Ano Xxx - No. 329 - Outubro De 1989

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Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO

DA EDipÁO ON-LINE Diz

Sao

Pedro

que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta

necessidade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora,

'.'■"

visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar. este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d.

Esteváo

Bettencourt e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo. A

d.

Esteváo

Bettencourt

agradecemos

a

confiaga

depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

C/J

SUMARIO

D

I-

<

tu

O

"Eis que estou á porta e bato..."

A Reforma da Liturgia: Balanco

H C/i UJ

Doutrina Social da Igreja(Orientacdes)

D

O

<

5

Atei'smo e Nova Religiosidade

O Santo Sudario de Turim: Um ano depois...?

tu _i

co

Milagree "Milagres"

o oc a.

ANO XXX



OUTUBRO 1989

— 329

t: C MtafUIMUbHbrVlUli

OUTUBRO- 1989

Publicado mensal

N9 329

retor-Retponsável:

Estevao Bettencourt OSB Autor e Redator de toda a materia publicada neste periódico

SUMARIO "Eíj que estou á porta e bato..."

433

etor-Adminrrtrador:

No 25? aniversario: A Reforma Litúrgica: Bala neo

434

D. Hildebrando P. Martins OSB

Para o estudo da

minimacao e disuibuicao: Edicoes Lumen Christi

Dom Gerardo, 40 - 5? andar S/501 Tel.: (021> 291-7122

Caixa Postal 2666

20001 - Rio de Janeiro - RJ

Doutrina Social da Igreja (Orientacoes)

443

No mundo moderno: Ateísmo e Nova Religiosidade

457

Como estao as pesquisas sobre O Santo Sudario de Turim: Um ano depois...?

Mais urna vez: Milagro e "Milagros"

467

473

63 "MARQUFSSARAIVAV'i.

G*Á*ÍCOSf (C*7C**tS S i

O** Si**» Am^oum }*0 CiHeo o* SI Cl«* WÍ10 UH

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NO PRÓXIMO NÚMERO: 330- Novembro - 1989

O caso "Paúl Touvier". - "O Além existe" (Lino Albertini). - "O Grande Complo" (J.C. de Castro Ríos). - Taró, Numerologia, Cabala. - Quadros

discutidos de Historia da Igreja. - O Racionalismo Cristao.

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

INATURA ANUAL (12 números): NCz$ 50,00 - Número avulso: NCzS 5,00 . Pagamento (á escolhal.

VALE POSTAL á agencia central dos Correios do Rio de Janeiro em nome de Edicoes "Lumen Christi" Caixa Postal 2666 20001 Rio de Janeiro - RJ.

. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edicoes "Lumen Christi" (endereco ácima). ORDEM DE PAGAMENTO, no Banco do Brasil, conta N? 31.304-1 em nome do Mos-

teiro de Sato Bento. pagável na agencia Praca Mauá/RJ N? 0435-9. (Nao enviar através de DOC ou depósito instantáneo - A identificapao é difícil).

3TT

"Eis que Estou a Porta e BatóTTT^ (Ap 3, 20) A imagem da ceia é freqüente ñas Escrituras para designar a bem-aventuranca celeste: o Senhor convida todos os homens para a ceia nupcial da vida eterna (ver Le 14, 16-24; Mt 22, 2-10; Is 25,6). A mesma imagem, po

rém, ocorre urna vez no Apocalipse em sentido diverso: o Senhor se faz de hospede, em vez de ser o anfitriá*o: "Eis que estou a porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa; cearei com ele, e ele

comigo" (Ap 3,20). Esta passagem lembra outra ocorrente no Cántico dos Cánticos: de noite, a amada, já recolhida, ouve a voz do Amado que bate á porta; na*o Ihe responde, porém, vencida pela indolencia,... indolencia da

qual logo se arrepende amargamente (cf. Ct 5,2-7). No Apocalipse, o Senhor Jesús espera ser recebido no íntimo ou no coracao de cada um dos seus fiéis,

que ele interpela, sem forpar a entrada. Compete a cada qual optar livremente...

É significativo o contexto no qual se encontra tal versículo do Apoca lipse: faz parte de urna das sete epístolas iniciáis, ou seja, da mensagem aos laodicenos, que é de todas a mais severa: o Senhor censura aos fiéis a tibieza: "Conheco tua conduta: nao és nem frió nem quente. Oxalá fosses frió ou

quente! Assim, porque és morno, nem frió nem quente, estou para te vomi tar da minha boca" (3,15s). Após tafo seria advertencia, o Senhor oferece nova chance á criatura, batendo-lhe á porta, discreto e paciente. A pequeña carta aos laodicenos apresenta assim urna situacáo típica,

que pode afetar a vida do cristáo: a tibieza ou acédia a ameacam constante mente, fazendo que o cristao perca a alegría e o entusiasmo de sua vocacao;

após o fervor dos primeiros tempos ou de sua conversáo, dá-se por cansado, sem coragem para continuar, mas também sem a ousadia de voltar atrás ou

tudo deixar de lado. Quem cede a tal atitude, ensurdece. a voz de Deus, por que isto Ihe parece mais cómodo, e assim se desfigura ou perde a sua ¡den ti-

dade. O Senhor, porém, nao deixa de falar diariamente aos seus fiéis, desper tándoos para urna vida mais consciente e plena, da qual o primeiro sinal é a docilidade a Palavra de Oeus. Quem decide vencer a indolencia e abrir cora josamente a porta ao Senhor, tem, já nesta térra, um antegozo da vida eter

na: "Cearei com ele, e ele comigo", diz o Senhor. O Papa Pió XII (1939-1959) afírmava que o grande mal do seu tempo era ter que verificar que "os bons estavam cansados"... Estaremos em outros

tempos? Perderam sua atualidade as palavras do Pontífice? Como quer que

seja, o Senhor continua batendo á porta de cada qual dos seus amigos e aguardando urna eventual resposta: "Senhor, aqui estou!". 433

g B

"PERdUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XXX - N? 329 - Outubro de 1989 No 25? Aniversario:

A Reforma da Liturgia: Balando Em sintése: Os vinte e cinco anos da promulgacao da Constituicao Sacrosanctum Concilium do Concilio do Vaticano II deram ensejo a que o S. Padre escrevesse uma Carta Apostólica, na qual faz o bataneo dos resultados positivos da reforma litúrgica e dos desvios de interpretacao do texto. Joao

Paulo II enfatiza o caráter genuino, e consentáneo com a Tradicio, da reno-

vacSo da Liturgia; aponta desafios que no decorrer dos vinte e cinco anos surgiram para os pastores (como sao, por exemplo, os que se prendem á adaptacSo da Liturgia és culturas dos diversospovos); frisa que só tém com petencia para modificar a Liturgia as autoridades eclesiásticas, cada qual dentro dos limites que de direito devem observar; nSo compete, pois, aos sacerdotes nem a grupos de leigos retocar ou ¡novar o que se/a, fora do que

permitem as rubricas. É recomendada a sólida formacao litúrgica do clero e do laicato, a fim de que possam compreender claramente os porqués ou as linhas teológicas subjacentes aos ritos sagrados e assim celebrar com mais proveito a obra da Redencao que se exerce sobre os altares da Igreja.

Por ocasiao do 25? aniversario (4/12/1988) da Constituicao Sacrosanctum Concilium do Concilio do Vaticano II referente a renovacao da Liturgia, o S. Padre Joao Paulo II publicou uma Carta Apostólica na qual faz o balanco dos frutos e dos trapos negativos que a Liturgia restaurada traz consigo. Trata-se de documento importante, porque muito sincero em reía434

REFORMA DA LITURGIA: BALANCO cao ao passado e lúcido em relacáb ao futuro. Após a respectiva Introducáb

(n? 1 e 2), apresenta seis partes: 1) A renovacfo na linha da Tradicao (n? 3-4); 2) Os principios normativos da Constituicao (n? 5-9); 3) Orien-

tacoes para guiar a renovacao da vida litúrgica (n? 10); 4) Aplicacáfo concre

ta da Reforma (n? 11-13); 5) O futuro da renovacfo (n? 14-18); 6) Os or ganismos responsáveis pela renovacao; Conclusao (n? 22).

Examinemos as grandes linhas do texto em pauta, que o S. Padre introduz com as seguintes palavras:

"Após um quarto de sáculo, no qual a Igreja e a sociedade conheceram mudancas profundas e rápidas, é oportuno trazer á luz a importancia dessa Constituicao conciliar, a sua atualidade frente ao surto de problemas novos e o permanente valor de seus principios" (n? 2).

1. A renovacSo na linha da Tradicáo (n? 34) Nos tempos modernos, ou seja, a partir do sáculo XVI, verificaramse notáveis intervencoes dos Papas no setor da Liturgia, a fim de a tornar sempre mais viva e expressiva: Sá*o Pió V, por exemplo, reformou o Missal e o Breviario Romanos. No principio do sáculo XX, a renovacao da Teología e

da piedade levaram o Papa Pió X (1903-1914) a enfatizar o domingo e a re novar, mais urna vez, o Breviario. Pío XII (1939-1958) prosseguiu a obra de reforma, tendo em vista os progressos dos movimentos bfblico e ecuménico, a consciéncia de Igreja "Corpo de Cristo" e de Liturgia como celebracao da

obra da Redencao;1 entre outras coisas, retocou as principáis celebrares da Semana Santa. O Concilio do Vaticano II (1962-65) colheu os frutos das providencias anteriormente tomadas pelos Papas e prescreveu a revi sao dos diversos ritos

da Igreja assim como o aprofundamento da formacao litúrgica dos fiéis — o que deu origem á reforma dos livros litúrgicos, feita estritamenté em continuidade com a S. Tradicáo. A importancia dessa renovacao foi exposta pelo próprio Papa Joao Paulo II em sua Carta Dominicae Coenae: "Existe um Ma me muito estrito e orgánico entre a renovacao da Liturgia e a renovacao de toda a vida da Igreja. A Igreja atua na Liturgia e tambám nesta se exprime; ela vive da Liturgia e tira da Liturgia as suas forcas vitáis".

A importancia da Liturgia deduz-se do fato de que esta nao é apenas um conjunto de cerimónias e rubricas, mas é a prossecucáo da obra redentora de

Cristo] realizada cruentamente no Calvario e tornada presente sob forma sa

cramental através dos ritos sagrados. 435

4

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989 2. Os principios normativos da Constituicao (n? 5-9)

Tres sao os grandes principios que nortearam a reforma litúrgica após o Concilio do Vaticano II: 1) A atualizacSo do misterio pascal; 2) A leitura da Palavra de Deus; 3) A manifestacao da Igreja á própria Igreja. Analisemolos de per si.

2.1. Atualizacáb do misterio pascal A morte e. a ressurreicao de Jesús Cristo nao sao apenas fatos pretéri tos, mas se perpetuam sacramentalmente através da Liturgia, para que os

fiéis possam participar délas. Essa atualizacao implica uma permanente pre senca de Cristo sob quatro modalidades: a) presenca na Igreja reunida para orar em nome de Cristo;

b) presenca na pessoa do sacerdote, por meio de quem o próprio Cris to comunica as gracas da Redencao;

c) presenca na Palavra bíblica, que. o leitor proclama com dignidade e a homilía comenta com sabedoria;

d) presenca nos sacramentos e, de modo especial, na celebragáo da S. Eucaristía. Essa múltipla presenca de Cristo há de estar viva na consciéncia dos sacerdotes e dos fiéis, que por isto háo de tratar santamente as coisas santas. 22. Leitura da Palavra de Deus

A Palavra de Deus ou a Escritura Sagrada é precioso manancial de gra pas para os fiéis; vem a ser um sacramental ou um livro que santifica nao

apenas na medida da compreensáo de quem o lé, mas também, e primeiramente, na proporcáo da fé e do amor com que é utilizado. Dai o empenho

da reforma litúrgica em propiciar aos fiéis uma leitura mais variada e copio sa da Biblia Sagrada; o ciclo de textos a ser lidos na Missa e no Oficio Divi no foi sabiamente ampliado. Assim tem-se registrado novo interesse do povo católico pela Biblia; todavía esta renovapfo suscita exigencias, como "a fidelidade ao sentido autentico da Escritura, que é preciso manter sempre, prin cipalmente quando é traduzida para as diversas linguas modernas; a maneira de proclamar a Palavra de Deus para que seja percebida como tal, o emprego dos recursos técnicos apropriados, a disposicao interior dos ministros da Pa lavra para bem preencherem a sua f un cao na assembléia litúrgica, a cuidado

sa preparacao da homilia mediante o estudo e a meditacao, o interesse dos 436

REFORMA DA LITURGIA: BALANCO

fiéis pela participacao da Mesa da Palavra, o gosto de rezar os Salmos, o desejo de descobrir o Cristo — como os discípulos de Emaus — ñas Escrituras e

no pao partilhado" (n? 8).

2.3. A manifestacío da Igreja á própria Igreja

O texto conciliar procurou fazer da Liturgia um espelho da Igreja,... da Igreja em oracao. Com efeito, no culto divino a Igreja manifesta o que Ela é: una, santa, católica e apostólica. Ela se manifesta una, principalmente guando o povo de Deus participa da mesma Eucaristía numa única atitude orante. ... Santa. A Igreja, santificada e vivificada pelo Espirito Santo, comu nica aos fiéis, através da Eucaristía e dos demais sacramentos, toda graca e béncao do Pai.

... Católica. Pela Liturgia o Espirito do Senhor reúne todos os homens na profissáo da mesma fé e na oblacao do único sacrificio de Cristo. ... Apostólica. Pela Liturgia a Igreja transmite fielmente o que Ela recebeu dos Apostólos e da Tradicao por eles iniciada dentro da sucessáo de legítimos ministros.

Assim "é principalmente na Liturgia que o misterio da Igreja é anun

ciado, experimentado e vivido" (n? 9).

3. Orientacoes para guiar a renovacao da vida litúrgica (n? 10) A reforma da Liturgia apregoada pelo Concilio do Vaticano' II está

terminada, mas a Pastoral litúrgica impoe novas e novas tarefas para difundir sempre mais copiosamente as riquezas do culto divino sobre todos os fiéis. Eis algumas dessas tarefas:

1) A adoracao, o louvor de Oeus e o silencio da contemplagao se rao sempre os primeiros objetivos de toda Pastoral litúrgica.

