Trabalho Filosofia Da Mente.docx

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SAMUEL DE OLIVEIRA BOTELHO

SOBRE A CONCEPÇÃO FILOSÓFICA DA MENTE: ASPECTOS DO DUALISMO E DO BEHAVIORISMO

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LONDRINA 2019

INTRODUÇÃO O presente texto apresenta uma introdução a filosofia da mente, nossa proposta é apresentar o pensamento cartesiano da mente definido na divisão substancial entre corpo e mente. Para tal feito, pretendemos iniciar definindo a existência do corpo como matéria, depois disto, a distinção entre mente como pensamento e corpo como matéria e a última parte é a possibilidade de interação entre corpo e alma. Descartes postula todos estes termos definindo a natureza da mente como racional, que consegue aprender, abstrair, organizar

e

resolver

problemas,

tais

características

se

encontram

internamente, onde o ser humano se volta para o seu “eu” e desenvolve tais propriedades mentais. Com o advento do positivismo lógico, sua análise lógica da linguagem e sua eliminação da metafísica dentro da ciência, os autores positivistas perceberam que conceitos mentais e a distinção entre corpo e alma é um problema insolúvel, em outros termos, a psicologia cartesiana e a teoria da mente é totalmente sem referencial empírico. Na parte final deste texto pretendemos mostrar que o behaviorismo pode ser uma alternativa ao dualismo, nele a divisão entre corpo e alma é substituída pela linguagem física, os behavioristas não precisam dizer se existe corpo, alma ou uma junção substancial dos dois, só precisam tratar a alma (mente) como representada no comportamento. Esta tese behaviorista se aproxima do fisicalismo empirista, onde cada sentença da psicologia é entendida por procedimentos matérias, a linguagem da psicologia é uma linguagem totalmente comportamental. Com tal feito do behaviorismo o problema da distinção entre mente e corpo é resolvido e a definição de mente é entendida como processos comportamentais. 1.1. EXISTÊNCIA DOS CORPOS Descartes argumenta que a existência dos corpos está intimamente ligada aos sentidos. O autor percebe que temos certos sentidos que afetam o nosso intelecto, trazendo em nós certas experiências que muitas vezes são contrárias aos nossos desejos, estes sentidos não podem ser intelectuais pois contrariam algumas vezes ao intelecto, se tornando passivo, logo, Descartes associa os sentidos aos corpos materiais. Como descreve o filósofo:

Ora, essa faculdade ativa não pode existir em mim enquanto sou apenas uma coisa que pensa, visto que ela não pressupõe meu pensamento, e, também, que essa ideias me são frequentemente representadas sem que eu em nada contribua para tanto e mesmo, amiúde, mau grado meu; é preciso, pois, necessariamente, que ela exista em alguma substância diferente de mim, na qual toda a realidade que há objetivamente nas ideias por ela produzidas esteja contida formal ou eminentemente (como notei antes) (DESCARTES, 1988, p. 67).

O filósofo afirma que a ligação entre sentidos e corpos materiais é uma inclinação natural de nossa mente, temos como intuitivo que quando sentimos algo tal sentido está ligado ao objeto material, quando temos uma ideia sabemos que está ligada a um fenômeno físico (que não necessariamente esse fenômeno existe, por enquanto). Descartes coloca esta inclinação a um hábito natural, sabendo que tal inclinação é incorrigível, ou seja, nosso aparato cognitivo não consegue separar a correlação entre o sentido e o corpo físico. O pensador segue sua reflexão apontando que essa inclinação natural é verdadeira, portanto, segundo Descartes, se for falsa Deus é mentiroso. O argumento afirma que Deus colocou uma inclinação que intui que um sentido é causado por um corpo material, essa inclinação é incorrigível, mas se é incorrigível devemos pensar que ela existe porque Deus não ia fazer algo enganoso. O argumento se sustenta porque para Descartes Deus não é enganador, Deus não colocaria a relação entre o corpo e os sentidos sem que a existência da matéria não fosse verdadeira. Com os termos corpo e matéria, é entendido, segundo o artigo de Battisti (2011, p. 189-190), que “[...]os corpos existem como causa das sensações, que as coisas materiais exteriores existem independentemente de mim”. Descartes tenta provar o corpo como substância distinta da alma através das sensações. Se Deus colocou as sensações na mente, que aparentemente pressupõem um corpo, podemos crer que nossas sensações são uma espécie de prova da existência do corpo. 1.2. DISTINÇÃO CORPO/ALMA A tese sobre a distinção entre corpo e alma se encontra na maneira como Descartes propõe as naturezas das substâncias, a alma tem características distintas do corpo, como vemos nos Princípios I, 53 (ROCHA, 2006, p. 139),

