Ano Xxviii - No. 304 - Setembro De 1987

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Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memorísun)

APRESENTTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15). Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanga e da nossa fé

hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de

W_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se

dissipem e a vivencia católica se fortaiega no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabalho assim como a

equipe de Veritatis Splendor encarrega do respectivo site.

que

se

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

SUMARIO

"Até quando, Senhor...?" Por que a Igreja? Por que a fé? O Caso Marcinkus Um homem-macaco em proveta

"O horóscopo da sua vida" Por causa da fé perseguidos

ANO

XXVIII

-

SETEMBRO

-

1987

304

PERGUNTE E RESPONDEREMOS

SETEMBRO -1987

Pub(icacáo mensal

N9 304

SUMARIO

liretor-Responsável: Estéváo Bertencourt OSB Autor e Redator de loda a materia publicada neste periódico liretor-Administrador

D. Hildebrando P. Mariins OSB dministrafáo e distribuicáo:

Edicóes Lumen Chrisii Oom Gerardo, 40 - 5" andar, S/501

Tel.:(021) 291-7122 Caixa postal 2666 20001 - Rio de Janeiro - R J Compeulso e Impressáo

ra-ft "MAttaUES-SARAIVA" Rui SutM AoOteu**. í» -

"Até quando Senhor?

385

Freqüentemente se pergunta:

Por que a Igreja? Por que a Fé? .... 386 Muitas vezes na imprensa:

O caso Marcinkus

399

Os avancos da Engenharia Genética:

Um homem-macaco em proveta .... 408 No fim do sáculo XX: "O horóscopo da sua vida", pelo Pe. Mauro

Ferrero

415

"Sofrer com os que sofrem" (Rm 12,15): Por causa da fé perseguidos 427

Úfelo d«S4-»2SO T.Hj 273-MM - J7Í-Í447 - 279-9449 -Rl

SSINATURA EM 1988: Cz$ 400,00 Número avulso: Cz$ 50,00

NO PRÓXIMO NÚMERO: 305 - Outubro - 1987

os NOVOS Assinantes:

ja assinatura (desde 1987) será válida

Pió XII, os nazistas e os judeus. - "Doutrina

ó o mesmo mes de 1988.

Social Crista" (Card. Joseph Hóffner). Quando comeca um ser humano? — A Cam-

ueira depositar a importancia no Banco 3 Brasil para crédito na Conta Córtente í 0031 304-1 em nome do Mosteiro de

io Bento do Rio de Janeiro, pagável na génda da Praca Mauá fn* 0435) ou enar VALE POSTAL pagável na Agencia entral dos Correios do Rio de Janeiro.

RENOVÉ OUANTO ANTES A SUA ASSINATURA

panha Anti-Aids. - Logosofia: que é? - A Maconaria e a Comunhao Anglicana.

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

COMUNIQUE-NOS QUALQUER

MUDANCA DE ENDERECO

Até quando,Senhor...?" O livro do Apocalipse refere que os mártires, na corte celeste, pedem a Deus a restauracao da ordem burlada no mundo por freqüentes injusticas, que redundam em aparente vitória do mal sobre o bem. — Este anseio no

Apocalipse faz eco a urna serie de outros semelhantes, esparsos na Escritura (cf. Jr 12,1-3; Hab 1,2-4; MI 2,17); os justos sempre se impressionaram a propósito da prepotencia da iniqüidade sobre a retidlo, fato diante do qual Oeus parece calar-se ¡nsensível.

Eis, porém, que tanto no Apocalipse como nos livros anteriores, a res-

posta do Senhor é lacónica: nao indica o "quando", mas pede aos fiéis que aguardem "um pouco, muito pouco tempo" (Hab 2,1-4) "até que se com plete o número dos seus companheiros de servipo" (Ap 6,10); a historia deve prosseguir para que se preencha a cota dos habitantes da Jerusalém celeste, de acordó com o sabio designio da Providencia. Mas, embora nao queira indicar prazos e términos, o Senhor nao aban dona os seus fiéis ao desatino. O Apocalipse diz que aos justos foi entregue urna veste alva (Ap 6,11), símbolo da vitória já obtida pelo Cristo sobre o pecado e compartilhada por todos os fiéis discípulos de Cristo; sim, já na terrá quem freqüenta a Eucaristía recebe o penhor da imortalidade gloriosa, que vai atuando no cristao aínda peregrino. Entrementes, enquanto espera a consumadlo, toca ao cristao viver da fé (Hb 10,38), isto é, no claro-escuro da Palavra de Deus, que nos revela discretamente o plano do Pai; vá caminhando á luz dessa penumbra, dando um passo, mais um passo, ainda um passo. . . numa heroica corrida de f6lego, até chegar á plena luz. A fé, da qual vive o justo hoje, assim se vai transformando em vi sao. Mais: no Evangelho o próprio Jesús predisse que os tempos seriam tao

ingratos que os cristaos desejariam ver logo a consumacao da historia, mas

nao a veriam (cf. Le 17,22). Todavía o Senhor nao quis deixar os discípulos na perplexidade; indicou-lhes um meio de "antecipar" a restauracao da or dem: a oracao. . ., á oracao diurna e noturna, que pede a Deus justica ou a

ordem decorrente do reino do Messias. Á oracao o Senhor responde,.. . e

responde sem demora: "É Deus nao faria justica aos seus eleitos, que a Ele

clamam dia e noite. . . Éu vo-lo declaro: Ele Ihes.fará justica muito em bre ve" (Le 18,1-8).

Por conseguinte, em vez de satisfazer á curiosidade dos homens, o Se nhor Ihes aponta um recurso mais importante do que qualquer outro: a ora-

cao. . ., que, acdmpanhada pela conversao do coracao, pode obter de Deus a resposta aos anseios da humanidade conturbada e abatida. E.B.

385

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Ano.XXVIll - NP304 - Setembro de 1987 Freqüentemente se pergunta:

Por que a Igreja? Por que a Fé? Em sfntese: A Igreja, que nos é entregue por Cristo com seu Credo, suscita incómodo e mal-estar em muitos crístaos, que preferirían) configuré' la a urna democracia, na qual tudo se resolvesse a partir dos individuos por voto majoritário. - Este mal-estar, porám, é precisamente fonte de consolo e alegría para quem nele reflete: sim, é a garantía de que o fiel católico nSo

está seguindo apenas o seu bom sensq ou a sua religiosidade inata e limitada,

mas está trilhando o caminho de Deus. No Cristianismo é Deus quem primeiro procura o homem, nao é o homem que procura a Deus simpiesmente com seu senso religioso e místico. A Igreja á conseqüéncia do misterio da Encar nado, primeira expressSo dessa demanda do homem por parte de Deus.

Quanto á exigencia da fé, decorre do fato de que Deus deseja a livre

adesao do homem; ora isto só é possfvel se Ele se revela é criatura sem apa

gar tudo o que de misterioso e incompreensfvel existe em sua vida e em seus designios. Se Deus se revelasse plenamente ao homem, este nSo poderla deixar de Lhe aderir instantáneamente, pois Deus visto face-é-face é a resposta cabal a todas as aspiracoes do homem. *

*

*

Muitas pessoas hoje em día — até entre as que se dizem católicas — estimam profundamente Jesús Cristo e estáo dispostas a seguir seus ensinamentos, mas fazern restricoes a Igreja ou recusam pertencer-lhe coerentemente. Diriam sim a Jesús Cristo, e nao á Igreja. - Este fato merece atencao, pois afeta gravemente o próprio Cristianismo e sua identidade. Eis por que lhe dedicaremos as páginas seguintes, procurando analisar a atitude de recusa e delinear a resposta que se lhe pode dar. 386

POR QUE A IGREJA?

1.0 problema Tentemos reproduzir algumas das formulacoes do problema tais como tém sido propostas por intelectual racionalistas.

Como pode urna instituicao particular, marcada pela contingencia e a fragilidade de homens e mulheres, ser o lugar obrigatório para que se possa encontrar a salvacio prometida por Cristo a todos os homens (cf. Jo 10,10)?

Por que, para entrar em comunhao com a Verdade de Deus, destinada a todos os homens, devo passar por determinada instituicao e até incorporar

me a esta?

Por que sao necessários os dogmas, as normas e os ritos da Igreja para irmos a Deus? Nao bastaría orar ao Ser Supremo, de um modo ou de outro, e oferecer-Lhe o único incensó que Ihe agrada: um bom comportamento éti co?

Ou aínda: por que tantas particularidades para nos encontrarmos com o Universal e tantas realidades contingentes para chegarmos ao Único Necessário?

Tais eram

as

questoes

levantadas pelos filósofos do lluminismo

(Aufklarung) do século XVIII; esses espirites da "época das luzes" tinham na Alemanha seu representante mais típico em Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781).

Refletindo bem, vemos que tais objecoes se poderiam estender ao próprio Jesús de Nazaré. Por que admitir a mediacao de Cristo, que se apresentava como a via de acesso a Deus (cf. Jo 10,9: "Eu sou a porta. . ."),. . . como "o Caminho, a Verdade e a Vida" (cf. Jo 14,6)? Alias, o escándalo

dos filósofos racionalistas já era o dos contemporáneos de Jesús, que perguntavam: "Nao 6 este o carpinteiro, o filho de María, o irmao de Tiago, José, Judas e Simio? E suas irmls nao estío aquí entre nos?" (Me 6,3).

Em última análise, tocamos o escándalo provocado pelo misterio da Encarnacao de Deus ou pelo amago da mensagem central do Cristianismo: "O Verbo era Deus. . . Ele se fez carne e habitou entre nos" (Jo 1,1.14). Muitas pessoas hoje aceitam ser religiosas (até mesmo cristas), mas gostariam de definir elas mesmas o seu caminho para Deus, sem interferencia de alguma instituicao (religiao seria assunto de consciéncia apenas ou de foro mera mente privado). Refutamos sobre tal posicao. 387

"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

2. O sentido da Encamacao Se o Cristianismo nao é apenas um caminho, entre outros, que o no-

mem abre para chegar ao Absoluto, se o Cristianismo é realmente aquílo que

ele diz - o caminho de tieus que vem aós homens, como homem, na historia

dos homens —, entao compreende-se que o Universal (Deus) se entregue a nos no singular (Jesús) e que o Eterno venha a nos no tempo e através de fatos históricos.

Se o Cristianismo constas» apenas de expressoes naturais de religiosidade humana (oracao, silencio, interioridade, ascese...), ele seria talvez mais aceitável para mu ¡tas pessoas, mas nao seria mais do que a expressao do na tural anseio do homem para Deus (o que, sem dúvida, já é algum valor).

O fato de que o Cristianismo está intrínsecamente ligado ás particula ridades de Cristo e da Igreja, pode, em primeira instancia, incomodar as ten dencias da razio humana; mas, numa ulterior reflexao, verifica-se que esse incómodo é altamente precioso, pois significa que, no Cristianismo, o ho mem nao é entregue apenas ao seu inato désejo de procurar o Absoluto

(Deus); ao contrario, ele se encontra com o Absoluto, que é o primeiro a procurar o homem; defrontando-se com normas e ritos, em última análise ele entra em contato com o Outro ou com a Transcendencia de Deus, que vem ter com o homem por sua própria iniciativa (ou antes mismo que o homem procure a Deus).

Em conseqüencia, verifica-se ainda o seguinte: a Igreja-instituicSo, que se impoe ao homem por vontade de Cristo e nao resulta da espontaneidade religiosa do homem, essa Igreja, com suas normas e seus ritos, é precisamen te a expressSo da iniciativa salvífica de Deus; ó o prolongamento lógico da Encarnacao e o lugar privilegiado do encontró com Cristo e com o Pai. Se a Igreja fosse apenas um vasto clube religioso, urna livre associacSo mística, em que tudo se decidisse por votacoes majoritárias, talvez fosse mais "assimilável", porque se parecería mais com as democracias contempo ráneas; todavía a conseqüencia disto é que o homem, na Igreja, seria dirigido

únicamente por seu senso religioso inato. Justamente o fata de que a vida da Igreja é norteada por urna Tradicao que nos chega a partir de Cristo e dos Apostólos, confere aos homens a garantía de que é o Filho de Deus, que eles encontram.na ¡nstituicao, e nao apenas a sua religiosidade natural (por mais generosa que seja).

Em linguagem rigorosamente teológica, dir-se-á: o Cristianismo está centrado no regime do Sacramento. — Sacramento é urna realidade sensível que encobre, revela e transmite os dons de Deus aos homens. Assim quis 388

PORQUE A IGREJA? Deus tomar a iniciativa de se comunicar ás suas criaturas. O Sacramento pri mordial é a santfssima humanidade de Cristo, por cujos gestos e palavras passava a graca de Deus; a continuacao deste primeiro Sacramento é a Igreja, chamada por Sao Paulo simplesmente "o Corpo de Cristo" (cf. Cl 1,24). As últimas expressoes do sacramento Cristo-lgreja sao os sete ritos chamados "sacramentos" (que acompanham o homem desde o nascer até o morrer, transmitindo-lhe a comunhao de vida com o próprio Deus). Donde se vé que a existencia da Igreja visfvel é tao essencial ao Cristianismo quanto o próprio misterio da Encarnacao. Um Cristianismo sem a Igreja instituida por Cristo estaría mutilado.

Poe-se agora a pergunta: visto que, dentro do Cristianismo, existem muitas sociedades com o nome de "Igreja", serao todas equiparadas entre si? Ou haverá alguma diferenca essencial entre elas?

É esta questio que passamos a considerar. 3. A Igreja confiada a Pedro Desenvolveremos o título ácima por etapas:

1. Jesús quis fundar urna Igreja como lugar permanente do encontró da humanidade com a salvacSo trazida por Ele. A Igreja nao resulta de um designio dos Apostólos posteriores á Ascensao do Senhor.

Com efeito. Diz Jesús em Mt 16,17-19, referindo-se ao Apostólo Pedro: "Bem-aventurado és tu, Simio, filho de Joñas, porque nao foram a carne e o sangue que te revelaran) isso, e sim o meu Pai que está nos céus.

Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificare! a minha Igreja, e as portas do Inferno nao prevalecerSo contra e/a; Eu te darei as cha ves do Reino dos Céus, e o que ligares na térra será ligado nos céus, e o que desligares na térra será desligado nos céus".

Mais ainda: após a Ressurreicao, Jesús cumpriu a sua promessa, entre gando a Pedro o primado de Pastor da Igreja:

"Simio, filho de Joao, tu me amas mais do que estes?" Ele Ihe respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que te amo". Jesús Ihe disse: "Apascenta os meus cordeiros". Urna segunda vez Ihe disse: "Simio, filho de Joao, tu me

amas?" - "Sim, Senhor", disse ele, "tu sabes que te amo". Disse-lhe Jesús: "Apascenta as minhas ove/has". Pela terceira vez disse-lhe: "Simio, filho de Joao, tu me amas?" Entristeceu-se Pedro porque peía terceira vez Ihe per389

6

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

guntara: "Tu me amas?" e ¡be disse: "Senhor, tu sabes todo; tu sabes que te amo". Vém ao caso txitrossim as palavras do Senhor por ocasiao da última ceia: "Simio, Simio, eis que Satanás pediu insistentemente para vos penet rar como trigo; eu, porém, roguei por ti, a fim de que tua fé nao desi'alega.

