Ano Xxviii - No. 300 - Maio De 1987

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Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMCS

ON-LINE Apostolado Veritatis Spiendor com autorizagáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoríanrt)

APRESBvTTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz

Sao

Pedro

que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).

Esta

necessidade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questoes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de

SL vista cristáo a fim de que as dúvidas se

dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar este trabalho assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site. Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

responderemos w D

SUMARIO "A Máe do Redentor"

<

co

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Ciencia e Fé Hoie

O

£

A Data do Nascimento de Jesús

UJ

O

O Caso Medjugorje

"Inquisicáo e Cristáos-Novos' 2 UJ _i

A Confissáo Sacramental

O ce o.

ANO XXVIII

-

MAIO

-

198 7

3OO

PERGUNTE E RESPONDEREMOS

MAIO - 1987 N?300

Publicado mensal

SUMARIO Diretor-Retponsável: Estévao Bettencourt OSB Autor e Redator de toda a materia publicada neste periódico

Diretor-Administrador

"A MÁE DO REDENTOR" Dois testemunhos importantes:

CIENCIA E FÉ HOJE

D. Hildebrando P. Manins OSB

193

194

"Incorrecto assumida": Administracáb e distribuido:

A DATA DO NASCIMENTO DE JESÚS .

Edicoes Lumen Christi

Dom Gerardo, 40-5? andar, S/501 Tel.r{021> 291-7122

Caixa postal 2666

Que pensar? O CASO MEDJUGORJE

20001 - Rio de Janeiro - RJ

204

212

Debate sobre

"INQUISICÁO E CRISTÁOS-NOVOS" .

ITJSSSKSSK2Í"

Para criancas e para assembléias:

'•»-• »)-MM - 17M447 -

A CONFISSAO SACRAMENTAL

Número avulso:

235

NO PRÓXIMO NÚMERO

ASSINATURA EM 1987:

A partir de Janeiro de 1987

225

Cz$ 200,00 Cz$

20,00

Queira depositar a importancia no Banco do Brasil para crédito na Conta Córreme

ffi 0031 304-1 em nome do Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro, pagável na

Agencia da Praca Mauá (n?0435) ou en viar VALE POSTAL pagável na Agencia Central dos Correios do Rio de Janeiro.

301 - junho- 1987

"É perigoso falar de Deus" (Tatiana Goritcheva). - "A Vida Futura Segundo o Novo Testa mento" (Michel Georgesl. - Catolicismo e Religióes nao católicas. - Divida Externa (Pontificia Comissao "Justica e Paz").

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA

RENOVÉ QUANTO ANTES

COMUNIQUE NOS QUALOUEH

A SUA ASSINATURA

MUDANCA DE ENDEHECO

"A Máe do Redentor" Aos 25/03/87 fot divulgada a nova Encíclica de Joao Paulo II, refe

rente á SS. Virgem: "Redemptorís Mater. - A MSe do Redentor". Era natural que o S. Padre se voltasse para Maña após ter estudado em tres Encíclicas anteriores as Pessoas da SS. Trindade e seu papel na salvacáo do homem. Com efetto; María sempre esteve muito presente á piedade

crista tanto no Ocidente como no Oriente. Alias, a devocáo a María de-

corre do Cristocentrismo mesmo que Sao Paulo propfie aos fiéis: fomos predestinados a ser conformes a ¡magem do Filho Primogénito Jesús Cristo (cf. Rm 8,20); em conseqüéncia, pode-se dizer que todo crístáo vem a ser "um outro Cristo". Disto se segué que todo cristáo deve ali mentar em si dois olhares permanentes: um olhar para o Pai, á seme-

I nanea de Jesús, que vivia totalmente para o Pai (cf. Le 2,49), a Quem Ele se referia freqüentemente (cf. Jo 5,20s. 23. 26. 36s. 43...); e outro olhar para María, pois Jesús, como homem, recebera de María - e somonte de María - a sua natureza humana; o cristSo deve, pois, tender a ser para Maria um outro Jesús ou um filho muito dedicado. Assim a piedade mariana nao desvia de Cristo, mas, ao contrario, decorre lógicamente da

identificacáo do cristáo com Cristo oú do "sentir o que o Cristo Jesús sentía", táo recomendado por SSo Paulo {cf. Fl 2,5).

Mais: nos últimos tempos os Pontífices tém posto em relevo a figura da SS. Virgem, ciente de que qualquer afirmacáo mariológica é' sempre urna afirmagáo compendiosa do plano de Deus. Sim; em María

manifestam-se as tres Pessoas da SS. Trindade (cf. Le 1,26-38) assim

como o amor gratuito de Deus, sua acáo redentora através do Natal e da Páscoa, a Igreja como Corpo prolongado de Cristo e a glorificacáo final

da humanidade. Dal dizer-se desde remotas épocas: Cunetas haereses

sota interemisti in universo mundo; Maria, no decorrer da historia, destruiu todas as heresias. - Visto que este limiar do terceiro milenio se aprésenla denso de nuvens, Joáo Paulo II, á semelhanca do quefizeram Pió IX em 1854, Pió XII em 1950, volta-se para Maria, nao para definir al-

gum dogma mariano, mas para reafirmar tudo o que a fé diz a respéito

de Maria, pois isto equivale, na linguagem clássica do Cristianismo, a reafirmar tudo o que Deus nos disse de bom e belo ou tudo o que o Evangelho tem a anunciar a este mundo conturbado.

Possa realmente a fé dos cristáos redescubrir, sintetizados em Ma ria, o sorriso e a misericordia de Deus destinados a todos os homens! E.B. 193

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

"PEROUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XXVIII - N? 300 - Maio de 1987 Dois testemunhos importantes:

Ciencia e fé hoje Em símese O Pe. George Coyne, Diretordo Observatorio do Vaticano, e o Prof. Jean Delumeau, historiador francés, dio seu depoimento a respeto das relacOes entre a ciencia e afé, mostrando que nSo existe confíito entre urna e outra; ao contrario, o progresso da ciencia em nossos días póe o homem, mais do que outrora, em presenga do Misterio que se pode identificar com o vestigio de Deus infinitamente sabio, Criador e Sustentador deste mun do. A S. Escritura nSo foi redigida para ensinaraos homens ciencias naturais; a sua mensagem é de ordem sapiencial e teológica, de modo que ela nao se op6e a teorías científicas que respeitem Deus como Criador Providente do mundo e do homem. A maioria dos astrofísicos (80%, diz-se) créem em Deus, embora nao professem sempre filiacáo a atguma córvenle religiosa.

Detumeau, referindo-se ao futuro do Cristianismo, é otimista; julga que o fator mais apto a credendar o Cristianismo em nosso mundo é a santídade; entre todos os homens, os mabies nSo foram os dentistas nem os artistas, nem os poUBcos. mas os santos; nestes transparecem mais nítidamente o amor, a harmonía e a sabedoria de Deus.

A revista italiana JESÚS, em seu número de agosto 1986, pp. 67-70 e 74-76, publica dois testemunhos de pensadores católicos a respeito das relacóes entre a ciencia e a fé. Trata-se do jesuíta Pe. George V. Coyne, norte-americano, Diretor do Observatorio do Vaticano, e do historiador francés Jean Delumeau, que se tem dedicado á historia do Cristianismo moderno e contemporáneo.

Nesses dois depoimentos há passagens muito interessantes, que a seguir publicamos em traducáo portuguesa com breves comentarios. 194

CIENCIA EFÉHOJE 1. Fala o astrónomo O Pe. George V. Coyne nasceu em 1933 na cidade de Baltimore (U.S.A.). Fez-se jesuíta, e, seguindo a tradicáo jesuíta voltada para as ciencias naturais, ded¡cou-se á Astrofísica. Desde 1978, é o Oiretor do Observatorio do Vaticano, que está confiado á Companhia de Jesús. O jornalista Vittorio Messori, um convertido á fé católica, foi entrevistá-lo no seu posto de trabalho e fez-lhe algumas perguntas:

1.1. Conffito entre Ciencia e Fé?

Vittorio Messori: "Padre Coyne, para um astrónomo ou para um cientista, há algum confuto entre o seu trabalho e a sua fé? Pe. Coyne: Nao só nao há, mas nem pode haver confuto entre as duas esferas. A verdade é urna só; por conseguinte, as verdades que o cientista descobre na natureza repousam sobre as verdades que a fé nos ensina. Pode a criatura estar em confuto com o Criador? Quem julga que nos, religiosos, somos cerceados em nossa pesqui sa, evidentemente nao sabe como estáo as coisas. A nossa liberdade é total, sem interferencias como aquetas de natureza burocrática ou política que muitas vezes afetam o trabalho universitario. Posso fazer um con fronto, já que trabalhei durante anos em Ateneus públicos. O dinheiro? Dentro dos nossos limites, mesmo este nao nos falta; submetendo-se a inegável sacrificio, a Santa Sé financia todos os anos o nosso orcamento. Sem dúvida, há despesas extraordinarias, como aquela do projeto de te lescopio de alta tecnología, mas estamos certos de que nao faltaráo os patrocinadores.

V.M.: Está, portento, encerrada a fase das tensóes reais ou aparen tes entre ciencia e fé?

P.C.: Hoje em dia todos admitem que é impossível encontrar, por via científica, um argumento qualquer contra a existencia de Deus. Mes mo assim a fé (nao o esquejamos) fica sendo sempre o parí, a aposta da

qual fala um grande cientista e também um grande cristáo como Pascal.1

Por conseguinte, a ciencia, bem entendida, nao nega nem pode negar

1Pascal (] 1662) apostava com os incrédulos: acreditassem em Deus e

nao seriam decepcionados; ele Ihes assegurava o pleno éxito da aposta. (Notadotradutu). 195

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987 que Naja algo 'além da materia'; mas também nao pode encostar o

ateísmo á parede, fazendo a fé decorrer diretamente da pesquisa científi ca." Vittorio Messori nota a propósito que estamos saindo da era positi

vista1 e que todos os fundadores da astronomia moderna foram grandes dentistas e, ao mesmo tempo, grandes homens de fé explícita: Copérni-

co, Galileu, Keppler, Newton... Ainda hoje, como revelam os ¡nquéritos, 80% dos estudiosos das ciencias naturais decía ram sem hesitacáo que tem fé. Talvez... fé sem professar a Igreja, mas certamente sao homens dispostos a chamar Deus o misterio que está por detrás de táo pequeños e táo grandes misterios com os quais eles se defrontam todos os dias. Newton, por exemplo, dizia: "Esta admirável ordem que vemos nos céus, nao pode ser senáo obra de um Ser todo-poderoso e oniciente". Keppler: "Descobrindo o misterio do céu, o homem repensa os pensamentos de Deus". Até Voltaire, inimigo do Cristianismo, mas nao da fé num Deus Criador, insurgiu-se contra os ateus, apontando-lhes o céu estrelado e

repetindo a frase famosa: "É lógico que nos sirvamos de um relógio ne

gando ao mesmo tempo a existencia do relojoeiro?" 1.2. A ignorancia do dentista Continua Vittorio Messori: "Que é que mais o impressiona no seu trabalho de jesuíta e astrónomo?

P.Cj É o fato de que, quanto mais vamos ao fundo da realidade e

descobrimos coisas desconhecidas, tanto mais temos a experiencia do misterio. Quando um dé nos, cientistas, diz que sabe ser sempre mais ig norante, nao pratica um ato de humildade, mas urna profissáo de verda-

de. É atrás desta ignorancia e, portanto, atrás deste misterio que se per

cebe o fasclnio, o apelo de Deus. Neste sentido, fazer pesquisas pode re dundar as vezes em fazer oracáo.

V.M.: Fazer orsgao e também, em certo sentido, fazer teologia, se bem que com equacóes matemáticas e fotografías ¡nfra-vermelhas?

P.Cj Sim, é certo... Parece-me ouvir as palavras de Sao Paulo, as quajs faz eco S. Agostinho: Deus se manifesta e também se oculta entre sombras e enigmas; dá-se a conhecer, mas 'como num espelho'. O uni verso nos revela os vestigios de Deus mais do que revela o próprio Deus;

10 positivista é aquele que so aceita o que os sentidos percebem; por con

seguirte, nega toda e quakjuér realidade espiritual (Deus, a alma humana, a sobrevivencia no além...). (Nota do tradutx). 196

CIENCIA EFÉHOJE se o Criador é o misterio por excelencia, misteriosa é também a sua cria-

fáo1 ... A fé certamente nao está em confuto com a razáo, mas ela a ultrapassa; nao vai contra, mas além da razáo. Sem dúvida, até certo ponto

a razáo deve acompanhar a fé. Neste sentido a ciencia ajuda... Mesmo urna ciencia anómala como é a astronomía". 13. Mundos ¿distancia de bilhóes de anos V.M.: "Como entende 'anómala'?

P.C.: No sentindo de que a astronomía é a única disciplina científica nao experimental; ela nao pode ter em máos o objeto que ela estuda. A astronomía está bascada na confianza de que as coisas que os nossos te

lescopios indicam sao reais e, a milhares de anos-luz, funcionam as mesmas leis que regem a vida entre nos... Ciencia anómala também no sentido de que o astrónomo nao vé a realidade como ela é, mas como era. Por causa da distancia e da elevada (mas sempre limitada) velcddade da luz, nos nao vemos o sol como ele é, mas como ele era há oito mi

nutos atrás; vemos as galaxias mais distantes como eram há tres ou quatro bilhóes de anos.

V.Mj Há, portento, um aspecto paradoxal - por conseguinte, um

misterio a mais- na astronomía.

P.C.: Sim; perscrutando os céus, vemos objetos tais como se apresentavam em épocas muito remotas. Por esta razáo, é decisivo construir telescopios novos, como o VATT (Vatican Advanced Technology Telescope, Telescopio de Avanzada Tecnología do Vaticano), que nos permitem ver sempre mais á distancia. Pois, quanto mais longe virmos, mais podaremos aproximar-nos do momento inicial, do big-bang (grande explosao), a partir do qual tudo comecou. Os meus colegas estáo, em parte, de acordó em dizer que este inicio ocorreu há quinze ou vinte bilhóes de

anos. Atualmente podemos chegar aos tres ou, no máximo, quatro bi

lhóes de anos atrás; estamos ainda bem longe do misterio do inicio. Mas nao perdemos a esperanza de nos aproximar, utilizando até telescopios postos fora da atmosfera, onde a visibilidade é, ao menos dez vezes, mais

elevada. Isto nos permitirá talvez saber algo mais sobre um dos temas

1Alusa~o a 1Cor 13,12: "Agora vemos em espelho e de maneira confusa,

mas depois veremos face^-face". O Apóstalo imagina um vefcuto dotado de espelho de metal; o condutor, olhando para esse espelho de metal, vé confu samente tudo o que Ihe está pelas costas; ele nSo vé claramente nem vé fa

ce-a-face. Assim ó o conhecimento que temos de Deus na vida presente: deverá ceder á visáo dará e face-a-face de Deus na bem-aventuranga celeste (Nota do trsdulor).

197

6

"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

em torno dos quais trabalha o Observatorio do Vaticano: tentar recons tituir a maneira como nasceram as galaxias.

j Isto nos abre para o tema da vida em outros planetas. Padre,

o Sr. eré que haja outros mundos habitados?

P.C.: Se nos atemos ás estatfsticas, é certo que as condicóes para haver vida devem ter-se realizado necessariamente nao num único ponto do universo. Há centenas de bilhdes de estrelas como o sol dentro e fora da nossa galaxia, e é certo que grande parte délas tem um sistema de planetas como o sistema solar. Mesmo que sejamos pessimistas e excluamos muitos de tais planetas, chegaremos sempre a um número ele-

vadíssimo de corpos celestes nos quais as mesmas condicóes existentes na térra devem ter-se realizado. Mas, atencáo, falo de condicóes. Nao di go que, dentro dessas condicóes favoráveis, a vida se desenvolveu efeti-

vamente. É isto que só o dentista pode dizer.

V.Mj E o homem, o religioso Padre Coyne que pensa a respeito

disso tudo?