E, certamente, é a partir de um atributo, não importa qual, que uma substância é conhecida, mas é uma só, no entanto, a propriedade principal de cada substância, a qual constitui a natureza e a essência da mesma e à qual todas as outras são referidas ... A saber, a extensão em comprimento, largura e profundidade constitui a natureza da substância corpórea e o pensamento constitui a natureza da substância pensante. Pois tudo o mais, que pode ser atribuído ao corpo pressupõe a extensão e é apenas um certo modo da coisa extensa; assim como todas as coisas que encontramos na mente são apenas diversos modos de pensar... (apud DESCARTES).

Nesta passagem vemos que a essência do corpo é a extensão em comprimento, largura, e profundidade; vemos que a natureza distinta do corpo, aquilo que encontramos só nele, faz do corpo uma substância diferente da alma (mesmo tendo interações que são chamadas de modos). Descartes também afirma que o “eu” só existe pelo pensamento, sendo o pensamento uma garantia da existência distinta da alma como uma substância mental. Essa máxima é levada como parâmetro para afirmar que a alma intelectiva existe, mas também resguarda uma característica da alma que é sua diferença substancial em relação ao corpo. A essência da alma é o pensamento. Como diz Rocha: Visto que o atributo essencial é o que determina a natureza da substância, esse eu é substância e é pensamento que, como já se sabe a partir da rejeição do que seriam as partes corpóreas da alma, é idêntico à alma. Aqui é introduzida uma primeira inovação com relação à escolástica: alma é essencialmente só pensamento, pois, se penso os atos indubitáveis necessariamente tenho que conceber o atributo ao qual são inerentes (ROCHA, 2006, 136).

1.3. INTERAÇÃO CORPO/ALMA Descartes procura conceber a união entre corpo e alma distante da concepção que diz, segundo Rocha (2006, p. 131), que o corpo e a alma são elementos de uma mesma substância ou que existe uma substância com a natureza diversa. O filósofo afirma que existem duas substâncias, a saber, corpo e alma, que interagem mutuamente. O corpo, que já definimos, ainda não nos dá provas da interação entre corpo e alma, o argumento através dos

sentidos só prova que existem corpos, mas não que esses corpos interagem com a alma. Queremos, portanto, expor a seguir, a linha argumentativa de Rocha (2008) que afirma a união como substancial. A interação entre corpo e alma se dá por um ser que é corpo e alma, fizemos a distinção entre corpo e alma pra saber a substância específica de cada um, mas a interação pode ser garantida porque o corpo, como figura cinemática, consegue interagir com a alma através dos sentidos, tendo os sentidos uma figura deturpada e confusa. Por este motivo, Descartes rejeita os sentidos, pois para o autor, nossa alma é passiva em relação aos objetos corpóreos e ao corpo, ela cria sensações confusas ao interagir com o corpo. Como propõe Descartes: A natureza me ensina, também, por esses sentimentos de dor, fome, sede, etc., que não somente estou alojado em meu corpo, como um piloto em seu navio, mas que, além disso, lhe estou conjugado muito estreitamente e de tal modo confundido e misturado, que componho com ele um único todo. Pois, se assim não fosse, quando meu corpo é ferido não sentiria por isso dor alguma, eu que não sou senão uma coisa pensante, e apenas perceberia esse ferimento pelo entendimento, como o piloto percebe pela vista se algo se rompe em seu navio; e quando meu corpo tem necessidade de beber ou de comer, simplesmente perceberia isto mesmo, sem disso ser advertido por sentimentos confusos de fome e de sede. Pois, com efeito, todos esses sentimentos de fome, de sede, de dor, etc., nada são exceto maneiras confusas de pensar que provêm e dependem da união e como que da mistura entre o espírito e o corpo (DESCARTES, 1988, p. 68).