2) A Palavra de Deus tenha o primado sobre quaiquer outra palavra, de modo que a ela se adaptem as homilias, os cantos, as exortacoes... Nenhuma leitura de livro ná"o bíblico, por mais edificante que seja, poderá substi tuir as leituras bíblicas da Liturgia. 437

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989 3) Já que a Liturgia é o culto oficial da Igreja, sonriente a autoridade eclesiástica é lícito retocá-la ou mudá-la; nenhum sacerdote ou grupo de

fiéis a modificará por própria iniciativa. Esta normase baseia especialmente no fato de que a Liturgia exprime a fé da Igreja, de modo que as alteracoes da Liturgia podem implicar alteracoes da fé católica ou também invalidade dos ritos sacramentáis.

4) É para desejar que toda a assembléia participe das celebracoes sagra das. Por isso a Igreja distribuí funpoes e ministerios também aos fiéis leigos, para que cadaqual tome viva consciéncia de ser membro de urna comunidade, lendo, cantando, comentando, servindo ao altar. Sejam incentivadas as celebrares comunitarias, mormente a do Oficio Divino.

5) Para facilitar a participacáo de todos, a Igreja introduziu as línguas modernas na Liturgia, sem todavía abolir o latim.

6) A reforma litúrgica deíxou margem a que os celebrantes, num ou noutro momento dos ritos sagrados, efetuem certas adaptacoes ao genio e á

cultura da assembléia presente. É preciso, porém, que os símbolos sagrados ná"o sejam assim empobrecidos em seu significado: o pío, o vinho, o óleo, a agua, o incensó, o fogo, as cinzas, as flores... guardem toda a pujanza da

sua linguagem.

4. Aplicacáo concreta da reforma (n? 11-13) Sejam

considerados: 1)

as dificuldades; 2)

os resultados positivos;

3) as aplicapóes erróneas. 4.1. Dificuldades

a) A reforma litúrgica encontrou obstáculos em certos traeos da mentalidade contemporánea: recusa das ¡nstituicSes, a privatizacáo da religiao, o questionamento da fé pessoal...

b) Além disto, tres tipos de resposta registraram-se ao convite para urna participado mais ativa na Liturgia: -- a recusa por medo de se perder a integridade da fé (correóte integrista);

— a indiferenpa dos que nao se importaram com os porqués da renova

do; - o exagero dos que arrogaram a si o direito de transgredir as normas 438

REFORMA DA LITURGIA: BALANgO estabelecidas, promovendo inovacóes fantasiosas e modificacoes perturbado ras da píedade dos fiéis. 4.2. Resultados positivos

Nao se deve esquecer, porém, que a ¡mensa maioria dos pastores e dos fiéis acolheu com obediencia e fervor alegre a reforma da Liturgia. Daí decorreram frutos valiosos, como a utilizapao mais proficua da Palavra de Deus na Biblia; a participacSo consciente e auténtica dos fiéis ñas celebracoes sa gradas, favorecida por novas traducoes da Bfblia, do Missal e de outros livros

litúrgicos; o exercfcio de ministerios fundamentados no sacerdocio comum dos fiéis ou nos sacramentos do Batismo e da Crisma; a vitalidade irradiante de muitas comunidades alimentadas pela celebracao da Liturgia.

É o que leva a repetir com os Bispos reunidos no Sínodo de avaliacao

dos 25 anos pós-conciliares em 1985: "A renovapao litúrgica é o fruto mais perceptível de toda a obra conciliar". 4.3. Aplica?oes erróneas

Ao lado de tais beneficios, é preciso lamentar certos (nao raro, graves) desvíos na execucáo da reforma. "Verificaram-se, por vezes, omissdes ou acréscimos ilícitos, ritos in ventados fora das normas estabelecidas, atitudes ou cantos que nao favore

cen) a fé ou o senso do sagrado, abusos na prática da absolvicao coletiva, confusao entre o sacerdocio ministerial, decorrente do sacramento da Ordem, e o sacerdocio comum dos fiéis, fundamentado no Batismo. NSo se pode tolerar que certos sacerdotes arroguem a si o direito. de compor Oracoes Eucarfsticas ou substituir os textos da Escritura por textos profanos. Iniciativas de tal género, longe de decorrer da reforma litúrgica ou

dos respectivos livros, contradizem-lhe diretamente, desfiguram-na e privam o povo cristao das auténticas riquezas da Liturgia da Igreja. Compete aos Bispos extirpar tais abusos, visto que a direcao da Litur gia depende do Bispo dentro dos limites do Direito Canónico e a vida crista dos fiéis está entregue aos seus cuidados" (n? 13).

5. O futuro da renovacao (n? 14-18) A" fim de que as salutares diretrizes da renovacao litúrgica possam ser aprofundadas e produzam novos frutos de santificacao, quatro propósitos

se impoem aos pastores e aos fiéis:

439

8

"PERGUNTE.E RESPONDEREMOS"329/1989 5.1. Formacáb bíblica e litúrgica

Seria utópico esperar be las realizacoes litúrgicas se nao houvesse nos ministros e no laicato a compreensSo do que elas significam e vatem. Daf a necessidade de se ministrar nos Seminarios uma sólida formacao litúrgica, que se deverá estender ao longo do ministerio dos pastores da Igreja. Daí também a exigencia de que os leigos recebam formacao análoga, de mais a

mais que em muitas regioes sao chamados a assumir responsabilidades de vulto ñas suas comunidades. 5.2 Adaptacao

É desejável a adaptacao da Liturgia ás diversas culturas. As traducóes para o vernáculo já ocorreram, apesar de dificuldades ná*o poucas. A dos ri tos parece mais delicada, mas também se faz necessária; tende a "harmoni zar as expressoes culturáis dos diferentes povos com os aspectos do verdadeiro e auténtico espirito litúrgico no respeito da unidade substancial do rito

romano". A adaptacao deve levar em conta que, na Liturgia (especialmente na dos Sacramentos), há uma parte ¡mutável — porque é de instituicao divi na -, da qual a Igreja é guardia; há também partes mutáveis, que a Igreja

tem o poder, e até odever, dsvezes, de adaptar ás culturas dos povos recém-

evangelizados (cf. n? 16). Tal adaptacao exige seria formacao teológica, his tórica e cultural e uma capacidade de jufzo sadio para discernir o que é ne-

cessárioou útil ou, ao contrario, inútil e perigoso para a fé. É tarefa delicada que pode provocar grande enriquecimento da piedade, como também tensoes, incompreensoes recíprocas ou mesmo cismas.

5.3. Atencíb aos problemas novos

Nos últimos vinte e cinco anos surgiram novos problemas, que suscitaram adequadas respostas dos promotores da Liturgia: assim o exercício do diaconato permanente por parte de homens casados, certas funcoes confia

das a leigos (homens e mulheres), as celebracoes litúrgicas para crian gas, para

jovens, para deficientes, a composicáb de textos apropriados a determinados países...

A Constituipao conciliar oferece os principios gerais para coordenare orientar estas novas situacoes. 5.4. Liturgia e piedade popular

Nao se pode menosprezar a piedade popular, pois ó rica de valores e exprime o fundo religioso do homem diante de Deus. Todavia é preciso

"evangelízala", a f im de que nao contradiga ás verdades da fé nem se substi440

REFORMA DA LITURGIA: BALANCO

9

tua ás celebracóes da Liturgia. Urna auténtica Pastoral litúrgica deverá sa

ber orientar as devocoes populares para a Liturgia, a fim de que estejam em

consonancia com esta.

6. Os organismos responsáveis pela renovacáo

litúrgica (n? 19-21)

Sao mencionadas tres instancias responsáveis: 1) A Congregagáo para o

Culto Divino e a- Disciplina dos Sacramentos; 2) as Conferencias Episcopais; 3) o Bispo diocesano.

6.1. A Congregacáb para o Culto Divino

Existe na Santa Sé um 6rgá"o supremo - a Congregacao para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos —, que, em consonancia com a Con gregagáo para a Doutrina da Fé, está encarregada de regrar e promover a Li turgia, animando a Pastoral litúrgica e apoiando os organismos que se dedicam ao apostolado litúrgico, á música, ao canto e a arte sacra. Cabe-lhe a tarefa importante de guardar fielmente os principios da Liturgia católica, que devem sempre mais inspirar toda a renovacSo da Liturgia.

Tal Congregagao ajudará os Bispos diocesanos na execucao de suas funpoes pastorais e permanecerá em contato com as Conferencias Episco pais. 6.2. As Conferencias Episcopais

Ás Conferencias Episcopais tocou o pesado encargo de preparar a traducao dos livros litúrgicos para o vernáculo. Foram, por vezes, premi-

das por motivos momentáneos a utilizar traducoes provisorias,.que receberam aprovagao provisoria. Compete agora ás Conferencias rever essas tradu coes, retocando o que netas haja de menos exato, criar ou aprdvar os cantos

adequados ás fungoes sagradas, publicar livros litúrgicos em caráter duradouro e em termos dignos dos ritos sagrados. Cada Conferencia cuidará de no-

mear urna Comissao especial, constituida por peritos, a fim de zelar pela ce-

lebragáo da Liturgia — tarefa particularmente delicada quando se trata de fazer adaptagoes e proceder á inculturacao dos ritos litúrgicos. 6.3. O Bispo diocesano

Em cada diocese, o Bispo é o principal dispensador dos misterios de Deus, assim como o organizador, o promotor e o guardiáo de toda a vida

litúrgica. É importante que o Bispo celebre juntamente com os seus fiéis,

pois isto manifesta sensivelmente o sacramento da Igreja. Ainda resta muito 441

10

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

a fazer para ajudar os sacerdotes e os leigos a penetrar o sentido dos ritos e

dos textos da Liturgia, para desenvolver a dignidade e a beleza das celebracoes e dos lugares sagrados, para exercer uma catequese litúrgica bem estruturada. A fim de atingir tais objetivos, o Bispo poderá nomear uma ou mais Comissoes diocesanas, que Ihe prestarao seus subsidios e trabalharáo em consonancia com o seu pastor.

Conclusáo (n? 22s) A Liturgia nao é toda a atividade da Igre ja, mas vem a ser a fonte e o cume dessa atividade. Fonte, porque déla recebem os fiéis a graca necessária para ser cristaos e agir como tais. Cume, porque toda a ativid'ade da Igre-

ja tende a comunhao de vida com Cristo e na Liturgia a Igreja manifesta e comunica aos fiéis a obra da salvacá*o realizada uma vez por todas pelo Senhor Jesús.

"Parece chegado o tempo de encontrar de novo o grande sopro que levantou a Igreja no momento em que a Constituicao Sacrosanctum Concilium foi preparada, discutida, votada, promulgada, e em que ela conheceu as suas primeiras medidas de aplicacao. O grao foi semeado: experimentou o rigor do invernó, mas a sementé germinou, tornou-se uma árvore. Agora trata-se do crescimento orgánico de uma árvore tanto mais vigorosa quanto mais profundamente lanca suas rai'zes na térra da Tradicao" (n? 23). Na obra de renovacao da Liturgia será preciso levar sempre em consideragao equilibrada "a parte de Deus e a parte do homem, a hierarquia e os fiéis, a tradicSo e o progresso, a le i e a adaptacao, o particular e a comunidade. o silencio e a harmonía coral. Assim a Liturgia da térra se juntará á do céu, onde se formara um so coro" (n? 23). Eis, em símese, as grandes linhas do documento de Joáo Paulo II, que dispensa quaiquer comentario, lúcido e completo como é. Resta ape nas fazer votos para que as sabias ponderacoes e orienta?oes do Sumo Pon tífice encontrem eco fecundo ñas mentes de todos os fiéis em vista de uma execucao sempre mais digna e edificante do culto sagrado.

442

Para o estudo da

Doutrina Social da Igreja (Orientagóes) Em síntese: A Congregacao para a EducacSo Católica promulgou am

pia InstrucSo relativa ao ensino da Doutrina Social da Igreja nos Seminarios e nos Centros de Formacio Eclesiástica. O documento é rico em dados, que serao úteis também ao laicato católico e nSo católico, pois, entre outras coi sas, propoe de maneira compendiosa as grandes linhas da Doutrina Social da

Igreja, mostrando que se baseia nSo somente sobre o Evangelho e a fé, mas também nos principios do Direito Natural, perceptível a todo homem. 0 centro dessa Doutrina é a pessoa humana, feita á imagem e semelhanqa de Deus, com sua dignidade, seus direitos e seus deveres. A pessoa foi feita para se realizar em sociedade, de tal modo que, integrándose nesta, ela possa en contrar, da parte dos governantes, os meios necessários para a sua plena realizacao tanto no plano material como no espiritual.

* * *

Com a data de 20/12/88 foi publicado em julho pp. o texto de urna Instrucao da Congregacao para a Educacao Católica, que tem por ti'tulo: "Orientapoes para o Estudo e o Ensino da Doutrina Social da Igreja na Formapáfo Sacerdotal". O interesse deste documento ultrapassa os limites dos Seminarios e Teologados, pois apresenta sumariamente as grandes diretrizes da Doutrina Social da Igreja numa hora em que o cristao é desafiado por nu merosas propostas socio-políticas nem sempre condizentes com o Evange' 10.

Percorreremos sumariamente as seis Partes do Documento assim apre sen tadas: Premissa; 1) Natureza da Doutrina Social; 2) Dimensao Histórica

da Doutrina Social; 3) Principios e Valores Permanentes; 4) Criterios de Juízo; 5) Diretrizes para a Acao Social; 6) A FormacSb. - Seguem-se dois Apéndices, dos quais o primeiro propoe temas para especial estudo. e o se gundo contém textos do magisterio da Igreja relativos á temática. 443

12

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

Premissa (n?s 1 e 2) Neste documento as expressoes Doutrina Social (DS) e Ensi na monto

Social (ES) da Igreja sá"o empregadas como sinónimas entre si, embora dou trina signifique mais o aspecto teórico do problema e ensinamento o histó rico e prático.

Diante do grande drama do mundo contemporáneo, a Igreja se senté

chamada a pronunciar-se. Todavía Ela nao intenciona dar solucao a todos os problemas sociais e económicos da humanidade. Ela deve, s¡m, propor os princi'pios derivados do Evangelho para que haja a reta organízacao da vida social, o respeito á dignidade humana e a procura do bem comum. Isto quer

dizer que é tao somente a ética das solucoes apregoadas pelos especialistas e cientistas que a Igreja pode e deve avaliar á luz do Evangelho (n? 1 e 2).

