Ano Xxxiii - No. 356 - Janeiro De 1992

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Projeto PERGUNTE

E RESPONDEREMOS ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de

Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)

APRESENTAQÁO DA EDIpÁO ON-LINE Diz Sao

Pedro que devemos

estar preparados para dar a razáo da nossa esperanga a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15). Esta

necessidade

de

darmos

conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenga católica mediante um aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questdes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abencoar este trabal no assim como a equipe de Veritatis Splendor que se

encarrega do respectivo site. Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos

convenio com

d.

Esteváo

Bettencourt e

passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagao. A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaca depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.

respondcrcmo 00

<

SUMARIO

r™

"Quando o homem acaba entáo é que comeca" (Eclo 18,7) Os Grandes Inimigos do Catolicismo "Enquanto o Diabo Cochila" (D. Monteiro de Lima) A Igreja e a Escravatura O

Testemunhas de Jeová e Liberdade Religiosa < UJ

Canibalismo na Tradicáo Bíblica? Eubiose: que é? "Biblia: Perguntas que o Povo Faz"

ANO XXXIII

JANEIRO

1992

35fí

ERGUNTE E RESPONDEREMOS Publicacáo mensal

JANEIRO- 1992 N9356

Siretor-Responsável:

SUMARIO

Estévao Bettencourt OSB Autor e Redator de toda a materia publicada neste periódico

"Quando o Homom acaba, entío é quo cometa

1

Entrevista audaz:

Díretor-Administrador:

Os grandes inimlgos do cstoliciimo

D. Hildebrando P. Martins OSB

(Vdministracao e distribuicao: EdicSes Lumen Christi Dom Gerardo, 40 — 5? andar, s/501 Tel.:(021) 291-7122 Caixa Postal 2666 20001 - Rio de Janeiro - RJ

,

2

Criticas e elogios á Igreja:

"Enqusnto o Diabo cochlla", por Ddlcio Monteiro do Lima

7

Mala urna vez:

A Igrejo o a Eseravatura Fala urna ex-Te>temunha: Toitemunhas de Jeovi a

19

'

Llberdade Religiosa

Imprsssto « Encsde

26

Falso alarme: Canibalismo na Tradicáo Bíblica?

"MARQUESSARA/VA"

GRÁFICOS E EDITORES S.A. Tels.: (0Í1B73-9498 -273-9447

30

Mals urna proposta religiosa: Eubiose: que é?

34

Titulo atraente: "Biblia: Perguntas que o Povo faz" por Frei Mauro Straboli ....

41

NO PRÓXIMO NÚMERO: "O Cristianismo Moreno do Brasil", por E. Hoornaert. - "O Estado do Vaticano" - Movimento Gnóstico Cristáo Universal. - "1001 Maneiras de Enriquecer".- Um Santo na Política.

COM APROVACAO ECLESIÁSTICA ASSINATURA ANUAL (12 números): Cr$ 10.000,00 - Número avulso ou atrasado: Cr$ 1.000,00

Pagamento (á escolha)

1. VALE POSTAL á agencia central dos Correios do Rio de Janeiro em nome de Edicóes "Lumen Christi" Caixa Postal 2666 - 20001 - Rio de Janeiro - RJ.

2. CHEQUE NOMINAL CRUZADO, a favor de Edicoes "Lumen Christi" (endereco ácima).

3. ORDEM DE PAGAMENTO, no BANCO DO BRASIL, conta N? 31.304-1 em nome do MOSTEIRO DE SAO BENTO. pagável na AGENCIA PRACA MAUÁ/RJ

n? 0435-9. (Enviar xeróx da guia de depósito á nossa administracao. para efeito de ¡dentif¡cacao do pagamento).

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"QUANDO O HOMEM ACA3

ENTÁO É QUE COMETA...

(Eclo18,7) O sabio, na Biblia, referindo-se á grandeza de Oeus, exclama: "Nin-

guóm é capaz de investigar as maravilhas do Senhor. Quando alguém acaba, entáo é que comeca. e, quando para, fica perplexo" (Eclo 18,6b-7). O texto é valioso porque lembra ao leitor o fio condutor da sua existencia na térra: procurar..., procurar incessantemente o.Bem Infinito,

que, em última análise, é o próprio Deus. Nao há como parar nessa busca; o fim de urna etapa ainda é comeco... comeco de outro segmento. A Escritura faz ressoar freqüentemente o binomio "procurar e encontrar a

Deus"; cf. Is 51.1; Zc 8,21 s; Os 2,9; 3,4s; 5, 6.15... Alias, o concertó de "procurar" é espontáneo ao homem, pois toda criatura senté que os bens visiveis sao insuficientes para preencher suas capacidades e aspiracóes; toda criatura humana é sequiosa de algo maior e melhor ou de urna resposta mais cabal para os seus anseios naturais. Terminamos 1991... Mas nao concluimos nosso curso terrestre; este se prolonga, oxalá mais experimentado e seguro, em demanda da Meta Suprema. Quem nao aceita este ritmo e para, "fica perplexo" ou perde o sentido da vida; os bens passageiros que esta vida oferece, nao satisfazem

plenamente. É, pois, necessário, ter fome e sede... de justica, de santidade.

de perfeicáo (cf. Mt 5,6). Ser obrigado a viver dessa fome e com essa fome

ó incómodo, cansa, mas é penhor de vida e felicidade. Portanto, tinha razáo o escritor francés ao dizer que o ser humano é

um peregrino..., peregrino do Absoluto. O que dá ánimo ao viandante para continuar a estrada, é a certeza de que, ultrapassando bens fugazes e ilusorios, chegará ao Bem Absoluto apreendido em vlsáo face-á-face. Olhando com realismo para o novo ano, verificamos que vem cercado de Interrogacóes e dúvidas. Apesar de tudo, é "ano da graca de Nosso Senhor Jesús Cristo", como dizem os antigos; é dom da misericordia divina, que, de modos diversos, proporciona aos fiéis a ocasiáo de descobrirem sempre mais a sua presenta latente nos desafios da historia contemporá

nea. Por isto o cristáo nao se atemoriza:

"Nao temas, porque eu te resgatei, Chamei-te pelo teu nome; tu ós meu. Quando passares pela agua, estarei contigo, Quando atravessaros ríos, eles nao te submergiráo, Quando andares pelo fogo, nao te queimarás,

A chama nao te atingirá". (Is43,1b-2)

E.B.

"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" ANO XXXIII — Na 356 — Janeiro de 1992

Entrevista audaz:

OS GRANDES INEMIGOS DO CATOLICISMO Em sintese: O famoso escritor francés Jean Guitton faz algumas observacóes sobre o Papa, a Igreja e os católicos. Explica por que Joáo Paulo II muito fala sobre direitos humanos; ele o faz porque este tema

Interessa a toda a humanldade e o Papa se senté devedor de uma palavra a todos os homens; Isto, porém, nao quer dizer que o Pontífice nao aborda tambóm assuritos profundamente teológicos e ascético-misticos. — Jean Guitton termina dizendo que o maior inimlgo do Catolicismo hoje sao os católicos, desde que nao vivam coerentemente aquilo que professam. Nesta aflrmacáo exprime importante verdade, de modo que ela desparta nos católicos a convicgáo de que há necessidade premente de viver santamente a mensagem do Evangelho, pois os homens de hoje a julgam pelo comportamento de seus adeptos; blasfemam ou louvam o nome de

Deus e de Jesús Cristo de acordó com o tipo de vivencia dos que se dizem cristáos. *

*

*

Em julho de 1991 o político socialista italiano Cario Martelli repetiu uma censura que vem fazendo ao Papa Joáo Paulo II: seria um Papa ilumlnlsta, ou seja, racionalista. O atual Pontífice se distinguirla dos ante

riores por uma forte secularizacjio1 da sua mensagem. Nao só nos meios

que adota, mas também nos valores e ideáis que prega, entre os quais

sobressai a questáo dos direitos humanos, transparecerla o espirito secu-

1 Secularizafio, no caso, quer dizer "laicizado"', perda do cariler religioso.

OS GRANDES INIMIQOS DO CATOLICISMO

3

larizado de Joáo Paulo II, visto que a temática dos direitos humanos está no ámago do lluminismo.

A imprensa italiana reagiu a tais declarares através dos jomáis L'Avvonire e II Popólo.

A controversia teve seus ecos em París, na casa do pensador francés

Jean Guitton, já nonagenario, mas muito lúcido; publicou recentemente um livro assaz comentado com o título Dfeu et la Selence, diálogo com dois cientistas famosos, que se tornou best-seller. Jean Guitton é o amigo dos Papas Joáo XXIII, Paulo VI e Joáo Paulo II; foi o único leigo que Joáo XXIII chamou e investiu para participar da primeira sessáo do Concilio do Vaticano II. Durante 27 anos teve fácil acesso a Paulo VI, que o autorizou a revelar diálogos, pensamentos e confidencias de caráter reservado. Em suma, é um dos grandes intelectuais católicos do momento.

Jean Guitton foi entrevistado pelo repórter Luigi Amicone, da revista italiana II Sabato, que publicou o depoimento de J. Guitton em sua edicáo

de 27/07/91, pp. 105. — É o texto da entrevista que vai, a seguir, reproduzido. em traducáo brasileira.

FALA JEAN GUITTON

L. Amicone: "O Vice-Presidente do Conselho de Ministros, o Sr. Claudio Martelli. afirmou que Joáo Paulo II é o Papa dos direitos humanos. Por conseguinte. é um Papa iluminista, mais preocupado com os direitos dos homens do que com os direitos de Deus. Que responde o Sr. a isto?" J. Guitton: "Respondo que isso nao é novidade. Todos os Papas

sempre foram contestados pela mentalldade mundana. Um Papa nao pode agradar a todos; também nao pode dizer tudo ao mesmo tempo. Pense no problema da identidade de Jesús Cristo. Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Mas certas vezes o Papa insiste na Divlndade de Cristo;

outras vezes. na sua humanldade. A verdade sempre decorre de idélas aparentemente contrarias. Pense na educacáo dos filhos: um pal deve necessariamente ter autoridade, mas tambóm deixar ao menino a sua liberdade. A verdade é sintética, mas é outrossim complexa. Dizem que o

Papa insiste demals nos direitos humanos e esquece os de Deus? É

acusacáo Injusta e parcial. Quando se considera a conduta do Pontífice e se reléem atentamente os seus discursos, compreende-se bem como ele póe Deus infinitamente ácima do homem".

■PERQUNTE E RESPONDEREMOS" 356/1998

L. Amicone: "Por conseguinte, é melhor a fórmula de André Frossard, que ñas colunas do 'L'Express' (ala de Joáo Paulo II como Papa que reconciliou os direitos do homem com os direitos de Oeus?"

J. Guitton: "Sim; muitas vezes diz-se, e é verdade, que o atual Papa

ó um grande reconciliador; fala a todos os homens, e nao apenas aos cristáos; é de todos, e nao apenas dos católicos; usa linguagem que todos

os povos podem entender. Isto, porque os homens do nosso tempo nao

creém muito em Deus e, para dizer a verdade, nem no homem créem.

Por que Joáo Paulo II (ala de direitos humanos? Porque este é um

tema compreensrvel a todo o género humano. Isto nao significa que ele esqueca os direitos de Deus..."

L. Amicone: "O Sr. julga que a intencáo de se voltar para todos os homens é uma atitude permanente em toda a historia da Igreja ou é uma peculiaridade do atual Pontificado?"

J. Guitton: "Nao; estou talando de Joáo Paulo II em particular. Antes do Concilio do Vaticano II, Papas como Sao Pió X ou Pió XI nao se sentiam peocupados com essa orientacáo pastoral. O seu interesse era, principalmente, dogmático. Somonte após o Concilio os Papas comecaram a se preocupar nao apenas com o ensin amento da verdade como tal, mas também com a maneira de a ensinar, compreensK/el a todos os homens. E, já que hoje a humanidade inteira é sensivel á questáo dos direitos humanos, os Papas se tém esforcado por demonstrar claramente que a Igreja Católica nao é contraria aos principios da liberdade, da igualdade e da fraternidade. Doutro lado, nao é difícil demonstrar que tudo o que a Revolucáo Francesa proclamou no mundo intelro, tem as suas raizes na fé católica." L. Amicone: "O Sr. disse certa vez: 'O drama da hora presente é que o Catolicismo val ganhando em extensáo, já nao tem adversarlos, difúnde se, mas fica a questáo de saber se nao perdeu algo de essencial'. Repetirla esta sentenca hoje, após as ocorréncias de 1989?"

J. Guitton: "É evidente no mundo inteiro, e especialmente na Franca,

o desaparedmento do anticatolicismo e do anticlericalismo. Vocé pode passear pelo Quartier Latín de clergyman ou de batina sem ser agredido

ou desprezado, nem mesmo pelos jovens. Creio que na Italia isto também é evidente; já nao há hostilidade ñas relacoes com a Igreja Católica". L. Amicone: "Na sua última conversa com o Sr., Paulo VI Ihe exprimiu a sua preocupacáo dramática com o futuro da Igreja. Dlzla: 'O que me

OS GRANDES INIMIGOS DO CATOLICISMO

Impressiona, quando considero o mundo católico, é que dentro do Catoli cismo parece as vezes predominar urna mentalidade nao católica, e pode acontecer que essa mentalidade nao católica no interior do Catolicismo amanhá se torne preponderante'". J. Guitton: "Paulo VI era um homem muito inteligente, sagaz e informado. O mais informado dos Papas que conheci. Nao quero dizer que Joáo Pauto II nao seja informado, mas Paulo VI tinha ouvidos muito abertos e estava a par de tudo. Paulo VI recebia informales de dois tipos: as que

referiam os ataques feitos ao Catolicismo no plano da Moral (divorcio,

contracepcáo, aborto), ataques que provinham de fora; além disto, era informado a respeito das dúvidas, das defeccóes, das suspeitas de Bispos e sacerdotes. Como se a Igreja tivesse inimigos internos. Paulo VI se

preocupava principalmente com estes últimos. Ás vezes quase chorava. Falava da "fumaca de Satanás'. Estava evidentemente inquieto..."

L. Amicone: "Qual é, a seu modo de ver, o inimigo da Igreja hoje?" J. Guitton: "O grande inimigo é que os católicos nao sao santos. Na Franca quase todos recebem a graca do Batismo. Sao quase todos católi

cos, mas tém costumes detestáveis. Os grandes inimigos do Catolicismo sao os católicos. Somos todos nos. Se todos os católicos lossem santos, o Catolicismo triunfaría realmente Mas. ao contrario, nos somos como' todos os outros"

COMENTANDO...

As palavras de Jean Guitton sao fortes e penetrantes, principalmente

em suas afirmacóes fináis. Sugerem algumas observacóes:

1) É certo que Joáo Paulo II se tem preocupado muito nao só com os

direitos humanos (tema que interessa a todos os homens, e nao só aos

católicos), mas tambóm com as verdades da fé e sua Iransmissáo a todo o mundo; ten hamos em vista as grandes Encíclicas teológicas de Sua Santldade: "Divos in Misericordia" (sobre Deus Pai); "Redemptor Hominis" (sobre Deus Filho); "Dominum et Vivificantem" (sobre Deus Espirito Santo); "Redemptoris Mater" (sobre a Máe do Redentor)... Além disto, é

notorio o zelo do Papa pela vida espiritual e a formacáo dos fiéis católicos

em geral. como se depreende de seus escritos e alocucóes aos Bispos, aos presbíteros, aos Religiosos e ás Religiosas, aos leigos de diversas áreas

6

'PERGUNTEE RESPONDEREMOS" 356/1992

do trabalho e do saber... Ninguém pode seriamente duvldar dos propósitos religiosos do Pontífice. Dado, poróm, que S. Santldade tem viajado pelo mundo Intelro, dlriglndo-se aos mals diversificados auditorios, compreende-se que aborde freqüentemente temas menos acentuadamente religio sos ou de Olrelto natural.

