1- Nome: Victor Cavallini
2- Turma: Direito 2009.1 Diurno
3- Informações sobre o livro: ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: Introdução ao jogo e a suas regras. 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992. 216p.
4- Síntese do livro: O livro “Filosofia da ciência: Introdução ao jogo e suas regras”, de Rubem Alves, é um livro bastante dinâmico. Como diz o autor, “este não é um livro só para ser lido. Ele contém materiais para serem trabalhados.” (pág. 17) E a obra se comporta dessa maneira desde o primeiro parágrafo. A principal função do livro é desmitificar a idéia que se tem da ciência: uma “autoridade”, que fica acima das pessoas comuns e que está sempre correta, e por isso devemos todos segui-la. O autor aproxima a idéia de ciência da idéia de senso comum, sob vários aspectos. Ele afirma que ambas são expressões da necessidade humana de compreender o mundo. O autor prefere não definir o que é senso comum, porém diz que nele se encaixam todas as coisas que não são ciência, ou seja, tudo aquilo que usamos no nosso dia-a-dia. Já a ciência o autor define como um aprofundamento de certa parte do senso comum e um controle disciplinado do mesmo. “A ciência nada mais é que o senso comum refinado e disciplinado.” (MYRNALL, Gunnar. Objectivity in Social Research, 1969.) Rubem Alves também nos mostra que, mesmo tratando-se de situações em que atuamos na resolução de problemas usando o nosso senso comum, procedemos de uma maneira muito parecida com a que é usada na ciência: tomamos consciência do problema, construímos um modelo que seria o ideal, ou seja, a maneira da
qual as coisas estariam organizadas se tudo estivesse em ordem, elaboramos hipóteses sobre o problema, ou seja, simulações ideais das possíveis causas do problema, e finalmente testamos nossas hipóteses. E não é preciso ser nenhum cientista para fazer isso, o que é mostrado em vários exemplos utilizados pelo autor, principalmente o do carro (pág. 15, parag. 1 e 2; págs. 22-25). O que é preciso? Simplesmente, termos a consciência do pressuposto de que tudo deve estar em ordem para funcionar corretamente, além da consciência do que buscamos. A questão da ordem é importante, pois se trata de mais um grande aspecto comum ao senso comum e à ciência: ambas buscam essa ordem. Pressupôs-se que para o universo funcionar corretamente, tudo deve estar em uma ordem. A diferença é que a ciência busca a explicação dessa ordem nas coisas invisíveis, nas coisas que estão escondidas, não se agarrando, assim, à aparência efêmera das coisas como o senso comum. Ou seja, a ciência vai mais além, buscando a essência das coisas. A ciência, também, procura se afastar dos mitos, do mágico e do subjetivo. O senso comum crê na magia, na religião, nas crenças em si. A ciência os nega. A ciência, entretanto, é tão incerta quanto o senso comum. Para o autor, ela não tem a resposta definitiva para todos os problemas. As respostas que a ciência nos dá muda com o tempo. Isso se deve ao fato de a ciência trabalhar com modelos, cópias hipotéticas da realidade, que tentam se aproximar do real, mas nunca são o real. Por isso, trabalha-se na ciência de uma forma dedutiva: acredita-se que as coisas permanecerão do jeito que estão no futuro, e que em todos os lugares as coisas sejam iguais. Até na ciência há fé. E graças a isso é que se dão as revoluções da ciência. Como os modelos são cópias provisórias, quando eles não explicam alguma coisa, é possível reorganizar os materiais velhos, sob uma forma nova. Isso faz com que teorias sejam refutadas (teorias que não estão mais servindo) e que novas sejam criadas. Isso é bom e necessário. Rubem Alves ressalta: o sim da ciência é sempre um talvez. Não podemos ter certeza de que algo é quando os fatos o confirmam, porém a partir do momento em que exista algo que negue essa coisa, ela imediatamente deixa de ser. A ciência, assim
