P rojeto PERGUNTE
E RESPONDEREMOS ON-LINE
Apostolado Veritatis Spiendor com autorizacáo de Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb (in memoriam)
APRESENTTAQÁO DA EDigÁO ON-LINE Diz Sao Pedro que devemos estar preparados para dar a razáo da nossa esperanca a todo aquele que no-la pedir (1 Pedro 3,15).
Esta necessidade de darmos conta da nossa esperanga e da nossa fé hoje é mais premente do que outrora, visto que somos bombardeados por numerosas correntes filosóficas e religiosas contrarias á fé católica. Somos assim incitados a procurar consolidar nossa crenca católica mediante um aprofundamento do nosso estudo. Eis o que neste site Pergunte e Responderemos propóe aos seus leitores: aborda questoes da atualidade controvertidas, elucidando-as do ponto de vista cristáo a fim de que as dúvidas se dissipem e a vivencia católica se fortalega no Brasil e no mundo. Queira Deus abengoar este trabal no assim como a equipe de Veritatis Splendor que se encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003. Pe. Estevao Bettencourt, OSB
NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR Celebramos
convenio
com
d.
Esteváo
Bettencourt
e
passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaga depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e zelo pastoral assim demonstrados.
Magonaria e Igreja Católica ontem, hoje e amanha
Igreja: Carisma e Poder"
A Doenca tem Sentido?
A Uncao dos Enfermos? A Familia Hoje
Ano XXIII - jan.-fev. -1982
PERGUNTE E RESPONDEREMOS Publicacao bimestral
Ano
XXIII
- jan./fev.
-
1982 -
N9 260
Diretor-Responsável:
D. Estevao Bettencourt OSB
I Autor e Redator de toda a materia
SUMARIO
I publicada rteste periódico Oiretor-Administrador:
D. Hildebrando P. Martins OSB
VINTE E CINCO ANOS
1
Um livro importante:
Administrado e distribuido:
Edícoes Lumen Christi
"MACONARIA E IGREJA CATÓLICA ONTEM, HOJE E AMANHÁ"
Dom Gerardo, 40 - 59and., sala 501
Um livro provocador:
Tel.: (021) 291-7122
"IGREJA:CARÍSIMA E PODER"
de Leonardo Boff
Caixa postal 2666
20001 Rio de Janeiro RJ
Pergunta crucial:
A DOENCATEM SENTIDO?
I Pagamento em cheque lou vale postal ao: IMosteiro de Sao Bento
Ido Rio de Janeiro
Caixa postal 2666
120001 Rio de Janeiro RJ
Tem valor
A UNCAO DOS ENFERMOS? O Sínodo Mundial dos Bispos falou sobre
Após Iode agosto:
Cr$ 800,00
¡A assinatura comeca ino mes da inscricáo.
Renove-a o mais cedo possivel.
COMUNIQUE-NOS QUALQUER
MUDANCA DE ENDERECO
33
LIVROS EM ESTANTE
67
NO PRÓXIMO NUMERO: 261 margo-abril
"Laborem Exercens" (sobre o trabalho). Que é a TFP? Fé e Política.
Existem rapas humanas? "O Milagre".
A real presenpa de Cristo na Eucaristía. É bom fazer promessas?
Composicao e impretsáo: Marques-Saraiva
Santos Rodrigues, 240
27
45
lEsgotados os meses de Janeiro,
jfevereiro, marco-abril de 1981.
15
A FAMI'LIA HOJE
¡ASSINATURA ANUAL 1981-1982
2
Com aorovacao eclesiástica
VINTE E CINCO ANOS... O ano de 1982 é. para PR, ano de |ublleu. Com efelto, em margo de 1957 salu o primeiro fascículo intitulado "PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
á guisa de apéndice da "Revista Gregoriana". A publicaclo foi ultrapassando o ámbito de seus objetivos iniciáis e tornou-se em 1957 mesmo revista mensal independente. Ocorre. porém, que a contagem oficial dos anos da revista só comecou em 1958; além do qué nos anos de 1965 e
1966 PR nSo foi editado. Em conseqüéncia, oficialmente PR está no 23"? ano de existencia, quando na verdade pode comemorar o seu jublleu de prata.
Registramos o fato solenemente,
antes do mais
para
agradecer a
Deus o dom da existencia deste Instrumento de trabalho; é do Pal das
luzes que procede toda boa dádiva (cf. Tg 1, 17). Agradecemos outrossim ás criaturas: em primeiro lugar, vem a Ir. Marie-Rose Porto O.P., Reli giosa Inflamada de zelo apostólico, que foi a co-fundadora de PR e esteio
incansável deste periódico; Deus Ihe recompense a generosidade e Ihe dé a paga reservada ao servidor que, com um talento, mereceu dez outrosl
Somos gratos outrossim aos Editores que sucesslvamente assumiram a si a administrado e o flnanciamento da revista: o Instituto Pió X do Rio de
Janeiro, o Sr. Osmar Marques Felipe e sua empresa benemérita (Incluida a Gráfica Marques Saralva), a Editora Laudes, do Dep. Alvaro Valle, a Editora dos PP. Paulinos e a Editora "Lumen Chrlstl" do Mostelro de SSo Bento, com seu dlretor D. Hildebrando
Martlns O.S.B.
A
todos estes
generosos colaboradores queira Deus retribuir na medida da sua infinita liberalidade I Nao podemos
deixar de
mencionar outrossim o
apoio de
pastores que S. Eminencia o Sr. Cardeal Dom Eugenio de Araujo Sales e o Sr. Nuncio Apostólico Dom Carmine Rocco tém prestado a PR, incen tivando sempre a obra asslm realizada. Multos outros Srs. Bispos tém-se manifestado como amigos e estimuladores de PR — o que muito nos honra e funda sincero preito de gratidáo. Ainda nos referimos a D. Abade
Inácio Barbosa, Accloiy OSB, do Mosteiro de Sao Bento do Rio de Ja neiro, que assumiu a revista no momento oportuno, assim como a nume rosos colaboradores de todas as partes do Brasil que nos mandam regu
larmente subsrdlos e publicacóes que sustentam e enriquecem as pesqui sas de PR; outros difundem a revista em seu ambiente respectivo; mais outros enviam sugestóes e criticas. A todos estes fica a Imensa gratldSo de PR, que espera poder contar sempre com tais amigos. PR é obra da graca de Deus e da amizade dos homens.
E neste momento solene PR aínda concretlza a sua gTatidSo a Deus e aos homens reafirmando o seu propósito de fidetldade á doutrina da fé tal como é enstnada pela S.
Igreja que Cristo confiou a Pedro e seus
sucessores. Desejamos SERVIR e eremos que urna das mais nobres e úteis formas de servir é transmitir aos homens, com pureza cristalina, a Palavra de Deus, que é penhor de Verdade e Vida I E.B.
— 1 —
PEROUNTE
E
RESPONDEREMOS»
Ano XXIII — N* 260 — Janeiro-fevereiro de 1982
Um livro importante:
"maznaría e igreja católica ontem,
hoje e amanha" por Benlmeli, Caprile e Alberton1
Em síntese: O presente llvro historia as relacdes entre a Maconaria e a Igreja Católica desde a fundac&o daquela. Procura mostrar que a Maconaria em suas rafzes e em sua llnha tradicional nSo é antl-rellgiosa, mas, ao contrario, professa a fó no Grande Arquiteto do Universo; tor-
nou-se antlcrisiá ou irreligiosa na segunda metade do século passado nos pafses latinos da Europa e da América. €sta seccSo irreligiosa da Maconaria teve grande repercussao no Brasil e marcou profundamente a imagem das
Lojas
em
nosso
pafs. Todavía, segundo os
autores em
pauta, tal córrante é minoritaria dentro da Maconaria; esta, em sua parte preponderante, continua fiel ás suas tradlcdes deístas do século XVIII, despreocupada de questoes religiosas ou mesmo disposta a aproxímar-se da tgreja Católica.
Como se ve, o llvro tenta desfazer a Imagem negra da Maconaria no mundo e, especialmente, no Brasil, em provelto do diálogo Igreja-Maconarla. Os autores n§o Julgam dirimentes as restrlcdes feitas á Maconaria pela Conferencia Episcopal da Alemanha; cf. PR 254/1981, págs. 78-96.
Comentario:
Em 1980 foi dado a lume
importante es-
tudo sobre a Maconaria e a Igreja Católica, a cargo de tres especialistas no assunto: os PP. J.A.F. Benimeli, G. Caprile S. J. e V. Alberton S. J.
i BENIMELI, J. A. F., CAPRILE. G., ALBERTON, V., Maconaria e Igreja Católica ontem, ho|e e amanlia. Ed. Paulinas, Sao Paulo 1981, 135 x 205 mm, 319 págs.
— 2 —
«MACONARIA E IGREJA CATÓLICA»
A primeira edicáo desta obra, em espanhol, esteve aos
cuidados do Pe. Benimeli; datava do ano de 1965, embora, por razóes de censura poiitica, só tenha sido posta em circulagáo em 1968. Urna segunda edigáo, também em espanhol, atualizada e ampliada, saiu em 1977, já que entre 1965 e 1977 ñas relagóes entre a Igreja Católica e a Magonaria se verificaram acontecimentos de relevo.
A terceira edigáo saiu pouco depois em italiano por obra do Pe. Caprile S. J., beneficiando-se do teor de novos documen tos publicados sobre o assunto.
Finalmente a quarta edicáo, revista e adaptada á realidade brasileira e portuguesa, se deve ao Pe. Valerio Alberton S. J. e data de 1981.
O que a obra tem de valioso, é a apresentagáo de ampio documentário atinente as relagóes entre a Igreja e a Magonaria desde 1738 até 1980 (nao há ai mengáo da Nota da S. Congregagáo para a Doutrina da Fó datada de 17 de feve-
reiro de 1981 e comentada em PR 258/1981, págs. 305-313). Faltava ao público brasileiro um volume que lhe oferecesse, de forma auténtica, as declaragóes da Igreja sobre a Magonaria e as da Magonaria sobre Deus e a fé crista. Esta coletánea, acompanhada de bons e interessantes comentarios, facilitará ao estudioso tomar conhecimento da problemática «Igreja-Magonaria», a respeito da qual só dispunha de noticias esparsas.
Éste conhecimento tem sua importancia, pois «a Ordem ma-
gónica brasileira é a mais numerosa do mundo latino, contando com 150.000 membros, segundo urna apreciagáo de Fr. Boaventura Kloppenburg O.F.M.» (cf. p. 15). Ñas páginas subseqüentes, procuraremos rcproduzir os tragos principáis do livro em foco; ao que acrescentaremos algumas poucas observagóes.
1.
O conteúdo do livro
*
Os autores da obra professam ter procurado táo somente
eonhecer a verdade histórica através de sereno espirito crítico. Segundo este seu intuito, transcrevem e analisam variados documentos e concluem que a Magonaria tinha em suas origens (1723) urna configuragáo filosófico-religiosa que se foi alterando de maneiras diversas, a tal ponto que hoje é impossível proferir sobre ela um juizo global e monolítico. _ 3 _
4
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
É precisamente esta evolucáo das Lojas Magónicas que interessa agora reconstituir na base dos textos reproduzidos pela obra em foco. 1.1.
No século XVIII
A Maeonaria moderna tem seu surto em Londres. Deri-
va-se de corporacóes de pedreiros medievais que, após o scculo XVI, perderam a importancia na vida pública; por isto resolveram admitir em seu gremio intelectuais que lhes restaurassem o vigor e a influencia e que, dos pedreiros medie vais, guardariam os símbolos (esquadro, compasso, régua...) assim como a obrigagáo do segredo'. Aos 28/02/1723 o pastor protestante James Anderson deu 'ás Lojas de Londres as Constituicóes que regeriam a sua nova fase ou a Magonaria propriamente dita8.
Deve-se notar que o livro das Constituig5es de Anderson, tido como a Magna Carta ou o Coráo da Magonaria univer
sal, professa a necessidade de religiáo para todo magom; em-
bora nao se mostré propugnador direto do Cristianismo, é
avesso ao ateísmo, como se depreende do artigo I:
"1. Um magom é obrlgado a obedecer á lei moral, em virtude de seu titulo; e, se ele bem entender a arte, nunca será um ateu estúpido
nem um irreligioso libertino. Posto que, nos tempos antlgos, os magons tivessem a obrigagio de seguir a religiáo do próprio país ou nagao, qualquer que ela fosse, presentemente julgou-se mais conveniente obrigá-
-los a praticar a religiáo em que todos os homens estáo de acordó, dei-
xando-lhes plena liberdade ás convicgóes particulares.
Essa religiáo consiste em serem bons, sinceros, honrados, de modo que possam ser diferenciados dos outros. Por esse motivo, a Maeonaria é considerada como o centro de uniio e faculta os meios para se estabelecer leal amizado entre pessoas que, sem ela, nao se conheceriam".
No tocante á. política, diz a mesma Constituicño : "2. Um magom é submisso aos poderes civis onde quer que resida ou trabalhe, e jamáis deve entrar em conspirado contra a paz e o bom andamento da administragao; gistrados ...
deve
ser
respeitoso
e
obediente
aos
ma
■ A obrigagáo de segredo referente á arte e á profissáo de determi nada categoría de trabajadores era comum na Idade Media. Ainda hoje ocorre em certas familias que cultivam tradicionalmente determinado oficio (confecgSo de instrumentos musicais, de 2Vé-se, pois,
que
atualmente a
relógios...).
Maeonaria nada
tem
que
ver
confrarias de iniciados ou "iluminados" da antigüidade pré-cristá ou primelros tempos do Cristianismo.
— 4 —
com
dos
«MACONARIA E IGREJA CATÓLICA»
3. Em Loja nunca devem encontrar eco os ressentimentos parti culares e as questoes, devendo todos abster-se de discussoes sobre assuntos que dlgam respelto á religiáo e á administracáo do Estado, visto que os MM... pertencem á rellgi3o universal, posto que de diferentes jiagñes e Idiomas.
Convencionou-se
nunca falar sobre
política,
porquanto
esta
nunca
contribuiu para o bem-estar da Loja nem jamáis poderá fazé-lo. Isto deve ser sempre mantido e deverá ser estritamente observado".
Á primeira autoridade a condenar a Maconaria assim
oriunda foi a do poder civil. Por exemplo, aos 14/09/1737, o
Cardeal Fleury, primeiro Ministro de Luís XV da Franca, proi-
bia toda reuniáo secreta, principalmente as dos freyma^ons.
Dois anos antes, idéntica proibicáo fora promulgada na Holan da, cujo exemplo parece ter sido seguido por muitos outros Governos da Europa.
Em tal contexto apareceu o primeiro documento da Igreja
relativo
á
Maconaria:
a
Constituigáo
Apostólica
Iii
Emi-
iienti, de 28/04/1738, assinada pelo Papa Clemente XII (1730-1740). Lembrando que varios Governos haviam resolvido adotar medidas contra a agáo invasora das sociedades secre tas, o Papa, por sua vez, condenava tais sociedades, aduzindo como motivos: — o recurso ao segredo e ao juramento existente ñas Lojas Masónicas. O segredo sugería que em tais conventículos se sustentavam doutrinas heréticas e planos contrarios á paz pública e ao bem da Igreja • ;
— o relativismo filosófico-religioso, que parecía resultar do fato de que em tais Lojas se reuniam homens de diversas religióes;
— «outros justos e razoáveis motivos por Nos conhecidos». A propósito do segundo motivo, note-se que a reuniáo e a colaboragáo de homens de diversas crengas religiosas era algo de inédito e, portanto, aparentemente inaceitável aos ca tólicos do século XVIII; parecía levar ao indiferentismo reli gioso ou a urna religiosidade natural chamada deísmo. — Hoje »O Papa Bento XIV (1740-1758), que em
1751 também condenou a
Magonaria. explicitou o repudio ao segredo, citando urna frase de Minúcio Félix, escritor cristáo do século
III: "As coisas honestas gozam sempre
da publicidade: as criminosas buscam o segredo".
g
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
em dia, a experiencia, sem deixar de apontar tal perigo, evi
dencia casos em que a colaboragáo de católicos com nao cató
licos em vista de fins humanitarios pode ser útil e mesmo isenta do perigo de relativismo.
Quanto aos «justos e razoáveis motivos», ainda alegados por Clemente XII, sao ho¿e obscuros; embora os historiadores os tentem explicar, nenhuma sentenga dos estudiosos satisfaz aos pesquisadores.
No século XVm, o Papa Bento XIV, aos 18/05/1751, tornou a condenar a Magonaria mediante a Constituicáo Providas, baseando-se ñas mesmas razóes que seu antecessor.
Os Papas Clemente XIII
(1758-1769),
Clemente XIV
(1769-1774) e Pió VI (1775-1799) nao emitiram documento condenatorio á Maconaria. 1.2.
Na primeira metade do século XIX
A acáo das sociedades secretas fez-se sentir com certa
veeméncia no século XIX. Destacou-se desde os primeiros de cenios a dos Carbonarios, que tinham caráter político e lutavam pela unificagáo da península itálica. Fundada em 1797, a Carbonaria tinha suas cerimónias de iniciagáo e seu ritual, que mesclava o simbolismo e a terminología masónicas com
a mística crista. Embora fosse independente da Magonaria, a Carbonaria fácilmente era confundida com esta, e conseqüentemente foi prejudicial a esta.
Tal realidade provocou a Constituicáo Eclesiam a Iesu Christo de Pió VH (1800-1821) datada de 13/09/1821, que condenou a Carbonaria e, ao mesmo tempo, todas as socie dades secretas, inclusive a Magonaria.
Alguns anos depois, Leáo XII (1823-1829), aos 13/03/1825, mediante a Constituigáo Quo graviora reiterou as condenagSes precedentes, exprímindo a convicgáo de que as sociedades se cretas tramavam contra a Igreja e os poderes civis em geral.
Os Papas Pío VIH (1829-1830) e Gregorio XVI (1831-1846) confirmaram, respectivamente ñas encíclicas Traditi
humiütati (24/05/1829) e Miran vos (15/08/1832), as disposigóes de seus predecessores contra as sociedades secretas. — 6 —
«MACONARIA E IGREJA CATÓLICA»
1.3.
Na segunda tnefade do sáculo XIX
Os Pontífices Pió IX (1848-1878) e Leáo XIII (1878-1903)
emitiram cerca de 350 documentos contra as sociedades se
cretas. Isto se entende pelo fato de que durante tal período a agáo destas foi especialmente intensa na península itálica, re dundando na queda do Estado Pontificio em 1870.
De modo especial, a Magonaria dita «latina» afastou-se
cada vez mais dos seus principios firmados em Londres pela Constituigáo de Anderson ; foi tomando características anti eclesiásticas e atéias. Com efeito; ainda em 1849, o Grande Oriente da Franga adotava nova Constituigáo, que declarava ser a Magonaria urna instiutigáo eminentemente filantrópica, filosófica e progressista, que tinha como fundamento a crenga em Deus e na imortalidade da alma. Mas, sob Napoleáo m (1852-1870), a Magonaria francesa, influenciada por elemen tos anti-romanos da política do Imperador, organizou intensa propaganda anticlerical. Levantou-se entáo forte onda anti-religiosa ñas Lojas Magónicas da Europa latina, a ponto que
em varias délas foi supressa a antiga invocagáo magónica «Á Gloria do Grande Arquiteto do Universo». Em 1877 explodiu o cisma do Grande Oriente da Franga, seguido por outras cor-
rentes magónicas, que riscaram de suas Constituigóes o ar tigo 1», artigo que precisamente impunha a obrigagáo, para todo magom, de crer em Deus e na imortalidade da alma; eliminaram também o juramento sobre a Biblia, considerada como expressáo da palavra e da vontade de Deus.
Tais Lojas magónicas foram (e estáo) excomungadas pela Grande Loja Universal da Inglaterra, que é tida como a Grande Loja Máe do Mundo. Constituem o que se chama «a Magonaria irregular»,... irregular porque dissidente dos principios fun damentáis que nortearam a Magonaria nascente em Londres no sáculo XVIH. As Lojas fiéis a tais normas sao, por isto, cha
madas «regulares»; existan principalmente nos países nórdi
cos (Inglaterra, Alemanha, Escandinávia...), ao passo que a
Magonaria irregular se propagou pelos países latinos da Eu ropa (Franga, Italia, península ibérica) e pela América La
tina. — Verdade é que hoje em dia as diversas «obediencias»
ou ramificagóes da Magonaria estáo muito entrelagadas, podendo-se encontrar lado a lado Lojas regulares e irregulares ». i"Dada a grande diversidade de ritos e obediencias, tal divisao por
zonas geográficas nao deve ser interpretada muito rigorosamente, .no sen
tido em que todos os macons de um determinado territorio sejam de urna só ou de outra obediencia" (livro analisado, pág. 57, nota 31).