P.Cj Pessoalmente, tomando consciéncia de que nossa térra é me nos, muito menos do que um gráozinho'de areia numa praia imensa, pergunto-me por que Deus terá criado essa enorme 'coisa' que é o uni verso somente para nos.... Mas temos o direito de perguntar isto? Nos

nao somos Deus, nao podemos conhecer os seus pensamentos. Entre as criaturas parece existir algo como a 'lei do desperdicio': bilhóes de esper matozoides sao expelidos, por exemplo, para que um só - e nem sempre um - se encarregue da reproducáo. Como pessoa particular, eu diría: sim,

há vida em outros planetas. Mas disto nao tenho certeza nenhuma. 1.4. No alátn nao farei perguntas

V.M.:As pesquisas... apresentam um percentual de cientistas cren-

tes superior a 80%. Estas mesmas pesquisas revelam também que os as

trónomos tém fé, em maior número do que os cultores das ciencias hu manas, psicólogos e sociólogos. Que diz a propósito o Pe. Coyne? P.C.: Só o posso confirmar. Sim; a maioria dos colegas que encontrei e que encontró, diz crer em Deus. Repito, porém: estejamos atentos a nao praticar aquele ingenuo concordismo entre ciencia e Biblia que levou certos homens da Igreja a atitudes infelizes no passado.1 Deus está fora

1O autor se refere, por exemplo, ao geocentrismo, que os exegetas bíblicos

julgavam ser ensinado pela S. Escritura; fot por causa dessa falsa assodagSo

de Biblia e sistema astronómico que se originou a celeuma contra Galiteu; este ensinou o hettocentrismo, parecendo contradizer á Biblia, quandoesta na verdade nao ensina nenhum sistema de astronomía. (Nota do tiadutor). 198

CIENCIA E FÉHOJE do espaco e do tempo, ao passo que nos nos movemos sempre dentro destas coordenadas. Se eu tivesse que recomecar, nao hesitaría: eu me faria jesuíta de novo. Por conseguinte, creio firmemente em Deus Criador do céu e da térra. Mas, se me perguntam o que é criar, jé nao sei respon der com exatidáo.

V.M.: Como entáo ler o livro do Génesis?

P.Cj Evitando fazer como as seitas fundamentalistas norte-ameri canas, que tomam a Escritura como um texto científico. Ao contrario, a Biblia é um livro religioso, é a reflexáo de um tipo de civilizacáo situada em determinado momento histórico e que, antes do mais, deseja trans mitir urna mensagem: Deus existe e é um Deus que ama as suas criatu

ras. Nao é licito ir além disto.''

V.M.: A Escritura comeca com o Génesis e termina com o Apocalipse. Assim como houve um comepo (e a teoria do big-bang o confirma), haverá também um fim?

P.C.: Esta nao é urna pergunta teológica, mas científica. O problema do fim do universo é solúvel desde que conhecamos as variantes da massa e do tempo. Tal problema, porém, é, sob varios aspectos, complexo: apenas para exemplificar, lembro que urna das descobertas mais sensacionais destes últimos tempos é a de q'ue nSo vemos tal vez senSo 10% da massa do universo. Parece que 90% da materia escapa aos nossos olha-

res: nSo emite nem luz nem radiacóes. É materia morta.

V.M- Entio como puderam tornar-se conscientes da sua existen cia?

P.C.: A partir das medicóos feitas no campo gravitacional. Mais: para definir se e quando o universo terá fim, deverlamos saber se ele se

expandirá ao infinito ou se, chegado a um ceno ponto, comecará a contrair-se, percorrendo em sentido inverso a via iniciada pelo big-bang.

V.M.: Padre Coyne, aqui na térra movemo-nos, embora com progresso, entre sombras e enigmas. Será que veremos claro quando entrarmos no além?

1OPe. Coyne se refere á mensagem cosmológica da Biblia; esta consiste

apenas em dizer que Deus ó o Autor do mundo e do homem; criou por amor e acompanha as suas criaturas em seu plano sabio e providencial. NSo entra em questóes de idade do mundo, limites da evolucáo, origem dos seres racio náis ou do homem... (Nota do tradutor). 199

8

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

P.C.: Periódicamente pergunto isso a mim mesmo; interrogo se 'depois' poderei finalmente conhecer qual é a orígem das galaxias, que tanto me apaixona. Mas logo pensó que entrar no além significa nao a revelacáo dos misterios do universo, mas a entrada no próprio Misterio do universo, em Deus. NSo encontrarei as respostas que agora procuro todos os dias e todas as noites com o meu trabalho; nao as encontrarei porque nfio me interessará formular perguntas. Mais do que procurar compreender o misterio, eu o viverei. Esta reí dentro dele. E assim serei feliz.

V.M.: Ás vezes pergunta-se onde fica Jesús Cristo neste contexto. Deus, certamente, é urna intuicáo ligada desde sempre a astronomía por que nenhuma ciencia, tanto quanto esta, lida com as nocoes de infinito e

eternidade. Mas Cristo? P.C. Cristo é o sustentáculo; é o eixo em torno do qual tudo, tudo gira. No enigma deste enorme cosmo Ele é o centro._Ele está no centro,

e, ao mesmo tempo, ñas extremidades; é o Alfa e o Ómega. Reza o Cre do: 'por Ele todas as coisas foram criadas'".

Esta entrevista é, por si mesma eloqüente, confirmando mais urna vez o axioma: "A pouca ciencia afasta de Deus, ao passo que a muits ciencia leva a Deus".

Passemos agora ao depoimento de Jean Delumeau.

2. Fala o historiador Jean Delumeau é atualmente um dos maiores historiadores france ses; dedica-se especialmente aos séculos XIII/XVII. Além de obras refe rentes ao passado, publicou dois opúsculos, que nos interessaráo de perto nestas páginas. 2.1. "O Cristianismo está para morrer?"

O autor é assaz otimista ao escrever: "Julgo-me autorizado a dizer aos cristáos que os tempos atuais sSo menos obscuros do que eles ima-

ginam; o futuro está aberto... Principalmente nao pranteemos o passado" (II Cristianesimo sta per moriré? Torino 1978, p. 15). Os porqués deste otimismo sao expostos em obra mais recente do

autor intitulada Ce que je crois (Paris 1985, pp. 362). É este livro que passamos a considerar.

200

CIENCIA EFÉHOJE 2.2. "O que creio" A tese principal desta obra afirma que a fé em Deus e, em particu lar, a fé crista, além de nao contrastar com a inteligencia culta da nossa época, pode oferecer-lhe suplementos de ¡nformapáo e profundidade que nenhuma ciencia tem condicóes de apresentar. - Como desenvolve o autor a sua tese?

2.2.1. Ciencia eFé

O progresso da ciencia contemporánea abre precisamente maior espado para a fé: "quanto mais sabemos, tanto mais tomamos conscién-

cia de que nao sabemos... É a própria ciencia que nos informa a respeito dos seus limites". A ciencia é a gloria do homem, a condicáo de sua so

brevivencia intelectual e material; nao obstante, é a própria ciencia que nos faz compreender sempre melhor a espessura daquela escuridao, de que a ciencia ilumina apenas um setor. No fundo dessa escuridáo nao poderia estar Deus?, pergunta Delumeau. Quem pode estar certo de que Ele nao se encontra al? Que ra-

2des temos para dizer que a imensidade nao tem sentido e que a evoluc.io nao obedece a um projeto? Delumeau admoesta os dentistas a nao cometerem o erro praticado por teólogos de épocas passadas. 2.2 2. A ciencia nao enxerga toda a estrada

Tais teólogos falaram demais julgando-se competentes em qualquer assunto. Pergunta Delumeau: "Nao acontece que a mudanca dos

tempos leva alguns cientistas contemporáneos a cometer o mesmo erro e a falar de maneira autoritaria sobre temas que escapam e sempre escaparáo á ciencia? - A ciencia ilumina um segmento da estrada. Mas ela nao pode dizer aoríde a estrada leva. Nao Ihe compete afirmar que a es

trada nio leva a parte alguma... É verdade que o biólogo vé realizar-se sob o seu microscopio programas cujo pragramador ele nunca encontra. Deverá, por isto, concluir que nao existe pragramador?" Já nao compete a ciencia responder a tal pergunta. "Julgo, diz Delumeau, que a ciencia convida o estudioso a voltar-se para a mensagem religiosa... Ciencia e religiáo parecem-me caminhar lado a lado e tender urna para a outra; a ciencia orienta racionalmente para a religiáo, embora a religiSo tenha precedido a ciencia na historia da humanidade". Mais: verifica-se que a corrente intelectual que procura eliminar Deus, tende também a suprimir o homem, a pesar de procurar precisa mente favorecer o homem. Delumeau tem em vista nao só Marx, Freud,

Nietzsche, mas também alguns expoentes do estruturalismo francés (C. 201

10

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

Lévi-Strauss, M. Foucault...), que elaboraram a teoría da morte do ho-

mem.1 Segundo Delumeau, estes pensadores s3o coerentes: "Se nao existe um Deus Criador que tenha pía nejado o homem, este nao tem es

tatuto próprio, nem vocacáo peculiar. Ele existe por acaso, provisoria mente, e desaparecerá. Por conseguinte, ele nao tem valor em si mesmo. Está claro que, históricamente talando, Deus e o homem estáo associados entre si. Se alguém mata o primeiro, o segundo há de sofrer a mesma sorte... Ao menos para os cristáos, Deus pela encarnacáo se faz soli dario com o homem e assim o homem se tornou sagrado".

2.2.3. Nao confundir neurdnios e espirito NSo será o homem o produto de urna evolucáo mecanicista? O estudo da evolucáo do cránio nao leva a compreender que o sucesso do género humano é devido á multiplicacáo dos neurdnios e das sinapses e á capacidade de adaptacáo do encéfalo ao ambiente respectivo? Escreve Delumeau: "A neurobiologia deve procurar as condicóes materiais das operacóes mentáis: é esta a sua vocacáo. As suas pesquisas provam que a capacidade intelectual do homem está ligada ao número e á diversidade das conexóes do seu cerebro. Seria lícito dizer mais do que isto e confun dir o fio telefónico com a mensagem que ele transmite?... Será licito afir mar que o espirito nao existe?" Para Delumeau, o concertó de espirito nao está superado; ao con trario, a ciencia o torna ainda mais atual. Com efeito; nao se pode reduzir todo o psiquismo humano ao mecanismo dos neurdnios, pois neste caso deixaria de haver a liberdade e feriamos que perguntar-nos: Donde nos vem a forte conviccáo de que somos livres e, por isto, tendemos a rejeitar todos os sistemas sociais e políticos que procuram despojar o homem da sua liberdade? Para Delumeau, fazer desaparecer o homem comosujeito dotado de liberdade é obra do "totalitarismo intelectual" de certas esco las, táo dogmáticas que elas julgam possuir, com exclusividade, a chave capaz de manifestar a verdade plena a respeito do homem. "A auténtica atitu de científica consiste em reconhecer o misterio onde ele existe. Com

efeito, o homem, na sua globalidade, resiste á dissecacáo que as ciencias humanas Ihe querem infligir". Ele é mais rico do que um conjunto de da dos algébricos ou do que os resultados da informática e dos programas genéticos. 2.2.4. A credibitidade do Cristianismo Já no livro "O Cristianismo* está para morrer?" o autor afirma va enérgicamente que o verdadeiro problema da Igreja de nossos tempos

nao é o uso do latim nem o da batina, mas sim: "Como pode ser acreditável o Cristianismo aos nossos contemporáneos?" A resposta a esta

1VerPR 124/1970, p. 143 202

CIENCIA EFÉHOJE

11

pergunta é apresentada por Delumeau ñas páginas de "0 que creio". No final deste livro, nao hesita em dizer que o fator essencial para firmar a credíbilidade do Cristianismo é a santidade. "Bergson1 pensava que, en tre os homens, os maiores sao os santos. Eu sou da mesma opiniáo: além disto, creio que esta é, inconscientemente, compartilhada por muita gente". E indica duas figuras atuais de santidade: Madre Teresa de Cal cuta e Irma Emanuela do Cairo. "Sao exemplos que nos lembram a existencia, na Igreja, de um heroísmo cotidiano caracterizado pelo amor,

pela dedicacáo, pela paciencia, pela humildade, de que mu ¡tos clérigos e leigos oferecem pravas seguras... Esta santidade cotidiana constitui, para mim, a melhor prava da existencia de Deus, o Deus de amor do qual fala Sao Joáo, e me torna confiante no futuro do Cristianismo." - Neste contexto Delumeau fala também dos cristáos perseguidos em nossos tempos, afirmando que a verdadeira perseguicáo aos cristáos nao foi aquela movida por Diocleciano nos séculos lll/IV.mas a de muitos regimes opressores de nossos tempos, sejam de direita, sejam de esquerda.

Este final do livro de Delumeau merece atencáo especial, pois toca

um ponto nevrálgico: quais sao os grandes personagens da historia? Ins

tintivamente poderia alguém responder: sao os grandes líderes políticos,

nacionais ou internacionais, ou os grandes cientistas {Newton, Keppler,

Lavoisier, Ampére...) ou os grandes artistas (Miguel Angelo, Bernini, Leonardo da Vinci...). Na verdade, maiores do que todos estes sao os

santos! Com efeito; quem faca a radiografía interior de um grande políti co, cientista ou artista, poderá descobrir nele urna personalidade feia ou

desfigurada pelo egoísmo, o orgulho, o odio, a prepotencia, a vaidade...;

terao desenvolvido um aspecto de suas potencialidades (a capacidade de

lideranca, os talentos intelectuais ou artísticos...), mas nao se teráo de

senvolvido segundo a dimensao mais tipica e mais global, que é a da per sonalidade; como pessoas, terSo ficado "mirrados". Ao contrario, o santo ou a santa é alguém que se realizou plenamente na sua realidade mais

própria e característica, que é a da personalidade harmoniosa e bela; sem

ser conhecidos pelo mundo, sem exercer lideranca visfvel, mas vistos por

Deus, para quem viveram coerentemente, ás vezes numa choupana, num

leito de hospital ou perdidos na multidáo... Estas figuras humanas deixaram licóes imorredouras e falam em favor da causa que professaram,... falam em favor de Cristo e de sua Igreja. Por isto tem razáo Delumeau - e, com ele, muita gente - ao afirmar que, dentre os homens, os maiores sao os santos; sao eles também que fazem a riqueza da Igreja (com a graca de Cristo, sem dúvida).

1Henri-Louis Bergson (1859-1941) foi um filósofo judeu que, simpatizando

com o Cristianismo, só nSo se tomou católico no fím da vida para nao deixar

de ser solidario com osjudeus, que na época sofriam a perseguigSo do nacio nal-socialismo. (Notadotraduter).

203

"IncorrecSo assumida":

A datado nascimento de Jesús

Em sfntese: A data do nascimento de Jesús fot erróneamente calculada peto monge Dionisio o Pequeño no secuto VI; na verdade, Jesús deve ter nasddo em 6/7 antes do inicio da era crista. Este erro é de somenos impor tancia, pois nao ateta a mensagem do Evangelho. Os pesquisadores procuraram reüñcar o cálculo nos últimos sáculos, como prova a bibliografía citada neste artigo. Por conseguinte, tal erro nao foí ocultado ao público, mas era abordado em obras impressas e divulgadas. Todavía, como se trata de assunto erudito, «gado a documentos gregos e latinos da historia do Imperio

Romano antígo, a data do nascimento de Jesús nSo costuma ser objeto de

pregacfes. O tato de que o S. Padre JoSo Pauto II abordou a questáo em atocucBo de Janeiro pp. nao significa que "o erro histórico só fot aceito depois de 1400 anos", como afirma a revista VEJA, de 21/01/1987, p. 78. • # •

A revista VEJA de 21/01/87, pp. 78s, dá multa énfase a questáo da data do nascimento de Jesús, como se houvesse af problemas serios, que afetariam as bases mesmas do Cristianismo; existiría um erro de cálculo que a Igreja só teria aceito após 1400 anos (cf. p. 78); daf o titulo do arti

go: "Incorrecáo assumida". - Dada a maneira sensacionalista como o ar tigo é redigido, vamos dedicar-lhe as páginas seguintes, pondo em rele vo o que há de certo e incerto a respeito da data do nascimento de Jesús. 1. Os dados da Tradíceo

1. A data do nascimento de Jesús nao era nem é de importancia decisiva para a pregacao crista. A existencia real de Jesús sob os Impera

dores César Augusto (27 a.C-14 d.C.) e Tiberio (14-37 d.C.) consta a par

tir de documentos diversos,1 independentemente da data precisa em que

1Para nao (alar de documentos cosíaos, observamos que existem teste-

munhos de autores romanos (Tácito, Suetónio e Plinto o Jovem do inicio do

secuto II) e de rabinos (Talmud), que atestam nao somente a existencia de Jesús, mas também a sua pregagáo e sua morte. Ver a propósito "Curso de Iniciacáo Teológica por Correspondencia", módulo 3 (Caixa Postal 1362, 20001 -Rto, FU).

