Ano Xxx - No. 331 - Dezembro De 1989

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Projeto PERGUNTE

E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatls Spiendor com autorizacáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO

DA EDIpÁO ON-LINE Diz Sio

Pedro

que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15). Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanca e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora,

'.'■"

visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e

Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de

¥_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se

,. dissipem e a vivencia católica se fortaleca

Jino

Brasil e

no

mundo.

Queira

Deus

abencoar. este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. EstevSo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos

convenio com

d.

Esteváo

Bettencourt

e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo. A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaca depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

(O

SUMARIO A roda da vida UJ

Os manuscritos do Mar Morto:Segredo abafado?

O H UJ

D

O

"O Péndulo de Foucault" de Umberto Eco

Doze anos entre as testemunhas de Jeová Padre DamiSo, o leproso de Cristo

Fala um convertido A regulacffo natural da natalidade O ce

índice Geral 1989

o.

ANO XXX

DEZE.MBRO

198 9

331

3UNÍE E RESPONDEREMOS

DEZEMBRO - 1989

. Publicagaó mensal

NP331

SUMARIO

etor-Responsável:

Estéváo Bettencourt OSB Autor e Redator de toda a materia publicada neste periódico

A roda da vida

Aínda o sensacionalismo:

Os manuscritos do Mar Morto: Segredo abafado?

etor-Adm inistrador:

0. Hildebrando P. Martins OSB

ministracaó e distribuicib: Edicoes Lumen Christi Dom Gerardo, 40 - 5? andar, S/501 Tel.: (021) 291-7122 Caixa Postal 2666

20001 - Rio de Janeiro - RJ

529

530

Enigmas, sátiras, interrogapfies abertas: "O Péndulo de Foucault" de Umberto Eco

542

Entrevista com Jean-Francois Blanchet: Doze anos entre as testemunhas de Jeová

550

Ño Centenario de um Herói: Padre Damiío, o Leproso de Cristo. . .

559

Depoimento: Fala um convertido

571

Nota: "MARQUES-SARAWA''

GRÁFICOS E EDITORES S.A.

A regulacáb natural da natalidade. . . .

575

índice Geral 1989

577

els.: (021 1273-9498 - 273-9*47

NO PRÓXIMO NÚMERO: 332-JANEIRO-1990 As Dificuldades para a Fé hoje (J. Ratzinger. — 0 Carmelo de Auschwitz. - "Operacao Cávalo de Tróia" (J.J. Benitez). - Que é a Castidade? - A Ca bala e seus misterios. - Taró e Numerologia.

COM APROVAQAO ECLESIÁSTICA

INATURA ANUAL (12 números): NCzS 100,00 - Número avulso: NCz$ 10,00 —^_^^^^^_^_^^___^_ Pagamento (i escqlha) —

1. VALE POSTAL á agencia central dos Correios tío Rio de Janeiro em nome de Edicoes "Lumen Christi" Caixa Postal 2666 20001 Rio «e Janeiro - RJ.

2. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edicoes "Lumen Christi" (endereco ácima).

3. ORDEM DE PAGAMENTO, no Banco do Brasil, conta N° 31.304-1 em nbme do Mos-

teiro de Sao Bento, pagável na agencia Praga Mauá/RJ N° 0435-9. {Nao enviar através de DOC ou depósito instantáneo - A identificacáo é difícil).

-

A Roda da Vida

(Tg 3,6)

Ao talar da l/ngua e do seu grande poder de prejudicar, o Apostólo S.

Tiago recorre a uma imagem usual na cultura helenística: a roda da existen

cia, que a Ifngua pñe em chamas (cf. Tg 3,6).

Parece que, no caso, a roda era figura depreciativa: significava uma su-'

cessáo monótona, que n§o leva a novidade alguma, pois implica um movi mento que volta sempre aos mesmos pontos; nesse movimento as coisas que estao em cima passam para baixo, e o que está em baixo passa para cima sucessivamente; assim é simbolizada a sorte dos homens, que ora sao exalta dos, ora rebaixados pelas incertezas da vida. Esta seria irónica e fria para quantos estao inseridos neta.

Espontáneamente a imagem da roda da vida volta á consideracao do cristSo em cada fim de ano. Os gregos podiam ter suas razoes para propóla: o ano comeca, o ano termina...; o ano recebido com alegría em Janeiro já é tido como velho e ingrato em dezembro; espera-se que o novo ano seja

mais feliz do que o anterior, é o que costuma ocorrer em todo fim de de

zembro e comeco de Janeiro. Mas, diriam os gregos, "a vida é uma roda; o que passou, voltará; farás as mesmas experiencias; é utopia querer quebrar o ciclo do eterno retorno!"

Ora é sobre este fundo de cena que se sitúa a mensagem crista. Ela co loca precisamente no fim de um ano velho o nascimento de uma crianca, vi da nova, portadora de uma Boa-Noticia (Evangelho) a ser recebida com ¡mensa alegría (cf. Le 2,10). A vida nova que assim nasce, é a de Deus feito homem, nao apenas a de um herói ou um César; por isto ela pode trazer no vidade auténtica á monotonía insípida do tempo humano; ela pode impreg nar de juventude, vigor e entusiasmo o ciclo da vida dos homens; por dentro do que vai envelhecendo, derrama-se um principio de Vitoria da vida sobre a

morte. É este o sentido de Natal; em perspectiva crista, é a quebra dos gri-

IhSes que envolvem o homem e Ihe tiram o encanto de viver, para que possa rejuvenescer, cheio de esperanza, e transformar deceppSes, frustrares

e décrepitude em confianca e certeza de que a roda da vida, apesar de nos reconduzir sempre aos mesmos pontos e ás mesmas datas, caminha para a frente e se dirige para a Plenitude da Verdade e do Bem. Acolhemos, pois, o Natal como o velho Simeao o acolheu em seus bracos; a crianca entregue ao anciSb fez que este cantasse de alegría: "Os meus olhos víram a tua salvacao..., Luz para todos os povos" {Le 2,30.32). O velho segurava a enanca, mas a crianca é que sustentava o velho, diz S. Agostinhb. O mesmo se dé com todos os leitores de PR: possam receber a Crianga

em seus coraedes e ser por Ela sustentados numa esperanea indefectível!

SANTO NATAL E FELIZ 1990! E.B. 529

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" ANO XXX - N? 331 - Dezembro de 1989

Aínda o sensacionalismo:

Os Manuscritos do Mar Morto: Segredo Abafado? Em sfntese: A revista VEJA publicou um artigo em que refere a pressio dos estudiosos para que se/a revelado ao mundo o conteúdo dos manus

critos do Mar Morto descobertos entre 1947 e 1958 em Qumran. Alega a re vista que a Igreja Católica possa estar interessada em encobrir a mensagem desses documentos, pois revolucionaria as concepcdes sobre a origem do Cristianismo, estabelecendo dependencia de Jesús em relacSo á comunidade judaica dos essénios. - Ora deve-se notar que: 1) a morosidade na revelacSo do conteúdo destes manuscritos se deve é índole mesma da tarefa, que ó al tamente delicada, visto tratar-se de material frágil e, por vezes, deteriorado, que exige aparato e verbas especiáis para ser estudado; 2) os manuscritos sSo propriedade de Universidades e Bibliotecas que trabalham independente-

mente da Igreja Católica; 3) as afinidades entre Jesús e os essSnios sio temas já estudados; na década mesma de 1960 os pesquisadores chegaram á verificacio de que nSo hé dependencia de Jesús frente aos essSnios, mas, ao con trario, concepcdes assaz diferentes; fica, pois, intacta a originalidade do

Cristianismo. É desonesto, da parte de VEJA, restaurar em 1989 urna hipótese que ¡i fot ultrapasada, como se se tratasse de um assunto aínda em estudo.

A revista VEJA, edipSo de 6/9/89, pp. 66-70, publicou o artigo "Labirintos da Fé" referente aos manuscritos judaicos descobertos em Qumran 530

OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO (Nordoeste do Mar Morto, Israel) entre 1947 e 1958 dentro de onze cavernas. A demora na publicacáb do conteúdo desses manuscritos estaría irritando os estudiosos, que náb tfim acesso a eles, pois sao propriedade de Universidades e Institutos de Israel, Franca, Inglaterra, Estados Unidos... A revelacáb do teor desses manuscritos, dizem, estavam prometida para 1970; foi adiada,, porém, para 1997... Isto tem provocado a suspeita de que os dizeres desses do cumentos, que datam dos séculos ll/l a.C. e I d.C, estariam revolucionando as clássicas concepcoes religiosas de judeus e cristaos. Jesús terá tido vinculacáb com a seita dosessenios. "Um certo temor terá tomado conta da cúpula da Igreja Católica em Roma", pois "poderiam estar abaladas as estruturas hierarquizadas da Igreja" (p. 70).

pois

Tais noticias sao altamente sensacionalistas. Nao édifi'cil evidenciá-lo,

1) os manuscritos descobertos em Qumran sao, em grande parte, mate rial frágil e deteriorado pelas intemperies do tempo; em conseqüéncia, a leítura do seu conteúdo nao somente é delicada e dif fcil (é preciso nao os ras gar nem prejudicar mais ainda), mas também á muito dispendiosa; requer verbas que nem sempre estSo dispon íveis por parte das autoridades govemamentais ou das instituicSes particulares.

2) Tais manuscritos sao propriedade de instituicóes científicas que os

adquiriram. Essas instituicóes sao neutras em materia de religiSo; n3o tém interesse em ocultar a verdade para atender a este ou aquele grupo religioso

(no caso, a Igreja Católica). A ciencia procura a verdade objetiva e é fría na formulacao de suas conclusdes.

3) A suspeita de que Jesús tenha sido vinculado aos esséniosou tenha sido o próprio Mestre de Justica (fundador) dos essénios n§o é de nossos dias; foi levantada pouco depois da descoberta dos manuscritos, mas logo desfeita pelos próprios críticos que a propuseram (como se verá á p.539 deste

fascículo). É, pois, gratuito e nfc científico dizer que o conteúdo dos ma

nuscritos abala a fé católica. Nem a Santa Sé em Roma se perturbou com a descoberta dos mesmos; varios pesquisadores católicos — sacerdotes e professores - tomaram e tomam parte no respectivo estudo, sem temor de en

contrar contradicáb á sua fé. É estranho (e pouco honesto) o fato de que a

revista VEJA ressuscite por sua conta (náb por conta dos pesquisadores de nossos dias) velhas hipóteses que já foram retiradas pelos próprios autores que as propuseram.

4) O texto apresentado como sendo de Noé no inicio do artigo de

VEJA é de um apócrifo, entre os muitos existentes no acervo de Qumran.

Noé ó um personagem da pré-história bíblica (Gn 6 9), em torno do qual se 531

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989 escreveram estórias, como aconteceu a Henoque e outros vultos da pre

historia sagrada. Por conseguinte, um estudioso serio nao pensará jamáis ter encontrado auténticos dizeres de Noá. 5) A celeuma de que VEJA dá notfcia, parece estar na linhada "sín

drome de suspeicao" que Umberto Eco considera longa e satíricamente no seu livro "O Péndulo de Foucault" (pp.542-9 deste fascículo). Os homens (nao os cientistas propriamente, que usam do raciocinio e sao frios e objetivos, mas o grande público) tém sempre a tendencia a procurar novidades misteriosas e sensacionalistas. Quanto mais fantasiosas, tanto mais interesse despertam ñas massas, sempre propensas a Ihes dar fácil crédito. Já dizia o adagio romano: "Vulgus vult deeipi. - O povo quer ser engañado". A fim de melhor ilustrar a problemática levantada por VEJA, transmi

tiremos, a seguir, um balampo do que ocorreu em Qumran e do questionamento levantado e logo serenado após a descoberta dos manuscritos.

1. Os Manuscritos de Qumran Qumran é urna localidade situada no deserto de Judá, á margem N.O. do Mar Morto. Em urna gruta daquela regiáo, um pastor beduino, que andava a procura de urna ovelha (ao menos, esta é a versao maiscomum do epi

sodio), descobriu em fevereiro de 1947 sete jarros de argila, dos quais um continha tres rolos de pergaminho. Esse material, a principio nao claramente identificado, chegou fainalmente ás ma*os dos estudiosos de Israel e dos Esta dos Unidos. Estes reconheceram que se tratava de manuscritos bíblicos de alto valor, pois eram extremamente antigos.

Em 1949, tendo sido de certo modo pacificada a situacáo na térra de Israel, o Prof. G. Lankester Harding, Diretor do Departamento de Antigüidades da Jordania, e o P. Roland de Vaux O.P., Diretor da "Ecole Biblique" de Jerusalém, deram inicio a procuras e escavacoes sistemáticas na regiao de

Qumran. Essas pesquisas duraram até 1958 e se estenderam por toda a re gido vizinha, abrangendo Murabba'at, Khirbet Mird, Ain Feshkha, Massada. Ao todo descobriram-se onze grutas, ñas quais se acharam cerca de 900 ma nuscritos; sonriente dez destes estao mais ou menos integralmente conserva dos; os demais s3o fragmentos, de leitura ora mais, ora menos difícil. A con-

feccab dessesescritos estende-sedo sác. II a.C. ao séc. I d.C. Urna quarta parte desses textos sao livros ou fragmentos bíblicos. To

dos os livros da Biblia hebraica estáb ai representados, exceto o de Ester; há mesmo diversos manuscritos de um mesmo livro bíblico — o que mostra quais eram os textos mais estimados e usados na regiSo: Isaías, Deuterondmio, os Profetas Menores, os Salmos. 532

.

OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO

Alguns manuscritos de Qumran e adjacfincias sao copias de textos bí blicos muito próximas, cronológicamente, dos seus autógrafos. Assim um manuscrito de Daniel encontrado em Qumran é apenas cem anos posterior

aos autógrafos de Daniel, que a crítica atribuí geralmente ao ano de 165 a.C. Também um manuscrito do Eclesiastes achado em Qumran dista do seu au tógrafo apenas um sáculo. — Para se avahar a importancia deste fato, seja lembrado que até 1948 os mais antigos manuscritos que se tinham da Biblia hebraica, datavam dos séc. IX e X depois de Cristo. Ora os manuscritos de Qumran permitem retroceder cerca de mil anos na historia do texto de al guns livros bíblicos. Verificou-se, pelo confronto dos manuscritos, que o texto geralmente usado ñas traducoes e edicSes da Biblia em nossos días é substancialmente o mesmo que se usava já cerca de 2.000 anos atrás. Além dos textos bíblicos, as grutas de Qumran continham dois outros

tipos de manuscritos: 1) apócrifos, tais como estavam em uso no judaismo do tempo de Cristo; 2) os escritos de uma comunidade religiosa judaica, que tinha sua Regra ou Manual de Disciplina e seus comentarios da S. Escritura, os quais revelavam uma mentalidade fortemente caracterizada por expecta tivas messiánicas.

,

Se a historia das pesquisas ñas grutas dos arredores do Mar Morto esta-

va encerrada em 1958, o mesmo nao se podia dizer no tocante á exploracSo e posse dos manuscritos. Com efeito, em muitos casos foram os beduinos os primeiros a penetrar ñas grutas e retirar os jarros e pergaminhos. Ora nSose sabia se tudo o que os beduinos haviam descoberto já fora vendido aos ar

queólogos e cientistas. Registrou-se, por exemplo, uma surpresa em 1967, quando, após a Guerra dos Seis Días, os israelenses anunciaram a aquisicao de um manuscrito do comprimento de 8,60 m, portador de um texto inédi

to que se dispSe em 66 colunas. Esse manuscrito, que veio a ser chamado "o

Rolo do Templo" (porque, entre outras coisas, descreve minuciosamente o Templo de Jerusalém), parece ter sido o último a ser adquirido pelos sabios. Restava entao a ingente e paciente tarefa de ler, decifrar e publicar o con-

teúdo da vasta biblioteca de Qumran -- trabalho este que poderá estender-se por um total de cinqüenta anos.

2. O ambiente humano de Qumran 1. As escavacSes levadas a efeito em Qumran nos anos de 1951,19531956 e 1958 (só se podia trabalhar no invernó, quando há um pouco de chuva e a temperatura é menos quente nos arredores do Mar Morto) deram a ver

alguns estágios de habitacáo humana na regiao. O mais antigo estrado faz retroceder até os séc. VII/VI a.C. Parece ser

o de uma fortaleza, á qual se prendía uma cisterna redonda (a única de tal 533

6

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989

tipo no local). Essa construcao pode ser atribuida ao reinado de Ozias, rei de Judá (781-740 a.C; cf. 2Cr 26,10); o nome da fortaleza é talvez indicado por Js 15,62: Ir-ham-melah, cidade do Sal.

Essa fortaleza deve ter caído em ruinas quando caiu o reino de Judá em 587 a.C. No séc. II a.C, o lugar foi de novo povoado por um grupo de sacerdotes judeus e seus seguidores, que julgavam estar sendo profanada a Ci dade Santa de Jerusalém pela dinastía hasmonáia, amiga da cultura grega. As primeiras construcSes dessa nova fase de habitacao parecem datar de 130/

120 a.C; grande valor era dado aos aquedutos e cisternas, pois a comunidade tinha que captar toda a agua das chuvas da regiáo. A vida deve-se ter de senrolado tranquilamente em Qumran, num clima monástico de oracao e

trabalho, até 31 a.C, quando um terremoto (mencionado por Flávio José) terá obrigado os habitantes a abandonarem o local; deslocamento de construcSes e vestigios de incendio atestam tal abalo ci'smico. Aproximadamen

te no ano 4 a.C. (é o exame das moedas encontradas no local que permite datar), os monges de Qumran voltaram ao seu deserto, reconstruindo ai os diversos recintos do mosteiro; essa segunda fase de vida monástica deve ter sido assaz intensa e próspera; terminou, porém, em junho de 68 d.C, quan do as tropas da X Legiao Romana, desejando atacar Jerusalém, fizeram im peto em direcao de Jericó e do Mar Morto. Apressadamente, entao, os mon

ges, antes de fugir, ocultaram ñas grutas das vizinhancas os seus numerosos manuscritos, esperando poder encontrá-los de novo, quando lá voltassem

após a borrasca da guerra!... Tal esperanza nao se cumpriu; os romanos se apoderaram do local (talvez tenham vitimado parte dos habitantes remanescentes) e lá estabeleceram um fortim, que subsistiu até o fim do séc. I. Em Qumran refugiou-se ainda um pequeño grupo de judeus rebeldes durante a insurreicao anti-romana de 132-135 d.C. — Terminada, porém, es

ta guerra, a localidade, com seus tesouros culturáis, ficou deserta e, por assim dizer, ignorada do mundo até 1947! As ruinas do antigo mosteiro foram sendo recobertas por areia e pedras.

