Filosofia Da Religião

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FILOSOFIA DA RELIGIÃO

I. INTRODUÇÃO______________________________________________________________4 1. A Filosofia da religião na história da filosofia........................................................................ 4 a) Filosofia Grega (séculos V-IV a.C.)....................................................................................................... 4 b) Filosofia Romana (século I)....................................................................................................................5 c) Filosofia Medieval (séculos XIII-XIV).................................................................................................. 5 d) Renascimento (século XV)..................................................................................................................... 5 e) Racionalismo (século XVII)................................................................................................................... 5 f) Iluminismo (século XVIII)...................................................................................................................... 6 g) Escola Sociológica (século XIX)............................................................................................................6 h) Escola Psicológica (século XIX)............................................................................................................ 6 i) Evolucionismo (século XIX)................................................................................................................... 6 j) Marxismo (século XX)............................................................................................................................ 7 k) Escola Etnológica (século XX)...............................................................................................................7

2. Método da filosofia da religião................................................................................................ 7 3. Elementos básicos da religião.................................................................................................. 8 4. Constantes religiosas................................................................................................................ 8 a) Constante Telúrica.................................................................................................................................. 9 b) Constante Celeste....................................................................................................................................9 c) Constante Étnico-Política......................................................................................................................10 d) Constante Mistérica.............................................................................................................................. 11 e) Constantes das Religiões Universais.................................................................................................... 12

5. Principais religiões................................................................................................................. 13 a) Religiosidade do Homem Paleolítico....................................................................................................13 b) Religião do Egito Antigo...................................................................................................................... 13 c) Religião da Mesopotâmia..................................................................................................................... 14 d) Religião Greco-Romana....................................................................................................................... 14 e) Religião dos Celtas e dos Vikings........................................................................................................ 15 f) Religião dos Astecas e dos Incas...........................................................................................................15 g) Hinduísmo.............................................................................................................................................16 h) Confucionismo......................................................................................................................................18 i) Taoísmo................................................................................................................................................. 19 j) Budismo.................................................................................................................................................20 k) Jinismo.................................................................................................................................................. 22 l) Zoroastrismo.......................................................................................................................................... 23 m) Maniqueísmo....................................................................................................................................... 23 n) Islamismo..............................................................................................................................................24 o) Judaísmo............................................................................................................................................... 26 p) Cristianismo.......................................................................................................................................... 30

6. Formas religiosas derivadas ou degeneradas....................................................................... 38 7. A secularização da sociedade................................................................................................. 39 II. DEFINIÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DA RELIGIÃO____________________________41 1. Definição ............................................................................................................................... 41 2. Fundamentação ôntica da religião ...................................................................................... 41 1) Passo um: o existir depende em última instância de Deus................................................................... 42 2) Passo dois: a existência deve vir diretamente de Deus e não de um ser intermediário........................ 44 3) Passo três: a tendência de toda criatura a Deus.................................................................................... 45

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3. Fundamentação axiológica e dinâmica da religião ............................................................. 45 a) fundamentação axiológica ou das perfeições........................................................................................45 b) fundamentação dinâmica...................................................................................................................... 46

4. Conclusões.............................................................................................................................. 46 III. NOÉTICA DA RELIGIÃO__________________________________________________48 1. Consciência da religião por via do intelecto......................................................................... 48 a) O conhecimento pela presença da própria essência divina (conhecimento intuitivo).......................... 48 b) O conhecimento pela presença da própria essência divina...................................................................49 c) O conhecimento indireto ou “per analogiam”...................................................................................... 49 d) Os que negam esta via de acesso.......................................................................................................... 49

2. Consciência da religião por via da vontade.......................................................................... 50 3. Consciência da religião por via da sensibilidade.................................................................. 50 a) Esclarecimentos importantes................................................................................................................ 50 b) Se a religião pode ser objeto destas realidades..................................................................................... 51 c) A religião nas paixões e sentimentos.................................................................................................... 51 d) A religião nos instintos......................................................................................................................... 52 e) Possibilidade do ateísmo no âmbito da noética da religião.................................................................. 53

IV. ATITUDE DO HOMEM DIANTE DA CONSCIÊNCIA DA RELIGIÃO____________54 1. O ateísmo................................................................................................................................ 54 2. A única atitude racional ante a consciência da religião....................................................... 54 ANEXO 1____________________________________________________________________55 “Para quê ter uma religião” (D. Estevão Bittencourt, PR 297/1987)..................................... 55 ANEXO 2____________________________________________________________________64 “Compreendendo a Nova Era” (D. Estevão Bittencourt, PR 379/1993)................................ 64

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I. INTRODUÇÃO

A filosofia, de uns tempos para cá, viu-se na necessidade de estudar o fato religioso. Com o advento da filosofia imanentista, a transcendência ao absoluto que sempre foi admitida como uma realidade natural no homem, começa a ser questionada. Surgem diferentes posicionamentos a seu respeito: desde a sua negação por completo, como à sua absolutização, chegando-se a afirmar que é um fato evidente, inquestionável. Infelizmente, até o presente momento, fez-se pouca filosofia sobre a religiosidade. Os livros que se encontram a este respeito, são de caráter muito mais sociológico do que filosófico. Este estudo pretende ir um pouco mais além, tentando responder perguntas como estas: possui a religiosidade um fundamento antropológico, mais ainda, metafísico? Se há um fundamento na natureza humana, porque muitos homens não são religiosos? A religiosidade é um sentimento ou é mais do que isto? É de capital importância encontrar respostas a estas perguntas, para que a nossa fé seja mais sólida e não dependa apenas da cultura em que vivemos ou de um bom senso sem explicação, facilmente atacado por aqueles que se empenham em excluir Deus da sua vida.

1. A Filosofia da religião na história da filosofia

Verifica-se que a religião constitui uma das dimensões centrais da existência humana: a mais básica e distintiva do ser humano. Assim, foi objeto de reflexão desde os primórdios da filosofia, sendo que, a partir do século XVII começa a surgir uma postura crítica, que subsiste ainda, mas que pouco a pouco vai sendo desmistificada com os estudos mais recentes sobre as origens e bases do fenômeno religioso: a) Filosofia Grega (séculos V-IV a.C.) Numa sociedade politeísta, com sua mitologia decantada em poemas épicos, concebe um Ser Superior e imutável como origem e ordenador do Universo, substituindo as explicações mitológicas por explicações racionais dos fenômenos,

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cujo substrato último estaria num Deus Supremo e Transcendente (Anaximandro, Parmênides, Heráclito e Aristóteles); b) Filosofia Romana (século I) Manifesta sua rejeição pela concepção mitológica da religião civil do Estado, como meras fábulas, propugnando pela adoção de uma religião natural de união da alma com o Transcendente (Sêneca e Varrão); c) Filosofia Medieval (séculos XIII-XIV) Caracteriza-se pela defesa filosófica da religião cristã e pela demonstração racional da existência de Deus e de suas características (S. Agostinho, S. Anselmo e S. Tomás de Aquino); d) Renascimento (século XV) Com a redescoberta do mundo greco-romano, busca-se formular uma síntese dos elementos religiosos de diversas procedências, com a intenção de descobrir um fundo religioso universal e deduzir-se uma doutrina metafísica universal (Ficino e Mirandola); e) Racionalismo (século XVII) Começa a colocar em xeque a religião, pretendendo racionalizar o fenômeno religioso, a partir da negação de qualquer revelação divina (Hume, Tindal e Toland);

Hegel interpreta la r. dentro la prospettiva kantiana della sola ragione e vede in essa il secondo momento del sapere assoluto, quando lo spirito prende coscienza di se stesso e diventa "autocoscienza". Subito dopo Hegel, con Feuerbach, Marx, Engels, Comte, Nietzsche inizia la demistificazione della r. Alla r. fu fatale, tra l'altro, il nesso che essa sembrava avere con l'idealismo, per cui la demolizione di quest'ultimo sembrò trascinare con sé anche il crollo della r. Si cercò di dimostrare che essa non ha nessun fondamento oggettivo. Se ne ricercò l'origine nei vari sentimenti di impotenza di fronte alla natura (Feuerbach), di compensazione nella vita futura per ciò che manca nella vita presente (Marx), di risentimento (Nietzsche), di sublimazione degli istinti (Freud), di autotrascendimento (Bloch), ecc. Senonché, per quanto ingegnose, tutte queste spiegazioni della r. risultano inadeguate: esse fanno luce su qualche motivazione reale, ma per lo più secondaria, di essa. Davanti ad un fenomeno così grandioso e così complesso come quello religioso, decisamente il più imponente tra tutti quelli che segnano la storia dell'umanità, le spiegazioni di Feuerbach, 5

Marx, Nietzsche, Freud, Bloch risultano chiaramente riduttivistiche e semplicistiche e pertanto assolutamente inadeguate. Esse tentano di trasformare in un fenomeno secondario, accidentale e tutto sommato trascurabile ciò che invece risulta profondamente radicato nella natura umana e che costituisce sempre una componente fondamentale e primaria della cultura. "Attraverso la parte più illustre della storia umana, in tutti i secoli e in qualsiasi stadio della società, la r. è stata la forza centrale unificatrice della cultura. È stata custode della tradizione, preservatrice della legge morale, educatrice e maestra di sapienza. [...] La r. è la chiave della storia. Non possiamo comprendere le strutture intime di una società, se non conosciamo bene la sua r. Non possiamo capire le sue conquiste culturali, se non comprendiamo le credenze religiose che stanno dietro di esse. In tutte le età le prime elaborazioni creative di una cultura sono dovute ad un'ispirazione religiosa e dedicate ad un fine religioso. La r. sta alla soglia di tutte le grandi letterature del mondo. La filosofia è un suo prodotto ed è un rampollo che fa continuamente ritorno al proprio genitore" (Ch. Dawson, Religion and Culture, 1948, pp. 49-50)(Battista Mondin, Dizionario Teologico e Filosofico). f) Iluminismo (século XVIII) Na linha do racionalismo, caracteriza-se pela negação das religiões positivas (especialmente do cristianismo), sustentando um deísmo como crença geral na existência de um Ser Supremo, sem que deva existir qualquer Igreja ou sistema organizado de culto (Voltaire, Diderot e D’Alembert); g) Escola Sociológica (século XIX) Pretende que o fenômeno religioso seja necessariamente social, constituindo um sistema solidário de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, adotadas por uma comunidade (Durkheim, Weber, Croce e Gentile), esquecendo, no entanto, que o sentimento religioso tem sua dimensão pessoal; h) Escola Psicológica (século XIX) Reduz o fenômeno religioso à consciência individual, surgindo do subconsciente o sentimento religioso e todas as crenças (Schleiermacher, Freud, Hartmann e James), o que descartaria a possibilidade de revelação divina ao homem; i) Evolucionismo (século XIX) Concepção de que as religiões evoluíram das crenças míticas, politeístas e rudimentares para as religiões monoteístas, organizadas e universais (Darwin e Spencer);

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j) Marxismo (século XX) Concepção de que a religião é o ópio do povo, a maior das alienações, uma vez que aquilo que se atribui a Deus seria próprio da Humanidade como um todo (Feuerbach e Marx); k) Escola Etnológica (século XX) Procura mostrar, através do estudo dos povos primitivos e das culturas rudimentares, que a crença num Deus Supremo e Único foi, desde os começos, a forma religiosa originária, sendo as religiões politeístas posteriores corruptelas da crença original (Lang e Schmidt).

Como se vê, a partir deste breve esboço histórico, já se afirmou tudo a respeito da religião: que existe, que não existe, que é um sentimento, que é um instinto, que é uma alienação, que é uma criação humana, etc, etc. A avaliação do que realmente é a religião, sua existência, seu fundamento, será visto no segundo capítulo.

2. Método da filosofia da religião

Para o estudo filosófico da religião, vários são os métodos utilizados: Método histórico-crítico comparativo – comparar as várias religiões no tempo e no espaço, buscando seus traços comuns e suas diferenças específicas, para verificar o que constitui a essência do fenômeno religioso; Método Filológico – mediante o estudo comparado das línguas, busca encontrar nas línguas parentes o que pensavam e acreditavam os povos antes de se dividirem em línguas distintas (quais as palavras utilizadas para descrever e expressar o sagrado e suas raízes comuns); Método Antropológico – reconstruir o passado religioso com base na etnologia, estudando os povos primitivos atuais (suas instituições, crenças, rituais e tradições). A filosofia da religião deve conjugá-los, para obter a melhor soma de elementos para chegar às suas conclusões sobre a essência das manifestações religiosas e suas características universais. Método metafísico – busca o fundamento do fenômeno religioso.

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3. Elementos básicos da religião

Constituem elementos básicos de toda religião, o que se denominam de:





religioso primário (componente racional e interno) – reconhecimento interior da existência de Deus e da dependência do homem em relação a Ele, plasmado num conhecimento superior (fé) das realidades terrenas e transcendentes (concepção do mundo, do homem e de Deus); religioso secundário (componente afetivo e externo) – manifestações externas e objetivas, pessoais e coletivas, derivadas desse reconhecimento da existência e da dependência de Deus, que plasmam e externam o desejo de honrar, servir e amar a Divindade (ritos, cerimônias, moral).

Se, por um lado, tudo o que o homem faz pode ser considerado como “religioso secundário” (dada a total dependência do homem em relação a Deus: “quer comais, quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei-o por amor a Deus”), por outro, o mais especificamente “religioso secundário”, como manifestação característica do culto a Deus, é constituído por: •

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orações com suas variadas formas de gestos e palavras; sacrifícios oferecidos à Divindade, em suas variantes cruentas e incruentas; ritos sagrados, tanto públicos e sociais, quanto privados; e altares e templos em que se realizam essas orações, sacrifícios e cerimônias.

4. Constantes religiosas

Descobrir o núcleo ou denominador comum que existe subjacente às múltiplas variantes religiosas, tanto no tempo (constantes religiosas) quanto no espaço (círculos ou famílias de religiões) é uma das tarefas auxiliares da filosofia da Religião: saber distinguir, através da comparação entre as várias formas religiosas, o que é o essencial e comum a todas elas (e que constitui o fenômeno religioso) e o que é acidental e diferenciador. No entanto, algumas diferenças não são meramente acidentais, quando se trata de comparar as religiões naturais em relação à religião revelada, pois dizem

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respeito à concepção do mundo, do homem e de Deus que corresponde à realidade. Daí o antagonismo entre as posturas extremistas: Reducionista - “Quem conhece uma religião, especialmente o cristianismo, conhece todas” (Harnack); Relativista - “Quem conhece apenas uma religião, não conhece nenhuma” (Max Müller). a) Constante Telúrica A forma mais antiga de representação da divindade foi a da Deusa Mãe Terra (Tellus = Terra): figuras femininas encontradas desde 30.000 a.C. (ídolo feminino da fecundidade, com seios e útero exageradamente desenvolvidos ou com muitos seios). Essa representação destacava o sentido sagrado da terra e o ciclo da vida, da primavera ao inverno (renascer primaveril, maturidade estival e morte invernal), com a fertilidade agrária e a fecundidade humana, até sua volta às entranhas da terra, com a morte, que não é o fim, já que se acredita numa vida além da morte (Na terra – humus – se esconderia a origem e o destino do homem – homo). O cristianismo veio a dar um outro sentido às festas pagãs (pagã = do campo), que celebravam as estações do ano, comemorando, nesses dias, os mistérios cristãos (Ex: Em vez de festejar o Deus-Sol no dia primeiro do ano, celebrar a Santa Maria, Mãe de Deus). Em todos os povos de religiosidade telúrica (Egito Antigo, Mesopotâmia, Aztecas, Povos Negros Africanos), a suprema divindade era representada pela Deusa Terra, simbolizada por uma figura feminina ou, mais comumente, por um animal (teriomorfismo), geralmente a serpente (futuro símbolo dos farmacêuticos, como sinônimo de saúde e vida), o touro ou o cabrito. A veneração originária dos deuses que desceram e se assentaram nessas representações vai se convertendo em idolatria. b) Constante Celeste Os povos indo-europeus têm a crença num Deus Supremo Celeste, criador de todas as coisas e transcendente ao mundo, originariamente concebido monoteistamente (os nomes dos demais deuses assírio-babilônicos são atribuídos como nomes diversos de Marduk, deus principal).

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A evolução posterior dessas religiões conduz ao politeísmo, mas no qual há sempre um deus principal entre os muitos que são reconhecidos (12 deuses supremos romanos, correspondentes aos 12 gregos; mil deuses hititas; 3 mil deuses babilônicos; 330 milhões de deuses hindus). Esse deus supremo é concebido na forma masculina e como Pai dos demais deuses e homens (Iu-piter romano = Deus Pai). A suprema divindade das religiões celestes tem no seu nome algum elemento que dê a idéia de luz, céu, claridade (Deus, lembrando dies = dia). Ademais, há, para o mesmo deus, um nome “terreno” (usado pelos mortais) e um nome “celeste” (usado pelos deuses). Enquanto o designativo da suprema divindade telúrica é Grande (pela imensidão da Terra), o da suprema divindade celeste é Altíssima (pela elevação aos Céus). Diante da divindade telúrica, surge no homem a sensação do fascinans (atração, emoção, sedução), enquanto a divindade celeste desperta a sensação do tremendum (temor, medo e reverência): Se, por um lado, os fenômenos metereológicos despertavam nos povos primitivos um temor, por outro, esse poder divino despertava também segurança e confiança. Apesar do antropomorfismo que caracteriza as religiões celestes (representação humana da divindade), com os deuses sendo retratados em forma corporal e com virtudes e defeitos humanos, participando das vicissitudes terrenas (poemas homéricos), há uma nítida separação entre o celeste e o terreno: o pecado dos homens é orgulho de querer chegar até o lugar dos deuses (Prometeu na mitologia grega) ou se tornar imortais (Gilgamesh na mitologia sumério-acadiana). Daí que o próprio do homem deve ser a humildade (humilis), que tem a mesma raiz de terra (humus). O símbolo da águia atacando a serpente representará a futura superação da religiosidade celeste sobre a religiosidade telúrica. Mas, na verdade, as teofanias (manifestações) dos desuse celestes não será através de animais, mas de representações humanas (levando a imaginação de gregos e romanos a verem os bosques e em toda a Natureza povoados de ninfas, sátiros e uma miríade de semideuses). c) Constante Étnico-Política A constante étnico-política liga-se à identificação entre religião e nação: cada povo tem sua própria religião. São características dessa constante: Nacionalismo religioso - confusão entre as origens da religião e da nação (a religião é a dos antepassados e se confunde com o amor à pátria).

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Ausência de um fundador conhecido – a origem da religião se perde na noite dos tempos (tradição oral, desde as próprias origens do homem e dos primeiros clãs, tribos e nações). Coletivismo Religioso – a pessoa se relaciona com a divindade mais como membro da comunidade do que como indivíduo (a religião é vista como um dever cívico). Pragmatismo religioso – as práticas e rituais religiosos buscam primordialmente a conservação e prosperidade terrena da comunidade, mais do que a salvação ultraterrena da alma (o pecado se confunde com delito civil e deve ser evitado não tanto por ter um castigo eterno, mas por comprometer a segurança da comunidade, ao atrair a ira dos deuses). Ausência de um corpo doutrinário estruturado - culto basicamente sacrificial, sendo os sacerdotes apenas ministros do culto e não mestres que ensinam uma doutrina salvífica). Caráter teocrático do Estado - ser cidadão é pertencer à mesma comunidade político-religiosa e ter os mesmos deuses protetores (ser banido do Estado é ficar sem pátria e sem deuses). Identificação do governante com a divindade – o monarca é reconhecido como filho dos deuses e seu representante na Terra (representado muitas vezes pelo Sol: faraós egípcios, imperadores romanos e japoneses, monarcas incas), cabendo-lhe a intermediação com os deuses (sacerdócio) e a condução político-militar da nação. Ausência de proselitismo - membros da comunidade são apenas os membros da nação (concepção de povo escolhido pelos deuses). Endogamia familiar ou tribal – casamento, dentro da família real, entre irmãos, para manter a pureza divina (nacionalismo de não permitir casamento com estrangeiros). Em geral, as religiões celestes são, também, étnico-políticas. d) Constante Mistérica Os mistérios têm suas raízes no telúrico, brotando durante a Idade de Bronze e o Neolítico e ressurgindo com a decadência das religiões celestes e étnico-políticas (mistérios dionisíacos, órficos, eleusinos, pitagóricos, etc). Eram ritos de iniciação que afastavam a pessoa da relação com os demais mortais e a colocavam num círculo de eleitos, visando à sua união individual com

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a divindade. O sentido da palavra não era de algo oculto, mas, pelos rituais adotados, incompreensíveis e chocantes para os não iniciados, passaram a ser ocultados, para evitar perseguições. Esses rituais, que marcavam o renascimento da pessoa, tinham as seguintes constantes: Introdução da serpente (viva nos começos e depois de metal) no seio do iniciante (sinal de consagração) – contato corporal e íntimo com a divindade, como símbolo de sua união com ela; Omofagia – despedaçar e comer cru ao animal teofânico, para incorporar as virtudes da divindade; Incubação – dormir em contato direto com a terra, para receber dela as virtudes curativas e previsoras do futuro; Práticas catárticas – retiros, jejuns, flagelações, abluções, acusação pública das próprias faltas, etc. As características básicas da constante mistérica são: Henoteísmo (hen = principal + theos = deus) – união de uma divindade feminina principal com um jovem deus inferior, que morre todos os anos, para de novo renascer; Divindade Imanente – a união do indivíduo com a divindade se faz pela possessão desta com aquele (danças das bacantes em éxtasis, ou seja, fora de si); Panteísmo – concepção da divindade como o princípio ativo imanente ao mundo (alma universal); Despolitização da Religião – a religião não é a relação da comunidade (polis) com a divindade, mas a do indivíduo com o seu deus (personalismo); Aspiração a uma vida ultratumba – preparação para a vida após a morte, buscando a purificação nesta vida (conteúdo ético e soteriológico). e) Constantes das Religiões Universais As denominadas religiões universais são aquelas não ligadas exclusivamente a um povo (étnico-políticas) e que não possuem o substrato das religiões primitivas (telúrico-mistéricas), mas que conseguiram uma difusão ampla no tempo e no espaço (são, principalmente, o Budismo, Islamismo e Cristianismo). As constantes ou notas comuns dessas religiões são:

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Fundador conhecido – têm início conhecido no tempo, fundadas por um personagem histórico; Universalidade da mensagem – são supranacionais, visando estender sua doutrina salvadora ao mundo inteiro (proselitistas); Livro Religioso como base da doutrina – sua mensagem básica encontra-se recolhida em livros sagrados de caráter irreformável, conservados na língua original, ainda que não mais falada (só para a liturgia); Vigência Atual – encontradas atualmente nos povos desenvolvidos ou em desenvolvimento.