204

DATA DO NASCIMENTO DE JESÚS

13_

Jesús nasceu. O importante para o cristáo é a existencia histórica e real de Jesús no inicio da nossa era e a mensagem deixada pelo Senhor.

Os Evangelhos nao tratam explícitamente da cronología da natividade de Jesús. Isto se explica pelo fato de que os evangelistas nao tinham a intenpáo de escrever relatos cronísticos ou biográficos (no senti

do moderno destes termos); os Evangelhos sao, sim, o eco da pregacao

dos Apostólos, que se preocupava mais com a mensagem ou a Boa-Nova

do que com questóes científicas de cronología.'' Em conseqüéncia, te

mos, para calcular a data do nascimento de Jesús, apenas os seguintés

textos:

Le 2,1 s: O recenseamento ordenado por César Augusto que provo-

cou a ida de José e María a Belém, ocorreu enquanto Quirino era Governador da Siria.

Mt 2,16: Herodes mandou matar na Judéia todos os meninos de dois anos para baixo, a fim de atingir Jesús.

Le 3.1: No ano 15? de Tiberio César, Joáo batizou Jesús.

Le 3,23: Jesús iniciou seu ministerio público com trinta anos de ¡dade aproximadamente.

Jo 2,20: A restaurado do Templo de Jerusalém iniciada por Hero des o Grande levou quarenta e seis anos, ou seja, de 18 a.C. até 28 d.C. 2. Até Jesús Cristo, os pagaos conheciam diversos sistemas de cro nología. Havia

- a era das Olimpiadas, que comecava a 15/07/776 a.C; - a era dos Setéuddas (sirios); também dita "os anos gregos" (cf. IMc 1,10) a partir de 15/10/312 a.C; - a era da fundacáo de Roma ou era de Varráo, que contava os

anos a partir da data do inicio da cidade de Roma (21/04/753 a.C. ou, depois, 19/01/753 a.C.)

Apds o nascimento de Jesús, os cristáos orientáis, no século III, conceberam duas novas maneiras de contar os anos, partindo da presu mida data da criacio do mundo:

1lsto nSo quer dizer que os Apostólos negtigenciassem a historia (a qual é

de importancia capital para o Cristianismo); todavía nao queriam ser cronistas, mas arautos da Boa-Nova de Jesús Cristo. 205

14

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

- a era alejandrina, inspirada pelo historiador Pandora, que partía de 29 de agosto ou 1? de setembro de 5493 a.C; - a era bizantina, que comecava a 1 - de setembro de 5509. Ainda urna corren te admitía a criacáo do mundo em 5507 (21 de marco).

Estas últimas tentativas eram falhas, pois supunham que a Biblia oferece urna cronologia do mundo e do género humano - o que é falso. Nao é a partir das Escrituras que se pode calcular a idade do mundo e da humanidade. Finalmente no século VI ou em 525 aproximadamente o monge Dionisio o Pequeño concebeu a computacio que se tornou definitiva de entao por diante. Eis o seu raciocinio: conforme Le 3,1, Jesús iniciou a sua vida pública no 15- ano do reino de Tiberio César (= ano 782 da fun-

dacao de Roma).1 Ora, segundo Le 3,23, "Jesús tinha mais ou menos

trinta anos quando foi batizado" ou no inicio da sua pregacáo. Em conseqüencia, Dionfsio descontou de 782 {= ano 159 de Tiberio) os 29 anos

completos de Jesús e chegou á conclusáo de que Jesús nascera no ano de 753 da fundacáo de Roma. Por isto o ano de 753 ftcou sendo o ano 1? da era crista. Como se vé, este cálculo é assaz sumario, nao levando em conta todos os elementos fornecidos pelo Evangelho para estabelecer a data do nascimento de Cristo. A consciéncia deste erro nao aflorou de ¡mediato

*O articulista de VEJA, rfi citado, p. 78, afirma o seguinte: "O monge Dionf sio partíu de urna premissa errada. Tiberio já govemava desde o ano 11, dividindo o poder com seu antecessor, Augusto, por este se encontrar doente. No ano 14 ele apenas assumiu integralmente o poder".

A teoría de que os anos de reinado de Tiberio deven) ser contados a partir de 11 ou 12 d.C. é contraditada petos melhores autores. Baseia-se na analo

gía com o inicio do Imperio de Augusto, que pode ser calculado de diversas maneiras, pois Augusto toi fundando aos poucos a monarquía (fez parte de um Triunvirato a partir de 711, foi cónsul em 712, tomou a cidade de Alexandria em 724, recebeu o titulo de Augusto em 727...). Ao contrario. Tiberio já encontrou a monarquía estabeledda; verdade é que foi associado a Augusto no fím do reinado deste Imperador, ou se/a, a partir de 12 a.C; todavía a duracSo do reinado de Tiberio, segundo os antígos (quase unánimemente) éde 22 anos, 22 anos e meto ou 23, neo mais; em outros termos: Tiberio morreu em 37 após 22ou23 anos de govemo, segundo os antígos - o que nos obriga a assinalar

no ano 15 o inicio do govemo de Tiberio. 206

DATA DO NASCIMENTO DE JESÚS

15

entre os estudiosos, mas havia de se tornar clara especialmente na época moderna, quando os pesquisadores da historia sao ciosos de exatidáo.

2. O auténtico cómputo Na verdade, o texto, mais indicado para se estabelecer a data do nascimento de Cristo é o de Mt 2,16, onde se lé que Herodes, querendo exterminar Jesús, mandou matar todos os meninos de dois anos para

baixo na Judéia. Ora Herodes morreu no ano de 749/750 de Roma ou no ano 4 a.C., segundo fontes fidedignas; donde se vé que Jesús nasceu an tes de 4 a.C. ou entre 4 e 6/7 a.C. Os estudiosos tentam definir com mais precisáo a data exata, mas ficam sempre no campo das hipóteses, pois a documentacáo bíblica e profana é insuficiente para chegar a mais rigor. -

A título de ilustracáo, a presentamos algumas das sentencas propostas pelos historiadores:

ano de 742 a.Ux.1 = 12 a.C.: sentenca defendida por A. STENTZEL, Christus uitd sein Stem (Cristo e sua estrela). Hamburgo 1913; F. WESTBERG, Zur neutestamentlictien Chronologie, pp. 37-49. 744 aJJx. = 10 a.d VAN BEBBER, Zur Chronologie des Lebens Jesu, MOnster 1898, pp. 137.143; ARGENTIERI, Nuova determinanonedella Crenologia neotestamentaria, Aquila 1914, pp. 5-9. 745/6 a.U.c = 9/8 a.Cj E. POWER, Bíblica 9 (1928) p. 280. 746 aJJx. = 8 a.Cj VILECKY, Quando Christus mortuus est? Pragae 1892, p.8. 746/7 a.Ux. = 8/7 a.C- G. MACKINLAY, Expositor VIH/14 (1917 II), pp. 362-76.

747 a.U.C. = 7 a.Cj MAN N, Of the true Years of the Birth and of the ■ Death of ChrisL London 1733, pp. 46. 75; D. HANEBER, Geschichte der Offenbarung. Regensburg 1876, p. 537; H.H. KRITZINGER, Der Stem der Wetsen, Gütersloh 1911, pp. 98.104; O. GERHARDT, Der Stem des Messias, Leipzig 1922, pp. 105. 110; L. FONCK, Verbum Domini 7 (1927), p. 370. 747/8 aUx. = 7/6: W. BEYSCHLAG, Leben Jesu, Halle 1902,1,144; J. LEBRETON, La vio de Jésus-Christ, París 1931, pp. 868.

747/9 a.Ux. = 7/5 a.C.: DIDON, Jésus-Christ París 1891, p. 390.448; L. MECHINEAU, Vita lesuChristi, París 1895, p. 28.

1a.U.C. = ab Urbe condita, desde a fundagáo da cidade (de Roma). 207

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

749 a.Ux. = 5 a.Cj NATALIS ALE XAN DE R, Historia Ecdesiastka 3 (1730), p. 74; J. H. FRIEDLIEB, Geschichte des Lebens Jesu. Breslau 1853, p. 91; P.F. HENRY, Les Oeux Grandes Dates de rHistoire. Avignon 1930, pp. 1 -7; M.-J. LAGRANGE, Synopse des quatre Evangiles, París 1927, p. 35; LAGRANGE, L'Evangile de Jésus-Chrrat, París 1928, p. 44. 752 a.Ux. = 2. a.C: CH. E. CASPARI, Chronologisch-geographische Emleitung zum Leben Jesu, Hamburg 1869, p. 51; M. HETZENAUER, Theologische Quartabchrift 49 (1896), pp. 72-80; HENNEN, Pastor Bonus 44(1933)p.23s.

754 a.Ux. = 1 d.C_ K. HASE, Geschichte Jesu. Leipzig 1876, p. 209. A vasta bibliografía sobre o assunto (da qual vai aquí citada apenas urna pequeña parcela) bem mostra que o erro de Dionisio o Pequeño era do conhecimento dos cristáos muito antes que a imprensa tratasse do as

sunto em nossos días. É de lamentar, pois, que a revista VEJA escreva no citado número, p. 79:

"É curioso observar que somante mais de 1400 anos depois do erro de

Dionisio um Papa vem a público para denunciá-lo. Pió XII chegou a ensatar alguns passos nessa direcSo, mas nao foi adiante. O máximo que fez, (oi en comendar pesquisas a estudiosos da Igreja". Ora, a bibliografía apresentada evidencia que, muito antes de Pió XII (1939-1958), os estudiosos já tinham realizado numerosas pesquisas (na lista de obras atrás, a mais antiga data de 1730 e propóe a data de 749 a.U.c. = 5 a.C). Sem dúvida, poderfamos recuar no tempo e descubriría mos novos escritos portadores de sentencas substitutivas á de Dionisio o Pequeño. O fato de que um Papa antes de JoSo Paulo II nunca abordou tal

temática em audiencia pública explica-se pela tndole erudita do assunto; é próprio de pesquisadores dedicados ás grandes interrogacóes da histo ria. -Além do mais, a data do nascimento de Cristo nao pertence a subs tancia da mensagem evangélica; pode ser discutida e contestada sem que o Credo seja afetado. Por conseguinte, carece de fundamento o alarde feito pela imprensa em torno do assunto. Examinemos agora duas questóes complementares sugeridas pelo citado artigo de VE JA.

3. A data de 25/12: por qué? Visto que os Evangelhos nao indicam o exato dia do mes em que Jesús nasceu, os cristaos tiveram que escolher eles mesmos a data mais 208

DATA 00 NASCIMENTO DE JESÚS

17

oportuna para celebrar o seu nascimento. A escolha, feita no século III (se nao antes), recaíu sobre o dia 25 de dezembro, já consagrado na vida do Imperio Romano pela "festividade do Natal do Sol Invicto". Com efeito; os cultores do Sol (identificado, em varios lugares, com o Deus Mitra) celebravam naquela data o novo surto do Sol ou o alongamento dos dias após o declfnio da luz solar no outono e no inicio do invernó (europeul. Assim, por exemplo, o Calendario do astrólogo Antfoco rezava no seu original grego: "Mes de dezembro... 25... Natal do Sol: cresce a luz"; o Calendario de Fúrio Dionisio Filócalo registrava: "25 de dezembro, Natal do Sol Invicto". César Juliano recomendava os jogos que no fim do ano eram celebrados em honra do "Sol Invicto". No século V, S. Agostinho explicava o costume já vigente, dizendo: "Festejemos este dia solene, nio como os pagaos voltados para este Sol, mas voltados nos para aquele

que fez este Sol" (sermáo 190,1 PL 38,1007). Desta maneira os cristSos quiseram "cristianizar" um dia festivo do Calendario pagáo que apresentava certa afinidade com a celebracáo do nascimento de Jesús, que disse: "Eu sou a luz do mundo" (Jo 8,12).

Seria falso julgar que a festa crista tem sua origem na mitologia paga; as suas rafzes estáo na própria mensagem evangélica; apenas a es colha da data teve inspirapáo no Calendario dos romanos, pois Jesús Cristo é na verdade a Luz que os pagaos cultuayam voltados para o astro-sol.

Também nao se deve crer que a escolha do dia 25 de dezembro tenha sido condicionada pela data de 25 de margo (Anunciacáo do anjo a Maria); entre 25/03 e 25/12 correm, de fato, nove meses (correspondentes á gestagáo de Jesús). Mas parece que a celebrado da Anunciacáo aos 25/03 é posterior á do Natal em 25/12, pois S. Agostinho (f430) é, segun do se eré, o primeiro autor que nos fala da Anunciacáo celebrada aos 25/03.

Aqui se póe aínda a pergunta: por que o Natal de Cristo tem data

fixa, ao passo que a celebracáo da morte e ressurreicáo de Jesús é móvel de ano para ano? Respondemos: a festa de Páscoa tem seu Calendario indicado pela própria Biblia, ao passo que o Natal nao (como vimos). Com efeito, o texto de Ex 12,1 -14 determina que a Páscoa seja celebrada por ocasiáo da primeira Lúa cheia após o equinócio da primavera (após 21/03); por con-

seguinte, a festa de Páscoa se prende ao ciclo da Lúa, que nao é o ciclo dos meses do nosso ano solar. Apenas é de notar que os cristSos, embora sigam básicamente a contagem prescrita em Ex 12, esperam sempre o domingo após a Lúa cheia para celebrar a Páscoa, pois querem repro209

18

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"300/1987

duzir a seqüéncia dos dias da semana, na qual Jesús morreu e ressuscitou, conforme os Evangelho sinóticos.

Urna ulterior questáo ainda se coloca:

4. A fidelidade dos Evangelhos Conforme o citado número de VEJA, p. 79, "a reconstituido da historia de Jesús através dos textos dos Evangelhos, resulta imperfeita. 'A figura ali descrita nao é a de Jesús como ele era em si mesmo, mas

aquilo que significava para as primitivas comunidades cristas, para as quais os Evangelhos foram escritos', explica o pesquisador bíblico paulista Armando Tambelli".

Esta afirmacáo é inspirada pelo "Método da Historia das Formas" tal como foi cultivado por M. Dibelius e Rudolf Bultmann. Funda-se no principio de que os traeos teológicos do Evangelho tendentes a realcar a Oivindade de Jesús e o caráter transcendental de sua obra nao partiram dos labios ou da pessoa de Jesús, mas resultam da interpretado subjeti va, quicá arbitraria e simplória, que as primeiras geracóes cristas deram á

figura de Jesús. O Jesús concebido pela fé nao seria o Jesús que viveu

outrora na Palestina; este terá sido urna figura mais pobre em predicados do que o Jesús "reconstruido" pela fé. Ora tal premissa racionalista é gratuita; nega de antemáo a irrupeáo do transcendental neste mundo.

As escolas católicas de exegese admitem, sim, que no Evangelho se exprime a mentalidade teológica dos evangelistas e da Igreja (Sao Joáo foi mesmo denominado "o Teólogo"). Jesús foi sendo mais e mais compreendido, como Ele mesmo predissera ao prometer o Espirito Santo (cf.

Jo 14,26; 16.13-15)1; todavía esse a profundamento das palavras e dos

1Há mesmo passagens em que os evangelistas notam o progresso dos

Apóstalos na compreensSo dos dizeres e feitos de Jesús:

Jo 2,19-22: "Resportdeu Jesús aospdeus: 'Destruíeste templo, e em tres

dias eu o levantare?. Disseram-lhe entSo os judeus: 'Quarenta e seis anos fo ram precisos para se construir este Templo, etuo levantarás em tres dias?' Ele, porém, falava do templo do seu corpo. Assim, quandoete ressuscitou dos morios, seus discípulos tembraram-se de que dissera isso, e creram na Es critura e na palavra dita por Jesús".