como o senso comum, se propõe a negar que os fatos que nos são apresentados pela natureza sejam destituídos de sentido, logo ela deve buscar um sentido nesses fatos, traduzir o que eles falam. Se alguma teoria não faz mais isso, não serve mais para nada. Deve ser revogada. Porém, Alves nos diz que isso não é tão simples, porque a ciência, ao contrário do que se pretende, está ligada aos sentimentos. Eles estão envolvidos nos processos de escolha de problemas, de formulação de teorias, de defesa de teorias. O que dificulta a criação de um novo jeito de pensar e ver as coisas é o orgulho em torno do velho jeito de pensar. Antes de emergir uma nova teoria, a viva deve morrer, senão essa inovação será provavelmente discriminada. Ou seja, apesar do grande esforço dos positivistas, a ciência não é objetivo e impessoal, e sim subjetiva e profundamente ligada com a pessoa do cientista. O que chega a nós não são os fatos, mas sim as interpretações. Por fim, Rubem Alves declara que a ciência, hoje, está bastante defasada, pois não encontrou, até hoje, sua legitimação ao lado do conhecimento. Ele sugere que ela deve estar ao lado da bondade. Abandonar a obsessão pela verdade para se perguntar sobre o seu impacto sobre a vida das pessoas. “A bondade não necessita de legitimações epistemológicas.” (pág. 207) Portanto, seu livro tem seu “fim” na afirmativa de que a ciência, do jeito que está, não ajuda tanto quanto promete.
5- Observações pessoais: Considerei a leitura do livro de Rubem Alves bastante satisfatória, pois me instigou a trabalhar e a refletir desde seu princípio. O livro trabalha idéias bem interessantes, merecendo especial destaque a comparação constantemente feita entre ciência e senso comum. A apresentação de tais pontos de vista me foi estranha em um primeiro momento, já que sempre me foi apresentado (em aulas de filosofia e sociologia do ensino médio) o conceito de que o senso comum é algo ruim, inferior, não passando de superstições e crenças populares que em nada se igualavam à “superioridade” do
pensamento científico. No entanto, no decorrer da leitura, fui obrigado a concordar com as declarações do autor de que a ciência é praticamente irmã do senso comum, já que este, em vários aspectos, se desenvolve por meios muito semelhantes aos da ciência. Também aprofundei um pouco o meu conhecimento acerca da ciência em si, já que este livro contém informações importantes com as quais nunca tive contato, como, por exemplo, a crença na existência de ordem e o fato de que o pensamento ocorre quando ficamos diante de um problema. Eram coisas que, quando li, fiquei impressionado por serem coisas tão obvias e mesmo assim eu nunca ter parado para pensar nelas. De fato, sempre agi pensando mecanicamente, assim como descrito no livro. Discordo um pouco com a comparação feita a certa altura do livro entre cientistas, pescadores, caçadores e ciência, em especial os pescadores. De fato pescadores necessitam de certo domínio da técnica e de habilidades, no entanto, considero estes diferentes dos cientistas, caçadores e detetives por um motivo: os pescadores apenas se aproximam dos locais prováveis do seu objetivo e “lançam os anzóis” esperando o peixe ser fisgado, enquanto os outros usam mais suas habilidades, e não a sorte, na hora de finalmente pegarem seu “peixe”. Por fim, me identifiquei com a visão “utópica” e esperançosa de Rubem Alves quanto à motivação da ciência: ela deve legitimarse na bondade. De fato, a ciência, “desde que ela surgiu com seus fundadores, está colocando sérias ameaças à nossa sobrevivência.” (pág. 20) Se a ciência andasse ao lado da bondade ao invés dos interesses pessoais e econômicos daqueles que a “controlam” atualmente, a humanidade, o planeta e os animais estariam respirando muito mais aliviados. E, entre esta ciência poderosa que nos escraviza de hoje e o senso comum dos comuns, considero mais digna de ser ouvida a segunda, por ser algo que quem domina sou eu e que está trabalhando segundo os meus interesses, afetando a minha realidade com o meu consentimento. Assim sendo, mais fácil de ser socializada.