Quando, porém, te converteres, confirma teus irmSos" (Le 22,31s). Estes textos manifestam suficientemente a ¡ntenpao, de Jesús, de fun dar a sua Igreja como instituicao salvftica sob o pastoreio do Apostólo Pedro e de seus sucessores (se Pedro é o fundamento visfvel da Igreja, o Apostólo e suas funcoes nao de se perpetuar em seus sucessores, pois um edificio que

perca seu fundamento, dasaba fragorosamente). De resto, o desejo de fundar a Igreja é coerente com a escolha dos doze Apostólos por parte de Jesús (Mt 10,3), com a instrupao e o envió dos mesmos em missao (Mt 28,18-20), como também com a instituicao da Euca ristía, ceia da nova AI ¡anca a ser renovada perpetuamente pelos discípulos

(cf. Le 22,20). 2. A Igreja de Cristo é chamada católica, porque universal-ou destina da a todos os homens (sem distincao de rapas ou classes); apostólica, porque

fundada sobre os Apostólos escolhidos por Cristo (cf. Ap 21,14)'; romana, porque o Apostólo Pedro, chefe visível designado por Cristo, morreu em Ro ma como bispb desta cidade; em conseqüéncia, os seus sucessores, bispos de Roma, continuam a desempenhar as funcoes do primado. O título romana nao nacionaliza a Igreja; é apenas o título que designa a sede do Pastor Supremo visível. Este tem que ter um referencial geográfico ou urna residencia, como Jesús, o Salvador de todos, tinha um enderepo ter

restre, a saber: a cidade de Nazaré; donde o aposto "Jesús Nazareno". "Igre ja Romana" e "Jesús Nazareno" sao dois títulos paralelos entre si, que nao restringem o ámbito do Cristianismo, mas vém a ser genuínos ecos do mis

terio da Encamacio, qué está no ámago da mensagem crista. 3. Há quem objete que "Jesús anunciou o Reino, mas o que veio foi a Igreja", ísto é, Jesús ter-se-á engañado, imaginando que o fim do mundo

estaría iminente (com a instaurapao do Reino perfeito de Deus); em conse-

1

Urna igreja que nio esteja em contato ou que tenha perdido o contato

com o Apostólo, jé nio éade Cristo.

390

POR QUE A IGREJA? qüéncia. os Apostólos teriam fundado a Igreja como substitutivo temporal

do Reino. - Examinemos os textos aduzidosem favor desta objecao: 1) Eis as palavras que falam da aparente ¡m¡n§nc¡a do Reino:

Me 9,1: "Em verdade vos digo que aquí estao presentes alguns que nSo provarSo a morte até que véjam o Reino de Deus chegando com poder". Mt 10,23: "Em verdade vos digo que nSo acabareis de percorrer as tídades de Israel até que venha o Fifho do Homem".

Mt 16,28: "Em verdade vos digo que alguns dos que aquí estao nao provarao a morte até que ve/am o Filho do Homem vindo em seu Reino". Para entender estes textos, lembremos que Jesús sempre recusou def i*

nir a data do fim do mundo; chegou mesmo a dizer que Ele a ignorava (nao era sua tarefa revelá-la aos homens); cf. Me 13,32; At 1,7. — Notemos ainda que, nestas passagens do Evangelho, é pouco verossímil a mencao de um re

torno físico de Jesús. — Com efeito, na S. Escritura os termos "vir", "visi tar", "aparecer", aplicados a Deus, tém geralmente valor simbólico; anunciam, sim, urna intervengao marcante de Deus na historia dos homens (cf.

SI 96,1-6; 97,1-9; 100,1s. . .). E' precisamente isto que Jesús quer predizer: em Mt 10' o Senhor prevé as perseguicóes que seus discípulos deverSo so-

frer por parte do povo de Israel incrédulo; ora as cidades de Israel obcecado serlo visitadas e julgadas por Cristo, diz o Senhor, — o que de fato aconteceu guando os romanos em 66-70 d.C. ¡nvadiram a Palestina, sitiaram e des

truí ram Jerusalém; a ruina desta cidade significa o juízo sobre o povo endu recido, o fim da antiga Alianca e a plena afirmacao do Reino de Deus inau gurado na Igreja.

2) Vém agora duas passagens que parecem insinuar o-particularismo (e

nao o universalismo) da missao de Jesús: a) Mt 10,5s: "NSo toméis o caminho dos gentíos, nem entréis em cida

de de Samaritanos. Dirigí-vos, antes, ás ove/has perdidas da Casa de Israel". A nocao de urna Igreja universal (católica) seria compatível com tais

dizeres? — Respondendo, notamos que as palavras de Jesús se referem ao primeiro envió dos Apostólos em missao evangelizados; está é limitada á Pales-

1 É é luz de Mt 10¿3 que devem ser /idos os paralelos de Mt 16,28 e Me 9,1 (estes dois últimos textos parecem estar fora de contexto em Mt 16 e Me 91 391

8

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

tina, e somonte as cidades judaicas da Palestina (ai também havia cidades sa maritanas). Ora a lógica da pregacao fazia dos judeus os primeiros destinata rios da Boa-Nova; os pagaos nlo seriam excluidos, mas seriam abordados em segunda instancia (sabemos que a própria pregacao dos Profetas do Antigo Testamento se dirigía primeiramente aos filhos de Israel, mas tinham em vista também a vocacao dos pagaos numa atitude universalista; ver Is 2,25; Mq 4,1-3; Is 66,18-21; Jn 1-4). - Jesús encontrava os judeus como ovelhas

desgarradas*; haviam sido mattradas e abandonadas por pastores indignos (cf. Ez 34,1-31; Zc 10,2); no tempo de Jesús mesmo o povo de Israel era mal orientado pelos fariseus (cf. Mt 23,1-39). Por isto o Senhor se dirige aos Apostólos e os manda ter com essas ovelhas abandonadas; farao as vezes de pastores de um novo rebanho ou do rebanho messiánico (ao qual se agrega-

ráo, após Páscoa-Pentecostes, também os gentíos, cuja vez ou cuja hora terá chegado). Vé-se, pois, que, bem entendido, o texto de Mt 10,5s nao significa restricao definitiva da pregacao messiánica, mas apenas respeita o escalonamentó ou a ordem segundo a qual os povos deviam ser chamados ao EvangeIho.

b) Mt 15,24: "Nao fui enviado senSo as ovelhas perdidas da Casa de Israel". Estas palavras com que Jesús responde a urna mulher cánanéia, que Ihe pede a cura de sua filha, correspondem a mais pura ortodoxia judaica, se

gundo a qual a salvacao é para os judeus (ao menos. . . para os judeus em primeiro lugar); o mesmo principio é professado por Sao Paulo em Rm 1,17-2,9. Apesar desta tese, Jesús olha para a mulher estrangeira com benevioléncia; poe á prova a sua fá e o seu amor; e, vendo quao heroica era tal mulher, nao somente Ihe concedeu o que pedia, mas ainda Ihe teceu um elo

gio: "Ó mulher, grande é a tua fé! Seja-te feito como queres!" Alias, Jesús,

diante de um centuriSo romano que Ihe pedia a cura de seu servidor, exclamou: "Em verdade vos digo que em Israel nao achei ninguém que tivesse tal fé. Mas eu vos digo que virao muitos do Oriente e do Ocidente e se assenta-

rao á mesa no Reino dos Céus, com Abraao, Isaac e Jaco" (Mt 8,1 Os). Tam bém os Profetas Elias e Eliseu já tinham obtido milagres em favor dos pagaos da Siria (cf. IRs 17,7-24; 2Rs 8,7). Jesús, portanto, nada fazia de inédito, mas conf irmava os tragos de universalismo da mensagem dos Profetas.

De resto. Ele disse que todos sao filhos do mesmo Pai e tém direito ao mesmo tratamento (cf. Mt 5,43-48); o Salvador de Israel seria também o Messias dos pagaos.

1

"Perdidas" em Mt 10,6 nSo tem o sentido de "condenadas", mas, sim, o

de "dispersas" fora do aprisco, em perigo de desgarrarse e perecer. 392

POR QUE A IGREJA?

4. Igreja visivel e jurídica 1. Jesús nao conf¡ou a Pedro e aos Apostólos apenas a missao de pre gar e ministrar os sacramentos. Ele quis outrossim urna Igreja estruturada e jurídica sob o supremo pastoreio de Pedro (e nao urna comunidade espiri tual reunida tao somente pela fé e o amor). Isto decorre dos textos já citados, com referencia a funcao de Pedro e

seus sucessores. Outros textos do Novo Testamento evidenciam esse aspecto orgánico e visivel da Igreja. Assim, por exemplo, Mt 18,1-22, o sermao comunitario do Evangelho, que propoe normas para a boa ordem eclesial e que tem seu ponto alto na seguinte passagem:

"Se teu irmao pecar, corrige-o a sos; se ele te ouvir, ganhaste teu irmao. Se nao te ouvir, toma contigo mais urna ou duas testemunhas, para que toda

questao seja decidida pela palavra de duas ou tres testemunhas. Caso nao Ihes dé ouvido, dize-o á Igreja. Se nem mesmo a Igreja der ouvido, trata-o

como gentío ou publicano. Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na

térra, será ligado no céu e tudo quanto desl¡garóes na térra, será desligado no

céu"(Mt 18,15-18). Jo 20,21 -23: na noite de Páscoa, disse Jesús aos Apostólos: "A paz es-

teja convoscol Como o Pai me enviou, também eu vos envió. . . Recebei o Espirito Santo; aqueles a quem perdoardes os pecados, serio perdoados; aqueles aos quais os retiverdes, serio retidos".

Mt 28,18-20: "Toda autorídade no céu e na térra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas as nacdes se tornem discípulos, batizando-os em

nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo, e ensinando-os a observar tudo quanto vos ordene/'". Todos estes dizeres do Senhor Jesús foram entendidos pelos Apostólos de tal modo que eles comecaram a exercer sua autoridade logo após Pente

costés com o pleno reconhecimento dos fiéis. É o que se depreende do livro dos Atos dos Apostólos e das epístolas paulinas (especialmente 1 e 2Cor): At 4,34s: "Nao ha via entre eles necessitado algum. De fato, os que

possuiam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam o valor da venda, e o de-

punham aos pés dos Apostólos. Distribuíase en tao a cada um conforme a sua necessidade". At 6,1-6: "Naque/es días, aumentando o número dos discípulos, surgiram murmuracdes dos helenistas contra os hebreus. Isto porque, diziam aqueles, suas viúvas estavam sendo esquecldas na distribuicao diaria. Os Doze convocaram entio a multidao dos discípulos e disseram: 'Nao é conve niente que abandonemos a Palavra de Deus para servir ás mesas. Procurai, 393

10

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

antes, entre vos, irmaos, sete homens de boa reputacao, repletos do Espfrito e de sabedoría, e nos os encarregaremos desta tarefa. Quanto anos, permanece

remos assfduos é orafio e ao ministerio da Paiavra'. A proposta a'gradou a toda a multidao. E esco/heram EstSvSo, homem chato de fé e do Espirito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timón, Pármenas e Nicolau, prosélito de

Antioquia. Apresentaram-nos aos Apostólos e, tendo orado, impuseram-lhes asmaos."

Veja-se também todo o capítulo 15 dos Atos dos Apostólos, que trata do primeiro Concilio da historia, reunido para dirimir urna dúvida que se originara entre os cristaos sobre a obrigatoriedade ou nao da Lei de Moisés. Em 1Cor 5,3-5; 2Cor 2,5-11 há referencia á excomunhao infligida pe lo Apostólo a cristaos delituosos.

Em 1Cor 11,23-34 Paulo censura os fiáis por causa de abusos na Ceia Eucarística e baixa normas para evitá-los. Em 1Cor 14,26-40 o mesmo Apostólo regulamenta o uso dos carismas e corrige mal-entendidos a respeito.

Em 2Cor 13,10 lé-se: "Eu vos escrevo estas coisas estando ausente, pa ra que, quando ai chegar, nao ten ha que recorrer ó severidade, conforme o poder que o Senhor me deu para construir, e nao para destruir". _

Os poderes de pregar, santificar e governar, concedidos por Jesús aos Apostólos, haviam de ser duradouros ou transmitir-se-iam aos sucessores dos Apostólos ató a consumadlo dos sáculos; se assim nao fora, esfacelar-se-ia a obra de Cristo. Ora este prometeu: "As portas do inferno (ou o poder da morte) nao prevalecerao contra a Igreja" (Mt 16,18) e: "Estarei convosco até a consumacao dos sáculos" (Mt 28,20). 2. A transmissao das facuidades dos Apostólos nos é realmente ates tada por documentos diversos:

As epístolas pastorais (1/2Tm, Tt) mostram o Apostólo Sao Paulo a instituir Timoteo e Tito a frente de comunidades. Ver também Atos 14,23; Tt 1,5, textos que atestam a instituicSo de presbíteros para pastorear comunidades recém-fundadas. O Apocalipse, no fim do sáculo I, fala dos an-

jos (Bispos) de sete comunidades da Asia Menor (1,20; 2,1-3,14).

Mais: os primeiros escritores cristaos após os Apostólos nos sáculos l/ll dáo a ver a consolidacao da hierarquia da Igreja, com seus bispos, pres bíteros e diáconos; os principáis nomes a citar s3o os de S. Clemente de

Roma (t 96 aproximadamente), S. Inácio de Antioquia (t 107 aproximada mente), Sao Poücarpo de Esmirna (t 156), S. Ireneu de Liao (ti85)... 394

POR QUE A IGREJA?

11

3. As considerares até aqui propostas tendem a evidenciar por que

um cristao pode e deve aceitar o sacramento da Igreja, decorrente do Sacra mento da EncarnacSo ou de Jesús Cristo. Esta proposicao é, dé resto, muito claramente desenvolvida pela Constituicao Lumen Gentium do Concilio do Vaticano II: "O único Mediador Cristo constituía e incesantemente sustenta aqui na térra a sua santa Igreja, comunidade de fé, esperance e caridade, como or

ganismo vislvel, pela qual difunde a verdade e a graca a todos. Mas a sodedade provida de órgaos hierárquicos e o corpo Místico de Cristo, a assembléia visível e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja enriquecida de bens celestes, nao devem ser consideradas duas coisas, mas formam umasó

realidade complexa, em que se fundem o elemento humano e o divino, E~ por isto, mediante urna nao mediocre analogía, comparada ao misterio do Verbo Encarnado. Pois, como a natureza assumida ¡ndissoluvelmente e uni da a Ele serve ao Verbo Divino como órgao vivo de salvacao, semelhantemente o organismo social da Igreja serve ao Espirito de Cristo, que o vivifica

para o aumento do Corpo" (n?8a.). Passemos agora a urna questao de ámbito mais ampio.

5. E por que a fé? 0 regime da fé é o do claro-escuro e da penumbra - o que vem a ser incómodo para o homem. No plano físico todos desejam caminhar na luz, e nao ñas sombras; sempre que estas ocorrem, o homem procura acender a luz, que Ihe oferece seguranca e garantía , em vez das incertezas da penum bra. No plano espiritual, porém, é norma solene do Novo Testamento: "O justo vive da fé" (Rm 1,17; Gl 3,11; Hb 10,38; cf. Hb 2,4). Por que a Providencia Divina quis dispor que assim nos enderepássemos a Deus? — A resposta será deduzida da ¡magem da amizade existente entre os homens. Esta é tomada como figura do relacionamento entre Deus e as cria

turas pelo próprio Jesús em Jo 15,14$' e pelo Concflio do Vaticano II em sua Constituicao Dei Verbum (sobre a Palavra de Deus):

1

"Ser amigo de Deus" é urna das facetas do relacionamento do homem

com Deus, atestado pela S. Escritura desde o Amigo Testamento (cf. Gn 15,6; Gl 3,6; Rm 4,3; Tg 2,23). Há, sem dúvida, outras manejras de ilustrar

esse relacionamento; o homem é dito "filho de Deus" (e, de fato, o é), con-, forme Uo 3,1s. Em suma, tudo o que se refere a Deus, transcendí qualquer categoría da linguagem e da mente humanas. 395

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987 .

"Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelarse a si mesmo e

tornar condecido o misterio de sua vontade (cf. Ef 1,9), pelo qual os nomens, por intermedio do Cristo, Verbo feito carne, e no Espirito Santo, tém acesso ao Pai e se \ornam participantes da natureza divina (cf. Ef2,18;2Pd 1,4). Mediante esta reveiacao, portanto, o Deus invisfvel (cf. Cl 1,15; 1Tm 1,17), levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos (cf. Ex 33,11; Jo 1S,14s), e com eles se entreten) para os convidar é comunhao

consigo e nela os receber". Voltemo-nos, pois, para a realidade da amizade entre os homens. — Es ta costuma nascer entre duas pessoas que reconhecem urna na outra pontos

comuns ou predicados semelhantes; tal afinidade é exigida para que possa brotar urna simpatía mutua; é ela que leva um a procurar o outro. Mas obser

vemos que nenhum amigo se abre plenamente ao amigo no primeiro encon tró; é preciso que haja amadurecimento e progresso do "querer bem" para que aos poucos um se revele ao outro; sonriente numa fase evoluída da ami

zade se dá a plena e íntima manifestaclo entre amigos. Ora Deus quis entrar em relacionamento de amizade com o homem.

Isto quer dizer duas coisas: 1) Ele se revelou á criatura, manifestando-lhe seu plano de amor me diante palavras e gestos. A pessoa e a obra de Jesús Cristo sao altamente sig nificativas; despertam a atracao e o interesse do homem, provocando assim

um comeco de aproximacao do homem em relacao a Cristo e ao Pai; 2} mas a própria figura de Jesús Cristo, se é convincente ou persuasiva, nao é constrangedora; nao se impSe ao homem pela plena evidencia da sua identidade; resta sempre em Jesús algo de misterioso para quem comeca a abordá-lo.

Deus quis que as coisas fossem tais para que a adesao do homem a Je sús e ao Evangelho seja livre e nao forcada. Com efeito; toda verdadé eviden

te me obriga a dizer sim, ainda que eu nao o queira1. Tal, porém, nao é o ca so da mensagem da fé; Deus quer ser aceito e amado livremente por criaturas livres; a fé é um ato de livre oferta a Deus. Somente com o tempo ou com o progresso da vida espiritual, com o amadurecimento e a consol¡dacio da fé é que a penumbra se vai clareando, as sombras se váo dissipando até que ce-

derao um día i plenitude da luz ou & visto beatífica. No dia em que virmos Deus face-a-face, nao procuraremos outro bem; nossas aspiracoes serao de

1

Assim, por exemplo, dois mais dois sSo quatro, a soma dos ángulos de

um triángulo equivale a dois retos, o todo é maior do que qualquer das suas

partes. . . sao proposicoes tSo evidentes que sou obrigado a aceitá-las, ainda que contrariado (quem tem dividas pesadas, preferirira que 2+2 equivales-

se a 3,9 ou menos ... \). 396

POR QUE A IGREJA?

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tal modo preenchidas que nSo nos restará desejo de nao aderir a Deus (désejo que sempre nos ameaca na térra, quando vemos Deus mediatamente ou

na penumbra originada pelas coisas criadas). Nossa vontade se atirará em Deus, sem querer deixar de Ihe dizer Sim. Entrementes, porém, só conhecemos Deus "porespelhoe em enigma" (ICor 13,12); conhecemos o Absoluto como um bem ao qual fazem concorréncia outros bens, em aparéncia "mais

sedutores"; estamos no tempo da peregrinarlo, da demanda, da provacao e

comprovacio! Alias, o fato de que as verdades da fé ultrapassam o alcance de nossa inteligencia, se, de um lado, nos deixa sófregos e insatisfeitos, de outro lado é fonte de alegría e paz. Com efeito, como diz Pascal, o homem foi feito pa ra se ultrapassar constantemente ou para se realizar em algo maiordo que ele mesmo; o homem é resposta exigua demais para o próprio homem; só o Ab soluto ou Deus o sacia. Por conseguinte, sempre que nos defrontamos com proposites da fé, que transcendem nossa medida, podemos estar certos de

que sao elasque correspondem as nossas auténticas medidas. Os pensadores gregos perceberam esteparadoxo,quando def iniram o ho mem como um"entédefronteira"postoem equilibrio ¡nstável entre os animáis

e os deuses; sim, para os gregos, os deuses eram consumados em sua existen cia ¡mortal e bem-aventurada; os animáis também bastam a si mesmos, desde

que encontrem alimento e o necessário para sobreviver. O homem nao é assim: nem goza da satisfacao dos deuses nem se dá por realizado apenas com a sua existencia animal; ele é repuxado, de um lado, pelo peso da sua animalidade e, de outro lado, pela insaciável sede do Absoluto; nao Ihe basta viver simplesmente as dimensoes do homem terrestre para ser auténticamente hu mano; os bens que correspondem á medida humana, sao incapazes de saciar o homem. Se há consumacao para este, há de ser num valor que ultrapasse os limites da sua natureza. Em conseqüéncia, nao há por que nos assustarmos quando verificamos que a mensagem da fé é trans-racional; é precisa

mente esta nota que permite á fé levar o homem á sua genufna realizacao; urna mensagem meramente filosófica pouco significado teria no caso.

Estas ponderacoes explicam o porqué do incómodo resultante do' claro-escuro da fé: é condicao para que nossa entrega a Deus ten ha o valor e a natureza de um gesto livre; é também o indCcio da autenticidade mesma da fé. A mensagem de Deus é suficientemente clara para que a adesao do homem seja razoável e inteligente (nao cega, nem meramente sentimental ou emotiva), mas é também suficientemente obscura para que nosso Sim seja livre ou exija a participapao da nossa vontade. Comenta sabiamente André Léonard:

"A figura de Jesús Cristo se aprésente com bastante clareza e coeréncia para que a fé se/a possivel e razoável da parte do homem. mas ela com-

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

porta também a obscuridada e o misterio neeessários para que a opcao da

criatura se/a livre; quem nio aceita, pode dizer-lhe NSo. Essa especie de pu dor metafísica de Deus, eo se revelar, decorre do respeito de Deus ao seu próprío misterio e da discricSo do mes/no frente i liberdade do homem. Po der/amos imaginar um auténtico minorado que, logo de inicio, impusesse á pessoa amada a nudez, sem véus, da sua alma, do seu coracSo e do seu cor-

po?" (obra citada abaixo, p. 120). Feliz o cristáo que compreende esse plano de Deus que o interpela e

vai atraindo paulatinamente!

Este artigo muito deve ao livro de André Léonard: Les raisons de croire. Ed. Communio-Fayard, 28, rué d'Auteuil, 75016 París, 1987. *

Os

*

*

Sacramentos da Igreja na sua Dimensfo Canónico-Pastoral, pelo

Pe. Jesús Hortaf S.J. ColecSo "Igre/a e Dimito"n?3. - Ed. Loyola, SSo Pau lo 1987,137x 210 mm, 212 pp.

0 autor é Diretor do Departamento de Teología da PUC-RJ e Professor no Instituto Superior de Direito Canónico do Rio de Janeiro. Apoiado

na experiencia de vinte e cinco anos de experiencia pastoral, entrega ao pú blico mais um livro, que em sete capítulos aborda os Sacramentos em geral e cada um dos Sacramentos em particular, com excecao do Matrimonio (jé

estudado em outra obra; cf. PR 303/1987, pp. 338-357). 0 enfoque é teoló gico, jurídico e pastoral, de modo que o livro se torna valioso manual para o conherímento e a administracSo dos sacramentos; especialmente os cléri

gos e os catequistas farSo bom uso do mesmo. O capítulo V, que trata do sa cramento da Penitencia, tem um Excurso anexo sobre as Indulgencias; estas sao apresentadas em aspecto teológico com muita clareza — o que corres ponde a freqüentes indagacoes dos sacerdotes e dos fiéis; á explanacSo doutrinário-jurfdica segue-se o catálogo das Indulgencias decorrente da reforma promovida pelo Papa Paulo VI em 1968. Merece especial atenfSo este capí

tulo V, pois transmite fielmente a doutrina da Igreja, que deseja valorizar a confissao sacramental como meio de santif¡cacao a ser freqüentado com re-

gularldade por clérigos e leigos, mesmo que nio tenham pecados graves a acusar: 'Todos aqueles que, em razio de encargo tém cura de alma, sSo

obrigados a providenciar que sejam ouvidas as confissSes dos fiéis que Ihes estio confiados e que o pecam razoavelmente, como também que se Ihes dé oportunidade de se confessarem individualmente em días e horas marcados para sua conveniencia" (candn 986,§1). Em suma, o Pe. Mortal faz-se credor, a novo título, da gratidio de to do o povo de Deus, ao qual oferece precioso instrumento de estudo e trabaIho pastoral.

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Muitas vezas na imprensa:

O caso Marcinkus Em sfntese: Mons. Paulo Marcinkus, presidente do IOR (instituto para as Obras de ReligiSo) do Vaticano, viu-se envolvido em um complexo de ne gocios espurios realizados pelo Banco Ambrosiano de Milao em 1981-82, sem que o próprío prelado soubesse que o seu nome eodo seu Instituto estavam sendo explorados para praticar especulares que redundaram na fa lencia do Banco.

Um inquérito levado a afeito por peritos apurou o dolo de que foi vftima Marcinkus, embora nem tudo esteja esclarecido na historia da quebra do

Ambrosiano. Como quer que se/a, a Santa Sé houve por bem pagar aos eredores do Banco a quantia de 240.800.000 dólares, nio porque estivesse jurí dicamente obrigada a isto, mas porque quis minorar os danos de pessoas te sadas pelos acontecimen tos.

No fim deste artigo, a palavra é dada a Mons. Marcinkus, que declara estar sendo preconceituosamente acusado - o que se /he torna urna pesada cruz.

Os jomáis periódicamente dSo noticias de Mons. Paúl Marcinkus, arce bispo residente na Cidade do Vaticano. A Justica italiana pediu que este pre

lado Ihe fosse entregue,' mas o Estado do Vaticano recusou extraditá-lo. As ra-

zoes desta procura judiciária se prendem á falencia do Banco Ambrosiano de Milao ocorrida em 1982. Eis a noticia do jornal 0 GLOBO de 20/06/87, p.15:

SANTA SÉ NAO VAI EXTRADITAR PAÚL MARCINKUS TURIM, Italia - O jornal "La Stampa" informou ontem que um tri bunal da Santa Sé rechacará o pedido do Governo italiano para extradicao do Arcebispo americano Paúl Marcinkus, Presidente do Instituto para Obras

Religiosas (IOR), o Banco do Vaticano, acusado de envolvimento com a

quebra do Banco Ambrosiano. O jornal nio indica a fonte de sua versfo, pu390

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

blicada poucos dias antes da decisSo da Suprema Corte italiana sobre a vali dado das ordens de prisao emitidas por jufzes em Milao. Marcinkus e os funcionarios do IOR Pellegrino de Strobet e Luigi Mennini, sSo acusados de responsabilidade na falSncia fraudulenta do que foi o maior banco privado italiano'. As ordens de prisao nlo puderam ser cumpridas pela Policía italiana porque Marcinkus e os dois funcionarios residem na Cidade do Vaticano, que tem um caráter de Estado estrangeiro".

Aos 18/07/87 a imprensá noticíou: "Justica anula ordem de prisao de Marcinkus" (O GLOBO, 18/07/87). Esta nova decisao deve-se ao fato de que o IOR, sendo urna instituicSo do Vaticano, está isento da Justica italia na, pois goza de extraterritorialidadeque o Tratado do Latrao (1929) sancionou. Examinemos o caso de mais perto.

1. Que é o IOR? O Instituto para as Obras de Religiao (Instituto per le Opere di Religione IOR) é urna ¡nstituicao bancária existente no Vaticano. Sucede a urna fundacio congénere devida ao Papa Leao XIII em 1887. Recebeu sua atual forma em 27/06/1942 por obra do Papa Pío XII. O IOR tem personalidade jurídica própria, conforme o desejo de Pió XI I, para significar quedas respon

sabilidades deste Instituto sao explícitamente separadas e distintas das da Santa Sé. A sua f inalidade é administrar depósitos de dioceses, paróquias. Organismos da Santa Sé, Ordens Religiosas, Universidades Católicas e pessoas particulares que tenham acesso ao Instituto, tudo no intuito de favore cer obras de religiao e piedade em todas as partes do mundo. Nao se trata de um Banco no sentido próprio desta palavra. Compreende-se, porém, que o IOR utilize os servicos bancários necessárips ás suas finalidades; todavia os beneficios nao se destinam (como nos Bancos) aos acionistas (que nao existem no caso do IOR), mas servem a "obras de religiao"; estas podem mesmo receber empréstimos, e os recebem de fato, em condicóes mais vantajosas do

que as habituáis (regidas pelo mercado monetario). Este tipo de atividades técnicas financeiras é necessário a urna socieda-

de como a Igreja Católica, que mantém no mundo inteiro numerosas obras de grande valor humano, religioso e cultural, confiadas a pessoas compro metidas de modo total e desinteressado com o servico de seus irmaos. O Ins tituto para as Obras de ReligiSo possibilitou, mesmo ñas situacoes ¡nternacionais mais dificéis e mais conflituosas (tenham-se em vista as da segunda guerra mundial), a circulaclo dos recursos financeiros necessários ás ativida des da Igreja universal, tendo em vista especialmente as regioes que se achavam na mais aguda penuria económica. 400

OCASOMARCINKUS

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2. O IOR e o Banco Ambrosiano O IOR, no decorrer das suas atividades, manteve (como se compreen-

de) contatos e relacionamentos com instituicdes bancárias de diversas partes do mundo, principalmente da Italia. Em particular, o Instituto teve inter cambio, durante muitos anos, com o Grupo do Banco Ambrosiano de Millo, tradicionalmente considerado como Banco católico na Italia e serio em suas transacoes. O IOR depositou plena confianca ñas pessoas que dirigiam o Ambrosiano, assim como na indiscutida solidez desta ínstituicao e na nonestidade dos objetivos colimados por tal Banco. Acontece, porém, que aos 18/06/1982 o Diretordo Banco Ambrosiano, Roberto Calvi, foi encontrado morto em Londres, com urna corda no pescoco, debaixo da Ponte dos Frades Negros (Blackfriar-Bridge) em cir cunstancias obscuras, que nlo permitem dizer se houve suicidio ou assassfnio (a Maconaria parece estar ligada ao caso). Foi entao decretada a falencia do Banco, que entrou em liquidacao; o desastre nao foi totalmente imprevisto, pois ao menos as autoridades civis italianas sabiam que o Ambrosiano passava por dif¡cuidadas. Por ocasifo do inquérito instaurado para apurar as responsabilidades do baque, foram cita dos Mons. Paulo Marcinkus, Oiretor, e os Srs. Luigi Mennini e Pellegrino de Stroebel, respectivamente Administrador delegado e Chefe da Contabi I ida-

de do IOR. O Instituto declarou, em resposta, que, conforme o artigo 11 do

Tratado do Latrao1, os Organismos centráis da Igreja Católica estáo isentos de qualquer intervencao do Estado italiano, ficando exclusivamente a Santa Sé com a competencia de julgar as atividades dos dirigentes de seus Organis mos no exercício das suas funcóes.

Nao obstante isto ou apesar de tal isenpao, Mons. Marcinkus colocouse logo a disposicao dos juízes de Milao para fornecer-lhes as ¡nformacoes necessárias; isto foi realmente feito, de modo que os magistrados italianos foram recebando farta documentacao acompanhada de memorandos e no tas, numa atitude de colaboracao sincera e leal do IOR com a Justica italia na.

Nao somente o Estado italiano se pos a investigar os fatos complexos e

obscuros relacionados com a falencia do Ambrosiano. O próprio IÓR, cons

ciente do emaranhado da situaclo, empreendeu semelhante inquérito, fornecendo aos seus juristas toda a documentacao disponível. A Comisslo de peritos do IOR, após atento estudo dos diversos papéis e fatos, pdde formu lar a seguinte reconstituicao dos acontecimentos:

1

Tratado que, assinado em 11/02/1929. rege as relaqdes entre o Estado do

Vaticano e o Governo italiano.

