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Vi d’agua. por Nevilton de Alencar
“E o homem, idiota, sempre, pensa que ao menos levamos milhões de anos para destruir o que Deus fez em sete dias.”
Umuarama, domingo, 6 de dezembro de 2009
Vi d’agua, fonte de vida no lago, tamanho estrago mãe natureza abatida de amanhã escuro... e vago.
Cinema
Cultura mais-que-suicida, (além maço inteiro que trago) fumaça bem mais dolorida da fábrica ao lado do lago.
por Caroline Guimarães Gil
“O Solista”: filme sobre esquizofrenia ou sobre relacionamento humano?
Já sem peixe, sem gaivota, nem sombra, margarida... de sobra, só o roto da rota que aparenta já não ter saída. E mesmo o poeta não-gago gagueja ao falar do futuro d’um pago, não pago, apago e sumo, dentro d’um furo.
Feliz Para Sempre por Tiago Lobão Inforzato
Encantada com o amor à natureza que demonstrava o hippie, a árvore, apaixonada, interrompeu o papo que levavam e fez a proposta: Casa comigo! Impressionado com o pedido, o hiponga, desatento às vírgulas, derruba a árvore e com ela constrói uma casa na floresta. Viveu feliz para sempre.
Assisti nesta semana ao filme baseado no livro – com o mesmo título – do jornalista Steve Lopez de Los Angeles; dirigido por Joe Wright, que já conduziu outros belíssimos trabalhos como: “Desejo e Reparação” e “Orgulho e Preconceito”. O filme retrata a história do encontro de Lopez com Nathianel Ayers – que isso fique bem claro! Ao caminho de seu trabalho, Steve ouve Nathaniel tocando um velho violino – com apenas duas cordas – sentado aos pés de uma estátua de Beethoven – num parque local de LA. Talvez o jornalista instiga-se tanto pela contradição da cena - um mendigo tocando uma sonata de Beethoven?! – que esta figura enigmática passa a fazer parte do universo de Steve. Com o passar dos dias os laços de amizade vão se estreitando, os problemas de ambos passam a se aflorar – talvez numa espécie de identificação com a figura do Solista - gerando as tensões que envolvem a trama. A partir deste encontro, Steve começa a escrever sobre a história do artista no jornal, tentando ajudá-lo a sair das ruas. Dei ênfase quando contei que a história relata “o encontro” e isto diz respeito a uma relação, uma história de um relacionamento de amizade. Pois a maioria das pessoas se foca na doença de Nathaniel (traços de esquizofrenia) e deixa de perceber o que Lopez quer demonstrar com seus relatos. Afinal de contas, em nenhum momento há uma resolução dos problemas do Solista, ou mesmo uma cura para a doença. Deixando claro que o foco principal do filme, não é a doença do musicista e sim a está relação de amizade que está por nascer. Steve vê-se inquieto, ao tentar de todas as formas, como numa
espécie de “Deus” – assim como muitas vezes Nathaniel o considerava e o chamava – curar o que mais afligia seu novo amigo, enxergando-o repleto de problemas – um rapaz pobre que não conseguiu realizar seus sonhos. Ou seja, no início da trama, Steve realmente se coloca nesta posição de “auxiliador” ou de possibilitador de novas realidades, tentando de uma forma forçosa curar todos os – considerados por ele – problemas. De segundo momento, o jornalista se encanta ao notar o amor, tão ardente e sublime, que o musicista possui pela música clássica – o quão devoto é para com o seu objeto de paixão - e isto é um ponto importante, pois Steve começa a refletir num diálogo com sua exesposa, que nunca amou nada em sua vida de forma parecida, - com tanto vigor - ficando claro que senti certa vontade de poder um dia sentir essa plenitude, este compromisso que ele tem com a música. A palavra “compromisso” também é um elemento chave na história, como por exemplo: as dificuldades em aceitar um relacionamento fracassado com Mary. Steve inicia numa busca de si mesmo. Uma cena clímax da história é quando o jornalista sente que o seu papel de “curador” ou mesmo “identificador de problemas” não cabe aquela relação de amizade. Ao notar isto, Steve se entristece e pensa em desistir de tudo, porém Mary (sua ex-esposa) ao falar para ele que “não podia parar o terremoto; não pode concertar a cidade; nem curar Nathaniel, apenas ser amigo e aparecer”, ele se volta a posição de amigo, e resolve aceitar a situação, agora com novo olhar sobre ela, não como um “esquizofrênico” ou “mendigo”, mas como um ser humano.