2. Os estudiosos geralmente identificam os monges de Qumran com os

essénios, de que falam Filao de Alexandria (+44 d.C), Flávio José (+100 d.C. aproximadamente) e Pli'nio o Anciao (+79 d.C). Eis, por exemplo, o que a respeito dos essénios refere Plinio o Anciao, naturalista e geógrafo ro mano:

"Á margem otídental do Mar Morto. fora da alfada da influencia no civa das suas aguas, encontram-se os essénios. Povo solitario, o mais extraor dinario povo que exista, sem mulheres, sen» amor, sem dinheiro, vivando em

companhia das palmeiras... Assim, ¡é há milhares de sáculos (coisa incrivell), subsiste urna raca eterna em que ninguém nasce... Abaixo da mansSo dos es534

OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO

sénios, situava-se a cidade de Engadi, á qualsó se pode preferir Jericó quan-

to á fertilidade e quanto és palmeiras" (H itt. Nat. V 17,4). Mesmo que se reconheca nestes dizeres urna larga parte de retórica,

eles aproximam o leitor da realidade histórica. Também Filáo de Alexandria deixou urna noticia sobre os essénios:

"Moram juntos em comunidades fraternas... Há urna só caíxa para to dos, e as despesas sao comuns; comuns sSo as vestes, e comuns os alimentos.

Com efeito, adotaram o costume das refeicoes em comum. Um tal recurso

ao mesmo teto, ao mesmo género de vida e á mesma mesa, nos o procuraría mos em vSo alhures" fQuod omnis probus 85).

É certo que os habitantes de Qumran levavam um género de vida muito semelhante ao que descrevem os textos ácima. Conservavam o celibato,

talvez com algumas excecoes (pois no cemitério anexo ao mosteiro se encon-

traram atguns poucos cadáveres de mulheres e enancas). Realizavam nume rosos atos em comum: encontraram-se ñas ruinas do mosteiro duas salas de reuniao, urna destinada a sessdes de conselho, e a outra mais adaptada ás re-

feicSes; junto a esta, em pequeño compartimento havia mais de mil pepas de cerámica (jarros, tigelas, pratos, copos...); os ossos de animáis existentes ñas

proximidades indicam que os qumranitas consumiam carne em refeiedes que deviam ter índole religiosa. Descobriram-se também oficinas entre as rui'nas do mosteiro: carpintaria, olaria com dois fornos, padaria... assim como um grande escritorio com urna mesa de 5 m de comprimentó e dois tinteiros, onde eram copiados os numerosos manuscritos da biblioteca. Nao faltavam recintos para depositar víveres (dispensa) e instrumentos de trabalho. Ao sul de Qumran, ou seja, no oasis de Ain-Feshkha, os monges cultivavam a térra e proviam á alimentacao da comunidade. Todavía nao se encontraram dormi

torios ñas ruinas de Qumran; é o que leva a crer que os monges — todos ou quase todos — passavam as noites em tendas ou grutas dos arredores do gran de edificio onde oravam e trabalhavam conjuntamente. Levándose em con-

ta o número de túmulos encontrados no cemitério, que deve ter servido .so mosteiro durante dois séculos, julga-se que no período áureo da ocupacao monástica a comunidade podía constar de duzentos membros. Embora, como dito atrás, numerosos historiadores identífíquem os

habitantes de Qumran com os essénios, há quem prefira guardar reserva so bre o assunto. Como quer que seja, esses moradores do deserto eram judeus movidos de espiritualidade férvida e rigorosa.

3. Com efeito, o dia em Qumran era consagrado ao trabalho manual e urna terca parte da noite (o serSo) decorria em estudo de textos bíblicos e 535

8

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989

oracáo. O sábado era rigorosamente observado, com abstengo de toda atividade profana. Os monges trajavam a veste sacerdotal de cor branca e subme-

tiam-se durante o dia a diversas ablucSes e banhos rituais; a pureza exterior devia exprimir e fomentar a pureza interior. O candidato que quisesse anexar-se á comunidade, devia exercitar-se

durante um primeiro ano (que hoje se chamaría "postulantado"), ao qual se seguiam dois anos de provapao severa. As etapas de admissao na comunidade eram assinaladas pela entrega da veste branca, a participacao nos banhos ri tuais e, por fim°, o acesso á refeicao sagrada, que tornava o candidato membro da comunidade com plenos direitos. Antes da admissao definitiva, o novico se comprometía por juramento solene a "converter-se á lei .de Moisés, segundo tudo que ele prescreveu, com todo o coracSo e toda a alma". Os bens que o novo mem bro possuisse, eram entregues ao superinten

dente da comunidade. Caso nSo respeitasse as regras do convivio fraterno,

era submetido a sancSes, entre as quais a exclusao temporaria ou definitiva ou mesmo a pena capital. A comunidade de Qumran era distribuida em grupos de dez membros,

cada um dos quais tinha á frente um sacerdote, filho de Sadoc. O fundador dessa ¡nstituicSo monástica é chamado, nos documentos respectivos, "o Mestre de Justica"; este foi cortamente um personagem de grande valor moral, que marcou profundamente a historia da comunidade. Pouco se sabe a seu respeito; todavia pode-se dizer que tinha um adversario — o Sacerdote Im pío —, que devia oficiar em Jerusalém, em conivéncia cornos costumes helenizantes ali introduzidos. Alguns estudiosos dos manuscritos de Qumran afirmam que morreu mártir, enquanto outros intérpretes pensam que teve

fim tranquilo. Parece certo que os membros da comunidade aguardavam o

retorno desse personagem na qualidade de Grao-Sacerdote dos tempos messiánicos.

3. Qumran e o Novo Testamento Antes do mais, qual seria a espiritualidade que se exprime nos docu mentos do Mar Morto?

Como indica o histórico dos essAnios, é urna espiritualidade religiosa muito férvida. Os habitantes de Qumran viviam na expectativa árdante da vinda do Reino de Deus; julgavam ser eles os únicos israelitas incontamina dos, os filhos da luz em meio aos filhos das trevas. O seu isolamento topo gráfico no deserto significava também isolamento de espirito; em virtude de sua mentalidade estreita, particularista, nao queriam intercambio com os moradores das cidades (neste ponto iam, pois, muito mais longe do que os

536

OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO

9

fariseus). Ao lado disto, porém, nutriam concepcSes religiosas bastante elevadas, estimando os bens invisíveis, a vida postuma e afastando-se do ideal

de um messianismo político; os'maus, para eles, nao coincidiam propriamente com os romanos ou pagJos, mas com os seus compatriotas represen

tantes da religiáío oficial de Israel, os quais Ihes pareciam pactuar com os costumes pagaos.

Este fundo de idéias já nos dá a ver que entre os essénios e os cristSos nao há apenas pontos de contato, mas há também pontos de divergencia. a) A mentalidade essénia ou a mentalidade apregoada pelo Mestre de Justica parte de um pressuposto bem diferente do que Cristo apregoa. Ao passo que o Mestre de Justipa se retirava no deserto com seu grupo de dis cípulos para evitar o contato com os homens ¡mundos, Jesús fazia questao de comer com os pecadores, de dizer que viera salvar as ovelhas perdidas, ... que nao s5o os sadios, mas os doentes, que precisam de médico (cf. Me

2,16; Le 5,30). Fazendo isto, destoava dos fariseus e os escandalizava; muito mais teria escandalizado os essénios, cuja Regra mandava "odiar todos os filhos das trevas" (I 10); Crito pregava o amor estensivo até mesmo aos ¡ni-

migos (cf. Mt 5,44; 22,40). Por conseguinte, já se vé quao despropositado seria querer fazer de Jesús urna "segunda edic3o" do Mestre de Justica ou um discípulo dos essénios, um continuador da mentalidade destes.

Outros tópicos concorrem para realcar as diferencias: b) Ao passo que o Mestre de Justica aguardava o fim dos tempos e a ¡nstauragáo do Reino de Oeus por obra de dois Messias, Jesús tinha consciéncia de ser o Messias pelo qual estas realidades se iniciaram no mundo:

"Eu sou o Messias, que te falo" (Jo 4,26); "É agora o julgamento do mun do" (Jo 12,31); "O Reino de Deus está em meio a v6s" (Le 17,21). c) Além disto, o Mestre de Justica afirmava repetidamente sua dis

tancia em relacao a Deus, confessando-se indigno pecador; Jesús, ao contra rio nao manifestava em absoluto a consciéncia de pecado (cf. Jo 8,46). Ele mesmo perdoava as culpas com desassombro, provocando voluntariamente a surpresa dos fariseus, que exclamavam: "Quem pode perdoar os pecados se nao Deus"? (Me 2,7). Se a consciéncia do pecado é a marca dos santos, a falta desta consciéncia em Jesús, que ná*o obstante possuia urna alma pro fundamente religiosa, constituí um enigma para quem O observa á luz da mera razio.

d) 'Em Jesús nSo se encontram vestigios do esoterismo ou ocultismo que caracterizava os essénios em geral. Nada há de mais oposto á dout. ina

de Cristo do que urna iniciacSo reservada a poucos; Ele mesmo pregou ás 537

JIO

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989

claras, em público, e mandou aos discípulos anunciassem sobre os telhados

o que tivessem ouvido em cubículos (cf. Mt 10,26s; Jo 18^20).

2. Apesar de todas estas divergencias de mentalidade, há quem diga que Jesús foi discípulo dos essénios no período que vai dos doze aos trinta anos de idade;-teria entao vivido no deserto ou no monte Carmelo, inician-

do-se no esoterismo... Sem dúvida, os manuscritos do Mar Morto nao somente nao oferecem base para esta hipótese, mas, como se depreende das comparacoes ácima, levam a rejeitá-la. Por seu lado, o texto do Evangelho

é contrario a tal suposicao, pois refere que, quando Jesús comecou a pregar em Nazaré, sua patria, os seus concidadaos exclama vam: "Qual 6 essa sabedoria que /he foi dada e que grandes mi/agres sao esses que se fazem por suas maos? NSo é o carpinteiro, o fílho de María, o

irmao de Tiago, José, Judas e Simáb? E suas irmas nao habitam conosco?" (Mc6¿s).

Como se vé, os conterráneos de Jesús conheciam perfeitamente sua identidade; sabiam o que fizera até se manifestar em público: fora carpin

teiro, bem notorio a eles; daí a surpresa que experimentaram, quando de seus labios ouviram urna sabedoria nao adquirida em escola humana.

Contudo os fautores da identidade entre Jesús e o Mestre de Justica (nomeadamente Wilson e Allegro) julgam poder apelar para analogías, que eisaqui: a) O Mestre de Justica pregava como Doutor inspirado, reagindo con

tra o falso espirito religioso de seu povo; em conseqüéncia, sofreu perseguípao por parte dos dirigentes da nacao. Nestes pontos coincide com Jesús Cristo. Nao consta, porém, que haja sido condenado á morte; ao contrario, os

textos de Qumran dizem que "se reuniu a seus pais" — expressao que desi gna a morte tranquila dos Patriarcas. Em parte alguma é anunciada a sua res-

sur reicáo. Quanto á sua volta no fim dos tempos para julgar o mundo, só pode ser defendida na base de contestareis interpretacSes dos textos. Numa reflexáo serena verifica-se que os traeos característicos do Mestre de Justica coincidem com os que os israelitas atribuiam a Elias e aos profetas; só o assemelham a Jesús na medida em que Jesús se assemelhou aos profetas.

b) Os monges de Qumran, distanciando-se um tando do judaismo ofi cial, celebravam urna ceia sagrada á noitinha, em que consumiam pao e vinho bentos. Essa refeicao era considerada a antecipacSo do banquete a que 538

OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO

11

o Messias de Aarao havia de presidir no fim dos tempos. Ora Jesús, dizem,

celebrou ceia análoga com seus discípulos e mandou repetí-la em seu nome...

Para avaliar o significado de tal anologia, tenha-se em vista que ceias sagradas sao rito muito freqüente no culto religioso como tal. Além disto, note-se que, apesar da semelhanca de ritual, Cristo deu á ceia crista (eucarística) um sentido novo, sentido de consumacao em relacao á ceia essénia;

afirmou, sim, que o pao e o vinho sao a sua própria carne e o seu sangue imolados em sacrificio para selar urna nova a definitiva Alianca de Deus com os hornens, em substituicao da Alianca travada por intermedio de Moisés; os essénios em absoluto nao tinham a idéia de um sacrificio redentor do Mes sias, muito menos a idéia de participar desse sacrificio mediante urna ceia sa cramental. — Sendo assim, reconhecer-se-á que o gesto de Cristo na última ceia podía ter urna torga de evocacao muito particular para os seus discipulos, pois nao era inédito em seu aspecto exterior; era, porém, portador de realidade totalmente nova...

Conseqüentemente a tais observacoes, nao há em nossos dias exegeta de autoridade que, na base dos manuscritos de Qumran, queira identificar Jesús com o Mestre de Justica ou com um essénio. O autor que é tido como protagonista desta tese, A. DupontSommer, apenas fez ¡nsinuá-la de longe,

nunca, porém, a propós como tal. Eis o que ele mesmo declarava em urna de suas obras (Nouveaux apercus sur las manuscrita de la Mar Morte. Paris 1956, 206s):

"Eu esbozara um ligeiro paralelismo que visava a despertar a curiosidade do leitor, sem pretender de modo algum solucionar, por meio de simplificacao excessiva, um problema dos mais complexos... Seja-me lícito lembrar o inicio: O Mostré Galileu, tal como nó-lo aprasantam os escritos do Novo Testamento, aparece sob mais de um aspecto como surpreendente reencarnacáb do Mestre de Justica. Ao passo que eu me exprimía com cautelas in tencionáis, os meus leitores suprimiram as palavras essenciais, atribuindo-me

a seguinte frase: Jesús nao é mais do que surpreendente raencarnacso do

Mestre de Justica! Isto implica confundir wr e parecer, implica deixarde la do urna precisao importante; quem diz sob mais da um aspecto nao dé a en tender que a semelhanca nao é total?"

c) Passamos agora aos escritos do Novo Testamento. Verificaremos que entre eles e os documentos de Qumran há expressSes e vocábuios parale

los; chama a atencdo principalmente a metáfora de "luz e trevas" para desig nar a Verdade (ou a Vida) e o erro (ou a morte); cf. Le 16,8; Jo 3, 19-21; 3 35s; 2Cor 6, 14-17; Cl 1,12. Até o inicio do nosso sáculo sustentavam algum eruditos que o Evangelho de Sá"o Joao e as epístolas de Sao Paulo adulteraram a mensagem de Jesús, estritamente vasada nos moldes do Amigo Testa539

12

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989

mentó, pois ousaram mesclar-lhe idéias e expressoes oriundas do mundo he lenista pagao; alguns por isto chegavam a denegar ao Apostólo Sao Joao a autoría do quarto Evangelho, julgando que um judeu nunca teria podido escrever em moldes tafo helenistas. Ora o conhecimento dos textos de Qumran permite hoje dizer que precisamente os escritos joaneus e paulinos sao os

que mais afinidadé de temas e vocabulario apresentam com o Judaismo. To davía semelhanca nao implica necessariamente dependencia; pode-se mesmo

dizer que nao há tema ou vocábulo comum aos documentos do Mar Morto e ao Novo Testamento que nSo esteja germinalmente contido em algum dos

escritos mais antigos da literatura bíblica. Para concluir, citamos urna página notável de Karl Hermano Schelkle em seu livro "A Comunidade de Qumran

e a Igreja do Novo Testamento" (Ed. Paulinas 1972):

4. FalaK.H. Schelkle Damos agora a palavra a um dos pesquisadores — Karl Hermann Schel kle — que se envolverán) nos debates em torno de Jesús e Qumran. Já em

1965 saía a segunda edicao de seu livro Dio Gemeinde von Qumran und die Kirche des Neuen Testaments, cujo epílogo está assim concebido:

"O confronto entre os rolos de Qumran e o Novo Testamento de monstra existirem entre ambos afinidades e analogías e permitem ainda a conclusao de que ambos deitaram raízes em térra'comum e ambos surgiram

na época de transipao do judaismo tardío. Deste fato originase naturalmen te vasta convergencia de concepcdes religiosas e moráis. O Mestre de Justica de Qumran e Joao Batista, e também Jesús, assim como Joáo, Pedro e Paulo, partem da Leí e de sua interpretacáo.

Todavia,

ao

lado

dessas

analogías existem profundas divergencias.

Qumran espera a salvaclo; no Novo Testamento, ela já apareceu em Jesús Cristo. Ele condensa em sua pessoa toda a expectativa messiánica alimenta

da em Qumran de um Profeta, de um Filho de Davi, de um Sumo Sacerdote. Em Qumran, opdem-se os espfritos da luz e das trevas em combate que há de perdurar até o fim dos tempos. No Novo Testamento, porém. Cristo ven-

ceu o príncipe das trevas. A religiao de Qumran é rigorosa observancia da lei. Nao obstante, é impossível cumprir a lei. A própria seita o sabe, em última análise, e provam-no igualmente os textos paulinos. Por isso, as purificacoes e ablucSes sao constantemente renovadas, no intuito de apagar a culpa. 'Esses homens nao saíam dos banhos sagrados', observou Adolfo von Harnack.

0 Evangelho, ao contrario, liberta do espirito legalista, trazendo a certeza do perdao e da filiacao.

Qumran e o Novo Testamento nao estao em relacao de parentesco en540

OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO

13

tre mae e filha. Sao duas irmas, filhas da mesma mié, ou melhor ainda, membros de urna mesma familia, qu»cresceram de modo muito diferente. A seita de Qumran é urna comunidade adventicia, digna de nosso respeito e simpatía. Mas a realidade presente no Evangelho ultrapassa-a de Ion-

ge. Por isso deveríamos por os rolos de Qumran ñas maos de todos os cristáos, para que, lendo-os, reconhecam em que medida é maior o dom recebido, quando no batismo foi pronunciado sobre eles o nome de Jesús Cristo (Jor ge Molin). Se os homens santos de Qumran se tivessem encontrado com Jesús e seus discípulos, certamente se teriam mantido á distancia, mais ou menos

com o mesmo criterio dos fariseus transmitido em Mt 11, 19: 'Ele áum glutá*o e bebedor, amigo dos publícanos e dos pecadores'. Pois Jesús nSo era um asceta do tipo dos homens santos de Qumran, a cujos olhos ele, por se anroximar dos pecadores e publícanos epagSos, era impuro e pecador. E que teria

dito Jesús da comunidade de Qumran? Ter-lhe-ia repetido o que respondeu Um día a um escriba (Me 12,34): 'E Jesús, ao ver que tinha respondido atina damente, disse-lhe: Nao estás longe do reino de Deus' ".

541

Enigmas, sátiras, ¡nterrogapoes abortas:

"O Péndulo de Foucault" de Umberto Eco

Em símese: O novo livro de Umberto Eco ó rico em erudicao, a tal ponto que se torna difícil perceber a trama do seu enredo debaixo de tantos

e t§o variegados quadros descritos pelo autor. Todavía pode-se dizer que o

autor tenciona censurar a "Síndrome de SuspeicSo", ou se/a, a sede imaginosa de misterios, segredos ou do Invisfvel que possa estar oculto sob a face das coisas visfveis; o livro é urna sátira dirigida á procura irracional de respostas na numerofogia, astrologia, magia, demonologia. etc. Acontece, porém, que Umberto Eco fere tambóm o conceito de Deus e a mensagem evangélica,

insinuando paradoxalmente que Deus é ó Caos ou o Nada. Cai assim no neopositivismo, que recusa a metafísica e só valoriza o ¡mediatamente percéptível. Desta maneira o livro, que tem seus aspectos positivos ou valiosos, assume caráter negativo, pouco condizente com a mensagem crista. A fartura de erudicao do autor leva-o a descer a pormenores cansativos, que dificultam a leitura, exigindo do leitor boa dose de perseverando em seu propósito.