401

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"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987 Mediante operacoes f¡nanceiras realizadas por diversas pessoas durante

longo lapso de tempo e aparentemente independentes urnas das outras, tais pessoas abusaram da confianca a olas outorgadas pelo IOR. A capa de nones-

tidade acobertava transacfies espurias, pois, apesar de tudo, o Ambrosiano parecía cumprir puntualmente seus compromissos. Na verdade, o nome do Instituto esteva sendo utilizado para a realizacáo de um projeto clandestino e obscuro; com efelto, tal projeto, sem o conhecimento do IOR, fazia con vergir para um objetivo único e pouco legal operacoes que, tomadas ¡soladamente, pareciam ser regulares e normáis.

Particularmente, o IOR, em conseqüáncia de transacoes bancárias le gáis (se consideradas em si mesmas), viu-se na posse das acoes e no controle

jurídico de duas sociedades. Mais: sem que tivesse conhecimento previo do assunto, o IOR se vlu detentor do controle indireto de olto outras socieda des ligadas ás duas primeiras. Dado que o Instituto nunca admlnistrou alguma dessas sociedades, ele nao teve ciencia das operacoes efetuadas por cada urna

délas.1 Somonte em julho de 1981 o IOR tomou conhecimento de que, por um I ¡ame direto ou indireto, Ihe fora atribuido o controle jurídico de todas essas sociedades. Ao saber disto, o IOR julgou oportuno, ao menos, que as dividas contraídas por tais sociedades ficassem bloqueadas até o momento

em que o presumido controle jurídico fosse extinto. Feito isto, o IOR enviou aos dois Bancos do Grupo Ambrosiano que eram os mais fortes credo-

res das referidas sociedades (o Banco Andino e o Banco Ambrosiano de Ma nagua), duas comunicacoes datadas de 19/09/1981, que expunham a sitúacao patrimonial de tais sociedades como se achava aos 10/06/1981. Essas comunicacoes significavam apenas que o IOR tomara consciéncia da situacao de controle jurídico que Ihe fora atribuido, mas nao implicavam que o Instituto reconhecesse como legal taj atribuicao nem equivaliam a um comprometimento ou a urna legalizacáo dos fatos por parte do IOR. Por conseguinte, tais comunicacoes, nem por seu valor jurídico, nem por seu conteúdo concreto, nüo criaram, nem podiam criar, conforme a doutrina comum e as práticas bancárias usuais, qbrigacSes legáis para o Instituto. Na verdade, as sociedades indicadas ñas duas comunicacoes nao contrairam novas dividas após 19/09/1981 ;viram apenas acrescido o montante dos juros devidos.

É de notar aínda que todos os empréstimos feitos ás mencionadas so ciedades foram efetuados antes de 19/09/1981; por conseguinte, foram rea lizados sem influencia das comunicacoes do IOR ou sem a participacao ou o

1

Os documentos que consultamos, nBo identifican) mais precisamente es-

. sas sociedades. 402

OCASOMARCINKUS

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conhecimento do IOR; este nao se podia responsabilizar, nem se responsabilizou, pelas dfvidas contraídas por tais sociedades. Vejamos agora como procederam os juristas na tramitacao do processo

referente ao Ambrosiano e ao IOR.

3. O procedí mentó jurídico 3.1. O ¡nquárito do IOR

1. Tendo terminado seu inquérito, os peritos do IOR atrás menciona dos emitiram suas conclusóes em cinco pontos, que foram publicados pelo jornal L'Osservatore Romano em suaedipao de 17/10/1982: "1. O Instituto para as Obras de ReligiSo nao recebeu, nem do Banco Ambrosiano nem de Roberto Calvi, alguma quantia; por conseguinte, nada deve restituir.

2. As sociedades éstrangeiras que contrairam dividas em relacfo ao Grupo Ambrosiano, nunca foram administradas pelo IOR, que nlo teve co nhecimento alguma das operacoes efetuadas por tais sociedades.

3. Todos os emprástimos efetuados pelo Grupo Ambrosiano ás refe ridas sociedades foram efetuados em época anterior ás cartas ditas de garan

tía.1 4. Estas, em virtude mesma da sua data de emissao, nSo exerceram in fluencia alguma sobre tais empréstimos.

5. Se se faz necessária urna varif ¡cacao, tudo o que acaba de ser dito,

será apoiado por provas".

O ponto n? 5 tinha em vista urna posicao tomada por magistrados ita lianos: numa avaliaclo precipitada dos fatos, queriam responsabilizar o IOR pelo pagamento de 1.278.000.000 de dólares, dos quais o IOR se teria bene ficiado'direta ou indiretamente. Aos 8/11/82, o Ministradas F¡ naneas da Italia, On. Beniamino Andreatta, fez na Cámara dos Deputados declaracoas em tal sentido. Todavía f¡cava por examinar o exato alcance e valor das "cartas de garantía" expedidas pelo IOR a Roberto Calvi; o próprio Ministro Andreatta o reconheceu. 3.2. O inquérito do Vaticano e a pericia vaticano-italiana Além das ComissSes de inquérito do Estado italiano e do lOfl, a pro-

pria Santa Sé, alias a pedido de Mons. Marcinkus, constituiu um grupo de

1

Tratase das Comunicares de 19/09/81. 403

20

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

trés peritos do mundo financeiró internacional para examinarem a situacao e levarem sugestoes e pareceres á Secretaria de Estado do Vaticano. Os trés

peritos, que gentilmente aceitaram o convite, eram os Srs. Joseph Brennan, ex-presidente do Emigrant Saving Bank de Nova lorque, Philippe de Weck,

ex-presidente da Uniáo dos Bancos Subcos e Cario Cerutti (Roma). Ver pu blicado da noticia em L'Osservatore Romano de 14/07/1982. A estes experta juntou-se ainda o Sr. Hermann J. Abs.

No comeco de setembro de 1982, os quatro peritos apresentaram o re sultado de suas pesquisas, que ainda n3o era totalmente conclusivo: o ponto difícil era identificar o significado ou o valor jurfdico-legal das "cartas de ga rantía" emitidas pelo IOR. A fim de nao realizarem ulteriores estudos que poderiam ser contestados pelos magistrados italianos, sugeriram a nomeacao de urna Comissao ítalo-vaticana, que trabalharia, em clima de colaboracáo, sobre os documentos existentes de um lado e de outro, em vista de "estabelecer a verdade" decorrente dos testemunhos aduzidos. Essa Comissao foi, de fato, constituida mediante acordó assinado aos 24/12/1982 pelo Cardeal Agostino Casaroli, Secretario de Estado do Vaticano, e o Embaixador Clau dio Chelli, da Italia junto á Santa Sé; eram nomeados. - da parte da Santa Sé: o advogado Prof. Agostinho Giambino, co-presidente; o advogado Prof. Pellegrino Capaldo, e o Dr. Renato Dardoz-

zi; - da parte do Estado italiano: o advogado Pasquale Chiomenti, copresidente; o prof. Mario Cattaneo e o advogado Prof. Alberto Santa Maria. Os trés representantes da Santa Sé, no caso, seriam acompanhados pe los Srs. Brennan, De Weck, Cerruti e Abs, que Ihes levariam sugestoes e acónselhamento.

A investigacao desta nova Comissao terminou em 1984com um acor-

do, que o jornal L'Osservatore Romano noticiava aos 27/05/84 nos seguíntes termos:

"O caso 'Instituto para as Obras de Religiao-Banco Ambrosiano' en-

controu sua solucao num acordó recém-obtido. A propósito o Instituto confirma que nao Ihe toca responsabilidade alguma na falencia do Banco Ambrosiano, na qual ele se viu involuntariamen te envolvido.

Com efeito, resulta evidentemente das perquisicoes efetuadas que as sociedades estrangeiras para as quais o IOR em setembro de 1981 deu cartas

ditas 'de garantía', nao foram administradas peló Instituto nem antes nem depois daquela data; ficou claro que estas cartas nao tiveram influencia algu404

OCASOMARCINKUS

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ma nos emprértimoi feitot ás mencionadas sociedades, pois tais empróstimos

foram efetuados antes do envió das referidas cartas; ulteriormente, ficou apurado que essas mesmas cartas nao determinaran! abertura de créditos nem acarretaram prejufzosfinanceiros. Todavía o Instituto, tendo considerado a situacffo objetivamente cria da no relacionamento com o. Grupo Ambrosiano, decidiu oferecer urna con-

tribuicáo voluntaria para facilitar urna solucao global e a consolidacáo das relacoes de ordem internacional num espirito de conciliacao e de colaboracao recíprocas.

O Instituto faz votos para que o que foi feito á custa de sacrificios, sir va também para aliviar as conseqüéncias desse problema, em favor de todos os que foram lasados pela falencia".

A quantia assim entregue aos credores do Banco Ambrosiano foi de 240.800.000 de dólares, embora o IOR nao estivesse jurídicamente obrigado a ¡sto. Tal soma saiu das reservas ou do patrimonio que o Instituto, em quase cem anos de existencia, conseguirá formar, sem afetar em coisa alguma os

depósitos dos clientes do IOR. 3.3. Pedido de extradicfo Apesar do desfecho dos estudos dos peritos, a imprensa italiana e a internacional noticiaram, aos 25/02/87, que os magistrados de Milao encarregados do processo em 1982 sobre a falencia do Ambrosiano se dispunham

a proferir ordem de prisáo contra Mons. Marcinkus e seus colaboradores Mennini e Stroebel. A noticia, porém, nao foi confirmada nem pelo Tri bunal de Milao nem pelo Govemo italiano; todavía a Santa Sé houve por bem emitir o comunicado seguinte:

"Nos ambientas do Vaticano (e nao somonte nestes) a noticia de me didas supostamente adotadas pelos magistrados de Milao contra o Presidente e dois altos funcionarios do Instituto para as Obras de Religiao nao podia deixar de suscitar surpresa profunda, por causa do longo intervalo de tempo acorrido desde a época da falencia do Banco Ambrosiano, intervalo durante

o qual (a quanto se sabe) nenhum dado novo se verificou no quadro dosfatos.

É preciso lembrar que as primeiras comunicacoes levadas ao conhecimento das tres mencionadas pessoas se referiam a fatos que teriam sido praticados por alas na qualidade de responsáveis do Instituto para as Obras de Religiao. — Disto decorra — como logo fez ver o Instituto — que se devia aplicar no caso o artigp 11 do Tratado do Latrfo, que isenta os Organismos

405

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

centráis da Igreja Católica de qualquer intervencffo da parte do Estado italia no" (L'Osservatore Romano. 28/02/87).

É portante com baja no tratado do Latrlo firmado pelo próprio Esta

do italiano que a Santa Sé se recusou, a bom título, a extraditar as tras pes-

soas indicadas. A magistratura italiana nio tem o direito de exigir tal gesto da Santa Sé.

4.0 "Novo Ambrosiano" Atualmente o velho Ambrosiano passou para a gestao do Professor e banqueiro Giovanni Bazoli, e funciona em condicoes prósperas com o nome de "Nuovo Banco Ambrosiano", na mesma sede de outrora ocupada por Calvi e sua equipe em Milao. Foi o próprio Ministro do Tesouro da Italia, o Dr. Beniamino Andreatta, democrata-cristüb, que muito insistiu com Bazoli para que assumisse a presidencia' do Novo Banco Ambrosiano, sustentado por um consorcio de Bancos. Ao lado de Giovanni Bazoli, trabalha o Dr. Piero Schlesinger, Presidente do Banco Popular de Millo e professor da Uní-

versidade Católica do "Sacro Cuore". Trata-se de dois profissionais íntegros e animados pelas melhores intencSes; evitar o pánico da clientela decorrente da eventual extincio do Banco. O Novo Banco Ambrosiano conseguiu mesmo salvar da falencia o jor nal Corriera della Sera de MilSo, contra o qual se atirava a Loja Macdnica P2 de Licio Gelli e Calvi. A revista Famiglia Cristiana de 03/06/87, pp. 48-53, publica interes ante artigo intitulado Le Confetsioni di un Banchiero Bianco, da autoría de Giancarlo Galli, que mostra como atguns profissionais católicos se encarregaram de reabilitar o nome do Banco tradícíonalmenté católico da Italia.

5. A situacfo pessoal de Mons. Marcinkus Mons. Marcinkus e os seus colaboradores Pellegrino e De Stroebel recolheram-se no Vaticano para evitar a demandada Justica italiana. A San ta Sá assim procedeu nío só porque o direito internacional Iho permite, mas também porque sabe que nao tém culpa formal no desastre do Grupo Ambrosiano; antes, foram vftimas de sua boa fé explorada pela astucia de especuladores dissimulados. Além do qué, é notoria urna atitude de anticle ricalismo em certos membros da magistratura italiana, que desejam aproveitar-se do caso para reafirmar seus preconceitos.

É o que o próprio Mons. Marcinkus declara numa entrevista dada ao

jornal Awenire de 08/04/1987 e comentada pela revista Jesús de junho de 1987, p. 97:

406

O CASO MARCINKUS

23

"A cruz mais pesada

Mons. Marcinkus julga que o anticlericalismo europeu ó substancialmente diverso do americano. Nos Estados Unidos nfo se procura ferir a Igreja a todo preco, com ou sem razio; apenas dasejam sujeitá-la ás regras normáis do jogo e dedicam-lhe o mesmo respeito que ás outras instituicSes. Aqui na Europa, ná"o: procurara acabar com Marcinkus de qualquer modo, para ferir assim o prestigio do Papa. Em conseqfiéncia, Mons. Marcinkus eré

que 6 inútil qualquer resposta: sabe que o perseguem equedeantemffoocon-

denam. 'O escándalo ás cusías da Igreja diverte o público. Por isto acumula-

ram sobre a pessoa do prelado nomes, venda de armas, clandestina entrega

de dinheiro eos poloneses, negocios desonestos, mafia, maconaria e crimes nao explicados (como o obscuro suicidio de Calvi, a morte de Sindona), to do um arsenal de acusaedes diretas e indiretas.. .' Diz ainda Marcinkus: 'O Sr. sabe que a Igreja prega o amor, porque nele eré realmente. Mas fizeram de mim a imagem de um homem que desparta odio e rancor. Esta é a minha cruz, a cruz mais pesada' " (Jesús, lugar citado). Diz um bom principio de jurisprudencia: "Audiatur et altera pars. -

Ouca-se também a outra parte". Por conseguinte, no caso em foco, além de ouvir as vozes hostis ao prelado, a justica pede que se ouca também o proprio Mons. Marcinkus. As suas palavras, atrás transcritas, mostram a pessoa de um homem que sofre porque se senté mal-entendido ou mesmo preconceituosamente caluniado. Os dados deste artigo foram colhidos em La Documentaron Catholique,

n? 1836, 5-9/09/1982, p. 849;

n? 1841, 05/12/1982, p. 1131; n? 1843, 02/01/1983, pp. 9s; n° 1845,06/02/1983, p. 181; n? 1877,01/07/1984, p. 699; n? 1919,01/06/1986, pp. 574-576; n? 1937,05/04/1987, p. 381. Herder-Korrespondenz 36/9, September 1982, p. 465; 37/1, Januar 1983, p. 5.

Famiglia Cristiana, 03/06/1987 (n?22), pp. 48-53. Jesús 6/198?fi.97.

PR 292/1986, pp. 401-409.

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Ot avancos da Engenharía Genética:

Um homem-macaco em Proveta Em ífntese: Em maio pp. fot proposta em público por um professor de

Florenca a produjo de um ser híbrido, resultante da inseminacao de urna

fémea de chimpanzé por espermatozoides humanos: sería um "homem-macaco". A ¡déla provocou a repulsare varios dentistas e teólogos, pois fere o ser humano nSo somante pela prática da inseminacao artificial, mas também pela copulacSo com animal irracional; a ciencia estaría "brincando" com coi sas serias ou tentanto desarrazoavelmente satisfazer aos seus anseios promé teteos de novas e novas conquistas. A InstrucSo Donum Vitae da Congregacao para a Doutrina da Fé explana com suficiente clareza o que há de abusi vo e condenávef em modernas experiencias realizadas com semen vital huma

no (cf. PR 302/1987, pp. 299-311). - A propósito da identidadé~desse indi viduo híbrido (caso realmente viesse a ser concebido); deve-se notar que, fi losóficamente talando, nio há Intermediario entre o macaco e o homem: o

individuo ou seria 100% macaco ou 100%homem (aínda que homem de ossada e traeos rudimentares ou simiescos). É de erer, porém, que tal híbrido teña simplesmente o principio vital de um macaco e nSo a alma espiritual de um homem, pois esta só pode ter origem por um ato criador de Deus, que a infunde num processo de fecundagSo genuinamente humano segundo os seus sabios designios.