1. Natureza da Doutrina Social (n?s 3-13) A Doutrina Social da Igreja tem sua origem no encontró do Evangelho com os problemas que surgem na vida da sociedade. Ela é elaborada com re curso á Teología e á Filosofía (que Ihe dá*o fundamentacáo) e ás ciencias hu manas e sociais (que a complementam). Ela tem em miraos aspectos éticos da vida, sem esquecer os aspectos técnicos dos problemas para julgálos com criterios moráis. Cf. n? 3. A DS da Igreja possui ¡dentidade própria; é urna disciplina bem defini da. As suas fontes sao a S. Escritura, a doutrina dos Padres e dos grandes teólogos e o próprio Magisterio da Igreja. O seu fundamento e objeto primario sao a dignidade da pessoa humana com os seus diré ¡tos inalienáveis. Cf. n? 4.

A DS tem caráter eminentemente teológico e finalidade pastoral de

servico ao mundo. NSo se trata de comunicar um mero saber, mas um saber teórico-prático, de alcance pastoral para o bem de cada homem e de todos os homens. Cf. n? 5.

O mátodo do ES da Igreja é o que a Igreja tem usado em documentos recentes: ver, julgar e agir. O ver é o perceber os problemas sociais e suas causas. 0 julgar é a interpretado de tal realidade á luz da fé ou segundo a es cala de valores do Evangelho. Para bem julgar, requer-se odom do discernimento, para se descobrir a correta aplicacSo do plano de Deus aos moldes da

historia. O agir é a execucao das normas decorrentes do Evangelho posto em confronto com os problemas sociais; esta execucfo requer urna verdadeira conversSo, ¡sto é, transformacao interior que é disponibilidade, abertura e transparencia para a luz purificadora de Deus. Cf. n? 7 e 8. 444

DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

13

A DS, embora seja essencialmente baseada na Teologia e na Filosofía, precisa também dos subsidios das ciencias humanas, especialmente das ci encias sociais. Evite-se, porém, o perigo de ceder a ideologías contrarias á reta razao, á fé crista e mesmo aos dados da experiencia. Cf. n? 9 e 10.

A DS necessita de ser continuamente atualizada conforme as novas skuacoes do mundo e da historia. Ela comecou a ser cultivada de maneira sistemática por Leao XIII na Encíclica Rerum Novarum (1891), e vem sen do desenvolvida pelos Pontífices subseqüentes: Pió XI (Cuadragésimo Armo, 1931), Joao XXIII (Matar et Magistra, 1961, Pacem in Terris 1963), Joao Paulo II (Laborem Exercens, 1981, Sollicitudo Rei Socialis, 1987). "Os po bres de que tratam alguns documentos mais recentes, nao sá"o os proletarios a que se referia Le So XIII na Encíclica Rerum Novarum, nem sao os desempregados que estavam no centro da atenpáo de Pió XI na Cuadragésimo

Anno. Hoje o seu número é muito maior e dele fazem parte todos aqueles que ría sociedade do bem-estar sá"o excluidos da fruí cao dos bens da térra com liberdade, dignidade e seguranca" (n? 11 e 12). A Igreia afirma o seu direito de ensinar a sua Doutrina Social em vista do bem e da salvacáo dos homens, pois Ela sabe que o destino da human idade está ligado estrita e indiscutivelmente a Cristo. Na medida em que consi dera os aspectos éticos da problemática social, a Igreja está dentro da sua área de competencia própria e ná"o pode ser acusada de extrapolar o seu ám bito de acao. Ademáis a Igreja oferece a sua Doutrina Social a todos os ho mens de boa vontade, pois os seus principios fundamentáis sao postulados da reta razio iluminada e aperfeicoada pelo Evangelho.

2. Dimensao histórica da Doutrina Social (nos 14-28) A DS tem suas rafzes na própria missfo salvi'f ica de Jesús Cristo. Com efeito; Jesús na"o foi indiferente ao problema da dignidade e dos direitos da pessoa humana. Lutou contra a injustica, a hipocrisia, os abusos do poder, a avidez do ganho dos ricos, estranhos aos sofrimentos dos po bres, apelando fortemente para a prestapáb final de contas, quando voltará para julgar os vivos e os mortos. - O Evangelho ensina outrossim os valo res da familia unitaria e indissolúvel, os valores relativos á origem e á natureza da autoridade, concebida como um servico ao bem comum...

A Igreja nSo faz outra coisa senáo aplicar e desenvolver os principios contidos no Evangelho. Os antigos Bispos (S. Basilio, S. Joao Crisóstomo, S. Ambrosio, S. Agostinho...) nos séculos IV/V sao conhecidos como defen

sores dos pobres e promotores de hospitais, orfanatos, albergues, inauguran do assim um novo humanismo radicado em Cristo. "Grapas aos esforcos da 445

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

Igreja, foi reconhecida a inviolabilidade da vida humana; a santidade e a indissolubilidade do matrimonio, a dignidade da mulher, o valor do trabalho humano e de cada pessoa - o que contribuiu para a abolipao da escravatura, que fazia parte, como algo de normal, do sistema económico e social do mundo antigo. O desenvolvimento progressivo... das Universidades tornou possfvel a elaboracáfo científica dos principios que regulam a convivencia humana. A esse respeito permanece perene o pensamento de S. Tomás de

Aquino (t 1274), de Francisco Suarez S.J. (t 1617), Francisco de Victo ria O.P. (t 1546) e tantos outros. Juntamente com varios insignes filósofos

e canonistas, preparam os instrumentos necessários para a formacao de auténtica doutrina social, tal como foi inaugurada pelo Papa Leáo XIII (1891). Cf. n? 15-17.

O sáculo XIX, marcado pela revolucáo industrial, o liberalismo, o capitalismo e o socialismo, deu ensejo a que a Igreja delineasse de maneira mais sistemática as incidencias do Evangelho sobre a sítuacáo socio

económica do mundo. Cf. n? 19.

Assim Leao XIII na Encíclica Rerum Novarum (1891), depois de ter elencado os erros que levaram á miseria ¡merecida do proletariado e depois de ter excluido de modo particular o socialismo1 como remedio para a questao operaría, atualizou a doutrina católica acerca do trabalho, do di-

reito de propriedade, sobre o principio de colaboracáo em oposicáo á luta de classes, ... sobre os direitos dos fracos, a dignidade dos pobres e as obrigacSes dos ricos, sobre o aperfeicoamento da justica mediante a caridade. so bre o direito de criar assocíacoes prof issionais. Cf. n? 20. Pió XI, quarenta anos depois, na Quadragesimo Anno (1931), apresentou um panorama da sociedade industrial; sublínhou a necessidade de cola

boracáo do trabalho e do capital para a organizacáo económica, defendeu a liberdade de assocíacao e de acao social. Cf. n? 21.

Pió XII frisou o destino universal dos bens, os direitos e os deveres dos trabalhadores e dos patrSes, a funcao do Estado ñas atividades económicas, a necessidade de colaboracáo internacional para a justica e a paz, o salario fundamental da familia. Durante a guerra de 1939-45 e no após-guerra, a

voz de Pió XII foí a da consciéncia humana e crista proclamada a milhées de crístaos e nao cristfos. Cf. n? 22.

Sábese que apatavra "Socialismo" hoje recobre um leque de correntesde

pensamento que vSo desde o Socialismo da Uniao das Repúblicas Socialistas

Soviéticas {onde há o Comunismo) até o Socialismo da Suéda e de outros

países de centro.

446

DOUTRINASOCIAL DA IGREJA

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Joao XXIII, na Ene. Matar et Magistra (1961), ressaltou os fenómenos

do subdesenvolvimento que, por falta de solidariedade entre as nacoes, geram situacoes insuportáveis, principalmente no Terceiro Mundo."-- Na Ene.

Pacsm in Tenis (1963), diante das ameacas de guerra nuclear, redigiu urna exortacao urgente a construir a paz, fundada no respeito das exigencias éti

cas que devem presidir as relacoes entre os homens e os Estados. Cf. n? 23.

O Concilio do Vaticano II (1962-65), na Constituicao Gaudium et

Spes n? 64s, apregoou o bem do homem completo, integralmente considera

do, isto é, tendo em conta as suas necessidades de ordem material e as suas exigencias de vida intelectual, moral, espiritual e religiosa, superando assim as contradicoes entre produtor e consumidor e as discriminacoes que ofendem a dignidade da fami'lia humana. Cf. n? 24.

Paulo VI, na Ene. Populorum Progressio (1967), apresentou o desenvolvimento como- "passagem das condicoes de vida menos humanas para condicoes mais humanas". As condicoes menos humanas implicam caren cias materiais e moráis, como também estruturas opressivas. As condipoes humanas significam a posse donecessário, aaquisicáode conhecimentos e de cultura, o respeito da dignidade dos outros, o reconhecimento dos valores supremos e de Deus, e, enfim, a vida crista de fé, esperance e caridade.

Ao comemorar oitenta anos da Rerum Novarum, o mesmo Pontífice

em 1971 publicou a Carta Apostólica Octogésima Adveniens. que estimulava o senso crftico em relacao ás ideologías subjacentes aos sistemas socio

económicos vigentes. Cf. n? 25.

Joao Paulo II escreveu duas Encíclicas. A Laboreen Exerceni (1981) considera o trabalho humano como chave de toda a questáo social; portanto propoe urna revisao profunda do sentido do trabalho, que deve dignificare nao escravizar a pessoa humana. - A Sollicitudo Reí Socialis (1987), comemorando vinte anos da Populorum Progressio, retomou o tema do de senvol vimento, apontou os hiatos existentes entre Norte e Sul, Oriente e Ocidente,

e denunciou a corrida aos armamentos, o comercio de armas e varios obstá culos que impedem a solidariedade entre os povos. Esta é condicao indispensável para que os homens e as nacoes se realizem, cultivando o ter mais do que o ter. Cf. n? 26. Esta panorámica da historia da DS da Igreja ajuda a compreender o di namismo da mesma. Cada documento significa um novo passo e exprime no va preocupacá*o pastoral. Essa Ooutrina nao é urna terceira vía entre o capi

talismo liberal e o coletivismo marxista, nem sequer é urna alternativa para outras solucóes radicalmente opostas, mas um servico que a Igreja oferece segundo as necessidades dos lugares e dos tempos. Cf. n? 27. 447

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

3. Principios e valores permanentes (n?s 29-461 Segue-se agora o elenco dos grandes traeos que nunca devem faltar no ensino da DS da Igreja. 3.1. Principios perenes

1) A pessoa humana Tem sua dignidade no fato de que foi criada á imagem e semelhanca

de Deus e elevada á filiacáo divina ou a um fim sobrenatural, que transcende a vida terrena. Por conseguinte, o homem, como ser inteligente elivre, dota do de direitos e deveres, é o coracao e a alma do ensinamento social da Igre

ja. É o sujeito e o centro da sociedade, a qual deve contribuir para que os seus membros cheguem á plena realizapao de suas legítimas aspiracóes de

perfeigaoe felicidade. Cf. n? 31. 2) Os direitos humanos Os direitos humanos decorrem da dignidade da pessoa. Em particular, o direito á liberdade religiosa, enquanto brota da esfera mais íntima do es

pirito, sobressai como ponto de referencia e medida dos outros direitos fun damentáis. Os direitos humanos estafo fundamentados no próprio direito na tural, que exige urna ordem social respeitosa, concretizada numa sa demo cracia, que salvaguarde a liberdade, a paz e o acesso legítimo aos bens mate-

riáis. Cf. n° 32s. 3) A relacao pessoa-sociedade A pessoa humana é um ser social por sua natureza, ou seja, pela sua

indigencia inata e pela sua tendencia espontanea a comunicar-se com os ou tros. O homem nao basta a si mesmo para conseguir seu pleno desenvolvímentó.

A sociedade assim oriunda nao está fora nem ácima dos homens socialmente unidos, mas existe exclusivamente neles e, portanto, para eles. O so cial nao coincide com o coletivo, pois para este a pessoa 6 um mero produto.

Cf. n? 34-36. 4) O bem comum

O bem comum é o conjunto das condicoes sociais que possibilitam e favorecem o desenvolvimento integral da pessoa humana. Ainda que seja superior aos interesses privados, o bem comum é inseparável do bem de cada 448

DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

17

pessoa. Isto obriga os poderes públicos a respeitar e promover os direitos humanos e facilitar o cumprimento dos respectivos deveres. Por conseguinte,

a realizacao do bem comum é a razao de ser dos poderes públicos, que sao obrigados a realizá-lo para vantagem de todos os cidadaos (na sua dimensao temporal e na dimensao transcendental), respeitando a justa hierarquia dos

valores e os postulados das circunstancias históricas. Cf. n? 37. 5) Solidariedade e subsidiariedade A solidariedade, que se opóe ao individualismo, requer que cada pes soa se sinta ¡ndissoluveimente ligada as sortes da própria sociedade e, em vir tude do Evangelho, ao destino de salvacáo de todos os homens. Daí se segué que todos os homens, grupos e nacoes sao chamados a interessar-se pela vida económica, política e cultural da comunidade a que pertencem. Como complemento da solidariedade, a subsidiariedade ensina que

urna comunidade de ordem hierárquica superior nao deve sufocar os direitos e as atividades das inferiores, enquanto estas sao aptas ao exerci'cio de suas funcóes; respeite-se a legítima autonomía de cada individuo e de cada grupo,

se esta é sadia e eficiente. Cf. n° 38s. 6) Parttcipacao A participacao justa, proporcionada e responsável de todos os membros e setores da sociedade no desenvolví mentó sócio-económico, político e cultural é o caminho seguro para se alcancar urna nova convivencia humana. Trata-se de urna aspiragao profunda do homem, que exprime a sua dignidade

e liberdade no progresso cientffico e técnico, no mundo do trabalho e na vi

da pública. Cf. n? 40. 7) Estruturas humanas e comunidades de pessoas A Igreja se opoe á concepcáo tecnicista j mecanicista da vida e das estruturas sociais, que nao deixa espaco suficiente para um verdadeiro huma

nismo. Em nao poucas nacoes, o Estado transformou-se numa máquina gi gantesca, que invade todos os setores da vida, arrastando o homem para o medo e a angustia, que causam a sua despersonalizacao. - A Igreja conside ra necessárias as múltiplas associacócs privadas que reservam o devido espa

go á pessoa e estimulam a colaboragao em vista do bem comum. Cf. n? 41. 8) Destino universal dos bens Os bens da térra sao destinados ao uso de todos os homens, para que satisfacam ao seu direito e a urna vida digna dentro das exigencias da famí449

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

lia. Disto se segué que o direito á propriedade particular, em si válido e necessário, deve ser circunscrito dentro dos limites da sua funcao social l Cf. n? 42. 3.2 Valores fundamentáis

As leis e estruturas criadas pelo homem em vista de urna sociedade justa nao garantem mecánicamente o bem de todos. Elas so dao fruto se acompanhadas pelos valores quecaracterizam a dignidade da pessoa humana.

