Deixamo-nos perder em algo bonito, desconhecemos o porque do nosso encantamento, mas deixamo-nos encantar. Quanto mais nos entregamos, desconhecemos que o preço que pagamos é perdernos. Deixamo-nos ir, numa busca sem fim e sem fundo, os sentimentos comandam, entregamos de corpo e alma, sem medo, mas também sem jeito. Inicialmente confiantes, eufóricos, sem pensar, os sentimentos comandam, porque não? Temos a dúvida em nós se somos aquilo que o nosso encantamento queria que fossemos e ai surge a dúvida, mas continuamos porque é na entrega que nos perdemos, mas achamos que nos encontramos na esquina da vida, quando o encantamento aparece… Estamos mergulhados num abandono de nós próprios, entregues, sempre sem jeito, ao destino que não é o nosso, mas que queremos fazer parte, porque pensamos que este encantamento é uma parte de nós e que nós somos uma parte dele. Mas num momento de ausência e em plena surpresa percebemos que não somos o que nos encanta e que na dúvida surge o abandono, maior será a dor quanto maior a confiança com que nos abandonam, maior o vazio quanto maior a certeza com que somos deixados sozinhos. Não somos desencantados, somos abandonados. Ser abandonado poderá ser a maior das solidões, porque o silêncio que se instala não foi convidado, simplesmente apareceu, foi-nos oferecido sem que pudéssemos recusar e então temos de o aceitar. Mas na amior das maravilhas do Universo percebemos, soltos como quem cai de uma ponte e mergulhamos no vazio, no nada, que quando nos perdemos, tínhamos iniciado o caminho para nos encontrarmos. Quando já perdemos tudo, no vazio, encontramos a nossa imagem. Descobrimo-nos a nós próprios e descobrimos que não existe encantamento mais real que o da consciência da nossa existência como realidade única. “Estamos sós com tudo o que amamos” (Novalis) E que efectivamente enquanto ser único, enquanto energia única, neste enorme Universo, o papel que tenho a desempenhar é apenas meu, ninguém tem que aprovar, ninguém tem que aceitar, sou aquilo que sou “Estou só e sinto-me bem” (Vergílio Ferreira).
Nesse momento tomamos consciência que somos autores da nossa história e que o nosso caminho é o certo. Seja ele qual for desde que seja aquele que quero, e nós sabemos como energia que somos, qual o nosso fluxo e qual a nossa direcção, só temos que saber e ter consciência de que a realidade sou eu e que eu interpreto a minha realidade, é isto que faz de cada um único. A liberdade que ganhamos ao percebermos que somos o que quisermos apenas nos sintonizando connosco próprios nos sintonizamos com o mundo e podemos ser feliz. As dúvidas desaparecem e o mundo é nosso.