Hiperprolactinemia ULBRA/2007 CURSO DE MEDICINA CLÍNICA MÉDICA III – ENDOCRINOLOGIA Prof. Adriana Fornari e Jocely Vieira da Costa
Prolactina •
Hormônio produzido e secretado pelos lactótrofos da hipófise anterior (também nas células linfóides, na decídua placentária e nas células endometriais)
• Função principal : início da lactação • Controle da secreção: inibitório: hipotálamo → PIF (fatores inibidores da prolactina), principalmente a DOPAMINA, que atua nos receptores D2 dos lactótrofos; estimulatório: hipotálamo → PRF (fatores estimuladores da prolactina): TRH , VIP, PACAP, PHM-27
Controle Controle Hipofisário
Prolactina “small prolactin”: 23 kDa, forma monomérica, única que tem atividade biológica, 80 - 90 % do total circulante “big-prolactin”: 45 kDa, dímero, cerca de 8 - 20% “big-big-prolactin” (macroprolactina): alto peso molecular , 150-170 kDa, cerca de 5% (PRL+IgG)
Hipófise
Hiperprolactinemia Distúrbio
hormonal mais comum do eixo hipotálamo-hipofisário (P = 0,4 a 17%).
Pode
decorrer de fatores fisiológicos, farmacológicos ou patológicos.
Causas Fisiológicas Liberação de fatores liberadores da PRL: • Gravidez • Estímulos hormonais • Estresse • Amamentação • Exercícios • Sono • Período neonatal
Causas Farmacológicas Drogas
que estimulam a secreção de PRL:
estrógenos, cimetidina, tricíclicos, IRS, diazepam.
Drogas
que bloqueiam os receptores dopaminérgicos:
clorpromazina, metoclopramida, sulpiride, domperidona, haloperidol.
Drogas
que são depletoras de dopamina:
metildopa, reserpina.
Causas Patológicas 1. Causas Hipofisárias • Produção aumentada de prolactina (tumores mistos produtores de GH/PRL e TSH/PRL); • Pseudoprolactinoma : compressão da haste hipofisária; • Doença de Cushing, síndrome de Nelson; • Metástases; • Síndrome da sela vazia; • Hipofisite; • Prolactinomas: adenomas funcionantes (principal causa depois das drogas).
Causas Patológicas 2. Patologias hipotalâmicas Produção inadequada de dopamina e/ou compressão de haste; Tumores : craniofaringiomas, germinomas, cistos, gliomas, hamartomas; Doenças infiltrativas : sarcoidose, tuberculose, histiocitose X; Aneurismas; Radioterapia craniana.
Causas Patológicas 3.Doenças sistêmicas Insuficiência renal : redução da depuração; Cirrose hepática: mais comum na cirrose alcóolica. 4. Doenças endócrinas: Hipotireoidismo primário : ocorre aumento importante e prolongado TRH com aumento da hipófise que pode ser confundido com prolactinoma (40% dos hipo); Síndrome dos ovários policísticos : o aumento da PRL seria decorrente da elevação não cíclica dos estrogênios; Doença de Addison.
Causas Patológicas 5. Hiperprolactinemia neurogênica: ativação das vias aferentes neurais e do reflexo neuroendócrino • fisiológico : sucção mamilar ou manipulação das mamas; • patológicos : lesões da parede torácica, mastectomia, herpes zoster, piercing, prótese mamária. 6. Pós-convulsão tipo grande mal. 7. Produção ectópica : muito raro ( teratoma ovariano com tecido hipofisário ectópico, carcinoma de células renais, gonadoblastoma);
Causas Patológicas 8. Artefatos de técnica : anticorpos heterofílicos; macroprolactinemia ( big , big-big PRL); 9. Drogas 10. Hiperprolactinemia idiopática
Quadro Clínico Hiperprolactinemia
↓ secreção pulsátil GnRH
Estímulo da lactação
↑ secreção de androgênios adrenais
↓ secreção pulsátil LH e FSH Galactorréia
Hipogonadismo Oligo / amenorréia
Disfunção erétil
Infertilidade
Ginecomastia
↓ libido
Infertilidade
Dispareunia
↓ libido
Osteopenia
Osteopenia
Acne / hirsutismo
Galactorréia Galactorréia: espontânea , intermitente ou apenas à expressão mamilar • na mulher: presente em 30 a 90% dos casos; • no homem: presente em 10 a 20% dos casos (praticamente patognomônico de prolactinoma).
Sintomas Compressivos Podem estar presentes nos casos de macroprolactinoma ou pseudo-prolactinoma
Cefaléia
Hemianopsia bitemporal
Atrofia do nervo óptico
Paralisia de pares cranianos
Apoplexia
Diagnóstico Valores Normais: Quimioluminescência mulher não grávida : 3 - 26 ng/mL (µg/L) homem : 2 - 13 ng/mL (µg/L)
Imunofluorimetria mulher não grávida : 2,5 – 14,6 ng/mL (µg/L) homem : 2,3- 11,5 ng/mL (µg/L)
Sempre valorizar um resultado anormal?
