Culturanja, 06 De Setembro De 2009

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Poesia Coisas minhas por Caroline Guimarães Gil A coisa não tem nome A coisa não tem regra A coisa come coisa A coisa quer estante A coisa pede briga A coisa se assenta O banco que permuta A troca que se expande A coisa não tem coisa A coisa é feita de várias coisas Essas coisas são sempre perdidas Coisas minhas, quadros, calcinha... Quadros de Picasso, foto Monalisa A coisa é mais que dentro-fora A coisa fica no ar quando alguém me olha Quando alguém assopra ou enverniza Sobre a coisa minha que é coisa sua A coisa tem carência de coisa A coisa sente falta de coisa A coisa omite tantas outras coisas A coisa se compra num bar A coisa se compra na esquina minha A coisa que ficou cortesã Que já nem tive e tenho também

Umuarama, domingo, 6 de setembro de 2009

“Parabéns, ó Brasileiros!”

por Tiago Knoll Inforzato

Crônica

Caminhando por Angela Frasquete

  Assistindo a um filme há bastante tempo atrás, ouvi uma frase que ficou em minha mente. Ela dizia assim: “Descubra quem você é e então seja você mesmo.”Desde então penso sobre ela.   Quem sou eu?Ô perguntinha difícil. Parece fácil responder assim: sou Ângela, filha, esposa, mãe, professora, católica, etc, etc, etc.Tudo isso, quem convive comigo já sabe. Essa pergunta não é para os outros responderem por mim, é para eu responder. Quem sou eu?   Uma vez, alguém me disse que todas as perguntas e respostas estão no caminho que percorremos durante toda a nossa vida. Também todos os problemas e suas soluções. Vocês já perceberam que os artistas, quando interrogados sobre suas carreiras respondem que estão “na estrada” a um número x de tempo? Quanto mais tempo mais credibilidade ele ostenta. Esse ‘estar na estrada’ é estar construindo a carreira passo a passo, é estar caminhando.    O nosso ‘eu’ também é construído a cada passo. Também a cada tombo e a cada levantar dele. Por isso, sempre me perguntarei quem sou eu. Estou caminhando, estou vivendo novas experiências que me transformam e me melhoram.   Estar a caminho é aceitar fazer parte da vida. Como assim? Aceitar? Estou viva e sou obrigada a viver quer eu queira ou não. Não, não é bem assim. Quantas pessoas sentam a beira do caminho? Quantas delas desistem de caminhar? Algumas continuam carregadas por outros, algumas se arrastam, algumas se recusam continuar.  Viver é participar do caminho. É ver as belezas que nele há. Sentir o perfume das flores que todo o caminho tem e o da “Maria-fedida,” aquele inseto que, eventualmente, fica por perto de algumas flores. Desviar das pedras quando possível, escalá-las quando necessário, ou retirá-las para quem vier atrás não se machucar. Olhar para o caminhante ao lado, ajudá-lo e ser ajudado por ele. Olhar para trás, de vez em quando, e se alegrar com o caminho passado e já percorrido. Olhar para frente e se alegrar pelo caminho futuro e o que virá. Olhar o agora e agradecer o caminho presente.   Somos todos caminhantes e caminheiros. Estamos a caminho sempre. Estamos no caminho. Que alegria estar a caminho e poder desfrutar de tudo de bom que ele oferece.    Quem sou eu? Apenas um ser humano que caminha e que quer aproveitar ao máximo a beleza do caminho. Mesmo com pedras, poeira, sol ardente, chuva fria e tombos eu amo meu caminho. Ele também tem flores, solo fértil, brisa, chuva de verão, estrelas.   Responder quem sou eu de forma generalizada e profunda é trabalho para a filosofia Pessoalmente podese perguntar a cada dia a si mesmo. A resposta virá de acordo com o tempo de estrada e posição em que se está: caminhando, arrastando-se ou sentado à beira do caminho vendo os outros passarem.   Quem sou eu? Muito prazer, sou Ângela, sou caminhante, tenho 40 anos de estrada. E você?

O

tempo passa, o tempo voa... e amanhã, 07 de Setembro, completamos 187 anos da Independência do Brasil. Para muita gente é mais um feriado, para outro tanto de pessoas é o tal Dia da Independência do Brasil e para quase ninguém é o dia de comemorar os quase dois séculos de autonomia política do nosso País. Cada um de nós, se não passou, vai passar pelo processo de emancipação. Não vemos a hora de completar 18 anos de idade e poder tomar as rédeas, decidir o que é o melhor para nós mesmos e seguir a vida fazendo o melhor para continuarmos vivos, saudáveis, operantes e felizes. Também foi assim com a nossa Pátria, um belo dia alguém acordou de pá virada e resolveu que não era mais tão legal ser obediente à Portugal, o negocio era andar com as próprias pernas, conquistar o próprio espaço no mundo. Atitude mais louvável não há, tanto que, sensibilizado, Pedro I, como todo filho que já passou por esse mundo, disse ao pai Dom João: “Independência ou Morte!” e foi viver a própria vida em seu próprio País, com suas próprias regras. Não foi de graça, e nunca é. Ao Brasil custou dois milhões de libras esterlinas. E o que fizemos com uma aquisição tão cara, a tal autonomia política? Ora, o que a maioria dos jovens recém emancipados faz: bobagem. Nada de estruturalmente relevante mudou, mas o discurso era libertário e pretendia soar maduro, como o daquele universitário que se gaba de ser independente e livre e bem resolvido, mas continua sendo sustentado integralmente pelo dinheiro dos pais – o que inclui as festas e inconseqüências diversas. Mas isso não tem problema, é mais fácil mentir-se livre do que reconhecerse dependente e tomar providências para cortar os cordões umbilicais.

É notório! Somos um País de muita retórica e pouca atitude, dependemos demais de leis e limites externos ao invés de agirmos com bom senso e resolver as pendengas da vida. Talvez esse traço cultural advenha da falta de heróis, de exemplos de vida e luta relevantes. Os nossos mártires e grandes homens foram todos contestados pelos historiadores e sobraram poucos os que não cometeram crimes ou deslizes, o que é até normal em se tratando de seres humanos. Ora, no mundo todo houveram pessoas mais criminosas e menos criminosas, a diferença é que os grandes criminosos dos grandes Países foram, ao menos os piores, punidos. Guilhotina, forca, motins, revoluções, tribunais de guerra, guerras civis, enfim, tudo o que serviria de exemplo para o povo e para os sucessores no comando de uma nação em crise. Diferentemente daqui do Brasil, onde os crimes e desvios éticos de figuras importantes sempre foram jogadas para o escanteio em nome da manutenção da “paz institucional” e da manutenção do status quo. Não há como negar as revoluções da nossa história, tanto sangue derramado e sacrifícios em nome de um Brasil melhor, mas que tristemente não tocaram o coração do povo e muito menos dos que participaram de tais movimentos, os quais hoje já mudaram de lado e interesse em nome daquela mesma “paz institucional” que ajuda a manter as cabeças no lugar e os bolsos bem alimentados. Não discutirei o sistema ideológico montado em todos os níveis e setores da sociedade, afinal em tudo o que se manifesta existe ideologia embutida. A reflexão que proponho aqui é que, apesar de 187 anos de emancipação política do Brasil, ninguém sabe o que fazer com isso, ninguém sequer entendeu o que isso pode significar. E aí, a gente faz o que?

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