Tais sao: a verdade, a liberdade, a justica, a solidariedade, a paz e a caridade ou o amor cristao. Viver estes valores constituí a vía segura para realizar um autentico humanismo e urna nova convivencia social. Seto eles que manifestam e garantem a prioridade da ética sobre a técnica, o primado da pes soa sobre as coisas, a superioridade do espirito sobre a materia. O exercfcio de tais valores exige do cristao a capacidade de discernir

as diversas situacoes ocorrentes ás quais devem ser aplicados. É esse discernimento que em linguagem bíblica se chama sabedoria. Cf. n? 43-46.

4. Criterios de juízo (nos 47-53) Visto que a DS da Igreja nao é teórica apenas, mas procura orientar a acao pastoral, ela deve também oferecer criterios para julgar as situacoes, as estruturas e as instituicoes que constituem a vida de urna sociedade. Estes criterios sao derivados tanto das ciencias humanas (especialmente da histo

ria) quanto dos valores fundamentáis cristaos. Os conhecimentos de ciencias humanas sao muitas vezes (embora nao exclusivamente) da competencia dos

leigos (historiadores, economistas, sociólogos...). É preciso, porém, que o juízo sobre determinados fatos ou contextos sociais evite as ideologías, isto é, os enfoques parciais postos a servico de um determinado grupo da socie dade, em detrimento dos demais:

"A análise sociológica nem sempre oferece urna elaboracao objetiva dos dados e dos fatos, urna vez que ela... pode encontrarse sujeita a urna de terminada visio ideológica ou a urna estrategia política bem precisa, como se verifica na análise marxista... O magisterio nao deixou de pronunciarse

oficialmente sobre o perigo que deste tipo de análise pode vir para a fé cris ta e para a vida da Igreja.

Como diz o Documento de Puebla, sobre toda propriedade particular

pesa urna hipoteca social. Cf. n? 1224.

450

DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

19

O perigo de influxo ideológico sobre a anaI¡se social existe também na ideología liberal, que inspira o sistema capitalista, e que favorece o indivi dualismo anticristao" (n? 50).

Entende-se que um cristao mude seu jui'zo a respeito de urna sitúacao, caso esta mude a sua configuracao. Isto explica que na Doutrina Social da

Igreja haja em nossos dias apreciacoes diferentes das de outros tempos no to cante, por exemplo, á democracia, ao uso da liberdade, a cobranca de ju

ros... Cf. n? 47-53.

5. Diretrizes para a Acao Social (nos 54-65) A acao social da Igreja decorrente dos ensinamentos sociais respectivos deve orientarse por alguns grandes principios norteadores, que sao 1} O respeito da dignidade humana

A Pastoral social da Igreja tem em vista nobilitár a pessoa humana em todas as suas dimensóes de ordem natural e sobrenatural. Por conseguinte, ela defende o respeito e a promocao de todos os direitos pessoais e sociais inerentes a natureza humana.

A moralidade ou a discriminacá*o entre o justo e o injusto dependerao da conformidade ou nao conformidade das decisoes e dos projetos dos Governos. Partidos políticos... com a dignidade da pessoa, que tem exigencias éticas invioláveis. Cf. n? 55. 2) Diálogo reipeitoso A acao pastoral da Igreja deve desenvolver-se em colaborado corn to das as forcas vivas e operantes do mundo atual. Portanto um segundo crite

rio de acao é o exercfcio do diálogo respeitoso a fim de se encontrarem as solucoes para os problemas da fome, da violencia, do terrorismo, da divida externa...; de tal diálogo resultarlo acordos programáticos e operativos.

Cf. n° 56.

3) Luta pela justipa e solidariedade pessoal

0 mundo de hoje nSo se caracteriza apenas pela miseria material, mas também pela injustica em ampia escala (desemprego, marginalizacao social, distancia entre ricos e pobres...). Por isto um terceiro criterio de acao é a lu ta nobre e refletida em favor da justica e da solidariedade social, cf. n? 57. 451

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

4} Formacáo para as competencias necessárias A acao concreta dos cristaos leigos só será eficaz se granjearem para si

(e para transmitir a outros) boa formacáo técnica, profesional e polftica, além de urna auténtica doutrinacáo moral e espiritual. Os Pastores deverao

ajudar os leigos a formar a sua consciéncia cristamente, o que só será possível se os próprios clérigos tiverem bom conhecimento da Ooutrina Social da

Igreja. Portanto, o quarto criterio é a formacao crista e técnica para oexercfcio das respectivas competencias.

Pastores e leigos sintam-se unidos, cada qual segundo a respectiva vocacao, no exerci'cio da única missao salvi'fica da Igreja: "A tarefa de animar cristamente as realidades temperáis nío é delega da aos leigos pela hierarquia, mas brota naturalmente do seú ser batizados e crismados. No nosso tempo aaquiriu-se urna consciéncia cada vez mais viva da necessidade da contribuicao dos leigos na missao evangelizadora da tgreja. A Lumen Gentium afirma que em certas circunstancias a Igreja, sem eles,

nao se pode tornar sal da térra e luz do mundo (cf. LG n? 33)" (n? 58). Os ¡eigos desempenharao a sua tarefa tanto mais frutuosamente quanto mais estiverem animados pela experiencia da fé ou por auténtica vivencia do Evangelho, sem a qual o conhecimento técnico é insuficiente. Daí o quin to criterio de acao: conjugar entre si a experiencia das realidades temporais

e a da fé crista. Cf. n? 59. 5) Abertura aos dons do Espirito

Visto que toda a vida crista é movida pelo Espirito Santo no plano so

brenatural (cf. 1Cor 12,1s!, é necessário que todos os agentes de Pastoral saibam abrirse aos carismas e aos dons do Espi'rito adequados a cada tipo de

funcao a exercer. Cf. n? 60. 6) Prática do amor e da misericordia O servígo pastoral que a Igreia presta aos homens, nunca foi de justica apenas, mas sempre foi marcado pelo exerc'cio da caridade e da misericordia gratuitas. A historia da Igreja assinala numerosas obras de atendimento aos

pequeninos, ñas quais se espelha urna comunidade disposta a por em prática o sermao da montanha (Mt 5-7). A prioridad, outorgada aos pobres e sem pre professada pela Igreja foi reafirmada pelo S. Padre Joao Paulo II na En cíclica Sollicitudo Rei Socialis: 452

DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

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"Hoje, tendo em conta a dimensao mundial que a questao social assumiu, este amor preferencia!, com as decisoes que ele nos inspira, nao pode deixar de abracar as ¡mensas multidoes de famintos, de mendigos, dos sem casa, sem assisténcia médica, e, sobretudo, sem esparanca de um futuro meIhor; nao se pode deixar de ter em conta a existencia destas realidades. Igriorá-las significaría assemelharnos ao rico epuiio, que fingía nao conhecer Lá zaro, o mendigo que jazia fora á sua porta (Le 16,19-31)". Cf. n° 61.

Enumerados os criterios de acao social, o Documento ainda se refere a Reflexos no campo político

A Igreja nao possui algum modelo político nem se liga a algum Partido

político, mas ela estimula seus filhos, especialmente os leigos, para que to-

mem consciéncia da sua responsabilidade no setor político e optem a favor de solupoes cristas para os problemas sociais. Com efeito; a fé crista valori za grandemente a dirnensao política da existencia humana. Daí resulta que a presenca da Igreja no campo político é urna exigencia da própria fé, á luz da realeza de Cristo, que leva a excluir o divorcio entre a fé e a vida cotidia na, um dos erros mais graves da nossa época.

Distingam-se, porém, o exercício da política em geral e o da política partidaria. No primeiro sentido, a política é tarefa de toda a Igreja, pois a esta competirá sempre e necessariamente julgar os comportamentos polí ticos nao só enquanto tocam a esfera religiosa, mas também em tudo o que diz respeito ao bem comum, na medida em que tudo isso tem urna dimensáo ética; é preciso evangelizar a ordem política. — No segundo sentido ou no sentido partidario, a política é tarefa dos leigos; a estes é que compe te conduzir campanhas, dirigir representaedes populares, exercer o poder... 0 que a Igreja pede a esses seus filhos militantes na política, é que tenham urna consciéncia reta e conforme as exigencias do Evangelho. "Os Pastores e os outros ministros da Igreja, para conservar methor a

sua liberdade na evangelizacSo das realidades políticas, manter-se-ao fora dos varios Partidos ou grupos, que poderiam criar divisoes ou comprometer a eficacia do apostolado; nem sequer Ihes darao apoios preferenciais a nao ser que, em circunstancias concretas e excepcionais, o exija o bem da comuni-

dade"
um sinal da presenca do Reino de Deus. Cf. n? 64.

É claro, porém, que a DS, embora já constitua um patrimonio rico e

complexo, suficientemente delineado e consolidado, tem ainda muitas eta453

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"PERGUNTE ERESPONDEREMOS" 329/1989

pas a percorrer, de acordó com o dinamismo do desenvolvimento da socie-

dade humana na historia. Cf. n? 65.

6. A Formacao (n?s 66-78} Visto que o presente documento tem em mira facilitar e estimular a formacao dos candidatos ao sacerdocio e dos estudantes dos varios Institu tos Teológicos., o seu último capítulo é explícitamente dedicado a instrucoes concretas que promovam a preparacao dos professores e estruturem

melhor a formacáo dos alunos. Cf. n? 66. 6.1. A formacáo dos professores

O eficaz ensinamento da OS da Igreja ñas Escolas nao pode ser garan tido por qualquer curso feito no ámbito dos estudos filosóficos e teológicos.

Por isto os Bispos e os Superiores dos Centros de Formacao Eclesiásti ca tém a grave responsabilidade de enviar alunos capazes a Institutos aprova-

dos pela Igreja para poderem dispor de professores dotados de formacao científica adequada. Esses mestres nao somente deveráo estar familiarizados

com os documentos do Magisterio, mas também possuirao ampia e profunda formacáo teológica, seráo competentes na Moral Social e conhecerao pelo menos os elementos fundamentáis das ciencias sociais modernas. Sabe rao outrossim associar aos conhecimentos específicos de sua disciplina urna boa

formacao espiritual. Cf. n? 3"/. "Sem dúvida, no estudo e no interefse pelas ciencias sociais (cujo valor é indiscut(vel) deve-se evitar o perigo de cair ñas armadilhas das ideologías que manipulam a interpretacao dos dados, ou no positivismo, que supervaloriza os dados empíricos em prejufzo da compreensao global do homem e

do mundo" (n? 68).

Aínda se requerem para a competente habilitacao dos professores de Doutrina Social: 1) formacáo permanente, que os mantenha atualizados ou em contato permanente com a historia contemporánea; 2) experiencia pas

toral direta, que favoreca o caráter concreto, o valor e o tom incisivo do ensino. Cf. n? 69s. 6.2. A formacffo dos alunos

É necessário suscitar nos alunos o interesse e a sensibilídade pela dou

trina e pela pastoral social da Igreja. Cf. n? 71s. 454

DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

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Nos currfculos dos Centros de Formacao Eclesiástica nao bastará mi nistrar HcSes facultativas inseridas nos Cursos de Filosofia e Teología, mas será indispensável programar Cursos obrigatórios e próprios de DS, que

assegurem

Cf. n? 73.

no mínimo o conhecimento das grandes Encíclicas Sociais

O conhecimento da OS deverá ser acompanhado por sólido emba samento filosófico-teológíco dos principios dessa doutrina. Somente as-

sipi poderlo entrar em diálogo com o mundo moderno. "Com efeito; quer os Sacerdotes, quer os leigos empenhados no apostolado social sao freqüentemente interpelados pelas ideologías radicáis e totalitarias, tanto coletivístas, quanto individualistas, de tendencias secularizantes, quando nao mesmo de um secularismo estranho ao espirito cristao" (n? 74).

É claro que a formacao específica dos alunos no tocante a DS so

terá pleno sentido se a própria conduta de vida dos mesmos der auténti

co testemunho do Evangelho. "A pregacáfo e a agio ná"o se podem separar urna da outra, urna vez que estáb unidas na própria pessoa de Jesús no Evangelho e na TradicSo da Igreja" (n? 75).

"A eficacia da mensagem cristi, para além da acao do Espirito Santo, depende também do estilo de vida e do testemunho pastoral do sacerdote, o qual, sen/indo evangélicamente os homens, revela o rosto auténtico da Igre-

¡a"(n? 77).

"Sao muño aconselháveis as visitas e os diálogos dos estudantes, acompanhados pelos professores, com o mundo do trabalho - empresarios,

operarios, sindicatos -, com as organizacoes sociais e com os setores margi na/izados" (n? 76),

ConclusSo

"Enfim, a Congregacao para a EducacSo Católica, confiando o presen te documento aos Ex.mos Bispos e aos varios Institutos de estudos teológi cos, deseja que ele possa proporcionar-Ibes um auxilio válido e urna orientacSo segura ao ensino da Doutrina Social da Igreja. Tal ensino, se for corretamente ministrado, dará sem dúvida um novo impulso apostólico aos futuros presbíteros e aos outros operadores pastoráis, indicando-lhes a estrada segu ra para urna acSo pastoral eficaz. Considerando as múltiplas necessidades espirituais e materiais da sociedade de hoje, assinaladas em tantas ocas/oes pelo Sumo Pontífice JoSo Paulo II, nao há outra coisa a dese/ar senao que cada candidato ao sacerdocio se tome mensageiro iluminado e responsávei desta moderna expressSo da pregacao evangélica, que é a única capaz de pro455

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

por remedios eficazes aos males da nossa época e de-contribuir deste modo para a salvacao do mundo.

Constituirá tarefa dos Ex.mos Bispos e dos Responsáveis dos Institu tos de formacao sacerdotal providenciar com todos os meios para que estas

Orientacoes, devidamente explicadas e integradas nos programas formativos, possam produzir aquele revigoramento da preparacao doutrinal e pas toral, que hoje por toda a parte se espera e que responde aos nossos dese/os comuns.

Roma, do Palacio da Congregacao, 30 de Dezembro de 1988. WILLIAM Card. BAUM Prefeito

t JOSÉ SA RAI VA MARTINS Arcebispo tit. do Tuburnica Secretario "

Como se vé, o Documento que acaba de ser analisado sintéticamente,

é profundo e rico em dados, que servirao a reflexáo nao somente dos cléri gos, mas também dos leigos católicos, aos quais compete papel muito impor

tante na implan tagajo do Reino de Deus dentro dos moldes deste mundo.