5. Principais religiões

a) Religiosidade do Homem Paleolítico Observa-se, desde os primórdios da Humanidade, o costume do homem enterrar seus mortos, sendo encontrados túmulos em que os ossos estão acompanhados por utensílios, o que demonstra a crença na vida ultraterrena. Ademais, as pinturas rupestres encontradas nas Cavernas, representando animais e cenas de caça, permitem captar o sentido religioso do homem primitivo, que representava a divindade sob forma de animais (constante telúrica), elegendo os mais fortes para a sua representação. As cenas de caça poderiam conter a esperança de que a representação pictórica se tornasse realidade. b) Religião do Egito Antigo Teriomorfismo, politeísmo, idolatria; principais deuses: Ísis (Grande Deusa Mãe), Osíris (esposo de Isis e morto por esta, renascia anualmente para fertilizar as margens do Nilo), Set (irmão de Osíris), Hórus (falcão), Anúbis (cachorro), Ápis (boi) e Tote (ave íbis). O faraó Amenófis IV tentou restabelecer o monoteísmo original, promovendo o culto do “Disco Solar”, mas essa reforma religiosa foi afastada depois de sua morte. A crença na vida ultratumba em parâmetros semelhantes às deste mundo, com um julgamento perante o Tribunal de Osíris e a existência de necessidades materiais, fez com que se desenvolvesse o sepultamento em pirâmides, junto com os tesouros dos faraós e a mumificação do cadáver, para que a base material da

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alma não se desfizesse. Construíram grandes templos para o culto de seus deuses. c) Religião da Mesopotâmia Os babilônios e assírios eram politeístas, possuindo mais de 3.300 divindades. Porém, por cima de todas essas divindades se reconhece a Assur-Marduk como Deus Supremo (Assur para os assírios e Marduk para os babilônios), sendo que todas as demais teriam, na verdade, uma certa identidade com a mesma natureza divina (diferentes nomes de um mesmo Deus). Seu culto público se dava em pirâmides escalonadas em patamares, denominadas de zigurates. d) Religião Greco-Romana Politeísmo antropomórfico, de constante celeste, sendo os principais deuses os que figuram no quadro comparativo abaixo:

PRINCIPAIS DEUSES GRECO-ROMANOS GRÉCIA

ROMA

ATRIBUTOS

Zeus

Júpiter

Pai dos Deuses e Senhor do Trovão

Hera

Juno

Rainha dos Deuses, Deusa do Casamento e da Maternidade

Héstia

Vesta

Guardiã da Família e do Lar (Irmã mais velha de Zeus)

Poseidon

Netuno

Deus do Mar e dos Rios (Irmão de Zeus)

Deméter

Ceres

Deusa das Colheitas e da Fertilidade (Irmã de Zeus)

Hades

Plutão

Deus do Mundo Subterrâneo e da Morte (Irmão de Zeus)

Atena

Minerva

Deusa da Sabedoria e da Guerra (Filha de Zeus e Métis)

Ares

Marte

Deus da Guerra e da Destruição (Filho de Zeus e Hera)

Hefesto

Vulcano

Deus do Fogo e Ferreiro Aleijado dos Deuses (Irmão de Ares)

Afrodite

Vênus

Deusa da Beleza (Prima de Zeus e Esposa de Hefesto)

Apolo

Apolo

Deus do Sol, da Profecia e da Saúde (Filho de Zeus e Leto)

Artémis

Diana

Deusa da Lua e da Caça (Irmã Gêmea de Apolo)

Hermes

Mercúrio

Mensageiro dos Deuses (Filho de Zeus e Maia)

Dionísio

Baco

Deus do Vinho e da Vegetação (Filho de Zeus c/uma mortal)

Asclépio

Esculápio

Deus da Medicina (filho de Apolo)

Urano

Urano

Deus do Céu e Pai dos Titãs

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Cronus

Saturno

Deus do Céu e da Agricultura e Governante dos Titãs.

Rhea

Ops

Deusa Mãe (Esposa de Cronus)

Eros

Cupido

Deus do Amor

Hypnos

Sonus

Deus do Sono

Gea

Terra

Mãe da Terra

Têmis

Têmis

Deusa da Justiça (segunda mulher de Zeus)

Pan

Pan

Deus dos Bosques e das Pastagens

Acreditavam na predestinação, procurando ver nos augúrios (vôos de aves ou entranhas de um animal sacrificado) o que estava predestinado pelos deuses. Concepção fatalista da vida. e) Religião dos Celtas e dos Vikings Os Celtas enterravam seus mortos com as armas, comida, roupas e jóias, na crença de que necessitariam delas na outra vida. Adoravam, além de deuses e deusas, o javali, por sua coragem e ferocidade (tereomorfismo) e as cabeças cortadas dos inimigos (fincadas em postes, como sagradas). Os druidas eram os sacerdotes e magos que dirigiam o culto e ensinavam o povo, com poder curandeiro. Os Vikings acreditavam que os deuses viviam no Walhalla (paraíso viking), sendo os principais deuses Odin (Rei dos Deuses), Thor (Deus do Vento, da Chuva e da Agricultura), Frey (Deus do Casamento e da Fertilidade) e outros. As valquírias eram as mulheres enviadas por Odin para conduzir ao paraíso os guerreiros mortos em combate. Os deuses vikings eram adorados ao ar livre (não tinham templos). f) Religião dos Astecas e dos Incas Os Incas eram politeístas, acreditando num Deus Supremo Criador (Viracocha), Pai dos demais deuses, homens e criaturas. Inti (Deus-Sol) deu origem à família real inca. Anualmente, celebrava-se a grande festa do Sol, em que o animal a ser sacrificado (lhama) era levado para as montanhas, com as mensagens ao Deus, que o rei lhe havia dito ao ouvido. Havia os sacerdotes que cuidavam do culto ao longo do ano e as “Virgens do Sol”, que os assistiam. Havia também Quilla (Deusa-Lua). Os lugares sagrados (huacas) eram tanto os templos, quanto as pedras de formato invulgar, túmulos, fontes, colinas e cavernas.

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Já os Astecas possuíram uma religião cruenta de sacrifícios humanos: acreditavam que a manutenção da luz solar dependia do oferecimento de vítimas humanas ao Deus Sol (alimentar os deuses com a “água sagrada”, que seria o sangue). Sacrificavam milhares de pessoas, quer fossem inimigos capturados nas guerras, quer fossem crianças preparadas para isso. Arrancavam da vítima o coração ainda batendo, para esfregá-lo na parede do templo. Seus principais deuses eram Tonatiuh (Deus do Sol), Tezcatlipoca (Deusa da Noite), Coatlicue (Deusa Mãe Terra), Quetzalcoatl (Deus da Sabedoria), Tlaloc (Deus da Chuva). g) Hinduísmo É a religião nacional do povo indiano (permeia toda a vida do indiano, desde o levantar-se até o deitar-se). O sânscrito (idioma dos escritos sagrados hindus) não tem uma palavra para designar “religião”: a palavra dharma significa a realidade total. Assim, cabem, dentro do hinduísmo, as concepções religiosas de outros povos (Mahatma Gandhi pregava uma síntese de todas as religiões, num amálgama sincretista que não excluísse nenhuma). Evolução histórica: Panteísmo Védico (séc. XII-IX a. C.) – anterior à invasão dos povos indoeuropeus (Civilização de Harappa), de religiosidade telúrica; Brahmanismo (séc. IX-II a. C.) – posterior à invasão indoeuropéia, de religiosidade mistérica; Hinduísmo (séc. II a. C. até os dias atuais) – de religiosidade étnico-política, caracterizada pela aceitação da divisão político-religiosa da sociedade em castas. Núcleo básico do Hinduísmo: Divisão da sociedade em castas (varuna, que designa “casta”, etimologicamente significa “cor”: caráter racista da divisão). Crença em Brahman (panteísmo). “Vedas” como livros sagrados (mais antigos textos religiosos conhecidos).

VEDA

CONTEÚDO

Rig-Veda

Veda dos louvores

Sama-Veda

Veda dos cânticos litúrgicos

Yajur-Veda

Veda das fórmulas sacrificiais

Atharva-Veda

Veda das fórmulas mágicas

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Sistema de Castas e a crença na Reencarnação: A sociedade indiana está dividida em castas, sendo a explicação política-religiosa dessa diferenciação explicada pelo quadro abaixo (os povos arianos indoeuropeus, quando invadem a Índia, submetem a civilização harappiana existente, fixando as crenças na sociedade estratificada de origem divina):

CASTA

ORIGEM DIVINA

FUNÇÃO

ORIGEM HUMANA

Brahmane

Cabeças de Brahman

Sacerdotes

Arianos Loiros

Ksatriya

Braços de Brahman

Nobres e Guerreiros

Arianos Brancos

Vaisya

Pernas de Brahman

Trabalho Liberal

Arianos Morenos

Sudra

Pés de Brahman

Trabalho Manual

Arianos Negros

Paria

Sem casta e sem deuses Escravos (intocáveis)

Adhiwasi

Sem deuses

Povos Vencidos

Fora do Sistema Hindu Aborígenes

Cada casta tem seu estatuto próprio (direitos e obrigações). O cumprimento fiel das obrigações da própria casta (especialmente as profissionais) permite ao indivíduo, após a morte, reencarnar-se numa casta superior, e assim progressivamente, até a purificação total da alma, unindo-se definitivamente a Brahman (já o descumprimento desses deveres leva à reencarnação em casta inferior e, inclusive, em animal; daí o caráter sagrado das vacas na Índia, que não devem ser mortas ou molestadas). Uma das proibições é da do casamento fora da casta (deve ser endogâmico). As reencarnações seriam exigência da justiça (daí a passividade indiana diante das discriminações de castas). Panteísmo e Politeísmo Religioso: Brahman é a substância básica que deu origem a todos os seres (Princípio Universal, o Uno, o Todo, o Absoluto). Tudo o que existe provêm dela, por emanação, e, ciclicamente, a ela retorna (a alma inteiramente purificada volta a Brahman: essa é a aspiração de todo hindu). Há um ciclo cósmico das emanações da realidade, a partir de Brahman, que dura mais de 4 milhões de anos, até tudo retornar a Brahman, havendo, então um novo recomeço. O homem é constituído do kama (“amor” ou “desejo”) e do karma (“ação”, que pode ser boa ou má). Maya (= ilusão) é a realidade aparente (emanada de Brahman), que atrai o homem e faz com que permaneça na samsara (mundo das

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contínuas mudanças e reencarnações), até que se liberte definitivamente desses desejos, através das boas ações. Os avatares (= descida) são seres nos quais a divindade se encarna periodicamente (alguns desses seriam Buda, Ghandi e o próprio Jesus Cristo). Além de panteísta (confusão entre Deus e o Mundo, sendo o princípio das coisas imanente ao próprio mundo), o hinduísmo é também politeísta (milhões de deuses, masculinos e femininos) e enoteísta (3 divindades principais: Brahma, Criador do Universo, representado com 4 cabeças; Siva, Transformador do Universo, representado com 4 braços; e Visnú, Conservador do Universo, também representado com 4 braços. Ritual: Os mantras são fórmulas magicamente eficazes (orações tiradas dos textos védicos), que devem ser recitadas com escrupulosa exatidão (postura, ritmo, pronúncia, melodia e movimentos), para que tenha perfeito valor ritual. Outras formas de união à divindade são o yoga (exercício de ascese) e a bhakti (adoração ou devoção), que, em algumas seitas hindus, degenerou em práticas de total dissolução erótica (manifestações sexuais como doação total à divindade). O apaixonamento devocional, calcado no sentimento e não na razão, acabará levando a esses dois extremos: a ascese ou a promiscuidade. h) Confucionismo Confúcio ou Kung-Fu-Tse (551-479 a. C.) não foi o fundador de uma nova religião, mas apenas um filósofo (sábio que mais profundamente influiu na cultura chinesa) que começou seus estudos aos 15 anos, se casou aos 19, teve muitos filhos e se dedicou, a partir dos 22 anos, a ensinar e a fazer carreira política como conselheiro de reis chineses. Sabia-se um homem sujeito a erros (como reconhece em seu livro “Analecta”). Passou, no entanto, a ser cultuado e divinizado vários séculos após a sua morte. O confucionismo não é uma religião, mas apenas um sistema ético, de caráter pragmático e não teórico. Não visa ao aperfeiçoamento pessoal, mas consiste numa doutrina política de como devem ser e comportar-se os governantes e súditos, de modo a harmonizar o convívio social (norma básica: “O que não quiseres para ti, não o faças aos demais”). Toda a ética confuciana parte das “cinco relações” ou deveres de cada homem (tradição chinesa antiquíssima): •

Relação de justiça entre o príncipe e súditos;

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Relação de mútuo amor entre pais e filhos;



Relação de fidelidade entre marido e mulher;



Relação de respeito entre velhos e jovens;



Relação de lealdade entre amigos.

Os pressupostos fundamentais do sistema confuciano são: •

Crença na bondade natural do homem;



Inexistência de uma culpa ou pecado original;



Capacidade de salvação pelo esforço natural do homem, através do exercício das virtudes, superando a maldade decorrente da má educação ou do ambiente eticamente contaminado.

i) Taoísmo Lao-Tse (séc. VI a. C.), fundador do taoísmo, foi arquivista do governo imperial na dinastia Chu que, descontente com a corrupção da Corte, abandona a China, viaja para o Ocidente e escreve, ao voltar, o “Tao-Te-King” (Livro da Atuação do Princípio Primordial do Universo). Ao contrário de Confúcio, a preocupação fundamental de Lao-Tse não é com o convívio social, mas com a harmonia do indivíduo com a Natureza: o Tao é o “Caminho”, o princípio do Ser e do Mundo. O taoísmo não chega a ser uma religião, pois não visa ao relacionamento do homem com Deus, mas apenas à adaptação do homem ao ritmo da Natureza (a própria arte chinesa é uma demonstração disso, pois não retrata deuses, mas principalmente animais, plantas e a Natureza; ao contrário dos ocidentais, que buscam o domínio técnico-científico sobre a Natureza, os chineses pretendem apenas harmonizar sua vida com a Natureza, sem violentá-la). O Tao, como princípio absoluto, é mais passivo que ativo, e deve levar o homem à tranqüilidade e serenidade, à ausência de tensão interior e não ao ativismo (a ciência está na diminuição da ação): “Os que de verdade sabem, não falam; os que falam, não sabem”; “As palavras verazes não são floridas e as floridas não são verazes; o homem bom não discute e os que discutem não são bons”. Os princípios básicos naturais (encontrados na tradição ancestral chinesa), complementares e não antagônicos, seriam:



“Yin” (passivo, feminino, imanente, frio, escuro, brando, úmido, terra);

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“Yang” (ativo, masculino, transcendente, quente, luminoso, duro, seco, céu).

Admite a tradição mítica chinesa, de que, da união do Céu (masculino) e da Terra (feminina) teriam nascido todas as coisas (vestígio das constantes celeste e telúrica). Os próprios imperadores chineses eram vistos como “filhos do Céu”. O homem possuiria um corpo e duas almas: Alma “p’oh” – permanecia, depois da morte, junto ao cadáver no reino do deus da terra (necessitava de alimentos, roupas, armas e utensílios; daí que junto aos túmulos dos imperadores e nobres falecidos deviam ser enterrados suas mulheres, servos, cavalos e demais instrumentos necessários para a vida após a morte); Alma “hun” – separava-se do corpo, para gozar do reino do céu (os antepassados eram venerados como residentes do Reino dos Céus, protegendo seus descendentes). Na busca do Caminho (“Tao”), muitos discípulos de Lao-Tse descambaram para a alquimia, buscando encontrar a essência do Princípio Primeiro. O próprio taoísmo perdeu seu vigor, na medida em que sua filosofia básica de quietismo, desprezo pelas virtudes ativas, pelos negócios humanos e pelas ciências levou ao atraso do povo chinês. j) Budismo Fundador: O fundador do budismo foi Siddhartha Gautama (560-480 a. C.), filho de um príncipe indiano ksatriya (casta dos guerreiros). Casa-se jovem, tendo, além da esposa três concubinas. Uma noite, quando tinha 29 anos, após ter contato com a miséria e o sofrimento, abandona a família e os privilégios de casta e se torna um asceta ambulante (rapa a cabeça e troca as roupas delicadas por uma veste áspera), em busca de uma verdade superior, que explique e faça superar a dor neste mundo. Depois de jejuns e rigorosas práticas ascéticas, que quase o levam à morte pelo seu excesso, percebe que a verdade estaria no “Caminho Médio”, que se prontifica a difundir. Passa a ser chamado por seus seguidores de Buda (“Iluminado”). Reúne em torno de si um grupo de discípulos (os “bonzos”, monjes budistas), que procurarão viver sua doutrina, divulgando-a também entre os leigos. Doutrina Básica:

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O budismo, em sua forma original, não é uma religião (pois não fala em Deus ou salvação como união com a divindade), nem uma ética (pois não propõe regras de vida para o convívio social e carece da referência a um legislador superior), mas um “caminho” para a superação dos sofrimentos desta vida, em busca do Nirvana (a outra margem), onde a pessoa se perderia no Todo, aniquilando-se integralmente. O budismo admite a reencarnação como meio de contínua purificação dos seres, até seu total aperfeiçoamento (milhões de anos, até atingir o estado de bodhisattva, última reencarnação sob forma humana, antes de libertar-se totalmente da matéria). A doutrina básica do budismo segue a seguinte cosmovisão:



• •

Existência e Universalidade do Sofrimento – tudo o que existe, por ser mutável e perecível, é duhkha (contingência, limitação, inconsistência, decepção e angústia vital); Origem e Causa do Sofrimento – é o desejo, que faz com que se busque continuamente o contingente (samsara hindu); Remédio do Sofrimento – é a aniquilação completa do desejo (estado de impassibilidade, que só será perfeito no Nirvana, paraíso budista);



Meios para a Eliminação do Desejo:



Afastamento ou “saída do mundo” (tornar-se bonzo);





Práticas de exercícios de concentração (meditação) que levem a aniquilar as paixões ativas (refletir sobre as virtudes contrárias ou nas conseqüências do prazer desordenado); Vivência das 5 regras morais: 1) respeitar a vida de todos os seres viventes; 2) ser generoso com os próprios bens e não roubar os alheios; 3) abster-se da impureza (viver a castidade); 4) ser amável no trato e não mentir; e 5) abster-se das bebidas que embriagam (regras da lei natural).

Ramos: Hinayana (“Pequeno Veículo”) – interpretação mais estrita da doutrina original budista, vivida pelos bonzos (maior importância à ascese, à impassibilidade pela aniquilação do desejo) ;

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Mahayana (“Grande Veículo”) – interpretação menos rigorista do budismo original, adaptada à vivência laical (busca da salvação, pela prática das boas obras, consistente num estado de beatitude no nirvana, com o reconhecimento da existência de uma divindade). k) Jinismo O jinismo, como o budismo, surgiu a partir do hinduísmo, como movimento heterodoxo, ao não aceitar a autoridade dos Vedas. O fundador do jinismo foi Vadhamana Mahavira (séc. VI a. C.), que seguiu uma trajetória semelhante a Buda: pertencente a uma família real, abandona a mulher e a filha aos 28 anos, quando morrem seus pais, rapa a cabeça, renuncia à vida principesca e se dedica durante 12 anos ao ascetismo, após os quais recebe uma “iluminação”, sendo chamado, a partir de então, por seus discípulos de Jina (ou Yina, “o vitorioso”), dedicando-se, pelo resto de sua vida, a pregar essa doutrina. A doutrina básica do jinismo é formada pelos seguintes elementos: •

Panteísmo - o que existe é o universo material, que é eterno;



Animismo - todos os seres teriam alma (pedras, plantas, animais, homem);



Politeísmo - não admissão de um Deus pessoal (os deuses seriam os “perfeitos”: as almas dos que já alcançaram o nirvana);







Libertação do karma – a salvação se alcança através do esforço pessoal, mediante os exercícios ascéticos (jejuns e mortificações tão rigorosos, que muitas vezes levavam à morte por inanição); Moral – as mesmas cinco obrigações dos budistas; Ahimsa (“Não Violência”) – respeito exagerado a todos os seres viventes (os monjes jinistas caminham com uma escova na mão, para varrer do chão qualquer animalzinho, para que não o pisem por descuido, pois matar qualquer animal tem como pena a reencarnação em seres inferiores, aumentando o tempo de estadia neste mundo).

Os discípulos de Jina se dividiram em dois ramos: os “vestidos de branco” e os “vestidos de ar”, assim chamados por serem praticantes do nudismo (só os homens, uma vez que estava proibida à mulher, que só se salvava depois de se reencarnar num homem).