O sentido faz o papel de intermediário entre corpo e alma, ele consegue tocar a alma ao conhecimento confuso dos corpos materiais, sendo nossos corpos como um conhecimento incerto, nossa alma consegue apreender aquilo que os sentidos direcionam para ela. 2.1. CONCEPÇÃO DE CIÊNCIA DO POSITIVISMO LÓGICO Os membros do positivismo lógico se encontravam em dois grandes círculos de pensamento, o círculo de Berlim e de Viena. Grandes nomes da filosofia e da ciência surgem sob a influência do círculo de Viena, como Rudolf Carnap, Otto Neueath, Moritz Schilick, Hans Hahn e muitos outros pensadores, da mesma forma, temos o círculo de Berlim com Hans Reichenbach, Petzold, Grelling, Dubislav e outros. Os dois círculos tem a

mesma concepção que é a unificação da ciência (Neueath; Hahn; Carnap, 1986, p. 10) e a tese que decorre disso, que é a eliminação da metafísica (Neueath; Hahn; Carnap, 1986, p. 9). Devemos focar no texto A Concepção Científica de Mundo, que é desenvolvido pelo círculo de Viena, para lustrar as posições básicas dos dois círculos. O pensamento do círculo de Viena e do círculo de Berlin procurou defender como tese central a análise lógica da linguagem, para ambos os círculos, a análise das estruturas lógicas de um enunciado, pode eliminar as discussões intermináveis que se encontram na filosofia, metafísica e teologia, ao mesmo tempo que, desenvolve bases para a ciência dentro de critérios comuns. O sentido de uma proposição é feito “[...] mediante análise lógica ou, mais exatamente, mediante redução aos enunciados mais simples sobre o que é dado empiricamente” (Neueath; Hahn; Carnap, 1986, p. 10). Quando se diz algo sobre o mundo, devesse dizer com sentido, se não for desta forma, podemos dividir em dois modos: o primeiro é a afirmação sobre coisas que dizem respeito às expressões de vida e nada significam, pois representam algo particular em cada indivíduo; já o segundo, são teorias metafísicas que são prejudiciais para a ciência e que não contém significado nenhum. Estas primeiras, têm como principais representantes a música, arte, poesia, etc. Diferente das segundas que são hipóteses filosóficas e crenças infundadas com pretensão de cientificidade. Os positivistas perceberam que certas crenças, generalizações sem qualquer critério seguro de verificação, não conseguem passar pelo processo de análise lógica, mas pretendem apresentar sua área como científica, tais crenças são reprovadas como sem significado, pois não conseguem empregar um referencial empírico em suas sentenças que possa ser verificado. Os temas principais do positivismo lógico podem ser resumidos desta forma: Os esforços do trabalho científico tem por objetivo alcançar a ciência unificada, mediante a aplicação de tal análise lógica ao material empírico. Do mesmo modo que o sentido de todo o enunciado científico deve poder ser indicado por meio de uma redução gradativa a outros conceitos, até os conceitos de grau mínimo, que se relaciona ao próprio dado. Caso se empreendesse tal análise para todos os conceitos, estes se enquadrariam em um sistema de redução, em um ‘sistema de constituição’ (Neueath; Hahn; Carnap, 1986, p. 12).