(continuacao da pág. 472) lacio e após a agonía da crucifixSo. Mesmo Leonardo da Vinci, inigualável

observador da morte, era vftima de erros quando se tratava de represénta la... NSo obstante a sua curiosidade científica e a sua capacidade de reproduzir ñas imagens os detalhes dos corpos, o próprio Leonardo nao conseguía representar o rigor da morte ou a difusao dos hematomas, pois estas nocoes

só foram consolidadas duzentos anos mais tarde com a descricao da circulacao do sangue. Neste particular, o S. Sudario nSo ignora o mínimo detalhe

que dé coeréncia ao seu valor de documento da morte de um homem" (cf. La Civiltá Cattolica n? 3337. 19/07/1989. p. 59). A propósito:

PR 320/1989, pp. 34-42; PR 322/1989, pp. 98-103. 456

No mundo moderno:

Ateísmo e Nova Religiosidade Em tíntese: 0 homem e Deus, na época contemporánea, nao estao mais em competicSo mutua, como se pensava no sáculo passado. O ser mo derno nio quer dizer ser arreligioso. Acontece, porém, que a religiao hoje reaparece após a onda de ateísmo do século passado... reaparece desligada da razSo ou na base de fortes emocdes e sentimentos. Isto se deve, em grande parte, ao fato de que as solucdes racionáis parecem insuficientes para aten der ao homem e seus problemas hoje; a ciencia já nao oferece o que déla esperou o cientificismo de outras épocas; donde o recurso á magia, ao falso milagre, ao extraordinario, que os homens querem tornar ordinario ou coti diano. Sem a bússola da razio, b senso religioso pode degenerar no fantasiosioso, imaginativo e até no desumano, como acontece no fanatismo e nos grupos pretensamente orientados por vozes e mensagens do além. A razao

jamáis poderá compreender as verdades da fé, mas poderá sempre examinar e testar as credenciais da mesma.

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0 fenómeno religioso em nossos dias chama a atencáo. Atei'smo e on das de misticismo caminham lado a lado; pode-se mesmo dizer'que há um surto quase violento de religiosidade emotiva e irracional, enquanto a fé cris ta continua a proclamar sua mensagem perene tentando utilizar os moldes da cultura moderna.

Desde 1965 (ano terminal do Concilio do Vaticano II), existe em Ro ma um "Secretariado para o Diálogo com os Ná"o Crentes", encarregado de estudar o ateísmo e a indiferenca religiosa. Em 1988, oS. Padre Joáo Paulo II deu a esse órgfo o título de "Pontificio Conselho para o Diálogo com os Nao Crentes", confirmando suas atribuicóes e sugerindo-lhe contactar assi-

duamente as correntes do pensamento contemporáneo. O Presidente desse Conselho é o Cardeal francés Paúl Poupard, prelado de grande cultura. Reítor do Instituí Catholique de París, autor de obras referentes á fé católica e ao pensamento de nossos dias. 457

26

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

Em 1985, o Conselho para o Diálogo com os Nao Cr'entes empreendeu um inquérito junto ás Conferencias Episcopais do mundo inteiro, ás Univer sidades Católicas e a personalidades de renome a respeito da incredulidade e da indiferenca religiosa. Tal inquérito trouxe á tona quadros assaz diversifi cados, espelho da realidade contemporánea: assim originou-se um relatório emanado do Conselho, do qual váo, a seguir, extraídos os tópicos mais rele vantes.

1, O panorama religioso do nosso mundo 0 relatório considera cinco setores da human¡dade contemporánea. 1.1. Países socialistas

A ideología fundada sobre o materialismo histórico e dialético parece estar no seu ocaso. Ainda ocupa espaco notável, porque sustentada pelos governantes e mentores de tais países. Mas a fachada ¡mpressionante e o

triunfalismo das palavras e da propaganda escondem urna situacao real bem diferente: o edificio construido pela ideología está vazio, desertado pelas inteligencias, desmentido pelos fatos... Os respectivos governantes vá"o compreendendo que as massas nao os seguem; o desmoronamiento da ideología 6 patente aos olhos de todos. O homem, desiludido, se vé a brapos com a inquietude, a solidao e a angustia. 1.2 0 Ocidente industrializado e tecnológico

Está contaminado pela mentalídade consumista e pelo hedonismo (ou a procura do prazer). Em conseqüéncia, muitos cidadaos questíonam o sen

tido da vida, cujos grandes objetivos parecem ser tao somente o pragmatis mo utilitario e a procura da eficiencia a todo custo. Daí se origínam o rela tivismo moral, a indiferenca religiosa e o secularismo. O homem que aceite tal modo de pensar e viver. se torna incapaz de experimentar valores transcendentais e procura sua realizacao no sucesso económico e no prestigio social.

Esses bens ilusorios nao podem deixar de gerar o sentido de solidao, a insatisfacao posta em demanda de algo maior. melhor e mais duradouro; as capacidades espirituais do homem emergem com sua sede, aberta ou dis simulada, de respostas mais adequadas para os anseios humanos.

A tecnología parece "mecanicizar" a mentalidade dos homens, fe-

chando-os em parámetros materíaís, pilotados únicamente pelas conquistas da técnica. Todavía esse progresso meramente horizontal faz ameacas mortaís e acarreta perígos nunca dantes imaginados. 458

ATEI'SMO E NOVA RELIGIOSIOADE

27

Como quer que seja, os países do bem-estar abrem, a seu modo, o

campo para o debate das grandes questoes relativas ao sentido da vida e da

morte, do homem e da Ética. 1.3. América Latina

O crescente hiato entre ricos e pobres cria graves tensoes entre as duas ideologias antagónicas: o capitalismo liberal, cuja única lei é o ganhar mais, dentro de urna vis Jo individualista e utilitaria do homem, e o coletivismo

marxista, que professa o mito da revolucao e a mística da luta de classes. Sobre este paño de fundo, a Igreja aponta aos povos os valores transcendentais, propondo-lhes um humanismo auténticamente cristao contido na Doutrina Social de Encíclicas e documentos oficiáis (do qual o último, muí-

to concreto e atualizado, se intitula Sollicitudo Rei Socialis).

1.4. África

Na África estao em voga certas ideologias baseadas no retorno aos va lores tradicionais (a solidariedade na familia, na tribo, a cultura aborígene, os idiomas nativos...). Sao, porém, dominadas pelo totalitarismo de Estado e o absolutismo que regem certos países. Nesse contexto a Igreja emerge como garantía do respeito as pessoas e da liberdade dos povos. O marxismoleninismo, que governa varias nacoes africanas, interessa tao somente a classe dirigente e a alguns setores da cultura, enquanto o povo Ihe fica estranho, impregnado de su a religiosidade tradicional. A luta de classes é vista por

mu ¡tos cidadá'os como fator de dissolupao da solidariedade e da comunháo existentes entre os membros do mesmo cl5 — o que favorece a irresponsabilidade e a perda da identidade étnica.

1.5. Asia A Asia, berco de religiosidade e sabedoria milenares, conserva firme mente as suas tradicoes, mas também se acha penetrada pelo marxismo, apesar dos desastres provocados por esta ideología em alguns países. Em tal con tinente, a Igreja prega a sua mensagem de salvacao, em diálogo com as anti

gás tradJcoes religiosas e culturáis. Após este percurso panorámico, parece oportuno dízer algo sobre ideología, já que o tema foí mais de urna vez mencionado anteriormente.

2. Ideología e crenca Ideología significa literalmente ertudo das idéias. Ideólogo era, nos séculos passados, o cultor de tal estudo. Hoje ideología designa as idéias domi-

459

28

"PERGUNTE E R€SPONDEREMOS" 329/1989

nantes ou o sistema de pensamento de um grupo social, que tudo vé uní late ralmente, ou seja, em funcao da preservacao da situacao vigente ou, vice-versa, em funcáfo da transformacao da mesma. Pode haver ideologia também no setor da religiao, onde se fala, por exemplo, de "ideologia islámica".

As ideologías costumam apelar para a violencia, instigada por certa intuicao "mi'stica", pois a ideología mobiliza as aspiracoes, as energías, os interesses, os sonhos de urna sociedade, propondo um futuro belo e risonho.

A ideología tende a oferecer a explicacáo última, absoluta e obrigatória de todas as ¡ndagacoes de um grupo. A este título, as ideologías tfim certa analogia com os mitos e com a própria religiao. Na Carta Octogetima Adveniens

(n? 28) Paulo VI dizia que a ideología pode tornarse "um novo-ídolo". O

Documento de Puebla, emitido pelo episcopado latino-americano em 1979, por sua vez, assim se refere ás ideologías como "religioes leigas": "Entre as múltiplas defincoes que se podem propor, chamamos aquí ideologia toda concepto que ofereca urna visao dos diversos aspectos da vi da, desde o ponto de vista de um grupo determinado da sociedade. A ideolo gia manifesta as aspiracoes desse grupo, convida para certa solidariedade e combatividade e fundamenta sua legitimado em valores específicos. Toda ideologia é parcial, já que nenhum grupo particular pode pretender identifi car suas aspiracoes com as da sociedade global... As ideologías trazem em si mesmas a tendencia a absolutizar os interésses que defendem, a visao que propóem e a estrategia que promovem. Neste caso, transformam-se em verdadeiras 'religioes leigas'. Apresentam-se como urna explicacáo última e suficiente de tudo e se constrói assim um novo ídolo, do qual se aceita, ás vezes, sem que as pessoas se déem conta, o carater totalitario e obrigatórío. Nesta perspectiva nao é de estranhar que as ideologías tentem instrumenta Iizar pessoas e instituicoes a servico da eficaz consecucao de seus fins. Eis o lado ambiguo e negativo das ideologías...

Isto Ihes confere urna mística especial e a capacidade de penetrar os diversos ambientes de modo muitas vezes irresistível. Seus slogans, suas expressoes típicas, seus criterios, chegam a marcar profundamente e com fací-

lidade mesmo aqueles que estao longe de aderir voluntariamente a seus prin cipios doutrinais. Desse modo, muitos vivem e militam praticamente dentro dos limites de determinadas ideologías sem haver tomado consciéncia disso... Tudo isto se aplica tanto ás ideologías que legitímam a situacao atual, como

aquetas que pretendem mudá-la" (n? 535-537). Os psicossociólogos mostram como a ideología pode suscitar a crenca cega e a esperanza acrftica de um grupo. Este, em conseqüéncía. rejeitará

como inimigo do povo todo individuo que nao compartilhe tal modo de 460

ATEÍSMO E NOVA RELIGIOSIDADE

23

pensar. A ideología inspira os militantes e revolucionarios que, consagrándo se ao seu servipo, encontram motivacao suficiente para levá-los até.o sacrifi cio da própria vida. As ideologías - tanto as liberáis como as coletivistas, marxistas —

apoiam-se sobre urna interpretado irracional da realidade ou dos mecanis mos económicos e sociais. Adam Smith (1723-90), por exemplo, um dos

primeiros mentores do capitalismo liberal, dizia que este é a "mao ¡nvisfvel" da Divindade e o penhor do bem-estar coletivo. Conclui-se, pois, que nosso mundo está marcado por um paradoxo: de um lado exaltase o acume e o exercício da razao (na ciencia, na técni

ca e na Filosofía racionalista...); de outro lado, porém, seguem-se correntes emotivas, desligadas da bússola da razao e, por isto, tendentes a escravizar o homem.

3. A nova religiosidade Tendo abandonado, em parte, a fé que berpou a civilizacao ocidental ou o Cristianismo, para aderir a cosmovisoes materialistas de direita ou de esquerda, o homem contemporáneo se vé frustrado, esvaziado, descrente de solucoes humanas para seus múltiplos problemas e, por isto, propenso a pro curar no além ou na mística novas respostas. Assim, ao passo que no sáculo passado e nos primeiros decenios deste se punha o dilema "Ou Deus ou o homem", "Ou a fé ou a ciencia", em nossos dias já se diz "Deus e o ho

mem", "A ciencia e a fé". Todavia nem sempre se dá o retorno ao Cristia

nismo, que aprecia a razao como via condutora ao Transcendental, mas muítos recorrem diretamente ao "transcendental" por vías irracionais e emoti vas; dir-se-ia que estao céticos em re I a cao á razao para explicar ao homem os

misterios da vida e do mundo. A procura do sentido da vida e do porqué viver, lutar, sofrer, morrer...

leva naturalmente a Deus, visto que as respostas imanentes sao insatisfatórías. A nova religiosidade emotiva ou meio-irracional assume tres aspectos diferentes: 1) "a religiao do sucesso". Apresenta a crenca como penhor seguro de sucesso material, de cura de doencas, superacáo de carencias económicas... A doenca, a pobreza, as desgracas seriam obras de Satanás, que deve ser con-

tido mediante a forca da fé e exorcismos. Os fráeos e infelizes seriam tais por nóo terem fé. A riqueza e a saúde se rao a prenda de quem foi libertado

do Maligno. Tem-se ai um "materialismo teológico" ligado ás "igrejas eletrónicas", em grande parte norte-americanas. O pentecostalismo e o neo-

pentecostalismo protestantes estáo neste rol, que atrai principalmente as 461

30

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

pessoas mais desprovidas de recursos materiais ou mais incapacitadas de prover as suas necessidades materiais; todavia nao se excluem pessoas abastadas,

que estejam a procura de solucoes mágicas para seus problemas. — Sao correntes religiosas de pouco conteúdo doutrinário e de grande efervescen

cia sentimental, que reduzem seu culto muitas vezes ao atendimento dos numerosos clientes que as procuram. Tal é, entre outras, a Igreja Universal do Reino de Deus, fundacao brasileira recente, que vem crescendo na base da apelacao para os sentimentos e as emocóes e do "exorcismo" curandeiro. 2) O revisionismo bíblico. Há correntes que fazem urna radical reinterpretacao da Biblia, acrescentando-lhe, por vezes, urna nova revelacao, como sao a dos Mórmons a das Testemunhas de Jeová, a do Moonismo e... quipe a

dos Adventistas. Entre os católicos, registram-se certos grupos dissidentes, inspirados por "aparicoes" e "visoes" nao auténticas como a de El Palmar de

Troya,1 a do Monte Santo em Guiricema de Minas. Encontram certa ressonáncia nao s6 entre os mais pobres, mas também na classe media.

