Ano Xxxiv - No. 372 - Maio De 1993

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Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoharrt)

APRESENTAQÁO DA EDIpÁO ON-LINE Diz Sao Pedro

que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta

necessidade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora,

'.'■"

visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propde aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de

IL vista cristáo a fim de que as dúvidas se

, dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabalho assim como a equipe de Verítatis Splendor encarrega do respectivo site.

que

se

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d.

Esteváo

Bettencourt e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual

conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

^^^^^^^^H

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ANO XXXIV

MAIO

1993

SUMARIO Causa da nossa alegría

"Sei, mas nao me conformo"

"Aborto. Um guia para tomar decisoes éticas" (0 UJ

A Arte Mahikari

o

Profecías de fim do mundo

i

Os comerciáis da TV

UJ _J

OD

O

0 domingo: por qué?

Stephen Hawking: "Deus, Eu e a Ciencia"

(Y*

Q.

Grupo Cristao Sao Francisco de Assis

PERGUNTE E RESPONDEREMOS Publicábalo mensal

MAIO 1993 N9 372

SUMARIO

Diretor- Responsável Estéváo Bettencourt OSB Autor e Redator de toda a materia

publicada nes'te periódico Oiretor-Administrador: D. Hildebrando P. Martins OSB

AdministracSo e distribuicáo: Edicóes Lumen Christi

Dom Gerardo. 40 • 5? andar, s/501 Tel.: (0211 291-7122

Caixa Postal 2666 20001-970 -- Rio de Janeiro - RJ FAX (021) 263-5679

Causa da nojsa alegría Deus e o mal:

193

"Se¡, mas nao me conformo" Ambiguo e capcioso: "Aborto. Um guia para tormar decisoes óticas". porC.D.D Nova Associacao Religiosa: A Arte Mahikari Pululam

194

203 211

Profecías de fim do mundo

221

O Tema do Dia: Os comerciáis da TV

227

Um Documento Pastoral: O domingo: por qué? Um Genio fala: Stephen Hawking: "Deus, Eu e

Impfessao e Encademafao

•MARQUESSARA/VA"

GRÁFICOS E EDITORES S.A. Telt.: (0211 273-9498 ■ 273-9447

a Ciencia" Insidioso:

231

235

Grupo CristSo Sao Francisco de Assis

240

NO PRÓXIMO NUMERO Nulidade de Casamento. - Novo Rito de Batismo? — Eutanasia Volunta

ria ... Eutanasia Involuntaria. — "Historia" (J.R. dos Santos). — AOrdem DeMolay. — Santo Antonio de Categeró. — Preservativo ou Prevengao?

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA ASSINATURA ANUAL 112 números) ds P.R.: Cr$ 250.000.00 - n? avulto ou atrasado Cr$ 25.000.00 O pagamento poderá ser á sua escolha

1. Enviar EM CARTA cheque nominal ao Mosteiro de Sao Bento. cruzado,

anotando no verso: "VÁLIDO SOMENTE PARA DEPÓSITO na corita do

favorecido" e onde consta "Cod. da Ag. e o N? da C/C " anotar: 0229.— 02011469-5.

2. Depósito no BANCO DO BRASIL, ag. 0435-9 Rio C/C 0031-304-1 do Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro, enviando a seguir xerox da guia de depósito para nosso controle.

3. VALE POSTAL pagável na ag. Central 52004 - CEP 20001-970 - RIO. Sendo novo Assinante. é favor enviar carta com nome e endereco legi'veis.

Sendo renovacao, anotar no VP nome e endereco em que está recebendo a Revista.

UNISANIU5 -

r AM S

CAUSA DA NOSSA ALEGRÍA É necessário ao homem procurar alegría..., nao alegría superficial e

ilusoria, mas urna alegría profunda e fundamentada. Para quem tem fé, es

ta se encontra principalmente nos valores transcendentais, que nao passam.

Diz-se — e isto ressoa freqüentemente no mes de maio — que María é "causa da nossa alegría". Por qué? — A mais de um título: Já a saudacao que o anjo dirigiu a María, ao anunciar-lhe a Encarnacao do Verbo, foi Chaire, Mariám, alegra-te... María podía alegrar-se, como

a filha de Siao em Sofonias 3,14, porque o Senhor Deus iría ter com ela e se faria homem nascendo de suas pun'ssimas entranhas. María havia de co laborar, de modo muito íntimo, com o Messias na obra da Redencao do mundo, a mais preciosa obra de Deus. Daí ser ela chamada a sentír-se san tamente alegre; cf. Le 1, 28. Urna vez Mae do Verbo Encarnado, María levou a exultacao á casa de Isabel. Sim; Joao Batista, no seio de sua mae, reconheceu o Messias presen te no seio de María e proclamou-0 pelos labios de Isabel (cf. Le 1,43).

Mais: ao inaugurar a sua vida pública, Jesús quis dar um sinal de sua gloria, e o deu... por intercessao de María (cf. Jo 2,1-12). Ñas bodas de Ca na, a Mae solícita tomou parte na aflicao do jovem esposo, ao qual faltava o vinho de praxe na festa, e pediu a Jssus que interviesse. Jesús o fez por tentosamente, após ter notado que estava antecipando a sua grande Hora a pedido de María; cf. Jo 2,4. Por conseguinte, María está no inicio do mi

nisterio público de Jesús como Mae atenta as necessidades dos homens; é a Mae providente e zelosa, á prece da qual Jesús atende.

E, no fim da vida pública do Senhor, María aparece de novo, desta vez ao pé da Cruz; Ela entao é solenemente constituida Mae de todos os homens, pois, na pessoa de Joao, Jesús Ihe entrega a humanidade ¡nteira; cf. Jo 19, 25-27. Por esta sua maternidade espiritual, María se torna a No va Eva (nome que quer dizer."Mae dos viventes"; cf. Gn 3,20). Os crístaos sabem assim que ha no céu quem os acompanhe com olhar e intercessao de Mae; a própría Mae de Deus feito homem é a Mae de todos os homens. Mae é sinal de ded¡cacao e amor.

Tais sao os motivos pelos quais se pode afirmar que "María é causa da

nossa alegría". Possa esta alegría habitar no coracao de cada fiel, mesmo em horas tempestuosas e difíceis! Que o olhar filial para María seja alentó

e reconforto para todos, poís em María se encontram a ternura e o amor

maternos em grau singular. E.B. 193

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" ANO XXXIV - N? 372 - Maio de 1993 Deus e o mal:

'SEI, MAS NAO ME CONFORMO'

Em si'ntese: O mal ou a infelicidade dos homens no mundo é, nao ra ro, motivo de perplexidade e de desafio a Deus. O artigo considera, em ter

mos filosóficos (aptos a falar a qualquer leitor), o que é o mal e como Deus se comporta frente ao mal que decorre das limitacoes das criaturas. Se Deus quis criar (e Ele o quis para comunicar a sua perfeicao a outros se res), Ele só podía criar seres limitadamente perfeitos, pois um ser ilimita damente perfeito seria outro Deus — o que vem a ser um absurdo. Deus, porém, nunca permitiría o mal que as criaturas cometem se nao tivesse re-

cursos em sua sabedoria para tirar dos males bens aínda maiores (S. Agostinho). A mentalidade antropocéntrica dificulta ao homem de ho/'e compre' ender o relacionamento da criatura com o Criador. O verdadeiro enfoque é teocéntrico, pois o homem é pequeño demais para bastar a si; Ele foi feito para se consumar em outrem ou no Bem Supremo Infinito, único capaz de saciar sua capacidade de Absoluto e de Infinito. *

*

*

Está constantemente em discussao a questao do mal (f ísico e moral) no mundo. Assume varias modalidades, urna das quais foi recentemente recolocada aos olhos do público num periódico de Curitiba: Se Deus existe e é bom, devia ter feito o homem feliz, ¡sentó de doeneas, lutos, miserias, fome. "Se dependesse de mim, teria criado a mim e a eles nao apenas bons, como tao bons que nem vontade nem capacidade para o mal possuíssemos. Pois nao é inteiramente bom quem sequer pode fazer o mal... Grito, diante da dor universal e da ilusao com que a suportamos, o

mesmo que a poetisa diante do trespasse dos bons e belos sabios: 'Sei que 194

"SEI, MAS NAO ME CONFORMO"

assim é, mas nao o aceito e sobretodo nao me conformo1.' " fGazeta do Povo, Curítiba. 13/12/92).

A conseqüéncia que Emir Caluf, autor das palavras ácima, tira é que afinal nem Deus nem deuses existem!

O problema nao é novo, mas, visto que volta sempre á baila, será abordado mais urna vez ñas páginas seguintes. O assunto, alias, já foi considerado em PR 247/1980, pp. 304-306; 297/1987, pp. 61-69.

1. DEUS E O MAL: COMO EXPLICAR? 1) Antes do mais, coloca-se a pérgunta: este mundo, aparentemente

desarrumado como é, que origem terá tido? Veio do acaso? é eterno? Tem um Criador? A resposta nao é difícil.

a) O acaso nao é sujeito que produza seus efeitos. É simplesmente o nome que damos á nossa ignorancia; quando ocorre um acontecimento cu

jas causas nao conhecemos, dizemos que se deu por acaso. De resto, ao la do das falhas que verificamos no mundp, existe tao estupenda ordem {imaginem-se o "infinitamente" grande do cosmos e o "infinitamente" pequeno do átomo) que este mundo exige uma Inteligencia que o tenha planejado e I he tenha dado existencia; o "jogo de roleta" da natureza nunca ex plicaría a realidade de uma só molécula de ADN.

b) Se o mundo fosse eterno ou sem principio, seria Absoluto, seria, o próprío Deus. Ora isto é contraditório, porque este mundo é marcado pela dependencia, a mudanca e a contingencia ..., notas que se opoem aos conceitos de Absoluto e de Eterno. c) Resta, pois, dizer que este mundo tem um Criador. Supoe um Ser, fonte de todas as perfeicoes nele existentes, Ser incriado, infinitamente perfeito, que é a causa adequada e necessária para explicara realidade do cosmos.

2) O mundo foi criado por amor. Nenhum interesse particular pode ter movido Deus a criar. Por definicao. Ele é perfeito e feliz. Se tirou do nada as criaturas, fé-lo únicamente para dar-lhes parte na sua vida e cumu-

lá-las de bens. Um famoso axioma neoplatónico reza: "O bem é difusivo de si", isto é, todo ser bom tende a comunicar a sua bondade a outros, pa ra fazé-los felizes. - Nao há outra explicacao plausível para a existencia do mundo. 195

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

3) Há agora urna importante observacao: Deus criou cada ser perfeito na sua linha própria, isto é, fez o mineral perfeito como mineral, o vegetal perfeito como tal, o homem perfeito como homem. Todavia nenhuma des-

sas criaturas é perfeita de modo absoluto - nem o pode ser - porque foram todas tiradas do nada e sao constantemente ameacadas a cair no nada. Urna criatura incapaz de falhar seria Deus. Só Deus, por ser o Absoluto, é isento de falhas por sua própria natureza, ao passo que a criatura, pelo fato mesmo de ser criatura, é falível. Assim, por exemplo, a violeta é perfei ta como violeta, mas nao conhece, nao fala e está sujeita a murchar. O ho mem é perfeito como homem, mas está sujeito ás falhas do raciocinio, ao fmpeto das paixoes.

4) Isto explica que, no mundo presente, haja falhas e desgracas:

— a natureza irracional conhece suas falhas: enchentes, secas, incen dios, terremotos, criancas que nascem deficientes... Isto tudo se explica pelo exercício mesmo das leis naturais: evaporacao provocada pelo calor, onda de frió que liquefaz o vapor de agua, donde aguaceiro...; fai'sca de raio que cai numa floresta, donde incendio...; ¡mperfeita combinacao dos genes de urna crianca...

- o homem como criatura racional também falha, porque pode fazer mau uso da sua liberdade, provocando furtos, morticinios, guerras, donde procedem a peste, a fome, a miseria...

5) o Senhor Deus nao quer intervir no mundo, coibindo ou teleguiando, a todo momento, as criaturas para que nunca falhem. Isto daria origem a um mundo artificia! ou de marionetes, como alguns preconizam. Se deu a liberdade do homem, o Criador quer respeitá-la, deixando que se exerca,

pois a liberdade é um dom que dignifica o homem, elevando-o ácima da categoría dos robos automáticos. Em linguagem precisa, devemos dizer: Deus nao quer o mau procedimento do homem nem os males em geral, mas Ele os permite, porque decorrem da natureza mesma das criaturas; Deus só quer o bem.

6) Deus, porém, nao é mero espectador do curso da historia. Diz S. Agostinho que Ele nunca permitiría os males se nao soubesse tirar do mal bens ainda maiores'; Ele tem recursos para fazer que os males redundem 1 "O Deus todo poderoso..., por ser soberanamente bom, nunca permitiría que algum mal acontecesse em suas obras se nao fosse bastante poderoso e bom para tirar do próprio mal o bem" f Enquirídio 71, 3). "Deus julgou melhor tirar do mal o bem do que nao permitir a exis~ téncia de mal nenhum" fEnquirfdio 27). 196

"SEI. MAS NAO ME CONFORMO"

em bens para o homem. Isto é tao verídico que já os gregos pré-cristaos

afirmavam: Pathos mathos, sofrimento é escola, é educacao. Pela dor, mui tos e muitos individuos superam seu egoísmo e se tornam mais compreensivos, mais dedicados aos outros. Esta verdade se tornou evidente ao máxi mo quando Deus permitiu o pecado dos primeiros país; este acarretou desordem para a humanidade, mas também foi ocasiao para que o próprio Filho de Deus assumisse a natureza humana e, morrendo na Cruz, transfigurasse a dor e a morte, merecendo assim para os homens he ranea rnuito mais rica do que aqueta perdida pelos primeiros pais.

Este designio de Deus frente á liberdade e aos males das criaturas é esbocado pela S. Escritura desde as suas primeiras páginas. Assim, por exemplo, disse José, vendido por seus irrnaos a mercadores estrangeiros e levado para o Egito:

"Nao fostes vos que me mandastes para cá; foi Deus... O mal que vos

queríais fazer-me, o designio de Deus o mudou em bem, a fim de cumprir o que.se realiza boje: salvar a vida de um povo numeroso" (Gn 45,8;50,20). Sao Paulo comenta: "Nos sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam" (Rm 8, 28). Os Santos sempre tiveram a conviccao desta verdade, como se depreende dos seguintes testemunhos:

Sao Tomás Moro, pouco antes do seu martirio, consolava sua filha, dizendo: "Nada pode acontecer fora do designio de Deus. Ora tudo o que

Deus quer, por pior que nos paraca, é o que há de melhor para nos" (Carta

á sua filha).