Umberto Eco já é conhecido no Brasil pelo seu romance "O Nome da Rosa" (cf. PR 275/1984, pp. 330-340; 303/187, pp. 367-372). Tao famoso se tornou este Mvro que o subseqüente - "O Péndulo de Foucault" - já era best-seller antes mesmo de vir a lume. Traduzido para o portugués, o ro

mance "0 Péndulo de Foucault" é obra de 613 pp.,' que difícilmen te sao lidas por um leitor mesmo de cultura media; pode-se crer que nem todos cheguem ao fim, de tal modo é o livro cheio de citapoes, referencias matemáticas, históricas, ocultistas, etc. Umberto Eco parece querer dar um show de erudicao, cujo fio condutor é ofuscado pela

densidade de suas páginas. Como quer que seja, o livro tem chamado a atencao do público, que pergunta: qual o significado ou qual a intencáo de Um

berto Eco ao escrever tal romance? - É o que tentaremos examinar breve

mente ñas páginas seguintes.

1 Editora Record, Rio de Janeiro 1989, 135 x 210 mm, 613 pp. 542

"O PÉNDULO DE FOUCAULT"

15

1. O Enredo do Livro Como "O Nome da Rosa", também "O Péndulo de Foucault" comepa pelo fim de urna estória. Com efeito; Pim Casaubon se encontra no Con-

servatoire des Arts et Mátiers de París, onde está guardado o péndulo de Jean Bernard Léon Foucault (1819-1868), que servíu para evidenciar a rotacao da Térra. O Conservatorio é visitado por estudiosos e turistas, que no fim do dia se retiram. Pim Casaubon quer permanecer no Museu durante a noite; por isto escóndese dos guardas atrás de urna miniatura da Estatua da

Liberdade. Durante a noite assiste a um sabá, ' que termina com o enforcamento de Jacopo Belbo no Péndulo de Foucault.

Casaubon consegue fugír depois disto e vai para a casa de campo de Jacopo. Ali evoca mentalmente as etapas da sua própria vida e as aventuras por que passou. Ei-las sumariamente: Em 1970 Pim Casaubon elaborava urna tese de Doutorado a respeito

dos Templarios3. Nao era entusiasta dos movimentos estudantis que haviam convulsionado a Europa em 1968. Conhecéu Jacopo Belbo, intelectual e fi

lólogo, frustrado e cético, que no seu computador anotava as suas derrotas

de homem e de escritor. Convicto de que era inútil escrever obras próprias, preparava, para a publicacao, livros de outros autores com certa indiferenca

e desprezo. Sofría de melancolía existencial, de modo que se fazia de "sim ples espectador do mundo", mas portador de urna sede de Absoluto que se

dissimulava sob a sua conduta de vida libertina. Jacopo tinha um colega de trabalho, chamado Diotallevi, devoto cultor da Cabala, um tanto judaizante,

um tanto agnóstico, mas fascinado pelo misterio da Divindade. Diotallevi colaborava com urna Editora de Milao propagadora de obras de ocultismo. Um dia, nessa Editora Garamond, apresentou-se um coronel, de nome Ardenti, portador de um manuscrito sobre a historia dos Templarios: segun

do esse texto, os Templarios nao teriam desaparecido, mas estariam ás ocul-

1 Sabá é urna assemblóia de bruxos e bruxas, que, segundo os medievais, se reuniam no sábado á meia-noite para fazer orgias sob a presidencia do Diabo.

2 Os Templarios eram urna Ordem de Cavaleiros fundada em 1119 por Hugo de Payns e outros cavaleiros franceses para manter a boa ordem na Térra

Santa e proteger os peregrinos que iam visitar o Santo Sepulcro de Jesús. Estabeloceram-se porto da esplanada do Templo de Salomeo; daf o nome de Templarios. O reí Fiiipe IV o Belo cobicava seus bens,de modo que osacusou de graves crimes. O Papo Clemente V, no Concilio de Viena, extinguiu a Ordem em 1312 (02/04), tendo em vista a difícil situacio que Ihes acarretava a ingerencia do reí. 543

16

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989

tas, prósperos e aguerridos. Sim; quando em 1312 o rei Filipe IV o Beloda

Franca obteve a supressao da Ordem, um grupo deles terá conseguido esca par para a Escocia e associar-se a urna Loja de Pedreiros, que eram detentores dos segredos do Templo de Salomao; tendo-se fundido com os pedreiros (futuros macons a partir do sáculo XVIII), os Templarios se teriam espalhado por toda a Europa, transmitírtelo aos seus iniciados um Grande Segredo... Grande Segredo que seria um plano para conquistar o mundo e que entraría em execucao no momento oportuno.

EntSo os tres amigos - Pim Casaubon, Jacopo Belbo e Diotallevi -, que forneciam ti'tulos de obras á Editora Garamond, se deixaram fascinar pelo anuncio de tal plano e seus segredos ainda ocultos. O Coronel Ardenti desapareceu, deixando-lhesum pergaminho que, devidamente'interpretado, Ihes poderia fornecer pistas para decifrarem o Grande Segredo. Assim empolgados, os tres amigos puseramse a pesquisar tudo o que na historia tenha havido de ocultismo. 0 leitor entao é colocado diante de cenas de magia, as-

trologia, gnose, demonologia, marconaria, hermetismo, ritos druídicos1, bruxarias. um banda (do Rio de Janeiro); o livro faz a análise das dez Sefirot da

Cabala, manifestaedes de Deus mediante as quais a Cabala afirma que o

mundo foi criado;2 procuramse analogías, referencias e relacóes entre nú

meros, símbolos, nomes, etc. Os tres amigos, nesse percurso de ocultismo, perdem a nocSo da diferenca entre realidade e sonho, historia e lenda, razao e sugestao; identificamse com as indicacSes dos mestres do ocultismo, dos "Iluminados", entregando-se a assocíacdes e combinacoes fantasiosas, deli rantes... Diotallevi chega a confessar que realmente pode haver urna trama secreta para assumir a hegemonía do mundo; a historia nao seria senao a ba-

talha travada pelos homens para descobrir e reconstituir a mensagem ocultis ta que comunica o poder sobre o mundo ¡nteiro.

Eis, porém, que toda essa euforia desemboca em grande e irónica decepeáo. Com efeito; alguns homens "diabólicos" acompanham os estudos dos tres amigos e levam a serio a suposicáo de que eles estao na pista para decifrar o plano de conquista do mundo; Belbo, segundo eles, devia ter o mapa revelador do Grande Segredo. Recorrem entao á extorsao: ou Belbo

Ihes entrega esse mapa ou será en toreado no Péndulo de Foucault... Belboentao perde o entusiasmo e comeca a "pisar no chao"; ou mentirá ou se deixa-

1 Os druidas eram sacerdotes celtas pagaos, que exerciam funcoes religiosas

e políticas.

É ilógico dizer que o Criador usou algum intermediario para criar, pois tal

ato é exclusivo de Deus. que dé existencia ao ser como tal, e nao a alguma modalidade do ser.

544

"O PÉNDULO DE FOUCAULT"

17

rá matar. Prefere a segunda alternativa para nao sofrer vexame; os "Diabóli cos" continuariam a procurar depois da morte dele...

Ora o ertforcamento de Belbo ocorre realmente, como o pode ver Casaubon. Os "Diabólicos" entao se apoderam do famoso pergaminho deixado pelo Coronel Ardenti, abrem-no e verificam que nao era mais do que... ""uní rol de roupa enviada á lavadeira"!

Os dez capítulos do livro tém por títulos os nomes dos dez Sefirot (Keter, Hokmah, Binah. Hesed, Geburah, Tiferet, Nezah, Hod, Jesod, Mal-

kut); isto talvez para indicar que a aventura dos homens ou a sua bata I ha pa ra conquistar o poder se desenvolve dentro de urna prisao; os homens nao chegam a resultado algum, apesar de muito lutar entre si. Procuremos agora formular

2. A Mensagem do Livro 1. Pode-se dizer que, através das suas densas e eruditas páginas, Umberto Eco quer denunciar "a Síndrome da Suspeicao" ou "a mania de pro curar segredos, significados ocultos, planos misteriosos em todos os acontu-

cimentos e em todas as coisas da historia". Os homens nao sabem resignar-se a viver entre realidades naturais, concretas e simples, mas procuram compli car, suspeitando sempre a existencia de algo ¡nvisível por tras do que Ihes é

visível; em conseqüéncia, criam fantasmas, imaginam coisas secretas irreais e se tornam prisioneiros das suas próprias ilusoes. O livro termina com estas palavras de Casaubon:

"é noite alta, vim de París esta manha, onde deixei demasiadas pistas. Já terao tempo de adivinhar onde estou. Daqui a pouco chegarao. Quería escrever tudo que pcnsei desde aqueta noite até agora. Mas, se eles o lessem,

extrairiam de meus escritos outra nebulosa teoría e passariam a eternídade procurando decifrar a mensagem secreta que se teriha ocultado por tras da

minha historia, é impossfvel, diriam, que nos tenha contado apenas que es-

tava brincando conosco. Nao, talvez ele nao soubesse, mas o Ser nos enviava urna mensagem através.do seu silencio.

Que tenha escrito ou nSo, nao faz diferenca. Procurariam sempre um

outro sentido, até mesmo no meu silencio. Foram feitos assim. Estao cegos á revelacao. Malkut é Malkut e basta. Mas vá-se lá dizer-lhes. Nao tém fé. 545

18

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989 £ agora tanto faz estar aquí, esperando, a olhar a colina.

Ét¿obela"(p.613). Assim "O Péndulo de Foucault" é a acusacao feita aqueles que nao sabem aceitar as coisas como elas sao. Declarou o próprio Umberto Eco ao re

pórter F. Adornato em entrevista publicada por L'Espresso de 9/10/1988, pp. 96-99: "Urna doenca apoderou-se da cultura e da política da nossa época. Foi

por isto que escrevi 'O Péndulo'; quis denunciá-la. É a doenca da interpretacao que infíuenciou tudo: a teología, a política, a vida psicológica. O seu no-

me é 'Síndrome da SuspeicSo'. O seu instrumento é a Dietrologia:1 atrás de um fato esconder-se-ia outro mais complexo e aínda outro e assim por dien te sem fim. A vida é interpretada como um eterno compló ou, antes, como urna cadeia de complós... Nem mesmo Deus bastaría para explicar a origem

do universo. Ele mesmo é envolvido na suspeicSo; sería Ele realmente o úni co Artífice? E por que nos criou?"

Umberto Eco julga que os homens em todos os tempos foram curio

sos dos segredos irracionais, dos misterios portadores de explicacoes, mas

¡nacessívets ao comum dos homens. Em nossos dias, porém, quando duas guerras flagelaram o mundo e a humanidade aínda sofre o abalo de tantas instituicSes, posta á procura de solucoes para novos e novos problemas, a se de de luzes provenientes do Além ou do Invisfvel aínda se faz mais sensível.

Vé-se, pois, que o livro "O Péndulo..." é uma forte sátira voltada con tra o mundo moderno e sua busca de respostas irracionais na numerologia, na astrologia, na magia, no Taró, no I Ching... em suma: no Ocultismo.

2. Todavía, ao denunciar a sede do misterioso, Umberto Eco vai longe demais, pois lanca o descrédito- sobre o próprio Deus e a mensagem evangéli

ca. Eco dá a ¡mpressSo de que paradoxalmente identificada Deus e o Nada, o Caos, o Vazio: "O Péndulo dizia-me que, embora tudo se movesse, o globo, o sistema solar, as nebulosas, os buracos negros e todos os filhos da grande emanacSo

cósmica, desde os éons primitivos á materia mais viscosa, um único ponto permanecía, eixo, cayilha. engate ideal, deixando que o universo se movesse em torno dele. Eu participava agora daquela experiencia suprema, eu que, embora me movesse com tudo e com o todo, eu podía ver o Quid, o Nao-

1 Vocábulo italiano que significa "a procura do que está atrás fclistroj ou escondido" (Nota da RedacSo).

546

"O PÉNDULO DE FOUCAULT"

19

Movente} a Rocha, a Garantía, a caligem luminósissima que nao é corpo, nao tem figura, forma, peso, quantidade ou qualidade, e nao vé, nao senté, nao 6 apreendido pela sensibilidade, nao é um lugar, nem um tempo ou um espaco, nSo é alma, inteligencia, imaginacSo, opiniao, número, ordem, medi

da, substancia, eternidade, nSo é trova nem luz, nao é erro nem verdade"

(p. 1D. Deus seria esse indefinido ou essa negacao, que destrói qualquer conceito. Assim Umberto Eco insinúa o ceticismo e a descrenca; zomba nao so-

mente das proposicSes irracionais da fantasía humana, mas também daquelas

que a Lógica sádiamente formula, como seriam as atinentes a Deus "Suma Perfeigao e Criador de tudo e todos". 0 ceticismo de Eco transparece em outra declarapao do autor contida na citada entrevista:

"Até os dentistas do positivismo do secuto passado de noite se reuniam em sessdes para fazer dancar as mesasl E Descartes? O racionalista Des

cartes'. Também ele foi á Afemanha ñas pegadas da Rosa-Cruz. Nem S. To

más de Aquino foi capaz de excluir o poder dos bruxos. Eis urna síndrome eterna, transversal a todas as culturas; eis urna neuroso milenar. De que de pende? Do fato de que o primeiro e verdadeiro misterio é a vida. As pessoas vém ao mundo; nao sabem qual é a sua origem, nao sabem onde acabarao depois da morte; vivem dentro de terrfvel incerteza. Costumam reagir de duas maneiras: ou dizem 'Esperemos o melhor' e sacodem os ombros, ou perguntam: 'Quem tem a culpa disto tudo? Quem é que está a me castigar?'

Se estas perguntas se tornam obsessivas, temos a Síndrome da Suspeicao, o caruncho eterno que roía nossa saúde mental" (pp. 103s). Na primeira parte destas declaracoes. Eco aponta fatos interessantes.

Na segunda, porém, ao tentar indicar as causas, cede ao ceticismo e ao niilismo. Neste ponto merece a censura dos cristaos. Existem, sem dúvida, atitudes irracionais assumidas pelo homem moderno no esoterismo e ocultismo; mas nao se ponha no mesmo plano a resposta crista. Esta é precisamente o "Crepúsculo dos deuses" e de todo falso misticismo; propoe, sim, um mis terio, o misterio de Deus, que nao pode deixar de ultrapassar a compreen-

sao do homem,... todavia um misterio que tem suascredenciais ou um mis

terio cuja fundamentacao pode ser controlada pela razao. O Cristianismo ensina que o fiel tem o direito de examinar os porqués da sua fé, em vez de se deixar levar pela fantasia e os sentimientos cegos.

NSo é lícito ao homem destruir o Transcendente ou o seu senso reli gioso; sem base em Deus, que a razao reconhece como o Ser Absoluto, nao

1 Possivelmente há af um erro gráfico, pois mais lógico seria dizer "o NaoMovido" ou "o Movente nSo-movido" (Nota da RedacSo). 547

20

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989

se constrói o homem nem a cidade do homem. Entao.o desespero e o caos

se apoderam da criatura. É a isto que leva o Hvro de Umberto Eco se o leitor nao faz a distincao entre o falso "Transcendente", construido pela imaginapao, e o auténtico Transcendente, que a inteligencia humana aponta nítida

mente quando bem conduzida. De resto, vale a pena citar a autoridade de

Mircea Eliacje, notável pesquisador da historia das religíoes ou do senso re ligioso da humanidade: "O sagrado se revela como um elemento na estrutura da consciéncia.

Ser ou, antes-, tornar-se homem significa ser religioso" (citado por P. Poupard, Costruire l'uomo del futuro. Roma 1987, p. 131). Alias, vale a pena observar que outro grande pensador de nossos dias - o fi'sico inglés Stephen W. Hawking —, desenvolvendo também grande erudicao, reconhece a ordem estupenda do universo e aventa a h¡pótese "Deus" como algo de plausfvel precisamente para explicar a harmonía e a grandiosidade do cosmos. Stephen W. Hawking nao professa explícitamente algum Credo, mas ñas suas elucubrares está longe de identificar Oeus com o Caos ou o Nada; ao contrario, Deus parece-lhe, por vezes, ser o termo de chegada

de estudos e raciocinios a respeito do mundo. Eis como termina o seu famo

so livro "Urna breve historia do Tempo. Do Big Bang aos Buracos Negros":1

"Devemos todos, filósofos, dentistas e mesmo higos ser capazas de fazer pane das discussoes sobre a questSo de por que nos e o universo existi mos. Se encontrarmos a resposta para isto. teremos o triunfo definitivo da razio humana, porque entSo teremos atingido o conhecimento da mente de

Deus" (p. 238). 3. Podemos outrossim dizer que Umberto Eco escarnece a procura de-

sarrazoada do poder, que tanto move homens e sociedades em nossos dias. Esse fascfnio do poder é, de certo modo, descrito medíante as palavras do Coronel Ardentí em coloquio com Casaubon e Belbo:

"É forcoso pensar num plano. Num plano sublime. Suponhamos que os Templarios tivessem um projeto de conquistar o mundo e conhecessem o segredo de urna ¡mensa fonte de poder, um segredo cu/a preservacao valería o sacrificio de todo o quartal do Templo em Paris, as comandas espalhadas por todo o reino e pela Espanha, Portugal, Inglaterra e Italia, os castelos da Térra Santa, os depósitos monetarios, tudo... Filipe o Beto suspeitava disso, pois de outra forma nio se compnende por que tenha desencadeado a pene-

■ guicüo, atirando descrédito sobre a fina flor da cavalaria francesa" ip. 120).

1 fntrodufSo de Cari Sagan. Ed. ñocco. Rio de Janeiro 1989 (18a. edicSo). 548

"O PÉNDULO DE FOUCAULT"

21

É o fascínio do poder que leva os homens a crimes horrendos,... cri-

mes dos quais nao colhem senao decepcóes:

"A mensagem de Provins nao passava de um rol de roupa. Jamáis tinha havido reunides de Templarios na Grange-aux-Dímes. NSo havia Plano nem mensagem alguma.

0 rol de roupa tinha sido para nos um Jogo de palavras cruzadas com casas ainda vazias, mas ssm as definicoes... As pessoas tém fome de planos; se vocé Ihes oferece um, caem em cima como urna alcatéia de lobos. Basta inventar, para que creiam. Nao é necessário aparentá-lo mais imaginario do que de fato é" (pp. 591s).