2) Jean Gultton mostra-se otimista quando fala do respeito tributado

á Igreja em diversos lugares antes tidos como anticatólicos ou anticlericals... Nao há dúvlda de que no Brasil a Igreja goza de grande confiabilida-

de; a pesquisa da oplniáo pública, realizada em fevereiro de 1990, revelou que 82% da populacáo confiam na Igreja, ao passo que o índice favorável aos empresarios foi de 34%; favoráveis ao Governo Federal foram 29% e

aos políticos 18%. — Todavía nao se pode esquecer o grave perigo que as seltas é os novos Movlmentos Religiosos acarretam para o Catolicismo, especialmente nos países latino-americanos. Jean Guitton, na Franca, nao experimenta de táo perto esta problemática, segundo a qual muita gente cede á fantasía e ás emocóes religiosas superficlals, sem a firmeza da fé e de convlccóes esclarecidas...

3) "Os católicos nao sao santos"...- Só Deus pode dizer isto com seguranca, pois só Ele sonda os coracóes e vé o que no intimo dos homens

existe. É certo, poróm. que há grande número de fiéis católicos a levar urna

vida coerente, corajosa, abnegada e santa. Acontece, porém, que a santidade nao faz estardalhaco (ao contrárlol), ao passo que o mal é alardeado e divulgado. Como quer que seja, as palavras fináis de Guitton sao de

grande Importancia; vém a ser o ponto alto da sua entrevista e a razáo pela

qual publicamos as suas declaracóes a Lulgl Amicone; Gultton chama a atencáo dos católicos para a preméncla de dar testemunho lúcido da sua fé mediante urna vida íntegra. Os homens de hoje julgam o Catolicismo e o Evangelho multo mals a partir do comportamento dos seus adeptos do que em funcáo da sua mensagem e pregacáo teórica. A verdade da

Boa-Nova só ó acreditada se transformada em vida e gestos concretos. É

necessárlo, pois, que os católicos, cientos do que prolessam, tratem de o

distinguir bem de sistemas filosóficos ou religiosos meramente humanlstas,

naturalistas ou racionalistas. Nao quelram remover o escándalo e a loucura da Cruz (1Cor 1,23), mas assumam-nos corajosamente e mostrem ao mundo que ai se encerra a verdadeira sabedoria, aquela que vem de Deus e leva de volta a Deus (cf. 1 Cor 1,17-2,16)! Els o fruto positivo que se pode colher das palavras pungentes de Jean Gultton.

Críticas e elogios á lgre]a:

"ENQUANTO O DIABO COCHILA" por Delcio Monteiro de Lima

Em sintese; O livro de Delcio Monteiro de Lima critica pontos da Igreja do passado e aplaude a Igreja Católica do momento presente, principalmente por causa de suas intervencóes na vida pública ou social do Brasil e do mundo. O autor aponía numerosos tatos em conseqüéncia de boa leitura e documentagáo. Todavía nem sempre é preciso. O presente

artigo, além de reconhecer os méritos do livro, tenta esclarecer alguns tópicos da obra, mormente os que se referem á Igreja e a escravatura nos últimos cinco sáculos. O autor nao foi sempre devidamente critico no

tocante as fontes que consultou; a historiografía é um setor de trabalho muito complexo, que exige atengáo a (ontes diversas. — As observagóes do presente artigo e do subseqüente tendonam prestar coiaboracáo á obra de D. Monteiro de Lima. *

*

*

O autor já é conhecido por outras obras publicadas, entre as quais "Os demonios descem do Norte", comentada em PR 309/1988, pp. 67-77.

No livro "Enquanto o Diabo cochila" o autor anallsa a atuacáo da Igreja Católica no passado e no presente, tendendo a apontar falhas nos tempos colonlals do Brasil e da América Espanhola, ao passo que elogia calorosa mente a Igreja dita "progressista" da nossa época e faz restricdes á Santa Sé e aos segmentos da Igreja tldos como "conservadores". No final de suas páginas observa que o ánimo dos progressistas vai arrefecendo diante da resistencia encontrada e faz votos para que nao desfaleca, pols, por enquanto, "o Dlabo está cochilando",... o diabo que impede a acáo

social da Igreja e favorece o conservadurismo. É este fecho do livro que

sugere o titulo da obra, como se percebe das suas últimas linhas aquí transcritas:

"Ató hoje o Dlabo amedronta os católicos. Porém, nao tanto quanto há sáculos atrás. Já nao á temido como outrora. Está meló desprestigiado. Talvez esteja velho para realizar o bem, porque com ele despertó seria impossivel materializar qualquer boa acáo. Talvez isso Injete ánimo novo aos que lutam contra os poderosos. Talvez nestes instantes de fraqueza

8

'PERQUNTE E RESPONDEREMOS' 356/1992

do Diabo a Igreja do Brasil consiga lambém obter alguns éxitos em favor dos pobres e contra as classes dominantes, táo poderosas que nao temem

um Dlabo voltio e sonolento.

De qualquer manelra, é bom que ele se descuide, porque há sempre urna esperanca enquanto o Diabo cochila" (p. 199).

Este trecho é característico do estilo veemente e, por vezes, sarcástico da obra. — Examinemos de mais porto o seu conteúdo.

1.OLIVRO

1.1. Tempos coloniais 1. O autor critica severamente os colonizadores do continente latino-americano, acusando parte do clero de conivéncia com a violencia exerclda sobre os aborígenes. Refere episodios sem Ihes apor a mínima documentacáo (o livro nao tem uma^nota de rodapó nem urna página de bibliografía — o que o torna obra de divulgacáo, mais do que urna obra científica).

Ora a historia é sempre complexa, envolvendo varios fatores e apresentando varias facetas, de modo que urna narracáo sumaria, escrita por alguém que tem urna pena ferina, corre o risco de ser unilateral ou dlstorcfda, como tentaremos mostrar sob o subtitulo 2 deste artigo. Alias, á p. 26 o autor observa multo sabiamente que a Santa Sé nao sabia, nem podia saber, de certos abusos cometidos no Brasil e na América Espanhola, porque os soberanos de Portugal e Espanha, baseados no privilegio do padreado, se julgavam mais ou menos plenipotenciarios na obra "evangelizadora" dos indios e negros:

"É interessante observar que o Vaticano nao tlnha sequer urna visáo pálida da agio de seus bispos em refació aos indios, pois os prelados somonte se comunicavam com seus superiores em Roma atravós de Portugal. Dessa manelra, o Vaticano nada mais sabia do que acontecía por

aquí. Nao recebla informe ou relatarlos, nem a obligatoria visita ad Hmina.

Lisboa dirigía e controlava ludo em nome do completo dominio político e

económico da Colonia".

A p. 23 o autor aponta outra atenuante para males cometidos na

evangelizado: "Os próprlos mlsslonários tlnham urna vlsáo confusa do papel político que representavam, sem urna nocáo definida da evangelizacao no mesmo contexto. Asslm, por exemplo, enquanto Manoel da Nobre-

'ENQUANTOO DIABO COCHILA'

ga, um Jesuíta que aqui lidou com os indios no secuto XVI, constderava fundamental a submissáo total, compulsoria, do silvícola ao estilo de vida

cristáo para entáo ser evangelizado, outro jesuíta, o legendario Antonio Vieira, pregava, no século seguinte. que era suficiente que o natural aceitasse pacificamente os termos da colonlzacáo. Um e outro, no entanto, eram acordes em que o Indígena abrisse máo da sua cultura e das suas tradicdes e adotasse os padróes dos colonizadores. Qualquer que fosse, portante, a atitude dos silvícolas, os portugueses seriam os beneficiarlos da docilidade do seu comportamento. A consqüéncia política dessa aculturacáo é que talvez nao fosse consciente para os missionários, pelo menos para a maioria deles".

O autor menciona outrossim o pedido de desculpas feito por Joáo Paulo II em 1987 aos indios do Arizona nos Estados Unidos: "A opressáo cultural, as injusticas e a destruicáo de vossa vida e das vossas sociedades tradicionais precisam de ser reconhecidas. Agora so

mos chamados a tirar lifáo dos erros do passado".

1.2. Tempos atuais Quanto aos tempos atuais, Delcio Monteiro de Lima revela ter um bom ficharlo, com numerosos dados estatisticos. Tem acompanhado os emba tes entre conservadores e progressistas em questóes sociais nao só no Brasil, mas tambóm no estrangeiro. Alude a documentos, associacóes,

congressos, que vém tratando do assunto... É francamente favorável á

Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil e, em geral, á Igreja no Brasil, tlda como defensora dos pobres, apesar da resistencia de certos bispos e

da própria Santa Sé, que parecem ao autor ser "conservadores". Á p. 42 D.M. de Lima menciona "urna pesquisa de caráter nacional, envolvendo todos os segmentos sociais. publicada em fevereiro de 1990.... que revelou que 82% da populacáo confiam na Igreja, enquanto, no mesmo universo...

o ñidice de empresarios foi de 34%. o do governo federal de 29% e o dos políticos 18%". Nao somente o autor frisa a elevada credibilidade da Igreja no Brasil, maior do que a de quatquer outra instituicáo; ele nao perde a ocasláo de tecer elogios á Igreja.... elogios que parecem ¡mparciais, visto que D. M. de Lima também sabe criticar a Igreja: "É preciso olhar de urna perspectiva histórica para compreender a mlssáo da Igreja Católica. Multissecular e universal, ela persegue com

obstinacáo o distanciamento das ideologías e do envolvimiento político lato sentu. A temporalidade só a interessa na medida em que estáo em jogo valores moráis éticos. Consciente de seu papel, nada a perturba na longa

caminhada em que acumulou muiía sabedoria e, particularmente, a correta

10

-PERQUNTE E RESPONDEREMOS* 356/1992

nogio da efemerídade das coisas, fazendo urna sintese Inteligente de todo o conhedmento do homem atravós dos sáculos. A Igreja nao perde batalha.

A historia é repleta de exemplos. Como disse um bispo, ela vai silenciosa e pacientemente enterrando os desafetos. Um verdadeiro exórdto de cerebros privilegiados orienta seus movlmentos de avangos e recuos que

tanto confundem os Inimigos valdosos e triunfalistas, que acabam por

sucumbir e desaparecer como a poeira dos tempos. Enquanto isso ela contínua humildemente de pé. sustentada por sua incontestável autorídade moral" (p. 79). Cf. p. 131. Na base destas ponderales, o autor julga tendenciosas as noticias difamatorias lancadas contra bispos e sacerdotes por pessoas ou por órgños que gostariam de eliminar a acáo social da Igreja defensora dos pobres; ver pp. 79-83; 136-140. Os empresarios, em réplica a tal atitude, estariam financiando o avanco das seitas e novas religióes, pretendendo asslm contrabalancar ou anular a missáo da Igreja:

"Numa forma de revide. os homens de negocios abriram as suas bolsas aos captadores de recursos para seitas, facilitando-Inés a aquisicáo de terrenos na grande campanha para a construcáo de templos para aqueles movlmentos religiosos em todo o país, naturalmente contribulado com o mesmo dinheiro que deveriam destinar ao pagamento de urna remuneragáo condigna aos seus trabalhadores. Houve polpudas doagóes. Material de construcáo de toda especie folposto a disposicáo dos pastores. Bancos abriram máo de toda especie de taxas de servigo e comissóes no receblmentodecontribuigóes de crentes atravós de carnés, para o sucesso da campanha. Os homens de negocios, asslm demonstraram, mais urna

vez, extrema competencia na defesa dos própnos interesses, os quais nao sSo evidentemente os mesmos dos seus trabalhadores, os defendidos pela Igreja" (p. 139s); cf. p. 134.

A p. 110 Monteiro de Urna admite que o governo norte-americano

"esteja estimulando e apoiando as seitas e os movimentos religiosos autónomos dos Estados Unidos para a penetracáo e mudanca do quadro espiritual da América Latina, principalmente do Brasil". D.M. de Urna, porém, nao é complacente com os "pastores elelrónicos", que "imbecilizam os seus ouvintes": "Numa aval/agio modesta, os pastores eletrónicos movimentam anualmente cerca de 2 bllhóes de dólares, respeitada, evidentemente, a partldpagSo do Imposto de Renda. Seus milhoes de ouvintes fanáticos, enquanto Isso, constituem a parcela mals alienada do eleltorado ameri cano. Desinformada e imbecltizada pelas pregagoes televangellstas, vive tora da realldade. Como um robó do transcendental, intelramente manipulada pelo establishment, exatamente como os especialistas do

10

■ENQUANTOODIABOCOCHILA"

11

Departamento de Estado gostariam de ver as populagóes da América Latina".

Estes traaos já oferecem ao leitor urna nocáo do conteúdo do livro de D.M. de Urna, possibilitando-nos passar a algumas reflexóes.

2. COMENTANDO...

2.1. Estima pela Igreja de nossos dias Antes do mals, observamos que o autor revela estima á Igreja Cató lica na medida em que esta se tem dedicado aos pobres nos últimos decenios. D. M. de Lima tem boas razóes para reconhecer os méritos da Igreja, mas nao se pode esquecer que a Igreja nao foi fundada por Cristo apenas para controlar e criticar os governos civis. Esta funcáo decorre de outra, que nao há de ser preterida nem há de sofrer detrimento: a missáo de talar de Deus, de Jesús Cristo, da Redencáo pela Cruz, dos sacramen tos, da graca como íiliacáo divina e da promessa de vida eterna... Se a pregacio de tais verdades é ofuscada, a Igreja comete traicáo para com o homem, porque todo ser humano — rico ou pobre — tem necessidade de ouvlr falar de Deus e dos valores transcendental.

Ademáis: as tarefas dos membros da Igreja háo de ser exercidas em comunháo afetiva e efetiva com o Sumo Pontífice; as diretrizes por este tracadas devem merecer respeito da parte dos agentes de pastoral; nao podem ser transgredidas como se fossem "conservadoras" (cf. p. 94) em favor de diretrizes "progressistas". Ora esta conviccáo, decorrente da nocáo mesma de Igreja-sacramento, falta no livro de D. M. de Urna.

2.2. O comercio de escravos

É táo importante e denso este tópico que vai abordado sob novo subtítulo.

2.3. Imprecisóes gráficas

Á p. 126, o autor diz que a Conferencia dos Religiosos do Brasil conta

com 53.000 sacerdotes, ao passo que á p. 91 diz que no Brasil há 13.220

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sacerdotes. — A contradlcáo se resolve se se corrige a p. 126, dizendo

53.000 Religiosos e nao sacerdotes?

A p. 127 dever-se-ia ler: 13.220 padres no Brasil, e nao 53.000 padres.

3. O COMERCIO DE ESCRAVOS

3.1. A Coroa portuguesa e os escravos

Á p. 29, o autor retere-se a urna Bula do Papa Nicolau V, datada de

1454, e referendada por Calixto III (1456) e Xisto IV (1481),... Bula "que reconhece aos portugueses o direito de capturar e submeter os negros da

África". — A temática exige explicacóes:

Na verdade, em 1455 o Papa Nicolau V, pela Bula Romanas Pontífex,

reconheceu aos portugueses o dlrelto de conquistar as térras africanas

situadas ao Súl do Cabo Bojador2 e de exercér a i o monopolio do comercio.