Jo 12,14-16: "Jesús, encontrando um jumentinho, montounele, como está escrito: 'Nao temas, filha de Siáo! Eis que vem o teu reí montado numjumentinhol' Os discípulos, a principio, nao compreenderam isso; mas, quando Jesús

foi glorifícado, tembraram-se de que essas coisas estavam escritas a seu respeito e que elas tinham sido realizadas". 210

DATA DO NASCIMENTO DE JESÚS

19

gestos de Jesús Cristo nao significa desvio ou "re-criacáo" da realidade histórica; antes transmite-nos a própria realidade histórica penetrada mais a dentro ou, com outra imagem, significa o desabrochamento da sementé langada pela pregacáo e pelos feitos de Jesús. Há, pois, identidade e continuidade entre o Jesús histórico e o Jesús compreendido pela reflexáo dos discípulos. - Ademáis sob a inspiracSo do Espirito a fé cató

lica ensina que os Evangelhos foram escritos sob a ¡nspiracSo do Espirito Santo - o que implica isencSo de erros ou deturpa?óes no seu texto.

A propósito das principáis datas da vida de Cristo e do respectivo con texto histórico, existe a exaustiva obra de URBAN HOLZMEISTER, Chmnobgja Vitae ChristL Romae 1933, obra da qual rnuito nos valemos na redagáo destas páginas.

A Verdade que Liberta, por María de Lourdes Ganzarollide OSveira. Ed. Agir, Rúa México 98-B, Caixa Postal 3291,2001 - Rio (RJ), 137x210mm, 99pp.

Eis um ttvro muito interessante, pois sabejogar com Psicología e Religiáo para mostrar quanto o fator religioso é importante para proporcionar o equilibrio psíquico. A autora, ¡á conhecida poroutras obras de teobgia, parte do principio de que "em maior ou menor intensidade está sempre presente no homem a sua necessidade de absoluto, que no fundo é urna necessidade de Deus" (p. 33). Quem procura preencher esta aspiracáo natural, descobre o sentido da vida, que se pode tomar feliz mesmo quando Ihe falte saúde ou outro subsidio de ordem material (p. 60). Quem, ao contralto, contraria essa ne cessidade básica e se entrega a bens meramente relativos e transitónos, nSo pode ser feliz de maneira duradoura. "Num crime, a maior vftima é o crimino so; em qualquer pecado, o mais atingido é o próprio pecador" (p. 45). Poristo

"Georg Siegmund, citando Maritain e Bergson, afirma que os místicos sao precisamente os mabres e mais auténticos homens. Representam eles a saúde psíquica perfeita... Conquistaran) a sua própria vontade de viver, delxaram-se levar por urna córrante gigantesca de vida e se abriram a tárelas inteh ramente novas" (p. 90). Em suma, o Bvro é, do principio ao fím, altamente valioso, sempre vottado para temas muito concretos, que a autora explana com erudicSo fHosófíco-teotógica e fino senso psicológico. E.B.

211

Que pensar?

O caso Medjugorje Em síntese: Os fenómenos de Medjugoije tém varías características de auténticas apangóos de Nossa Senhora: reta doutrina, auséncia'de ostentagao vaidosa e de aproveitamento comercial... Todavía a tonga duracáo de seis anos por que se protraem, assim como a desaprovagáo do Bispo local, sao motivos de hesitagSo por parte do quem os observa. - A Igreja vai acompanhando com interesse o caso, antes de se pronunciar. Ela sempre distinguirá

entre RevelagSo pública e oficial, encerrada com a geragáo dos Apostólos, e as revelacóes particulares; a estas (como em Lourdes, Fátima...) a Igreja po de reconhecer sinais do sobrenatural, mas nunca as imporá como objeto da fé do pavo de Deus.

Está sempre em voga o caso das aparicóes de Nossa Senhora em Medjugorje (lugoslávia). Muitos peregrinos voltam de lá impresionados e convictos de que se trata de autentica manifestado da Santa Máe de Deus. Todavia há quem contradiga apresentando razóes que merecem atencáo. - A fim de esclarecer os nossos leitores, apresentaremos, ñas páginas seguintes, um bataneo dos fatos acompanhado de comentarios.

1. A historia das aparicóes Medjugorje é urna aldeia situada na Croacia meridional, a poucos quilómetros do mar Adriático. Juntamente com outros povoados (BijaIcovici, Miletina, Vionica e Surmanci), forma urna paróquia de 3.400 habi tantes.

É ali que desde 24/06/81 se .diz que a Virgem SS. aparece a seis jovens (nSo criancas), que no comeco das aparicóes tinham entre 11 e 18 anos, e podem ser assim a presentados:

Maria Pavlovic, nascida em 1°/04/1964, filha de agricultor; 212

MEDJUGORJE

21

Ivan Dragicevic, nascido em 25/05/1965, filho de agricultor. Entrou no Seminario, mas, como estivesse despreparado nos estudos, teve que

sair, com a ¡ntencáo de voltar para lá;

Mirjana Dragicevic, nascida em 18/03/1965, fílha de um técnico radiologista em hospital e de máe operaría em fábrica; Ivanka Ivankovic, nascida em 21/04/1966, fílha de operario que trabalhava na Alemanha;

Vicka Ivankovic, nascida em 03/07/1964, cujo pai trabalhou na Ale

manha Ocidental;

Jakov Coló, o cacula, nascido em 03/06/1971, muito vivo, esperto,

amigo do futebol e da música.

Além das visóes ou aparigóes de que se beneficiam os jovens, re-

gistram-se em Medjugorje outros fatos extraordinarios:

- fenómenos luminosos, físicos e cósmicos; - curas prodigiosas;

- extraordinaria afluencia de multidóes (até 1986 haviam estado na aldeia mais de seis milhóes de peregrinos dos diversos continentes, apesar dos obstáculos levantados pelo Governo iugoslavo;

- conversóes de ateus e profundo afervoramento religioso do po-

voado e de toda a regiáo. - O Pe. Philippe Madre narra que, quando esteve como peregrino em Medjugor¡e, foi celebrada urna S. Missa com a presenca de 12.000 pessoas, sobre as quais helicópteros da Polfcia faziam

a ronda. Ele havia sido detido poucas horas antes juntamente com os

companheiros de peregrinafáo, porque tinham infringido o artigo 70 da

legislado nacional, ou seja, porque "tinham influenciado o povo iugoslavo exercendo atividades religiosas subversivas"! Ao recordar este fato, per* gunta o Pe. Philippe: "A Policía táo vigilante tinha-se dado conta de que um alto funcionario de Belgrado estava em Medjugorje para aprésentar

seu filho leucémico a Cristo e pedir a cura dc-mesmo? Tinha observado que na Missa anterior um homem inscrito no Partido Comunista recu perara súbitamente a fé da sua infancia? Vira a mulher, desde muito pa

ralítica, que recomegara a caminhar? Ou estava a Polfcia incomodada pelo fato de que numerosos ónibus de toda a lugoslávia estavam na es trada de Medjugorje, sem contar as muitas pessoas que faziam o trajeto a

pé, as vezes ao longo de centenas de quilómetros?" (Prefacio do livro de Svetozar Kraljevic, Les apparítions de Medjugorje. Paris 1984, p. 12). 213

22

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

O Governo marxista ¡ugoslavo tem procurado sufocar o fenómeno de Medjugorje, perseguindo os videntes. Estes foram impedidos de voltar a colina de Podbrdo, primeiro local das aparicóes, e tiveram de se re-

colher em casas de familia e finalmente num escritorio da igreja paro-

quial para receber as "visitas" de Nossa Senhora. Principalmente os sa

cerdotes franciscanos da paróquia tem sofrido: o Pe. Jozo Zovko foi detido em 17/08/1981 é condenado a tres anos e meio de prisáo. sob a acusac§o de "favorecer o fanatismo e a supersticáo, atentando contra a ¡ntegridade do sistema sacio-político ¡ugoslavo". Os seus colaboradores, Frei Fardo Vlasic e Nozo Krisic, redatores do jornal Nasa Ignjista (O Nosso Lar), foram tidos como subversivos nacionalistas croatas, herdeiros dos revolucionarios oustachis; em conseqüSncia, o primeiro foi condenado a oito anos de prisSo, e o segundo a cinco anos e meio. O acesso a Medjugorje é dificultado pelas autoridades governa-

mentais, que téntam confundir a opiniSo pública, identificando as manifestacóes religiosas de Medjugorje com movimentos de clericalismo na cionalista e separatista croata - o que é absolutamente estranho a menta lidade do Bispo, dos sacerdotes e dos videntes da regiSo em foco. O Sr. Bispo diocesano de Mostar, sob cuja jurisdicSo se acha Medjugorje, é pessoalmente desfavorável ás aparicóes; quanto aos franciscanos que administram a paróquia, a principio mostraram-se contrarios ao que diziam os videntes e só aos poucos Ihe deram crédito.

A grande questSo que se coloca a respeito de Medjugorje, é a da

autenticidade das apartides: sao genufnas manifestacóes da Virgem SS., que, em nome do Senhor Jesús, admoesta os homens? Ou trata-se, an tes, de fenómenos psicológicos ou parapsicológicos ocorrentes em jovens simplórios e sugestionados? - Examinemos os pros e os contras le vantados no debate.

2. Autenticidade: siml 2.1. Sailde normal dos videntes Os jovens foram examinados, principalmente quanto á sua saúde psíquica, por médicos dispostos a interná-los, se necessário. O laudo foi positivo; o Governo ateu teve que reconhecé-lo objetivamente. Os jovens sSo simples, dotados de boa comunicado com os seus interlocutores, sem artificios e sem síntomas neuróticos; mostram alegría, a ponto que María Pavlovic dizia: "Somos os mals felizes do mundo!" Praticam o jejum e a orscSo, que n3o Ihes prejudicam a saúde.

Guando agraciados pelas visóes, esses jovens se ajoelham todos ao mesmo tempo; os seus olhares convergem para o mesmo ponto; quan214

MEDJUGORJE

23

do, sob a ordem de Nossa Senhora, tem que rezar em voz alta, juntos rezam, e juntos se levantam quando desaparece a imagem contemplada. Nao a presenta m fisionomías histéricas ou artificialmente sentimentais.

2.2. Autentiddade da doutrina Nenhuma das mensagens atribuidas a Virgem em Medjugorje fere a reta doutrina da fé. Sao mensagens que nao "endeusam" a SS. Virgem, mas levam ao Cristo e á Eucaristía, como atestam as seguintes palavras: "A melhor oracáo é a Missa; voces jamáis poderlo esgotar a grandeza desta. Por isto devem freqüentá-la com toda a humildade e bem prepa rados". 2.3. Pastoral irrepreensfvel

Em Medjugorje nao se verifica o servico a interesses particulares: culto vaidoso de alguma personalidade, cobica de lucro ou de fama... Os videntes sao despretensiosos. Os sacerdotes que Ihes assistem, procuram aproveitar a oportunidade para fortalecer a fé e a prática sacramental dos fiéis; embora estejam ligados á Renovacáo Carismática, guardam o devi-

do equilibrio entre as normas da Igreja e as manifestacóes espontáneas da piedade. - Alias, o fato de ocorrerem em país comunista hostil contri buí para que os fenómenos de Medjugorje sejam isentos de charlatanis mo, exploracáo comercial, abusos da credulidade popular...

2.4. Os frutos positivos "Pelos frutos se conhece a árvore", diz o Senhor Jesús (Mt 7,16; Le

6, 44). No plano espiritual verificam-se numerosas conversóes e a prática fervorosa do jejum e da oracáo por parte nao só dos videntes, mas também dos paroquianos. A Virgem pediu ao menos meia-hora de orapáo de manhá e de tarde e, se posslvel, tres horas por d¡a;ora parece que muitos e muitos praticam este máximo, se se leva em conta a celebracáo comu nitaria na igreja. Alguém perguntou á vidente María: "Por que jejuas? Que vantagens isto te traz?" Ao que ela respondeu: "Alegría, disponibilidade, abandono mais pleno ñas máos de Deus". Trata-se de jejum rigo

roso que, conforme Nossa Senhora, é excelente, quando a pao e agua. Estas práticas tém renovado o ambiente paroquial; assim, por exemplo, o povoado de Bijakovici, que estava dividido por tensóes vio lentas havia muitos anos, recuperou sua paz e harmonía. Na verdade, Paz ou Mir é urna das grandes mensagens de Medjugorje.

A propósito de pedidos de grafas extraordinarias, um dos videntes

observou: "Nossas preces sao, muitas vezes, mal orientadas. É o Espirito Santo que devemos pedir". Palavras que fazem eco a Le 11,11-13. 215

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

Quanto ás curas físicas, sao numerosas; nem todas podem ser tidas como milagres no sentido estrito da Apologética ou da Teologia. Alguns casos, porém, de maior vulto foram submetidos a controle médico preci

so (nao táo rigoroso quanto em Lourdes, como se compreende); após a averíguacáo dos fatos, é licito considerá-los como auténticos milagres, como se pode depreender dos poucos relatos seguintes:

Matija Skuban (Lassalestrasse 25, Karlsruhe 21, Alemanha Ocidental) refere: "Eu era hemiplégica em conseqüéncia de urna apoplexia. Aos 20/07/81 na igreja de Medjugorje, senti, durante a oracáo, como que urna forte corrente que passava por todo o meu corpo, principalmente na perna esquerda, que era doente. Levantei-me para ir comungar". Até aquela data, Matija precisava de ajuda para se levantar. Já fora operada tres vezes; tinha a perna e o braco parausados. A 1-/05/1982 ela mesma escreveu o relato da sua cura total e levou a Medjugorje atestados médicos datados de 04/01 e 08/02/82.

Antonia Puljic, de Podvinje, com dois anos de idade apenas, fora atingida por qüeimaduras profundas. O médico declarara que ela nao conseguiría andar antes de um mes e meio. Os seus pais foram entáo ao lugar das aparicóes e rezaram por ela; na mesma noite, a enanca comecou a andar. Dois dias depois, as feridas estavam totalmente cicatrizadas e a menina curada. Aos 11/08 sua máe levou-a é Missa celebrada em Slavonski Brod. Os atestados médicos foram arquivados em Medjugorje. Marija Saric, nascida aos 07/02/1960 em Andrijevci, sofria de um tumor no joelho. Foi operada num hospital de Belgrado após tratamento

inútil. Depois da cirurgia, o seu estado se agravou. Os médicos já pensa-

vam em amputar-lhe a perna. Entrementes sua mié fez urna promessa á

SS. Virgem e foi a Medjugorje, onde ¡mplorou a recuperado da saúde de sua filha. Os videntes também rezaram por esta. Ora, antes do regresso

de sua máe, a jovem estava totalmente curada. Isto se deu em fins de outubro de 1981. Aos 27 de setembro de 1982, máe e filha foram a Med

jugorje para agradecer á SS. Virgem, e a cura foi oficialmente constatada. Mirto Brkic, de Banjaluka, fraturou a perna de modo que Ihe puseram um parafuso. Foi tratada nos hospitais de Banjaluka e Belgrado, sem resultado. Formou-se urna chaga aberta debaixo do joelho da perna doente. Os médicos nao conseguiam deter a crescente profundidade dessa ferida, através da qual já se via o osso. Isto induziu os médicos á decisáo de amputar a perna. Entrementes a familia de Mirko fez urna pro messa a Nossa Senhora; rezaram e jejuaram. Na véspera do día da am putado, a chaga repentinamente se fechou. Os médicos, surpresos, de-

sistiram da ¡ntervencáo. Alguns dias depois, a chaga estava totalmente ci

catrizada. A cura foi oficialmente reconhecida aos 26/03/82. 216

MEOJUGORJE

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Varios outros casos de cura extraordinaria sao relatados pelos es tudiosos de Medjugorje, que, bem se compreende, excluem versees fal sas, precipitadas e diagnósticos levianos, procurando ater-se estrita-

mente a criterios científicos. Eis os principáis dados que se podem aduzir em favor da autenticidade dos fenómenos de Medjugorje. Na base dos mesmos, o arcebispo de Split, Monsenhor Franic, metropolitano de Medjugorje, após ter ob servado os frutos al obtidos, confessou ao Pe. Rene Laurentin: "Medju gorje mais aproveitou £ Igreja em dois anos que a nossa pastoral em quarenta anos" (ver p. 155 da obra citada na bibliografía). Todavía, após tal depoimento datado de 1983, afloraram certos motivos de hesitacáo, como estamos para ver.

