Ano Xxxiii - No. 359 - Abril De 1992

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Projeto PERGUNTE E

RESPONDEREMOS ON-LIME

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESEÍsrTAQÁO

DA EDipÁO ON-LINE Diz Sao

Pedro

que devemos

estar preparados para dar a razáo da

nossa esperanga a todo aquele que no-la

pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora,

'

visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e

religiosas contrarias á fé católica. Somos

assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores:

aborda questóes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se

dissipem e a vivencia católica se fortaleca no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar. este trabalho assim como a equipe de Verítatis Splendor que se encarrega do respectivo site. Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos convenio com d.

Estevao

Bettencourt e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual

conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaca depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

<

D

SUMAR 10 Deus e a Ciencia



A Beatif¡cacao de Mons. Escrivá Por que nao sou Protestante? T"A Vida continua além da Morte" por T. de Oliveira e S. Paseto Aborto Eugénico

Que é a Ordem dos Cavaleiros de Malta? Livros em Estante m

O te Q.

ANO XXXIII

ABRIL 1992

359

ERGUNTE E RESPONDEREMOS

ABRIL 1992

Publicarlo mensal

N5 359

SUMARIO

liretor-Responsável:

Estévao Bettencourt OSB Autor e Redator de toda a materia publicada neste periódico

"Estivo morto, mas eis que

vivo" {Ap 1,18)

liretor-Administrador:

145

E os avancos da ciencia contemporánea?

D. Hildebrando P. Martins OSB

Deus e a Ciencia

■dministracSo e distribuido:

Mais um Santo que surge:

146

Edicóes Lumen Christi

Dom Gerardo, 40 - 5? andar, s/501 Tel.: (021) 291-7122 Caixa Postal 2666 20001 — Rio de Janeiro — RJ

A Beatificacáo de Mons. Escrivá.. Diálogo Interconfessional:

Por que nao sou Protestante?....

O valor da vida humana:

Aborto Eugénico

"MARQUES-SARAJVA"

166

A Parapsicología faia:

"A Vida Continua além da Morte" (Oliveira-Paseto)

Impressáo o Errcad8ma;áo

156

173 181

Dissipando mal-entendidos:

GRÁFICOS E EDITORES S.A. Tels.: IOZt)273-9*9B - 273-9**7

Que é a Ordem dos Cavaleiros

de Malta?

185

NO PRÓXIMO NÚMERO: 500 anos de América. - Por que nao sou espirita? - Igreja Universal do Reino de Deus.- Nova Era e suas facetas.

COM APROVAQÁO ECLESIÁSTICA ASSINATURAANUAU12 números)deP.R.:Cr$ 15.000,00-n*avuJsoou atrasado: Cr$ 1.500,00

Pagamento (á escolha)

1. VALE POSTAL á ¡ Agencia Central dos. Correios do Rio de Janeiro em nome de

Edicóes "Lumen Christi" Caixa Postah 2666 - 20001 - Rio de Janeiro - RJ. ■*2,...CHEQ1JE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edicóes "Lumen Christi" (endereco .

acmK aK «

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<3- ORDEM DE PAGAMENTO, no BANCO DO BRASIL, conta N? 31.304-1 em nome'

do MOSTEIR'O DE SAO BENTO. pagável na AGENCIA PRACA MAUÁ/RJ

n? 0435-9. (Enviar xeróx da guia de depósito á nossa admimstrapao. para efeito de identificacáo do pagamento).

"ESTIVE MORTO, MAIS EIS QUE VIVO" (Ap1,18)

O Apocalipse fornece ao cristáo urna visáo da historia chela de sím bolos. Alguns destes, tomados ao pé da letra, assustam; sSo, porém, imagens das tribulacóes aturadas por aqueles que querem ser fiéis ao Senhor até a morte. Todavia o Apocalipse aprésente as intemperies da historia sob a figura do Cristo-Reí, figura que abre o livro. Eis, por exemplo, o que se lé em Ap 1,18:

"Nao temas! Eu sou o Primeiro e o Último, o Vívente; esti-

ve morto, mas eis que estou vivo pelos sáculos dos séculos, e tenho as chaves da Morte e da regilo dos mortos."

Cristo é o Vívente.- - Como? - É aquete que pass'ou pela morte».

morte que todos os homens sempre repudiaram, pois parece ser destral9§o associada a lagrimas e sofrímentos (cf. Ap 21,4). Cristo, porém, pode dizer: "Libertei-me da morte, sacudí o seu jugo, venci-a~" A morte tentou absorver Jesús, mas Ele escapou, levando consigo as chaves da regiáo dos mortos. Ora esta vitória de Cristo é comunicada a todos os discípulos ou a todos aqueles que com Cristo comungam como ramos do mesmo tron

co de vldeira (cf. Jo 15,1 -5). Considerada nesta perspectiva, a historia toma oütro sentido: com todos os seus flagelos, ela está contida ñas máos do Cristo, que o Apoca lipse descreve com tragos de Imperador. Com efeito; em Ap 19,11.16 o

Senhor Jesús monta um cávalo ¿raneo, símbolo que ao autor dó Apoca

lipse podia lembrar o Equus Maximus, o Cávalo Máximo, erguido por Domiciano no Forum de Roma em 90/91, ou também récordava as moedas que representavam o Imperador a cávalo. Cristo veste um manto, sobre o qual se lé: "Reí dos Reis e Senhor dos Senhores"; é o manto dos Imperadores Romanos, que tinham também a sua ¡nscricáo. Cristo traz ñas máos sete estrelas (Ap 1,16), que na antigúidade eram os sinais do poder dos Césares; os Imperadores as mandavam gravar ñas moedas ao lado da sua efigie. Mais ainda: o Cristo caminha em meio a sete candela

bros (Ap 2,1); este símbolo era usual entre os judeus, mas nao tinha sen tido messiánico; no Apocalipse tal imagem faz alusSo aos candelabros

que ocorriam no culto imperial: cercavam as estatuas dos Imperadores1 ou apareciam ñas moedas ao lado do busto do monarca.

Estes dizeres do Apocalipse voltam á mente do cristáo no período de Páscoa, contribuindo assim para reconfortar os que caminham ñas

estradas deste mundo. É em demanda da VIDA, e da VIDA PLENA, que

caminham com Cristo.

"EU ESTIVE MORTO, MAIS EIS QUE VIVOI" E.B.

1No templo dedicado ao culto do Imperador Domiciano em Éfeso, en-

contrava-se entronizada urna estatua do monarca quatro vezes malor do que o tamanho natural, entre candelabros, altares e as ¡nscricóes do¡

vfncla da Asia Menor.

BIBLIOTBC CENT? A 145

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" Ano XXXIII - N? 359 - Abril de 1992

E os avancos da ciencia contemporánea?

DEUS E A CIENCIA Em sfntese: Jean Guitton, Grichka e Igor Bogdanov publicaram recentemente urn lívro Intitulado "Dieu et la Sclence" (Deus e a Ciencia). Atra-

vés de páginas eruditas, mostram como o progresso da ciencia leva a re constituir as fases de origem do universo, atrás das quals deve haver uma

Inteligencia Suprema e Poderosa responsável pela maravilhosa ordem que reina no processo evolutivo da energía inicial Cada instante, desde o big bang ou a grande explosáo originaria, foi dlmenslonado com precisSo vertigi nosa; cada biüonésimo de segundo e de milímetro teve sua Importancia nessa historia. Qualquer desvio, por mals insignificante que parecesse, teria impedi do o surto dos minoráis que compOem as estrelas, os planetas e as galaxias; conseqüentemente nSo se teriam constituido as amaleóos para que a vida - e a vida humana - aparecesse sobre a Térra. O infinitamente grande e o infini tamente pequeño, pálidamente esbogados pelos autores do livro, dio testemunho da existencia do Criador, comprovando-se asslm o queja dizla Pasteur: "A pouca ciencia afasta de Deus, mas a multa ciencia aproxima de Deus."

No século XIX nSo era raro dizer-se que a ciencia e a fá nSo se coadunam entra si; a ciencia parecía refutar as proposites da fé e relegar a religiSo para o plano do obscurantismo e da ignorancia. - O mesmo nao se dá em nossos dias. As conclusoes de dentistas de roñóme tém mos trado que a própria ciencia insinúa a existencia de uma Inteligencia Superior, responsável pela ordem do universo; a reconstituifáo da origem e

do desenvolvimento da materia tem aborto os horizontes e levado o no-' mem a reconhecer o misterio da natureza, expressáo do misterio de um

Ser Supremo, que é o próprio Deus. 146

DEUSE A CIENCIA Verdade é que os dentistas propóem teorías muito diversas para explicar este ou aquele fenómeno do passado ou do presente do univer so; a ciencia autentica é cautelosa e sabe que avanca em terreno nunca dantes palmilhado, estando, por isto, sujeita a se reformar ou reformular constantemente. Há, porém, grandes certezas que parecem perpassar as sucessivas descobertas feitas pelos dentistas.

Entre outros livros que procuram levar ao grande público o conhecimento do atual estado da ciencia, está o de Jean Guítton, notável inte lectual francés, que escreve, em colaboracáo com doís dentistas russos: Grichka e Igor Bogdanov, o livro: Dieu et la Science (Deus e a Ci&nda), Editions Bernard Grasset, París, 1991. Do ponto de vista filosófico-teológico, a obra deixa a desejar em alguns pontos, pois nao observa a distincio entre materia, espirito criado e inteligencia humana; usa de lin guagem falha aos olhos da Filosofía, embora Jean Guitton seja um bom cristáo, fiel a sua fé católica. Como quer que seja, a obra tem o valor de descrever, em linguagem relativamente fácil, os fenómenos de origem do universo e fazer entrever assim a existencia de Deus Criador. De tal livro extrairemos alguns tópicos mais atinentes ao propósito de coadunar ciencia e fé entre si. 1. Recuando na historia». O livro procede sob a forma de diálogo entre Jean Guitton, filósofo, e os dois cientistas russos, de modo que tenclona ser um confronto entre os dados positivos da experimentacáo e o raciocinio, interessado em ex plicar esses dados.

Jean Guitton comeca apontando urna chave de ferro que se encontra sobre a sua escrevaninha, e pergunta: "Se eu pudesse refazer a

historia dos átomos que a compóern, até onde deveria eu recuar? E que é

que eu entSo encontrarla?" (p. 38).

Segue-se o desenrolar dessa historia sob a pena dos dois cientistas e de Guitton.

1) "Há urnas centenas de anos essa chave estava encravada, sob a forma de um minério bruto, no coracSo de urna rocha" (p. 38). Antes que um golpe de picareta extralsse tal chave, estava ali, como prisioneiro cegó, já havía blindes de anos.

Por conseguinte, o metal da chave é tSo antigo quanto a própria Térra, ou seja, tem a idade de quatro bilhóes e meio de anos aproxima damente. 1!47

4

"PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992 2) Af, porém, nao termina o retrocesso. Pode-se prosseguir a pes

quisa até a época em que a Térra e o Sol aínda nao existiam. O metal da chave encontrava-se entáo a flutuar no espaco entre as estrelas, sob a forma de urna nuvem que continha átomos de ferro e de elementos pe sados necessárlos á formacáo do nosso sistema solar. Isto terá ocorrido há oito ou dez blindes de anos.

3) Pergunta-se agora: donde vlnha essa nuvem? 4) Provlnha de urna estrela, sim. Há dez ou doze bilhóes de anos, um Sol (existente antes do nosso) explodiu, dando origem a ¡mensas nu-

vens de hidrogénio, que se condensaram, aqueceram e acabaram por incandescer, formando as primeiras estrelas-gigantes. Estas sSo comparáveis a gigantescos fornos destinados a fabricar núcleos de elementos pe sados necessários ó ascensáo da materia para estados mais e mais com plexos.

Ao cabo de sua existencia relativamente breve - apenas algumas dezenas de milhóes de anos -, essas estrelas-gigantes explodiram, projetando no espaco os elementos que serviram para fabricar outras estre las menores, ditas "estrelas de segunda geracáo", asslm como os seus planetas e os metáis que estes contém. 5) Em conseqüéncia, vé-se que urna simples chave hoje existente

contém toda a historia do universo, historia que comecou há bilhóes de anos antes da formacáo do nosso sistema solar, historia que vai do infi nitamente pequeño ao infinitamente grande ou do átomo ás estrelas. Mas pergunta-se: seria possfvel ainda recuar, ultrapassando o periodo em que se formaram as primeiras estrelas-gigantes?

6) A concepcáo mecanicista do universo proposta pela Física de Newton está fundada sobre a idéia de que a realidade comporta duas coi sas fundamentáis: corpos sólidos e um espaco vazio. Na vida cotidiana esta concepcáo funciona sem diflculdade: os conceitos de espaco vazio e de corpos sólidos fazem parte do nosso modo de pensar e de apreender o mundo físico. A realidade cotidiana pode ser considerada como "urna regiáo de dimensóes medias, em que as regras da Ffsica clássica con tinuam a ter aplicacáo". Ora tudo muda se passamos para o estudo do infinitamente pe queño e de seus últimos elementos constitutivos. Foi somente no comeco deste sáculo, grecas á descoberta das substancias radioatlvas, que os

dentistas compreenderam a natureza dos átomos; eles nao sao glóbulos indivisfveis, mas compóem-se de partículas ainda menores. Na llnha das 148

DEUS E A CIENCIA experiencias de Rutherford, as pesquisas de Heisenberg e dos físicos

quSnticos demonstram que os constitutivos dos átomos - eletrónios, protónios, neutrdnios e as dezenas de outros elementos ¡nfranucleares

que foram mais tarde descobertos - nao manifestam nenhuma das propriedades atribuidas aos objetos ffsicos. As partículas elementares nao se comportam como partículas sólidas; parecem conduzir-se como campos

de energia. - O estudo deste mundo infinitamente pequeño leva a ver

nao somente que o universo é mais estranho do que o imaginamos, mas, sim, muito mais estranho do que nos o podemos imaginar. 7) Sim. Chega-se assim á origem do próprio universo, há quinze bilhóes de anos. Que ocorreu entáo?

8) A Física moderna ensina que o universo nasceu de gigantesca

explosáo (big bang), que provocou a expansáo da materia como ainda pode ser observada em nossos dias. Notemos que as galaxias (nuvens formadas por centenas de bilhóes de estrelas) se vio afastando umas das outras sob o afeito dessa explosáo inicial. Calculando a velocidade com que se afastam as galaxias umas das outras, pode-se deduzir o momento primordial em que elas estavam conglomeradas num certo ponto, que t¡nha tamanho menor do que urna cabeca de alfinete.

Mais precisamente: os astrofísicos julgam que a energia inicial sofreu a grande explosáo nos primeiros bilionésimos de segundo que se

seguiram á sua origem. Mais explícitamente: a 10"43 de segundo da existencia do cerne do universo, tudo o que hoje existe (galaxias, plane

tas, Térra, árvores, flores, a chave.»), tudo estava comido numa esfera de

pequenez inimaginável ou da pequenez de 10*33 de centímetro, ou seja, bilhóes de bilhóes de bilhóes de vezes menor do que o núcleo de um

átomo1.