Segundo a mentalidade da época, tal gesto podía implicar o reconhecimen-

to do próprio tráfico de escravos, pois este já era praticado entáo3. Tal

prática era justificada aos olhos dos interessados que se baseavam nos

segulntes itens: 1) os escravos levados para Portugual seriam convertidos ao Cristia nismo e batizados; portanto, deixarlam o paganismo:

1 Religioso(a), no caso, £ o(a) fiel caiólico(a) que se consagra a Dcus pelos votos regulares mima Ordem ou Congrega;3o Religiosa, abstracto feila de ser ordenado sacerdote ou nao. — Sacerdote, no contexto, é o presbítero ou padre.

2 O Cabo Bojador fica pouco abaixo das llhas Canarias ou do paralelo 30. 3 NSo conseguimos acesso a Bula Romanas Ponnfex de Nicolau V, mas. sim, á de Xisto IV,

datada de 21/12/1481, tendo por titulo da iradufio portuguesa: "Bulla do Papa Xisto IV, publicada em Roma aos 21 de de/embro de 1481, confirmando

as dos Papas Nicolao V e Callisto III, que concederlo a urdem de Christo para sempre iodo o espiritual de todas as lenas do Ultramar, descocerlas e por descubrir". Como se vi, o titulo se refere apenas ¿ entrega do govemo espiritual (nomeacáo de bispos, pirocos, erecSo de paróquias, transferencia de mlsslonários...).

O texto da Bula de Xisto IV ¿ assaz longo; está em portugués arcaico, com fiases de multas Unhas sera ponruacao. Urna das passagens mals significativas deste documento val transcrita

a guisa de Apéndice, ás pp. I6s deste fascículo.

•ENQUANTO O DIABO COCHIIA*

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2) abandonarían) conceptees e práticas hediondas, como seriam o canibalismo, o incesto, a sodomía..., pois se dizia que os negros levavam

um género de vida bestial e a escravatura os levaría a um tipo de vida

civilizada (com uso de roupas, melhor alimentacáo. mais sadio regime habltacional...).

Tal argumentacáo era apoiada em premissas ainda maís remotas. Ategavam-se, por exemplo, as seguintes razóes fundamentáis:

1) era licito fazer guerra aos inliéis (nao aislaos), pois isto contribuiría para eliminar, da face da térra, a infidelidade e converté-la ao Cristianismo. Tal tipo de guerra, tida como justa, ocasionaría o aprisionamento de infléis (negros) que, urna vez reduzidos á escravidáo, seriam catequizados e balizados, além de elevados a um género de vida menos primitivo ou mais civilizado.

2) Outra alegacáo afirmava que os negros feitos escravos na África eram prisloneiros de guerra já capturados por guerreiros africanos; seriam condenados á morte pelos negros seus adversarios. Ora, para livrá-los da morte, os portugueses os levavam consigo, reduzidos á condicáo de escravos.

3) A Filosofía e a Biblia eram também aduzidas. Já o filósofo grego Aristóteles (t 322 a.C.) havia afirmado que certos seres humanos eram naturalmente feitos para a escravidáo. Os autores cristáos medievais, seguindo o pensamento filosófico de Aristóteles, corroboravam-no, valendo-se do texto do Génesis 9. 20-27: ai está dito que Noe teve tres filhos: Sem, Jafé e Cam. Este último zombou da embriaguez de seu pai e foi, por Isto, amafdicoado com a fórmula proferida por Noé: "Maldito seja Canaá! Que ele seja, para seus irmáos, o último dos escravosl" (Gn 9, 25).

Ora Canaá ou (Cam) era tido como o patriarca Iniciador da raca negra.

Em conseqüéncia, diziam certos autores medievais, a raca negra como tal

fol condenada á escravidáo por causa do seu pecado1; e, para confirmar sua assertiva, apontavam o modo de vida primitivo ou "bestial" (- tidó como

bestial) dos negros da África2; tal modo de vida seria resultante do pecado,

1 É de notar que em Portugal tal argumvnlavüo tcvc origen) mío cni fumes cristas, mas cm escritos de judeus e musulmanes; o» cristüns a lomaran) de tais esvriios. 2 Nio sabiam vestir-se nem falar. nein curaer nem habitar de raaneira digna u culta. — Na verdade, porém, os cronistas dos séculos XV/XVI enganavam-se um tamo com relaciio aos costuroes dos negros africanos: estes nao eram bestiais, pois comiam bem, bebiam vinho de palmetas, moravam em choupanas e tinham cena organizado social com seus reis e suas lels;

quase nio se vestiam por causa do calor. Nio ha dúvida, algumas trlbos africanas nio querían) ter reí, pois receavam que este vendesse

as suas mulhercs e as criancas como escravos, de acordó com o que já ocorrera em lempos

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'PERGUNTEE RESPONDEREMOS* 356/1992

de tal sorte que, para llvrar tais povos do pecado e da bestlalidade, conslderava-se Justificada a escravidáo, que Ihes daria a ocasiáo de abra car a fé crista e passar a um nivel de vida superior. A reducáo á escravatura trarla beneficios a esses homens e mulhe-

res, alegavam cortos pensadores dos sáculos XV/XVI, pois os porla em contato com a fé crista e o Batismo, posslbllltando-lhes a salvacáo eterna (pols tlnham urna alma espiritual redimida pelo sangue de Cristo). Eanes Gomes de Zurara, cronista da corte de Portugal no secuto XV, narrava que um menino negro capturado em 1445 fol táo bem educado e Instruido na arte de ler e escrever e na fé crista que "há mullos cristáos que nao

conhecem tais coisas de manelra táo perfeita". É preciso, sem dúvida,

reconhecer que muitos escravos, nos sáculos XVI/XIX, aprendlam artes e oficios de valor—o que os promovía culturalmente e em varios casos Ihes dava dlreltó a privilegios na distribuido dos proventos. Asslm, por exemplo. ténvse, nos arquivos de fazendas e outras Instituicóes, listas de especiali zábaos adquiridas por escravos: carplnteiros, ferreiros, sapateiros, alfalates, barbelros, tecelóes, barqueiros, pedrelros, marcenelros, serradores, encadernadores, pintores, clrurglóes, organistas, mestres-escola. maqui nistas... As mulheres aprendiam cozlnha, fiacáo, refinacáo de acucar,

tecelagem... Com o passar do tempo, em meados do sáculo XVI, os portugueses puderam averiguar que nao era táo bestial o género de vida dos africanos; em conseqüéncia, a Justificativa prevalente ficou sendo a evangel¡za9áo e crlstianizacáo de tais povos. Devem-se se registrar, ao lado de tais escritores, outros que critica-

vam o comercio de escravos. Eram, entre os demals, Bartolomeu de Las Casas (+ 1566), Francisco de Victoria (+ 1546), que se interessavam especialmente pelos Indígenas submetidos & escravidáo; punham em dúvlda a valldade do sistema escravaglsta para promover a evangelizacáo

dos nao cristáos. O mais caloroso impugnador do comercio de escravos fol o portugués Fernáo de Oliveira, que em 1555 publlcou o livro "Arte da Guerra no Mar"; era familiarizado com as lels da guerra e sabia que a guerra movida únicamente para conquistar escravos era injusta; por isto atacou o

ponto fraco das teorías dos reís de Portugual, negando que a reduelo á escravidáo efetuada pelos portugueses fosse conforme as normas do Dlreito Romano e do Dlrelto Canónico. Aflrmava que os negros comprados

pelos portugueses na África eram capturados por príncipes e mercadores

(vendedores) africanos mediante rapiña, seqüestro e outros malos Ilícitos; se nao houvesse compradores portugueses, nao haveria vendedores ne

gros vendendo outros negros, vÁlmas de astucia malévola. Dlzla mais que,

urna vez batizados os negros, Já nao haveria motivo para manté-los na servidlo; deverlam ser devolvidos á liberdade. Conseqüentementente tachava o argumento de "evangelizacáo dos negros pagaos" de "colorido

pledoso (cor piadosa)" para urna atlvldade nefanda; isto se comprovava,

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'ENQUANTO O DIABO COCHILA'

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segundo Pernio de Ollvelra, pelo fato de que em Portugal os escravos eram

submetidos ás leis dos seus patróes e nao ás da Igreja, pols nao tinham a permlssáo de assistlr á Missa e observar o repouso sagrado aos domingos; cometlam todos os desmandos e crimes que os senhores Ihes ordenavam.

sem replicar. Outras vozes se fizeram ouvir ao lado da de Fernáo de Oliveira,

embora menos veementes. Tal loi em 1556 a de Domingos de Soto, amigo de Las Casas. Em 1560 o dominicano Martinho de Ledesma, professor de teología em Coimbra, foi assaz enérgico: afirmou que todos os escravos adquiridos pelos portugueses em virtude de rapto e processos-indignos deviam ser ¡mediatamente postos em liberdade sob pena de eterna condenacáo para os seus patróes: como Fernáo de Oliveira, M. Ledesma nao aceitava o argumento da cristianizacáo dos negros para justificar a escravidáo, pois dizia que a evangelizacáo devia ser efetuada pela pregacáo a gente livre, que livremente abracasse a fé. Quanto k tese de Aristóteles segundo a qual haveria povos naturalmente destinados á escravidáo, Ledesma observava que tal sentenca so se aplicaría a homens que vives-

sem sem a mínima organizado social, nao, porém aos negros da África.

Outros escritores cristáos contestaram o comercio de escravos, tais como Tomás de Mercado, Bartolomeu de Albornos, Amador Arrais (carme lita de Portugal), Luis de Molina (jesuíta espanhol)...

A Coroa de Portugal procurava responder aos seus contraditores, alegando que, apesar de tudo, a reducáo á escravidáo proporcionava beneficios aos negros africanos, dando-lhes fé e civilizacáo. Como se vé, o comercio de escravos teve que enfrentar os protestos de pensadores do próprio século XVI. Ocorre, porém, que o Estado portu gués (como também a Coroa espanhola) se julgava dotado de autoridade nao somente em assuntos administrativos civis, mas também no setor religioso; os monarcas gozavam dos privilegios do padroado, que Ihes davam ampios poderes para legislar em materia eclesiástica. Isto facilitava aos reís de Portugal e aos comerciantes interessados argumentar, na base de motivacóes religiosas, em favor do tráfico de escravos; conseguiam para

este um título colorido (corpiadosa) que, aos olhos do público dos séculos

XVI e seguintes, parecía legitimar a escravidáo negra1. Aos poucos,

poróm, fol-se disslpando a capa pseudo-religlosa do tráfico de escravos e se avolumaram cada vez maís as vozes que clamavam pela extincáo do sistema.

I A tcspeito do Padroado, ver as observa;oes do jurista do Imperio Dr. Cándido Mendes de Alraeida, ás pp. I7s desle fascículo.

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É precisamente isto que passamos a observar no artigo segulnte

deste fascículo, que responde a urna falsa alegacáo de Delcio Monteiro de Lima felta á p. 36 da obra "Enquanto o Dlabo cochila":

"Contam os historiadores, entre os quais o respailado Jacob Gorender, que a Ordem de Sao Bento, propríetária de nove engenhos de acucar e varías fazendas de gado em Pemambuco, Bahía e Rio de Janeiro, no secuto XVIII, operava um criatórío de escravos num estabelecimento rural na ilha do Governador".

Os esclarecimentos a respeito se acham no artigo que se segué neste

fascículo.

A propósito da escravidáo negra em Portugal muito se recomenda, como boa fonte de informacóes, a obra de A. C. de C. M.Saunders: A Social History of Black Slaves and Freedmen in Portugal (1441-1555), Cambridge University Press 1982.

APÉNDICE 1. A Bula de Xisto IV Nao conseguimos acesso á Bula Romanus Pontifex de Nicolau V, mas. sim, á de Xisto IV, datada de 21/12/1481, tendo por titulo da traducáo

portuguesa: "Bulla do Papa Xisto IV, publicada em Roma aos 21 de dezembro de 1481, confirmando as dos Papas Nicolao V e Callisto III, que

concederáo á Ordem de Christo para sempre todo o espiritual1 de todas as térras do Ultramar, descobertas e por descobrir".

Como se vé, o titulo refere apenas a entrega do governo espiritual (nomeacáo de Bispos, párocos, transferencia de Religiosos...). Este era o objeto principal da Bula. O documento ó assaz longo; está em portugués arcaico, com frases de penosa leitura. Els urna das passagens mals significativas dessa Bula: "Nosso antecessor declarou-se estender dos cabos de Bojador e de

Nam, até per toda Guiñé e alem contra a plaga meridional... e determinou

e outorgou e concedeu ao Rei D. Affonso e seus sucessores Reys de

Grifo nosso. (Nota da Redafáo)

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■ENQUANTO O OIABO COCHILA*

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Portugal que pellos tempos lorem, e ao Infante D. Henrique indulto, um

outorgado ao dito ñei D. Joáo per Martinho da bemaventurada memoria

Papa V, e outro também outorgado a El-Rei Duarte da nobre memoria Reí dos ditos Reinos e Padre do dito reí D. Affonso. e Eugenio IV, da piedosa

memoria, Papas de Roma, nossos predecessores, que o dito ñei O. Affonso e seus sucessores e Infante, e bem assi as pessoas que a elles ou cada um delles o que se cometter acerca das ditas partes podessem fazer com quaesquer Mouros e Infléis de quaesquer cousas e bens e vitualhas e compras e vendas; e bem assi fazer quaesquer contratos, transacdes, preitisias, mercadorias e negociares e levar quaesquer mercadurías aos lugares dos ditos Mouros, e Infieis, comtanto que non fossem (erramenta. linhame, cordoalha, navios ou qualquer genero de armas, e bem assi todas e cada urna das outras cousas fazer e negociar e exercitar ñas cousas premissas, e o que acerca dellas for compridoiro; e podessem os ditos Reys D. Affonso e sucessores e Infante ñas provincias, llhas e quaesquer lugar assi já adquiridos, como ñas por adquirir, fundar e fazer quaesquer Egrejas, mosteiros e outros piedodos lugares; e bem assi pudessem, mandar quaes quer pessoas assi Ecclesiasticas como seculares, e quaesquer pessoas regulares ainda que sejam da Ordem dos Mendicantes, comtanto que sejam de licenca de seus Maiores, e que váo por sua vontade, as quaes possáo estar lá toda a sua vida se quizerem". A leitura deste texto evidencia, de cedo modo, a problemática de que se tratava entre a Santa Sé e a Coroa de Portugal no fim do século XV.

2. O Padroado A respeito do padroado escreve o Dr. Candido Mendes de Almeida, notável jurista e político do Imperio do Brasil, em 1866 na obra de sua autoría: Direito Civil e Ecclesiastico Brazileiro Antigo e Moderno em suas Relacóes com o Direito Canónico, tomo I, pp. CCXL e seguintes: "A Igreja fundou o Padroado no interesse do seu servido, e sem prejulzo de sua liberdade. Encheu de privilegios e de gracas aquellas a quem honrava com o titulo de Padroeiros, nao julgando que seus advogados e paladinos se quisessem constituir nao so seus dominadores, como perseguidores, muitas veses impondo-se taes encargos como regalias por effelto do proprio arbitrio, sem consultarem a protegida, e á despeito de sua vontade e protestos. Mas o proposito era, e sempre tem sido, arrancar á Igreja sua liberdade, para modela-la em instrumento de governo e de dominio, realisando-se assim o grande pensamento do Cesarismo.