— 7 —
8
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1932
Como se compreende, a paulatina mudanza de orientagáo da Magonaria Francesa e, finalmente, a profissáo de ateísmo desta e de outras correntes magónicas justificaram, a novo título, os pronunciamentos condenatorios dos Papas na segunda metade do século XIX.
Aos 20/04/1884, o Papa Leáo XEI publicou a encíclica Humanum genus, que, em sintese, assim se refere á Magonaria: "Varios príncipes e chefes de governo estiveram multo de acordó
com os Papas, tendo o cuidado seja de denunciar a sociedade masónica perante a Sé Apostólica, seja de condená-la eles mesmos, promulgando lels de protecao, como a Holanda, a Austria, a Suíga, a Espanha, a Ba-
vlera, a Savoia e outras partes da Italia". Depots de enumerar as acusacCes dos seus predecessores contra a Maconaria, o Papa acentúa que "o último e principal dos seus intentos é o de destruir, desde os funda mentos, toda a ordem religiosa e civil estabelecida pelo Cristianismo, protnovendo á sua maneira outra ordem, com fundamento e leis tiradas das visceras mesmas do naturalismo". Agora consldere-se — prossegue o Papa — a conduta da "seita masónica com relaca°o á religláo, espe cialmente onde ela tem maior llberdade de acáo, e julgue-se se é ver-
dade ou nSo que todo o seu empenho consiste em por em ato a teoria
dos naturalistas. Desde muito tempo se trabalha tenazmente para aniquilar na sociedade todo influxo do magisterio e da autoridade da Igreja".
Esta encíclica tornou-se causa de grande impacto, mesmo no mundo maeónico, ocasionando numerosos comentarios num e noutro campo.
Foi a Magonaria antieclesiástica ou irregular que suscitou no Brasil a chamada «Questáo Religiosa», da qual foram vítimas dois bispos: D. Freí Vital María Gongalves de Oliveira
(1844-1878), de Olinda, e D. Antonio Macedo Costa, do Para.
Questóes semelhantes ocorreram em outros países da América Latina no decurso do século passado. Tais conflitos contribui-
ram poderosamente para denegrir a figura da Maconaria em geral aos olhos das autoridades eclesiásticas e dos fiéis ca tólicos. 1.4.
No século XX até 1974
Aos 27/05/1917 o Papa Bento XV promulgou o Código
de Direito Canónico hoje aínda vigente, que recolhe a legislagáo anterior relativa as sociedades secretas em quatro cánones principáis': 1A legislacáo da Igreja concemente á Maconaria está para ser refor mada. Aqui referimos o conteúdo do livro em pauta, que ficará em vigor até a promulgacáo do novo Código de Direito Canónico.
— 8 —
«MACONARIA E IGREJA CATÓLICA»
Cdnon 684: "Os fiáis fuglrSo das associacoes secretas, condena das, sediciosas, suspeltas ou que procuram subtrair-se á legitima vigilancia da Igreja".
O teor deste canon, aínda um tanto genérico, se torna mais explícito e preciso na redacáo do canon 2.331: "Os que dSo o seu nome á seita macdnlca ou a outras assoclacfies do mesmo género que maqulnam contra a Igreja ou contra os legítimos poderes
clvis, incorrem
Ipso fado
na
excomunhio
simplesmente
reser
vada á Sé Apostólica".
O canon 2.336 especifica as sancóes atribuidas aos clérigos e Religiosos:
"Os clérigos que hajam cometido o delito de que tratam os cáno nes 2.334 e 2.335, devem ser punidos nSo somente com as penas estabelecidas nos cánones diados, mas também com a suspensao ou privacio
do mesmo beneficio,
oficio, dignidade, pensSo ou encargo
ter na Igreja; os Religiosos, com passiva e com outras penas, de clérigos e os Religiosos que dáo associacóes semelhantes, devem,
que possam
a privacio do oficio e da voz ativa e acordó com as suas Constituicdes. Os o nome á selta macónica ou a outras além disto, ser denunciados a S. Con-
gragacio do S. Oficio".
Aínda, segundo o canon 1.399, n? 8, sao proibidos "... os livros que, tratando das seltas masónicas ou de outras associacóes análogas, pretendem provar que, longe de serem perniciosas, elas resultam úteis á Igreja e á sociedade civil"1.
Numa palavra: pode-se dizer que o Código de Direito Ca nónico reproduz a condenacáo á Maconaria, baseando-se pre cipuamente na índole subversiva atribuida á mesma. Foi esta
nota que preponderou na configuradlo da Maconaria desde os documentos de Pió IX e Leáo XIII. A Maconaria ficou sendo
equiparada as sociedades que tramam contra a Igreja ou con tra as autoridades legitimas.
Entrementes em todo o decorrer do século XX membros da Igreja e da Maconaria procuraram aproximagáo e diálogo; foi-se tornando claro que a Magonaria nao é um bloco mono lítico, mas consta de mais de urna orientaeáo, compreendendo
iVerdade é que já nao existe índice de Livros Proibidos desde a Notlflcacfio Post lltteras apostólicas de 14/06/1966. Cada fiel católico há
de avallar em consci&ncia se Ihe é necessário ou nao ler obras que se oponham ás verdades ou aos principios da fé e da moral católicas.
— 9 —
!0
a Maeonaria dita «regular» e a Magonaria «irregular» ; há, sim, Lojas magónicas que conservam principios deístas ou mesmo cristáos (caso os seus componentes sejam majoritariamente cristáos), como há também Lojas que professam o ateísmo. Essas conversacóes entre católicos e magons prepararam o ambiente dentro do qual a S. Igreja voltou a se pronun ciar sobre a Maeonaria eni 1974. T.5.
A Deelarajóo de 1974
O diálogo entre católicos e magons e as conclusóes dai
derivadas levaram varios bispos a perguntar á Santa Sé qual a reta interpretagáo a dar ao canon 2.335, que proibe aos ca tólicos, sob pena de excomunháo, inscrever-se na Magonaria. A Santa Sé, para responder, houve por bem consultar di
versas Conferencias Episcopais a respeito da índole e das atividades da Magonaria nos respectivos países.
Ora os depoimentos assim obtidos foram táo diversifica dos que a Santa Sé julgou nao poder alterar sua legislagáo a respeito. Mas declarou que, sendo o canon 2.335 urna lei penal, deve ele ser interpretado em sentido estrito; em conseqüéncia, só incide em excomunháo o católico que se inscreva em Loja magónica realmente antieclesiástica e atéia; quem pertenga a
Loja inocua ou neutra do ponto de vista religioso, estará isento de excomunháo. O texto que apresenta estas determinagóes, foi assinado pelo Cardeal Franjo Seper, Prefeito da S. Congregagáo para a Doutrina da Fé e datado de 19/07/1974.
Ácha-se publicado á pág. 307 de PR 258/1981.
Era este o primeiro documento na historia em que a S.
Igreja admitia a possibilidade de existir algum tipo de Mago naria nao antagónica aos principios cristáos. Tal posigáo resultava de atenta pesquisa da realidade da Magonaria e cor respondía, sem dúvida, á verdade dos fatos: a Magonaria nao é um bloco monolítico. A Declaragáo de 19/07/74 muito contribuiu para aliviar a tensáo até entáo existente entre católicos e magons. Nao
deixou, porém, de suscitar mal-entendidos ou interpretagóes exageradas, pois algumas Conferencias Episcopais,
a quanto
parece, exprimiram julgamentos globais sobre o caráter anti-religioso ou nao da Maeonaria em seus respectivos países. — 10 —
«MACONARIA E IGREJA CATÓLICA»
11
Diante destes fatos, a Nota de fevereiro de 1981, emitida pela S. Congregagáo para a Doutrina da Fé, realgava que somente á Santa Sé compete pronunciar-se sobre a Magonaria como tal: cada bispo ou cada pastor de almas pronunciar-se-á táo so-
mente sobre casos isolados de fiéis pertencentes ou desejosos de pertencer á Magonaria. Após expor a evolugáo da historia das relacóes entre a
Igreja e a Magonaria os autores do livro em foco propóem a sua conclusáo.
1.6.
Conclusáo
Os autores realgam o fato que a Magonaria nao é um bloco
monolítico e, por conseguinte, nao pode ser julgada com urna
só sentenga por parte da Igreja Católica. Dever-se-á apagar, da mente do público, a idéia de que a Magonaria se identifica com a anti-religiáo e a anti-Igreja. A atitude da Magonaria
na Franga, na Italia, na Espanha e nos países latino-america nos muito contribuiu para generalizar entre os católicos em
geral um juízo negativo sobre a Magonaria em geral. O üvro em foco porém, observa que tal generalizagáo é inoportuna, pois a Magonaria irregular ou antieclesiástica constituí miño na frente as Lojas regulares; com efeito, existem «seis mi-
lhóes de magons a representar a obediencia inglesa ou orto doxa ao passo que somente quarenta ou cinqüenta mil seguem a posicáo latina e desviada dos Grandes Orientes infecciona dos de ateísmo e anticlericalismo laicista» (pág. 60s). "A maior parte das obras publicadas sobre a Maconaria num sen tido polémico — e sao muitos milhares — tratam da Maconaria irregular,
em qualquer de suas versSes: francesa, Italiana, espanhola, belga, etc. Os magons tém sido combatidos, precisamente pelo que a Maconana nao é,
ou mais exatamente pelo que n8o deveria ser e que se concretizou em varios países ao eliminar-se a obrigacio da crenca em Deus como ati
tude espiritual fundamental de todo macom. Entfio se favoreceu mais um
statu quo de mal-entendidos, de incidentes, de lutas públicas, cujas ressonánclas Identificaram, na opiniao pública, a doutrina masónica com o ateísmo atlvo, as Lojas com os adversarios militantes da religiao crista e sobretudo
da
Igreja Católica.
E nao obstante, no mundo inteiro a auténtica Maconaria é exatatamente o oposto de urna tal atltude, já que ela admite, como membros, somente postulantes que acreditam em Deus, dos quais exige fidelidade
aos compromissos com juramento sobre o Livro Sagrado de urna religiáo" (livro analisado, p. 56s).
— 11 —
12
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
Em nota observam os autores: "Nos pafses nos quais prospera a Maconaria regular, as relaces com a autoridade civil s3o normáis, boas e leáis; na Dinamarca, na Suécla e na Inglaterra o gráo-mestre costuma ser o ret mesmo ou qualquer oulro membro da familia real; nos Estados Unidos nSo menos de treze presidentes, até 1965, ocuparam o mesmo cargo. Tal atltude é obviamente incompativel com as pretensas maqulnacdes contra os
e seguranca do Estado"
(ob. clt., pág. 57, nota 30).
poderes
legítimos
Em consegüéncia, os autores preconizan! o diálogo, que será apto a desfazer preconceitos equívocos. «Desejá-lo, animá-Io, tentá-lo, conduzi-lo prudentemente no seu desenvolvimento nao significa trair a fé católica, nem abrir as portas a supostos inimigos, nem ceder em pontos irremmciáveis. Im porta apenas paciente pesquisa dos pontos comuns de enten-
dimento, desejo de intercambio de bens reais possuidos por cada um, esforoo perseverante para que a Verdade (sem adje tivo possessivo algum) sempre venga em busca da uniáo para o bem de todos» (ob. analisada, pág. 202). Procuremos
agora formular urna apreciado sobre o
livro em pauta.
2.
Urna avaliagoo
Como dito, a obra de Benimeli, Caprile e Alberton é va liosa na medida em que oferece ao público urna rara coletánea de pronunciamentos da Igreja e da Maconaria, assim como de
fontes úteis para se estudar a historia da Magonaria e ponde rar o seu conteúdo e significado hoje em dia. Merecem louvor os autores que se dedicaram a táo minuciosa e paciente pes quisa de textos e documentos históricos. Os autores, por sua documentaeáo, evidenciam quáo acer
tada foi a atitude da Igreja assumida em 1974, no sentido de reconhecer
dois tipos de
Magonaria: a que trama contra a
religiáo e a que nao trama. Na situacjio presente ou diante da evidencia dos fatos apregoam o diálogo e a procura de mutua compreensáo entre católicos e mac.ons — o que certamente é válido, contanto que se evite qualquer tipo de relativismo ou falso irenismo. O diálogo poderá contribuir para dissipar pre conceitos onde existam. Quer-nos, parecer, porém, que a questáo das relacóes entre a Igreja e a Maconaria enfrenta outro problema em plano mais profundo.
— 12 —
•
«MACONARIA E IGREJA CATÓLICA»
13
Com efeito. Distínga-se entre Maconaria regular e Magonaria irregular.
A Magonaria irregular, anti-religiosa nao oferece condigóes para que a Igreja Católica a aprove; é a Maconaria irre gular que se coloca contra a Igreja. Quanto á Maconaria regular, ela professa, sem dúvida, a
existencia do Grande Arquiteto do Universo e respeita a reli giáo. Por este lado parece convir com o que ensina o Catoli cismo. Todavía, numa perspectiva, católica, deve-se-lhe obser var que a proclamagáo da existencia do Grande Arquiteto do
Universo é algo de racional ou filosófico, deixando os seus adeptos no plano da religiáo natural ou do chamado «deísmo». Para o fiel católico, Deus é o Pai que se revela por Jesús Cristo — Deus e homem; esta revelagáo dá origem a religiáo sobrenatural ou ao teísmo. A rigor, o católico nao pode deixar de invocar Deus como uno e trino, como Redentor e Santificador dos homens. Ora o fato de que a Magonaria fala de Deus, mas silencia as grandes verdades reveladas (para assim poder receber em seu gremio homens de diversas crengas religiosas)
sugere aos pensadores católicos certas restrigóes. Tal atitude da Magonaria, se nao suscita o ateísmo e o materialismo, pode suscitar o relativismo ou certo indiferentismo religioso ; foi
precisamente esta observacáo, associada a outras ponderagóes congéneres, que inspirou aos bispos alemáes a conclusáo de que nao é possível alguém ser católico e magóm ao mesmo tempo. Cf. PR 254/1981, págs. 78-79.
Estas reflexóes dáo a ver quanto a Magonaria é complexa e, por eonseguinte, como será difícil chegar a um relacionamento unívoco da Igreja com a Magonaria como tal. Em vista desta complexidade, parece que é e será sabio, para a Igreja, assumir atitude diversificada diante da Magonaria: a Igreja se absterá de pronunciamentos generalizados e monolíticos sobre a mesma; o julgamento será pronunciado pelos pastores de almas em vista de cada caso de fiel católico que deseje en
trar em determinada Loja ou faga parte desla ou daquela
Loja definida.
Para evidenciar mais ainda quáo delicado é o problema das relagóes «Igreja e Magonaria», transcrevemos abaixo a
Nota da Grande Loja Nacional Francesa (Neuilly), que, em — 13 —
14
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
oposicáo ao Grande Oriente de Franca, fez as seguintes declaracóes em 1961 ¡ "Para evitar qualquer equívoco, a Grande Loja Nacional Francesa de Neullly, única Maconaria de Franca reconheclda por toda a Maconaria
universal regular, esclarece que nao pode haver maconaria 'regular' dos seguintes principios Invarráveis: — Crenca em
Deus, Pessoa divina, Grande Arquiteto
do
fora
Universo.
— Crenca em sua vontade revelada e expressa no Livro da Santa Lei. — Crenca na imortalidade da alma.
Além'disso, em suas Lojas proibe-se de ordem social, política ou religiosa.
toda
discussáo ou
polémica
Os ritos que emprega, se referem, como os dos magons operativos, ao simbolismo tradicional do oficio e da arte real. Unindo no tempo e no espaco o Oriente e o Ocidente, elevam-se ás fontes escrlturfsticas ins piradas do Antigo e do Novo Testamento.
Todas as obrigac.5es de seus membros e de sua hlerarquia sao tomadas 'em presenta de Deus Todo-poderoso', sobre o Livro da Santa Lei correspondente á sua crenca. A Grande Loja Nacional Francesa (Neuilly)
propóe-se trabalhar, se
gundo os antigos rituais da Ordem, para o aperfeigoamento moral e espi ritual de seus membros e a prática de urna caridade fraterna ativa e vivi ficante. Entende ficar completamente á margem das discussOes e lutas que nao Ihe dizem respeito. Particularmente, proibe-se tudo o que poderia ser considerado como maquinacáo contra a Igreja ou os legítimos pode res civis.
A Grande Loja nfio pode deixar de alegrar-se ao ver nascer um clima de melhor compreensüo entre os que, a todo momento, póem sua única esperanca em Deus" (La Grande Loge Nationale Francalse et 1'jEgllse Catholique, págs. 11-13).
Tal declaracio da Grande Loja Nacional Francesa é assaz expressiva. Infelizmente, porém, nao corresponde ao modo de pensar de numerosas Lojas da própria Franca.
Em suma, o livro de Benimeli, Caprile e Alberton certamente constituí um passo positivo para dirimir dúvidas e possibilitar o claro posicionamento dos católicos frente á Maco naria,
A guisa de bibliografía, Indicamos as páginas 295-319 do livro em pauta, onde se encontré rico e ampio catálogo de llvros, artigos e do
cumentos atinentes a Maconaria.
_ 14
Um livro provocador:
"igreja: carisma e poder'
1!
de Leonardo Boff
Em síntese:
O presente artigo analisa a obra eclesiológica de Frei
Leonardo Boff, mostrando tratar-se de esludo tendencioso e ambiguo. A partir do esquema, preconcebido, de que a cobica do poder inspirou o
comportamento dos pastores da Igreja através dos séculos, o autor propSe urna Igreja "carismática", em que nao naja docentes e discentes, mas se adotem os criterios de comportamento de urna democracia humana. O estilo do autor é veemente, chegando á sátira; hipóteses sio pro postas como teses (principalmente quando o autor recorre á exegese bíblica protestante); falta por vezes ao autor a akríbla (senso de exatídao)
necessária a um estudo científico para matizar os respectivos dizeres, dando a posicóes discutidas o atributo de discutidas. Tal akribía se ImpSe de modo especial numa obra que nSo é destinada apenas a especialistas, mas se volfa para o grande público, o qual multas vezes está desprepa rado para discernir o certo do incerto e do errado.
Queremos crer que Freí Leonardo nio se quer afastar da doutrina da reta fé; ele professa em seu livro que a Igreja é sacramentum, no qual, além de elementos humanos, há também valores divinos; todavía tais
afirmacSes sao empalidecidas ou sufocadas pela veeméncia das acusacees feitas á Santa Igreja. No decorrer da leitura do livro tem-se nao raro a impressao de estar diante de urna obra inspirada por protestantismo
e marxismo.
Comentario: Foi publicado em julho 1981 um novo livro de Frei Leonardo Boff O.F.M., que traz o titulo : «Igreja : carisma e poder» (Ed. Vozes, Petrópolis 1981). Esta obra vem suscitando hesitacóes e contradicóes...
É sempre desagradável dizer Nao a um irmáo, especial mente guando se sabe que é pessoa bem intencionada. A cons-
ciéncia, porém, pode exigir que o fagamos no intuito de servir á verdade, que é patrimonio comum de todos os homens.
— Neste artigo proporemos algumas consideragóes gerais so bre o livro em foco ; depois passaremos á análise da tese cen tral do livro; em apéndice será publicada urna recensáo do Pe. Perego S.J. sobre outro livro eclesiológico de L. Boff.
— 15 —
16
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
1.
Considerasoes gerois
Examinaremos quatro pontos sucessivos. 1.1.
O estilo da obra
Quem lé a obra em pauta, observa de ¡mediato algumas características significativas:
O autor aborda auestóes importantes de historia da Igreja ou de doutrina de fé, fazendo afirmagóes generalizadas, sem explicitar matizes. Propóe hipóteses como se fossem teses fir mes e indiscutiveis — o que ilude o leitor despreparado. Alias, é curioso que, desejando combater o autoritarismo, L. Boff use de linguagem extremamente autoritaria, caricatural, sarcástica... Impugnando a procura de seguranga na doutrina e na disciplina dentro da Igreja, o autor parece ter seguranca absoluta daquilo que diz; quem nao concorda com ele, pode ser tachado de «cínico» (pág. 64, n' 9), de «ignorante» (p. 65), de «subserviente e inexpressivo» (p. 65), como pode ser es
carnecido com ironía (pág. 68, n» 14). Diante de varias pági nas do livro (para nao dizer: diante do livro inteiro) o leitor
tem a impressáo de que está nao frente a um teólogo ou um intelectual que estuda com objetividade e sem paixóes o seu tema, mas, sim, diante de um escritor tendencioso e precon cebido, como sao muitas vezes os adversarios da Igreja, que afirmam sem conhecer bem (e sem querer conhecer bem) o assunto, pois estáo interessados em denegrir e caricaturar passionalmente. Entende-se (embora nao se justifique) que um
nao especialista combativo proceda de tal maneira, mas nao se compreende que um teólogo como Freí Leonardo o faga. A propósito tenham-se em vista as páginas 96, 100, 140, 143,
144 e outras...
