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Poesia Quando Cerro os Olhos por Thiago Calixto
Ante a massa disforme Momentos díspares A paralisia do silêncio É lágrima em movimento
Cinema
por Caroline Guimarães Gil
Linha de Passe: A mudança inicia-se pela sutileza dos detalhes
Linha de Passe é escrito por Bráulio Mantovani, também roteirista do filme Cidade de Deus, dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas; foi aplaudido por nove minutos no Festival de Cannes e ganhou prêmio de melhor atuação por Sandra Coverloni. A trama se passa na periferia de São Paulo, onde Cleusa e seus outros quatro filhos residem. Com a ausência do pai, uma típica família contemporânea, não constituinte por todos os seus devidos membros. Denis, Dario, Dinho e Reginaldo, quatro irmãos, com sonhos diferentes, buscam um significado maior para as suas vidas que a realidade não os deixa alcançar. Denis, pai solteiro, tenta sobreviver e mediante este desafio, tenta entrar na vida do crime; Dario sonha ser jogador de futebol, embora já esteja considerado muito velho para iniciar a profissão, com 18 anos de idade; Dinho dedica-se a religião e em ser uma pessoa perfeita; Reginaldo, filho caçula, busca desesperadamente seu pai; Cleusa, mãe dos quatro rapazes trabalha como empregada doméstica e está mais uma vez grávida de um pai desconhecido. As histórias dos irmãos se entrelaçam e o final que esperávamos não acontece. Aliás, não há um final propriamente dito, e o que mais me instigou foi este final cortado, barrado, como se nos fosse impedido de saber o que iria acontecer, no auge de grandes acontecimentos. Mas, fiquei refletindo sobre isso, e por sinal o Tiago Inforzato resumiu meu pensamento em uma conversa ao relatar que o “durante é melhor”. Ou seja, o final não era o que o autor queria mostrar, mas o processo que se dá até chegar nele. Não quero aqui, questionar os valores desta família, nem a realidade financeira em que vivem, porque isso foi à primeira impressão que eu tive, e este primeiro olhar ofuscou meus olhos de poderem enxergar coisas muito mais sutis, peculiares e simbólicas, que fizeram toda a diferença na trama: os chamados insights. Insight seria como ter uma grande idéia, um grande vislumbre, perceber algo que antes parecia inexistente pra ti, é como se abríssemos os olhos e eles se tornassem muito mais aguçados para uma nova percepção. E estes personagens, próximo ao final do filme, tiveram esse chamado insight, fazendo-nos crer que embora continuem a realizar suas devidas tarefas, o olhar sobre elas, se modificou. Esta transformação de como estamos diante das coisas, e não deixar as coisas diante de nós. Neste instante do filme, percebese que a história irá se alterar, e não foi unicamente um ato que os “modificou”, mas também, junto com um processo interno de reflexão que adveio dentro de cada personagem do filme. Quantos de nós já não nos sentimos frustrados por algum planejamento que não aconteceu como gostaríamos? E nesta resposta aparentemente “negativa” ao qual esperávamos, passamos por um processo de adaptação, em reconhecê-la e aceitá-la. Não no sentido de sentar e esperar, pois aceitar não significa concordar com a situação vigente, mas sim, abraçar a causa em busca de uma melhora, aceitar as condições, e se envolver com ela (a realidade). Quando não se aceita, há uma resistência, uma negação e ainda uma fuga. Aceitar é conscientizar-se da real situação, é vê-la como ela verdadeiramente é, sem grandes enfeites, mas com a esperança de mudança. Pois os primeiros cenários se abrem primeiramente dentro de nós, depois partem para o mundo externo. “Anda, anda!” palavras finais do personagem Dinho, que sai sorrindo pela estrada, e nos faz pensar que o problema não é financeiro, nem de valores morais, muito menos há um problema, mas há uma história que precisa ser vista, apenas isso.
Umuarama, domingo, 27 de setembro de 2009
Música “É Ferro na Boneca. É no gogó, neném!”
por Tiago K. Inforzato
Há 40 anos atrás, em 1969, formava-se na Bahia uma banda que viria mudar a sonoridade do Rock e, porque não, da MPB nacional. Naquele ano, com o espetáculo O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal, no Teatro Vila Velha, em Salvador, Bahia, subiam pela primeira vez juntos num palco os baianos Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, Luiz Galvão e a niteroiense Baby Consuelo, trupe que algum tempo depois seria batizada de Os Novos Baianos. Naquele mesmo 1969, o grupo foi para a cidade São Paulo afim de participar do V Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, que durante suas várias edições foi palco para grandes talentos nacionais e impulsionou a indústria fonográfica do país. Infelizmente não faturaram o prêmio, mas aproveitaram a viagem para fixar residência na cidade do Rio de Janeiro, mais exatamente num sitio que foi carinhosamente chamado de “Sitio do Vovô”, no bairro de Vargem Grande. Convivendo em quase anarquia em plena ditadura militar, os quatro integrantes principais (que já contavam com o apoio do guitarrista Pepeu Gomes, marido de Baby Consuelo), a banda de apoio (nada menos do que A Cor do Som) e outros agregados, somavam umas quase 20 pessoas. Viviam todos naquela casa de quatro cômodos, eram como uma família e esse convívio ajudou muito o entrosamento entre os músicos. Eram criativos, bons instrumentistas e estavam no meio do turbilhão musical carioca dos anos 70. Além de tudo recebiam visitas de grandes figuras da MBP, como João Gilberto, o qual sugeriu para que os Novos Baianos mesclassem ritmos nacionais variados como, samba, frevo, bossa e choro com o