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l) Zoroastrismo O fundador do zoroastrismo foi Zoroastro (ou Zarathustra), nobre e sacerdote persa que viveu no século VI a. C., teve várias esposas e filhos e sucesso na pregação de sua doutrina. O livro sagrado do zoroastrismo é o Zend-Avesta, resultado do recolhimento por escrito das doutrinas do mestre em três períodos distintos. Para tentar explicar a existência do mal na Terra, o Zoroastro concebe um dualismo de princípios: um Deus do Bem (Mazda ou Ormuz) e um Deus do Mal (Arimã), em luta contínua, até a prevalência final do Bem sobre o Mal. O dualismo religioso é uma das saídas equivocadas para a explicação da existência do mal (outras são a negação de Deus pelo ateísmo ou a exclusão de Sua intervenção no mundo pelo teísmo). Várias são as correntes filosófico-religiosas que sustentaram esse dualismo: pitagóricos, platônicos e neoplatônicos, gnósticos e herméticos. Esse dualismo cosmológico se refletiria na própria constituição do homem: a alma, que existiria antes da encarnação, é boa, enquanto o corpo, por ser composto de matéria, é mau. O terreno é o campo do Deus do Mal e de seus demônios, enquanto o celeste é o campo do Deus do Bem e dos sete espíritos que o servem e acompanham (esses espíritos, intermediários entre Deus e os homens, serão posteriormente considerados também divinos, formando o cortejo de Mazda: Mitra, deus do Sol; Anahita, deusa das águas e da fecundidade; Vayu, deus da vitória; etc). A iniciação na religião zoroástrica se fazia aos 7 anos de idade, depois que a criança houvesse aprendido as orações mais importantes, recebendo do sacerdote uma faixa de algodão, com fitas e trançados, que levará nas cerimônias. As crenças básicas do zoroastrismo são na imortalidade da alma e na existência de um prêmio ou castigo eterno, depois da submissão da alma a um juízo, havendo a restauração do Universo, quando o Deus do Bem derrotar o Deus do Mal. m) Maniqueísmo O fundador do maniqueísmo foi Manes (216-286), que se autodenominou Khayya (= “O que participa da Vida”, em sírio), de onde o nome Manikkaios em grego. De origem nobre (partos), afasta-se da religião de seus pais quando ouve, por três vezes, uma voz que lhe diz: “Não comas carne, não bebas vinho e afastate das mulheres”. Depois dessa inspiração, inicia a pregação de uma nova doutri-

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na, de caráter dualista, considerando o espírito bom e a matéria má. Percorre a Índia e a Pérsia pregando sua nova religião, sendo finalmente preso pelos magos persas, morrendo na prisão. Os pontos principais do maniqueísmo são:







Dualismo religioso – Na origem, havia uma separação total entre o Bem (“Pai da Luz”) e o Mal (“Príncipe das Trevas”), que se misturaram na criação do mundo; apenas pelo sofrimento e pela vinda de um libertador é que se chegará à restauração universal, com a separação definitiva entre bons (“Reino do Bem”) e maus (“Reino do Mal”). Vinda de espíritos esclarecidos ao mundo, para revelar o caminho de salvação aos homens (Adão, Noé, Abraão, Buda, Zoroastro, Jesus Cristo e, finalmente, Manes); Redenção pelo conhecimento (gnose), abstendo-se de tudo o que seja carnal (vegetariano, abstêmio de bebidas alcoólicas e de relações sexuais).

Os Livros Sagrados do maniqueísmo foram escritos diretamente por Manes, sendo sete: Sabuagã, o Evangelho Vivente, o Tesouro da Vida, Pragmateia, o Livro dos Mistérios, o Livro dos Gigantes e as Cartas. O maniqueísmo virá a desaparecer, sendo sua última manifestação a dos cátaros (ou albigenses) na França do século XI. O termo “maniqueu” ficará para designar a concepção dualista do mundo, da divisão dos homens em bons e maus. n) Islamismo Fundador: O fundador do islamismo foi Maomé (570-632), nascido num poderoso clã árabe, perde cedo seus pais, sendo educado pelos avós e tios para o comércio itinerante. Em suas viagens toma contato com o judaísmo e cristianismo. Casa-se com uma viúva rica, 15 anos mais velha, que lhe dá todo o apoio e meios econômicos quando, aos 40 anos, depois de fortes experiências espirituais, nas quais diz ter recebido a revelação do arcanjo S. Gabriel, começar a pregar sua nova doutrina monoteísta de submissão total a Alah dado à religião (daí o nome de Islã [“Islam” = submissão]) e de muçulmano [“muslim” = submisso] para os seus adeptos. A perseguição levada a cabo por seus conterrâneos (afeitos ao politeísmo reinante entre as tribos árabes) fará com que tenha que fugir de Meca para Medi-

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na no ano de 622 (é a hégira, que marca o início do calendário muçulmano). Após a morte de sua primeira mulher, casa-se com várias outras, defendendo, a partir de então, a poligamia. Reunindo muitos adeptos ao seu redor, volta para Meca, apodera-se da cidade e inicia a guerra santa (“jihad”) para levar a religião “revelada” a todas as tribos árabes, começando pela Síria (o Islã passa a ser não apenas uma religião, mas o próprio Estado muçulmano, onde o religioso e o temporal se confundem). Livro Sagrado: O livro sagrado do islamismo é o Alcoorão (“Corán” = declamação), recebido por Maomé do arcanjo S. Gabriel, que o traduziu para o árabe, do original celeste que estaria diante de Alah (como Maomé se dizia o último profeta de Alah, numa cadeia que começa em Noé, passando por Abraão, Ismael, Moisés, João Batista e Jesus Cristo, aproveita muitos elementos judaico-cristãos, além de algumas tradições árabes mais arraigadas no povo, como a veneração à Kaaba, “pedra negra”, que era foco de peregrinações em Meca). Além do Alcoorão, os muçulmanos têm a Suna (“Sunna” = tradição): recolhimento, por escrito, dos ensinamentos e da vida de Maomé, interpretando o livro sagrado (que pode também ser livremente interpretado pelos muçulmanos, salvo sobre os raros pontos em que há um acordo comum de toda a comunidade islâmica). Doutrina Básica: Os pontos básicos da doutrina islâmica podem ser resumidos nos seguintes: •

• •



Monoteísmo – “Alah é o único Deus e Maomé é o seu profeta” é a frase que resume a crença muçulmana. Criação – além do mundo material, do qual faz parte o homem, existem as criaturas espirituais (anjos e demônios). Escatologia – as ações dos homens serão premiadas com o Paraíso ou punidas com o Inferno, conforme sejam boas ou más, de acordo com os preceitos do Alcoorão; Moral – os muçulmanos devem cumprir os 5 preceitos básicos (“pilares do Islã”), que consistem em: 1) Profissão de fé, reconhecendo Alah como único Deus e Maomé como seu profeta; 2) Recitação da oração canônica 5 vezes ao dia (amanhecer, meio-dia, tarde, pôr-dosol e noite), ajoelhado, prostrando-se em direção a Meca (na sextafeira, dia sagrado da semana islâmica, devem participar da oração

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do meio-dia na mesquita); 3) Dar esmola; 4) Jejum durante todos os dias do mês de Ramadã (do nascer ao por do sol), abstendo-se de alimentos, bebidas, fumo, perfumes e relações sexuais; e 5) Peregrinação a Meca uma vez na vida. Principais Seitas: Sunitas – tradicionalistas, partidários do respeito total à Sunna e aos antepassados (maior parte dos muçulmanos). Xiitas – radicais, consideram o único pecado grave o da apostasia (perda da fé muçulmana), que deve ser punido com a morte (no entanto, condenam a dinastia omíada por ter assumido o poder com o crime de sangue de seu primeiro califa). o) Judaísmo Fundador: O judaísmo tem sua origem na chamada que Abraão (séc. XIX-XVIII a.C.) recebe para deixar sua parentela e sua terra natal de Ur, na Caldéia, pois Deus pretende fazer dele um povo eleito, que lhe preste o culto devido, numa terra prometida em Canaã. Completa-se com a revelação de Deus a Moisés (séc. XIII a. C.) no Monte Sinai, quando lhe entrega as Tábuas da Lei (10 Mandamentos) e lhe mostra como deve ser o culto sacrificial. Livro Sagrado: Tem como livros sagrados a Torá (é o Antigo Testamento da Bíblia Cristã, composto de 46 livros, que contém a Lei Mosaica e a História do Povo Eleito) e o Talmud (tradição oral e adaptação da lei à casuística da vida diária pelos rabinos e doutores da lei).

ANTIGO TESTAMENTO LIVROS HISTÓRICOS (21 livros) LIVRO

CONTEÚDO BÁSICO

PERSONAGENS PRINCIPAIS

Gênesis

Criação, Pecado Original, Dilúvio, Adão, Eva, Caim, Abel, Noé, Abraão, Formação inicial do Povo Eleito Isaac, Ismael, Jacó, Esaú e José

Êxodo

Saída do Egito, Peregrinação pelo Deserto, Aliança no Sinai

Levítico

Culto Sacrificial e Leis Religiosas Aarão

Números

Censo e Revoltas no Deserto

Moisés

Caleb 26

Deuteronômio

Mandamentos e Leis

Morte de Moisés

Josué

Conquista da Terra Prometida

Josué e Raab

Juízes

Luta contra os povos da Palestina (filisteus, cananeus, madianitas)

Débora, Gedeão, Sansão e Dalila

Ruth

Ascendência moabita do Rei Davi Ruth, Booz e Noemi

Samuel I

Início da Monarquia Israelita

Samuel e Saul

Samuel II

Reinado de Davi

Davi e Absalão

Reis I

Divisão em dois Reinos, de Judá e Salomão, Roboão, Jeroboão, Acab, de Israel Elias e Jezabel

Reis II

História da Monarquia e Quedas Eliseu, Ezequias e demais reis de Israel (Assírios) e Judá (Babilônios)

Crônicas I e II Resenha da História de Israel

Todos do A.T., até fim da monarquia

Esdras

Volta do Cativeiro da Babilônia

Esdras, Ciro

Neemias

Reconstrução do Templo e da Lei

Neemias

Tobias

História de Tobias e de S. Gabriel

Tobias

Judith

Ameaça dos Medos a Israel

Judith, Holofernes

Ester

Ameaça dos Persas aos judeus

Xerxes, Assuero, Amã e Mardoqueu

Macabeus I e II

Luta dos Judeus contra o domínio seleucida na Palestina

Antíoco, Matatias, Judas Macabeu

LIVROS SAPIENCIAIS (7 livros) Jó

Sentido do sofrimento e comportamento do justo diante da dor

Salmos

Cânticos de Davi (Livro de orações dos judeus)

Provérbios

Ensinamentos de Salomão

Eclesiastes (Coelet)

Meditações sobre a instabilidade da vida humana e suas vaidades

Cânticos dos Cânticos Poemas sobre o amor humano, aplicados ao amor divino Sabedoria

Louvor à Sabedoria Divina

Eclesiástico (Sirac)

Aplicação dos mandamentos às mais variadas situações da vida

LIVROS PROFÉTICOS (18 livros) LIVRO

PERÍODO

CONTEÚDO BÁSICO

Isaías

Reino de Judá

Messias sofredor (Servo de Javé), Virgem Mãe

Jeremias

Reino de Judá

Judá como o barro nas mãos do oleiro pelo pecado

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Lamentações

Cativeiro na Babilônia Elegias de tristeza pela queda de Jerusalém

Baruc

Cativeiro na Babilônia Palavras de consolo e esperança ao povo cativo

Ezequiel

Reino de Judá

Daniel

Cativeiro na Babilônia Fornalha Ardente, Cova dos Leões, Banquete de Baltazar, Apocalipse, 70 semanas de anos, Suzana

Oséias

Reino de Israel

Israel como esposa infiel de Deus a ser castigada (Oséias casa-se c/1 prostituta, por mandato divino)

Joel

Restauração de Israel

Apelo ao jejum e à penitência pelos pecados

Amós

Reino de Israel

Prevê a queda de Samaria e posterior restauração

Abdias

Cativeiro na Babilônia Castigo para os povos que espezinharam Israel

Jonas

Domínio Assírio

Prega a penitência para Nínive, para não sucumbir

Miquéias

Reino de Judá

Julgamento de Samaria e Judá; Belém como cidade onde nascerá o Messias esperado

Naum

Reino de Judá

Oráculo contra Nínive, prevendo sua ruína

Habacuc

Reino de Judá

Queda de Jerusalém, mas punição final do invasor

Sofonias

Reino de Judá

Castigo aos pecadores e preservação dos justos

Ageu

Restauração de Israel

Reconstrução do Templo de Jerusalém

Zacarias

Restauração de Israel

Reforma moral e apocalipse de um reino de paz

Malaquias

Restauração de Israel

Amor de Deus p/seu povo, castigando os inimigos

Prevê os castigos pela idolatria de Judá e sua recuperação (ossos secos que se reencarnam)

Características: O que mais impressiona no judaísmo é ser uma religião monoteísta, quando todos os povos da Antigüidade eram politeístas. A elevada concepção de Deus que o judaísmo tem só se explica quando se reconhece o seu caráter de religião revelada, ainda que nela possam ser encontradas as constantes celeste (divindade masculina e altíssima), étnico-política (povo eleito, esperando até hoje um messias libertador político, formando um Estado teocrático) e telúrica (idolatria nos momentos de infidelidade do povo eleito à aliança divina, adorando o bezerro de ouro ou os Baais fenícios, sendo castigados com as invasões a Israel e Judá e deportações). Javé é o Deus único, de caráter espiritual (não representado por qualquer imagem, ainda que descrito com traços psicológicos humanos), transcendente (criador do mundo, sem se confundir com ele), moralizador (exige um comportamento ético, porque Ele próprio é Santo, diferentemente dos deuses dos outros

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povos, envolvidos em adultérios, astúcias e trapaças) e providente (preocupa-se de suas criaturas, ao contrários dos deuses pagãos, preocupados apenas com seus descansos e aventuras). Mandamentos: A Lei Mosaica, revelada por Deus a Moisés no Monte Sinai, se resume nos Dez Mandamentos: 1. Não ter outros deuses além de Javé (Amar a Deus sobre todas as coisas, não fabricando ídolos e a eles devotando culto) 2. Não pronunciar o Santo Nome de Deus em vão (As 4 consoantes Hebraicas YHWH, de difícil pronúncia por faltarem as vogais, faziam com que se usasse para Deus o designativo de “Adonay” = “Senhor”, ou o étnico de “Deus de Abraão, Isaac e Jacó”) 3. Guardar o dia de Sábado para santificá-lo (é o “Sabath”, dia sagrado judaico, de descanso e oração) 4. Honrar pai e mãe 5. Não matar 6. Não cometer adultério 7. Não roubar 8. Não levantar falso testemunho 9. Não desejar a mulher do próximo 10. Não cobiçar as coisas alheias Culto Sacrificial: Para a purificação pelos pecados cometidos, o povo deve oferecer sacrifícios a Deus, com derramamento de sangue. Cabe aos membros da tribo de Levi o exercício do sacerdócio na Antiga Lei (Na divisão de Canaã, a tribo de Levi não recebe nenhum quinhão, dedicando-se inteiramente ao culto; o território é dividido pelas tribos de Rúben, Simeão, Judá, Issacar, Zabulão, Benjamin, Gad, Asser, Dã, Neftali, Manassés e Efraim, sendo estes dois últimos filhos de José, que já havia morrido). Os sacrifícios eram, basicamente, de 5 tipos: •

cordeiro pascal – imolado na libertação do cativeiro do Egito.



vítimas pacíficas - ovelhas e bois imolados.

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holocausto - a vítima era queimada após o sacrifício, não ficando nenhuma parte para o sacerdotes;



bode expiatório - ao qual o sacerdote contava ao ouvido os pecados do povo, antes de matá-lo;



ofertas vegetais – impetratórias para que Deus lhes fosse propício.

Após a destruição do Templo de Jerusalém, com a diáspora do povo hebreu pelo mundo, cessam os sacrifícios cruentos e o culto passa a ser de orações e jejuns, realizados nas sinagogas. p) Cristianismo Fundador: A religião cristã se distingue de todas as demais por ter como fundador o Deus-homem, Jesus Cristo (0-33). Personagem histórico referido por historiadores como Tácito, Flávio Josefo, Suetônio e Luciano, nasceu em Belém da Judéia, na pobreza total de um presépio, de Maria Virgem, no tempo do Imperador Romano Otávio César. Viveu em Nazaré, trabalhando como carpinteiro até os 30 anos, quando começou sua pregação, surpreendendo pela sabedoria profunda, quando carente de estudos. Formou um grupo de discípulos mais próximos (apóstolos), corroborou a autoridade de seus ensinamentos com milagres (curas e domínio sobre as forças da Natureza), e manteve-se celibatário durante toda a sua vida, vindo a morrer flagelado e crucificado no tempo do Imperador Tibério César, quando era procurador da Judéia Pôncio Pilatos, abandonado de seus discípulos. Ressuscitado ao terceiro dia, passou 40 dias confirmando em sua doutrina os apóstolos, até sua ascensão ao Céu. Ao contrário dos demais fundadores de religiões, que se dizem enviados de Deus, Jesus se diz “igual ao Pai”, da mesma natureza divina, ensinando com autoridade própria (“Foi dito aos antigos...”; “Pois Eu vos digo...”). Livro Sagrado: A Bíblia, composta pelo Antigo Testamento (comum aos judeus) e pelo Novo Testamento, integrado por:

EVANGELHOS – Vida de Cristo (4 livros) AUTOR

CARACTERÍSTICAS

S. Mateus

Escrito pelo apóstolo Levi (publicano) para os judeus, buscando mostrar que Jesus é o Messias prometido (n’Ele se cumprem as profecias do AT) e que a

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Igreja por Ele fundada é o novo Reino de Deus (escrito originariamente em hebraico, entre 40-50 d.C.) S. Marcos Escrito pelo discípulo João (primo de S. Barnabé) para os cristãos vindos da gentilidade (recolhendo a pregação oral de S. Pedro), buscando mostrar que Jesus é o Filho de Deus encarnado (daí que dê mais destaque aos milagres do que aos discursos de Cristo, sendo escrito em grego vulgar, entre 55-62 d.C.) S. Lucas

Escrito pelo discípulo de S. Paulo, Lucas, que era médico e buscou compor uma história ordenada e documentada da vida de Cristo (dirigida nominalmente a Teófilo), que servisse de fundamento para os ensinamentos recebidos (escrito em grego literário, entre 60-63 d.C.)

S. João

Escrito pelo apóstolo João, para completar o que os outros evangelhos não trouxeram (omite passagens que já se encontram neles) e para mostrar o sentido mais profundo dos discursos e fatos da vida de Cristo (escrito em grego, no final do século I)

EPÍSTOLAS – Ensinamentos de Cristo (livros) AUTOR

LIVRO

CARACTERÍSTICAS

S. Paulo

I Tessalonicenses

Escrita desde Corinto, em 51 d.C., durante a 2ª viagem, para animar os tessalonicenses diante das perseguições e para resolver a questão da época da parusia (2ª vinda de Cristo) e se os mortos a veriam.

II Tessalonicenses Escrita também desde Corinto, em 52 d.C., em face dos efeitos da 1ª Carta, para exortar a trabalhar e não ficar ociosos esperando a parusia (estavam ainda inquietos). I Coríntios

Escrita desde Éfeso, em 57 d.C., durante a 3ª viagem, para corrigir alguns abusos (incesto, divisões, litígios e fornicação) e responder a consultas dos coríntios (matrimônio e celibato, uso das carnes imoladas, culto, carismas e ressurreição dos mortos).

II Coríntios

Escrita desde Filipos, em 57 d.C., depois de deixar Éfeso a caminho de Corinto, preparando sua chegada, pois os problemas tratados na epístola anterior não se haviam resolvido (faz uma apologia de seu apostolado e estimula a uma coleta em favor de Jerusalém)

Romanos

Escrita desde Corinto, em 58 d.C., ao final da 3ª viagem, anunciando sua ida a Roma e desenvolvendo o tema da justificação pela fé em Cristo e pela graça (fala da lei natural para os gentios).

Gálatas

Escrita no mesmo local e data da epístola aos romanos, aborda a mesma temática da justificação, num estilo mais enérgico, diante da aparente defecção dos gálatas (introdução de heresias judaizantes na comunidade).

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Colossenses

Escrita durante o 1º cativeiro de S. Paulo em Roma (61-63 d.C.), combatendo os desvios gnósticos dos colossenses, dando-lhe o verdadeiro sentido (buscar as coisas do alto e não a sabedoria humana), destacando a dignidade supereminente de Cristo.

Efésios

Epístola do cativeiro, combatendo o gnosticismo e expondo o “mistério” ou plano divino da salvação (escolha de cada um para a santidade), que se cumpre na Igreja (Corpo Místico de Cristo).

Filipenses

Escrita no cativeiro (contando detalhes de como se encontrava), para incentivá-los a perseverar na fé, imitando o modelo de Cristo.

Filemôn

Escrita desde o cativeiro para interceder por um escravo perante o seu dono (fala da igualdade natural entre os homens, ainda que não ataque a escravidão).

I Timóteo

Escrita ao Bispo de Éfeso após a 1ª catividade, em 65 d.C., desde a Macedônia, fala da organização hierárquica da Igreja e do culto público, e do modo de dirigir a sua diocese.

Tito

Escrita ao Bispo de Creta também após a 1ª catividade, em 65 d.C., desde a Macedônia, dando critérios sobre o governo da Igreja e sobre os falsos doutores.

Hebreus

Destinada ao cristãos procedentes do judaismo que viviam em Jerusalém e escrita entre 64-66 d.C., desde a Itália, fala da superioridade da Nova sobre a Antiga Aliança (sacerdócio e sacrifício redentor de Cristo).

II Timóteo

Última epístola paulina, escrita em seu 2º cativeiro em Roma, no ano 67 d.C., exorta o bispo a permanecer firme na doutrina (fala da inspiração dos livros sagrados e do juízo particular).

S. Tiago

Epístola

Escrita por Tiago Menor, primo de Cristo e Bispo de Jerusalém, entre 35-50 d.C., falando da necessidade das obras para a salvação (junto com a fé) e da bem-aventurança da pobreza (menciona o sacramento da unção dos enfermos e fala dos abusos da língua).

S. Pedro

I Epístola

Escrita entre 63-64 d.C. desde Roma, destinada aos cristãos da Ásia Menor, exortando-os a viver com plenitude as exigências da vida cristã (infância espiritual), permanecendo firmes nas tribulações.

II Epístola

Escrita entre 64-67 d.C. desde Roma, para os mesmos destinatários, alertando sobre os falsos doutores e tra-

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tando da parusia (exortação à santidade). S. João

S. Judas

I Epístola

Escrita entre 95-100 d.C., desde Éfeso, para os cristãos da Ásia, opondo-se aos erros do gnosticismo (Deus é a Luz, a Justiça e o Amor), devendo fugir do pecado.

II Epístola

Escrita na mesma época a uma das Igrejas da Ásia, para fugir dos erros dos falsos pregadores (ebionitas).

III Epístola

Escrita na mesma época, dirigida a Gayo, com exortações a ele e recriminações aos que se desviaram.

Epístola

Escrita pelo irmão de Tiago Menor e primo de Cristo, entre 70-80 d.C., falando da Santíssima Trindade, dos anjos bons e maus e do juízo final.