"Houve alguém, Rubinstein, creio, que, quando Ihe perguntaram se acreditava em Deus, respondía: 'Oh nao, creio... em algo muito maior...' Mas havia também um outro (talvez Chesterton?) que dissera: quando os ho mens nao créem mais em Deus, nao que é nao créem mais em nada, mas créem em tudo"
A sátira de U. Eco neste particular é fundamentada. Com efeito; deve-se reconhecer que mais valioso do que o Ter é o Ser,... precisamente o

Ser que muitas vezes nao traz proveitos materiais, mas, ao contrario, contri buí para a perda de "boas fatias",... o Ser que é a honestidade, a honra, o brío, a responsabilidade, a lealdade...

Em suma, o livro de U. Eco parece fadado a ficar um tanto hermético aos olhos do grande público, que difícilmente perceberá o seu significado. Tenta urna cn'tica a falhas da sociedade moderna, mas infelizmente perde o senso da justa medida, deixando no leitor principalmente a ¡mpressao de que pouco ou nada vale a pena neste mundo; os valores e os ideáis mais su blimes tendem á dissolupao ao longo do percurso das 613 páginas do ro mance!

Este artigo muito deve ao de Ferdinando Castelli S.J.: II Pandólo di Foucault. Deliri, traguardi e nostalgie di Umberto Eco, em La Civiltá Catto-

lica de 21/01/1989, n? 3326, pp. 116-129.

549

Entrevista com Jean-Francois Blanchet:

Doze Anos entre as

Testemunhas de Jeová As Testemunhas de Jeová atraem muitos adeptos, talvez por promete-

rem próxima intervencao de Deus. que deverá fazer orderri neste mundo

"submetido ao dominio de Satanás". - Diante deste fenómeno é oportuno tomar conhecimento das experiencias de pessoas que aderiram plenamente a

tal denominacao, e de lá voltaram para a Igreja Católica. Tal foi o caso de Jean-Francois Blanchet, atualmente Presidente do Tribunal de Apelacao de Forbach (Alsácia. Franca). Em 1966 Jean-Francois Blanchet. católico fervoroso, mas pouco ins truido, deixava-se levar pelas Testemunhas de Jeová. Estava entao no último

ano do Curso de Liceu e ia entrar na Faculdade de Medicina. Abandonou os estudos e cortou parcialmente com a familia. Depois de doze anos de mili-

táncia na Sociedade das Testemunhas, regressou á Igreja Católica. Hoje é Presidente do Tribunal de Apelacao de Forbach (Alsácia, Franga) e anima, de acordó com o Bispo de Metz, um grupo de trabalho no ámbito da Pasto

ral das Seitas, procurando por de sobreaviso as pessoas contra a acao proselitista dos seus amigos companheiros. que ele julga muito nociva.

A revista hebdomadaria France Cathotique, de París, publicou aos 12/05/89 urna entrevista com J.F. Blanchet, que vai, a seguir, transcrita na

integra a partir do texto portugués de "A Voz de Fátima", ano 67, n? 803,

de 13/08/89.

A ENTREVISTA France Catholique (F.C.) — Quando 6 que encontrou as "Testemunhas de Jeová"? Blanchet (B.)

— Conhaci as "Testemunhas de Jeová" no final dos

meus estudos liceais: eu era um estudante bem comportado, sem problemas, católico, indo á Missa varias vezes na semana. F.C. — Um estudante aparentemente sem problemas...

550

TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

23

B. - Exteriormente pelo menos. Interiormente eu experimentava urna certa instabilidade confusa. Com o recuo do tempo apercebo-me agora de que as minhas conviccoes católicas ná"o assentavam sobre algurn conhecimento, mesmo sumario, da Biblia e, designadamente, dos Evangelhos. Eu aceita-

va mecánicamente o ritual, sem procurar enraizá-lo no saber. Os nossos pa dres nao se preocupavam por nos dar urna educaca*o religiosa que fossé além daquela que nos era ministrada no ensino do catecismo. F.C. - Como 6 que se deu o seu primeiro contato com as "Testemunhas de Jeová"?

B. — O primeiro encontró teve lugar precisamente ao sair da Missa. Um membro das "Testemunhas de Jeová", que pregava de casa em casa, esperava-me na minha. Ele tinha já vindo ali, estando eu ausente e deixando revistas que eu havia lido. Disse a minha máe que, se esse "sujeito" voltasse, gostaria de me encontrar com ele para Ihe explicar o que eu pensava acerca destas publicacoes. Veio, de fato, e eu levei-o ¡mediatamente para o campo das minhas preocupares na época, que se relacionavam sobretudo com a fi losofía. O meu interlocutor era um homem simples, que depressa se mostrou incapaz de me acompanhar no terreno para o qual o conduzira. Nao tinha si do formado para isso. No final do encontró, dando conta das suas carencias, o homem prometeu que voltaria acompanhado da alguóm "mais instruido do que ele para discutir com pessoas como eu, que tinham feito estudos". Alguns dias depois voltou, efetivamente, acompanhado de um outro da "sociedade". Este nao se deixou impressionar pelos meus raciocinios. F.C. — Como é que a entrevista se desenrolou?

B. — O homem comecou por me perguntar se eu conhecia a Biblia. Fiquei embancado, pois eu nao conhecia a Biblia, pelo menos no sentido fundamentalista segundo o qual ele a interpretava. Diante da minha hesitacao perguntou-me: — Segundo a sua opiniao, o que é a alma? É um espirito, res

pondí eu. — Será que a alma 6 ¡mortal? prosseguiu o meu interlocutor. — Sem dúvida, foi a minha resposta. - Mas veja que nao é isso que a Biblia diz.

E comecou a apontar-me os textos do Éxodo e do Levítico onde se diz: "A alma de toda a carne está no sangue", e continuou a citar me textos bíblicos

em que se faz a identif ¡cacao da alma com o sangue (essa é urna das grandes preocupacoes das "Testemunhas de Jeová").

Em seguida, leu-me outra passagem da Biblia que era totalmente sur-

preendente para mim (era o versículo S do capítulo IX do Eclesiastes):"Ná*o há nem sabedoria nem pensamento na morada dos mortos para onde tu vais". Esta era urna af irmapao que contrariava o meu pensamento de católico. Depois

ele continuou a contrapor versículos bíblicos a tod is as respostas que eu Ihe 551

24

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989

dava.1 — Cré que Jesús é Deus e que ele é igual ao Pa¡? Essa era de fato a minha crenca. Ele, porém, com pravas bíblicas em seu apoio, demonstrou-me que eu estava errado. Todo o encontró se desenrolou dentro desto esquema. Eu era incapaz de me opor aos seus argumentos — argumentos que estavam

escritos na própria Biblia -, incapaz de me confrontar com tal dialática. Quando ele se foi embora, fiquei profundamente abalado no mais íntimo

das minhas conviccoes católicas. Deixou-me como que sem bússola e imer-

so em plena dúvida.2 F.C. — Foi este desconhecimento dos textos que fez de vocé urna "Testemunha de Jeová"?

B. — Foi, pelo menos, o ponto de partida. Mais tarde apercebi-me de que, se eu tivesse tido as bases necessárias para colocar no seu contexto as

passagens que ele me tinha citado, nao me teria deixado apandar por esta in

terpretado sumaria. É preciso também dizer que esta linguagem maniquéia, simples e direta, praticada pelas "Testemunhas", atinge fácilmente o homem medio ou o adolescente instável á procura de certezas. Estes versículos, que caem como marteladas, tém urna grande forca de persuasao e produzem um

efeito de seducao e seguranca para aqueles que sentem necessidade de verda des ¡mediatamente apreensíveis. Nesta dialética visualiza-se rápidamente on de se situam o bem e o mal, sem ter necessidade de recorrer a urna reflexao

profunda. É aquí que está o perigo de urna tal linguagem.

F.C. — O seu compromisso com as "Testemunhas de Jeová" deu-se lo go de seguida a este encontró?

1 O Eclesiastes é livro bíblico escrito no sáculo III a.C, quando os iudeus aínda nao tinham consciéncia da existencia de alma espiritual e ¡mortal no ser humano. Acontece, porém, que ainda no período do Antigo Testamento ou antes de Cristo os iudeus professaram a existencia da alma espiritual e ¡mortal; ver Sabedoría 3,1-9; 5,1-16. Conseqüentemente professaram tam

bém a ressurreicao dos morios no fim dos tempos ou a recomposicao do

ser humano em corpo e alma, dissociados pela morte; cf. Daniel 12,1-3; 2 Macabeus 7,9.11.14.29. O Novo Testamento professa explícitamente a existencia de corpo e

alma; cf. Mateas 10J28; ITessalonicenses 5¿3. A alma separada do corpo no período que vai da morte do individuo

até a ressurreicio dos corpos, conserva plena lucidez de conhecimento e po de contemplar a Deus face-a-face. (Nota da Redacao).

2 Sobre a Divindade de Jesús Cristo, o misterio da SS. Trindade e as demais

ob/'ecoes protestantes, ver a bibliografía indicada no fim deste artigo (N. da fíj. 552

TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

25

B. - Nao; nao fo¡ logo de seguida. Estávamos no fim do ano escolar e

eu partí para ferias/ Lavei comigo as publicacoes que o meu "visitante" me tinha deixado. Á medida que as ia lendo, eu ficava convencido de tudo: do absurdo da Trindade, do culto dos ídolos na Igraja Católica, do fim dos tempos que estava próximo, da falsidade da crenca no inferno. Tudo isto se tor nara claro. A minha "catequizado" foi feita praticamente a sos. No principio do ano escolar seguinte continuei, apesar de tudo, a irá Missa. Aos meus amigos católicos eu punha as questóes que me tinham sido postas pelas "Testemunhas de Jeová". Como me tinha acontecido a mim, eles eram incapazes de responder. Procurei tambem alguns sacerdotes. Receberam-me distraídamente, repetindo aqualas fórmulas tranquilizadoras que se dizem aos adolescentes em crise. Foram todas estas vas tentativas de esclarecí mentó que me levaram a tomar a decisao de me fazer "Testemunha de Jeová". Um dia em que o "pregador" me tinha visitado, passava ñas rúas

da minha cidade, eu fiz parar o seu automóvel para Ihe dizer que estava de cidido a entrar para a sociedade. F.C. - Em 1966, quando o senhor entrou para a "Sociedade", as "Testemunhas de Jeová" previam o fim do mundo para 1975. Em que ó que se funda va essa profecía?

B. — De momento sentí urna decepcáo, que todavía nao conseguiu deitar por térra a minha conviccao nem a dos meus irmaos. Imputamos este er

ro de data á falta de rigor dos nossos estudos bíblicos e refizemos, em segui da, os nossos cálculos, sempre persuadidos de que estávamos na verdade absoluta. As "Testemunhas de Jeová" está*o alias muito habituadas a este ti po de engaños. Há mais de um sáculo que os seus adeptos vdm adiantando

datas precisas para o fim do mundo, sem que o acontecimento se tenha veri

ficado. Fazem-nos compreender que cada novo fracasso á urna prova da nossafé. F.C. — Qual é o balanco que faz destes doze anos passados na "Socie dade das testemunhas de Jeová"?

B. — Foram os melhores anos da minha vida, que eu dei á "Socieda

de". Eu partencia a um pequeño grupo (a um grupo assim dá-se o nome de "congregacao") que estava em Dieuze, no Mosela. Tornei-me rápidamente um dos pilares dessa congregacSo. Eu sabia fazer discursos, preparar os te mas, aconselhar os pregadores, dirigir os estudos; era igualmente capaz de

traduzir as publicacoes americanas que vinham do "Santuario". Nesta con gregacao vim a ser em breve um "anciáb" e, depois, "o Presidente". Eu faz ¡a conseqüentemente parte do grupo dos profetas eleitos. Era urna situaeao, ao masmo tempo, sedutora e sobretudo dadora de seguranca. O que é caracte553

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989

rístico da saita, é que os seus membros se mantdm num estado de adolescen cia permanente, desresponsabilizados na medida em que o único devar que importa assumir, é o de se "manterem fiáis ao ensinamento da sociedade", para serem do número dos que se salvam no dia do fim dostempos. Foram, no fim de coritas, anos sem historia.

"F.C. - A sua decisao foi tomada de um dia para o outro? B. — Ná"o foi tomada de um dia para o outro. Eu tinha terminado os meus estudos liceais e comecado o curso de Medicina. S6 depois á que interrompi os estudos. F.C.-Porqué?

B. - Porque, segundo a profecía das "Testemunhas de Jeová", o fim

do mundo ia dar-se no ano de 1975. Eu nao via, pois, qualquer utilidade

em continuar a estudar, em me apaixonar por urna profissáb, em fundar urna familia. Em suma: em vivar como toda a gente.

F.C. — Voltemos aos seus primeiros anos de militantismo. Como é que se deu a sua insercao ñas "Testemunhas de Jeová"? B. — Freqüentei, primeiro, as reunioes. Eu sentia-me bem nelas. Era

um ambiente cheio de calor humano, muito acolhador. As pessoas que ali encontrava, tinham resposta para tudo. Em 1967 tomei parte, pela primeira vez, num grande congresso das "Testemunhas de Jeová" em Saint-Dié. Voltei entusiasmado, convencido do ideal destes "cristaos". O ambiente do

congresso era caloroso; cada um que ai falava da sua fé, fazia-o com entu siasmo. No verao do mesmo ano fui batizado por i mar sao numa piscina em Nancy. Comecei entáo a pregar, andando de porta em porta, persuadido de que ali estava a verdade.

F.C. - As suas conviccóes eram totais? B. — Totais. Eu estava convencido de que nos vivíamos os últimos dias do "presente sistema de coisas" - para usar a fórmula da "Sociedade" -; convencido de que a Igreja era o paganismo e os Estados polfticos eram instrtuiCfSes do diabo, que era preciso afastar sob pena de ser condenado aos in fernos; convencido de que todas as representacoes de santos (estatuas, imagens, medalhas, etc.) mais nao eram do que objetos para idólatras. Todos os

objetos religiosos que eu possuía, deitei-os fora, com grande escándalo da

minha avó, que ná"o aprovava que me desfizesse de todas estas recordacóes de familia. Numa palavra: eu estava comprometido dos pás á cabeca. 554

TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

27

F.C. - Fugindo a tudo o que nao fazia parte da "Sociedade"? B. - Exatamente, pois, segundo a nossa filosofía, todo o compromisso com a vida cívica era condenado, toda a participacao ñas testas cristas um ato pagáto. Já nffo havia Natal nem Páscoa nem nada que pudesse tecer rela-

cobs normáis com o mundo exterior (a familia, os amigos...}. Toda a nossa vida era centrada permanentemente á volta das "Testemunhas de Jeová",

pois so eles eram os seres puros que seriam salvos da morte no dia do fim do mundo. Nos vivíamos continuamente nessa tensáo, com medo de ser des

truidos, de ser excluidos da "Sociedade" (portanto mortos) antes do fim dos tempos. Alias as relacóes continuadas com pessoas do mundo exterior

podiam ser objeto de sancoes, indo até á exclusáo da "Sociedade", e ninguóm ousava correr esse risco. Ao olhar agora mais de parto essa situacao, ela apresenta-se-me mais como um condicionamento do que um real com promisso de fé. F.C. — Diga-me: como 6 que se consegue condicionar assim as pessoas? B. — Ñas "Testemunhas de Jeová", como em todas as seitas, expío-

ram-se as nevroses que estáo latentes em cada um de nos. Para esquematizar, direi que se explora um certo desejo de poder: um membro da "Sociedade" é aquele que possui a verdade, que sabe, que pode explicar tudo, que é eleito, escolhido por Deus, etc.; 6 valorizando-as, designadamente as pessoas

simples — que, de repente, se encontram revestidas de um saber e de urna responsabilidade nada habituáis para alas - que se conseguem estes resulta dos. O segundo fator nevrótico 6 a seguranca. "O Irmao" está encerrado numa malha doutrinal muito forte. A verdade está ao alcance da sua mao:

basta que se Ihe conforme e será salvo, é esta visao tranquilizante do mundo que permite ao membro da "Sociedade" vivar liberto das angustias do futu

ro ou daquelas que fazem parte da vida quotidiana. Aconteca o que aconte cer, tem-se a certeza — se se obedece — de poder sair dessas angustias.

F.C. - Esta filosofía da inacao, se Ihe desse livre curso, torna-se-ia nu ma ameaca para a sociedade civil!? B. — Sem dúvida. Nao se sentindo atingidos pelo devir do mundo ter restre — que está irremediavelmente condenado, segundo o pensar dos mem-

brosda "Sociedade" — as "Testemunhas de Jeová" recusam qualquer partici pacao na vida social e todos os progressos que possam melhorar a vida huma

na. Eles rejeitam o progresso social, educativo ou médico (as transfusoes de

sangue, por exemplo). É urna heresia perfeita (heresia significa urna visao parcial e limitada da realidade). F.C. - Vamos á historia da sua saída da "Sociedade". 555

28

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989

B. - Ela teve origem na falsa profecía de 1975. A partir de entáo, eu quis saber mais. De uma maneira um tanto fluida, quis-me parecer que nos tfnhamos uma visao demasiado simplista das coisas. Esta rigidez desgostavame, mesmo quando eu repelía o meu embaraco, refugiando-me por detrás da argumentacao clássica de que nos, as "Testemunhas", somos os detentores da única verdade.

Em 1979, na altura em que eu estava encarregado de orientar o estudo do domingo de A Torre de Vigía (jornal publicado pelas "Testemunhas de Jeová" — sai de 15 em 15 días e contém os estudos que devem ser feitos em cada semana ñas diferentes congregacoes), experimentei como que um bloqueio. Nesse dia o estudo era sobre a ressurreicao; nao estando totalmente de acordó com o conteúdo do texto, deixei ao meu adjunto a tarefa de ser

ele a orientá-lo, dizendo-lhe eu que compreendia mal certas passagens. O meu adjunto nao levou a bem as minhas hesitacoes e foi a partir daí que tudo comecou.

Disse-me a mim mesmo que era preciso que eu visse mais claro. Fui a uma livraria em Nancy para comprar uma outra Biblia — que nao a nossa — o que, para a "Sociedade", é um sacrilegio. Pelas minhas perguntas, o livreiro compreendeu que eu era uma "Testemunha de Jeová". Mostrou-me, en-

táb, um dossiA de fotocopias onde se continha uma compilacao de todas as falsas profecías da nossa "sociedade" ao longo de um século. Estes docu mentos eram a prova de que a sacrossanta "Socíedade" da qual eu fazia par

te, nao tinha cessado de se comportar como falso profeta no sentido bíblico, desde a sua fundacáb. Eu voltei ao assalto e rápidamente o meu caso ganhou amplidáb. As nossas instancias regionais meteram-se nele. Tiveram lugar va rias entrevistas em que o único argumento que se opunha, no fim de contas, era a necessidade de confiar cegamente na "Sociedade" sem por problemas. Nao aceitei esta recomendacao e continuei a ler a Biblia, sem as olheiras que me queriam impor; á medida que ia avancando ñas minhas investiga-

coes, apercebia-me curiosamente de que havia no texto versículos que eu nunca tinha lido. Disse entáb sem rebuco a minha conviccao de que estávamos a enganar-nos em toda a linha. Enviaram-me a Paris, onde os nossos responsáveis racionáis ná*o foram mais aptos em responder ás minhas perguntas

do que os maus "irmábs" da "regiío". Em Paris aconteceu que ameocas de expúlsalo comecaram a cair-me em cima. Também aqui me aconselharam a confiar na "Sociedade", pondo de parte os problemas. Fui recambiado de Paris, tendo-me sido dado um mes para ref latir. Acabei por nao esperar pelo fim do mes; escrevi uma carta a pedir a minha demissao. Tres dias depois a "Sociedade" proclamava a minha exclusao.