Em maio 1987 a imprensa divulgou a notfcia de que, entre os dentis tas, há quem pense em produzir artificialmente um ser híbrido, resultante da fecundacao de urna fémea de chimpanzé por semen vital masculino do ho mem. Porta-voz desta hipótese foi o Dr. Brunetto Chiarelli, Professor de An

tropología na Universidade de Florenca e estudioso dos Primatas. Mencionava a propósito noticias provenientes dos Estados Unidos, mas nio confirma das pelos dentistas norte-americanos, segundo as quaistal experiencia já es taría sendo praticada naquele país, e acrescentava:

"Pederemos produzir seres sub-humanos destinados a funedes de trabalho repetitivo e penoso... Sel que a presenca de antropóides com cromos-

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"HOMEM-MACACO" EM PROVETA

25

somos humanos ofendería a Moni comum. Mas seria éticamente irrepreensfvel o uso desses mentes como resérvatenos de órgaos para transplante" (ver L'Espresso, 17/05/1987, p. 7). Estas declarares suscitaran) calorosas reacoes. O Senado Académico da Universidade de Florenca, usando de linguagem severa, julgou "inaceitáveis as declaracoes do Prof. Brunetto Chiarelli". Os membros do Instituto de Antropología da mesma instituicao se declararam "desconcertados e indigna

dos" com as afirmacdes do seu colega. Chiarelli, em resposta, tentou abrandar suas proposites, mas nao chegou a um desmentido formal. Tanto den tistas como teólogos se insurgiram contra a perspectiva aventada, observan do que ela nao representaría conquista alguma para a ciencia, mas, antes, um

retrocesso da cultura e da civilizacao; á ciencia compete tentar curar os defi cientes e nao produzir novos individuos esdrúxulos ou monstruosos. 0 tumulto de opinioes assim gerado suscita algumas questoes e ponde rales.

1. Seria hómem pela metade? Eis a questao básica: o filho de urna fémea de chimpanzé e de verdadeiro homem concebido em proveta ou por ¡nseminacao artificial seria meiohomem e meio-macaco? Haveria um tipo intermediario entre o auténtico macaco e o genuino ser humano? — A resposta é negativa. Nao pode haver vívente intermediario no caso, pelo motivo seguinte: O que dá a nota específica a um vívente, nao é a sua ossada ou o seu físico, masé o seu principio vital (a forma, segundo a linguagem aristotélicoescolástica). Ora o principio vital ou a forma específica é indivisível: ou é

100% de macaco irracional (qualquer que seja o tipo de macaco) ou é 100% de vívente humano e racional (ainda que corporalmente muito primitivo ou muito semelhante ao macaco). Com outras palavras: pode haver corpos cujas características sejam de transicao entre o macaco e o homem, mas dentro desses corpos existe um principio animador ou vital, que Ihes dá a sua definiclo ou a sua especificidade: tal é totalmente de macaco (entao tém-se verdadeiros simios) ou é totalmente de homem (entao tém-se auténticos seres humanos).

P5e-se agora a pergunta: e como tem origem o principio vital dos vi ven tes?

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987 Distingamos: - O principio vital dos ¡rracionais (desde a planta até o macaco mais

aperfeicoado) é material (nao espiritual); por conseguinte, ó eduzido da própria materia: desde que o semen masculino fecunde o feminino, forma-se um terceiro vivente, que tem seu principio vital próprio e específico, produzido pela própria materia viva. E, quando a materia do irracional está tao deterio rada que nao pode mais ser sede da vida, o principio respectivo é reabsorvido pela materia, que se torna morta ou exánime. Ao contrario, o principio vital do ser humano é espiritual. Por conse guinte, nao é eduzido da materia seminal, mas so pode ser criado diretamen-

te por Deus para ser infundido no feto por ocasiao da fecundacao1. O Cria

dor, que fez a natureza humana como ela é. Infunde a alma humana espiri tual em todo processo de fecundacao genuinamente humano (mesmo que se trate de fecundacao artificial entre seres humanos). Passemos agora ao caso da fecundacao híbrida "chimpanzé-homem". Nao haverá as condicóes naturais para que a materia produza um principio

vital de chimpanzé nem aquelas que existem quando Deus cria a alma huma na. A julgar pelo modo sabio e ordenado como o Criador procede, nao é de crer que Ele infunda um principio vital típicamente humano nesse ser corporalmente híbrido. Conseqüentemente, este teria um principio vital de chim panzé dentro de um corpo assemelhado ao corpo humano; seria um verdadeiro chimpanzé com traeos próximos aos dos humanos.

Como quer que seja, a producto desse híbrido implicaría urna ofensa á dignidade humana, degradando o semen masculino á condicao de mera subs tancia de laboratorio.

É o que passamos a expor mais amplamente. 2. A manipulacfo genética

Varias tém sido as experiencias de inseminacao artificial humana. A ética crista as rejeita globalmente, mesmo as que se praticam em termos ho

mólogos, ou sejá, entre marido e mulher; todas subordinam a fecundacao

humana á técnica, a mecanismos impessoais ou á vontade do cientista, des

vinculando-a do ato de amor em que marido e mulher se encontram conjugalmente. Só é lícito ao médico ou ao cientista ajudar ou completar a acao

'. Vista a importancia da afirmacSo de que a alma humana nSo é materia), mas espiritual, o assunto será brevemente explanado em apéndice a este arti go.

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"HOMEM-MACACO" EM PROVETA

27

da natureza, quando num coito verdadeiramente humano as sementes vitáis sofrem dificuldade para se copular; em tal caso, nao há fecundacao independente da cópula nem fora do organismo feminino. Tenha-se em vista a Instrupao Donum Vitae da Congregacao para a Doutrina da Fé datada de 22/02/87 e apresentada em PR 302/1987, pp. 299-311. Muito mais grave, porém, dó que qualquer tentativa de fecundacao ar

tificial entre seres humanos é a hibridacao "homem-chimpanzé". - Quais as razóes que podem mover os cientistas a se projetar nesse campo de trabalho? Eis as duas principáis: 1} O desojo de progresso da ciencia. Esta parece insaciável em seus anseios de avancar e conquistar novos espacos. Em parte, o orgulho humano, a volúpia de ser Prometeu (um rival de Deus) está subjacente a muitas tenta tivas da ciencia desvinculada da consciéncia moral. — Observemos, porém, que a ciencia e a técnica nao sao fins; sao meios,... meios para engrandecer

o homem, levando-o a viver urna existencia mais condizente com a sua dignidade; a ciencia deve contribuir para minorar a miseria material, asdoencas, a ignorancia ou a falta de educacao no mundo, a fim de que as faculdades típi camente humanas possam funcionar melhor; nunca, porém, a ciencia e a téc nica hao de servir ao mero orgulho ou ao deleite do pesquisador com detri mento para a nobreza específica do homem. Em suma: a ciencia deve trabalhar para o homem, e nao contra o homem.

2) O utilitarismo ou pragmatismo... O prof. Chiarelli julga que os no vos seres híbridos servirían! aos trabalhos mais modestos e penosos ou ao

transplante de órgaos. Seriam, pois, máquinas (se os quiséssemos considerar irracionais) ou escravos (se alguém os quisesse considerar como homens). Observam os comentadores que nesta atitude do Prof. Chiarelli se exprime, consciente ou inconscientemente, um certo racismo; criar-se-ia um exército de escravos a sen/ico da humanidade mais evoluída.

3. Outras experiencias de hibridismo O caso Chiarelli fez que viesse á tona a existencia de planos semelhantes ou mesmo de tentativas paralelas que vao sendo executadas secretamente

em varios laboratorios e centros de pesquisa. A descoberta da estrutura do ADN deu a muitos cientistas a impressao de estar de posse da chave de leitura do "livro da vida"; desde entlo tém-se multiplicado as pesquisas e expe riencias tendentes a penetrar sempre mais fundo no íntimo da Genética e da vida. Algumas destas tentativas poderlo ser benéficas para o ser humano, le vando a progressos no combate a molestias e na cura de muitas doencas. Ou tras, porém, suscitam perplexidade, pois há quem manipule células germi411

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

nais, embrices e fetos humanos como o faria com sementé vital e fetos de outros víventes. Quanto á hibrídacao, sabe-se que a própria natureza oferece alguns ca

sos, como o do mulo, resultante do cruzamento de jumento com égua ou de cávalo com jumenta. Este precedente tem dado ensejo a que em laboratorio se produzam outras hibridacoes. Assim na Inglaterra teve origem um filhote de carneiro e de cabra; nos Estados Unidos, um misto de asno e zebra; na Franca, um produto de galinha e codorniz. Entre os vegetáis também se tém obtido novos e novos híbridos. Os avancos provocaran) nos Estados Unidos

a iniciativa de patentear os tipos de viventes assim oriundos, é o que se lé na imprensa:

EUA vio patentear novos tipos de animáis "Urna nova regulamentacSo permitirá que os engenheiros genéticos americanos registrem patentes de animáis criados em laboratorio, através de sofisticadas técnicas de reproducSo. A norma adotada pelo setor de marcas e

patentes do Departamento de Comercio toma os Estados Unidos o primeiro país a patentear os novos seres. A noticia acaba de ser divulgada pelo jornal "The New York Times", que destacou os problemas éticos da questao. Essas patentes poderSo valer blindes de dólares aos inventores das no vas criaturas e ás Companhias que comercianzarem a tecnología empregada na sua reproducSo. Embora a regulamentacSo proiba o registro de patentes

de mudancas genéticas em seres humanos, um funcionario governamental admitiu que, no futuro, certamente este tipo de protecSo comercial também será autorizado.

A norma define como organismos patenteáveis 'todos aqueles que adquirem urna forma característica, ptopriedade ou combinacSo de fatores, que nSo estao presentes no artigo original existente na natureza.' — Trata-se de urna iniciativa assustadora. A dedsSo sobre patentes

acaba com mais urna barreira de protecSo á vida humana. Meu Deus do céu\

Urna vez que se comeca a patentear formas de vida, onde isso vai parar?' desabafou o Dr. J. Roben Nelsoñ, do Centro Médico de Huston, Texas. Numa reacio é divulgacSo da medida, organizacdes de protecSo á vida humana e animal se uniram para tentar bloqueé-la. Alguns dentistas afir-

mam que a decisSo criará nos EUA 'um admirável mundo novo', como o descrito na ficcSo assim intitulada de Afdous Huxley. Na obra, o escritor descreve um mundo no qual se usa a manipulacao genética para criar seres perfeitamente adaptados ás exigencias da sociedade. 412

"HOMEM-MACACO" EM PROVETA

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— 'Agora, todo o processo de crispió de formas de vida superiores, incluindo a humana, seré controlado para satisfazer objetivos puramente hu

manos. Nio estamos brincando de Deus, estamos simplesmente assumindo o papel de Deus' — disse o Dr. Michael Fox, veterinario e Diretor da organizacao Human Society, de protecSo aos animáis. Para o dentista Jeremy Rifkin, ferrenho opositor da nova regulamentacao o que as autoridades fízeram foi legitimar a privatizacao, com lucros

comerciáis, de todo o reino animal. - 'Agora nSo haverá mais nenhuma diferenca entre um ser vivo e um

produto químico, um automóvel ou urna bola de tenis' - acrescentou. Atualmente, a Engenharia Genética produz vacas que dio maisleitee porcos de carne menos gorda. Os especialistas da área sonham em fazer urna mistura de animal, planta, microbio e genes humanos, num embriSo e gerar animáis previamente encomendados". (O GLOBO, maio 1987) Como se vé, mesmo entre os dentistas há quem recue diante dos pro jetos de colegas que tentam devassar o específicamente humano; bem percebem que há a( urna especie de sacrilegio, totalmente ilícito ao pesquisa-

dar.

4. Conclusáo A Moral católica nao se opoe ao progresso da ciencia. Ao contrario, pode-se dizer que a mensagem bíblica, incitando o homem a crescer, multi plicarse e dominar a térra (Gn 1,28), sempre estimulou os estudiosos a pro curar conhecer e utilizar melhor os segredos da natureza. Todavía o Cristia

nismo propoe urna escala de valores, na qual o homem é imagem e semelhanca de Deus e ocupa lugar singular, nao podendo ser equiparado, em dignidade, a nenhum outro vivente corpóreo. Por isto os resultados- da ciencia devem servir ao homem e jamáis sacrificar a dignidade deste. Consciente disto, a Igreja repete que a vida humana é um dom de Deus, sobre o quai o dentis

ta nao tem dominio absoluto; ela deve nascer e desenvolver-se nao em labo ratorio nem como efeito de recursos técnicos, mas como fruto direto do reíacionamento pessoal entre esposo e esposa. A espiritualidade, com as faculda.des da inteligencia e da vontade e com osdotes da liberdade, do amor e da capacidade de progresso — eis o que diferencia essencialmente o ser humano do animal irracional; eis o que deve ser absolutamente reafirmado para que o homem nao seja vftima do instrumental que ele mesmo produz.

Este artigo muito deve ao de Giovanni Marches/' S.J.: A proposito del I' ipotesi di uomo-scimmia, em La Civiltá Cattolica n93287, 06/06/1987, pp. 468-471.

413

.30

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1887

APÉNDICE A quostao da espfritualidade da alma humana já foi tongamente abor dada em PR 226/1978, pp. 423-434; 227/1978, pp. 475-481. Recordando quanto af foi dito, vio abaixo propostas algumas consideracóes: Por "espirito" entende-se um ser que nao tenha quantidade, extensao, tamanho, cor, sabor, odor..., mas seja dotado de inteligencia e vontade. Dizemos que a alma humana nSo é material, mas á um espirito feito para vivi ficar o corpo humano e se aperfeicoar em uniao com este. Vé-se, pois, que corpo e alma sao realmente distintos, pois o corpo humano é materia. E como se prova que no ser humano a alma ou o principio vital na*o é material, mas espiritual? A espiritualidade da alma humana se deduz do seu modo de agir: o agir há de ser da mesma natureza que o ser. Na verdade, a alma humana, pela inteligencia, supera o concreto, material, singular, e concebe nocoes universais ou apreende o essencial, formulando definieses. Isto quer dizer que o ser da alma humana tambám é ¡material ou, positivamente falando, é espiritual. A dependencia da alma humana em relacao ao corpo no tocante ao agir nao quer dizer que a alma seja material, mas, sim, que foi criada para

ser principio vital do corpo humano; se este é lesado ou doente, a alma hu mana, embora seja distinta do corpo, nao se pode manifestar plenamente, porque carece do instrumental material de que necessita. Da espiritualidade da alma decorre que ela é ¡mortal por sua própria natureza. Com efeito; sendo espirito, ela é simples ou nao composta; por

conseguinte, nSo se decompoe ou ná*o se dissolve. Deus, que a criou, poderia aniquilá-la, mas nSo o faz, pois isto contradiría á sabedoria e a justica do Criador. *

*

*

fMiRfins poR CORRESPONDENCIAS

CURSOS POR CORRESPONDENCIA: SAGRADA ESCRITURA, INICIACAO TEOLÓGICA, TEOLOGÍA MORAL E HISTORIA DA IGREJA. OCASIÁO PROPfCIA PARA QUE O CRISTÁO POSSA APROFUNDAR E CON

SOLIDAR A SUA FÉ DENTRO DO MUNDO PLURALISTA DE NOSSOS DÍAS. - PEDIDOS DE INFORMACÓES E INSCRICÓESSEJAM DIRIGI DOS A ESCOLA "MATER ECCLESIAE", RÚA BENJAMÍN CONSTANT, 23,3?ANDAR, CAIXA POSTAL 1362,20001 RIO (RJ). 414

No f ¡m do sáculo XX!