3) As religioes de cunho pantefsta, geralmenta de origem oriental. Assumem varias modalidades: Haré Krishna, Meditacao Transcendental, Gnos ticismo, Esoterismo, Rosa-Cruz (embora esta diga que nao é religiao, faz as vezes de urna cosmovisao religiosa pantefsta), Teosofía, Antroposofia, Logosofia... O panteísmo ou o monismo é, pode-se dizer, urna forma velada de atei'smo, pois professa que Deus, o homem e o mundo sao da mesma subs tancia ou sao divinos, de modo que o homem pode mais e mais exercer po deres próprios da Divindade. O panteísmo costuma atrair (nao exclusiva mente) pessoas de certa cultura, que nao querem renegar a religiao, mas (consciente ou inconscientemente) nao aceitam a dependencia do homem em relacao a Deus Criador e Transcendente. A tese da reencarnacáo costu ma estar associada a este tipo de concepcáx) religiosa, pois ela professa a au to-sal vacao do homem mediante sucessivas reencarnacoes. A corrente New Age (Nova Era), já mencionada em PR 325/1989,

pp 278-283, é urna forma sincretista que pretende ultrapassar e substituir o Cristianismo, propondo um panteísmo místico.

Vejamos agora

4. O desafio á Igreja O surto e a expansao dos novos grupos religiosos em nossos tempos sugere varias reflexdes:

1 A propósito verPR 208/1977, pp. 153-163. -162

ATEl'SMOE NOVARELIGIOSIDADE

31

1) Vé-se que o homem e Deus nao. estao mais em competicáo mutua, como se pensava no sáculo passado. O ser moderno nao quer dizer ser irre ligioso ou arreligioso; nossa época nao é urna época pos-religiosa, como se diz por vezes. 2) Acontece, porém, que a religiao hoje reaparece depois da onda de ateísmo do sáculo passado,... reaparece desligada da razao ou na base de

emocoes e sentimentos. Isto se deve a dois fatores principáis: a) as solucoes racionáis e normáis parecem insuficientes para atender ao homem; a ciencia já nao oferece o que déla esperou o cientificismo; don de o recurso á magia, ao milagroso, ao extraordinario, que os homens querem tornar ordinario ou cotidiano;

b) a onda de antiintelectualismo iniciada em meados do sáculo XIX

com Soren Kierkegaard (t 1848) perdura até hoje, ao menos no tocante á metafísica e á religiao. - Sem a bússola da razao ou do raciocinio, o senso

religioso (que costuma ser sempre muito forte), pode degenerar no fantasio so, imaginativo e até no desumano, como acontece no fanatismo e nos gru pos pretensamente orientados por vozes e mensagens do além. A razao ja máis poderá compreender as verdades da fé, mas poderá examinar e testar as credenciais da mesma.

3) Mais do que nunca, o fiel católico precisa do dom do discernimento dos espíritos, para que se possa orientar entre as correntes de pensamento

ambiguas que o cercam. Á fé nao se opoe apenas o ateísmo, mas também a idolatria da nova religiosidade.

4) Conseqüentemente, o fiel católico que deseje enfrentar o mundo de hoje, nao pode dispensar sólida formacao doutrinária. A Igreja ná*o favorece o antiintelectualismo; ela precisa de pessoas preparadas no campo filosófico e no teológico para poder dialogar com o mundo contemporáneo. Na"o basta pensar na Pastoral ou na acao prática; requer-se um cabedal de idéias claras para que a Pastoral nao se desvirtué ou ná*o venha a ser antieclesial. Também nao basta que as pessoas "se sintam bem" (coisa táo procurada e estimada em nossos dias) na igreja; o sentir-se bem é algo de subjetivo e pode estar

desligado da verdade e da auténtica fé. Nao se excluí o "sentir-se bem", mas dé se-lhe por fundamento a auténtica profissSo de fé, que certamente tem

em anexo urna parcela da Cruz de Cristo. Esta problemática aínda será aprofundada no decorrer da entrevista que, a seguir, vai transcrita. 463

32

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989 5. Urna entrevista notável

O Cardeal Paúl Poupard, Presidente do Pontificio Conselho para o Diálogo com os Ná*o Crentes, rcspondeu nos seguintes termos ao repórter Angelo Bertani, da revista JESÚS (edipao de maio 1989, pp. 74s):

Repórter: "Afiím.i o Cncleul Ojneels1 quu ¿i alternativo püía ü fé nao é necessariamente o ateísmo, mas pode ser a idolatria. Que diz V. Em.cia?"

Paúl Poupard: "De fato; o ateísmo puro é extremamente raro. Sartre diz em urna de suas obras, 'Les Mots', alias urna obra-prima literaria: 'O ateísmo é um empreendimento difícil e de longo f&lego. Creio té-lo rea lizado até o fim'. Sim; Sartre, Marx, Engels tinham urna certa inteligencia cientificista ou niilista. Mas a questao se poe para Nietzsche: que é a sua exaltacao da vida e do superhomem senao urna serie de ídolos feitos abso lutos no lugar de Deus? E Lenin, com o mito do proletariado, da revolucao, do comunismo... Nao seriam ídolos tudo ¡sto? E ná"o falamos da grande multidao daqueles que se dizem nao-crentes com os seus ídolos mais terra-

a-terra: sexo, dinheiro, drogas, esporte, sucesso económico e social, prazeres estéticos e de outra ordem meramente terrena. A idolatria conheceu um desenvolvimento extraordinario e adquiriu o caráter de culto do Estado nos países socialistas. Por exemplo, assistimos na Uniáo Soviética ao ressurgirnento dos mitos arcaicos, como o culto dos heróis, dos quais o pnmeiro é Lénin, do fogo eterno, símbolo da vida, dos ritos do batismo (imposipao do nome), da iniciacao da juventude (Confirma-

pao), do casamento e das exequias socialistas. AlFás, é preciso dizer que essas formas de idolatria socialistas náfo sao senao um infeliz plagio dos ritos cristáos, plagio um pouco ridículo e que desagrada ao povo".

R.: "Por conseguinte, os 'novos crentes' nao tém muita seguranca. E os 'novos ateus' nao deixam de ter esperanpas..."

P.P.: "Os 'novos crentes', os adoradores dos ídolos, encontram-se em posicfo insustentável. E ¡sto, porque, após Jesús Cristo, os ídolos, os verdadeiros ídolos, sao simplesmente impossfveis. Os velhos deuses nao podem

mais ressuscitar, nao podem ser levados a serio. É impossível crer sincera mente em Venus, Mercurio, Dionisio, etc. Ao homem europeu que íez a experiencia de Cristo e teve o conhecimento da Revelapao, náfo resta senao

1 Arcehispo de Malwcsfirtixelns (Bélgico). 464

ateísmo e nova religiosidade

33

uma alternativa: ou Cristo ou o nada. Os deuses pagaos morreram real

mente.

Os 'novos ateus', os verdadeiros ateus, podem ter esperanca? Sim. porque a esperanpa é a virtude dos tempos trágicos. E os dados sao ine

quívocos: adesáo a Deus, que se revelou em Jesús Cristo, ou a escolha do na

da. É diante desta prospectiva seria que Dostoievskij poe nos labios de um

de seus personagens: 'O ateísmo pleno se encontra no alto da escad;i, no penúltimo degrau que leva á fé plena' ".

R.: "Que diria hoje V. Em.cia a um ateu que Ihe afirmasse- 'Eu sou ateu!'?" P.P.: "Eu o contemplaría profundamente nos olhos (como Jesús) e

lhediria:'Que maravilha! Tu, com o teu semblante iluminado pelo Espirito,

com os teus olhos em que se lé uma individualidade ¡mortal, com todo o teu corpo, obra-prima da criacáo. tu, com aquí lo que és, tu és a prova mais estupenda de uma evolucá"o criadora do universo, que, lógicamente, nao po de ser orientada senáo por uma inteligencia amorosa, que os homens, há mi lenios, chamam Deus'. E,se ele me dissesse ainda: 'Nao creio em Deus', eu Ihe respondería: 'Mas Deus eré em ti' ".

R.: "E que diria V. Em.cia a quem afirmasse: 'A nos o fato religioso

nSó interessa em absoluto?"

P.P.: "Eu Ihe diria: 'É porque vives na superficie de ti mesmo, na distrapao e no divertimento. E negligencias a dimensao mais profunda, mais bela, mais interessante do teu ser. A vida provavelmente tem, em certos mo mentos (e tu o sabes bem!), um sabor de fastio; talvez em certas ocasioes um

sentimento de desespero te acometa, e isto te leva a uma procura insaciável de prazeres. Mas sabes que se trata de um beco sem saída. Entra, pois, de novo dentro de ti mesmo, descobre as tuas profundidades, a dimensao total do teu ser e entao descobrirás dentro de ti algo de sagrado, inviolável, uma santidade que tu mesmo nao pudeste poluir, uma fome do além, uma nostal gia de beleza' ".

R.: "Enfim, como enfrentar aqueles que dizem: 'Fiz uma experiencia á altura das minhas necessidades em tal ou tal grupo oiTseita, no(a) qual me

simo realizado e seguro'?"

P.P.: "Dir-lhe-ia:'Urnaexperiencia religiosa que nao seja senao a satis-

facao de necessidades íntimas e um meio de realizarse, só pode ser uma ilusá*o, uma procura de si mesmo, o arbitrario elevado á categoría do absoluto, uma falsa seguranca. Quem a faz, nao sai deste mundo nem do seu eu mais 465

34

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

ou menos turvo e egoísta. É preciso renunciar á autosuficiencia, a auto-suficiencia deste mundo, e aceitar urna verdade que vem de outra fonte, abrir-se 30 absolutamente outro. Aceitar esse absolutamente outro que nos poe radi calmente em foco, é urna via para nos libertarmos do mundo e de nos mesmos. Esse Outro é Jesús Cristo e o seu Evangelho, vivo na sua Igreja' ". R.: "Portanto, que é que aínda ensinam os 'novos crentes', os 'ateus' ou os "indiferentes'?"

P.P.: "Os 'novos crentes', para os cristáos. sSo figuras do passado, 'os velhos deuses que dormem em mortalhas de ouro' (Renán), que nada pode ressuscitar: urna posicao impossível e falsa. Os indiferentes, por principio,

nada tem a dizer. 'Boh!' nao é urna resposta. Os 'novos ateus' que levaram o seu ateísmo até o extremo, os ateus coerentes consigo mesmos, os ateus

heroicos e trágicos, sSo os que ficam mais próximos de nos e paradoxalmente nos podem ensinar algo: um mundo de total ausencia de Oeus, esco-

Ihido de maneira consciente e vivido de modo trágico. Eles nos dizem o que é a ausencia real e, conseqüentemente, nos fazem saber o que é a presenca real de Deus entre nos: luz do coracfo, sentimento de liberdade, alegría e esperan ca".

Eis como o Cardeal Poupard vé o ateísmo contemporáneo; julga que é algo de artificial ou violento demais para o homem, a tal ponto que os ateus mais radicáis parecem fadados a ter pouca estabilidade na sua posicao atéia; experimentando o vazio e o trágico de um mundo sem Absoluto e sem pienitude de valores, estSo perto de passar para o campo da fé ou do reencon tró do homem consigo e com os mais profundos anseios da alma humana.

O caso mais doloroso e lamentável é o dos indiferentes ou o dos que ficam descomprometidos com qualquer ideal, ainda que erróneo. Já o Apo-

calipse comenta a hediondez de tal atitude, atribuindo a Cristo as palavras: "Conheco tua conduta; nao és nem frió nem quente. Oxalá fosses frió ou

quente! Assim, porque és morno, nem frió nem quente, estou para te vomitar de minha boca" (Ap 3,15s).

O cr¡stá"o, portanto, ao ver um ateu sincero, honesto, fiel aos seus de veres, alimenta esperances a seu respeito. Sim; Oeus está no termo de chegada da retidao e lealdade de consciéncia.

466

Como estao as pesquisas sobre

O Santo Sudario de Turim: Um Ano Depois? Em síntese: A questao da autenticidade do Sudario de Turim, atribui do a Jesús Cristo, continua aberta. O teste do Carbono 14 realizado em 1988 deixa dúvidas como tal ou como teste, pois se levantaram objecoes contra a validade do mesmo. Ademáis existem conclusoes certas deduzidas de investigacoes anteriores, que favorecem a genuinidade da peca e que nao podem deixar de ser levadas em conta para se chegar a uma expiicacao satisfatória do fenómeno do Sudario.

0 presente artigo apresenta algumas noticias interessantes sobre o tes te do Carbono 14 efetuado em 1988. Descreve sumariamente as encruzi¡ha das ocorridas ñas pesquisas desde a primeira averiguado feita em 1898, e enumera os dados seguros já conquistados pela ciencia na análise do Sudario de Turim.

** *

No primeiro semestre de 1988 tres Laboratorios famosos (um naSuica, outro na Inglaterra e mais outro nos Estados Unidos) aplicaram o méto do do Carbono 14 para datar o Santo Sudario guardado em Turim e tido como o lencol que envolveu o corpo de Jesús Cristo morto. - Os resultados de tal exame atribuiram a confeccSo da mortalha a Idade Media (entre 1260 e 1390). Tal sentenca, porém, contradizia a um conjunto de outras característi

cas do S. Sudario que levavam a crer na autenticidade de tal reliquia da

Paixao do Senhor. Por isto os cientistas continuaram o diálogo interdisciplinar, realizando mesas-redondas e escrevendo artigos em que reconsideram

toda a questao. Proporemos, a seguir, as ponderacoes aduzidas pelo Prof. Bernard

Ribay,

no

artigo

"Le

Linceuil de Turin aprés l'expérience du

Carbono 14" no periódico "L'Homme Nouveau" de 16/07/89, p. 6; tém o valor de sintetizar os diversos aspectos da temática no momento atual. 467

36

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989 Antes de mais nada, porém, convém observar que a fé crista na Paixáo

Redentora e na Ressurreicao de Jesús Cristo é totalmente independente da

autenticidade do Sudario de Turim. Nunca a Igreja oficialmente se baseou

nessa pepa arqueológica para fundamentar o seu ensino de fé; esta decorre tao somente daquilo que a Palavra de Deus oral e escrita transmitiu as gera-

cóes cristas.

O Sudario pode exercer a funcao de um comprovante muito

ilustrativo, caso seja tido como auténtico.

