Refeições

  • Uploaded by: Zeca Salgueiro
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Refeições

É uma linda tarde de domingo e eu vou almoçar a qualquer momento. Em casa, tranqüilo, sem me preocupar com qual garfo devo segurar o bife, peixe ou o que for servido. Já deve ter acontecido com você. Você vai a uma festa chique de um amigo que não via a tempos. Pode ser o casamento daquela prima metida a grã-fina – e que ela tomou aulas de etiqueta antes da festa, ah tomou! Bom, lá estou eu num jantar onde servem uma baita salada de alface americana com rúcula, alcaparras e umas folhinas coloridas. Parece confete. Vou direto com o garfo e a faca na alface mas sou impedido pela minha mãe – que estudou em colégio feminino – com um olhar de reprimenda e me diz sorrateiramente que a alface deve ser “dobrada” e enfiada toda na boca. Começo a empreitada. Passam-se três minutos e eu finalmente ponho a dita na boca, e, quando estou para comemorar com meus botões a folha abre inteira, violentamente, e eu cuspo cinco alcaparras que pus junto para economizar tempo. Vexame. Tiram o prato e eu me sirvo de peixe no suplá. Nem sabia que aquele pratão de prata era só para apoiar o prato de porcelana e sou imediatamente corrigido pelo garçom, que também me olha torto. Tento pegar um pouco de molho com o talher de peixe – que eu achava que fosse uma mistura de faca e colher mal-feita – e o sorriso da minha namorada vacila. Aquilo não é uma mistura de faca com colher e é para cortar o peixe no sentido oblíquo. Acabo. Estou suando em bicas. O garçom – que não olha mais pra mim- põe uma bola de sorvete de limão dentro de uma taça que parece taça de licor de tão pequena! - Que miséria de sobremesa... – comento baixinho e minha mãe, disfarçando as lágrimas, me diz que aquilo é um “sorbet”, e é usado para tirar o gosto do peixe da minha boca, preparando-a, assim, para o que vem a seguir. Eu digo que seria melhor não servir o que não é pra deixar gosto e todos à minha volta riem. Não sei porque... Finalmente o prato principal. Eu me arrependo de não ter arrebentado no peixe!

Era um filé de “veal” – não pensem besteira porque é carne de vitela – do tamanho da minha unha, todo enfeitado com um “molhinho” quase azul ( não comi! ), e folhas de alecrim com sei-lá-o-quê. Não dava pra tapar a minha cárie. A sobremesa era uma mousse quase roxa, que eu nem quis do quê. Fechei os olhos e pus pra dentro. O garçom não sabia se me batia ou se me adotava. Minha mãe quis me deserdar e minha namorada achou um jeito de não falar comigo o resto da festa. Fiasco total. Da próxima vez que me convidarem para um jantar ou almoço desses, eu digo que estou de dieta, ou me acabo nos canapés, ou passo numa lanchonete e detono um x-bacon antes de chegar. Vai me poupar de muito constrangimento!

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