da linguagem a ser utilizada.

Os jesuítas nao tinham a missao com os indios?...

Aqui nos apontamos um caminho: a Igreja!"

Permita Deus que casos tais se repitam com freqüéncia..., pois "Senhor. Tu nos fizeste para Ti e inquieto é o nosso coracáo enquanto nao repousa em Ti!" (S. Agostinho, Confissoes I). Estévao Bettencourt O.S.B. *

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SE IMPASSE NA VIDA. EXISTEMCRISES NÁOSOMENTE NA ÁREA MATERIAL, MAS TAMBÉM NO PLANO DO PENSAR E DAS OPCÓES.... CRISES QUE TOCAM PROFUNDAMENTE O SER HUMANO COMO PESSOA

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1 Mosteiro budista (N. da Redagio).

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O MOSTEIRO DÉ SAO BENTO DO RIO DE JANEIRO

1590/1990

Em Comemoragao do IV Centenario de sua.Fundagao 408

páginas (30 x 23) de urna obra ricamente policromada

Texto histórico documentado por D. Mateus Rocha OSB É a crónica corrida e compacta da construclo do Mosteiro, da sua igreja e das obras de arte nele comidas. Resume as mais diversas contribu ¡(des que, durante sáculos, formaran) o patrimonio da Ordem Beneditina na provincia do Rio de Janeiro. Palavrat do renomado arquiteto Lucio Costa:

"Esse mosteiro — este monumento - é, sem dúvida, a áncora da cidade do Rio de Janeiro. — Em boa hora o intelectual e fotógrafo Humber to Moraes Franceschi que já nos deu a obra-prima ."O Ofi'cio da Prata", resolveu fazer. com o pleno apoio do engenheiro-Abade D. Inácio Barbosa Accioly (falecido a 26 de maio de 1992) - impecável'dono da casa - este definitivo inventario visual, velho sonho de D. Clemente da Silva Nigra." Oe D. Abade Inácio Barbosa Accioly:

"Hoje o Mosteiro é realmente a áncora da cidade do Rio de Janeiro. É igualmente foco de luz ardente que, sem qualquer ostentacao ilumina to

dos aqueles que aquí vivem, que aqui vém louvar o Senhor, ou que aqui encontram alimento para a chama misteriosa de sua fé — pois o Mosteiro

"nao 6 um"si'mples"nionumento ou um museu, mas urna casa viva a irradiar

a presenca de Deus.f

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Ano

Litúrgico

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dario" com as solenidades e festas do

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eclesiástico,

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