Lady Julián of Norwich ese revé: "Compreendi, pois, pela graca de Deus, que era preciso que eu me ativesse firmemente á fé, e acreditasse com nao menor firmeza que todas as coisas se voltarao para o bem. E verás que todas as coisas se tomarao boas (thou shalt see thyself that all manner of thing shall be well)" (Revelacoes 32).

7) Está claro que Deus podía ter criado um mundo diferente do nos-

so, talvez com menos incidentes. Se Ele quis o que existe. Ele o quis sabia mente. — De resto, deve-se afastar o conceito de "o melhor mundo possível" ou de um mundo bom em grau superlativo. Tal nocao é absurda, co mo absurdo é o conceito de "o moví mentó mais rápido possível". Com efeito; o mundo é um conjunto de seres finitos ou limitados; ora qualquer conjunto de seres finitos é suscetível de tornar-se mais perfeito; sempre se

Irte poderá acrescentar algum grau de perfeicSo; nunca, porém, se chegará 197

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

ao auge da perfeicao, pois esta só existe em Deus e nao resulta da soma de parcelas de perfeipao; toda soma de seres finitos é finita e pode sempre re-

ceber um acréscimo.

Em conseqüéncia, vé-se que a nocao de "o melhor mundo possfvel"

é absurda. Deus quis o mundo que conhecemos, e escapa á inteligencia hu mana saber por que escolheu este e nao outro modelo de criatura. Ver o Apéndice a este artigo, pp. 200-202. 8) Em última análise, faz-se mister ainda dizer o que é o mal, pois

erróneas nocoes a respeito dificultam o entendimento da questSo. O mal nao é um ser, mas é precisamente a carencia de um ser devido; é a ausencia de algo que nao deveria estar ausente. Paralelamente as trevas nao sao um ser, urna energía negra, como a luz é energía branca; mas as trevas sao a au

sencia de luz; basta retirar a luz, para que naja trevas. Assim, por exemplo, a cegueira é um mal no homem, porque é a falta de visao numa criatura a quem compete ter olhos; mas a falta de olhos numa pedra nao é um mal,

porque nao toca á pedra ter visao. O pecado é um mal, porque significa urna ac3o humana que carece de harmonía com o seu Fim Supremo. Existem dois tipos de mal:

— o mal físico: o que ocorre entre as criaturas irracionais ou também

na corporeidade do homem: enchentes, secas, incendios naturais, genoti pos defeituosos...

— o mal moral: o que decorre do mau uso da liberdade humana e que nos chamamos pecado.

O mal, como nao-ser ou como ausencia, nao tem causa direta (o naoser nlo precisa de causa direta para existir). O mal só pode ter causa indireta, e esta só pode ser a criatura; sim, sonriente a criatura é capaz de produzir um efeito inacabado ou carente da perfeicáo que Ihe é devida. Em conseqüéncia, Deus nunca pode ser causa do mal; isto é metafísicamente ¡mpossível. Ocorre, porém, que Deus quis criar seres limitadamente perfeitos, cíente de que falhariam, mas o Criador envolveu tais falhas no seu pla no de amor, determinando fazer dos próprios males das criaturas a ocasiSo de maior crescimento na escala do bem. Ele preferiu criar a nao criar, e criar com grande liberalidade seres livres e dignos, aos quais levaría o reme dio no tempo oportuno. Este designio de Deus é um fato; a criatura nao tem como discutir, pois admitir um Deus omisso, injusto ou maldoso é incoeréncia, visto que Deus por definicáo é sumamente perfeito. Ou Ele é santo em grau máximo, ou nao existe. Resta, pois, em última análise ado rar o plano de Deus e fazer-lhe um ato de confianza irrestrita, pois é certo 198

"SEI. MAS NAO ME CONFORMO"

que Deus nao pode errar nem se engañar. Sao Paulo diz em termos conci sos e eloqüentes:

"Quem és tu, ó homem, para discu tires com Deus? Acaso dirá a obra ao seu artífice: 'Por que me fizeste assim?'" (fím 9, 20). Passemos agora a duas observacoes fináis.

2. REFLEXOES FINÁIS A problemática das relapdes do homem com Deus em nossos tempos é perturbada por causa de duas concepcSes falsas muito presentes á rnentalidade moderna:

2.1. Antropocentrismo Desde o sáculo XVI (Renascimento, Reforma protestante) e pelos séculos seguintes, com Descartes, Hume, Kant, Augusto Comte, ... o pensa-

rnento filosófico tende a fazer do homem o centro ou referencial de toda cosmovisao; sería o criterio dos valores; nos últimos decenios nem mesmo o homem em geral, mas o eu de cada um vem a ser esse eixo de referencias.

Dir-se-ia que a filosofía contemporánea volta á tese do sofista Protágoras grego (sáculo V a.C): "0 homem é a medida de todas as coisas, daquelas que sao por aquilo que sao, e daquelas que nao sao por aquilo que nao sao". Para Protágoras, o único criterio é somente o homem, o homem

individual: "Tal como cada coisa aparece para mim, tal é ela para mim; tal como aparece para ti, tal é para ti". Sendo assim, ninguém está no erro, mas todos estao com a verdade (com a sua verdade).

Este modo de pensar antropocéntrico, individualista e relativista tem suas incidencias sobre a própria religiosidade do homem moderno. Desde

Lutero, é dito ao cristao que ele a sos pode fazer o livre exame da Biblia; tirará desta as conclusoes que Ihe parecerem retas e fundará seu Cristianis mo próprio. Em nossos dias, tal atitude, freqüente como é, tem dado origem a múltiplas correntes religiosas e até ao ateísmo.

Muito diferente é a concepcao que os antigos e medievais professavam (e ainda hoje professam numerosos cristaos): Deus é o grande referen cial do pensamento e o criterio dos valores. O objetivo da vida humana é dar gloria a Deus — o que nao pode deixar de redundar na plena realizacao do próprio bem. O Evangelho, alias, incute freqüentemente essa atitude: o homem deve perder sua vida temporal, mortal, para ganhar a vida ¡mortal (cf. Mt 16, 25; Jo 12, 34s); deve abaixar-se para ser exaltado (cf. Le 14, 199

'PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

11); deve servir para ser servido (cf. Me 10,42-45); deve cair na térra e morrer como o grao de trigo para dar muito fruto (cf. Jo 12,24). O Missal Romano acrescenta em urna de suas orapoes: "Deus, a quem conhecer é viver, a quem serviré reinar..." Isto nao implica masoquismo nem derrotismo, mas significa que o homem é um ser relativo a Deus, e nao um ser absoluto; ele tem que re nunciar a tudo oque o possa afastarde Deus, para se encontrar renovado em

Deus. Sonriente em Deus, o homem encontra sua explicacao, sua razio de

ser e sua finalidade, porque só Deus é o Bem Infinito, ao qual todo ser na turalmente aspira; o homem é pequeño dema¡s para bastar a si; ele nao pode deixar de se entediar e de definhar, se se fecha em si mesmo. — Esta

verdade, que assusta e pode encontrar resistencia, contém o segredo da plena consumacao do ser humano. Quem a tenta viver, descobre que ai está a verdadeira sabedoria. 2.2. O conceito de felicidade

A primeira vista, felicidade parece significar saúde, dinheiro, amigos, bem-estar temporal, e infelicidade... precisamente o contrario. — Aos pbucos, porém, todo homem verifica que plena saúde e muitos bens materiais aínda deixam o sujeito frustrado; sao bol has de sabao, pois desfalecem ce do ou tarde. A fonte da verdadeira felicidade está dentro e nao fora do ho mem; está nos valores éticos e principalmente na descoberta de Deus, o

Bem Infinito; Este é o único capaz de satisfazer cabalmente á capacidade

de Infinito que todos trazem dentro de si. Está claro que saúde e bens ma teriais podem contribuir para dar certa felicidade ao homem; mas é de crer que a Providencia Divina, em sua sabedoria, sabe ministrar os seus dons de

tal modo que cada qual, dentro do seu quadro de vida, encontré alegría e estimulo, independentemente deste ou daquele tipo de valor material. Seja

aqui lembrado o famoso axioma: "Mais vale ser do que ter". As vezes o ter dificulta o ser; só Deus sabe o que a cada um convém para que seja sempre mais, usando os bens desta vida. Se o conceito de felicidade derivada do ser for mais e mais compreen-

dido e aceito, o antropocentrismo irá cedendo ao senso de transcendencia e de Absoluto, que é a fonte da verdadeira alegría. A propósito pódese recomendar a excelente obra de Charles Journet:

La Mal. Essai Théologique. Desclée de Brouwer 1961. APÉNDICE

Aqui seja colocada famosa questao já ligeiramente abordada no corpo do artigo, a fim de se Ihe dar mais ampia explanacao: 200

"SEI. MAS NAO ME CONFORMO"

9

Se Deus é todo-poderoso e infinitamente bom, por que nao criou um mundo melhor do que o nosso?

Respondemos por partes:

1) É certo que Deus é todo-poderoso. Se nao o fosse, nao seria Deus. Ele so nao pode fazer coisas absurdas (círculo quadrado, montan has sem vales...), porque tais coisas nao tém sentido em si mesmas (os seus termos se destroem mutuamente).

2) É certo que Deus também é infinitamente bom; caso contrario,

nao seria Deus. Por definicao, Deus é a fonte de toda perfeicao.

3) Entao, observa-se, deveria fazer um mundo melhor do que o nosso. Se Ele o podia fazer. Ele também o devia fazer. — Notemos que certamente Deus podia fazer um mundo melhor do que o nosso; poderia estar intervindo a todo momento para corrigir o

curso erróneo das criaturas.1 Quanto a dever fazer, é de observar que Deus a nada é obrigado; o que Ele faz, é feito gratuitamente; Ele Iivremente comunica as suas perfeicoes, como Ele quer. Deus só poderia ser tido como mau se tivesse feito um mundo em que o mal dissesse a última palavra, um mundo em que o absurdo triunfasse de modo geral, um mundo em que só houvesse joio, e nao trigo. Ora podemos dizer que, esse mundo mau, presa indiscutida do mal, Deus nao o fez; em nosso mundo, o mal é a outra face ou o reverso do bem; é a ocasiao do triunfo do bem, é como o joio que cresce com o' trigo (joio semeado pelo adversario) e que nao deve ser i arrancado para

nao prejudicar o trigo (cf. Mt 13,28-30). Deus estava obrigado, por súa 1 Muito oportunas sSo as ref/exdes deJacques Marítain: "O sistema soiar nao é urna máquina, como também nao oéo univer

so. Resulta da tonga evolucao histórica de urna muitidao de fatores postós em interacao, nao de antemao unificados... Sem dúvida, a Causaprímeira inteligente dirige essa evolucSo histórica segundo o seu plano criador, mas Deus nao é um re/ojoeiro, um fabricante de relógios; é um Criador de naturezas. O mundo nao é um relógio, mas urna república de naturezas; e a infalível causa/idade Divina, pelo fato mesmo de ser transcendente, faz que os acontecimentos ocorram segundo a sua índole própria: de modo necessário, os acontecimentos necessários; de modo contingente, os acon

tecimentos contingentes; de modo fortuito, os acontecimentos fortuitos" (Raison et Raisons, París 1947, p. 62). 201

10

"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

perfeicao, apenas a fazer um mundo no qual o mal nao dissesse a última palavra. Colocado este principio, observamos que é ¡mpossível a nos definir quai o mundo em que o bem triunfe melhor sobre o mal. O mal existirá sempre, pois decorre das limitacoes (físicas e moráis) das criaturas. Pois

bem; em que proporcao (ou dose) o mal deveria ou nao devena existir

no mundo? É pergunta para a qual nao temos resposta. O conceito de "o

melhor mundo possível" é absurdo, como o é o conceito de "o movimen tó mais rápido possi'vel", segundo já foi dito. Qualquer tipo de mundo em que naja mésela de bem e mal, poderia ser discutido como sendo (aínda e apesar de tudo) inadequado á Bondade Divina. O que sabemos, é que o mundo presente foi por Deus tido como oportuno; nao queiramos censu rar o Criador por causa disto, pois este mundo é certamente o campo em que o bem e o mal se def rontam, com a certeza de que o Bem diz e dirá a última palavra. Imaginar outro tipo de certame entre o Bem e o mal é, da nossa parte, pretensáo que nao tem fim, é perda de tempo. *

*

*

(continuapao da pág. 240) 4) A oferta de um Curso Bíblico por correspondencia no fim do fas cículo em estilo protestante, visto que, para o protestante, ser cristao se resume em ler a Biblia e procurar pola em prática, sem recurso aos sacra mentos (o grande sacramento da Igreja Corpo de Cristo, os sete sacra

mentos...) 5} O Curso prometido no filheto é remetido a quem o pede; vem num envelope da Imprensa Batista do Brasil — o que o identifica plena mente. 0 folheto do "Grupo Cristao Sao Francisco de Assis" parece ser urna artimanha destinada a ludibriar os católicos. Pois bem. Importa nao só aos católicos, mas a todo homem honesto

denunciar o caráter de mentira e falsidade do livreto em foco. Os protes tantes nao aceitam os santos, mas, como lobos revestidos de peles de ove-

Ihas (cf. Mt 7,15), fingem ser devotos de Sao Francisco de Assis somente para aliciar o povo de boa fé ou incauto. Bem diz o Senhor Jesús que a mentira é o artificio típico de Satanás, Ele que "é mentiroso e pai da men tira, homicida desde o principio" (cf. Jo 8, 44). Querer propagar o Evangelho na base da mentira e do dolo nao é cris tao, nao é fazer a obra de Cristo, mas é satánico. O Senhor Jesús é "o ca-

(continua na pág. 230) 202

Ambiguo e capcioso:

"ABORTO. UM GUIA PARA TOMAR DECISOES ÉTICAS" por C.D.D.

Em símese: O aborto está sempre em foco. Últimamente foipublica do no Brasil um folheto-guia para ajudar as mulheres a se decidir em favor do aborto; tem por editora a Sociedade dita "Católicas pelo Direito a De

cidir", Sociedade norte-americana ramificada no Uruguai, onde se imprímem livros da Sociedade em portugués. Tal Diretório-guia é capcioso, pois parecem falar mulheres católicas a católicas dentro do zelo da ortodoxia católica. Na verdade, porém, o opúsculo aprésenla a doutrína abortista com verniz de ética católica, ou se/a, utilizando conceitos católicos esvaziados de seu sentido (tal se dá com "magisterio da Igreja, definigoes pa páis, consciéncia, pessoa..."). 0 artigo subseqüente tenta por em re/evo os sofismas de tal livro. *

*

*

Existe, fundada nos Estados Unidos e ramificada no Uruguai, urna Sociedade de Senhoras que se dizem católicas e propugnam, mediante impressos e palestras, a liceidade do aborto. Tem o nome de "Católicas pelo

Direito a Decidir" (CDD). Empenham-se, com ardor, por tentar conciliar fé católica e prática do aborto - o que aparece, de modo especial, num

fascículo intitulado: "Aborto. Um Guia para tomar Decisoes Éticas", da

autoría de Marjorie Reiley Maguí re e Daniel C. Maguí re (traducao de Paulo Fróes a partir do inglés). Visto que os arrazoados deste impresso podem le var muitos leitores a falsas conclusdes, examinaremos, ñas páginas subseqüentes, as suas principáis linhas.