1.2.
ünguagem ambigua
L. Boff usa vocabulario e linguagem que frecuentemente tém o sabor da ambigüidade — o que nao se admite nem num
livro científico nem num livro de ampia divulgagáo. Assim
a)
«Estamos no
fim das reformas,
urge re-criar
(a
Igreja)» (pág. 101). Significa isto que vamos destruir todo o passado e recomegar atualmente a historia da Igreja, como o quis fazer Lutero no século XVI e como até hoje fazem os — 16 —
«IGREJA: CARISMA E PODER»
17
discípulos de Lutero, criando centenas de denominacóes, das quais as últimas já nao sao cristas ? b)
A pág. 126 lé-se: «No Novo Testamento constata-se
a irredutibilidade de varias posicñes teológicas; existem contradicóes entre elas, assim entre S. Mateus e a epístola aos Gálatas, a epístola aos Romanos e a epístola de Sao llago. Mesmo dentro do oorpus paiuinum constatam-se contradieóes entre Rm 7,12 e Gl 3,13, concernindo á valorizagáo da lei judaica» (pág. 126). — Ora as palavras «contradigóes» e «irredutibilidade» sao, no mínimo, ambivalentes ou impro prias. O que há no Novo Testamento, sao enfoques diversos ou a consideracáo de aspectos diferentes da mesma realidade que é a Lei de Moisés e a justificacáo; esses aspectos, julgados diversamente pelos Apostólos, se complementan! mutuamente
e nao sao irredutíveis uns aos outros. Com efeito; Sao Paulo considera a entrada na graga ou na justiga (que se faz pela fé sem as obras), ao passo que Sao Tiago e Sao Mateus con-
sideram a perseveranga na justiga (que nao ocorre sem obras); Sao Paulo mesmo ora focaliza a Lei de Moisés enquanto é santa e preceitua a santidade de vida (Rm), ora focaliza a Lei enquanto foi ooasiáo a que Israel conhecesse a sua fraqueza (Gl).
c) A p. 127, o autor fala da relatividade das fórmulas de fé e da necessidade de criar novas expressoes da verdade revelada... Seria bom matizar esta afirmagáo: Paulo VL na sua encíclica «Mysterium fidei» em 1965, lembrou a necessi dade de guardar, apesar de tudo, certos termos e fórmulas aos quais se prende desde séculos a expressáo da mensagem reve lada; algo de análogo se deu em 1972 por parte da S. Congregaeáo para a Doutrina da Fé na sua Instrugáo «Mysterium Filii Dei». O abandono de certas expressoes clássicas ocasionou e pode ocasionar perigo para a própria mensagem. d) A p. 119 algo de semelhante ocorre em relagáo as páginas do Novo Testamento. Citando o autor protestante W. Marxsen, Leonardo Boff fala da «maneira dogmática de se
ler os textos do Novo Testamento. Esta maneira dogmática considera pura e simplesmente, sem dar-se conta das mediagóes históricas, que o Novo Testamento é sem mais Palavra de Deus. Utiliza os textos dogmáticamente para justificar dou-
trinas, fundamentar inapelavelmente medidas disciplinares da Igreja. Portante o catolicismo assume aqui novamente urna
conotagáo pejorativa, como urna forma patológica de se viver — 17 —
18
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 26Q/1982
e sentir a mensagem crista». —Perguntamo-nos: que significa isto? O Novo Testamento nao pode ser tomado como fonte donde depreendamos as verdades da fé? Cremos que o autor nao quer dizer isto, mas poderia ser interpretado como se o quisesse dizer. e)' Todo o cap. VII é uma exaltacjío do sincretismo! Sin cretismo, no caso, quer dizer: capacidade de assimilar elemen tos novos sem destruigáo do essencial (pág. 170). Curioso, porém : o autor acha que «foi um erro histórico a exclusáo do protestantismo» (pág. 141). Acha (?) que as mudangas na Igreja podem ocorrer á semelhanea da conversáo do pao e do vinho no corpo e sangue de Cristo na Missa; cf. pág. 109, n* 41 (citando uma poesía de Lothar Zenetti). 1.3.
Influencia marxista
O leitor nao pode deixar de perceber certa influencia do marxismo (ou de aspectos tendenciosos e discutíveis do mar xismo) ñas expressóes e ñas categorías assumidas pelo autor. Assim as págs. 91-93 L. Boff transcreve um texto atri buido a um analista brasilciro, deixado no anonimato, sendo apenas citada no roda-pé da pág. 93 a obra-fonte com título francés :• «I/Église et la politíque au Brésil» (sem local e ano de edigáo), «75-78». Esse trecho, assaz longo, compara a autoridade na Igreja com a autoridade no Partido Comunista da Uniáo Soviética antes da revolucáo chinesa ! Haveria entre ambos um paralelismo de estruturas e de comportamentos (pág. 93). Esta afirmagáo é, no mínimo, estranha e despropo sitada. Á pág. 217 Emite Durkheim é associado as autoridades doutrinárias que L. Boff tenciona seguir (o autqr se faz dis
cípulo de gente muito pouco crista). Se tais afirmagóes fossem proferidas por um comunista, tendencioso e superficial, nao causariam surpresa; mas, ditas por um teólogo, que nao pode deixar de conhecer matizes e facetas da materia, torna-se algo de incompreensível e estarrecedor. A mesma comparacáo entre Igreja e marxismo reaparece a pág. 67. Á pág. 94, n* 20, os Papas Leáo XIII e Pió XI sao tidos como mais afins aos ideáis do fascismo do que aos do libera lismo ou socialismo! A obsessáo por ver ideologías em tudo é grande... — L. Boff cita Ch. Dawson, Religión and Modera State, N. Y. 1936, 135-136 para se fundamentar no caso.
— 18 —
«IGREJA : CARISMA E PODER»
19
As págs. 184-187, a divisáo do trabalho na Igreja condi ciona as classes na Igreja.
Á pág. 75 lé-se que na Igreja alguns detém os meios de
produgáo religiosa e, conseqüentemente, «detém o poder, críam e controlam o discurso oficial». Seriam os membros da hierarquia. Os demais fiéis seriam os meros consumidores de tais bens. L. Boff julga que os detentares dos meios de produgáo «elaboram a sua correspondente teología, que vem justificar, reforjar e socializar o seu poder, atribuindo origem divina á forma histórica de seu exercício» (pág. 76) ! — Concepgóes marxistas ai estáo subjacentes, desfigurando por completo a imagem da vida e do magisterio da Igreja. Ademáis a afirmagáo de L. Boff deveria ser comprovada, pois ela resulta de um esquema concebido a priori e aplicado cegamente a Igreja. Um teólogo nao ignora quanto é artificial ou falsa a tese de L. Boff (ou do marxismo) quando aplicada á Igreja. Ás págs. 176s, o autor enfatiza o principio de que «o eixo organizador de urna sociedade reside no seu modo de produgáo peculiar... Esta atividade é infra-estrutural e sobre ela se constrói tudo o mais na sociedade... Tambérn a Igreja é con dicionada, limitada e orientada pelo modo de producáo espe cífico». Para ilustrar e corroborar tal assercáo, Boff cita a pág. 177 A. Gramsci, um dos mentores do marxismo na Italia. O autor, portante, recorre ás categorías de análise marxista da sociedade, categorías que sao materialistas e atéias e, por conseguinte, jamáis poderáo servir para construir urna autén tica teología; de resto, o uso das mesmas foi explícitamente condenado pelo S. Padre Joáo Paulo II em discurso proferido aos Bispos do CELAM aos 2/07/80: «A libertagáo crista... nao recorre... á praxis ou análise marxista, pelo perigo de ideologizagáo a que se expóe a reflexáo teológica, quando se realiza partindo de urna praxis que recorre á análise marxista. Suas conseqüéncias sao a total politizagáo da existencia crista, a dissolugáo da linguagem da fé na das ciencias sociais e o esvaziamento da dimensáo transcendental da salvagáo crista». O c. VIII (págs. 172-195) é também altamente significa tivo, apresentando as características de urna Igreja articulada
com a classe hegemónica e as características de urna Igreja articulada com as classes subalternas. Mais urna vez tem-se, subjacente, o esquema marxista de classe opressora e classe oprimida. O pobre seria sempre urna epifanía do Senhor ? Todo pobre é sempre um espoliado ou um empobrecido ? Cf.
— 19 —
20
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
pág. 186. Será que a akribía (exatidáo) científica permite afirmar isto sem mais ? Cf. PR 247/1980, p. 282-291 (que significa pobre no Documento de Puebla ?). 1.4.
O
O papel da exegese protestante liberal
autor confía
plenamente ñas sentenoas dos exegetas
protestantes mais liberáis, que tentam interpretar os Evange-
lhos e a figura de Cristo segundo referenciais racionalistas e assaz duvidosos (porque subjetivos). Por isso L. Boff julga que Jesús mesmo nao fundou a Igreja, mas que esta se deriva da vontade dos apostólos inspirados pelo Espirito Santo (págs. 222s. 216). A bibliografía citada por Freí Leonardo é, em grande parte, protestante liberal, ficando as clássicas obras da teología católica relegadas para o plano do superado.
2.
A Igreja no livro em foco
Frei Leonardo nao deixa de reconhecer que na Igreja há elementos divinos e elementos humanos (pág. 221) e que a Igreja é sacramento (pág. 130s)... Todavía tais afirmagóes
sao raras e pálidas no conjunto do livro, onde a Igreja é geral-
mente tratada como sociedade meramente humana, na qual teriam prevalecido os abusos de homens gananciosos e prepo tentes. De modo especial a secgáo das págs. 60-76 é caricatu ral, com veste de aparato científico.
Tem-se a impressáo de que, segundo Boff, a Igreja autén tica seria governada pelo povo de Deus, que deveria ter nos bispos e no Papa os seus representantes, de tal modo que nao se justificaría a distingáo entre Igreja discente e Igreja docente: "A hierarquia se senté membro da Eoclesia discens e o leigo mem-
bro da Ecclesia docens. Cada qual é mestre e discípulo um do outro e todos seguidores do Evangelho. Na coexistencia e simultaneldade das duas funcóes, deve-se entender o apelo de Jesús para que ninguém se deixe chamar de mestre, pai ou diretor espiritual, pois todos somos irmáos (cf. Mt 23, 8-10)" (pág. 215).
Pergunta-se entáo : qual o criterio para discernir verdade e erro se todos sao mestres e discípulos? Seria o Espirito Santo, que falaria no íntimo dos fiéis? Tal criterio está sujeito a ser manipulado pelo subjetivismo, como demonstra a historia do Protestantismo, cujas últimas denominagóes nao reconhecem mais a Divindade de Cristo (cf. Mórmons, Testemunhas de Jeová, Estudiosos da Biblia...).
^__
«IGREJA: CARISMA E PODER»
21
Paulo Freiré é citado para provar que a distincáo entre docente e discante é patológica e desumanizante. A Paulo Freiré sao contrapostas as figuras dos Papas Gregorio XVI (f 1846) e Pió X (í 1914); L. Boff cita frases destes Pontí fices que evidentemente eram condicionadas pela necessidade de rejeitar o liberalismo e o modernismo da respectiva época.
Cf. pág. 218.
Seria desejável a mengáo, muito mais importante, do «carisma seguro da verdade», que o Concilio do Vaticano II atribuí aos Bispos para guardarem e transmitirem autenticamente a mensagem da fé (cf. Constttuigao Dei Verbum n* 8).
Se alguém quer dizer que os carismáticos devem governar a
Igreja, nao esquega tal carisma peculiar dos Bispos. Diz explí citamente o Concilio:
"O oficio de interpretar auténticamente a palavra de Deus esciita ou transmitida foi confiado únicamente ao magisterio vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesús Cristo. Tal magisterio evidente
mente n§o está ácima da Palavra de Deus, mas a seu sen/ico, nao ensinando senSo o que foi transmitido...; com a assisténcia do Espirito Santo, píamente ausculta aqueta Palavra, santamente a guarda e fiel mente a expde"
(Dei Verbum n 10).
Assim vemos que carisma e autoridade (= poder, na linguagem do livro em foco) nao se opóem entre si. Deve haver autoridade na Igreja (e isto, por instituicSo do próprio Cristo; cf. Mt 16,16-19; Le 22, 31s;Jo 21,15-17...); todavía essa auto ridade nao é comparável a que os domens detém e exercem em sociedades meramente humanas, mas é autoridade carismática, ou seja, apoiada por especial carisma (= dom) de
Deus para jamáis levar o povo de Deus a erros em materia de fé e de moral, antes para fazé-lo reconhecer cada vez mais as exigencias do Evangelho sempre que isto se torne neces-
sário. Mesmo os Papas de vida moral mais censurável, como Alexandre VI (1492-1503), nunca emitiram um decreto que
contrariasse á fé e a moral da Igreja. Nuraa palavra, a autori dade na Igreja é servigo (diakoiiía), e nao exercício de poder arbitrario.
Se nao se admite esse carisma indefectível da verdade
(que está ácima da erudigáo dos teólogos, embora precise desta), é natural que se caia no Protestantismo e, muito espe cialmente, no Protestantismo congregacionalista (onde a con-
gregagáo dos fiéis se governa na mais auténtica forma demo crática). — Na verdade, a autoridade na Igreja vem de Cristo, — 21 —
22
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
que prolonga sua tríplice fungáo sacerdotal, profética e pas toral nos ministros que Ele escolhe e ordena e que exercem
suas fungóes nao por delegagáo dos fiéis, mas por disposigáo do próprio Cristo (cf. discurso de Joáo Paulo II aos ordenan dos no Maracaná aos 2/07/80); mesmo que haja eleigáo de Bispos, o eleito nao recebe do povo a sua autoridade, mas de Cristo mediante os eleitores.
Compreende-se até certo ponto que deva haver autori dade forte na Igreja, pois esta nao é obra humana. Se fosse criagáo de homens, lógicamente poderia ser retocada e re-criada por homens; as suas decisóes seriam tomadas simplesmente por maioria de votos; deveria prevalecer exclusivamente o bom senso fundamentado sobre razóes filosóficas ou cientí ficas. Acontece, porém, que a Igreja nao é sociedade mera mente humana; é, sim, sacramentum, ou seja, realidade sensível que assinala e transmite urna realidade divina, isto é, a presenta e a graga de Cristo. Por isto os pastores da Igreja tém o dever de preservar a mensagem da fé e as auténticas expressdes desta nao segundo criterios puramente humanos, mas segundo os criterios que a S. Escritura, colocada dentro da Tradigáo viva da Igreja, aponta ao povo de Deus; para realizar esta fungáo, o magisterio da Igreja goza de especial assisténcia do Espirito (cf. Mt 16,16-19; Le 22,31s; Jo 21,15-17;
14,26); tal assisténcia nao depende da santidade ou das faltas
dos pastores da Igreja, mas se exerce sempre que a Igreja se deva pronunciar oficialmente em materia de fé e de costumes.
Houve, sem dúvida, no passado da Igreja atitudes de Papas e Bispos fortemente autoritarias, que nao correspondem ao modo de pensar e agir nem dos eclesiásticos nem do mundo de hoje. Observe-se, porém, que nao se pode julgar o passado á luz das categorías de pensar e agir do presente. Os antigos praticavam de boa fé o que nos pode parecer hoje inaceitável; a geragáo que hoje acusa o passado, será um dia veementemente acusada pelas futuras geragóes. Nao se pode esquecer, por exemplo, que Sao Francisco de Assis, Santa Clara, S. Tomás de Aquino, S. Alberto Magno, S. Boaventura e outros santos
e sabios viveram em pleno século XIII, que foi um século de Inquisigáo, e nao deixaram urna palavra de protesto contra esta. — Alias, sempre houve santos entre os Papas e pastores da Igreja através dos seus vinte séculos; viveram o amor a
Deus e o servigo aos irmáos táo generosamente quanto lhes sugeriam as circunstancias de sua época. — 9f?. —
«IGREJA: CARISMA E PODER»
23
Todo fiel católico eleve reconhecer que entre os pastores
da Igreja de Cristo confiada a Pedro houve e há falhas intelectuais e moráis. Mas isto nao o impede de afirmar que, atra-
vés das máos humanas dos clérigos (as vezes, manchadas e poluidas), passou e passa incólume o ouro de Deus para todos os fiéis.
Ainda poderíamos citar numerosas passagens do livro de Freí L. Boff merecedoras de observagóes. O"" liyro está, de ponta a ponta, inspirado pelos principios que assinalamos até aqui. Tais principios e as aplicacóes que dos mesmos faz L. Boff, se tomados a serio, levar-nos-iam a dizer que a eclesio-
logia de Boff é camufladamente protestante.
As consideracóes propostas neste artigo permanecem no
plano dos estudos, onde é lícito (e, ás vezes, necessário) dis cordar; principalmente quando se trata das verdades da fé, o dever de fidelidade aos auténticos mananciais (no caso, ao Senhor Jesús) é duplamente imperioso. Cremos que as hipóteses e as afirmagóes de Frei Leonardo, entregues á ampia divulgagáo num estilo «gostoso» de sátira e caricatura «cien tífica», sao destinadas a destruir mais do que a construir, pois o autor nao oferece ao leitor a ocasiáo de ver outros aspectos
da realidade ou outras teses e sentengas a respeito dos temas
que ele aborda; ele nao ajuda o leitor a criticar e a matizar as posigóes assumidas no livro; ao contrario, o autor da obra usa de estilo que parece dirimente... ou mesmo esmagador de qualquer tese contraria (quando na verdade se trata de um conjunto, em grande parte, subjetivo, oscilante e vulne-
rável). Cremos que Frei Leonardo, sincero como é, nao deixará de refletir sobre estes tópicos.
APÉNDICE A fim de evidenciar aos nossos leitores que as críticas ás
obras de Frei Leonardo Boff procedem também de outras fontes, como sao os teólogos e recenseadores de livros europeus,
já em junho de 1980 publicamos nesta revista urna recensáo do livro «Jesús Cristo Libertador» elaborada pelo Pe. Leroy O. P. (cf. PR 246/1980, págs. 243-248). Neste fascículo publi
caremos urna recensáo da eclesiologia de Frei Leonardo Boff tal como aparece em livro congénere ao que acabamos de analisar, ou seja, no volume UNA IGLESIA QUE NACE DEL
PUEBLO
(Ediciones Sigúeme,
Salamanca 1979, págs. 523).
Esta obra compreende duas partes. A primeira contém os relatónos e as exposigóes proferidas no Encontró das Comuni— 23 —
24
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
dades Edesiais de Base ocorrido em Vitoria (Brasil) de 6 a 8 de Janeiro de 1975. A segunda parte apresenta os ecos do En contró das mesmas realizado também em Vitoria (ES) de
29/07 a 1/08/1976; nessa secgáo da obra acham-se os estudos de seis peritos, a saber: o sociólogo protestante Jether Pereira Ramalho, o Pe. Eduardo Hoornaert, o sociólogo católico Pedro Ribeiro de Oliveira, o Pe. Joáo Batista Libánio S.J., Frei Carlos Mesters e Frei Leonardo Boff. A respeito do texto deste último o Pe. A. Perego S.J. escreveu -urna apreciagáo na revista Divus Thomas de Piacenza, 83.3, 1980, págs. 289-291, que se segué em traducáo portuguesa :
«O sexto estudo, de Leonardo Boff, estende-se na descricao das
comunidades de base como redescoberta ou, melhor, como refundacao da Igreja. O ensaio-rio de Boff contém muitas páginas válidas e
estimulantes; infelizmente,
porém,
apresenta
muitas
outras
que
confundem as ¡délas e nao respeitam a doutrina da Igreja. Além de descrever a Igreja latina pré-conciliar com traeos caricaturáis, além de contrapor a Igreja-insütuicao e a Igreja carismática e além de
pretender gratuitamente que
a
comunidade
tenha
precedido,
no tempo, a organizacao (págs. 495s), o discurso do autor é con taminado por escatologismo de baixo jaez. Afirma que Jesús viveu sob o pesadelo da
iminéncia escatológica do Reino e se enganou
redondamente a este propósito (pá,g. 475). Aceita de olhos fecha dos a tese de Loisy segundo a qual 'Cristo pregou o Reino de Deus e, no lugar deste, veio a Igreja' (págs. 477.479), como também aceita a tese de Küng conforme a qual Cristo 'nao fundou nenhuma Igreja', mas colocou apenas premis:as para que a Igreja surgisse depois da sua morte (pág. 478). A Igreja dos gentíos estova totalmente fora do horizonte de Jesús e os doze Apóstolas nao podem ser chamados 'Igreja em miniatura' {pág. 480). Pedro, fundamento da Igreja, como refere Mt 16,18, é apenas unía explicagao etiológicq 1
(págs. 481-482). A faculdade
de
ligar e des-
i Explicacáo etiológica... Isto quer dizer que o episodio de Mt 16,16-18 tería sido forjado pelas comunidades cristas primitivas para explicar a causa (ailia, em grego) do primado exercido pelos Bispos de Roma, em virtude de iniciativa própria e nao por mandato de Jesús. iA propósito pode-se observar que as frases de Jesús em Mt 16,16-19 só se podem entender se foram originariamente proferidas em aramaico pelo próprio Jesús. Nenhuma comunidade crista de língua grega teria "inventado" tal discurso de Jesús, pois a língua grega nSo usava as expressóes que o texto de Mt 16,16-19 apresenta: Bar-jona, carne e sangue, Pai que está nos céus, portas do inferno, ligar-desligar, Kepha-kepha (em grego dir-se-ia Petros, petra, e nao haveria trocadüho). Donde se vé cue nao se pode negar a autenücidads da promessa de primado feita a Pedro em Mt 16,16-19.