3. Autenticidade: as dúvidas Enumeram-se as seguintes razoes para duvidar da autenticidade das aparicóes: 3.1. Ouracáo excessivamente tonga

Já há seis anos que a Virgem SS. aparece aos videntes todos os dias (com pouquissimas excecóes). Ora, isto destoa da praxe verificada em Lourdes, Fátima, La Salette... Pergunta-se, pois: nao seria essa prolonga da duracáo o efeito de vm mecanismo psicológico meramente subjetivo existente dentro dos jovens videntes? Os adeptos da genuidade das aparicóes respondem que a dura situacáo dos países comunistas, que perseguem os cristáos, exige da Pro videncia Divine um apoio mais forte e significativo para a fé dos católicos. Nao podemos enquadrar os designios de Oeus dentro dos esquemas que preconcebemos.

3.2. Murtas palavras Dizem que a SS. Virgem fala muito em Medjugorje - o que assernelha este caso ao de Garabandal (a quanto se eré, fruto de histeria das

"videntes"). - Respondem os defensores das aparicóes: embora militas palavras sejam atribuidas pelos jovens á SS. Virgem, elas se resumem em quatro vocábuios centráis: oracáo, jejum, conversáo, que devem levar áPaz! 3.3. A recusa do Bispo local Existe urna tensSo entre os promotores das aparicóes e a autoridade diocesana de Mostar, o Sr. Bispo 0. Pavao Zanic, que se deve aos se217

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

guintes fatos: a Croacia esteve sob perseguicáo religiosa dos turcos desde 1478 a 1878; a populacáo católica foi entáo fortemente sustentada pelos

franciscanos, que tinham a seus cuidados a pastoral da regiáo. Em 1881, o Papa Leáo XIII quis restaurar a hierarquia eclesiástica na Croacia nomeando Bispos e ordenando sacerdotes diocesanos; em conseqüéncia, varias paróquias passaram logo dos cuidados dos franciscanos para o do clero diocesano. Com o aumento das vocacóes sacerdotais nos últimos vinte e cinco anos, foi posslvel colocar mais páróeos diocesanos em igrejas administradas por franciscanos; isto gerou certa tensáo, especial mente na diocese de Mostar; quando o Bispo local construiu a igreja ca tedral de Mostar, entregou ao clero diocesano, após o devído entendimento com a Ordem Franciscana, tres quartos das paróquias da cidade até entáo administradas por franciscanos. Ora este gesto do Bispo provocou contestacáo da parte de muitos fiéis, que estavam acostumados á praxe pastoral dos franciscanos e rejeitavam o clero diocesano; chegaram

a obstruir o acesso a urna igreja para impedir a execucáo das determinacees do Bispo, que, alias, estava simplesmente cumprindo disposicóes provenientes da Santa Sé. Dois frades franciscanos - Freí Ivica Vego e Ivan Prusina - manifestaram ostensivamente a sua oposicáo ao Bispo. Este Ihes impós a pena de suspensio de Ordens (nao poderiam celebrar a S. Missa nem outros atos do culto), e levou o caso ao Superior Geral dos Franciscanos, que os excluiu da Ordem. Ora os dois Religiosos insis tirá m em ficar na diocese; foram a Medjugorje, onde rezaram e consultaram urna das videntes: Vicka. Esta consolou os dois irmáos e terá es crito num misterioso e controvertido "Diario" que os dois franciscanos nao tinham culpa e que o Bispo fora severo demais, tomando medidas que causavam desordem; Vicka concluía (como se fosse mensagem da Virgem} que os dois irmáos podiam permanecer em Mostar, á revelia da ordem do Bispo! - Ora urna mensagem que viole a autoridade legitima do Bispo e incite á desobediencia n§o deve ser da Virgem SS., mas antes parece ser a expressáo de animosidade passional. Um principio clássico da espiritualldade crista, já formulado por S. Inácio de Antioquia (t107) manda que nada se faca sem o Bispo (níl sirte episcopo). No caso em fo co, nao se pode provar que o Bispo de Mostar esteja abusando da sua autoridade. Os defensores de Medjugorje julgam que a ordem de resistir ao Bispo nao vem de Nossa Senhora, mas foi encontrada em apontamentos que Vicka redigiu por sua própria iniciativa, mesclando o seu modo de ver a mensagens de Nossa Senhora. O fato, porém, permanece até hoje obscuro e constituí obstáculo para se reconhecer prontamente a mensa gem de Medjugorje.

Alegam também que, logo no inicio da historia das apartcóes, ou seja, em agosto de 1981, o mesmo Sr. Bispo D. Zanic tomou a defesa dos videntes contra as acusacóes do Governo: 218

MEDJUGORJE

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"1. O público espera que digamos algo sobre os acontecimentos de Medjugorje, onde os jovens afírmam que a SS. Virgem Ihes apareceu e conti nua a aparecer. Quando estes tatos sao comentados por jomalistas ateus, que nao créem em Deus nem na Virgem, é normal que neguem toda veracidade aos dizeres dos jovens. Para nos, fiéis, este modo de encararos aconte cimentos é ofensivo e inaceitável. Sem provas acusam os jovens de ser ma nipulados.

2. Os artigos escritos na imprensa por pessoas que, partindo de pre-

conceitos, abordam afee a religiSo com ironía e desprezo, formulara acusa res gratuitas. Entre as muitas insinuacóes, acusam os sacerdotes de reunir menores e induzi-bs, sem o conhecimento de seus pais, a crerque a Virgem Ihes aparece sob forma humana.

3. Também é falso dizerque as autoridades eclesiásticas tomaram posigSo contraria aos acontecimentos de Bijakovici, declarándo-os supersticio sos. Lamentamos também que a Igreja na Herzegovina seja injustamente acusada de se imiscuir na política e de querer engañar o público. 4. A respeito das aparicóes e dos milagres em geral, devemos dizer que, para nos, crentes, sao possfveis, pois nao podemos renegar nem Jesús Cristo nem a historia dos Santos. Mas, por outro lado, é notorio que a Igreja sempre toi muito prudente antes de proferir umjufzo positivo sobre as apari cóes e os milagres de Lourdes, de Fátima e outros.

5. É verdade que certas almas piadosas freqüentemente afírmaram ter

tido aparigóes que na verdade nao eram senSo alucinagóes ou urna experien cia psicológica muito pessoal ou pura imaginacáo.

6. Que podemos dizer a respeito do que ocorre em Bijakovici? Um feto é certa: os jovens nao sSo impelidos por quem quer que seja, menos aínda

pela Igreja, a fazer declaracóes mentirosas. No momento, tudo nos leva á conviccSo de que os jovens nao estSo mentindo. Fica a questSo mais difícil:

tratase de impressáo subjetiva dos jovens ou de acontecimentos sobrenatu-

rais?

7. temos nos Atos dos Apóstalos que, quando osjudeus tentaram reduzir os Apóstalos ao silencio, um doutar da Lei, muito apreciado por todo o pavo, Gamattel, declarou a toda a assembléia: 'Se essa obra é dos homens, eta se destruirá por si mesma, mas, se ela vem de Deus, nao conseguiréis aniquilá-la'(At 5,38s).

É esta a posicáo que nos tomamos no momento. Pavao Zanic, Bispo de Mostar". 219

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

Observemos que tal pronunciamento implica apenas na defesa dos. videntes e dos fiéis, sem ser urna afirmado da autenticidade dos fenó menos.

Passemos agora a urna questáo mais ampia: como há de se com portar a Igreja oficial diante de Medjugorje?

4. A Igreja e as revelacóes particulares 1. A Revelacáo divina e pública termina com Jesús Cristo ea gera-

cao apostólica. É o que lembra o Concilio do Vaticano II na Constituicáo

Dei Verbum n5 4. - A Igreja admite que, após Jesús Cristo, Deus se ma nifesté aos homens; tais manifestares, porém, nada acrescentam ao de pósito já revelado nem se impóem á fé dos católicos; ver Constituicáo Lumen Gentium n? 25.

Para se pronunciar sobre revelacóes particulares, a Igreja examina cuidadosamente cada caso, ciente de que numerosas ilusóes podem existir nesse setor. Principalmente em nossos dias, a psicología e a pa rapsicología mostram que nosso inconsciente e nossas faculdades parapsicológicas sao capazes de nos fazer viver ou experimentar situares meramente subjetivas com tanto realismo que elas nos parecem absolu

tamente objetivas; daf a especial cautela da igreja. O laudo resultante dos

exames canónicos pode ser: 1) nada de transcendental se encontrou nos fatos estudados ou 2) há indicios de ¡ntervencSo auténticamente divina nos mesmos. Neste último caso, a Igreja permite, sem impor nem con denar, que se dé crédito humano (fé humana) a tais revelacóes. Notemos um exemplo tfpico: em 1877 o Bispo de Port-Louis (linas Mauricio) perguntou á Santa Sé se aprovava as revelacóes da Medalha Milagrosa (1830), de La Salette (1851) e de Lourdes (1858); ao que a S. Congregacáo para os Ritos respondeu: "Essas aparicóes ou revelacóes nao sio nem aprovadas nem condenadas pela Santa Sé; apenas é permitido que se Ihes dé crédito piedoso e humano, de acordó com a tradigáo sobre a qual se apoiam e que dizem ser confirmada por testemunhos e documentos

fidedignos" (Decreta authentica S. Congregationis Rituurri, t. III, n?3149, p.79).

Esta resposta bem mostra que a Igreja nao quer e nSo pode colocar

no mesmo plano a Revelacüo pública e oficial que se encerra com o Senhor Jesús, e as revelacóes particulares (as quais, alias, nada acrescen tam de novo ¿ Revelacáo pública, mas geralmente acentuam a necessidade de oracáo e penitencia). Desde que nao haja objecao por parte da doutrina da fé, a Igreja deixa a criterio de cada fiel aceitar ou nao as re velacóes particulares, ponderando os testemunhos e documentos fide dignos que se apresentem. Está claro, porém, que os testemunhos em 220

MEDJUGORJE

29

favor da autenticidade de Lourdes, Fátima, La Salette e da Medatha Mila grosa sao muito significativos. Todavía quem nao ten ha a evidencia de que realmente María apareceu em Lourdes, Fátima... ou alhures, n§o tem

a obrigacáo de crer nessas revelacóes.

Quando, pois, a Igreja aprova o culto de Nossa Senhora de Lourdes ou Fátima, celebrando mesmo a respectiva festa no calendario litúrgico, ela tenciona estimular o culto á Virgem SS., mas nao define a autentici dade das aparicóes como se fosse urna proposicao de fé.

Quanto a Medjugorje, o que se espera da Igreja, é que ela declare se em tal caso há ou nao sinais que fundamentem a aceitacáo das apari cóes e da sua mensagem.

2. Abaixo a presentamos urna lista de propaladas aparicóes de Nos sa Senhora nos anos de 1931 a 1950, ou seja, num pertodo que cercou a segunda guerra mundial (1939-45). A Igreja estudou tais fenómenos com os seguintes resultados:

Casos rejeitados

1.1931, Ezquioga, Espanha (duae enancas e, depois, 150 videntes). 2. 1937, Voltago-Belluno, Italia (urna adolescente e algumas meni nas, diversas aparicóes). 3.1944, Bonato-Bergamo, Italia (urna menina de 7 anos, doze apa

ricóes).

4. 1947, Bouxiéres (M. et M.), Franca (um sacerdote e alguns adul tos). 5.1947, Espis, Fran<pa (um grupo de crianpas).

6.1947, Forstweiler, Alemanha (urna mulher, 8 aparicóes).

7.1948, Assis, Italia ("a Virgem que se move"). 8. 1948, Gimigliano-Ascoli Piceno, Italia (urna meninia de treze

anos).

9.1948, Lipa, Filipinas (urna postulante no convento, 19 anos). 10. 1948, Marta-Viterbo, Italia (um menino de dez anos, jovens e adultos, numerosas aparipóes). 11.1948, Cluj, Ruménia (a multidáo). 12.1949, Fehrbach, Alemanha (menina de doze anos).

13.1949, Lublin, Polonia (a multidáo, "a Virgem que chora"). 14.1949, Hasznos, Hungría (a multidáo). 221

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"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 300/198? 15. 1949, Heroldsbach, Alemanha (quatro meninas e outras pes

soas).

16. 1950, Acquaviva Platani-Caltanisetta, Italia (menina de doze anos, sete aparicées).

17.1950, Athis-Mons (S. e O.), Franca (varios adultos). 18.1950, Necedah, La Crosse, USA (um homem).

Casos defecados em suspenso 1.1937, Heete, Alemanha (quatro meninas de doze a quatorze anos, mais de cem aparic&es). 2. 1945, Codosera, Espanha (uma menina de dez anos e, depois, cem videntes). 3.1946, Pfaffenhofen, Alemanha (uma adolescente, tres aparicóes). 4.1947, Ile-Bouchard, Franga (algumas enancas). 5.1947, Tre-Fontana, Roma (um homem de 34 anos).

6.1947, Urucaina, Brasil (um sacerdote: Pe. Antonio Pinto).

7.1948, Aspang, Austria (um homem de 61 anos).

Casos reconheddos

1.1932, Beauraing, Bélgica (um menino, quatro meninas). Decíara-

cáo episcopal de autentiddade: 02/07/1949 (dezessete anos depois). 2. 1933, Banneux, Bélgica (uma menina de doze anos, oito apan cles). Declaracáo episcopal de autenticidade: 22/08/1949 {dezessete anos depois).

Vé-se que, de vinte e sete casos, quinze dizem respeito a meninos, meninas e enancas; dois, a sacerdotes; um, a uma postulante; sete, a adultos; cinco á multidSo ou a um grupo importante de videntes. - Nóte se outrossim que a grande maioria desses casos se sitúa durante a guerra ou no ¡mediato pos-guerra; pode-se dizer que naquela época de amargas tribuíales as pessoas procuravam uma luz para se orientar e nao raro ¡maginaram essa luz e sua mensagem, atribuindo-a a urna reveladlo de Nossa Senhora. De vinte e sete casos, dezoito foram rejeitados como es purios e sete nao apresentaram razóes convincentes; apenas dois (do pe riodo anterior á guerra de 1939-45) foram reconhecidos como auténticos (nao sujeitos a objecoes). 222

MEDJUGORJE

31

Após 1950, observem-se os seguintes dados:

Em Garabandal, Espanha, houve "aparicóes" de Nossa Senhora, que o episcopado recusou por causa de sinais de histeria. Em 1968, as aparicóes de El Palmar de Troya (Espanha) degeneraram em cisma, que tem suas ramificacóes no Brasil. Cf. PR 208/1977, pp. 153-163.

Em 1945-59 as aparicóes de Nossa Senhora de Todos os Povos em Amsterdam (Holanda) propóem mensagens estranhas e fantasiosas do ponto de vista teológico, o que é significativo indicio de nao autenticidade.

Algo de semelhante se diga das "aparicdes" de Natividade (RJ).

Esta e outras varias na Europa e na África tendem a cair no esquecimento por si mesmas, sem que a autoridade da Igreja se manifesté, pois sao in consistentes.