1. APRESENTAQÁO Na segunda capa do panfleto em foco, lé-se a Apresentacao seguinte: "Católicas pelo Direito de Decidir e Catholics for a Free Choice sao organizagoes com fins educativos e de promocao de idéias no Brasil, na América Latina e nos Estados Unidos. Apoiam o direito da muiher a receber do Estado, no plano legal ou jurídico, a devida atengao á saúde repro203

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

dutora, ao ptanejamento familiar e ao aborto. Também trabalham em pro! da reducao da incidencia do aborto e do aumento das opcoes das muiheres perante a gestacao e a educacao dos fiihos, defendendo o desenvolvimento de programas sociais e económicos nSo só para as muiheres, mas também para as suas familias e os seus fiihos". A presidente da Associacao é a Sra. Francés Kissling, com sede em

Washington e filial em Montevideo. Entre as suas colaboradoras está a Sra. Rose-Marie Murara, brasileira conhecida por suas obras em prol da mulher na sociedade contemporánea. Além de opúsculos, a Sociedade em foco publica um boletim dito "Aportes. Servico de Documentacao e Informapao de Católicas pelo Direito a Decidir", publicado em Montevideo em língua portuguesa. Em tal bo letim encontra-se enunciada entre as finalidades da CDD a seguinte: "CDD é urna alternativa concreta pela liberdade de opcao dentro da Igreja Cató lica", o que certamente é muito significativo, mas nao menos capcioso. Percorramos os sucessivos itens do arrazoado de "Aborto. Guia para

Tomar Decisoes Éticas".

2. O ABORTO É HOMICIDIO? O que impressiona na leitura do fascículo, é o fato de que, dizendo-se católicas, as senhoras interessadas propugnam urna doutrina que evidente mente contraria nao só os principios do Catolicismo, mas também os da lei natural; utilizam nocoes de Teología Moral manipulando-as ou esvaziando-as de modo a chegar a conclusoes opostas áquelas da Teología Moral Católica. Como se compreende, a premissa básica para justificar o aborto con sistirá em negar que o feto, desde o primeiro instante de sua concepcao, é verdadeiro ser humano, dotado de alma ¡mortal e sujeito de todos os direi-

tos que tocam á pessoa humana. Como justificam tal negativa? 2.1. O feto é pessoa?

Já esta pergunta, como vem formulada á p. 5 do fascículo, é capcio sa. Com efeito, "pessoa", no linguajar comum, lembra um ser consciente, falante, que ocupa seu lugar ao sol... Ora, segundo a Filosofía perene, pes soa é simplesmente "todo individuo de natureza racional", ou seja, todo

individuo que nao seja irracional (macaco, planta, mineral...); o ser huma no, independentemente de sua estatura, de sua saúde, de sua posicáo so204

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"ABORTO. UM GUIA PARA DECISÓES ÉTICAS"

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cial..., pelo fato mesmo de ser um óvulo fecundado por um espermatozoi de, já é pessoa, embora nao tenha personal idade ou pleno desabrochamento de suas características de ser humano.

As mais recentes pesquisas biológicas levam á conclusao de que o fe to, desde a fecundacao do óvulo, é auténtico ser humano, portador da programacao que o fará aparecer como enanca formada, desde que se Ihe

déem as condipoes de desenvolvimiento necessárias. Principalmente o Dr. Jeróme Lejeune se tem destacado neste setor de investigacoes; cf. PR 305/1987, pp. 457-461. Nao compete á Igreja definir quando comeca a vida humana, ao con trario do que pensam as autoridades do opúsculo. O assunto é da aleada das ciencias biológicas. A Moral católica se baseia na real idade apurada pe las ciencias contemporáneas. Alias, mesmo outrora, quando seduvidava a respeito do momento em que tem inicio a vida humana, a Igreja afirmava, com base na realidade, que o feto é um ser humano em potencial; pouco ¡mportam as etapas de sua evolucao, pois desde a fecundapao é certo que se tornará individuo da especie humana e nao de outra.

2.2. Razoes Alegadas 0 texto em foco, recusando as evidentes conclusoes da Genética, re corre a outras sentencas, a fim de negar ao feto os diré ¡tos de pessoa. A título de ilustracao, sejam enunciadas:

1) "O feto se transforma em pessoa guando se torna 'viável', ou seja, guando nao depende do claustro materno para a manutencao de sua vida. Este conceito tere sido importante na decisao, tomada pelo Supremo Tri bunal dos Estados Unidos, de legalizar o aborto naguele país" fp.6). — Ora quem aceita tal arrazoado, poderá dizer que deixa de ser pes soa todo individuo que venha a precisar de me ¡os extraordinarios (tenda de oxigénio, transfuslo de sangue...) para subsistir. Caitamente nao é a in dependencia em relapao a subsidios que faz a identidade da pessoa; esta

será sempre dependente de múltiplos fatores ("claustros matemos") para poder subsistir e desenvolver-se.

2) "A mulher tem de acolher voluntariamente a vida gue carrega con sigo, e consentir com a gravidez antes gue essa vida seja considerada por Deus como urna pessoa... Antes é urna forma de vida preciosa e be/a, mas nao urna pessoa" (p. 6).

— É absurdo condicionar o ser pessoa á atitude subjetiva da genitora.

Cada qual tem sua esséncia ou identidade por razoes intrínsecas ao indiví205

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

dúo e nao por fato res extrínsecos. Nao é o ser benquisto que faz alguém ser pessoa; muito menos a aceitacao da mae condiciona a criacao e a infusao da alma por Deus. Os criterios subjetivos sao oscilantes, a tal ponto que se poderia perguntar: se a genitora aceita a sua gravidez e depois a abo mina, o feto se toma pessoa e sucessivamente deixa de ser pessoa? 2.3. Justificativas para matar? O opúsculo refere que há razoes para matar a vida humana, como

ocorre, por exemplo, nos casos de legítima defesa. Ora, alegam os autores, aínda que o feto seja considerado pessoa, poderá haver razoes para eliminá-lo. Tais seriam: 1) urna mulher nlo tem a obrigacao de oferecer sustento ao filho em seu útero, como nao está obrigada a doar um órgao a um párente ou a um desconhecido para salvar-lhe a vida. — Evidentemente a comparacao é falha. A mulher que concebe urna

crianca, traz em seu seio alguém que é seu filho (desejado ou nao); por conseguinte... alguém que Ihe está relacionado como nenhuma outra cria tura. Além do qué, para salvar a vida de um adulto, há outros varios adul tos, ao passo que, para alimentar a vida de urna crianca em gestacao, só existe a mae. Donde se vé que o paralelo nao procede. 2) "Se vocé acredita que a sua própría vida ou seus próprios va/ores estarao seriamente ameacados, caso a gestacao continué, tem justificativa para pór-ihe fim". — Ueste caso, há recurso aos valores da mae supostamente ameacados

pela crianca. Se entio é lícito matar o filho, será lícito a tal mulher matar todos os outros individuos que ameacam seriamente os seus valores pró prios: matar, por exemplo, o(a) rival que impede a promocao no exercício da profissao, matar o(a) vizinho(a) que incomoda ou que perturba a tranqüilidade do lar, matar quem Ihe dificulta tal ou tal casamento... Vé-se que tal criterio, subjetivo como é, leva á plena dissolucao dos costumes.

Os autores aínda perguntam se o feto senté dor. — Respondem relativizando as reacSes da enanca maltratada pelas práticas abortivas: "como

nao tem um sistema nervoso nem funcSes cerebrais muito desenvolvidas, sua reacio é comparável á dos reinos animal e vegetal, como o movimento de um planeta em direcao á luz ou da ameba quando tocada". — Esta resposta legitimaria outros tipos de "morte indolor", como se riam aqueles que a eutanasia procura proporcionar. — NSo é o ser indolor

ou o ser pouco doloroso que justifica tirar a vida de alguém. Passemos a outro item do fascículo. 206

"ABORTO. UM GUIA PARA DECISOES ÉTICAS"

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3. "COMO CATÓLICA, GOSTARIA DE CONHECER OS ENSINAMENTOS DA IGREJA SOBRE O ABORTO" O i'tem assim intitulado (p.8) é capcioso. A resposta aparentemente apresenta a doutrina católica, quando na verdade diz o contrario da mesma.

O pensamento católico a respeito é muito simples, a saber: o aborto é a extincao da vida de um ser humano.1 Ora a lei de Deus, configurada na lei natural (que todos os homens podem reconhecer e geralmente reconhecem), proibe matar o inocente. Por conseguinte, o aborto é um morticinio que ofende a lei natural (sancionada na Decálogo); por isto a Igreja o con dena. — A proibicao do aborto nao depende de legislacao positiva ou de determinacao de algum Papa ou Concilio; é anterior a qualquer lei positi va e válida para católicos e nao católicos (visto que a própria lei natural, universal como é, a proibe). Ora os autores do panfleto se perdem em considerares inúteis, deturpándo a doutrina da Igreja. Alegam que

- nenhum Papa se pronunciou ex cathedra contra o aborto. - Res pondemos que isto nao é necessário, porque a lei de Deus explícitamente condena o homicidio <= aborto); - todos os membros da Igreja, e nao apenas os Papas e os Bispos, sao partes integrantes do seu magisterio. — Esta afirmacSo é absurda: magiste rio supoe discipulato; no caso, porém, todos seriam mestres sem discípu los. Além do mais, a alegacao é falsa, visto que na Igreja há diversos minis terios instituidos pelo próprio Cristo, destinados a exercer funcoes especi ficas; cf. Ef 4,11s. Entre esses servicos há o dos doutores ou o ministerio do magisterio, ao qual corresponde um carisma próprio, reservado aos Bis pos em geral e ao Papa (Bispo de Roma) em particular; cf. Constituiclo Oei Verbum n? 8. A doutrina da Igreja é o eco da Boa-Nova trazida por Cristo aos homens; por isto ela nao é definida pelo voto da maioria, mas por instancias que gozam de especial assisténcia do Senhor para tanto;

- é impossível que um Papa se pronuncie sobre questoes de Moral, porque a Moral envolve sempre aspectos pessoais e contingentes, que nao

é possível prever a partir de urna cátedra. — Respondemos: a Moral tem sempre dois aspectos correlativos entre si — o objetivo (a lei como tal, com

1 Quem quiser, acrescente:... de um ser humano em potencial. Será sem pre de um auténtico ser humano. 207

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seu valor universal) e o subjetivo (o sujeito da lei e as circunstancias em que se acha). 0 primeiro aspecto, sendo objetivo, pode e deve ser materia de legislapao da Igreja; a esta compete explicitar homogéneamente a Lei de Oeus, evitando confusao e desorientacao entre os fiéis. O outro aspecto, o subjetivo, está aos cuidados da consciéncia de cada individuo, como se di rá a seguir. Isto, porém, nao quer dizer que a consciéncia seja autónoma; a ela compete, de um lado, considerar a Lei de Deus (e da Igreja) objetiva e, de outro lado, as circunstancias contingentes que cercam o sujeito da Lei, proferindoumditame sincero que seja a bússola da conduta da pessoa.

4. QUE É A CONSCIÉNCIA? Esta pergunta formulada á p.9 do folheto recebe urna resposta assaz confusa; basta notar duas afirmacoes contraditórias dentro do mesmo inciso: "Muitos acreditan) que a consciéncia constitua um guia inato perante o bem e o mal. Consideram-na como urna especie de voz interna que pode mos ouvir quando a sintonizamos devidamente. Nao nascemos com o que se considera consciéncia; temos que formá-la" (p. 9).

Pergunta-se em conseqüéncia: a consciéncia é inata ou nao?

A p. 8 encontra-se a seguinte afirmacao: "Nunca pecamos quando seguimos os difames da nossa consciéncia, inclusive quando a maioria dos membros da Igreja reprova tal atitude".

A sentertca é ambigua. Em verdade, a consciéncia é a faculdade que, em vista da lei objetiva, de um lado, e as circunstancias concretas, de outro lado, orienta o comportamento humano, mostrando ao individuo a obrigacao de nao agir ou agir, de agir deste ou daquele modo. Visto que a cons ciéncia nao é autónoma, mas é a intérprete da Lei de Deus para cada caso, ela tem que se informar ou tem que ser formada. Com efeito; pode haver consciéncia verídica ou reta e consciéncia errónea, mal orientada. Daí as regras que todo individuo deve observar em relacao á consciéncia: 1) Todos tém a obrigacao de empregar os meios oportunos para possuir urna consciéncia verídica ou reta. — Esta norma é importante, pois a consciéncia é a bússola que indica o Norte da conduta humana; se ela nao é verídica ou reta, indica falso Norte com o perigo de desastre para o agen te. Ora, como ninguém em viagem quer incorrer num precipicio, também na vida moral ninguém há de querer incidir em culpa moral por negligencia 208

"ABORTO. UM GUIA PARA DECISÓES ÉTICAS"

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ou culpa sua. Donde se segué a necessidade imperiosa, para todo homem, de procurar ter urna consciéncia esclarecida e bem informada, que profira ditames verídicos e retos.

2) Todos estao obrigados a observar estritamente os preceitos e as proibicóes de sua consciéncia, desde que esta seja a) verídica ou b) incul padamente errónea.

A obrigacao de obedecer á consciéncia verídica é obvia. A conscién cia verídica é a que faz a api ¡cacao fiel da lei a situacao precisa em que a pessoa se acha. Quanto á consciéncia errónea, distingue-se a culpadamente

errónea e a inculpadamente errónea. A primeira é a que erra por negligen cia e descaso; a segunda é a que erra de boa fé, sem suspeitar que está no

erro. Ora diz-se que a consciéncia inculpadamente errónea obriga a pessoa, porque esta nao sabe que está errando; ao contrario, imagina estar no reto-

alvitre, por ¡sto a pessoa tem o dever de segui-la. No caso da consciéncia culpadamente errónea, a pessoa sabe que se descuidou de informar-se e,

por isto, deve desconfiar do ditame que a consciéncia Ihe propSe.

Aplicando isto ao aborto, afirmamos: se alguém, de boa fé, julga tranquilamente e sem suspeita do contrario, que o aborto nao é homici dio, nao peca se o comete. Se, porém, tem dúvidas a respe ito e, nao obs tante, o comete, está falhando porque aceita o risco de estar matando al guém. Ora pergunta-se: quantas sao as pessoas que cometem um aborto

tranquilamente? Toda mulher, por mals que se queira tranquilizar, sente-se violentada quando pratica aborto, e esse constrangimento Ihe causa um trauma que perdura anos... O sentimento de culpa que persegue tal mu

lher, é sinal de que ela percebe quanto o aborto é contrario ás leis da natureza.

