L6 LINK ■■■
SEGUNDA-FEIRA, 26 DE JANEIRO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
Reforma do site daCasa Branca favorece integração de conteúdos da web 2.0;Obama falará com a população pelo YouTube
Blog e videocast serão veículos oficiais FOTOS: REPRODUÇÃO
CASA BRANCA 2.0
Política
Conheça as principais novidades no www.whitehouse.gov, o site oficial da presidência norte-americana. As mudanças entraram no ar um minuto após a posse.
: LUCAS PRETTI Basta uma olhada rápida nos dois sites ao lado para perceber uma mudança significativa de intenção. O antigo visual da página da Casa Branca (www.whitehouse.gov), do lado esquerdo, não era inferior apenas em design, mas em conceito: unilateral, prestava informações em formato de notícias e só. De algo meramente acessório no governo anterior, o site – e a internet em si – passará a ter papel central sob Obama, principalmenteporfuncionarcomoumaespécie de agregador de conteúdo. Éalique,prometeopresidente,estaráocanaldiretodoscidadãoscomogoverno.Obamausará ferramentas gratuitas online como Facebook, MySpace e YouTubeparaouvirpessoas,informá-las e prestar contas. “Ele está comprometido a fazera administraçãomaisabertaetransparente da história”, diz num post o diretor de Novas Mídias do governo, Macon Philips. Além de dar voz a “cidadãos comuns”, a atitude pretende minimizar a ação de lobistas e de influências puramente políticas. O site se divide em três grandes áreas, por enquanto. A primeira é o blog (que ainda não permite comentários de leitores), a segunda são as metas e o plano de governo de Obama, sob a alcunha de “Agenda”, e a terceira são informações históricas e curiosas sobre os presidentes norte-americanos.Tudo com design funcional, de fácil navegação e bonito. A guinada 2.0 dos Estados Unidos ainda está no começo e não há garantias de que dará certo.Oproblemaprovavelmente não será de vontade, mas de engessamento. A rotina do serviço público e os procedimentos normais de administração, assim como importantes questões relativas à segurança, podematrapalhar.Podesernecessário rever tudo isso – e aprovar novas regras ou leis mais flexíveisquepermitam aconstrução deum governo mais adequadoà realidade do século 21. Um exemplo disso ocorreu no primeiro dia de mandato. Um membro da equipe de mídia chegou para trabalhar, mas não conseguiu atualizar softwares e encontrar computadores capazes de executar as tarefas. Antes de pisar na Casa Branca, ele usava um Mac de última geração, mas no novo emprego foi forçado a usar um PC com Windows de seisanos atrás. Resultado: o novo site ficou desatualizado. Obstáculos e riscos existem, mas os planos digitais de Obama já agitam a Casa Branca. “Éumgrandepassoparatornar os governos mais responsáveis pelas pessoas”, disse ao Link o cientista político Darrel West, autor premiado do livro Digital Government. ●
● BLOG - Ainda sem possibilidade
de os internautas comentarem, o blog da Casa Branca traz o primeiro discurso de Obama no dia da posse e outras informações do dia a dia do governo. É ali que serão publicadas as leis antes da sanção do presidente. Usuários poderão se posicionar antes da decisão oficial. ● AGENDA - O plano de governo
de Obama está todo online, com conteúdo “buscável” por palavra. Na lista entrará, durante o andamento do governo, as metas já cumpridas e outras “promessas”. ● MENU DINÂMICO - O topo da
página traz quatro destaques do conteúdo, que pode ser desde vídeos novos e posts do blog a material fixo. Entre as seções internas, uma bem-humorada história dos presidentes norte-americanos (e dos animais de estimação). ● NEWSLETTER - Campo para
visitantes informarem e-mail e CEP. Assim, eles serão informados por e-mail das notícias de sua região. ANTES E DEPOIS - A cara da Casa Branca na web era uma sob Bush e agora ganhou visual clean sob Obama: a internet no centro do governo
ENTREVISTA OZIER MUHAMMAD/THE NEW YORK TIMES
Darrell West, cientista político
‘Estamos vivendo uma transição de modelos’ O cientista político Darrell West ocupa o cargo de vice-presidente do Brookings Institution, centro de pesquisa respeitado de Washington. Ele é autor do premiado livro Digital Government, entre outros que relacionam tecnologia a teorias de governança. Sobre Obama, West é enfático: “Estamos vivendo uma transição de modelos”. O sr. acha que a eleição de Obama representa realmente uma inovação na comunicação política? Estamos numa nova era? Sim. O presidente Obama deseja criar uma nova forma de relacionamento entre cidadãos e governo com tecnologia digital. Ele usará redes sociais para dar a chance ao cidadão comum de comunicar suas opiniões diretamente a agências governamentais. O que tem a dizer sobre a ‘abordagem 2.0’ do WhiteHouse.gov? O novo site propõe diversas ferramentas de interação. Uma delas fará com que pessoas comentem a legislação cinco dias antes de ser ou não aprovada. É um grande passo no sentido de fazer um governo mais transparente e responsável pelas pessoas. O criador da web, Tim BernersLee, esteve no Brasil e pediu a Obama para promover o uso de softwares livres. O sr. concorda?