9) A densidade e o calor desse universo originario atingiam cifras

que a mente humana mal pode conceber: a temperatura de 1032 graus (1 seguido de 33 zeros).

Com essa temperatura, a energia do universo que nascia, era monstruosa. Quanto a essa energia, era constituida de urna "sopa" de

partículas primitivas, indiferenciadas entre si, que interagiam todas da mesma maneira.

Tal época é a mais surpreendente de toda a historia do universo. Os acontecimentos se precipitaram em ritmo alucinante, a tal ponto que

10 diámetro do núcleo de um átomo mede apenas 10"13 de centímetro. 149

6

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

multo mais coisas ocorreram nesses bilionésimos de segundo do que nos bllhfies de anos que se seguirán). Em um segmento de tempo fabulosa

mente breve, ocupando a extensfio de 10*35 a 10*32 ¿e segundo, o uni verso dilatou-se na proporcáo de 1050. O seu diámetro, que era menor

do que o de um núcleo de átomo, passou a ser o de urna mac3 de 10 cm de diámetro. Essa expansáo vertiginosa era muito mais importante do que a subseqüente; de entáo a nossos dias, o volume do universo aumentou em termos relativamente fracos, ou seja, um bilháo de vezes apenas.

10) Detivemo-nos na fase em que o universo era do tamanho de

urna maca; o relógio do cosmo dava-lhe a idade de 10"32 de segundo. Em tal época so existia um tipo de partícula, d qual os astrofísicos dáo o nome de "partícula X"; era a partícula originaria, da qual procederían! todas as domáis; a macS do universo era perfectamente homogénea: nao era mais do que um campo de forcas, que nao continha a mínima parcela de materia.

Ora precisamente na idade de 10"31 de segundo, algo de impor tante se produziu: as partículas X deram origem ás primeiras partículas

de materia - os quarks1, os eletronios, os fotonios, os neutrínos e as an

tipartículas. O universo toma entlo as dimensSes de um grande baláo. As partículas ai existentes sofrem flutuacóes de densidade, que causam irre gularidades de toda especie. Esses movlmentos irregulares é que deram origem, bem mais tarde, ás galaxias, As estrelas e aos planetas. 11) Nos bilionésimos de segundo subseqúentes, o universo vai-se dilatando assombrosamente: passou a medir 300 metros de urna extremídade ¿ outra, tendo- em seu interior trevas absolutas e temperaturas

inconcebfveis.

Na idade de 10"11 de segundo, a forca eletrofraca dividiu-se em duas torgas distintas: a interacáo eíetromagnética e a for$a fraca. Os foto

nios nfio puderam mais ser confundidos com outras partículas, como os quarks, os gluóes e os leptónios; as quatro forjas fundamentáis tiveram assim origem.

Entre 10*11 e 10"5 de segundo, a diferenciacáo prosseguiu. Os quarks se associaram em neutronios e protónios e a maioria das anti partículas desapareceu para dar lugar as partículas do universo atual.

' Os quarka tém este nome, porque tais partículas exlstem em grupos de tres, como os famosos quarks Inventados por James Joyce no seu ro mance Finnegans Wak& 150

DEUSE A CIENCIA

12) Por ocasiSo de 10'3 de segundo ou da décima milésima fracáo

de segundo, as partículas elementares tlveram origem dentro de um es pado que acabava de se por em ordem. O universo continuou a se dilatar

e esfríar. Aproximadamente 200 segundos apds o instante original, as partículas elementares se juntaram para formar os isótopos dos núcleos de hidrogénio e de helio. Assim o mundo que hoje conhecemos, comecou a tomar suas primeiras linhas básicas.

13) Toda a historia que acaba de ser descrita, durou tres minutos e vinte segundos. A partir daf, a evolucáo será muito mals lenta. Durante milhoes de anos o universo inteiro será banhado de radiacóes e de um plasma de gas turbilhonante.

Aos 100 milhóes de anos, as primeiras estrelas se formaram em

¡mensos turbilhóes de gas. Foi no ámago délas que os átomos de hidro génio e helio se fundiram para dar origem aos elementos pesados que entraram na constituido da Térra bilhdes de anos depois.

Trata-se, portento, de realidades vertiginosamente possantes e

concatenadas. Os astrofísicos perguntam: que é que explica o surto do

universo ou, melhor, da energia inicial que expiodtu no big bang, com todo o código de informacóes subseqüentes? Para tal pergunta, eles nao tém resposta. Detém-se perplexos diante do Muro de Planck ou diante

daquele 10"43 de segundo em que se deu a explosSo, sem poder dizer o

que houve antes. Para tras do Muro de Planck, há, para os cíentistas, o misterio total.

Continuaremos a refletir sobre o assunto sob o título seguinte.

2. Acaso ou Inteligencia Criadora?

A explanacSo até aqui desenvolvida evidencia que a historia do uni verso é a de urna energia indiferenciada que traz em si a tendencia a se organizar espontáneamente em sistemas sempre mais heterogéneos. A evolucjto é orientada da unidade para a diversidade, realizando ordem a partir da desordem, elaborando estruturas cada vez mais complexas...

Pergunta-se, porém: por que a natureza produz ordem? - A per gunta ¡mpóe-se com-insistencia se se leva em conta que o universo pare

ce ter sido minuciosamente disposto a fim de permitir o surto da materia com todas as suas micro e macroconstelacóes. Se as leis físicas nao tivessem sido rigorosamente o que elas foram e sao, "nao estaríamos aqui

para falar délas" (Hubert Reeves, astrofísico). Mais: se urna das grandes 151

8

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

constantes universais (por exemplo, a constante da gravitado, a velocidade da luz ou a constante de Planck) tivesse sofrido, ñas suas origens, urna ínfima alterado, o universo nSo terla possibilidade de abrigar seres vivos e inteligentes; talvez mesmo nunca teria aparecido. Ora a preclsáo vertiginosa, infinitamente grande e infinitamente pe-

quena, do universo será resultado do acaso ou deve-se á vontade de urna Causa Prímeira, de urna Inteligencia, que transcende a nossa realidade? Existe um plano universal, do qual cada elemento foi minuciosamente calculado? Existe urna ordem subjacente atrás daquilo que a nossa igno rancia chama "o acaso"?

É o que vamos examinar ñas páginas seguintes. 2.1. Observando de perto...

1. Consideremos um floco de nevé. Pequeño como é, obedece a leis matemáticas e físicas de surpreendente sutileza, dando lugar a figuras geométricas diferentes urnas das outras: cristais e policristais, agulhas,

dentrites, plaquetas, colunas™ O mais maravilhoso é que cada floco de nevé é único no mundo; flutuando durante urna hora no vento, foi submetido a varias influencias: as da temperatura, da umidade, das impure zas da atmosfera'., que contribuiram para imprimir ao floco a sua confi-

guracáo típica e singular; a forma final de um floco contém a historia de todas as condicóes atmosféricas que ele atravessou. Examinando, porém, de perto esse floco, verificamos nele urna bela ordem, um equilibrio deli cado entre as forcas de estabilidade e de instabilidade ou urna ¡nteracáo fecunda entre forcas da escala atómica. Donde vem esse equilibrio? Qual a orígem dessa simetría? 2. Eis urna experiencia significativa, que suscita as mesmas interro gares.

Imaginemos urna placa fotográfica sobre a qual se projetam raios de luz ou fotdníos provenientes de determinada fonte. Entre esta fontee a placa fotográfica coloca-se urna tela portadora de duas fendas verticais paralelas entre si. Se alguém projeta as partículas luminosas urna por urna na direcio das fendas, ó-lhe impossível dizer qual fenda a partícula vai atravessar nem em que ponto preciso da placa fotográfica ela se vai colocar. Por conseguinte, os movimentos e a trajetória de cada partícula luminosa sSo para nos Imprevisíveis.- Todavía, apds um milheiro de lan ces aproximadamente, verifica-se que os fotonios nio imprimem urna

mancha qualquer sobre a placa fotográfica. O conjunto das partículas projetadas urna após a outra oferece urna figura perfeitamente estrutura152

DEUSE A CIENCIA

9

da. Tal figura, em seu conjunto, era plenamente previsivo!. Com outras palavras: a (ndole aleatoria do comportamiento de cada partícula ¡solada incluia, na verdade, urna grande ordem e harmonía multo elevada, que

nao podíamos imaginar. Tal experiencia significa que o universo nao decorre do acaso, mas é fruto de diversos graus de ordem e harmonía, cuja hierarquia nos com pete decifrar. Os elementos postos inicialmente em turbulencia e desor-

dem que nao podemos compreender, parecem, ao final das cont'as, mo vidos por algo que os especialistas chamaram "o Estranh.0 Atraente". 2.2. Formulando hipóteses...

Os astrofísicos afirmam que toda a realidade pousa sobre urnas tantas (menos de quinze) constantes cosmológicas: a constante da gravi tado, a da velocidade da luz, a do zero absoluto, a constante de Planck... Conhecemos o valor de cada urna dessas constantes com notável precisáo.

Ora, se urna só dessas constantes tivesse sido modificada (por pouco que fosse) no inicio da historia do universo, este, como o conhecemos hoja, nao teria podido aparecer. Exemplo impressionante é o da densidade inicial do universo: se esta se tivesse afastado (por pouco que fosse) do seu valor crítico desde

10*35 de segundo após o big bang, o universo nao se teria constituido. Foi a precisáo das dimensóes iniciáis, combinadas entre si, sem a mínima

oscilacáo, que permitiu o desencadeamento de todas as fases subse-

qüentes. Outro exemplo dessa fantástica harmonía: se aumentássemqs de 1% apenas a intensidade da forca nuclear que controla a coesáo do nú cleo do átomo, extinguiríamos a possibilidade de que os núcleos de hidrogénio ficassem livres; eles se combinariam com outros protónios e neutrónios para formar núcleos pesados. Em conseqüéncia, o hidrogé-

nio, deixando de existir, já nao se poderla combinar com os átomos de oxigénio para produzir a agua indispensável ao surto da vida. - Se, ao

contrario, diminuissemos em grau mínimo a forca nuclear, tornar-se-ia imposslvel a fusáo dos núcleos de hidrogenio. E, sem essa fusSo nuclear,

nao haveria sois, nem fontes de energia, nem vida. Ainda outro exemplo: se a forca da gravidade tivesse sido mais fraca por ocasiáo da formacáo do universo, as nuvens primitivas de hidro genio nunca teriam podido condensar-se para atingir o limiar crítico da 153

10

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

fusáo nuclear: as estrelas nunca se teriam acendido. Mas também a hi-

pótese contraria seria infeliz: um poder atrativo da gravidade mais forte teria provocado um auténtico embalo das reagoes nucleares; as estrelas

se teriam incendiado furiosamente, para morrer táo depressa que a vida nem teria tido o tempo de se desenvolver.

Mais: algo de semelhante se dá com a forca eletromagnética. Se a aumentássemos muito levemente, reforjaríamos a ligagáo entre o eletrónio e o núcleo; em conseqüencia, as reagoes químicas que resultam da

transferencia dos eletrónios para outros núcleos já nao seriam possíveis. Uma grande quantidade de elementos nao se poderiam formar; em tal universo, as moléculas de ADN nao teriam condicóes de aparecer.

Todos estes exemplos mostram unánimemente que, se se modifica, em grau mínimo que seja, o valor dos parámetros considerados, extin guimos toda possibilidade de origem da vida. Por conseguinte, as cons tantes fundamentáis da natureza e as condicóes iniciáis, que permitiram o surto da vida, parecem ter sido dimensionadas com precisáo vertiginosa. Em confirmacáo, notemos ainda o seguinte: se o teor de expansáo

do universo tivesse sofrido um desvio da ordem de 10'4u, a materia ini

cial se teria espalhado no universo vazio; nao teriam aparecido as gala xias, as estrelas e a vida. Para se ter uma pálida idéia da inconcebível fir meza com que o universo foi dimensionado, imaginemos a proeza que se exigiría de um jogador de golf, que, posto na Térra, quisesse lanzar a sua bola para dentro de um buraco existente em algum ponto do planeta Marte I

2.3. Cottctusüo Estas ponderagóes suscitam a forte convicgáo de que nem as gala xias nem os bilhóes de estrelas nem os planetas nem a própria vida sao apenas um acídente ou uma flutuagio do acaso. O mundo que hoje conhecemos, nao apareceu um belo dia, e nao em outro, simplesmente

porque um par de dados cósmicos rolou de maneira bem sucedida. Só pode pensar assim quem nao conhega a realidade dos números atrás apontados!...

Para corroborar esta conclusáo, os matemáticos conseguiram fabri car computadores que geram números aleatorios (casuais); sao máquinas destinadas a "produzir o acaso". E verificaran) que esses computadores deveriam calcular durante bilhóes de bilhóes de bilhóes de anos... antes que ocorresse uma combinagáo de números comparável aqueles que permitiram a eclosüo do universo e da vida. Com outras palavras: a probabilidade matemática de que o universo tenha sido gerado pelo acaso, é praticamente nula. 154

DEUS E A CIENCIA

11_

Donde se vé que a existencia do universo - e do universo com o quadro necessário ao surto da vida - estava minuciosamente programa da desde o inicio, ou desde o Tempo de Planck ou o Muro de Planck. Tu-

do o que hoje existe, desde as estrelas até as chaves de casa e as árvores do jardim, já existia em germen no minúsculo universo originario.

É o que lembra o principió antrópico, emitido em 1974 pelo astrofí sico inglés Brandon Cárter. Segundo este dentista, "o universo possui, muito exatamente, as propriedades exigidas para ser o habitat de um ser dotado de inteligencia". As coisas sao o que elas sao, simplesmente porque nao poderiam ter sido diferentes; nao há lugar, na realidade, para um universo diferente daquele no qual fomos colocados.

3. Palavra final

Estes poucos traeos de ciencia e reflexáo extraídos do livro de Jean Guitton e G. e I. Bogdanov possibilitam, de certo modo, chegar a Deus ou á conclusáo de que existe um Ser Superior, dotado de Inteligencia, Sabedoria e Amor perfeitíssimos, autor dos cálculos que o homem vai refazendo aos poucos, e Criador da energía inicial, á qual incutiu as forcas e leis, precisamente definidas, de sua evolupáo. Tal Ser Superior - Deus conhece os misterios do universo e rege a sua historia. Foi Ele que, quando o mundo irracional estava devidamente arrumado e organizado,

houve por bem criar a alma humana (espiritual ou ¡material) e infundi-la

ao organismo do vívente primata, que se tornou o ser humano''. Este (o

homem) é o ponto de chegada da evolucáo da materia, associando em si mesmo materia e espirito, e fazendo a mediacáo entre o mundo inferior e o Criador. O homem assim originado deve ser objeto de grande carinho da parte do Criador; para ele foi preparado o cenário que o cerca, a fim de que, contemplando-o com inteligencia e profundidade, descubra os vestigios do Criador e glorifique o Senhor Deus, que o fez, o conserva e o chama á plenitude da vida.