556

TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

29

F.C. - E depois?

B. - Oepois continuei Os maus estudos bíblicos mais a^rofundadamante, sampre com a preocupado da encontrar a verdade. Freqüantei du

rante algum tampo a Igreja Metodista, tambám ela muito fundamentalista, mas mais tolerante.

Todos estes anos passados entre as "Testemunhas de Jeová" fizeramme compreender quanto esta seita desfigurava o Cristianismo e quanto era difícil ás pessoas que déla saiam, reencontrar o entusiasmo da fé. F.C. - Todavia o senhor reencontrou esse entusiasmo... B. — Sim, mas isso náb aconteceu de um dia para o outro. Dspressa me encontrai insatisfeito com o mundo "evangélico", muito dividido e de masiado fundamentalista. Os meus estudos bíblicos levaram-me entao a fazer outras descobertas.

F.C. - Quals? B. — Primeiro a da realidade da Eucaristía. A "refeicáo" do Senhor náb é um mero símbolo a so a Igreja Católica drt á "Ceia" todo o seu sentido. Discutí acerca da Eucaristía com dois eremitas de filiacáo dominicana. Este eremitorio era alias um lugar de acolhímento e de oracáb extraordina

rio, que acabou por desfazer as minhas últimas reticencias em relacao á Igre ja Católica. Os meus estudos bíblicos levaram-me também a compreender melhor a Igreja na acao de "Pedro" e a melhor perceber o seu testemunho de

fe. E um dia eu tive fome da Eucaristía: tive fome de Deus. Sentí necessidada

de

comungar.

Aquele

foi

para

mim

um

momento

de emocao

intensa, como o foi alias a redescobarta do canto do Credo, em que eu voltava a encontrar, em cada palavra proclamada, um artigo de fé que eu

acabava da reconquistar passo a passo. Sem sobressalto fui-ma inseríndo na Igreja. Acrescento que as laituras

das biografías da Teresa de Ávila e do Cura da Ara ma ajudaram muito nesta sentido. A inda hoje ir a Ars é para mim urna grande alegria.

F.C. — Qual é a idéia que faz hoje desta Igreja, em que foi reintegra do?

B. — Os católicos sáb, de fato, gente que morra de sede ao lado da fon557

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989

te. Nem sempre eles se dio conta de que está tudo nesta Teología que 6 a sua. Acontece antáb que se lancam em aventuras perigosas e frustrantes, co

mo aquela que eu viví durante 12 anos na "Sociedade" das "Testemunhas de Jeová".

Ao redescobrir a Igreja, eu deixava o mundo do medo para reencon trar o mundo da graca. Deixava a rigidez doutrinal para reencontrar a espe

ra nca da salvacáb, que Jesús Cristo oferece a todos aqueles que desejam alcancá-la: aos estropiados, ás prostitutas, aos coxos, aos ladróos, e nío apenas aos 144 mil eleitos, como julgam as "Testemunhas de Jeová". F.C. - Quantos membros da "Sociedade" há em Franca? B. - Há mais de 100.000. De uns anos para cá, o crescimento e feno

menal. As inquietacóes do tempo presente nao sáb estranhas a esta expansao. F.C. — Quem sao os seus adeptos?

B. - Gente simples, em geral. Muitos desenraizados, emigrados; e, en tre estes, curiosamente, também muitos muculmanos e igualmente polacos, mu itas vezes decepcionados por náb encontraren! no país de acolhimento

urna Igreja tao viva como aquela que deixaram na patria. F.C. - Que fazer para deter esta progressáb? B. - Primeiro, informar, sem jamáis se cansar, acerca dos perigos que correm no contato com esta seita e com todas as outras que igualmente proliferam. Depois, rezar por todos estes filhos pródigos, tentar conduzi-los a Cristo e á Igreja, convidá-los a urna leitura sa da Palavra de Deus. Esta proli-

feracáb de falsas doutrinas deveria levar-nos a aproximar-nos a Deus, a afir mar a nossa fé e a reforear a nossa unidade.

Em si'ntese, J.F. Blanchet poe em relevo as tristes conseqüéncias da

precaria formacao doutrinária dos fiéis católicos. É esta que constituí o ter

reno fértil onde medram as heresias e as teorías imaginosas que ferem nao somente a reta fé, mas também o reto raciocinio e a própria saúde f i'sica e

psíquica de muitas pessoas. - Para esclarecer as objeedes levantadas pelas Testemunhas de Jeová e os protestantes em geral, ver E. Bettencourt, Diálogo EcumSnico, Questoes Controvertidas. - Ed.

Lumen Christi, Caixa postal 2666, 20001 Rio (RJ). ídem, Quinze Questoes de Fé. - Ed. Santuario, Rúa Padre Claro Monteiro 342, 12570 Aparecida (SP). 558

No centenario de um herói:

Padre Damiáo, O Leproso de Cristo Em síntese: O Pe. Damiao de Veuster (1840-1889) quis dedicar-se aos leprosos da Uña de Molokai (arquipélago do HavaO, destituidos de toda assisténcia médica e religiosa, internándose no seu "campo de concentraqao"

e compartilhando a vida dos mesmos. Reanimou os enfermos, procurando dar um sentido á vida daqueles que eram "sepultados vivos" em Molokai; ajudou-os a construir suas casas, a cultivar o artesanato, a formar bandas de música... Procurou remedios e instrucoes médicas para atender é molestia

dos seus leprosos. Isto Ihe valeu a estima da opiniao pública mundial ¡á em vida, como também a inve/a e a hostilidade de autoridades que, em sua iner

cia, se sentiam interpeladas pelas iniciativas do missionário. Acabou conta giado pela lepra, que ele suportou durante doze anos, procurando sempre reerguer o seu próprio ánimo e trabalhar enérgicamente. O reiea rainha do ar quipélago do Havaf o homenagearam e condecoraran! no decorrer de sua vi da, que foi a de um herói, cuja morte foi comemorada com admiracao na da

ta de seu primeiro centenario (15/04/1989).

Comemorase em 1989 ñas diversas partes do mundo o primeiro cen tenario da morte do Pe. Damiao de Veuster; havia-se internado na ilha de Molokai como capelao dos leprosos, e lá morreu atetado pela molestia, que

ele suportou heroicamente por amor a Cristo e aos irmáos durante doze anos. 0 testemunho de fé e coragem deixado por esse sacerdote merece ser recordado, pois os justos, ainda que falecidos, continuam a talar e ensinar aos seus irmjíos na térra, como o atestam os numerosos ecos de sua vida até os nossos dias.

1. Antecedentes 1.1. A lepra outrora A lepra é atualmente urna doenca que pode ser curada ou estacionada se medicada em tempo oportuno; ainda hoje existem cerca de 15 milhoes de

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989

leprosos no mundo. Mas há cinqüenta anos a lepra aínda era a doenca mais

horrenda que pudesse acometer alguém; terrificou durante milenios geragSes e geracSes humanas. O leproso presenciava diariamente o avanco da morte, cercado pelo espanto dos seus semelhantes, que o isolavam o mais possível. Alias, já ñas páginas do Antigo Testamento se prescrevia o isolamento dos le prosos: "Sua habitacao será fora do acampamento" (Lv 13,45s). No Evange-

Iho aparecem os leprosos a gritar á distancia, pedindo a Jesús a cura (cf. Le

17, 11-19)!

O afastamento dos leprosos era a única medida de profilaxia conhecida pelos antigos. Mas devia-se tamSém a urna concepcao religiosa; o leproso era tido como ritualmente impuro, visto que, para os homens de outrora, a

doenca era freqüentemente considerada conseqüéncia de um pecado pessoal; especialmente a lepra, que desfigurava misteriosamente o ser humano, era vista como o estigma do pecado. Havia, pois, um tabú generalizado em torno

da Itpra, tabú que persistiu até os tempos atuais. Ora o Pe. Damiao teve a coragem de quebrar esse tabú por amor a Cristo, a fim de servir abnegada mente aos seus irmáos leprosos. Nisto consistem o seu mérito e a sua gran deza.

1.2. Molokai, a i I ha "maldita" O Havaí é um arquipélago que compreende cerca de 130 ilhas de orí-

gem vulcánica, no Océano Paci'fico; as principáis se chamam Havaí, Mauí, Lanai,'Molokai, Oahu, Kauai... A mais desenvolvida é Oahu, onde se encon-

tra a base naval de Pearl Harbour e a capital chamada Honolulú. Em 1898 o arquipélago passou para a jurisdicao dos Estados Unidos e hoje constituí o

50? Estado norte-americano. Os habitantes primitivos dessas ilhas era poli nesios, aos quais sobrevieram outros grupos étnicos, especialmente após

1778 (quando o capitao James Cook descobriu o arquipélago). Até 1898 es sa populacao era governada por urna monarquia aborígene.

Até 1823 a lepra era desconhecida no Havaí. O alarme relativo á sua existencia foi (aneado pelo missionário norte-americano protestante Rev.

Stewart. A partir de 1850 tornou-se um auténtico flagelo, denominado Mai-Paké, o mal chinés (pois se jülgava oriunda da China). Em 1850 constituiu-se um Comité de Higiene, encarregado de debelar a doenca mediante medicamentos e conselhos. Em 1863, o Dr. Hildebrand denunciou o perigo de contagio — o que suscitou, da parte do rei Liholiho, medidas drásticas para conter a epidemia; a opiniáo pública mundial estava seriamente impres-

sionada com o fato. Foi escolhida a ilha de Molokai (= ilha da Amizade) para confinar os leprosos, arrancados violentamente do seio de su as familias. A partir daquele

560

PE. DAMlAO, O LEPROSO DE CRISTO

33

momento, Molokai tornou-se a ¡Iha do desespero, dos sepultados vivos, a ilha

da vergonha para uma sociedade que so se preocupava com a sua sobre

vivencia e abandonava os enfermos numa especie de campo de concentracao. Ao Norte da ilha, as aldeias de Kalaupapa e Kalawao tornaram-se

o local dos leprosos, domiciliados em pobres cabanas, junto ás quais foi

erguida uma barraca com o pomposo título de "Centro de Observacio" para recolher os enfermos mais contagiados. Nenhum médico, nenhuma assisténcia religiosa acompanhavam os doentes. Apenas se Ihes garantía o transporte

de alimentos e roupas mediante a nave Lehua, que em suas viagens carregava e descarregava carne destinada a morrer trágicamente. Compreende-se que os doentes recusassem o con f i ñamen to na ilha da

morte. Quando alguém suspeitava a doenca, toda a familia o cercava, ocultava e fugia para os bosques; preferiam morrer todos na floresta a ver o enfer mo partir para o isolamento na ilha maldita. Havia, porém, os infelizes que nao conseguiam escapar da Policía e aqueles cuja familia nao Ihes dava o afeto ou a protecao necessários para defender a vi'tima. As noticias procedentes de Molokai eram espantosas. Os leprosos v¡-

viam entregues a si mesmos, sem leis nem regulamento. O ambiente do "campo de concentracao" parecía desumanizá-tos, apagando neles o senso

de solidariedade. O desespero fazia que cada qual so pensasse em salvar a si mesmo; campeavam, pois, a violencia, a arbitrariedade e a crueldade. Além disto,... o libertinismo sexual. Conscientes de que morreriam em breve, alguns procuravam ainda "desfrutar" aquilo que o momento Ihes oferecesse em materia de prazer... Pois foi precisamente nesse "inferno" que desembar-

cou o Pe. Damiáo de Veuster aos 10/05/1873.

2. O Pe. Damiao:formacao Nasceu aos 03/01/1840 em Tremeloo (Bélgica). Era o sétimo dentre

oito filhos e foi batizado com o nome de Joseph. As suas irmls Eugénie e Pauline se fizeram Ursulinas; o seu irmao Augusto entrou na CongregacSo

dos Padres de Picpus (dos Sagrados CoracSes).1

Após uma missao pregada pelos PP. Redentoristas. Joseph resolveu consagrar-se ao Senhor. Pensou na Trapa, mas o irmfo Augusto o encami-

nhou para a Congregacao de Picpus. Já que nao estudara latim, os Superiores o destinaram a ser Irmao leigo em 1859. Todavía, ao observaren) sua inteli

gencia, encarregaram Augusto de Ihe ensinar o latim.de modo que Joseph em

Tal 6 a Congregado do Pe. Eustaquio, também famoso por suas virtudes em Be/o Horizonte. 561

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outubro de 1860 professou como aspirante ao sacerdocio, tendo tomado o

nome de Damiao. Em 19/10/1863 recebeu as Ordens Menores, precisamente na época em que seu irmáo Augusto — já Padre Panf ílio — devia partir como missionário para o Havaí; tendo este adoecido de tifo ainda na Bélgica, o Irmao Damiao pediu que o enviassem em seu lugar. A pos hesitacoes, o pedido foi aceito, de modo que Damiao, tendo embarcado em Bremen (Alemanha)

aos 02/11/1863, chegou em Honolulú cinco meses depois. Foi lá ordenado sacerdote aos 21/05/1864, com 24 anos de idade, cheio de saúde e pronto para tudo.

Enviado para a ilha do Havaí, a maior do arquipélago, o Pe. Damiao

fez as suas visitas apostólicas aos pontos mais pobres e desprovidos de assisténcia religiosa no distrito de Puna; construiu igrejas e viajou de piroga ou a cávalo para atingir grupos esparsos, enfrentando os mais diversos perigos.

Na primavera de 1865 foi encontrar-se com seu colega missionário na parte setentrional da ilha; lá esteve com o Pe. Clemente,adoentadoeincapaz de percorrer a cávalo o seu vasto territorio; este propós a Damiao a troca do

campo missionário. Clemente iria para Puna, regiao menor, e Damiao ficaria com dois tercos da ilha, ou seja, com os territorios de Kohala e Hamakua. O Pe. Damiao sentía ter que abandonar o trabalho iniciado e comecar de novo a evangelizacao. Mas nao recusou. Oito dias depois, assumiu a regiao seten trional da ilha, onde permaneceu sete anos: construiu seis igrejas, cinco esco las, tres casas paroquiais, trabalhando pessoalmente com as maos. Somente em 1868 o Pe. Provincial Ihe mandou um auxiliar, que era o Pe. Gulstano. Em maio de 1873, o Vigário Apostólico Mons. Maigret convidou os

missionários para urna reuniao; eram sete em torno do prelado. Este Ihes falou de Molokai, onde havia doentes abandonados, inclusive católicos; o Bis po conseguirá construir lá urna pequeña igreja dedicada a Santa Filomena; de vez em quando, um sacerdote oficiava lá. mas sempre por poucos dias. Disse entao um dos padres presentes: "Excelencia, queira designar um de nos para ser o missionário dos leprosos, e obedeceremos". Todos consentíram, exceto o Pe. Damiao. Este pos-se a refletir; recordou o Ritual de sua Profíssao Religiosa, durante a qual se prostrara por térra e fora recoberto por urna mortalha, para significar que morria a si e aos prazeres do mundo, a fim de viver tfo somente para Deus. Repetía com Sao Paulo: "A vossa vida

1 Escreveu ao seu irmao, Pe. Panf(lio, aos 23/10/1865: "Tive que me separar dos meus caros cristSos. Esta separacio pareceu-me mais penosa do que a de meus país por causa do cordial afeto que eu sentía por aqueles caros neófi tos." 562

PE. DAMlAO, O LEPROSO DE CRISTO

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está sepultada com Cristo em Oeus" (Cl 3,3).' Após uma pausa em silencio, disse finalmente: "Excelencia, de todos os Distritos o meu é o que apresenta o maior número de leprosos. Mu ¡tos católicos, conhecidos meus, estafo atual-

mente confinados em Molokai. Já tenho uma certa prática de lepra. Peco a V. Excia. que me envié". O silencio tornou-se ainda mais tenso, e o Bispo o rompeu dizendo: "Eu nunca teria ousado impor a alguém uma tarefa tao di

fícil. Mas diante da generosidade da tua oferta, aceito-a com alegría. Partire mos juntos; eu mesmo te apresentarei aos nossos leprosos católicos."

3.0 pai dos leprosos A chegada do Pe. Damiáo a Molokai surpreendeu, antes do mais, os leprosos: era a primeira vez que alguém Ihes dedicava tanta atencao; o padre nao era movido por interesses pessoais nem fora detido pelo medo. O Pe. Damiáo compreendia bem que o que humilhava e ofendia os leprosos, era a mengao da sua doenca; muitos visitantes, enfatizando antes do mais a mo

lestia, parectam ignorar o ser humano que ela afetava; o leproso, por efeito de sua doenca, era apenas um doente, um ser quase destituido de direitos; um morto que continuava a viver para dar traba I ho aos sadios; era oportuno alimentá-lo, vesti-lo, contanto que ficasse longe e desaparecesse quanto antes.

Cíente disto, o Pe. Damiao resolveu tratar os leprosos como tratava as pessoas sadias, embora estivesse certo de que assim podía contrair a doenpa: apertava-lhes as maos, acaricia va as enancas, comía do mesmo prato em que

os leprosos colocavam os cotos gangrenados, bebia cha ñas xícaras utilizadas pelos doentes... com a máxima naturalídade, como se nao houvesse lepra. Assim o Pe. Damiáo Ihes mostrava que eram dignos de amor fraterno, por mais que a socíedade os relegasse.

Certa vez, tendo reconhecido um dos seus leprosos da ¡Iha de Havaí, saudouo, abracou-o, assim como a todos os que estavam com ele. Uma

atitude tao ousada fez renascer a esperance no grupo, a tal ponto que o Su

perintendente Walsh repetía: "Incrível! Incn'vel! Mal chegou o padre e eles já nao sao os mesmos!". Quando pela primeira vez entrou na ¡greja de Santa Filomena, sentíu repulsa por causa do mau cheiro lá existente. Mas Damiao se conteve; foi-se

1 O Pe. DamiSo escreveu ao seu irmio o Pe. Panfllio: "Foi por recordar-me de que estivo sob o lencol mortuário no día dos meus votos que resolví desa fiar o perigo de contrair a terrfvel doenca, cumprindo a minha missao em Molokai".

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habituando... Ficava tongas horas atrás das grades do confessionário e a poueos centímetros do boca infecciosa dos enfermos.

Havia também que construir nova igreja e melhores aiojamentos para os enfermos. Nao o quis fazer a sos, consciente de que seria útil aos doentes

tirá-los da inercia e restaurar neles o sentido de que eram pessoas de valor; nao se detivesíem tanto a pensar na doenca e no fim da vida. O trabalho era

urna forma de psicoterapia. Por conseguinte, o Pe. Damiao criou urna equipe de operarios: havia

carpinteros, pedreiros, ferreiros..., cuja principal tarefa era construir peque ñas casas de madeira para as familias, em substituicao dos seus abrigos infec tos. Nem todos os leprosos estavam dispostos a isto, pois o hábito da inercia

os dominava. Eis, porém, que urna tempestade sobreveio, derrubando numa noite a maioria das choupanas; todos entao se sentiram mobilizados para o trabalho.