Alias, o crime do aborto é tao grave que o Código de Djreito Canó nico inflige a excomunhao a quem o pratica, como também a quem cola bora na execucao do aborto (médico, enfermeiras, marido...); cf. canon n? 1398.

Segue-se a necessidade de se fazer da consciéncia urna instancia se gura e lúcida na orientacao do comportamento humano.

5. QUE ACONTECE AO FETO APOS A MORTE? Os autores do fascículo oferecem respostas pouco nítidas e coerentes:

1) 0 feto que morre, nao é pessoa. Portanto nao tem vida postuma.

Acaba-se com a morte física, como os animáis acabam. — Tal tese é inaceitável; seria identificar o feto humano com o de um animal infra-humano. 209

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2) "Os fetos vao para um lugar chamado 'limbo' " (p. 10). - Antes do mais, notemos que nao há lugares no além; donde nem o céu nem o in ferno nem o limbo sao lugares. O limbo seria um estado em que as criancinhas mortas sem Batismo gozariam de feiicidade meramente natural ou da visao de Deus tal como pode ser alcancada pela criatura nao elevada á ordem sobrenatural. Hoje em dia tal teoría, que nunca foi de fé, é prete rida pelos teólogos em favor da afirmativa de que toda enanca morta antes

do uso da razao goza da feiicidade celeste (visao de Deus face-a-face), mesmo que nao tenha sido batizada, porque Deus tem recursos para sálva la indepentemente dos sacramentos. Esta doutrína, porém, nao exime de culpa a muiher que comete o aborto. Esta castiga a si e nao á crianca, pois todo pecado é, antes do mais, punicao para quem o comete.

6. REFLEXÁO FINAL

O panfleto é especialmente nocivo, pois parecem falar autoras católi cas a leitoras católicas com aparente zelo de manter fidelidade aos princi pios católicos. Deturpam, porém, a doutrína católica ou, melhor, apresentam um modo de pensar anticatólico revestido do verniz de pseudocatolicismo.

O eixo de tal pensamento é antropocéntrico, ficando os interesses de cada muiher como criterio para aferir a liceidade ou nao da prática do aborto e do comportamento sexual em geral. Ora o pensamento cristao é teocéntrico, e nao antropocéntrico. Ele professa que Deus Pai nos fala por meio de Jesús Cristo na sua Igreja. O amor á Igreja como Corpo de Cristo (cf. 1Cor 12,27) e sacramento da salvacao é vivo e entranhado em todo auténtico cristao. Sao Joao Crisóstomo (t407) exprime belamente o porqué dessa fidelidade á Igreja nos seguintes termos:

"Nao te afastes da /greja, pois nada há de mais forte do que a igreja. A toa esperanca é a Igreja; o teu refugio é a Igreja. Mais elevada do que o

céu e mais ampia do que a térra é a Igreja. E/a nunca envelhece, mas sem-

pre guarda o seu vigor" (Homilía a respeito de Eutrópio 6, PG 52,402).

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Nova Associacao Religiosa:

AARTEMAHIKARI

Em sfntese: A Arte Mahikañéuma correóte religiosa de menos de

trinta anos de idade. Oriunda no Japao por efeito de "revelacoes" feitas a Sukuinushi-Sama entre 1959 e 1967, existe no SuI do Brasil. Professa a existencia da Luz Divina, que é aplicada aos enfermos e carentes por imposicao de maos fakiyomey,- a cura pelo okiyome é chamada Arte Mahikari. As molestias, em 80% dos casos, sao tidas como "encostos" ou maleficios provocados por espiritos malvados, que pairam em torno do homem e nele penetram. A humanidade tem-se pervertido a ponto de se ver na iminéncia

de úm Baiismo de Fogo, que incluirá catástrofes gigantescas; salvar-se-ao

talvez 20% dos homens existentes na época. Para evitar os graves flagelos, a Arte Mahikari recomenda a mudanca de vida e a aplicacao da Luz Divi na. A reencarnacao, após 200 ou 300 anos de existencia no astral, é consi derada como muito possfvel, podendo ocorrer em corpo de animal irracio nal; o homem pode reencarnarse como mulher e vice-versa.

O conceito de Deus é muito confuso na teología Mahikari, f¡cando entre panteísmo e politeísmo (falase de "deuses auxiliares"). Tais crencas sao absolutamente incompatíveis com a fé crista. *

*

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0 Japao tem sido fecundo na criapao de correntes religiosas novas:

além do Johrei {Igreja Messiánica Mundial), do Seicho-No-lé, da Perfect Liberty, existe também no Brasil (especialmente no Sul do país), a associacáo religiosa dita Arte Mahikari, que tem sua cosmovisao própria.

A seguir, examinaremos as características dessa córrante e Ihe proporemos alguns comentarios.

1. ARTE MAHIKARI: QUE É? 1.1. O Fundador

O fundador da córreme é o japonés Sukuinushi-Sama (Kootama

Okada), já falecido. Fo¡ militar. Após a segunda guerra mundial (1939-45), 211

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

tornou-se empresario, sempre alheio á religiao. Por um motivo particular viu-se em apuros e suplicou a protecao divina; diz ter entao recebido revélacoes diversas, que I he mostravam como salvar o mundo ameacado de iminentes catástrofes. A sua mensagem se resume nos seguintes termos: "Purifique a alma humana através da imposicao das maos para salvar a humanidade, pois o dia do Jui'zo Final está se aproximando". As revelapoes que o Fundador diz ter recebido do alto, se encontram colecionadas no

livro dito "Sagrado Goseigen", sendo a primeira datada de 27/02/1959

(5 horas da manha) e a última datada de 25/01/1967 (3 horas da madruga da}1 . Este livro faz as vezes de Biblia da nova comente, que conta menos de trinta anos de existencia no Japao e pouco mais de doze anos no Brasil.

Sukuinushi-Sama julga-se, sem dúvida, superior a Jesús Cristo e a todos os mestres religiosos da historia. Nao acreditar nesse "profeta" ou desprezá-lo significa desrespeitar o próprio Deus (mensagem de dezembro de 1965). O autor chega a insinuar que ele é o Espi'rito da Verdade prometido

por Jesús aos Apostólos (cf. Jo 16,13): "Parece que meus predecessores, como Moisés, Buda e Jesús, aperceberam-se da existencia dos misterios dos céus, mas em suas respectivas épocas nao Ihes fora permitido transmiti-los claramente a humanidade.

Pode-se entrever, de certa forma, a difícil posicao deles pelos diálogos mantidos com os discípulos...

Jesús respondeu...: 'Quando vier o Espirito da Verdade, ele vos dirá toda a Verdade' (Jo 16,13)" fGoseigen. p. 4). A nova corrente chama-se Arte Mahikari. Arte... porque urna de suas principáis tarefas é impor as maos (okiyome) para que se comunique ao

homem a Luz Verdadeira e Pura, Luz Divina (chamada Mahikari); esta Luz cura a pessoa de suas enfermidades físicas e pode presérvala das emi

nentes catástrofes (Batismo de Fogo), que estao para se desencadear sobre o mundo. A filha do fundador, chamada Oshienushi-Sama (Keiju Okada) é tida como a sucessora de seu pai na propagacao da Arte Mahikari, indicada pe lo próprio Deus.

1 fíeferindo-se ao inicio de suas "revelacoes", diz o fundador: "As 5 horas da manha do dia 27 de fevereiro de 1959, voltei a mim depois de cinco dias de inconsciencia causada por urna forte febre, quando recebi a primeira revelacao concernente á fundacao de urna organizacao.

Este acontecimento nao é explicável pelos conhecimentos científicos de hoje. Foi um momento verdaderamente misterioso, maravilhoso, de comuntcacao. de acolhida dapalavra divina" fGoseigen, p.2). 212

ARTEMAHIKARI

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Examinemos agora as principáis linhas da mensagem Mahikari.1 1.2. Deus e o Homem O conceito de Deus é assaz confuso.

De um lado, afirma-se que Deusé único. Tal nocao, porém, é explica da em sentido panteísta assaz grosseiro: "Deus SU é naturalmente único. Porém, existem no universo muitos deuses que estao constantemente estendendo sua protecao á humanidade. No Japao, desde a antigüidade, existem varios deuses que corresponden) aos anjos do Cristianismo, chamándose a Deus apenas de Deus Criador. Esses anjos ou deuses sao apenas uma fracao do Espirito de Deus Supremo e cada qual tem uma missao a cumprír em varios campos; sao intermedia

rios entre o Deus Supremo, os Homens e os Espíritus que estao no mundo espiritual em intensa atividade. O Deus Supremo se encontra no ápice e, a seguir, vém os deuses, formando um corpo piramidal" /'MR, p. 38). Como se vé, o conceito é obscuro. Falar de fracao do Espirito de Deus é contraditório, porque o espirito nao tem partes materiais quantitativas, que possam fracionar-se. Mais: se os anjos sao parcelas de Deus, sao

a própria Divindade — o que redunda em politeísmo ou em panteísmo. Procurando em outras páginas do MR ou do GSG, nao se chega a maior clareza a respe¡to de quem seja Deus, conforme Sukuinushi-Sama. 0 próprio homem é tido como fracao do Espirito de Deus: "Quando o Grande Deus MIROKU (Senhor SU), criando o fogo-vertical e a água-horizontal, criou o vosso HINAGATA2 de homem e estava para fazer surgir o corpo físico, fracionou o TAMASHII de Deus3, extraiu a natureza espiritual de OHO-AMATSU KAMI e os concedeu... Portanto, sendo vos, homens, originariamente fracao do Espirito de Deus, sois os amados filhos de Deus" /GSG, p.81).

1 Basear-nos-emos no compendio Goseigen (alias, difícil e obscuro em va

rias de suas páginas), citado como GSG, e, principa/mente, na sintese "Mahikari Responde", em que 55 perguntas sao colocadas e elucidadas (citada como MR).

2 Hinagata = molde espiritual que distingue as especies e dá orígem ao

corpo físico (G/ossário de GSG).

3 Tamashi = espirito principal, a fracao do Espirito divino concedida ao

homem (ibidem).

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"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

Conseqüentemente "um día os homens conseguirao realizar o que Deus realiza" (GSG, p.82).

Outra estranha afirmacSo, de índole antropomórfica, é a que se lé áp. 157deGSG: "Deus, durante os bifhoes de anos da criacao de toda a existencia, veio Se lapidando através de sacrificios e mais sacrificios. Após a criacao do mundo espiritual, criou o mundo astral e, depois, este mundo... Nesses trabalhos, Deus, Ele mesmo, buscou o seu próprio desenvolvimento, repetindo o sacrificio, o projeto e a criacao. Deus educou-Se e os Deuses Filhos...

Fez descobrir meios para os Grandes Deuses transformarem-Se em varios Deuses, e até mesmo em homens carnais".

É difi'cil compreender o que este texto quer dizer, pois nao ressalva o

conceito de Deus, que é o Absoluto, o Eterno, o Necessárío, o Ser Perfeitíssimo.

Ainda merece destaque o seguinte trecho, cujo sentido lógico se faz desejar:

"Moisés, Buda (Gautama) e Jesús... sao deuses com corpo físico, que foram enviados com a missao de espiarem o Mundo Divino... 0 seu inte rior é Deus com corpo espiritual e o seu exterior, um corpo físico...

Portanto, Eles sao homens e sao Deuses, sao beuses e nao sao ho

mens, sao homens e sao Deuses" fGSG, pp. 98s). Passemos a outro ítem. 1.3. OMundo Visível

Sukuinushi-Sarna julga que os homens na Térra "estSo rodeados por espíritos cheios de rancor, odio, inveja e outros sentí mentos negativos. Tais espíritos penetram diretamente no nosso organismo ou permanecen*!

ñas proximidades, sendo capazes de controlar livremente a nossa vontade, a nossa mente, e o nosso corpo, acarretando conseqüéncias nefastas" (MR, p. 10).

Com outras palavras: existem espíritos vagantes que "encostam" nos homens; fazem-no ou por odio e inveja ou por saudades. Quando movidos por odio, visam a descontrolar a vida do individuo. Quando levados por 214

ARTE MAHIKARI

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saudades, nao tém intencao maldosa, mas nao conseguem esquecer o ente

querido ou querem fazer-lhe algum pedido; nao obstante, prejudicam-no. Assim é que no mínimo 80% das doencas sao provocadas por espíritos do além. Ver MR, p. 10.

E quais as raoes desta infestacao?

"A human¡dade afastou-se demais de Deus e suas leis; através dos ci clos de encarnacoes e mutacoes, prosseguiu acumulando pecados que ma

cula ram completamente a sua alma" (MR, p. 11). Por isto é que há espi

rites de pessoas falecidas que no além guardam odio e rancor, maltratando

os terrestres; por isto também os terrestres merecem esses maus tratos, pois estao impuros.

Para nos defender dos espíritos maus (possessores), existem espíri tos bons, protetores, que estao sempre junto de nos, mas nao se incorporam em nos.

1.4. O Okiyome (imposicao das maos)

Para nos livrar de doencas e infelicidades e levar-nos á purif¡cacao, é preciso que recorramos ao okiyome ou imposicao das míos; este "reme dio" é um dos grandes valores revelados a Sukuinushi-Sama e mantido oculto aos mestres anteriores. A ¡mpqsicao das maos comunica, através do omitama1, á Verdadeira Luz ou a Luz Divina, que amolece e derrete os acúmulos de toxinas, possibilitando sua eliminacao do organismo; sao as sim purificados a alma, o corpo espiritual, o astral e o material. A Arte Mahikari consiste precisamente na imposicao das maos que

confere urna Luz divina de forca extraordinaria; "faz com que os espíri

tos que vinham agindo ás ocultas se manifestem, ao mesmo tempo que os

purifica para que deixem de praticar atos maléficos, conduzindo-os á ver dadeira salvapao" (M R, p. 13).

A Arte Mahikari é a "Super-Religiao", a "Religiao da Humanidade" (MR. p. 27). 1.5.0 Futuro Próximo

Em 1962 a humanidade entrou "na fase perigosa e de violentas trans-

formacoes. A esta fase chamamos de 'Era do Batismo de Fogo', na qual 1 Omitama é urna especie de medalha especialmente preparada, que rece

be a Luz Infinita; esta, passando pelas células espirítuais do possuidordo Omitama, é irradiada pela palma de sua mao. 215

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

ocorrerao fenómenos de gigantescas proporcoes, como nao acontecem há milhoes de anos, tais como: violentos abalos císmicos, impetuosas erupcoes vulcánicas, enchentes de grandes proporcoes, submersao de térras, etc. Urna era de terror, jamáis experimentada pela humanidade, está pres tes a acontecer, mas nao nos foi ensinado que haverá extincao total da hu manidade" (MR, pp. 41 s). Somente 20% da populacao conseguirá sobreviver. Haverá, além do mais, a guerra do Harmagedon, que a futuróloga

americana Jeanne Dickson descreveu minuciosamente.1 Por ora toca aos homens desejosos de salvacao reconhecer a existen cia da Divindade e obedecer ás suas leis.