1A fé católica permite que se professe a origem do corpo humano por evolugSo da materia viva irracional. Esta, quando atingiu as condigóes devi das, recebeu por infusáo a alma humana diretamente criada por Deus - o que deu origem a existencia do homem sobre a Térra. A alma humana, sendo es

piritual, nao pode serproduto da materia em evolugao, ao passo que o corpo humano, sendo material, pode ser oriundo da materia preexistente.

Todavía a fé católica nño define como verdade dogmática nenhuma teo ría a respeito da origem do homem, desde que se salvaguarde a diferenga en

tre corpo e alma ou entre materia e espirito. 155.

Mais um Santo que surge:

A BEATIFICAQÁO DE MONS. ESCRIVÁ

E m símese Quando alguém morre em fama de santidade e o povo de Deus (Hierarquia e laicato) toma consdéncia desse fato, a Igreja pode abrir urna serie de Processos para investigar se a fama é justificada: ouvem-se testemunhas, examlnam-se os escritos e os jeitos do(a) Servo(a) de Deus com intuito critico, a ñm de que neo haja precipitado ou engaño na conclusáo decisiva. Caso esta seja favorável ao reconhedmento da santidade do(a)

Servo(a) de Deus, a Igreja aguarda a realizacáo de um auténtico milagro,

comprovado por serio exame de dentistas e teólogos. Desde que se verifique a ocorrénda de genuino portento (geralmente a cura de doenga grave irreversfvel), obtído por intercessño do(a) Servo(a) de Deus, a Igreja julga ter os sinais da Providencia suficientes para declarar Bem-aventurado(a) tal fílho(a) seu(sua). teto Implica que doravante se Ihe possa prestar culto de veneracáo e peer publicamente suas preces junto ao Paido Céu. Após a BeatifícacSo há normalmente a CanonlzagSo ou InscrigSo de taljusto no catálogo dos Santos; a Canonizagáo supóe mais um milagre e nova pericia. Ora Mons. Josemaria Escrivá, Fundador do Opus Deí, é um Servo de Deus que, após os devidos exames canónicos e médicos, será beatificado aos 17/05 pt. - O artigo que se segué, foi entregue a PR por representantes do Opus Del no Brasil, IrmSos a quem a nossa revista agradece vivamente a

cotaboragSo. Vém af narrados os trámites do processo de BeatifícagSo de Mons. Escrivá.

Em funfáo da reforma iniciada em 1969 por Paulo VI e continuada

por Jofio Paulo II em 1983, as Causas de Canonizado recentes podem concluir-se bem mais rápidamente que em tempos passados. Dessa for ma o Povo de Deus tem como exemplo figuras mais atuais, que respondem á sensibllidade contemporánea. 156

beatificaqáode'mons. escrivá

13

Todas as Causas de Canonizarlo percorrem um itinerario em que se sucedem: a) urna fase preliminar, dedicada á verificado da existen cia das condicóes indispensáveis para empreender a investigacáo; b) urna fase ínstrutória, para a coleta das pravas testemunhais e documentáis;

c) urna fase de estudo, em que as pravas s3o sujeitas ao exame da Congregado pontificia competente. 0 ato conclusivo desse primeiro momento fundamental da Causa é representado pelo Decreto sobre a

Heroicidade das Virtudes. O segundo momento compreende a instrutória relativa ao milagre, a correspondente fase de estudo e o De creto super miro (sobre o milagre). A causa de Canonizado de Mons. Josemaria Escrivá inclui-se nesse quadro. A Beatificado, anunciada para o dia 17 de maio de 1992, terá lugar 17 anos a pos a morte do Bem-aventurado.

1. Fase preliminar

O Fundador do Opus Oei* faleceu em Roma em 26 de junho de 1975. Naquele tempo - e hoje também - a Causa só podía ser introduzida cinco anos a pos a morte do Servo de Deus, para permitir urna suficiente certeza da consistencia da fama de santidade.

A Causa do Fundador do Opus Dei foi introduzida em 19 de fevereiro de 1981, quase seis anos após sua morte. A evidencia de sua fama de santidade parecia tanglvel. Chegaram a Santa Sé cerca de 6.000 cartas postulatórias, de mais de cem países. Dirigiram-se nesse sentido ao Santo Padre, pedindo a introducto da Causa, entre outros, 69 Cardeais, 24 Arcebispos, 987 Bispos (mais de um terco do episcopado mundial) e 41 Superiores de Ordens e Congregares Religiosas, além de numerosos Chefes de Estado e de Governo, expoentes do mundo da cultura, da cien cia, e de muitfssimas pessoas das classes sociais mais humildes.

Em dois volumes de mais de 800 páginas, recolheram-se urna serie de testemunhos da fama de santidade em vida e depois da morte. Um dos Consultores Teólogos, a quem foi confiado o estudo da Causa, escreveu:

"Um estudo sólido e convincente do qual emerge a profundidade e a

amplitude do impacto da figura do Servo de Deus na Igreja. É realmente inu' Opus Dei = Obra de Deus, escola de espiritualidade, aborta a sacer dotes e lelgos. (Nota da Redagño), 157

14

"PÉRGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

sitada a riqueza dos testemunhos, que vSo desde altas personalidades da hie-

rarquia eclesiástica - Papas, Canjeáis, Bispos -eda sodedade civil, até um grande número de sacerdotes, Religiosos e leigos de todos os continentes"

(1). Em volume de 672 páginas, foram apresentadas 1.500 narracóes, assinadas, de favores atribuidos á ¡ntercessáo de Mons. Escrivá, selecionadas entre aproximadamente 10.000, nos tres primeiros anos após a sua morte.

Alguns artigos que a ¡mprensa internacional havia dedicado ao

Fundador do Opus Dei por ocasiSo do quarto aniversario do seu faiecimento, foram recolhidos em um volume de 600 páginas. Entre outros, o Cardeal Albino Luciani, um mes antes de ser eleito Papa, exaltava a originalidade do seu contributo a espiritualidade crista (2). O Cardeal Pá rente o comparava aos grandes fundadores, como Sao Bento e Sao Fran cisco (3). O Cardeal Agnelo Rossi definía o Servo de Deus como um

"testemunho excepcional" da rnissáo salvffica universal da Igreja (4). O Cardeal Carberry, de- Saint Louis, declarava que o Fundador do Opus Dei foi "um dos herofs do nosso século" (5). E o Cardeal Otunga, de Nairobi, nao hesitava em defini-lo como "um dos maiores santos de to dos os tem pos" (6). Estas breves mostras sao suficientes para testemunhar que a Causa de Canonizacáo de Mons. Josemaria Escrivá constituí urna resposta da Igreja a um desejo muito generalizado no povo de Deus. NSo parece pretensioso, portento, afirmar que a sua Beatificacáo já próxima será fonte de beneficios espirituais para toda a comunidade eclesial. As noti cias dos frutos de vida crista que em toda a parte sao atribuidos á sua intercessao, constituem já'uma clara demonstracáo disso.

2. Fase instrutória

No mes de maio de 1981 foram instruidos dois processos instrutó nos sobre a vida e as virtudes, um em Roma e outro em Madri. Alguns dados mostram a amplitude excepcional desse trabalho, que se estendeu por seis anos e meio. Em 980 sessóes foram entrevistadas 92 testemu-

nhas de visu, capazas de informar sobre a vida de Mons. Escrivá desde a sua Infancia ata a morte. Entre eles quatro Cardeais, quatro Arcebispos, sete Bispos, vinte e oito sacerdotes e cinco Religiosos.

Mais de 50% das testemunhas nao pertencem ao Opus Dei, percentual bastante superior ao exigido pela normativa em vigor e que asse158

BEATIFICACÁO DE MONS. ESCRIVÁ

15

gura a necessária neutralidade do aparato probatorio. Os Tribunais ecle siásticos receberam informa;óes também de onze ex-membros do Opus Dei, e a Postulacáo* fez questáo de que fossem ouvidas algumas testemunhas manifestamente contrarias. Assim se pronunciaram os Consultores Teólogos: "Temos entre as máos urna extraordinaria quantidade de dados, que nos ajudam a amadurecer um jufzo seguro sobre um personagem de estatura excepcional" (7).

"A concordancia e a explicitude dos testemunhos sobre o heroísmo afcangado pelo Servo de Deus tém um caráter probatorio definitivo" (8). Os escritos do Servo de Deus chegam a 13.000 páginas em 71 volumes. O estudo critico de tais escritos foi confiado pelos Tribunais a

quatro Teólogos Censores. Eis algumas das suas conclusóes: "Escrivá possui a torca dos clássicos, a tempera de um Padre da Igre-

"Pode-se reconhecer que estes escritos foram precursores e anteciparam as mais importantes decisdes do Vaticano II (...). Apresentaram o ideal da vida crista comum, em um contato direto com o Evangelho, de urna forma que ató agora nunca havia aparecido na historia da Igreja" (10).

"O Fundador do Opus Dei aparece neles (nos escritos) como urna personalidade de urna profundidade espiritual abissal, destinada a deixar um rasto inapagável na vida e na historia da Igreja" (11).

3. Fase de estudo

Em 3 de abril de 1987 foi decretada a validada dos processos. Sob a guia e o controle do Relator designado, o Revmo. Pe. Ambrosio Eszer, O.P., urna equipe de especialistas em Teología, Historia da Igreja e Direito Canónico, coordenados pelo Postulador e com o auxilio de especia listas em informática, pós-se a elaborar a "Positio super vita et virtutibus", ou seja, a exposicáo sistemática das provas surgidas dos proces sos e das pesquisas histórico-documentais sobre a vida do Servo de Deus.

'Comissáo encarregada de levar adiante o processo. (N.d.R.) 159

16

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

A "Positio" consta de quatro volumes, com um total de 6.000 pági

nas, e contém: a "Inforrnatio", o "Sumario" dos depoimentos processuais, a "Biografía documentada" e o "Estudo crítico sobre a heroicidade das virtudes". A Biografía reconstrói em 1.500 páginas o desenvolvímentó da trajetória terrena do Servo de Deus seguindo o método histéri co-crítico, isto é, fundamentando cada afirmacáo através de urna análise e de um confronto rigoroso das fontes. Também o Estudo crítico sobre as virtudes se desenvolve segundo o método científico. O exame de cada virtude é conduzido em cerca de 1.000 páginas, segundo urna rigorosa análise teológica. Os Consultores Teólogos reconheceram que deste mo do a verifícacáo da heroicidade foi elevada "ao máximo grau de certeza analítica" (12). Eis alguns dos julzos expressados pelos Consultores acer ca da qualidade da "Positio":

'Tratase de um trabalho precioso (~.), como tatvez nunca tenha sido enfrentado e realizado ató hoje sobre um Servo de Deus" (13).

"Havendo terminado o trabalho, parece-me que as virtudes do Servo de Deus sSo nio apenas narradas e provadas á luz do día, mas a sua originandade como estilo de vida em si e como exemplo para os outros - "luceat lux vestrai" - enriquece a hagiografía crista com urna estrela de primeira gran deza" (14).

A "Positio" foi entregue á Congregacáo em junho de 1988 e con fiada por esta ao estudo dos Consultores Teólogos. Um ano e dois meses

depois, em 19 de setembro de 1989, teve lugar o Congresso dos Consul

tores, presididos pelo Promotor Geral da Fé, Mons. Antonio Petti, que se pronunciou favorável á heroicidade das virtudes. Os consultores expréssaram-se também sobre a oportunidade da Causa. Surgiu daí a conviccáo de que um rápido pronunciamento formal acerca da heroicidade das virtudes estaria em perfeita sintonía com a orientacao pastoral da recente

reforma da Causa dos Santos, visando a oferecer á imitacáo dos fiéis o exemplo de figuras particularmente atuais (15).

Atualmente está abolido o limite de cinqüenta anos que o Código de 1917 determinava ser necessárío desde a morte do Servo de Deus até

a decía racio das virtudes heroicas (16). Mesmo no antigo regime, tal li mite era objeto habitual de dispensa. Assim, por exemplo, Santa Francis

ca Saveria Cabrinl foi beatificada apenas 21 años após a sua morte, enquanto a Beatifícacáo de Santa Teresa do Menino Jesús se deu 25 anos

após o seu falecimento e a Canonizacáo apenas dois anos e meio mais tarde. Procedimentos táo rápidos seriam ainda mais abreviados hoje.

Naquele tempo instruiam-se dois processos, escritos e transcritos inteiramente á máo, e a Postulacáo devia preparar duas "Positiones" de for160

BEATIFICACÁO DE MONS. ESCRIVÁ

17

ma que o tempo para as declarares era pelo menos o dobro com respeito á sistemática atual.

O juízo dos Consultores com respeito a oportunídade da Causa é explícito. Eis algumas das afirmacóes:

"Considero providencial que a Causa deste Servo de Deus cheque a sua conclusño em um tempo excepcionalmente rápido, menos de quinze anos

após a sua morte, para que perante os graves fenómenos, de que somos es pectadores, se erga esta figura de apostólo intrépido e fidelíssimo á Igreja. To das as difículdades que em um primeiro momento me parecía entrever, e que poderiam suscitar alguma perplexidade, vi-as desfazer-se como a nevé ao sor (17).

'

"Fica-se admirado perante a figura polifacética e gigantesca do Servo de Deus e surge espontáneamente o agradecimento á Providencia por ter re servado a este secuto, que chega ao seu fim, a presenca de um sacerdote e fundador que encarnasse plenamente um dos ensinamentos fundamentáis do Vaticano II, isto é, a vocacSo universal á santidade, e déla se tomasse um apostólo e um exemplo incomparável" (18). "Tatvez nao nos engañemos ao dizer que se trata da Causa do maior apostato deste nosso secuto" (19).

"Um modelo acabado e atraente da santidade de que tem necessidade o mundo contemporáneo" (20).

4. Decreto sobre a herotcidade das virtudes

No mesmo sentido pronunciou-se a Congregado ordinaria dos Cardeais e dos Bispos na reuniáo de 20 marco de 1990, em que foi Rela

tor o Exmo. Card. Edouard Gagnon.

Acolhendo pareceres táo unánimes, o Santo Padre Joao Paulo II promulgou o Decreto sobre a Heroicidade das Virtudes em 9 de abril de

1990. O documento, além de sublinhar "a prodigiosa fecundidade" do apostolado do Servo de Deus, evidencia "o seu contributo á promocáo do laicato", define-o como "um exemplo ¡mperecível de zelo pela formacao dos sacerdotes" e compara os seus escritos ás "obras clássicas da espiritualidade", reafirmando a atualidade do exemplo e da mensagem de Mons. Escrivá:

161

18

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

"Esta mensagem de santificagáo eme a partir das realidades terrenas revelase providencialmente atual para a situagSo espiritual da nossa época.