O fim da Igreja foi desvirtuado ou ínteiramente esquecido. Seus

desejos eráo encaminhar a forca material para o bem, mas esta entendéo que Ihe cabía a missáo de dominar a forca espiritual, e de dirigi-la no 17

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'PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 356/1992

Interesse do seu predominio, e de quaesquer projectos que concebesse,

foüsem ou nao úteis ¿ soclodado, fossem ou nao contradictorios com o grande alvo á que tende a Rellgláo do Crucificado, de quem a Igreja he o fiel e legitimo representante e orgáo neste mundo".

Este texto atesta vivamente que o padreado, concebido como estí mulo á expansáo da verdadelra fé para o bem dos povos pagaos, se converteu nao raro em instrumento da política e de interesses espurios dos monarcas de Portugal e do Brasil. *

*

*

Os Sacramentos da Fó, por Carlos Rocchetta. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1991, 135 x 210 mm, 453 pp.

O autor centra o seu livro em tomo do concaito de "maravilhas de Deus", conceito que na Biblia designa os feitos salvilicos do Senhor desde o Antigo Testamento. Os sacramentos sao apresentados como ritos que atualizam essas "maravilhas de Deus" em favor do seu povo ató hoje. Após

o Concilio de Trento (1545-1563). os teólogos se preocuparan} muito com a apologética, para responder aos protestantes. No sáculo XX, porém, o interesse da Teología volta-se mais para a riqueza doutrinária da S. Escri tura, da Tradlgáo patrística e da Liturgia; póe em evidencia o fío condutor da historia da salvacáo: Deus tala aos homens e Ihes comunica os seus dons mediante slnals sensiveis, que tém seu prototipo no éxodo do Egito (1240 a.C); a primeira Páscoa ó penhor da Páscoa na plenltude dos tempos; por esta última o próprlo Deus se dá á humanldade como novo AdSo, que continua sua obra através dos tempos mediante a Igreja e os sete sacramentos, que o Espirito Santo vivifica, Ele que é o Dom por

excelencia. O livro vem a ser urna obra interdisciplinar, em que a Escritura, a Teología Sistemática e a Liturgia se entrelacam para oferecer ao leitor urna notávele proficua sintese dos sacramentos em gerale de cada um dos sete sacramentos em particular.

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Mais urna vez:

A IGREJA E A ESCRAVATURA Em sintese: Diante da alegagáo de que a Ordem Beneditina possuia um cnatório de escravos no Rio de Janeiro (llha do Govúrnador) no sáculo passado. vai publicado um estudo de D. Mateus Rocha O.S.B., que', na base de sólida e minuciosa documentacáo, dissipa o mal-entendido. *

*

*

Tendo em vista a alegacáo de que a Ordem de Sao Bento tinha um criatórlo de escravos no Rio de Janeiro (llha do Governador) no século passado, a nossa revista publica um estudo de 0. Mateus Rocha O.S.B., a quem a Redacáo de PR agradece a valiosa colaboracáo. O artigo há de ser lido em continuacáo do anterior (neste fascículo), em que tentamos expor a mentalidade da sociedade dos séculos XV-XIX, a influencia do padroado,

as justificativas e os protestos que o comercio de escravos suscitava entre os pensadores da época.

1. Criatório de escravos?

Em nossos dias, urna das criticas lancadas contra a Igreja Católica em nosso país, no tocante á questáo escravista, é a de que até mesmo algumas de suas Ordens Religiosas, por exerhplo, "nao só tinham escravos

como tambóm se dedicaran) á reproducáo de escravos".1 As Ordens

Religiosas em questáo sao a dos Beneditinos e a dos Carmelitas, ambas

1 Doro Maleus Rocha OSB i monge sacerdote do Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro,

formado em Teología, antigo professor de Portugués. Latim e Orego, tredmor, pesquisador de Historia. Bibliotecario, Neciologlsia e Arquivlsla do Mosteiro de Sio Bento do Río de Janeiro e AtqulvislB-mor da Congregacio Benedilina da Brasil.

2

BOJUNO A, Claudio. "O malo de cntern", em Jornal do Brasil: Caderno B Especial de S

de malo de 1988, p. 4.

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-PERO UNTE E RESPONDEREMOS" 356/1992

no Rio de Janeiro. Tais autores tém-se baseado sobretodo em Jacob Gorender — este, alias, muito ponderado em suas afirmacóes, ás quais dá caráter hipotético—e ainda em Manoela Carnelro da Cuntía, que deixa de lado o tom cauteloso de Gorender e parte para urna afirmacáo categórica. Segundo estes dois autores/a Ordem de Sao Bento tena tido um criatório

de escravos na lina do Governador, e a de Nossa Senhora do Carmo outro na sua fazenda de Macacu.M

J. Gorender e M. Carneiro da Cunha se lundamentam, por sua vez, em Thomas Ewbank, um visitante inglés do sáculo passado, residente nos Estados Unidos, que esteve por alguns meses no Rio de Janeiro em 1846, e publicou em 1856 um relato de sua viagem e observares em térras cariocas. 12

De inicio convém observar que as informales de ordem económica

e mesmo outras de Ewbank relativas ao Mosteiro de Sao Bento do Rio de

Janeiro nao merecem crédito, pois nao corresponden! aos (atos históricos. Escreve ele, em sua obra, a seguinte passagem (que traduzimos do original, p. 129): "Na lina do Governador, a maior da baia do Rio, possuem [os frades beneditínos] grande estabelecimentó rural dirigido regularmente por numerosos frades. Numerosa geracáo!3 de meninos e meninas decoré

ali criada até á idade suficiente de serem enviados ao trabalho ñas proprie-

dades do interior".

Nao era um grande estabelecimentó o que os beneditinos mantinham na lina do Governador, mas urna modesta fazenda de gado, com algumas rocas e urna horta. Nem era dirigido por numerosos frades, mas apenas por um deles, que ali residiu sozinho por varios anos, o Abade Titular de Santa

Mana de Évora. Frei Luis de Santa Teodora Franca.!4

I GORENDER. Jacob, O Excravismo Colonial, V cdiváo. Sao Paulo. Editora Ática, p 349-350; CUNHA, Manuola Camciro da. Negros. Estrangeirox. Os Esvrana Liberto.* c Volta

o África, San Paulo. Brasilicnse, 1985, p. 46: Antropología
siliensc, p. 129-130. — Ulilizitmo!. ¡i 4' edicáo de GORENDER. por nao nos icr sido possivcl consultara 5'. saida logodepois. A pussagcm indicada permanece inalterada ao longo de lodas as edicóes, que reproduzcni o texto da prinicini. Na 41. a penii» a expressjo "dos mius plantéis'" Coi substituida por "da escravaria" (p. 349). 2 EWBANK, Thomas, Ufe iu Brazil: or a Journal ofa Visit to llie laiui afilie Cacao aml Palm, Nova lorque, 1856).

3 Numeróla brood — no singular! A ttaducio publicada pela Editora da Universidade de Sao Paulo/Livraria Itatiaia Editora se revela tendenciosa em algumas passagens. 4 Cf. üvros de Gastos ou da Mordomia do Mosteiro de Sdo Bento do Rio de Janeiro: 1842-1854 {Códices 60-67 do AMR — Arquivo do Mosteiro do Rio), passim.

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A IQREJA E A ESCRAVATURA

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Na mesma proprledade funclonava também urna lavandería em que

se culdava da roupa dos mongos beneditinos residentes na ddade.11 A turma de escravos compunha-se de 17 homens, 12 mulheres, das quais urna já velha, 17 meninos e 6 meninas. Os homons cuidavam dos trabalhos do campo, e as mulheres se ocupavam da lavandería e demais trabalhos da casa.!2

Este número de apenas 11 mulheres, supostamente novas e fecun das, nao pode configurar um crlalóriode escravos capaz de gerar escravos para abastecer mais oito fazendas e o Mosteiro, que, com os da tina do Governador, somavam entáo um total de 1.157 escravos, assim distribuídos: Mosteiro: 108; Camorim: 66; Vargem Pequeña: 88; Vargem Grande: 38; Conde (Iguacu): 37; Outeiro (Iguacu): 22; Olaria (Iguacu): 47; Marica: 51; Campos dos Goitacases: 655, além dos já referidos da llha. 13 Por este lado cai, portante, a fantasia de um criatório de escravos do Mosteiro.

Também a política de concessáo de alforrias largamente praticada pelo Mosteiro desmente os que afirmam que os beneditinos "incentivavam a procriacáo" e "mantinham criatório deliberado de escravos" (Gorender). Basta apenas referir que em urna única sessáo de seu Conselho, no dia 31 de dezembro de 1858, o Mosteiro aprovou requerlmento de 98 alforrias,

1 Cf. Códices 28. 30-32. 64-68e ¡48 do AMR, passim. 2 Cf. Livro dos Provimenlosdo MosteirodeSáo Bentodo Rio de Janeiro: 1819a \ibS (Códice 148 do AMR). fl. I74v. Eni 1848. o "plañid" de escravos da Ilhn doGovemadortinha variado

para 9 homens. 12 mulhcres, 6 meninos c 6 meninas (CF. Ibidcm, fls. 181 v-182). O chumado Livro de Depósito do trienio de 1848-1851 (Cálice 31 du AMR), fl. 58v. ira¿ o seguinle registro: "Desta Fazenda lirou-se a maior parle doscscnivos. porali náodaivm pruvciloalgum: vierao uns poucos para o Mosteiro e ttuiros forjo pan oulr.is fazendas. a*sim que se mudaráo as la vadeíras para a Fazenda de lguassú, a fnn de evitar a grande demora que havia na lavagem

da roupa." Esta transferencia se deu em coraeco de 18S0, de forma que em 18 de maio desse ano, do "grande crialório de rscravos" hoje lio propalado, restavam apenas 2 homens, 5 mulheres e urna enanca de sexo nio especificado, a servico do único roonge ai residente, o já referido Frei Luis de Santa Teodora (Cf. Uvro da Mordomia de 1848-1851 {Códice 68 do

AMR], fl. 293v el passim). Em 1829, antes da instalado da lavandería na llha, havia naquela fazenda apenas 18 escravos: 4 homens, 5 mulheres, 6 meninos e 3 meninas (Cf. Livro dos Provtmemos do Mosteiro de Sdo Bemo do Rio de Janeiro: 1819-1865 [Códice ¡48 do AMR], fl. 142v-143). Era muito pouco para um criarório'.

3 Cf. Códice ¡48doAMR.(\s. 169v e Uvro dos Recibost Despesas da Fazenda de Sao Bento de Campar. 1846-1874 (Códice 608 do AMR). fls. 2-7v.

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'PEROUNTE E RESPONDEREMOS' 356/1992

das quals 7 foram concedidas gratuitamente. Das demais, 22 toram do sexo femlnino, com idades que lam de 1 ano a 35 anos. E dentre estas, 7 tinham de 15 anos para cima. A pensar em criatórlo de escravos, de urna só vez o Mosteiro teria perdido 7 matrizes (mais da metade em relacáo ás da llha

do Governador) e mais 15 futuras.

A documentado manuscrita existente no arquivo do nosso Mosteiro nao nos permite afirmar que os beneditlnos do Rio de Janeiro "tinham a

preocupacio sistemática com a reproducáo vegetativa da escravaría"2 ou

"se dedicaram á reproducáo de escravos"3. Se eles incentivavam os matrimonios legítimos, era em obediencia ás leis da Igreja e ás determinacóes superiores dos Capítulos Gerals, que eram de obrigacáo para todos

os Mosteiros do Brasil. Nio se tratava de "urna preocupacáo sistemática" de nosso Mosteiro. Essas normas gerais tinham por finalidades santificar sacramentalmente as unlóes e as familias e promover a "moralidade crista e a boa ordem ñas fazendas", como se lé ñas Atas dos Capítulos Gerais

da Congregado Beneditina do Brasil.4

Além do mais, convém lembrar o bom tratamento que os Mosteiros

beneditlnos do Brasil dispensavam a seus escravos, como no-lo testemu-

nha Koster6 — e o que este autor diz a respeito dos beneditinos de

Pemambuco, se aplica a todos os beneditinos do Brasil, pois o tratamento referido era fruto da orientacáo do órgáo máximo da Congregacáo. Desse bom tratamento encontramos registros em nossa documentacáo manuscri ta: os escravos, na doenca, eram cuidados com o mesmo empenho de que eram objeto os monges: Junta médica para os casos mais graves, cuidado especial aos doentes na chamada Enfermarla centralizada na Cidade, para onde eram trazidos os escravos doentes das fazendas próximas do Rio, quando preclsavam de tratamento médico. Ali nao faltavam os remedios

prescritos,6 nem urna boa e variada dieta, em que estavam presentes (provavelmente em decorréncia de prescribió médica) os seguintes rtens:

carne de galinha (na época reservada só aos doentes: monges ou escra-

1 f. Ata da SessSo do Conselho do Mosteiro de Sdo Benlo do Rio de Janeiro de 31.12.1858 (Códice 1149 do AMR, fls. 13-I3v). 2 GORENDER.o/». eit., p. 349. 3 Veja-se adma, nota 1.

4 Cf. Códice 1143 do AMR. fls. I54v, e Códice 92 do Arquivo do Mosteiro da Bahía (üvro das VtsitaeSer. 1830-1837). fls. 3v. e I2v.

5 Cf. KOSTER, Heniy, VUtgeiu ao Nordeste do Brasil. Sao Paulo. Cia. Ed. Nacional. 1942. p. 511-314.

6 Ct.Uvros de Castos ou da Mordomia do Mosteiro de Sao Bemo do Rio de Janeiro de 1777 a 1871 {Códices 55-77do AMR, passim na rubrica Enfermaría).

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AIGREJA E A ESCRAVATURA

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vos), de vaca (verde e seca), de porco, de carneiro, toudnho, lombo de porco, mocotó. arroz, feijáo, peixe, pao, manteiga, araruta, acucar grosso e refinado, ervas, vinagre, temperos, leite, roscas, biscoito. páo-de-ló, chocolate, cha mate, cara, couve, abóbora, "vinho generoso" do Porto etc.

Por certo nao faltará algum historiador ou antropólogo moderno que veja

neste tratamento um interesse económico: a conservacáo e o aumento (reproducáo) do plantel de escravos. E no tratamento consagrado aos monges?

2. Os beneditinos e a emancipscáo dos escravos Nestes tempos em que se tem fiscalizado o papel da Igreja em relacáo ao escravismo, conviria lembrar a atuacáo pioneira da Ordem beneditina

no Brasil no movimento de libertagáo dos escravos, apontando as datas básicas:

1. Em 1780, a Junta Capitular da entáo Provincia do Brasil, celebrada em Portugal, declara "forras aquelas escravas que tiverem tldo seis filhos

actualmente vivos e de legitimo matrimonio."2 Infelizmente, no ano seguinte

o Abade Geral da Congregacáo Beneditina de Portugal (da qual fazia parte o Brasil) anula essa decisáo, sob o pretexto de que ela acarretaria "gravis-

simos prejuizos... assim aos Mosteiros, como ás mesmas escravas", por que as escravas alforriadas e os filhos nascidos depois da dita alforrla

ficariam sem o amparo dos respectivos Mosteiros e estes privados de

preciosa máo de obra cativa.3

2. Em 1822, a pedido do Imperador Pedro I. concedeu o Mosteiro do Rio cartas de alforrla gratuita a dez de seus escravos "para sentarem praca

e... defenderem a Nacáo".4

3. Em 1863. afinal, o Capítulo Geral da agora Congregacáo Benedi tina do Brasil decreta que todas as escravas que tivessem tido ou viessem

1 Cf. Livros da Receita da Botica (Códices ¡3&-HS do AMR). passim. 2 Cf. Atada Juma Ceratda Provincia Beneditina do Brasil de 7.1.1780. em Códice 19 do ArquWo do Mosteiro Beneditino de Sio Paulo, fl.59v.