2. 2. TEORIA DO SIGNIFICADO A ciência sempre foi atrelada ao conceito de verdade, as teorias científicas sempre foram ligadas ao ideal de verdade onde as sentenças da ciência são verdadeiras ou falsas. Se for provado que uma teoria é verdadeira é necessariamente excluída a sua falsidade. Os filósofos do positivismo lógico trataram sobre as declarações que se justificam numa teoria da linguagem, tais declarações proporcionam proposições lógicas que têm seu significado dentro da correspondência entre símbolos e fatos. Na linguagem, as proposições são aquelas expressões que comunicamos em um discurso onde as palavras são organizadas de uma forma a fazer sentido na frase. Diferenciando sentido para as palavras e significado para as proposições. Pelas proposições podemos reduzir até as palavras e das palavras até as letras e o significado de uma palavra só pode ser dito dentro de uma proposição, palavras soltas não têm sentido algum, porque o “[...] significado é um predicado da proposição” (REICHENBACH, 2006, p. 20). Geralmente as proposições, não as palavras, buscam um segundo caráter que é o valor de verdade e falsidade, na conexão entre as proposições atômicas (particulares) que dizem onde podemos formar proposições moleculares (gerais), essas proposições são conectadas por símbolos da lógica como: “e”, “ou”, “se então”, “se e somente se”, etc.; dentro das proposições moleculares podem existir proposições que não tem o valor de verdade e podemos constatar tal caso segundo a forma como foi escrita a proposição. As proposições precisam ter valor de verdade e se não tem, não podem ser verificadas, se a frase não tem valor de verdade ela não tem significado algum porque a verificação está totalmente ligada com a teoria do significado. Ayer definiu o princípio de verificabilidade em dois sentidos, o primeiro é o sentido forte, afirmando que a verdade pode ser tida sem qualquer objeção através da experiência, já o fraco é aquele sentido que é provável pela experiência. Dentro dos dois sentidos, Ayer afirma o segundo como apropriado para análise das proposições da ciência. Só podemos usar o sentido forte se existir alguma proposição básica 1 que se refira a uma única experiência, podendo concluir que a verificação é inequívoca quando nenhuma experiência possa em qualquer estado do tempo contradizê-la.

A noção de verificabilidade depende da gramática que descreve uma situação, nessa gramática normas são usadas para garantir o significado da proposição, significado que é garantido na possibilidade de verificação de tal proposição; a verificação não é o critério de significado, o que é o critério de significado é a possibilidade de ser verificada que é dada pela gramática lógica, devendo estar contida na proposição (SCHILICK, 1988, p. 88). Schilick formula o termo “definições indicativas” para designar o processo que a proposição é formulada dentro do seu conteúdo apontando para a experiência. Quando Schilick propõe maneiras de entender a verificação de proposições que afirmam questões que vão acontecer no futuro, o autor defendia que devemos esperar o momento de verificação e que as proposições que afirmam eventos que vão acontecer só tem significado pelo valor de verdade que elas exprimem, a possibilidade que tal proposição haverá de ser verificada como verdadeira ou falsa é que dá o significado. Como afirma Schilick:

Ora, tais regras ou normas não constituem fatos da natureza que poderiam ser “descobertos”, senão que constituem prescrições estipuladas por atos de definição. Essas definições devem ser conhecidas daqueles que pronunciam a sentença em pauta, bem como daqueles que a ouvem ou a leem. Se assim não for, os referidos ouvintes ou leitores não são confrontados com uma proposição, não havendo no caso nada que possam tentar verificar, uma vez que não se pode verificar a verdade ou a falsidade de uma mera série de palavras. Nem sequer se pode começar a verificar antes de conhecer o sentido, isto é, antes de se ter estabelecido a possibilidade da verificação (SCHILICK, 1988a, p. 92).

Schilick adota uma possibilidade de verificação lógica das proposições. Neste formato de articular a verificação, podemos pensar que é mais ampla que a possibilidade física de verificação porque aceita todos os casos que são logicamente aceitos, dentro da linguagem lógica, que não necessariamente funcionam conforme a linguagem física (material). A parte de saber se a proposição que se encontra neste estado é verdadeira ou falsa não é uma questão da filosofia porque recorre aos objetos da experiência, mas a forma como a proposição é formulada é papel da filosofia, por isso que a teoria do significado de uma proposição deve adotar uma linguagem lógica, pois

segundo o autor, essa linguagem só dá a proposição um status de significado e não garante a verdade ou falsidade.