1.6. Que acontece após a morte? O homem consta de tres corpos: o físico, o espiritual e o astral, coor denados pelo espirito. Morrer significa a morte das células físicas ou do corpo físico. "O espirito e os corpos espiritual e astral seguem para o mun do astral. Neste o espirito e seus dois corpos sao submetidos a um treinamento durante 200 ou 300 anos, que visa a fazé-los esquecer-se de todos os apegos que mantinham no mundo material. Somente após obter o total desapego, o individuo pode voltar a este mundo reencamando-se: o espiri to pode nao somente assumir o corpo físico de um ser humano, mas também o de um animal irracional; o tipo de reencarnacao depende da gravidade dos pecados acumulados ñas encarnacoes anteriores. Pode também um espirito de homem reencamar-se em corpo de mulher, e vice-versa.

O mundo astral, onde se encontram os espíritos desencarnados, compreende locáis próprios para aqueles que sao puros (Paraíso), para aqueles que se encontram em processo de purif¡cacao e para outros espíritos...

Existem 181 nfveis espirituais, correspondentes á 4a, á 5a, á 6a e á 7a di-

mensao.

Através de repetidas encarnacoes o individuo adquire grande perfeic3o e a vida eterna. A péssoa que deseje conhecer o que houve na sua encarnacao ante rior, pedirá que Ihe imponham as maos; poderá entao manifestar-se um

espirito que desvendará toda a verdade" (MR, p. 40). 1.7. O Culto dos Antepassados

"Cada ser humano está ligado aos seus pais e antepassados por ondas espirituais. Assim as pessoas cu/os antepassados estejam sofrendo no mun

do espiritual, receberao sua influencia" (MR, p. 37). 1 A respeito de previsoes de "videntes", confira o Apéndice deste artigo. 216

ARTEMAHIKARI

25

Daí se segué a necessidade de se venerarem os antepassados; eles exer-

cerao sobre nos influencia benéfica. Para tanto, "é necessário um oratorio, que tem o sentido de urna casa, um lar para os antepassados, onde sao ofertados os alimentos e 'ilhais' (plaquetas especiáis com os nomes dos an tepassados), que servem de elementos de ligacao espiritual com os descen dentes. Após a morte... é difícil esquecer o hábito de alimentarse, portanto se senté fome" (MR, p. 37).

De modo semelhante, para ligar-se a Deus, nao basta a orácáo. é ne cessário que o homem tenha um elemento de ligacao com a Divindade, que é o Goshintai, quadro representativo de Deus...

Sao estes os principáis pontos da mensagem da Arte Mahikari. Pro curemos refletir sobre a mesma.

2. REFLETINDO... Proporemos tres observacoes:

2.1. Revelacoes... A Arte Mahikari se enquadra dentro de um mecanismo psicológico muito freqüente em nossos días.

O mundo vai mal: há escándalos, guerras, violencias, fome... Nao se vé solucao humana satisfatória. Daí o recurso espontáneo de certos "pro fetas" a revelacoes que desvendam o futuro e apontam urna saída, ainda que precaria, para seus seguidores. Haverá graves castigos, catástrofes apo calípticas, devidas ao pecado. Todavía o "profeta" vé urna solucao a ele revelada; propSe entao explicacoes e respostas de índole mágica, um tanto irracionais, mas aceitas pelo público sem espirito crítico porque proporcionam um aparente alivio e consolo.

Semelhante processo verifica-se nao somente em ámbito japonés do tado de suas tradicoes próprias, mas também dentro do Cristianismo, ñas correntes dos adventistas, das testemunhas de Jeová, dos pentecostais ra

dicáis...1

A profecía assim revelada ao vidente ou fundador da Arte Mahikari só pode ser tida como melhor do que qualquer outra, como superior aos vaticinios anteriores, para conseguir impor-se como algo de inédito e aba1 Ver a propósito o artigo deste fascículo, pp. 221-226. 217

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

lizado. Por isto Sukuinushi-Sama se julga mais prendado do que Moisés, Buda e Jesús Cristo. Nisto há urna megalomania, talvez inconsciente; o "pro feta" faz sucesso e se deixa empolgar pela sua mensagem.

De resto, o fenómeno de "revelacoes" minuciosas (e confusas, pouco lógicas) da parte de Deus ou de um Ser do além é algo de nao raro em nos-

sos dias. Tem características suspeitas: o extraordinario e milagroso se torna ordinario e familiar, vem quase "por encomenda"; além do qué, o linguajar mal concatenado é pouco digno do Senhor Deus. Eis a prímeira razao por que se poe em xeque a Arte Mahikari; é um sistema de consolacao mágica, que o senso crítico objetivo e sereno questiona seriamente.

2.2. Deus e o Homem A Arte Mahikari é servico ao homem e antropocéntrica. Vem a ser mesmo um sistema curandeiro, pois pretende indicar as mais profundas causas das doencas — os pecados — e propoe um remedio religioso para 80% ou mais das molestias físicas do ser humano. Ora a religiao é, antes do mais, adoracao e louvor a Deus, a cujo servico o homem se coloca com amor e entrega confiante, sabendo que a gloria de Deus implica a plena realizacao do homem.

Na Arte Mahikari ficam muito confusos os conceitos de Deus e do homem.

O uso dos vocábulos Deus SU (Criador) e Deuses auxiliares é ambi guo. O fundador fala de criacao e criaturas (GSG, pp. 70, 110,111,120), mas, ao mesmo tempo, insinúa emanaclo e evoluclo da Divindade. Um Deus que se educa, que faz sacrificios e se lapida, já nao é Deus segundo a definicao estrita desta palavra; Deus é o Ser Perfeitíssimo, Absoluto, Eterno, Imutável... Verifica-se assim que as "revelacoes" feitas ao funda dor carecem de rigor lógico.

Quanto ao ser humano, tem tres corpos (o físico, o astral e o espiri tual) e um espirito; é portador de urna parcela da Divindade — o que re dunda em panteísmo. A existencia do homem é concebida, á semelnanea do que acontece

no espiritismo e na Umbanda, como infestada por espíritos mausvingativos. A Arte Mahikari admite espíritos encostados, como o espiritismo kardecista e a Umbanda. 218

ARTE MAHIKARI

27

A cura por meio da Luz Divina é elemento japonés, que ocorre para

lelamente no Johrei ou no Messianismo Mundial de Meishu-Sama. Nesta perspectiva, Deus emite radiacoes e efluvios quase magnéticos, como se fosse urna fonte de energía quantitativa, dimensional. Ocorre, porém, va do que a das tres rei, o Seicho-No-lé e é certamente menos

que a teología da Arte Mahikari é muito mais primiti outras religioes japonesas existentes no Brasil: o Joh a Perfect Liberty. O pensamento de Sukuinushi-Sama elaborado e perspicaz do que o dos tres out'ros funda

dores japoneses.

A tese da reencarnacao já foi abordada repetidamente em PR; ver, por exemplo, PR 321/1989, pp. 91-95. A Arte Mahikari tenta prová-la a partir de experiencias de regressao em sonó hipnótico (cf. MR, p. 36). Ora a Parapsicologia explica fácilmente os depoimentos assim colhidos como sendo enredos construidos a partir de fatos vividos pelo próprio paciente no decorrer desta vida mesma. Nao há prava de reencarnacao. Ao contra

rio, deve-se opor a esta tese urna seria objecio: conforme a lei do karma, toda pessoa doente, pobre e aflita seria um(a) pecador(a) que na vida pre sente estaria expiando pecados da encarnacao anterior; ao contrario, todo individuo sadio e rico seria pessoa muito virtuosa que estaria recebendo o premio de suas virtudes. Ora tais conclusoes sao absurdas. 2.3. Arte Mahikari e Cristianismo

Para Sukuinushi-Sama, o Cristianismo, o xintofsmo e o budismo se

desvirtuaram (cf. GSG, p. 88). Nao obstante, a Arte afirma que é possfvel alguém receber o okiyome e permanecer na sua religiao de origem (cf. MR, pp. 29s). — Verificamos, porém, a radical ¡ncompatibilidade entre a Arte Mahikari e o Cristianismo; basta levar em conta os pontos doutriná-

ríos da Arte para averiguar que nao se compatibilizam, em absoluto, com a mensagem crista; aqueta é pantei'sta ou quicé politeísta, ao passo que es

ta é estritamente monoteísta. A tese da reencarnacao nao se coaduna com a perspectiva de ressurreicao dos corpos professada pelo Cristianismo. Este

nao pode admitir Luz Divina no sentido de radiacoes energéticas terapéu ticas. Mais: o Cristianismo é rigorosamente teocéntrico; ensina a caridade como conseqüénciadoamora Deus, que nos amou primeiro (cf. Uo 4,19).

O pecado do homem é absolvido em virtude do sangue de Jesús Cris to, que requer do fiel a conversao do coracao e a comunhao com Cristo mediante a vivencia sacramental.

Em suma, sao totalmente incompatíveis entre si a Arte Mahikari e o Cristianismo. — Possam os cristaos compenetrar-se de que na mensagem 219

28

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

de sua fé encontram copiosamente tudo quanto de bom e belo Ihes seja oferecido por profetas que nao compartilham o Evangelho! *

*

*

APÉNDICE A propósito de visoes e profecías de futurólogos contemporáneos,

transcrevemos o seguinte registro, publicado no jornal o LUTADOR, 24-30/01/93, p. 7: DE REPENTE

• AS PRE VISOES FU RADAS - I. "Fantástico", da TV Globo, último de 92, mostrou previsoes de astrólogos, tarólogos e buziólogos para 93. Na

maioría, obvias, como as dificuldades económico-financeiras do povo bra-

sileiro. Salvo essas obvias, nunca acertam. Como nao previram NADA dos grandes acontecimentos de 92, nem mesmo o rumoroso caso do "impeachment" do Presidente Collor. "Fantástica" enganacao anual. •

AS PREVISOES FURADAS - II. Vidente Vera Lucia Alves disse ao

programa de Goulart de Andrade, "Comando da Madrugada", SBT, de 15/8/92, que "nao haverá nada com o Collor", que "quando faltarem 2 ou 3 dias para encerrar a CPI do PC, Collor exibirá um trunfo muito grande e vencerá a situacao"; que "ele nao será impedido como Presidente, vai até o f im do mandato..." •

AS PREVISOES FURADAS - III. A certa altura da busca do corpo

de Ulisses Guimaraes, no mar, apareceu um médium que, com toda a

cobertura de urna TV, iría orientar os mergulhedores. Cansaram-se esses mergulhadores da orientacao que teria vindo do além. Ficou tudo aquém mesmo e o corpo nao foi encontrado.

• AS PREVISOES FURADAS - IV. Astróloga Rosángela Xavier Ro cha, no "JO Onze e Meia" de 23/9/92, fez urna grande revelacao: "Itamar

já fói Presidente em outra vida, na Atlántida." (Comentar, para qué?)

(Se vocé se der ao trabalho de ir anotando (e guardando) as previ

soes desses videntes ou ocultistas, a lista das "previsoes furadas" vai en-

cher urna página de jornal. Experimente este ano.)

220

Pululam

PROFECÍAS DE FIM DO MUNDO

Em síntese: As páginas subseqüentes reproduzem cinco espécimens

de "profecías" relativas a catástrofes iminentes e fim do mundo. Algumas dessas predicoes deviam cumprir-se em 1992, 1993... Visto que nada do previsto ocorreu em 1992, verificase, pela experiencia mesma, que tais vaticinios nao merecem crédito e nao devem perturbar a mente do públi co. - A ingratidao dos tempos presentes leva espontáneamente multas pes-

soas a dizer: "So Deus dará um ¡eito" e a procurar imaginar como é que Deus dará um "jeito". •k

*

*

Tém-se multiplicado as "profecías" de catástrofes e fim do mundo com data marcada e descríelo minuciosa dos acontecimentos termináis. Muitas tém em vista o ano 2000 como fatídico. Algumas, porém, também definiram datas precisas de 1992... Todavía atualmente pode-se verificar quanto eram falsas tais profecías atinentes a 1992, poís nada ocorreu do que foi predito.

A fim de evidenciar melhor como os videntes e "profetas" podem engañar a si e ao público em geral, apresentaremos cinco espécimens desses estranhos vaticinios.

1. "ALTO CLAMOR"

"Alto Clamor" é urna corrente protestante, que diz "nao ter cor denominacional", ¡sto é, nao se filiar nem aos batistas, nem aos presbiteria nos, nem aos metodistas... Osseusmembros léem a Biblia a seu modo, geralmente em clima de pavor por causa da presumida iminéncia do fim do mundo.

"Alto Clamor" publicou em 1992 um folheto cuja página de rosto dizia: "A Última Chance... A Contagem Regressiva Já Comecou". A explicitacao desta advertencia seria a seguinte: 221

30

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

No comeco de 1992 podia-se dizer que a Conferencia de Paz para o

Oriente Medio (judeus e árabes) estava para fracassar. Em conseqüéncia, urna guerra sem precedentes na historia mundial seria detonada a qualquer momento contra Israel. O protagonista dessa guerra seria Gog ou a Rússia (conforme os intérpretes de "Alto Clamor" ao fazerem a le ¡tura de Ez 38,1-

-39,29),... a ñússia vi'tima de crise económica e política muito seria. Os exércitos de varias nacoes liderados pela Rússia deviam atacar Israel pelos ares e por térra, havendo milhoes de soldados no cerco a Jerusalém. Esta finalmente deveria ceder ao si'tio. A data precisa da queda da Cidade Santa

devia ser calculada a partir de 1? de junho de 1992; acrescentando-se a este dia mais 120 dias (presumidamente indicados por textos bíblicos in

terpretados cabalísticamente), concluia-se que a rendicao de Jerusalém se daria a 28 de setembro de 1992! Assim vencidos, os judeus haviam de clamar a Deus, e o Messias havia de destruir os exércitos invasores mediante doencas mortais, chuvas torrenciais, pedras, fogo e enxofre. Aos 12 de outubro de 1992, o Espirito Santo de Deus pousaria sobre os seguidores do Messias; a Térra de Israel, vivificada pelo Espirito, tornar-

se-ia um novo Éden, florescendo da noite para o dia; haveria equilibrio

ecológico; os animáis selvagens comeriam apenas ervas. Seguir-se-ia um pe ríodo de sete anos, nos quais os remanescentes de Israel habitarlo em tendas e a humanidade toda terá a última oportunidade de se posicionardo lado de Deus; Israel se tornará o centro de intensa pregacao do Evangelho

para o mundo inteiro, o que levará muitos povos a aderir ao Senhor Deus e ao seu Messias.