Correntes
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“Foto por Thiago Casoni”
Há muitos anos recebi uma carta, selada e entregue pelo carteiro, trazendo um pedido e uma ameaça. O pedido era que o seu conteúdo fosse destinado a mais dez pessoas, se não me falha a memória, da mesma forma que havia chegado até mim. A ameaça era que se acaso eu não o fizesse, flagelos cairiam sobre mim. A ameaça vinha embasada em descrições detalhadas de desgraças acontecidas com outros que não obedeceram e quebraram aquela corrente. Na época da famigerada carta fiquei morrendo de medo. Era adolescente e tinha pouca experiência de vida. Graças a Deus eu tinha mãe e ela, sem hesitar, mandou que eu jogasse a carta no lixo. Como eu acreditava mais em minha mãe do que na pessoa não identificada que me enviou a corrente, joguei a carta fora. Hoje, anos depois me vejo recebendo inúmeras correntes. Agora não mais pelo carteiro e sim pelo email. Preciso confessar para quem me manda email com correntes que eu não os repasso. Desculpe-me, mas é verdade. Já o fiz, não posso negar, entretanto, fiz apenas quando me sentia muito obrigada ou em dias ‘tanto faz’, aqueles em que não me importo com muita coisa. Repassei por repassar. Raras vezes, diga-se, de passagem Toda corrente, apesar de diferente acaba sendo igual. Todas querem seguir adiante. Todas
por Ângela Russi
almejam dar a volta ao mundo inúmeras vezes. (Recebi várias que já tinham dado essa volta e queriam continuar dando.) Uma de minhas amigas só me manda email se for corrente. Quando vejo seu nome na minha caixa já sei o teor da mensagem. Rio ao ler o conteúdo porque muitas vezes ela disfarça até o fim, mas ao finalizar está lá, “mande essa mensagem a quem você ama ou apenas necessita destas palavras de conforto...” Algumas correntes são simples e diretas: ”envie para 12 pessoas nos próximos 12 minutos senão...” Outras são sutis e obrigam com delicadeza: “bênçãos recairão sobre você quando enviar essa men-
sagem.” Há as humildes, mas não menos opressoras: “não precisa repassar se não quiser, se quiser enviar aos seus amigos, inclusive a mim, ficarei muito feliz.” Aquelas que fazem com me sinta culpada são terríveis: “saberei quantos amigos tenho quando receber essa mensagem de volta.” As piores para mim são as de apelo religioso, aquelas que ao abrir já vejo a imagem de Jesus olhando-me como a pedir que eu não a descarte. Como descartar uma mensagem assim? É como se desse as costas a Ele mesmo. Esse tipo de corrente é a mais apelativa, pois mexe com o que
tenho de mais precioso que é minha espiritualidade. No fim ainda acusam que se fosse outro tipo, que não o religioso, eu repassaria. Logo eu que não gosto de repassar nenhuma. Essas, mesmo que não repasse acabo guardando um tempo sem deletar. Detesto correntes. Penso se, na realidade, sou apenas eu que não gosto. Será que todos que enviam e repassam fazem por prazer ou porque têm algum temor, resquício adolescente, de que algo realmente possa acontecer? Realmente não sei. Corrente me lembra escravidão e o medo é um excelente feitor. Como creio que para vencer o que nos atemoriza é preciso enfrentá-lo, não repasso. Já exclui algumas com dor no coração por serem bonitas, entretanto a obrigação de repassar que vinha junto com elas quebrou o encanto. Envio mensagens sim. Algumas poderiam ser até correntes, mas não são, então as envio. Quem recebe pode enviar a outros, se quiser. O apelo nesse caso vem da beleza da mensagem e não de ameaças. Mas, que às vezes ao ler algumas ainda sinto um medinho antes de excluir, sinto mesmo. Isso não dá para negar. Sempre sobra um pouquinho de insegurança adolescente dentro da gente e o desejo de que alguém diga: “exclui sem medo, eu garanto.”