3.1. PSICOFISICALISMO E POSITIVISMO LÓGICO Carnap articula sua proposta de linguagem física para a psicologia, o autor percebe que a mente, como concebia Descarte, dentro de uma dualidade entre corpo e alma é um problema, quando usado tais termos na psicologia. O autor percebe que a psicologia deve ter uma linguagem universal, seus termos devem comunicar algo que todos possam entender. A divisão entre corpo e alma, sendo a mente um termo equivalente a alma, pretendendo com tal divisão representar os rastros da consciência, não consegue exprimir o que uma pessoa pensa, nem consegue representar nossos sentimentos individuais numa forma universal, nem mesmo consegue expressar os nossos pensamentos numa mesma linguagem das outras ciências. Não é que o autor considera o argumento de Descartes como errôneo, por outro modo, o autor considera o argumento como insignificante, ou seja, não temos como saber se a mente se comporta da forma como Descartes postula, nem temos como saber se a mente é uma substância diferente do corpo, só podemos saber o pensamento de uma pessoa quando ele se exprime fisiologicamente em seu ambiente. O argumento de Descartes é um pseudo-argumento, deste modo, o autor diz que tal argumento não adquire significado porque a tese central que é a distinção entre substâncias não pode ser verificada dentro dos processos anteriormente descritos, muito menos a tese que define a mente como pensamento racional introduzida no conteúdo mental. Não podemos tratar sobre estes conteúdos sem incorrer numa metafísica sem sentido. A proposta de Carnap é trazer o fisicalismo para dentro da psicologia, só assim a tese de ciência unificada pode fazer sentido, porque, a linguagem material (física) é uma linguagem universal e nela se expressa um mesmo formato aos conteúdos das diversas ciências, deste modo, a unificação da ciência pode ser garantida pela tradução das linguagens individuais das diversas ciências para a linguagem fisicalista (CARNAP, 1965, p. 171). Como diz o autor:

EN LAS páginas que siguen nos proponemos explicar y fundamentar la tesis de que toda proposición de psicología puede formularse en lenguaje fisicalista. Para decir esto en el modo material de hablar: todas las proposiciones de psicología describen acontecimientos físicos, u saber, la conducta física de los humanos y de otros animales (CARNAP, 1965, p. 171).

Todas as ciências devem se converter em física, menos a metafísica que não é considerada como ciência (CARNAP, 1965, P. 172). Já a psicologia deve ter sua área de trabalho e suas ferramentas próprias, o autor não está modificando a área de atuação da psicologia, pelo contrário, o autor está demonstrando que a interação e unificação da psicologia se encontra numa possibilidade de tradução dos termos da psicologia para os termos mais gerais da física. A tradução lógica de uma linguagem protocolar para uma linguagem física é por equivalência, ou seja, se uma linguagem psicológica prescreve o mesmo conteúdo empírico e apresenta suas proposições com sentido, podemos fazer a tradução para a linguagem física (CARNAP, 1965, p. 172).

3.2. POSITIVISMO LÓGICO, BEHAVIORISMO E MENTE

O positivismo lógico encontrou no behaviorismo a expressão da psicologia como

ciência.

O

behaviorismo

apresenta

“[...]

uma

orientação

fundamentalmente reducionista; num sentido mais ou menos estrito, procura reproduzir qualquer discurso sobre fenômenos de comportamento” (HEMPEL, 1974, p. 137). As formulações behavioristas devem ser pautadas por critérios de “[...] verificabilidade objetiva das hipóteses” (HEMPEL, 1974, p. 137) e insistir que [...] todos os termos psicológicos devem ter critérios claramente especificados de aplicação, formulados em termos de comportamento, e que as hipóteses e teorias psicológicas devem ter implicações concernentes ao comportamento puramente observável (HEMPEL, 1974, p. 137).