— 24 _
«IGREJA: CARISMA E PODER»
25
ligar é apenas de caráfer doutrinário, e Pedro tem funcao de repre sentante mais do que de chefe da comunidade (pág. 482). Jesús falhou no intuito de instaurar o Reino, mas nao desesperou; e Deus realizou a sua expectativa, concretizando o Reino na
pessoá de Jesús. A Igreja assim substituí, de certo modo, o Reino
nao realizado, na medida em que é comunidade que continua a pregá-lo como se estivesse ¡á realizado em Jesús (págs. 484-485).
A última ceia, com a instituicao da Eucaristía e do sacerdocio do Novo Testamento, nao é elemento constitutivo da Igreja, mas urna simples antecipacao festiva do Reino que Jesús ¡ulgava pudesse ¡rromper de um momento para o outro no mundo (pág. 483). A Igreja, essencialmente 'Igreja dos gentios1 (pág. 485), helenizável e helenizada (pág. 486), nao nasceu em Pentecostés, mas depois: os Apostólos nao suspeitaram nem mesmo que a Igreja tivesse nasddo em Pentecostés; nesta ocasiáo eles aínda esperavam ver Jesús aparecer sobre as nuvens (pág. 487).
Por isto a Igreja, nao instituida por Cristo, 'nasceu de urna
dedsáo dos Apostólos' e, se a Igreja 'nasceu de urna decisáo dos
Apostólos movidos pelo Espirito, entao é claro, concluí o autor, que
á Igreja toca essencialmente o poder de decisao comunitaria, dis ciplinar e dogmática'; em conseqüéncia, a Igreja está ilimitada
mente aberta a toda adaptacao espacio-temporal sobre qualquer ponto, mesmo no que diz. respeito á sagrada hierarquia (págs. 489-490); esquece o autor que esta é de iure divino.
'O episcopado, o presbiterado e as outros funcoes perduraráo' (pág. 491), diz o autor; mas logo depois acrescenta que 'o impor
tante nao está neste ponto, mas no poder decisorio da Igreja1
(pág. 491). Em conseqüéncia, torna-se legítimo falar de "reinvencáo1 da Igreja (pág. 492); no caso particular da Eucaristía, se a Igreja o quisesse, esta poderia ser validamente celebrada mesmo
por quem nao tivesse recebido o sacramento da Ordem. Seria até conveniente que, na atual situocao de escassez de ministros ordena dos, fossem delegados alguns leigos como ministros extraordinarios
paró celebrar a Eucaristía. A sua celebracao, porém, nao se deveria chamar Missa, nem ser executada segundo o Ritual da Missa, mas chamar-se-ia Ceia do Senhor e se desenrolaria segundo um proce-
dimento inventado
pela
criatividade
popular
(págs.
493-502).
Nao é necessário que nos detenhamos em mostrar a inconciliabilidade destas opinióes do autor com a fé da Igreja. Acrescente— 25 —
26
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
mos apenas duas coisas. A primeiro é que, em todos estes pontos, o autor, longe de ser original, segué acritícamente alguns autores
modernos
ditos 'de aisla
da onda', dos quais imita também a
pouco louvável astucia de rotular, como questoes disputadas, as explanacdes ñas quais sao contrabandeadas doutrinas espurias. A segunda é a imperdoável leviandade com que o autor liquida em bloco toda a ■. éria « sólida teología pré-conciliar como se fosse um acervo de 'teses dogmáticas de antemdo estipuladas' (pág. 491).
O livro se encerra sob o signo do entusiasmo e apresentando conclusoes
que
nos parecem
precisar de ser
repensadas; tem,
montes, premissas inadmissíveis ou bastante discutíveis muitas das opinióes expressas pelos relatores». A.
como
aos
sao
PEREGO
Sem ulteriores comentarios...
(cantinuacSo da pág. 68)
os fiéis católicos a se situar diante das clássicas objecSes suscitadas pelos nao católicos com referencia á reencarnado, ao purgatorio, aos santos e ás imagens, á evocacSo dos morios... Apenas sugerimos que em próxima edicáo o livro dé mais énfase aos sacramentos; embora estejam fora do ámbito estrito do Credo, é por estes que as verdades da fé se tornam vida para o cristao.
Parabéns ao autor! "Vivant sequentes!" Venham novos livros! Castelo interior ou inoradas, por Santa Teresa de Ávila. Traducao das
Carmelitas Descalcas do Convento Santa Teresa do Rio de Janeiro, segundo a edicáo crítica de Frei Silvério de Santa Teresa. — Ed. Paulinas e Car melo de Cotia 1981, 128 x 200 rtim, 262 págs.
Eis urna obra-prima da literatura ascético-místíca do Cristianismo, publicada em portugués por ocasífio do IV centenario da morte de Santa Teresa de Ávila (1582). A autora descreve sete graus de oracSo, cada vez mais íntimos e profundos como se fossem aposentos do castelo de
um Grande Reí. Cristo habita no mais íntimo da alma humana. "Nada posso imaginar comparável á beleza de urna alma e á sua ¡mensa capacidade...
tentando
Se assim é — e
descrever a
nisso nao
formosura
deste
há dúvida — nao
castelo"
(p. 19s).
nos cansemos
A
leitura do
livro é relativamente fácil e grandemente instrutiva. Nao há quem nao possa descobrir através das páginas de Santa Teresa um mundo desco-
nhecido, que é o da uniáo com Deus, descrita minuciosamente, na base da experiencia de urna grande doutora da Igreja. Sao Joao da Cruz é,
para muitos discípulos, mais difícil do que Santa Teresa; daí a conve niencia de se comecar por Santa Teresa a leitura das obras mestras da espíritualídade crista moderna. E.B.
— 26 —
Pergunta crucial:
a doenca tem sentido?
Em súrtese: A doenca tem, á primeira vista, o aspecto negativo de diminuicáo da pessoa humana, pois reduz as posslbilidades de expansio e comunica?áo da riqueza interior do paciente. O corpo é como a palavra, que exprime o conceito; o conceito depende da sonoridade e da boa forma da palavra para poder transmilir-se; assim a alma humana depende do corpo para manifestar as suas virtualidades. A molestia aprésenla outro aspecto negativo: na S. Escritura, ela está associada ao pecado dos primeiros pais — o que é verdade. Isto nao quer dizer que toda doenca seja castigo de pecados pessoais do enfermo, mas significa que de modo geral os precursores da morte e a própria morte entraram no mundo por
efeito do pecado.
Eis, porém, que a doenca aceita em uniio com Cristo numa atitude de entrega ao Pai tem valor redentor (em favor do sujeito) e corredentor (em prol do próximo). A doenca pode favorecer a conversáo do paciente a Deus, fazendo-o encontrar mais nítidamente o Bem absoluto, na medida precisa em que os bens criados I he escapam. Assim configurado a Cristo na cruz, o paciente "completa em sua carne o que falta á Paixáo de Cristo em prol do corpo de Cristo, que é a Igreja" (Cl 1,24).
Comentario: O sacramento da Uncao dos Enfermos supóe a doenga, para a qual é um canal de graga e santificagáo provenientes da Cruz de Cristo. É por isto que só se pode entender devidamente tal sacramento se se estuda o sentido que a doenga, apesar de dolorosa, assume para o homem e, especialmente, para o cristáo. As páginas subseqüentes se vol-
taráo, pois, para o misterio da doenga humana, em preparado de urna apresentagáo do sacramento da Uncáo dos Enfermos. Abordaremos os seguintes aspectos: 1) Doenga humana e diminuigáo do paciente; 2) Doenga e pecado; 3) O valor salvifico da molestia.
1.
Doenga: aparente d¡m¡nui$cb do homem
O aspecto da molestia que, á primeira vista, mais se impóe ao homem, é o de urna desgraga ou também o de um obs táculo, algo que diminuí o ser humano. Com efeito; embora a — 27 —
28
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
doenga afete geralmente o corpo humano, nao pode deixar de atingir o homem como um todo; este é essencialmente psicossomático.
As funcóes do corpo em relagáo á pessoa humana podem ser ilustradas pelas da palavra em relagáo aos conceitos que elas exprimeni. O conceito «se encarna» na palavra, mas. nao se reduz a esta; a palavra, no caso, nao é mero rumor, mas algo de significativo, portador de urna idéia que o transcende. Assim a realidade do ser humano se exprime através do corpo, mas nao se reduz a este, visto que o corpo nao é algo de meramente orgánico, mas corpo humano, portador de um eu original que o transcende (porque resulta da uniáo de alma espiritual e corpo). A riqueza interior da pessoa humana exprime-se visivelmente no corpo e, mediante o corpo, exprime-se no mundo. Gracas á palavra, os conceitos se tornam presentes aos desti natarios. Assim gragas ao corpo o homem entra mima rede concreta de relagóes, comunicacóes e mutuo reconhecimento. Mediante o corpo o homem exerce a sua operosidade que o torna, de modo especial, presente aos demais homens.
Ora a doenga afeta o corpo e reduz, nao raro, a passividade a pessoa enferma. O doente é limitado pelos horizontes da sua molestia: dependente das pessoas que o tratam, prisioneiro das quatro paredes de um quarto ou de urna enfermaría,
propenso a sentir-se inútil ou mesmo pesado para os outros... As atividades, a produtividade, o sucesso e os aplausos, a es tima e a admiragáo... tornam-se algo de pálido, distante e
insuficiente para satisfazer ao homem. O doente faz a expe riencia concreta da precariedade das suas forcas, da relatividade das suas capacidades, da fragilidade da sua
existencia
terrestre... A molestia sacode certas formas de seguranca do paciente, abala nao raro a sua escala de valores, os seus modos de julgar e a sua mentalidade. Faz ressoar para ele a hora de urna crise grave e cheia de incógnitas. Como a palavra vem a ser a expressáo da idéia, o corpo
é a linguagem básica ou fundamental da personalidade. Todas as formas de linguagem nao fazem senáo explicitar o funda mento de qualquer comunicagáo que é o corpo. Ora, desde que
a plasticidade do corpo esteja prejudicada de algum modo, as possibilidades de comunicagáo sao reduzidas e o enfermo se vé obrigado a aceitar mais e mais o gelo da solidáo: passa a falar — 2S —
DOENCA TEM SENTIDO?
29
com poucas pessoas, por pouco tempo, e, nao raro, sobre os seus próprios males e as perspectivas de escapar destes. O olhar se restringe, como que hipnotizado pela doenga; tende a concentrar-se sobre o eu; o diálogo corre o risco de apagar-se no monólogo e no soliloquio.
Em sintese, a doenga vem a ser ameaga e atentado á expansáo vital do homem. Por isto a primeira atitude que os homens e, especialmente, os cristáos assumem frente a moles
tia, é a de oposigáo e luta,J, como bem observa o Ritual da UE: "Por dispos¡5áo da Divina Providencia, o homem deve lutar agente
mente contra toda doenga e procurar com empenho o tesouro da saúde, para que possa desempenhar o seu papel na sociedade e na Igreja
(n? 3).
Ñas páginas seguintes, será exposto o significado cristáo da doenea.
2.
Doensa e pecado
A S. Escritura ensina que entre pecado e doenga existe urna relagáo; com efeito, o pecado dos primeiros país introduziu no mundo a morte e os precursores da morte (a doenga, o sofrimento...); cf. Gn 2-3. Nesta perspectiva a doenca ma-
nifesta de maneira concreta e trágica a situagáo de queda e desgraga induzida na historia nelo pecado.
Isto, porém, nao quer dizer que a doenga seja sempre
devida a pecados pessoais do paciente. Evite-sa entender toda doenca como castigo de culpas do enfermo. É o que lembra o Ritual da Ungáo dos Enfermos : "A doenca, aínda que intimamente ligada á condieso do homem pecador quase nunca poderá ser considerada como um castigo que Iha
seja infligido por seus próprios pecados (cf. Jo 9, 3). Nao so o proprio Cristo que é sem pecado, cumprindo o que estava escrito no profeta
Isaías' suportou as chagas da sua Paixáo e particípou das dores de todos os homens (cf Is 53, 4s) como continua ainda a padecer e sofrer em seus membros, mais configurados a Ele quando atingidos pelas provac6es" (n° 2).
Na verdade, o pecado dos primeiros país rompeu a harmonia que existia entre o homem e Deus e dentro do próprio »Isto nao quer dizer: revolta contra a vontade de Deus. O cristáo
luta contra a doenga para atender á vontade do próprio Criador, visto que o suicidio, mesmo indireto, é contrario á Leí de Deus.
30
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
homem. A morte entáo entrou no mundo e, com ela, sobrevieram os precursores da morte como a dor e a doenga; tais ele
mentos considerados em si sao naturais ao homem, mas nao ocorreriam caso o homem se mantivesse fiel a Deus. Hoje o homem sofre em tese porque perdeu os dois dons preternatnrais, a ele outorgados no estado de justiga original, que sao os dons de poder nao nuorrer e nao sofrer. Nao se deve, porém, associar tal doenga a tal pecado, pois, na verdade, a molestia pode ser permitida pela Providencia Divina também a título de purificagáo ou acrisolamento da fé e das virtudes.
Até aqui expusemos a face negativa e odiosa da doenga. É preciso, porém, por em relevo o que esta tem de positivo e valioso para o ser humano.
3.
O valor salvífico da molestia
Realgaremos dois aspectos positivos da doenga. 3.1.
Descoberta de Deus
O primeiro aspecto positivo da molestia consiste em per mitir que o paciente reescalone os seus valores e, conseqüentemente, descubra Deus (se nao O conhecia) ou atribua a Deus o lugar primacial que Lhe compete e que ele nao Lhe conferia. Com efeito; se a doenga pode levar á blasfemia, ela pode tam bém induzir o paciente a tomar consciéncia de que todas as criaturas sao exiguas demais para o homem, de tal modo que a realidade do Bem Infinito ou Absoluto mais e mais se impóe ao paciente; Ele deve existir, e é nele que o homem há de encontrar a sua resposta.
Pode-se dizer que a doenga desempenha para o paciente o papel que o exilio na Babilonia (587-538 a. C.) exerceu para Israel: foi golpe duro e severo (Israel se viu humilhado e despojado), mas ocasionou a reflexáo do povo sobre o seu relacionamento com Deus;
este
relacionamento era, nao raro,
hipócrita, pois Israel imolava copiosas vítimas irracionais no
Templo com máos manchadas por homicidio, roubo e outros males; acobertava seus crimes com a capa de piedade mera mente ritual e legalista. O exilio tirou a Israel o Templo e o culto, que se lhe haviam tornado ocasiáo de exercer hipocrisia; obrigou o povo a repensar as suas atitudes diante de Deus. Do exilio procederam os «pobres de Israel», ou o «resto de — 30 —
DOENCA TEM SENTIDO ?
31
Israel», que cultivaram urna fé religiosa mais voltada para o
essencial e para a intimidade com Deus. Constituiu-se assim urna nova fase da historia de Israel. — Ora o mesmo se pode dizer no tocante ao homem que passa por urna enfermidade;
esta o pode libertar de ilusóes ou de «ídolos»; traz-lhe a ocasiáo de reflexáo e amadurecimento interior e propicia-lhe um retorno para Deus mair coerente e decidido; nao raro abre assim urna nova época na existencia do paciente. Os valores materiais aparecem a este relativizados e o Absoluto de Deus lhe aflora com mais nitidez; era conseqüéncia, a vida do pa
ciente nao se disporá mais em torno de dinheiro, sucesso, ati-
vidades imediatístas, mas assumirá urna dimensáo de presenca
a Deus, adoragáo e contemplagáo, em conformidade com a
palavra de Sao Paulo: «Tudo pertence a vos:... o mundo, a vida, a morte, as coisas presentes e as futuras. Tudo é vosso. Mas vos sois de Cristo e Cristo é de Deus» (ICor 3,21s). Examinando sua vida, o paciente comprova entáo a vera-
cidade do axioma grego: pathos mathos, isto é, sofrimento é escola, aprendizagem.
3.2.
A libertosa» em relajáo ao pecado
A descoberta ou a reafirmacáo mais consciente de Deus
por parle de um enfermo implica naturalmente um Nao mais enérgico ao pecado, especialmente aos pecados pessoais do paciente. Na verdade, o pecado consiste em atribuir á criatura um valor que só a Deus compete.
O paciente que una a sua dor á de Cristo na cruz e con
ceba amor ao Pai, purifica-se do egoísmo e dos resquicios do pecado; participa da expiacáo de Cristo Redentor. Desta ma-
neira é útil a si mesmo, porque o amor generoso suscitado pela
doenga apaga os restos do pecado; é útil outrossim ao próximo porque «urna alma que se eleva, eleva o mundo inteiro» ou
porque enriquece a comunháo dos santos com a sua participagáo nos méritos de Cristo; realiza o que Sao Paulo dizia: «Completo em minha carne o que falta á paixáo de Cristo em prol do seu corpo, que é a Igreja» (Cl 1, 29). Diz outrossim o Ritual da Ungáo dos Enfermos :
"Por dlsposicáo da Divina Providencia o homem deve lutar arden-
temente contra toda doenga e procurar com empenho o tesouro da saúde,
para que possa desempenhar o seu papel na sociedade e na Igreja, con tanto que esteja sempre preparado para completar o que falta aos sofri-
— 31 —
32
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS;» 260/1982
mantos do Cristo pela salvacSo do mundo, esperando a llbertagao da criatura na gloria dos filhos de Deus" (cf. Cl 1, 24; Rm 8, 18-21). "£ lambém papel dos enfermos na Igreja, pelo seu testemunho, nfio só levar os outros homens a nfio esquecerem as realidades essenciais e mals altas, como mostrar que a nossa vida mortal deve ser redimida pela misterio da morte e ressurreic.8o de Cristo" (rr? 3).
Fique bem claro que a doenca e o sofrimento como tais ou em si nao tém valor; por isto estaráo abolidos na vida defi nitiva. É importante que se diga isto para afastar da mensagem crista toda atitude masoquista. Faz-se mister, porém, reconhecer que, assumida como expressáo de amor a Deus e repudio ao egoísmo e ao pecado, a doenca se torna salutar (pre cisamente em virtude do amor que ela aviva e intensifica). O doente que, com amor e entrega, viva a sua doenca, testemunha, aos olhos do mundo, que a realizacáo humana essencial nao depende da posse da saúde ou dos bens materiais, mas depende, antes do mais, de sincero amor a Deus e
ao próximo. Tal enfermo ilustra, de maneira muito significa tiva, a bem-aventuranga dos pobres. Por isto o doente pode
tornar-se profeta para os homens sadios; com efeito, se os
enfermos devem aos sadios a possibilidade de sobreviver e lutar, os sadios eneontram nos docntes heroicos um estímulo poderoso para continuar a lutar. Sob tal aspecto, o enfermo se assemelha ao «mártir» (testemunha até a morte). — O segredo da fortaleza do enfermo estará sempre na sua atitude de oracáo e de oferta ñas máos de Deus; é na .uniáo com Cristo e com o Pai que o doente se encoraja todos os dias ou a todos os
momentos,
seguindo
assim a
exortacáo
de
Sao Tiago:
«Sofre alguém dentre vos um contratempo? Recorra á oracáo» (Tg 5,13).
Em conclusáo, verifica-se que, embora a doenca seja con traria á natureza e aos anseios do ser humano, ela pode ser transformada em valor, desde que acolhida em uniáo com Cristo; perde o seu sinal negativo ou de destruigáo para receber a marca luminosa da transcendencia e da salvacáo. Como se compreende, tal transfiguracáo da molestia dependerá da
atitude de fé e de amor do paciente sustentado pela graga de
Cristo.