3 Cf. Caita do Abade Geral da Congregado Benedhina de Portugal, de 3.8.1781, ao Provincial beneditino do Brasil {Doc 1599-1 do AMR). 4 Cf. Livro do Conselho do Mosteiro de Sao Bento do Rio deJaneiro: 1760-183S {Códice ¡148 do AMR), (1. 73.

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'PEROUNTEE RESPONDEREMOS'356/1992

a ter seis filhos, mesmo que alguns |á houvessem falecldo, e estivessem

legítimamente casadas na ocasiáo, terlam direlto á alforria plena e gratuita.1

4. Em 1866, o Capitulo Geral declara que, a partir de 3 de malo daquele ano, os filhos das escravas dos Mosteiros nascerlam livres, e os respectivos Mosteiros ficariam obrlgados a sustentá-los, a proporcionarIhes instrucáo primarla, a ensinar-lhes urna "arte mecánica" e a dar-lhes

futuramente preferencia nos arrendamentos de suas térras.2

5. Em 1867, o Mosteiro do Rio de Janeiro, por solicitacáo do Governo Imperial, concedeu alforria inteiramente gratuita a quinze dos 29 escravos "que se offereceram para Voluntarios do Exercito", para a guerra do Paraguai, sendo os demais "julgados Incapazes" (nao pelo Mosteiro, mas

pelo servlco competente do Exército).3

6. Em 12.7.1869, resolve o mesmo Mosteiro conceder carta de

llberdade gratuita a seus escravos que tivessem ou viessem posteriormente a alcancar a idade de 50 anos. Foi urna especie de Lei dos Quinquagenárlos.

7. Por fim, em 29 de setembro de 1871, todos os Mosteiros benedltinos do Brasil decldem, pela voz de seus Abades, que, a partir daquela data,

todos os seus escravos,6 num total de 4.000,6 entrando o Mosteiro do Rio

com quase a metade, estavam livres e receberiam carta de alforria plena mente gratuita, o que foi feito já no mesmo ano, de modo que em 1872 já nao havla um só escravo nos Mosteiros e em suas propriedades.

1 Cf. Ata do Capitulo Cerní da Congregando Benedilina do Brasil de 5.S. 1863 (Códice 1143 doAMR.fl.212v).

2 Cf. Ata do Capitulo Geral da Congregando Beneditina do Brasil de 5.5.1866 {Códice 1143 doAMR.fl.234s.)

3 Cf. Ata da SessSo do Conselho do Mosteiro Benedltino do Ko de 20.5.1867 (Códice 1149 do AMR, fl. 5lv-52) e lista dos "homens oferecidos pelo Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro para servir no Exército Nacional'', enviada pelo Abade Fr. José da Purificado Franco aos Mosteiros de Olinda e Paraíba, em Códice 160 do Arquivo do Mosteiro de Olinda, documento avulso, s/d. e s/n.

4 Cf. Ata da SessSo do Conselho do Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro de 25.8.1869 (Códice ¡149 do AMR, a 62). 3 Cf. Oficio de 8 de ounibro de 1871 dirigido pelo Abade do Mosteiro do Rio de Janeiro ao Ministro dos Negocios da Agricultura, Comercio e Obras Públicas: Doe ¡379-3 do AMR (Veja-se tambera em LUNA, Dom loaquim Grangeiro de. Os Monges Benedit'mos no Brasil, Rio de Janeiro, Edicoes "Lumen Christi", 1947, p.93-94). 6 Cf. LUNA, Dora Joaquim Grangeiro de, Op. cit., p. 93, nota.

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AIQREJA 6 A ESCRAVATURA

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Autores há, como Richard Conrad,1 que acreditam haver o exemplo

dos beneditinos influenciado também o movimento abolicionista em sua segunda fase.

Seria multo de desojar que aqueles que se comprazem em criticar e por vezes mesmo em denegrir a Igreja por sua posicáo em relacáo ao escravismo e seu alheamento a causa da Abolicáo. tomassem conhedmen-

to do papel de muitos bispos nesta campanha, com suas cartas pastarais e seus ensinamentos, mas particularmente do que fez a Ordem Beneditina do Brasil, silenciosamente, mas de forma muito concreta e direta, na libertacáo dos escravos.

Fé e Escritura. Desafios e Respostas. por Freí Ya'cub H. Saadeh

e Freí Peter H. Madros. — Ed. Loyola. Sao Paulo 1991, 140 x 210 mm, 287 pp.

Eis um livm muito útil. Evidencia a base escriturística das verdades

da fé católica, atendendo precisamente ao desojo protestante de funda mentar na Biblia as propositóos do Credo. De modo especial tem em vista os pontos controvertidos entre católicos e nao católicos, como sao: "a Biblia como única fonte de fé?", canon bíblico, o Batismo de criangas, as imagens, María Santissima, o purgatorio, o inferno, os anos de vida oculta de Jesús,

o sinal da Cruz...

Os autores sao católicos orientáis: um, pároco, e o outro, professor de S. Escritura, que se preocuparam com o tortalecimento da fé de seus fiéis, sacudidos por protestantes, teosofístas. espiritas, ateus, etc. Na verdade, a Escritura é um livro suscetivel de ser interpretado segundo os criterios mais diversos, pois cristáos e nao cristáos a citam em favor de seus propósitos. Por Isto, logo no Inicio da sua obra, os dols autores abordam a questáo das normas objetivas de interpretagáo da Biblia (pp. 15-41): mostram que a Escritura só pode ser corretamente utilizada se lida

no contexto da Tradigáo oral que Ihe é anterior e que a acompanha; caso alguém se restrinja á Palavra escrita apenas, poderá chegar a conclusóes altamente estranhas: por exemplo. nunca mais talvez festeje o seu

aniversario natalicio, porque Salomáo declara: 'Mais vale visitar a casa em luto do que a casa em testa. Mais vale o dia da morte do que o dia do (continua na p. 47)

I Cf. Os últimos anos da escras-aiura no Brasil. Rio de Janeiro, Editora Ci vitiznfáo Brasileira, 1973. p. 140.

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'PERGUNTEE RESPONDEREMOS" 356/1992

Fala urna ex-Testemunha:

TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E LIBERDADE RELIGIOSA

Em síntese: Vai abaixo publicado o depoimento de David Reed, Testemunha de Jeová atuante durante quinze anos e também "servo de distrito", de tempo integral, por dois anos; além do qué, passou oito anos como anciáo (dirigente de urna congregagáo das Testemunhas). O autor explica o que acontece quando alguém, convencido de que Mina caminho errado, quer abandonar a Organizacáo.

As Testemunhas de Jeová tém-se propagado através de ardente proselitismo, que penetra nos lares e tenta arrebatar novos membros para a sua Oiganizacáo. Urna vez feita Testemunha de Jeová, a pessoa difícilmente consegue deixar a sua congregacáo, pois o seu comportamentó é vigiado e pressionado para que nao "apostate"; caso dé mostras de querer separar-se por perceber os erros religiosos das Testemunhas, sofre penosas sancóes que constrangem os mais tímidos a ficar na Organizacáo.

A propósito existe o depoimento de David Reed, que foi Testemunha atuante durante quínze anos e também "servo de distrito" de tempo integral por dols anos; além disso, passou oito anos como anciáo (dirigente de urna congregacáo) das Testemunhas.

Tal depoimento é altamente interessante e significativo. Pelo qué vai, a seguir, transcrito a partir de um folheto distribuido pelos "Amigos de Jeová", ramo dlssldente das Testemunhas de Jeová (Caixa Postal 8339 — 01051 Sao Paulo, SP).

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TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E LIBERDADE RELIGIOSA

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A LIBERDADE RELIGIOSA VERSUS

O DOMÍNIO DA TORRE DE VIGÍA

DAS "TESTEMUNHAS DE JEOVÁ" Ouase trezentos mil brasileiros se uniram ás Testemunhas de Jeová e acabaram descobrindo que tém perdido suas preciosas liberdadesl

Os "servos de congregacáo" que estáo encarregados do Saláo do Reino dar-lhe-áo boas vindas com rostos sorridentes e bracos abertos. Eles falaráo do amor que é encontrado na "Organizacáo de Deus" — A Sociedade Torre de Vigía, a religiáo das Testemunhas de Jeová.

Mas, urna vez que vocé é convertido em Testemunha de Jeová, entáo eles mesmos governaráo sua vida com máo de ferro. Eles háo de indicar o que vocé deve falar, ler, pensar e ainda a forma como vocé deve pentear seus cabelosl (A Sentinela, 15-07-1983, página 22):

"EVITE IDÉIAS INDEPENDENTES... Como se manifestara tais

idéias independontes? Um modo comum é questlonar o conselho próvido pela organizacáo visivel de Deus [i.e., a Sociedade Torre de Vigía]" (A Sentinela, 15-07-1983. página 22).

O verdadeiro cristianismo, entretanto, é caracterizado pela liberdade. A Biblia fala de "espreitar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesús, a fim de que nos escravízassem completamente" (Gálatas 2:4); mas as seitas pseudo-cristás, como as Testemunhas de Jeová, levam seus seguidoras a escravidáo. Multas pessoas, inocentemente, unem-se ás Testemunhas de Jeová pensando que tém achado o caminho que leva a Deus, mas gómente quandoó tarde demals é que descobrem que tém perdido sua liberdade de expressáo. Nao podem exprimir qualquer opinláo contraria á3 "linhas mestras" da Sociedade Torre de Vigia de Biblias e Tratados: "As mulheres entre as Testemunhas de Jeová nao devem expri mir discordancia alguma com relacáo ás decisóes judfciais dos "servico*" — nem mesmo por suas expressóes facíais" (Extraído de "A Sujelcáo Teocrática", discurso da Assembléia de Circuito das Testemu nhas de Jeová [EUA), 1981).

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"PERG UNTE E RESPONDEREMOS" 356/1992

A Sociedade Torre de Vigia muda seus ensinamentos mais do que qualquer outra religiáo. E quando as "novas verdades" sao introduzidas, aplica-se certa pressáo para fazer com que cada Testemunha de Jeová se

adapte a elas e Ihes obedeca. sem se importar se eré ou nao eré na "nova verdade".

Urna vez dentro da organizagáo da Torre de Vigia, nao há um caminho honroso para sair déla. Se vocé ousar emitir um juizo a respeito do que a Torre de Vigia ensina, os "servos" levaráo vocé a julgamento, repreendendo-o durante horas em pé, e denunciando-o publicamente perante seus escravizados ouvintes. E aos seus amigos da organizado proibirác que o visitem e aínda que Ihe (alem um simples "oi" na rúa.

"Por que é sabio evitar falar com alguém que foi expulso?... um simples 'oi' dito a alguém pode ser o primeiro passo para urna conver sa ou mesmo para amizade. Queremos dar este primeiro passo com alguém desassoclado?" (A Sentinela. 15/12/1981. páginas 20-21). Esta disciplina organizacional vai mais longe, chegando até a separar as familias se determinado membro se opuser aos ensiriamentos da Socie

dade. Muitos pais se acham separados de seus lilrios, netos e outros parentes, os quais obedecem cegamente ás determinares impositivas da Sociedade Torre de Vigia nesse particular.

"PARENTES DESASSOCIADOS... cristáos aparentados com um desassociado que nao vivo na mesma casa devem esforcar-se a evitar a associacáo desnecessaria, mantendo ató mesmo os negocios roduzidos ao mínimo" (A Sentinela, 15/1271981, página 25).

Este medo de perder a familia faz com que muitas pessoas que dlscordam da Sociedade, nao a abandonem, aínda quedeixem de acreditar nela. Estas pessoas seguem a Sociedade Torre de Vigia presas ao medo.

De sua sede em Brooklyn. Nova York, os líderes anónimos da Socie dade governam sobre um "reino" que se estende pelo mundo todo. Quase 3 milhoes de Testemunhas ao redor do mundo Ihes prestam obediencia papal. O "reino" da Sociedade possui suas próprias leis, seus próprios tribunals, suas próprias escolas — sem liberdades.

Os dormitorios das fábricas abrigam mllhares de operarios que moram separadamente de suas familias. Eles produzem mais de um milháo

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TESTEMUNHAS DE JEOVÁ E LIBÉRDADE RELIGIOSA

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de obras literarias por dia, íncluindo "Biblias" com as palavras-chaves mudadas e acomodadas de conformidade com o ensino peculiar da Socie-

dade Torre de Vigia.

Armada com essa literatura engañosa, cada Testemunha de Jeová é obrigada a ir de porta em porta pregando as "boas novas" — nao o evangelho de Cristo, mas urna proclamacáo falsa de que Cristo já vottou á térra em 1914 e colocou a responsabilidade do reino de Deus ñas máos dos líderes das Testemunhas. O oferecimento das Testemunhas de "realizar um estudo bíblico em seu lar" abre muitas portas. O estudo da Biblia é prontamente desviado para um dos livros da Sociedade Torre de Vigia, e ai comeca o processo

de lavagem cerebral. As pessoas sem profunda conviccáo religiosa nao sao problema para urna Testemunha que esteja bem doutrinada. Como resultado, muitos milhares de pessoas sao levadas cada ano para esta organizacáo

As pessoas engañadas e presas pela Torre de Vigia necessitam de

afuda, e nao de atitudes grosseiras. É difícil para elas escapar da armadilha

em que se meteram. Se vocé tem párenles e amigos na Sociedade Torre

de Vigia e deseja ajudá-los, o meihor que pode (azer é procurar o conseiho e assisténcia de um pastor cristáo. A verdadeira liberdade vai mais além de evitar e escapar de organizacóes opressoras religiosas ou políticas. A verdadeira liberdade é também libertacáo do pecado, da culpa, do medo e de qualquer condenacáo.

Esta liberdade só pode ser encontrada em Cristo. Ele sofreu por nos e morreu na cruz para que os homens fossem verdadeiramente livres (Joáo

8:32; 14:6). Jesús ressuscitou dos morios. Ele está vivo. Vá diretamente a Ele e reconheca-O como Salvador e Senhor — hoje mesmoi — David fíeea

A proclamacáo de David Reed faz eco a numerosas outras. que vém

sendo divulgadas pela imprensa. É valiosa alerta.

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Falso alarme:

CANIBALISMO NA TRADigÁO BÍBLICA? Um sintese: Urna reportagem da imprensa contemporánea tencionou demonstrar que "a idéia de canibalismo percorre as tradigóes judaica e cris'' (Folha de Sao Paulo, 13/08/91). Para fundamentar sua afirma tiva, o repórter cita (imprecisamente) textos do Antigo Testamento e tío Novo Testamento (Eucaristía!). — Ora tal recurso é improcedente: em caso nenhum as Sagradas Escrituras oferecem justificativa para a an tropofagia: os exemplos citados do Antigo Testamento nao sao apresentadospela Biblia comoparadig,.,as, mas como expressóes de desespero e desatino da parte de homens e mulheres de Israel. Quanto aos textos

do Evange'ho relativos á Eucaristía, nada tém que ver com canibalismo, pois incutem a comunhao com a carne e o sangue de Cristo glorificado, on seja, subtraído ás condigoes terrestres ou a condigóes de carne de matadouro.

