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Produto: EST_SUPL1 - INFORMATICA - 4 - 15/06/09
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SEGUNDA-FEIRA, 15 DE JUNHO DE 2009 O ESTADO DE S. PAULO
SEGUNDA-FEIRA, 15 DE JUNHO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
CLAYTON DE SOUZA/AE
SERGIO NEVES/AE
ARQUIVO PESSOAL
Ao tornar-se portátil e digital, a música vem mudando o comportamento daspessoasaomesmotempoemqueestas mudamsuarelaçãocomamúsica
‘O universo musical é mais rico hoje que antes da web’
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Cada vez mais sozinhos ou mais conectados? Música :LUCAS PRETTI Há30 anos levamosa músicano bolso (e nos fones de ouvido). E faz 10 anos que ela também está solta por aí, pela rede. Isso nos coloca no olho do furacão digital – enquanto nos isolamos na própria trilha sonora, ouvimos músicaquevemdetodososcantos da rede. Cada vez mais conectados e cada vez mais sozinhos. Ou seria o contrário? Veja o caso do publicitário e músico Felipe Daros, 25 anos. Ele resume o que entendemos como hábitos digitais (e musicais) do início deste século. Só ouve as faixas que baixa da internet ou indicações de amigos, que passam músicas para ele via pendrives ou redes sociais, como Twitter ou Last.fm. Não tira os fones do ouvido nem para almoçar e pouco liga para a possibilidade de perder o sabor do acaso na rua (um cumprimento, o som de algo que passa, conhecer alguém no ônibus).
Trilha sonora: ‘Prefiro criar meu mundo nos fones de ouvido’ É um comportamento social dúbio,claro.Darosestá ultraconectadoe,aomesmotempo, isolado. “A vida já é tão opressora, que prefiro criar meu próprio mundo nos fones de ouvido”, diz. “De manhã, acordo e fico tranquilo em casa, ouvindo música. À noite, gosto de andar pela rua, procurando um bar por Pinheiros e ouvindo algo que ainda não conhecia.” Daros comprou um fone com supressor de ruídos, que o deixa quase surdo ao que o rodeia. “Tenho medo de ser maleducado, de não perceber algumascoisas. Mas poderiaperder oportunidadesa qualquerhora, por qualquer outro motivo.”
O que está em jogo quando o assunto é a música do presente é a escolha entre plugar ou não a audição – seja à rede ou à rua. A jornalista Natália Garcia, também de 25 anos, fica entre um e outro. Ciclista, ela coloca o fone só na orelha direita. “A esquerda fica livre para ouvir o trânsito e prevenir acidentes.” “Quando estou na bicicleta, não vou faço social com as pessoas,entãoescuto.”Natáliaconcorda com a máxima introduzida pelo cinema ao mundo contemporâneo: a vida tem trilha sonora. Então escolhe músicas conformeoslugares quevai frequentar e de acordo com o seu estado de espírito. “Mas, muitas vezes, tiro o fone do ouvido para prestar atenção nas conversas que parecem ser interessantes”, diz, rindo. Ela não ouve rádio tradicional e baixa as músicas preferidas pela internet. Depois da bicicleta, passou a ouvir álbuns inteiros, já que é difícil trocar de faixa, pedalar e conduzir. O cenário tende a mudar ainda mais – piorar ou melhorar, dependendo da perspectiva. O fenômeno das redes sociais não dá indicações de retrocesso, muito menos o da cultura livre, nem o mercado de portáteis. Isso só poderia resultar numa juventude adepta de tecnologias. Aos 18 anos, o estudante Rafael Pacheco não tira o fone de ouvido nem para conversar com os amigos. “Eu nunca pego as coisas de primeira”, ri. Poupaosouvidos apenasquandoestá no computador, porque ali há outras coisas para ouvir – vídeos, etc. “O barulho do ônibus me irrita, então ouço música.” Essageraçãojáforjaumanova metáfora – milhares de pessoas ouvindo suas próprias trilhassonoras, mastrocando músicas entre si. Isso é um reflexo de outras vertentes do comportamento digital (lembre-se do sujeito enterrado no laptop, aquele cara que não desgruda do celular ou o gamer que não sai do quarto), que nos torna, cada vez mais, isolados e reunidos, ao mesmo tempo. ●