Com efeito, nos nossos dias, ao mesmo tempo que sSo exaltados os valores humanos, percebe-se tambóm urna forte propensáo para urna visáo imánente do mundo, entendido como realidade separada de Deus. E esta mensagem

convida os crist&os a procurar a uniáo com Deus através do trabalho cotidia no, que constituí urna obrigagáo e urna fonte perene da dignidade do homem

na tena. Rea patente, por isso, a adequaeño desta mensagem ás circunstan cias do nosso tempo, e parece além disso destinada a perdurar de modo ¡nalterável, como fonte inesgotável de luz espiritual, por cima de quaisquer vicissitudes históricas.

Regnare Christum volumusl Esta foi a grande asplragáo do servo de Deus, que também se pode descrever assim: colocar Cristo no Cume de

todas as atividades humanas. O servigo eclesial de Josemaría Escrivá suscitou um Impulso ascensional para Deus em homens imersos ñas realida

des temporais, de todos os ambientes e profíssóes, de acordó com aquetas palavras do Senhor - Et ego. si exaltatus fuero a térra, omnia traham ad melpsum (lo 12£2 Vg) -, ñas quals o Servo de Deus vía compendiado o núcleo do fenómeno pastoral do Opus Del". Muitas Missas de acáo de gracas pela promulgado do Decreto foram celebradas em todo o mundo, com significativa participacáo da hte-

rarquia eclesiástica: ¡ntervieram mais de 15 Cerdeáis, bem como 140 Nuncios Apostólicos, Arcebispos e Bispos. Mais de urna centena de Ordi narios locáis expressou por escrito a sua satisfago e a esperanza de urna

rápida Beatificacáo. Contam-se ás centenas de milhares os fiéis que estiveram presentes ñas diversas localidades.

5. Reconhecimento de um

milagre atribuido á intercessáo do venerável Escrivá A reforma de 1983 conservou a prava do milagre como condicao para a Beatificacáo, limitando-se, com respeito ao Código de 1917, a re-

duzir a apenas um o número de milagros exigidos (21).

O processo super miro - sobre o milagre - é sempre instruido em estreita concomitancia temporal com o evento prodigioso, para evitar que o transcurso do tempo deteriore as pravas.

O milagre escolhido para a Beatificacáo do Venerável Josemaría Escrivá verificou-se em 1976, cerca de um ano após a sua morte. Trata-se 162

BEATIFICACÁO DE MONS. ESCRIVÁ

19

da cura repentina, perfeita e duradoura da lrm§ Concepción Boullón Ru bio, de urna doenca cujo diagnóstico foi descrito pela Junta Médica da

Congregado das Causas dos Santos, como: "Lipocalcinogranulomatose tumoral com localizares múltiplas, dolorosas e invalidantes, com volu-

me máximo de urna laranja a nivel do ombro esquerdo; estado caquético

em paciente com úlcera gástrica e hernia do hiato complicada por grave

anemia hipocrómica".

A Irma Concepción era urna Carmelita da Caridade de 70 anos e re sidía no Convento de Sao Lourenco do Escorial, perto deMadrl. Chegada já b beira da morte por causa do desenvolvimento das suas diversas pa tologías, inesperadamente, em urna noite de junho de 1976, curou-se de

modo completo. Juntamente com o tumor, ficou curada de todos os outros disturbios, e reassumiu as suas atividades normáis. Nao Ihe foi mi nistrada nenhuma terapia.

Sobre esta cura, a Curia Arquiepiscopal de Madri, com a autoriza rá o da Congregado, instruiu um processo canónico em 1982; o Decreto

de validade foi emanado da Congregacjío em fins de 1984. Naquela ocasiáo, os Processos sobre as virtudes do Servo de Deus estavam aínda em andamento. A Congregacáo iniciou o procedimiento para o exame médi co e teológico; haviam transcorrido oito anos desde a celebrado do pro cesso.

A Sessáo da Consultoria Médica sobre o possível milagre deu-se

em 30 de junho de 1990, e a do Congresso dos Consultores Teólogos em 14 de julho de 1990, ambas com resultado favorável unánime. A Congre gado ordinaria dos Cardeais e dos Bispos, reunida em 18 de junho de 1991, pronunciou-se também com voto positivo unánime. A leitura do

Decreto sobre o milagre teve lugar em 6 de julho de 1991. O andamento temporal desta última fase nao é regulado pela lei e varía em dependencia de fatores diversos. Se o fato prodigioso se deu

durante o desenvolvimento do processo sobre as virtudes, o seu exame é iniciado ¡mediatamente depois do Decreto e dura normalmente cerca de um ano. Este tempo pode ser menor (se, por exemplo, a exigencia de se proceder á Beatificado por ocasiáo de urna viagem papal pede maior ra pidez), ou maior (no caso, por exemplo, de surgir a necessidade de com

pletar a documentado ou de ouvir as testemunhas). É obvio que, no caso em que nSo se dé o milagre, entre o Decreto sobre as virtudes e o De creto sobre o milagre podem passar também muitos anos. O Decreto pontificio sobre a heroicidade das virtudes do Fundador do Opus Dei sublinhava a universalidade da sua fama de santidade e a 163

20

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

definía como "um verdadeiro fenómeno de piedade popular". Confir mando a extensSo da difusáo de tal devocáo, o Decreto sobre o milagre se refere a "dezenas de milhares de favores, espirituaís e materiais, alguns dos quais claramente extraordinarios" que sao atribuidos ao Vene-

rável Josemaria Escrivá e demonstram a profundidade da confianca no "seu poder de intercessáo junto a Deus".

A Postulado do Opus Dei recolheu, em dois volumes que totalizam 1.200 páginas, a documentacáo de outras vinte curas atribuidas ao Fundador do Opus Dei e declaradas científicamente inexplicáveis nos estudos feitos por especialistas. Mas, além dessas interven?óes prodigio sas, conservam-se na Postulacáo mais de 75.000 relatos assinados, pro venientes de todo o mundo, de gracas obtidas mediante a ¡ntercessáo do Venerável Escrivá: narracóes vivíssimas de conversóes, decisóes firmes de dedicacáo total a Deus, vocacóes sacerdotais e religiosas, reconcilia res com Deus á beira da morte, familias reunidas depois de tongas dis cordias, situacóes moráis complicadas resolvidas de maneira feliz e estável. Enfim, urna figura sacerdotal que desperta em ¡numeras almas a confianca na misericordia paterna de Deus e o desejo eficaz de servir á Igreja. Bem disse o Consultor, descreyendo este fenómeno: "Se se leva em considerado a fama de santídade, confirmada com sinals quase incontáveis em todas as partes do mundo, a Igreja se está interessando por alguém que, além de ser urna grande figura de santo, é um grande

taumaturgo como nos lempos mais luminosos da sua historia" (22).

NOTAS

(1) Relatio et Vota Congressus peculiaris su per virtutibus, 19 septembris 1989 habiti, Roma 1989, pp. 121-122.

(2) Cfr. A. LUCIANI, Cercando Dio nel lavoro quotidiano, in "II Gazzetino", Veneza, 25-VII-1978.

(3) Cfr. P. PÁRENTE, As raizas da espiritualidade do Fundador do Opus Dei, in "L'Osservatore Romano", 24-VI-1979. (4) A. ROSSI, Mensagem universal de Mons. Escrivá, in "O Estado de Sao Paulo", Sao Paulo, 27-VI-1976. (5) J. CARBERRY, The work of God, in "The Priest", Huntington, junho 1979.

(6) Testemunho difundido na imprensa, Nairobi, 21 -VI-1979. (7) Relatio et Vota, cit., p.5. (8) Ibid.pp. 115-116.

<9) Informatio, Voti di Teologi Censori, p.43. 164

BEATIFICADO DE MONS. ESCRIVÁ

21

(10) Ibid, p.54.

(11) lb¡d,p.126. (12) Relatio et Vota.cit., p.119.

(13) lb¡d, p.101. (14) Ibid, p.79.

(15) Cfr. Relatio et Vota.cit., p.206.

(16) Cfr. Código de Direito Canónico (1917). can. 2101. (17) Relatio et Vota, cit., pp.43-44. (18) Ibid, p.69. (19) Ibid, p.5. (20) Ibid, p.207.

(21) Cfr. Código de Direito Canónico (1917), e Regulamento, art. 26, par. 1.

(22) Relatio et Vota Congressus pecultaris super virtutibus. cit., p.69.

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pregagáo de Retiros e na orientagáo dos fiéis, tanto no Brasil como na india e em outras partes do mundo.

Entrega ao público um livro de iniciagáo á vida crista, comegando pela existencia de Deus e terminando com um incentivo á devogSo ao S. CoragSo de Jesús, símbolo do Amor que primeiro nos amou (cf. Uo 4,19). O autor percorre as diversas etapas da vida Cristi, considerando sempre as objegdes que comumente sao feitas á Divlndade de Jesús Cristo, ao Sacramento da Igreja, á prática sacramental dos fiéis, á necessidade de oragáo... Considera também a Moral católica em seus diversos aspectos: justiga social, castidade

e sexualidade, amor ao próximo... Mostra o papel da vlrgem María na vida de

devogSo do cristáo. A linguagem do autor ó muíto simples e clara, recorrendo a numerosos exempbs Orados da vida dos Santos e de grandes figuras masculinas e femininas da historia, de modo que a leitura se toma agradável e proveitosa. Especialmente interessantes sao as observagóes que o Pe. Gar denal tece em resposta aos que tém difículdade para se confessar (pp. 97-107), como também as ponderagdes sobre castidade e vida sexual; cita textos de médicos que dissipam a Idéia de que a castidade faz mal á saúde, evidenciando, ao contrario, que é benéfica ao trabaiho Intelectual e a outras atividades do individuo humano (cf. pp. 110-120): (continua na p. 180) 165

Diálogo interconfessional:

POR QUE NAO SOU PROTESTANTE?

Em sfntese: O artigo seguirte aponta as grandes razQes pelas quais o Protestantismo se toma inaceltável ao cristSo que refuta um pouco. O subje tivismo ou a falta de parámetros ojetlvos, garantidos pelo próprío Espirito Santo (cf. Jo 14, 26; 16, 13s) é o principal ponto fraco ou o calcanhar de Aqui las do Protestantismo; ésto se segué a divisio do mesmq em centenas e centenas de denominagóes diversas, cada qual com suas doutrinas e práti-

cas, ás vezes contraditórias ou mesmo hostis entre si. O Protestantismo assim se afasta cada vez mais da Biblia e das suas raizas (paradoxol), levado peto fervor subjetivo de seus "profetas", que apresentam um curanderismo barato ou um profetismo fantasioso ou aínda um retorno ao Anttgo Testamento com menosprezo do Novo. - Essa dilulgáo do Protestantismo e a parda dos valores típicos do Cristianismo estío na lógica do principal fundador - Lulero

-, que apregoava o llvre exame da Biblia ou a leitura da Biblia sob as luzes exclusivas da inspirac&o pessoal de cada crente; cada qual tira do Uvro Sa grado o que bem Ihe parece ou Irte apraz.

Os protestantes vém espalhando folhetos intitulados "Razóes por que nSo sou católico romano". Argüecn os católicos de cometer erros quanto ás imagens, o culto da Virgem Santíssima, a Eucaristía, o Papa... S3o panfletos de índole superficial, inspirados por preconceitos que desfigurarn os fatos. Na verdade, porém, muitos fiéis católicos se deixam impressionar por tais escritos e pedem respostas para as objecóes que léem. A fim de atender a esta demanda, redlgimos o livro "Diálogo Ecu

ménico" (Ed. Lumen Christi, C.p. 2666 - 20001 Rio, RJ) e o Curso de Diá logo Ecuménico por Correspondencia (C.p. 1362,20001 Rio, RJ). Contudo a experiencia ensina que é oportuno multiplicar os meios de informacáo para os católicos. Daí a redacSo das páginas subseqüentes, que recolócam a questSo das "razóos por que..". Tentaremos asslm por em evldén-

166

POR QUE NAO SOU PROTESTANTE?

23

da alguns tópicos que poderáo servir aos ¡nteressados no diálogo ecu ménico. 1. Seis Razóes... 1.1. Somente a Biblia...

Os protestantes afirmam que seguem somente a Biblia como nor ma de fé.

Acontece, porém, que a Biblia utilizada pelos protestantes é urna só; em portugués, vem a ser a traducao de Ferreirá de Almeida. Por que entáo nao concordam entre si no tocante a pontos importantes (ver n-1.2 abaixo)? E por que nao constituem urna só comunidad? crista, em vez de serem centenas e centenas de donominacóes separadas (e até hostis) en-. tre si? - A razio disto é que, além da Biblia, seguem outra fonte de fé e disciplina... fonte esta que explica as divergencias do Protestantismo.

Tal fonte, chamamo-la Tradicáo oral; é esta que dá vida e atualidade á letra do texto. A Tradicáo oral do Catolicismo comeca corr» Cristo e os Apostólos, ao passo que as tradicóes oráis dos protestantes comecam com Lutero (1517), Calvino (1541), Knox (1567), Wesley (1739), JosephSm¡th(1830)...

Entre Cristo e os Apostólos, de um lado, e os fundadores humanos

das denominacóes protestantes, do outro lado, nao há como hesitar: só se pode optar pelos ensinamentos de Cristo e dos Apostólos, deixando de lado os "profetas" posteriores. 1.2. Contradicóes

O fato de que nao seguem somente a Biblia, explica as contradicóes do Protestantismo: -

algumas denominacóes batizam enancas; outras nao as batizam; algumas observam o domingo; outras, o sábado; algumas tém "bispos"; outras nao os tém; algumas tém hierarquia; outras entregam o governo da comuni dade a própria congregacáo (congregacionalistas);

- algumas fazem cálculos precisos para definir a data do fim do mundo - o que para elas é essencial. Outras nao se preocupam com isto.

167

24

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

Vé-se assim que a mensagem bíblica é relida e reinterpretada di versamente pelos diversos fundadores dos ramos protestantes, que desta maneira dio origem a tradigóes diferentes e decisivas.

Ademáis todos os protestantes dizem que a Biblia contém 39 livros do Antigo Testamento, e 27 do Novo Testamento, baseando-se nao na

Bfblia mesma (que nao define o seu catálogo), mas únicamente na Tradi93o oral dos judeus de Jamnia reunidos em Sfnodo no ano 100 d. C. - todos os protestantes afirmam que tais livros sao inspirados por

Deus, baseando-se nao na Bfblia (que nao o diz), mas únicamente na Tradicáo oral.

Onde está, pois, a coeréncia dos protestantes? Pelo seu modo de

proceder, afirmam o que negam com os labios; reconhecem que a Biblia

nao basta como fonte de fé. É a Tradicáo oral que entrega e credencia a Biblia.