Ao cabo dos sete anos, isto é, a partir de 1999, haverá um ano de grande tribulacao. O povo de Deus será perseguido e lancado em prisoes. No auge das dores, quando os fiéis seguidores de Jesús estiverem para ser exterminados, Jesús Cristo intervirá, manifestando-se a todos os povos no dia 14 de outubro de 2000, vindo das nuvens do céu com grande poder. Todos os que morrerem na fé de Jesús, ressuscitarao e serao levados aos céus com os fiéis que estiverem vivos para, juntos, reinarem nos céus com o Messias por mil anos. Entrementes a Térra será coberta por trevas; toda vida cessará aquí. No final do milenio, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, descera da parte de Deus, linda como urna noiva adornada para o seu noivo. Jesús Cristo

restabelecerá o Edén sobre a Térra, e reinará para todo o sempre com os seus remidos no nosso planeta.

Como se vé, os acontecimentos previstos para 1992, básicos para to do o resto da profecía, nao se cumpriram. Isto evidencia quanto há de fan tasioso nessas profecías e quao pouco crédito elas merecem. 222

PROFECÍAS DE FIM DO MUNDO

2. O PROFETA BANGIK HA

Deus prometeu que no fim dos tempos admoestará os homens por meio de jovens profetas, provenientes de pequeños grupos, tidos como pouco importantes. Entre esses mensageiros, está Bang-lk Ha, que prega no mundo inteiro desde agosto de 1990, quando tinha quinze anos de idade. A partir dos treze anos, Bang-lk Ha foi preparado por Deus median te palavras e oracoes; Deus o elevou em espirito ao céu varias vezes para

I he revelar seus misterios e Ihe ordenar que execute quanto está escrito no Apocalipse; Bang-lk Ha se comunica constantemente com Deus, como Samuel, Elias... Ao ouvirem Bang-lk Ha, muitos pastores caem de joelhos e rasgam seus coracoes por arrependimento. Ora, dizia Bang-lk Ha que em outubro de 1992 haveria o arrebatamento, aos céus, de pessoas justas e santas. Terminaría entao o pen'odo da Igreja (pen'odo da graca) e comecaria sobre a Térra um septenio de grandes tribuíales: nessa fase Deus eliminaría da superficie da Térra pes soas impenitentes; Satanás, soltó sobre a Térra, tentaría penetrar aqueles

que nao tivessem o selo de Deus; os mares se tornariam sangue, a agua se tornaría veneno, o Sol e a Lúa se escureceriam; haveria muitos terremotos,

pragas, guerras, fome e granizo com fogo. Um homem chamado Anticristo se elevaría ao poder (seria o líder do Mercado Comum Europeu ou da Eu ropa Unida); destruiría cristaos e israelitas e colocaría a sua marca (o nú mero 666) em muitas pessoas.

Depois disto, viria o Cristo sobre a Térra, e, a partir do ano 2000, rei naría em bonanca sobre o nosso planeta durante um milenio... A profecía para ai!

Mais urna vez, verifica-se que as predicSes feitas para 1992 nao se cumpriram; o ano de 1993 nao é diferente dos anteriores. Isto tudo manifesta bem como é perda de tempo estar cedendo a tais profecías. 3. "DÍA DO ARREBATAMENTO" EM 11/12/1992 Lé-se no JORNAL DO BRASIL de 12/12/1992: Pregador ó preso por gerar pánico

RECIFE - A pregacao feita por um pastor evangélico, em um debate

de radio, de que as "pessoas puras e enancas" seriam "levadas por Deus" no dia 11 de dezembro causou pánico em Caruaru, municipio de 200 mil habitantes, a 135 km do Recife. Centenas de pessoas cercaram a radio Li223 .

32

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

berdade, local do programa, e tentaram linchar o pastor Elifas Levi Ferreira da Silva, autor da pregacao. Para conter a multidao, foi preciso a íntervencao das policías civil e militar. O delegado Ademar Cándido prendeu o pregador nos estudios e o levou algemado para a delegacia. A multidao, calculada em 500 pessoas segundo a PM, o seguiu até lá, numa distancia de 300 metros, aos gritos de "lincha, lincha". O pregador foi acusado de "causar pánico com falso alarme", crime previsto no artigo 41 da Lei de Contravencoes Penáis. No inicio da noite ele foi libertado mediante o pa

gamento de urna fianca de Cr$ 150 mil. Há um ano o pastor Elifas - que é da "Igreja Missao Boas Novas" — vem fazendo essa pregacao, tanto no seu templo quanto num programa de urna hora que ele apresenta todos os domingos, as 6 horas da manha, em outra emissora. O nome do programa: "Contagem regressiva". Sua teoría é de que 11 de dezembro será o "Día do Arrebatamento", em que os pu ros e enancas, "segundo a Biblia", seriam arrebatados por Deus. De acordo com o delegado Ademar, já havia pessoas na cidade se desfazendo dos bens por acreditar na "profecía" do pastor. "Ele é um maluco, e numa regiao carente materialmente e com um povo de muita fé, ele poderia acabar levando algumas pessoas ao suicidio", justificou o delegado, que também proibiu as pregacoes.

As "chamadas" para o debate de ontem sobre o "Día do Arrebata mento" comecaram a ser veiculadas pela Radio Liberdade na terca-feira passada, criando urna grande expectativa na cidade. Sem comentarios!

4. "JESÚS ESTA VOLTANDO!!!" No JORNAL DO BRASIL de 19/11/1992, p. 15 encontra-se o seguinte anuncio:

JESÚS ESTÁ VOLTANDO!!! Informe-se e Prepare-se!

Mas antes de JESÚS CRISTO voltar, está vindo o Maastricht, o Mai-

tréia da Nova Era, com a Marca da Besta, o 666. o DOMINGO do ANTI-

CRISTO de Babilonia,emoposicao ao SÁBADO, o Selo do DEUS JEOVÁ. Muito em breve nao mais teremos: Liberdade de Imprensa Liberdade Religiosa 224

profecías de fim do mundo

33

Liberdade de Discurso Liberdade de Consciéncia

Instituto de Evangelizarlo Crista Caixa Postal 2597 70279-970 Brasilia - DF

5. PIM DE ATIVIDADES

Aínda o JORNAL DO BRASIL, em sua edicSode 3/11/1992, publicou a seguinte noti'cia:

Perdao pela falha

A seita sul-coreana Dami, que anunciou o fim do mundo para quartafeira da semana passada, decretou o fim de suas atividades. Um porta-voz

da igreja missionária disse que os principáis pastores farao um pronunciamentó pedindo desculpas pela "falha na interpretacao da Biblia" que levou-os a prever o apocalipse.

6. REFLEXÁO FINAL

Poder-se-iam multiplicar as amostragens de "profecías" relativas a flagelos iminentes e próximo fim do mundo. A experiencia mostra que sao falsas. Por que entao pululam de tal maneira?

— Pode-se dizer que correspondem a uma necessidade psicológica do ser humano. Visto que a situacao geral do Brasil e do mundo nao é próspe ra, conturbada como está por guerras, fome, desemprego, miseria..., e na falta de uma proposta de solucao racional, lógica, científica..., os homens sentem-se impelidos a procurar no mundo mágico uma imaginosa consola-

cao e aparentes solucSes radicáis, que ponham termo ao- mal-estar geral. A proximidade do ano 2000, que encerra um período definido, catalisa

a fantasía, provocando a procura de algo que corresponda ao fim do segun do milenio. Como algumas páginas da Biblia (especialmente no Apoca lipse) sao redigidas em estilo simbolista (que deve ser entendido segundo

criterios lingüísticos, históricos, arqueológicos, e nao segundo o subjetivis mo do leitor), o recurso á Biblia é obvio e dá aparente garantía e solidez as profecias. 225

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"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

O cristao reconhece tal mecanismo psicológico, que, alias, se exerceu periódicamente no decorrer da historia, particularmente ñas épocas infelizes (é entao espontáneo dizer: "Só Deus dá um jeito!"). Por isto o cristao nao perde sua serenidade diante das "profecías catastróficas". Sabe que Jesús se recusou peremptoriamente a revelar a data do fim dos tempos

(cf. At 1,7). Por isto o cristao entrega seu futuro a Deus e á sua Providen cia, e, em vez de perder tempo com "profecías" fantasiosas, procura tra-

balhar com afinco em prol do Reino de Deus. É isto que importa: é do cumplimento das nossas tarefas que o Senhor como Juiz nos pedirá contas, qualquer que seja a data de sua segunda vinda (alias, mais premente do que a data da parusia do Senhor é a data do encontró de cada ser hu mano com o Senhor no fim da sua caminhada terrestre). Pode-se lembrar o caso dos fiéis de Tessalónica: assustados pela predicao de iminente catástrofe e do retorno de Jesús, olhavam curiosamente para o céu a fim de desvendar os sinais precursores; enquanto assim procediam, nao trabalhavam, nao ganhavam seu pao, de modo que, na hora de comer, se entregavam ao roubo e a outros vicios; daí a ordem do Apostó lo: "Quem nao trabalha, nao coma" |2Ts 3, 10-12).

Possa a experiencia abrir os olhos de quantos se deixam impressionar por "profecías" nao credenciadas! *

*

*

Sagrado Coracao do Homem, pelo Pe. Paschoal Rangel. — Ed. "O Lutador", Pea. Pe. Julio María 1, CEP 31740-240 Be/o Horizonte (MG), 1993, 125x200mm, 134 pp.

Este livro é precioso. Redigido em estilo de meditacoes sobre cada urna das invocacoes da Ladainha do Sagrado Coracao de Jesús, contém profunda sabedoría teológica, fugindo do que se podería chamar "o estilo de elucubracoes sentimentais". O autor, que é bom e conhecido teólogo, logo no seu Prefacio declara que quis utilizar os olhos da inteligencia e também os do coracao para penetrar no misterio do Deus feito homem

(p. 10). Executou fielmente o seu propósito, dando ao leitora ocasiao de

um encontró mais íntimo e pessoal com Jesús Cristo sobre sólidas bases teológicas. Alias, dizem os mestres de espiritualidade que é necessárío voltarmos sempre a considerar a humanidade de Jesús, pois é por ela que passamos a descobrir Deus Filho e, mediante Deus Filho. Deus Pal Possa o Espirito Santo iluminar as mentes dos leitores de tal livro, especialmente no próximo mes de junho, dedicado ao Sagrado Coracao de Jesusl O títu lo do livro nao é muito feliz, como reconhece o autor (p. 12); podará ser alterado, se o público sugerir algo de melhor. E.B. 226

.

>

O Tema do Día:

OS COMERCIÁIS DA TV

Em sfntese: O Bispo Mons. Jacques Fihey, de Coutances et Avran-

ches (Franca), faz significativo comentario de um comercial emitido pelos meios de comunicacao social da Franca. Mostra como os valores humanos

básicos sao conculcados em troca de dinheiro. A marca de automóvel Renault 19 valería mais do que a esposa, pois o cidadao apresentado pelo vídeo tem quatro casamentos sucessivos, mas absoluta fidelidade á sua Renault 19. — 0 articulista faz sobressair a importancia dos meios de co mún/cacao, que maispenetram e viofentam o público do que um conferen cista ou um professor; este é nítidamente "um vendedor de idéias", que chama a atencao do ouvinte por sua identidade, ao passo que os instru mentos mecánicos nao parecem agressivos e, sim, "simpáticos".

Mons. Fihey observa ainda que, porefeito de seu protesto, a Renault retirou do ar o comercial em foco. ■k

*

*

0 Bispo de Coutances et Avranches (Franca), Mons. Jacques Fihey, Presidente da Comissao Episcopal de Opiniao Pública na Franca, publicou um notável comentario a um tipo de propaganda comercial emitido pelos meios de comunicacao social da Franca: o flash mostrava um homem que contraiu quatro un ¡oes conjugáis sucessivas, mas conservou-se sempre fiel á Renault 19, marca de seu carro.

A propósito escreveu Mons. Jacques Fihey: "Um comercial nos mostra quatro casamentos sucessivos, mas urna

grande fidelidade é Renault 19. Se este comercial é engenhoso, é também

lamentável. A intencao ó mostrar que a Renault 19 pode durar. Ela insinúa também que a mudanca de esposa ao longo da vida é normal. Isto nao é

dito. É mostrado - o que ó muito mais insidioso, é certo que Renault nao quer fazer prédicas em favor do divorcio. Mas faz talvez coisa pior: dé a crer que o divorcio se tornou natural e evidente. Reagi diante desse comercial. Eu Ihes confio as minhas reflexoes. 227

36

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

A publicidade comercial tem o poder de nos fazer engotir, sem dor, idéias de todo tipo. Estamos alertas diante de um discurso, mas nao diante de um comercial. O mundo que nos ó proposto, penetra silenciosamente em nos e modela nossa própria concepcao do mundo, da vida, do homem. Tenhamos, ao menos, consciéncia disto. E saibamos reagir, quando as imagens nao correspondem ao que nos pensamos em nosso fntimo. O divorcio tornou-se, para alguns, tao natural que falam de divorciar se como se isto nao tivesse conseqüéncias. Quando troco de carro, nao deixo alguém em apuros. Quem se divorcia e casa de novo, deixa muitas vezes em apuros o seu cónjuge e, sempre, causa problemas aos filhos. Comparar troca de carro e troca de esposa parece-me rebaixar clamorosamente o ma trimonio e o(a) consorte abandonado(a). Que desprezo para com a muIher! Os homens trocam de mulher mais freqüentemente do que de mode lo de carro; cansam-se da esposa, nao, porém, da Renault 19. Em suma, os que programaram e aceitaram esse comercial, talvez nao

tenham percebido todo o seu alcance... Por certo, pensaram mais na efica cia económica da mensagem do que nos seus efeitos sociais... Isto também é significativo. Os fabricantes de carros se preocupam com poluir menos a natureza e o ar que respiramos. Tanto melhor. Estariam bem inspirados se se empenhassem em nao poluir a sociedade numa de suas realidades fun damentáis".

O Sr. Bispo observa ainda que enviou tal texto ao Sr. Louis Schweitzer, P.-D.G. da Renault. E recebeu deste uma carta dizendo que o comer cial fora retirado do ar. (Noticias colhidas no Boletim SNOP da Conferencia Episcopal da

Franca, n° 898,29/1/93, p. 1).