Há 30 anos, walkman fazia a música andar Todo mundo vê um desses todos os dias: fone plugado no ouvido e olhar perdido, ele emite um som que fica entre o “pxxx pxxx pxxx” e o “tsss tsss tsss”. Do lado de lá, o chiado é o que sobra para o mundo da música favorita dele, o olhar perdido é fruto da imersão e o som está bem alto. Se daqui ele tem jeito de zumbi surdo, de lá é o mundo que parece dormente e mudo. As pessoas podem ser divididas entre quem ouve música no talo e quem ouve o ruído gerado pelo vazamento do som – que, diga-se, é bem irritante. No metrô de São Paulo, nos vagões que têm televisão, uma campanha pede aos usuários que controlem o volume do toca-MP3 para não incomodar o resto do mundo. Para a pessoa com fone de ouvido, esse resto do mundo tem um quê de cenário; a música,é trilhasonora; e ele,bem, é o protagonista. O tocador de música portátil,essedispositivo capaz de transformar o dia em uma espécie de trecho de filme, virou ícone dos ensimesmadosesímbolo desta geraçãoque supostamente sofre de excesso de individualismo. Acontece que a ideia de submergir em uma trilha sonora individual tem 30 anos. Já atraves-
sou, portanto, algumas gerações – provavelmente cada uma delas, a do walkman, a do discman ou a do iPod, foi acusada pela anterior de ser individualista demais. O walkman foi lançado em 1979. Anunciado em 21 de junho, começou a ser vendido no Japão em 1º de julho. Já havia toca-fitas portáteis. Mas eram mais usados como gravadores; eram caros; e os fones, pesados demais para serem levados por aí. O fone perdeu peso – foi de 400 para 50 gramas – e suas funçõesforamlimitadas.Agora ele tem o objetivo específico de carregar, para onde vocêfosse,assuasmúsicasfavoritas. E tornou-se cool. Para que isso acontecesse, a Sony fez uma campanha sagaz: fazia apenas dois anos que o movimento punk marcara o exato momento em queamodapassavaaserditada pelas ruas, e não mais vice-versa. A Sony, então, colocou jovens com fones nos ouvidos para andar por bairros como Ginza,emTóquio, até hoje berço de tendências. Daí foi só esperar. Um ano depois, o walkman já era febre nos EUA. ● H.L.
Música portátil nasceu em SP A certidão de nascimento oficial do walkman diz que ele surgiu em 21 de junho de 1979 no Japão, data e local no anúncio do primeiro modelo da Sony. Mas a história da música portátil começou, na verdade, seis anos antes, em 1972, no Brasil, mais precisamente em São Paulo. Nascido na Alemanha, Andreas Pavel morava na cidade quando criou o stereobelt, registrado como “um pequeno componente portátil para a reprodução em alta fidelidade de som gravado”. O nome vem do cinto ao qual é preso o aparelho toca-fitas.
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O mote que levou Pavel a desenvolver o aparelho soa contemporâneo: levar o som para dentro do tímpano e dar à vida uma trilha sonora. Seis anos depois, veio o anúncio da Sony. Pavel ficou doido e doído. Processou, ganhou em alguns países, como na Alemanha, e perdeu em outros, como os EUA. Alguns anos atrás, houve um falatório de que ele estudava processar a Apple, para receber royalties sobre vendas de iPod. Ele negou, disse estar cansado do desgaste de brigas na Justiça. ● HELOISA LUPINACCI ISOLADO POR OPÇÃO - “Ninguém fala comigo, então não preciso falar com os outros”, diz o publicitário Felipe Daros
COMPRAS PARA ASSISTIR TELEVISÃO PRODUTO | SHC2000_00 FABRICANTE | Philips PREÇO | R$ 150 (sugerido) DETALHES | Esses fones de concha acústica usam a tecnologia do infravermelho, que substitui os fios, e contam com um alcance de até 7 m. Eles são ideais para assistir televisãoou jogarvideogame
WIRELESS POR BLUETOOTH PRODUTO | BH-501 FABRICANTE | Nokia WEB | www.americanas.com PREÇO | R$ 229 DETALHES | Também sem fio, esse modelo da Nokiausa o Bluetooth. Permite que você vá alternando ligações com músicas
MEIOFONE- Natália Garcia anda de bicicleta só com um fone no ouvido
EMO? - Rafael Pacheco é “o último a pegar a piada” devido aos fones
COMPRAS SOM PURO PRODUTO | SHE9501_00 FABRICANTE | Philips WEB | www.fastshop.com.br PREÇO | R$ 75 DETALHES | Um áudio mais puro. É isso que prometem esses fones intra-auriculares, que têm ímãs de neodímio para melhorar o som dos graves e agudos
DESIGN INOVADOR PRODUTO | Titan FABRICANTE | SkullCandy WEB | www.fastshop. com.br PREÇO | R$ 191 DETALHES | Feitos de alumínio cortado a laser, têm qualidade no som e design inovador
LINK L5
AJUSTE IDEAL
QUASE UMA JÓIA PRODUTO | B&O Earphones FABRICANTE | Bang & Olufsen PREÇO | R$ 480 (sugerido) DETALHES | A Bang & Olufsené conhecida pelo design primoroso dos seus produtos. Não é diferente com esse modelo em alumínio, encontrado no Brasil nas lojas da marca, como a da rua Bela Cintra
ALTÍSSIMA FIDELIDADE PRODUTO | GrafiteBose FAFABRICANTE | Bose WEB |www.submarino.com.br PREÇO | R$ 1.000 DETALHES | Com acústica TriPort. O som sai em alta fidelidade
