No divã
- Sei, sei... - ... e eu estava tentando subir uma escada que estava escorregadia. Podia ser minha tentativa de ascensão na empresa. - Sei, sei – disse ele pensando na derrota do Timão pro Cia. Norte na Copa do Brasil de 2.005. - ...mas eu não sou promovido há dezoito anos! O que o senhor acha??? – perguntou o paciente, desesperado. - O que você acha disso? – retrucou o psicólogo. - Eu não sei... - Então. É por isso que estamos aqui. Você tem que chegar a uma conclusão por si só. Eu só mostro o caminho. - Mas até agora o senhor não me mostrou nenhum! – argumentou o paciente. - Tem certeza? - ... Plim! Acabou a sessão. - Nos vemos na quarta, mas... Pense bem sobre o que eu te disse... - Mas o senhor não disse nada! - Tem certeza? Fechou a porta na bunda do paciente se perguntando de como tinha escolhido essa profissão. Era reclamação em cima de reclamação. Só choradeira. Quando alguém ria no divã era um riso histérico, quase psicótico. Não. Ele precisaria mudar algo. Quebrar regras. Onde estava aquela rebeldia da época da faculdade? Ficou soterrada embaixo da barriga? - Hum... – pensou - E essa barriga, hein? Ele estava se sentindo o último dos homens. Não conseguia dormir. Pensou no que fazer. Pronto! Era isso. Não mais respostas vãs. Chega de comentários vazios, seguidos de florais de Bach, Beethoven, ou sei lá mais quem.. Não. Agora seria o verdadeiro psicólogo. O que fala a verdade pros pacientes. Já tinha passado por situações de perigo na profissão.
Uma mulher tentou fazer xixi no tapete do consultório só para marcar território e provar a validade do feminismo. Foi difícil segurá-la. Ela tinha um metro e oitenta, oitenta quilos e um buço maior do que seu bigode. Onde estava sua fibra nestes dias, meu Deus? Escreveu algo, a mão mesmo, para não esquecer da missão dos próximos dias, e, quem sabe, da sua vida. - Bom dia dona Carmem! - Bom dia Dr.! Seu primeiro paciente de hoje está esperando. - Bom dia Clóvis. Vamos entrar? - Doutor – começou o paciente. - Tive outro sonho com aquele homem e ... - Clóvis – disse o psicólogo. - Já sei qual o seu problema. - É estresse Dr.? - Não Clóvis, não é estresse. Você é gay! O ar ficou pesado. Era a primeira revelação que fizera assim em toda sua carreira. Não sabia o que esperar. - Aaaaaaaiiiiiiiiii!!!!! Obrigada doutor!!!!! Agora finalmente eu posso usar o nome de Walkíria!!!!! Me dá um beijo!!!!! Aaaaaaiiiii que felicidade!!!!! E foi embora pulando. - Ufa – pensou. – Não foi tão difícil assim. O resto da semana foi assim. Revelações surpreendentes, palpites de verdade. Na terapia de casais então, nem se fala. - Ele quer dar umas palmadas na sua bunda? Deixa dar. Quando doer você fala! – Argumentava o doutor. - Ele te traiu? Processa o cafajeste! - Complexo de Édipo o escambau! Arranja uma garota de programa de cinqüenta anos antes que eu chame a polícia! – gritava o doutor. – Some! Adorou. Começou a escrever um livro com as anotações das sessões mas foi ameaçado de processo por querer usar os nomes verdadeiros. D. Carmem, a secretária, não gostou dos resultados ( pouco ortodóxos ) e pediu as contas. Não sem antes comunicar tudo ao conselho de psicologia. Cassaram o diploma dele e quase o internaram num manicômio. Mudou-se para o interior do Pará, onde tem uma pequena fazenda. Prepara algumas poções e fala com os animais. No meio do mato a verdade não dói tanto.