*

*

*

A imprensa, em agosto de 1991, transmitiu a noticia de que Jeffrey Dahmer, "caníbal" norte-americano, estava sendo julgado por um tribunal em Milwaukee. Ao comentar o fato, a reportagem. da autoría de Janer Cristaldo, na Folha de Sao Paulo afirmava que "na verdade Jeffrey Oahmer nada fez senáo praticar um gesto que está nos fundamentos da

cultura crisis. Mais ainda: é praticado diariamente em todos os países do Ocidente" (Folha de Sao Paulo. 13/08/1991). Para fundamentar esta affrmacáo. vém citados exemplos do Antigo Testamento, como se encontram em 2Rs 6,28s; Lm 2,20; Ez 5.10; Jr 19.9 e nos relatos do Evangelho que apresentam a S. Eucaristia como sacra mento do Corpo e do Sangue do Senhor Jesús (cf. Mt 26, 26-28 e

paralelos). — A noticia jornalistica impresslona nao pelo acume de pers pectiva do repórter, mas pela capacidade de deformar fatos e textos do passado a fim de causar sensacionalismo no público ledor. Examinemos de perto a questáo.

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CANIBALISMO NA TRADICÁO BÍBLICA?

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1. Os textos do Antigo Testamento 1. Eis as passagens do Antigo Testamento mencionadas por Janer Cristaldo:

Deuteronómio 28,53: "Na angustia do assédiocom que o teu inimigo te apellar, irás comer o fruto do teu ventre: a carne dos filhos e filhas que o Senhor teu Deus te houver dado". 2 Reis 6, 28s: "O reí perguntou a urna mulher da Samaría: 'Que te aconteceu?' E ela: 'Esta mulher me disse: Entrega teu filho, para que o

comamos hoje, e amanhá comeremos o meu. Cozinhamos, pois, o meu filho e o comemos; no dia seguinte, eu Ihe disse: Entrega teu filho para o comermos, mas ela ocultou seu filho'". Lamentac/óes 2, 20: "Vé, Senhor, e considera: a quem trataste assim? Iráo as mulheres comer o seu fruto, os filhinhos que amimam? Acaso se matará no santuario do Senhor sacerdote e profeta?"

Ezequiel 5,10: "Os pais devoraráo os filhos no meio de ti, e os filhos devoraráo os pais (ó Jerusalém!)". Jeremías 19,9: "Eu farei que eles devorem a carne de seus filhos e

a carne de suas filhas; eles se devoraráo mutuamente na angustia e na necessidade com que os oprimem os seus inimigos e aqueles que atentam contra a sua vida".

2. Observemos que os textos de Dt 28,53; 2 Rs 6. 28s; Lm 2,20; Ez 5,10 se referem a dias calamitosos, em que os adversarios cercaram ou cercaríam urna cidade da Térra de Israel, provocando a tome dos seus

habitantes. Em conseqüéncia, as mulheres e os homens comeriam (ou ameacariam comer) seus filhos. Nao se trata, pois, de um hábito vigente no povo bíblico do Antigo Testamento, mas de casos excepción ais. devidos

ao desespero de populacóes sitiadas e famintas. Nem sao excecóes aprovadas ou ratificadas pelo autor sagrado que as refere; sao, antes,

atitudes que contradizem a Lei de Moisés, onde se lé: "Nao matarás" (Ex 20.13) — atitudes, portante que nao podem ser tomadas como paradigmas

ou como justificativas de canibalismo moderno. 3. Quanto ao texto de Jeremías, refere-se as mesmas circunstancias: apenas chama a atencáo a locucáo "Farei que eles devorem a carne de seus filhos...". — Esta expressáo nao significa que Deus havf > de precei-

tuar a antropofagia—o que seria contraditório á Lei do próprio Oeus: "Nao

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'PEGUNTE E RESPONDEREMOS' 356/1992

matar". Significa, antes, que a calamidadedesencadeada sobre Judá pelos pecados do próprio povo será tal que os pais háo de querer comer a carne dos filhos. O semita nao distingue entre causa primeira e causa segunda, mas atribuí toda causalidade a Oeus. Na verdade, Deus nao é, nem pode ser, causa de crimes e pecados; é o homem que os causa e comete, quando se torna vhima de seus próprios desatinos. 4. Fora do povo de Israel era, sim, praticado o canibalismo ou a antropofagia. Tal. costume, porém, supunha premissas alheias as dos judeus. Com efeito; varios povos primitivos julgavam que a absorcáo do sangue ou o consumo do cerebro de uma pessoa lalecida comunicaría ao usuario as virtudes (inteligencia, habilidades, forca...) desse individuo. Por isto matavam seres humanos e bebiam seu sangue aínda fresco, pois no

sangue estaría a alma ou a fonte das virtualidades da vitima; o sangue era. por vezes, tido como o alimento mais precioso do ser humano. Em outtos casos matavam um ser humano, perturavam-lhe o cránio e retiravam-lhe ou absorviam-lhe o cerebro, julgando que assim participariam dos predica dos do defunto. Ora tal costume era abominável aos olhos de Israel e de sua Lei; nao se encontram no Antigo Testamento testemunhos que possam

fundamentar o canibalismo em nossos dias.

2. O Novo Testamento Segundo Janer Cristaldo, no Novo Testamento "o canibalismo é virtude":

"Durante a Santa Ceia, Cristo oterece seu corpo e seu sangue em uma refelgáo sacrifical, para que os participantes entrem em contato com

o sacrificio, corriendo do sacrificado. É o que os católicos romanos

chamam de transubstanciacáo. Todo católico, quando comunga, nao está bebendo o vinho ou corriendo o pao como símbolos do corpo de Cristo. Está, de tato, bebendo o sangue e comendo a carne de Cristo" (reportagem citada).

Na verdade, a fó católica professa a real presenca de Cristo (com corpo, sangue, alma e Divindade) no sacramento da Eucaristía. Sob os

acldentes do pao e do vinho está o Cristo inteiro, para o alimento da vida espiritual dos cristáos. Esta verdade é expressa nítidamente nos textos do Evangelho: "Enquanto comiam, Jesús tomou um pao e, tendo-o abengoado, partlu-o e, distribuindo-o aos discípulos, disse: 'Tomai e comei, isto ó o meu corpo'. Depols tomou um cálice e, dando gragas. entregou-o dizendo:

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CANIBAUSMO NA TRADI?ÁO BÍBLICA?

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'Bebei dele todos, pois isto ó o meu sangue, o sangue da Alianga. que ó derramado por muitos para a remissáo dos pecados'" (Mt 26, 26 e paralelos).

Joáo 6,51: "O pao que eu darei, ó a minha carne para a vida do mundo... Se nao comerdes a carne do Filho do homem e nao beberdes o seu sangue, nao tereis a vida em vos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, eeu o ressuscilarei no último dia".

É de notar, porém, algo de muito importante: quando Jesús anunciou

aos judeus a entrega do seu Corpo e do seu Sangue como alimento sacramental, os judeus que ouviam, entenderam tal promessa em sentido canibalistico ou antropofagia» e se horrorizaran). Respondeu-lhes Jesús: "teto vos escandaliza ? E quando virdes o Filho do Homém subir aonde eslava antes?... O espirito é que vivifica, a carne para nada serve. As

palavras que vos disse. sao espirito e vida" (Jo 6. 61-63) Tai resposta quer dizer.

Jesús visava a remover um entendimento grosseiro de suas afirmacóes. o entendimento canibalistico também chamado "cafarnaftico" (por que característico dos ouvintes de Cafarnaum, onde Jesús (alava): nao se tratava de comer carne enquanto tal (está claro que esta por si nao santifica o homem) nem de comer a carne do Senhor em suas condicóes terrestres (como se come a carne do ac. ougue), mas, sim, de receber a carne de Cristo glorificada e elevada aos céus. emancipada das leis do espaco e do tempo.

E a carne nessas circunstancias novas que Jesús chama "espirito"; é espirito, porque está toda penetrada pela Divindade (na verdaoe. é a Divindade de Cristo que, mediante a carne, vivifica os fiéis na Eucaristía).

A Eucaristía, como alimento sacramental, (az o cristáo viver como membro do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. Os conceitos de Encarnacáo e Corpo de Cristo sao fundamentáis no Cristianismo: o cristáo é felto membro do Corpo Místico pelo Batismo e, como tal, é alimentado pelo Corpo Eucaristico de Cristo. Todavia em caso nenhum se trata de carne em condic.óes terrestres, como é a carne do matadouro, mas trata-sé de comungar com a carne de Cristo glorificada ou existente em condicóes muito diversas daquelas que o canibalismo supóe. Por conseguinte, é falso

apelar para os textos do Novo Testamento no intuito de basear crimes modernos de antropofagia.

É, nao, raro peculiar aos repórteres procurar causar impacto no

público, apoiando-se em sofismas ou afirmacóes superficial e infundadas;

"jogam areia nos olhos do leitor". Especialmente grave é tal prática quando

ela versa irreverentemente sobre valores religiosos, que sao caros ao público ledor. O fiel católico há de saber discernir os sofismas ou trocad ilhos que Ihe sao apresentados.

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Mais urna proposta religiosa:

EUBIOSE: QUE É? Em sintese: A Eubiose é urna forma recente de Teosofía, que pretende fazer da cidade de Sao Lourenco (MG) a capital espiritual do mundo. O fundador dessa escola ó o Prof. Henrique José de Souza, o mais novo avatar ou a mais recente manifestacéo da Divindade (como dizem os seus escri

tos). Professa o panteísmo, a reencarnacáo, a historia do mundo em ciclos sucessivos. Estaríamos para deixar o ciclo de Peixe, regido por Jesús Cristo, para entramo ciclo deAquário. que tara sua irrupgáo no Brasil, cujo idioma é o mais sagrado do mundo. Vé-se que tal mensagem é altamente fantasiosa, além de ideológica: o panteísmo, que é sua doutrina de fundo, nao resiste á crítica da razio, visto que Identifica o volúvel e o Imutável, o temporario e o Eterno, o relativo e o Absoluto, identificando a Divindade com o mundo e o homem. *

*

*

Existe em Sao Lourengo (MG) a sede principal da Sociedade Brasileira de Eubiose, outrora Sociedade Teosólica do Brasil, fundada por Henrique José de Souza (1883-1963). A mesma entidade, além do templo de Maitreia em Sao Lou rengo, possui o Templo-Obelisco na ilha de Itaparica (BA) e o Templo do Roncador em Nova Xavantina (MT). — Tal Sociedade tem seus livros-fontes, entre os quais "Eubiose. A verdadeira Iniciacáo" de Henrique José de Souza, e as revistas "Aquanus" e "Arabitá". Visto que o público se ¡nteressa por conhecer em que consiste a mensagem da Eubiose, proporemos, a seguir, alguns de seus tragos principáis (deduzidos da bibliografía citada), acompanhados de breves

comentarios. 1. Eubiose: que diz? A Eubiose é urna corrente de pensamento sincretista, cuja fonte principal é o pensamento hinduista. Este é retomado por Henrique José de

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EUBIOSE: QUE É?

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Souza, sob forma de uma (¡losofia religiosa que pretende ser a nova e única

da humanidade. Sao palavras do lundador: "Sofro desde que nasci. E trabalho desde os quinze anos de idade. Todos o sabem. principalmente aqueles que ousaram seguir fielmente os meus passos. Nao sao raros os que me copiam, mas, infelizmente, adultaram para ter o direito a dar como seu aquilo que Ihes nao pertence.

Traduttorel Traditore! Tradutor! Traidorl Os días se aproximam para o final da minha jornada na Térra. Assim, morro com e pela Humanidade. Prometí a minha volta no comeco do sáculo

XX. E assim aconteceu para o preparo da Era deAquário. a Era de Maitréia, ou seja, mais uma vez, a manifestacáo da Esséncia Divina na Térra. Se as religióes conhecessem, de fato, o misterio dos avalares, elas nao existíriam, mas táo somente uma: a Religiáo-Sabedoria, a Teosofía (Hoje EU BIOSE como ditame da Lei já previsto pelo autor do livro — Nota da Editora). Também poderia ser chamada de CULTO DE MELKITSEDEK. a quem o próprio Cristo prestou homenagens. e Abraáo pagou os dizimos ou impostos cármicos que Ihe devia...

Tudo fiz para que tais religióes se unissem através de uma Frente

Única Espiritualista. Ninguóm me quis ouvir. Ninguém visitou, sequer, o

nosso Templo sem saber que o Mesmo era dedicado ao Deus Único de

Todas Elas. Fiz mais, quis implantar o salvador "slogan" de uma Frente

Única Espiritualista; Um só idioma; Um só padráo monetario. Ninguóm me

quis ouvir, aínda... Os interesses económicos de certospaíses, pelos quals eles se degladiam a golpes de bombas atómicas e de hidrogénlo, sem saberem que estáo destruindo o próprio mundo, nesse caso, a si mjsmos, fírmam no momento atual da vida humana o Julgamento final do ciclo, que se deu em 1956. conforme estava escrito no interior da pirámide de Cheops, para nao ir mais adianto e provar que, sendo a vida universal dividida em ciclos — ciclos de declimo. ciclos de elevagáo, na razáo do "Construens et Destruens", de Bacon, o "Corsi e Ricorsi", de Vico. Sim, compreenderíam

que o Juízo Final apregoado pelas religióes ocidentais longe está aínda dos nossos dias. Do mesmo modo que o mundo, os homens nao estáo aínda de todo formados. Por isso, sofrem e choram as suas miserias" (Eubiose. cap. XXII § 334). Este trecho exprime bem o caráter eclético da Eubiose. As suas rafees Imediatas estáo na Teosofía—escola fundada por Helena Blavatsky, cujas obras Henrique José de Souza cita com freqüéncia, ao lado de outros escritos teosóficos. Um dos vestigios dessa filiacáo é o nome da Sociedade fundada por H.J. de Souza: em 1924, quando teve inicio, chamava-se "Sociedade Mental Espiritualista"; em 1928 passou a chamar-se "Socieda-

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-PERGUNTE E RESPONDEREMOS"356/1992

de Teosóflca Braslleira", e em 1969 "Sociedade Brasileira de Eubiose". — Teosofía é o conhedmento de Oeus (Theós) recebido pretensamente pela

revelado de urna Sabedoria (Sophía) reservada aos iniciados. Á p. 94 do seu livro "Eubiose". o autor coloca na mesma linha. como porta-vozes da mesma "sabedoria", "todos os teósofos, ocultistas e eubióticos".

O pensamento da Sociedade de Eubiose é o panteísmo hlnduista, segundo o qual o mundo e o homem sao manlfestacóes da Divindade — realtdade básica de tudo o que existe. A Olvindade se torna mais explícita periódicamente em certas figuras humanas ditas "avatares", das quais Henrique José de Souza seria a mais recente. A historia da humanidade decorre em ciclos, que se suceden) num ritmo de aseen sao e declinio. O ser humano está sujeito á lei do karma e das reencarnares; deve tender

á definitiva desencarnacáo mediante o continuo aperfeicoamento moral de si mesmo. A principio a humanidade constava de andróginos, isto é, seres humanos blssexuais. tais como os conceberam o filósofo grego Plateo (t 347 a.C) e a tradicáo esotérica antiga (el. "Eubiose", p. 20). O Brasil, e de modo especial a cidade de Sao Lourenco (MG), será a sede da nova irrupeáo da DIvindade, portadora de nova civilizacáo ou Era deAquário (cf. Ib., p. 320). Sao Lourenco deve tornar-se "a capital espiritual do mundo por ser o Centro (ligado á Agartha-Shamballah) de irradiacóes

esplrituais para esse mesmo mundo" (ib., p. 270)1.