1. O teste do Carbono 14 Já em 1975 foi proposto, no ambiente dos pesquisadores, o tests do Carbono 14 para se averiguar a antiguidade da mortalha. Todavía naquela época as técnicas, ainda pouco aperfeicoadas, exigiam excessiva quantidade de paño extraído do santo lencol, ou seja, entre 500 e 1000 cm!. Em conseqüéncia, o projeto foi adiado até a década de 1980. A partir deste ano, os cientistas já possuem métodos de pesquisa sobre pequeñas amostras do tecido. Sete Laboratorios se candidataram a fazer tal exame; após complexas conversacóes, foram escolhidos tres: Departaments of Geosciences and Physics, da Universidade de Arizona (Tucson, U.S.A.); Research Laboratory for Archaeology and History of Art, da Universidade de Oxford (Gra-Bretanha); Institut für Mittelenergiephysik, do Politécnico de Ziirich (Suica). Estas instituicoes queriam trabalhar em plena liberdade de pesquisa e sob a sua própria responsabilidade. Em virtude desta alegacáo, excluiram a

presenca de emissários da Igreja aos testes, mas convidaram pessoas estranhas para assistir aos trabalhos. Combinaram também desenvolver suas pes quisas em paralelo com outros estudos, já feitos ou em curso, sobre o Suda

rio, a fim de possuir um conhecimento global f ísico-qut'mico do tecido em pauta. Mais: ficou estipulado, em instrumento jurídico devidamente assinado pelos representantes dos Laboratorios e da Igreja, que os Laboratorios guardariam o segredo profissional relativo aos resultados obtidos; publica-

riam seus relatórios numa revista científica depois que o arcebispo de Turim, guardiSo do S. Sudario, pessoalmente informado, desse ao público a noticia oficial das conclusoes.

Eis, porém, que os compromissos nao foram observados. A insistencia inditcreta e as insinuacoes nem sempre honestas dos repórteres e jornalistas obtiveram dos Laboratorios informacoes que estavam guardadas sob sigilo profissional, explicitamente prometido pelos pesquisadores. Em conseqüencia, antes mesmo que o Cardeal-arcebispo de Turim, Mons. Anastasio Ballestrerr., fizessa a sua comurticacao oficial, a imprensa já havia difundido as

concilistas quo os Laboratorios Ihc tinham fornecido. 468

SANTO SUDARIO DE TURIM

37

Este fato, como tal, nao é argumento contra a validade dos testes rea lizados, mas evidencia bem o clima passional e emotivo em que se desenvolveram e desenvolvem os estudos sobre o S. Sudario. Explica também as reapóes negativas dos pesquísadores que já tinham feito seus testes sobre o Su dario e admitiam a grande antiguidade do mesmo. Queriam o diálogo tran

quilo, em nfvel científico, com os tres Laboratorios, a fim de estabelecer

urna frutuosa interdisciplinaridade; ao contrario, os autores dos testes do Carbono 14 trabalharam á margem dos demais estudiosos, prescindindo de qualquer outra pesquisa já existente nesse setor.1

As restripoes dos dentistas da Física, da Química e de outras áreas aos resultados emitidos pelos tres Laboratorios já foram expostas em PR 320/ 1989, pp. 34-42. Há quem acrescente que as amostras do S. Sudario nao fo ram submetidas ao clássico teste do Carbono 14, mas a urna técnica nova, que utilizava um material recémproduzido, isto é, o tandetron, cuja efica cia e seguranqa ainda estavam sendo apuradas. Vejamos agora

2. Acidentes na historia da pesquisa Desde a primeira de suas afirmacoes, a pesquisa do S. Sudario tem passado por contradicoes, das quais váo aqui expostas as principáis:

Aos 28/05/1898, o advogado Secondo Pia em Turim fotografou a ima-

gem do Sudario... E foi surpreendido ao notar que o negativo da fotografía Ihe apresentava um belo positivo, a saber: um semblante sereno e majestoso gravado nos fios da mortalha; além disto, o corpo inteiro do falecido se desenhava em tamanho natural (1,80 m de altura), com pormenores que jamáis se descobririam na observacao direta do lempo I. - Tais resultados foram tidos como falsos ou provenientes de fraude do fotógrafo, como se podía ler na imprensa da época.

Em 1931, o pesquisador Enrié tirou novas fotografías, que mais urna vez foram tidas como frutos de truques desonestos. A imagem resultaría de pintura medieval; jamáis se podería provar a existencia de verdadeiro sangue na mortalha!

1 O relatórío oficial dos tres Laboratorios foi publicado aos 16/02/1989 na

revista Nature, vol. 337 (1989). pp. 611-615. sob a responsabilidade de P. Damon e outros. com o título "Radiocarbon dating of theShroudof Turin". 469

38

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989 Em 1979 o dentista Me Crone, especializado em detectar falsificagoes,

encontrou óxido de ferro sobre urna das fibras do lencdt. Em consegüéncia, declarou que a ¡magem resultava de pintura feita com óxido de ferro. Isto provocou novos estudos da parte de cientistas também norte-ame ricanos. Estes averiguaram que o ferro está espalhadoem mínima porcentagem sobre a face da mortalha, de tal modo que ná"o pode ser o substrato de alguma pintura. Averiguaram outrossim a origem desse ferro: piovém de um fenómeno dito "enferrujamento do linho", fenómeno que se segué ao mergulhamento do linho dentro de agua. Escreve a propósito o Prof. John Heller:

"0 linho atua como um aspirador de ionios* os ionios retirados seletivamente da agua sao do calcio, do estroncio e do ferro. Sábese donde vem o

óxido de ferro e em que pontos da mortalha ele se encontra mais densamen te: no contorno das manchas de agua que o lenco/ aprésenla. Isto se deve ao incendio de 1532, durante o qual a agua para extinguir o fogo comecou a

ferver, arrastando as partículas de ferro para as margens das manchas de agua. Ali o ferro tornou-se um precipitado de hidróxido de ferro, e este, se cándose, veio a ser óxido de ferro ".

Tal acidente na historia das pesquisas evidenciou, mais urna vez, a necessidade de evitar conclusoes precipitadas; urna coisa é a pesquisa e seus da dos ¡mediatos, outra coisa é a interpretacao destes. Aquela é válida na medi da em que realizada com exatidao; esta poderá ser discutida.

Em 1981. cientistas norte-americanos puderam afirmar a presenta de sangue humano nos pontos em que a imagem apresentava vesti'gios de coágu

los sangümeos. Os estudos dos Ors. Barbet e Antoine Legrand pareciam as-

sim confirmados. - Contudo em contrario levantou-se a hipótese de que tal sangue era o de "mártir" ou de urna "cobaia" medieval.

Em 1988, os resultados dos Laboratorios constituiram urna nova eta pa, com sua encruzilhada na historia das pesquisas.

Todavía nessa encruzilhada algumas certezas se impoem, pois parecem definitivamente adquiridas. A precisao e o senso criterioso dos cientistas nao podem deixar de leva-las em conta, pois, numestudo tá"o complexo quanto o

do S. Sudario, a interdisciplinaridade é indispensável; jamáis um só tipo de

1 O ionio ou ionte ou fon é um átomo ou um grupamento de átomos com excesso ou com falta de carga elétrica negativa.

470

SANTO SUDARIO DE TURIM

39

teste poderá dizer a palavra cabal e decisiva; quem assim pensasse, já nao pode ría ser tido como cientista.

3. As certezas Enumeram-se as dez seguintes:

1) O tecido é de linho puro; provém do Oriente.

2) A ¡n versao fotográfica (ou o aparecimento de urna imagem positiva em lugar da negativa) é fenómeno único no mundo. O que é publicado nos

libros e revistas atinentes ao assunto, é urna chapa fotográfica que a técnica científica esperaría fosse negativa, mas que é positiva.

3) 0 estudo objetivo do semblante da imagem descobre traeos surpreendentes de luz, majestade. serenidade, paz e bondade. após atrozes supli cios. 4) A impressao (marca, sinal) do corpo no lencol é "negativa".

5) As manchas de sangue sao "positivas". 6) As marcas do corpo obedecem á "lei das distancias". A sua intensidade visi'vel é inversamente proporcional ao quadrado da distancia existente entre o tecido e o corpo. Os cientistas ficaram estupefatos ao averiguarem que, no microscopio, as pequeñas fibras de linho que participam da imagem

do corpo sao todas da mesma intensidade de cor: amarelo-palha. É tao somente o número de fibrfculas que produz a intensidade vis Tve I.

6) As marcas do corpo nao penetram na profundidade do tecido. Afetam apenas as fibras superiores da superficie; e isto sem que haja a mínima crosta ou o mínimo vestigio de partículas de materia corante.

7) A imagem é tridimensional sem distorsao. Também isto vem a ser um fato único no mundo; tem-se ai a primeira descoberta no género.

8) É rejeitada por provas cabais qualquer explicacáo que apele para pintura, tintura ou aplicacao de um lencol a urna escultura ou a um baixo-relevo.

9) Foi realmente envolvido nessa mortalha um homem previamente crucificado. Havia sofrido a flagelapáo segundo o costume; recebera ferimentos em'coroa sobre a cabeca e em torno desta. Morrera antes de receber o golpe de misericordia infligido aqueles que eram condenados á crucifixao; 471

40

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

terá falecido por infarto ou/e por pericardite devida ás feridas da flagelacáo. Os suplicios que padeceu, correspondem ao que se 'sabe, no sáculo XX, a

respeito dos suplicios infligidos pelos romanos; tais suplicios eram de todo inexeqüi'veis na tdade Media. Dai a impossibilidade de se admitir a confeccao da imagem do Lencol supondo-se um "mártir" ou urna "cobaia" da Idade Media.

10) A surpreendente limpeza da mortalha, ao nivel das postas de san gue, numerosas ñas partes dianteira e traseira do corpo (contornos sem a

minima modificacao ou deformacao), postula a existencia de um acontecimento singular na origem da dissociapao do corpo que aderia ao tecido.

Com outras palavras: o corpo que estava envolvido pelo lencol, saiu deste como nenhum outro corpo sairia ou sem deixar vestigio de descolamento do sangue coagulado. A mortalha se apresenta como um auténtico espelho,

reproduzindo integralmente a imagem das postas sanguíneas perfeitas, tais como se achavam no corpo da vítima quando foi sepultada.

Estas verificacóes deverao ser sempre levadas em conta no decorrer dos estudos presentes e posteriores do Santo Sudario. A questá"o da autenticidade continua aberta, pois nao se podem dirimir as dúvidas respectivas se nao se harmonizam entre si todas as conclusoes das pesquisas para consti tuir urna explicacao satisfatória dos acontecimentos documentados. O amor á verdade, e tao somente este, deverá nortear todos os estudio sos, quer simpatizem, quer nao, com a autenticidade do Sudario de Turim.

Á guisa de conclusáo, citamos as palavras do Prof. Cario Umberto Casciani, Presidente da Faculdade de Medicina da Univenitá degli Studi ("Tor Vergata") de Roma, proferidas aos 11/04/1989 num Encontró de Estudos promovido pela revista La Civirtá Cattolica: "A figura que aparece no Sudario, narra, com a minuciosa coeréncia do médico legal e com a rigorosa aten^So do anátomo-patotogista, a historia de um corpo ñas horas que ¡mediatamente precederam e seguiram a sua morte. O fiel respeito dos pormenores anatómicos, a exata sucessáo de vestigios

que perfazem as etapas da fitopatología da morte, a indiscutível antecipa-

pao de nocoes anatómico-clmicas, queso se tornaram conhecidas em nossos días, fazem do Sudario um inegável documento que atesta a evolucao clínica de um homem desde as torturas até a crucifixao e a morte. Seria impossfvel imaginar um artista capaz de produzir urna represen-

tapio tao fiel do que acontece a um ser humano ríepois dos golpes da flage(continua na pág. 456) 472

Mais urna vez:

Milagre e "Milagres"

Em síntese: A imprensa noticiou em ¡ulho pp. a cura milagrosa de De lizia Cirolli, jovem siciliana, incuravelmente atetada por cáncer e subtrafda a qualquer tratamento médico. - O fato é relatado por um Informativo do

Episcopado francés, que acrescenta á narracao algumas consideracoes sobre milagre e as etapas que a Igreja observa para averiguar a autenticidade dos fatos. A Igreja é sempre reservada e cautelosa diante da noticia de "mila gre".

As páginas de PR voltam a tratar de milagre,' inspiradas pelo fato de que a imprensa no Brasil noticiou em julho pp. o reconhecimento, por par

te da Igreja, do 65? milagre de Lourdes. Assim se lé, por exemplo, num pe riódico de grande circulacáo no Brasil:

"LOURDES — A Igreja Católica reconheceu ontem que Delizia Cirolli, urna italiana hoje com 24 anos, foi curada milagrosamente depols de urna

peregrinacSo ao santuario de Nossa Senhora de Lourdes há treze anos. Em 1976, Delizia apresentou um cáncer na perna direita, segundo o médico Theodore Mangiapan, Diretor da Agencia Médica de Lourdes encarregada de comprovar a ocorréncia dos milagres." 0 reconhecimento criterioso de milagres no se ¡o da Igreja Católica

contrasta com a noticia de "milagres freqüentes" apregoada em novase no vas assembléias cristas; nestas, de antemSb os pregadores garantem que, por ocasiao do culto, Deus fará um milagre para cada um dos devotos carentes.

A fim de mais elucidar o episodio transmitido pela i.nprensa a respeito de Delizia Cirolli, publicaremos, a seguir, em traducSo portuguesa um Comu-

Ver PR 327/1989, pp. 338-344. 473

42

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

nicado oficial do Episcopado francés:1 relata o ocorrido com a enferma e propóe consideracoes sobre as curas e os milagres de Loudes.

I. NOTA MÉDICA REFERENTE Á CURA DE DELIZIACIROLLI "Urna adolescente siciliana, nascida em novembro de 1964, apresentou em marco de 1976, com onze de idade, disturbios no caminhar, por cau sa de urna ¡nflamacao dolorosa de um de seus joelhos. Após algumas semanas de tratamento corriqueiro, a menina foi hospi

talizada para que se fizesse urna biópsia, á altura de 1/3 superior de sua ti bia direita. Feito este exame, o lamentável diagnóstico foi formulado... O cirurgiao consultado foi obrigado a prescrever tratamentos mutiladores e, mes-

mo assim, apenas paliativos. Os genitores da enanca, consternados, os rejeitaram, julgando melhor levar de volta para casa a sua filhinha condenada.