1.3. Afina I a Biblia...: sim ou nao? Há passagens da Bfblia que os fundadores do Protestantismo no século XVI nao aceitaram como tais; por isto sao desviadas do seu senti do original muito evidente: a) a Eucaristía... Jesús disse claramente: "Isto é o meu corpo" (Mt

26, 26) e "Isto é o meu sangue" (Mt 26, 28). Em Jo 6,51 Jesús também afirma:

"O pSo que eu darei, é a mlnha carne para a vida do mundo". Aos judeus que zombavam, o Senhor tornou a afirmar: "Em verdade, em verdade vos digo: se nao comentes a carne do Filho

do Homem e nao bebentes o seu sangue, nSo terete a vida em vos. Quem come a mlnha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna eeuo ressuscitarei no último día. Pois a minha carne 6 verdaderamente urna comida e o

meu sangue ó verdadeiramente urna bebida." Se assim é, por que é que "os seguidores da Bfblia" nao aceitam a real presenca de Cristo no pao e no vinho consagrados?

b) Jesús disse ao Apostólo Pedro: "Tu és Pedro (Kepha) e sobre esta Pedra (Kepha) edificare! a minha Igreja" (Mt 16,18). 168

POR QUE NAO SOU PROTESTANTE?

25

Disse mais a Pedro: "Simáo, Simáo,... eu roguei por ti, a fim de que tua fé nao desfalega. E tu, voltando-te, confirma teus irmáos" (Le 22,31 s). Ainda a Pedro: "Apascenta as minhas ovelhas" (Jo 21,17). Apesar de táo explícitas palavras de Jesús, os protestantes nao reconhecem o primado de Pedro! Por que será?

c) Jesús entregou aos Apostólos a faculdade de perdoar ou nao

perdoar os pecados - o que supóe a confissáo dos mesmos para que o ministro possa discernir e agir em nome de Jesús:

"Recebe! o Espirito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados,

ser-lhes-So perdoados; aqueles a quem nao os perdoardes, nao serSo perdoados."

Apesar disto, os protestantes nao aceitam o sacramento do perdáo

e da recontiliacáo!

d) Jesús disse que edificaría a sua Igreja ("a minha Igreja", Mt 16,18) sobre Pedro. - As denominacóes protestantes sio construidas so bre Lutero, Calvino, Knox, Westey... Antes desses fundadores, que sao dos séculos XVI e seguintes, nao existia o Luteranismo, o Calvinismo

(presbiterianismo), o Metodismo, o Mormonismo, o Adventismo... Entre

Cristo e estas denominacóes há um hiato... Somente a Igreja Católica re monta até Cristo.

e) O Apostólo Sao Paulo, referíndo-se ao seu elevado entendi miento da mensagem crista, recomenda a vida una ou indivisa para homens e mulheres:

"Dou um conselho como homem que, pela misericordia do Senhor, é digno de conñanga... O lempo se fez curto. Resta, pois, que aqueles que tém esposa, sejam como se nSo a tivessem; aqueles que choram, como se nao chorassem; aqueles que se regozijam, como se nSo se regozijassem; aqueles que compram, como se nio possufssem; aqueles que usam deste mundo, como se nao usassem plenamente. Pois passa a figura deste mundo.

Eu quisera que eslivésseis isentos de preocupagOes. Quem nio tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar á esposa, e ti ca dividido. Da mesma forma a muiher nao casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de como e de espirito. Mas a muiher casada cuida das coisas do mundo: procura como agradar ao marido". 169

26

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"359/1992 Ora os protestantes nunca citam tal texto quando se referem ao ce

libato e á virgindade consagrada a Deus. É estranho, dado que eles querem em tudo seguir a Biblia.

1.4. Esfacelamento

Jesús prometeu á sua Igreja que estaría com ela até o fim dos tempos (Mt 28,20); prometeu também aos Apostólos o dom do Espirito Santo para que aprofundassem a mensagem do Evangelho (cf. Jo 14,26;

16,13s). - Nao obstante, os protestantes se afastam da Igreja assim assistida por Cristo e pelo Espirito Santo para fundar novas "Igrejas". Sao instituicSes meramente humanas, que se váo dividindo, subdividindo e esfacelando cada vez mais; empobrecem e puiverizam sempre mais a mensagem do Evangelho, reduzindo-a

- ora a sistema de curas (curanderismo), milagres... servlco ao homem (Casa da Bencáo, Igreja Socorrista, Ciencia Crista...); - ora a um retorno ao Antigo Testamento, com empalideclmento do Novo; assim os ramos adventistas...;

- ora a um preludio de nova "revelacáo", que já n§o é crista. Tal é

o caso dos Mórmons, que sobrepóem á Biblia o Livro de Mór-

mon; tal é o caso das Testemunhas de Jeová, que negam a Divindade de Cristo, a SS. Trindade e toda a concepcáo crista da historia.

1.5 Deteriorado da Biblia

O fato de so quererem seguir a Biblia (que na realidade é ¡nseparável da TradicSo oral, que a bercou e a acompanha), tem como conse-

qüéncia o subjetivismo dos intérpretes protestantes. Alguns entram pelos caminhos do racionalismo e vém a ser os mais ousados dilapidadores ou roedores das Escrituras (tal é o caso de Bultmann, Marxsen, Harnack, Reimarus, Baur...). Outros preferem adotar cegamente o sentido literal, sem o discernimento dos expressionismos próprlos dos amigos semitas o que distorco, de outro modo, a genufna mensagem bíblica. Isto acontece, porque faltam ao Protestantismo os criterios da TradicSo ("o que sempre, em toda a parte e por todos os fiéis fot professa-

do"), criterios estes que o magisterio da Igreja, assistido pelo Espirito 170

POR QUE NAO SOU PROTESTANTE?

27

Santo, propóe aos fiéis e estudiosos, a fim de que nao se desviem do reto entendimento do texto sagrado.

1. 6. Mal-entendidos

Quem lé um folheto protestante dirigido contra as práticas da Igreja Católica (venerado, nao adoracáo, das imagens, da Virgem Santíssima,

celibato...), lamenta o baixo nivel das argumentares: sao imprecisas, va gas, ou mesmo tendenciosas; afir mam gratuitamente sem provar as suas

acusacóes; nao raro baseiam-se em premissas falsas, datas ficticias, ana cronismos; cf. PR 357/1992, pp. 60-74.

As dificuldades assim levantadas pelos protestantes dissipam-se desde que se estudem com mais predsáo a Biblia e as antigás tradigóes

do Cristianismo. Vé-se entáo que as expressóes da fé e do culto da Igreja Católica nao sao senáo o desabrochamento homogéneo das virtualidades do Evangelho; sob a acáo do Espirito Santo, o grao de mostarda trazido por Cristo á térra tornou-se grande árvore, sem perder a sua identidade

(cf. Mt 13,31s); vida é desdobramento de potencialidades homogéneo. Seria falso querer fazer disso um argumento contra a autenticidade do Catolicismo. Está claro que houve e pode haver aberracóes; estas, porém, nao sao padráo para se julgar a índole própria do Catolicismo.

2. Conclusáo

A grande razáo pela qual o Protestantismo se torna inaceitável ao cristáo que reflete, é o subjetivismo que o impregna visceraImente. A

falta de referenciais objetivos e seguros, garantidos pelo próprio Espirito Santo (cf. Jo 14, 26; 16,13s), é o principal ponto fraco ou o calcanhar de Aquiles do Protestantismo. Disto se segué a divisio do mesmo em cen tenas e centenas de denominagóes diversas, cada qual com suas doutri-

nas e práticas, ás vezes contraditórias ou mesmo hostis entre si. O Protestantismo assim se afasta cada vez mais da Biblia e das ralzes do Cristianismo (paradoxo!), levado pelo fervor subjetivo dos seus

"profetas", que apresentam um curanderismo barato (por vezes, caro!) ou um profetismo fantasioso ou ainda um retorno ao Amigo Testamento com menosprezo do Novo.

Esta diluicáo do Protestantismo e a perda dos valores típicos do

Cristianismo estáo na lógica do principal fundador - Martínho Lutero -, que apregoava o livre exame da Biblia ou a leltura da Biblia sob as luzes 171

28

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

exclusivas da inspiracáo subjetiva de cada crente; cada qual tira das Es

crituras "o que bem Ihe parece ou Ihe apraz"!1

O texto deste artigo foi publicado sob forma de opúsculo ("Por que nio sou protestante?") pela Escola "Mater Ecclesiae". Pedidos ¿ Caixa Postal 1362,20001 Río (RJ).

A mesma Escola publicou também os opúsculos "Por que nfio sou espirita?" e "Por que nfio sou ateu?". Pedidos ao mesmo en derezo.

1Este procedimento exegétíco chega a tal ponto que há, entre os disi dentes protestantes, aqueles que nSo querem mals celebrar o seu aniversario natalicio.

Porqué? - Porque Satomio afirma: "Mals vale visitar a casa em luto do que a casa em testa. Mals vale o día da morte do que o día do nastímento" (Ed 7,1s). AISm disto, a Biblia refere que os dols homens que na historia sagrada celebran o seu aniversario sBo o Farad do Eglto eorel Herodes Antipas; am bos, porém, cometeram um assassfnio no día da testa: o Farad mandou enfor' caroseu padelro-mor (cf. Qn 40,20-22) eorel Herodes Antipas mandou degotarJoSo Batista (cf. Me 6,17-29). Será que tais textos devem realmente Induzlr a rejeitar a celebragáo do

aniversario natalicio? Celebrá-ío acarreta homlcfOo? é prolbldo pela Biblia ? 172

A Parapsicología fala:

"A VIDA CONTINUA ALÉM DA MORTE" por T. de Olivéira e S. Paseto

Em sfntese O livro de Tarsizo de OHveira e Siriei Paseto manifesta a boa intengSo de dissipar o horror da morte que existe em multas pessoas. 7bdavia procura tazedlo mediante argumentos assaz subjetivos; além do qué, apresenta ¡acunas em materia de Filosofía e Teología: os conceitos de ser

humano, tempo e eternldade, vida, energía, materia deixam multo a desejár.

No tocante á própria Parapsicología os autores parecem nSo levar em conta suficiente o poder da sugestSo e a enorme capaddade de prqjecSo subjetiva que a sugestSo moblliza sem que o Individuo o perceba.

O livro "A Vida continua além da Morte" se deve a dois autores re sidentes em Santa Catarina. O Prof. Tarsizo de Oliveira é o fundador do

Centro de Estudos Parapsicológicos em Florianópoiis, da Associacáo de Parapsicología e das Clínicas Famo. Como parapsicólogo, tem-se dedica

do ao tratamento de doencas psicossomáticas. - Quanto á Prof9 Siriei Paseto, é Coordenadora do Departamento de Psicorientologia da Asso

ciacáo Catarinense de Parapsicología. Publicaram o livro em foco1,-que tenta mostrar o que acontece antes e depois da morte e durante a própria morte. Os autores consideram urna temática que é cortamente delicada, conjugando entre si aspectos psicológicos, parapsicológicos, filosóficos e

teológicos. Examinemos e comentemos o livro. I. O conteúdo da obra

Os autores querem dissipar o medo da morte, incutindo a idéia de que esta vem a ser a plenitude da vida:

1A vida continua além da morte. Editora Mercado Aberto, Porto

Alegre, 1990 (Ved.).

173

30

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"359/1992

"A morte se aprésenla como a situagáo em que o ser humano tem o pri-

vilégto do desenvoMmento de todas as suas (acuidades, atingindo por exce lencia o ponto máximo de sua vida, através da qual poderá chegar a urna

perfeita maturidade espiritual, onde todas as suas características psíquicas e mentáis, tanto as cognitivas como as volitivas e afetivas, podem ser exercidas em sua plenitude, sem os condidonamentos exteriores e suas limitagóes hu

manas. É o momento em que o ser humanó tem a posslbilidade, através de

seus méritos, de atingir a plenitude de sua realizagáo. Antes, o mesmo tinha limitagóes de toda ordem, através dos conceitos e dos condicionamentos tanto hereditarios como psicológicos, adquiridos durante a educagSo, sem ta lar na ignorancia, falta de conhecimentos mais profundos a respeito das coi sas de Deus" (p. 34).

Como é que os autores sabem o que ensinam?

- Recorrem a depoimentos de pessoas que passaram pela morte aparente e voltaram ao pleno gozo de suas torcas ou - mais estranho -

delxaram mensagens que outras pessoas captaram por psicografla. Com

outras palavras: segundo T. de Oliveira e S. Paseto, as pessoas que estáo em estado de morte aparente, podem transmitir a outras o que Ihes vai na alma; as mensagens assim emitidas sao captadas pelo subconsciente

de familiares e amigos do paciente, e estes, por sua vez, podem reproduzir tais mensagens, fazendo-as passar do seu subconsciente para o cons ciente; o fenómeno de reproduzir as mensagens de moribundos é chamado pelo dois autores "psicografia":

"A psicografía, que quer dizer escrita do psiquismo ou escrita mental, é o resultado de urna captagáo telepática de pessoas vivas que captaram da mesma forma de alguém que estava no estáglo de morte aparente. Portanto,

sempre que é reproduzida urna mensagem pslcografada, o psicógrafo está escrevendo algo que aflora do seu subconsciente ou que está captando do subconsciente de outras pessoas, nao havendo, dessa forma, nenhuma co-

municagáo com o espirito do morto, como algumas pessoas querem supor, mas comunicagSo de vivos para vivos" (pp. 42s).

Como se vé, os autores recusam a necromancia ou a consulta aos mortos ou a comunicacio dos mortos com os vivos, como a admite o Es piritismo. Neste ponto conservam fidelidade ao Cristianismo.

Eís um espécimen de mensagem psicografada dirigida pelo esposo moribundo á esposa viva e aflita:

"Sinto-me como a lagarta que se transforma em borboleta, como a crianca que deseja e luía para nascer. Fago \¡m estorgo enorme para ir, para 174

"A VIDA CONTINUA ALÉM DA MORTE"

31

ouvir, para refletlr, mas tudo voltado para mim mesmo. Estou em estado de introspecgSo, revivendo todos os relacionamentos. Sou eu mesmo, só, mas na companhia de todas as pessoas que conheci.

Quería te explicar, mas tenho plena consciéncia de que nSo sabes o

que eu sinto. Se estivesses entendendo, querida, saberías por lúa própria ex periencia o que é ver a luz pela primeira vez, o que é falar e ouvir pela primeira vez.

Eu me sinto vitoríoso, vitorioso de mim mesmo. Sinto'-me único, absolu

to, harmonioso e principalmente completo e feliz. Só agora consigo sentir-me

totalmente.

Querida, eu sei que para ti está sendo um momento diñcfíimo, mas,

compreende-me, para mim é vital, 6 fundamental. Eu nunca chegaria até mim mesmo se nao fosse por esse caminho. Nao é doloroso como estás pensan do e deixando transparecer; para mim é o verdadeiro estado de graga. NSo

quero que sofras, pois eu nao estou sofrendo. Continuo tendo objetivos, nSo acabei, como estás pensando. Eu cresci, sou bem maior do que já fui. NSo

estou morrendo da forma como estás pensando. É por amor, só por amor, que estou lutando para confortar a tita dor. Pois, se nao existisse o amor, eujá te na me libertado...