"O horóscopo da sua vida5 pelo fe. Mauro Forrero

Em sfntese: O livro em foco aproveita-se dos signos do zodíaco para oferecer ao leitor longos conselhos de ética, prudencia, piedade, como se fossem derivados da mensagem dos astros. Nao admite Destino ou Fato que tire a liberdade do homem, pois julga que este é que governa os astros. —

é preciso dizer que a simbiose de Cristianismo e astrologia é esdrúxula, arti

ficial e falsa; a Moral cristSé válida independentemente de oráculos astrais. Além disto, aos olhos da ciencia e da razio contemporáneas, a astrologia e seus horórscopos sio algo de ultrapassados; supdem urna cosmología ou urna configurado dos planetas e das estrelas que hoje nio se pode sustentar. *

*

*

0 autor do livro em foco, Pe. Mauro Ferrero, nao é apresentado ao leitor em parte alguma do livro. Escreveu um original inglés intitulado Your life't Horóscopo (Better Yourself Books, Allahabad, India, 1977), que as Edicoes Paulinas do Brasil houveram por bem traduzir com o tftulo "0 Ho

róscopo da sua Vida"'. A obra comeca afirmando que "a astrologia atrai

cada vez mais a atencSo do homem moderno" (p.7), fato que o autor aceita

positivamente. Em seu livro, após observacoes gerais, apresenta cada um dos

doze signos do horóscopo (Aries, de 21/03 a 20/04, Touro, de 21/04 a

20/05...)e desenvolve a simbologia de cada signo (quem é de Aries, é um herói ativo; quem ó de Touro, é um atirador paciente; quem é de Gómeos, tem um dinamismo de diversidades; quem á de Cáncer, ó comprador do céu...); dá exemplos de grandes homens sujeitos a cada um desses sinais do zodíaco no passado e finalmente transmite um conselho para cada dia do ano, deri

vado do respectivo signo. Examinemos de mais perto a fndole do livro.

1

TraducSo de Ivo Stomiolo e Marcelo Moreira. — Ed. Paulinas, Sio Paulo

1983, 180 x 120 mm; 139 pp. 415

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

1. A linha-mestra da obra Mauro Ferrero distingue tres nfveis de astrologia: — astrologia natural, que faz a previsao do clima, "embora as previsoes climáticas dependam mais do estudo das condlcoes atmosféricas exis

tentes do que do estudo da posicao da Lúa e dos outros corpos celestes" (pp.16s); — astrologia judicial: procura prever o futuro de urna pessoa conforme a posicao relativa dos planetas e de certas constelacoes no instante do seu

nascimento. Trata-se de algo que a astrologia dificilmente pode fazer, segun do Mauro Forrero. Por ¡sto, diz o autor, "as previsoes do horóscopo diario e as colunas dos jomáis trazem mais entretenimentó do que esclarecimento" (P.17);

— astrologia profetice: "fornece urna filosofía de vida positiva e ali menta a seguranca interior. Este é o nivel dos horóscopos bascados ñas po

tencialidades humanas, ¡sto é, quando eles estao desprovidos de prognósti cos mirabolantes" (p. 17). Estes dizeres do autor exprimem a intencio de aproveitar-se do horós

copo em sentido nao de prognósticos (predicóos do futuro),.mas*ño de aconselhamento; as suas páginas tem teor fortemente moralizante: "O horóscopo da sua vida mostra que através do seu próprio esforco vocé pode elaborar a maioria das qualidades inerentes ao intelecto e á vontade, e dos seus pro-

prios talentos naturais" (p. 17). Mauro Ferrero faz questao de dizer que os astros nao determinam o homem, mas, ao contrario, o homem governa os astros: "o homem á indapendente e pode controlar o seu trabalho, a sua educaclo e o seu desenvolvímentó social" (p.11). Diz enfáticamente que "os astros ¡nspiram pensamen-

tos sublimes; os poetas, os santos, os amantes, os místicos, os navegantes e

até mesmo os homens comuns neles se inspiraran) através dos séculos. Quanto mais alguém contempla e fita os astros, mais claro se torna o fato de que eles brilham no céu como um hiño vivo de paz, beleza, gloria, ordem, gran deza e poder" (pp. 14s). Estas afirmacoes estao longe do que se entende geralmente por horóscopo e favorecem o programa moralizante do autor, que termina a parte introdutória do livro (pp. 7-20) com as seguintes palavras: "Em sua vida diaria escreva seu próprio horóscopo. Lembre-se de que

os astros agem em seu favor, energizando o momento presente. Este é o día para vocé usar, desfrutar e empregar, para o sucesso e a felitídade, de si mes mo e dos outros... ■»■

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"O HORÓSCOPO DA SUA VIDA"

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Do modo como um homem age e anda no caminho da vida, assim ele se torna.

Quem faz o bem, toma-se bom.

Quem faz o mal, tornase man. Pelas apoes puras o homem tornase puro. Pelas agdes más o homem tornase mau" (p. 20).

0 restante do livro (pp. 23-139) contém conselhos sabios e piedosos, que geralmente valem como tais ou ¡ndependentemente de qualquer suporte astral, mas que infelizmente o autor pretende deduzir de cada signo do zo díaco. Este recurso ao horóscopo redunda em recomendar a atencao e a fidelidade á astrologia e suscita a grande perplexidade de todo leitor habitua do a raciocinar (mesmo que nao seja cristao); a crenpa no horóscopo é insustentável a todo cidadao que pense um pouco, neste final do século XX. Verdade é que o autor nao invoca figuras ou divindades mitológicas nem admite Fato ou Destino a reger a vida do homem. Como quer que seja, a sua obra alimenta a supersticao, a ignorancia, a emotividade irracional no

público desprevenido, já tao prejudicado por falta de lúcidos conhecimentos religiosos. Na verdade, este final do século XX é a fase ou do racionalismo exagerado, avesso á Transcendencia, ou dos sentimentos "místicos" cegos dados a crendices. A verdadeira fé, porém, adere firmemente ao Transcen

dental, ao Misterio de Deus, mas ela se firma ñas credenciais que a razio, após estudo crítico, Ihe apresenta para que creia auténticamente ou para que nao ceda á crendice.

Procuremos, pois, averiguar exatamente o valor que possam ter a as trologia e o horóscopo aos olhos de um estudioso sereno.

2. Refletindo sobre a astrologia... 2.1. Que é a astrologia?

A palavra astrologia compoe-se dos vocábuios gregos astér (astro) e lógos (discurso). Astronomía vem de astér e nomos (lei). Os dois termos eram originariamente quase sinónimos entre si; o primeiro significava mais a teoría referente aos astros, ao passo que o segundo exprimia de preferencia o resul tado de observacoesempíricas. - Nosséculos IV/lll a.C, astrologiaassumiu preponderantemente o sentido divinatórío que hoje a caracteriza, ao passo que astronomía fica sendo o estudo científico dos astros, baseado na observacao e no raciocinio. 417

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

A astrologia se exprime pelo horóscopo, palavra que vem do grego: ho ra (hora) e skopéo (observar). Horoskópion era o aparelho para ver a hora, o relógio. Deste vocábulo se deriva o termo horóscopo da língua portuguesa, > que tem o sentido de sentenca derivada da poslclo dos astros no momento em que o individuo nasce.

A astrologia, como arte divinatória, supóe que os astros tenham in fluencia sobre o tipo da pessoa como tambám sobre o curso de vida dos hu manos. Por conseguinte, o astrólogo examina a exata configuracio do firma mento na hora do nascimento da crianca para formular os seus oráculos. O primeiro ditame de horóscopo que se conheca, data de 419 a.C, mas há do cumentos astrológicos muito anteriores, como o Ñamar Beli (lluminacao de Bel), atribuido ao rei Sargao e encontrado na biblioteca de Assurbanipal (668-626 a.C). Outros indicios permitem dizer que a astrologia se originou na Mesopot&mia por volta do terceiro milenio antes de Cristo. Ela tem raizes em concepcSes místico-religiosas; com efeito, na Babilonia, os planetas eram identificados com deuses; donde se concluía que tais planetas, tendo presidi do ao nascimento, nao poderiam deixar de influir sobre o curso de vida dos nascidos.

Mais precisamente, eis como se desenvolve o sistema da astrologia, ma triz dos horóscopos:

Sup5e-se a Térra no centro do sistema planetario (sistema geocéntrico, pré-coperniciano). Em torno da Térra, haveria urna cintura chamada zodiaco,

dividida em doze compartimentos de 30° ditos "casas do zodíaco" (12 x 30° = 360°). Sobre a faixa.do zodíaco girariam o Sol, a Lúa e os planetas conhecidos na antiguidade: Mercurio, Venus, Marte, Júpiter e Saturno. Cada casa teria um signo correspondente h configuracio dos astros ou das estrelas como elas se achavam há dois mil anos: Carneiro (Aries), Touro (Taurus), Gémeos (Gemini), Caranguejo (Cáncer), LeSo (Leo), Virgem (Virgo), Balanca (Libra), Escorpiao (Scorpio), Arquairo (Sagittarius), Bode (Capricórnius),

Aquadeiro (Aquarius), Peixes (Piscas); ver a imagem da p.419. Cada signo exerceria influSncia sobre o temperamento da pessoa, as suas paixoes e as suas virtudes, podendo mesmo orientar o curso de vida do individuo, segundo a astrologia. Em conseqüéncia, os cultores desta dio grande atencfo a posicao dos astros (planetas, estrelas) no momento em que nasce alguém a fim de poder formular os dltames do seu horóscopo. Os antigos astrólogos julgavam poder prever as doencas do individuo (na base de pretensa influencia dos as tros sobre cada parte do corpo); a acto das constelaccws sobre as diversas

regtóes do globo Ihes "permitía predizer" as guerras e revolucóes. Oriunda da Mesopotámia, a astrologia se propagou pelo Egito, a Gra cia, a Pérsla e a India. . .Em Roma os "magos caldeus" foram perseguidos

418

"O HORÓSCOPO DA SUA VIDA"

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desde que lá apareceram no século II a.C. Todavia o Imperador Augusto (63 a.C. - 14 d.C.) os protegeu; o astrólogo Teágenes terá predito a este a sua

gloria futura; assim os "magos caldeus" acabaram sendo aceitos na sociedade romana e prosperaran) até o século II. Perderam sua voga com o declmio da religiosidade paga e a implantacao do Cristianismo. Os Papase os Conci lios de Laodicóia (366), Toledo (400) e Braga (561) rejeitaram a astrologia, nao so porque ligada a divindades pagas, mas também porque dava a crer que o Fato ou o Destino anulava a liberdade de arbitrio do homem. Na Idade Media, por causa da condenacao das autoridades da Igreja, a astrologia foi cultivada pelos árabes e pelos judeus. S. Tomás de.Aquino

(t 1274) admitia certa influencia dos astros sobre o caráter do homem (to

davia sem aceitar divindades estranhas nem o deterninismo de um destino cegó). O teólogo e Cardeal Pedro d'Ailly (1350-1420) escreveu obras de as tronomía, que envolviam teses de astrologia, como ocorria fácilmente naquela época; no seu tratado I mago Mundi colocou a questao da esfericidade

da Térra, contribuindo para a descoberta do Novo Mundo por CristóvSo Colombo. A astrologia teve grande voga no f im da Idade Media e no século XVI, por ocasiao do Renascimento, que restaurou documentos, crancas e tríeos

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

da cultura paga. Havia astrólogos como conselheiros dos governantes ñas ci-

dades e nos ducados da Italia, mesmo depois de derrubado o sistema geocén trico pela tese de Gallleu: o Imperador germánico Rodolfo II de Habsburgo

(t 1612) apreciava Tucho Brahe nao como astrónomo, mas como transmis-

sor de oráculos do horóscopo. Mesma os astrónomos dedicados á pesquisa científica, como Cardan, Johannes Kepler, Tycho Brahe, nao dispensavam o recurso á astrologia (Kepler nao podía viver sem vender horóscopos). Famoso no sáculo XVI foi o astrólogo Nostradamus, que usava o astrolábio. Esta palavra se compóe de aitér e lambano (captar, compreender, em

grego), significando o instrumento que compréende ou capta as mensagens dos astros; trata-se de urna esfera de metal ou de madeira, que indica a altitude de um astro mediante leitura de urna escala de mercurio em círculos graduados

dispostos para este fim. Inventado por Apolónio de Pergá ou por Hiparco de Nicéia (190-125 a.C), é o mais antigo dos instrumentos de cosmología que se conhecam.

Atualmente, afirma a Enciclopedia Mirador Internacional, vol. 3?, verbete Astrologia, p. 921:

"As descobertas de Galileu e de seus sucessores lanqaram os cálculos astrológicos em grande confusSo. Já havia mais que sete planetas, ao passo que o Sol e a Lúa deviam ser riscados do rol planetario. A astrologia clási

ca, velha de vinte sáculos, estava mortá. Com a aceitado do sistema helio céntrico de Copémico, a doutrina da influencia dos astros sobre os destinos terrestres sofreu golpe mortal. Hoje a astrologia á considerada crenpa em

que sobreviven} residuos do paganismo antigo". 2.2. Que crédito merece o horóscopo hoje?

Os astrólogos de nossos días, ao estudarem os signos do Zodíaco, su-

póem que as constelacoes estejam na mesma posicao em que se achavam há mais de dois mil anos, quando foram estabelecidas pela primeira vez. Naque-

la época a passagem do Sol pelo ponto vernal (inicio da primavera no hemis ferio Norte) coincidia com a entrada do mesmo no signo da constelacSo do

Carneiro(Aries). Mas, em vírtudedofenómenodeprecessiodosequinócios,1

1 Equinódo á a apoca do ano (ocorrente de seis em seis meses) em que o Sol, no seu aparenta movimento sobre a eclíptica, corta o quadro celeste; hessa ocasiio (21 de marco e 23 de setembro) o dia e a noite tém a mesma durafao. — Acontece, porém, que o momento do equinódo vai sofrendo

um lento recuo de 50"¿6 por ano; isto se chama "a precessSo dos equinodos", em conseqüénda da qual o momento do equinódo vai sendo lenta mente antedpado. 420

"O HORÓSCOPO DA SUA VIDA"

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o ponto vernal vai recuando sobre a eclfptica á razio de 50",26 por ano, ou

seja, 30° em 2150 anos (exatamente uma casa do zodíaco). Em nossos días, no inicio da primavera nórdica, o Sol já se acha na constelaclo dos Peixes, mas continuam os astrólogos a dizer que nesse momento ele entra na casa do

Carneiro (Aries); quando os astrólogos dizem que o Sol está no signo do Car-

neiro, ele está no de Peixes; quando consideram que está no de Touro, ele está no do Carneiro. Somente dentro de 25.790 anos estará restabelecida a coincidencia das constelacóes e dos signos. Basta esta verif ¡cacao para se concluir que é totalmente destituido de fundamento qualquer oráculo (quer sobre o caráter, quer sobre os acontecimentos da vida de uma pessoa) proveniente da astrologia ou do sistema de

horóscopo. Nao há por que Ihe dar crédito. Além do mais, a ciencia hoje reconhece que o Sol e a Lúa nao podem ser enumerados entre os planetas,... que há outros planetas (como Uranio e Netuno),. .. que a Térra nao ocupa o centro do sistema planetario, etc. Qualquer sentenca do horóscopo sempre supoe uma cosmologia e uma cosmovisao pré-modernas, já superadas, que nem sequer merecem a atencao de um estudioso sincero e objetivamente de dicado á procura da verdade.