APOCALIPSE – Visão do Futuro (1 livro) AUTOR

CARACTERÍSTICAS

S. João

Revelação feita ao apóstolo sobre o futuro da Igreja, com o fim de consolá-la perante as tribulações que passará (escrita em 95 d.C. na ilha de Patmos): a) Mensagens às 7 Igrejas da Ásia; b) Visão do Trono de Deus, com os 24 anciãos, os 4 animais e o Cordeiro degolado; c) Livro dos 7 Selos; d) Visão das 7 Trombetas; e) Luta do Dragão contra a Mulher e S. Miguel; f) O Surgimento da Besta; g) O Cordeiro e seus servidores; h) As 7 taças da Ira de Deus; i) Os 4 Cavaleiros do Apocalipse; j) Castigo de Babilônia; k) Extermínio da Besta; l) A Nova Jerusalém Celeste.

Os hagiógrafos (autores sagrados) escreveram sob inspiração divina, recolhendo por escrito parte dos ensinamentos e da vida de Cristo. O que não foi recolhido por escrito faz parte da Sagrada Tradição (que, posteriormente, foi sendo registrada pelos primeiros Padres da Igreja e está viva no sentir do povo cristão [sensus fidei fidelium], interpretada autenticamente pelo Magistério da Igreja). Desenvolvimento Histórico: Primeiros Cristãos – tanto judeus como gentios convertidos ao cristianismo eram cidadãos correntes do Império Romano, que trabalhavam nas suas respectivas profissões, procurando santificar-se no meio das suas atividades profissionais e difundir a mensagem de Cristo. Primeiras Heresias – os principais desvios em relação aos ensinamentos originais de Cristo foram os seguintes: a) judeu-cristianismo (exigir a observância da lei mosaica e da circuncisão); b) gnosticismo (sincretismo religioso com correntes orientais, apresentando o cristianismo como uma sabedoria superior ao alcance apenas de alguns eleitos); c) arianismo (Jesus Cristo não seria Deus, mas inferior ao Pai); d) macedonianismo (negava a divindade do Espírito Santo); e)

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nestorianismo (negava a maternidade divina de Nossa Senhora); f) monofisismo (negava as duas naturezas de Cristo, humana e divina, unidas na única Pessoa do Verbo Divino) e g) pelagianismo (salvação sem necessidade da graça divina, pelas puras forças humanas). Perseguições – Nero, Trajano, Décio, Valeriano, Diocleciano e Juliano (o Apóstata), onde os cristãos souberam dar a vida pela fé que professavam (muitos foram mártires). Liberdade Religiosa – conseguida através do estatuto de tolerância para os cristãos (Edito de Galério, de 311), da concessão de liberdade religiosa (Edito de Milão, de Constantino, de 313) e da transformação do Cristianismo em religião oficial do Império Romano (com Teodosio, em 380). Conversão dos Povos Bárbaros – Clodoveu (francos), Recaredo (visigodos), S. Estêvão (magiares), S. Wenceslau (bohemios), Duque Miesko (polacos), S. Wladimir (russos) e seus respectivos povos. Ordens Religiosas – diante da cristianização da sociedade, mas da mundanização do cristianismo vivido então pelos povos bárbaros, surgem as vocações de afastamento do mundo, para se consagrar inteiramente a Deus: beneditinos, franciscanos, dominicanos, jesuítas, etc. Sociedade Cristã Medieval – penetrada inteiramente pelo ideal cristão (ideal de cavalaria, com valorização da palavra dada; fundação das Universidades; construção das grandes Catedrais; etc). Cruzadas e Inquisição – aspectos da unidade político-religiosa: as guerras de defesa contra a expansão árabe acabavam tendo feição religiosa (libertar a Terra Santa do domínio mouro, que impedia as peregrinações e profanava os lugares santos) e os pecados mais graves contra a religião eram considerados crimes contra o Estado (utilizando-se, para o julgamento dos hereges, o processo inquisitório do Direito Civil vigente, que admitia o uso da tortura, para se obter a confissão do acusado, em face da ausência de outros meios de prova para se chegar à verdade dos fatos). Cismas – dos ortodoxos (1054) e dos protestantes (1521), esfacelando-se, estes últimos, em infinidade de confissões distintas, cada vez mais afastadas da tradição católica original:

PRINCIPAIS CONFISSÕES CRISTÃS SEPARADAS DA IGREJA CATÓLICA CONFISSÃO

FUNDADOR INÍCIO

CARACTERÍSTICAS

Ortodoxos

Miguel Ceru- 1054

Cisma das Igrejas Orientais, a partir da sede de 34

lário

Constantinopla, calcado numa distinção teológica do Credo, mas de caráter disciplinar, recusando a autoridade do Papa e da Igreja Católica Latina, mas mantendo todos os sacramentos.

Luteranos

Martinho Lu- 1520 tero

Dá início à reforma protestante na Alemanha, sustentando a livre interpretação da Bíblia (fonte exclusiva da Revelação), a corrupção total da natureza humana (com a negação da liberdade humana), a salvação apenas pela fé e a rejeição dos sacramentos da Ordem, Eucaristia e Confissão.

Calvinistas

João Calvino

Deflagra a reforma protestante na Suiça, sustentando a predestinação de justos e condenados, sendo o sinal da predestinação para a salvação o sucesso nos negócios e a adesão à Igreja Reformada.

Anglicanos

Henrique VIII 1534

1525

Para divorciar-se de sua 1ª esposa, declara-se Chefe da Igreja da Inglaterra e separa-se de Roma, rejeitando alguns sacramentos, mas não os sacerdotes e os bispos (chamados, por isso, de ”episcopalistas”).

Presbiterianos João Knox

1540

Reforma da Igreja Anglicana na Escócia, adotando o calvinismo como doutrina e rejeitando o episcopado, mas mantendo os “presbíteros” para governarem as comunidades (negando, no entanto, o sacramento da Ordem).

Puritanos

Roberto Browne

1580

Reforma da Igreja Anglicana, buscando “purificá-la” de todas as suas tradições católicas. Pregou a total independência disciplinar e doutrinária, mas seus seguidores (Greenwood e Barrow) instituem, em 1592, a forma “congregacionalista”: chamado pessoal, mas com associação para edificação mútua, elegendo-se os pastores pela comunidade, cada uma com total independência (Vieram para os EUA no navio Mayflower).

Batistas

João Smith

1604

Dissidência do Anglicanismo, buscava uma reforma mais espiritual, rejeitando uma hierarquia visível (cada pastor governa o seu rebanho), a liturgia e pregando a necessidade de um novo batismo dos adultos, por imersão.

Quakers

Jorge Fox

1649

Dissidência do Anglicanismo, dá ênfase à “ilu-

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minação interior” direta de Deus, que faz “tremer” (quake), tendo a Bíblia em segundo plano e negando a necessidade do Batismo. Metodistas

João Wesley

1738

Reforma da Igreja Anglicana, buscando um ideal de santidade, segundo uma regularidade de vida (“método”) e cumprimento dos próprios deveres (salvação pelas obras), ressaltando a experiência mística (relação com o Espírito Santo).

Adventistas do Guilherme Sétimo Dia Miller

1816

Dissidente dos Batistas, previu, com base nas Escrituras, a 2ª Vinda de Cristo para o ano de 1844 (Ellen White, sua discípula, explicou, depois, que, nesse ano, Cristo teria começado o julgamento dos já falecidos). Rigorismo ético (proibição do fumo e do álcool).

Mormons

José Smith

1820

Dissidente dos Metodistas, teria recebido a revelação do anjo Moroni, para restaurar a antiga Igreja de Cristo (nos EUA), pregando um Deus uno e defendendo a poligamia. O seu “Livro de Mórmon” seria a 3ª Revelação (depois do Antigo e Novo Testamentos).

Testemunhas de Jeová

Carlos Russel 1874

Dissidente dos Adventistas, sustentou que o fim do mundo se daria em 1918: prega um Deus Uno (nega a Ssma. Trindade), a recriação das almas depois da batalha final de Harmagedon e rejeita todas as religiões e instituições políticas, como satânicas.

Pentecostais

Carlos Parham

Dissidência da Igreja Metodista, dando maior ênfase às manifestações do Espírito Santo: lado emocional, fenômenos milagrosos e fundamentalismo bíblico (Assembléias de Deus e Igreja Universal do Reino de Deus).

1900

Expansionismo Apostólico – colonização da África, América e Ásia, em que os navegadores e colonizadores eram acompanhados por sacerdotes e frades que tinham por ideal pregar a mensagem cristã a todos os povos de todas as raças. Busca da Reunificação – esforços do Papa João Paulo II para iniciar o 3 Milênio com a volta da unidade entre os cristãos.

º

Separação da Igreja e do Estado – da confusão advinda de se tornar religião oficial do Império Romano, até o término dos Estados Pontifícios, com a reunificação italiana, verifica-se a prevalência do caráter fundamentalmente espiritu-

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al da mensagem da Igreja (os efeitos colaterais serão a instauração da Justiça Social). Doutrina Básica: O conjunto básico da doutrina cristã encontra-se resumido no Credo (ou “Símbolo dos Apóstolos”), cuja estrutura ficou estabelecida após os Concílios de Nicéia (325) e de Constantinopla (381). Daí chamar-se, também, “Símbolo NicenoConstantinopolitano”. Contribuíram para essa formulação também os Concílios de Éfeso (431) e Calcedônia (451). As verdades básicas nele definidas são: Unidade e Trindade de Deus – Monoteísmo Trinitário, em que Deus Pai, ao se conhecer, gera intelectualmente Deus Filho e, do Amor perfeito entre o Pai e o Filho procede o Espírito Santo (Vida Íntima da Santíssima Trindade, intelectual e afetiva); Encarnação, Paixão e Morte de Cristo – Deus Filho assume a natureza humana, para libertar o homem do jugo do pecado, morrendo na Cruz e ressuscitando depois; Unidade da Igreja de Cristo – Instituição fundada por Cristo para dar continuidade à pregação de sua mensagem, até o final dos tempos (em que se dará a ressurreição da carne e o juízo universal, com prêmio e castigo eternos), com todos os fiéis batizados formando uma comunhão. Culto: Os meios que Cristo instituiu para dar ao homem a sua salvação denominam-se sacramentos (sinais sensíveis de uma realidade que permanece oculta, que é a graça divina, isto é, uma participação na natureza divina, pela qual o homem se torna filho adotivo de Deus).

SACRAMENTO

NO QUE CONSISTE

Batismo

Nascimento para a vida cristã, pelo recebimento da graça e remição do pecado original, com o derramamento de água na cabeça do batizando e pronunciando-se as palavras sagradas.

Crisma

Confirmação e Maturidade cristã, pela infusão maior do Espírito Santo, através da imposição das mãos do bispo ou sacerdote.

Eucaristia

Alimento espiritual, em que se recebem o Corpo e o Sangue de Cristo, sob as espécies de pão e vinho consagrados na Missa.

Confissão

Remição dos pecados pela sua acusação perante o sacerdote.

Unção dos Enfermos Alívio na doença e preparação para uma morte cristã.

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Ordem

Consagração do sacerdote, para poder administrar os sacramentos, ensinar com a autoridade da Igreja e dirigir os fiéis.

Matrimônio

Consagração da união conjugal, para que seja una, indissolúvel e fecunda e conte com a ajuda divina para superar as dificuldades.

Na administração dos sacramentos, segue-se a liturgia (modo de se celebrar as cerimônias), revivendo-se, ao longo do ano, a vida de Cristo, especialmente na celebração do Santo Sacrifício do Altar, que é a Santa Missa. Doutrina Moral: Jesus Cristo, no sermão da montanha (Mat 5-7), deixa claro que não vem para revogar a Antiga Lei (10 Mandamentos), mas para aperfeiçoá-los. Assim, a moral cristã contém exigências maiores do que a moral judaica: amor aos inimigos (frente à lei do talião: “olho por olho e dente por dente”); indissolubilidade do matrimônio (frente à admissão do divórcio pela lei mosaica); etc.

6. Formas religiosas derivadas ou degeneradas

A par das constantes religiosas e das religiões estabelecidas, desenvolveram-se, ao longo dos séculos, algumas formas secundárias, que apenas impropriamente podem ser chamadas de religiosas, uma vez que constituem degeneração da religião. São elas: Animismo – crença em que todos os seres possuem alma (animais, plantas e até os minerais) e, por isso, são, como o homem, dotados de uma inteligência e de uma vontade, ainda que não perfeitamente discerníveis. Chamanismo – crença no poder de projetar o próprio espírito no mundo dos espíritos (através de jejuns, flagelações e transes), obtendo, assim, ajuda para cura de doenças e predição do futuro (druidas celtas, yogas hindus, derviches islâmicos, etc). Fetichismo – crença mágico-religiosa nos poderes sobre-humanos de objetos naturais ou artificiais (amuletos, talismãs, etc). Também chamada de superstição (tribos africanas). Contemporaneamente, manifesta-se na crença no horóscopo: influência dos astros na vida humana, determinando o comportamento. Magia – crença na força impessoal existente em certos objetos ou ritos, que, dirigidos e aplicados em determinadas cerimônias, podem conseguir objetivos humanos, predominantemente materiais, quer sejam benéficos (magia branca), quer sejam maléficos (magia negra). É também denominada de feitiçaria.

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Totemismo – crença no parentesco de indivíduos ou grupos étnico-políticos com um objeto inanimado, planta ou animal: descendência comum de um totem (tribos americanas e australianas). Panteísmo – crença num Deus que se confunde com a Natureza: Deus imanente ao Cosmos (religiosidade hindu, onde Brahma é a substância primogênita de todos os seres). Politeísmo – crença na existência de vários deuses, derivada da deificação das diversas forças da Natureza, da divinização dos diferentes atributos da Divindade e da individualização divinizada das diferentes designações de uma mesma divindade, conforme o local em que se lhe prestava o culto. Ateísmo – pretensa negação da existência de Deus, que, na realidade, se manifesta na substituição de Deus por algum ídolo (a Razão, a Força, o Estado, a Raça, a Matéria, o Dinheiro, o Sexo, etc), já que a “morte de Deus”, apregoada por Nietzsche, só levaria à “morte do homem”, como ressaltou Foucault. Não existem ateus, teóricos ou práticos, mas diferentes espécies de idolatrias. O ateísmo vai ligado ao materialismo, negando qualquer tipo de supervivência no além (prêmio e castigo são nesta terra). O ateísmo de base científica (não generalizado, uma vez que muitos cientistas fazem questão de reconhecer a Deus) deve ser atribuído à falta de conhecimento metafísico dos cientistas, especialmente da metafísica do ser.

7. A secularização da sociedade

O processo de secularização e de descristianização da sociedade tem sua origem nos séculos XVII e XVIII, a partir de Descartes e Kant, quando começou a derrubada da filosofia realista, substituída pelo idealismo, onde o homem passa a ser o centro de tudo e a realidade passa a ser o pensado pelo homem. Hegel e Marx, nos séculos XIX e XX, levarão esse idealismo a suas últimas conseqüências, desembocando no materialismo onde não há lugar para Deus. Assim, toda a alta cultura torna-se anti-religiosa. A classe dirigente européia (políticos, jornalistas, professores), formada nas universidades segundo a matriz de três filosofias básicas – marxismo, neopositivismo e existencialismo –, irá conceber a vida social à margem da religião e na crença de sua desnecessidade e de sua irrelevância teórica. Assim, o século XX será marcado pela descristianização da cultura ocidental e pelo ataque a qualquer forma de religião por parte dos intelectuais, ainda que a fé popular permane-

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ça firme, mas agora fundada mais no sentimento do que na razão (falta o pão da cultura católica, que é a doutrina sólida difundida desde as cátedras). A secularização da sociedade é, pois, a dissociação entre a religião e sua vivência no cotidiano dos cidadãos: já não há lugar nem lembrança para Deus nas atividades normais da vida. É a prevalência do mundanismo, marcado pela degradação moral que segue ao afastamento de Deus. Buscam-se, assim, sucedâneos para Deus: dedicar a vida à ecologia (defesa das espécies em extinção, mas esquecimento da defesa da vida humana em gestação), culto do corpo através do esporte (paraliturgia dos jogos olímpicos), a New Age moderna, pregando uma imersão estática no processo cósmico (uma religiosidade sem religião e sem Deus: o que existe seria uma energia espiritual que impregnaria todas as coisas), etc.

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II. DEFINIÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DA RELIGIÃO

1. Definição

A origem etimológica da palavra religião é explicada de 3 modos distintos: a) “Relegere” (Cícero) – voltar a ler as orações previstas nos ritos religiosos, quando não recitadas corretamente, dado o seu caráter sagrado; b) “Reeligere” (S. Agostinho) – voltar a eleger a Deus, depois da queda do pecado original; c) “Religare” (Lactâncio) – reconhecer a dependência pessoal em relação a Deus, ligando-se novamente a Ele. Santo Tomás adotará esta terceira definição, dando perfis mais exatos ao sentido desta religação, recordando o seu estatuto metafísico ou ontológico. Com imensa simplicidade e clareza, descreverá a nossa dependência a Deus, desta forma: •

o mundo inteiro, antes de existir em si, existia na mente de Deus (eis a nossa primeira dependência com relação ao Criador)



pelo ato criador, o universo vem à existência (eis a separação; só que esta separação não é total como a de uma pedra que se desprende do seu bloco original; o universo continua “ligado”, mais ainda, “tendente” para Deus, como um objeto que está preso por um elástico e se distancia do seu ponto original)



a criatura racional, tendente para Deus, reconhece a existência desta ligação, desta “força”, retornando a Ele, de modo consciente e livre (eis aí a re-ligação, a religião)

2. Fundamentação ôntica da religião

Trata-se agora de provar no âmbito metafísico o que foi dito acima: que todas as criaturas não só estão ligadas a Deus, mas tendem a Ele de modo necessário.

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Os passos que seguiremos serão os seguintes: 1. Passo um: Partindo da idéia que a existência é um movimento (passagem da “potência de existir” ao “ato de existir), provar a Primeira Via de S. Tomás e chegar à conclusão que Deus sustenta todo movimento e, por conseqüência, o “movimento da existência”. 2. Passo dois: Provar, além disso, que o “movimento da existência” deve vir diretamente de Deus, não podendo vir de um anjo ou outro ser criado (dependência direta). 3. Passo três: Provar a inclinação de toda criatura ao Criador. 1) Passo um: o existir depende em última instância de Deus

De fato, podemos dizer que a existência é um movimento pois é a passagem da “potência de existir” ao “ato de existir”. Sendo a existência um movimento, temos que provar agora que Deus sustenta todo movimento e, por conseqüência, o existir. Provar que Deus sustenta todo movimento é percorrer a Primeira Via de S. Tomás. Antes, provaremos algo prévio que está incluído na Primeira Via: “que tudo o que se move é movido por outro”: 1. Sabemos que é verdadeiro o princípio da não-contradição metafísico (algo não pode estar em ato e potência ao mesmo tempo, sob o mesmo aspecto). 2. Sabemos, por outro lado, que o movimento é a passagem da potência ao ato (referente ao mesmo aspecto: falar, andar, cantar, etc.). 3. Ora: se algo se moveu, este, num dado momento, enquanto estava em potência (de pensar, por exemplo) começou a ter a presença de um ato (de pensar) simultaneamente. 4. Seguindo o princípio da não contradição, vê-se que este ato só pode vir de outro. 5. Conclui-se, portanto, que tudo o que se move, tudo que passa da potência ao ato, é movido por outro, recebe o ato de outro. Algumas conclusões que se pode tirar desta prova: 1. Não existe o automovimento. Se existisse, forçosamente algo teria que estar em algum momento em ato e potência ao mesmo tempo sob o mesmo aspecto. Ex: se algo se automoveu a falar, por exemplo, em algum momento esteve, ele mesmo, ao mesmo tempo, simultaneamente, em “potência de falar” e “ato de falar”; ora, isto é absurdo! 2. Toda “potência de algo” será sempre relegada a ser “potência deste algo”. Caso contrário, feriria o princípio da não-contradição.

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Agora a prova da Primeira Via. São Tomás a formula assim: “A primeira e mais manifesta via (para provar a existência de Deus) é a do movimento. É inegável e se comprova pelo testemunho dos sentidos, que neste mundo existem coisas que se movem. Assim sendo, tudo o que se move é movido por outro, já que nada se move quando está em potência , pois mover requer estar em ato, mover é fazer passar algo da potência ao ato. Isto só pode ser feito por algo que está em ato, por exemplo; o calor em ato, como o fogo, faz a madeira, que é calor em potência, ser calor em ato, e por isto o move e o altera”. Mas não é possível que uma coisa esteja ao mesmo tempo em ato e em potência sob o mesmo aspecto; o que é calor em ato não pode ser ao mesmo tempo calor em potência. Conseqüentemente, é impossível que algo seja, sob o mesmo aspecto, motor e movido, isto é, que se mova a si mesmo. Portanto, tudo o que se move é movido por outro. Mas, se aquilo pelo qual se move é também movido, é necessário que se mova por outro, e este por outro. Como não se pode proceder até o infinito, porque então não haveria primeiro motor e, conseqüentemente, nenhum outro motor, visto que os motores segundos não movem mas são movidos pelo primeiro, como o báculo, que só se move quando movido pela mão. Por tanto, é necessário chegar a um primeiro motor que não seja movido por ninguém e, por este, todos entendem a Deus (I, q. 2, a. 3). Podemos colocar a “Primeira Via” na seguinte forma esquemática: 1. Sabemos por experiência que as criaturas se movem. 2. Sabemos, por outro lado, que tudo o que se move é movido por outro; assim, se algo se moveu, deve-se a um outro e assim sucessivamente. 3. Não é possível estender ao infinito a série dos motores que por sua vez são movidos. •

Pensemos, por exemplo, numa luz que chega aos nossos olhos. Podemos dizer que provém de um espelho e por sua vez de outro espelho, e assim sucessivamente. Porém isso não explica porque chega até nós. Para explicar, precisamos dizer que há uma fonte de luz inicial que provoca todas as outras.



Também podemos dizer que o conceito de infinito é um conceito matemático, formal, que não explica o movimento real. Dado um movimento real, é preciso encontrar uma causa real.

4. Assim, deve existir um motor imóvel que move a todos os outros, sem ser movido. A este chamamos Deus. Subsídio: prova de que o Motor Imóvel é Deus. 1. Se é um Motor imóvel, e todos os movimentos provém dele, e não depende de nenhum outro para mover todo e qualquer movimento, então não possui nenhum potência. 2. Não tendo nenhuma potência, é puro ato, ou ato puro. Todos os movimentos que vemos, inclusive a existência, provém dele sem depender de ninguém.