O Pe. Damiao muito se preocupava com as enancas abandonadas. Daf a construcao de dois Orfanatos — um masculino, e outro feminino — e urna escola.

As funedes litúrgicas eram celebradas com a participacao da comuni-

dade, que cuidava das flores, das vestes, dos cantos, das procissdes... Nos días de festa, a igrejinha de S. Filomena já nao bastava para conter os católi cos, os protestantes e os pagaos.

O padre interessou-se também pela recreacao dos doentes, de modo

que constituiu urna banda musical, organizou desfiles, montou urna equipe de cavaleiros, que se exibiam nos dias solenes.

Dava o máximo de atencao ao hospital, onde jaziam os mais enfermos e os moribundos. Aprendeu a fazer os curativos, a desinfetar as chagas, a

amputar com habilidade as partes do organismo putrefeitas. Até mesmo os mortos eram tratados com dignidade: nao quería que fossem envolvidos em seu lencol fétido e enterrados ás pressas (como era costume). mas o próprio padre confeccionava o caixao com suas maos, lá punha o defunto e o mandava levar para a igreja. Assim os funerais vinham a ser ocasiáo de meditar sobre a morte e a própria morte recuperava sentido. Na falta de médicos, o Pe. DamiSo improvisou-se como provedor de

remedios. Mandou vir tratados de Medicina: entrou em contato com hospitais e cientistas, principalmente com aqueles de quem se dizia que tinham

descoberto a cura da lepra. Precisamente no fim de 1873 desembarcou em Molokai numa leva de leprosos o Dr. Williamson, leproso, que trabalhava no 564

PE. DAMIÁO, O LEPROSO DE CRISTO

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hospital de Kaliki; foi de grande ajuda para o Pe. Damiáo, pois o orientou, :dotou as técnicas mais recentes, mandou vir os remedios mais novos, ás custas do próprio bolso.

O Bispo Mons. Maigret prometerá em 1873 voltar a Molokai para mi

nistrar a Crisma. Ele o fez realmente em 1875; ficou surpreso ao observar as mudancas ocorridas entre os leprosos; no lugar das choupanas miseráveis, ele

via urna fila de pequeñas casas brancas cercadas de jardins, com flores e coqueiros. Os leprosos que ele encontrava, já nao tinham o semblante triste, sujo e desnutrido de dois anos atrás. Aplaudiam alegremente; urna banda de flautins e tambores acolheu o prelado. Um grupo de 135 enfermos recebeu o sacramento da Crisma, enquanto o coral cantava em latim e em kanaka. Quando o Bispo se despediu da populacao, de novo os enfermos o saudaram

com músicas, bandeirinhas e flámulas.

4. Amigos e opositores Quando se espalhou a noticia de que um padre católico se encerrava voluntariamente no Leprosario de Molokai, a opiniao pública internacional

se estarreceu. A primeira voz a romper ó silencio surpreso foi a do jornal Advertisar de Honolulú, ao anunciar: "Mw'tas vezes observamos que os pobres leprosos retirados em Molo kai. sem remedios nem assisténcia espiritual, ofereciam ao heroísmo cristao a ocasiao de realizar um nobre holocausto. Estamos orgulhosos por ver e felizes por poder dizer que tal herói existe". Estes dizeres tiveram por conseqüéncia o afluxo de donativos em dinheiro e bens naturais para o Leprosario. As Religiosas prepararam urna

grande remessa de remedios, roupas, acucar, biscoitos... Tanto da América como da Europa os amigos se fizeram assim presentes.

Mas nao faltaram contestacdes. O Comité de Higiene rio Governo do arquipélago, movido por sentimentos mesquinhos, pós-se a acusar o padre Damiao: teria entrado na ilha de Molokai sem autorizaclo, ter-se-ia compor tado com temeridade e imprudencia; ter-se-ia deixado levar pelo exibicionis-

mo, levando consigo apenas o Crucifixo e o Breviario. Foram levantadas sus-

peitas a propósito do uso que o padre fazia dos donativos recebidos. Foi também impugnado por haver praticado a medicina sem o título correspon

dente. Mais tarde, ainda o caluniaram, dizendo que contraíra a lepra em virtude de contatos sexuais com os enfermos. Por conseguinte, alguns meses após a chegada do missionário a Malo-

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ka¡, o Comité Ihe enviou a determinado seguinte: visto que entrara no Le prosario e deste safa, ainda que em poucas e breves ausencias, era um transmissor da molestia; em conseqüéncia era-lhe proibido sair dos limites da zo na infecta. O Pe. Damiao assim viu-se prisioneiro; já nao poderia ir a Hono lulú nem mesmo para confessarse. Compreendeu, porém, que o Comité con-

tava com a sua desobediencia para expulsá-lo da ilha definitivamente. Por te to resolveu obedecer. O Pe. Modesto, Provincial e grande amigo de Damiao, certa vez foi de navio a Molokai para entrevistar-se com o missionário, mas nao o deixaram desembarcar; entáo o Pe. Damiao foi de canoa até a nave e dentro desta se confessou em voz alta ao seu Superior. Tempos depois, o Comité enviou nova ¡ntimacao ao Pe. Damiao: nao poderia mais entrar no hospital. O Missionário, desta vez, rebeloUse, pois se-

riam prejudicados os doentes mais atormentados. Em conseqüéncia foi man dada a Molokai urna Comissio de Inquérito. Interrogaran! os doentes, dos quais so puderam ouvir elogios ao Pe. Damiao. Depois disto, procuraram o próprio padre para acusá-lo de exerci'cio ilegal da Medicina. Respondeu ele:

"Sim, pratíquei a cirurgia. Cheguei a amputar membros ¡rrecuperavelmente garigrenados. Até hoje rea/izei cerca de vinte interven^des e todos os respectivos pacientes continuam vivos... Em Molokai nao há um médico, um tírurgiSo, um enfermeiro. Se dois de vos se encontrassem num deserto e um fosse mordido por urna serpente. o outro nao Ihe prestaría ajuda?" Caso qui-

sessem fazer algo pelos infelizes de Molokai, obtivessem do Coverno médi cos, enfermeiros, material sanitario, leitos, colchoes, lenqóis... Em Molokai faltava tudo.

Duas semanas a pos essa visita, o Comité de Higiene retirava do padre a

proibiclo de entrar no hospital. Ainda posteriormente, por pressao da opiniaopública internacional, também foi cancelada a ordem de nao sair da ilha. Mas continuavam as hostilidades, que se estenderam aos confrades e aos Superiores do Pe. Damiao, pois recebiam importantes donativos para os

leprosos. Como eram utilizados? 0 Pe. Damiao sofria nao so por causa de tais suspeitas, mas pelo próprio alarde que faziam no estrangeiro em torno

da sua pessoa: poderia provocar novas medidas de represalia da parte das au toridades, que se sentiam culpadas por nSo terem assumido a si o cuidado dos leprosos, deixando-os ao zelo de um missionário estrangeiro. O Pe. DamiSo pedia sempre aos Superiores ao menos um outro missio nário o olfluma* Irmffi para se dodicarem aos orfanatos e ao hospital. Houve,

sim, tentativas de ajuda, mas frustradas pelo insucesso. Somente no fim da vida o Pe. DamiSo viu a resposta para os seus anseios: 566

PE. DAMlAO, O LEPROSO DE CRISTO

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Em 1886 a Providencia enviou-lhe «m ex-oficial do Exército norte

americano: o Inspector Ira Barns Dutton. Aos quarenta anos de idade, convertera-se ao Catolicismo e fizera a experiencia da vida trapista por dois anos. Tendo deixado o mosteiró, leu urna noticia sobre Molokai; vendeu tu-

do o que tinha e partiu para a ¡Iría, colocándose ao inteiro dispor do Pe. Damiao. Gozava de excelente saúde, e durante vinte anos serviu aos leprosos como carpinteiro, pedreiro, professor, sacristSo...; em suma, era o braco direito do padre.

Em 1888 (um ano antes da morte) a Providencia enviou ao Pe. Da mito outro colaborador: o enfermeiro irlandés católico James Sinnet. Já naquela época estavam superadas as hostilidades e suspeitas contra o missionário. Contava com a presenta de mais dois colaboradores sacerdotes: o Pe. Wendelin Moellers e o Pe. Louis-Lambert Conrardy. Poucos meses antes de morrer, fot consolado pela noticia de que estavam para chegar Religiosas, que cuidariam do Leprosario.

Nao faltou ao Pe. Damiao o reconhecimento oficial das autoridades governamentais. Em setembro de 1881 desembarcaram na ilha, em visita de inspeccao, Sua Alteza a rainha-mae e regente Liliukalani, acompanhada por sua irma, a princesa Likelike, pelo Primeiro-Ministro J.M.Kapena e numero sas personalidades. A populacSo os recebeu festivamente com flores e can tos. Mas a rainha e outros membros da comitiva cairam em prantos ao ver os

leprosos, somente o Primeiro-Ministro conseguiu proferir breve discurso. Alguns dias depois chegava ao Pe. DamiSo e a seu Bispo a noti'cia de que a rai nha Ihes conferia as insignias de Cavaleiros Comendadores da Ordem de Kala kana.

5. O decli'nio físico A doenca havia de afetar o Pe. Damiao. Ele o sabia: "Eu o tinha pre visto desde a minha chegada ao Leprosario; eu o tinha aceito de antemao e de bom grado".

Os primeiros síntomas fizeram-se perceber em 1877 (doze anos antes da morte!): algumas manchas brancas apareceram nos bracos e ñas costas; o

Padre as esfregou com urna esponja. No ano seguinte, porém, comecou a

sentir dores nos pulsos, calarnos e inchaco, dorméncia ñas extremidades do corpo, etc. P&s-se a caminhar manco, mas preferiu nao pensar demais no assunto; podia tratar-se de artrose ou de elefantiase. Em 1885 o Pe. DamitSo teve a certeza incontornável de estar leproso, pois 6 microbiólogo Prof. Arning, passando pela ilha para fazer pesquisas,

examinou o missionário e Ihe declarou a sua genui'na situacao. O padre a 567

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989 aceitou tranquilamente; sentia-se aínda vigoroso e disposto para o trabalho. Urna noíte, porém, ao voltar cansado das suas lutas, esquentou um pouco de agua para lavar-se; entao o pé esquerdo escorregou para dentro da bacia sem que o padre sentisse a mínima dor; o coracao bateu forte e murmurou: "Es-

tou leproso. Obrigado, meu Deus!"

Oaquele momento em diante, apoderouse dele urna estranha calma. Pds-se a escrever cartas, das quais merecem atencao alguns extratos: Ao Bispo: "Também eu estou leproso. Comecam a notar-se os sinais ñas faces e na orelha esquerda. Os cilios comecam a cair. Em breve estarei totalmente desfigurado. NSo tenha dúvidas sobre a Índole da minha doenca; estou calmo, conformado e muito sereno em meio á minha gente".

Ao Pe. Provincial: "Nao me pranteeis domáis. Estou plenamente con formado com o que me toca. Só Ihe peco um favor: suplique ao Pe. Geral queira enviar a este sepulcro alguém disposto a ouvir-me em confissao e a atender ás cápelas do outro lado da ilha, onde nao há leprosos".

Ao Superior Geral: "Nao vos surpreendais nem entrístecais demais ao saber que um dos vossos filhos espirituais foi condecorado nao somente com a Real Cruz de Kalakana, mas também com a cruz um pouco mais pesada e menos nobre da lepra, com a qual Nosso Senhor quis estigmatizar-me... Está claro, nada peco de mefhor do que ficar e morrer em Kalawao. Leproso ou nao, deixai-me correr a minha carreira até o flm. Estou contente e feliz com tudo e nao me queixo de ninguém".

Ao irmao Pe. Panfílio escrevia aos 9/9/1887 (um ano e meio antes de morrer):

"Espero ser eternamente grato a Deus por este favor. A doenca apressará um pouco e tornará mais direta a minha caminhada para a patria celes te. Com esta esperanca, aceito a minha cruz pessoal e esforco-ma por carregá-la segundo o exemplo de Simio Cireneu, atrás do nosso Divino Mestre. Afuda-me com as tuas oracóes. eu te suplico, a fim de que eu encontré a for ea para perseverar e chegar serenamente ao cume do Calvario. Embora a le pra ¡á tenha causado danos ao meu corpo, desfígurando-me um pouco, con

tinuo forte e robusto. As intensas dores que há tempos eu sofría nos pés, desapareceram. A doenca aínda nSo me atacou as míos; continuo, pois, a cele brar a S. Missa. Esta graca me consola, se/a por causa de meus intensses espi

rituais, seja por causa dos meus numerosos companheiros de desgraca". 568

PE. DAMIÁO, O LEPROSO DE CRISTO

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A noticia da detenga do Pe. Damiao e$palhou-se pelo mundo. A única nota destoante foi a resposta do Pe. Provincial Leonor: censurava Damiao por haver criado problemas para a missao pela sua imprudencia e Ihe ordenava que nao fosse a Honolulú, para evitar que toda a missao fosse» posta de quarentena. O Pe. Damiao, porém, nao se abalou; autodefinia-se como "o missionário mais feliz da térra".

Continuava a trabalhar. Em junho de 1886, as autoridades médicas pediram ao Bispo local que cbamasse o Pe. Damiao a Honolulú para um con trole do seu estado de saúde. O padre se alarmou; respondeu que se ausenta

ría por duas semanas apenas. Se tivesse que ficar meses fora, pedia um subs tituto. Embarcou, pois, fazendo a sua última viagem,... viagem de um "réu" que a todo momento pensava seria censurado e finalmente devolvido ao campo de concentrado para morrer com os banidos da sociedade. Ao contrario, foi por todos acolhido com admirapao. Falou com os médicos, que o informaram a respeito do tratamento da lepra. O rei foi visitá-lo, a fim de Ihe agradecer, cercado dos médicos e responsáveis do hospital de Honolulú. Esteve também com o Bispo local, que o abracou e ao qual dís$e: "Vim pedir-vos urna grapa, a mesma que solicitei na minna última carta: a de nao ter que me separar de meus leprosos". Voltou tranquilo para Molokai. As suas condicSes de saúde se agravaram; mas o missionário nao capitulou. Aínda construiu um aqueduto com os

numerosos donativos que recebia. Deu inicio á reconstruyo da igreja danificada por urna tempestade. Em novembro de 1887 chegaram as primeiras tres Irmas para atender aos Orfanatos.

Em fevereiro de 1889 a doenca recrudesceu, atacando-lhe o nariz, as faces e o pescoco. Mas o padre nao se entregou ao desánimo, que fácilmente acomete os leprosos termináis. Sofría e rezava. A custo conseguiram que ele trocasse a esteira em que jazia no chao, por urna cama normal. Foí.acompanhado, até a estrebaria; acariciou o seu cávalo: "Deveremos separar-nos, meu

amigo!" Colocou a cabeca sobre o focinho do animal em silencio e depois disse: "Pe. Conrardy, eu Ihe entrego o cávalo com a sela e as rédeas; já nao é

um No Ihe vor

animal jovem, mas está forte e poderá prestar-lhe excelentes servicos". dia seguinte, designou como administrador da sua obra o Pe. Wendelin e entregou 2.700 dólares. Ele, que havia administrado tantos bens em fa dos leprosos, podía dizer: "Morro pobre. Nada mais tenho de meu". Aos 31/03 recebeu os sacramentos. Disse: "Deus me chama para cele

brar a Páscoa com Ele. A seguir, as chagas do rosto e das má*os comegaram a

fechar-se; a crosta tornou-se preta. Era o sinal do fim. Damiao o sabia e o observou frente aos companheiros. No dia 03/04 experimentou ligeira me569

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Ihora, de pouca duracao. Na noite seguinte repetía: "Os meus caros lepro

sos!.. Os meus caros leprosos!.." Sabia que estavam frente á sua casa em multidáo orando por ele.

Aos 14/04 tornou-se cegó. Agonizava, mas continuava a rezar o rosa rio, apertando com forca as maosdo Irmao José, do Pe. Conrardy e do Irmáfo Tiago. Durante a noite entrou em agonía, e aos 15/04/1889 expirou suave mente.

As citacoes incluidas neste artigo foram retiradas da resenha biográfica publicada pelo Pe. AlessandroScurami S.J. sob o tftulo Padre Damiano, Leb-

broso per Cristo em La Civilta Cattolica de 5-19/08/1989, pp. 223237.

O testemunho do Pe. Damiao, no sáculo passado, aproximase do do PeMaximiliano Kolbe em nosso sáculo. Trata-se de duas pessoas que, por amor a Cristo, sacrificaram sua vida. Nem todo cristao é chamado por Deus a de monstrar seu amor ao Senhor e aos irmaos em Leprosario ou campo de concentracao, mas todos sao chamados a ter a disponibilidade para tanto, caso

isto seja da vontade de Deus. Com outras palavras: todos sao chamados ao amor perfeíto ou á perfeicao espiritual ou á santidade (ver Constituicao Lumen Gentium c. V). A vivencia dos dois heróis é sinal de que esse amor é possi'vel ou de que Deus dá a grapa quando chama alguém á perfeicao (como realmente chama todos).

Por conseguinte, recordar a fapanha do Pe. Damiao nao é apenas evo car o passado, mas é também avivar a consciéncia de que ninguém é chama

do á mediocridade, mas todos tém, ñas condicoes concretas e rotineiras em que se acham, a graca para viver de maneira santa e perfeita a sua existencia

de cada dia. A fim de ser santo, nao é necessário ir para um campo de concentracao, pois a( mesmo onde a Providencia coloca cada qual, concede to

dos os subsidios necessários para que viva em perfeicao.

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Depoimento:

Fala um Convertido Em síntesa: Segue-se o testemunho de um convertido do Luteranismo, que expoe sumariamente como chegou ao Catolicismo por um toque da graca, e exorta os fiéis católicos a urna vida fiel á sua vocacao em busca da santidade. Esta ó a riqueza da fgre/'a e o sinal capaz de impressionar os que nao a conhecem.

Transcrevemos da revista portuguesa "Rosario de María", abril de 1984, pp. 182-187, o depoimento de um cristao luterano convertido ao Ca

tolicismo. É muito significativo, principalmente porque dá énfase aos valores

espirituais que devem existir na Igreja Católica e.que sao o dom de Deus mais eloqüente para o homem de hoje. Sao a resposta a que aspira toda criatura que procura Deus entre os homens.