A lingua mais sagrada do mundo é o portugués (p. 320)! De acordó com o seu pensamento eclético, a Eubiose eré ñas profe cías de Nostradamus, como também professa a existencia de continentes

desaparecidos, como seriam a Atlántida e a Lemúria. "sem falar nos dois anteriores, cujas racas, de humanas, nem sequer tinham a forma..." (ib. p. 313). Como se compreende. H.J. de Souza admite que os habitantes desses continentes tenham desfrutado de urna sabedoria que fot recolhida pela Eubiose.

No tocante ao Catolicismo, Henrique José de Souza é fortemente agresslvo. Fala de "Jeoshua ben Pandlra", Isto é, de Jesús filho de Pandlra (- pretenso soldado romano). E acusa a Igreja Católica de Ignorar a

verdadeira doutrlna ou a auténtica Interpretado das Escrituras Sagradas:

I Continua Henrique José de Souza: "Responde por ludo teso o ¿xodo que vein sendo Icvndu a ciato desde nqucki cpov-.i. |Hira o lugar que aponía o Marco precioso, onde a Múmida alcancou u máximo de suu cvolui;ao no présenle ciclo da Humanidade, isto é, do 23a de latiiude Sul, Trópico de Capricornio".

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EUBIOSE: QUE É?

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estas sao entendidas pela Eubiose através de derlvacóes etimológicas muito estranhas, através de paralelos (artificiáis e focados) com textos de esoterlsmo, de modo a se reduzir o Cristianismo a urna forma de Teosofía, precursora subserviente da Eubiose. Eis um espécimen do modo como Henrique José de Souza trata o Evangelho e o Catolicismo:

"O signo de Piséis tem urna retaceo multo estrella com 'pecado original' (a queda do sexo, etc.). Isto foi comprovado pelo próprlo Jeoshua que, ao se Ihe apresentar a 'mulher adúltera', tragou no chao um 'pelxe'. para logo dizer: 'aquele que estiver isento de pecado (Isto 6 do pecado... desta natureza), que atire a primeira pedra'. A Igreja interpreta erradamen te, afirmando que ele assim agiu por 'ser pescador'... Melhor serla entáo dizer que ele, 'ao ser ¡oreado a atirar a sua mayavica rede de Iniciado ou Instrutor', tinha a intencáo de apanhar os 'peixinhos do seu próprio vivelro". ou saja, seus discípulos, apostólos etc. Mas essas interpretares nao sao para sacerdotes 'nao iniciados', como os da Igreja romana ou outros quaisquer... que nao se aprofundaram nos 'grandes Misterios da Vida' " (ib., p. 240).

Este texto sugere algumas observagóes:

a) O pecado original nao foi pecado de sexo (ao contrario do que insinua H.J. de Souza). — Tal concepeáo só se sustenta por um preconceito que o estudo objetivo do texto de Génesis 3 dissipa; b) Como se sabe que Jesús, ao escrever no chao (cf. Jo 8.6), tracou a imagem de um peixe? — Toda afirmacáo que queira passar por científica e merecer crédito, tem que ser comprovada. Atirmacóes gra tuitas e fantasiosas ficam abaixo do nivel da ciencia e do respeito do estudioso:

c) a mencáo de mayavica rede de Iniciado ou Instrutor é um jogo de palavras, que nao tem consistencia.

Alias, o Sr. Henrique José de Souza insinúa ser o novo Jesús Cristo,

pois ele julga que as letras J.H.S.. que costumam indicar JESÚS1, devem ser deslocadas, formando a nova seqüéncia H.J.S.:

t As letras J.H.S. n;u> signii~u:nin "Jesús Hómúi S:ml¡i" nom "Jou> Hoiikiii Snlviulni". mus

s3oaslrcsprinic¡rdslt:lniüdiinttmcJKSCSc>criliiciiic.ir.icli:rcs)!re^»Mii:iiUM:ulos: IIISOVS.

— OH n3o ¿ o ugü portugués, mus o c tongo grvgu mniúscut» chanuiilu líln.

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"Ojovem faz-se homem e as tres prodigiosas iniciáis J.H.S. passam a ser H.J.S. Sim. porque o 'filho do homem' nao podía deixar de ter o H no comeco de seu nome terreno.

Ademáis o H, como letra aspirada, é a consoante única que faz vibrar as vogais do OEEHAOO sagrado, na razio das sete vozes celestes ou Dinámicas, apercebidas por Ezequlel na sua vlsáo extra-terrenal Momento de éxtase, samadhi, ou uniáo com a Consciéncia Universal!" (p. 312). Jesús seria o expoente máximo do velho ciclo de Peixes (ib. p. 280)! Como se vé, o autor tem a pena ágil e a ¡maginapáo lecunda, podendo assim impressionar o leitor por seu linguajar eclético e contuso. Passemos agora a urna retlexáo sobre tal mensagem.

2. Ponderando... 1. Quem lé os escritos da Eubíose, especialmente o hvro de Henrique José de Souza, fica impressionado nao pela sabedona e a lógica de suas afirmacóes, mas pela capacidade de fazer sofismas, jogos de palavras. assonáncias vazias, imagens altamente tantasistas. sem conteudo. e incapazes de resistir á critica da sao razáo. Dir-se-ia que os autores de tais obras se comprazem em lanzar areia nos olhos dos leitores, estonteando-

os por urna aparente erudi^áo, que mistura os conceitos mais heterogé neos, como faria alguém que leu sem aprofundar as suas leituras. O leitor que nao possua senso critico pode (¡car surpreso e "esmagado" pela f artura de nocóes que Ihe sao oferecidas, mas, se reflete um pouco, verifica que H.J.S. se compraz numa ostentacáo um tanto vaidosa e pretensiosa de si mesmo (vejam-se os seus traeos autobiográficos citados á p. 35 deste fascículo). Quer ser o último Cristo, o último e mais perfeito dos Profetas.

Os conhecimentos que ele revela ter de Jesús Cristo, sao colhidos

em obras do século passado ou de decenios remotos, que o autor cita á p. 178de"Eublose":

"A dúvida de H.P.B? sobre a vida e obras de Jesús, o Cristo,

transparente na frase: 'Aquele que se acredita como sacrificado pela

1 Helena Pelrovna Blavalsry, fundadora da Teosofía (Nota do redalor).

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EUBtOSE: QUE É?

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humanidade', deriva do tato de nao ser absolutamente verdadeiro tudo

quanto a respeito desse Ser nos é apontado na Biblia. Na revista Dharana. órgáo oficial da S.B.E., encontraráo os interessados vastos esclarecimentos a respeito. Podem tambóm consultar as centenas de obras que tratam do mesmo assunto. Lembraremos as mais importantes: Le Mytho de

Jésus, Arthur Drews; Le Mystére de Jésus, París Rioder. 1924; Jósus de Nazareth, Maurice Goguel; Jéaua devant la Critique, Paúl Buiysse; Histoiro Elémentaire et Critique de Jésus, A. Peyrat; Leben Jesu, David Fried. Strauss; Christus und die Casaren, Bruno Bauer, 1877, etc."

É preciso ser muito superficial para escrever um texto como este. A critica liberal racionalista nao crista contemporánea já nao se apóia em Goguel, Strauss, Drew, Bauer... nomes ultrapassados. A critica moderna tem por expoentes Rudolf Bultmann. Martin Dibelius, Marxsen e oulros....

autores que as escolas católicas de nossos días refutam em obras como as de

Rene Latoureile, Jesús existiu? — Ed. Santuario, Caixa postal 4, 12570 Aparecida (SP):

Frangois Dreyfuss, Jesús sabia que era Deus? — Ed. Loyola, Caixa postal 42335, 04299 Sao Paulo (SP). Mario Serenthá. Jesús Cristo ontem, hoje e sempre. — Ed. Salesiana Dom Bosco. Caixa Postal 30439. 01051 Sao Paulo (SP).

2. Nao se requerem longas consideracóes para refutar o pensamento filosófico-religioso da Eubiose. Tenham-se em vista duas de suas teses básicas: o panteísmo e o reencarnacionismo: a) O panteísmo admite que tudo (pan) seja Deus (Theós). Ora isto é ilógico, pois identifica o relativo com o Absoluto, o contingente com o Necessário, o temporario com o Eterno, o volúvel com o Imutável. Com efeito; as coisas que vemos, sao transitorias e relativas, ao passo que

Deus, por definicáo. é o Absoluto e Eterno; por conseguinte, a identificacáo daquelas com Este é grosseira aberracáo, que peca contra as regras do

raciocinio. É, porém, urna atitude sedutora, pois o homem que diz ser urna

centelha de Deus nao presta contas a ninguém a nao ser a si mesmo — o que é assaz cómodo. b) A reencarnacáo é um postulado gratuito, para o qual nao há prova nenhuma. Os fenómenos de regressáo em idade e relatos de vida "pregressa" sao todos explicáveis por associacáo de nocóes captadas na vida presente e apresentadas pelo narrador como se fossem traeos de suas

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anteriores encamacóes. O estudo atento de tais casos revela que a pessoa sob comando hipnótico obedece cegamente, de modo que, se Ihe dizem que val relatar a sua vida pregressa, ela tenta fazé-lo combinando entre si reminiscencias colhidas no decorrer mesmo da sua presente existencia. Ademáis a reencamacáo leva a uma absurda conseqüéncia; com efeito, dever-se-la dlzer que toda pessoa pobre e doente na vida presente é um grande pecador que está pagando por culpas cometidas na encarnacáo anterior, ao passo que todo Individuo sadio e rico seria uma pessoa muito

virtuosa que está recebando o premio de suas boas acóes. Ora tal conclusio é de todo absurda, pols nao se pode dizer que pobreza material e molestia física sao conseqüéncias de pecados pessoais nem o dinheiro é o resultado da virtude. Ademáis nem toda pessoa doente é gravemente pecadora, como nem todo individuo rico é necessariamente virtuoso. Nao ó preciso que nos detenhamos em ulteriores consideracóes sobre a mensagem da Eubiose, pois afirmacóes gratuitas e fantasiosas flcam abaixo do plano da razáo e nao tém valor científico nem filosófico.

*

*

*

(Continuacáo da p. 48):

símbolo de fé e amor; ela de nada vale se nao é inspirada por fé e amor, ao passo que fé e amor tudo valem mesmo sem o símbolo do dinheiro. P.80: 'Deus é a favor dos pobres e contra os ricos (veja Le 1.51-53)". — Na verdade, Deus nao julga ninguóm pelo fato de ser pobre ou rico; o que conta aos olhos de Deus, ó a honestidade de vida e a pureza de

coráceo, que sao compativeis tanto com a riqueza como com a pobreza. Haveria outras incomodes do livro a apontar. A própria linguagem de divulgacao da obra nao está isenta de imperfeicóes. Em suma, entre a boa intencáo do autor e a execucáo da obra notase uma defasagem desabo nadora.

E.B.

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Título atraente:

"BIBLIA: PERGUNTAS QUE O POVO FAZ" por Freí Mauro Strabeli

Em síntose: O livro de Frei Mauro foi escrito com a methor das intencóes, a saber: elucidar o povo de Deus. Todavía pode perturbá-to, porque é sumario demais e nao raro cede a tendencias exegéticas reducionistas, um tanto cétlcas. Em alguns casos, o autor evita tomar posicóes definidas, a fim de "facilitar" a fé, tornando a mensagem crista mais adequada as dimensóes da razáo. Isto se dá especialmente no tocante á doutrina do pecado original (que nao pertence apenas ao dominio da exegese bíblica, mas é objeto de definigós conciliares), ao conceito de profecía, á nocáo do primado de Pedro e seus sucessores, ao episodio das pragas do Egito, ao da Transfiguragáo do Senhor...

*

*

*

O autor da obra é capuchinho, professor de Teología Bíblica no Estado de Sao Paulo. Recolhe da sua prática pastoral 58 perguntas (eitas pelo povo de Deus a respeito do Antigo e do Novo Testamento, e procura

responder-lhes de maneira sucinta e em linguagem fácil.1

Livros desse tipo sao muito necessários, pois os fiéis se sentem carentes de explicares. Acontece, porém, que, diante de textos bíblicos suscetiveis de mais de uma interpretacáo, o autor opta por uma délas e a propóe como sendo a resposta as dúvidas dos fiéis, sem apresentar os pros e os contras; a hipótese assim torna-se tese ou a sentenca que, aparente mente, a exegese contemporánea adota sem mais. Goralmente as hipóte-

I Biblia: Perguntas que o Povo faz, por Frei Mauro Strabeli. — Ed. Paulinas, Sao Paulo 1990. 150 x 220 mm. 193 pp.

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ses-teses professadas por Frei Mauro sao as de Carlos Mesters e Leonardo Boff, freqüentemente citados no decorrer da obra. — Ora tal procedimento

ó subjetivo e antidldático; se o autor quer esclarecer o público de maneira objetiva e construtlva, deve apresentar-lhe as respostas adequadas, indi cando os argumentos sobre os quais se básela, e a forca maior ou menor de tais argumentos. Assim o leitor nao será induzido a tomar sentencas discutidas como definitivas ou sentencas erróneas como verídicas. A obra apresenta varios pontos vulneráveis, como se verá a seguir

1. O pecado original

O pecado que se segué á elevacáo dos primeiros país á justica original — doutrinadefé—éesvaziado: vem a ser simplesmente o primeiro pecado da historia, que foi ocasionando outros pecados, de tal modo que a crlanca nasoe hoje num mundo em pecado: "O autor bíblico nao está querendo descobnr qual o primeiro pecado do homem. Nos ó que damos ao texto urna interpretagáo que é estranha para o próprio autor. A intengáo dele é outra: ele nao quer provar nada e nem quer demonstrar que houve pecado que se tena

transmitido de pai para filtro; ele apenas constata que há pecado no mundo; constata que existe em cada pessoa a misteriosa e inexpllcável

tendencia para o mal. Oíante da leí de Deus, o homem é tentado a

escolher o mal e nao o bem. É isso um mistarlo profundo que se esconde no coráceo do homem. Cf. C. Mesters. Paraiso terrestre: saudade ou esperance? p. 67.

A narracáo bíblica sobre o pecado original é montagem literaria feita sobre urna grande verdade: o homem pecou, errou no passado,

porque ele peca e erra no presente. Essa tendencia e essa inclinagáo de todos para o mal, exigem que tenha existido um mal de raíz, um erro

Inicial, urna ruptura do homem com sua Origem, que é Deus (cf. C. Mesters, op. cit., p. 97). E, como todos pecamos, essa inclinagáo está no coragño de todos. Ela ó passada a todos. Essa é a constatagáo que o autor bíblico faz, e ó verdade. E, para retratar tudo isso, o autor bíblico usa a llnguagem simbólica e elementos de sua cultura: nudez, voz de Deus, esconderse de Deus, etc., como vimos. Para o autor, todo homem á Adáo, Isto ó, pecador" (pp. 35s).

Ora tal explicacáo do pecado original contradiz ao que a Tradicáo e o magisterio da Igreja sempre enslnaram. Por isto nao pode ser aceita. O

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•bIbua: perguntas que o povo faz-

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assunto em pauta é regido por criterios teológicos; varios Concilios se manifestaran) sobre a elevagáo do homem á justica original (grapa santifi cante e dons preternaturais) e sua queda; os pronunclamentos desses

Concllos. que exprlmem a Tradicáo oral, háo de ser tomados como balizas para se Interpretar a Tradicáo escrita ou a Biblia. Se se negligencia este método, faz-se urna exegese racionalista, nao católica.