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3. Logo, tem o ser por si mesmo; e aquele a quem tem o ser por si mesmo, chamamos Deus. Uma vez provado que todo movimento se sustenta por Deus e que a existência é um movimento, chegamos à conclusão que a existência de qualquer criatura é sustentada por Deus. Se Deus deixasse de sustentar este movimento, a criatura cairia ao nada imediatamente. 2) Passo dois: a existência deve vir diretamente de Deus e não de um ser intermediário

Para se provar isto, basta seguir este raciocínio: 1. Consideremos todos os seres que não se identificam com o Ato Puro: ou seja, todas aqueles que para existirem receberam o ser, porque o ser não lhes é próprio. 2. Ora, se o ser não lhes é próprio, se recebem e estão recebendo o ser, em nenhuma hipótese poderão, em algum momento, dar o ser a algo ou alguém, pois isto feriria o princípio da não-contradição (a potência de existir não pode ser ato de existir em nenhum momento). Logo, só quem tem o ser como próprio pode dar o ser. A figura abaixo ilustra a nossa dependência a Deus.

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3) Passo três: a tendência de toda criatura a Deus

Uma vez explicada a dependência radical do ser da criatura do Ser de Deus, falta-nos ainda um passo para que se justifique a existência –no âmbito metafísico– de uma inclinação, de uma “religiosidade”, de um “tender para Deus” na criatura. Se esta inclinação não existisse, a re-ligação do homem seria “fria”, uma ato puramente racional, levado pela descoberta da dependência com o Criador. É possível afirmar que há uma “inclinação” no âmbito metafísico, uma “pendência” de toda criatura para o Criador? É possível. E isto se prova relembrando a teoria da causalidade e do Ato Puro. Como bem sabemos, todo efeito guarda em si um vestígio da causa do agente que o produziu. Segundo a teria aristotélica, são quatro as causas que concorrem na produção de um efeito: causa final, causa formal, causa eficiente e causa material. Destas quatro causas, três pertencem ao agente e uma ao sujeito do efeito. As três do agente são a causa final, a causa formal e a causa eficiente. Estas três causas deixarão um vestígio no sujeito do efeito. De modo concreto nos interessa aqui a causa final. Deus ao criar as criaturas, o faz por uma causa, por uma finalidade. Sabemos que o fim se identifica com o bem. Ora, Deus ao criar, sendo a Suma Bondade e buscando um bem, só pode dar a Suma Bondade como bem, como fim de toda criatura. Aparece assim uma “direção”, uma “inclinação” de toda criatura a Deus.

3. Fundamentação axiológica e dinâmica da religião

Cabe agora, de modo bem sucinto, comentar a fundamentação axiológica (valorativa, qualitativa) da religião e a fundamentação dinâmica que não são mais do que diferentes pontos de vista da fundamentação ôntica que vimos acima. É importante fazer estas distinções, pois foram poucos os filósofos que procuraram chegar até Deus através das perfeições da natureza (aspecto axiológico) e através da busca de um princípio motor de todas as coisas (aspecto dinâmico). a) fundamentação axiológica ou das perfeições

É fácil notar que todas as nossas perfeições estão religadas a Deus recordando que o ser é a perfeição das perfeições; ou seja: todas as perfeições têm sua origem no ser. Como já vimos que o ser da criatura está sendo causado de um modo permanente por Deus, conseqüentemente a perfeição, seja qual for, também. Em outras palavras: todas as perfeições, como convertíveis que são com o ser, levam ou incluem necessariamente a mesma ligação. São aspectos do ser que exigem uma causa, que é Deus.

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b) fundamentação dinâmica

S. Tomás tem uma questão completa dedicada a este tema na I, q. 105. Dela nos interessa o a. 5, onde pergunta se Deus intervém na ação de todos os seres operativos em quanto tais. A resposta é afirmativa. Não se deve entender –diz S. Tomás– esta ação divina sobre as criaturas no sentido de que estas nada ponham na realização do efeito, como defende o ocasionalismo, afirmando que nenhuma ação corresponde às criaturas, mas a Deus que opera tudo em todas as coisas, pondo estas de sua parte só a ocasião. O extremo oposto é o de Molina, que admite na criatura uma atividade sem necessidade da causa primeira. S. Tomás resolve a questão dizendo que nada pode sair da potência ao ato a não ser pela ação de um ser em ato. E assim sucessivamente até chegar em Deus. Vista assim, esta questão fica reduzida ao estudo das cinco vias, principalmente das vias dinâmicas. A conclusão da primeira via, por exemplo, é que deve existir um “primeiro motor imóvel” com relação ao qual todos os demais motores são movidos; ou seja, motores subordinados que recebem todo seu impulso daquele primeiro motor. Dentro de nosso tema, estamos ligados a Deus em todos nossos atos até tal ponto que não podemos mover-nos, realizar a mais simples atividade, se não nos é dado do alto.

4. Conclusões

Todas estas questões nos levam a algumas conclusões que veremos a seguir: Primeira: a religião, a ligação com Deus, não é algo que se pode ter ou não ter, a capricho da liberdade humana. Vem-nos dada. No mesmo momento que começamos a existir, já nos encontramos ligados, dependentes radicalmente de Deus. “O homem –como diz Zubiri– não “tem” religião mas “consiste” na religação, na religião (Zubiri, Natureza, Historia, Deus, Madri, 1944, pp. 437-438). Segunda: do ponto de vista metafísico, o homem está em idênticas condições dos seres que o rodeiam. A ligação não é algo que afeta exclusivamente o homem, separando-o e diferenciado-o do resto da criação. Não, afeta todos os seres. A diferença é que no homem esta ligação se atualiza formalmente. Por essa semelhança com as demais criaturas, o homem pode descobrir nelas a mesma perspectiva de ligação ontológica que descobre em seu próprio ser, e chegar por este caminho até Deus. Que outro caminho é este senão as cinco vias de S. Tomás? A ligação não nos dá, no entanto, um conhecimento perfeito de Deus. Nós sabemos que a perfeição do nosso conhecimento depende da perfeição com que a coisa, ou o objeto, nos é manifestada. Deus não se manifesta a nós perfeitamente,

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nem sequer diretamente. Conhecemos a Deus através das criaturas, pelas perfeições que encontramos nelas, e por analogia chegamos até Deus (I, q. 13, a. 4). Terceira: falando ainda no âmbito metafísico, chegamos a uma conclusão muito simples, mas de grande força: metafisicamente falando não podem existir ateus, pois seria o mesmo que afirmar que existem seres a-ligados. Um ateu, neste sentido, é um ser impossível, contraditório. No momento em que um ateu nega o “ser”, seu ser delata sua ligação. O ateísmo (tanto teórico quanto prático, viver sem precisar de Deus) é, como agora se torna patente, a coisa mais absurda que existe. Um homem des-ligado seria o nada subsistente. Todo o vazio que cai a filosofia moderna nasce do esquecimento dessa ligação. Se o ser, a permanência no ser, e todas as perfeições humanas e todas as nossas ações supõem nossa fundamentação em Deus, o próprio nosso é a finitude, o nada, a limitação. Esquecendo-se o homem da sua fundamentação em Deus e pondo sua fundamentação em si mesmo, em breve se deparará com o nada subsistente, com o vazio, seu apoio se desmoronará como um torrão de açúcar se desmorona. Quarta: outra dedução importante que podemos chegar, ao aprofundar na fundamentação ontológica da religião, é a enorme transcendência de Deus sobre as criaturas e, ao mesmo tempo, a sua profunda intimidade no ser. Por um lado, Deus apresenta-se como o ser maximamente transcendente, fora de toda categoria, fora de toda a ordem do criado, causa incausada, ser necessário, motor imóvel, perfeição absoluta, inteligência dominadora, etc. Porém, todas estas afirmações expressam pouco do que é Deus em si mesmo, de sua vida íntima, do seu verdadeiro ser e personalidade. É um mundo desconhecido, onde a inteligência não chega; só a revelação e a fé podem nos aproximar desta realidade. Por outro lado, Deus é o que de mais íntimo, imanente, se dá nas criaturas. Dando sustentação a todo seu ser, sendo o Ato de todos os atos. Como dizia S. Agostinho, Deus está mas íntimo a nós, a todos os seres, do que os seres a si mesmos. Este enorme contraponto é o que explica grande parte dos erros das diversas religiões que foram criadas por pessoas humanas. Quinta: analisando a teoria da causalidade, vemos que o universo inteiro “ilumina” Deus, da notícia de Deus. O universo inteiro, impregnado da Bondade que foi comunicada como causa final a toda criatura, nos “atrai” para a Bondade Suprema. Deus se “impregna” em todas as criaturas, impregnado todas as suas potências. Daí que todas nos levam a Deus e todo o nosso ser nos leva a Deus.

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III. NOÉTICA DA RELIGIÃO

Depender de Deus não basta para sermos religiosos. É necessário tomar de alguma forma consciência desta dependência para que haja uma união efetiva com Deus. Veremos a seguir os diversos caminhos pelos quais o homem pode tomar consciência da religião.

1. Consciência da religião por via do intelecto

Para nós, o meio fundamental de fazer-nos conscientes de nossa ligação é o conhecimento intelectivo. Mas, diz S. Tomás, existem três modos distintos de conhecer a realidade: a) pela presença da própria essência do objeto conhecido no cognoscente; b) pela presença da própria imagem do objeto conhecido na potência cognoscitiva (como o conhecimento de uma pedra se realiza no olho pela presença da sua imagem na retina); c) pela semelhança ou imagem tirada não do objeto próprio, mas de outro objeto onde, de algum modo, ela é representada (como quando vemos uma imagem através de um espelho (I, q. 56, a. 3)). a) O conhecimento pela presença da própria essência divina (conhecimento intuitivo)

O problema de um conhecimento intuitivo de Deus, “per essentiam”, como diz São Tomás, é o problema do ontologismo. Sobre este tema existem duas posições igualmente extremas e igualmente errôneas. Por um lado, estão os que afirmam que nenhum entendimento criado pode chegar ao conhecimento imediato da Essência Divina. Nem mesmo os anjos e os bem-aventurados, que, mais do que ver a Essência Divina, vêem um resplendor que procede dEle. Outra é a posição que afirma a possibilidade para o homem, ainda nesta vida, contando com as suas próprias forças, da visão da Essência Divina. Neste grupo podemos contar os ontologistas, racionalistas, imanentistas, etc. A verdade não está em nenhum desses dois extremos: se examinamos o problema desde um ponto de vista natural, podemos facilmente comprovar como a visão intuitiva de Deus é totalmente impossível para nós no estado atual em que nos encontramos. Para que possa existir conhecimento, é necessário que haja proporção entre o objeto conhecido e a potência cognoscitiva, pois o modo da operação segue o modo de ser. O entendimento humano tem por objeto e não co-

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nhece mais do que aquelas coisas que estão realizadas na matéria, e as conhece precisamente mediante as imagens –fantasmas– extraídas das coisas sensíveis. Conhece as essências das coisas sensíveis, em seu aspecto universal, abstraído da forma concreta e singular em que se dão na ordem da realidade. Isto não quer dizer que em outras condições da natureza humana, ou de algum modo fortalecida por uma potência superior, a visão facial de Deus não possa realizar-se. b) O conhecimento pela presença da própria essência divina

Também aqui a conclusão é totalmente negativa. Uma imagem própria de Deus teria que ser tão espiritual como Ele, em que sua Divina Essência se manifestasse como é em si, em sua Infinita Imaterialidade. Como, segundo o que acabamos de dizer, não conhecemos nem podemos conhecer por nossas puras forças naturais mais que as essências das coisas sensíveis, temos que tal imagem está por cima também de nossas possibilidades. Conhecer “per speciem propriam”, como diz S. Tomás, a Deus seria conhecer como os olhos, por exemplo, conhecem as cores próprias na imagem que nelas se reproduz. Esta visão ou conhecimento, diz o Angélico, só se dá no conhecimento natural dos anjos, em que a imagem de Deus está neles “impressa” (I, q. 56, a. 3).

c) O conhecimento indireto ou “per analogiam”

Só nos resta um modo, do ponto de vista natural, de conhecer a Deus: pelo reflexo de Deus nas criaturas. Realidade possível para o nosso conhecimento. Estes vestígios de Deus nas criaturas estão fundamentados na causalidade. Como, necessariamente, o efeito tem que guardar uma proporção e semelhança com a causa que o produz, as coisas são semelhantes a Deus e podem nos levar –por analogia– ao seu conhecimento.

d) Os que negam esta via de acesso

Os agnósticos. Para os agnósticos este problema ou não existe, ou não deve existir. Se não podemos demonstrar a existência de Deus, menos ainda poderemos fazer-nos conscientes de nossa ligação. Os panteístas. Da mesma maneira, esta questão não existe para os panteístas. De fato, o panteísmo, em qualquer forma que se apresente, desde Parmênides até Spinoza, de Heráclito até Bergson, nega sempre um dos termos da relação criatura-Criador: ora nega o homem, dizendo que tudo não passa de Deus; ora nega Deus, colocando-o no mesmo nível das coisas contingentes. O máximo que os panteístas podem chegar, como chegaram os estóicos e Schleiermacher, e muitos filósofos afins, é ter consciência da nossa participação em Deus; mas nun-

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ca chegarão ao conceito verdadeiro de ligação entre a criatura e um ser bem distinto dela, que é o Criador. Depois: todos os filósofos idealistas, que ora são agnósticos ou panteístas.

2. Consciência da religião por via da vontade

Desde já, devemos partir daquele velho princípio filosófico que diz que “nada se quer se não se conhece”. Uma vez estabelecido este princípio, podemos dizer que tudo que se aplica ao conhecimento, aplica-se à vontade. Ou seja: não podemos querer a Deus diretamente mas unicamente por analogia. Os bens criados e finitos serão sempre uma alavanca para o Bem-Infinito, por darem notícia deste Bem.

3. Consciência da religião por via da sensibilidade

A última via que pode dar acesso a Deus, no plano natural, é a via da sensibilidade. O problema aqui é muito semelhante ao dos itens anteriores. Trata-se de conhecer a influência que tem esta parte sensitiva na consciência de nossa ligação com Deus. a) Esclarecimentos importantes

Como a sensibilidade humana é muito rica, é necessário fazer uma breve distinção entre os diversos grupos que a compõem, isto é: as tendências, apetites, instintos, paixões e sentimentos. a.1) Tendências A tendência é uma inclinação natural a. Santo Tomás a chama o “pondus naturae”, uma espécie de peso que leva sobre si a própria natureza e que a inclina sempre a determinados fins. Estende-se não só ao seres animados mas também aos inanimados. A pedra tende a cair, tem tendência a cair. A árvore busca a luz, tem tendência à luz. O animal ama sua existência, tem tendência a conservar sua existência, etc. a.2) Apetite O apetite tem uma significação mais restrita, refere-se propriamente ao animal (racional ou irracional) e sua atuação segue sempre a um conhecimento. Pode ser um “apetite superior” (apetite racional ou vontade) e pode ser também um “apetite inferior” (segue a um conhecimento puramente sensitivo ou tende a aperfeiçoar a parte sensitiva ou animal do indivíduo).

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a.3) Instintos Estes dois apetites fundamentais vistos acima envolvem infinitas modalidades, que respondem às diversas maneiras em que podem se apresentar os infinitos objetos. Estas modalidade, estas concretizações, chamamos instintos. São sempre inatos. a.4) Paixões É fácil distinguir, uma vez entendida assim a natureza dos instintos, dois aspectos bem diferentes em quem os possui. O instinto enquanto força, tendência do sujeito; e o instinto enquanto elemento passivo, sofrendo as conseqüências da apetecibilidade. A isto chamamos paixões. É algo transitório. Costuma ocorrer com alguma mutação orgânica. a.5) Sentimentos É um conjunto de afetos, de excitações que surgem no sujeito causadas pela presença do objeto apetecível sob uma infinidade de circunstâncias. b) Se a religião pode ser objeto destas realidades

Como ponto de partida, podemos descartar as tendências, já que estas são movimentos comuns aos seres animados e inanimados. Não tem sentido dizer que a religião é objeto de um ser inanimado. Com relação aos outros elementos da sensibilidade, levando em consideração que todos eles são decorrentes de um prévio conhecimento, Deus em si não pode ser objeto destes elementos, mas sim por analogia: realidades que por analogia conduzem a Deus. Vejamos como isto ocorre, a título de exemplo, nas paixões e sentimentos e no instinto. c) A religião nas paixões e sentimentos

De fato, a religião, por analogia, pode ser objeto das paixões e dos sentimentos. Basta pensar, por exemplo, o que ocorre quando ouvimos uma peça de música extraordinária, quando contemplamos um quadro famoso, ou quando lemos uma obra prima: nosso espírito costuma elevar-se a regiões inauditas. Facilmente passamos do belo ao sublime, do grande ao grandioso, da harmonia à maravilha. Pensando neste exemplo, é fácil imaginar que em determinadas circunstâncias, admirando a beleza da natureza, fazendo um retiro espiritual, obtendo uma graça extraordinária (a solução de um problema econômico, a cura de uma doença), sintamos Deus no nosso coração. Não será propriamente Deus que estaremos sentindo, mas uma Grandeza Superior, uma Luz inigualável dentro de nós, etc.

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Podemos dizer que da mesma maneira que a nossa inteligência é levada a ver nas coisas contingentes uma dimensão transcendente, os sentimentos e as paixões podem vislumbrar a divindade nas criaturas. Muitas conversões surgem destes sentimentos. Não há dúvida que é preciso procurar posteriormente um fundamento para esta experiência sensível. d) A religião nos instintos

Como já vimos anteriormente, vários filósofos imanentistas, tentando explicar o fenômeno religioso, afirmaram ser este o produto de um instinto comum a todos os homens. Freud, por exemplo, em seu clássico pansexualismo, diz ser a religião a “sublimação da libido”, semelhante ao “élan vital” de Bergson e à ânsia de viver de Schopenhauer, mas introduzindo nestes conceitos a idéia de sexualidade. Esta sublimação da libido é o fundo de toda vida religiosa. Os místicos são uns eróticos refinados. Aduz como testemunho os modos de expressar-se dos místicos em metáforas do amor humano. Feuerbach, por outro lado, afirma ser a religião uma aspiração ilusória do homem que diante da dominação da Natureza e da limitação de suas faculdades, sonha com a liberdade, com a independência. Neste delírio, cria um mundo novo e põe nele a esperança da sua liberação. Boutroux põe a essência da religião no instinto de superação que caracteriza a sociedade e o indivíduo. O progresso é a prova deste instinto. A sociedade não se detém e as gerações tratam de superar-se umas às outras. Spencer apresenta uma teoria da religião que, em última análise, reduz-se a um movimento instintivo, o instinto de conservação. Daí o culto aos mortos, o temor dos espíritos, etc. Conhecida é também a teoria de Nietzsche afirmando ser a religião o instinto de conservação dos escravos frente à potência e afirmação de poder dos senhores. Também Otto fundamenta a religião em um instinto: o temor ante o “numinoso” (o que causa estupor). Todos estes filósofos, tem em comum o fato de reduzirem a religiosidade a um subproduto do eu. Erram, portanto, ao negarem a existência de um ser transcendente à subjetividade. Veremos como a perspectiva realista olha com outros olhos os instintos que nos levam a Deus. Vejamos, em primeiro lugar se é possível existir um instinto religioso. Temos que recordar, mais uma vez, que o exercício do instinto exige sempre o conhecimento prévio de um objeto, apesar da sua mecanicidade. Qualquer que seja o nosso instinto, ele só é posto em ação, na presença de um objeto, ainda que não seja claramente definido.

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Se é necessário um conhecimento prévio, mais uma vez descartamos a possibilidade de um instinto que tenha como objeto Deus. O que pode haver, sim, é um instinto, por exemplo, de curiosidade, que nos leva a observar os fenômenos e –graças à ação do conhecimento– atribuí-los a determinadas causas. Descrevemos a seguir alguns instintos que podem intervir na religião: •

instinto de conservação: é o que nos leva a perpetuar a nossa existência e procurar para ela um apoio para continuar existindo. Nesta busca, sentimo-nos empurrados a apoiar-nos num apoio que esteja além das realidade materiais.



instinto de curiosidade: os fenômenos naturais de terror, de beleza extraordinária, de aparição e desaparição das coisas, excitam em nós a busca de uma causa que esteja por trás.



instinto de temor: é o medo que surge diante dos fenômenos da natureza, das reações humanas, da morte, etc. Ele nos leva a buscar um apoio que seja superior às coisas que nos cercam.



instinto de felicidade: sem percebermos, estamos sempre procurando a felicidade. Concomitantemente vamos tendo a experiência da insaciabilidade dos bens alcançados. Isso nos leva a procurar encontrá-la em bens maiores.

Poderíamos destacar muitos outros instintos naturais ao homem. Porém, com estes, já percebemos aquilo que havíamos mencionado anteriormente que Deus, através da causa final, põe um direcionamento a Ele não só em todas as criaturas, mas em todas as suas potências; daí que todas nos levem a Deus, inclusive os nossos instintos. Desta forma entendemos que os filósofos modernos tenham descoberto instintos que nos levam a Deus. Erraram, por outro lado, ao afirmarem que estes instintos têm uma realidade meramente imanente. e) Possibilidade do ateísmo no âmbito da noética da religião

Concluímos o segundo capítulo fazendo a pergunta se era possível o ateísmo no âmbito da fundamentação metafísica da religião? E respondemos que não era possível. O homem, queira ou não, está ligado ao Ser, em sua existência e em sua permanência no ser. Ao concluir este terceiro capítulo nos perguntamos também se é possível o ateísmo no que diz respeito à noética da religião? Isto é: é possível que exista um homem que, por via racional, volitiva ou sensitiva, não chegue à reconhecer Deus em sua vida? Podemos dizer que, sendo tantas as “forças” que nos levam a Deus (racionais, volitivas, sensitivas) não é possível que um homem normal não tenha, pelo menos em algum momento, uma consciência da sua ligação.