COMENTANDO... Este texto nos sugere algumas reflexoes:

1) Mais uma vez é posto em foco o enorme potencial persuasivo dos meios de común ¡cacao social. Penetram no público e o "catequizam" de maneira subliminar e sorrateira, sem que a pessoa se sinta devassada ou violentada. Ao contrario, diante de uma conferencia ou uma aula, o ouvi ri te ou o aluno mais fácilmente se poe em atitude de crítica; percebe que outra pessoa Ihe quer vender idéias que talvez cor^ariem as suas; daí maior facilidade e espontaneidade para replicar, defender-se, autoafirmar-se.

228

OS COMERCIÁIS DA TV

37

Um livro, urna ¡magem nao tém o semblante de urna pessoa intrusa; parecem ser um instrumento que o usuario domina e utiliza a seu gosto,

quando na verdade pode estar sendo dominado por esses "inofensivos" e "simpáticos" instrumentos.

2) A especie de alienacao e subserviéncia produzida pela televisáo foi pesquisada nos Estados Unidos. Verificou-se que o assistir á televisáo en gorda o telespectador, porque reduz a atividade metabólica, responsável

pela queima de calorías. É o que se lé no JORNAL DO BRASIL, 10/2/93, p. 12:

UMA GERACÁO DE GORDINHOS 25'/ DAS CRIANpAS NOS EUA SAO OBESAS

MEDIA: 24 HORAS POR SEMANA DIANTE DA TV A UMENTO DE OBESIDADE EXTREMA EM

CRIANQAS DE 6 A 11 ANOS: 98'/,

Pesquisa constata que ver televisáo engorda WASHINGTON - Um estudo feito na Universidade Estadual de Memphis mostra que assistir televisáo engorda porque reduz a atividade metabólica, responsável pela queima de calorías. Segundo o estudo, publi cado na revista médica Pediatrics, os espectadores de tevé queimam calo rías mais lentamente do que as pessoas que ficam sentadas sem ligar o aparelho.

Foram testadas 15 meninas com peso ácima do nórmale 16 compe so normal, com oito a i2 anos. Elas assistiram a programacao no hospital. Os pesquisadores monitoraram continuamente os gases inalados e expeli dos pelas meninas. As medicoes revelam a velocidade com que o organis mo gasta energía. Para surpresa dos pesquisadores, as meninas de peso normal tiveram

urna queda de 12% na taxa metabólica enquanto assistiam tevé, enquanto as meninas gordas tiveram queda de 16%. Desligada a tevé, as taxas dos dois grupos subiram.

Os pesquisadores nao sabem por que a atividade metabólica decaí quando se assiste televisáo. "Assistir tevé poderla deixar as enancas num estado de profundo re/axamento similar ao obtido com a ioga", especula

a pesquisidora Mary Shelton.

229

38

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

As changas assistem tevé durante cerca de 24 horas semanais. Nos úl timos 15 anos houve um aumento de 54% de obesidade e de 98% de obesidade extrema em criancas de 6 a 11 anos. Como o estudo observou meni nas que assistiam a urna programacao nao violenta, outros trabalhos devem

ser feitos para comparar alteracoes na taxa metabólica em programacbes mais movimentadas, além de repetir os testes em meninos e adultos.

3) Os interesses comerciáis sobrepujam cada vez mais os valores mo ráis na escala da sociedade. A honra, a dignidade, a fidelidade, a responsa-

bilidade sao hoje em dia fácilmente trocadas por dinheiro, que parece va ler mais do que os valores éticos. A maior vítima dessa inversao é o próprio homem, que sacrifica a si e aos seus semelhantes em troca da conquis ta de boinas de sabao. 0 homem se degrada, e talvez mais ainda a muí he r, prestando-se esta ao papel de coisa que se aluga e, depois, se joga fora co mo objeto descartável.

4) Tem enorme importancia a reacao do público aos desmandos dos meios de común ¡cacao social. Estes dependem do beneplácito da socieda

de para sobreviver e prosperar; se o IBOPE diminui, correm risco de subsis tencia e véem-se obrigados a mudar de rumo. Infelizmente, porém, nota-se que o público se mostra muito inerte e passivo diante das ofensas que os

mfdia ¡he incutem; as pessoas lamentam os abusos, mas nao tomam provi

dencia alguma para remediar. Mais eficaz do que chorar os males é escrever breve e simples carta de protesto aos responsáveis pelos programas deletérios; urna boa "chuva de cartas" nao pode deixar de intimidar os comunicadores e publicitarios, pois faz cambalear o seu pedestal e os obriga a repensar o seu trabalho, procurando orientacao mais sadia e constru-

tiva. É para desejar que nosso público se manifesté mais vezes e mais veementemente junto aos produtores de programas e comerciáis abusivos.

Que as pessoas de bom senso abram os olhos e se decidam a respon der ao desafio de nosso mundo publicitario! •

*

*

(continuacao da pág. 202)

minho, a Verdade e a Vida" (Jo 14,6); veio ao mundo para dar testemunho da Verdade (Jo 18,37). De resto, nao é este o primeiro caso em que se verifica o uso de men tira, calúnias e dolo por parte do protestantismo, a fim dé atrair prosélitos. Dir-se-ia que os protestantes estáo muito mais preocupados com a difusio do seu partido ou da sua curióla do que com a do Reino de Oeus, que é Amor, Verdade e Fraternidade. O caráter insidioso e falso (falsamente arquitetado) da pregacao protestante é diabólico e nao evangélico. Estévao Bettencourt O.S.B. 230

Um Documento Pastoral:

O DOMINGO: POR QUÉ?

Em síntese: O Cardeal Danneels, de Malines-Bruxelas (Bélgica), ¡ñaugurou o Ano do Domingo (1992-93) na Bélgica mediante uma Carta Pasto ral, em que lembra o valor do domingo tanto no plano meramente huma

no e familiar quanto no plano da fé. O ritmo de um dia diferente após seis días de trabalho é vital para o ser humano e para a familia; sem reen contró consigo e com os familiares no domingo, o ser humano corre o ris co de se desfigurar. Principa/mente o domingo é o dia do encontró com o Senhor, que se faz por excelencia na Eucaristía; esta é fonte de renovacao da vida; é reabastecimento do cristao para que possa reassumir suas tarefas semanais com o vigor e a coragem que só os valores eternos Ihes podem comunicar. *

*

*

Reproduzimos, em traducao portuguesa, uma Carta do Cardeal Godfried Daneels, Arcebispo de Malines-Bruxelas, datada de dezembro de

1992, a respeito do domingo e seu significado. É de notar, alias, que o

episcopado belga declarou Ano do Domingo o ano que vai de dezembro (Advento) 1992 a novembro (Cristo-Rei) 1993, desejando, desta maneira, reavivar nos fiéis a consciéncia do valor do domingo como Dia do Senhor.

O texto foi extraído de SNOP (Boletim da Conferencia dos Bispos da Franca) n° 892, 11/12/1992, p. 7.

1.0 TEXTO

"Um Ano do Domingo. O domingo é táo importante? Nao se parece cada vez mais com os outros dias? Será coisa tao grave permitir que sua imagem se empalideca?

Todos os dias nao sao igualmente válidos para que sejamos felizes? 231

40

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

— Apesar de tudo, o domingo é muito importante. E nao sonriente para os cristaos; também para o mundo inteiro. Porque o domingo nao é somente um dia para Deus. Ele existe também para o homem. Alias, o seu predecessor - o sábado judeu - foi a primeira 'regulamentacao social' de urna comunidade. O domingo é tanto para Deus quanto para o homem. Alias, Deus e o homem tém interesses comuns em tudo.

O domingo existe para a coletividade: tem um significado social, é um dia de repouso, urna proteclo contra as perturbacoes dos ritmos naturais do trabalho e do repouso da vida individual e comunitaria. Numa época de atividades super-excitantes e de stress — muitas vezes também de

um 'alcoolismo do trabalho' —, devemos estar protegidos de nos mesmos. O dia de repouso nos é proposto já por urna razio de saúde pública. Todos sabem que, se nao assumirmos o repouso todos juntos - aínda que alguns fiquem a servico da comunidade por necessidade —, o repouso se tornará impossível. O domingo é um dia em que devemos 'encontrarnos de modo diferente' do que ocorre nos outros dias. A variacao nos dias da semana é indispensável para o equilibrio do homem. Ela relativiza a febre do tra balho e dá todo o seu sentido aos dias úteis da semana.

O domingo existe também para a familia. É um dia de convivencia, para corroborar os lagos afetivos, para dar lugar aos outros, para que os fa miliares escutem uns aos outros. Durante a semana, a familia se reduz

freqüentemente a comer, dormir e trocar de roupa. é certo que, para algu-

mas familias, o domingo será um dia de sofrimento: encontrar-se, ás vezes, é doloroso. Há divergencias de opiniao e discordias. Há domingos dilacera dos para os filhos de casáis separados, que passam o fim de semana ora em casa do pai, ora em casa da mae. Mas é também o dia em que se pode ultrapassar o sofrimento pelo diálogo, o perdao e a paciencia. Foi, alias, no domingo de Páscoa que o Senhor confiou o ministerio do perdao aos seus apostólos. Enfim, o domingo é o dia do Senhor. No domingo, os cristaos se reúnem para se reencontrar junto de Deus, para escutar a sua Palavra e para receber o Corpo e o Sangue de Cristo na Eucaristía. Nos somos todos aguardados, porque precisamos uns dos outros como de pao. Antes do mais, porque nenhuma vida de fé pode ser duradoura, se ela fica encerrada numa piedade pessoal do coracüo.

Algumas pessoas dizem: 'Rezo melhor sozinho(a) em casa'. Está comprovado que um fiel na"o se pode sustentar a sos. Um cristao solitario está em perigo de morte. Algumas vezes dirao: .'Isso para nada me serve'. Mas será esta a auténtica questao? Nao devemos nos colocar também a pergunta: 'Será que eu para nada sirvo aos outros?' Se eu nSo estou presente, tor232

O DOMINGO: POR QUÉ?

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na-se impossível aos outros celebrar plenamente. A Eucaristía dominical nao é um grande super-mercado no qual vou fazer minhas compras, é urna casa de familia, onde um lugar á mesa fica vazio se eu estou ausente. To dos sabemos que urna festa de familia nao será plenamente feliz ou será talvez um fracasso, se um irmao ou urna irma convidados estiverem au sentes.

Por conseguinte, o Ano do Domingo nao há de ser um ano como os outros. Tratase de Deus e do homem. Alias, é isto que seencontragrava do nos muráis: 'Domingo, um tempo para Deus, um tempo para o ho mem'. Eu vos desejo, de coracao um ano tal!"

2. REFLETINDO... O cardeal Danneels toca um ponto nevrálgico da vida contemporá nea: o vilipendio do domingo, que muitos querem transformar em dia de lucro comercial ou em dia que mais merguihe o ser humano na corrida em demanda do prazer sensivel e de valores ilusorios. 0 autor da Carta usa urna linguagem que toque até as pessoas mais afastadas da prática religiosa, lembrando que

1) o domingo nao é só de interesse religioso, mas também de interesse humano — pessoal e familiar. Se nao se respe¡ta o domingo como dia

diferente, dia de lazer sadio e, principalmente de reencontró da pessoa consigo mesma e com seus familiares, entra em perigo a própria autenticidade do ser humano; perdendo a sua ¡ntimidade e os vínculos da familia, a pessoa corre o risco de se desfigurar.

2) Além disto (em linguagem estritamente teológica, diriamos: áci ma de tudo), o domingo é o dia do Senhor, o dia da Páscoa, o dia da vitória da Vida sobre a Morte, o dia em que urna vida nova é oferecida ou corroborada no cristao, o dia em que um sopro de eternidade bafeja o coráceo humano para que continué sua caminhada semanal com mais fir meza e coragem. Daí a importancia da Missa dominical, que vale nao só pelos sentimentos que desperté ou nao desperté no cristao, mas vale tam bém porque é um tomar-se presente a Deus de modo especial pela fé, pelo

desejo de resposta aos anseios mais profundos do ser humano. É outrossim

o encontró dos membros da Igreja, que sao solidarios entre si; se alguém julga que nada pode receber dos seus irmaos (coisa muito difícil!), pense que ao menos poderá dar aos seus semelhantes, que o aguardam fraternal mente. 233

42

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

3) Á guisa de complemento, acrescentamos outra advertencia sobre o mesmo assunto, proveniente do Bispo de Amiens (Franca), Mons. Jac-

ques Noyer:

"Urna evolucao que aos poucos apagasse o domingo para fazer dele um dia como os demais, seria trágica para nossas familias, nossas cidades,

nosso país.

Se, para oferecer um domingo de qualidade á maioria da populacao,

temos de aceitar que alguns trabalhem, isto deve ocorrer dentro de condi-

coes e limites precisos.

A tradicao crista deu é nossa sociedade esse 'dia do Senhor', que é, ao mesmo tempo, dia de festa, de vida em familia e de oracao. Ho/e o do

mingo nao pertence apenas aos cristaos. Ele quer ser um dia de liberdade e de repouso. Quer responder as exigencias da convivencia social. Quer tornar a vida humana mais humana. Nao o deixemos desaparecer.

Amiens, 22 de outubro de 1992"

(extraído do Boletim SNOP, n? 889, 20/11/1992, p. 1).

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Um genio fala:

STEPHEN HAWKING:

"DEUS, EUE A CIENCIA' Em sfrítese: Stephen Hawking, um dos maiores físicos teóricos de nossos tempos, é pessoa que perdeu grande parte das suas funcoes moto ras, mas possui talento intelectual perfeitamente lúcido e ativo. A sua trajetona biográfica e científica foi reconstituida em filme intitulado "Breve Historia do Tempo"; este filme compreende relatos autobiográficos, como

também a narracao de reminiscencias da mae e de amigos de Stephen Hawking. Do texto do filme vao, a seguir, extraídosalguns segmentos dos mais significativos, que evidencian) como a própria molestia foi um incen

tivo para que o jovem Hawking se dedicasse mais ao estudo e se tornasse o sabio que ele ho/'e é... Um sabio que, educado na fé crista, atuafmente

parece estar alheio á religiao, mas nao excluí a possibilidade de descobrir os vestigios de Deus através de suas pesquisas na historia do universo. *

*

*

Stephen Hawking é um dos maiores fi'sicos teóricos da atualidade. Celebrizou-se especialmente pelo seu livro "Urna Breve Historia do Tem po. Do Big Bang aos Buracos Negros". Em suas elucubracoes nSo se furta a falar de Deus. Últimamente o editor Errol Morris resolveu produzirum filme com o mesmo título, em que apresenta traeos da vida e do pensamento do grande dentista. Desse filme alguns textos foram publicados pela revista francesa "Sciences et Avenir", fevereiro 1993, pp. 18-20. A figura de Stephen Hawking se imp5e á consideracSo e á admiracao de quem o conhece, porque é homem genial por sua inteligencia, mas de corpo franzino e sofrido, afetado em seüs ñervos motores. Estes dados aparecerao melhor nos episodios seguintes, que foram recolhidos e traduzidos a partir de "Sciences et Avenir" (n? citado). 1. BIOGRAFÍA E GENIALIDADE 1.1. Hawking e Galileu

"Nasci aos 8 de Janeiro de 1942, trezentos anos exatamente após a morte de Galileu. É claro que nao sou o único nessas condicSes: calculei 235

44

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993 -

que cerca de duzentas mil pessoas nasceram nessa mesma data. Nao sei quantas dentre elas se interessaram mais tarde pela astronomía. Nasci em Oxford, se bem que naquela época meus pais morassem em Londres. Oxford era um lugar ideal para dar á luz durante a guerra: os alemaes ha-

viam aceito nao bombardear Oxford e Cambridge, se os británicos poupassem Heidelberg e Gottingen. Na medida em que me lembro, eu era um me nino normal, nao muito propenso a aprender mediante a leitura. Eu era principalmente ¡nteressado pela mane ira como as coisas funcionavam.