Conñrmo e afirmo o meu grande e eterno amor, porque agora sei e te

nho certeza que ele é eterno" (pp. 45s).

Em atguns casos os pacientes dizem que passam por um túnel, encontram um ser de luz, sentem-se felizes,... mas de repente sao chama

dos a voltar ao corpo na térra.

"Fui internado no hospital, gravemente enfermo. Sentía dores em todo o corpo e tonturas. Os médicos nao sabiam bem o que eu tinha. O médico me enviou para exames para ver se descobriam. Durante os exames, aplicaram urna droga que me fez estremecer e sentí que estava morrendo. Neste mo

mento, percebl um túnel e, ao mesmo tempo, urna luz. Mentalmente a impressao que tínha era de que a luz falava, mas tinha certeza que tudo isso se passava em minha mente. O que sentía era que eu estava em um julgamento on de toda a minha vida era recapitulada mentalmente. Sentí um peso enorme ao

concluir que a minha vida nSo tora voltada para o amor, a candado e para o próximo. Foi nesse momento que a luz desapareceu e, ao seguir pelo túnel, apenas escuridáo e isoiamento. Sentí um desejo enorme de ter vivido de outra forma. Neste momento, voltei a ouvir a voz do médico que dizia estar eu rea-

gindo. A experiencia foi muito válida para que eupudesse reconstruir a minha vida interior" (p.32). 175

32

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992 Comentam os autores:

"É muito comum as pessoas durante este estáglo terem a sensagáo de

estar passando por um túnel. Uns relatam como um túnel longo e escuro no inicio e com uma luz muito forte em seu final. Em todos os casos pesquisados em que aparece a luz, esta é de um brilho indescritfvel e nao prejudica os olhos ou ofusca, nem impede de ver outras coisas ao redor; isso porque sentem que tudo o que estSo vendo nño é através dos olhos físicos, mas atravós da mente. Em todos os casos, a sensagáo é de que a luz representa um ser de luz, do qual emana amor e paz. Mesmo que as descricóes a respeito da luz, sejam invariáveis, o que déla emana varia de Individuo para individuo, mas a maioria identifica a luz com Cristo ou, slmplesmente, com Deus. Podemos definir que o diálogo que, em muitos casos, aparece com o ser de luz é um diálogo mental" (pp. 33s).

Logo a pos a morte o individuo se encontra face-a-face com Deus...:

"Sabemos que todo ser humano, após o estágio de morte aparente, se encontrará face a face com Deus e com Cristo ressusdtado. Mesmo que du rante toda a sua vida nao tenha ouvido falar deles, Ihes é ofereclda a chance de optarpor Deus e por Cristo.

Os pagaos teráo a oportunidade desse desenvolvlmento, tambóm

aqueles que, durante a sua vida, nao chegaram ao desenvolvimento da consciencia e da liberdade, ou seja:

Os debéis mentáis, que tambóm teráo a sua oportunidade de encontró com Deus. Nao querendo contrariar conceitos religiosos, mas com o objetivo

de esclarecer a muitos a respeito do assunto, podemos afirmar que a mesma chance ocorre com os milhóes de seres humanos que morreram antes de

nascer, seja por motivos'naturais ou mesmo pelo grande número de abortos que acontecem pelo mundo intelro. Também as vñimas de acldentes catastró

ficos que, com suas mortes repentinas, truncam bruscamente a vida, aparen temente se/77 ter qualquer momento de preparagáo, essas tém a mesma

chance como as domáis" (pp. 36$). Os autores afirmam outrossim que a ressurreicáo se dá por ocasiao da morte; cada qual, ao morrer, chega ao fím dos tempos ou fim do

mundo. Cf. p. 23.

Expostas as principáis linhas doutrinárias do livro em foco, refuta rnos a respeito. Verdade é que o pensamento dos dois autores nem sempre é preciso; falta-lhes um pouco de rigor lógico ao concatenar e expri mir suas idéias; cf. pp. 36 (final). 23 (confuso). 176

"A VIDA CONTINUA ALÉM DA MORTE"

33

2. Comentando...

É muito oportuna e louvável a intencáo, dos autores, de mostrar

que a morte nao é um fim, um truncamente, mas, sim, urna passagem para vida melhor e mais plena. Isto 6 auténticamente cristáo.

Acontece, porém, que, para incutir esta grande verdade, os autores apelam para argumentos experimentáis muito subjetivos e discutfveis; querem saber demais no tocante ao que se dá na hora da morte e depois. Com afeito...

2.1. Psicog rafia

As mensagens atribuidas a moribundos e captadas por familiares e amigos podem ser simples projecóes ou expressdes dos afetos desses

familiares e amigos. Nada garante que tenham realidade objetiva ou que

sejam comunicacóes feitas pelos moribundos. É preciso nao esquecer o

poder da sugestáo: quando alguém eré que pode receber mensagem de outra pessoa, inventa (sem o saber) tal mensagem. Por isto o recurso á psicografia é falho; nao pode ser aduzido como prova do bem-estar dos moribundos.

A imagem do túnel pelo qual a alma do moribundo passaría num vóo fora do corpo parece corresponder a um arquetipo cpngénito do psi quismo humano; para chegar á luz, deve haver um canal que nao seja de luz e que faca a mediacáo entre a penumbra da térra e a plena luz do além. A Dra. Elizabeth Kübler-Ross averígüou a existencia de tal imagem em

depoimentos de seus pacientes postos em estado de coma e restituidos á

saúde; tal imagem nao passa de projecáo do psiquismo humano, e carece de realidade objetiva, pois nao podemos conceber que o além seja confi gurado segundo a arquitetura do aquém, com seu túnel, seu jardim, sua

fonte de luz, suas muralhas...; a outra vida n§o se dará num cenário ma terial comparável ao presente, em reedicáo revista, melhorada e aumen tada... A propósito já foi publicado um comentario em PR 216/1977, pp. 501 -506 (comentario do artigo "Vida apos a Vida" de Raymond Moody Jr).

2.2. Retrocognicáo, Simulcognicáo e Precognicáo

Segundo T. de Oliveira e S. Paseto, a pessoa em estado de morte aparente goza de conhecimentos dilatados, abrangendo o seu passado, o

seu présente e o seu futuro; cf. p. 37. - Como se pode provar esta tese? 177

34

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

- Realmente nenhum dado experimental e nenhum raciocinio a provam. Há, sim, teólogos que julgam que, na hora da morte, a pessoa recebe de Deus urna luz especial para poder fazer, com clareza nunca antes atingida, sua opcáo decisiva e definitiva por Deus ou contra Deus. Esta sentenca nao é aceita por outros bons teólogos, que a tém por gra tuita ou arbitraria; na verdade, é paradoxal imaginar que alguóm, sofren

do o declínio de sua lucidez de mente pela arteriosclerose e outros acha ques, possa repentinamente gozar de perspicacia de mente nunca antes alcancada; toda a vida do homem deve ser vivida de maneira táo cons

ciente quanto possi)7el, de modo que cada ato humano seja responsável

e possa ser levado a serio. É durante a vida inteira que a pessoa deve exercitar-se para comparecer diante do Juiz Divino; é isto que dá grande za aos atos mais comezinhos.

O momento da morte é grande e importante, porque decisivo. Cremos que Deus assiste a cada qual naquela hora com as gracas necessárias; mas esse momento nao é senáo a etapa final de urna caminhada, que deve ser, toda ela, homogénea ou urna opcáo cada vez mais cons

ciente por Cristo e o Pai. Nao queiramos saber muita coisa a respeito da quele transe; podemos dizer que ele terá as características que cada qual tiver preparado; quem tiver vivido com Deus, poderá sentir-se feliz por chegar ao termo final de sua caminhada; quem tiver vivido longe de Deus, talvez se assuste enormemente ao perceber a chegada da hora derradeira.

2.3. Encontró face-a-face com Deus

O encontró face-a-face com Deus ou a visáo direta de Deus é a própría bem-aventuranca celeste, premio dado aqueles que viveram e morreram com Deus neste mundo. Por isto nao se pode afirmar que, após o estágio de morte aparente, todo ser humano gozará desse encon tró. - Dizemos, em perspectiva crista, que após a morte, todo individuo passa pelo julzo particular, a luz de Deus o ilumina para que possa avaliar a sua vida terrestre com toda a objetividade e veracidade possível; reconhece com nitidez tudo o que fez de bom e menos bom e aceita natural mente a sentenca daf decorrente. Isto, porém, nSo 6 visáo de Deus fa ce-a-face.

Tambóm ó de notar que após a morte nfio é possível converter-se

do mal para o bem ou více-versa. A morte estabiliza o homem na sua úl tima opcáo. É certó que o Senhor Deus dá a cada qual, no decorrer da vi da terrestre, as gracas necessárias para que opte sempre pelo melhor e colha copiosos frutos na hora da morte. 178

"A VIDA CONTINUA ALÉM DA MORTE"

35

Além do mais, nao se pode admitir que a alma humana se separe do corpo antes da morte e vagueie pelo espaco.contemplandooseu cor po submetido a tratamento médico ou penetrando em jardim suave e

luminoso. A alma humana é o principio vital do corpo; sem alma, este simplesmente nao vive, de modo que mesmo as pessoas postas em coma e morte aparente tém sua alma presente no corpo; a separacio de corpo

e alma só se dá na hora da morte; nao há retorno da alma ao corpo mortal. 2.4. Antropología

A antropología suposta pelos dois autores nao distingue clara mente entre corpo e alma. Estes seriam apenas duas facetas de um bloco

monolítico, segundo se depreende dos dizeres da p. 23 ("a plenitude da realizacio do ser humano corpo-alma"). Por conseguinte, a ressurrei-

cáo seria a própria morte tida como "total desenvolvimento das possibilidades da natureza humana sem limitacóes" (p. 23). Esta concepto an tropológica, porém, está em contradicho com aquela perspectiva de alma que sai do corpo, passa por um túnel, entra num jardim luminoso, etc. {pp. 32s). - Os autores nao chegaram á clareza de conceitos neste ponto (como, alias, também em outros pontos relacionados com a Filosofía e a Teologia). Dizer que no momento da morte cada qual vive o fim dos tempos ou o fim do mundo é erróneo, pois após a morte a alma humana experi mentará ainda a noció de futuro; ela estará nio num regime de eternidade, mas no regime do evo, do qual temos tratado repetidamente em PR; cf. 275/1984, pp. 274-281; 257/1981, pp. 243-245. Após a morte a alma, sendo espiritual e ¡mortal, subsiste sem corpo e aguarda o fim dos tempos, quando Cristo há de vir glorioso para julgar todos os homens e se dará a ressurreicáo universal.

Alias, os dois autores empregam com facilidade despropositada a palavra "eterna". Assim á p. 21 afirma: "a energía é eterna". Ora só Deus é eterno; nenhuma criatura é eterna, nem pode vir a ser eterna (o que

seria contraditqrio). Á p. 22 escrevem: "Nada termina, mas tudo se

transforma; a existencia é provisoria, mas a vida é eterna". Ora observa mos que somonte a vida de Deus é eterna, porque só ela nao teve comeco e nSo terá fim; a nossa vida nSo é eterna, porque teve comeco; visto que nSo terá fim, é vida ¡mortal ou eviterna {nio vida eterna).

Á p. 22 os autores asseveram que "existe urna continuídade de vida desde as partículas subatómicas. Deste modo nio podemos fazer divisáo 179

36

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

entre materia, e vida".- Eis mitro ponto falho: a vida tem suas proprieda-

des básicas, que só se ericontram nos vegetáis e nos animáis (irracionais

e racionáis): nutricio, crescimento, reproducáo, capacidade de se restau rar quando losada. Ora nenhum mineral possul tais particularidades; por isto a vida nao existe nos minoráis. A vida depende de um principio vital próprio, que pode ser material (nos vegetáis e nos animáis irracionais) ou ¡material, espiritual (no ser humano).

Eis algumas reflexóes que nos sugere o livro de T. de Oliveíra e S. Paseto. Reconhecemos a boa intencáo dos dois autores, mas podemos afirmar que em materia de Filosofía e Teologia apresentam (acunas se rias. No tocante á própria Parapsicologia parecem nao levar em conta suficiente o poder da sugestáo e a enorme capacidade de projecáo subje tiva que a sugestáo mobiliza, sem que o individuo tenha consciéncia disso.

Continuagio da p. 165:

"Nao existem enfermedades causadas pela prática da castidade, ao passo que existem muitas causadas pelo vicio oposto"

(p. 113). "Todos os homens, e mais aínda os jovens, podem

provar os beneficios ¡mediatos da castidade. Sei-o por ter visto

muitíssimos jovens reduzidos ao limite de suas forcas, a demen

cia e a paralisia pelo desenfreado uso do 9exo" (p. 114).

Vale a pena reaicar aínda um tópico do fím do livro, em que o autor quer incitar o leitor a por máos á obraje, principalmente no tocante á salvag&o eter na: "Santo Expedito, ñas imagens que o representam, leva na máo urna cruz com a palavra HOJE e aos pos um corvo, figura do diabo, que tem um cariño

no bico com a palavra AMANHÁ. Hoje 6 a palavra que salva, AMANHÁ a que condena" (p. 164).

APRENDE COM AS ONDAS

RECUA. MAS PARA VOLTAR, PARA INSISTIR SEM CAN-

SACO. SEM DESISTENCIA. NOITE E DÍA. ENQUANTO A MÁO DIVINA NAO DER SI NAL E TIVER SIDO ATINGIDA A PLENITUDE DAS GRANDES AGUAS VIVAS.

D. HÉLDER CÁMARA 180

O valor da vida humana:

ABORTO EUGÉNICO?

O Conselho Federal de Medicina está propondo urna alteracáo no Código Penal do Brasil, alteracáo que reconhece como legítimo o aborto eugénico ou a eliminacáo de um nascituro tido como deficiente. Quem a praticasse, nao sofreria sancóes penáis; a ¡ntervencáo seria solicitada peta genitora da enanca, ciente de estar grávida de um feto anómalo.

Visto que tal proposta é iníqua, pois tende a legalizar um homicidio, um grupo de 75 Professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense escreveu ao Conselho Federal de Medicina a carta que, a seguir, transcrevemos. O movimento de repudio é encabecado pelo Prof. Dr. Herbert Práxedes, Professor Titular do Departamento de

Medicina Clínica da Universidade Federal Fluminense. A este benemérito

docente agradecemos a atitude corajosa assim como o envió da copia da carta que passamos a apresentar.

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA

AOS DIRIGENTES DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA Niterói, 20 de dezembro 1991

Prezados colegas.