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IV. ATITUDE DO HOMEM DIANTE DA CONSCIÊNCIA DA RELIGIÃO

1. O ateísmo

Dizíamos antes que não é possível a existência do ateísmo. Nenhum ser, o mais ínfimo de todos, enquanto possa receber com verdade o qualificativo de ser, pode deixar de estar religado. O ser – dizíamos– é um efeito próprio ou privativo da primeira causa. Onde quer que esteja o ser, ali está presente a primeira causa. Também –como já vimos– é muito difícil que se dê o ateísmo no que toca à noética da religião. É tão palpável o direcionamento das nossas potências em direção ao absoluto, tão forte a nossa busca da verdade, do bem, da felicidade que é praticamente impossível que alguém não se dê conta da sua ligação com Deus. No entanto, como sabemos, o ateísmo existe. É um fato que presenciamos com relativa freqüência. Como explicá-lo, então? Onde estão as suas raízes? Penso que podemos entendê-lo à luz destas palavras de Aristóteles de um profundo valor: “A verdade está sempre diante de nós, e nós estamos por ela circundados e iluminados: a nossa inteligência é que deve habituar-se a vê-la, assim como os nossos olhos devem habituar-se a ver a luz que nos circunda e nos ilumina” (Aristóteles). Aristóteles afirma uma verdade inequívoca: “a verdade está diante de nós”. Sua luz é de tamanha força que nos ilumina, mais ainda, nos circunda. De fato, como vimos, a luz da nossa ligação está por todos os lados, em todos os nossos sentidos e potências e em todas as criaturas. O que precisamos fazer é habituarnos a ver esta ligação, como os olhos estão habituados a ver a luz que os ilumina. E isto é uma atitude da vontade, da liberdade. Se a liberdade não quiser ver, não verá. Da mesma forma que se os olhos não quiserem ver a luz que brilha no mundo, não a verá. Isso mostra como diante de qualquer verdade, por mais evidente que seja, podemos negá-la. Superar o ateísmo é render-se ao excesso de luz. É justamente isso que separa aqueles que “vêem” a Deus, daqueles que não o “vêem”.

2. A única atitude racional ante a consciência da religião

De tudo o que vimos, a única atitude sensata diante da consciência da religião é dar a Deus o seu culto devido. O estudo desta matéria já não é propriamente filosofia da religião.

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ANEXO 1

“Para quê ter uma religião” (D. Estevão Bittencourt, PR 297/1987)

Em síntese: A religião é a única resposta cabal às aspirações fundamentais do ser humano, pois o eleva ao Transcendental e Absoluto. A tentativa de procurar na ciência e na técnica a solução para os anseios congênitos do homem tem decepcionado o cidadão de nossos dias: atesta-o o ressurgimento da religião nos países submetidos a regimes ateus como também o surto de novas e novas seitas; estas infelizmente são mais emotivas e fantasiosas do que racionais. O indiferentismo religioso de muitas pessoas de nossos dias explica-se, em parte, pelo consumismo, que embota o senso religioso e dá ao homem a impressão de poder saciar-se com os bens materiais; cedo ou tarde, porém, os bens materiais falham, abrindo um vazio no coração do homem, que só Deus pode adequadamente ocupar. Verifica-se também que a agitação e as preocupações do ganha-pão, o barulho da civilização contemporânea dificultam ao homem o encontro consigo mesmo no silêncio; muitos não estão acostumados ao recolhimento e à reflexão - o que torna difícil aprofundar o senso religioso inato em tais cidadãos. A perda da religião é grave dano para o homem, pois se observa que a “morte de Deus” vem a ser a “morte do homem”. Não é raro encontrarmos pessoas que perguntam: “Por que ou para que ter religião?” Dizem não precisar de religião, pois vivem satisfeitas sem fé. Daí o indiferentismo, que não combate a religião, mas a menospreza como um derivativo oportuno para quem dele precise. Tal fenômeno é novo na história da humanidade. Outrora ter religião era um fato normal. A partir do século XVIII, o ateísmo passou a impugnar a religião como algo de irracional, alienante e nocivo; a religião mereceria ser combatida, na concepção desses ateus. Atualmente, porém, há pessoas que nem concebem o problema religioso; por isto nem combatem a religião; esta, segundo elas, não merece atenção. Por isto há quem diga que vivemos numa época “pós-religiosa”; esta expressão é exagerada ou mesmo falsa, pois há sinais eloqüentes de retorno à religião em nossos dias, como se verá no decorrer deste artigo. A seguir, examinaremos a questão: “por que ou para que uma religião”? Procuraremos a resposta a dar-lhe e os porquês do indiferentismo. 1. O sentido da vida 1.1. A questão básica

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Uma das necessidades fundamentais do ser humano é, conforme bons psicólogos, a de saber o sentido da vida: “por que vivo?... para que vivo?... por que sofro? Por que a morte?... por que o mal na história dos homens?... Afinal de contas, quem sou eu?”. A necessidade de resposta para tais perguntas se evidenciou especialmente nos campos de concentração: nestes os prisioneiros, sentindo-se condenados a trabalhos e condições de existência absurdas, deixaram-se, não raro, morrer ou perderam todo estímulo para viver; muitos não tinham sequer a coragem de se colocar de pé, apesar da pressão dos golpes e maus tratos, da fome e da sujeira em que jaziam. O psicólogo austríaco e judeu Viktor Frankl o narra muito vivamente em seu livro: “Psicoterapia e sentido da vida” (cf. PR 281/1985, pp. 329-340).

1.2. Tentativa de resposta sem Deus O homem moderno se afastou de Deus e da Religião, tidos como elementos pré-científicos ou obscurantistas, para se entregar ao cientificismo: a ciência e a técnica, progredindo continuamente, lhe trariam todas as respostas e preencheriam todas as suas aspirações. O homem moderno teria deixado de ser criança, atingindo finalmente a sua maioridade (assim pensava Dietrich Bonhoeffer em suas cartas de prisão). Negar Deus seria a condição para que surgisse o SuperHomem, capaz de vencer as “fatalidades” da história. A fé no homem, traduzida na filosofia do progresso, do crescimento e do secularismo, substituiria a fé em Deus; foi ressuscitada a figura mitológica de Prometeu, que subiu aos céus, arrancou o fogo, monopólio dos deuses, e o trouxe para a terra, anunciando que ele doravante seria o doador do fogo para a humanidade.

1.3. A insuficiência do cientificismo A ciência não responde às questões fundamentais do homem; ela estuda o que cai sob os sentidos ou o que se pode ver, tocar, medir, calcular, isto é, o mundo dos fenômenos. Os objetos que estejam para além do sensível e dos fenômenos fogem ao setor próprio da ciência. Ora os problemas concernentes ao sentido do homem e da vida já não são da área dos fenômenos sensíveis; não são problemas para os quais a ciência, como ciência (como investigação empírica), possa dar resposta. - Tenhamos em vista, por exemplo, a biologia: investiga tudo o que se possa observar empiricamente a respeito da vida (transmissão, leis da genética, do crescimento, da restauração...). Mas, depois que alguém estudou tudo o que a biologia lhe possa ensinar, ainda conserva as perguntas fundamentais: vale a pena viver? Por que viver? Qual o sentido da vida? Ademais a ciência é assaz frágil em suas construções; está sujeita a se reformar e retratar constantemente; cada problema que parece resolver-se, abre vários outros problemas que desafiam o cientista. Eis o testemunho significativo de um grande pesquisador, o Professor Dr. Newton Freire-Maia, do Departamento de Genética da Universidade Federal do Paraná: Quando me lembro de que, ao longo de minha vida de professor, já ensinei meras hipóteses de trabalho como se fossem a mais pura verdade, ou relatei fatos

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que simplesmente não existiam - fantasia dos nossos sentidos - ponho-me a imaginar que, na maioria dos casos, nós passamos a vida a substituir uma fantasia por outra, na esperança de atingirmos, um dia, o pleno conhecimento da essência do universo... Um amigo meu, professor de português e literatura numa Faculdade de Filosofia, com o fim de acentuar as dificuldades que encontrava no seu campo de trabalho, disse-me certa vez mais ou menos o seguinte: “Vocês, cientistas, é que são felizes! Em ciência, o que é, é mesmo; o que não é, não é. No setor das línguas e das literaturas, as divergências de opiniões são tantas que a tarefa de um especialista se torna extraordinariamente pesada e difícil, uma vez que ali ele nunca encontra a segurança e a certeza que as ciências oferecem”. ...Para esse amigo, a ciência era uma fonte de verdades e, como os cientistas não são suficientemente loucos a ponto de negar verdades, todo o edifício das ciências seria um conjunto de proposições certas sobre as quais ninguém ousaria depositar a mais tênue das dúvidas: a água ferve a 100º C; a gravidade tudo atrai para o centro da terra; a lua não cai de sua órbita por causa da interação de forças gravitacionais com a inércia; a velocidade da luz é de 300.000 km por segundo; a molécula de água tem dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio; para formar um novo ser, é preciso que um espermatozóide fecunde um óvulo; o coração é o órgão central da circulação sangüínea; pensa-se com o cérebro e não com o fígado; as plantas absorvem gás carbônico e liberam oxigênio (e isto se chama fotossíntese ou função clorofiliana); a tuberculose é produzida pelo bacilo de Koch (a lepra, pelo de Hansen); os antibióticos e a sulfamida matam micróbios; a asma é uma doença alérgica. etc. Todas essas ‘verdades’ (nem sempre verdadeiras ou apenas ‘meias verdades’) seriam ‘científicas’, por isto, não poderiam ser postas em dúvida. Por este motivo é que os anúncios de pasta dental usam, muitas vezes, como prova da eficácia de uma marca, a fórmula mágica: ‘A ciência comprovou’. Se a ciência comprovou, é verdade... A ciência está repleta de hipóteses (provisórias) e, comumente, o próprio cientista não tem consciência da precariedade das suas proposições. Quando estudamos história da ciência e ali encontramos as hipóteses que foram alijadas para o porão e substituídas por outras, ficamos aturdidos com a possibilidade de que muitas das nossas hipóteses de hoje possam tomar o mesmo destino (pp. 102104). Em nossos dias, assistimos ao desabamento da ideologia do progresso, que seria uma “religião leiga” (sem Deus), baseada sobre o pressuposto da infinita perfectibilidade do homem. A definição do homem em função da eficiência e da produtividade já não satisfaz; procuram-se outros modelos para o ser humano. Aqueles que acreditavam no poder, sem limites, da ciência e da técnica, recuam; verificam que o gigante Prometeu está abalado; o mito do Progresso cede à consciência de que a humanidade está em crise, sob o signo de um futuro cada vez mais ameaçador ou marcado pela perspectiva de um holocausto nuclear. Pode-se, portanto, falar do fim do otimismo histórico que caracterizou a primeira metade

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do século XX. Há quem diga que lá entramos - ao menos no Ocidente - na fase da pós-modernidade e do pós-racionalismo. 1.4. A resposta da Filosofia A própria filosofia, que por definição indaga a respeito das causas últimas, e procura formular o sentido do homem e do mundo, apresenta um leque de respostas que, se não são contraditórias entre si, são incertas e insuficientes (não indo ao fundo das questões). Para os pensadores, mesmo para os mais sagazes, o homem fica sendo um mistério, que a razão só consegue decifrar em parte e com grandes dificuldades. Precisamente - e com muita lógica - os maiores pensadores reconhecem a radical incapacidade da razão para penetrar, na sua profundidade, o mistério do homem e, por isto, não raro acenam para outra fonte de conhecimentos ou seja, para “uma divina revelação”. É o caso, por exemplo, de Platão, que no diálogo Fedon aborda a questão da imortalidade da alma: afirma então que sobre tal assunto é impossível ou muito difícil chegar a uma conclusão clara; é preciso, por conseguinte, que nos contentemos com a teoria menos obscura que a razão possa construir, para atravessarmos numa jangada o perigoso mar da vida. E acrescenta: “...a menos que alguém esteja em condições de fazer o trajeto mais seguro e menos perigosamente sobre um barco mais sólido, confiando-se a uma divina revelação”. Na realidade, o mistério do homem é tão profundo que só Deus, que criou o homem e lhe deu a sua vocação, pode dar-lhe a conhecer o sentido da vida mediante “uma divina revelação”. Ora na revelação cristã Deus não revela apenas o mistério de sua vida, mas manifesta o homem ao homem, oferecendo-lhe a resposta para as suas indagações: “Donde venho? Para onde vou? Qual o sentido da minha vida sobre a terra? Por que sofro? Por que há tantas desgraças no mundo? Por que hei de morrer?” Mais: Deus não somente ilumina a noite escura do homem; Ele também realiza o que revela, tornando o homem participante da vida do próprio Deus; não somente projeta luz sobre o mistério do sofrimento e da morte, mas livra o homem do mal e da morte. Sim; a religião não é mera filosofia ou uma mensagem de ordem puramente intelectual, mas é uma realidade de ordem vital, portadora de nova vida ou de novo modo de ser. Assim é que a religião dá um sentido à vida humana.

1.5. O ressurgimento da religião É precisamente neste contexto que se registra um retorno das questões relativas a Deus e aos valores transcendentais. Este retorno se dá na Rússia Soviética, na China comunista e em outros países, onde o ateísmo tentou extirpar a fé dos cidadãos e camponeses. Dá-se também no pulular de seitas e correntes religiosas, que encontram eco fácil na sociedade de hoje, sequiosa de descobrir o sentido da vida e da morte do homem. Nada de mais significativo do que esse despertar do senso religioso da humanidade (embora se deva lastimar que se faça não raro à custa de charlatanismo e exploração da credulidade de pessoas infelizes). Na verdade, dentro da inteligência e da vontade do homem há uma capacidade de

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Infinito e somente a Verdade Plena e o Bem Absoluto podem saciar adequadamente esse potencial; sabiamente dizia o filósofo francês Blaise Pascal que existe no homem “um abismo infinito que não pode ser preenchido senão por um objeto infinito e imutável, isto é, por Deus mesmo” (Pensées nº 300). É essa aspiração inata ao Infinito que suscita constantemente o problema religioso, mesmo quando o homem o quer sufocar; é a própria natureza do homem, e não algum fator externo, de cultura contingente, que provoca esse anseio. O homem é um ser espontaneamente inquieto e insatisfeito procura aquilo que não tem e quando o consegue, experimenta o fastio e o dissabor porque nada o satisfaz. O motivo profundo desta constante sofreguidão é que ele não foi feito para as coisas transitórias e limitadas mas para o Infinito ou para Deus: “Senhor, Tu nos fizeste para Ti e inquieto é o nosso coração enquanto não repousa em Ti” (S. Agostinho, Confissões I, 1, 1). Nisto o homem se diferencia nitidamente do animal irracional. Com efeito; este, tendo atendido às suas necessidades biológicas, se dá por saciado e nada mais pede. Não atinge o transcendental, ao passo que o homem, mesmo satisfeito no plano biológico, não pára: quer conhecer sempre mais, quer experimentar situações novas, que dilatem seus horizontes. É por isto, aliás, que muito sabiamente se aponta a atitude religiosa como característica do humano, isto é, da inteligência e da dignidade do homem. Em conseqüência, um dos sinais típicos da passagem do homem na pré-história são os símbolos ou as manifestações religiosas: especialmente o sepultamento dos mortos (expressão da crença na vida do além e na existência de Deus) é tido como um dos mais rudimentares sinais que caracterizam o ser humano. Em conseqüência também, verifica-se que a religião é um fenômeno universal, isto é, de todas as tribos e de todas as épocas; nunca houve povos arreligiosos ou não religiosos; mesmo as populações mais primitivas descobertas recentemente na África ou na Oceania manifestam senso e culto religioso; verdade é que a religião por vezes sofre aí o contágio da magia, da bruxaria e das superstições, mas é sempre perceptível. Tal fato é reconhecido por todos os historiadores e etnólogos, por mais diferentes que sejam as concepções filosóficas de cada um. Em síntese, pode-se dizer que é a própria estrutura do homem que põe o problema de Deus. Desde que reflita um pouco sobre si mesmo e suas aspirações, ele descobre em si a sede de algo que está além de tudo o que ele experimenta com os seus sentidos. Muitas vezes ele não sabe dar o nome a esse algo mais, nem pode explicar essa sede, que se volta para o Transcendental. Se ele a quer acalmar com o gozo dos prazeres materiais, intelectuais, culturais - que esta vida lhe oferece, sente em breve o vazio, pois tudo lhe escapa de entre as mãos: “E coisa horrível sentir que nos escapa tudo o que possuímos” (Pascal, Pensées nº 152). Auscultando um pouco mais a si mesmo, o homem verifica que a sua sede é de Absoluto ou de Infinito ou de Deus; com todo o dinamismo do seu ser, o homem tende para Deus. Por conseguinte, Deus nunca é estranho à criatura humana, mas lhe está muito próximo; antes diríamos que Deus lhe é mais íntimo do que o que o homem tem de mais íntimo. Bem dizia S. Agostinho: “Deus superior sum-

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mo meo, intimior intimo meo”. - “Deus é mais elevado do que o que tenho de mais elevado e mais íntimo do que o que tenho de mais íntimo”.

2. A consciência das limitações Além de experimentar a necessidade de conhecer o sentido da vida para poder motivar sua existência, o homem faz a experiência inevitável de certas limitações que o afetam no mais profundo do seu ser.

2.1. Nascimento e morte Nem o começo nem o fim da existência do homem sobre a terra estão em seu poder. Não é o homem quem dá a si a existência; esta lhe é outorgada; nem o homem é senhor da mesma, pois ela lhe é retirada. Isto torna evidente a cada indivíduo a respectiva contingência: ao nascer, o homem, que não existia, vem a ser; ao morrer, o homem, que existia, deixa de existir sobre a terra; realmente o ser humano é alguém que não tem em si mesmo a razão da sua existência; esta não é, por si mesma ou por sua definição, necessária. Entre o nascer e o morrer, também o agir do homem é limitado: condicionado pelos traços da sua personalidade e influenciado por fatores internos e externos, o homem experimenta a fragilidade do seu labor. A mais dolorosa experiência de limitação é a que a morte impõe: dir-se-ia que ela não rouba algum pertence ao homem, mas rouba o próprio homem a si mesmo. Esta convicção é tão brutal que muitos fazem tudo para não pensar na morte; entregam-se a atividades frenéticas, que não lhes deixam o tempo de se encontrarem consigo mesmos. A experiência da finitude leva o homem a querer superar os seus próprios limites. Este desejo está impregnado no mais profundo do ser humano; ele aspira a ser plenamente livre e feliz numa vida sem fim ou sem ameaças de morte. De todos os anseios do homem, este é certamente o mais intenso e profundo; ele quer beber da fonte da vida imortal. Mas onde a encontrará? - A resposta só pode ser uma: junto Àquele que é, por definição, a Vida e, por isto, pode dar ao homem a vida sem fim. Voltando-se para Deus, e só assim, o homem encontra a resposta para a sua demanda. Deste modo a experiência da finitude - especialmente a da morte - põe para o homem o problema religioso como problema fundamental. Com efeito, a religião, como re-ligação do homem com Deus, é o caminho para a Vida..., e para a Vida no sentido pleno da palavra. Dir-se-ia mesmo que, sem dimensão religiosa, o homem é uma demanda clamorosa que não encontra eco ou ressonância no universo.

2.2. As limitações do erro

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Além da experiência da finitude e da morte, o homem faz a experiência do erro. Criado para a verdade o ser humano se vê envolvido na ignorância e no erro; no tocante ao mundo material, tem alcançado sem dúvida níveis elevados de conhecimento, embora caminhe sempre às apalpadelas; no setor moral e no espiritual porém é-lhe difícil conhecer o que e verdade, o que é reto, o que é justo, o que e o bem, facilmente propõe o erro como verdade, o mal como bem, a ponto que muitas pessoas são céticas com relação aos valores espirituais e morais; não haveria aí verdade propriamente dita nem padrão de bem. O ceticismo tem sido uma permanente tentação para o homem. Mais trágica ainda é a experiência do pecado. Este não somente atrai o homem, mas escraviza-o, tornando a mente obcecada, a ponto de não reconhecer os males que comete ou, se os reconhece, não conseguir evitá-los; o ser humano é arrastado a fazer o que não quisera; já notava o Apóstolo São Paulo, fazendo eco aos filósofos romanos: “O querer o bem está ao meu alcance, não, porém, o praticá-lo. Com efeito, não faço o bem que eu quero, mas cometo o mal que não quero” (Rm 7,18s). Essa sujeição ao erro e ao mal suscita no homem a aspiração a livrar-se do erro e da escravidão do pecado, aspiração que não e superficial, mas brota do mais profundo do ser humano Este porém verifica que por si só não consegue libertar-se pois apesar dos melhores propósitos, é constantemente solicitado a recair e cede a tentação Quem pode então salvar o homem de tal humilhação? Não outra criatura sujeita também ela à falência, mas sim o Ser absoluto, que é a própria Verdade e o próprio Bem: Deus. Assim o homem chega a noção e a necessidade de Deus. Este não é um Rei Todo-poderoso que se oporia à grandeza do homem, mas, ao contrário, é aquele Ser Perfeito que, por ser perfeito, ajuda o homem a superar suas limitações, fazendo-o participar da plenitude da vida divina; é Aquele que liberta o homem do erro e do pecado. Eis, pois, o sentido da religião: é o caminho mediante o qual o homem, movido pelas mais profundas exigências do seu ser, se põe em contato com Aquele que é o Absoluto e vem a ser a Resposta aos grandes anseios da pessoa humana; tira o homem de suas servidões humilhantes e da própria morte, fazendo-o viver na verdade, na liberdade e na alegria. Temos assim os elementos para responder à pergunta: por que “ser religioso”? - Porque, mediante a religião - e só desta maneira - o homem se realiza plenamente ou encontra o cumprimento das suas aspirações mais profundas. Por conseguinte, ao homem a-religioso falta algo de essencial para o total desdobramento das suas virtualidades e a consecução dos objetivos. A religião não é uma dimensão secundária ou acidental da vida humana, mas está arraigada no íntimo da pessoa; quem deseje prescindir dela, não pode deixar de se prejudicar. Por isto o ateísmo e a irreligiosidade não são opções equivalentes a outras no horizonte da filosofia, mas são atitudes extremamente graves, porque põem em perigo a realização e a consumação do ser humano.