Passemos agora ao estudo do sacramento da Uncáo dos
Enfermos.
— 32 —
Que sentido tem
a uncao dos enfermos ?
Em síntese: O sacramento da Ungáo dos Enfermos nao é reser vado aos casos de morte, mas aos de doenca grave. Deve-se procurar
fazer que o doenle, devidamejite preparado, o receba com a consciéncia lúcida, acompanhando o rito, e cercado de familiares e amigos, represen
tantes da comunidade eclesial. Os efeitos do sacramento sSo tanto de
ordem espiritual como de ordem corporal, pois beneficiam o homem lodo. é para desejar que, sendo possível, o sacramento seja administrado durante a celebracáo eucarística em ambiente pascal de confíanca e es peranza.
Os fundamentos bíblicos do sacramento da Uncáo dos Enfermos sao
os textos de Me 6,7.12s (insinuacáo do sacramento) e Tg 5,14s (promulgacSo do mesmo). Na historia do sacramento notam-se diversos enfo ques sobre a Uncao dos Enfermos: a principio, enfatizavam os cristios a cura ou o alivio do corpo; a partir do século IX, para evitar qualquer perigo de supersticáo curandeira, acentuou-se mais o efeito de perdoar os pecados e preparar o enfermo para o transe final (daf o nome de Extrema UncSo, que prevaleceu a partir do século XII). Finalmente o Concilio do Vaticano II afirmou o caráler salvifico do sacramento em relacáo ao homem tomado como um todo composto de corpo e alma.
Comentario: O sacramento da Ungáo dos Enfermos (UE), outrora dito Extrema Ungab, suscita alguns problemas ao estudioso. Nem sempre é bem compreendido, pois acontece seja reservado para os derradeiros momentos dos enfermos,
quando estes, já inconscientes, nao podem acompanhar o rito
sacramental. Dai a importancia de se exporem claramente 1) as bases bíblicas do sacramento da UE, 2) algo da res
pectiva historia e, por fim,
3) a doutrina hoje proposta pela
Igreja.
1.
As bases bíblicas
Percorrendo os escritos do Novo Tstamento, o Concilio de Trento declarou que o sacramento da UE é insinuado em Me 6,13 e promulgado em Tg l,14s (cf. Denzinger-Schónmetzer, Enquirídio 1695. 1716) '. Examinemos, pois, os textos citados. 1 Doravante, apenas DS.
— 33 —
34
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
1.1.
Me 6,13
Jesús se mostrou sempre muito solícito para com os en
fermos, intervindo mesmo milagrosamente em seu favor. Ele confiou tal solicitude aos seus discípulos, de tal modo que S. Marcos pode escrever: "Jesús chamou os doze, comecou a enviá-los dois a dols e deu-lhes poder sobre os espiritas impuros... Eles parüram e pregaran) a peniten cia, expulsaran! numerosos demonios, ungiram com óleo mullos doentes
e ós curaram" (Me 6, 7.12s). O
texto
vem
a
ser especialmente significativo, porque,
entre os paralelos existentes no Novo Testamento, é o único que menciona a ungáo com óleo 1 feita sobre os enfermos. Cf. Mt 10, 1.8; Le 9, ls.6. A solicitude pelos doentes nao seria apanagio apenas de Jesús e de seus ¡mediatos discípulos, mas o Senhor a quis con fiar igualmente á Igreja através dos séculos, como se lé no final de Sao Marcos :
"Jesús disse aos Apostólos: 'Ide por todo o mundo, proclama) o
Evangelho a toda criatura... Estes sao os sinais que acompanharáo os que liverem acreditado: imporSo as máos sobre os enfermos, e estes
f¡carao curados'" (Me 16, 15.17s).
É de notar, porém, que Jesús nao veio instituir urna so-
ciedade de medicina religiosa. As curas de enfermos que Ele
realizou e que seus discípulos podem realizar, sao, antes do mais, sinais da salvagáo messiánica trazida por Cristo; Bao um reconforto físico, que é penhor da plena restauracáo do ser humano a ser obtida na consumagáo da historia. 1.2.
Tg 5,
14s
Os reformadores protestantes (século XVI) e os moder nistas (século XX) quiseram negar o sacramento da UE, ale gando falta de base bíblica para o mesmo. Eis por que o Con cilio de Trento (e, por ele, a S. Igreja) houve por bem formu lar a interpretagáo oficial do texto de Tg 5,14s. A doutrina ' O uso do óleo no Antigo Testamento tinha múltiplo significado: entre outros, registra-se o de cura e purificacáo: cf. Lv 14,10-32. Nos escritos rabínicos aparece como remedio contra feridas, erupcoes da pele, dores de cabeca... Em Le 10, 34 o bom samaritano aplica vloho e óleo ás chagas do seu próximo caído na estrada.
— 34 —
A UNCAO DOS ENFERMOS
35
oficial assim proposta se deriva nao sonriente do texto bíblico
considerado em si, mas também da tradicáo apostólica que por
via oral e pela vivencia da Igreja se foi difundindo através dos séculos. Cf. DS 1695.
Eis o texto de Sao Tiago : 'Wlguém dentre vos está doenle? Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oracio da fé salvará o doente e o Senhor o pora de pé; e, se tiver cometido pecados, estes Ihe serio perdoados" (Tg 5,14s).
A estes dizeres do Apostólo podem-se fazer as seguintes observagóes :
1) Sao Tiago representa a corrente tradicional do judeo-cristianismo. Foi bispo de Jerusalém e guardou, quanto possível, os costumes da piedade judaica. Por conseguinte, nao
pode ser tido como ¡novador. O que ele refere a respeito do tratamento religioso dos enfermos, nao pode ser considerado como produto da sua iniciativa própria, mas, sim, como costume já corihecido e posto em prática na sua época. 2)
S. Tiago fala de doentes que nao podem procurar os
presbíteros da Igreja, mas chamam a estes — o que supóe doenga seria. 3) A fungáo dos presbíteros é a de ungir com óleo e orar em nome do Senhor. O texto grego, traduzido por orem sobre ele, insinúa imposicáo das máos.
4) A ungáo é praticada em nome do Senhor juntamente com a oracáo. Isto significa que nao tem em si eficacia pró pria, mas a recebe de Cristo. Nada de mágico, portante, ocorre no rito.
5)
A ungáo assim prescrita é original se comparada com
as demais formas de ungáo praticadas no Antigo Testamento e
no judaismo. Com efeito; ela pode contribuir nao só para o alivio do paciente, mas também para a remissáo dos pecados. 6)
Em síntese, os efeitos do rito assim delineado sao tres:
há, antes do mais, um efeito de salvaba» global. A oragáo realizada com fé salvará o enfermo, diz Sao Tiago. O verbo — 35 —
36
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
grego sozein correspondente significa salvacáo do homem inteiro, nao raro com tónica nos aspectos religiosos e escatológicos da salvacáo ;
— reerguimcnto... O verbo grego egcirein, traduzido por «aliviará», em muitos casos significa «levantar, reerguer, co- ■ municar forga de novo, acordar...» Este efeito é também glo bal
(presente e futuro) ;
— o perdao dos pecados, quando neccssário.
7) O texto de Sao Tiago nao faz promessa de curas mi lagrosas. Em conseqüéncia, dir-se-á que nao tem em vista o carisma das curas prodigiosas. A acáo dos presbíteros, deri vada da fé, terá sempre efeitos salutares, ao passo que os carismáticos realizam intervengóes ocasionáis, cujo efeito é sempre e exclusivamente condicionado pela soberana graca do Espirito Santo.
8)
O v. 16 acrescenta : «Confessai, pois, uns aos outros
os vossos pecados e orai uns pelos outros, para que sejais cura dos». A partícula pois póe em conexáo o versículo 16 com os anteriores. O doente é convidado a confessar os próprios pe cados na medida em que se oponham ao bom entendimento na
comunidade; e a comunidade é chamada a sentir-se solidaria com o estado de saúde ou de doenga dos seus membros. Tem-se assim urna referencia á dimensáo comunitaria da assisténcia aos enfermos.
O texto de Sao Tiago assim considerado nao basta por si para garantir ao leitor que o rito outrora praticado sobre os doentes era auténtico sacramento. Todavía tal texto lido no contexto da historia da Igreja ou lido dentro da Igreja e da sua Tradigño vem a ser realmente o fundamento bíblico do sacramento. Com efeito; através dos sáculos subseqüentes os documentos da historia atestam a Uncáo dos Enfermos praticada com as características de um rito sacramental, ou seja, de um rito que significa e comunica a salvacáo de Cristo. — 36 —
A UNCAO DOS ENFERMOS
2.
37
Os «fados da Tracfisao
Na Tradigáo crista, distinguem-se tres fases importantes. 2.1.
Alé a época carolíngia
(séc. IX)
A Ungáo era aplicada aos doentes de todos os tipos, desde os casos de simples indisposigáo até os de molestia propriamente dita, incluidos os males crónicos como a surdez, a cegueira, a paralisia... Em suma, nao era restrita as doengas graves; acontecía mesmo que, quando o doente se achava pró ximo á morte, se lhe dava apenas o viático (Eucaristía). A ungáo sobre beber Gália,
era feita sobre a que estivesse o óleo sagrado, acrescentava-se
2.2.
qualquer parte do corpo, especialmente sofredora. Podiam também os cristáos em vez de espargi-Io sobre o corpo. Na ao rito a imposigáo das máos.
Alé o Concilio do Vaticano II
(1962-65)
Os efeitos da ungáo mais colimados era o revigoiamento físico e a cura corporal, encontrando-se também em alguns textos mengáo da remissáo dos pecados. A énfase atribuida aos
beneficios corporais do sacramento podia levar a mal-entendi dos, ou seja, á identificagáo do mesmo com as práticas da magia paga. Este perigo foi oportunamente percebido pelos doutores da Igreja, que, em conseqüéncia, passaram a realgar os efeitos espirituais da ungáo. A partir do século IX, a ungáo se concentrou sobre os órgáos dos cinco sentidos nao por se
presumir estarem doentes, mas porque eram tidos como veículos do pecado.
Em conseqüéncia da nova énfase atribuida -á remissáo dos pecados, o sacramento foi associado ao perigo de morte ou
aos casos de doenga grave; daí a designagáo de extrema, ungáo
ou unfSoí dos moribundos, que se tornou habitual no século XII. 2.3.
Após o Vaticano II
Estas concepgóes ficaram em voga até o Concilio do Va ticano II. Este houve por bem rever a Liturgia dos sacramen
tos. Em conseqüéncia, o novo Ritual apresenta o sacramento
com o nome de Ungalo dos Enfermos em vez de Extrema Uncáo; é destinado «aos fiéis cujo estado de saúde se acha seriamente comprometido por doenga ou por velhice» (n* 8); por conseguinte, nao supóe necessariamente grave perigo de morte. O
novo Ritual prevé mesmo que o destinatario possa ir á igreja receber o sacramento e tenha condigóes de compreender, res ponder e participar. A Ungáo, de preferencia, seja adminis— 37 —
38
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
trada durante a celebrado da S. Eucaristía. Quanto aos efei-
tos, assinala-se a graca do Espirito, que reergue o enfermo na
sua situacáo de crise atendendo tanto as necessidades corporais como as espirituais do paciente: "Este sacramento confere ao enfermo a graca do Espirito Santo, que contribuí para o bem do homem todo, reanimado pefa confianca em Deus e fortalecido contra as tantanes do maligno e as aflicoes da morte, de modo que possa nSo sonriente suportar, mas combater o mal, e con seguir, se for conveniente á sua salvacSo espiritual, a própria cura. Este sacramento proporciona também, em caso de necessidade, o perdáo dos pecados e a consumacao da penitencia crista" (Ritual da Uncáo dos Enfermos, n? 6).
Por conseguinte, a sáo dos pecados (que é nitencia), nem tem em mas, sim, o estado de
Uncáo nao visa diretamente á remisefeito específico do sacramento da Pe mira diretamente a agonia e a morte, detenga em que se encontré o cristáo.
Vejamos, pois, as conclusóes que em nossos dias se podem
depreender dos documentos da Igreja no tocante á administracáo da Ungáo dos Enfermos.
3.
Un;ao dos Enfermos : linhas dbufrinárias *
Destacaremos cinco linhas principáis: 3.1.
UE: sacramento dos enfermos
e nao dos moribundos
O Concilio do Vaticano II levou a repensar a historia do sacramento da UE: esta outrora era administrada aos enfer mos em geral; depois foi reservada aos moribundos apenas... Hoje, procurando a justa síntese, notam os teólogos que o sacramento compete nao propriamente aos que estejam por terminar a vida, mas aqueles que sofrem de doenga grave ou
se véem seriamente ameagados pela velhice. Diz o novo Ritual da UE:
"Esta sagrada Ungáo deve ser conferida com todo empenho e cuidado
aos fiéis que adoecem gravemente por enfermidade ou velhice"
(rfi 8).
i Na elaboracáo dos dizeres subseqüenles, valemo-nos amplamente da obra de Calisto Vendrame: A uncao dos enfermos. Ed. Paulinas 1974.
— 38 —
A UNCÁO DOS ENFERMOS
J?
A gravidade da doenga será julgada segundo criterios de prudencia e probabilidade: "Para avaliar a gravidade da doenca, basta que se tenha da mesma um julzo prudente ou provável, consultando-se o médico, se for o caso, para remover, com sua opiniao, qualquer dúvida" (n? 8).
O mesmo Ritual considera péssimo o costume de protelar o sacramento:
"Na catequese comum ou familiar os fiéis sejam instruidos a pedirem eles próprios a Uncáo, de modo que possam, sendo-lhes dada sem demora e em tempo oportuno, recebé-la com toda fé e devogao, sem descambar no péssimo costume de protelar o sacramento" (n? 13).
É importante ainda notar que «a sagrada Ungáo pode ser
dada aos doentes privados dos sentidos ou do uso da razáo, desde que se possa crer que provavelmente a pediriam se estivessem em pleno gozo das suas facilidades» (n* 14). Contudo o sacerdote chamado para assistir ao enfermo que já tenha falecido, reze a Deus por ele, a fim de que o absolva de seus pecados e o receba misericordiosamente em seu Reino; nao lhe administre, porém, a sagrada Uncáo. Se houver dúvidas quanto á morte, visto que existem diversos graus de coma e, além do mais, é legítimo distinguir entre morte aparente, morte clínica e morte real", o sacerdote poderá administrar a Ungáo sob condigáo («se estás vivo...»).
3.2.
Sacramento de salvajao total
A Ungáo dos Enfermos proporciona alivio e soerguimento ao paciente tanto no plano físico como no espiritual. As partes do corpo ungidas sao a fronte, que lembra o cerebro e o pensamento, e as máos, que sao os instrumentos da agáo; desta
forma o homem é
atingido na totalidade do
seu ser, que
pensa e age.
i Morte aparente nao é morte, mas estado de coma, que pode ceder a recuperacio do paciente.
.
Morte clínica é a que o médico atesta após haver averiguado devi-
damente os síntomas de cessacao da vida da pessoa, podendo haver em alguns casos reativacSo do paciente.
Morle real é o estado de total cessacao da vida, após o qual nao há recuperacao do paciente. Entre a morte clínica e a morte real pode-se admitir um lapso de algumas horas (menos horas se o paciente estava gravemente enfermo, mais horas se foi colhido por um desastre no pleno exerclcio da sua vitalidade).
— 39 —
40
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 260/1982
Quem só esperasse o perdáo dos pecados deveria ser encaminhado ao sacramento da reconciliagáo e quem só buscasse um remedio para a saúde corporal, deveria ser orientado para
o médico. Alias, a Ungáo dos Enfermos deve ser recebida após o sacramento da Penitencia e o da Eucaristía sempre que o paciente tenha condigóes de se confessar. A UE nao supre a Penitencia sacramental, quando esta seja possível, mas supóe-na. 3.3.
Sacramento da fé
Os sacramentos da Igreja sao sacramentos da fé, isto é, supóem fé, sem a qual eles nao tém propósito. É, pois, necessário que, ao instruir os fiéis a respeito da UE, os sacerdotes e catequistas acentuem que se trata de um encontró do homem de fé com Deus em Cristo, encontró que exige da parte do enfermo urna atitude pessoal, consciente e livre. Por isto o novo Ritual observa: "A Sagrada Un$áo pode ser dada aos doentes privados dos sentidos ou do uso da razio desde que se possa crer que provavelmente a pediriam, se eslivessem em pleno gozo das suas facilidades" (rr? 14).
Donde se vé que nao se devem ungir, sem mais, os enfer mos inconscientes como se o sacramento tivesse atuagáo má gica ou produzisse os seus efeitos independentemente das disposigóes do destinatario. Dado
que urna pessoa gravemente
enferma tenha levado vida avessa a Deus, sem mostrar interesse pelos valores da fé, nao parece oportuno administrar-lhe o sacramento a menos que tal pessoa o pega ou dé algum sinal (ainda que vago) de querer aproximar-se de Deus.
Se nao puder administrar a UE por falta do requisito da fé, o sacerdote recomendará a Deus o paciente mediante oragóes 'á sua cabeceira com a parücipagáo (se posssível) dos cir cunstantes ; explicará a estes o porqué de sua atitude caute losa, a fim de evitar escándalo, enfatizando que os ritos sagra
dos supóem fé explícita ou, ao menos, implícita e indireta-
mente manifestada. 3.4.
Sacramento da comurádade
crista
Comenta o Pe. Calisto Vendrame : "Como conseqüéncia de idéias erróneas sobre a natureza e a finalidade da UE, a administracáo deste sacramento era reduzida a um rito de caráter
privado...
Nos
hospitais,
nao é
— 40 —
raro
receber,
da parte de
A UNCAO DOS ENFERMOS
41
familiares pouco familiarizados com os sacramentos, conviles a este disfarce: 'Dé um jeitinho para que ele nao perceba, padre. Ele podena espantar-se e nao aceitar porque ele nunca foi fanático'" (A unySo dos enfermos, p. 42).
O novo Ritual da UE enfatiza a participagáo da comui-
dade na administragáo do sacramento; ao menos parentes e amigos sejam chamados a tomar parte na celebragáo : "O enfermo que nao esteja de cama poderá receber o sacramento na igreja ou em outro lugar conveniente, onde haja para ele urna cadeira adequada e possam reunir-se ao menos parentes e amigos parte na celebracáo"
que tomem
(n? 66).
Prevé-se mesmo a administragáo do sacramento durante a celebragáo da Eucaristía : "Quando o estado do enfermo o permitir, e sobretudo se val rece ber a sagrada Comunháo, a Uncáo poderá ser conferida na Missa, tanto na igreja como, com permissáo do Ordinario, em casa do doente ou no hospital, em lugar adequado" (n? 80).
Admite-se mesmo que a UE seja administrada em gran des concentracóes de fiéis tais como peregrinacóes e Congres-
sos de algumá diocese, cidade, paróquia... O bispo local ou
seu delegado presidirá eventualmente á celebragáo, cercado de sacerdotes especialmente dsignados para tanto (cf. n» 83s). Assim toda a comunidade próxima ao enfermo testemunhará a sua solidariedade e o seu amor cristáo ao irmáo padecente. 3.5.
Sacramento da' esperanza
O costume de adiar a UE para os últimos instantes da vida acabou cercando este sacramento de um ambiente fúne bre, que por vezes se assemelha a cerimónia de velorio. Vem a ser o último adeus, com a presenga obrigatória do ministro do culto, que é deixado a sos com o agonizante a fim de o preparar para
a grande viagem, enquanto, fora do quarto,
aguarda o grupinho de familiares acabrunhados e de olhos vermelhos.
Ora os fiéis católicos háo de se convencer de que a UE é
o sacramento da salvagáo e, por isto, é motivo de esperance apta a dissipar abatimento e desespero. O novo Ritual men
ciona o ambiente de celebragáo do sacramento nos seguintes termos :
"Tenha-se o cuidado de favorecer a plena participacáo dos assistentes prevendo sobretudo cánticos oportunos, que favorecam a uniao dos fiéis, animem a oracáo comum e manilestem a alegría pascal que deve ressoar nesse rito" (n? 85').
— 41 —
42
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
Como se vé, o texto preconiza «alegría pascal», ou seja, aquela alegría que jorra da consdéncia de que, para o cristáo, a morte nao é morte, mas é passagem para a ressurreicáo e a plenitude da vida.
Imp6e-se ainda a abordagem de importante tópico.
4.
Ressurreisao : quando ?