Não penso que o governo dos EUA usará programas open source por questões de segurança e confidencialidade. Principalmente pela quantidade de informações que estará online agora. O governo deve ter certeza de que a segurança pessoal e o direito à privacidade sejam garantidos. O idealizador da Wikipedia, Jimmy Wales, disse numa entrevista ao Link que os planos de governos do futuro serão ‘wiki’ – elaborados por usuários organizados em comunidade. Estamos no começo desse processo? Não sei. O que é possível dizer é que estamos vivendo uma transição de modelos de governança, em queas pessoas podem expressar opiniões e participar da formulação de políticas públicas. ● L.P.
BLACKBERRY ONE - Obama se diz viciado no smartphone da RIM e não abriu mão do aparelho como presidente
Obama será primeiro presidente a ter celular :BOBBIE JOHNSON THE GUARDIAN
Barack Obama deverá ser o primeiro presidente dos Estados Unidos a trabalhar com e-mails, dentro das mudanças radicais quanto à maneira que a Casa Branca usará a tecnologia para fazer desta presidência a mais “abertaeconectada”dahistória. Depois de vários meses decidindo se Obama, ávido usuário de BlackBerry, poderia continuar postando e recebendo e-mails em seu gabinete, notícias sugerem que os agentes do serviço secreto aprovaram o usodeumcelularaltamenteprotegido para e-mails pessoais. Presidentesanterioresevitavam mensagens por e-mail por razões de segurança e legais. George W. Bushenviou seu último e-mail pouco antes de assumir o governo em 2001, e não há nenhum computador no Salão Oval.A notícia de que foi autorizado a usar seu serviço de e-mail pessoal deixou Obama aliviado, ele que já tinha dito que estava tão apegado ao seu Blackberry que “vão ter que arrancá-lo das minhas mãos”. Choques tecnológicos são comunsnaCasaBranca.Em1992,a equipedeBillClintonsesurpreendeu ao descobrir que não havia um único computador no lugar. Aindaestavamnotempodasmáquinas de escrever. Durante aquelesoitoanos,ovice-presidenteAlGoretomouparasiaresponsabilidade de desenvolver o go-
vernoonlineeajudaroquantofosse possível na implantação de uma infraestrutura de telecomunicações em todo o país. Usar o site para medir a opinião pública e colher as reações das pessoas pode contribuir para o mesmo sucesso obtido por Obamanasuacampanha,quando foram usados o website, e-mails e mensagens de texto paraumlevantamento semprecedentes de fundos, além de estabelecer uma conexão (ainda que ilusória) entre o candidato easmilhõesdepessoasque contribuíram para a campanha.
Offline: Bush enviou seu último e-mail em 2001, por questão de segurança Mesmo satisfeita com a sua imagem hi-tech, a administraçãoObamaainda precisa tomar decisões sobre como vai abordar essa tecnologia. Por exemplo, como vai escolher um diretor para essa área de informática, um posto novo que muitos esperamserápreenchidoporalguma figura conhecida do Vale do Silício, o que pode ajudar a levantar a economia em crise. No vale que concentra a indústria hi-tech, situado na Califórnia, mais de 90% dos eleitores escolheram o democrata. Era difícil encontrar um único adesivo de John McCain. O velho candidato republicano não usa computadores.
Embora muitos nomes já tenham sido cogitados nos últimos meses,entreelesodiretorexecutivo do Google, Eric Schmidt, e o presidente da Apple, Steve Jobs, Obama ainda não decidiu. Acredita-se que a escolha será entre um destes dois candidatos: Padmasree Warrior, diretor de tecnologia da gigante Cisco, ouVivekKundra,que tem omesmo cargo no governo do Estado de Washington. “Achoqueodiretordetecnologia de Obama deve ser do Vale do Silício”, diz Tom Foremski, analista do setor. “Temos pessoas muito capacitadas, mas o mais importante é que isso sirva como um reconhecimento fantástico de que temos um tesouro nacional aqui.” Entre os ambiciosos planos de Obama está um programa para a informatização total do sistema de saúde dos Estados Unidos com registros médicos eletrônicos.A proposta,que envolveria um gasto de US$50 bilhões em cinco anos, tem por fimmodernizarosistema médico do país e eliminar a perda de tempo burocrática decorrente da manutenção dos registros em papel. Noentanto, umprogramasimilarimplantado naGrã-Bretanha para informatizar o sistema de saúde do governo, que custou US$17 bilhões, pode não deixar as pessoas tão otimistas. O projeto britânico, que é o maior programa de tecnologia dainformação do mundo,opera com quatro anos de atraso e sempre tem problemas. ●