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Tenham-se em vista, aliás, as considerações de psicólogos recentes, dos quais Carl Gustav Jung é um representante significativo; ao contrário de Freud, que desprezava a religião, Jung valorizou a dimensão de fé como integrante do psiquismo humano, sem o qual a saúde mental é afetada. A propósito, queira conferir PR 289/1986, pp. 277s. 3. Mas por que tanta indiferença? Apesar do papel capital do encontro com Deus na vida do homem, registrase grande faixa de indiferença religiosa na sociedade contemporânea. - Por quê? As causas são múltiplas. Poremos em relevo algumas que parecem mais importantes. 1) Muitas e muitas pessoas são tão absorvidas pelos problemas imediatos e urgentes da vida que não têm as disposições de ânimo necessárias para refletir sobre o sentido da própria vida: encontram-se sempre fora de si mesmas, emaranhadas em dificuldades que não lhes deixam tempo e gosto para a reflexão. Ademais a civilização contemporânea é rumorosa; provoca trepidação contínua e dos mais diversos tipos, que dificulta ao cidadão o recolhimento silencioso; o bombardeio de fatos e o suceder-se de imagens ocupam-lhe a imaginação e o pensamento. Isto tudo faz que o homem de hoje esteja pouco habituado a entrar em si mesmo, embora muito precise desse exercício. Ora, para aprofundar a questão religiosa, é indispensável a capacidade de refletir e fazer silêncio interior; sem esta, a pessoa é tragada pelo turbilhão dos bens transitórios, podendo mesmo esquecer que tudo passa, mas as aspirações congênitas do ser humano não passam. 2) Outras pessoas há que são absorvidas não por problemas de subsistência, mas pelo afã de gozar a vida, ganhar dinheiro, conseguir êxito na sua carreira, a ponto de não conceberem nem o gosto nem o interesse pelos problemas do espírito. O materialismo e o consumismo têm o triste poder de extinguir no homem a aspiração para Deus e a têmpera religiosa, que são constitutivas do psiquismo humano. Quem é tomado pelo anseio de possuir sempre mais bens materiais, fica embotado para os valores transcendentais; já não experimenta necessidade religiosa nem vê utilidade na fé. Isto explica que a crise religiosa seja hoje mais forte não nos países em que a fé é perseguida e sufocada, mas nos países ricos do Ocidente materialista e consumista.

Dirá alguém: mas há pessoas que afirmam ser felizes sem religião. Perguntamos: será realmente assim? Há momentos em que a vida mostra seu rosto dramático mediante uma doença grave, uma desgraça, um revés financeiro, um luto, a dissolução do casamento, um sério insucesso na carreira... Em tais momentos parece que os sonhos se dissipam como um castelo de cartas, caem as certezas que pareciam inabaláveis, tudo dá a impressão de ser vazio e sem sentido. É então que surge a questão: que significado tem a vida? Na verdade, o homem toma

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consciência de que é mesquinho e volúvel tudo o que lhe acarretava segurança e bem-estar; é amarga a condição do homem. Faz-se então sentir a necessidade de algo que, em meio à volubilidade geral, seja estável, ou entre as incertezas seja verdade firme. Em última análise, esta é a necessidade de Deus, que por definição é o Bem Absoluto e Imutável. Por conseguinte não é plenamente verdade que alguém possa viver feliz sem religião. Por algum tempo talvez isto possa acontecer mas o passar dos anos encarrega se de fazer sentir a todo homem a necessidade de Deus. Verdade é que tal necessidade pode ser interpretada erroneamente; o homem pode procurar em cisternas furadas aquilo de que carece (cf. Jr 2,13); pode bater em portas falsas à procura da verdadeira resposta para seus anseios. Isto não impede que cedo ou tarde o indivíduo seja, de algum modo posto diante do problema religioso 3) O desinteresse de muitos também se pode explicar como efeito da luta que o racionalismo vem movendo contra os valores da fé desde o século XVIII. Com efeito, a religião tem sido acusada de ser desarrazoada, infantil ou um conjunto da fábulas e mitos..., de ser alienante e, por isto, prejudicial à sociedade, ... de alimentar o fanatismo e a intolerância..., de ser contrária à ciência ou obscurantista, responsável pelo subdesenvolvimento de seus adeptos. A polêmica antireligiosa suscitou em torno da religião um clima de ceticismo, suspeitas e aversão; em conseqüência, para muitos, quem abraça a religião dá provas de pouca cultura, fraqueza de personalidade, infantilismo, medo, falta de senso crítico... Em tal contexto compreende-se que o número de pessoas “sem religião” tenda a aumentar. Na verdade, algumas destas acusações têm seu fundamento na conduta deficiente de pessoas ou grupos religiosos; deram à sua fé expressões inadequadas ou caricaturais, que provocaram o desdém dos racionalistas. Além disto, é preciso que não se apliquem critérios do presente a épocas passadas; o que para os homens de hoje é evidente no plano da ciência, da moral, não o era aos antepassados, de modo que estes, de boa fé, disseram ou praticaram coisas que hoje não seriam repetidas (assim a insistência no geocentrismo contra Galileu, os feitos da Inquisição, das Cruzadas, etc.). Uma serena consideração do que é a religião como tal e do conteúdo da mensagem cristã, evidencia que tais acusações não afetam o valor da religião. Só servem para empalidecer ou apagar na consciência humana a imagem de Deus, o que redunda em eclipse do próprio homem. Pois, na verdade, à “morte de Deus” se segue inevitavelmente a “morte do homem”. Este artigo muito deve ao editorial de La Civiltà Cattolica nº 3260, de

l5/04/86, pp. 105-114.

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ANEXO 2

“Compreendendo a Nova Era” (D. Estevão Bittencourt, PR 379/1993)

Em síntese: Nova Era é um conjunto de proposições "místicas" pouco lógicas e concatenadas, mas perpassadas por quatro principais teses: o panteísmo, a reencarnação, a comunicação com o além... em vista da implantação de uma Nova Era, dita "de Aquário (ou Aguadeiro)'; em que a humanidade estará unificada sob um só Governo mundial e uma só religião. Tal mensagem é mais fantasiosa e emocional do que lógica e científica. O panteísmo, por exemplo, é uma aberração filosófica, pois identifica a Divindade (o Absoluto, o Eterno) com o mundo e o homem, que são relativos e passageiros. Não há prova de reencarnação, nem alguém tem reminiscência do que fez ou foi em sua "vida pregressa". Também se pode dizer, à luz da psicologia e da parapsicologia, que os fenômenos mediúnicos nada têm que ver com comunicação do além, mas são expressões do inconsciente do médium e dos seus clientes. Apesar de tudo, a Nova Era faz sucesso, porque promete paz, fraternidade e felicidade - valores que faltam ao mundo de hoje e que ninguém vê como instaurar mediante os meios convencionais. Na falta de solução racional e lógica, a mente humana se abre facilmente para as propostas fantasiosas e mágicas, como são as da Nova Era. - Aos cristãos, conscientes disto, compete responder à interpelação que Nova Era lhes dirige, apresentando um testemunho mais lúcido e eloqüente da grande novidade, que é o Evangelho vivido e transmitido na Igreja de Cristo confiada a Pedro. São sempre muito freqüentes as indagações a respeito de Nova Era, corrente de pensamento e ação que tem chamado a atenção por suas proclamações, seus símbolos, suas previsões... O assunto já foi abordado em PR 354/1991, pp. 518-526 e 360/1992, pp. 235-240. Voltamos a considerá-lo acrescentando novos dados a quanto já publicamos; proporemos as linhas gerais que caracterizam o Movimento, e uma reflexão a respeito das mesmas.

1. TRAÇOS GERAIS

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A diferença de outras correntes modernas, Nova Era não tem data precisa de fundação nem fundador definido; não apresenta um governo centralizado que assuma a liderança do Movimento. Podemos dizer, sim, que este começou na década de 1960, quando apareceram os beatles e os hippies, que exaltavam o amor à natureza, a liberdade sexual, a paz e uma nova era, dita "de Aquário"; esta foi sendo enaltecida em prosa e verso no musical Hair.

Sem dúvida, contribuíram para o surto de Nova Era a Sra. Helena Blavatsky, fundadora da Teosofia (corrente panteísta ligada ao pensamento indiano) no século XIX, e sua discípula, a Sra. Alice Bailey (+ 1948). A Sra. Blavatsky era profundamente infensa ao Cristianismo, e transmitiu essa sua maneira de ver aos discípulos; assim se manifestava Blavatsky: "A doutrina da expiação é um perigoso dogma, em que os cristãos acreditam. Ensina que, independentemente da enormidade de nossos crimes contra as leis de Deus e dos homens, temos apenas de acreditar no auto-sacrifício de Jesus para a salvação da humanidade e que seu sangue lavará todas as máculas. Faz vinte anos que prego contra isso" (A Sabedoria Tradicional. Hemus Ed., São Paulo 1987, 4a. ed., p. 194).

A Nova Era não professa um sistema de pensamento concatenado; ao contrário, compreende várias linhas de pensamento, que correm paralelas entre si, e formam um conjunto heterogêneo, como se verá a seguir: assim o panteísmo, a ufologia, a comunicação com os extraterrestres vivos e com os mortos, a psicologia transpessoal, o movimento ecológico, a cura por medicina alternativa... É o que permite aos adeptos da Nova Era estar presentes na política, na medicina, na educação, na religião, na cultura...

Apontemos os principais temas inseridos nas propostas de Nova Era.

2. PRINCIPAIS TEMAS Deter-nos-emos sobre sete pontos.

2.1. Deus e a Reencarnação A Nova Era professa o panteísmo: Deus seria uma energia universal, donde procedem todas as coisas. Assim tudo que existe no mundo, é tido como emana-

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ção e expressão da Divindade; cada partícula de matéria é divina, pois possui em si todas as informações do universo. O pensador Roberto Crema, da Universidade Holística Internacional de Brasília, assim se exprime: "Deus dorme nos minerais, sente nos vegetais, sonha nos animais, e desperta nos humanos" (II Congresso Holístico Internacional. Belo Horizonte, julho de 1991).

Através de encarnações sucessivas, cada ser vivo pode alcançar níveis mais elevados de consciência, a tal ponto que não precise mais de se reencarnar, mas se tome o que se chama "um espírito cósmico". É o que lembra Pierre Weil, citando Mayse Choisy:

"Na teoria da ida e volta, o espírito decide encarnar-se, e passa dos níveis mais sutis aos planos grosseiros. Em conseqüência, a matéria não se aquieta enquanto não volta à sua fonte divina primitiva. É a involução evolução, simbolizada pelos dois triângulos que compõem a estrela de Davi. Não era isso que ensinava Platão, ao afirmar que conhecer é lembrar-se? Ou então quando Lamartine escrevia: 'O homem é um deus decaído que se lembra dos céus? Coitado, o homem tem memória tão curta... Volta e meia é preciso lembrar-lhe o que já sabe' " (Pierre Weil, Sementes para uma Vida Nova. Ed. Vozes, Petrópolis, p. 47).

Como se vê, o panteísmo da Nova Era está associado, como em outros sistemas panteístas, à tese da reencarnação. Já que em tais sistemas não existe Deus distinto do homem, é o homem mesmo que se salva..., e se salva mediante sucessivos retornos ao corpo a fim de se aperfeiçoar cada vez mais.

2.2. O Homem O homem está no centro das considerações da Nora Era. Já que o panteísmo professa que a Divindade, o mundo e o homem se identificam, o homem, nesse contexto, vem a ser a expressão mais elevada da evolução divina. A Sra. Helena Blavatsky, uma das precursoras do Movimento, assim manifesta seu pensamento:

"Vocês acreditam que o homem é um deus?

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- Por favor, diga Deus, e não um deus. A nosso ver, o homem é o único Deus que podemos conhecer. E como poderia ser de outra forma? Nosso postulado aceita como verdadeiro que Deus é um principio universalmente difuso, infinito e, sendo assim, como poderia o homem sozinho escapar de ser embebido por e na Deidade? Chamamos pai do 'céu' a essa essência deífica que reconhecemos dentro de nós, em nosso coração e em nossa consciência espiritual" (A Sabedoria Tradicional, p. 62).

Em conseqüência, os mentores da Nova Era julgam que todas as energias existentes no universo estão dentro do homem; este, pelo poder de sua mente, quando se concentra sobre determinado objeto ou projeto, pode torná-lo realidade, chegando mesmo a efetuar façanhas milagrosas, tanto para o bem como para o mal da sociedade.

Mas não somente as forças do bem e do mal estão dentro do homem. Aí se acham também outros elementos contrastantes, como o masculino e o feminino, o amor e o ódio, Cristo e o demônio... O cérebro consta de dois hemisférios: o esquerdo é a sede das nossas características masculinas (analisar, contar, planejar...); o direito corresponde aos elementos femininos (a intuição, os sonhos, as metáforas...). O homem perfeito tem que saber equilibrar e harmonizar esses seus dois lados: o masculino e o feminino. Por isto, os mestres da Nova Era reconhecem as práticas heterossexuais e homossexuais como igualmente legítimas; desde que haja "relacionamento saudável", os seres mais evoluídos devem gozar de plena liberdade sexual.

Assim Nova Era prevê novo estilo de vida para a humanidade; extinguir-seá a família e instaurar-se-á absoluta igualdade entre os seres humanos. A família é tida como fonte de egoísmo, inveja e possessividade, pois incita o homem a trabalhar para os seus descendentes e não para a comunidade como tal; desse egoísmo brotam competições e conflitos. A solução estaria, portanto, em pôr termo à instituição familiar e instituir comunidades abertas, cooperativistas e solidárias.

Tal procedimento já deixou de ser proposta ou projeto teórico, pois é praticado, segundo relata Pierre Weil em seu livro "Sementes para uma Nova Era":

"Em certas comunidades existe uma liberdade total de relações amorosas entre os sexos. Existe, por exemplo, na Alemanha um movimento comunitário chamado Action Analysis Comune, que exigiu, em filosofia de vida, a eliminação total do núcleo familiar. Consideram a relação de duas pessoas no núcleo familiar, à luz da experiência coletiva, como uma verdadeira doença. Muito influenciada pelas idéias de Reich, a comunidade considera o núcleo familiar como oriundo

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de uma necessidade materialista de assegurar a posse da propriedade privada. A comunidade existe para satisfazer às necessidades materiais e existenciais dos seus membros. Há nela um respeito muito grande pela vida. Por exemplo, o aborto é inconcebível nela. A comunidade dá amparo à mãe durante a gestação e assume a responsabilidade da criação dos filhos. Rajneesh preconiza também um sistema desta natureza e afirma que é muito mais saudável, para uma criança, ter vários modelos de adultos com que identificar e escolher o seu próprio comportamento, do que apenas dois, sobretudo quando estes modelos são indesejáveis do ponto de vista humano. Carl Rogers também questiona bastante o atual modelo familiar. As experiências atuais de 'casamento aberto' constituem também uma reação aos aspectos penosos de certo modo de vida familiar" (pp. 139 e 141).

Aliás, o projeto de unificação da humanidade numa comunidade global está sendo elaborado com certa rapidez. Em 1977, uma assembléia mundial de Aquarianos adotou o anteprojeto da Constituição da Federação do Planeta Terra. Em maio de 1991, foram aprovadas emendas dessa Constituição, que atualmente vai sendo examinada pelos líderes mundiais do Movimento para ser aperfeiçoada. Essa Constituição da Federação do Planeta Terra, que deverá vigorar no mundo unificado, prevê um organograma bem definido: na cúpola haveria uma Procuradoria Geral Mundial e uma Comissão de Procuradores Mundiais Regionais. A Procuradoria Geral constará de cinco membros. Terá a seu serviço uma Polícia Mundial, responsável pelo fiel cumprimento da legislação internacional.

2.3. A Ufologia A Nova Era não duvida da existência de seres extraterrestres; são expressões da Energia Divina Cósmica postas em diversos graus de evolução. Portanto deve haver os mais adiantados dos que nós em civilização, como também os menos evoluídos. Dentre os mais adiantados, alguns atingiram a condição de ultraterrestres; aperfeiçoaram-se tanto que não precisam mais de se encarnar para evoluir; são considerados mestres cósmicos que podem encarnar-se, caso haja especial missão a cumprir entre seres menos evoluídos.

A bibliografia relativa a seres extraterrestres e ultraterrestres é cada vez mais vasta e rica em episódios que tomam traços do fantasioso e fictício. Eis alguns espécimens:

A Sra. Eve Carney e suas duas filhas narram uma visita que fizeram a uma nave espacial:

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"Há muitos anos, em minha casa situada nos profundos bosques da Pensilvânia, minhas filhas e eu estávamos juntas em meditação, quando três Irmãos Espaciais apareceram no jardim em frente à casa. Preferiram permanecer lá fora quando os convidei para entrar, devido à sua diferença de altura em relação às portas e ao teto normais. Convidaram-nos a conhecer sua nave, o que aceitamos com satisfação. Fixaram a hora da visita para 8.00 horas do dia seguinte, dandonos instruções para relaxarmos em posição horizontal no piso, para que pudesse vir a escolta.

Agradecidas, regressamos à casa. Minhas filhas puderam ver a nave sobre nós, já que ambas têm o dom perceptivo visual. Ao entardecer do dia seguinte, relaxamos, como combinado, e fizemos três experiências com meditações diferentes. Abandonei meu corpo e apoiei minhas mãos sobre os braços de minhas escoltas, experimentando uma emoção tremenda enquanto ascendíamos, a uma velocidade incrível, à nave que nos esperava acima. Imediatamente encontrei-me parada no aposento de controle principal, frente a Athena, enquanto as lágrimas rolavam-me pela face. Chorando, abraçamo-nos. Athena (comandante mulher) começou a mostrar-me vários mapas. Senti que uma de minhas filhas seguia por um longo passadiço. Embora eu não tenha visto, sabia que se encontrava em alguma outra parte da nave. Caminhamos e passamos por uma parede transparecente, através da qual pude ver minha outra filha reclinada sobre uma mesa de exame médico, com alguém junto dela. Essas recordações são fragmentadas.

Depois de alguns minutos, não mais de quinze, estávamos de volta à nossa consciência e começamos a comparar nossas experiências" (ERGOM, Projeto Evacuação Mundial. Roca, São Paulo 1991, pp. 99s).

Não raro o contato com naves espaciais é realizado, segundo dizem, por pessoas postas em estado hipnótico, pois os extraterrestres praticam a hipnose sobre as pessoas que eles contactam. Daí o seguinte caso: "Um dos casos mais famosos é o de Bety e Barney Hill, casal norteamericano. Somente sob hipnose narrava um encontro imediato de terceiro grau, quando teriam sido levados a bordo de uma espaço-nave e submetidos a detalhado exame médico por humanóides extraterrestres...

Sabemos que a hipnose é uma técnica altamente vantajosa no sentido de desencadear e melhorar a percepção extra-sensorial„ dando alto resultado em tes-

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tes controlados - por exemplo, em telepatia, visão á' distância (clarividência) e precognição. Ao mesmo tempo, são inacreditavelmente freqüentes na casuística ufológica as experiências em que os referidos fenômenos parapsicológicos estão presentes, sendo mesmo a telepatia o meio usual de comunicação com os UFO-operadores, segundo os contatados.

Certos indivíduos que viveram uma experiência ufológica marcante, passaram e ter o que nós chamamos efeito residual'. após o incidente, entram em estado de transe sonambúlico, de maneira espontânea ou induzida, dando informações de teor variado, dados técnicos, planetas' de origem, nomes dos comandantes de naves e mensagens místicas" (Artigo “Hipnose na pesquisa Ufológica”; na revista Planeta Ufologia. Editora Três, São Paulo, abril de 1982, p. 19).

Passemos a outra unidade da mensagem da Nova Era.

2.4. Era de Aquário Conforme as correntes esotéricas e os mestres da Nova Era, a história da humanidade compreende ciclos de evolução, também chamados "Eras". A duração dessas Eras é diversamente indicada pelos diversos autores, mas equivale a 2.000 anos ou pouco mais cada qual. Segundo as várias contagens, tal seria a seqüência das Eras:

Era de Touro: de 4304 a 2154 a.C. Era de Carneiro: de 2154 a 4 a.C. Era de Peixes: de 4a.C. a 2146 d.C. Era de Aquário: de 2146 a 4296 d.C. Nesta tabela cada Era compreende 2.150 anos. A Era de Touro seria a da antiga civilização egípcia; tinha a vaca como animal sagrado, deusa da fecundidade, e a pecuária como principal cultura.

A Era de Carneiro seria a do povo de Israel... Carneiro, porque o ritual de Israel praticava o sacrifício de cordeiros; além do quê, o povo cultivava ovelhas

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(seja recordada a típica figura do pastor). O momento de transição da Era do Touro para o do Cordeiro terá sido a saída, de Israel, do Egito; os hebreus tentaram ainda preservar o poder do Touro confeccionando o bezerro de ouro no deserto; mas Moisés os censurou e inaugurou a Era do Cordeiro. Seguiu-se a Era de Peixes, inaugurada por Jesus Cristo, que chamou seus apóstolos para serem pescadores de homens; donde se conclui que os homens são dominados pelo signo de Peixes. O próprio nome Jesus Cristo foi associado ao símbolo do Peixe, visto que ICHTHYS (em grego, peixe) compõe-se das iniciais de uma fórmula de fé cristã: Iesous Christós Theou Yiós Soter, Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador. Assim o povo dominante da Era de Peixes veio a ser o povo dos discípulos de Cristo ou o povo cristão.

Jaap Huibers julga que, sendo o peixe um animal que vive no fundo do mar escuro, a Era de Peixes está sendo uma era marcada pelas trevas; claro espécimen disto seriam as catedrais católicas, sempre sombrias (Aqui não se pode deixar de observar que a associação de idéias é extremamente frágil, se não ridícula. A civilização e a tecnologia estão num ápice nunca dantes atingido. Quanto à penumbra das catedrais, ela se deve ao sadio desejo de facilitar o recolhimento e a oração dos seus freqüentadores).

Após a Era de Peixes, espera-se a de Aquarius ou Aguadeiro (um jovem portador de um cântaro, cuja água ele vai derramando). Aquário é um signo astrológico regido pelo planeta Urano, descoberto em 1781, ou seja, durante a Revolução Francesa. Por isto o lema da Revolução Francesa "Liberdade, Igualdade, Fraternidade", que é também o de Urano, passará a ser o da Nova Era; somente assim o mundo se transformará numa aldeia global sob um regime único para todos os povos.

Os aquarianos dizem que São João, ao falar de céus novos e terra nova em Ap 21,1, se referiu à Nova Era, que Urano, o Ancião dos Dias, proporcionaria à humanidade; a Nova Jerusalém, que desce dos céus, seria precisamente a nova Era de Urano (note-se que a palavra Urano corresponde ao grego ouranós, céu).

2.5. Jesus Cristo Para a Nova Era, Jesus Cristo foi apenas um dos muitos mestres que contribuíram para a evolução da humanidade. O seu nome consta de Jesus - apelativo judaico masculino - e Cristo, adjetivo que designa um nível de evolução elevado; Jesus, portanto, foi um homem altamente crístico; daí ser chamado "Jesus Cristo".