Ha quem procure esclarecer os familiares de um defunto dizendo-lhe que a ressurreigáo se dá logo após a morte. Conseqüentemente a Missa de corpo presente e a de sétimo ou trigésimo dia é dita «Missa da Ressurreicáo». A propósito convém observar:
A S. Escritura dá a entender que a ressurreicáo dos mortos ocorrerá no fim dos tempos, quando Cristo vier a julgar todos os homens: "Como todos morrem em Adáo, assim em Cristo todos ressuscitaráo. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro Crislo, que é a primicia; depois, á sua vinda, os que pertencem a Cristo" (1Cor 15, 22s). "Quanto a nos, a nossa cidadania encontra-se nos céus, donde aguardamos o Salvador, o Senhor Jesús Cristo. Ele entáo transformará o nosso corpo mfserável, tornando-o sepielhante ao seu corpo glorioso, em virtude daquele poder com que pode sujeitar ao seu dominio todas as coisas" (Fl 3,20s).
Esta concepcáo levou os teólogos a afirmar que, por ocasiáo da morte da pessoa, a alma se separa do corpo; este se
deteriora na térra e a alma colhe os frutos do que tenha semeado durante a vida terrestre: a perfeita uniáo com Deus (o céu, precedido eventualmente pelo purgatorio) ou o defini tivo afastamento de Deus (o inferno). No fim dos tempos, Deus reunirá á materia a alma que tiver subsistido sem corpo, de modo que se reconstituirá o composto humano ; dar-se-á assim a ressurreicáo. Esta doutrina tem suscitado objecóes da parte de auto res dos últimos decenios. Alegam que a tese de «corpo e alma» (alma separável do corpo) tem sabor dualista, platónico, o que nao condiz com a antropología bíblica; esta seria monolí tica, nao conhecendo separacáo de alma e corpo. Em conseqüéncia, ensinam que o homem morre todo e, para que nao naja um hiato na existencia da pessoa, Deus ressuscita imediatamente o falecido; no fim dos tempos, haverá a eonsumacáo deste fato, quando toda a natureza participar dos be neficios da redengáo trazida por Cristo (cf. Rm 8, 20-22).
— 42 —
A UNCAO DOS ENFERMOS
43
Ora tal tese carece de fundamento tanto na S. Escritura como na Tradieáo. Nao se pode dizer que a Biblia professe
determinado tipo de antropología: assim como há traeos de antropología semítica nos livros mais antigos, também há tra
gos de antropología grega nos escritos mais recentes da Biblia (cf. Sb 2-5). Por conseguinte, nao tem valor o recurso á «an tropología bíblica semita». Na verdade, o que leva muitos au tores contemporáneos a adotar a nova concepeáo escatológica, é a alegacáo de que a tose de «alma separável do corpo» é de índole dualista ou platónica: ora o Cristianismo nao aceita o dualismo; por consseguinte, dever-se-á adotar o monismo ou a tese da náo-distinclo real de corpo e alma...
A propósito observamos que entre dualismo e monismo há meio-termo: a dualidade. Dualismo significaría oposigáo ou
antagonismo entre corpo e alma, ao passo que dualidade im plica real distingáo de dois termos que nao se repelem, mas, ao contrario, se complementan! mutuamente. Pois bem; corpo e alma, segundo a clássica doutrina crista (que nao há razáo para desdizer), constituem urna dualidade, isto é, dois elemen
tos complementares distintos um do outro, mas feitos para se
unir harmoniosamente. Donde se vé que nao há por que rejeitar a distincáo real entre corpo e alma como se implicasse dua lismo platónico ou maniqueu.
Ademáis é preciso evitar mal-entendidos a respeito da expressáo «vida eterna». Esta significa, a rigor, vida sem comeco
e sem fim ou posse simultánea de toda a existencia do pujeito. Ora só Deus é eterno. O ser humano, após a vida temporal, nao se torna eterno; a sua existencia nao é avaliada pelos cri terios da eternidade, porque a alma tem comeco, mas nao terá fim. A existencia do ser humano, após esta vida temporal, é aferida pelos criterios do evo, que se define claramente através do seguinte quadro :
Tempo:
implica existencia que tem comeco e fim ; mutabilidade no ser,
mutabilidade no agir.
Evo:
existencia que tem comeco, mas nao tem fim; imutabilidade no ser,
mutabilidade no agir.
Eternidade:
existencia sem comeco e sem fim ;
imutabilidade no ser, imutabilidade no agir.
— 43 —
44
'
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
O evo é, pois, a existencia de quem nao muda em seu ser, isto é, nao conhece corrupgáo de sua natureza ou nao conhece morte, mas muda em seu agir, pois nao esgota as suas virtua lidades em um só ato (exerce atos sucessivos que constituem a trama do seu agir).
A eternidade nao conhece mutabilidade alguma, pois Deus nao evolui e exerce toda a sua atividade num só ato (que é perfeito ou cabal).
O tempo implica mutabilidade no ser e no agir, pois tudo o que é temporal comega e acaba. Na base de tais observacóes, verifica-se que é erróneo dizer que a alma humana, deixando este mundo, entra no regime da eternidade e, por isto, nao tem mais que esperar o juízo final e a ressurreicáo dos corpos. Nao; a alma humana, mesmo separada do corpo após a morte, conhece a sucessáo... ou exerce o seu agir de maneira sucessiva (ato após ato).
Sao estas reflexóes que levam a rejeitar a tese da ressur reicáo do homem logo após a morte e a ambigua expressáo «Missa da Ressurreicáo».
Em sintese: o valor da UE, pouco e mal conhecida em nossos dias, deve ser restaurado na consciéncia dos fiéis cató licos. Tenha este sacramento entrada na espiritualidade dos nossos enfermos, de modo a ser o que realmente deve ser: alivio da alma e do corpo, e nao a triste despedida de quem está prestes a deixar este mundo. É para desejar que se difunda
no povo de Deus urna consciéncia pascal, ou seja, confiante e
otimista, do que sao a doenga, o sofrimento e a morte (= pas-
sagem para a plenitude da vida). Na proporcáo em que essa consciéncia for tomando vulto, os cristáos seráo ainda mais cristáos, pois mais estruturados pelo misterio da Páscoa. Bibliografía:
ALBERTON, M., Un sacremertt pour les malades dans le contexte actuel de la santé. Ed. Centurión, Paris 1978. CNBB, Sofrer em Cristo Jesús. Espirilualidade do enfermo. Estudos da CNBB rr? 26. Ed. Paulinas, Sao Paulo 1981.
GOZZELINO, G., L'unzlone degli infermi. Ed. Marietti, Torino 1976. MASIP. V., A encruzilhada do doente. Ed. Loyola, Sao Paulo 1980. ORTEMANN, C, A forja dos que sofreír». Ed. Paulinas, S. Paulo 1978. REVISTA DE CATEQUESE, Ano 2, tfi 7, julho-setembro 1979: Uncáo
dos Enfermos, Sacramento da Esperanca Crista.
VENDRAME, C, A Uncáo dos Enfermos. Ed. Paulinas, S. Paulo 1974.
VIDA
PASTORAL, n? 97,
ano
XXII, margo-abril
— 44 —
1981.
O Sínodo Mundial dos Bispos falou sobre
a familia hoje E/n síntese: O presente artigo apresenta proposic6es aprovadas pelo Sínodo Mundial dos Bispos em outubro 1980 e levadas ao Santo Padre Jo§o Paulo II como subsidios para a elaboraglo de uma ExortacSo
Apostólica sobre a Familia no mundo de hoje, á semelhanca da Exortacáo sobre "Catequese hoje". Tais proposicdes reafirmam grandes ver
dades da fé e da moral católicas referentes ao amor, ao casamento sacra
mental uno e indissolúvel, á preparacáo para o matrimonio e ás relacOes pré-matrimoniais, á educacao dos filhos, á espiritualidade da familia...
Ao mesmo lempo, o texto em pauta leva em conta as diflceis situacóes em que se acha a familia contemporánea e propfie o estudo de medidas pastorais aptas a apoiar os fiéis católicos e os lares cristáos na procura de (idelidade ás leis de Deus sancionadas pela Igreja.
Comentario :
De 26/09 a 25/10/1980 reuniu-se em Roma
mais um Sinodo de Bispos, ou seja, de 206 Bispos, represen
tantes do episcopado do mundo inteiro. O tema de estudos de tal encontró tinha por título «As tarefas da familia crista no mundo de hoje». Ao terminar suas sessoes, os padres sinodais entregaram ao S. Padre Joáo Paulo II um conjunto de quarenta e tres proposigóes, a fim de que, «no momento que julgar oportuno, aprésente á Igreja universal um documento so bre as tarefas da familia crista, como já fizera pela Exortaeáo Apostólica Catoches! Tradendae após o Sínodo de 1977» (proposicáo 1).
Visto que tais proposicóes contém respostas precisas para a problemática da familia levantada em nossos dias por Bispos provenientes de todas as partes do mundo, julgamos oportuno divulgar o texto das principáis proposicóes de tal catálogo,
acrescentando-lhe alguns comentarios, na expectativa de nova
Exortacáo Apostólica emanada diretamente da pena do S. Padre, desta vez sobre a Familia.
I.
O TEXTO SINODAL FÉ E SACRAMENTO Proposigao 12
«1.
O
sacramento
do
matrimonio,
como os
oufros
sacramen
tos, nao somente supóe a fé, mas também a alimenta; fortalece e exprime-a (cf. SacrosaneJusn Concilium 59). Por isto é necessário — 45 —
46
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
examinar de que maneira é exigida, para a validade deste sacra
mento, a fé dos nubentes como expressdo da Alianca e atualizacao consciente e pessoal da vocacao batismal. 2.
é claro que a
fé nao
existe
se
ela é formalmente
re-
jeitada.
Mas o próprio pedido de casamento é sinal suficiente da fé, se ele se apoia em motivos realmente religiosos. Todavía, como a celebracao do sacramento é, em alguns lugares, considerada como convencáo social antes que como acontecimento religioso, parece que se tornam necessários, da parte dos futuros esposos, sinais mais significativos de fé pes:oal.
3.
Sejam avallados o grau de maturidade de fé e a
cons-
ciéncia que tém os futuros esposos de fazer o que faz a lgre¡a. Esta inrencáo, exigida para a validade do sacramento, nao parece existir onde nao hoja ao menos a ¡ntencao mínima de crer também com a Igreja, com a sua fé batismal. Evitem-se neste particular tanto o rigorismo como o laxismo; em toda a medida do possívef, se¡a forta lecida a fé titubeante. Sejam aseguradas urna catequese dinámica
e urna preparacáo adequada ao casamento, com a colaboracáo da comunidade, em vista da progressiva maturacao da fé nos futuros esposos e da frutuosa recepcao do sacramento.
4.
Examine-se
mais seriamente
se
a
afirmacao segundo a
qual um casamento válido entre fiéis balizados é sempre um sacra
mento, se aplica também aqueles que perderam a fé. A seguir, deduzam-se as conseqüéncias jurídicas e pastorais. Mais : é preciso procurar saber quais sao os criterios pastorais que permitem discernir
a fé existente nos futuros esposos; procure-se também saber em que medida, na ¡ntencao de fazer o que faz a Igreja, deve haver, em grau mais
ou
menos elevado, urna
¡ntencao
mínima
de crer
também com a Igreja.
5. Sejam reafirmadas as conseqüéncias de unidade e indissolubilidade peculiares ao matrimonio natural, isto é, ao matrimonio dos que nao sao balizados. A nova legislacáo
conta o que está contido nesta proposicao necessidade da fé.
— 46 —
canónica leve em
(12a.)
com respeito á
FAMILIA HOJE
47
INDISSOLUBILIDADE DO CASAMENTO E DIVORCIO Proposifóo 13
1.
O Sínodo reafirma a doutrina da indissolubilidade do ma
trimonio ratum et consummatum l entre dois cristáos. Aqueles que ¡ulgarr. difícil assumir hoie em dia compromissos definitivos, o Sínodo recordó a Boa-Nova referente á fidelidade do amor que encontró
no Cristo Jesús a sua forca e o seu fundamento (cf. Fl 1,6; 2Cor 1,8). 2. A indissolubilidade do matrimonio tem suas raizes e seo apoio na doacao pessoal e total dos cónjuges, que é o fruto, o
sinal e a exigencia do irreversível amor de Deus ao seu povo e da
fidelidade de Cristo á lgre¡a. Com efeito, o dom sacramental é, ao
mesmo tempo, urna vocacao e um preceito .que se dirigem ó liber-
dade responsável dos esposos, a fim de que fiquem sempre fiéis um ao outro segundo a palavra: «Nao separe o homem o qve Deus uniu» (Mt 19,6).
3. O Cristo, que restaurou o plano original de Deus Criador inscrito no coracño do homem e da mulher, ajuda a fraqueza humana dos esposos mediante a graca sacramental, a fim de que triunfem da dureza de coracáo e oferecam aos homens o tesfemunho de amor indissolúvel.
4. £ preciso louvar os mui numerosos esposos que, embora postos diante de grandes dificuldades, dao testemunho, em sua
própria vida, da indíssolubilidade do casamento, é preciso enfatizar também o valor do testemunho daqueles que, animados pela fé e
a esperance cristas, embora tenham sido abandonados por seu cónjuge, nao tentaram contrair novo matrimonio. Uns e outros sao
testemunhas auténticas da fidelidade de que o mundo de hoje pre cisa, e devem ser ajudados pelos pastores e os fiéis da lgre¡a. 5.
Por motivo
da dignidade
intrínseca
do
casamento
e no
momento em que mais e mais aumenta o número de lares destruidos
e de declaracóes de nulidade, é urgente insistir na instrucao e na formacáo adequadas dos futuros esposos, de modo que possam
reconhecer a indissolubilidade da oníáo sacramental e contrair casa mento com a maturidade necessária. Solicita-se instantemente ás
Conferencias Episcopais, introduzam modalidades de preparacao ao
'Contraído e consumado (carnaimente).
— 47 —
48
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 260/1982
casamento que permitan) aos futuros esposos tomar mais profunda consciéncia da importancia da sua decisao e aos pastores porsibili-
tem estar seguros das
adequadas
disposicoes dos futuros esposos.
Proposigáo 14 1.
Se bem que a lgre¡a tenha sido fundada .para levar todos
os homens e, em prímeiro lugar, os fiéis balizados pelo caminho da
salvacáo, Ela nao pode abandonar aqueles que, embora unidos pelo vínculo do matrimonio sacramental, contrairam novas nupcias (divor ciados). Esforcar-se-á ¡ncessantemente por proporcionar a estes os meios de salvacáo que estao á sua disposicao. Saibam, porém, os pastores que estao obrigados, por amor á verdade, a distinguir as situacoes. Com efeito, há urna diferenca entre aqueles que se esforcaram realmente por salvar o seu primeiro casamento e foram aban donados de maneira totalmente injusta, e aqueles que, por falta grave, violaram um casamento canónicamente válido. Enfim há aqueles que contrairam segundas nupcias por causa da educacao dos filhos «, por vezes, estelo, em consciéncia, subjetivamente segu ros de que o seu primeiro casamento, irremediavelmente destruido, nunca foi válido. 2.
O Sínodo exorta
fiéis a ajudar esses
os
pastores
divorciados com
e a comunidade inteira dos solicitude
caridosa, a finí de que nao se considerem separados da Igreja. Com efeito; visto que sao balizados, podem e devem participar da vida da Igreja. Escurem
a Palavra de Deus, freqüentem o sacrificio da Misso, perseveren! na oracao, participem das obras de carídade e de justica na sua comunidade, eduquen! os filhos na fé crista; cultivem sentimentos íntimos e praliquem obras de penitencia, a fim de que merecam um
dia a graca de Deus. Que a Igreja reze por eles e alimente os seus espíritos; mostre-se
mae
misericordiosa e assim os sustente na espe-
ranca e na fé. 3.
Todavía
o Sínodo confirma a orática da
sobre a Sagrada Escritura,
de
Igreja,
fundada
nao admitir á Comunhao Eucarí.tica
os divorciados que se ten ha m irregularmente casado de novo. Nao podem ser admitidos á Comunhao Eucaristica porque o
seu estado
e a sua condicao de vida contradizem objetivamente á indissclubilidade da alianca de amor trovada entre Cristo e a Igreja, signi ficada e realizada pela Eucaristía. Alcm disto, aponfo-se para lanío urna razao pastoral particular, pois os fiéis seriam
induzidos a erro
e lancados em confusao a propósito da doulrina da
nente á indissolubilidade do matrimonio.
_ 48 —
Igreja concer-
FAMILIA HOJE
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4. A reconciliacóo sacramental no sacramento da Penitencia que desse acesso á partiápacao no sacramento da Eucaristía, só Ihes poderá ser concedida se, arrependidos de ter violado o sinal da alianca e da fidelidade a Cristo, se abrírem de coracao sincero a unía forma de vida que nao contradiga á indissolubilidade do sacramento
do matrimonio.
5. Procedendo assim, a Igreja esforca-se por proclamar videlidade a Cristo e comportar-se maternalmente em relacao a seus
filhos, principalmente aqueles que foram da sua parte pelo consorte legítimo. com firme esperanca que seus filhos do Senhor podem obter de Deus a va cao, se perseveraren! na oracao,
abandonados sem culpa
Ao mesmo tempo a Igreja eré que íe afastaram do preceito graca da conversño e da sal na penitencia e na caridade.
ó. O Sínodo, na sua solicitude pastoral para com esses fiéis, deseja que os estudiosos se entreguem a nova e mais profunda pes quisa a respeito, levando em conta outrossim a prática das i.grejas do Oriente, de modo a melhor por em «videncia a misericordia pas toral.
OS CASAMENTOS MISTOS Proposi;ao 19 1.
S¡tua(áo
Em virtude do caráter sacramental do matrimonio e a fim de favorecer a unidade conjugal, a Igreja rempre se empenhou para que no casamento as duas partes
fossem católicas.
Todavía, visto
que em quase toda parte os católicos vívem geralmente em meio a outros cristaos e a nao cristáos, nao é de estranhar que os matri monios mistos nao somente ocorram no mundo inteiro, mas também em muitas regioes se multipliquem segundo proporcóes crescentes.
Há dois tipos de casamento* mistos: os que sao contraídos entre um cónjuge católico e um cristáo nao católico, e os que sao contraídos com um cónjuge nao balizado.
Dificuldades particulares podem verificar-se no tocante á próprla celebrando do casamento, á religiao dos filhos e á fé da parte católica.
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2.
Revistió da legislacáo
Visto que as condicoes sao diferentes ñas diversas partes do mundo, parece útil rever a legislacao referente aos matrimonios mistos; atribu¡r-se-5o as Conferencias Episcopais poderes mais ampios para fixar normas relativas a este tipo de casamento, fícando, porém, firme a obrigacao, do cónjuge católico, de providenciar, segundo as próprias foreas, ao Batismo e á educacao católica da prole. Normas particulares poderáo ser promulgadas, da parte das Conferencias Episcopais, qvando, em certas circunstancias, a fé da parte católica se encontré em perigo. As Conferencias Episcopais nao de mo:trar-se solicitas por proteger a fé do cónjuge católico e por favorecer o Batismo e a educacao católica dos filhos.
3.
Tutela da liberdade religiosa
Os pastores que preparam os futuros esposos para um matri monio misto, estáo obrigados a aplicar todos os esforcos razoáveis para que no futuro um ou oulro dos cónjuges nao exerca indevida violencia sobre as conviccóes religiosas do consorte, ou exigindo
indevidamente a conversao deste ou pondo obstáculos á livre prática da religiáo.
4.
Testemunho de
vida.
É de máxima importancia que o consorte católico tenha urna fé adulta e se torne assim credenciada testemunha da fé. Antes do maís, deve dar tal testemunho no ámbito da familia, mediante a qualidade do seu amor para com o consorte e a prole.
Neste setor, comunidade
a parte católica terá
necessidade
da ojuda
da
(cf. Evangelii Nuntiandi 71).
5.
Aspecto ecuménico
O matrimonio misto, no qual um e outro dos cónjuges crisraos vivem plenamente as sua; conviccóes religiosas, pode assumir um cunho ecuménico. E oportuno promover urna boa colaboracáo entre o ministro católico e o ministro nao católico desde a preparacao da celebracáo do casamento.
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FAMILIA HOJE
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AS TAREFAS DA FAMÍLIA
TRANSMISSÁO E PROTECÁO DA VIDA HUMANA Proposí^ao 21 O amor conjugal sendo
urna
da vida e do amor de Deus, á
participacao
Igreja
no
misterio mesmo
incumbe o missao particular
de proteger a dignidade do casamento e a transmissao da vida humana, criada á imagem « semelhanca de Deus. Foi assim que o Concilio do Vaticano II, assim como a encíclica Humanae Vitae, transmitiram á nossa época urna mensagem profética afirmando clara mente a doutrina da Igreja, sempre aniega e sempre nova, referente ao matrimonio e á transmissao da vida humana. Este Sagrado Sí nodo, em uniao de fé com o sucessor de Pedro, sustenta firmemente o que foi proposto no Concilio do Vaticano II (Const. Gaudium et Spes 50) e, mais tarde, na encíclica Humanae Vitae; em particular, reafirma o ensinamento de que o amor conjugal ha de ser plena mente humano, total, exclusivo e aberto a urna nova vida {cf. Huma nae Vitae 11; cf. 9 e 12).