Os que abaixo assinam este documento, professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense, vém á sua presenca, usando da faculdade democrática de divergir, se posicionarem quanto 181

38

"PERGUNTEE RESPONDEREMOS"359/1992

á iniciativa dos atuais ocupantes da direcáo do CFM' frente ao aborto eugenico.

É funcáo precipua dos Conselhos de Medicina, Federal ou Regio-

nais, cumprir e fazer cumprir o Código de Ética Médica. É vedado ao mé

dico participar de quaisquer atos que visem á destruicáo ou degradadlo

de um ser humano. É obrigacáo dos Conselhos impedir que o médico participe de atos desse tipo e, se ele o fizer, estará sujeito ás penas pre

vistas em lei. Isto é muito claro em varios artigos do CEM2 e por isso, obviamente, nenhum deles atribui ao médico a execucáo de penas capitais. E o aborto é urna pena capital. Qual a razáo para, ao arrepio do CEM vigente, a diregáo do CFM resolver propor para o médico funcáo táo ma cabra como a eliminacáo ¡ntra-útero de inocentes deficientes físicos?

Incoerentemente, no mesmo número do Jornal do CFM em que

isto é divulgado, outra materia condena com veeméncia a intengáo de ser

submetido a plebiscito o retorno da pena de morte para os crimes deno minados de hediondos. Trágico paradoxo, propor a pena de morte intraútero para os que, sem culpa, foram gerados de forma defeituosa, quando se faz urna catilínária contra a mesma pena para os seqüestradores, estupradores, assaltantes e homicidas de varias designares! A possibilidade de ser aplicada a um inocente é um dos motivos que faz com que nos também nos oponhamos a qualquer forma de pena capital, e o aborto, qualquer que seja a desculpa para sua indicagáo, é a pior délas. Ao suposto réu, inimputável de qualquer culpa e, por sua condicáo especial, incapaz de se defender, é negado julgamento, júrí, juiz, advogado de defesa ou apelac.io, mas oferecido um médico que, contra

riando os principios básicos da Medicina, é travestido na sua antftese, "doublé" de juiz e carrasco, que se encarregará de exterminá-lo. A violencia tem na própria violencia seu "feed-back", e o aborto é sua forma mais abjeta. Numa época em que o pensamento ecológico domina os meios de comunicacáo e todos se preocupam com os destinos das baleias, das fo cas e dos micos leáo-dourados, os diretores do CFM vém propor urna ecología ao contrarío, em que sao eliminados os seres humanos mais fracos. Fazer abortar um ser humano porque ele será hemoftlico, falcémico,

talassémico, portador de Síndrome de Down ou de erro inato do meta-

* CFM = Consetho Federal de Medicina (Nota da fíedacáo),

2CEM = Código de Etica Médica (N.d.R.). 182

ABORTO EUGÉNICO?

39

bolismo passará a ser um ato ecológico no admiravel mundo novo dos

diretores do CFM?

É proposta a extensáo da ¡mpunibilidade do aborto para as gesta(oes cujos "produtos da concepgáo (leia-se: seres humanos) sejam por tadores de condicóes capazes de determinar alteragáo patológica incompatfvel com a vida ou a plenitude de vida e sua integracáo com a sociedade".

Se a alteragáo é grave suficiente para ser incompátlvel com a vida, por que o aborto? Quanto ao condicionamento b "compatibilidade da plenitude da vida e sua integracáo á sociedade", para que a alguém seja

permitido viver, temos que extendé-lo a todos os deficientes físicos - de causa congénita ou adquirida -, que devem ser considerados cidadáos de segunda categoría, pois, se estáo vivos, os primoiros o devem a urna se

lecto genética nao suficientemente adequada e abrangente que, inexoravelmente os teria eliminado por "sua ¡ncapacidade de ¡ntegracáo com a

sociedade". Quanto aos demais, pode ser questáo apenas de tempo. Quando se inicia desrespeitando a vida humana por nascer, o desrespeito seguinte nao tem mais limite.

Em passado nao táo remoto, um pintor de paredes austríaco eliminou mais de 100 mil deficientes físicos e mentáis, também nao capazes, segundo ele, de plenitude da vida e urna integracáo completa á sociedade de entáo. Os resultados aínda hoje fazem corar de vergonha seus concidadáos, a quem prometeu urna raga superior e um Estado que duraría mil anos.

Nao reconhecemos nos atuais e eventuais ocupantes da diregáo do CFM o direito de, em nosso nome, propor tal vilania. Nao tendo havido consulta ampia a todos os médicos para que se manifestassem livremente, com que direito o CFM, consultando apenas os CRM, arvorou-se

em defensor de tese táo anti-médica, táo anti-humana? Consideramos que os atuais diretores do Conselho Federal de Medicina exorbitaram de suas fungóes, atropelaram o Código de Etica Médica e desviaram de suas

atribuigóes legáis o CFM ao propor o aborto genético, pena capital para os deficientes descobertos ¡ntra-útero. Ainda que a muitos interesse que, da imagem do médico, sejam re tiradas as auréolas do sacrificio, abnegagáo e doagáo, próprias do caráter

quase sacerdotal inerente á sua missáo, ainda que venha exatamente dos atuais diretores do CFM - supostos guardiáes da Moral médica -, a proposta do absurdo, qual seja, a eliminacáo preventiva, por nos médicos, 183

40

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

dos deficientes físicos, aínda assim reafirmamos, com todas as nossas forcas, em primeiro lugar a nossos pacientes - com quem temos nosso compromisso maior -, aos diretores do CFM e so resto da nacáo, que somos fiéis ao nosso juramento. Que ao médico, muito especialmente a ele, aplica-se o "Nao matarás)": Nunca um inocente, jamáis um defi ciente!

Reafirmamos - o que científicamente é obvio - que a vida humana cometa com a concopcáo e que, a partir daf, o ser humano passa a ser

portador de direitos inalienáveis, o maior dos quais é a vida. Nos nos re belamos contra a iniciativa dos atuais e eventuais ocupantes da direcáo do CFM, que rebaixa e reduz o concepto a um eufémico "produto da concepcáo" - descartável, se está imperfeito -, e o médico, a um "removedor" desse "produto".

A proposícáo dos diretores do CFM é inaceitável por ser imoral e ilegal, ao propor a mais macabra forma de "apartheíd":

"MATE HOJE O DEFICIENTE FÍSICO DE AMANHÁ1' Atenciosamente,

Dr. Herbert Práxedes Professor Titular do Departamento de Medicina Clínica da U.F.F. e os demais subscritos deste documento

=ZCONHECA MELHOR A SUA FÉ! Z=ZZ=

CURSOS POR CORRESPONDENCIA 1) Sagrada Escritura, 2) IniciacSo Teológica, 3) Teología Moral, 4) Historia da Igreja, 5) Liturgia, 6) Diálogo Ecuménico, 7) Ocultismo, 8) Parábolas e páginas difíceis do Evangelho, 9) Doutrina Social da Igreja (Novol). Inscricóes em qualquer época do ano. Dura?áo do curso a criterio do cursista, que pode levar o tempo necessário para estudar. No fím do curso confere-se certificado.

InformacSes sejam solicitadas á Escola "Mater Ecclesiae" Rúa Benjamín Constant, 23,3- andar 20241 Rio de Janeiro (RJ) ou Caixa Postal 1362 - 20001 Rio (RJ)

Fone: (021) 242-4552 ou 292-3132, ramal 314. 184

Dissipando mal-entendidos:

QUE É A ORDEM DOS CAVALEIROS DE MALTA? Em símese: A Ordem dos Cavalelros de Malta ó a continuacáo de urna Ordem medieval destinada a tratar, em hospitais, os cristSos peregrinos

da Tena Santa e defender os lugares sagrados contra as Incursóes de mucutmanos. Adqulriu com o tempo o grau de potencia Intemacionalmente reconhecida como Estado Soberano, privilegio que conserva até hoje, de modo que goza do dimito de enviar e recebar representantes diplomáticos. A Ordem que, em suas origens ou desde 1113, Mía sede na Palestina, foidelá deslo cada em 1291, quando os cristSos tiveram que deixara Térra Santa em virtu-

de da derrota final dos cruzados. Passou entáo a ter sede de govemo central na ilha de Rhodes (a partir de 1310); tomada esta ilha pelos turcos em 1523, os Cavateiros receberam do Imperador Carlos V a Ilha de Malta como sede; donde o nome de "Cavaleiros de Malta" que Ihes toca. Em 1798foram rechagados daf por NapoleSo Bonaparte em campanha contra o Egito, e finalmente obtiveram da Santa Sé a concessSo de sua atual sede em Roma, no comeco do sáculo XIX.

Atualmente a Ordem conserva aínda títubs e insignias da Idade Media e do sáculo XVI. Mas perdeu suas fínaBdades militares; executaservicos de ín dole atual e multo útil, como sño as obras sódo-educativas mantidas pela Or dem em diversos países do mundo, inclusive no Brasil.

De vez em quando o público é interpelado por noticias da Ordem dos Cavaleiros de Malta.- Para nao poucas pessoas, é algo de esotérico, identificado com a Ordem Renovada do Templo (cf. PR 256/1981, pp.174189) ou com a própría Maconaria. Ora nada disto é verdade. A Ordem dos Cavaleiros de Malta ó urna instituicüo católica, de mensagem e atividades patentes ao grande público, devendo ser claramente diferenciada de organizábaos que tenham nome semelhante. Alias, a desígnacáo ofi cial e completa de tal sociedade é a seguinte: Soberana Ordem Militar 185

42

"PERGUNTEE RESPONDEREMOS" 359/1992

Hospitalera de SSo Joáo de Jorusalém de Rhodes e de Malta. Os diver sos tópicos deste título tornar-se-So evidentes a medida que formos desenvolvendo o histórico da Ordem ñas páginas subseqüentes.

1. Um pouco de historia

A Ordem simplesmente dita "dos Cavaleiros de Malta" tem sua orlgem na Idade Media ou, mais precisamente, na época das Cruzadas.1 Em 1099 a Primeíra Cruzada tomou Jerusalém. Fundou-se entáo na Cidade Santa urna comunidade monástica dedicada a Sao Joáo Ba tista, que tinha por finalldade administrar urna hospedaría e um hospital para os peregrinos que iam é Térra Santa; o seu servido era bem definido

pelas circunstancias do momento. Tal comunidade estava originaria

mente filiada aos mongos beneditinos; em breve, porém, tornou-se urna organizado independente, aínda sob o seu prirneiro Gráo-Mestre, o Bem-aventurado Gerardo (+1120).

Aos 15/02/1113, o Papa Pascoal II assinou urna Bula2 dirigida a

Gerardo, pela qual aprovava a Instltuicáo do Hospital de Sao Joáo; colócava-a diretamente sob a protecáo da Santa Sé e Ihe concedía o direito de eleger livremente os seus dirigentes, os sucessores de Gerardo, sem a

intervencáo de alguma outra autoridade, eclesiástica ou leiga. Em virtude desta determinado pontificia, corroborada por outros documentos pa páis, o Hospital tornou-se urna Ordem Religiosa dentro da Igreja, dire tamente subordinada ao Sumo Pontífice.

Após a fundacáó do Reino de Jerusalém pelos cruzados, a situado

política da Térra Santa obrigou os mongos do Hospital a assumir a defe-

1As Cruzadas, em número de dez, fóram facanhas bélicas desuñadas a

libertar o Santo Sepulcro de Cristo, que caira em mios dos mugulmanos. Foram empreendlmento Inspirado pela fé da época. Para um medieval, era dever de consdéncla lutarpara reaver os lugares santos da Térra de Israel. Houve, sem dúvlda, excessos e desvirtuamentos dessas facanhas por parte dos reís e nobres como também por parte da soldadesca, que cederam a ínteresses pessoals, vftimas da fragiüdade humana. Todavía nao se pode delxar de reconhecer a bravura dos cavaleiros que partídparam das cruzadas.

bola (bulla) de metal portadora do seto pontificio. Atualmente as Bulas pontifi cias podem ser soladas apenas com lacre cemum. 186

ORDEM DOS CAVALEIROS DE MALTA

43

sa militar dos doentes e peregrinos, assim como dos territorios cristáos,

que os cruzados haviam subtrafdo ao dominio dos muculmanos. Desta

maneira, já sob o segundo Mestre Geral, Freí Raimundo do Puy, a Ordem do Hospital de Sao JoSo assumlu a nota adicional de Ordem de Cavalelros, pois na Idade Media o soldado ardoroso, defensor das tradigóes pa

trias, era cavaleiro. Os monges-militares de Sao Joáo ficavam ligados pelos votos monásticos de pobreza, castidade e obediencia, e exerciam suas funcóes junto aos cristáos assistindo-lhes ñas necessídades« defendendo-as das ¡ncursóes de estranhos. Tinham, pois, duas finalidades: obsequium pauperum.o servigo dos pobres ou ativíflade hospitalar, e a tuítio fidei, a protegáo da fé ou dos fiéis e de seus territorios. Frei Raymundo do Puy, também chamado "Mestre da Ordem",

sancionou a primeira Regra de vida dos confrades, e consagrou a cruz

branca octogonal (de oito ángulos) como emblema da Ordem até nossos

dias; donde o nome de "Cruz de Malta" que Ihe toca.

Em 1291, porém, o último reduto dos cristáos na Térra Santa, bu

seja, a cidade de Sao Joáo de Acre, caiu em máos dos muculmanos. Por isto a Ordem teve que se deslocar para a ilha de Chipre.

Af situada, a Ordem exerceu soberanía ou independencia em rela-

cSo a todos os Estados da época, mantendo suas forcas armadas, e fazen-

. do guerra, quando o julgava oportuno. Este direito decorria dos docu mentos pontificios e do Regimentó interno da Ordem.

Em 1310 os Cavaleiros conquístaram a ilha de Rhodes, estendendo

a sua soberanía; isto Ihes valeu o nome de "Cavaleiros de Rhodes". A

importancia deste avanco estava no fato de que Rhodes era um baluarte

de defesa dos cristáos frente ao poderío naval dos muculmanos; tornarase ponto estratégico no Mediterráneo oriental.

De entáo por diante era evidente a necessidade de urna frota para defender os cristáos. A Ordem encarregou-se de monté-la com certo aparato bélico, que Ihe permitía patrulhar os mares orientáis e travar va

rios e famosos combates. Particípou das Cruzadas na Sfria e no Egito e

socorreu o reino cristáo da Armenia (Cilícia) contra os ataques dos mu

culmanos.

A Ordem foi crescendo e se estendendo por diversos territorios da

Europa, de modo que no comeco do século XIV tinha sete Provincias ou

"Línguas": a Provenca, a Alvernia, a Franca, a Italia, Aragáo (Navarra), Inglaterra (com Escocia e Irlanda) e Alemanha. Em 1462 Castela e Portu gal separaram-se da Llngua de Aragáo, formando a oitava Lfngua. No 187

44

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

sáculo XVI, a Ltngua da Inglaterra foi supressa; mais tarde, porém, em 1782, foi provisoriamente restaurada como Língua Anglo-Bávara. A Ordem era governada por um Gráo-Mestre com seu Conselho; cunhava a sua própria moeda e mantinha relacóes diplomáticas com outros Estados. O Gráo-Mestre era dito "Príncipe de Rhodes".