PRODUTO |MDREX85LPBQU FABRICANTE | Sony WEB | www.fastshop.com.br PREÇO | R$ 196 DETALHES | Com almofadas intra-auriculares flexíveis feitas em silicone, esse modelo fabricado pela Sony consegue se ajustar quase que perfeitamente à parte interna da orelha
FEITOS SOB MEDIDA PRODUTO | UE 10-Pro FAFABRICANTE | Ultimate Ears WEB | www.headphone.com PREÇO | R$ 1.850 DETALHES | Esses fones são para quem realmente leva o áudio asério. Antes de comprálos, você deve consultar um audiologista, que fornecerá o molde exato do seu ouvido, com o qual o produto será feito
Ao mesmo tempo em que ouvir música é uma experiência individual, pelos fones de ouvido pendurados em tocaMP3ecelulares,temosferramentasnainternetparacompartilhar gostos musicais com uma ampla rede de pessoasespalhadaspelo mundo. O cenário é mostra de como a sociedade se tornou individualizada e simultaneamente hiperconectada. Ouvimos música no ônibus, sozinhos, sem ligar para o que acontece em volta, mas continuamoscom necessidade de contar e mostrar para os amigos as músicas que descobrimos, geralmente na internet, pela experiência de outros internautas. O antropólogo Marko Synésio Monteiro, pesquisador da Unicamp e professor da PUC-Campinas, explica que a tecnologia mudou a forma de socializar, mas não nos torna mais individualistas.
Brasil: ‘Socializar éfundamental; adaptamosa tecnologiaàcultura’ “Como os aparelhos são criadosparaacultura americana, individualista, temos a tendência de achar que estamos ficando iguais. Mas no Brasil, onde é fundamental compartilhar e socializar, nós adaptamos a tecnologia àcultura.Continuasendoimportante ter contato direto e fortalecer laços sociais”, diz. A facilidade de distribuiçãodemúsicapermitiuocontato com uma maior diversidade de ritmos. “Independente de estar conectado ou não, o universo musical está muito mais rico do que antes da web. E o acesso à cultura faz muita diferença para as pessoas. Elas são muito mais ativas e criativas porque têm espaço para mostrar o que produzem ou ouvem. Estão mais participativas em um espaço público muito diferente e novo”, diz Celso Candido de Azambuja, pesquisador e professor de Filosofia da Unisinos. ● FILIPE SERRANO
Há 10 anos, Napster tornava a web social Shawn Fenning só queria ouvir as músicas que seus amigos guardavam em seus PCs – e também permitir que eles ouvissem as suas. Entediado coma faculdade quefazia, começou a escrever um software que permitisse essa troca de arquivos em janeiro de 1999. Ele tinha acabado de completar 18 anos e, poucos mesesdepois,noiníciodaquele junho, há dez anos, terminou o programa, que batizou com seu próprio apelido (“Napster”querdizeralgocomo “dorminhoco”). Distribuiu para uns amigos e, como quem não quer nada, mudou a história da música – ao mesmo tempo em que resgatou um dos cernes da rede – seu aspecto social. Voltando mais no tempo, quando o criador da World Wide Web, Tim BernersLee,tornoupúblicoseuprojeto, o fez postando uma mensagem num fórum de notícias, no dia 6 de agosto de 1991.Nela,anunciavaque“estamos muito interessados em espalhar a web para outras áreas (...). Colaboradores são bem-vindos!” Semquerer,Shawn Fenning repercutiuamensagemdocriadordawebpara o planeta. E se no início dos anos 90 a rede apareceu como uma forma de facilitar a troca de dados e informa-
ções,no finaldadécadaesta troca seria acelerada graças à popularização do MP3. Mas trocar músicas era só o começo. Logo o mundo compreendeu que a música poderia funcionar longe do disco, coisa que a indústria fonográfica não quis entender – o que a levou a processar seus próprios clientes e abrir espaço para a Apple, uma empresa sem tradição no mercado de música, tornar-se líderemcomercializaçãodemúsica digital. Fenning não inventou apenas um software. Com o Napster, ele sublinhou que a rede não é compostas de máquinas que se conectam a grandes servidores – mas também de computadores que podem se conectar entre si sem precisar passar por um computador central. E que esses computadores são pilotados por seres humanos que querem conhecer não só mais músicas, mas outros seres humanos. Não é exagero: ao liberar a possibilidade das pessoas trocarem MP3 entre si, o Napster foi o embrião daquilo a que chamamos de “rede social” – que, na verdade, é uma metáfora para a própria web. Afinal, a internet é social. E Fenning nos lembrou disso hádezanos,quando resgatou um verbo que estava um tanto em desuso e que tem sido vilanizado pelos motivos errados: compartilhar. ● ALEXANDRE MATIAS