Quando eu tinha doze anos, um dos meus colegas apostou com um amigo, valendo urna caixa de bombons, que eu jamáis chegaria a algo. Nao sei se o perdedor cumpriu o que prometerá por aposta; e, se o cumpriu, nao sei em que sentido..."

(Stephen Hawking)

1.2. Primeiro Premio de Catecismo

(Isobel Hawking, mae de Stephen) "Durante o seu primeiro ano na Escola St. Albans, creio que Stephen pertencia ao rol dos tres últimos alunos da turma. Perguntei-lhe por que estudava tao pouco, e respondeu que estava longe de ser o único. Na verdade, ele cacoava desmedidamente do estudo. Embora nao fosse bom alu no, ele n3o deixava de ser tido como muito inteligente pelos seus professores. Em determinado ano, ele recebeu o primeiro premio de Catecismo, o Divinity Prize, o que nao era surpreendente, pois o seu pai Ihe lia os rela tos bíblicos desde a adolescencia. Stephen os sabia todos de cor. Era mui to i nteressado pela religiao, mas creio que hoje ele quase nao a pratica". 1.3. O problema da xfcara de cha (John Me Clenahan, amigo de infancia) "Stephen e eu nos conhecemos quando tmhamos dez anos. Um día levantamos urna questao: quando o seu cha está muito quente, ele esfria mais rápidamente se logo se Ihe acrescenta o leite ou, ao contrarío, mais vale esperar e só depois misturar-lhe o leite? Eu nao conseguía equacionar

o problema. Mas para Stephen isto se deu sem demora, como por ilümi-

nacao. Lembro-me muito precisamente da discussao: conforme a lei de Stefan (nao confundir com Stephen!), todo corpo quente difunde calor em cota proporcional á quarta potencia da sua temperatura absoluta. Stephen daí concluiu que, quanto mais tongamente se deixasse o cha nao diluido pelo leite, tanto mais rápidamente ele esfriaria. Por conseguinte, era preciso acrescentar o leite no fim de um período de espera, e nao

logo de inicio". 236

STEPHEN HAWKING: "DEUS. EU E A CIENCIA"

45

1.4. Físico á revelia

(Stephen Hawking) "Meu pai quería que eu estudasse Medicina. Mas eu considerava a biología muito descritiva, nao bastante fundamental. Eu quería dedicar-me á Matemática. Conseqüéncia: entrei no curso de Física na Universidade de Oxford. Naquela época, a displicencia pelo estudo estava mui to em moda em Oxford. Era preciso ser brilhante sem fazer esforcos. Trabalhar duro para conquistar urna menpao honrosa era totalmente desacreditado. O programa de Física fora elaborado de tal modo que se podia fácilmente deixar de estudar até a época do exame final. Calculei ter estudado cerca de mil horas em tres anos — o que faz urna media de

urna hora diaria aproximadamente. Nao me sinto ufano por ter assim procedido; apenas descrevo minha atitude de entao, que eu compartilha-

va com a maioria dos meus colegas. Estávamos penetrados pelo tedio e pelo sentimento de que nada havia que merecesse um esforco. No terceiro ano de Universidade, pedi ao Ministerio da Inglaterra um cargo de fun cionario público. Mas no dia previsto esqueci-me de apresentar-me para

prestar exame. Nao fora essa distracao, sem dúvida eu te ría feito carreira no funcionalismo civil". 1.5. Aluno brilhante, mas preguicoso

(Robert Berman, ex-professor de Stephen em Oxford)

"Quando conheci Stephen, ele aínda nao tinha dezessete anos. Prestou com brilhantismo seu exame de admissao, em particular o de Física. Na solene argüicao oral, á qual assistiam naquela época o Diretor dos Estudos, o professor principal, assim como outros colegas, todos perceberam ¡mediatamente que Stephen seria um aluno excepcional; sem pro blema recebeu a bolsa para estudar Física. Ele foi, sem hesitacao, o mais

brilhante aluno que eu jamáis tive. Talvez nao ten ha sido tao feliz nos seus

exames fináis quanto certos alunos que eu tive depois; acontece, porém, que estes nao eram apenas inteligentes, haviam também trabalhado dura mente. Stephen era realmente dotado, de modo que quase nao estudava". 1.6. O anuncio da molestia

(Derek Powney, um colega de Oxford) "Um dia, quando eu visitava Oxford, procurava desesperadamente alguém com quem me sentasse á mesa para al mocar, quando de repente Stephen apareceu. Ele se ofereceu generosamente para compraras bebidas. Trouxe-as e colocou-as sobre a mesa.

Num momento em que ele ia depositar o seu copo de cerveja sobre a mesa, deixou-o cair. Eu Ihe grítei que nao era hora para se sujar. Mas ele me contou que passara duas semanas no Hospital, onde fora submetido a 237

46

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 372/1993

urna serie de exames. Os médicos descobriram que ele estava enfermo. Ele me contou entao muito tranquilamente que estava para perder aos poucos o uso do seu corpo e que, no estágio final da doenca, ele se parecería com urna especie de legume, ao passo que o cerebro continuaría a funcionar perfeitamente. Tornar-se-ia entao incapaz de comunicar-se com o resto do mundo.

Disseram-lhe que sua doenca era incurável, mas nao se podía prever se morrena dentro de seis meses ou vinte anos. Fiquei totalmente arrasado — o que certamente nao era reconfortante para Stephen. Eu sabia perfeita mente que ele nao tinha fé e isto me parecía aínda mais terrível, porque ele devia estar sempre perguntando a si mesmo: por que eu? Mas parecía aceitar tudo sem excecao. Creio que foí a partir desse momento que comecou a se dedicar seriamente ao estudo". 1.7. A Escola da Física Teórica (Stephen Hawking) "A molestia comecou a se agravar rápidamente e minhas pesquisas pareciam comprometidas, pois eu julgava que nao viveria até concluir o doutorado. Com o passar do tempo, o mal se estabilizou. Eu comecava a compreender a teoría de Einstein e a admitir adiantar os meus trabalhos. Mas o que modificou tudo, foi meu noivado com Jane Wilde, que eu havía encontrado na época em que descobriram a minha doenca. Ela me deu um por que viver. Para que eu me casasse, precisava de um emprego, e, para que conseguisse emprego, precisava de concluir o meu doutorado. Eís por que eu me pus a estudar seriamente, pela prímeira vez, na vida e, para grande surpresa minha, isso me ajudou. Minha outra grande sorte era a es cola de Física Teórica, área puramente cerebral, que n2o exige alguma proeza física".

1.8. A Forca do Espirito (Isobel Hawking) "Ele mesmo diz que nunca teria chegado aonde está hoje se nSo tivesse caído doente. Creio que a observacao é verídica. Como dizia Samuel Johnson, o fato de vocé saber que será enforcado na próxima madrugada Ihe confere um extraordinario poder de concentracSo. A doenca certamen-

te nao é um bem, mas para Stephen é um mal menor, pois ele tem a Capacidade de viver intensamente dentro da sua cabeca. Ele acredita ñas possi bil idades quase infinitas do espirito humano". 1.9.0 Pensamento de Deus (Stephen Hawiking)

"Se descobrirmos urna teoría completa a respeito da origem do uni verso, ela deverá ser compreensível a todas as pessoas e nao apenas a um 238

STEPHEN HAWKING: "DEUS. EU E A CIENCIA"

47

punhado de dentistas. Entao todos nos, filósofos, cientistas e até gente da rúa, seremos capazes de tomar parte na cliscussáo sobre por que existe o universo e por que existimos nos. Se encontrarmos a resposta a estas perguntas, haverá o triunfo supremo da razao humana. Naquele momento co-

nheceremos o pensamento de Deus". A tais dizeres acrescentemos breves comentarios:

2. COMENTANDO... Tres pontos podem vir á baila após a leitura dos traeos biográficos de Stephen Hawking:

2.1. Ciencia e Fé

Stephen foi educado na fé crista; mostrava grande interesse pela ReligiSo, mesrrro quando nao o manifestava pelo estudo. Depois afastou-se da prática religiosa. Quando atingido pela doenca, parece nao tertido fé. Esta ficava latente talvez, e té-I o-á ajudado a manter-se intrépido. Hawking está disposto a reconhecer o pensamento de Deus, caso Este se Ihe torne evi dente através dos estudos. Um grande dentista pode também ser um homem de fé, como comprovam tantqs nomes famosos e como o próprio Stephen Hawking admite. 2.2. A Molestia

A molestia, sem deixar de ser penosa, foi certamente benéfica para

St. Hawking. Acuado pelo duro golpe, passou a levar os estudos a serio,

coisa que talvez nao tivesse feito em caso de boa saúde. Confirma-se o que já os antigos gregosdiziam: Pathos mathos, o sofrimento é escola, é educa-

pao. A historia conhece numerosos episodios que o ¡lustram. A Providen

cia Divina dispensa os seus dons com grande sabedoria, permitindo que dos males decorram bens muito grandes. 2.3. Uma pessoa amiga

A presenca de Jane Wilde no momento mais agudo da crise foi salutar para Stephen Hawking. Verifica-se mais uma vez o papel inestimável de uma pessoa amiga para levantar o ánimo de quem sofre e até provocar uma guiñada na vida do enfermo; "ela me deu um por que viver". Na verdade,

as criaturas só podem dar tal presente, porque transmitem o que Deus Ihes inspirou; Ele é a fonte de todo bem, de toda razSo de viver. Possa Stephen Hawking chegar ao termo de sua evolucSo científico-religiosa! 239

Insidioso:

GRUPO

SAO FRANCISCO DE ASSIS

Está-se espalhando em comunidades paroquiais católicas urn livreto que em sua contra-capa traz os dizeres "Grupo Cristao Sao Francisco de Assis", como se fosse este o remetente. Seria remetente católico, visto que sao os católicos que veneram Sao Francisco de Assis. Todavia os dizeres do impresso sao típicamente protestantes: equivalem a um convite, redigido na base de textos bíblicos, para que o leitor aceite Jesús Cristo e "envolvase com outros crentes numa igreja onde se prega a mensagem de Jesús Cristo" (frase final do livreto). Tal impresso supoe que o leitor seja um pecador que nao aderiu a Je sús Cristo. lncita-o a "convidar Cristo pessoalmente para entrar em sua vi da e crer nele como Senhor da mesma"; conseqüentemente agregar-se-á

um grupo de crentes. Nao há, porém, urna referencia aos sacramentos (Batismo. Eucaristía...) nem á Virgem Ssma., nem á Igreja (com letra maiúscula).

Para quem o considera de perto, tal livreto é evidentemente de orígem protestante; pretende atrair os católicos para o protestantismo, valendo-se do título "Grupo Cristao Sao Francisco de Assis", como se o convite fosse feito por católicos a católicos. Os indicios pelos quais se depreende a índole protestante do livreto, sao os seguintes: 1) conteúdo doutrinário, resumido atrás: nenhuma referencia aos ele mentos mais típicos do Cristianismo, além da Biblia: nem Batismo, nem

Eucaristía, nem a Igreja fundada por Cristo e entregue a Pedro (cf. Mt 16, 16-19), nem a Virgem MSe María Ssma.;

2) citacoes bíblicas no estilo do protestantismo: Jo 1:12; Apocalipse 3:20; Romanos 5:8... Os católicos nao usam dois pontos para separar ca

pítulo de versículo, mas servem-se de vírgula: 1,12 ... 3,20 ... 5,8 ...

3) O endereco da Editora é: Sociedade Brasileira de Folhetos, com

copyright nos Estados Unidos, é dos Estados Unidos que tem vindo para o Brasil a propaganda protestante.

(continua napág. 202) 240

EDigOES "LUMEN CHRISTl" 3?

edicao em latim-

portugués, com anotacóes

por

Enout.

A

D. Regra

JoSo que

Sao Bento escreveu no

século VI continua vi va

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BENTO

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1. CONCORDANCIA DA REGRA DE S. BENTO. A. de Vou

gué — Apresentacao de Dom Abade Paulo Rocha, OSB. Cim bra 1988. 860p.

Um dos instrumentos eficazes para o estudo da Regra de S. Bento sao as CONCORDANTIAE que, de modo fácil e rápi do, permitem-nos encontrar e conhecer as palavras e sentencas empregadas por S. Bento em sua obra

2. SANTO AGOSTINHO - ESCRITOS MONÁSTICOS. Cim

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documento anónimo, escrito cerca do ano 400. 130p

Cr$ 440.000,00

3. HISTORIA DOS MONGES DO EGITO. Cimbra, 1990. É um 4. INICIACÁO A HISTORIA MONÁSTICA (notas, esquemas e mapas) 1? de urna serie. 2aedicto com textos monásticos em

apéndice. 1985. lOOp

CrS 200.000,00

mapas) 2? de urna serie, 1984.145p

CrS 260.000,00

DA DE SANTA MACRINA. Publ¡cacao da Cimbra, 1992, 100p

CrS 440.000,00

vida dos Pes. do Jura. Cimbra. 1987. 125p

CrS 325.000,00

RA. Cimbra, 410p 1989:

CrS 580.000.00

162p. 1962. Colecao Mestres Espirituais

CrS 120.000,00

5. INICIACÁO A HISTORIA MONÁSTICA (notas, esquemas e 6. SAO GREGORIO DE NISSA: O DESIGNIO DE DEUS E VI

7. VIDA DE SANTO HONORIO (Sermao de Santo Hilario) e 8. VIDA DE S. PACÓMIO - SEGUNDO A TRADIQÁO COP 9. SAO BENTO E A VIDA MONÁSTICA. D. Claude J. Nesmy.

10. BENTO DE NÚRSIA - PAI DO MONAQUISMO OCIDENTA... por Walter Nigg. Editorial A.O. de Braga Portugal e Ed. Loyola. Livro com ilustracóes. 120p

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