Após ter resistido repetidamente aos muculmanos, finalmente os Cavaleiros tiveram que abandonar Rhodes. Vencidos na véspera de Natal de 1522, deixaram a ilha a 1e de Janeiro de 1523. Nos sete anos seguintes, embora a Ordem mantivesse sua soberanía internacional, nao tinha ter ritorio. Tal situacáo acabou quando o Imperador do Sacro Imperio Ger

mánico, Carlos V (que era também rei da Sicilia) houve por bem entregar á Ordem as ilhas de Malta, Gozo e Comino, assim como Trípoli, na África do Norte. Aos 26 de outubro de 1530 o Gráo-Mestre Frei Fiiipe de Villiers de risle-Adam tomou posse de Malta com a aprovacáo do Papa Cle mente Vil. A Ordem se comprometía a manter neutralidade ñas guerras que ocorressem entre povos cristáos.

A necessldade de defender os cristáos continuava nos séculos XVI/XVII. Os turcos atacaram Malta, pondo-lhe cerrado cerco de 18/05 a 08/09/1565; acabaram por sofrer derrota por parte dos Cavaleiros, chefiados pelo heroico Gráo-Mestre Frei Joáo de la Vallette, que deu o nome á capital de Malta: Valletta. O declfnio do poder naval turco datou precisa mente de 1565. A frota da Ordem de Sao Joáo (ou "de Malta", como comecou a ser chamada) tornou-se urna das mais poderosas do mar Me diterráneo e tomou parte na destruicáo final do poderío marítimo turco na grande batalha de Lepanto (1571).

Em 1607 e, de novo, em 1620 o Gráo-Mestre recebeu o titulo de "Príncipe do Santo Imperio". Em 1630 a Santa Sé outorgou-lhe urna dignidade equivalente á de Cardeal da Santa Igreja Romana com o designativo de "Eminencia". Em 1798 Napoleáo Bonaparte, em campanha contra o Eglto, ocupou a ilha de Malta, déla expulsando a Ordem. Os Cavaleiros ficaram mais urna vez sem sede. Esta situacáo deu margem ao "golpe de Estado Russo" (1798-1803): o Imperador Paulo I, da Rússla, embora ortodoxo separado de Roma, mostrara-se amigo da Ordem e, por ¡sto, obteve de alguns Cavaleiros residentes naquele país, o privilegio de ser por eles proclamado "Gráo-Mestre da Ordem", substituindo o Gráo-Mestre Frei

Ferdinando von Hompesch, constrangido a deixar Malta aos franceses. Esta proclamacáo de um nao-católico casado como Gráo-Mestre de urna Ordem Religiosa católica foi ilegal e nunca reconhecida pela Santa Sé. 188

ORDEM DOS CAVALEIROS DE MALTA

45

NSo obstante, fo¡ aceita por muitos Cavaleiros e alguns Governos estran-

geiros, de modo que atualmente Paulo I, da Rússia, é considerado um Gráo-Mestre de facto, mas nao de fu re (de direito). O czar seu sucessor, Alexandre I, compreendeu o impasse e contribuiu para que Ordem tivesse seu chefe legítimo; em 1803 foi eleito Gráo-Mestre Freí Joáp Ba tista Tommasi.

Entrementes os ingleses ocuparam Malta em 1801. - Reconhece-

ram os direitos da Ordem sobre a ilha mediante o Tratado de Amiens (1802), mas os Cavaleiros nao mais puderam estabelecer-se ali. Em conseqüéncia tiveram sede temporaria em Messina, Cat&nia e Ferrara, até a Ordem se estabelecer definitivamente em Roma, onde possui, em regime

extraterritorial1, o Palacio de Malta (68 Vía Condotti) e urna Villa sobre o

Aventino.

Desde 1879 o regime da Ordem tomou estrutura estável: os seus Gráo-Mestres gozam de honras cardinaltcias. As atividades da Ordem sao de (ndole caritativa, esparsas por diversas partes do mundo e parti cularmente úteis durante as duas guerras mundiais do século XX

(1914-18 e 1939-1945). A Ordem dá especial assistdncia ás vítimas dos desastres naturais (endientes, secas, terremotos) e das guerras. Como se vé, a Ordem de Malta hoje existente é a continuacio ininterrupta da Ordem do Hospital de Sao JoSo, reconhecida pela Santa Sé

em 1113. É a única Ordem Religiosa da Igreja Católica que guarda as in

signias dos Cavaleiros militares (embora seus membros nao exercam funcóes militares). A Ordem nunca deixou de ser reconhecida pela assembléia das nacóes como soberana e independente de toda autoridade leíga; em conseqüéncia é sujeito de Direito Internacional Público e rnantém relacóes diplomáticas, mediante representantes oficialmente credencia-

dos, com os seguintes países: Europa: Austria, Espanha, Italia, Malta, Portugal, Sao Marinho, Vaticano; América Latina: Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Colombia, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, Nicara gua, Panamá, Paraguai, Perú, República Dominicana, Uruguai, Venezue la;

Asia: Líbano, Filipinas, Tailandia;

1lsto ó. nio subordinado ao Govemo da Italia. 189

46

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"359/1992

África: Berrín, Burkina Faso, Camaróes, República Centro-africana, Comores, Costa do Marfim, Egito, Etiopia, Gabáo, Guinéia, Libéria, Mali, Marrocos, Mauritania, llhas Mauricio, Nigeria, Senegal, Somalia, Togo, Zaire.

A Ordem mantém delegados outrossim na Bélgica, na Franca, no Principado de Monaco, na Alemanha e na Sulca, assim como junto ao

Conselho da Europa, á UNESCO, é FAO e a certas organizacóes internacionais em Genebra. O Gráo-Mestre traz os títulos de "Eminencia e Alteza" ou "Alteza Eminentísima", e é reconhecido internacionalmente como Chefe de Es tado, a quem sao devidas as honras soberanas. O Santo Padre o Papa é o Superior da Ordem, assim como de to das as diversas Ordens Religiosas. Tem como representante junto aos Cavaleiros um Cardeal, dito Cardinalis Patronus.

2. Atividades da Ordem

A Ordem de Malta publica os seus Anuarios, nos quais expóe, entre outras coisas, o rol de seus trabalhos e obras em varios países do mundo.

Através desses catálogos, o estudioso é informado de que a Ordem mantém Dispensarios, Ambulatorios, Creches, Escolas.» ou financia

obras em varios pontos do Brasil, como Río de Janeiro, Sao Paulo, Para

ná, Salvador, Brasilia, Sao Luis do Maranháo, Amapá, Belém do Para, lina de Marajó... Além disto, estao sob o patrocinio do Gráo-Mestre da Ordem

- o Banco da Providencia, da Arquidiocese do Rio de Janeiro; - a Fundacáo "Patronato de Acción contra la Lepra", na Guatemala; - o Dispensario "Villa Malta" (Welfare Free Clinic), em Asmara (Etiópia);

- o Dispensario San Lorenzo em Assuncáo (Paraguai); - o Corpo de Ambulancia "Servicio de Emergencia Malta" (SEMA), no Paraguai; 190

ORDEM DOS CAVALEIROS DE MALTA

47

- o Corpo de Ambulancia "Secourístes de la Croix de Malte", no Grao-Ducado do Luxemburgo;

- o Centro de Diagnose e Terapia "Clínica Antonio Hercolani", em Bolonha (Italia);

- A Fundacáo "Pergami Belluzzi Baldi", Centro Socio-Educativo de Cegos Indigentes, em Bolonha; - o Jardim de infancia "Istituto Macchi di Cellere", em Aprilia (La tina);

- o Jardim de Infancia María Mancinelli, em Pretola de Perugia (Itália).

Como se vé, a Ordem dos Cavaleiros de Malta é a representante de um passado da Igreja digno de muito respeito. Se perdeu sua finalidade medieval, condizente com séculos idos, assumiu tarefas valiosas em nossos dias. Guarda aínda títulos e insignias outrora recebidos ou adquiri dos, que os respectivos membros nao querem abolir, pois recordam o seu passado glorioso.

Estévio Bettencourt O.S.B.

Conhega a Biblia, por Ivo Stomiolo e Euclides Balancín. - Ed. Pauli nas, Sao Paulo 1987 (& edlcáo), 130 x 200 mm, 240 pp.

Este Ovro recolhe os artigos que os autores publicaram no folhéto "O

DOMINGO" nos anos de 1984-1985, com o acrésclmo de perguntas para reñexáo pessoal ou em grupos. ExpSe muito brevemente o conteúdo de cada Ih vro da Biblia, oferecendo urna leve pincelada da sua mensagenx

A obra comeca por algumas nocóes Introdutórias na Biblia, entre as quals desojamos destacar a apresentacáo do Canon Bíblico ou a questio do

porqué a Biblia protestante nao tem sete livrvs do Antígo Testamento (Tb, Jt, Sb, Br, Eclo, VSMc) que a Biblia católica tem e que sito chamados "deuterocanónicos". Os autores responden) que "a Igreja Católica considera canóni cos tambóm alguns livrvs que fomm acresce/tíados á tradugño grega do Antigo Testamento feita pelos judeus em Alexandria e que nao constavam da Bi blia hebraica ou dos Judeus da Palestina" (cf. pp. 22s). - Ora deve-se dizer que o Canon da Biblia dos Judeus (o Antígo Testamento) só se fírmou e fechou 191

48

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 359/1992

definitivamente em 100 d. C. aproximadamente no Sínodo dos rabinos de Jámnia ou Jabnes; por conseguíate, nSo se pode dizer que os sete livros

mencionados foram acrescentados á Biblia hebraica, pois eram ¡idos petos ¡udeus da Palestina antes }& de Cristo como livros piedosos; só se fez a delimi tado entre livros piedosos e livros canónicos (= integrantes de um catálogo definido) no Sínodo de Jámnia. Tenha-se em vista especialmente o Eclesiásti co: o prólogo respectivo nos diz que o Svro fol escrito em hebraico porumju-

deu da Palestina que tínha urna escola de Sabedoria emJerusalém (cf. Prólo go 1-14; Eclo 50, 27; 51, 23). Por conseguinte, o Eclesiástico fol escrito em Jerusalém e em hebraico; o neto do autor traduziu-o para o grego; o livro, porém, partencia á biblioteca sagrada dos judeus da Palestina. Em Jámnla, o Canon dos judeus fol delimitado, fícando excluidos os deuterocanónicos. Em Alexandria, porém, nüo houve tal truncamento. Ora os autores do Novo Tes tamento (Sao Mateus, Sao Marcos, Sao Lucas, SSo Paulo...) adotaram o texto grego de Alexandria (pois escreviam em grego), de modo que este fícou sen

do, após hesitacdes entre os doutores cristáos, o texto oñcial da Igreja: em 393 o Concho regional de Nipona delinlu o Canon ampio (incluindo os sete li vros deuterocanónicos).

Em seus capítulos fináis (pp. 231-240) os autores dissertam sobre a

leitura ingenua, crítica, social», da Biblia, nem sempre acertadamente. As pp.

237s, por exempto, julgam que a pobreza material como tal ó condigno para se entender a Biblia - o que redunda em dividir o povo de Deus em ricos (incapazes de perceber a mensagem de Deus) e simples ou pobres (habilitados a tanto). Ora a fé nos diz que nao sao as categorías socials que permiten) ou

nao compreender a Biblia, mas ó a pureza de coracSo (cf. Mt 5,8), que pode ser encontrada em qualquer classe social, desde que honesta.

O livro, portanto, ó redigido em perspectiva acentuadamente horizontal, sociológica, que prejudica o seu conteúdo. Falta nSo raro o aspecto transcen dental e propriamente teológico dos livros sagrados. E.B.

192

PARA O NOVO ANO LETIVO:

Que livros adotar para os Cursos de Teología e Liturgia?

A "Lumen Christi" oferece as seguintes obras:

1. RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA (22 ed.), por Dom Cirilo

Folch Gomes O.S.8. Teólogo conceituado, autor de um tratado completo de Teología Dogmática, comentando o Credo do Povo de Deus, promulgado pelo Papa Paulo VI. Um alentado volume

de 700 p., best seller de nossas Edigóes

Cr$ 25.000,00

2. O MISTERIO DO DEUS VIVO, P. Patfoort O.P. O Autor foi exa

minador de D. Cirilo para a conquista da láurea de Doutor em

Teología no Instituto Pontificio Santo Tomás de Aquino em Roma. Para Professores e Alunos de Teologia, é um Tratado de "Deus Uno e Trino", de oríentacáo tomista e de fndole didáti-

ca. 230 p. -

. . .

CrS 15.000,00

3. LITURGIA PARA O POVO DE DEUS, (4* ed., 1988), pelo Salesiano Don Cario Fiore, tradu?áo de D. Hildebrando P. Martins

OSB. Edicáo ampliada e atualizada, apresenta em linguagern

simples toda a doutrina da Constituicáo Litúrgica do Vat. II. E um breve manual para uso de Seminarios, Noviciados, Colegios, Grupos de reflexáo, Retiros etc., 216 p.CrS 10.500,00

4. QUADROS MURÁIS, Formato grande. Para aulas, círculos, portas de Igreja e saldes Paroquiais. Em cores.

1 - ESTRUTURA GERAL DA MISSA 2-0 ANO LITÚRGICO

CrS 4.500 00 CrS 4.500,00

5. 3? EdiQáo de:

DIALOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos.

Seu Autor, D. Estéváo Bettencourt, considera os principáis pon

tos da clássica controversia entre Católicos e Protestantes, pro curando mostrar que a discussáo no plano teológico perdeu muito de sua razáo, de ser, pois, nao raro, versa mais sobre palavras do que sobre conceitos ou proposites - 380 páginas.

SUMARIO: 1. O catálogo bíblico: livros canónicos e livros apó

crifos - 2. Somente a Escritura? - 3. Somente a fé? Nao as obras? - 4. A SS. Trindade. Fórmula paga? - 5. O primado de Pedro - 6. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento - 7. A Confissáo dos pecados. - 8. O Purgatorio - 9. As indulgencias - 10. Maria, Vírgem e Máe - 11. Jesús teve irmáos? -12.0 Culto aos Santos - 13. E as ¡magens sagradas? - 14. Alterado o Decálogo - 15. Sá bado ou Domingo? - 16.666 (Ap. 13.18) - 17. Vocé sabe quando? - 18. Seita e Espirito sectario - 19. Apéndice geral. - 304 págs CrS 15.000,00 * Prefos sujeitos a alteracáo.

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court por ocasiáo de seus 70 anos de vida. A obra apresenta também urna

lista completa dos livros e artigos de D. Estéváo. - 332

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