Ao contrario, a Igreja reconhece sinais de transcendencia ñas apari cóes de Nossa Senhora em Guadalupe, México (1531), de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa em París (1830), de Nossa Senhora da Sálete, Franca (1851), de Nossa Senhora de Lourdes (1858), de Nossa Senhora de Fátirna (1917). Ñas mensagens decorrentes dessas aparicóes a Virgem

SS. pede sempre oracóes e conversáo dos coracóes. Alias, a finalidade das "visitas" de Maria SS. é sacudir os homens em éf. ocas de crise, a fim de que reconhecam de novo os valores transcender)tais. Já se disse que a Virgem Maria sempre foi um baluarte contra todas as heresias (cunetas

haeresessola interemisti ¡n universa mundo); é a Mié do Verbo que o Pai

nos aprésenla como slntese de toda a mensagem da fé. 5. Conclusáo

Perguntamo-nos agora: como hao de proceder os fiéis católicos

diante dos fatos de Medjugorje? Devem acreditar ou levantar dúvidas? Em resposta, observamos:

Os católicos para os quais é evidente ou provável a aparicáo da Vir gem em Medjugorje, acreditem ñas visóes e déem gracas a Oeus por Ihes oferecer este sinal e apelo. Mas n3o se antecipem ao jufzo oficial da Igre

ja, dando por lúcido o caso de Medjugorje; urna das características da auténtica piedade éa fidelidade á Igreja.- Quanto aqueles que julgam ter

motivos serios para duvidar, podem em consciéncia nao crer ñas "apari

cóes", mas nSo as desprezem nem combatam, porque há af muitos va223

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

lores respeitáveis (frutos espirituais). Na verdade, Medjugorje nada acrescenta ao Credo ou á revelacáo trazida por Nosso Senhor JesúsCristo; implica, antes, um afervoramento que pode ser sadio a quem se deixe interpelar por ele.

Os beneficios corporais e espirituais que tém decorrido de Medju gorje, sao motivo de profunda alegría para todo cristáo. Principalmente o reavivamento da oracáo, do espirito de sacrificio e penitencia é o grande fruto de Medjugorje, do qual a humanidade contemporánea precisa em> alta escala. - Sem a oracáo e urna auténtica conversao, o mundo irá de mal a pior, vltima do egoísmo crescente. Os fiéis aguardam com pacien cia e humildade o desenrolar dos acontecimentos e o futuro pronunciamentó da Igreja. Este, alias, nada significará de novo para o programa de vida do bom cristáo; já hoje ele tem todos os elementos necessários para se santificar; nada Ihe falta. O Senhor Jesús, na parábola do ricago e de Lázaro (Le 16,19-31), chama a atencáo para o caráter relativamente se cundario dos fendmenos extraordinarios; sim, o ricago pede a Abraáo que Lázaro ressuscite para alertar os ¡rmáos do reprobo que na térra le va m vida fútil; o Pai Abraáo Ihe responde que eles nao precisam de milagre para se converter; já tém diariamente a Palavra de Deus que ressoa através de Moisés e dos Profetas; se nao dáo fé a esses sinais cotidianos de Deus, nao compreenderáo nem aceitaráo a própria ressurreicáo de um morto, isto é, contornaráo e desvirtuaráo até os milagros de Deus. - Isto vale para todos os fiéis católicos frente aos fenómenos maravühosos de Medjugorje; déem atencáo, antes do mais, aos sinais cotidianos do Se nhor, que chama a urna conversao sempre mais radical, e deixem a Divi na Providencia dispensar, como queira, os seus sinais extraordinarios, sem que dependam deles para se santificar. Bibliografía:

ALBERTON, VALERIO, A Virgem Mana ñas aparicoes de Medju

gorje. Ed. Loyola, SSo Paulo 1986.

KRAUEVIC SVETOZAR, Les Apparitions de

Medjugorje. París

1984.

LAURENTIN, RENE e RUPICIC LOUIS, La Vierge apparaft-elle á

Medjugorie? Paris 1984.

SCHNEIDER, ROQUE, Nossa. Senhora em Medjugorje. Ed. Loyola. Sao Paulo 1986.

224

Lourdes, Fátima e

Debate sobre

"Inquisicáo e Cristaos-novos" por Antonio José Saraiva

Em símese: O livro de Antonio José Saraiva lenta interpretar a historia dos CristSos-Novos (judeus recém convertidos ao Cristianismo nos sáculos XV/XVII) a partir de premissas sócio-económicas; sob este aspecto, édiscutível, como se depreende, asas, do documentaría publicado peto próprio autor

és pp. 213-291. - É valioso, porém, por apresentar aspectos menos conheci-

dos da InquisicSo portuguesa: esta foi, desde as suas origens, instrumento da política dos reis de Portugal, desejosos de eliminar o judaismo e seus resqui cios no reino. Já a origem da Inquisicio em Portugal no secuto XVI deu ocasiSo a serias divergencias entre a Santa Séeo monarca por causa das exi gencias absolutistas deste. Urna vez estabetecido o Santo Oficio naquele país

em 1536, foi-se tomando mais e mais independente nao só de Roma, mas também da Coma portuguesa; era urna super-poténcia dentro da nacáo, que suscitou contritos com a autoridade pontificia e granjeou para si a antipatía de membros do clero, de pensadores e letrados. O Marqués de Pombalem 1769 resolveu fazer simplesmente da Inquisicáo um órgáo policial do Estado Portu gués, destinado a combater "delitos de opiniSo", ou seja, os elementos do

CatoSdsmo que resistissem ás idéias iluministas ou racionalistas do secuto

XVIII.

Antonio José Saraiva é historiador portugués que se tem dedicado ao tema "InquisicSo em Portugal". No livro "InquisicSo e Cristaos-No-

vos",1 muito divulgado, considera os procedimentos da Inquisicáo frente aos judeus recém-convertidos ao Cristianismo (= cristaos-novos). 0 au tor parte do principio de que a historia é movida pela luta de classes ins pirada pela apropriacáo dos bens produtivos. Em conseqüéncia, identifica

os cristSos-novos ou os judeus convertidos a Cristo nos séculos XV-XVIII com a classe mercantil, dada ¿ industria e ao comercio. Tal classe terá si

do sufocada pela nobreza tradicional ligada aos "mitos" religiosos; a In-

quisicao haverá servido aos ¡nteresses dessa sociedade tradicional, difi-

1Antonio José Saraiva, Inquisicáo e CristSos-novos. Imprensa Universita

ria n* 42. Lisboa, Editorial Estampa 1985 (5* edigáo), 144x210mm, 308 pp. 225

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

cuitando aos judeus a sua expansao comercial, base da prosperidade de Portugal. Somente o Marqués de Pombal, dando novo regimentó á Inquisicáo na segunda metade do século XVIII, terá feito desta um órgao

do Estado novo e liberal, que desprezou a distincáo entre Cristaos-velhos e CristSos-novos e propiciou a expansio comercial de Portugal. A tese de A.J. Saraiva é provocadora, como ele mesmo reconhece as pp. 17s. - Na verdade, suscitou ardente polémica com o Prof. I. S. Ré-

van, que argüiu Saraiva de haver escrito sobre a historia sem consultar os respectivos arquivos; existe, sim, na Torre do Tombo em Lisboa um acervo de cerca de 30.000 processos da Inquisicáo Portuguesa arquiva dos, que A.J. Saraiva conscientemente deixou de lado, alegando mesmo que nao merecem a confianca do historiador ou que nao sao fidedignos: "O meu criterio é outro. Nao faco ¡nvestigacáo arquivfstica porque n§0 é esta a minha especialidade. Só conheco os processos publicados, mas

nem por isto desisto de tentar compreender o que se passou. Relacio nando os processos conhecidos ... com outros documentos e com ele mentos do conjunto cultural, político, social e económico a que pertence a InquisicSo, procuro uma hipótese em que eles caibam e se expliquem mutuamente" (p. 234). Ora esta metodologia de trabalho, vulnerável co mo é, deu origem a disputa cujos debates (argumentos, contra-argu mentos) se encontram ás pp. 213-291 do llvro em foco. Embora a obra de A.J. Saraiva seja discutlvel, encerra páginas ¡nteressantes sobre a origem da Inquisjcao e as relacóes desta tanto com o

poder regio quanto com a Santa Sé. E para estes trechos que voltaremos nossa atencáo ñas páginas subseqüentes.

1. Origem da Inquisicáo Medieval A InquisicSo nao é uma ¡nstituicao totalmente homogénea. Ela comporta tres modalidades: 1) a Medieval (séculos XI-XV); 2) a Romana (século XVI); 3) a Ibérica (séculos XV-XIX). NSo poderlamos abordar a,Inquisicáo Portuguesa, da qual trata A.J. Saraiva, sem antes nos referir a Inquisicáo Medieval.

Esta teve origem no século XII, quando a heresia dos cataros (= puros) ou albigenses (da cidade de Albi, Franca) percorria-as regióes do Sul da Franca e do Norte fia Italia, saqueando lavouras e gado. Os cataros eram dualistas, isto é, consideravam a materia má como tal, de modo que repudiavam certas ¡nstituicóes básicas da vida civil, entre as quais o matrimonio, o juramento, o servico militar... Assim constituiam uma ameaca nao só para a reta fé, mas também para a sociedade civil; os 226

"INOUISICÁO E CRISTÁOS-NOVOS"

35

próprios camponeses e os nobres os repeiiam em seus incursos, ao passo

que as autoridades eclesiásticas tentavam dissuadi-los mediante a pregacao do Evangelho; a Igreja evitava combater a violencia com a violencia.

A atitude pacifica dos Bispos irritou os nobres e os fiéis leigos, pois pare cía ineficiente para combater a onda do catarismo. Em conseqüencía, atendendo á pressáo dos governantes civis, a Igreja houve por bem ins tituir um tribunal misto, do qual participariam delegados do Bispo dioce sano e representantes da autoridade civil, com a incumbencia de inquirir

(= procurar)1 os hereges, julgá-los e, se conveniente, puni-tos. Desta

maneira teve origem no século XII a Inquisicáo Episcopal (já entao órgáo

de acáo nao só da hierarquia eclesiástica, mas também do poder civil). A Inquisicáo Episcopal revelou-se insuficiente para atingir os obje tivos, pois os hereges, ao passar de urna diocese para outra, se viam isentos da perquisigáo da diocese de origem ou mesmo... de qualquer perquisicáo. Por isto no século XIII foi instituida a Inquisicáo papal: cada

tribunal era confiado a um delegado do Papa, que tinha jurisdicáo sobre todo o territorio de urna nacáo; principalmente os dominicanos (frades de S. Domingos, t1221) e os premonstratenses (cónegos regulares funda

dos por S. Norberto, 11134) foram encarregados da funcso de Inquisidor (este, porém, sempre acompanhado por representantes do poder civil). A intencáo dos Pontífices medievais que favoreceram a Inquisicáo, assim

como a dos oficiáis que a esta serviram, era, dentro dos parámetros da época, a melhor possfvel; jutgavam ser um dever de consciéncia dissipar os erros na fé e as práticas abusivas dos cristáos; nao proceder assim tor-

nar-se-ia problema de consciéncia para tais pessoas. A fim de entender o fato "Inquisicáo", o historiador contemporáneo deve despojar-se das categorías de pensamento do século XX, e transferir-se para dentro dos quadros da cultura medieval, a fim de procurar entender a Inquisicáo

como os medievais a entendiam. Ora o retrocesso aos parámetros da Idade Media aponta tres fatores que explicam a Inquisicáo como tal: 1) Para os medievais, os valores espirituais tinham primazia abso luta sobre os materiais; por conseguinte, o patrimonio da fé era, de to dos, o mais importante, e qualquer agressáo a este nSo podía deixar de provocar a réplica correspondente. Os medievais justificavam até mesmo

a pena de morte a ser infligida aos hereges mediante o seguinte racioci nio: se aqueles que falsificam a moeda, esteio da vida do corpo, sao réus de morte, quanto mais nao o devem ser aqueles que falsificam a fé, sus tentáculo da vida da alma?! - Compartilhando esta mentalldade, os San tos medievais (S. Tomás de Aquino, S. Francisco de Assis, S. Boaventura, S. Alberto Magno...) nunca lancaram um protesto contra a Inquisicáo; ao

1Segundo o Dimito Romano antígo, a Igreja nSo inquina (nao procuiava) os

hereges, mas esperava que fossem apresentados é autoridade eclesiástica. 227

36

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

contrario, esta Ihes parecía milito coerente e necessária. Em nossos dias,

os fiéis católicos continuam a afirmar o primado absoluto dos valores espirituais sobre os materiais; sabem, porém, que nao é oportuno (nem possível) defender aqueles mediante um aparato semelhante ao da Inqui sicáo. Esta já nSo encontraría o ambiente de Cristandade de outrora. Conseqüentemente, os principios da fé ficam sendo os mesmos, mas as expressdes apologéticas háo de ser outras. 2) Os medievais eram mais dados á metafísica do que á psicología, á diferenca do homem moderno, muito mais interessado pela psicología do que pela metafísica. Isto quer dizer que os medievais procuravam se

guir urna escala de valores objetiva e lógica, nao se importando muito com as repercussóes subjetivas e afetivas ou emocionáis das suas posicóes metafísicas; assim a salvacáo eterna era apregoada com os recursos da época, sem que alguém a ousasse sacrificar a normas dos sentimientos ou do coráceo (desde que estas conflituassem com as da razáo). Ao con

trario, em nossos tempos os sentimentos pessoais levam nao raro a pro curar conciliar proposicóes contraditórias, induzindo os homens a comportamentos incoerentes ou ilógicos, sem que isto cause especie ou perplexidade.

3) A Inquisicao nunca foi urna instituicao meramente eclesiástica, mas sempre foi orientada também pelo poder civil, com seus interesses políticos. A partir do sáculo XIV ou de Filipe IV o Belo da Franca (1285-1314), a Inquisicáo foi sendo mais e mais pressionada pelos Governos civis, que cada vez menos toleravam urna instancia jurídica da Igreja ao lado da instancia jurídica regia; a tendencia dos monarcas foi sendo, cada vez mais, a de servir-se da Inquisicáo e dos motivos religio sos para atingir fins políticos; dois exemplos típicos desta tendencia sao o processo e a extincáo da Ordem dos Templarios em 1312 por pressáo de Filipe IV o Belo e a condenacao de Joana d'Arc, que incomodava os in gleses invasores da Franca em 1431. A prepotencia dos interesses regios foi mais forte ainda na Península Ibérica, onde os monarcas se valeram da Inquisicáo para eliminar as populares judias e árabes que Ihes eram indesejáveis. Tendo recordado estes elementos típicos, que ajudam a compre-

ender a Inquisicáo e os seus procedimentos, nao podemos deixar de reconhecer a fraqueza humana de muitos agentes da mesma; extrapolaram

das suas funcóes ou das ordens recebidas, cedendo a interesses pessoais

ou a concepcóes menos cristas. É de se notar, porém, que nao raro os historiadores exageram ao descrever erros ou abusos dos Inquisidores -

o que contribuí para denegrir indevidamente a instituicao. A verdade há de ser dita como tal, sem tendencias para desfigurá-la, seja mediante omissóes seja mediante acréscimos. 228

"INQUISICÁOECRISTÁOS-NOVOS"

37

Passemos agora a analisar trechos do livro de A.J. Saraiva.

2. O Papa e o Reí diante da Inquisicáo 2.1. Origens da Inqursicáo Portuguesa: percalcos (pp. 39-55) O rei O. Joáo III de Portugal (1521-57) desejava que o Papa estabelecesse a Inquisicáo em seu reino, tendo em vista especialmente a eliminafáo dos judeus nao plenamente convertidos ao Cristianismo. - Du rante 27 anos, S. Majestade e a Santa Sé se defrontaram, visto que o rei pedia poderes, em materia religiosa, que o Papa nao Ihe quería conceder: assim, conforme o monarca, o Inquisidor-mor seria escolhido pelo rei, assim como os outros inquisidores (subordinados), podendo estes últi mos ser nao apenas clérigos, mas também juristas leigos, que passariam a ter a mesma jurisdicáo que os eclesiásticos. Mais: conforme o desejo do rei, os inquisidores estariam ácima dos Bispos e dos Superiores das Ordens Religiosas, de modo que poderiam processar e condenar eclesiásti cos sem consultar os respectivos prelados; os Bispos ficariam impedidos de intervir em qualquer causa que os inquisidores chamassem a si. Aín da: os inquisidores poderiam impor excomunhóes reservadas á Santa Sé e levantar as que eram impostas pelos Bispos. Como se vé, o rei quería desta maneira obter o controle total sobre os Bispos e a Igreja em Portu gal.