O interesse de certo público contemporáneo pelo horóscopo deve-se á natural curiosidade do ser humarlo em relacao ao que Ihe é oculto ou invisível. Existe uma propensao espontánea, no homem, a prever, profetizar e

até. . .a se deixar guiar por forcas neutras, tidas como superiores, aptas a dis pensar a pessoa do esforco de raciocinar, arriscar ou assumir a sua responsabilidade. Diz sabiamente um adagio latino: "Vulgus vult decipi. — O povo quer ser engañado". Isto é especialmente verídico numa época como a nossa, em que a razao e a ciencia sao incapazes de prognosticar dias mais felizes e tranquilos para a humanidade; na falta de respostas lógicas e fundamenta

das, o homem é inclinado a forjar suas respostas ou a procurar quem Ihas forje com aparéncia de racionalidade e baliza científica. A índole vazia ou nula do horóscopo é posta em foco no artigo de Selecoes que, a seguir, será transcrito; em estilo jornalístico cita fatos e propoe

observacoes ponderáveis.

Nao se pode negar, porém, que os planetas tenham algurna influencia

ñas disposicóes físicas e psíquicas do ser humano. Pela projecao de seus raios, pela sua forca de atracao e por outros fatores, influem na atmosfera ou no clima em que o homem vive, produzindo ora cansaco, melancolía, mal-estar..., ora estímulo para o trabalho, maior vivacidade e dinamismo... Isto, poróm, nao tem que ver com a posicao dos astros e das constelacóes no momento em que o individuo nasce. Veja-se, pois, o artigo de SELECOES DO READER'S DIGEST, tomo

XXIX, n?174 (novembro de 1985), pp. 106-110. 421

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987 ASTRO LOGIA? MORRO DE RIR...

Vocé tem todo o direito de curtir o seu horóscopo, mas, pelo amor de

Deus, nio leve Isso a serio!

Aimé Lemoyne

Em 1552, um dos maís famosos astrólogos de todos os tempos. Girólano Cardan, foi chamado a fazer o horóscopo do reí Eduardo VI da Inglater ra, que contava 15 anos e se encontrava seriamente enfermo. Cardan disse que as estrelas previam uma vida longa e feliz para o garoto. Um único senao no transcurso dessa excelente profecía: "Após atingirá idade de 53 anos, 3 meses e 17 días, ele irá, sem dúvida, sofrer diversas doencas." Em julho de 1553, nove meses após esta declaracao, o jovem rei faleceu.

Apesar de tais erros de predicffo calamitosos, apesar de denunciada pe los sabios há séculos, a astrologia nao apenas sobreviveu como floresceu. Ho-

je, a maioria das pessoas sabe a que signo pertence, e muitas léem regular mente seus horóscopos. Um número menor consulta astrólogos e paga para que Ihes facam estudos "pessoais".

Será a astrologia uma frauda? Leía este artigo e decida vocé mesmo. Mas, de preferencia, mantenha seu senso de humor. Quando se trata de as trologia, é mais prudente manter sempre um sorriso nos labios. 1. Seu signo já nio é mals o mesmo. O zodíaco é o circuito estreito

percorrido pelo Sol, pela Luá e demais planetas entre as estrelas flxas. O Sol

leva um ano para completar esse circuito, que os astrólogos da Antiguidade

dividiram em 12 fases, de um mes cada uma. Durante a primeira, comecando com o advento da primavera no hemisferio Norte, a 21 de marco, o Sol percorría um conjunto de estrelas que formavam um desenho parecido com um

cameiro; daf que os antigos tenham batizado esse signo de Aries. Imagens

desse género inspiram os nomes dos outros signos astrológicos: Taurus (touro), Gemini (gémeos), Cáncer (caranguejo), Leo (leao). Virgo (virgem), Libra

(balanca), Scorpio (escorpiao), Sagittarius (arqueiro), Capricornio (bode), Aquarius (aguadeiro), Pisces (peixe). O abecedario da astrologia é simplista: as pessoas herdam a saúde e o caráter inerente ao desenho no qual o Sol se encontrava quando elas nasceram. Daf que uma pessoa que veio ao mundo sob o signo de Libra é equili brada, mas indecisa; o sagitario estaría sujeito a sonhos ambiciosos, como pa rece sugerir a seta do arqueiro apontada para os cáus. 422

"O HORÓSCOPO DA SUA VIDA"

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Mas nada disso é verdade hoje em dia. A máquina celestial modificouse. Com o passar dos sáculos, o Sol atrasou-se ligeramente - cerca de um mSs - para completar o circuito. Paúl Couderc, ex-astrónomo do Observato rio de París, autor do livro Astrologie, chama a atencao para o fato de que "uma enanca nascida sob o signo do Leao, onde a consteladlo Leo se encontrava há 2.000 anos, deve ser corajosa - um verdadeiro leao. Hoje, ela é

Cancar!"

2. Novos planetas. Os astrólogos também afirmam que nossos desti nos estío ligados aos movimentos da Lúa e dos planetas. O Sol, a Lúa, Jú piter, Mercurio e Venus sao considerados de influencia benigna. Marte e Saturno sao conhecidos por sua malevolencia.

Desde que se promulgaran) estas "leis", porém, os astrónomos acrescentaram mais planetas aos cinco tradicional. Urano foi descoberto em 1781. Netuno em 1846 e Plutao em 1930 - para nao mencionar outros adi cionáis, como as 16 lúas de Júpiter. Portanto, vocé pode perfeitamente escolher o seu próprio planeta e fazer o seu próprio horóscopo, uma vez que a grande maioria dos astrólogos nao liga a menor importancia aos planetas depois descobertos.

3. Prova dos nove. Em 1978, um astrólogo británico ofereceu um pre mio de 500 libras esterlinas para quem conseguisse comprovar a influencia do zodíaco. Ninguém o ganhou aínda; mas, se existisse um premio para ne gar essa influencia, muita gente iría habilitar-se a ele. Em agosto de 1968, por exemplo, a revista francesa Stíence et Vie realizou um teste sobre o valor da astrologia na previsto das "naturezas bási cas" e das "tendencias dominantes" das pessoas. Sem revelar nomes, a re vista mandou as datas, horas e lugares de nascimento de 10 grandes crimino sos a uma firma que faz estudos de caráter e previsóes. Um desses criminosos era o médico Marcel Petiot, executado em maio de 1946 pelo assassmio de 27 pessoas que Ihe haviam pago para serem ajudadas a fugir para a América do Sul durante a ocupacao da Franca pelos alemaes na Segunda Guerra Mun dial. Eles foram parar num quarto secreto na casa de Petiot, onde ele matava suas vítimas e dissolvia seus corpos em cal viva.

Eis o comentario do computador sobre o horóscopo de Petiot: "Bem ajustado socialmente, decente e de bom senso moral. . . destaca-se por seu delicado e sénsfvel amor á humanidade... altruisticamente dedicado..." Pa ra a época em que Petiot foi guilhotinado, seu horóscopo previa que "o amor pelo seu lar e pela sua intimidada sao prioritarios para ele".

Os horóscopos dos outros criminosos ainda eram mais disparatados • se é que isso é possfvel.423

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"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 3Q4/1987

4. Erros crassos. Os absurdos que surgem nas personalidades computadorizadas parecem ¡nocentes bríncadeiras se comparados com o que aconteceu com esta pseudociincia durante a Idade Media. Em 1499, por exemplo, Johannes StOffler prev¡u.que um novo diluvio irla inundar o continente euro-

peu em fevereiro de 1524, quando varios planetas entrariam "emconjuncfo

sob o signo de agua". Á medida que a data se aproximava, o pánico dominou o Sacro Imperio Romano, governado por Carlos V: multidoes abandonaram suas casas e se refugiaram em navios. Algumas pessoas enlouqueceram de medo. O mes de fevereiro foi porém realmente excepcional — por ter sido excepcionalmente seco.

5. ConfusSes homéricas, t claro que os astrólogos preferem ignorar os

erros e enfatizar as previsoes que, segundo eles, deram certo. Urna destas foi feita em 1923 pelo alemSo Elsberth Ebertin, que escreveu: "Um homem de

apio, nascido a 20 de abril de 1889, com o Sol no 29° grau de Aries, pode

expor-se a perigos devido aos seus atos abertamente violentos. . . Ele está destinado a desempenhar o papel de Führer em futuras batalhas." Urna vez que o dia 20 de abril de 1889 era a data do nascimentó de Adolf Hitler, á

primeira vista a previsao parece estar certísima. Mas seria mesmo assim? A política de Hitler era sem dúvida "violenta"; porém, quando consideramos a opiniao de Ebertin sobre o espirito de "auto-sacrif fcio...atrevimento e coragem" de. Hitler, podemos duvidar de que se trate da mesma pessoa que a historia conhece.

.

De qualquer forma, Hitler já era urna personalidade famosa em.1923. Havia fundado o Partido Nacional-Socialista em 1920, e seu lema "um povo, um Reich, um líder" já havia conseguido muitos seguidores. Em 1922,os segurancas do partido, chefiados por Ernest Rohm e Hermann Goring, já estavam usando táticas violentas para aterrorizar seus opositores. Ao prever em

1923 que Hitler se tornaría o ditador da Alemanha, Ebertin demonstrou apenas seu faro político e sua disponibilidade para se meter em apuros.

6. A clarividencia de Couderc "Sou do signo de Escorpiao, e o que I i no jornal hoje sobre o meu horóscopo bate certísimo." Por que tantas vezes ouvimos (e dizemos) estas palavras? Porque nao há nada tao vago quanto um

horóscopo. Sao como meias de tamanho único; esticam-se fácilmente, para caber em qualquer pessoa. Além disso, nossa memoria é seletiva; recordamos

aquilo que nos agrada e esquecemos o resto. Quem nao acha que possui "a alma de um músico", "gosto pelas viagens e pela aventura", "um tempera mento sociável que facilita os contatos humanos", para citar apenas algumas das frases feitas que constituem a materia-prima dos horóscopos? Temos to dos tendencia para acreditar naquilo que nos dizem, se for algo de bom. 424

"O HORÓSCOPO DA SUA VIDA"

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Em 1949, o psicólogo William Forrest levou a cabo urna experiencia bem reveladora, no Trinity College de Dublin: ele deu o mesmo estudo de personalidade a 39 estudantes, contendo 13 frases típicas de horóscopos, como, por exemplo, "vocé senté necessidade de amor e admiracao", "vocé tem alguns problemas sexuais", "vocé é urna pessoa de índole ¡ndependente e nao aceita opiniao dos outros sem ter provas suficientes". Apenas cinco estudantes disseram que as descricSes nSo se adaptavam a eles. O psicólogo francés L.H. Couderc realizou urna experiencia semelhante em 1964. Publicou um anuncio oferecendo-se como astrólogo e, aqueles que responderam, enviou um horóscopo. Passado algum tempo, recebeu 200 cartas de pessoas que Ihe davam os parabéns por sua clarividencia; todas afir-

mavam que os horóscopos assentavam como luvas. Couderc havia enviado o mesmo horóscopo a todos.

7. A astrologia sitiada. Desde o seu aparecimento na antiga Babilonia, a astrologia tem sido denunciada por alguns dos maiores pensadores da hu-

manidade. "Nao nos oferece nada", dizia Plotino, "antes nos coloca na posicao de pedras á mercé do movimento e nao como homens que agem por si próprios e segundo a sua natureza". Durante a Renascenca, o sabio alemao Cornélio Agripa estudou profundamente a astrologia e concluiu que "nao tem nenhuma base sólida, apenas meras bagatelas e imposturas da imagina-

pao"... Johannes Kepler, o alemao que no sáculo XVI revolucionóla astro nomía — e que ganhava a vida como astrólogo -, reconheceu que a maior virtude da astrologia era fazer com que as pessoas perscrutassem os céus: "Se nao tivéssemos a crédula esperanpa de ler nosso futuro al¡, te riamos alguma vez estudado astronomía?" No século XIX, o cosmólogo francés Pierre Si món Laplace declarou: "Levado pelas ¡lusoes sensoriais a considerarse como o centro do universo, o homem fácilmente se persuadiu de que as estrelas ¡n-

fluenciam o seu destino. .. O geral conhecimento do real sistema do mundo destruiu para sempre esta nocao."

Um dos maiores desafios já enfrentados pela astrologia aconteceu em 1975, quando 186 dentistas - entre os quais 18 laureados com o Premio

Nobel - declararam: "é tempo de contestar, direta e vigorosamente, as as-

sercoes dos charlataes da astrologia."

"A astrologia é mais urna arte que urna ciencia", comenta o astrólogo parisiense Jean Richard. "Nada pode ser totalmente comprovado. A astrolo gia pertence ao mundo dos sonhos."

Pois é mesmo isso ai! O lugar da astrologia é do lado de lá do arco-iris,

onde se encontram os contos de fadas da nossa infancia. Somos livres para 425

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

sonhar, mas nao devemos enfsitar nossos sonhos com as roupagens da cien cia. Eles ficariam ridículos. *

*

*

EM TEMPO

No "Jornal do Brasil" de 19/07/1987, caderno Cidade p. 1, le-se a seguinte noticia referente ao horrível "quebra-quebra" ocorrido no Rio de Janeiro'a 30/06 pp. e ao juiz Ivaldo, que autorizou o aumento das passagens de onibus: Surpresa — Leitor de horóscopo, o juíi Ivaldo, 57, esperava para ontem um dia de "boa disposicáo astrológica, especialmente quanto aos inte-

resses profissionais", como Ihe prometía a previsSo para o signo de Gémeos. — Mas foi um dia complicado — admitiu á noite, atendendo, aliviado, aos telefonemas de congratulacSes e solidariedade de parentes e amigos. *

*

*

Obediencia e Salvacao, vol. II: Vicios e Virtudes. Publicado do Insti tuto Diocesano Missionárío dos Servos da Igre/a, Diocese de Rio Preto (SP), Rúa Osvaldo Aranha 585, Caixa Postal 55, 15001 SSo José do Rio Preto

(SP), 1967. 150 x210 mm, 259 pp.

Este volunte dá continuidade á mataría do prímeiro tomo da mesma

obra, já apresentada em PR 303/1987, pp. 381s. Trata do "Dever da Santidade" (IntroducSo), dos "Obstáculos i Santidade" (Parte I: os sete vicios capitáis), dos "Caminhos da Santidade" (Parte II: as tres virtudes teo/ogais e as quatro virtudes canteáis) e de "Outras Virtudes" (Parte III: Religiao, Pureza, Humildade, Penitencia, Pobreza, Virtudes Humanas Sinceridade, da Veracidade, da Honra, do Brío.. .). O volunte traz a Apresentacao de D. José de Aquino Pereira, bispo de SSo José do Rio Pnto, e tenciona ser um subsidio

para os Cursos de Teoiogia Moral ministrados tanto em Seminarios como em paróquias; alóm do qué, será muito útil i formacao dos leitores Individuáis O estilo é claro e de fácil assimilacSo; cada capitulo vem ilustrado por um denso texto tirado da Escritura ou de autores de espiritualidade, de modo que a obra propicia a associacüo de estudo e oracSo, interpelando a inteli gencia e o coracSo. O Iivro em pauta muito se ncomenda por abrir pistas pa ra o comportamento do crlstSo num mundo percorrido por tantas propostas de Ilusoria auto-realizacSo; vem a ser auténtica escola de santificado, — Os pedidos podem ser dirigidos ao endereco ácima.

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"Sofrer com os que sofrom" (Rm 12,15):

Por causa da f é perseguidos Cremos serem do ¡nteresse do nossos leitores informacoes a respeito do que ocorre em países governados por regime materialista-marxista. Na revista "Chrétiens de l'Est. Faits et Témoignages", n?52, 4?tr. 1986, pp. 13-21, colhemos alguns dados referentes a dois países asiáticos: a Coréia do Norte e o Cambodja. Trata-se de fonte auténtica, pois se deve á instituicfo

"Aide ¿ l'Eglise en dátressa" (Ajuda á Igreja que sofre), que se dedica ao

alivio material e espiritual das populacdes vitimadas pela perseguido religio sa.

I. CORÉIA DO NORTE "O céu está aqui, na Coréia do Norte!.. ."

No decorrer dos últimos meses, alguns viajantes receberam a autorizacao para ir á Coréia do Norte. Entre eles, dois representantes do Conselho Ecuménico das Igrejas, o Sr. Minan Koshi e o Sr. Erick Weingartner, foram

recebidos por personalidades oficiáis e membros de comunidades protestan

tes.