O comportamento deve ser o critério físico da psicologia, mas este comportamento, para alguns behavioristas, também contém as manifestações

públicas da mente, ou seja, através de alguns estímulos podemos representar corporalmente sentidos de fome, sede, desejos variados, etc1. O comportamento para o behaviorista é dividido em duas partes, a primeira é fisiológica, nela temos a expressão da ação individual do corpo através dos ossos, músculos, nervos, da pele, as operações cerebrais e todos os processos físico/químicos que colocam em funcionamento o corpo humano. A segunda parte é o ambiente, como ambiente entendemos o ambiente físico que afeta uma pessoa e alicia nela estímulos que provocam respostas no ser humano (ZILIO, 2010, p. 66-67). Skinner que foi o criador do behaviorismo radical, definiu aos moldes behavioristas uma filosofia da mente que diz que “[...] pensar é como se comportar” (ZILIO, 2010, p. 144). As expressões atribuídas ao pensamento podem ser traduzidas para o fisicalismo behaviorista, como é o caso da aprendizagem, resolução de problemas, decisão, raciocínios, abstração, etc. A aprendizagem não é comportamento propriamente dito, mas, segundo Skinner, é uma mudança de comportamento. Em suas palavras: aprender não é fazer; é mudar o que fazemos. Podemos ver que o comportamento se modificou, mas não vemos a mudança. Vemos as consequências reforçadoras. Mas não como elas afetam a mudança (SKINNER, 1989d, p. 14 apud ZILIO, 2010, p. 144).

O ser aprende conforme seu comportamento muda e essa mudança ocorre conforme é afetado por diversos reforços em sua vida (ZILIO, 2010, p. 144). CONCLUSÃO

Nossa discussão se encontra na controvérsia da filosofia da mente, de como podemos determinar os processos mentais, como podemos definir o papel da psicologia e qual é a melhor linguagem para a psicologia. Os autores do positivismo lógico parecem apresentar uma metodologia rigorosa sobre esse papel da psicologia, podendo julgar com maior clareza a maneira como a Como vemos em Skinner: “A visão mais simples e mais satisfatória é a de que o pensamento é simplesmente comportamento –verbal ou não verbal, manifesto ou encoberto. Não é um processo misterioso responsável pelo comportamento, mas é o comportamento ele mesmo, em toda a complexidade de suas relações de controle, com respeito tanto ao homem que se comporta quanto ao ambiente em que ele vive” (SKINNER, 1957, p. 449 apud ZILIO, 2010, p. 144). 1

psicologia deve seguir como ciência e, também, apresentando uma alternativa ao problema da filosofia da mente como distinção substancial entre corpo e mente que se encontra no behaviorismo.

REFERÊNCIAS AYER, A. J. Linguagem, Verade e Lógica. Lisboa: Editora Lisboa, 1991. BATTISTI, C. A. A prova da existência da multiplicidade de corpos na sexta meditação. Educação e Filosofia Uberlândia, v. 25, N. Especial, p. 181-214, 2011 CARNAP, R. Conocimiento y verdade. In: AYER, A. J. (org.). El Positivismo Logico. México: Fondo de Cultura Economica, 1965. DESCARTES, R. Coleção os pensadores: Meditações. 4. Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. HEMPEL, C. G. Filosofia da Ciência Natural. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974. REICHENBACH, H. Experience and Prediction: na analysis of the foundations and the structure of knowledge. Notre Dame, Indiana: University of Notre Dame, 2006. ROCHA, E. M. O Argumento em favor da união corpo e alma em Descartes. Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 18, n. 1, p. 211-226, jan.-jun. 2008. ROCHA, E. M. Observações sobre a Sexta Meditação de Descartes. Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, Série 3, v. 16, n. 1, p. 127-144, jan.-jun. 2006. SCHILICK, M. Sentido e Verificação. In: Schilick, M.; Carnap, R. Coletânea de Textos: Os pensadores. 3 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988a, p. 83-112. SCHILICK, M.; CARNAP, R. Coletânea de Textos: Os pensadores. 3 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988b. ZILIO, D. A Natureza Comportamental da Mente: behaviorismo radical e filosofia da mente. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.

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