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Jesus Cristo não é chamado Senhor pelos mentores da Nova Era, porque o seu senhorio termina com a Era de Peixes. O autor de um artigo na revista "Destino", ano II, sg 21, abril de 1991, p. 51, descreve o papel de Jesus frente aos novos tempos aquarianos:

“A passagem de Peixes para Aquário, do ponto de vista da astrologia, é extremamente difícil, pois as características dos dois signos são bem diferentes. Peixes é representado pelo espírito de sacrifício, de caridade. Aquário aponta em outra direção. É o signo da amizade, do companheirismo, da esperança e da criação de um mundo novo.

Com a mudança de Peixes para Aquário, dizem os astrólogos, sai de cena também Jesus Cristo, o grande avatar da Era que termina, dando lugar ao patrono máximo de Aquário, o mestre Saint Germain”.

O mestre Saint Germain é uma das figuras caras ao esoterismo.

2.6. O Avatar Os mestres da Nova Era esperam um Messias, que eles também chamam Avatar (Avatar vem do sânscrito avatara, descida (do Céu sobre a Terra)). Deverá instaurar a unidade, a ordem e a paz no mundo. Cada Era tem seu Avatar ou Messias. Esse personagem aguardado tem nomes diversos, entre os quais Saint Germain e Lord Maitreya; Jesus terá sido discípulo de Maitreya. Eis o que Worls Goodwill, conceituado adepto de Nova Era, diz a respeito do Avatar: "Este é um tipo de preparação não apenas para uma nova civilização e cultura numa Nova Ordem Mundial, mas também para a vinda de uma nova dispensação espiritual. A humanidade não está seguindo um curso não planejado. Há um plano divino no cosmos, do qual somos parte. No fim de uma Era os recursos humanos e instituições estabelecidas parecem inadequados para suprir as necessidades e resolver os problemas do mundo. Em tal tempo, a vinda de um Mestre, um líder ou avatar espiritual, é antecipada e invocada pelas massas da humanidade em todas as partes do mundo. Hoje o reaparecimento do Instrutor do mundo - o Ungido - é esperado por milhões, não só por aqueles da fé cristã, mas por aqueles de todas as crenças que esperam o Avatar, debaixo dos nomes: Senhor Maitreya, Krishna, Messias, Iman Mahdí e o Bodhísattva... A preparação por homens e mulheres de boa vontade é necessária para introduzir novos valores, novos padrões de comportamento, novas atitudes de não separação e cooperação, guiando as retas relações humanas a uma paz mundial. O Instrutor mundial vin-

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douro estará principalmente preocupado não com o resultado ou erros passados e insuficiências, mas com as necessidades de uma Nova Ordem Mundial e com a organização da estrutura social" (A Rede Cresce, Londrina, p.3). O esperado Messias satisfará aos anseios de todas as crenças religiosas, que aguardam a vinda de um Salvador: o Maitreya de Nova Era será o prometido aos judeus, o quinto Buda dos budistas, o Iman Mahdi dos muçulmanos, o Krishna dos hinduístas, e também o Cristo dos cristãos. Alguns aquarianos julgam que Maitreya já nasceu em 1982 - o que não combina coma previsão de que a Era de Aquário só começará em 2146 d.C. (Maitreya terá 164 anos quando se manifestar ao mundo, ou seja, 2146 - 1982 = 164?).

Como quer que seja, a vinda do novo Avatar unificará não somente os interesses políticos e administrativos da humanidade, mas também o senso religioso: o Cristianismo será extinto em favor de uma nova e única religião, dizem os aquarianos.

2.7. Magia e Curandeirismo A Nova Era conhece agentes seus chamados "bruxos, magos, iluminados..." Seriam seres mais evoluídos do que o comum dos homens; dotados de poderes especiais, paranormais, realizarão façanhas portentosas em dois planos: - no plano de adivinhação: os magos poderão revelar coisas ocultas ou futuras, recorrendo ao tarô, aos búzios, à astrologia; farão mapa astral mediante computador; cultivarão a grafologia (a caligrafia) para predizer o futuro das pessoas, praticarão a quiromancia ou a leitura "profética" das linhas das mãos... - no plano ritual: os bruxos da Nova Era têm seus ritos semelhantes aos dos xamãs (exorcistas de povos primitivos), aos dos sabbat e da Missa Negra dos bruxos medievais, aos do tranta, que adota a prática sexual ritualista. Há também o uso da pirâmide, tida como fonte de grande energia. Seja também mencionada a projeção astral ou o exercício segundo o qual o bruxo julga abandonar seu corpo durante o sono a fim de viajar pelos espaços. A revista Planeta descreve tal exercício nos seguintes termos: "Até uns poucos anos atrás chamava-se a peculiar experiência de estar fora do corpo 'projeção astral' mas ultimamente ela tem sido denominada ‘experiência extracorpórea’. A viagem astral consiste, essencialmente, na projeção do corpo interior ou personalidade do corpo físico, geralmente durante o sono, mas

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não exclusivamente. As projeções astrais acontecem na vigília e costumam ser chamadas 'deslocamentos momentâneos'... Nesse fenômeno a pessoa viaja cobrindo distâncias diversas, desde o teto de seu quarto até o outro lado do continente, e permanece ligada ao corpo físico por um fio prateado, que nem sempre lhe é visível... Os habituais efeitos físicos e emocionais da projeção astral são os seguintes:

- Sensação de extremo cansaço ao despertar, mesmo que a pessoa tenha dormido por muitas horas. - No final de cada projeção astral, sensação de queda de grande altura, de estar girando em direção ao solo, geralmente acompanhada pelo medo de cair. Isto representa apenas a reação física à desaceleração de vibrações, que se dá à medida que o eu interior retorna ao invólucro físico, restabelecendo a ligação com ele. - A nítida lembrança de ter atravessado muros aparentemente sólidos ou de ter visto de cima o próprio corpo, geralmente no início da viagem. Sensações de estar flutuando para fora do corpo, primeiro devagar, elevando-se até o teto do quarto, depois ganhando velocidade, às vezes fulminante, deslocando-se rapidamente pela paisagem, observação, ao mesmo tempo, dos marcos físicos em volta e, às vezes, sensações de conforto e desconforto devidas à temperatura, tais como calafrios, umidade ou calor. Ocasionalmente, observação de um fio prateado atrás de si, que tornava a se enrolar por ocasião do regresso. - Ao fim da viagem ou no local de destino, observação de pessoas ou cenas, geralmente com incapacidade de estabelecer contato através da fala. Há registro de contatos visuais. - Posse plena das faculdades de raciocínio durante o sonho" (Artigo "Experiências Extracorpóreas" em Revista "Planeta Especial - Sonhos". Editora Três, São Paulo, pp. 54s).

3. OS SÍMBOLOS DA NOVA ERA

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A Nova Era recorre a muitos símbolos, que pretendem insinuar as proposições de sua mensagem. Cada corrente da Nova Era tem seus emblemas correspondentes ao que ela professa. Eis alguns dos principais sinais utilizados:

1) O arco-iris significa a luz divina, que se vai irradiando e faz a ponte entre o céu e a Terra ou entre os seres terrestres e os extraterrestres.

2) Fitas entrelaçadas designam a interdependência dos seres existentes e a tendência a fazer da multiplicidade uma unidade global. Símbolo proposto por Marilyn Ferguson em seu livro "A Conspiração Aquariana" (1980).

3) Yin-Yang é antiga figura oriental que lembra o equilíbrio das forças cósmicas positivas e negativas; os opostos se compensarão mutuamente na Nova Era.

4) Urano é o planeta que rege o mundo na Era de Aquário, como dito atrás. Simboliza a harmonia dos homens com o cosmos.

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5) Pirâmide é tida como elemento que capta a energia cósmica e beneficia as pessoas (A propósito de pirâmides e "efeitos maravilhosos'; ver PR 326/1989, pp. 324-329).

6) Cruz de Nero ou Símbolo de Paz é uma cruz de cabeça para baixo ou em aparência de pé de galinha. Traz a paz a quem a usa em brincos, broches, camisetas, cadernos...

7) Pomba com ramo no bico. Simboliza a paz à qual tendem os aquarianos, na esperança de que as águas de Peixes sequem para dar lugar à Nova Era.

8) Estrela de Davi, com seis pontas, simboliza os processos de involução e evolução. Com efeito; o triângulo que aponta para baixo, apresenta a involução da energia divina que desce às suas formas mais boçais, ao passo que o triângulo voltado para cima indica a ascensão dos seres que tendem a se divinizar cada vez mais.

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9) Estrela de cinco pontas significa o Ser Cósmico Divino em sua plenitude ou o Absoluto. O triângulo superior com um olho no centro simboliza o Ser Superior a todos na escala hierárquica (Serquealguns identificam com Lúcifer, considerado como anjo de luz). Esse pentagrama é irradiante de bons fluidos, se colocado de cabeça para cima; em posição inversa, emite maus fluidos.

10) Borboleta significa o homem que deixa as trevas do casulo de Peixes para entrar na dimensão celestial do Aquário. 11) Unicórnio (animal de quatro patas, com um chifre só): símbolo de liberdade sexual e moda unisex, com todas as suas manifestações mais ousadas. 12) Cruz suástica é o símbolo da boa sorte que toca aos iniciados. Além destes e de outros símbolos típicos, Nova Era usa um vocabulário próprio, do qual vão abaixo apresentados alguns espécimens.

4. A NOMENCLATURA DA NOVA ERA 1) O Movimento tem os seguintes apelativos: Nova Era (New Age), Era de Aquário ou Aquarius, Conspiração Aquariana, Nova Ordem Mundial, Nova Consciência. 2) Deus é dito: Eu Maior, Grande Mente Universal, a Força, o Absoluto. 3) O planeta Terra é: Mãe Terra, Mãe Gaia (do grego gé, terra), Mãe de Água, Nave Terra.

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4) A unificação do gênero humano é: Fraternidade Universal, Família Global, Holismo (de holon, tudo, em grego), Colônia Global, Paradigma (= padronização).

5) Os espíritos que, do além, se comunicam com o homem, são: Mestres Cósmicos, Espíritos Cósmicos, Mestres Universais, Extraterrestres ou ETs. 6) O canal de comunicação é dito channeling. 7) O chefe que governará a nova Ordem Mundial, é: Senhor Maitreya, Saint Germain, Instrutor do Mundo, o Ungido, o Avatar. 8) Os que se dedicam à implantação da Nova Era, mediante contato com Espíritos Cósmicos, são: Médiuns da Nova Era, Bruxos, Magos, Sensitivos, Paranormais. Tais seres são tidos como emissários de um Governo secreto, dirigido por seres extraterrestres, que vai comandando todas as transformações ocorrentes hoje sobre a Terra.

5. ATUAÇÃO DA NOVA ERA Dizem muitos observadores que os adeptos de Nova Era são, em grande parte, responsáveis pelas mudanças de ordem cultural e comportamental pelas quais vai passando o mundo contemporâneo. - A própria Sra. Marilyn Ferguson, em seu livro "A Conspiração Aquariana", o verifica: "Uma rede poderosa, embora sem liderança, está trabalhando no sentido de provocar uma mudança radical no mundo. Seus membros romperam com alguns elementos-chave do pensamento ocidental, e até mesmo podem ter rompido com a continuidade da História... Há Conspiradores Aquarianos de todos os níveis de renda e educação, dos mais humildes aos mais poderosos. São professores, auxiliares de escritório, cientistas famosos, funcionários do governo e legisladores, artistas e milionários, motoristas de taxi e celebridades, expoentes da medicina, da educação, do direito e da psicologia. Muitos são conhecidos em suas áreas de trabalho, e seus nomes podem ser familiares. Outros se mantêm em silêncio quanto a seu envolvimento, acreditando que possam ser mais eficazes se não forem identificados com idéias que, com demasiada freqüência, têm sido mal interpretadas" (pp. 23s).

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Pode-se averiguar, dizem, a atuação de Nova Era em alguns setores de maior projeção na vida pública.

5.1. Educação Verifica-se que a mentalidade e os símbolos da Nova Era vão penetrando nos estabelecimentos de ensino de todos os graus. Existem mesmo Universidades Holísticas pelo mundo, sendo que em Brasília há uma, dita Universidade da Paz, construída com recursos do Distrito Federal; neste está sendo preparada a Cidade da Paz ou a Alvorada. Brasília é tida como região de grande força espiritual e ponto de convergência dos diversos ramos ocultistas.

Em julho de 1991, realizou-se o II Congresso Holístico Internacional na cidade de Belo Horizonte: reuniu membros das Universidades Holisticas e profissionais da educação para estudar como fazer da educação um veículo transmissor das idéias da Nova Era e um canal transformador da sociedade. Para tanto, são programados exercícios de relaxamento e meditação transcendental, que incutem ao aluno uma espiritualidade alheia aos princípios tradicionais da educação cristã. Nesse Congresso um médico brasileiro defendeu a tese segundo a qual as mães falharam na educação dos filhos, por isto o mundo de hoje é caótico. Para resolver o problema, dever-se-iam criar "escolas de mães" ou de profissionais femininas que se encarregariam da formação holística das crianças desde os seis anos de idade. "Ser mãe" tornar-se-á, no caso, uma profissão, independente da maternidade física.

Um dos princípios da educação "Nova Era" afirma que o aluno não precisa de aprender coisa alguma de fora para dentro, mas deve aprender de dentro para fora, suposto que todo o saber já está contido dentro dele; essa nova forma de educação põe o discípulo em estado de "superconsciência", levando-o à vivência de uma consciência cósmica ou transpessoal, estado este que se opõe ao estado de consciência normal e de vigília.

5.2. Música Nova Era se propaga também pela música. Há dois tipos de música aquariana: a música New Age propriamente dita e a música rock convencional.

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A Música New Age tem o estilo mantra. Mantra quer dizer, em sânscrito, libertação da mente (man = mente; tra = libertação). O estilo mantra utiliza sons que alteram e influenciam o estado de consciência; na verdade, os mantra são sílabas, palavras ou frases que, repetidos com freqüência, marcam o consciente e o inconsciente da pessoa, servindo-lhe para o relax e a meditação.

A Música Rock Convencional é outro veículo de Nova Era, tanto por sua letra como por seu ritmo. Com efeito; a letra rock pesada refere-se muitas vezes ao sexo livre, ao homossexualismo, ao adultério e à prostituição como formas válidas de comportamento. Quanto ao ritmo, dito beat, é concebido matematicamente de modo a excitar o sistema nervoso: o som é elevado a sete decibéis, cota que está acima da tolerância do sistema nervoso e debilita o funcionamento normal do cérebro; tem efeito provocador, que cede à depressão, à revolta e à agressividade; daí a procura de drogas e libertinismo sexual por parte de quem é assim atingido e procura saída para o seu estado de ânimo convulsionado.

5.3. A Medicina Alternativa A Nova Era valoriza a Medicina não convencional, ou seja, a Medicina alternativa, mais relacionada com "misticismo" do que com ciência. A justificativa antropológica dessa prática é a seguinte: o homem possui um corpo energético, do qual o corpo físico é apenas uma manifestação. Esse corpo energético consta da mesma energia que constitui a Divindade. As doenças do corpo físico, portanto, são dependentes do corpo energético, pois o corpo físico é o espelho do corpo energético.

Na base desta concepção, os aquarianos adotam as terapias alternativas já existentes no Oriente e acrescentam-lhes ainda outras. Entre estas maneiras alternativas, merece destaque o cultivo de pensamentos positivos. Além disto, a Medicina da Nova Era julga que, como a energia divina é luz e a luz compreende as sete cores do espectro, assim também nosso corpo energético, que é divino, é formado pelas cores contidas na luz branca, cores que são chamadas chakas. Cada cor ou cada chakra corresponde a uma região do corpo humano. Conseqüentemente, o tratamento de moléstias se faz mediante a "energização" do chakra (ou da parte do corpo) afetado; o chakra causa a doença, porque está afetado. Tal energização ocorre mediante o recurso a cores, pirâmides, cristais, Florais de Bach (terapia pelas flores), frases de conteúdo positivo, musicoterapia, massagens orientais e muitos outros procedimentos.

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Pode-se mencionar aqui também a psicoterapia utilizada pela Nova Era: recorre à chamada "psicologia transpessoal". Esta leva o indivíduo a vários estados de consciência, para que finalmente transcenda os limites do tempo, do espaço e da individualidade, atingindo o grau de consciência cósmica. Essa terapia serviase, a princípio, do ácido lisérgico (LSD), provocador de sucessivos estados de consciência; tal método já foi abandonado em favor do recurso à meditação transcendental, que propicia os mesmos efeitos. A hipnose e a regressão em idade são também instrumentos caros á psicoterapia aquariana.

6. QUE DIZER? O contato com o programa da Nova Era sugere várias considerações, das quais três serão, a seguir, propostas. Os demais pontos da mensagem de Nova Era são elucidados no Curso sobre Ocultismo da Escola "Mater Ecclesiae", Caixa postal 1362, 20001-970- Rio (RJ).

6.1. Fusão-confusão O Holismo, pretendendo unificar a humanidade, com suas crenças e seus comportamentos, propõe uma fusão, que é confusão. Falta à mensagem da Nova Era a luz de um discurso lógico, racional, pois a emoção e o sentimento preponderam. Por conseguinte, as proposições do Holismo não podem ser comprovadas nem podem apresentar credenciais; a emoção e a fantasia são as suas principais fontes inspiradoras. Por isto, o edifício de idéias da Nova Era é extremamente frágil; é adaptável ao gosto de cada interessado, pois o subjetivismo aí prepondera. Este fato dispensa o estudioso de uma crítica muito cerrada, pois a Nova Era versa mais sobre o plano subjetivo dos sentimentos e da imaginação do que na esfera da lógica e da intelectualidade.

6.2. Panteísmo, reencarnação, comunicação com o além. Como quer que seja, distinguem-se na Nova Era três teses, que parecem ser as pilastras da respectiva mensagem. a) Panteísmo. A identificação da Divindade com tudo (pari) ocorre em qualquer apresentação do Holismo. Ora este ponto é altamente vulnerável, pois contradiz às regras mais elementares da lógica: faz coincidir o Absoluto (Deus) com o

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relativo (o mundo volúvel e o homem), o Eterno (Deus) com o temporal (mundo e homem), o Necessário (Deus) com o contingente (mundo e homem), o Imutável (Deus) com o mutável e volúvel (o mundo e o homem). Assim o Sim é identificado com o Não - o que fere as normas fundamentais do pensar. b) Reencarnação. Esta tese é geralmente associada ao panteísmo, como dito atrás. Com efeito; se não há um Deus distinto do homem, é o homem mesmo que se salva, e se salva através de sucessivas tentativas e experiências de vida neste mundo. - Ora esta afirmação é arbitrária, pois carece de provas ou de fundamento; nenhuma pessoa sadia se recorda do que tenha sido e vivido numa encarnação anterior; os próprios "relatos de vida pregressa" são explicados pela parapsicologia como manifestações do inconsciente da pessoa hipnotizada, que traz à tona episódios vividos na existência presente e livremente associados entre si para formar um enredo aparentemente novo.

c) Comunicação com o além. A suposição de que nos podemos comunicar com o além (almas de defuntos, anjos ou seres de outros planetas) é desmentida pela Filosofia e a própria Psicologia. Não há receita que nos permita chamar ao nosso convívio seres extraterrestres; os encantamentos e as artes rituais mediúnicas não o conseguem; as pretensas comunicações do além captadas por bruxos ou médiuns não são senão expressões do próprio médium, que tira do seu inconsciente e do inconsciente dos seus clientes as mensagens que ele profere como se fossem oriundas do além.

Tal fenômeno é muito conhecido pela Parapsicologia, que no caso dispensa explicações misteriosas ou "transcendentais". A propósito ver as pp. 532-536 deste fascículo.

6.3. O sucesso da Nova Era Apesar de muito inconsistente, a Mensagem da Nova Era encontra grande aceitação em nossas sociedades da América e da Europa. Por quê? - O simples fato de propor uma novidade de índole mundial, radical e total é um atrativo de grande influência. Os homens de nossos tempos sofrem de uma crise generalizada na política, na economia, na cultura em geral; não vêem solução próxima no recurso aos meios convencionais da ciência e da lógica. Por conseguinte, estão especialmente abertos a qualquer tipo de solução "transcendental, mágica, irracional". Quanto mais maravilhosa é a mensagem proposta em tais circunstâncias, tanto mais poder sedutor terá. Afinal de contas, é sempre verdade que em todo homem, mesmo culto, há o gosto inconsciente do mito, do irreal, do

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romance, da lenda..., pois o irreal é mais belo do que o real; o irreal é construído por cada um como ele o quer, e cada um tende a fazer do irreal sonhado a sua realidade ou a própria realidade. Esta tendência é mais acentuada em nossos dias, quando prevalece um certo antiintelectualismo em matéria de religião e Moral; a metafísica é desprezada por certas escolas; parece a muitos que os sentimentos e as emoções é que devem inspirar as crenças religiosas, pois estas careceriam de parâmetros objetivos firmes e válidos para todos os homens.

Não obstante, pode-se dizer que o Movimento da Nova Era tem o valor de despertar a consciência dos cristãos. Lembra-lhes que o mundo está ávido de algo maior e melhor do que a situação aflitiva de muitos povos contemporâneos. Ora o cristão sabe que a grande novidade que responde cabalmente a tal anseio, é a do Cristo Jesus ou é a do Evangelho pregado por Cristo e entregue a Pedro e seus sucessores na Igreja. É o Senhor quem afirma: "Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo... Não se acende uma lâmpada para coloca-la debaixo do alqueire, mas no candelabro, e assim ela brilhe para todos os que estão na casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos céus" (Mt 5,13-16).

Possam os cristãos, interpelados pelos seus irmãos aquarianos, tomar sempre mais viva consciência da seriedade e do valor de tais palavras! A guisa de bibliografia, sejam citados: MARCO ANDRÉ, Nova Era - O que é? De onde vem? O que pretende? Ed. Betânia, Caixa postal 5010, Venda Nova (MG). NEW AGE. A Nova Era à luz do Evangelho. Editor Gehard Sautter, Caixa postal 21486, 04698-970 - São Paulo (SP). SCHLINK, BASILÉA M., Nova Era à luz da Bíblia, Caixa postal 3440,80001-970 Curitiba (PR).

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