Proposito 22 O crescente dominio do homem sobre a natureza mediante a técnica nao somente suscitou a esperanza de criar urna humanidade nova e
melhor,
mas tem
angustia sempre mais
despertado
outrossim
profunda em relacño ao
um
senKmento de
futuro. Muitos
per-
guntam a si memos se a vida é um bem e se nao seria melhor nao ter nascido. Por conseguinte, indagam se é lícito chamar á vida
outros seres que correráo o risco de ser condenados a viver num mundo cruel, cujas catástrofes nao podemos prever. Outros ¡ulgam serem eles mesmos os destinatarios pratícamente únicos dos bene ficios da técnica, com exclusao dos outros homens, aos quais expor
ta m copiosamente meios anticoncepcionais. A razao derradeira deste modo de ver é a ausencia de Deus entre os homens, de um Deus cujo amor é mais forte do que todos os possíveis terrores do mundo. Assim surgiu urna mentalidade antinatalista {Antilife menfality), subyacente
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tPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 2G0/1982
eré que a vida, mesmo débil e sofredora, é dom do Deus de bondade. Contra o pessimismo e o egoísmo que acabrunham o mundo, a Igreja se ergue em favor da vida. Em toda vida humana ela vé o esplendor desse Sím e desse Amém que é o Cristo. Ao nao que invade o mundo, ela opóe um sim (cf. 2Cor 1,19); e assim Ela defende o homem e o mundo contra tudo o ,que fere a vida. Com clareza e firmeza a Igreja proclama mais urna vez a sua vontade de promover a vida humana por todos os meíos e de a defender contra os perigos — trala-se da contracepcao, da esterilizacáo,, do aborto, da eutanasia — que ferem a própria vida, qualquer que seja o seu estágio ou condicao.
E por isto que háo de ser reprovadas como grave ofensa á dignidade humana e á ¡usrica todas as atividades de algum Governo ou
de outra auforidade
pública que
tendam
a
limitar de
algum modo a liberdade dos cónjuges na determinacáo do número de seus filhos. Por isto há de ser peremptoriamente condenada e rejeitada toda pressao exercida pelas autoridades em favor da esterilizacáo, da contracepcao ou do aborto. Da mesma forma, ñas rclacoes internacionais é de todo condenável e injusto subordinar a concessao de auxilio económico para o desenvolvimento a um pro grama de contracepcao, esterilizacáo ou aborto.
Proposigao 23 O Sínodo está outrossim consciente dos numerosos e complexos problemas com os quais se defrontam hoje os esposos em varios países. Também nao ignora o problema demográfico da nossa época. A consciéncia de tais problemas acarreto nova confirmacáo áa importancia da auténtica doutrina da l.greja proposta pelo Con cilio do Vaticano II e pela encíclica Humarme Vitae. Precisamente a fim de que essa doutrina seja mais compreendida, se torne mais eficaz e mais ampia mente aceita, este Sínodo lembra as palavras do Papa Paulo VI, ao dizer que a sua encíclica 'ilumina um capí tulo fundamental da vida pessoal, conjugal, familiar e social do ser humano, mas que ela nao aborda de maneira completa tudo o que diz respeito ao homem no tocante ao casamento, a familia e á honestidade dos costumes. E este um campo ¡menso ao qval o ma gisterio da Igreja pode e talvez deva voltar-se para propor mais plena, orgánica e sintética explanacao1 (alocucao da 31/07/1968). O Sínodo, portanto, convida os teólogos a unir seus esforcos ao do magisterio hierárquico para que sejam mais claramente postos
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FAMÍLIA HOJE
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etn relevo os fundamentos bíblicos e as razóes personalistas da doutrina da Igreja. Em vista disto, empenhar-se-ao para que, numa exposicáo 'orgánica e sintética', a doutrina da Igreja referente a este capítulo fundamental se torne realmente acessível a todos os homens
de boa
vontade,
seja
compreendida
mais profunda e assim o mandamento de
de
Deus
maneira
sempre
se cumpra sempre
mais plenamente para a salvacao do homem « o louvor do Criador.
Proposicáo 24 O Sínodo dos Bispos nao desconhece a situacao muito difícil e realmente
angustiante de tantos esposos cristáos que, apesar da sua sincera vontade de observar as normas éticas ensinadas pela Igreja, nao conseguem obedecer as mesmas por causa da sua fraqueza e de dificuldades objetivas.
Na
pastoral conjugal, os
sacerdotes terao
ante
os olhos a
leí da .gradualidade. A sua pedagogia concreta deve estar em coe-
rincia com a doutrina da Igreja e jamáis há de se afastar desta. Tal pedagogia terá por objetivo, antes do mais, levar os esposos a reconhecer claramente a doutrina da encíclica Humanae Vifae como normativa para o exercício da sua próprta sexualidade e a criar as condicóes necessárias a observancia de tal norma. A mesilla pedagogia conjugará a perseverando e a paciencia, a coragem e a humildade assim como inteira confianza na miseri cordia divina, pois, 'se o nosso coracáo nos acusa, Deus é maior do que o nosso coracáo' (Uo 3,20). Por isto em tais circunstancias nao deve haver nem temor nem angustia, mas um amor que afugenta o temor.
Tal pedagogia abrange a vida conjugal por inteiro. O dever de transmitir a vida inseré-se numa vísao global da vida matrimo nial, familiar e social, e até numa visao global de toda a vida crista,
que
nao
pode
chegar
á
ressurreicao sem
a
cruz. Em
tal
contexto compreende-se que o sacrificio nao possa ser afastado da vida familiar e — mais aínda — que deva ser aceito do fundo do coracáo para que assim o amor famliar se torne mais profundo. A continencia, que há de ser considerada como urna atitude positiva da virtude da castidade no quadro da sexualidade, convém, segundo o caso, tanto aos cónjuges quanto as pessoas .que nao estao liga das pelo casamento. Assim o mutuo dom dos esposos torna-se sem pre mais humano e mais auténtico; tornam-se realmente 'urna só
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carne'. Esse caminhar comum exige reflexao, informacao e preparacSo apropríadas dos sacerdotes, dos Religiosos e dos leigos com prometidos na pastoral familiar; antes do mais, dever-se-á levar em conta a necessidade de urna pedagogía que possa acompanhar os esposos na sua trajetória humana e espiritual. Este caminhar inclui
a consciéncia do pecado, o desejo de observar a lei (que nao é um mero ideal para tempos vindouros) e o ministerio da reconciliacáo.
E necessário estarem todos conscientes de que no ato conjugal as vontades de duas pessoas estáo implicadas e cada qual se deve adaptar ao comportamento e as opinioes da outra — o que muitas vezes exige paciencia, compreensao e tempo.
Observando esta lei da gradualidade, nem o sacerdote nem os esposos admitirao urna falsa dicotomía entre a doutrína e a prática pastoral, roas procurarao atingir a plenitude de urna fé adulta, com a mesma paciencia de que o Senhor deu pravas a nosso respeito.
Faz-se misler cuidar cíosamente de que os sacerdotes tenham unidade de ¡ulgamento a fim de nao criar para os fiéis crises de consciéncia.
Proposicao 25
£ necessário efetuar urna pesquisa mais aprofundada, ampia
divul.gacao de informacóes e esforco mais decidido de educacao — acessível principalmente aos pobres — a fim de difundir mais largamente os métodos naturais, científicamente bem estudados, de regulacáo da natalidade, que sejam conformes tanto á dignidade humana como á doutrina da Igreja. Trata-se, com efeito, de autén tica educacao que considera a pessoa humana com todas as suas exigencias.
O ENCARGO DA EDUCACAO Propos¡$ao 26 1. A tarefa educadora da familia tem suas raízes na vocacño primordial dos cónjuges a participar da obra da criacao. Esta tarefa, por efeito do sacramento do matrimonio, tona-se também partici54
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pacóo da obra redentora de Cristo. £ por Uto que urna familia de pessoas balizadas, sendo como que urna igrefa doméstica convo cada pela Palavra de Deus, pela fé e pelo sacramento do Batismo, vem a ser, de certo modo, também
2.
A
máe « mestra.
tarefa de educar é essencial, originaria
e prioritaria;
decorre do fato de que o termo da procríacao é urna pessoa, a
qual só está gerada para urna vida plena quando educada conve nientemente.
3. A responsabilidade da educacao diz respeito, em primeiro lugar, aos genitores e constituí o primeiro dever do seu ministerio conjugal, dever que é intransferivel e inalienável. Todavía todos os membros da familia, em funcao da sua idade e dos seus dons, sao corresponsáveis dessa tarefa.
Visto que a escola, os meios de comunicacáo social e o quadro de vida colaboram para a formacáo dos filhos, os genitores hao de recorrer, na medida do possivel, a tais elementos; procurarao observar a influencia dos mesmos sobre os filhos, acompanhar a estes com solicitude e amor para integrá-los progressivamente no mundo (cf. Instrucao Pastoral Communlo et Pragressio 64-70). 4.
Os genitores educam seus filhos :
1)
pelo seu testemunho de vida ;
2) pelo clima de sobriedade e responsabilidade, de ¡ustica e de amor, de paz e de oracao que possam criar no lar ¡ 3) pelo ensinamento da fé crista simples, tuno e progressivo, desde os primeiros anos;
adaptado, opor
4) mediante um diálogo íntimo com os filhos, em clima de respeito, confianca e amor, no qual tanto os genitores quanfo os filhos escutam e aprendem, s«m que seja prejudicada a autoridade dos pais ;
5) mediante a insercao dos filhos, a parficipacao e o cumprimento -fiel e lentamente progressivo das tarefas dos filhos na comunidade eclesial e na comunidade civil;
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61 mediante um diálogo, dieio de confianza, com sobre o misterio da vida (educacáo da consciéncia) ; 7) vocacáo
os filhos
oferecendo prudente ajuda aos filhos na escolha da sua (cf. Apostolicom Actuositalem 11).
Proposigao 27 1. A missao educadora da familia, grabas ao sacramento do matrimonio, é elevada ao nivel de auténtico ministerio pelo qual o Evangelho é transmitido e resplandece, a tal ponto que a vida familiar se torna um itinerario de fé e urna especie de iniciacSo crista. Muito mais: a familia deve tornar-se a escola na qual se aprende a seguir o Senhor. Numa familia consciente deste dom, todos os membros evangelizan) e, ao mesmo lempo, sao evangeli zados (Evangelü Nuntiandi 71). 2.
Em virtude da sua funcao educadora, que decorre do ato
de gerar e do sacramento, os genitores sao, antes do nvais, pelo testemunho de sua vida, os primeiros mensageiros do Evangelho para os seus filhos desde a infancia. Muito mais: rezando com eles, entregando-se á leitura da Palavra de Deus, levando os filhos, através dos graus da iniciacdo crista, para o interior do corpo de Cristo — a saber, corpo eucarístico e corpo eclesial —, tornam-se
genitores em sentido pleno, ... genitores nao somente da vida carnal, mas também da vida suscitada pela renovacao do Espirito Santo e fundamentada sobre a cruz e a ressurreicáo de Cristo. 3. Para atingir esses objetivos, é útil que os genitores disponham do texto de um catecismo confeccionado para as familias, texto que seja claro, breve e fácil de se decorar.
Proposigáo 28
j
! i |
| [
|
1. A educacáo para a fé engloba educacáo para o verdadeiro amor. A familia, como comunidade de amor e de vida, é o ambiente principal da educacáo para o amor; a realidade cotidiana da fa-
mília pode, na verdade, cer considerada como urna pedagogía para a doacao (se¡a educacáo para o amor que gera a vida, seja educacao para a amizade, para a mutua benevolencia entre ¡ovens e
adultos, em virtude da qual estes abrem os nimos uns aos outros, compartilham as suas razoes de viver, seja também educacáo a servico dos outros).
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2. A fim de que esta educacao seja auténtica e realmente humana, é preciso levar em conta a unidade de corpo e alma, unidade na qual a sexualidade humana mostra o seu sentido mais profundo: o de ser orientada para o dom de si mesma, segundo o
designio de Deus Criador assumido pelo Redentor. É nesfe sentido que deve ocorrer a educacao da sexualidade e da afetívidade, ñas
ccndicóes de tranqüilidade e de
paz
próprias da
familia.
É
por
isto que a Igreja se opóe firmemente a certa educacao ■ sexual que,
militas vezes, é apenas urna introducao a métodos para adquirir o prazer e obté-lo sem perigo. Na medida em que a escola colabora
paro a educacao sexual, deve observar estritamente a lei de subsidiariedade e cooperacao com os genitores segundo as mesmas diretrizes. 3.
Todas estas
verdades podem ser ensinadas
na
familia
a
partir da infancia, antes pelo testemunho de vida do que por palavras; sao progressivamente compreendidas e
levadas
á
maturidade
pela experiencia e pelo diálogo de cada dia, de modo a favorecer a capacidade de autodominio e de autodoacáo que é sempre vivida
na castidade, seja no dom de si para testemunhar o Reino na virgindade, seja no matrimonio vivido no Senhor.
Proposito 29
1.
...
O direíto,
dos
país, de
escolher
urna
educacao
de
acordó com a sua fé religiosa deve ser totalmente salvaguardado. O Estado e a Igreja estao obrígados a oferecer as familias todos
os subsidios possíveis para que possam exercer as suas tarefas de modo condigno. Eis por que tanto a Igreja quanto o Estado hao de criar e sustentar as ¡nstifuicoes e as atividades de .que necessitam as
familias. Esse auxilio há de ser tanto mais vultoso quanto
menos
auto-suficiente é a familia... 2. Nos países em que ideologias opostas á fé crista sao ensi nadas ñas escolas, a familia, unida a outras familias e, se possivel, a assodacdes de familias, deve lutar com todas as suas foreas e com inteligencia para ajudar os jovens a nao se afastarem da fé. Em tal caso, a familia precisa da a¡uda especial dos pastores, que se recordarao de que os genitores tém o direito inviolável de confiar seus filhos á comunidade eclesial.
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A PREPARADO PARA O CASAMENTO Proposisóo 35 O matrimonio cristáo constituí a relacao humana mais profunda e complexa, da qual dependen) o bem-estar e a santidade de grande número de homens e de mulheres. Por isto á Igreja toca o dever de elaborar urna pastoral pré-matrimonial precisa, de modo a evitar, em toda a medida do possível, as situacóes irregulares ñas quais se encontram tantos casáis. Isto implica que se exijam a fé e urna
maturidade humana capaezs de assumir as responsabilidades fami
liares e sociais. Tal preparacáo processo continuo e progressivo.
há de ser considerada
como um
A preparacáo remota comeca no seio da familia; da parte da Igreja, ha¡a a solidtude pastoral da iniciacáo crista.
Na preparacáo próxima, sejam transmitidos o reconhecimento e a interiorizacao do misterio de Cristo e da Igreja, assim como o conhecimento das exigencias reais e das responsabilidades do sa cramento. Podem considerar-se como objetivos desta preparacáo os seguintes: os futuros esposos considerem e vivam o seu amor como urna parlicipacao no amor de Deus manifestado no amor de Cristo á Igreja; tornem mais profunda a sua fé como vocacao á santi dade e ao dom de si; considerem o matrimonio como sacramento da presenca de Cristo na sua vida cotidiana; enfim, vejam ñas suas relaces sexuais um aspecto importante da sua unido sacramental.
A preparacáo próxima torna-se cada vez mais difundida e tem dado bons frutos. É um servico que se presta a todos os futu ros esposos, mas particularmente aqueles que sao carentes seja de
doutrina, seja de prática de fé. Ela se realiza proficuamente com o auxilio de leigos dedicados, de todo o coracao, á vida e á dou trina; alias, é no seio da familia e da própria com un ida de que ela dá os melhores resultados. Tal preparacáo deve ser como urna ¡ntroducao á fé, á semelhanca de um catecumenato. As Conferencias Episcopais e as dioceses editem, em Diretórios de Pastoral Familiar, normas referentes ao conteúdo mínimo, á duracao e aos métodos a aplicar nos cursos de preparacáo ao casamento. Ai seráo considerados os aspectos doutrinários, pedagó gicos, jurídicos e medicináis do sacramento. A preparacáo dos
futuros esposos nao há de ser apenas intelectual, mas será fambém — 58 —
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urna experiencia vital, de modo que os futuros esposos sejam inse ridos, mediante unía especie de catecumenato, na comunidade eclesial viva, por exemplo ñas paróquias.
Todavia os programas de tal preparando hao de ser concebi dos de tal modo .que nao con:tituam novo obstáculo para os futuros esposos.
AS RELAGÓES FORA DO CASAMENTO Propasado 40 O fenómeno que consiste em contrair urna uniao dita 'casamento
de experiencia'
propaga-se rempre mais e alguns chegam a
roco-
nhecer certo valor a tal uniao.
Á luz mesma da razao humana, qualquer tipo de experiencia feita
sobre pessoa há de ser rejeitado, ou melhor nem deve ser concebido. Com efeito, as coisas é que podem ser objeto de expe riencia, ao passo que as pessoas vém a ser o termo de um ato de amor ou do urna pessoa a outra, sem limite de tempo. A luz da fé, o dom da pessoa
inteira
que
do, corpo é símbolo
nao
pode
ser
real e táo profundo
praticado sem
o
auxilio
do
amor de Cristo recebído mediante o sacramento do matrimonio (cf. Proposicoes 8-11). Em caso contrario, este dom está continua mente sujeito ao perigo da presuncao e da mentira. O Sínodo recordó, pois, que esta tentacao (das relacoes extra-con jugáis) via de regra só pode ser superada se, desde a infan cia, a pessoa humana foi educada, mediante a grasa de Cristo e sem angstia, para vencer a concupiscencia nascente e estabelecer relacoes de auténtico amor com outras pessoas. Tudo isto só poderá
ser adquirido se houver auténtica educacao para a castidade, de maneira que a pessoa humana, na sua totalídade e, por conseguinte, também em seu corpo, seja plenamente introduzída no mis terio de Cristo. Faz-se mister procurar as causas do fenómeno das relacoes exIra-conjugais, inclusive sob os aspectos psicológicos e sociológicos, a fim de se encontrar urna
terapia
adequada.
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Proposito 41 Um fenómeno que nao pode deíxar de chamar a atencao dos pastores, é o nmero crescente de unióes ditas livres. As sítuacoes, porém, sao bastante diversificadas: alguns, apesar do seu senso conjugal, renunciam ao casamento socialmente ratificado para evitar algum daño. Outros repudiam o casamento, mesmo civil, por desprezo da sociedade ou a fim de protestar contra a ordem sócío-política.
Outros enfim
ao seu apetite sexual gravidade
da
situacao
só
procuram
uniáo
ou assegurar-lhes torna-se
ainda
destinada
a
o bem-esatr mais
evidente
satisfazer
material. em
A
conse-
qüéncia da tendencia de equiparar tais unioes livres com o próprio casamento.
As conseqüéncias moráis e sociais de tal prática sao desastro sas; inflige-se um golpe irreparável ao senso de fidelidade, do qual é preciso dar testemunho também no plano
social; destrói-se assim
a célula me:ma da sociedade. Muitas vezes a situacao dos filhos se torna deplorável e, como mostram os psicólogos, sofrem de traumas, por todo o resto da vida. Enquanto a familia é o foco do senso de humanitarismo, tais unioes se tornam um foco de egoísmo. Assim também se perde o senso religioso, que há de ser cultivado
á luz da alianza de Deus com o seu povo; os que procedem de tal maneira,
privam-se
da
graca
sacramental
e,
mais,
causam grave
escándalo.
O zelo pastoral deve nao só procurar com grande solicitude as pessoas que vivem em tais circunstancias, mas deve também cultivar com maior coeréncia o senso de fidelidade em toda a edu ca cao moral e religiosa, instruindo as pessoas também a respeito da; condicoes e das estruturas que p rom ove m o espirito de fideli dade, sem o qual
nao pode existir auténtica liberdade.
É preciso instantemente pedir as autoridades políticas que resistam eficazmente a tais tendencias nao só em vi*ta da estabilidade da própria sociedade, mas também por causa da dignidade, da seguranca e da saúde dos cidadáos. Todavía é diferente a situacao de rapazes e mocas que, ho¡e, em numerosas regióes, por causa da pobreza provocada pelas atuais estruturas económicas, estao praticamente na impossibilidade de contrair matrimonio decente. Eises jovens háo de ser anudados para que a pobreza nao constitua obstáculo ao seu casamento.