Finalmente aos 17/12/1531 o Papa Clemente Vil concedeu a Inquisigáo em Portugal, mas em termos que contrariavam ás solicita?óes de D. Joáo III: em vez de outorgar ao rei poderes para nomear os inquisidores, o Papa nomeou diretamente um Comissário da Sé Apostólica e Inquisi dor no reino de Portugal e nos seus dominios. Esse Comissário poderia nomear outros inquisidores, mas a sua autoridade nao estava ácima da dos Bispos, que poderiam também, por seu lado, investigar as heresias. Os termos desta Bula ou concessáo nunca foram aplicados em Portugal. O Inquisidor nomeado, Frei Diogo da Silva, era o confessor do rei; nao aceitou o cargo, talvez por pressáo do monarca. Apesar disto, em meio a grande agita?éo popular, comegaram a funcionar tribunais inquisitoriais em algumas dioceses anárquicamente. Em conseqüSncia, o Papa suspendeu a Inquisigáo e, alegando que o rei o engañara (escondendoIhe a conversao toreada de judeus no reinado de D. Manoel, 1495-1521), ordenou a anistia aos judeus e a restituicáo dos bens confiscados (Bula de 07/04/1535). As razóes sobre as quais se baseavam tais decisóes de Clemente Vil, sao assaz significativas: a conversao dos judeus infléis deve ser pro

piciada mediante a persuasao e a docura, das quais Cristo deu o exemplo, 229

38

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"300/1987

respailando sempre o livre arbitrio humano; a conversáo violenta ou extorquida dos judeus sob o reinado de D. Manoel era tida como facanha que nao se deveria reproduzir; os neo -convertidos deveriam ser ampara dos e instruidos caridosamente. A Santa Sé assim procurava defender e proteger os crista1 os-novos, vítimas do poder regio.

O Papa Clemente Vil. que resistirá a D. Jcio

tendo por sucessor Paulo III. O rei voltou a insistir *££££?£ conseguir o tipo de tribunal de Inquisicao que «"^"^.'STaíto Coroa. Nao o obteve propriamente. mas por Bula de f™"™ Paulo restabeleceu a Inquisicao em Portugal, "orneando

autorizando o rei a nomear outro; além disto.«/" durante tres anos, os nomes das testemunhas de

Bula, de examinar os processos quando bem o entendesse e de em última instancia.

É a partir desta Bula (23/05/1536) que se pode considerar estabelecida a Inquisicáo em Portugal.

O rei que nao se dava por satisfeito com as disposicóes da Santa

Sé. cometa burlá-.as. Quistantes do -aissupUa.r^nqtns^oé vi gilancia do Pontífice e, para tanto, suscitou

de obrigar a partir o Nuncio Capodiferro, que tinha p

der o tribunal, caso n8o fossem respeitadas as cláusulas de

cristáos-novos. Além disto, nomeou Inquisidor «• WjnJ£

seu irmáo, entSo arcebispo de Braga, que, com seus 27 anos, nao tmna a idade .egal para exercer tais funcóes. Enfim aprovejava ou provocava

ocasifies ou pretextos para fazer que o publ.co cresse na ma ie aos ju deus un cajz i"»• PJJJ deus convertidos convertidos (cristaos-novos): (cristaosnovos) assim apareceu p

da catedral e de outras igrejas Lisboa, •"«"* ^H2¿(2E ijd de dStúbal Lib »Presentou-se "*"* a^H2¿ lfit ao publico como do Messias...; um alfaiate de Setúbal apresentou-se

Messias - o que nao foi levado a serio pela POP?'*5*'...™

que os agentes do rei fizessem grandes represalias e tentassem cer Roma dos perigos do judaismo em Portugal.

Apesar da má vontade do rei, o Papa fazia questáo de manter sob

seu controle o Santo Oficio em Portugal. Reforeando normas anteriores,

o Pontífice emitiu nova Bula em 12/10/1539, que proibia aduzir testemu-

nhas secretas e concedía outras garantías aos acusados, entre as quais o

direito de apelacáo para o Papa; determinava outrossim que os emolu

mentos dos Inquisidores nio fossem pagos mediante os bens dos prisioneiros. 230

"INQUISICÁO E CRISTÁOS-NOVOS"

39

Também esta Bula nao foi observada em Portugal. O Papa entáo resolveu suspender a Inquisicáo pelo Breve de 22/09/1544; tomou a pre-

caucáo de fazer publicar de surpresa em Lisboa esse documento, levado secretamente para lá por um novo Nuncio. O rei, profundamente golpea do, jogou a sua última cariada: requereu ao Papa que revogasse a suspensáo e restaurasse a Inquisifáo sem qualquer limita?áo, e acrescentava a ameaca:

"Se Vossa Santidade nSo prover nisso, como 6 obrigado e dele se es pera, nao poderei deixar de remediá-lo confiando em que nSo somente do que suceder Vossa Santidade me haverá por sem culpa, mas também os prínci pes e os fiéis cristSos que o souberem, conheceráo que disso neo sou causa nem ocasiáo".

Tais palavras continham a ameaca de desobediencia formal ao Pa pa e de cisáo na Igreja. D. JoSo III seguía o conselho que Ihe fora dado

pelos seus dois enviados á Santa Séem 1535: negasse obediencia ao Pa pa, imitando o exemplo do rei Henrique VIII da Inglaterra. Entre a obe diencia ao Papa, como fiel católico, e a rebeldía declarada que Ihe permitisse instituir um tribunal, que era no fundo um instrumento da política regia, o rei de Portugal estava disposto a seguir a segunda via. O Pontífice via-se naquele momento (1544/45) premido por outras graves preocupacóes, como a convocacao e a preparado do Concilio de Trento, sobre o qual o Imperador Carlos V e outros monarcas tinham seus interesses. Em conseqüéncia, acabou por aceitar os pontos princi páis da solicitacáo de D. Joao III: por Bula de 16/07/1547, nomeou Inquisidor-Geral o Cardeal Infante D. Henrique e retirou aos Nuncios em Lis boa a autoridade para ¡ntervirem nos assuntos de aleada da Inquisicáo; esta seguiria seus trámites próprios, diversos dos habituáis nos processos comuns. Ao mesmo tempo, porém, o Papa mitigava suas disposicóes:

promulgou um Breve que suspendía o confisco de bens por dez anos; outro Breve suspendía por um ano a entrega de condenados ao braco se

cular (ou a aplicacáo da pena de morte). Em outro Breve ainda o Papa fa-

zia recomendares tendentes a moderar os previsíveis excessos da Inqui sicáo e a permitir a partida dos cristáos-novos para o estrangeiro. Pouco antes de morrer ou aos 08/01/1549, Paulo III editou novo Breve, que abolia o segredo das testemunhas - Breve este que provavelmente nunca foi aplicado em Portugal. Vejamos agora um episodio significativo dos procedimentos da In quisicáo Portuguesa.

2.2. Um grave incidente (pp. 77-84) As noticias de abusos da Inquisicáo levadas a Roma ¡nduziram o

Papa Clemente X a suspender tal ¡nstituicáo por Breve de 03/10/1674. O 231

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

seu sucessor, Inocencio XI, quis entao averiguar exatamente os fatos e processos relacionados com a Inquisicao Portuguesa. Em 1676 pediu, por

intermedio do embaixador de Portugal, que Ihe fossem enviados quatro ou cinco processos de "relaxados" (condenados á morte), a fim de ter urna amostragem das ocorréncias. Os Inquisidores resistiram ássolicitacces papáis, alegando todos os pretextos possiveis. Vista a insistencia do

Papa, propuseram enviar, em vez dos processos, "certidóes", ou seja, copias "auténticas" dos mesmos. Todavia Inocencio XI recusou a pro posta, pois nSo Ihe mereciam crédito tais "certiddes"... Tinha suas razóes para ¡sso; com efeito, em 1549 os notarios da Inquisicao haviam sido ex-

comungados pelo Nuncio de Lisboa, por Ihe terem apresentado proces sos falsificados, provavelmente sob a forma de "certidóes". Em conseqüéncia, Inocencio XI intimou novamente os Inquisidores a Ihe enviar os processos pedidos, sob pena de serem suspensos. Apoiando-se no rei, os oficiáis recusaram-se a obedecer; pelo que o Papa os suspendeu aos 24/12/1678. As negociacóes prosseguiram aínda durante tres anos até que houve acordó: os Inquisidores fizeram chegar ao Papa dois proces sos já muito antigos, um com mais de cinqüenta anos, outro com cerca de setenta. A quanto parece, entre os milhares de processos existentes nos arquivos, os Inquisidores tinham dificuldade em encontrar dois que pudessem ser examinados por estranhos ou por autoridade superior; os demais podiam carecer da objetividade e da imparcialidade que seriam de esperar.

Acrescentemos aos anteriores ainda outro tópico muito expressivo. 2.3. A InqufcñcSo e Pombal (pp. 197-210)

A Inquisicao, poderosa como era e desviada das suas finalidades de servir á fé e ao Reino de Cristo, tornava-se cada vez mais antipatizada por quem sobre ela refletisse. A propósito da mesma dizia o Pe. Antonio Vieira S.J. que Portugal estava mais atrasado que os indios selvagens do Brasil. Alias, na Biblioteca Real existiam copias dos escritos anti-inquisitoriais do Pe. Antonio Vieira, que os bibliotecarios reais guardavam ciósámente. Em torno do Pe. Vieira havia homens ilustres (diplomatas, cul tores das letras e das artes, sacerdotes...) que compartilhavam as idéias do jesuíta. Na verdade, esta aversao a InquisicSo se explica pelo fato de que se emancipara nao só da vigilancia das autoridades eclesiásticas, mas também do controle da parte do rei; vinha a ser urna especie de superpoténcia dentro do país, que nao obedecía nem á Igreja nem ao Estado. Sobre este paño de fundo tornou-se Primeiro-ministro de Portugal o Marqués de Pombal, disposto a por termo é situacao existente. Reformou a legislacáo do Santo Oficio, declarando que este Tribunal dependía do Rei, e nao do Papa; tal principio estava em consonancia com a doutri232

"INQUISICÁO E CRiSTÁOS-NOVOS" na do absolutismo regio de que Pombal foi um dos arautosT O Marqués nomeou Inquisidor-Geral seu próprio irmáo, Paulo de Carvalho, e, por

alvará de 30/05/1769, proclamou a Inquisicáo "Tribunal Regio"; pelo alvará de 20/06/1769, transferiu esse Tribunal da protecáo pontificia para a protecáo regia, atribuindo-lhe o título de "Majestade", próprio dos Conselhos do Reí. Assim Pombal quería fazer da Inquisicáo urna especie de Polftia do Estado contra os chamados "delitos de opiniáo", especial mente contra os jesuítas; continuarla a "defender a religiáo católica", concebida, porém, como um culto público expurgado de toda "inspiracáo mística" e compatlvel com o racionalismo do século XVIII; tal instituicáo seria útil para consolidar a unidade dos súditos portugueses sob o regime do poder regio absoluto. - No tocante aos cristáos-novos, Pombal mandou cancelar tal designado, que dera tanta margem aos procedimentos

da Inquisicáo de outrora. - E de notar ainda que essa "nova Inquisicáo", transformada em Policía do Estado, recebeu posteriormente denuncias contra o próprio Marqués de Pombal, a presentado aos jutzes como franco-macom!

3.. Conclusáo Extralmos alguns traeos do livro de Antonio José Saraiva que exprimem aspectos da Inquisicáo, de importancia capital, mas geralmente ignorados ou esquecidos: a Inquisicáo dos séculos XVI e seguintes em Portugal (como também na Espanha) foi suscitada pelos reís, que obtiveram concessóes dos Papas dotadas de aparéncia apostólica e missionária, mas transformadas em instrumentos da política dos monarcas. Com o tempo, a Inquisicáo foi-se emancipando nao só da Santa Sé, mas também do controle da realeza (que a principio ainda a vigiava) para tor-

nar-se um corpo plenipotenciario dentro do respectivo país, orientado por principios aparentemente religiosos, mas destituidos do genuino es pirito cristáo. Sabe-se que nao raro a Santa Sé e os Inquisidores estiveram em confuto, pois a autoridade da Igreja nao podia tolerar os abusos cometidos pela Inquisicáo; estes, porém, eram tutelados, entre outros fatores, pela distancia geográfica entre Portugal e Roma, distancia que

dificultava a obtencáo pronta de noticias fidedignas e a intervencáo do Papa nos momentos oportunos.

Vé-se, pois, que seria injusto atribuir á Igreja oficial os desmandos da Inquisicáo; os documentos eclesiásticos referentes a esta propugnam sempre a justica e o amor ao próximo dentro das categorías de pensamento da respectiva época - época de Cristandade, na qual difícilmente

se podia entender que algum cidadáo ou camponés nao fosse católico. Deve-se, por isto, lembrar que muitos dos atos que a um observador do século XX parecem despropositados, nao eram tidos como tais na res pectiva época; a populacáo simples em geral, como também os Santos 233

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

des teenpos passados, julgavam ser seu dever o combate ás heresias e aos desvios da fé de maneira pública e espetacular. Em relacáo aos judeus de modo particular, verifica-se que nao reinou apenas o anti-semitismo, mas houve também, especialmente da parte dos Papas, atitudes de defesa dos israelitas. O livro de Antonio Jo sé Saraiva, se nao pode ser tido como fiel intérprete dos fatos históricos, fornece aos menos noticias e documentos importantes, que dáo a ver como a Igreja oficial soube manter reservas diante das paixóes da política dos reis e dos nobres da Península Ibérica. Na historia da Inquisicáo, co mo em outras paralelas, a Igreja foi vftima da indevida ingerencia do Es tado.

A Fé, Luz da Vida. Harmonía entre Fé e Inteligencia, por Luiz V. Bender SJ. - Editora FEPLAM, Av. Cavalhada 6735, 91700 - Porto Alegre (RS), 1986, 155x220mm,210pp. Durante anos, o autor preparou esta obra, cujas provas ele aínda corrígiu, mas neo pode ver definitivamente impressa, pois o Senhor o chamou an

tes a Si. Tratase de valioso compendio introdutórío á Fé. Na sua primeira Parte, examina a credibiSdade dos Evangelhos e dos milagros de Jesús; a se guir, detém-se sobre a Fé e sua índole própria. Na segunda Parte do Svro, o autor aprésenla testemunhos antigos e contemporáneos de pessoas que viveram coerentemente afee neta encontraran! a sua plena resposta; a vivencia

tala alto, ao lado dos argumentos teóricos, emproldo Cristianismo. Em Apén dice, o Pe. Bender estuda o Santo Sudario de Turim, que nao é documento oficial da fé católica, mas cortamente contribuí para ilustrar significativamente

o conteúdo da mesma. O livro, mesmo em sua primeira Parte, consta, em grande proporc&o, de textos de teólogos famosos, que dissertam sobre a critica dos Evangelhos e

abalizadamente chegam a conclusóes favoráveis á autenticidade dos mesmos. -O conjuntoóobra preciosa, que fazia falta emnossa bibliografía teológica e servirá a militas pessoas hesitantes para que descubram o caminho da fé, como também será útil aos fiéis cristáos na proñssSo da veracidade do seu Credo. - Tenha o benemérito autor a recompensa de seu trabalho na visSo face-a-face de Deus, a que tanto aspirou, como se depreende dos seus es critos! E.B.

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Para crianzas e para assembJéias:

A confissáo sacramental Em úntese: A Congregado para os Sacramentos (Roma) publicou

urna Nota, tembrando: 1) a necessidade de se levarem as criangas é primeira

Confíssáo sacramental antes da primeira Comunháo Eucarística, pois esta prátíca, entre outras vantagens, tem valor pedagógico indispensável na formacáo do cristáo; este, desde cedo, deve estimar a entrega amorosa e con fiante de simesmo á misericordia do Senhor; 2) as condicóes estipuladas peto

Código de Direito Canónico para que se possa validamente ministrara absolvicáo colativa aos fiéis.