rock. A idéia rendeu bons frutos, pois influenciados pela Tropicália, e apesar de uma vida simples de infra-estrutura e conforto, criaram uma das bandas com musicalidade mais ricas da história nacional. Tão rica que o segundo disco do grupo, o Acabou Chorare, foi considerado o melhor disco brasileiro de todos os tempos pela Rolling Stone Brasil de outubro de 2007, numa lista dos 100 melhores discos nacionais, todos escolhidos por especialistas no assunto. Uma boa fatia do cotidiano d’Os Novos Baianos pode ser visto no documentário feito para um canal de TV Alemão, dirigido pelo criador dos Festivais de Música Popular Brasileira da TV Record e fundador da rádio carioca Antena 1, Solano Ribeiro. O documentário, premiado num Festival Europeu de Televisão realizado na Áustria, foi gravado durante alguns dias no “Sitio do Vovô”, e tem o mesmo nome do disco: Novos Baianos FC, ambos lançados em 1973. É inquestionável a influencia da mistura sonora dos Novos Baianos na música nacional. E agora Umuarama e o Paraná podem fazer parte dessa história, pois Nevilton, nossa banda mais promissora, é a única do Paraná que está entre os semifinalistas do concurso Oi Novo Som Versões Novos Baianos. Para ajudar os rapazes a entrarem com sua versão para a música Ferro na Boneca (que é a faixa título do primeiro disco dos Novos Baianos) na programação nacional da
O Momento Exato Imagine a cena: um homem e uma mulher se desejam loucamente.Mal conseguem disfarçar.Todo momento a sós é único para dar vazão àquela insana atração. Uma noite, estão os dois na cama. Cenas ardentes são assistidas pelas paredes.Espera aí, tem alguém assistindo também. Ele está na penumbra. Ele não é um “vouyer”. Não sente prazer ao ver aquele fogo que, ao invés de consumir, inflama cada vez mais os amantes na cama. Espera aí, amantes? O ato sexual termina. Os dois estão ainda ofegantes. A mulher reclama que a boca dela está seca. Não é bem uma reclamação, é uma constatação de que gastou muita energia e precisa se hidratar. O homem, satisfeito, concorda com a mulher e também quer água. Os dois se levantam e aos beijos vão para a cozinha. O clima é de total paixão e prazer. O mundo lá fora não existe. Existe somente aquele lugar e eles dois. Espera aí. São três naquele lugar. Naquele momento, um segundo homem aparece na cena. Ele sai da penumbra. Ele é, nada mais nada menos, o marido daquela mulher exausta após um ato tão caloroso. O parceiro dela no ato é, nada mais nada menos, o melhor amigo do marido. No instante em que os três olhares se cruzam a realidade cruelmente esbofeteia os três. Esse é o momento exato em que nasce um sentimento novo na relação dos amantes: o arrependimento. O marido, diga-se de passagem, com muita dignidade, demonstra toda a dor de ser traído de forma tão vil. Suas palavras açoitam mais que mil chibatadas. A esposa se desespera e chora. Afirma que a “transa” que ele assistiu não significou nada para ela. Pede perdão. Na verdade, implora. O melhor amigo, que de melhor não tem nada e nem pode mais ser chamado de amigo, apenas chora e, muito arrependido pede desculpas.
rádio Oi FM, você só precisa acessar o site www.nevilton.com.br/ novosbaianos , ouvir e votar na canção (quantas vezes você quiser), ou ainda pode enviar um SMS com a palavra PROMO 5 para o número 939 (os votos por SMS valem 10 vezes mais, mas são apenas para celulares da Oi!). Lembre-se que prazo para votar termina no dia 30 de setembro. A banda já agradece pelos votos: “Muito Obrigado!” Apenas por curiosidade e informação, hoje é dia da Música Popular Brasileira e aniversário de 56 anos da TV Record (desde 1953), dois personagens que se relacionaram através dos tempos e sobre os quais falamos acima. Interessante é que escrevi o texto antes de descobrir essas informações! Coincidências são divertidíssimas, não são?
por Ângela R. Frasquete Acabo de descrever uma cena de uma novela das oito. Quem assistiu sabe o desfecho. O que me intrigou nessa situação é a mudança de comportamento dos amantes. Antes de serem descobertos estavam felizes, satisfeitos, desejosos um do outro. Não havia nem um resquício de indecisão em seus atos. Não se sentiam traidores. Mas, no momento do flagrante seus rostos felizes se transformaram em faces culpadas. Tudo perdeu a graça. Não há mais desejo, não há mais prazer. A boca seca continuou seca. Esqueceram-se dela diante de uma necessidade muito maior: lidar com a culpa. Por que a culpa só apareceu no momento exato em que a traição foi descoberta? Antes a traição não existia? Se há culpa supõe-se que há algo errado. Não nos culpamos por sermos bons. Bons esposos, bons filhos, bons amigos, bons profissionais e bons vizinhos não se sentem culpados. Qual o momento exato de nos arrependermos por prejudicar alguém? É exatamente antes de prejudicá-lo. Na penumbra há pouca visibilidade e em consequência tropeços e quedas. Acenda a luz. Aproveite enquanto o interruptor está em suas mãos. Quem sabe mais tarde ele poderá estar nas mãos de quem você mais ama. Ou de quem mais odeia você. Se aparecer a culpa, mesmo que pequena, repensemos nossos atos. É muito melhor que descubramos nós mesmos o momento exato de nos arrepender do que aquele a quem prejudicamos. Se ele descobrir, com certeza, é porque erramos feio. Não por sermos descobertos. Erra-se feio quando não se leva em consideração a pessoa na penumbra. Se há alguém na penumbra é porque há algo escondido. Se há algo escondido certamente não é tão correto como tentamos justificar. A penumbra esconde, a luz mostra. É melhor que o interruptor que acende essa luz esteja em nossas mãos do que nas mãos de outros.