— 60 —
FAMILIA HOJE
61
CARTA DOS DIREITOS DA FAMÍLIA (ELEMENTOS) Proposigáo 42 O Sínodo formula votos
no sentido de que i Santa Sé pro
mulgue urna Carta dos direitos da familia e a proponha as Nacoes Unidas (ONU). FUNDAMENTO
1. A familia é a célula básica da sociedade, sujeito de di reitos e deveres, anterior ao Estado e a qualquer outra comunidade. 2. O Estado, por suas leis e instituicóes, deve reconhecer a familia e protegé-la respeitando a sua liberdade e oferecer-lhe o seu
apoio sem se substituir a própria familia.
CONTEÚDO O direíto : 1. de existir e de se expandir como familia, isto é, o direito, de todo homem e, em particular, dos pobres, de fundar urna fami lia e de manté-la mediante recursos apropriados ;
2. de exercer a sua missao de transmitir a vida a partir do momento da conceicao e de educar os filhos;
3.
a intimidado da vida tanto conjugal como familiar ¡
4.
á estabilidade
5.
de crer e de professar a sua própria fé e de difundi-la ;
do liame
e
da instituicáo conjugal;
ó. de educar os filhos em conformidade com as suas tradicóes e os seus valores culturáis e religiosos, gracas aos instrumen tos, aos meios
e as
¡nstituicóes
necessárias para tanto ;
7. de gozar de seguranza física, social, política e económica, principalmente em favor dos seus membros pobres e doentes ; 8. o direito decente ;
á
habitefeáo
adequada
— 61 —
a
urna
vida
familiar
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9. de expressño e de representacao diante das autoridades públicas, sociais e culturáis e de seus organismos dependentes, seja pesoalmente, se¡a mediante assodacóes ;
no
10. de criar associacoes com outras familias ou ¡nstituic.6es intuito de cumprir a sua missáo como convém e com compe
tencia ;
11. de proteger os menores, mediante inslituicoes e apropriadas, contra as drogas, a pornografía, o alcoolismo,
leis etc.
12. direito a lazeres honestos que favorecam ao mesmo tempo os valores da familia ; 13.
o direito das pessoas idosas a urna vida
e a urna morte
dignas;
14. o direito de emigrar melhores condicdes de vida».
II.
como
familia,
a fim
de
procurar
COMENTARIOS
Abordaremos cinco aspectos da familia contidos ñas pro positóos atrás transcritas.
II.
1.
Fé e Sacramento
(Proposí?ao 12) O sacramento do matrimonio supóe a fé nos nubentes que o contraem; na verdade,
os cónjuges sao,
um para o outro,
ministros da graga sacramental. Todavía em nossos dias ocorre que nao poucos jovens pecam o casamento religioso, movidos pela rotina e a convengáo sociais mais do que por fé religiosa. O fato leva os pastores da Igreja a hesitar sobre a oportunidade de se celebrar tal casamento. Como se compreende, nao se pode formular urna resposta
válida para todos os casos. É certo que o desejo de se casarem na Igreja pode indicar certo grau de fé da parte dos nubentes. Mas será preciso que os ministros da Igreja ajudem tal fé a crescer e a manifestar-se mais explicitamente, dedicando-se assiduamente á preparagáo de tais cristáos para a celebragáo — 62 —
FAMILIA HOJE
63
consciente do sacramento. Os nubentes que, ao ministraren!
um para o outro o sacramento do matirmónio, devem ter a
intengáo de fazer o que faz a Igreja, também háo de professar a intencáo de crer ñas verdades que a Igreja professa. O Sínodo recorda aínda que o matrimonio validamente contraído por duas pessoas nao batizadas, com base na lei na tural, é dotado das notas de unidade (monogamia) e indissolubilidade do contrato matrimonial natural.
II.
2.
IndissolubiHdade e divorcio (Proposígoes 13 e 14)
A indissolubilidade matrimonial, que tem suas raizes na própria lei natural, é corroborada pela elevagáo do contrato natural á dignidade de sacramento.
Merecem todo elogio os cónjuges que lutam para se manter fiéis á indissolubilidade do seu casamento. Quanto aqueles que, por algum motivo, tenham pedido divorcio e contraído nova uniáo (nao sacramental), a Igreja nao os abandona, embora proclame a ilegitimidade da sua nova uniáo e nao Ihes
possa ministrar os sacramentos da Penitencia e da Eucaristía enquanto vivam conjugalmente. Como quer que seja, os pas
tores de almas estimulem tais católicos a rezar, a freqüentar a S. Missa (aínda que nao comunguem), a participar das obras de caridade e justica'da sua paróquia, a educar os filhos na fé católica e a fazer penitencia. É de crer que Deus, em sua misericordia infinita, tenha recursos para fazer que tais cató licos recuperem a grasa perdida e terminem seus dias na paz do Senhor. Tais
irmíios
poderáo
ser
admitidos
aos
sacramentos,
caso renunciem a viver conjugalmente, aínda que permanegam sob o mesmo teto (o que é muito difícil enquanto nao atingem a velhice).
II.
3.
Matrimonios, mistos (Proposito
19)
Os matrimonios mistos, isto é, de parte católica com parte nao católica, nao sao desejáveis, pois fácilmente propiciam um clima de relativismo ou indiferentismo religioso ; os filhos, vendo que cada qual dos genitores segué urna confissáo de fé — 63 —
64
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diferente, carecem do testemunho de coeréncia religiosa dos próprios país e nao se sentem motivados a abragar um Credo definido. Como quer que seja, a multiplicagáo dos matrimo
nios mistos é fato evidente, que a Igreja nao pode deixar de considerar de frente.
Para poder consentir no casamento misto de algum de
seus filhos, a Igreja "pede: a) haja fidelidade as normas ca nónicas referentes ao modo de celebrar a cerimónia religiosa;
b) haja empenho em favor da preservacáo da fé do cónjuge
católico;
c)
comprometa-se a parte católica a providenciar,
segundo as suas possibilidades, o Batismo e a instrucáo reli
giosa católica dos filhos. — Os itens b e c sao extremamente delicados. O Sínodo faz votos para que nao haja entre os cón-
juges proselitismo, ou seja, tentativas desrespeitosas e deso-
nestas, por parte de um dos consortes, de converter o outro a
sua própria fé. Quanto á prole, é necessário que o cónjuge católico se esforcé sinceramente, diante de Deus, para que nao caia no indiferentismo religioso, mas receba o Batismo e a instrucáo na fé católica.
Sob certos aspectos, os matrimonios mistos sao contrarios
á causa do ecumenismo, que é a re-uniáo de todos os cristáos num só rebanho sob um só pastor visível. Sim ; as unióes mistas tendem a relativizar a fé no lar, diluindo o testemunho de fé dos pais perante os filhos. Por outro lado, porém, regístram os Padres sinodais, os casamentos mistos podem favo recer o diálogo interconfessional, dando ocasiáo a que colaborem entre si o ministro católico e o nao católico na mutua aproximagáo das suas comunidades.
II.
4.
As tarefas da familia (Proposicoes 21-29)
O texto sinodal lembra e reafirma os seguintes pontos : 1)
É válida a doutrina da encíclica Iluinanae Vitae, que
rejeitou os métodos anticoncepcionais de limitacáo da prole e
incutiu a observancia dos ciclos naturais do organismo. A esta exigencia satisfaz, entre outros, o método Billings, que vem
sendo aperfeicoado e divulgado entre nos; possibilita definir com precisáo os dias em que o organismo feminino é fecundo e, portanto, deve evitar relagóes conjugáis prole).
— 64 —
(se nao quer ter
FAMILIA HOJE
65
Os Bispos sinodais reconhecem as dificuldades que a mui-
tos casáis tem causado a encíclica Humana» Vitae: as normas
contidas nesta parecem exigentes demais ou mesmo imprati-
cáveis. Frente ao problema o Sínodo recomenda urna pedago
gía gradativa mediante a qual o ser humano se vai dirigindo a metas cada vez mais elevadas. A consciéncia dos cónjuges, auxiliada por sacerdotes devidamente preparados, há de compreender que a lei nao é mero ideal para mr futuro remoto
ou incerto, mas apresenta um objetivo que com a graga de Deus, esforzó paciente e compreensao mutua há de ser atin gido. Aos pastores de almas toca importante funcáo de orien-
tacáo e apoio aos casáis católicos; para desempenhá-la, pro-
curaráo tornar-se auténticos porta-vozes da doutrina da Igreja
e evitar divergencias entre si, que causariam crises de conscicncia entre os fiéis.
A Igreja deseja ainda que se promova ampia divulgagáo do que sejam os meios naturais de limitagáo da prole de modo que todas as carnadas sociais tenham exato conhecimento de tais recursos.
2) Haja recusa de qualquer forma de violencia contra a vida humana, seja mediante o aborto, seja mediante a esterilizacáo ou a eutanasia. — O aborto, em hipótese alguma, é legitimo, pois sempre redunda num homicidio; quaisquer que sejam as circunstancias da sua conceicáo, a crianga é táo au
téntico ser humano como o -sao os seus genitores, como o sao os maiorais da sociedade, como o sao os anciáos, os doentes crónicos, os paralíticos, etc. — No tocante á eutanasia, sabe-se que a Igreja a rejeita quando se trata de eutanasia direta (ocisáo voluntaria de um enfermo). Todavía a Igreja pro
clama que nao há obriga?áo moral de conservar a vida humana á custa de recursos altamente vultosos, raros e dispendiosos se tal sacrificio nao tem serias probabilidades de éxito, ou seja, se o fim que se pode esperar obter desta forma nao é propor cional aos meios aparatosos assim mobilizados (tais foram os casos, por exemplo, do Goneralíssimo Franco e do Presidente Tito).
3)
A preparagáo para o casamento tem suas raizes no
próprio tipo de educagáo que a pessoa recebe. Se esta enca-
minha o educando para a vida comunitaria, para o dom de si,
o servigo e a benevolencia.... nao há dúvida de que o prepara
para a vida conjugal, que nao é senao a vivencia mais estrita
possível de tais valores tanto da parte do homem como da — 65 —
66
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parte da mulher. A educagáo sexual integra a preparado para o casamento, nao, porém, como mera instrugáo de anatomia e fisiología, mas como escola de disciplina e procura do Bem Infinito.
4) Á familia toca o direito de educar seus filhos segundo sua livre opgáo e, em especial, segundo a fé religiosa que ela professa. No exercicio desta sua missáo, possa a familia con tar com os subsidios do Estado e da Igreja!
II.
5.
Relajees extra-conjugais
(Propos¡c.oes 40 e 41) Aos olhos da fé, a doagáo do corpo humano que ocorre no relacionamento sexual, é algo de táo profundo que nao se pode efetuar sem o auxilio do amor de Cristo pela receppáo ao sacramento do matrimonio. Dai a rejeigáo, por parte da Igreja, dos «casamentos de experiencia» e das relagóes pré-matrimoniais. Para que os jovens possam evitar os desman
dos pré-conjugais, requer-se recebam a adequada educagáo para a castidade (que seja também iormagáo para o reto uso da sexualidade) no ssio da própria familia. Sao de lamentar cutrossim as chamadas «unióes livres», que a opiniáo pública por vezes tende a equiparar ao próprio casamento legítimo. Os filhos sao as grandes vítimas de tais desordens cometidas pelos adultos, podendo vir a sofrer de traumatismos psicológicos durante toda a sua vida. Faz-se, pois, mister que a solicitude dos pastores se volte para tal fenómeno, dedicando especial atengáo á formagáo dos jovens e ao fortalecimento de saos principios éticos entre os adultos. Como se vé, o texto do Sínodo dos Bispos de 1980 é rea lista e preciso, de modo a projetar a luz do pensamento cristáo sobre a situagáo da familia nos dias atuais. Mesmo antes da publicagáo do documento final por parte do S. Padre Joáo
Paulo II, merecem plena atengáo as observagóes e adverten
cias dos Bispos Sinodais sobre o matrimonio, o lar, a educagáo dos filhos,. o papel da Igreja e do Estado frente á familia nos dias atuais. Estcvao Bettencourt O.S.B.
— 66 —
livros
em
A Fé da Igreja, por Mlchael viduo e Escatologia. TraducSo de Vozes, Petrópolis 1981, 160 x 230 Chega ao fim a publicacáo
estante
Schmaus. Vol. 6: Justifteacao do indi Frei Alvaro Machado da Silva. — Ed. tnm, 242 págs. do compendio de Teología Sistemática
do autor alemao Michael Schmaus. A obra é de grande porte, dlstlngulndo-se pela profundldade e a seguranca de suas explanares teológicas. Schmaus propde o tratado da grasa de modo a incluir, como último capitulo
a Mariologia. O autor discute o lugar adequado desta no con-
lunto deis temas teológicos; a Mariologia deveria ser cristotlplca (dlretamente relacionada com a figura de Cristo) ou ecleslotlplca (relacionada, antes com a doutrlna da Igreja)? Sem desdizer á opefio feila pelo Con cillo do Vaticano II na Constituicao Lumen Genttum, cap. VIII, Schmaus prop6e María como aquele membro da Igreja que fol redimido e justificado de manelra suprema e excelente. Daí a Mariologia ser o fecho do tra
tado da graca, conforme Schmaus. Multo valiosas sao as ponderacóes do teólogo alemSo sobre a res-
surreicSo dos corpos e a imortalldade da alma; nao aceita a tese da ressurrelcao logo após a morte: "A doutrina da imortalldade da alma nSo fol tomada do pensamento grego como um corpo estranho e incorporada Ilegítimamente ao pensamento crlstao. Mas a filosofía platónica fol utilizada como um meló para explicar o que na Escritura estava sem esclarecimento. Chegou-se ao resultado de que o homem sobrevive á morte pelo tato de que, embora se dlssolva o estrato corporal, nlo obstante, existe outro estrato, que se conserva. E este segundo recebeu o nome de espirito ou alma" (p. 210). A bibliografía teológica do Brasil está enriquecida pelos seis volu-
mes de "A Fé da Igreja" de Schmaus, que podem ser recomendados a quantos desejem conhecer melhor a sua fó, aprofundando e saboreando devldamente os aspectos da mesma.
Ensato de Ética Sexual, por Jaime Snoek. Ed. Paulinas, SSo Paulo 1981, 126 x 200 mm, 298 págs. O título "Ensalo..." bem exprime a intencao, do autor, de nao diri mir ouestaes disputadas de Ética Sexual. A Padre Jaime Snoek é professor
de Ética Sexual na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG); publica
neste livro os resultados adquiridos através de seus estudos e aulas aten-
dendo á "expectativa de renovacSo profunda que todo mundo desejava" (p 9). Sem dúvlda, o Pe. Snoek traz ampia bagagem de lelturas e aborda
de maneira exaustiva o assunto. Todavía em certos pontos como mastur-
bacSo reiacSes sexuais entre noivos, Imaginacñes eróticas, (in)fidelidade
conjugal, mostra-se propenso a legitimar atitudes Mvres. Os criterios ado tados pelo autor sfio freqüentemente os da psicología; desejar-se-la maior
valorizacño da ascese e da disciplina de vida, absolutamente necessárias para que se forme urna personalldade harmoniosa e Integrada. Sem renuncia e ascese, o ser humano perde a capacidade de autodominio e vé-se freqüentemente traído por si mesmo, conforme apalavra do Apos tólo- "NSo compreendo o que faco, pols nSo fago aquilo que quero, mas,
slm.'aquilo que aborreco" (Rm 7.15). A natureza humana real ou histórica nfio é a que Jean-Jacques Rousseau Imaginou, mas, slm, aquela que Sao
Paulo descreve em mals de urna passagem de suas cartas: "Os desejos da carne sao opostos aos do espirito, e estes aos da carne, pols sSo con trarios uns aos outros. É por isto que nao fazeis o que quererleis... Os que sSo de Cristo cruciflcaram a carne com as suas paixdes e apetites" (Gl 5, 17.24). Estas palavras do Apostólo nSo nao de ser entendidas em sentido maniqueu, mas, sim, como convite á ascese entendida como fator que liberta o homem da escravldfio das
— 67 —
paixóes.
Serla oportuno que o
gg
UVROS EM ESTANTE
llvro em pauta se referisse mais vezes a esta visño paulina do ser humano. Como quer que seja, devem-se reconhecer a sinceridade de Intencdes e
a erudlcSo do Pe. Snoek, que, segundo o Sr. Arcebispo D. Juvenal Rorlz, quls, antes do mais, escrever um lívro "para ser contestado, criticado, para asslm ajudar a descobrir novas pistas" (p. 7).
Historia dialética do Crlsifanispio. Vol. I: Dialética da Unhrersalfdade e Dlaléltca da Unldade, por Dadeus G rings. Colec&o "Pensamento" — 7. Escola Superior de Teología SSo Lourenco de Brindes, Porto Alegre 1981, 154 x 221 mm, 247 págs.
O Pe. D. Grings é conhecldo por seus estudos filosóficos e teoló
gicos escritos antes que, em 1981, fosse chamado do Seminario de Vlamáo (RS) para ocupar Importantes funcdes na Secretaria de Estado do Vaticano.
O autor aprésenla o primeiro volume de urna Historia Dialética da Igreja. O titulo é justificado logo ñas primeiras páginas do livro: segundo Hegel, a historia procede dialeticamente, isto é, por tese, antítese e síntese; toda proposicSo encontra a sua réplica, que se funde com a proposlcáo Inicial na slntese; esta, por sua vez, se torna urna tese, que é contradltada e provoca nova sfntese. Ora também a historia da Igreja, segundo o Pe. Grings, pode ser considerada dentro desta perspectiva. O autor pro cura, portanto, mostrar como assim procedeu a evolucüo do Cristianismo no tocante á sua expansáo territorial (unlversalidade) bem como no
concernente ao desenvolvlmento doutrinário (unidade). Deve abordar em volumes subseqQentes a dialética da organizacio da Igreja, a do heroísmo, a da Liturgia, a da cultura, a da política, a da arte... Julgamos o trabalho do Pe. Grings assaz original; o autor executa a sua tarefa com perspicacia histórica e bons criterios de julgamento. Cremos, porém, que este método novo nSo substituí a narracSo sucessiva dos acnteciments da historia da Igreja, século por século; este método clássico tem a vantagem de mostrar panorámicamente a realidade da Igreja no seu desabróchamelo paulatino; Ji5o excluí a filosofía ou a teologia da historia da Igreja, pois através desta se manifesta a multiforme sabedorla de Deus, conforme Sio Paulo (Ef 3,10). Procurar enquadrar a historia dentro de algum esquema pré-definido pode vir a ser tarefa artificial, pois na verdade a vida dos homens, por mais sujeita a leis psi cológicas que esteja, tem sempre um qué de liberdade e imprevisibilidade. Saudamos o novo livro do Pe. Grings com a alegría e a gratldüo do estudioso que deseja descobrir sempre novos aspectos da verdade. A auem Iremos, Senhor? ExplicacSo do Credo para adultos, pelo Pe.
Lulz Cechlnato. — Ed. Vozes, Petrópolis 1981,
135 x 210 mm, 230 págs.
É grande a necessldade de sólidos manuais de enslno religioso católico fiéis á próprla mensagem da fé e ás dlretrizes do magisterio da
Igreja. Ora o livro do Pe. Cechinato corresponde, sem dúvlda, aos anseios de termos um bom compendio da mensagem católica escrito em linguagem simples e clara: em 35 Ucees de 5/7 páginas aprésenla cada tema do Credo e assuntos conexos, propondo no fim de cada capitulo um breve questlonário que ajuda o mestre e o discípulo a recapitular a ma teria. Os pontos mais discutidos da doutrlna católica sao expostos com firmeza fidedigna, como se pode depreender dos capítulos sobre o pecado original (cf. págs. 72-77), sobre a ressurreicSo dos morios (cf. págs. 163-168), sobre a confissao sacramental (cf. págs. 157-162). O livro contém outrosslm alguns capítulos de fndole apologética destinados a ajudar (continua na pág.
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EDIQOES LUMEN CHRISTI
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Edicao bilingüe (Latim-Portugués) e só em portugués, para uso nos mosteiros beneditinos. O texto latino é da novíssima vulgata (25.04.1979) aprovada por
Joao Paulo II . Os 150 salmos em traducao oficial da CNBB, aprovada pela Comissao Episcopal de Exame e Aprovacao dos Textos Litúrgicos (CEEATL) Os 75 Cánticos bíblicos sao traduzidos por Dom Marcos Barbosa. Para uso coral ou individual, tipos bem legfveis, incluidos (em itálico) os versículos e salmos imDre-
catórios).
A PALAVRA DO PAPA: coletánea de algumas homilias, discursos e alocucoes do Santo Padre pronunciadas por ocasiáo de suas viagens apostólicas, bem como de Do cumentos da Santa Sé:
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