O sacramento da Confissáo ou da Reconciliacáo tem suscitado sucessivos pronunciamentos da Santa Sé, que deseja preservar a identidade deste dom do Senhor e favorecer« frutuosidade do mesmo. Por isto, aos 20/12/1986 a Congregado para os Sacramentos emitiu urna Nota que aborda mais urna vez o tema, juntamente com assuntos ligados aos

sacramentos da Ordem e do Matrimonio: recomenda que o sacramento

da Reconciliado seja ministrado ás enancas antes da primeira Comu nháo, como sempre se fez, e que a absolvicáo coletiva nao seja dada aos fiéis fora dos casos e das condicóes previstas pelo Código de Direito Ca nónico. Transcreveremos, a seguir, estas observacóes sobre a Penitencia sacramental, acrescentando-lhes breves comentarios.

1. A NOTA DA SANTA SÉ Roma, 20 de dezembro de 1986 CONGREGATIO PRO SACRAMENTOS Prot. N. 1400/86

Excelencia,! A Congregado para os Sacramentos realizou uma "Plenária" nos

1A ComunicagSo foi dirigida ao Bispo presidente de cada Conferencia Epis

copal para que a fízesse chegar a cada Bispo do respectivo territorio. 235

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

dias 15. 16 e 17 de abril do corrente ano, com a participado dos Em.mos Cerdeáis e Ex.mos Bispos que a compóem. Os temas tratados incidiram sobre os Sacramentos da Penitencia, da Ordem e do Matrimonio. Foram os seguintes os assuntos versados, com as formulacdes que se Ihes deram e as decisdes tomadas em relacio a cada um deles: i

I - Considerares pastorais acerca do tempo da primeira Confissáo Foi tida presente a atual disciplina eclesiástica quanto ao tempo da primeira Confissáo, confirmada pelo can. 914 C.D.C., o qual presera-

ve que as enancas, que já atingiram o uso de razio, devem ser prepara

das para recebar a primeira Comunhio, fazendo antes a Confissáo sa cramental. Fundamento de tal observancia, para as criancas, nao é tanto o estado de culpa em que elas possam encontrar-se quanto o objetivo formativo e pastoral; ou saja, o intuito de educá-las Já desde a mais tenra ¡dade. no espirito cristáo de penitencia, na gradual aquisicio do

conhecimento e do dominio de si, no exato sentido do pecado, mesmo do pecado venial, na necessidade de pedir perdió a Deus e, sobretudo, na entrega amorosa e confiante de si mesmo á misericordia do Senhor. Essa educacáo compete principalmente aos país, aos educadores e

aos sacerdotes: todos eles devem inculcar ñas criancas, mais do que o sentido de culpa, a alegría serena pelo encontró com o Pai que perdoa, o que se encontra bem expresso na forma da absolvicáo pronunciada pelo Sacerdote.

Os Padres da Plenária aproveitaram da ocasiáo deste tema para salientar quanto é necessário que se volte a descobrir o Sacramento da Penitencia a todos os nlveis: mentalidade dos fiéis a respeito do mes mo, condicóes do penitente, modo de agir do ministro e forma da celebracio.

O Santo Padre, no seu discurso de encerramento dirigido aos Membros da Plenária, deteve-se s,obretudo na Penitencia, tendo afir mado que a Igreja é «osa do Sacramento do perdió e tem ¡ntencio de

pennanecer fiel á vontade do Senhor. Recomendou um empenho catequético cada vez mais adequado e aprofundado, para levar os fiéis a apreciaren*, a aproximarem-se com freqOéncla e a receberem com fruto este Sacramento. 236

CONFISSÁO SACRAMENTAL

45

II - Absolvicao colativa sem previa confissio individual

Foram dadas normas explícitas a respeito disto pelo Código de Oireito Canónico (Cfin.s 961 e 962). pela ExortacSo Apostólica Reconcirialio et Paenitentia {A.A.S. 1985, vol. LXXII, pp. 185-275). Nao obstante

isso, verificam-se muitos abusos. É necessário, portante, como eviden-

ciaram os Padres da Plenáría, ter sempre presente o caráter excepcional de tal absolvicao, evitar nos fiéis a confusáo entre a absolvicao geral e a confissáo individual, explicar-lhes o motivo pelo qual subsiste o dever de se confessar individualmente depois da absolvicáo geral e chamar ines a atencáo para essa obrigacao.

O Santo Padre insistiu sobre este último ponto na citada alocucao e recordou que esta forma extraordinaria de perdió nao exime o fiel do encontró pessoal com o Senhor no Sacramento da Penitencia; a Igreja, de fato, tutela o direito de cada pessoa a esta subjetividade, que nao pode ficar dispersa no anonimato da massa. As Conferencias Episcopaís, portento, persistan) com firmeza na salvaguarda daquilo que respeita a absolvicao colativa, estabelecendo os casos de "grave necessidade" para se recorrer a esta forma de perdió, envidando esforcos para que seja ministrada urna catequese exata a tal propósito e insistindo para que se|a recordado aos fiéis que recebem a absolvicao geral, o compromtsso contraído de confessar-se individualmente, no tempo de-

vido, daqueles pecados graves que foram absolvldos de forma colativa (cf. cSn. 962 § 1).

Aproveito o ensejo para Ihe renovar a expressio de estima frater

na em Cristo Senhor.

De Vossa Excelencia Rev.ma

dev.mo

A. Card.Mayer Praef.

+ L. Kada Secretario

237

46

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

2. COMENTARIOS 2.1. Confies*» das crianzas

Nos últimos tempos as crianzas tém sido, por vezes, levadas á primeira Comunháo sem ConfissSo sacramental previa, sob a alegacáo de que n9o cometem pecado grave. Ora, como se compreende, tal prática acarreta problemas para esses cristáos, que mais difícilmente se ¡niciaráo no sacramento da Penitencia após tal omissáo. O texto da Congregacao para os Sacramentos expóe claramente as razóes em prol da clássica prática, pondo em relevo principalmente a necessidade de educar as enancas para "a entrega amorosa e confiante é misericordia do Senhor".

Alias, a Santa Sé já se pronunciou algumas vezes no sentido mesmo desta Nota, a saber: em 1971, 1973 e 1977. Ver PR 216/1977, pp. 530-536. 2.2. Absohricao colativa dos pecados sem confissao previa

Eis os cánones do Código de Direito Canónico referentes á celebra-

cao do sacramento da Penitencia:

Can. 960 - A confissSo individual e Integra e a absotvicSo constituem o único modo ordinario peto qual o Bel, consciente de pecado grave, se reconci lia com Deus e com a Igreja; somente a Impossibilidade «sica ou moral escusa de tal confissao; neste caso, pode haver a reconciliacSo também por outros modos. Can. 961 - § 1. Nao se pode dar a absolvigSo, ao mesmo tempo, a va rios penitentes sem previa confíssáo individual, a neo ser que: 1! haja ¡mínente perigo de morte e nao haja tempo para que o sacerdote ou sacerdotes oucam a confissSo de cada um dos penitentes; 2* haja grave necessidade, islo é, quando por causa do número de pe nitentes nao há número suficiente de confessores para ouvirem as conñssóes

de cada um, dentro de um espaco de tempo razoável, de tal modo que os pe nitentes, sem culpa própria, seriam toreados a fícar muito tempo sem a graca sacramental ou sem a Sagrada ComunhSo. Esta necessidade, porém, nao se considera suficiente, quando nao 6 possfvel ter os confessores necessários só peto falo de grande concurso de penitentes, como pode acontecernuma grande festívidade ou peregrinacSo.

§ 2. Julgar sobre a existencia das condicoes requeridas no § 1, n9 2, compete ao Bispo diocesano que, levando em conta os criterios concordados 238

CONFISSÁO SACRAMENTAL

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cam os outros membros da Conferencia dos Bispos, pode determinar os ca sos de tal necessidade. Can. 962 - § 1. Para que um fíelpossa receber validamente a absolvígao dada simultáneamente a muitos, requer-se nao só que estoja devidamente disposto, mas que, ao mesmo tempo, se proponha também a confessar indivi dualmente, no tempo devido, os pecados graves que no momento nao pode assim confessar.

§ 2. Os liéis, enquanto possfvel, também no momento de receber a absolvigSo geral, sejam instruidos sobre os requisitos do § 1; á absotvigáo geral, mesmo em caso de perigo de morte, se houver tempo, preceda urna exortagáo para que cada um cuide de fazero ato de contric&o.

Can. 963 - Salva a obrigagáo mencionada no can. 989,1 aquele a

quem sao perdoados pecados graves mediante absolvigéo geral, ao surgir oportunidade, procure, quanto antes, a confíssáo individual, antes de receber outra absoMgáo geral, a nSo ser que se interponha justa causa.

Á guisa de comentario: 1) O Código evitou propositalmente a expressáo "pecado mortal" para afastar a recente distincio entre pecado grave e pecado mortal. Pe cado mortal sería apenas aquele que mudasse a opcáo fundamental do

cristio ou a escolha de Oeus como Fim Supremo; por exemplo, se alguém assalta ou mata, mas n§o tem a ¡ntencáo de abandonar sua crenca

religiosa, nao estaria cometendo pecado mortal, mas táo somente pecado grave. Assim entendido, o pecado mortal seria muito raro, pois a maioria dos que pecam, nao tenciona explícitamente romper com Oeus, mas

apenas procura as "vantagens" do pecado. - A Santa Sé insiste, pois, na clássica distincáo entre pecado leve ou venial e pecado grave ou mortal. Este ocorre quando há materia grave, conhecimento de causa e vontade deliberada; o pecado venial, ao contrario, se dá quando falta algum destes tres elementos.

2) Para que seja permitido a um sacerdote ministrar a absolvicao coletiva sem confissáo previa, requer-se o cumprimento de cinco condicóes:

- haja grande número de penitentes desejosos de Reconciliacáo;

''O canon 989 reza: "Todo ñel, depois de ter chegado á idade da discrigáo, 6 obligado a confes sar Belmente os seus pecados graves, pelo menos urna vez por ano". 239

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"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 300/1987

- seja insuficiente o número de confessores para atender-lhes dentro de prazo razuável. Este insuficiente número nao deve ser procu

rado intencionalmente pelo pároco ou reitor da igreja; este, ao contrario,

deve esforcar-se com antecedencia para obter os necessários confesso res;

- os penitentes nao atendidos ficariam, sem culpa própria, e por muito tempo, privados dos sacramentos. Esta condicáo é muito impor

tante, porque mostra que nao basta a aglomerado de penitentes; se es tes nao podem ser atendidos em tal dia festivo e nesta igreja, mas podem

ser atendidos dentro de alguns dias ou em outra igreja, já nao se verifica a condicáo que legitima a absolvicáo coletiva;

- é ao Bispo, de acordó com a Conferencia Episcopal, que toca de finir os dias do ano em que as mencionadas condicóes costumam ocorrer. - O Código nao diz que o sacerdote pode, por iniciativa própria, mi nistrar a absolvicao coletiva, sob a condicáo de comunicar posterior mente o fato ao Bispo;

- os fiéis devem ser instruidos a respeito da necessidade de confessarem os pecados absoividos no tempo devido (o Ritual da Penitencia diz: "dentro de um ano no máximo e, certamente, antes de receber nova absolvicao coletiva"). O propósito de se confessar posteriormente é con dicáo para a validada da absolvicao coletiva, de modo que quem, cons cientemente, nao quer emitir tal propósito nao pode receber o perdáo ministrado coletivamente.

A razio pela qual a Igreja nao pode dispensar a confissáo pessoal dos pecados, é a própria palavra do Senhor Jesús em Jo 20,22s: "Recebei

o Espirito Santo. 'Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-áo

perdoados; aqueles a quem os retiverdes, seráo retidos' ". Para que o ministro possa exercer tal funcáo - perdoando ou nao perdoando em

nome do Senhor - requer-se que tenha conhecimento de causa ou co-

nheca as disposicóes do penitente (está realmente arrependido e disposto a se converter e a reparar os danos decorrentes do seu pecado?}. A Igreja

pode, sim, por motivos emergentes inverter a ordem das partes inte

grantes do sacramento da Reconciliacio, permitindo seja dada a absolvicSo antes de feita a confissáo; mas nao pode abolir alguma destas partes integrantes. A confissáo dos pecados é de instituido divina, e nao humana

UN^íNlO- — F' F.S BiBtiOl.

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Estévéo Bettencourt O.S.B.

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240

Dado o crescente ¡nteresse pela espiritualidade dos primeiros Monges do

Oriente e a espiritualidade crista do Ocidente, a CIMBRA (Conferencia de In tercambio Monástico do Brasil) vem publicando Conferencias e Temas vividos pelos Padres do deserto. Em brochuras xerografadas: 1. Conferencias de Joao Cassiano:

I -11: Do escopo e do f¡m do rtionge (abade Moisés) Da discricao (abade Moisés) - Cz$ 20,00 IIIV: Das tres renuncias (abade Pafnúcio) Sobre a concupiscencia da carne e do espirito (abade Daniel) Os oito vicios principáis (abade Serapiao). - Cz$ 30.00 VI -V111: A matanca dos Santos (abade Teodoro)

Da mobüidade da alma e dos espirites malignos (abade Sereno! —

CzS 50,00

IX-X: Sobre a Oracáo (abade Isaac) - CzS 40,00 XI-XIII: Sobre a perfeicao (abade Queremon) Sobre a castidade (abade Queremon) Sobre a protecao de Deus (abade Queremon) — Cz$ 50,00

2. Vida de Sao Martínho de tours, escrita-por Sulpfcio Severo. A Gália foi para o Ocidente a térra clássica do monaquisino cristio, como o Egito o fora para o Oriente. E, como o Egito teve Antao, pai e espelho dos monges, a Gália teve Martinho, origem e modelo de urna ¡numerável multidao de monges. Na verdade, quando, em 361, Martinho se fixou em Ligugé. Comecava a historia documentada do monaquisino cristao no Ocidente. - 60 págs. - CzS 60,00 3. Vida de Santo Antao, escrita por Santo Atanásio de Aiexandria. -146 págs.-Cz$ 100,00 4. Escritos monásticos de S. Cesário de Arles (470-542) — 52 págs. — CzS 40,00

5. Historia Lausfaca, por Paládio (ano 419) — Contém urna serie de fatos ou historias curtas de Pais e Mies do deserto, edificantes ou.nao, que o autor

conheceu pessoalmente ou sobre os quais rece be u informacoes de outros. É o primeiro a empregar a expressao "Pai do Deserto". Nao apresenta nenhu ma teoría ascética, embora o espirito seja de Evágrio. — 156 págs. - CzS 130,00 .

6. Misterio da Salvacao, cantado por (linógrafos bizantinos — 160 págs. -CzS 70,00.

NOVIDADE:

D. PEDRO ÚLTIMO BISPO DO RIO DE JANEIRO NO IMPERIO (1868-1890)

Para elaborar o présenle livro, o autor, D. Jerónimo de Lentos O.S.B., além de consultar ampia bibliografía, viu também o arquivo de O. Lacerda, lendo sua correspondencia, escritos, e preciosa documentado até hoje inédita, bem como jornais daquele tempo, gracas ao que pode contribuir para uma perspectiva inteiramente nova sobre a pessoa e acontecimentos da época em que viveu esse bispo, que, durante mais de vinte anos dirigiu espiritualmente os destinos da extensa diocese de Sao Sebastiáo do Rio de Janeiro, a qual, naquela época, nao se restringía ao

assim chamado Municipio Neutro, mas abranqia todo o Estado do Rio e Espirito Santo, e territorios das provincias de Santa Catarina e Minas

Gerais. - 615 páginas - Cz$ 600,00.

EM COMUNHÁO Revista bimestral, editada pelo Mosteiro de Sao Bento. destina-se aos Oblatos e as pessoas interessadas em assuntos de espiritualidade monástica. Além da conferencia espiritual mensal de O. Estéváo Bettencourt para os Oblatos, contém traducóes de comentarios sobre a Regra beneditina e outros assuntos monásticos. - Assinatura anual em 1987: Cz$ 50,00.

Para assinatura dirija-se a Armando Rezende Filho (Caixa Postal 3608 - 20001 Rio de Janeiro - RJ) ou ás Edicóes "Lumen Christi" (Caixa Postal 2666 - 20001 Rio de Janeiro - FUI.

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