No tocante aos grupos cristaos que eles puderam encontrar, é preciso reconhecer que os contatos foram muito limitados e que praticamente nao foi possível abordar "simples cidadaos". Quanto á Igreja Católica, que sempre foi minoritaria, mas que antes da guerra contava cerca de dez mil mem bros e de cinqüenta templos, foi literalmente dizimada. Nao há mais sacer dotes nem relacoes com o Vaticano.

Todas as igrejas foram destruidas, e muitos católicos, desejosos de se anexar a urna comunidade, procuraram a Federacao das Igrejas da Coréia.

Esta é protestante; fundada em novembro de 1946, tem em vista promover a

liberdade religiosa e sustentar o compromisso dos cristSos com o servico ao desenvolvimento do país, trabalhar para a unif¡cacao da patria, para a paz e a justica. A Federacao reúne cerca de dez mil cristaos, de diversas denominacoes, repartidos em pequeñas comunidades de urna dezena de membros cada urna, celebrando o culto em apartamentos privados. Em Pyongyang mesmo, existem perto de trinta a quarenta desses grupos. 427

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

A vida eclesial é animada por cerca de trinta pastores e duzentos evangelizadores. Mas o Batismo das criancas nao é praticado e o casamento reli gioso se torna cada vez mais raro.

Dois outros viajantes, o pastor protestante Hwang Chun-Gun, e um bispo católico, Mons. Tji Hak-Soun, ambos oriundos da Coréia do Norte, viveram cada qual urna dolorosa experiencia, que ilustra as circunstancias de terror e mentira em que sao obrígados a viver os seus familiares cristaos. O pastor Chun-Gun, num salao de hotel, pode organizar, para os seus companheiros de viagem, um Oficio religioso dominical, usando de toda a discricao necessária num país que parece ter perdido toda noció de religiao. Na véspera, ele comunicara este projeto a sua mae, que ele tivera a alegria de encontrar de novo em Pyongyang. Qual, porém, nao foi a sua surpresa quando ouviu a resposta déla, outrora tío devota: "Nao facas isso, meu filho, nao

existe Deus..."!

Era inútil tentar prolongar urna tal conversa na presenca de acompanhantes norte-coreanos, que espreitavam. O culto realizou-se, como previsto, ás 6 horas da manha, reunindo cerca de cinqüenta viajantes na mesma oracao.

Á semelhanca do pastor, Mons. Tji Hak-Soun, bispó católico de Wonju na Coréia do Sul, ficou espantado ao ouvir sua irma (que ele reencontrava pela primeira vez após mais de trinta e cinco anos) sustentar afirmacoes semelhantes: "Eu já nao a conheco, disse ele; cortamente deve ter passado por urna lavagem de cranio". Com efeito; depois das primeiras efusoes de ánimo, ela o doutrinou, assegurando-lhe que era ridículo pensar no céu após a morte, pois, como notava ela, "o céu está aqui na Coréia do Norte, onde todos gozam de vida agradável e sem preocupares". O bispo entao pediu-lhe que a levasse á sua "celeste mansSo", mas isto nao fazia parte do "programa"...

II. CAMBODJA1 Estas noticias se devem ao Pe. Francote Ponchaud, das Missdes Estrangeiras, que, tendo investigado a situacao no próprio Cambodja, oferece ao público algumas impressSes significativas.

1 Este país é também chamado Kampuchea. Está situado no Sudeste da

Asia, entre a Tailandia, o Laos, o Vietnam e o Mar da China Meridional (Golfo da Tailandia). Tem por capital a cidade de Phnom Penh. 428

POR CAUSA DA FÉ PERSEGUIDOS

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1. Nenhum destacamento sem autorizado escrita

Desde 19/09/1985, novas leis regem as viagensda populacao khmer1. Foram afixados cartazos em toda parte, de maneira insólita, para anunciar essa nova regulamentacao: cada cidadao devia doravante ter nova carteira de identidade. Precisa de autorizacao da Polfcia provincial para passar de um

distrito a outro e de autorizacaó da Polfcia Nacional para se transferir de urna provincia a outra. A licenca é nominal, indica o motivo, a duracfo, o

itinerario da viagem, a pessoa que viajará e as que serao contactadas. Nao se concede autorizacáo para as provincias de Koh Kong, Kompong Speu, Batambang. A ninguém é lícito emprestar a sua licenca a quem quer que seja, e prevéem-se castigos para aqueles que naodenunciaremosinfratores. Também é proibido aos cidadaos hospedar viajantes em sua própria casa. Em outubro

de 1985, por ocasiao do Congresso do Partido, foram realizadas buscas para prender os infratores. A partir daquela data, véem-se filas de pessoas junto aos Postos da Polfcia. As pessoas recuam diante das dificuldades e acabam por nao visitar os familiares, mesmo a pouca distancia. Esta restricao das víagens teve por conseqüéncia económica ¡mediata a duplicacao do preco do arroz vendido no mercado livre. 2. Formacao ideológica sistemática e permanente

Grande parte das capacidades do povo carrtbodjano é consagrada á sua formacao ideológica. O povo é obrigado a participar de urna ou duas reunioes políticas por semana em quarteiroes ou grupos de cem, cinqüenta ou dez casas. Os dirigentes recitam-lhe a ideología oficial e falam-lhe da solidariedade que deve existir entre o Cambodja, o Laos, o Vietnam; incutem o odio aos adversarios da ideología, a defesa da patria, etc. O povo tem a obrigacao de reproduzir oralmente a mensagem e, as vezes, tem que se entregar á autocrítica. Todas as emissoras oficiáis de radio fazem a propaganda do re-

gime mediante alto-falantes; os cartazes, grandes e coloridos, ñas rúas lembram visualmente os principios fundamentáis do Governo.

A formacao dos quadros técnicos e pol íticos é mais sistemática nos Mi nisterios e nos hospitais. A jornada comeca por urna reuniao de urna hora durante a qual se dao as diretrizes para o dia: nesse momento sao sorteados

2 Khmer é o nome do povo que, sobrevindo ao territorio do Cambodja, lá fundou o poderoso Imperio Khmer no fim do sáculo VI d. C. Ora em 1970

os comunistas do Cambodja tomaram o nome de Khmer Vermelho; chegaram a dominar o país em 1975, mas em 1979 tiveram que cederá outra organizacao comunista apoiada pelos vietnamitas: a FRENTE UNIDA NACIO

NAL PARA A SAL VACÁO DO CAMPUCHEA (Funsk). 429

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

aqueles que deverao desbravar o terreno ñas fronteiras, como tambám sao

abordados assuntos de atualidade. Urna tarde por semana é inteiramente de

dicada a urna sessao de crítica e autocrítica: cada qual tem que confesar suas falhas e as fainas dos outros (os atrasos no servico, o uso de blusas blue jean...), sob pena de ser considerado revolucionario infiel. Os sábados sao consagrados ou ao trabaiho manual ou á formacao política. Dois dias por mfls sao Inteiramente reservados para a doutrinacao política. Os médicos e seus assessores, os membros do Partido ou da célula comunista tém suas reunióos complementares.

Além da formacao teórica, os cídadaos inscritos no Partido tém a obrigaclo de descer periódicamente até abase (cho moulathan), isto é, sair para

o campo e lavrar o solo. É-lhes vivamente acoñselhado nao levar livros, nSo

usar vestes próprias da cidade, náb fumar cigarros estrangeiros, etc. A noite, sao obrigados a dirigir as reunióos políticas dos camponeses. Em 1983 esses "retornos a base" duravam tres semanas; a partir de 1985, recobremde tres a seis meses do ano. Sao ocasiao para que as autoridades verifiquem se os membros do Partido sao capazes de cumprir as suas funcSes.

Como no tempo dos Khmers Vermelhos, repetem interminavelmente

que nao sao os intelectuais que fazem a revolucSo, mas o povo;... que nao é vantagem ter estudado no Liceu Descartes e ter morado na cidade;... ter a pele clara, etc. Os bons militantes sa"o os que sairam dos arrozais. Mesmo

que sejam ignorantes, gozam de poderes exorbitantes, como, por exemplo,

aquele funcionario de hospital que exigia que todas as prescricoes médicas fossem submetidas á sua aprovacao.

Os oficiáis técnicos e políticos, médicos, professores, agentes adminis trativos vao para ó Vietnam, onde recebem formacao política num centro si tuado nos arredores da cidade de Ho Chi Min. Duas vezes por ano há promocoes, que beneficiam cerca de duzentas pessoas. Durante seis meses os estagiários tém nove horas diarias de cursos; aprendem cantos revolucionarios durante urna hora e se entregam ao trabaiho manual por duas horas. Ensinam-lhes a língua vietnamita durante seis a oito horas por semana. Os esta-

giários tém seus dormitorios, nos quais estío instalados alto-falantes que difundem a doutrina oficial. Um estagiário contou que, em seis meses, ele so saíra dois domingos de tarde para visitar usinas-modelo.

A doutrinacao política se faz mediante aulas, as quais se segué urna discussao, durante a qual cada estagiário deve repetir o que o professor ensinou.. . Regularmente o aluno ó obrigado a fazer sua autocrítica e reescrever suá auto-biografía, corrigída aos poucos á luz do marxismo-leninismo. De vez em quando o estagiário tem um encontró individual com um conselheiro

vietnamita, que avalia suas mudancas de atitude e as registra. 430

POR CAUSA DA FÉ PERSEGUIDOS

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Poucos sao os que gostam desses estágios, mas ninguém os pode recusar se foi designado. Quem os realizou, goza de confianca da parte das autorida des do Partido e pode ter acesso a um escalao na sua especialidade. Tal promocSb, porém, nao significa repouso, mas, ao contrarío, exige que a pessoa se interesse sempre mais pela política e esteja atenta para evitar passos em falso. 3. Restauracao das castas

Os membros do Partido Comunista do Cambodja sao pouco numero

sos. Para remediar a essa carencia e favorecer melhor recrutamento, cada grupo profesional é dirigido por um núcleo (snol), cujos membros sao como que a ante-cámara do Partido. Cada cidadao deve aspirar a entrar nesse nú cleo, mas ó o Partido que escolhe. A ninguém 6 lícito recusar se é designado. Os membros do Núcleo tém tres reunioes a mais por semana e praticam a auto-crftica mais do que os outros cidadaos. A vida pessoal de cada um, em seus mínimos traeos, deve ser conhecida pelos outros membros do Núcleo.

Um membro do Núcleo nao se pode casar sem a autorizacao dos outros

membros. É entre os membros do Núcleo que sao recrutados os membros do Partido.

Cada grupo profissional deve, todos os meses, indicar um homem ou urna mulher-modelo segundo cinco criterios bem definidos, entre os quais o de ser bom para o povo. Os membros de cada grupo profissional devem-se ob servar mutuamente para descobrir as qualidades e os defeitos dos outros. Ser membro do Núcleo, membro do Partido, homem-modelo dá direito a certas regalías: acesso ás Lojas comerciáis do Estado, escola especial pa ra os filhos, quartos de pediatría reservados, tratamento no Hospital 7 de Ja

neiro, etc. No interior do país, onde os hospitais estío caindo em ruinas, foram construidos edificios especiáis para uso dos funcionarios do Partido. Apesar de certo reerguimento da vida material dos cambodjanos, a

atmosfera em Phnom Penh e em outras cidades do Cambodja é pesada: as pessoas ai vivem em tensao permanente devida á constante pressao ideológi ca, ao temor frente ao futuro, ao medo de ter que ir para o desbravamento dos campos. Tem-se a impressao de estar numa sociedade sem esperanca. É perceptível um sentímento de revolta contra a ocüpacao vietnamita, como também se constata a sensacao de estar preso num sistema ideológico e carcerário...

4. Novo "Muro da Vergonha" de 700 km

Desde julho de 1984, o Governo de Phnom Penh vem construindo um muro de 700 km de comprimento ao longo da fronteira khmero-tailandesa. 431

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 304/1987

Este muro destina-so a impedir a passagem dos resistentes para o Cambodja e a dos refugiados para a Tailandia... A duracao dos trabalhos, a principio, devia estender-se por cinco anos...

Cada provincia tem a seu cargo a contrucüo de um segmento de tal muro. . . Por conseguinte, cada provincia tem que recrutar trabalhadores; geralmente isto á feito por sorteio ou é infligido como castigo a cidadaos pouco interessados no caminho socialista... Mesmo os intelectuais e os profissionais da saúde, apesar de raros, estao obrigados a participar dessa construcao...

Os trabalhadores de tal muro tém que levar consigo a sua alimentacao, alguns medicamentos e um pouco de dinheiro. Muitos pedem dinheiro emprestado para sustentar a familia durante a sua ausencia. Do ponto de vista militar, pode-se duvidar da eficacia desta construcao: apesar dos obstáculos, os dissidentes continuam a atravessar a fronteira pagando aos guardas e os refugiados continuam a deixar o Cambodja.

O custo humano de tal empreendimento é muito elevado. Muitos tra balhadores sao vitimas do impaludismo que campeia ñas florestas (o plasmodium falciparum); muitos morrem ou voltam doentes para casa. Também muitos trabalhadores morrem ou sfo gravemente feridos ao passarem sobre as minas colocadas pelos diferentes grupos armados que sucessivamente controlaram aquela regiao: Khmers Vermelhos, resistentes tailandeses*, vietnami tas. Em Phnom Penh diariamente chegam dois ou tres operarios mutilados: sao tratados e depois formam bandos que recorrem á violencia para sobreviVef.

Julga-se que cerca de 5%dos trabalhadores enviados para á construca"o

do Muro morreram em conseqüáncia dbs trabalhos.

Paralelamente ao muro da fronteira, a populacSo do Cambodja tem que cercar todas as aldeias com urna ou duas cercas de bambus ou de fios de árame farpado, segundo o estilo vietnamita, para impedir a infiltracao de "inimigos"... *

*

*

Eis o que geralmente se ignora nos países do Ocidente. Um cristao que tome conhecimento da tais falos, na*o podará daixar de ouvir em seu íntimo

a exortacáo do Apostólo: "Sofreí com os que sofrem" (Rm 12,15). é pela

oracfo a pela radobrada fidelidade á vocacSó crista que o discípulo de Cristo procura ser útil aos iranios qua sofrem. Na comunha*o dos santos, "urna alma que se eleva, eleva o mundo inteiro". Que o estímulo a urna vida mais perfeí-

ta e santa saja o fruto da transmissab de tais noticias!

EstevSo Bettancourt O.S.B. 432

EDIQÓES "LUMEN CHRISTI" Rúa Dom Gerardo, 40 - 59andar - Sala 501

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2. Nuevo Testamento Trilingüe — Edición de José M. Bover y José O'Callaghan. 1977.1380 p. BAC 3. San Pablo — Heraldo de Cristo: Josef Holzner. Com Apéndice de Grabados. 1980. 570 p. (Herder) 4. Soy Cristiano — Apuentes para un catecismo del Pueblo.

Por Gonzalo Girones 1980. 485 p. (ed. Mari Montana) . .

5. Los Papas - Retratos y Semblanzas (Josef Gelmi). Lista de los Papas de Pedro a Joao Paulo II. Herder. 1986. . . . 6. Obras Completas de Santa Teresa de Jesús — Edición Ma nual. 8a. Edición. 1986.1478p. BAC 7. Obras de Santa Catalina de Siena - El Diálogo, Oracio nes y Soliloquios. Inst. y Traducción José S. Y Conde.

1980 BAC

8. La Regla de San Benito - García M. Colombás BAC 1979. 511 p Y 9. Savonarola - Reformador y Profeta. (Alvaro Huerga) BAC. 1978 10. Curso de Teologia Dogmática - El Mundo Creación de Dios (Johann Auer) Herder 1979. 665 p 11. Diccionario de Espiritualidad — Ermanno Ancilli.:

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