"O Pós-Conci'lio Sao muitot os que erguem a sua voz nestes tempos do Pós-Concílio n muitoi sao ot que Julgam ter razio. O Papa Joao XXIII quis um pouco dear fresco dentro da Igreja a vaio um vendaval, um terremoto. E neita terremoto rifo sáb pouco* o» olhares que te dirigem para os trmffós Separados. Estes perguntam-se: Que é o que nos separa dos Católicos? Temos comprovado que os textos do Evangelho sao exatamente os mesmos na Biblia católica que na Biblia protestante. Que é o que nos separa? lito mesmo me perguntaram muitfsiimos, inclusive sacerdotes católicos. Sou um convertido do protestantismo e resido em Espanha, porque no

meu país náb me era possfvel viver segundo a minha Fé, recebar os Sacra mentos e fazer visitas ao Senhor Jesús sacramentado... Contaram-me que, htf urnas dezenas de anos, numa povoacao espa-

nhola, como em muitfssimas outras, havia muita miseria, bandos de mendi gos, homens e mulheras esqueléticos. E, hoje, em dita povoacao e noutras 571

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abundam os automóveis e o bem-estar. Económicamente quase estáo ao ni vel dos países nórdicos protestantes.

Agora, porém, as rúas destes povos que desfrutar» dum bem-estar tem poral superabundante, estáo cheias de homens famintos espiritualmente. As

suas almas sentem urna fome terrível. E intentam suavizar essa fome com alcool, com drogas, com divertimentos, com urna vida sexual desenfreada. Somos seres compostos de corpo e alma, sendo esta a parte mais nobre e importante.

Tempos de Mudanca Muitas destas pessoas dos países nórdicos dirigem o seu olhar para a Igreja Católica. Mas, hoje em dia, esta parece encontrar-se envolvida em nu-

vens, em ventanías, em fumo. Dizem-lhes que está a viver 'Tempos de Mu danca../ Porém, neste formigueiro de mudancas, há sempre uns valores intangi-

veis. Um, e o mais importante destes valores, é a sacralidade da Igreja. A Igreja Católica é a única verdadeira Igreja de Cristo, que possui toda a verda-

de e está fundada sobre a Rocha de Pedro. As palavras: 'Tu es Petrus' = 'Tu

és Pedro', tém mais alcance do que os protestantes imaginam. A Igreja Cató lica é ¡ncomovível, possui o Dom de Sabedoria. Basta lar os documentos do Concilio Vaticano II, para se convencer disto. Mas nem todos aqueles que se empenham emaplicá-los, na vida diaria, ao seu apostolado, ao seu ministerio, tém o Dom de Sabedoria. Aqui é que está o falhanco.

A minha conversao Já disse que sou um convertido do protestantismo, melhor dito, do luteranismo. A minha conversao teve lugar súbitamente e em circunstancias es

peciáis. Deus pós-me contra a parede e perguntou-me: Sim ou Nao? Mas havia-me preparado desde muito tempo. Cria em Deus, mas vivía mais como in diferente. Tinha pensado, algumas. vezes, em fazer-me católico, mas pareceume que era dar um salto na escuridáo. como se tivesse de escalar um muro muito alto e ná"o sabia, em concreto, o que estava detrás desse muro. Estava provavelmente o mesmo que em todas as religioes e conf issoes: Alguma coisa

de Deus, hinos devotos, muito sentimento. Além disso, no Catolicismo havia supersticóes: milagres, Maria, etc. Mas, apesar disso, o Catolicismo atraía-ma Deus

empurrou-me

para a sua Igreja. E a experiencia que transfor-

mou toda a minha vida interior e exterior era a experiencia de qualquer coi572

FALAUM CONVERTIDO

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sa infinitamente santa, que jamáis havia sonhado pudesse existir. Mais tarde a essa qualquer coisa comecei a chamá-la: A eletricidade da Igreja. E pos» chamá-la muito bem assim... No entanto, durante uns dois anos nao compreendi que esta santidade que, digamos, me rodeava e me penetrava, vinha da Sagrada Comunhao, da Presenca Real de Jesús Cristo na Eucaristía e da intervencSo da Santfssima Virgem.

Maria e os Protestantes Muitos protestantes anseiam por Maria. mais ou menos vagamente. Pa ra mim, Maria era um ponto difícil depoís da minha conversao. Havia-a con

siderado sempre como urna criatura pecadora igual a todos n6s. Urna das objecoes que me apresentou, contra Ela, um missionárío luterano, era esta:

É preciso manter a doutrina pura. Maria teve varios filhos com José. Havia

nascido neste ambiente e nele crescido. Foi a mesma Virgem Maria quem me

iluminou, e depois da Sagrada Comunháb nada há que tanto me encha como as palavras; Ave, (= Deus te salve) Maria I... Estas palavras tém, em minha al ma, um eco profundo e sobrenatural. Ave, (= Deus te salve), Maria, cheia de graca...

Os Carismas ñas outras Confissoes Com tudo o que escrevi, nao quero dizer que as outras confissoes nao possuam algumas grapas ou, digamos, carismas. Tém-rtos seguramente, pois Deus ná*o nega as suas gracas a um coracao humilde e sincero, e essas confis soes até tém os seus eleitos. Tenho-me fixado neles depois da minha conver

sad; antes nao me interessavam. Nem sequer os compreendia.

Os Santos Pelos seus frutos os conhecereis - disse o Senhor. Os frutos da Igreja Católica sao os Santos. Fora déla nao se admite que o homem possa chegar

á santidade. O protestantismo qualifica de idolatría o culto dos Santos.

Como realizar o Ecumenismo? Segundo o meu parecer, a única maneira consiste em que os católicos se facam santos e assim atrairáo os que estáo fora. Que vivam totalmente a sua formosa doutrina. O mundo está ávido de santidad*? Nada de discursos ocos, de falsas compreensoes. Tornem-se santos aqueles que desejem praticar o Ecumenismo. Deus fará o resto.

Disse-me, urna vez, um católico, quase apóstata: A Religiáo Católica é muito difícil e severa. Agora compreendo-o. Cristo disse: Eu sou o Caminho, 573

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a Verdada a a Vida. Os católicos tám que seguir a Cristo sem mitigacoes. Urna mulher luterana... dissa-o muitas vezes, com as luzes que havia recefoido diretamente do Alto. E urna destas verdades 4 a seguinte: Ninguám chega ao Coracáb do Pai, sam haver compreendido o misterio da Cruz. Quem quiser

seguir a Cristo, tem que sofrer e expjar. Tam que deixar-se transformar em Cristo na medida que o Pai quiser.

Pelos frutos se conhecerá. Quantomais Santos houver na Igreja Católi ca, tanto maior será o número dos que se nao de converter, porque atraem. Eu caminhava por urna vereda completamente ás escuras. Quando entrei na Igreja, os meus olhos abrirá m-fe. Vi. E cada dia vejo mais claramente.

Os horizontes dilatam-se sem cessar. I «o á felicidade ¡mensa. E dessa mesma dita quisera que gozassem os meus irmaoj luteranos. Quem é feliz, deseja pa ra todos a mesma felicidade. Deste desojo nasce o apostolado. E o apostola

do mais eficaz é o da oracáo junto a urna vida sacrificada, que nasce, cresce

e se nutre do Amor. Da chama do Amor vivo." Merecem especial destaque os dois últimos subtítulos deste depoimento, pois tocam o essencial em todo 9 apostolado da Igreja e no exerci'cio do

diálogo ecuménico. A santidade ou a fidelidade incondicional a Cristo encar nado na sua Igreja é o sinal mais persuasivo de que Deus está presente entre os homens. Esteváo Bettencourt O.S.B.

COMUNIDADE NOVA JERUSALÉM A Comunidade Nova Jerusalém, mediante a sua Editora, oferece ao

público valiosas publicacoes, das quais destacamos as seguintes: REVISTA BÍBLICA BRASILEIRA (quatro números por ano) ECLESIOLOGIA I, 1, da autoría do Pe. Caetano Minette de Tillesse DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA, coletánea de textos do Magisterio da Igreja desde Leao XIII até J0S0 Paulo II, aos cuidados do Pe. Caetano de Tillesse. Livro muito útil para os Cursos de tal Doutrina, que a Santa Sé de seja ver ministrados ñas Escolas Católicas.

NOVO SEMINARIO DE ORAgÁO

COMENTARIO GÉNESIS 1-3

Os pedidos sejam dirigidos á Editora Nova Jerusalém, Caixa postal 15577 - 60001 Fortaleza (CE) 574

Nota

A Regulado Natural da Natalidade 0 Pontificio Conselho para a Familia emitiu a seguinte Nota1 desti

nada a esclarecer o público a respeito de quanto a Igreja tem feito frente ao necessário planejamento familiar:

"Um dos setores própríos do ensinamento da Igreja é o auténtico processo de transmissSo da vida. A regulacSo responsável deste processo pódese

efetuar mediante a continencia periódica baseada no ciclo natural da muIher. No ensinamento da Igreja, tém importancia - e isto é lógico - a questSo dos métodos aptos para diagnosticar a fértilidade ou os métodos de regulacio natural da natalidade.

Os esposos que estio ñas condicdes de ter que recorrer é continencia periódica para evitar a concepcSo. hio de adquirir a conviccao de que os mé todos de diagnóstico da fertilidade tém base científica suficiente e nSo sio dificéis de se aprender. HSo de saber outrossim que a continencia periódica apoiada em Justos motivos - sem os quais sería puro egoísmo, e nao urna virtude - vem a ser um modo de se viver a castidade conjugal; por isto nao

somente é praticável, mas também e/a reforca o amor mutuo dos esposos, ao passo que a limitacSo artificial o destrói.7

Traduzida do francés como publicado por La Documentation Catholique

n? 1991,01/10/89. p. 851.

Esta afirmacSo se justifica do seguinte modo: Ao praticarem a continencia

periódicaJos dois cónjugesassumem juntos o autodominio e o eventual sacri

ficio da abstinencia sexual. Ao contrario, a limitacSo artificial impSe a um só dos conjugas {geralmente a mulher) o encargo de se tornar momentánea mente estéril; no caso da pflula, geralmente indicada ás mulheres, estas correm serios riscos de saúde, que o homem nao incorre. Há, pois, ceno egoís mo ño caso em que o marido impóe (direta ou indiretamente) ¿esposa o uso de anticoncepcionais (Nota do tradutor). 575

48

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 331/1989 Eis por que os textos fundamentáis dos Romanos Pontífices atinentes

á justa e resoonsável regulado da natalidade (cf. Humanae Vitae 16, 24; Familiaris Consortio 31-33, 35) exprimem oanseio de que as ciencias médi cas consigam dar urna base sempre mais sólida aos métodos de diagnóstico da fertilidade. A esperanca de se chegar a este objetivo é avivada pelos progressos científicos realizados nos últimos anos, aínda que sem o oportuno conheciménto do público. A fim de promover maior estima e melhor conheciménto do ensina-

mentó da Igreja relativo á regulacao natural da natalidade, este Pontificio Conselho para a Familia tem em vista: 1) Estimular as Faculdades de Medicina e os Institutos de Pesquisas Biomédicas, os professores, os pesquisadores e os estudiosos para que pros-

sigam o estudo científico dos métodos de diagnóstico da fertilidade para poderem orientar os casáis na direcSo de urna regulacio natural que respeite os valores da sexual¡dade humana.

2) Recomendar aos conselheiros de casáis que adquiram o conheci-

mentó exato do progresso da ciencia para poderem aconselhar os casáis na prática da regulacao natural, recorrendo aos métodos de diagnóstico da ferti lidade. 3) Insistir junto aos cristaos capacitados, conhecedores da validade desses métodos de diagnóstico, para que reflitam sobre o bem que podem fazer aos outros, difundindo tais métodos pela palavra e pelo exemplo.

4) Convidar as organizacoes e os grupos que trabalham em favor da fa milia e da vida para que, no quadro de suas competencias, informem e edu-

quem os interessados a respeito dos métodos de diagnóstico da fertilidade. E isto, sempre em vista do sen/ico aos valores e aos direitos do homem.

Será assim possfvel superar o obstáculo das carencias e das graves lacuñas existentes naqueles que estSo encarregados do ensinamento da Igreja, num setor que diz respeito. de modo vital, á dignidade da pessoa humana e ao crescimento espiritual dos esposos.

28 de fevereiro de 1989

JOÁO FRANCISCO ARRIGHI ^ice-Presidente EDUARDO. CARDEAL GAGNON

Presidente"

576

Pergunte

Responderemos

índice de 1989

50

PERPUNTE E RESPONDEREMOS 331/1989 ÍNDICE

(os números á direita indicam, respectivamente, fascículo, ano de edicao

e página)

"A BIBLIA NA LINGUAGEM DE HOJE: ABORTO: Inicio da vida humana na Moral Católica outrora e hoje

326/1989, p.309 327/1989, p.384

330/1989^.528

324/1989 p 231

ABUSOS LITÚRGICOS

"A CIDADE DOS SETE PLANETAS", por Polo Noel Atan

324/1989^ p.2Q2 325/1989, p.284

"A DIGNIDADE DA MULHER" (Carla Apostólica) . .

320/1989, p.2

ÁFRICA - panorama religioso

329/1989 p.459.

ALBERTINI, LINO: "O Além existe"

330/1989 p.493

ANGLICANISMO:origem ANIMISMO E RELIGIOSIDADE PRIMITIVA "ANTES.QUE OS DEMONIOS VOLTEM", por Osear G. Quevedo

320/1989, p.20. 322/1989, p.128.

ANTIGO TESTAMENTO E DEMONIO

327/1989, p.371.

ALBANIA E RELIGIÁO

322/1989^ p'i43^

ALMA DAS MULHERES:discussao? AMÉRICA LATINA - panorama religioso AMOR CONJUGAL: hoje ameacado

APARIQOES DA VIRGEM EM GUADALUPE

APÓCRIFOS: valor

ARCEBISPOS DE COLONIA E SALZBURGO: nomeacSo

330/1989^ p.516 329/1989^ p.459. 324/1989* p.219.

323/1989 p.146.

321/1989, p.72.

321/1989^ p.91.

328/1989, p.400.

ARNS, CARDEAL, E CUBA

328/1989, p.409.

ATAN, POLO N.: "A Cidade dos Sete Planetas"

325/1989, p.284.

Asia - ambiente religioso

ATEÍSMO E NOVA RELIGIOSIDADE AUSCHWITZ: Carmelo

329/1989, p.459.

329/1989^ p.457. 328/1989^ p.406.

B

BEGLIOMINI, HELIO, E O SAGRADO

BEM COMUM E DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA . . 578

326/1989, p.330.

329/1989, p.448.

ÍNDICE GERAL 1989

"BIBLIA NA LINGUAGEM DE HOJE" BISPOS CUBANOS E CARDEAL ARNS

51

.

BISPO E AUTORITARISMO

326/1989, p.309.

328/1989, p.409.

328/1989, p.400.

CARBONO-14 E SUDARIO

320/1989, p.37.

CARIDADE - a maior das virtudes CARMELO DE AUSCHWITZ: controversia CARTA DO CARDEAL ARNS A FIDEL CASTRO. . . CASÁIS QUE SE DISSOLVEMrpor qué? CASTRO RÍOS, J.C.: "O Grande Compl6"

CATOLICISMO ATRAVÉS DA HISTORIA

320/1989, p.14. 328/1989, p.395. 328/1989, p.407. 324/1989, p.219.

330/1989, p.511.

320/1989, p.28.

CELAM E CLAR - PROJETO "PALAVRA-VIDA" . .

327/1989, p.361.

CELIBATO E GUY DURAND

327/1989, p.351.

CENSURA Á TELEVISÁO

323/1989, p.183; 328/1989, p.286.

CHINTOI'SMO: que é?

320/1989, p.43.

"CIDADE DOS SETE PLANETAS"

325/1989, p.284.

COLONIA: nomeapSo de Arcebispo

328/1989, p.400;

Declarado de

COMÚNICAC0ES DOS MORTOS COM OS VIVOS?. . CONCILIO DE BRAGA e demonio

MÁCON e mulher CONSUMACÁO DA HISTORIA: símese CONTROLE DA NATALIDADE E MAGISTERIO DA IGREJA

325/1989, p.255!

330/1989, p.495. 327/1989, p.367.

330/1989, p.516. 320/1989. p.26. 327/1989, p.349.

CONVERSOES AO CATOLICISMO

321/1989, p.550 e571.

CORACÁO DE JESÚS: mensagem de Congresso

321/1989, p.96.

CORÉIA DO SUL E CATOLICISMO

322/1989, p.103.

CO-RESPONSABILIDADE DOS LEIGOS NA IGREJA

325/1989, p.248.

COSMOVISAO ANIMISTA

322/1989, p.128.

CRER:qué?

320/1989. p.22.

CRIACAO E PECADO E EVOLUQAO CRISTAO MARXISTA - linguagem

320/1989, p.23; 322/1989, p.121. 325/1989, p.260.

CRISTIANISMO E CATOLICISMO CUBA E REINO DE DEUS

320/1989, p.16. 322/1989, p. 138; 328/1989, p.407. 329/1989, p.475.

CURAS E MILAGRES DE LOURDES 579

52

PERGUNTEE RESPONDEREMOS 331/1989

DAMIÁO. PADRE, LEPROSO DE CRISTO DECLARApÁO CONCILIAR SOBRE A LIBERDADE RELIGIOSA

"DÉFICIT" DO VATICANO E "ÓBOLO DE SAO PEDRO" DELIZIA CIROLLI E MILAGRE

331/1989, p.559. 231/1989, p.63.

327/1989, p.380. 329/1989, p.474

DEMONIO: sim ou nao?

323/1989, p.146; 327/1989, p.365.

"DEPÓSITO" NA BIBLIA

326/1989, p.306.

DESTINO UNIVERSAL DOS BENS

329/1989, p.449.

DEUS E O UNIVERSO: na Ciencia e na ReligiSo

322/1989, p.124;

UNO E TRINO DÍA DA IGREJA E DA EUCARISTÍA DIGNIDADE DA MULHER (Carta Apostólica)

320/1989, p.23. 324/1989, p.209.

DESVÍOS DAS IGREJAS ELETRÓNICAS

DOS FIÉIS LEIGOS

"DIGNIDATIS HUMANAE": Declaracao

323/1989, p.188.

320/1989. p.2;

325/1989, p.244.

321/1989, p.63.

DIMENSAO HISTÓRICA DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA VERTICAL DO CRISTIANISMO

329/1989, p.445. 324/1989, p.200.

DIREITOS HUMANOS NA DOUTRINA SOCIAL

DA IGREJA DOM DA ESPOSA DOMINGO: observancia do

329/1989, p.448. 320/1989, p.13. 324/1989, p.207.

Oliveira Soares DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA: apresentacáb DOZE ANOS ENTRE AS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ DURAND, GUY: "Sexualidade e Fé"

323/1989. p.157. 329/1989, p.443.

ECO, UMBERTO: "PÉNDULO DE FOULCAULT" . . .

331/1989, p.542.

ECONOMÍA NO MARXISMO ECUMENISMO: estado atual INDIFERENTISTA

322/1989, p.112. 328/1989, p.393. 324/1989, p.204.

"DO SANTO OFl'CIO A LIBERTACAO", por Ismar de

EDUCAQAO SEXUAL E IGREJA

327/1989, p.3Ó5.

ENSINO RELIGIOSO ÑAS ESCOLAS OFICIÁIS E CNBB

ESCOLA E IGREJA SEPARADAS NA RÚSSIA

'

331/1989, p.550. 327/1989, p.345.