Alguns meses mais tarde, no verao de 1976, a menina, gracas á generosidade dos amigos, fez urna peregrinacao a Lourdes, acompanhada por sua mae. Voltou de lá esgotada. mas sem modificacao do quadro, e certamente nao curada...

Ñas proximidades de Natal de 1976, quando já se agravara o seu esta

do e sua vida se ia apagando, a vizinhanca nao cessava de implorar Nossa Senhora de Lourdes... Foi entáo que se deu a cura,... de modo totalmente im previsto. Muito rápidamente, a menina retomou a sua vida normal: pós-se a comer devidamente, caminhar, ir a escola... e manifestava enorme desejo de

vi ver e se desenvolver! Em julho de 1977, a adolescente voltou a Lourdes com sua mae; con

tactou os médicos do Bureau Medical e toi examinada. Notaram entáo: urna

deformacao residual do eixo da perna direita, em joelho valgo;2 urna transformacSo radiológica da zona atingida, prova objetiva de desaparecimento do tumor, totalmente imprevisfvel.

1 O texto francés original encontrase em INFO-SANCTUAIRES. Bureau de Presse, Sanctuaire de Lourdes, 5/7/89.

2

"Valgo" é adjetivo médico que significa "voltado para fora" (Nota do

Tradutor). ¿74

MILAGRE E "MILAGRES"

43

De 1977 a 1980, a menina foi acompanhada ano por ano, verificándo se que gozava de perfeita saúde e se beneficiava de crescimento harmonioso. Aos 28 de julho de 1980, o Bursau Medical de Lourdes, quase unáni memente, decidiu considerar essa cura — ocorrida após urna doenca certa e comprovada, de prognóstico fatal e para a qual nenhum tratamento havia si do executado... - como fenómeno contrario as previsoes da experiencia mé dica e científicamente inexplicável.

Oois anos mais tarde, urna Comissao Médica Diocesana emitia urna apreciacao e conclusoes semelhantes.

E em setembro de 1982 o Comité Internacional de Lourdes confirmava com mais autoridade ainda as opinioes já emitidas a respeito desse retorno a saúde excepcional, no sentido mais estrito da palavra e, além do mais, inexplicável.

Entrementes os anos foram passando. A menina tornou-se moca, acábou os estudos humanísticos, e continuou a estudar em vista de um diplo ma de Enfermeira. Recentemente casou-se.

Na quarta-feira 28 de junho de 1989, Mons. Luigi Bonmarito, arcebispo

de Catánia, assinou urna declaracáo em que dizia:

'Recebo a noticia de que tal cura é científicamente inexplicável. Decla ro a sua índole milagrosa. Ela se acrescenta a tantas outras que, há 130 anos,

se veríficam em Lourdes. Exorto os fiéis a dar gracas por esse dom.. A jo ven Delizia Cirolli nunca o fará bastante. Tratase de um dom concedido á Igreja'.

No día 6 de julho de 1989 em Catánia, a declaragao do arcebispo foi entregue ao público.

II. AS CURAS E OS MILAGRES DE LOURDES Os criterios de cura

Sao necessários criterios para que a cura possa ser, um dia, interpreta da como inexplicável. Dizem respeito a tres níveis:

— primeiramente a própria cura. É preciso que seja — repentina e imprevisfvel... 475

44

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989 - total ou efetuada de urna só vez, sem convalescéncia,

- duradoura por seis ou oito anos, antes de ser reconhecida como tal.

— A seguir, a doenca anterior á cura. É preciso que tenha sido - grave, ¡sto é, ameacadora para a vida ou incapaz de cura;

- orgánica, e nao funcional, isto é, centrada sobre urna lesao. Assim a perda da fala nao decorrente de urna lesao cerebral nao é reconhecida;

-- enfim, objetivamente provada por análises, radiogra fías, tomografias, biópsias, et..., que devem ser comu nicadas aos especialistas para fins de pen'cia.

- Por último, os recursos terapéuticos, que atuaram ou poderiam ter atuado. - A tuberculose, por exemplo, que outro-

ra era objeto de numerosas curas averiguadas, desapa rece u quase por completo dos dossiés de nossos dias por causa da realidade de urna med¡cacao eficaz e específica aplicada aos pacientes de nosso tempo. Como se realiza o controle?

Em 1883 foi fundado o Bureau des Constatations Medicales,1 que ho-

je é o Bureau Medical; reúne todos os médicos presentes em Lourdes. É aberto a todo médico, qualquer que seja a sua crenca, a sua religiao, a sua fi losofía.

Esse Bureau Medical se limita a estabelecer um dossié médico que per mite averiguar a certeza da doenca anterior e a da cura obtida sem trata mentó eficaz.

Desde 1947 existe urna segunda instancia, fixa, composta de trinta médicos aproximadamente: é o Comité Medical National, desde 1954 International. Entre esses médicos todos especialistas e, na maioria, professores

de Universidade ou médicos-chefes de servicos de Hospitais, existem: franee-

1 Escritorio de A veriguaqoes Médicas. 476

MILAGRE E "MILAGRES"

45

ses (cerca de 45%), alemáes, ingleses, belgas, escoceses, espanhóis, holande ses, irlandeses, e italianos. Esse Comité reexamina o caso: o dossié entao é entregue a um perito escolhido nesse colegiado. 0 perito tem todo o tempo necessário para apresentar suas conclusoes ao Comité reunido em plenário

convocado para París, ao máximo urna vez por ano; é o colegiado que con firma ou nao a fndole inexplicável da cura.

Desde 1947 até nossos días, 1.300 dossiés aproximadamente foram abertos, contendo cada qual a alegagao de urna cura. Oentre todos os casos,

somente 57 pessoas foram reconhecidas como curadas em Lourdes pelo Bureau Medical e 47 foram apresentadas a segunda instancia em Paris. Ao Comité de Paris foram submetidas nove outras curas ocorridas an

tes de 1947 — o que perfez um total de 56 casos ou relatos. Apenas 29 fo ram confirmados como curas médicamente inexplicáveis; dez, pelo Comité Médico Nacional e 19 pelo Comité Médico Internacional. Cada qual desses 29 dossiés foi submetido ao Bispo da diocese de origem do ex-enfermo, pois,

após tais constatacoes, estava encerrada a tarefa dos médicos.

Oecisao do Bispo1 Urna vez entregue ao Bispo o dossié por parte do Comité Médico In ternacional, compete ao prelado nomear urna Comissao que inclua, entre ou tras pessoas, teólogos, canonistas e também médicos. Essa Comissao tem por objetivo examinar as circunstancias, a f ¡nalidade, o agente, os meios, as condicoes, os efeitos da cura.

Tal Comissao, terminados os seus estudos, entrega as conclusoes ao Bispo. Entao toca a este, e somente a este, se o julga conveniente e oportu no, declarar a cura milagrosa e nela reconhecer 'urna intervenpao do poder

de Deus, Criador e Pai, e a intercessao da Virgem Imaculada' (declaracao de Mons. Alessandro Gottardi, arcebispo de Trento, aos 26 de maio de 1976, a respeito da cura milagrosa de V. Micheli). Ou, como fez Mons. Orchampt, bispo de Angers, após a cura de Sergio Perrin, reconhecer a índole milagrosa e convidar os cristáos a perceber nesse

sinal um ato do amor misericordioso do Senhor.

1 Esta última parte do processo corresponde á terceira etapa na apreciacao de um mi/agre enunciada em PR 327/1989, pp. 338-344. Tratase de averi guar se o fato extraordinario foi obtido em condicoes dignas de urna íntervenció e de um sinal de Deus (Nota do Tradutor). 477

46

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

É certo que cada um de nos, examinando-se atentamente, pode reconhecer na sua vida intervencoes extraordinarias e benévolas de Deus, mas

estas dizem respeito tao somente a nos, beneficiarios e crentes. Deus está pre sente no coráceo da nossa vida e ao longo de toda a nossa vida.

Quando um fenómeno ultrapassa o quadro da nossa pessoa e tende a ser apresentado como sinal aos olhos dos homens, é necessário que haja um tal controle rigoroso da parte tanto dos médicos quanto dos Pastores da

Igreja. Como quer que seja, é sempre na agao de grapas que temos de viver esses acontecimentos pessoais ou eclesiais. O número de curas milagrosas reconhecidas é pequeño em relacao ao

número de enfermos. Desde 1858, 64 curas foram pela Igreja reconhecidas

como milagrosas sobre 3.500 curas averiguadas pelos médicos1 e sobre

2.300.000 doentes que foram a Lourdes em peregrinacao organizada. Isto corresponde mais ou menos a um milagre para 40.000 doentes e para 50 cu

ras médicamente confirmadas".2 III. COMENTANDO... O relatório do Informativo francés concernen te aos Santuarios que acaba de ser apresentado, evidencia bem quanto a Igreja é cautelosa quando situada diante de fatos tidos como milagrosos. Isto. alias, já foi observado no artigo de PR 327/1989, pp. 338-344. Interessa por em relevo aqui a distinpao, ocorrente no relatório, entre

doenca orgánica e doenca funcional. Esta se deve a urna disfuncao ou a um bloqueio do sistema nervoso (asma, eczemas, úlcera estomacal, verrugas...);

por conseguinte, pode ser curada por um desbloqueio dos ñervos, desbloqueio que se obtém mediante emocoes, sugestóes..., isto é, por via psíquica. As curas assim obtidas náío sao consideradas milagrosas (embora efetuadas

em ambiente de curanderismo religioso, espirita, umbandista, protestante).

1 O número de 3.500 encontrado neste relatório do Episcopados francés nao coincide com o número de 5.000 que colhemos em outra fonte e publi camos em PR 327/89, p.341. Nao temos como dirimir a dúvida. mas ere mos que essa enumeracSo nao 6 essencial no caso (Nota do Tradutor).

3 É de notar, porém, que mesmo a declaracSo final da autoridade eclesiás tica que reconhece um milagre, nao 6 artigo de fé e, por conseguinte, pode

nio merecer crédito da parte dos fiéis (Nota do Tradutor). 478

MILAGREE "MILAGRES"

47

porque tém explicacáo natural assaz percéptCvel. Ao contrario, as doencas orgánicas sao as que afetam um órgáo mediante le sao, tumor, fratura... Estas

molestias nao sao curáveis por um desbloqueio psíquico (embora o psiquismo seja sempre importante na saúde e na doenca de urna pessoa); só podem ser sanadas pela medicina (cirúrgica, por vezes) ou por milagre.

Conclusao: o fato de que Oeus aínda hoje realiza milagres, deixando a ciencia e a inteligencia humanas estupefatas, é sinal.... sinal que chama os

homens a reconhecer o Amor e a Providencia do Senhor em relacao ás suas

criaturas, principalmente aquetas que com humildade e fervor O invocam. Estéváb Bettencourt O.S.B.

Livros em Estante Preparacao para o Casamento e para a Vida Familiar, por urna Equipe

coordenada por D. Eusébio Osear Scheid. - Ed. Santuario, Caixa postal 4,

12570 Aparecida (SP), 1989, 158 x 227 mm, 221 pp. A familia 'sempre foi, e continua sendo, a base de toda sociedade bem constituida. Todavía vem sofrendo ataques, que a ameacam seriamente; assim, por exemplo, de 1982 a 1985 o número de separacoes ¡udiciais cresceu

90'•, o de divorcios 30'i, enquanto o número de casamentos registrados caiu 4,2'A. O número de casamentos, de 994.246 em 1982, caiu para 952.294 em 1983 (queda da ordem de 12,8'A), ao passo que a populacao cresceu em tor no de 2'< entre 1982 e 1985' 0 amor livre tende a substituir o amor estável e comprometido. — Em vista disto, os Bispos do Regional de Sa"o Paulo en-

carregaram D. Eusébio Scheid, Bispo de Sa~o José dos Campos (SP), de ela borar, com urna equipe de especialistas (sacerdotes e leigos casados), um livro destinado a preparar os jovens para o casamento e a vida familiar. Tal

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plañe/amento familiar); 3) Valores Especiáis na Vida Familiar (Oracao, camília de Nazaré). O tema da limitacao da prole - tafo candente hoje - é ex planado com muita clareza e com ilustraedes gráficas coloridas, de modo a oferecer informacoes completas. Os autores lembram, por exemplo, que o

Método da Temperatura goza de 97 a 9&/c de seguranea; o de Billings goza 479

48

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 329/1989

de 98,5'A de eficacia; quem tem consciéncia disto, dispensase de usar méto dos artificiáis de contencSo da natalidade, sempre onerados por contra-indicacSes graves.

O livro foi redigido de forma diática, segundo um sistema de capítulos e parágrafos breves, seguidos de bibliografía sucinta e acessível, em li'ngua

vernácula. D. Eusébio, na Apresentacáo da obra, anuncia um segundo volume, que tratará das Etapas para a implantacao e o crescimento da Pastoral Familiar.

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A colecao "Estudos Bíblicos" é inspirada pelas teses da Teología da

LibertacSo, que se refletem também no presente volume. Tratase de oito ar tigos, dos quais merecem particular atencSo o de Airton José da Silva sobre Milagres (pp. 43-53); nega o milagre da multiplicacSo dos pies, baseandose num livro muito discutido de Alfons Weiser (O que é milagre na Biblia;. Hoje em dia hé tendencia a negar a derrogacao das leis naturais por parte do Se-

nhor a fim de ofereceraos homens um sinal ou urna palavra mais eloqüente; tal tendencia cede ao racionalismo e contraria o pensamento da Igreja. que,

muito cautelosa diante dos fatos extraordinarios, admite milagres no sentido clássico (cf. pp. 473-9 deste fascículo). A excessiva preocupacSo sócio-econOmica da obra prejudicao teor de alguns seus artigos, que infelizmente nao podem ser tomados como espécimens de genufna exegese católica.

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NCzS 30.00 Cap. I O Catálogo bíblico: Livros canónicos e Livros apócrifos. - II Sonrien

te a Escritura? - III Somente a Fé? Nao as obras? — IV A Santíssima Trindade: Fórmula paga? - V O Primado de Pedro - VI Eucaristía:Sacrificio e Sacramento — Vil A ConfissSo dos pecados - VIII O Purgatorio - IX As Indulgencias — X María. Virgem e Mae — XI Jesús teve irmaos? — XII O

Culto aos Santos - XIII E as imagens sagradas? - XIV Alterado o Decálo go? - XV Sábado ou Domingo? - XVI 666 (Ap 13,18) - XVII Vocé sabe quando? — XVIII Seitas e espirito sectario - Apéndice geral: A era Constantiniana - Epílogo - Bibliografía. Atende-se pelo reembolso postal.

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