2. O primado de Pedro A doutrina do primado de Pedro em Mt 16,19-19 é também esvaziada; cf. pp. 162-165. A Igreja estaría edificada sobre a confissáo de fé de Pedro ("Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo") e nao sobre a pessoa de Pedro, Vigário de Jesús Cristo. Isto quer dizer que um cristáo poderia estar tranquilo se professasse a messianidade de Jesús, ainda que desvinculado da obediencia a Pedro e seus sucessores. Na verdade, poróm, Jesús fez de Pedro e seus sucessores nao somente os arautos da fé ou do EvangeIho, mas também os portadores das chaves que abrem efecham, queligam e desligam de maneira sacramental: "Tudo o que ligares na térra, será ligado no cóu; tudo o que desligares na térra, será desligado no céu" (Mt 16,19; texto este que Frei Mauro nao cita). — Deve-se ainda notar que a explicacáo do assunto as pp. 162-165 do livro é um tanto ambigua; o autor parece professar a clássica doutrina, mas sutilmente Ihe contradiz: cita duas vezes o livro Ecleslogénese de Frei Leonardo Boff.

3. Profecias O autor tende a reduzir a profecía á análise de situacóes sóciceconómicc-politicas presentes ao profeta. Neste caso, hoje ainda haveria muitos profetas: "Verdadeiro profeta é hoje todo aquele que defende o Irmáo por ser imagem de Deus, e por ele expóe até a própria vida" (p. 93); e isto Independentemente da crenca religiosa do "profeta":

"Nao deixa de ser verdadeiro profeta o líder que defende seus ¡rmáos contra as injustigas, as opressóes (ainda que nao sendo cristáo). Todo aquele que expóe sua vida pelo irmáo oprimido, todo aquele que ouve o grito de dordo homem escravizado e por ele levanta sua voz, esse é proteta de Deus. Por isso há sementes de auténtico profetismo em muitas liderancas sindicáis, rurais e operarías de nossos días" (p. 94).

Quanto á previsáo do futuro, o autor assim se exprime:

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"PERGUNTEE RESPONDEREMOS'356/1992

"Nao fot tungáo principal dos profetas bíblicos prever o futuro. Nem isso eles fizeram. Multas das prevlsóes deles cabem cortamente deniro de certo quadro de possibilidades e probabilidades humanas" (p. 94).

O autor parece corrigir-se de algum modo, quando á p. 92 escreve: "Evidentemente nem todos os oráculos prole ticos sao apenas prevlsóes lógicas tiradas dos acontecimentos. Sao também intuicóes percebidas á luz da fé, da graga e de inspiragáo de Deus. Sempre, porém, um aconte-

cimento está á base. O profeta é a única pessoa capaz de ler o significado do acontecimento. E ele o faz por graga e inspiragáo de Deus" (p. 92). Verdade é que o profeta é aquele que fala pro ou em lugar de Deus,

seja para analisar o presente, seja para predizer o futuro. As predicóos nao resultam apenas de conjeturas ou de conclusóes lógicas, mas sao a previsáo de acontecimentos distantes, que somente a inspiracáo divina

poderia explicar; tenham-se em vista as profecías messiánlcas de Is 7,14s (o Messias-Emanuel); Is 8,23-9,6 (o Messias-Prindpe-da-Paz); Is 11,1-9 (o Messias chelo do Espirito, restaurador da ordem violada pelo pecado); Is 52,13-53,12 (o Messias padecente em expiacáo dos pecados)...

4. As pragas do Egito Segundo Frei Mauro, as pragas do Egito nao foram fatos históricos, pois "histórico é o que pode ser comprovado, verificado, aterido" (p. 53). — Ora. se alguém segué esta tese, deverá dizer que a historia deixa de ser, em muitos pontos, histórica, pois. quanto mais se retrocede no tempo, tanto mais difícil é comprovar e verificar aquilo que os documentos nos referem. O que se deve fazer, para afirmar se algo é histórico ou nao, é averiguar a credlbilidade ou a fidelidade.dos documentos a nos transmiti

dos. O relato bíblico das pragas do Egito, embora tenha seus traeos hiperbólicos e seus expresslonismos próprios, se apresenta como algo de fidedigno: para que o Faraó deixasse partir o povo israelita escravlzado, eram necessários sinaisque o impressionassem, e tais sinais teráo sido

aqueles que o livro do Éxodo refere e que os estudiosos verificam ser

ocorrentes na térra do Egito. A sucessáo dos fenómenos narrados por Ex 7-12 assim se pode explicar: O primelro flagelo se deve á enchente do rio Nilo, anualmente verifi

cada em fins do mes de junho. As aguas costumam tomar entao aspecto vermelho por causa de detritos de barro que descem dos lagos da Abissinla; é este o fenómeno dito "do Nilo vermelho", o qual se pode parecer com a

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•BÍBLIA: PERGUNTAS QUE O POVO FAZ"

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transformacáo da caudal em rio de sangue. Normalmente, poróm, as aguas da chela nao sao nocivas nem aos homens nem ao gado. É o que sugere

que a endiente da primeira praga haja sido acompanhada por outro fenómeno, como talvez a invasáo de pequeños animáis dentro do rio, os quals tornaram venenoso o manancial.

P. Heinisch, prolessor da Universidade de Nimwegen (Holanda). aponta (atos históricos que podem servir para ilustrar o texto bíblico: Em setembro de 1913. veriticou-se numa bala perto de Kiel (Alemanha) a Irrupcáo de numerosísimas pulgas de agua (adaphniae,

crustáceos cladoceros): estas, juntamente com os coanoflagelados que aderiam á couraca das mesmas, consumiram todo o oxigénio da agua, ocasionando o perecí mentó dos peixes da baia por sufocacáo. A massa

dos crustáceos invasores dava a impressáo de que um corante avermeIhado havia sido derramado ñas aguas, o que bem se explica peto fato de trazerem as pulgas de agua algumas gotinhas de óleo vermelho no seu organismo;

Está averiguado que também certos "flagelados" rubros (englena sangüinea), caso se tornem numerosos, dáo colorido sanguíneo á agua: O chamado "Lago Vermelho" perto de Lucerna (Suica) deve o seu

matiz característico a urna especie de alga (oscillatoria rubescens)'.

Estes fatos dáo a ver que, por vta natural, e em circunstancias diversas, as aguas de um rio ou lago podem tomar coloracáo vermelha, parecendo transformadas em sangue.

A esta seguiram-se outras calamidades conforme um encadeamento assaz compreensivel.

As invasóes de ras, mosquitos e vespas (segunda, terceira e quarta pragas) sao conseqüéncias das enchentes do Nilo. Normalmente ras e mosquitos pdem ovos na agua ou sobre as aguas, onde os mesmos se desenvolvem. Quando, pois, se verificam inundacóes, multiplica-se um dos fatores principáis para o aparecimento de tais animáis, que. em

conseqüéncla, penetram ñas habitacóes dos homens e os molestam. As aguas teráo ocasionado também o ambiente favorável á reproducáo ex traordinaria de moscas venenosas.

1 Cf. Heinisch, Das Buch Exodus (Bonn 1934). 81.

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■PERGUNTEERESPONDEREMOS-356/1992

Inundacóes e invasóes de animaizinhos provocam nao raro doencas e epidemias, como as que se deram na quinta e na sexta pragas.

A geada (sétima praga) é fenómeno que se terá produzido no mes de fevereiro, quando ela se verifica no Egito. Urna invasáo de gafanhotos (oitava praga) também nao seria para estranhar em fevereiro ou margo, mormente em países orientáis, onde tal calamidade parece ter ocorrido com certa freqüéncia (cf. Jl 1, 4; Am 4,9).

Quanto as trevas, que constituem a nona praga, teráo sido acarretadas pelo famoso vento quente dito khamsin ou simún. Este sopra a partir do deserto, carregando consigo enormes quantidades de areia, suficiente mente espessas para provocar escurecimento da atmosfera. Sua acáo se faz sentir em marco ou abril, por vezes ainda em maio, e no decurso de

dois, tres, até seis días continuos, durante os quais aínda hoje as estafóos ferroviarias funcionam á luz acesa em pleno dia. Conforme Heródoto (3,26),

parte do exército de Cambíses foi sepultada ñas areias desse vendaval.

No tocante á décima calamidade (morte dos primogénitos), nenhum fenómeno ordinario se Ihe pode comparar. Foi decisiva para que o Faraó se rendesse. Eis como se podem entender as pragas do Egito no seu respectivo

ambiente e clima. Ver a propósito: E. Bettencourt, Para Entender o Antigo Testamento. Ed. Santuario, Aparecida (SP).

5. A Transfiguracáo de Jesús A Transfiguracáo de Jesús "tal como ás vezes se imagina... é imagem mais cinematográfica do que real" (p. 167). — O autor julga que nao é senáo a

revelacáo paulatina que Jesús foi fazendo de si mesmo aos Apostólos no decorrer da sua vida pública, de tal modo que um dia os Apostólos "abrem os oihos, maravilham-se com a descoberta e querem ficar com Jesús para sempre. Os evangelistas chamam essa mudanca de transfiguracáo. Jesús mudou, transfigurou-se para eles, é outro. Realmente é o Filho de Deus" (p. 167).

Esta interpretado do relato de Mt 17,1-8; Me 9, 2-8; Le 9, 28-36 é arbitraria. O autor nem sequer se dá ao trabaiho de aduzir argumentos ou ponderacóes que a comprovem. Afirma gratuitamente como se fosse a

última palavra da exegese católica. Na verdade, podem-se admitir nos

relatos da Transfiguracáo varias ressonáncias de ordem teológica; os evangelistas quiseram evidenciar a importancia do episodio no contexto da Revelacáo, mas nem por isto o estudioso é obrigado a negar a historicidade da Transfiguracáo. que a Tradlcáo sitúa no monte Tabor. Tenha-se em

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'BÍBUA: PERQUNTAS QUE O POVO FAT

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vista, por exemplo, a Biblia de Jerusalóm: ao texto de Mt 17,1 existe a nota x, em que o comentador desenvolve o sentido teológico do relato da Transfigurado, mas nao nega a realldade histórica do episodio. Em suma, o livro de Freí Mauro Strabell, querendo elucidar o povo, pode perturbá-lo, porque é sumario demais e reduclonlsta (cótico); em

alguns casos, evita tomar posicóes definidas, a fim de nao exigir "demais" da fé dos seus leitores. Ora nao é mediante concessóes ao racionalismo um tanto arbitrarias que procede a auténtica catequese. — Como vimos, o autor chega a propor explicacóes contrarias aos artigos da fó—o que toma o llvro francamente nocivo e desaconsejado.

Estéváo Bettencourt O.S.B. *

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*

(continuacáo da p.25):

nasámento" (Ecl 7,1s). Podará recusar a celebracáo do seu dia aniversario também porque os dois homens que na Biblia aparecem testejando o aniversario sao o Faraó do Egito e o reí Herodes Antipas; ambos, poróm, cometerán) um assassinio no dia da testa: o Faraó mandou enforcaro seu padeiro-mor (el. Gn 40,20-22) e o reí Herodes Antipas mandou degolarJoáo Batista (cf. Me 6,17-29). Pergunta-se, poróm: podes» deduzir destes textos que ó mau celebrar o dia aniversario, porque isto Induz o aniversarlante ao homicidio?

Como se vé, os autores tém sua graca de estilo oriental ao exporsuas idóias. O livro foi originariamente escrito em árabe; depols fol traduzldo no

Brasil para o inglés, e desta llngua para o portugués, passando por adaptacóes e retoques que o tornaram sempre mals significativo para o público do nosso país.

A obra merece elogio e divulgagáo. Como Hdar com as seitas, de Pe. Paulo H. Gozzi. — Ed. Paulinas. Sao Paulo 1989 (2* edicáo), 120x 200 mm. 124 pp.

O livro contém 44 artigos publicados outrora na folha "O Domingo — Culto dominical". Em estilo simples, aprésente algumas denominacóes protestantes e outras correntos religiosas novas (Parte I); a seguir, procura

refutar objecóes que fazem á Igreja Católica (Parte II). A intencáo do autor ó multo boa, pots procura habilitar os católicos a dialogar com nao católicos em tom sereno. Todavía o caráter irenista e demasiado popular da obra

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'PERQUNTE E RESPONDEREMOS' 356/1992

toma-a superficial; nao val ao ámago dos assuntos discutidos; além disto, tende a um corto relativismo religioso. Els alguns espédmens de passagens mal redlgldas: P. 90; "O Concilio do Vaticano II declarou... que o fiel católico deveria comungar sob as duas espacies. Mas Infelizmente os padres, talvez por comodlsmo, relaxamento ou falta de boa formagáo litúrgica, continuam a fazer como antigamente". — Ora quem lé a Constltuigáo Sacrosanctum Coneilium na 55 verifica que o Concilio concede a Comunhio sob as duas especies a criterio dos Bispos em casos especiáis. Somonte aos 5/3/75 a Santa Sé concedou aos Bispos do Brasil a facaldado de permitlrem a Comunhio sob as duas especies em casos mals numerosos, desde que se observem certas medidas de cautela para evitar abusos. P. 94: As diferencas entre católicos e demais cristáos estariam em detalhes do teología. — Ora isto nao ó verdade: a realpresenca de Cristo na Eucaristía, a Missa como sacrificio do Calvario perpetuado sobre os nossos altares, o primado de Pedro, o sacramento da Reconciliagáo... vém a ser artigos de té que os protestantes negam. P. 90; Ao celebrarem a Santa Ceia, "os protestantes fazem o mesmo que nos, mas falta a ligagáo de seus pastores com os Apostólos". — Para os protestantes, a Santa Ceia ó mero símbolo da presenga de Cristo; eles nao tendonam realizar a anamnesis do Senhor no sentido da Biblia e da Tradigáo, que tém anamnesis como memorial que efetua ou torna presente aqullo que ó recordado.

P. 101:0 purgatorio ocorre no momento da morte... — Isto nao condlz com a sñ doutrina. Após a morte nao conheceremos a sucessáo de días o

noltes. mas entraremos no evo, que ó urna sucessáo de atos psicológicos ouóo tempo psicológico, diferente do tempo astronómico e da eternidade. P. 61; O trabalho mlssionário torta por flm apenas valorizar o aperfeigoar tudo o que haja de bom e verdadelro tora do Catolicismo. — Isto se acha em evidente contraste com a clásslca doutrina da Igreja apregoada

aínda recentemente por Joáo Paulo II na sua encíclica Redemptoris MImIo. O relativismo religioso transparece neste e em outros tópicos do livro.

P. 80; O autor dá a entender que se vendiam Indulgencias no secuto XVI: "Os pobres ganhavam menos indulgencia porque davam menos dlnhelro que os ricos". A formulacáo leva a mal-entendidos; nunca a Igreja

vendeu o perdió dos pecados ou algum bem espiritual. A esmola ó mero (Continua na p. 40)

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— 3. Somente a fé? Nao as obras? - 4. A SS. Trindade. Fórmula paga? - 5. O primado de Pedro - 6. Eucaristía: Sacrifi'cio e Sacra mento - 7. A Confissao dos pecados. - 8. O Purgatorio - 9. As indulgencias - 10. María. Virgem e Mae - 11. Jesús teve irmáos? 12. O Culto aos Santos - 13. E as imagens sagradas? - 14. Alterado o Decálogo? - 15. Sábado ou Domingo? - 16. 666 (Ap. 13.18) - 17. Vocé sabe quando? - 18. Seita e Espirito sectario - 19. Apéndice geral. - 304 págs

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