580

320/1989, p.47.

328/1989, p.416.

ÍNDICE GERAL 1989 ESPIRITISMO E CATOLICISMO (Linó Albertini)

53

ESTAOO E LIBERDADE RELIGIOSA

330/1989, p.493. 321/1989. p.66.

ESTAGNAgAO SOCIAL na Rússia

32.6/1989, p.294.

"ESTRELA AZUL" (drogas) EVA-MARIA EVANGELHOS: origem

324/1989, p.239. 320/1989, p.5. 321/1989, p.50.

EVOLUCAO ATÓMICA E CRIACAO EXISTENCIA DE DEUS E CIENCIA

322/1989, p.121. 322/1989, p.118.

F

FÉ E CRITICA NO ISLA

325/1989, p.267;

QUE CEGA FETICHISMO: que é? FIDEL CASTRO E CARD. ARNS

325/1989, p.272. 322/1989, p. 131. 328/1989, p.407.

FRATERNIDADE BRANCA E ESOTERISMO

325/1989. p.285.

"FUI ESPlAO", por Francesco Scalzotto

323/1989, p.166.

FIÉIS LEIGOS NA IGREJA (ExortapSo Apostólica) . . FORMAQÁO BÍBLICA E LITÚRGICA FRANCISCO SCALZOTTO: "FUI ESPlAO"

325/1989, p.242. 329/1989, p.440. 323/1989, p.168.

G "GRANDE COMPLÓ, O" (J.C. Castro Ríos)

330/1989, p.511.

GUADALUPE: AparicSes da Virgem

321/1989, p.72.

GUY DURAND: "Sexualidade e Fé"

327/1989, p.345.

H

HISTORIA DAS COMUNICACOES DA IGREJA DO CATOLICISMO:Síntese

323/1989, p.158; 320/1989, p.28.

HOLISMO: que é?

328/1989, p.425.

HOMEM NO MARXISMO

322/1989, p.108.

HOMOSSEXUALISMO E MAGISTERIO DA IGREJA .

327/1989, p.346.

I IDEOLOGÍA E CRENCA

IDEAL MISSIONÁRIO E SECULARISMO IGREJA CATÓLICA E CRISTAOS NAO CATÓLICOS EM CUBA

E ESTADO SEPARADOS NA RÚSSIA 581

329/1989. p.459.

329/1989, p.459. 320/1989, p.16; 322/1989, p.138; 327/1989, p.383; 328/1989, p.407;

328/1989,p.415.

54

PERGUNTE E RESPONDEREMOS 331/1989 ESPOSA DE CRISTO

320/1989,ip.12;

FOI FAVORÁVEL AO ABORTO?

324/1989, p.231;'

NO BRASIL ECOMUNICAQAO SOCIAL UNA, SANTA, CATÓLICA, APOSTÓLICA

323/1989, p.159; 329/1989, p.437;

MILAGRES E MEDICINA

UNIVERSAL E COMUNICACÁO SOCIAI

IGREJAS "ELETRÓNICAS"

IMAGEM E SEMELHANQA DE DEUS

327/1989, p.340;

323/1989, p.158.' 323/1989, p.185.

320/1989, p.4.

"IMPLOSÁO" DA IGREJA

323/1989, p.174.

INDIFERENTISMO E LIBERDADE RELIGIOSA

321/1989, p.55.

INSTITUTO PARA AS OBRAS DE RELIGIÁO: nova Direpío

327/1989, p.382.

INTERCOMUNHÁO ENTRE CATÓLICOS, PROTESTANTES E ORTODOXOS

328/1989, p.396.

JESÚS CRISTO E A IGREJA

320/1989, p.24;

JOÁO BATISTA E ELIAS: reencarnado? JOÁO PAULO II: Dignidade da Mulher

321/1989, p.92. 320/1989,p.2;

VIVEU NA INDIA? - livro de Holger Kersten . . e Liturgia e Leigos na Igreja e Milagres.

321/1989^ p.82.

329/1989, p.434; 325/1989, p.242; 327/1989, p.344.

JUDEUS E CARMELO DE AUSCHWITZ JURAMENTO DE FIDELIDADE E PROFISSÁO

DE FÉ JUSTO. JUSTIFICAR, JUSTIFICAQÁO NA BIBLIA. .

328/1989, p.395.

326/1989. p.316. 326/1989, p.307.

K KAMI noChintoísmo

KARL MARX:Sim ou Nao?

320/1989, p.45. 322/1989, p.104.

KASPER, WALTER, E MAGISTERIO KERSTEN, HOLGER: "Jesús viveu na India"

325/1989. p.257. 321/1989. p.82

LEFEBVRE, D. MARCEL. E LIBERDADE RELIGIOSA

LEIGOS NA IGREJA

LEPRA E PE. DAMIÁO

321/1989, p.55. 325/1989, p.242.

331/1989, p.559.

LIBERDADE RELIGIOSA: indiferentismo? 582

321/1989, p.55.

ÍNDICE GERAL 1989

LIBERTACÁO E MEIOS DE COMUNICACÁO LIGAR-DESLIGAR

55

323/1989, p.164. 326/19.89. p.310.

LINGUAJAR DO "CRISTÁO MARXISTA"

325/1989, p.260.

LITURGIA RENOVADA (Carta Apostólica)

329/1989, p.434.

LOJA P-2 (Maconaria) LOTERÍA CELESTE E NEOPROTESTANTISMO

323/1989, p.167. 232/1989, p.187.

LOURDES: milagres

329/1989, p.475.

M

MACÓN, CONCILIO DE, e mulher

330/1989 p 516

DEMONIO "MALDICÁO DOS FARAÓS" E PIRÁMIDES

327/1989, p.366. 326/1989, p.326.

MAR MORTO ¡manuscritos

331/1989 p.530

MACONARIA E IMPLOSÁO DA IGREJA MADRE MARÍA JOSÉ DE JESÚS {carmelita) MAGISTERIO DA IGREJA E EXISTENCIA DO MANISMO:que é? MANUSCRITOS DO MAR MORTO: segredo? MARCOS, EVANGELHODE:origem

323/1989' p.166 327/1989* p 339

322/1989^ p.132. 331/1989^ p.530.

321/1989 p.50

MARÍA SS. EM GUADALUPE MÁE DE DEUS

321/1989,'p.72; 320/1989, p.3*.

MATERNIDADE E VIRGINDADE MEDICINA E MILAGRE

320/1989, p.10. 327/1989, p.338.

MEDIUNIDADE no Espiritismo

330/1989, p.493

MEIOS DE COMUNICAQÁO SOCIAL:influencia. . . .

323/1989, p. 176.

MENTALIDADE MÁGICA MERCADO DE DROGAS: alerta MILAGRES E "MILAGRES"

' e 504.

323/1989^ p.189. 324/1989^ p.239. 329/1989, p.473.

MISTERIO NA BIBLIA

326/1989, p.309.

MÍSTICA ORIENTAL E M. CRISTA

328/1989,p.396.

MOLOKAI. ILHA "MALDITA"

331/1989, p.560.

MONOFISITAS E INESTORIANOS: quern sao? ....

.320/1989, p. 18.

MORAL EM CRISE DIGNIDADE

323/1989,p.190; 320/1989, p.2.

MULHERES DO EVANGELHO E ALMA

320/1989, p.7; 330/1989, p.516.

MULHER MÁE DE DEUS (THEOTÓKOS)

320/1989! p.3.

N NATALIDADE: REGULACÁO NATURAL

331/1989, p.575.

NEIMAR DE BARROS E IMPLOSÁO DA IGREJA. . .

323/1989, p.166.

583

56

PERGUNTE E RESPONDEREMOS 331/1989

NOMEACÁO DE BISPOS E AUTORITARISMO

328/1989, p.400

"NOVA ERA" E SEITAS

325/1989, p.279.

NOVO TESTAMENTO E DEMONIO

327/1989, p.372. O

"O ALÉM EXISTE", por Lino Sardos Albertini ÓBOLO DE SAO PEDRO: que é? O 'CALLAGHAN, JOSÉ': origem dos Evangelhos

330/1989, p.493. 327/1989, p.380. 321/1989. p.50.

"ORDEM DOS 49" E ESOTERISMO

325/1989. p.284.

OCIDENTE INDUSTRIALIZADO E TECNOLÓGICO. "O GRANDE COMPLÓ". por J.C. de Castro Ríos .... "O PÉNDULO DE FOUCAULT", por Umbertó Eco . . OPERACÁO "DE PROFUNDIS" ORIGEM DOS EVANGELHOS

329/1989, 330/1989, 331/1989, 330/1989,

p.458. p.511. p.542. p.512.

321/1989, p.50.

ORTODOXOS ORIENTÁIS: quem sao?

320/1989. p.18.

"OS VERSOS SATÁNICOS", por Salman Rushdie . . .

325/1989, p.267.

P-2 (Ma?onaria)

323/1989, p.166.

PADRE DAMIÁO, O LEPROSO DE CRISTO PAI'SES SOCIALISTAS E RELIGIÁO

331/1989, p.559. 329/1989, p.458.

PALAVRA DE DEUS:na Liturgia

329/1989, p.436.

"PALAVR A-VI DA", PROJETO

327/1989, p.361.

PALEOGRAFÍA E EVANGELHOS

321/1989, p.51.

PANORAMA RELIGIOSO DO MUNDO PAPA SILVESTRE II: MAGO E ADIVINHO? PAULTOUVIER E IGREJA PECADO ORIGINAL

329/1989, p.458. 330/1989, p.522. 330/1989, p.482. 320/1989, p.5.

PELAGIANISMO NA RELIGIOSIDADE MODERNA . "PÉNDULO DE FOUCAULT, O" de U. Eco

323/1989, p.188. 331/1989, p.542.

PERESTROIKA E RELIGIÁO

326/1989. p.290.

PESSIMISMO NA RELIGIOSIDADE MODERNA....

323/1989, p.188.

PESSOA HUMANA NA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA PIRÁMIDES - efeitos maravilhosos?

POBRE E VIDA CRISTA

329/1989, p.448. 326/1989, p.324. 326/1989. p.330.

PODER E DINHEIRO - P-2

323/1989, p.167.

PORNOGRAFÍA E VIOLENCIA NOS MEIOS DE COMUNICAQÁO POUPARD, CARD. PAÚL, E ATEl'SMO

328/1989, p.386. 329/1989, p.464; 329/1989, p.452.

PRECEITO DOMINICAL: sempre válido 584

324/1989.213.

ÍNDICE GERAL 1989

57

PROFISSÁO DE FÉ E JURAMENTO DE" FIDELIDADE

326/1989, p.314.

PROJETO "PALAVRA - VIDA"

325/1989, p.287.

PROTESTANTISMO: que é? Conversad ao Catolicismo

327/1989, p.357. 320/1989, p. 19; 331/1989, p.550 e571.

PROTO-EVANGELHO E MULHER

320/1989, p.6.

PRO-VIDA, INTEGRAQÁO CÓSMICA:que é?

327/1989, p!320.

PSICOGRAFIA E CATOLICISMO

330/1989, p.498.

Q

QUEVEDO, PE., E DEMONIOS

323/1989, p.146.

QUMRAN E NOVO TESTAMENTO

331/1989, p.536. R

RACIONALISMO CRISTÁO (ESPIRITISMO)

330/1989, p.504.

REFORMA DA LITURGIA: Bataneo

329/1989, p.434.

REENCARNACÁO E CRISTIANISMO

321/1989, p.91.

REGULACÁO NATURAL DA NATALIDADE

331/1989,p.575.

"REINO DE DEUS" EM CUBA

RELAgOES HETEROSSEXUAIS FORA DO

MATRIMONIO

RELIGIÁO E MORAL NO MARXISMO RELIGIOSIDADE CONTEMPORÁNEA RENOVACÁO DA LITURGIA: Balando

322/1989, p.138.

'. .

327/1989, p.353.

322/1989, p.106. 329/1989, p.457. 329/1989, p.435.

REPOUSO DOMINICAL: em que consiste?

324/1989, p.218.

RUSHDIE.SALMAN: "Versos Satánicos"

325/1989, p.267.

ROMANIZACÁO, segundo Ismar de O. Soares

323/1989, p.160.

s SACRAMENTOS na vida cristl

320/1989, p.25,

no domingo

324/1989, p.215.

"SACROSANCTUM, CONCILIUM": 25 anos SALMAN RUSHDIE: "Versos Satánicos" SALZBURGO: nomeacSo de Arcebispo

SANGUE NA Bl'BLIA SANTO OFI'CIO E LIBERTACAO SANTO SUDARIO E CIENCIA

329/1989, p.436. 325/1989, p.267. 328/1989, p.400.

326/1989, p.311. 323/1989, p.157. 320/1989, p.34; 322/1989, p.98; 329/1989, p. 467.

585

58

PERGUNTE E RESPONDEREMOS 331/1989

SCALZOTTO, FRANCISCO: "FUI ESPIÁO"

323/1989, p.168.

SCHELKLE. KARL, E QUMRAN

331/1989, p.540.

SECULARIDADE.SECULARIZAQAO E SECULARISMO

324/1989, p.194;

SEITAS E SEU AVANqO

325/1989, p.243. 325/1989, p.278.

SENSO DO PECADO OECLINA

324/1989, p.205.

"SEXUALIDADE E FÉ", por Guy Durand

327/1989, p.345.

SILVESTRE N:MAGOEADIVINHO?

330/1989, p.522.

SOARES, ISMAR DE OLIVEIRA E LIBERTAQÁO . .

323/1989, p.157.

SOLIDARIEDADE E SUBSIDIARIEDADE

329/1989, p.449.

SUDARIO DE TURIM: o teste

320/1989. p.34; 322/1989. p.98; 329/1989, p.467.

SUFRAGIOS DOS VIVOS PELOS MORTOS

330/1989, p.496.

T

TELEVISÁO: influencia

323/1989, p.176;

■TEOLOGÍA DA MORTE DE DEUS"

324/1989, p.197.

328/1989, p.386!

TESTE DO CARBONO-14 E SUDARIO

320/1989, p.37;

329/1989, p.98; 329/1989, p.467.

TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E CONVERSÁO

331/1989, p.550.

TOTEMISMO: que é? TOUVIER, PAÚL, E IGREJA TRABALHO NO MARXISMO

322/1989, p.131. 330/1989, p.482. 322/1989, p.110.

TOTALITARISMOS DO SÉC. XX E RELIGIÁO

TRADICÁO NA Bl'BLIA CRISTA E DEMONIO TU, VOCÉ, O SENHOR NA BIBLIA

321/1989, p.6;

326/1989,p.305; 327/1989. p.373. 326/1989, p.310. U

UNIVERSO:configurado física. .

VATICANO :f¡naneas

322/1989, p.119.

V

"VELHOS CATÓLICOS": quem sao? "VERSOS SATÁNICOS, OS" VIDA HUMANA: quando comeca?

327/1989, p.380.

320/1989, p.20. 325/1989, p.267. 327/1989, p.384; 330/1989, p.520.

586

l'NDICE GERAL 1989 VIOLENCIA NA TELEVISÁO

59 328/1989. p.386.

VIRGINDADE

320/1989, p.11.

VOCACÁO OA MULHER . . VOCACOES SACERDOTAIS E RELIGIOSAS

320/1989. p.10. 324/1989, p.202.

' wr WILLEBRANDS, CARD., IAN, no Brasil

328/1989, p.393.

X XAMANISMO:que é?

322/1989. p.132.

EDITORIAIS ADAO E EVA

"A DEUS NADA É IMPOSSIVEL" (Le 1,37)

A RODA DA VIDA (Tg 3,6)

"ATÉ QUE DESPONTE A ESTRELA DALVA..." (2Pd 1, 19)

DEUS A PROCURA DO HOMEM

"EIS QUE ESTOU A PORTA E BATO..." (Ap 3, 20). .

"MINHA FÉ" (Joaquim Nabuco) OS CRISTAOS NO MUNDO

SADIAMENTE INCONFORMADO

320/1989, p.1.

322/1989, p.97.

331/1989 p 529

323/1989, p.145.

327/1989, p.337

329/1989* p.433.

325/1989* p.241. 326/1989* p!289 321/1989 p 49

SOLUCOES MÁGICAS

328/1989, p.385.

"SOU FILHA DA IGREJA!" (Santa Teresa de Avila). .

324/1989 p.193

VAMOS AO PAI!" (S. Inácio Antioqueno)

330/1989, p.481.

"UMA AGUA VIVA MURMURA DENTRO DE MIM:

LIVROS APRECIADOS AUTOR ANÓNIMO. Meditares sobre os 22 Arcanos Maiores do Tar6

326/1989, p.335.

AVELINO DE ASSIS. Paulo. Imagens na Biblia, no

Comeco do Cristianismo e Hoja

328/1989. p.424.

BARRY, Padre. Fascinada por O«us. A aventura

•spiritual da urna Hippia

BIBLIA APÓCRIFA. A historia do nascimanto da María. Proto-Evangelho de Ttago

323/1989, p.191. 321/1989, p.81.

F ABRÍS, Rinaldo. Jetusda Nazari. Historia e Interpretado 587

320/1989. p.33.

60

PERGUNTE E RESPONDEREMOS 331/1989

HOCQUENGHEM, Guy. A colara do Cordeiro

323/1989, p.192.

MENAPACE, Mamerto, O caminho de Emaus

.327/1989, p.379.

ROPS, Daniel. A Igreja dos Apostólos e Mártires

325/1989, p.277.

RIBÓLLA.J.O Plano de Deus

320/1989, p.27.

SCHEID, D. Eusébio Osear. Preparapffo para o

Casamento e para a Vida Familiar SCHUBERT, Mons. Guilherme. Arte para a fé

329/1989, p.479. 321/1989, p.95.

SERENTHÁ, Mario. Jesús Cristo, ontem, hoje e sempre

328/1989, p.432.

SILVA, Airton José da, e equipe. Ele caminha á vossa frente. O seguimento de Jesús pelo Evangelho de Marcos

329/1989, p.480.

WEIL, Pierre. O último Porque

ZEVINI, Jorge. Evangelno segundo Joao. Comentario

espiritual

327/1989^ p.384. 328/1989, p.399.

AOS NOSSOS LEITORES E AMIGOS DESEJAMOS AS MELHORES

GRACAS DO NATAL EM PENHOR DE PRÓSPERO ANO NOVO, AO MESMO TEMPO QUE LHES AGRADECEMOS A VALIOSA COLABORA-

QÁO E LHES SUGERIMOS QUE SE FAQAM PRESENTES AOS SEUS

FAMILIARES E CONHECIDÓS DANDO-LHES COMO PRESENTE DE NATAL UMA ASSINATURA DE "PERGUNTE E RESPONDEREMOS".

A DIRECÁO DE PR

588

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Indulgencias - X María, Virgem e Mae - XI Jesús teve irmáfos? - XII O Culto aos Santos - XIII E as imagens sagradas? - XIV Alterado o Decálo go? - XV Sábado ou Domingo? - XVI 666 (Ap 13,18) - XVII Vocó sabe quando? - XVIII Seitas e espirito sectario - Apéndice geral: A era Constantiniana - Epílogo - Bibliografía.

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