Estresse da punção; Falta de repouso; Manipulação mamária; Secreção episódica (pool ?); Artefatos: Ac heterofílicos; Efeito “ Hook ”; Macroprolactinemia.
Anticorpos Heterofílicos
Efeito Gancho (hook effect) Níveis
falsamente baixos de PRL quando se empregam imunoensaios contendo 2 sítios; Macroprolactinomas volumosos podem cursar com níveis de PRL < 200 ng/ml pelo efeito gancho; Pode ocorrer c/ IRMA, quimioluminescência ou enzima-imunoensaios;
Efeito Gancho (hook effect) Concentração extremament e alta de Ag satura ambos os Ac de captura e sinalizadores, impedindo a formação do “sanduíche”.
Efeito Gancho (hook effect) Pode
ser desmascarado através de uma nova dosagem de PRL após diluição do soro 1:100 (observa-se aumento significativo dos níveis); Se PRL persistir < 100 ng/ml em paciente com macroadenoma hipofisário, suspeitar de pseudoprolactinoma!
Macroprolactinemia
Quando suspeitar: ↑ PRL sem sintomas típicos ou sem evidência de tumor hipofisário à RMN; Cromatografia líquida em gel Precipitação em polietinonoglicol (PEG) 250mL de soro + 250mL de uma solução de PEG/ agitação 1 minuto, centrifugação por 5 minutos. A quantidade de prolactina no sobrenadante é medida e a recuperação calculada com base no valor inicial da amostra Recuperações > 65% classificam a amostra como tendo predomínio de formas monoméricas, e recuperações < 30% como predomínio de formas de alto peso molecular, pois o PEG precipita a macroprolactina. Valores intermediários: cromatografia em gel.
Exames de Imagem
R-X simples de sela túrcica : alterado nos tumores maiores aumento do volume destruição das clinóides duplo contorno do assoalho calcificação supraselar é sugestivo de craniofaringioma
TC e RMN: permitem visualização de praticamente todos os macroprolactinomas (diâmetro > 10 mm) e de quase todos os microprolactinomas (diâmetro < 10 mm).
Cuidado: incidentalomas hipofisários (10% pop.) e pseudoprolactinomas! Como evitar? Primeiro afastar outras causas.
Exames de Imagem Macroprolactinoma
Microprolactinoma
Prováveis diagnósticos Sintomas
PRL
Imagem
Diagnóstico
+
100-200
microadenoma
microprolactinoma
+
<100
microadenoma
microprolactinoma
+
>200
macroadenoma
macroprolactinoma
+
<100
macroadenoma
pseudo-prolactinoma
+
100-200
macroadenoma
efeito gancho
+
<100
negativa
drogas/hipotireoidismo
-
<100
negativa
macroprolactinemia
Prolactinoma : quem deve ser tratado ? Microprolactinomas: Macroprolactinomas:
• não tendem a crescer com o tempo;
todos devem ser tratados devido a possibilidade de complicações pela massa tumoral!
• devem ser tratados quando os sintomas forem importantes; • PRL < 40 ng/ml : em 5 anos = 2/3 dos casos houve cura espontânea .
Tratamento da Hiperprolactinemia • Induzida por drogas
Hipotiroidismo Idiopática Pseudoprolactinomas Prolactinomas 1ª opção 2ª opção 3ª opção
Suspensão da medicação L -tiroxina Agonistas dopaminérgicos Cirurgia Agonistas dopaminérgicos Cirurgia Radioterapia
Agonistas dopaminérgicos ♦ Bromocriptina
Atua sobre receptores D2 da dopamina, inibindo síntese e secreção de PRL normaliza PRL em 80-90% dos casos redução do tumor micro : 90% dos casos macro : 55-70% dos casos efeitos colaterais: 40-70% (náuseas, cefaléia, tontura, fadiga) intolerância : 10-15% tumor resistente : 4-18%
Nome comercial: • Parlodel, Bagren comp. 2,5 mg • Parlodel SRO caps. 2,5 e 5,0mg Dose usual: 5,0 mg ÷ em 2 ou 3 tomadas/dia iniciar com 1,25 mg ao deitar com uma leve refeição ( evitar efeitos colaterais )
Agonistas dopaminérgicos ♦ Cabergolina • vantagens : maior tolerabilidade e maior eficácia em normalizar a prolactina • administrada 1 ou 2 vezes por semana
♦ Nome comercial • Dostinex comp. 0,5 mg ♦ Dose usual : 0,25 mg duas vezes na semana (microprl), podendo chegar a 3,5 mg/semana (macroprolactinoma)
Cirurgia e/ou radioterapia ♦Tratamento cirúrgico • apresenta alto índice de recidiva • indicações : → intolerância ou resistência às drogas → invasão do seio esfenoidal pelo tumor (hemorragia, rinoliquorréia) → opção do paciente
♦ Radioterapia
• indicado na recidiva pós – cirúrgica • inconvenientes : → 5 anos para alcançar efeito máximo sobre os níveis de PRL → pode levar ao hipopituitarismo após 2 a 15 anos